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Organizadores:

Gabriela Garcia Batista Lima Moraes


Talita de Fátima Pereira Furtado Montezuma
André Augusto Giuriatto Ferraço

Estudos de Direito das Águas


Desafios Jurídicos, Sociais
e Agravantes Climáticas
Volume I

Editora Lumen Juris


Rio de Janeiro
2021
Copyright © 2021 by

Gabriela Garcia Batista Lima Moraes


Talita de Fátima Pereira Furtado Montezuma
André Augusto Giuriatto Ferraço

Categoria:

Produção Editorial
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.

Diagramação: Rômulo Lentini

A LIVRARIA E EDITORA LUMEN JURIS LTDA.


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Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
________________________________________
A Importância do Aprimoramento
das Medidas de Proteção Ambiental
no Aterro Sanitário de Brasília: uma
Análise das Condicionantes do seu
Licenciamento Ambiental e Eventos de
Contaminação de Água e Solo em 201934

Gabriela Garcia Batista Lima Moraes35


Hiarque de Oliveira Souza36

RESUMO: O presente estudo realiza um diagnóstico das medidas de


prevenção e de reparação de danos ambientais ocorridos em 2019, no geren-
ciamento dos resíduos sólidos pelo Aterro Sanitário de Brasília, inaugurado
em 2017, no Distrito Federal. Buscou-se realizar uma pesquisa empírica da
análise do cumprimento de obrigações jurídicas relacionadas com a preven-
ção de contaminação nas atividades do Aterro. Entre essas regras, destacam-se
uma análise do cumprimento de algumas condicionantes da licença e das me-
didas de mitigação realizadas diante das contaminações ocorridas. Na com-
preensão do dano ambiental, estudou-se os parâmetros físico-químicos de
qualidade ambiental, os níveis de contaminação e o possível descumprimento

34 Essa pesquisa é um dos resultados específicos do Projeto “Recursos hídricos, saneamento básico
e os efeitos da mineração no Distrito Federal” (Edital Demanda Espontânea 04/2017), com
financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF).
35 Doutora (2014) em Direito pela Universidade Aix-Marseille (França) e pelo Centro Universitário
de Brasília (Brasil), em regime de cotutela, com bolsa CAPES em um dos períodos do Doutorado.
Mestre (2009) e Bacharel (2007) em Direito. Especialista (2008) em Direito Internacional Ambiental.
Professora Adjunta na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (Área Direito Ambiental).
E-mail para contato: gabrielalima@unb.br.
36 Graduando em Engenharia Ambiental pela Universidade de Brasília (UnB) e bolsista (Apoio
Técnico) da FAP-DF (2018-ago/2020), no Projeto de Pesquisa “Recursos hídricos, saneamento básico
e os efeitos da mineração no Distrito Federal” (Edital Demanda Espontânea 04/2017). Membro do
Grupo de Estudos Direito dos recursos naturais e sustentabilidade (GERN-UnB). E-mail: hiark.
oliveira@hotmail.com; hiark.oliveira@gmail.com.

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das legislações e normas técnicas pertinentes. Em seguida, foram observadas


algumas alternativas para amenizar os problemas ambientais decorrentes dos
vazamentos de chorume e em relação à má disposição dos resíduos sólidos.
PALAVRAS-CHAVE: Aterro Sanitário de Brasília; Contaminação;
Condicionantes Ambientais; Políticas Públicas.
ABSTRACT: The study aims an analysis of the measures to prevent and
repair environmental damage that occurred in 2019 in the management of
solid waste by the Brasília Landfill, opened in 2017, in the Federal District. It
applies an empirical legal research to analyze the fulfillment of legal obliga-
tions directly related to the prevention of contamination in the activities of
the Landfill. Among these rules, we highlight an analysis of the conditions of
the permit act and the measures taken by the company to mitigate the conta-
mination that occurred. In the understanding of environmental damage, we
studied the physical-chemical parameters of environmental quality, the levels
of contamination and the possible non-compliance with relevant legislation
and technical standards. Then, some alternatives were observed to alleviate
the environmental problems resulting from leachate leaks and in relation to
the poor disposal of solid waste.
KEYWORDS: Brasília landfill; Contamination; Environmental Condi-
tioning; Public policy.

Introdução
O Aterro Sanitário de Brasília, inaugurado em 2017, apresentou alguns
episódios de contaminação37 em 2019, que chamaram a atenção para um estu-
do da efetividade jurídica38 da proteção ambiental relacionada ao seu funcio-

37 Para se ter como exemplo, o primeiro da série de vazamentos de chorume no Aterro ocorreu no
dia 28 de Janeiro de 2019, tendo atingido o rio Melchior, que fica entre as regiões de Samambaia,
Ceilândia e Taguatinga, no Distrito Federal. Metrópoles. Chorume de Aterro Sanitário de
Brasília vaza e atinge córrego Melchior. 2019. Disponível em: <https://www.metropoles.com/
distrito-federal/meio-ambiente/chorume-de-aterro-sanitario-de-brasilia-vaza-e-atinge-corrego-
melchior>. Acesso em 16 de Julho de 2020.
38 Efetividade jurídica significa a realização do Direito. Podendo ser expressa em termos de implementação,
impactos sobre o comportamento humano, realização de objetivos. E variando em grau, seja resolvendo o
problema ou o amenizando. (VARELLA & LAUTENSCHLAGER, 2016. p. 297-304).

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namento, com o objetivo de contribuir com elementos para o aprimoramento


no cumprimento das obrigações ambientais relacionadas. Especificamente,
observaram-se questões associadas ao cumprimento de condicionantes do
licenciamento ambiental, ligadas à contaminação, e problemas estruturais
que acarretaram o vazamento de chorume que, tendo contato com zonas não
impermeabilizadas e com o curso d’água local (o rio Melchior39), conferiu
contaminação do solo e hídrica. Acresce-se a esse cenário, a queima do biogás
gerado no Aterro, que representa um desperdício de uma matriz energética
valiosa e afirma a presença de mais uma fonte de contaminação.
A implantação do Aterro Sanitário de Brasília é, por si, uma medida im-
portante na melhoria do controle da destinação de resíduos no Distrito Fede-
ral, que até então, contava principalmente com o antigo “Lixão da Estrutural”
(atual Unidade de Recebimento de Entulho40), situado na Vila Estrutural, onde
os resíduos da capital eram depositados desde a década de 60, de forma irre-
gular41, sem qualquer tipo de drenagem ou controle ambiental. Por décadas, o
antigo Lixão ocasionou e intensificou problemas socioambientais, juntamente
com a contaminação42 do solo, do ar, dos recursos hídricos, tanto superficiais,
quanto dos lençóis freáticos, além do risco à saúde dos catadores43.
O fechamento do “Lixão” da Estrutural, com a recuperação da área degra-
dada, entre outras medidas, foram determinações legais em sede de Ação Civil
Pública44. Em 2015, iniciou-se o processo para a transformação do “Lixão” em

39 O rio Melchior tem suas cabeceiras nos córregos Taguatinga e Cortado, na região de Taguatinga –
DF. Esses dois corpos hídricos se unem e, posteriormente, ao receber a contribuição dos córregos
do Valo e Gatumé, o ribeirão Taguatinga passa a se chamar rio Melchior e percorre as regiões de
Samambaia e Ceilândia (GDF, 2006, p. 112).
40 Agência Brasília. Unidade de Recebimento de Entulho inicia operação com 1,4 mil toneladas de
materiais. 2018. Disponível em: <https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/2018/01/29/unidade-de-
recebimento-de-entulhos-inicia-operacao-com-14-mil-toneladas-de-materiais/>. Acesso em 17 de
Julho de 2020.
41 Para se ter um exemplo, 61% dos resíduos receberam destinação imprópria no DF entre 1966 e 1971
(CODEPLAN, 1972, p. 108-110).
42 Dentre os estudos analisados que abordam contaminação em decorrência do antigo lixão estão:
KOIDE e BERNARDES, 1998; CARNEIRO, 2002; e CAVALCANTI, 2013.
43 Entre os estudos socioeconômicos abordando os catadores que viviam e/ou moram nas adjacências
do antigo lixão estão: HOEFEL, 2013; MOURA, SERRANO e GUARNIERI, 2016; e SANTOS, 2011.
44 A 1ª Promotoria de Justiça de Defesa do meio Ambiente e do Patrimônio Cultural ajuizou, em 1996,
a Ação Civil Pública nº 36947/96, cuja sentença transitou em julgado em abril de 2007 (MPDFT,

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Aterro Controlado45, quando foram implantados drenos para promover a coleta


e queima do biogás, drenagem do chorume e, posteriormente, a sua recirculação
e instalação de cerca em todo o perímetro46. O Aterro Sanitário de Brasília foi
uma das principais medidas que se sucedeu à busca por um controle efetivo dos
resíduos no Distrito Federal, passando a operar em janeiro de 2017. Naquele
ano, o Aterro recebeu, em média, 808 toneladas de resíduos por dia. Em 2018,
com o fechamento do “Lixão” da Estrutural e a consolidação da sua transfor-
mação em Aterro Controlado47, esse número subiu para 2.387 toneladas de resí-
duos por dia (SLU, 2019b, p. 168). Em 2019, o Aterro recebeu 2.511 toneladas por
dia de resíduos como destinação final (SLU, 2020, p. 80).
Antes do Aterro Sanitário de Brasília e do Aterro Controlado da Estrutural48,
a disposição irregular de resíduos no Distrito Federal entrava em contradição com
a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – Lei nº 12.305/2010, em especial,
com o art. 5449). Também estava em desacordo com a Política Nacional de Meio

Notícias 2011. Disponível em: https://www.mpdft.mp.br/portal/index.php/comunicacao-menu/


noticias/notcias-2011/4069-mpdft-discute-com-o-banco-mundial-a-implantacao-de-quadra-
junto-ao-lixao-da-estrutural).O depósito de lixo a céu aberto ocorrido por décadas no então
“Lixão da Estrutural” foi, então, caracterizado como dano ambiental, cuja recuperação é devida
e exigida, entre outras medidas, em outra Ação Civil Pública, nos autos do processo nº 0003164-
28.2005.8.07.0001. Em decisão recente (22 de abril de 2020), face a um Agravo de Instrumento
(processo nº 0718780-48.2018.8.07.0000), o Tribunal de Justiça do Distrito Federal entendeu
permanecer devida a multa mensal de R$100.000,00 (cem mil reais) com o intuito de compelir
os réus ao cumprimento da Sentença transitada em julgado (que exigiu, entre outras ações, a
recuperação da área degradada). TJDFT. Acórdão 1244432, Agravo de Instrumento processo nº
0718780-48.2018.8.07.0000; Relator: ALVARO CIARLINI, 3ª Turma Cível, data de julgamento:
22/4/2020, publicado no PJe: 5/5/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.
45 Aterro Controlado é o local de destinação dos resíduos sólidos em que não há impermeabilização
de forma a impedir contaminação do lençol freático e do solo, mas que conta com algumas medidas
para minimizar os impactos ambientais e sociais. (BIDONE & POVINELLI, 1999, p. 18).
46 Agência Brasília. Vida e Morte do Lixão. Disponível em: <http://sema.df.gov.br/vida-e-morte-do-
lixao/>. Acesso em 13 de Julho de 2020.
47 Agência Brasília. Lixão da Estrutural é definitivamente fechado. 2018. Disponível em: <https://
www.agenciabrasilia.df.gov.br/2018/01/20/lixao-da-estrutural-e-definitivamente-fechado/>.
Acesso em 17 de Julho de 2020.
48 Vale mencionar, auditorias realizadas pelo Ministério Público do Distrito Federal no Aterro Controlado
da Estrutural, em 2019, ainda apontam para a constante necessidade de aprimoramentos no controle de
irregularidades. MPDFT. Buscar: Lixão da estrutural. Disponível em: https://www.mpdft.mp.br/portal/
index.php/component/search/?searchword=lix%C3%A3o&searchphrase=all&Itemid=108.
49 “Art. 54. A disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, observado o disposto no § 1o do
art. 9o, deverá ser implantada em até 4 (quatro) anos após a data de publicação desta Lei”.  Lei nº
12.305 de 2010.

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Ambiente (art. 2º, II, Lei nº 6.938/198150) e com a Lei de Crimes Ambientais (art.
54, V, Lei nº 9.605/199851). Como base legal geral, a PNRS visa o gerenciamento
ambientalmente adequado dos resíduos sólidos (art. 4º, Lei nº 12.305/201052), mas
não aprofunda acerca dos padrões técnicos específicos que irão conferir seguran-
ça e eficiência ao projeto. Para isso, há a regulação pelas entidades competentes, fe-
derais, estaduais e municipais, no campo do Poder Executivo, que regulamentam
as regras de prevenção e de precaução para cada tipo de atividade.
A nível federal, além da regulação do licenciamento ambiental de modo
geral (Lei Complementar nº 140/2011 e a Resolução do Conselho Nacional do
Meio Ambiente -CONAMA, nº 237/1997), no caso da gestão de resíduos, há a
Resolução CONAMA nº 404/2008, que estabelece critérios e diretrizes para o
licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resíduos só-
lidos urbanos, sendo ainda possível que tenham resoluções a nível estadual de
atuação da administração pública. Além da atuação do Estado, vale mencionar
as Normas Técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que
abordam diretamente os parâmetros operacionais, como os sistemas de dre-
nagem, impermeabilização da base e monitoramento. Entre elas, destaca-se a
Norma Brasileira Regulamentadora (NBR) n° 8419, que aponta as diretrizes téc-
nicas para aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos não perigosos; a NBR
nº 8418, para projetos de aterros sanitários de resíduos industriais perigosos; a
NBR nº 10157, que normatiza os critérios para projeto, construção e operação de
aterros de resíduos perigosos; e a NBR nº 13896, que define critérios para proje-
to, implantação e operação para aterros de resíduos não perigosos.

50 “Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade
da vida humana, atendidos os seguintes princípios: (...) II - Racionalização do uso do solo, do
subsolo, da água e do ar.” Art. 2º, II, Lei Federal 6.938 de 1981.
51 “Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em
danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da
flora: (...) V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou
substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos”. Art.
54, V, Lei Federal 9.605 de 1998.
52 “Art. 4o. A Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne o conjunto de princípios, objetivos,
instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime
de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão
integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.” Lei 12.305/2010.

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Estudos de Direito das Águas

Brasília está em processo de adequação às normas acima mencionadas.


Em 2018, pelo Decreto nº 38.903/2018, foi instituído o Plano Distrital de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos no Distrito Federal, comportando um conjunto
de programas, projetos e ações para a atuação da gestão. Além disso, marcos
legais distritais foram constituídos, com o Plano Distrital de Saneamento Básico
(Lei nº 6.454/2019) e a sua a regulamentação pelo Decreto nº 40.487/2020.
Merece destaque ainda, a Resolução da Agência Reguladora de Águas,
Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (ADASA) nº 18/201853, que
estabelece diretrizes e procedimentos para implantação, operação, manuten-
ção monitoramento e encerramento de aterros sanitários destinados à dis-
posição final de rejeitos originários dos serviços públicos de limpeza urbana
e manejo de resíduos sólidos do Distrito Federal. O conjunto dessas normas
gerais e regras específicas, seja do Estado, seja da ABNT (normas de natureza
jurídica não estatal e, portanto, por si só, não são vinculantes), comporta a
atual eficácia jurídica54 da gestão de resíduos.
Em termos técnicos, a destinação de resíduos para aterros sanitários é
uma das melhores formas de lidar adequadamente55 com os resíduos sólidos
urbanos atualmente, desde que feito corretamente. Caso contrário, pode in-
correr em contaminação hídrica (superficial e/ou subterrânea), do solo e do ar.
A eficácia jurídica de um aterro sanitário está na qualidade e no cumprimen-
to das legislações e normas técnicas correspondentes, desde a elaboração do
projeto ao monitoramento pós-fechamento do aterro, de forma que o impacto
provocado por este empreendimento seja mitigado.

53 É importante explicar, a mencionada Resolução nº 18 da ADASA foi posterior ao licenciamento do


Aterro Sanitário de Brasília.
54 Considera-se eficácia jurídica a qualidade da norma de alcançar os objetivos para os quais ela foi
criada, sendo distinta da efetividade jurídica, uma vez esta ser o real cumprimento desses objetivos
(BARROSO, 2003, p. 247).
55 Dentre as demais formas de tratamento e destinação ambientalmente adequadas estão a
compostagem, o aproveitamento energético, incineração (desde que atenda aos padrões das normas
operacionais específicas) - Art. 3º, VII, Lei nº 12.305/2010. O SLU conta com duas Usinas de
Tratamento Mecânico Biológico que realizam compostagem no Distrito Federal, onde os resíduos
orgânicos são transformados em adubo e doados a agricultores locais. Em 2018 foram concedidos
mais de 65 mil toneladas deste composto (SLU, 2019b, p. 135-136); Ainda não há práticas de
aproveitamento energético em grande escala no Distrito Federal; A incineração é feita apenas para
os resíduos dos serviços de saúde, devido necessidade de tratamento especial para que não haja
contaminação (SLU, 2020, p. 23).

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Estudos de Direito das Águas

Juntamente à disposição final em aterros sanitários, se faz necessária a ado-


ção de práticas como a coleta seletiva e a logística reversa, na condição de meca-
nismos de ampliar a vida útil deste empreendimento, uma vez que proporcionam
a destinação adequada aos resíduos sem que haja uma sobrecarga do aterro.
A presente análise insere-se como uma contribuição a uma melhor
conformidade das atividades do Aterro Sanitário de Brasília com a proteção
jurídica ambiental resultante do licenciamento ambiental e, portanto, pro-
porcionar elementos para uma continuidade do aprimoramento da gestão de
resíduos sólidos na Capital Federal. Trata-se de uma contribuição aos estu-
dos do cumprimento dos objetivos de combate à poluição e pelo tratamento
adequado de resíduos. Estes aspectos foram levados em conta na elaboração
deste trabalho, visando caracterizar o contexto dos vazamentos de chorume
no Aterro Sanitário de Brasília e seus respectivos danos socioambientais, além
de propor algumas possíveis medidas de atenuação.
Especificamente, procurou-se compreender alguns desafios na imple-
mentação do aterro e, em seguida, analisar o cumprimento de algumas deter-
minações de prevenção configuradas como condicionantes56 do licenciamen-
to ambiental. A pesquisa foi feita a partir da análise das legislações vigentes,
jurisprudência, teses e dissertações, artigos acadêmicos e reportagens que
abordam os problemas socioambientais, contaminação e condicionantes57.
Para o Aterro Sanitário de Brasília, foram consultados os documentos presen-
tes no processo de licenciamento ambiental, entre eles, a Licença Prévia (LP)
n° 004/2012, Licença de Instalação (LI) n° 013/2013 e Licença de Operação
(LO) n° 044/2016; as suas condicionantes e o Estudo de Impacto Ambiental.
Especificamente acerca da apuração dos vazamentos ocorridos no início de
2019, tomou-se como base os Relatórios Técnicos de Monitoramento e Ava-
liação SEI-GDF nº 2 (30.01.2019), nº 3 (06.02.2019), nº 5 (11.02.2019) e nº 10
(08.04.2019), IBRAM/PRESI/SUBIO/DIREA, respectivamente, entre outros

56 As condicionantes são regras de prevenção no formato de cláusulas da licença ambiental, definidas


pelo órgão licenciador, e, portanto, fazem parte de um ato administrativo, no qual o órgão licenciador
“estabelece condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo
empreendedor, pessoa física ou jurídica” (artigo 1°, II, Resolução Conama 237/97).
57 Como exemplificação de legislações utilizadas neste trabalho pode ser citada a Política Nacional de
resíduos Sólidos e a Política nacional de Saneamento Básico, Teses e Dissertações como (SANTOS,
2019) e (CAVALCANTI, 2013), respectivamente. Além de reportagens que retratam os vazamentos
no aterro como Chorume vaza no Aterro Sanitário de Samambaia, no DF, e atinge o rio Melchior.

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Estudos de Direito das Águas

documentos58. Assim, analisa-se aqui a efetividade jurídica e técnica adotadas


no licenciamento ambiental do Aterro Sanitário de Brasília, especificamente,
acerca do cumprimento de algumas das condicionantes e das ações adotadas
na contenção e mitigação dos vazamentos.
Para tanto, os passos elucidativos desta pesquisa encontram-se na aná-
lise da implantação do Aterro e a insuficiência na execução de determina-
das condicionantes ambientais (1); e uma análise das ações de melhorias para
cumprir com o dever de assegurar a operação ambientalmente adequada do
Aterro Sanitário de Brasília (2).

1. Uma análise da implantação do aterro e da execução de


determinadas condicionantes ambientais
A análise feita aqui, acerca da implantação do Aterro Sanitário de Bra-
sília, diz respeito à escolha do local, a partir da análise do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) (1.1), e, em seguida, uma análise das condicionantes oriun-
das do licenciamento ambiental no Aterro e a necessidade de um constante
aprimoramento nas medidas de proteção ambiental (1.2).

1.1 Uma breve crítica à escolha do local


do aterro sanitário de Brasília

Por meio de um EIA realizado em 200559, cinco áreas foram inicialmente


propostas para receber o Aterro Sanitário de Brasília. Foram avaliadas de forma
que fosse escolhida a melhor área do ponto de vista dos impactos ambientais.

58 Todos os documentos mencionados (inclusive as licenças) se encontram disponíveis no processo nº


00391-00000864/2019-57 do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal
– Instituto Brasília Ambiental (IBRAM). Foram consultados, a partir de um pedido de acesso à
informação, protocolo nº 00480000045201947, no Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao
Cidadão do Distrito Federal. Ademais, eventuais esclarecimentos e informações foram solicitadas
ao Governo do Distrito Federal em diferentes pedidos, por meio do Sistema Eletrônico de Acesso
à Informação ao Cidadão do Distrito Federal, todos constando como referências às respectivas
informações solicitadas que foram aqui utilizadas na análise.
59 Estudo de Impacto Ambiental do Aterro Sanitário de Brasília. PROGEA Engenharia e Serviços
Ambientais. Brasília, 2005, p. 16-24.

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Estudos de Direito das Águas

A princípio, as cinco áreas pré-escolhidas foram: a área ao lado da Usina


de Compostagem e Tratamento de Lixo - SOUCTL, no Setor P-Sul, na cidade
de Ceilândia, proposta pelo então Serviço de Ajardinamento e Limpeza Urba-
na do Distrito Federal (BELACAP); a área 1, no trecho da Rodovia Vc-311 na
Chapada da Contagem – Guariroba, Ceilândia; a área 2, na margem direita
do rio Melchior – Guariroba, Ceilândia; a área 3, na margem esquerda do rio
Melchior, em Samambaia, próxima à Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)
Melchior; e a área 4, no lado sul da DF-290, a sudoeste do Gama. As áreas 1, 2,
3 e 4 foram propostas pela equipe responsável pela elaboração do EIA.
A escolha do local se deu por uma metodologia adaptada de Mcbean et
al. (1995), na qual foi feita uma hierarquização das áreas com base nos princi-
pais parâmetros que poderiam vir a influenciar na qualidade ambiental do lo-
cal escolhido60, atribuindo valores para cada alternativa, de forma que, quanto
maior a pontuação, melhor o cenário. Cada área foi avaliada em relação aos
parâmetros determinados e, em seguida, foram atribuídos pesos, variando de
1 a 3, conforme a sua relevância.
As áreas 1 e 2 foram tidas como inapropriadas para implantação do ater-
ro: a primeira, em função de sofrer influência da urbanização e atividades
econômicas próximas, o que tornaria oneroso a desapropriação da área, além
do impacto visual para quem trafegasse na Vc-311 e pela DF-180, entre Brasília
e Goiânia. Já a segunda área necessitaria de canalização de nascentes entre a
borda da Chapada de Contagem e o rio Melchior, sem prejudicar a qualidade
desses mananciais, o que seria oneroso e dificultaria o processo de licencia-
mento ambiental. Além dessas duas áreas, a área proposta pela BELACAP
apresentou a menor pontuação (97), também sendo desqualificada por repre-
sentar a área de maior impacto.
As alternativas 3 e 4 tiveram as maiores pontuações, 153 e 144 respec-
tivamente, sendo as mais viáveis ambiental, social e economicamente. A

60 Ao todo foram 18 parâmetros ambientais, sociais e econômicos como interferências com unidades
de conservação, proximidade com centros urbanos e facilidade de acesso. Estudo de Impacto
Ambiental do Aterro Sanitário de Brasília. PROGEA Engenharia e Serviços Ambientais. Brasília,
2005. p. 43-49.

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Estudos de Direito das Águas

alternativa 4 seria a melhor, desde que associada a uma estação de trata-


mento de lixo próxima61.
Entretanto, mesmo com a possibilidade de uma área melhor e de menor
impacto (a alternativa 4), a alternativa 3 foi escolhida. Dentre as suas vantagens
estavam: a localização na Zona Urbana de Dinamização62, próxima à Estação de
Tratamento de Esgoto (ETE) Melchior; o respeito à distância de 30 m das margens
do rio Melchior; a existência de relevo suave; a área já havia sofrido desmatamen-
to, de forma que o impacto direto do Aterro na vegetação seria amenizado; a área
apresentava fácil acesso63 e a proximidade com regiões administrativas de densi-
dade demográfica acentuada (Samambaia, Ceilândia e Taguatinga).
Em contrapartida, com a implantação da 3ª alternativa, mesmo respei-
tando os 30 metros impostos pelo art. 4° da Lei nº 12.651/2012, o Aterro en-
contra-se próximo o suficiente do rio Melchior. E embora este corpo hídrico
seja de classe 464, conforme Resolução n° 02 de dezembro de 2014 do Conselho
de Recursos Hídricos do Distrito Federal - CRH, a proteção da sua qualidade
ambiental para o ecossistema e à população local65 entra em risco em situa-
ções de acidentes e ineficiências operacionais.
Desta forma, faz-se crer que a escolha da área 4, juntamente a constru-
ção de uma Estação de Tratamento de Lixo, teria sido a melhor alternativa
em termos ambientais, conforme exposto no EIA66, ante um maior respaldo

61 Uma estação de tratamento de lixo próxima possibilitaria um maior aproveitamento dos resíduos
(reciclagem) e faria com que somente os rejeitos fossem destinados ao aterro, aumentando sua vida
útil e ganho ambiental.
62 Art. 19, § 1º, Lei Complementar nº 17, de 28 de janeiro de 1997.
63 Estudo de Impacto Ambiental do Aterro Sanitário de Brasília. PROGEA Engenharia e Serviços
Ambientais. Brasília, 2005. p. 23-28.
64 Cada classe de água está apta a receber determinados tipos de uso, de forma que esses usos ditam a
qualidade da água que o corpo hídrico deve atender. A classe 4 é a menos restritiva e atende a destinações
menos ‘nobres’, o que implica em menores exigências para a qualidade da água do corpo hídrico.
65 O rio Melchior faz parte da Bacia Hidrográfica do Descoberto, que é importante para o Distrito
Federal, ao atuar na preservação dos ecossistemas locais, ser objeto de lazer, abastecimento público
e irrigação. Portanto, mesmo que este rio represente apenas um trecho que integra a bacia, o
impacto também pode ser sentido nos trechos a montante, uma vez que o rio Melchior ainda recebe
as contribuições dos córregos Guariroba e Salta Fogo até, por fim, desaguar no rio Descoberto
(GDF, 2006, p. 112).
66 Estudo de Impacto Ambiental do Aterro Sanitário de Brasília. PROGEA Engenharia e Serviços
Ambientais. Brasília, 2005. p. 49.

92
Estudos de Direito das Águas

de proteção ao rio Melchior e, de modo geral, a julgar pela insuficiência no


cumprimento de algumas condicionantes ambientais presentes no processo
de licenciamento do Aterro, conforme segue a análise.

1.2 Uma análise das condicionantes oriundas do


licenciamento ambiental no aterro e a necessidade
de um constante aprimoramento nas medidas
de proteção ambiental
Uma das formas de garantir a destinação ambientalmente adequada dos
resíduos em um aterro sanitário é o cumprimento das condicionantes previs-
tas no processo de licenciamento ambiental (art. 8º da Resolução CONAMA
nº 237/1997). No caso em questão, a análise volta-se para algumas das condi-
cionantes da Licença Prévia n° 004/2012, Licença de Instalação n° 013/2013 e
da Licença de Operação n° 044/201667, emitidas pelo IBRAM para o Aterro
Sanitário de Brasília. Analisa-se o papel das condicionantes pré-estabelecidas
frente aos eventos de contaminação ocorridos no Aterro e a sua relação com a
contaminação do ambiente.
Do ponto de vista conceitual, Eduardo Bim caracteriza as condicionan-
tes como cláusulas da licença ambiental, definidas pelo órgão licenciador, nos
limites legais e discricionários relacionados à análise do licenciamento am-

67 Uma condicionante interessante, mas que não é aqui objeto de estudo, é a condicionante 10 da
Licença de Instalação n° 13/2013 que condiciona “A formalização de termo de compromisso para o
cumprimento da compensação ambiental deverá preceder a concessão da licença de operação”. Por
se tratar do licenciamento de um empreendimento de significativo impacto ambiental, é obrigatório
que os responsáveis pelo Aterro Sanitário de Brasília apoiem a implantação e manutenção de
unidades de conservação de Proteção Integral ou unidades que sejam diretamente afetadas pelo
empreendimento em questão, conforme o art. 36 do Sistema Nacional de Unidade de Conservação
(Lei nº 9.985/2000). A compensação ambiental deveria ter sido feita ao Refúgio de Vida Silvestre
do Gatumé, o que ainda não ocorreu. O Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do
Distrito Federal - Brasília Ambiental (IBRAM) informou, em 28.07.2020, através de uma solicitação
feita em 11.07.2020, pelo Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão do Distrito
Federal (e-SIC), conforme Protocolo n° 00391000085202021, que o Plano de Manejo da ARIE JK,
que abrange a área do Refúgio de Vida Silvestre do Gatumé, está sendo revisado. E que a partir
da entrega da revisão deste plano, será elaborado um Plano de Manejo específico Refúgio de Vida
Silvestre do Gatumé, pelo qual será possível definir os produtos e serviços a serem empregados por
meio de Compensação Ambiental.

93
Estudos de Direito das Águas

biental, podendo ser modificadas pelo órgão, também em decorrência desta


análise e eventuais fatores supervenientes68. O descumprimento ou a inade-
quação de alguma delas sujeita o empreendimento à suspensão ou cancela-
mento da licença emitida pelo órgão ambiental (art. 19 da Resolução CONA-
MA 237/1997). A importância das condicionantes ambientais em um processo
de licenciamento se deve ao fato de que, como atos administrativos emitidos
pelos órgãos ambientais, as licenças objetivam constituir obrigações jurídicas
ambientais direcionadas ao empreendimento potencialmente poluidor, para
que este se adeque aos programas e medidas mitigadoras contidos nos estudos
ambientais, ampliando a proteção do meio ambiente frente aos possíveis im-
pactos. As condicionantes acompanham as suas respectivas licenças ambien-
tais e devem ser executadas conforme compactuam, seja durante a vida útil
do empreendimento, seja após sua desativação, se assim disposto na licença.
No caso em questão, a partir de janeiro de 2019, após dois anos da inau-
guração do Aterro69, iniciou-se uma série de vazamentos do chorume que
acarretaram a contaminação do rio Melchior e do solo nas adjacências do
Aterro. Estes eventos se contrapõem à condicionante n° 24 da Licença de Ope-
ração n° 044/2016, emitida pelo IBRAM, ligada exclusivamente à manutenção
do Aterro, mais precisamente ao sistema viário e de drenagem de chorume e
água superficial. Os nove vazamentos se estenderam por um pouco mais de
dois meses, mesmo após a adoção de medidas corretivas em seguida ao pri-
meiro evento70. Desta forma, embora a manutenção do Aterro tenha se dado
imediatamente após o início dos vazamentos, a ocorrência dos múltiplos es-
coamentos irregulares, e a extensão do impacto ambiental indicam a neces-
sidade de melhorias no cumprimento da condicionante acima mencionada.
Outra condicionante que, na época, não foi atendida, foi a de nº 07 da LO
nº 044/2016, que estabelece a necessidade de instalação de uma unidade de
pré-tratamento do chorume pelo Aterro, antes de ser enviado à ETE Melchior.

68 BIM, Eduardo Fortunato. Licenciamento Ambiental. 5ª Edição. Belo Horizonte: Editora Fórum,
2020, capítulo VII (versão Kindle).
69 Aterro Sanitário de Brasília começa a funcionar. Agência Brasília. Disponível em: < https://www.
agenciabrasilia.df.gov.br/2017/01/17/aterro-sanitario-de-brasilia-comeca-a-funcionar/>. Acesso
em: 30 de agosto de 2019.
70 Informação contida no Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF n.º 3/2019 -
IBRAM/PRESI/SUBIO/DIREA, contido no Processo SEI 00391-00000864/2019-57. p. 14-16.

94
Estudos de Direito das Águas

O não atendimento desta condicionante ocasionou na sobrecarga da ETE, que


não estava preparada para receber o chorume sem tratamento do Aterro. Em
2019, o governo do Distrito Federal (GDF) anunciou a contratação, em caráter
emergencial, uma empresa para realizar o tratamento do chorume71.
Os vazamentos também interferem na condicionante nº 13 da Licença
de Operação n° 044/2016, que se refere à “drenagem do chorume ao longo de
todo seu horizonte operacional, conforme projeto aprovado” e na condicio-
nante nº 41 da Licença de Instalação n° 013/2013, que traz como obrigação o
dever de assegurar que o Aterro seja operado de forma ambientalmente ade-
quada durante as fases de construção e funcionamento.

2. Uma análise das ações para o dever de


assegurar a operação ambientalmente
adequada do aterro sanitário de Brasília
Por ser um empreendimento de significativo impacto ambiental, é de
suma importância que haja todo o cuidado em não somente cumprir com
as normas técnicas e legislações pertinentes ao processo de instalação, como
também no monitoramento durante a operação e após o seu fechamento, para
garantir o adequado funcionamento do Aterro durante toda sua vida útil e
diminuir riscos e impactos ambientais.
Em consequência de problemas sistêmicos no empreendimento, anali-
sam-se aqui os casos de vazamento de chorume ocorridos no Aterro Sanitário
de Brasília, bem como as ações adotadas de maneira a evitar a proliferação de
novos vazamentos e mitigar os danos ambientais ao rio Melchior e ao ambien-
te local. Observou-se a necessidade de melhoria nas medidas de contenção
de chorume do Aterro Sanitário de Brasília (2.1). Em seguida, analisou-se a
influência dos vazamentos na qualidade hídrica do rio Melchior e conside-
rações ao enquadramento das águas como instrumento de gestão hídrica e
proteção ambiental (2.2). Posteriormente, observou-se algumas possibilidades

71 CORREIO BRASILIENSE. GDF vai contratar empresa para tratar chorume do Aterro Sanitário.
2020. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2020/07/01/
interna_cidadesdf,868485/gdf-vai-contratar-empresa-para-tratar-chorume-do-aterro-sanitario.
shtml>. Acesso em: 04 de Novembro de 2020.

95
Estudos de Direito das Águas

de aprimoramento das medidas de prevenção e mitigação pela potencialidade


de produção de biogás e uso da logística reversa (2.3).

2.1 Da necessidade de melhoria nas medidas de


contenção de chorume do aterro sanitário de brasília
Em janeiro de 2019, foi detectado o primeiro de uma série de vazamentos
ocorridos no Aterro Sanitário de Brasília. O que, por não se tratar de um caso
isolado, é preocupante, em função do elevado potencial poluidor deste empre-
endimento. Desta forma, busca-se aqui, avaliar a contaminação do ambiente e
as medidas adotadas em prol da contenção dos vazamentos.
O primeiro desta série de, ao menos, nove vazamentos de 2019 foi identi-
ficado no dia 28 de janeiro daquele ano, mediante ronda rotineira do Serviço
de Limpeza Urbana (SLU). A figura 01 retrata o local em que houve o primeiro
vazamento, bem como o percurso percorrido até o rio Melchior.

Figura 01: Percurso e direção do fluxo de chorume, marcado com as setas amarelas, do pri-
meiro vazamento. Partindo da caixa de passagem, atravessando o Reservatório de Qualidade
e Quantidade e chegando ao Rio Melchior. Fonte: Relatório Técnico de Monitoramento e Ava-
liação SEI-GDF nº 2/2019, IBRAM/PRESI/SUBIO/DIREA, de 30.01.2019, p. 02, processo nº
00391-00000864/2019-57, IBRAM.

96
Estudos de Direito das Águas

Este primeiro vazamento ocorreu na tubulação que liga as células do ater-


ro (onde o chorume é gerado) à lagoa de chorume (onde ocorre o seu armaze-
namento), tendo se estendido à rede de drenagem de águas pluviais e, posterior-
mente, ao rio Melchior. Fato agravante é o de que os funcionários do Aterro, a
princípio, atuaram na contenção do chorume nas adjacências do Aterro, não
destinando medidas iniciais para impedir o chorume de chegar ao rio Melchior,
de forma que só se ativeram a impedir o chorume de ter contato com o rio,
após a contaminação ter sido detectada72. Como medida de contenção inicial,
a equipe técnica optou pela instalação de um sifão como caminho alternativo
à drenagem obstruída. Entretanto, não foi observado qualquer mecanismo no
intuito de impedir o chorume de seguir em direção à galeria de águas pluviais73.
Um dos vazamentos ocorridos no aterro é mostrado na figura 02, a seguir:

Figura 02: Um dos pontos de extravasamento do chorume no Aterro. Fonte: Metrópoles (2019).

72 Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF n.º 2/2019 - IBRAM/PRESI/SUBIO/


DIREA, de 31.01.2019, contido no Processo SEI 00391-00000864/2019-57.
73 Conforme expresso no Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF n.º 2/2019.
IBRAM/PRESI/SUBIO/DIREA, de 31.01.2019, contido no Processo SEI 00391-00000864/2019-57.

97
Estudos de Direito das Águas

O vazamento ocorreu no dia 28 de janeiro, e o IBRAM foi noticiado


no dia 30 de janeiro. Salienta-se aqui a necessidade de esclarecer o que seria
uma comunicação imediata, conforme a observação nº 5 da Licença de Ope-
ração nº 44/2019, que impõe a necessidade de comunicar, imediatamente, o
órgão fiscalizador, acerca de qualquer acidente que apresente risco de dano
ambiental. O IBRAM só foi notificado, e, portanto, capaz de vistoriar o local
do acidente, bem com suas consequências, dois dias depois, o que pode ter
prejudicado a sua análise. Nessa vistoria, realizada no dia 30, talvez em função
do espaçamento entre acidente e vistoria, não foi detectado, visualmente ou
pelo odor, resquícios do chorume no rio Melchior. Entretanto, foi observado
dano na rede de drenagem de águas pluviais, que resultou na infiltração direta
do chorume no solo. A análise técnica contou com dados coletados pelo SLU
e pela ADASA. O chorume atingiu uma região já impactada do rio Melchior,
que recebe o efluente tratado da Estação de Tratamento de Esgoto de Samam-
baia (ETE Samambaia) e da ETE Melchior74, o que também dificulta a distin-
ção do impacto direto do chorume na qualidade do rio.
O segundo vazamento ocorreu no dia 05 de fevereiro de 2019, na mesma
estrutura do anterior, só que em um ponto distinto, à montante. Desta vez, o
IBRAM foi noticiado imediatamente, e a vistoria se deu no mesmo dia. Não
obstante, em função da lavagem das galerias de águas pluviais que acontecia
no momento da inspeção, não foi possível comprovar se o chorume atingiu o
rio Melchior neste segundo vazamento75.
Fato agravante é o de que a lavagem das canaletas transportou o choru-
me para o Reservatório de Qualidade e Quantidade (RQQ), sendo esta uma
área não impermeabilizada e totalmente vulnerável à infiltração e contamina-
ção do solo76. Nesta mesma vistoria realizada pelo IBRAM, foi notada a pre-
sença de sólidos dentro dos poços de visita, sendo identificado (pelas marcas
deixadas nos poços), que o chorume extravasou antes de atingir o topo dos

74 Ofício SEI-GDF Nº 203/2019 - IBRAM/PRESI, de 14 de fevereiro de 2019, contido no Processo SEI


00391-00000864/2019-57, IBRAM.
75 A lavagem das galerias de águas pluviais, coincidentemente no dia do vazamento, acaba por diluir e
descaracterizar o percolado, o que impede de se constatar de fato a ocorrência de contaminação hídrica.
76 Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF n.º 5/2019 - IBRAM/PRESI/SUBIO/
DIREA, de 11.02.2019, contido no Processo SEI 00391-00000864/2019-57, IBRAM.

98
Estudos de Direito das Águas

poços, sendo um indicativo de falha na impermeabilização77. Ainda na visita


realizada pelo IBRAM, foi constatado também que, no mesmo dia deste vaza-
mento, a equipe responsável pelo Aterro já estava instalando dreno secundá-
rio à jusante do posto de visita em que ocorreu o vazamento.
O terceiro vazamento foi no dia 11 de fevereiro de 2019, tendo ocorri-
do em um ponto distinto dos anteriores. Mais uma vez, o chorume escorreu
para as galerias de águas pluviais e, posteriormente, ao RQQ, sendo possível
que tenha alcançado o rio Melchior78. Desta vez as medidas adotadas foram
relacionadas à absorção e ao transporte do material vazado. Nas medidas de
absorção do vazamento, as canaletas de drenagem foram recobertas com solo
local de forma a absorver o material e impedir seu alastramento e infiltração,
como ocorreu nos eventos anteriores. Ademais, foi feito o transporte do cho-
rume que chegou ao RQQ até a lagoa de contenção, que é o local adequado
para o armazenamento deste resíduo. Embora tenha havido uma melhora, as
medidas adotadas continuaram insuficientes em evitar que o percolado atin-
gisse o RQQ e o rio Melchior.
Além destes, outros afloramentos de lixiviado e extravasamento de cho-
rume foram informados ao IBRAM, tendo ocorridos nos dias 23 de fevereiro,
06, 13 e 17 de março79; e 0480 e 05 de abril de 201981. Foram nove vazamentos
em pouco mais de dois meses, sendo uma elevada frequência em um curto
intervalo de tempo.
O fato de tantos vazamentos terem ocorrido em uma escala de tempo curta
e em um aterro com apenas dois anos de operação é preocupante. Em função de
haver numerosos casos de vazamentos e do prejuízo ambiental proporcionado

77 Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF n.º 3/2019 - IBRAM/PRESI/SUBIO/


DIREA, de 06.02.2019, contido no Processo SEI 00391-00000864/2019-57, IBRAM.
78 Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF n.º 5/2019. IBRAM/PRESI/SUBIO/
DIREA, de 11.02.2019, contido no Processo SEI 00391-00000864/2019-57, IBRAM.
79 Conforme o Parecer Técnico SEI-GDF n.º 2/2019 - IBRAM/PRESI/SUBIO/DIREA, contido no
Processo SEI 00391-00000864/2019-57, IBRAM.
80 Conforme Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF n.º 10/2019 -IBRAM/PRESI/
SUBIO/DIREA de 04.04.2019, contido no Processo SEI 00391-00000864/2019-57, IBRAM.
81 Conforme Despacho SEI-GDF IBRAM/PRESI/SUBIO/DIREA de 08 de abril de 2019, contido no
Processo SEI 00391-00000864/2019-57, IBRAM.

99
Estudos de Direito das Águas

por lixões e aterros mal operados82, por ser um empreendimento habitual com
vida útil considerável e de grande potencial poluidor, mesmo após desativação,
deve-se estar sempre atento às normas técnicas e legislações pertinentes para que
acidentes e problemas com contaminações sejam evitados.
Após a análise dos impactos, ações de mitigação da equipe técnica e do o Pla-
no de Atendimento às Emergências - PAE, o IBRAM definiu nove ações a serem
feitas no Aterro. As nove solicitações do IBRAM foram: a identificação da causa
de obstrução da tubulação; a limpeza da via atingida; a elaboração de novo Plano
de Atendimento à Emergência; a apresentação de Relatório Técnico, ilustrando as
ações de limpeza, transporte e disposição final dos resíduos; o encaminhamen-
to dos resultados laboratoriais das análises de qualidade da água, realizado pela
ADASA ou relatório técnico emitido pelo IBRAM; a elaboração de Novo Plano
de Atendimento à Emergência conforme roteiro encaminhado; a verificação e o
encaminhamento de Relatório Técnico referente à possibilidade de instalação e
manutenção de tubulações secundárias paralelas às linhas principais; o protocolo
de contenção de forma a evitar que novos vazamentos atinjam os corpos hídricos
e o solo; a existência de equipamentos de emergência, que devem estar à dispo-
sição no Aterro, como bombas de sucção e tanques de armazenamento; e o PAE
deveria avaliar alternativas para impedir que o chorume atinja o RQQ 83.
Na visita realizada pelo IBRAM, em consequência do vazamento ocorrido
no dia quatro de abril de 2019, foi possível notar melhorias na eficiência das estra-
tégias e abordagens utilizadas pela equipe técnica do aterro. Como exemplifica-
ção: já haviam instalado um conjunto motorbomba para transportar o chorume
para a bacia de contenção e estavam fazendo a recomposição do maciço do pri-
meiro vazamento. Isso auxiliou nas medidas de prevenções posteriores, como no

82 Por exemplo, a reportagem mostra o lixão em Jangurussu, Fortaleza, que mesmo desativado a 17
anos, na época, continuava gerando chorume e contaminando o Rio Cocó. Diário do Nordeste.
Antigo Lixão ainda gera impactos. Disponível em: <https://diariodonordeste.verdesmares.com.
br/editorias/metro/antigo-lixao-ainda-gera-impactos-1.1321532>. Outro exemplo é o aterro
sanitário da região metropolitana de Belém onde não há nenhum tipo de impermeabilização do
solo, tratamento de chorume e drenagem das águas pluviais, acarretando múltiplas contaminações
(MATOS, 2011, p. 301-302).
83 Conforme SEI-GDF n.º 5/2019, de 11.02.2019, IBRAM/PRESI/SUBIO/DIREA, contido no processo
00391-00000864/2019-57 no IBRAM.

100
Estudos de Direito das Águas

caso de um vazamento ocorrido no dia seguinte, dia cinco de abril de 2019, que
foi detectado imediatamente, em função das operações que estavam sendo feitas84.
Por ser um aterro sanitário devidamente licenciado, planos de ações
para lidar com esses tipos de acidentes são cruciais de serem aprimorados.
Um monitoramento constante das tubulações poderia ter verificado a pre-
sença de sólidos junto ao chorume que, posteriormente, contribuiu para que
ocorresse o entupimento.
Em geral, lidar com resíduos é lidar com riscos futuros: as consequências
do seu gerenciamento ineficiente podem não repousar no horizonte temporal
imediato, mas anteceder um verdadeiro desastre tecnológico crônico ambien-
tal85. A aplicação do princípio da prevenção86 e da precaução87 pelos instru-
mentos de contenção de riscos de acidentes e danos ambientais são funda-
mentais, ampliando a vida útil do aterro. No caso, pela existência de diretrizes
e regras específicas para aterros, enquadra-se a necessidade de agir conforme
o princípio da prevenção (para quando há parâmetros a serem seguidos, para
se evitar a poluição), seguindo as normas existentes.
Do ponto de vista de conformidade com as normas aplicáveis, a obstrução
do sistema de drenagem do percolado estava em desacordo com a NBR nº 13896
que, em seu capítulo 5.2.2, propõe que o aterro seja construído de forma que o
sistema de drenagem não sofra obstrução durante todo o período de vida útil e
do pós-fechamento do aterro. Outro desacordo com a norma supracitada88 é que a

84 Conforme Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF n.º 10/2019 - IBRAM/PRESI/


SUBIO/DIREA de 04.04. 2019, contido no processo nº 00391-00000864/2019-57 no IBRAM.
85 De modo geral, desastre tecnológico crônico é aqui entendido na definição de danos socioambientais
prolongados no tempo, no espaço, e decorrentes de ação (ou omissão) humana. (COUCH; KROLL-
SMITH, 66 (3), pp.565-575; GRAMLING; KROGMAN, 1997, p. 41-57.; Lieber; Romano-Lieber,
2005, 67-84; MANTELLI, 2018, p.74-95). O papel do direito frente aos desastres visa não somente
responder aos eventos catastróficos, mas também de antecipar e investir em normativas de
mitigação. (CARVALHO, 2013, p. 409-410).
86 Aplicado para empreendimentos que são efetivamente poluidores, visando impedir danos
ambientais, previamente comprovados, impondo medidas preventivas antes da implantação da
atividade. (MILARÉ, Édis, 2007, p. 766-767).
87 Propõe que riscos potenciais desconhecidos exijam investigações e análises para que, com medidas
mitigadoras, o empreendimento possa ser realizado com segurança. Já que, na dúvida, a integridade
do meio ambiente deve prevalecer. (PADILHA, 2010, p. 248-253).
88 A NBR 13896 diz respeito aos Critérios para projeto, implantação e operação de um aterro sanitário
de resíduos não perigosos, e em seu capítulo 5.2 são expostas as condições de impermeabilização,
drenagem e tratamento do líquido percolado do aterro.

101
Estudos de Direito das Águas

impermeabilização deveria ocorrer de forma que o líquido percolado não entras-


se em contato com o solo natural. Neste caso, embora todo o maciço tenha sido
subposto por uma camada impermeável, após o extravasamento, o percolado foi
armazenado, de forma voluntária, no RQQ, local impróprio e que expõe risco ao
solo e potenciais lençóis freáticos. Segundo o Relatório Técnico elaborado pelo
IBRAM, naquele momento, os funcionários do SLU preferiram reter o chorume
no RQQ para que este não chegasse ao rio Melchior89. Entretanto, ambas as alter-
nativas são insuficientes para conter a degradação ambiental, uma vez que o RQQ
não está preparado para receber este tipo de material, proporcionando infiltração
e contaminação do ambiente.
Por outro lado, boas alternativas foram adotadas em vazamentos posterio-
res, como bombear o material vazado para a lagoa de contenção de chorume, lo-
cal pertencente ao Aterro e que está devidamente impermeabilizado, assim como
o transporte do chorume novamente ao maciço, em função deste também ser
impermeável. Como medidas de melhoria no âmbito da gestão do Aterro, vale
ressaltar que, também naquele momento, a Fundação de Apoio a Pesquisa (FU-
NAPE - UFG) foi contratada para auxiliar na descoberta do motivo pelo qual
houve a obstrução das tubulações de drenagem do chorume. Outra empresa foi
contratada para inspeção, por meio de filmagens, dos emissários e drenos de bio-
gás90. Ambas as contratações feitas pelo Consórcio foram no intuito de evidenciar
a primogenitura dos vazamentos, de forma que haja uma solução mais eficaz.
Ainda em janeiro de 2019, foi sugerida pela Diretoria de Riscos e Emer-
gências Ambientais do IBRAM, a possibilidade de instalação de tubulações
secundárias para atender o volume de chorume em situações de entupimento
das tubulações principais, sendo informado, posteriormente, que esta possibi-
lidade poderia ser feita na segunda etapa do Aterro91.
O chorume do Aterro, que não estava sendo tratado previamente, era
encaminhado diretamente para a ETE Melchior. Tal fato sobrecarregou a es-

89 Informação exposta no Relatório Técnico elaborado pelo IBRAM acerca dos primeiros vazamentos
ocorridos no dia 28 e 29 de janeiro de 2019. Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF
n.º 2/2019. IBRAM/PRESI/SUBIO/DIREA, contido no processo 00391-00000864/2019-57 no IBRAM.
90 CONSÓRCIO SAMAMBAIA AMBIENTAL ATERRO SANITÁRIO DE BRASÍLIA. Nº Doc. 23/2019.
Resposta Documento SEI 18490101, contido no processo 00391-00000864/2019-57 no IBRAM.
91 Conforme o Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF n.º 2/2019 -IBRAM/PRESI/
SUBIO/DIREA, de 30.01.2019, p. 6, contido no processo 00391-00000864/2019-57 no IBRAM.

102
Estudos de Direito das Águas

tação de tratamento, já que não foi preparada para receber o efluente bruto.
Desta forma, para não mais sobrecarregar a ETE Melchior, o SLU lançou um
edital para contratar uma empresa para realizar o tratamento do chorume
antes de ser lançado no rio Melchior.
Embora tenham sido múltiplos vazamentos, houve um aprimoramento
nas ações de contenção dos vazamentos, o que amenizou os prejuízos ambien-
tais. Entretanto, o número alarmante de vazamentos, num curto espaço de tem-
po, exige maior atenção às ações que garantam a adequada operação do aterro
durante toda sua vida útil e após seu fechamento, proporcionando segurança
ao solo e aos recursos hídricos da região. Isso porque, conforme será visto em
seguida, são eventos danosos que influenciam na qualidade do meio ambiente
ao redor, no caso, a qualidade hídrica do rio Melchior e a contaminação do solo.

2.2 Da influência dos vazamentos na qualidade


hídrica do rio melchior e considerações ao
enquadramento das águas como instrumento
de gestão hídrica e proteção ambiental
O chorume apresenta elevada carga poluente em função da alta concen-
tração de elementos e materiais tóxicos em sua composição, dentre metais e
íons (KREITH & TCHOBANOGLOUS, 2002, p 5.4), o que fornece impacto
negativo relevante aos ambientes com os quais o material tem contato. Desta
forma, em função dos vazamentos ocorridos terem atingido tanto o solo des-
protegido como o rio Melchior, analisam-se aqui as influências sofridas por
este corpo hídrico, além de contar com uma reflexão acerca do enquadramen-
to dos corpos hídricos em classes como instrumento de proteção ambiental
hídrica a ser aprimorado, considerando o caso em questão. Observa-se abai-
xo, as contaminações hídricas dos vazamentos ocorridos em 2019 no Aterro
Sanitário de Brasília (2.2.1), algumas considerações sobre os desafios do en-
quadramento dos corpos hídricos em classes (2.2.2), e a contaminação de solo
diante do Aterro Sanitário de Brasília (2.2.3).

103
Estudos de Direito das Águas

2.2.1 A contaminação hídrica dos vazamentos


ocorridos em 2019 no Aterro Sanitário de Brasília
O Consórcio que opera o Aterro Sanitário de Brasília é responsável pela
análise e monitoramento da qualidade das águas superficiais e subterrâneas
que o circundam. Existem 11 pontos de monitoramento, sendo sete poços des-
tinados às águas subterrâneas, dois pontos referentes às águas superficiais (a
montante e a jusante do rio Melchior) e dois pontos referentes ao chorume92.
Ademais, segundo a Resolução CRH nº 2/2014, o rio Melchior se en-
quadra na classe 4. Essa classificação permite apenas a navegação e harmonia
paisagística (art. 4º, V, Resolução CONAMA nº 357/2005), sendo inapropriada
para recreação de contato primário93. Para a proteção da população local, são
fundamentais as medidas de educação ambiental e esclarecimento acerca da
água ser imprópria para banho. A condicionante n° 21 da Licença de Instala-
ção n°013/2013, que se refere ao programa de educação ambiental, fala somen-
te sobre o estímulo à coleta seletiva e para a não geração de resíduos sólidos,
sendo de grande importância a necessidade de medidas voltadas à realização
de campanhas educativas e informativas de educação ambiental em prol do
esclarecimento da classe dada ao rio Melchior e aos usos permitidos.
Em relação aos vazamentos, a ADASA, por meio de uma empresa con-
tratada, realizou, na entrada e saída da bacia de drenagem, as análises de qua-
lidade da água para caracterização do dimensionamento do impacto no rio
Melchior, no dia 01 de fevereiro de 2019, sendo constatado que os parâmetros
analisados correspondiam à classe 4. A concentração de alguns parâmetros
importantes como E. coli, Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e De-
manda Química de Oxigênio (DQO) apresentaram valores bastante elevados
na entrada e saída da bacia de drenagem.

92 O resultado das análises de qualidade da água superficial, subterrânea e do chorume foram


fornecidos pelo SLU. As amostras correspondem a dois períodos, antes e depois da implantação do
Aterro (Maio de 2016 e Setembro de 2019, respectivamente). Estas informações foram solicitadas
através do Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão do Distrito Federal (e-SIC),
conforme Protocolo nº 00094000038201818.
93 A recreação de contato primário se configura nos casos em que há o contato direto entre o usuário
com a água, como a natação e o esqui aquático (I, art. 1º, Resolução CONAMA n° 274/2000).

104
Estudos de Direito das Águas

O resultado para os coliformes termotolerantes foi de 3.500 unidades por


100 mililitros da amostra na entrada, e de 5.400 unidades na saída da bacia de
drenagem do Aterro Sanitário. O valor de DBO na entrada foi de 1,9 mg/L, en-
quanto na saída da bacia foi de 7,3 mg/L, que corresponde à classe 3. Este parâme-
tro representa a quantidade de oxigênio requerida pelos microrganismos para a
decomposição da matéria orgânica. A concentração de DQO foi de 4 mg/L na en-
trada e de 25 mg/L94 e, de forma análoga, representa a quantidade de oxigênio re-
querido pelo agente químico oxidante para degradar a matéria orgânica. Ambos
servem como um indicativo da presença de oxigênio dissolvido na água (PIVELE
e KATO, 2005, p. 205). Os coliformes termotolerantes e a DQO não fazem parte
dos parâmetros analisados pela Resolução CONAMA nº 357/2005 para a classe 4.
Os coliformes são bactérias que vivem no trato intestinal dos animais, in-
cluindo o ser humano. A sua presença em um corpo hídrico é um forte indica-
tivo de que esta água pode ter sido contaminada com material fecal e apresentar
sérios riscos à saúde humana (MADIGN et al., 2016, p. 905). Já em relação à
DBO e DQO, o seu maior impacto está em relação aos organismos aquáticos,
como os peixes, que dependem do oxigênio dissolvido na água para sobreviver.
O Consórcio responsável pelo Aterro também realizou análises de qua-
lidade, desta vez do material retirado da obstrução do tubo PEAD e da caixa
de controle de qualidade (água in natura). Essa análise está de acordo com a
classe 4, já que o resultado dos parâmetros não ultrapassa os limites impostos
pela Resolução CONAMA n° 357/2005. Não obstante, esta é a classe mais ínfera
se tratando da qualidade de um ambiente aquático, contando apenas com sete
métricas analisadas. Parâmetros importantes, se tratando de resíduos sólidos,
como íons e metais são desconsiderados. Um vazamento com carga poluente
considerável pode não ser representativo em função das métricas que não são
levadas em consideração, ainda que este possa proporcionar um sério prejuízo
ao ecossistema local. Como exemplo, está a concentração de cobre total, que foi
demasiado elevado (0,132 mg/L) )95, mas que não faz parte das métricas anali-
sadas por esta classe e, portanto, não teve a atenção merecida. Este metal é en-
contrado, naturalmente, nos corpos hídricos em concentrações inferiores a 0,02

94 Despacho SEI-GDF ADASA/SRH/COIH, contido no Processo SEI nº 00391-00000864/2019-57.


95 Conforme resultado da análise da água in natura na Caixa de Controle de Qualidade, que consta
no Relatório de Ensaio nº 6794/2019 , p. 1/1., contido no Processo SEI n° 00391-00000864/2019-57,
IBRAM, 2019.

105
Estudos de Direito das Águas

mg/L e valores elevados podem conferir sabor a água, deixando-a impalatável,


além de ser prejudicial aos peixes e microrganismos (PIVELE e KATO, 2005, p.
181-182). A figura 03, mostrada a seguir, retrata o rio Melchior após contato com
o chorume extravasado do Aterro, em um dos vazamentos de 2019.

Figura 03: Rio Melchior turvo e com escuma após contaminação com chorume do Aterro
Sanitário de Brasília. Fonte: Rede Globo (2019).

Outro problema identificado no Aterro estava a jusante do Reservatório de


Qualidade e Quantidade 01 (RQQ1). Foi verificado um intenso processo erosi-
vo provocado pelo escoamento indevido das águas pluviais, que ultrapassou o
sistema de drenagem existente, resultando na deposição de sedimentos no rio
Melchior, e degradando ainda mais a qualidade deste ambiente aquático96.
Vale lembrar, o rio Melchior é o corpo hídrico responsável pela di-
luição dos efluentes tratados da ETE Samambaia e da ETE Melchior, que
somados correspondem a uma vazão de 1.200 L/s97. O problema é que isso já

96 Informação obtida no Parecer Técnico SEI-GDF n.º 93/2019 - IBRAM/PRESI/SULAM/DILAM-III,


contido no Processo nº 00391-00012654/2017-40.
97 COMPANHIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO DISTRITO FEDERAL (CAESB). Estações
de Tratamento de Esgoto. Disponível em: <https://www.caesb.df.gov.br/lai/3-portal/esgoto/25-
unidades-de-tratamento-de-esgoto.html>. Acesso em 07 de novembro de 2019.

106
Estudos de Direito das Águas

representa uma carga poluidora considerável e dificulta a recuperação natu-


ral do rio por autodepuração98.
Embora o Melchior seja enquadrado na classe 4, esta não pode ser uma
justificativa para que o impacto dos vazamentos seja inferiorizado. Uma com-
paração pode ser feita com a Política da União Europeia relativa à água, a Dire-
tiva Quadro da Água (DQA)99, que não só se preocupa com a classificação dos
corpos hídricos como também na recuperação e manutenção de sua qualida-
de100. A primeira consideração feita pela DQA é a água como um patrimônio
a ser protegido, deixando de lado a ideia de um simples bem econômico para
satisfazer a demanda humana. Adota-se, assim, uma visão ecossistêmica, ten-
do como preocupação não somente a classificação dos corpos hídricos, mas à
orientação para que os Estados estabeleçam programas que facilitem a gestão e
recuperação através de metas e prazos para os quais devem ser trabalhados101.
Do ponto de vista legal, alguns limites podem ser observados. A Lei nº
9.605/1998 prevê, em seu art. 54, parágrafo 2°, inciso V, que o lançamento de
quaisquer resíduos em desacordo com as classificações e legislações pertinen-
tes é tido como crime e está sujeito à multa e reclusão de um a quatro anos de
prisão. Não obstante, pelo vazamento não ter alterado a classe do rio Melchior,
mesmo com o potencial degradante do chorume sendo bastante difundido,
não houve desacordo com os níveis estabelecidos à classe de água.
Por outro lado, mesmo que os vazamentos não estejam em desacordo
com os usos da classe do rio Melchior, a exposição à contaminação decor-
rente dos vazamentos do Aterro pode acarretar danos ao ecossistema local e

98 A autodepuração representa o mecanismo com o qual o corpo hídrico consegue restabelecer, por
meios naturais, o equilíbrio do meio aquoso que sofreu com o lançamento de algum afluente.
Embora este equilíbrio nem sempre seja o mesmo do momento anterior ao lançamento da carga
poluidora. (SPERLING, 1996, p. 93-94).
99 Diretiva 2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outubro de 2000. Disponível
em: http://apambiente.pt/dqa/assets/01-2000_60_ce---directiva-quadro-da-%c3%a1gua.pdf
100 São objetivos ambientais propostos pela DQA que os Estados-Membros devem evitar a deterioração,
proteger e recuperar os corpos hídricos presentes em seus territórios, de forma a promover o
potencial ecológico destes corpos hídricos. Parlamento Europeu e Conselho da União Europeia,
Diretiva 2000/60/CE – Diretiva Quadro da Água. Art. 4°.
101 A exemplo dos objetivos ambientais previstos no art. 4º da Diretiva. Diretiva 2000/60/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outubro de 2000. Disponível em: http://apambiente.
pt/dqa/assets/01-2000_60_ce---directiva-quadro-da-%c3%a1gua.pdf

107
Estudos de Direito das Águas

aos moradores que utilizam esta bacia hidrográfica como fonte de recreação,
conforme mostrado em reportagem102. Um agravante é o fato de a população
não ter sido imediatamente alertada acerca dos vazamentos, expondo-os a um
material extremamente tóxico e ferindo os princípios da informação103 e da
educação (Art. 2º, X, Lei Federal 6938 de 1981), já que o uso do rio Melchior
para recreação, mesmo este sendo um corpo hídrico não classificado a receber
estes usos, mostra a falta de medidas de informação e de educação ambiental,
o não conhecimento dos riscos pela população e o conflito dos usos.

2.2.2 Algumas considerações sobre os desafios do


enquadramento dos corpos hídricos em classes
O enquadramento dos corpos hídricos em classes é um dos instrumen-
tos da Política Nacional de Recursos Hídricos (art. 5° da Lei nº 9.433 de 1997),
que integra analises específicas de proteção ambiental, visando compatibilizar
a qualidade dos corpos d’água com os usos pertinentes e diminuir os custos
referentes ao combate à poluição (art. 9° da Lei nº 9.433 de 1997). Consiste na
definição de classes em função dos usos desejados para estes corpos hídricos
em uma projeção futura. Os padrões de qualidade ambiental correspondentes
devem ser preservados de modo que as classes não sejam desrespeitadas.
A definição do uso da água deve ser em conformidade com a classe cor-
respondente e a um indicador de sustentabilidade104: os usos dos corpos hí-
dricos aos quais se pretende ter no futuro ditam os limites pertinentes dos
parâmetros de qualidade ambiental a serem mantidos. O parâmetro legal é a
Resolução CONAMA n° 357/2005, alterada pelas Resoluções nº 370/2006, nº

102 Chorume vaza no Aterro Sanitário de Samambaia, no DF, e atinge córrego Melchior. Bárbara Lins,
TV Globo. Disponível em: <https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/01/31/chorume-
vaza-no-aterro-sanitario-de-samambaia-no-df-e-atinge-corrego-melchior-veja-imagens.ghtml>.
Acesso em: 06 de agosto de 2019.
103 Este princípio tem o dever de assegurar que todos os cidadãos tenham direito à informação,
incluindo aos assuntos que englobam o meio ambiente. Servindo para educar, conscientizar e
proteger a sociedade. (FERNANDES, 2009, p. 134).
104 Os indicadores de sustentabilidade reúnem dados científicos brutos sobre diversas ciências de
forma que a análise destes dados seja assimilável por juristas e legisladores. Há, assim, o auxílio
na identificação dos agentes causadores de pressão sobre o meio ambiente, na análise do estado de
qualidade ambiental e na escolha de respostas mais eficazes (SANTOS, 2019. p. 168-176).

108
Estudos de Direito das Águas

397/ 2008, nº 410/ 2009, e nº 430/ 2011. A classificação desejada é traduzida


em uma série de parâmetros de diversas áreas do conhecimento. Para as águas
doces, por exemplo, tem-se a distinção entre classe especial, classe 1, classe
2, classe 3 e classe 4105, refletindo cada classe nas características de qualidade
da água correspondentes aos seus respectivos usos (nos termos do art. 3° da
Resolução CONAMA n° 357/2005). Há também a Resolução CONAMA nº
393/2009, que classifica as águas superficiais e estabelece limites individuais
de concentração para substâncias e a Resolução CONAMA nº 274/2000, que
estabelece critérios de balneabilidade para águas doces, salobras e salinas.
Embora o enquadramento seja determinado como uma projeção para
preservar a qualidade dos corpos hídricos para as futuras gerações, é possível
observar uma complexidade na sua utilização como instrumento de gestão hí-
drica e instrumento de proteção ambiental, já que a classe enquadrada condi-
ciona os tipos de uso e estes, por sua vez, podem envolver tal grau de poluição
(casos de corpos hídricos de classe 4 com admissão de dejetos de tratamento
de esgoto, por exemplo), que desafiam a eficácia jurídica das medidas para a
melhoria da proteção ambiental e qualidade da água e uma eventual alteração
de classe daquele corpo hídrico.
Como exemplo, o rio Melchior está enquadrado como de classe 04. Em
2019, foi foco de diversos vazamentos de chorume e o corpo hídrico já servia
antes como diluidor de efluentes de duas das maiores estações de tratamento de
esgoto do Distrito Federal (ADASA, 2017, p. 140). Em agosto de 2020, indícios
de poluição foram noticiados106, com o incômodo da população local em função

105 De modo geral, nos termos do art. 4°, Resolução CONAMA n° 357/2005: a classe especial é destinada ao
abastecimento público, ao equilíbrio natural dos ecossistemas aquáticos e à preservação de unidades
de conservação de proteção integral. Já a classe 1 permite o abastecimento público (tratamento
simplificado), proteção dos ambientes aquáticos, recreação de contato primário, irrigação de
hortaliças, árvores frutíferas que são consumidas cruas e à proteção de comunidades aquáticas
presentes em Terras Indígenas. As atividades em acordo com a classe 2 são: o abastecimento público
(tratamento convencional), proteção das comunidades aquáticas, recreação de contato primário,
irrigação de hortaliças, árvores frutíferas, parques em que o usuário tem contato direto, aquicultura
e à atividade pesqueira. A classe 3 possibilita o abastecimento público (tratamento convencional ou
avançado), irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageira, pesca amadora, recreação de
contato secundário (contato esporádico ou acidental, com pouca possibilidade de ingestão da água)
e a dessedentação de animais. A classe 4 permite apenas a navegação e a harmonização paisagística.
106 Nesse sentido, uma reportagem do DF-TV entrevista moradores e pessoas que circulam próximo ao
rio, e retrata o incômodo com o mau cheiro no rio Melchior, embora o Aterro informe a existência
do tratamento do chorume antes do seu despejo. REDE GLOBO, DF-TV. Moradores se queixam

109
Estudos de Direito das Águas

do mau cheiro. O uso dos enquadramentos como instrumento de gestão hídrica


e de proteção ambiental é, portanto, de natureza complexa. A classificação 4
de um corpo hídrico, embora tenha uso direcionado apenas para navegação e
harmonização paisagística, não isenta da necessidade de emprego de medidas
para a melhoria da sua qualidade, inclusive medidas de tratamento dos dejetos
(conforme art. 3º da Resolução CONAMA nº 430/2011), antes do seu despejo.

2.2.3 Da contaminação do solo


Visto o potencial de poluição do chorume, faz-se aqui uma análise das
medidas adotadas durante os eventos de contaminação do início de 2019, e a
sua influência na qualidade do solo local que, mesmo não sendo devidamente
impermeabilizado, esteve em contato com a pluma de contaminante.
Além da contaminação hídrica, foi constatada a exposição do solo não
impermeabilizado ao chorume em boa parte dos vazamentos. Essa exposição
se deu em função da lavagem das canaletas que transportou o chorume para
o RQQ. O chorume foi armazenado, de forma voluntária107, no RQQ, área
não impermeabilizada e, portanto, vulnerável à infiltração e contaminação do
solo, mostrando o despreparo da equipe responsável.
Após exposição do solo ao contaminante, foi feita a remoção dos sedimen-
tos acumulados do reservatório de qualidade, no intuito de diminuir o impacto
ambiental na área108. Embora tenha havido medida de controle do contaminan-
te, não foram identificadas medidas preventivas na situação do contaminante
ter sido encaminhado para uma área desprotegida. Em função da porosidade
do solo, que atua como um filtro, há uma depuração das impurezas que atenua
a percolação do contaminante, que pode ficar retido no solo ou infiltrar e con-
taminar águas subterrâneas. Em função desse risco, empreendimentos poten-
cialmente poluidores do solo e das águas subterrâneas devem contar com um

da poluição no rio Melchior, em 25 de agosto de 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.


com/v/8803598/ . Acesso em 25 de setembro de 2020.
107 Informação exposta no Relatório Técnico elaborado pelo IBRAM acerca dos primeiros vazamentos
ocorridos no dia 28 e 29 de janeiro de 2019. Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF
n.º 2/2019. IBRAM/PRESI/SUBIO/DIREA. Contido no Processo SEI 00391-00000864/2019-57.
108 Parecer Técnico SEI-GDF n.º 93/2019 - IBRAM/PRESI/SULAM/DILAM-III, contido no Processo
nº 00391-00012654/2017-40.

110
Estudos de Direito das Águas

sistema de monitoramento (art. 14, I, Resolução CONAMA nº 420/2009), para


prevenir eventos de contaminação e respeita o princípio do limite109.

2.3 Possibilidades de aprimoramento das medidas


de prevenção e mitigação pela potencialidade de
produção de biogás e uso da logística reversa
Além da necessidade de aprimoramento nas medidas de prevenção de va-
zamento, dois outros parâmetros são aqui observados em seu potencial como
medidas de mitigação e minimização de impacto que poderiam ser aplicados ao
Aterro: a produção de biogás (2.3.1) e o uso da logística reversa (2.3.2).

2.3.1 A necessidade de incentivo à


produção de biogás no Aterro
O Aterro Sanitário de Brasília possui grande potencial energético em fun-
ção da geração de biogás110. Este empreendimento também faz parte da Rota
da Valorização Energética exposta no Plano de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos do Distrito Federal (PDGIRS), pelo qual é reconhecido seu potencial de
aproveitamento energético e os benefícios desta prática ao meio ambiente (GDF,
2018. p. 106). Entretanto, não há, até então, mecanismo de aproveitamento desta
matriz energética, ou política pública local de incentivo para tanto111.
O aproveitamento do biogás gerado nos aterros e lixões possui grande
potencial energético em função da elevada porcentagem de metano, o que o
torna uma matriz energética valiosa. Como exemplo tem-se o Aterro Sanitário
de Guatapará, no interior de São Paulo, que recebe, em média, 2.200 toneladas
de resíduos domésticos por dia e é capaz de gerar energia suficiente para abas-

109 Este princípio objetiva a definição, pela Administração Pública, de parâmetros de qualidade
ambiental que não sejam prejudiciais ao ser humano e ao meio ambiente. (FARIAS, 2006, p. 145).
110 O biogás é gerado pela decomposição anaeróbia da matéria orgânica presente no lixo, sendo
composto tipicamente por 60% de metano, 35% por dióxido de carbono e 5% de outros gases, como
hidrogênio e gás sulfúrico (FIGUEIREDO, 2011, p. 20).
111 Esta informação foi fornecida pelo SLU através do Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao
Cidadão do Distrito Federal (e-SIC), conforme Protocolo n° 00094000081201964.

111
Estudos de Direito das Águas

tecer uma cidade de 18 mil habitantes112. Este aterro conta com uma usina de
bioenergia construída com o investimento de 15 milhões de reais da empresa
Estre Energia Renovável. É válido ressaltar que o Aterro Sanitário de Guatapará
recebe menos resíduo diariamente que o Aterro Sanitário de Brasília, que obteve
mais de 2.500 toneladas de resíduos domésticos diariamente em 2019.
Durante a construção do Aterro, foram instalados uma série de drenos
que guiam o biogás gerado. Contudo, ao invés de aproveitá-lo, há a sua quei-
ma, para que o biogás seja reduzido a CO2, diminuindo, assim, o seu potencial
de contaminação de solo. Entretanto, o CO2 também é um gás poluente e um
dos responsáveis pelo efeito estufa113.
Ademais, o gás metano presente no biogás e gerado pela decomposição
anaeróbia da matéria orgânica, por se tratar de uma molécula instável ener-
geticamente, apresenta grande potencial energético que também poderia ser
uma fonte de geração de energia. Um estudo realizado em 2015, a fim de ava-
liar o potencial de aproveitamento energético a partir dos resíduos no Aterro,
na época em fase de construção, teve como resultado que o Aterro apresenta-
ria um elevado potencial de geração de energia, na ordem de 142.122,83 m³/
ano, caso houvesse uma política pública ou incentivo de mercado para o seu
aproveitamento (MARTINS, 2015, p. 25). Entretanto, ainda hoje, esse poten-
cial energético do Aterro não é aproveitado.
Um dos motivos é o fato de não haver incentivo financeiro e/ou de políti-
cas públicas em prol do aproveitamento do biogás gerado no Aterro Sanitário
de Brasília, nem no Aterro Controlado do Jóquei, mesmo sendo parte da rota
de Valorização Energética pelo Plano Distrital de Gestão Integrada de Resídu-
os Sólidos (PDGIRS)114. Adicionalmente, manter uma situação de não aprovei-
tamento do biogás gerado, entra em conflito com as condicionantes nº 03 da
Licença Prévia n° 004/2012 e a nº 10 da Licença de Operação n° 044/2016, que

112 Entra em operação 1ª usina do interior de SP a gerar energia a partir do lixo. Disponível em: < http://
g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2014/08/entra-em-operacao-1-usina-do-interior-
de-sp-gerar-energia-partir-do-lixo.html>. Acesso em 30 de janeiro de 2020.
113 Efeito estufa. Disponível em: <http://www.usp.br/qambiental/tefeitoestufa.htm>. Acesso em 08 de
novembro de 2019.
114 A Rota de Valorização abarca a conversão de rejeitos para combustível derivado de resíduos; geração
de energia através da biodigestão e o aproveitamento do biogás do Aterro Sanitário de Brasília e
Aterro do Jóquei.  GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. Plano Distrital de Gestão Integrada de
Resíduos sólidos. 2018, p. 106.

112
Estudos de Direito das Águas

trazem a necessidade do tratamento e aproveitamento energético dos gases ge-


rados. Outra condicionante envolvendo a geração e monitoramento dos gases
gerados que também não foi atendida, é a de nº 22 da Licença de Operação nº
44/2016, que exige a verificação semanal da emanação de gases combustíveis
em toda a área do aterro por meio de explosivímetros115.
Em contrapartida, há estudos em andamentos com o intuito de carac-
terizar o potencial energético no Aterro do Jóquei. Estas pesquisas são reali-
zadas em cooperação entre o Programa de Pós Graduação em Geotecnia e o
Laboratório de Energia e Meio Ambiente, ambos da Universidade de Brasília
e financiados pela Companhia Energética de Brasília (CEB)116.

2.3.2 A necessidade de incentivo ao estabelecimento da


coleta seletiva e da logística reversa como mecanismos
de ampliação da vida útil do Aterro
Além de garantir a integridade da operação de um aterro sanitário, é
necessário que haja incentivo à utilização de instrumentos que ampliem a sua
vida útil, como a coleta seletiva e a logística reversa.
A coleta seletiva consiste no recolhimento de resíduos anteriormente se-
parados de acordo com sua constituição (art. 3º, V, da Lei Federal 12.305/2010).
Por meio desta prática, é possível fazer a separação de resíduos orgânicos e
inorgânicos, secos ou úmidos, recicláveis ou não recicláveis, possibilitando o
reaproveitamento dos resíduos, de forma que somente os rejeitos sejam desti-
nados ao Aterro Sanitário.
Como mecanismo de favorecimento da coleta seletiva no Distrito Federal
está a condicionante nº 21 da Licença Prévia n° 18/2006117, que retrata a neces-
sidade de apresentação de um Programa de Educação Ambiental que estimule

115 Parecer Técnico SEI-GDF n.º 93/2019 - IBRAM/PRESI/SULAM/DILAM-III, contido no Processo


nº 00391-00012654/2017-40.
116 Esta informação foi fornecida pelo SLU através do Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao
Cidadão do Distrito Federal (e-SIC), conforme Protocolo n° 00094000081201964.
117 Esta licença se refere ao processo de licenciamento do Aterro Sanitário de Brasília, sendo emitida
pelo Instituto Brasília Ambiental (IBRAM).

113
Estudos de Direito das Águas

a diminuição na geração de resíduos e aumente a adesão da população à coleta


seletiva. O referido programa foi aprovado em janeiro de 2019 pelo IBRAM118.
A logística reversa, por sua vez, viabiliza a reintegração dos resíduos ao
setor empresarial, de forma que haja uma destinação final ambientalmente
adequada (art. 3º, XII, da Lei Federal 12.305/2010). O produto, após não ser
mais útil ao consumidor, ao invés de ir para o lixo, retorna ao lojista para que
dê a destinação adequada. Os resíduos que, obrigatoriamente, estão sujeitos à
logística reversa são: agrotóxicos e óleos lubrificantes (incluindo seus resídu-
os e embalagens), pilhas e baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes e produtos
eletroeletrônicos. Os consumidores devem fazer a devolução, após uso, aos
comerciantes e distribuidores que, por sua vez, deverão efetuar a devolução
aos fabricantes ou aos importadores (art. 33 da Lei n. 12.305/2010).
Mesmo não sendo tão difundida, a logística reversa de alguns dos pro-
dutos passíveis tem crescido no Distrito Federal, como dos pneumáticos que,
no primeiro semestre de 2018, tiveram 1.597 toneladas recebidas e/ou recolhi-
das pelo SLU, representando um aumento de 49% em relação ao ano anterior
(SLU, 2019a, p. 72-73).
O tratamento adequado dos resíduos é também uma medida preventiva
de manutenção do Aterro, para evitar que sejam disponibilizados resíduos
inadequados a determinado tipo de Aterro. Tanto a coleta seletiva quanto a
logística reversa devem ser efetivamente implantados para que haja uma re-
dução de rejeitos a serem destinados no Aterro, além de proporcionarem a
recirculação de resíduos aos ciclos produtivos e reciclagem, gerando ganhos
econômicos, sociais e de sustentabilidade.

Conclusão
Embora o histórico do Distrito Federal não seja um total exemplo no que
diz respeito à correta destinação dos resíduos sólidos, nos últimos anos houve
uma intensificação das políticas públicas que visam esta adequação. Dentre
elas destacam-se a criação do Aterro Sanitário de Brasília, que deve ser visto

118 Conforme expresso no Parecer Técnico SEI-GDF n.º 93/2019 - IBRAM/PRESI/SULAM/DILAM-


III, contido no Processo nº 00391-00012654/2017-40.

114
Estudos de Direito das Águas

como um empreendimento em constante aprimoramento para uma melhor


gestão e tratamento dos resíduos, conforme visto neste estudo.
Tendo o estudo focado nos vazamentos de 2019, é relevante notar que, logo
após o primeiro vazamento, a equipe responsável pelo Aterro deu início às me-
didas de contenção e reparação, no intuito de minimizar os danos e evitar vaza-
mentos futuros. Entretanto, os vazamentos não se limitaram a apenas um even-
to de contaminação. E embora nem sempre assertivas, medidas reparatórias
estruturais foram sendo tomadas logo após detecção do vazamento exordial,
como a instalação de sifão como caminho alternativo à drenagem obstruída.
Como medida administrativa em vista desse aprimoramento e corre-
ção dos problemas ambientais ocorridos, pode ser citada a determinação do
IBRAM que emitiu a retificação da Licença de Operação nº 44/2016, com o
acréscimo de novas condicionantes para uma maior segurança ambiental e
evitar mais vazamentos. Dentre as novas condicionantes, é possível citar a de
nº 01, que solicita nova versão do Plano de Operação do Aterro Sanitário con-
tendo, dentre outras coisas, a apresentação detalhada da rotina operacional
a ser seguida, a apresentação do plano de inspeção e manutenção dos siste-
mas de drenagem; e a definição dos protocolos de emergência para potenciais
situações de risco. Adicionalmente, tem-se ainda a condicionante nº 07 que
prevê a recuperação do processo erosivo à jusante dos reservatórios do sistema
de drenagem pluvial; a condicionante nº 24 que condiciona o tratamento do
lixiviado gerado; e a condicionante nº 48, que exige manutenções, ao menos
semanais, dos sistemas de drenagem de percolado e biogás.
Outra medida importante, tomada pelo Consórcio responsável pelo Aterro,
foi a contratação da FUNAPE-UFG para auxiliar a esclarecer o motivo dos vaza-
mentos e de outra empresa para auxiliar na inspeção do Aterro. Também houve
auxílio do IBRAM ao sugerir alternativas de lidar com o chorume vazado.
Em termos de eficácia jurídica da proteção ambiental, uma crítica pode
ser reforçada. O enquadramento dos corpos hídricos em classe é limitado ao
se enquadra os objetivos de gestão hídrica (e uso do corpo hídrico) e os ob-
jetivos de proteção ambiental (e aprimoramento da qualidade da água). No
caso, um rio de classe 4, como o Melchior, está sujeito a cargas poluentes que
dificultam seu o poder de autodepuração e, assim, a sua evolução para uma
classe superior e de melhor qualidade. Ou seja, um corpo hídrico de classe 4
tende a ser sacrificado a receber cargas poluentes altas, se não houver ação ou

115
Estudos de Direito das Águas

política pública de recuperação e de manutenção. As medidas de informação


e de educação ambiental sobre a qualidade da água, sobre os tipos de uso pos-
síveis e sobre as medidas de prevenção que são tomadas para a melhoria da
qualidade do corpo hídrico, devem ser constantemente atualizadas e objeto de
campanhas educativas junto à comunidade.
Lidar com resíduos sólidos exige um gerenciamento de toda probabili-
dade de risco nos âmbitos social, ambiental e econômico. Para tanto, é neces-
sário estar atento às ameaças atuais e aos riscos futuros. Seja investindo em
monitoramento e ampliando a participação social na tomada de decisões, seja
pela proteção ao meio ambiente e a conscientização da população acerca dos
riscos aos quais estão sujeitos.

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Lei nº 9.605/1998

Lei nº 9.985/2000

Lei nº 12.305/2010

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Estudos de Direito das Águas

Resolução CONAMA nº 397/ 2008

Resolução CONAMA nº 404/2008

Resolução CONAMA nº 393/2009

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Normas e Legislação do Distrito Federal

Lei Complementar nº 17/1997

Lei nº 6.454/2019

Decreto nº 38.903/2018

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Resolução da ADASA nº 18/2018

Resolução do CRH n° 02/2014

Normas Brasileiras Regulamentadoras

NBR n° 8419

NBR nº 8418

117
Estudos de Direito das Águas

NBR nº 10157

NBR nº 13896

Normas, atos administrativos e consulta via acesso à informação

Despacho SEI-GDF IBRAM/PRESI/SUBIO/DIREA de 08 de abril de 2019,


contido no Processo SEI 00391-00000864/2019-57, IBRAM.

Licença prévia n° 004/2012, IBRAM, Procedimento administrativo nº 00391-


00000864/2019-57.

Licença de Instalação n° 013/2013, IBRAM, Procedimento administrativo nº


00391-00000864/2019-57.

Licença de Operação n° 044/2016, IBRAM, Procedimento administrativo nº


00391-00000864/2019-57.

Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF IBRAM/PRESI/


SUBIO/DIREA nº 2 (30.01.2019), IBRAM, Procedimento administrativo nº
00391-00000864/2019-57.

Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF IBRAM/PRESI/


SUBIO/DIREA nº 3 (06.02.2019), IBRAM, Procedimento administrativo nº
00391-00000864/2019-57.

Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF IBRAM/PRESI/


SUBIO/DIREA nº 5 (11.02.2019), IBRAM, Procedimento administrativo nº
00391-00000864/2019-57.

Relatório Técnico de Monitoramento e Avaliação SEI-GDF IBRAM/PRESI/


SUBIO/DIREA nº 10 (08.04.2019), IBRAM, Procedimento administrativo nº
00391-00000864/2019-57.

118
Estudos de Direito das Águas

Relatório de Ensaio nº 6794/2019 , p. 1/1, IBRAM, Procedimento administrativo


nº 00391-00000864/2019-57.

Parecer Técnico SEI-GDF n.º 93/2019 - IBRAM/PRESI/SULAM/DILAM-III,


contido no Processo nº 00391-00012654/2017-40

Pedido de acesso à informação ao Sistema Eletrônico do Serviço de Informação


ao Cidadão do Distrito Federal, Protocolo n° 00391000085202021.

Pedido de acesso à informação ao Sistema Eletrônico do Serviço de Informação


ao Cidadão do Distrito Federal, Protocolo nº 00094000038201818.

Pedido de acesso à informação ao Sistema Eletrônico do Serviço de Informação


ao Cidadão do Distrito Federal, protocolo nº 00480000045201947.

Pedido de acesso à informação ao Sistema Eletrônico do Serviço de Informação


ao Cidadão do Distrito Federal, Protocolo n° 00094000081201964

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