Muitos músicos nem desconfiam, mas os cavaletes de violinos, violas,
violoncelos e contrabaixos exercem uma grande importância para o resultado final do timbre destes instrumentos. Essa peça não serve apenas para sustentar as cordas, mas transmitem suas vibrações para a alma destes instrumentos. Por isso o cavalete deve estar sempre muito bem ajustado e posicionado. Este trabalho, ao contrário do que muitos imaginam, não consiste apenas em lixar os pés e a linha superior da peça, considerando as curvaturas do tampo e do espelho do instrumento. O ajuste do cavalete é um trabalho minucioso que requer habilidades de um escultor e conhecimentos sobre as propriedades mecânicas e físicas da madeira a ser entalhada (neste caso o maple). Assim, a primeira etapa para o ajuste é saber o timbre desejado, uma vez que o aprimoramento desta peça pode contribuir com a obtenção de corpo, brilho, destaque nos agudos, entre outras características. É extremamente importante informar o timbre desejado ao luthier, para que ele possa trabalhar a peça de acordo com as exigências do músico. Isso porque existe um padrão de ajuste, porém são permitidas sutis alterações milimétricas (em certos casos, décimos de milímetro) que exercem perceptíveis diferenças no som do instrumento. Antes de solicitar o ajuste do cavalete, consulte um profissional de sua confiança para que, juntos, estudem o caso para obter o melhor timbre possível. A INFLUÊNCIA DO AJUSTE DOS MEMBROS DO CAVALETE Cada parte desta importante peça requer ajustes precisos. Abaixo seguem tópicos que abordam a importância de cada “membro” do cavalete. • Pés – o ajuste dos pés é fundamental para a transmissão da vibração do cavalete até a alma e a barra harmônica. Suas partes (tornozelo, canela, dedo e calcanhar) devem estar perfeitamente equilibradas, respeitando medidas precisas afim de que este “membro” tenha o melhor desempenho possível. As linhas inferiores dos pés devem estar totalmente encostadas sob o tampo do instrumento.
• Coração – deve ser simétrico. Este orifício não é meramente
estético. Ele exerce uma influência considerável na vibração do cavalete. O ajuste deste “órgão” deve respeitar uma distância exata entre a curva superior e o arco inferior do cavalete.
• Curva superior – local em que as cordas são apoiadas. A curvatura
deve respeitar o espelho do instrumento. São permitidas algumas alterações de acordo com o gosto do músico. Neste caso, o luthier responsável pelo ajuste deve fazer uma breve entrevista com o músico, para poder lhe explicar os prós e os contras dessas alterações, nos quesitos conforto e timbre.
• Arco inferior – para cada tipo de cavalete existe uma medida e
curvatura exatas. Porém, deve-se sempre respeitar uma distância precisa entre essa linha e a parte inferior do coração, bem como os pés.
• Laterais (também conhecida como quadril) – existe uma medida
padrão para o ajuste das laterais de cada cavalete. São permitidas pequenas alterações que podem proporcionar maior frequência ressonância. Deve ser trabalhado em harmonia com o “coração”.
• Voluta (também conhecida como rim) – deve ser harmônica e
simétrica. Seu entalhe pode proporcionar maior ou menor ressonância. • Espessura – deve haver uma precisão milimétrica na progressão da espessura dos cavaletes. Este ajuste é de extrema importância para a mecânica da peça como um todo. Um cavalete sem as espessuras corretas perde seu poder de vibração, o que prejudica – e muito – a qualidade do timbre do instrumento.
• Altura – para muitos instrumentos é uma faca de dois gumes. No
caso dos violinos, é recomendável uma altura entre 32,5 mm e 35 mm. Porém, essa medida pode variar de acordo com o gosto do músico e com a inclinação do braço do instrumento, que, por sua vez, pode estar certa ou errada. Cabe ao luthier estudar cada caso individualmente e explicar ao músico as vantagens e desvantagens do ajuste da altura, de acordo com o gosto do músico.
• Ângulo – as “costas” do cavalete (que está voltada ao estandarte)
deve apresentar um ângulo de 90° em relação ao tampo (dependendo da avaliação do luthier, em relação ao músico, esse ângulo pode variar de 88º a 90º). Desta forma, o cavalete vibrará com melhor desempenho e não cairá com frequência. Cavaletes tortos e tampos amassados (por falta de ajustes e por instalação de corpos estranhos, como alguns sistemas de captação eletrônica) podem impossibilitar esse ajuste.
• Posicionamento – esse ajuste é fundamental para a afinação do
instrumento. O cavalete deve estar precisamente instalado entre os entalhes dos “efes”.
• Tornozelo e canela; dedo e calcanhar – para cada instrumento
existe uma medida específica para essas partes dos cavaletes. Elas são extremamente importantes para transmitir a vibração da peça para a alma e barra harmônica. • Entalhe (incisão da orelha) – esse recurso próximo aos pés não é meramente estético. Sua função é diminuir a resistência mecânica dos pés do instrumento, gerando maior vibração à parte inferior do cavalete.