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Musicoterapia na Educação
Espaço para socialização e debate interdisciplinar e interinstitucional da aplicabilidade da Musicoterapia na
Educação, ampliando a 'escuta' sobre o processo ensino-aprendizagem e os fenômenos educacionais.
ARTIGO
A aplicabilidade da Musicoterapia no campo da Educação ainda é um campo de
atuação a ser desbravado, explorado. Poucos estudos existem na área da Musicoterapia
investigando sobre sua aplicabilidade com indivíduos normativos ( crianças sem
deficiências mental, sensorial ou física e /ou quadros psiquiátricos) dentro do espaço
escolar. A escassez de literatura sobre o tema é uma realidade, onde a maioria das Feed
Baeck (2001 apud QUEIROZ, 2003, p. 28) afirma que “no cérebro não existe
nenhum centro para a música”, sendo processada em diferentes regiões do cérebro. Por
esse motivo, o processamento da música poderia ser chamado de “integrador e global”
(ibidem, p. 28).
Outras práticas podem ser pensadas quando elegemos outros sujeitos à
participação, tais como a prática ecológica[11] no trabalho com os professores
(GOMES, 2008), endo como foco primário a promoção da saúde em e entre os vários
atores da comunidade escolar. Propor a Musicoterapia Ecológica deve-se ao fato de
acreditar que, havendo mudanças no contexto individual, elas levarão a uma mudança no
contexto ecológico. Ajudar um indivíduo a se tornar mais saudável não é visto como um
fato desvinculado de melhorar a saúde dos contextos em que o indivíduo esta inserido.
Ajudar as pessoas a se relacionarem harmoniosamente, faz com que fiquem mais
saudáveis, integrando-se com o ambiente circundante. O objetivo no trabalho com
grupos nesta abordagem é produzir mudanças terapêuticas no sistema ecológico e nos
indivíduos que fazem parte dele (GOMES, 2008,p.37). Nessa perspectiva, possibilitar
aos docentes momentos de auto-percepção, auto-expressão, consciência de seus
conflitos intrapsíquicos e inter-relacionais, possibilitará que as dificuldades vivenciadas
no cotidiano escolar sejam re-significadas, minimizando suas reações de estresse,
abstenceísmo, estados psicossomáticos.
Vivência musicoterapêutica com um
grupo de professores, em reuniões pedagógicas.
REFERÊNCIAS:
BRASIL, 2008. A musicoterapia nas dificuldades de aprendizagem: uma
mediação entre o cantar, o ler e o escrever. Goiânia, 2008.
BRUSCIA, Kenneth E.- Definindo Musicoterapia (tradç. Mariza Velloso Fernandez
Conde), 2ª ed., Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.
GOMES, Carolina Gabriel. A Musicoterapia acolhendo as diferenças na
inclusão: (re) estabelecendo relações positivas entre o professor e o aluno com
necessidades educacionais especiais. 2008. Monografia (Curso de Musicoterapia) -
Escola de Música e Artes Cênicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2008.
NASCIMENTO, Sandra Rocha do. A “escuta diferenciada” dos problemas de
aprendizagem mediada pela musicoterapia na educação. In: SIMCAM4 – IV SIMPÓSIO
DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 4., 2008, São Paulo. Anais eletrônicos... São
Paulo: Paulistana, 2008. Disponível em: <
http://www.fflch.usp.br/dl/simcam4/downloads_anais/SIMCAM4_Sandra_Rocha.pdf >.
Acesso em: 15/10/2008.
________________. A intervenção psicopedagógica através da música: uma
“escuta diferenciada” das dificuldades de aprendizagem mediadas pela musicoterapia.
2006. (Projeto de Pesquisa de Dissertação Doutoramento em Educação) – Programa de
Pós-Graduação em Educação – PPGE, Universidade Federal de Goiás, 2006.
PALADINO, Paola k. Musicoterapia y Educacion. Trabalho apresentado no
Encontro Latino Americano de Musicoterapia. Rio de Janeiro, 1994.
PORTO, Ludmilla de Souza. Musicoterapia com crianças de 06 a 07 anos em
escola de ensino regular numa abordagem sócio-interacionista. 2006. 125 f. Monografia
(Graduação em Musicoterapia) – Escola de Música e Artes Cênicas, Universidade
Federal de Goiás, Goiânia, 2006.
QUEIROZ, Gregório J. Pereira de; Aspectos da musicalidade e da música de
Paul Nordoff e suas implicações na clínica musicoterapêutica. São Paulo: Apontamento
Editora, 2003.
[1] Musicoterapeuta, Coordenadora e Supervisora-clínica de estágio do Curso de Musicoterapia da Escola de Música e Artes Cênicas/UFG.
Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduaçao em Educação/ FE/UFG (srochakanda@hotmail.com; celular: 62- 9603 2774).
[2] Musicoterapeuta, Tesoureira da Sociedade Goiana de Musicoterapia (SGMT). Mestranda em Música/ EMAC/UFG.
[3] Musicoterapeuta (elisbrasil26@yahoo.com.br)
[4] A contribuição da Musicoterapia no trabalho com crianças com problemas de aprendizagem (UCS).
[5] A escuta diferenciada das dificuldades de aprendizagem mediada pela Musicoterapia: o diagnóstico musicoterápico e a intervenção
psicopedagógica através da música (FE/UFG).
[6] Musicoterapia com crianças de 06 a 07 anos em escola de ensino regular numa abordagem sócio-interacionista (EMAC/UFG).
[7] Formação de professores: integração entre memórias, teorias e prática (FE/UFG).
[8] A Musicoterapia acolhendo as diferenças na inclusão: (re) estabelecendo relações positivas entre o professor e o aluno com necessidades
educacionais especiais (EMAC/UFG).
[9] A.............
[10] Segundo Bruscia, “as práticas didáticas são aquelas cujo foco é ajudar os clientes a adquirirem os conhecimentos, comportamentos e
habilidades necessários para uma vida funcional e independente e para a adaptação social. Em todas essas práticas, alguma forma de
aprendizagem está no primeiro plano do processo terapêutico. Isto inclui todas as aplicações da musicoterapia (...) em que os principais
objetivos são (...) educacionais. As práticas dessas áreas variam de acordo com a área de aprendizado enfatizada (por exemplo, musical ou
não-musical), com o valor terapêutico do aprendizado, com a extensão com que os objetivos e métodos possam ser individualizados para
atingir as necessidades e problemas específicos do cliente e com a natureza da relação cliente-terapeuta” (BRUSCIA, 2000, p. 167).
[11] Inclui todos os trabalhos que focalizam a família, locais de trabalho, comunidade, sociedade, cultura ou ambiente físico, seja porque a
saúde da unidade ecológica está em risco e precisando de intervenção ou porque a unidade causa ou contribui de algum modo para os
problemas de saúde de seus membros (BRUSCIA, 2000).
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MUSICOTERAPIA E FORMAÇÃO DOCENTE:
MUDANDO OS DISCURSOS NA EDUCAÇÃO
Sandra Rocha do Nascimento[1]
Leomara Craveiro de Sá[2]
RESUMO
Este trabalho apresenta o relato de uma experiência inovadora na formação continuada de professores, onde
estruturamos a vivência denominada Memória Pedagógica Musical (NASCIMENTO e CRAVEIRO DE
SÁ, 2008), numa proposta interdisciplinar entre as narrativas pedagógicas, da área da Educação, e a
identidade sonoro-musical, da área da Musicoterapia. Os dados expostos evidenciam o alcance da vivência
na prática docente, permitindo aos mesmos um despertar à consciência grupal, onde cada um se percebeu
como co-responsável pela construção dos padrões e práticas educativas, compreendendo as inter-influências
existentes entre suas ações cotidianas e a realidade social (SACRISTÁN, 1995).
Palavras-Chave: Musicoterapia na Educação; Formação docente; Memória Pedagógica Musical.
INTRODUÇÃO
Inicialmente, é importante relatar que algumas questões foram propulsoras de
uma inquietação que nos fizeram propor novas formas de reflexão aos docentes. Dentre
as mais inquietantes destacamos as seguintes: por que, apesar de tantas oportunidades de
qualificação (e/ou capacitação e/ou formação continuada), ainda encontramos
dificuldades na prática pedagógica, ocasionando queixas, às vezes infindáveis nos
momentos de planejamento pedagógico, principalmente sobre a dinâmica ocorrida em
sala de aula? Por que nossos conhecimentos acadêmicos ‘parecem deficitários’ para o
enfrentamento do cotidiano escolar ? Esses conhecimentos teóricos seriam modificados
pelas nossas representações mentais (o que pensamos acerca das coisas)? Ou se
modificariam por causa dos nossos comportamentos aprendidos em vivências
anteriores? Considerar as situações vivenciadas como integrantes da nossa ‘formação
profissional’ poderia ajudar na constituição de uma prática mais coesa e “segura”?
Com base nessas questões, propusemos uma experiência inovadora na formação
continuada de professores, estruturando a vivência denominada Memória Pedagógica
Musical que será explicitada no decorrer deste trabalho.
Sacristán (1995) enfatiza que a prática do professor é formatada a partir de
diversos fatores, tanto internos (com base na sua constituição histórica, enquanto
indivíduo) como externos (indo desde como age no campo social até aos multifatores
que configuram sua função social). Dessa forma, a prática educativa de cada professor ,
os “esquemas práticos” (as diversas ações realizadas na prática) constituem-se a partir de
outras práticas que educam (como exemplo, a prática de educar crianças/filhos) ou até
mesmo de práticas ligadas ao campo (como as políticas educacionais, as apropriações
dos aspectos educativos por outros atores sociais, bem como das condições de trabalho
do professor). Muitas vezes, essas diversas “práticas concorrentes” ocasionam em
confusões na determinação ou definição das funções do professor que, na atualidade, é
cobrado ao exercício de outras funções dentro do contexto escolar.
Para o autor, ainda existe um discurso dominante sobre a responsabilização da
qualidade (ou não) da educação na figura e/ou prática do docente. Sacristán (1995)
defende que precisamos perceber o princípio de “irresponsabilidade relativa dos
docentes”, ou seja, compreendermos a existência de muitos outros elementos que
dificultam e/ou impedem a exercício da profissão.
Seguindo o pensamento do autor, percebemos que a prática do professor não é
ingênua, ou seja, destituída de influências externas como as normas e regulações
institucionais, o que torna o discurso sobre a “responsabilidade do professor” um
equívoco, pois este é impactado por aspectos que vão além de suas ações no cotidiano
escolar. Na mesma medida de ‘inter-influências’, consideramos que a prática educativa
está enviesada por toda uma circunstancialidade de fatores, ou multifatores advindos de
suas experiências pessoais passadas, bem como de suas representações mentais.
É fundamental o professor se perguntar sobre as bases, o ‘alicerce’, os aspectos
intra-subjetivos e inter-relacionais presentes que tanto influenciam sua prática e
compreensão sobre o mundo. No enfrentamento do cotidiano escolar, observa-se uma
influência muito grande desses aspectos. Faz-se importante compreender quais
“esquemas práticos” enquanto ações reiteradas, constituídas a partir de outras ações
anteriormente vivenciadas, como afirma Sacristán (1999), realizam uma ‘interlocução’
com a teoria e a prática pedagógica.
Mediante tais premissas, propusemos, como possibilidade de modificação da
prática docente, algumas experiências musicoterápicas vivenciadas no FIB/2008[3]. Ao
iniciar o mini-curso, os professores traziam, em suas expectativas, falas que enfatizavam
a busca por técnicas para aplicar e/ou replicar no contexto da escola, ou seja, “aprender
algo para fazer na escola”. Percebo que essa expectativa, gerada a partir de uma questão
presente na maioria dos cursos de formação, foi ouvida também neste evento: “Como eu
levaria isso para a minha escola ?” Pareceu-nos que os professores estão sempre em
busca de estratégias, técnicas, modelos, ‘tarefas’ para re-utilizarem nas salas de aula,
caracterizando uma dependência por referências externas ao direcionamento de sua
prática pedagógica.
Diversas atividades vivenciais, dentro da abordagem musicoterápica, foram
proporcionadas aos professores, sendo estruturadas a partir da técnica de Educação de
Laboratório. A “Educação de Laboratório de Argirys (ARGIRYS apud MOSCOVICI,
1985) “visa, através de trabalhos e tarefas a serem desenvolvidas individualmente e/ou
em grupo, trabalhar com situações bem próximas à realidade do mercado profissional,
objetivando um maior equilíbrio emocional a partir da vivência de situações que podem
vir a ocorrer no mercado de trabalho ao qual será integrado” (MARCHETI, FERRONI e
OLIVEIRA, 2001).
Enquanto técnica, ela é utilizada por algumas empresas e organizações para a
contratação de seus funcionários. Para Moscovici,
esta técnica possui como pressuposto de que é preciso viver e fazer.(...) A
educação de laboratório é um termo genérico, aplicado a um conjunto de
metodologia que visa mudanças pessoais a partir de aprendizagens baseadas
em experiências diretas ou em vivenciais, muitas vezes chamadas de
“dinâmicas de grupo. (...) A educação de laboratório tem como premissa de
que vivenciando situações é possível um conhecer melhor de limites,
preferências e características pessoais, possibilitando ao profissional atuar de
forma diferenciada. A estratégia ao ser trabalhada conjuntamente com outras,
além do aprimoramento técnico possibilita o desenvolvimento pessoal
(MOSCOVICI, apud MARCHETI et. al., 2001)
REFERÊNCIAS
BENENZON, O. Manual de Musicoterapia.(trad. Clementina Nastari), Rio de
Janeiro: Enelivros, 1985.
_______________.Teoria da Musicoterapia. (trad. Ana Sheila M. de Uricoechea),
São Paulo: Summus, 1988.
CUNHA, Maria Isabel da. O Professor Universitário na transição de paradigmas,
1ª ed., Araraquara: JM Editora, 1998.
MARCHETI, Ana P.C, FERRONI, Márcia S.N., OLIVEIRA, Nelma S. S.,
Educação de laboratório - uma estratégia de ensino e aprendizagem alternativa
para o desenvolvimento técnico e interpessoal, s/local, 2001.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal. 3ª ed., Rio de Janeiro: LTC-
Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1985.
SACRISTÁN, J. Gimeno.- Consciência e ação sobre a prática como libertação
profissional dos professores. In: NÓVOA, António (org.). Profissão Professor. Porto:
Porto Editora, 1995.
[1] Musicoterapeuta, Coordenadora e Supervisora-clínica de estágio do Curso de Musicoterapia da Escola de Música e Artes Cênicas/UFG.
Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduaçao em Educação/ FE/UFG E-mail: srochakanda@hotmail.com
[2] Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP; Professora-pesquisadora vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Música;
Conselheira no Conselho Estadual de Educação do Estado de Goiás; Musicoterapeuta Clínica.
E-mail: leomara.craveiro@gmail.com
[3] O mini-curso foi oferecido durante o Festival Internacional de Inverno de Brasília (FIB/UnB) nos anos de 2007 e 2008. O primeiro mini-
curso, “Re-significando o ato pedagógico através da musicoterapia”, foi realizado em 2007, com professores da rede pública do GDF; em
2008, foram oferecidos dois mini-cursos intitulados “Re-significando o ato escolar” e “Violência no espaço escolar: construindo alianças”.
Todos os mini-cursos foram estruturados e desenvolvidos pelas autoras, musicoterapeutas Profª Drª Leomara Craveiro de Sá e Profª Ms
Sandra Rocha do Nascimento, ambas professoras vinculadas à Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, contando com a participação das
musicoterapeutas colaboradores: Fernanda Valentin (mestranda – EMAC/UFG) e Andressa Toledo (musicoterapeuta do Hospital Psiquiátrico
Eurípedes Barsanulfo – Goiânia/GO).
[4] Identidades Sonoras ou ISO: ISO Gestáltico (como dinâmica sonora estruturada desde à época gestacional, sendo “próprio e único desse
indivíduo e não de outro” (p.40), ou seja, se constitui por aqueles sons e/ou músicas que se caracterizam específicos de cada indivíduo, a
partir de suas experiências de vida), ISO Cultural (como “produto da configuração cultural global da qual o indivíduo e o seu grupo fazem
parte” (p.34), isto é, os elementos sonoros pertencentes ao grupo em que o indivíduo encontra-se inserido), ISO Universal ( como “estrutura
dinâmica sonora, que caracteriza ou identifica todos os seres humanos, independentemente dos seus contextos sociais, culturais, históricos e
psicofisiológicos” (p.35), isto é, aqueles sons que fazem parte da memória ou mosaico sonoro de todos os seres humanos, tais como exemplo
o som do batimento cardíaco), ISO Complementário ou complementar (para designar a “estrutura dinâmica temporal (...) devido às
pequenas mudanças que se produzem a cada dia, por efeito das circunstâncias ambientais específicas ou psicológicas do indivíduo” (p.36),
isto é, aqueles sons que aparecem em determinados momentos da história de vida do indivíduo) e ISO Grupal (como “identidade sonora de
um grupo humano, produto das afinidades musicais latentes, desenvolvida em cada um dos seus membros” (p.36).
[5] Esta atividade foi estruturada, para o primeiro momento/ vivencial, da seguinte forma: iniciando com um aquecimento, tendo como
objetivo rememorar os acontecimentos vivenciados que os levaram àquele momento presente, que os impulsionaram a participarem do curso.
Logo após esta etapa de mobilização, foi dada a consigna para pegar uma folha de papel (disposta no centro da sala) e giz cera, escolhendo
um lugar para se sentar. Solicitou-se que os professores desenhassem uma linha horizontal e marcassem sobre ela os fatos e acontecimentos
significativos da trajetória de vida enquanto aluno e enquanto educador, procurando, na memória, uma música que tivesse relação com cada
um dos acontecimentos vividos, escrevendo o nome dela ou um trecho da letra que viesse à memória. Após essa construção – desenhos e
nomes ou letras de músicas - , todos posicionados em círculo, foi solicitado aos professores que cada um olhasse para o seu próprio “papel”,
em silêncio, procurando fazer contato com o que ali estava registrado e o que tudo aquilo representava para ele. A seguir, foi solicitado a cada
um que apresentasse a sua produção ao grupo, socializando a sua “memória pedagógica musical”, falando a respeito dos acontecimentos, dos
sentimentos vivenciados e de suas músicas significativas, podendo cantá-las sozinho ou com a ajuda do grupo.
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MUSICOTERAPIA: RESSIGNIFICANDO O ATO PEDAGÓGICO
Sandra Rocha do Nascimento[1]
Leomara Craveiro de Sá[2]
RESUMO
Este estudo, vinculado a uma pesquisa em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação (Doutorado) em
Educação, trata de questões relacionadas à Educação Inclusiva e de como a Musicoterapia pode ser inserida
nesse contexto, focalizando, principalmente, a capacitação do professor. Os seguintes aspectos são
ressaltados: o auto-conhecimento do professor; o desenvolvimento de uma escuta diferenciada; a
ressignificação das práticas docentes; e a mudança do olhar na inclusão. De caráter qualitativo, a pesquisa
encontra-se na etapa de coleta de dados.
Palavras-Chave: Musicoterapia na Educação; Formação Docente; Auto-conhecimento; Inclusão.
INTRODUÇÃO
Atualmente, há um aumento dos casos de adoecimento do professor, os quais
apresentam quadros psicopatológicos, estresse, depressão, absenteísmo, entre outros.
Muitas indagações surgem quando a temática refere-se à inclusão e sua concretização —
em específico, ao processo inclusivo de pessoas com deficiências, particularmente
crianças e jovens, dentro do contexto escolar. Por que, num mundo tão marcado pelo
excesso de informação e facilidades de qualificação profissional, ainda encontramos
tantas dificuldades para efetivar e otimizar o processo de inclusão escolar? Por que
vários educadores apresentam dificuldades junto aos seus alunos com necessidades
especiais, muitas vezes dificultando ou mesmo inviabilizando o processo de inclusão?
Por que ainda ouvimos dos próprios educadores que a maioria deles não está preparada
para atuar no processo de inclusão?
Ao avançarmos em nossas indagações, propomos novas questões: qual a “falta
de preparo” a que os educadores se referem? Quem incluir? Somente os alunos com
deficiências? E quanto aos alunos normativos? Suas particularidades e representações
também são consideradas? E os professores, existiria uma “escuta” voltada a eles, às
suas subjetividades?
São questões que, certamente, não serão respondidas aqui neste artigo. Mas
serão consideradas como propulsoras para nossas reflexões que subsidiam a proposta de
vivências musicoterapêuticas para docentes da rede regular de ensino.
Em 2008 e 2009, no Festival Internacional de Inverno de Brasília/DF- FIB[3],
efetivou-se um estudo-piloto (como ação integrante da pesquisa de doutoramento
intitulada A ‘escuta diferenciada’ das dificuldades de aprendizagem mediada pela
música: o musicodiagnóstico e a intervenção musicoterápica (NASCIMENTO, 2006),
com o objetivo de estruturar, testar e replicar algumas técnicas musicoterápicas, tendo
como suporte a Educação de Laboratório (ARGIRYS apud MOSCOVICI, 1985), a
concepção de Musicoterapia na área das práticas ecológicas (BRUSCIA, 2000) e teorias
da Educação sobre a formação continuada (SACRISTÁN, 1995). Foram trabalhados,
por meio de vivências musicoterápicas, grupos de professores que atuam no ensino
público.
Existe, segundo seus relatos, um sentimento de despreparo quando se trata de
Educação Inclusiva. Esta pesquisa parte de alguns pressupostos: a música como terapia
pode auxiliar no processo de valorização do “sentir”, num mundo marcado por uma
cultura de dessensibilização; enquanto fenômeno que “toca” a essência do ser humano, a
música pode intermediar processos de transformação intra e interpessoais nos contextos
educacionais, minimizando os efeitos das dificuldades inerentes à prática docente
inclusiva.
Percebeu-se, num primeiro momento, que as expectativas dos professores
giravam em torno de uma busca por técnicas para aplicar e/ou replicar no contexto da
escola - “aprender algo para fazer na escola”. Uma questão, sempre presente, ecoa na
maioria dos cursos de formação e foi ouvida também neste: “Como eu levaria isso para
a minha escola ?”
Diversas atividades vivenciais, dentro da abordagem musicoterápica, foram
proporcionadas durante os mini cursos. Como fundamentação teórica para essas
propostas, utilizamos a “Educação de Laboratório de Argirys (ARGIRYS apud
MOSCOVICI, 1985). Esta técnica visa, através de trabalhos e tarefas, a serem
desenvolvidas individualmente e/ou em grupo, trabalhar com situações bem próximas à
realidade profissional, objetivando um maior equilíbrio emocional a partir da vivência
de situações que podem vir a ocorrer no mercado de trabalho ao qual será integrado
(MARCHETI et. al., 2001).
Na musicoterapia, consideramos esta proposta de trabalho inserida na área das
práticas ecológicas, como classificada por Bruscia (2000). Segundo o autor, a área
ecológica inclui todas as aplicações da música e da musicoterapia em que o foco
primário é a promoção da saúde, entre e no interior, dos vários estratos sócio-culturais da
comunidade e seu ambiente físico.
As atividades foram estruturadas seguindo as seguintes etapas: 1º momento:
vivência musicoterápica; 2º momento: processamento/ feedback; 3º momento:
teorização e reflexão conjunta.
O 1º momento, VIVENCIAL, caracterizou-se por algumas experiências
musicais musicoterápicas e teve como objetivo possibilitar aos participantes sentirem o
que a música e seus diversos elementos constitutivos lhes proporcionavam. Percepções,
projeções e expressões criativas foram vivenciadas pelos professores através de formas
de comunicação não verbal: corporal, sonora, musical e visual.
O 2º momento, do PROCESSAMENTO / FEEDBACK, teve por objetivo
acolher os depoimentos dos professores sobre o vivenciado, através das representações
que os mesmos elaboraram. Alguns depoimentos evidenciaram o potencial que a
música, numa proposta musicoterápica, pode favorecer, visando processos de mudança,
tanto nas representações mentais quanto nos comportamentos e/ou nas atitudes.
Apresentamos, aqui, alguns depoimentos após as vivências musicoterápicas
grupais:
-“encontro, re-encontro, conhecer sobre o outro”;
-“Viajei na minha própria viagem ao passado e viajei na viagem ao passado dos
demais. Vivenciei histórias que não vivi, mas senti como se tivesse vivido. E me
encontrei com a minha vida através das vidas contadas”;
-“Esse momento foi um festival de emoções: me senti feliz por poder falar da minha
vida e ser ouvida com atenção (voz e vez); me senti triste ao lembrar da adolescência
sofrida que tive senti muita saudade da infância; amei ouvir as histórias dos colegas”.
Com base na expressão verbal, ou seja, nos depoimentos dos professores
integrantes do grupo, também foi possível observar o que as vivências musicoterápicas
possibilitaram aos participantes: quebra de algumas barreiras; busca por parcerias;
aceitação das diferenças; senso dos limites próprios e respeito aos limites do outro;
entrega a novas experiências; emergência do acolhimento ao outro; a valorização da
força de um grupo, do trabalho em equipe, ressaltando a importância da cooperação
mútua, dentre outras.
3º momento, de TEORIZAÇÃO/ REFLEXÃO CONJUNTA: momento que
objetiva abordar temas que ampliem a percepção e as reflexões dos docentes,
contribuindo para a construção de novos conceitos. Se nos propomos a realizar
transformações em nós mesmos e no ambiente em que atuamos, faz-se necessário mudar
nossas concepções, acolhendo novos sentimentos e idéias, ou seja, reconhecendo que
existem não somente uma realidade instituída, mas sim várias realidades, as quais,
dependem, principalmente, de nossa maneira de perceber, sentir e representar
mentalmente o que estamos experienciando. Portanto, alguns conceitos são trazidos e
socializados com o grupo, no sentido de ampliar a maneira de pensar e agir no cotidiano,
dentre eles, temáticas que envolviam a competição X cooperação (MATURANA E
VARELA, 1997); dar e receber feedbacks (MOSCOVICI, F. 1985) , escuta sensível e
percepção do outro (BARBIER, 1997).
Ao final de cada encontro, foi solicitado aos participantes para fazerem uma
síntese individual contendo suas impressões do dia. Foi-nos possível, por meio dessas
sínteses, ‘escutá-los’ e ter uma visão de como todo o conteúdo trabalhado estava sendo
assimilado por eles:
- motivação para continuar o exercício de educar usando a música como parceira
na busca constante do conhecimento mútuo;
- momento de descobertas sobre si e o outro;
- despertar para também conhecer o nosso aluno;
- tempo de enriquecimento e embasamento para trabalharmos melhor;
- comecei a entender que muitos dos problemas em sala de aula são problemas de
relacionamento. Esses problemas podem ser solucionados através da Musicoterapia;
- é necessário refletir mais sobre a prática pedagógica, se auto- avaliar.
REFERÊNCIAS:
BARBIER, René.- Escuta sensível na formação de profissionais de Saúde.
Conferência na Escola Superior de Ciências da Saúde – FEPECS – SES-GDF -
http://www.saude.df.gov.br Brasilia, 2002.
BENENZON, Rolando O. Manual de Musicoterapia (trad. Clementina Nastari), Rio
de Janeiro: Enelivros, 1985.
BRUSCIA, Kenneth E. Definindo Musicoterapia (trad. Mariza Velloso Fernandez Conde), 2ª
ed., Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.
MATURANA ROMESÍN, H. & VARELA GARCIA, F. De Máquinas e Seres Vivos:
Autopoiese: a Organização do Vivo. 3a ed. Porto Alegre; Artes Médicas,1997.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal, 3ª ed. rev. e ampl., Rio de
Janeiro: LTC, 1985.
MARCHETI, Ana P.C, FERRONI, Márcia S.N., OLIVEIRA, Nelma S. S., Educação
de laboratório - uma estratégia de ensino e aprendizagem alternativa para o
desenvolvimento técnico e interpessoal, s/local, 2001.
SACRISTÁN, J. Gimeno.- Consciência e ação sobre a prática como libertação
profissional dos professores. In: NÓVOA, António (org.). Profissão Professor. Porto:
Porto Editora, 1995.
[1] Musicoterapeuta, Coordenadora e Supervisora-clínica de estágio do Curso de Musicoterapia da Escola de Música e
Artes Cênicas/UFG. Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduaçao em Educação/ FE/UFG
srochakanda@hotmail.com
[2] Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP; Professora-pesquisadora vinculada ao Programa de Pós-
Graduação em Música; Conselheira no Conselho Estadual de Educação do Estado de Goiás; Musicoterapeuta Clínica.
E-mail: leomara.craveiro@gmail.com
[3] No Festival Internacional de Inverno de Brasília, FIB/2008, organizado pela Universidade de Brasília /
UnB, sob a coordenação geral da Prof. Ms Beatriz Salles, foram oferecidos dois mini cursos de
Musicoterapia aplicada à área da Educação: Re-significando o Ato Pedagógico e Violência no Espaço
Escolar: construindo alianças, tendo como público alvo professores da Secretaria de Educação do Governo
do Distrito Federal–GDF. Os mini-cursos, realizados durante o mês de Agosto/2008, foram estruturados e
desenvolvidos pelas autoras, musicoterapeutas Profª Drª Leomara Craveiro de Sá e Profª Ms Sandra Rocha
do Nascimento (doutoranda-FE/UFG), ambas, professoras vinculadas à Escola de Música e Artes Cênicas da
UFG, contando com a participação das musicoterapeutas colaboradores: Fernanda Valentin (mestranda –
EMAC/UFG) e Andressa Toledo (musicoterapeuta do Hospital Psiquiátrico Eurípedes Barsanulfo –
Goiânia/GO).
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ARTIGO:
Poucos estudos são encontrados investigando sobre a aplicabilidade da
Musicoterapia na educação, em específico dentro do contexto escolar junto a crianças
normativas, isto é, sem deficiências físicas, sensoriais e/ou mentais ou com transtornos
psíquicos. A escassez de literatura sobre o tema é uma realidade, onde a maioria das
pesquisas musicoterápicas, ligadas à educação, referem-se aos casos que apresentam
deficiências, efetivadas dentro de instituições especializadas, como nos centros de
atendimentos e/ou escolas especiais ou em contexto clínico.
Justifica-se essa afirmativa ao se evidenciar, no momento da construção da
pesquisa de doutoramento em Educação (Programa de Pós-Graduação em Educação/
Faculdade de Educação/ Universidade Federal de Goiás), intitulada A ‘escuta
diferenciada’ das dificuldades de aprendizagem mediada pela música: o
musicodiagnóstico e a intervenção musicoterápica (de autoria da Dta.Sandra Rocha do
Nascimento, sob orientação da Profª Drª Maria Hermínia M. S. Domingues), uma lacuna
nas linhas de investigação da área da Musicoterapia, proporcionando uma dificuldade no
acesso ou conhecimento sobre estudos ligados à temática.
Mediante a essa problemática, propôs-se, entre as diversas ações da pesquisa-
ação integral citada, a realização do Estado da Arte sobre a aplicabilidade da
Musicoterapia na Educação[3], em específico dentro do contexto escolar , tendo como
foco os casos de dificuldades de aprendizagem.
Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1998, p.181), o Estado da Arte
“serve fundamentalmente para situar o pesquisador, dando-lhe um panorama geral da
área e lhe permitindo identificar aquelas pesquisas que parecem mais relevantes para seu
tema”. Para Ferreira (2002), essas pesquisas são definidas como de “caráter
bibliográfico”, onde o desafio é “mapear e discutir uma certa produção acadêmica em
diferentes campos do conhecimento” (p.257), buscando responder as temáticas e
dimensões que estão sendo priorizadas em diferentes épocas e lugares, bem como
evidenciar as condições das produções científicas. Soares (1989) afirma que o objetivo
da pesquisa do tipo estado da arte é “inventariar e sistematizar a produção em
determinada área do conhecimento”(p.3), realizando um levantamento e avaliação da
temática em estudo. Continua afirmando que esse tipo de pesquisa pode “conduzir à
plena compreensão do estado atingido pelo conhecimento a respeito de determinado
tema, em determinado momento, na sua amplitude, tendências teóricas e vertentes
metodológicas; permite a indicação das possibilidades de integração de diferentes
perspectivas, aparentemente autônomas; podem identificar duplicidades ou contradições;
podem determinar lacunas ou vieses” (SOARES, 1989, p.3).
O Estado da Arte é um tipo de “processo de garimpagem” (ALVES-MAZZOTTI
E GEWANDSZNAJDER, 1998), composto de diversas ações e etapas, tendo como
objeto de estudo deversas fontes de pesquisa: católogos, resumos, bancos de dados,
anais de eventos científicos, entre outras fontes. Variadas são as opções metodológicas e
os critérios de avaliação das fontes e dos dados, “dependendo das características do
objeto de estudo e dos objetivos que, a partir delas, a pesquisa se propõe atingir”
(SOARES, 1989, p.3).
Inicialmente buscou-se estudos que abordassem sobre a aplicação da
Musicoterapia na Educação junto a alunos normativos e/ou com dificuldades de
aprendizagem sem deficiências associadas. Verificou-se que esse recorte possui muitas
dificuldades a serem superadas, dentre eles, como primeiro aspecto a ser pensado, é a
escassa divulgação de trabalhos ligados ao tema. É um desafio conhecer o material já
construído (embora muitas práticas, com certeza, ainda não foram publicadas,
prejudicando o levantamento), para depois evidenciar o que ainda não foi feito.
Enfatizamos a importância de todos nós, profissionais da área da Musicoterapia,
divulgarmos nossos trabalhos e práticas, oportunizando que levantamentos como o
Estado da Arte que propomos sejam realizados com maior fidedignidade.
Outra problemática refere-se à apresentação de títulos que não explanam, com
clareza, o tema e/ou objeto de estudo investigado. Ou seja, muitos títulos não
identificam, nem mesmo nos sub-títulos, a clientela e o foco da pesquisa ou estudo.
Quando possuem os resumos, compostos de todos os aspectos necessários à identficação
do estudo, é possível verificar se o trabalho contempla ou não o tema eleito. Porém,
muitos resumos ainda carecem de uma melhor estruturação, deixando vago a clientela
atendida, o foco e os resultados alcançados.
As produções científicas eleitas para a pesquisa em questão estão sendo
escolhidas, a priori, nos títulos dos estudos ou trabalhos construídos dentro dos cursos
(de graduação e pós-graduação) e eventos científicos da área de musicoterapia, em nível
nacional, em primeira instância, e posteriormente nos diversos eventos científicos
realizados, em outras instâncias e/ou áreas, através de listas de trabalhos e/ou banco de
dados, visto que muitos não possuem os resumos divulgados. Buscamos realizar um
levantamento de fontes que, também, evidenciem os movimentos de relação diálogica
interdisciplinar entre o profissional musicoterapeuta-pesquisador e as demais áreas do
conhecimento, ou seja, a presença de trabalhos em eventos científicos de outras áreas do
conhecimento, tais como educação, arte, ensino musical.
Dentre as fontes buscadas, inicialmente, citamos: a lista do site da UBAM (União
Brasileira das Associações de Musicoterapia), período até 2009; a lista das monografias
realizadas através da EMAC/UFG, período de 1995 a 2009(graduação e especialização);
os Anais do SEMPEM( Seminário Nacional de Pesquisa em Música/ EMAC/UFG),
período 2007 até 2009; os Anais do VIII Encontro Nacional de Pesquisa em
Musicoterapia do Estado do Rio de Janeiro, ano 2008; os Anais do XII Congresso
Mundial de Musicoterapia, ano 2008; os Anais do SIMCAM (Simpósio Internacional de
Cognição e Artes Musicais), anos 2005, 2007, 2008 e 2009; os Anais do COMPEX
(Congresso de Pesquisa , Ensino e Extensão/UFG), ano 2008; os Anais do ABEM
(Associação Brasileira de Educação Musical), até o período de 2008. Diversas outras
fontes se fazem necessárias à consulta, ficando, aqui, um apelo aos colegas
musicoterapeutas à disponibilização de dados acerca da temática estudada.
Como categorias para análise das fontes levantamos a presença, nos títulos, das
palavras: musicoterapia e educação. Como resultados iniciais evidenciamos uma grande
dificuldade em definir os estudos a serem analisados, visto que muitos títulos não
abordavam os termos eleitos. Percebemos que seria necessário realizar outra definição
ao levantamento dos títulos, ampliando o foco temático para os termos: musicoterapia,
educação, educação especial, denominação de alguma deficiência, cognição ou
desenvolvimento cognitivo, aprendizagem, dificuldades de aprendizagem, estudantes,
contexto escolar.
Observamos que a grande incidência dos títulos ligados à educação (regular e/ou
inclusiva) se refere aos estudos realizados com indivíduos com psicopatologias
(deficiências sensoriais, mental e/ou física, autismo, déficit de atenção), ficando muito
reduzido os trabalhos com clientelas normativas (em sua maioria nos casos de estresse
adulto) e raros trabalhos dentro do contexto escolar. Faz-se necessário obter informações
de outras listagens e/ou banco de dados para ampliar os dados desta etapa. Para a
próxima etapa, propomos solicitar os resumos e/ou cópias digitais aos autores das obras
elencadas, para leitura, análise e categorização através de fichas de leitura.
Englobando duas áreas do conhecimento –educação e arte-, numa abordagem
interdisciplinar, verticalizando os estudos para a música e, especificamente, para a
musicoterapia, percebe-se que o Estado da Arte sobre a temática Musicoterapia na
Educação evidencia uma área de prática clínica ainda pouco vislumbrada, tanto pelos
profissionais da própria área quanto os integrantes da equipe pedagógica das escolas.
Atentamo-nos para o fato de que a excessiva verticalização das investigações em
Musicoterapia encontram-se nos ‘aspectos doentios’ do ser humano, centrando as
práticas clínicas em processos de reabilitação, readptação, reajustamento, entre outras
propostas. Questionamos se essa “priorização” - temática ligada aos quadros
psicopatolóicos - não seria ecorrente da própria origem da área, visto que a
musicoterapia constituiu-se, enquanto área de conhecimento, a partir das aplicabilidades
junto aos indivíduos acometidos na da Segunda Guerra Mundial.
Propomos um ‘novo olhar’ para nossa atuação clínica: uma perspectiva de
prevenção, de manter o ‘lado saudável’ dos indivíduos para que não adoeçam, propondo
uma perspectiva de atuação psico-profilática nessa clientela e aos demais atores da
comunidade escolar: professores, gestores, pais e demais funcionários.
Logo, a Musicoterapia no contexto escolar e/ou na educação com indivíduos
normativos é um campo a ser explorado, desbravado, suscitando novas investigações na
área... abrindo novos campos de trabalho...um novo paradigma.
REFERÊNCIAS:
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith e GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas
ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2ª ed. São Paulo:
Pioneira, 1998.
FERREIRA, Norma Sandra de Ameida. As pesquisas denominadas Estado da Arte. In:
Educação & Sociedade, Campinas/ São Paulo, ano XXIII, nº 79, Agosto/2002.
SOARES, Magda Becker. Alfabetização no Brasil: o estado do conhecimento. Brasília: INEP/ REDUC/
UFMG, 1989.
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Profª Dra. Sandra Rocha do Nascimento. (srochakanda@gmail.com)obre o Coordenador do Blog . Tema Simples. Tecnologia do Blogger.