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HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL - 1º ANO

AULA Nº 73 a 75

__________________________SÉCULO XVIII – O REINADO DE D. JOÃO V

Período de renovação da História Portuguesa. Portugal recupera a


independência em 1640 e inicia-se uma guerra feroz contra Espanha
Esta guerra arruína Portugal economicamente e em finais do séc. XVII com a
guerra quase acabada, o país está mergulhado numa profunda crise económica
1707 – D. João V sobe ao trono. Um Rei jovem e com vontade de inovação. Assina
a paz com a Espanha. Começa a chegar o ouro do Brasil (também diamantes,
especiarias...) - de país pobre, Portugal passa a país riquíssimo com dinheiro para
esbanjar
D. João V tem especial agrado pelo modelo totalitário francês. Contudo há
um obstáculo: 1/3 do país pertence à Igreja o que significa um grande poder
económico e político, sem pagar impostos. A conclusão é óbvia - subordinar a
Igreja ao seu poder, de modo a controlar essa riqueza
A melhor maneira de mostrar a autoridade do Rei é através de grandes festas
religiosas, pois o povo está habituado às mesmas
Artisticamente está associado à Cúria Romana (órgão administrativo que
coordena e organiza o funcionamento da Igreja Católica), virando-se para Roma para
copiar o seu modelo - é um Rei-Sacerdote, pois chegou ao ponto de pedir
autorização ao Papa para dizer a missa
1710 – A Capela Real é promovida a COLEGIADA pelo Papa Clemente XI e
conta, entre outros, com um Capelão-Mor e um Deão – passa a dar um espectáculo
gigantesco, cheio de recursos para impressionar os súbditos, imitando o modelo de
Roma
D. João V não tem filhos por esta altura e promete construir um convento
franciscano caso a rainha D. Maria Ana de Áustria lhe der descendência, promessa
cumprida após o nascimento da Princesa D. Maria Bárbara e que dará origem do
Convento de Mafra, cuja construção iniciar-se-á a 17 de Novembro de 1717.
1716 – BATALHA DO CABO MATAPAN – os portugueses derrotam os turcos
e o Rei ganha o título de Rei-Fidelíssimo e cai nas graças do Papa. É mandada uma
Embaixada a Roma, muito faustosa, com 3 coches dourados; oferece um jardim ao
Papa
Neste mesmo ano, por bula do mesmo Pontífice, a Arquidiocese de Lisboa
é subdividida em 2 partes:
- Lisboa Oriental, que mantém a dependência da antiga Sé, e é regida
pelo Arcebispado de Lisboa
- Lisboa Ocidental fica sob jurisdição da Colegiada, sendo o Capelão
promovido ao título de Patriarca

1737 – O Rei consegue fazer com que o Patriarca receba o título de Cardeal
1740 – Lisboa Oriental é integrada no Patriarcado
Fica completo um hábil processo de subordinação das instituições religiosas,
que ficam sob o primado de um príncipe da Igreja que mais não é que o Capelão do
Rei.
Musicalmente, D. João V procura também o modelo Romano
A primeira vítima desta reforma é o VILANCICO RELIGIOSO – cantado pela
última vez na Capela Real na época de Natal de 1715/16, sendo depois
completamente excluído da liturgia da Capela. Este sobrevive até 1723 em algumas
igrejas mais conservadoras por ocasião das Festas dos Santos, mas o Rei decide
proibir a sua utilização em todas as Igrejas do país
Marco da transição definitiva para um Barroco italianizante
1719 – Domenico Scarlatti é contratado a peso de ouro à Capela Giulia,
onde era Mestre-Capela do Papa
1713 – D. João V funda o SEMINÁRIO DA PATRIARCAL, no Convento de
São Francisco
Forma músicos para a Igreja. Aprendizagem de cantochão e polifonia com
grandes mestres italianos. Ao saírem deste Seminário, os alunos mais distinguidos
ocupam lugares de grande importância pelo País. Entre eles estão:
- Francisco António de Almeida – estreia em Roma em 1726 La Giuditta.
É uma escrita operática e sabe que não terá sucesso em Portugal, transformando-a
numa Oratória. Volta para Portugal em 1728, contratado pela Patriarcal, como
organista
- António Teixeira
- João Rodrigues Esteves

Estes alunos são mandados para Roma como bolseiros, sendo formados sob
égide do Barroco eclesiástico romano, na tradição de Carissimi ou Benevoli
Único defeito do Rei: Tudo isto só se passa em Lisboa: o Rei estabelece a sua
residência na Capital e o modelo de alto nível é o modelo da Corte. Todas as outras
Escolas – Évora; Braga; Porto – que tradicionalmente estavam orgulhosas da sua
autonomia, têm de adaptar-se ao modelo e gosto da corte.
____________________________________SOCIABILIDADE (Séc. XVIII)

Ao contrário do que se passa no resto da Europa, Portugal não favorece a


criação de espaços públicos onde se possa ouvir música e conversar: as chamadas
Assembleias, os Cafés
Existe uma excepção que são as ASSEMBLEIAS DAS NAÇÕES UNIDAS,
mas eram só para estrangeiros a habitar em Portugal. Os portugueses só entram se
forem convidados. No caso dos Cafés, faz confusão ter muitas pessoas a falar sabe-
se lá sobre o quê.
Sobram os Teatros, com comédia espanhola - falada e com números
musicais. São montados palcos com cortinas em pátios e o público fica em pé ou em
bancos corridos.
1727 – O Rei proíbe as Comédias. Acha-as antiquadas. Quer coisas
modernas.
1728 – É representado no Carnaval um conjunto de 3 intermezzi a 6 vozes
sob o título IL DON CHISCIOTTE DELLA MANCIA, provavelmente de Scarlatti,
no Paço da Ribeira – marca o primeiro espectáculo de cariz operático. Foi reposta em
1730, 1731 e 1734.
Durante o reinado de D. João V foram apresentadas mais 6 óperas, entre as
quais:

- 1733 – La pazienza di Socrate


- 1735 – La finta paza
- 1739 – La Spinalba
compostas por Francisco António de Almeida
Contudo o Rei, apesar de as autorizar, não só não gostava muito, como os
acessos de público eram demasiado reservados.
Uma vez que são espectáculos de opera buffa, demonstra que o modelo
italiano não penetrou na corte portuguesa
Em paralelo, existe uma indefinição em relação ao que era permitido
representar, visto o Rei ter proibido em 1727 a representação do comédias.
1731 – Começam a acontecer encontros em salões de particulares -
Lázaro Leitão, um Beneficiado (tem rendimento fixo dado pela Catedral; geral/
padre ou frade) – manda instalar um mini-teatro no seu palácio
- usava alguns cantores amadores e outros profissionais da Capela-Real
- vendia bilhetes para a ópera, e as pessoas, sendo isto feito por uma pessoa
respeitável, começam a aderir
1733 – Está em actividade a companhia de cantores italianos de
Alessandro Paghetti, da qual fazem parte as suas filhas, as Paquetas. Dão o
primeiro espectáculo de ópera público em 1735, na ACADEMIA DA
TRINDADE, com a ópera Farnace, ópera seria de Schiassi. É um pequeno grupo
de 6 cantores – pouco investimento –, mas é um grande sucesso. A Companhia
transfere-se para o TEATRO DA RUA DOS CONDES (Restauradores) em 1738.
Entre os anos de 1738 a 42 apresentaram vários intermezzi, 25 óperas sérias
com música de Schiassi, Leonardo Leo, Rinaldo de Capua e Pergolesi
A par disto, existiam outras representações músico-teatrais mais
híbridas, noutros locais da capital:
- os chamados presépios – combinação do teatro vicentino e a experiência das
comédias castelhanas. Acaba por ser engolido pela esfera operática italiana
Em 1733, abre também o TEATRO DO BAIRRO ALTO:
- Representações de espectáculos de MARIONETAS, ou BONIFRATES 
teatro declamado e em português, com textos em tom satírico da sociedade
portuguesa da autoria do “judeu” ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA, que seguiam a
tradição de Gil Vicente e Lope da Vega
As 8 óperas de António José da Silva representadas no BAIRRO ALTO:
- 1733 – Vida do Grande D. Quixote de la Mancha
- 1734 – Esopaida, ou a vida de Esopo
- 1735 – Os Encantos de Medeia
- 1736 – Anfitrião
- 1736 – O Labirinto de Creta
- 1737 – As Guerras de Alecrim e Manjerona
- 1737 – As Variedades de Proteu
- 1738 – O Precipício de Faetonte

ANTÓNIO TEIXEIRA é quem compõe as músicas para estas peças. António


José da Silva é preso e morto pela Inquisição em 1739, num dos últimos autos
de fé feitos em Lisboa.
Não teve a ver com as suas obras, pois foram autorizadas durante 5 anos.
Talvez por práticas hebraicas.
Era chamada a “COMPANHIA DOS BONECOS”  aspecto popular por ser
teatro de marionetes; não seriam censuradas por serem consideradas um
escape, um espaço de diversão.
1741 – D. JOÃO V tem um AVC e fica semi-paralisado. Fica assustado
com a morte e os confessores ainda pioram as coisas dizendo que a culpa é de todos
os pecados que haviam no Reino, por ele ter deixado entrar tanta “modernice”.
Assim, manda fechar TODOS OS TEATROS e PROÍBE TODOS OS
ESPECTÁCULOS. O País fica parado neste aspecto até 1750, ano da morte de D.
JOÃO V. A música fica de novo restrita aos SALÕES, e mesmo esta é proibida
em 1746 pelo Rei.

Orquestra da Real Câmara – para onde convergem todos os instrumentos


Charamela Real – já vem do séc. XV.
- Conjunto de instrumentos de sopro – trombetas, charamelas,
timbales. Tem como função acompanhar o Rei para todo o lado, mesmo dentro
de casa – num grande banquete ou numa visita oficial. O Rei manda construir
uma trombeta em prata, que tal como o ouro vinha do Brasil, para juntar
à Charamela

De 1742 a 1750 só há MÚSICA RELIGIOSA - o Rei, após o AVC, fica com


medo de morrer e torna-se um fanático religioso. Encomenda 2 CARRILHÕES
para o Convento de Mafra, para os quais Carlos Seixas compõe uma obra.

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