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Hesaú Rômulo1
RESUMO:A teoria das elites tem sido alvo de inúmeras críticas ao longo do século XX
e XXI. Estas se concentram principalmente em torno de critérios metodológicos de
sustentação da própria teoria. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é ampliar o
debate em torno dos autores clássicos e ainda sobre os limites da disciplina,
apontando contrapontos pertinentes.
INTRODUÇÃO
2Utilizo como subsídio para esta seção o artigo de Milton Farias Filho: ELITES POLÍTICAS REGIONAIS:
Contornos teórico-metodológicos para identificação de grupos políticos.
Pareto toca nesta questão argumentando que o poder de dirigir é o mote para a
diferenciação entre as duas classes. Não se pode deixar de mencionar, no entanto, a
noção de Michels sobre a inevitabilidade de elites governantes, no entanto, o escopo
da crítica à democracia “asséptica” de Michels é mais restrita: quando faz uma análise
sociológica dos partidos políticos alemães do início do século XX e reforça a
capacidade organizativa das elites.
Não há uma precisão no trato da pluralidade do termo “elite” por parte dos três
autores. Este refino aparece sobretudo na obra de Wright Mills quando da análise da
sociedade norte-americana no esforço de demonstrar que os mais altos cargos de
forças armadas, grandes empresas e governo são ocupados por elites que se
alternam, que compartilham interesses comuns, isto é, que frequentam os mesmos
espaços.
O pluralismo por vezes é entendido como uma resposta ao elitismo por estes
aspectos citados por Jerez-Mir no que toca as áreas fortes e frágeis de atuação dos
grupos organizados em torno do estado, mas não somente isto, também por aspectos
metodológicos.
O cientista político Robert Putnam (1976) propõe três estratégias
metodológicas para identificação de elites políticas, 1) análise posicional, que supõe
que as instituições formais de governo ofereçam uma cartografia útil das relações de
poder, uma rede política, já que as posições mais elevadas destas instituições são
ocupadas politicamente por quem tem mais poder; 2) Identificação por meio de análise
das decisões consideradas impactantes ou importantes na vida social e política de
uma sociedade; 3) Identificação baseada na reputação social que as pessoas
(hipoteticamente importantes) têm na sociedade.
Existem outras duas estratégias citadas por Farias Filho:
A resposta para a posição que a teoria das elites ocupa dentro da Ciência
Política parece encontrar algum abrigo a partir do embate entre três premissas
antielitistas:
(I) O funcionamento do estado capitalista deve ser explicado a partir dos seus
vínculos objetivos com o sistema econômico.
(II) Aqueles que controlam os principais postos do sistema estatal,
independente de sua origem social, crenças políticas e motivações estão
condenados a executar a “função objetiva” do Estado, que é reproduzir a
sociedade capitalista.
(III) Devemos nos perguntar “O que o Estado reproduz” e não “quem decide”,
pois o que importa são os efeitos objetivos da decisão política e não as
intenções dos decisores.
Tecendo comentários respectivos sobre cada uma das premissas,
primeiramente temos efeitos correspondentes em intenções distintas, gerados por
interesses de elites distintas como no fluxograma apresentado por R. Perissinoto:
Elite A – Intenção X – Decisão X – Efeito C
Elite B – Intenção Y – Decisão Y – Efeito D
4 Utilizo para esta seção o livro de R. Perissinoto como referência para a discussão
Segundo este modelo, é interessante para a análise política compreender o
processo de tomada de decisões a partir de diferentes intenções, motivações e,
obviamente, diferentes efeitos. Segundo Perissinoto existem duas vantagens nesta
lógica:
ALMEIDA, Maria A. Pires de. (2005), "Fontes e metodologias para o estudo das elite
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