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Dons de Serviço do Espírito Santo

Espiritualidade
Os dons efusos do Espírito Santo são dons extraordinários dados pelo
Espírito aos batizados,são também conhecidos como dons de serviço pois
servem para a evangelização e o pastoreio da Igreja. Estas graças
sobrenaturais mudam a condução da oração e da evangelização, enchendo de
poder do Espírito a vida da Igreja. São tidos como de pouco conhecimento no
ambiente não cristão, embora sejam de uso comum na Igreja Católica entre os
membros de Renovação Carismática e comunidades novas, e eram dons
normais nos primeiros séculos do cristianismo, passando por séculos um pouco
a clandestinidade e retornando a se tornarem usuais na Igreja a partir do
século passado quando após o Concílio a Igreja passou a motivar de modo
especial a participação leiga nos ministérios.

São Paulo partilha de alguns deles em suas epístolas, explicando-os bem e


denota-os como sendo prática comum entre as novas igrejas que iam se
fundando, a ponto de nos surpreendermos de se ter deixado um pouco de lado
os mesmos durante tantos anos.

1. DOM DE LÍNGUAS:
“Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos
pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com
gemidos inefáveis” (Rm 8,26).
O dom de línguas é um dom de oração. Este dom vem socorrer a nossa
dificuldade de orar: nós não sabemos “o que” nem “como” pedir a Deus ou o
que dizer a Deus. Ele vem suprir nossa oração fraca e débil, vem nos fazer
orar, mas orar segundo a vontade de Deus. O próprio Espírito Santo que habita
em nós, ora em nós e por nós. Vem nos capacitar a orar de forma divina.

Ainda que nós não entendamos os gemidos inefáveis com que o Espírito ora,
canta, e fala em nós e através de nós, sentimos que o nosso coração e o nosso
espírito estão em oração. No entanto, não deixamos de estar conscientes,
sabemos perfeitamente o que estamos fazendo, pois oramos com a nossa
língua e com a nossa vontade, por isso somos livres para começar e terminar
quando queremos.
O dom de línguas é a porta para todos os outros dons carismáticos, porque
abre todo o ser do homem para a ação do Espírito Santo e para o crescimento
da vida no Espírito.
O dom de línguas é a primeira manifestação sensível e visível da presença do
Espírito Santo ( At 2,1-4; 10,6s; 19,6s).

O dom de línguas nos une em torno de Cristo. É dom que promove a unidade
entre os cristãos, atraindo-os a Jesus Cristo e à Igreja (At 2,5-6).

Cantar em línguas:
O Espírito Santo de Deus, plenamente rico de graças, concede aos fiéis o dom
de “cantar” em línguas. “Cantarei com o Espírito” (I Cor 14,14). Isto significa
que o Espírito Santo através do dom de línguas, utiliza-nos para elevarmos um
canto ao nosso Deus, levando-nos a expressar-lhe um louvor no Espírito a
Deus. O Espírito nos capacita a glorificar o Senhor de maneira profunda,
sincera e perfeita. Nesse louvor no Espírito, unimo-nos aos anjos e santos, que
não cessam de, no céu, louvar o Senhor.

Dom de falar em línguas:


“Maior é quem profetiza do que quem fala em línguas, a não ser que este as
interprete, para que a assembléia receba edificação” (I Cor 14,13).
O dom de línguas também se manifesta através de “falar” em línguas, que
significa proclamar uma mensagem de Deus a um grupo ou assembléia de
oração, através de línguas estranhas.

2. DOM DE INTERPRETAÇÃO DAS LÍNGUAS:


“...a outros, por fim, a interpretação das línguas” (I Cor 12,10).
Ao proclamarmos uma mensagem de Deus em línguas é necessário
suplicarmos o dom de as interpretar, pois toda mensagem de Deus para o seu
povo tem o objetivo de edificá-lo. E ao proferirmos palavras ininteligíveis, como
se compreenderá o que dizemos? Seremos como quem fala ao vento (cf. I Cor
14,9). O Espírito Santo concede que se compreenda o que está sendo dito em
línguas. Esta compreensão se dá com o “coração”, e não através de uma
tradução conceitual e gramatical das palavras.

Este carisma pode ser dado tanto à pessoa que está orando ou falando em
línguas, quanto a outra pessoa que está participando do grupo de oração. O
dom de profetizar em línguas e o de as interpretar são dons que se
complementam reciprocamente: “aquele que tem o dom de falar em línguas
reze para ter o dom de interpretá-las ( I Cor 14,13).

3. DOM DE PROFECIA OU PALAVRA DE PROFECIA:


Deus se manifesta aos homens também através do dom da profecia. Este dom
pode se manifestar através de uma palavra, de um sentimento, em línguas, que
requer a interpretação, de um canto, de uma visão (At 10,9-48), com
entendimento espiritual de um sonho (Num 12,6).

São Paulo considera o dom da profecia superior a todos os outros dons, pois
reconhece que através deste dom, Deus fala claramente e de forma simples,
mas direta, com o homem (I Cor 14,5).

O dom da profecia é para todos os homens de boa vontade e de fé que querem


recebê-lo (I Cor 14,30). Também é importante que haja confirmação da
profecia através de moções dadas a outros.

A palavra de profecia deve passar pelo “crivo” do discernimento dos espíritos.


É importante que as examinemos se são divinas, humanas ou diabólicas ( I Tes
5,21; Mt 7,15).

Geralmente as profecias são ditas na primeira ou segunda pessoa, pois o


Senhor é um deus pessoal e nos falará diretamente: “Não temas, tu és o meu
povo”, “Eu sou o teu Deus”. O centro de todas profecias é Jesus Cristo e o seu
evangelho, portanto as palavras proféticas têm que estar de acordo com a
palavra de Deus, com a palavra da Igreja e dirigida à glória de Deus e a
salvação dos homens (Dt 13,2-4).

4. DOM DE CIÊNCIA OU PALAVRA DE CIÊNCIA:


A palavra de ciência é o dom através do qual o Senhor faz com que o homem
entenda as coisas da maneira que ele entende; faz com que o homem penetre
na raiz de cada acontecimento, fato, situação, estado de espírito. Portanto,
através deste dom o Senhor dá um diagnóstico de um fato, uma situação, um
estado de espírito... e do que Ele quiser revelar.

A palavra de ciência se manifesta através de um sentimento, de uma palavra,


de uma frase (Jo 4,50), de uma visão, de um sonho (Mt 1,18-25).

O dom da palavra de ciência revela uma ação que Deus já está fazendo ( a
cura, por ex.), uma obra que Deus acaba de fazer ou uma obra que Deus quer
fazer, mas que precisa da colaboração da pessoa ou uma situação ou através
do poder e da misericórdia de Deus que cura o corpo e o coração.

Um exemplo muito claro do dom de ciência na Bíblia, foi a revelação que Jesus
recebeu do Pai ao dialogar com a samaritana, de que ela tinha tido cinco
maridos. Por este dom a samaritana experimentou a misericórdia de Deus que
a levou ao arrependimento e a conversão, reconhecendo Jesus como o
Messias, além de se tornar uma anunciadora de Jesus em Samaria.

5. DOM DA SABEDORIA OU PALAVRA DE SABEDORIA:


“A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria” ( I Cor 12,8).
A palavra de sabedoria inspira o homem a saber como deve ser seu
comportamento em cada situação, em cada vez que tem que resolver um fato
ou um problema, a falar inteligentemente em situações concretas da sua vida
ou de sua comunidade, levando-o a decidir acertadamente e de acordo com a
vontade de Deus, no dia a dia, no matrimônio, no trabalho, na educação dos
filhos, nos relacionamentos com os irmãos e na sua vida cristã. É uma
orientação de Deus sobre como se viver cristãmente (Lc 18, 18-30).

A palavra de sabedoria conduz o procedimento humano em cada situação:


- Como agir (I Rs 3,16-28);
- Como falar ( Mt 22,21);
- Como fonte de discernimento espiritual;
- Prepara o nosso coração para receber o ensinamento divino ( Lc 12,13-21);
- Como fonte de ensinamento segundo a sabedoria de Deus (Mt 6,1-21);
- Nos faz testemunhar com sabedoria (Paulo diante do rei Agripa - At 26,28);

Este dom deve ser amplamente exercitado pelo cristão na oração pessoal e
comunitária para que ele tenha encontros transformadores em sua vida. A
manifestação desse dom pode acontecer através de palavras da própria
Escritura, por uma palavra, por uma visão, por um sentimento, por um sonho.

6. DOM CARISMÁTICO DA FÉ:


“a outros é dado pelo Espírito, a fé” ( I Cor 12,9).
O carisma da fé é uma graça especial que nos dá a certeza de que Deus agirá,
de que o poder de

Deus irá intervir em alguma situação da vida do homem confirmando nossa


ação e oração com o sinal que lhe pedimos. É uma graça à qual devemos nos
abrir e pedir a Deus. Pela fé carismática cremos que Deus opera hoje
maravilhas em favor do seu povo. A fé move a manifestação do poder de Deus.

7. DOM DOS MILAGRES:


“a um é dado pelo Espírito o dom de milagres” (I Cor 12,10).
O dom de milagres é a ação do Espírito Santo que, para o bem de alguém,
modifica o curso normal da natureza. O milagre é uma intervenção clara,
sensível e visível de Deus no decurso “ordinário” ou “normal” dos
acontecimentos: curas instantâneas de doenças incuráveis, ressurreição dos
mortos, fenômenos extraordinários da natureza ( cf. At 3,4-11; 4,30-31).

O mundo atual necessita do exercício do dom de milagres, pois Deus deseja e


continua a realizar suas obras extraordinárias no meio do seu povo, hoje.
Devemos fazer distinção entre milagre e cura. O primeiro, quando se manifesta
através de uma cura que nenhuma ciência médica poderia conseguir, e que
Deus realiza. No segundo caso, a cura pode acontecer através de um
medicamento, de uma cirurgia, etc.

8. DOM DAS CURAS:


“a outro, a graça de curar as doenças no mesmo Espírito” (I Cor 12,9b).
O dom das curas pode se manifestar de três formas. Tomando-se por base as
três dimensões do homem: corpo, alma e espírito ( cf. I Tes 5,23),
compreendemos que este mesmo homem pode ser atingido por enfermidades
em suas três dimensões. Existem os males físicos, os da alma ou interiores e
espirituais. Se somos atingidos em qualquer área interior, necessitamos de
uma cura interior. Se somos atingidos em nosso espírito, contaminando-nos
com falsas doutrinas e apartando-nos sã doutrina da salvação, precisamos de
uma cura espiritual ou libertação. Se somos atingidos no corpo com alguma
enfermidade, necessitamos de uma cura física.

9. DOM DO DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS:


“A outro é dado pelo Espírito o discernimento dos espíritos” ( I Cor 12,10).
Este dom nos permite discernir, examinar, perceber e identificar em nós
mesmos, nas outras pessoas, nas comunidades, nos ambientes e nos objetos
o que é de Deus ou o que é da natureza humana, ou ainda, o que é do
maligno.

Este dom, como todos os outros, é muito importante para a vida cristã, pois nos
levará a distinguir a voz de Deus das outras vozes, que tentam nos confundir. É
muito importante que cada cristão se abra inteiramente a este dom para não se
deixar arrastar pelas suas paixões e pelas tentações do inimigo e, assim,
livremente fazer a vontade de Deus. Talvez, momentaneamente, uma atitude
ou palavra, como também um sentimento, ou ainda um pensamento, traga ao
cristão realização, alegria, mas se não for da parte de Deus, logo perceberá
quão vazia ficou sua alma, pois só a vontade de Deus pode levar o homem à
verdadeira alegria e realização.

Por isso é muito salutar o exercício cotidiano desse dom para que cresça em si
um discernimento apurado com relação a todas as coisas. Algo pode
aparentemente parecer bom, mas só Deus sabe o que é verdadeiramente bom.

O discernimento dos espíritos protege o exercício dos dons carismáticos. Por


ele o cristão reconhece se os dons que estão sendo exercidos são
impulsionados pelo Espírito de Deus ou se é uma ação humana ou diabólica.

São João nos adverte quanto à necessidade de examinarmos se os espíritos


são de Deus e nos ensina como conhecê-lo: “todo espírito que proclama Jesus
Cristo que se encarnou é de Deus e que os espíritos do mundo falam segundo
o mundo, e quem conhece a Deus, ouve a Deus” (I Jo 4,1-6). Portanto, este
dom nos dá a graça de distinguir o espírito da verdade e o espírito do erro.

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