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1 DE AGOSTO de 1958
9 DE AGOSTO
...Fui na sapataria retirar os papéis. Um sapateiro perguntou-me se o meu
livro é comunista. Respondi que é realista. Ele disse-me que não é
aconselhável escrever a realidade.
14 DE AGOSTO
—Então já sei que vou morrer sem receber o teu abraço, porque você
nunca está limpa.
16 DE AGOSTO
—Carolina, já que você gosta de escrever, instiga o povo para adotar outro
regime.
—O custo de vida nos obriga a não ter nojo de nada. Temos que imitar os
animaes.
Destaque (amarelo) - Posição 1743
21 DE AGOSTO
30 DE AGOSTO
14 DE SETEMBRO .
20 DE SETEMBRO
ainda não convenceram que preterir o preto é o mesmo que preterir o sol.
O homem não pode lutar com os produtos da Natureza.
Destaque (amarelo) - Posição 1866
26 DE SETEMBRO
3 DE OUTUBRO
O presidente da mesa disse-me que nas eleições não pode levar crianças.
Respondi que não tinha com quem deixá-la.
12 DE OUTUBRO
Também, com a fome que eu passo quem é que pode viver contente?
24 DE OUTUBRO
28 DE OUTUBRO
30 DE OUTUBRO
Quem paga as despezas das eleições é o povo!
31 DE OUTUBRO
Não sei como havemos de fazer. Se a gente trabalha passa fome, se não
trabalha passa fome.
2 DE NOVEMBRO
Conversei com um senhor. Disse-lhe que circula um boato que a favela vai
acabar porque vão fazer avenida. Ele disse que não é pra já. Que a
Prefeitura está sem dinheiro.
5 DE NOVEMBRO
A dona Julita deu-me sopa, café e pão. Eu comi lá na Dona Julita. Era treis
horas. Fiquei indisposta. Os moveis girando ao meu redor. É que o meu
organismo não está habituado com reconfortantes.
6 DE NOVEMBRO
Findo o serviço ela deu-me sabão, queijo, gordura e arroz. Aquele arroz
agulha. O arroz das pessoas de posses.
8 DE NOVEMBRO
14 DE NOVEMBRO
17 DE NOVEMBRO
Estas coisas eles não olvidam. Tenho dó destas crianças que vivem no
Quarto de Despejo mais imundo que há no mundo.
23 DE NOVEMBRO
8 DE DEZEMBRO
Na minha fraca opinião quem deve ter filhos são os ricos, que podem dar
alvenaria para os filhos. E eles podem comer o que desejam.
25 DE DEZEMBRO
27 DE DEZEMBRO
Ele olhava tudo com assombro. Mas ele deve aprender que a favela é o
quarto de despejo de São Paulo. E que eu sou uma despejada.
1 DE JANEIRO DE 1959
6 DE JANEIRO
7 DE JANEIRO
Hoje eu fiz arroz e feijão e fritei ovos. Que alegria! Ao escrever isto vão
pensar que no Brasil não há o que comer. Nós temos. Só que os preços
nos impossibilita de adquirir.
14 DE JANEIRO
Despedi-me dele dizendo que precisava escrever e que não podia
demorar.
15 DE JANEIRO
Hoje eu estou contente. Ganhei dinheiro. Contei até 300! Hoje eu vou
comprar carne. Atualmente quando o pobre come carne fica rindo atoa.
16 DE JANEIRO
Olhei o rosto do cigano. O rosto bonito. Mas fiquei com nojo. Era um rosto
de anjo com alma de diabo. (...) Vim para o meu barraco.
17 DE JANEIRO
15 DE FEVEREIRO
Disse que ligou a luz para mim e não cobrou deposito.—Mas o deposito já
foi abolido desde 1948. Ele disse que pode cobrar deposito porque a Light
deu-lhe plenos poderes. Que ele pode cobrar o que quiser dos favelados.
29 DE ABRIL
2 DE MAIO
4 DE MAIO
6 DE MAIO
Eu disse aos balconistas que escrevi um diário que vai ser divulgado no O
Cruzeiro[44].
28 DE MAIO
A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra.
E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como a nossa vida
decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é
o lugar onde eu moro.
4 DE JUNHO
5 DE JUNHO
A Vera chorou. Não queria comer aveia. Dizia:—Eu não gosto. Dei-lhe uma
surra e ela comeu.
Destaque (amarelo) - Posição 2602
8 DE JUNHO
bilhete dizia que a reportagem vai sair no dia 10, no Cruzeiro. Que o livro
vai ser editado. Fiquei emocionada.
10 DE JUNHO
16 DE JUNHO
22 DE JUNHO
7 DE JULHO
Até eu, o dia que me mudar hei de queimar incenso para agradecer a
Deus. Hei de fazer jejum mental, pensar só nas coisas boas que agradam
a Deus.
Destaque (amarelo) - Posição 2770
13 DE JULHO
15 DE JULHO
18 DE JULHO ..
16 DE AGOSTO
O Orlando Lopes está girando pela favela. Quer dinheiro. Ele cobra a luz
no cambio negro. E tem pessoas aqui na favela que estão passando fome.
26 DE AGOSTO
31 DE DEZEMBRO
Espero que 1960 seja melhor do que 1959. Sofremos tanto no 1959, que
dá para a gente dizer:
Não é preciso ser letrado para compreender que o custo de vida está nos
oprimindo.
PÓSFÁCIO