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VALÉRY, Paul. “Situação de Baudelaire”. In: BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal.

Tradução e organização de Júlio Castañon Guimarães; apêndices de Barbey d’Aurevilly,


Guillaume Apollinaire e Paul Valéry. 1ª ed. São Paulo: Penguin Classics – Companhia das
Letras, 2019, p. 625-642.

Baudelaire, afirma Valéry1, conhece, no início do século XX, o auge de sua glória.
Diferentemente de seus antecessores, pouco conhecidos ou apreciados no estrangeiro,
Baudelaire, com sua leitura peculiar do mundo e sua modernidade, tornou-se lido em outros
sistemas literários e atraiu admiradores e imitadores.

Valéry nos lembra de que quando Baudelaire chegou à idade adulta o romantismo
estava em seu apogeu. Na França, destacavam-se os nomes de Lamartine, Hugo e Musset.
Baudelaire teria, segundo Valéry, se orientado por caminhos não explorados por Victor Hugo,
cujo poder vital, não obstante, era incomparável (atestado por sua capacidade de trabalho e
longevidade). Baudelaire, portanto, é herdeiro de um passado clássico e de um presente
romântico, que julgava detestá-lo.

Sobressaem, na produção de Baudelaire, as marcas de Edgar Allan Poe. Se foi


influenciado pelo poeta norte-americano, Baudelaire foi igualmente seu maior divulgador. Se
não o tivesse introduzido, por suas traduções, no sistema literário europeu, Allan Poe muito
provavelmente teria sido esquecido, assegura Valéry.

Por fim, o ensaísta afirma que a obra de Baudelaire permanece atual graças à nitidez
singular de seu timbre, ao desenvolvimento de sua linha melódica admirável pura e a uma
sonoridade perfeita. Verlaine e Rimbaud teriam dado prosseguimento a seu legado na esfera
do sentimento e da sensação, e Mallarmé a teria prolongado no que tange à perfeição e à
pureza poética.

1
Conferência realizada em 19 de fevereiro de 1924 na Société de Conférence de Monaco e publicada numa
plaquete no mesmo ano: Situation de Baudelaire. Mônaco: Imprimerie de Monaco, 1924. Foi publicado em
Variétés II em 1929. (N. T.)

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