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Limite e Continuidade
O Cálculo Diferencial por sua vez estuda a variação das funções, ou seja, se
a variável y depende da variável x por uma função y = f (x), como a variação em
x afeta a variação em y. Numa função que descreve uma reta, este conceito é
simples. Quanto maior a inclinação da reta maior é a resposta na variável y a uma
variação em x.
22 Limite e Continuidade
x x x
Figura 8.1: A curva da esquerda tem inclinação pequena, a do meio tem inclinação
maior. A terceira curva possui várias inclinações.
Se a função descreve uma curva, esta resposta não é tão simples. Intuitiva-
mente podemos perceber que há uma resposta. Se a curva descreve uma ladeira
podemos perceber que precisamos de mais esforço para subir uma ladeira reta
mais inclinada que uma ladeira reta menos inclinada. Já na curva podemos in-
tuitivamente enxergar em quais trechos o esforço é grande, em quais o esforço é
pequeno e até mesmo em quais o esforço é negativo (como ao descer uma ladeira).
O objetivo do Cálculo Diferencial é calcular estas diversas inclinações, definindo
assim o conceito de derivada.
Em princípio a área limitada por uma curva (descrita pelo Cálculo Integral) e a
inclinação da curva (descrita pelo Cálculo Diferencial) são conceitos geométricos
independentes. Mas o teorema mais importante deste capítulo, chamado Teorema
Fundamental do Cálculo, mostra que estes conceitos distintos são intimamente
ligados, motivo pelo qual são estudados como um único assunto, o Cálculo Dife-
rencial e Integral.
Historicamente o primeiro destes problemas a ser tratado foi o da área limitada
por uma curva, como por exemplo no Método da Exaustão de Arquimedes. Com
este conceito Arquimedes foi capaz de calcular a área limitada por uma parábalo e
a área limitada por uma circunferência, entre outros exemplos. O conceito de de-
rivada apareceu séculos mais tarde com Fermat no estudo de máximos e mínimos
de funções.
À medida que o conhecimento matemático avançava, estes conceitos foram
cada vez mais aperfeiçoados. O desenvolvimento das fórmulas de Bhaskara, Car-
dano e Ferrari permitiram que o método da exausão fosse aplicado a diversas
curvas. Pascal e Fermat utilizaram aproximações por retângulos ao invés de triân-
gulos. Newton e Leibniz de maneiras independentes formularam a relação entre
os conceitos de derivada e integral e posteriormente Cauchy e Riemann viram a
necessidade de formular os conceitos de derivada e integral de maneira mais con-
sistente e rigorosa. Esta necessidade motivou a definição do conceito de limite,
como será ilustrada nos exemplos a seguir.
8.1 Necessidade de limites 23
h h
b b
b=1
x 0<A<1. (8.1)
Dividindo a base da figura em quatro pedaços, podemos também encaixar
cada pedaço em um retângulo diferente. Podemos também desenhar retângulos
dentro da região. Os retângulo menores, à esquerda na figura 8.4, estão contidos
na região de área desconhecida, portanto a área debaixo da parábola é maior que
a soma das áreas destes retângulos menores. Calculamos assim uma aproximação
inferior para a área desconhecida A.
f(x) f(x)
x x
f(x) f(x)
x x
Este processo de dividir a base em partes cada vez menores pode ser repetido
quantas vezes quisermos, gerando aproximações ainda melhores para esta área
desconhecida. Neste método o número de retângulos é cada vez maior, mas o
tamanho da base também é cada vez menor. Com o método da exaustão, Arqui-
medes calculou esta área como A = 1/3.
Por maior que seja o número de retângulos, a região em questão é limitada por
uma curva, que nunca pode ser aproximada por uma quantidade finita de retân-
gulos. A área exata deste retângulo por este método é calculada apenas com um
número infinito de retângulos. Como a área de cada retângulo individual é cada
vez menor, estas áreas se aproximam de zero. Portanto para aplicar este método
é necessário desenvolver uma matemática capaz de descrever a soma da área de
infinitos retângulos de área zero, isto é, uma matemática em que expressões como
1
•·0 = (8.5)
3
fazem sentido.
26 Limite e Continuidade
y y
x x
Figura 8.6: Reta tangente como uma aproximação por retas secantes.
f(x)
✓ ◆ ✓ ◆
f (x1 ) f (x0 ) f (x0 )x1 f (x1 )x0
y= x+ . (8.6)
x1 x0 x1 x0
f (x1 ) f (x0 )
m= . (8.7)
x1 x0
y = x2 (8.9)
como mostrada na figura abaixo. O ponto (2, 4) pertence a esta parábola e quere-
mos calcular a expressão da reta tangente a esta curva que passa pelo ponto (2, 4)
aproximando-a por retas secantes.
f(x) Escolhemos um ponto x 6= 2 e a inclina-
ção da reta que passa pelos pontos (2, 4)
e o ponto (x, x2 ) é
x2
Dy x2 4
m(x) = = . (8.10)
Δy Dx x 2
Evidentemente a função m(x) não está
4
definida no ponto x = 2, isto é, este
2 x x ponto não pertence ao domínio da fun-
Δx
ção. Mas nada nos impede de calcular
a função m(x) em valores próximos de
x = 2. Montando tabelas para valores
maiores e menores que 2 temos os se-
guintes valores:
x m(x) x m(x)
2.2 4.2 1.8 3.8
2.1 4.1 1.9 3.9
2.05 4.05 1.95 3.95
2.01 4.01 1.99 3.99
2.001 4.001 1.999 3.999
2.0001 4.0001 1.9999 3.9999
Pelos valores tabelados parece seguro afirmar que o valor de m(x) se aproxima
do número real 4 quando o argumento x se aproxima de 2. Portanto a inclinação
da reta tangente à parábola y = x2 no ponto (2, 4) vale m = 4 e sua equação é
(y 4) = 4(x 2) ou y = 4x 4. (8.11)
8.2 Definição de limites 29
x2 4
lim =4. (8.12)
x!2 x 2
2
x3 + 10x 5 sen(x)
f (x) = . (8.13)
x
Esta função é par ( f ( x) = f (x)). Podemos calcular f (x) apenas para os valo-
res positivos de x para analisar como o valor de f (x) se comporta quando x se
aproxima do zero. Montamos então a seguinte tabela.
x f (x)
1 1.000084
0.5 0.250017
0.1 0.0100102
0.05 0.00251005
0.01 0.000110002
0.005 0.0000350005
0.001 0.000011
x f (x)
0.0005 0.00001025
0.0001 0.00001001
0.00005 0.0000100025
0.00001 0.0000100001
0.000005 0.000010000025
0.000001 0.000010000001
O valor correto deste limite é o segundo. Neste exemplo uma tabela com poucos
valores pode nos enganar e sugerir um limite diferente do correto.
Partimos agora para outro exemplo. Seja a função
p
1 + x2 1
g(x) = , (8.16)
x2
que descreve a curvatura de uma hipérbole. Esta função claramente não está de-
finida em x = 0, pois há uma divisão por zero. Mas nada nos impede de tabelar
valores da função calculada em valores de x cada vez mais próximos de zero.
Como no exemplo anterior, esta função é par e podemos tabelar apenas os valores
positivos de x.
x g(x)
1 0.41421
10 1 0.49875
10 2 0.49998
10 3 0.50000
10 4 0.50000
10 5 0.50000
x g(x)
10 6 0.500044
10 7 0.488498
10 8 0.000000
10 9 0.000000
10 10 0.000000
p
1 + x2 1
lim =0, (8.18)
x!0 x2
f(x) f(x)
4 4
2 x 2 x
Como a função m(x) não é definida no ponto x = 2 esta reta possui um “bu-
raco” em x = 2, mas todos os outros pontos da reta correspondem a algum valor
que pode ser tabelado. Este “buraco” possui altura y = 4, então a abordagem
geométrica sugere também que
x2 4
lim =4. (8.19)
x!2 x 2
x h(x)
1 sen(p) = 0
10 1 sen(10p) = 0
10 2 sen(100p) = 0
10 3 sen(1000p) = 0
10 4 sen(10000p) = 0
10 5 sen(100000p) = 0
x h(x)
2/5 sen 5p
2 =1
2/9 sen 9p
2 =1
2/13 sen 13p
2 =1
2/17 sen 17p
2 =1
2/21 sen 21p
2 =1
x g(x)
2/3 sen 3p
2 = 1
2/7 sen 7p
2 = 1
2/11 sen 11p
2 = 1
2/15 sen 15p
2 = 1
2/19 sen 19p
2 = 1
conclusão é que
⇣p⌘
lim sen = 1. (8.23)
x!0 x
Montamos três tabelas diferentes para a função h(x), cada uma podendo ser
calculada em infinitos valores diferentes que se aproximam cada vez mais de x =
0, e que sugerem um valor diferente para o limite da função quando x tende a zero.
A noção intuitiva de calcular valores da função cada vez mais próximas de zero
falha neste exemplo.
O motivo pelo qual a tabela falha é que
a função h(x) = sen px é uma oscilação
entre os valores 1 e 1 cada vez mais
rápida à medida que o argumento x se
x
aproxima de zero. A tabela 8.6 foi mon-
tada com raízes da função, a tabela 8.7
foi montada com os máximos da função
e a tabela 8.8 foi montada com os míni-
mos da função.
Estes exemplos mostram como calcular o limite de uma função por valores de
uma tabela pode induzir a resultados errados. Precisamos melhorar a definição de
limite, porque a definição “número real do qual a função se aproxima à medida em
que o argumento se aproxima de um determinado valor” é imprecisa. Se este mé-
todo de cálculo de limite falhou nestes exemplos pode falhar em diversos outros.
Precisamos de uma definição mais precisa que não preveja resultados ambíguos
como a extrapolação da tabela.
O problema da noção intuitiva é que existem inúmeras maneiras pelas quais
o argumento x pode tender ao ponto x0 . Então a definição rigorosa deve ser in-
dependente da maneira que x tende a x0 . Uma expressão melhor para o limite é
dizer que “O valor da função f (x) tende ao número real L quando x tende a x0 se
os valores de f (x) estão próximos de L sempre que x está próximo de x0 .” Esta
definição já não depende de como x tende a x0 , mas precisamos ainda expressar
melhor o que significa estar próximo de L ou estar próximo de x0 .
ou apenas
d(x, x0 ) = |x x0 | . (8.25)
|x x0 | < a . (8.26)
Dizemos agora que f (x) tende a L quando x tende a x0 se f (x) está próximo
de L sempre que x está próximo de x0 . Uma maneira ainda melhor de expressar
36 Limite e Continuidade
este conceito é dizer que f (x) está em uma vizinhança pequena de L sempre que
x está em uma vizinhança pequena de x0 . Esta expressão em língua portuguesa
deve agora ser traduzida para equações matemáticas.
A vizinhança de tamanho a do ponto x0 é o conjunto que denotamos por Va (x0 )
dos pontos que satisfazem a desigualdade |x x0 | < a. Se f (x) está numa vizi-
nhança de tamanho b do número real L, denotamos esta vizinhança por Vb (L) e a
desigualdade que f (x) deve satisfazer é | f (x) L| < b.
f(x) No plano xy a expressão y 2 Vb (L), que
equivale à desigualdade L b < y < L+b
representa uma faixa de horizontal es-
pessura 2b em torno da reta horizontal
y = L. Se a curva y = f (x) possui um
L
comportamento como na figura ao lado,
a fronteira da faixa intercepta a curva em
dois pontos. Estes dois pontos podem ser
c 0x d x
projetados no eixo x definindo os pontos
c e d como na figura, um deles menor
que x0 e outro maior que x0 .
Neste caso podemos perceber que sempre que escolhermos algum ponto no
intervalo aberto (c, d), o valor correspondente f (x) estará dentro da faixa de es-
pessura 2b. Em outras palavras, f (x) 2 Vb (L) sempre que c < x < d. Dentro deste
intervalo aberto podemos encontrar uma vizinhança de x0 . Seja a um número real
menor que as distâncias |x0 c| e |x0 d|. Então se x 2 Va (x0 ), automaticamente
x 2 (c, d) que por sua vez que dizer que f (x) 2 Vb (L). Para esta vizinhança em par-
ticular de L de tamanho b foi possível encontrar uma vizinhança de x0 de tamanho
a tal que
Falta ainda definir o que é uma vizinhança pequena. No tamanho do Brasil, ci-
dades a 50 km de distância uma da outra podem ser consideradas cidades vizinhas.
Mas duas pessoas que moram na mesma cidade jamais se considerariam vizinhas
morando a esta distância uma da outra. Sem saber qual é a aplicação prática da
conta que estamos fazendo não é possível dizer o que é pequeno e o que é grande.
Por este motivo a definição de limite deve ser válida para qualquer vizinhança,
por menor que ela seja. Então a definição de que f (x) está próximo de L sempre
que x está próximo de x0 é melhor expressa como “Para qualquer vizinhança b
arbitrariamente pequena do ponto L existe alguma vizinhança de tamanho a do
ponto x0 tal que f (x) 2 Vb (L) sempre que x 2 Va (L)”. Este conceito é ilustrado na
figura 8.8.
8.2 Definição de limites 37
f(x) f(x)
L L
c x0 d x c x0 d x
Um detalhe importante que foi omitido. O valor f (x) não precisa estar defi-
nido em x0 para definirmos o conceito de limite. O ponto x = x0 pode ser expresso
por |x x0 | = 0. Então se trocarmos a expressão |x x0 | < a por 0 < |x x0 | < a
automaticamente excluímos o ponto x0 da vizinhança em questão. Assim com-
pletamos a definição de limite da função. Dizemos que f (x) tende a L quando x
tende a x0 se para todo valor positivo de b existir algum valor positivo de a tal que
Exemplo 8.3.
Seja a função
x2 4
m(x) = (8.36)
x 2
cujos valores tabelados sugerem que o limite seja 4 quando x tende a 2. Pela
definição precisa devemos mostrar que para todo e > 0 existe algum d > 0 tal que
x2 4
4 <e, (8.38)
x 2
(x 2)(x + 2)
4 <e, (8.39)
x 2
|x 2| < e . (8.41)
x2 4
lim =4. (8.43)
x!2 x 2
Exemplo 8.4.
Seja agora h(x) = sen px e x0 = 0, que é o ponto no qual h(x) não está defi-
nido. Se calcularmos uma tabela com valores de x dados por x = 1n com n inteiro
sugere um limite nulo. Então escolhemos uma vizinhança de tamanho e de L = 0.
8.2 Definição de limites 39
No entanto esta condição deve ser verdade para qualquer valor de e, e em parti-
cular para os arbitrariamente pequenos. Escolhendo um e menor que 1, como por
exemplo e = 4/5, a curva y = f (x) sai da faixa de espessura 2e em torno da reta
horizontal y = 0.
x x
Por causa da oscilação cada vez mais rápida da função h(x) quando x se aproxima
de zero, o valor da função nunca se aproxima de um único número real. Neste
caso dizemos que
⇣p⌘
lim sen não existe. (8.46)
x!0 x
40 Limite e Continuidade
Exemplo 8.5.
Seja f (x) = 2x + 7 e x0 = 4. Se montarmos uma tabela com os valores desta
função com o argumento se aproximando de x0 = 4 percebemos que o valor da
função se aproxima de L = 15. Então manipulamos a expressão | f (x) 15| < e.
|(2x 7) 15| < e , (8.47)
e
|x 4| <. (8.49)
2
Então se escolhermos algum d menor que e/2, como e/3 ou e/4, temos que
e
0 < |x 4| < d =) |x 4| < =) |(2x 7) 15| < e . (8.50)
2
Portanto
lim (2x 7) = 15 . (8.51)
x!4
Exemplo 8.6.
Seja agora o exemplo da função f (x) = |x|
x . Esta função não está definida em
x0 = 0 mas podemos tentar calcular o seu limite. Lembrando que
⇢
x , se x 0
|x| = (8.52)
x , se x < 0
podemos simplificar a expressão de f (x) como
⇢
|x| 1 , se x > 0
f (x) = = (8.53)
x 1 , se x < 0
cujo gráfico é mostrado na figura abaixo.
f(x)
|x|
lim não existe. (8.55)
x!0 x
| f (x) 1| = |1 1| = 0 . (8.57)
|x|
1 <e sempre que 0<x<d. (8.58)
x
Definição 8.2. Se para todo e > 0 existir algum d > 0 tal que
dizemos que f (x) tende a L quando x tende a x0 pela direita. Denotamos o limite
à direita como
Definição 8.3. Se para todo e > 0 existir algum d > 0 tal que
|x|
lim = 1. (8.63)
x!0 x
Para que o limite de uma função exista quando x ! x0 , é necessário que o
limite à direita e o limite à esquerda existam e sejam iguais. No caso da função
f (x) = |x|
x os dois limites laterais existem, mas são valores diferentes. Já no caso
h(x) = sen px nem mesmo os limites laterais existem.
Exemplo 8.7. p
Seja agora o exemplo da função f (x) = x, definida nos valores x 2 [0, +•).
Queremos calcular o limite quando x0 ! 0. Montando uma tabela de valores cada
vez menores de x a função parece tender a zero. Neste caso podemos calcular
apenas em valores à direita de x0 = 0. Manipulando a expressão | f (x) L| < e
com L = 0 encontramos
p
x 0 <e, (8.64)
x < e2 . (8.65)
e
|x 4| < . (8.74)
4
Então se escolhermos qualquer valor de d maior que zero e menor que e/4 temos
que
e
0 < |x 4| < d =) |x 4| < =) |(4x + 15) 31| < e , (8.75)
4
então de fato
como esperávamos.
No entanto é impraticável repetir o teste pela definição rigorosa cada vez que
modificarmos uma função com limite conhecido. Por este motivo é interessante
deduzir propriedades que permitem reduzir o cálculo do limite de uma função
complicada em limites mais simples.
44 Limite e Continuidade
Teorema 8.1.
Se os limites
existem, então
(a)
(b)
(c)
f (x) L1
lim = se L2 6= 0 . (8.80)
x!x0 g(x) L2
Em outras palavras, o limite da soma de duas funções é a soma dos limites indi-
viduais, o limite do produto é o produto dos limites e o limite da razão é a razão
dos limites desde que o denominador seja diferente de zero.
Demonstração. Para provar a primeira propriedade, devemos mostrar que para
todo e > 0 existe algum d > 0 tal que
Sabemos por hipótese que os limites individuais de f (x) e g(x) existem e tendem,
respectivamente, a L1 e L2 . Então para o número positivo e/2 existem números
positivos d1 e d2 tais que
e
| f (x) L1 | < sempre que 0 < |x x0 | < d1 , (8.84)
2
e
|g(x) L2 | < sempre que 0 < |x x0 | < d2 . (8.85)
2
8.3 Propriedades de limites 45
Para a última propriedade, devemos mostrar que para todo e > 0 existe um
d > 0 tal que
f (x) L1
<e sempre que 0 < |x x0 | < d (8.99)
g(x) L2
|L2 |
|g(x) L2 | < sempre que 0 < |x x0 | < d1 . (8.102)
2
Nesta vizinhança temos que
|L2 |
|L2 | = |L2 g(x) + g(x)| |L2 g(x)| + |g(x)| < + g(x) . (8.103)
2
|L2 |
Subtraindo 2 em cada termo temos
|L2 |
< |g(x)| (8.104)
2
8.3 Propriedades de limites 47
ou
1 2
sempre que 0 < |x x0 | < d1 . (8.105)
|g(x)| |L2 |
f (x) L1
<e sempre que 0 < |x x0 | < d , (8.109)
g(x) L2
Seja
3x2 x + 4
f (x) = . (8.110)
x2 + 1
Queremos calcular o limite desta função quando x tende a 1. Nesta função seria
impraticável utilizar a definição, no entanto, se soubermos calcular os limites
para qualquer valor de x0 . A diferença | f (x) K| é nula em toda a reta real. Então
para qualquer e > 0 temos que
| f (x) K| < e , 8x 2 R . (8.114)
Então para qualquer vizinhança de tamanho d de qualquer ponto x0 é verdade que
devemos mostrar que para todo e > 0 existe algum d > 0 tal que
| f (x) x0 | < e sempre que 0 < |x x0 | < x0 . (8.118)
Neste caso
| f (x) x0 | = |x x0 | . (8.119)
Então para qualquer e > 0 podemos escolher um d tal que 0 < d < e e assim
0 < |x x0 | < d =) |x x0 | < e . (8.120)
Exemplo 8.10.
No caso do polinômio
p(x) = 3x2 x+4 (8.121)
podemos calcular o limite pelos exemplos anteriores e pelo teorema 8.1.
✓ ◆✓ ◆✓ ◆ ✓ ◆✓ ◆ ✓ ◆
2
lim (3x x + 4) = lim 3 lim x lim x + lim 1 lim x + lim 4
x!1 x!1 x!1 x!1 x!1 x!1 x!1
= 3 · 1 · 1 + ( 1) · 1 + 4 = 6 . (8.122)
8.3 Propriedades de limites 49
Exemplo 8.11.
Se
q(x) = x2 + 1 , (8.123)
✓ ◆✓ ◆ ✓◆
2
lim (x + 1) = lim x lim x + lim 1 = 1 · 1 + 1 = 2 . (8.124)
x!1 x!1 x!1 x!1
Exemplo 8.12.
No caso da função racional
3x2 x + 4
f (x) = . (8.125)
x2 + 1
Nos exemplos anteriores calculamos isoladamente os limites do numerador e do
denominador. Como o limite do denominador é diferente de zero, podemos aplicar
as propriedades de limite e concluir que
3x2 x + 4 limx!1 (3x2 x + 4) 6
lim = = =3. (8.126)
x!1 x2 + 1 limx!1 (x2 + 1) 2
Exemplo 8.13.
Seja agora a função racional
x3 1
f (x) = . (8.127)
x 1
Queremos calcular o limite quando x tende a 1. Calculando os limites do numera-
dor e do denominador isoladamente temos
✓ ◆✓ ◆✓ ◆ ✓ ◆
3
lim (x 1) = lim x lim x lim x + lim 1 = 1 · 1 · 1 1 = 0 (8.128)
x!1 x!1 x!1 x!1 x!1
e
✓ ◆ ✓◆
lim (x 1) = lim x + lim 1 = 1 1=0. (8.129)
x!1 x!1 x!1
Neste caso o denominador tende a zero e não podemos utilizar o teorema 8.1.
Precisamos de outra abordagem para calcular este limite.
Lembrando que x3 1 = (x 1)(x2 + x + 1), escrevemos
x3 1 (x 1)(x2 + x + 1)
f (x) = = = x2 + x + 1 . (8.130)
x 1 x 1
Assim
✓ ◆✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆
lim f (x) = lim x lim x + lim x + lim 1 = 1 · 1 + 1 + 1 = 3 . (8.131)
x!1 x!1 x!1 x!1 x!1
50 Limite e Continuidade
Teorema 8.2.
Se
(a)
(b)
Exemplo 8.14.
Queremos agora calcular o limite da função
p p
x 2
f (x) = (8.139)
x 2
8.3 Propriedades de limites 51
equivale a
p p p
2 e < x < 2+e . (8.142)
Se
p
lim f (x) = 0 , então lim f (x) = 0 (8.150)
x!x0 x!x0
equivale a
p p p
a e u a+e . (8.153)
p
Se e > a escrevemos
p p
0 u a+e . (8.154)
p p
( a e)2 au a ( a + e)2 a (8.157)
8.3 Propriedades de limites 53
p
se 0 < e < a ou
p
a u ( a + e)2 a (8.158)
p
se e > a. p p
Seja d1 o menor valor entre a ( a e)2 , ( a + e)2 a ou a. Neste caso
sempre que
0 < |u a| < d1 (8.159)
as condições (8.157) e (8.158) são automaticamente satisfeitas, que por sua vez
implicam
p p
| u a| < e , (8.160)
provando assim que de fato
p p
lim u = a (8.161)
u!a
Sabemos que f (x) tende a L quando x tende a x0 , ou seja, para todo e1 > 0 existe
algum d > 0 tal que
| f (x) L| < e1 sempre que 0 < |x x0 | < d . (8.163)
Em particular, podemos escolher e1 = d1 . Assim
p p
0 < |x x0 | < d =) | f (x) L| < e1 = d1 =) f (x) L < e , (8.164)
Exemplo 8.15.
Seja agora
p
1 + x2 1
f (x) = , (8.166)
x2
que é a função não definida em x0 = 0 e cuja tabela pouco precisa sugere um limite
L = 1/2 se calcularmos até x = 10 5 mas para valores mais precisos ainda o limite
parece tender a L = 0. Manipulando a expressão para contornar a divisão por zero
temos
p p
1 + x2 1 1 + x2 + 1 1 + x2 12 1
f (x) = 2
· p = p =p . (8.167)
x 2 2
1 + x + 1 x ( 1 + x + 1)2 1 + x2 + 1
A função no argumento da raiz tem o seguinte limite.
✓ ◆ ✓ ◆✓ ◆
2
lim (1 + x ) = lim 1 + lim x lim x = 1 + 0 · 0 = 1 . (8.168)
x!0 x!0 x!0 x!0
então
ou seja,
Exemplo 8.17.
Seja agora o caso da função
⇣p⌘
f (x) = x sen , (8.182)
x
que não está definida em x = 0 mas cujo limite pode ser calculado. Não podemos
utilizar a propriedade de limite
✓ ◆✓ ⇣ p ⌘◆
lim f (x) = lim x lim sen (8.183)
x!0 x!0 x!0 x
porque o segundo limite não existe. Mas sabemos que a função seno é limitada,
então
⇣p⌘
1 sen 1 (8.184)
x
para todo x real. Multiplicando esta expressão por x temos a desigualdade
⇣p⌘
x x sen x. (8.185)
x
No meio temos a função cujo limite queremos calcular. Nos extremos temos a
função linear ou um múltiplo dela, cujo limite é simplese já calculamos como
L = 0. Então pelo teorema do confronto
⇣p⌘
lim x sen =0, (8.186)
x!0 x
p
mesmo não existindo o limite da função sen x .
8.4 Limites envolvendo o infinito 57
1
lim (8.187)
x!0 x2
existe e, caso exista, qual o seu valor. Não podemos utilizar a propriedade da
razão dos limites porque o denominador tende a zero. Portanto devemos voltar à
definição e tentar encontrar um número real L tal que para todo e > 0 existe algum
d > 0 de modo que
1
L <e sempre que 0 < |x| < d . (8.188)
x2
Como a imagem da função f (x) = x12 é o conjunto dos números positivos, espe-
ramos que este L seja positivo. A desigualdade que envolve L é equivalente a
1
L e< < L+e . (8.189)
x2
Considere e pequeno o suficiente de modo que L > e. Assim cada termo na desi-
gualdade acima é positivo. Tomando os inversos escrevemos a desigualdade como
1 1
> x2 > . (8.190)
L e L+e
Agora trocamos a ordem dos elementos e tiramos a raiz quadrada de cada um,
obtendo
1 1
p < |x| < p . (8.191)
L+e L e
Em outras palavras,
1 1 1
L <e somente se p < |x| < p . (8.192)
x2 L+e L e
58 Limite e Continuidade
f(x)
Como ilustrado na figura ao lado, as re-
giões no eixo x que correspondem a va-
lores de f (x) dentro da faixa de espes-
L sura 2e em torno do L escolhido são dois
intervalos abertos, um deles com valores
de x positivos e outro com valores de x
negativos. Estes intervalos abertos são
c x0 d
x expressos por
1 1 1 1
p <x< p e p <x< p . (8.193)
L e L+e L+e L e
1
0 < |x| < p =) f (x) > L + e . (8.194)
L+e
Como não existe número real L que satisfaça a definição de limite, dizemos
que
1
lim não existe. (8.195)
x!0 x2
Definição 8.4.
Dizemos que
lim f (x) = +• (8.198)
x!x0
1
0 < |x a| < d =) |x a| < p
4
=) f (x) < M . (8.206)
M
Portanto pela definição podemos afirmar que
1
lim = •. (8.207)
x!a (x a)4
60 Limite e Continuidade
Exemplo 8.19.
Seja agora uma função mais simples, dada por
1
f (x) = . (8.208)
x
Para qualquer x0 6= 0 podemos calcular o limite pelas propriedades já vistas. No
entanto se x0 = 0 o denominador tende a zero, então voltamos à definição. Pelos
exemplos anteriores parece um bom palpite verificar se o limite é +•. Seja então
um M positivo arbitrariamente grande. A desigualdade
1
>M (8.209)
x
equivale a
1
x< . (8.210)
M
1
Encontramos um valor máximo para x que implica x > M, mas não um valor
mínimo. No entanto, como M > 0 temos
1
> 0 =) x > 0 , (8.211)
x
1
o que determina o valor mínimo. Escolhendo d < M temos que
1
>M sempre que 0 < x < d . (8.212)
x
A definição de limite para o infinito é válida somente numa vizinhança à direita
de x0 = 0, portando podemos afirmar que
1
lim = +• . (8.213)
x!0+ x
Analisando o comportamento da função na vizinhança a esquerda, para os mes-
mos M e d acima temos que
1 1
d < x < 0 =) > =) M > f (x) . (8.214)
d x
Então podemos dizer que
1
lim = •. (8.215)
x!0 x
8.4 Limites envolvendo o infinito 61
como no caso da função f (x) = (x 1a)2 . De acordo com a definição de limite, para
qualquer valor de M arbitrariamente grande é possível encontrar uma vizinhança
de x0 = a tal que toda a curva y = f (x) está acima deste valor grande M. Os pontos
da curva y = f (x) estão cada vez mais próximos da reta vertical x = a quando os
valores de y são muito grandes. Mas como a função não está definida em x = a, a
curva nunca intercepta a reta vertical.
Este comportamento de se aproximar cada vez mais de uma reta é chamada de
comportamento assintótico e esta reta é chamada de assíntota da curva represen-
tada por y = f (x). No exemplo da função f (x) = (x 1a)4 vimos que esta função
possui limite real para todo x0 6= a de acordo com as propriedades de limite, mas
que a função tende a • quando x tende a a.
f(x) O gráfico da função claramente possui
uma assíntota vertical em x = a, mas
neste caso os valores de f (x) tornam-
se cada vez maiores à medida em que
x se aproxima de a por ambos os lados.
Pode-se calcular que a distância do ponto
(x, f (x)) à reta vertical diminui à medida
em que x se aproxima de a. No entanto,
para todo x 6= 0 a distância é positiva, ou
x seja, a curva nunca intercepta a reta.
1
Já no caso da função f (x) = x vimos que
1 1 1
lim = +• , lim = • e lim não existe. (8.217)
x!0+ x x!0 x x!0 x
Observando com mais cuidado a curva, que na verdade representa uma hipér-
bole, podemos perceber uma segunda assíntota. A função positiva é decrescente
no intervalo (0, +•), então a curva se aproxima cada vez mais da reta horizontal
y = 0 quando x assume valores cada vez maiores.
Podemos expressar este conceito de assíntotas horizontais com limites de fun-
ções. Uma curva representada por y = f (x) se aproxima assintoticamente da reta
horizontal y = L se para toda vizinhança de L existir um valor arbitrariamente
grande de x denotado por x̄ tal que
| f (x) L| < e sempre que x > x̄ . (8.218)
No caso de f (x) = 1x , seja e > 0 arbitrariamente pequeno.
1 1
0 < e =) |x| > , (8.219)
x e
que por sua vez implica
1 1
x> ou x< . (8.220)
e e
Como e é positivo, o seu inverso é positivo com valor finito e sempre existe algum
x̄ maior que ele. Assim
1
0 <e sempre que x > x̄ . (8.221)
x
Este limite é denotado pela expressão
1
lim =0. (8.222)
x!+• x
Definição 8.5.
Dizemos que
lim f (x) = L (8.223)
x!+•
Exemplo 8.20.
Seja o exemplo
x+1
f (x) = (8.227)
x
cujo gráfico parece se aproximar assintoticamente da reta horizontal y = 1. Faze-
mos a seguinte manipulação
x+1
1 <e, (8.228)
x
x+1 x
<e, (8.229)
x
1
<e, (8.230)
x
1
|x| > . (8.231)
e
Esta última condição é satisfeita se
1 1
x> ou x< (8.232)
e e
1
Escolhendo x̄ > e temos que
x+1
1 <e sempre que x > x̄ . (8.233)
x
1
Além disso, se escolhermos x̄ < e temos que
x+1
1 <e sempre que x < x̄ . (8.234)
x
x+1 x+1
lim =1 e lim =1. (8.235)
x!+• x x! • x
64 Limite e Continuidade
Exemplo 8.21.
Escolher agora a função
f (x) = x2 (8.236)
para testar se existe alguma assíntota horizontal, isto é, se existe algum L de modo
que para todo e > 0 existe algum x̄ tal que
Existem dois intervalos nos quais o a curva y = x2 está contida na faixa horizontal
de espessura 2e em torno de L, que são
p p p p
L+e < x < L e ou L e < x < L + e (8.240)
p
Sempre que x > L + e a curva y = x2 estará acima da faixa em questão, para
qualquer valor de L real. Portanto
No entanto este limite não existe porque a função cresce indefinidamente. Seja
M um número positivo
p arbitrariamente grande. A condição x2 p> M é satisfeita
sempre que x > M, isto é, para todo M positivo existe um x̄ = M tal que
lim x2 = +• . (8.243)
x!+•
Definição 8.6.
Dizemos que
Dizemos que
Dizemos que
Dizemos que
Portanto
f (x) = x (8.255)
portanto
lim x = +• . (8.257)
x!+•
portanto
lim x = • . (8.259)
x! •
Assim como no caso dos limites que não envolvem o infinito, existem teore-
mas convenientes que permitem reduzir o cálculo de um limite complicado em
vários cálculos de limites simples.
Teorema 8.5.
Se
então
(a)
(b)
(c)
(d)
f (x) L1
lim = se L2 6= 0 . (8.266)
x!+• g(x) L2
Devemos mostrar que estes três termos do lado direito são arbitrariamente
pequenos quando x é suficientemente grande. Como f (x) tende a L1 e g(x) tende
a L2 , para todo e > 0 existem x¯1 , x¯2 , x¯3 e x¯4 tais que
r
e
| f (x) L1 | < sempre que x > x¯1 , (8.268)
3
r
e
|g(x) L2 | < sempre que x > x¯2 , (8.269)
3
e
| f (x) L1 | < sempre que x > x¯3 , (8.270)
3(1 + |L2 |)
e
|g(x) L2 | < sempre que x > x¯4 . (8.271)
3(1 + |L1 |)
Seja x̄ o maior de todos estes x¯1 , x¯2 , x¯3 e x¯4 . Então sempre que x > x̄ temos que
r r
e e e |L2 | e |L1 | e e e
| f (x) · g(x) L1 · L2 | · + + < + + =e.
3 3 3 1 + |L2 | 3 1 + |L1 | 3 3 3
(8.272)
68 Limite e Continuidade
Estas operações não estão definidas. Devemos calcular o limite com outra abor-
dagem. Tanto no numerador quando no denominador podemos colocar um x4 em
evidência, resultando em
2
x4 3 x + x52 + x73 2
x4
3 2
x + x52 + x73 2
x4
f (x) = = . (8.276)
x4 2 5
+ x14 2 5
+ x14
x2 x2
O limite do numerador é
✓ ◆ ⇣ ⌘ ✓ ◆ ✓ ◆
2 5 7 2 1 1
lim 3 + + = lim 3 2 lim + 5 lim 2
x!• x x2 x3 x4 x!• x!• x x!• x
✓ ◆ ✓ ◆
1 1
+7 lim 3 2 lim 4 = 3 0 + 0 + 0 0 = 3 . (8.278)
x!• x x!• x
8.5 Indeterminações
A propriedade
✓ ◆ ✓ ◆
lim f (x) · g(x) = lim f (x) · lim g(x) (8.280)
x!x0 x!x0 x!x0
exige que os limites individuais existam para que a propriedade seja válida. Esta-
mos agora interessados no caso em que uma destas funções ou ambas tenha uma
assíntota vertical. É de se esperar que se as duas funções crescem sem limite supe-
rior ao se aproximarem de x0 , o produto também deve crescer sem limite superior.
Mas o que podemos esperar no caso do produto de uma função que tende a zero
com uma função que tende a +•?
Teorema 8.6.
Se
lim f (x) = +• e lim g(x) = +• , (8.281)
x!x0 x!x0
então
lim [ f (x) + g(x)] = +• e lim [ f (x) · g(x)] = +• (8.282)
x!x0 x!x0
Teorema 8.7.
Se
então
⇢
+• , se L > 0
lim [ f (x) + g(x)] = +• e lim [ f (x) · g(x)] = (8.289)
x!x0 x!x0 •, se L < 0
Escolhendo d como o menor valor entre d1 e d2 , sempre que 0 < |x x0 | < d temos
que
Teorema 8.8.
Se
então
⇢
•, se L > 0
lim [ f (x) + g(x)] = • e lim [ f (x) · g(x)] = (8.301)
x!x0 x!x0 +• , se L < 0
então
Teorema 8.10.
Se
então
Podemos provar também que todos estes teoremas continuam válidos se tro-
carmos as expressões “x ! x0 ” por “x ! x0+ ”, “x ! x0 ”, “x ! +•” ou “x ! •”
com pequenas diferenças nas demonstrações.
Teorema 8.11.
Se
então
1
lim =0. (8.307)
x!x0 f (x)
1 1
| f (x)| > M =) < <e. (8.309)
f (x) M
Teorema 8.12.
Se
1
lim = +• . (8.312)
x!x0 f (x)
8.5 Indeterminações 73
Demonstração. Para todo M > 0 existe algum e > 0 tal que e < M1 . Para este valor
de e existe algum d2 > 0 tal que
Seja d o menor valor entre d1 e d2 . Neste caso sempre que 0 < |x x0 | < d temos
que f (x) > 0 e
1 1 1
| f (x)| < e =) > =) >M . (8.314)
| f (x)| e | f (x)|
( •) + ( •) = • , (8.317)
⇢
+• , se L > 0
L · (+•) = (8.318)
•, se L < 0
⇢
•, se L > 0
L · ( •) = (8.319)
+• , se L < 0
(+•) + L = +• , (8.320)
74 Limite e Continuidade
( •) + L = • , (8.321)
(+•) · ( •) = • , (8.323)
( •) · ( •) = +• , (8.324)
1
=0, (8.325)
±•
1
= ±• , a depender do sinal de f (x) na vizinhança. (8.326)
0
Pode-se notar que estas expressões não incluem as combinações (+•) (+•),
( •) ( •), 0 · •, 00 e • • . Como veremos após alguns exemplos simples, estas
expressões são indeterminadas. Dependendo do exemplo elas podem tender a
+•, tender a • ou até mesmo tender a um número real. Estas determinações
são extremamente importantes porque a definição de derivada envolve a indeter-
minação 00 tendendo a um número real enquanto a definição de integral envolve a
indeterminação • · 0 tendendo à uma área finita.
Exemplo 8.26 (• •).
Sejam f (x) = x2 e g(x) = 2x 1.
lim x2 = • · • = +• , (8.327)
x!•
lim 2x + a = 2 · • + a = • + a = • . (8.331)
x!•
1 1
lim f (x) · h(x) = lim x2 3
= lim = 0 , (8.336)
x!• x!• x x!• x
a
lim f (x) · m(x) = lim x2 = lim a = a . (8.337)
x!• x!• x2 x!•
O resultado de • · 0 pode tender a +•, pode tender a 0 ou até mesmo para um
número real.
76 Limite e Continuidade
Exemplo 8.28 ( •
• ).
Sejam agora
f (x) x2
lim = lim = lim x = +• , (8.339)
x!• g(x) x!• x x!•
f (x) x2 1
lim = lim 3 = lim = 0 (8.340)
x!• h(x) x!• x x!• x
e
f (x) x2 1 1
lim = lim 2 = lim = . (8.341)
x!• m(x) x!• ax x!• a a
Então o abuso de notação •
• pode representar uma tendência ao infinito ou a algum
número real qualquer, motivo pelo qual é indeterminado.
Exemplo 8.29 ( 00 ).
Sejam agora
f (x) x4
lim = lim 2 = lim x2 = 0 , (8.343)
x!0 g(x) x!0 x x!0
f (x) x4 1
lim = lim 6 = lim 2 = +• (8.344)
x!0 h(x) x!0 x x!0 x
e
f (x) x4 1 1
lim = lim 4 = lim = . (8.345)
x!0 m(x) x!0 ax x!0 a a
✓ ◆
4 3 2 4 3 2 3 1
f (x) = 2x 3x 2x + 3x + 1 = x 2 + + (8.348)
x x2 x3 x4
lim x4 = • · • · • · • = • . (8.349)
x!•
p(x) = an xn + ax 1x
n 1
+ · · · + a2 x 2 + a1 x + a0 , (8.352)
pois envolve n produtos do tipo (+•) · (+•) que sempre resulta em +•. Portanto
⇢
+• , se an > 0
lim p(x) = an · (+•) = (8.356)
x!+• •, se an < 0
✓ ◆
3 2 1
lim 5 + 2+ 3 = 5 (8.361)
x!• x x x
e
lim x2 = +• . (8.362)
x!•
Então
✓ ◆
2x5 + 7x4 3x3 + x2 x + 8 2
lim = (+•) · = •. (8.363)
x!+• 5x3 3x2 + 2x + 1 5
Exemplo 8.33 (Função racional).
Consideramos agora uma função racional onde o grau do denominador é maior
que o grau do numerador, como por exemplo
x 1
f (x) = . (8.364)
x2 + 1
Novamente isolamos a maior potência no numerador e no denominador, resul-
tando em
1 1
x 1 x 11 x
f (x) = 2 1
= 1
. (8.365)
x 1+ x 1+
x2 x2
Assim
Pode-se mostrar que quando o grau do denominador é maior que o grau do nume-
rador, a função racional sempre tende a zero quando x tende a +• ou a •.
80 Limite e Continuidade
a1 , a2 , a3 , a4 , a5 , a6 , a7 , . . . (8.367)
1 1 1 1
1, 1, , , , ,··· (8.369)
2 6 24 120
Exemplo 8.36.p
Seja ak = k 2. Se quisermos um resultado real, não podemos rotular a
sequência a partir de k = 0 ou k = 1. Começando com k = 2 a sequência a2 , a3 ,
a4 , a5 ,a6 ,a7 , . . . resulta em
p p p
0, 1, 2, 3, 2, 5, . . . (8.370)
p
Esta sequência pode ser obtida também pelo termo geral bk = k rotulada a partir
de k = 0, o que mostra que o termo geral de uma sequência não é único.
Exemplo 8.37.
Seja o termo geral
⇢
+1, se k é par
ak = (8.371)
1, se k é ímpar
8.6 Extensões do conceito de limite 81
Esta mesma sequência pode ser escrita da forma mais simples pelos termos gerais
ak = ( 1)k ou ak = cos(kp).
Exemplo 8.38.
O termo geral de uma sequência pode ser expresso por uma fórmula recursiva.
Seja
⇢
1, se k = 1 ou k = 2
ak = (8.373)
ak 1 + ak 2 , se k > 2
Os dois primeiros termos são definidos como 1. A partir deles cada termo é a
soma dos dois termos anteriores. Neste exemplo a sequência a1 , a2 , a3 , a4 , a5 , a6 ,
a7 , a8 , a9 , . . . resulta em
Exemplo 8.39.
k
Seja ak = k+1 . Tabelando os valores desta sequência obtemos o seguinte re-
sultado
k ak k ak
0 0 7 7/8 = 0.875
1 1/2 = 0.5 8 8/9 = 0.888 . . .
2 2/3 = 0.666 . . . 9 9/10 = 0.9
3 3/4 = 0.75 10 10/11 = 0.9090 . . .
4 4/5 = 0.8 100 0.99009900 . . .
5 5/6 = 0.8333 . . . 1000 0.999000999000 . . .
6 6/7 = 0.857142 . . . 10000 0.9999000099990000 . . .
Definição 8.7. Dizemos que a sequência de números reais com termo geral ak
possui um limite L quando k tende ao infinito se para todo número real positivo
e existir um número inteiro N tal que |ak L| < e sempre que k > N. Neste caso
82 Limite e Continuidade
lim ak = L . (8.375)
k!•
k
1 <e. (8.376)
k+1
Exemplo 8.40.
Seja o termo geral ak = k2 , que define a sequência
Queremos saber se esta sequência converge, isto é, se existe algum número real L
de modo que para qualquer e > 0 existe um número inteiro N tal que |k2 L| < e
sempre que k > N. Como esta sequência é positiva, esperamos que este L, se
existir, seja positivo. Assim a desigualdade |k2 L| < e equivale a L e < k2 <
L + e, tirando a raiz quadrada destes termos, que são positivos se L > e, temos
8.6 Extensões do conceito de limite 83
p p
L e < k < L + e. Então para que a desigualdade p |k2 L| < e seja satisfeita,
o rótulo k não pode ser maior que o número real L + e. Mas estamos analisando
o comportamento da sequência em valores arbitrariamente grande de k. Portanto
para qualquer número real L existe algum k grande o suficiente de modo que a
desigualdade |k2 L| < e não seja válida para qualquer e positivo. Então o limite
desta sequência não existe e por definição a sequência diverge.
Neste exemplo podemos notar que o motivo pelo qual a sequência diverge é
que os valores de ak crescem ainda mais rápido que os valores de k, não tendo um
limite superior, isto é, de maneira ilimitada. Se escolhermos qualquer númeropreal
M arbitrariamente grande, sempre existe um número inteiro N maior que M,
que implica ak = k2 > M se k > N. Esta divergência específica é denotada por um
símbolo especial.
Definição 8.8. Se para qualquer número real M > 0 arbitrário existir um número
inteiro N tal que ak > M sempre que k > N, dizemos que a sequência diverge para
o infinito e denotamos a divergência por
lim ak = +• . (8.383)
k!•
Se para qualquer M < 0 arbitrário existir um número inteiro N tal que ak <
M sempre que k > N, dizemos que a sequência diverge para o menos infinito e
denotamos a divergência por
lim ak = • . (8.384)
k!•
por definição, para todo e > 0 existe algum x̄ real tal que
Para todo x̄ real existe um número inteiro N > x̄. Então sempre que x > N auto-
maticamente x > x̄, que implica | f (x) L| < e. Sabendo que ak = f (k), se k > N,
então
que implica
Exemplo 8.41.
Seja ak = k/k+1. Podemos escrever ak = f (k) onde f é dado pela função con-
tínua f (x) = x/x+1 em x > 0. Calculando o limite desta função temos
x 1 1 1
lim = lim 1
= 1
= =1, (8.390)
x!• x + 1 x!• 1 + 1 + limx!• x 1+0
x
portanto
lim ak = 1 , (8.391)
k!•
como obtido por epsilons e deltas, mas por um processo mais simples.
A recíproca deste teorema não é necessariamente verdadeira. O teorema diz
que se ak = f (k) onde f é uma função real, o limite da sequência é igual ao
limite da função real se este limite existir. No entanto é possível que o limite da
sequência exista mas o limite da função real não.
Exemplo 8.42.
Seja f (x) = sen(px). Esta função é contínua para todo x real. O limite desta
função quando x tende ao infinito não existe, pois o valor da função oscila entre
1 e 1 ad infinitum. Podemos definir uma sequência pelo termo geral ak = f (k) =
sen(pk). Como k é um número inteiro, a função é sempre calculada num múltiplo
de p, portanto ak = 0 e obviamente converge para 0.
Podemos definir outra sequência por outros valores da função sen(px), como
em ak = sen p 4k+1 2 . Neste caso
⇣ p⌘ ⇣p⌘
ak = sen 2pk + = sen =1 (8.392)
2 2
8.6 Extensões do conceito de limite 85
que obviamente converge para 1. Neste exemplo podemos definir uma sequência
infinita a partir da função f (x) = sen(kx) que converge para qualquer valor real
entre 1 e 1. No entanto o limite da função real quando x tende ao infinito não
existe.
Quando calculamos limites por tabelas, estamos no fundo tentando calcular o
limite de uma função real por uma sequência de números reais definida a partir
da função real. Mesmo com funções simples como f (x) = sen(kx) é possível
montar tabelas diferentes que convergem para valores diferentes. Este é o motivo
pelo qual não se deve calcular limites de funções reais por tabelas e a definição
rigorosa por epsilons e deltas deve ser utilizada.
ou apenas
lim ak = L . (8.395)
k!•
Exemplo 8.43.
Seja novamente a sequência de termo geral ak = k/k+1, com k 1. Neste
exemplo o numerador é positivo e menor que o denominador. Portanto ak < 1
para qualquer valor de k 1. Além disso
Por indução, os infinitos elementos desta sequência são limitados pelo número
real 2.
Agora precisamos mostrar que esta sequência é crescente. Novamente usamos
a fórmula recursiva,
p p ⇣p p ⌘
ak+1 ak = 2ak ak = ak 2 ak . (8.399)
Vimos que ak < 2, portanto o termo entre parênteses na última equação é sempre
positivo. Portanto ak+1 ak > 0, o que implica que a sequência é crescente.
Sendo crescente e limitada superiormente, a sequência converge para algum li-
lim ak . Para calcular este limite, aplicamos o limite na fórmula recursiva
mite L = k!•
p
lim ak = lim 2ak 1 . (8.400)
k!• k!•
p
Como x é contínua, o limite pode “entrar” na raiz, resultando em
q
lim ak = 2 lim ak 1 . (8.401)
k!• k!•
p
Como o limite das sequências é um número real L, temos L = 2L, cujas soluções
são L = 0 e L = 2. Por motivos óbvios o limite não pode ser nulo, portanto
lim ak = 2 . (8.402)
k!•
a1 , a2 , a3 , a4 , a5 , a6 , a7 , . . . (8.403)
A partir desta sequência definimos uma nova sequência chamada somas parciais
da sequinte maneira:
s1 = a1 , (8.404)
s2 = a1 + a2 , (8.405)
s3 = a1 + a2 + a3 , (8.406)
..
.
n
sn = a1 + a2 + · · · + an = Â ak . (8.407)
k=1
Estas somas parciais podem ser definidas para qualquer número inteiro positivo
n. Como o conjunto dos números inteiros positivos é infinito, podemos também
88 Limite e Continuidade
definir uma soma infinita dos elementos de uma sequência, que chamamos de
série infinita. Podemos denotar uma série infinita como
•
 ak = a1 + a2 + a3 + · · · (8.408)
k=1
Assim como no caso de sequências, uma série de números reais não precisa ser
rotulada a partir do k = 1. Por exemplo,
•
1 1 1 1 1
 k! = 1 + 1 + 2 + 6 + 24 + 120 + · · · (8.409)
k=0
é uma série cujo rótulo começa com k = 0. Obviamente o termo geral p precisa
estar definido no rótulo inicial, então uma série com termo geral ak = k 2
deve começar a partir de k 2.
Se existir um número real S tal que
n •
S = lim sn = lim
n!• n!•
 ak =  ak , (8.410)
k=1 k=1
dizemos que a série infinita converge e possui soma S. Se tal S não existir, dizemos
que a série infinita diverge. No caso em que a série diverge porque a sequência de
somas parciais eventualmente é sempre maior que qualquer número real arbitrari-
amente grande, dizemos que
•
 ak = +• . (8.411)
k=1
Da mesma forma, se a série diverge porque a sequência de somas parciais eventu-
almente é menor que qualquer número real negativo com módulo arbitrariamente
grande, dizemos que
•
 ak = •. (8.412)
k=1
Exemplo 8.45 (Série Harmônica).
Seja ak = 1/k. A série infinita
•
1 1 1 1
 k = 1+ 2 + 3 + 4 +··· (8.413)
k=1
é chamada de série harmônica. Esta série é divergente, como provaremos agru-
pando os termos da seguinte maneira.
• ✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆
1 1 1 1 1 1 1 1
 = 1+ 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + (8.414)
k=1 k
✓ ◆
1 1 1 1 1 1 1 1
+ + + + + + + +···
9 10 11 12 13 14 15 16
8.6 Extensões do conceito de limite 89
Agora cada termo entre parênteses é uma soma de 2n 1 termos maiores ou iguais
a 1/2n . Então mesmo entre os elementos omitidos, cada agrupamento é maior que
1/2, isto é
•
1 1 1 1 1
 k > 1+ 2 + 2 + 2 + 2 +··· (8.416)
k=1
sempre que n > 2M para qualquer M positivo. Pela definição de limites, a série
harmônica diverge, isto é,
•
1
 k = +• . (8.419)
k=1
90 Limite e Continuidade
Sabemos que
n
Â1=n, (8.430)
k=1
fórmula esta que Gauß foi capaz de deduzir aos oito anos de idade para não ter
que somar manualmente os 100 primeiros números naturais como esperava seu
professor.
92 Limite e Continuidade
Com esta fórmula podemos deduzir a soma dos n primeiros números naturais
ao quadrado.
a0 , a0 r, a0 r2 , a0 r3 , . . . , (8.444)
ak = a0 rk , k = 0, 1, 2, 3, . . . (8.445)
A série infinita
•
 a0 r k (8.446)
k=0
8.6 Extensões do conceito de limite 93
onde isolamos o último termo com potência rn+1 e devolvemos o termo de potên-
cia r à somatória, resultando em
n 1
rsn = Â a0rk+1 + a0rn+1 . (8.449)
k=0
Nesta somatória fazemos uma mudança de índices onde k passa a ser representado
por k0 1. Assim o índice inicial k = 0 passa a ser representado por k0 = 1, o índice
final k = n 1 passa a ser representado por k0 = n e o termo geral a0 rk+1 é trocado
0
por a0 rk , resultando em
n
Â
0
rsn = a0 rk + a0 rn+1 . (8.450)
k =1
0
Tanto k quanto k0 são índices mudos. Podemos na última equação trocar k0 por k
sem alterar o resultado, obtendo
n
rsn = Â a0rk + a0rn+1 . (8.451)
k=1
Aquiles uma quantidade de tempo infinita para alcançar a tartaruga, motivo pelo
qual o movimento seria uma ilusão.
Imagine que a velocidade da tartaruga é de 1 metro por segundo e que a de
Aquiles é de 10 metros por segundo. Se a distância original é de 100 metros,
temos a seguinte sequência de intervalos de tempo:
d0 = 100m =) t0 = 10s ,
t0 = 10s =) d1 = 10m =) t1 = 1s
t1 = 1s =) d2 = 1m =) t2 = 0.1s
t2 = 0.1s =) d3 = 0.1m =) t3 = 0.01s
Os intervalos de tempo seguem uma progressão geométrica tk = 10(0.1)k , com
razão r = 0.1, portanto a série geométrica é convergente. A soma dos infinitos
intervalos de tempo é dada por
•
1 10
T= Â 10(0.1)k = 10 1 =
0.1 0.9
= 11.111 . . . (8.458)
k=1
Em geral cada pessoa tenta recrutar mais que duas pessoas para o esquema.
Imagine então um esquema em que cada pessoa recruta outras oito pessoas. O
número de pessoas em cada nível do esquema passa a ser
n
1 8n+1 8n+1 1
N(n) = Â 8k = 1 8
=
7
, (8.460)
k=0
96 Limite e Continuidade
n N(n)
1 9
2 73
3 585
4 4681
5 37449
6 299593
7 2396745
8 19173961
9 153391689
10 1227133513
11 9817068105
A sequência definida por este termo geral converge para algum valor real quando
n tende ao infinito?
Se montarmos uma tabela com valores desta sequência, o resultado obtido
sugere que sim. Mas para provarmos a existência deste limite devemos primeiro
mostrar que esta sequência é crescente e que ela é limitada superiormente. Pelo
binômio de Newton,
✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆
1 n n 1 n 1 n 1 n 1
1+ = 1+ + 2
+ 3
+···+
n 1 n 2 n 3 n n nn
1 n(n 1) 1 n(n 1)(n 2) 1 n! 1
= 1+n + 2
+ 3
+···+
n 2! n 3! n n! nn
1 n(n 1) 1 n(n 1)(n 2) 1 n! 1
= 1+ + + + · · · +
1! n2 2! n3 3! nn n!
Nesta última linha os fatores que multiplicam termos com um fatorial no denomi-
nador são sempre menores ou iguais a 1. Portanto
✓ ◆
1 n 1 1 1 1
1+ < 1+ + + +···+ . (8.462)
n 1! 2! 3! n!
1 1
Sabendo que (n + 1)! 2n para todo n 1, temos que (n+1)! 2n e
✓ ◆
1 n 1 1 1 1
1+ < 1+ 0 + 1 + 2 +···+ n 1 (8.463)
n 2 2 2 2
Estes termos são os n primeiros elementos de uma série geométrica de razão 1/2.
✓ ◆ n 1 ✓ ◆k • ✓ ◆k
1 n 1 1
1+ < 1+ Â < 1+ Â = 1+2 = 3 , (8.464)
n k=0 2 k=0 2
ou seja,
✓ ◆
1 n
1+ <3 (8.465)
n
para todo n 1.
98 Limite e Continuidade
Se n < m, temos que 1/n > 1/m, 1/n < 1/m e (1 1/n) < (1 1/m), assim como
(1 2/n) < (1 2/m), (1 3/n) < (1 3/m) e assim por diante. Logo
n(n 1) n 1 1 1 m(m 1)
= =1 <1 = (8.468)
n2 n n m m2
e
✓ ◆✓ ◆
n(n 1)(n 2) n 1 n 2
= (8.469)
n3 n n
✓ ◆✓ ◆ ✓ ◆✓ ◆
1 2 1 2 m(m 1)(m 2)
= 1 1 < 1 1 = .
n n m m m3
Assim sucessivamente podemos mostrar que cada termo da expansão binomial
de (1 + 1/n)n é menor que o termo correspondente da expansão binomial de (1 +
1/m)m , que implica
✓ ◆ ✓ ◆
1 n 1 m
1+ < 1+ (8.470)
n m
se n < m.
Mostramos que a sequência an = (1 + 1/n)n é estritamente crescente e limitada
superiormente pelo número real 3. Pelo teorema 20.2 esta sequência converge
para o seu supremo. Como 3 é um limite superior, sabemos apenas que o limite
da sequência é menor ou igual a 3. Este raciocínio não é capaz de calcular o valor
do limite, apenas garante a existência dele. Este número real cuja existência é
garantida é chamado de número de Euler e denotado pela letra e.
✓ ◆
1 n
e = lim 1 + (8.471)
n!• n
8.7 Continuidade 99
8.7 Continuidade
Em muitos exemplos vimos que o limite de uma função quando x ! x0 resul-
tou no valor da função quando calculada em x = x0 , como no caso de polinômios.
Exemplo 8.52 (Polinômio de segundo grau).
Seja p(x) = ax2 + bx + c. Pelas propriedades de limites
✓ ◆✓ ◆✓ ◆ ✓ ◆✓ ◆ ✓ ◆
lim p(x) = lim a lim x lim x + lim b lim x + lim c
x!x0 x!x0 x!x0 x!x0 x!x0 x!x0 x!x0
Esta propriedade é tão importante que damos um nome especial às funções que a
satisfazem.
Definição 8.10.
Uma função é dita contínua em x0 se
Por fim, dizemos que f é contínua (omitindo o intervalo) se ela for contínua em
todo o seu domínio.
8.7 Continuidade 101
Exemplo 8.56.
Seja a função que descreve o ramo superior de uma circunferência de raio a
centrada na origem,
p
f (x) = a2 x2 , (8.483)
cujo domínio é o intervalo fechado [ a, a]. Sabemos que o limite da raiz de uma
função é igual à raiz do limite da função se esta função for positiva em uma vizi-
nhança de x0 . Então para todo x0 2 ( a, a), sabendo que polinômios de segundo
grau são funções contínuas, temos que
Logo
p q
lim f (x) = lim a2 x2 = a2 x02 = f (x0 ) (8.485)
x!x0 x!x0
Então como a função f é contínua em todo o domínio, dizemos apenas que ela é
contínua sem a necessidade de especificar os pontos.
Teorema 8.16.
Se f (x) e g(x) são funções contínuas em x0 , então
(a) A soma f (x) + g(x) é contínua em x0 ;
lim ( f (x) ± g(x)) = lim f (x) ± lim g(x) = f (x0 ) + g(x0 ) , (8.489)
x!x0 x!x0 x!x0
✓ ◆ ✓ ◆
lim ( f (x) · g(x)) = lim f (x) · lim g(x) = f (x0 ) · g(x0 ) (8.490)
x!x0 x!x0 x!x0
e
f (x) lim f (x) f (x0 )
x!x0
lim = lim
= (8.491)
x!x0 g(x) x!x0 g(x) g(x0 )
Teorema 8.18.
As funções trigonométricas sen(x) e cos(x) são contínuas.
Demonstração. Primeiro precisamos mostrar que
⇣ p p⌘
| sen(x)| |x| | tan(x)| se x 2 , . (8.493)
2 2
Seja x o ângulo representado na figura ao
lado, que é positivo e menor que p/2. De-
senhamos um arco de circunferência de
raio 1 e a região destacada em azul tem
B área 2x .
C
O triângulo OAC está contido na região
destacada e possui altura sen(x). O tri-
ângulo OAB, de altura tan(x) contém a
região destacada. Portanto as áreas dos
O A
triângulos satisfazem
1 x 1
sen(x) < < tan(x) , (8.494)
2 2 2
ou apenas
p
sen(x) < x < tan(x) se 0<x< . (8.495)
2
Como estas três funções são positivas temos que
p
| sen(x)| < |x| < | tan(x)| se 0<x< . (8.496)
2
p
Se x 2 2,0 definimos y = x e vale que
que implica
para qualquer x0 2 R.
Pelas propriedades trigonométricas sabemos que
✓ ◆ ✓ ◆
x x0 x + x0
sen(x) sen(x0 ) = 2 sen cos . (8.505)
2 2
Tomando o módulo desta expressão temos
✓ ◆ ✓ ◆
x x0 x + x0
|sen(x) sen(x0 )| = 2 sen cos . (8.506)
2 2
portanto
x 1 ⇣ p⌘
1< < se x 2 0, . (8.519)
sen(x) cos(x) 2
Estas três funções são pares, então esta desigualdade é válida também no intervalo
p
2 , 0 . Tomando o inverso de cada termo temos
sen(x) p
cos(x) < <1 se 0 < |x| < . (8.520)
x 2
sen(x)
lim =1. (8.522)
x!0 x
Então
sen(x) 1 cos(x)
lim =1 e lim =0. (8.526)
x!0 x x!0 x
8.7 Continuidade 107
Teorema 8.19.
Se g(x) é uma função contínua em x0 e f (u) é uma função contínua em u0 =
g(x0 ), então a composição f (g(x)) é contínua em x0 .
Demonstração. Queremos mostrar que para todo e > 0 existe algum d > 0 tal que
A continuidade de f (u) em u0 nos garante que para todo e > 0 existe algum d1
Pela continuidade de g(x) em x0 sabemos que para este d1 específico existe algum
d > 0 tal que
Então
|x x0 | < d =) |g(x) g(x0 )| < d1 =) |u u0 | < d1 =)
| f (u) f (u0 )| < e =) | f (g(x)) f (g(x0 ))| < e . (8.532)
É importante notar que este teorema supõe que o ponto u0 = g(x0 ) pertence
simultaneamente ao domínio de f e à imagem de g. Por exemplo, se
p
f (x) = x e g(x) = 1 x4 , (8.533)
108 Limite e Continuidade
Exemplo 8.57.
Queremos calcular o limite
sen (cos(x))
limp . (8.536)
x! 2 cos(x)
sen(u)
f (u) = e g(x) = cos(x) . (8.537)
u
A função g(x) é contínua, então
⇣p⌘
limp cos(x) = cos =0. (8.538)
x! 2 2
Exemplo 8.58.
Queremos agora calcular
sen (tan(x))
lim . (8.540)
x!0 sen(x)
1 lim 1 1
x!0
lim = lim
= =1. (8.543)
x!0 cos(x) x!0
cos(x) cos(0)
sen (tan(x))
lim =1. (8.546)
x!0 sen(x)
Exemplo 8.59.
Seja agora o limite
p
x+2 1
lim (8.547)
x! 1 x+1
Neste exemplo o denominador tende a zero então
p devemos fazer alguma manipu-
lação. Poderíamos multiplicar e dividir por x + 2 + 1, mas queremos calcular o
limite por outra abordagem.
110 Limite e Continuidade
p
Seja u = x + 2, que implica u2 = x + 2 ou x = u2 2.
p q p
lim u = lim x + 2 = lim x + 2 = 1 = 1 . (8.548)
x! 1 x! 1 x! 1
A passagem
p do limite para o argumento da raiz é justificada pela continuidade da
função x. Assim a variável u ! 1 quando x ! 1 e
p
x+2 1 u 1 u 1 1 1
lim = lim 2 = lim = lim = .
x! 1 x+1 u!1 u 2 + 1 u!1 (u + 1)(u 1) u!1 u + 1 2
(8.549)
8.7 Continuidade 111
an · am = an+m (8.553)
a0 · a = a0 · a1 = a0+1 = a1 = a , (8.554)
isto é,
a0 · a = a . (8.555)
a0 = 1 se a 6= 0 , (8.556)
1 1
a = se a 6= 0 . (8.558)
a
Em geral temos que
n 1
a = se a 6= 0 e n > 0 . (8.559)
an
112 Limite e Continuidade
ar · as = ar+s . (8.560)
isto é,
⇣ 1 ⌘2
a2 = a . (8.562)
8 p
< ap ,
q
se r > 0
ar = 1. se r = 0 (8.565)
: 1
a|r|
, se r < 0
p = 3.14159265359 . . . (8.566)
8.7 Continuidade 113
as ar > 0 , (8.577)
provando que a exponenciação de racionais é uma função estritamente crescente.
114 Limite e Continuidade
Estes valores para os quais as duas sequências convergem devem ser iguais.
b a = lim asn lim arn = lim (asn arn ) . (8.580)
n!• n!• n!•
Para mostrar que a = b, basta mostrar que este último termo tende a zero.
Teorema 8.21.
p
lim n a = 1 se a>1. (8.583)
n!•
Demonstração. Seja e > 0 arbitrário. Como a > 1 existe um N inteiro tal que
a 1
1 + Ne > a ou N> . (8.584)
e
Sempre que n > N temos que
p p
(1 + e)n > 1 + ne > a =) 1 + e > n
a =) e > n
a 1. (8.585)
Em outras palavras, para todo e > 0 existe algum N tal que
p
n
a 1 < e sempre que n > N , (8.586)
provando assim este teorema.
8.7 Continuidade 115
permitindo assim definir uma função inversa, que tem domínio (0, +•) e imagem
( •, +•) e que satisfaz
f (ax ) = x , 8x 2 R , (8.600)
f (x)
a =x, 8x > 0. (8.601)
As propriedades de continuidade e crescimento são preservadas pela inversão.
Teorema 8.23.
Se f é uma função estritamente crescente e contínua no intervalo [a, b], a sua
inversa é estritamente crescente e contínua no intervalo [ f (a), f (b)].
Demonstração. Seja c = f (a) e d = f (b). A inversa de f (x) é uma função g(y)
definida para todo y 2 [c, d]. Sejam y1 e y2 elementos deste intervalo tais que
y1 < y2 . Existem valores x1 e x2 tais que
f(b)
Seja y0 2 (c, d). Existe algum x0 2 (a, b)
tal que y0 = f (x0 ). Seja e pequeno o su-
f(x +ε)
δ ficiente para que
f(x )
Substituindo x0 = g(y0 ) e x = g(y), temos que para todo e > 0 existe algum d > 0
tal que
ag = b . (8.609)
Teorema 8.24.
A função logarítmica possui as seguintes propriedades:
(a)
(b)
(c)
logb (x)
loga (x) = . (8.613)
logb (a)
8.7 Continuidade 119
ac · y = (ay )c (8.616)
Portanto
1
Se 0 < a < 1, escolhemos b = a e
logb (x) 1
lim loga (x) = lim = · (+•) . (8.624)
x!• x!• logb (a) logb (a)
No entanto, a < 1 implica
Se a > 1, este último limite tende a +•, enquanto se 0 < a < 1, tende a •. Ao
multiplicar por 1 temos
⇢
• , se a > 1
lim loga (x) = (8.629)
x!0 + +• , se 0 < a < 1
ou ainda como
✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆n+1 ✓ ◆
1 n n+1 1 x 1 n+1
1+ > 1+ > 1+ . (8.637)
n n x n+1 n+2
Agora seja
1
f (x) = (1 + x) x . (8.643)
1
lim u = lim não existe. (8.644)
x!0 x!0 x
Portanto
ax 1 u 1 1
lim = lim = lim 1 = lim h i.
x!0 x u!0 loga (1 + u) u!0 · loga (1 + u)
u
u!0 log (1 + u) 1u
a
(8.650)
Portanto
ax 1 1
lim = = loge (a) . (8.652)
x!0 x loga (e)
Em particular, se a = e temos que loge (a) = 1 e
ex 1
lim =1. (8.653)
x!0 x
Exemplo 8.60.
Diversos limites podem ser calculados como consequência dos limites funda-
mentais. Por exemplo, se
⇣ c ⌘x
f (x) = 1 + , (8.654)
x
definimos a variável u = xc e
⇢
x +• , se c > 0
lim u = lim = (8.655)
x!• x!• c •, se c < 0
Se c > 0,
✓ ◆ ✓ ◆
1 u·c
⇣ c
c ⌘x 1 u
lim 1 + = lim 1 + = lim 1+
x!+• x u!• u u!• u
✓ ◆u c
1
= lim 1 + = ec . (8.656)
u!• u
124 Limite e Continuidade
Se c < 0,
✓ ◆ ✓ ◆
1 u·c
⇣ c
c ⌘x 1 u
lim 1 + = lim 1 + = lim 1+
x!+• x u! • u u! • u
✓ ◆u c
1
= lim 1 + = ec . (8.657)
u! • u
x
Por fim, se c = 0, a função f (x) = 1 + xc é dada por f (x) = 1x que é cons-
tante e vale 1, portanto
✓ ◆
0 x
lim 1 + = 1 = e0 , (8.658)
x!+• x
Então
⇣ c ⌘x
lim 1 + = ec (8.659)
x!+• x
para todo c real.
8.7 Continuidade 125
1 3
0< f (c) < f (x) < f (c) sempre que |x c| < d . (8.661)
2 2
1
No caso f (c) < 0 escolhemos e = 2 f (c) e para este e específico existe algum
d tal que
3 1
f (c) < f (x) < f (c) < 0 sempre que |x c| < d . (8.662)
2 2
Demonstração. Suponha f (a) < 0 e f (b) > 0, já que o caso oposto pode ser
provado de maneira idêntica. Seja S o conjunto dos elementos do intervalo [a, b]
para os quais f (x) < 0, ou seja,
Este conjunto contém o elemento a, portanto ele não é vazio. Além disso, b é um
limite superior de S. Pelo axioma de existência do supremo, existe um número
real c = sup(S).
126 Limite e Continuidade
Queremos provar que f (c) = 0. Existem três possibilidades, f (c) > 0, f (c) <
0 e f (c) = 0. A demonstração consiste em provar que as possibilidades f (c) > 0
e f (c) < 0 implicam uma contradição, restando apenas a possibilidade f (c) = 0.
Se f (c) > 0, pela conservação do sinal existe alguma vizinhança de tamanho
d do ponto c tal que
Portanto nenhum elemento do conjunto S pode ser maior que c d. Em outras pa-
lavras, o ponto c d é um limite superior do conjunto S menor que o seu supremo,
o que contradiz a definição de supremo. Portanto a hipótese f (c) > 0 é falsa.
Se f (c) < 0, também pela conservação do sinal existe algum d tal que
Portanto existem elementos à direita de c para os quais f (x) < 0, ou seja, existem
elementos de S maiores que o seu supremo, o que também é uma contradição.
Assim a hipótese f (c) < 0 é também falsa e a única possibilidade restante é f (c) =
0.
Exemplo 8.61.
Seja
f (x) = x + 2x . (8.666)
x + 2x = 0 (8.667)
Exemplo 8.63.
f(x) Seja agora f (x) = |x|
x . Podemos calcu-
lar f (1) = 1 e f ( 1) = 1, ou seja, a
função possui sinais opostos em a = 1
e b = 1. No entanto esta função não é
contínua em x0 = 0, portanto ela não é
x contínua no intervalo [ 1, 1], violando as
condições do teorema de Bolzano. E de
fato neste exemplo específico é simples
mostrar que não existe algum x tal que
f (x) = 0.
ou
pois os termos entre colchetes necessariamente possuem sinais opostos. Pelo teo-
rema de Bolzano existe algum c 2 [x1 , x2 ] tal que g(c) = 0, que implica f (c) K =
0, ou seja, f (c) = K.
y y
f(b)
f(b)
f(a)
K
f(a)
a b x a c b x
Figura 8.10: Uma função cujo gráfico é interrompido viola o teorema do valor
intermediário.
isto é, os valores de f (x) em [a, b] são limitados inferiormente por f (x1 ) e supe-
riormente por f (x2 ).
Demonstração. Primeiro provamos que f é limitada em [a, b], ou seja, que existe
um número real M tal que
Esta prova é feita por contradição. Supomos que f não seja limitada e mostramos
que esta suposição implica uma contradição, logo o oposto da suposição deve ser
verdade.
Se f é ilimitada, para todo M > 0 existe algum elemento do intervalo [a, b] no
qual | f (x)| > M. Seja c o ponto médio do intervalo [a, b], calculado por c = a+b
2 .
8.7 Continuidade 129
Resta agora provar que o valor máximo da função ocorre em algum ponto do
intervalo [a, b]. Como a imagem da função é um conjunto não vazio e limitado,
sabemos que existe um ínfimo de f (x) e um supremo de f (x), que denotamos
como m e M. Em outras palavras, para qualquer x 2 [a, b] temos que
m f (x) M . (8.677)
Queremos provar que existe algum x1 2 [a, b] e algum x2 2 [a, b] para os quais
f (x1 ) = m e f (x2 ) = M. Esta prova também é feita por contradição.
Suponha que não existe x2 que satisfaz f (x2 ) = M. Neste caso a função
1
g(x) = (8.678)
M f (x)
é contínua e positiva no intervalo [a, b]. Logo g deve ser limitada em [a, b], isto é,
existe um C > 0 tal que
1 1 1 1
< C =) M f (x) > =) f (x) > M =) f (x) < M .
M f (x) C C C
(8.680)
O número real M C1 é um limite superior menor que o seu supremo, o que con-
tradiz a própria definição de supremo. Portanto a suposição de que não existe x2 2
[a, b] tal que f (x2 ) = M é falsa, ou seja, necessariamente existe algum x2 2 [a, b]
tal que f (x2 ) = M. O mesmo raciocínio mostra que existe algum x1 2 [a, b] tal
que f (x1 ) = M.
Definição 8.11.
O valor máximo M que uma função contínua assume em um intervalo fechado
é chamado de máximo global ou máximo absoluto.
O valor mínimo m que uma função contínua assume em um intervalo fechado
é chamado de mínimo global ou mínimo absoluto.
A diferença entre o valor máximo M e o valor mínimo m em um intervalo é
chamado de oscilação do intervalo.
a, a1 , a2 , a3 , a4 , . . . (8.682)
e0
A função f é contínua em a. Escolhendo e = 2 existe algum d > 0 tal que
e0 e0
f (a) < f (x) < f (a) + sempre que |x a| < d . (8.684)
2 2
Nesta vizinhança de tamanho d do ponto a a oscilação da função é
e0 ⇣ e0 ⌘ e0 e0
max{ f (x)} min{ f (x)} < f (a) + f (a) = + = e0 . (8.685)
2 2 2 2
Nesta vizinhança a oscilação da função é menor que e0 .
Se n for grande o suficiente, o tamanho do intervalo [an , bn ] será menor que d.
Basta que
✓ ◆
b a b a
Ln = n < d =) n > log2 . (8.686)
2 d