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Émile Verhaeren

Verhaeren nasceu em Saint-Amand, vilarejo situado ao norte da cidade de


Fleurus, na Bélgica, em 1855. Frequentou um internato mantido por jesuítas e, mais
tarde, cursou Direito na Universidade Católica de Louvain. Na universidade,
aproximou-se das rodas literárias e publicou, a partir de 1879, seus primeiros escritos.

Sua primeira coletânea de poemas, Les Flamandes, dedicada ao país natal, saiu
em 1883. Casou-se, em 1891, com a aquarelista Marthe Massin, a quem dedicaria três
obras: Les Heures claires, Les Heures d'après-midi e Les Heures du soir.

A partir de 1890, Verhaeren interessa-se mais intensamente por questões sociais


e por teorias e práticas antiautoritárias. Desse interesse nascem publicações em
periódicos libertários e algumas peças e romances, que, no entanto, não foram editados.

Seus poemas são impregnados pela atmosfera das metrópoles e, paradoxalmente,


igualmente pela vida no campo. Verhaeren manifesta sua visão a respeito do novo
tempo em coletâneas como Les Campagnes hallucinées, Les Villes tentaculaires e Les
Villages illusoires e na peça de teatro Les Aubes. Seus poemas tornaram-no famoso e
sua obra foi traduzida e comentada em todo o mundo. Dentre os artistas influenciados
por sua obra, destacam-se aqueles ligados à estética futurista.

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, e a ocupação da Bélgica


por tropas alemãs, Verhaeren refugiou-se na Inglaterra. De 14 a 18, escreveu poemas
pacifistas, lutou contra a insanidade da guerra e publicou Les Ailes rouges de la guerre e
Les Flammes hautes. Verhaeren publicou em revistas manifestamente antigermânicas e
buscou, em suas conferências, reforçar a amizade entre a França, Bélgica e o Reino-
Unido. Em 27 de novembro de 1916, após uma conferência em Rouen, ele morreu
acidentalmente num atropelamento.

***
Notas sobre três poemas mencionados no ensaio “O poeta da vida moderna”

Os inúmeros problemas sociais que marcaram a sociedade europeia nas


primeiras décadas do século XX serviram de tema para muitos poemas de Verhaeren.
Dentre eles, destacam-se “Les mendiants”, “Les usines” e “L’action”, citados por
Milliet em seu ensaio. As qualidades que mais se fazem presentes na poética de
Verhaeren são a variedade e a vitalidade, bem como o lirismo e a originalidade,
expressos em uma linguagem nova, não polida e muito flexível.

Em “Les mendiants”, poema retirado da coletânea de poemas Les Villes


Tentaculaires publicada em 1895, Verhaeren propõe uma visão coletiva da miséria a
partir da descrição de um grupo de mendigos em marcha. O poema é composto por nove
estrofes, uma das quais, em forma de monóstico, aparece duas vezes: “Les mendiants
ont l’air de fous”. As marcas temporais (tanto em relação à cronologia quanto ao tempo)
tornam o quadro ainda mais dramático e sombrio, sobretudo no inverno, quando o
estado de miserabilidade dos mendigos fica mais patente. Destaca-se, nas descrições, o
detalhamento das roupas dos pedintes, sujas, imundas, sórdidas. A ênfase na tristeza, no
cansaço e no tédio reduz tais mendigos a um grupo de mortos-vivos que caminha
solitariamente, sob vaia e rejeição, em direção à morte. Do ponto de vista rítmico, os
versos, conquanto livres (a maioria, porém, é octossilábica), são rimados – ora de modo
alternado, ora cruzado –, o que lhes assegura musicalidade.

“Les usines”, que igualmente integra a coletânea Les Villes tentaculaires, é um


poema de dez estrofes compostas por versos livres, mas rimados. As rimas, aliás, são
variadas (paralelas, alternadas e interpoladas). Nesse poema, Verhaeren, mediante o uso
da personificação, descreve e critica o desenvolvimento tecnológico mecânico e dá
ênfase à imparável força que possuem as fábricas, opondo-as ao sofrimento humano. O
poeta igualmente ressalta o terror e o sofrimento dos operários nos subúrbios fabris,
fazendo-nos descobrir as fábricas a partir de seus interiores (e de seus pontos de vista).
Ressalta-se no poema sua grande sonoridade, que, se por um lado, mimetiza o som das
máquinas, por outro, nos lembra o quão dura e sub-humana é a realidade dos operários
que trabalham nas fábricas. A solidão dessas pessoas, que paradoxalmente é contraposta
ao ruído dos equipamentos, leva-as, em seus escassos tempos de descanso, a buscar
refúgio na bebida.
O poema “L’action” integra a coletânea de poemas Les Visages de la vie,
publicada em 1899. O poema, composto por dezesseis estrofes de versos de variada
medida (octossílabos, decassílabos e dodecassílabos) e rima (paralela e interpolada),
traz à baila a questão da ação prática no cotidiano (a vida na rua versus a contemplação
da torre de marfim). Cansado do discurso e dos livros, o poeta busca pela ação a
salvação. A vida, lembra-nos, é violenta, e cabe ao homem transformá-la mediante
ações puras e lúcidas. Verhaeren ressalta o valor da vida, a ser vivida leve e claramente.

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