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A natureza do espaço urbano: formação e


transformação de territórios1
(The nature of the urban space: formation and transformation territories)

Erika Jorge Rodrigues da Cunha2


Celina Borges Lemos3

Este artigo dedica-se à investigação da natureza do espaço urbano a partir do processo de


formação e transformação dos territórios citadinos ocidentais em sua trajetória histórica. Objetiva
prospectar a consistência teórica de uma crise instalada na transição da Idade Média para a
Moderna que, segundo Lewis Mumford e Henri Lefèbvre, teria levado à perda da orientação
humana na produção dos espaços urbanos. Volta-se, sobretudo, à realidade que circunda o
ponto inflexão configurado pelo século XVI e às conseqüências sociais e espaciais determinadas
por ele na conformação de cidades. Refuta assim, a hipótese de tal perda revelando ter havido
a diminuição do esforço crítico de compreensão das cidades na contemporaneidade
simultaneamente à multiplicação de tempos e espaços que criam novas formas de vida e
fazem com que a geografia urbana se imponha à construção intencional da história.

Palavras-chave: espaço urbano; urbanização; cidade.


Key Words: urban space; urbanization; city.

1 INTRODUÇÃO Entretanto, apesar de compreendida como um


processo contínuo de instrumentalização da nature-
za através de uma relação dialética entre espaço e
sociedade, para estudiosos do tema como Lewis
Mumford (2004) e Henri Lefèbvre (1969; 1999), a
O horizonte histórico da cidade visto a partir de História da cidade estaria dividida em dois períodos
nossos dias é algo que abrange extremos. Estende-se da distintos determinados por um ponto de inflexão
primitiva predisposição para uma vida em grupos junto configurado pelo século XVI. Ambos concordam que
à natureza à opção por uma prática social intrincada e com o desenvolvimento comercial que conduziu à
atrelada ao espaço transformado e desnaturalizado das Revolução Industrial e à realidade em que vivemos
grandes cidades contemporâneas que cresceram até atin- houve uma alteração dos propósitos de produção do
gir o tecido urbano de relações incontáveis que hoje espaço urbano que, de dedicados às necessidades
interliga todo o planeta e onde 50% de nossa espécie
humanas, passaram a atender apenas aos interesses
vive desde fins do século passado.
Neste processo de ocupação do mundo, forma- do capital subordinando o conteúdo social da cidade
mos e transformamos os territórios que habitamos até a formas puramente caprichosas e sem propósitos
torná-los territorialidades expressivas da ligação entre humanos. Neste sentido, afirma-se que “o capitalis-
o substrato material da vida e a atividade humana de mo tendeu a desmantelar toda a estrutura da vida ur-
produção dos meios de existência que, juntas, consti- bana e a colocá-la em uma nova base impessoal: o
tuem a forma-conteúdo reveladora de modos de vida dinheiro e o lucro” (MUMFORD, 2004: 451).
que é a cidade. É como uma sucessão cumulativa de Segundo Lefèbvre (2004: 51-76) já há algum
tempos de trabalho que, segundo Santos (1999: 51), à t empo o conceit o d e ci d ad e não est ari a
medida que a História vai fazendo-se, as cidades confi- correspondendo a um objeto social em razão de uma
guram o mundo pelas obras humanas que, como ver- “crise”. Para o sociólogo, a cidade estaria resultando
dadeiras próteses, tendem a negar a natureza natural de um “pseudo-conceito” que desconsidera sua exis-
substituindo-a por uma natureza humanizada. tência histórica e baseia-se em uma política do espa-

1 Artigo elaborado a partir de pesquisa apresentada ao Núcleo de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFMG em 10 de abril de 2008 como requisito parcial para
obtenção do título de mestre em Arquitetura e Urbanismo.
2
Arquiteta pela PUC/ Minas (2002), especialista em Revitalização Urbana e Arquitetônica pela UFMG (2005), mestre em Arquitetura e Urbanismo com área de concentração em
Análise Crítica e Histórica da Arquitetura e Urbanismo pela UFMG (2008). erikarquiteta@yahoo.com.br. Rua Francisco Deslandes, 456/201 - Belo Horizote/MG.
3
Doutora em Ciênci as Sociais pela UNICAMP e professora do Núcleo de Análise Crítica e Histórica da Arquitetura e U rbanismo da UFMG.
celinaborges@terra.com.br.

Recebido em: 28/04/2008; Aceito em: 17/06/2008. Educ. Tecnol., Belo Horizonte, v. 13, n. 1, p. 32-42, jan./abr. 2008
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ço que o concebe como meio homogêneo e vazio no dedicam à sua produção. Retratada por geógrafos,
qual se estabelecem objetos, pessoas, máquinas, lo- sociólogos, matemáticos, economistas entre outros
cais industriais, redes e fluxos, tendo como funda- profissionais, trata sempre de um relato da verdade
mento uma logística de uma racionalidade limitada e dos fatos mas também da interpretação desta verdade
motivadora de estratégias que destroem, reduzindo, por quem escreve uma história. Deste modo revela-
os espaços diferenciais do urbano e do habitar. se um inventário de possibilidades de ocupação do
Compart ilhando d a t eori a lefeb vri ana, mundo caracterizado pela versão de cada autor que
Mumford (2004: 446-449) afirma que com a expan- imprime ao texto o que acredita ser a verdade. Por
são comercial do século XVI “o centro de gravidade isso, não há “a” Historia da cidade, mas “uma ou vári-
começara sutilmente a passar para uma nova conste-
as” Histórias sobre a cidade.
lação de forças econômicas” que, embora tivessem en-
frentado certa resistência inicial tanto da estrutura O que todo o arcabouço de análises sobre o fato
quanto dos costumes da cidade medieval, acabara por urbano revela é que há inúmeros elementos a serem
levar à “dissolução urbana”. De acordo com o autor, considerados no estudo da trajetória da cidade no tem-
no novo sistema urbano capitalista não haveria lugar po e tantos pontos de vista quantos forem os estudio-
para as constantes humanas e o desprezo pelo passa- sos. Talvez esta seja a razão para que não haja até hoje
do para conquista do futuro tornara-se tão somente nenhuma história definitiva, escrita de modo completo
uma oportunidade de bons empreendimentos. e linear sobre este tema. Por isso também, qualquer es-
Considerando que a História corresponde à tudo da História da cidade resulta da soma de contri-
sucessão das diferentes gerações e a cidade contem-
buições e da divisão de responsabilidades entre áreas
porânea resulta do progresso que a transforma para-
doxalmente no “lugar da não contemporaneidade” de conhecimento e autores, podendo ser estes especi-
(SECCHI, 2006: 90), a reflexão sobre a chamada per- alistas formados a partir de um pensamento moderno,
da da orientação humana na produção do espaço ur- ou profissionais inseridos em atividades que, em prin-
bano defendida pelos autores citados mostra-se fun- cípio, não relacionam-se diretamente ao tema.
damental para a compreensão da realidade na qual Contudo, o que é fundamental compreender
estamos imersos. Estaria a cidade de fato “condena- acerca do caráter impreciso dessa ciência humana é
da” e em “crise” desde que sujeita à lógica capitalista que a tomada de consciência da construção histórica
como defende Lefèbvre? (1969: 47). Teriam sua natu-
e da não inocência das abordagens não deve resultar
reza e finalidade humanas sido “completamente es-
quecidas” como afirma Mumford (2004: 454)? em ceticismo ou abandono da noção de verdade como
Em busca de respostas para essas questões este afirma Le Goff (2003: 11). Ao contrário, conforme
estudo dedica-se à investigação da natureza do espaço observa o autor, tal consciência é que permite
urbano em sua trajetória temporal no ocidente tendo desmascaramentos e denúncias de mistificações e fal-
como objetivo prospectar as razões da chamada crise sificações históricas, favorecendo até mesmo certo oti-
da cidade e sua consistência teórica. Dividido em três mismo sobre esta postura livre que faz de uma investi-
etapas que se estendem do geral ao particular, procura gação da trajetória temporal da cidade um experimen-
revelar a existência de um processo permanente de to na medida em que permite a proposição de um
perda e reinvenção de sentido da cidade que, como modo de ver o processo de formação e transformação
conseqüência de sua incontestável natureza histórica,
dos territórios urbanos até a contemporaneidade. Como
determina o restabelecimento contínuo de suas finali-
dades essencialmente humanas. Demonstra assim ter “construtores de um pensamento”, vejamos como se
havido a diminuição do esforço crítico de compreen- faz uma cidade e uma história urbana.
são da forma-conteúdo na contemporaneidade, razão
mais contundente para a consideração de sua perda
ou dissolução momentânea.
2.2 Sobre cidade, espaço e tempo

2 A NATUREZA DO ESPAÇO URBANO


Habituados a entender a dimensão material
da vida como a base para uma outra dimensão que
denominamos imaterial vemos o mundo como cons-
2.1 Compreensões de uma história tituído por lados opostos: matéria x energia; tangí-
vel x sensível etc. Sob este olhar pragmático, o espa-
ço, aspecto material da vida, corresponde apenas ao
que é tangível. Já as relações sociais, aspectos
A História da cidade é uma história de idéias imateriais dela, referem-se ao que é sensível e, por-
sobre a localização humana no espaço e no tempo tanto, não tangível. Mas não é isto o que acontece
realizada por diversas áreas de conhecimento que se em se tratando de cidade.

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Ao se falar em cidade é preciso reconhecer que 2.3 Ao redor do ponto de inflexão


o espaço não é só matéria nem tampouco é energia.
Uma cidade não é feita somente da concretude de
sua configuração física. Ela é feita também de vida e
de inter-relações. “Os elementos móveis de uma ci- Para que seja possível identificar as leis que
dade e, em especial, as pessoas e suas atividades, são regem as transformações urbanas que circundam o
tão importantes quanto as partes físicas estacionárias” ponto de inflexão e prospectar a consistência teórica
(LYNCH, 2006: 1). Por isso, ao se falar nesta formação da crise da cidade determinante da realidade urbana
sócio-espacial típica qualquer análise pragmática do em que vivemos segundo Lefèbvre (2004; 1999) e
espaço é vã uma vez que sensível e tangível contribu- Mumford (2004), necessária se faz a investigação dos
em igualmente em sua conformação. Falar em cidade processos que conduzem historicamente às alterações
é falar sobre materialidade e imaterialidade que en- sócio-espaciais que permitem a transição de uma cate-
contram-se entrelaçadas na constituição de um espa- goria de cidade a outra. Utilizando um conceito apli-
ço vivente. cável a diversas categorias urbanas, abrangente das di-
mensões material e imaterial definido por Max Weber
Uma maneira coerente de compreender o es-
(1979) como uma formação sócio-espacial resultante
paço urbano seria então enxergá-lo “como uma for-
da organização político-administrativa de um domínio
ma que não tem existência empírica e filosófica se territorial no qual haja um mercado capaz de abastecer
a considerarmos separadamente do conteúdo, e um seus habitantes e certo número de inter-relações soci-
conteúdo que não poderia existir sem a forma que ais, vejamos como se comportam as cidades situadas
o abrigou” conforme propõe Santos (1999: 21). As- ao redor do ponto de inflexão definido pelos autores
sim, compreender o espaço citadino implica não supracitados expressas na Fig. 1 abaixo:
só no estudo conjunto das duas dimensões – mate-
rial e imaterial - que o constituem, mas também na
observação dos processos que transformam a maté-
ria em energia, ou seja, dos elementos que trans- PONTO DE
INFLEXÃO

formam uma simples forma urbana em forma-con-


teúdo ou cidade. CIDADE
POLÍTICA
IMPÉRIO
ROMANO
CIDADE
MEDIEVAL
CIDADE
MERCANTIL
CIDADE
INDUSTRIAL
CIDADE
CONTEMPORÂNEA

Nesse sentido, um aspecto fundamental refere-


SEC. XVI
se ao modo como se dá a transmissão das experiências
FIGURA 1 - Ponto de inflexão.
urbanas através do tempo. Conforme Mumford (2004:
113) “a cidade une épocas passadas, épocas presentes
e épocas por vir” preservando e transmitindo para o A investigação detalhada do processo de for-
futuro tanto idéias que foram insensatamente postas mação e transformação dos territórios urbanos nestas
de lado ou rejeitadas por uma geração passada como diversas categorias permite identificar um movimen-
inadaptações que poderiam ter sido esquecidas caso to permanente de perda e reinvenção de sentido da
não tivessem se materializado no espaço. A transmis- cidade que podemos denominar como “crises”. A cada
são das experiências urbanas no tempo seria para o momento de transição entre uma categoria e outra
autor semelhante ao modo como o próprio corpo trans- verifica-se que a entrada de novos elementos na His-
mite, sob a forma de uma cicatriz ou uma erupção re- tória implica no rearranjo daqueles previamente exis-
corrente, algo ocorrido há muito tempo. tentes exigindo um intervalo temporal dedicado à
A continuidade da história urbana é garantida “reinvenção” da cidade. Deste modo, não há que se
assim por um descompasso entre a capacidade de considerar somente uma crise situada na transição da
transformação do espaço e do conteúdo social que Idade Média para a Moderna mas várias crises situa-
o preenche. Somente deste modo é possível apre- das nos intervalos de transição de uma categoria de
ender o entrelaçamento de experiências passadas e cidade a outra.
presentes bem como investigar o processo de pro- O equilíbrio entre os elementos determina-
dos por Weber para a definição de cidade – organi-
dução de novas realidades urbanas a partir da entra-
zação político-administrativa, domínio territorial,
da de novos elementos na História. É importante
mercado e relações sociais - é perceptível como fun-
observar que as diferenças temporais que implicam damental à manutenção da capacidade de realiza-
na transformação da forma e do conteúdo social no ção da forma-conteúdo de modo que sirva à sua
processo de construção do espaço citadino ocorrem função essencial de atendimento das necessidades
simultaneamente e deste modo devem ser analisa- humanas. A modificação de quaisquer deles impli-
das em seu movimento de totalização que une parte ca em ruptura com a estabilidade citadina e poste-
de uma história passada com outra que surge cons- rior produção de uma nova realidade. Deste modo
truindo uma História urbana. ocorrera o processo de transformação da cidade

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grega para o a romana, desta para a medieval, mer- Verifica-se que não há perda da orientação
cantil e assim até nossos dias. humana na produção dos espaços citadinos e sim in-
Expondo de modo simples, porém, como re- tervalos necessários à sua reorganização. Contudo, a
sultado de uma análise profunda 4, através do estu- crise que antecede nossa realidade, situada na transi-
do da História verificou-se que os gregos viram as ção da Idade Moderna para a Contemporânea, revela
possibilidades de realização de sua unidade e ar- um movimento atípico da trajetória da cidade no tem-
ticulação urbanas exauridas assim que o território po e talvez por esta razão tenha sido percebida como
perdeu um limite pré-definido e se expandiu por definitiva e considerada até hoje como o momento
uma extensão de terras superior àquela passível final de sua dissolução. Nota-se que a continuidade
do processo de expansão urbana aponta para a perda
de controle, o que originou a categoria romana
da cidade desde o ponto de inflexão. Detenhamo-
de cidade. Esta, por sua vez, resultado de um “im-
nos então neste momento de crise.
pério de cidades” distribuído pelo território na-
tural, perdeu sua capacidade de realização junta-
mente com a impossibilidade de ser governada
dada a mobilidade de suas “fronteiras”. Sua poste-
rior divisão em unidades menores passíveis de se- 3 A EMERGÊNCIA DA CIDADE CONTEMPORÂNEA
rem administradas foi então o elemento histórico
que conduziu à realidade medieval, cujo equilí-
brio foi rompido com a expansão do mercado que
passou a multiplicar as inter-relações sociais que
se refletiram sobre o espaço urbano mercantil, in- 3.1 Transição Moderna / contemporânea
dustrial e contemporâneo.
A investigação dos processos de transformação
urbana situados ao redor do ponto de inflexão defi-
nido pelos autores em questão permite-nos assim A passagem da Idade Moderna para a Contem-
const at ar q ue há uma seqüência d e perd as e porânea no que concerne à trajetória da cidade no
reinvenções de sentido do espaço urbano apontan- tempo tem como marco inicial a Revolução Industri-
do para a existência de várias e sucessivas crises da al 5 . Este evento, didaticamente delimitado entre os
cidade. Estas, necessárias à transição de uma catego- anos de 1760 e 1830 (BENÉVOLO, 2001: 62), oferece-
ria de cidade a outra, surgem periodicamente na His- nos como marco a falsa impressão de ter a cidade
tória revelando-se como uma característica intrínseca “adormecido” mercantil e “despertado” capitalista-in-
da natureza do espaço urbano e de seu processo con- dustrial, com todas as conseqüências deste aconteci-
tínuo de construção de uma História urbana confor- mento para a vida humana em seu território. Vista
me demonstra o Gráf. 1 abaixo: assim, tal Revolução parece determinar um antes e
um depois para a História, negando de certa maneira
o processo de desenvolvimento da cidade até o fim
da Idade Moderna.
No entanto, sabe-se que a Revolução Industrial
PONTO DE
INFLEXÃO representa apenas o momento em que foram apresen-
tados os resultados de quase quatro séculos de con-
CIDADE CIDADE CIDADE CIDADE CIDADE
quistas nas mais diversas áreas de conhecimento cien-
IMPÉRIO
POLÍTICA ROMANO MEDIEVAL MERCANTIL INDUSTRIAL CONTEMPORÂNEA

tífico. Conquistas estas, refletidas nas profundas trans-


formações econômicas, políticas e sociais materializa-
CONTINUIDADE
das pela cidade industrial em sua realidade prático-
LIMITE TERRITORIAL LIMITE TERRITORIAL
LIMITE POPULACIONAL LIMITE POPULACIONAL DA PERDA DO
LIMITE sensível. Um ponto de chegada mas também de parti-
PERDA DO LIMITE PERDA DO LIMITE NOVOS LIMITES
da para uma era de ativa fermentação de idéias que
TERRITORIAIS
impulsionaria um movimento de consolidação de um
CONTORNOS EXPANSÃO CONTORNOS EXPANSÃO EXPANSÃO NOVOS novo modo de vida urbano resultante de processos
DEFINIDOS INDEFINIDA REDEFINIDOS INDEFINIDA INDEFINIDA CONTORNOS ?
que vinham ocorrendo há muito na História das for-
mas e funções da cidade (CARVALHO, 1970: 96).
A nova dinâmica urbana introduzida pela
GRÁFICO 1 - Ponto de inflexão. contemporaneidade teve repercussões nos mais di-

4
Tal análise encontra-se de modo mais aprofundado na Dissertação intitulada “A natureza do espaço urbano: formação e transformação de territórios na cidade contemporânea”
referenciada anteriormente e na qual é baseada a escrita deste artigo.
5
A História estabelece oficialmente como marco inicial do período contemporâneo pelo menos três eventos que revolucionaram a vida humana nos planos econômico, político
e social determinados pela Revolução Francesa, a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Industrial. No entanto, optamos aqui por adotar este último como principal
marco de transição por duas razões explicitadas por Hobsbawn (1982: 43-44) para que seja visto como o ponto de partida de nosso tempo: primeiro, por ter de fato ocorrido “antes
que a Bastilha fosse assaltada”; e, segundo, “porque sem ela (a Revolução Industrial) não podemos entender o vulcão impessoal da história sobre o qual nasceram os homens
e os acontecimentos mais importantes de nosso período e a complexidade desigual de seu ritmo”.

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versos campos da vida transformando não só os terri- afirmação da racionalidade e do homem diante do
tórios mas também as relações sociais, ou seja, não só mundo, surgiram propostas de planejamento e
a forma urbana mas a maneira como o conteúdo que estruturação dos territórios urbanos traduzidas em
a-preenchia lhe dava vida. A diversificação funcional projet os i d eai s d e ci d ades. Nest es, t oda a
do comércio e dos serviços neste momento implicou, dinamicidade da vida coletiva era configurada sobre
sobretudo, no aumento significativo da sutileza dos o espaço natural apartado da cidade real considerada
processos caracterizadores do espaço urbano condu- caótica e insalubre. Estabelecendo desde o número
zindo à multiplicação das funções da cidade e à in- de habitantes e área a ser ocupada por eles até a loca-
tensificação dos “estímulos nervosos” que constitu- lização de todos os equipamentos e construções ne-
em a “base psicológica” do homem metropolitano cessárias à vida individual e coletiva pensadores como
(SIMMEL, 1979: 12). Robert Owen (1771-1858), Charles Fourier (1772-
Contudo, contrariamente à idéia de perpetua- 1837), entre outros (BENÉVOLO, 2005: 567), acredi-
ção da perda da orientação humana na produção dos taram poder organizar um modo de vida justo unin-
espaços urbanos e à dissolução urbana defendida por do uma forma adequada - e definitiva - às funções
Mumford e Lefèbvre, a verificação teórica deste mo- necessárias a uma vida digna.
mento histórico demonstra que como nenhum ou- Nascidas do protesto pelas condições inaceitá-
tro, o século XIX dedicou-se à compreensão dos pro- veis da cidade existente e buscando romper com seus
cessos de transformação da forma-conteúdo deixan- vínculos tradicionais por meio da análise e da pro-
do um legado de experiências urbanas capazes de gramação racional do espaço e da vida, estas iniciati-
demonstrar o empenho de seus pensadores no vas, embora surgidas de idéias liberais, acabaram fi-
desvendamento da natureza do espaço urbano con- nalmente por resultar no contrário teórico da cidade
temporâneo. As cidades então surgidas, divididas en- liberal por objetivarem a solução de todos ou quase
tre as dificuldades de ajuste territorial encontradas todos os aspectos da vida familiar e social (BENÉVO-
na Europa e a simplicidade de aplicação de uma planta LO, 2005: 568). A fim de atingir seus objetivos acaba-
regular possível apenas no continente americano, ram por reduzir a multiplicidade de elementos
revelaram que “a materialidade histórica define-se em condicionantes da dinâmica sócio-espacial contem-
função da concretude das ações humanas” na medida porânea e tão logo implantadas na realidade perdiam
em que estas aliam “as condições objetivas da socie- sua capacidade de realização tal como haviam sido
dade (as de vivência material) com as subjetivas” (GO- planejadas, transformando-se em utopias.
MES, 1990: 26). Demonstraram assim toda a capacida- Entretanto, mesmo tendo falhado em seus pro-
de que possuem as cidades vivas de reagir às investidas pósitos, os apontamentos oferecidos pelas cidades
de arregimentação da forma-conteúdo, o que pode ideais implicaram no empenho ainda maior dos cha-
ser identificado em pelos menos três experiências mados socialistas científicos na compreensão do
urbanas: modo como se produzia a linguagem da vida real. Na
segunda metade do século XIX, com Marx e Engels
(1989: 27) encerrava-se a especulação sobre as condi-
ções de vida industriais e, na vida real, começava,
segundo eles próprios, a “verdadeira ciência positi-
3.1.1 A cidade utópica va” que expressava a atividade e o processo de desen-
volvimento prático dos homens. Descortinara-se as-
sim uma possibilidade de pensamento perfeitamente
aplicável à compreensão da vida citadina cujos pro-
cessos podiam agora ser explicados tendo a realida-
Procurando identificar as razões das injustiças
de como princípio, meio e fim. De acordo com a nova
sociais provocadas pelo sistema capitalista industrial
que se refletiam na cidade, os primeiros pensadores visão historicista e materialista percebera-se que o
socialistas dedicaram-se à compreensão empírica das espaço urbano não era resultado do acaso como pa-
relações entre o modo de produção e a estruturação recera num primeiro momento, mas sim uma estrutu-
do território e da vida citadinos. Denunciando e re- ra determinada pelos processos sociais que se liga-
pensando os males produzidos pelo regime burguês vam a ele e que exprimiam, ao especificá-lo, os
que através do dinheiro tudo corrompia fazendo nas- determinismos de um período da organização social
cer a pobreza da própria abundância e importando- (CASTELLS, 1983: 146 – 147).
se em transformar e melhorar o homem através da Deste modo, o pensamento social do século
educação - inspiração advinda de Rousseau e da filo- XIX, situado entre o inevitável avanço industrial e o
sofia da era das Luzes -, os socialistas da primeira desejo de contenção das injustiças por ele provocadas,
metade do século tiveram o propósito de tornar o dividiu-se entre as utopias e a realidade revelando o
mundo racional o que, de fato, significava torná-lo quanto as preocupações dos pioneiros resultaram,
moral conforme aponta Bottigelli (1971:21-23). bastante objetivamente, do compromisso com os mi-
Em um contexto em que se desenvolviam as lhões de pobres encurralados nos cortiços da cidade
ciências, vigorava a idéia de progresso e buscava-se a (HALL, 1995: 9). De modo controverso e com resulta-

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dos distintos, porém complementares, inaugurou-se modo a vitalidade. Segundo Benévolo (2005: 581) a
uma preocupação diferenciada com o “elemento vida” destruição provocada por Haussmann teria sido “in-
na cidade num contexto único na História: enquanto completa” em respeito aos monumentos principais e
até o fim do Antigo Regime, as cidades haviam sido às ruas e praças mais características das quais depen-
planejadas para abrigar um conteúdo social previamen- dia a “qualidade formal” da nova cidade.
te existente, na transição para a contemporaneidade As razões que justificam ter sido a reforma de
havia um conteúdo em constante formação e necessi- Paris um evento emblemático são portanto várias. Ape-
tando permanentemente de reflexões acerca da orga- sar de não se tratar da primeira intervenção sobre ter-
nização de sua vida sobre o território urbano. ritórios urbanos consolidados6, tal reforma colocou em
evidência pelo menos três características fundamen-
tais para a compreensão da cidade contemporânea: a
possibilidade de intervenção no espaço urbano in-
dustrial sem que fosse preciso negá-lo do modo como
3.1.2 A cidade reformada haviam feito os socialistas utópicos; a necessidade do
estabelecimento de leis que permitissem a realização
de reformas sobre o espaço construído bem como pos-
sibilitassem o controle de sua ocupação após as mes-
Em meio ao debate sobre a cidade industrial, mas; e, finalmente, a imperatividade das leis da cida-
enquanto se opunham os ideais utópicos e científi- de capitalista-industrial sobre as estratégias de regulação
cos dos socialistas, na França era posta em prática a do espaço como resultado de um novo sistema de va-
efetiva reforma da cidade. Ali não teria havido muito lorização do território.
tempo dedicado às idéias nem tampouco teria se co- Segundo Choay (2001: 175-79), ainda que
gitado organizar a forma-conteúdo fora de seu nú- Haussmann tenha colecionado inimigos em sua épo-
cleo original como haviam proposto os primeiros ca e tenha sido considerado um vândalo por des-
socialistas. Na “Babilônia do Sena”, cujo número de truir impiedosamente grande parte de Paris, é dele
habitantes havia chegado a um milhão em meados do o mérito de ter colocado o espaço urbano e sua
século XIX tornando-a a terceira cidade da Europa, historicidade em evidência. Segundo a autora, até a
depois de Roma ant iga e da moderna Londres segunda metade do século XIX os estudos históricos
(SCHNEIDER; 1962: 191), a coordenação de interes- haviam se preocupado com a cidade apenas do pon-
ses entre os grupos dominantes logo estabeleceu um to de vista de suas instituições jurídicas, políticas e
“novo modelo de cidade” a ser posto em prática. religiosas, além de suas estruturas econômicas e so-
Incumbido de abrir através do confuso amon- ciais. “O espaço era o grande ausente” afirma. So-
toado de becos estreitos do centro da cidade de Paris mente a partir do momento em que ele se torna um
uma série de longas avenidas, o Prefeito do Sena, obstáculo e precisa ser destruído, que ganha a ade-
Georges Eugènne Haussmann (1809-1891), levou a quada importância.
cabo o maior esquema de redesenvolvimento urbano Por tudo isso, é preciso reconhecer que a ex-
dos tempos modernos, destruindo boa parte da ma- periência francesa demonstrara que se as cidades são
lha medieval e da Renascença por meio da adoção
mesmo como árvores que devem ser destruídas até as
dos princípios lineares romanos e valendo-se de com-
raízes antes que deixem de viver (MUMFORD, 2004:
passo e régua para calcular o traçado das ruas
269), como poucas, Paris soube brotar novamente ao
(SENNETT, 1997: 268). Para Mumford (2004: 424) te-
redor de sua base mesmo tendo seus troncos corta-
ria sido com desdém por todas as funções urbanas
dos. Sua lição fora, sobretudo, a de revelar ao mun-
exceto o tráfego que uma supervalorização da figura
geométrica teria passado então a delimitar o conteú- do que “as cidades vivas têm de fato uma estupenda
do social em vez de derivar dele. capacidade natural de compreender, comunicar, pla-
Nesse sentido, provavelmente Lefèbvre (2004: nejar e inventar o que for necessário para enfrentar
53) teria tomado o exemplo de Paris como uma ide- as dificuldades” como observa Jacobs (2003: 498),
ologia totalizadora e correspondente a uma prática qualquer que seja o sistema valorativo do espaço e
mutiladora que, pura e simplesmente, faz o espaço qualquer que seja o tempo histórico.
urbano específico desaparecer ao subordinar a reali- A “aventura” de Haussmann não deve portan-
dade urbana à planificação geral. No entanto, embo- to, ser considerada nada menos do que audaciosa, já
ra grandiosa, destruidora e valorizadora das formas que mostrou à contemporaneidade que era preciso
geométricas, a tarefa de Haussmann não chegara a destruir parcialmente a cidade antiga em busca de uma
destruir por completo os espaços diferenciais do or- adaptação às novas exigências que se impunham numa
ganismo urbano medieval preservando-lhe deste tentativa de resignificação coordenada do territó-

6
Em condições muito semelhantes e visando dotar a cidade da infra-estrutura necessária à melhoria das condições de vida Roma teria sido reformada durante seu período imperial.
O também estendido e adensado território romano tivera que ser parcialmente destruído para receber aquedutos e equipamentos de diversão coletiva que visavam não só suprir
necessidades básicas como conter possíveis revoluções através da conhecida política do “pão e circo” (MORAES, 2003).

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rio urbano que recuperasse sua condição salutar. O configuração física da cidade ia além da simples orga-
grande mérito desta experiência teria sido ainda o nização do território como havia se pensado. Reco-
de articular adequadamente a dupla operação de cons- nheceu-se através das experiências de Washington e
trução-destruição na qual reside a possibilidade de as Nova York que a organização do território urbano não
cidades desenvolverem-se harmoniosamente já que t rat ava apenas d e uma at i t ud e superfi ci al d e
uma cidade que se constrói é, ao mesmo tempo, uma embelezamento e ordenação da cidade, mas implica-
cidade que se destrói (GOITIA, 2003: 189). Haussmann va no planejamento do espaço urbano de modo a
deu assim, mais um passo em direção ao pensamento estimular o estabelecimento de vínculos entre forma
e à ação sobre a cidade contemporânea. urbana e o conteúdo social que deveria preenchê-la
e que, só assim, seria capaz de configurar efetivamen-
te cidades.
No caso de Washington, identificou-se que o
espaço urbano configurado por meio de um projeto
3.1.3 A cidade produzida ao contrário que contemplava marcos e pontos nodais que, con-
forme Lynch (2006: 93), constituem “a matéria-prima
da imagem ambiental na escala da cidade”, atingira
seu objetivo de significação territorial e formação de
Quase ao mesmo tempo em que na Europa se um espírito patriótico apenas em parte. As intenções
descobrira a importância do conteúdo social – pelos magníficas representadas no traçado de Washington,
socialistas utópicos e científicos – e do espaço – por abandonadas em meio à sua formação acabaram por
Haussmann – para a configuração de cidades, no con- torná-la um “plano sem cidade” (MORRIS, 1995: 429).
tinente americano um outro evento ocorria. Enquan- Enquanto na superfície o espaço adquirira todos os
to no Velho Mundo o espaço secularmente construído aspectos de um soberbo plano barroco com a locali-
precisava ser resignificado, na América, dotada de zação dos edifícios públicos, as imponentes avenidas,
imensos territórios ocupados de maneira incipiente, as abordagens axiais e a escala monumental, na reali-
era possível a simples significação do mesmo nos dade “a estrutura existia, mas faltava o conteúdo”
moldes da ordem econômica, social, política e cultu- (MUMFORD, 2004: 438).
ral que surgia. Ali podiam ser construídas cidades in- Ao contrário, no caso de Nova York, o plano
teiras voltadas desde sua fundação para a nova lógica reticulado e vazio de propósitos revelou uma cidade
valorativa do espaço e da vida coletiva. “febrilmente ativa, regurgitando de barulhentos car-
Enquanto as cidades européias constituíam-se ros puxados por cavalos e em cujas ruas não raro pa-
como “depósitos de um caudal cultural” sendo “cons- lácios de mármore alternavam com barracões de tábu-
cientes dos valores permanentes” que nelas residiam as” (SCHNEIDER, 1962: 242). Entretanto, apesar da
e mantendo por isto um “equilíbrio aceitável entre o pontual reação da cidade vivente à simplicidade do
fazer e o desfazer”, nos Estados Unidos a falta de pres- plano, logo se percebeu que a neutralidade da rede
são do passado teria deixado maiores margens de li- de ruas que não impunha qualquer localização, mar-
berdade (GOITIA, 1982: 205-207). Por esta razão, des- cos ou pontos nodais que estabelecessem uma iden-
de o período colonial, os vastos territórios da Améri- tidade com o habitante, representava verdadeiramen-
ca puderam ser ocupados por traçados urbanos que te um problema. De acordo com Sennett (1997: 291)
refletiram rigorosamente uma nova praxe urbanística embora teoricamente a ausência de um ponto central
e o caráter dos mecanismos de ordenação espacial e limites indefinidos devessem possibilitar múltiplos
importados da Europa. locai s de encont ro, na prát ica a falt a d e
Durante todo o século XIX os Estados Unidos direcionamentos teria provocado uma maior facilida-
tornaram-se deste modo um grande “laboratório” para de de demolição de todos os obstáculos de pedra,
a forma-conteúdo criada e desenvolvida em um am- vidro ou ferro erigidos no passado. Esse planejamen-
biente capitalista-industrial. As práticas de simplifica- to urbano ilimitado e carente de pontos de referên-
ção construtiva desenvolvidas na antiga colônia so- cia teria feito ainda, com que o turista apenas “sus-
mada aos conceitos perspécticos absorvidos da tradi- peitasse” que o centro de Nova York situava-se em
ção européia e à liberdade de intervenção humana torno do Central Park afirma o autor.
em espaços não tocados ou minimamente transfor- Os americanos ofereceram assim novos apon-
mados pelo homem, implicaram em uma configura- tamentos para a compreensão da forma-conteúdo
ção de cidade única e complementar do pensamento contemporânea. A cidade neste caso não foi tratada
desenvolvido até então acerca da relação dialética como um espaço ideal para um cidadão ou socieda-
entre espaço e sociedade capaz de constituir formas- de tipo como fizeram os socialistas utópicos nem
conteúdo. tampouco como um espaço ideal para um cidadão
Através da prospecção histórica de duas expe- real como na Paris de Haussmann. Era a primeira
riências urbanas ali desenvolvidas verificou-se a vez que se planejava uma cidade ideal e real para
complementação do pensamento sobre a cidade con- um “cidadão” inexistente, ou seja, o espaço urbano
temporânea iniciado no século XIX revelando que a foi efetivamente idealizado e construído na América

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do Norte para receber um conteúdo social em for- nistas as desejavam construir” havia se constatado que
mação conjunta com o processo de industrialização só em parte elas teriam concordância com este “lema
que ali se desenvolvia. da moda” (SCHNEIDER, 1962: 297). Os resultados
A busca de alternativas para a cidade industrial das cidades planejadas mostraram que, na realidade,
durante o século XIX resultou portanto, em cada par- era apenas relativa a possibilidade de realização des-
te do mundo, em contribuições particulares e igual- te “caprichoso” desejo dos planejadores.
mente partícipes na formação do pensamento urba- Com seus movimentos intensos de transforma-
nístico contemporâneo mostrando a importância da ção e resposta aos estímulos provocados pela indus-
relação dialética entre espaço e sociedade na consti- trialização e pelas tentativas de “correção” dos pro-
tuição de cidades bem como a delicada relação que a blemas gerados a partir dela, a cidade revelara-se um
envolve. Das cidades ideais propostas pelos socialis- “estado de espírito”, um corpo de costumes e tradi-
tas, passando pela reforma da cidade existente de ções, de sentimentos e atitudes organizados, ineren-
Haussmann até chegar ao projeto da cidade futura tes a esses costumes e transmitidos por essas tradi-
dos americanos, tais experiências se estenderam do ções como apontou Park (1979: 26). Sua dinâmica
diagnóstico do espaço urbano industrial ao prognós- durante o século XIX havia posto às claras que ela
tico do espaço futuro a ser preenchido por uma soci- não era “meramente um mecanismo físico e uma cons-
edade em formação. trução artificial”, mas estava envolvida em processos
Assim, o que pôde ser percebido de fato duran- vitais das pessoas mostrando-se um produto da natu-
te os cem anos que sucederam a Revolução Industrial reza, e particularmente da natureza humana como
foi o modo como se comportavam as cidades utópicas, observou o autor.
as reformadas e aquelas ideais que, segundo Goitia Percebera-se através das experiências urbanís-
(1982: 213), eram produzidas “ao contrário” na Améri- ticas do século XIX que a morfologia não era mais
ca do Norte, ou seja, aquelas resultantes de espaços que um instrumento de organização espacial com va-
planejados que viriam a se tornar cidades na medida lor artístico nulo além de um objeto puramente téc-
em que fossem preenchidos por um conteúdo social. nico e incapaz de constituir-se como obra de arte
O século XIX revelara, sobretudo, que toda ação ligada (ROSSI, 2001: 23). Verificou-se que o “ser” da cidade
ao urbanismo e à construção era inescapavelmente não se restringia à sua forma e que a abordagem de
política e que o entendimento da cidade e a capacida- uma existência tangível não dava conta de seu con-
de de trabalhar nela e com ela exigia vê-la como uma teúdo e de seu movimento como apontaram Moraes
concatenação de coisas desejadas e produzidas pelo e Costa (1984: 50). Assim, compreendeu-se que a ex-
homem (RYCKWERT, 2004: 348). plicação de todas as alterações que se produziam na
Após as experiências desenvolvidas pós-revo- estrutura física da cidade residia em processos ecoló-
lução, a “velha” cidade industrial de fins do século gicos que atingiam desde as estruturas urbanas mais
XVIII, encortiçada, obscura, e vista como aquela “da estáticas e aparentemente imóveis às mais dinâmicas
noite apavorante” como escreveu Hall (1995: 17), já (GOITIA, 1982: 209).
não podia mais ser vista como uma “vítima passiva de Entretanto, o homem que se lançara à liberda-
uma sucessão de circunstâncias”. O século XIX havia de, à conquista de um mundo ainda desconhecido e
demonstrado que a cidade era uma obra resultante ao prazer de viver em permanente transformação le-
da vontade humana e o pensamento sobre sua forma vando às significativas descobertas acerca da natureza
ideal, nada mais que um ponto de referência para do espaço urbano, fora gradativamente absorvido
medi r os prob lemas reai s enfrent ad os na pelo turbilhão de novidades que criara tornando-se
contemporaneidade. confuso em seus próprios pensament os. O s
celebrantes do capitalismo envolveram surpreenden-
temente a humanidade com sua audácia e energia
revolucionárias, sua atividade dinâmica, seu espírito
4 A REDUÇÃO DO ESFORÇO CRÍTICO de aventura e capacidade não apenas de dar mais con-
forto aos homens, mas de torná-los mais vivos
(BERMAN, 1992: 97). Com isso, em meio às inúmeras
e contínuas determinações impostas ao tempo, à his-
tória e à geografia das cidades, o esforço crítico de
No século XX o ecoar das experiências empre- compreensão da forma-conteúdo perdeu-se.
endidas no século anterior não resultara em mais que Teria sido embalado pelo poderoso encanta-
poucas idéias-chave que só fizeram reciclar-se e mento que emanava da palavra ciência e compreen-
reconectar-se (HALL, 1995: 9). Os fundamentos para dendo de modo indistinto as palavras progresso, evo-
a compreensão da cidade contemporânea já haviam lução e desenvolvimento que o século XIX completa-
sido lançados. No século XIX, ao mesmo tempo que ra finalmente o processo de secularização da primei-
“entre os construtores de cidades havia se tornado ra iniciado ainda durante o Iluminismo. Desvincular
comum entender como ‘cidade de amanhã’ ou ‘cida- definitivamente o progresso de sua ligação com Deus
de do futuro’ exclusivamente cidades como os urba- revelava finalmente um projeto de intervenção no

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processo de desenvolvimento da sociedade através da momento em que a produção social do espaço pas-
construção consciente da História. Como conseqü- sou a preceder a construção intencional da História,
ência, a ciência histórica daquele século teria se tor- de modo que passaram a ser as novas geografias pro-
nado uma espécie de “história da história”, ou seja, duzidas na cidade os elementos de suporte para a
uma produção que reúne o conjunto de fenômenos produção da História (SOJA, 1993: 21-22). Tal inver-
constituintes da cultura de uma época na construção são de papéis configurou então, o maior triunfo da
de um caráter do que é histórico, ou seja, de uma modernidade sobre as frágeis certezas da humanida-
historicidade (LE GOFF, 2003: 48). de: a prevalência do espaço sobre o tempo, ou, da
Neste ínterim emergiam os valores modernos Geografia sobre a História.
através dos quais toda a realidade deveria se apresen- Deste modo, embora a tomada de consciên-
tar como um produto do devir histórico da humani- cia do condicionamento da paisagem urbana pelos
dade. Enquanto nas sociedades primitivas, e até mes- processos sociais desenvolvidos em seu interior hou-
mo na Idade Média, a preocupação em “adquirir uma vesse sido uma das grandes descobertas do conheci-
história” levara muitas vezes à criação de mitos e curi- mento científico do século XIX em meio à emergên-
osidades que explicassem os fatos, na sociedade mo- cia da problemática histórica e geográfica da cidade
derna o objeto para tal aquisição não precisava se es- contemporânea, a compreensão dos mecanismos
tender além da própria existência humana ocupan- desencadeadores das transformações reveladas pe-
do-se de uma história do vivido (LE GOFF, 2003: 55- los territórios urbanos foi deixada de lado e os pro-
57). O novo hábito de historiar permitiu ao homem pósitos de solução dos problemas urbanísticos des-
considerar-se apto à conquista e determinação não locaram-se para a questão da simples urbanização do
apenas do presente mas também do futuro. território.
Iniciara-se assim, um tempo de certezas pre- De acordo com Lipietz (1988: 18) a concepção
enchido por uma sociedade confiante em suas con- desenvolvida acerca da configuração urbana a partir
quistas e capaz de domar a natureza a partir de uma da prática social resultou finalmente em uma concep-
miríade de invenções sucessivas que a tornavam apta ção do espaço e do tempo como realidades neutras e
a domesticar o futuro, prever e impedir flutuações dadas com as quais se confrontavam outras realidades
Atingira-se uma era em que “a ‘sciência’ impunha-se – relações, quantidades, acontecimentos – que, por
como forma de redimir incertezas” e as exposições sua vez, se inscreviam e se desenrolavam tendo como
universais demonstravam “didaticamente” os benefí- substrato as primeiras. Juntamente com isto, confor-
cios da ciência e do progresso alcançados destacan- me o autor, a importância dada pela ciência à
do “civilização e modernidade” como as palavras de quantificação e à descrição dos problemas surgidos
ordem sob as quais se atingiria o ideal acalentado no espaço geográfico das cidades encobrira a impor-
(COSTA; SCHWARCZ, 2000: 10-15). tância de uma reflexão acerca do fenômeno urbano
O triunfar da modernidade em uma era de cer- fazendo prevalecer uma prática que não nos fez avan-
tezas conduziu assim não só à multiplicação das ex- çar “quase nada”.
periências humanas neste mundo como também à Na medida em que o mundo objetivo atuava
subdivisão infinita do que as envolvia: o tempo. Este, sobre os homens e estes tomavam consciência dele
que sob diversas formas é a “condição da História” e através d os result ados posi t ivos t razid os pela
deve fazer corresponder seus quadros de explicação modernidade, passava a ser visto também como um
cronológica à duração do vivido (LE GOFF, 2003: 47), mundo ideal. A persistência de uma “fé no progresso
esfacelou-se então em uma infinidade de fragmentos econômico e na necessidade desta forma de progres-
que não podem ser periodizados ocasionando a per- so para viabilizar as demais” (NISBET, 1985: 303) teria
da de seu vínculo com o espaço da maneira como sido então o principal motor impulsionador da im-
existira nas sociedades pré-modernas. De acordo com plantação da realidade objetivamente planejada nas
Giddens (2002: 22), enquanto naquelas sociedades cidades. Nestas, as evidências da evolução e do de-
t empo e espaço se conect avam at ravés d a senvolvimento desejado com o progresso eram per-
situacionalidade do lugar, na modernidade este vín- manentemente colocadas à mostra pelas transforma-
culo se perdera em uma “dimensão ‘vazia’ de tempo” ções da vida cotidiana em termos de conforto e bem
em que o quando passou a não mais se ligar ao onde estar compelindo os homens a crer cada vez mais em
do comportamento social e, menos ainda, à substân- seus benefícios.
cia desse comportamento. A cidade planejada nos novos moldes tornou-se
A cidade, como parte das condições históricas assim um discurso livre dos conhecimentos previamen-
implicadas no capitalismo e resultado da acumulação te atingidos acerca do fenômeno urbano e, em meio às
de capital - que se completa nela e por ela - revelou- evidências de sua densidade social, espacial e tempo-
se então uma “coisa social” na qual tornaram-se “sen- ral, assumiu-se uma postura em que os aspectos quanti-
síveis” e “não evidentes” as relações que, para serem tativos, equivalentes tão somente à aparência das coi-
compreendidas, deveriam agora ser concebidas pelo sas, ganharam prevalência sobre os aspectos qualitati-
pensamento partido de sua realização concreta vos, ou seja, à sua essência (GOMES, 1990:45). A simpli-
(LEFÈBVRE, 2001: 140-141). Atingiu-se assim, um ficação da problemática urbana para a configuração das

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cidades como símbolos do desejado progresso levou, transformation in city’s occidental territories on a
por fim, à diminuição do esforço crítico de compreen- historic way until the contemporary. The main goal is
são dos tempos e espaços que passaram à cooperar com to study the crisis that happened between the Middle
a construção da História urbana desde o século XVI. Age and Modern Age. This crisis, according to Lewis
Tornada tão somente um discurso da modernidade, a Mumford and Henri Lefèbvre, may cause the lost of
noção de cidade perdeu-se, diferentemente do que pre- the human orientation to produce the urban spaces.
conizaram Lefèbvre e Mumford, não por sua sujeição à The research explores the XVI century and the social
lógica mercadológica e sim pela redução do esforço and spatial consequences that determinate the
crítico de compreensão da forma-conteúdo. formation of territories at city. Despite this, it was
rejected the idea of the lost of human orientation to
produce, therefore, it was revealed the shrink of an
effort to comprehend the cities at contemporary. At
the same time, the multiplication of time and space
5 CONCLUSÃO creates new life styles that impose the urban geografhy
on history.

A investigação do processo de formação e trans-


formação dos territórios citadinos ocidentais nos con-
7 REFERÊNCIAS
duz ao reconhecimento de que, apesar do atual si-
lêncio crítico acerca do fenômeno urbano, em todos
os tempos as cidades vivas são capazes de conservar a
natureza histórica e humana que lhes deu origem. A
prospecção da crise na qual estaríamos imersos na BENÉVOLO, Leonardo. História da cidade. São
contemporaneidade, determinada por Lefèbvre e Paulo: Perspectiva, 2005.
Mumford, permite-nos revelar que a consideração da
perda da orientação humana na produção dos espa- BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha
ços urbanos corresponde à visão particular destes dois no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:
autores equivalente a uma das muitas histórias possí- Companhia das Letras, 1992.
veis sobre a cidade, resultantes do enfoque dado por
cada disciplina e/ou estudioso que se debruça sobre BERNSTEIN, Eduard. Socialismo evolucionário.
este tema. A verificação da teoria defendida pelos
Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
autores em questão demonstra que tal interpretação
é absolutamente contestável levando-se em conside-
BOTTIGELLI, Emile. A gênese do socialismo
ração o caráter impreciso desta ciência humana que é
científico. Lisboa: Estampa, 1971.
a História. A investigação das transformações sofridas
pelas cidades pré-modernas e modernas demonstra
ainda que a consideração de uma crise definitiva da CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São
cidade não seria capaz de resultar em avanço para o Paulo: Estação Liberdade; UNESP, 2001.
conhecimento urbanístico contemporâneo e que a
tomada de consciência de uma sucessão delas como COSTA, Ângela Marques da Costa; SCHWARCZ, Lília
conseqüências da entrada de novos elementos capa- Moritz. No tempo das certezas: 1890 -1914. São
zes de reorganizar os previamente existentes e até Paulo: Companhia das Letras, 2000.
então construtores de uma história urbana permite-
nos perceber o processo de constituição da forma- GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade.
conteúdo de modo mais adequado à retomada do Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
esforço crítico de compreensão do fato urbano e de
sua trajetória no tempo, algo fundamental para a apre- GOITIA, Fernando Chueca. Breve história do
ensão da realidade citadina contemporânea. urbanismo. São Paulo: Lisboa, 1982.

GOMES, Horieste. A produção do espaço geográfi-


co no capitalismo. São Paulo: Contexto, 1990.
6 ABSTRACT
HALL, Peter Geoffrey. Cidades do amanhã: uma
história intelectual do planejamento e do projeto
urbanos do século XX. São Paulo: Perspectiva, 1995.

This article is dedicated to investigate the urban HOBSBAWN, Eric J. A era das revoluções: Europa
space from t he process of format i on and 1789-1848. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

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