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Corpo e Alma do Brasil

HÉLGIO TRINDADE

INTEGRALISMO
o fascismo brasileiro
na década de 30
INTEGRALISMO

A vitalidade da contribuição da nova ge­


ração de cientistas políticos brasileiros encontra
no livro de Hélgio Trindade uma demonstração
inequívoca. Tomando como tema o movimento
integralista na década de 30, o autor não apenas
fez um levantamento histórico cuidadoso e siste­
mático, como colocou as questões básicas para a
interpretação daquele acontecimento político.
Assim, em vez de limitar-se a descrever o
processo ocorrido como se fosse uma singulari­
dade caprichosa da história brasileira, ou de ten­
tar explicá-lo como mera conseqüência das liga­
ções irrefutáveis que o movimento integralista
mantinha com o fascismo italiano e com o na­
zismo, Hélgio Trindade tratou de indagar quais
foram (e quem tiver imaginação è argúcia pode
prolongar a questão para perguntar quais são
hoje) as condições estruturais e as características
ideológicas e organizacionais, que tomaram viá­
veis os apelos integralistas no Brasil.
A análise levou o autor a tocar em fatos,
processos, questões e pessoas que poderiam levar
a discussão para o terreno escorregadio da acusa­
ção e da crítica ideológica. Não obstante, graças
à sua formação científica, Hélgio Trindade con­
seguiu guardar a objetividade, sem por isso deixar
de discutir e apontar os riscos e as possibilidades
de enraizamento do integralismo no Brasil.
A Coleção “Corpo e Alma do Brasil”, ao
acolher este livro, prossegue na diretriz de lançar
novos autores. Ao mesmo tempo, dá continui­
dade à preocupação de publicar trabalhos que,
mesmo quando referidos ao passados ajudam à
compreensão dos dilemas básicos da organiza­
ção política brasileira.

Fernando Henrique Cardoso


A mais importante tese defendida na Sor-
bonne sobre o processo político brasileiro, nos
seis anos que sou professor desta Universidade.

Celso Furtado

Creio poder afirmar que nunca se escreveu,


entre nós, qualquer estudo sobre um movimento
político, tão alicerçado em pesquisas próprias
e levantamento de dados positivos, como esta
tese.

Tristão de A thayde

Même un lecteur qui connait mal le Brésil


peut tout de suite juger des évenements tant
vous avez resume clairement le contexte poli-
tique et social dans lequel prend naissance
1’integralisme. Cetant un sujet difficile car je
suppose qu’il n’est pas encore très aisé de le
traiter avec objectivité et la votre est remar-
quable.

Jaques Lambert

He tenido la ocasión y buena suerte de


leer su tesis. Quisiera decirle que me ha gus-
tado mucho su obra sobre el integralismo bra-
sileno y lo encuentro una de las mejores obras
que he leído sobre este tema.

Gino Germani

Let me say I think the work you have


done is undoubtedly important and it will help
to fill a very large gap in our understanding of
Brazilian History.

Thomas E. Skidmore

DIFEL
Difusão Editorial SA.
“0 leitor não precisa temer de que irá encontrar uma mono­
grafia acadêmica árida, repleta de tabelas estatísticas com dados
sociológicos sobre a elite dirigente da A.I.B. e as respostas dos
ex-militantes a um questionário a cerca de sua ideologia. 0 livro
não é somente um trabalho acadêmico; ele traduz de forma extra­
ordinária o que o fascismo significou para os brasileiros que se
uniram ao movimento. O surgimento de Plínio Salgado, seu líder,
no contexto político do início da década de 30, a organização e,
o que é mais importante, o espírito e estilo do movimento. Quem
quer que tenha estudado o fascismo em outros países, imediata­
mente reconhecerá, em sua descrição, nas citações dos slogans do
programa e canções do movimento, e mesmo nas fotografias re­
produzidas no livro, temas familiares. Desafio os que duvidam que
o fascismo seja diferente de outros partidos e movimentos reacio­
nários e antidemocráticos dos anos 30, a ler o livro de Hélgio
Trindade, juntamente com um ou dois outros sobre movimentos
fascistas, como a Falange e constatar, depois, se eles não têm mui­
tas características em comum que nós não encontramos, com a
mesma freqüência e intensidade, em outros partidos influenciados
pelo fascismo”.
“O trabalho de Hélgio Trindade é uma valiosa contribuição
para os que se encontram, como nós, comprometidos com um
estudo comparativo dos movimentos fascistas. Não só porque
analisa o movimento ibero-americano de maior sucesso, mas por­
que a riqueza de dados que contém nos proporciona novas evi­
dências relevantes para a discussão entre os estudiosos”.

Juan Linz, Yale University

2

2.
ó DIFEL
Difusão Editorial S.A.
INTEGRALISMO
CORPO E ALMA
DO BRASIL

Direção do
Prof. Fernando Henrique Cardoso

XL
Julho de 1979

i
HÉLGIO TRINDADE

INTEGRALISMO
(O fascismo brasileiro
na década de 30)

2.a Edição
revista e ampliada

-ÀÃ
difel
OuUc tawa S *

São Paulo - Rio de Janeiro


I

1979

Direitos reservados para a língua portuguesa


DIFEL/DIFUSÂO EDITORIAL S.A.
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Rio de Janeiro — RJ
NOTA DO AUTOR
A inesperada acolhida de minha tese de doutoramento so­
bre o movimento integralista, defendida em Paris em fins de
1972, e destinada a um público restrito, encorajou-me a prepa­
rar, alguns meses após seu lançamento, a pedido do editor Mon-
teil, o texto da segunda edição. Procurei, ainda em fins de 1974,
eliminar alguns erros que escaparam à revisão e introduzir pe­
quenas alterações e ampliações, sem contudo mexer na estrutura
geral do trabalho. Com o prematuro desaparecimento do editor
e as subseqüentes mudanças na direção editorial da DIFEL, a
publicação da segunda edição sofreu um enorme atraso.
Relendo, recentemente, o texto revisado julguei que seria
aconselhável não introduzir novas alterações na sua estrutura,
especialmente porque, neste interregno, importantes contribui­
ções foram produzidas em torno da temática do integralismo (♦),
o que exigiría uma ampla discussão sobre o assunto, ultrapas­
sando os limites toleráveis de modificações no texto para uma
reedição. Já tivera a oportunidade de referir-me a alguns as­
pectos polêmicos dos novos estudos, inspirados em diferentes
enfoques teóricos ou metodológicos, em artigos publicados
na Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da

(*) LEVINE (R) The Vargas Regime: The Criticai Years (1934-
1938), N. York, Columbia University Press, 1970; HILTON (Stanley)
O Brasil e a Crise Internacional (193011945),- Rio, C. Brasileira, 1977;
MEDEIROS (Jarbas); Ideologia Autoritária no Brasil 193011945, Rio,
Fundação G. Vargas, 1978; VASCONCELOS (Gilberto). A Ideologia
Curupira (Análise do discurso integralista), S. Paulo, Tese de Doutora­
mento, USP, 1977; GERTZ (Rene) Os Teuto-Brasileiros e o Integralis-
mo no Rio Grande do Sul: Contribuição para a interpretação de um
fenômeno político controvertido, P. Alegre, Dissertação de Mestrado,
UFRGS, 1977; CHASIN (José) O Integralismo de Plínio Salgado (Forma
de regressividade no capitalismo hipertardio), S. Paulo, Ed. C. Huma­
nas, 1978; CHAUÍ (Marilcna) Apontamentos para uma Crítica da Ação
Integralista Brasileira, In Ideologia e Mobilização Popular, S. Paulo,
CEDEC, Paz e Terra, 1978.BROXSON (Elmer R.), Plínio Salgado and
Brazilian Integralism (1932 1938), Washington, The Catholic University
of America, 1972.

v
UFRGS (*). Não obstante, pretendo expandir a discussão, já
iniciada, num novo ensaio sobre a A.I.B., em fase de elaboração,
a ser inserido no volume décimo da História Geral da Civiliza­
ção Brasileira (O Brasil Republicano), por solicitação de Boris
Fausto. Além disto, será objeto de um próximo volume, a aná­
lise de um conjunto de depoimentos, gravados, ainda inéditos,
colhidos junto a dirigentes e militantes integralistas entre 1968
e 1970 e que, em decorrência de suas implicações na atualidade
político-ideológica, assumira o compromisso de não divulgá-los
imediatamente.
Considero, entretanto, como uma das principais contribui­
ções a esta segunda edição, o prefácio de Juan Linz, da Uni­
versidade de Yale, um dos mais respeitados especialistas em mo­
vimentos autoritários de direita que, após ter incorporado a ação
integralista no seu estudo comparativo sobre a sociologia dos fas-
cismos, em edição publicada nos Estados Unidos (**), detalhou,
recentemente, sua análise sobre as afinidades entre o integralis­
mo e os fascismos europeus num verdadeiro pequeno ensaio
transmudado em prefácio.
Não poderia, finalmente, deixar de agradecer os contatos
junto a DIFEL e o estímulo constante de Edgard Carone, o apoio
simpaticamente decisivo de Fernando Henrique Cardoso, diretor
da Coleção Corpo e Alma do Brasil e o trabalho infatigável de
Rolando Roque da Silva, chefe de produção da DIFEL, na viabi­
lização desta nova edição.
Porto Alegre, fevereiro de 1979.
Hélio Trindade

(♦) TRINDADE (Hélgio) Texto e Contexto: Nota crítica a alguns


aspectos do estudo “Paradigma e História" de Wanderley Guilherme
dos Santos In: Revista do IFCH/UFRGS, Ano IV, 1976; TRINDADE
(Hélgio) Integralismo e Fascismo em questão, Revista do IFCH/UFRGS,
Ano V, 1977.
(*•) LINZ (Juan) Some notes toward a comparative study of Fas-
cism in Sociological Historical Perspective In: LAQUEUR (Walter) A
Readefs Guide to Fascism, Califórnia University Press, 1977.

VI
PREFACIO À SEGUNDA EDIÇÃO
Juan Linz, Yale University

O leitor tem em suas mãos um livro singular. Nos últimos


anos, após um período de desinteresse acadêmico, foram publi­
cados vários trabalhos importantes sobre o fascismo, a começar
pela obra polêmica de Ernest Noite, em 1963 \ seguido, poucos
anos depois, pelo livro de James Gregor2. Noite, Renzo de
Felice e Wolfgang Abendroth contribuíram para estimular os
debates acadêmicos com a publicação de três excelentes anto­
logias, contendo as principais interpretações da fugaz e contro­
vertida realidade política que foi o fascismo3. Ao mesmo tem­
po, estudiosos alemães e estrangeiros proveram as bibliotecas
com estudos importantes sobre o movimento nacional-socialista
e o Terceiro Reich. Um pouco mais tarde, os italianos e, em
menor extensão, os de outras nacionalidades, começaram a pro­
duzir trabalhos sérios sobre o movimento fascista na Itália de
Mussolini, atualizando e revisando a extensa literatura produ­
zida antes da Segunda Guerra Mundial.

(1) Noite, Emst. Three Faces of Fascism: Action Française, Ita-


lian Fascism, and National Socialism, New York: Mentor Books, 1969.
Primeira publicação na Alemanha, Munich: R. Piper, 1963.
(2) Gregor, A. James. The Ideology of Fascism: The Rationale
of Totalitarianism, New York: Free Press, 1969. The Fascist Persua-
sion in Radical Politics. Princeton: Princeton Univ. Press, 1974.
(3) Noite, Ernst, ed. Theorien über den Faschismus. Cologne:
Kiepenheuer, 1967. De Felice, Renzo. II Fascismo: Le interpretazioni
dei contemporanei e degli storici. Bari: Laterza, 1970. II Fascismo e
I Partiti politici Italiani: Testimonianze dei 1921-1923. Rocca San
Casciano: Cappelli, 1966. Abendroth, Wolfgang. Faschismus und Ka-
pitalismus: Theorien über die sozialen Ursprunge und die Franktion
des Faschismus. Frankfurt: Europeische Vertagsantalt, 1969. Gregor,
A. James. Interpretations of Fascism. Morristown, NJ.: General Lear-
ning Press, 1974. Aos quais podemos acrescentar o recentemente pu­
blicado: Wippeman, Wolfang. Faschismustheorien. Darmstadt: Wis-
senschaftliche Buchwissenschaft, 1972.

VII
Neste contexto, a monumental biografia de Mussolini escri­
ta por De Felice, da qual foram publicados 4 volumes, foi um
trabalho pioneiro4. Era inevitável que os estudiosos dirigissem
sua atenção também aos vários movimentos fascistas que sur­
giram mais ou menos espontaneamente, ou por imitação, no
mundo ocidental, no período entre as duas guerras. Até agora,
no entanto, somente alguns desses movimentos foram estudados
a fundo e valemo-nos ainda de uns poucos livros, como os de
Hans Rogger e Eugene Weber, Ernest Noite, S. J. Wolf, Walter
Laqueur e George L. Mosse, assim como do trabalho que está
sendo editado por Stein U. Larsen e outros, que abrangem os
movimentos fascistas em um grande número de países. Signifi­
cativamente, todos eles ignoram o fascismo na América Latina 5.
Isso já demonstra quão singular é o trabalho de Hélgio Trindade.
Só uns poucos movimentos fascistas foram assunto de monogra­
fias, a saber: os da Espanha, Romênia e Hungria. Rexismo na
Bélgica6 e, menos satisfatoriamente, a União Fascista Britânica.
Enquanto a Ação Francesa recebeu considerável atenção dos
estudiosos, a variedade dos movimentos fascistas na França
ainda espera um estudo minucioso, se excetuarmos uma exce­
lente biografia de Jacques Doriot7. À exceção do livro de Hélgio
Trindade nenhum estudo comparável sobre os movimentos fas-

(4) De Felice, Renzo. Mussolini il Rivoluzionario: 1883-1920,


Torino: Binaudi, 1965. Mussolini il fascista. I. La conquista dei po-
tere 1921-1925 Torino: Binaudi, 1968. Mussolini il duce. Gli anni dei
consenso 1929-1936. Torino, Binaudi, 1974.
(5) Rogger, Hans and Eugen Weber eds. The European Right:
A Historical Profile. Berkeley: Univ. of Califórnia Press, 1966. Noite
Emst. Die Krise des liberalen Systems und die faschistischen Bewe-
gungen. Munich: Piper, 1968. Der Faschismus von Mussolini zu Hi-
tler: Texte, Bilder und Dokumente. München: Verlag Kurt Desch,
1968. Woolf, S.J. ed. European Fascism. New York: Randon House
(Vintage) 1069. Laqueur, Walter and George L. Mose eds. Interna­
tional Fascism, 1920-1945, New York: Harpcr & Row, 1966. Laqueur,
Walter. A Readefs Guide to Fascism, University of Califomia Press,
1977. Larsen, Tein Ugelvik, Bemt Hagtvct and Jan F. Myklebust/
eds. Who yvere the Fascist? Social Poots of European Fascism. Oslo:
Universitets for lagct, no prelo.
(6) Paync, Stanley. Falange, Stanford Univ. Press, 1961. Naggy-
-Talavera, Nichols M. The Green Shirts ande the Others: A History
of Fascism in Hungary and Rumania: Stanford: Hoover Institution
Press. 1970. Etienne, J.M. Le Mouvement Rexiste jusqu’en 1940.
Paris: A. Colin, 1968.
(7) Wolf, Dieter. Die Doriot Bewegung. Stuttgart. Deutsche
Verlagsanstalt, 1967.

VIII
cistas ibero-americanos foi publicado. Seu trabalho é, portanto,
uma das poucas monografias a ocupar-se do fascismo em países
que não a Alemanha e a Itália.
A singularidade de seu trabalho, contudo, não é somente ser
um dos poucos estudos monográficos de um movimento fascista
fracassado e o único sobre um movimento ibero-americano. Re­
side no fato de seu autor reunir uma vasta gama de materiais
que não encontramos em nenhuma das monografias acima men­
cionadas, a não ser nas que tratam da Alemanha e da Itália. Seu
trabalho oferece um retrato coletivo da liderança do Integralismo
que não encontra paralelo em livros sobre movimentos impor­
tantes, como a Guarda de Ferro ou a Falange. As páginas que
ele dedica ao retrato sociológico dos líderes da A. I. B. são ines­
timáveis para todo aquele que deseje saber, para fins de compa­
ração, quem eram os fascistas. Mas seu livro nos dá alguma
coisa mais, algo que não conhecemos sobre nenhum outro país,
exceto a Alemanha, graças à singular aventura de ciência social
de Theodore Abel, o qual, nos anos 30, coletou autobiografias
dos membros do partido nazista, que foram analisadas sistemá­
tica e estatisticamente em um brilhante livro de Peter Merkl3.
Trindade fez algo que eu desejaria tivéssemos feito com outros
movimentos fascistas e que nós, provavelmente, jamais faremos.
Ele aplicou as modernas técnicas de survey para obter informa­
ções, usando questionários sobre como os membros da A. I. B.
reagiam aos apelos ideológicos da liderança. Isto, por si só,
justifica minha afirmação inicial de que este é um livro singular.
O leitor não precisa temer de que irá encontrar uma mo­
nografia acadêmica árida, repleta de tabelas estatísticas com
dados sociológicos sobre a elite dirigente da A. I. B. e as res­
postas dos ex-militantes a um questionário acerca de sua ideo­
logia. O livro não é somente um trabalho acadêmico; ele traduz
de forma extraordinária o que o fascismo significou para os bra­
sileiros que se uniram ao movimento. O surgimento de Plínio
Salgado, seu líder, no contexto político do início da década de
30, a organização e, o que é mais importante, o espírito e estilo
do movimento. Quem quer que tenha estudado o fascismo em
outros páTses, imediatamente reconhecerá, em sua descrição,
nas citações dos slogans do programa e canções do movimento,
e mesmo nas fotografias reproduzidas no livro, temas familiares.
Desafio os que duvidam que o fascismo seja diferente de outros

(8) Merkl, Peter H. Political Violence under the Swastika: 581


Barly Nazis. Princeton: Princeton Univ. Press, 1976.

IX
partidos e movimentos reacionários e antidemocráticos dos anos
30, a ler o livro de Hélgio Trindade, juntamente com um ou
dois outros sobre movimentos fascistas, como a Falange e
constatar, depois, se eles não têm muitas características em co­
mum que nós não encontramos, com a mesma freqüência e
intensidade, em outros partidos influenciados pelo fascismo.
Somente monografias como esta nos permitem salientar ade­
quadamente temas comuns que definem um movimento como
nitidamente fascistas. Ao mesmo tempo, estudos monográficos
possibilitam descobrir as variedades de fascismo dentro de sua
unidade básica e aprofundar a análise das diversas famílias ideo­
lógicas no interior do fascismo.
Ao mesmo tempo em que discordamos de De Felice, que
afirma serem os fascismos fora da Itália pouco mais que imi­
tações apagadas, ridículas e mal sucedidas, sustentamos que ele
está certo quando salienta as diferenças importantes entre esses
movimentos9. Somente pesquisas minuciosas como esta que o
leitor agora manuseia, e que infelizmente não temos em muitos
países, permitirão que descubramos as características distintas
dos diferentes partidos e possamos, portanto, explicar seus su­
cessos e insucessos, sua atração para diferentes setores de suas
respectivas sociedades, sua influência direta ou indireta na polí­
tica ou os remanescentes marginais que deixaram na sociedade.
Somente um número maior de monografias desta qualidade nos
permitirão desenvolver uma análise comparativa do fascismo
que ultrapasse o ponto em que agora se encontra.
O trabalho de Hélgio Trindade é uma valiosa contribuição
para os que se encontram, como nós, comprometidos com um
estudo comparativo dos movimentos fascistas. Não só porque
analisa o movimento ibero-americano de maior sucesso, mas
porque a riqueza de dados que contém nos proporciona novas
evidências relevantes para a discussão entre os estudiosos. Aqui
chamaremos somente atenção para alguns entre outros tantos
exemplos. O fascismo aparece claramente como um movimento
de reação: anticomunista, antiliberal, etc., mas as expressivas
descrições de Hélgio Trindade também mostram que ele foi mais
do que isso. Mostram que seu sucesso incluía outros elementos
ideológicos, novas concepções de autoridade e organização, e
um estilo próprio refletido na importância dada a uniformes e
rituais. Certamente outros grupos políticos e líderes partilhavam

(9) De Felicc, Rcnzo. Intervista sul Fascismo a cura di Michael


A. Ledeen, Bari: Latcrza, 1975.

X
da “ideologia dos anti”, mas outros aspectos do fascismo estavam
ausentes. Não se justifica, portanto, que tantos estudos sobre
política na América Latina chamem de fascistas a esses regimes
e movimentos, quando estas outras dimensões estão fundamen­
talmente ausentes. A meu ver, a apresentação feita confirma
uma delimitação restritiva histórico-tipológica do fenômeno fas­
cista. Houve certamente muitos outros movimentos (antiliberais,
antidemocráticos, reacionários ou populistas) na América Lati­
na e, inclusive regimes com essas características; mas movimen­
tos fascistas capazes de alcançar uma base nas massas, com a
organização e o estilo característicos de seus correspondentes
europeus, houve relativamente poucos. Um deles, a Falange
Socialista Boliviana, deve receber alguma atenção nesíe con­
texto. O Partido Nazista do Chile aparentemente nunca teve
sucesso comparável ao do Integralismo. Surpreendeníemente, na
Argentina, a despeito ou talvez por causa da força das ideologias
da ala direita e grupelhos, nenhum grande partido fascista vingou
na década de 30. É uma questão interessante que, devido à
falta de uma pesquisa monográfica, podemos apenas indagar
mas não responder: por que na América Latina movimentos
fascistas, com exceção do Integralismo, não se tornaram uma
grande força política? Certamente, o contato constante de
intelectuais da América Latina com a Europa, a presença de
colônias de italianos e alemães (em parte identificados com os
movimentos dominantes em seus países de origem) contribuíam
para um conhecimento considerável do fascismo. Não pode
haver muita dúvida de que as idéias fascistas não enfrentaram
democracias bem estabelecidas e sucedidas ou de que os latin >
americanos não se sentiam tão comprometidos com os valores
liberais-democráticos como, por exemplo, os escandinavos ou
os cidadãos do Reino Unido. Talvez a susceptibilidade de outros
grupos políticos, incluindo alguns partidos populistas, a certas
idéias fascistas, a ligação da direita católica com o universo de
idéias da Ação Francesa e a receptividade de muitos homens
do governo às ideologias antidemocráticas européias tornassem
mais difícil o surgimento de um verdadeiro movimento fascista
em muitos países latino-americanos. Em muitos países, governos
autoritários já no poder ou a perspectiva de intervenção militar
na política para assegurar algumas das metas perseguidas em
outros lugares pelos fascistas, esvaziaram as oportunidades para
tais movimentos. Indubitavelmente, o fascismo desenvolveu-se
melhor sob condições de liberdade política e encontrou sempre
sérias dificuldades em alguns regimes autoritários da Europa

XI
Oriental, como exemplifica o destino de Codreanu sob a real
ditadura do rei Carol da Romênia. Não deve ser esquecido que
somente em uma democracia poderíam crescer e tornar-se amea­
çadoras algumas das forças políticas, como o partido comunista,
um movimento trabalhista proletário, contra o qual os fascistas
tentaram mobilizar certos setores da sociedade.
Sem a presença política organizada de seus tradicionais ini­
migos, o fascismo não tinha razão de ser. Poder-se-ia também
argumentar que algumas das revoluções nacionais populistas,
sob liderança burguesa, como a mexicana, e partidos como o
APRA, no Peru, foram capazes de alcançar alguns dos setores
da sociedade que, em outras circunstâncias, possivelmente ter-
se-iam identificado com a ideologia, a retórica e os símbolos do
fascismo. O novo nacionalismo associado a certos setores da
sociedade, como estudantes, trabalhadores em empresas sob o
controle estrangeiro, intelectuais e mesmo burguesias nacionais
emergentes poderíam encontrar outros canais. Neste contexto é
interessante que Ramiro Ledesma Ramos, o líder da JONS, a
ala esquerda do fascismo espanhol, tivesse observado que “na
Espanha, a direita era aparentemente fascista e em muitos
aspectos essencialmente fascista”, referindo-se à pequena bur­
guesia republicana, a qual tentara implantar, com a vinda da
República, em 1931, um novo programa de integração nacional
e de reforma. No contexto desta paradoxal análise, ele escreve:
“O fascismo que a pequena burguesia esquerdista pode desen­
volver quando está cercada pelo marxismo, como é o caso da
Espanha, e quando não tem um forte pensamento nacionalista,
como é o caso aqui, esse fascismo tem um nome que não é
invejável, chama-se México”10. Este texto escrito em 1935
considera, num contexto um tanto estranho, a revolução mexi­
cana, institucionalizada num movimento populista nacional, como
uma alternativa funcional ao fascismo. Outro fator que não
podemos ignorar, dada a história dos movimentos fascistas
europeus, é que o nacionalismo apaixonado e irracional de
oficiais e soldados retornando da guerra, particularmente após
a amarga derrota, tende a estar ausente na América Latina.

(10) Ledcsma Ramos, Ramiro. Fascismo en Espana? Discurso a


Ia juventude de Espana. Reimpresso (originariamente publicado cm
1935). Esphlugues de Llobrcgat, Barcelona: Ariel, 1968, p. 65-66. Para
um ponto de vista diferente ver Juan J. Linz, "Conditions for and
agairuí Fascism in Intenvar Europe” in Stcin U. Larsen et al. eds.
op, cit.

XH
Não é, talvez, por acaso que o fundador da Falange
Socialista Boliviana se referia à Guerra do Chaco como uma
crise determinando a ocasião para fundar o partido. Um
estudioso do fascismo, numa ótica marxista, obviamente, argu­
mentaria que o capitalismo nacional não tinha alcançado, na
América Latina, o nível de desenvolvimento suficiente para
provocar um movimento fascista de massa, a fim de defender
seus interesses; a isso acrescentaríamos que ele se poderia voltar
para as forças armadas, a fim de alcançar os mesmos fins. Os
dados de Hélgio Trindade sobre a composição social, particular­
mente da alta liderança da A.I.B., certamente não a caracterizam
como um partido de grandes ou de pequenos capitalistas,
empresários, ou negociantes. Argumentaríamos que, em muitos
casos, a relativa fraqueza do movimento trabalhista serviria
igualmente como uma boa explicação. Vale observar que, na
década de 30, a despeito da agitação do mundo católico em
contraste com o período após a II Guerra Mundial, não consta­
tamos também a emergência de grandes partidos democratas-
cristãos. Se recordarmos que na Europa, particularmente na
Alemanha e mesmo no norte da Itália, antes da Marcha sobre
Roma, os partidos católicos foram competidores melhor suce­
didos na conquista das mesmas bases sociais do eleitorado que
os fascistas, esta ausência dos movimentos de massa democrata-
cristãos seria outra indicação do diferente nível histórico-social
do desenvolvimento ibero-americano n. Neste contexto é inte­
ressante notar que Trindade mostra como alguns dos círculos
intelectuais e grupos organizacionais nascidos sob a influência
católica, se dividiram entre os que se identificavam com a
A.I.B. e os que eram leais a alguns líderes católicos intelectuais.
Em vista do sucesso do fascismo europeu, particularmente do
nazismo, a Guarda de Ferro e outros movimentos norte-europeus
organizados entre os agricultores, e o fato de que a maioria da
América era ainda rural, caberia perguntar por que os fascistas,
incluindo os integralistas, permaneceram fundamentalmente um
movimento urbano e de pequenas cidades sem apoio significativo
dos agricultores. Neste contexto vem à lembrança a importância
da política clientelística dos distritos rurais pacatos e de difícil

(11) Sobre esta competição entre Fascistas e Popular na Itália c


NSDAP c o “Zentrum” c o partido “Bawarian” na Alemanha, ver
Juan J. Linz, "Some Notes Toward a Comparative Study of Fascism
in Sociological Historical Perspective” in Waltcr Laqueur cd. A Rca-
der's Guide to Fascism, op. cit.

XIII
acesso. Não vamos esquecer que, embora existisse um fascismo
agrário no Vale do Pó, em uma área de agricultura dinâmica e
altamente comercial, onde arrendatários tinham adquirido pro­
priedades somente há pouco tempo, o partido fascista, mesmo
depois da tomada do poder, foi quase totalmente mal-sucedido
na conquista de um suporte no rural da península, onde a política
de clientelismo era dominante. Um certo tipo de intelectual e
de estudantes estava entre os dirigentes e fundadores dos movi­
mentos fascistas, inclusive a AIB, como mostra Trindade, porque,
em parte, tais grupos são muito sensíveis aos apelos do nacio­
nalismo romântico. Num certo número de países da Europa,
esta atitude ficou identificada com a hostilidade às pluto-demo-
cracias hegemônicas na França e na Inglaterra. Certamente os
latino-americanos da década de 30 tinham boas razões para se
sentirem, como muitos jovens alemães e os europeus orientais,
hostis às grandes potências capitalistas internacionais, que eram,
ao mesmo tempo democracias, particularmente os Estados
Unidos. Alguns desses sentimentos foram, obviamente, absor­
vidos pela esquerda e pelos movimentos populistas, mas deve
ter havido lugar para alguns núcleos fascistas. Talvez o fato
de que o poder da hegemonia intelectual na América Latina
dos anos 30 estivesse ainda sob a influência da França, enquanto
a hegemonia econômica era exercida pelos Estados Unidos e
pelo Reino Unido, dificultasse a união do nacionalismo cultural
e econômico, sob uma bandeira antidemocrática. É preciso
ressaltar que alguns dos temas que acabamos de apontar, reque­
reríam pesquisas mais sérias antes de poderem ser admitidos
mesmo como hipóteses.
Dado o sucesso limitado dos movimentos fascistas, estrita­
mente definidos, na América Latina a questão — Por quê o
fascismo no Brasil? — torna-se ainda mais interessante. Qual­
quer resposta a esta pergunta, que somente pode ser feita em
uma perspectiva sistemática comparativa, terá que ser baseada
na documentação que o leitor encontra neste livro.
Neste contexto podemos somente esboçar, exploratoriamente,
algumas poucas idéias, que podem ser discutíveis, sobre como
inserir o Integralismo no amplo panorama dos movimentos
fascistas, o que poderia contribuir para explicar seu apareci­
mento e relativo sucesso. A AIB apareceu relativamente tarde,
pois só foi fundada na década de 30 e não na de 20. Semelhante
a outros fascismos da Europa ocidental, particularmente o da
Espanha, e a alguns da França e, de certa forma, mesmo ao
fascismo italiano quando de seu surgimento, é um movimento

XIV
que responde mais a uma crise política e cultural do que a uma
crise econômica. Ele atrai mais, em conseqüência disso, um
núcleo iniciai de intelectuais, profissionais e militares, do que
uma pequena burguesia de negociantes, artesãos ou agricultores.
Seu líder, embora marginal ao sistema, não era um estranho ao
processo político, mas possuía certas possibilidades de fazer
carreira política dentro do sistema, antes de tornar-se fascista.
Como o Fascismo Italiano e, de alguma forma, a Falange Espa­
nhola, o movimento surge em um meio modernista e intelectual
e, nisso, é bem diferente da atmosfera em que emergiu o Nacio-
nal-Socialismo Alemão. Em contraste com outros fascismos,
excluídos os do sudeste da Europa, onde o nacionalismo e a
religião podiam fundir-se devido às singulares circunstâncias
históricas, como na Romênia, Eslováquia e Croácia, o Integra-
lismo nasceu em um meio católico, intelectual e atraiu forças
sociais, começando a ser mobilizado pelo catolicismo, como na
Legião Cearense do Trabalho. Certamente nunca tomou os
temas neopagãos que encontraríamos na Alemanha e nos fascis­
mos do norte da Europa. Sem dúvida, a ausência de um partido
católico, e talvez o fato de que na República os católicos ocupa­
ram relativamente uma posição marginal, explica o fascínio de
cunho religioso do movimento. De qualquer forma, não devemos
esquecer o que Trindade nos diz sobre a forte influência inte­
lectual secular sobre Plínio Salgado e das complexas relações
entre o Catolicismo e o Integralismo. É tentador ver certas
similaridades entre o Rexismo e a AIB; mas elas podem ser
enganosas se consideramos o contexto no qual Leon Degrelle
se lança na política, a base social posterior de seu movimento
e, provavelmente, a personalidade do líder.
A Iníervista Sul Fascismo de De Felice 12> sublinha nova­
mente a ligação entre fascismo e classes médias com um novo
enfoque, sugerindo que as vítimas da depressão não eram as
classes médias decadentes, derrotadas, como muitos estudiosos
do nazismo alemão têm acentuado, mas uma classe média
ascendente nas cidades italianas do norte e no campo que se
voltaram contra a velha classe política e a nascente e ameaçadora
classe trabalhadora. É interessante ver que Trindade também
encontra uma classe média ascendente como um importante
componente do Integralismo. Uma comparação de seus dados
sobre a origem ocupacional com os que temos de outros países,

(12) De Fclicc, Renzo. Iníervista. op. cit. p. 30-34.

XV
parece sugerir que os oficiais militares, quase nunca ausentes
em outros movimentos fascistas, eram mesmo mais numerosos
entre os integralistas. Estes dados refletem a maior disponibi­
lidade para a política de oficiais no serviço ativo do que na
Europa. Os dados brasileiros confirmam, mais uma vez, o
aspecto de geração jovem que encontramos., praticamente, em
todos os movimentos fascistas. Um dos mais interessantes
achados é a importância do que Trindade chama “média bur­
guesia intelectual’’, particularmente, na liderança nacional e
regional. Suspeitamos que o mesmo seria verdade para o início
do fascismo italiano e, ainda mais, para a Falange na Espanha
e, talvez, para a Guarda de Ferro, na Romênia. Em contraste,
os profissionais liberais tendem a ser sub-representados na
liderança do NSDAP. Provavelmente, o mais claro traço da
AIB, numa comparação entre nações, que infelizmente não
podemos documentar tão bem como Trindade o faz para o
Brasil, é a religiosidade dos mais altos níveis de liderança. Em
outros países, particularmente na Alemanha e norte da Europa,
o fascismo parece ter interessado a setores mais secularizados,
se não anticlericais, da sociedade. Seus dados explicam muito
sobre a mudança de Plínio Salgado após a II Guerra Mundial.
Seria fascinante discutir também as interessantes descobertas
sobre ideologia, organização, concepção de liderança, estilo e
ritual numa perspectiva comparativa. Certamente, em todas
essas dimensões, descobrimos afinidades entre o Integralismo
e outros movimentos fascistas. Considerando-se o surgimento,
no Brasil, de uma variedade de grupos regionais com orientação
fascista, é particularmente notável que Plínio Salgado houvesse
tido sucesso em assumir sua liderança. Isto pode ser o fator
básico para a importância do Integralismo, como um movimento
de massa, em comparação com a fraqueza final do fascismo
francês (o qual participa de algumas características do brasileiro),
que permaneceu sempre fragmentado, e mesmo com a inquietante
fusão da Falange e da JONS na Espanha. O retrato que Trindade 6
faz de Plínio Salgado contém algumas das chaves para explicar
esse surpreendente grau de união. Embora ele reivindicasse que
a autoridade vinha do princípio de liderança fascista, do fascínio
carismático, sua personalidade parece ser menos autoritária e,
em conseqüência, aparentemente capaz de alcançar um certo
consenso no grupo razoavelmente heterogêneo da alta liderança
do partido. Lendo sua descrição, lembro-me algumas vezes das
profundas ambivalências que José Antonio Primo de Rivera
sentia em representar o papel de líder fascista. Eles partilhavam

XVI
da mesma ambivalência em relação à violência fascista, a des­
peito de sua retórica. Certamente, ambos eram homens dife­
rentes de Hitler, Doriot ou mesmo de Mussolini. Suas persona­
lidades podem explicar algumas dissidências ideológicas latentes
e emergentes em seus movimentos.
O Integralismo foi uma resposta generacional à crise da
Velha República e às revoluções do início dos anos 30. As
tensões na sociedade brasileira levaram aquela geração para
diferentes canais políticos. Tratava-se mais de uma resposta
cultural e política do que de uma expressão de interesses sócio-
econômicos específicos. Estas tensões poderíam mobilizar muitos
brasileiros, mas não encontraram o tipo de camadas sociais em
crise e desesperados violentos que a guerra tinha criado na
Europa. Eles não eram capazes da mórbida e romântica violência
da Guarda de Ferro. Tampouco no contexto de um regime
semi-autoritário, poderíam transformar-se em um partido eleitoral
de massa. A combinação da violência política, sucesso eleitoral
e alianças com a situação para alcançar o poder esteve fechado
a eles. Uma vez que o autoritário regime de Vargas foi institu­
cionalizado no Estado Novo, seu destino estava selado. Neste
caso, a AIB teve o mesmo destino de muitos outros movimentos
fascistas, cujo sucesso foi interrompido por regimes autoritários:
o destino do sindicalismo nacional português, dos movimentos
fascistas do Báltico e, de maneira mais trágica e sangrenta, da
Guarda de Ferro sob o Rei Carol e, mais tarde, sob o Marechal
Antonescu. Na Espanha, a Guerra Civil e a morte dos líderes
máximos do fascismo podia ter-lhes poupado o destino de
Condreanu ou de Plínio Salgado, após a consolidação de Franco
no poder. Seus lugar-tenentes podiam somente tornar-se um
fator a mais no sincrético regime autoritário que ele estabeleceu.
Neste contexto, seria extremamente interessante conhecer mais
sobre o destino final e a carreira dos homens que iniciaram
sua vida política no Integralismo, onde, como e quando eles
representaram um papel na política e vida brasileira, depois
da derrota e desintegração do movimento.
Apesar de tudo, eles eram homens jovens quando o Estado
Novo foi estabelecido, privando-os de suas oportunidades de
levar a cabo seus sonhos. Estou certo de que Hélgio Trindade,
em seus fichários, tem documentação para dizer-nos mais sobre
esse último capítulo da história política, ideológica, social e
psicológica do Integralismo, que ele tão brilhantemente nos relata
neste livro.

XVII
PRÉSENTATION

Ce n’est pas à moi qu’aurait dú normalement revenir l’hon-


neur de présenter au public cet oouvrage. Ce travail en effet —
qui a fait 1’objet d’une thèse de doctorat en Science politique sou-
tenue à la Sorbonne — avait été préparé par 1’auteur sous Ia
direction de Jean Touchard. Lorsque après la mort prématurée
de ce dernier au début de juillet 1971, Helgio Trindade me de­
manda amicalement de prendre le relai, je me trouvai devant
un travail déjà entièrement conçu et largement élaboré. C’est-à-
-dire que mon rôle de direction et de conseil a été modeste.
Si le jury (préside par le Professeur René Rémond et formé
du Professeur Celso Furtado et de moi-même) a, sans 1’ombre
d’une réserve, décerné la mention “très bien” à cette thèse, c’est
qu’il y a reconnu une contribution de grande valeur à la connais-
sance et à la compréhension de ce courant d’idées que fut le fas-
cisme, en Europe et hors d’Europe, dans les années trente. Pour
qui s’intérese au mouvement des idées et aux particularités que
donne aux idéologies leur insertion dans un contexte culturel et
national donné, 1’étude que Helgio Trindade a mené sur 1’Action
Intégraliste Brésilienne montre bien la conjuction qu’il y eut en­
tre Tascension du fascisme en Europe et les conditions histori-
ques favorables existant au Brésil à partir de la Révolution de
1930.
L’intérêt principal de cet ouvrage — ou, plus exactement,
son originalité majeure — n’est cependant pas là.
Sa principale originalité réside dans la combinaison très
heureuse, et habilement mise en oeuvre, des méthodes classiques
de 1’historien des idées et des mouvements politiques et des mé­
thodes de la psychologie sociale et de la sociologie. Etudiant
(comme il se devait de le faire, s’agissant d’un mouvement très
fortement “personalisé”) la formation intellectuelle du “Chef”
Plinio Salgado à travers les crises du Brésil du début du XXe
siècle, puis recherchant les origines et les conditions favorables

XIX
expliquant la naissance de PAction Intégraliste, Pauteur fait es-
sentiellement oeuvre d’historien. Les hypothèses explicatives
qu*il avance — en s’appuyant sur 1’analyse des situations histo-
riques, des oeuvres de Salgado, des textes du mouvement — sont
soigneusement pesées et justifiées. Mais 1’auteur fait devantage,
servi, il est vrai, (mais il fallait y penser et avoir la compétence
de le faire), par le fait qu’il a pu interroger de nombreux survi-
vants, militants, dirigeants ou sympathisants du mouvement. 11
a conduit ces entretiens à partir d’hypothèses très precises, se
proposant de “tester” celles de ses hypothèses qui pouvaient être
vérifiées grâce à un traitement rigoreux du matériel d’entretien
et des données statistiques et sociologiques disponibles sur le
personnel de 1’A.I.B. Cette “vérification”, par la analyse techni-
que du discours idéologiques explicite et des attitudes des adhé-
rents, confirme de façon assez éclatant les hypothèses avancées
dans les deux premières parties.
A tous les sens du mot, il s’agit vraiment là d’un travail
scientifique.

Georges LA VAU
Directeur de recherche à la Fondation Nationale
Projesseur à VUniversité de Paris l
des Sciences Politiques

XX
PREFACIO DA P EDIÇÃO

Hélgio Trindade pede-me que prefacie este trabalho, ante­


riormente publicado em francês e apresentado como tese de dou­
toramento, em 1971, à Universidade de Paris sob o título de
“L’Action intégraliste brésilienne: un mouvement de type fasciste
des annés 30”.
Eu já lera a tese do jovem professor de política da Uni­
versidade de Porto Alegre e considero-a como o melhor e mais
completo trabalho que se escreveu sobre o integralismo. O fato,
porém, de haver muito apreciado o livro de Hélgio Trindade
não me dava autoridade para apresentá-lo ao público, principal­
mente porque ainda guardo, do movimento integralista, as im­
pressões que dele tive no passado. Lembrei, assim, ao autor que
ele poderia encontrar pessoa mais indicada, para a apresentação
de sua exaustiva e excelente pesquisa, pois sou um simples im­
pressionista nestes assuntos de história política, apenas um ho­
mem, já agora de idade um tanto avançada, que assistiu ao nas­
cimento, apogeu e declínio da aventura integralista. Hélgio Trin­
dade insistiu, porém, que fosse eu o seu apresentador e não
pude, como se vê, negar-me ao honroso convite que me fez.
É verdade que fui testemunha, que viví a época em que se
desenrolou o curto — e para nós — curioso e estranho episódio
integralista, com as suas marchas, bandeiras, rufar de tambo­
res, anauês e camisas verdes, ridícula imitação de outras mar­
chas e camisas, destinadas estas a um mais trágico fracasso.
Que relação teria toda aquela arlequinada com as verdadeiras,
autênticas exigências sociais, econômicas e políticas do povo
brasileiro? Talvez, como dizia Monteiro Lobato, uma vez mais,
apenas o “maldito prisma do macaqueamento” que desnatura
as nossas realidades. . .
Assistí aos primórdios do movimento integralista quando
ele era apenas o pequeno núcleo que compunha a sociedade de
estudos políticos, à SEP, amplamente estudada neste livro. Che-

XXI
i

guei até a ser convidado para fazer parte dela, por duas pessoas
referidas nas páginas deste volume: uma, já falecida, compa­
nheiro de meus tempos de faculdade de medicina — e que logo
deixaria a sociedade —, constituinte de 1934; a outra teve ful­
gurante atuação e foi figura de realce na Ação Integralista Bra­
sileira e também é referida nesta obra. Recusei os dois convites,
alegando para a recusa (a meu antigo companheiro de faculda­
de), ainda me lembro, “que aquilo cheirava a fascismo”. . .
Mesmo no “edênico Brasil”, como escreveu Mário de An­
drade, “a pressão dos novos condicionalismos políticos, poste­
riores ao Tratado de Versalhes”, se manifestou. A inquietação
política expressou-se nos levantes, revoltas, “revoluções” espar­
sas, de pequeno grupo de militares e civis, que lse sucederam
desde 1922. A revolução de outubro de 1930 foi a nossa en­
cruzilhada de vários caminhos: abriram-se os da direita e os
da esquerda, convindo não esquecer também os do meio. . . —
pelos quais embarafustaram sem muito conhecimento os mais
diversos grupos. Nunca se ouviu, como nessa época, falar tanto
em realidade brasileira, aliás muito pouco conhecida. . .
Procuravam todos a chave, a mágica chave, que decifrasse
essa realidade e assim conduzisse o país à glória de seus destinos
e à redenção, embora nesse empenho se conjugassem mais idéias
abstratas, originadas em leituras de autores estrangeiros, que do
conhecimento concreto dessa decantada realidade. Não escapou
a isso, como se verá, o próprio chefe nacional. Este escrevia
possuir uma “intuição secreta” que lhe daria a ‘chave para
decifrar a psicologia do povo brasileiro”. . . Essas idéias vagas,
essa linguagem, por vezes apocalíptica, essas atitudes que me
pareciam carnavalescas, não conquistaram a minha simpatia.
Via naquilo tudo um produto nebuloso e ingênuo, mal digerido,
da então incipiente vulgarização da psicanálise e de resquícios
de bergsonismo mal amanhado — em suma, uma pantomima.
E aos poucos foi fácil verificar que, à medida que crescia
o prestígio maligno do nazi-fascismo, maior arrogância e desen­
voltura ganhava o integralismo, dia a dia mais identificado com
os fascismos europeus, arrebanhando adeptos na classe média,
na pequena burguesia. Várias eram, como se verá neste livro,
as motivações de adesão nas variadas regiões do país.
Talvez no início, ao tempo da SEP, os que se tornariam
integralistas eram apenas jovens intelectuais ansiosos por refor­
mas necessárias ao país, por uma mais clara compreensão dos
problemas nacionais, anseio esse generalizado na juventude da-

XXII
=

quela época. Mas logo o integralismo acabaria tomando a feição


de movimento de tipo claramente fascista. Incapaz de impor-se
pela força, terminaria vencido por outro tipo de fascismo: o
Estado Novo, ao qual, também, pouco a pouco, aderiríam mui­
tos dos antigos integralistas. E o partido do Sigma não teve a
sua hora de poder.
É a análise desse tipo de fascismo — produto de exausti­
va pesquisa — que Hélgio Trindade nos apresenta neste livro,
notável achega para a compreensão de um episódio curioso de
nossa história política. Basta o leitor percorrer o índice dos
capítulos desta obra para verificar o precioso instrumento de
trabalho que ela é para os estudiosos.

PROF. CRUZ COSTA


Universidade de São Paulo

XXIII
Tradução portuguesa do original francês:
l/ACTION INTÉGRALISTE BRÉSILIENNE: un mouvemcnt de type
fasciste des annés 30, Paris, Fondation Nationale des Sciences Politiques,
Cyclc Supéricur d’Etudcs Politiques, Thèse pour le Doctorat soutcnue à
1’Üniversité de Paris I (Panthéon-Sorbonnc), 1971, 606 pp.

xxv
A primeira edição deste livro foi lançada em 1974, em
co-edição com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

XXVI
A JEAN TOUCHARD,
meu mestre, orientador e amigo,
dedico este livro.

XXVII
INTRODUÇÃO

Quando os pátios da velha fortaleza,


como pratos de pedra, abrem-se ao luar,
um fantasma passeia,
passeia devagar. . .
Plínio SALGADO, Poema da Fortaleza de Santa Cruz

O integralismo é um tema vasto e controvertido para ser


exaurido num único estudo. O clima de paixão política em que
sempre esteve envolvido por seus adeptos ou adversários, explica
porque um movimento típico dos anos 30 não fora ainda objeto
de uma análise imparcial f1). O complexo de culpa fascista de­
senvolvido por muitos de seus dirigentes e militantes e o ódio
desencadeado por seus adversários ferrenhos, rejeitaram, durante
longas décadas, sua história para o inconsciente da vida política
brasileira. Entretanto, o fato de ter sido a Ação Integralista
Brasileira o primeiro partido político brasileiro com implantação
nacional e reunindo cerca de meio milhão de aderentes, demons­
tra por si mesmo, a importância crucial de que se reveste o seu
estudo para a compreensão da vida política brasileira no período
posterior à Revolução de 1930.

(1) O único estudo acadêmico sobre o int^alismo ^elabora-


Ção, em 1971, do presente estudo, era a tese de ou blicada em
dade de Berlim, escrita antes da dissolução da A. . . PBrasmanische
1938, em Stuttgart: HUNSCHE (Karl-Heinnch), De■
Integralismus. Hélio SILVA publicou também, em i SILVA —
estudo sobre o episódio da insurreição >nte^ral{? .a civilização Brasilei-
(Hélio), 1938, Terrorismo em Campo Verde, Rio ©vilizaça^
ra> 1971. Posteriormente, um conjunto de novas de nota
sc ao acervo de trabalhos sobre o Integralismo
do Autor à p.v.).

1
O presente estudo pretende responder a duas questões sobre
a Ação Integralista Brasileira: primeiro, que condições históricas
explicam o itinerário ideológico do Chefe e o nascimento do In-
tegralismo? Segundo, qual a natureza deste movimento ideoló­
gico que se torna, nos anos 30, o primeiro movimento de massa
no Brasil? Estas interrogações conduziram-nos a analisar o in-
tegralismo sob um duplo ponto de vista: de um lado, conforme
a abordagem clássica dos estudos históricos e ideológicos, e de
outro, utilizando o enfoque psico-sociológico através de entre­
vistas semidiretivas e de pesquisa por questionário.
Tentamos, inicialmente, reunir as principais obras teóricas,
textos de propaganda, ensaios ideológicos e periódicos integra­
listas. A análise deste conjunto de documentos sugeriu-nos uma
série de reflexões sobre a natureza do movimento. Em função
destas descobertas, estabelecemos um conjunto de hipóteses para
serem testadas através de uma série de entrevistas semidiretivas
com antigos dirigentes nacionais e regionais integralistas. Este
conjunto de depoimentos gravados, bem como uma dezena de
entrevistas de controle, realizadas com personalidades do período
mas que não foram integralistas, conduziu-nos à elaboração de
um questionário para ser aplicado em uma centena de antigos
dirigentes e militantes locais nos Estados onde o integralismo
fora mais forte. Finalmente, para estudar as atitudes ideológicas
dos militantes com o objetivo de analisar os graus de identifica­
ção com o fascismo europeu, de radicalismo e de homogeneidade
da propagação ideológica, uma série de proposições atitudinais
foi formulada, tomandp-se como referência o conteúdo teórico
do discurso ideológico do fascismo europeu.
Conseqüentemente, ao delimitarmos nosso trabalho ao es­
tudo da origem, formação e natureza da Ação Integralista, esta­
mos conscientes de haver postergado a análise de outras ques­
tões igualmente importantes.
A primeira refere-se às relações entre o integralismo e o
catolicismo. Todo o conteúdo tradicionalista da ideologia inte­
gralista inspira-se, em parte, na doutrina social da Igreja e nos
temas fundamentais da renovação das elites católicas. Embora a
maioria dos intelectuais, católicos não se engajasse pessoalmente
no ‘movimento, a A.I.B. contou com grandes simpatias nos meios
intelectuais católicos e, sobretudo, entre a massa dos praticantes.
Portanto, seria necessário estudar as relações entre a A.I.B.
e a hierarquia católica, já que uma parte dos membros do alto

2
clero não dissimulou sua aprovação à Ação Integralista, nem
sua tolerância à participação de membros do clero no integralismo.
A segunda questão diz respeito às relações entre o integra­
lismo e as forças armadas. Os testemunhos e documentos reve­
lam que não era pequeno o número de militares integralistas.
A divagem ideológica entre os “tenentes” explica a participa­
ção dos militares nos movimentos de direita e de esquerda. En­
tretanto, a forma de recrutamento dos oficiais não era sempre
pública, porque, em função de sua condição profissional, eles
eram dispensados do juramento ao Chefe Nacional e, em conse-
qüência, organizavam-se separadamente, nas casernas ou nos
navios de guerra.
A terceira questão liga-se às relações entre o integralismo
e a imigração alemã e italiana no Sul do Brasil. Sobre este tema
não basta somente constatar a receptividade dos descendentes de
imigrantes ao integralismo mas torna-se necessário elucidar ou­
tros aspectos mais complexos, relacionados com o funcionamen­
to, no Brasil, na mesma época, das secções do Partido Fascista
italiano e do Partido Nacional Socialista alemão.
Resta ainda um problema importante: trata-se da análise
comparativa entre integralismo como forma de fascismo de ins­
piração européia e outros tipos de movimentos “fascistas” latino-
-americanos. Quais são as diferenças entre certas formas, na
expressão de Lipset, de “fascismo de esquerda” (peronismo e
getulismo) e outros movimentos de tipo fascista como, por exem­
plo o Partido Nacional Socialista do Chile, de inspiração nazista,
e a Falange Socialista Boliviana, de inspiração espanhola?
Nosso trabalho divide-se em três partes: a primeira,’“Emer­
gência do Chefe”, analisa o período de 1918 a 1930, durante
o qual a mutação da sociedade brasileira se esboça e o Chefe
integralista, Plínio Salgado, amadurece intelectual e politicamente;
a segunda, “Gênese da Ideologia”, concerne ao período pré-
-integralista de 1930 a 1932, marcado pela Revolução de 1930;
enfim, a terceira, “Natureza do Movimento”, é consagrada in­
teiramente ao estudo dos militantes, da organização e da ideo­
logia integralistas.
Na primeira parte, são analisados os fatores que explicam
o significado da evolução ideológica do Chefe integralista con­
forme seu itinerário político na sociedade em transição dos anos
20. Não se pode compreender sua evolução, desde sua adesão
ao sistema tradicional republicano até sua ação ideológica inte­
gralista, sem inseri-lo na história do após-glierra. Sobre o pe-

3
riodo, nossa hipótese é que a revolução literária e artística mo­
dernista terá sobre Salgado uma influência mais importante do
que a contestação política ligada às insurreições “tenentistas".
cujo ciclo termina com a vitória dos revolucionários de 1930.
A segunda parte é dedicada à fase decisiva para a com­
preensão das causas imediatas do integralismo. Ela representa
o momento de ruptura afetiva de Plínio Salgado com a Velha
República e sua tomada de contato com a experiência fascista
européia. Pretendemos elucidar as relações entre a evolução po­
lítica brasileira e o contexto internacional. Nossa hipótese é que,
embora não se possa explicar o integralismo sem a ascensão
fascista na Europa, a evolução histórica nacional, a partir da
Revolução de 30, proporcionou condições internas favoráveis ao
nascimento da A.I.B.
A terceira parte, finalmente, destina-se a definir a natureza
da Ação Integralista, testando, de forma sistemática, a hipótese
geral sobre o conteúdo fascista do integralismo, resultante da
conjugação entre um modelo de referência externo fascista e con­
dições históricas nacionais favoráveis. As hipóteses particulares
para verificar a validade da proposição geral são as seguintes: o
integralismo seria um movimento fascista em função da compo­
sição social dos seus aderentes; das motivações de adesão de
seus militantes; do tipo de organização do movimento; do con­
teúdo explícito do discurso ideológico; das atitudes ideológicas
de seus aderentes; enfim, do sentimento de solidariedade do mo­
vimento com relação à corrente fascista internacional.

Paris, novembro de 1971.

4
PRIMEIRA PARTE

EMERGENCIA DO CHEFE

Unia intuição secreta me dizia que eu possuía a chave


para decifrar a psicologia de uni povo e que era
preciso conhecê-lo antes de pretender dirigi-lo.
Plínio SALGADO, Despertemos a Nação.

5
CAPÍTULO I

A SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO DA
DÉCADA DE 20

A mutação por que passa a sociedade brasileira na década


de 20 é crucial para a compreensão do itinerário político-ideoló-
gico do chefe integralista e das transformações que precedem a
Revolução de 30, em cujo contexto nascerá a Ação Integralista
Brasileira (A.I.B.). Diversos fatores constituem o quadro de
referência que fazem deste período uma fase de transição na
evolução histórica brasileira. O após-guerra provoca uma trans­
formação em vários níveis: intensifica-se a industrialização da
economia; novas camadas urbanas se incorporam à luta social
e política; a legitimidade do sistema político, dominado pelo
grupo agrário exportador, é colocada em questão e uma muta­
ção ideológica se opera entre as elites intelectuais.
O ano-chave do período é 1922. Nele eclodem quatro acon­
tecimentos simbólicos que contêm, em embrião, a mutação da
sociedade brasileira entre as duas guerras mundiais. A Semana
da Arte Moderna, em fevereiro, desencadeia a revolução estéti­
ca; uma nova etapa da organização política da classe operária se
delineia, em março, com a fundação do Partido Comunista Bra­
sileiro; a criação do Centro D. Vital, ligado à revista A Ordem,
de orientação católica, prenuncia a renovação espiritual; e, final­
mente, a primeira etapa da revolução política tenentista irrompe,
em julho, com a rebelião na Fortaleza de Copacabana.
Os três elementos que formavam até então o tripé sobre o
qual se apoiava o sistema político da Primeira República (a
grande propriedade cafeeira e de criação; a economia primário-
-exportadora e o controle do poder político pela oligarquia m-

7
ral), com as transformações que ocorrerão a partir de 1920. al­
teram suas bases no plano estrutural e ideológico, pois, como
observa Ferreira Lima, “a intensa industrialização ocorrida no
primeiro após-guerra não teve apenas repercussões materiais,
porém também ideológicas” (’).

1 a MUDANÇA SÔCIO-ECONÔMICA

Após a Grande Guerra, os dois efeitos mais imediatos sobre


a evolução da sociedade brasileira situam-se nos planos econômi­
co e social. O primeiro se manifesta na aceleração do processo
de industrialização; o segundo, na eclosão violenta da luta social.
Embora o desenvolvimento industrial comece em fins do
século XIX (2), ele somente adquire uma relativa importância
' global para a economia após o primeiro conflito mundial. Apesar
da formação, desde o Império, de alguns núcleos industriais que
se multiplicam no início da República, o crescimento industrial,
que põe fim à exclusividade da economia exportadora, inicia-se
no após-guerra. Esta não é a causa exclusiva da expansão in­
dustrial brasileira, mas é incontestável que a Primeira Guerra
agiu como um fator de impulsão, terminando com a exclusivi­
dade dos intercâmbios tradicionais no mercado internacional (3).
A importância da mudança econômica na década de 1920
decorre do fato de que ela representa a transição de uma eco­
nomia baseada na exportação dos produtos primários (“modelo
primário-exportador”), para uma economia que se industrializa
progressivamente, bloqueada que está na sua capacidade de
engendrar novas divisas para as importações (“modelo de subs-

(1) FERREIRA LIMA (H.), História Política, Econômica e Indus-


trial. São Paulo, Ed. Nacional, 1970, p. 335.
(2) “Algumas condições favoráveis aparecem no fim do século
XIX: a generalização do trabalho livre, em 1888, pela abolição da
escravatura; uma mais forte imigração de colonos europeus e a forma­
ção de um mercado interno associado à expansão da economia cafecira”
CARONE (Edgard), Revoluções do Brasil Contemporâneo, São Paulo
Ed., São Paulo, 1965, p. 3.
(3) “O esquema rígido, girando em torno da exportação dos
produtos primários e importação dos produtos industriais, desaparece
c, ao mesmo tempo, a entrada de capitais estrangeiros se interrompe.
Neste contexto, a economia não tem outra alternativa, senão responder
através da produção interna ao bloqueio do mercado interna ao blo­
queio do mercado internacional” WERNECK SODRÉ (Nelson), Histó­
ria da Burguesia Brasileira, Rio, Civilização Brasileira, 1964, p. 271.

8
tituição das importações”). Embora a atividade econômica do­
minante no após-guerra esteja ainda ligada à exportação do café,
o marco divisório entre os dois modelos constitui a crise de 1929.
No fim da década de 20, portanto, o pólo dinâmico da economia
se desloca na direção do mercado interno, reforçando o desen­
volvimento industrial e urbano (4).
O segundo efeito é a explosão das reivindicações operárias
e da luta social. A formação de um operariado constituído em
grande parte pela imigração estrangeira provoca nos principais
centros urbanos, sob a ação de vanguardas operárias anarquistas,
as primeiras agitações sociais. As greves deflagradas em São
Paulo e no Rio, durante os anos de 1918 e 1920, provocam a
eclosão da questão social e os primeiros sinais do desenvolvimen­
to de uma consciência proletária. Desde as greves do após-guer­
ra e da fundação do P.C.B., em 1922, até a criação da Aliança
Nacional Libertadora (A.N.L.) e a revolta comunista, em 1935,
há uma lenta progressão da luta social e política inspirada, num
primeiro momento, no anarquismo e, mais tarde, no marxismo.
Este novo elemento que se incorpora ao sistema da Velha Repú­
blica influenciará a formação ideológica de Salgado e, mais tarde,
o desenvolvimento da Ação Integralista.
Durante o período da hegemonia agrário-exportadora, o café
torna-se o principal produto econômico, sucedendo aos ciclos de
produção do açúcar, da borracha e do algodão (5). No entanto,
o aumento contínuo da produção cria uma ameaça permanente
de superprodução: “A elasticidade da oferta de mão-de-obra e a
abundância de terras, que caracterizavam os países produtores de
café, constituíam clara indicação de que os preços desse artigo

(4) “O “centro dinâmico” da economia nos anos que sucedem à


crise, se desloca: “ao manter-se a procura interna com maior firmeza que
a externa, o setor que produzia para o mercado interno passa a oferecer
melhores oportunidades de inversão que o setor exportador. Cria-se, em
conseqüência, uma situação praticamente nova na economia brasileira,
que era a preponderância do setor ligado ao mercado interno no processo
de formação de capital” FURTADO (Celso), Formação Econômica do
Brasil, Rio, Fundo de Cultura, 1959, pp. 29-230.
(5) FURTADO considera que os fatores que explicam as condições
favoráveis à expansão da cultura do café são as dificuldades da produção
asiática, em decorrência das doenças que quase destruíram as plantações
de café no Ceilão; o controle da imigração, que passa, com a República,
do poder central aos Estados federados (o Estado de São Paulo disto
aproveitará para definir uma política favorável aos interesse dos grandes
plantadores de café); e, enfim, as vantagens financeiras destes últimos, em
conseqüência da expansão inflacionária do crédito. Ibid., p. 207.

9
tenderíam a baixar a longo prazo... (6). Tentando superar os
riscos constantes da superprodução e as contrações do mercado
internacional, os produtores de café de São Paulo, Minas Gerais
e Estado do Rio estabelecem a convenção de Taubaté, em 1906,
com o objetivo de valorizar e proteger o seu produto, equilibran­
do o mercado através da compra e estocagem dos excedentes
com base em empréstimos estrangeiros. Esta situação não sofrerá
modificações fundamentais até a crise de 29.
No período anterior à Primeira Guerra, a acumulação capi­
talista se processa com lentidão (7). Nesta época a industriali­
zação se caracteriza pelo surgimento de pequenas empresas semi-
-artesanais e dispersas, produzindo basicamente instrumentos agrí­
colas, produtos alimentares, vestimentas e móveis. A indústria
de infra-estrutura é praticamente inexistente: o setor metalúrgico
é muito reduzido e o mecânico se limita à montagem ou à fabri­
cação de material agrícola. Todavia, as dificuldades geradas pela
Primeira Guerra para a economia tradicional estimulam a adoção
de uma política de substituição das importações que provocará
o segundo surto industrial. Do após-guerra à crise de 1929, a
indústria atravessará uma fase de importante desenvolvimento
quando o número de estabelecimentos industriais duplica e a
grande indústria começa a ser implantada (s).
O desenvolvimento industrial se acelera após as pequenas
crises de 1920 e 1924, apesar da política deflacionista do gover-

(6) Ibid.
(7) “O capital industrial era originário do capital agrícola; a trans­
ferência deste capital para a indústria não foi feita sempre diretamente,
mas pela mediação do investimento realizado no setor de serviços c no
setor comercial” PINHEIRO (Paulo Sérgio), La Fin de la Première Répu-
blique au Brésil; crise politique et révolution (1920-1930), Paris, thèsc pour
le doctorat de rccherches, F.N.S.P., pp. 57-58.
(8) “Sob o Império existem apenas 600 estabelecimentos industriais.
Com a República, a indústria recebe um impulso considerável, uma vez
que, entre 1890 e 1914, quase 7.000 indústrias são criadas e mais de 6.000
de 1915 a 1919. O rccenseamento industrial de 1907 registra apenas 3.258
estabelecimentos industriais, com 150.000 trabalhadores, enquanto que, em
1920, o número de indústrias é de 13.336, com 275.164 trabalhadores.”
WERNECK SODRÉ (Nelson), História da Burguesia Brasileira, op. cit.,
p. 268 e WERNECK SODRÉ (Nelson), Formação Histórica do Brasil,
São Paulo, Brasiliense, 1964, p. 312: “Pela primeira vez, os produtos in­
dustriais tornam-se significativos na pauta de exportações: a percentagem
dos produtos manufaturados, em 1913, é de 0,9%; em 1915 passa para
3%; em 1916 a 6%; em 1917 a 16%; em 1918 a 29%; e em 1919 a 12%.”
CARONE (Edgard), A República Velha (Instituições e Classes Sociais),
São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1970, p. 79.

10
no Washington Luiz, em 1926 (°). Contudo, a crise da economia
e do café se agrava. A política de estocagem provoca uma forte
pressão inflacionária. Os maiores investimentos em estoque se
realizam entre 1927 e 1929, período de entradas maciças de
capitais privados estrangeiros no país (10). A coincidência entre
a afluência de capitais privados e os empréstimos destinados a
financiar o café criam uma situação de câmbio extremamente fa­
vorável ("). A economia predominantemente exportadora sofre,
porém, o impacto dissolvente da crise de 29, fato que provocará
a decadência do sistema agrário da Velha República e abrirá
perspectivas ao fortalecimento da economia industrial orientada
para o mercado interno, dentro do processo de substituição das
importações.
A passagem no após-guerra, da pequena indústria e do ar­
tesanato à média e grande indústria, gera um rápido processo de
urbanização em torno das grandes cidades (12), e, ao mesmo
tempo, a formação de um proletariado urbano. Os operários da
indústria são recrutados principalmente entre os imigrantes de
origem européia, mas também entre os migrantes rurais oriundos

(9) “A produção industrial cresceu cerca de 50% entre 1929 e 1937


e a produção primária para o mercado interno cresceu em mais de 40%,
no mesmo'período. Não obstante, a depressão imposta de fora, a renda
nacional aumentou em 20% entre aqueles dois anos, o que representa um
incremento per capita de 7%.” FURTADO (Celso), Formação Econô­
mica do Brasil, op. cit., p. 233.
(10) “As colheitas de 1924 e 1927 são normais e o comércio mundial
absorve a produção em grande parte. A situação é ainda equilibrada. A
colheita excepcional de 1928, entretanto, ameaça a estabilidade do pro­
duto; a produção atinge a 26.100.000 sacas de café e os estoques aumentam
excessivamente (de 7.300.000 sacas, em 1927, para 18.800.000 em 1929).”
CARONE (Edgard), A República Velha (Instituições e Classes Sociais),
op. cit., pp. 50-51.
(H) FURTADO (Celso), Formação Econômica do Brasil, op. cit.,
p. 216.
(12) “A urbanização começou bem antes do início da industrializa­
ção, cm conseqüência do crescimento do setor terciário nas cidades, liga­
do à exportação do café, que contribuirá no alargamento do mercado
interno. Contudo, em 1920, a população urbana no Brasil é minoritária
com relação à população global: a percentagem desta população é de
11,3% nas cidades de até 20.000 habitantes; de 2,6% nas de 20.000 a
100.000 e, enfim, de 8,7% nas de 100.000 a 1.000.000 habitantes. No
entanto, nas principais capitais dos Estados, a urbanização ocorre de
maneira bastante rápida: o Rio de Janeiro passa de 480.000 habitantes,
em 1900, a 1.150.000 em 1920; São Paulo, de 240.000, a 579.000; Recife,
de 100.000, a 241.000; Salvador, de 206.000, a 285.000 e Porto Alegre, de
74.000 a 182.000.” PINHEIRO (Paulo Sérgio), op. cit., pp. 87 e 88.

11
das regiões mais atrasadas do país (13). Os operários se con­
centram em maior número mais nos Estados de São Paulo e
Rio de Janeiro do que nos Estados do Rio Grande do Sul. Mi­
nas e Pernambuco, e passam de 54.164, em 1889, a 159.600 em
1910; de 275.512, em 1920, para 450.000, em 1930.
Organizações de trabalhadores, sob a forma de Ligas e
Uniões, existem desde 1870. Será, porém, o Primeiro Congresso
Socialista, dirigido por França e Silva, no início da República,
que irá abrir caminho ao surgimento de um Partido Socialista,
em 1892. Os ferroviários, os tipógrafos e os trabalhadores de
transportes urbanos são as primeiras categorias de trabalhadores
que se organizam. Nesta época, porém, predominam associações
de base exclusivamente urbana, reunindo intelectuais, membros
das classes médias que tentam atrair elementos da classe operá­
ria em formação (14).
Diante da multiplicidade de organizações de trabalhadores
dispersas geograficamente, os dirigentes preocupam-se com a
unidade do movimento operário. No Rio, os trabalhadores rea­
lizam, em 1903, a primeira unificação regional, com a fundação
da Federação Operária Regional Brasileira. Em 1906, procuram
unificar o conjunto das organizações operárias através do Pri­
meiro Congresso de Trabalhadores Brasileiros.
(13) Os dados de rccenseamento de 1920, apresentados por Azis Si-
mâo, mostram a importância da proporção de trabalhadores estrangeiros:

Até Mais de % sobre o


20 anos Total Total global
20 anos

Brasileiros 52.925 91.739 144.664 60,8

Estrangeiros 8.736 84.747 93.483 39,2

Total 61.661 176.486 238.147 100,0

Fonte: SIMÃO (Azis), Sindicato e Estado, p. 32.


Mas, como ressalta o Boletim da Terceira Internacional, “a grande
massa do proletariado é ainda formada de trabalhadores agrícolas (...)•
O proletariado industrial não alcançou ainda um grau de diferenciação
semelhante à do proletariado curooeu. A Correspondência Internacional
n.° 10, 1930, p. 1Õ2, op. cit. PINHEIRO (Paulo Sérgio), ibid., p. 134.
(14) “Apesar do papel dinâmico dos imigrantes, o proletariado in­
dustrial nascente estava cm uma situação “marginal’’ na sociedade. O re­
sultado da atividade destes grupos precursores de militantes operários exer­
ceu uma fraca influência fora dos contingentes dos efetivos de trabalha­
dores e dos grupos dos intelectuais que os apoiavam.” Ibid., p. 94.

12
Nesta fase, a ideologia dominante no movimento trabalha­
dor é o anarco-sindicalismo, devido ao afluxo de trabalhadores
de origem européia (italianos, espanhóis e portugueses) para os
grandes centros urbanos. Por ocasião do Primeiro Congresso
de Trabalhadores, duas tendências se afirmam: uma socialista e
outra anarquista. Esta última quer limitar-se a reivindicações
econômicas e se opõe à formação de um partido político de tra­
balhadores. A maioria dos dirigentes operários, porém, prefere
seguir a tática anarco-sindicalista (15).
Apesar das greves isoladas, como a da Companhia Paulista
de Caminhos de Ferro (1902), que obrigaram o governo a ado­
tar a legislação antianarquista em vigor na Europa, a questão so­
cial só irá tornar-se aguda após a Primeira Guerra. A greve,
que simboliza a irrupção violenta das reivindicações operárias,
ocorre em São Paulo em julho de 1917. Ela nasce da luta pelo
aumento salarial de 20%, desencadeada pelos operários de uma
indústria da capital. Esta greve provocará a união dos trabalha­
dores, originando um clima de agitação social sem precedentes.
Os trabalhadores, vendo rejeitadas suas pretensões, ampliam seu
movimento. Sob a liderança anarquista preponderante, durante
uma dezena de dias eles ocupam a cidade e organizam manifesta­
ções diante de uma burguesia aterrorizada. O governo do Estado
faz um apelo à polícia e à Força Pública contra os grevistas, mas
a eficácia de sua ação é dificultada, em grande parte, pela simpa­
tia de uma fração das forças da ordem à causa dos trabalhadores.
Igualmente, no Rio, greves violentas eclodem entre os anos 1918
e 1920: os operários da construção civil conquistam a jornada
de 8 horas; os conflitos na indústria têxtil e dos transportes marí­
timos provocam choques e vítimas entre os trabalhadores e os
policiais. Todos esses movimentos reivindicatórios são revelado­
res de uma inusitada tensão social.
Entretanto, como observa Paulo Sérgio Pinheiro, nesta fase
de luta social, as lideranças operárias não levam em consideração
a situação específica da fase de desenvolvimento econômico do
país. A maior parte das suas reivindicações limita-se a melhoria
das condições de trabalho, ou, então, exprime uma atitude de
espera pela revolução social, tentando desenvolver uma tática em
(15) “Até 1920, apesar do movimento operário ativo ser mais de
anarquistas e anarco-sindicalistas, os católicos, os socialistas e os sem
orientação política também participam do funcionamento destes órgãos;
depois de 1920, os comunistas lutarão para impor sua tática e dominar
os sindicatos.” CARONE (Edgard), A República Velha (Instituições e
Classes Sociais), op. cit., p. 196.

13
que a greve ocupa o principal papel. Entre estas duas formas
de comportamento, não há a mediação de uma análise concreta
da formação social brasileira (10).
Neste clima ideológico dominado pelo anarquismo, nasce
oficialmente o P.C.B. (17). A organização do partido se inicia
com um Congresso realizado em março de 1922, um ano após
a fundação do “Grupo Comunista” do Rio de Janeiro, com o
objetivo de defender o programa da Terceira Internacional (18).
O P.C.B. se desenvolve lentamente, superando as contradições
internas, sem jamais conseguir tornar-se um movimento que reu­
nisse uma grande massa de militantes; seus efetivos não ultra­
passam os de algumas centenas de membros (10). Entretanto,
sua influência ideológica é bem maior, uma vez que a revista
mensal Movimento Comunista tem uma tiragem de 1.800 exem­
plares e, em 1929, o semanário A Classe Operária tira 30.000
exemplares, o que não é muito, numa época em que existem mais
de 400.000 trabalhadores no país. A organização do P.C.B.
(16) PINHEIRO (Paulo Sérgio), op. cit., pp. 95-96.
(17) Um primeiro partido comunista fora fundadoi em 1919, pelo
anarquista José OITICICA, na época em que o P. C. B. marxista-lcninista,
nasce, em 1922, seu secretário-geral Astrojildo PEREIRA, vem também do
movimento anarquista.
(18) “O Congresso de fundação do Partido não foi coisa realizada
de improviso, mas resultou de um trabalho de preparação que durou
cerca de 5 meses (...). Tinha-se em vista estabelecer certos pontos de
apoio nas regiões onde havia alguma concentração de massa operária.
Compreendia-se, por outro lado, que o Partido devia ter um caráter defi­
nido de partido político de âmbito nacional.” PEREIRA (Astrojildo), A
Formação do P.C.B., Rio, Editora Vitória, 1962, pp. 51-52. No Con­
gresso de fundação do Partido Comunista participam nove antigos mili­
tantes anarco-sindicalistas (dois intelectuais e sete trabalhadores e arte­
sãos), resultando da fusão de vários grupos, pré-existentes. Os mais im­
portantes são: “União Maximalista de Porto Alegre” (1918); “União
Operária Primeiro de Maio”, de Cruzeiro, no Estado de São Paulo (1917),
o grupo “Claridade” do Rio (1921) e o “Círculo de Estudos Marxistas do
Recife”. PINHEIRO (Paulo Sérgio), op. cit., pp. 136-141.
(19) “É preciso observar que uma das razões da fraqueza de sua
implantação é que ele se encontra freqücntemente na clandestinidade.
O P. C. B. é legalmente reconhecido entre as duas guerras, somente de
março a julho de 1922, e durante alguns meses em inícios de 1927. Se­
gundo um rccenscamento da Terceira Internacional, o partido teria,
logo após a sua fundação, 500 membros; a partir de 1923, quando deve
entrar na clandestinidade, o número de seus aderentes não ultrapassa 350.
Estas cifras revelam sua fraqueza, quando comparadas com os efetivos de
outros partidos comunistas latino-americanos mais antigos: na Argentina,
3.500 membros e no Chile 2.000, entre 1922 e 1924; no México, passam
do 500, cm 1922, a 1.000, em 1924; e no Uruguai, como no Brasil, caem
de 1.000 a 600.” Ibid., p. 154.

14
permanecerá mais de uma década sem progresso visível. O pró­
prio secretário-geral reconhece, em 1934, que a direção do Par­
tido não havia conseguido superar as contradições ligadas à sua
origem anarquista e que a propaganda entre os trabalhadores
era, praticamente, ineficaz. A partir de 1925, no entanto, novos
acontecimentos irão proporcionar um novo alento ao Partido:
de início é a aparição do jornal A Classe Operária; mais tarde, a
adoção da tática de “frente única”, preconizando a união mo­
mentânea do proletariado com a pequena e a grande burguesia
industrial. Por ocasião do segundo Congresso, o jornal A Nação
torna-se o órgão do partido e muito embora tenha havido um
relativo crescimento, estas conquistas não aumentaram sensivel­
mente a influência do Partido Comunista sobre o operariado (20).
Portanto, apesar da eclosão da luta social no início da dé­
cada de 20 e dos esforços de unificação do proletariado em orga­
nizações sindicais ou partidos socialistas, o movimento operário
participará apenas de uma maneira marginal na transformação
do sistema político em 1930. É nesta situação de isolamento,
conseqüência do período anterior de resistência, de sua compo­
sição e de sua “incapacidade conjuntural” de agir politicamente
enquanto força social, que o proletariado se encontrará no início
dos anos 1930” (21).

2 — CONTESTAÇÃO DO SISTEMA POLÍTICO

O desenvolvimento industrial impulsiona a burguesia (22) e


provoca um rápido crescimento das camadas urbanas médias e
(20) O movimento operário e as organizações políticas de inspiração
marxista serão, até a Segunda Guerra Mundial, pouco importantes, salvo
durante o breve período da Aliança Nacional Libertadora, em 1935.
(21) “Portanto, a organização do Partido Comunista não modifica a
situação, porque a “subestimação do poder e do papel da burguesia na­
cional, como um elemento de transformação e uma interpretação errônea
do sentimento nacionalista, presentes nas aplicações destes princípios para
a América Latina, provocarão várias dificuldades táticas e crises internas,
no desenvolvimento dos partidos comunistas latino-americanos. O P. C. B.
não fugirá desta tendência geral.” PINHEIRO (Paulo Sérgio), op. cit.,
pp. 104 e 204.
(22) “A industrialização permite a organização autônoma da bur­
guesia industrial, com a fundação, em 1928, do Centro das Indústrias de
São Paulo, separada da Associação Comercial, na mesma época em que a
indústria têxtil reivindica o protecionismo.” VILELA LUZ (Nícia), A
Luta pela Industrialização do Brasil, São Paulo. Difusão Européia do
Livro, 1969, p. 156.

15
populares. A burguesia, assim como o proletariado, não terá um
papel político importante durante este período (23). A luta
política se circunscreve basicamente, de um lado, a conflitos en­
tre tendências e contradições no seio da oligarquia rural domi­
nante e, de outro, às insurreições desencadeadas pelos jovens
oficiais contestadores. Estes combatem o monopólio do poder dos
partidos republicanos regionais e dos chefes políticos que re­
correm à fraude eleitoral e às intervenções militares nos Estados
a fim de controlar o regime de acordo com seus interesses.
O primeiro fator da luta política são as divergências oligár-
quicas. As dissidências na oligarquia tiveram quase sempre como
origem as lutas em torno da sucessão presidencial. O problema
consistia em equilibrar os interesses de cada Estado, na distri­
buição das candidaturas à Presidência e Vice-Presidência da Re­
pública, no estreito quadro da alternância do poder entre os Es­
tados de São Paulo e Minas Gerais.
Até 1920, a situação permanece inalterada: nos Estados do
“Nordeste, a aristocracia do açúcar e os coronéis do sertão do­
minam a massa amorfa e miserável dos campos. Pouco populo­
sos e eleitoralmente insignificantes (. .), contentavam-se com a
vice-presidência (...). A Bahia, num entusiasmo nacional, lan­
çou a candidatura dissidente de Rui Barbosa que foi superada
por Hermes da Fonseca. O Rio Grande do Sul, único que po­
dería fazer sombra à política do “café com leite”, permanecia
fechado a todo problema sucessório, para evitar da parte do
governo federal qualquer tentativa de intervenção, nos decênios
governamentais de Borges de Medeiros” (2I).
Entretanto, as divergências internas nas oligarquias de São
Paulo e Rio Grande do Sul tiveram, mais tarde, conseqüências
políticas importantes: “A dissensão de São Paulo, opondo-se à
Política dos Governadores, é a mais complexa delas, pois anun­
cia o início de uma cisão da classe latifundiária e o aparecimen­
to de uma corrente liberal burguesa” (25). Ela provoca a rup-

(23) Pode-se acrescentar ao papel político secundário do P. C. B.,


o do partido burguês liberal (Partido Democrático), fundado em 1926,
que, como salienta Boris FAUSTO, “não expressa o impulso das áreas
modcrnizantes, supostamente identificadas com a indústria, mas uma alian­
ça das classes médias de São Paulo com elementos descontentes do setor
agrário . FAUSTO (Boris) A Revolução de 1930: historiografia e histó­
ria, S. Paulo, Brasiliense, 1970, p. 38.
(24) CARONE (Edgard), Revoluções do Brasil Contemporâneo, op.
cit., p. 16.
(25) Ibid., p. 16 e 17.

16
tura no interior do Partido Republicano Paulista e a criação, em
1926, do Partido Democrático. A oposição liberal ao partido re­
publicano, dominante no Rio Grande do Sul, tem raízes antigas
nas revoluções e lutas políticas do passado e se traduz pela re­
sistência contínua do Partido Libertador, fundado em 1928, por
Assis Brasil, contra a longa dominação dos governos positivistas
de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros.
O segundo fator importante na evolução política do após-
-guerra é a tomada de consciência política das classes médias ur­
banas oriundas da burocracia, do comércio, das pequenas em­
presas e do exército. Elas se revoltam e se insurgem contra o
sistema político existente e manifestam o desejo de renovação
dos costumes políticos. Esta contestação contra o regime se in­
corpora ao movimento “tenentista” dirigido por jovens oficiais
das Forças Armadas: “O elemento comum a todas as rebeliões
dos anos 20, é a intenção de provocar, através de um golpe de
Estado, mudanças no seio do Estado, sem criar condições para
que as massas populares intervenham no processo de mudança
política” (2G). Seu programa pode ser resumido no slogan “Re­
presentação e Justiça” (27).
O ciclo das rebeliões “tenentistas” começa em julho de 1922,
com a insurreição da Fortaleza de Copacabana. A ação revo­
lucionária se estende aos Estados do Rio e Mato Grosso e ter­
mina pela ação heróica de um punhado de jovens nas areias de
Copacabana.

(26) PINHEIRO (Paulo Sérgio), op. cií., p. 260.


(27) “Apesar da presença de alguns temas de crítica antilibcral, seu
programa demonstrava a impossibilidade de se libertar da ideologia libe­
ral (...). Assim, várias reivindicações dos tenentes terão pontos de
contato com esta inquietação presente nas classes médias, sem que este
último aspecto nos conduza a uma confusão entre tenentes-classes mé­
dias.” Ibid., pp. 266-267. Embora não se possa estabelecer uma relação
mecanicista entre tenentismo c classe média, o tenentismo não constitui
um movimento homogêneo. O processo insurrecional desencadeado no
Rio e em São Paulo, entre 1922 e 1924, não pode ser sumariamente assi­
milado a suas manifestações no Rio Grande do Sul com o Manifesto de
Santo Ângelo, de Prestes, ou com a “Comuna de Manaus”, no Amazonas.
Da mesma forma, a Coluna Prestes representou uma experiência revolu­
cionária mais ampla, tendo, como conseqüência, a explicitação de algu­
mas tendências ideológicas latentes desde a revolução de 24. Neste sen­
tido, o ciclo das inssurreições tenentistas teve o mérito de abrir novas
alternativas na contestação do regime da Velha República, que irão
manifestar-se após a Revolução de 30 numa gama de opções políticas
que irão desde a extrema-dircita até a extrema-esquerda.

17
O descontentamento cresce. Os “tenentes” organizam a Re­
volução de 1924, que devia rebentar simultaneamente em todo o
país; no entanto, ela eclodirá, em julho, somente no Estado de
São Paulo. Os rebeldes controlam a capital durante mais de um
mês e o governo é obrigado a se refugiar nos arredores. Mais
tarde, os revolucionários, obrigados a abandonar suas posições,
retrocedem em direção ao Paraná na expectativa da irrupção do
movimento no Rio Grande do Sul. Em outubro, sob a liderança
do Capitão Prestes, a revolução eclode no Sul e também nos Es­
tados de Sergipe, Mato Grosso, Pará e Amazonas. O movimento
de 1924 não terá sucesso, salvo na Amazônia, onde se instala,
durante um mês, a “Comuna de Manaus”.
As dificuldades encontradas pelos rebeldes gaúchos os obri­
gam a recuar em direção do Estado do Paraná, onde se unem
às tropas paulistas, em abril de 1925. Da junção das forças re­
volucionárias e da vontade de prosseguir a luta, nascerá a legen­
dária “Coluna Prestes”, formada por mais de mil homens, sob
o comando do General Miguel Costa e do Capitão Luiz Carlos
Prestes. Pretendendo manter viva a flama da revolução, a Co­
luna percorre, até fevereiro de 1927, quase vinte e cinco mil qui­
lômetros, tomando parte em mais de cinqüenta combates, para
internar-se, finalmente, na Bolívia. Recente estudo (2S) mostra
que “a situação especificamente profissional do grupo militar de­
terminou a forma dos movimentos políticos por eles liderados,
enquanto a sua condição de integrante das camadas médias ur­
banas (e, -como tal, preso ideologicamente às oligarquias) esta­
beleceu os limites do seu conteúdo”.
O processo revolucionário dos anos 20 será eficaz apenas
com o triunfo da Revolução de 30, que é o ponto de intersecção
entre o processo de dissidência interna das elites e a radicaliza­
ção política das classes médias urbanas. Todavia, como observa
Marques Saes, “o que conferiu um caráter dramático às revoltas
‘tenentistas' não foi tanto o seu programa político, mas o fato
de não se recusarem a utilizar em escala-nacional — isto é con­
tra o próprio Poder central — um recurso com o qual estavam
profissionalmente familiarizados, a força armada. O emprego
desse recurso claramente extra-sistêmico atemorizou, pelo seu
radicalismo, inclusive as próprias dissidências oligárquicas, embo­
ra os impulsos aparentemente radicais do grupo militar se colocas-
(28) MARQUES SAES (Decio), O Civilismo Camadas Médias Ur­
banas na Primeira República Brasileira (1889-1930), Campinas, Cadernos
do IFCH (UNICAMP), n.° 1, 1973, pg. 81.

18
sem a serviço de programas políticos liberais, defensores do apri­
moramento democrático” (29).

3 — A MUTAÇÃO IDEOLÓGICA

Da Proclamação da República até a Primeira Guerra ne-


nhuma mudança significativa ocorre no plano das idéias, que
permanecem essencialmente as da segunda metade do século
XIX. O pensamento europeu conserva sua influência dominante
sobre as elites intelectuais, e somente na década de 20 começa a
esboçar-se uma mutação ideológica, quando “um sociologismo
marcado pela influência positivista spenceriana ou o evolucionis-
mo sucederá ao filosofismo do tempo do império” (30).
Duas tendências caracterizam a evolução intelectual no
após-guerra: de um lado, a utilização de um enfoque sociológico,
em moda na época, permite uma análise mais sistemática da
sociedade brasileira; de outro lado, há a tentativa de criar um
pensamento nacional autônomo para solucionar os problemas
brasileiros, sem recorrer aos modelos estrangeiros.
A transformação das idéias no Brasil do após-guerra está
no centro da problemática política de Plínio Salgado, e para se
compreender o conteúdo ideológico do integralismo torna-se in­
dispensável penetrar no sentido da mutação das idéias na década
de 1920. Ainda que o contexto fascista, europeu decisivo para
definir a natureza da ideologia integralista, não se pode desvin­
culá-la do clima intelectual do após-guerra que se constitui a
fonte onde o integralismo busca suas raízes nacionais.

a — O despertar nacionalista
Um dos traços da evolução ideológica do após-guerra é o
renascimento do nacionalismo. Como observa Cruz Costa, desde
o fim do século XIX “se assiste a um movimento de integração

(29) Ibid., p. 95.


(30) CRUZ COSTA (João), Contribuição à História das Idéias no
Brasil, Rio, José Olympio, 1956, p. 355. As principais correntes são,
ainda, o positivismo ortodoxo, o positivismo heterodoxo (“científico”),
o naturalismo cvolucionista e a filosofia de Farias Brito, considerado
como o “Bergson brasileiro”, Ibid., pp. 333-402.

19
da inteligência, da cultura, das artes e letras na realidade bra­
sileira” (31). ■
A reconciliação dos intelectuais com a realidade do país
revela-se simbolicamente com a publicação, em 1902, de Os
Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1902). A partir deste mo­
mento, as elites intelectuais tomam consciência de sua alienação
com relação à situação de abandono das populações das regiões
centrais do país. O drama da população de uma pequena locali­
dade do sertão, fanatizada por um líder místico, revela às cama­
das intelectuais europeizadas a situação do homem brasileiro do
interior. Euclides da Cunha reuniu em sua obra ‘‘toda essa tra­
dição em favor da valorização do nacional na literatura" e após
Os Sertões “romperam-se todas as barreiras à plena afirmação
do nativismo brasileiro” (32).
Dois outros precursores do nacionalismo do após-guerra de­
vem ser referidos: Monteiro Lobato e Alberto Torres. O pri­
meiro, escritor de grande talento e ensaísta, representa a vanguar­
da literária da época, tornando-se o profeta solitário do Moder­
nismo. Oswald de Andrade afirma que Monteiro Lobato “foi
o Gandhi do Modernismo. Jejuou e produziu, quem sabe, nesse
e noutros setores, a mais eficaz resistência passiva de que se pos­
sa orgulhar uma vocação patriótica” (33). O nacionalismo recebe
de Lobato um de seus símbolos mais característicos através do
personagem subalimentado e apático do “Jeca Tatu”, encarnan­
do o homem brasileiro abandonado e, ao mesmo tempo, os pri­
meiros impulsos na luta nacionalista em favor do petróleo.
O segundo, ensaísta, político e sociólogo, publica dois livros,
entre 1914 e 1915, contendo reflexões sobre a reforma brasileira:
Organização Nacional e O Problema Nacional Brasileiro. Con­
siderado na época “o melhor intérprete do movimento antiimpe-
rialista” (34), dirige contra a dominação estrangeira um “proteste
enérgico concitando o governo a desviar sua atenção dessa ilu­
sória civilização litorânea e varrer do território nacional o capi­
talismo cosmopolita que ele considerava o grande problema na-

(31) CRUZ COSTA (João), Ibid, p. 389.


(32) COUTINHO (Afrânio), “Simbolismo, Impressionismo c Mo­
dernismo”, in A Literatura no Brasil, Rio, Livraria S. José, 1959, Vol. III.
T. I, pp. 48-49.
(33) ANDRADE (Oswald), Ponta de Lança, São Paulo, Ed. Mar­
tins, 1945, p. 6.
(34) WERNECK SODRÉ (Nelson), História da Burguesia Brasilei
ra, op. cit., p. 254.

20
cional” (3B). Pouco lido antes da guerra, Alberto Torres será
redescoberto pela geração intelectual e política dos anos 30, tor­
nando-se, aliás, um dos autores mais admirados pelos integra­
listas (36).
O período de Guerra de 1914/18 caracteriza-se por uma
crescente consciência nacionalista de setores significativos da in­
telectualidade brasileira: “O desencadeamento da primeira guer­
ra mundial deu a não poucos países a consciência de sua fraque­
za ou da necessidade, da revisão de sua política, para que não
viessem a soçobrar no torvelinho, de que ninguém se considerava
distanciado. No Brasil, uns achavam que o remédio estaria na
incorporação imediata doi país a um dos grupos de contestado-
res, para ir buscar, nas armas alheias, a segurança ou a proteção,
que a nação não poderia esperar de seus próprios recursos (. . .)
outros entendiam que, antes de tudo, era preciso fortalecer o
Brasil, para que pudesse aspirar a uma posição de independên­
cia e autonomia” (37).
Constata-se o despertar nacionialista através do surgimento
quase simultâneo de diversas revistas e movimentos de cunho
chauvinista. Os periódicos nacionalistas mais representativos da
época são a Revista do Brasil (1916), Braziléa (1917) e Gil Blas
(1919), cujo artigo-programa propunha-se a combater a “ameri-
canismofobia” e os abusos do “polvo canadense” (3S). Em 7 de se­
tembro de 1916 funda-se a Liga de Defesa Nacional, sob a dire­
ção de Pedro Lessa e Miguel Calmon, em decorrência da cam­
panha de mobilização em favor do serviço militar obrigatório,
desencadeado por Olavo Bilac. Sob a influência ainda da
pregação do escritor, são fundados, em 1917, a Liga Nacionalista
e o Centro Nacionalista por iniciativa dos estudantes universitá-
(35) VILELA LUZ (Nícia), op. cit., p. 92.
(36) “No Brasil, a primeira obra de estrutura sociológica a despeito
de seus objetivos de natureza política é a de Alberto Torres, na primeira
década deste século’’, CARNEIRO LEÃO (a.), Panorame Sociologique du
Brésil, Paris, PUF, 1953, p. 29. Alberto Torres é, para Oliveira Vianna, a
principal figura da geração do início do século, porque “revelou uma
i visão mais compreensiva e mais brasileira da nossa vida íntima de
povo (...); nenhum, como ele, consolidou um tão vasto corpo de conclu­
sões positivas, práticas, experimentadas sobre a verdadeira orientação da
nossa política e dos nossos governos”. OLIVEIRA VIANNA (f.j.),
Problemas de Política Objetiva, São Paulo, Editora Nacional, 1930,
pg. 233 e 234.
(37) LIMA SOBRINHO (Barbosa), Presença de Alberto Torres,
Rio Civilização Brasileira, 1968, p. 387.
(38) Gil Bras era o periódico da propaganda nativista, dirigido
por Alccbíades Dclamarc Nogueira da Gama.

21
rios de São Paulo (3B). Em abril de 1919, organiza-se, no Rio,
a Propaganda Nativisía, “sociedade de caráter eminentemente po­
lítico”, que “agirá sempre de acordo com os ditames do
mais puro e acrisolado patriotismo, sob a evoção poderosa
do imortal patrono Floriano Peixoto”. O programa do mo­
vimento, (do qual fazem parte como fundadores Álvaro Bo­
milcar, Jackson de Figueiredo, Tasso da Silveira), procla­
ma os seguintes ideais econômicos, políticos e sociais:
“emancipação financeira e econômica do Brasil”; “nacio-
nalização absoluta da imprensa e do comércio de retalho”;
“desenvolvimento das idéias republicanas e democráticas”; “au­
mento para oito anos do período presidencial”; “criação de um
Conselho de Notáveis, incumbido do estudo dos problemas na­
cionais”; “despertar o sentimento de solidariedade entre as na­
ções americanas, combatendo, conseqüentemente, a influência la
moderna civilização européia”; “mudança da capital do país
para o planalto de Goiás”; “vedar ao estrangeiro os exercícios de
cargos eletivos e empregos públicos, mesmo quando se trata de
indivíduos naturalizados”; restringir “ao estrangeiros a capaci­
dade aquisitiva de bens e imóveis”; combater “a projetada Con­
federação Luso-Brasileira”; intensificar nas escolas o “ensino cí­
vico, a propaganda dos ideais nativistas”; “provocar a reivindi­
cação dos direitos do proletariado de acordo com a orientação
nacionalista”. Um ano mais tarde, em fevereiro de 1920, o conde
de Afonso Celso, funda, com a finalidade de federar os movi­
mentos nacionalistas, a Ação Social Nacionalista, definida como
“instituição defensiva de estudos sociais e históricos, sem caráter
político nem religioso, que “se torna o movimento de cúpula do
nacionalismo, em cujo seio se reúnem mais de 50 associações
(39) A campanha civilista de Bilac desencadeou-se por todo o Bra­
sil, entre outubro de 1915 e fins de 1916, sendo que seus discursos estão
reunidos no volume intitulado A Defesa Nacional, publicado cm 1917 pela
Liga de Defesa Nacional. A crise revolucionária de 1924 cria um impasse
às campanhas patrióticas: “Arthur Bemardes fecha a Liga Nacionalista
que renasce com novas formas na Liga do Voto Secreto, no Partido da
Mocidade”, in CARONE (Edgard), A República Velha (Instituições e
Classes Sociais), op. cit., p. 314. Esta intensificação do sentimento nacio­
nalista é indissociável do nacionalismo produzido pelo movimento estéti­
co modernista. Na opinião de Barbosa Lima Sobrinho “a figura central,
no movimento nacionalista dessa época, é o escritor Álvaro Bomilcar,
que já em 1916 publica um livro, O Preconceito da Raça no Brasil, para
a defesa da mestiçagem que ele não admitia como fator de inferioridade
do povo brasileiro. Mais tarde, publicaria, na Editora Leite Ribeiro, A
Política no Brasil ou o Nacionalismo Radical”, in LIMA SOBRINHO
(Barbosa), op. cit., pp. 476 e 477.

22
cívicas”, inspirada nos ideais da Propaganda Nativista, nos Man­
damentos do Patriota Brasileiro e no jornal Gil Blas (40).
O editorial do primeiro número da Revista do Brasil, di­
vulgado em janeiro de 1916 sob a responsabilidade de seus
fundadores, Luiz Pereira Barreto, Júlio Mesquita, Alfredo Pu-
jol e' Jackson de Figueiredo (41) (este último, que seria fi­
gura central da renovação católica, fundando o Centro D.
Vital e a revista A Ordem em 1922, foi o autor do programa
da Ação Social Nacionalista), caracteriza o tom nacionalista da
publicação: ‘‘O que há por trás do título desta revista e dos
nomes que a patrocinam é uma coisa simples e imensa: o desejo,
a deliberação, a vontade firme de constituir um núcleo de pro­
paganda nacionalista. Ainda não somos uma nação que se conhe­
ça, que se estime, que se baste, ou, com mais acerto somos uma
nação que ainda não teve o ânimo de romper sozinha para a
frente, numa projeção vigorosa e fulgurante da sua personalida­
de. Vivemos, desde que existimos como nação, quer no Império,
quer na República, sob a tutela direta ou indireta, se não polí­
tica, ao menos moral do estrangeiro.” Mais adiante, num artigo
sobre “o nacionalismo da arte”, o sentido do nacionalismo defi­
ne-se melhor: “Nós não somos um povo inferior, nem decadente.
Apenas não atingimos ainda a maturidade de nação, no sentido
científico do vocábulo, isto é, de agremiação política e social,
tendo um pensamento, um sentir, uma ação, que sejam verda­
deiramente a síntese da energia coletiva” (42).
O nacionalismo torna-se mais radical com a revista Braziléa,
lançada no Rio sob a direção de Álvaro Bomilcar e Arnaldo
Damasceno Vieira, desfraldando “o pendão do brasileirismo pu­
ro e integral”. Embora tenha passado por duas fases (uma de
1917 a 1918 e a outra de 1931 a 1933), o elemento constante nesta

(40) BOMILCAR (Álvaro) A Política no Brasil ou o Nacionalismo


Radical, Rio, Leite Ribeiro c Maurilio. Ed. 1920, p. 179, 180 e 183.
Os outros movimentos nacionalistas surgem na mesma época, embora
com menos repercussão: Centro Acadêmico Nacionalista, Partido Repu­
blicano Nacional, Sociedade dos Escoteiros, Liga. Nacionalista de São
Paulo, Grêmio Riograndense do Norte, Liga Nacionalista Riograndense.
(41) Este último, que seria figura central da Renovação Católica,
fundando o Centro D. Vital e a Revista A Ordem em 1922, foi o autor
do programa da Ação Social Nacionalista.
(42) REVISTA DO BRASIL, São Paulo, 1(1), 1916, pp. 2 e 6. Mais
tarde a revista será dirigida por Monteiro Lobato.'

23
publicação, como observa Lima Sobrinho, é “um nacionalismo
mais exaltado do que coerente” (43). A revista combate a inter­
ferência dos portugueses na vida do país e defende uma política
exclusivamente brasileira.
O artigo de lançamento da revista, intitulado “Nosso Pro­
grama”, define seu cpnteúdo nacionalista. A condição exigida
para colaborar na revista é que os artigos “sejam exclusivamente
inspirados nos moldes do puro patriotismo, e sirvam à propa­
ganda das nossas criações sociais, artísticas, científicas e econô­
micas”. Este nacionalismo é provavelmente menos abran­
gente do que o de Alberto Torres porque enfatiza, sobretudo, a
atitude antilusitana existente no Rio de Janeiro e em outras ca­
pitais, onde os portugueses tinham uma influência marcante:
“Brasileiros! Precisamos criar uma pátria para nós. E, portanto,
todo esforço deve convergir para libertar-nos da pesada ditadura
lusitana que se exerce disfarçadamente pelo poder do ouro e pela
força mágica da imprensa. Ditadura intelectual e material” (“).
O nacionalismo do após-guerra contém também uma dimen­
são econômica. A guerra reVela a dependência econômica das
nações marginais com relação ao sistema capitalista internacio­
nal. Este nacionalismo que busca suas raízes no início da in­
dustrialização do país, em fins do século XIX (,5), torna-se
mais radical pela ação de Alberto Torres (46), afirmando-se, fi­
nalmente, no após-guerra, na luta pela proteção da indústria
nacional contra a concorrência estrangeira (,7).
Este nacionalismo apresenta também uma forte tendência à
exaltação do civismo. As Ligas Nacionalistas têm uma maior

(43) LIMA SOBRINHO (Barbosa), op. cit., p. 477.


(44) Vide, respectivamente os artigos “Nosso Programa” e “Eman­
cipação Nacional”, Braziléa, Rio 1(1), 1917, p. 4 e 1(6), 1917, p. 3.
(45) É o caso das posições de Felício dos Santos, que redigiu o
manifesto de criação da Associação Industrial, em 1882, e as do naciona­
lismo econômico de Amaro Cavalcante, exasperados pela crise de 1890.
VILELA LUZ (Nícia), op. cit., pp. 61-70.
(46) “O que caracterizava o movimento ruralista, liderado por Al­
berto Torres, era a sua oposição entre o campo e a cidade” e sua conde­
nação à “fictícia e artificial civilização urbana”. Ibid., p. 94.
(47) Por ocasião da fundação do “Centro das Indústrias de São
Paulo”, em 1928, seu presidente, Roberto Simonsen, “reafirmava os fun­
damentos nacionalistas da nossa política industrial, segundo a qual o
Brasil só realizaria a sua independência econômica possuindo este país
um parque industrial eficiente na altura de seu desenvolvimento agríco­
la”. Ibid., p. 155.

24
penetração popular do que a Ação Social Nacionalista. A pre­
sença de Olavo Bilac, usando seu prestígio de escritor como pro-
pagandista da Liga de Defesa Nacional explica, em grande parte,
seu sucesso público.
Os estatutos da Liga definem os objetivos do movimento:
“manter em todo o Brasil a idéia da coesão e integridade na­
cional . . . ”; “propagar a educação profissional e popular; pro­
pagar em todas as escolas a educação cívica, o amor à justiça
e o culto do patriotismo” (48). As conferências e os livros de
Bilac procuram atingir estes objetivos através de uma intensa
campanha cívica. Em sua coletânea de conferências, A Defesa
Nacional, defende a tese de que o serviço militar obrigatório “é
o triunfo completo da democracia; o nivelamento das classes, a
escolha da ordem, da disciplina, da coesão” e considera que
“organizar a defesa nacional é necessário, porque a coesão é in-
dispensável, a disciplina é imprescindível. A verdadeira defesa
nacional é a consciência nacional” (49). A luta de Bilac, pois,
pretende integrar o exército e a Nação dentro de uma mesma
concepção democrática, “para que o povo seja o exército e o
exército o povo, através da educação de caserna” (80).
A fundação da Liga Nacionalista, em 1917, formada por
estudantes de São Paulo, é conseqüência direta da campanha de
Bilac, embora seus objetivos demonstrem um conteúdo naciona­
lista, político e econômico explícito. Os estudantes da Faculdade
de Direito de São Paulo, segundo Carone, dedicam-se a “empre­
ender luta contra atentados civis ou militares à soberania nacio­
nal; desenvolver o sentimento da unidade nacional; obter a efe­
tividade do voto (voto secreto), promover a organização e o
desenvolvimento da defesa nacional pelo escotismo, linhas de tiro
e preparo militar” (51). Na época, O Estado de São Paulo realiza
(48) CARONE (Edgard), A República Velha, Instituições e Classes
Sociais. Op. cit., p. 163.
(49) BILAC (Olavo), A Defesa Nacional, Rio, Liga de Defesa Na­
cional, 1917, pp. 45, 133 e 134.
(50) Convém distinguir o nacionalismo cívico de Olavo Bilac, preo­
cupado em forjar cidadãos, do nacionalismo contemplativo do fim do
século, simbolizado pelo livro de Afonso Celso. Por que me Ufano de
Meu País? Embora a preocupação de ambos seja a integração nacional,
em Afonso Celso a exaltação nacionalista é exclusivamente física (rique­
zas nacionais, extensão territorial e necessidade de preservar sua unidade),
ao passo que Bilac volta-se para o tema da formação da consciência na­
cional e da integração dos cidadãos na Nação através do serviço militar.
(51) CARONE (Edgard), A República Velha, Instituições e Classes
Sociais, op. cit., p. 313.

25
uma enquete junto aos estudantes que dirigem o Centro Nacio­
nalista (52), onde a posição nacionalista encontra-se definida nos
seguintes termos: “Nós nada temos que conquistar e o nosso
grupo étnico está perfeitamente constituído em Nação. O de­
senvolvimento da nossa riqueza, da nossa força e do nosso pres­
tígio como Nação — os três fins principais a que tende o nacio­
nalismo, não pode ser levado a cabo com intuitos agressivos de
qualquer espécie.” E acrescentam que “a anarquia social é infe­
lizmente um fato entre nós, e o nacionalismo pregando uma ética
nova, segundo a qual a noção dos deveres de cada um com a so­
ciedade deve sobrepor-se, em muitos casos, aos direitos indivi­
duais, vem afirmar a prevalência absoluta dos interesses da cole­
tividade nacional sobre quaisquer outros”. O depoimento dos
estudantes conclui que “é preciso preparar o advento de uma
geração nova, culta, enérgica, prática, que tenha civismo, que
seja capaz de construir sobre as tristes ruínas do presente o novo
Brasil, um Brasil consciente de sua força, livre da tutela econô­
mica e do arrocho do capital estrangeiro. . . ” (53).
Conclui-se, portanto, que o nacionalismo dos anos 20 não
é unidimensional, um^ vez que, partindo de uma atitude pro­
fundamente antiportuguesa, exalta as virtudes cívicas e milita­
res, incorporando também uma dimensão econômica e antiim-
perialista. O importante é ressaltar que este nacionalismo cons­
titui-se na atmosfera intelectual que vai modelar o pensamento
do Chefe integralista. O nacionalismo cívico e econômico tor-
nar-se-á com o integralismo, na década de 1930, mais radical
e a revolução modernista lhe acrescentará uma nova dimensão:
a exaltação pelo retorno às origens do povo brasileiro.

b — A revolução estética
O movimento modernista traz consigo a revolução estética.
Um dos historiadores do movimento reconhece que “mais do que
uma simples escola literária, ou mesmo um período na vida inte­
lectual, o Modernismo foi, no meu entender, toda uma época da
vida brasileira, inscrito num largo processo social e histórico,
fonte e resultado de transformações que extravasaram largamen­
te seus limites estéticos” (54). Os nomes mais eminentes do Mo-
(52) A Comissão era constituída pelos estudantes: Sarti Prado,
Clóvis Ribeiro, Júlio Mesquita Filho, Pereira Lima, Joaquim Sales Júnior.
(53) LIMA SOBRINHO (Barbosa), op. cit., pp. 399-402.
(54) MARTINS (Wilson), A Literatura Brasileira, São Paulo, Edito­
ra Cultrix, 1967, pp. 12 e 13.

26
dernismo tentam analisar sua significação, colocando-o além de
fronteiras puramente literárias e interpretando-o como a expres­
são de uma crise de civilização (55). A vanguarda da inteligência
brasileira se encontra, nos anos 20, insatisfeita com a decadência
literária e sobretudo como o “esgotamento visível do Parnasia­
nismo e do Simbolismo” (5<5).
É difícil determinar a origem do modernismo. Em 1909,
João do Rio, em seu discurso de recepção na Academia de Le­
tras, já faz referência a “uma nova estética” (57). Contudo, um
dos pontos de partida do modernismo foi a descoberta do futu­
rismo, na França, por um dos pioneiros do movimento, Oswald
de Andrade. O “Manifesto Futurista” de Marinetti lhe é reve­
lado em Paris. “A palavra rebelde do italiano, mais a coroação
de Paul Fort como príncipe dos poetas franceses ocorrida no La-
pin Agile ( .) buliram com as idéias do jovem brasileiro” (58).
A influência futurista sobre Oswald de Andrade não faz do
Modernismo uma corrente transplantada do continente europeu:
uma inspiração profundamente nacionalista se encontra no âma­
go do movimento e exprime a tomada de consciência de uma ge­
ração. Existia, pois “um modernismo latente”, que precedeu ao
conhecimento da escola estética européia (59)<
Mas a formação do movimento modernista está também as­
sociada a vários acontecimentos que vão repercutir nos anos se-

(55) O escritor Mário de Andrade evidencia a relação entre a evo­


lução do mundo e da literatura: “A transformação do mundo com o
enfraquecimento gradativo dos grandes impérios, com a prática européia
de novos ideais políticos, a rapidez dos transportes e mil e uma outras
causas internacionais, bem como o desenvolvimento da consciência ame­
ricana e brasileira, os progressos da técnica e da educação, impunham a
criação e mesmo a remodelação da Inteligência nacional.” ANDRADE
(Mário), O Movimento Modernista, Rio, CEB, 1942, p. 13. Segundo o
poeta Menotti dei Picchia, este movimento foi “resultado da precipitação
do ritmo de uma evolução, retardada e colonial até certa altura, mas
bruscamente transformada com o fastígio da cultura do café, numa alta
civilização na orla litorânea”. PICCHIA (Menotti dei), “Modernismo”,
in A Gazeta de 12 de outubro de 1954.
(56) MARTINS (Wilson), A Literatura Brasileira, op. cit., p. 21.
(57) RIO (João do), Psicologia Urbana, Rio, H. Garnier, 1911.
(58) SILVA BRITO (Mário da), História do Movimento Modernis- %
ta, Rio, Civilização Brasileira, 1964, Vol. I, p. 29.
(59) É um fato conhecido que um grupo da vanguarda começa a
criar, a partir dos primeiros anos do século XX, um “modernismo” que
a eclosão da Guerra de 1914 iria interromper durante um certo tempo; a
geração dos anos 20, pois, recolhe os frutos da colheita semeada nos
anos 10.

27
guintes. Considera-se que 1916 é o ano decisivo, já que ocorre
uma série de fatos literários e extraliterários relevantes. A Re­
vista do Brasil, de orientação nacionalista, e o estudo lingüístico
sobre O Dialeto Caipira, de Amadeu Amaral, aparecem reve­
lando duas preocupações que serão fundamentais ao movimento
modernista.
Certos autores valorizam também 1917 como o ano-chave
da Revolução literária, em função da aproximação entre Oswald
e Mário de Andrade (60), que serão os dois grandes nomes do
Modernismo. Neste mesmo ano, Menotti dei Picchia publica o
poema precursor do modernismo, Juca Mulato, o qual tem uma
grande repercussão e assinala “uma retomada da temática na­
cionalista, que não apela para os mitos helênicos, que pretende
ser a expressão do “gênio triste de nossa raça e de nossa gen­
te*’ (61). Entretanto, o acontecimento mais importante é a expo­
sição da pintora Anita Malfatti, introduzindo no Brasil todo o
debate estético europeu do início do século.
Nos anos de 1920 e 1921 que precedem a instalação da “Se­
mana de Arte Moderna”, Oswald de Andrade e Menotti dei
Picchia ocupam a posição de líderes do modernismo. O pro­
grama renovador é divulgado publicamente, em janeiro de 1921,
por ocasião de um banquete oferecido a Menotti dei Picchia,
sob o pretexto do lançamento de uma luxuosa edição de seu
poema As Máscaras. Oswald, em nome de grupo modernista,
homenageia o poeta que agradecendo estabelece as diretrizes do
ideário modernista (62).
Encontram-se pois preenchidas as condições para a eclosão
do movimento: o manifesto está redigido e o grupo modernista

(60) SILVA BRITO (Mário da), História do Movimento Modernis­


ta, op. cit., p. 434.
(61) SILVA BRITO (Mário da), “A Revolução Modernista”, in A
Literatura no Brasil, op. cit., p. 435.
(62) O programa contém os seguintes pontos: a) “o rompimento
com o passado, ou seja, a repulsa às concepções românticas, parnasianas e
realistas; b) a independência mental brasileira através do abandono das
sugestões européias, mormente as lusitanas e gaulesas; c) uma nova técnica
para a representação da vida, em vista de que os processos antigos ou
conhecidos não apreendem mais os problemas contemporâneos; d) outra
expressão verbal para a criação literária, que não é mais a mera transcri­
ção naturalista, mas recriação artística, transposição para o plano da
arte de uma realidade vital; e) e, por fim, a reação ao “status quo”, quer
dizer, o combate em favor dos postulados que apresentava, objetivo da
desejada reforma”, Ibid., p. 444.

28
já é uma força dotada de consciência, como observa Silva
Brito (°8).
Neste contexto nasce a idéia da organização de um festival
literário e artístico com o objetivo de apresentar a nova esté­
tica (64). A “Semana de Arte Moderna” se realiza em fevereiro
de 1922, desencadeando simbolicamente o processo de transfor­
mação estética modernista.
O Modernismo se ramifica em várias correntes e a susten­
tação de uma constante polêmica entre as diversas tendências
permite mostrar que 1924 é o ano decisivo, senão na formulação
de uma estética modernista definitiva, ao menos na escolha de
uma direção determinada: “o Modernismo opta pelo rumo na­
cionalista contra o cosmopolitismo, primitivo contra o artifício,
sociológico contra o gratuito” (65).
A vanguarda de 1922 se caracteriza, numa primeira fase
(1922-1930), por uma ruptura com o passado e por um interes­
se crescente pela política, em detrimento das preocupações esté­
ticas. Como observa Afrânio Coutinho, é “uma geração revolu­
cionária, tanto na arte quanto na política. Seu objetivo é a de­
molição de uma ordem social e política fictícia, colonial, uma
arte e uma literatura artificiais, produzidas à custa da imitação
estrangeira, desligada da realidade nacional” (66).
As opções políticas dos modernistas se fazem tanto à es­
querda como à direita, enquanto na Europa o futurismo italiano
se identifica ao fascismo e a maior parte dos surrealistas fran­
ceses se engaja na extrema-esquerda. A despeito destas diver­
gências ideológicas, todas as correntes modernistas apresentam
um fundo comum: o nacionalismo. Este penetra em todos os
espíritos, a partir de 1916, e é nesta direção que se orienta o
Modernismo após a Semana de Arte Moderna, em oposição ao
cosmopolitismo literário. Na realidade, o Verdeamarelismo e a
Antropofagia, como alguns anos mais tarde o Pau-Brasil, são
inicialmente, manifestações estéticas, que tornar-se-ão políticas e
ideológicas. O Modernismo evolui a um tipo de arte em que as
preocupações políticas acabam por dominar: a estética define a

(63) Ibid, p. 442.


(64) O pintor Di Cavalcanti, em suas Memórias, afirma haver suge­
rido a Paulo Prado a idéia de fazer “uma semana de escândalos literários
e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulistana .
DI CAVALCANTI, Viagem da Minha Vida (Memórias), Rio, Civ. Bra­
sileira, 1955, Vol. I, “O Testamento da Alvorada”, p. 115.
(65) MARTINS (Wilson) A Literatura Brasileira, op. cit., p. 92.
(66) COUTINHO (Afrânio), A Literatura no Brasil, op. cit., p. 90.

29
orientação modernista até por volta de 1926; ao passo que entre
1928 e 1939, a política domina sobre a estética” f17). O para­
lelismo entre a evolução do Modernismo e a do chefe integra­
lista no mesmo período é claro: um e outro se deixam impregnar
pela política.

c — A renovação espiritual
O renascimento espiritual é fruto de um longo amadureci­
mento dos espíritos. Este movimento, que se manifesta sob a
influência da renovação católica na França (6S), começa em
fins do século XIX, com o objetivo de restaurar os valores espi­
rituais na poesia, na prosa e na filosofia, contra o espírito natu­
ralista e positivista dominante.
A descristianização das camadas intelectuais se generaliza
na segunda metade do século passado, enquanto o povo conserva
seu sentimento religioso tradicional (6B). O positivismo, o natu­
ralismo e o ceticismo dominam. A geração de 1870 é profunda­
mente influenciada pela laicização da inteligência. Toda a lite­
ratura, particularmente entre 1850 e 1890, é agnóstica, cética e
freqüentemente anticlerical (70).
O movimento de renovação espiritual que, no após-guerra,
sensibiliza grande parte dos intelectuais, provocando uma eclosão
de conversões, de vocações religiosas e de apostolado católico,
começa com o advento da República, após a separação da Igreja
e do Estado (1890). Desencadeia-o um jovem convertido e her­
deiro intelectual da geração descristianizada, que se propõe a
despertar a consciência católica. A ação de Júlio de Moraes Car­
neiro (1860-1916), que será o célebre padre Júlio Maria, deli­
neia-se a partir de 1888, quando termina um de seus sermões
lançando este apelo: “É preciso catolicizar o Brasil!”
(67) MARTINS (Wilson), A Literatura Brasileira, op. cit., p. 137-138.
(68) Este movimento de espiritualização dos intelectuais é marcado,
como o da França, no início do século, por um espírito antimoderno,
antiburguês pela nostalgia da Idade Média. Começa sob a influência de
um catolicismo reacionário e das correntes contra-revolucionárias da
segunda metade do século XX e tornando-se mais liberal entre as duas
guerras, sob a inspiração do neotomismo.
(69) No fim do império, somente um homem de letras se declara
católico militante: Carlos de Laet.
(70) Ver o testemunho do mais ilustre dos convertidos: AMOROSO
LIMA (Alceu). “A Reação Espiritualista”, in COUTINHO (Afrânio),
A Literatura no Brasil, op. cit., p. 395-482; e AMOROSO LIMA (Alceu),
“Evolução do Catolicismo no Brasil”, in Enciclopédia Delta Larousse,
Rio, Delta Larousse, 1962, pp. 1962-1970.

30
A presença do filósofo Farias Brito (1861-1917) (71) tam­
bém é crucial. Embora não tenha participado diretamente da
renovação católica, a importância de sua contribuição decorre de
sua crítica filosófica ao pensamento dominante na época: sua
obra põe em questão a herança filosófica positivista, inspirando-se
nas concepções filosóficas de Bergson, Kant (72) e Spinoza (73).
Os livros de Farias Brito têm uma influência direta sobre a jo­
vem geração católica (7‘), particularmente, sobre Jackson de Fi­
gueiredo, figura central da renovação católica, que lhe consagra­
rá um ensaio (Algumas Reflexões Sobre a Filosofia de Farias
Brito) e, inclusive sobre a formação intelectual de Plínio Salga­
do. Sua contribuição filosófica torna-se mais importante após sua
morte, em 1917 (75), quando será considerado pelos intelectuais
católicos do “Centro D. Vital” (76) como precursor do espiri-
tualismo e por Plínio Salgado como o inspirador da concepção
filosófica integralista (77).
(71) As principais obras de Farias Brito são: A Filosofia Como
Atividade do Espírito (1895), Filosofia Moderna (1899); Evolução e Rela­
tividade (1905); A Verdade Como Regra das Ações (1905); A Base Física
do Espírito (1912) e O Mundo Interior (1914).
(72) “Depois de sofrer o impacto dessa mesma formação objetivista,
foi pouco a pouco operando uma revolução espiritual no sentido oposto,
sob o idealismo kantiano (. . .); e, de modo particular, pelo intuicionismo
e pelo criacionismo bergsonianos. . .” AMOROSO LIMA (Alceu), “A
Reação Espiritualista”, in A Literatura no Brasil, op. cit., pp. 400-401.
(73) “O spinozismo de Farias Brito é evidente não só na sua orien­
tação geral (...) mas em conceitos e pontos de vista de toda natureza.”
RABELLO (Sylvio), Farias Brito ou Uma Aventura do Espírito, Rio, Ci­
vilização Brasileira, 1967, p. 80.
(74) Vide obras de Jackson de Figueiredo: A Questão Social na
Filosofia de Farias Brito (1919); Almeida Magalhães, Farias Brito e a
Reação Espiritualista (1918); Ronald de Carvalho, O Espiritualismo de
Farias Brito e Jônatas Serrano, Farias Brito.
(75) Farias Brito escreve uma carta a um de seus raros discípulos,
Jackson de Figueiredo, lastimando-se de ter chegado quase no fim de sua
obra sem discípulos c sem haver influenciado o grande público, in
FIGUEIREDO (Jackson de), Algumas Reflexões sobre a Filosofia de Fa­
rias Brito, op. cit., p. 216.
(76) Segundo Sylvio Rabello, os católicos, os mais impregnados de
“britismo” são: Nestor Vítor, Xavier Marques, Almeida Magalhães, Tasso
da Silveira, Ronald de Carvalho, Alceu Amoroso Lima e Jônatas Serrano.
(77) Plínio Salgado evoca sempre a influência de Farias Brito sobre
a concepção do universo e do homem no “Manifesto Integralista” de ou­
tubro de 1932, in SALGADO (Plínio), O Integralismo na Vida Brasileira,
Rio, Livraria Clássica Brasileira, 1958, p. 23, A revista integralista. Cader­
nos da Hora Presente publicada após a dissolução da Ação Integralista
Brasileira (maio de 1939) difundirá as idéias de Farias Brito, assim como
proporá a reedição de suas obras.

31
Resta acrescentar que Farias Brito, cujo papel precursor na
renovação católica é negado por alguns historiadores (™), mani­
festa uma posição crítica com relação à democracia liberal e ao
socialismo, ainda que pouco interessado pela filosofia políti­
ca (7B).
Mais significativa para a reação espiritualista é a Carta
Pastoral do jovem arcebispo de Olinda e Recife, D. Sebastião
Leme (1882-1942), publicada em 1916, que revela uma tomada
de consciência de certos setores da hierarquia católica com rela­
ção à situação da Igreja no Brasil. A análise que desenvolve é,
na realidade, um convite ao clero e aos leigos para fazerem a
autocrítica do catolicismo no Brasil e é, ao mesmo tempo, um
apelo à ação: “É evidente, pois, que, apesar de sermos a maioria
absoluta do Brasil, como Nação, não temos e não vivemos vida
ratólica (. . .). Obliterados em nossa consciência os deveres re­
ligiosos sociais, chegamos ao absurdo máximo de formarmos uma
grande força nacional, mas uma força que não atua, e não influi,
uma força inerte. Somos, pois, uma maioria ineficiente. Eis o
grande mal” (80).
Em 1916, a conversão ao catolicismo de Jackson de Figuei­
redo (1891-1928) (81), oriundo do anarquismo e do nietszchis-
mo e a influência espiritual e cultural do padre Leonel Franca
(1893-1948) (82), estabelecem o início efetivo do movimento es-

(78) Sylvio Rabello, no capítulo intitulado “Uma Nova Religião


para a Humanidade”, nega que Farias Brito seja um precursor do espiri-
tualismo, in RABELLO (Sylvio), Farias Brito ou Uma Aventura do Espí­
rito, op. cit., p. 55-56.
(79) O professor da Universidade de Salamanca, Elias de Tejada,
elaborou um ensaio sobre a concepção política de Farias Brito onde
apresenta vários textos políticos do autor. Estes temas, que são raros na
obra filosófica de Brito, revela sua crítica à Revolução Francesa, à de-
mocracia-liberal e ao socialismo, in ELIAS DE TEJADA (Francisco), As
Doutrinas Políticas de Farias Brito, São Paulo, Editora Leia, 1952, pp.
125-153.
(80) SANTO ROSÁRIO, O. C. D. (M. Regina), O Cardeal Leme,
Rio, José Olympio, 1962, p. 68.
(81) Os principais livros da obra polêmica de Figueiredo são:
Algumas Reflexões sobre a Filosofia de Farias Brito (1916); O Crepúsculo
Interior (1918); Humilhados e Luminosos (1921); Pascal e a Inquietação
Moderna (1921), A Reação do Bom Senso (1923); Afirmações (1924) c
Literatura Reacionária (1924).
(82) O Pc. Franca no Brasil, após seus estudos no seminário dos je­
suítas, completa sua formação cm 1915, na Universidade Gregoriana de
Roma. Seu primeiro livro, publicado em 1918, Noções de História da
Filosofia, abre caminho para uma fecunda e polêmica atividade intelec-

32
piritualista. O ano chave é 1922: primeiro, pela fundação, no
Rio, do Centro D. Vital e da revista A Ordem, que são o ponto
de encontro e de projeção da nova intelectualidade católica; se­
gundo, em virtude da publicação de duas obras fundamentais,
uma do padre França, A Igreja, a Reforma e a Civilização, e a
outra de Jackson de Figueiredo, Pascal e a Inquietação Moder­
na (83).
Espírito inquieto, Figueiredo pertence “a essa casta de ho­
mens cheios de um heroísmo nobre, designados para estimular,
para orientar, para comandar e para combater” (8‘). “Seu tem­
peramento, observa um de seus discípulos, é mais próximo de
Bernanos que de Maritain ou de Mauriac” (85). Na sua obra
dominam os seguintes temas: catolicismo, contra-revolução, or­
dem e nacionalismo. Católico ardoroso, contra-revolucionário e
combatente (86), defensor intransigente da ordem e da autoridade
e nacionalista radical, Jackson encarna, sobretudo, o espírito do
catolicismo ultramontano. Combate a ameaça do protestantismo,
da maçonaria, dos judeus que controlam o capitalismo interna­
cional. Seu nacionalismo, sem se tornar tão radical como o na­
cionalismo integral de Maurras ou como o culto estético e afetivo
da nação de Barrès, apóia-se sobretudo no culto do passado na­
cional e nas crenças e valores que constituem uma Nação (87).
Figueiredo é o elemento dinâmico da renovação espiritual:
convertido que se transforma em apóstolo, reúne ao redor de si
e do Centro D. Vital, o grupo de jovens intelectuais que conso­
lidará a reação católica. Entre eles desponta o crítico literário,
igualmente convertido, Alceu Amoroso Lima. O papel deste —
após a morte prematura, em 1928, de Jackson de Figueiredo
— na direção do Centro D. Vital e da Liga Eleitoral Católica
tual, cujas principais obras são: A Igreja, a Reforma e a Civilização; Ca­
tolicismo e Protestantismo; A Psicologia da Fé; A Crise do Mundo Mo­
derno e Divórcio.
(83) As melhores análises sobre sua vida e obra encontram-se num
volume coletivo, publicado pelo Centro D. Vital, reunindo testemunhos
de seus amigos, In Memoriam (1891-1928), Centro D. Vital, 1929 e a obra
de NOGUEIRA (Hamilton), Jackson e Figueiredo.
(84) BUARQUE DE HOLANDA (Sérgio), “Indicação”, in Memo­
riam, Rio, Centro D. Vital, 1921, p. 148.
(85) CARNEIRO (J. Fernando), Catolicismo, Revolução e Reação,
Rio, Agir Editora, 1947, p. 166.
(86) Como De Maistre, considera que “não é contra-revolução que
é preciso fazer, mas o contrário da Revolução”.
(87) OLIVEIRA TORRES (João Camilo), História das Idéias Reli­
giosas no Brasil, São Paulo, Editora Grijalbo, 1968, pp. 182-189.

33
(fundada para defender as reivindicações católicas na Constituin­
te de 1934) bem como sua atividade cultural fecunda,* trans­
formam-no no líder do catolicismo brasileiro (8S). Amoroso Li­
ma, sob a influência inicial do catolicismo ultramontano, contra-
-revolucionário, autoritário e maurrasiano de Figueiredo, condu­
zirá progressivamente o pensamento católico, no após Segunda
Guerra, para um catolicismo liberal, tolerante, neotomista, aberto
aos problemas sociais e ao mundo moderno. O pensamento ca­
tólico brasileiro do após-guerra, graças à influência de Amoroso
Lima, inspira-se mais em Maritain e Mounier que em De Mais-
tre e Maurras.
Caberia ainda uma questão: até que ponto a espiritualização
da intelectualidade brasileira se relaciona com as opções políticas
dos anos 30? A relação entre os dois fenômenos é estabelecida
pelo próprio Amoroso Lima: “O movimento integralista da dé­
cada de 1930, como o movimento democrata-cristão, da década
de 1940, são movimentos, embora contraditórios em alguns dos
seus ideais e seus métodos, que têm raízes ideológicas embebidas
na mesma reação espiritualista, embora com resultados opos­
tos” (S9).

(88) AMOROSO LIMA, cuja obra publicada se estende até nossos


dias, muito influenciou a geração dos. anos 30, por sua ação doutrinária
na imprensa e pela publicação, antes de 1936, das seguintes obras: Estu­
dos (l.“ a 5.* séries); Política e Letras; Política; Problemas da Burguesia;
Preparação à Sociologia; Pela Reforma Social, Contra-Revolução Espi­
ritual; Indicações Políticas; Esboço de uma Introdução à Economia Mo­
derna; Pela Ação Católica; Economia pré-Política; Introdução ao Direito
Moderno; No Limiar da Nova Era; O Espírito e o Mundo.
(89) AMOROSO LIMA (Alceu), “A Reação Espiritualista”, in A
Literatura no Brasil, op. cit., p. 427.

34
CAPÍTULO II

A FORMAÇÃO POLÍTICA DE SALGADO

A formação intelectual e a aprendizagem política de Plínio


Salgado se elaboram no contexto da sociedade em transição dos
anos 20. Vinculado por tradição política paterna à Velha Repú­
blica, a qual seu pai servira como chefe político local, permanece­
rá ligado ao Partido Republicano Paulista até 1930. Quando a vi­
tória do movimento revolucionário rompe com o sistema político
dominante, Plínio opta por um novo engajamento ideológico sob
o impacto da experiência modernista. Sua ação até 1930 envolve
uma contradição básica: embora engajado num partido político
tradicional, participa da vanguarda da revolução estética moder­
nista. O peso do seu passado político leva-o a integrar-se nos
grupos oligárquicos tradicionais, embora sua atividade literária
o estimule a romper com os padrões vigentes na sociedade. A
última tendência predominará quando Salgado, após ter parti­
cipado de uma tentativa frustrada de renovação do Partido Re­
publicano Paulista, decide tentar uma nova experiência política.

1 — A ORIGEM REPUBLICANA

A atividade política do chefe integralista inicia-se na Pri­


meira República com uma experiência em nível local e, mais
tarde, se desenvolve, no âmbito regional, no seio do Partido
Republicano Paulista (P.R.P.).
A primeira fase da ação política de Salgado, nascido em
fins do século passado (1895), corresponde ao período onde ele
morou em sua pequena cidade natal do vale do Paraíba, São

35

L
Bento de Sapucaí (Estado de São Paulo). A influência do meio
familiar lhe transmite a formação religiosa, o gosto pela política
e o sentimento nacionalista.
Salgado descende de uma família católica e de tradição polí­
tica. Seu avô paterno, de origem portuguesa, após ter estudado
Humanidades em Coimbra, emigrou para o Brasil por “razões
políticas” (') e seu avô materno, nascido na Espanha, era pro­
fessor, “amigo das letras latinas e homem político do Partido
Conservador do Império” (2). Seu vínculo, porém, com a Velha
República, se estabelece através de seu pai, o coronel Francisco
das Chagas Esteves Salgado, farmacêutico e chefe político local
desde o início da República e que, segundo consta, exercia tão
forte liderança municipal que São Bento chegou a ser um dos
únicos municípios paulistas onde não havia oposição à política
do Partido Republicano.
A formação intelectual de Salgado sempre foi marcada por
um sentimento nacionalista e religioso. Sua mãe, professora da
Escola Normal, ensina-lhe “as primeiras lições de História do
Brasil, de História Sagrada, de Geografia, de Aritmética e de
Francês” (3); seu pai, que “era profundamente nacionalista e
admirador de Floriano”, “tinha o hábito de, à noite, reunir seus
filhos para lhes contar as proezas de Caxias, Osório e os episódios
da vida dos grandes homens de Estado do Império”, sem jamais
revelar aos filhos o Estado de origem desses personagens, a fim
de os formar em um sentido nacionalista e não regionalista (’)•
Salgado prossegue sua formação religiosa e intelectual como
aluno secundarista do Externato São José. E quando seu pai
morre, em 1911, estava cursando Humanidades no Ginásio Dio­
cesano de Pouso Alegre (Minas Gerais), sendo obrigado a aban­
donar os estudos aos 16 anos.
Nesta época, ele publica, num pequeno jornal literário, O
Albor, talvez uma de suas primeiras poesias, onde exalta a im-
portância das idéias na evolução histórica (5):

(1) Obra coletiva, Plínio Salgado, São Paulo, Ed. Revista Panorama,
1936, p. 7.
(2) Ibid., p. 8.
(3) Ibid., p. 7.
(4) Ibid., p. 10.
(5) O Albor, 1(1), junho — 1915, p. 3. Suas poesias de juventude,
no estilo parnasiano, foram reunidas em 1919, em uma coletânea intitu­
lada Thabor.

36
O Livro

O iivro c um forte guerreiro,


É um rijo batalhador. . .
Domina o Universo inteiro
Com formidável vigor,
Responde augusto c altaneiro
Cheio de um vivo fulgor!
O livro é um forte guerreiro. . .

Nas mais tremendas batalhas,


Nos conflitos das nações,
— Mais forte que mil fornalhas
Das forjas de mil titões. —
Tem mais valor que as metralhas,
Tem mais valor que os canhões
— Nas mais tremendas batalhas!

O livro é um forte guerreiro. . .


Nas mais tremendas batalhas!...

Jovem sem recursos, Plínio começa a trabalhar em São


Bento onde desempenha diversas atividades. Durante um certo
tempo exerce as funções de agrimensor, o que o põe em contato
com o setor rural; a partir de 1916, ingressa no jornalismo, tor­
nando-se redator principal do Correio de São Bento (G). Pouco
a pouco transforma-se numa personalidade local, porque, além
de suas funções de jornalista, professor e secretário de um ginásio
local, Salgado integra o Gabinete Português de Leitura, o Tiro
de Guerra 440, dirige um grupo de teatro e um clube de futebol.
Em 1918, casa-se com Maria Amélia Pereira, enviuvando um
ano depois, quando nasce a primeira e única filha (7).
Salgado prossegue sua formação intelectual como autodida­
ta, lendo muito, sobretudo obras filosóficas. A descoberta da fi­
losofia provoca-lhe uma crise intelectual e confessa aderir ao ma-
terialismo (s). Quando terminava a leitura das obras completas
de Spencer, foi atingido pela gripe espanhola. Após esta fase, co­
meça a interessar-se pela obra de Farias Brito, que vai atraí-lo a
uma concepção espiritualista do mundo e aproximá-lo de Jackson

(6) Este jornal, fundado em 1916, pertencia a seu cunhado, Joaquim


Cortcz "Renno Pereira.
(7) Ele se casará novamente uma dezena de anos mais tarde, quan­
do já era chefe integralista.
(8) “As novidades do materialismo histórico mc haviam fascinado
aos 17 anos”, in SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, Rio, José
Oympio, 1935, p. 14.

37
de Figueiredo. Nesta época começa a preocupar-se com os pro­
blemas brasileiros, embora ainda por mero diletantismo.
Em 1918, ao atingir a maioridade, inscreve-se como eleitor
e participa da organização do Partido Municipalista, formado por
líderes de várias localidades do vale do Paraíba, com objetivo
de “combater a ditadura do Governo Estadual que sufoca os
municípios com a mão de ferro dos diretórios do partido situa­
cionista” (9). Salgado pronuncia também conferências, cuja pri­
meira se intitula “Ordem e Disciplina” (10), sendo que a preo­
cupação fundamental que inspira o início de sua atividade polí­
tica é a defesa das comunidades locais: “o que me impressionava
mais era o desequilíbrio entre o poder centrai, os Estados e os
Municípios” (n).
A leitura dos discursos e conferências de Salgado, produzi­
dos em sua atividade de jornalista e de político local, revela, de
maneira latente, alguns aspectos de seu pensamento que serão
desenvolvidos, mais tarde, em sua ação ideológica.
O primeiro aspecto é a exaltação nacionalista. Algumas
conferências feitas por Plínio Salgado, em São Bento, inspiram-se
geralmente em temas da história nacional. O tom de retórica, a
exaltação dos acontecimentos e dos personagens, demonstram
seu exaltado patriotismo. Em conferência pronunciada em 1916,
por ocasião do aniversário da Independência do Brasil, manifesta
o tom de seu nacionalismo: “Brasileiros! Precisamos amar nossa
Pátria até o delírio e entre as duas palavras de D. Pedro (Inde­
pendência ou Morte), optar sempre pela independência. Seja­
mos patriotas até o delírio, sejamos unidos e fortes e o futuro
será nosso. Nunca mona em nossos corações a fagulha do pa­
triotismo” (12).
O segundo aspecto é a exaltação da luta como fonte de
energia das Nações. Após haver indicado as causas da decadên­
cia dos impérios e das nações (“só morrem os povos que se dis­
solvem na lascívia e na indolência”), faz um elogio a Cartagc
no passado e à Alemanha de Bismarck no presente, como exem­
plos de nações forjadas no combate. A lição que Salgado extrai
destes feitos é a glorificação dos povos guerreiros: “Benditos os
povos que desaparecem lutando, porque a guerra é forte e digna

(9) Obra coletiva, Plínio Salgado, op. cit., p. 10.


(10) Pronunciada no Tiro de Guerra de Paraisópolis (Minas Gerais).
(11) Entrevista com Plínio Salgado, dezembro de 1969.
(12) SALGADO (Plínio), Correio de São Bento, (19), setembro de
1916.

38
e os seus nomes não morrerão jamais. A guerra é justa. Ela é
um fenômeno consequente de uma causa fatal: a irradiação das
raças (...)• A guerra é selvagem, mas é justa, porque é a con­
sequência trágica da luta pela vida a que Deus condenou todos
os povos” (13). A exaltação da luta e a visão trágica da história
se articulam com seu nacionalismo através da idéia de que só os
povos que lutam podem sobreviver e se afirmar como nação. Ele
defende esta tese num discurso pronunciado em 1919, no qual
afirma que “neste crítico momento da nossa história universal
(. ..) as grandes revoluções sociais anunciam que uma nova era
vai surgir, era em que as nacionalidades fracas terão que sub­
mergir no caminho que conduz às Nações fortes!” (14).
A segunda fase da atividade política tradicional de Salgado
se desenrola em São Paulo. Não podendo mais permanecer em
São Bento de Sapucaí por motivos políticos locais, tenta a sorte
na capital do Estado, onde consegue o emprego de suplente de
revisor no Correio Paulistano, órgão do Partido Republicano Pau­
lista. Os contactos com os grupos intelectuais e políticos, seja nas
reuniões que realizava na pensão em que morava, na Avenida Brig.
Luís Antônio, seja nas discussões políticas e modernistas na reda­
ção do Correio Paulistano, abrem novas perspectivas para a for­
mação cultural e política de Salgado. Mais tarde, descreverá num
de seus romances, o clima destas discussões na pensão, que expri­
miam o estado de dúvida existente no primeiro grupo de jovens
intelectuais (15), do qual faziam parte Raul Bopp, Plínio Mello,
Mário Graciotti, Augusto Frederico Schmidt, Cassiano Ricardo e
outros. O próprio Salgado relata sua participação nas atividades
do grupo: “Nossas leituras eram todas marxistas. Não cheguei
a ficar comunista, porque as “novidades” do materialismo histó­
rico já me tinham fascinado aos dezessete anos, quando lia Bu-
chner, Lamarcke, Haeckel, Le Bon, devorando a filosofia burguesa
de Spencer, na qual encontrava, agora, tanta afinidade com a
obra de Marx (. ). Seria longo descrever o drama pelo qual
passávamos naqueles dias. Quase todos os que me rodeavam lá
se foram para Lenine. Outros, fugiram para (...) o campo

(13) Ibid.
(14) SALGADO (Plínio), Correio de São Bento, 3(23), fevereiro de
1919.
(15) “Esse ambiente foi o inspirador de um dos capítulos mais
interessantes do romance “O Esperado’’ e que tem o título de “O Club
Talvez...’’, in CALLAGE (Fernando), “O Club Talvez”, in Plínio Sal­
gado, op. cit., pp. 149-150.

39
neutral da literatura sem compromissos (....). Foi quando
escrevi os primeiros capítulos de O Esperado" (,G).
O segundo grupo que terá uma influência marcante na for­
mação intelectual de Salgado é o dos intelectuais ligados ao movi­
mento modernista. Sua participação na revolução literária de
1922 reforça suas inclinações nacionalistas. Ainda que seu enga­
jamento em atividades políticas tenha se iniciado no Partido Mu-
nicipalista, é a experiência modernista que vai conduzi-lo ao rom­
pimento de seus vínculos com a Primeira República e a tomada
de consciência da necessidade da organização de um movimento
político independente das forças tradicionais.
No Correio Paulistano, Salgado passa rapidamente de su­
plente de revisor à redação do jornal, por solicitação do redator-
-chefe, Menotti dei Picchia. Na redação do órgão oficial do Par­
tido Republicano Paulista ele encontra o ambiente político e in­
telectual de que necessitava. Os jornalistas estão em contato per­
manente com os dirigentes do Partido, o que abre a possibilidade
de uma eventual carreira política. Na situação de Salgado, jovem
e ambicioso e oriundo de uma pequena cidade do interior, esta
é a situação ideal. Ao mesmo tempo um ambiente intelectual de
vanguarda, já que a maioria dos redatores apóia o movimento
modernista, do qual o redator-chefe, Menotti dei Picchia, é um
dos líderes (17).
No início de sua ação ideológica no seio do P. R. P., Salgado
se engaja numa corrente que quer renovar o velho partido. Os
amigos políticos de Salgado interpretam sua participação na ten­
tativa de renovar o Partido Republicano, bem como sua atividade
literária, como fazendo parte de uma estratégia pessoal: “para
agir dentro das realidades do país, o que Plínio Salgado tinha
a fazer era um trabalho duplo: enquanto procurava despertar
as elites através de um movimento literário, tenta criar, dentro
dos muros de um dos partidos estaduais mais fortes, uma cor-

(16) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., pp. 13 c 14.


(17) A presença do poeta Menotti dei Picchia no Correio Paulis­
tano é muito importante para Salgado, pois ele o convencerá a abandonar
a poesia parnasiana, cstimulando-o a dedicar-se à prosa, in DEL PICCHIA
(Menotti), Testemunho Sobre a novembro de 1969. Salgado tam­
bém escreve à margem de suas atividades no jornal, cm 1926, seu pri­
meiro romance social, O Estrangeiro, que é um dos sucessos literários do
Modernismo e integrará a trilogia de romances sócio-políticos escritos
entre 1926 e 1932.

40
rente renovadora" (,8). Esta deveria se chamar “Ação Nacio­
nal" e visava conciliar o velho Partido Republicano com as
idéias de seu tempo: “tratava-se, como testemunha Cândido Motta
Filho, de fazer reviver no Partido a força e a juventude de seu
passado" (10).
Em realidade, o movimento de renovação procede de uma
cisão do P. R. P. Em 1924, quase ao fim do mandato dc
Washington Luiz como governador do Estado de São Paulo, o
partido dominante se divide em função de conflitos internos reve­
ladores dc um certo deslocamento de forças na oligarquia. O
grupo de oposição, que é dirigido por Alfredo Egydio de Souza
Aranha, amparado por alguns deputados (20) e intelectuais da
nova geração, tem o apoio dos Mesquitas do jornal O Estado
de São Paulo. Esta coalização volta-se contra a velha guarda e,
sobretudo, contra o governo de Washington Luiz. Em conse-
qüência, Salgado se demite de suas funções de redator do Correio
Paulistano e vai trabalhar no gabinete do advogado Alfredo Egy­
dio de Souza Aranha, onde permanecerá por dois anos. Ainda
no período de luta pela renovação do partido, escreve artigos
sob o pseudônimo de Pinus, na tribuna livre de O Estado de
São Paulo.
A tentativa de renovar o Partido fracassa, mas Salgado
permanece ligado ao P. R. P. até a Revolução de 30. Em 1927,
com o sucesso de O Estrangeiro, recebe convite para se apresentar
às eleições legislativas e é eleito deputado estadual em São Paulo,
juntamente com Menotti dei Picchia (21). Mais tarde julga per­
ceber uma outra possibilidade de renovação, aproximando-se de

(18) Obra coletiva, Plínio Salgado, op. cit., p. 16.


(19) MOTTA FILHO (Cândido), Testemunho sobre a A.I.B., junho
de 1970.
(20) A cisão de 1924 é provocada pelo Senador Álvaro de Carvalho,
quando Washington Luiz desfaz sua pretensão ao governo de São Paulo
c indica Carlos de Campos.
(21) “Foi nesse momento, em que eu representei a própria cons­
ciência de uma geração nova, que se impunha, que o Sr. Júlio Prestes,
atendendo não só a esse fato, mas às correntes eleitorais que eu represen­
tava, de há muito, no Norte do Estado, aplaudiu a indicação do meu
nome pelas forças que o faziam, declarando-me que pretendia esforçar-se
para pôr em execução um programa de governo que se enquadrasse na
realidade visionada no Estrangeiro, Obra coletiva, Plínio Salgado, op.
cit., pp. 166 e 167.

41

i
Júlio Prestes, que vinha de ser eleito Presidente do Estado de
São Paulo (22). Ele se enganava uma vez mais.
Alguns anos depois, num artigo publicado em 1931, Salgado
critica severamente o Partido Republicano e explica as razões
do fracasso da Ação Nacional: “Porque já faltava à velha
agremiação a consciência partidária. Aquela unidade de interesse,
que destruiu sempre todas as dissidências organizadas no seio da
grande agremiação ( . .). O P. R. P. não passava de uma má­
quina eleitoral de fazer senadores e deputados.” E acrescenta a
seguir: “Ele se desinteressava completamente pelas questões dou­
trinárias. No seu órgão oficial, O Correio Paulistano, alguns
moços, que tinham feito uma revolução literária em 1922 pre­
gavam abertamente idéias absolutamente contrárias à doutrina
política em que se embasava a grande agremiação. Esses artigos
não eram lidos pelos senadores e deputados, que só cogitavam
de fazer a sua política pessoal e prática” (23). A linguagem de
Salgado bem mostra a ambigüidade da sua posição e revela,
após a Revolução de outubro de 30, sua ruptura com sua expe­
riência política tradicional.

2 — 0 FERMENTO NACIONALISTA

A evolução ideológica de Salgado, nesta fase, se explica mais


pela influência da revolução literária do que por sua experiência
política em partidos tradicionais. O próprio Plínio ressalta o
efeito produzido pelo Modernismo sobre sua geração: “A revo­
lução literária e artística de 1922-1923 teve o mérito de acender
um chamejante espírito de rebeldia, com o qual iniciávamos a
derrubada dos velhos cultores da forma, quebrando ( .) o
ritmo político do país” (24). Esta hipótese confirma-se ainda
mais quando ele indica as leituras de sua geração após a Semana
de Arte Moderna: “De 1922 a 1926, eram tão absorventes as
leituras que fazíamos de Marinetti, Soffici, Govoni, Apollinaire,

(22) Quano Júlio Prestes se toma candidato à sucesso de Washing­


ton Luiz, os jovens do partido que estavam na Câmara, Menotti c Sal­
gado, viam nele o instrumento da reconciliação do partido e a possibi­
lidade deste se renovar, in MOTTA FILHO (Cândido), Testemunho so­
bre a AIB, junho de 1970.
(23) SALGADO (Plínio), “Panorama III’’, A Razão, 2/8/31.
(24) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., p. 7.

42
Cocteau, Max Jacob, Cendrars, como, de 1926 a 1930, foram ps
leituras de Marx, Sorel, Lenine, Trotski, Riazanov, Pleckanov,
Feuerbach” (25).
Plínio Salgado participa discretamente da Semana de Arte
Moderna e sem o prestígio dos grandes nomes do movimento:
“Nós éramos mais promessas sem livros” (26). Seu papel será
mais importante nas correntes pós-modernistas.
Em pleno clima modernista, Salgado produz um conjunto de
ensaios nas colunas do Correio Paulistano, mais tarde reunidos
no volume Discurso às Estrelas, que refletem “um período de
experiência de estilo moderno” (27). Num artigo posterior, ele
se refere ao contexto da aparição destes ensaios que, entre 1921
e 1923, se situam na passagem da poesia à prosa: “Estávamos em
plena revolução literária e artística. Até aquele momento, muito
se discutia, mas nada ainda se havia realizado em prosa moderna
(...). Comecei minhas experiências nas colunas do Correio
Paulistano" (28).
A geração de 1922 se caracteriza numa primeira fase (1922-
-1930), por sua ruptura com o passado e pelo interesse crescente
pela política em detrimento das preocupações exclusivamente
estéticas. As opções políticas dos modernistas se distribuem tanto
na esquerda como na direita, da mesma forma que na Europa
certos futuristas italianos inclinam-se para o fascismo e a maior
parte dos “surrealistas” franceses para a extrema-esquerda. Ape-

(25) Ibid. Karl H. Hunsche afirma que a influência cultural fran­


cesa nesta época é preponderante, mas após a ascensão de Mussolini
predomina a influência italiana: “O fato de que a Itália tomou o lugar
da França, encontra sua razão no desenvolvimento político do Estado
italiano desde 1922. Plínio Salgado conhecia a experiência fascista por­
que em São Paulo, onde morava, “escreve Lechler cm seu estudo sobre o
integralismo brasileiro (LECHLER (Pfarrer), “Der Integralismus in Bra-
silien”, in Der Deutsche Auswanderer, Berlim, janeiro-fevereiro, 1935),
milhares de italianos guardaram sua nacionalidade e são adeptos entusias­
tas de Mussolini. Já formavam um grupo importante que tem mesmo o
seu jornal e com o qual Plínio Salgado mantém relação há longo tempo’’,
cf. HUNSCHE (Karl Heinrich), Der Brasilianische Integralismus, op.
cit., p. 32.
(26) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., p. 7.
(27) SALGADO (Plínio), Discurso às Estrelas, São Paulo, Ed. das
Américas, 1956, p. 9.
(28) SALGADO (Plínio), Sentimentais, São Paulo, Editora das Amé­
ricas, 1956, pp.368-369. Os principais ensaios do Discursos às Estrelas
são: “O Sentimento da Tragédia”; “Os Bondes, os Homens e a Vida”;
“O Desconhecido”; “O Sonho do Bebê”.

43
nas destas diferenças nas tendências ideológicas, há um fundo
comum a todos eles, que é o nacionalismo.
As principais tendências modernistas no período de 1922 a
1930 são, segundo Amoroso Lima (20), a tendência “primiti-
vista” de Oswald, de Alcântara Machado (30); a tendência “di-
namista” de Graça Aranha, Ronald de Carvalho e Guilherme
de Almeida (31); a tendência “mística” de Tasso da Silveira,
Andrade Muricy, Murilo de Araújo, Cecília Meirelles (32) e,
enfim, a tendência “nacionalista” de Menotti dei Picchia, Plínio
Salgado, Cassiano Ricardo e outros” (33).
No seio das tendências modernistas de São Paulo, a polari­
zação se estabelece, sobretudo, entre os “primitivistas” com o
grupo Pau Brasil, de Oswald de Andrade (que mais tarde se
torna “antropofágico”) e os “nacionalistas” do Verdeamarelo,
que se metamorfoseia no movimento da Anta, dos quais toma
parte ativamente Plínio Salgado. As correntes mais representa­
tivas, no Rio, são: a corrente “espiritualista” de Tasso da Silveira
que se desenvolve em volta da revista Festa e a corrente “dina-
mista” de Graça Aranha. Entre os membros das correntes “na­
cionalista” e “espiritualista” o integralismo recrutará seu chefe e
um grupo de intelectuais.
O grupo Verdeamarelo de Salgado, após dois/ anos de po­
lêmica, decide “optar pela ação, colocando-se a serviço da análise,
em profundidade, da vida brasileira e de seus problemas”; funda-
-se, então, o grupo da Anta, cuja denominação é sugerida por
Salgado em homenagem ao “mamífero totem” da raça tupi (3‘).
O movimento é “uma espécie de ala esquerda do Verdamare-
lismo” porque, conforme Salgado, “os chamados modernistas se
desviavam do rumo de uma revolução necessária”. Ele considera

(29) Entrevista com Alceu Amoroso Lima, Rio, junho, 1969.


(30) Os ‘primitivistas’ queriam se inspirar nos temas primitivos do
país e do povo brasileiro.
(31) Os “dinamistas” se caracterizam pelo culto do “movimento, da
velocidade, do progresso material e técnico”.
(32) A tendência “mística” era a herdeira do simbolismo espiritua­
lista c, segundo Alceu Amoroso Lima, é o movimento “que traz ao mo­
dernismo o elemento espiritual”.
(33) Os “nacionalistas” reivindicam a nacionalização da literatura,
segundo os temas brasileiros, indígenas, folclóricos e a recusa da influen­
cia européia.
(34) SILVA BRITO (Mário da) A Literatura no Brasil, op. cit., p. 468.

44
que o Verdeamarelo se encontra fechado “num nacionalismo
demasiadamente “exterior" e pictórico. Urgia desenvolver um
nacionalismo interior, intuitivo" (35).
Salgado, referindo-se a esta época do Verdeamarelismo e
da “revolução da Anta" descreve a atmosfera de retorno às raízes
nacionais que inspirou o grupo: “O Brasil começou a interessar,
com a sua paisagem, a sua gente, suas lendas e tradições, seus
dramas, sua luta, seus mistérios africanos e tupis, seu linguajar,
suas toadas e canções, a índole e a cadência de suas vozes
bárbaras" (3e).
Nesta época ele crê que “há mais ensinamentos de moderni­
dade de estilo (37), numa simples palavra tupi do que num mani­
festo de Marinetti, numa arenga altruísta, um panfleto de Dadá,
ou ultimamente, num escrito dos surrealistas. Com o ser apenas
nacionais, profundamente brasileiros, teremos ultrapassado tudo
o que se tem feito ultimamente na Europa" (38). E Salgado
acrescenta noutra passagem: “A nossa formação espiritual brasi­
leira tem por base a completa destruição dos ídolos europeus e
o despertar das energias adormecidas no recesso do sangue e da
alma do Brasil" (39).
Numa conferência sobre literatura moderna, em 1926, Plínio
explicita seu nacionalismo literário: “Estamos em condições de
criar uma arte brasileira, com elementos exclusivamente brasi­
leiros. Não vejo em que nos sejam superiores os outros povos,
sob qualquer aspecto (. . .). Precisamos crer com entusiasmo nas

(35) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., p. 11.


O movimento “Anta” nasce sob a influência de Alarico Silveira, que
era um grande estudioso da contribuição indígena na formação étnica
brasileira. Da mesma forma, sob a influência de Oswald de Andrade, o
movimento do Pau-Brasil se transforma em Antropofagia, pregando
“um retorno ao primitivismo, na condição que seja cm estado de pureza,
quer dizer sem compromisso com a ordem social estabelecida. Cabe obser­
var, finalmente, que a tendência ideológica dos membros destes grupos
literários não tem a mesma direção: os participantes do movimento
Anta optam pela direita e os da Antropofagia pela esquerda, SAL­
GADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., p. 11.
(36) Ibid., p. 9.
(37) Esta exaltação do elemento nacional não está em contradição
com o fato de que Salgado reconhece a influência européia no início do
modemismo: “As preocupações e pesquisas dos revolucionários da Arte,
na Europa, que nos haviam orientado no período de nossa insurreição
literária, tinham-nos dado a chave dos enigmas brasileiros”, Ibid., p. 8.
(38) Ibid., p. 49.
(39) Ibid., p. 73.

45
possibilidades imensas do Brasil, e, longe de continuarmos a vi­
ver como lunáticos, preocupados em arte, com os deuses da Gré­
cia e batizando-nos crentes de todas as filosofias estrangeiras e
fanáticos pelas ideologias exóticas e sugestões de outros climas
— procuremos compreender a Nossa Terra, para nela descobrir­
mos as bases de uma cultura exclusivamente brasileira (.. )•
Proclamemos a nossa independência intelectual!” (40).
Recentemente, num depoimento, Salgado justifica sua parti­
cipação nos movimentos modernistas e explica, especialmente,
qual foi a significação do movimento “Anta”: “Nós procuráva-
mos raízes nacionais para o nosso nacionalismo, e o retorno à
língua tupi era uma delas (41). O que influiu muito em nós foi
a obra de Couto de Magalhães, O Selvagem (. . .). Nós tínhamos
notado que, no romantismo, José de Alencar apanhou um índio
muito estilizado, muito europeizado e que não tinha ainda raízes
profundas. Nós procurávamos as raízes profundas, porque o ín­
dio é o denominador comum de todas as raças.” Adiante, põe em
relevo o papel do índio na formação do novo tipo nacional e a
importância da mistura de raças no Brasil: “No planalto de Pi-
ratininga houve amplos cruzamento de portugueses e espanhóis
com os índios, que produziram a raça dos bandeirantes (. )-
O cruzamento deu-se amplamente no Brasil: no Nordeste foi
grande, e na Amazônia enorme. Isto deu ao tipo fundamental
brasileiro uma capacidade de absorção (...). Á raça tupi não
desapareceu, ela está no sangue da raça como fundamento desta
miscigenação de todos os povos da terra” (42).
A procura de raízes nacionais leva Salgado a desenvolver
a idéia da formação de uma nova raça sobre uma base étnica
comum. “É bem possível, diz ele, que essa unidade racial (. . .)
tenha origem no elemento tupi (...). Todas as raças estran­
geiras que para aqui vierem terão no tupi uma espécie de deno­
minador comum...” (43). Acrescenta que “o Novo Mundo está
destinado a ser a grande pátria da raça harmoniosa, resultado de
íntimas correspondências de todas as raças. E, na América, ne-

(40) Ibid., pp. 33 e 35-36.


(41) “Com Raul Bopp, atravessei muitas noites estudando a língua
tupi. Líamos, de preferência, Barbosa Rodrigues e Couto de Magalhães.
Esta atitude estava tão fora de cogitações políticas e literárias do mo­
mento, que ninguém nos entendeu”, Ibid., p. 12.
(42) Entrevista com Plínio Salgado, Brasília, dezembro de 1969.
(43)SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., pp. 36, 37
e 38.

46
nhum país, como o Brasil, sc reserva a ser a pátria universal” (44).
Noutra passagem ele retoma a mesma idéia: “Tudo indica (...)
que uma multiplicidade de fatores e ocorrências converge na
formação una da nacionalidade brasileira e que justamente os
traços étnicos diferenciais, assim como as modalidades climaté-
ricas variadas, antes de constituírem um empecilho, determinam
uma possibilidade maior para que se plasme no Brasil um tipo
humano futuro, que será, incontestavelmente, dos mais superio­
res e inteligentes. Despertemos no coração dos brasileiros a
consciência desse grande destino” (45).
Salgado, enfim, tenta explicar as raízes da inquietude de
sua geração nas origens indígenas da nacionalidade: “Estes gritos
de angústia da geração nova do Brasil devem provir das inúbias
guerreiras que tinham ficado dormindo em nosso sangue, en­
quanto as gerações precedentes prolongavam a submissão do
caboclo sob a influência dos dominadores” (,c). E conclui com
a profecia: “Creio que ao caboclo brasileiro está destinado um
grande papel no mundo” (47).
A melhor prova de que o seu engajamento político se faz
através da literatura é fornecida por ele mesmo num artigo escri­
to em 1927, intitulado “Diretivas da Nova Geração”: “À primei­
ra vista, parece não haver relação plausível entre a queda da
Velha Literatura, que tombou desmoronada, na famosa Semana
de Arte Moderna que realizamos em São Paulo, e as outras for­
mas de atividade social brasileira. Na realidade, a literatura foi
tão tradicionalmente separada da política, em nosso país, quanto
esta o foi das realidades ambientes.” Após haver justificado o
efeito da revolução literária sobre seu pensamento político, con­
clui com apelo aos intelectuais: “Chegou o momento da intelec­
tualidade brasileira influir decisivamente nos destinos do país,
como aconteceu na Rússia, com Dostoiewsky, Tolstoi, Máximo
Gorki, Turgueniev, Kropotkine, Gogol; ou na Alemanha com
Nietzsche (...); ou na Europa inteira, nas vésperas da Revolu­
ção Francesa, com Jean-Jacques Rousseau, o homem do leme,
e Voltaire, o homem da proa. . .” (I8).

(44) Ibid., p. 55.


(45) Ibid., pp. 58-59.
(46) Ibid., p. 37.
(47) Ibid., p. 46.
(48) SALGADO (Plínio), Literatura e Política, São Paulo, Editorial
Helios, 1927, pp. 19-21.

47
Salgado reconhece sua metamorfose e que “em conseqüên-
cia do estudo do índio, o mistério da Unidade Nacional absor­
ve-me. Minhas leituras eram, nesses dias, Alberto Torres, Eu-
clides da Cunha, Oliveira Vianna. O político despertava no es­
critor” C9). Pode-se, pois, legitimamente concluir que o engaja­
mento literário representou uma experiência mais crucial para
Salgado do que sua participação em atividades políticas.
Primeiramente, porque o modernismo conduz toda uma
geração a tomar consciência de que, para encontrar a identidade
nacional, é preciso rejeitar os moldes estéticos e literários euro­
peus, fonte de alienação cultural das elites. Além disto, porque
esta nova consciência deve ser alimentada por um nacionalismo
realista, fundado na exaltação do índio, da nova raça em for­
mação e das potencialidades da Nação, para fazer face ao nacio­
nalismo romântico, idealizador do “bom selvagem” liteiário e
influenciado pela cultura européia. Enfim, esta consciência na­
cionalista adquire um significado político na medida em que o
movimento modernista, colocando em causa as elites tradicionais,
ameaça o sistema dominante. Neste contexto, a literatura e a
política interpenetram-se. Logo após, desiludido com a política
republicana tradicional e estimulado pela revolução literária mo­
dernista, Plínio Salgado parte em viagem para o Oriente e a
Europa, em abril de 1930, como preceptor do filho de um advo­
gado de São Paulo (50). Esta viagem terá um papel desenca-
deador na sua decisão de lançar um movimento ideológico in­
dependente.

3 — A METAMORFOSE IDEOLÓGICA

A metamorfose ideológica de Plínio Salgado se processa sob


a atmosfera intelectual da revolução estética. Sua obra roma­
nesca, escrita em pleno período modernista, estabelece a ponte
entre sua atividade de escritor e de ideólogo político. A publi­
cação, em 1926, do romance O Estrangeiro, fixa o marco inicial
da mutação ideológica do futuro chefe integralista: “Meu pri­
meiro manifesto foi um romance” (51). Depois, os ensaios reu-

(49) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., pp. 12 e 13.


(50) Alfredo Egydio de Souza Aranha, com o qual trabalha entre
1924 e 1926, c, que, em 1932, financiará a 1fundação do jornal A Razão,
(51) SALGA DO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., p. 5.

48
nidos, em 1927, no volume Literatura e Política, estabelecem a
transição do diletantismo ao engajamento. Enfim, os dois outros
romances sociais, O Esperado e O Cavaleiro de Itararé, publica­
dos respectivamente em 1931 e 1932, são obras impregnadas de
problemática política: o primeiro coincidindo com sua atividade
de jornalista político em A Razão e o segundo com o lançamento
do Manifesto de Outubro de 1932. Essa série de livros são reve­
ladores do tipo de concepção de Plínio sobre a situação econô­
mica, social e política dos anos 20. Eles refletem sua inquietação
com as contradições de uma sociedade em transição e a fonte
de onde brotam e se elaboram alguns dos temas fundamentais
da ideologia integralista.
As transformações sócio-econômicas do após-guerra provo­
cam em Salgado uma atitude crítica face ao desenvolvimento in­
dustrial e as suas conseqüências. Ele denuncia o “instinto da
máquina”, o “mal urbano”, a “luta de classes”, o “cosmopolitis-
mo”. Seu rompimento político com a Primeira República não o
conduz necessariamente à contestação política, pois ele não ma­
nifesta simpatias nem pelo movimento tenentista nem pela Alian­
ça Liberal. Ao contrário, no romance O Cavaleiro de Itararé,
denuncia as “revoluções” da década de 1920. Portanto, sua con­
cepção política em gestação se inspira, em última análise, na efer­
vescência ideológica das elites intelectuais no após-guerra que re­
sulta da confluência entre o despertar nacionalista, a revolução
literária e a renovação espiritual (52).

a — Um escritor engajado
O principal efeito da revolução literária sobre o pensamento
político de Salgado é o de transformar sua atitude face à política:
torna-se um escritor engajado. Por um lado, em 1927, esboça
sua primeira interpretação política da sociedade brasileira na co­
letânea Literatura e Política; por outro procura desenvolver uma
análise sócio-política da evolução da sociedade brasileira na tri­
logia de seus romances sociais.

(52) Salgado, alguns anos após a publicação do romance O Estran­


geiro, analisando seu significado, dirá: “Nunca mais abandonei esta ba­
talha. O drama de meu povo apoderou-se de mim. As dores, os miste­
riosos tumultos de uma sociedade cm formação, as lutas políticas, os cal-
deamentos étnicos, cosmopolitismo e nacionalismo e os instintos bárbaros
da floresta, angústia do pensamento e vagas ansiedades coletivas, tudo isso
mc empolgava no turbilhão de músicas estranhas”, Ibid., p. 6.

49
A leitura do conjunto das crônicas de Salgado faz ressaltar
três temas dominantes. Em primeiro lugar, elas pretendem con­
vencer os intelectuais a abandonar sua torre de marfim e incor­
porar à sua atividade literária uma preocupação real com os pro­
blemas brasileiros; em segundo lugar, elas apresentam alguns ele­
mentos de análise crítica da sociedade brasileira com relação ao
contexto internacional; enfim, elas propõem algumas diretrizes
para a solução dos problemas brasileiros e o autor estabelece as
bases da elaboração de um novo pensamento político adaptado
às necessidades nacionais.
Desde o prefácio de seu ensaio, percebe-se a inquietude po­
lítica do autor: “Escrevi estas crônicas como quem faz um con­
vite aos intelectuais do seu país. Convite para que nós, os escri­
tores brasileiros, nos interessemos mais pela nossa terra.” Nos
parágrafos seguintes, ele tenta definir as causas do distanciamen­
to dos intelectuais da realidade brasileira: ‘‘Na esfera puramente
literária, nosso romance e nossa poesia sempre tiveram um ca­
ráter de diletantismo, porque não foram sentidos, mas simples­
mente imaginados. Não se originaram nunca de raízes étnicas,
das dores profundas, dos dramas sociais, do meio cósmico e das
condicionalidades históricas. Pois o intelectual brasileiro não
pôde ser o médium possuído de si mesmo, quer dizer das forças
e das vozes nacionais que estão no seu sangue, pelo fato, jus­
tamente, de divorciar-se da vida vivida no seu país” (53).
Consciente da necessidade de engajamento, Salgado esboça
uma análise política da sociedade brasileira. Desde esta época
suas crônicas revelam uma preocupação dominante com o âmbito
da política e nelas encontram-se freqüentemente referências críti­
cas ao sistema político vigente.
Um dos aspectos mais enfatizados no seu diagnóstico sobre a
política brasileira relaciona-se ao caráter artificial da implantação
do regime republicano no Brasil: “As condições do país eram
extremamente favoráveis, em 1889, ao que poderemos chamar
triunfo formal do regime; mas eram grandemente desfavoráveis
ao que denominaremos a vitória essencial do novo sistema” (5‘)-
Salgado tenta relacionar a proclamação fictícia da república com
as distorções que irão introduzir-se no sistema político: “A Re­
pública, abolindo velhas prerrogativas, ligou-nos mais à Amé-
ca, separando-nos definitivamente da Europa. Foi uma segunda

(53) SALGADO (Plínio), Literatura e Política, op. cit., pp. VI-VII.


(54) Ibid., p. 123.

50
independência. No entanto, a multidão brasileira não tinha ca­
pacidade política para compreender isso. O Exército fez a Re­
pública. Mas nós sabemos que à exceção de uma elite de mili­
tares cultos, impregnados mais de doutrina do que inspirados pe­
las realidades ambientes, o soldado brasileiro não havia formado
uma consciência do regime que inaugurou. A Nação, pois, acei­
tou a República, até com entusiasmo, se quisermos, mas todas
as circunstâncias impediam-na de colaborar na sua organização.
Começa aí o desequilíbrio entre a ideologia democrática e a rea­
lidade do país” (55).
A constatação de um desequilíbrio entre o “país legal” e o
“país real”, como diria Charles Maurras, incita o autor, ainda de
uma maneira fragmentária, à crítica da “utopia democrática”.
Plínio começa por negar a viabilidade histórica dos partidos polí­
ticos: “A organização de partidos entre nós é impossível porque
não existem coincidências de interesses econômicos para a forma­
ção de classes ou grupos associativos (...). As formas abstratas
da ideologia republicana contrapõem-se às formas concretas das
manifestações da vida brasileira, condicionada aos meios geográ­
ficos e às circunstâncias econômicas. Todas as tentativas para
a formação de partidos são inúteis, porque se apoiam em teorias
incompreensíveis à realidade pragmática da vida brasileira” (56).
Depois concentra sua crítica no sufrágio universal, que “dá
ao patrão e ao operário a faculdade de depositar (...) a mesma
dose de vontade significativa do voto. Nas assembléias comer­
ciais, o industrial vota pelo número de ações (. ); entretanto,
na vida pública, não há medida possível para as capacidades po­
líticas. Todos são iguais. Cada voto é a unidade. A organização
das elites dirigentes, por processos seletivos, torna-se impossível
na prática, em conseqüência do preconceito democrático da igual­
dade dos direitos políticos”. A partir dos partidos e do voto,
estende suas várias críticas ao sistema democrático, proclamando
^ua inviabilidade: “O triunfo pleno da utopia democrática só
pode corresponder à burla das minorias que não se formaram
por processos seletivos e que, para manter-se, hão de, em todos
os tempos, simular amparar-se em fórmulas e princípios pura­
mente convencionais” (57).
Além da distância entre “a ideologia democrática e a reali­
dade do país”, Salgado denuncia um outro desequilíbrio ao nível
(55) Ibid., pp. 127 c 128.
(56) Ibid., p. 128.
(57) Ibid., pp. 61 e 62.

51
sócio-econômico: “o mal urbano’'. Em seu artigo “A Cidade e
a Província”, ele aborda pela primeira vez este problema que
tomar-se-á um dos temas dominantes no nacionalismo integra­
lista: “O que ressalta à observação das inteligências por mais
medianas que sejam é que essa situação angustiosa é resultada
exclusivamente pelo mal urbano, pela centralização industrial,
pela fascinação das cidades” (5S). Noutro artigo, intitulado
‘‘Problemas Brasileiros”, ele retorna ao tema num tom mais dra­
mático: ‘‘O Brasil precisa salvar-se do mal urbano, que tem cria­
do situações artificiais inexplicáveis” (50).
O ritmo da urbanização impressiona o jovem jornalista
oriundo do interior de São Paulo. O problema do mal urbano não
se associa ainda a uma visão crítica da industrialização capitalis­
ta, mas é uma advertência sobre o caráter cosmopolita das gran­
des cidades do litoral, esquecidas da realidade da província cuja
conseqüência é a desintegração do país. A esta altura ele se per­
gunta: “Está o Brasil em idade de sofrer as dúvidas e as angús­
tias que acabrunham a Europa? Devemos transplantar para aqui
os problemas dos povos fatigados? Insistiremos em agravar a si­
tuação do desequilíbrio entre a faixa litorânea e o sertão? O cos-
mopolitismo de certas zonas brasileiras não representa maior pe­
rigo para os destinos da nacionalidade, do que o fanatismo deli­
rante dos núcleos incomunicáveis dos recessos do país?” (60).
Plínio refere-se noutra passagem, aos riscos da “indiferença
cosmopolita”; “Chegou, entretanto, o momento de abrirmos os
olhos para os perigos que nos ameaçam c à comunhão brasileira,
se triunfar o fatal indiferentismo cosmopolita” (C1)- Mas o que
no fundo angustia o autor, com relação à concentração urbana e
ao cosmopolitismo, é a grande permeabilidade das massas urba­
nas às ideologias exóticas e o efeito do mal urbano sobre a for­
mação da consciência nacional.
A preocupação do ensaio de Plínio Salgado, entretanto,
ultrapassa os limites dos problemas nacionais porque a geração
modernista está marcada pelos dilemas de sua época. Ele pró-
prio manifesta esta opinião no prefácio de seu livro: “E ver-se-á,
finalmente, que tomei o Brasil dentro do seu tempo e das con-

(58) Ibid., p. 46.


(59) Ibid., p. 106.
(60) Ibid., p. 49.
(61) Ibid., p. 53. Ele faz, sem dúvida, referência ao drama das po­
pulações de Canudos de Os Sertões.

52
tingências internacionais, sob a impressão fortíssima da situação
nacional em face da luta de idéias que derivou, nos velhos paí­
ses, da Grande Guerra e da Revolução Russa” (C2).
Ele está consciente que em razão do declínio da democracia
liberal, a Europa se encontra frente a um dilema: o comunismo
ou o fascismo. “Ambos, profundamente materialistas, decretam
a falência da democracia — ou triunfa o imperialismo econômico
baseado no “nacionalismo”, no “fascismo”, na “ditadura mili­
tar”; ou vence o imperialismo político da Terceira Internacio­
nal” (63). Face a este dilema que ele não aceita para o Brasil,
Salgado, desde esta época, manifesta uma vaga intenção de agir:
“É prematura a organização dos partidos (. . .). Precisamos, an­
tes de mais nada, criar uma opinião nacional, que não é mais
do que a coordenação das manifestações já expressas e definidas
da “alma nacional” (®4).
A partir desta época, dois elementos que permitem prever
o nascimento da Ação Integralista Brasileira encontram-se esbo­
çados: o primeiro é o desejo de elaborar um pensamento novo,
adaptado à nossa realidade; o segundo, a existência de uma pre­
disposição para o engajamento, embora a solução fascista não se
lhe afigure ainda como a melhor opção. Estas duas idéias se
encontram no prefácio do ensaio, onde Salgado faz alusão ao
papel reservado à sua geração: “Movimento (...) mais de ação
do que de pensamento, ele será, por certo, a Grande Véspera de
um definido pensamento nacional, que tomará com mão forte
o lugar que lhe compete na evolução política e social brasi­
leira” (65).
Esta nova concepção deve buscar sua inspiração, sobretudo,
na análise da sociedade nacional feita por autores nacionais:
“Sentir-se-á nestas páginas a impressão que me tem ficado da
obra de Alberto Torres, da ponderação de Tavares Bastos, do
novo pensamento nacional que, com feições diferentes, por vezes
contrastantes, espalha-se na literatura social e política de Oliveira
Vianna, Pontes de Miranda, Licínio Cardoso, Roquette Pinto,

(62) Ibid., p. XII. É interessante constatar que estes dois aconteci­


mentos fazem parte do contexto que dará origem aos fascismos euro­
peus.
(63) Ibid., p. 63-64. Sua posição face ao fascismo evoluirá na tri­
logia de romances sociais progressivamente a uma atitude de simpatia
com relação ao fascismo.
(64) Ibid.. p. 67.
(65) Ibid., p. XIII.

53
Tristão de Athayde, Jackson de Figueiredo, e outros de igual
merecimento” (66). Resta a sublinhar que Salgado se recusa a
fazer um julgamento definitivo sobre os sistemas políticos exis­
tentes e sua posição com relação aos regimes comunista ou ca­
pitalista. “Nem desejo antecipar-me a idéias que poderão ir ama­
durecendo vagarosamente no meu espírito à proporção que a
experiência e a observação constante dos nossos fenômenos na­
cionais me forem esclarecendo no rumo mais útil aos interesses
humanos. O necessário é colher do que se passa no mundo al­
guma lição proveitosa” (*7).
O último aspecto a ressaltar são os motivos que impõem a
necessidade de uma ação político-ideológica. A primeira é a
constatação de que novas camadas sociais aparecem na luta so­
cial e política; a segunda, a elaboração de um novo tipo étnico
nacional; a terceira, a superação da ameaça cosmopolita pela
afirmação nacional.
O primeiro motivo envolve a proposição de que as trans­
formações da sociedade devem ser dirigidas, idéia que ele colo­
cará em relevo nos seus romances sociais: “As manifestações
volitivas, desordenadas e sem rumo da atividade brasileira, ex­
pressas em formas partidárias ou revolucionárias destes últimos
tempos, longe de nos entristecerem, revelam-se como sinais da
presença de forças reais, que a mentalidade nova do Brasil deve
aproveitar e dirigir” (68).
O segundo estabelece uma relação entre a elaboração so­
ciológica e a elaboração intelectual. Salgado retorna ao tema da
formação de uma nova raça que já abordara em seus primeiros
escritos: “Há um paralelismo extraordinário entre o destino geo­
lógico do nosso continente sul-americano e a sua predestinação
social (. . .). Aqui, inicia-se a elaboração de um tipo futuro de
humanidade, cuja expressão é ainda tão incerta como a fisio­
nomia geográfica que resultará do drama geológico do Ama­
zonas” (e®).
O terceiro motivo implica na convergência da nova ação
ideológica sobre a pesquisa da identidade nacional, que deve se
apoiar sobre dois elementos: o nacionalismo primitivo e o nacio­
nalismo integrador da nacionalidade. Nacionalismo primitivo por­
que “somos embalados pelas mesmas lendas nativas (. . .), pelos
(66) Ibid., p. XI.
(67) Ibid., p. 48.
(68) Ibid., pp. 39 c 40.
(69) Ibid., pp. 88-90.

54
cantos da terra e da raça, pelas nossas histórias heróicas, que
não podemos deixar que se extingam” (70); nacionalismo de in­
tegração nacional porque “chegamos ao momento decisivo em
que devemos optar: ou pela obra de unificação espiritual da na­
cionalidade dentro das nossas condicionalidades históricas, geo­
gráficas e sociais, ou pela abdicação completa de nossos direitos
de afirmação, da nossa fisionomia de povo e de país” (71).

b — Os romances sociais
A análise de alguns temas do ensaio “Literatura e Política”
permite constatar que Salgado se mostra sensível aos problemas
políticos e ainda aberto às influências ideológicas. Na trilogia
dos romances sociais, ele vai mais longe, porque, sob a forma de
“crônicas da vida brasileira”, focaliza os aspectos mais impor­
tantes da evolução da sociedade nas três primeiras décadas do
século XX.
O Estrangeiro, publicado em 1926, é geralmente considerado
como uma das melhores expressões romanescas (72); em 1931
aparece O Esperado, cujos capítulos finais foram escritos em
Paris; enfim, o último romance da trilogia, O Cavaleiro de Ita­
raré, foi editado em 1933, após a fundação da Ação Integralista
Brasileira.
Dois aspectos preliminares devem ser abordados. O pri­
meiro concerne à continuidade dos três romances: teria o autor,
desde o início, a intenção de construir uma trilogia, ou seriam as
“crônicas da vida brasileira” simplesmente romances isolados
versando sobre problemas de evolução sócio-política? Em teste­
munho recente sobre a história dos romances, Salgado afirma
que “não tinha a intenção de fazer uma trilogia. Os romances
nasceram espontaneamente” (73). Entretanto, em contradição com

(70) Ibid., p. 83.


(71) Ibid., p. 87.
(72) O Estrangeiro foi muito bem acolhido; O Esperado teve menor
repercussão, e O Cavaleiro de Itararé é considerado como “um romance
a serviço de um movimento político num estilo decadente”. É certo po­
rém, como observa Wilson Martins, “que O Estrangeiro como O Espera­
do são as melhores realizações romanescas dos anos 20. Com o mesmo
estilo expressionista de que Oswald de Andrade havia feito uso claudican-
te, Salgado criará um esboço do que serão, na próxima década, os ro­
mances sociais e políticos” in MARTINS (Wilson), A Literatura Brasilei­
ra, op. cit. p. 251.
(73) Entrevista com Plínio Salgado, Brasília, dezembro de 1969.

55
sua declaração, Salgado escreverá no prefácio da primeira edi­
ção de O Cavaleiro de Itararé, em dezembro de 1932: “(9 Cava­
leiro de Itararé foi anunciado na primeira página de O Esperado,
em 1930, como a terceira etapa de um trabalho que eu me pro-
pus depois de O Estrangeiro em 1926 (...); é o terceiro tes­
temunho de um contemporâneo. O Estrangeiro foi uma adver­
tência, O Esperado um prognóstico. O Cavaleiro de Itararé de­
veria ser ou uma glorificação ou um anátema contra a naciona­
lidade” (n). Se a intenção de proselitismo está manifesta neste
prefácio, no de O Esperado, com um tom menos retórico, ele
faz também referência a um esquema de trilogia pré-concebido,
embora pareça provável que ele se tenha elaborado a partir do
sucesso de O Estrangeiro. Plínio escreve que O Esperado ‘‘per­
tence à série de crônicas da vida brasileira contemporânea, que
começaram com O Estrangeiro, que se desdobra diante do pano­
rama mais complexo de O Esperado e que continuarão, possi­
velmente, no terceiro marco da nossa marcha, que será O Cava­
leiro de Itararé" (75).
O segundo aspecto implica em que não se pode compreen­
der a ideologia integralista sem penetrar no significado dos ro­
mances de Salgado, onde se encontra sua interpretação da reali­
dade brasileira, num período de ebulição política e, ao mesmo
tempo, alguns temas de sua concepção ideológica através de ma­
nifestações de certos personagens.
A leitura da trilogia romanesca revela uma crescente politiza-
ção da temática do autor. O Estrangeiro limita seu tema às
regiões brasileiras sob a influência da imigração, enquanto em
O Esperado e O Cavaleiro de Itararé, ainda que o enredo se
circunscreva a São Paulo, se referem ao sistema político e social
brasileiro em seu conjunto. O Estrangeiro preocupa-se com o
problema da assimilação do imigrante à comunidade nacional.
O Esperado descreve o drama das massas disponíveis à espera
de um messias. O Cavaleiro de Itararé, enfim, faz a análise crí­
tica das revoluções brasileiras.
Seria, pois, válido avançar a hipótese de que a ampliação
dos temas nos romances se explica fundamentalmente pela de­
finição progressiva das intenções políticas do autor. Quando

(74) SALGADO (Plínio), O Cavaleiro de Itararé, São Paulo, Edi­


ções Panorama, 1948, pp. 5-6.
(75) SALGADO (Plínio). O Esperado, São Paulo, Edições Pano­
rama, 1948, p. 13.

56
Salgado termina de escrever O Esperado, a formação de um
movimento ideológico já estava em seus planos desde seu retorno
da Europa, enquanto O Cavaleiro de Itararé aparecerá dois me­
ses após a fundação da Ação Integralista, com evidente vocação
política. Aliás, essa relação entre sua atividade de romancista
e sua ação política já era estabelecida por seus adeptos políticos:
“Hoje ele é principalmente o pensador político. Ontem, era o
romancista ágil e visionário, mas não poderá compreendê-lo quem
separar as duas faces de sua personalidade. Para entender Psico­
logia da Revolução, é preciso ler O Estrangeiro, O Esperado e
O Cavaleiro de Itararé. É evidente que o pensador de hoje já
existia em germe no romancista de ontem” (76).
O Estrangeiro foi publicado em janeiro de 1926. A pri­
meira edição de três mil exemplares esgota-se rapidamente e uma
segunda edição é colocada nas livrarias, em setembro do mesmo
ano. Este romance tem como subtítulo “Crônica da Vida Pau­
lista” e pretende “fixar aspectos da vida paulista nos últimos
anos” (77).
A problemática que está subjacente no romance, é “a for­
mação de São Paulo, que era a do Brasil. Conglomerado de ra­
ças de várias procedências, de culturas, umas querendo sobre­
pujar as outras”; a mensagem do livro, é o “nacionalismo” (78).
Seu objetivo principal é descrever a “vida rural, a vida provincial
e vida na grande cidade”, onde as correntes migratórias de di­
versas origens estão por realizar uma grande fusão étnica. O
romance mostra “a ascensão social do colono (a família Mandol-
fis); a decadência das raças antigas (a família Tapajós); a mar­
cha do “caboclo” para o sertão e o seu novo percurso para o
oeste (Zé Candinho); o deslocamento do imigrante nas suas
pegadas para criar um novo período agrícola (Humberto); o re­
gresso dos antigos fazendeiros para a Capital e a chegada de
novos elementos para a função pública” (70).
Neste contexto de mobilidade social e geográfica, Salgado
revela “o nacionalismo latente no mestre-escola Juvêncio”, o
personagem com o qual mais se identifica. Contudo, o persona­
gem central do romance é Ivan, um emigrante russo, “síntese de

(76) MOT1A (Jeovah), Plínio Salgado, op. cit. (obra coletiva), p. 115.
(77) SALGADO (Plínio), O Estrangeiro, São Paulo, Editora Helios,
1926, p. 7.
(78) Entrevista com Plínio Salgado, Brasília, dezembro de 1969.
(79) SALGADO (Plínio), O Estrangeiro, p. 7.

57
todos os personagens” (80), que após ter trabalhado na agricul­
tura emigra para a capital, onde se torna bem sucedido indus­
trial. O epílogo do romance é o suicídio de Ivan, durante uma
festa que promove em sua usina, cujo ato simboliza as angústias
do Velho Mundo que traz consigo, das quais não se libera, por­
que sua integração à sua nova pátria fracassara. A crítica dos
costumes políticos se limita ao chefe da oposição, o major Fe-
liciano, encarnação do ‘‘charlatanismo da política imperante” (81).
O centro deste romance, em última análise, é o drama de Ivan,
isto é, a luta do estrangeiro procurando se enraizar em uma nova
sociedade e arrastando com ele toda uma gama de problemas
universais.
O próprio Salgado, num artigo escrito em 1956, reconstitui
o clima no qual fora elaborado o romance: “Respirava-se na
Terra Bandeirante uma atmosfera de vivo nacionalismo e brasi-
lidade. Um grande educador, Guilherme Kulmann, realizava o
pensamento do Presidente do Estado (Washington Luiz), crian­
do nos Grupos Escolares um escoteirismo profundamente brasi­
leiro e (...) a Instrução Moral e Cívica.” Em 1923, Salgado
acompanha o Secretário da Educação, Alarico Silveira, em uma
viagem ao Norte do Estado de São Paulo, região em que se de­
fronta com a nova realidade: o processo de assimilação dos imi­
grantes. “Foi em Monte Aprazível que senti o primeiro toque
de inspiração revelando-me o tema que desenvolví depois no
romance. Nossa primeira visita foi às Escolas Reunidas (.. ).
Meninos e meninas, fardadinhos de escoteiros, militarmente ali­
nhados, romperam o Hino Nacional. As suas fisionomias reve­
lam o processo de caldeamento: europeus, asiáticos, negros, mu­
latos, caboclos, exprimiam-se num só tom cantando o Hino da
nossa Pátria” (...). Regressando a São Paulo, escrevi um ar­
tigo com o título “A Terra Jovem”, que o Correio Paulistano
publicou. Nunca imaginei que esse artigo fizesse tão grande su­
cesso (. .). Posteriormente, em minhas funções de repórter, vi­
sitei a velha zona do café (. . .). Uma típica fazenda dos tem­
pos patriarcais apresentou-se aos meus olhos (. . .). Foi ali que
eu criei a família Pantojo; a decadência dos paulistas antigos
(. ..) e o tipo de Zé Candinho, o caboclo forte (. . .) mas in­
conformado naquela zona velha da Mogiana, pronto para a
aventura sertaneja que ele deveria empreender” (82).
(80) Ibid., p. 8.
(81) Ibid.
(82) SALGADO (Plínio), Sentimentais, op. cit., pp. 358-363.

58
A. trama de O Estrangeiro coloca em relevo dois temas que
preocupam Salgado nesta época: a fusão étnica e o nacionalismo.
A epígrafe da primeira parte do romance define a idéia da
assimilação étnica: “Eu creio que o Saci, na sua puerilidade, sabe
enfrentar todas as formas do imperialismo pacífico. . (83). Este
tema reaparece sistematicamente na boca de diversos personagens:
“O major Feliciano não admitia que estrangeiros governassem.”
O mestre de escola, Juvêncio, na sua fé nacionalista, exprimindo
o pensamento de Salgado, respondia que era preciso “paciência
e reação contínua. Eles serão absorvidos. É uma fatalidade” (84).
O tema do nacionalismo aparece na situação burlesca do
mestre de escola, Juvêncio, estrangulando perante seus alunos, os
papagaios que ganhara de presente, porque haviam aprendido
com seus antigos donos emigrantes a repetir as palavras do
hino fascista: “Giovinezza, Giovinezza, primavera di belleza!”
Juvêncio exalava nacionalismo: “o patriotismo é a religião ter­
rena”. A pátria “é um misterioso idioma que se conversa com
a terra e com as estrelas. Só o entende quem sofreu e sentiu
no país”. . . (85).
Estes dois temas se conjugam na idéia de Juvêncio orga­
nizar “um exército de tradições e instintos da terra (. . .), para
construir com eles a viva muralha chinesa, que tornaria o Bra­
sil inatingível” (8fi).
Este nacionalismo é indissociável do tema do anticosmo-
politismo que se encontra na epígrafe da segunda parte do ro­
mance: “e, apesar de todas as luzes de uma civilização cosmo­
polita, o Boitatá acende o seu fogo no sertão”. . . (87). O pro­
fessor Juvêncio explicita esta idéia ao dizer que “o urbanismo é
a morte da nacionalidade. Porque é a morte do homem trans­
formado no títere cosmopolita. O homem degrada-se em con­
tato com o homem; só a íntima correspondência com a Natu­
reza o eleva da condição universal de símio” (88).
Mas o tema que domina é o da formação da nacionalidade
e que Ivan sintetiza numa passagem onde, criticando a velha

(83) SALGADO (Plínio), O Estrangeiro, op. cit., p. 13.


(84) Ibid., p. 67.
(85) Ibid., pp. 267, 138 e 103.
(86) Ibid., p. 101.
(87) O “Boitatá” é uma superstição bastante propagada no Sul do
Brasil. Teria sua origem no fenômeno natural do fogo-fátuo e segundo
a crença popular, desviaria o perigo de incêndio dos campos.
(88) SALGADO (Plínio), O Estrangeiro, op. cit., p. 90.

59
sociedade decadente, anuncia a nova nação, simbolizada por
alguns personagens do romance. “Aqui estamos atores da Tra­
gédia Nova. Sinto o Brasil corpo e alma, palpitantes. . . Hum­
berto (o filho de um imigrante) é o Sangue; Eugênio (o inte­
lectual) é o Espírito, e Juvêncio (o mestre de escola naciona­
lista) é o Sentimento — Coração do Brasil — que marcará o
ritmo do sangue novo. .(89).
O Esperado, publicado em 1931, é um romance complexo
e controvertido, cuja trama é de natureza política. Salgado o
publicará após a Revolução de 1930, sendo que alguns capítu­
los foram escritos durante sua viagem à Europa, quando já
havia decidido criar um movimento político. Este livro foi
acusado por muitos de ter um conteúdo messiânico. E Salgado
se defende: “Este livro é um inquérito, é uma posição nume­
rosa de estados de espírito nacionais’’ (90). Romance, messiâ­
nico ou não, é uma questão polêmica mas o que é indiscutível
é a análise crítica das instituições da Velha República, que
Salgado desenvolve em suas páginas.
A história do romance gira em torno de um projeto de lei
prejudicial aos interesses do Brasil em discussão no Legislativo
e que daria a um truste inglês o controle sobre a venda do café
brasileiro no mercado internacional. O projeto é apoiado por
um senador da República que devia manipular a máquina polí­
tica, fazendo-o passar no Congresso. As implicações econômi­
cas, sociais e políticas do projeto, porém, desencadeiam uma
luta acesa entre diversos grupos sociais e ideológicos com inte­
resses contraditórios. Esta disputa introduz na cena política
novos grupos sociais produzidos pelo processo de urbanização:
estudantes, trabalhadores, intelectuais e organizações ideológicas.
Ao contrário de O Estrangeiro, onde Ivan é o centro do
enredo, este romance não possui um personagem central. Sal­
gado se esforça em imaginar uma história onde “não se desta­
casse nenhuma figura isolada da tragédia espiritual em que ele
mesmo vivia, junto de seus companheiros’’.. (91)- A crítica
da Velha República se encarna na figura do senador Avelino
Prazeres, sem ideologia definida, oportunista e corrupto, asso-

(89) Ibid., pp. 265 e 266.


(90) SALGADO (Plínio), O Esperado, op. cit., p. 5.
(91) Ibid.

60
ciado a grupos estrangeiros. O senador considera que “tudo se
pode enquadrar dentro dos bons princípios democráticos. Era
a psicologia do velho chefe. O espírito do regime (...) consti­
tuía uma espécie de jardim de aclimatação, onde todos os bi­
chos da fauna ideológica poderíam submeter-se a uma mesma
condição ambiente” (®2). Sua atitude face aos interesses estran­
geiros no Brasil revela um certo cinismo, quando declara: “É
natural, representando o café o nosso grande produto e o Esta­
do de São Paulo o centro das atividades do país, que para aqui
volte o sindicato as suas primeiras vistas (...). As vantagens
para os países pobres da América do Sul, como para o Brasil
e São Paulo, são incalculáveis, e, para nós, pessoalmente, muito
mais ainda. . . ” (93).
O autor mostra que existe uma solidariedade básica entre
um político da situação e da oposição, como o deputado Becca:
“Entre os oposicionistas e os governistas havia um acordo táci­
to; o mesmo respeito pueril pelas fórmulas republicanas (. . ).
Seria injusto dizer-se que Avelino Prazeres não era sincero. Ele
o era. O seu corpo e a sua alma constituíam uma verdadeira ar­
gamassa republicana. A sua mentalidade equivalia, exatamente,
à do Dr. Becca, o deputado da oposição amamentado, também,
no mesmo leite da legítima democracia (.. .)• Todo o empenho
de Becca consistia em provar que Avelino não praticava os prin­
cípios republicanos. E Avelino fazia soar as tubas de sua elo-
qüência para demonstrar que o Dr. Becca punha em perigo o
regime” (°4).
Além destes dois políticos típicos da Primeira República,
aparece nos bastidores a figura de Mr. Sampson, representante
dos interesses ingleses defendidos pelo senhor Avelino, e a de
Mr. Hyggins que apóia a oposição na luta em favor dos inte­
resses americanos contra o imperialismo inglês: “Os jornais
falavam de Mister Sampson como uma potência providencial.
Ele aparecia em todos os negócios, facilitando empréstimos aos
governos dos Estados e dos Municípios (...). Impunha-se como
um embaixador do capitalismo imperialista das velhas nações
absorventes” (°5). No outro campo, havia Mr. Hyggins cola­
borando com a oposição: “Mr. Hyggins, de New York, falava
na doutrina de Monroe e chamava, para certos tópicos da con-

(92) Ibid., p. 93.


(93) Ibid., pp. 41 c 42.
(94) Ibid., p. 43.
(95) Ibid, p. 107.

61
versa, o testemunho de autoridades norte-americanos em direi­
to público, em direito internacional e ponderações comercia-
listas” (90).
O autor descreve uma sociedade em transição com suas
conseqüências psico-sociológicas. Personagens dos mais contra­
ditórios se apresentam no palco e expressam as mudanças da
sociedade brasileira: Soiidônio, o trabalhador contestador, os
esquerdistas Mano e Manfredo, o burocrata Camurça, o jorna-
lista oportunista Gavião Teixeira e o cabo eleitoral Conrado.
Como dizia Jeovah Motta: “Em traços crus desfilam através
das páginas nervosas as paisagens morais e intelectuais daquele
tempo: a corrupção política, a escravidão do país aos interesses
dos cabos politiqueiros e dos grupos financeiros, a mediocrida­
de da vida, a luta dos fortes esmagando os fracos, a tortura da
mocidade trabalhada de dúvidas, de inquietações, de ânsias va­
gas e de presságios tristes” (97).
Salgado procura exprimir a insatisfação geral da sociedade
na procura desordenada de uma saída. A primeira parte do ro­
mance se intitula “Que Angústia é Essa”? Neste contexto surge
uma figura messiânica, associada às aspirações do “Clube Tal­
vez” (98) e de todo o povo. É uma figura misteriosa, misto de
aspiração e de alucinação.
O messianismo se intensifica na terceira parte do romance,
intitulada “O Ofício das Trevas”, onde emergem as novas for­
ças sociais em luta, por ocasião da discussão do projeto no
Congresso Nacional. O clima de agitação e de tensão política
descrito nesta última parte, explica o sentido messiânico da epí­
grafe: “. . .e até que chegue o Desejado, serão multiplicadas as
angústias, e a Pátria terá, como nos dolorosos ritos, o seu Ofí­
cio de Trevas!” (").
O messias se torna a fixação do “Clube Talvez”: “Evange-
lino Tupã, de olhar iluminado, anunciava profético — Cairão as
Trevas, o Sol se apagará. Os homens tatearão e ninguém se
entenderá. E os corações esperarão a aurora, na noite longa” (’°°).

(96) Ibid., p. 188.


(97) MOTTA (Jeovah); Plínio Salgado, op. cit., pp. 116 e 117.
(98) O Clube que reúne intelectuais e militantes se chama “Talvez”
porque ele traduz o estado de dúvida e de procura de seus elementos na
situação do país.
(99) SALGADO (Plínio), O Esperado, op. cit., p. 144.
(100) Ibid., p. 156.

62
A obsessão messiânica se personifica na última parte do
romance, quando os grupos de defensores e de adversários do
projeto de lei no Congresso se defrontam na rua: é hora do
“Ofício das Trevas”. No momento em que o projeto é posto em
discussão no Congresso, eclode uma tempestade e com a luz de
um raio que percorre o céu, os membros do Clube vêem, pro­
jetada no firmamento em convulsão, a figura de quem eles es­
peravam.
O romance termina com o delírio de Edmundo Milhomens,
personagem com o qual Salgado mais se identifica e que sob o
efeito da febre, ouve o clamor de um povo em marcha desor­
denada: “Parecia uma procissão vagarosa. Numerosa. De todos
os lados da carta geográfica do Brasil (. . ) Quarenta milhões
de seres humanos andando (. . ) Escutem. . Há um rumor de
passos. . O Brasil está andando. . São multidões que cres­
cem de todos os lados. Não são barulhos do mar, nem das
florestas, nem do vento. Ouço passos andando. ..” (101)- E
Salgado conclui o romance com uma questão que ele deixa sem
resposta: “Para onde?” (102).
O Esperado é uma obra messiânica? Salgado, em uma nota
escrita no início do romance, em 1936, tenta refutar esta inter­
pretação: “Em toda a minha obra política, não tenho feito outra
coisa senão combater o fatalismo messiânico (...)• Este ro­
mance chama-se exatamente O Esperado porque fixa, de um
modo predominante, sobre as realidades sociais do Brasil, essa
enfermidade nacional.” Sua intenção seria a de descrever criti­
camente a “marcha de uma população em disponibilidade que, à
espera de um vago Messias, sem um pensamento que a ilumine,
caminha, num rumor de passos, sem saber para onde” (103).
É indiscutível que Salgado critica a predisposição ao mes­
sianismo do povo brasileiro, inclinado a esperar passivamente a
vinda de um salvador. Num artigo publicado em julho de 1931,
ele manifesta claramente uma atitude crítica face ao messianismo:
“Em todos os momentos angustiosos, espera-se um homem no
Brasil. É o único ponto em que todos os brasileiros estão de
acordo. Mas é fácil de explicar o motivo desse acordo. Ele se
origina do próprio desacordo geral. Só os povos sem nenhum
sentimento de unidade, sem nenhum senso político de coletivida-

(101) Ibid., p. 201.


(102) Ibid., p. 203.
(103) Ibid., p. 5.

63
de nacional conseguem fazer projetar-se no rebojo das angústias
das massas a figura fantástica do herói desejado.” Entretanto o
nacionalismo realista de Plínio leva-o a aceitar este fenômeno
como um lado da realidade psico-sociológica do povo. Considera
que não se pode rejeitar o messianismo, mas utilizá-lo como uma
fonte de energia política a ser transformada. No fundo, é em
nome desta visão da realidade que ele recusa como inviável a
transposição dos modelos políticos estrangeiros. “Como é frágil
o idealismo desses sonhadores que acreditam que a salvação do
Brasil virá do funcionamento dos partidos e da realização da
república perfeita. . . Como é utópico o sonho daqueles que ainda
acreditam que faremos alguma coisa, fora do terreno prático des­
sas realidades elementares...” (104).
Apoiando-se nesta idéia, ele se propõe a transformar a ati­
tude de passividade messiânica do povo brasileiro num elemento
positivo: “Ele só poderá surgir de um movimento nacional. Sem
criar o movimento em todas as providências não temos o direito
de esperar um homem. Pois o chefe exprime uma consciência,
uma cultura, uma unidade de propósitos, e enquanto estas não
forem criadas, não será estabelecida a corrente do pensamento,
o estado de espírito propício ao aparecimento de um intérprete
da Nação. Ao Messianismo contemplativo da raça, temos de
opor a criação dinâmica das circunstâncias culturais e morais
que constituem o meio propício à elaboração das personalidades
típicas expressivas do gênio da Pátria. A “virtü” de Maquiavel
é um índice de espírito nacional. O trabalho que nos cabe fazer
é o de criar as condições históricas indispensáveis ao afloramento
dessa “virtü” no tipo futuro do estadista brasileiro (105).
No romance que escreverá, em 1934, A Voz do Oeste, sobre
a epopéia dos bandeirantes, Salgado retoma o tema do messianis­
mo. Ele pensa que o povo brasileiro resulta da fusão do messia­
nismo português (“sebastianismo”), nascido da lenda de D. Se­
bastião, rei durante a dominação espanhola, com o messianismo
indígena que ouve o apelo da terra (a voz do oeste), de onde
partiram seus ancestrais tupis. Os dois messianismos se mesclam
na fusão dos dois povos. Para viabilizar esta combinação de
messianismos foi preciso que a nação tupi descesse dos Andes
para o litoral atlântico e que os portugueses fossem tomados pelo

(104) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., pp.


131-136.
(105) Ibid., p. 116.

64
magnetismo geo-sexual”. Então, deste encontro, nasceu o no
messianismo que não é nem o sonho errante do índio, nem o
sonho contemplativo do lusitano: “Esse novo messianismo é todo
feito de ação. O homem que surge do cruzamento étnico do En­
coberto” e da “Voz do Oeste” (...) foi a América que o re­
velou” (10°).
Resta um outro tema importante a mencionar: a atitude do
autor face ao fascismo. Salgado não manifestara, até então, ne­
nhuma simpatia pelo regime fascista nem em o Estrangeiro,
nem em seus escritos anteriores. No romance O Esperado obser­
va-se uma mudança de atitude. Esta se revela num diálogo,
onde dois personagens discutem a melhor forma de resolver os
problemas do país. Após a rejeição do liberalismo “será o comu­
nismo? Perguntou Lantier desdenhoso. O fascismo? Indagou
o velho Vivacqua”. A resposta anônima é: “Quem sabe? Quem
poderá dizer que coisa falta ao Brasil? Quem adivinhará que
ausência o mundo moderno deplora?” (107). O fascismo, por­
tanto, não é mais para Salgado uma ideologia exótica imposta
pela Europa, mas torna-se aos poucos uma alternativa possível.
O Cavaleiro de Itararé foi escrito num período da decepção
de Salgado com a Legião Revolucionária de São Paulo e, sobre­
tudo, com a indefinição da Revolução de 1930. A primeira é
provocada pelo abandono das idéias que propusera no texto do
Manifesto da Legião, que redigira após seu retorno da Europa.
A segunda pela ausência de direção ideológica nos rumos da Re­
volução de 1930.
O romance aparece dois meses após a divulgação do Mani­
festo Integralista de outubro de 1932. Seus objetivos são polí­
ticos e, para alguns críticos literários, este romance marca o mo­
mento do abandono da literatura. O romance se dirige “à juven­
tude civil e militar do Brasil” e o autor precisa que se trata de
um livro “escrito em horas amargas de desilusão, diante do pa­
norama de uma pátria aviltada pela ignorância, pelo egoísmo,
pela má-fé de uma geração infeliz” (. . .). O romance constitui
um livro apaixonado. Um livro de ironia e de revolta. Um livro
de sarcasmo e de violência (...).É um livro de angústia, de
cólera sagrada, composto atropeladamente, aos pedaços, muitas
vezes nos instantes mais dramáticos de uma vida de obscuros
(106) SALGADO (Plínio), A Voz do Oeste, Rio, Livraria José Olym-
pio, 1934, pp. 120-121 e 144.
(107) SALGADO (Plínio), O Esperado, op. cit., p. 82.

65
heroísmos (108). Plínio conclui seu prefácio, lançando um desa­
fio e um apelo dramático à juventude: “Se a juventude civil e
militar não assume um papel decisivo; se continuarmos a assis­
tir, de braços cruzados, à confusão dos espíritos, ao jogo das intri­
gas, ao desencadear das ambições dos mil grupos que desarticu­
lam a opinião nacional, então nada mais resta a tentar pela sal­
vação do Brasil. E este livro pode muito bem ser o epitáfio de
uma Pátria” (109).
A história do romance parece banal: duas crianças, perten­
cendo a famílias de níveis sociais contrastantes, são trocadas por
ocasião do nascimento. O filho da família de linhagem aristo­
crata é educado por uma família modesta e numerosa que, não
podendo suportar os encargos de tantas crianças, destina um
deles a um seminário e outro à caserna. Desta circunstância, Ur­
bano seguirá a carreira militar e será mais tarde um dos tenentes
da Coluna Prestes e acabará exilado no Paraguai. Teodorico, fi­
lho do pobre Capistrano, recebe sua educação em Paris, tornan­
do-se um “bon vivant” e aproveitador. Certo dia, seu irmão de
sangue, Pedrinho, ferroviário (sem que nenhum dos dois o saiba)
vem a amar a jovem Elisa com a qual pretende se casar. Teo­
dorico, por sua vez, deseja fazê-la uma de suas amantes, sob a
instigação de uma alcoviteira. Pedrinho, furioso, agride esta mu­
lher e acaba na prisão. Revoltado com sua situação, começa a
ler obras comunistas e quando é posto em liberdade consagra-se
a atividades políticas que o levarão mais uma vez à prisão, sob
denúncia de Teodorico. Pedrinho jura vingança. O tenente Ur­
bano, tomando conhecimento do segredo do seu nascimento e do
ódio de Pedrinho a Teodorico, retorna do exílio para impedir o
afrontamento fratricida. Tentando evitar que os dois irmãos se
exterminassem, Urbano se interpõe entre eles e termina sendo
atingido mortalmente pelos golpes que se destinavam aos dois
desafetos.
Este epílogo trágico é uma crítica velada das revoluções bra­
sileiras: a luta entre os irmãos simboliza para Salgado o caráter
fratricida e absurdo das insurreições no Brasil. Contrariamente
a uma versão segundo a qual O Cavaleiro de Itararé seria a antí­
tese do “Cavaleiro da Esperança”, afirma que o tema origina-se
de uma lenda do sertão paulista: “O Cavaleiro de Itararé é um
fantasma que aparece de madrugada e bate nas portas das fazen­
das e onde ele vai, no dia seguinte vem a peste, vêm as moléstias,
(108) SALGADO (Plínio), O Cavaleiro de Itararé, op. cit., p. 5.
(109) Ibid., p. 6.

66
í
todas as desgraças. Então eu ^ol^o ^le “‘Xtasma.
sileiras. É o fantasma, lem siuo uu » „
Como análise, é o melhor dos meus livros ( J-
O romance menciona todos os movimentos revolucionários
ocorridos no país a partir da década de 20: desde o levante o
forte de Copacabana em 1922 e a marcha da Coluna Prestes ate
as revoluções de 1930 e 1932. A crítica mais acerba recai sobre
a revolução de 30, enquanto que sua atitude face ao movimento
“tenentista” revela uma certa admiração pelo heroísmo dos revol­
tados e justifica inclusive a intervenção dos militares na política:
o tenente Urbano pensa que “seria um mal o predomínio militar
num imenso país de paisagens, mas refletia que maiores perigos
se avolumavam nessa excomunhão da vida nacional a que atira­
vam o exército”. Ele atribuía aos militares uma missão: “a de
redentor da nacionalidade, não a de instrumento nas mãos de
oposicionistas astutos, nem de capacho aos pés de governistas
prostituidores”. . . (1U). Quanto à Coluna Prestes sua visão é
mais negativa. Ainda que Urbano considere as populações que
acolheram favoravelmente a Coluna como populações “libertas”,
o autor pergunta: “Mas libertados de quê? Qual o pensamento da
Coluna? (. .). Aquela marcha, acaso não constituiría um novo
anestésico para o esquecimento de realidades pungentes...?” (112).
O exílio de Urbano no Paraguai significa não-somente seu
desacordo com Prestes que optara pelo marxismo, mas uma ati­
tude crítica face à Revolução de 1930: “Divergindo do chefe,
que dera o próprio nome à horda errante e agora se deixava
empolgar por uma doutrina tão contrária ao sentimento brasilei­
ro, Urbano, entretanto, não aderia a uma nova revolução, inde­
finida como a própria indefinição da Coluna” (113).
A Revolução de 1930 é ironizada por Maranduba, persona­
gem que encarna o pensamento de Salgado. A alguém que lhe
pergunta se é revolucionário, responde que: “Queria saber o que
se entendia pela palavra revolucionário. Se se tratava de possuir
idéias novas, respondia afirmativamente: se se tratava, P°rerp’
de derrubar gente velha para manter idéias velhas com g
nova, respondia negativamente” (n4). . r^ário “mendi-
No fim do romance, a figura doinferior,
populações
gando, quase cego e louco”, representa as p p Ç
(110) Entrevista com Plínio Sajgado. de Itararé, op- cit., P- 100.
(Hl) SALGADO (Plínio), O c Cavaleiro
-
(112) Ibid., p. 153.
(113) Ibid., p. 160.
(H4) Ibid., p. 188. 67
vítimas dos revolucionários. “Cesário não resistira (. ) aos de­
sastres de 1930. Como uma obsessão trágica, ficara-lhe gravada,
na imaginação doentia, a imagem fúnebre do Cavaleiro de Ita­
raré.” Ele exclamava, vagueando pelas ruas: “Escute! É o tropel
do Cavaleiro! Foi ele quem me desgraçou! (. .). Ele anda
galopando agora por toda a parte!” E Salgado conclui com esta
frase no fim da página: “O Cavaleiro de Itararé, fantasma cruel,
símbolo das revoluções malditas, galopava sinistramente na ampli­
dão do Brasil...” (115).
No contexto deste romance satírico, pessimista e caótico,
sobressai a figura visionária do filósofo Maranduba, que acaba por
encarnar uma espécie de caricatura autobiográfica de Salgado, com
intuições sobre sua ação política ulterior. É um nacionalista exal­
tado com pretensões filosóficas. Torna-se patriota, quando, com
5 anos, ouve o realejo de um cego tocar o Hino Nacional: “o velho
Maranduba lhe explicara que aquela música era a alma do país .
Mais tarde sua mãe narra-lhe as “histórias heróicas das guerras",
concluindo: “Abençoados os que morrem nos campos de batalha,
desfraldando a bandeira “Deus-Pátria-Família-Liberdade” (com
a exclusão da palavra “liberdade”, esta será a divisa do integra-
lismo). Aos onze anos, suas tendências patrióticas se apagam
frente à devoção religiosa: “Invadia-o um suave sentimento mís­
tico, chorando a infância pobre de Jesus e amaldiçoando os ju­
deus”. Aos vinte anos, “encontramo-lo patriota exaltado, mas
um literário, admirando Rui Barbosa e fazendo discursos (116).
Aos poucos Maranduba descobre que existe “uma Pátria-
-oficial escondendo uma Pátria-real” e, a partir desta tomada de
consciência, ele começa a elaborar suas idéias filosóficas e evolui
“do patriotismo essencial para a idéia absoluta, e desta para a
energia criadora” (n7). Parece seduzido pelo corporativismo
porque “é preciso examinar as opiniões segundo o critério pro­
fissional que as emite” (118) e fascinado pela “vida heróica” (110).
Admirava os militares, cientistas, caboclos, operários e crianças.
Detestava os literatos, os jornalistas, os políticos e os chamados
eruditos. Destes dizia que nos oferecem consciências falsificadas,
que retardam a revelação da Grande Consciência” (12°).
(115) Ibid., p. 275.
(116) Ibid., p. 85.
(117) Ibid., p. 86.
(118) Ibid.
(119) Ibid., p. 88.
(120) Ibid.

68
Maranduba toma consciência da necessidade de agir. O tema
do messianismo retorna a seu espírito. “Sentia que alguma coisa
estalava, quebrava, e urgia criar algo novo para os dias de tumul­
to, que estavam próximos. Como que escutava um tropel surdo,
indistinto. Dos revoltados, dos sonhadores, dos aflitos. Eram os
bárbaros” (121). Decide então criar um movimento com o nome
de “Associação dos Fósforos de Segurança”. É uma organização
hierarquizada: na direção está o “quadro de marechais”, que
tinham por objetivo recrutar adeptos e fazer propaganda. Os
“generalíssimos” se incumbiríam de pagar as despesas (. . .); um
“regimento de bambas” se incumbiría de “rachar a cabeça dos
que tentassem agredir Maranduba” e, enfim, na cúpula estaria
o “senado retórico”, do qual fariam parte os oradores e arti­
culistas partidários da “unidade criadora”. “Adotou um unifor­
me, que consistia apenas de um chapéu de aba quebrada na
testa, presa à capa por um alfinete que trazia o símbolo da
organização” (122).
Infelizmente, a organização de Maranduba fracassa e seu
fundador retorna à solidão filosófica. Um dos personagens do
romance explica a razão do insucesso: “A doutrina de Maranduba
não pode medrar, justamente pelo seu conteúdo de afirmação.
É demasiado absoluta para uma raça que se distingue exatamente
pelo culto dos relativos” (123).
A trilogia termina, pois, com um romance pessimista e sar­
cástico. Na realidade, o que está subjacente aos três romances é
uma concepção trágica da existência e da evolução histórica: em
O Estrangeiro, Ivan se suicida; em O Esperado, Milhomens de­
lira e ouve os estranhos ruídos, em O Cavaleiro de Itararé, Cesário
fica louco. Em todos estes romances, a sociedade brasileira está
impregnada de uma angústia generalizada, as novas camadas
sociais são bárbaros ameaçando as portas da cidadela, as revo­
luções trazem o mal e a peste. Mas uma pergunta permanece
no ar: qual o sentido do fracasso da filosofia de Maranduba?
O paradoxal é que a história de Maranduba não é apenas uma
caricatura romanesca mas uma profecia real do movimento
integralista.

(121) Ibid., p. 89.


(122) Ibid., p. 124.
i (123) Ibid., p. 238.

69
SEGUNDA PARTE

GÊNESE DA IDEOLOGIA

A alma de um povo só se desperta com sacrifício e


com dor.
Plínio SALGADO, Despertemos a Nação.

71
CAPÍTULO I

O DESAFIO DA REVOLUÇÃO DE 1930

A fase “pré-integralista” inicia quando Plínio Salgado incor­


pora à ação política os temas nacionalistas vinculados à sua expe­
riência modernista. Esta fase se caracteriza pelo processo de ma­
turação de uma nova doutrina política, após o rompimento com
o Partido Republicano Paulista. Os contornos definitivos da
ideologia em elaboração se definem durante sua viagem ao Oriente
e à Europa, de abril a outubro de 1930. Desiludido com o par­
tido ao qual pertencia, Salgado medita sobre a política brasileira
à luz da experiência européia da época. Neste período, a idéia
fascista se insinua de forma explícita em seu espírito.
Esta fase é decisiva para a compreensão do itinerário polí­
tico de Salgado e da formação do movimento integralista. Novos
temas se integram à sua visão política. Ainda na Europa, conclui
o romance O Esperado e esboça um manifesto político que, não
podendo ser utilizado para o lançamento do movimento integra­
lista, servirá, mais tarde, de base ideológica para a Legião Revo­
lucionária de São Paulo. Ao retornar ao Brasil, por ocasião da
eclosão da Revolução de 1930, não considera oportuno fundar
o integralismo e dedica-se ao jornalismo político. Toma-se o
redator principal do jornal paulista A Razão, onde começa a
preparar terreno para uma ação ideológica mais ampla. Redigindo
uma “nota política” diária, procura ativar a consciência dos meios
políticos e intelectuais, o que conduzirá um grupo a fundar, sob
sua inspiração, em 1932, a Sociedade de Estudos Políticos
•E. P.), antecâmara do Integralismo.

73
1 — A DESCOBERTA DO FASCISMO

Quando Salgado parte em viagem para o exterior, em 26


de abril de 1930, considera-se afetivamente desligado do P. R. P.
e “sua desilusão dos homens e da política o faz um revoltado” (’)•
Sua participação na renovação do Partido Republicano fracassara'
“O período que vai de 1927 a 1930 revelou-me a impossibilidade
de fazer algo de novo dentro dos velhos quadros partidários e
sociais do país” (2). Este fato leva-o a agir no sentido de trans­
formar a “consciência das massas brasileiras”. Indagado por seus
amigos Menotti dei Picchia e Mário Graciotti sobre seu estado de
espírito, por ocasião de sua partida ao exterior, ele responde sem
modéstia: “Voltarei para fazer a nossa revolução” (3).
A idéia dessa “revolução”, embora não tenha surgido durante
a viagem, desenvolve-se no contato com os países que visita, como
o demonstram os testemunhos e cartas da época. Ele próprio con­
fessa o efeito que lhe causa a “renovação política da Turquia”,
o “fascismo da Itália”, a “leitura de uma ampla literatura comu­
nista que circulava em Paris”, o “estudo da social democracia da
Alemanha”, a “anarquia dos espíritos na Espanha”, a “nova
ordem de Portugal” e as reflexões sobre o “imperialismo inglês
no Egito” (4). Todo esse conjunto de experiências serve para
lhe confirmar “a morte de uma civilização e o advento de uma
nova etapa humana” (5).
O fato marcante dessa viagem, porém, diz respeito à influên­
cia que sobre ele passa a exercer o fascismo italiano. Embora
seja prematuro tirar conclusões sobre as relações ideológicas entre
integralismo e fascismo italiano, a leitura de alguns documentos
divulgados pelos próprios integralistas é bastante reveladora dessa
influência.
Em 4 de julho de 1930, Salgado escreve a um de seus amigos
de São Bento de Sapucaí: “Estou hoje convencido de que o Brasil
não pode continuar a viver na comédia democrática. Aí, eu já
era um descrente em relação ao sufrágio. A eleição, que juntos
fizemos, inspirou-me uma profunda repulsa pelo regime ( . ..)•

(1) CALLAGE (Fernando), “Alguns aspectos de Plínio Salgado”,


in obra coletiva, Plínio Salgado, op. cit., p. 167.
(2) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., P- 15.
(3) Ibid., p. 32.
(4) Ibid., p. 16.
(5) Obra coletiva, Plínio Salgado, op. cit., p. 19.

74
De há tempos que me impressiona o enfraquecimento do po ^r
central (...), o espírito de regionalismo que se acentua dia a
dia e que nos leva a caminho do separatismo; a questão social,
que nos arrastará, de um momento para outro, ao bolchevismo
(. ). O Império legou à República um país unido, homogêneo
(. . .), a República, com mais vinte ou trinta anos, terá comple­
tado a sua obra de dissociação” (6).
Após o diagnóstico da situação brasileira, onde se conjugam
o antiliberalismo, o anticomunismo e o nacionalismo, Salgado
sugere “algumas soluções aos problemas nacionais”. “É necessário
agirmos com tempo de salvarmos o Brasil. Tenho estudado muito
o fascismo; não é exatamente esse regime que precisamos aí, mas
é coisa semelhante. O fascismo, aqui, veio no momento preciso,
deslocando o centro de gravidade política, que passou da metafí­
sica jurídica às instituições das realidades imperativas (...). O
fascismo não é propriamente uma ditadura (como está sendo o
governo da Rússia enquanto não chega à prática pura do Estado
Marxista), e sim um regime. Penso que o Ministério das Corpo­
rações é a máquina mais preciosa. O trabalho é perfeitamente
organizado. O capital é admiravelmente bem controlado (. . .).
Volto para o Brasil disposto a organizar as forças intelectuais
esparsas, coordená-las, dando-lhes uma direção, iniciando um
apostolado” (7).
Plínio conhece a experiência fascista italiana e, em uma das
cartas, relata sua entrevista com o Duce: “Contando eu a Mus-
solini o que tenho feito, ele achou admirável o meu processo,
dada a situação diferente de nosso país. Também como eu, ele
pensa que, antes da organização de um partido, é necessário um
movimento de idéias.” E conclui a carta enfatizando a necessi­
dade de um nacionalismo agressivo: “Refleti sobre a necessidade
que temos de dar ao povo brasileiro um ideal que o conduza a
uma finalidade histórica. Essa finalidade, capaz de levantar o
povo, é o Nacionalismo impondo ordem e disciplina no interior,
impondo a nossa hegemonia na América do Sul” (8).
Quatro dias mais tarde, em nova carta enviada de Veneza,
após haver assistido a três exposições bienais que “honram a
Itália e, principalmente, o governo fascista”, retorna ao projeto

(6) Ibid.
(7) Ibid., pp. 19 e 20. . (
(8) Ibid., p. 21. Plínio também manifesta sua admiração pelo 1ras-
março/abril 1932
cismo no artigo, “Como eu vi a Itália”, publicado em março/abril iv
revista Hierarchia. Vide referência p. 108, nota 14.
75
de formar um movimento de idéias: “da Itália, saí com o pro­
grama de ação. Esse fogo sagrado, não se apagará nesta mara­
vilhosa França dissolvedora do caráter estrangeiro. Levá-lo-ei ao
Brasil. Volto cheio de entusiasmo para trabalhar pela nossa
Pátria” (e).
Contudo, seu projeto de formação de um novo movimento
não pode ser imediatamente realizado porque, quando chega ao
Brasil, em outubro de 1930, havia eclodido a Revolução, não
sendo o melhor momento para fundar um novo movimento polí­
tico. Seu primeiro impulso é o de condenar a revolução: “Sal­
tando em terra, tratei logo de combatê-la. Era a revolução que
defendia um fantasma, a liberal-democracia, concretizada na Cons­
tituição de 1891” (10). Noutro artigo que escreve para O Correio
Paulistano, em 7 de outubro, reafirma seu pensamento: “O Brasil
tem um grande destino a cumprir (. .). Mas o Brasil só reali­
zará esse destino se souber integrar-se no instante universal (. ).
O ciclo da evolução humana se caracterizou pela experiência das
fórmulas de um idealismo político cujos últimos lampejos se ex-
tinguiram definitivamente com a Grande Guerra”. E conclui que
o movimento de 1930 é “uma revolução em nome de um defunto.
Em nome desse liberalismo que já não constitui nem objeto de
discussão em qualquer país do mundo” (ll).
Entretanto, a atitude de Salgado com relação à Revolução
altera-se rapidamente. Inicialmente reconhece o fato de que ela
prestou ao menos um serviço: “Poupou-nos o trabalho de der­
rubar uma velha fachada que escondia os dramas sociais do

(9) CALLAGE (Fernando), “Alguns aspectos da vida de Plínio Sal­


gado”, in obra coletiva, Plínio Salgado, op. cit., pp. 173 e 174. O programa
a que se refere Salgado, esboçado em Paris, será ulteriormente adaptado
e transformado no manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo.
Salgado justifica a utilização do manifesto pela Legião com base na pre­
tensão de evitar que “meia dúzia de comunistas e aventureiros, orientados
pelo Congresso de Buenos Aires, realizado em 1930, absorvessem as
forças revolucionárias do país”. SALGADO (Plínio), Despertemos a
Nação, op. cit., p. 18.
(10) Ibid., p. 17. Segundo um testemunho, ele trouxe consigo, em
sua bagagem, uma biografia de Mussolini: El Duce de Marguerita SAR-
FATTL
(11) SALGADO (Plínio) in Correio Paulistano, 7 de outubro de
1930. Após sua chegada ao Brasil e ainda solidário com Júlio Prestes,
escreve a um amigo: “Estou com Júlio, por um dever de dignidade;
motivos de coerência doutrinária; pela ordem, pelo Brasil conservador,
pelo respeito à autoridade; motivos particulares, minha estima a ele.”
Carta a Augusto Frederico Schmidt, em 14 de outubro de 1930.

76
país” (12). Mais tarde, considera que ela desvincula-se de sua
base liberal e termina reconhecendo que ‘‘o mérito da revolução
de 1930 é o de haver ofertado um leito onde afluem e correm
as angústias confusas do complexo nacional”. Com a evolução
da atitude de Salgado face a Revolução de 1930, compreende-se
sua ligação temporária com a Legião Revolucionária e, sobretudo,
o significado político de sua atividade de editorialista em A
Razão (13).
Salgado se desilude rapidamente da Legião. O ‘‘Manifesto
Legionário” de março de 1931 não encontra entre os revolucio­
nários de São Paulo o apoio desejado. Tenta, ainda, com um
grupo de intelectuais do Rio (dentre os quais muitos participarão
mais tarde da Ação Integralista), “formar uma corrente para
defender os ideais do manifesto. Procura também um líder revo­
lucionário que tivesse capacidade para os chefiar” (ri). A tenta­
tiva de organização do movimento fracassa porque, como dizia
Salgado com ironia, “o Chefe não foi encontrado. . .” (15). Per-
cebe-se que ele hesita ainda, neste momento, em se impor como
tal, sentindo-se mais à vontade na condição de ideólogo. Após
mais esse fracasso, se consagra à redação do romance O Cavaleiro
de Itararé, concluído entre a Revolução Paulista desencadeada
em julho de 1932 e a publicação do Manifesto Integralista de
outubro.

2 — 0 JORNALISMO POLÍTICO

Após o entusiasmo dos primeiros tempos que se sucederam


à vitória da Revolução de 1930, a situação política começa a se
tornar ambígua pela ausência de uma definição ideológica por
parte do Governo Provisório (1G). Tal situação provoca um vazio

(12) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., p. 17.


(13) Apesar de suas relações com as forças derrubadas pela Revo­
lução de 1930, Salgado não é visado pelo interventor de São Paulo, João
Alberto, que considera suas idéias antiliberais compatíveis com o espírito
da revolução.
(14) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., p. 18.
(15) Ibid. O grupo de estudantes e intelectuais do Rio era formado
por Madeira de Freitas, Raimundo Padilha, Santiago Dantas, Hélio Vian-
na, Antonio Gallotti, Américo Lacombe, Lourival Fontes, Augusto Frede­
rico Schmidt, Antonio Giudice, Gilson Amado e Chermond de Miranda.
(16) A ação governamental limita-se nesse período à moralização
da administração pública e à elaboração das medidas em favor dos traba­
lhadores para satisfazer suas reivindicações.

77
político, conduzindo os grupos políticos e ideológicos a se orga­
nizarem a fim de influenciar o novo governo.
O período que vai até a Revolução Constitucionalista de São
Paulo, em julho de 1932, está polarizado por essa contradição
política. Os grupos que representam a burguesia e a pequena
burguesia urbana se dividem em torno da questão relativa à opor­
tunidade da convocação da Assembléia Constituinte. Estas ten­
dências organizam-se face à concentração de poder do Governo
Provisório que se atribui por decreto, em novembro de 1930, os
poderes executivos e legislativo até que uma Assembléia Consti­
tuinte eleita estabelecesse a nova organização constitucional do
país.
Parte da opinião pública, tendo São Paulo como líder e com
o apoio de grupos revolucionários da oposição do Rio Grande
do Sul e de Minas, reclama a convocação imediata da Assembléia
Constituinte, em nome dos ideais liberais. Outra parte, de ten­
dência antiliberal, liderada pelas correntes dominantes do “tenen­
tismo”, do Clube 3 de Outubro, defende a continuidade do Go­
verno Provisório (17). A posição de Salgado, manifestada diaria­
mente em uma “nota política” no jornal A Razão, de São Paulo,
é a de um franco-atirador apoiando as teses do segundo grupo.
Vargas utiliza-se maquiavelicamente, no interesse de sua própria
política, das condições criadas pelas duas tendências, encorajando
os grupos a impor suas exigências. Seu interesse em manter os
plenos poderes, apesar da Revolução Constitucionalista, retardará
a convocação das eleições até maio de 1933.
A atividade jornalística de Salgado se orienta em função
de uma tomada de consciência da apatia ideológica do governo
revolucionário decorrente de suas contradições internas. O com­
promisso dos revolucionários terminou com a conquista do poder.
E, do bojo do movimento, surgiram as mais variadas expressões
fruto dos desencontros ideológicos e dos conflitos entre os grupos
heterogêneos” (18).

(17) “E como a maioria estava, decerto, com a burguesia, congre­


gando proprietários rurais, donos de fábricas, elementos doutrinados pelo
clero católico e até mesmo a pequena burguesia urbana, orientada pelas
grandes empresas jornalísticas, o que restava ao tenentismo era defender
a prorrogação do regime discricionário, dentro do qual podia influir
muito mais do que em qualquer assembléia política, indicada pelo eleito­
rado nacional.” LIMA SOBRINHO (Barbosa), Presença de Alberto Tor­
res, op. cit., p. 497.
(18) SALGADO (Plínio), “Integralismo na Vida Brasileira”, in Enci­
clopédia do Integralismo, Rio, Livraria Clássica Brasileira, 1958. pp. 12 e 13.

78
A análise de Salgado é confirmada pelo testemunho de um
dos antigos militantes da A. I. B., que tenta interpretar, na pers­
pectiva do movimento, o papel do integralismo face à revolução
I de outubro: “A Revolução de 30, depois da vitória, verificou
que não podia ser uma revolução liberal (...). O programa
liberal de 29 era puramente para efeitos eleitorais (...)• A
Revolução de 30, não podendo ser liberal, se encontra no dilema:
ou o socialismo ou o nacionalismo social moderno que ainda não
tinha o nome de integralismo. Quem ofereceu a orientação,
portanto, à vanguarda revolucionária da época foi Plínio Salgado
através do manifesto da Legião Revolucionária em São Paulo, em
1931 (. .). Este manifesto é a base do Manifesto Integralista
de 1932” (10).
No contexto desse marasmo político, Salgado constata a pre­
sença de novos grupos ideológicos fazendo pressão sobre o sis­
tema político: “um elemento novo entrava na política brasileira:
o comunismo internacional. Essa corrente ideológica tivera in­
gresso no país depois da implantação do Bolchevismo na Rússia
( ), mas sua presença no Brasil começa a fazer-se sentir mais
fortemente pelas alturas de 1926, quando agentes de Moscou
principiam a conquista das classes intelectuais ( . .). No decor­
rer de 1931, o partido comunista achava-se em franca atividade
da propaganda comunista, utilizando-se da infiltração de seus
elementos na imprensa e nas associações fundadas com o intuito
de dar à Revolução de 30 um caráter de continuidade no tocante
a reformas julgadas imprescindíveis” (20). Menciona, ao mesmo
tempo, o surgimento de grupos ideológicos de extrema-direita:
“Simultaneamente, novos grupos anteriormente conhecidos, como
os “Patrionovistas” em São Paulo, a “Legião Cearense do Tra­
balho”, em Fortaleza (...), entravam em atividade” (21).
Nesta fase pós-revolucionária, Salgado, numa carta endere­
çada em fevereiro de 1931 a seu amigo, o p>eta Augusto Fre­
derico Schmidt, refere-se com entusiasmo à sua intenção de criar
um jornal: “Esse jornal terá um caráter de nacionalismo radical,

(19) Entrevista com Ângelo Simões Arruda, S. P., maio de 1969.


(20) SALGADO (Plínio), “O Integralismo na Vida Brasileira”, op.
cit., p. 13. As associações a que Salgado se refere são: o Clube 3 de
Outubro, a Legião 5 de Julho, e a Legião Revolucionária de São Paulo.
(21) Ibid., p. 14. Esses movimentos antiliberais, independentes das
forças revolucionárias de 1930, são diferentes das Legiões Revolucionárias
fundadas em São Paulo e Minas ainda que essa última tenha adotado a
camisa cáqui de inspiração nazista.

79
É o que, no momento, se pode fazer. Como você sabe, eu preciso
de um ponto de apoio. Nesse instante, eu me sinto imensamente
desamparado de elementos materiais para qualquer ação prática.
Esse jornal será o primeiro impulso. O centro de coordenação
dos lugares comuns do pensamento conservador (e quando digo
conservador, é por me faltar uma palavra com que designe nosso
movimento, que, positivamente, é também revolucionário, pois
conservar o que temos tido, desde 1889, será cair nos mesmos
erros da mentalidade liberal-democrática”). Plínio considera
ainda prematura a escolha de um chefe para o movimento. “Não
nos preocupemos, no momento, com o chefe. Este deve surgir
do movimento e não para o movimento. Ele surgirá no meio da
nossa batalha, por uma fatalidade de centralização de confiança
e de esperanças. Será um ponto de intersecção. Nós todos vamos
dirigir esta campanha, seremos simples soldados. Nosso comando
é o nosso ideal comum” (22).
Em meados de 1931, o jornal A Razão é fundado, cons­
tituindo-se num passo decisivo para a formação da Ação Integra­
lista (23). Sua orientação política é confiada a Plínio Salgado
e Santiago Dantas. A partir de julho de 1931 Salgado redige uma
“nota política” diária, onde fixa as bases políticas de sua ação
futura. Um ano mais tarde, a 23 de maio de 1932, a sede do
jornal é incendiada pelos adeptos da Revolução paulista. Entre­
tanto, o objetivo de Plínio Salgado é atingido pela publicação
de mais de 300 artigos, fixando as bases ideológicas do integra-

(22) SALGADO (Plínio), Carta enviada a Augusto Frederico Schmidt


em 18 de fevereiro de 1931, in Plínio Salgado, obra coletiva, São Paulo,
Edição Revista Panorama, 1936, pp. 31 e 34.
(23) É fundado por Alfredo Egydio de Souza Aranha, advogado e
banqueiro em São Paulo, amigo e admirador de Salgado que já havia fi­
nanciado sua viagem à Europa, em 1930, como preceptor de seu filho.
Admira de tal forma Salgado que não hesita em afirmar numa entrevista
com o Ministro da Justiça do Governo Revolucionário, Oswaldo Aranha:
“Este homem é que pode ser o doutrinário da revolução”, SILVA (Hélio),
Os Tenentes no Poder, Rio, Civilização Brasileira, 1966, p. 76. Aliás, o
chefe integralista manteve sempre com o poder revolucionário relações
ambíguas: passa da hostilidade à colaboração. Depois, do fracasso de sua
tentativa de influenciar a revolução, volta à atitude crítica. A partir de
1936, a A.I.B. contribui para o desencadeamento do golpe de Estado de
1937 que instaura.o Estado Novo, — ou ao menos se» faz cúmplice. . . O
epílogo foi a ruptura e o putsch frustrado em 1938. As relações entre
Salgado e certos círculos ligados à Revolução da qual fazia parte um dos
mais importantes líderes, Oswaldo Aranha, constituem um problema que
os historiadores deverão elucidar.

80
lismo e estabelecendo contato político entre um grupo disperso
de intelectuais e de homens de ação em diversas regiões do pais.
E desta forma estabelece os fundamentos ideológicos de sua
ação política futura, com autonomia face aos revolucionários no
poder.
Seu primeiro editorial aparece a 5 de junho de 1931, sob
o título “Erros de Hoje, Perigos de Amanhã”, no qual define os
objetivos de sua atividade jornalística: “No Brasil não há ainda
um sentimento coletivo de interesse nacional. Cumpre-nos, ao
iniciar a discussão dos problemas que nesse momento nos suscita,
declarar, como base de uma orientação segura, que não há inte­
resses estaduais diante dos supremos interesses nacionais. Colo-
cando-nos neste ponto de vista de nacionalismo integral, é que
iniciamos a nossa ação jornalística neste trepidante momento
da vida brasileira. Nesta nota diária, iremos traçando a linha
de um pensamento político, procurando marcar os rumos que
nos parecem mais acertados às novas condições e necessi­
dades” (24).
A leitura da coleção de “notas políticas” permite não apenas
definir a atitude de Salgado com relação à Revolução de 1930,
mas a evolução dessa posição entre 1931 e 1932. Seria interes­
sante analisar os seus artigos sob dois ângulos: primeiro, caracte­
rizar sua atitude face à Revolução de outubro de 1930, compa­
rando-a com a atitude de hostilidade ao seu conteúdo liberal que
ele manifesta ao retornar da Europa; segundo, explicitar alguns
dos temas centrais de seu pensamento político em elaboração e
que reaparecem, mais tarde, na ideologia integralista.
A posição de Salgado face à Revolução de 1930 já havia
evoluído de uma atitude crítica à sua inspiração liberal a uma
atitude de aceitação do fato revolucionário, na medida em que
a Revolução destruira o sistema político da Velha República. O
conjunto de artigos de A Razão mostra a evolução posterior desta
atitude: do mero reconhecimento de aspectos positivos da Revo­
lução, ele passa a colaborar com o Governo Provisório. ssa
colaboração, no entanto, é limitada no tempo, já que,. após
meses de apoio a certas medidas da política revo ucionaria, .
gado retoma uma atitude de hostilidade crescente ao o^e desse
Vargas. A importância da sua evolução está em que a p
de Hoje, Perigos de Amanhã”, A
(24) SALGADO (Plínio), “Erros
Razão, 5 de junho de 1931.
81
momento ele começa a proclamar a necessidade de uma “nova
revolução” (25).
A primeira meta de Salgado é evitar que a Revolução de 30
se deixe envolver pelo conteúdo doutrinário da Aliança Liberal,
que lhe havia servido de bandeira eleitoral e cuja reivindicação
lógica seria a convocação da Assembléia Constituinte. Ele afirma
que diante do fracasso de quarenta anos de experiência repu­
blicana “o Estado brasileiro, como todos os Estados liberais do
mundo, estava falido” (20). A penetração limitada na opinião
pública das Legiões Revolucionárias de Minas Gerais e de São
Paulo, cria condições para o retorno dos partidos tradicionais
à arena política. Em consequência, Plínio, em nome do “espírito
revolucionário” (27), denuncia os perigos do retrocesso da Re­
volução. Essa tentativa de retorno ao passado é fruto, na sua
opinião, da formação de uma “corrente liberal-democrática que
pretende reconduzir a Nação às bases em que a Revolução a
encontrou”, isto é, às instituições da Constituição de 1891 (2S).
Entretanto, diante do fracasso das Legiões e da ausência
de perspectiva ideológica na Revolução de 30, Plínio Salgado
reconhece que “a hora dos partidos soou” e que “não lhe resta
outro caminho senão deixar que os partidos se agitem" (29) ainda
que “a solução dos partidos seja sempre medíocre" (30).
Nesta conjuntura ele tenta encorajar os partidos tradicionais
a pensar sobre as bases da futura organização política brasileira.
(25) A mudança de atitude de Salgado se fundamenta no caráter
irreversível do processo revolucionário, uma vez que, na base do movi­
mento vitorioso em 1930, encontrava-se uma “revolução subjacente”. Ele
distingue a “revolução oficial”, declarada por certos Estados em função
do problema da sucessão presidencial, da “revolução em elaboração sur­
da no espírito da nacionalidade”, como sendo “um conjunto de forças
desordenadas que agiam no subconsciente brasileiro”. SALGADO (Plí­
nio), “O Primeiro Aniversário”, A Razão, 3 de outubro de 1931.
(26) Ibid.
(27) SALGADO (Plínio), “Marcha-ré”, A Razão, 14 de julho de
1931. junho de 1931.
(28) SALGADO (Plínio), “Marcha-ré”, A Razão, 14 de julho de 1931.
(29) SALGADO (Plínio), “A Hora dos Partidos, A Razão, 3/10/1931.
(30) A posição de Salgado se alicerça sobre a experiência da história
republicana e sua incapacidade de formar partidos políticos nacionais, des­
de a campanha “civilista” de Rui Barbosa, em 1909, até a Aliança Liberal
de 1930. Além disto, como os partidos procuram prestígio junto a homens
ilustres, isso faz com que o povo perca sua capacidade política porque foi
“plasmado pela República para ser uma entidade amorfa, incapaz de co­
nhecer ideologias”. SALGADO (Plínio), “A Inércia dos Partidos e o
Medo dos Políticos”, A Razão, 27 de junho de 1931.

82
Diante da indiferença dos partidos ao seu apelo, desencadeia uma
campanha intensa contra a convocação da Assembléia Constituinte
e, consequentemente, cm favor da continuidade da “Ditadura”
até que as bases da nova organização política fiquem bem estabe­
lecidas. Para justificar seu ponto de vista, compara a situação
política de 1931 com a de 1890: “Em 1889, ao ser derrubado
o trono, golpe de Deodoro, havia um partido republicano com
programa definido” (31). Em 1931, a situação é muito diferente,
porque “a Revolução de 1930 encontrou o país numa imensa
fragmentação. Dentro da própria Aliança Liberal, que levantou
a bandeira revolucionária, não havia unidade de pontos de
vista” (32). Como as opções fundamentais do novo sistema polí­
tico não foram ainda estabelecidas, Salgado pensa que a Consti­
tuição só deve ser convocada “quando houver correntes bem defi­
nidas a respeito das bases doutrinárias a serem adotadas” (33),
donde sua opção em favor da permanência do “governo provi­
sório”.
Este momento assinala o início da fase de colaboração de
Salgado com o Governo Provisório. Seu apoio traduz-se em men­
sagens exaltando o paternalismo do chefe do Governo Provisório:
“Continue, pois, o Sr. Getúlio Vargas a sua conscienciosa admi­
nistração; seja o bom tutor deste povo infantil. Assuma a cari­
nhosa, mas austera e vigilante atitude paterna para com este
nosso Brasil que está se revelando muito criança para decidir
seus próprios destinos” (34).
Entretanto, a solução proposta por Salgado não prevê a
permanência indefinida do Governo Provisório. Na realidade, ele
apóia a continuidade da ditadura até que se estabeleçam as regras
do jogo sobre o debate constitucional fora do esquema democrá­
tico da eleição de uma Assembléia Constituinte. Ele propõe que
a solução do problema seja entregue aos “técnicos e estudiosos”
e sugere ao governo a criação de uma “Comissão Central de
Estudos” para formular as principais teses cujas “fontes serão
as estatísticas, os estudos regionais, as pesquisas históricas” (35).

(31) SALGADO (Plínio), "Duas Épocas Históricas” (II), A Razão


6/12/31.
(32) Ibid.
(33) SALGADO (Plínio), "A Constituinte”, A Razão, 27 de novem­
bro de 1931.
(34) Ibid.
(35) SALGADO (Plínio), “Preparação para a Constituinte”, A Ra-
zão, l.° de dezembro dc 1931.

83
Estes dados permitem avaliar a evolução da atitude de Sal­
gado diante da Revolução de 30. Face à indiferença dos partidos
tradicionais ao seu apelo, decide apoiar o Governo Provisório.
Não se trata mais de tolerar apenas a Revolução, reconhecendo
alguns aspectos positivos, mas de colaborar na sua implantação
definitiva. Desde suas “notas políticas” contra os partidos e a
convocação da constituinte, havia um apoio indireto ao Governo
Provisório (36). Mais tarde, a partir de agosto de 1931, passa ao
apoio direto, afirmando que a “continuidade da Ditadura é um
sonho de verdadeiros revolucionários” (37). Essa posição condu­
zirá Salgado a escrever uma série de artigos intitulados “Dire­
trizes à Ditadura”.
Essa nova série de artigos tenta oferecer fundamentos ideoló­
gicos à ação do Governo Provisório. Após haver criticado siste­
maticamente a Velha República Liberal, Plínio insiste que é na
Ditadura e não mais na Revolução, que “nosso povo bom, traba­
lhador, dócil, corajoso confia” (3S), propondo a extinção dos
partidos políticos e a implantação de um “partido nacional
único” (30). O apoio à ditadura não é incondicional, mas baseia-
-se na esperança de que o Governo Provisório, se apoiando em
“especialistas dos problemas nacionais”, disporá das melhores
condições para elaborar uma nova concepção do Estado, dando
rumos definitivos ao movimento revolucionário. A “Ditadura”
seria, pois, o instrumento para realizar a transformação do Estado
que, desde o seu retorno da Europa, se tornou para ele uma
verdadeira obsessão.
Após ter escrito uma série de artigos doutrinários, constata
que o Governo Provisório se mantém indiferente à sua pregação.
Sem perspectiva de influenciar o rumo dos acontecimentos, resta-
-Ihe como única alternativa lançar um apelo à juventude “A gera-

(36) Essa posição de Salgado explica, cm grande parte, o incêndio


que sofreu o jornal A Razão, provocado por elementos ligados à Revo­
lução paulista, porque, à medida que combatia a convocação da Consti­
tuinte, fazia o jogo da “ditadura”, contrariando os interesses dos revolu­
cionários de São Paulo.
(37) SALGADO (Plínio), “O Rumo Provável dos Partidos”, A Ra­
zão, 12 de agosto de 1931.
(38) SALGADO (Plínio), “Rumos da Ditadura” (VIII), A Razão, 14
de fevereiro de 1932.
(39) “Esse erro que devemos tratar. E nós só o conseguiremos pela
extinção dos partidos, ou, então, pela constituição de um só partido, um
partido nacional único.” SALGADO (Plínio), “Rumos da Ditadura” (XI),
A Razão, 18 de fevereiro de 1932.

84
ção nova que contempla do alto do seu idealismo fundado na
realidade a planície imensa, onde tudo se confude na paisagem da
macega da política nacional, — essa é que deve assumir a direção
dos negócios da Pátria (...) Essa é que deve falar, que deve
agir, que deve governar” (40). Esse apelo torna-se uma afirma­
ção e um prognóstico: “O Brasil surdo e paralisado há de er-
guer-se um dia: não de armas na mão, mas com a consciência
poderosa de novas gerações” (n). E para orientar a ação desta
juventude, Salgado define alguns pontos de referência doutriná­
rios. O núcleo desta nova doutrina é uma visão filosófica da so­
ciedade dirigida para uma finalidade moral e centrada sobre uma
concepção do Estado. “O Estado moderno, síntese de todas as
energias materiais, morais, intelectuais e espirituais de um povo,
não pode assistir indiferente à luta entre dois monstros apocalíp­
ticos (capitalismo e comunismo).” É preciso definir “uma con­
cepção nova do Estado”, baseada nas “finalidades superiores do
homem” (42). O conteúdo dessa doutrina, germe do integralismo,
é que cabe explicitar a partir de suas “notas políticas”.

3 — UMA IDEOLOGIA EM MATURAÇÃO


Após abril de 1932, Salgado não mais dirige suas “notas
políticas” ao Governo Provisório, como fizera na série de artigos
publicados em fevereiro, sob o título “Diretrizes à Ditadura”.
Uma nova linguagem reflete sua decepção ante a indiferença do
governo e sua disposição de organizar uma movimento político
independente. Aliás, é preciso não esquecer que, desde fins de
fevereiro de 1932, já havia sido fundada a Sociedade de Estudos
Políticos (S.E.P.) em São Paulo, reunindo jovens intelectuais
sob a inspiração de Plínio Salgado.
No novo conjunto de artigos intitulados “Construção Nacio­
nal”, que começa a ser publicado em meados de abril de 1932,
Salgado defende a tese da necessidade de uma revolução na Re­
volução ao afirmar que, se a mudança política de 30 significa
um retorno ao passado, então ela “falhou”. Anuncia, pois, que

(40) SALGADO (Plínio), “O Horror das Responsabilidades”, A Ra­


zão' 1 de julho de 1931.
(41) SALGADO (Plínio), “O Baile de Máscaras”, A Razão, 25 de no­
vembro de 1931.
(42) SALGADO (Plínio), “A Questão Social”, A Razão, 11 de julho
de 1931.

85
“uma revolução está nascendo”, e que diante deste movimento,
o Brasil não retrocederá porque “se não for o de 32, será o de
uma data futura que será inevitável, tão certo como foi inevitável
o movimento de 1930” (43). O objetivo, portanto, dessa série de
artigos é o de estabelecer as bases ideológicas da nova revolução.
A análise dos temas dominantes dos seus editoriais permite
definir as linhas gerais de sua visão ideológica e avaliar o grau
de elaboração de seu pensamento político. Constata-se que as
principais dimensões da ideologia integralista já estão presentes,
ainda que de uma forma genérica e, algumas vezes, imprecisa.
Alguns temas, tais como o antiliberalismo e o nacionalismo, estão
bem definidos, enquanto outros permanecem num nível intuitivo
e vago, como, por exemplo, a organização do Estado.
Salgado começa por descrever o homem real para o qual se
destina sua mensagem. Inspirando-se na figura de Jeca Tatu, de
Monteiro Lobato, ele define simbolicamente o homem brasileiro:
“Jeca Tatu é o espírito nacional. É a incerteza do Povo Criança.
É o homem perdido no imenso meio físico (...)• O Jeca Tatu
exigia e continua a exigir decifradores. Ele não é a face ridícula
da Nação, mas a própria Nação” (u). Considera que o brasileiro
autêntico é desprezado pelos dirigentes do país: “Não podendo
compreendê-lo segundo a sua verdade e seu processo de vida e de
formação social e política, os homens acusam Jeca Tatu ( ).
Todo rumo da política brasileira tem sido o de um afastamento
contínuo dessa verdade essencial que é o homem do Brasil” (’15).
Convém ressaltar igualmente que a concepção ideológica de
Salgado se organiza a partir de um humanismo espiritualista, isto
é, “do princípio que considera o ser humano e os seus aglome­
rados sociais (...), segundo uma finalidade superior, espiritual I
e moral (. . .). Assentado esse conceito, dele deriva, como conse-
qüência lógica, a concepção do Estado, como ponto de referên­
cia das atividades humanas” (46). i
O Estado: nascida da crítica ao Estado liberal, a concepção
de Estado apresentada por Salgado reflete o clima ideológico dos
anos 30. Na sua opinião, a Europa produziu três modelos bási­
cos da ditadura: o russo, o italiano e o português, todos com uma
(43 SALGADO (Plínio), “Construção Nacional”, A Razão, 20 dc
abril de 1932.
(44) SALGADO (Plínio), “Rumos a Ditadura” (IX), A Razão, 16
dc fevereiro dc 1932.
(45) Ibid.
(46) Ibid.
I
86
ideologia definida e baseada numa concepção particular do Esta-
do. Desta tipologia ele extrai a lição de que “as ditaduras dos
países civilizados se apoiam hoje em dia num corpo de idéias
mediante o qual são apreciados todos os problemas de ordem po­
lítica e de ordem técnica” (*7). O Estado, porém, não deve ser
fruto de pura criação intelectual, mas moldar-se à realidade mun­
dial e nacional. Além disto, Salgado acrescenta que o Estado
Moderno “conveniente a todos os povos é o que possa exercer
a sua ação na maior órbita possível. É o que disciplina e orienta
as forças vivas da nacionalidade” (18).
Colocadas as bases do Estado, o futuro chefe integralista
indica as suas principais finalidades: ele é a “força suprema inter-
veniente nos rumos e finalidades sociais (. .); Estado que, ga­
rantindo a propriedade e a iniciativa privada, saiba demarcar os
limites do exercício das liberdades individuais, segundo os inte­
resses gerais e nacionais; Estado em que as classes se representem
em corpos legislativos ( ); Estado que absorva todas as ener­
gias da Nação e que as exprima num todo individual (’9). In­
clusive, utiliza a expressão “Estado Integral” para o caracterizar
como “conjunto de forças materiais, morais e intelectuais (. . ),
impondo um finalidade humana aos povos” (50).
A estrutura do Estado deve ser corporativa e unipartidária,
tornando-se o quadro no qual as diversas categorias profissionais
se fazem representar em órgãos legislativos. Seu conteúdo se
explicita, quando Salgado afirma que o Estado deverá ter por
base “a sindicalização de todas as profissões e a representação
de cada uma delas, quer nas Câmaras Municipais, quer nas Le­
gislativas Estaduais, quer no Congresso Federal” (51).
Critica, finalmente, o sistema pluripartidário e a incapacida­
de da República de gerar partidos nacionais com programas de-
finidos, propondo “a extinção dos partidos” e a implantação de
“um partido nacional único” (52). Na base do sistema coloca o
(47) SALGADO (Plínio), “Federação e Sufrágio” (XX), A Razão, 26
de janeiro de 1932.
(48) SALGADO (Plínio), “Tipos de Ditadura”, A Razão, 1 de
setembro de 1932.
(49) SALGADO (Plínio), “A Verdadeira Concepção do Estado”,
A Razão, 4 de setembro de 1931.
(50) Ibid.
(51) SALGADO (Plínio), “Do Liberalismo ao Comunismo”, A Ra­
zão, 2 de dezembro de 1931.
(52) SALGADO (Plínio), “Federação e Sufrágio”, A Razão, 2 de
fevereiro de 1932.

87
município, de onde “provém o espírito da organização nacional’’
(53). A “unidade municipal’’ é o fundamento da organização do
Estado, mas também da nacionalidade, porque a Nação originou-
-se dos municípios: “A nacionalidade brasileira nasceu das atas
das Câmaras Municipais’’ (M).
A Revolução: para se definir o significado de “revolução”
nos escritos de Plínio da época, deve-se partir de sua análise sobre
a Revolução de 30. O movimento de outubro foi, na sua interpre­
tação, a eclosão de um processo revolucionário subjacente mais
amplo que se manifestara através do ciclo de movimentos revo­
lucionários anteriores. A combinação conjuntural de fatos que o
provocou é secundária na medida em que o processo desencadea­
do era irreversível. Mesmo que os revolucionários de 30 tivessem
tentado conter o movimento, ele teria surgido mais tarde sob a
pressão de uma nova geração. Neste sentido, revolução para Sal­
gado não se confude com putsch ou com substituição de um
grupo político no poder: revolução, em última análise, é um pro­
cesso de transformações cumulativas que surge de maneira quase
mecânica quando certas condições estruturais prévias se articulam.
Salgado, referindo-se à experiência histórica das revoluções
universais, considera que elas “se elaboram exatamente nos pe­
ríodos de conjunção, de transição, de deslocamento de centros
de equilíbrio. Nesses períodos tudo se mistura, e na maior parte
das vezes, o que aparece nos olhos do observador não é exata­
mente (...) o que está, em verdade, animando os movimentos da
sociedade” (55). Com esta convicção, ele discorda do chefe do
Governo Provisório que declara não poder dirigir as forças ins­
táveis e desordenadas da revolução, acusando-o de se situar na
linha de um “moralismo político que é, hoje em dia, o cancro
que está roendo e putrefazendo o princípio da autoridade” (56).
Além do mais, para Salgado, o processo revolucionário pos­
sui também a capacidade de fazer emergir o líder carismático:
“Uma revolução é uma força nacional que deflagra e arrasta em
impulsões imprevisíveis as energias sociais, até que uma menta-

(53) SALGADO (Plínio), “Rumos a Ditadura” (XI), A Razão,


18/2/1932.
(54) SALGADO (Plínio), “Construção Nacional”, A Razão, 23 dc
abril dc 1932. Salgado procura a legitimidade do município no fato his­
tórico que o município, no Brasil, precedeu a Província e ele é “o prolon­
gamento da família”. “O Município”, A Razão, 6 de setembro de 1931.
(55) Ibid.
(56) Ibid.

88
lidade forte, dispondo de elementos materiais suficientes, possa
impor uma coordenação, uma disciplina segundo os impositivos
de uma consciência nova que se criou. Suscitar o advento dessa
consciência, eis a obra presente da Revolução” (57).
O Nacionalismo: em quase todos os artigos de Salgado, uma
atitude nacionalista está presente. Já no primeiro editorial, ele
denuncia “a ausência de um sentimento coletivo do interesse na­
cional” e afirma que sua atitude se inspira no “nacionalismo in­
tegral” (58). Seu nacionalismo enfatiza, sobretudo, três temas
básicos do ideário nacionalista: a unidade nacional, o anticosmo-
politismo e a consciência nacional.
As referências de Salgado acerca da conjuntura política, em
1931, revelam uma constante preocupação com a “instabilidade
do equilíbrio da unidade nacional”. Ele considera responsável
por essa situação, que se agravou com o advento da República, a
implantação do sistema federativo, na medida em que atribuiu
uma grande autonomia a cada unidade sob o controle dos partidos
únicos regionais. Ainda que o Império tenha preservado a uni­
dade nacional através da centralização política, as raízes do mal
encontram-se nesta época em que “não houvera tempo suficiente
para uma maior expansão da nossa vida econômica e para uma
cristalização mais perfeita do espírito nacional” (50). A respon­
sabilidade maior, todavia, cabe à República, ou mais precisamen­
te à mentalidade democrática e liberal do fim do século passado,
à qual os fundadores da República de 89 e os perseguidores da
sua obra administrativa e política não puderam se furtar” (60).
Em Salgado, os temas do cosmopolitismo e da ausência de
consciência nacional são indissociáveis. O primeiro, provocado
pe a imitação dos modelos políticos estrangeiros, origina-se do
a 0 e que as elites brasileiras tomaram, como propulsores da
rraSS,a ev°Ju<*ão política e constitucional, a liberdade e a demo-
Cla européias” (61). Salgado entende que devemos rejeitar
esta
nã e^nocêntrica de liberdade uma vez que “a liberdade
tural dn nossa Pátria, uma conquista. Foi uma condição na-
Ural da vida aventurosa
aventurosa dn
do sertão. Foi uma relação do homem
(57) Ibid.
Razao^ dSe^a^de(r9^Í0)’ “A LÍbera* e a ReVoIuçâo”- A
(59) Ibid.
<6°) Ibid.
fól) Ibid.

89
e da terra vasta”. Em nosso país, segundo ele, “a democracia
era um estado natural” (62).
A influência cosmopolita destrói a consciência nacional pela
rejeição de nossas tradições: “nenhum país, diz ele, mais do que
o Brasil, precisa neste momento de fortes injeções de nacionalis­
mo que constitui hoje em dia a suprema salvação de todos os
povos” C33). A fonte do espírito nacional encontra-se no culto
da história: “a decadência dos povos se assinala pelo esquecimen­
to das tradições nacionais” e são justamente os povos fortes e em
pleno desenvolvimento os que mais cultivam a memória dos seus
antepassados” (64). Em suma, o seu nacionalismo, nessa época,
é essencialmente político, isto é, baseado no culto ao passado
e na reação contra a influência estrangeira, embora sem nenhu­
ma dimensão econômica.
Antiliberalismo: o risco de um retorno da Revolução de 30
ao modelo político da Primeira República leva Salgado a con­
centrar sua crítica no liberalismo, através da denúncia do Estado
liberal em suas formas monárquica ou republicana, e dos prin­
cípios ou mecanismos fundamentais do sistema: a liberdade po­
lítica, o sufrágio universal e o sistema multipartidário.
O Estado liberal, segundo ele, nasceu a serviço das classes
dominantes. Ele é “o regime criado pelos controladores de
produção, nos fins do século XVIII, para iludir a plebe e arrui­
nar um Estado fraco e não intervencionista”. Conseqüentemente
é “o regime, por excelência, em que os fortes dominam sobre os
fracos” (65).
Além disto, o Estado liberal, é unidimensional porque é
incapaz de compreender o homem na sua dimensão total: “O
Estado, no conceito liberal-democrático, encara o cidadão como
uma mera expressão política (...), portanto não se interessa
pelo cidadão como expressão de trabalho, de sofrimento” (66).
Desta unilateralidade resulta seu caráter conservador, na medida
em que se recusa a intervir na organização da sociedade para
superar as desigualdades e os conflitos. “O Estado liberal demo-
(62) SALGADO (Plínio), “Construção Nacional”, A Razão, 22/abr./
1932.
(63) Ibid.
(64) SALGADO (Plínio), “O Sentido Imperialista das Democracias”,
A Razão, 2 de outubro de 1931.
(65) Ibid.
(66) SALGADO (Plínio), “O Cidadão c o Estado”, A Razão, 17 dc
julho de 1931.

90
crático é, portanto, um Estado opressor. Com a sua aparência
agnóstica, indiferente às lutas pela existência, aos conflitos sociais,
o que ele faz é deixar que os tumultos se deflagrem e que o
mais forte esmague o mais fraco” (67).
Entretanto o que parece mais grave aos olhos de Salgado
é a constância das idéias liberais em todos os sistemas políticos
brasileiros. Nestas condições, a instauração da República não
apresenta uma mudança qualitativa com relação à monarquia,
mas uma agravação das tendências liberais preexistentes: “A Re­
pública não passou da continuação do senso político da Monar­
quia, do senso liberal, da marcha insaciável de liberdades mais
amplas. Assim, os erros da Monarquia foram consagrados pela
República, que os agravou em todas as esferas da sua atividade
política” (68).
Após a crítica global do Estado liberal, começa a contesta­
ção dos elementos constitutivos do sistema liberal-democrático.
Salgado considera que a liberdade está em contradição com a
autoridade: a idéia de liberdade ameaça a disciplina e o equilíbrio
social em sua base porque “todos os sofrimentos do mundo mo­
derno se originam de um só defeito. .. a falta de disciplina. O
conceito de liberdade excessiva determinou o grande desequilíbrio
social que perturba o ritmo da vida do nosso século”. E conclui:
“Em nome da liberdade o gênero humano caminha para a ruína
total” (60). Salgado só admite a liberdade condicionada a uma
finalidade social, porque: “o senso de liberdade política deve ser
aquele que garante a plena expansão das aspirações humanas em
relação a uma finalidade estabelecida”. E na sua concepção, “a
democracia é a negação da liberdade, ou antes, é a própria liber­
dade em desordem ou em suicídio” (70).
Ao nível dos mecanismos políticos da democracia liberal,
Salgado critica o sufrágio universal, afirmando que simboliza a
grande ilusão com a qual “a burguesia triunfante com a Revolu­
ção Francesa embriagou a massa dos oprimidos” (71). O sufrágio

. (67) SALGADO (Plínio), “O Cidadão e o Estado”, A Razão, 17 de


julho de 1931.
(68) Ibid.
(69) SALGADO (Plínio), “Rumos a Ditadura” (V), A Razão, 11 de
fevereiro de 1932.
1931(70) SALGADO (PHnio), “Homens e Instituições”, A Razão, 3O/set./

1Q (7í) SALGADO (Plínio), “Rumos a Ditadura” (XII), A Razão,


í9/fev./1932.

91
proporia aos indivíduos escolhas abstratas, sem relação com os
seus interesses reais. Denuncia também a igualdade política dos
indivíduos associada ao voto da finalidade humana. O conceito
da “soberania nacional” que a Revolução Francesa consagrou
como índice da “vontade geral” é um conceito incompleto (. .).
Esse nivelamento cívico (...) é uma mentira que deve ser des­
truída” (72).
A crítica aos partidos políticos se baseia menos na idéia de
que eles provocam a divisão da Nação do que na experiência his­
tórica brasileira. É por isto que, durante o Império, quando ha­
via dois partidos nacionais e definidos, o Conservador e o Libe­
ral, seu ataque ao sistema partidário é menos radical: “O Impé­
rio, com todo o artificialismo do seu sistema parlamentar, tinha
conseguido, entretanto, dar uma direção unificadora das forças
de opinião nacional (...). Mas, em todo o caso, a Monarquia,
politicamente, foi superior à República” (73). A crítica aos par­
tidos surge, pois, da combinação histórica do federalismo re­
publicano enquanto força de dispersão da unidade política e da
manipulação dos recursos políticos dos Estados pelos chefes po­
líticos regionais e locais.
O anticomunismo: é curioso constatar como Salgado, que se
tornará um dos líderes do combate ao comunismo, dedica tão
pouca importância em suas notas políticas a este tema. Isto se
explica, em parte, pelo fato de que o inimigo principal na época
era o liberalismo. A atmosfera política era de tal forma marcada
pelos riscos de um retorno à experiência liberal-democrática e,
em contraposição, pelo desejo de um regime autoritário, que a
idéia da ameaça comunista se diluía em seu espírito.
Ressalvadas algumas referências ao processo contra Pres­
tes por deserção, ocasião em que ele protesta contra “a timidez
com que se está encarando o julgamento” (74), e uma alusão à
situação do povo russo no “paraíso vermelho” (75), a única pas­
sagem onde Salgado se refere ao comunismo encontra-se numa
“nota política” chamada “A Marcha dos Icebergs”. Neste artigo,

(72) SALGADO (Plínio), “O Cidadão e o Estado”, A Razão


17/jul./1931.
(73) SALGADO (Plínio), “Federação e o Sufrágio” (XXI), A Razão,
27 de janeiro de 1932.
(74) SALGADO (Plínio), “A Inércia dos Partidos e o Medo dos Po­
líticos”, A Razão, 27 de junho de 1931.
(75) SALGADO (Plínio), “Força contra Força”, A Razão, 8 de agos­
to de 1931.

92
não aparece nenhuma crítica ao conteúdo ideológico do marxis­
mo, mas alusões às conseqüências perigosas do jogo das facções
políticas, já que a “onda vermelha caminha inexoravelmente” (7G).
A previsão de Salgado é de que a marcha dos “icebergs” políticos
não vai continuar indefinidamente e que “o degelo será inevitável,
porque as correntes levam essas frágeis montanhas para os rebo-
jos quentes em que elas desaparecerão. E desaparecerão fatal­
mente, porque debaixo delas tumultua a onda quente da propa­
ganda comunista, implacável na suà obra de destruição de parti­
dos e de grupos” (77). Portanto, a ameaça comunista não se tra­
duz mais na imagem da geleira, ameaçando espalhar-se inevita­
velmente sobre todos os países, como no romance O Estrangei­
ro (78), mas se transforma na água morna das correntes maríti­
mas, penetrando subterraneamente no sistema político.
O anticapitalismo: a atitude de Salgado com relação ao ca­
pitalismo está presente inicialmente sob a forma de crítica ao
maquinismo em suas “Notas Políticas”. Sem negar a importân­
cia do progresso técnico no controle da natureza pelo homem,
ele constata que “o instinto da máquina vai avassalando tudo”
(79). Ao perigo da máquina acresce a ameaça da concentração
capitalista: “É o capital (...) que ensaia a sua tirania na forma
dos grandes trustes, dos monopólios, dos grupos financeiros (. . .)
e que se dirige para o capitalismo de Estado, numa velocidade
cada vez mais enervadora” (80).
Todo o progresso aumenta sensivelmente a angústia humana,
sobretudo porque ele se realiza com uma rapidez sem preceden­
te: “o advento da máquina abriu uma nova era que se precipitou
tão violentamente que não deu tempo aos novos de criar um novo
senso de direitos, uma nova consciência de vida”, Entretanto,
esta rapidez do progresso contém o germe da sua própria crise:
“O fenômeno da evolução capitalista teria de se efetuar em al­
guns séculos. As invenções modernas e a técnica contemporânea
aceleram-na. E já na Grande Guerra se tinha o ciclo final de
uma civilização. Virtualmente, a civilização capitalista terminou
(76) SALGADO (Plínio), “O Paraíso Vermelho”, A Razão, 28 de
janeiro de 1932.
(77) SALGADO (Plínio), “A Marcha dos Icebergs”, A Razão, 18
de setembro de 1931.
(78) Ibid.
(79) SALGADO (Plínio), O Estrangeiro, op. cit., pp. 18-19.
(80) SALGADO (Plínio), “O Rumor da Procela”, A Razão, 18 de
setembro de 1931.

93
com a Grande Guerra (. . ). Nós hoje vivemos a ilusão de uma
civilização que já não existe senão nas suas formas materiais.'
Neste sentido, Salgado acusa os banqueiros internacionais de ten­
tar dar vida ao defunto no “desespero de animar com novo so­
pro de vida o cadáver de uma civilização que fundou a sua fi­
nalidade no que há de mais frágil e efêmero na natureza humana:
“o materialismo dos costumes e o instinto mesquinho do lu­
cro” (81).
Finalmente, este anticapitalismo se traduz no combate ao
capitalismo internacional, produto da implantação desordenada
do capitalismo no mundo. No plano nacional. Salgado propõe-se
a “humanizar” o capitalismo, conciliando-o com o homem, de
vez que as Nações “poderão assumir o controle da economia uni­
versal, respeitando os princípios da propriedade e da família que
a civilização capitalista tem afirmado em teoria e negado na prá­
tica” (82). No que concerne à dependência econômica resultante
do capitalismo financeiro, *sua linguagem é mais radicai: “para
descobrirmos (...) as causas das desgraças financeiras do Bra­
sil, veremos que o único culpado foi o capitalismo universal que
nos colonizou, que nos escravizou e prossegue a sua marcha, es­
magando as nacionalidades . .” (83).
Os fascismos: A última dimensão diz respeito à posição de
Salgado com relação aos fascismos. A análise do conteúdo dos
editoriais revela uma atitude mais simpática aos fascismos do
que nos escritos anteriores.
Num dos editoriais em que analisa a situação política inter­
nacional, sobretudo a da Alemanha, em fins de 1931, ele afirma
que nos momentos de crise não há lugar para os indecisos. “As
multidões, não se interessam pelos que pretendem conciliar e
protelar. Os que afirmam corajosamente são os que conseguem
arrastar as massas populares” (84).
Face a esta tendência de polarização política dos extremos,
Salgado escreve, em fevereiro de 1932, que o mundo moderno se
encontra diante de duas interpretações da sociedade: “ou ficamos
com a tese de Karl Marx e adotamos o princípio do materialis-
(81) íbid.
(82) SALGADO (Plínio), “Tragédia do Século’’, A Razão, 22 de
setembro de 1931.
(83) SALGADO (Plínio), “O Passado e o Futuro’’, A Razão, 20 de
setembro de 1931.
(84) SALGADO (Plínio), “A Marcha para as Extremas”, A Razão,
3 de fevereiro de 1931.

94
mo histórico e o processo da revolução social; ou ficamos na
extrema-direita, afirmando que o homem e a sociedade objeti­
vam, através das contingências econômicas, os ideais superiores
de natureza intelectual, moral e espiritual”. E conclui, que “se
queremos criar uma Nação com profunda consciência de si pró­
pria, — neste caso, temos que assumir uma atitude de coragem
e de renúncia pessoal, abandonando toda a mentira perigosa da
democracia de meios, para nos realizarmos numa verdadeira de­
mocracia de fins” (85).
Esta opção em favor da extrema-direita coloca-o numa po­
sição paradoxal: ao mesmo tempo que manifesta uma simpatia
mais declarada pelos fascismos, procura conceber um regime ori­
ginal para o Brasil. Apesar do dilema, não deixa de reconhecer
que “o fascismo é o Estado-síntese por excelência, o Estado que
traz em si, todas as fisionomias nacionais” (86).
A compreensão do conteúdo de sua posição exige, porém,
certas ressalvas. Num artigo ulterior, Plínio afirma que “o que
há de essencial na doutrina fascista é perfeitamente aceitável,
como concepção do Estado (. . ), entretanto, o que esse regime
tem de formal, não pode, de nenhum modo, se aplicar ao caso
brasileiro”. Ele proclama que Alberto Torres desde 1914 “muito
antes da concepção fascista do Estado”, preconizou para o Bra­
sil “uma forma de governo republicano, que condicionava a dou­
trina agora consagrada pelos Roccos e Gentilles” (S7). A posi­
ção de Salgado, portanto, apesar de todas estas nuanças, enqua­
dra-se na corrente fascista. Embora procure preservar a especi­
ficidade do caso brasileiro, sua atitude fundamenta-se na crença
de que “só os governos fortes, que disponham da verdadeira
autoridade, poderão realizar um dia os entendimentos necessá­
rios para impor ao mundo contemporâneo um ritmo seguro” (8S).
A análise, pois, das principais dimensões da posição de
Plínio Salgado durante sua atividade jornalística em A Razão,
demonstra que o arcabouço da ideologia integralista estava ela­
borado. Restaria exprimir, em conclusão, o estado de espírito
“pré-integralista” de Salgado no final de sua atividade no jornal
(85) SALGADO (Plínio), “A Federação c o Sufrágio”, A Razão,
3 de fevereiro dc 1931.
(86) SALGADO (Plínio), “A Federação e o Sufrágio”, A Razão, 3
de fevereiro de 1931.
(87) SALGADO (Plínio), “Nacionalismo e Cooperativismo Interna­
cional” (I), A Razão, 4 de outubro de 1931.
(88) SALGADO (Plínio), “Regimes Políticos”, A Razão, 21 de ou-
tubro de 1931.

95
A Razão. Nada mais sugestivo do que mencionar a passagem de
uma “Nota Política”, de novembro de 1931, onde ele reconhece
que “o gérmen da Ação Integralista Brasileira se desenvolve neste
momento” (80) e que se torna um imperativo despertar a Nação:
“o Brasil que não respira. Permita Deus que não esteja morto.
Porque os povos vivem nas agitações das idéias. E a nossa Pátria
não vibra ao sopro generoso do pensamento (. .). São esses
movimentos que geram as controvérsias, a discussão, no terreno
elevado da doutrina. Dessas controvérsias é que se origina o ca­
lor dos debates. Dos debates é que se vai à luta. E a luta é a
expressão da vida dos povos. Um povo que não luta é um povo
que perdeu o sentido da vida, que perdeu a consciência de si
mesmo”. Termina manifestando sua disposição de agir: “Preci­
samos despertar o Brasil. Para a luta franca, definida, forte, das
idéias” e “para a batalha doí pensamento, que deve exprimir-se
nos grandes debates, e até nas barricadas” (°°). Essa predispo­
sição para o engajamento de Salgado não é somente resultante
de um ato de vontade individual, mas se insere no contexto de
ascensão das idéias de extrema-direita após a tomada do poder
pelos revolucionários de 30 (01).

(89) SALGADO (Plínio), “Democracia e Nacionalismo”, A Razão,


12 de dezembro de 1931.
(90) “A Pátria Adormecida”: este artigo exprime a angústia dos
que sofriam as humilhções de um povo. Dentro desses períodos palpita o
gérmen do grande movimento integralista, que deveria despertar a Na­
ção”, in SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit’, p. 87.
(91) SALGADO (Plínio), Ibid.

96
CAPÍTULO II

A ASCENSÃO DAS IDÉIAS AUTORITÁRIAS


EM 1930 E O NASCIMENTO DO
INTEGRALISMO

A influência da expansão das idéias fascistas européias faz


da década de 30 no Brasil um período de ascensão de idéias ra­
dicais de direita. Este fato se constata pela presença nas livrarias
de uma abundante literatura sobre o fascismo italiano e o novo
Estado português. A publicação, neste período, de uma série
de livros analisando a situação política brasileira numa perspec­
tiva antiliberal, bem como o aparecimento de várias revistas e
movimentos ideológicos de orientação política fascista, monar-
quista ou corporativista, comprovam a receptividade das idéias
autoritárias na década de 1930. A importância desses grupos é
desigual e sua ação revela uma predisposição em influenciar ideo­
logicamente o Governo Provisório. Mais tarde, a maior parte des­
ses grupos políticos ou intelectuais vai se amalgamar na Ação
Integralista Brasileira.
Pouco tempo depois da vitória da revolução de 30, o clima
geral é de agitação, ideológica e as tendências políticas se pola­
rizam. Como observa Barbosa Lima: “É a hora das tendências
fascistas” (1). A polêmica em torno da convocação ou não da
Constituinte deixa o terreno livre à penetração das idéias de
extrema-direita. Nessa época “o sentido reacionário do fascismo
não havia tirado de todo a máscara que Mussolini sabia compor
com o seu antigo socialismo” e “entre os que defendiam a cons-
-------------------------------■—-_______________

.(1) LIMA SOBRINHO (Barbosa), Presença de Alberto Torres, Rio,


Civilização Brasileira, 1968, p. 497.
97
titucionalização imediata se misturavam os que viam fantasmas
comunistas por toda a parte e homens da esquerda que receavam
que o tenentismo fosse aos poucos sendo envolvido, ou envene­
nado, pelas tendências fascistas. (2). Portanto, a fundação
da A.I.B., em 1932, não é um fato isolado, mas resulta da cris­
talização das idéias radiciais de direita no Brasil nos anos 30 e
da convergência dos movimentos precursores que Salgado bus­
cará integrar.

1 — A LITERATURA ANTILIBERAL
Se a Revolução de 1930 não tivesse gerado conseqüências
sobre a evolução política, econômica e social do Brasil, teria tido,
ao menos, o mérito de criar um período de produção intelectual
dos mais fecundos. Dificilmente se encontra no passado um nú­
mero tão significativo de obras de análise político-sociológica so­
bre a sociedade brasileira (3).
Cruz Costa, referindo-se ao período, menciona o testemunho
de um dos jovens dessa geração que descreve o ambiente domi­
nante entre 1931 e 1933: “no meio da confusão, Ronald de Car­
valho teve ocasião de dizer que a nossa geração, com essa flo­
ração magnífica de escritores, sociólogos, jornalistas, orientados
todos no sentido de suprema política ( . ) é a geração que Al­
berto Torres sonhou (. .) cuja razão de ser não decorre da po­
lítica vulgar mas do estudo e da resolução dos problemas admi­
nistrativos, econômicos, financeiros e sociais” (’)•
Os traços que definem esta geração e que são comuns aos
jovens situados politicamente, tanto à direita quanto à esquerda,
(2) Ibid.
(3) Embora Os Sertões, de Euclides da Cunha, seja um livro precur­
sor que ultrapassa o âmbito puramente literário e a geração modernista se
tenha inspirado bastante em temas nacionalistas, apenas na década de 30
é que houve um florescimento de obras específicas de análise sobre a rea­
lidade nacional. Refiro-me, igualmente, à série de ensaios, lançada pelo
editor Schmidt, no início da década de 30, sob o nome de “Coleção Azul”.
(4) CRUZ COSTA (João), Contribuição à História das Idéias no
Brasil, Rio, José Olympio, 1956, p. 397. Os autores deste período são:
Alceu Amoroso Lima, Gilberto Amado, Azevedo Amaral, Octávio de Fa­
ria, Oliveria Vianna, Virgínio Santa Rosa, Afonso Arinos de Mello Fran­
co, José Maria Bcllo, Barbosa Lima Sobrinho, Martins de Almeida, Alcin-
do Sodré, Ronald de Carvalho, Sérgio Buarque de Hollanda, Hélio Vian­
na, Cândido Motta Filho, Paulo Prado, Capistrano de Abreu, Alcides
Gentil.

98
são a inquietação, o ceticismo e o antiliberalismo. O conteúdo
deste estado de espírito se exprime na revolução estética, na re-
novação espiritual e nas insurreições tenentistas, numa época em
que as transformações do mundo no após-guerra põem em ques­
tão os esquemas tradicionais, e a inquietação da nova geração
brasileira reflete, igualmente, o clima internacional.
Salgado, um ano após a Revolução de 30, refere-se à insatis­
fação e a angústia de sua geração: “o que nos dava ilusão de cla­
ridade era o artificialismo das nossas instituições. Derrubada a
Velha República, com o movimento revolucionário de 1930, sen­
timo-nos mais que nunca no escuro” (5). Cândido Motta Filho,
vindo das fileiras do P.R.P., redescobre para os jovens de sua
época a obra de Alberto Torres e define sua geração no primeiro
capítulo do ensaio, como uma “Geração Sacrificada”. Manifes­
tando seu ceticismo afirma que “todas as épocas tiveram suas
crenças e seus mitos. Nós ficamos sem mitos e sem crenças” (fi).
Virgínio Santa Rosa (7), num ensaio sobre a situação polí­
tica, sugestivamente intitulado “A Desordem”, exprime também
a mesma perplexidade ao escolher como epígrafe uma frase pes­
simista de Octávio de Faria (8): “Para nós, geração fundida à
sombra desta tragédia, todo otimismo em relação ao Brasil que
vimos parece não só absurdo como até, sob um certo ponto de
vista, criminoso: é a ele que responsabilizamos por um sem nú­
mero de males” (9).
Esta geração, porém, é sobretudo uma geração antiliberal.
Explica-se esta atitude pelo impacto da Revolução Soviética e
pela incapacidade das democracias liberais de fazerem face à
(5) SALGADO (Plínio), “Prefácio”, in MOTTA FILHO (Cândido),
Alberto Torres e o Tema de Nossa Geração, Rio, Schmidt, 1931, p. 9.
(6) Ibid., p. 12.
(7) Autor de uma das mais lúcidas análises do movimento “tenen-
tista”, O Sentido do Tenentismo, Rio, Schmidt, 1933.
(8) Octávio de Faria é um dos mais brilhantes intelectuais de sua
geração. Escreveu um ensaio, em 1930, sobre A Desordem do Mundo
Moderno, Maquiavel e o Brasil, onde defende a tese que Mussolini é a
encarnação moderna do Príncipe sonhado por Maquiavel; enfim, um
ensaio antimarxista, em 1933, intitulado O Destino do Socialismo.
(9) SANTA ROSA (Virgínio), A Desordem, Rio, Schmidt, 1932, p. 5.
Um dos únicos livros da época que pretende fugir a este ceticismo gene­
ralizado é o de Afonso Arinos de Mello Franco: Introdução à Realidade
Brasileira, Rio, Schmidt, 1933. Entretanto ele mesmo reconhece que o
Brasil, senão “desorganizado”, é um país “em desordem” e que isto pode
se resolver com uma maior influência dos intelectuais na política.

99
I

ameaça socialista, dois fenômenos considerados como sinais da


decadência do liberalismo. Este antiliberalismo ideológico se re­
força com a tendência à centralização do poder político inspira­
da nos modelos autoritários europeus. Além disto, os autores na­
cionais que têm mais influência sobre a geração de 30 são Alber­
to Torres (10), Oliveira Viana (n), e Azevedo Amaral (12), cujos
livros defendem a reformulação do sistema político em termos
antiliberais. Estes três estudiosos da crise brasileira, “em nome
da inadequação entre os modelos institucionais e a realidade so­
cial, propõem uma forma de organização do sistema social e po­
lítico em que sobressai o papel primordial de um Estado forte
e centralizado na implementação dos interesses coletivos" (’3).
A convergência ideológica antiliberal da direita manifesta-se
igualmente pelo surgimento, nos meios universitários e intelec­
tuais do Rio e São Paulo, de alguns periódicos cujos dirigentes
e colaboradores eram simpatizantes ou engajados em movimentos
de extrema-direita. Trata-se das revistas: Hierarchia, Revista de
Estudos Jurídicos e Sociais, do Rio, e Política, de São Paulo.
Na revista Hierarchia colaboram alguns dos futuros dirigen­ I
tes e intelectuais integralistas, tais como Plínio Salgado (14), San-
(10) O livro que simboliza a redescoberta de Alberto Torres pelos I
jovens intelectuais da época é o de Motta Filho, Alberto Torres e o Tema
de Nossa Geração, publicado em 1931 e prefaciado por Plínio Salgado.
(11) Os livros de Oliveira Vianna que têm mais influência são: O
Ocaso do Império (1926); Idealismo da Constituição (1930); Populações
Meridionais do Brasil (1932).
(12) Os principais livros do autor são: Ensaios Brasileiros (1930);
O Brasil na Crise Atual (1934) c O Estado Autoritário e a Realidade Na­
cional (1938).
(13) CERQVEIRA (Eli Diniz), SOARES LIMA (Maria Regina), “O
Modelo Político de Oliveira Vianna”, Revista Brasileira de Estudos Po­
líticos, 30 de janeiro de 1971, p. 87.
(14) No exemplar de março/abril 1932, no qual é publicado um
retrato de Mussolini com dedicatória especial para a revista, encontra-se
um artigo de Salgado, anterior ao lançamento da A.I.B., intitulado “Como
eu vi a Itália”. Refere-se ao contato direto entre o futuro chefe integra­
lista e o Duce, quando da viagem do primeiro ao Oriente c à Europa em
1930. A admiração de Salgado pelo fascismo neste artigo é declarada: “O
que estamos presenciando hoje é o espírito de Roma se levantando, com
o seu eterno senso de equilíbrio e de simetria, a sua capacidade de totali-
zaçâo dos elementos individuais e sociais, de concepção do mundo sob um
critério integrai, onde não há atrofias nem amputações, onde não há cho­
ques nem tendências dissociativas. Roma, fascista, tão caluniada pelos
demagogos ébrios de cocaína libertária, constitui atualmente a suprema
garantia da liberdade”, Hierarchia, março/abril de 1932, p. 203.

100
tiago Dantas, Hélio Vianna, Olbiano de Mello, Madeira de Frei­
tas, Antônio Galotti, assim como monarquistas do movimento
patrionovista (Sebastião Pagano), líderes católicos (Tristão de
Athayde, Sobral Pinto, Leonel Franca) e alguns homens políticos
e historiadores que não pertenciam à extrema-direita (João Neves
da Fontoura, Licínio Cardoso, Pandiá Calógeras, Barbosa Lima
Sobrinho). O título da revista provavelmente copiado do órgão
oficial do fascismo italiano, bem como o conteúdo da maioria
dos artigos, não deixam dúvidas sobre sua orientação política (’5).
A Revista de Estudos Jurídicos e Sociais, dirigida por estu­
dantes da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, exprime a
inquietação ideológica de um grupo significativo da nova geração
intelectual. O depoimento recente de um dos seus membros mais
representativos permite definir a orientação do grupo: “Nós éra­
mos um grupo de estudantes da Faculdade de Direito do Rio de
Janeiro, considerado fascista pelo simples fato de sermos anti­
comunistas, estarmos estudando problemas relacionados com o
corporativismo e termos uma certa simpatia pelo fascismo ita­
liano” (1G). A maioria dos colaboradores da revista pertencia,
aliás, ao grupo de intelectuais do Rio com os quais Salgado es­
tabeleceu contatos políticos após a Revolução de 30, procurando
organizar um movimento para defender os ideais do manifesto
que elaborara para a Legião Revolucionária de São Paulo (17).
Em setembro de 1929, o Centro de Estudos Jurídicos cons­
titui uma comissão de alunos para realizar um inquérito sobre
a sociologia brasileira, tendo como centro de interesse o “pro­
blema de formação da nacionalidade” (18). A comissão, formada
por Américo Lacombe, Presidente; Hélio Vianna, Secretário; San­
tiago Dantas, Relator, e Octávio de Faria, apresenta seu relatório
em maio de 1931, criticando a Revolução de 30 e elogiando

(15) Por exemplo pode-se citar alguns títulos de artigos que con­
firmam esta observação: “O Ditador Supremo”; “Mussolini, e a Nova
Itália”; “O Fascismo e o Estado Corporativo”; “A Itália Nova”; “A
Crise do Fascismo”; “Democracia c Corporativismo”; “Hitler e o Fascis­
mo Alemão”; “Década do Fascismo”, “O Estado na Concepção Fascista
o na Doutrina Católica”; “O Problema da Nova Organização do Brasil”;
“O Sindicato do Estado Fascista”.
(16) Entrevista com Américo Lacombe, Rio, Junho de 1969.
(17) Thiprs Martins Moreira, Américo Lacombe, Antonio Galotti,
Hélio Vianna, Octávio de Faria, Santiago Dantas, Chcrmond de Miranda
c Vinícius de Moraes.
(18) “Inquérito de Sociologia Brasileira”, Revista de Estudos Jurí­
dicos e Sociais 2(3), maio de 1931.

101
as novas tendências políticas autoritárias e nacionalistas: “A
Revolução realizada por correntes heterogêneas e até mesmo an­
tagônicas, sem uma forte ideologia, que lhe norteasse a atividade,
sem amparo outro que o da força, sempre precário e passageiro,
via-se frente a frente com uma realidade bem diversa da que se
esperava, bem mais complexa e mais séria do que supunham os
ingênuos pregadores liberais (. ). Mas a Revolução se debate
em vão, em face de seus próprios problemas. Seja pela ausência
de fundamento ideológico forte, seja pela derrocada do princípio
da autoridade (. . .). Felizmente, porém, já se esboça um movi­
mento de reação, caracterizado pelas afirmações nacionalistas,
pelo combate ao mimetismo pernicioso que já tanto tem desgraça­
do este pobre país, pelo desenvolvimento dos estudos brasileiros,
por toda uma mentalidade nova, cheia de fé e entusiasmo” 0°).
A terceira revista, Política, dirigida por Cândido Motta Fi­
lho (20), lança seu primeiro número em janeiro de 1932, em São
Paulo. Sua linha política é menos identificada com as idéias fas­
cistas do que a Hierarchia, embora não dissimule uma atitude
antiliberal. O poeta Menotti dei Picchia, antigo redator, junta­
mente com Salgado, do Correio Paulistano, órgão do Partido Re­
publicano, desenvolve nos dois primeiros números, um estudo
sobre “A Falência da Democracia Política”, sustentando a tese
de que “o mundo moderno assiste assombrado o crack coletivo
do seu regime político alicerçado nas formas arcaicas do sufrá­
gio universal. Faliu ruidosamente a democracia política” (21).
Noutro artigo, o patrionovista Sebastião Pagano, futuro membro
Sociedade de Estudos Políticos (S.E.P.), após longas consi-
;ões sobre as noções de Estado orgânico, nacional e hierár-
> e do nacionalismo integral, garantia de paz, ordem, pros-
ade”, afirma que “o Estado fascista, apesar de alguns gra-
lefeitos provenientes de sua concepção neo-hegeliana, é o
de melhor existe na atualidade” (22).
Octávio de Faria, enfim, analisando a vulgarização excessiva
das idéias nacionalistas no Brasil, denuncia a superficialidade de

(19) Ibid.
(20) Cândido participa com Salgado da tentativa de renovação do
Partido Republicano Paulista (P. R. P.), tendo sido um dos mais desta-
^dos membros da Sociedade de Estudos Políticos (S.E.P.).
(21) DEL PICCHIA (Menotti), “A Falência da Democracia Polí-
l,Ca”, Política, 1(1), 1932.
(22) PAGANO (Sebastião), “Do Conceito de Estado Integral”,
P°Htica 1(3), 1932.

102
ses adeptos em nome de uma ortodoxia nacionalista maurrasia-
na. Citando a frase do mestre de que “le nationalisme est le
grand fait du monde moderne”, comenta a situação política pós-
-revolucionária, mostrando a defasagem entre os “movimentos
europeus modernos” e a Revolução de 1930. Considera, com iro­
nia, que “um dos erros mais sérios (...) da Revolução de ou­
tubro de 1930, foi o de ter chamado a atenção do grande número,
da nossa massa, para os problemas políticos e sociais”. Com
efeito, “de repente (...) o Brasil acordou moderno. Todo o
mundo quis ser alguma coisa. Todos quiseram ser extremados,
Salvar o Brasil fosse como fosse com a foice ou com um litro de
1 óleo de rícino”. A. conseqüência foi a “desmoralização incessan­
te da idéia de nacionalismo” no sentido europeu (23).

2 — OS MOVIMENTOS POLÍTICOS AUTORITÁRIOS

A ascensão da direita na década de 1930 caracteriza-se tam­


bém pela organização de vários movimentos de inspiração fas­
cista: “Ação Social Brasileira (Partido Nacional Fascista); Legião
Cearense do Trabalho; Partido Nacional Sindicalista e o movi­
mento monarquista Ação Imperial Patrionovista. Com exceção
da Legião Cearense que teve uma penetração regional importan­
te, estes movimentos são organizações reunindo um pequeno
grupo de indivíduos e com audiência política restrita, cuja rele­
vância é ter precedido e reforçado a convergência ideológica de
direita. Nascidos à margem das forças revolucionárias no poder,
eles são dirigidos por líderes civis ou militares, em geral hostis à
Revolução de 1930, mas conscientes das novas perspectivas à ação
política abertas pelo movimento revolucionário com a derrubada
da Velha República.
O primeiro movimento é a Ação Social Brasileira, de J.
Fabrino, que se propõe, sem êxito, a organizar um Partido Na­
cional Fascista. O programa define-o como “um partido político
nacionalista que tem por fim pugnar pela realização de todas as
medidas favoráveis ao fortalecimento moral, intelectual e mate­
rial do Brasil (. . .). Para a A.S.B., que põe a Disciplina a ser­
viço da Vontade, a Lei está acima do Homem, a Ordem acima
da Léi, o Direito acima da Ordem e a Pátria acima de tudo.
(23) FARIA (Octávio de), “O Nacionalismo no Brasil”, Política,
1(3), 1932.

103
A A.S.B. executará pela razão ou pela força todos os atos neces­
sários à realização do seu triunfo” (2‘‘).
O programa do Partido divide-se em duas partes: a primei­
ra, intitulada “Vontade”, expõe as grandes linhas da sua platafor­
ma política, onde aparecem as medidas de proteção à agricultura,
ao desenvolvimento industrial, à educação mental e moral do
povo, em favor da nacionalização dos diversos ramos da econo­
mia (pesca, marinha mercante, utensílios agrícolas e imprensa
política), sem esquecer as medidas de “fortalecimento da ra­
ça” (25). O objetivo geral do movimento é a substituição do re­
gime federativo, cuja força dissolvente dividiu o Brasil, por um
todo homogêneo, organizado a partir da célula municipal a fim
de restabelecer “a unidade nacional”, dentro do sistema corpo­
rativo” (2<5).
A segunda parte do programa, cognominada de “Disciplina”,
estabelece o tipo de organização necessária à realização destes
objetivos: “A A.S.B. é constituída de um chefe que indicará
para seu Estado-Maior dez nomes. Cada membro do Estado-
-Maior organizará dez legiões; cada uma destas legiões se desdo­
brará em dez coortes; cada uma destas coortes, em dez centúrias,
(24) FABRINO (J.), Programa da A.S.B., p. 1. Embora fora do
contexto da convergência ideológica dos anos 30, a primeira manifestação
de fascismo no Brasil “se dâ prematuramente, em 1922, com a fundação
da Legião do Cruzeiro do Sul, possivelmente imitação do movimento dos
"Fáscios e do episódio da Marcha sobre Roma”, CARONE (Edgard), A
Segunda República. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973, 288 pp.
(25) Estas medidas são: Educação Física e interdição de entrada no
país de imigrantes tendo menos de “1,60 para homens” e “1,50 para mu-
eres”, FABRINO (J.), Documento Citado, p. 3.
(26) FABRINO (J.), Documento citado, p. 1. Na mesma época
kBRINO fundava o “Partido Nacional Fascista", cm Minas Gerais,
i fevereiro de 1931, seria lançado o manifesto de um novo
^rtido de inspiração fascista — A Legião 3 de Outubro — subscrito por
•rancisco Campos, Gustavo Capanema e Amaro Lanari. No Rio, outro
grupo propõe-se a criar em novembro de 1930 o "Partido Fascista Bra­
sileiro", que, pretendendo apoiar o movimento revolucionário de 30 no
poder, adota o fascismo italiano como modelo: “cumpre aos bons comba­
ter os maus. Entre os primeiros encontram-se os que dsejam ver o Brasil
grande, próspero, em harmonia com os ideais traçados pela revolução ini­
ciada em 3 de outubro. Entre os maus vêem-se os elementos do comunis­
mo, obtuso, grosseiro, impraticável e derrocador das belezas da civiliza­
ção, os politiqueiros profissionais, os parasitas sociais, os incapazes de
toda a espécie moral e espiritual (...). Contudo, fácil é combatê-los, des­
truí-los, aniquilá-los bastando praticar o exemplo da nova Itália de Mus-
solini, um dos florões mais novos e mais belos da civilização através dos
séculos”. CARONE (Edgard), A Segunda República, São Paulo, Difusão
Européia do Livro, 1973, pp. 288-289.

104
documentos confirmando a força da Legião, é que, alguns me­
ses após sua fundação, havia uma lista nominal de quarenta as­
sociações inscritas em suas fileiras (33).
A organização da Legião prevê um Chefe, um Secretário-
-auxiliar do Chefe e um Conselho composto de dois represen­
tantes de cada sociedade confederada. A escolha do chefe é feita
pelo Conselho Legionário, com um mandato limitado, estando
previsto um mecanismo parlamentar para destituí-lo (34). As
organizações confederadas eram submetidas a disposições restri­
tivas, devendo obrigatoriamente “acatar os avisos, as instruções
e circulares do chefe, os decretos e resoluções do Conselho e as
decisões do Tribunal Legionário. A sociedade confederada não
poderá entrar diretamente em relação com pessoas e organiza­
ções estranhas à Legião sobre assuntos políticos, sociais e de
interesse do operariado” (35).
Ainda que a Legião não tenha tido uma organização tão
rígida como a da Ação Social Brasileira, seus militantes usavam
também um uniforme: calças brancas e blusão de operário em
algodão colorido. Na manga esquerda ostentavam uma insígnia
representando o braço de um trabalhador empunhando a balan­
ça da justiça. A saudação habitual era a resposta coletiva “Pron­
to!”, feita ao Chefe no início de suas alocuções.
A Legião define-se em seu programa, como “uma organiza­
ção de associações populares e de classe, do Estado do Ceará,
com finalidade econômica, política e social” (36). A finalidade
econômica é a de defender o trabalho que não pode “ser consi­
derado uma simples mercadoria sujeita à lei da oferta e da pro­
cura”. A Legião propõe a implantação do “contrato coletivo, em
que sejam fixados o salário vital, as horas de trabalho, o repouso
dominical, o limite de trabalho de menores e mulheres, o regime
de conciliação e arbitragem” (37); institui também para seus mem-
(33) Ibid., p. 48.
(34) “O Chefe da Legião será aclamado pelo Conselho e dirigirá a
Legião durante 3 anos, podendo ter renovado o mandato. Um parágrafo
prevê que “semestralmente o Conselho votará uma moção de confiança
ao chefe. Rejeitada a moção, o Chefe é obrigado a resignar ao cargo
Ibid., p. 47.
(35) Ibid.
(36) Ibid.
(37) A influência da “Carta dei Lavoro” italiana é_ evidente. Neste
domínio a Legião é um movimento precursor da legislação trabalhista no
Brasil.

! 107


bros um tribunal trabalhista, cuja função é de resolver os confli­
tos entre patrões e operários: presidido por um legionário de for­
mação jurídica, as decisões são tomadas por um júri composto
de trabalhadores mais experientes. Sua finalidade política con­
siste na “integração das classes trabalhadores organizadas, den­
tro da vida política e social do país” (3S). A Legião desconfia
dos partidos políticos e se propõe a organizar os trabalhadores
para obter a representação profissional. A finalidade social re­
side na luta em favor de “uma ordem social (...) em torno de
um verdadeiro humanismo, subordinados os seus valores aos va­
lores morais (...). A Legião trabalhará pelo advento de uma
economia distributiva e de um regime corporativo. ..” (39).
No discurso de instalação do movimento, o tenente Sombra
precisa os objetivos da Legião: “A Legião organiza o operariado
para que, protegido, educado e coeso, ele se torne um colabora­
dor honesto e consciente das outras classes” (40). Estando assim
definido o princípio da colaboração entre as classes, o objetivo
político é alcançar o ideal medieval da sociedade corporativa
apoiando-se sobre os grupos profissionais. “O sindicato, a asso­
ciação profissional, são círculos naturais de expansão da perso­
nalidade humana” (41) e “só o Estado pode conseguir em termos
justos a associação funcional do trabalho, capital e direção téc­
nica”. A Legião rejeita, em conseqüência, a organização “polí­
tico-social moderna, minada pelo individualismo” e luta “pela
volta ao regime corporativo, esboçado na. Idade Média, em que
as três forças (econômica, política e espiritual), equilibravam
uma harmonia profunda” (42).
O conjunto destes documentos revela, pois, que a Legião
propõe um programa combinando aspectos da doutrina social
católica tradicional (43) com elementos de inspiração fascista.
P°is testemunhos importantes confirmam esta interpretação,
primeiro é um artigo de 1931, escrito por Alceu Amoroso Li­
ma, salientando o valor da experiência da Legião: “A energia
in omavel de um jovem militar está, neste momento, realizando
no Ceará uma das obras sociais mais fecundas que jamais se

(38) SOMBRA (Severino),


(39) I bid.
op. cii., p. 45-46.
(40) Ibid., p. 7.
(41) lbid„ p. 17.
(42) Ibid., p. 11.
(43) °S d°ÍS teXtos Pontifícios
a “SviLk .....
que tiveram mais influência foram
Syllabus e a encíclica “Rerum Novarum”.

108
levaram a termo no Brasil.” O autor mostra, sobretudo, o aspec­
to cristão do movimento: o objetivo da Legião é de “congraçar
as classes proletárias em um organismo natural e harmônico, fiel
às características da nossa terra e da nossa gente. .O que a
Legião “está fazendo é (...) dar uma solução racional e cristã
ao problema social”. Conclui identificando-se com esta ação pio­
neira: “E esse espiritualismo sociológico é que visa a grande obra
do Tenente Sombra, no Ceará, realização prática dos princípios
sociais que animam a revolução integral que almejamos” (44).
O segundo testemunho é do tenente Jeovah Motta (’5). Con­
vertido pelo padre Helder Câmara e Severino Sombra (“Eu
estava numa posição católica neutra. Eles me transformaram
num católico desejoso de uma reforma no catolicismo”), declara
que a principal preocupação da legião era a de “levar a religião,
cristianizar a classe operária”. Não nega, igualmente, a natureza
ideológica de sua opção na época: “estes tenentes insatisfeitos
com a Revolução de 30 e ainda numa fase de muitas inquietação,
começaram a se perguntar: se a Revolução fracassou, o que va­
mos fazer? (...). As livrarias do Brasil, naquele tempo, tinham
uns balcões só com livros fascistas e outros só com livros de es­
querda. Muitos tenentes foram para a esquerda, muitos à direita
e outros ficaram em torno de Getúlio (...). Agora eu, estando
em Fortaleza, fui para o fascismo. .. ” (40).
O terceiro movimento é o Partido Nacional Sindicalista,
I idealizado pelo jornalista mineiro Olbiano de Mello (17). Para­
doxalmente, embora seu projeto tenha ficado praticamente no
papel, seus planos de organização de um movimento político
eram mais elaborados que os dos precedentes. Mello, como Sal­
gado, é originário de uma pequena cidade do interior, tendo am­
bos militado nas fileiras dos Partidos Republicanos dos seus res­
pectivos Estados C18).
(44) AMOROSO LIMA (Alceu), “Legião do Trabalho”, A Razão,
29 de outubro de 1931.
(45) Jeovah Motta tornar-se-á chefe da Legião, em 1932, quando
Sombra, acusado de haver apoiado a Revolução Constitucionalista, foi
exilado por Vargas em Portugal.
(46) Entrevista com Jeovah Motta, Rio, julho de 1970.
(47) Olbiano de Mello que será um dos integralistas mais influentes,
morava na pequena cidade mineira de Teófilo Otoni, no Nordeste do
Estado de Minas Gerais.
(48) “Escreví uma carta ao Sr. Alfredo Sá (...) rompendo com o
Partido Republicano Mineiro, de cuja Comissão Executiva Joca eu
membro”, in MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução Social no
Brasil, Rio, Edições O Cruzeiro, 1957, p. 29.
109
Olbiano/num dos seus livros, conta como despertou para
os problemas sbciais e econômicos, quando em 1925, “um dia,
acaso feliz, cairam-me nas mãos umas idéias vagas contidas em
um folhetó de propaganda sobre o corporativismo" (,n). Seus
estudos sobre corporativismo o conduzem à descoberta do sindi­
calismo entre 1927 e 1928: “triunfava então, em todo seu esplen­
dor, na Península Itálica, o sindicalismo nacionalista transforma­
do em Fascismo por Mussolini” (50) e sensibiliza-se, sobretu­
do, com a advertência do Duce, segundo o qual, “ou as nações
resolvem integrar em seu organismo social o sindicalismo pro­
fissional ou cairão sob os assaltos do sindicalismo revolucioná­
rio” (51).
A atitude de Olbiano de Mello frente à Revolução de 1930
é semelhante a de Salgado e Sombra. A seu juízo a Revolução
foi “um movimento armado desencadeado entre políticos sob os
aplausos ingênuos do povo brasileiro ( .). Revolução sem pro­
grama ideológico, sem fim determinado, preparada minuciosa­
mente dentro das chocadeiras políticas" (52). Reconhece, entre­
tanto, que o movimento vitorioso em 1930, buscando sua origem
no clima político das insurreições dos anos 20, é irreversível por­
que “agora o seu processo não é mais cingido a razões mera­
mente políticas. Novos fatores entraram em ação, transformando
e arrastando o espírito revolucionário para uma segunda etapa
sociológica” (53).
Esta interpretação da Revolução de 1930 fundamenta-se em
sua concepção da revolução em geral. Olbiano distingue as re­
voluções políticas das revoluções sociais, as quais em lugar de
impor “uma ditadura política exercida por políticos", são “de­
terminadas por uma necessidade de aperfeiçoamento interno de
cada indivíduo”. A verdadeira revolução se processa consciente­
mente no espírito, gerando um “novo equilíbrio”, quando “de
suas entranhas surja um novo espírito nacional, rompido com*o
passado, integralmente impregnado de todas as peças que cons­
tituírem o novo “Estado” (M).

(49) MELLO (Olbiano de), República Sindicalista dos Estados


Unidos do Brasil, Rio, Tipografia Terra do Sol, 1931, p. 29.
(50) Ibid.
(51) Ibid.
(52) MELLO (Olbiano de), Levanta-te Brasil!, Rio, Tipografia Ter
ra do Sol, 1931, pp. 23-24.
(53) Ibid., p. 22.
(54) Ibid., p. 23.

110
-
Olbiano de Mello não hesita também em reconhecer que
optou pelo fascismo. Sua evolução ideológica, partindo da aná­
lise de que a Revolução de 30 é “uma etapa da revolução social
no mundo” (55), realiza-se numa atmosfera impregnada de fas­
cismo: “Eu, no sertão mineiro, fixava-me no fascismo, conven­
cendo-me que a implantação do sistema no Brasil resolvería a
questão social entre nós” (56).
Sua reflexão político-ideológica leva-o a produzir três ensaios
expondo suas idéias sobre as bases doutrinárias e a organização
de um novo partido político. O primeiro, publicado em março
de 1931, estabelece os fundamentos da República Sindicalista dos
Estados Unidos do Brasil e antecede às obras doutrinárias de
Salgado e de Sombra. Olbiano proclama, sem falsa modéstia, em
livro posterior, que foi “de todos os escritores, brasileiros como
estrangeiros, o único que esquematizou, traçando por todos os
órgãos governamentais, as nervuras mestras do Estado corpora­
tivo, pleiteado pelo fascismo”. O segundo, escrito em setembro
do mesmo ano, propõe e discute o dilema ideológico da época:
Comunismo ou Fascismo? Enfim, o último, divulgado em março
de 1932, sob o título de Levanta-te Brasil!, volta-se para a ação
política: é um “manifesto dirigido ao povo brasileiro no sentido
de sua arregimentação por meio de todas as suas classes profis­
sionais em um partido político: o Partido Nacional Sindicalis­
ta” (57). Assim, pode-se constatar que, embora Olbiano de Mel­
lo tenha sido o precursor no plano da elaboração ideológica, a
Legião foi a pioneira no plano da ação política.
O autor, proclamando inspirar-se na tradição socialista, de­
clara “a falência da Democracia, a agonia lenta da Burguesia, o
descrédito indisfarçável do liberalismo a par do esplendor nas­
cente (. . .) do grupalismo para o seio do qual correm, nos dias
que passam conscientemente ou não, as multidões sofredoras” (58).
Olbiano pretende lançar os fundamentos de uma “república sin­
dicalista”, com abolição do sufrágio universal substituído pelo
voto profissional (5e). Cada municipalidade elegería seu Conse­
lho Municipal e os Conselheiros escolheríam o Prefeito e o Pre-
(55) MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução Social no Bra­
sil, op. cit., p. 41.
(56) Ibid., p. 24.
(57) MELLO (Olbiano de), A Quarta Força ou Bases Fundamentais
para a Reconstrução do Mundo, São Paulo, Editora Cupolo, 1935, p. 14.
(58) MELLO (Olbiano de), Levanta-te Brasil!, op. cit., p. 7.
(59) MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução Social no Bra­
sil, op. cit., P- 37.

111
feito-adjunto; o Conselho Corporativo Provincial seria consti­
tuído de presidentes e de secretários de federações de cada sin­
dicato de todas as municipalidades do Estado; a Câmara Legisla­
tiva sindical seria composta de tantos deputados quantos os
distritos eleitorais em cada Estado, e o Executivo seria escolhido
pelos prefeitos dos municípios. No nível federal, formar-se-ia o
Grande Conselho Corporativo Nacional, constituído pelos presi­
dentes e secretários das confederações sindicais, a Câmara Na­
cional Corporativa e o Executivo Nacional.
As analogias entre a República sindicalista e a organização
do Estado fascista são reconhecidas pelo próprio autor, que a
considera “uma forma de fascismo". Olbiano, porém, procura
argumentar que a República sindicalista não será uma ditadura
como na Itália fascista, porque haverá eleições em todos os ní­
veis. Esta distinção parece não ser essencial. Noutra passagem
ele se declara favorável a “uma ditadura orgânica, ou seja, ideo­
lógica que, como meio levasse o povo a um fim previamente
programado. Nunca, porém, a uma ditadura caudilhesca sem
rumo e sem justificativa" (60).
O segundo ensaio de Olbiano, Comunismo ou Fascismo?,
é um estudo comparativo entre “o sindicalismo-coletivista inter­
nacional (Bolchevismo) e o sindicalismo totalitário nacional
(Fascismo)" (R1), onde o autor termina exaltando o papel de
Mussolini: “Do entrechoque ( .) que correu pela espinha mes-
ra do edifício social europeu com as idéias pregadas pela Ter-
eira Internacional, no meio da confusão reinante, um homem
(...) levantou-se (...) na península (...). Este homem foi
Benito Mussolini (...) em cujo nacionalismo intransigente vi­
ríam se quebrar as ondas revoltas e violentas dos maximalismo"
(*2). Sua admiração não se limita somente ao homem, mas es­
tende-se à idéia fascista: “Roma com o Fascio limitou-se até há
pouco — a se defender da invasão dissolvente de outras doutri­
nas (...). Mas a idéia boa não tem pátria; o espírito é univer­
sal, bem como o disse o criador do fascismo (. . .). Daí a “uni­
versalidade, hoje, dos princípios fascistas" (G3).
(60) MELLO (Olbiano de), Levanta-te Brasil! op. cit., p. 6.
(61) MELLO (Olbiano de), Comunismo ou Fascismo? Rio, Tipo­
grafia Terra do Sol, 1931, p. 143.
(62) Ibid.„ p. 144. . t
(63) Foi um “hibridismo democrático socialista, diz ele, que arrastou
a Alemanha à situação atual, da qual, felizmente, parece, será libertada
em pouco pelo Partido Socialista Nacional de Hitler , m MELLO (Olbia­
no de), Levanta-te Brasil! op. cit., p. 28.

112
O programa e a organização do Partido Nacional Sindica­
lista constituem o tema de seu terceiro ensaio: “Levanta-te Bra­
sil! Ele o define como uma organização contra o bolchevismo,
os partidos políticos e a social-democracia (®4). Este movimento
deve ser um instrumento de “força e de ação” e que levará “em
seu bojo e em sua essência a característica aristocrática de uma
genuína revolução social ”(05). O programa propõe “a implan­
tação no Brasil do Estado Sindical Corporativo Nacionalista com
abolição integral do sistema eleitoral baseado no sufrágio univer­
sal e sua substituição pelo de representação por classes profissio­
nais; respeito à propriedade e iniciativa privadas que deverão ser
defendidas e acatadas pelo Estado; a defesa da idéia de Família,
Pátria e Deus; a sindicalização de todas as classes profissionais
(66); o regime federativo unitário em forma de um Estado Sindi­
cal Corporativo Nacionalista e um sistema eleitoral com sufrágio
restrito a cada classe profissional (®7) com três poderes: judiciá­
rio, legislativo e executivo, independentes e harmônicos entre
si” (®8).
A estrutura do partido é prevista em todos os detalhes,
desde os órgãos de direção até os rituais, o uniforme, a bandeira
e o hino sindicalista. A base da organização é constituída por
um “centro nacional sindicalista” na capital do país e por “cen­
tros regionais” dirigidos por um “comitê executivo”, formado
pelo Presidente, vice-presidente, secretário, tesoureiro, propagan-
distas e aderentes. Embora nenhuma referência explícita seja
feita à expressão chefe”, a estrutura hierárquica do Partido Na­
cional Sindicalista é semelhante à da Ação Social Brasileira: “dez
sindicalistas formarão um grupo; dez grupos, uma coluna; dez
colunas, uma coorte e dez coortes, um corpo” (69).
A adesão ao Partido Nacional Sindicalista é aberta a todos
os brasileiros maiores de 21 anos, sem distinção de sexo, mas os
(64) Ibid., p. 29.
(65) Reconhecida pela nova constituição política*“cada classe profis­
sional deverá econômica e socialmente ser agrupada em sindicato — fora
do organismo geral do Estado, porém sob as vistas imediatas do Ministé­
rio das Corporações”. O autor preconiza a criação de 30 organizações pro­
fissionais de empregadores e empregados, representando os principais ra­
mos da economia, Ibid., p. 30.
(66) A condição para se tornar eleitor é de pertencer a um sindi­
cato ou corporação.
(67) MELLO (Olbiano de), Comunismo ou Fascismo? op. cit., pp.
30-31.
(68) Ibid., p. 39.
(69) MELLO (Olbiano de),dc), Levanta-te Brasil! op. cit., p. 31.

113
menores de 17 anos “podê-lo-ão fazer com consentimento expres­
so dos pais ou tutores” (70). O uniforme obrigatório para os
militantes, compõe-se de “camisa, colarinho, gravata, casquete
azul-marinho, calças e coturnos pretos — com um emblema na
camisa, lado esquerdo, em fundo amarelo, formado por duas
mãos apertadas em cumprimento e encimadas por uma esfera de
cores azul e preto, com tantas estrelas brancas quantos Estados
e Territórios possui o Brasil (. . ).A entrega do emblema do
Partido ao seu membro ingressante será feita solenemente, em
seu centro ou subcentro, diante das bandeiras nacional e sindi­
calista — devidamente perfiladas de acordo com o ritual que for
adotado e com o seguinte juramento: Pela Família, Pela Pátria,
Por Deus (71).
Enfim, o último aspecto da organização do Partido, e que o
distingue dos dois outros movimentos, é a referência explícita à
organização da “Milícia Sindicalista Nacional, nos moldes da
fascista italiana ou nacional-socialista alemã (hitlerista) — for­
mada por todos os filiados ao Partido, abrangendo todos os in­
divíduos de 17 a 40 anos” (72). O texto prevê que, após a im­
plantação do Estado Sindicalista, as milícias transformar-se-ão
oficialmente na segunda reserva nacional.
O último movimento é a Ação Imperial Patrionovista Bra­
sileira, organização neomonarquista católica e corporativista (73).
Foi fundado ein 1928, com a finalidade de restaurar a monarquia
tradicional, isto é, um regime que deve se apoiar sobre o Rei, a
Igreja Católica e as corporações medievais: “Sem religião católi­
ca e sem rei não pode haver corporativismo” (7‘). O patriono-
vismo rejeita o império brasileiro, que, influenciado pelo libera­
lismo, aboliu na constituição as corporações de ofício, seus jui­
zes, escrivães e mestres” (7S).
O programa patrionovista coloca em primeiro plano seu
credo: restauração do privilégio do “catolicismo” e “religião obri-
(70) Ibid., pp. 40-41.
(71) Ibid., p. 35.
(72) Grande parte de seus membros irá integrar-se à Sociedade de
Estudos Políticos (S. E. P.), que dará origem à Ação Integralista. Os
membros mais representativos são: Sebastião Pagano, Arlindo Veiga dos
Santos, Paim Vieira, João Fairbanks e Ataliba Nogueira.
(73) PAIM VIEIRA, Organização Profissional, "Organização Pro­
fissional, Corporativismo e Representação de Classes" e Representação de
Classes, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1933, p. 257.
(74) Ibid., p. 250, artigo 179, parágrafo XXV da Constituição do
Império (1824).
(75) Ibid., pp. 254 a 255.

114
gatória nas escolas públicas, nos quartéis, institutos hospitalares
e correcionais, etc.”. Em seguida, desenvolve tese sobre a “Mo­
narquia” associadas à restauração de um “imperador responsá­
vel que reine e governe, escolhendo livremente os seus ministros”
e a organização do Estado imperial sobre a “base municipal sin­
dicalista”. Os patrionovistas lutam pela implantação do corpo­
rativismo alicerçado “numa organização sindical das classes pro­
fissionais, de produção espiritual e econômica (. . .), como base
da verdadeira representação nacional”. Por fim, defendem uma
política internacional “nacionalista, altiva e cristã” (70).
Um dos líderes do grupo monarquista, Sebastião Pagano,
num artigo publicado em 1932, sob o título “Do Conceito de
Estado Integral”, define a posição dos patrionovistas com relação
ao Estado: “Se o Estado deve integralmente satisfazer essa ne­
cessidade, essa finalidade social humana, um Estado perfeitamen-
te aparelhado chama-se Estado Integralista, por oposição ao Es­
tado que, por defeito de organização, deixa de integralmente
atender às necessidades do homem em sociedade na tendência
por seu legítimo fim”. Caracteriza o Estado Integral, como sen­
do um “conjunto orgânico, nacional, hierarquizado e harmônico
( .) onde o conceito de liberdade é profundamente humano,
hierárquico e paternal, atendendo à sociabilidade do homem, a
sua finalidade última e ao bem comum geral” (77).
A organização corporativa do Estado é minuciosamente
descrita pelo patrionovista Paim Vieira no âmbito de uma “mo­
narquia orgânica e integral” (78). Exalta os méritos das corpo­
rações medievais nas quais a perfeição moral era indispensável
à “ascendência moral e profissional (...), o trabalho era uma
honra”, “a religião o esteio em que repousa toda essa portentosa
estrutura econômico-político-social”. Para fazer face à anarquia
do trabalho provocada pelo regime liberal, o autor sugere a so­
lução corporativa cristã: “a organização corporativa, por si só,
não realiza a harmonia das classes. Ela é simplesmente o instru­
mento de que o espírito cristão é a energia. Não há corporativis­
mo leigo. Sem Deus não há harmonia, não há disciplina, porque
não há autoridade. Sindicalismo sem Deus é absurdo” (79).

(76) PAGANO (Sebastião), “Do Conceito de Estudo Integral’’, Polí­


tica, (1(3), 1932.
(77) PAIM VIEIRA, op. cit., p. 205.
(78) Ibid., pp. 40-58.
(79) Ibid., p. 158.

115
Recente estudo sobre as idéias religiosas no Brasil, de Oli­
veira Torres, confirma a hipótese da convergência ideológica en­
tre certos movimentos dos anos 30 e o Integralismo: “Se os pa-
trionovistas não conseguiram grandes resultados na difusão de
seu programa, com mais de uma idéia viável e digría de estudo,
logo apareceu quem levasse avante os ideais de corporativismo
e representação de classes: o Integralismo. Mais objetivo e poli-
camente mais de acordo com as modas do tempo ( ), o movi­
mento do Sr. Plínio Salgado esteve a pique de empolgar o poder
e passar para o papel das leis um esquema corporativista, mais
ou menos dentro das sugestões dos patrionovistas” (80).

3 — A FUNDAÇÃO DA AÇÃO INTEGRALISTA

Todos esses fatores esparsos integram-se graças à ação jor­


nalística de Salgado em A Razão e à organização da Sociedade
de Estudos Políticos. O jornal é o instrumento de difusão de
suas idéias e a S.E.P., o centro de reflexão ideológica de onde
vai nascer o manifesto integralista de 1932 e a Ação Integralista
Brasileira (A.I.B.).
O próprio Salgado reconhece o papel instrumental do jornal.
Através dele os artigos chamam a atenção dos intelectuais e dos
dirigentes dos movimentos que rejeitavam o retorno ao liberalis­
mo da Constituição de 1891. “Em 1931, surgiu em São Paulo um
jornal que se tornou, dentro em breve, o instrumento aglutinador
de brasileiros orientados por um pensamento cristão e naciona­
lista (...). Dentro em pouco, estava registrada num fichário.
apreciável corrente de homens ligados por algumas idéias fun­
damentais” (81).
A primeira reunião para a formação da Sociedade de Estu­
dos Políticos realiza-se em 24 de fevereiro de 1932, por iniciativa
de Salgado em São Paulo, na sede do jornal A Razão. Nesta
reunião participa um grupo de jovens intelectuais: Cândido Mot-
ta Filho, Ataliba Nogueira, Mário Graciotti, João Leães So­
brinho, Fernando Callage e vários estudantes da Faculdade de
Direito.

(80) OLIVEIRA TORRES (João Camilo de), História das Idéias


Religiosas no Brasil, op. cit., p. 195.
(81) SALGADO (Plínio), O Integralismo na Vida Brasileira, op. cit.,
pp. 15 c 16.

116
O testemunho de Cândido Motta Filho, um dos líderes in­
telectuais do grupo paulista, permite reconstruir o clima intelec­
tual que precede à criação da S.E.P.: “Em São Paulo, os jovens
procuravam concentrar-se em torno de uma idéia superior, que
pudesse guiar a vida política diante do impasse em que se encon­
trava a Revolução de 30 naquele jogo entre tenentes e o Pre­
sidente da República. E a revolução parecia que ia se esvaziar
nisto tudo. A nossa preocupação era fundarmos um centro de
estudo que pudesse investigar e extrair desta investigação, um
sistema qualquer que nos orientasse na vida política (...)• A
finalidade da sociedade era apenas estudar, investigar e ver qual
era o caminho que se podia traçar para o Brasil novo que ia sur­
gindo da Revolução de 30. Nós faríamos a propaganda destas
idéias, nós seríamos os veículos destas idéias que talvez con­
tribuíssem para a formação de partidos, de correntes de opi­
niões” (82).
A assembléia de fundação da S.E.P. teve lugar em 12 de
março, sob a presidência de Salgado. Em seu discurso ele define
o papel da associação: “Senhores, por toda a parte ouço a pala­
vra revolução; de todos os lados nos chegam os ecos de ingentes
reclamos que, em meio à confusão dominante no país desde outu­
bro de 1930, apelam para o “espírito revolucionário”. Na ver­
dade, tudo indica que o Brasil quer renovar-se, quer tomar pos­
se de si mesmo, quer marchar resolutamente na História. Cla­
ma-se pela justiça social e por mais humana distribuição dos
bens; exige-se do Estado que intervenha, com poderes mais am­
plos, tendentes a moderar os excessos do individualismo e a aten­
der os interesses da coletividade. Neste momento, congrego-vos
para estudarmos os problemas nacionais e traçarmos em conse-
qüência destes estudos os rumos definitivos de uma política sal­
vadora” (83).
Completando sua alocução, Salgado apresenta os princípios
fundamentais da S.E.P. que serão aprovados pelos participantes
da sessão. Estes princípios, que devem servir de contexto ideoló­
gico aos debates políticos (cujo conteúdo é aliás muito próximo
do Manifesto Integralista de 1932), são os seguintes: “a — So­
mos pela unidade da Nação; b — Somos pela expressão de todas
as suas forças produtoras no Estado; c — Somos pela implanta­
ção do princípio de autoridade, desde que ele traduza forças reais
(82) Entrevista com Cândido Motta Filho. São Paulo, junho de 1970.
(83) SALGADO (Plínio). O Integralismo na Vida Brasileira, op.
cit., p. 144.

117
e diretas dos agentes da produção material, intelectual c da ex­
pressão moral do nosso povo; d — Somos pela consulta das
tradições históricas e das circunstâncias geográficas, climatéricas
e econômicas que distinguem nosso país: e — Somos por um
programa de coordenação de todas as classes produtoras; f —
Somos por um ideal de justiça humana, que realize o máximo
de aproveitamento dos meios de produção, em benefício de to­
dos, sem atentar contra o princípio da propriedade, ameaçado
tanto pelo socialismo, como pelo democratismo, nas expansões
que aquele dá à coletividade e este ao indivíduo; g — Somos
contrários a toda a tirania exercida pelo Estado contra o indiví­
duo e as suas projeções morais; somos contra a tirania dos in­
divíduos contra a ação do Estado e os superiores interesses da
Nação; h — Somos contrários a todas as doutrinas que preten­
dem criar privilégios de raças, de classes, de indivíduos, grupos
financeiros ou partidários, mantenendores de oligarquias econô­
micas ou políticas; i — Somos pela afirmação do pensamento po­
lítico brasileiro baseado nas realidades da terra, nas circunstân­
cias do mundo contemporâneo, nas superiores finalidades do ho­
mem e no aproveitamento das conquistas científicas e técnicas do
nosso século” (84).
A partir desse momento, iniciam-se as atividades da S.E.P.
sob a coordenação de um órgão coletivo (Grupo de Centraliza­
ção) do qual fazem parte Ataliba Nogueira, Mário Graciotti, Al-
pinolo Lopes Casali e José de Almeida Camargo. A S.E.P. or-
ganiza-se internamente em várias comissões de estudos: econo­
mia pedagógica, constitucional e jurídica, higiene e medicina so­
cial, geografia e comunicações, história e sociologia, religião, po­
lítica internacional, educação física, arte e literatura e agricul-
tura (S5).
As reuniões gerais de discussão são feitas periodicamente,
na sala de Armas do Clube Português de São Paulo. Por sob

(84) Obra Coletiva, Plínio Salgado, op. cit., p. 35.


(85) Os participantes dos diversos Setores da S. E. P. são: Propa­
ganda: Arlindo Veiga dos Santos, Fernando Callage, Leães Sobrinho, Bas­
tos Barreto; Economia: Mario Zaroni, Victorino Fasano, Bernardo Lich-
tenfelds, José Maria Machado, José de Toledo; Pedagogia: Ataliba No­
gueira, Moita Filho, Gastão Strang, Sebastião Pagano, Joaquim Penino;
Constitucional e Jurídico: João de Oliveira Filho, Ataliba Nogueira, Câ­
mara Leal, Áureo de Almeida Camargo; Higiene e Medicina Social:
Humberto Pascale, Mário Graciotti, José de Almeida Camargo, Walde-
mar Rocha, Durval Marcondes; Geografia e Comunicações: Américo Net-
to, Iracy Igaira, Eduardo Rossi; História e Sociologia: Motta Filho,

118
um fundo ideológico antiliberal e nacionalista definem-se cliva-
gens políticas e doutrinárias entre os membros da S.E.P. Duas
tendências principais se esboçam em seu seio. A tendência ma­
joritária aglutina-se em torno de Salgado reunindo um grupo de
estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo do qual fazem
parte Alfredo Buzaid, Rui Arruda, Roland Corbisier, Almeida
Sales e Ângelo Simões Arruda. Este grupo tende a considerar os
estudos e os debates na S.E.P. como uma atividade instrumental
a serviço da ação: e manifesta uma grande angústia política, con­
forme testemunha Motta Filho, identifica-se com uma tendência
mais diletante: “A do Plínio, que era a maioria, constituía-se de
um grupo que diante dos movimentos que se processavam na
Europa (Salgado havia pessoalmente falado com Mussolini),
olham com entusiasmo a juventude italiana” (R0). A segunda
tendência, representada pelos monarquistas do movimento “Pa-
trionovista”, embora possuam idéias comuns com o primeiro gru­
po, são partidários de um regime fundado sobre a realeza e o
catolicismo. A ausência de uma definição clara da S.E.P. sobre
estes dois elementos fundamentais da concepção monárquica tra­
dicional afastará os “patrionovistas” da S.E.P. e, mais tarde, da
A.B.I. (87).
Cabe mencionar, finalmente, o caso quase isolado de Cân­
dido Motta Filho, que goza de muito prestígio na S.E.P. e recu-

Lcãcs Sobrinho, Antonio Toledo Piza, Queiroz Filho, Carlos Alberto


Carvalho Pinto; Religião: Rui Barbosa de Campos, Sebastião Pagano,
Plínio Correia de Oliveira, Santiago Dantas; Política Internacional: José
Maria Machado, Sebastião Pagano, Joaquim Dutra da Silva; Educação
Física: Leopoldo SantAnna, Américo Neto; Arte e Literatura: Walter
Barioni, Cassiano Ricardo, Silveira Bueno, Nuto Sant’Ana; Agricultura:
Mario Zaroni, João Raymundo Ribeiro, Manoel Pinto da Silva, Ricardo
Azzi.
(86) Entrevista com Cândido Motta Filho, Rio, Junho de 1970. Este
grupo toma a iniciativa, sob a liderança de Salgado, de propor, a 6 de
maio de 1932, a criação de um órgão de proselitismo denominado “Ação
Integralista Brasileira”.
(87) A A.I.B. não resolveu imediatamente a questão do regime c
não se definiu como um movimento confessional. O Secretário Nacional
da Doutrina da A. I. B., Miguel Realc, relatou recentemente por que a
questão do regime havia afastado os monarquistas do Integralismo:
“Quando eu escrevi A Posição do Integralismo, publicado em novembro
de 1932, o resultado foi a ruptura entre o grupo do Integralismo de
Plínio e o grupo partionovista. Os monarquistas saíram porque eu fazia
uma afirmação republicana”, Entrevista com Miguel Realc, São Paulo,
junho de 1970.

119
sa-se a aderir ao integralismo (88). Ele permanecerá, apesar do
seu antiliberalismo, no Partido Republicano Paulista, no qual
havia representado com Salgado e outros uma corrente renova­
dora.
Após a fundação da S.E.P., Salgado começa a articular os
intelectuais e os movimentos dispersos da extrema-direita. Con­
sidera que o papel pioneiro de São Paulo no passado devia re­
nascer nesta obra de salvação nacional. Retoma contatos com o
grupo de intelectuais do Rio, por intermédio de Augusto Frede­
rico Schmidt, e de Santiago Dantas, ao qual pertencem os aca­
dêmicos em Direito da Revista de Estudos Jurídicos e Sociais,
o diretor de Hierarchia, Lourival Fontes, e dois futuros dirigen­
tes integralistas, Raimundo Padilha e Madeira de Freitas (80).
Sua ação ideológica se estende ao Norte do país, atingindo
os Estados de Minas Gerais e do Ceará. Alguns dias após a
primeira reunião da S.E.P., Salgado envia uma carta a Olbiano
de Mello, que pretendia lançar o “Partido Nacional Sindicalista '.
Agradecendo o ensaio sobre A República Sindicalista dos Esta­
dos Unidos do Brasil, Plínio o coloca a par de sua atividade no
jornal A Razão. Seu comentário revela uma convergência de
pontos de vista: “Eu já havia organizado um esquema muito
parecido com o seu. Eu tinha chegado às mesmas conclusões."
Ele lastima que Olbiano de Mello não venha acompanhando a
série de “Notas Políticas" que tem escrito em A Razão sobre
este mesmo tema e acrescenta: “não faz mal: o essencial é por-
mo-nos em contato. Falemos, pois, de coisas práticas". Ele re­
lata então a fundação da S.E.P., cujo “fim é o de criar uma
nova mentalidade". Descreve a seguir o sistema que concebeu,
em articular com editores, após haver tentando difundir “a obra
de Alberto Torres, de Oliveira Vianna, de Tristão de Athayde,
de Octávio de Faria, de Alberto Faria, de Euclides da Cunha, de
Oliveira Lima, de Nabuco, a literatura fascista de Rocco, o que
Portugal nos oferece de mais interessante e, com o tempo, os
trabalhos de escritores franceses, ingleses, americanos e alemães".
Termina convidando a Olbiano a aderir à iniciativa de São Paulo:
“Esse movimento deve ser efetuado em todos os Estados do Bra­
sil, a fim de criarmos os capitães da futura campanha de reno-

(88) Entrevista com Américo Lacombc, Rio, setembro de 1969.


(89) Eles serão respectivamente chefes integralistas no Estado do
Rio e do Distrito Federal e, mais tarde, membros do Conselho Supremo
e do Secretariado Nacional da A. I. B.

120
vação (. . .). Sobre três bases deve assentar a obra de construção
nacional: base geográfica (Município); base econômico-social
(classe) e moral (Tradição religiosa e patriarcal”) (°°).
As circunstâncias do contato entre Salgado e Sombra no
Ceará são mais difíceis de serem estabelecidas. A Legião Cea­
rense do Trabalho se organiza desde julho de 1931, isto é, um
mês após a fundação de A Razão e quase um ano antes da or­
ganização da S.E.P. Salgado, contudo, conhece a Legião a partir
de outubro de 1931, quando Amoroso Lima escreve um artigo
sobre o movimento em A Razão. O sucesso da Legião era tão
grande no Ceará que Severino Sombra decide estender o movi­
mento a outras regiões do país. Em inícios de 32, ele funda a
Legião Brasileira do Trabalho e vai a São Paulo para estabelecer
contato político com Salgado que lhe afirma que “para lançar o
movimento era preciso ter uma infra-estrutura doutrinária (...)
para o movimento não se dividir em tendências ideológicas. En­
tão ele ia promover este movimento” (01).
Entretanto tudo leva a crer que nesta época Salgado já tem
em mente a idéia de criar a S.E.P. e que seus projetos políticos
pessoais foram percebidos por Sombra como ligados ao seu pla­
no de expansão da Legião. Em realidade, alguns meses após,
Salgado adverte Sombra que fundou a S.E.P. sem precisar as
relações entre esta última e a Legião Brasileira do Trabalho. A
evolução dos fatos até a criação da A.J.B. prova que Salgado

(90) MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução Social, op. cit.,


pp. 61 c 62. Salgado endereça no mesmo sentido uma carta a Sombra,
em 9 dq março de 1932: “Recebi sua carta. Acho natural sua ansiedade.
Mas eu estou criando aqui a base moral, material e intelectual para O
Manifesto.” Após haver feito referência à S. E. P., acrescenta: “Estamos
integralmente com você. Peço-lhe que mande organizar em todos os
Estados do Norte, uma coisa semelhante ao que estamos fazendo aqui.
Você centralize a orientação no Norte. Eu me incumbirei de organizar e
orientar o Sul. (...). O Manifesto depende dessas organizações, para
que tenha força e prestígio. Até o dia 20, o mais tardar, seguirá o Mani­
festo para V. ver. Antes de fazer o que fiz, não era possível redigi-lo. Só
agora ele se torna viável’’ (Documento do Arquivo Pessoal de Severino
Sombra).
(91) Entrevista com Severino Sombra, Rio, junho de 1970. Carta
de Salgado a Sombra apresenta a S. E. P. como “movimento dc pacifica­
ção, de confraternização, dc concentração dos espíritos; laboratório de
pesquisas c estudos sociológicos; foco de irradiação de idéias, dc discipli-
nação dc inteligência. É a obra preliminar, dentro do seu pensamento
inicial. É o estudo e já é o começo de ação”, (Doc. Arquivo Pessoal
de Severino Sombra).

121
soube manipular com habilidade os grupos ideológicos conver­
gentes em favor de seus planos políticos (°2).
Olbiano de Mello também faz referência a uma nova carta
que lhe foi enviada por Salgado, na qual este último descrevia
seus contatos com o grupo do Rio e com Severino Sombra. Ele
sugere, então, a realização de uma reunião dos três, no Rio, em
10 de julho de 1932. Ele justificará depois a importância do
encontro: “todos nós tínhamos o mesmo rumo e estávamos dis­
postos a criar a “grande pátria”, fundirmos nossas atividades
e organizarmos um mesmo e único partido” (93).
Em maio de 1932 a S.E.P. organiza em São Paulo sua
terceira sessão, ocasião em que Salgado propõe, com apoio da
tendência majoritária, a criação de uma “nova comissão técnica,
denominada Ação Integralista Brasileira” cujo objetivo é de
“transmitir ao povo, em uma linguagem simples, os resultados
dos estudos e as bases doutrinárias da S.E.P.”. O relatório desta
reunião mencipna as condições da organização deste novo setor:
“Expondo em rápidas palavras a grave situação que o país atra­
vessa, o Sr. Presidente (Salgado) propôs que se organizasse,
subordinada e paralela à S.E.P., uma campanha de ação prática,
no sentido de se infiltrar em todas as classes sociais o programa
político da S.E.P. decorrente de seus princípios fundamentais.
Essa campanha seria denominada Ação Integralista Brasileira”
(94). A proposição não é bem acolhida por todos os membros,
gerando algumas dissenções internas, mas a maioria virá a en­
dossá-la. Motta Filho, um dos dissidentes, justifica sua atitude:
“Houve conflitos. Eu achava que nós não podíamos tirar da
S.E.P. sua feição cultural (95). E eu disse a ele (Plínio) com toda
franqueza que achava que não, que ele não deveria transformar

(92) A correpondência de Salgado a Sombra de 9 de maio de 1932


revela que o primeiro deve explicações ao segundo sobre a tomada de
direção do movimento nascente: “isto permite antever que a questão não
ficou bem clara entre os dois: “O movimento aqui no Sul está tomando
tal vulto que exige uma imediata reunião de líderes no Rio (. . .). Tam­
bém a organização operária do Sul, nos moldes da sua é urgente e depen­
de de Você. Eu tive de assumir a chefia do movimento aqui, para que ele
não fracasse. Você sabe, pelo que eu lhe disse, o sacrifício que estou
fazendo” (Doc. Arquivo Pessoal de Severino (Sombra).
(93) MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução Social no Bra­
sil, op. cit., p. 36.
(94) SALGADO (Plínio), O Integralismo na Vida Brasileira, op. cit.,
p. 17.
(95) Obra coletiva, Plínio Salgado, op. cit., p. 36.

122
aquele movimento nos arrastando a uma responsabilidade que
não era nossa" (90).
A última etapa do processo de formação do integralismo é
a redação de um manifesto para divulgar publicamente a A.I.B.
A decisão de organizar o movimento é tomada no mês de maio,
mas este só começará a existir realmente cinco meses mais tarde,
com a publicação do Manifesto de Outubro de 1932.
A S.E.P. promove ainda duas reuniões, nos mês de junho,
para discutir o esquema do Manifesto, relatado por Salgado. Na
primeira reunião, ele expõe sua proposição à assembléia geral e
cópias são distribuídas aos membros da S.E.P. para que tragam
sugestões. Na reunião seguinte, o projeto do Manifesto é apro­
vado quase sem modificações. Entretanto, a eminência do de-
sencadeamento da Revolução Constitucionalista em São Paulo,
obriga Salgado, por prudência ou cálculo político, a retardar a
publicação do documento para uma época mais oportuna (®7).
A rebelião de São Paulo que eclode no início de julho vai
também frustrar o encontro previsto no Rio entre Salgado, Som­
bra e Mello. Sombra encontrava-se no Rio e Mello chega em 6
de julho, quando é informado do movimento paulista. Na vés­
pera da data da reunião, em 9 de julho, eclode a revolução e
Salgado não pode mais deixar São Paulo (®8).
O Manifesto é publicado, finalmente, em 7 de outubro de
1932, marcando o lançamento oficial da Ação Integralista Bra­
sileira como movimento político independente. Salgado descreve

(96) Entrevista com Cândido Motta Filho, Rio, junho de 1970.


(97) “Em junho, num ambiente de exaltadas agitações populares,
reuniu-se novamente a Sociedade de Estudos Políticos para ouvir a
leitura do Manifesto, que deveria ser levado à impressão (...). Mas, a
9 daquele mês, sublevaram-se os quartéis da Força Pública e do Exército
e as primeiras tropas da Revolução Paulista embarcaram em direção do
Rio. O Manifesto foi guardado para outra oportunidade”, SALGADO
(Plínio), O Integralismo na Vida Brasileira, op. cit., p. 18.
(98) Sua atitude de defesa do Governo Provisório contra a convo­
cação da Assembléia Constituinte provoca a desconfiança dos revolucioná­
rios paulistas c seu jornal é destruído pelos revolucionários em 23 de
maio de 1932. Sem participar, pois, da Revolução, ele permanece em São
Paulo, procurando manter a cabeça fria em um ambiente inteiramente an-
tigoverno provisório, que ia do liberalismo ao separatismo. Sombra, por
sua vez, resolve “regressar de avião para Fortaleza, no Ceará, e ali sub-
levar a “Legião Cearense”, da qual era chefe e secundar o movimento
bandeirante (...). Sombra foi detido ao saltar no Norte e, em seguida,
exilado em Portugal” (cf. MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução
Social no Brasil, op. cit., p. 65.

123
o ambiente político da fundação: “Subjugada a revolução paulis­
ta em 3 de outubro de 1932, o estado de espírito de depressão e
de íntima revolta dos combatentes vencidos logo aflorou num
reduzido grupo de brilhantes intelectuais que propunham, não
propriamente o separatismo, porém o Confederacionismo ( .).
Por outro lado, o comunismo, aproveitando-se da situação, de­
senvolveu intensamente a sua propaganda e rearticulou os seus
quadros, estimulando a massa proletária no sentido da luta de
classes (...). O movimento era dos mais tristes e incertos para
a nacionalidade. Tudo era confusão, incerteza, ausência de ru­
mos definidos. Para onde iria a Nação Brasileira? O Manifesto
Integralista já impresso, foi nesta data distribuído em São Paulo
e remetido para todos os Estados” (").
Salgado envia, na mesma data, um telegrama a Olbiano de
Mello, em que exprime, de uma maneira sintética, o espírito do
movimento nascente: “Dada precipitação dos acontecimentos
fundamos Ação Integralista Brasileira. Assembléia criação mo­
vimento formada estudantes, operários, elementos classe média.
Tudo dentro princípios já acertados nossa correspondência an­
terior: sindicalização, representação exclusivamente profissional.
Base Estado na família, município, sindicato. Avise nossos ami­
gos Bahia e Belo Horizonte restabelecer articulação, fomentar
propaganda. Espero sua vinda aqui urgente. Viva Brasil diri­
gido mocidade” (10°).
Salgado retoma imediatamente seus contatos com os grupos
intelectuais e os movimentos dos Estados do Ceará e de Minas
Gerais. Face ao exílio de Sombra, os dirigentes da Legião, Jeo-
vah Motta e Helder Câmara incorporam-se à A.I.B. (101)- Um
mês mais tarde, um grupo de jovens da Faculdade de Direito
de Recife lançam o Manifesto do Recife em apoio ao Manifesto
de São Paulo: “A mocidade nordestina de modo algum poderia
(99) SALGADO (Plínio), O Integralismo na Vida Brasileira, op. cit.,
p. 19.
(100) MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução Social no
Brasil, op. cit., p. 66.
(101) Estes dois dirigentes estavam a par de contatos entre Sombra
e Salgado. Sem consultar o chefe exilado, eles julgam legítima a adesão
da Legião à A.I.B. e acreditam que Sombra estaria de acordo com esta
decisão. Este último, cortado de sua relações políticas com o Brasil, nada
pode fazer para impedir este engajamento. Mais tarde, ele voltará ao
Brasil, tentando disputar com Salgado a direção da A. I. B. no Congresso
de Vitória (Estado do Espírito Santo), cm fevereiro de 1934. Em face
do seu fracasso e de discórdias ideológicas, ele deixará o integralismo.

124
ficar indiferente. E muito menos alunos da Faculdade de Direito
de Recife. Esta escola, que certa vez ouviu proclamar a morte
da metafísica, precisa tornar-se uma célula vivíssima desse gran­
de movimento de renovação política, social e espiritual” (102).
Estas são as circunstâncias da fundação do movimento in­
tegralista, do qual Plínio Salgado torna-se o líder: a a
partir de outubro de 1932, transforma-se no principal partido da
extrema-direita fascistizante dos anos 30 em busca do poder
político.

(102) Estudos e Depoimentos. Obra coletiva, Vol. IV, in: Enciclo­


pédia do Integralismo. Rio, Livr. Clássica Brasileira, 1935, pp. 16-17.

125

I
NATUREZA DO MOVIMENTO

Onde o Estado não se transformou, não houve Re­


volução.
Plínio SALGADO, Em Marcha.

O integralismo é a doutrina que não compreende o


Estado sem corporações. É a marcha natural da
História.
Miguel REALE, Bases da Revolução Integralista.

Somos simplesmente ramos da mesma árvore, filhos


da mesma doutrina, resultados da mesma concepção
totalitária do Universo.
Gustavo BARROSO, O Integralismo em Marcha.

127

I
CAPÍTULO I

OS MILITANTES

Uma das dimensões cruciais para definir a natureza da


A.LB. é o estudo da composição social dos aderentes do mo­
vimento. Neste sentido, seria relevante tentar responder a duas
questões relativas ao assunto: a primeira visaria caracterizar a
origem social dos militantes e a segunda os principais motivos
de adesão ao integralismo.
A outras hipóteses específicas que definem a natureza do
integralismo, além da origem social e das motivações de adesão
dos militantes, referem-se ao tipo de organização do movimento,
ao conteúdo explícito do discurso ideológico dos teóricos, às ati­
tudes ideológicas dos militantes e, enfim, à presença de um sen­
timento de solidariedade dos militantes ao movimento fascista
internacional.

1 — ORIGEM SOCIAL

Um dos critérios utilizados para determinar a ^ature^a 0


integralismo é a comparação entre a estrutura socia a . . .
com a dos fascismos europeus. Ainda que as informações so re
a base social dos movimentos fascistas na Europa^ sejam as an e
fragmentárias, elas relevam a preponderante adesão e cer as ca
madas sociais, ao menos nos casos do fascismo ita lano ou
nacional-socialismo alemão.
129
As informações obtidas de antigos integralistas através de
pesquisa (*) ou de documentos oficiais da A.I.B., permitem a
reconstituição bastante aproximada da origem social dos diri­
gentes e militantes integralistas. Parece importante porém dis­
tinguir analiticamente a origem social dos dirigentes nacionais/
regionais, situados hierarquicamente na cúpula do movimento,
da dos dirigentes/militantes locais. A aglutinação destas últimas
categorias se justifica, na medida em que nos pequenos e médios
municípios o recrutamento dos dirigentes e dos militantes se faz,
em geral, no mesmo meio social.

a — Os dirigentes nacionais/regionais
Os dirigentes nacionais e regionais podem ser separados em
quatro categorias. A primeira correspondente aos dirigentes exe­
cutivos nacionais: o Chefe, os membros do Conselho Nacional
(mais tarde, o Conselho Supremo) e os Secretários responsáveis
pelos departamentos executivos nacionais: a segunda reúne a
direção executiva ao nível regional: os chefes arquiprovinciais(-)
e os chefes provinciais; a terceira e quarta englobam os órgãos
consultivos, ou seja, a Câmara dos Quarenta no âmbito nacional
(1) Este conjunto de dados sobre os dirigentes e militantes de base
da A.I.B., se não é representativo da totalidade do movimento, é ao
menos expressivo das “províncias integralistas onde o movimento era mais
forte: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Guanabara,
Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Ceará. São infor­
mações obtidas através de uma pesquisa por questionário junto a uma cen­
tena de antigos integralistas originários de zonas urbanas ou rurais. A
determinação de uma amostra representativa era impossível devido à ausên­
cia de arquivos disponíveis sobre os efetivos do movimento; nestas circuns­
tâncias, a escolha das pessoas foi feita segundo um duplo critério: determi­
nação das regiões geográficas onde a A.I.B. era mais forte e escolha mani­
pulada de ex-integralistas que permaneceram fiéis à ideologia, a fim de que
o testemunho não fosse deformado e as atitudes ideológicas pudessem ser
avaliadas. As informações sobre antigos militantes de zonas urbanas ou
rurais, obtidas junto a integralistas e não integralistas, permitiram ao autor
entrevistar, durante dois anos de pesquisa, uma centena de dirigentes locais
e militantes de base. Esta pesquisa por questionário foi precedida de trinta
entrevistas semidiretivas com antigos dirigentes nacionais e regionais do
movimento c de uma série de entrevistas de controle com personalidades
não integralistas que acompanharam as atividades da A.I.B. A outra fonte
de informação para a análise da estrutura social da A.I.B., especialmcntc
ao nível das direções nacionais ou regionais, foi o jornal oficial da A.I.B.:
O Monitor Integralista.
(2) São os chefes que têm jurisdição sobre várias “províncias" inte­
gralistas (Ver sobre estrutura e o funcionamento da A.I.B. o cápitulo
II, “A Organização’’).

130
e a Câmara dos Quatrocentos, composta de personalidades inte­
gralistas de todas as regiões do país. Este conjunto de órgãos
executivos e consultivos, que formam a Corte do Sigma, consti­
tui a camada dirigente no sentido amplo da Ação Integralista.
As informações sobre os dirigentes dos órgãos de direção
executiva nacional e regional da A.I.B. confirmam a hipótese
de que seu recrutamento se faz predominantemente entre as ca­
tegorias sócio-profissionais representativas das classes médias
urbanas em ascensão nesta época (3). Em primeiro lugar, por­
que na década de 30 o grupo preponderante é formado pela mé­
dia burguesia dos profissionais liberais, em grande parte radica­
lizada ideologicamente para a direita. Além disto, constata-se a
participação de uma pequena proporção de jovens oficiais das
forças armadas (*) geralmente motivada para a ação política
pelo movimento “tenentista” e por este polarizada numa tendên­
cia de direita e noutra de esquerda (5).
(3) A expressão “classes médias” é muito geral para ser operacional
em uma análise sociológica sobre a composição social da A.I.B. As classes
médias comprendem todas as categorias sócio-profissionais que não per­
tencem nem à burguesia, nem à classe operária (cf. GUÉRIN, (Daniel) Le
Fascisme et les Ouvriers, les Classes Moynnes, les Paysans, les Jeunes, les
Trusts. Paris, Libr. Populaire, 1937, 32 p.). Neste sentido, parece válido
estabelecer uma distinção no interior das classes médias para melhor pre­
cisar o conteúdo desta expressão no presente estudo. Define-se como
“classes médias” no Brasil dos anos 30, duas categorias sociais: a média
burguesia dos profissionais liberais c oficiais das Forças Armadas (classe
média superior) e a pequena burguesia dos pequenos proprietários urbanos
rurais c os burocratas do setor público/privado (classe média inferior).
(4) “Apesar da raridade dos trabalhos empíricos, pode-se admitir
que, desde o fim do século XIX, a maioria dos oficiais latino-americanos,
como observa NUN, se recruta na classe média (. . .). J. Johnson chega
a uma constatação da mesma ordem quanto à origem dos oficiais brasilei­
ros, com a diferença que, no Brasil, a maior parte são originários das
pequenas cidades do interior.” NUN (José), “Amérique-Latine: la crise
hégémonique et le coup d’état Militaire”, Revue de Sociologie du Travail,
juil-sept., 1967, p. 290.
(5) O fato de que a proporção de militares em órgãos dirigentes
nacionais/rcgionais seja menor do que a dos profissionais liberais, não
significa que a sua participação na A.I.B. tenha sido secundária; havia
núcleos integralistas compostos exclusivamente de militares no Exército c,
sobretudo, na Marinha, onde a maioria, senão integralista, era ao menos,
“simpatizante do integralismo”. (Entrevista com o Almirante Harold Has-
sclman, Rio, Junho de 1970.} Os capitães Scverino Sombra, fundador da
Legião Cearense do Trabalho, Olympio Mourão Filho, Chefe do Estado-
-Maior da Milícia Integralista e Jeovah Motta, dirigente nacional da
A.I.B., são bons exemplos de militares que optaram pelo integralismo, c
o capitão Prestes, futuro secretário do P.C.B., exemplo de um líder de
extrema-esquerda oriundo da corporação militar.

131
QUADRO 1

ESTRUTURA SÓCIO-PROFFISSIONAL DAS DIREÇÕES


NACIONAL E REGIONAL DA A. I. B.

(Em números absolutos)

Direção Direção
Nacional Regional

1. Burguesia (♦) 0 0
1. Média burguesia intelelectual (•*) 21 41
3. Média burguesia militar (•**) 2 9
4. Sem especificação 1 11

TOTAL 24 61

(♦) Burguesia: grandes comerciantes, industriais e proprietários


rurais.
(♦*) Média burguesia intelectual: profissionais liberais, escritores,
professores universitários, altos funcionários, jornalistas, estudantes.
(•**) Média burguesia militar: oficiais superiores do exército e da
marinha.

A análise da composição sócio-profissional dos órgãos de


direção executiva nacional mostra que a quase totalidade de seus
membros pertence às camadas intelectuais da classe média su­
perior, especialmente originárias das profissões liberais. Esta
observação é válida também ao nível dos dirigentes executivos
regionais, onde se constata uma participação não negligenciável
de oficiais do exército.
Contudo, a criação da Câmara dos Quarenta e, mais tarde,
da Câmara dos Quatrocentos, introduzirá uma mudança na re­
partição sócio-profissional dos membros da direção da A.I.B.(6).
A perspectiva de acesso ao poder através das eleições presiden­
ciais pressiona o movimento a procurar maior credibilidade jun­
to a certos setores da burguesia reticente diante de uma organi-
(6) O Chefe Nacional e o Secretário Nacional da Milícia eram inte­
lectuais; um escritor, o outro, historiador. A criação de novos órgãos tem,
essencialmente, uma dupla função: satisfazer às necessidade de mobilidade
política interna ao nível da direção da A.I.B. a fim de manter o processo
de cooptação do círculo dirigente; c, ao mesmo tempo, dar acesso a uma
posição de prestígio a setores da burguesia, facilitando a obtenção de re­
cursos financeiros junto a simpatizantes da burguesia industrial e comercial.

132
QUADRO 2

ESTRUTURA SOCIAL DA CÂMARA DOS QUARENTA


(Em números absolutos)

1. Burguesia 7
2. Média burguesia intelectual 24
3. Média burguesia militar 9

TOTAL 40

QUADRO 3
ESTRUTURA SOCIAL DA CÂMARA DOS QUATROCENTOS
(Em números absolutos)

1. Burguesia (•) 218


2. Média burguesia intelectual (♦*) 63
3. Média burguesia militar (••*) 26
4. Pequena burguesia de pequenos
proprietários (♦*♦♦) 23
5. Pequena burguesia dos burocratas (♦ 44
6. Camadas populares 14
7. Sem especificação 12

TOTAL 400

(*) A maioria é composta de comerciantes (49).


(•♦) As profissões liberais majoritárias são as dos médicos (69)
e dos advogados (67).
(**♦) Pequenos comerciantes, pequenos industriais e pequenos
proprietários rurais.
(*** *) Empregados do setor público ou privado.
(♦♦♦♦ *) Operários de indústria, trabalhadores agrícolas e trabalha­
dores independentes.

zação dirigida por jovens radicais (7). Esse momento coincide


com a fase na qual o movimento se torna menos sindicalista e
! “revolucionário”, procurando se adaptar aos mecanismos de to­
mada do poder, segundo as vias liberais clássicas.
Os quadros 2 e 3 mostram, em cada uma dessas Câmaras,
i presença de mais de 15% de representantes da grande burgue-
(7) Os dados sobre a distribuição etária dos dirigentes e militantes
integralistas confirmam que a imensa maioria tinha menos de 30 anos
(vide quadro 14).

133
sia (comerciantes, industriais e proprietários rurais). O caráter
elitista do recrutamento da Câmara dos Quarenta sobressai quan­
do comparada com a dos Quatrocentos, na qual cerca de um
quarto dos membros origina-se da pequena burguesia (peque­
nos proprietários urbanos e rurais, funcionários e empregados)
e, inclusive, alguns elementos provêm das camadas populares.
Não obstante esta diferenciações entre as categorias dirigentes
dos órgãos consultivos da A.I.B., a grande maioria dos seus mem­
bros é oriunda das camadas médias urbanas.
A aglutinação dos dados sobre a origem social do conjunto
dos dirigentes no plano nacional e regional confirma a hegemonia
da média burguesia intelectual urbana: a maioria absoluta dos
dirigentes faz parte das profissões liberais (57,1%). No entanto,
tomando-se em consideração a totalidade dos dirigentes, a bur­
guesia comercial e industrial (13,3%) ocupa uma posição mais
importante do que o grupo dos oficiais (8,7%). Dois terços,
portanto, dos dirigentes integralistas, se recrutam no seio da bur­
guesia e da média burguesia. Resta à pequena burguesia não in­
telectual e às camadas populares uma participação bastante mar­
ginal: 15,2% do total dos dirigentes.

QUADRO 4
ORIGEM SOCIAL DO CONJUNTO DE DIRIGENTES
NACIONAIS E REGIONAIS (♦)
(Em números absolutos)

Direção Direção
Nacional Regional Total

1. Burguesia 7 63 70
2. Média burguesia intelectual 45 259 304
3. Média burguesia militar 11 35 46
4. Média burguesia de pequenos
proprietários 0 23 23
5. Pequena burguesia dos empre­
gados e funcionários 0 44 44
6. Camadas populares 0 14 14
7. Sem especificação 1 23 24

TOTAL 64 461 525

(♦) Dir./Nac.: Chefe Nacional, departamentos ou secretarias nacio­


nais, órgãos executivos e Câmara dos Quarenta. Dir./Reg.: Chefes arqui-
provinciais c provinciais e Câmara dos Quatrocentos.

134
Todavia esta diversificação relativa das categorias dirigentes,
sob a hegemonia das elites intelectuais, se explica exclusivamente
pelo recrutamento mais aberto da Câmara dos Quatrocentos que
tem, aliás, um papel bastante secundário. Nas funções do poder
executivo regional, a preponderância dos intelectuais é quase to­
tal. Em conseqüência, a comparação entre a totalidade dos di­
rigentes nacionais e regionais permite concluir que os primeiros
se recrutam entre as elites, sobretudo culturais, e que dois terços
dos segundos originam-se das camadas urbanas médias e popu­
lares.
b — Dirigentes ê militantes locais
Os dados sobre a análise da estrutura social dos dirigentes e
militantes locais apresenta uma composição mais diversificada
do que entre os dirigentes nacionais e regionais. As categorias
sociais preponderantes no seio dos dirigentes hierarquicamente
superiores se tornam minoritárias e a média burguesia transfor-
ma-se no núcleo mais amplo dos militantes locais: os profissio­
nais liberais se limitam a menos de um quarto do total, o número
de oficiais das forças armadas é reduzido e os representantes da
burguesia desaparecem. Neste nível, o grupo majoritário é a pe­
quena burguesia formada pelos burocratas dos setores públicos e
privado, que representa cerca de 40% do conjunto dos dirigentes
e militantes locais, ainda que as camadas populares (operários de
indústrias, trabalhadores agrícolas e independentes) constituam
quase um quarto da base do movimento. Esta estrutura social
inverte totalmente a composição sócio-profissional verificada ao

QUADRO 5
ORIGEM SOCIAL DOS DIRIGENTES E
MILITANTES DAS ORGANIZAÇÕES
LOCAIS
(Em números absolutos)

1. Burguesia 0
2. Média burguesia intelectual 20
3. Média burguesia militar 4
4. Pequena burguesia dos pequenos
proprietários 16
5. Pequena burguesia dos burocratas 38
6. Camadas populares 22
TOTAL 100

135
nível da direção nacional e regional: três quartos dos aderentes
locais são provenientes da pequena burguesia ou das camadas
populares, ao passo que a média burguesia intelectual ou militar
não ultrapassa a um quarto do total.
Estes dados sobre a origem social dos dirigentes e militantes
locais podem ser comparados também com as informações de
natureza subjetiva, ou seja, com percepções de antigos integra­
listas sobre as categorias sócio-profissionais que mais aderiam à
A.I.B. (8). Mesmo que se trate de um julgamento individual
sobre um fenômeno coletivo, seria interessante confrontar estas
informações com o perfil da estrutura social efetiva.
O que surpreende é a forte concordância entre os dois tipos
de informação: um consenso se estabelece entre os integralistas
no que concerne à presença dominante ao nível local da pequena
burguesia dos empregados e funcionários; as outras categorias
mais citadas por ordem de importância são a dos. pequenos
proprietários urbanos/rurais e camadas populares. A maioria,
pois, dos integralistas locais é composta da pequena burguesia
urbana e rural com um terço de integralistas oriundos das ca­
madas populares.
A conjugação destas informações de natureza objetiva e
subjetiva sobre a base social da Ação Integralista permite con­
cluir que, ao nível da direção nacional e regional, é a classe mé­
dia superior (profissões liberais e oficiais) que controla o apa-
rellho do partido (B). Quanto aos dirigentes e militantes locais,
(8) Trata-se de uma pergunta do questionário formulado nos se­
guintes termos aos dirigentes e militantes locais: “Na sua região quais
sãof segundo sua opinião, as categorias sociais que predominavam na
adesão à A.I.B.?” A questão é seguida de uma lista de alternativas onde
se pode escolher 3 por ordem de importância (1. Profissões liberais; 2.
Oficiais; 3. Comerciantes e industriais; 4. Pequenos proprietários rurais;
5. Funcionários públicos; 6. Padres; 7. Operários industriais c trabalhado­
res agrícolas; 9. Estudantes; 10. Classe’ média em geral).
(9) Apesar da presença da classe média superior também na direção
dos partidos republicanos regionais da Primeira República, o controle do
aparelho pertencia à oligarquia rural ou a membros das famílias domi­
nantes no plano nacional e regional e aos coronéis no plano local. Ainda
que o P. C. B., nesta época, disponha de uma base operária limitada, é
preciso ressaltar também a presença das classes médias nos postos de di­
reção (secretário-geral, por exemplo) ao lado dos elementos das camadas
populares. Paradoxalmente, com a radicalização das classes médias na
década de 30 constata-se o surgimento de um movimento de esquerda
com uma estrutura social semelhante a do integralismo: Aliança Nacional
Libertadora. A ausência de dados sociológicos sobre a composição social
dos aderentes da A. N. L. não permite maior aprofundamento da com­
paração.

136
QUADRO 6

IMAGEM DA COMPOSIÇÃO DA A. I. B.
(Segundo Dirigentes e Militantes Locais)
(Em números absolutos)

7.“ Resposta 2.a Resposta


1. Média burguesia intelectual 0 6
2. Média burguesia militar 0 1
3. Pequena burguesia dos pequenos
proprietários 30 18
4. Pequena burguesia dos emprega­
dos c funcionários 35 33
5. Classe média cm geral 5 6
6. Camadas populares 29 29
7. Sem especificação 1 7

TOTAL 100 100

sua base social está constituída de duas categorias sociais: a maio­


ria dos aderentes provém da classe média inferior (pequenos pro­
prietários, empregados e funcionários) com uma relativa afluên­
cia das camadas populares, constituídas por trabalhadores (a
maioria em pequenas e médias indústrias), de agricultores ou
trabalhadores rurais (em geral de zonas de pequenas proprieda­
des) e de alguns artesãos.
Portanto, o conjunto da estrutura social da A.I.B. pode
ser sintetizado por uma pirâmide formada de três camadas con­
forme o grau de participação nacional, regional ou local. A
camada superior, constituída pelos dirigentes nacionais, é inte­
grada exclusivamente por membros da burguesia e média bur­
guesia, sob a supremacia das elites intelectuais. A camada média
dos dirigentes regionais encontra-se ainda sob a preponderância
da média burguesia intelectual que, com a burguesia e média
burguesia dos oficiais, ocupa quase os três quartos dos postos de
direção. A participação neste nível de integralistas oriundos da
pequena burguesia e das camadas populares não ultrapassa a
um quarto do total. Na camada inferior, a pequena burguesia
e as camadas populares formam globalmente os três quartos do
total dos militantes locais. E essa estratificação social é análoga
à estrutura paramilitar da organização da milícia: as elites, inte­
lectuais detêm o “comando” e as camadas médias e populares
não intelectualizadas constituem a “tropa”.

137
QUADRO 7

PIRÂMIDE DA ESTRUTURA SOCIAL DA A. I. B.

/ Burguesia \
/ 11,0% \ DIRIGENTES
/Média burguesiaX
/ 88,0% \ NACIONAIS
/ Burguesia \
14%
Média burguesia
64,0% DIRIGENTES
Pequena burguesia dos
pequenos proprietários REGIONAIS
14,2%
Camadas populares
3,0%
Média burguesia intelectual
24,0%
Pequena burguesia dos DIRIGENTES
pequenos proprietários E MILITANTES
54,0% LOCAIS
Camadas populares
22,0%

Este perfil da estrutura social integralista parece se aproximar


bastante dos modelos fascistas europeus, especialmente do fascis­
mo italiano e do nacional-socialismo alemão. Seymour Lipset,
reunindo os dados disponíveis sobre o fascismo, afirma que
este é “basicamente um movimento de classe média representan­
do um protesto contra o capitalismo e o socialismo, contra os
grandes negócios e os grandes sindicatos” (10). Esta constatação
é válida sobretudo para o caso da Itália e da Alemanha (n), já
(10) LIPSET (Seymour), “Fascismo, Esquerda, Direita e Centro”,
in: L'Homme et la politique, Paris, Seuil, 1960, p. 193.
(11) No que concerne ao fascismo italiano, Lipset constata que ele
mantém solidamente a aliança do tradicionalismo antidemocrático c do
autoritarismo populista da classe média que se opõe aos grupos de es­
querda urbanos c rurais. Na mesma perspectiva, numerosos especialistas
concordam que o fascismo nasceu no seio da “pequena burguesia” (ver
especialmente TASCA (Ângelo), Naissance du fascisme, Paris, Flammarion,

138
que a análise do conjunto dos movimentos europeus ou extra-eu-
ropeus apresenta alguns exemplos desviantes, em que a base so­
cial é de outro tipo. Os casos mais paradoxais são o Peronismo
na Argentina e o Getulismo no Brasil, que o autor chama de
“fascismo de esquerda”, porque se apóiam nas camadas popula­
res. É preciso não esquecer igualmente a participação relativa­
mente importante de operários no fascismo italiano e alemão.
Na Itália, a forte concentração industrial no Norte e o passado
socialista de Mussolini explicam a presença operária, desde a
primeira hora, nas fileiras do fascio, enquanto, na Alemanha,
muito mais industrializada que a Itália e sob o impacto da crise

QUADRO 8

COMPARAÇÃO DA ESTRUTURA SOCIAL DO NSDAP


E DA SOCIEDADE EM 1930 (♦)

Conjunto
da Sociedade
Grupos Profissionais NSDAP
Sociedade = 100

Operários 28,1 45,9 61,2


Empregados 25,6 12,0 213,5
Independentes 20,7 9,0 230,0
Funcionários 6,6 4,2 157,1
Professores 1,7 0,9 188,8
Agricultores 14,0 10,6 132,0
Outros 3,3 17,4 18,9

100,0 100,0

(*) HOFER (Walthcr), Le National-socialisme par les textes, Paris,


Plon. 1962, p. 24.

1968. Para a Alemanha hitlcrista, Lipset formula a hipótese, fundamen­


tada em três análises ecológicas sobre o comportamento eleitoral, segundo
a qual “o fascismo representa uma atração toda particular para a classe
média e, dentro dela, para todos os que trabalham por sua própria conta”,
Ibid., pp. 133 a 184. As camadas médias são também a base do rexismo
belga: “ce sont les classes moyennes qui traversent une époque assez diffi-
cile et qui ont 1’impression que Ic régime veut leur disparition. En votant
pour un parti nouveau qui leur promet de les défendre contre le commu-
nisme et l’hyper-capitalisme, elles pensent pouvoir y échappcr. C‘cst
vraisemblablement ici qu’on peut ranger la petite bourgeoisie et plus
particulièrement les commcrçants”, ETIENNE (Jean-Michel), Le Mouve-
ment rexiste jusqu’en 1940, Paris, Colin, 1968, p. 66.

139
de 1929, a adesão dos operários é crescente entre 1930 e 1933,
como demonstra o quadro apresentado por Hofer.
A partir da constatação de que na base social da A.I.B.,
como na dos movimentos fascistas europeus, as classes médias
predominam com uma participação popular não desprezível, ca­
bería perguntar se a dinâmica dos estratos sociais no Brasil da
década de 30 é a mesma que na Europa? A resposta a esta
questão ultrapassa o objetivo de nosso estudo, embora pareça
útil formular uma hipótese a respeito. Ao contrário da Europa,
onde as classes médias se sentiam ameaçadas seja pela crise eco­
nômica seja pela perda de status ou pela agressividade da luta
operária, as classes médias no Brasil desta época, encontravam-se
geralmente em rápida ascensão social e à procura de uma posi­
ção de poder na sociedade. Entretanto, sua vontade de ascender
socialmente era bloqueada pela ausência de um projeto político
capaz de as libertar do controle das classes dominantes tradicio­
nais. Essa situação objetiva se conjuga com o clima ideológico
europeu, colocando-as diante do dilema: fascismo ou comunis­
mo? Neste contexto, as classes médias tendem a se engajar nos
movimentos de direita ou de esquerda que parecem representar
instrumentos políticos válidos e independentes do sistema estabe­
lecido: a fração que era sensível à ameaça comunista, à reação fas­
cista, aos sistemas nacionalistas, opta pelo integralismo; a outra,
atraída pelo socialismo e pela luta antifascista, incorpora-se à
Aliança Nacional Libertadora (A.N.L.).
Dentro desta interpretação, as observações de Lambert so­
bre o comportamento das classes médias são pertinentes: “É
sobretudo pela ascensão das classes médias que este novo Brasil
difere profundamente do antigo que não deixava a essas classes
nenhum lugar. Descendentes de imigrantes ambiciosos, filhos nu­
merosos de uma aristocracia que não limitara sua reprodução, to­
dos vêm se incorporar às profissões liberais, à função pública, ao
comércio e aos quadros da indústria para formar uma sociedade
individualista, que não concede nem aceita patronagem”. E con­
clui: “nada detém a classe média urbana; ela acolhe os modos
de vida, as idéias e as novas ideologias, sem oferecer resistên­
cia” (12). Mas é a análise de José Nun que se aproxima mais
de nossa hipótese avançada sobre o comportamento das classes
médias nos anos 30: sua instabilidade decorre do fato de que se

(12) LAMBERT (Jacques), Le Brésil, Structure Sociale et Institu-


tions Politiques, Paris, Colin, 1953, p. 80.

140
trata de uma “classe média frustrada, enquanto que burguesia*’.
E ele justifica esta assertiva, observando que “o sistema de repre­
sentação política de novos setores da classe média, articula-se no
quadro da hegemonia oligárquica e as condições objetivas de seu
desenvolvimento não o conduzem a entrar em conflito radical
com esse quadro. Daí o caráter fundamentalmente conservador
de sua consciência política” (13).

2 — CONTEXTO SOCIOLÓGICO INDIVIDUAL


DOS INTEGRALISTAS
Torna-se necessário, além da composição social da A.I.B.,
introduzir na análise algumas características individuais (mobi­
lidade social, nível de instrução, religião, prática religiosa, ori­
gem étnica) dos dirigentes nacionais e regionais, assim como
dos dirigentes e militantes locais (*4).

QUADRO 9

REPARTIÇÃO DA AMOSTRA SEGUNDO A ORIGEM


URBANA/RURAL
(Em números absolutos)

Urbana Rural

1. Burguesia 0 0
2. Média burguesia intelectual 12 8
3. Média burguesia militar 3 1
4. Pequena burguesia dos peque­
nos proprietários 7 9
5. Pequena burguesia dos buro­
cratas 20 18
6. Camadas populares 7 15

TOTAL 49 51

(13) NUN (José), “Amérique Latine: la crise hégémonique et le


Coup d’État militaire”, Revue de Sociologie du Travail, julho-setembro,
1967, p. 297.
(14) Trata-se de quadros obtidos em pesquisa por questionário junto
a 25 dirigentes nacionais/regionais c 100 dirigentes e militantes locais. O
grupo de integralistas locais é constituído de 51% de indivíduos de origem
rural e 49% de origem urbana.

141
a — Mobilidade social

O primeiro aspecto a considerar é a mobilidade social dos


integralistas, ou seja, a relação entre o staíus profissional e o ní­
vel de instrução dos militantes com relação a seus pais. Obser­
va-se desde logo que o staíus profissional dos pais dos dirigentes
nacionais e regionais é mais elevado do que o dos integralistas
de nível local: mais da metade do primeiro grupo pertence à
burguesia e à média burguesia, enquanto a quase totalidade do
segundo grupo encontrasse entre a pequena burguesia e as cama­
das populares.

QUADRO 10

ORIGEM SOCIAL DO CONJUNTO DOS DIRIGENTES


NACIONAIS, REGIONAIS, LOCAIS E MILITANTES,
EM RELAÇÃO A SEUS PAIS
(Em números absolutos)

Dirig. Nac.jReg. Dirig. Mil./Base


Pai Dirig. Pai Mil.
Dir./
1. Burguesia 5 3 0 0
2. Média burguesia intelectual 8 16 4 20
3. Média burguesia militar 0 4 0 4
4. Pequena burguesia dos pe­
quenos proprietários 6 1 51 16
5. Pequena burguesia dos buro­
cratas 6 1 17 38
6. Camadas populares 0 0 28 22

TOTAL 25 25 100 100

Com relação ao nível de instrução, observa-se que um quar­


to dos integralistas locais e três quartos dos dirigentes nacionais
e regionais possuem curso superior; três quartos dos pais do pri­
meiro grupo têm somente instrução primária e a mesma propor­
ção de pais do segundo grupo, níveis de instrução primária ou
secundária.

142
QUADRO 11

NÍVEIS DE INSTRUÇÃO DOS PAIS E DOS DIRIGENTES


NACIONAIS, REGIONAIS, LOCAIS E MILITANTES
(Em números absolutos)

Dir. Nac./Reg. Dir. Mil./Loc.

Pai Integr. Pai Integr.

1 . Nível primário 6 1 77 39
2. Nível secundário 12 6 22 37
3. Nível superior 7 18 1 24

TOTAL 25 25 100 100

A análise da mobilidade profissional e do nível de instrução


dos integralistas demonstra que tanto os dirigentes, como os mi­
litantes de base, encontram-se em ascensão. Os dirigentes nacio-
nais/regionais, pelo tipo de profissão e grau de instrução, são
indivíduos em mobilidade ascendente: uma minoria apenas não
subiu na escala social, mas a maioria alcança graus de instrução
e de ocupação superiores a de seus pais.
Por outro lado, se uma parcela dos integralistas de base
não está em situação de mobilidade social, a outra é constituída

QUADRO 12

MOBILIDADE SOCIAL DOS DIRIGENTES NACIONAIS


E REGIONAIS
(Em números absolutos)

Mobil./Nível de
Mobil./Profission. Instrução

1. Mobilidade ascendente 14 14
2. Ausência de mobilidade 11 11
3. Mobilidade descendente 0 0

TOTAL 25 25

143
QUADRO 13

MOBILIDADE SOCIAL DOS DIRIGENTES E MILITANTES


DE BASE
(Em números absolutos)

Mobil./Nível de
Mobil./Profission. Instrução

1. Mobilidade ascendente 48 51
2. Ausência de mobilidade 51 49
3. Mobilidade descendente 1 0

TOTAL 100 100

de indivíduos em mobilidade social ascedente. Três quartos dos


integralistas em ascensão social originam-se dos pequenos e mé­
dios proprietários rurais e das camadas populares, embora tam­
bém nestas mesmas categorias se recrute a maior parte dos inte­
gralistas sem mobilidade.

b — Faixa etária

Uma das características individuais mais significativas dos


integralistas é a faixa etária. Os dados disponíveis salientam que
o elemento comum mais importante que as clivagens sócio-profis-
sionais e que explica, em grande parte, o clima comunitário exis­
tente no movimento, é a juventude dos dirigentes e militantes
integralistas. Cândido Motta Filho, que participou da S.E.P.,
sem nunca ter aderido à A.I.B., considera que “a juventude é o
traço fundamental do integralismo” e justifica a assertiva citan­
do o verso do hino fascista: “Giovinezza, Giovinezza, primavera
di bellezza!” í15).
A repartição dos integralistas, segundo a idade, revela que,
em 1933, a maioria dos dirigentes/militantes locais tinha menos
de 25 anos e, fato mais espantoso, que três quartos dos dirigen­
tes nacionais/regionais tinham menos de 30 anos. Esta juventu-

(15) Entrevista com Cândido Motta Filho, Rio, junho de 1970.

144
QUADRO 14

IDADE DOS DIRIGENTES NACIONAIS, REGIONAIS E


DOS DIRIGENTES E MILITANTES DE BASE EM 1933
(Em números absolutos)

Dir. Nac.fReg. Dir. Mil.jLoc.

1. Menos de 21 anos 1 20
2. De 21 a 25 anos 9 36
3. De 26 a 30 anos 10 26
5. Mais de 35 anos 2 8
6. Sem informação 3 . 5
0 5

TOTAL 25 100

de constata-se inclusive nas funções de direção nacional: o Chefe,


Plínio Salgado, é quase uma exceção, porque tinha ultrapassado
os 35 anos; Reale. no entanto, responsável por um dos setores
mais importantes do movimento (Departamento de Doutrina),
era um jovem bacharel em Direito com menos de 25 anos.

QUADRO 15

FILIAÇÃO RELIGIOSA DOS DIRIGENTES NACIONAIS,


REGIONAIS, LOCAIS E MILITANTES
(Em números absolutos)

Dir. Nac.lReg. Dir. Mil.lLoc.

1. Católicos 23 61
2. Protestantes 1 35
3. Espíritas 1 1
4. Israelitas 0 0
5. Outras religiões 0 2
6. Sem religião 0 1

TOTAL 25 100

145
c — Religiosidade
A identificação confessional dos integralistas permite deter­
minar a existência de uma relação entre filiação religiosa e ade­
são política. A quase totalidade dos militantes integralistas se
proclama cristã; embora o grupo majoritário seja de confissão
católica, não se pode esquecer a presença de um grupo conside­
rável de protestantes dentre os integralistas de base, em geral
descendentes de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul e em
Santa Catarina.
Contudo, ao nível dos dirigentes nacionais e regionais, os
católicos são a imensa maioria. Cabe também mencionar que
nenhum integralista pertence à religião judaica.
A prática religiosa é mais intensa ao nível dos dirigentes
nacionais/regionais do que dos militantes de base: são pratican-

QUADRO 16

ASSIDUIDADE RELIGIOSA DOS DIRIGENTES NACIONAIS


E REGIONAIS
(Em números absolutos)

1. Uma vez por semana 17


2. Uma vez ou duas por mês 3
3. Algumas vezes ao ano 1
4. Jamais 4

TOTAL 25

QUADRO 17

IMPORTÂNCIA DADA À RELIGIÃO PELOS DIRIGENTES E


MILITANTES LOCAIS
(Em números absolutos)

1. Muita importância 22
2. Pouca importância 2
3. Nenhuma importância 1

TOTAL 25

146
QUADRO 18

ASSIDUIDADE RELIGIOSA DOS DIRIGENTES E MILITANTES


DE BASE
(Em números absolutos)

Urbanos Rurais Total

1. Uma vez por semana 21 19 40


2. Uma ou duas vezes por mês 11 20 31
3. Algumas vezes ao ano 10 8 18
4. Nunca 7 4 11

OTAL 49 51 100

tes três quartos dos dirigentes contra menos da metade dos inte­
gralistas locais. Constata-se também que os militantes de origem
rural são mais praticantes que os de origem urbana. O fato re­
levante, porém, é que, não obstante estas diferenças de intensi­
dade da prática religiosa, a religião, e tudo que se vincula à fi­
liação e à crença religiosa, é muito valorizada pelos integralistas
de todos os níveis(J6).

(16) A análise das relações entre a A.I.B. e a Igreja Católica ultra­


passa o objetivo do presente estudo, além de ser extremamente complexa.
Alguns bispos não hesitaram em manifestar sua simpatia pela A.I.B. e
outros alertaram os católicos contra certos aspectos da ideologia, mas a
maioria permaneceu neutra. Houve, inclusive, participação ativa de certos
padres no movimento (havia 7 deles na Câmara dos 400), dos quais o
mais conhecido é o padre Helder Câmara no Ceará (atual arcebispo de
Olinda e Recife), que vinha da Legião Cearense do Trabalho. O engaja­
mento na A. I. B. de padres, pastores protestantes e a simpatia de outros,
especialmente nas zonas rurais ou de imigração italiana e alemã (no Rio
Grande do Sul os “capuchinhos” manifestaram muita simpatia pelo inte-
gralismo) teve a função, aos olhos de muitos católicos, de legitimar sua
adesão ao integralismo, sobretudo entre os militantes de base. Além disto,
um pequeno grupo da elite católica que não tinha responsabilidade direta
na Ação Católica aderiu à A. I. B., estimulado pela tomada de posição do
líder Alceu Amoroso Lima, favorável à participação dos católicos não
engajados nos movimentos da Hierarquia, malgrado suas críticas a certos
aspectos da doutrina. Apesar da tendência à “catolicização” do movimen­
to pela evolução religiosa pessoal de Salgado, este foi sempre um líder
marginal cm relação aos intelectuais católicos ligados à renovação espiri­
tualista dos anos 20, que, cm sua maioria, não aderiram ao integralismo.

147
QUADRO 19

IMPORTÂNCIA DADA À RELIGIÃO PELOS DIRIGENTES E


MILITANTES LOCAIS
(Em números absolutos)

Urbanos Rurais Total

1. Muita importância 37 39 76
2. Pouca importância 8 12 20
3. Nenhuma importância 4 0 4

TOTAL 49 51 100

d — Origem étnica:

A última característica é a ascendência étnica dos dirigentes


de base. A questão da participação dos descendentes dos imi­
grantes e a influência exercida pelo integralismo em certas
zonas de colonização, especialmente alemã, no Rio Grande do
Sul e em Santa Catarina, não pode ser desvinculado da origem
étnica dos integralistas (17).

QUADRO 20

ORIGEM ÉTNICA PATERNA DOS DIRIGENTES REGIONAIS


(Em números absolutos)

1. Luso-brasileira 16
2. Italiana 3
3. Alemã 2
4. Outras 4

TOTAL 25

(17) Ainda que os dados recolhidos sejam mais representativos dos


Estados do Sul, face ao Norte e Nordeste, parece válido generalizar por­
que justamente nestas regiões o integralismo tem maior número de adesões.

148
QUADRO 21

ORIGEM ÉTNICA MATERNA DOS DIRIGENTES REGIONAIS


E NACIONAIS
(Em números absolutos)

1. Luso-brasileira 13
2. Italiana 3
3. Alemã 5
4. Outras 4
TOTAL 25

Sobressai na análise dos dados que a origem étnica “luso-


-brasileira” é mais freqüente entre os dirigentes, enquanto que
ao nível da base, o grupo mais presente é o de ascendência alemã.
Este fato permite constatar a separação étnica entre os dirigentes
e a base. Mesmo a direção local nas cidades situadas em zona
de colonização estava geralmente sob o controle de luso-brasi-
leiros (18). Nas zonas rurais colonizadas por imigrantes, porém,
onde a comunidade era muito mais fechada, os núcleos integra­
listas eram dirigidos por elementos da mesma etnia (19).

(18) É o caso dos chefes locais cm cidades importantes de coloni-


zação alemã no Rio Grande do Sul: São Leopoldo e Novo Hamburgo
foram dirigidas respectivamente por Ney Câmara e Plínio Moura.
(19) Um exemplo significativo das relações entre dirigentes e mili­
tantes em zonas rurais ocorreu no interior do Rio Grande do Sul: após
haver entrevistado um antigo líder integralista de origem alemã e proprie­
tário de um salão de baile rural, perguntei se não possuía material da
época. Explicou que perdera tudo porque a polícia durante a guerra havia
tomado parte de seus documentos, e o restante, que enterrara em caixas
no jardim, apodrecera. Informou, no entanto, que conhecia um ex-mili-
tante que talvez tivesse algo ainda, porque morava em zona isolada e mais
protegida da ação policial. Foi marcado novo encontro dias depois, na
casa de um agricultor, para que aquele colono pudesse trazer os documen­
tos que eventualmente possuísse. Após ter recebido o recado do antigo
chefe e caminhado quatro horas a pé, trouxe um livro integralista traduzi­
do para o alemão e algumas fotos. Dando-mc o material disse que, embo­
ra não mc conhecesse, entregava-me pela confiança no antigo chefe local
que lhe havia pedido para vir. O único pedido que me fazia era não
divulgar seu nome a ninguém, porque era músico e tinha medo de perder '
seu direito à aposentadoria. Este episódio revela a permanência de laços
de lealdade e submissão na relação chefe/militante: apesar da distância
de tempo decorrido a solidariedade persiste entre antigos militantes.

149
QUADRO 22

ORIGEM ÉTNICA PATERNA DOS DIRIGENTES LOCAIS E


MILITANTES DE BASE
(Em números absolutos)

Urbanos Rurais Total

1. Luso-brasileira 18 9 27
2. Italiana 8 9 17
3. Alemã 15 31 46
4. Outras 8 2 10

TOTAL 49 51 100

QUADRO 23

ORIGEM ÉTNICA MATERNA DOS DIRIGENTES LOCAIS E


MILITANTES DE BASE
(Em números absolutos)

Urbanos Rurais Total

1. Luso-brasileira 15 11 26
2. Italiana 8 8 16
3. Alemã 20 31 52
4. Outras 6 1 7
I
TOTAL 49 51 100

3 — MOTIVAÇÕES DE ADESÃO

Outro aspecto relevante na definição da natureza do inte-


gralismo é análise das “motivações” da adesão ao movimento no
contexto dos anos 30. O termo “motivação” está sendo utilizado
abusivamente, de vez que não se trata de proceder a um estudo
de motivações no sentido psicológico do termo, mas de explorar
sistematicamente uma série de informações que permitam recons-

150
tituir as principais razões que condicionaram os militantes a ins­
creverem-se na A.I.B. (20).
A análise será conduzida com o objetivo de determinar a
freqüência relativa de cada motivo indicado, sem considerar a
ordem em que as respostas foram dadas, porque nem sempre o
primeiro motivo referido revela necessariamente a razão princi­
pal de sua adesão ao movimento (21). Nesta perspectiva, o estu­
do desenvolver-se-á em dois níveis: no primeiro, considerar-se-á
a freqüência relativa de cada motivo tomado isoladamente den­
tro do complexo de motivos mencionados; no segundo, determi-
nar-se-á a relação entre o motivo considerado pelo entrevistado
como principal e os outros indicados na resposta (22).

(20) A pergunta foi formulada da seguinte maneira: “Como explica


sua adesão ao integralismo”? No corpo do questionário esta questão
aberta era apenas precedida por duas outras perguntas de simples informa­
ção que não contaminaram as respostas. As entrevistas com os militantes
foram conduzidas pessoalmente pelo autor de forma semidiretiva a fim de
evitar que os motivos mais sensíveis fossem conscientemente camuflados
ou inconscientemente censurados. O problema mais delicado foi, sem dú­
vida, determinar a influência dos movimentos fascistas europeus na opção
dos integralistas, sobretudo para os descendentes de imigrantes alemães ou
italianos que se preocupavam, geralmente, cm demonstrar maior vínculo
afetivo ao Brasil do que qualquer lealdade ideológica.
(21) O problema mais delicado é o da validade que se pode atribuir
a “motivações” indicadas em 1970 sobre opções políticas feitas trinta anos
antes. As entrevistas com antigos integralistas ainda fiéis à ideologia, to­
davia, revelaram que, para a grande maioria, a participação na A.I.B. foi
um experiência pessoal marcante e, em decorrência, que os fatos relacio­
nados com o integralismo permanecem extremamente vivos em sua memó­
ria. Havia também o risco de que a reconstituição intelectual e afetiva a
posteriori de uma decisão política pudesse dar margens a operações de ra­
cionalização, idealização ou de censura. A experiência adquirida prelimi­
narmente com trinta entrevistas de tipo semidiretivas e registradas em
gravador, com antigos dirigentes nacionais ou regionais permitiu uma pe­
netração suficicntcmente ampla no universo político-ideológico dos integra­
listas para obter, num clima espontâneo, informações válidas e controlá­
veis. Além disto, a satisfação da maioria dos entrevistados de serem
objeto de pesquisa universitária e dentro de uma situação política diferente
do após-Scgunda Guerra Mundial, os liberou em grande parte, do comple­
xo fascista, cuja melhor prova é o conteúdo franco das respostas dadas,
demonstrando que não havia nenhuma intenção deliberada em dissimular
a verdade dos fatos.
(22) O conjunto de respostas foi agrupado cm nove categorias em
função do tipo de motivos indicados: nacionalismo, corporativismo, valo­
res espirtuais, anticomunismo, valores autoritários, anti-semitismo, opo­
sição ao sistema político vigente, desenvolvimento do país e simpatia
pelos movimentos fascistas europeus.

151
a — Motivos individuais dominantes
A “motivação” principal que ocasionou a adesão de cerca
de dois terços dos integralistas é o anticomunismo. Consideran­
do que a força política do P.C.B. foi muito secundária até o sur­
gimento, em 1935, da Aliança Nacional Libertadora, grande par­
te da importância atribuída a este motivo provém provavelmente
da inspiração anticomunista dos movimentos fascistas europeus.
O segundo motivo é a simpatia pelo fascismo europeu: a
maioria absoluta das respostas confirma a influência sobre os
aderentes integralistas da ascensão dos movimentos fascistas.
Quando não havia uma atração pelos regimes fascistas, mostra­
vam-se ao menos sensíveis à luta desencadeada pelos movimen­
tos fascistas contra o liberalismo e o comunismo. A proporção
de respostas concentradas neste motivo é superior a qualquer
previsão a priori, reforçando a hipótese do parentesco ideológico
entre o integralismo e o fascismo (23).
O nacionalismo, que por hipótese poderia ser considerado
como o motivo provavelmente o mais freqüente, é mencionado
por menos da metade da amostra. O tema do nacionalismo está
sempre presente na ideologia, tanto no plano afetivo como no
intelectual, tendo um papel central na radicalização nacionalista
dos anos 30. O nacionalismo literário, provocado pelo moder­
nismo da década de 20, politiza repidamente e o integralismo
tornar-se-á a sua encarnação na extrema direita após a década
de 30. Neste sentido, não existe contradição com a importância
prioritária atribuída aos dois motivos anteriores, porque o na­
cionalismo é mais um estado de espírito e uma atitude afetiva do
que uma dimensão ideológica.
Enfim, o quarto tipo de “motivação” é a oposição ao sistema
político. Após a tentativa de Salgado, através das notas políticas
publicadas em A Razão, de influenciar o governo provisório.
Uma das preocupações principais do integralismo, que era com-
(23) A imprensa e as revistas integralistas apresentavam sistematica­
mente notícias sobre a expansão fascista na Europa, evitando contudo uma
linguagem muito favorável. No jornal A Ofensiva existia uma seção espe­
cial intitulada “O fascismo no mundo”. O estilo dos jornais era em geral
menos neutro do que o das revistas apesar das preocupações dos dirigen­
tes em não assimilar integralismo com fascismo. Não obstante, a revista
dos intelectuais integralistas Panorama, reproduziu, em julho de 1936, um
desenho bastante significativo, onde se via um fascista cm camisa negra,
lançando flechas da “revolução fascista” sobre o mundo, com a seguinte
legenda: “Todos os anos se atira uma flecha nova até o mundo ficar sob
o signo fascista”, Panorama, 6/juL/l 936, p. 62.

152
bater o retorno ao sistema liberal, é simbolizado pela constitui­
ção de J 934. Neste sentido, a importância relativa da oposição
ao governo, indicada pelos respondentes, explica-se, embora fre­
quentemente essa crítica se manifeste sob a forma de uma hosti­
lidade generalizada com relação a todos os regimes políticos re­
publicanos.
Os outros motivos indicados são representativos do universo
ideológico integralista, mas influenciam pouco significativamente
nas adesões: um quarto dos integralistas aderiram por identifica­
ção a valores autoritários (disciplina, ordem, antiliberalismo) ou
a valores espirituais. Outras motivações tiveram um papel bas­
tante marginal, como demonstram os dados a seguir.

QUADRO 24

MOTIVAÇÃO DE ADESÃO À A. I. B. DOS DIRIGENTES E


MILITANTES DE BASE
(Em números absolutos)

1. Anticomunismo 65
2. Simpatia pelos fascismos europeus 56
3. Nacionalismo 50
4. Oposição ao sistema político da época 39
5. Valores autoritários 24
6. Valores espirituais 23
7. Corporativismo 18
8. Desenvolvimento do país 13
9. Anti-semitismo 5

A fraca importância atribuída ao anti-semitismo merece um


comentário. Este fato revela, de um lado, que o anti-semitismo
não tinha tradição no Brasil antes da fundação da A.I.B. e, de
outro lado, que a influência do anti-semitismo de Barroso sobre
os integralistas dá-se no interior do movimento (24). A atitude
dos militantes com relação à afirmação de que “o espírito judeu
é uma ameaça permanente para a humanidade”, demonstra que,
embora seja um tema ideológico que divida os dirigentes nacionais
e regionais, é partilhado por quase dois terços dos dirigentes e
militantes locais. Portanto, ainda que secundário no plano das
“motivações” de adesão, será relevante enquanto dimensão ideo­
lógica adquirida pelos militantes, no seio da A.I.B.
(24) Ver sobre esse ponto a análise do anti-semitismo no capítulo
“A Ideologia”.

153
QUADRO 25

GRAU DE ANTI-SEMITISMO DOS INTEGRALISTAS

Dirigentes Nac./Reg. Dir. Milit./Loc.


1. Concorda muito 36,0 61,0
2. Concorda pouco 20,0 21,0
3. Discorda pouco 4,0 5,0
4. Discorda muito 40,0 13,0
(25) (100)

b — Constelações de "motivações"
O segundo aspecto da análise pretende ultrapassar a mera
descrição das “motivações” individualmente consideradas e estu­
dar sua articulação com o conjunto completo de cada resposta.
O que se observa nas constelações de motivações é que elas se
organizam em torno de três núcleos principais constituídos pelos
motivos mais freqüentes tomados isoladamente (o anticomunis­
mo, a simpatia pelo fascismo e o nacionalismo). Os três temas,
como mostra o quadro, associam-se sistematicamente à quase
totalidade de respostas.
A partir desta primeira observação, pode-se comparar a im­
portância relativa de cada “motivação” com relação às três do-

QUADRO 26

CONSTELAÇÕES DE MOTIVAÇÕES EM TORNO DE:


ANTICOMUNISMO, SIMPATIA FASCISTA E
NACIONALISMO

1. Nacionalismo 4- Simp. fascismos 13


2. Nacionalismo 4- Diversos 12
3. Nacionalismo + A/com. 4- Simp. fascismos 27
4. Anticomunismo 4- Simp. fascismos 15
5. Anticomunismo 4- Diversos 7
6. Nacionalismo 4- Anticomunismo 14
7. Simpatia/fascismos 4- Diversos 7
8. Ausência dos três motivos principais 5

Total 100

154
minantes. Os dados revelam que as motivações mais fortemente
associadas são o anticomunismo e a simpatia com os fascismos: '
dois terços dos que fizeram referência ao anticomunismo mostra­
ram-se também favoráveis ao fascismo e a recíproca também é
verdadeira para os três quartos de pró-fascistas. A ligação entre
essas duas variáveis é um bom indicador da natureza do integra-
lismo: o anticomunismo tornando-se o elemento ideológico de
maior amplitude ao nível das “motivações” de adesão, sua asso­
ciação mais forte não se estabelece com o nacionalismo mas com
uma atitude fascistizante. Os dados mostram que apenas menos
da metade dos motivados pelo anticomunismo foi igualmente
pelo nacionalismo e um pouco mais da metade desses últimos
sentiu-se atraída pelo combate ao comunismo. Isso confirma a
hipótese sobre as origens e a orientação européia do anticomu­
nismo na época: tratava-se mais de uma atitude anticomunista
reflexa, orientada em função dos confrontos ideológicos na Eu­
ropa, que da percepção de uma ameaça comunista interna.

QUADRO 27

RELAÇÕES ENTRE AS MOTIVAÇÕES DOMINANTES

Afcomun. Simpat.lfasc. Nacion.


1. Anticomunismo 54,0
2. Simpatia/fascismos 64,6 40,0
3. Nacionalismo 41,5 37,5
Total (65) (56) (50)

Resta analisar como as motivações secundárias se repartem


com relação às três dominantes. O primeiro aspecto a destacar
é que cerca de três quartos dos opositores ao sistema político
existente são também anticomunistas. Tal fato demonstra que,
para os integralistas, a oposição ao socialismo é indissociável da
oposição ao liberalismo, encarnado nas instituições republicanas.
Ao mesmo tempo, a correlação entre o antiliberalismo e a atitude
de simpatia com o fascismo confirma que os primeiros conside­
ravam os regimes autoritários europeus como um quadro de re­
ferência válido face aos defeitos do sistema liberal.
O segundo aspecto importante é a forte associação entre os
temas autoritários e a simpatia pelo fascismo, ratificando a hipó-

155
tese de Adorno sobre relação entre a personalidade autoritária
e o fascismo potencial (25).
O terceiro aspecto é a relação clássica entre motivos de tipo
espiritualista ou religioso e o anticomunismo, mas também entre
aqueles e a simpatia pelo fascismo, o que revela a receptividade
de certos setores confessionais pelo fascismo.
A atração pelas idéias corporativas, como se poderia prever,
associa-se ao anticomunismo e à solidariedade fascista, enquanto
a relação entre fascismo e desenvolvimento revela mais uma va­
lorização das performances dos regimes fascistas do que de uma
atração pelos componentes propriamente ideológicos desses re­
gimes; enfim, resta mencionar, apesar da pouca importância do
anti-semitismo como motivação, sua associação freqüente com
o nacionalismo.

QUADRO 28

RELAÇÃO ENTRE AS MOTIVAÇÕES INDIVIDUAIS E AS


TRÊS MOTIVAÇÕES DOMINANTES

(Em percentagem)

A /com. Simp./ Nacion. Total


fase.
1. Oposição ao governo 72,0 53,0 41,0 39
2. Autoritarismo 16,6 62,4 20,8 24
3. Espiritualismo 69,5 56,0 43,4 23
4. Corporativismo 55,5 50,0 27,7 18
5. Desenvolvimento/país 61,5 61,5 7,6 13
6. Anti-semitismo 40,0 20,0 80,0 5

c — Alguns testemunhos de militantes


A fim de descrever de maneira mais concreta as motivações
apresentadas em quadros e números, eis alguns exemplos de res­
postas dadas por antigos integralistas em depoimentos colhidos
através de entrevista. Nesse nível, as categorias analíticas se
integram em um todo mais estruturado a o conteúdo das “mo­
tivações” se torna mais real.
(25) Ver ADORNO (T. W.) et all., The Authoritarian Personality,
New York, Harper, 1950.

156
Um exemplo típico da marca ideológica que permaneceu em
grande parte dos antigos integralistas é o de um tipógrafo de uma
cidade de tamanho médio, cuja atitude revela, simultaneamente,
fidelidade ao movimento e uma combinação de insatisfação com
o sistema político, anticomunismo e identificação com os movi­
mentos fascistas europeus: “Tornei-me urn apaixonado das idéias
integralistas ao ponto de ser fanático. Se a A.I.B. ressurgisse,
eu me inscrevería novamente. Eu estava revoltado com a política
miserável e a corrupção da Velha República. A política era do­
minada pelos coronéis locais. A influência comunista, nesta épo­
ca, já era profunda e parecia que os movimentos nacionalistas e
fascistas europeus lutavam também contra os mesmos inimigos”.
Esse mesmo gênero de “motivação” foi indicado por um chefe
integralista de uma cidade industrial de tamanho médio, coloni­
zada por imigrantes italianos. Explicando sua adesão, ele decla­
ra: “Os partidos políticos da época não atraíam. Os judeus e o
comunismo se espalhavam pelo país. Era preciso fazer alguma
coisa que não fosse contrária a nossa tradição cristã e naciona­
lista. Eu acreditava que os movimentos fascistas na Europa re­
presentavam uma barreira contra o comunismo, e neste sentido
havia uma certa identificação entre o integralismo e o fascismo
italiano. Contudo eu me opunha ao nacional-socialismo alemão.”
Muitos militantes de origem rural nas zonas de colonização
revelam informação e posicionamento com relação ao que se pas­
sava na Europa nessa época. Esse tipo de atitude aparece nitida­
mente na resposta de um militante de tendência autoritária e
pró-fascista: “Eu aderi ao integralismo devido a seu programa
de defesa do nacionalismo e do Estado forte. Eu acreditava que
a política da época estava inspirada por um liberalismo anárquico
e que era preciso um governo mais forte. Eu tinha, também,
uma grande admiração pelo fascismo italiano, mas com o início
da Segunda Guerra Mundial desiludi-me. Eu não gostava de
Hitler, porque era fanático e orgulhoso e porque conduziría o
mundo para um conflito. Contudo era favorável a uma guerra
contra a Rússia, porque se tratava de uma empressa anticomunis­
ta. Assim, quando Stalin se uniu a Hitler, fui hostil a este fato,
porque este pacto dava mais força à Rússia”.
Alguns explicitam mais as opiniões e consideram que Hitler
e Mussolini formavam uma barreira frente ao comunismo, ao
afirmar que: “se a guerra tivesse tido um resultado diferente,
o mundo seria melhor, porque aí haveria menos comunismo”.
Outros mostram-se influenciados pelo movimento português (“eu

157
era muito influenciado pelo salazarismo") ou espanhol (“eu
admirava Franco, porque havia organizado uma luta contra o
comunismo’').
Ainda que, nas zonas de imigração alemã ou italiana, tenha
havido algumas vezes tensão entre os militantes integralistas de
origem européia e os imigrantes não naturalizados que aderiam
aos movimentos fascistas ou nazistas, havia casos em que o indi­
víduo inscrevia-se no integralismo pensando que ele era vincula­
do aos fascisjnos europeus. A maior parte, entretanto, estava
consciente das afinidades da A.I.B. com os fascismos, mas sabia
que era um movimento autônomo. Um exemplo concreto é o
de um filho de imigrante, vivendo na zona rural, que até a ado­
lescência vive dentro de um ambiente familiar e escolar de tal
forma italiano, que não tinha consciência do país em que morava.
Somente mais tarde, quando começa a frequentar uma escola
fora de sua pequena comunidade rural, é que descobre que vivia
num país chamado Brasil (“onde canta o sabiá”)! O testemunho
de sua participação na A.I.B. e a recordação de canções integra­
listas aos 84 anos são extraordinários. Ele aderira ao integralis­
mo pela “admiração por Mussolini, quando fui camisa preta.
Depois eu me apercebí que a A.I.B. era um movimento do mes­
mo gênero. Abandonei a camisa preta e vesti a camisa verde,
porque era preciso lutar pelas mesmas idéias num movimento
brasileiro”.
A atitude anticomunista associa-se, algumas vezes, a uma
experiência concreta e mais próxima do que a luta contra o co­
munismo na Europa. Vários integralistas referem-se à “moti­
vação” anticomunista de maneira menos abstrata. Por exemplo,
havia um núcleo integralista no Rio Grande do Sul, dirigido por
um oficial, cujo objetivo principal era o de “combater o comu­
nismo e se opor à ação nefasta do capitão Prestes”. Um dos
membros do núcleo dizia que “este tenente nos convidou a orga­
nizar uma força para fazer frente ao comunismo”. Noutros ca­
sos, porém, descobriam a presença comunista ao fazerem o serviço
militar: “Eu era analfabeto e ouvi falar no integralismo. Mais
tarde, quando estive na caserna, aprendi a ler e a escrever, esti­
mulado por oficiais amigos. Então, dei-me conta da ameaça
comunista que me será confirmada mais tarde, sobretudo em uma
cidade portuária onde fui ferroviário”. Finalmente, alguns não
aderiram ao integralismo para lutar contra o comunismo, mas
afirmam terem descoberto a “ameaça comunista” dentro da
A.I.B.: “Quando acabei meus estudos em 1931, declara o pro-

158
prietário de uma pequena livraria, eu procurava um novo tipo
de organização social e, no integralismo, encontrei estas idéias:
de um lado, pela organização corporativa e de outro, por uma
política sem compromisso. O integralismo me abriu os olhos
sobre o comunismo que antes eu não conhecia.”
Certos militantes inscreveram-se no integralismo motivados
pela insatisfação e oposição ao sistema político. Várias são as
respostas do gênero: ‘‘desiludido pelas revoluções sem resultado,
pela dominação política dos caudilhos e pelo sistema eleitoral que
obrigava a votar com o patrão, eu abracei o integralismo que
tinha uma doutrina e ganhava aderentes pela convicção.” Ou
então: “Eu era radicalmente contra o sistema representativo e
corrompido da época. Constatei que as velhas organizações po­
líticas não tinham nem doutrina nem programa. Nós estávamos,
enquanto jovens, à procura de novas idéias capazes de transfor­
mar a Nação.” Outros, enfim, aderiram porque as instituições
vigentes pareciam impotentes para resistir ao comunismo: “Exis­
tia sobre o Brasil um perigo comunista e os partidos liberais-de-
mocráticos não tinham a capacidade de fazer face à ameaça e
marchavam para o suicídio. Eu aderi à A.I.B. porque ela tinha
uma organização e um programa fundado sobre a democracia
orgânica e a organização corporativa.”
Havia um grupo mais sensível ao apelo espiritualista da
ideologia: “Eu não me tornei integralista por anticomunismo,
porque o comunismo não era tão forte nessa época, nem por
oposição à situação política vigente, mas porque a divisa integra­
lista era Deus, Pátria e Família. O integralismo defendia a re­
ligião.”
Cabe mencionar, igualmente, o forte sentimento nacionalista
que aparece nas “motivações” de um grupo de descendentes de
imigrantes alemães ou italianos. “O que mais me impressionava
no integralismo, afirma um deles, era o sentimento nacionalista.
Os descendentes dos imigrantes germânicos eram chamados pejo­
rativamente de “alemães”. A A.I.B. foi o primeiro movimento
a nos integrar e a cessar as distinções.” Uma militante de origem
alemã atribui sua adesão ao integralismo à “influência de sua
mãe, que era professora e que, no contexto alemão, devia desen­
volver em seus alunos o sentimento nacional; mais tarde, quan­
do apareceu a A.I.B., que exaltava estes mesmos valores, eu me
entusiasmei pouco a pouco por este movimento. Após a adesão
de meus irmãos, eu me engajei e, mais tarde, me tornei respon­
sável pela organização feminina local”.

159
Fora dos motivos político-ideológicos havia certos militan­
tes que aderiam por uma espécie de espírito comunitário que sen­
tiam no movimento. Este sentimento aparece difuso em várias
entrevistas onde, em meio a outras “motivações” encontram-se
frases do tipo: “Eu gostava sobretudo da união que existia no
movimento, quando todos se encontravam com suas camisas
verdes.” “O que mais me atraía era o clima de união que existia
entre os integralistas e a doutrina que era ensinada para a reali­
zação da revolução interior do homem.” Outros, enfim, enga­
javam-se condicionados por amigos sem nenhuma predisposição
de fazer uma opção política: “Eu era jovem em disponibilidade,
e aos outros partidos pertencia a gente idosa; eu aderi sem ter
consciência da situação política, por influência de amigos. Eu
morava em uma pensão e meus amigos eram integralistas.”

160
CAPÍTULO II

A ORGANIZAÇÃO

O tipo de estrutura organizativa do integralismo é outra


característica importante para definir a natureza do movimento.
Não se pode dissociar, num movimento fascista, a ideologia e a
organização porque existe uma relação explícita entre a estrutura
desta e o conteúdo da outra. Geralmente as organizações polí­
ticas autoritárias se estruturam hierarquicamente com o objetivo
de enquadrar eficazmente seus militantes. A organização integra­
lista, entretanto, supera esta função meramente instrumental:
além da estrutura vertical e rígida, sob o controle de organismos
de enquadramento e socialização ideológica, a A.I.B. incorporou
uma nova dimensão capaz de transformar a organização na pré-
-figuração do Estado Integral. O tipo de organização, as rela­
ções entre o Chefe e os diversos órgãos estabelecem as bases de
uma estrutura estatal. Portanto, a organização da A.I.B. é não
somente um meio eficaz voltado para a ação política, mas um
instrumento de elaboração e experimentação, em escala reduzida,
do Estado Integralista (*).
A estrutura da A.I.B., desde o Chefe até os militantes de
base, forma uma organização burocrática e totalitária. A buro­
cracia da organização manifesta-se através de um complexo de
órgãos, funções, papéis, comportamentos previstos minuciosamen­
te pelos estatutos, resoluções do Chefe e rituais; o caráter tota­
litário, por sua vez, através das relações rígidas entre os órgãos

(1) Neste sentido, parece sem nexo distinguir, como o sugerem certos
dirigentes integralistas, o “totalitarismo” da organização da “democracia
orgânica” da ideologia.

161
de enquadramento disciplinado dos militantes (a partir das or­
ganizações da juventude até a milícia) e da submissão autoritária
e fidelidade aos superiores hierárquicos. Neste sentido, o totali­
tarismo e a burocracia são elementos indissociáveis na organiza­
ção do integralismo.
A organização integralista desempenha, pois, uma tríplice
função: fornecer ao chefe meios poderosos para dirigir o movi­
mento; realizar uma experiência pré-estatal ao nível da organi­
zação, inspirada no modelo teórico do Estado Integral; constituir-
-se num instrumento de socialização político-ideológica dos ade­
rentes. Por isso, torna-se necessário distinguir no conjunto da
organização três aspectos que definem sua natureza burocrático-
totalitária: o Chefe, fonte da legitimidade do sistema; a estrutura
pré-estatal e os meios de socialização ideológicos.
Após um período transitório entre fins de 1932 e 1934, no
qual Salgado amplia sua liderança sobre o movimento e as di­
reções dos primeiros grupos integralistas locais e regionais são
confiadas a triunviratos, implanta-se a organização da A.I.B.
A primeira estrutura se estabelece no I Congresso Integralista
de Vitória (Espírito Santo) em fevereiro de 1934 e, mais tarde,
se aperfeiçoa com resoluções do Chefe Nacional após o Congres­
so Integralista de Petrópolis (Rio de Janeiro) em março de 193ó.
A natureza burocrática-totalitária da organização configura-se
entre 1932 e 1936, ao passo que seu caráter pré-estatal se conso­
lida com as modificações introduzidas após 1936.
O Congresso de Vitória define, através da elaboração dos
estatutos, os órgãos de base da organização política e estabelece
os objetivos do movimento. Os estatutos apresentam a A.I.B.
como uma “associação nacional de direito privado, com sede ci­
vil na cidade de São Paulo e sede política no lugar onde se en­
contrar o Chefe Nacional”. O movimento atribui-se como obje­
tivo inicial ser um “centro de estudos de cultura sociológica e po­
lítica”, com a finalidade de promover o desenvolvimento “moral
e cívico do povo brasileiro” e de “implantar no Brasil o Estado
Integral”. Os estatutos conceituam este como o regime fundado,
na ordem política, sobre a “doutrina integralista ou nacional cor­
porativa”; na ordem econômica, sobre uma economia “dirigida”,
onde o interesse social predomina sobre o individual; na ordem
moral, sobre a “cooperação espiritual” de todas as forças que
querem defender Deus, a Pátria e a Família; e, finalmente, na

162
ordem intelectual, sobre a participação do conjunto das forças
culturais e artísticas na vida do Estado (2).
Embora a A.I.B. pretenda ser um instrumento para a ins­
tauração do Estado Integral, recusa-se a ser assimilado, numa
primeira fase, a um partido político e define-se apenas como
um movimento cultural e cívico. Esse fato se explica mais por
razões de estratégia política e coerência ideológica do que por
apoliticismo. Mais tarde, em 1935, quando o integralismo apre­
senta Salgado como candidato à Presidência da República e, mes­
mo antes, por ocasião das eleições legislativas e municipais, a
A.I.B. transforma-se em partido competindo com outras organi­
zações políticas. Os Protocolos e Rituais da A.I.B., publicados
em abril de 1937, reformulando a redação dos estatutos de 1934,
definem a Ação Integralista não somente como uma associação
civil (“centro de estudos e de educação moral, física e cívica”)
mas também como partido político visando realizar “a reforma
do Estado”. Inclusive a linguagem se altera, pois não se trata
mais de “implantar” o Estado Integral ou nacional-corporativo,
mas de “reformar” o Estado brasileiro pela tomada legal do po­
der político. Os objetivos explícitos são criar “uma nova cultura
filosófica e jurídica”, a fim de assegurar o “culto de Deus, da
Pátria e da Família”, a “unidade nacional”; o “princípio da Or­
dem e da Autoridade”; “o prestígio do Brasil no exterior”, “jus­
tiça social, garantindo-se aos trabalhadores a remuneração cor­
respondente às suas necessidades e a contribuição que cada um
deve dar à economia nacional”; a “paz entre as famílias brasilei­
ras e entre as forças vivas da Nação, mediante o sistema orgâni­
co e cristão das corporações”; “a liberdade da pessoa humana
dentro da ordem e da harmonia social”; “a grandeza e o prestí­
gio das classes armadas”; “a união de todos os brasileiros” (3).
A transformação do movimento em partido político coinci­
de com a passagem da fase “revolucionária” do integralismo à
sua fase “eleitoral”. A partir deste momento, a mensagem ideo­
lógica não se dirige somente a militantes consagrados à “revolu­
ção integral”, mas a eleitores potenciais (*)•
(2) Estatutos da Ação Integralista Brasileira, Monitor Integralista,
2(6), maio de 1934.
(3) “Protocolos c Rituais da A.I.B.”, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937.
(4) Uma das exteriorizações dessa evolução é a transformação, a
partir de 1936, do antigo “Departamento de Organização Política” em
“Secretaria de Corporações c de Serviços Eleitorais”.

163
1 o CHEFE

A organização integralista, inspirando-se nos modelos fas­


cistas, é dirigida por um Chefe Nacional. Os estatutos lhe atri­
buem a direção total e indivisível do movimento, tornando seu
poder centralizado, total e permanente.
A centralização do poder do Chefe é de tal ordem que to­
dos os órgãos da organização funcionam somente por delegação
de seu poder absoluto e dependem, em última instância, de sua
decisão. Os estatutos de 1934 (5), afirmam explicitamente que
“o Chefe Nacional dirigirá e comandará todo o movimento em
todas as Províncias através dos Departamentos Nacionais” e que,
em cada Departamento, o Chefe “nomeará para auxiliá-lo um
Secretário Nacional, sob sua imediata fiscalização” ('•).
O poder do Chefe é também total, na medida em que está
presente em todos os setores importantes do movimento. Detém
em seu poder a definição da doutrina, a decisão política e o con­
trole da ação. Esses poderes lhe pertencem exclusivamente, pois
é ele quem define, quando necessário, o pensamento integralis­
ta e quem decide sobre “quaisquer dúvidas doutrinárias ou prá­
ticas que se apresentarem ao seu julgamento” (7). Possui tam­
bém “plenos poderes deliberativos” na direção do movimento,
bem como o poder de nomear exclusivamente os secretários dos
departamentos nacionais, os chefes provinciais e os membros do
conselho nacional”. Enfim, define a ação político-ideológica dos
integralistas porque ele é “o comandante em chefe das forças
integralistas” (8).
O aspecto que caracteriza melhor a natureza de seu poder
é seu caráter permanente. Os estatutos consideram que a pessoa
do Chefe é “intangível” e sua função “perpétua”. Ninguém pode,
sob pena de expulsão, “comentar não importa que ato do Chefe
no exercício de suas funções”, nem interpelá-lo sobre qualquer
tema sem o haver previamente solicitado, nem intervir no domí-

(5) Em 1934, os órgãos executivos nacionais denominam-se “Depar­


tamentos” e, após a alteração de 1936, transformam-se em “Secretarias”.
(6) Estatutos da A. I. B., artigo 4 e Regulamentos dos Departamen­
tos, Monitor Integralista 2(6), maio de 1934.
(7) Estatutos da A. I. B., artigo 3, parágrafo m, Monitor Integralista,
2(6), maio de 1934.
(8) Estatutos da A. I. B., artigo 3, parágrafo 6, Monitor Integralista,
2(6), maio de 1934.

164
nio de suas atribuições exclusivas (°). Em 1936, quando os
Protocolos e Rituais da A.I.B. “redefinem os poderes do Chefe,
não muda a amplitude de seu poder, mas há uma tentativa de
despersonalizar as bases deste poder ilimitado. Sua legitimidade
decorre do fato de que ele é a síntese dos anseios de todos os
integralistas, o intérprete e o defensor supremo da doutrina. Por­
tanto, mais do que uma pessoa, ele é a encarnação da “idéia”
integralista (10).
Não obstante essa mudança de linguagem, o caráter perso­
nalizado da submissão ao Chefe persiste através do juramento de
obediência incondicional a Plínio Salgado. A fidelidade ao Che­
fe é o corolário de seu poder ilimitado. Todo novo militante inte­
gralista deve proclamar solenemente, diante do retrato do Chefe
Nacional, a promessa seguinte: “Juro por Deus e pela minha
honra trabalhar pela Ação Integralista Brasileira, executando,
sem discutir, as ordens do Chefe Nacional e dos meus supe­
riores” (n).
A valorização da fidelidade ao Chefe teve como conseqüên-
cia o culto da sua personalidade. Além de dispor de um poder
legal vinculando seus adeptos por um juramento de fidelidade,
Salgado possuía, com suas qualidades de orador, o carisma pes-

(9) Estatutos da A. I. B., artigos 4 a 8, Monitor Integralista, 2(6),


maio de 1934.
(10) Protocolos e Rituais da A.I.B., artigo 11, Monitor Integralista,
5(18), abril dc 1937.
(11) Cada vez que o Chefe viajar, os integralistas são obrigados a
comparecer à sua partida e o ritual determina que, após o canto do Hino
integralista, os militantes devem saudar o Chefe proclamando a fórmula
seguinte: “Integralistas! Pelo Brasil... Pelo Estado Integral!... Em
fidelidade ao Chefe Nacional Plínio Salgado, diante da vida e da mor­
te!. . .” Em seguida, erguem o braço direito e lançam três vezes a palavra
de saudação de origem indígena: “Anauê! Anauê! Anauê!” Antes da
adoção do juramento sobre os Protocolos c Diretivas Integralistas, dc 1934,
os estatutos da A.I.B. previam apenas um juramento escrito, que, se pos­
suía menos força que o prestado publicamente, produzia o mesmo efeito,
já que a caracterização do militante integralista estabelecia seu grau de
submissão. O integralista era definido, em última análise, como alguém
que renunciou voluntariamente à sua liberdade: “o integralista é um
homem livre que se inscreve espontaneamente na A.I.B. com o fim dc sa­
crificar os seus pontos de vista pessoais, uma parte de seus interesses e dc
seu tempo, submetendo-se à disciplina pela grandeza da Nação . Proto­
colos c Rituais da A.I.B., Monitor Integralista, 5(18), abril de 1937.

165
soai do chefe fascista (12). Os testemunhos dos antigos militantes
e dirigentes locais integralistas, cerca de quarenta anos após, con­
firmam a extensão deste culto da personalidade do Chefe. As
respostas de uma centena de militantes e dirigentes de bases in­
tegralistas confirmam a amplitude da fascinação exercida peia
sua imagem. Os três quartos dos antigos integralistas ainda in­
telectual e afetivamente ligados à ideologia, conservam uma
grande admiração pela pessoa do Chefe. Dois terços das mani­
festações de simpatia fundamentam-se em suas qualidades retóri­
cas; a metade indica sua admiração pelas qualidades de escritor,
de cultura e de inteligência de Salgado; um grupo menor evoca
suas qualidades de líder, embora uma minoria faça restrições à
sua capacidade política, sobretudo após o fracasso da A.I.B. (13).
A imagem que se forma a partir deste conjunto de teste­
munhos é a de um personagem a meio caminho entre o chefe
político e o chefe religioso. Neste sentido, a melhor caracteri­
zação de Salgado foi feita ironicamente por um dos antigos inte­
lectuais integralistas, Roland Corbisier, que o chama “mistago-
go” já que combina qualidades místicas e demagógicas (14).

(12) Conforme o testemunho de Rui Arruda, membro do Gabinete


Civil da A.I.B., Salgado era inicialmentc um conferencista que lia suas
conferências. Sua capacidade de oratória e de improvisação aparece pela
primeira vez quando pronunciou uma conferência em Jabuticabal (Estado
de São Paulo), logo no início do movimento sob o tema “O que é o
Integralismo”? Em meio de seu discurso, ele abandona suas notas e co­
meça a improvisar brilhantemente. Este foi o início de sua carreira de
orador de massa. (Entrevista com Rui Arruda, São Paulo, 1969).
(13) As respostas relativas às suas qualidades de orador são do gê­
nero: “Era um orador que dominava a massa”; “Eu nunca ouvi alguém
falar tão bem como ele”; “Era um orador que inflamava”; “Ele tinha um
poder carismático”. As respostas sobre suas qualidades intelectuais afir­
mam que ele era “homem inteligente e culto”; “intelectual”; “grande
escritor e filósofo”; “sobretudo um doutrinador”. A maioria que criticou
Salgado, enquanto Chefe, estava provavelmente influenciada pelo fracasso
da A.I.B. As objeções mais comuns eram do tipo: “Ele não tinha quali­
dades de um chefe, porque era puro”; “Faltava-lhe energia para enfren­
tar as dificuldades”; “Era um chefe hesitante”; “Era um visionário c um
doutrinador, mas não um homem de ação”; “Faltava-lhe tática política”.
Outros declaram preferir Barroso como chefe porque era mais decidido c
enérgico.
(14) Entrevista com Roland Corbisier, Rio, junho de 1970. Certas
respostas confirmam significativamente o epíteto que Corbisier atribui a
Salgado: “Ele era a voz carismática da Pátria”; “Era um puro”; “Plínio
dominava a massa e esta última teria feito não importa o quê sob suas
ordens”; “Era um místico”.

166
QUADRO 29 (*)

A IMAGEM DO CHEFE INTEGRALISTA

1. Valorização das qualidades retóricas 67


2. Valorização das qualidades intelectuais 48
3. Crítica às capacidades do Chefe 21
4. Valorização das qualidades morais ou místicas 12
5. Valorização das qualidades de patriota 11
6. Valorização das qualidades de líder 18
7. Sem respostas 8

(•) Trata-se da freqücncia, em números absolutos, de cada caracte­


rística indicada nas respostas dos entrevistados.

Seria interessante analisar, além da imagem que os militan­


tes formaram sobre o Chefe, a idéia que ele próprio fazia de seu
papel. Em seu ideal de Chefe, três elementos se distinguem: sua
concepção de Chefe, sua estratégia de ação e o fundamento de
sua legitimidade.
Salgado define seu papel segundo um duplo critério. De­
fende a rigidez da chefia em matéria doutrinária, ao mesmo tem­
po que postula a flexibilidade nas decisões dirigidas à ação. Esta
concepção significa, na realidade, uma racionalização do papel
do Chefe adaptada à sua personalidade mais de doutrinador e
agitador político do que de homem de ação. Os testemunhos de
dirigentes integralistas, membros do Supremo Conselho e da Câ­
mara dos Quarenta, mostram que a preocupação principal dos
membros dos órgãos consultivos antes de qualquer decisão im­
portante era descobrir o pensamento do Chefe. Sua estratégia,
por comodidade ou temperamento, consiste em recorrer à técnica
da consulta prévia mais para formar ou reforçar sua própria opi­
nião do que para se submeter à opinião de seus consultantes. Em
realidade ele dispunha de um amplo poder de manipulação em
qualquer nível decisório, uma vez que a fronteira entre o que
pertence ao domínio da ideologia e o da ação prática era de­
marcada por linhas indefinidas. Sua estratégia de chefe consis­
tia, portanto, em utilizar uma tática aparentemente democráti­
ca no plano da ação, resguardando sempre, porém, a possibili­
dade de evocar a fidelidade à doutrina para reformular um pon­
to de vista contraditório ao seu.

167
Esta interpretação é confirmada, aliás, pela análise do que
Plínio Salgado considera ser o fundamento de sua autoridade de
Chefe. Ele pensa que quatro são os elementos que se encontram
na base de seu poder. O primeiro é que ninguém tem o direito
de colocar em questão a autoridade do chefe. O líder que tolera
a dúvida ou a contestação de sua autoridade, provoca a crise de
seu poder e enfraquece. O segundo princípio liga-se estreitamen­
te ao primeiro: não pode haver contradição entre o Chefe e a
doutrina. Esta regra é absoluta no integralismo, pois o Chefe é
simultaneamente criador e intérprete destes princípios. Em conse-
qüência, a lógica entre a concepção do Chefe e os dois corolários
do fundamento de sua autoridade é perfeita. O Chefe mantém
a intangibilidade de seu poder, porque sua fidelidade à doutrina
é imanente pelo fato de que é ele o seu criador. Quanto à pos­
sibilidade de erro nas decisões de ação, ele tem sempre o recurso
de imputar a responsabilidade aos órgãos auxiliares de consulta.
Salgado acrescenta ainda dois outros elementos às bases de
seu poder: o segredo e o carisma. Um dos componentes essen­
ciais, na sua opinião, da autoridade de um Chefe, reside em sua
capacidade de esconder sua própria opinião: “Jamais, em tempo
algum, eu revelei o meu verdadeiro pensamento!” Ele se envol­
via, conscientemente, numa atmosfera de mistério que lhe possibi­
litava colocar-se acima das controvérsias: “Um chefe não pode
entrar em debate” (15).
Por fim ele crê que possuía uma capacidade inata de co­
municação com as massas. Embora não saiba explicar se se trata
de um fenômeno psicológico ou de outra natureza, tem a certeza
de possuir esse dom pessoal. O carisma que ele possuía, vincu­
lado a sua capacidade retórica, necessitava, na sua concepção, de
uma “liturgia” para exteriorizar-se e comunicar-se melhor com as
massas. Mesmo que a mise en scène não substituísse a eloquên­
cia, ela desenvolvia um ambiente propício à transmissão da men­
sagem fazendo brotar uma ligação simbólica e afetiva com o
Chefe. Por isto Salgado valoriza as manifestações exteriores e
os rituais, que foram reunidos num manual de cerimônias in­
tegralistas intitulado “Protocolos e Rituais da A.I.B.”.
Neste contexto, não parece fácil encontrar os limites que
separam o mito do Chefe e sua realidade. Qual foi seu compor­
tamento enquanto Chefe? Até que ponto sua ação concreta cor­
respondeu à realidade de seu poder legal e à imagem transmitida

(15) Entrevista com Plínio Salgado, São Paulo, junho de 1970.

168
por seus adeptos e pela propaganda? A interpretação que se de­
preende dos testemunhos e documentos integralistas é que. apesar
de todo poder formal, Salgado era, na realidade, um chefe pusi­
lânime. Uma distância enorme se estabelece entre a imagem
oriunda dos militantes situados numa relação “orador-massa" e
os julgamentos de dirigentes e colaboradores próximos sobre seu
comportamento como dirigente da A.I.B. (10).
O primeiro elemento desta pusilanimidade é, paradoxal­
mente, a concentração do poder legal que lhe foi atribuída pelos
estatutos de acordo com sua vontade. Obviamente um chefe que
se imponha aos seus liderados não tem necessidade de definir,
em todos os detalhes, o domínio de sua competência e, sobretudo,
de criar mecanismos que impeçam que sua autoridade seja posta
em causa. Tal precaução decorre em parte da necessidade de
compensar psicologicamente a impressão de fragilidade de sua
estatura, pequena e franzina, mas também da vontade de afirmar
uma posição de força diante das pretensões de liderança de certos
dirigentes integralistas mais capazes para a ação política. Só um
chefe fraco tem necessidade de impedir toda forma de interpe­
lação de seus subordinados e de se proclamar “perpétuo” e “in­
tangível”. O verdadeiro líder tem em si mesmo, por suas quali­
dades e coragem na ação, a energia suficiente para impor sua
vontade e não tem necessidade de fundar seu poder sobre um
texto legal.
Outros dados, entretanto, são mais reveladores desta fra­
queza. Eles são o resultado de certas atitudes de Salgado. O
primeiro episódio é relatado por diversos dirigentes integralistas
como exemplo de sua fraqueza ou como prova de seu exclusi-
vismo. Consta que Barroso, no fim de uma de suas conferências,
insinua, sob a forma de uma legenda histórica, que um chefe
que não é fiel à doutrina corre o risco de perder sua autoridade.
Este episódio é interpretado pelos colaboradores próximos de
Salgado como uma crítica velada à sua chefia e como uma amea­
ça à liderança. Alguns dias mais tarde, por ocasião de uma reu­
nião de prefeitos integralistas, Salgado deveria pronunciar um dis­
curso de encerramento. Seu discurso, para espanto geral, versa

(16) Um de seus colaboradores próximos: “A maior qualidade dele


é seu maior defeito como Chefe: o excesso de inteligência (...). Ele
põe dentro do seu raciocínio todas as hipóteses favoráveis e contrárias.
Ele vai ponderar o ônus que uma atitude pode dar e acaba por tomar a
pior solução: não fazer nada.” (Entrevista com Rui Arruda, São Paulo,
1969.)

169
sobre sua concepção do Chefe e o corolário da obediência e fide­
lidade absolutas. No fim do discurso, num gesto teatral, ele se
demite de sua função como chefe e abandona o palco. Todos os
dirigentes presentes, entre eles Barroso, ficam estarrecidos ante
este gesto inesperado e permanecem imóveis, sem saber o que
fazer. Após alguns minutos de hesitação, tomam a iniciativa de
buscar Salgado nos bastidores e presenciam a seguinte cena: Bar­
roso, com lágrimas nos olhos, dá explicações a Salgado que, con­
siderando haver obtido reparação, revisa sua decisão e retoma
suas funções sob a “pressão” de seus companheiros.
Este pequeno fato significativo revela que Salgado tinha
necessidade de reafirmar sua autoridade constantemente e de
afastar toda ameaça contra seu poder exclusivo. Esta atitude é
certamente um indicador de insegurança em relação a si próprio
e de fraqueza face aos outros.
Outro acontecimento da história do integralismo, que reforça
esta interpretação, é a “Carta de Natal” (1935), na qual o pró­
prio Salgado reconhece sua incapacidade de dominar seus parti­
dários: “Na madrugada de ontem, meditando sobre o movimento
político-social que criei no Brasil, senti-me apreensivo. Examinei
a minha criação e inquietei-me. Não temo os inimigos nem as
adversidades, porém temo os meus próprios adeptos. Porque
eles, na exaltação revolucionária, poderão perder aquilo que é
fundamento do nosso ideal: a consciência de nós mesmos. E,
perdendo a consciência de si mesmos, perderão o conceito da
autoridade, como eu a quero, e a concepção do Chefe, como é
necessária a uma Nação Cristã” (17). A mesma confissão de
impotência em controlar os acontecimentos será demonstrada por
Plínio por ocasião do putsch integralista de 1938. Ele evocará,
para justificar a ação terrorista dos integralistas mais exaltados,
sua incapacidade de dominar uma parte de seus adeptos.
Portanto, se um Chefe que dispõe de um poder legal bas­
tante extenso, de um código disciplinar rigoroso, de um tribunal
interno para julgar as ações de indisciplina, de um serviço de
inteligência, reconhece não poder ter o controle sobre o aparelho
do partido evidencia ser um chefe pusilânime.
A única explicação possível, pois, para este descompasso
entre a imagem e a realidade do personagem, é que a idealização
da primeira fundamenta-se em sua eloqüência pessoal, enquanto
a segunda exprime a realidade de um chefe hesitante diante de
(17) SALGADO (Plínio), “Carta de Natal’’, in Madrugada do Espí­
rito, op. cit., p. 429.

170
decisões práticas, mostrando-se incapaz de controlar suas tropas.
Ele era capaz de um discurso incendiário mas impotente diante
de uma decisão firme e rápida. Na realidade, Salgado não era
um condutor de homens, mas um chefe conciliador mais por
medo de decisões internas do que por temor do impasse, onde ele
deveria ter a última palavra. Neste sentido, não há contradição
entre o chefe que tolera uma democracia limitada em questões
práticas e, ao mesmo tempo, reivindica a exclusividade de seu
poder. Entretanto, este mesmo chefe tímido transformava-se em
líder de massa, dirigindo-se ao público numa tribuna. Seus dis­
cursos são inflamados, vigorosos e freqüentemente apocalípticos.
Trata-se, em conseqüência, da ambigüidade fundamental de uma
personalidade autoritária por timidez (18).

2 — UM MODELO PRÉ-ESTATAL

O princípio geral da organização da A.LB. é que todo poder


emana do Chefe e só em seu nome será exercido. Os órgãos
hierarquicamente estabelecidos existem para executar funções de­
legadas pelo Chefe e diretamente sob sua responsabilidade, ao
mesmo tempo que a organização desempenha papel de uma ar­
madura burocrática do Chefe contra o desafio das decisões coti­
dianas. A organização integralista comporta-se como um instru­
mento de ação e uma estrutura de proteção. A análise da histó­
ria do movimento mostra que Salgado, por temperamento e pela
ambigüidade de seu comando, perderá, a partir de um determi­
nado momento, o controle do aparelho. Na medida em que a
função instrumental da organização entra em crise, a burocrati-
zação se reforça e o papel protetor da burocracia torna Salgado
Chefe isolado de suas bases. A partir daí, somente os discursos,
artigos e livros de Plínio são instrumentos de comunicação direta
com os militantes da A.LB.
A primeira observação a ser feita é que o sistema de organi­
zação burocrático-totalitária da A.LB. não é produto do seu
crescimento, mas se manifesta desde as origens do movimento.
O sistema burocrático interno se instaura a partir do primeiro

(18) Esta hipótese confirma-se com a resposta que o próprio Plínio,


quando jovem jornalista, deu cm São Bento de Sapucaí a uma enquete
feita por uma revista. Na ocasião, declarou que o traço dominante de sua
personalidade era a “timidez”, in Correio de São Bento, São Bento de
Sapucaí, 2, 7 de abril de 1918.

171
congresso integralista de 1934, através de uma rede de órgãos
relacionados burocraticamente, desde o nível nacional até os
bairros urbanos. Nos estatutos de 1934 está previsto que o Chefe
Nacional não se comunicará “diretamente com os integralistas,
mas por intermédio dos Departamentos Nacionais” (10), salvo
em circunstâncias excepcionais. Cada Departamento Nacional
que se relacione com seu homólogo ao nível regional ou local
deve fazê-lo por intermédio do chefe provincial. Sistema similar
é adotado nas relações entre o Chefe Provincial e os chefes lo­
cais. Além disto, está previsto que as relações que se estabele­
cem entre subordinado e superior devem ser feitas por escrito.
Mesmo em se tratando de um chefe provincial, não pode haver
contato direto com o Chefe Nacional senão através do Departa­
mento ao qual se liga o objeto de sua demanda, excetuando o
caso de um “problema relevante de caráter particular” (20).
O Congresso Integralista de Vitória, pois, estabelece a estru­
tura organizacional da A.I.B. que permanecerá em vigor até sua
alteração em 1936. No ápice da pirâmide encontra-se o Chefe
Nacional, depois o Conselho Nacional como órgão consultivo do
Chefe e, ao nível executivo, os Departamentos Nacionais.
O Chefe Nacional dispõe, como numa estrutura governa­
mental, de um Gabinete Civil e Militar. O Gabinete subdivide-se
em vários serviços: a Casa Militar e o Comando da Tropa de
Serviços Especiais — responsável pela proteção de Salgado, for­
mada por quatro ajudantes de campo ligados ao Chefe e de dois
outros ligados ao chefe da casa militar e ao comandante da tropa
de serviços especiais. Os outros serviços do Gabinete são o Secre­
tariado, o Jornal Oficial (Monitor Integralista), os serviços de
imprensa e os serviços de relações exteriores. Estes últimos esta­
belecem a ligação com autoridades e movimentos políticos estran­
geiros, ou, mais precisamente, com “as organizações que no mun­
do possuem afinidades com a integralismo e com as autoridades
consulares e diplomáticas entre os brasileiros morando no estran­
geiro” (21). Outra atribuição do Chefe, de natureza governamen-

(19) Estatutos da A.I.B., artigo 25, Monitor Integralista, 2(6), maio


de 1934.
(20) Estatutos da A.I.B., Monitor Integralista, art. 30, 2(6) maio
de 1934.
(21) Resolução n.° 10, Regulamento Interno do Gabinete do Chefe
Nacional, Monitor Integralista, n.” 6, maio de 1934. O desenvolvimento
dessas relações com o estrangeiro dará origem, cm 1936, à função de
Secretário das Relações Exteriores.

172
tal, é o poder de atribuir “ordens honoríficas”, concedidas a per­
sonalidades integralistas de alta expressão “moral, intelectual c
cívica” (22).
O Conselho Nacional tem funções consultivas, sem nenhum
poder de decisão autônomo. É um órgão de assessoria ao Chefe
Nacional, integrado por secretários dos Departamentos Nacio­
nais, por Chefes Provinciais e por outros elementos designados
pelo Chefe Nacional.
Os órgãos de execução dirigidos por um secretário nacional,
sob a dependência e o controle direto do Chefe Nacional, são os
Departamentos Nacionais. A primeira estrutura da A.I.B. cons­
titui-se de seis Departamentos: Organização Política, Doutrina,
Propaganda, Cultura Artística, Milícia e Finanças. Além destes,
o Chefe cria o Departamento de Justiça.
Em 1936, no Congresso de Petrópolis, a estrutura é rema-
nejada e novos órgãos são incorporados. A resolução n.° 165
(janeiro de 1936) cria dois novos órgãos de representação: a
Câmara dos Quarenta e o Conselho Supremo e, simultaneamente,
institui o órgão máximo de representação na A.I.B.: as Cortes
do Sigma.
A Câmara dos Quarenta é um organismo consultivo formado
por “personalidades de alto valor moral e intelectual” (23). Ele
se estrutura internamente em comissões especializadas para opi­
nar sob problemas suscitados pelo Chefe Nacional. Seu papel,
na realidade, é mais decorativo que consultivo. Segundo o teste­
munho de certos membros da Câmara, Salgado, para evitar di­
vergências entre o Chefe e a Câmara, se entrevistava previamente
com os relatores das comissões. Com isto, a submissão do Chefe
às decisões dos órgãos consultivos do movimento significava uma
forma de distribuir responsabilidade nas decisões importantes e
uma maneira de produzr solidariedade e legitimidade nas deci­
sões do Chefe Nacional.
O Conselho Supremo define-se como um “órgão auxiliar”
do Chefe Nacional que extingue as antigas funções do Conselho
Nacional. Este último era mais consultivo que executivo, por­
que, sendo composto de Secretários Nacionais e Chefes Pro-

(22) Resolução n.° 2, criação das ordens honoríficas, Monitor Inte­


gralista 1(6), maio de 1934. São quatro as condecorações: 1. Cruz de
Anchieta; 2. Estrela dos Guararapes; 3. Ordem do Caçador de Esmeral­
das; 4. Ordem do Sigma.
(23) Resolução n.° 165, Monitor Integralista, 4(15), outubro de 1936.

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174
vinciais, tornava-se difícil*sua convocação em razão da distância
geográfica entre os Estados. Salgado, em conseqüência, sente
necessidade de um órgão de consulta mais próximo e formado
pelos principais dirigentes integralistas. O novo conselho será
integrado de dez membros, dentre os quais secretários dos De­
partamentos Nacionais, possibilitando também a ascensão polí­
tica interna de alguns dirigentes do movimento (24).
O organismo mais importante de representação da A.I.B.
é a Corte do Sigma, integrada por dirigentes dos principais ór­
gãos de cúpula na hierarquia do poder: os membros do Conse­
lho Supremo, os Secretários Nacionais, os membros da Câmara
dos Quarenta, os Chefes Provinciais (mais tarde Câmara dos
Quatrocentos) e outros membros especialmente designados pela
Corte do Sigma. A Corte reúne-se pela primeira vez em 15 de
outubro de 1936.
A Corte do Sigma é convocada exclusivamente pelo Chefe
Nacional e presidida por ele mesmo, salvo a hipótese em que
ele esteja preso ou exilado. Neste caso sua convocação é feita
pela Câmara dos Quarenta. Entretanto, o autoritarismo da or­
ganização é tal que, mesmo nesta situação extrema, a Corte se
reúne “para tomar conhecimento do nome do integralista desig­
nado pelo Chefe Nacional para o substituir temporariamente” (25).
Este conjunto de novos órgãos de cooperação com a chefia
nacional permite caracterizar a evolução do integralismo para
uma forma de organização pré-estatal. As funções do antigo Con­
selho Nacional se decompõem em três novos organismos colegia-
dos com atribuições previstas para o futuro Estado Integral. O
Conselho Supremo, sob a direção do Chefe Nacional, tem o pa­
pel de um gabinete restrito cujo ministério seria composto pelos
secretários nacionais; a Câmara dos Quarenta seria o núcleo do
futuro Senado integralista; a Câmara dos Quatrocentos, formada
em julho de 1937 (2a) e composta de militantes das diversas “pro­
víncias integralistas”, poderia transformar-se na Câmara Corpo-

(24) Os Departamentos Nacionais eram dirigidos por Everardo Leite


(Organização Política), Miguel Reale (Doutrina), Madeira de Freitas (Pro­
paganda), Rodolfo Josetti (Cultura Artística), Gustavo Barroso (Milícia),
Maciel Ramos (Finanças) c Jeovah Motta (Justiça). Todos os secretários
dos departamentos foram nomeados pelo Conselho Supremo e o único
que pertencia ao antigo Conselho Nacional era Raimundo Padilha.
(25) Protocolos c Rituais. Monitor Integralista, 18 de abril de 1937.
(26) Os membros da Câmara dos Quatrocentos são designados pelo
Chefe Nacional, 5 de junho de 1937.

175
rativa do período transitório, antes da implantação do sistema
de corporações; e, enfim, a Corte do Sigma seria o órgão supre­
mo do Estado Integral. É importante salientar que todos estes
órgãos que prefiguram o Estado Integral seriam colocados sob o
controle do Partido único e dispõem de um jornal oficial para
promulgar exclusivamente os “decretos” do Chefe Nacional
(Monitor Integralista).
Portanto, o Estado Integralista em potencial, implantado no
seio do Estado brasileiro, é muito mais do que um “contrago-
verno” ou gabinete da oposição. Ele funciona como um verda­
deiro Estado totalitário que possui não somente uma ideologia
de Estado e uma estrutura autoritária, mas utiliza-se de meios
estatais como de um aparelho burocrático interno, de Forças Ar­
madas paralelas (a Milícia), de uma política de socialização e
de reeducação dos militantes e de uma legislação própria (reso­
luções, regulamentos, medidas de censura, etc.), assim como de
um tribunal e de um corpo de “magistrados” para julgar as
ações de seus membros.
A reorganização de 1936 aumentou o número de órgãos
executivos e ampliou suas funções. Os antigos Departamentos
tornam-se novas e poderosas secretarias. Em junho de 1936 (27)
o Chefe institui outras secretarias: Organização Feminina e da
Juventude (Plinianos), Imprensa, Relações Exteriores e Assis­
tência Social. Em setembro de 1936, a organização disporá tam­
bém de um Conselho Jurídico Nacional para orientar e defender
a A.I.B. junto à justiça brasileira.
A reorganização da A.I.B., em 1936, é bastante significativa
para a análise do sentido da evolução do movimento. O Depar­
tamento de Organização Política transforma-se, com múltiplas
atribuições, em Secretaria Nacional das Corporações e dos Ser-
viços Eleitorais. Esta mudança tem duplo objetivo: um ideoló-
gico e outro eleitoral. O primeiro visa desenvolver a atividade
sindical do movimento, difundindo entre os integralistas o espí­
rito corporativo e expandindo as organizações sindicais-corpora-
tivas; o segundo volta-se para um objetivo mais imediato, prepa­
rando a organização das eleições através da inscrição eleitoral de
militantes e simpatizantes com vistas à candidatura de Plínio Sal­
gado à Presidência da República em 1937.
Esta mudança marca o início de uma mutação estratégica
do integralismo e o desencadamento do processo de negociação
(27) Resolução n.° 168, Monitor Integralista, 5(15), outubro de 1936.

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177
com o poder estabelecido. O movimento abandona suas preten­
sões “revolucionárias” e torna-se um partido político. O Depar­
tamento da Milícia transforma-se em Secretaria de Educação
(moral, cívica e física); a Câmara dos Quarenta, pela natureza
de sua composição interna, revela uma disposição de obter pres­
tígio e respeitabilidade junto às elites econômicas e políticas.
Esta passagem de uma posição de antagonismo em relação
ao poder estabelecido para a de negociação será fatal ao movi­
mento. Vargas utiliza-se maquiavelicamente da mudança de com­
portamento da A.I.B., obtendo, senão a colaboração do Inte-
gralismo, ao menos sua cumplicidade, na instauração do Estado
Novo, em 1937 (28).
Os novos órgãos executivos da A.I.B., decorrentes da reor­
ganização do Congresso de 1936, possuem as características que
seguem. O Departamento da Milícia, ou mais tarde, a Secretaria
de Educação (moral, cívica e física), “dirige todas as Forças
Integralistas (F.I.)” e impõe a estrutura paramilitar da A.I.B.,
enquadrando todas as “Forças Integralistas (F.I.)”. Inspira-se
nos moldes do Exército, conforme a orientação do seu organiza­
dor, o Capitão Mourão Filho (20), que acabara de concluir o
Curso do Estado-Maior do Exército. A Milícia se organiza sub­
dividida em “comando” e “tropa”: o primeiro como órgão de
direção e o segundo de execução. A direção suprema da Milícia
pertence ao Chefe Nacional enquanto Chefe das “forças integra­
listas da Terra, Mar e Ar”, contando com a colaboração do Se-
cretário Nacional responsável pela Milícia Integralista e pela

(28) A Ação Integralista, conscientemente ou não, fornecerá, através


do Plano Cohen o pretexto para a implantação do Estado Novo. O falso
plano de subversão comunista no Brasil foi elaborado, segundo os integra­
listas, como documento “de estudo interno” pelo Chefe do Estado-Maior
da Milícia e, ao mesmo tempo, membro do serviço secreto do Exér­
cito, o capitão Mourão Filho. Este documento, por intermédio de outro
militar, cai cm mãos do Ministro da Guerra, o general Goes Monteiro, e
será difundido pelo governo através da Rádio Nacional como um plano
apreendido pelas Forças Armadas. Salgado, embora tenha reconhecido o
documento de Mourão por ocasião de sua divulgação, declara “que não
o desmentiu publicamente para não colocar cm dúvida um documento
divulgado sob a responsabilidade do Estado-Maior do Exército”: “Eu não
podia desmoralizar a única força organizada que nós ainda possuíamos
para combater o comunismo”, Entrevista com Plínio Salgado, Brasília, de­
zembro de 1969.
(29) O capitão Olympio Mourão Filho era Chefe do Estado-Maior
da Milícia Integralista, sob as ordens do Comandante da Milícia, o his­
toriador Gustavo Barroso.

178
Tropa de Proteção, bem como do Chefe do Estado, com a res­
ponsabilidade pela “preparação e execução das decisões do Alto
Comando” (30). Esta mesma estrutura se reproduz ao nível re­
gional com suas ramificações locais.
A Milícia se organiza em quatro seções: a primeira seção
ocupa-se da correspondência, controle da organização (estatística,
efetivo, disciplina e justiça (inquéritos e promoções); a segunda
seção, do serviço de informações; a terceira seção, da instrução
militar e elaboração dos planos de operações militares; e a quarta
seção, do setor de material e serviços. Portanto, a função da
Milícia não é apenas de preparar os integralistas para os desfi­
les e a cultura física, mas desenvolver um verdadeiro treinamen­
to militar, desde a instrução de “técnica, tática e moral” até a
elaboração de planos de combate. Aliás, a instrução militar é
compatível com as cinco armas militares que constituem a “tropa”
integralista: infantaria, cavalaria, engenharia, artilharia e aviação.
A tropa organiza-se em três categorias: o militante de pri­
meira linha, o militante de segunda linha e a juventude. A hie­
rarquia da milícia distingue três escalões: os graduados (subde-
curião, decurião e submonitor), os oficiais (monitor, bandeiran­
te e mestre de campo) e os oficiais-generais (brigadeiro-tenente
e chefe nacional). A estrutura da Milícia implantada em 1934
previa as seguintes unidades: decúria (formada por 10 militan­
tes sob o comando de um decurião), o terço (três decúrias sob
o comando de um monitor), a bandeira (quatro terços coman­
dados por um bandeirante) e, finalmente, a unidade mais impor­
tante da milícia, a legião, constituída por quatro bandeiras, sob
o comando de um mestre de campo.
Esta estrutura será transplantada, em 1936, para a organi­
zação da juventude (os “Plinianos”), quando o Departamento
da Milícia transforma-se em Secretaria da Educação. Nesta oca­
sião, ao lado das atividades paramilitares, desenvolvem-se ativi­
dades esportivas, cívicas e de mobilização eleitoral. A linguagem
militar é substituída por uma nova terminologia, mas o essencial
dos objetivos permanece o mesmo. As unidades denominam-se
então “turma, escola, bandeira, academia” e duas novas unida­
des são criadas: os “grupos de academias”, sob o comando de
um Governador de Região e a “Província”, sob a direção do Se­
cretário Provincial da Educação. O Conselho Técnico Nacional

(30) Regulamento do D. N. M., artigo 11(6), maio de 1934.

179
substitui o antigo Estado-Maior, mas as atribuições dos quatro
“setores” permanecem as mesmas das “seções": o primeiro setor
se ocupa do pessoal, arquivos, disciplina e justiça; o segundo, da
proteção ao Chefe e das reuniões integralistas, bem como des
“serviços de investigação, vigilância e informação"; o terceiro,
da instrução, planos de operação e desfiles; e o quarto dos ser­
viços de saúde, material, comunicação e transportes.
Todo integralista, com a idade de 16 a 42 anos, é obrigado
a inscrever-se nas Forças Integralistas, optando pela categoria em
que deseja engajar-se (3l). Se pretende inscrever-se como “mili­
tante de primeira linha”, deve fazer instrução de miliciano du­
rante 60 dias e depois integrar-se numa “decúria". Após ter pre­
enchido uma ficha, onde ficam registradas todas as aptidões do
militante, o candidato presta o seguinte juramento diante do Co­
mandante da Milícia e de algumas testemunhas: “Assentando
praça na Milícia Integralista, em nome de Deus e pela minha
honra eu juro: primeiro, absoluta disciplina aos meus chefes e
perfeita solidariedade aos meus camaradas; segundo, dar a mi­
nha vida, se necessário, pela causa da revolução Integralista; ter­
ceiro, amar, respeitar e fazer respeitar o Chefe Nacional” (32).
Terminada a sua instrução, o militante participa de uma ce­
rimônia pública e solene diante do núcleo da A.I.B., onde uma
nova promessa de fidelidade ao Chefe é feita coletivamente. Em­
bora se denomine “juramento às bandeiras”, trata-se de uma
declaração coletiva de submissão absoluta à disciplina e ao Che­
fe. Após um ritual de tipo militar, todos os futuros milicianos
proclamam: “Em nome de Deus, pela nossa Pátria, pela nossa
Família e pela nossa Honra, nós juramos dar a nossa vida, se
necessário, pela Revolução Integralista Brasileira, amar e res-

(31) Os militantes da A. I. B. devem usar uniforme composto de:


camisa verde, gravata preta, calça preta ou branca, casquetc verde e sa­
patos pretos, e o emblema do movimento (a letra grega sigma) colocado
sobre o braço direito e no casquetc. A obrigatoriedade de usar o uniforme
nas manifestações integralistas é tão rigorosa que o artigo 32 dos Proto­
colos c Rituais declara que “todo integralista é obrigado a ter sempre
pronta, para ser vestida a qualquer momento, a sua camisa verde”. Mes­
mo que ele faça uma viagem de caráter particular deve levar “na mala sua
camisa verde”. Os protocolos prevêcm que no caso de um integralista
ser preso deve pedir à autoridade para tirar a camisa antes de entrar na
prisão, salvo se for uma prisão de caráter político”, Regulamento do
D.N.M., Monitor Integralista, 6 de maio de 1934.
(32) Regulamento do D. N. M., Monitor Integralista, 6 de maio de
1934.

180
III(*)

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(*) Estes dois quadros foram elaborados pelo Comandante da Mi­


(*)
lícia, Barroso (Gustavo), O que o Integralista deve Saber, op. cit., pp.
154-155.

181
IV

HIERARQUI A E 0 R G A NIZAÇAO DA MILÍCIA

TENENTE -
- GENERAL
(COMANDANTE NACIONAL)

GRUPO
BRIGADEIRO DC
LEGIÕES

MESTRE
DE LEGIÃO
CAMPO

BANDEIRANTE BANDEIRA

MONITOR
E TERÇO
SUBMONITOR

DECURIÃO DECÚRIA

SUBDECURI AO SU BDECU RI A

182
peitar e defender as Bandeiras Nacional e Integralista, símbolos
da Pátria gloriosa e da idéia, juramos fidelidade à Doutrina In­
tegralista e disciplina absoluta, sem discussão, aos Chefes” (33).
A organização integralista dispõe ainda de um Departamen­
to de Justiça que tem por objetivo “abrir inquérito e pronunciar
julgamentos” sobre “denúncias ou queixas recebidas sobre faltas
atribuídas a integralistas”. O Departamento é constituído por um
Tribunal Nacional com sete membros e por Tribunais Regionais
e locais responsáveis por julgamento em instância superior. O
comportamento dos integralistas é regulado pelo “Regulamento
de Conduta do Camisa Verde”, onde estão definidos os deveres
e obrigações dos militantes (34) bem como por um código penal
e um código de processo. Deve-se ressaltar que a milícia dispõe
de um regulamento disciplinar especial e de um processo de jul­
gamento fora da competência do Departamento de Justiça.
Sob o controle de diveros serviços de informação interna,
o Departamento de Justiça estimula a delação entre os militan­
tes. Está previsto que os queixosos devem formular suas denún­
cias contra os companheiros faltosos num livro especial (“Livro
dos Queixosos e Denunciantes”). O integralista que, após uma
advertência e uma admoestação, for registrado cinco vezes no
livro durante um ano, será excluído automaticamente da A.I.B.

(33) Regulamento do D.N.M., Monitor Integralista, 6/maio de 1934.


O papel paramilitar da Milícia c das tropas de serviços especiais é indis­
cutível. Èm diversas ocasiões ela entrou em ação nos conflitos de rua
dos quais os mais conhecidos ocorreram em São Paulo (Bauru, em 3 de
outubro de 1934; Largo da Sé, na Capital, 23 de novembro de 1934); no
Rio Grande do Sul (São Sebastião do Caí, em 24 de fevereiro de 1935).
Eliminou inclusive em praça pública um lituano que fizera um atentado
contra o Chefe Nacional. O Manifesto-Programa do Chefe Nacional, pu­
blicado em janeiro de 1936, reserva à Milícia um papel preciso no futuro
Estado Integralista: “O Integralismo, restaurando uma das mais velhas
tradições nacionais, deseja criar no Estado Brasileiro uma força civil, vo­
luntária, nos moldes da lei que instituiu a Guarda Nacional do Império, em
1851. Essa organização não poderá ter a eficiência bélica do Exército e da
Marinha, mas deverá ser suficientemente armada para defender contra o
extremismo, o banditismo, a dissolvência, a anarquia, as famílias em cada
Município, a ordem legal, os princípios democráticos da República, as au­
toridades constituídas, constituindo também uma reserva das forças arma­
das e tendo ainda a missão de criar uma atmosfera de simpatia e de entu­
siasmo nacional pelo Exército, pela Marinha e pela Aviação...”, in
SALGADO (Plínio), Manifesto-Programa de janeiro de 1936, cap. III,
parágrafo 9, p. 8.
(34) Regulamento da Conduta do Camisa Verde, Secretaria de Edu­
cação Moral, Cívica c Física, São Paulo, 1936.

183
A disciplina interna é bastante rigorosa e minuciosamente
regulamentada. O Regulamento de Conduta da “Província” de
São Paulo, por exemplo, define todos os deveres dos integralis­
tas, recomendando que evitem “demonstrações de familiaridade
que são prejudiciais ao respeito hierárquico” (35). Estão previs­
tas mais de sessenta transgressões disciplinares: desde faltas do
gênero “penetrar nos locais reservados ou em que esteja um supe­
rior sem a devida permissão” (artigo 22); “fumar em presença de
superior” (artigo 50) até “introduzir sem licença nas sedes ou
estabelecimentos materiais inflamáveis, armas, munições de guer­
ra” (artigo-37) e “deixar imediatamente de reprimir atos dos
seus subordinados que possam afetar a disciplina” (artigo
65) (3G). Inclusive o comportamento moral dos integralistas é
objeto de controle: o militante está proibido de “tomar bebidas
alcoólicas em lugares públicos, dançar, a não ser em casas parti­
culares ou em festa constituída exclusivamente de integralistas
(...), jogar jogos de azar ou assistir a esses jogos, freqüentar
cassinos” (37).
A Secretaria Nacional de Corporações e Serviços Eleitorais
ampliou o campo de ação do antigo Departamento de Organiza­
ção Política, que se ocupava exclusivamente da orientação c
controle político do movimento (a “polícia” fazia “investigações
sobre as atividades políticas de todos os membros da A.I.B.” e
de “outras correntes ideológicas”), bem como da coordenação
dos setores universitários e femininos. A nova secretaria redefi­
niu suas funções, dirigindo-se especialmente para o campo sin­
dical e corporativo através da ação no meio sindical (“seção de
vanguarda”), formação de líderes e serviço de informações so­
bre as atividades do sindicalismo em geral (3S). Além do setor
sindical, a secretaria tem como função orientar politicamente os
dirigentes e candidatos, controlar o funcionamento dos serviços
do governo e alistar eleitoralmente os integralistas. Seu papel,
entretanto, é mais o de obter informações sobre a vida política
do país (“situação político-social” e “político-militar” (30) do que
(35) Op. cit., p. 3.
(36) Op. cit., pp. 5-10.
(37) Protocolos e Rituais, artigo 33, Monitor Integralista, 15 de
outubro de 1936.
(38) Regulamento da S.N.C. c S.E., art. 11, Monitor Integralista,
15 de outubro de 1936.
(39) Regulamento do S.N.C. c S.E., artigo 19, Monitor Integralista,
15, outubro de 1936.

184
orientar a ação. Nesta secretaria encontra-se também o Depar­
tamento Nacional de Estudantes que organiza os integralistas per­
tencentes a estabelecimentos de ensino em todos os níveis, o
Departamento Feminino e os “Plinianos”, órgãos paramilitar da
juventude integralista.
O Departamento de Doutrina amplia suas funções em 1936,
transformando-se em órgão central de orientação doutrinária e
de pesquisas do movimento. Dispõe de um setor responsável pela
orientação ideológica, encarregado de zelar pela ortodoxia da
doutrina, exercendo censura sobre todas as publicações integra­
listas. Dentre os novos setores, o mais importante e que con­
firma a hipótese do caráter pré-estatal da estrutura da A.I.B.
é o departamento criado com a finalidade explícita de fazer estu­
dos “para a organização do futuro Estado Integral” (*°). O novo
Departamento divide-se em vários grupos de trabalho: desde o
responsável por estudos de “economia política”, “corporações”
e “relações exteriores” até os que se ocupam com “segurança pú­
blica”, “defesa nacional”, “comunicações e transportes”. Por­
tanto não é somente um núcleo de reflexão teórica, mas um se­
tor voltado diretamente para a preparação de quadros políticos
e projetos integralistas destinados à implantação do Estado In-
gral (41).
O Departamento de Propaganda executa os planos de di­
vulgação do movimento concebidos pelos órgãos superiores. O
Departamento organizou, como instrumento de propaganda, “um
corpo de oradores autorizados” para serem enviados às confe­
rências e reuniões públicas” (’2). Um serviço de censura do pró­
prio Departamento responsabiliza-se pelo controle das informa-

(40) Regulamento do S.N.C. c S.E., Monitor Integralista, 15, out./


1936.
(41) Por exemplo, a “seção da justiça” elabora projetos sobre a
“organização judiciária”, “o processo e regime penitenciário” e o “direito
substantivo privado”; “a .seção de Defesa Nacional, sobre a Marinha e
Exército”; “a seção de Relações Exteriores, sobre a organização consular,
representação diplomática e a política sul-americana”. Regulamento da
S.N.C. e S.E., artigos 10, 12 e 17, Monitor Integralista 15, outubro de
1936.
(42) O partido nacional-socialista alemão dispunha desde l920, para
sua propaganda, de um grupo de “oradores de recrutamento”, do qual
fazia parte Hitler. MASER (Werner), Naissance du Parti National Socia­
lista Allemand, Paris, Fayard, 1967, p. 177.

185
ções e propaganda no âmbito da A.I.B. e pode retirar a autori­
zação de qualquer orador acusado de desvio ideológico (*3).
O objetivo do Departamento da Cultura Artística é mais am­
bicioso, já que tem a incumbência de criar, difundir e controlar
as atividades artísticas e culturais do integralismo. Na primeira
estrutura, de 1934, foram organizadas as divisões de música, de
belas-artes e de arquitetura. Estes órgãos eram responsáveis pela
criação de uma arte nacional inspirada em motivos brasileiros
e — no domínio da escultura e das artes decorativas — pela de­
finição de um “estilo brasileiro” para os monumentos, estátuas,
móveis e decorações interiores. O objetivo mais ambicioso, po­
rém, foi atribuído à divisão de arquitetura que devia conceber o
“estilo arquitetônico integralista” (...). Quando, em 1936, o
Departamento foi transformado em Secretaria, as quatro divisões
desdobram-se em sete departamentos (Música, Belas-Artes, Artes
Cênicas, Artes Plásticas, Artes Decorativas, Artes Arquitetônicas,
Urbanismo e Rádio). O controle sobre as atividades deste con­
junto de órgãos é assegurado por uma “comissão de censura” (“).
Enfim, o Departamento de Finanças gera os recursos finan­
ceiros da A.I.B., oriundos oficialmente da “Taxa do Sigma”,
instituída em janeiro de 1935, que obriga todos os militantes a
pagar uma quota mensal, com exceção dos membros de organi­
zações da juventude. Como o sistema de imposto interno não
se revela sempre muito eficaz, a A.I.B. utilizou-se de outras
fontes de financiamento: campanhas financeiras internas (“cam­
panha do ouro”), contribuições de industriais e comerciantes, in­
tegralistas ou simpatizantes, que queriam colaborar com um mo­
vimento anticomunista (45).

(43) O art. 124 dos Protocolos c Rituais prevê a criação cm cada


Província, com aprovação do Chefe Nacional, “de um corpo de oradores
integralistas, os quais tem a responsabilidade de propagar a doutrina c o
pensamento do Chefe Nacional”.
(44) Regulamento do DNCA, art. XVI, Monitor Integralista, 6 de
maio de 1932.
(45) Segundo o testemunho de um dirigente integralista de São
Paulo, para estimular os homens de negócios hesitantes cm darem dinheiro
para a A.I.B., os milicianos, durante a noite, escreviam slogans ou dese­
nhavam símbolos comunistas sobre os muros de suas casas. Também cola­
boraram com a A.I.B. os grandes proprietários ou usineiros do Nordeste,
com o objetivo de desenvolver núcleos integralistas nas regiões ameaçadas
de explosão social. Cabe também não esquecer a hipótese de ajuda externa.
O testemunho do Conde Galcazzo Ciano, ministro dos Negócios Estran­
geiros da Itália c genro de Mussolini, no seu diário, em 9 de novembro de

186
A reorganização de 1936 implantou novas secretarias, tais
como Secretaria de Imprensa, de Assistência Social, de Relações
Exteriores, de Arregimentação Feminina e dos Plinianos. O órgão
responsável pela imprensa tem como função orientar e coordenar
as atividades jornalísticas da A.I.B., através de diversos setores
especializados (político, econômico, financeiro, sindical, militar e
administrativo), ao passo que a Secretaria de Assistência Social
destina-se a prestar ajuda e socorrer os integralistas e, se possí­
vel, a população cm geral, graças aos serviços de saúde e da
“Cruz Verde’’. A Secretaria de Arregimentação Feminina e dos
Plinianos é responsável pela orientação e desenvolvimento dos
setores feminino e da juventude. A divisão feminina encarrega-
-se de ensinar um trabalho às mulheres integralistas, bem como
desenvolver seu nível de instrução através de cursos de alfabeti­
zação, puericultura, datilografia, economia doméstica, boas ma­
neiras. A divisão da juventude atribui-se como missão “reunir,
disciplinar e educar, através da escola ativa, todos os brasileiros,
de ambos os sexos, até 15 anos de idade, de modo a realizar o
seu aperfeiçoamento moral, cívico, intelectual e físico’’ (46). As
relações com o exterior, que eram estabelecidas pelo Gabinete do
Chefe Nacional, transferem-se para um novo órgão: a Secretaria
das Relações Exteriores. Além de dedicar-se ao estudo da histó­
ria diplomática e da política internacional e da reformulação do
sistema de formação do pessoal diplomático, a nova secretaria
destina-se principalmente à criação de núcleos de divulgação dos
métodos de ação dos partidos de esquerda na América Latina (’7).
O resultado das atividades do setor de relações internacionais é
a fundação de um pequeno número de grupos integralistas, for-

1937, confirma esta possibilidade: “Ma tra paesi mi interessano: la Spagna,


che deve rcpprescntarc la prolungazione delFAsse (sulTAtlantico), il Brasi-
le, per scuotcrc tuto il sistema democrático sud-amcricano, la Polonia,
trincca anti-russa (...). II Brasilc bisogna lavorarlo súbito (e ho telegrafato
a Lojacono. Da circa un anno finanzio gli integralisti con 40 contos al
mese"). Entretanto, a extensão desta ajuda não foi até o presente suficien­
temente estudada mas parece que não foi decisiva para o funcionamento
da A.I.B., como observava um cx-dirigcntc: “O movimento se autofinan-
ciava com contribuições. Tomava o dinheiro do burguês, através de ações,
donativos, etc.’’. Entrevista com Rui Arruda, São Paulo, 1969.
(46) Regulamento da S.N.A.F. c P., artigo 1, Monitor Integralista,
15 dc outubro de 1936.
(47) Regulamento da S.N.A.F. e P., 15, Monitor integral,sta. outu-
bro dc 1936.
187
mados por brasileiros residentes no exterior, bem como o desen­
volvimento de relações com os movimentos nacionalistas e fas­
cistas europeus C8).

3 — A SOCIALIZAÇÃO IDEOLÓGICA

A organização integralista desempenha também o papel de


um instrumento de socialização político-ideológico dos militantes
e de preparação dos futuros cidadãos do Estado Integralista.
Além da função de formação ideológica, desempenhada especi­
ficamente pelos órgãos responsáveis de difusão doutrinária (Se­
cretaria de Imprensa e Propaganda), a organização da A.I.B. pre­
vê uma série de mecanismos e atividades destinadas à transmis­
são de valores, símbolos e estilos de comportamento compatíveis
com a concepção de sociedade e Estado integralistas. Estes agen­
tes de socialização ideológica articulam-se entre si para assegurar
o aprendizado político-ideológico dos militantes, desde o nasci­
mento do futuro integralista até a idade adulta, através de um
complexo de rituais e instrumentos de formação intelectual, mo­
ral, cívica e física. Os dirigentes integralistas, conscientes da im­
portância dos “agentes socializadores”, desenvolvem-nos minu­
ciosamente, inspirados nos movimentos fascistas europeus. A
tarefa fundamental era criar o hábito de obediência aos chefes
e da submissão às estruturas autoritárias. Portanto, não se tra­
tava, como pretendiam alguns dirigentes integralistas, de simples­
mente copiar “certas formas exteriores do fascismo’’, mas de
adotar os mecanismos básicos da formação totalitária fascista.
O integralismo atribui muita importância aos símbolos. En­
tre estes, o principal é a letra grega sigma maiúsculo, que pre­
tende simbolizar a idéia de que o movimento pretende ser um
“somatório”: “ela lembra que o nosso Movimento é no sentido
de integrar todas as Forças Sociais do País na suprema expressão
da Nacionalidade”. Além desta interpretação, os Protocolos in-

(48) Um exemplo desta atividade é a Mensagem do Centro Latino-


-Americano de Munique de orientação nacional-socialista, enviada ao
Chefe Nacional e publicada na revista integralista Panorama, cm junho
de 1936. Esta mensagem enfatiza “a necessidade de uma união cada vez
mais efetiva e prática entre os países latino-americanos e de uma reforma
política”. Este comitê presidido por um brasileiro de origem germânica,
Dr. Nicola de Flue Gut, compõe-se de representantes da maioria dos
países latino-americanos.

188
vocam outras singificações ao símbolo: “é a letra com„a qual os
primeiros cristãos da Grécia indicaram a palavra Deus , ou tam­
bém a “estrela Polar do hemisfério sul”. Este símbolo principal
do integralismo encontra-se gravado na bandeira e em todos os
emblemas integralistas (,9). A divisa da que evidencia
a ênfase dada a certos valores, é “Deus, Pátria e Família”.
A saudação entre os militantes integralista é feita com o
braço direito levantado, como nos fascismos europeus, movimen­
to este que é acompanhado por uma palavra de origem indígena,
“Anauêl”, significando na linguagem tupi, um grito de guerra e
um gesto de saudação (“você é meu parente”). O gesto é reser­
vado às manifestações de alegria ou respeito. Os Protocolos re­
gulam minuciosamente os tipos de saudação conforme as cir­
cunstâncias e a posição na hierarquia do movimento. O gesto
de saudação consiste normalmente em “levantar bruscamente o
braço direito, distendido para a frente, até a posição vertical,
servindo a cabeça de ponto de referência. A palma da mão vol­
tada para a frente, com os dedos unidos” (50). Os Protocolos
prevêem detalhadamente todas as formas possíveis de saudação:
o militante saúda de pé, parado ou em movimento; de maneira
individual ou coletiva, — salvo se o integralista estiver doente, a
cavalo, em carro, bonde ou bicicleta, isto quando não se tratar
de uma saudação à bandeira nacional, à bandeira integralista ou
ao Chefe da A.I.B. A exclamação “Anauêl” pode ser também
pronunciada “nas marchas para maior vibração dos Camisas-
- Verdes, nos comboios em marcha e nos momentos graves de
luta, como clarim de rebate e de vitória” (51). Nas saudações
coletivas o Chefe Nacional tem direito a três “anauês”, os mem­
bros do Conselho Supremo, da Câmara dos Quarenta, os Secre­
tários Nacionais, os dirigentes arquiprovinciais e os chefes pro­
vinciais, a dois “anauês” e , finalmente, as autoridades regionais
e locais a um só “anauê”. Também está previsto que nas sole-
(49) Protocolos e Rituais, artigo 12, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937. A bandeira azul tem ao centro uma esfera branca na qual
se inscreve um sigma maiúsculo em preto, ao passo que o emblema que
devem ostentar na manga da camisa todos os integralistas consiste de um
sigma preto colocado sobre o mapa do Brasil azul, envolvido por um
círculo prateado.
(50) Protocolos e Rituais, artigo 52, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937.
(51) Protocolos e Rituais, artigo 56, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937.
189
nidades de grande importância, “Deus — o Criador do Universo
— será saudado com quatro “Anauês”, somente pelo Chefe na­
cional” (52).
O capítulo consagrado à organização das sedes da A.l.B.
é um bom indicador da rigidez da estrutura integralista. Em
todos os núcleos integralistas está previsto um tipo padrão de
sede onde tudo está regulamentado: na sala principal é obrigató­
ria a presença de um retrato do Chefe nacional, colocado entre
a bandeira integralista e a bandeira nacional, cruzada; um mapa
do Brasil sobre o qual é desenhado um sigma em preto; uma
mesa longa, para que os dirigentes possam assistir às sessões, e
disposta de tal forma que o retrato do Chefe lance seu olhar
sobre a reunião. Os slogans nas paredes são sempre os mesmos:
“O integralista é o soldado de Deus e da Pátria, homem novo do
Brasil que vai construir uma grande Nação.” Deve existir em
cada sala um relógio de parede, sobre o qual será fixada a se­
guinte frase: “A nossa hora chegará.” Além disto, é sugerida a
formação de uma pequena biblioteca à disposição dos militantes,
com os principais documentos da A.l.B. (Manifesto de Outubro,
os Estatutos da A.l.B., Diretrizes Integralistas, Manifesto-progra-
ma do Chefe Nacional, regulamentos das Secretarias Nacionais
e Conselho Técnico Nacional, Protocolos e Rituais, Constituição
e o Código Eleitoral, a partitura musical do Hino Integralista e
a coleção do Monitor Integralista) e a criação de uma galeria
de retratos dos mártires integralistas. Se as sedes dispõem apenas
de uma peça, outros retratos são admitidos com a condição de
que sejam menores que o do Chefe, e quando a sede for um na­
vio cujo comandante é integralista, deve haver em sua cabina um
retrato do Chefe. Os Protocolos admitem que seja colocada na
sede a imagem de Cristo crucificado, “como símbolo do sacrifício
por um ideal devendo essa colocação ser feita sem nenhum ce­
rimonial” (53).
Os rituais ocupam um papel central na socialização ideoló­
gica dos militantes e têm início já no batismo cristão. A ênfase
espiritualista de ideologia explica a existência de um rito espe­
cial para batizados realizados “nos templos e lugares cristãos”.
O integralista que deseja batizar seu filho conforme o ritual inte­
gralista, deve pedir a colaboração do Chefe local. Os parentes e
(52) Protocolos c Rituais, artigo 76, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937.
(53) Protocolos c Rituais, artigo 88, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937.

190
padrinhos da criança bem como os membros locais da juventude
integralista são obrigados a assistir a cerimônia, ostentando o
uniforme integralista. Dois “plinianos”, de pé, manterão a ban­
deira integralista desfraldada durante o batismo e no fim da ce­
rimônia religiosa, a criança deve ser envolta na bandeira integra­
lista e o pai ou o padrinho pronunciam as seguintes palavras
perante os assistentes: “Companheiros! Ele recebeu o primeiro
sacramento da Fé Cristã sob a égide do Sigma. Ao futuro
pliniano o seu primeiro “Anauê”. Os presentes responderão:
“Anauê!” (51).
Os ritos de iniciação à militância do movimento desenvol­
vem-se na organização da juventude (“plinianos”). O processo
de iniciação começa aos quatro anos de idade e continua até aos
15 anos, época de ingresso definitivo na milícia. Durante este
período, os “plianianos” passam por quatro grupos diferentes,
conforme sua idade: “de 4 a 6 anos inscrevem-se na categoria
dos “infantes”; de 6 a 9 anos nos “currupiras”; de 10 e 12 anos,
no grupo dos “vanguardeiros” e de 13 a 15 anos, tornam-se
“pioneiros” (55).
O método “integral” de socialização ideológica das crianças
abrange a totalidade de suas atividades graças a uma formação
dirigida e autoritária. A instrução dada aos “plinianos” visa a
desenvolver a personalidade e o sentimento cívico, estimular a
educação física (práticas de esportes, excursões, posseios) e in­
telectual (instrução primária, educação moral e profissional) (5fi).
A organização dos “plinianos” comporta várias divisões: a divi­
são de estudos (jardim de infância, alfabetização, escolas profis­
sionais); a divisão educação, (educação integralista de acordo
com o “Abecedário do Pliniano”, educação moral e cívica, no-
(54) Protocolos c Rituais, artigo 155, Monitor Integralista, 5(18),
abril dc 1937.
(55) Esta organização dos “Plinianos” é semelhante à do fascismo
italiano: “De 4 a 8 anos, os jovens italianos fazem parte do grupo “Filhos
da Loba” (criado em 1931). Aos 8 anos, começam as coisas sérias. Os
meninos ingressam nos “Balilla” c recebem uniforme, armas fictícias, par­
ticipam em desfiles e paradas, para dar-lhes o gosto pela vida cm comum
e pela atividade militar. Durante este tempo as meninas recebem uma
formação física c cívica no grupo das “Pequenas Italianas”. A partir dos
14 anos, os meninos tornam-se “Avanguardisti”, as meninas “Jovens Ita­
lianas”, isto até a idade dc 18 anos, quando todos são integrados nas
juventudes fascistas”, in BERSTEIN (S.) et MILZA (P.), L’Italie fasciste,
Paris, Colin, 1970, pp. 213-214.
(56) Regulamento da S.N.A.F. e P., artigo 38, Monitor Integralista,
n.' 15, outubro dc 1936.

191
ções de direito integralista, educação sanitária e esportes); a di­
visão férias e a divisão escotismo (instrução “paramilitar”, com
uma seção técnica para elaboração de planos de “operações" e
um “acampamento-escola" com o objetivo de ensinar como se
tornar “chefe" (57). A submissão autoritária é transmitida atra­
vés da rigidez da hierarquia baseada na obediência absoluta aos
chefes. As unidades de enquadramento são inspiradas na orga­
nização da milícia: “decúria, terço, bandeira e legião". Cada uni­
dade divide-se em comando (os graduados: “subdecurião, de-
curião e submonitor" e os oficiais: “monitor" e “guia") e tropa.
Os meninos e as meninas devem usar uniforme (camisa verde,
calça branca ou azul, sapatos pretos, casquete negro ou chapéu
de escoteiro) e um equipamento para acampamento da tropa.
Mais significativo porém é o aprendizado do culto ao Chefe
Nacional, que começa por uma série de juramentos de fidelidade
feitos à idade dos 6 anos. Se os “infantes" são recebidos segundo
o ritual dos escoteiros, os “currupiras" devem prestar o primeiro
juramento: “Prometo ser um soldadinho de Deus, da Pátria e
da Família; prometo ser obediente a meus pais, ser amigo de
meus irmãos, colegas e companheiros; prometo ser aplicado nos
estudos para tornar-me útil a Deus, à Pátria e à Família" (58).
O segundo juramento é prestado quando o pliniano se torna
“vanguardeiro". Trata-se de um juramento à bandeira nacional
que obriga a criança, aos 10 anos de idade, prometer sacrifício
pela Pátria: “Bandeira da minha Pátria! Prometo servir ao Bra­
sil — na hora da alegria e na hora do sofrimento — no dia da
glória e no dia do sacrifício ." (50). Após a passagem pelos
“vanguardeiros" durante dois meses, o pliniano deverá fazer ao
Chefe Nacional e à bandeira integralista o mesmo juramento dos
milicianos.
O ingresso dos adultos na Ação Integralista segue também
certos ritos. Todo candidato deve ser apresentado por um inte­
gralista regularmente inscrito e preencher os formulários avaliza­
dos pelo proponente. Cumpridas as formalidades de inscrição,
a autoridade integralista lhe faz a seguinte pergunta: “Já pensou
maduramente na responsabilidade que vai assumir?" Se a res­
posta for positiva, acrescenta: “Considero-o inscrito; deverá, po-
(57) Ibid.
(58) Regulamento S.N.A.F. e O., art. 43, Monitor Integralista, n.°
15, outubro de 1936.
(59) Regulamento S.N.A.F. c P., art. 33, Monitor Integralista, n.°
15, outubro de 1936.

192
rém, esperar noventa dias para prestar juramento, em homena­
gem ao Chefe Nacional que o esperou desde 7 de outubro de
1932”. Na hipótese de o integralista ser dispensado do estágio
de três meses, a autoridade dirá então: “dispensei-o do estágio;
deverá, porém, esperar cinco minutos para prestar o juramento”.
Posteriormente, o juramento é prestado solenemente na sala das
reuniões diante do retrato do Chefe Nacional, testemunhado no
mínimo por 10 integralistas, devendo o neófito proclamar: “Juro
por Deus e pela minha honra trabalhar pela Ação Integralista
Brasileira, executando, sem discutir, as ordens do Chefe Nacio­
nal e dos meus superiores”. A autoridade responderá: “Integra­
listas! Mais um brasileiro entrou para as fileiras dos Camisas-
-Verdes. Em nome do Chefe Nacional o recebo e convido os
presentes a saudá-lo segundo o nosso rito: Ao nosso novo com­
panheiro — Anauê!”.
Outro ritual, previsto para certas reuniões, é o diálogo que
o Chefe Nacional estabelece com os miltiantes:
— Brasileiros! De quem é o Brasil?
— É nosso!
— Integralistas!
— Pronto!
— Quem poderá deter a marcha do exército verde?
— Ninguém.
— Camisas-Verdes!
— Pronto!
— Pelo Brasil! Futura Potência entre as Pçtências, que nós
construiremos com a energia do nosso espírito, com a força
de nosso coração e com a audácia do nosso braço, três
Anauês!
— Anauê! Anauê! Anauê! (co).
Os Protocolos integralistas não esquecem nenhuma cerimô­
nia importante. Nos casamentos de integralistas, a noiva precisa
estar vestida, na cerimônia civil, com uma blusa verde, embora
no casamento religioso admite-se um vestido clássico com um
emblema integralista do “lado do coração”. O noivo, porém,
deve casar com uniforme do movimento. Também existe um
ritual para as cerimônias fúnebres de integralistas. Um miliciano
é designado para fazer guarda de honra ao integralista morto.
(60) Protocolos c Rituais, artigos 123, 145, 146, Monitor Integralista,
5(18), abril dc 1937.

193
cujo esquife deve estar envolto na bandeira integralista. O ritual
do sepultamento é o seguinte: diante dos militantes uniformiza­
dos que compareceram à cerimônia, o integralista mais gradua­
do proclama: “Integralistas! Vai baixar à sepultura o corpo do
nosso companheiro, transferido para a Milícia do Além." Após
um minuto de silêncio ele faz a chamada do morto: “Compa­
nheiro (fulano de tal)!” Todos os integralistas respondem: “Pre­
sente!” E ele acrescenta: “No Integralismo ninguém morre! Quem
entrou neste movimento imortalizou-se no coração dos Camisas-
-Verdes! Ao companheiro fulano de tal três Anauês!” E todos
respondem: Anauê! Anauê! Anauê!” (CI).
Os Protocolos integralistas instituem também rituais espe­
ciais para certas datas históricas do movimento. As três celebra­
ções mais importantes são: A Vigília da Nação, A Noite dos
Tambores Silenciosos e As Matinas de Abril. A primeira come­
mora o Primeiro Congresso Integralista de Vitória, em 28 de
fevereiro; a segunda, a data da proclamação do Manifesto Inte­
gralista em 7 de outubro de 1932, e a terceira, a lembrança do
primeiro desfile integralista, em São Paulo, em 23 de abril de
1933 (62).
Quando é celebrado, em fevereiro, o aniversário do Con­
gresso de Vitória, a autoridade integralista que preside a sessão
deve interrompê-la precisamente às 21 horas e convidar os pre­
sentes a se levantarem. Após haver pedido um minuto de silêncio,
“concentrando o pensamento em Deus e na Pátria, pedindo a Deus
que inspire o Chefe, proteja os Integralistas, abençoe a bandeira
azul e branca do sigma e conduza os Camisas-Verdes ao triun­
fo. . pronuncia as seguintes palavras: “O Integralismo está
vivo em todo o território da Nação Brasileira. A Pátria despertou.
Pelo Brasil grande e forte, ergamos três Anauês!” Todos os assis­
tentes respondem: “Anauê! Anauê! Anauê!” A cerimônia ter­
mina com o juramento de fidelidade ao Chefe Nacional.
A Noite dos Tambores Silenciosos é um ritual comemora­
tivo ao lançamento do Manifesto de Outubro e, ao mesmo tempo,
uma forma simbólica dos integralistas manifestarem seu desa­
cordo pela extinção da Milícia pelo governo (°3). É uma

(61) Protocolos c Rituais, art. 163 c 170, Monitor Integralista, n.°


15, outubro dc 1936.
(62) Ibid., art. 166 c 167.
(63) Protocolos e Rituais, artigos 166 c 167, Monitor Integralista,
n. 15, outubro de 1936.

194
longa cerimônia que se inicià as 21 horas e deve durar até a
meia-noite, sendo celebrada simultaneamente em todas as sedes
integralistas do País, sob a presidência do “Integralista mais
pobre, mais humilde, que representará o Chefe Nacional”. Após
a execução do hino, é feita a “chamada dos mártires do Integra-
lismo e dos mortos do Núcleo, respondendo todos: Presente!”.
Em seguida são lidos alguns capítulos do Manifesto de Outubro
para os assistentes. Finalmente, um discurso alusivo à data é
pronunciado por um militante, devendo terminar à meia-noite,
quando a cerimônia atingirá o clímax. Neste momento, a autori­
dade local pronuncia as frases seguintes: “É meia-noite. Em
todas as cidades da imensa Pátria, nos navios em alto mar, nos
lares, nos quartéis, nas fazendas e estâncias, nas choupanas do
sertão, nos hospitais e nos cárceres, os Integralistas do Brasil vão
se concentrar três minutos em profundo silêncio. É a noite dos
Tambores Silenciosos! Atenção!” (G‘). Durante estes três mi­
nutos de meditação, o rufar surdo de um tambor lembra a proi­
bição da milícia e os integralistas lêem, em silêncio, uma oração
que lhes foi distribuída. “A mística do ato é deveras impressio­
nante”, observa um ex-chefe provincial do Rio Grande do Sul,
“atingindo ao paradoxismo”, após a caixa surda rufar durante
três minutos — o presidente da sessão explica: É a voz da Pátria,
que ninguém pode abafar. É o culto dos nossos mortos. É o
culto de Deus, da Pátria e da Família, da Grandeza Nacional, o
anseio pela ressurreição da Raça e pela alvorada de um Povo.
Esta voz é um pranto e um apelo! . .” (65). Em seguida, com
o objetivo de provocar um sentimento de solidariedade entre os
membros do movimento, o presidente da sessão declara que a
mesma cerimônia acaba de ser celebrada em todas as cidades do
país e que o Chefe Nacional está discursando na Capital Federal:
“a sua voz exprime o Pensamento e o Sentimento de um milhão
de camisas-verdes vigilantes” nos três mil núcleos integralistas
“cujos corações batem, como um milhão de tambores que
nenhuma força poderá fazer calar”. A cerimônia termina com
a declamação da poesia de Jaime de Castro, “A Noite dos
Tambores Silenciosos” pelo melhor declamador do núcleo:
(64) Os Protocolos c Rituais mencionam quatorze nomes de “márti­
res integralistas” mortos na defesa do sigma, Monitor Integralista, art. 86,
parágrafo IX.
(65) BITTENCOURT (Dario), O Integralismo e seus Poetas. Porto
Alegre, datilog., 1936, Tese apresentada no Congresso da Academia de
Letras do Brasil, Rio, maio de 1936, p. 11.

195
“Zero hora no cronômetro integral
De toda a imensa vastidão da Pátria.
Nas cidades, nos mares, nos sertões.
Um trágico bater de caixas surdas
É a noite dos tambores silenciosos. . .
Três minutos, o rufo, no silêncio,
traduz um grande apelo e um grande choro
e simboliza os nossos corações.
A alma da Pátria, inteira, está em nós,
segredando que estamos vitoriosos.
Somos neste momento a própria Pátria,
e distinguimos, no rumor da voz
que vem do íntimo da alma dos tambores,
um soluço de angústia, nacional.

Agora, é a voz do Chefe que escutamos. . .


Ante as legiões sem fim, ele anuncia
a vitória completa, e diz que ali
é que começa a verdadeira luta.
Sacode intenso frêmito as legiões:
fá-las vibrar num ímpeto de júbilo. .
E as mãos que se estorciam nas angústias
de um século de doida expectativa,
se ergueram para o céu num arremesso
de alegria, de glória e redenção.
E entre os muito milhões de braços verdes,
elevaram-se os braços dos descrentes,
dos tíbios, dos perversos, dos inúteis:
e a interjeição de espanto que tiveram
foi o grito de nossa saudação!”

O ritual mais bizarro, porém, é o das “matinas de abril, em


comemoração à primeira marcha integralista. Todos os anos, no
dia 23 de abril, os integralistas se reúnem numa praça antes da
aurora, voltados na direção do sol levante. Quando o sol co-

196
meça a surgir, a autoridade que dirige a cerimônia pronuncia as
seguintes palavras aos presentes: “Camisas-Verdes! Em saudação
ao Brasil, levantar o braço!” Trata-se de um rito de adoração
silenciosa ao sol que nasce. Os militantes, adorando silenciosa­
mente o sol, permanecem nesta posição durante alguns minutos.
Embora a origem desta liturgia talvez remonte ao culto pagão dos
indígenas pelas forças das naturezas, ela pretende simbolizar a es­
pera do grande dia. O mestre de cerimônia pronuncia a seguir a
fórmula: “Camisas-Verdes! Este sol iluminou quatro séculos da
História Brasileira, iluminou a primeira marcha dos integralistas
e iluminará a vitória do sigma! Assim como esperamos hoje esta
alvorada, aguardamos confiantes o Dia do Triunfo! Pelo Brasil!
Pelo Estado Integral, três Anauês! (. . .). Finda esta declaração,
um clarim ou uma banda de clarins executará lentamente uma
alvorada” (66).
Resta ainda mencionar a última forma de socialização po-
lítico-ideológica dos militantes: as canções e as marchas para os
desfiles e reuniões integralistas, cujo conteúdo procura transmitir
certos temas e valores ideológicos. As principais são o hino oficial
da A. I. B., intitulado “Avante!”, de autoria do Chefe Nacional;
as marchas da milícia (“Anauê! Anauê!”) e da juventude inte­
gralista (“A Marcha dos Plinianos”).
O hino oficial, impregnado de otimismo patriótico, proclama
a crença no futuro da Pátria, e lança um apelo à juventude:

“Avante! Avante!
Pelo Brasil toca a marchar
Avante! Avante!
Nosso Brasil vai despertar
Avante! Avante!

Eis que desponta outro arrebol


Marcha que é primavera.
Que a Pátria espera,
É o novo sol!
Eia, avante, Brasileiro, mocidade varonil
Sob as bênçãos do Cruzeiro
Anauê pelo Brasil!”

(66) Protocolos e Rituais, artigo 169, Monitor Integralista, n.° 15,


outubro de 1936.

197
No fim, na última estrofe, a juventude é convidada a se
engajar:
“Olha a Pátria que desperta,
Mocidade varonil,
Marcha, marcha e brada alerta,
Anauê pelo Brasil.”
A mesma exaltação patriótica está presente na marcha da
juventude:
“O Brasil acordou para a glória
Nós já somos a Pátria que vem
Eia! Avante para a História
Os Plinianos já marcham também.”

“Para a frente marchemos, marchemos


Vai conosco um Brasil grande e forte
Pela Pátria morreremos
Nossos bravos não temem a morte.”
A marcha da milícia, porém, é uma incitação à ação e à luta
contra os inimigos de Deus e da Pátria:
“Brasileiros, marchemos, marchemos!
Não se vence temendo perigo!
Os traidores da Pátria esmagaremos!
Enfrentemos os vis inimigos!
Companheiros de todo o Brasil
Anauê! Anauê seja o grito
E o soldado de peito viril
Tenha o braço de ferro e granito
Na defesa da Pátria e de Deus
A enfrentar as batalhas estóico
E na guarda da terra dos seus,
Seja bravo, integral, forte e heróico.”

Portanto, apesar da diferença entre o nacionalismo europeu


voltado para a glória do passado e o nacionalismo integralista
dirigido para o futuro, esses cantos estão impregnados de
valores fascistas de exaltação à juventude, à luta, à virilidade
e ao dinamismo.

198
CAPÍTULO III

A IDEOLOGIA

O estudo global da ideologia integralista supõe a análise


sistemática de cinco níveis principais. No primeiro nível situam-
-se os fundamentos doutrinários da ideologia integralista que se
elaboram a partir de uma concepção do homem, da sociedade e
da história; no segundo, as características da organização social
e política do Estado integral; no terceiro, a definição dos adver­
sários a combater: o liberalismo, o socialismo, o capitalismo
internacional e os judeus; no quarto, a posição dos teóricos
integralistas face ao fascismo europeu; e, finalmente, no quinto,
a análise das atitudes ideológicas dos militantes.

1 — FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS DO
INTEGRALISMO

Se no fascismo italiano “o fato precedeu à doutrina”, no


integralismo ocorreu o inverso: a ação integralista tem a pre­
tensão de se apoiar numa ideologia baseada numa concepção
do universo c do homem. Neste sentido, os principais teóricos
integralistas fizeram um esforço sistemático para definir os fun­
damentos filosóficos do movimento que, apesar do seu ecletismo,
deve ser analisado previamente para melhor compreensão da
ideologia.

a — O homem, a sociedade e a história


A ideologia integralista repousa sobre uma concepção do
homem e da sociedade esboçada no Manifesto de Outubro que

199
se apóia em dois postulados doutrinários: o do humanismo
espiritualista e o da harmonia da vida em sociedade.
A primeira frase do Manifesto proclama que “Deus dirige
os destinos dos povos” (x). Esta concepção providencial da
história relaciona-se com a crença no progresso moral do ser
humano: “o homem deve praticar sobre a terra as virtudes que
o elevam e o aperfeiçoam” (2). Por conseguinte, dentro da ética
integralista de inspiração cristã, o valor do homem deve ser
avaliado “por seu trabalho e seu sacrifício em favor da Família,
da Pátria e da Sociedade” (3).
A partir deste humanismo espiritualista se elabora a con­
cepção da vida social que aspira a um retorno do ideal medieval
de uma sociedade harmoniosa: “Os homens e as classes podem e
devem viver em harmonia (. . .). Todos os homens são susce­
tíveis de harmonização social e a superioridade que existe acima
dos homens é a sua comum e suprema finalidade” (4). A har­
monia social resulta da organização hierárquica da sociedade, em
função das diferenças naturais que existem entre os homens. Na
sociedade integralista, harmonia e hierarquia são indissociáveis.
Em -consequência, o fundamento espiritualista da ideologia inte­
gralista inspira-se na concepção tradicional da doutrina social
católica. Neste aspecto doutrinário o integralismo aproxima-se
muito mais dos fascismos conservadores — o português (Sala-
zarismo), o espanhol (Falange Espanhola) e o belga (Rexismo)
— que do espiritualismo vago do fascismo italiano ou ido
agnosticismo nacional-socialista alemão (5).
A filosofia integralista considera “o universo, o homem, a
sociedade e as nações de um ponto de vista totalitário” (6). A
(D SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit., p. 1.
(2) Ibid.
(3) Ibid.
(4) Ibid.
(5) Ver sobre este tópico SALAZAR (Antonio Oliveira), Une Révo-
lulion dans la Paix, Paris, Flamarion, 1937; PRIMO DE RIVERA (José
Antonio), Obras Completas, Diana Ed., 1942; ETIENNE (Jean Michel), Le
Mouvement Rexiste Jusqu’en 1940, Paris, Colin, 1968 (Sobretudo cap. III,
“L’Idéologie Rexiste”); MUSSOLINI (Benito), La Doctrine du Fascisme,
Florence, Vallechi Edit., 1938 (sobretudo cap. I, “Idées Fondamcntales");
HOFER (Walther), Le National-socialisme par les textes, Paris, Plon, 1963
(Sobretudo o cap. IV, “Nacional-Socialisme et Christianisme”).
(6) SALGADO (Plínio), O que é o Integralismo, Rio, Editora Star,
1933, pp. 23-24. É bom salientar que todos os teóricos integralistas aceitam
esta concepção “totalitária”. Olbiano de Mello considera que a natureza
humana é composta de três dimensões: “a unidade biológica, a unidade
afetiva e a unidade espiritual”, in MELLO (Olbiano de), Concepção do

200
organização social integralista estrutura-se integrando três tipos
de grupos naturais: o grupo familiar, o grupo profissional e a
unidade política local. As relações que se estabelecem entre eles
constituem a tessitura orgânica da sociedade: “O homem, se­
gundo Salgado, tem deveres biológicos ligados à sua própria
manutenção e à propagação da espécie. Nasce, então, a socie­
dade familiar”. Nenhum Estado pode intervir nesta sociedade
“que é autônoma e autodeterminativa. Mas o homem necessita
de trabalhar. O trabalho para o integralismo é sagrado. É
uma cooperação do homem com Deus. O homem para exercê-lo
encontra dificuldades devido à organização econômica do mundo
liberal. A fim de defender o seu direito ao trabalho e para
escapar às exigências patronais, às explorações de trustes e
monopólios, o trabalhador se organiza em um outro grupo
natural, o sindicato. Contudo estes grupos naturais têm neces­
sidade de uma base física e esta é a unidade política local, o
“município” (7).
A concepção do homem e da sociedade integra-se através
da definição da finalidade histórica do integralismo, que quer
modelar o homem, a sociedade, a nação e a humanidade de uma
maneira integral. Numa passagem de seu livro O que é o Inte-
gralismo Plínio sintetiza sua doutrina: “O homem deve realizar
suas aspirações materiais, intelectuais e morais; a sociedade deve
funcionar harmoniosamente: a Nação, como autoridade efetiva,
manter o equilíbrio entre o Homem e a Sociedade; e, finalmente,
a Humanidade, objetivar o seu superior destino de aperfeiçoa­
mento” (s).
Contudo, o ideal da harmonia social não é um fato perma­
nente na evolução da história da humanidade. A filosofia da
história integralista apóia-se, ao contrário, numa interpretação
maniqueísta da evolução da humanidade onde se defrontam con­
tinuamente o homem contra o homem, o bem contra o mal, o
materialismo contra o espiritualismo. Salgado descreve dramati­
camente a luta dos primeiros tempos da humanidade: “No co­
meço a batalha foi desordenada e cruel. Inspirada nos instintos,
deflagrou em pilhagem e homicídio. Depois, tornou-se astúcia
e violência” (°).
Estado Integralista, Rio, Schmidt, 1935, p. 17. Barroso refere-se ao “homem
integral, corpo, razão e espírito”, in BARROSO (Gustavo), O Integralismo
em Marcha, Rio, Schmidt, 1933, p. 21.
(7) Entrevista com Plínio Salgado, Brasília, dezembro de 1969.
(8) SALGADO (Plínio), O que é o Integralismo, op. cit., pp. 26-27.
(9) Ibid., p. 15.

201
O confronto permanente entre bem e mal explica-se, segundo
Salgado, pela oposição entre duas concepções de vida e de fina­
lidade: o materialismo e o espiritualismo. Quando o espiritua-
lismo predomina, a luta se atenua, porque fatores de apazigua­
mento (a bondade, a solidariedade humana, o senso estético e
religioso) entram em sua composição; quando, porém, reina o
materialismo, prevalecem os fatores de desagregação humana
(o orgulho, a vaidade, a rebelião, a indisciplina) que são as
causas do desaparecimento das nações e das civilizações.
Uma interpretação integralista global da história da humani­
dade foi desenvolvida especialmente por Salgado e Barroso. Eles
tentam estabelecer grandes períodos da história com a finalidade
de situar a vocação histórica da A. I. B. Salgado, em seu livro
A Quarta Humanidade, publicado em 1934, estabelece as linhas
fundamentais da evolução da humanidade através dos tempos, e o
historiador Gustavo Barroso, em seu ensaio de 1935. O Quarto
Império, define o contexto histórico dessa evolução. Os dois
teóricos, seguindo caminhos diferentes, fixam os princípios gerais
da nova era integralista que encaminhará a humanidade à sua
realização total.
A idéia central de Salgado é que a humanidade produziu
três tipos básicos de sociedade que, embora não sejam sempre
cronologicamente sucessivos no tempo, caracterizam três fases da
evolução humana. A primeira, da “humanidade politeísta”, que
existiu até o surgimento do cristianismo: seu princípio básico era
o da fusão dos clãs, crenças e causas. A segunda, da “humani­
dade monoteísta”, baseada no princípio da integração que se
desenvolve historicamente na Idade Média: na “segunda huma­
nidade” todos os elementos fusionado.s da primeira se combinam
numa “idéia totalitária que abarca toda a compreensão do
Universo e de todos cs movimentos humanos” (10). Finalmente,
a “terceira humanidade”, cujo advento coincide com o Renas­
cimento, é a “humanidade ateísta”, .fundada no princípio da
“desagregação” e que explica o caos do mundo moderno. O
autor descreve dialeticamente como a primeira fase da huma­
nidade (politeísta) produz as duas outras antinômicas (mono­
teísta e ateísta), que darão origem ao advento da “Quarta
Humanidade”. A nova era humana será a síntese, onde “se
realize o Homem Integral penetrado do sentido profundo do
Cosmo, como a Primeira Humanidade; iluminado pelo Verbo
(10) SALGADO (Plínio), A Quarta Humanidade, in Obras Comple­
tas, vol. V, São Paulo, Ed. das Américas, 1955, p. 33.

202
Divino, como a Segunda; senhor dos elementos, como a Ter­
ceira" (n).
Barroso retoma em seu ensaio as três fases descritas por
Salgado e atribui nomes simbólicos a cada uma delas: a primeira
seria o "Império do Carneiro"; a segunda é o "Império da
Loba"; a terceira, o “Império do Capricórnio", e a quarta, o
"Império do Cordeiro". Embora o objetivo do integralismo
fosse a realização do "Quarto Império", que representa a síntese
econômica, política e espiritual da humanidade, a preocupação
central de Barroso é descrever o papel nefasto dos judeus nos
diversos períodos históricos e, ao mesmo tempo, demonstrar a
solidariedade entre os movimentos nacionalistas e fascistas em
todas as partes do mundo (12).
Portanto, essa concepção integralista da evolução humana
inspira-se numa filosofia da história que crê no aperfeiçoamento
progressivo da humanidade: "a história, segundo Salgado, é a
crônica do desenvolvimento e da transformação do Espírito dos
Povos numa aspiração de perfectibilidade” (13). O integralismo
rejeita, pois, a concepção evolucionista que reduz a história a
uma seleção natural da espécie, assim como considera as
concepções hegeliana (14) e individualista como fragmentárias, na
medida em que não captam "a marcha contínua do espírito" (15).
(11) Ibid., p. 11. Plínio profetiza que a “Quarta Humanidade” terá
sua base física na América Latina c que a “raça cósmica" que fecundará
esta nova civilização terá como traços fundamentais: agudeza dos instintos
graças à sua origem étnica indígena; bondade extrema que caracteriza os
povos infantis; profunda espiritualidade e tenacidade na luta, nascidas da
conquista da terra e da luta contra a exploração econômica.
(12) Barroso tem sobre estes dois temas uma posição diferente da
de Salgado, que não concorda com o radicalismo anti-semita de Barroso,
nem procura enfatizar as semelhanças entre o integralismo e o fascismo.
A preocupação de originalidade do chefe integralista leva-o a enfatizar
mais as bases nacionais do integralismo do que seu mimetismo com relação
aos movimentos fascistas europeus.
(13) SALGADO (Plínio), Psicologia da Revolução, Rio, Livraria
Clássica Brasileira, 1953, p. 14.
(14) Apesar desta crítica, Salgado utiliza frequentemente a demarche
hegeliana em suas análises: “As sociedades espiritualistas acusam índices
de materialismo; das sociedades materialistas despontam traços de espiri-
tualismo. É esse o aspecto geral dos séculos e nenhum pode fugir dessa
fatalidade. É que não se compreende a tese sem antítese.” Em outra pas­
sagem, classifica a filosofia de Hcgcl entre as correntes espiritualistas: “A
corrente dos neo-hegelianos, idealistas c dialéticos, prossegue aproximando-
-se das correntes espiritualistas, cuja expressão dominante é a neo-cscolás-
tica.” SALGADO (Plínio), A Quarta Humanidade, op. cit., pp. 36 e 91.
(15) SALGADO (Plínio), A Psicologia da Revolução, op. cit., p. 14.

203
O desenvolvimento histórico deve, na interpretação de Sal­
gado, conciliar a idéia e o fato; a autonomia do espírito não pode
estar em contradição com os fatos. A filosofia da história inte­
gralista pretende harmonizar o determinismo histórico e o livre-
-arbítrio. Se ela proclama que “o indivíduo é autônomo porque a
idéia é autônoma”, ela afirma contudo que “o primado da idéia
não exclui seu ajustamento ao ritmo objetivo dos fatos” (,0)- Em
suma, Salgado tenta, a partir de fundamentos espiritualistas,
reconciliar o papel da personalidade excepcional com a dinâmica
da evolução histórica: seu sistema eclético integra o voluntarismc,
a providência e a dialética.
O processo histórico desenvolve-se em dois planos: o pri­
meiro, “coletivo, global, movimento de massa”, é a “marcha
inconsciente dos povos”; o segundo, “individual, singular”, é “a
ação individual do homem, provocando as impulsões renovado­
ras” (17). Estes dois planos são autônomos, mas não separados.
A faculdade criadora do homem resulta de sua relação com a
evolução coletiva. Em conseqüência, a história é, para o inte-
gralismo, uma sucessão de fatos sob a influência da “Idéia
Criadora” que provoca o progresso histórico. Esta autonomia
da idéia no plano individual não exclui, dentro da visão inte-
gralista, o naturalismo histórico ao nível coletivo e a ação
providencial na evolução da humanidade.

b — A “Revolução Integral”
A ligação entre a filosofia da história e a concepção do
homem e da sociedade se estabelece através da idéia da Revo­
lução. Salgado expõe no ensaio Psicologia da Revolução a
posição integralista face ao fato revolucionário na história e
define sua concepção de revolução integral.
Parte da premissa que “o progresso do Espírito Humano
realiza-se ao ritmo das revoluções” (1S). Considerando esses
acontecimentos como um dado da evolução histórica, inter­
preta-os sem nenhum juízo de valor, como “fatos naturais” ou
como “necessidades históricas”.
O fundamento dessa interpretação do fato revolucionário em
geral está na noção de equilíbrio social, provavelmente buscada
(16) SALGADO (Plínio), A Psicologia da Revolução, op. cit., p. 15.
(17) SALGADO (Plínio), A Psicologia da Revolução, op. cit., p. 16.
(18) SALGADO (Plínio), Psicologia da Revolução, op. cit., p. 13.

204
em Pareto. Todos os teóricos integralistas estão de acordo com
a idéia de que a evolução social se faz por rupturas e pelo con-
seqüente restabelecimento do equilíbrio. A revolução, neste sen­
tido, seria um instrumento para destruir o equilíbrio da socie­
dade em crise e, ao mesmo tempo, fonte de um novo equilíbrio.
Reale não interpreta a história como uma seqüência har­
moniosa de acontecimentos, mas como “equilíbrios provisórios
que se formam e desaparecem para se recomporem os fatos em
novos equilíbrios" (10). Mello chega à mesma conclusão através
de uma interpretação que faz derivar do mundo físico. O fenô­
meno revolucionário aparece quando deixa de existir a ordem
natural na sociedade: “A revolução é a passagem definitiva de
um certo equilíbrio social, que não mais poderá ser mantido,
para um novo equilíbrio" (20). Salgado, na mesma linha de
pensamento, considera que as sociedades, como tudo que obedece
às leis do movimento, tendem ao equilíbrio: a revolução é, pois,
um fenômeno cíclico e permanente, regulador da vida em
sociedade (21).
A doutrina integralista da revolução, desenvolvida mais sis­
tematicamente por Salgado, repousa sobre a idéia de que há
na história dois tipos de fenômenos: de um lado, as “realidades
objetivas" da sociedade, determinadas pelos “fatos históricos"
(“idéia-matéria"), e do outro, elementos “subjetivos", criados
pela “imposição das ideologias e das doutrinas (idéias-força")”.
A revolução é a conjunção entre a “idéia-força" e os “fatos his­
tóricos" na perspectiva de seu desenvolvimento. Pressupondo-se
que a “idéia-força" não pode contrariar o conteúdo substancial

(19) REALE (Miguel), Actualidades de um Mundo Antigo, Rio,


José Olympio, 1936, p. 34.
(20) MELLO (Olbiano de), Concepção do Estado Integralista, op.
cit., p. 23.
(21) A concepção integralista de revolução é muito semelhante à de
Mussolini: “Uma revolução, afirma o Duce, não é inteiramente contida
num episódio insurrecional. A insurreição é uma fase da Revolução, mas
não é sempre a primeira.’’ Adiante, ele precisa que “como todas as criações
do espírito, as revoluções não tomam imediatamente consciência delas mes­
mas, de sua possibilidade e de suas necessidades (...). Mas, depois, o
choque entre o passado c o futuro torna-se sempre mais preciso e mais
inexorável; a lógica da necessidade, a lógica da vida, em suma, impõe a
todo mundo uma escolha e torna-se necessário tomar posição na batalha;
as idéias c os programas de compromisso tornam-se impossíveis e absurdos:
a Revolução segue seu caminho; cria suas leis e funda seu regime”, in
MUSSOLINNI (Benito), La Première Êpoque de la Révolution (1925),
Oeuvres Completes, Vol. VI, Paris, Flammarion, 1935-8, pp. 107-108.

205
do “fato histórico” (22), a eclosão da Revolução depende da
“oportunidade histórica”, cuja decisão cabe ao “herói", ao
“super-homem” (23). Na sua opinião, torna-se obrigatório que
uma atmosfera de luta envolva a idéia: a hora da ação soa para
o homem quando a idéia aceita toda sua força “irradiando o
magnetismo de sua energia”. Neste momento é que o homem
de ação, portador da idéia revolucionária, “necessita ser agredido
violentamente, porque a luta é a atmosfera das idéias” (2I) e
por esta razão, “é preciso transformar o adversário passivo no
inimigo ativo” (25).
Finalmente, Salgado tenta compartilhar sua interpretação do
processo revolucionário com sua concepção espiritualista da his­
tória. Recusa-se a integrar ecleticamente o “mundo da idéia" e
o “mundo do fato” na sua visão da história. O sistema busca
sua coerência no fato de que ambos os mundos procedem do
Espírito Absoluto e que é necessário inseri-los dentro de um t

(22) “A Revolução é o trânsito de uma posição de equilíbrio para


uma nova condição de equilíbrio”, in SALGADO (Plínio), Psicologia da
Revolução, op. cit., p. 31.
(23) “O “herói” de Carlyle, como o Super-Homem de Nietzsche,
não é mais do que o intérprete oportuno na hora de ruptura de um equi­
líbrio social anterior, determinando a angústia da procura de um novo
equilíbrio”, ibid., p. 14. É este culto ao homem excepcional que explica
sua admiração por Lcninc. “A Rússia compreendeu Lcnine na hora trá­
gica (...). Lcninc era alguma coisa integral, alguma coisa que falava à
Rússia a linguagem que ela sempre entendeu: a do Absoluto (...). O Co-
letivismo ajoelha-sc diante do Indivíduo”, in SALGADO (Plínio), “O outro
lado do Espírito”, in Madrugada do Espirito, in Obras Completas, vol.
VIII, Editora das Américas, 1955, p. 351.
(24) A exaltação da luta é um dos valores mais caros ao fascismo:
“. . . deve-se saber que eu considero a política como o combate de uma
milícia; eu a considero como uma operação estratégica, no fim da qual
o Estado-Maior tem o grande relatório, a fim de examinar as fases, os
resultados da batalha c de tomar conhecimento dos dados de experiência
que ela comporta”, in MUSSOLINI (Benito), Gerarchia, fevereiro de 1925,
p. 17. Em um discurso feito em 1926, ele retomará a mesma idéia: “Para
nós, fascistas, a vida é um combate contínuo que nós aceitamos com uma
grande simplicidade, uma grande coragem, com a intrepidez necessária”, in
MUSSOLINI (Benito), “Septième anniversairc des faisceaux", 28 de março
de 1926, op. cit., p. 245.
(25) “É então que ele (o homem de ação) terá d: contar com a
resistência de mil adversários. É necessário que ele os irrite, que os pro­
voque, arrancando-os da resistência passiva, da indiferença silenciosa, que
constituem a mais poderosa das armas contra o gênio criador”, in SAL­
GADO (Plínio), Psicologia da Revolução, op. cit., p. 42.

206
I
“concepção integral da idéia”, do fato e do movimento, dando
a este uma importância fundamental” (2G).
As fases da “revolução integralista” são definidas por Ol­
biano de Mello, que as distingue em três fases principais: a
pré-insurreição, a insurreição e a reconstrução. Uma revolução
começa a formar-se lentamente no seio da sociedade e a fase da
pré-insurreição coincide com a passagem da idéia revolucionária
do subconsciente da massa ao nível da “luta entre as forças polí­
ticas, as econômicas e as morais: neste momento surgem os
opressores e os oprimidos. Explode a luta de classe. Inicia-se
a revolução” (27). O equilíbrio social rompido, os antagonismo
ideológicos transformam-se em conflitos sociais e, conseqüente-
mente, o conflito subjetivo torna-se objetivo. A fase da insur­
reição corresponde ao espaço de tempo “entre o término do
período da pré-insurreição e a conquista do novo equilíbrio
social” (28). Finalmente, a fase da reconstrução ocorre quando
estabelecendo-se o equilíbrio, a nova ordem social cria então
suas instituições. A revolução social, portanto, distingue-se da
revolução política; só a revolução social (como a soviética ou
a do fascismo italiano), passa pelas três fases e seu objetivo
fundamental é a transformação do Estado.
Caberia analisar, enfim, a posição do integralismo face à
violência. Os primeiros documentos da A. I. B. não excluem a
possibilidade do recurso a meios violentos de luta. O “Abecedá-
rio do Integralismo Brasileiro”, divulgado em 1933, proclama
que a A. I. B. “prega a ação dentro da lei se for possível, mas não
hesita ante a ação violenta quando preciso” (20). Em 1929,
o integralista Câmara Cascudo escrevia na mesma linha, no
jornal oficial A Offensiva: “o que importa é a vitória. Ela virá
matematicamente certa, pacífica se for possível, violenta, com o
sacrifício do nosso sangue, se a tanto formos levados” (30). En­
tretanto, parece que a hipótese da utilização da violência era
mais uma forma de chantagem contra os adversários e o governo
do que uma disposição imediata e real. Ainda que se tenha cons-

(26) Ibid., p. 143.


(27) MELLO (Olbiano de), Concepção do Estado Integralista, op.
cit., p. 24.
(28) Ibid., p. 25.
(29) SALGADO (Plínio), REALE (Miguel), Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cit., p. 14.
(30) CASCUDO (Câmara); “Progredir ou Desaparecer”, A Offensiva,
31/5/34.

207
tituído, no Rio, uma tendência radical em torno de Belmiro Val-
verde em favor da tomada violenta do poder, por ocasião do
putsch malogrado de 1938, a maioria dos integralistas acreditava
na tomada pacífica do poder, na medida em que o mundo, a seus
olhos, tornava-se fascista. Isto explica a ausência de qualquer
estratégia sistemática de tomada do poder pela força antes do
putsch de 1938. Além disto, os dirigentes integralistas tinham
consciência de que uma defesa aberta do emprego da força era
taticamente negativa, porque contrariava a tendência pacífica tra­
dicional do povo e, em consequência, seria um obstáculo à expan­
são do movimento. Apesar de tudo, a preparação militar da milí­
cia, a exaltação dos valores de luta e os conflitos de rua, provam
também que a violência não era um simples argumento (31).
Mais tarde, por volta de 1935, sob a influência de Salgado,
a posição oficial começa a se modificar (32). O chefe integra­
lista, diante da perspectiva de uma tomada de poder por via elei­
toral, começa a frear o radicalismo do movimento. Os dois textos
que marcam a passagem da fase revolucionária à fase eleitoral
são “A Carta de Natal” (193 5 (33) e o artigo “Técnica de Sorel,
e Técnica de Cristo”. Na primeira, endereçada aos integralistas
pelo jornal A Offensiva, confessa não mais poder controlar seus
aderentes que seriam capazes na “exaltação revolucionária” de
perder o sentido de seu ideal. No segundo, revela o abandono
da técnica de ação soreliana, pela técnica cristã da persuasão e
do exemplo. A partir deste momento, a linguagem de Salgado
identifica-se mais com a de um místico do que com a de um agi­
tador político. Ele considera que o mundo agoniza pela “ausência
(31) A posição do integralismo sobre a violência incorpora, de uma
maneira eclética, elementos do rexismo belga (“A revolução deve ter re­
curso à violência ou meios ilegais”, cf. ETIENNE (Jean Michel), op. cit.,
p. 95); do fascismo italiano (“Vós sabeis qual é minha opinião sobre a vio­
lência. Para mim, ela é perfeitamente moral, mais moral que o compro­
misso e a transição”, MLJSSOLINI (Bonito), discurso de 22 de julho de
1925, op. cit., p. 97); e do nacional-socialismo” (isto que importa, é a
vontade revolucionária que não tem necessidade de muletas ideológicas
(...). O fim? Não tem fim preciso (Hitler)”, citado por MARTIN (Ray-
mond), Le national-socialisme hitlérien, une dictadurc populaire, Paris,
Nouvclles Editions Latines, 1953, p. 34.
(32) Salgado leu Sorel numa tradução espanhola de 1915, c os tre­
chos marcados por ele mesmo em seu exemplar das Réfléxions sur la
Violence revelam seu maior interesse nos capítulos “La Luttc de Classes et
la Violence” e “La Décadcnce Bourgcoisc et la Violence” do que nos
referentes às técnicas da violência propriamente ditas.
(33) SALGADO (Plínio), “Carta de Natal” (1935), in Madrugada do
Espírito, p. 429.

208
do espírito” c sua atitude face à violência se transforma: “para
um povo como o brasileiro, que ama a sua liberdade até ao
delírio, a técnica não pode ser a de Sorel, mas a de Cristo” (3‘).
Procurando reduzir a concepção integralista da revolução a
seus aspectos fundamentais, constata-se que a revolução integra­
lista é simultaneamente ética, elitista e heróica. Ética, porque
um ato moral é subjacente ao processo revolucionário: a busca
humana do absoluto. Todas as revoluções têm “um caráter
ético, uma finalidade moral” (38). Elitista, porque não procede
das “massas” sempre inconscientes, mas do homem excepcional
que encarna a nova idéia engendrada pela elite. O integralismo
apela às “forças intelectuais e morais da sociedade com o obje­
tivo de restaurar o prestígio da inteligência e a primazia do
espírito” (30). Heróica, enfim, porque simboliza “a força, a
juventude e o heroísmo”: “A Revolução é um ato de força, pois,
de juventude. O movimento revolucionário é um movimento
de juventude, de eterna juventude de heróis” (37).

c — O nacionalismo
O manifesto integralista de outubro de 32 atribui uma po­
sição central à idéia nacionalista, procurando “afirmar o valor
do Brasil” e unindo todos os brasileiros num só espírito para

(34) SALGADO (Plínio), “Técnica de Sorel e Técnica de Cristo”, in


Palavra Nova dos Tempos Novos, op. cit., p. 229.
(35) SALGADO (Plínio), Psicologia da Revolução, op. cit., p. 23.
(36) Ibid., p. 148. No prefácio da primeira edição de A Psicologia
da Revolução, Salgado adverte: “Este livro não é um livro para o povo,
mas para os que pretendem influir nos destinos do povo.” Esta concepção
elitista do integralismo encontra-se de uma forma mais explícita nos escri­
tos de Barroso. Este considera que o integralismo não pode atingir seus
objetivos sem a formação de uma nova “elite espiritual” que deve consti­
tuir-se de artistas do espírito nas suas múltiplas expressões.
(37) O tema da juventude é fundamental no fascismo. O intelectual
fascista Brasillach, no capítulo “le mal du siycle, le fascismc. . . ”, do seu
livro Notre avant-guerre, caracteriza bem esta exaltação da juventude:
“1’extravagance des adversaires du fascisme sc trouve avant tout dans cette
méconnaissancc totale de la joie fascistc. Joie qu’on pcut critiquer, joie
qu’on peut même déclarer abominable ct infernalc, si cela vous chante,
mais joie. Le jeunc fascistc, appuyé sur sa racc ct sa nation, fier de son
corps vigoureux, de son esprit lucidc, méprisant des biens épais de ce mon­
de, le jcune fascistc dans son camp, au milicu des camaradcs de la paix qui
peuvent être les camaradcs de la guerre, le jcune fasciste que chantc, qui
marche, qui travaille, qui rêvc, il est tout d’abord un être joyeux”, in BRA­
SILLACH (Robcrt), Notre Avant-Guerre, Paris, Plon, 1941, pp. 282-283.

209
construir uma Nação “organizada, una, indivisível, forte, pode­
rosa, rica e feliz” (38). Este ato de fé nos destinos do Brasil
traduz-se num projeto ambicioso, na medida em que o integra-
lismo se propõe a criar “uma cultura, uma civilização, um modo
de vida genuinamente brasileiro” (30).
Inicialmente, o manifesto de Plínio Salgado apresenta os
fatores que se opõem à realização do seu sonho nacionalista,
situados nos planos político-social e econômico-cultural. O pri­
meiro conjunto de fatores resulta da própria organização jurí­
dica do Estado Liberal: “O Brasil não pode realizar a união
íntima e perfeita de seus filhos, enquanto existirem Estados
dentro do Estado; partidos políticos fracionando a nação; classes
lutando contra classes, indivíduos isolados exercendo ação pes­
soal nas decisões do governo” (i0).
Os fatores de ordem econômico-cultural estão ligados à in­
fluência estrangeira. O Manifesto denuncia o cosmopolitismo que
penetra, sobretudo, na burguesia “fascinada pela civilização que
está periclitando na Europa e nos Estados Unidos” (41). A
influência cosmopolita é o principal inimigo do nacionalismo e
torna-se necessário combatê-la por todos os meios. A descrição
de Salgado sobre infiltração de hábitos importados é trágica:
“Os nossos lares estão impregnados de estrangeirismos: as suas
palestras, o seu modo de encarar a vida, não são mais brasileiros.
Os brasileiros das cidades não conhecem os pensadores, os escri­
tores, os poetas nacionais. Eles se envergonham do caboclo e
do negro da nossa terra. Eles adquiriram hábitos cosmopolitas
(...). Vivem a engendrar tudo o que é de fora, desprezando
todas as iniciativas nacionais (...), céticos, desiludidos, esgo­
tados de prazeres, tudo o que falam esses poderosos ou esses
grandes e pequenos burgueses destila um veneno que corrói a
alma da mocidade. Eles criaram preconceitos ridículos, originá­
rios de países capitalistas, que nos querem dominar, desprezaram
todas as nossas tradições. E procuram implantar a imoralidade

(38) SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit.,


p. 1. A inspiração mussolinista na exaltação nacional é nítida: “Em que
consiste esta grandeza nacional da Pátria, esta palavra que nos inflama,
quando nos pronunciamos? Ela consiste no bem-estar, no prestígio, na
potência da nação italiana”, in MLJSSOLINI (Benito), Discours de Vercelli,
28 de setembro de 1925, p. 113.
(39) Ibid., p. 3.
(40) SALGADO (Plínio), Manifesto..., op. cit., p. 1.
(41) Ibid., p. 2.

210
de costumes. Nós somos contra a influência perniciosa dessa
pseudocivilização, que nos quer estandardizar” (42).
Portanto, a idéia-força principal da ideologia que se impõe
pela leitura do Manifesto é, sem dúvida, o nacionalismo, cujo
conteúdo é mais cultural do que econômico. A idéia nacionalista
aparece neste documento essencialmente como um apelo à toma­
da de consciência nacional, que é simbolizada pelo slogan se­
guinte: “Despertemos a Nação” (*3). Esta palavra de ordem in­
tegralista, inspirada na descoberta das necessidades nacionais e
na valorização de todos os elementos nacionais, estabelece a
transição entre o nacionalismo lírico de Salgado e outras formas
mais agressivas de nacionalismo que irão desenvolver-se.
Seria interessante comparar o nacionalismo definido por
Salgado no Manifesto, como “a profunda consciência das nos­
sas necessidades, do caráter, das tendências, das aspirações da
Pátria e do valor da raça” (“), com expressões de nacionalismo
econômico e anti-semita desenvolvidas por outros teóricos inte­
gralistas. O nacionalismo do Manifesto é o mais ligado ao contex­
to nacionalista dos anos 20 e, apesar de uma politização cres­
cente de seu conteúdo, permanecerá fiel aos mesmos temas: a
exaltação do homem e da terra, da nova raça em formação, da
busca no passado dos fundamentos da civilização brasileira.
Todavia o nacionalismo Pliniano incorpora mais tarde ou­
tras dimensões que não são contraditórias com o nacionalis­
mo do Manifesto mas, revelam sua evolução ideológica e alguns
traços de sua personalidade. Já nacionalismo anticosmopolita,
preponderantemente cultural, contém uma dimensão econômica
ao denunciar a influência nefasta do capitalismo financeiro inter­
nacional: “o controle da nossa vida financeira, sempre exercido
pelos bancos estrangeiros, criou, por sua vez, as mais graves di­
ficuldades internas” (’5). Entretanto, apesar da presença do
elemento econômico, o nacionalismo de Salgado permanece
sobretudo sentimental e literário. Em alguns textos transfor­
ma-se numa espécie de nacionalismo sensual e lírico. O Bra­
sil, segundo Salgado, encontra-se diante do seguinte dilema:
“Ou coordenamos as linhas mestras da nossa nacionalidade, ou
(42) SALGADO (Plínio), Ibid.
(43) “Despertemos a Nação!” é o título de um conjunto de artigos
publicados por Plínio nesta fase marcada por um nacionalismo mais
defensivo do que agressivo.
(44) Ibid.
(45) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., p. 124.

211
falhamos como povo masculino. Porque há povos masculinos
que fecudam, e povos femininos que se deixam fecundar. Am­
bos podem ser belos, como expressão humana, mas o fato é que
um fecunda e outro é fecundado” (lfi). Nas páginas da Geogra­
fia Sentimental, publicada em 1937, uma relação de natureza afe­
tiva estabelece-se entre ele e um Brasil personificado (,7). Em­
bora Reale procure analisar os aspectos sociológicos da Geogra­
fia Sentimental (IS), seus argumentos convencem no perfil que
traça do “gênio intuitivo” do Chefe integralista. Sua “intuição
genial” (49) o conduz, em certas passagens, a um lirismo ingênuo,
sobretudo quando exalta os fundamentos de seu “orgulho nacio­
nal”: “Só mesmo no mapa, Brasil, posso apanhar-te inteiro.
Quando menino impressionavam-me teus rios e montanhas (. . .)•
E gostava de dizer que o maior rio do mundo era teu, o nosso
Amazonas; que a maior cachoeira era a de Paulo Afonso (. .);
ficava triste porque não poderia espichar o Itatiaia até a altura
do Everest. . . (50).
Um dos textos mais expressivos deste nacionalismo român­
tico, contudo, é o de sua viagem através do Rio São Francisco,
onde sua relação com “o rio sagrado” não somente é poética,
mas se torna quase sensual: “São cinco horas da manhã. Meus
companheiros de viagem ainda dormem. Ergo-me para conversar
com o mais brasileiro dos rios. Quero contemplá-lo, longamente,
em silêncio. Quero meditar sobre o seu destino histórico. Cresci,
ouvindo de meu pai três biografias: Osório, Floriano e o rio S.
Francisco.” Depois Salgado identifica-se com o destino do rio:
“sempre pensei em vir ver o São Francisco. Este rio é, para mim,
de uma singificação profunda. Porque tem um destino igual ao

(46) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., p. 68.


(47) Ele declara, no prefácio: “Eu coloquei neste livro todo meu
amor pelo Brasil (...). Há no segredo destas páginas uma força que se
eleva. É com ela que despertei as energias de meu povo (...). Agora,
mais que nunca, preciso amar o Brasil”, SALGADO (Plínio), Geografia
Sentimental, Rio. J. Olympio, 1937, p. 7.
(48) REALE (Miguel), “Estudo Sociológico da Geografia Sentimen­
tal”, in Actualidades Brasileiras, op. cit., pp. 171-190.
(49) “A faculdade intuitiva é mesmo a dominante cm sua psiquê
(...). É um gênio intuitivo por excelência, por isso de difícil interpre­
tação, especialmente se pensarmos que não se manifesta como sociólogo,
político, filósofo e artista em momentos sucessivos, integrando em um todo
complexo e multiforme, as várias tendências e inclinações de seu espírito
e de seu temperamento, Ibid., p. 245.
(50) SALGADO (Plínio), Geografia Sentimental, op. cit., p. 15.

212
meu. Eis o dia do nosso encontro. Esta cena tem para mim uma
grandeza épica". O contato com o rio transforma-se pouco a
pouco num amor quase físico. “Tomei banho na água do S.
Francisco. Andei de canoa no S. Francisco. Bebi água do S.
Francisco. Agora me sinto mais brasileiro." E conclui: “Quero
sentir, no escuro da noite, quando tudo for negro na terra, o
S. Francisco mais perto de mim, para que a minha alma se con­
sole na unidade nacional, que canta no meu sangue. . (51).
Ao lado de seu nacionalismo romântico se desenvolve mais
tarde uma dimensão nova: é o sonho do Império, baseado no
mito da civilização desaparecida de Atlântida. Se no contexto
brasileiro o tema de expansão imperialista não tem sentido em
função das dimensões continentais do território, é curioso ana­
lisar como se transfigura em Salgado a idéia de Império, consi­
derada (®2) traço essencial da ideologia fascista. Este tema apa­
rece (53) sob a forma de expansão da doutrina integralista sobre
o continente latino-americano. “Não me contento com a implan­
tação do Estado Integral no Brasil. Quero que esta idéia se irra­
die por toda a América do Sul (. . .). Quando todos os países
da América do Sul entrarem neste mesmo ritmo, terá chegado

(51) SALGADO (Plínio), Geografia Sentimental, op. cit., pp. 117, 124
e 130. Na ocasião do II Congresso Integralista de Petrópolis, em 1935,
cada delegado leva de sua região um punhado de terra. Na sessão inau­
gural, o Chefe reúne simbolicamente a terra sobre a mesa e com ela faz um
monte que revolve voluptuosamente com seus dedos; é a grande-messe que
celebra perante os representantes regionais do país, cf. HUNSCHE (Karl-
-Heinrich), Der Brasilianische Integralismus, op. cit., pp. 106-114.
(52) Mussolini afirmou num dos seus discursos de junho de 1925
que “a concepção do império é a base de nossa doutrina”, in MUSSOLINI,
op. cit., p. 98. Este aspecto é considerado como inerente aos movimentos
fascistas, segundo a análise de H. R. SOUTHWORTH: . . O movimento
fascista espanhol, a falange, se propunha na Espanha três fins sucessivos:
primeiro, a organização de um movimento fascista; após, a conquista do
Estado pelo movimento; e o terceiro, o objetivo final, a conquista do
Império” (...). ‘‘O elemento determinante no diagrama que propusemos
acima é o objetivo final: a conquista do Império. Os meios para executar:
violência, juventude e nacionalismo”, e conclui ”... só os fascistas, utili­
zando estas armas c perseguindo aqueles objetivos, tinham a intenção de
continuar, após a conquista do Estado, até a conquista do Império”, in
SOUTHWORTH (Herbert Rutledge), ‘‘Qu’est-cc que le fascisme?”, Esprit,
mars, 1969, pp. 423-426.
(53) Barroso também refere-se à idéia de Império: “O Integralismo
brasileiro construirá um grande Império, uma grande República Imperial,
um Grande Império Cristão c sua doutrina integral influenciará os des­
tinos da humanidade”, in BARROSO (Gustavo), O Quarto Império, Rio,
José Olympio, 1935, p. 175.

213
a hora da grande atitude. Esta Revolução Integralista é a Revo­
lução do Continente” (54). Ainda que Salgado não explicite no
que consistirá “a hora da grande atitude”, o integralismo ao me­
nos proclama o imperialismo ideológico.
A idéia de império integralista busca suas raizes em dois
elementos míticos. Salgado pretende tornar-se o novo libertador
da América Latina, inspirando-se no papel de Simon Bolivai,
com o objetivo de proteger o “último Ocidente e construir a
“quarta humanidade”. Estimulado pelo mito de Atlântida, Sal­
gado proclama com eloqüência: “Nós somos o Último Ocidente.
E porque somos o Último Ocidente, somos o Primeiro Oriente.
Somos um Mundo Novo. Somos a Quarta Humanidade. Somos
a Aurora dos Tempos Futuros. Somos a força da Terra (. .).
Aristóteles pensou para nós; Cristo deu-nos a alma: César e Na-
poleão foram nossos precursores; Simon Bolivar o nosso anun-
ciador; a América é o nosso Império; e nós aquele povo longa­
mente esperado. . ” (55). O povo brasileiro, em sua opinião,
veio para realizar uma nova civilização que substituirá a do Oci­
dente moribundo: “Como um sol que vai nascer, ela projeta seus
primeiros clarões. Uma nova luz se anuncia no mundo. É a
Atlântida que ressurge. A nova civilização realizará a grande
síntese. Síntese filosófica, síntese política. Mas, principalmente,
síntese das Idades Humanas” (5C).
O nacionalismo integralista contém também uma dimensão
econômica e antiimperialista. Se esta dimensão não predomina
nos escritos de Salgado, aparece explicitamente nos livros de
Miguel Reale e Gustavo Barroso. Com Barroso o nacionalismo
econômico adquire um conteúdo anti-semita, enquanto Reale,
que vinha do marxismo, situa-se numa posição essencialmente
econômica.
A atitude de Reale com relação ao imperialismo econômico
é clara e violenta: “O imperialismo, na sua opinião, não é a últi­
ma fase do capitalismo, como pensou Lenine. No mundo oci­
dental ele ainda existe, mas há outra força, bem mais poderosa,
a qual não pertence à Nação alguma e está acima das Nações:
o supercapitalismo financeiro” (57). Sua posição significa uma
(54) SALGADO (Plínio), “Palavra Nova dos Tempos Novos", in
Obras Completas, vol. VII, Editora das Américas, 1935, p. 246.
(55) Ibid., p. 288.
(56) SALGADO (Plínio), A Quarta Humanidade, op. cit., p. 77.
(57) REALE (Miguel), O Estado Moderno. Rio, José Olympio, 1934,
p. 119.

214
luta aberta contra o capitalismo porque “defender a Nação sig­
nifica combater violentamente o capitalismo. Nacionalismo sem
anticapitalismo é expressão vazia. Esta luta deve se travar nos
quadros das Nações segundo as experiências do nacionalismo in­
tegral” (58). O tom da linguagem de Reale revela que ele não
pretende ficar somente no plano teórico, mas definir princípios
para a ação, como, aliás, já havia manifestado no prefácio de
O Estado Moderno ao se propor “viver a teoria na unidade in­
dissolúvel do pensamento e da ação” (50).
O nacionalismo de Barroso, todavia, se insere numa atitude
anti-semita radical. Com exceção do conjunto de conferências
publicadas em 1933, sob o título O integralismo em Marcha,
todos os livros posteriores de Barroso estão impregnados de anti-
-semitismo (60). As obras mais significativas na pregação contra
o judaísmo são as seguintes: Brasil, Colônia de Banqueiros e His­
tória Secreta do Brasil, que tem por objetivo demonstrar os efei­
tos nefastos da conspiração judaica em nossa economia. Ele pro­
põe-se a analisar todos os empréstimos contraídos pelo Brasil
junto a bancos estrangeiros sob controle judaico, que tiveram
por resultado aumentar a dependência do Brasil face ao “capi­
talismo judaico internacional”. Segundo Barroso, o judaísmo
apátrida “é um conquistador e um colonizador dos povos (. . .).
Não dá batalhas; realiza empréstimos” (61).
Outro teórico integralista de menor expressão que Barroso,
Butler Maciel, tenta dissociar o nacionalismo do anti-semitismo.
Procura desenvolver a tese, em seu ensaio, que se pode ser nacio­
nalista sem ser necessariamente anti-semita. Evoca dois argu­
mentos para justificar sua posição: primeiro, que a Itália fascista,
embora extremamente nacionalista, não se tornou anti-semita
como a Alemanha; segundo, que não é essencial a uma Nação
constituir-se num “bloco homogêneo do ponto de vista racial”
(82). Neste particular, ele apóia a doutrina integralista do cal-
deamento étnico, presente já no romance O Estrangeiro, pois que
o fundamento de nossa etnia é o cruzamento entre o português,

(58) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 123.


(59) Ibid., p. 8.
(60) O anti-semitismo de Barroso será analisado com mais detalhes
na parte consagrada aos inimigos do integralismo.
(61) BARROSO (Gustavo), O Espírito do Século XX, Rio, Civili­
zação Brasileira, 1934, p. 94.
(62) BCJTLER MACIEL (Anor), Nacionalismo, Porto Alegre, Ed.
Globo, 1937, p. 112.

215
o índio e o negro. Sua concepção de nacionalismo postula que
uma nação é constituída por um povo fixado sobre uma base
territorial mas que, ao lado do território, deve estar presente uma
dimensão espiritual: uma coletividade em marcha à busca de um
ideal (63). O autor condena, porém, a formação dos guetos es­
trangeiros que recusam ser assimilados pela Nação e cita como
exemplo o problema dos imigrantes alemães que, em função da
legislação nacional-socialista, poderiam beneficiar-se de uma du­
pla nacionalidade (6‘). Butler Maciel, no entanto, ao final de
seu livro, define uma atitude nacionalista agressiva, como a
“energia na defesa do Brasil brasileiro, contra a formação de gru­
pos étnicos diferentes em seu meio” e termina pela proclamação:
“Vamos reagir” (65).

(63) Apesar das distinções teóricas de Butler Maciel, o autor, ao


sugerir uma política de imigração, propõe “a análise e a investigação antro­
pológicas” para determinar a origem racial dos imigrantes. Ele defende a
inclusão deste dado na ficha de entrada do imigrante, porque nenhum
judeu que entrou no Brasil até agora foi contado nas estatísticas oficiais
de acordo com sua origem étnica, mas somente de acordo com sua nacio­
nalidade de origem. “Como admitir-se, pondera Butler Maciel, que acei­
temos os imigrantes sem perguntar sua origem étnica, se os judeus, sabida­
mente, formam uma raça que se mantém no seio nacional como um corpo
estranho, formando um “enquistamento”? Ibid., p. 141.
(64) Este problema provocou questões delicadas na zona de coloni­
zação alemã no Sul do País, especialmente no Rio Grande do Sul e Santa
Catarina. Muitos militantes de origem alemã e italiana entraram no inte-
gralismo pensando que se tratasse de um movimento brasileiro inspirado
nos movimentos ideológicos fascistas de sua pátria de origem. Como mos­
tram as investigações da polícia política da época (apesar das reservas que
se deve fazer a esse tipo de informações), o Partido Nacional-Socialista
Alemão e o Partido Fascista Italiano tiveram militantes ativos nas colônias,
espccialmente entre os imigrantes nascidos no estrangeiro ou que queriam
preservar a pureza da raça. Os resultados das investigações encontram-se
nos seguintes documentários: SILVA PY (Aurélio), O Nazismo no Rio
Grande do Sul (Relatórios Secretos I e II), A Quinta Coluna no Brasil,
Porto Alegre, Ed. Globo, 1942; LARA RIBAS (Capitão Antonio de) e
KLEHNE (João), Um Punhal no Coração do Brasil, Florianópolis, 1943
(onde está inserido um capítulo com o sugestivo título “O Integralismo
Nazi-Fascista em Santa Catarina”). Mas deve-se ressaltar que um grande
número de descendentes de imigrantes se opuseram abertamente à propa­
ganda nazi-fascista e lutaram pelos ideais integralistas sem nenhuma vin-
culação com movimentos estrangeiros. Inclusive para os que tinham difi­
culdade de livros integralistas em português, alguns textos foram tradu­
zidos para o alemão: SALGADO (Plínio), Was ist der Integralismus? e
WENCESLAU JUNIOR (J.), Der Integralismus leichtwerstaudlich fiir alie,
Curitiba, Impressora Paranaense, 1936.
(65) BUTLER MACIEL (Anor), Nacionalismo, op. cit., p. 148.

216
2 — A ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA

Os teóricos do integralismo concordam que o objetivo prin­


cipal do movimento é a implantação do Estado Integral. A idéia
central é de que “revolução” integralista realiza-se pela transfor­
mação do Estado (co). Contudo, a leitura dos documentos e
obras integralistas revela uma defasagem entre o grau de elabo­
ração da teoria do Estado e o papel que lhe é atribuído na so­
ciedade integralista. Quando se compara o Manifesto de 1932 e
o Abecedário de 1933, que são os dois primeiros documentos
ideológicos oficiais do integralismo, esta defasagem aparece niti­
damente. No Manifesto, redigido por Salgado, o Estado Integra­
lista ocupa um lugar secundário e sua caracterização é bastante
vaga, enquanto que no Abecedário, cujo relator é Reale, a con­
cepção de Estado é o núcleo central do discurso ideológico e
seu conteúdo mais jurídico e preciso.

a — A concepção de Estado
A comparação da idéia de Estado nos dois primeiros do­
cumentos integralistas coloca o analista diante de duas concep­
ções diferentes. A idéia de Estado inserida no Manifesto é a de
uma superestrutura autoritária, coroando a concepção espiritual-
-nacionalista contida no discurso ideológico. O Estado seria so­
mente o regulador do equilíbrio social indispensável à vida do
homem em sociedade. O Abecedário, no entanto, considera que
o princípio fundamental do integralismo “é o de cooperação das
forças produtoras nacionais para a realização progressiva do Es­
tado Integral” (ü7). O Estado, portanto, torna-se o princípio e
(66) A idéia de Estado é o núcleo principal da concepção fascista
definida por Mussolini: “A força do fascismo, afirma o Duce, consiste
no seguinte: ele toma a parte vital de todos os programas e tem a força
de realizá-la. A idéia central de nosso movimento é o Estado: o Estado
é a organização política e jurídica das sociedades nacionais e se manifesta
por uma série de instituições de natureza diferente. Nossa fórmula é a
seguinte: tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado."
(MUSSOLINI, Discours du Théâtre de la Scala à Milan, cm 28 de outubro
de 1925, pp. 129-130). Entretanto, o Estado Integralista se é “forte” no
sentido italiano, quer ser um Estado espiritualista no sentido espanhol:
“Um Estado, como afirmava um texto da Falange, totalitário e missionário:
totalitário na estrutura e missionário em sua inspiração católica e em sua
obra de educação e orientação”, in PRE DE SAINT-MAUR (Jean de),
La Phalange Espagnole, Paris, Thèse, I.E.P., 1951, p. 55.
(67) SALGADO (Plínio); REALE (Miguel), Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cit., p. 8.

217
o fim do universo ideológico integralista, cuja estrutura é descri­
ta genericamente no documento.
A formação católica de Salgado leva-o a valorizar mais a
reforma do homem do que a do Estado; Reale, ao contrário,
vindo do marxismo, coloca o Estado no centro de suas preocupa­
ções. O Manifesto de Salgado atribui a Deus a condução do des­
tino dos povos, enquanto que a idéia subjacente no Abecedário
de Reale é que ao Estado cabe esta função. Na realidade, os
modelos do Estado propostos pelos dois teóricos do integralismo
fundamentam-se sobre bases diferentes. Para Salgado, ele resulta
da organização dos grupos naturais dentre os quais o mais im­
portante é a família, enquanto que para Reale, a base da cons­
trução estatal é a organização sindical. Poder-se-ia qualificar o
primeiro modelo de Estado familial-corporativo e o segundo de
Estado sindical-corporativo (°8).
A concepção de Estado no Manifesto supõe a anterioridade
dos direitos do homem e da família com relação aos do Estado:
“O homem não pode transformar-se em uma abelha ou em ere­
mita. Ele é centro de uma gravidade sentimental. O Homem e
a sua família precederam o Estado. O Estado deve ser forte para
manter o homem íntegro e a sua família. Pois a família é que
cria as virtudes que consolidam o Estado. A liberdade moral da
família é o sustentáculo da liberdade e da força do Estado. O
Estado mesmo é uma grande família, um conjunto de famílias”.
Para o chefe nacional, a legitimidade do Estado provém de sua
natureza familiar: “Com este caráter é que ele tem autoridade
para traçar rumos à Nação. Baseado no direito da família é que
o Estado tem o dever de realizar a justiça social, representando
as classes produtoras” (60).

(68) Barroso prefere a expressão “Estado social-totalitário integral”,


in BARROSO (Gustavo), Integralismo em Marcha, op. cit., p. 81. A con­
cepção de Salgado busca sua inspiração no tradicionalismo tomista, en­
quanto que a de Reale repousa na versão italiana do fascismo.
(69) SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro, 1932, op. cit., p. 5.
A ênfase dada por Salgado ao papel da célula familiar aparece também
num artigo de 1934 intitulado “A Revolução da Família”, onde ele afirma
que se a Revolução Francesa proclamou os Direitos do Homem, a russa
os Direitos da Classe e a fascista os Direitos do Estado, a integralista pro­
clama os Direitos da Família, in SALGADO (Plínio), Madrugada do
Espirito, op. cit., p. 411. Neste particular, o integralismo se aproxima do
Fascismo Belga (Rcxismo), no qual a família é reconhecida como “uma
das comunidades naturais constitutivas do Estado”, in ETIENNE (Jean
Michel), op. cit., p. 94.

218
Na concepção de Salgado, a família também garante a auto­
nomia da organização política de base: o município. Na lingua­
gem do Manifesto, o município define-se como uma reunião de
famílias. “O município é sede das famílias e das classes” (70).
Neste nível da organização política é que o voto se torna livre e
consciente. Por esta razão, os municípios devem ser autônomos
em tudo que concerne a seus interesses e seu destino (71). Na
cúpula deste conjunto hierarquizado os grupos naturais, consti­
tuídos por famílias, sindicatos e municípios, situa-se o Estado
Integral.
A concepção estatal de Salgado busca suas raízes na reali­
dade nacional adaptada, na sua opinião, às necessidades do ho­
mem brasileiro. Ele procura compatibilizar seu modelo familiar-
-corporativo com o nacionalismo: “Pretendemos tomar como
base o homem de nossa terra, na sua realidade histórica, geográ­
fica e econômica”. A partir deste dado de base, ele infere seu
sonho nacionalista: “Desse elemento biológico e psicológico, de­
duziremos as relações sociais, com normas seguras de direito, de
pedagogia, de política econômica, de fundamentos jurídicos. Co­
mo cúpula desse edifício, realizaremos a idéia absoluta, a síntese
da nossa civilização: na filosofia, na metafísica, na literatura, na
pintura, na escultura, na arquitetura, na música, como conclusão
suprema do sentido do espírito nacional e humano” (72).
Finalmente, a estrutura e o funcionamento do Estado inte­
gral estão descritos de maneira vaga no Manifesto: “A Nação
tem necessidade de se organizar em classes profissionais” (73).
“Cada brasileiro se inscreverá na sua classe. Estas classes ele­
gem, cada um por si, seus representantes nas Câmaras Munici­
pais, nos Congressos Provinciais e nos Congressos Gerais (. . ).
Esses representantes todos devem ser de absoluta confiança de
cada classe, vindo seus nomes indicados pelos Conselhos Muni­
cipais, Provinciais e Nacionais, saídos também do Partido Único
(70) SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit., p. 6.
(71) A valorização da autonomia municipal inspira-se na tradição
portuguesa, sobretudo nas idéias de Sardinha e do “Integralismo Lusitano”.
Ver sobre este ponto SARDINHA (Antônio), A Sombra dos Pórticos
(novos ensaios). Lisboa, Ed. Restauração, 1927. (“Teoria do Município”,
pp. 123-188).
(72) SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit.,
p. 6.
(73) A expressão “classes” deve ser entendida como termo equiva­
lente a “ordens” medievais.

219
que é a concretização de todas as classes profissionais” (7‘)- O
papel principal do Estado, segundo o Manifesto, é o de realizar
a unidade nacional: “Pretendemos realizar o Estado Integralista,
livre de todo e qualquer princípio de divisão: partidos políticos;
estadualismo em luta pela hegemonia; luta de classes ( ). Pre­
tendemos criar a Suprema autoridade da Nação” (75).
Em revanche, a caracterização do Estado Integral feita por
Miguel Reale no Abecedário Integralista, define de maneira mais
precisa, em linguagem jurídica, os princípios de sua organização.
Primeiramente, distingue os conceitos de Nação e Estado, defi­
nindo o último como “a organização hierárquica dos indivíduos
e dos grupos que aumentam dia a dia a grandeza da Nação. O
Estado não é, pois, uma classe ou um grupo de indivíduos, mas,
é toda a Nação” (7C). Se para Salgado o Estado confunde-se
com a Nação, Reale considera o Estado como a Nação organiza­
da, colocando-se “acima das classes”, sendo superior a todas elas
“pelas forças de que deve dispor e pelos fins que deve reali­
zar” (77). O Abecedário descreve, em segundo lugar, o sistema
de representação no Estado. Proclama que o Estado não é a
soma dos indivíduos isolados, mas a unidade das classes produ­
tivas organizadas: “só quem produz tem direito de votar e de
ser votado” (78). A lógica desta concepção impõe que as forças
políticas organizadas da Nação não sejam mais os partidos vin­
culados à democracia-liberal, mas os “trabalhadores intelectuais
e manuais. Só a representação dos trabalhadores é representação
popular” (70).
Aliás, é interessante ressaltar também as diferenças de voca­
bulário entre os dois teóricos na descrição da relação que existe
entre o Estado e seus órgãos internos. O Manifesto evita o termo
“sindicato” e prefere a expressão “se inscrever na sua classe” (80).
O Abecedário, ao contrário, não se limita apenas a apresentar o
sindicato como uma das células do organismo nacional, mas afir-

SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit.,


pp. 1 -2.
(75) Ibid., p. 6.
(76) Ibid., p. 8, in SALGADO (Plínio), Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cit.
(77) Ibid., p. 8.
(78) SALGADO (Plínio), REALE (Miguel), Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cit., p. 8.
(79) Ibid., p. 8.
(80) No Abecedário, a família não é mais a base da legitimidade do
Estado, mas “a célula ética da Nação”.

220
ma que “o Estado é, do ponto de vista econômico, uma federa­
ção de sindicatos” (8I). Dentro dq modelo sindical-corporativo
de Reale, o sindicato é um órgão com “as mesmas características
da Nação: é um órgão de finalidades éticas, políticas, econômicas
e culturais (...). É um órgão de direito público, sob imediata
fiscalização e proteção do Estado” (82). Portanto, na con­
cepção de Estado, com partido único, de Reale (apesar da
ausência de referência explícita no Abecedárió), a representação
econômica realiza-se através da organização sindical, devendo
esta desempenhar quatro funções: função política designando re­
presentantes junto aos órgãos do Estado (83); função econômi­
ca, participando na solução dos problemas da economia nacional
e elaborando contratos coletivos do trabalho; função cultural,
enfim, elevando o nível intelectual de seus membros, e função
moral, arbitrando as questões decorrentes das relações entre os
empregadores e empregados entre todas as classes.
Os dois modelos de Estado integralista desenvolvidos no
Manifesto e no Abecedárió deram origem a estudos mais elabo­
rados. Estes ensaios, mesmo quando aprofundam a análise sobre
a natureza e o conteúdo do Estado Integral, não superam a di­
vagem fundamental dos dois primeiros textos integralistas. O
principal teórico do Estado torna-se Miguel Reale, tendo-se sua
posição reforçada por sua formação jurídica e seu papel de Se­
cretário Nacional da Doutrina. Salgado manteve sempre, no que
concerne ao Estado, uma linguagem ao mesmo tempo grandilo-
qüente e imprecisa. A posição de Reale, no entanto, é bastante

(81) Ibid., p. 9.
(82) SALGADO (Plínio), REALE (Miguel), Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cií., pp. 8-9.
(83) A sindicalização é livre, mas um só sindicato por categoria
profissional será reconhecido pelo Estado. A reunião dos sindicatos forma
as Federações e Confederações sindicais, ao passo que a corporação é um
órgão misto de empregadores e empregados, cuja função é de resolver os
problemas gerais de uma área de produção e executar os contratos cole­
tivos de trabalho (...). Os sindicatos se organizam vcrticalmcnte, de baixo
para cima (do nível local às confederações nacionais), enquanto que a
corporação integra horizontalmente uma série de setores da produção (a
corporação da indústria, dos transportes, etc.). Aliás, existe bastante ana­
logia entre a organização do trabalho e corporativa do integralismo c a dos
fascismos europeus, inspirados no modelo italiano. É bastante elucidativa
a comparação entre a “Carta dcl Lavoro” (italiana) de 21 de abril de
1927, “O Estatuto do Trabalho Nacional” (portuguesa) de 23 de setembro
de 1933, “El fuero dei trabajo” (espanhol) c, enfim, a “Charte du Travail”
(francesa) do governo de Vichy, de outubro de 1940.

221
próxima à de Olbiano de Mello, cuja produção ideológica pre­
cedeu à da Ação Integralista. Conforme esta concepção, “quem
diz Integralismo, diz sindicalismo corporativo-nacionalista” (8‘)-
Restaria acrescentar que o ensaio de Butler Maciel sobre o Es­
tado Integralista, partindo da idéia de que “o Estado é a Nação”,
aproxima-se mais da tendência ideológica de Salgado ao analisar
historicamente a importância deste postulado integralista (85).
Contudo, a contribuição de Reale sobre a organização do Estado
Integralista, sua natureza e suas funções, parece ser a única a
merecer uma análise mais detalhada.

b — O Estado integralista
O primeiro estudo de Reale foi publicado em 1933 (8tí).
Ele define a posição do integralismo com relação ao Estado,
estimulado pela afirmação de Salgado, segundo a qual “onde o
Estado não se transformou, não houve revolução” (87). Em se­
guida, ele se consagra ao seu primeiro ensaio, intitulado O Estado
Moderno, onde analisa os fundamentos teóricos e históricos do

(84) MELLO (Olbiano de), “Novos Rumos”, in SALGADO (Plínio),


REALE (Miguel, MELLO (Olbiano), Estudos Integralistas (l.“ série). S.
Paulo, Tip. Rio Branco, 1937, p. 29. A contribuição de Mello à ideologia
integralista não se limita às obras publicadas antes da fundação da A.I.B.,
quando havia a intenção de criar um partido fascista. Como dirigente inte­
gralista, ele escreveu dois outros livros: Concepção do Estado Integralista
(1935) e Razões do Integralismo (1936). Sua concepção de Estado é bas­
tante análoga à de Miguel Reale e ele não hesita cm chamar o Estado Inte­
gralista de “Estado totalitário”, cujo pressuposto teórico é o seguinte: a
sociedade é “um fato natural” constituído por grupos e o papel do Estado
é de dirigir estes grupos. E acrescenta, citando Mussolini, que “nada pode
existir fora do Estado nem contra o Estado”, in MELLO (Olbiano de),
Concepção do Estado Integralista, op. cit., pp. 46-52.
(85) Butler Maciel, após haver analisado a concepção do “Estado
Reacionário” (O Estado grego, romano, feudal, renascentista c socialista),
define os elementos fundamentais do “Estado Integral” (O Estado fascista,
nazista e integralista). Sua tese é de que os desequilíbrios sociais estão
ligados à separação existente entre o Estado e a Nação. O Estado é sem­
pre controlado por uma classe social em seu próprio interesse. Propõe
como solução a adoção do modelo de Estado Integral que identifica a
Nação ao Estado.
(86) Na pequena coleção Estudos Integralistas, são publicados, em
1933, três artigos doutrinários: SALGADO (Plínio), “Em Marcha”: REA­
LE (Miguel), “A Posição do Integralismo”; MELLO (Olbiano de), “Novos
Rumos”. Esta pequena coletânea reúne os primeiros escritos ideológicos
posteriores ao Manifesto de 1932.
(87) SALGADO (Plínio), “Em Marcha”, in Estudos Integralistas.
p. 3.

222
Estado liberal e o fenômeno fascista, a fim de chegar, no final,
à concepção do Estado Integral.
A análise histórica e ideológica de Reale conduz à idéia de
que a sociedade moderna produzirá uma nova síntese política
tendente ao reforçamento do papel do Estado: “A Grande Guer­
ra teve a função de revelar as contradições do mundo moderno.
(...). A impressão que se tem, a princípio, é a de uma estru-
tura-tradicional que se esboroa (...). A Grande Guerra, lan­
çando povos contra povos, fez com que as nações voltassem a
sentir, de um modo palpitante, a realidade do Estado. A alma
nacional foi então acordada dos sonhos cosmopolitas do capita­
lismo e do socialismo” (88). Na sua opinião, a principal lição a
tirar do conflito mundial é a necessidade de uma restauração da
autoridade do Estado. Os problemas de natureza política, eco­
nômica e moral criados pela guerra restituíram a plena soberania
do Estado que o liberalismo havia destruído. No após-Primeira
Guerra, pois, é que nasce o Estado Moderno, sob a forma do
Estado fascista, ou do Estado bolchevista: “O primeiro marca
a reação do Estado contra as organizações que o queriam absor­
ver; o segundo, a absorção da máquina do Estado por uma das
organizações: a do proletariado” (89).
Reale, diante do dilema do após-guerra, opta pelo Estado
fascista. O bolchevismo, para ele, é a conseqüência final e indi­
reta do liberalismo. O fascismo, no entanto, substitui a concep­
ção do Estado jurídico e do cidadão pela concepção do Estado
econômico e do produtor. Ele justifica sua opção porque o Estado
fascista é “uma das tendências naturais do Estado Moderno” e,
no fascismo, “o Estado restabelece sua plena soberania se iden­
tificando com a Nação” (90).
O autor distingue duas tendências no movimento fascista:
uma fascista “radical”, defensora do Estado “totalitário”, e outra
fascista “moderada”, à qual Reale se filia, que prefere o modelo
do “Estado Integral” (91).
(88) SALGADO (Plínio), “Em Marcha”, in Estudos Integralistas,
op. cit., p. 3.
(89) REALE (Miguel), “Bases da Revolução Integralista”, in Actua-
lidades Brasileiras, Rio, Schmidt, 1937, pp. 52-53 e 70.
(90) REALE (Miguel), “A Posição do Integralismo”, in Estudos
Integralistas, op. cit., p. 13.
(91) REALE (Miguel), “O Estado não se confunde com nenhum dos
grupos em luta, mas resulta de todos eles, sem predomínio de uns sobre
os outros, através da representação econômica, e torna-se um realizador de
fins morais”. Ibid., p. 14.

223
A tendência “totalitária”, desenvolvida pelo jurista italiano
Alfredo Rocco, considera o indivíduo como um instrumento:
“Toda a vida da Sociedade consiste em fazer do indivíduo o ins­
trumento dos seus fins sociais” (92). Reale entende que esta ten­
dência, cujos precursores são são Comte, De Maistre e Maurras,
surge historicamente como uma reação violenta do Estado, quan­
do os grupos se rebelam contra o todo social. O Estado restaura
plenamente seus poderes com o objetivo de reconquistar sua so­
berania comprometida pelo liberalismo.
A tendência “integral” de Reale, entretanto, admitiría uma
maior autonomia para o indivíduo. Segundo esta concepção, se
o indivíduo subordina-se ao interesse do Estado, é porque “entre
o Estado e o indivíduo se verifica uma cessão recíproca de fa­
culdades para a realização dos fins éticos comuns” (93).
Apesar da sutileza jurídica introduzida por Reale para dis-
tingüir a expressão estatal vinculada às duas tendências, o Estado
Integral não se opõe ao fascista, no plano de sua estrutura con­
creta, mas constitui uma modalidade deste último, diminuindo
apenas o impacto da violência totalitária. Sua distinção repousa
na crença de que uma das características da unidade orgânica é
integrar discriminando: “o todo não deve absorver as partes (to­
talitarismo), mas integrar os valores comuns, respeitando os va­
lores específicos e exclusivos (integralismo).
O Estado integralista é, ao mesmo tempo, fim e meio. “Fim,
porque age como agiria a sociedade toda se tivesse consciência
própria (. .); meio, porque é através dele que o homem con­
segue atuar as forças que tem em potencialidade”. A Nação é a
própria condição do Estado moderno. Ela é a síntese das aspi­
rações coletivas. “O Estado é fim enquanto representa o ideal
comum, o que equivale a dizer que é fim enquanto se identifica
com a Nação” (94).
A singularidade do Estado integral baseia-se, em última aná­
lise, sobre sua vontade ética. Nenhuma originalidade existe no
princípio da organização corporativa ou no controle exercido
pelo Estado sobre a economia: sua especificidade é tomar em
(92) Observe-se que a expressão “Estado Integral”, para Reale, não
se aplica somente a novo modelo de Estado brasileiro defendido pelo inte­
gralismo, mas à concepção de um novo Estado fascista não totalitário,
conforme as concepções de Antonio NAVARRA e Ugo REDANO (cf.
Reale, Miguel, O Estado Moderno, op. cit., p. 1936).
(93) Ibid., p. 184.
(94) Ibid., p. 186.

224
consideração o homem total e suas projeções morais. No Estado
fascista “totalitário”, a moral está subordinada ao Estado, ao
passo que no Estado fascista “integral” é o Estado que se sub­
mete ao imperativo moral. Em conseqüência, o Estado Integral
deve aceitar o “conceito dinâmico dos direitos fundamentais do
homem” que não são jurídicos, mas éticos.
O autor pretende, enfim, que o Estado integral construa uma
nova forma de “democracia”. A fim de evitar ambigüidades com
a democracia liberal, Reale define o tipo de “democracia” que
o integralismo pretende realizar. Seria uma “democracia” elitista
e orgânica, sem partidos políticos e nem sufrágio universal. É o
regime em que o Estado, nas mãos das elites culturais, cria as
condições necessárias ao livre desenvolvimento das capacidades
individuais, ampliando, cada vez mais, o círculo da classe diri­
gente (95). A “democracia” integralista, porém, seria frustrada
pela separação institucional entre elite e massa, uma vez que “o
critério numérico deve ir cedendo lugar ao critério da competên­
cia. O Estado é uma pirâmide do ponto de vista do exercício da
autoridade; democrático na base, nele deve ir diminuindo a par­
ticipação direta do povo, à medida que se elevem os problemas
a planos mais altos e mais complexos” (oc). A nova síntese in­
tegral proposta por Reale incorpora a idéia de “superamento”
de Alfredo Rocco: ela deve conter todas as concepções anterio­
res e as ultrapassar para realizar a síntese entre o espírito medie­
val e o espírito moderno. “A Idade Média conheceu as Corpo­
rações, mas não conheceu o Estado; a Era Moderna, que se pro­
cessou do Renascimento e da Reforma até a Grande Guerra
( .) criou o Estado, mas depois de deturpar as Corporações
declarou-as fora da lei” (®7).
Estabelecidas as bases teóricas do Estado Integral, restaria
descrever como se organiza o Estado integral. Os órgãos de re­
presentação do Estado são o Presidente da União, a Câmara
Corporativa Nacional e o Conselho Nacional ou o Senado. O
princípio geral do sistema é o sufrágio restrito e hierárquico a
todos os escalões, salvo ao nível local onde a escolha dos mem­
bros do Conselho Municipal é feito diretamente pelos membros
do sindicato.
Partindo do nível municipal, cada classe profissional forma
um sindicato, que será reconhecido oficialmente pelo governo.
(95) Ibid., pp. 187-189.
(96) REALE (Miguel), op. cit., p. 60.
(97) REALE (Miguel), op. cit., p. 222.

225
As eleições se fazem no interior do sindicato, para escolher os
representantes sindicais ao nível do município. Os representan­
tes dos diversos sindicatos formarão o Conselho Municipal que
elegerá o prefeito.
No plano regional, as federações sindicais serão constituídas
pela reunião de todos os representantes sindicais de uma mesma
profissão e elegerão seus representantes provinciais. A totalida­
de dos representantes de todas as federações formará o Conse­
lho Provincial, que deve escolher o governador da Província.
A reunião das federações de uma mesma classe profissio­
nal dará origem às confederações sindicais. Neste mesmo nível,
serão organizadas as corporações que integrarão representantes
de diversas profissões, em torno de uma área de produção (°®)«
As corporações serão as estruturas mais importantes do Estado
Corporativo Integral, cada uma delas elegendo seus representan­
tes na Câmara Corporativa Nacional. Está previsto, também, na
estrutura do Estado Integral, um Conselho Nacional ou Senado,
formado por representantes das corporações não econômicas
(sociais e culturais), que exercerá um papel de controle sobre
o estudo de qualquer problema que considere relevante, a fim
de que a Câmara Corporativa Nacional defenda os interesses da
Nação (").
A reunião da Câmara Corporativa Nacional e do Senado
formarão o Congresso Nacional, que elegerá o Chefe da Nação.
No Estado Integral, os partidos políticos serão abolidos, porque
eles não têm sentido numa Nação em que todas as forças econô­
micas e culturais estão organizadas e integradas no Estado” (10°).

3 — OS INIMIGOS

O integralismo propõe-se a combater o liberalismo, o socia­


lismo, o capitalismo internacional e as sociedades secretas vin­
culadas ao judaísmo e à maçonaria. A neutralidade do Estado
liberal diante do desenvolvimento da sociedade criou condições
favoráveis à ação do capitalismo internacional e ao desenvolvi­
mento do socialismo. Nesta perspectiva, os integralistas conside-

(98) REALE (Miguel), Actualidades Brasileiras, op. cit., pp 75-76.


(99) Por exemplo, a corporação do café reúne os representantes dos
produtores e dos trabalhadores associados ao setor do café, da produção
à exportação do produto.
(100) SALGADO (PI.); REALE (Miguel), Cartilha. . op. cit., p. 10.

226
V(*)

ORGANIZAÇAO CORPORATIVA DO ESTADO

CHEFE
DA

VOTO
N AÇÃO VOTO

I NSTITUTOS I NST I TUTOS


CULTURA I S $ CIENTÍFICOS
E E
CÂMARA CORPORATIVA T ECN 1 COS
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(*) Esquema apresentado in Barroso (Gustavo), O que o integra­


lista deve saber, Rio, Civilização Brasileira, 1935, p. 156.

227
ram que o socialismo não seria a antítese do capitalismo, mas
o resultado natural de sua evolução, porque ambos se apoiam
nas mesmas bases materialistas (101). Uma parte significativa
dos integralistas considera que todos os adversários do movi­
mento formam um bloco sob a dominação judaica. Esta ten­
dência, anti-semita, embora não seja dominante entre os teóricos
integralistas por razões de princípio ou tática política, era, no
entanto, muito difundida entre os militantes de base em função
da simplicidade de seu esquema explicativo: desde as revoluções
francesa e soviética, até o controle das finanças internacionais,
tudo seria dirigido pela ação judaica.

a — O liberalismo
A posição do integralismo face ao liberalismo está contida
na palavra de ordem de seu chefe nacional num de seus primeiros
livros doutrinários: “Guerra de morte à liberal-democracia!”(102).
A hostilidade do integralismo na primeira fase do movimento é
mais dirigida contra o liberalismo do que contra o socialismo.
Este paradoxo se explica não somente porque a ideologia liberal
é o adversário mais imediato a combater, mas porque, na lógica
interna da ideologia, o liberalismo é a causa do socialismo (,103).
O Manifesto de 1932 rejeita, em nome da “defesa da pessoa
humana”, a liberal-democracia que “oprime” o homem. O Abe-
cedário integralista enfatiza a análise das contradições entre os
princípios liberais e a experiência histórica: o liberalismo “pro­
mete a liberdade e só a garante aos mais fortes, aos que possuem
bens econômicos suficientes para defender os próprios direitos,
pois de nada vale a liberdade sem um mínimo de autonomia
econômica, — porque promete a justiça e cruza os braços ante
(101) A identificação entre o liberalismo e socialismo, segundo R.
MARTIN, é uma idéia de origem spengleriana: “Liberalisme et bolche-
visme ne sont pas des antipodes de la penséc ct du vouloir; c’est la forme
primitive et la forme avancée, le debut et la fin d’un mêmc mouvement”.
Citado por MARTIN (Raymond), Le national-socialisme Hitlérien: Une
Dictature Populaire, op. cit., p. 34.
(102) SALGADO (Plínio), O Que é o Integralismo, op. cit., p. 29.
(103) Nesta época, a ameaça comunista interna parece distante aos
integralistas devido a pequena expressão política do Partido Comunista
Brasileiro. O anticomunismo que se desenvolve então é muito mais a
expressão de uma atitude reflexa diante da importância crescente dos
movimentos socialistas europeus. Entretanto, o combate ideológico contra
o socialismo torna-se importante após a Aliança Nacional Libertadora
(A.N.L.) c a rebelião comunista de 1935.

228
os conflitos do Capital c do Trabalho ( ). A liberdade polí­
tica foi uma conquista burguesa para a burguesia, apesar das
promessas universais da Revolução Francesa" (,0‘).
Além da ideologia, o integralismo rejeita as instituições li­
berais. Salgado incorpora ao discurso ideológico sua antiga hos­
tilidade à democracia liberal. Indigna-se diante da neutralidade
do Estado liberal, reduzindo o homem à sua dimensão física;
denuncia a hipocrisia do voto e o mito da soberania popular:
“A liberal-democracia, programando a liberdade humana de um
modo quase absoluto, criou um Estado fora e acima das lutas
de indivíduos e grupos ( ). O voto é a grande mentira que
serve de instrumento à opressão das massas trabalhadoras iludi­
das na sua boa fé (...)• O sufrágio universal subordina todo
um sistema de realidades sociais a uma pura abstração, isto é,
ao conceito da soberania oriunda das fontes primárias da vonta­
de geral" (,05).
O antiliberalismo se manifesta ao nível da organização da
nova sociedade integralista pela negação do pluralismo. O Esta­
do integral não admite nem o pluralismo sindical, nem o plura­
lismo partidário, na medida em que se organiza conforme o prin­
cípio do partido único e do sindicato único (10°).
(104) SALGADO (Plínio), REALE (Miguel), Cartilha do Integralis-
mo Brasileiro, op. cit., p. 13.
(105) SALGADO (Plínio), O Que é o Integralismo, op. cit., pp. 33-37.
(106) A referência ao “partido único” encontra-se no Manifesto de
Outubro, ainda que os documentos posteriores tenham evitado a expressão:
“Esses representantes todos devem ser de absoluta confiança de cada classe,
vindos os seus nomes indicados pelos Conselhos Municipais, Provinciais e
Nacionais, saídos, também, do Partido único que é a concretização de todas
as classes profissionais”, in SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro, op.
cit., p. 2. Observe-se que nas reproduções dos textos integralistas feitas
por Salgado após 1945, os aspectos antipluralistas da ideologia foram supri­
midos. O artigo XX das “Diretrizes Integralistas” declara que “o inte­
gralismo favorece a pluralidade sindical dentro do regime liberal vigente,
mas mantém o princípio de rigorosa unidade sindical num regime político
integral...” Na reprodução deste texto, no livro onde Salgado procura
defender-se das acusações feitas contra o integralismo, foi eliminada qual­
quer referência à unidade sindical: “O integralismo mantém o princípio
da organização sindical num regime político orientado por princípios cris­
tãos...” O artigo XXIV foi também modificado: “No Estado Integral,
tornam-se desnecessários os partidos políticos. Todos os brasileiros cola­
borarão (...) para a formação do poder público. O integralismo não
fere a democracia, extinguindo os partidos. . ." Este texto original, publi­
cado em anexo à Cartilha do Integralista Brasileiro (1937), de Miguc
Reale, secretário nacional da Doutrina, foi modificado por Salgado. . .
no Estado Integral, todos os brasileiros colaborarão, no grupo a que perten-

229
Dois ensaios de Miguel Reale, Formação da Política Bur­
guesa e o Estado Moderno, analisam respectivamente as origens
da sociedade burguesa e sua organização política (107). O autor,
após haver exaltado a consciência imperial romana (108), sem­
pre na memória do homem ocidental e que reviverá na realeza
de Carlos Magno, Frederico II, na espada de Carlos V, de Na-
poleão, e no “fascio” de Mussolini, afirma que a “política bur­
guesa” surge com o desvio da consciência jurídica romana, pri­
meiro em direção do rei e depois do indivíduo" (109). Sua análise
histórica leva-o a considerar a invasão dos bárbaros germânicos
como o primeiro sinal, no centro do Império, da “rebelião indi­
vidualista”. São as tribos germânicas que criam o primeiro es­
boço de regime representativo compreendendo o rei. um conselho
e uma assembléia popular (110).
Em vez de uma postura cristã tradicional, nostálgica da
Idade Média, Reale adota uma atitude crítica com relação a este
período por duas razões principais. Primeiro, porque nesse pe­
ríodo o poder enfraquece (“um produto da desagregação”) (’”).
Segundo, porque no seio da sociedade medieval é que começa
a ação do capitalismo financeiro (1I2). Reale pensa também que
cerem, para a formação do poder público.” Ele não somente suprimiu as
passagens referidas, mas acrescentou uma frase que não existe no original:
“O integralismo é pela organização corporativa não meramente econômica,
à maneira do fascismo, porém econômico-política exprimindo assim a de­
mocracia orgânica”, in REALE (Miguel), Cartilha do Integralismo Brasi­
leiro (1937), op. cit., pp. 143-155 e SALGADO (Plínio), O Integralismo
Perante a Nação, Rio, Livraria Clássica Brasileira, 1950, pp. 33-40.
(107) O antiliberalismo é um tema constante nas obras e documentos
doutrinários do integralismo. Além das contribuições de Salgado, Reale
e Mello, outros integralistas escreveram livros sobre o assunto: MOLJRÃO
FILHO (Olympio), O Liberalismo e o Integralismo, Rio, Schmidt, 1936.
PEREIRA (Jayme R.), Democracia Integralista, Rio, José Olympio, 1936;
PUJOL (Comandante Vitor), Rumo ao Sigma, Rio, Livraria H. P. Antu­
nes, 1936.
(108) A admiração pela “consciência imperial” em Reale não é parti­
lhada por todos os teóricos integralistas. O historiador Gustavo Barroso,
por exemplo, afirma que é o Império Romano “que conduz as Nações
da Europa cristã ao abismo dos tempos modernos”, in BARROSO (Gus­
tavo), O Quarto Império, op. cit., p. 91.
(109) REALE (Miguel), Formação Política Burguesa, Rio, José
Olympio, 1934, pp. 18 e 20.
(110) Ibid., pp. 31 e 33.
(111) Ibid., p. 42.
(112) “O governo de algumas comunas está concentrado nas ' mãos
de banqueiros c dos mais fortes comerciantes”, in REALE (Miguel), For­
mação Política Burguesa, op. cit., p. 61.

230
a sociedade medieval, sendo apolítica e desconhecendo a polari­
zação Estado-indivíduo da sociedade liberal, não pode se con­
fundir com a ordem corporativa fascista do século XX. “Em
nossos dias, as corporações são órgãos institucionais do Estado:
não cuidam somente dos próprios interesses de classe porque se
subordinam ao interesse geral da nação” (113). Ele faz, em suma,
a mesma crítica à sociedade feudal que fará à sociedade burgue­
sa, em função de sua natureza de sociedade de classes, na qual não
existe um papel ativo do aparelho estatal: “A Idade Média possui
as corporações — os corpos das classes — mas não possui o
centro consciente do Estado para coordená-las e dirigi-las” (nl).
Reale rejeita a idéia de uma descontinuidade entre a socie­
dade medieval e a sociedade burguesa. O homem burguês não
é um homem “novo”, mas é produto da própria Idade Média:
“Filho da Idade Média, ele se apoderou de toda a herança ma­
terna, após três séculos de lutas sinuosas e de contrastes san­
grentos, arrancando à Igreja o livre exame, ao Império a sobe­
rania efetiva, às Corporações a direção do mundo econômico,
levantando, com essas conquistas preciosas, o edifício da civili­
zação capitalista...” (115). Por isso, não pretende, como Ber-
diaeff, realizar uma nova síntese sócio-política. Os fundamentos
ideológicos da sociedade liberal encontram-se numa série de teo­
rias sociais inspiradas no modelo das ciências naturais que ele
estigmatiza com o termo genérico de “naturalismo liberal” ou
“otimismo naturalista”. A idéia das teorias econômicas liberais,
de que o homem está submetido às leis da natureza, tem suas
raízes nas “ciências do mundo físico” que invadiram “o setor das
ciências morais, impondo-lhes os seus quadros e o seu espíri­
to” (11G). Todas as teorias liberais estão impregnadas com esta
concepção física da sociedade. O desvio naturalista deforma a
explicação da vida social na medida em que o homem torna-se
um reflexo da natureza. Também as concepções de Marx e
Engels, enfatizando o papel decisivo das forças produtivas no
desenvolvimento das consciências individuais, propõem um so­
cialismo naturalista”.
Reale denuncia a decadência do espírito humanista: o ho­
mem que se submete à natureza aliena sua própria imagem. A
conseqüência política do desvio naturalista é, segundo Reale, a
(113) Ibid., p. 56.
(H4) Ibid., pp. 61 c 62.
(115) REALE (Miguel), Formação Política Burguesa, op. cit., p. 65.
(116) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 11.

231
redução da pessoa humana à sua dimensão cívica. Os filósofos da
época definiram um homem ideal, sem considerar que o homem
real pertence a grupos biológicos, profissionais e políticos e está
condicionado à influência de todos esses grupos do próprio pro­
cesso histórico (117). A ideologia liberal, portanto, é uma das ra­
mificações da doutrina do direito natural.
Além disto, os fundamentos econômicos do liberalismo fo­
ram estabelecidos pelos fisiocratas e os manchesterianos. A bur­
guesia tinha necessidade de expandir-se além das fronteiras na­
cionais, escapando da influência das corporações e da proteção
monárquica. Em consequência, progressivamente “a economia
domina a política, no sentido de reduzir cada vez mais a função
ética do Estado” e “o indivíduo criador da sociedade é também
o único criador da riqueza econômica” (n8).
A partir deste momento, todos os elementos essenciais à
formação da sociedade liberal, cuja ideologia resulta de uma
combinação eclética, estão presentes: “À sombra do utilitarismo
obedecendo aos influxos da burguesia industrial e tirando algu­
mas lições da evolução constitucional britânica, combinaram-se e
confundiram-se, em uma forma híbrida, as correntes do libera­
lismo político (de Locke e Humboldt), do democratismo (de
Rousseau a Babeuf e aos primeiros socialistas) e do liberalismo
econômico (de Smith e toda a escola clássica). Surgiu, assim o
Estado democrático-liberal, relativista por definição, flexível,
adaptável a todas as circunstâncias” (no).
A principal crítica de Reale ao Estado liberal refere-se à
apatia do Estado diante da evolução econômica e social. O li­
beralismo é a doutrina que sistematiza o que “o Estado deve se
abster de fazer”. Neste sentido, é uma concepção negativa do
Estado: “O Liberalismo é a consagração sistemática da indife­
rença do Estado para com a vida social e econômica, a limita­
ção da ação governamental às funções de ordem jurídica. Diante
do Estado só há o cidadão (.. .): o Direito é monopólio do Es­
tado, enquanto a Economia é monopólio do Indivíduo” (12°).
Os dois princípios essenciais da sociedade liberal-democráti-
ca são, segundo o autor: a liberdade contratual e a liberdade de
comércio. Estes princípios terão efeitos negativos sobre o fun-
(H7) REALE (Miguel), Formação Política Burguesa, op. cit., p. 27.
(118) Ibid., p. 77.
(119) Ibid., p. 91.
(120) REALE (Miguel), “A Posição do Intcgralismo”, in Estudos
Integralistas, op. cit., p. 11.

232
cionamento do sistema. Diante da indiferença do Estado, os in­
divíduos e os grupos organizam-se fora de seu domínio. Se a
norma geral c de que cada indivíduo deva defender sozinho seus
direitos, isto provoca historicamente dois fenômenos contraditó­
rios: o socialismo sindicalista e o capitalismo financeiro.
Inicialmente, os trabalhadores, organizados em sindicatos
para defenderem seus direitos, não ultrapassam o individualismo
liberal: “O sindicalismo não é, portanto, mais que a transposi­
ção para a esfera grupalista do que o liberalismo prega na esfera
individualista (. ). O sindicalismo é individualismo de segun­
do grau e não se distancia muito do liberalismo: ambos desejam
o Estado mínimo” (121). Mais tarde, esta evolução provoca a
emergência, no seio do Estado, de partidos de classe ou do sin­
dicalismo revolucionário, que colocarão em questão a unidade
do Estado liberal. Os partidos tornam-se “um meio de ligação
artificial entre o governo e o povo (...) e a vontade geral se
transforma em vontade dos dirigentes partidários” (122).
Por outro lado, a organização do capital tem conseqüências
imprevistas. O capital primeiro se organiza no interior de cada
país e depois, na fase imperialista, sob a forma de trustes, tor-
nando-se uma força capaz de plasmar a vida social segundo os
seus desejos, aproveitando-se da indiferença, quando não da
aquiescência do Estado” (123).
Olbiano de Mello acrescenta à análise que a liberal demo­
cracia cria três novas categorias “de exploradores do povo”: “os
detentores do capital, os profissionais da política e os advogados
administrativos dos grandes partidos políticos mantidos e contro­
lados pela alta burguesia” (12‘). Este teórico integralista, cuja
orientação ideológica é bastante próxima à de Reale (ambos
procuram teorizar sobre o Estado Integralista e foram influen­
ciados pelo fascismo italiano) não dissocia a sociedade liberal
da exploração capitalista: “os princípios que nortearam o apare­
cimento da liberal-democracia haveríam de, dentro em pouco,
preparar o advento de uma nova exploração da massa popular,
mil vezes mais danosa que todas as que marchetavam a história
até então” (125)«
(121) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 138.
(122) Ibid., p. 110.
(123) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 100.
(124) MELLO (Olbiano de), Concepção do Estado Integralista, op.
cit., p. 36.
(125) Ibid., p. 35.
I
233

I
b — O capitalismo internacional
A posição do integralismo diante do sistema capitalista apre­
senta uma ambigüidade fundamental. Os textos dos principais
teóricos utilizam uma linguagem, muitas vezes, fortemente anti-
capitalista, ao mesmo tempo que a organização econômica pro­
posta pela ideologia não põe em questão os princípios básicos do
sistema. A única dimensão do capitalismo condenada por todos
é o capitalismo financeiro internacional.
Os primeiros documentos oficiais preocupam-se, sobretudo,
em achar uma solução à “questão social”. Proclamam a neces­
sidade de implantar uma organização corporativa, integrando to­
das as classes profissionais e capaz de superar os conflitos da
sociedade democrática-liberal. O sistema corporativo teria o mé­
rito de ultrapassar a fase de luta de classes pela mobilidade so­
cial que ela introduziría no sistema: “pretendemos dar meios a
todos, para que possam galgar, pelas suas qualidades, pelo seu
trabalho e pela sua constância, uma posição cada vez melhor,
tanto na sua classe, como fora dela e até no governo da Na­
ção’^126). .
Este princípio de mobilidade social estará submetido, em
realidade, a todas as limitações da estrutura corporativa hierar-
quizada. A norma principal é que a “questão social deve ser re­
solvida pela cooperação de todos, conforme a justiça e o desejo
que cada um nutre de progredir e melhorar” (127). O integra­
lismo, portanto, rejeita a luta de classes como “um fenômeno
mórbido” que se explica apenas pela neutralidade do “Estado
liberal, indiferente às questões sociais” (128).
O programa social do Manifesto substitui a competição in­
dividualista da sociedade liberal pela competição igualmente in­
dividual, mas regulamentada no seio das organizações sindicais
e corporativas. Este sonho de uma nova ordem social torna-se
uma utopia social, quando pretende “transformar o trabalhador
no herói da nova Pátria, no homem superior, iluminado pelos
nobres ideais de elevação moral, intelectual e material” (12°).
(126) SALGADO (Pl.), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit., p. 4.
(127) Ibid., p. 4.
(128) SALGADO (Pl.); REALE (M.), A Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cit., p. 9. O Manifesto preconiza como solução à “questão
social” a instituição de contratos coletivos c a criação de uma magistra­
tura especial para resolver conflitos trabalhistas, bem como a proibição
do direito de greve e de “lock-out”, conforme o modelo da “Carta dei
Lavoro” italiana.
(129) SALGADO (Pl.), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit., p. 5.

234
O Manifesto, no entanto, não coloca em causa o regime
capitalista propriamente dito. Sua crítica concentra-se, sobretudo,
em certos aspectos liberais do sistema econômico capitalista sem
querer ultrapassá-lo. O Manifesto considera que o princípio da
propriedade privada em seu “caráter natural e pessoal é funda­
mental’’ e o Ahecedário acrescenta que o integralismo se opõe a
utilização anti-social da propriedade, a ideologia integralista pre­
coniza a disseminação do direito da propriedade, acusando, neste
particular, o capitalismo de atentar contra este direito, porque
se baseia no “individualismo desenfreado”, que caracteriza o
“sistema econômico liberal-democrático” (130).
O integralismo propõe-se a reformar o capitalismo em três
níveis: primeiro, subordinando a produção aos “interesses na­
cionais”, a fim de romper seus vínculos com o capitalismo inter­
nacional; segundo, estabelecendo o controle do Estado sobre a
economia liberal; terceiro, introduzindo uma finalidade ética no
desenvolvimento da economia. Entretanto, o essencial do siste­
ma capitalista permanece na medida em que o integralismo não
põe em questão a iniciativa individual (“o Integralismo é contra
o controle dos capitães da indústria”) (131), a propriedade priva­
da dos meios de produção e o princípio do lucro. O objetivo do
integralismo, neste plano, é que a “técnica capitalista” assuma
uma “função eminentemente social” (132). O integralismo pre­
tende, portanto, transformar o capitalismo liberal clássico num
capitalismo nacional e social controlado pelo Estado Integral (133).
Os teóricos integralistas, na realidade, concentram seu com­
bate contra o capitalismo financeiro, ainda quando estabelecem
uma ligação estreita entre o capitalismo interno e sua expansão

(130) Ibid., p. 4.
(131) SALGADO (PI.); REALE (M.), Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cit., p. 11.
(132) Ibid., p. 11.
(133) Embora a idéia dc difusão da propriedade esteja também vin­
culada à doutrina social católica, a posição do fascismo italiano com rela­
ção a capitalismo não põe em causa o sistema. Mussolini, num artigo pu­
blicado no revista Gerarchia sob o título “Fascismo e Sindicalismo”, afir­
ma quê: “...o sindicalismo fascista considera o elemento “capital” não
como um elemento que deve ser suprimido — o quo é também um absur­
do no sentido prático, assim como no sentido histórico, mas como um
elemento que deve ser liberado e de que se deve reforçar a potência (...).
As corporações podem melhorar a sorte de seus sindicatos desde que o
capitalismo seja poderoso; mas se o capitalismo for fraco, estático c hesi­
tante, elas nada podem fazer”, in MUSSOLINI (Bcnito), Oeuvrcs Com­
pletes, op. cit., Vol. VI, p. 80.

235
externa (134). Miguel Reale e Olbiano de Mello, por exemplo,
analisam o sistema capitalista e suas contradições, utilizando,
muitas vezes, uma linguagem marxista. A posição de Salgado,
ao contrário, é mais ética do que econômica: ele indignava-se,
sobretudo, com os efeitos negativos do maquinismo. Na crítica ao
capitalismo internacional é que se estabelece um consenso entre os
teóricos integralista: Gustavo Barroso é o mais radical, porque
associa a esse estágio da evolução do capitalismo a ação judaica.
Mello descreve o modo pelo qual o capitalismo dominou o
mundo através da “posse de todos os meios de produção, o
controle dos grandes bancos, elegendo e influindo na escolha
dos dirigentes dos diversos governos, apoiando multidões, graças
às suas rotativas, com um falso jornalismo, com falsos precon­
ceitos sociais...”. Inspira-se também na linguagem marxista
para caracterizar a evolução do sistema capitalista até atingir a
fase do imperialismo financeiro. Embora rejeite o Estado socia­
lista, aceita alguns elementos importantes do anticapitalismo mar­
xista, utiliza-se de expressões como “proletarização das massas”,
“crise do capitalismo”, “princípio da mais-valia” (135).
O secretário de doutrina, por sua vez, em seu livro o Capi­
talismo Internacional, procura refutar, com argumentos e estatís­
ticas, as teses marxistas da concentração capitalista e da paupe-
rização(13C). Entretanto, Reale encontra-se mais próximo de Le-
nine do que de Marx ao denunciar o “supercapitalismo finan­
ceiro”: “Essa degradação do Estado até ao ponto de sacrificar
a sua soberania nas mãos dos ases das finanças produziu um fe­
nômeno mórbido: o Imperialismo” (137).
A atitude de Salgado, enfim, diante do capitalismo, enqua­
dra-se no humanismo pré-industrial que denuncia a civilização
técnica: “O útero metálico” da Revolução industrial engendrou
“a humanidade mecânica”: “o instinto da máquina devora tudo”.
Neste sentido, o responsável pelo drama do mundo atual é o
(134) Sobre este ponto de vista, a posição do integralismo aproxi­
ma-se à do rexismo belga: ‘il s’agit d’unc critique de Thypcr-capitalisme
plutôt que du capitalisme proprement dit”. (...) “Les rexistes distinguent
le bon et le mauvais capitalisme; le capitalisme réel et le capitalisme
impersonnel et deshumanisant”, in ÉTIENNE (Jean Michel), op. cit., p. 92.
(135) MELLO (Olbiano de), Concepção do Estado ..., op. cit.,
pp. 36-41.
(136) REALE (Miguel), O Capitalismo Internacional, Rio, José
Olympio, 1935, pp. 67-73.
(137) Inclusive Reale cita Lenine: “O soberano atual, diz Lenine,
é já o capital financeiro”. Ibid., pp. 80-81.

236
capital que impõe “sua tirania na forma dos grandes trustes, dos
monopólios, dos grupos financeiros, das organizações bancárias,
c se dirige para o capitalismo do Estado. É a besta apocalípti­
ca” (138).
Portanto, todas as análises críticas dos teóricos da A.I.B.
orientam-se contra o capitalismo internacional que se torna o
núcleo principal do anticapitalismo integralista. Gustavo Barroso
é mais globalizante em sua análise porque, em sua concepção, o
capitalismo financeiro e o socialismo são indissociáveis do judaís­
mo. Embora seu anti-semitismo não seja partilhado por todos
os teóricos integralistas, seu estudo histórico sobre os emprésti­
mos brasileiros, de 1824 a 1934, junto a banqueiros judeus, é
amplamente aceito. No seu ensaio Brasil, Colônia de Banquei­
ros, ele desenvolve a tese de que o Brasil, após tornar-se indepen­
dente de Portugal, em 1822, e sofrer a dominação comercial in­
glesa até 1934, “se transforma em colônia da casa bancária ju-
dáica Rothschild, em colônia do supercapitalismo internacional,
que não tem pátria e como que obedece a leis secretas de ani­
quilamento de todos os povos” (130).
A posição de Reale sobre as relações entre os judeus e o
capitalismo internacional é mais matizada. Ele não acredita in­
teiramente na conspiração judaica internacional, embora reco­
nheça a influência dos judeus nas finanças internacionais: “a lu­
ta contra o capitalismo envolve um combate formidável contra
certos setores de Israel. Daí não se pode concluir pela tese ra­
cista” (14°). Sua preocupação principal, inspirando-se nas teses
do fascismo italiano, é de estabelecer as bases teóricas de uma
“economia corporativa”.
A nova economia deve reformular os princípios da econo­
mia clássica, rejeitando o equilíbrio natural do sistema, pela
livre competição dos indivíduos na busca do lucro; da fatalidade
das lutas de classes; do lucro como objetivo único da ação eco­
nômica; a valorização da livre iniciativa. A economia corporati­
va, ao contrário, afirma que o interesse individual não coincide
sempre com o interesse social; que os mecanismos da economia
(preços, salários, produção) não se articulam automaticamente;
que a liberdade do indivíduo está mais presente nos “grupos na-

(138) SALGADO (Pl.), Madrugada do Espírito, op. cit., pp. 344-346.


(139) BARROSO (Gustavo), Brasil, Colônia de Banqueiros, Rio,
Civilização Brasileira, 1935, pp. 14-15.
(140) REALE (Miguel), O Capitalismo Internacional, op. cit., p. 129.

237
turais” da sociedade do que na ação individual; que na organi­
zação corporativa se estabelece a colaboração entre as classes
sociais; que a iniciativa privada pode ser preservada se o produ­
tor for responsável perante o Estado; enfim, que o objetivo últi­
mo da economia não é a satisfação individual, mas a utilidade
do grupo e da Nação (141).
A tentativa de Reale de ultrapassar a economia liberal sem
aceitar a solução socialista baseia-se em três princípios: a inicia­
tiva privada; a responsabilidade do produtor perante o Estado
e a representação dos produtores nas Corporações (,l2). Se o
capitalismo é o sistema econômico em que o centro da economia
é o capital 0 o seu objetivo principal o aumento indefinido da
produção e do lucro, a economia corporativa defende a posição
que o sujeito da economia é a nação e que seu objetivo é atin­
gir fins éticos. Segundo Reale, o erro do capitalismo não reside
na propriedade ou iniciativa privadas, mas na ausência de uma
finalidade ética na vida econômica e de um controle da economia
pelo Estado. Paradoxalmente, neste sentido, a economia medie­
val está mais próxima da economia capitalista corporativa, as
corporações não produzem, mas orientam a produção. Nada tem
que ver, portanto, o corporativismo moderno com o corporati­
vismo medieval. Este era particularista; aquele é unitário. O
corporativismo medieval parece-se mais com o regime capitalis­
ta dos trustes e monopólios, onde cada categoria vive isolada,
cuidando egoisticamente de si; onde a produção é controlada
não pela totalidade dos produtores, mas por uma categoria par­
ticular, sem atenção pelos interesses coletivos" (’*3).

c — O socialismo
A importância atribuída ao anti-socialismo no conjunto de
textos ideológicos integralistas é paradoxalmente pequena com­
parada àquela do antiliberalismo. O Manifesto e o Abecedário
referem-se sumariamente ao socialismo e ao comunismo. Salga­
do, que declara “guerra de morte ao liberalismo", contenta-se em
anunciar uma atitude de “alerta contra o socialismo" (in). Rea-
le também escreveu diversos ensaios sobre o liberalismo e suas

(141) REALE (Miguel), O Capitalismo Internacional, op. cit., p. 151.


(142) REALE (Miguel), O Capitalismo Internacional, op. cit., p. 153.
(143) REALE (Miguel), Ibid., pp. 165-166.
(144) SALGADO (Plínio), O Que é o Integralismo, op. cit., p. 53.

238
origens históricas e sobre o capitalismo internacional, mas não
consagrou nenhum livro ao estudo do socialismo. Inclusive, no
seu livro O Estado Moderno, a análise histórica salta do Estado
democrático-liberal ao Estado Integral fascista sem deter-se no
estudo do Estado socialista. Somente num trabalho de divulga­
ção ideológica para militantes de base é que ele dedica um ca­
pítulo ao “drama comunista” (145). Mello redigiu igualmente
apenas algumas páginas para refutar as bases do Estado socialista
em seu ensaio sobre o Estado integralista. Finalmente, Barroso
concentra sua energia no combate anti-semita e considera o so­
cialismo como um epifenômeno da conspiração judaica.
O anti-socialismo manifesta-se de três maneiras na ideologia
integralista. Na primeira, mais comum entre os teóricos integra­
listas, socialismo e liberalismo são considerados expressões de
uma mesma concepção filosófica: o materialismo. Na segunda,
o socialismo e sua estrutura sócio-econômica são considerados
concepções ligadas às doutrinas “fragmentárias” do século pas­
sado e superadas pela experiência fascista “integral”. A terceira,
enfim, pretende, através de um anticomunismo primário, provo­
car o medo ao comunismo entre os militantes integralistas.
A primeira forma de anti-socialismo aparece, por exemplo,
num artigo de Salgado, “Capitalismo e Comunismo”, onde ele
desenvolve a tese de que o capitalismo e o comunismo têm um
fundamento teórico comum. Ele considera que as origens filo­
sóficas, econômicas e os objetivos de ambos são “duas faces de
uma só cabeça” que personifica o materialismo; “O que não se
pode negar é a identidade absoluta do marxismo com a filosofia
burguesa, criada para oprimir os humildes e justificar a explo­
ração do homem pelo homem” (146).
Miguel Reale, cuja posição mais se aproxima da segunda
forma de anti-socialismo, considera socialismo e capitalismo co­
mo duas expressões do “naturalismo” filosófico: “O socialismo,
que nos primeiros anos do século representara um coeficiente no­
tável de ideal ético, corrompeu-se como decalque servil da so­
ciologia burguesa. A civilização burguesa bifurca-se em duas
direções antagônicas. Na realidade, eram (socialismo e libera­
lismo) dois irmãos gêmeos disputando a herança do século

(145) REALE (Miguel), ABC do Integralismo (série Estudos Popu­


lares), São Paulo, Edição Revista Panorama, 1937, pp. 105-106.
(146) SALGADO (Plínio), Madrugada. . op. cit., p. 404.

239
XVIII e as promessas da Revolução Francesa ” (II7). Entre­
tanto, quando o Secretário de Doutrina descreve o “drama co­
munista”, caracteriza o socialismo marxista como uma ideologia
em estado avançado de decomposição. Considera que o apogeu
da corrente socialista teve lugar em fins do século XIX, quando
o movimento incorpora em seu seio intelectuais excepcionais.
Após analisar as causas da decadência do socialismo (148), de­
fende a tese de que entre as duas guerras mundiais, o fascismo,
por suas origens socialistas, seria a nova ideologia capaz de su­
plantar o socialismo marxista: “surgiu o fascismo, não como uma
simples reação ao comunismo, mas como uma nova concepção
de vida, espiritualista, voluntarista, profundamente moral e herói­
ca” C‘°). No processo de passagem do “socialismo naturalista”
ao fascismo, ele ressalta o papel teórico dos revisionistas socia­
listas (Bernstein, Cario Rosseli e Henri de Man), bem como a
decisão de Mussolini e “de outros marxistas sinceros, que tinham
sido marxistas por verdadeiro amor à classe operária” e vieram
a engrossar “as fileiras da Idéia Nova” (,so) na luta contra o
capitalismo e no esforço de ampliação do âmbito da Revolução
a toda a nação.
A terceira forma de anti-socialismo aparece sobretudo após
a ascensão da esquerda no Brasil, seguindo a palavra de ordem
tática de “frente popular” do Komintern, originando a Aliança
Nacional Libertadora (ANL), em 1935. O livro mais característico
do anticomunismo primário difundido na época pelo integralis­
mo, foi escrito, como obra de propaganda, pelo médico Wences-
lau Júnior, chefe do integralismo numa pequena cidade do inte­
rior de Minas Gerais. Este livro foi também vertido para o ale­
mão com o objetivo de divulgar a ideologia integralista nas re­
giões de colonização alemã do Sul do Brasil (’51).
(147) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 23.
(148) Rcale cita os seguintes fatores de decadência do socialismo até
a Primeira Guerra: “a participação à vida parlamentar, a colocação em
questão do intcrnacionalismo proletário pela guerra c a Revolução So­
viética na Rússia, refutando a tese do determinismo econômico”, in
REALE (Miguel), ABC do Integralismo, op. cit., pp. 108-112.
(149) REALE (Miguel), Ibid., p. 112.
(150) REALE (Miguel), ABC do Integralismo, op. cit., p. 113.
(151) Este livro, publicado em 1936, intitula-se cm alemão Der
Integralismus leicht ver stàndlich fiir Alie. Embora os integralistas afir­
mem que ele se destinasse a fazer frente à propaganda nazista, a pesquisa
por questionário feita pelo autor a militantes, nas regiões de colonização
dos Estados do Sul, mostra que a distinção entre integralismo e nazismo
não era, aos olhos de muitos colonos, sempre nítida, sobretudo nas zonas

240
A primeira parte do livro contém mensagens endereçadas a
determinadas categorias da população e na segunda, o conteúdo
da doutrina é traduzido em linguagem popular. Nas mensagens
dirigidas às mães, aos pais, aos agricultores, aos trabalhadores,
às crianças e à juventude, o autor, após tentar despertar a sim­
patia do leitor pela A.I.B., opõe, geralmente, integralismo e co­
munismo. O exemplo mais típico de mensagens anticomunistas
no gênero, dirige-se “às crianças do Brasil”. O autor começa
comparando a época em que ele era criança com a nova situa­
ção brasileira provocada pela ação do integralismo. No seu tem­
po de infância, “nossa vida era só brincar e fazer arte. Só isso.
Hoje, como tudo está diferente! Até você, tão criança, já quer
vestir uma camisa verde, levantar o bracinho direito e dizer com
entusiasmo: “Anauê!”. Depois, procura incutir nas crianças a
idéia de que “os homens que acham feia a camisa verde não que­
rem bem ao Brasil”! E conclui afirmando que o integralismo vai
transformar o Brasil e suprimir o comunismo. E pergunta às
crianças: “Você sabe o que é o comunismo”? A resposta dada
pelo autor da obra, considerada no prefácio por Salgado e Reale
como um modelo de divulgação ideológica é a seguinte: “O Co­
munismo é uma porção de homens que também querem tomar
conta do governo do Brasil, para judiar com os seus pais e des­
respeitar a sua mãe e as suas irmãs. Se o comunismo vencer, você
não será mais de seu pai. Pertencerá ao governo. Não morará
mais em sua casa; não viverá com seus irmãos; não poderá to­
mar a bênção de seu Pai e de sua Mãe. O comunismo acabará
com a tua Família” (152).

rurais. O esforço de resistência, porém, de alguns descendentes de imigran­


tes alemães à penetração do nazismo nas colônias e o vínculo sentimen­
tal à pátria de seus ancestrais, conduzem-nos frcqüentcmcntc, a uma ati­
tude ambígua: aderem ao integralismo ao mesmo tempo que ouvem com
entusiasmo os discursos de Hitier e Gocbbels pelo rádio. Este livro, edi­
tado em alemão, dirige uma mensagem “aos estrangeiros amigos do Bra­
sil’’ que é uma verdadeira chantagem. O autor explica que o integralismo
“é somente contra os estrangeiros inimigos do Brasil, contra a maioria
dos judeus e contra os capitalistas estrangeiros”. Contra estes últimos, “o
integralismo será implacável”. E adiante acrescenta que os estrangeiros
que “amam o Brasil” podem ficar tranqüilos, sobretudo se eles “têm filhos
brasileiros c, melhor ainda, se estes filhos são integralistas”, in XVENCES-
LAU JÚNIOR (J.), O Integralismo ao Alcance de Todos, São Paulo,
Sociedade Impressora Brasileira, 1936, pp. 78-79.
(152) WENCESLAU JÚNIOR (J.), O Integralismo ao Alcance de
Todos, op. cit., pp. 87-90.

241
d — O judaísmo
O anti-semitismo não é um tema ideológico que estabeleça
consenso entre os ideólogos integralistas. Gustavo Barroso é pra­
ticamente o único teórico de uma corrente anti-semita radical, ao
passo que os outros doutrinadores, sem contestar aspectos noci­
vos da ação judaica, especialmente ao nível das finanças inter­
nacionais, parecem mais reticentes em aceitar a tese de que se
pode reduzir o conjunto dos adversários do movimento ao ju­
daísmo (153). Embora se possa estabelecer uma gradação nas
formas de anti-semitismo integralista, o tema, na realidade, incor-
porou-se à ideologia integralista em razão da grande receptivida­
de do combate ao judaísmo entre os militantes de base. Em conse-
qüência, quando teóricos e dirigentes integralistas criticam a ten­
dência de Barroso, suas atitudes não singificam uma posição
neutra diante do problema judaico, mas uma rejeição de seu radi­
calismo. Comprova-se empiricamente esta interpretação através da
análise das atitudes ideológicas dos militantes de base onde se
constata que a dimensão anti-semita está quase sempre presente
no universo ideológico' integralista (15‘).
Barroso poclama em seus livros panfletários que o integra-
lismo deve afirmar-se anti-semita (l55). A amplitude de seu pre­
conceito pode-se medir pela epígrafe que ele escolheu para seu
ensaio histórico Brasil, Colônia de Banqueiros: “Trotski e Roths-

(153) Discordando do radicalismo anti-semita dc Barroso, Salgado


publica uma carta aberta sobre o problema na revista Panorama em res­
posta a uma consulta feita por integralistas cm desacordo com a linha do
comandante da milícia. Esta carta-abcrta, com data de 24 dc abril de
1934, demonstra que a posição de Salgado é mais moderada: “Não sus­
tentamos preconceitos de raça; pelo contrário, afirmamos ser o povo e
a raça brasileiros tão superiores como quaisquer outros. Em relação ao
judeu, não nutrimos contra essa raça nenhuma prevenção. Tanto que de­
sejamos vê-la em pé dc igualdade com as demais raças, isto é, misturan­
do-se, pelo casamento, com os cristãos (...). Quanto ao capitalismo ju­
deu, na realidade ele não existe como tal. O que se dá é apenas uma
coincidência; mais dc 60% do agiotismo internacional está nas mãos is­
raelitas. Isso não quer dizer que sejam eles os responsáveis exclusivos
pelas desgraças atuais do mundo (...). A animosidade contra os judeus
é, além do mais, anticristã e, como tal, até condenada pelo próprio cato­
licismo. A guerra que se fez a essa raça na Alemanha foi, nos seus exa­
geros, inspirada pelo paganismo c pelo preconceito dc raça. O problema
do mundo é ético c não étnico’’, Panorama, 1(4-5), abril-maio, 36: 3-5.
(154) Ver a análise das escalas de atitude, na parte 5 deste capítulo.
(155) BARROSO (Gustavo), O Espírito do Século XX, op. cit., p. 79.

242
child marcam a amplitude das oscilações do espírito judaico; es­
tes dois extremos abrangem toda a sociedade, toda a civilização
do século XX (Léon de Poncins)”(15G).
A obra de Barroso foi muito influenciada pelo livro de
Léon de Poncins, Les Forces Sécrètes de la Révolution, traduzido
para o português cm 1931; pelo clássico do anti-semitismo cató­
lico na França, La France Juive, de Drummond, e provavelmente
pela propaganda anti-semita da Alemanha de Hitler, à qual sen-
tia-se afetivamente ligado por sua ascendência maternal germâ­
nica. Ele se torna, por sua obra c traduções de textos anti-semitas
que realizou, o centro de irradiação da propaganda contra os ju­
deus no Brasil dos anos 30. Seus principais livros sobre o tema
são: O Quarto- Império, onde descreve a influência judaica em
períodos decisivos da evolução da humanidade; Brasil, Colônia
de Banqueiros e História Secreta do Brasil, que pretendem de­
monstrar a ação nefasta dos judeus contra os interesses do Bra­
sil, especialmente através do controle das finanças internacionais;
A Sinagoga Paulista e Judaísmo, Maçonaria e Comunismo, o
primeiro denunciando a conspiração judaica em São Paulo e o
segundo difundindo os fundamentos doutrinários do anti-semi­
tismo (157).
Barroso crê que a “questão judaica” não é religiosa ou racial,
mas essencialmente política: “Ninguém combate o judeu porque
ele seja de raça semita nem porque siga a religião de Moisés.
Mas sim porque ele age politicamente dentro das nações, no sen­
tido de um plano pré-concebido e levado por diante através dos

(156) BARROSO (Gustavo), Brasil, Colônia de Banqueiros, op. cit.,


p. 9.
(157) Barroso traduz Les Protocoles des Sages du Sion, São Paulo,
Agencia Minerva, 1936, bem como o livro de Bertrand, La Franc-Ma-
çonnerie, sect juive, São Paulo, Agência Minerva, 1938. A tendência anti-
-semita de Barroso influenciou vários autores integralistas como: TE-
NORIO D’ALBUQUERQUE (A.), Integralismo, Nazismo e Fascismo, Rio,
Editora Minerva, 1937; GOUVEIA (Oswaldo), Brasil Integral, Rio,
Schmidt, 1936; BUTLER MACIEL (A.), Nacionalismo. Um bom exemplo
da permanência de sentimentos anti-semitas nos integralistas é o seguinte
fato: um dirigente integralista local que mc emprestou um exemplar dos
Protocolos explicou que era um dos últimos exemplares existentes, uma
vez que os judeus fizeram desaparecer o livro das livrarias c das bibliote­
cas particulares. Ele ainda tinha um exemplar porque havia recusado
vendê-lo por um preço excepcional a um intermediário ligado ao judaís­
mo.

243
tempos” C58). Ele considera que a crise, que se desenvolve há
muito tempo e que conduz à Primeira Guerra Mundial e às
conseqüências morais e econômicas — não resultou de uma con­
juntura, mas foi provocada “de maneira intencional pelos ju­
deus”. A conspiração judaica utiliza-se de todos os meios pos­
síveis e aparentemente contraditórios para conquistar o mundo
e implantar a “República Universal” sob sua dominação (15°). O
autor justifica, pois, a vaga de anti-semitismo que se espalhava
pelo mundo e a necessidade de uma ação contra os judeus no
Brasil como uma “reação instintiva contra a ação nefasta de
Israel, o parasita que se quer tornar, através do capitalismo e do
comunismo, dono dos destinos humanos” (16°).
Portanto, o vínculo que Barroso estabelece entre o integra-
lismo e o nacionalismo anti-semita é lógico. Ele apregoa que só
um poder forte pode libertar o Brasil das forças dominadas pelos
judeus, que mantêm o país sob sua dominação há muito tempo.
Ele cita os inimigos como sendo as “forças ocultas” da maçona-
ria, a “Burschenchaft” (1G1) do judaísmo; “as forças aparentes”
da imprensa e da política manipuladas pelos primeiros e, enfim,
as “forças econômicas e financeiras” internas e externas, contro­
ladas pelo judaísmo (162).

4 — ATITUDE FACE AO FASCISMO EUROPEU


O último aspecto relevante do discurso ideológico é verificar
se existe, nos textos doutrinários, a presença de um reconheci-
(158) BARROSO (Gustavo), O que o Integralista Deve Saber, op.
cit., p. 119. “Entre nós, o anti-semitismo não pode provir dum sentimento
racista, porque o brasileiro é eminentemente contrário a qualquer racismo
(...). O velho anti-semita francês Drummond, autor de França Judaica,
declarava: “Os judeus entram pobres num país rico e saem ricos dum
país empobrecido. .Por essas razões somos antijudaicos. Não o somos
no sentido de perseguir os judeus, mas no de esclarecer o povo brasileiro
contra o perigo...”, in BARROSO (Gustavo), Judaísmo, Maçonaria e
Comunismo, Rio, Civilização Brasileira, 1937, pp. 10-12.
(159) Seria fastidioso indicar os argumentos, citações do Talmud,
decisões das organizações internacionais judaicas e provas do controle
financeiro mundial ou dos órgãos principais do Estado soviético pelos
judeus, apresentados por Barroso.
(160) BARROSO (Gustavo), Judaísmo, Maçonaria e Comunismo,
op. cit., p. 9.
(161) É o nome, segundo Barroso, de uma sociedade secreta funda­
da cm Burschenchaft, cm 1835, pelo judeu alemão Julius Franck, in
BARROSO (Gustavo), Judaísmo, Maçonaria e Comunismo, op. cit.
(162) BARROSO (Gustavo), O Espírito do Século XX, op. cit., p. 62.

244 ■
mento explícito por parte dos teóricos integralistas, de uma in­
fluência fascista européia. Um bom indicador seria analisar a
posição oficial do movimento sobre este ponto através dos escri­
tos do Secretário Nacional da Doutrina, Miguel Reale.
Reale, analisando as origens da sociedade liberal, define
três grandes fases: a primeira, que termina com a Revolução
Francesa, é a fase do “naturalismo estático”, que se inspira nas
ciências astronômicas e matemáticas; a segunda, que perdura até
a Primeira Guerra Mundial, é a fase do “naturalismo dinâmico
evolucionista”, repousando sobre a ilusão de um progresso con­
tínuo; enfim, a terceira, é a fase do “naturalismo dinâmico revo­
lucionário”, resultante das noções de descontinuidade histórica
através da ação dos grandes homens (103).
O ponto comum entre as três fases é uma explicação da
vida social baseada sobre as ciências naturais, uma visão meca-
nicista e não mais finalista da história. A rejeição destes dois
postulados permitiu a passagem ao novo ciclo da “política huma­
nista”, através da revalorização do princípio da finalidade, onde
o fascismo busca suas raízes, superando-o rapidamente (1G4).
O interesse desta fase vem de que ela está elaborando uma
“nova humanidade” cujo etos característico é o “humanismo in­
tegral”. Se o século XIX foi um “século de análise”, o nosso
tem a vocação de ser um “século de síntese” (1C5). O autor jus­
tifica sua afirmação com o desenvolvimento do próprio fenôme­
no fascista. “As várias teorias anteriores refletiam fragmentos da
realidade. Por isso erraram. O fascismo as integrou alcançando
a visão total (. . .). Toda ação política de hoje deve se inspirar
no conceito de “superamento” de Rccco” (1GG).
Reale, tentando determinar as fontes do fascismo, começa
por criticar a posição do jurista brasileiro Vicente Rao, que con­
sidera o fascismo o resultado de três correntes: o socialismo sin­
dicalista, a teoria do direito objetivo de Duguit, e a técnica da
violência.
(163) REALE (Miguel), Formação Política Burguesa, op. cit., p.
137-138.
(164) Nesta corrente, Reale coloca também Lenine, distinguindo a
dialética hegeliana-evolucionista de Marx da pragmática-revolucionária de
Lenine, Ibid., p. 138.
(165) Reale insiste sobre o fundamento socialista do fascismo e
rcfcre-sc frequentemente à contribuição teórica dos “neo-socialistas,
Bernstein, Cario Rossclli c Henri de Man”.
(166) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 174. Alfredo
Rocco, jurista, deputado c teórico fascista ultranacionalista.

245
Se ele não nega a inspiração sindicalista do fascismo, consi­
dera o sindicalismo em si mesmo como um produto do sistema
liberal, ou seja, um individualismo em segundo grau. O fascis­
mo, em sua interpretação, corresponde a um sindicalismo sem
espírito sindicalista, porque é preciso não esquecer que “o novo
e universal do Fascismo" é o seu “realismo orgânico e totalitá­
rio” (1C7).
Na concepção fascista de Reale, há uma contradição entre
o sindicalismo de tipo soreliano, “essencialmente antiestatal" e o
Estado corporativo fascista. Sua posição é a de que “o fascismo
conserva só o que tem um valor de vida, isto é, os elementos que.
na expressão do Duce, podem ser considerados fatos adquiridos
da História (...). Sindicalismo, nacionalismo e estatismo, na
doutrina fascista, se fundem” (108).
Contesta também que se possa explicar o fascismo pela teo­
ria de Duguit. O jurista francês nega a vontade geral de Rous-
seau e a substitui por uma pluralidade de vontades que se arti­
culam entre si para criar uma situação de direito que se chama
Estado. Em realidade, Duguit continua, segundo ele, a encarar
o Estado como um contrato e um instrumento. “O Estado fas­
cista, observa Reale, não é um simples “fato” à maneira de
Duguit. O Estado — e ele cita Mussolini — não é só presente,
mas também passado e sobretudo futuro. É o Estado que, trans­
cendendo o limite breve das vidas individuais, representa a cons­
ciência imanente da Nação. (16°).
Finalmente, com relação à técnica da violência como sobre
a contribuição do sindicalismo revolucionário, a posição de Rea­
le introduz mais uma nuance do que uma discordância. Embora
rejeitando a idéia de que o fascismo aceita a violência pela vio­
lência e considere que a violência fascista foi “a fase inicial da
reação nacional e ética”, não se pode comparar, na sua opinião,
a violência fascista com a violência bolchevista. Considera, con­
tudo, que “o pacifismo então seria igual à cumplicidade e ao
suicídio” e conclui, ironicamente, que não se pode falar de vio­
lência na ascenção de Hitler, porque “o chanceler do Reich su­
biu ao poder com uma elegância única: serviu-se do voto sobe­
rano. . . e secreto, revelando ao mundo a última utilidade de um
regime democrático formalista” (17°).
(167) Ibid., p. 139.
(168) Ibid., pp. 135 e 140.
(169) Ibid., p. 141.
(170) Ibid., p. 144.

246
Reale apresenta, em contraposição, o que julga serem as
verdadeiras fontes do fascismo. Sua análise não contradiz, mas,
de fato, completa a de Vicente Rao. Na sua opinião, as três
fontes do fascismo são o estatismo, o socialismô nacionalista e
o solidarismo (171).
O estatismo busca sua origem na reação contra o abuso do
direito natural da Revolução Francesa. “Na França, Bonald e
De Maistre desfraldaram a bandeira de reação em nome da tra­
dição, que os enciclopedistas e os discípulos de Rousseau haviam
esquecido totalmente, fazendo tabula rasa da história ( .).
Continuando a obra de De Maistre, Augusto Comte fez uma
crítica cerrada às ideologias do século anterior.” Na Alemanha,
as correntes históricas de Savigny, orgânica de Gerber e jurídica
de Mayer, fundem-se no estatismo de Jellineck. A teoria do Es­
tado alemã atinge então seu apogeu. O Estado aparece como
uma pessoa dotada de vontade própria. Enfim, na Itália, os teó­
ricos tentam combinar a moderação francesa com o absolutismo
germânico. A concepção do Estado exposta por Gioberti corres­
ponde à defendida pelo fascismo: “O Estado pertence ao povo,
mas não ao povo em massa e sim ao povo organizado em uma
unidade superior” (172).
O socialismo nacional, segunda fonte do fascismo, nasce de
uma dupla crise no seio do socialismo: a derrota histórica do
internacionalismo proletário durante a Primeira Guerra e o de­
senvolvimento do revisionismo socialista: “o internacionalismo
classista (proletário) não passava de um sonho criado pelas men­
tes exaltadas de Marx e de Sorel. É que a Nação é uma realida­
de. Os socialistas que viveram profundamente o drama da guer­
ra compreenderam logo que nacionalismo e socialismo se haviam
fundido em uma unidade nova e superior. É a crise interior de
um Mussolini e de um Hitler, a visão maravilhosa do Fascis­
mo . .” (173).

(171) Reale, cm seu ensaio Formação da Política Burguesa, avalia


as contribuições de Lutcro, Maquiavel e Bodin ao fascismo: Lutcro “é
medieval pelo sentimento, mas romano pelo espírito político; seu ideal é o
Estado forte”. Na obra de Maquiavel, fundador da ciência política, “o
ideal nacionalista adquire um fundamento mais sólido”. Bodin, enfim, é
um precursor do fascismo porque “não propõe a supressão das corpora­
ções, mas sua integração no Estado”, Ibid., pp. 89, 96 e 151.
(172) REALE (Miguel), Formação Política Burguesa, op. cit., pp.
145-154.
(173) Ibid., p. 161.

247
O autor, que também vinha do socialismo, entende que não
há contradição entre socialismo e fascismo. Ao contrário, o fas­
cismo tem a vantagem de haver ampliado o anticapitalismo so­
cialista: “a causa do anticapitalismo era a mesma causa do nacio­
nalismo; as exigências naturais e lógicas do ideal socialista de­
viam se libertar do joio do materialismo histórico, do internacio-
nalismo econômico e do quadro estreito das lutas de ciasse ( ).
O anticapitalismo deixou de ser somente do proletariado para ser
de toda Nação” (17‘).
A terceira fonte do fascismo é o solidarismo. Neste plano
Reale destaca a contribuição de Durkheim, no seu livro Divisão
do Trabalho Social, ao desenvolvimento concreto da experiência
fascista, cujo mérito foi de “revelar a organicidade dos fenôme­
nos sociais” (17S). O valor do fascismo foi o de ter realizado a
integração dos grupos no Estado, inspirando-se nos princípios de
Durkheim, sobre a solidariedade objetiva e subjetiva: a socieda­
de moderna não se encontra mais na fase da unidade mecânica
da “justaposição de atividades”, mas na nova fase da “solidarie­
dade orgânica”. O fascismo baseou-se em Durkheim, mas o su­
perou: completou a lei geral da “discriminação individual e da
coesão social” pelo princípio segundo o qual “o fortalecimento
do poder central é diretamente proporcional à velocidade e in­
tensidade da divisão do trabalho” (17G).
Todas estas bases históricas e sociais do fascismo não se
teriam transformado em realidade se um “arquiteto genial" (Mus-
solini) não tivesse surgido para integrá-las numa nova síntese:
“Ele nos deu um modelo em contínua perfectibilidade, em
perpétua revolução, refletindo todas as características essenciais
da Nação itálica E o que ele “fez de mais extraordi­
nário foi reatar a linha humanista interrompida pelo naturalismo
social e conclamar a mocidade para viver intensa e heroicamente
a vida” (177).
O importante no pensamento de Reale sobre o fascismo não
é apenas sua admiração por Mussolini, mas, sobretudo, o julga­
mento que ele estabelece sobre o papel do fascismo no mundo.
O valor do Duce, dentro de seu ponto de vista, deve-se ao fato
de que, por sua ação, ele criou uma nova forma de luta e pelo

(174) Ibid., p. 165.


(175) Ibid., p. 167.
(176) Ibid., p. 169.
(177) Ibid., p. 172.

248
Estado fascista, um novo modelo, ambos com uma vocação uni­
versal: “a anarquia durou na Itália e na Alemanha até o dia em
que os ex-combatentes souberam afastar os estadistas do século
passado para governar o mundo com os estadistas do século
XX” (’78). O mesmo processo deverá produzir-se em outros
países, segundo ele, se não for rejeitada a mais importante lição
da Primeira Guerra Mundial. E Reale indica o remédio: “É ne­
cessário um governo forte, um profundo senso de hierarquia
e disciplina, porque o equilíbrio não pode restabelecer-se espon­
taneamente sem unidade de coordenação e direção. O novo
modelo político a ser adotado é o do Estado Integral.”
No artigo intitulado “Nós e os Fascistas”, publicado em
1936, na revista Panorama, Reale define as relações existentes
entre o integralismo brasileiro e o fascismo europeu: “Nada de
extraordinário, por conseguinte, que sejamos brasileiros, naciona-
listicamente brasileiros, e, ao mesmo tempo, apresentemos valores
que se encontram também em movimentos fascistas europeus,
como o de Mussolini, de Hitler e de Salazar” (17°). Ele não
dissimula a importância que atribui ao fascismo italiano face a
outros movimentos do gênero. Neste sentido, procura distinguir
o que é peculiar à situação italiana do que tem uma vocação
universal. Na sua opinião, “o Fascismo contém muitos valores
universais, aplicáveis a todos os povos ligados à cultura cristã
(.. .). Mas o fascismo foi se elaborando no terreno da praxis
(. . .) e tem a vantagem de ser uma "teoria vivida” e não so­
mente um quadro mental sem a verificação decisiva da experiên­
cia” (18ü). Todavia, a tomada de consciência do conteúdo uni­
versal do fascismo não ocorreu imediatamente: “O cunho empí­
rico, pragmático e relativista do Fascismo foi tão notável que os
italianos não perceberam desde logo o caráter universal de seus
princípios. É estranho, mas é verdade. Fomos nós estrangeiros
que mostramos aos peninsulares que a experiência do Fascismo
não tem só um valor restrito à Itália, mas constitui uma expe­
riência universal. Inicialmente, Mussolini afirmava: o Fascismo
não é artigo de exportação; agora, ele mesmo reconhece que o
Fascismo é a doutrina universal do século” (181)-

(178) Ibid., p. 157.


(179) REALE (Miguel), “Nós e os Fascistas’’, Revista Panorama, I,
6, junho de 1936, p. 13.
(180) Ibid.
(181) Ibid., p. 14.

249
Também no seu ensaio O Capitalismo Internacional, Reale,
após ter feito referência à obra jurídica realizada pelo fascismo,
proclama que o fascismo é “a ascensão magnífica, tendente a
identificar cada vez mais o Estado e o Povo, integrando progres­
sivamente todos os produtores no sistema orgânico da vida na­
cional” (182). Seu entusiasmo pelo fascismo é tão grande que
não hesita em afirmar que “a Carta dei Lavoro é para a história
contemporânea o que foi a Declaração dos Direitos do Homem
para a evolução liberal-democrática do último século” (183). Por
outro lado, ele crê no papel “revolucionário” do fascismo, consi­
derando-o indissociável da corrente socialista: “Não há lugar para
o nacionalismo que não seja também socialismo, ou seja, que não
contenha os elementos de uma profunda revolução social, de uma
poderosa renovação nos costumes e hábitos da vida individual c
coletiva” (184). Portanto, mesmo que seja difícil avaliar a ampli­
tude da “revolução” proposta por Reale, já que “socialismo” se
confunde com “revolução social” e esta com “renovação dos
hábitos e costumes”, em todo caso, na sua interpretação, o fas­
cismo seria ao menos uma forma de reformismo social (185).
Portanto, o integralismo aceita do fascismo o conteúdo “re­
volucionários, o nacionalismo, a orientação superior do Estado,
a base sindical-corporativa, o principia da solidariedade social”,
mas impõe-lhe uma restrição: não deve desrespeitar os “direitos”
fundamentais da pessoa humana (1Sfi). A originalidade reivindi-

(182) REALE (Miguel), Capitalismo Internacional, op. cit., p. 121.


(183) Ibid.
(184) REALE (Miguel), “Nós e os Fascistas”, Panorama, op. cit.,
p, 15.
(185) É interessante destacar o papel revolucionário que Reale atri­
bui às classes médias, que têm produzido em todas as épocas “as mais
altas expressões do gênio”, bem como as relações que estabelece entre a
modalidade social descendente e a revolução: “É essa classe que faz a
revolução, porém é ela a portadora da Idéia. As outras camadas sociais,
as superiores c as inferiores, recebem dela a seiva vivificadora, mas as
últimas sobem de mãos dadas com ela. Quando os homens da classe
média perdem a sua posição social c econômica, dá-se uma revolução
que pode se processar tanto na linha do desespero bolchevista como no
sentido orgânico do Intcgralismo” (ou seja fascista), in REALE (Miguel),
Capitalismo Internacional, op. cit., p. 89.
(186) O caráter teórico da observação de Reale aparece quando ele
afirma, no mesmo artigo: “Não que na Itália se ofendam os direitos da
personalidade. Mas há lá mais “vitalismo” (valorização do esplendor
material) que propriamente “espiritualismo” (valorização dos valores do
Espírito), in REALE (Miguel), “Nós e os Fascistas”, Panorama, op. cit.,
p. 15,

250
cada pelo integralismo é de ser, enquanto movimento e doutrina,
mais “espiritualista” do que “vitalista”. É bem provável que
Salgado, em função de sua formação cristã, fosse mais sensível
aos princípios espiritualistas do que o foi Reale. Aliás este
último declarou recentemente que “a estrutura de meu pensa­
mento é mais social, política e econômica do que a de Salgado,
que estava mais próxima de um cristianismo social” (187).
Entretanto, embora Reale analise os fundamentos fascistas
do integralismo, ele indica aspectos do fascismo que a Ação Inte­
gralista deve rejeitar. A norma geral é que os princípios univer­
sais do fascismo devem ser adaptados às condições do meio. O
integralismo não deve assimilar os aspectos locais do fascismo
ou as características italianas do nacionalismo fascista, nem as
dimensões ideológicas ligadas à tradição histórica romana ou as
formas de sua implantação na Itália. Na sua interpretação, por
exemplo, o racismo seria uma dimensão local do nacionalismo
alemão; a violência totalitária do fascismo italiano estaria vin­
culada às condições político-sociais da Itália na década de 1920
e o cesarismo político teria suas raízes na história secular da Itália.
A posição de Reale com relação ao nacional-socialismo é
mais reservada. Neste particular, ele e Salgado separam-se de
Barroso, mais próximo afetivamente da Alemanha e,' sobretudo,
do anti-semitismo: “Do Hitlerismo podemos tirar algumas lições
em matéria da organização política e financeira, mas não sabe­
mos em que nos poderia ser útil a tese da superioridade racial,
tese que consulta uma situação local” (18S).
Cabe ressaltar que o integralismo deve sua opção re­
publicana a Reale, o que afastou do movimento a maior parte
do grupo monarquista. O republicanismo e um certo preconceito
antifrancês explica sua atitude com relação à Ação Francesa
e ao Integralismo lusitano (18°), ambos monarquistas: “Maurras
reconhece a rigorosa necessidade da monarquia no mundo con­
temporâneo, enquanto nós integralistas já fixamos de maneira
claríssima a nossa orientação republicana.” Adiante acrescenta:
“Maurras é católico intransigentemente católico” e crê “no ca­
tolicismo como um fator básico da grandeza nacional”. E
(187) Entrevista com Miguel Reale, São Paulo, junho de 1969.
(188) REALE (Miguel), “Nós e os Fascistas”, Panorama, op. cit.,
p. 16.
(189) A posição de Salgado, ao contrário, tem muitas afinidades com
o Integralismo lusitano. Os autores de Portugal que mais o influenciaram
foram Antonio SARDINHA, Rolâo PRETO: Oliveira SALAZAR, João
AMEAL, Hipólito RAPOSO.

251
conclui: “para Maurras, Barres, Bourget ou Léon Daudet, nada
deve existir acima da Pátria, nem Justiça, nem Verdade, nem
Razão (.. ): só o nacionalismo, para eles, tem existência real.
O universalismo é aceitável tão somente quando constitui ex­
pressão do gênio francês. A pátria gaulesa é o valor supremo,
a realidade fundamental e eterna" (19°).
Comparando-se, finalmente, a atitude de Salgado face ao
fascismo com a de Reale, o primeiro fato que surpreende é a
ausência de qualquer referência explícita à influência fascista sobre
a ideologia. A suprema ambição do chefe integralista seria a
de construir uma doutrina política original. Além disto, seu na­
cionalismo chauvinista exaltado seria contraditório com a impor­
tação de qualquer dimensão da ideologia fascista. Embora ele
seja o. menos fascista dos teóricos integralistas, sua admiração
pelo fascismo italiano, revelada nas cartas enviadas a amigos,
por ocasião de sua viagem à Europa, bem como a confiança
depositada em Reale, enquanto secretário nacional de doutrina
e o estilo do personagem que sempre representou de acordo
com o figurino dos principais chefes fascistas (191), estão em
contradição com seu esforço em dissimular qualquer influência
fascista (192).
A posição de Olbiano de Mello, que pretendera fundar um
partido fascista antes da Ação Integralista nascer, é mais expli­
cita. Nem ele nem Sombra podem negar a inspiração fascista de
seus movimentos, ainda que este tenha combinado o catoli­
cismo social contra-revolucionário com o fascismo italiano. Bar­
roso, porém, é, com certeza, o que levou mais longe a pregação da
solidariedade entre o integralismo e os movimentos fascistas
europeus: “No dia em que as doutrinas fascistas tiverem o mundo
inteiro nas mãos, numa aliança universal (.. ), um equilíbrio
social melhor permitirá aos povos a tranqüilidade necessária para
organizarem a paz social” (193). Mesmo que ele não pretenda
que o Integralismo imite o fascismo, considera que pertence à
(190) REALE (Miguel), “Nós c os Fascistas’’, Panorama, op. cit.,
p. 11.
(191) A análise de Salgado enquanto chefe foi desenvolvida no ca­
pítulo sobre A Organização (cf. infra).
(192) A influência fascista sobre Salgado não foi exclusiva. Ele
sofreu ccrtamentc uma grande influência do Integralismo lusitano e da
doutrina social-católica, de onde se origina sua valorização da autonomia
municipal, do corporativismo tradicional e das bases espiritualistas da
ideologia.
(193) BARROSO (Gustavo), O Quarto Império, op. cit., p. 171.

252
mesma família ideológica (”“). Embora distinga algumas par­
ticularidades dos fascismos europeus com relação ao integralismo,
sua atitude fundamental traduz-se na consciência da solidariedade
que se estabelece entre todos os movimentos fascistas da década
de 30. A melhor demonstração desta consciência fascista uni­
versal é o livro de Barroso O Integralismo e o Mundo, no qual
exalta a expansão dos movimentos fascistas em trinta e oito
países. Barroso, ao descrever, numa passagem, os traços comuns
dos movimentos fascistas em expansão, está convencido de que
“o Integralismo Brasileiro é o que contém, de todos os movi­
mentos de caráter fascista, maior dose de espiritualidade e um
corpo de doutrina mais perfeito, indo desde a concepção do mun­
do e do homem à formação dos grupos naturais e à solução dos
grandes problemas materiais” (’05).

5 ATITUDES IDEOLÓGICAS DOS MILITANTES


As análises do fascismo se limitam, em geral, ao estudo
histórico da ideologia e da organização fascista. Este enfoque
clássico pode ser suficiente para a análise dos movimentos cuja
natureza ideológica é indiscutível. No entanto, quando o objeto
de estudo é determinar a natureza de um movimento de aparência
fascista, parece indispensável integrar uma nova dimensão: as
atitudes ideológicas dos militantes. Neste sentido, foi desenvol­
vida uma enquete junto aos dirigentes nacionais, regionais, locais
e militantes de base a fim de analisar suas atitudes com relação
a um conjunto de proposições ideológicas.
O objeto da pesquisa era o de constatar nos integralistas a
presença de dois elementos básicos à configuração de uma atitude
do tipo fascista no Brasil entre as duas guerras. A primeira seria
o grau de identificação dos integralistas com o fascismo; a segunda
o grau de radicalismo ideológico dos militantes da A.I.B. Pre­
tendia-se, pois, determinar o grau de conformidade entre as ati­
tudes dos militantes integralistas e as principais dimensões da
ideologia fascista e esperava-se que as atitudes ideológicas dos
integralistas se situassem sempre mais à direita ideologicamente
que as dos grupos-controle de não-integralistas.
Após a definição das hipóteses, um conjunto de proposições
foi elaborado para avaliar as atitudes dos integralistas através
(194) BARROSO (Gustavo), O Integralismo em Marcha, op. cit.,
p. 89.
(195) BARROSO (Gustavo), O Integralismo e o Mundo, Rio, Civi­
lização Brasileira, 1936, p. 15.

253
de comportamentos verbais. O instrumento de medida das ati­
tudes foi estabelecido a partir do núcleo de proposições ideo­
lógicas que tentava reduzir às suas dimensões básicas o modelo
fascista italiano, com algumas dimensões do nacional-socialismo.
A atitude fascista não seria caracterizada, em conseqüência, na
ótica das pesquisas dirigidas por Adorno, sobre a “personalidade
autoritária”, mas em termos de fascismo ideológico, quer dizer,
dos principais temas, valores e preconceitos associados à ideo­
logia fascista (106).

a — Identificação fascista
A análise do grau de identificação entre as ideologias inte­
gralista e fascista não implica em julgamento de valor sobre as
relações entre o integralismo e os fascismos europeus; pretende-se
apenas verificar a existência de um parentesco entre estes dois
universos ideológicos. A análise propõe-se a determinar o grau
de adesão dos integralistas às dimensões fundamentais da ideo­
logia fascista expressa através de distribuições marginais das res­
postas a cada questão.
A primeira dimensão ideológica considerada é o naciona­
lismo, uma vez que todo movimento fascista se estrutura a partir
de uma atitude profundamente nacionalista. Mesmo quando este
nacionalismo não se explicita nos textos doutrinários, o fascismo
é essencialmente a mobilização de um sentimento nacional exa­
cerbado. As perguntas do questionário que incluem esta dimen­
são procuram captar o nacionalismo fascista em sua totalidade.
Elas se referem aos temas do desenvolvimento da consciência
nacional (01), da independência política nacional (19), da supre­
macia da nação (44), da identificação com o passado e a tradi­
ção (39), da defesa intransigente da soberania nacional (20),

(196) Os temas são: nacionalismo, anti-socialismo, antiliberalismo,


antiplutocratismo, anticapitalismo internacional, corporativismo, socialis-
mo-nacional, valores e preconceitos (anti-semitismo, visão hierárquica, an-
timaçonaria, visão pessimista da história, exaltação dos valores autori­
tários, espirituais, tradicionais, valorização dos grupos naturais, das vir­
tudes militares), ética fascista (fidelidade, disciplina, amizade, sacrifícios),
mística da transformação social e solidariedade face aos fascismos euro­
peus. Em seguida, procurou-se formular proposições capazes de exprimir
os temas e os valores fascistas e de os traduzir cm uma linguagem que
levasse em consideração o vocabulário ideológico atual. A principal di­
ficuldade na elaboração das questões decorreu do fato de que elas se
endereçavam a indivíduos marcados por “um complexo fascista*’ e sobre
temas em geral superados pela evolução histórica.

254
do nacionalismo econômico (64) e da crença no destino histórico
da Pátria.
As respostas revelam um alto grau de identificação dos inte­
gralistas ao nacionalismo. A idéia de que o Brasil deve cumprir
uma missão histórica é mais que uma crença, torna-se um mito
motor no sentido soreliano. O núcleo ideológico deste naciona­
lismo se organiza em torno do culto ao passado, da afirmação da
independência e da fé no futuro da Nação. A origem deste sen­
timento vem de uma atitude de retorno ao passado nacional
cujas raízes se encontram na exaltação do habitante primitivo
antes da colonização portuguesa: o índio.
A reticência porém de um pequeno número em colocar o
interesse da Nação acima de tudo, explica-se pelo conflito pessoal
dos militantes entre a submissão incondicional ao nacionalismo e
a vinculação a valores espirituais. Além disto, o desacordo de
uma minoria cm relação à necessidade de “despertar a Nação”
não implica necessariamente na rejeição da idéia, mas na crença
de que a ação desenvolvida pelo integralismo na década de 30 já
atingira este objetivo. Enfim, apesar da manifestação de uma
atitude de nacionalismo econômico, um certo número de integra­
listas admite a exploração das riquezas nacionais por empresas
estrangeiras desde que elas sejam controladas pelo Estado.
QUADRO N.° 30
NACIONALISMO
(Em percentagem)

Concorda Pouco [
Concorda Sem
Muito Discorda Pouco Opinião
Discorda Muito
Consc./Nacional (01) 73,0 27,0 0,0
Indcp./Nacional (19) 94,0 5,0 1,0
Sober./Nacional (20) 94,0 6,0 0,0
Trad./Nacional (39) 99,0 1,0 0,0
Missão/Histórica (40) 98,0 2,0 0,0
Suprem./Nação (44) 89,0 11,0 0,0

Discorda Pouco Sem


Discorda Concorda Pouco
Muito Opinião
Nacion./Econômico ♦ (64) Concorda Muito
80,00 20,0 0,0
* Proposição Negativa.

255
Ainda que certos teóricos fascistas se proclamem socialistas
e que Mussolini fosse um antigo militante socialista, um dos tra­
ços comuns da ideologia fascista é a recusa do socialismo sob
todas suas formas. Na Itália, onde a luta operária na época do
surgimento do fascismo era muito mais violenta, o anti-socialismo
torna-se um combate agressivo. Entretanto, para a segunda gera­
ção dos movimentos fascistas, o anti-socialismo transforma-se
sobretudo num tema mobilizador de energias políticas ou inspi­
rador de ações preventivas. A ação do movimento operário sob
o espectro da ameaça revolucionária soviética, engendra na Euro­
pa um reflexo anticomunista generalizado. Quando os fatos não
são muitos convincentes, a denúncia da ameaça socialista aumenta
porque uma de suas funções é a de criar o inimigo externo a fim
de estimular a disposição de luta dos militantes.
As questões destinadas a medir o grau de anti-socialismo
dos integralistas se apoiam em vários temas: a rejeição da tese
marxista da socialização dos meios de produção (03); a assimila­
ção do socialismo ao comunismo (42); a percepção de uma
ameaça comunista comprometendo o futuro da América Latina,
(23); a condenação da revolução cubana (27); a necessidade de
combater toda a forma de socialismo (71) e, enfim, a utilização
dos meios violentos na luta contra o comunismo (47).

QUADRO N.° 31

ANTI-SOCIALISMO
(Em percentagem)

Concorda Concorda Pouco Sem


Muito Discorda Pouco Opinião
Discorda Muito
Propr./Priv. (03) 90,0 10,0 0,0
Ameaça/Comum. (23) 88,0 12,0 0,0
Ident./Soc.-comun (42) 81,0 17,0 0,0
Violenc./A.-Comun. (47) 88,0 12,0 0,0
A./Social (71) 73,0 26,0 1,0

Discorda Pouco Sem


Discorda Concorda Pouco
Muito Opinião
Revol./Cubana * (27) Concorda Muito
90,0 9,0 0,0
♦ Proposição Negativa.

256
As respostas confirmam a intensidade do anticomunismo
integralista. A recusa da revolução cubana e a defesa da proprie­
dade privada contra a socialização, revelam, ao mesmo tempo no
plano histórico e teórico, uma atitude anti-socialista. Esta se
reforça quando três quartos das respostas são favoráveis à luta
contra os movimentos socialistas, seja para resistir, seja para
combatê-lo por meios violentos. A combinação de dois elemen­
tos, o anti-socialismo ideológico e a mobilização anticomunista,
constitui o fundamento do anti-socialismo fascista. A primeira
atitude é comum à direita conservadora-liberal e ao fascismo,
enquanto que a segunda atitude supõe uma predisposição à ação
direta que, em geral, associa-se aos fascistas. Apesar da inten­
sidade da ação anticomunista dos “camisas-negras” da Itália, que
serviu de exemplo a outros movimentos fascistas ou nacionalis­
tas, não se pode considerar o fascismo italiano um movimento
exclusivamente anticomunista. Todavia, esta capacidade de mobi­
lização violenta é uma das formas de distinguir a direita clássica
da extrema-direita nacionalista ou fascista.
Enfim, a pergunta, que afirma não haver diferença substan­
cial entre o socialismo e o comunismo, quer medir a percepção
do grau de distinção entre as duas ideologias. Ainda que o socia­
lismo, após a Segunda Guerra Mundial, tenha evoluído a uma
forma de reformismo social, mais de dois terços dos integralistas
afirmam que o socialismo e o comunismo são idênticos e que é
necessário combater por todos os meios, inclusive o “socialismo
democrático”.
A terceira dimensão comum a todos os movimentos fascis­
tas é o antiliberalismo. A concepção autoritária do Estado fas­
cista constitui a antítese do Estado liberal clássico não interven-
cionista. É necessário distinguir no antiliberalismo fascista dois
aspectos: o primeiro, que decorre de sua análise da evolução
histórica, combate os ideais da Revolução Francesa e a neutra­
lidade do Estado liberal; o segundo recusa em nome da unidade
da Nação os mecanismos democráticos responsáveis pela sua
fragmentação.
As questões formuladas para avaliar a atitude dos integra­
listas face ao liberalismo referem-se a estas duas dimensões:
quanto à primeira, os integralistas afirmam sua crítica radical ao
liberalismo, que “é um dos elementos mais nocivos de nossa civi­
lização” (25) e responsabilizam o Estado liberal pela desordem
do mundo atual (07); quanto à segunda, a quase totalidade dos

257
integralistas considera que os partidos políticos e o sufrágio uni­
versal dividem a Nação (43) e manifesta-se favoravelmente a
sacrificar o mecanismo liberal-democrático das eleições a fim
de realizar os objetivos da Nação (49).

QUADRO N.° 32

ANTILIBERALISMO
(Em percentagem)

Concorda Pouco Sem


Concorda Discorda Pouco
Muito Opinião
Discorda Muito

Estado/liberal (07) 93,0 7,0 0,0


A./liberal (25) 83,0 16,0 1,0
Partidos/sufrag. (43) 85,0 15,0 0,0
Eleit./Sufrag. (49) 95,0 3,0 2,0

A quarta dimensão é o antiplutocratismo e o anticapitalis-


rno internacional. Estes dois aspectos estão ligados porque o
estudo da ideologia fascista, comparada à experiência histórica,
revela uma contradição. Embora o objetivo do fascismo seja o
de revitalizar o capitalismo liberal em crise, através de um nacio-
nal-capitalismo sob o controle do Estado corporativo, o discurso
ideológico exterioriza-se, frequentemente, numa linguagem anti-
capitalista. Quando se procura perscrutar as nuances da ideo­
logia, sua lógica interna se revela. Em realidade, por detrás de
uma atitude antiburguesa e antiplutocrata, o dado básico é que
o fascismo tem consciência de que, para salvar a essência do
capitalismo enfraquecido, é necessário livrá-lo do liberalismo e
tentar submetê-lo ao controle de um Estado forte. Neste sentido,
precisa combater os dois perigos que minam as bases do sistema:
de um lado, a ameaça da luta de classes, e de outro, os abusos
do poder econômico. O fascismo propõe, para o primeiro, a
implantação do sistema corporativo como forma de integração
das classes profissionais, e para o segundo, a crítica da moral
burguesa baseada na busca do lucro, cuja tendência é perder o
controle da economia nacional em benefício do capitalismo inter­
nacional. O resultado é um amálgama entre uma atitude hostil
ao capitalismo internacional, antiplutocrático, e a exaltação do

258
Estado forte, corporativo, para salvar o capitalismo da crise eco­
nômica e da revolução social.
As proposições que concernem a estes dois aspectos são
as seguintes: condenação do espírito burguês (16) e da domi­
nação oligárquica (26); crença de que os privilégios da plutc-
cracia são maiores do que os da nobreza (68) e, enfim, oposição
ao capitalismo internacional (62).
As respostas são quase unânimes em condenar a dominação
oligárquica; e o espírito burguês das elites. Dois terços dos
respondentes consideram a plutocracia capitalista como a classe
mais privilegiada da história, e a quase totalidade manifesta, em
nome do nacionalismo, uma posição anticapitalista internacional.
A quinta dimensão ideológica integra o mito da transfor­
mação social, simbolizado pela idéia da “revolução fascista'*. O
fascismo, apesar de postular um projeto globalmente conservador,
não defende o imobilismo, mas aceita o reformismo social. A
hipótese implícita é que o fascismo, embora sendo um movimento

QUADRO N.° 33

ANTIPLUTOCRATISMO
(Em percentagem)

Concorda Concorda Pouco Sem


Discorda Pouco Opinião
Muito Discorda Muito

A./Burguesia (16) 93,0 6,0 1.0


A./Oligarquia (26) 90,0 9,0 1.0
A./Plutocracia (68) 54,0 44,0 2.0

QUADRO N.° 34

ANTICAPITALISMO INTERNACIONAL
(Em percentagem)

Concorda Pouco
Concorda Discorda Pouco
Muito Discorda Muito

Capit./Internac. (62) 82,0 18,0 0.0

259
de conservação social, não é necessariamente reacionário na me­
dida em que admite certas mudanças. Se a solução corporativa
e a exaltação dos valores do passado representam a dimensão
tradicionalista da ideologia, este retorno às .raízes nacionais tem
também o sentido de busca de energias para construir um futuro
mítico. Mesmo que esta atitude não passe de um reformismo
social, o desejo de realizar a transformação do Estado é um dos
traços que distingue o fascismo dos nacionalismos de extrema-
-direita tradicionais.
Cinco questões procuram apreender a existência nos integra­
listas de uma atitude reformista. As duas primeiras referem-se
à amplitude da transformação: “uma mudança global e unitária
das estruturas da Nação” (15) ou “uma profunda transformação
das estruturas ultrapassadas” (59). Em seguida, as três outras
medem a aceitação de alguns aspectos do reformismo social: a
planificação da economia pelo Estado (58), a socialização da in­
dústria de base (24) e a necessidade de uma reforma agrária (66).
O sentido das respostas da quase totalidade dos integralistas
revela uma valorização da mudança social. No plano do refor­
mismo social, constata-se que a grande maioria dos entrevistados
não se opõe nem à intervenção do Estado na economia em opo­
sição aos interesses da iniciativa privada, nem à reforma agrária
com expropriação das terras. Uma certa resistência verificada à
idéia da “nacionalização” vem do fato de que esta medida é de
origem socialista. Contudo, o que é interessante ressaltar é a
defasagem entre as respostas quase unânimes favoráveis à trans­
formação global da sociedade e um certo retraimento dos mili­
tantes quando se trata de concordar com as medidas concretas de

QUADRO N.° 35

REFORMISMO SOCIAL
(Em percentagem)

Concorda Concorda Pouco Sem


Discorda Pouco Opinião
Muito Discorda Muito
Socializaç./Ecoru (24) 58,0 40,0 2,0
Planificação (58) 81,0 19,0 0,0
Reforma Agrária (66) 67,0 33,0 0,0

260
QUADRO N.° 36

MITO DA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL


(Em percentagem)

Concorda Pouco
Concorda Discorda Pouco Sem
Muito Discorda Muito Opinião

Mudança/Global (15) 96,0 4,0 0,0


Transf./Estrutura (59) 81,0 18,0, 1,0

reformismo social. Este fato confirma a contradição entre o mito


da nova sociedade transformada pelo fascismo e os limites de
sua realidade.
A sexta dimensão é o espiritualismo. Se não se pode cons;-
derá-lo como um aspecto ideológico essencial do fascismo (o
nacional-socialismo, por exemplo, não se proclama espiritualista),
ele está presente nos textos doutrinários do fascismo italiano e,
sobretudo, nos da falange espanhola e do rexismo belga. No fas­
cismo italiano, a referência ao espiritualismo é vaga, embora pro­
clame a importância dos valores religiosos e dos princípios morais
na evolução histórica. Neste sentido, a falange e o rexismo são
mais explícitos na proclamação dos valores religiosos porque estes
dois movimentos pretendem criar uma sociedade fundada nos
princípios cristãos e crêem na transformação espiritual do homem.
No Brasil, o integralismo, sensível à tradição religiosa do povo
brasileiro e estimulado pelo catolicismo de Salgado, incorpora
à doutrina uma concepção espiritualista do homem e da his­
tória.
O conjunto de proposições elaboradas exprime o espiritua­
lismo sob várias formas: a primeira, exalta a fé e a submissão a
um ser sobrenatural (69); a segunda considera que a conversão
espiritual do homem é a condição prévia da reforma social (11);
a terceira, que a virtude se encontra numa vida sóbria e religiosa
(02); a quarta, valoriza o papel da religião na história (04) e,
enfim, a quinta, afirma que a degradação da civilização contem­
porânea é provocada pelo abandono dos princípios morais e reli­
giosos (28). A convergência de respostas favoráveis a estes di­
versos aspectos do espiritualismo confirma a importância atri­
buída aos valores espirituais, à religião e à moral na ideologia
integralista.

261
QUADRO N.° 37

ESPIRITUALISMO
(Em percentagem)

Concorda Concorda Pouco Sem


Muito Discorda Pouco Opinião
Discorda Muito
Homem/virtuoso * (02) 94,0 6,0 0,0
Conversão/espirit. (H) 94,0 6,0 0,0
Decadência/moral (28) 96,0 4,0 0,0
Poder/sobrenatural (69) 95,0 4,0 0,0

Discorda Pouco Sem


Discorda Concorda Pouco
Muito Opinião
Concorda Muito

Defesa/religião* (04) 78,0 22,0 0,0

* Proposição Negativa.

A sétima dimensão forma o núcleo da “revolução fascista”:


a transformação do Estado. O Estado, que no fascismo deve ser
um instrumento de implementação do reformismo social, é tam­
bém um fim em si. O fascismo proclama que a revolução fascista
reside na transformação do Estado. É preciso porém, distinguir
os diversos níveis da reforma do Estado fascista a fim de ana­
lisarmos às atitudes dos integralistas.
A concepção fascista da revolução deve, em primeiro lugar,
gerar o Chefe capaz de encarnar a idéia da transformação do
Estado: é a exaltação e o apelo ao Chefe (46); o papel deste é
o de suscitar a formação de uma nova elite dirigente que substitua
a antiga (22). Estes dois elementos, associados à oportunidade
histórica, desencadeiam a revolução que triunfa à condição de que
um Estado forte se imponha para substituir o Estado liberal (41);
enfim, resta mencionar que o objetivo principal do Estado é a
organização da Nação (10) e que sua organização transforma­
dora repousa na implantação do sistema corporativo (38).
A aceitação dos integralistas da necessidade de um Estado
forte, de uma nova elite e da organização corporativa é quase
unânime. A ambigüidade, porém, na formulação de duas outras
questões explica a menor concentração de respostas. A primeira

262
é rejeitada, em parte, porque identifica a idéia da emergência do
chefe fascista com a espera passiva do homem providencial; a
segunda decorre de um dilema colocado em termos abstratos
sobre as relações entre o Estado e a Nação no fascismo. Se na
Itália, mais que na Alemanha, a organização da Nação foi obra
do Estado, no fascismo italiano é uma realidade anterior e su­
perior à Nação, ao passo que o Estado nacional-socialista tem
uma função instrumental e a realidade fundamental é o volk.

QUADRO N.° 38

O ESTADO/NAÇÃO
(Em percentagem)

Concorda Pouco Sem


Concorda Discorda Pouco
Muito Opinião
Discorda Muito

Estado/fascista (10) 44,0 54,0 2,0


Nova/elite (22) 98,0 2,0 0,0
Estado/forte (41) 95,0 5,0 0,0
Homem/providencial (46) 68,0 31,0 1,0

Concorda Pouco Sem


Concorda Discorda Pouco
Muito Opinião
Discorda Muito

Organiz./corporat.* (38) 79,0 20,0 1,0


* Proposição Negativa.

É necessário acrescentar uma última dimensão ideológica


estabelecendo a relação entre a percepção dos integralistas.-sobre
a natureza de sua própria ideologia e a idéia de que o fascismo
é, em última análise, um socialismo nacional que supera o marxis­
mo e o internacionalismo: levando em consideração o temor dos
integralistas em serem taxados de “nacional-socialistas”, a questão
formulada procura, de forma indireta, descobrir se os militantes
aceitam que a ideologia ideal seja uma combinação entre o socia­
lismo e nacionalismo (“A síntese ideológica ideal seria a que
conciliasse o primado da justiça social do socialismo com a defesa
dos interesses nacionais do nacionalismo”) (06). A ênfase posi-

263
QUADRO N.° 39

SOCIALJSMO-NACIONAL
(Em percentagem)

Concorda Pouco Sem


Concorda Discorda Pouco
Muito Opinião
Discorda Muito
Social/Nacional. (06) 93,0 7,0 0,0

tiva das respostas poderia mostrar que a utilização do termo


“socialismo” dissociado de sua conotação marxista não provoca
necessariamente no plano ideológico uma atitude negativa. Seria
válido, pois, avançar a hipótese de que a idéia de um socialismo
nacional parece legítima aos militantes integralistas.
A oitava dimensão do fascismo refere-se a um certo número
de preconceitos do universo ideológico fascista, que se incorporam
ao integralismo particularmente sob a influência do nacional-so-
cialismo. Trata-se do preconceito anti-semita e antimaçônico c
da desigualdade natural. O combate à maçonaria se manifesta
abertamente no fascismo italiano (Mussolini era contra a maçona­
ria desde a época em que militava no socialismo) enquanto o
anti-semitismo será uma das idéias-força do nazismo. Estes dois
preconceitos estão presentes em estado latente ou manifesto na
maioria dos movimentos fascistas; da mesma forma que a visão
hierárquica da desigualdade humana, baseada na idéia de supe­
rioridade racial, encontra no nacional-socialismo terreno propício.
As questões sobre o anti-semitismo traduzem uma visão
conspiratorial da história, segundo a qual os judeus manipulam
duas forças aparentemente contraditórias, o capitalismo e o comu­
nismo (31) e o espírito judaico é uma ameaça permanente à
humanidade (60). Uma terceira questão tenta avaliar a vontade
de combater a maçonaria, que é considerada na época uma socie­
dade secreta controlada por judeus (70). O preconceito da
desigualdade natural, enfim, é formulado numa questão sobre
a aceitação de uma diferença congênita entre os níveis de inteli­
gência e de capacidade de trabalho entre os povos (12) e pela
idéia de que um povo superior tem o direito de dominação dos
povos inferiores (55).
Os resultados demonstram que os preconceitos anti-semitas
e antimaçônicos são profundamente-enraizados nos antigos inte-

264
QUADRO N.° 40

ANTI-SEMITISMO/ANTIMAÇONARIA
(Em percentagem)

Concorda Concorda Pouco Sem


Discorda Pouco Opinião
Muito Discorda Muito
Consp./Judaica (31) 71,0 27,0 2,0
Ameaça/Judaica (60) 56,0 44,0 0,0
A./Maçonaria (70) 83,0 16,0 1,0

QUADRO N.° 41

VISÃO HIERÁRQUICA
(Em percentagem)

Concorda Pouco Sem


Concorda Discorda Pouco
Muito Opinião
Discorda Muito

Desigual./Homens (12) 77,0 23,0 0,0


Povo/Supcrior (55) 58,0 42,0 0,0

gralistas, o mesmo quando o medo do judeu considerado como


uma ameaça seja menos forte do que a idéia de uma conspiração
judaica. Quanto à visão hierárquica, se ela se manifesta clara­
mente ao nível da desigualdade natural entre os homens, é repe­
lida por mais de um terço dos integralistas quando se trata de
aceitar o direito de subjugar os povos inferiores. Este último
aspecto prova que a influência do nacional-socialismo não era
negligenciável entre os militantes.
Resta acrescentar ainda o último componente do universo
fascista que é a visão pessimista da história. O fascismo, ao
contrário do liberalismo, não está impregnado de um otimismo
histórico fundado na idéia da felicidade e de progresso indefi­
nidos. Suas posições baseiam-se numa concepção heróica e, ao
mesmo tempo, trágica da história. Dentro de uma visão mani-
queísta, o processo histórico resulta de uma luta permanente
contra os elementos de desagregação que retornam constante­
mente porque são inerentes à natureza humana.

265
Três questões procuram captar algumas dimensões desta
visão pessimista. A primeira diz respeito a uma atitude cética
diante do mito da felicidade e do progresso constante (17); a
segunda, da utopia liberal democrático-liberal ou marxista de um
regime capaz de realizar a igualdade entre os homens (35) e,
enfim, a última, do caráter permanente dos conflitos entre os
homens em decorrência da própria natureza humana (30).
Dois terços dos integralistas não acreditam no progresso
moral ou técnico permanente e a quase totalidade recusa aceitar
a idéia de um desenvolvimento social capaz de superar os con­
flitos e as guerras.

QUADRO N.° 42

VISÃO PESSIMISTA DA HISTÓRIA


(Em percentagem)

Concorda Pouco Sem


Concorda Discorda Pouco
Muito Opinião
Discorda Muito

Pessimismo/histórico (17) 60,0 39,0 0,0


Guerras/conflitos (30) 90,0 10,0 0,0
Democrac./irealismo (35) 85,0 15,0 0,0

Após o recenseamento das principais dimensões do fascismo


ao nível ideológico e dos preconceitos,-é preciso analisar o grau
de adesão dos integralistas a certos valores associados ao com­
portamento fascista. Este conjunto de valores não é sempre
explícito nos textos ideológicos, mas faz parte de uma espécie
de código moral dos militantes nos movimentos de tipo fascista.
Neste sentido, não se pode dissociar os aspectos ideológicos de
um conjunto de valores particulares exaltados pelo fascismo.
O primeiro aspecto é a exaltação dos valores autoritários.
O fascismo não defende somente a restauração da autoridade pelo
Estado, mas a organização fascista é uma escola de formação de
chefes e, ao mesmo tempo, de indivíduos predispostos à submis­
são da autoridade. As três dimensões importantes para avaliar a
aceitação de valores autoritários são: a primazia do papel do
chefe (57); a relevância atribuída ao respeito à hierarquia (45);
enfim, a valorização da submissão à autoridade (21). A homo-

266
QUADRO N.° 43

VALORES AUTORITÁRIOS
(Em percentagem)

Concorda Concorda Pouco


Discorda Pouco Sem
Muito Opinião
Discorda Muito
Obcdiênc./autoridade (21) 99,0 1,0 0,0
Sentido/hicrárquico (45) 95,0 5,0 0,0
Nccess./chcfes (57) 85,0 15,0 0,0

geneidade de respostas a estas questões demonstra o alto grau de


adesão aos valores autoritários.
Contudo, outros valores são incorporados à atitude fascista.
Um dos mais importantes é a fidelidade, cuja importância se cons­
tata na ênfase atribuída aos juramentos nos rituais integralistas
(34). Uma outra, indissociável da primeira, é o que se poderia
chamar de ética da amizade. Se a fidelidade ao chefe é essencial
ao funcionamento eficaz da organização, o espírito de camara­
dagem é, segundo Brasilach, o fundamento da valorização da vida
comunitária e dos sentimentos de lealdade interpessoal. Donde o
papel importante das organizações da juventude, da vida em
comum para estreitar a amizade e “1’esprit de corps" (65). No
mesmo universo coloca-se ainda a exaltação da disciplina inte­
lectual e corporal (18) e o gosto da aventura e da vida perigosa
na realização dos seus ideais (68). As respostas dos integralistas
são quase todas favoráveis a estes três elementos que, em última
análise, são a base do culto fascista da juventude.
Um dos paradoxos do fascismo é que ele simboliza uma ten­
tativa de renovação, ao mesmo tempo, que defende o retorno ao
passado. Ao lado da exaltação da juventude c do mito da nova
sociedade fascista, desenvolve-se uma nostalgia dos valores tra­
dicionais. Este tradicionalismo não é necessariamente uma to­
mada de posição reacionária porque o fascismo nao quer um puto
retorno ao passado, mas a conservação dos valores tradicionais
renovados. O que o fascismo realiza, em última análise, e uma
simbiose entre um elemento tradicional, o corporativismo nu
dieval, e um elemento moderno, o Estado nacional intenenuo
nista.
ro’/
QUADRO N.° 44

ÉTICA FASCISTA
(Em percentagem)

Concorda Pouco Sem


Concorda Discorda Pouco
Muito Opinião
Discorda Muito

Disciplina (18) 95,0 4,0 0,0


Fidclidade/Chefe (34) 82,0 18,0 0,0
Amizade (65) 98,0 2,0 0,0
Sacrifício (67) 83,0 17,0 0,0

Portanto, torna-se necessário observar o peso dos valores


do passado na atitude integralista. As respostas à questão formu­
lada sobre a importância da conservação dos grupos naturais
(grupo familiar, grupo de trabalho), obteve a totalidade das
respostas (05). Este mesmo consenso se estabelece com relação
à valorização da tradição nacional (39). Entretanto, a última
questão (29) não sendo unidimensional, de vez que ela mede
simultaneamente o tradicionalismo e o anticapitalismo, é dis-
crepante duas questões precedentes.
A última dimensão a considerar baseia-se numa hipótese
fundamental para determinar a natureza fascista do integralismo.
Trata-se de saber até que ponto havia, não obstante o caráter
nacional da A.I.B., um sentimento de solidariedade face aos mo­
vimentos fascistas na Europa. Não parece suficiente para que um

QUADRO N.° 45

VALORES TRADICIONALISTAS
(Em percentagem)

Concorda Pouco Sem


Concorda Discorda Pouco
Muito Opinião
Discorda Muito

Grupos/Naturais (05) 100,0 0,0 0,0


A./Capitalismo (29) 63,0 37,0 0,0
Tradic./Nacionalismo (39) 99,0 1,0 0,0

268
movimento possa ser considerado como fascista, que tenha simi­
laridades formais com os fascismos europeus, mas é necessário que
seus próprios militantes tenham consciência desta relação de pa­
rentesco. A análise dos textos revelou que os teóricos integra­
listas e a imprensa partidária não dissimularam este sentimento
de simpatia para com o movimento fascista; contudo era preciso
elucidar a importância atribuída ao fascismo europeu com uma
questão que tentasse medir o grau de solidariedade moral dos
integralistas com os movimentos fascistas que lutavam contra ini­
migos comuns na Europa. Não se tratava apenas de uma atitude
intelectual ou afetiva, mas era indispensável que se exprimisse o
sentimento de que, apesar das particularidades nacionais de cada
movimento, havia a consciência de objetivos comuns que os unia
numa espécie de família fascista internacional (63). A concen­
tração das respostas parece confirmar amplamente esta hipótese.

QUADRO N.° 46

SOLIDARIEDADE FACE AO FASCISMO EUROPEU


(Em percentagem)

Concorda Concorda Pouco


Discorda Pouco Sem
Muito Opinião
Discorda Muito
Solid./Fascismo (63) 90,0 9,0 0,0

b — Homogeneidade da propagação ideológica


Um outro aspecto da análise é a determinação do grau de
homogeneidade ideológica dos militantes comparando as atitudes
dos que têm uma função de direção nacional ou regional com
a dos integralistas de base. A hipótese postula que numa organi­
zação autoritária dispondo de meios para socializar politicamente
os militantes, o discurso ideológico tende a se difundir de uma
maneira uniforme entre os dirigentes e militantes de base. A
verificação desta hipótese supõe que as mesmas questões sejam
aplicadas aos militantes nos dois níveis de participação e que
um índice permita comparar seu grau de homogeneidade.
269
QUADRO N.° 41

UNIFORMIDADE IDEOLÓGICA DOS INTEGRALISTAS


(Em percentagem)

N.° Questões
1. Uniformidade Forte * 23
2. Uniformidade Média ♦♦ 25
3. Uniformidade Baixa 8
4. Total de Proposições (56)

♦ I. Homogeneidade 95 a 105.
♦♦ I. Homogeneidade 106 a 120 ou 96 a 80.
••• I. Homogeneidade de menos de 80 ou mais de 120.

A determinação do índice de uniformidade (197) sobre o


conjunto das respostas dadas, demonstra que de uma maneira
global, o grau de homogeneidade ideológica dos integralistas é
bastante elevado, porque somente menos de 15% das respostas
apresentam uma inconsistência relativa, isto é, um índice de uni­
formidade baixo.
Apesar do grau bastante elevado de uniformidade ideológica,
os militantes de base tendem a ser mais radicais que os dirigentes
nacionais e regionais. Aplicando-se o test du signe sobre o con­
junto de respostas dos dois grupos integralistas (dirigentes/base),
constata-se que os dirigentes e os militantes locais concentram-se
sobre a alternativa de resposta a mais radical (108). Esta obser­
vação poderia ser interpretada de duas maneiras: de uma parte,
que os militantes de base se identificam mais com o fascismo
ideológico que os dirigentes; de outra parte, considerando que os
desvios não são tão importantes, se poderia supor que os diri-

(197) O índice de uniformidade estabelece a relação entre a percen­


tagem da resposta esperada mais intensamente (concorda ou discorda
muito, conforme a proposição seja positiva ou negativa) dos dirigentes
nacionais/regionais com relação aos dirigentes/militantes locais:
% dirig. Nac./Reg.
índice de Uniformidade = x 100
% dirig. Mil./Loc.
(198) O nível dc confiança do test du signe é de 0,05 para 56 pro­
posições. Ver sobre este ponto SIEGEL (Sidney), New Parametric Sta-
tisties for the Behavioral Sciences, New York, Mc-Graw-Hill Co., 1956,
pp. 68-73.

270
gentes tendem mais a dissimular sua adesão a certas dimensões
fascistas ou que, tendo em geral um nível de instrução mais
elevado, introduzem mais nuances em suas respostas que os
militantes locais.

c — Radicalismo ideológico
O objetivo é verificar o grau de extremismo ideológico com­
parando as atitudes dos militantes da A.I.B. com a dos grupos
de controle não integralistas (10°). Nossa hipótese postula que
os integralistas, com relação às dimensões do fascismo ideológico,
se encontram distribuídos entre as atitudes mais radicais.
O método utilizado foi o da construção de escalas de ati­
tudes a partir de um conjunto de questões sobre o fascismo ideo­
lógico (20°). Procurou-se, por essa técnica, integrar hierarquica­
mente questões individuais constituindo núcleos ideológicos uni-
dimensionais (201). O teste da hipótese supõe, de início, que as
questões administradas se organizam em subconjuntos ideológicos
homogêneos; se esta condição prévia se realiza, o grau de radi­
calismo ideológico será medido pela comparação entre os scores
dos três grupos entrevistados, onde se espera sempre uma mais
forte proporção de integralistas nos scores mais elevados.
Utilizando-se as técnicas da análise hierárquica (escalas de
Guttmann e Loevinger), nove escalas de atitude foram construí­
das (202) com as principais dimensões do fascismo ideológico,

(199) Para estabelecer esta comparação, dois grupos de controle fo­


ram instituídos: o primeiro, um grupo de controle adulto, formado por
indivíduos não integralistas pertencendo à mesma geração dos dirigentes
e militantes integralistas; o segundo, um grupo de controle jovem, integra­
do exclusivamentc por uma centena de estudantes universitários.
(200) Na construção das escalas de atitudes agradeço a valiosa cola­
boração de Guy MICHELAT, de la Fondation Nacionale des Sciences
Politiques, Chargé des Recherches no C. N. R. S., co-autor do excelente
estudo sobre o nacionalismo francês: MICHELAT (Guy) e THOMAS
(Jean Pierre), Dimensions du Nationalisme, Paris, Colin, 1966.
(201) As escalas foram elaboradas a partir de questões-respostas do
grupo de controle adulto porque eram mais “representativas” da popula­
ção e menos uniformes que as dos integralistas.
(202) “A análise hierárquica permite de um lado verificar a unidi-
mensionalidadc do conjunto de questões selecionadas para formar a
escala, quer dizer, verificar a hipótese de que elas se referem a uma só
e mesma variável, que exista uma atitude expressa em comportamentos
verbais (...), de outro lado ordenar de forma unívoca as questões e os
indivíduos sobre um contínuo orientado (. . .). Estabelece-se uma escala
quando um conjunto de pares questões-respostas dicotomizadas podem

271
que, elaborados sobre o grupo de controle adulto sào bastante
satisfatórios (203). Enfim, as escalas onde a atitude dos integra­
listas é menos homogênea são a de anticonservadorismo, de pre­
conceitos e a de fatalismo/pessimismo. Isto parece lógico, ao
menos com relação ao anticonservadorismo numa ideologia onde
o elemento tradicional predomina sobre o reformismo social.
Esta diferença entre os integralistas e os grupos de controle
torna-se mais saliente se analisarmos o conjunto dos scorcs sob a
forma de histogramas de distribuições: os integralistas concentram-
-se sempre em mais forte proporção na coluna da extrema-direita.
Quando se compara o grupo dos integralistas com o grupo jovem
nas escalas de anti-socialismo, de antiliberalismo, de preconceitos
e de fatalismo-pessimismo, estes têm uma atitude que tende a ser

ordenar-se de tal forma que todo indivíduo que respondeu positivamente


a uma questão igualmente respondeu positivamente à questão seguinte
da escala”, MICHELAT (Guy), THOMAS (Jean Pierre), op. cit., pp. 8-9.
Ver sobre este ponto GUTTMANN (L.) The Problem of Altitude and
Opinion Measurement, the Basis for Scalogramm, in STPUFFER (S. A.)
et al. Measurement and Prediction, vol. IV; Princeton, Princeton Univer-
sity Press, 1950, 760 p. MATALON (B), L’Analyse Hierarchique, Paris,
Mouton et Gauthier Villars, 1965, 151 p. Os coeficientes de homogenei­
dade das escalas do grupo de controle adulto são os seguintes:

QUADRO N.° 48

COEFICIENTE DE HOMOGENEIDADE DE LOEVINGER DAS


ESCALAS DO GRUPO DE CONTROLE ADULTO

Escalas Coeficiente
1. Anti-socialismo 0,70
2. Tradicionalismo 0,68
3. Religião-moral 0,66
4. Anticonservadorismo 0,63
5. Fatalismo-pessimismo 0,62
6. Autoritarismo 0,53
7. Preconceitos 0,49
8. Antiliberalismo 0,46
9. Nacionalismo 0,41

(203) “O critério de valor de escala é dado pelo coeficiente de


homogeneidade de Loevinger”, in MICHELAT (Guy), THOMAS (Jean
Pierre), op. cit., p. 27. Ver notadamente LOEVINGER (Jane), The
Technic of Homogeneous Tesis Compared with some Aspects of “scale
analyses" and “factor analysis, Psychol. Bull. (45), 1948, pp. 507-529.

272
QUADRO N.° 49

PROPORÇÃO DOS INTEGRALISTAS E DOS GRUPOS DE


CONTROLE NO SCORE MAIS ELEVADO
(Em pcrccntagcrn)

Integralistas Adultos Jovens

1. Rcligião-moral 92,0 37,0 6,0


2. Nacionalismo 87,0 21,0 10,0
3. Antiliberalismo 66,0 5,0 0,0
4. Tradicionalismo 64,0 17,0 1,0
5. Anti-socialismo 63,0 8,0 0,0
6. Autoritarismo 61,0 17,0 2,0
7. Anticonservadorismo 58,0 14,0 5,0
8. Preconceitos 58,0 15,0 2,0
9. Fatalismo/Pessimismo 52,0 25,0 2,0

simetricamente oposta à dos integralistas; ao contrário, nas escalas


de nacionalismo e anticonservadorismo, os escores dos jovens
se distribuem no mesmo sentido que os dos integralistas, mas
numa proporção menos forte. Comparando-se igualmente o grupo
dos adultos não integralistas com os dos militantes da A.I.B.,
constata-se que as atitudes do grupo-ccntrole adulto são mais
moderadas. Portanto, a comparação entre os scores dos inte­
gralistas e dos grupos de controle confirma a validade da hipó­
tese sobre o radicalismo ideológico dos integralistas (204)-
Finalmente, o quadro das correlações entre os scores do
conjunto de questões-respostas dos três grupos entrevistados per­
mite constatar o alto nível da associação entre *as diversas dimen­
sões ideológicas. Os resultados mostram que quase todas as

(204) Vide os histogramas cm anexo pp. 347-349. Ainda que certas


escalas não pertençam exclusivamcnte à ideologia fascista (o anticonser­
vadorismo ou o nacionalismo, por exemplo), esta resulta da combinação
de uma pluralidade de dimensões ideológicas. Neste sentido, seria útil
tentar a construção de uma escala global do fascismo ideológico integran­
do um conjunto de questões-chavc de cada uma das dimensões. A técnica
de Guttmann e Loevingcr não permite porém a elaboração de uma escala
única porque as proposições das diversas escalas não são homogêneas
entre si. Uma tentativa exploratória foi feita poi Plínio DENTZIEN
(Universidade de Campinas) utilizando as técnicas de análise multidimen-
sional (programa hi-CÍuster) c de análise fatorial na tentativa de construir
uma escala “F” com 24 questões cujos resultados provisórios não foram
ainda analisados.

273
escalas estão fortemente correlacionadas: num total de 36 corre­
lações há 33 coeficientes acima de .50 (205). Os coeficientes
de correlação são muito elevados sobretudo em certas dimensões
essenciais ao fascismo ideológico: autoritarismo/anti-socialismo
(0,84); antiliberalismo/fatalismo-pessimismo (0,77). Há tam­
bém coeficientes elevados nas correlações clássicas, tais como:
religião-moral/anti-socialismo (0,80); tradicionalismo/religião-
•moral (0,84); nacionalismo/tradicionalismo (0,69).
Na distribuição dos scores dos integralistas no conjunto das
escalas de atitudes sobressaem dois aspectos significativos: o
primeiro é a concentração sistemática da maioria dos integralistas
no score mais elevado; o segundo, o alto grau de adesão às di­
versas dimensões ideológicas dos militantes quando se comparam
os scores entre si. Quanto ao primeiro aspecto, a proporção de
integralistas que se situa no score elevado encontra-se num inter­
valo de 52% a 92%. Este dado torna-se mais significativo quan­
do se compara com o grupo de controle adulto cujo intervalo é
de 50% a 37% e com o grupo jovem de 0% a 10%. Portanto,
o escalonamento dos scores dos adultos se aproxima mais de uma
distribuição “normal”, enquanto que os integralistas se encontram
em maioria num extremo da distribuição (curva em “j”) e os
jovens num extremo oposto (curva em “j inverso”).
O segundo aspecto concerne à adesão da quase totalidade
dos integralistas à escala religião/moral, o que confirma a impor­
tância da dimensão espiritual. Se o espiritualismo no plano das
“motivações” de adesão não teve um papel importante, ele se
torna dominante nas atitudes ideológicas (206). Em seguida, por
ordem de importância, vem a atitude nacionalista, que é também
muito forte. Após, sobre o mesmo plano, reagrupando os dois
terços dos militantes, se encontram sucessivamente as escalas de
antiliberalismo, de tradicionalismo, de anti-socialismo e de auto­
ritarismo.

(205) Vide o cálculo das correlações cm anexo, p. 350. O coeficien­


te de correlação para variáveis dicotomizadas utilizado encontra-se refe­
rido. REUCHLIN (Maurice), Méthodes d'Analyse Factorielle à 1'Usage
des Psychologues, Paris, PUF, 1964, p. 77.
(206) A análise dos motivos de adesão à A.I.B. dos integralistas
considerados individualmente revela que as três razões mais importantes
por ordem são: l.°) anticomunismo; 2.°) solidariedade aos fascismos eu­
ropeus; 3.°) nacionalismo.

274
CONCLUSÃO

Dans un pays épuisé ou déçu — en tous les cas possédé par


un sentiment puissant d'infériorité — une collusion se produit
entre un prolétariat désespéré, économiquement autant qu’idéo-
logiquement, et des classes moyennes dominées par Vangoisse de
leur prolétarisation (qu*elles assimilent au succès du communis-
tne). Une idéologie cristallise, par la puissance intuitive d’un
Chef; elle joue à la fois — sur un arsenal historique des vertus
désemparées: honnêteté, réconciliation nationale, patriotisme, sa-
crifice à une cause, dévouement à un hotnme; — sur une affir-
niation qui entraine les plus jeunes et les plus extrêmes; et pour
tempérer, — sur une mystique essentiellement “petite bour-
geoise”: prestige national, “retours” sociaux (à la terre, à l’arti-
sanat, à la Corporation, au passé historique), culte du sauver,
amour de VOrdre, respect de la puissance. . .

Emtnanuel MOUNIER, “Les civilisations fascistes" (1936).

275
CONCLUSÃO

Retomando a análise das condições históricas geradoras da


Acão Integralista Brasileira, podemos concluir que a ideologia
mtegralisU se elabora num período de crise na evolução polí­
tico econômica e cultural da sociedade brasileira. Nao e obra
de um só homem (mesmo que fosse visionário), mas nasce do
processo de convergência das idéias autoritárias de direita nu-
ma sociedade em transição, sob o impacto da nova situaçao in­
ternacional, marcada pela revolução soviética e a contra-revolu­
ção fascista.
A mutação da sociedade brasileira, que se acentua no após-
-guerra, engendra novas contradições entre as classes sociais. A
formação de um proletariado industrial, a insatisfação das clas­
ses médias civis e militares em ascensão, provocam crises suces­
sivas no sistema político da Primeira República. Os conflitos
sociais do após-Primeira Guerra e o ciclo de insurreições tenen-
tistas, introduzindo a violência extra-sistêmica na arena política,
constituem a infra-estrutura da crise ideológica nas elites inte­
lectuais. A consciência nacionalista, sob diversas formas, radi-
caliza-se, a revolução modernista rompe com os valores estéti­
cos tradicionais e a renovação católica mobiliza’ amplos setores
•ntelectuais para a ação social e política.
embatí’nteSra^sta desenvolve sua consciência política no
ta desdAT3 • contradiÇ°es- Republicano, católico e nacionalis­
tas mais nni 3UVe.ntUde’ encontra em São Paulo um dos ambien­
tes ideolSd°SDpor?ssas tensõe* sócio-políticas e inquie-
di?onal, Salgado8 !™ÍteS do jogo político tra-
Pós-modernistas a'3 lnt,ensamente nos movimentos literários
■itica o incita a nnveXper'enC13 modernista mais do que a po-
v«Peras da Revolução P°líticos- M:iis tarde, às
com a experiência d?e Mnç 3?’ V'aj! à EuroPa> onde se fascina
raocracia liberal. d Mussol,ni e descobre a fragilidade da de-

277
A derrubada da República Velha, após o movimento re­
volucionário de 30, abre novas perspectivas para a ação políti­
ca. Salgado posiciona-se ao lado das correntes antiliberais, ten­
tando através da Legião Revolucionária de São Paulo e do jor­
nal A Razão influir nos acontecimentos. O fracasso destas ten­
tativas e a proliferação de grupos intelectuais e movimentos an­
tiliberais no país, convencem-no da viabilidade da implantação
nacional de um novo movimento ideológico capaz de beneficiar-
-se da conjuntura política favorável. A Sociedade de Estudos
Políticos (SEP), por ele criada, oferecerá o ambiente ideológico
propício à fermentação da idéia que dará origem à Ação Inte­
gralista Brasileira.
O marco de referência interno que explica, pois, o surgi­
mento da Ação Integralista Brasileira é a Revolução de 30. Des­
de as origens do movimento até sua dissolução, persistiu uma
ambigüidade básica na relação entre o integralismo e a nova
elite política emergente no após 30. As posições do integralis­
mo alternam-se entre o cortejo, a cumplicidade e o ódio, cujos
episódios simbólicos são: o desfile de apoio a Getúlio antes do
golpe de 37, o Plano Cohen forjado no interior da A.I.B. e o
atentado ao Presidente da República no Palácio da Guanabara
em 1938.
Se a situação política interna do país proporciona condi­
ções ao surgimento de um movimento autoritário e antiliberal,
o conteúdo e o estilo da organização do integralismo, entretan­
to, inspiram-se amplamente no fascismo europeu. Não preten­
demos afirmar que o integralismo tenha sido exclusivamente
fruto dé um mimetismo ideológico (a tradição do pensamento
político autoritário brasileiro contribuiu também decisivamente
para a formação da doutrina), mas a influência do fascismo
europeu foi, sem dúvida, crucial na configuração da A.I.B. en­
quanto movimento político. O fascismo brasileiro teria podido
se desenvolver, no Brasil da década de 30, com características
diferentes, tanto ao nível do discurso ideológico, como da or­
ganização. A realidade, porém, foi outra. Sem excluir a exis­
tência de outras formas possíveis do fascismo na América La­
tina, o estudo da Ação Integralista nos leva a. concluir que os
aspectos centrais de sua ideologia, a forma de organização alta­
mente hierarquizada, o estilo carismático e autocrático do poder
do Chefe e, inclusive, os rituais do movimento não se podem
explicar sem a influência do modelo europeu de referência ex­
terno.

278
A diversidade de movimentos autoritários no Brasil e na
Europa, entre as duas guerras, faz do Integralismo uma ideolo­
gia eclética que, enraizando-se num nacionalismo telúrico, no
messianimo místico da nova raça mestiça e incorporando os
grandes temas do pensamento autoritário brasileiro anterior fun­
de-se, numa nova síntese, com o tradicionalismo social e reli­
gioso do integralismo lusitano e do salazarismo, o estatismo ro­
mano e o corporativismo do fascismo italiano e o anti-semitis­
mo de inspiração nacional-socialista. A presença de tendências
ideológicas contraditórias no interior da A.I.B. poderia ter pro­
vocado a cisão do integralismo. Todavia, o nacionalismo e o
espiritualismo, esse dois elementos doutrinários de convergên­
cia no integralismo, associados à luta contra o liberalismo e o
socialismo, permitiram a coexistência num único movimento de
orientações ideológicas justapostas. O papel conciliador do che­
fe integralista teve o mérito de salvaguardar a unidade do mo­
vimento, apesar das clivagens permanentes. Tornando-se, por­
tanto, o primeiro movimento de massa no Brasil, postulando in­
clusive a Presidência da República nas eleições frustradas com
o advento do Estado Novo, o integralismo — que acreditava res­
ponder às aspirações de um país jovem e aberto às influências
— foi rejeitado pela história brasileira, como um pesadelo dos
anos 30.

279
CRONOLOGIA

281
FONTES DA CRONOLOGIA

1 — Acontecimentos Brasileiros
SILVA (Hélio), O Ciclo de Vargas (período 1922-1938), X vols., Rio,
Civilização Brasileira, 1964-1971.
SKIDMORE (Thomas), Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-
-1964), Rio, Saga, 1969, 512 pg.
PINHEIRO (Paulo Sérgio), op cit.
CARONE (Edgard), A Primeira República, op. cit.

2 — Acontecimentos Integralistas
A Offensiva
Revista Anauê

3 — Acontecimentos Internacionais
CAVAIGNAC (E.), Chronologie de íhistoire mondiale, Paris, Payot, 1946,
238 p.
BACH-THAI (Jean), Chonologie des Relations Internationales de 1870 à
nos fours, Paris, Éditions des Relations Internationales, 1957, 257 pg.
MILZA (Pierre), Fascismes et idéologies réactionnaires en Europe (1915-
-1945), Paris, Armand Colin, 1969, 96 pg.
HOFER (Walther), Le national-socialisme par les textes. Paris. Plon,
1963, 459 pg.
PARIS (Robert), Les origines du fascisme, Paris, Flammarion, 1969,
140 pg.

283
BRASIL EXTERIOR

maio 1909: Campanha Civilista de Rui Barbosa


março 1910: Campanha eleitoral para Presidência da Re­
pública: Rui Babosa (candidato civil) e Hermes (can­
didato militar) out. 1910 (05): Proclamação da República Portuguesa
nov. (1910 (22): Revolta dos Marinheiros
jan. 1912 (10): Bombardeamento de Salvador (Bahia) dez. 1912: Mussolini diretor do cotidiano socialista Avon ti
dez. 1912: Hitlcr se instala em Munique
agosto 1913: Publicação da revista Os Meus Cadernos que
difunde, em Portugal, pela l.° vez, as idéias de Maurras
abril 1914: Lançamento da revista A Nação Portuguesa, pre­
cursora do movimento monarquista, Integralismo lusitano
agosto 1914: Hitler se engaja em um regimento bávaro
out. 1914: Mussolini se converte ao intervencionismo
nov. 1914 (14): Criação do jornal Popolo d’Italia
1915: Crise do café e segunda revalorização do produto
1916: Fundação da Liga de Defesa Nacional. Início da nov. 1916: Fundação do movimento monarquista, o Integra-
Campanha Nacionalista por Olavo Bilac lismo lusitano, sob a direção de A. Sardinha, P. Rabelo
e H. Raposo
out. 1917: Revolução Soviética
set. 1918 (20): Publicação de Roma Futurista e do Mani­
festo futurista
t\5 nov. 1918 (18): Greve geral no Rio de Janeiro nov. 1918 (11): Armistício franco-alemão
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bo

Oi BRASIL EXTERIOR

1918: Fundação do Partido Municipalista (entre os funda­


dores Plínio Salgado).
jan. 1919: Fundação cm Munique do Partido Operário Ale­
mão ao qual adere Hitler
A Revolução “spartakista” eclodc em Berlim
jan. 1919 (2-7): l.° Congresso da Internacional Comunista
março 1919 (2-3): Fundação em Milão dos “Fasci italiani di
Combattimento”
abril 1919 (15): Incêndio do jornal socialista italiano Avanti
abril 1919 (11): O Congresso de Versalhes adota a Carta
Internacional do Trabalho
maio 1919 (05): Greve geral em São Paulo
junho 1919 (06): Manifesto dos “Fasci”
junho 1919 (28): Tratado de Versalhes
junho-julho 1919: Greves no Rio, São Paulo, Recife e Sal­
vador
julho 1919 (19): Mao Tsé-Tung organiza movimentos estu­
dantis
julho 1919 (28): Epitácio Pessoa presidente da República
set. 1919 (12): Ataque súbito de d’Annunzio sobre Fiume
out. 1919 (9-10): Congresso fascista de Florcnça
nov. 1919 (15): Greve geral no Rio nov. 1919 (17): Bomba fascista em Milão
nov. 1919 (26): Expulsão do país de líderes e militantes nov. 1919 (27): Sorel publica Matériaux pour une théorie du
operários prolétariat
nov. 1919 (28): Destruição do jornal operário A Plebe
março 1920: Sublevação comunista no Ruhr — violação do
Tratado de Versalhes
BRASIL EXTERIOR

março 1920 (03): Greve dos empregados das estradas de ferro


em São Paulo
abril 1920 (06): Ocupação francesa de Francforte e Darsms-
tadt
agosto 1920 (08): Fundação do N.S.D.A.P.
agosto 1920 (28): Início da ocupação das usinas na Itália
dez. 1920 (25-30): Congresso de Tours. Fundação do Par­
tido Comunista Francês
jan. 1921 (17): Lei de repressão do anarquismo
jan. 1921: Crise da economia: queda das exportações do café
fev. 1921 (04): Greve dos marinheiros no Rio
maio 1921: Eleições gerais na Itália: 32 fascistas eleitos, entre
eles, Mussolini
junho 1921 (22): 3.° Congresso da Internacional Comunista
verão 1921: Hitler chefe do N.S.D.A.P.
out. 1921: Criação dos S.A.
nov. 1921 (07): Constituição do grupo comunista do Rio nov. 1921 (07): Fundação do Partido Nacional Fascista
— Fundação da revista católica A Ordem
jan. 1922 (24-25): Formação em Bolonha da Confederação
Nacional das Corporações
jan. 1922 (25): Fundação, na Itália, da revista Gerarchia
fev. 1922 (15-17): Semana da Arte Moderna em São Paulo
março 1922 (25-27): Fundação do Partido Comunista Brasi­
leiro
abril 1922: Stalin torna-se secretário do Partido Comunista
to russo
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Oo BRASIL EXTERIOR

julho 1922 (05): Sublevação tencntista da Fortaleza de Co­ julho 1922: I Congresso do Partido Comunista da China
pacabana
out. 1922 (24): Congresso de Nápoles do Partido Nacional
Fascista
out. 1922 (27-29): Marcha sobre Roma: Mussolini forma o
governo
nov. 1922 (15): Arthur Bemardes assume a Presidência da nov. 1922 (24-29): Plenos poderes a Mussolini dado pela
República Câmara c pelo Senado
nov. 1922 (25): Designação pelo Partido Republicano de nov. 1922: IV Congresso da Internacional Comunista
Borges de Medeiros à Presidência do Estado do Rio
Grande do Sul
dez. 1922 (30): Fundação da U.R.S.S.
jan. 1923 (16): Eleição de Borges de Medeiros e sublevação jan. 1923 (13): Criação do Grande Conselho Fascista
da oposição
jan.-agosto 1923: Revolução da oposição no Rio Grande do
Sul
jan.-set. 1923: Ocupação franco-bclga do Ruhr
nov. 1923 (08): Putsch malogrado dc Hitler cm Munique
dez. 1923 (15): Pacificação do Rio Grande do Sul; assinatura 1923-1931: Ditadura de Primo de Rivera e Berenguer na
do Pacto de Pedras Altas entre o governo e a oposição Espanha
dez. 1923 (23): Fim do estado de sítio; retorno de uma calma
aparente; conspiração militar sob a direção do General
Isidoro Dias Lopes
1924: Revolução em São Paulo jan. 1924: Dissolução do partido nazi; Hitler começa a ditar
Mein Kampf a Rudolf Hess
abril 1924: Eleições gerais na Itália: 65% dos votos, 275
cadeiras à coligação dirigida pelos fascistas
BRASIL EXTERIOR

junho 1924 (10): Assassinato de Matteotti, líder socialista


italiano
julho 1924 (10): Manifesto dos revolucionários de São Paulo;
proclamação de seu caráter nacional
julho 1924 (12): Revolução no Estado de Mato Grosso 1924: “Cartel” da esquerda toma o poder na França
julho 1924 (18): Revolução no -Estado
• • de Sergipe
julho 1924 (23): Revolução em Manaus (Estado do Ama-
zonas)
julho 1924 (28): Chegada dos revolucionários de São Paulo
à Foz do Iguaçu (Estado do Paraná)
1924: Salgado deixa o Correio Paulistano
out. 1924 (28-29): Revolução no Rio Grande do Sul
jan. 1925 (03): Mussolini reivindica a responsabilidade no
caso Matteotti e anuncia a ditadura
fev. 1925: Hitler livre reconstitui o Partido Nazi
abril 1925 (11): Junção dos rebeldes do Rio Grande do Sul
com os de São Paulo. Partida da Coluna Prestes
maio 1925 (16-18): II Congresso do Partido Comunista no
Rio de Janeiro
nov. 1925 (09): Criação das S.S.
jan. 1926: Salgado publica O Estrangeiro
fev. 1926 (26): Fundação do Partido Democrático de São
Paulo
março 1926 (01): Washington Luiz é eleito Presidente da
República
abril 1926: Lei Rocco institui um regime corporativo na Itália.
bo
Co
BRASIL EXTERIOR

maio 1926: Mudança do regime parlamentar em Portugal


— O General Gomes da Costa se apodera do governo
em Portugal set. 1926 (08): Entrada da Alemanha na S.D.N.
set. 1926 (07): Antonio Carlos assume a Presidência de Mi­
nas Gerais out. 1926: Goebbels nomeado Gauleitcr de Berlim por Hitler
outono 1926: Criação na França do movimento dos “Anciens
Combattants”, os “Croix de Feu”
nov. 1926 (14): Revolução no Estado do Rio Grande do Sul
nov. 1926 (15): Washington Luiz Presidente da República;
Getúlio Vargas é Ministro das Finanças
fev. 1927 (02): Dissolução da Coluna Prestes; Prestes se re­
fugia na Bolívia
fev. 1927 (24): Proposição de uma frente única (Bloco Ope
Opc-­
rário) burguesa-operária pelo Partido Comunista Brasi­
leiro
abril 1927 (21): “Carta do Trabalho” na Itália
abril 1927 (27):- Congresso Operário Sindicalista no Rio de
Janeiro
abril 1927 (30): Aprovação pelo Congresso Sindical dos esta­
tutos da Federação Regional dos Operários
julho 1927 (14): Júlio Prestes, Presidente do Estado de São
Paulo
set. 1927 (27): Constituído o Partido Democrático Nacional
nov. 1927 (25) Getúlio Vargas eleito Presidente do Estado
do Rio Grande do Sul
BRASIL EXTERIOR

1927: Salgado é eleito deputado pelo Partido Republicano


de São Paulo
dez. 1927: Enviado Secretário do Partido Comunista Brasileiro
à Bolívia para entrar em contato com Luiz Carlos Prestes
jan. 1928 (25): Getúlio Vargas Presidente do Estado do Rio
Grande do Sul
março 1928: Primeiros contatos secretos entre o Estado de
Minas Gerais e o do Rio Grande do Sul para formar
a Aliança Liberal
maio 1928: F. Coty lança, na França, o Ami du Peuple
nov. 1928: O Coronel de La Rocque entra no Conselho de
Administração dos “Croix de Feu”
dez. 1928 (29): III Congresso do Partido Comunista Brasi­
leiro
maio 1929: Carta de Vargas ao Presidente Washington Luiz
com promessa de apoio à política federal
junho 1929: Acordo Minas e São Paulo em vista da consti­
tuição da Aliança Liberal
julho 1929 (15): Vargas oficialmente candidato à Presidência
da República
agosto 1929 (05): Início da Aliança Liberal e de sua cam­
panha na Câmara dos Deputados
out. 1929 (22): Crise financeira de 1929, em Nova York.
jan. 1930 (01): Vargas lê o programa da Aliança Liberal no jan. 1930: Demissão de Primo de Rivera
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Rio de Janeiro
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março 1930 (01): Vitória de Júlio Prestes sobre Vargas nas março 1930: Morto de Primo de Ulveia
eleições presidenciais
abril 1930 (16): Embarque de Salgado para a Europa
maio 1930 (07): Manifesto de Luiz Carlos Prestes propondo
a constituição da Liga de Ação Revolucionária
julho 1930: O Marechal llindenburg dissolve o Relchstag
julho 1930 (26): Assassinato de João Pessoa no Estado da
Paraíba
set. 1930 (14): Sucesso eleitoral de Adolph Hitler na Ale­
manha
out. 1930 (03): Revolução nos Estados do Rio Grande do
Sul, Paraíba, Minas e Pernambuco
out. 1930 (10): Resistência à Revolução nos Estados de São
Paulo, Rio de Janeiro, Bahia c Pará
out. 1930: Retomo de Salgado da Europa
out. 1930 (23): As tropas revolucionárias ocupam a Capital
Federal
out. 1930 (24): Queda de Washington Luiz; Junta Militar
Provisória no poder
nov. 1930 (03): Vargas se torna chefe do Governo Provisório
dez. 1930: Os franco-bclgas deixam a Sarre
dez. 1930 (25): Criação do Ministério do Trabalho
jan. 1931: Salgado publica O Esperado
abril 1931: Proclamação da República espanhola
junho 1931 (05): 1." “Nota Política” de Salgado cm a A Razão
agosto 1931 (23): Criação da Legião Cearense do Trabalho agosto 1931 (24): Hitler dá ordem aos membros do Partido
Nacional Socialista de abater a República de Weimar
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BRASIL EXTERIOR

set. 1931 (25): I Congresso da Legião Revolucionária de São


Paulo
1931: Fundação do Clube 3 de Outubro
1931: Olbiano de Mello publica Comunismo ou Fascismo?
1931: Olbiano de Mello publica República Sindicalista dos
Estados Unidos do Brasil
out. 1931: Juramento de fidelidade ao fascismo imposta aos
professores da Universidade
1932: Salazar, Presidente do Conselho de Portugal
fev. 1932 (23): Decreto do novo Código Eleitoral
março 1932 (01): Cana de Salgado a Olbiano de Mello para
comunicar a nova fundação da S.E.P.
abril 1932 (13): Interdição dos S.A. c das S.S. na Ale­
manha
maio 1932 (23): Destruição do jornal A Razão
julho 1932 (09): Revolução Constitucionalista de São Paulo
out. 1932 (01): Moslcy funda a “British Union of Fascists"
out. 1932 (10): Fracasso da Revolução paulista
out. 1932 (08): Divulgação do Manifesto Integralista: Fun­ 1932: Dcgrclle lança na Bélgica o movimento rexista de ins­
dação da A.I.B. piração fascista
dez. 1932: Salgado publica O Cavaleiro de Itararé
1932: Olbiano de Mello publica Levanta-te Brasil!
jan. 1933 (30): Hindenburg chama Hitlcr à testa do governo
março 1933: Lançamento de “O Estado Integral” de Olbiano março 1933 (05): Últimas eleições do Rcichstag coma parti­
de Mello cipação de vários partidos: NSDAP 288 cadeiras, ou
seja 44%
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BRASIL EXTERIOR

abril 1933 (03): l.° desfile integralista em São Paulo abril 1933 (01): Boicote a magazines judeus
maio 1933 (02): Supressão dos sindicatos na Alemanha
maio 1933: Publicação de Psicologia da Revolução de Plínio
Salgado
julho 1933 (14): Lei contra a reconstituição dos partidos
(Estado e partido único) na Alemanha
julho 1933 (20): Assinatura dc concordata com o Vaticano
set. 1933 (23): Decreto do Estatuto do Trabalho Nacional
Português, inspirado na “Carta dei Lavoro”
out. 1933 (14): A Alemanha deixa a Conferência do Desar­
mamento. ..
out. 1933 (19): ... e a Sociedade das Nações (S.D.N.
nov. 1933 (12): 1.' eleição ao Rcichstag desde a proclamação
do partido único (NSDAP: 92% dos votos)
nov. 1933 (14): Discurso dc Mussolini definindo o Estado
Corporativo
nov. 1933: A Constituição dc 1933 instaura em Portugal o
Estado Novo
jan. 1934 (13): Discurso dc Mussolini sobre as leis das Cor­
porações
jan. 1934: Salgado publica A Voz do Oeste jan. 1934 (20): Publicação dc “A Ordenança do Trabalho
Nacional” na Alemanha
fcv. 1934: Congresso Integralista de Vitória (Estado do Es­ fev. 1934 (05): Sindicatos fascistas integrados cm 22 corpo­
pírito Santo) rações
fcv. 1934 (06): Golpe de força das ligas dc direita contra
a Câmara dos Deputados cm Paris
março 1934 (03): Aprovação dos estatutos da A.I.B.
BRASIL EXTERIOR

abril 1934 (20): Himmler nomeado chefe da Gestapo na


Prússia
maio 1934 (17): Fundação do jornal integralista A Offen-
siva
maio 1934 (20): Desfile de 4.000 integralistas no Rio de
Janeiro
junho 1934 (14-15): Encontro de Mussolini e Hitler em Ve­
neza
junho 1934 (16): Promulgação da Nova Constituição
junho 1934 (22): Aprovação do uniforme integralista pelo
Ministro da Guerra
junho 1934 (24): Desfile, em São Paulo, de 3.000 militantes
integralistas
junho 1934 (29-30): “Noite dos Longos Punhais’’ assassinan­
junho 1934: Salgado publica O Sofrimento Universal do dirigentes e membros da S.S.
julho 1934: Confrontação de rua entre integralistas e oposi­
tores: Niterói, Campos, Recife, Salvador, Belo Horizonte,
Barra do Piraí
julho 1934 (02): Desfile de 400 militantes integralistas em
Salvador (Estado da Bahia)
julho 1934 (16): Vargas eleito Presidente Constitucional pelo
Congresso Nacional
julho 1934 (20): A S.S. (alemã) se torna uma organização
independente
julho 1934 (25): Assassinato do chanceler austríaco Dollfuss
pelos nazistas; o Presidente da República Miklas designa
como sucessor Schuschnigg (Áustria)
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OJ BRASIL EXTERIOR
i
julho 1934: Bastante difundida a agitação antifascista
agosto 1934 (04): Conferência de Salgado e desfile dos mili­
tantes em Jabuticabal (São Paulo)
agosto 1934 (06): Mussolini, em Milão, se declara “resolvido
I a defender a independência da Áustria por todos os
meios”
set. 1934 (02): Desfile de 1.000 integralistas em Niterói (Es­
tado do Rio de Janeiro)
set. 1934 (04): Permanência de Salgado e Reale no Sul do
Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná)
set. 1934 (07): Festa Nacional: juramento dos militantes,
prestado frente às bandeiras integralistas e nacional em
todo o País.
out. 1934 (03): Morte do l.° mártir, Nicola Rosica, em um
meeting integralista em Bauru (Estado de São Paulo)
out. 1934 (07): Atentado contra um desfile integralista cm
São Paulo (Largo da Sé), 5 mortos
out. 1934 (24): Ordenança sobre “A Frente de Trabalho
nov. 1934 (17-19): I Congresso Integralista da Província do Alemã”
Rio de Janeiro nov. 1934: Triunfo dos nazistas em Dantzig
jan. 1935 (01): Aparição da revista Anauc jan. 1935 (07): Negociações Laval-Mussolini acabam em um
acordo francc-italiano
jan. 1935: General Carmona reeleito Presidente de Portugal
fev. 1935 (04): l.° filme: O Iníegralismo no Brasil
fev. 1935 (25): Morte do integralista Schroedcr (Rio Grande
do Sul)
BRASIL EXTERIOR

fev. 1935: Salgado publica Despertemos a Nação


março 1935 (30): Criação da Aliança Nacional Libertadora
(A.N.L.)
abril 1935 (04): Promulgação da Lei de Segurança Nacional;
interdição da milícia e transformação em associação
esportiva
junho 1935 (09): Confronto entre militantes da A.I.B. c da
A.N.L. junho 1935: Lavai com plenos poderes na França
julho 1935 (4-12): I Congresso Integralista da Província da
Guanabara
julho 1935 (05): Discurso de Prestes leva o governo a inter­
ditar a A.N.L.
julho 1935 (11): Interdição da A.N.L. por decreto do go­
verno
agosto 1935 (09): Locais integralistas de Ilhéus (Bahia) dina­
mitados
agosto 1935: Interdição da “camisa-vcrdc”, das reuniões...
e expulsão dos professores integralistas no Estado de
Santa Catarina
agosto 1935: Salgado faz um balanço da A.I.B.: 1 deputado
federal; 4 deputados nos diversos estados; 1.123 grupos
organizados nos 548 municípios c 400.000 aderentes
sei. 1935: Atentado contra Salazar
Proclamação das leis anti-semitas, ditas “Leis de Nurcm-
berg” (Alemanha)
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Oo BRASIL EXTERIOR

out. 1935 (07): Congresso Integralista de Blumenau (Estado out. 1935: Invasão da Etiópia pelos italianos
de Santa Catarina) com integralistas de seis Estados;
desfile de 42.000 militantes
out. 1935 (19): I Congresso da Província do Rio Grande
do Sul, com a participação de Gustavo Barroso
nov. 1935 (8-9): Congresso Integralista da Bahia
nov. 1935 (23-24): Insurreição comunista de 1935 eclode em
Natal (Estado do Rio Grande do Norte)
dez. 1935: “Carta de Natal” de Plínio aos integralistas
jan. 1936 (04): Salgado ordena a organização de uma con­
venção sindical no Estado do Rio de Janeiro
jan. 1936 (11): Salgado fixa a data (7-8 de março) do I
Congresso Nacional Feminino cm São Paulo
jan. 1936 (12): Publicação da lei sobre a dissolução dos
grupos de combate e das milícias privadas (França)
jan. 1936 (13): Dissolução da “Ligue d’Action Française”
fev. 1936: Vitória da Frente Popular na Espanha
fev. 1936: O Chefe Nacional lê o Manifesto-programa da fev. 1936: l.ns manifestações dos “Croix flechées” na Hungria
A.I.B. para concorrer as eleições presidenciais março 1936 (17): Governo alemão aceita ter assento ao Con­
março 1936: (07): II Congresso da A.I.B., cm Petrópolis selho da S.D.N.
(Estado do Rio): O integralismo torna-se partido político março 1936 (28): Mussolini presidente da Assembléia das
Corporações no Capitólio; plano de reforma constitucio­
nal, econômica e política
março 1936 (29): Refcrcndum. Política hitleriana aprovada
por 90% dos votos
maio 1936 (03): Vitória da Frente Popular na França
maio 1936 (05): Tropas italianas cm Addis-Abcba
BRASIL EXTERIOR

maio 1936 (09): O rei da Itália, torna-se “Imperador da


junho 1936: Recomposição da estrutura da A.I.B.; criação Etiópia”
das secretarias de Relações Exteriores, Imprensa, Assis­ junho 1936 (28): Fundação do Partido Popular Francês
tência Social, Conselho Supremo, Câmara dos Quarenta (P.P.F.)
e Corte do Sigma
julho 1936 (04): S.D.N. levanta sanções econômicas e fi-
nanceiras contra a Itália
julho 1936 (12): Fundação do Partido Social Francês (P.S.F.)
julho 1936 (17-18): Início da insurreição franquista na Es­
panha
julho 1936 (25): Governo rebelde em Burgos, Espanha
agosto 1936: Organização da Cruz Verde, para socorros às
famílias integralistas
set. 1936 (08): Aprovação do novo Tribunal de Segurança set. 1936 (09): Hitler proclama, no Congresso de Nurem-
Nacional berg, o início de um Plano de quatro anos
set. 1936 (13): I Congresso Municipal Integralista de Cara- set. 1936 (18): Goering encarregado do plano quadrienal
zinho (Rio Grande do Sul) (Alemanha)
set. 1936 (26): Exposição da arte brasileira em comemoração set. 1936 (28): Decreto de Hitler, tornando obrigatório> o
ao II Congresso Integralista da Província do Rio Grande trabalho para todos os alemães aptos aos serviço militar
do Sul
set. 1936: Criação do Conselho Jurídico Nacional da A.I.B.
out. 1936 (07): Aparição do jornal integralista A Ação em
São Paulo, dirigido por Miguel Reale
out. 1936 (8-15): Reunião da Corte do Sigma no Estado
do Rio Grande do Sul
out. 1936 (17): Salgado preside o Congresso Parlamentar das out. 1936 (20-24): Viagem à Alemanha do Conde Ciano,
Províncias meridionais Ministro Italiano dos Negócios Estrangeiros
I

BRASIL EXTERIOR

out. 1936: Congresso Nacional Feminino no Rio de Janeiro


nov. 1936 (01): Proclamação por Mussolini do eixo “Berlim-
-Roma”
nov. 1936 (08): Criação pelo Komintcrn da “Brigada Inter­
nacional” na Espanha
nov. 1936 (09): I Congresso Nacional do P.P.F. (Fiança)
nov. 1936 (18): Itália c Alemanha reconhecem o governo
de Franco
nov. 1936 (25): Alemanha e Japão assinam o pacto anti-
-Komintern
nov. 1936 (27): Sessão integralista solene, em Porto Alegre,
em homenagem às vítimas da insurreição de 1935
dez. 1936 (16): Prolongação de 3 meses do estado de sítio
dez. 1936 (18-20): I Congresso da Imprensa Integralista (Mi­
nas Gerais)
dez. 1936 (28): Tribunal Militar Superior recusa o habeas
corpus solicitado pela A.I.B. após aprisionamento de
seus membros; fechamento das sedes locais peio governo
da Bahia
jan. 1937 O Chefe Nacional dá a São Bento do Sapucaí
(São Paulo) e Timbó (Santa Catarina) o título dc “ci­
dades integralistas”
fev. 1937 (02): Retorno ao Rio dos integralistas presos na
Bahia; discurso dc protesto de Salgado
fev. 1937 (04): Designação dos l.08 chefes arquiprovinciais
fev. 1937: Atentado contra os “camisas-verdes” em Blume­
nau (Santa Catarina)
BRASIL EXTERIOR

fev. 1937: Assaltada por integralistas uma viatura de car­


naval para tirar a bandeira nacional que a decorava;
fundação de um grupo integralista em Filadélfia
(U.S.A.); adesão à A.I.B. da Sra. Castro, irmã do poeta
Castro Alves
fev. 1937 (15): Campanha do Ouro para a reavaliação da
moeda nacional
março 1937 (20): Desfile integralista na Guanabara
abril 1937: Retornam à Bahia os l.08 presos integralistas
abril 1937 (23): Comemoração das “Matinas de Abril”, no
Rio
abril 1937: Adesão à A.I.B. de Monsenhor Ricardo de Libe-
rali, Vigário Geral do Bispado de Uruguaiana (Rio
Grande do Sul)
abril 1937 (06): Doação à A.I.B. das somas recolhidas pelos
integralistas de Filadélfia, Varsóvia, Zurique e Berlim
abril 1937 (11): Desfile e juramento dos “Plinianos” da
Guanabara
abril 1937 (29-30): I Convenção Trabalhista no Ceará
maio 1937 (01): I Comemoração do Dia do Trabalho pelos
integralistas, no Instituto de Música; Manifesto ao Tra­
balhador no Rio Grande do Sul
maio 1937 (1-3): I Convenção Trabalhista de São Paulo
maio 1937 (17): Reunião extraordinária da Câmara dos 40
frente à situação nacional
maio 1937 (22): Salgado, candidato integralista à Presidência
Co
da República por plebiscito no interior da A.I.B.
g
to
BRASIL EXTERIOR

maio 1937 (24): Candidatura pública de Salgado à Presi­


dência da República
maio 1937 (31): Congresso de prefeitos, presidentes de Câ­
mara e Conselho Municipais (vereadores) integralistas
em Joinville (Santa Catarina)
maio 1937: Salgado constitui a Câmara dos 400
— Criação de grupos integralistas cm Roma, Washington
c Porto (Portugal)
junho 1937 (08): Fundação da “Escola de Chefes c Instru­
tores de Plinianos”, Cardoso Coelho
junho 1937 (08): Ruptura com a A.I.B., por motivos ideo­
lógicos, do deputado integralista, Jeovah Motta
junho 1937 (14): Presidente Vargas recebe uma comissão
de integralistas que anuncia candidatura de Salgado; alo-
cução do Presidente, simpática a A.I.B.
junho 1937 (21): A.I.B. cria “O Empréstimo do Sigma” pa­
ra financiar campanha eleitoral
julho 1937 (09): Meeting eleitoral em Vitória (Espírito San­
to)
julho 1937 (18): Desfile perante Salgado de 20.000 integra­
listas cm São Paulo; atentado malogrado contra Salgado
julho 1937: Congresso Integralista Feminino em Petrópolis
(Estado do Rio)
agosto 1937 (15): Atentado contra meeting integralista em
Campos: 13 mortos
agosto 1937 (20): Salgado interdita porte de camisas verdes
e insígnias
BRASIL EXTERIOR

agosto 1937 (21): Pacto de não-agressão russo-chinès


agosto 1937: Galotti, Secretário Nacional de Relações Exte­ agosto 1937: Franco proclamado “Caudilho”
riores da A.I.B., envia um manifesto aos nacionalistas
do Uruguai
set. 1937 (18): Vargas propõe a Dutra, Ministro da Guerra,
preparação de um golpe de Estado
sct. 1937 (24-29): Viagem de Mussolini à Alemanha
out. 1937 (18): Flores da Cunha, governador do Rio Grande
do Sul, renuncia às suas funções c pede asilo no
Uruguai
out. 1937 (19): Intervenção federal no Rio Grande do Sul
out. 1937 (29): Mussolini admite oficialmente a presença de
40.000 italianos na Espanha
nov. 1937 (01): Desfile integralista, no Rio, perante o Pre- nov. 1937 (05): Hitler reúne cm conferência secreta colabo­
sidente da República radores perguntando-lhes: “Onde as maiores conquistas
podem ser feitas ao mais baixo preço?”
nov. 1937 (06): Adesão da Itália ao pacto anti-Komintem
nov. 1937 (10): Nova constituição que instaura o Estado
Novo promulgada por Vargas
dez. 1937 (02): Demissiona-se do Comandando da Vila Mi­
litar Gal. Newton Cavalcanti, em protesto contra a
dissolução da A.I.B.
dez. 1937 (03): Vargas decreta dissolução da A.I.B.
dez. 1937 (31): Discurso de Vargas sobre o Estado Novo
jan. 1938 (7-14): Processo dos 68 revolucionários da insur­ jan. 1938: Primeiras medidas racistas e anti-semitas na Ale­
reição comunista de novembro de 1935 dos quais 59 manha
Co serão condenados
o
Co
r

to
BRASIL EXTERIOR

jan. 1938 (26): Chegada ao Rio de uma esquadrilha de aviões


italianos: entre os aviadores, Bruno Mussolini
jan. 1938 (28): Carta de Salgado estabelecendo as condições
para aceitar o Ministério da Educação
jan. 1938 (30): Franco proclama o “Estado Nacional’’ es­
panhol em Burgos
fev. 1938 (05): Hitlcr assume plenos poderes
fev. 1938 (07): Interdição de jornais, revistas, emissões de
rádio em língua estrangeira. Integralistas acusados
fev. 1938 (24): Aprisionamento em Porto Alegre de Emcst
Dorsch, dirigente da organização nazista, Frente Alemã
do Trabalho
março 1938 (06): Schuschnigg decide consultar, por plebisci­
to, ao povo austríaco se quer ou não permanecer inde­
pendente
março 1938 (09): Nomeação de Oswaldo Aranha para Mi­ março 1938 (09): Decreto do “Fuero dei Trabajo”, em Bur­
nistro dos Negócios Estrangeiros gos por Franco
março 1938 (11): A polícia apreende na residência de Sal­ março 1938 (11): Mussolini declara: “minha atitude é deter­
gado 3.000 punhais com a cruz gamada minada pela amizade entre nossos dois países e que é
março 1938: Fracasso de uma conspiração integralista contra consagrada no Eixo”
o governo. Prisão de militantes nos Estados de Per­ março 1938 (12): Tropas alemãs penetram em território
nambuco, Rio Grande do Sul, Paraná; Salgado, Barroso, austríaco
Belmiro Valvcrdc em fuga
março 1938 (18): Salgado diz não poder mais controlar seus
adeptos frente à cisão interna
março 1938 (19): Polícia apreende arquivos integralistas do
Estado do Rio: 60.000 inscritos.
BRASIL EXTERIOR

março 1938 (19): Suicídio de Glicério Paixão, chefe integra­


lista do Rio
março 1938 (30): Carta do embaixador Ritter a seu governo,
sobre a ação antinazista c anti-integralista no Brasil
abril 1938 (06): Decreto de nacionalização do ensino no abril 1938: Sucesso franquista, isolamento da Catalunha
Rio Grande do Sul: escolas de língua estrangeira são
interditadas
abril 1938 (11): Nacionalização dos recursos naturais: pe­
tróleo e gás natural
maio 1938 (10): Embaixador alemão Ritter protesta junto
ao governo contra a interdição do Partido Nazista
maio 1938 (11): Ataque dos integralistas contra Vargas, no
Palácio da Guanabara, o Ministério da Marinha e as
residências de diversas autoridades
maio 1938 (13): Lei austríaca e alemã incorpora a Áustria
à Alemanha
maio 1938 (12): Tenente Hasselmann ferido em tentativa de
ocupação do Ministério da Marinha
maio 1938 (13): Carta de solidariedade a Vargas dos líderes
presos da insurreição comunista
maio 1938 (17): Carta de Barroso à Aliança Fascista Euro­
péia sobre a necessidade de lutar contra a ameaça judaica
set. 1938 (03): Hitler dá secretamente a ordem ao exército
alemão para atacar a Tchecoslováquia em 28 de setem­
bro
set. 1938 (29): Conferência de Munique com Daladier (Fran­
ça), Chamberlain (Inglaterra), Mussolini (Itália) e Hitler
Co (Alemanha)
o
CH
r

to
05
BRASIL EXTERIOR

set. 1938 (30): Tratado de não-agressão anglo-alemão assi­


nado por Chamberlain e Hitler
dez. 1938 (06): Declaração de não-agressão franco-alemã

março 1939 (28): Rendição de Madrid. Franco adere ao


pacto antikomintern
abril 1939 (08): A Albânia torna-se protetorado da Itália
maio 1939 (26): Exílio de Salgado em Portugal

nov. (03): Início da Segunda Guerra Mundial


I

ANEXOS

307
!

I DIRIGENTES NACIONAIS E REGIONAIS DO INTEGRALISMO

A — DIREÇÃO NACIONAL DA A.I.B.

1) Chefe Nacional: Plínio Salgado, Gabinete do Chefe Nacional: Loureiro


Júnior, Chefe do Gabinete; Rui Arruda, “Attaché” do Gabinete; Alpi-
nolo L. Casali, Secretário; Iracy de Moura Costa, Chefe da Casa Mi­
t litar; Ulysses Paranhos, Chefe dos Serviços Exteriores; Victor Pujol,
Diretor do Monitor Integralista; Marcello de Miranda Torres, Chefe da
Seção de Ligações; Monteiro de Mello, Chefe da Seção de Imprensa.
2) a. Membros do Secretariado Nacional (março de 1934 até junho de
1936): Ulysses Paranhos, Sérgio Silva, Manoel Ferreira, Caldas Coni,
Thiers Martins Moreira, Raymundo Padilha, José Carvalho Cardoso,
Arnaldo de Magalhães.
b. Membros do Conselho Supremo (junho de 1936 até a dissolução da
A.I.B.): Gustavo Barroso, Miguel Reale, Everaldo Leite, Madeira
de Freitas, Jehovah Motta, Rodolpho Josetti, Raymundo Padilha,
Belmiro Valverde, Jayme Regalo Pereira.
3) Membros da Câmara dos Quarenta (designados em setembro de 1936):
Antônio da Costa Pires, João Fonseca Hermes, Othon de Barros,
Archimedes Memória, Renato da Rocha Miranda, Lúcio dos Santos,
Sérgio Silva, Abreu Salgado, Manoel Ferreira, Frederico Villar. ar-
valho Cardoso, Cassiano Gomes, Pedro Moura, Francisco de Pau a
Queiroz Ribeiro, Olbiano de Mello, Álvaro de Carvalho, Beisano
Penna, Custódio de Viveiros, Vicente Meggiolaro, Guilherme bontai-
nha, Artidonio Pamplona, Mansuetto Bernardi, Amaro Lanan, Marcos
0 de Souza Dantas, Henry Othon Leonardos, Arthur Nunes
Raul Leite, Carlos de Freitas Henriques, Maunho de Mello, Paulo

i Santos, José Vieira da Rosa, Augusto Eduardo da Stlva Artnur


Thompson Fijho, Jorge Pinheiro, Ordival Gomes, Oswaldo Ro
Miranda, Trajano de Carvalho, Jeronymo Furtado Nascimento, N
Villela Júnior, Victor Pujol.
Novos membros designados em junho de 1937: J^s^Antonio
reira, J. Rocha Vaz, Sylvio Rego, Maurício da Silva Telles, A
Telles Ferreira. . . .
4) a. Membros do Conselho Nacional (março de 193 * josé ^a.
1936): Miguel Reale, Departamento Nacional de ^ndà;JGuslav0
deiras de Freitas, Departamento Nacional de P g artainento
Barroso, Departamento da Milícia; Rodolpho rvòartamento Na-
Nacional de Cultura Artística; Belmiro Valverde. Dcpartame
309
cional das Finanças; Everaldo Leite, Departamento Nacional da Orga­
nização Política.
b. Membros do Secretariado Nacional (junho de 1936 até a dissolução
da A.I.B.): Francisco Luiz de Almeida Sallcs, Secretaria Nacional das
Corporações e Serviços Eleitorais; Ernani da Silva Bruno, Secretaria
Nacional de Doutrina e Estudos; João Carvalhedo, Secretaria Nacional
de Educação (moral, cívica e física); Rodolpho Josctti, Secretaria de
Cultura Artística; Francisco San Thiago Dantas, Secretaria Nacional
de Imprensa; Irene de Freitas Henriques, Secretaria Nacional da Orga­
nização Feminina e da Juventude; Henrique de Brito Pereira, Secre­
taria Nacional de Assistência Social; Belmiro Valverdc, Secretaria Na­
cional de Finanças; Antonio Gallotti, Secretaria Nacional de Relações
Exteriores; Paulo Lomba Ferraz, Secretaria Nacional de Propaganda.
c. Membros do Conselho Jurídico Nacional: João Claudino de Oliveira
Cruz, Francisco San Thiago Dantas, Didimo Amaral Agapito da
Veiga, Demósthenes Madureira de Pinho, Oswaldo Miranda Ferraz,
Arthur Nunes da Silva.
d. Procuradores Nacionais: Orlando Ribeiro de Castro, Othon de
Barros, Gaston Luiz do Rego.
5) Chefes Arqui-provinciais: l.“ circunscrição: Jaime Regallo Pereira; 2.‘
circunscrição: João Barbosa Carvalhedo; 3.‘ circunscrição: Agnaldo
Celestino; 4.“ circunscrição: Herberto Dutra; 5.“ circunscrição: Marcei
da Silva Telles; 6." circunscrição: José Vieira da Rosa (*).

B — DIRIGENTES REGIONAIS DA A.I.B.


D Chefes Provinciais: Rio Grande do Sul: Dario Bittencourt, Anor Butler
Maciel, Nestor Contreiras Rodrigues; Santa Catarina: Othon Gama
d’Eça; Paraná: Vieira de Alencar; São Paulo: Marcei da Silva Telles,
Machado Florence; Guanabara: Madeira de Freitas, Raymundo Barbo­
sa Lima; Rio de Janeiro: Jayme Ferreira da Silva, Raymundo Delme-
riano Padilha; Espírito Santo: Arnaldo Magalhães, João Linhares; Mi­
nas Gerais: Olbiano de Mello, João Rezende Alves; Bahia: Victor
Hugo Aranha; Sergipe: Agnaldo Alves Celestino, Jeronymo Garcia
Moreira; Alagoas: Antonio Andrade Lima Filho; Pernambuco: Fran­
cisco Lopes Filho; Paraíba: José Mayrink de Souza Motta; Rio Gran­
de do Norte; Carlos Gondim; Ceará: Jehovah Motta, Ubirajara índio
do Ceará; Piauí: Herberto Dutra; Maranhão: Valle Sobrinho, Fran­
cisco Solano de Oliveira Rodrigues; Pará: Paulo Eleuthério Alves da
Silva, Francisco Sampaio, Severino Beuttennuller; Amazonas: Attila
Sayol de Sá Peixoto; Goiás: João da Silva Pimenta; Mato Grosso:
Everaldo Leite; Acre: Mario de Oliveira; do Mar: Camilo Bcnevides.
2) Membros da Câmara dos Quatrocentos (designados em junho de 1937):
Abdon Pacheco do Nascimento, Abdul Sayol de Sá Peixoto, Abel
Falcão Lima, Abelardo Fajardo, Adamastor Boldomero Fontoura,
Adelina Silva Prado, Adolfo Lopes, Adélio Ramires de Assis, Adolfo
Pereira Marques, Afonso dei Caro, Afrânio Salgado Lages, Afrânio
Teixeira Pinto, Agostinho Serrano, Alberto Lamego, Alberto Silvares,
Alcides Meira, Alencar Viana, Alexandre Belfort de Matos, Alfredo

(♦) Cada “circunscrição” reúne 2 ou 3 “províncias” integralistas.

310
Montcnegro de Mesquita, Alfredo Peres, Aloísio Meireles, Altevir
Soares, Álvaro Parente, Álvaro Sardinha, Amaurílio Resende, Amazo­
nas Duarte, Américo de Araújo, Américo Gasparini, Américo Matran-
gula, Américo Padilha, Américo da Silva Oliveira, Angélico Loureiro,
Antônio de Almeida, Antônio Amélio, Antônio de Andrade Lima,
Antônio Cássia, Antônio Dib Mussi, Antônio Ferreira de Melo Couto,
Antônio Fróis Cruz, Antônio Garchet Santos Reis, Antônio Garcia,
Antônio Jaguaribe, Antônio Lima de Faria, Antônio Pagani, Antônio
Pereira Vieira, Antônio Pompeu de Camargo, Antônio Procópio Tei­
xeira, Antônio Ribeiro Fonseca, Antônio de Lima e Silva, Antônio
Soares de Pinho, Antônio Vernhoest, Antônio Viçosa Cota, Archilau
Vivacqua, Aristides Milano, Aristóbulo Soriano de Melo, Armando
Bhering, Armando Paraíso Pereira, Arnaldo Magalhães, Amóbio de
Souza Graça, Arquimedes de Matos, Arsênio Alves de Souza, Artur
Antunes de Morais, Augusto Medeiros, Aurélio Bulhões Pedreira,
Aurélio Rocha, Balbino Moreno, Belísio Cordula, Benedito Antônio
Silvestre, Bento de Almeida Prado, Bcnevenuto José da Silva, Ber-
nardino Souza Ferreira, Bonifácio de Souza, Brasílio Otávio de Sá,
Carlos Machado Júnior, Caetano Spinelli, Caio Marques de Souza,
Cantídio Paes Leme, Carloman Carneiro, Carlos Astrogildo Correia,
Carlos Cavalcanti Fernandes, Carlos Crisci, Carlos Henrique Liberalli,
Carlos Machado, Carlos de Morais Pereira, Carlos Ramos de Azam-
buja, Carlos Seild, Caubi da Silva Rêgo, Ceei Filho, Celestino Cardoso,
Cherubim Chagas, Ciro Resende, Clito Lemos, Clóvis Martins de
Camargo, Colombo de Souza, Conrado Van Erven, Cosme Batista,
Cristóvão Devoto, Custódio Guerra de Carvalho, Dalton Penedo, Darci
Pereira, Dario Bittencourt, Décio Pagani, Deusdedith Cortes Vieira
da Silva, Dilcrmando Rocha, Dulce Thompson, Dantas Mota, Edmun­
do Amaral, Edmundo Cavalcanti, Eduardo Gilson, Eduardo Graziano,
Efigênio Salgado, Elias Ferreira de Melo, Emanuel Bittencourt,
Emanuel Bianchi, Emílio Niemeyer, Epifânio Augusto de Oliveira,
Ernani Giudicc, Ernani da Silva Bruno, Etienne Dessaunne, Eugênio
La Maison, Eurico Hildebrando Aurélio Ruschi, Eurico Pontes Lira,
Ezequiel Borges, Fernando Cochrane, Fernando Posa Oiticica, Fer­
nando Vieira de Melo, Filemon Barbosa Cordeiro, Filemon da Mata,
Floriano Correia, Floriano Nunes Pereira, Floriano Thompson Steve,
Francisco Aranha, Francisco Edgard de Macedo, Francisco Leite Vi­
lela, Francisco de Paula Watson, Francisco Sabóia Barbosa, Francisco
Stella, Francisco Veras Bezerra, Franklin Chaves, Frederico Carlos
Ferreira, Frederico Carlos de Abreu e Souza, Frederico Ferreira Lages,
Frederico Sócrates, Fulvio Mandeta, Gaston Luiz do Rego, Gastão
Cavalcanti de Albuquerque, Gastão Roubach, Genelício Alves Porto,
Genésio Rosa, Georges Leonardos, Gil Guatimozim, Gil Vieira do
Nascimento, Gilberto de Assis Pacheco, Glauco Ribeiro, Guilherme
Rennaux, Hamilton Leite, Haroldo Bezerra Cavalcanti, Helvido Mar­
tins, Henrique Bissini, Henrique Pinheiro de Vasconcelos, Hcráclito
Carneiro Ribeiro, Herbert Parentes Fortes, Hormando Fcitosa, Hugo
Berta, Humberto Haniquini de Carvalho, Inácio Prado, Israel Gal-
dino de Souza, Ivete Ribeiro, Ivan Bichara, J. C. Moreira Guimarães,
J. Francia Junior, Jacinto Figueiredo, Jacob Vitali, Jair Tavares,
Jefferson Carlos de Souza, João Alberto da Cunha, João Alfredo
Correia de Oliveira Neto, João Alves da Costa Ourto, João Bar­
bosa de Saboia, João Batista Bernardes Lima, João Batista Cerrão,

311
João Cabral, João Cândido, João Carvalho Santos, João Ernesto
Lisboa, João J. Magalhães, João Leães Sobrinho, João Pinheiro
de Andrade Lira, João Queiroz, Joaquim Ccrqueira, Joaquim Fraga
Lima, Joaquim Mendes Contente, Joaquim Vaz da Costa, Jorge
Claudino de Oliveira, Jorge Coury, José Alves Pessoa, José Antônio
Vieira da Silva, José Nolasco, José Apóstolo de Oliveira Neto, José
Bernardo da Silva, José de Campos Sales, José Carlos Monteiro de
Souza, José Cola, José Esteves da Silva, José Ladim, José Fernandes
da Cunha, José Fleury, José Flores, José Francisco de Amorim, José
Guiomar dos Santos, José Muniz Nascimento, José Hcrcili Fleury,
José de Lima Verde, José Madeira de Freitas, José de Oliveira Rangel,
José Rodrigues Leite, José Sanches, José Soares Brandão, José Tcó-
filo Leão de Aquino, José Vieira Mendonça, José Xavier de Melo,
Josias Vaz de Oliveira, Júlio Antonio Martins Vieira, Júlio Oliveira,
Júlio Pinheiro, Júlio dos Santos, Jurandir Costa Campos, Juvcntino
Linhares, Lafayette Mendonça, Lastênio Calmon Júnior, Lauro Maciel,
Leônidas Santos Damásio, Leopoldo Aires, Levi Saldanha, Lincoln de
Carvalho, Luís Amaro Farol, Luís Arruda Campos, Luís da Câmara
Cascudo, Luís Gonzaga Palmeira, Luís Guimarães Araújo, Luís Leite
Oiticica, Luís Morgan Snell, Luís Passarelli, Luís Pujol, Luís de Souza,
Manuel Adolfo dos Santos, Manuel Cláudio da Mota Maya, Manuel
Duarte, Manuel Eloi Alvim Pessoa, Manuel Ferreira, Manuel Messias
de Gusmão, Manuel Neto, Manuel Oliveira, Manuel Pedro de Campos,
Manuel Sobrinho, Marcelo Torres, Maria Teles Ferreira, Marinha da
Rocha Vaz Bernardelli, Marinho de Souza Lobo, Mário Bulhões Ra­
mos, Mário Dolores, Mário Giorgi, Mário Marroquim do Nascimento,
Mário Reis, Martinho Penteado da Silva Prado, Maurício de Andrade,
Maurício Lincoln de Abreu, Melchiades Rodrigues Monte, Miguel
Seabra, Milcíades Ponciano Jaqueira, Milton Albuquerque, Moacir
Aguiar, Moacir Barbosa, Mucio Murgel, Nelson de Castro Silva, Nel­
son Dantas, Nelson de Oliveira, Nilo de Souza Pinto, Nilza Peres,
Oldemar Finkenauer, Olympio Mourão, Ornar de Freitas Almeida,
Onésimo Coelho, Orlando Ribeiro da Costa, Orlando Sampaio, Olde­
mar Lacerda, Osmário do Prado Leite, Osni Campeio, Osolino Tava­
res, Oswaldo Ferraz, Oswaldo Nicácio, Oswaldo Urioste, Otaviano
Santos, Oto Guerra, Ottocar Rodolfo Grubbe, Paulo Aguirre Neiva,
Paulo Figueira de Melo, Paulo Japiassu, Paulo Paulista de Ulhoa Cin­
tra, Paulo Salvador, Paulo Vieira da Rosa, Pedro Amaral, Pedro
Bentes, Pedro Carneiro Leães Sobrinho, Pedro Ferreira, Pedro Ivo
Rostney, Pedro Morais, Peri da Silva Quintais, Pio Sampaio, Pompílio
Espinheira, Ponciano Stenzel dos Santos, Raimundo Alves da Rocha,
Raimundo Correia de Araújo, Raimundo Ribeiro Roland, Ramilson de
Sá Barreto, Ramiro Coutinho, Raul Dias Cardoso, Raul de Melo Sen-
ra, Renato Egídio de Souza Aranha, Renato Heinselmann, Renato Viei­
ra da Silva, René Pena Forte Chaves, Ribas Farias, Ribeiro de Barros,
Ricardo Grewaldt, Roberto Duque Estrada, Rocha Loures, Rodolfo
Figueira de Melo, Rodolfo Weickert, Rodomarque Barros de Mendon­
ça, Romano Toffoli Guião, Rômulo Mercuri, Rosalvo Wyne Queirós,
Rubens Marcondes, Rui Prcsscr Belo, Sálvio de Sá Gonzaga, Samuel
Teixeira Magalhães D. Santa Guerra, Sebastião do Banho, Sebastião
Cardoso d’Ávila, Serafim Lacerda, Sérgio Severo, Scverino Novais,
Severino de Resende, Silvério dcl Caro, Sílvio de Couto Prado, Sílvio
Freire, Sílvio Vieira da Silva, Sílvio Wright Neto Machado, Sinfrônio

312
Brochado Júnior, Sinval Carvalho, Teimo Amorim Pontual, Teófilo
Canduru, Teófilo Costa, Tomás dc Aquino, Tibiriçá de Oliveira,
Tito Carlos Pereira Filho, Ulisses da Rocha Pereira, Vai de Lírio
Pimentel, Valdcmar de Almeida, Valdemar Coutinho, Valdemar de
Sá Peixoto Detarto, Valdcmar Stelita Romeiro de Melo, Valdomiro
Vasconcelos Ferreira, Valter Brandão de Oliveira Aguiar, Vajter Ca­
valcanti, Venceslau Dytz, Virgílio Guade Fleury, Virgílio Vieira Ro-
mão, Victor Romaigna, Volney Loureiro Tavares, Wilson Coutinho,
Wilson Ferreira, Wolfram Mctzler, Zcferino Contrucci, Zenóbio Ra­
mos, Zigler dc Paula Bueno.

313
II — EXPANSÃO GEOGRÁFICA DA AÇÃO
INTEGRALISTA (♦)
(período de dezembro de 1934 a julho de 1937)

Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista

193 4
dezembro São José dos Pinhais id. Paraná
id. Guaraqueçaba Campo Tenente id.
id. Guaratu id.
id. Rio de Janeiro
id. Perdição id.
id. Caeté id.
id. Dona Emília id.
id. São Sebastião da
Vista Alegre id.
id. São Lourenço id.
id. Varre Sae id.
id. Santa Clara id.
id. Jacutinga id.
id. Santana do Rosai id.
id. Itaperuna id.
id. Retiro id.
id. Carangola id.
id. Bom Jesus do Que­
rendo id.
id. Bom Jesus do Ita-
peruna id.

193 5
janeiro Lambari Marcelino Ramos Rio Grande do
Sul
id. Anna Rech Caxias do Sul id.
fevereiro Flores Rio de Janeiro
id. Posto Novo Minas Gerais
id. Floriano Rio de Janeiro
id. Paulo Bento Erechim Rio Grande do
Sul
id. Alegrete Alegrete id.
id. Maceió Alagoas
São José da Laje id.
id.
id.
id. Rio Largo
id.
id. Penedo

..-1 nacional integralista


(*) A fonte destes dados foi a coleção do jornal
:presentativos da expan-
A Offensiva. Embora não sejam provavelmente rej
tendências gerais.
são real do movimento, eles exprimem algumas L

315
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista

193 5
id. São Luís de Quin-
tunde Alagoas
id. Alagoas id.
id. Porto Real do Co­
légio id.
id. Murici id.
id. Pilar id.
id. São Miguel de
Campos id.
id. Levada id.
id. Pontal da Barra id.
id. Serra Grande id.
id. Santa Luzia do
Norte id.
março São Gonçalo Paraíba
id. Penha Rio de Janeiro
junho Datas Diamantina Minas Gerais
julho Pedro do Rio Rio de Janeiro
id. Riachuelo id.
agosto id. Júlio de Castilhos Rio Grande do
Sul
id. Areado Minas Gerais
id. São Gonçalo Rio Grande do
Sul
id. Cardoso Moreira Rio de Janeiro
id. São Luís id.
id. Murundu id.
id. São João da Barra id.
id. Santa Maria id.
id. Santo Eduardo id.
setembro Bom Retiro Taquari Rio Grande do
Sul
id. Padilha Taquara id.
id. Rochedo id. id.
outubro Pinhal Júlio de Castilhos id.

193 6
janeiro SanfAna Taquari Rio Grande do
Sul
junho Salvador Montcnegro id.
julho Serro Preto Jacuí id.
id. Novo São Paulo Cachoeira do Sul id.
id. Arroio da Bica São Leopoldo id.
id. Arroio Canoas Montenegro id.

316
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista

193 6
julho Campo Vicente Taquara Rio G. do
Sul
id. São José da Glória Carazinho id.
id. Não-me-Toque id. id.
agosto Uruguaiana Uruguaiana id.
setembro Vacaria Vacaria id.
id. Pcssegueiro Missões id.
id. Quilombo Candelária id.
id. Rincão das Caras id. id.
id. Vila Zimmermann Estrela id.
id. Gctúlio Vargas Gctúlio Vargas id.
outubro Lavras do Sul Lavras do Sul id.
novembro Erebango Erechim id.
id. Ligeirinho id. id.
id. Santo Antônio id. id.
id. Desvio Giareta id. id.
id. Gramado id. id.
id. São Roque id. id.
id. José Velho Taquara id.
id. Serra Grande id. id.
dezembro Sampainho Lajeado id.
id. Buriti Santo Ângelo id.
id. Entre Injuins id. id.
id. Primeiro Distri. Jacuí id.
id. Colônia Buriti id. id.
id. Itaqui Itaqui id.
id. Linha Gal. Osório Santa Cruz do Sul id.

1937
janeiro Linha Ávila Taquara

id. Imbará Uruguaiana id.


id. Bela Vista Passo das Antas id.
id. Sto. Antônio da Pa­ Sto. Antônio da Pa­
trulha trulha id.
id. Vcnâncio Aires Vcnâncio Aires id.
id. Encantado Encantado id.
id. Arroio do Tigre Jacm Id.
id. Bela Vista Ercchim id.
id. Campo Vicente Taquara id.
id. Vale Veneto Cachoeira do Sul id.
id. Linha 15 de Nov. Santa Rosa id.
id. Colônia Nova Vest-
fália Taquari id.

317
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista

1937
janeiro Santo Cristo Santa Rosa Rio Grande do
id. Viadutos Erechim Sul
id. Lajeado Esperança id. id.
id. Sessscnta Flores da Cunha id.
fevereiro Rancho Grande Marcelino Ramos id.
id. Lajeado Paulino id. id.
id. Tamanduá id. id.
id. Vila Jacuí Jacuí id.
id. Pinhal Velho Santa Maria id.
id. Mata São Vicente id.
id. Lomba Grande São Leopoldo id.
id. Rio Ligeiro Getúlio Vargas id.
id. Campo Novo Palmeira das Mis­
sões id.
id. Três Passos id.
id.
id. Sta. Teresinha id. id.
id. Armação Niterói Rio de Janeiro
id. Santiago do Bom
Sucesso id. Minas Gerais
id. Tabuleiro do Pom­
bal id. id.
março Boca da Serra São Francisco de Rio Grande do
Paula Sul
id. São José Santa Maria id.
id. Parati id. Santa Catarina
id. Orleans id. id.
id. Bom Retiro id. id.
id. Laguna id. id.
id. Frederico Westpha- Rio Grande do
len Palmeira Sul
id. Taquaraçu da For­
taleza id. id.
id. Jaguari Jaguari id.
id. Harmonia São Lourenço id.
id. Três Vendas Cachoeira do Sul id.
id. Passo do Inferno São Francisco de
Paula id.
id. Irai Irai id.
abril Flores da Cunha Flores da Cunha id.
id. Antônio Prado Antônio Prado id.
id. Bento Gonçalves Bento Gonçalves id.
id. Solitária Taquara id.
id. Nova Feltre São Sepé id.
id. Serro Branco São Pedro id.
id. Palmas Bagé id.

318
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista

1 93 7
abril Linha Dona Belinha Santa Rosa Rio Grande do
id. Pesscgueiro Camaquã Sul
id. Arroio Grande Santa Maria id.
id. Sertão Passo Fundo id.
P! Mesquita id. Rio de Janeiro
id. Igreja Nova id. Alagoas
id. Rio Doce id. Minas Gerais
id. Ubatuba id. São Paulo
id. Ituveraba id. id.
maio Cruz do Lajeado Maranguapc Ceará
id. Santa Lúcia São Luís Gonzaga Rio Grande do
Sul
id. Picada Vinagre Arroio do Meio id.
id. Conserva Lajeado id.
id. Paraíso Candelária id.
id. Ferraz Santa Cruz do iSulI id.
id. Formosa id. id.
id. Linha Bernardina id. id.
id. Rio Pequeno id. id.
id. São Martinho id. id.
junho Restinga Seca Santo Ângelo id.
id. Dois Córregos Jaú São Paulo
id. Brotos id. id.
julho Colônia São Brás Camaquã Rio Grande do
Sul
id. 15 de Novembro Cruz Alta id.
id. São Sebastião do São Sebastião do
Caí Caí id.
id. Linha 23 Ijuí id.
id. Cubango id. Rio de Janeiro
id. Pouso Alto Cidade Velha Minas Gerais
id. São Domingos Muqui Espírito Santo
id. Fazenda Harmonia João Pessoa id.
id. Vila de Lage id. Bahia
id. Itaparica id. id.
id. Granja id. Ceará
id. Santo Amaro Muniz Freire Espírito Santo
id. Amorim id. id.
id. Conceição id. id.
id. São Cristóvão id. id.
id. Alto Bérgamo Pau Gigante id.
id. Lajeado Cuiabá Mato Grosso
id. Rosário id. Maranhão
id. Rio Corrente Irati Paraná
id. Seminário Curitiba id.
id. Rio Branco id. id.

319
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista

1937
julho Braço do Norte Tubarão Santa Catarina
id. São José id. id.
id. Barra Grande Cristina Minas Gerais
id. Dores de Santa Ju-
liana Uberaba id.
id. Laginha Cataguazcs id.
id. Desterro Barbacena id.
id. Jurumirim Rio Casca io.
id. Sto. Antônio Da-
lagda Curvclo id.
id. Pitangui id. id.
id. São Pedro da Glória Carangola id.
id. Areado Eng. Lopes id.
id. Bocaiuva id. id.
id. Patrimônio Tombos id.
id. Laginha id. id.
id. Córrego id. id.
id. Pereiras id. id.
id. Serra id. id.
id. Quintin id. id.
id. Fazenda São José id. id.
id. Toledo Filho Santa Rita
Jacutinga id.
d. Pains Formiga id.
d. Arcos id. id.
d. Serrado id. id.
d. Falhas id. id.
d. Padre Doutor id. id.
d. Loanda id. id.
d. Córrego do Fundo id. id.
d. Albertos id. id.
d. Córregos Fundo de
Cima id. id.
id. Padre Trindade id. id.
id. Pouso Alegre id. id.
id. Rio Piracicaba id. id.
id. Ferros id. id.
id. Ponte Nova id. id.
id. Barrinha id. id.
id. Campos Gerais id. id.
id. Campo do Meio id. id.
id. Acaiaca Mariana id.
id. Cachoeira Alegre São João da Barra Rio de Janeiro
id. Mossu Repe id. id.
id. Guissahy id. I id.

320
Lugar de T Cidade Estado
Data implantação do
núcleo integralista

1 9 37
julho Santa Rita do Rio
Negro Cantagalo id.
id. Santa Rita Cordeiro id.
id. Capivari Rio Claro id.
id. Cachoeira Alegre id. id.
id. Mutum id. id.
id. Santa Maria Mada­
lena id. id.
id. Paracambi id. id.
id. Fazenda Sertão São Marcos id.
id. Caju São Cristóvão Guanabara
id. Benfica id. id.
id. Guara P. Ranca id. São Paulo
id. São José da Bela
Vista id. id.
id. Trcmcmbé id. id.
id. Serra Azul id. id.
id. Cristais id. id.
id. Capclinha São Joaquim id.
id. Cunha Guaratinguctá id.
id. Bocaiuva Jaú id.
id. Indianópolis id. id.
id. Ribeirão Vermelho id. Minas Gerais
id. União do Quatro id. São Paulo
id. Santa Bárbara id. id.
id. Santa Ernestina id. id.
id. Itobi Casa Branca id.
id. Itatinga Pcnápolis id.
id. Alto Alegre id. id.

321
QUESTIONÁRIOS

323
I — ENTREVISTA SEMIDIRETIVA
(DIRIGENTES NACIONAIS/REGIONAIS)

A — DISSERTAÇÃO
01 — O que significou para o senhor sua adesão ao Integralismo?

B — BIOGRAFIA POLÍTICO-IDEOLÓGICA
02 — Como conheceu o movimento integralista?
03 — Em que ano aderiu ao Integralismo?
04 — Como explicaria sua adesão?
05 — Que funções exerceu no movimento?
06 — Antes de sua adesão ao Integralismo, pertenceu a outras
organizações políticas, culturais ou religiosas?
07 — Seus melhores amigos também simpatizavam com o Integra-
lismo?
08 — Eles também entraram no movimento, ou sua adesão foi
individual?
09 — Seus pais interessavam-se por política?
10 — (Se sim) Com que movimentos ou partidos tinham mais afi­
nidades?
11 — A adesão ao Integralismo dava-se predominantemente entre
que categorias sociais?
12 — Quais eram as condições para aderir-se ao movimento?
13 — Como se organizava intemamente a A.I.B.?
14 — Existe, na sua opinião, alguma diferença entre a Ação Inte­
gralista e o PRP?
15 — Como explicaria a forte implantação do Integralismo no Rio
Grande do Sul?

C — IDEOLOGIA INTEGRALISTA
mais importantes
16 — Quais eram, na sua opinião, os problemas
do país na década de 30? movimento
17 — 0 que pretendia Ação Integralista enquanto
pretendia aa Ação
político? integralista
18 — Quais os aspectos da — doutrina ou do programa
com os quais concordava mais. programa ?
19 — Discordava de alguns aspectos da doutrina ou
325
20 — Na sua opinião, quais seriam algumas características da so­
ciedade imaginada pelo Intcgralismo para o Brasil?
T
21 — Que ideologias considera incompatíveis com o> Intcgralismo?
22 — Que ideologias considera ter afinidades com o Intcgralismo?
23 — Que fatos políticos da época, ocorridos dentro ou fora do
Brasil, na sua opinião, tiveram alguma importância na for­
mação ou evolução da ideologia integralista?
24 — Quais eram os pensadores brasileiros que mais influíram sobre
os teóricos do Intcgralismo?
25 — Freqücntemente os teóricos integralistas referem-se a uma
série de pensadores europeus (Sorel, Maurras, Pareto, Barrès,
Sardinha, Primo de Rivcra, Rocco, etc.): que contribuição
estes autores teriam dado à doutrina integralista?
26 — Houve alguma influência da doutrina social católica sobre a
ideologia integralista?
27 — Qual era a atitude da Igreja e dos católicos com relação ao
Integralismo?
28 — Na sua opinião, a ideologia integralista evoluiu ou sempre
permaneceu a mesma?
29 — (Se sim) Em que evoluiu?
A que se deve tal evolução?
Na sua opinião, ela foi positiva ou negativa para o movi­
mento?
30 — Na sua opinião, sempre houve acordo ou haviam posições
divergentes entre os teóricos do integralismo?
31 — (Se sim) Com que teóricos estava mais de acordo?
32 — Qual o significado da revolução integralista quanto aos seus
objetivos e métodos?
33 — Como se organizaria o Estado Integral?
34 — Quais as vantagens da democracia orgânica sobre a demo­
cracia liberal?
35 — O Integralismo era favorável à forma monárquica de go­
verno?
36 — Como se organizaria o corporativismo integralista?
37 — Qual era o papel do Chefe Nacional?
38 — Qual era a função das Milícias?
39 — Qual o significado dos símbolos integralistas?
40 — Como se caracterizaria o nacionalismo integralista?

D — ATITUDES POLÍTICAS
41 — Qual foi o significado da Revolução de 30 para a sociedade
brasileira?
42 — E o período getulista?
43 — Como interpreta a evolução política do Brasil nas últimas
duas décadas?
44 — Algumas pessoas falam em ameaças que pesam sobre o Brasil:
por quem ou por que coisas o Brasil está ameaçado atual­
mente?
45 — Na sua opinião, quais os problemas mais importantes que
enfrenta o Brasil atualmente?
46 — Quais as perspectivas da doutrina integralista em nossos dias
c no futuro?

326
II — QUESTIONÁRIO
(DIRIGENTES/MILITANTES LOCAIS)

(01) COMO CONHECEU O INTEGRALISMO?


1 . através de amigos ou parentes integralistas
2. através de discursos de Plínio Salgado
3. através da leitura de livros integralistas
4. através da divulgação do Manifesto de Outubro
5. através (de panfletos e propaganda
6. através de desfiles integralistas
outra forma:
(02) EM QUE ANO ADERIU?
(03) COMO EXPLICARIA SUA ADESÃO?

(04) SUA ADESÃO FOI ISOLADA OU COM UM GRUPO DE


AMIGOS?
1. adesão isolada
2. adesão em grupo
(05) ANTES DE SUA ADESÃO AO INTEGRALISMO, PERTEN­
CEU A OUTROS MOVIMENTOS?

a) Políticos 1. Sim Qual?


2. Não
1 . Sim Qual?
b) Religiosos
2. Não
1. Sim Qual?
c) Culturais
2. Não

(05.a) SEUS PAIS INTERESSAVAM-SE POR POLÍTICA?


1. sim
2. não
(05.b) COM QUE MOVIMENTOS OU PARTIDOS TINHAM MAIS
SIMPATIA?

(06) NA SUA REGIÃO, A ADESÃO AO INTEGRALISMO DAyA-


-SE PREDOMINANTEMENTE ENTRE QUE CATEGORIAS
SOCIAIS? (indicar ate 3, por ordem)
1. proprietários rurais
2. funcionários públicos
3. operários e trabalhadores rurais
4. empregados do comércio e da indústria

327
5. profissionais liberais
6. comerciantes e industriais
7. padres
8. militares
9. classe média em geral
(07) COMO EXPLICARIA O DESENVOLVIMENTO DO INTE-
GRALISMO EM SUA REGIÃO?

(08) QUAL ERA A FINALIDADE DA AÇÀO INTEGRALISTA?

(09) SE OS INTEGRALISTAS TIVESSEM TOMADO O PODER,


QUAIS SERIAM ALGUMAS DAS CARACTERÍSTICAS DA
SOCIEDADE IMAGINADA PELO INTEGRALISMO PARA
O BRASIL?

(10) COM QUE ASPECTOS DA DOUTRINA ESTAVA MAIS DE


ACORDO? (indicar até três)

(11) COM QUE ASPECTOS DA DOUTRINA ESTAVA MENOS DE


ACORDO? (indicar até três)

(12) QUAIS ERAM OS PRINCIPAIS LÍDERES DO INTEGRALIS-


MO NO SEU MUNICÍPIO?

(13) QUAIS ERAM OS PRINCIPAIS LÍDERES DO INTEGRALIS-


MO NO ESTADO?

(14) QUE FUNÇÕES EXERCEU NO INTEGRALISMO?


a) Função:
Ano:
b) Função:
Ano:
c) Função:
Ano:
(15) COM QUE FREQÜÊNCIA PARTICIPAVA DAS ATIVIDADES
DO MOVIMENTO OU PARTIDO?
1. Uma vez por semana ou mais
2. Uma ou duas vezes por mês
3. Umas poucas vezes por ano
4. Nunca

328
(16) QUE ACONTECIMENTOS OU FATOS POLÍTICO-SOCIAIS
MAIS INFLUÍRAM EM SUA MANEIRA DE PENSAR, ANTES
DE SUA ADESÃO AO INTEGRALISMO? (Indicar até três, em
ordem)

(17) QUAL FOI SUA MELHOR EXPERIÊNCIA COMO INTEGRA­


LISTA?

(18) QUAL SUA OPINIÃO SOBRE A REVOLUÇÃO DE 30?

(19) E SOBRE A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 32?

(20) NA SUA OPINIÃO, A ORIENTAÇÃO DOUTRINÁRIA OU


PROGRAMÁTICA DO INTEGRALISMO ENTRE 1932 E 1937:
MUDOU, EVOLUIU OU PERMANECEU A MESMA?

(21) (Se a resposta for positiva) EM QUE MUDOU OU EVOLUIU?

(22) QUAL A DIFERENÇA ENTRE O PRP E A AIB NO PLANO


DOUTRINÁRIO?

(23) NA SUA OPINIÃO, O PRP AFASTOU-SE DOS VERDADEI­


ROS IDEAIS INTEGRALISTAS?

(24) COMO DESCREVERÍA A FIGURA DO CHEFE PLÍNIO SAL­


GADO?

(25) QUAIS AS MUDANÇAS OU TRANSFORMAÇÕES MAIS IM­


PORTANTES OCORRIDAS NOS ÚLTIMOS 50 ANOS NO
BRASIL? (Indicar até três, em ordem)
a) no plano econômico:

b) no plano social:

c) no plano político:

(26) DE QUE MAIS SE ORGULHA COMO INTEGRALISTA?

(27) DE QUE MENOS SE ORGULHA COMO INTEGRALISTA?

329
III — CONTEXTO INDIVIDUAL

01 — Sexo: 02 — Cor:
03 — Estado Civil: 04 — Idade:
05 — Onde nasceu?

06 — Na zona urbana ou rural?

07 — Há quanto tempo mora no Município?


08 — Qual era sua ocupação, na época de sua adesão ao Integralismo?
(especificar)

09 — Atualmente, qual é sua ocupação?

10 — Que estudos realizou?

11 — Que instrução possuía seu pai?

12 — Qual a profissão de seu pai?

13 — Religião:
1. católica
2. protestante
3. espírita
4. israelita
5. outra (especificar) ............. _
6. sem religião
14 — Com que freqüência participa de atividades religiosas?
1. uma vez por semana ou mais
2. uma ou duas vezes por mês
3. umas poucas vezes por ano
4. nunca
14.a — Qual a importância da religião em sua vida?
1. muito importante
2. pouco importante
3. nenhuma importância
15 — Origem étnica:
paterna:
materna:

16 — Número do Questionário:
17 — Local da Entrevista: __

330
IV — ATITUDES IDEOLÓGICAS *
(DIRIGENTES REGIONAIS/MILITANTES LOCAIS)

GOSTARIA DE SABER SE
ESTÁ EM ACORDO OU EM CONCORDA DISCORDA
DESACORDO COM AS SE­
GUINTES FRRASES: CM CP DP DMM

01 — Somos um país, mas não ainda


uma nação: despertemos a
nação! CM CP DP DM
02 — A virtude do homem está
numa vida séria, austera e re­
ligiosa. CM CP DP DM
03 — A propriedade privada é um
direito natural c não deve em
nenhum caso ser abolida. CM CP DP DM
04 — A religião não tem sido histo­
ricamente uma força positiva
na vida cívica dos povos. CM CP DP DM
05 — Proteger os grupos naturais da
sociedade é fundamental na
vida política sã. CM CP DP DM
06 — A síntese ideológica ideal se­
ria a que conciliasse o prima­
do da justiça social do socia­
lismo com a defesa dos inte­
resses nacionais do nacionalis­
mo. CM CP DP DM
07 — O mundo está cm desordem
porque o Estado liberal é
fraco. CM CP DP DM
08 — Deveria haver uma igualdade
absoluta entre homens c mu­
lheres. CM CP DP DM
09 — O Partido Comunista deve ser
declarado legal para ser me-
Ihor combatido. CM CP DP DM
10 — Não é a nação que gera o Es­
tado, mas, ao contrário, a na­
ção é criada pelo Estado. CM CP DP DM
11 — Não adiantam transformações
estruturais na sociedade sem
estarem precedidas de uma re­
forma espiritual do homem. CM CP DP DM

* Este conjunto de 71 questões foi aplicado à totalidade dos inte-


gralistas entrevistados para o estudo de suas atitudes ideológicas.
** CM = Concorda Muito CP = Concorda Pouco
DM = Discorda Muito DP = Discorda Pouco

331
12 — Nem todos os povos tem o CONCORDA DISCORDA
mesmo grau de inteligência e
capacidade para o trabalho. CM CP DP DM
13 — Os militares são a mehlor ga­
rantia da segurança nacional. CM CP DP DM
14 — O governo não deve limitar o
direito da greve. CM Cr DP DM
15 — Não há solução isolada para
os problemas nacionais; ne­
cessitamos de uma reformula­
ção global c unitária das es­
truturas da nação. CM CP DP DM
16 — O espírito burguês dominante
em nossas elites tem retardado
o desenvolvimento do país. CM CP DP DM
17 — Embora a história esteja cm
constante movimento, não
creio no mito da felicidade e
do progresso indefinido. CM CP DP DM
18 — A juventude brasileira atual
precisa é de disciplina para o
corpo e para o espírito. CM CP DP DM
19 — O Brasil precisa de uma polí­
tica externa independente, con­
tra todas as formas de impe­
rialismo. CM CP DP DM
20 — A integridade da soberania na­
cional não pode jamais subor­
dinar-se a nenhum interesse
ou valor internacional. CM CP DP DM
21 — A obediência e o respeito à
autoridade dos pais são as
principais virtudes que deve­
mos ensinar a nossos filhos. CM CP DP DM
22 — É preciso estimular o desen­
volvimento de uma nova elite
de homens íntegros, enérgicos
e capazes para restaurar a dig­
nidade da nação e seu pro­
gresso. CM CP DP DM
23 — O futuro da América Latina
depende de nossa capacidade
de resistir ao perigo comunista. CM Ci DP DM
24 — A socialização crescente dos se­
tores básicos da indústria na­
cional c estrangeira é necessá­
ria ao desenvolvimento do país. CM CP DP DM
25 — O liberalismo, fruto da Revo­
lução Francesa, é um dos males
da nossa civilização. CM CP DP DM
26 — A dominação oilgárquica da
política e da economia é um
dos nossos maiores males. CM CP DP DM

332
27 — A revolução cubana represen­ CONCORDA DISCORDA
tou um progresso social para
a América Latina. CM CP DP DM
28 — Um dos problemas mais gra­
ves da civilização contempo­
rânea é a decadência dos prin­
cípios morais c religiosos. CM CP DP DM
29 — O sistema capitalista produzi­
do pelo liberalismo econômico
implantou a grande indústria,
sufocando o artesanato, o que
foi uma coisa ruim. CM CP DP DM
30 — Tal como é a natureza huma­
na sempre haverá guerras c
conflitos. CM CP DP DM
31 — Os judeus são associados ao
surgimento do comunismo c
capitalismo internacionais. CM CP DP DM
32 — As Forças Armadas represen­
tam a elite mais preparada da
nação. CM CP DP DM
33 — A democracia liberal é o re­
gime político adequado para
as nações em desenvolvimento. CM CP DP DM
34 — A fidelidada à doutrina e ao
Chefe deve ser o fundamento
ético de toda organização po­
lítica. CM CP DP DM
35 — A democracia é um ideal igua­
litário inatingível. CM CP DP DM
36 — A intervenção dos militares
contra o govemo Goulart foi
necessária para acabar com a
anarquia. CM CP DP DM
37 — O Brasil necessita continuar
ainda com um governo forte
apoiado nas Forças Armadas
para manter a ordem. CM CP DP DM
38 — A organização das classes em
corporações não é a solução
para a luta entre grupos sociais. CM CP DP DM
39 — Conservar a tradição nacional
é garantir a identidade da pá­
tria c seu progresso. CM CP DP DM
40 — O Brasil tem uma missão his­
tórica a cumprir na evolução
da humanidade. CM CP DP DM
41 — Precisamos de um Estado for­
te, nascido das próprias raízes
da nação, que paire acima dos
partidos, grupos financeiros
ou classes. CM CP DP DM

333
42 — Não há diferença substancial CONCORDA DISCORDA
entre socialismo e comunismo. CM CP DP DM
43 — Os partidos políticos c o su­
frágio universal dividem a na­
ção. CM CP DP DM
44 — Não existe nenhum interesse
que supere os interesses da
nação. CM CP DP DM
45 — A perda do senso de hierar­
quia está na raiz dos nossos
problemas. CM CP DP DM
46 — O Brasil sempre precisou de
um homem providencial, com
qualidades excepcionais, para
tirar o país da crise em que
vivemos há muito tempo. CM CP DP DM
47 — É preciso até mesmo usar da
violência para impedir a cx-
pansão do comunismo. CM CP DP DM
48 — A crise interna da Igreja pós-
-conciliar é um progresso in­
discutível para a renovação
da religião tradicional. CM CP DP DM
49 — A realização dos objetivos da
nação é mais importante que
a existência de eleições com
sufrágio universal. CM CP DP DM
50 — Desde a Proclamação da Re­
pública, instaurou-se no país a
instabilidade política, a cor­
rupção c as crises periódicas. CM CP DP DM
51 — A milícia integralista, além da
formação moral e cívica, tinha
como função proteger o movi­
mento contra os ataques de
seus inimigos. CM CP DP DM
52 — O Segundo Império foi o apo­
geu de nossas instituições po­
líticas, não por ser parlamen­
tarista, mas porque o regime
monárquico era a base do seu
equilíbrio. CM CP DP DM
53 — Não existe problema racional
no Brasil porque os negros
aceitaram sua posição de infe­
rioridade. CM CP DP DM
54 — A revolução de 64 está reali­
zando verdadeiramente seus
objetivos. CM CP DP DM

334
55 — No mundo sempre haverá po­ CONCORDA DISCORDA
vos superiores c inferiores e,
para o bem de todos, é melhor
que os superiores governem o
mundo. CM CP DP DM
56 — A Igreja não está infiltrada de
esquerdistas. CM CP DP DM
57 — O que o país mais necessita,
cm vez de leis c programas po­
líticos, é de chefes. CM CP DP DM
58 — O planejamento estatal da
economia, conforme os inte­
resses da nação, tem primazia
sobre os interesses da inicia­
tiva privada. CM CP DP DM
59 — Nosso país precisa de uma
profunda transformação das es­
truturas sócio-econômicas su­
peradas. CM CP DP DM
60 — O espírito judaico é uma
ameaça permanente para a
humanidade. CM CP DP DM
61 — O Congresso deve permanecer
fechado porque é inteiramen­
te dispensável. CM CP DP DM
62 — O “nacionalismo realista” de­
nuncia a espoliação do nosso
povo pelo capitalismo interna­
cional. CM CP DP DM
63 — Embora o integralismo fosse
um movimento genuinamente
nacionalista, sentia-se moral­
mente solidário com os movi­
mentos políticos europeus que
exaltavam valores semelhan­
tes, como reação ao materia-
lismo liberal e marxista. CM CP DP DM
64 — Devemos conceder a empresas
estrangeiras a exploração de
nossas riquezas minerais. CM CP DP DM
65 — Cultivamos como valor funda­
mental o espírito da amizade,
que queremos elevar ao nível
da amizade nacional. CM CP DP DM
66 — O Brasil precisa de uma re­
forma agrária profunda, inclu­
sive com desapropriação de
terras da aristocracia latifun­
diária. CM CP DP DM
67 — Falta às gerações atuais o gos­
to pela aventura c pelo sacri­
fício à pátria. CM CP DP DM

335
68 — A plutocracia capitalista goza CONCORDA DISCORDA
de privilégios mais amplos do
que os privilégios antigos da
nobreza e do clero. CM CP DP DM
69 — Todos devemos ter fé absolu­
ta em um poder sobrenatural
cujas decisões temos que acei­
tar. CM CP DP DM
70 — Toda organização secreta arti­
culada internacionalmente, co­
mo a maçonaria, deve ser
combatida. CM CP DP DM
71 — Mesmo o chamado socialismo
democrático deve ser combati­
do por todos os meios. CM CP DP DM

336
HISTOGRAMAS E CORRELAÇÕES

337
H I S TOGRAMAS DE DlSTRIBUIÇOES
( EM PERCENTAG E M )

N AC IONAL I SMO AUTOR ITARISMO A/SOCI AL ISMO

a • 6/1 n teg. a “6/lnteg. a- 6/lnteg

l | i L_
O I 2 3 4 0 12 3 4 5 6 7 0 12 3 4 5

b - 6/Adulto b- 6/Adulto b-6/Adulto

0 1 2 3 4 0 12 3 4 5 6 7
□0 I 2 3 4 5
n
c-6/Jovem c • 6/Jovem
c • 6/ Jovem

0 | 2 3 4 0 1 2 3 4 5 6 7
ttb
0 I 2
~~~|
3 4 5
| l

339
RELIGIÃO/ MORAL FATALISMO/PESSIMISMO PRECONCEITOS

a -6/lnteg. a - 6/lnteg. a - 6/lnteg.

O 4 O I 2 3 O I 2 3 4

b - 6/Adulto b - 6/Adulto b- 6/Adulto

O I 2 3 4 O I 2 3 O I 2 3 4

c -6/Jovem c - 6/Jovem c- 6/Jovem

ZZJ
O I 2 3 O I 2 3 O I 2 3

l
340
A/LIBERALI SMO A/CONSERVADORISMO TR A D I C I 0 NALISMC

a - 6/lnteg. a- 6/lnteg. q - 6/lnteg.

i—
O I 2 3 4 O I 2 3 4

b- 6/Adulto b- 6/Adulto b - 6/Adulto

O I 2 3 O I 2 3 4 O I 2 3 4

c -6/Jovem c - 6/Jovem c - 6/Jovem

O I 2 3 4 2 3 4 O I 2 3 4

341
QUADRO N.° 50

QUADRO DE CORRELAÇÕES ENTRE OS “SCORES”


DAS ESCALAS DE ATITUDE
(Conjunto de Grupos integralistas: controle adulto e controle jovem)

o
g O
o
S sW b
w
<
£
OO o° •<
3 s
I w
O


O
sl
o
zo
(j£
5? Po bw
<M
W
bS KS fu b Ê
I I í I
NACIONALIS­ I I + 0,58 | +0,62 |
MO | +0,61 | +0,59 + 0,62- + 0,54 | +0,69 + 0,54
_____ 1______ ' I I I
AUTORITA­
RISMO + 0,61 1
I I
I +0,84 + 0,67
I
I
+ 0,58 | +0,61
|
+ 0,75 | + 0,72 | +0,60
____ L___ J _______ I I___________ I
+ 0,57 ! +0,68 I I
ANTI-
-SOCIALISMO + 0,59 | +0,84 + 0,66 + 0,80 | +0,65 | +0,57
]______ I I ______ I_______ L
I ’| 1 I I
ANTI- I I I + 0,72 | +0,77 |
LIBERALISMO + 0,62 í + 0,67 | +0,66 I +0,74 | +0,68 + 0,61
______ I _____ 1____ I I____ 1 I
1 | |
ANTI- | +0,38
CONSERVA- + 0,54 | +0,58 + 0,57 + 0,74 + 0,49 | +0,35 | +0,51
TISMO I _______ I______ I I
I
TRADICIONA- I
LISMO + 0,69 + 0,61 + 0,68 + 0,68 + 0,38 | + 0,86 | +0,50 I +0,59
______I ____ L___ I
i I
RELIGIAO- I I I +0,61
-MORAL + 0,58 + 0,75 + 0,80 + 0,72 + 0,49 | +0,86 | +0,66
_______ I I j______
FATALISMO-
-PESSIMISMO + 0,62 + 0,72 + 0,65 + 0,77
I
+ 0,35 |
+ 0,50 + 0,66 |
I
I +0,57
I I I I______
I
4-0.59 + 0,61 [ + 0,57 |
I
PRECONCEITOS + 0,54 + 0,60 | +0,57 + 0,61 + 0.51
I
I I ___ III
______ I

342
ESCALAS DE ATITUDES IDEOLÓGICAS
CÁLCULO DO COEFICIENTE DE LOEVINGER(*)

1) Escala de Nacionalismo

A escala de nacionalismo é constituída por quatro questões que formam


o núcleo da atitude nacionalista: a necessidade de despertar a consciência
nacional (01); a supremacia do interesse do Estado-Nação (44); o naciona­
lismo antiimperialista (62) e, finalmente, a primazia da soberania nacio­
nal (20).

QUESTÕES .464 .385 .308 .231

(01 )(442)(62 )(202)


2 3
I. CONSC/NACIONAL (0 1)
2 . SUPREM/NACIONAL (44) .536 (0l2) ,380

3 . CAPIT/INTERNAC (62)
4.SOBER/NAÇÃO (20) .6I5(442) .3 3 0 .399

.692(62^) .5 3 3 .4 2 9 .4 6 I

.762(2O2) .2 5 8 .458 .425 .3 87

(*) Trata-se do coeficiente de Loevinger calculado para cada célula


e cada linha cujo valor mínimo tolerado é de .250. O pequeno número,
colocado ao lado da referência da questãd, indica o local do corte retido
entre as quatio alternativas de respostas.

343
2) Escala de Autoritarismo

A escala de autoritarismo integra três elementos essenciais à atitude


autoritária. O primeiro se constitui dos valores ligados a uma visão hie-
rárquica da sociedade: a fidelidade ao Chefe (34); a obediência à autori-
dade (21) e a valorização da disciplina (18); o segundo, o apelo ao Chefe
(57) e a espera do homem providencial (46); enfim, a exaltação das
estruturas políticas autoritárias: a defesa do Estado forte (41) e a for-
mação de uma nova elite (22).

QU E STO E S

I FIDE L/CHEFE ( 34 )
2 HOMEM/PROVID (46 )
3 NECESS/CHEFES ( 57 )
4 ESTADO/FORTE (41)
5 OBDIEN /AUTOR (21)
6 NOVA/ ELITE ( 22 )
7 DISCIPLINA (18)

.646 . 631 .554 .338 ,292 .1 85 .169


(34 , ) (46 |)(572)(4I 2 )(2 I2)(22 2 H 1 8 3 )

. 354(34,) . 437

. 369 (46j ) .309 .533

. 446 (572) .372 .549 . 521

. 662(4I2) .61 i .880 .596 .663

. 7O8(2I2) .398 .576 .523 .606 . 508

.815 (22 2) .292 .544 .627 .74 6 .412 . 493

. 8 31 (I83) I . .700 .587 .589 .483 .332 . 537


3) Escala de Anti-socialismo
Esta escala é composta de cinco questões: duas rejeitam o socialismo
sobre o plano teórico (defesa do princípio da propriedade privada) (03)
e sobre o plano histórico (condenação da experiência cubana) (27); duas
outras manifestam predisposição à ação anticomunista (23) e à violência
anticomunista (47); enfim, a última se opõe inclusive ao socialismo demo­
crático (71).
QU ESTÕES .862 . 692 .538 .215 .169
(7 I | )(47| )(23 | )(032 )(27 3)

1. A/SOCIAL (71)
2. VIOLEN/A-COMUN (47) .138(71!) ,655

3. AMEAÇA/COMUN (23)
4. PROPR/PRIV (03) .308(47!) .659 .757
5. REVOL/CUB (27)
462(23|) .58 I .813 .777

.735(032) I . .773 .848 .670

.831 (27^ .348 .7 I 2 .808 .42 I .573

4) Escala de Antiliberalismo
As questões desta escala se agrupam em torno de quatro temas anti-
liberal
liberais: a recusa da doutrina liberal (25), a condenação do Estado libei
(07), a rejeição
. . dos mecanismos da democracia liberal (49) e, enfim,
ceticismo face ao ideal democrático (35).
QUESTÕES .908 .708 .508 .231
( 25 ( )( 07 | ) ( 35( )('492 )
I . A/LIBER (25)
2. ESTADO/LI BER (07) .092(25j) .469
3. DEMOC/IRREAL (35)
4. ELEIT/SUFRAG (49) .292(07! ) .455

.492(35j) .517

.769(49 ) .377
2

345
5) Escala de Anticonservadorismo

Nesta escala, quatro dimensões formam uma atitude que se poderia


chamar genericamente de anticonservadorismo. Trata-se de um anticapita-
’ uma .posição antiburguesa
lismo pré-capitalista (29) e <de ” (16), ao mesmo
tempo de uma crença na mudança das estruturas (15) e na transformação
global da sociedade (59).

QUESTÕES .846 .400 .262 .046


( 29 j )( I 6 j )( 15 ! )( 593 )

I . A/CAPIT (29)
2. A/BURGUES (16) . 154(29] ) .862
3. MUDANÇA/GLOBAL (15)

4. TRANSF/ESTRUT (59) .600(16] ) I . .626

.738( 15]) .625 .4 I 4 .472

.954(59^) I I .559 . 540

6) Escala de Tradicionalismo

Os temas tradicionalistas da escala combinam a valorização dos grupos


naturais (05), da organização corporativa (38), a defesa do artesanato
(29) e a crença em um poder sobrenatural (69).

QUESTÕES .754 .600 . 338 .123


í383 )(292)(693)(053)

I.ORGAN/CORPOR (38)
2. PRE/CAPIT (29) . 246(38^) .648
3. PODER/SO.BRENAT (69)
4. GRUPOS/NATURAIS (05) .400(292) .536

.662(69^) .796

.877(05^' •806

346
7) Escala de Religião-Moral

Esta escala compreende as questões de cunho espiritualista: crença


na conversão do homem (11), nas virtudes morais (02), na decadência dos
princípios morais na sociedade atual (28) e na submissão do homem a
um ser espiritual (69).

QU ESTOES .600 .338 .246 .108


(02) )(693)(282)( I l3 )

I . HOMEM/VIRTUOSO (02)
2. PODER/SOBRENAT (69) .400(02)) .779
3. DECAD/MORAL (28)
4. CONVERS/ESPIRIT (II) .662 (693) .770 .667

. 754(28^ .847 .528 .626

.892 ( I l3) .65 I .789 .432 .610

8) Escala de Eatalisrno-Pessimismo

Incorpora certas atitudes relacionadas com a crença na superioridade


de certos povos (55) à uma concepção pessimista (35) ou trágica da his­
tória (30).

Q UESTOES .708 . 415 .231


(55) ) ( 30| )(35 3>

1. POVO/SUPER (55)
2. QUERRAS/CONFLITOS (30) .292 (55) .672

3. DEMOC/ IRREAIS (35)


.585 (30)) .74 4 .637

.544 .541 . 548

347
9) Escala de Preconceitos

Os preconceitos se fundamentam basicamente sobre o anti-semitismo


(60-61), sobre uma atitude antimaçônica (70) e sobre a visão de uma
desigualdade natural entre os homens (12).

QUESTÕES .73 8 .569 .523 .354


(70 ( )( 12 ( )(6O3)(3 I
3
)
1. A/MAÇON (70)
2. DESIGUAL/H0MENS (12) . 262(7O() .554
3. AMEAÇA/JUDAICA (60)
4. CONSP/JUDIA (31) .471 (12 j) .383 .359

.477(60^) .667 .249 .478

.646(31^) .66 7 .417 .633 .590

348
1) Escala dc Rcligiào-Moral

Esta escala compreende as questões de cunho espiritualista: crença


na conversão do homem (11), nas virtudes morais (02), na decadência dos
princípios morais na sociedade atual (28) e na submissão do homem a
um ser espiritual (69).

8) Escala dc Fatalismo-Pessimismo

Incorpora certas atitudes relacionadas com a crença na superioridade


de certos povos (55) à uma concepção pessimista (35) ou trágica da his­
tória (30).

349
9) Escala de Preconceitos

Os preconceitos se fundamentam basicamente sobre o anti-semitismo


(60-61), sobre uma atitude antimaçônica (70) c sobre a visão de uma
desigualdade natural entre os homens (12).

350
BIBLIOGRAFIA

351
BIBLIOGRAFIA

I _ OBRAS INTEGRALISTAS

1. Obras dc Plínio Salgado

a) Doutrina
SALGADO (PL), A Aliança do Sim e do Não, Edit. Ocidente, 1944,
SALGADOPfpi.), “A Doutrina do Sigma", pp. 173-236, in:Obras Com­
pletas, Vol. X, São Paulo, Edit. das Américas, 19.55-
SALGADO (PI.), “A Mulher no Século XX”, pp. 221-307, in: Obras Com­
pletas, Vol. VII, São Paulo, Edit. das Américas, 1955.
SALGADO (Pl.), “A Quarta Humanidade”, pp. 15-161, in: Obras Com­
pletas, Vol. V, São Paulo, Edit. das Américas, 1955.
SALGADO (Pl.), Carta aos Camisas Verdes. Rio, Jose Olympio, 393 '
SALGADO (Pl.), Despertemos a Nação. Rio, José Olympio, 1935,199 PP-
SALGADO (Pl.), “Direitos c Deveres do Homem , pp. 165-421,m. uo
Completas. Vol. V, São Paulo, Edit. das Américas, 1955.
SALGADO (Pl.), Doutrina e tática comunista. Rio, Livraria Clássica
SALGADOa(pí.),5“Em Marcha”, pp. 3-11, in: Estudos Integralistas, Sao
Paulo, Tip. Rio Branco, 1933, 80 pp. . nhrn. Com-
SALGADO (Pl.), “Madrugada do Espirito”, pp. 331-462, in. Obras
pletas, Vol. VIII, São Paulo, Edit das Amíncas 1955
SALGADO (PL), “Mensagem às Pedras do Deserte• , PP- 1’956
Obras Completas, Vol. XV, São Paulo, Edit. das Améncas,1956.
SALGADO (Pl.), “O Conceito Cristão dc Democracia , pp. 3 '
Obras Completas, Vol. VIII, São Paulo, Edit. das América-, g55.
SALGADO (Pl.), “O Espírito da Burguesia”, pp. 11;176, >"• 0
pletas. Vol. XV, São Paulo, Edit. das Américas, 19^ clássica
SALGADO (PL), O integralismo perante a Naçao. Rio,
Brasileira, 1950, 233 pp. . n. T ;vr clássica
SALGADO (PL), O Integralismo na vida brasileira. Rio, Li •
São Paulo, “■ **
SALGADOP(P1.), “O Ritmo da História”, PP- V346’Co,nplílaS'
o Vol. XVI. São Paulo, Edit. das Américas, 1956. 1934.
SALGADO (Pl.), O Sofrimento Universal. Rm, José
233 pp.
353
SALGADO (Pl.), Palavras novas dos Tempos Novos, pp. 181-330, in:
Obras Completas, Vol. VII. São Paulo, Edil, das Américas, 1955.
SALGADO (Pl.), “Páginas de Combate”, pp. 237-249, in: Obras Com­
pletas, Vol. X, São Paulo, Edit. das Américas, 1955.
SALGADO (Pl.), “Primeiro Cristo!”, pp. 123-259, in: Obras Completas,
Vol. VI. São Paulo, Edit. das Américas, 1955.
SALGADO (Pl.), Psicologia da Revolução. Rio, Livr. Clássica Brasileira,
1953, 149 pp.
SALGADO (Pl), Was ist der Integralismus? Blumenau, 1936, 106 pp.

b) Literatura
SALGADO (Pl.), “A Inquietação Espiritual na Literatura brasileira”, pp.
265-375, in: Obras Completas, Vol. XVII, São Paulo, Edit. das
Américas, 1956.
SALGADO (PL), “A vida de Jesus”, III Vols., in: Obras Completas,
vols. I, II, III. São Paulo, Edit. das Américas, 1955, pp. 430-462.
SALGADO (PL), A voz do Oeste. Rio, Livr. José Olympio, 1934, 278 pp.
SALGADO (Pl.), “Como Nasceram as cidades do Brasil”, pp. 1-173, in:
Obras Completas, Vol. XVIII. São Paulo, Edit. das Américas, 1956.
SALGADO (Pl.), “Críticas e Prefácios”, pp. 133-406, in: Obras Completas,
Vol. XIX. São Paulo, Edit. das Américas, 1956.
SALGADO (Pl.), “Discurso às Estrelas”, pp. 1-83, in: Obras Completas,
Vol. XX. São Paulo, Edit. das Américas, 1956.
SALGADO (Pl.), Geografia Sentimental. Rio, José Olympio, 1937, 167 pp.
SALGADO (Pl.), Literatura e Política. São Paulo, Edit. das Américas,
1957, 133 pp.
SALGADO (Pl.), “Nosso Brasil”, pp. 267-381, in: Obras Completas, Vol.
IV. São Paulo, Edit. das Américas, 1957.
SALGADO (Pl.), O Cavaleiro de Itararé. São Paulo, Edit. Panorama,
1948, 280 pp.
SALGADO (Pl.), O Esperado. São Paulo, Edit. Panorama, 1949, 200 pp.
SALGADO (PL), O Estrangeiro. São Paulo, Edit. Panorama, 1926, 293 pp.
SALGADO (Pl.), “Oriente” (impressões de viagem), pp. 293-401, in:
Obras Completas, Vol. XVIII. São Paulo, Edit. das Américas,
1956.
SALGADO (Pl.), “O Rei dos Reis”, pp. 263-322, in: Obras Completas,
Vol. VI. São Paulo, Edit. das Américas, 1955.
SALGADO (Pl.), “Pio IX c seu Tempo”, pp. 355-429, in: Obras Com­
pletas, Vol. XI, São Paulo, Edit. das Américas, 1956.
SALGADO (Pl.), “Poema da Fortaleza de Santa Cruz”, pp. 219-265, in:
Obras Completas, Vol. IV. São Paulo, Edit. das Américas, 1955.
SALGADO (PL), “Sentimentais”, pp. 249-373, in: Obras Completas, Vol.
XX. São Paulo, Edit. das Américas, 1956.
SALGADO (PL), “Viagens pelo Brasil”, pp. 151-213, in: Obras Com­
pletas, Vol. IV, São Paulo, Edit. das Américas, 1955.

2. Obras de Gustavo Barroso

BARROSO (G.), A Palavra e o Pensamento Integralista. Rio, Civilização


Brasileira, 1935.
BARROSO (G.), A Sinagoga Paulista. Rio, Edit. A.B.C., 1937, 269 pp.

354
BARROSO (G.), Brasil, colônia de Banqueiros. Rio, Civilização Brasileira,
1934, 257 pp.
BARROSO (G.), Comunismo, Cristianismo e Corporativismo. Rio, Edit.
A.B.C., 1938, 164 pp.
BARROSO (G.), História secreta do Brasil. Vol. I. São Paulo, Edit. Na­
cional, 1937, 379 pp.
BARROSO (G.), História secreta do Brasil. Vol. II. São Paulo, Edit.
Nacional, 1937, 394 pp.
BARROSO (G.), História secreta do Brasil. Vol. III. São Paulo, Edit.
Nacional, 1938, 379 pp.
BARROSO (G.), Integralismo e catolicismo. Rio, Edit. A.B.C., 1937,
268 pp.
BARROSO (G.), Judaísmo, Maçonaria e Comunismo. Rio, Civilização
Brasileira, 1'937, 234 pp.
BARROSO (G.), O Integralismo e o Mundo. Rio, Civilização Brasileira,
1936, 290 pp.
BARROSO (G.), O Integralismo de Norte a Sul. Rio, Civilização Brasi-
leira, 1934.
BARROSO (G.), O Integralismo em Marcha. Rio, Schmidt ed., 1933,
143 pp.
BARROSO (G.), O Quarto Império. Rio, Livr. José Olympio, 1935,
177 pp.
BARROSO (G.), O que o Integralista deve saber. Rio, Civilização Brasi­
leira, 1935, 203 pp.

3. Obras dc Miguel Reale


REALE (M.), ABC do Integralismo. S. Paulo, Ed. da Revista Panorama,
1937, 155 pp.
REALE (M.), Atualidades de um Mundo Antigo. Rio, Livr. José Olympio,
1936, 220 pp.
REALE (M.), Atualidades Brasileiras. Rio, Schmidt, 1937, 190 pp.
REALE (M.), A Formação Político-Burguesa. Rio, Civilização Brasileira,
1934, 239 pp.
REALE (M.), “A Posição do Integralismo”, pp. 12-24, in: Estudos Inte­
gralistas, Tip. Rio Branco, 1933, 80 pp.
REALE (M.), O Capitalismo Internacional. Rio, Livr. José Olympio, 1935,
185 pp.
REALE (M.), O Estado Moderno (Liberalismo, Fascismo e Integralismo).
Rio, Livr. José Olympio, 1934, 242 pp.
REALE (M.), O Operariado e o Integralismo. Rio, Livr. José Olympio,
1934.
REALE (M.), Perspectivas Integralistas. Rio, Livr. H. Antunes, 1936.

4. Obras de Olbiano de Mello


MELLO (O. de), A Marcha da Revolução Social no Brasil. Rio, Edições
O Cruzeiro, 1957, 222 pp.
MELLO (O. de), A República Sindicalista dos Estados Unidos do Brasil.
Rio, Tip. Terra de Sol, 1931, 117 pp.
MELLO (O. dc), Comunismo ou Fascismo? Rio, Tip. Terra de Sol, 1931,
193 pp.

355
MELLO (O. dc), Concepção do Estado Integralista. Rio, Schmidt cd.,
1935, 56 pp.
MELLO (O. de), Levanta-te Brasil! Rio, Tip. Terra de Sol, 1932, 77 pp.
MELLO (O. dc). Quarta Força. São Paulo, Edit. Cupolo Ltda., 1935.
MELLO (O. de), ■ -
Razões ’•
do Integralismo. . Rio, Schmidt, 1935, 137 pp.
l/l?T T
MELLO ((O. C\
de), “p»ir»tr»c Novos1'”, DH
Rumos NlnVOC pp. 7528-37, in: Estudos Integralistas.
São Paulo, Tip. Rio Branco, 1933, 80 pp.

5. Obras Integralistas em Geral

ALBUQUERQUE (A. Tenório d’), Integralismo, Nazismo e Fascismo.


Rio, Edit. Minerva, 1937, 170 pp.
CARVALHO (A. de), O Brasil não é dos Brasileiros. São Paulo, Ed. da
Revista Panorama, 1937, 198 pp.
FERREIRA DA SILVA (J.), Retalhos Verdes. Rio, A. Coelho Branco,
1937, 300 pp.
GOUVEA (O.), Brasil Integral. Rio, Schmidt Ed., 1936, 136 pp.
’ 1936,
LEVISKY (F.), Israel no Brasil. São Paulo, Ed. e Publ. Brasil,
155 PP- .
MARTINO FILHO (F.), Pela Revolução Integralista. São Paulo, Ed.
Paulista, 1935, 174 pp.
MOURÃO FILHO (O.), Do Liberalismo ao Integralismo. Rio, Schmidt
Ed., 1935, 181 pp.
PEREIRA (J. R.), Democracia Integralista. Rio, Livr. José Olympio,
1936, 157 pp.
PUJOL (V.), Rumo ao Sigma. Rio, Livr. H. Antunes, 1936, 186 pp.
VIVEIROS (C. dc), Camisas Verdes. Rio, Livr. José Olympio, 1935,
185 pp.
VIVEIROS (C. dc). O Sonho do Filósofo Integralista. Rio, Livr. H.
Antunes, 1935, 201 pp.
VIVEIROS (C. de), Os inimigos do Sigma. Rio, Livr. H. Antunes, 1936,
200 pp.

II — DOCUMENTOS INTEGRALISTAS

SALGADO (Pl.), “Manifesto de Outubro de 1932”, pp. 1-7, in: A Dou­


trina Integralista. Porto Alegre, AIB, Província do Rio Grande do
Sul, s.d., 14 pp.
SALGADO (PL), REALE (M.), MENDES DE ALMEIDA (J. C.),
LEÃES SOBRINHO (J.), “A Cartilha do Integralismo Brasileiro”,
pp. 8-14, São Paulo, 8 dc março de 1933, in: A Doutrina Integra­
lista. Porto Alegre, AIB, Prov. do Rio Grande do Sul, s.d., 14 pp.
Estatutos da Ação Integralista Brasileira, Victória, 4 de março de 1934,
Monitor Integralista. Rio, 2(6), maio de 1934.
Departamento de Doutrina (Regulamento), Monitor Integralista, 2(6),
maio de 1934.
Departamento de Organização Política (Regulamento), Monitor Integra­
lista, 2(6), Rio, maio dc 1934.
Departamento de Propaganda (Regulamento), Monitor Integralista, 2(6),
maio de 1934.

356
PÍÍnioÇMkacb

'■^r'
■ . -
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J

Fac-símile da capa do primeiro romance de Plínio Salgado


I

nir
Serie A- N° 3
i

Manífesto
PROGRAMA
DE JANEIRO DE !Q3^ (Concretização da
Doutrina do Manifesto dc Outubro de 1932..)

COM QUE A
Il Integralista Brasileira
I
I COMPARECERÁ ÁS ELEIÇÕES
I DE PRESIDENTE DA REPUBLICA

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« poBuciçio jEeinui*
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Fac-simile dá capa do manifesto-programa de janeiro de 1956

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Plínio Salgado (Chefe Nacional)
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I Miguel Reale (Chefe do Departamento Nacional de Doutrina)


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Gustavo Barroso (Chefe das Milícias)
Raimundo Padilha (Membro do Conselho Nacional)
CAMARA DOS QUARENTA DA A. I. B.

O...GÒ’.. jk v

Membros da Câmara dos Quarenta.


Caricatura dv Alvarus
Plínio Salgado.
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0□f
Fac-simile do livro doutrinário fundamental do Integralismo
■ns

Nome ERKESTO OLYLTHO L10ELLER


£pro x tm ad ame n t
Idade 45^1103 Signaes característicos Louro.
aproximadamente
BlGOSES e . urbpLS raspado. Estatura l,75m. riio!ograph>a

Estado civil casado Profissão Dia-se do Cpmorcio


Endereço rua Bonto Gonçalves, 17
Bairro Centro da Cidade Telephone C. Postal
Nacionalidade Br as ile 5~ra Naturalisação
burgo
Procedência São Leopoldo a P.Alegre e de P*. Alegre a K.Ham-
residencia,ondp mantêm escriuorlo.
Local onde trabalha Diz que trabalha em sua Tel.
Cargos exercidos?ubliços nenhum.
Ramo de negocio .............
Possue bens? sim Valor approxínu dó .40 a 50:000^000
Faz parte de alguma agremiação?- Ste.....
Qual a sua moral? Duvidosa Religiâo?Diz-se Evangélico
Grau de instrucção Secundaria Escolas que frequentou Cpllegio
dos Jesuítas era São Leopoldo
□ r ’U)t’sí
Tem vicios? aim Joga? não Bebe ?

Inclinações políticas Liberal-comvnista E’ eleitor? sim

Nome da esposa Elisa Berohted iioeller


Nacionalidade . brasileira Nome dos filhos

Nacionalidade

Ficha da policia interna integralista


OBSERVAÇÕES
?ol membro influente e„ fez parte. do...d.irec tcrio do Par-
^depois da
tido Llbrr-sWor.^pasi^uVíaTHeyp.luçílo de 1930. ao lado.
do.Governo.purn p P art; ido...RepublÍQ^p...Libor al. Go.s.pa

.uui.tp.. '.J e f J<.or . dl. g.çur s os.. e... é. mui.t.o.. mentiro sq. As ivador
ir.;? 1 ac ave 1 e instigador de de saontentamenvos^n'dotado
..de...um...e.ap irito.. machi avalie o. ...Diz^ae de...si. mesmo ser pos-
.soa. de. confiança do Gencx.al...Florea-.d-a^Cuniia- Q-- por. cima
. inveazic ador. C.oxis t a rec eb.QiÉ.?^b.dos:..Qs ..'míÍncipÍQa-.-de-.mo z ]
. - * '
.2L:õÜ0^ l. «;C-wC^ nor. internedio..d.o_liando...£xo..Icio...Gr-axidc.
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.Gpnsrtambor, a.in.d.a. ..qiÃÃ/-..73.e.....QCGVp^ .coxn...nftg^láfl_CUiawx^lÍ4 ’
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L .• r i-. 1 o discurso do Presidente Getulio :lf cto’i-se ei
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...usáo\ini,x llnio Salgado e ao Inter.ralis.~o . .tu -si c?ioeou
_P c ;n.riicto cor;.nosso Companhairo Plinlo A.liouru.
CONGRESSO INTEGRALISTA DE BLUMENAU (JUNHO 1935)

■V

Saudação do chefe local aos integralistas catarinenses que chegam


dos municípios vizinhos

Desfile dos integralistas pelas ruas de Blumenau: estimado em 42


mil militantes
CONGRESSO INTEGRALISTA DE BLUMENAU (JUNHO 1935)

_ V

Saudação coletiva ao chefe nacional Plínio Salgado na concentração


dos integralistas

As 1.800 mulheres integralistas reunidas em Blumenau formam um


sigma em homenagem ao chefe nacional
1NTEGRALISMO NA ZONA RURAL

Grupo de integralistas com sua banda de música no interior do


Rio Grande do Sul

Inauguração de uma escola rural integralista fio Estado do Rio


de Janeiro
Membros da Juventude Integralista (plinianos) com seu uniforme típico

Um grupo de militantes integralistas do setor feminino do Rio de


Janeiro acompanhadas do chefe provincial oferece bandeiras a um
oficial da Marinha
A MARCHA SOBRE A GUANABARA EM 1937

•Z&'
1

W ’ <
O desfile integralista no Rio de Janeiro de apoio ao Presidente Vargas antes do
golpe de 37 (estimativa: 35 a 50 mil militantes)
OS MILITARES E O DESFILE INTEGRALISTA DE 1937

Oficiais do Exército incorporam-se ao desfile integralista

-J

Marinheiros formam um cordão de isolamento acompanhando os


militantes da A.l.B. em desfile
REUNIÕES INTEGRALISTAS

Santiago Dantas discursa na presença do chefe nacional no Rio de


Janeiro

O chefe integralista Dario Bittencourt preside unia reunião integralista


eni Porto Alegre
ATENTADO DE MESQUITA

Plínio Salgado visita os feridos de uma sabotagem contra um trem


integralista

pt- *

Um grupo de integralistas feridos no atentado de Mesquita, em que


morreram três militantes, saúdam o chefe nacional
Departamento dc Finanças (Regulamento), Monitor Integralista 2(6), maio
dc 1934.
Departamento de Cultura Artística (Regulamento), Monitor Integralista,
2(6), maio dc 1934.
Departamento dc Justiça (Regulamento), Monitor Integralista, 2(6), maio
dc 1934.
Departamento dc Milícia (Regulamento), Monitor Integralista, 2(6), maio
dc 1934.
Protocolos e Dircctivas da Ação Integralista Brasileira (I), Monitor Inte­
gralista, 2(6), maio de 1934.
Secretaria Nacional dc Corporações e Serviços Eleitorais (Regulamento),
Monitor Integralista, 4(15), outubro dc 1936.
Secretaria Nacional de Doutrina c Estudos (Regulamento), Monitor Inte­
gralista, 4(15), outubro dc 1936.
Secretaria Nacional dc Educação (Moral, cívica c física) (Regulamento),
Monitor Integralista, 4(15), outubro de 1936.
Secretaria Nacional de Finanças (Regulamento), Monitor Integralista 4(15),
outubro de 1936.
Secretaria Nacional dc Propaganda (Regulamento), Monitor Integralista,
4(15), outubro de 1936.
Secretaria Nacional dc Arrcgimcntação Feminina e dos Plinianos (Regula­
mento), Monitor Integralista, 4(15), outubro dc 1936.
Secretaria Nacional de Cultura Artística (Regulamento), Monitor Integra­
lista, 4(15), outubro dc 1936.
Secretaria Nacional dc Assistência Social (Regulamento), Monitor Integra­
lista, 4(15), outubro dc 1936.
Secretaria Nacional dc Imprensa (Regulamento), Monitor Integralista,
4(15), outubro de 1936.
Secretaria Nacional das Relações com o Exterior (Regulamento), Monitor
Integralista, 4(15), outubro de 1936.
Protocolos c Rituais da AIB (II), (Regulamento), Monitor Integralista,
5(18), 1937.
Regulamento de Conduta do Camisa Verde. Doc. n.° 20, São Paulo, AIB,
Prov. dc São Paulo.
Manifesto Programa de Janeiro de 1936, Série A, n.° 3, Rio, AIB, 1936,
21 pp.

III — ARTIGOS

1. "Notas Políticas”, de Plínio SALGA DO, publicadas no Jornal "A


Razão” (♦).
SALGADO (Pl.), “Erros dc hoje, perigos de amanhã”, A Razão, 5 de
junho dc 1931.
— “Unidade Nacional”, A Razão, 17 de junho de 1931.
— “Espírito Revolucionário”, A Razão, 21 dc junho de 1931.
— “A Inércia dos Partidos e o Medo dos Políticos”, A Razão,
27 de junho de 1931.

(*) A referencia limita-se aos artigos utilizados no presente estudo.


O total de artigos é cerca dc 300 emprestados gentilmente por Rui Arruda.

357
—“O Horror das Responsabilidades”, A Razão, 1 de julho de 1931.
— “Marcha-Ré”, A Razão, 14 de julho de 1931.
— “O cidadão e o Estado”, A Razão, 17 de julho de 1931.
— “Panorama III”, A Razão, 2 de agosto de 1931.
— “Movimento”, A Razão, 8 de agosto de 1931.
— “Força contra Força”, A Razão, 8 de agosto de 1931.
— “Rumo Provável dos Partidos”, A Razão, 12 de agosto de 1931.
— “A Hora dos Partidos”, A Razão, 13 de agosto de 1931.
— “Renovação”, A Razão, 14 de agosto de 1931.
— “Tipos de Ditadura”, A Razão, l.° de setembro de 1931.
— “A verdadeira concepção do Estado”, A Razão, 4 de setembro
de 1931.
— “O Município”, A Razão, 6 de setembro de 1931.
— “Os Rumos da Proccla”, A Razão, 18 de setembro de 1931.
— “O Passado e o Futuro”, A Razão, 20 de setembro de 1931.
— “Homens e Instituições”, A Razão, 30 de setembro de 1931.
— “O Sentido Imperialista das Democracias”, A Razão, 2 de ou­
tubro de 1931.
— “O Primeiro Aniversário”, A Razão, 3 de outubro dc 1931.
— “Regimens Políticos”, A Razão, 21 de outubro dc 1931.
— “As Fontes do Espírito Nacional”, A Razão, 19 dc novembro
de 1931.
— “A Tragédia do Século”, A Razão, 22 dc setembro de 1931.
— “A Bandeira do Brasil”, A Razão, 21 de novembro de 1931.
— “O Baile de Máscaras”, A Razão, 25 de novembro dc 1931.
— “A Constituinte”, A Razão, 27 de novembro de 1931.
— “Preparação para a Constituinte”, A Razão, 1 de dez. dc 1931.
— “Do Liberalismo ao Comunismo”, A Razão, 2 de dez. dc 1931.
— “Evitemos o Desastre”, A Razão, 5 de dez. dc 1931.
— “Duas Épocas Históricas (II)”, A Razão, 6 de dez. de 1931.
— “Democracia c Nacionalismo”, A Razão, 12 de dez. de 1931.
— “A Marcha para os Extremos”, A Razão, 16 dc dez. dc 1931.
— “Federação e Sufrágio (XIX)”, A Razão, 24 de jan. de 1932.
— “Federação e Sufrágio (XXI)”, A Razão, 27 de jan. de 1932.
— “Federação e Sufrágio (XXVI)”, A Razão, 2 dc fcv. de 1932.
— “Federação e Sufrágio (XXXVII)”, A Razão, 3 dc fev. dc 1932.
— “A Aliança Liberal e a Revolução”, A Razão, 4 dc fev. de 1932.
— “Rumos à Ditadura (I)”, A Razão, 5 de fev. de 1932.
— “Rumos à Ditadura (V)”> Razão, 11 de fev. de 1932.
— “Rumos à Ditadura (VIII)”, A Razão, 14 de fev. de 1932.
— “Rumos à Ditadura (IX)”, A Razão, 16 de fev. de 1932.
— “Rumos àDitadura”(XI)”, A Razão, 18 de fev. de 1932.
— “Rumos à Ditadura (XII)”, A Razão, 19 de fev. de 1932.
— “O ParaísoVermelho”, A Razão, 28 de fev. de 1932.
— “Construção Nacional”, A Razão, 20 de abril de 1932.
— “A Marcha dos Icebergs”, A Razão, 21 dc abril dc 1932.
— “Construção Nacional”, A Razão, 24 dc abril dc 1932.

2. Artigos Publicados na Revista “Panorama”

ALVES (I.). “A Disciplina na escola Alemã”, Panorama, 1(4-5), abril/maio


de 1936: 47-48.

358
AZEVEDO AMARAL. “Em torno do Estado Corporativo”, id. 1(11),
nov. dc 1936: 18-20.
BACKEUSER (E.), “Frentes Populares e Antifascismo”, id. 2(13), set.
de 1937: 52-53.
BARROSO (G.), “Evolução do Conceito de Estado", id. 1(2), fev. dc
1936: 3-11.
BARROSO (G.), “A Família Através das Civilizações”, id. 1(1), jan. de
1936: 10-16.
CALDEIRA BRAND (J.), “Nação, Pátria c Estado”, id. 2(13), set. dc
1937: 16-19.
CAMARA (P. H.), “Pedagogia Integralista”, Panorama, 1(3), março dc
1936: 26-30.
CAMARA (P. H.), “Spinosa c Farias Brito", id., 2(13), set. dc 1937: 5-11.
CONTREIRAS RODRIGUES (F.), “Das Desigualdades Sociais”, id. 1(3),
março de 1936: 24-25.
CONTREIRAS RODRIGUES (F.), “O Naturalismo na Sociologia”, id.
1(11), nov. de 1936: 3-11.
COSTA REGO, “Integralismo e Democracia”, id. 2(13), set. de 1937: 50-51.
FARIA (O. de), “Primeiras Lições da Revolução Espanhola", id. 1(12),
dezembro de 1936: 5-25.
FERREIRA DE MEDEIROS (M.), “Integralismo e a Vontade do Poder”,
id. 1(2), fev. de 1936: 28-33.
FERREIRA LIMA (M. L.), “O Nacionalismo na Escola Primária”, id.
1(2), fev. de 1936: 39-43.
GARRIDO TORRES (J.), “Concepção Integral da Economia”, id. 1(11),
nov. de 1936: 30-39.
OHLWEILER (O. A.), “Filosofia c Método Integral”, id. 1(3), março de
1936: 13-19.
PAGANO (S.), “Conceito de Estado”, id. 1(11), nov. de 1936: 12-17.
REALE (M.), “Homens c Idéias”, id. 1(1), jan. de 1936: 66-68.
REALE (M.), “História Militar do Brasil”, id. 1(2), fev. de 1936: 57-60.
REALE (M.), “Amor àLiberdade”, id. 1(3), março de 1936: 1-4.
REALE (M.), “Nós e os Fascistas da Europa”, id. 1(6), junho de 1936:
11-18.
REALE (M.), “Integralismo e Democracia”, id. 2(14), outubro de 1937:
1-6.
SALGADO (Pl.), “A Posição do Integralismo no Brasil”, id. 1(7), julho
de 1936: 3-4.
SALGADO (Pl.), “O Último Ocidente”, id. 1(1), jan. de 1936: 3-9.
SANTOS (Prof. L. J. dos), “Sobre o Integralismo”, id. 1(12), dez. de
1936: 25r35.
WILLEMS (E.), “O Grupo Social e o Indivíduo”, id. 1(2), fev. de 1936:
34-38.

3. Artigos reeditados na "Enciclopédia Integralista”

ALBUQUERQUE CORBISIER (M. C.), “Conceito de Vida Heróica", pp.


55-60, in: Enciclopédia Integralista, Vol. V, Rio, Livr. Clássica Bra­
sileira, 1960, 184 pp.
ALBUQUERQUE CORBISIER (M. C.), “Integralismo e Educação Femi-
nina”, pp. 63-69, in Ibid., Vol. IX.
ALMEIDA (R.), “Rcflorcstamcnto”, pp. 167-177, in Ibid., Vol. V.

359
AYRES (L.), "Carta aberta aos Sacerdotes de Minha Pátria’’, pp. 125-137,
in Ibid., Vol. V.
AYRES (L.), “O Sentido da Formação Pliniana”, pp. 73-77, in Ibid., Vol.
IX.
BACKEUSER (E.), "íntegralismo da Educação’’, pp. 17-26, in Ibid., Vol.
IX.
CAMARA (H.), "O íntegralismo cm Face do Catolicismo", pp. 73-98, in
Ibid., Vol. V.
CAMPAGNONI (L.), "Porque me tornei c continuo Integralista", pp. 73-
-88, in Ibid., Vol. V.
CONTREIRAS RODRIGUES (F.), “A Economia c a Organização Inte­
gral”, pp. 91-114, in Ibid., Vol. III.
CONTREIRAS RODRIGUES (F.), "Formas de Estado, Regimes de Go­
verno, Sistemas Constitucionais", pp. 117-127, in Ibid., Vol. III.
CONTREIRAS RODRIGUES (F.), “O Problema do Latifúndio'*, pp. 131-
-136, in Ibid., Vol. III.
CONTREIRAS RODRIGUES (F.), “A Propriedade c o Ensinamento Inte­
gralista”, pp. 139-142, in Enciclopédia Integralista, Vol. III, Rio,
Livr. Clássica Brasileira, 60, 251 pp.
COTRIM NETO (A. B.), "Bases do Pensamento Político Integralista",
pp. 23-55, in Ibid., Vol. IV.
DANTAS (S. T.), “íntegralismo e as Classes Armadas", pp. 59-64, in
Ibid., Vol. IV.
DANTAS (S. T.), MARTIN MOREIRA (T.), et al., "A Preparação das
Elites Integralistas”, (cursos dados em 1934 pelo Dcp. de Estudos
de DEF), pp. 149-159, in Ibid., Vol. IX.
DELAMARE (A.), "Aos Moços Universitários", pp. 65-75, in Ibid., Vol.
II.
ESCOREL (L.), “O Conteúdo Humano do íntegralismo", pp. 175-177, in
Ibid., Vol. V.
ESCOREL (L.), “A Intervenção do Estado", pp. 182-184, in Ibid., Vol. V.
FAIRBANKS (J. C.), “Porque ingressei no íntegralismo", pp. — - -
153-158.
FAIRBANKS (J. C.), "Que é íntegralismo?”, pp. 181-187, ín Ibid., Vol.
III.
FAIRBANKS (J. C.), "A Estatística e o íntegralismo”, pp. 191-197, in
Ibid., Vol. III.
FAIRBANKS (J. C.), "A Impossibilidade Matemática de Sufrágio Uni­
versal Direto”, pp. 201-207, in Ibid., Vol. III.
FAIRBANKS (J. C.), “A Chefe Local”, pp. 223-251, in Ibid., Vol. III.
GALOTTI (A.), “O Renascimento do Estado”, pp. 139-175, in Ibid., Vol.
IV.
GALOTTI (A.), “Economia Dirigida”, pp. 115-121, in Ibid., Vol. V.
GARRIDO TÓRRES (J.), “Concepção Integral da Economia”, pp. 91-111,
in Ibid., Vol. V.
GRAÇA (A.), “Governo Forte", pp. 117-128, in Ibid., Vol. IV.
JOSETTI (R.), “O sentido Estético do íntegralismo", pp. 79-93, in Ibid.,
Vol. II.
JOSETTI (R.), “Sentido Cultural e Artístico do íntegralismo", pp. 97-127,
in Ibid., Vol. II.
LA FAYET1E (P.), “A luta dos Fariseus”, pp. 179-216, in Enciclopédia
Integralista, Vol. IV, Rio, Livr. Clássica Brasileira, 1960, 216 pp.
LIMA JÚNIOR (A. de), “O Espírito Integralista da Inconfidência Mi­
neira”, pp. 85-88, in Ibid., Vol. III.

360
LOMBA FERRAZ (E.), “Democracia e Sufrágio”, pp. 141-150, in Ibid.,
Vol. V.
LOUREIRO JÚNIOR et al. “Aos Estudantes Paulistas”, pp. 7-11, in
Ibid., Vol. V.
MADEIRA DE FREITAS, “O Movimento do Sigma”, pp. 151-189, in
Ibid., Vol. II.
MARTINS MOREIRA, “Realizando a Democracia”, pp. 131-135, in Ibid.,
Vol. IV.
“O Manifesto de Recife” (Núcleo da Faculdade de Direito), pp. 13-19, in
Ibid., Vol. IV.
PENNA (B.), “Carta a M. Paula Filho”, pp. 7-22, in Ibid., Vol. II.
PENNA (B.), “A Mulher, a Família, o Lar c a Escola”, pp. 41-59, in
Ibid., Vol. IX.
PEREIRA (J. R.), “Liberalismo, Socialismo c integralismo”, pp. 223-251,
in Ibid., Vol. III.
PINHEIRO DIAS (C.), “A Mulher c o Integralismo”, pp. 81-93, in Ibid.,
Vol. IX.
PUJOL (V.), “O Estado Integralista”, pp. 131-147, in Ibid., Vol. II.
REALE (M.), “O que é o Integralismo”, pp. 15-51, in Ibid., Vol. V.
ROCHA VAZ, “Estado Integral c Biopsicologia Individual”, pp. 145-150,
in Ibid., Vol. III.
SALGADO (Pl.), “A lei de Segurança Nacional”, pp. 21-39, in Ibid.,
Vol. VI.
SALGADO (Pl.), “Coletânea de Poetas Integralistas”, pp. 5-120, in Ibid.,
Vol. VII.
SANTOS (L. J. dos), “Consulta sobre o Integralismo”, pp. 23-42, in Jbid.,
Vol. II.
SANTOS (L. J. dos), “A Candidatura de Plínio Salgado (1937)”, pp.
24-62, in Ibid., Vol. II.
SILVEIRA (T.), “Limiar”, pp. 19-24, in Ibid., Vol. III.
SILVEIRA (T. da), “O Movimento do Sigma”, pp. 27-40, in Enciclopédia
Integralista, Vol. III. Rio, Livr. Clássica Brasileira, 60, 251 pp.
SILVEIRA (T. da), “O Pensamento Integralista”, pp. 43-82, in Ibid.,
Vol. III.
SILVA BUENO (E.), “A Crise Brasileira de Autoridade”, pp. 101-114, in
Ibid., Vol. IV.
SIMÕES DE ARRUDA (A. de), “O que é o Movimento Integralista e o
que pretende”, pp. 153-164, in Ibid., Vol. IV.
VIANNA (H.), “Bases Históricas da Unidade Nacional”, pp. 63-69, in
Ibid., Vol. V.
WENCESLAU JÚNIOR (J.), “O que significa a Revolução Integralista”,
pp. 67-69, in Ibid., Vol. IV.

IV — PERIÓDICOS

1. Periódicos nacionais (publicados entre 1932 e 1937)


A Offensiva (Rio)
Monitor Integralista (Rio)
Revista Anauê (São Paulo)
Revista PANORAMA (São Paulo)

361
2. Periódicos regionais (publicados entre 1932 e 1937)

Titulo Cidade Estado

A Lucta Porto Alegre Rio Grande do Sul


A Revolução
O Integralista
O Bandeirante Caxias do Sul
Anauê Dom Pcdrito
A Verdade Santo Ângelo
Der Kampf Novo Hamburgo
Ação São Paulo São Paulo
O Estado Integral Franca
A Razão Espírito Santo do
Pinhal
O San teimo Guaratinguetá
A Região Cafelândia
Anauê Mogi Mirim
A Gazeta Jabuticabal
A Marcha Catanduva Minas Gerais
A Razão Pouso Alegre
Alvorada Belo Horizonte
A Voz d'Oeste Ouro Preto
Anauê Belo Horizonte
O Sigma Juiz de Fora
A Reforma
O Juvenil
Quarta Humanidade Itajubá
Camisa Verde Ouro Fino
O Pliniano Pedra Branca
A Falange Poços de Caldas
Curupira Três Corações
Cidade de Ituiutaba Ituiutaba
Aço Verde Sta. Rita do Sapucaí
Brasil Novo São João dcl Rei
O Sigma Itambacuri São Paulo
Rumo ao Sigma Ponte Nova
Fogo Verde Raul Soares
O Sigma Aracaju Sergipe
O Bandeirante Serra Grande Alagoas
A Província Maceió
O Integralista Curitiba Paraná
A Razão
A ção Recife Pernambuco
A Cidade
A Razão Garanhuns
O Braço Verde Camaru
A Marcha Petrópolis Estado do Rio
O Democrata
O Sigma Pádua
O Povo Rio de Janeiro Guanabara
Século XX

362
1

Espumas Niterói
Estado do Rio
A Província
(“A Voz do Estu­
dante”) Salvador Bahia
O Serrinhense Serrinha
O Popular Alagoinhas
A Fauna Marogogipe
O Imparcial S. Salvador
Alvorada Blumenau Sta. Catarina
Jaraguá Jaraguá do Sul
Flama Verde Florianópolis
O Pliniano, Anauc Joinville
O Integralista São Luís Maranhão
Ação
Província do Ama­
zonas Manaus Amazonas
Idade Nova Vitória Espírito Santo
Sigma Goiás Goiás
A Razão Fortaleza Ceará
A Idéia Aracati

V — ENTREVISTAS SEMIDIRETIVAS COM DIRIGENTES


INTEGRALISTAS

(Período de maio de 1969 a setembro de 1970)


ALLENDI (F. C.), Blumenau (Sta. Catarina).
ARRUDA (R.), São Paulo (São Paulo).
ARNT (A.), Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
BARBOSA LIMA (R.), Rio (Guanabara).
BARROS (O. de), Rio (Guanabara).
BITTENCOURT (D.), Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
CORBISIER (M.), São Paulo (São Paulo).
CORBISIER (R.), Rio (Guanabara).
DIEHL (R.), Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
DUARTE FIGUEIREDO (H.), Belo Horizonte (Minas Gerais).
FABRIS (C.), Caxias do Sul (Rio Grande do Sul).
FERREIRA DA SILVA (J.), Rio (Guanabara).
FIGUEIREDO (H. D.), Belo Horizonte (Minas Gerais).
FREITAS HENRIQUES (C.), Rio (Guanabara).
HAHAN (M.), Gramado (Rio Grande do Sul).
HASSELMAN FAIRBANKS (H.), Rio (Guanabara).
HOLANDA (A. G.), Rio (Guanabara).
KAMINSKI (E.), Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
LACHINSKI (O.), Blumenau (Santa Catarina).
LACOMBE (A.), Rio (Guanabara).
LANDIN (J. F.), Rio (Guanabara).
LISBOA (E.), Rio (—).
LISBOA (I.), Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
LOUREIRO JÚNIOR (L), São Paulo (São Paulo).
MARINHO (S.), Rio (Guanabara).
MEDEIROS (J.), Rio (—).
MEGGIOLARO (V.), Rio (—).
363
MONDIN (G.), Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
MOTTA (J.), Rio (Guanabara).
MOURÃO FILHO (M. F.), Belo Horizonte (Minas Gerais).
MOURÃO FILHO (O.), Rio (Guanabara).
MÜLLER (E.), Blumenau (Santa Catarina).
NASCIMENTO BARBOSA (J.), Rio (Guanabara).
PEREIRA (A.), Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
PEREIRA (N.), Porto Alegre (—).
PETRUCCI (Z.), São Paulo (São Paulo).
PIRES (A.), Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
PIZZA (T.), Rio (Guanabara).
REALE (M.), São Paulo (São Paulo).
REZENDE ALVES (J.), Belo Horizonte (Minas Gerais).
SALGADO (P.)> Brasília (Distrito Federal).
SILVA TELES (G. da), São Paulo (São Paulo).
SILVA TELES (M. da), Rio (Guanabara).
SIMÕES ARRUDA (A.), São Paulo (São Paulo).
STENZEL (P.), Rio (Guanabara).
TOFFOLI CULAU (R.), Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
VIEIRA (S.), Canoas (—).
WAGNER (A.), Porto Alegre (—).

VI — DEPOIMENTOS SOBRE O INTEGRALISMO DE


PERSONALIDADES NÂO PERTENCENTES A A.I.B.

AMOROSO LIMA (A.), Rio (Guanabara).


CÂNDIDO (A.), São Paulo (São Paulo).
CARONE (E.), São Paulo (—).
CRUZ COSTA (J.), São Paulo (—).
DEL PICCHIA (M.), São Paulo (—).
MACHADO CARRION (F.), Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
MEDEIROS (L.), Porto Alegre (—).
MOTTA FILHO (C.), Rio (Guanabara).
SOMBRA DE ALBUQUERQUE (S.), Rio (Guanabara).
I
VII — OUTRAS OBRAS CITADAS.

ADORNO (T. W.), The authoritarian personality. New York, Harper, 50,
330 pp.
AMARAL (A.), Ensaios Brasileiros. Rio, Omena and Barreto, 30, 298 pp.
AMARAL (A.), O Estado Autoritário e a Realidade Nacional. Rio, José
Olympio Édit., 38, 278 pp.
AMOROSO LIMA (A.), “A Reação Espiritualista”, pp. 395-482, in COU-
TINHO (A.), A Literatura no Brasil, Vol. III, T. 1. Rio, Livr. São
José, 59, 689 pp.
AMOROSO LIMA (A.), “Evolução do Catolicismo no Brasil”, pp. 1962-
-1970, in Enciclopédia Delta Larousse, Rio, Delta Larousse, 1962.
ANDRADE (M. de), O Movimento Modernista. Rio, CEB, 42.
ANDRADE (O.), Ponta de Lança. São Paulo, Edit. Martins, 1945.
BACH-THAI (J.), Chroiiologie des relations internationales de 1870 à
nos jours. Paris, Ed. Relations Internationales, 57, 275 pp.

364
BERDIAEFF (N.), Uma Nova Idade Média. Rio, Edit. José Olympio,
1936, 273 pp.
BERNSTEIN (S.), MILZA (P.) L'ltalie Fasciste. Paris, Colin, 70, 407 pp.
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367
ÍNDICE ONOMÁSTICO

Abcndroth (W.), VII Barbosa Lima Sobrinho, 21, 22,


Abreu (C.), 98 24, 26, 78, 97, 98, 101
Adorno (T.W.), 156 Barbosa Rodrigues, 46
Alberto (João), 77 Barioni (W.), 119
Albuquerque (T.), 243 Barrés (M.), 33, 252
Alcântara Machado (A.), 44 Barroso (Gustavo), 124, 153. 166,
Alencar (J. de), 46 168, 170, 175, 178. 201. 202.
Almeida (G.), 44 203, 213, 214, 215, 217, 230,
Almeida Camargo (A.), 118 236, 237, 242, 243, 244. 251,
Almeida Camargo (J.), 118 252, 253
Almeida Magalhães, 31 Bastos Barreto, 118
Amado (Gilberto), 98 Bello (José Maria), 98
Amado (Gilberto), 98 Bcrdiaief (N.), 231
Amado (Gilson), 77 Bergson (H.), 31
Amaral (Azevedo), 98, 100 Bemanos (G), 33
Amaro Cavalcanti, 24 Bernardes (Artur), 22
Ameal (J.), 251 Berstein (S.), 191, 240, 245
Amélia Pereira (Maria), 37 Bertrand (L.), 243
Américo Netto, 118, 119 Bezerra de Freitas, 105
Amoroso Lima (Alceu), 30, 31, Bilac (Olavo), 21, 22, 25
33, 34, 44, 54, 98, 101, 108, Bismarck, 38
109, 120, 121, 147 Bittencourt (D.), 195
Andrade (M.), XXII, 27, 28, 44 Bodin (J.), 247
Andrade (O.), 20, 27, 28, 44, Bolíver (Simón). 214
45, 54 Bomilcar (A), 22, 23
Antonescu (Marechal), XVII Bopp (Raul), 39. 46
Bonald (L. de), 24"
Apollinaire (G), 42 Borges de Medeiros <J.A\
Aranha (O.) 44, 80 17
Aristóteles, 214 Bourgct (Paul). 252
Arruda (R), 119, 166, 169, 187 Brasilach (R.). 20*. 2eC
Assis Brasil (J.F.), 17 Buarque de Holanda
Athayde (Tristão de), vide Amo­ 33, 9S
roso Lima (Alceu) Buchner (O.). 3°
Azzi (R.) H9 Butlcr Maciel (A.). 215. 21í\
243
Babeuf (F.N.), 232 Buzaid (A.). 11°
Barata (J.), 105
Barbosa (Rui), 16, 68 Callage (F.), 3°. >•
Barbosa de Campos (R.), 119 Calmon (M.L 21
I

Calógeras (P.), 101 Deodoro (Marechal), 83


Câmara (Helder), 106, 109, 124, Di Cavalcanti, 29
147 Diniz Ccrqueira (E), 100
Câmara (Ney), 149 Diniz Júnior, 105
Câmara Cascudo, 206 Doriot (Jacques), XVII
Câmara Leal, 118 Dostoievski, 47
Campos (Carlos de), 41 Drummond (E.) 243
Campos (Francisco3, 104 Duguit (L.), 245, 246
Capancma (Gustavo), 104 Durkheim (E.), 248
Cardoso (V. Licínio), 53, 101 Dutra da Silva (J.), 119
Carlos Magno, 230
Carlos V, 230 Engels (F.), 231
Carlyle (T.), 206 Étiènne (J.M.), VIII, 139, 200,
Carneiro (J.F.), 33 208, 217, 236
Carneiro Leão (A.), 21
Carol (rei), XII, XVII Fabrino (J.), 114
Carone (Edgard), 8, 10, 11, 13, Fairbanks (J.C.), 114
16, 22, 25, 104 Faria (A.), 120
Carvalho (Ronald), 31, 98 Faria (Octavio de), 98, 99, 101,
Carvalho Pinto (C.A.), 119 102, 103, 120
Casali (A.), 118 Farias Brito, 31, 32, 37
Cassiano Ricardo, 39, 44, 119 Fasano (V.), 118
Castilhos (J.P. de), 17 Fausto (Boris), 16
Castro (J.), 195 Ferreira Lima (Heitor), 8
Caxias (Duque de), 36 Feurbech (L.), 43
Celso (Afonso), 22, 25 Figueiredo (Jackson de), 22, 23,
Cendrars (Blaise), 43 31, 32, 33, 34, 54
César, 214 Fluet Gut (N.), 188
Chasin (J.), V Fonseca (Hermes da), 16
Chauí (Marilena), V Fontes (L.) 77, 120
Chermond de Miranda, 77, 101 Fort (Paul), 27
Ciano (Conde), 186 Franca (Leonel), 32, 101
Cocteau (Jean), 43 França e Silva, 12
Codreanu, XII, XVII Franck (Julius), 158
Comte (A.), 224, 247 Franco (Francisco), 158
Corbisier (R.), 119, 166 Frederico II, 230
Correia de Oliveira (Plínio), 119 Furtado (Celso), XIX, 9, 11
Costa (Miguel), 18
Coutinho (Afrânio), 20, 29, 30 Galotti (A.), 77, 101
Couto Magalhães, 46 Gentil (A.), 98
Crisci (C.), 105 Gentile (G.), 95
Cruz Costa (J.), 19, 20, 98 Gerber, 247
Cunha (Euclides da), 19, 48, 120 Gertz (R.), V
Gioberti (V.), 247
Damasceno Vieira (A.), 23 Giudice (A.), 77
Daudet (Leon), 252 Goebbcls (J.), 241
De Felicc (R.), VII, VIII, XII,
XV Gogol, 47
De Laet (Carlos), 30 Gorki (M.), 47
De Maistre (J.),33, 34, 224, 247 Gouveia (O.), 243
Degrelle (L.), XV Govoni, 42
Del Picchia (M.), 27, 28, 40, 41, Graciotti (Mário), 39, 74, 116,
42, 44, 74, 102 118
Dentzien (P.), 273 Grcgor (A. James), VII

370
Guérin (D.), 131 Maquiavel, 64, 99, 247
Guttmann (L.), 271, 272, 273 Marcondes (D.), 118
Maria (Júlio), 30
Hacckcl, 39 Marineti, 42, 45
Hassclman Fairbanks (H.), 131 Maritain (J.), 33, 34
Hegel, 203 Marques Saes (D.), 18
Hilton (S.), V Martin (R.), 208, 228
Martins (W.), 26, 27, 29, 30, 54
Hitlcr (A.), XVII, 112, 157, 185,
241, 246, 247, 249 Martins de Almeida, 98
Hoffcr (W.), 139, 140, 200 Martins Moreira, 101
Marx (Karl), 39, 43, 94, 231, 236,
Humboldt (K.H.), 232
Hunsche (K.H.), 1, 43, 213 245, 247
Maser (W.), 185
Igaira (I.), 118 Matalon (B.), 272
Maul (Carlos), 105
Jacob (Max), 43 Mauriac (François), 33
Jellineck (G.), 247 Maurras (Charles), 33, 34, 50,
Johnson (J.), 131 224, 251, 252
Josetti (R.), 175 Mayer, 247
Medeiros (J.), V
Kant, 31 Meireles (Cecília), 44
Klehne (J), 216 Mello 109,
Mello (Olbiano de), 101, 122,
Kropotkine, 47 110, 111, 112, 113, 120,
Kulmann (G.), 58 123, 124, 200, 205, 206, 222,
123,
232, 236, 239, 252
Lacombe (A.), 77, 101, 120 Mello’ (Plínio), 39
Lamarckc, 39 Mello Franco (A.A.),
Mello Franco (*_ 98, 99
Lambert (J.), 140 Memória (A.), 105
Lanari (A.), 104 Mcrkl (P.H.), IX
Lara Ribas (A. de), 216 Mesquita (Júlio), 23, 41
Leães Sobrinho (J.)» 116, 118, Mesquita Filho (J.), 26, 41
119 Míchelat (G.), 272
Le Bon (G.), 39 Milza (P.), 191
Lechlcr (P.), 43 Moisés, 243
Ledesma Ramos (R.) XII Monteiro (G.), 178
Leite (E.), 175 ’ ’ ‘^,20
Monteiro Lobato, 20
Leme (Sebastião), 32 Motta (Jeovah), 57, 62, 109, 124,
Lenine (W.), 39, 43, 206, 236,
245 131, 175
Motta Filho (Cândido), ai 41, qj?
98,
Levine (R.), V
Lichtenfeld (B.), 118 99, 100, 102, 116, 117, 118,
119, 120, 123, 144
Lima (B.), 105 Moraes (Vinícius de), 101
Linz (Juan), VI, VII, XIII
Morais (L.), 105
Lipset (S.), 3, 138, 139 Morais Carneiro (J. de), 30
Lockc (J.), 232 Mounier (E.), 34, 275
Loevinger (J.), 271, 272, 273 Moura (P.), 149
Luiz (Washington), 11, 41, 52, 58 Mourão Filho (Olímpio), 131,
Lutero (M.), 247
178, 230
Murilo de Araújo, 44
Machado (J.M.), 118, 119 Mussolini (Benito), XVII, 43, 75,
Maciel Ramos, 175 76, 99, 100, 110, 112, 157, 158,
Madeira de Freitas, 77, 101, 120, 186, 200, 206, 208, 210, 213,
175 216, 222, 235, 240, 246, 248,
Malfatti (Anita), 28 249, 256, 264, 277
Man (H. de), 240, 245
371
Nabuco (J.), 120 Rabelo (Sílvio), 31, 32
Nagy-Talavera (N.M.), VIII Rao (Vicente), 245
Napoleão Bonaparte, 214, 230 Raposo (H.), 251
Navarra (A.), 224 Realc (Miguel), 119, 124, 145, 175,
Neves da Fontoura (J.), 101 205, 206, 212, 214, 215, 216,
Nietzsche, 47 217, 220, 221, 222, 223, 224,
Nogueira (A.), 116, 118 225, 226, 229, 230, 231, 232,
Nogueira (H.), 33 233, 234, 235, 236, 237, 238,
Nogueira da Gama (A.D.), 21 239, 240, 245, 246, 247, 248,
Noite (E.), VII, Vin 249, 250, 251, 252
Nun (J.), 131, 141 Redano (U.), 224
Rémond (R.), XIX
Oiticica (J.), 14 Reuchlin (M.), 274
Oliveira Filho (J. de), 118 Riazanov, 43
Oliveira Lima, 120 Ribeiro (C.), 26
Oliveira Salazar (A. de), 200, Ribeiro (J.R.), 119
249, 251 Ricardo (Cassiano), vide Cassia-
Oliveira Torres, 33, 116 no Ricardo
Oliveira Viana, 21, 48, 53, 98, Rio (João do), 27
100, 120 Rocco (A.), 120, 224, 225, 245
Osório (General), 36, 212 Rocha (W.), 118
Rogers (H.), VIII
Padilha (R.), 77, 120, 175 Rosselli (C.), 240, 245
Pagano (Sebastião), 101, 102, Rossi (E.), 118
114, 115, 118, 119 Roquete Pinto, 53
Paim Vieira, 114, 115 Rothschild, 237, 242
Pareto (V.), 205 Rousseau (J.-J.), 47, 232, 246, 247
Pascale (H.), 118
Payne (S.), VIII Sá (A.), 109
Pedro I, 38
Salgado (F. das C.E.), 36
Peixoto (Floriano), 22, 212
Penino (J.), 118 Salgado (Plínio), XV, XVI, XVII,
Pereira (A.), 14, 37 1, 3, 4, 5, 19, 31, 35, 36, 37,
Pereira (J.C.R.), 37, 230 38, 39,40, 41, 42, 43, 44, 45,
Pereira Barreto (L.), 23 46, 47, 48, 49, 50, 52, 53, 54,
Pereira Lima, 26 56, 57, 58, 59, 60, 62, 63, 64,
Pinheiro (P.S. de M.), 10, 11, 12, 65, 66, 67, 68, 71, 73, 74, 75,
13, 14, 15, 17 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83,
Pinto da Silva, 119 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91,
Plekhanov, 43 93, 94, 95, 96, 98, 99, 100, 102,
Poncins (L. de), 243 110, 116,117, 119,120, 121,
122, 123, 124, 125, 126,
126, 145,
Pontes de Miranda, 53 152, 165, 168, 170,
166, 167, 168,
Prado (Paulo), 29, 98 171, 173, 178, 183, 200, 201,
Pre de Saint-Maur (J.), 216 202, 203, 204, 205, 206, 209,
Prestes (Júlio), 42, 76 210, 211, 212, 213, 214, 216,
Prestes (Luiz Carlos), 17, 18, 66, 217, 218, 219, 220, 221, 223,
67, 131, 158 226, 229, 230, 234, 235, 236,
Preto (Rolão), 251 237, 238, 239, 241, 242, 251,
Primo de Rivcra (J.A.), 200 252
Pujol (Alfredo), 23 Sales Júnior, 26
Pujol (V.), 230 SanfAnna (L.), 119
SanfAnna (N.), 119
Queiroz Filho, 119 Santa Rosa (V.), 98, 99

372
Santiago Dantas (F.), 77, 80, 101, Stalin (J.), 157
119, 120 Stpuffer (S.A.), 272
Santo Rosário (R.), 32 Strang (G.), 118
Sardinha (A.), 219, 251
Sarfatti (M.), 76 Tasca (A.), 138
Sarti Prado, 26 Tavares Bastos, 53
Savigny, 247 Tejada (F.E. de), 32
Schmidt (A.F.), 39, 76, 77, 78, Thomas (J.P.), 272
80, 120 Tledo (J.), 118
Sebastião (Dom), 64 Toledo Piza, 119
Serrano (J.), 31 Tolstoi (Leão), 47
Sicgel (S.), 270 Torres (Alberto), 19, 21, 24, 48,
Silva Brito (M.), 27, 28, 29, 44 53, 95, 99, 100, 120
Silva (H.), 1 Touchard (Jean), XIX
Silveira (A.), 45, 58 Trotski (L.), 43, 242
Silveira (Tasso), 23, 31, 44 Turgueniev, 47
Silveira Bueno, 119 Valverdc (Belmiro), 208
Silva Py (A.), 216 Vargas (Getúlio), XVII, 81, 83
Simão (A.), 12 Vasconcelos (J.), V
Simões Arruda (A.), 79, 119 Veiga dos Santos (Arlindo), 114,
Simonsen (R.), 24 118
Smith (A.), 232 Vianna (H.), 77, 98, 101
Sobral Pinto, 101 Victor (Nestor), 31
Soares Lima (M.R.), 100 Vieira (J.), 105
Sombra (Sevcrino), 105, 106, 108, Vilela Luz (N.), 15, 21, 24
109, 110, 121, 122, 123, 124, Villar (F.), 105
131 Voltaire, 47
Sodré (A.), 98 Wenceslau Júnior, 216, 240, 241
Soffici, 42 Wemeck Sodré (Nelson), 10, 20
Sorel (G.), 43, 208, 209, 247 Wippeman (W.), VII
Southworth (W.R.), 213 Wolf (D.), VIII
Souza Aranha (A.E.), 41, 48, 80
Xavier Marques, 31
Spencer (H.), 37, 39
Spinoza (B.), 31 Zanoni (M.), 118, 119

373
ÍNDICE DOS QUADROS

1. Estrutura sócio-profissional das direções nacional e regional 132


2. Estrutura social da Câmara dos Quarenta 133
3. Estrutura social da Câmara dos Quatrocentos 133
4. Origem social do conjunto dos dirigentes nacionais e regionais 134
5. Origem social dos dirigentes e militantes locais 135
6. Imagem da composição social da A.I.B. segundo os dirigentes
e militantes locais 137
7. Pirâmide da estrutura social da A.I.B 138
8. Comparação da estrutura social da NSDAP com a sociedade
de 1930 ................................................................................... 139
9. Repartição da amostra segundo a origem urbana/rural 141
10. Origem social do conjunto dos dirigentes nacionais, regionais,
militantes de base 143
12. Mobilidade social dos dirigentes nacionais e regionais 143
13. Mobilidade social dos dirigentes e militantes de base 144
14. Idade dos dirigentes nacionais, regionais e dirigentes e mili
tantes de base em 1933 145
15. Filiação religiosa dos dirigentes nacionais, regionais, locais e
dos militantes de base ........................................ 145
16. Assiduidade religiosa dos dirigentes nacionais e i regionais ... .146
17. Importância atribuída à religião pelos dirigentes; e militantes
locais 146
18. Assiduidade religiosa dos dirigentes e militantes de base .... 147
19. Importância atribuída à religião pelos dirigentes e militantes
de base 148
20. Origem étnica paterna dos dirigentes nacionais e regionais .. 148
21. Origem étnica materna dos dirigentes nacionais e regionais y 149
22. Origem étnica paterna dos dirigentes locais e militantes de
150
base
23. Origem étnica materna dos dirigentes locais e militantes de
150
base

375
24. “Motivações” de adesão à A.I.B. dos dirigentes e militantes
de base ..................................................................................................... 153
25. Grau de anti-semitismo dos integralistas .................................... 154
26. Constelação de “motivações em torno de: anticomunismo,
simpatia fascista e nacionalismo ................................................... 154
27. Relação entre “motivações” dominantes ...................................... 155
28. Relação entre “motivações” individuais c as três motivações
dominantes ............................................................................................. 156
29. A imagem do Chefe Integralista ..................................................... 167
30. Nacionalismo ........................................................................................ 255
31. Anti-socialismo ...................................................................................... 256
32. Antiliberalismo ...................................................................................... 258
33. Antiplutocratismo ................................................................................ 259
34. Anticapitalismo internacional ........................................................... 259
35. Reformismo social .............................................................................. 260
36. Mito da transformação social ......................................................... 261
37. Espiritualismo ........................................................................................ 262
38. O Estado-Nação .................................................................................. 263
39. Socialismo-nacional .............................................................................. 264
40. Anti-semitismo e antimaçonaria ..................................................... 265
41. Visão hierárquica.................................................................................. 265
42. Visão pessimista da História............................................................. 266
43. Valores autoritários ............................................................................ 267
44. Ética fascista ........................................................................................ 268
45. Valores tradicionalistas ..................................................................... 268
46. Solidariedade ao fascismo europeu .............................................. 269
47. Grau de uniformidade ideológica dos integralistas ................... 270
48. Coeficiente de homogeneidade de Loevinger das escalas do
grupo de controle adulto 272
49. Proporção de integralistas e de grupos de controle na nota de
escala mais elevada........ 273
50.' Quadro de correlações entre os escores das escalas de atitude 342

376
ÍNDICE DOS ORGANOGRAMAS

Organização da A.I.B. (1934)


174
Organização da A.I.B. (1936) ..........
177
Estrutura da Milícia Integralista ... 181
Hierarquia c organização da Milícia 182
Organização Corporativa do Estado 227

377
ÍNDICE DOS ASSUNTOS

Nota do Autor V
Prefácio à segunda Edição VII
Présentation XIX
Prefácio da l.a edição .... XXI
Introdução 1

PRIMEIRA PARTE

EMERGÊNCIA DO CHEFE
Capítulo I — Uma sociedade em transição da década de 20 7

1. A mudança sócio-econômica. ... 8


2. Contestação do sistema político 15
3. A mutação ideológica 19
Capítulo II — A < formação política de Salgado 35

1. A origem republicana .. 35
2. O fermento nacionalista . 42
3. A metamorfose ideológica 48

SEGUNDA PARTE

GÊNESE DA IDEOLOGIA

Capítulo I — O desafio da revolução de 1930

A descoberta do fascismo 74
1.
O jornalismo político 77
2.
Uma ideologia em maturação .... 85
3.
Capítulo II — A ascensão das idéias autoritárias em 1930 e o nas-
cimento do integralismo .............. 97
98
1. A literatura antiliberal

379
2. Os movimentos políticos autoritários 103
3. A fundação da Ação Integralista .. 116

TERCEIRA PARTE
NATUREZA DO MOVIMENTO

Capítulo I — Os militantes 129

1. Origem social 129


2. Contexto sociológico individual dos integralistas ... 141
3. Motivações de adesão 150
Capítulo II — A organização 161

1. O Chefe 164
2. Um modelo pré-estatal . 171
3. A socialização ideológica 188
Capítulo III — A ideologia 199

1. Fundamentos doutrinários do integralismo 199


2. A organização social e política 217
3. Os inimigos 226
. 4. Atitude face ao fascismo europeu 244
5. Atitudes ideológicas dos militantes 253

Conclusão 277

Cronologia................................. 281
Fontes da cronologia 283
A nexos ............................. ....... 307
Questionários 323
Histogramas e correlações 337
Escalas de atitudes ideológicas .. 343
Bibliografia 351
índice onomástico 369
índice dos quadros .... 375
índice dos organogramas 377
índice dos assuntos .... 379

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Este livro /oi
impresso pela EDIPE Artes
Gráficas, Rua Domingos
Paiva, 60 — São Paulo.

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