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O trabalhador tem direito a ser efetivamente ocupado e a ser ressarcido pelos prejuízos que a inatividade
lhe provocou?
A desocupação deliberada e injustificada é uma das formas frequentes de assédio moral. Uma visão
simplista considera que a desocupação do trabalhador é uma falsa questão, na medida em que o trabalhador
mantém o direito à retribuição sem ter de trabalhar, e o maior prejudicado com esta situação é o empregador.
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PALMA RAMALHO não concorda com este entendimento: o envolvimento integral da personalidade do
trabalhador no CT torna evidentes os danos profissionais e psicológicos que podem advir dessa situação.
Na doutrina, alguns autores eram reticentes quanto a este direito: o empregador apenas tem um ónus e
não o dever de ocupar o trabalhador; outros autores inclinaram-se para reconhecer um direito genérico do
trabalhador a ser ocupado, bem como a ser compensado pelos prejuízos decorrentes.
A jurisprudência começou por admitir o direito de ocupação efetiva do trabalhador apenas em
profissões em que a inatividade prolongada é mais suscetível de fazer diminuir o valor profissional (ex: funções
de relevante visibilidade), mas passou a reconhecer tal direito na generalidade dos CT, com o correspondente
dever na esfera do empregador. Argumentos: 58º/1 CRP + 58º/1, c) CRP + 19º LCT + 863º CC. Hoje, é
consagrado no CT: 129º/1, b). Esta garantia dos trabalhadores deve ser articulada com a previsão geral do
assédio moral (29º), sempre que a frustração deste direito revista um caráter reiterado.
A verificação destes requisitos, nos casos de inatividade do trabalhador, permitirá aferir, em concreto e
de forma objetiva, se tal inatividade é justificada ou não e, por consequência, se se consubstancia ou não
a violação do direito do trabalhador à ocupação efetiva.
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Limites gerais:
• Direitos e garantias do trabalhador (128º/1, e) - deve ser articulado com o 129º/1
• Direitos fundamentais e de personalidade do trabalhador
• Licitude da própria ordem (o trabalhador não deve obediência a um comando ilegal)
Limites específicos: autonomia técnica ou deontológica inerente à atividade profissional desenvolvida
(116º)
➡ Incumprimento do dever de obediência: infração disciplinar (328º e ss.); se for grave e culposa, pode
consubstanciar justa causa para despedimento imediato (351º/2, a).
➡ Quebra do dever de assiduidade —> situação de falta (248º/1 + 256º/2 + 248º/2) (249º e 256º/1 +
256º/2 + 351º/2, g).
➡ Quebra do dever de pontualidade —> 256º/3.
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• DEVER DE ZELO E DILIGÊNCIA (128º/1, c): permite avaliar o modo de cumprimento da prestação
principal. A medida do zelo do trabalhador na execução da atividade laboral deve ser aferida segundo o
critério geral do bom pai de família, mas tendo em conta o contexto laboral em concreto: a atuação do
trabalhador é diligente quando corresponde ao comportamento normalmente exigível para aquele tipo de
trabalhador, naquela função em concreto.
➡ Incumprimento do dever de forma repetida e revelando desinteresse do trabalhador —> justa causa
para despedimento (351º); 351º/2, m); 374º/1, a) e 2.
• DEVER DE RESPEITO E URBANIDADE (128º/1, a): o dever de respeito aponta genericamente para a
necessidade de observância das regras de conduta social adequadas, quer em matéria de tratamento quer em
matéria de apresentação pessoal e de conduta do trabalhador.
• DEVER DE CUSTÓDIA (128º/1, g + 168º): dever de zelar sobre a boa utilização e a conservação do
equipamento de trabalho, bem como de qualquer bem que o empregador coloque ao seu serviço.
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• DIREITO À RESERVA DA INTIMIDADE DA VIDA PRIVADA (16º + 17º a 22º + 26º/1 CRP + 80º
CC): deve ser entendido em termos amplos, incluindo a esfera íntima, pessoal e vida familiar (16º/2).
• Veda as ingerências do empregador em aspetos da vida privada do trabalhador não diretamente relevantes
para a atividade laboral por ele desenvolvida (16º/2, 17º/1 a 3 e 19º + 19º/1 e 3).
• Determina a proibição de certas formas de controlo da atividade do trabalhador na empresa (20º e 21º).
• Torna, em princípio, irrelevantes para o CT, tanto em sede de execução como no contexto da sua
cessação, as condutas extra-laborais do trabalhador.
• Limites imanentes dos direitos fundamentais e dos direitos de personalidade: decorrem do princípio geral
segundo o qual as situações jurídicas devem ser exercidas dentro dos parâmetros de adequação funcional ou
de admissibilidade para que foram conferidas. Ultrapassados estes limites: 334º CC (abuso do direito).
• Limites extrínsecos: decorrem do relevo de outros interesses ou direitos que entrem em colisão com aqueles
(esta cedência de direitos deve ser tratada nos termos gerais - 335º CC). Os direitos dos trabalhadores podem
ter que ceder a interesses do empregador.
• Limites voluntários: do próprio trabalhador, por acordo, no CT ou IRCT (18º CRP + 81º CC).
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• Função:
• Em sentido formal: corresponde ao cargo, lugar ou posto de trabalhado ocupado pelo trabalhador;
• Em sentido substancial: corresponde ao conjunto de tarefas, mais ou menos definidas, que cada posto de
trabalho inclui no seio da organização do emprego.
A função é um conceito intra-empresarial que não tem a ver com as habilitações nem com as aptidões
profissionais do trabalhador, embora deva ser atribuída pelo empregador tendo em conta esses aspetos
(118º/1). A função intra-empresarial do conceito de função explica ainda o facto de uma função
nominalmente idêntica em 2 empresas diferentes poder corresponder materialmente a um conjunto de
tarefas não totalmente coincidentes em cada uma das empresas.
A atribuição da função cabe ao empregador. A partir desta delimitação, o empregador apenas poderá, em
princípio, exigir ao trabalhador o desempenho das tarefas compreendidas no objeto do contrato - princípio da
invariabilidade da prestação (118º/1, 1ª parte).
Princípio da substancialidade ou efetividade: a função corresponde ao conjunto de tarefas que, de facto, o
trabalhador realiza e não a uma determinada designação formal (em caso de discrepância entre esta e aquelas, é a
função efetiva e não a nominal que prevalece).
• Categoria:
• Profissional: qualificações e aptidões profissionais do trabalhador. Aqui, o conceito de categoria é
anterior e exterior ao CT e à integração do trabalhador na organização.
• Normativa: designação formal dada pela lei ou pelos IRCT a determinado conjunto de tarefas.
• Interna à empresa: posição do trabalhador no seio da hierarquia empresarial. A categoria é fixada no
momento da celebração do CT ou no inicio da execução do trabalho e vai sendo sucessivamente ajustada
à evolução do trabalhador na pirâmide empresarial.
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• afinidade das funções: para integrar o conceito de afinidade ou conexão funcional, a lei recorre ao
critério do 118º/3. A lei admite que sejam estabelecidos outros critérios, o que confere natureza
convénio-dispositiva a esta norma (3º/5).
• qualificação profissional do trabalhador: deve ser entendido em termos substanciais, ou seja, ter em
conta a aptidão substancial do trabalhador para as desempenhar e não tanto a sua habilitação formal e
certificada para o efeito.
• não desvalorização profissional: envolve um juízo subjetivo sobre o conceito de “desvalorização
profissional” - não decorre a proibição, pura e simples, da exigência de funções que correspondam a
uma categoria inferior, mas obsta à exigência de tarefas que diminuam significativamente o estatuto do
trabalhador no seio da empresa, designadamente perante os colegas.
Desde que observem estes requisitos, as funções afins do núcleo central da atividade contratada
integram o objeto do contrato e podem ser exigidas pelo empregados, nos mesmos termos do núcleo
central da atividade. Únicas especificidades: 267º/1 + 118º/4.
Problemas:
• Transitoriedade no exercício destas funções: decorre do regime do CT que o exercício das atividades afins
não se encontra sujeito a qualquer limite temporal.
• Estas funções têm que ser acessórias da atividade nuclear ou podem ser exercidas em substituição dessa
atividade? O CT não é claro (118º/4 + 267º/1). Para PALMA RAMALHO, estas funções devem ser
exercidas a título acessório da atividade nuclear do trabalhador porque 1) esta solução pretende ultrapassar a
rigidez do princípio da invariabilidade da prestação, facilitando o desempenho de tarefas adicionais ou
complementares da atividade principal; 2) a solução inversa poderia dar lugar a uma alteração da função
nuclear do trabalhador em termos unilaterais e definitivos.
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120º/2 - as partes podem acordar no alargamento ou na restrição do jus variandi, mas caduca ao fim de 2 anos se
não for aplicado. Para PALMA RAMALHO, o preceito presta-se, facilmente, a abusos (ex: renovação dos
referidos acordos antes de completado o prazo dos 2 anos; criação de situações artificiais de variação apenas para
evitar a caducidade dos acordos). Por isso, justifica-se a interpretação restritiva do preceito: possibilita tanto a
restrição como o alargamento do instituto, mas não a modificação do seu regime jurídico, o que obrigará à
verificação dos requisitos do instituto sempre que o empregador dele se pretenda prevalecer.
O 120º/2 não obsta a que os IRCT disponham sobre esta matéria - 120º/6.
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Efeitos da antiguidade:
• Remuneratórios: diuturnidades (262º/2, b)
• Na carreira do trabalhador: pode determinar o direito a ser promovido à categoria superior.
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Contagem da antiguidade: 112º/6. PALMA RAMALHO considera que a formulação desta norma não é a mais
adequada: 1) o período experimental pode ser excluído pelas partes (111º/3); 2) as regras do CT sobre a
contagem do período experimental remetem para a prestação efectiva do trabalho (113º), enquanto o regime da
antiguidade valoriza a integração do trabalhador na organização do empregador e não aquela prestação. Por isso,
interpreta-se a norma no sentido de a contagem da antiguidade se iniciar não com a celebração do contrato, mas
com o começo da sua execução (112º/6 + 113º/1).
129º/1, j).
Princípio da inamovibilidade: o local de trabalho só pode ser alterado por acordo das partes ou por determinação
unilateral do empregador (neste último caso, nas situações previstas na lei ou IRCT e mediante conjunto de
requisitos). Este princípio não se mete em questão nas situações de local de trabalho diluído ou externo e de
deslocações em serviço. Mesmo quando o local de trabalho seja fixo, o princípio não aponta para um espaço
físico determinado, mas para uma área organizacional ou empresarial - uma parte da doutrina considera
“transferências internas”; PALMA RAMALHO não fala sequer em transferência, porque o centro estável da
atividade na empresa não é alterado.
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b) MODIFICAÇÃO INDIVIDUAL
Requisitos substanciais cumulativos (194º/1, b):
• Mudança deve ser justificada pelo interesse da empresa: este requisito deve ser apreciado em termos
objetivos (como um interesse de gestão); 196º/2
• Mudança não deve causar prejuízo sério ao trabalhador: a jurisprudência tem considerado que configura um
prejuízo sério quando acarrete desvantagens económicas ou pessoais para o trabalhador (e não quando
determine inconvenientes de ordem subjetiva). Tem sido admitida a relevância de um prejuízo meramente
virtual, a par do real, desde que objetivamente comportável. O ónus da prova do prejuízo sério deve recair
sobre o trabalhador.
194º/2 - permite que as partes alarguem ou restrinjam a possibilidade de transferência do trabalhador (caráter
supletivo do regime legal da modificação do local de trabalho) - cláusulas de mobilidade geográfica. No sentido
da natureza supletiva depõe ainda o 129º/1, f).
• Impõe-se uma interpretação das cláusulas contratuais nesta matéria particularmente cuidadosa e que atenda
aos valores da boa fé e do abuso do direito, nomeadamente condenando-se, à partida, o estabelecimento de
cláusulas de mobilidade excessivamente vagas ou que resultem na indeterminação do local de trabalho.
• 194º/2, parte final: os acordos caducam ao fim de 2 anos se não forem utilizados (visa evitar a eternização da
instabilidade da situação jurídica do trabalhador).
• 194º/6 - IRCT
Traços específicos:
• 196º/1
• 194º/3; a lei não parece impedir que o trabalhador seja transferido mais do que uma vez a título temporário.
• 194º/4 - o dever que impende sobre o empregador de custear as despesas é mais amplo, porque a situação é
transitória, prevendo-se o regresso do trabalhador à situação anterior.
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• No caso da transferência temporária, a lei não prevê a possibilidade de resolução do CT. Ainda assim, pode
recusar a ordem, alegando prejuízo sério e, haja ou não, pode sempre resolver o contrato com justa causa
através do 394º/3, b).
Pode obrigar-se a aplicação cumulativa dos requisitos da mudança individual do local de trabalho (194º)
com os requisitos do jus variandi (120º), quando a exigência ao trabalhador de uma função diferente da atividade
contratada seja acompanhada da sua deslocação geográfica.
É possível prever a transferência do trabalhador como uma sanção disciplinar, designadamente em
IRCT, visto que 328º? Não: o princípio da inamovibilidade constitui uma garantia do trabalhador, que se impõe à
intervenção dos IRCT em matéria disciplinar (328º/2) e a modificação unilateral do local de trabalho só se
justifica por motivos de gestão e não por motivos disciplinares.
c) MUDANÇA DO ESTABELECIMENTO
• A modificação do local de trabalho decorre da mudança ou da extinção, total ou parcial, do estabelecimento,
mas, para efeitos desta norma, o termo “estabelecimento” deve ser interpretado em sentido amplo.
• Ao contrário do que sucede com a modificação individual do local de trabalho, a transferência do
trabalhador por força da mudança do estabelecimento não depende da ausência de prejuízo sério para o
trabalhador e já pressupõe o interesse da empresa, porque se reconduz a uma projeção de uma decisão de
gestão que ultrapassado o próprio CT.
• Também na mudança coletiva a lei prevê que as partes possam alargar ou restringir a faculdade de
transferência do trabalhador em sede do CT, caducando tal acordo ao fim de 2 anos se não tiver sido
executado (194º/2) - interpretação restritiva da norma porque a convenção das partes apenas poderá ir no
sentido de excluir a transferência do trabalhador, mas mesmo uma convenção deste tipo só faz sentido no
caso de transferência parcial do estabelecimento; 194º/6.
• Não se coloca a possibilidade de recusa da modificação do local de trabalho pelo trabalhador - se não aceitar,
pode resolver o contrato se a mudança lhe causar prejuízo sério e com direito à indemnização (194º/5). O
requisito do prejuízo sério é para a resolução do CT e não um requisito da próprio modificação do local de
trabalho. Mesmo na ausência de prejuízo sério, o trabalhador tem o 394º/3, b) e o 400º, sem direito a
indemnização.
194º/4 e 196º
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