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O que acontece com os bebês que morrem?


Tem salvação para os bebês?
Por Matt Perman
em 9 ago, 2022

Esta é uma questão difícil e sensível. Qualquer resposta deve levar em conta
que todos nós nascemos pecadores e, portanto, dignos de julgamento. A
ênfase consistente do Novo Testamento sobre a necessidade de um segundo
nascimento indica que nosso estado natural é o de pecado, não de inocência
(Jo 3.1-12; Ef 2.1-5; cf. Sl 51.5). Somos “por natureza filhos da ira” (Ef 2.3).

Além de ter naturezas pecaminosas, também viemos ao mundo com o


pecado de Adão imputado a nós. Por causa de nossa união com Adão,
nascemos culpados de seu primeiro pecado (Rm 5.12-21). Entraremos em
detalhes sobre essa doutrina em outro lugar, mas por enquanto é suficiente
salientar que, segundo Paulo, o fato de todos morrerem fisicamente (mesmo
aqueles que, como crianças, não tiveram a oportunidade de transgredir
conscientemente uma lei de Deus — Rm 5.13-14) é uma demonstração de que
estamos conectados à culpa do pecado de Adão.

Se todos nós nascemos sob o pecado, e a salvação é pela fé em Cristo (o que


as crianças não parecem ter a capacidade mental de exercer), então pode
parecer, à primeira vista, que nenhuma criança pode ser salva. No entanto,
não temos conhecimento de alguém que realmente assuma essa posição.
Estamos convencidos de que seria uma conclusão prematura e antibíblica.

Uma razão é que existem exemplos evidentes nas Escrituras de crianças que
foram salvas. João Batista foi cheio do Espírito ainda no ventre de sua mãe
(Lc 1.15), conforme nos é dito. Na teologia de Lucas, ser cheio do Espírito é
consistentemente visto como um aspecto da obra do Espírito entre aqueles
que são regenerados (Lc 1.41, 67; At 2.4; 4.8, 31; 6.3, 5; 9.17; 11.24).

Centenas de anos antes de João Batista, Davi escreveu: “Contudo, tu és quem


me fez nascer; e me preservaste, estando eu ainda ao seio de minha mãe. A ti
me entreguei desde o meu nascimento; desde o ventre de minha mãe, tu és
meu Deus” (Sl 22.9-10). Por causa dessa aparente menção de Davi de ter fé
em Deus ainda criança, alguns concluíram que Deus salva as crianças dando-
lhes uma forma “primitiva” de fé. Essa conclusão, no entanto, não é
necessária para o nosso ponto; o principal item a se verificar na passagem é
que Davi evidentemente tinha um relacionamento de salvação com Deus
desde o ventre de sua mãe.

Esses versículos tornam muito improvável que todos os bebês que morrem
estejam perdidos. Se Deus salvou João Batista e Davi na infância, certamente
podemos concluir que ele salvou, na infância, outros que não tiveram a
oportunidade de crescer. No entanto, também seria injustificável concluir a
partir desses textos que todos os que morrem na infância são salvos. A
regeneração de crianças não parece ser a maneira usual de Deus trabalhar;
devemos ter em mente que “Desviam-se os ímpios desde a sua concepção;
nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras” (Sl 58.3).

À luz dessas coisas, alguns sustentam que Deus salva algumas crianças que
morrem e não outras. Eles apontam que isso parece mais consistente com as
doutrinas da eleição e do pecado original.
John Piper e muitos outros, entretanto, acreditam que há mais uma linha de
evidência bíblica que deve ser considerada. Essa evidência nos leva a concluir
que Deus salva todas as crianças que morrem.

Há vários anos, em um sermão no funeral de uma criança, o Dr. Piper


resumiu a base para sua conclusão:

Jesus diz, em João 9.41, àqueles que se ofenderam com seu ensino e
perguntaram se ele pensava que eram cegos, ele disse: “Se fôsseis cegos, não
teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso
pecado.”

Em outras palavras, se uma pessoa não tem a capacidade natural de ver a


revelação da vontade de Deus ou a glória de Deus, então o pecado dessa
pessoa não permaneceria — Deus não levaria a pessoa ao julgamento final
por ela não crer no que não tinha capacidade natural de ver.

O outro texto é Romanos 1.20, no qual Paulo está lidando com pessoas que
não ouviram o evangelho e não têm acesso a ele, mas que têm acesso à
revelação da glória de Deus na natureza:

Romanos 1.20 — Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno


poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem,
desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que
foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis. (grifo do autor)

Em outras palavras: se uma pessoa não tivesse acesso à revelação da glória


de Deus — não tivesse a capacidade natural de vê-la e compreendê-la, então
Paulo infere que ela teria uma desculpa no julgamento.

A questão para nós é que, embora nós, seres humanos, estejamos sob a pena
de julgamento e morte eternos por causa da queda de nossa raça no pecado
e da natureza pecaminosa que todos nós temos, Deus só executa esse
julgamento naqueles que têm a natural capacidade de ver sua glória, e
entender sua vontade, e se recusam a abraçá-la como seu tesouro.

Os bebês, acredito, ainda não têm essa capacidade; e, portanto, da maneira


inescrutável de Deus, ele os traz sob o sangue perdoador de seu Filho.
Em outro sermão, ele acrescenta:

Deus em sua justiça encontrará uma maneira de absolver de sua depravação


crianças que morrem. Certamente será por meio de Cristo. Mas, além disso,
estaríamos adivinhando. Parece-me que a hipótese mais natural seria que os
bebês crescerão no reino (imediatamente ou com o tempo) e pela graça de
Deus chegarão à fé para que sua justificação seja somente pela fé, assim
como a nossa.

É importante enfatizar que, em nossa opinião, Deus não está salvando


crianças porque elas são inocentes. Elas não são inocentes, mas culpadas. Ele
as está salvando porque, embora sejam pecadoras, em sua misericórdia ele
deseja que a compaixão seja exercida sobre aqueles que são pecadores e
ainda não têm a capacidade de compreender a verdade revelada sobre ele na
natureza e no coração humano.

Também deve ser enfatizado que a salvação de todos os que morrem na


infância não é inconsistente com a eleição incondicional (a visão de que Deus
escolheu quem salvar por sua própria vontade, independentemente de
qualquer coisa no indivíduo). Como Spurgeon apontou, não é que Deus
escolha alguém para a salvação porque eles vão morrer na infância. Em vez
disso, ele ordenou que somente aqueles que foram escolhidos para a
salvação terão permissão para morrer na infância. A justiça de Deus na
condenação será mais claramente vista ao permitir que aqueles que não
serão salvos demonstrem sua pecaminosidade inerente por meio da
transgressão intencional e consciente.

Finalmente, para aqueles que lutaram com esse problema por causa da perda
pessoal, gostaríamos de dizer que saber o que acontece com os bebês que
morrem é um bom lugar para descansar sua alma. Entretanto, é apenas o
segundo melhor lugar para descansar. Como John Piper disse em outro
sermão, também no funeral de uma criança pequena:

O primeiro melhor lugar é simplesmente este: Salmo 119:68 — “Tu és bom e


fazes o bem”.

Este foi o texto de George Müeller no funeral de sua esposa Mary, que
morreu de febre reumática em 1860. Seus três pontos foram:
O Senhor foi bom, e fez o bem, ao dá-la a mim.

O Senhor foi bom e fez o bem, deixando-a por tanto tempo para mim.

O Senhor foi bom e fez o bem, tirando-a de mim.

Ele não partiu de Mary e se moveu para a bondade de Deus. Ele começou
com a confiança inabalável na bondade de Deus enraizada em Jesus Cristo e
interpretou sua vida e sua perda à vista dessa bondade.

Esse é o ponto de partida, a bondade de Deus — essa é a esperança para


todos nós, a única esperança.

Nosso cântico final é um apelo ao Espírito de Deus para nos afastar de tudo
na terra que nos tente a não acreditar nisso. 

Por: Matt Perman. © Desiring God Foundation.Website: desiringGod.org. Traduzido


com permissão. Fonte: What Happens to Infants Who Die?

© Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos


reservados. Tradutor: Paulo Reiss Junior. Editor: Vinicius Lima. Revisor: Zípora Dias.

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Matt Perman
Matt Perman é diretor de navegação de carreira do The King’s College NYC, blogueiro e
um autor.

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Por Alberto Felipe

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