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TRINDADE, Hélgio. Integralismo - O Fascismo Brasileiro Na Década de 30
TRINDADE, Hélgio. Integralismo - O Fascismo Brasileiro Na Década de 30
HÉLGIO TRINDADE
INTEGRALISMO
o fascismo brasileiro
na década de 30
INTEGRALISMO
Celso Furtado
Tristão de A thayde
Jaques Lambert
Gino Germani
Thomas E. Skidmore
DIFEL
Difusão Editorial SA.
“0 leitor não precisa temer de que irá encontrar uma mono
grafia acadêmica árida, repleta de tabelas estatísticas com dados
sociológicos sobre a elite dirigente da A.I.B. e as respostas dos
ex-militantes a um questionário a cerca de sua ideologia. 0 livro
não é somente um trabalho acadêmico; ele traduz de forma extra
ordinária o que o fascismo significou para os brasileiros que se
uniram ao movimento. O surgimento de Plínio Salgado, seu líder,
no contexto político do início da década de 30, a organização e,
o que é mais importante, o espírito e estilo do movimento. Quem
quer que tenha estudado o fascismo em outros países, imediata
mente reconhecerá, em sua descrição, nas citações dos slogans do
programa e canções do movimento, e mesmo nas fotografias re
produzidas no livro, temas familiares. Desafio os que duvidam que
o fascismo seja diferente de outros partidos e movimentos reacio
nários e antidemocráticos dos anos 30, a ler o livro de Hélgio
Trindade, juntamente com um ou dois outros sobre movimentos
fascistas, como a Falange e constatar, depois, se eles não têm mui
tas características em comum que nós não encontramos, com a
mesma freqüência e intensidade, em outros partidos influenciados
pelo fascismo”.
“O trabalho de Hélgio Trindade é uma valiosa contribuição
para os que se encontram, como nós, comprometidos com um
estudo comparativo dos movimentos fascistas. Não só porque
analisa o movimento ibero-americano de maior sucesso, mas por
que a riqueza de dados que contém nos proporciona novas evi
dências relevantes para a discussão entre os estudiosos”.
2
IÔ
2.
ó DIFEL
Difusão Editorial S.A.
INTEGRALISMO
CORPO E ALMA
DO BRASIL
Direção do
Prof. Fernando Henrique Cardoso
XL
Julho de 1979
i
HÉLGIO TRINDADE
INTEGRALISMO
(O fascismo brasileiro
na década de 30)
2.a Edição
revista e ampliada
-ÀÃ
difel
OuUc tawa S *
1979
(*) LEVINE (R) The Vargas Regime: The Criticai Years (1934-
1938), N. York, Columbia University Press, 1970; HILTON (Stanley)
O Brasil e a Crise Internacional (193011945),- Rio, C. Brasileira, 1977;
MEDEIROS (Jarbas); Ideologia Autoritária no Brasil 193011945, Rio,
Fundação G. Vargas, 1978; VASCONCELOS (Gilberto). A Ideologia
Curupira (Análise do discurso integralista), S. Paulo, Tese de Doutora
mento, USP, 1977; GERTZ (Rene) Os Teuto-Brasileiros e o Integralis-
mo no Rio Grande do Sul: Contribuição para a interpretação de um
fenômeno político controvertido, P. Alegre, Dissertação de Mestrado,
UFRGS, 1977; CHASIN (José) O Integralismo de Plínio Salgado (Forma
de regressividade no capitalismo hipertardio), S. Paulo, Ed. C. Huma
nas, 1978; CHAUÍ (Marilcna) Apontamentos para uma Crítica da Ação
Integralista Brasileira, In Ideologia e Mobilização Popular, S. Paulo,
CEDEC, Paz e Terra, 1978.BROXSON (Elmer R.), Plínio Salgado and
Brazilian Integralism (1932 1938), Washington, The Catholic University
of America, 1972.
v
UFRGS (*). Não obstante, pretendo expandir a discussão, já
iniciada, num novo ensaio sobre a A.I.B., em fase de elaboração,
a ser inserido no volume décimo da História Geral da Civiliza
ção Brasileira (O Brasil Republicano), por solicitação de Boris
Fausto. Além disto, será objeto de um próximo volume, a aná
lise de um conjunto de depoimentos, gravados, ainda inéditos,
colhidos junto a dirigentes e militantes integralistas entre 1968
e 1970 e que, em decorrência de suas implicações na atualidade
político-ideológica, assumira o compromisso de não divulgá-los
imediatamente.
Considero, entretanto, como uma das principais contribui
ções a esta segunda edição, o prefácio de Juan Linz, da Uni
versidade de Yale, um dos mais respeitados especialistas em mo
vimentos autoritários de direita que, após ter incorporado a ação
integralista no seu estudo comparativo sobre a sociologia dos fas-
cismos, em edição publicada nos Estados Unidos (**), detalhou,
recentemente, sua análise sobre as afinidades entre o integralis
mo e os fascismos europeus num verdadeiro pequeno ensaio
transmudado em prefácio.
Não poderia, finalmente, deixar de agradecer os contatos
junto a DIFEL e o estímulo constante de Edgard Carone, o apoio
simpaticamente decisivo de Fernando Henrique Cardoso, diretor
da Coleção Corpo e Alma do Brasil e o trabalho infatigável de
Rolando Roque da Silva, chefe de produção da DIFEL, na viabi
lização desta nova edição.
Porto Alegre, fevereiro de 1979.
Hélio Trindade
VI
PREFACIO À SEGUNDA EDIÇÃO
Juan Linz, Yale University
VII
Neste contexto, a monumental biografia de Mussolini escri
ta por De Felice, da qual foram publicados 4 volumes, foi um
trabalho pioneiro4. Era inevitável que os estudiosos dirigissem
sua atenção também aos vários movimentos fascistas que sur
giram mais ou menos espontaneamente, ou por imitação, no
mundo ocidental, no período entre as duas guerras. Até agora,
no entanto, somente alguns desses movimentos foram estudados
a fundo e valemo-nos ainda de uns poucos livros, como os de
Hans Rogger e Eugene Weber, Ernest Noite, S. J. Wolf, Walter
Laqueur e George L. Mosse, assim como do trabalho que está
sendo editado por Stein U. Larsen e outros, que abrangem os
movimentos fascistas em um grande número de países. Signifi
cativamente, todos eles ignoram o fascismo na América Latina 5.
Isso já demonstra quão singular é o trabalho de Hélgio Trindade.
Só uns poucos movimentos fascistas foram assunto de monogra
fias, a saber: os da Espanha, Romênia e Hungria. Rexismo na
Bélgica6 e, menos satisfatoriamente, a União Fascista Britânica.
Enquanto a Ação Francesa recebeu considerável atenção dos
estudiosos, a variedade dos movimentos fascistas na França
ainda espera um estudo minucioso, se excetuarmos uma exce
lente biografia de Jacques Doriot7. À exceção do livro de Hélgio
Trindade nenhum estudo comparável sobre os movimentos fas-
VIII
cistas ibero-americanos foi publicado. Seu trabalho é, portanto,
uma das poucas monografias a ocupar-se do fascismo em países
que não a Alemanha e a Itália.
A singularidade de seu trabalho, contudo, não é somente ser
um dos poucos estudos monográficos de um movimento fascista
fracassado e o único sobre um movimento ibero-americano. Re
side no fato de seu autor reunir uma vasta gama de materiais
que não encontramos em nenhuma das monografias acima men
cionadas, a não ser nas que tratam da Alemanha e da Itália. Seu
trabalho oferece um retrato coletivo da liderança do Integralismo
que não encontra paralelo em livros sobre movimentos impor
tantes, como a Guarda de Ferro ou a Falange. As páginas que
ele dedica ao retrato sociológico dos líderes da A. I. B. são ines
timáveis para todo aquele que deseje saber, para fins de compa
ração, quem eram os fascistas. Mas seu livro nos dá alguma
coisa mais, algo que não conhecemos sobre nenhum outro país,
exceto a Alemanha, graças à singular aventura de ciência social
de Theodore Abel, o qual, nos anos 30, coletou autobiografias
dos membros do partido nazista, que foram analisadas sistemá
tica e estatisticamente em um brilhante livro de Peter Merkl3.
Trindade fez algo que eu desejaria tivéssemos feito com outros
movimentos fascistas e que nós, provavelmente, jamais faremos.
Ele aplicou as modernas técnicas de survey para obter informa
ções, usando questionários sobre como os membros da A. I. B.
reagiam aos apelos ideológicos da liderança. Isto, por si só,
justifica minha afirmação inicial de que este é um livro singular.
O leitor não precisa temer de que irá encontrar uma mo
nografia acadêmica árida, repleta de tabelas estatísticas com
dados sociológicos sobre a elite dirigente da A. I. B. e as res
postas dos ex-militantes a um questionário acerca de sua ideo
logia. O livro não é somente um trabalho acadêmico; ele traduz
de forma extraordinária o que o fascismo significou para os bra
sileiros que se uniram ao movimento. O surgimento de Plínio
Salgado, seu líder, no contexto político do início da década de
30, a organização e, o que é mais importante, o espírito e estilo
do movimento. Quem quer que tenha estudado o fascismo em
outros páTses, imediatamente reconhecerá, em sua descrição,
nas citações dos slogans do programa e canções do movimento,
e mesmo nas fotografias reproduzidas no livro, temas familiares.
Desafio os que duvidam que o fascismo seja diferente de outros
IX
partidos e movimentos reacionários e antidemocráticos dos anos
30, a ler o livro de Hélgio Trindade, juntamente com um ou
dois outros sobre movimentos fascistas, como a Falange e
constatar, depois, se eles não têm muitas características em co
mum que nós não encontramos, com a mesma freqüência e
intensidade, em outros partidos influenciados pelo fascismo.
Somente monografias como esta nos permitem salientar ade
quadamente temas comuns que definem um movimento como
nitidamente fascistas. Ao mesmo tempo, estudos monográficos
possibilitam descobrir as variedades de fascismo dentro de sua
unidade básica e aprofundar a análise das diversas famílias ideo
lógicas no interior do fascismo.
Ao mesmo tempo em que discordamos de De Felice, que
afirma serem os fascismos fora da Itália pouco mais que imi
tações apagadas, ridículas e mal sucedidas, sustentamos que ele
está certo quando salienta as diferenças importantes entre esses
movimentos9. Somente pesquisas minuciosas como esta que o
leitor agora manuseia, e que infelizmente não temos em muitos
países, permitirão que descubramos as características distintas
dos diferentes partidos e possamos, portanto, explicar seus su
cessos e insucessos, sua atração para diferentes setores de suas
respectivas sociedades, sua influência direta ou indireta na polí
tica ou os remanescentes marginais que deixaram na sociedade.
Somente um número maior de monografias desta qualidade nos
permitirão desenvolver uma análise comparativa do fascismo
que ultrapasse o ponto em que agora se encontra.
O trabalho de Hélgio Trindade é uma valiosa contribuição
para os que se encontram, como nós, comprometidos com um
estudo comparativo dos movimentos fascistas. Não só porque
analisa o movimento ibero-americano de maior sucesso, mas
porque a riqueza de dados que contém nos proporciona novas
evidências relevantes para a discussão entre os estudiosos. Aqui
chamaremos somente atenção para alguns entre outros tantos
exemplos. O fascismo aparece claramente como um movimento
de reação: anticomunista, antiliberal, etc., mas as expressivas
descrições de Hélgio Trindade também mostram que ele foi mais
do que isso. Mostram que seu sucesso incluía outros elementos
ideológicos, novas concepções de autoridade e organização, e
um estilo próprio refletido na importância dada a uniformes e
rituais. Certamente outros grupos políticos e líderes partilhavam
X
da “ideologia dos anti”, mas outros aspectos do fascismo estavam
ausentes. Não se justifica, portanto, que tantos estudos sobre
política na América Latina chamem de fascistas a esses regimes
e movimentos, quando estas outras dimensões estão fundamen
talmente ausentes. A meu ver, a apresentação feita confirma
uma delimitação restritiva histórico-tipológica do fenômeno fas
cista. Houve certamente muitos outros movimentos (antiliberais,
antidemocráticos, reacionários ou populistas) na América Lati
na e, inclusive regimes com essas características; mas movimen
tos fascistas capazes de alcançar uma base nas massas, com a
organização e o estilo característicos de seus correspondentes
europeus, houve relativamente poucos. Um deles, a Falange
Socialista Boliviana, deve receber alguma atenção nesíe con
texto. O Partido Nazista do Chile aparentemente nunca teve
sucesso comparável ao do Integralismo. Surpreendeníemente, na
Argentina, a despeito ou talvez por causa da força das ideologias
da ala direita e grupelhos, nenhum grande partido fascista vingou
na década de 30. É uma questão interessante que, devido à
falta de uma pesquisa monográfica, podemos apenas indagar
mas não responder: por que na América Latina movimentos
fascistas, com exceção do Integralismo, não se tornaram uma
grande força política? Certamente, o contato constante de
intelectuais da América Latina com a Europa, a presença de
colônias de italianos e alemães (em parte identificados com os
movimentos dominantes em seus países de origem) contribuíam
para um conhecimento considerável do fascismo. Não pode
haver muita dúvida de que as idéias fascistas não enfrentaram
democracias bem estabelecidas e sucedidas ou de que os latin >
americanos não se sentiam tão comprometidos com os valores
liberais-democráticos como, por exemplo, os escandinavos ou
os cidadãos do Reino Unido. Talvez a susceptibilidade de outros
grupos políticos, incluindo alguns partidos populistas, a certas
idéias fascistas, a ligação da direita católica com o universo de
idéias da Ação Francesa e a receptividade de muitos homens
do governo às ideologias antidemocráticas européias tornassem
mais difícil o surgimento de um verdadeiro movimento fascista
em muitos países latino-americanos. Em muitos países, governos
autoritários já no poder ou a perspectiva de intervenção militar
na política para assegurar algumas das metas perseguidas em
outros lugares pelos fascistas, esvaziaram as oportunidades para
tais movimentos. Indubitavelmente, o fascismo desenvolveu-se
melhor sob condições de liberdade política e encontrou sempre
sérias dificuldades em alguns regimes autoritários da Europa
XI
Oriental, como exemplifica o destino de Codreanu sob a real
ditadura do rei Carol da Romênia. Não deve ser esquecido que
somente em uma democracia poderíam crescer e tornar-se amea
çadoras algumas das forças políticas, como o partido comunista,
um movimento trabalhista proletário, contra o qual os fascistas
tentaram mobilizar certos setores da sociedade.
Sem a presença política organizada de seus tradicionais ini
migos, o fascismo não tinha razão de ser. Poder-se-ia também
argumentar que algumas das revoluções nacionais populistas,
sob liderança burguesa, como a mexicana, e partidos como o
APRA, no Peru, foram capazes de alcançar alguns dos setores
da sociedade que, em outras circunstâncias, possivelmente ter-
se-iam identificado com a ideologia, a retórica e os símbolos do
fascismo. O novo nacionalismo associado a certos setores da
sociedade, como estudantes, trabalhadores em empresas sob o
controle estrangeiro, intelectuais e mesmo burguesias nacionais
emergentes poderíam encontrar outros canais. Neste contexto é
interessante que Ramiro Ledesma Ramos, o líder da JONS, a
ala esquerda do fascismo espanhol, tivesse observado que “na
Espanha, a direita era aparentemente fascista e em muitos
aspectos essencialmente fascista”, referindo-se à pequena bur
guesia republicana, a qual tentara implantar, com a vinda da
República, em 1931, um novo programa de integração nacional
e de reforma. No contexto desta paradoxal análise, ele escreve:
“O fascismo que a pequena burguesia esquerdista pode desen
volver quando está cercada pelo marxismo, como é o caso da
Espanha, e quando não tem um forte pensamento nacionalista,
como é o caso aqui, esse fascismo tem um nome que não é
invejável, chama-se México”10. Este texto escrito em 1935
considera, num contexto um tanto estranho, a revolução mexi
cana, institucionalizada num movimento populista nacional, como
uma alternativa funcional ao fascismo. Outro fator que não
podemos ignorar, dada a história dos movimentos fascistas
europeus, é que o nacionalismo apaixonado e irracional de
oficiais e soldados retornando da guerra, particularmente após
a amarga derrota, tende a estar ausente na América Latina.
XH
Não é, talvez, por acaso que o fundador da Falange
Socialista Boliviana se referia à Guerra do Chaco como uma
crise determinando a ocasião para fundar o partido. Um
estudioso do fascismo, numa ótica marxista, obviamente, argu
mentaria que o capitalismo nacional não tinha alcançado, na
América Latina, o nível de desenvolvimento suficiente para
provocar um movimento fascista de massa, a fim de defender
seus interesses; a isso acrescentaríamos que ele se poderia voltar
para as forças armadas, a fim de alcançar os mesmos fins. Os
dados de Hélgio Trindade sobre a composição social, particular
mente da alta liderança da A.I.B., certamente não a caracterizam
como um partido de grandes ou de pequenos capitalistas,
empresários, ou negociantes. Argumentaríamos que, em muitos
casos, a relativa fraqueza do movimento trabalhista serviria
igualmente como uma boa explicação. Vale observar que, na
década de 30, a despeito da agitação do mundo católico em
contraste com o período após a II Guerra Mundial, não consta
tamos também a emergência de grandes partidos democratas-
cristãos. Se recordarmos que na Europa, particularmente na
Alemanha e mesmo no norte da Itália, antes da Marcha sobre
Roma, os partidos católicos foram competidores melhor suce
didos na conquista das mesmas bases sociais do eleitorado que
os fascistas, esta ausência dos movimentos de massa democrata-
cristãos seria outra indicação do diferente nível histórico-social
do desenvolvimento ibero-americano n. Neste contexto é inte
ressante notar que Trindade mostra como alguns dos círculos
intelectuais e grupos organizacionais nascidos sob a influência
católica, se dividiram entre os que se identificavam com a
A.I.B. e os que eram leais a alguns líderes católicos intelectuais.
Em vista do sucesso do fascismo europeu, particularmente do
nazismo, a Guarda de Ferro e outros movimentos norte-europeus
organizados entre os agricultores, e o fato de que a maioria da
América era ainda rural, caberia perguntar por que os fascistas,
incluindo os integralistas, permaneceram fundamentalmente um
movimento urbano e de pequenas cidades sem apoio significativo
dos agricultores. Neste contexto vem à lembrança a importância
da política clientelística dos distritos rurais pacatos e de difícil
XIII
acesso. Não vamos esquecer que, embora existisse um fascismo
agrário no Vale do Pó, em uma área de agricultura dinâmica e
altamente comercial, onde arrendatários tinham adquirido pro
priedades somente há pouco tempo, o partido fascista, mesmo
depois da tomada do poder, foi quase totalmente mal-sucedido
na conquista de um suporte no rural da península, onde a política
de clientelismo era dominante. Um certo tipo de intelectual e
de estudantes estava entre os dirigentes e fundadores dos movi
mentos fascistas, inclusive a AIB, como mostra Trindade, porque,
em parte, tais grupos são muito sensíveis aos apelos do nacio
nalismo romântico. Num certo número de países da Europa,
esta atitude ficou identificada com a hostilidade às pluto-demo-
cracias hegemônicas na França e na Inglaterra. Certamente os
latino-americanos da década de 30 tinham boas razões para se
sentirem, como muitos jovens alemães e os europeus orientais,
hostis às grandes potências capitalistas internacionais, que eram,
ao mesmo tempo democracias, particularmente os Estados
Unidos. Alguns desses sentimentos foram, obviamente, absor
vidos pela esquerda e pelos movimentos populistas, mas deve
ter havido lugar para alguns núcleos fascistas. Talvez o fato
de que o poder da hegemonia intelectual na América Latina
dos anos 30 estivesse ainda sob a influência da França, enquanto
a hegemonia econômica era exercida pelos Estados Unidos e
pelo Reino Unido, dificultasse a união do nacionalismo cultural
e econômico, sob uma bandeira antidemocrática. É preciso
ressaltar que alguns dos temas que acabamos de apontar, reque
reríam pesquisas mais sérias antes de poderem ser admitidos
mesmo como hipóteses.
Dado o sucesso limitado dos movimentos fascistas, estrita
mente definidos, na América Latina a questão — Por quê o
fascismo no Brasil? — torna-se ainda mais interessante. Qual
quer resposta a esta pergunta, que somente pode ser feita em
uma perspectiva sistemática comparativa, terá que ser baseada
na documentação que o leitor encontra neste livro.
Neste contexto podemos somente esboçar, exploratoriamente,
algumas poucas idéias, que podem ser discutíveis, sobre como
inserir o Integralismo no amplo panorama dos movimentos
fascistas, o que poderia contribuir para explicar seu apareci
mento e relativo sucesso. A AIB apareceu relativamente tarde,
pois só foi fundada na década de 30 e não na de 20. Semelhante
a outros fascismos da Europa ocidental, particularmente o da
Espanha, e a alguns da França e, de certa forma, mesmo ao
fascismo italiano quando de seu surgimento, é um movimento
XIV
que responde mais a uma crise política e cultural do que a uma
crise econômica. Ele atrai mais, em conseqüência disso, um
núcleo iniciai de intelectuais, profissionais e militares, do que
uma pequena burguesia de negociantes, artesãos ou agricultores.
Seu líder, embora marginal ao sistema, não era um estranho ao
processo político, mas possuía certas possibilidades de fazer
carreira política dentro do sistema, antes de tornar-se fascista.
Como o Fascismo Italiano e, de alguma forma, a Falange Espa
nhola, o movimento surge em um meio modernista e intelectual
e, nisso, é bem diferente da atmosfera em que emergiu o Nacio-
nal-Socialismo Alemão. Em contraste com outros fascismos,
excluídos os do sudeste da Europa, onde o nacionalismo e a
religião podiam fundir-se devido às singulares circunstâncias
históricas, como na Romênia, Eslováquia e Croácia, o Integra-
lismo nasceu em um meio católico, intelectual e atraiu forças
sociais, começando a ser mobilizado pelo catolicismo, como na
Legião Cearense do Trabalho. Certamente nunca tomou os
temas neopagãos que encontraríamos na Alemanha e nos fascis
mos do norte da Europa. Sem dúvida, a ausência de um partido
católico, e talvez o fato de que na República os católicos ocupa
ram relativamente uma posição marginal, explica o fascínio de
cunho religioso do movimento. De qualquer forma, não devemos
esquecer o que Trindade nos diz sobre a forte influência inte
lectual secular sobre Plínio Salgado e das complexas relações
entre o Catolicismo e o Integralismo. É tentador ver certas
similaridades entre o Rexismo e a AIB; mas elas podem ser
enganosas se consideramos o contexto no qual Leon Degrelle
se lança na política, a base social posterior de seu movimento
e, provavelmente, a personalidade do líder.
A Iníervista Sul Fascismo de De Felice 12> sublinha nova
mente a ligação entre fascismo e classes médias com um novo
enfoque, sugerindo que as vítimas da depressão não eram as
classes médias decadentes, derrotadas, como muitos estudiosos
do nazismo alemão têm acentuado, mas uma classe média
ascendente nas cidades italianas do norte e no campo que se
voltaram contra a velha classe política e a nascente e ameaçadora
classe trabalhadora. É interessante ver que Trindade também
encontra uma classe média ascendente como um importante
componente do Integralismo. Uma comparação de seus dados
sobre a origem ocupacional com os que temos de outros países,
XV
parece sugerir que os oficiais militares, quase nunca ausentes
em outros movimentos fascistas, eram mesmo mais numerosos
entre os integralistas. Estes dados refletem a maior disponibi
lidade para a política de oficiais no serviço ativo do que na
Europa. Os dados brasileiros confirmam, mais uma vez, o
aspecto de geração jovem que encontramos., praticamente, em
todos os movimentos fascistas. Um dos mais interessantes
achados é a importância do que Trindade chama “média bur
guesia intelectual’’, particularmente, na liderança nacional e
regional. Suspeitamos que o mesmo seria verdade para o início
do fascismo italiano e, ainda mais, para a Falange na Espanha
e, talvez, para a Guarda de Ferro, na Romênia. Em contraste,
os profissionais liberais tendem a ser sub-representados na
liderança do NSDAP. Provavelmente, o mais claro traço da
AIB, numa comparação entre nações, que infelizmente não
podemos documentar tão bem como Trindade o faz para o
Brasil, é a religiosidade dos mais altos níveis de liderança. Em
outros países, particularmente na Alemanha e norte da Europa,
o fascismo parece ter interessado a setores mais secularizados,
se não anticlericais, da sociedade. Seus dados explicam muito
sobre a mudança de Plínio Salgado após a II Guerra Mundial.
Seria fascinante discutir também as interessantes descobertas
sobre ideologia, organização, concepção de liderança, estilo e
ritual numa perspectiva comparativa. Certamente, em todas
essas dimensões, descobrimos afinidades entre o Integralismo
e outros movimentos fascistas. Considerando-se o surgimento,
no Brasil, de uma variedade de grupos regionais com orientação
fascista, é particularmente notável que Plínio Salgado houvesse
tido sucesso em assumir sua liderança. Isto pode ser o fator
básico para a importância do Integralismo, como um movimento
de massa, em comparação com a fraqueza final do fascismo
francês (o qual participa de algumas características do brasileiro),
que permaneceu sempre fragmentado, e mesmo com a inquietante
fusão da Falange e da JONS na Espanha. O retrato que Trindade 6
faz de Plínio Salgado contém algumas das chaves para explicar
esse surpreendente grau de união. Embora ele reivindicasse que
a autoridade vinha do princípio de liderança fascista, do fascínio
carismático, sua personalidade parece ser menos autoritária e,
em conseqüência, aparentemente capaz de alcançar um certo
consenso no grupo razoavelmente heterogêneo da alta liderança
do partido. Lendo sua descrição, lembro-me algumas vezes das
profundas ambivalências que José Antonio Primo de Rivera
sentia em representar o papel de líder fascista. Eles partilhavam
XVI
da mesma ambivalência em relação à violência fascista, a des
peito de sua retórica. Certamente, ambos eram homens dife
rentes de Hitler, Doriot ou mesmo de Mussolini. Suas persona
lidades podem explicar algumas dissidências ideológicas latentes
e emergentes em seus movimentos.
O Integralismo foi uma resposta generacional à crise da
Velha República e às revoluções do início dos anos 30. As
tensões na sociedade brasileira levaram aquela geração para
diferentes canais políticos. Tratava-se mais de uma resposta
cultural e política do que de uma expressão de interesses sócio-
econômicos específicos. Estas tensões poderíam mobilizar muitos
brasileiros, mas não encontraram o tipo de camadas sociais em
crise e desesperados violentos que a guerra tinha criado na
Europa. Eles não eram capazes da mórbida e romântica violência
da Guarda de Ferro. Tampouco no contexto de um regime
semi-autoritário, poderíam transformar-se em um partido eleitoral
de massa. A combinação da violência política, sucesso eleitoral
e alianças com a situação para alcançar o poder esteve fechado
a eles. Uma vez que o autoritário regime de Vargas foi institu
cionalizado no Estado Novo, seu destino estava selado. Neste
caso, a AIB teve o mesmo destino de muitos outros movimentos
fascistas, cujo sucesso foi interrompido por regimes autoritários:
o destino do sindicalismo nacional português, dos movimentos
fascistas do Báltico e, de maneira mais trágica e sangrenta, da
Guarda de Ferro sob o Rei Carol e, mais tarde, sob o Marechal
Antonescu. Na Espanha, a Guerra Civil e a morte dos líderes
máximos do fascismo podia ter-lhes poupado o destino de
Condreanu ou de Plínio Salgado, após a consolidação de Franco
no poder. Seus lugar-tenentes podiam somente tornar-se um
fator a mais no sincrético regime autoritário que ele estabeleceu.
Neste contexto, seria extremamente interessante conhecer mais
sobre o destino final e a carreira dos homens que iniciaram
sua vida política no Integralismo, onde, como e quando eles
representaram um papel na política e vida brasileira, depois
da derrota e desintegração do movimento.
Apesar de tudo, eles eram homens jovens quando o Estado
Novo foi estabelecido, privando-os de suas oportunidades de
levar a cabo seus sonhos. Estou certo de que Hélgio Trindade,
em seus fichários, tem documentação para dizer-nos mais sobre
esse último capítulo da história política, ideológica, social e
psicológica do Integralismo, que ele tão brilhantemente nos relata
neste livro.
XVII
PRÉSENTATION
XIX
expliquant la naissance de PAction Intégraliste, Pauteur fait es-
sentiellement oeuvre d’historien. Les hypothèses explicatives
qu*il avance — en s’appuyant sur 1’analyse des situations histo-
riques, des oeuvres de Salgado, des textes du mouvement — sont
soigneusement pesées et justifiées. Mais 1’auteur fait devantage,
servi, il est vrai, (mais il fallait y penser et avoir la compétence
de le faire), par le fait qu’il a pu interroger de nombreux survi-
vants, militants, dirigeants ou sympathisants du mouvement. 11
a conduit ces entretiens à partir d’hypothèses très precises, se
proposant de “tester” celles de ses hypothèses qui pouvaient être
vérifiées grâce à un traitement rigoreux du matériel d’entretien
et des données statistiques et sociologiques disponibles sur le
personnel de 1’A.I.B. Cette “vérification”, par la analyse techni-
que du discours idéologiques explicite et des attitudes des adhé-
rents, confirme de façon assez éclatant les hypothèses avancées
dans les deux premières parties.
A tous les sens du mot, il s’agit vraiment là d’un travail
scientifique.
Georges LA VAU
Directeur de recherche à la Fondation Nationale
Projesseur à VUniversité de Paris l
des Sciences Politiques
XX
PREFACIO DA P EDIÇÃO
XXI
i
guei até a ser convidado para fazer parte dela, por duas pessoas
referidas nas páginas deste volume: uma, já falecida, compa
nheiro de meus tempos de faculdade de medicina — e que logo
deixaria a sociedade —, constituinte de 1934; a outra teve ful
gurante atuação e foi figura de realce na Ação Integralista Bra
sileira e também é referida nesta obra. Recusei os dois convites,
alegando para a recusa (a meu antigo companheiro de faculda
de), ainda me lembro, “que aquilo cheirava a fascismo”. . .
Mesmo no “edênico Brasil”, como escreveu Mário de An
drade, “a pressão dos novos condicionalismos políticos, poste
riores ao Tratado de Versalhes”, se manifestou. A inquietação
política expressou-se nos levantes, revoltas, “revoluções” espar
sas, de pequeno grupo de militares e civis, que lse sucederam
desde 1922. A revolução de outubro de 1930 foi a nossa en
cruzilhada de vários caminhos: abriram-se os da direita e os
da esquerda, convindo não esquecer também os do meio. . . —
pelos quais embarafustaram sem muito conhecimento os mais
diversos grupos. Nunca se ouviu, como nessa época, falar tanto
em realidade brasileira, aliás muito pouco conhecida. . .
Procuravam todos a chave, a mágica chave, que decifrasse
essa realidade e assim conduzisse o país à glória de seus destinos
e à redenção, embora nesse empenho se conjugassem mais idéias
abstratas, originadas em leituras de autores estrangeiros, que do
conhecimento concreto dessa decantada realidade. Não escapou
a isso, como se verá, o próprio chefe nacional. Este escrevia
possuir uma “intuição secreta” que lhe daria a ‘chave para
decifrar a psicologia do povo brasileiro”. . . Essas idéias vagas,
essa linguagem, por vezes apocalíptica, essas atitudes que me
pareciam carnavalescas, não conquistaram a minha simpatia.
Via naquilo tudo um produto nebuloso e ingênuo, mal digerido,
da então incipiente vulgarização da psicanálise e de resquícios
de bergsonismo mal amanhado — em suma, uma pantomima.
E aos poucos foi fácil verificar que, à medida que crescia
o prestígio maligno do nazi-fascismo, maior arrogância e desen
voltura ganhava o integralismo, dia a dia mais identificado com
os fascismos europeus, arrebanhando adeptos na classe média,
na pequena burguesia. Várias eram, como se verá neste livro,
as motivações de adesão nas variadas regiões do país.
Talvez no início, ao tempo da SEP, os que se tornariam
integralistas eram apenas jovens intelectuais ansiosos por refor
mas necessárias ao país, por uma mais clara compreensão dos
problemas nacionais, anseio esse generalizado na juventude da-
XXII
=
XXIII
Tradução portuguesa do original francês:
l/ACTION INTÉGRALISTE BRÉSILIENNE: un mouvemcnt de type
fasciste des annés 30, Paris, Fondation Nationale des Sciences Politiques,
Cyclc Supéricur d’Etudcs Politiques, Thèse pour le Doctorat soutcnue à
1’Üniversité de Paris I (Panthéon-Sorbonnc), 1971, 606 pp.
xxv
A primeira edição deste livro foi lançada em 1974, em
co-edição com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
XXVI
A JEAN TOUCHARD,
meu mestre, orientador e amigo,
dedico este livro.
XXVII
INTRODUÇÃO
1
O presente estudo pretende responder a duas questões sobre
a Ação Integralista Brasileira: primeiro, que condições históricas
explicam o itinerário ideológico do Chefe e o nascimento do In-
tegralismo? Segundo, qual a natureza deste movimento ideoló
gico que se torna, nos anos 30, o primeiro movimento de massa
no Brasil? Estas interrogações conduziram-nos a analisar o in-
tegralismo sob um duplo ponto de vista: de um lado, conforme
a abordagem clássica dos estudos históricos e ideológicos, e de
outro, utilizando o enfoque psico-sociológico através de entre
vistas semidiretivas e de pesquisa por questionário.
Tentamos, inicialmente, reunir as principais obras teóricas,
textos de propaganda, ensaios ideológicos e periódicos integra
listas. A análise deste conjunto de documentos sugeriu-nos uma
série de reflexões sobre a natureza do movimento. Em função
destas descobertas, estabelecemos um conjunto de hipóteses para
serem testadas através de uma série de entrevistas semidiretivas
com antigos dirigentes nacionais e regionais integralistas. Este
conjunto de depoimentos gravados, bem como uma dezena de
entrevistas de controle, realizadas com personalidades do período
mas que não foram integralistas, conduziu-nos à elaboração de
um questionário para ser aplicado em uma centena de antigos
dirigentes e militantes locais nos Estados onde o integralismo
fora mais forte. Finalmente, para estudar as atitudes ideológicas
dos militantes com o objetivo de analisar os graus de identifica
ção com o fascismo europeu, de radicalismo e de homogeneidade
da propagação ideológica, uma série de proposições atitudinais
foi formulada, tomandp-se como referência o conteúdo teórico
do discurso ideológico do fascismo europeu.
Conseqüentemente, ao delimitarmos nosso trabalho ao es
tudo da origem, formação e natureza da Ação Integralista, esta
mos conscientes de haver postergado a análise de outras ques
tões igualmente importantes.
A primeira refere-se às relações entre o integralismo e o
catolicismo. Todo o conteúdo tradicionalista da ideologia inte
gralista inspira-se, em parte, na doutrina social da Igreja e nos
temas fundamentais da renovação das elites católicas. Embora a
maioria dos intelectuais, católicos não se engajasse pessoalmente
no ‘movimento, a A.I.B. contou com grandes simpatias nos meios
intelectuais católicos e, sobretudo, entre a massa dos praticantes.
Portanto, seria necessário estudar as relações entre a A.I.B.
e a hierarquia católica, já que uma parte dos membros do alto
2
clero não dissimulou sua aprovação à Ação Integralista, nem
sua tolerância à participação de membros do clero no integralismo.
A segunda questão diz respeito às relações entre o integra
lismo e as forças armadas. Os testemunhos e documentos reve
lam que não era pequeno o número de militares integralistas.
A divagem ideológica entre os “tenentes” explica a participa
ção dos militares nos movimentos de direita e de esquerda. En
tretanto, a forma de recrutamento dos oficiais não era sempre
pública, porque, em função de sua condição profissional, eles
eram dispensados do juramento ao Chefe Nacional e, em conse-
qüência, organizavam-se separadamente, nas casernas ou nos
navios de guerra.
A terceira questão liga-se às relações entre o integralismo
e a imigração alemã e italiana no Sul do Brasil. Sobre este tema
não basta somente constatar a receptividade dos descendentes de
imigrantes ao integralismo mas torna-se necessário elucidar ou
tros aspectos mais complexos, relacionados com o funcionamen
to, no Brasil, na mesma época, das secções do Partido Fascista
italiano e do Partido Nacional Socialista alemão.
Resta ainda um problema importante: trata-se da análise
comparativa entre integralismo como forma de fascismo de ins
piração européia e outros tipos de movimentos “fascistas” latino-
-americanos. Quais são as diferenças entre certas formas, na
expressão de Lipset, de “fascismo de esquerda” (peronismo e
getulismo) e outros movimentos de tipo fascista como, por exem
plo o Partido Nacional Socialista do Chile, de inspiração nazista,
e a Falange Socialista Boliviana, de inspiração espanhola?
Nosso trabalho divide-se em três partes: a primeira,’“Emer
gência do Chefe”, analisa o período de 1918 a 1930, durante
o qual a mutação da sociedade brasileira se esboça e o Chefe
integralista, Plínio Salgado, amadurece intelectual e politicamente;
a segunda, “Gênese da Ideologia”, concerne ao período pré-
-integralista de 1930 a 1932, marcado pela Revolução de 1930;
enfim, a terceira, “Natureza do Movimento”, é consagrada in
teiramente ao estudo dos militantes, da organização e da ideo
logia integralistas.
Na primeira parte, são analisados os fatores que explicam
o significado da evolução ideológica do Chefe integralista con
forme seu itinerário político na sociedade em transição dos anos
20. Não se pode compreender sua evolução, desde sua adesão
ao sistema tradicional republicano até sua ação ideológica inte
gralista, sem inseri-lo na história do após-glierra. Sobre o pe-
3
riodo, nossa hipótese é que a revolução literária e artística mo
dernista terá sobre Salgado uma influência mais importante do
que a contestação política ligada às insurreições “tenentistas".
cujo ciclo termina com a vitória dos revolucionários de 1930.
A segunda parte é dedicada à fase decisiva para a com
preensão das causas imediatas do integralismo. Ela representa
o momento de ruptura afetiva de Plínio Salgado com a Velha
República e sua tomada de contato com a experiência fascista
européia. Pretendemos elucidar as relações entre a evolução po
lítica brasileira e o contexto internacional. Nossa hipótese é que,
embora não se possa explicar o integralismo sem a ascensão
fascista na Europa, a evolução histórica nacional, a partir da
Revolução de 30, proporcionou condições internas favoráveis ao
nascimento da A.I.B.
A terceira parte, finalmente, destina-se a definir a natureza
da Ação Integralista, testando, de forma sistemática, a hipótese
geral sobre o conteúdo fascista do integralismo, resultante da
conjugação entre um modelo de referência externo fascista e con
dições históricas nacionais favoráveis. As hipóteses particulares
para verificar a validade da proposição geral são as seguintes: o
integralismo seria um movimento fascista em função da compo
sição social dos seus aderentes; das motivações de adesão de
seus militantes; do tipo de organização do movimento; do con
teúdo explícito do discurso ideológico; das atitudes ideológicas
de seus aderentes; enfim, do sentimento de solidariedade do mo
vimento com relação à corrente fascista internacional.
4
PRIMEIRA PARTE
EMERGENCIA DO CHEFE
5
CAPÍTULO I
A SOCIEDADE EM TRANSIÇÃO DA
DÉCADA DE 20
7
ral), com as transformações que ocorrerão a partir de 1920. al
teram suas bases no plano estrutural e ideológico, pois, como
observa Ferreira Lima, “a intensa industrialização ocorrida no
primeiro após-guerra não teve apenas repercussões materiais,
porém também ideológicas” (’).
1 a MUDANÇA SÔCIO-ECONÔMICA
8
tituição das importações”). Embora a atividade econômica do
minante no após-guerra esteja ainda ligada à exportação do café,
o marco divisório entre os dois modelos constitui a crise de 1929.
No fim da década de 20, portanto, o pólo dinâmico da economia
se desloca na direção do mercado interno, reforçando o desen
volvimento industrial e urbano (4).
O segundo efeito é a explosão das reivindicações operárias
e da luta social. A formação de um operariado constituído em
grande parte pela imigração estrangeira provoca nos principais
centros urbanos, sob a ação de vanguardas operárias anarquistas,
as primeiras agitações sociais. As greves deflagradas em São
Paulo e no Rio, durante os anos de 1918 e 1920, provocam a
eclosão da questão social e os primeiros sinais do desenvolvimen
to de uma consciência proletária. Desde as greves do após-guer
ra e da fundação do P.C.B., em 1922, até a criação da Aliança
Nacional Libertadora (A.N.L.) e a revolta comunista, em 1935,
há uma lenta progressão da luta social e política inspirada, num
primeiro momento, no anarquismo e, mais tarde, no marxismo.
Este novo elemento que se incorpora ao sistema da Velha Repú
blica influenciará a formação ideológica de Salgado e, mais tarde,
o desenvolvimento da Ação Integralista.
Durante o período da hegemonia agrário-exportadora, o café
torna-se o principal produto econômico, sucedendo aos ciclos de
produção do açúcar, da borracha e do algodão (5). No entanto,
o aumento contínuo da produção cria uma ameaça permanente
de superprodução: “A elasticidade da oferta de mão-de-obra e a
abundância de terras, que caracterizavam os países produtores de
café, constituíam clara indicação de que os preços desse artigo
9
tenderíam a baixar a longo prazo... (6). Tentando superar os
riscos constantes da superprodução e as contrações do mercado
internacional, os produtores de café de São Paulo, Minas Gerais
e Estado do Rio estabelecem a convenção de Taubaté, em 1906,
com o objetivo de valorizar e proteger o seu produto, equilibran
do o mercado através da compra e estocagem dos excedentes
com base em empréstimos estrangeiros. Esta situação não sofrerá
modificações fundamentais até a crise de 29.
No período anterior à Primeira Guerra, a acumulação capi
talista se processa com lentidão (7). Nesta época a industriali
zação se caracteriza pelo surgimento de pequenas empresas semi-
-artesanais e dispersas, produzindo basicamente instrumentos agrí
colas, produtos alimentares, vestimentas e móveis. A indústria
de infra-estrutura é praticamente inexistente: o setor metalúrgico
é muito reduzido e o mecânico se limita à montagem ou à fabri
cação de material agrícola. Todavia, as dificuldades geradas pela
Primeira Guerra para a economia tradicional estimulam a adoção
de uma política de substituição das importações que provocará
o segundo surto industrial. Do após-guerra à crise de 1929, a
indústria atravessará uma fase de importante desenvolvimento
quando o número de estabelecimentos industriais duplica e a
grande indústria começa a ser implantada (s).
O desenvolvimento industrial se acelera após as pequenas
crises de 1920 e 1924, apesar da política deflacionista do gover-
(6) Ibid.
(7) “O capital industrial era originário do capital agrícola; a trans
ferência deste capital para a indústria não foi feita sempre diretamente,
mas pela mediação do investimento realizado no setor de serviços c no
setor comercial” PINHEIRO (Paulo Sérgio), La Fin de la Première Répu-
blique au Brésil; crise politique et révolution (1920-1930), Paris, thèsc pour
le doctorat de rccherches, F.N.S.P., pp. 57-58.
(8) “Sob o Império existem apenas 600 estabelecimentos industriais.
Com a República, a indústria recebe um impulso considerável, uma vez
que, entre 1890 e 1914, quase 7.000 indústrias são criadas e mais de 6.000
de 1915 a 1919. O rccenseamento industrial de 1907 registra apenas 3.258
estabelecimentos industriais, com 150.000 trabalhadores, enquanto que, em
1920, o número de indústrias é de 13.336, com 275.164 trabalhadores.”
WERNECK SODRÉ (Nelson), História da Burguesia Brasileira, op. cit.,
p. 268 e WERNECK SODRÉ (Nelson), Formação Histórica do Brasil,
São Paulo, Brasiliense, 1964, p. 312: “Pela primeira vez, os produtos in
dustriais tornam-se significativos na pauta de exportações: a percentagem
dos produtos manufaturados, em 1913, é de 0,9%; em 1915 passa para
3%; em 1916 a 6%; em 1917 a 16%; em 1918 a 29%; e em 1919 a 12%.”
CARONE (Edgard), A República Velha (Instituições e Classes Sociais),
São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1970, p. 79.
10
no Washington Luiz, em 1926 (°). Contudo, a crise da economia
e do café se agrava. A política de estocagem provoca uma forte
pressão inflacionária. Os maiores investimentos em estoque se
realizam entre 1927 e 1929, período de entradas maciças de
capitais privados estrangeiros no país (10). A coincidência entre
a afluência de capitais privados e os empréstimos destinados a
financiar o café criam uma situação de câmbio extremamente fa
vorável ("). A economia predominantemente exportadora sofre,
porém, o impacto dissolvente da crise de 29, fato que provocará
a decadência do sistema agrário da Velha República e abrirá
perspectivas ao fortalecimento da economia industrial orientada
para o mercado interno, dentro do processo de substituição das
importações.
A passagem no após-guerra, da pequena indústria e do ar
tesanato à média e grande indústria, gera um rápido processo de
urbanização em torno das grandes cidades (12), e, ao mesmo
tempo, a formação de um proletariado urbano. Os operários da
indústria são recrutados principalmente entre os imigrantes de
origem européia, mas também entre os migrantes rurais oriundos
11
das regiões mais atrasadas do país (13). Os operários se con
centram em maior número mais nos Estados de São Paulo e
Rio de Janeiro do que nos Estados do Rio Grande do Sul. Mi
nas e Pernambuco, e passam de 54.164, em 1889, a 159.600 em
1910; de 275.512, em 1920, para 450.000, em 1930.
Organizações de trabalhadores, sob a forma de Ligas e
Uniões, existem desde 1870. Será, porém, o Primeiro Congresso
Socialista, dirigido por França e Silva, no início da República,
que irá abrir caminho ao surgimento de um Partido Socialista,
em 1892. Os ferroviários, os tipógrafos e os trabalhadores de
transportes urbanos são as primeiras categorias de trabalhadores
que se organizam. Nesta época, porém, predominam associações
de base exclusivamente urbana, reunindo intelectuais, membros
das classes médias que tentam atrair elementos da classe operá
ria em formação (14).
Diante da multiplicidade de organizações de trabalhadores
dispersas geograficamente, os dirigentes preocupam-se com a
unidade do movimento operário. No Rio, os trabalhadores rea
lizam, em 1903, a primeira unificação regional, com a fundação
da Federação Operária Regional Brasileira. Em 1906, procuram
unificar o conjunto das organizações operárias através do Pri
meiro Congresso de Trabalhadores Brasileiros.
(13) Os dados de rccenseamento de 1920, apresentados por Azis Si-
mâo, mostram a importância da proporção de trabalhadores estrangeiros:
12
Nesta fase, a ideologia dominante no movimento trabalha
dor é o anarco-sindicalismo, devido ao afluxo de trabalhadores
de origem européia (italianos, espanhóis e portugueses) para os
grandes centros urbanos. Por ocasião do Primeiro Congresso
de Trabalhadores, duas tendências se afirmam: uma socialista e
outra anarquista. Esta última quer limitar-se a reivindicações
econômicas e se opõe à formação de um partido político de tra
balhadores. A maioria dos dirigentes operários, porém, prefere
seguir a tática anarco-sindicalista (15).
Apesar das greves isoladas, como a da Companhia Paulista
de Caminhos de Ferro (1902), que obrigaram o governo a ado
tar a legislação antianarquista em vigor na Europa, a questão so
cial só irá tornar-se aguda após a Primeira Guerra. A greve,
que simboliza a irrupção violenta das reivindicações operárias,
ocorre em São Paulo em julho de 1917. Ela nasce da luta pelo
aumento salarial de 20%, desencadeada pelos operários de uma
indústria da capital. Esta greve provocará a união dos trabalha
dores, originando um clima de agitação social sem precedentes.
Os trabalhadores, vendo rejeitadas suas pretensões, ampliam seu
movimento. Sob a liderança anarquista preponderante, durante
uma dezena de dias eles ocupam a cidade e organizam manifesta
ções diante de uma burguesia aterrorizada. O governo do Estado
faz um apelo à polícia e à Força Pública contra os grevistas, mas
a eficácia de sua ação é dificultada, em grande parte, pela simpa
tia de uma fração das forças da ordem à causa dos trabalhadores.
Igualmente, no Rio, greves violentas eclodem entre os anos 1918
e 1920: os operários da construção civil conquistam a jornada
de 8 horas; os conflitos na indústria têxtil e dos transportes marí
timos provocam choques e vítimas entre os trabalhadores e os
policiais. Todos esses movimentos reivindicatórios são revelado
res de uma inusitada tensão social.
Entretanto, como observa Paulo Sérgio Pinheiro, nesta fase
de luta social, as lideranças operárias não levam em consideração
a situação específica da fase de desenvolvimento econômico do
país. A maior parte das suas reivindicações limita-se a melhoria
das condições de trabalho, ou, então, exprime uma atitude de
espera pela revolução social, tentando desenvolver uma tática em
(15) “Até 1920, apesar do movimento operário ativo ser mais de
anarquistas e anarco-sindicalistas, os católicos, os socialistas e os sem
orientação política também participam do funcionamento destes órgãos;
depois de 1920, os comunistas lutarão para impor sua tática e dominar
os sindicatos.” CARONE (Edgard), A República Velha (Instituições e
Classes Sociais), op. cit., p. 196.
13
que a greve ocupa o principal papel. Entre estas duas formas
de comportamento, não há a mediação de uma análise concreta
da formação social brasileira (10).
Neste clima ideológico dominado pelo anarquismo, nasce
oficialmente o P.C.B. (17). A organização do partido se inicia
com um Congresso realizado em março de 1922, um ano após
a fundação do “Grupo Comunista” do Rio de Janeiro, com o
objetivo de defender o programa da Terceira Internacional (18).
O P.C.B. se desenvolve lentamente, superando as contradições
internas, sem jamais conseguir tornar-se um movimento que reu
nisse uma grande massa de militantes; seus efetivos não ultra
passam os de algumas centenas de membros (10). Entretanto,
sua influência ideológica é bem maior, uma vez que a revista
mensal Movimento Comunista tem uma tiragem de 1.800 exem
plares e, em 1929, o semanário A Classe Operária tira 30.000
exemplares, o que não é muito, numa época em que existem mais
de 400.000 trabalhadores no país. A organização do P.C.B.
(16) PINHEIRO (Paulo Sérgio), op. cit., pp. 95-96.
(17) Um primeiro partido comunista fora fundadoi em 1919, pelo
anarquista José OITICICA, na época em que o P. C. B. marxista-lcninista,
nasce, em 1922, seu secretário-geral Astrojildo PEREIRA, vem também do
movimento anarquista.
(18) “O Congresso de fundação do Partido não foi coisa realizada
de improviso, mas resultou de um trabalho de preparação que durou
cerca de 5 meses (...). Tinha-se em vista estabelecer certos pontos de
apoio nas regiões onde havia alguma concentração de massa operária.
Compreendia-se, por outro lado, que o Partido devia ter um caráter defi
nido de partido político de âmbito nacional.” PEREIRA (Astrojildo), A
Formação do P.C.B., Rio, Editora Vitória, 1962, pp. 51-52. No Con
gresso de fundação do Partido Comunista participam nove antigos mili
tantes anarco-sindicalistas (dois intelectuais e sete trabalhadores e arte
sãos), resultando da fusão de vários grupos, pré-existentes. Os mais im
portantes são: “União Maximalista de Porto Alegre” (1918); “União
Operária Primeiro de Maio”, de Cruzeiro, no Estado de São Paulo (1917),
o grupo “Claridade” do Rio (1921) e o “Círculo de Estudos Marxistas do
Recife”. PINHEIRO (Paulo Sérgio), op. cit., pp. 136-141.
(19) “É preciso observar que uma das razões da fraqueza de sua
implantação é que ele se encontra freqücntemente na clandestinidade.
O P. C. B. é legalmente reconhecido entre as duas guerras, somente de
março a julho de 1922, e durante alguns meses em inícios de 1927. Se
gundo um rccenscamento da Terceira Internacional, o partido teria,
logo após a sua fundação, 500 membros; a partir de 1923, quando deve
entrar na clandestinidade, o número de seus aderentes não ultrapassa 350.
Estas cifras revelam sua fraqueza, quando comparadas com os efetivos de
outros partidos comunistas latino-americanos mais antigos: na Argentina,
3.500 membros e no Chile 2.000, entre 1922 e 1924; no México, passam
do 500, cm 1922, a 1.000, em 1924; e no Uruguai, como no Brasil, caem
de 1.000 a 600.” Ibid., p. 154.
14
permanecerá mais de uma década sem progresso visível. O pró
prio secretário-geral reconhece, em 1934, que a direção do Par
tido não havia conseguido superar as contradições ligadas à sua
origem anarquista e que a propaganda entre os trabalhadores
era, praticamente, ineficaz. A partir de 1925, no entanto, novos
acontecimentos irão proporcionar um novo alento ao Partido:
de início é a aparição do jornal A Classe Operária; mais tarde, a
adoção da tática de “frente única”, preconizando a união mo
mentânea do proletariado com a pequena e a grande burguesia
industrial. Por ocasião do segundo Congresso, o jornal A Nação
torna-se o órgão do partido e muito embora tenha havido um
relativo crescimento, estas conquistas não aumentaram sensivel
mente a influência do Partido Comunista sobre o operariado (20).
Portanto, apesar da eclosão da luta social no início da dé
cada de 20 e dos esforços de unificação do proletariado em orga
nizações sindicais ou partidos socialistas, o movimento operário
participará apenas de uma maneira marginal na transformação
do sistema político em 1930. É nesta situação de isolamento,
conseqüência do período anterior de resistência, de sua compo
sição e de sua “incapacidade conjuntural” de agir politicamente
enquanto força social, que o proletariado se encontrará no início
dos anos 1930” (21).
15
populares. A burguesia, assim como o proletariado, não terá um
papel político importante durante este período (23). A luta
política se circunscreve basicamente, de um lado, a conflitos en
tre tendências e contradições no seio da oligarquia rural domi
nante e, de outro, às insurreições desencadeadas pelos jovens
oficiais contestadores. Estes combatem o monopólio do poder dos
partidos republicanos regionais e dos chefes políticos que re
correm à fraude eleitoral e às intervenções militares nos Estados
a fim de controlar o regime de acordo com seus interesses.
O primeiro fator da luta política são as divergências oligár-
quicas. As dissidências na oligarquia tiveram quase sempre como
origem as lutas em torno da sucessão presidencial. O problema
consistia em equilibrar os interesses de cada Estado, na distri
buição das candidaturas à Presidência e Vice-Presidência da Re
pública, no estreito quadro da alternância do poder entre os Es
tados de São Paulo e Minas Gerais.
Até 1920, a situação permanece inalterada: nos Estados do
“Nordeste, a aristocracia do açúcar e os coronéis do sertão do
minam a massa amorfa e miserável dos campos. Pouco populo
sos e eleitoralmente insignificantes (. .), contentavam-se com a
vice-presidência (...). A Bahia, num entusiasmo nacional, lan
çou a candidatura dissidente de Rui Barbosa que foi superada
por Hermes da Fonseca. O Rio Grande do Sul, único que po
dería fazer sombra à política do “café com leite”, permanecia
fechado a todo problema sucessório, para evitar da parte do
governo federal qualquer tentativa de intervenção, nos decênios
governamentais de Borges de Medeiros” (2I).
Entretanto, as divergências internas nas oligarquias de São
Paulo e Rio Grande do Sul tiveram, mais tarde, conseqüências
políticas importantes: “A dissensão de São Paulo, opondo-se à
Política dos Governadores, é a mais complexa delas, pois anun
cia o início de uma cisão da classe latifundiária e o aparecimen
to de uma corrente liberal burguesa” (25). Ela provoca a rup-
16
tura no interior do Partido Republicano Paulista e a criação, em
1926, do Partido Democrático. A oposição liberal ao partido re
publicano, dominante no Rio Grande do Sul, tem raízes antigas
nas revoluções e lutas políticas do passado e se traduz pela re
sistência contínua do Partido Libertador, fundado em 1928, por
Assis Brasil, contra a longa dominação dos governos positivistas
de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros.
O segundo fator importante na evolução política do após-
-guerra é a tomada de consciência política das classes médias ur
banas oriundas da burocracia, do comércio, das pequenas em
presas e do exército. Elas se revoltam e se insurgem contra o
sistema político existente e manifestam o desejo de renovação
dos costumes políticos. Esta contestação contra o regime se in
corpora ao movimento “tenentista” dirigido por jovens oficiais
das Forças Armadas: “O elemento comum a todas as rebeliões
dos anos 20, é a intenção de provocar, através de um golpe de
Estado, mudanças no seio do Estado, sem criar condições para
que as massas populares intervenham no processo de mudança
política” (2G). Seu programa pode ser resumido no slogan “Re
presentação e Justiça” (27).
O ciclo das rebeliões “tenentistas” começa em julho de 1922,
com a insurreição da Fortaleza de Copacabana. A ação revo
lucionária se estende aos Estados do Rio e Mato Grosso e ter
mina pela ação heróica de um punhado de jovens nas areias de
Copacabana.
17
O descontentamento cresce. Os “tenentes” organizam a Re
volução de 1924, que devia rebentar simultaneamente em todo o
país; no entanto, ela eclodirá, em julho, somente no Estado de
São Paulo. Os rebeldes controlam a capital durante mais de um
mês e o governo é obrigado a se refugiar nos arredores. Mais
tarde, os revolucionários, obrigados a abandonar suas posições,
retrocedem em direção ao Paraná na expectativa da irrupção do
movimento no Rio Grande do Sul. Em outubro, sob a liderança
do Capitão Prestes, a revolução eclode no Sul e também nos Es
tados de Sergipe, Mato Grosso, Pará e Amazonas. O movimento
de 1924 não terá sucesso, salvo na Amazônia, onde se instala,
durante um mês, a “Comuna de Manaus”.
As dificuldades encontradas pelos rebeldes gaúchos os obri
gam a recuar em direção do Estado do Paraná, onde se unem
às tropas paulistas, em abril de 1925. Da junção das forças re
volucionárias e da vontade de prosseguir a luta, nascerá a legen
dária “Coluna Prestes”, formada por mais de mil homens, sob
o comando do General Miguel Costa e do Capitão Luiz Carlos
Prestes. Pretendendo manter viva a flama da revolução, a Co
luna percorre, até fevereiro de 1927, quase vinte e cinco mil qui
lômetros, tomando parte em mais de cinqüenta combates, para
internar-se, finalmente, na Bolívia. Recente estudo (2S) mostra
que “a situação especificamente profissional do grupo militar de
terminou a forma dos movimentos políticos por eles liderados,
enquanto a sua condição de integrante das camadas médias ur
banas (e, -como tal, preso ideologicamente às oligarquias) esta
beleceu os limites do seu conteúdo”.
O processo revolucionário dos anos 20 será eficaz apenas
com o triunfo da Revolução de 30, que é o ponto de intersecção
entre o processo de dissidência interna das elites e a radicaliza
ção política das classes médias urbanas. Todavia, como observa
Marques Saes, “o que conferiu um caráter dramático às revoltas
‘tenentistas' não foi tanto o seu programa político, mas o fato
de não se recusarem a utilizar em escala-nacional — isto é con
tra o próprio Poder central — um recurso com o qual estavam
profissionalmente familiarizados, a força armada. O emprego
desse recurso claramente extra-sistêmico atemorizou, pelo seu
radicalismo, inclusive as próprias dissidências oligárquicas, embo
ra os impulsos aparentemente radicais do grupo militar se colocas-
(28) MARQUES SAES (Decio), O Civilismo Camadas Médias Ur
banas na Primeira República Brasileira (1889-1930), Campinas, Cadernos
do IFCH (UNICAMP), n.° 1, 1973, pg. 81.
18
sem a serviço de programas políticos liberais, defensores do apri
moramento democrático” (29).
3 — A MUTAÇÃO IDEOLÓGICA
a — O despertar nacionalista
Um dos traços da evolução ideológica do após-guerra é o
renascimento do nacionalismo. Como observa Cruz Costa, desde
o fim do século XIX “se assiste a um movimento de integração
19
da inteligência, da cultura, das artes e letras na realidade bra
sileira” (31). ■
A reconciliação dos intelectuais com a realidade do país
revela-se simbolicamente com a publicação, em 1902, de Os
Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1902). A partir deste mo
mento, as elites intelectuais tomam consciência de sua alienação
com relação à situação de abandono das populações das regiões
centrais do país. O drama da população de uma pequena locali
dade do sertão, fanatizada por um líder místico, revela às cama
das intelectuais europeizadas a situação do homem brasileiro do
interior. Euclides da Cunha reuniu em sua obra ‘‘toda essa tra
dição em favor da valorização do nacional na literatura" e após
Os Sertões “romperam-se todas as barreiras à plena afirmação
do nativismo brasileiro” (32).
Dois outros precursores do nacionalismo do após-guerra de
vem ser referidos: Monteiro Lobato e Alberto Torres. O pri
meiro, escritor de grande talento e ensaísta, representa a vanguar
da literária da época, tornando-se o profeta solitário do Moder
nismo. Oswald de Andrade afirma que Monteiro Lobato “foi
o Gandhi do Modernismo. Jejuou e produziu, quem sabe, nesse
e noutros setores, a mais eficaz resistência passiva de que se pos
sa orgulhar uma vocação patriótica” (33). O nacionalismo recebe
de Lobato um de seus símbolos mais característicos através do
personagem subalimentado e apático do “Jeca Tatu”, encarnan
do o homem brasileiro abandonado e, ao mesmo tempo, os pri
meiros impulsos na luta nacionalista em favor do petróleo.
O segundo, ensaísta, político e sociólogo, publica dois livros,
entre 1914 e 1915, contendo reflexões sobre a reforma brasileira:
Organização Nacional e O Problema Nacional Brasileiro. Con
siderado na época “o melhor intérprete do movimento antiimpe-
rialista” (34), dirige contra a dominação estrangeira um “proteste
enérgico concitando o governo a desviar sua atenção dessa ilu
sória civilização litorânea e varrer do território nacional o capi
talismo cosmopolita que ele considerava o grande problema na-
20
cional” (3B). Pouco lido antes da guerra, Alberto Torres será
redescoberto pela geração intelectual e política dos anos 30, tor
nando-se, aliás, um dos autores mais admirados pelos integra
listas (36).
O período de Guerra de 1914/18 caracteriza-se por uma
crescente consciência nacionalista de setores significativos da in
telectualidade brasileira: “O desencadeamento da primeira guer
ra mundial deu a não poucos países a consciência de sua fraque
za ou da necessidade, da revisão de sua política, para que não
viessem a soçobrar no torvelinho, de que ninguém se considerava
distanciado. No Brasil, uns achavam que o remédio estaria na
incorporação imediata doi país a um dos grupos de contestado-
res, para ir buscar, nas armas alheias, a segurança ou a proteção,
que a nação não poderia esperar de seus próprios recursos (. . .)
outros entendiam que, antes de tudo, era preciso fortalecer o
Brasil, para que pudesse aspirar a uma posição de independên
cia e autonomia” (37).
Constata-se o despertar nacionialista através do surgimento
quase simultâneo de diversas revistas e movimentos de cunho
chauvinista. Os periódicos nacionalistas mais representativos da
época são a Revista do Brasil (1916), Braziléa (1917) e Gil Blas
(1919), cujo artigo-programa propunha-se a combater a “ameri-
canismofobia” e os abusos do “polvo canadense” (3S). Em 7 de se
tembro de 1916 funda-se a Liga de Defesa Nacional, sob a dire
ção de Pedro Lessa e Miguel Calmon, em decorrência da cam
panha de mobilização em favor do serviço militar obrigatório,
desencadeado por Olavo Bilac. Sob a influência ainda da
pregação do escritor, são fundados, em 1917, a Liga Nacionalista
e o Centro Nacionalista por iniciativa dos estudantes universitá-
(35) VILELA LUZ (Nícia), op. cit., p. 92.
(36) “No Brasil, a primeira obra de estrutura sociológica a despeito
de seus objetivos de natureza política é a de Alberto Torres, na primeira
década deste século’’, CARNEIRO LEÃO (a.), Panorame Sociologique du
Brésil, Paris, PUF, 1953, p. 29. Alberto Torres é, para Oliveira Vianna, a
principal figura da geração do início do século, porque “revelou uma
i visão mais compreensiva e mais brasileira da nossa vida íntima de
povo (...); nenhum, como ele, consolidou um tão vasto corpo de conclu
sões positivas, práticas, experimentadas sobre a verdadeira orientação da
nossa política e dos nossos governos”. OLIVEIRA VIANNA (f.j.),
Problemas de Política Objetiva, São Paulo, Editora Nacional, 1930,
pg. 233 e 234.
(37) LIMA SOBRINHO (Barbosa), Presença de Alberto Torres,
Rio Civilização Brasileira, 1968, p. 387.
(38) Gil Bras era o periódico da propaganda nativista, dirigido
por Alccbíades Dclamarc Nogueira da Gama.
21
rios de São Paulo (3B). Em abril de 1919, organiza-se, no Rio,
a Propaganda Nativisía, “sociedade de caráter eminentemente po
lítico”, que “agirá sempre de acordo com os ditames do
mais puro e acrisolado patriotismo, sob a evoção poderosa
do imortal patrono Floriano Peixoto”. O programa do mo
vimento, (do qual fazem parte como fundadores Álvaro Bo
milcar, Jackson de Figueiredo, Tasso da Silveira), procla
ma os seguintes ideais econômicos, políticos e sociais:
“emancipação financeira e econômica do Brasil”; “nacio-
nalização absoluta da imprensa e do comércio de retalho”;
“desenvolvimento das idéias republicanas e democráticas”; “au
mento para oito anos do período presidencial”; “criação de um
Conselho de Notáveis, incumbido do estudo dos problemas na
cionais”; “despertar o sentimento de solidariedade entre as na
ções americanas, combatendo, conseqüentemente, a influência la
moderna civilização européia”; “mudança da capital do país
para o planalto de Goiás”; “vedar ao estrangeiro os exercícios de
cargos eletivos e empregos públicos, mesmo quando se trata de
indivíduos naturalizados”; restringir “ao estrangeiros a capaci
dade aquisitiva de bens e imóveis”; combater “a projetada Con
federação Luso-Brasileira”; intensificar nas escolas o “ensino cí
vico, a propaganda dos ideais nativistas”; “provocar a reivindi
cação dos direitos do proletariado de acordo com a orientação
nacionalista”. Um ano mais tarde, em fevereiro de 1920, o conde
de Afonso Celso, funda, com a finalidade de federar os movi
mentos nacionalistas, a Ação Social Nacionalista, definida como
“instituição defensiva de estudos sociais e históricos, sem caráter
político nem religioso, que “se torna o movimento de cúpula do
nacionalismo, em cujo seio se reúnem mais de 50 associações
(39) A campanha civilista de Bilac desencadeou-se por todo o Bra
sil, entre outubro de 1915 e fins de 1916, sendo que seus discursos estão
reunidos no volume intitulado A Defesa Nacional, publicado cm 1917 pela
Liga de Defesa Nacional. A crise revolucionária de 1924 cria um impasse
às campanhas patrióticas: “Arthur Bemardes fecha a Liga Nacionalista
que renasce com novas formas na Liga do Voto Secreto, no Partido da
Mocidade”, in CARONE (Edgard), A República Velha (Instituições e
Classes Sociais), op. cit., p. 314. Esta intensificação do sentimento nacio
nalista é indissociável do nacionalismo produzido pelo movimento estéti
co modernista. Na opinião de Barbosa Lima Sobrinho “a figura central,
no movimento nacionalista dessa época, é o escritor Álvaro Bomilcar,
que já em 1916 publica um livro, O Preconceito da Raça no Brasil, para
a defesa da mestiçagem que ele não admitia como fator de inferioridade
do povo brasileiro. Mais tarde, publicaria, na Editora Leite Ribeiro, A
Política no Brasil ou o Nacionalismo Radical”, in LIMA SOBRINHO
(Barbosa), op. cit., pp. 476 e 477.
22
cívicas”, inspirada nos ideais da Propaganda Nativista, nos Man
damentos do Patriota Brasileiro e no jornal Gil Blas (40).
O editorial do primeiro número da Revista do Brasil, di
vulgado em janeiro de 1916 sob a responsabilidade de seus
fundadores, Luiz Pereira Barreto, Júlio Mesquita, Alfredo Pu-
jol e' Jackson de Figueiredo (41) (este último, que seria fi
gura central da renovação católica, fundando o Centro D.
Vital e a revista A Ordem em 1922, foi o autor do programa
da Ação Social Nacionalista), caracteriza o tom nacionalista da
publicação: ‘‘O que há por trás do título desta revista e dos
nomes que a patrocinam é uma coisa simples e imensa: o desejo,
a deliberação, a vontade firme de constituir um núcleo de pro
paganda nacionalista. Ainda não somos uma nação que se conhe
ça, que se estime, que se baste, ou, com mais acerto somos uma
nação que ainda não teve o ânimo de romper sozinha para a
frente, numa projeção vigorosa e fulgurante da sua personalida
de. Vivemos, desde que existimos como nação, quer no Império,
quer na República, sob a tutela direta ou indireta, se não polí
tica, ao menos moral do estrangeiro.” Mais adiante, num artigo
sobre “o nacionalismo da arte”, o sentido do nacionalismo defi
ne-se melhor: “Nós não somos um povo inferior, nem decadente.
Apenas não atingimos ainda a maturidade de nação, no sentido
científico do vocábulo, isto é, de agremiação política e social,
tendo um pensamento, um sentir, uma ação, que sejam verda
deiramente a síntese da energia coletiva” (42).
O nacionalismo torna-se mais radical com a revista Braziléa,
lançada no Rio sob a direção de Álvaro Bomilcar e Arnaldo
Damasceno Vieira, desfraldando “o pendão do brasileirismo pu
ro e integral”. Embora tenha passado por duas fases (uma de
1917 a 1918 e a outra de 1931 a 1933), o elemento constante nesta
23
publicação, como observa Lima Sobrinho, é “um nacionalismo
mais exaltado do que coerente” (43). A revista combate a inter
ferência dos portugueses na vida do país e defende uma política
exclusivamente brasileira.
O artigo de lançamento da revista, intitulado “Nosso Pro
grama”, define seu cpnteúdo nacionalista. A condição exigida
para colaborar na revista é que os artigos “sejam exclusivamente
inspirados nos moldes do puro patriotismo, e sirvam à propa
ganda das nossas criações sociais, artísticas, científicas e econô
micas”. Este nacionalismo é provavelmente menos abran
gente do que o de Alberto Torres porque enfatiza, sobretudo, a
atitude antilusitana existente no Rio de Janeiro e em outras ca
pitais, onde os portugueses tinham uma influência marcante:
“Brasileiros! Precisamos criar uma pátria para nós. E, portanto,
todo esforço deve convergir para libertar-nos da pesada ditadura
lusitana que se exerce disfarçadamente pelo poder do ouro e pela
força mágica da imprensa. Ditadura intelectual e material” (“).
O nacionalismo do após-guerra contém também uma dimen
são econômica. A guerra reVela a dependência econômica das
nações marginais com relação ao sistema capitalista internacio
nal. Este nacionalismo que busca suas raízes no início da in
dustrialização do país, em fins do século XIX (,5), torna-se
mais radical pela ação de Alberto Torres (46), afirmando-se, fi
nalmente, no após-guerra, na luta pela proteção da indústria
nacional contra a concorrência estrangeira (,7).
Este nacionalismo apresenta também uma forte tendência à
exaltação do civismo. As Ligas Nacionalistas têm uma maior
24
penetração popular do que a Ação Social Nacionalista. A pre
sença de Olavo Bilac, usando seu prestígio de escritor como pro-
pagandista da Liga de Defesa Nacional explica, em grande parte,
seu sucesso público.
Os estatutos da Liga definem os objetivos do movimento:
“manter em todo o Brasil a idéia da coesão e integridade na
cional . . . ”; “propagar a educação profissional e popular; pro
pagar em todas as escolas a educação cívica, o amor à justiça
e o culto do patriotismo” (48). As conferências e os livros de
Bilac procuram atingir estes objetivos através de uma intensa
campanha cívica. Em sua coletânea de conferências, A Defesa
Nacional, defende a tese de que o serviço militar obrigatório “é
o triunfo completo da democracia; o nivelamento das classes, a
escolha da ordem, da disciplina, da coesão” e considera que
“organizar a defesa nacional é necessário, porque a coesão é in-
dispensável, a disciplina é imprescindível. A verdadeira defesa
nacional é a consciência nacional” (49). A luta de Bilac, pois,
pretende integrar o exército e a Nação dentro de uma mesma
concepção democrática, “para que o povo seja o exército e o
exército o povo, através da educação de caserna” (80).
A fundação da Liga Nacionalista, em 1917, formada por
estudantes de São Paulo, é conseqüência direta da campanha de
Bilac, embora seus objetivos demonstrem um conteúdo naciona
lista, político e econômico explícito. Os estudantes da Faculdade
de Direito de São Paulo, segundo Carone, dedicam-se a “empre
ender luta contra atentados civis ou militares à soberania nacio
nal; desenvolver o sentimento da unidade nacional; obter a efe
tividade do voto (voto secreto), promover a organização e o
desenvolvimento da defesa nacional pelo escotismo, linhas de tiro
e preparo militar” (51). Na época, O Estado de São Paulo realiza
(48) CARONE (Edgard), A República Velha, Instituições e Classes
Sociais. Op. cit., p. 163.
(49) BILAC (Olavo), A Defesa Nacional, Rio, Liga de Defesa Na
cional, 1917, pp. 45, 133 e 134.
(50) Convém distinguir o nacionalismo cívico de Olavo Bilac, preo
cupado em forjar cidadãos, do nacionalismo contemplativo do fim do
século, simbolizado pelo livro de Afonso Celso. Por que me Ufano de
Meu País? Embora a preocupação de ambos seja a integração nacional,
em Afonso Celso a exaltação nacionalista é exclusivamente física (rique
zas nacionais, extensão territorial e necessidade de preservar sua unidade),
ao passo que Bilac volta-se para o tema da formação da consciência na
cional e da integração dos cidadãos na Nação através do serviço militar.
(51) CARONE (Edgard), A República Velha, Instituições e Classes
Sociais, op. cit., p. 313.
25
uma enquete junto aos estudantes que dirigem o Centro Nacio
nalista (52), onde a posição nacionalista encontra-se definida nos
seguintes termos: “Nós nada temos que conquistar e o nosso
grupo étnico está perfeitamente constituído em Nação. O de
senvolvimento da nossa riqueza, da nossa força e do nosso pres
tígio como Nação — os três fins principais a que tende o nacio
nalismo, não pode ser levado a cabo com intuitos agressivos de
qualquer espécie.” E acrescentam que “a anarquia social é infe
lizmente um fato entre nós, e o nacionalismo pregando uma ética
nova, segundo a qual a noção dos deveres de cada um com a so
ciedade deve sobrepor-se, em muitos casos, aos direitos indivi
duais, vem afirmar a prevalência absoluta dos interesses da cole
tividade nacional sobre quaisquer outros”. O depoimento dos
estudantes conclui que “é preciso preparar o advento de uma
geração nova, culta, enérgica, prática, que tenha civismo, que
seja capaz de construir sobre as tristes ruínas do presente o novo
Brasil, um Brasil consciente de sua força, livre da tutela econô
mica e do arrocho do capital estrangeiro. . . ” (53).
Conclui-se, portanto, que o nacionalismo dos anos 20 não
é unidimensional, um^ vez que, partindo de uma atitude pro
fundamente antiportuguesa, exalta as virtudes cívicas e milita
res, incorporando também uma dimensão econômica e antiim-
perialista. O importante é ressaltar que este nacionalismo cons
titui-se na atmosfera intelectual que vai modelar o pensamento
do Chefe integralista. O nacionalismo cívico e econômico tor-
nar-se-á com o integralismo, na década de 1930, mais radical
e a revolução modernista lhe acrescentará uma nova dimensão:
a exaltação pelo retorno às origens do povo brasileiro.
b — A revolução estética
O movimento modernista traz consigo a revolução estética.
Um dos historiadores do movimento reconhece que “mais do que
uma simples escola literária, ou mesmo um período na vida inte
lectual, o Modernismo foi, no meu entender, toda uma época da
vida brasileira, inscrito num largo processo social e histórico,
fonte e resultado de transformações que extravasaram largamen
te seus limites estéticos” (54). Os nomes mais eminentes do Mo-
(52) A Comissão era constituída pelos estudantes: Sarti Prado,
Clóvis Ribeiro, Júlio Mesquita Filho, Pereira Lima, Joaquim Sales Júnior.
(53) LIMA SOBRINHO (Barbosa), op. cit., pp. 399-402.
(54) MARTINS (Wilson), A Literatura Brasileira, São Paulo, Edito
ra Cultrix, 1967, pp. 12 e 13.
26
dernismo tentam analisar sua significação, colocando-o além de
fronteiras puramente literárias e interpretando-o como a expres
são de uma crise de civilização (55). A vanguarda da inteligência
brasileira se encontra, nos anos 20, insatisfeita com a decadência
literária e sobretudo como o “esgotamento visível do Parnasia
nismo e do Simbolismo” (5<5).
É difícil determinar a origem do modernismo. Em 1909,
João do Rio, em seu discurso de recepção na Academia de Le
tras, já faz referência a “uma nova estética” (57). Contudo, um
dos pontos de partida do modernismo foi a descoberta do futu
rismo, na França, por um dos pioneiros do movimento, Oswald
de Andrade. O “Manifesto Futurista” de Marinetti lhe é reve
lado em Paris. “A palavra rebelde do italiano, mais a coroação
de Paul Fort como príncipe dos poetas franceses ocorrida no La-
pin Agile ( .) buliram com as idéias do jovem brasileiro” (58).
A influência futurista sobre Oswald de Andrade não faz do
Modernismo uma corrente transplantada do continente europeu:
uma inspiração profundamente nacionalista se encontra no âma
go do movimento e exprime a tomada de consciência de uma ge
ração. Existia, pois “um modernismo latente”, que precedeu ao
conhecimento da escola estética européia (59)<
Mas a formação do movimento modernista está também as
sociada a vários acontecimentos que vão repercutir nos anos se-
27
guintes. Considera-se que 1916 é o ano decisivo, já que ocorre
uma série de fatos literários e extraliterários relevantes. A Re
vista do Brasil, de orientação nacionalista, e o estudo lingüístico
sobre O Dialeto Caipira, de Amadeu Amaral, aparecem reve
lando duas preocupações que serão fundamentais ao movimento
modernista.
Certos autores valorizam também 1917 como o ano-chave
da Revolução literária, em função da aproximação entre Oswald
e Mário de Andrade (60), que serão os dois grandes nomes do
Modernismo. Neste mesmo ano, Menotti dei Picchia publica o
poema precursor do modernismo, Juca Mulato, o qual tem uma
grande repercussão e assinala “uma retomada da temática na
cionalista, que não apela para os mitos helênicos, que pretende
ser a expressão do “gênio triste de nossa raça e de nossa gen
te*’ (61). Entretanto, o acontecimento mais importante é a expo
sição da pintora Anita Malfatti, introduzindo no Brasil todo o
debate estético europeu do início do século.
Nos anos de 1920 e 1921 que precedem a instalação da “Se
mana de Arte Moderna”, Oswald de Andrade e Menotti dei
Picchia ocupam a posição de líderes do modernismo. O pro
grama renovador é divulgado publicamente, em janeiro de 1921,
por ocasião de um banquete oferecido a Menotti dei Picchia,
sob o pretexto do lançamento de uma luxuosa edição de seu
poema As Máscaras. Oswald, em nome de grupo modernista,
homenageia o poeta que agradecendo estabelece as diretrizes do
ideário modernista (62).
Encontram-se pois preenchidas as condições para a eclosão
do movimento: o manifesto está redigido e o grupo modernista
28
já é uma força dotada de consciência, como observa Silva
Brito (°8).
Neste contexto nasce a idéia da organização de um festival
literário e artístico com o objetivo de apresentar a nova esté
tica (64). A “Semana de Arte Moderna” se realiza em fevereiro
de 1922, desencadeando simbolicamente o processo de transfor
mação estética modernista.
O Modernismo se ramifica em várias correntes e a susten
tação de uma constante polêmica entre as diversas tendências
permite mostrar que 1924 é o ano decisivo, senão na formulação
de uma estética modernista definitiva, ao menos na escolha de
uma direção determinada: “o Modernismo opta pelo rumo na
cionalista contra o cosmopolitismo, primitivo contra o artifício,
sociológico contra o gratuito” (65).
A vanguarda de 1922 se caracteriza, numa primeira fase
(1922-1930), por uma ruptura com o passado e por um interes
se crescente pela política, em detrimento das preocupações esté
ticas. Como observa Afrânio Coutinho, é “uma geração revolu
cionária, tanto na arte quanto na política. Seu objetivo é a de
molição de uma ordem social e política fictícia, colonial, uma
arte e uma literatura artificiais, produzidas à custa da imitação
estrangeira, desligada da realidade nacional” (66).
As opções políticas dos modernistas se fazem tanto à es
querda como à direita, enquanto na Europa o futurismo italiano
se identifica ao fascismo e a maior parte dos surrealistas fran
ceses se engaja na extrema-esquerda. A despeito destas diver
gências ideológicas, todas as correntes modernistas apresentam
um fundo comum: o nacionalismo. Este penetra em todos os
espíritos, a partir de 1916, e é nesta direção que se orienta o
Modernismo após a Semana de Arte Moderna, em oposição ao
cosmopolitismo literário. Na realidade, o Verdeamarelismo e a
Antropofagia, como alguns anos mais tarde o Pau-Brasil, são
inicialmente, manifestações estéticas, que tornar-se-ão políticas e
ideológicas. O Modernismo evolui a um tipo de arte em que as
preocupações políticas acabam por dominar: a estética define a
29
orientação modernista até por volta de 1926; ao passo que entre
1928 e 1939, a política domina sobre a estética” f17). O para
lelismo entre a evolução do Modernismo e a do chefe integra
lista no mesmo período é claro: um e outro se deixam impregnar
pela política.
c — A renovação espiritual
O renascimento espiritual é fruto de um longo amadureci
mento dos espíritos. Este movimento, que se manifesta sob a
influência da renovação católica na França (6S), começa em
fins do século XIX, com o objetivo de restaurar os valores espi
rituais na poesia, na prosa e na filosofia, contra o espírito natu
ralista e positivista dominante.
A descristianização das camadas intelectuais se generaliza
na segunda metade do século passado, enquanto o povo conserva
seu sentimento religioso tradicional (6B). O positivismo, o natu
ralismo e o ceticismo dominam. A geração de 1870 é profunda
mente influenciada pela laicização da inteligência. Toda a lite
ratura, particularmente entre 1850 e 1890, é agnóstica, cética e
freqüentemente anticlerical (70).
O movimento de renovação espiritual que, no após-guerra,
sensibiliza grande parte dos intelectuais, provocando uma eclosão
de conversões, de vocações religiosas e de apostolado católico,
começa com o advento da República, após a separação da Igreja
e do Estado (1890). Desencadeia-o um jovem convertido e her
deiro intelectual da geração descristianizada, que se propõe a
despertar a consciência católica. A ação de Júlio de Moraes Car
neiro (1860-1916), que será o célebre padre Júlio Maria, deli
neia-se a partir de 1888, quando termina um de seus sermões
lançando este apelo: “É preciso catolicizar o Brasil!”
(67) MARTINS (Wilson), A Literatura Brasileira, op. cit., p. 137-138.
(68) Este movimento de espiritualização dos intelectuais é marcado,
como o da França, no início do século, por um espírito antimoderno,
antiburguês pela nostalgia da Idade Média. Começa sob a influência de
um catolicismo reacionário e das correntes contra-revolucionárias da
segunda metade do século XX e tornando-se mais liberal entre as duas
guerras, sob a inspiração do neotomismo.
(69) No fim do império, somente um homem de letras se declara
católico militante: Carlos de Laet.
(70) Ver o testemunho do mais ilustre dos convertidos: AMOROSO
LIMA (Alceu). “A Reação Espiritualista”, in COUTINHO (Afrânio),
A Literatura no Brasil, op. cit., p. 395-482; e AMOROSO LIMA (Alceu),
“Evolução do Catolicismo no Brasil”, in Enciclopédia Delta Larousse,
Rio, Delta Larousse, 1962, pp. 1962-1970.
30
A presença do filósofo Farias Brito (1861-1917) (71) tam
bém é crucial. Embora não tenha participado diretamente da
renovação católica, a importância de sua contribuição decorre de
sua crítica filosófica ao pensamento dominante na época: sua
obra põe em questão a herança filosófica positivista, inspirando-se
nas concepções filosóficas de Bergson, Kant (72) e Spinoza (73).
Os livros de Farias Brito têm uma influência direta sobre a jo
vem geração católica (7‘), particularmente, sobre Jackson de Fi
gueiredo, figura central da renovação católica, que lhe consagra
rá um ensaio (Algumas Reflexões Sobre a Filosofia de Farias
Brito) e, inclusive sobre a formação intelectual de Plínio Salga
do. Sua contribuição filosófica torna-se mais importante após sua
morte, em 1917 (75), quando será considerado pelos intelectuais
católicos do “Centro D. Vital” (76) como precursor do espiri-
tualismo e por Plínio Salgado como o inspirador da concepção
filosófica integralista (77).
(71) As principais obras de Farias Brito são: A Filosofia Como
Atividade do Espírito (1895), Filosofia Moderna (1899); Evolução e Rela
tividade (1905); A Verdade Como Regra das Ações (1905); A Base Física
do Espírito (1912) e O Mundo Interior (1914).
(72) “Depois de sofrer o impacto dessa mesma formação objetivista,
foi pouco a pouco operando uma revolução espiritual no sentido oposto,
sob o idealismo kantiano (. . .); e, de modo particular, pelo intuicionismo
e pelo criacionismo bergsonianos. . .” AMOROSO LIMA (Alceu), “A
Reação Espiritualista”, in A Literatura no Brasil, op. cit., pp. 400-401.
(73) “O spinozismo de Farias Brito é evidente não só na sua orien
tação geral (...) mas em conceitos e pontos de vista de toda natureza.”
RABELLO (Sylvio), Farias Brito ou Uma Aventura do Espírito, Rio, Ci
vilização Brasileira, 1967, p. 80.
(74) Vide obras de Jackson de Figueiredo: A Questão Social na
Filosofia de Farias Brito (1919); Almeida Magalhães, Farias Brito e a
Reação Espiritualista (1918); Ronald de Carvalho, O Espiritualismo de
Farias Brito e Jônatas Serrano, Farias Brito.
(75) Farias Brito escreve uma carta a um de seus raros discípulos,
Jackson de Figueiredo, lastimando-se de ter chegado quase no fim de sua
obra sem discípulos c sem haver influenciado o grande público, in
FIGUEIREDO (Jackson de), Algumas Reflexões sobre a Filosofia de Fa
rias Brito, op. cit., p. 216.
(76) Segundo Sylvio Rabello, os católicos, os mais impregnados de
“britismo” são: Nestor Vítor, Xavier Marques, Almeida Magalhães, Tasso
da Silveira, Ronald de Carvalho, Alceu Amoroso Lima e Jônatas Serrano.
(77) Plínio Salgado evoca sempre a influência de Farias Brito sobre
a concepção do universo e do homem no “Manifesto Integralista” de ou
tubro de 1932, in SALGADO (Plínio), O Integralismo na Vida Brasileira,
Rio, Livraria Clássica Brasileira, 1958, p. 23, A revista integralista. Cader
nos da Hora Presente publicada após a dissolução da Ação Integralista
Brasileira (maio de 1939) difundirá as idéias de Farias Brito, assim como
proporá a reedição de suas obras.
31
Resta acrescentar que Farias Brito, cujo papel precursor na
renovação católica é negado por alguns historiadores (™), mani
festa uma posição crítica com relação à democracia liberal e ao
socialismo, ainda que pouco interessado pela filosofia políti
ca (7B).
Mais significativa para a reação espiritualista é a Carta
Pastoral do jovem arcebispo de Olinda e Recife, D. Sebastião
Leme (1882-1942), publicada em 1916, que revela uma tomada
de consciência de certos setores da hierarquia católica com rela
ção à situação da Igreja no Brasil. A análise que desenvolve é,
na realidade, um convite ao clero e aos leigos para fazerem a
autocrítica do catolicismo no Brasil e é, ao mesmo tempo, um
apelo à ação: “É evidente, pois, que, apesar de sermos a maioria
absoluta do Brasil, como Nação, não temos e não vivemos vida
ratólica (. . .). Obliterados em nossa consciência os deveres re
ligiosos sociais, chegamos ao absurdo máximo de formarmos uma
grande força nacional, mas uma força que não atua, e não influi,
uma força inerte. Somos, pois, uma maioria ineficiente. Eis o
grande mal” (80).
Em 1916, a conversão ao catolicismo de Jackson de Figuei
redo (1891-1928) (81), oriundo do anarquismo e do nietszchis-
mo e a influência espiritual e cultural do padre Leonel Franca
(1893-1948) (82), estabelecem o início efetivo do movimento es-
32
piritualista. O ano chave é 1922: primeiro, pela fundação, no
Rio, do Centro D. Vital e da revista A Ordem, que são o ponto
de encontro e de projeção da nova intelectualidade católica; se
gundo, em virtude da publicação de duas obras fundamentais,
uma do padre França, A Igreja, a Reforma e a Civilização, e a
outra de Jackson de Figueiredo, Pascal e a Inquietação Moder
na (83).
Espírito inquieto, Figueiredo pertence “a essa casta de ho
mens cheios de um heroísmo nobre, designados para estimular,
para orientar, para comandar e para combater” (8‘). “Seu tem
peramento, observa um de seus discípulos, é mais próximo de
Bernanos que de Maritain ou de Mauriac” (85). Na sua obra
dominam os seguintes temas: catolicismo, contra-revolução, or
dem e nacionalismo. Católico ardoroso, contra-revolucionário e
combatente (86), defensor intransigente da ordem e da autoridade
e nacionalista radical, Jackson encarna, sobretudo, o espírito do
catolicismo ultramontano. Combate a ameaça do protestantismo,
da maçonaria, dos judeus que controlam o capitalismo interna
cional. Seu nacionalismo, sem se tornar tão radical como o na
cionalismo integral de Maurras ou como o culto estético e afetivo
da nação de Barrès, apóia-se sobretudo no culto do passado na
cional e nas crenças e valores que constituem uma Nação (87).
Figueiredo é o elemento dinâmico da renovação espiritual:
convertido que se transforma em apóstolo, reúne ao redor de si
e do Centro D. Vital, o grupo de jovens intelectuais que conso
lidará a reação católica. Entre eles desponta o crítico literário,
igualmente convertido, Alceu Amoroso Lima. O papel deste —
após a morte prematura, em 1928, de Jackson de Figueiredo
— na direção do Centro D. Vital e da Liga Eleitoral Católica
tual, cujas principais obras são: A Igreja, a Reforma e a Civilização; Ca
tolicismo e Protestantismo; A Psicologia da Fé; A Crise do Mundo Mo
derno e Divórcio.
(83) As melhores análises sobre sua vida e obra encontram-se num
volume coletivo, publicado pelo Centro D. Vital, reunindo testemunhos
de seus amigos, In Memoriam (1891-1928), Centro D. Vital, 1929 e a obra
de NOGUEIRA (Hamilton), Jackson e Figueiredo.
(84) BUARQUE DE HOLANDA (Sérgio), “Indicação”, in Memo
riam, Rio, Centro D. Vital, 1921, p. 148.
(85) CARNEIRO (J. Fernando), Catolicismo, Revolução e Reação,
Rio, Agir Editora, 1947, p. 166.
(86) Como De Maistre, considera que “não é contra-revolução que
é preciso fazer, mas o contrário da Revolução”.
(87) OLIVEIRA TORRES (João Camilo), História das Idéias Reli
giosas no Brasil, São Paulo, Editora Grijalbo, 1968, pp. 182-189.
33
(fundada para defender as reivindicações católicas na Constituin
te de 1934) bem como sua atividade cultural fecunda,* trans
formam-no no líder do catolicismo brasileiro (8S). Amoroso Li
ma, sob a influência inicial do catolicismo ultramontano, contra-
-revolucionário, autoritário e maurrasiano de Figueiredo, condu
zirá progressivamente o pensamento católico, no após Segunda
Guerra, para um catolicismo liberal, tolerante, neotomista, aberto
aos problemas sociais e ao mundo moderno. O pensamento ca
tólico brasileiro do após-guerra, graças à influência de Amoroso
Lima, inspira-se mais em Maritain e Mounier que em De Mais-
tre e Maurras.
Caberia ainda uma questão: até que ponto a espiritualização
da intelectualidade brasileira se relaciona com as opções políticas
dos anos 30? A relação entre os dois fenômenos é estabelecida
pelo próprio Amoroso Lima: “O movimento integralista da dé
cada de 1930, como o movimento democrata-cristão, da década
de 1940, são movimentos, embora contraditórios em alguns dos
seus ideais e seus métodos, que têm raízes ideológicas embebidas
na mesma reação espiritualista, embora com resultados opos
tos” (S9).
34
CAPÍTULO II
1 — A ORIGEM REPUBLICANA
35
L
Bento de Sapucaí (Estado de São Paulo). A influência do meio
familiar lhe transmite a formação religiosa, o gosto pela política
e o sentimento nacionalista.
Salgado descende de uma família católica e de tradição polí
tica. Seu avô paterno, de origem portuguesa, após ter estudado
Humanidades em Coimbra, emigrou para o Brasil por “razões
políticas” (') e seu avô materno, nascido na Espanha, era pro
fessor, “amigo das letras latinas e homem político do Partido
Conservador do Império” (2). Seu vínculo, porém, com a Velha
República, se estabelece através de seu pai, o coronel Francisco
das Chagas Esteves Salgado, farmacêutico e chefe político local
desde o início da República e que, segundo consta, exercia tão
forte liderança municipal que São Bento chegou a ser um dos
únicos municípios paulistas onde não havia oposição à política
do Partido Republicano.
A formação intelectual de Salgado sempre foi marcada por
um sentimento nacionalista e religioso. Sua mãe, professora da
Escola Normal, ensina-lhe “as primeiras lições de História do
Brasil, de História Sagrada, de Geografia, de Aritmética e de
Francês” (3); seu pai, que “era profundamente nacionalista e
admirador de Floriano”, “tinha o hábito de, à noite, reunir seus
filhos para lhes contar as proezas de Caxias, Osório e os episódios
da vida dos grandes homens de Estado do Império”, sem jamais
revelar aos filhos o Estado de origem desses personagens, a fim
de os formar em um sentido nacionalista e não regionalista (’)•
Salgado prossegue sua formação religiosa e intelectual como
aluno secundarista do Externato São José. E quando seu pai
morre, em 1911, estava cursando Humanidades no Ginásio Dio
cesano de Pouso Alegre (Minas Gerais), sendo obrigado a aban
donar os estudos aos 16 anos.
Nesta época, ele publica, num pequeno jornal literário, O
Albor, talvez uma de suas primeiras poesias, onde exalta a im-
portância das idéias na evolução histórica (5):
(1) Obra coletiva, Plínio Salgado, São Paulo, Ed. Revista Panorama,
1936, p. 7.
(2) Ibid., p. 8.
(3) Ibid., p. 7.
(4) Ibid., p. 10.
(5) O Albor, 1(1), junho — 1915, p. 3. Suas poesias de juventude,
no estilo parnasiano, foram reunidas em 1919, em uma coletânea intitu
lada Thabor.
36
O Livro
37
de Figueiredo. Nesta época começa a preocupar-se com os pro
blemas brasileiros, embora ainda por mero diletantismo.
Em 1918, ao atingir a maioridade, inscreve-se como eleitor
e participa da organização do Partido Municipalista, formado por
líderes de várias localidades do vale do Paraíba, com objetivo
de “combater a ditadura do Governo Estadual que sufoca os
municípios com a mão de ferro dos diretórios do partido situa
cionista” (9). Salgado pronuncia também conferências, cuja pri
meira se intitula “Ordem e Disciplina” (10), sendo que a preo
cupação fundamental que inspira o início de sua atividade polí
tica é a defesa das comunidades locais: “o que me impressionava
mais era o desequilíbrio entre o poder centrai, os Estados e os
Municípios” (n).
A leitura dos discursos e conferências de Salgado, produzi
dos em sua atividade de jornalista e de político local, revela, de
maneira latente, alguns aspectos de seu pensamento que serão
desenvolvidos, mais tarde, em sua ação ideológica.
O primeiro aspecto é a exaltação nacionalista. Algumas
conferências feitas por Plínio Salgado, em São Bento, inspiram-se
geralmente em temas da história nacional. O tom de retórica, a
exaltação dos acontecimentos e dos personagens, demonstram
seu exaltado patriotismo. Em conferência pronunciada em 1916,
por ocasião do aniversário da Independência do Brasil, manifesta
o tom de seu nacionalismo: “Brasileiros! Precisamos amar nossa
Pátria até o delírio e entre as duas palavras de D. Pedro (Inde
pendência ou Morte), optar sempre pela independência. Seja
mos patriotas até o delírio, sejamos unidos e fortes e o futuro
será nosso. Nunca mona em nossos corações a fagulha do pa
triotismo” (12).
O segundo aspecto é a exaltação da luta como fonte de
energia das Nações. Após haver indicado as causas da decadên
cia dos impérios e das nações (“só morrem os povos que se dis
solvem na lascívia e na indolência”), faz um elogio a Cartagc
no passado e à Alemanha de Bismarck no presente, como exem
plos de nações forjadas no combate. A lição que Salgado extrai
destes feitos é a glorificação dos povos guerreiros: “Benditos os
povos que desaparecem lutando, porque a guerra é forte e digna
38
e os seus nomes não morrerão jamais. A guerra é justa. Ela é
um fenômeno consequente de uma causa fatal: a irradiação das
raças (...)• A guerra é selvagem, mas é justa, porque é a con
sequência trágica da luta pela vida a que Deus condenou todos
os povos” (13). A exaltação da luta e a visão trágica da história
se articulam com seu nacionalismo através da idéia de que só os
povos que lutam podem sobreviver e se afirmar como nação. Ele
defende esta tese num discurso pronunciado em 1919, no qual
afirma que “neste crítico momento da nossa história universal
(. ..) as grandes revoluções sociais anunciam que uma nova era
vai surgir, era em que as nacionalidades fracas terão que sub
mergir no caminho que conduz às Nações fortes!” (14).
A segunda fase da atividade política tradicional de Salgado
se desenrola em São Paulo. Não podendo mais permanecer em
São Bento de Sapucaí por motivos políticos locais, tenta a sorte
na capital do Estado, onde consegue o emprego de suplente de
revisor no Correio Paulistano, órgão do Partido Republicano Pau
lista. Os contactos com os grupos intelectuais e políticos, seja nas
reuniões que realizava na pensão em que morava, na Avenida Brig.
Luís Antônio, seja nas discussões políticas e modernistas na reda
ção do Correio Paulistano, abrem novas perspectivas para a for
mação cultural e política de Salgado. Mais tarde, descreverá num
de seus romances, o clima destas discussões na pensão, que expri
miam o estado de dúvida existente no primeiro grupo de jovens
intelectuais (15), do qual faziam parte Raul Bopp, Plínio Mello,
Mário Graciotti, Augusto Frederico Schmidt, Cassiano Ricardo e
outros. O próprio Salgado relata sua participação nas atividades
do grupo: “Nossas leituras eram todas marxistas. Não cheguei
a ficar comunista, porque as “novidades” do materialismo histó
rico já me tinham fascinado aos dezessete anos, quando lia Bu-
chner, Lamarcke, Haeckel, Le Bon, devorando a filosofia burguesa
de Spencer, na qual encontrava, agora, tanta afinidade com a
obra de Marx (. ). Seria longo descrever o drama pelo qual
passávamos naqueles dias. Quase todos os que me rodeavam lá
se foram para Lenine. Outros, fugiram para (...) o campo
(13) Ibid.
(14) SALGADO (Plínio), Correio de São Bento, 3(23), fevereiro de
1919.
(15) “Esse ambiente foi o inspirador de um dos capítulos mais
interessantes do romance “O Esperado’’ e que tem o título de “O Club
Talvez...’’, in CALLAGE (Fernando), “O Club Talvez”, in Plínio Sal
gado, op. cit., pp. 149-150.
39
neutral da literatura sem compromissos (....). Foi quando
escrevi os primeiros capítulos de O Esperado" (,G).
O segundo grupo que terá uma influência marcante na for
mação intelectual de Salgado é o dos intelectuais ligados ao movi
mento modernista. Sua participação na revolução literária de
1922 reforça suas inclinações nacionalistas. Ainda que seu enga
jamento em atividades políticas tenha se iniciado no Partido Mu-
nicipalista, é a experiência modernista que vai conduzi-lo ao rom
pimento de seus vínculos com a Primeira República e a tomada
de consciência da necessidade da organização de um movimento
político independente das forças tradicionais.
No Correio Paulistano, Salgado passa rapidamente de su
plente de revisor à redação do jornal, por solicitação do redator-
-chefe, Menotti dei Picchia. Na redação do órgão oficial do Par
tido Republicano Paulista ele encontra o ambiente político e in
telectual de que necessitava. Os jornalistas estão em contato per
manente com os dirigentes do Partido, o que abre a possibilidade
de uma eventual carreira política. Na situação de Salgado, jovem
e ambicioso e oriundo de uma pequena cidade do interior, esta
é a situação ideal. Ao mesmo tempo um ambiente intelectual de
vanguarda, já que a maioria dos redatores apóia o movimento
modernista, do qual o redator-chefe, Menotti dei Picchia, é um
dos líderes (17).
No início de sua ação ideológica no seio do P. R. P., Salgado
se engaja numa corrente que quer renovar o velho partido. Os
amigos políticos de Salgado interpretam sua participação na ten
tativa de renovar o Partido Republicano, bem como sua atividade
literária, como fazendo parte de uma estratégia pessoal: “para
agir dentro das realidades do país, o que Plínio Salgado tinha
a fazer era um trabalho duplo: enquanto procurava despertar
as elites através de um movimento literário, tenta criar, dentro
dos muros de um dos partidos estaduais mais fortes, uma cor-
40
rente renovadora" (,8). Esta deveria se chamar “Ação Nacio
nal" e visava conciliar o velho Partido Republicano com as
idéias de seu tempo: “tratava-se, como testemunha Cândido Motta
Filho, de fazer reviver no Partido a força e a juventude de seu
passado" (10).
Em realidade, o movimento de renovação procede de uma
cisão do P. R. P. Em 1924, quase ao fim do mandato dc
Washington Luiz como governador do Estado de São Paulo, o
partido dominante se divide em função de conflitos internos reve
ladores dc um certo deslocamento de forças na oligarquia. O
grupo de oposição, que é dirigido por Alfredo Egydio de Souza
Aranha, amparado por alguns deputados (20) e intelectuais da
nova geração, tem o apoio dos Mesquitas do jornal O Estado
de São Paulo. Esta coalização volta-se contra a velha guarda e,
sobretudo, contra o governo de Washington Luiz. Em conse-
qüência, Salgado se demite de suas funções de redator do Correio
Paulistano e vai trabalhar no gabinete do advogado Alfredo Egy
dio de Souza Aranha, onde permanecerá por dois anos. Ainda
no período de luta pela renovação do partido, escreve artigos
sob o pseudônimo de Pinus, na tribuna livre de O Estado de
São Paulo.
A tentativa de renovar o Partido fracassa, mas Salgado
permanece ligado ao P. R. P. até a Revolução de 30. Em 1927,
com o sucesso de O Estrangeiro, recebe convite para se apresentar
às eleições legislativas e é eleito deputado estadual em São Paulo,
juntamente com Menotti dei Picchia (21). Mais tarde julga per
ceber uma outra possibilidade de renovação, aproximando-se de
41
i
Júlio Prestes, que vinha de ser eleito Presidente do Estado de
São Paulo (22). Ele se enganava uma vez mais.
Alguns anos depois, num artigo publicado em 1931, Salgado
critica severamente o Partido Republicano e explica as razões
do fracasso da Ação Nacional: “Porque já faltava à velha
agremiação a consciência partidária. Aquela unidade de interesse,
que destruiu sempre todas as dissidências organizadas no seio da
grande agremiação ( . .). O P. R. P. não passava de uma má
quina eleitoral de fazer senadores e deputados.” E acrescenta a
seguir: “Ele se desinteressava completamente pelas questões dou
trinárias. No seu órgão oficial, O Correio Paulistano, alguns
moços, que tinham feito uma revolução literária em 1922 pre
gavam abertamente idéias absolutamente contrárias à doutrina
política em que se embasava a grande agremiação. Esses artigos
não eram lidos pelos senadores e deputados, que só cogitavam
de fazer a sua política pessoal e prática” (23). A linguagem de
Salgado bem mostra a ambigüidade da sua posição e revela,
após a Revolução de outubro de 30, sua ruptura com sua expe
riência política tradicional.
2 — 0 FERMENTO NACIONALISTA
42
Cocteau, Max Jacob, Cendrars, como, de 1926 a 1930, foram ps
leituras de Marx, Sorel, Lenine, Trotski, Riazanov, Pleckanov,
Feuerbach” (25).
Plínio Salgado participa discretamente da Semana de Arte
Moderna e sem o prestígio dos grandes nomes do movimento:
“Nós éramos mais promessas sem livros” (26). Seu papel será
mais importante nas correntes pós-modernistas.
Em pleno clima modernista, Salgado produz um conjunto de
ensaios nas colunas do Correio Paulistano, mais tarde reunidos
no volume Discurso às Estrelas, que refletem “um período de
experiência de estilo moderno” (27). Num artigo posterior, ele
se refere ao contexto da aparição destes ensaios que, entre 1921
e 1923, se situam na passagem da poesia à prosa: “Estávamos em
plena revolução literária e artística. Até aquele momento, muito
se discutia, mas nada ainda se havia realizado em prosa moderna
(...). Comecei minhas experiências nas colunas do Correio
Paulistano" (28).
A geração de 1922 se caracteriza numa primeira fase (1922-
-1930), por sua ruptura com o passado e pelo interesse crescente
pela política em detrimento das preocupações exclusivamente
estéticas. As opções políticas dos modernistas se distribuem tanto
na esquerda como na direita, da mesma forma que na Europa
certos futuristas italianos inclinam-se para o fascismo e a maior
parte dos “surrealistas” franceses para a extrema-esquerda. Ape-
43
nas destas diferenças nas tendências ideológicas, há um fundo
comum a todos eles, que é o nacionalismo.
As principais tendências modernistas no período de 1922 a
1930 são, segundo Amoroso Lima (20), a tendência “primiti-
vista” de Oswald, de Alcântara Machado (30); a tendência “di-
namista” de Graça Aranha, Ronald de Carvalho e Guilherme
de Almeida (31); a tendência “mística” de Tasso da Silveira,
Andrade Muricy, Murilo de Araújo, Cecília Meirelles (32) e,
enfim, a tendência “nacionalista” de Menotti dei Picchia, Plínio
Salgado, Cassiano Ricardo e outros” (33).
No seio das tendências modernistas de São Paulo, a polari
zação se estabelece, sobretudo, entre os “primitivistas” com o
grupo Pau Brasil, de Oswald de Andrade (que mais tarde se
torna “antropofágico”) e os “nacionalistas” do Verdeamarelo,
que se metamorfoseia no movimento da Anta, dos quais toma
parte ativamente Plínio Salgado. As correntes mais representa
tivas, no Rio, são: a corrente “espiritualista” de Tasso da Silveira
que se desenvolve em volta da revista Festa e a corrente “dina-
mista” de Graça Aranha. Entre os membros das correntes “na
cionalista” e “espiritualista” o integralismo recrutará seu chefe e
um grupo de intelectuais.
O grupo Verdeamarelo de Salgado, após dois/ anos de po
lêmica, decide “optar pela ação, colocando-se a serviço da análise,
em profundidade, da vida brasileira e de seus problemas”; funda-
-se, então, o grupo da Anta, cuja denominação é sugerida por
Salgado em homenagem ao “mamífero totem” da raça tupi (3‘).
O movimento é “uma espécie de ala esquerda do Verdamare-
lismo” porque, conforme Salgado, “os chamados modernistas se
desviavam do rumo de uma revolução necessária”. Ele considera
44
que o Verdeamarelo se encontra fechado “num nacionalismo
demasiadamente “exterior" e pictórico. Urgia desenvolver um
nacionalismo interior, intuitivo" (35).
Salgado, referindo-se a esta época do Verdeamarelismo e
da “revolução da Anta" descreve a atmosfera de retorno às raízes
nacionais que inspirou o grupo: “O Brasil começou a interessar,
com a sua paisagem, a sua gente, suas lendas e tradições, seus
dramas, sua luta, seus mistérios africanos e tupis, seu linguajar,
suas toadas e canções, a índole e a cadência de suas vozes
bárbaras" (3e).
Nesta época ele crê que “há mais ensinamentos de moderni
dade de estilo (37), numa simples palavra tupi do que num mani
festo de Marinetti, numa arenga altruísta, um panfleto de Dadá,
ou ultimamente, num escrito dos surrealistas. Com o ser apenas
nacionais, profundamente brasileiros, teremos ultrapassado tudo
o que se tem feito ultimamente na Europa" (38). E Salgado
acrescenta noutra passagem: “A nossa formação espiritual brasi
leira tem por base a completa destruição dos ídolos europeus e
o despertar das energias adormecidas no recesso do sangue e da
alma do Brasil" (39).
Numa conferência sobre literatura moderna, em 1926, Plínio
explicita seu nacionalismo literário: “Estamos em condições de
criar uma arte brasileira, com elementos exclusivamente brasi
leiros. Não vejo em que nos sejam superiores os outros povos,
sob qualquer aspecto (. . .). Precisamos crer com entusiasmo nas
45
possibilidades imensas do Brasil, e, longe de continuarmos a vi
ver como lunáticos, preocupados em arte, com os deuses da Gré
cia e batizando-nos crentes de todas as filosofias estrangeiras e
fanáticos pelas ideologias exóticas e sugestões de outros climas
— procuremos compreender a Nossa Terra, para nela descobrir
mos as bases de uma cultura exclusivamente brasileira (.. )•
Proclamemos a nossa independência intelectual!” (40).
Recentemente, num depoimento, Salgado justifica sua parti
cipação nos movimentos modernistas e explica, especialmente,
qual foi a significação do movimento “Anta”: “Nós procuráva-
mos raízes nacionais para o nosso nacionalismo, e o retorno à
língua tupi era uma delas (41). O que influiu muito em nós foi
a obra de Couto de Magalhães, O Selvagem (. . .). Nós tínhamos
notado que, no romantismo, José de Alencar apanhou um índio
muito estilizado, muito europeizado e que não tinha ainda raízes
profundas. Nós procurávamos as raízes profundas, porque o ín
dio é o denominador comum de todas as raças.” Adiante, põe em
relevo o papel do índio na formação do novo tipo nacional e a
importância da mistura de raças no Brasil: “No planalto de Pi-
ratininga houve amplos cruzamento de portugueses e espanhóis
com os índios, que produziram a raça dos bandeirantes (. )-
O cruzamento deu-se amplamente no Brasil: no Nordeste foi
grande, e na Amazônia enorme. Isto deu ao tipo fundamental
brasileiro uma capacidade de absorção (...). Á raça tupi não
desapareceu, ela está no sangue da raça como fundamento desta
miscigenação de todos os povos da terra” (42).
A procura de raízes nacionais leva Salgado a desenvolver
a idéia da formação de uma nova raça sobre uma base étnica
comum. “É bem possível, diz ele, que essa unidade racial (. . .)
tenha origem no elemento tupi (...). Todas as raças estran
geiras que para aqui vierem terão no tupi uma espécie de deno
minador comum...” (43). Acrescenta que “o Novo Mundo está
destinado a ser a grande pátria da raça harmoniosa, resultado de
íntimas correspondências de todas as raças. E, na América, ne-
46
nhum país, como o Brasil, sc reserva a ser a pátria universal” (44).
Noutra passagem ele retoma a mesma idéia: “Tudo indica (...)
que uma multiplicidade de fatores e ocorrências converge na
formação una da nacionalidade brasileira e que justamente os
traços étnicos diferenciais, assim como as modalidades climaté-
ricas variadas, antes de constituírem um empecilho, determinam
uma possibilidade maior para que se plasme no Brasil um tipo
humano futuro, que será, incontestavelmente, dos mais superio
res e inteligentes. Despertemos no coração dos brasileiros a
consciência desse grande destino” (45).
Salgado, enfim, tenta explicar as raízes da inquietude de
sua geração nas origens indígenas da nacionalidade: “Estes gritos
de angústia da geração nova do Brasil devem provir das inúbias
guerreiras que tinham ficado dormindo em nosso sangue, en
quanto as gerações precedentes prolongavam a submissão do
caboclo sob a influência dos dominadores” (,c). E conclui com
a profecia: “Creio que ao caboclo brasileiro está destinado um
grande papel no mundo” (47).
A melhor prova de que o seu engajamento político se faz
através da literatura é fornecida por ele mesmo num artigo escri
to em 1927, intitulado “Diretivas da Nova Geração”: “À primei
ra vista, parece não haver relação plausível entre a queda da
Velha Literatura, que tombou desmoronada, na famosa Semana
de Arte Moderna que realizamos em São Paulo, e as outras for
mas de atividade social brasileira. Na realidade, a literatura foi
tão tradicionalmente separada da política, em nosso país, quanto
esta o foi das realidades ambientes.” Após haver justificado o
efeito da revolução literária sobre seu pensamento político, con
clui com apelo aos intelectuais: “Chegou o momento da intelec
tualidade brasileira influir decisivamente nos destinos do país,
como aconteceu na Rússia, com Dostoiewsky, Tolstoi, Máximo
Gorki, Turgueniev, Kropotkine, Gogol; ou na Alemanha com
Nietzsche (...); ou na Europa inteira, nas vésperas da Revolu
ção Francesa, com Jean-Jacques Rousseau, o homem do leme,
e Voltaire, o homem da proa. . .” (I8).
47
Salgado reconhece sua metamorfose e que “em conseqüên-
cia do estudo do índio, o mistério da Unidade Nacional absor
ve-me. Minhas leituras eram, nesses dias, Alberto Torres, Eu-
clides da Cunha, Oliveira Vianna. O político despertava no es
critor” C9). Pode-se, pois, legitimamente concluir que o engaja
mento literário representou uma experiência mais crucial para
Salgado do que sua participação em atividades políticas.
Primeiramente, porque o modernismo conduz toda uma
geração a tomar consciência de que, para encontrar a identidade
nacional, é preciso rejeitar os moldes estéticos e literários euro
peus, fonte de alienação cultural das elites. Além disto, porque
esta nova consciência deve ser alimentada por um nacionalismo
realista, fundado na exaltação do índio, da nova raça em for
mação e das potencialidades da Nação, para fazer face ao nacio
nalismo romântico, idealizador do “bom selvagem” liteiário e
influenciado pela cultura européia. Enfim, esta consciência na
cionalista adquire um significado político na medida em que o
movimento modernista, colocando em causa as elites tradicionais,
ameaça o sistema dominante. Neste contexto, a literatura e a
política interpenetram-se. Logo após, desiludido com a política
republicana tradicional e estimulado pela revolução literária mo
dernista, Plínio Salgado parte em viagem para o Oriente e a
Europa, em abril de 1930, como preceptor do filho de um advo
gado de São Paulo (50). Esta viagem terá um papel desenca-
deador na sua decisão de lançar um movimento ideológico in
dependente.
3 — A METAMORFOSE IDEOLÓGICA
48
nidos, em 1927, no volume Literatura e Política, estabelecem a
transição do diletantismo ao engajamento. Enfim, os dois outros
romances sociais, O Esperado e O Cavaleiro de Itararé, publica
dos respectivamente em 1931 e 1932, são obras impregnadas de
problemática política: o primeiro coincidindo com sua atividade
de jornalista político em A Razão e o segundo com o lançamento
do Manifesto de Outubro de 1932. Essa série de livros são reve
ladores do tipo de concepção de Plínio sobre a situação econô
mica, social e política dos anos 20. Eles refletem sua inquietação
com as contradições de uma sociedade em transição e a fonte
de onde brotam e se elaboram alguns dos temas fundamentais
da ideologia integralista.
As transformações sócio-econômicas do após-guerra provo
cam em Salgado uma atitude crítica face ao desenvolvimento in
dustrial e as suas conseqüências. Ele denuncia o “instinto da
máquina”, o “mal urbano”, a “luta de classes”, o “cosmopolitis-
mo”. Seu rompimento político com a Primeira República não o
conduz necessariamente à contestação política, pois ele não ma
nifesta simpatias nem pelo movimento tenentista nem pela Alian
ça Liberal. Ao contrário, no romance O Cavaleiro de Itararé,
denuncia as “revoluções” da década de 1920. Portanto, sua con
cepção política em gestação se inspira, em última análise, na efer
vescência ideológica das elites intelectuais no após-guerra que re
sulta da confluência entre o despertar nacionalista, a revolução
literária e a renovação espiritual (52).
a — Um escritor engajado
O principal efeito da revolução literária sobre o pensamento
político de Salgado é o de transformar sua atitude face à política:
torna-se um escritor engajado. Por um lado, em 1927, esboça
sua primeira interpretação política da sociedade brasileira na co
letânea Literatura e Política; por outro procura desenvolver uma
análise sócio-política da evolução da sociedade brasileira na tri
logia de seus romances sociais.
49
A leitura do conjunto das crônicas de Salgado faz ressaltar
três temas dominantes. Em primeiro lugar, elas pretendem con
vencer os intelectuais a abandonar sua torre de marfim e incor
porar à sua atividade literária uma preocupação real com os pro
blemas brasileiros; em segundo lugar, elas apresentam alguns ele
mentos de análise crítica da sociedade brasileira com relação ao
contexto internacional; enfim, elas propõem algumas diretrizes
para a solução dos problemas brasileiros e o autor estabelece as
bases da elaboração de um novo pensamento político adaptado
às necessidades nacionais.
Desde o prefácio de seu ensaio, percebe-se a inquietude po
lítica do autor: “Escrevi estas crônicas como quem faz um con
vite aos intelectuais do seu país. Convite para que nós, os escri
tores brasileiros, nos interessemos mais pela nossa terra.” Nos
parágrafos seguintes, ele tenta definir as causas do distanciamen
to dos intelectuais da realidade brasileira: ‘‘Na esfera puramente
literária, nosso romance e nossa poesia sempre tiveram um ca
ráter de diletantismo, porque não foram sentidos, mas simples
mente imaginados. Não se originaram nunca de raízes étnicas,
das dores profundas, dos dramas sociais, do meio cósmico e das
condicionalidades históricas. Pois o intelectual brasileiro não
pôde ser o médium possuído de si mesmo, quer dizer das forças
e das vozes nacionais que estão no seu sangue, pelo fato, jus
tamente, de divorciar-se da vida vivida no seu país” (53).
Consciente da necessidade de engajamento, Salgado esboça
uma análise política da sociedade brasileira. Desde esta época
suas crônicas revelam uma preocupação dominante com o âmbito
da política e nelas encontram-se freqüentemente referências críti
cas ao sistema político vigente.
Um dos aspectos mais enfatizados no seu diagnóstico sobre a
política brasileira relaciona-se ao caráter artificial da implantação
do regime republicano no Brasil: “As condições do país eram
extremamente favoráveis, em 1889, ao que poderemos chamar
triunfo formal do regime; mas eram grandemente desfavoráveis
ao que denominaremos a vitória essencial do novo sistema” (5‘)-
Salgado tenta relacionar a proclamação fictícia da república com
as distorções que irão introduzir-se no sistema político: “A Re
pública, abolindo velhas prerrogativas, ligou-nos mais à Amé-
ca, separando-nos definitivamente da Europa. Foi uma segunda
50
independência. No entanto, a multidão brasileira não tinha ca
pacidade política para compreender isso. O Exército fez a Re
pública. Mas nós sabemos que à exceção de uma elite de mili
tares cultos, impregnados mais de doutrina do que inspirados pe
las realidades ambientes, o soldado brasileiro não havia formado
uma consciência do regime que inaugurou. A Nação, pois, acei
tou a República, até com entusiasmo, se quisermos, mas todas
as circunstâncias impediam-na de colaborar na sua organização.
Começa aí o desequilíbrio entre a ideologia democrática e a rea
lidade do país” (55).
A constatação de um desequilíbrio entre o “país legal” e o
“país real”, como diria Charles Maurras, incita o autor, ainda de
uma maneira fragmentária, à crítica da “utopia democrática”.
Plínio começa por negar a viabilidade histórica dos partidos polí
ticos: “A organização de partidos entre nós é impossível porque
não existem coincidências de interesses econômicos para a forma
ção de classes ou grupos associativos (...). As formas abstratas
da ideologia republicana contrapõem-se às formas concretas das
manifestações da vida brasileira, condicionada aos meios geográ
ficos e às circunstâncias econômicas. Todas as tentativas para
a formação de partidos são inúteis, porque se apoiam em teorias
incompreensíveis à realidade pragmática da vida brasileira” (56).
Depois concentra sua crítica no sufrágio universal, que “dá
ao patrão e ao operário a faculdade de depositar (...) a mesma
dose de vontade significativa do voto. Nas assembléias comer
ciais, o industrial vota pelo número de ações (. ); entretanto,
na vida pública, não há medida possível para as capacidades po
líticas. Todos são iguais. Cada voto é a unidade. A organização
das elites dirigentes, por processos seletivos, torna-se impossível
na prática, em conseqüência do preconceito democrático da igual
dade dos direitos políticos”. A partir dos partidos e do voto,
estende suas várias críticas ao sistema democrático, proclamando
^ua inviabilidade: “O triunfo pleno da utopia democrática só
pode corresponder à burla das minorias que não se formaram
por processos seletivos e que, para manter-se, hão de, em todos
os tempos, simular amparar-se em fórmulas e princípios pura
mente convencionais” (57).
Além da distância entre “a ideologia democrática e a reali
dade do país”, Salgado denuncia um outro desequilíbrio ao nível
(55) Ibid., pp. 127 c 128.
(56) Ibid., p. 128.
(57) Ibid., pp. 61 e 62.
51
sócio-econômico: “o mal urbano’'. Em seu artigo “A Cidade e
a Província”, ele aborda pela primeira vez este problema que
tomar-se-á um dos temas dominantes no nacionalismo integra
lista: “O que ressalta à observação das inteligências por mais
medianas que sejam é que essa situação angustiosa é resultada
exclusivamente pelo mal urbano, pela centralização industrial,
pela fascinação das cidades” (5S). Noutro artigo, intitulado
‘‘Problemas Brasileiros”, ele retorna ao tema num tom mais dra
mático: ‘‘O Brasil precisa salvar-se do mal urbano, que tem cria
do situações artificiais inexplicáveis” (50).
O ritmo da urbanização impressiona o jovem jornalista
oriundo do interior de São Paulo. O problema do mal urbano não
se associa ainda a uma visão crítica da industrialização capitalis
ta, mas é uma advertência sobre o caráter cosmopolita das gran
des cidades do litoral, esquecidas da realidade da província cuja
conseqüência é a desintegração do país. A esta altura ele se per
gunta: “Está o Brasil em idade de sofrer as dúvidas e as angús
tias que acabrunham a Europa? Devemos transplantar para aqui
os problemas dos povos fatigados? Insistiremos em agravar a si
tuação do desequilíbrio entre a faixa litorânea e o sertão? O cos-
mopolitismo de certas zonas brasileiras não representa maior pe
rigo para os destinos da nacionalidade, do que o fanatismo deli
rante dos núcleos incomunicáveis dos recessos do país?” (60).
Plínio refere-se noutra passagem, aos riscos da “indiferença
cosmopolita”; “Chegou, entretanto, o momento de abrirmos os
olhos para os perigos que nos ameaçam c à comunhão brasileira,
se triunfar o fatal indiferentismo cosmopolita” (C1)- Mas o que
no fundo angustia o autor, com relação à concentração urbana e
ao cosmopolitismo, é a grande permeabilidade das massas urba
nas às ideologias exóticas e o efeito do mal urbano sobre a for
mação da consciência nacional.
A preocupação do ensaio de Plínio Salgado, entretanto,
ultrapassa os limites dos problemas nacionais porque a geração
modernista está marcada pelos dilemas de sua época. Ele pró-
prio manifesta esta opinião no prefácio de seu livro: “E ver-se-á,
finalmente, que tomei o Brasil dentro do seu tempo e das con-
52
tingências internacionais, sob a impressão fortíssima da situação
nacional em face da luta de idéias que derivou, nos velhos paí
ses, da Grande Guerra e da Revolução Russa” (C2).
Ele está consciente que em razão do declínio da democracia
liberal, a Europa se encontra frente a um dilema: o comunismo
ou o fascismo. “Ambos, profundamente materialistas, decretam
a falência da democracia — ou triunfa o imperialismo econômico
baseado no “nacionalismo”, no “fascismo”, na “ditadura mili
tar”; ou vence o imperialismo político da Terceira Internacio
nal” (63). Face a este dilema que ele não aceita para o Brasil,
Salgado, desde esta época, manifesta uma vaga intenção de agir:
“É prematura a organização dos partidos (. . .). Precisamos, an
tes de mais nada, criar uma opinião nacional, que não é mais
do que a coordenação das manifestações já expressas e definidas
da “alma nacional” (®4).
A partir desta época, dois elementos que permitem prever
o nascimento da Ação Integralista Brasileira encontram-se esbo
çados: o primeiro é o desejo de elaborar um pensamento novo,
adaptado à nossa realidade; o segundo, a existência de uma pre
disposição para o engajamento, embora a solução fascista não se
lhe afigure ainda como a melhor opção. Estas duas idéias se
encontram no prefácio do ensaio, onde Salgado faz alusão ao
papel reservado à sua geração: “Movimento (...) mais de ação
do que de pensamento, ele será, por certo, a Grande Véspera de
um definido pensamento nacional, que tomará com mão forte
o lugar que lhe compete na evolução política e social brasi
leira” (65).
Esta nova concepção deve buscar sua inspiração, sobretudo,
na análise da sociedade nacional feita por autores nacionais:
“Sentir-se-á nestas páginas a impressão que me tem ficado da
obra de Alberto Torres, da ponderação de Tavares Bastos, do
novo pensamento nacional que, com feições diferentes, por vezes
contrastantes, espalha-se na literatura social e política de Oliveira
Vianna, Pontes de Miranda, Licínio Cardoso, Roquette Pinto,
53
Tristão de Athayde, Jackson de Figueiredo, e outros de igual
merecimento” (66). Resta a sublinhar que Salgado se recusa a
fazer um julgamento definitivo sobre os sistemas políticos exis
tentes e sua posição com relação aos regimes comunista ou ca
pitalista. “Nem desejo antecipar-me a idéias que poderão ir ama
durecendo vagarosamente no meu espírito à proporção que a
experiência e a observação constante dos nossos fenômenos na
cionais me forem esclarecendo no rumo mais útil aos interesses
humanos. O necessário é colher do que se passa no mundo al
guma lição proveitosa” (*7).
O último aspecto a ressaltar são os motivos que impõem a
necessidade de uma ação político-ideológica. A primeira é a
constatação de que novas camadas sociais aparecem na luta so
cial e política; a segunda, a elaboração de um novo tipo étnico
nacional; a terceira, a superação da ameaça cosmopolita pela
afirmação nacional.
O primeiro motivo envolve a proposição de que as trans
formações da sociedade devem ser dirigidas, idéia que ele colo
cará em relevo nos seus romances sociais: “As manifestações
volitivas, desordenadas e sem rumo da atividade brasileira, ex
pressas em formas partidárias ou revolucionárias destes últimos
tempos, longe de nos entristecerem, revelam-se como sinais da
presença de forças reais, que a mentalidade nova do Brasil deve
aproveitar e dirigir” (68).
O segundo estabelece uma relação entre a elaboração so
ciológica e a elaboração intelectual. Salgado retorna ao tema da
formação de uma nova raça que já abordara em seus primeiros
escritos: “Há um paralelismo extraordinário entre o destino geo
lógico do nosso continente sul-americano e a sua predestinação
social (. . .). Aqui, inicia-se a elaboração de um tipo futuro de
humanidade, cuja expressão é ainda tão incerta como a fisio
nomia geográfica que resultará do drama geológico do Ama
zonas” (e®).
O terceiro motivo implica na convergência da nova ação
ideológica sobre a pesquisa da identidade nacional, que deve se
apoiar sobre dois elementos: o nacionalismo primitivo e o nacio
nalismo integrador da nacionalidade. Nacionalismo primitivo por
que “somos embalados pelas mesmas lendas nativas (. . .), pelos
(66) Ibid., p. XI.
(67) Ibid., p. 48.
(68) Ibid., pp. 39 c 40.
(69) Ibid., pp. 88-90.
54
cantos da terra e da raça, pelas nossas histórias heróicas, que
não podemos deixar que se extingam” (70); nacionalismo de in
tegração nacional porque “chegamos ao momento decisivo em
que devemos optar: ou pela obra de unificação espiritual da na
cionalidade dentro das nossas condicionalidades históricas, geo
gráficas e sociais, ou pela abdicação completa de nossos direitos
de afirmação, da nossa fisionomia de povo e de país” (71).
b — Os romances sociais
A análise de alguns temas do ensaio “Literatura e Política”
permite constatar que Salgado se mostra sensível aos problemas
políticos e ainda aberto às influências ideológicas. Na trilogia
dos romances sociais, ele vai mais longe, porque, sob a forma de
“crônicas da vida brasileira”, focaliza os aspectos mais impor
tantes da evolução da sociedade nas três primeiras décadas do
século XX.
O Estrangeiro, publicado em 1926, é geralmente considerado
como uma das melhores expressões romanescas (72); em 1931
aparece O Esperado, cujos capítulos finais foram escritos em
Paris; enfim, o último romance da trilogia, O Cavaleiro de Ita
raré, foi editado em 1933, após a fundação da Ação Integralista
Brasileira.
Dois aspectos preliminares devem ser abordados. O pri
meiro concerne à continuidade dos três romances: teria o autor,
desde o início, a intenção de construir uma trilogia, ou seriam as
“crônicas da vida brasileira” simplesmente romances isolados
versando sobre problemas de evolução sócio-política? Em teste
munho recente sobre a história dos romances, Salgado afirma
que “não tinha a intenção de fazer uma trilogia. Os romances
nasceram espontaneamente” (73). Entretanto, em contradição com
55
sua declaração, Salgado escreverá no prefácio da primeira edi
ção de O Cavaleiro de Itararé, em dezembro de 1932: “(9 Cava
leiro de Itararé foi anunciado na primeira página de O Esperado,
em 1930, como a terceira etapa de um trabalho que eu me pro-
pus depois de O Estrangeiro em 1926 (...); é o terceiro tes
temunho de um contemporâneo. O Estrangeiro foi uma adver
tência, O Esperado um prognóstico. O Cavaleiro de Itararé de
veria ser ou uma glorificação ou um anátema contra a naciona
lidade” (n). Se a intenção de proselitismo está manifesta neste
prefácio, no de O Esperado, com um tom menos retórico, ele
faz também referência a um esquema de trilogia pré-concebido,
embora pareça provável que ele se tenha elaborado a partir do
sucesso de O Estrangeiro. Plínio escreve que O Esperado ‘‘per
tence à série de crônicas da vida brasileira contemporânea, que
começaram com O Estrangeiro, que se desdobra diante do pano
rama mais complexo de O Esperado e que continuarão, possi
velmente, no terceiro marco da nossa marcha, que será O Cava
leiro de Itararé" (75).
O segundo aspecto implica em que não se pode compreen
der a ideologia integralista sem penetrar no significado dos ro
mances de Salgado, onde se encontra sua interpretação da reali
dade brasileira, num período de ebulição política e, ao mesmo
tempo, alguns temas de sua concepção ideológica através de ma
nifestações de certos personagens.
A leitura da trilogia romanesca revela uma crescente politiza-
ção da temática do autor. O Estrangeiro limita seu tema às
regiões brasileiras sob a influência da imigração, enquanto em
O Esperado e O Cavaleiro de Itararé, ainda que o enredo se
circunscreva a São Paulo, se referem ao sistema político e social
brasileiro em seu conjunto. O Estrangeiro preocupa-se com o
problema da assimilação do imigrante à comunidade nacional.
O Esperado descreve o drama das massas disponíveis à espera
de um messias. O Cavaleiro de Itararé, enfim, faz a análise crí
tica das revoluções brasileiras.
Seria, pois, válido avançar a hipótese de que a ampliação
dos temas nos romances se explica fundamentalmente pela de
finição progressiva das intenções políticas do autor. Quando
56
Salgado termina de escrever O Esperado, a formação de um
movimento ideológico já estava em seus planos desde seu retorno
da Europa, enquanto O Cavaleiro de Itararé aparecerá dois me
ses após a fundação da Ação Integralista, com evidente vocação
política. Aliás, essa relação entre sua atividade de romancista
e sua ação política já era estabelecida por seus adeptos políticos:
“Hoje ele é principalmente o pensador político. Ontem, era o
romancista ágil e visionário, mas não poderá compreendê-lo quem
separar as duas faces de sua personalidade. Para entender Psico
logia da Revolução, é preciso ler O Estrangeiro, O Esperado e
O Cavaleiro de Itararé. É evidente que o pensador de hoje já
existia em germe no romancista de ontem” (76).
O Estrangeiro foi publicado em janeiro de 1926. A pri
meira edição de três mil exemplares esgota-se rapidamente e uma
segunda edição é colocada nas livrarias, em setembro do mesmo
ano. Este romance tem como subtítulo “Crônica da Vida Pau
lista” e pretende “fixar aspectos da vida paulista nos últimos
anos” (77).
A problemática que está subjacente no romance, é “a for
mação de São Paulo, que era a do Brasil. Conglomerado de ra
ças de várias procedências, de culturas, umas querendo sobre
pujar as outras”; a mensagem do livro, é o “nacionalismo” (78).
Seu objetivo principal é descrever a “vida rural, a vida provincial
e vida na grande cidade”, onde as correntes migratórias de di
versas origens estão por realizar uma grande fusão étnica. O
romance mostra “a ascensão social do colono (a família Mandol-
fis); a decadência das raças antigas (a família Tapajós); a mar
cha do “caboclo” para o sertão e o seu novo percurso para o
oeste (Zé Candinho); o deslocamento do imigrante nas suas
pegadas para criar um novo período agrícola (Humberto); o re
gresso dos antigos fazendeiros para a Capital e a chegada de
novos elementos para a função pública” (70).
Neste contexto de mobilidade social e geográfica, Salgado
revela “o nacionalismo latente no mestre-escola Juvêncio”, o
personagem com o qual mais se identifica. Contudo, o persona
gem central do romance é Ivan, um emigrante russo, “síntese de
(76) MOT1A (Jeovah), Plínio Salgado, op. cit. (obra coletiva), p. 115.
(77) SALGADO (Plínio), O Estrangeiro, São Paulo, Editora Helios,
1926, p. 7.
(78) Entrevista com Plínio Salgado, Brasília, dezembro de 1969.
(79) SALGADO (Plínio), O Estrangeiro, p. 7.
57
todos os personagens” (80), que após ter trabalhado na agricul
tura emigra para a capital, onde se torna bem sucedido indus
trial. O epílogo do romance é o suicídio de Ivan, durante uma
festa que promove em sua usina, cujo ato simboliza as angústias
do Velho Mundo que traz consigo, das quais não se libera, por
que sua integração à sua nova pátria fracassara. A crítica dos
costumes políticos se limita ao chefe da oposição, o major Fe-
liciano, encarnação do ‘‘charlatanismo da política imperante” (81).
O centro deste romance, em última análise, é o drama de Ivan,
isto é, a luta do estrangeiro procurando se enraizar em uma nova
sociedade e arrastando com ele toda uma gama de problemas
universais.
O próprio Salgado, num artigo escrito em 1956, reconstitui
o clima no qual fora elaborado o romance: “Respirava-se na
Terra Bandeirante uma atmosfera de vivo nacionalismo e brasi-
lidade. Um grande educador, Guilherme Kulmann, realizava o
pensamento do Presidente do Estado (Washington Luiz), crian
do nos Grupos Escolares um escoteirismo profundamente brasi
leiro e (...) a Instrução Moral e Cívica.” Em 1923, Salgado
acompanha o Secretário da Educação, Alarico Silveira, em uma
viagem ao Norte do Estado de São Paulo, região em que se de
fronta com a nova realidade: o processo de assimilação dos imi
grantes. “Foi em Monte Aprazível que senti o primeiro toque
de inspiração revelando-me o tema que desenvolví depois no
romance. Nossa primeira visita foi às Escolas Reunidas (.. ).
Meninos e meninas, fardadinhos de escoteiros, militarmente ali
nhados, romperam o Hino Nacional. As suas fisionomias reve
lam o processo de caldeamento: europeus, asiáticos, negros, mu
latos, caboclos, exprimiam-se num só tom cantando o Hino da
nossa Pátria” (...). Regressando a São Paulo, escrevi um ar
tigo com o título “A Terra Jovem”, que o Correio Paulistano
publicou. Nunca imaginei que esse artigo fizesse tão grande su
cesso (. .). Posteriormente, em minhas funções de repórter, vi
sitei a velha zona do café (. . .). Uma típica fazenda dos tem
pos patriarcais apresentou-se aos meus olhos (. . .). Foi ali que
eu criei a família Pantojo; a decadência dos paulistas antigos
(. ..) e o tipo de Zé Candinho, o caboclo forte (. . .) mas in
conformado naquela zona velha da Mogiana, pronto para a
aventura sertaneja que ele deveria empreender” (82).
(80) Ibid., p. 8.
(81) Ibid.
(82) SALGADO (Plínio), Sentimentais, op. cit., pp. 358-363.
58
A. trama de O Estrangeiro coloca em relevo dois temas que
preocupam Salgado nesta época: a fusão étnica e o nacionalismo.
A epígrafe da primeira parte do romance define a idéia da
assimilação étnica: “Eu creio que o Saci, na sua puerilidade, sabe
enfrentar todas as formas do imperialismo pacífico. . (83). Este
tema reaparece sistematicamente na boca de diversos personagens:
“O major Feliciano não admitia que estrangeiros governassem.”
O mestre de escola, Juvêncio, na sua fé nacionalista, exprimindo
o pensamento de Salgado, respondia que era preciso “paciência
e reação contínua. Eles serão absorvidos. É uma fatalidade” (84).
O tema do nacionalismo aparece na situação burlesca do
mestre de escola, Juvêncio, estrangulando perante seus alunos, os
papagaios que ganhara de presente, porque haviam aprendido
com seus antigos donos emigrantes a repetir as palavras do
hino fascista: “Giovinezza, Giovinezza, primavera di belleza!”
Juvêncio exalava nacionalismo: “o patriotismo é a religião ter
rena”. A pátria “é um misterioso idioma que se conversa com
a terra e com as estrelas. Só o entende quem sofreu e sentiu
no país”. . . (85).
Estes dois temas se conjugam na idéia de Juvêncio orga
nizar “um exército de tradições e instintos da terra (. . .), para
construir com eles a viva muralha chinesa, que tornaria o Bra
sil inatingível” (8fi).
Este nacionalismo é indissociável do tema do anticosmo-
politismo que se encontra na epígrafe da segunda parte do ro
mance: “e, apesar de todas as luzes de uma civilização cosmo
polita, o Boitatá acende o seu fogo no sertão”. . . (87). O pro
fessor Juvêncio explicita esta idéia ao dizer que “o urbanismo é
a morte da nacionalidade. Porque é a morte do homem trans
formado no títere cosmopolita. O homem degrada-se em con
tato com o homem; só a íntima correspondência com a Natu
reza o eleva da condição universal de símio” (88).
Mas o tema que domina é o da formação da nacionalidade
e que Ivan sintetiza numa passagem onde, criticando a velha
59
sociedade decadente, anuncia a nova nação, simbolizada por
alguns personagens do romance. “Aqui estamos atores da Tra
gédia Nova. Sinto o Brasil corpo e alma, palpitantes. . . Hum
berto (o filho de um imigrante) é o Sangue; Eugênio (o inte
lectual) é o Espírito, e Juvêncio (o mestre de escola naciona
lista) é o Sentimento — Coração do Brasil — que marcará o
ritmo do sangue novo. .(89).
O Esperado, publicado em 1931, é um romance complexo
e controvertido, cuja trama é de natureza política. Salgado o
publicará após a Revolução de 1930, sendo que alguns capítu
los foram escritos durante sua viagem à Europa, quando já
havia decidido criar um movimento político. Este livro foi
acusado por muitos de ter um conteúdo messiânico. E Salgado
se defende: “Este livro é um inquérito, é uma posição nume
rosa de estados de espírito nacionais’’ (90). Romance, messiâ
nico ou não, é uma questão polêmica mas o que é indiscutível
é a análise crítica das instituições da Velha República, que
Salgado desenvolve em suas páginas.
A história do romance gira em torno de um projeto de lei
prejudicial aos interesses do Brasil em discussão no Legislativo
e que daria a um truste inglês o controle sobre a venda do café
brasileiro no mercado internacional. O projeto é apoiado por
um senador da República que devia manipular a máquina polí
tica, fazendo-o passar no Congresso. As implicações econômi
cas, sociais e políticas do projeto, porém, desencadeiam uma
luta acesa entre diversos grupos sociais e ideológicos com inte
resses contraditórios. Esta disputa introduz na cena política
novos grupos sociais produzidos pelo processo de urbanização:
estudantes, trabalhadores, intelectuais e organizações ideológicas.
Ao contrário de O Estrangeiro, onde Ivan é o centro do
enredo, este romance não possui um personagem central. Sal
gado se esforça em imaginar uma história onde “não se desta
casse nenhuma figura isolada da tragédia espiritual em que ele
mesmo vivia, junto de seus companheiros’’.. (91)- A crítica
da Velha República se encarna na figura do senador Avelino
Prazeres, sem ideologia definida, oportunista e corrupto, asso-
60
ciado a grupos estrangeiros. O senador considera que “tudo se
pode enquadrar dentro dos bons princípios democráticos. Era
a psicologia do velho chefe. O espírito do regime (...) consti
tuía uma espécie de jardim de aclimatação, onde todos os bi
chos da fauna ideológica poderíam submeter-se a uma mesma
condição ambiente” (®2). Sua atitude face aos interesses estran
geiros no Brasil revela um certo cinismo, quando declara: “É
natural, representando o café o nosso grande produto e o Esta
do de São Paulo o centro das atividades do país, que para aqui
volte o sindicato as suas primeiras vistas (...). As vantagens
para os países pobres da América do Sul, como para o Brasil
e São Paulo, são incalculáveis, e, para nós, pessoalmente, muito
mais ainda. . . ” (93).
O autor mostra que existe uma solidariedade básica entre
um político da situação e da oposição, como o deputado Becca:
“Entre os oposicionistas e os governistas havia um acordo táci
to; o mesmo respeito pueril pelas fórmulas republicanas (. . ).
Seria injusto dizer-se que Avelino Prazeres não era sincero. Ele
o era. O seu corpo e a sua alma constituíam uma verdadeira ar
gamassa republicana. A sua mentalidade equivalia, exatamente,
à do Dr. Becca, o deputado da oposição amamentado, também,
no mesmo leite da legítima democracia (.. .)• Todo o empenho
de Becca consistia em provar que Avelino não praticava os prin
cípios republicanos. E Avelino fazia soar as tubas de sua elo-
qüência para demonstrar que o Dr. Becca punha em perigo o
regime” (°4).
Além destes dois políticos típicos da Primeira República,
aparece nos bastidores a figura de Mr. Sampson, representante
dos interesses ingleses defendidos pelo senhor Avelino, e a de
Mr. Hyggins que apóia a oposição na luta em favor dos inte
resses americanos contra o imperialismo inglês: “Os jornais
falavam de Mister Sampson como uma potência providencial.
Ele aparecia em todos os negócios, facilitando empréstimos aos
governos dos Estados e dos Municípios (...). Impunha-se como
um embaixador do capitalismo imperialista das velhas nações
absorventes” (°5). No outro campo, havia Mr. Hyggins cola
borando com a oposição: “Mr. Hyggins, de New York, falava
na doutrina de Monroe e chamava, para certos tópicos da con-
61
versa, o testemunho de autoridades norte-americanos em direi
to público, em direito internacional e ponderações comercia-
listas” (90).
O autor descreve uma sociedade em transição com suas
conseqüências psico-sociológicas. Personagens dos mais contra
ditórios se apresentam no palco e expressam as mudanças da
sociedade brasileira: Soiidônio, o trabalhador contestador, os
esquerdistas Mano e Manfredo, o burocrata Camurça, o jorna-
lista oportunista Gavião Teixeira e o cabo eleitoral Conrado.
Como dizia Jeovah Motta: “Em traços crus desfilam através
das páginas nervosas as paisagens morais e intelectuais daquele
tempo: a corrupção política, a escravidão do país aos interesses
dos cabos politiqueiros e dos grupos financeiros, a mediocrida
de da vida, a luta dos fortes esmagando os fracos, a tortura da
mocidade trabalhada de dúvidas, de inquietações, de ânsias va
gas e de presságios tristes” (97).
Salgado procura exprimir a insatisfação geral da sociedade
na procura desordenada de uma saída. A primeira parte do ro
mance se intitula “Que Angústia é Essa”? Neste contexto surge
uma figura messiânica, associada às aspirações do “Clube Tal
vez” (98) e de todo o povo. É uma figura misteriosa, misto de
aspiração e de alucinação.
O messianismo se intensifica na terceira parte do romance,
intitulada “O Ofício das Trevas”, onde emergem as novas for
ças sociais em luta, por ocasião da discussão do projeto no
Congresso Nacional. O clima de agitação e de tensão política
descrito nesta última parte, explica o sentido messiânico da epí
grafe: “. . .e até que chegue o Desejado, serão multiplicadas as
angústias, e a Pátria terá, como nos dolorosos ritos, o seu Ofí
cio de Trevas!” (").
O messias se torna a fixação do “Clube Talvez”: “Evange-
lino Tupã, de olhar iluminado, anunciava profético — Cairão as
Trevas, o Sol se apagará. Os homens tatearão e ninguém se
entenderá. E os corações esperarão a aurora, na noite longa” (’°°).
62
A obsessão messiânica se personifica na última parte do
romance, quando os grupos de defensores e de adversários do
projeto de lei no Congresso se defrontam na rua: é hora do
“Ofício das Trevas”. No momento em que o projeto é posto em
discussão no Congresso, eclode uma tempestade e com a luz de
um raio que percorre o céu, os membros do Clube vêem, pro
jetada no firmamento em convulsão, a figura de quem eles es
peravam.
O romance termina com o delírio de Edmundo Milhomens,
personagem com o qual Salgado mais se identifica e que sob o
efeito da febre, ouve o clamor de um povo em marcha desor
denada: “Parecia uma procissão vagarosa. Numerosa. De todos
os lados da carta geográfica do Brasil (. . ) Quarenta milhões
de seres humanos andando (. . ) Escutem. . Há um rumor de
passos. . O Brasil está andando. . São multidões que cres
cem de todos os lados. Não são barulhos do mar, nem das
florestas, nem do vento. Ouço passos andando. ..” (101)- E
Salgado conclui o romance com uma questão que ele deixa sem
resposta: “Para onde?” (102).
O Esperado é uma obra messiânica? Salgado, em uma nota
escrita no início do romance, em 1936, tenta refutar esta inter
pretação: “Em toda a minha obra política, não tenho feito outra
coisa senão combater o fatalismo messiânico (...)• Este ro
mance chama-se exatamente O Esperado porque fixa, de um
modo predominante, sobre as realidades sociais do Brasil, essa
enfermidade nacional.” Sua intenção seria a de descrever criti
camente a “marcha de uma população em disponibilidade que, à
espera de um vago Messias, sem um pensamento que a ilumine,
caminha, num rumor de passos, sem saber para onde” (103).
É indiscutível que Salgado critica a predisposição ao mes
sianismo do povo brasileiro, inclinado a esperar passivamente a
vinda de um salvador. Num artigo publicado em julho de 1931,
ele manifesta claramente uma atitude crítica face ao messianismo:
“Em todos os momentos angustiosos, espera-se um homem no
Brasil. É o único ponto em que todos os brasileiros estão de
acordo. Mas é fácil de explicar o motivo desse acordo. Ele se
origina do próprio desacordo geral. Só os povos sem nenhum
sentimento de unidade, sem nenhum senso político de coletivida-
63
de nacional conseguem fazer projetar-se no rebojo das angústias
das massas a figura fantástica do herói desejado.” Entretanto o
nacionalismo realista de Plínio leva-o a aceitar este fenômeno
como um lado da realidade psico-sociológica do povo. Considera
que não se pode rejeitar o messianismo, mas utilizá-lo como uma
fonte de energia política a ser transformada. No fundo, é em
nome desta visão da realidade que ele recusa como inviável a
transposição dos modelos políticos estrangeiros. “Como é frágil
o idealismo desses sonhadores que acreditam que a salvação do
Brasil virá do funcionamento dos partidos e da realização da
república perfeita. . . Como é utópico o sonho daqueles que ainda
acreditam que faremos alguma coisa, fora do terreno prático des
sas realidades elementares...” (104).
Apoiando-se nesta idéia, ele se propõe a transformar a ati
tude de passividade messiânica do povo brasileiro num elemento
positivo: “Ele só poderá surgir de um movimento nacional. Sem
criar o movimento em todas as providências não temos o direito
de esperar um homem. Pois o chefe exprime uma consciência,
uma cultura, uma unidade de propósitos, e enquanto estas não
forem criadas, não será estabelecida a corrente do pensamento,
o estado de espírito propício ao aparecimento de um intérprete
da Nação. Ao Messianismo contemplativo da raça, temos de
opor a criação dinâmica das circunstâncias culturais e morais
que constituem o meio propício à elaboração das personalidades
típicas expressivas do gênio da Pátria. A “virtü” de Maquiavel
é um índice de espírito nacional. O trabalho que nos cabe fazer
é o de criar as condições históricas indispensáveis ao afloramento
dessa “virtü” no tipo futuro do estadista brasileiro (105).
No romance que escreverá, em 1934, A Voz do Oeste, sobre
a epopéia dos bandeirantes, Salgado retoma o tema do messianis
mo. Ele pensa que o povo brasileiro resulta da fusão do messia
nismo português (“sebastianismo”), nascido da lenda de D. Se
bastião, rei durante a dominação espanhola, com o messianismo
indígena que ouve o apelo da terra (a voz do oeste), de onde
partiram seus ancestrais tupis. Os dois messianismos se mesclam
na fusão dos dois povos. Para viabilizar esta combinação de
messianismos foi preciso que a nação tupi descesse dos Andes
para o litoral atlântico e que os portugueses fossem tomados pelo
64
magnetismo geo-sexual”. Então, deste encontro, nasceu o no
messianismo que não é nem o sonho errante do índio, nem o
sonho contemplativo do lusitano: “Esse novo messianismo é todo
feito de ação. O homem que surge do cruzamento étnico do En
coberto” e da “Voz do Oeste” (...) foi a América que o re
velou” (10°).
Resta um outro tema importante a mencionar: a atitude do
autor face ao fascismo. Salgado não manifestara, até então, ne
nhuma simpatia pelo regime fascista nem em o Estrangeiro,
nem em seus escritos anteriores. No romance O Esperado obser
va-se uma mudança de atitude. Esta se revela num diálogo,
onde dois personagens discutem a melhor forma de resolver os
problemas do país. Após a rejeição do liberalismo “será o comu
nismo? Perguntou Lantier desdenhoso. O fascismo? Indagou
o velho Vivacqua”. A resposta anônima é: “Quem sabe? Quem
poderá dizer que coisa falta ao Brasil? Quem adivinhará que
ausência o mundo moderno deplora?” (107). O fascismo, por
tanto, não é mais para Salgado uma ideologia exótica imposta
pela Europa, mas torna-se aos poucos uma alternativa possível.
O Cavaleiro de Itararé foi escrito num período da decepção
de Salgado com a Legião Revolucionária de São Paulo e, sobre
tudo, com a indefinição da Revolução de 1930. A primeira é
provocada pelo abandono das idéias que propusera no texto do
Manifesto da Legião, que redigira após seu retorno da Europa.
A segunda pela ausência de direção ideológica nos rumos da Re
volução de 1930.
O romance aparece dois meses após a divulgação do Mani
festo Integralista de outubro de 1932. Seus objetivos são polí
ticos e, para alguns críticos literários, este romance marca o mo
mento do abandono da literatura. O romance se dirige “à juven
tude civil e militar do Brasil” e o autor precisa que se trata de
um livro “escrito em horas amargas de desilusão, diante do pa
norama de uma pátria aviltada pela ignorância, pelo egoísmo,
pela má-fé de uma geração infeliz” (. . .). O romance constitui
um livro apaixonado. Um livro de ironia e de revolta. Um livro
de sarcasmo e de violência (...).É um livro de angústia, de
cólera sagrada, composto atropeladamente, aos pedaços, muitas
vezes nos instantes mais dramáticos de uma vida de obscuros
(106) SALGADO (Plínio), A Voz do Oeste, Rio, Livraria José Olym-
pio, 1934, pp. 120-121 e 144.
(107) SALGADO (Plínio), O Esperado, op. cit., p. 82.
65
heroísmos (108). Plínio conclui seu prefácio, lançando um desa
fio e um apelo dramático à juventude: “Se a juventude civil e
militar não assume um papel decisivo; se continuarmos a assis
tir, de braços cruzados, à confusão dos espíritos, ao jogo das intri
gas, ao desencadear das ambições dos mil grupos que desarticu
lam a opinião nacional, então nada mais resta a tentar pela sal
vação do Brasil. E este livro pode muito bem ser o epitáfio de
uma Pátria” (109).
A história do romance parece banal: duas crianças, perten
cendo a famílias de níveis sociais contrastantes, são trocadas por
ocasião do nascimento. O filho da família de linhagem aristo
crata é educado por uma família modesta e numerosa que, não
podendo suportar os encargos de tantas crianças, destina um
deles a um seminário e outro à caserna. Desta circunstância, Ur
bano seguirá a carreira militar e será mais tarde um dos tenentes
da Coluna Prestes e acabará exilado no Paraguai. Teodorico, fi
lho do pobre Capistrano, recebe sua educação em Paris, tornan
do-se um “bon vivant” e aproveitador. Certo dia, seu irmão de
sangue, Pedrinho, ferroviário (sem que nenhum dos dois o saiba)
vem a amar a jovem Elisa com a qual pretende se casar. Teo
dorico, por sua vez, deseja fazê-la uma de suas amantes, sob a
instigação de uma alcoviteira. Pedrinho, furioso, agride esta mu
lher e acaba na prisão. Revoltado com sua situação, começa a
ler obras comunistas e quando é posto em liberdade consagra-se
a atividades políticas que o levarão mais uma vez à prisão, sob
denúncia de Teodorico. Pedrinho jura vingança. O tenente Ur
bano, tomando conhecimento do segredo do seu nascimento e do
ódio de Pedrinho a Teodorico, retorna do exílio para impedir o
afrontamento fratricida. Tentando evitar que os dois irmãos se
exterminassem, Urbano se interpõe entre eles e termina sendo
atingido mortalmente pelos golpes que se destinavam aos dois
desafetos.
Este epílogo trágico é uma crítica velada das revoluções bra
sileiras: a luta entre os irmãos simboliza para Salgado o caráter
fratricida e absurdo das insurreições no Brasil. Contrariamente
a uma versão segundo a qual O Cavaleiro de Itararé seria a antí
tese do “Cavaleiro da Esperança”, afirma que o tema origina-se
de uma lenda do sertão paulista: “O Cavaleiro de Itararé é um
fantasma que aparece de madrugada e bate nas portas das fazen
das e onde ele vai, no dia seguinte vem a peste, vêm as moléstias,
(108) SALGADO (Plínio), O Cavaleiro de Itararé, op. cit., p. 5.
(109) Ibid., p. 6.
66
í
todas as desgraças. Então eu ^ol^o ^le “‘Xtasma.
sileiras. É o fantasma, lem siuo uu » „
Como análise, é o melhor dos meus livros ( J-
O romance menciona todos os movimentos revolucionários
ocorridos no país a partir da década de 20: desde o levante o
forte de Copacabana em 1922 e a marcha da Coluna Prestes ate
as revoluções de 1930 e 1932. A crítica mais acerba recai sobre
a revolução de 30, enquanto que sua atitude face ao movimento
“tenentista” revela uma certa admiração pelo heroísmo dos revol
tados e justifica inclusive a intervenção dos militares na política:
o tenente Urbano pensa que “seria um mal o predomínio militar
num imenso país de paisagens, mas refletia que maiores perigos
se avolumavam nessa excomunhão da vida nacional a que atira
vam o exército”. Ele atribuía aos militares uma missão: “a de
redentor da nacionalidade, não a de instrumento nas mãos de
oposicionistas astutos, nem de capacho aos pés de governistas
prostituidores”. . . (1U). Quanto à Coluna Prestes sua visão é
mais negativa. Ainda que Urbano considere as populações que
acolheram favoravelmente a Coluna como populações “libertas”,
o autor pergunta: “Mas libertados de quê? Qual o pensamento da
Coluna? (. .). Aquela marcha, acaso não constituiría um novo
anestésico para o esquecimento de realidades pungentes...?” (112).
O exílio de Urbano no Paraguai significa não-somente seu
desacordo com Prestes que optara pelo marxismo, mas uma ati
tude crítica face à Revolução de 1930: “Divergindo do chefe,
que dera o próprio nome à horda errante e agora se deixava
empolgar por uma doutrina tão contrária ao sentimento brasilei
ro, Urbano, entretanto, não aderia a uma nova revolução, inde
finida como a própria indefinição da Coluna” (113).
A Revolução de 1930 é ironizada por Maranduba, persona
gem que encarna o pensamento de Salgado. A alguém que lhe
pergunta se é revolucionário, responde que: “Queria saber o que
se entendia pela palavra revolucionário. Se se tratava de possuir
idéias novas, respondia afirmativamente: se se tratava, P°rerp’
de derrubar gente velha para manter idéias velhas com g
nova, respondia negativamente” (n4). . r^ário “mendi-
No fim do romance, a figura doinferior,
populações
gando, quase cego e louco”, representa as p p Ç
(110) Entrevista com Plínio Sajgado. de Itararé, op- cit., P- 100.
(Hl) SALGADO (Plínio), O c Cavaleiro
-
(112) Ibid., p. 153.
(113) Ibid., p. 160.
(H4) Ibid., p. 188. 67
vítimas dos revolucionários. “Cesário não resistira (. ) aos de
sastres de 1930. Como uma obsessão trágica, ficara-lhe gravada,
na imaginação doentia, a imagem fúnebre do Cavaleiro de Ita
raré.” Ele exclamava, vagueando pelas ruas: “Escute! É o tropel
do Cavaleiro! Foi ele quem me desgraçou! (. .). Ele anda
galopando agora por toda a parte!” E Salgado conclui com esta
frase no fim da página: “O Cavaleiro de Itararé, fantasma cruel,
símbolo das revoluções malditas, galopava sinistramente na ampli
dão do Brasil...” (115).
No contexto deste romance satírico, pessimista e caótico,
sobressai a figura visionária do filósofo Maranduba, que acaba por
encarnar uma espécie de caricatura autobiográfica de Salgado, com
intuições sobre sua ação política ulterior. É um nacionalista exal
tado com pretensões filosóficas. Torna-se patriota, quando, com
5 anos, ouve o realejo de um cego tocar o Hino Nacional: “o velho
Maranduba lhe explicara que aquela música era a alma do país .
Mais tarde sua mãe narra-lhe as “histórias heróicas das guerras",
concluindo: “Abençoados os que morrem nos campos de batalha,
desfraldando a bandeira “Deus-Pátria-Família-Liberdade” (com
a exclusão da palavra “liberdade”, esta será a divisa do integra-
lismo). Aos onze anos, suas tendências patrióticas se apagam
frente à devoção religiosa: “Invadia-o um suave sentimento mís
tico, chorando a infância pobre de Jesus e amaldiçoando os ju
deus”. Aos vinte anos, “encontramo-lo patriota exaltado, mas
um literário, admirando Rui Barbosa e fazendo discursos (116).
Aos poucos Maranduba descobre que existe “uma Pátria-
-oficial escondendo uma Pátria-real” e, a partir desta tomada de
consciência, ele começa a elaborar suas idéias filosóficas e evolui
“do patriotismo essencial para a idéia absoluta, e desta para a
energia criadora” (n7). Parece seduzido pelo corporativismo
porque “é preciso examinar as opiniões segundo o critério pro
fissional que as emite” (118) e fascinado pela “vida heróica” (110).
Admirava os militares, cientistas, caboclos, operários e crianças.
Detestava os literatos, os jornalistas, os políticos e os chamados
eruditos. Destes dizia que nos oferecem consciências falsificadas,
que retardam a revelação da Grande Consciência” (12°).
(115) Ibid., p. 275.
(116) Ibid., p. 85.
(117) Ibid., p. 86.
(118) Ibid.
(119) Ibid., p. 88.
(120) Ibid.
68
Maranduba toma consciência da necessidade de agir. O tema
do messianismo retorna a seu espírito. “Sentia que alguma coisa
estalava, quebrava, e urgia criar algo novo para os dias de tumul
to, que estavam próximos. Como que escutava um tropel surdo,
indistinto. Dos revoltados, dos sonhadores, dos aflitos. Eram os
bárbaros” (121). Decide então criar um movimento com o nome
de “Associação dos Fósforos de Segurança”. É uma organização
hierarquizada: na direção está o “quadro de marechais”, que
tinham por objetivo recrutar adeptos e fazer propaganda. Os
“generalíssimos” se incumbiríam de pagar as despesas (. . .); um
“regimento de bambas” se incumbiría de “rachar a cabeça dos
que tentassem agredir Maranduba” e, enfim, na cúpula estaria
o “senado retórico”, do qual fariam parte os oradores e arti
culistas partidários da “unidade criadora”. “Adotou um unifor
me, que consistia apenas de um chapéu de aba quebrada na
testa, presa à capa por um alfinete que trazia o símbolo da
organização” (122).
Infelizmente, a organização de Maranduba fracassa e seu
fundador retorna à solidão filosófica. Um dos personagens do
romance explica a razão do insucesso: “A doutrina de Maranduba
não pode medrar, justamente pelo seu conteúdo de afirmação.
É demasiado absoluta para uma raça que se distingue exatamente
pelo culto dos relativos” (123).
A trilogia termina, pois, com um romance pessimista e sar
cástico. Na realidade, o que está subjacente aos três romances é
uma concepção trágica da existência e da evolução histórica: em
O Estrangeiro, Ivan se suicida; em O Esperado, Milhomens de
lira e ouve os estranhos ruídos, em O Cavaleiro de Itararé, Cesário
fica louco. Em todos estes romances, a sociedade brasileira está
impregnada de uma angústia generalizada, as novas camadas
sociais são bárbaros ameaçando as portas da cidadela, as revo
luções trazem o mal e a peste. Mas uma pergunta permanece
no ar: qual o sentido do fracasso da filosofia de Maranduba?
O paradoxal é que a história de Maranduba não é apenas uma
caricatura romanesca mas uma profecia real do movimento
integralista.
69
SEGUNDA PARTE
GÊNESE DA IDEOLOGIA
71
CAPÍTULO I
73
1 — A DESCOBERTA DO FASCISMO
74
De há tempos que me impressiona o enfraquecimento do po ^r
central (...), o espírito de regionalismo que se acentua dia a
dia e que nos leva a caminho do separatismo; a questão social,
que nos arrastará, de um momento para outro, ao bolchevismo
(. ). O Império legou à República um país unido, homogêneo
(. . .), a República, com mais vinte ou trinta anos, terá comple
tado a sua obra de dissociação” (6).
Após o diagnóstico da situação brasileira, onde se conjugam
o antiliberalismo, o anticomunismo e o nacionalismo, Salgado
sugere “algumas soluções aos problemas nacionais”. “É necessário
agirmos com tempo de salvarmos o Brasil. Tenho estudado muito
o fascismo; não é exatamente esse regime que precisamos aí, mas
é coisa semelhante. O fascismo, aqui, veio no momento preciso,
deslocando o centro de gravidade política, que passou da metafí
sica jurídica às instituições das realidades imperativas (...). O
fascismo não é propriamente uma ditadura (como está sendo o
governo da Rússia enquanto não chega à prática pura do Estado
Marxista), e sim um regime. Penso que o Ministério das Corpo
rações é a máquina mais preciosa. O trabalho é perfeitamente
organizado. O capital é admiravelmente bem controlado (. . .).
Volto para o Brasil disposto a organizar as forças intelectuais
esparsas, coordená-las, dando-lhes uma direção, iniciando um
apostolado” (7).
Plínio conhece a experiência fascista italiana e, em uma das
cartas, relata sua entrevista com o Duce: “Contando eu a Mus-
solini o que tenho feito, ele achou admirável o meu processo,
dada a situação diferente de nosso país. Também como eu, ele
pensa que, antes da organização de um partido, é necessário um
movimento de idéias.” E conclui a carta enfatizando a necessi
dade de um nacionalismo agressivo: “Refleti sobre a necessidade
que temos de dar ao povo brasileiro um ideal que o conduza a
uma finalidade histórica. Essa finalidade, capaz de levantar o
povo, é o Nacionalismo impondo ordem e disciplina no interior,
impondo a nossa hegemonia na América do Sul” (8).
Quatro dias mais tarde, em nova carta enviada de Veneza,
após haver assistido a três exposições bienais que “honram a
Itália e, principalmente, o governo fascista”, retorna ao projeto
(6) Ibid.
(7) Ibid., pp. 19 e 20. . (
(8) Ibid., p. 21. Plínio também manifesta sua admiração pelo 1ras-
março/abril 1932
cismo no artigo, “Como eu vi a Itália”, publicado em março/abril iv
revista Hierarchia. Vide referência p. 108, nota 14.
75
de formar um movimento de idéias: “da Itália, saí com o pro
grama de ação. Esse fogo sagrado, não se apagará nesta mara
vilhosa França dissolvedora do caráter estrangeiro. Levá-lo-ei ao
Brasil. Volto cheio de entusiasmo para trabalhar pela nossa
Pátria” (e).
Contudo, seu projeto de formação de um novo movimento
não pode ser imediatamente realizado porque, quando chega ao
Brasil, em outubro de 1930, havia eclodido a Revolução, não
sendo o melhor momento para fundar um novo movimento polí
tico. Seu primeiro impulso é o de condenar a revolução: “Sal
tando em terra, tratei logo de combatê-la. Era a revolução que
defendia um fantasma, a liberal-democracia, concretizada na Cons
tituição de 1891” (10). Noutro artigo que escreve para O Correio
Paulistano, em 7 de outubro, reafirma seu pensamento: “O Brasil
tem um grande destino a cumprir (. .). Mas o Brasil só reali
zará esse destino se souber integrar-se no instante universal (. ).
O ciclo da evolução humana se caracterizou pela experiência das
fórmulas de um idealismo político cujos últimos lampejos se ex-
tinguiram definitivamente com a Grande Guerra”. E conclui que
o movimento de 1930 é “uma revolução em nome de um defunto.
Em nome desse liberalismo que já não constitui nem objeto de
discussão em qualquer país do mundo” (ll).
Entretanto, a atitude de Salgado com relação à Revolução
altera-se rapidamente. Inicialmente reconhece o fato de que ela
prestou ao menos um serviço: “Poupou-nos o trabalho de der
rubar uma velha fachada que escondia os dramas sociais do
76
país” (12). Mais tarde, considera que ela desvincula-se de sua
base liberal e termina reconhecendo que ‘‘o mérito da revolução
de 1930 é o de haver ofertado um leito onde afluem e correm
as angústias confusas do complexo nacional”. Com a evolução
da atitude de Salgado face a Revolução de 1930, compreende-se
sua ligação temporária com a Legião Revolucionária e, sobretudo,
o significado político de sua atividade de editorialista em A
Razão (13).
Salgado se desilude rapidamente da Legião. O ‘‘Manifesto
Legionário” de março de 1931 não encontra entre os revolucio
nários de São Paulo o apoio desejado. Tenta, ainda, com um
grupo de intelectuais do Rio (dentre os quais muitos participarão
mais tarde da Ação Integralista), “formar uma corrente para
defender os ideais do manifesto. Procura também um líder revo
lucionário que tivesse capacidade para os chefiar” (ri). A tenta
tiva de organização do movimento fracassa porque, como dizia
Salgado com ironia, “o Chefe não foi encontrado. . .” (15). Per-
cebe-se que ele hesita ainda, neste momento, em se impor como
tal, sentindo-se mais à vontade na condição de ideólogo. Após
mais esse fracasso, se consagra à redação do romance O Cavaleiro
de Itararé, concluído entre a Revolução Paulista desencadeada
em julho de 1932 e a publicação do Manifesto Integralista de
outubro.
2 — 0 JORNALISMO POLÍTICO
77
político, conduzindo os grupos políticos e ideológicos a se orga
nizarem a fim de influenciar o novo governo.
O período que vai até a Revolução Constitucionalista de São
Paulo, em julho de 1932, está polarizado por essa contradição
política. Os grupos que representam a burguesia e a pequena
burguesia urbana se dividem em torno da questão relativa à opor
tunidade da convocação da Assembléia Constituinte. Estas ten
dências organizam-se face à concentração de poder do Governo
Provisório que se atribui por decreto, em novembro de 1930, os
poderes executivos e legislativo até que uma Assembléia Consti
tuinte eleita estabelecesse a nova organização constitucional do
país.
Parte da opinião pública, tendo São Paulo como líder e com
o apoio de grupos revolucionários da oposição do Rio Grande
do Sul e de Minas, reclama a convocação imediata da Assembléia
Constituinte, em nome dos ideais liberais. Outra parte, de ten
dência antiliberal, liderada pelas correntes dominantes do “tenen
tismo”, do Clube 3 de Outubro, defende a continuidade do Go
verno Provisório (17). A posição de Salgado, manifestada diaria
mente em uma “nota política” no jornal A Razão, de São Paulo,
é a de um franco-atirador apoiando as teses do segundo grupo.
Vargas utiliza-se maquiavelicamente, no interesse de sua própria
política, das condições criadas pelas duas tendências, encorajando
os grupos a impor suas exigências. Seu interesse em manter os
plenos poderes, apesar da Revolução Constitucionalista, retardará
a convocação das eleições até maio de 1933.
A atividade jornalística de Salgado se orienta em função
de uma tomada de consciência da apatia ideológica do governo
revolucionário decorrente de suas contradições internas. O com
promisso dos revolucionários terminou com a conquista do poder.
E, do bojo do movimento, surgiram as mais variadas expressões
fruto dos desencontros ideológicos e dos conflitos entre os grupos
heterogêneos” (18).
78
A análise de Salgado é confirmada pelo testemunho de um
dos antigos militantes da A. I. B., que tenta interpretar, na pers
pectiva do movimento, o papel do integralismo face à revolução
I de outubro: “A Revolução de 30, depois da vitória, verificou
que não podia ser uma revolução liberal (...). O programa
liberal de 29 era puramente para efeitos eleitorais (...)• A
Revolução de 30, não podendo ser liberal, se encontra no dilema:
ou o socialismo ou o nacionalismo social moderno que ainda não
tinha o nome de integralismo. Quem ofereceu a orientação,
portanto, à vanguarda revolucionária da época foi Plínio Salgado
através do manifesto da Legião Revolucionária em São Paulo, em
1931 (. .). Este manifesto é a base do Manifesto Integralista
de 1932” (10).
No contexto desse marasmo político, Salgado constata a pre
sença de novos grupos ideológicos fazendo pressão sobre o sis
tema político: “um elemento novo entrava na política brasileira:
o comunismo internacional. Essa corrente ideológica tivera in
gresso no país depois da implantação do Bolchevismo na Rússia
( ), mas sua presença no Brasil começa a fazer-se sentir mais
fortemente pelas alturas de 1926, quando agentes de Moscou
principiam a conquista das classes intelectuais ( . .). No decor
rer de 1931, o partido comunista achava-se em franca atividade
da propaganda comunista, utilizando-se da infiltração de seus
elementos na imprensa e nas associações fundadas com o intuito
de dar à Revolução de 30 um caráter de continuidade no tocante
a reformas julgadas imprescindíveis” (20). Menciona, ao mesmo
tempo, o surgimento de grupos ideológicos de extrema-direita:
“Simultaneamente, novos grupos anteriormente conhecidos, como
os “Patrionovistas” em São Paulo, a “Legião Cearense do Tra
balho”, em Fortaleza (...), entravam em atividade” (21).
Nesta fase pós-revolucionária, Salgado, numa carta endere
çada em fevereiro de 1931 a seu amigo, o p>eta Augusto Fre
derico Schmidt, refere-se com entusiasmo à sua intenção de criar
um jornal: “Esse jornal terá um caráter de nacionalismo radical,
79
É o que, no momento, se pode fazer. Como você sabe, eu preciso
de um ponto de apoio. Nesse instante, eu me sinto imensamente
desamparado de elementos materiais para qualquer ação prática.
Esse jornal será o primeiro impulso. O centro de coordenação
dos lugares comuns do pensamento conservador (e quando digo
conservador, é por me faltar uma palavra com que designe nosso
movimento, que, positivamente, é também revolucionário, pois
conservar o que temos tido, desde 1889, será cair nos mesmos
erros da mentalidade liberal-democrática”). Plínio considera
ainda prematura a escolha de um chefe para o movimento. “Não
nos preocupemos, no momento, com o chefe. Este deve surgir
do movimento e não para o movimento. Ele surgirá no meio da
nossa batalha, por uma fatalidade de centralização de confiança
e de esperanças. Será um ponto de intersecção. Nós todos vamos
dirigir esta campanha, seremos simples soldados. Nosso comando
é o nosso ideal comum” (22).
Em meados de 1931, o jornal A Razão é fundado, cons
tituindo-se num passo decisivo para a formação da Ação Integra
lista (23). Sua orientação política é confiada a Plínio Salgado
e Santiago Dantas. A partir de julho de 1931 Salgado redige uma
“nota política” diária, onde fixa as bases políticas de sua ação
futura. Um ano mais tarde, a 23 de maio de 1932, a sede do
jornal é incendiada pelos adeptos da Revolução paulista. Entre
tanto, o objetivo de Plínio Salgado é atingido pela publicação
de mais de 300 artigos, fixando as bases ideológicas do integra-
80
lismo e estabelecendo contato político entre um grupo disperso
de intelectuais e de homens de ação em diversas regiões do pais.
E desta forma estabelece os fundamentos ideológicos de sua
ação política futura, com autonomia face aos revolucionários no
poder.
Seu primeiro editorial aparece a 5 de junho de 1931, sob
o título “Erros de Hoje, Perigos de Amanhã”, no qual define os
objetivos de sua atividade jornalística: “No Brasil não há ainda
um sentimento coletivo de interesse nacional. Cumpre-nos, ao
iniciar a discussão dos problemas que nesse momento nos suscita,
declarar, como base de uma orientação segura, que não há inte
resses estaduais diante dos supremos interesses nacionais. Colo-
cando-nos neste ponto de vista de nacionalismo integral, é que
iniciamos a nossa ação jornalística neste trepidante momento
da vida brasileira. Nesta nota diária, iremos traçando a linha
de um pensamento político, procurando marcar os rumos que
nos parecem mais acertados às novas condições e necessi
dades” (24).
A leitura da coleção de “notas políticas” permite não apenas
definir a atitude de Salgado com relação à Revolução de 1930,
mas a evolução dessa posição entre 1931 e 1932. Seria interes
sante analisar os seus artigos sob dois ângulos: primeiro, caracte
rizar sua atitude face à Revolução de outubro de 1930, compa
rando-a com a atitude de hostilidade ao seu conteúdo liberal que
ele manifesta ao retornar da Europa; segundo, explicitar alguns
dos temas centrais de seu pensamento político em elaboração e
que reaparecem, mais tarde, na ideologia integralista.
A posição de Salgado face à Revolução de 1930 já havia
evoluído de uma atitude crítica à sua inspiração liberal a uma
atitude de aceitação do fato revolucionário, na medida em que
a Revolução destruira o sistema político da Velha República. O
conjunto de artigos de A Razão mostra a evolução posterior desta
atitude: do mero reconhecimento de aspectos positivos da Revo
lução, ele passa a colaborar com o Governo Provisório. ssa
colaboração, no entanto, é limitada no tempo, já que,. após
meses de apoio a certas medidas da política revo ucionaria, .
gado retoma uma atitude de hostilidade crescente ao o^e desse
Vargas. A importância da sua evolução está em que a p
de Hoje, Perigos de Amanhã”, A
(24) SALGADO (Plínio), “Erros
Razão, 5 de junho de 1931.
81
momento ele começa a proclamar a necessidade de uma “nova
revolução” (25).
A primeira meta de Salgado é evitar que a Revolução de 30
se deixe envolver pelo conteúdo doutrinário da Aliança Liberal,
que lhe havia servido de bandeira eleitoral e cuja reivindicação
lógica seria a convocação da Assembléia Constituinte. Ele afirma
que diante do fracasso de quarenta anos de experiência repu
blicana “o Estado brasileiro, como todos os Estados liberais do
mundo, estava falido” (20). A penetração limitada na opinião
pública das Legiões Revolucionárias de Minas Gerais e de São
Paulo, cria condições para o retorno dos partidos tradicionais
à arena política. Em consequência, Plínio, em nome do “espírito
revolucionário” (27), denuncia os perigos do retrocesso da Re
volução. Essa tentativa de retorno ao passado é fruto, na sua
opinião, da formação de uma “corrente liberal-democrática que
pretende reconduzir a Nação às bases em que a Revolução a
encontrou”, isto é, às instituições da Constituição de 1891 (2S).
Entretanto, diante do fracasso das Legiões e da ausência
de perspectiva ideológica na Revolução de 30, Plínio Salgado
reconhece que “a hora dos partidos soou” e que “não lhe resta
outro caminho senão deixar que os partidos se agitem" (29) ainda
que “a solução dos partidos seja sempre medíocre" (30).
Nesta conjuntura ele tenta encorajar os partidos tradicionais
a pensar sobre as bases da futura organização política brasileira.
(25) A mudança de atitude de Salgado se fundamenta no caráter
irreversível do processo revolucionário, uma vez que, na base do movi
mento vitorioso em 1930, encontrava-se uma “revolução subjacente”. Ele
distingue a “revolução oficial”, declarada por certos Estados em função
do problema da sucessão presidencial, da “revolução em elaboração sur
da no espírito da nacionalidade”, como sendo “um conjunto de forças
desordenadas que agiam no subconsciente brasileiro”. SALGADO (Plí
nio), “O Primeiro Aniversário”, A Razão, 3 de outubro de 1931.
(26) Ibid.
(27) SALGADO (Plínio), “Marcha-ré”, A Razão, 14 de julho de
1931. junho de 1931.
(28) SALGADO (Plínio), “Marcha-ré”, A Razão, 14 de julho de 1931.
(29) SALGADO (Plínio), “A Hora dos Partidos, A Razão, 3/10/1931.
(30) A posição de Salgado se alicerça sobre a experiência da história
republicana e sua incapacidade de formar partidos políticos nacionais, des
de a campanha “civilista” de Rui Barbosa, em 1909, até a Aliança Liberal
de 1930. Além disto, como os partidos procuram prestígio junto a homens
ilustres, isso faz com que o povo perca sua capacidade política porque foi
“plasmado pela República para ser uma entidade amorfa, incapaz de co
nhecer ideologias”. SALGADO (Plínio), “A Inércia dos Partidos e o
Medo dos Políticos”, A Razão, 27 de junho de 1931.
82
Diante da indiferença dos partidos ao seu apelo, desencadeia uma
campanha intensa contra a convocação da Assembléia Constituinte
e, consequentemente, cm favor da continuidade da “Ditadura”
até que as bases da nova organização política fiquem bem estabe
lecidas. Para justificar seu ponto de vista, compara a situação
política de 1931 com a de 1890: “Em 1889, ao ser derrubado
o trono, golpe de Deodoro, havia um partido republicano com
programa definido” (31). Em 1931, a situação é muito diferente,
porque “a Revolução de 1930 encontrou o país numa imensa
fragmentação. Dentro da própria Aliança Liberal, que levantou
a bandeira revolucionária, não havia unidade de pontos de
vista” (32). Como as opções fundamentais do novo sistema polí
tico não foram ainda estabelecidas, Salgado pensa que a Consti
tuição só deve ser convocada “quando houver correntes bem defi
nidas a respeito das bases doutrinárias a serem adotadas” (33),
donde sua opção em favor da permanência do “governo provi
sório”.
Este momento assinala o início da fase de colaboração de
Salgado com o Governo Provisório. Seu apoio traduz-se em men
sagens exaltando o paternalismo do chefe do Governo Provisório:
“Continue, pois, o Sr. Getúlio Vargas a sua conscienciosa admi
nistração; seja o bom tutor deste povo infantil. Assuma a cari
nhosa, mas austera e vigilante atitude paterna para com este
nosso Brasil que está se revelando muito criança para decidir
seus próprios destinos” (34).
Entretanto, a solução proposta por Salgado não prevê a
permanência indefinida do Governo Provisório. Na realidade, ele
apóia a continuidade da ditadura até que se estabeleçam as regras
do jogo sobre o debate constitucional fora do esquema democrá
tico da eleição de uma Assembléia Constituinte. Ele propõe que
a solução do problema seja entregue aos “técnicos e estudiosos”
e sugere ao governo a criação de uma “Comissão Central de
Estudos” para formular as principais teses cujas “fontes serão
as estatísticas, os estudos regionais, as pesquisas históricas” (35).
83
Estes dados permitem avaliar a evolução da atitude de Sal
gado diante da Revolução de 30. Face à indiferença dos partidos
tradicionais ao seu apelo, decide apoiar o Governo Provisório.
Não se trata mais de tolerar apenas a Revolução, reconhecendo
alguns aspectos positivos, mas de colaborar na sua implantação
definitiva. Desde suas “notas políticas” contra os partidos e a
convocação da constituinte, havia um apoio indireto ao Governo
Provisório (36). Mais tarde, a partir de agosto de 1931, passa ao
apoio direto, afirmando que a “continuidade da Ditadura é um
sonho de verdadeiros revolucionários” (37). Essa posição condu
zirá Salgado a escrever uma série de artigos intitulados “Dire
trizes à Ditadura”.
Essa nova série de artigos tenta oferecer fundamentos ideoló
gicos à ação do Governo Provisório. Após haver criticado siste
maticamente a Velha República Liberal, Plínio insiste que é na
Ditadura e não mais na Revolução, que “nosso povo bom, traba
lhador, dócil, corajoso confia” (3S), propondo a extinção dos
partidos políticos e a implantação de um “partido nacional
único” (30). O apoio à ditadura não é incondicional, mas baseia-
-se na esperança de que o Governo Provisório, se apoiando em
“especialistas dos problemas nacionais”, disporá das melhores
condições para elaborar uma nova concepção do Estado, dando
rumos definitivos ao movimento revolucionário. A “Ditadura”
seria, pois, o instrumento para realizar a transformação do Estado
que, desde o seu retorno da Europa, se tornou para ele uma
verdadeira obsessão.
Após ter escrito uma série de artigos doutrinários, constata
que o Governo Provisório se mantém indiferente à sua pregação.
Sem perspectiva de influenciar o rumo dos acontecimentos, resta-
-Ihe como única alternativa lançar um apelo à juventude “A gera-
84
ção nova que contempla do alto do seu idealismo fundado na
realidade a planície imensa, onde tudo se confude na paisagem da
macega da política nacional, — essa é que deve assumir a direção
dos negócios da Pátria (...) Essa é que deve falar, que deve
agir, que deve governar” (40). Esse apelo torna-se uma afirma
ção e um prognóstico: “O Brasil surdo e paralisado há de er-
guer-se um dia: não de armas na mão, mas com a consciência
poderosa de novas gerações” (n). E para orientar a ação desta
juventude, Salgado define alguns pontos de referência doutriná
rios. O núcleo desta nova doutrina é uma visão filosófica da so
ciedade dirigida para uma finalidade moral e centrada sobre uma
concepção do Estado. “O Estado moderno, síntese de todas as
energias materiais, morais, intelectuais e espirituais de um povo,
não pode assistir indiferente à luta entre dois monstros apocalíp
ticos (capitalismo e comunismo).” É preciso definir “uma con
cepção nova do Estado”, baseada nas “finalidades superiores do
homem” (42). O conteúdo dessa doutrina, germe do integralismo,
é que cabe explicitar a partir de suas “notas políticas”.
85
“uma revolução está nascendo”, e que diante deste movimento,
o Brasil não retrocederá porque “se não for o de 32, será o de
uma data futura que será inevitável, tão certo como foi inevitável
o movimento de 1930” (43). O objetivo, portanto, dessa série de
artigos é o de estabelecer as bases ideológicas da nova revolução.
A análise dos temas dominantes dos seus editoriais permite
definir as linhas gerais de sua visão ideológica e avaliar o grau
de elaboração de seu pensamento político. Constata-se que as
principais dimensões da ideologia integralista já estão presentes,
ainda que de uma forma genérica e, algumas vezes, imprecisa.
Alguns temas, tais como o antiliberalismo e o nacionalismo, estão
bem definidos, enquanto outros permanecem num nível intuitivo
e vago, como, por exemplo, a organização do Estado.
Salgado começa por descrever o homem real para o qual se
destina sua mensagem. Inspirando-se na figura de Jeca Tatu, de
Monteiro Lobato, ele define simbolicamente o homem brasileiro:
“Jeca Tatu é o espírito nacional. É a incerteza do Povo Criança.
É o homem perdido no imenso meio físico (...)• O Jeca Tatu
exigia e continua a exigir decifradores. Ele não é a face ridícula
da Nação, mas a própria Nação” (u). Considera que o brasileiro
autêntico é desprezado pelos dirigentes do país: “Não podendo
compreendê-lo segundo a sua verdade e seu processo de vida e de
formação social e política, os homens acusam Jeca Tatu ( ).
Todo rumo da política brasileira tem sido o de um afastamento
contínuo dessa verdade essencial que é o homem do Brasil” (’15).
Convém ressaltar igualmente que a concepção ideológica de
Salgado se organiza a partir de um humanismo espiritualista, isto
é, “do princípio que considera o ser humano e os seus aglome
rados sociais (...), segundo uma finalidade superior, espiritual I
e moral (. . .). Assentado esse conceito, dele deriva, como conse-
qüência lógica, a concepção do Estado, como ponto de referên
cia das atividades humanas” (46). i
O Estado: nascida da crítica ao Estado liberal, a concepção
de Estado apresentada por Salgado reflete o clima ideológico dos
anos 30. Na sua opinião, a Europa produziu três modelos bási
cos da ditadura: o russo, o italiano e o português, todos com uma
(43 SALGADO (Plínio), “Construção Nacional”, A Razão, 20 dc
abril de 1932.
(44) SALGADO (Plínio), “Rumos a Ditadura” (IX), A Razão, 16
dc fevereiro dc 1932.
(45) Ibid.
(46) Ibid.
I
86
ideologia definida e baseada numa concepção particular do Esta-
do. Desta tipologia ele extrai a lição de que “as ditaduras dos
países civilizados se apoiam hoje em dia num corpo de idéias
mediante o qual são apreciados todos os problemas de ordem po
lítica e de ordem técnica” (*7). O Estado, porém, não deve ser
fruto de pura criação intelectual, mas moldar-se à realidade mun
dial e nacional. Além disto, Salgado acrescenta que o Estado
Moderno “conveniente a todos os povos é o que possa exercer
a sua ação na maior órbita possível. É o que disciplina e orienta
as forças vivas da nacionalidade” (18).
Colocadas as bases do Estado, o futuro chefe integralista
indica as suas principais finalidades: ele é a “força suprema inter-
veniente nos rumos e finalidades sociais (. .); Estado que, ga
rantindo a propriedade e a iniciativa privada, saiba demarcar os
limites do exercício das liberdades individuais, segundo os inte
resses gerais e nacionais; Estado em que as classes se representem
em corpos legislativos ( ); Estado que absorva todas as ener
gias da Nação e que as exprima num todo individual (’9). In
clusive, utiliza a expressão “Estado Integral” para o caracterizar
como “conjunto de forças materiais, morais e intelectuais (. . ),
impondo um finalidade humana aos povos” (50).
A estrutura do Estado deve ser corporativa e unipartidária,
tornando-se o quadro no qual as diversas categorias profissionais
se fazem representar em órgãos legislativos. Seu conteúdo se
explicita, quando Salgado afirma que o Estado deverá ter por
base “a sindicalização de todas as profissões e a representação
de cada uma delas, quer nas Câmaras Municipais, quer nas Le
gislativas Estaduais, quer no Congresso Federal” (51).
Critica, finalmente, o sistema pluripartidário e a incapacida
de da República de gerar partidos nacionais com programas de-
finidos, propondo “a extinção dos partidos” e a implantação de
“um partido nacional único” (52). Na base do sistema coloca o
(47) SALGADO (Plínio), “Federação e Sufrágio” (XX), A Razão, 26
de janeiro de 1932.
(48) SALGADO (Plínio), “Tipos de Ditadura”, A Razão, 1 de
setembro de 1932.
(49) SALGADO (Plínio), “A Verdadeira Concepção do Estado”,
A Razão, 4 de setembro de 1931.
(50) Ibid.
(51) SALGADO (Plínio), “Do Liberalismo ao Comunismo”, A Ra
zão, 2 de dezembro de 1931.
(52) SALGADO (Plínio), “Federação e Sufrágio”, A Razão, 2 de
fevereiro de 1932.
87
município, de onde “provém o espírito da organização nacional’’
(53). A “unidade municipal’’ é o fundamento da organização do
Estado, mas também da nacionalidade, porque a Nação originou-
-se dos municípios: “A nacionalidade brasileira nasceu das atas
das Câmaras Municipais’’ (M).
A Revolução: para se definir o significado de “revolução”
nos escritos de Plínio da época, deve-se partir de sua análise sobre
a Revolução de 30. O movimento de outubro foi, na sua interpre
tação, a eclosão de um processo revolucionário subjacente mais
amplo que se manifestara através do ciclo de movimentos revo
lucionários anteriores. A combinação conjuntural de fatos que o
provocou é secundária na medida em que o processo desencadea
do era irreversível. Mesmo que os revolucionários de 30 tivessem
tentado conter o movimento, ele teria surgido mais tarde sob a
pressão de uma nova geração. Neste sentido, revolução para Sal
gado não se confude com putsch ou com substituição de um
grupo político no poder: revolução, em última análise, é um pro
cesso de transformações cumulativas que surge de maneira quase
mecânica quando certas condições estruturais prévias se articulam.
Salgado, referindo-se à experiência histórica das revoluções
universais, considera que elas “se elaboram exatamente nos pe
ríodos de conjunção, de transição, de deslocamento de centros
de equilíbrio. Nesses períodos tudo se mistura, e na maior parte
das vezes, o que aparece nos olhos do observador não é exata
mente (...) o que está, em verdade, animando os movimentos da
sociedade” (55). Com esta convicção, ele discorda do chefe do
Governo Provisório que declara não poder dirigir as forças ins
táveis e desordenadas da revolução, acusando-o de se situar na
linha de um “moralismo político que é, hoje em dia, o cancro
que está roendo e putrefazendo o princípio da autoridade” (56).
Além do mais, para Salgado, o processo revolucionário pos
sui também a capacidade de fazer emergir o líder carismático:
“Uma revolução é uma força nacional que deflagra e arrasta em
impulsões imprevisíveis as energias sociais, até que uma menta-
88
lidade forte, dispondo de elementos materiais suficientes, possa
impor uma coordenação, uma disciplina segundo os impositivos
de uma consciência nova que se criou. Suscitar o advento dessa
consciência, eis a obra presente da Revolução” (57).
O Nacionalismo: em quase todos os artigos de Salgado, uma
atitude nacionalista está presente. Já no primeiro editorial, ele
denuncia “a ausência de um sentimento coletivo do interesse na
cional” e afirma que sua atitude se inspira no “nacionalismo in
tegral” (58). Seu nacionalismo enfatiza, sobretudo, três temas
básicos do ideário nacionalista: a unidade nacional, o anticosmo-
politismo e a consciência nacional.
As referências de Salgado acerca da conjuntura política, em
1931, revelam uma constante preocupação com a “instabilidade
do equilíbrio da unidade nacional”. Ele considera responsável
por essa situação, que se agravou com o advento da República, a
implantação do sistema federativo, na medida em que atribuiu
uma grande autonomia a cada unidade sob o controle dos partidos
únicos regionais. Ainda que o Império tenha preservado a uni
dade nacional através da centralização política, as raízes do mal
encontram-se nesta época em que “não houvera tempo suficiente
para uma maior expansão da nossa vida econômica e para uma
cristalização mais perfeita do espírito nacional” (50). A respon
sabilidade maior, todavia, cabe à República, ou mais precisamen
te à mentalidade democrática e liberal do fim do século passado,
à qual os fundadores da República de 89 e os perseguidores da
sua obra administrativa e política não puderam se furtar” (60).
Em Salgado, os temas do cosmopolitismo e da ausência de
consciência nacional são indissociáveis. O primeiro, provocado
pe a imitação dos modelos políticos estrangeiros, origina-se do
a 0 e que as elites brasileiras tomaram, como propulsores da
rraSS,a ev°Ju<*ão política e constitucional, a liberdade e a demo-
Cla européias” (61). Salgado entende que devemos rejeitar
esta
nã e^nocêntrica de liberdade uma vez que “a liberdade
tural dn nossa Pátria, uma conquista. Foi uma condição na-
Ural da vida aventurosa
aventurosa dn
do sertão. Foi uma relação do homem
(57) Ibid.
Razao^ dSe^a^de(r9^Í0)’ “A LÍbera* e a ReVoIuçâo”- A
(59) Ibid.
<6°) Ibid.
fól) Ibid.
89
e da terra vasta”. Em nosso país, segundo ele, “a democracia
era um estado natural” (62).
A influência cosmopolita destrói a consciência nacional pela
rejeição de nossas tradições: “nenhum país, diz ele, mais do que
o Brasil, precisa neste momento de fortes injeções de nacionalis
mo que constitui hoje em dia a suprema salvação de todos os
povos” C33). A fonte do espírito nacional encontra-se no culto
da história: “a decadência dos povos se assinala pelo esquecimen
to das tradições nacionais” e são justamente os povos fortes e em
pleno desenvolvimento os que mais cultivam a memória dos seus
antepassados” (64). Em suma, o seu nacionalismo, nessa época,
é essencialmente político, isto é, baseado no culto ao passado
e na reação contra a influência estrangeira, embora sem nenhu
ma dimensão econômica.
Antiliberalismo: o risco de um retorno da Revolução de 30
ao modelo político da Primeira República leva Salgado a con
centrar sua crítica no liberalismo, através da denúncia do Estado
liberal em suas formas monárquica ou republicana, e dos prin
cípios ou mecanismos fundamentais do sistema: a liberdade po
lítica, o sufrágio universal e o sistema multipartidário.
O Estado liberal, segundo ele, nasceu a serviço das classes
dominantes. Ele é “o regime criado pelos controladores de
produção, nos fins do século XVIII, para iludir a plebe e arrui
nar um Estado fraco e não intervencionista”. Conseqüentemente
é “o regime, por excelência, em que os fortes dominam sobre os
fracos” (65).
Além disto, o Estado liberal, é unidimensional porque é
incapaz de compreender o homem na sua dimensão total: “O
Estado, no conceito liberal-democrático, encara o cidadão como
uma mera expressão política (...), portanto não se interessa
pelo cidadão como expressão de trabalho, de sofrimento” (66).
Desta unilateralidade resulta seu caráter conservador, na medida
em que se recusa a intervir na organização da sociedade para
superar as desigualdades e os conflitos. “O Estado liberal demo-
(62) SALGADO (Plínio), “Construção Nacional”, A Razão, 22/abr./
1932.
(63) Ibid.
(64) SALGADO (Plínio), “O Sentido Imperialista das Democracias”,
A Razão, 2 de outubro de 1931.
(65) Ibid.
(66) SALGADO (Plínio), “O Cidadão c o Estado”, A Razão, 17 dc
julho de 1931.
90
crático é, portanto, um Estado opressor. Com a sua aparência
agnóstica, indiferente às lutas pela existência, aos conflitos sociais,
o que ele faz é deixar que os tumultos se deflagrem e que o
mais forte esmague o mais fraco” (67).
Entretanto o que parece mais grave aos olhos de Salgado
é a constância das idéias liberais em todos os sistemas políticos
brasileiros. Nestas condições, a instauração da República não
apresenta uma mudança qualitativa com relação à monarquia,
mas uma agravação das tendências liberais preexistentes: “A Re
pública não passou da continuação do senso político da Monar
quia, do senso liberal, da marcha insaciável de liberdades mais
amplas. Assim, os erros da Monarquia foram consagrados pela
República, que os agravou em todas as esferas da sua atividade
política” (68).
Após a crítica global do Estado liberal, começa a contesta
ção dos elementos constitutivos do sistema liberal-democrático.
Salgado considera que a liberdade está em contradição com a
autoridade: a idéia de liberdade ameaça a disciplina e o equilíbrio
social em sua base porque “todos os sofrimentos do mundo mo
derno se originam de um só defeito. .. a falta de disciplina. O
conceito de liberdade excessiva determinou o grande desequilíbrio
social que perturba o ritmo da vida do nosso século”. E conclui:
“Em nome da liberdade o gênero humano caminha para a ruína
total” (60). Salgado só admite a liberdade condicionada a uma
finalidade social, porque: “o senso de liberdade política deve ser
aquele que garante a plena expansão das aspirações humanas em
relação a uma finalidade estabelecida”. E na sua concepção, “a
democracia é a negação da liberdade, ou antes, é a própria liber
dade em desordem ou em suicídio” (70).
Ao nível dos mecanismos políticos da democracia liberal,
Salgado critica o sufrágio universal, afirmando que simboliza a
grande ilusão com a qual “a burguesia triunfante com a Revolu
ção Francesa embriagou a massa dos oprimidos” (71). O sufrágio
91
proporia aos indivíduos escolhas abstratas, sem relação com os
seus interesses reais. Denuncia também a igualdade política dos
indivíduos associada ao voto da finalidade humana. O conceito
da “soberania nacional” que a Revolução Francesa consagrou
como índice da “vontade geral” é um conceito incompleto (. .).
Esse nivelamento cívico (...) é uma mentira que deve ser des
truída” (72).
A crítica aos partidos políticos se baseia menos na idéia de
que eles provocam a divisão da Nação do que na experiência his
tórica brasileira. É por isto que, durante o Império, quando ha
via dois partidos nacionais e definidos, o Conservador e o Libe
ral, seu ataque ao sistema partidário é menos radical: “O Impé
rio, com todo o artificialismo do seu sistema parlamentar, tinha
conseguido, entretanto, dar uma direção unificadora das forças
de opinião nacional (...). Mas, em todo o caso, a Monarquia,
politicamente, foi superior à República” (73). A crítica aos par
tidos surge, pois, da combinação histórica do federalismo re
publicano enquanto força de dispersão da unidade política e da
manipulação dos recursos políticos dos Estados pelos chefes po
líticos regionais e locais.
O anticomunismo: é curioso constatar como Salgado, que se
tornará um dos líderes do combate ao comunismo, dedica tão
pouca importância em suas notas políticas a este tema. Isto se
explica, em parte, pelo fato de que o inimigo principal na época
era o liberalismo. A atmosfera política era de tal forma marcada
pelos riscos de um retorno à experiência liberal-democrática e,
em contraposição, pelo desejo de um regime autoritário, que a
idéia da ameaça comunista se diluía em seu espírito.
Ressalvadas algumas referências ao processo contra Pres
tes por deserção, ocasião em que ele protesta contra “a timidez
com que se está encarando o julgamento” (74), e uma alusão à
situação do povo russo no “paraíso vermelho” (75), a única pas
sagem onde Salgado se refere ao comunismo encontra-se numa
“nota política” chamada “A Marcha dos Icebergs”. Neste artigo,
92
não aparece nenhuma crítica ao conteúdo ideológico do marxis
mo, mas alusões às conseqüências perigosas do jogo das facções
políticas, já que a “onda vermelha caminha inexoravelmente” (7G).
A previsão de Salgado é de que a marcha dos “icebergs” políticos
não vai continuar indefinidamente e que “o degelo será inevitável,
porque as correntes levam essas frágeis montanhas para os rebo-
jos quentes em que elas desaparecerão. E desaparecerão fatal
mente, porque debaixo delas tumultua a onda quente da propa
ganda comunista, implacável na suà obra de destruição de parti
dos e de grupos” (77). Portanto, a ameaça comunista não se tra
duz mais na imagem da geleira, ameaçando espalhar-se inevita
velmente sobre todos os países, como no romance O Estrangei
ro (78), mas se transforma na água morna das correntes maríti
mas, penetrando subterraneamente no sistema político.
O anticapitalismo: a atitude de Salgado com relação ao ca
pitalismo está presente inicialmente sob a forma de crítica ao
maquinismo em suas “Notas Políticas”. Sem negar a importân
cia do progresso técnico no controle da natureza pelo homem,
ele constata que “o instinto da máquina vai avassalando tudo”
(79). Ao perigo da máquina acresce a ameaça da concentração
capitalista: “É o capital (...) que ensaia a sua tirania na forma
dos grandes trustes, dos monopólios, dos grupos financeiros (. . .)
e que se dirige para o capitalismo de Estado, numa velocidade
cada vez mais enervadora” (80).
Todo o progresso aumenta sensivelmente a angústia humana,
sobretudo porque ele se realiza com uma rapidez sem preceden
te: “o advento da máquina abriu uma nova era que se precipitou
tão violentamente que não deu tempo aos novos de criar um novo
senso de direitos, uma nova consciência de vida”, Entretanto,
esta rapidez do progresso contém o germe da sua própria crise:
“O fenômeno da evolução capitalista teria de se efetuar em al
guns séculos. As invenções modernas e a técnica contemporânea
aceleram-na. E já na Grande Guerra se tinha o ciclo final de
uma civilização. Virtualmente, a civilização capitalista terminou
(76) SALGADO (Plínio), “O Paraíso Vermelho”, A Razão, 28 de
janeiro de 1932.
(77) SALGADO (Plínio), “A Marcha dos Icebergs”, A Razão, 18
de setembro de 1931.
(78) Ibid.
(79) SALGADO (Plínio), O Estrangeiro, op. cit., pp. 18-19.
(80) SALGADO (Plínio), “O Rumor da Procela”, A Razão, 18 de
setembro de 1931.
93
com a Grande Guerra (. . ). Nós hoje vivemos a ilusão de uma
civilização que já não existe senão nas suas formas materiais.'
Neste sentido, Salgado acusa os banqueiros internacionais de ten
tar dar vida ao defunto no “desespero de animar com novo so
pro de vida o cadáver de uma civilização que fundou a sua fi
nalidade no que há de mais frágil e efêmero na natureza humana:
“o materialismo dos costumes e o instinto mesquinho do lu
cro” (81).
Finalmente, este anticapitalismo se traduz no combate ao
capitalismo internacional, produto da implantação desordenada
do capitalismo no mundo. No plano nacional. Salgado propõe-se
a “humanizar” o capitalismo, conciliando-o com o homem, de
vez que as Nações “poderão assumir o controle da economia uni
versal, respeitando os princípios da propriedade e da família que
a civilização capitalista tem afirmado em teoria e negado na prá
tica” (82). No que concerne à dependência econômica resultante
do capitalismo financeiro, *sua linguagem é mais radicai: “para
descobrirmos (...) as causas das desgraças financeiras do Bra
sil, veremos que o único culpado foi o capitalismo universal que
nos colonizou, que nos escravizou e prossegue a sua marcha, es
magando as nacionalidades . .” (83).
Os fascismos: A última dimensão diz respeito à posição de
Salgado com relação aos fascismos. A análise do conteúdo dos
editoriais revela uma atitude mais simpática aos fascismos do
que nos escritos anteriores.
Num dos editoriais em que analisa a situação política inter
nacional, sobretudo a da Alemanha, em fins de 1931, ele afirma
que nos momentos de crise não há lugar para os indecisos. “As
multidões, não se interessam pelos que pretendem conciliar e
protelar. Os que afirmam corajosamente são os que conseguem
arrastar as massas populares” (84).
Face a esta tendência de polarização política dos extremos,
Salgado escreve, em fevereiro de 1932, que o mundo moderno se
encontra diante de duas interpretações da sociedade: “ou ficamos
com a tese de Karl Marx e adotamos o princípio do materialis-
(81) íbid.
(82) SALGADO (Plínio), “Tragédia do Século’’, A Razão, 22 de
setembro de 1931.
(83) SALGADO (Plínio), “O Passado e o Futuro’’, A Razão, 20 de
setembro de 1931.
(84) SALGADO (Plínio), “A Marcha para as Extremas”, A Razão,
3 de fevereiro de 1931.
94
mo histórico e o processo da revolução social; ou ficamos na
extrema-direita, afirmando que o homem e a sociedade objeti
vam, através das contingências econômicas, os ideais superiores
de natureza intelectual, moral e espiritual”. E conclui, que “se
queremos criar uma Nação com profunda consciência de si pró
pria, — neste caso, temos que assumir uma atitude de coragem
e de renúncia pessoal, abandonando toda a mentira perigosa da
democracia de meios, para nos realizarmos numa verdadeira de
mocracia de fins” (85).
Esta opção em favor da extrema-direita coloca-o numa po
sição paradoxal: ao mesmo tempo que manifesta uma simpatia
mais declarada pelos fascismos, procura conceber um regime ori
ginal para o Brasil. Apesar do dilema, não deixa de reconhecer
que “o fascismo é o Estado-síntese por excelência, o Estado que
traz em si, todas as fisionomias nacionais” (86).
A compreensão do conteúdo de sua posição exige, porém,
certas ressalvas. Num artigo ulterior, Plínio afirma que “o que
há de essencial na doutrina fascista é perfeitamente aceitável,
como concepção do Estado (. . ), entretanto, o que esse regime
tem de formal, não pode, de nenhum modo, se aplicar ao caso
brasileiro”. Ele proclama que Alberto Torres desde 1914 “muito
antes da concepção fascista do Estado”, preconizou para o Bra
sil “uma forma de governo republicano, que condicionava a dou
trina agora consagrada pelos Roccos e Gentilles” (S7). A posi
ção de Salgado, portanto, apesar de todas estas nuanças, enqua
dra-se na corrente fascista. Embora procure preservar a especi
ficidade do caso brasileiro, sua atitude fundamenta-se na crença
de que “só os governos fortes, que disponham da verdadeira
autoridade, poderão realizar um dia os entendimentos necessá
rios para impor ao mundo contemporâneo um ritmo seguro” (8S).
A análise, pois, das principais dimensões da posição de
Plínio Salgado durante sua atividade jornalística em A Razão,
demonstra que o arcabouço da ideologia integralista estava ela
borado. Restaria exprimir, em conclusão, o estado de espírito
“pré-integralista” de Salgado no final de sua atividade no jornal
(85) SALGADO (Plínio), “A Federação c o Sufrágio”, A Razão,
3 de fevereiro dc 1931.
(86) SALGADO (Plínio), “A Federação e o Sufrágio”, A Razão, 3
de fevereiro de 1931.
(87) SALGADO (Plínio), “Nacionalismo e Cooperativismo Interna
cional” (I), A Razão, 4 de outubro de 1931.
(88) SALGADO (Plínio), “Regimes Políticos”, A Razão, 21 de ou-
tubro de 1931.
95
A Razão. Nada mais sugestivo do que mencionar a passagem de
uma “Nota Política”, de novembro de 1931, onde ele reconhece
que “o gérmen da Ação Integralista Brasileira se desenvolve neste
momento” (80) e que se torna um imperativo despertar a Nação:
“o Brasil que não respira. Permita Deus que não esteja morto.
Porque os povos vivem nas agitações das idéias. E a nossa Pátria
não vibra ao sopro generoso do pensamento (. .). São esses
movimentos que geram as controvérsias, a discussão, no terreno
elevado da doutrina. Dessas controvérsias é que se origina o ca
lor dos debates. Dos debates é que se vai à luta. E a luta é a
expressão da vida dos povos. Um povo que não luta é um povo
que perdeu o sentido da vida, que perdeu a consciência de si
mesmo”. Termina manifestando sua disposição de agir: “Preci
samos despertar o Brasil. Para a luta franca, definida, forte, das
idéias” e “para a batalha doí pensamento, que deve exprimir-se
nos grandes debates, e até nas barricadas” (°°). Essa predispo
sição para o engajamento de Salgado não é somente resultante
de um ato de vontade individual, mas se insere no contexto de
ascensão das idéias de extrema-direita após a tomada do poder
pelos revolucionários de 30 (01).
96
CAPÍTULO II
1 — A LITERATURA ANTILIBERAL
Se a Revolução de 1930 não tivesse gerado conseqüências
sobre a evolução política, econômica e social do Brasil, teria tido,
ao menos, o mérito de criar um período de produção intelectual
dos mais fecundos. Dificilmente se encontra no passado um nú
mero tão significativo de obras de análise político-sociológica so
bre a sociedade brasileira (3).
Cruz Costa, referindo-se ao período, menciona o testemunho
de um dos jovens dessa geração que descreve o ambiente domi
nante entre 1931 e 1933: “no meio da confusão, Ronald de Car
valho teve ocasião de dizer que a nossa geração, com essa flo
ração magnífica de escritores, sociólogos, jornalistas, orientados
todos no sentido de suprema política ( . ) é a geração que Al
berto Torres sonhou (. .) cuja razão de ser não decorre da po
lítica vulgar mas do estudo e da resolução dos problemas admi
nistrativos, econômicos, financeiros e sociais” (’)•
Os traços que definem esta geração e que são comuns aos
jovens situados politicamente, tanto à direita quanto à esquerda,
(2) Ibid.
(3) Embora Os Sertões, de Euclides da Cunha, seja um livro precur
sor que ultrapassa o âmbito puramente literário e a geração modernista se
tenha inspirado bastante em temas nacionalistas, apenas na década de 30
é que houve um florescimento de obras específicas de análise sobre a rea
lidade nacional. Refiro-me, igualmente, à série de ensaios, lançada pelo
editor Schmidt, no início da década de 30, sob o nome de “Coleção Azul”.
(4) CRUZ COSTA (João), Contribuição à História das Idéias no
Brasil, Rio, José Olympio, 1956, p. 397. Os autores deste período são:
Alceu Amoroso Lima, Gilberto Amado, Azevedo Amaral, Octávio de Fa
ria, Oliveria Vianna, Virgínio Santa Rosa, Afonso Arinos de Mello Fran
co, José Maria Bcllo, Barbosa Lima Sobrinho, Martins de Almeida, Alcin-
do Sodré, Ronald de Carvalho, Sérgio Buarque de Hollanda, Hélio Vian
na, Cândido Motta Filho, Paulo Prado, Capistrano de Abreu, Alcides
Gentil.
98
são a inquietação, o ceticismo e o antiliberalismo. O conteúdo
deste estado de espírito se exprime na revolução estética, na re-
novação espiritual e nas insurreições tenentistas, numa época em
que as transformações do mundo no após-guerra põem em ques
tão os esquemas tradicionais, e a inquietação da nova geração
brasileira reflete, igualmente, o clima internacional.
Salgado, um ano após a Revolução de 30, refere-se à insatis
fação e a angústia de sua geração: “o que nos dava ilusão de cla
ridade era o artificialismo das nossas instituições. Derrubada a
Velha República, com o movimento revolucionário de 1930, sen
timo-nos mais que nunca no escuro” (5). Cândido Motta Filho,
vindo das fileiras do P.R.P., redescobre para os jovens de sua
época a obra de Alberto Torres e define sua geração no primeiro
capítulo do ensaio, como uma “Geração Sacrificada”. Manifes
tando seu ceticismo afirma que “todas as épocas tiveram suas
crenças e seus mitos. Nós ficamos sem mitos e sem crenças” (fi).
Virgínio Santa Rosa (7), num ensaio sobre a situação polí
tica, sugestivamente intitulado “A Desordem”, exprime também
a mesma perplexidade ao escolher como epígrafe uma frase pes
simista de Octávio de Faria (8): “Para nós, geração fundida à
sombra desta tragédia, todo otimismo em relação ao Brasil que
vimos parece não só absurdo como até, sob um certo ponto de
vista, criminoso: é a ele que responsabilizamos por um sem nú
mero de males” (9).
Esta geração, porém, é sobretudo uma geração antiliberal.
Explica-se esta atitude pelo impacto da Revolução Soviética e
pela incapacidade das democracias liberais de fazerem face à
(5) SALGADO (Plínio), “Prefácio”, in MOTTA FILHO (Cândido),
Alberto Torres e o Tema de Nossa Geração, Rio, Schmidt, 1931, p. 9.
(6) Ibid., p. 12.
(7) Autor de uma das mais lúcidas análises do movimento “tenen-
tista”, O Sentido do Tenentismo, Rio, Schmidt, 1933.
(8) Octávio de Faria é um dos mais brilhantes intelectuais de sua
geração. Escreveu um ensaio, em 1930, sobre A Desordem do Mundo
Moderno, Maquiavel e o Brasil, onde defende a tese que Mussolini é a
encarnação moderna do Príncipe sonhado por Maquiavel; enfim, um
ensaio antimarxista, em 1933, intitulado O Destino do Socialismo.
(9) SANTA ROSA (Virgínio), A Desordem, Rio, Schmidt, 1932, p. 5.
Um dos únicos livros da época que pretende fugir a este ceticismo gene
ralizado é o de Afonso Arinos de Mello Franco: Introdução à Realidade
Brasileira, Rio, Schmidt, 1933. Entretanto ele mesmo reconhece que o
Brasil, senão “desorganizado”, é um país “em desordem” e que isto pode
se resolver com uma maior influência dos intelectuais na política.
99
I
100
tiago Dantas, Hélio Vianna, Olbiano de Mello, Madeira de Frei
tas, Antônio Galotti, assim como monarquistas do movimento
patrionovista (Sebastião Pagano), líderes católicos (Tristão de
Athayde, Sobral Pinto, Leonel Franca) e alguns homens políticos
e historiadores que não pertenciam à extrema-direita (João Neves
da Fontoura, Licínio Cardoso, Pandiá Calógeras, Barbosa Lima
Sobrinho). O título da revista provavelmente copiado do órgão
oficial do fascismo italiano, bem como o conteúdo da maioria
dos artigos, não deixam dúvidas sobre sua orientação política (’5).
A Revista de Estudos Jurídicos e Sociais, dirigida por estu
dantes da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, exprime a
inquietação ideológica de um grupo significativo da nova geração
intelectual. O depoimento recente de um dos seus membros mais
representativos permite definir a orientação do grupo: “Nós éra
mos um grupo de estudantes da Faculdade de Direito do Rio de
Janeiro, considerado fascista pelo simples fato de sermos anti
comunistas, estarmos estudando problemas relacionados com o
corporativismo e termos uma certa simpatia pelo fascismo ita
liano” (1G). A maioria dos colaboradores da revista pertencia,
aliás, ao grupo de intelectuais do Rio com os quais Salgado es
tabeleceu contatos políticos após a Revolução de 30, procurando
organizar um movimento para defender os ideais do manifesto
que elaborara para a Legião Revolucionária de São Paulo (17).
Em setembro de 1929, o Centro de Estudos Jurídicos cons
titui uma comissão de alunos para realizar um inquérito sobre
a sociologia brasileira, tendo como centro de interesse o “pro
blema de formação da nacionalidade” (18). A comissão, formada
por Américo Lacombe, Presidente; Hélio Vianna, Secretário; San
tiago Dantas, Relator, e Octávio de Faria, apresenta seu relatório
em maio de 1931, criticando a Revolução de 30 e elogiando
(15) Por exemplo pode-se citar alguns títulos de artigos que con
firmam esta observação: “O Ditador Supremo”; “Mussolini, e a Nova
Itália”; “O Fascismo e o Estado Corporativo”; “A Itália Nova”; “A
Crise do Fascismo”; “Democracia c Corporativismo”; “Hitler e o Fascis
mo Alemão”; “Década do Fascismo”, “O Estado na Concepção Fascista
o na Doutrina Católica”; “O Problema da Nova Organização do Brasil”;
“O Sindicato do Estado Fascista”.
(16) Entrevista com Américo Lacombe, Rio, Junho de 1969.
(17) Thiprs Martins Moreira, Américo Lacombe, Antonio Galotti,
Hélio Vianna, Octávio de Faria, Santiago Dantas, Chcrmond de Miranda
c Vinícius de Moraes.
(18) “Inquérito de Sociologia Brasileira”, Revista de Estudos Jurí
dicos e Sociais 2(3), maio de 1931.
101
as novas tendências políticas autoritárias e nacionalistas: “A
Revolução realizada por correntes heterogêneas e até mesmo an
tagônicas, sem uma forte ideologia, que lhe norteasse a atividade,
sem amparo outro que o da força, sempre precário e passageiro,
via-se frente a frente com uma realidade bem diversa da que se
esperava, bem mais complexa e mais séria do que supunham os
ingênuos pregadores liberais (. ). Mas a Revolução se debate
em vão, em face de seus próprios problemas. Seja pela ausência
de fundamento ideológico forte, seja pela derrocada do princípio
da autoridade (. . .). Felizmente, porém, já se esboça um movi
mento de reação, caracterizado pelas afirmações nacionalistas,
pelo combate ao mimetismo pernicioso que já tanto tem desgraça
do este pobre país, pelo desenvolvimento dos estudos brasileiros,
por toda uma mentalidade nova, cheia de fé e entusiasmo” 0°).
A terceira revista, Política, dirigida por Cândido Motta Fi
lho (20), lança seu primeiro número em janeiro de 1932, em São
Paulo. Sua linha política é menos identificada com as idéias fas
cistas do que a Hierarchia, embora não dissimule uma atitude
antiliberal. O poeta Menotti dei Picchia, antigo redator, junta
mente com Salgado, do Correio Paulistano, órgão do Partido Re
publicano, desenvolve nos dois primeiros números, um estudo
sobre “A Falência da Democracia Política”, sustentando a tese
de que “o mundo moderno assiste assombrado o crack coletivo
do seu regime político alicerçado nas formas arcaicas do sufrá
gio universal. Faliu ruidosamente a democracia política” (21).
Noutro artigo, o patrionovista Sebastião Pagano, futuro membro
Sociedade de Estudos Políticos (S.E.P.), após longas consi-
;ões sobre as noções de Estado orgânico, nacional e hierár-
> e do nacionalismo integral, garantia de paz, ordem, pros-
ade”, afirma que “o Estado fascista, apesar de alguns gra-
lefeitos provenientes de sua concepção neo-hegeliana, é o
de melhor existe na atualidade” (22).
Octávio de Faria, enfim, analisando a vulgarização excessiva
das idéias nacionalistas no Brasil, denuncia a superficialidade de
(19) Ibid.
(20) Cândido participa com Salgado da tentativa de renovação do
Partido Republicano Paulista (P. R. P.), tendo sido um dos mais desta-
^dos membros da Sociedade de Estudos Políticos (S.E.P.).
(21) DEL PICCHIA (Menotti), “A Falência da Democracia Polí-
l,Ca”, Política, 1(1), 1932.
(22) PAGANO (Sebastião), “Do Conceito de Estado Integral”,
P°Htica 1(3), 1932.
102
ses adeptos em nome de uma ortodoxia nacionalista maurrasia-
na. Citando a frase do mestre de que “le nationalisme est le
grand fait du monde moderne”, comenta a situação política pós-
-revolucionária, mostrando a defasagem entre os “movimentos
europeus modernos” e a Revolução de 1930. Considera, com iro
nia, que “um dos erros mais sérios (...) da Revolução de ou
tubro de 1930, foi o de ter chamado a atenção do grande número,
da nossa massa, para os problemas políticos e sociais”. Com
efeito, “de repente (...) o Brasil acordou moderno. Todo o
mundo quis ser alguma coisa. Todos quiseram ser extremados,
Salvar o Brasil fosse como fosse com a foice ou com um litro de
1 óleo de rícino”. A. conseqüência foi a “desmoralização incessan
te da idéia de nacionalismo” no sentido europeu (23).
103
A A.S.B. executará pela razão ou pela força todos os atos neces
sários à realização do seu triunfo” (2‘‘).
O programa do Partido divide-se em duas partes: a primei
ra, intitulada “Vontade”, expõe as grandes linhas da sua platafor
ma política, onde aparecem as medidas de proteção à agricultura,
ao desenvolvimento industrial, à educação mental e moral do
povo, em favor da nacionalização dos diversos ramos da econo
mia (pesca, marinha mercante, utensílios agrícolas e imprensa
política), sem esquecer as medidas de “fortalecimento da ra
ça” (25). O objetivo geral do movimento é a substituição do re
gime federativo, cuja força dissolvente dividiu o Brasil, por um
todo homogêneo, organizado a partir da célula municipal a fim
de restabelecer “a unidade nacional”, dentro do sistema corpo
rativo” (2<5).
A segunda parte do programa, cognominada de “Disciplina”,
estabelece o tipo de organização necessária à realização destes
objetivos: “A A.S.B. é constituída de um chefe que indicará
para seu Estado-Maior dez nomes. Cada membro do Estado-
-Maior organizará dez legiões; cada uma destas legiões se desdo
brará em dez coortes; cada uma destas coortes, em dez centúrias,
(24) FABRINO (J.), Programa da A.S.B., p. 1. Embora fora do
contexto da convergência ideológica dos anos 30, a primeira manifestação
de fascismo no Brasil “se dâ prematuramente, em 1922, com a fundação
da Legião do Cruzeiro do Sul, possivelmente imitação do movimento dos
"Fáscios e do episódio da Marcha sobre Roma”, CARONE (Edgard), A
Segunda República. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973, 288 pp.
(25) Estas medidas são: Educação Física e interdição de entrada no
país de imigrantes tendo menos de “1,60 para homens” e “1,50 para mu-
eres”, FABRINO (J.), Documento Citado, p. 3.
(26) FABRINO (J.), Documento citado, p. 1. Na mesma época
kBRINO fundava o “Partido Nacional Fascista", cm Minas Gerais,
i fevereiro de 1931, seria lançado o manifesto de um novo
^rtido de inspiração fascista — A Legião 3 de Outubro — subscrito por
•rancisco Campos, Gustavo Capanema e Amaro Lanari. No Rio, outro
grupo propõe-se a criar em novembro de 1930 o "Partido Fascista Bra
sileiro", que, pretendendo apoiar o movimento revolucionário de 30 no
poder, adota o fascismo italiano como modelo: “cumpre aos bons comba
ter os maus. Entre os primeiros encontram-se os que dsejam ver o Brasil
grande, próspero, em harmonia com os ideais traçados pela revolução ini
ciada em 3 de outubro. Entre os maus vêem-se os elementos do comunis
mo, obtuso, grosseiro, impraticável e derrocador das belezas da civiliza
ção, os politiqueiros profissionais, os parasitas sociais, os incapazes de
toda a espécie moral e espiritual (...). Contudo, fácil é combatê-los, des
truí-los, aniquilá-los bastando praticar o exemplo da nova Itália de Mus-
solini, um dos florões mais novos e mais belos da civilização através dos
séculos”. CARONE (Edgard), A Segunda República, São Paulo, Difusão
Européia do Livro, 1973, pp. 288-289.
104
documentos confirmando a força da Legião, é que, alguns me
ses após sua fundação, havia uma lista nominal de quarenta as
sociações inscritas em suas fileiras (33).
A organização da Legião prevê um Chefe, um Secretário-
-auxiliar do Chefe e um Conselho composto de dois represen
tantes de cada sociedade confederada. A escolha do chefe é feita
pelo Conselho Legionário, com um mandato limitado, estando
previsto um mecanismo parlamentar para destituí-lo (34). As
organizações confederadas eram submetidas a disposições restri
tivas, devendo obrigatoriamente “acatar os avisos, as instruções
e circulares do chefe, os decretos e resoluções do Conselho e as
decisões do Tribunal Legionário. A sociedade confederada não
poderá entrar diretamente em relação com pessoas e organiza
ções estranhas à Legião sobre assuntos políticos, sociais e de
interesse do operariado” (35).
Ainda que a Legião não tenha tido uma organização tão
rígida como a da Ação Social Brasileira, seus militantes usavam
também um uniforme: calças brancas e blusão de operário em
algodão colorido. Na manga esquerda ostentavam uma insígnia
representando o braço de um trabalhador empunhando a balan
ça da justiça. A saudação habitual era a resposta coletiva “Pron
to!”, feita ao Chefe no início de suas alocuções.
A Legião define-se em seu programa, como “uma organiza
ção de associações populares e de classe, do Estado do Ceará,
com finalidade econômica, política e social” (36). A finalidade
econômica é a de defender o trabalho que não pode “ser consi
derado uma simples mercadoria sujeita à lei da oferta e da pro
cura”. A Legião propõe a implantação do “contrato coletivo, em
que sejam fixados o salário vital, as horas de trabalho, o repouso
dominical, o limite de trabalho de menores e mulheres, o regime
de conciliação e arbitragem” (37); institui também para seus mem-
(33) Ibid., p. 48.
(34) “O Chefe da Legião será aclamado pelo Conselho e dirigirá a
Legião durante 3 anos, podendo ter renovado o mandato. Um parágrafo
prevê que “semestralmente o Conselho votará uma moção de confiança
ao chefe. Rejeitada a moção, o Chefe é obrigado a resignar ao cargo
Ibid., p. 47.
(35) Ibid.
(36) Ibid.
(37) A influência da “Carta dei Lavoro” italiana é_ evidente. Neste
domínio a Legião é um movimento precursor da legislação trabalhista no
Brasil.
! 107
■
bros um tribunal trabalhista, cuja função é de resolver os confli
tos entre patrões e operários: presidido por um legionário de for
mação jurídica, as decisões são tomadas por um júri composto
de trabalhadores mais experientes. Sua finalidade política con
siste na “integração das classes trabalhadores organizadas, den
tro da vida política e social do país” (3S). A Legião desconfia
dos partidos políticos e se propõe a organizar os trabalhadores
para obter a representação profissional. A finalidade social re
side na luta em favor de “uma ordem social (...) em torno de
um verdadeiro humanismo, subordinados os seus valores aos va
lores morais (...). A Legião trabalhará pelo advento de uma
economia distributiva e de um regime corporativo. ..” (39).
No discurso de instalação do movimento, o tenente Sombra
precisa os objetivos da Legião: “A Legião organiza o operariado
para que, protegido, educado e coeso, ele se torne um colabora
dor honesto e consciente das outras classes” (40). Estando assim
definido o princípio da colaboração entre as classes, o objetivo
político é alcançar o ideal medieval da sociedade corporativa
apoiando-se sobre os grupos profissionais. “O sindicato, a asso
ciação profissional, são círculos naturais de expansão da perso
nalidade humana” (41) e “só o Estado pode conseguir em termos
justos a associação funcional do trabalho, capital e direção téc
nica”. A Legião rejeita, em conseqüência, a organização “polí
tico-social moderna, minada pelo individualismo” e luta “pela
volta ao regime corporativo, esboçado na. Idade Média, em que
as três forças (econômica, política e espiritual), equilibravam
uma harmonia profunda” (42).
O conjunto destes documentos revela, pois, que a Legião
propõe um programa combinando aspectos da doutrina social
católica tradicional (43) com elementos de inspiração fascista.
P°is testemunhos importantes confirmam esta interpretação,
primeiro é um artigo de 1931, escrito por Alceu Amoroso Li
ma, salientando o valor da experiência da Legião: “A energia
in omavel de um jovem militar está, neste momento, realizando
no Ceará uma das obras sociais mais fecundas que jamais se
108
levaram a termo no Brasil.” O autor mostra, sobretudo, o aspec
to cristão do movimento: o objetivo da Legião é de “congraçar
as classes proletárias em um organismo natural e harmônico, fiel
às características da nossa terra e da nossa gente. .O que a
Legião “está fazendo é (...) dar uma solução racional e cristã
ao problema social”. Conclui identificando-se com esta ação pio
neira: “E esse espiritualismo sociológico é que visa a grande obra
do Tenente Sombra, no Ceará, realização prática dos princípios
sociais que animam a revolução integral que almejamos” (44).
O segundo testemunho é do tenente Jeovah Motta (’5). Con
vertido pelo padre Helder Câmara e Severino Sombra (“Eu
estava numa posição católica neutra. Eles me transformaram
num católico desejoso de uma reforma no catolicismo”), declara
que a principal preocupação da legião era a de “levar a religião,
cristianizar a classe operária”. Não nega, igualmente, a natureza
ideológica de sua opção na época: “estes tenentes insatisfeitos
com a Revolução de 30 e ainda numa fase de muitas inquietação,
começaram a se perguntar: se a Revolução fracassou, o que va
mos fazer? (...). As livrarias do Brasil, naquele tempo, tinham
uns balcões só com livros fascistas e outros só com livros de es
querda. Muitos tenentes foram para a esquerda, muitos à direita
e outros ficaram em torno de Getúlio (...). Agora eu, estando
em Fortaleza, fui para o fascismo. .. ” (40).
O terceiro movimento é o Partido Nacional Sindicalista,
I idealizado pelo jornalista mineiro Olbiano de Mello (17). Para
doxalmente, embora seu projeto tenha ficado praticamente no
papel, seus planos de organização de um movimento político
eram mais elaborados que os dos precedentes. Mello, como Sal
gado, é originário de uma pequena cidade do interior, tendo am
bos militado nas fileiras dos Partidos Republicanos dos seus res
pectivos Estados C18).
(44) AMOROSO LIMA (Alceu), “Legião do Trabalho”, A Razão,
29 de outubro de 1931.
(45) Jeovah Motta tornar-se-á chefe da Legião, em 1932, quando
Sombra, acusado de haver apoiado a Revolução Constitucionalista, foi
exilado por Vargas em Portugal.
(46) Entrevista com Jeovah Motta, Rio, julho de 1970.
(47) Olbiano de Mello que será um dos integralistas mais influentes,
morava na pequena cidade mineira de Teófilo Otoni, no Nordeste do
Estado de Minas Gerais.
(48) “Escreví uma carta ao Sr. Alfredo Sá (...) rompendo com o
Partido Republicano Mineiro, de cuja Comissão Executiva Joca eu
membro”, in MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução Social no
Brasil, Rio, Edições O Cruzeiro, 1957, p. 29.
109
Olbiano/num dos seus livros, conta como despertou para
os problemas sbciais e econômicos, quando em 1925, “um dia,
acaso feliz, cairam-me nas mãos umas idéias vagas contidas em
um folhetó de propaganda sobre o corporativismo" (,n). Seus
estudos sobre corporativismo o conduzem à descoberta do sindi
calismo entre 1927 e 1928: “triunfava então, em todo seu esplen
dor, na Península Itálica, o sindicalismo nacionalista transforma
do em Fascismo por Mussolini” (50) e sensibiliza-se, sobretu
do, com a advertência do Duce, segundo o qual, “ou as nações
resolvem integrar em seu organismo social o sindicalismo pro
fissional ou cairão sob os assaltos do sindicalismo revolucioná
rio” (51).
A atitude de Olbiano de Mello frente à Revolução de 1930
é semelhante a de Salgado e Sombra. A seu juízo a Revolução
foi “um movimento armado desencadeado entre políticos sob os
aplausos ingênuos do povo brasileiro ( .). Revolução sem pro
grama ideológico, sem fim determinado, preparada minuciosa
mente dentro das chocadeiras políticas" (52). Reconhece, entre
tanto, que o movimento vitorioso em 1930, buscando sua origem
no clima político das insurreições dos anos 20, é irreversível por
que “agora o seu processo não é mais cingido a razões mera
mente políticas. Novos fatores entraram em ação, transformando
e arrastando o espírito revolucionário para uma segunda etapa
sociológica” (53).
Esta interpretação da Revolução de 1930 fundamenta-se em
sua concepção da revolução em geral. Olbiano distingue as re
voluções políticas das revoluções sociais, as quais em lugar de
impor “uma ditadura política exercida por políticos", são “de
terminadas por uma necessidade de aperfeiçoamento interno de
cada indivíduo”. A verdadeira revolução se processa consciente
mente no espírito, gerando um “novo equilíbrio”, quando “de
suas entranhas surja um novo espírito nacional, rompido com*o
passado, integralmente impregnado de todas as peças que cons
tituírem o novo “Estado” (M).
110
-
Olbiano de Mello não hesita também em reconhecer que
optou pelo fascismo. Sua evolução ideológica, partindo da aná
lise de que a Revolução de 30 é “uma etapa da revolução social
no mundo” (55), realiza-se numa atmosfera impregnada de fas
cismo: “Eu, no sertão mineiro, fixava-me no fascismo, conven
cendo-me que a implantação do sistema no Brasil resolvería a
questão social entre nós” (56).
Sua reflexão político-ideológica leva-o a produzir três ensaios
expondo suas idéias sobre as bases doutrinárias e a organização
de um novo partido político. O primeiro, publicado em março
de 1931, estabelece os fundamentos da República Sindicalista dos
Estados Unidos do Brasil e antecede às obras doutrinárias de
Salgado e de Sombra. Olbiano proclama, sem falsa modéstia, em
livro posterior, que foi “de todos os escritores, brasileiros como
estrangeiros, o único que esquematizou, traçando por todos os
órgãos governamentais, as nervuras mestras do Estado corpora
tivo, pleiteado pelo fascismo”. O segundo, escrito em setembro
do mesmo ano, propõe e discute o dilema ideológico da época:
Comunismo ou Fascismo? Enfim, o último, divulgado em março
de 1932, sob o título de Levanta-te Brasil!, volta-se para a ação
política: é um “manifesto dirigido ao povo brasileiro no sentido
de sua arregimentação por meio de todas as suas classes profis
sionais em um partido político: o Partido Nacional Sindicalis
ta” (57). Assim, pode-se constatar que, embora Olbiano de Mel
lo tenha sido o precursor no plano da elaboração ideológica, a
Legião foi a pioneira no plano da ação política.
O autor, proclamando inspirar-se na tradição socialista, de
clara “a falência da Democracia, a agonia lenta da Burguesia, o
descrédito indisfarçável do liberalismo a par do esplendor nas
cente (. . .) do grupalismo para o seio do qual correm, nos dias
que passam conscientemente ou não, as multidões sofredoras” (58).
Olbiano pretende lançar os fundamentos de uma “república sin
dicalista”, com abolição do sufrágio universal substituído pelo
voto profissional (5e). Cada municipalidade elegería seu Conse
lho Municipal e os Conselheiros escolheríam o Prefeito e o Pre-
(55) MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução Social no Bra
sil, op. cit., p. 41.
(56) Ibid., p. 24.
(57) MELLO (Olbiano de), A Quarta Força ou Bases Fundamentais
para a Reconstrução do Mundo, São Paulo, Editora Cupolo, 1935, p. 14.
(58) MELLO (Olbiano de), Levanta-te Brasil!, op. cit., p. 7.
(59) MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução Social no Bra
sil, op. cit., P- 37.
111
feito-adjunto; o Conselho Corporativo Provincial seria consti
tuído de presidentes e de secretários de federações de cada sin
dicato de todas as municipalidades do Estado; a Câmara Legisla
tiva sindical seria composta de tantos deputados quantos os
distritos eleitorais em cada Estado, e o Executivo seria escolhido
pelos prefeitos dos municípios. No nível federal, formar-se-ia o
Grande Conselho Corporativo Nacional, constituído pelos presi
dentes e secretários das confederações sindicais, a Câmara Na
cional Corporativa e o Executivo Nacional.
As analogias entre a República sindicalista e a organização
do Estado fascista são reconhecidas pelo próprio autor, que a
considera “uma forma de fascismo". Olbiano, porém, procura
argumentar que a República sindicalista não será uma ditadura
como na Itália fascista, porque haverá eleições em todos os ní
veis. Esta distinção parece não ser essencial. Noutra passagem
ele se declara favorável a “uma ditadura orgânica, ou seja, ideo
lógica que, como meio levasse o povo a um fim previamente
programado. Nunca, porém, a uma ditadura caudilhesca sem
rumo e sem justificativa" (60).
O segundo ensaio de Olbiano, Comunismo ou Fascismo?,
é um estudo comparativo entre “o sindicalismo-coletivista inter
nacional (Bolchevismo) e o sindicalismo totalitário nacional
(Fascismo)" (R1), onde o autor termina exaltando o papel de
Mussolini: “Do entrechoque ( .) que correu pela espinha mes-
ra do edifício social europeu com as idéias pregadas pela Ter-
eira Internacional, no meio da confusão reinante, um homem
(...) levantou-se (...) na península (...). Este homem foi
Benito Mussolini (...) em cujo nacionalismo intransigente vi
ríam se quebrar as ondas revoltas e violentas dos maximalismo"
(*2). Sua admiração não se limita somente ao homem, mas es
tende-se à idéia fascista: “Roma com o Fascio limitou-se até há
pouco — a se defender da invasão dissolvente de outras doutri
nas (...). Mas a idéia boa não tem pátria; o espírito é univer
sal, bem como o disse o criador do fascismo (. . .). Daí a “uni
versalidade, hoje, dos princípios fascistas" (G3).
(60) MELLO (Olbiano de), Levanta-te Brasil! op. cit., p. 6.
(61) MELLO (Olbiano de), Comunismo ou Fascismo? Rio, Tipo
grafia Terra do Sol, 1931, p. 143.
(62) Ibid.„ p. 144. . t
(63) Foi um “hibridismo democrático socialista, diz ele, que arrastou
a Alemanha à situação atual, da qual, felizmente, parece, será libertada
em pouco pelo Partido Socialista Nacional de Hitler , m MELLO (Olbia
no de), Levanta-te Brasil! op. cit., p. 28.
112
O programa e a organização do Partido Nacional Sindica
lista constituem o tema de seu terceiro ensaio: “Levanta-te Bra
sil! Ele o define como uma organização contra o bolchevismo,
os partidos políticos e a social-democracia (®4). Este movimento
deve ser um instrumento de “força e de ação” e que levará “em
seu bojo e em sua essência a característica aristocrática de uma
genuína revolução social ”(05). O programa propõe “a implan
tação no Brasil do Estado Sindical Corporativo Nacionalista com
abolição integral do sistema eleitoral baseado no sufrágio univer
sal e sua substituição pelo de representação por classes profissio
nais; respeito à propriedade e iniciativa privadas que deverão ser
defendidas e acatadas pelo Estado; a defesa da idéia de Família,
Pátria e Deus; a sindicalização de todas as classes profissionais
(66); o regime federativo unitário em forma de um Estado Sindi
cal Corporativo Nacionalista e um sistema eleitoral com sufrágio
restrito a cada classe profissional (®7) com três poderes: judiciá
rio, legislativo e executivo, independentes e harmônicos entre
si” (®8).
A estrutura do partido é prevista em todos os detalhes,
desde os órgãos de direção até os rituais, o uniforme, a bandeira
e o hino sindicalista. A base da organização é constituída por
um “centro nacional sindicalista” na capital do país e por “cen
tros regionais” dirigidos por um “comitê executivo”, formado
pelo Presidente, vice-presidente, secretário, tesoureiro, propagan-
distas e aderentes. Embora nenhuma referência explícita seja
feita à expressão chefe”, a estrutura hierárquica do Partido Na
cional Sindicalista é semelhante à da Ação Social Brasileira: “dez
sindicalistas formarão um grupo; dez grupos, uma coluna; dez
colunas, uma coorte e dez coortes, um corpo” (69).
A adesão ao Partido Nacional Sindicalista é aberta a todos
os brasileiros maiores de 21 anos, sem distinção de sexo, mas os
(64) Ibid., p. 29.
(65) Reconhecida pela nova constituição política*“cada classe profis
sional deverá econômica e socialmente ser agrupada em sindicato — fora
do organismo geral do Estado, porém sob as vistas imediatas do Ministé
rio das Corporações”. O autor preconiza a criação de 30 organizações pro
fissionais de empregadores e empregados, representando os principais ra
mos da economia, Ibid., p. 30.
(66) A condição para se tornar eleitor é de pertencer a um sindi
cato ou corporação.
(67) MELLO (Olbiano de), Comunismo ou Fascismo? op. cit., pp.
30-31.
(68) Ibid., p. 39.
(69) MELLO (Olbiano de),dc), Levanta-te Brasil! op. cit., p. 31.
113
menores de 17 anos “podê-lo-ão fazer com consentimento expres
so dos pais ou tutores” (70). O uniforme obrigatório para os
militantes, compõe-se de “camisa, colarinho, gravata, casquete
azul-marinho, calças e coturnos pretos — com um emblema na
camisa, lado esquerdo, em fundo amarelo, formado por duas
mãos apertadas em cumprimento e encimadas por uma esfera de
cores azul e preto, com tantas estrelas brancas quantos Estados
e Territórios possui o Brasil (. . ).A entrega do emblema do
Partido ao seu membro ingressante será feita solenemente, em
seu centro ou subcentro, diante das bandeiras nacional e sindi
calista — devidamente perfiladas de acordo com o ritual que for
adotado e com o seguinte juramento: Pela Família, Pela Pátria,
Por Deus (71).
Enfim, o último aspecto da organização do Partido, e que o
distingue dos dois outros movimentos, é a referência explícita à
organização da “Milícia Sindicalista Nacional, nos moldes da
fascista italiana ou nacional-socialista alemã (hitlerista) — for
mada por todos os filiados ao Partido, abrangendo todos os in
divíduos de 17 a 40 anos” (72). O texto prevê que, após a im
plantação do Estado Sindicalista, as milícias transformar-se-ão
oficialmente na segunda reserva nacional.
O último movimento é a Ação Imperial Patrionovista Bra
sileira, organização neomonarquista católica e corporativista (73).
Foi fundado ein 1928, com a finalidade de restaurar a monarquia
tradicional, isto é, um regime que deve se apoiar sobre o Rei, a
Igreja Católica e as corporações medievais: “Sem religião católi
ca e sem rei não pode haver corporativismo” (7‘). O patriono-
vismo rejeita o império brasileiro, que, influenciado pelo libera
lismo, aboliu na constituição as corporações de ofício, seus jui
zes, escrivães e mestres” (7S).
O programa patrionovista coloca em primeiro plano seu
credo: restauração do privilégio do “catolicismo” e “religião obri-
(70) Ibid., pp. 40-41.
(71) Ibid., p. 35.
(72) Grande parte de seus membros irá integrar-se à Sociedade de
Estudos Políticos (S. E. P.), que dará origem à Ação Integralista. Os
membros mais representativos são: Sebastião Pagano, Arlindo Veiga dos
Santos, Paim Vieira, João Fairbanks e Ataliba Nogueira.
(73) PAIM VIEIRA, Organização Profissional, "Organização Pro
fissional, Corporativismo e Representação de Classes" e Representação de
Classes, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1933, p. 257.
(74) Ibid., p. 250, artigo 179, parágrafo XXV da Constituição do
Império (1824).
(75) Ibid., pp. 254 a 255.
114
gatória nas escolas públicas, nos quartéis, institutos hospitalares
e correcionais, etc.”. Em seguida, desenvolve tese sobre a “Mo
narquia” associadas à restauração de um “imperador responsá
vel que reine e governe, escolhendo livremente os seus ministros”
e a organização do Estado imperial sobre a “base municipal sin
dicalista”. Os patrionovistas lutam pela implantação do corpo
rativismo alicerçado “numa organização sindical das classes pro
fissionais, de produção espiritual e econômica (. . .), como base
da verdadeira representação nacional”. Por fim, defendem uma
política internacional “nacionalista, altiva e cristã” (70).
Um dos líderes do grupo monarquista, Sebastião Pagano,
num artigo publicado em 1932, sob o título “Do Conceito de
Estado Integral”, define a posição dos patrionovistas com relação
ao Estado: “Se o Estado deve integralmente satisfazer essa ne
cessidade, essa finalidade social humana, um Estado perfeitamen-
te aparelhado chama-se Estado Integralista, por oposição ao Es
tado que, por defeito de organização, deixa de integralmente
atender às necessidades do homem em sociedade na tendência
por seu legítimo fim”. Caracteriza o Estado Integral, como sen
do um “conjunto orgânico, nacional, hierarquizado e harmônico
( .) onde o conceito de liberdade é profundamente humano,
hierárquico e paternal, atendendo à sociabilidade do homem, a
sua finalidade última e ao bem comum geral” (77).
A organização corporativa do Estado é minuciosamente
descrita pelo patrionovista Paim Vieira no âmbito de uma “mo
narquia orgânica e integral” (78). Exalta os méritos das corpo
rações medievais nas quais a perfeição moral era indispensável
à “ascendência moral e profissional (...), o trabalho era uma
honra”, “a religião o esteio em que repousa toda essa portentosa
estrutura econômico-político-social”. Para fazer face à anarquia
do trabalho provocada pelo regime liberal, o autor sugere a so
lução corporativa cristã: “a organização corporativa, por si só,
não realiza a harmonia das classes. Ela é simplesmente o instru
mento de que o espírito cristão é a energia. Não há corporativis
mo leigo. Sem Deus não há harmonia, não há disciplina, porque
não há autoridade. Sindicalismo sem Deus é absurdo” (79).
115
Recente estudo sobre as idéias religiosas no Brasil, de Oli
veira Torres, confirma a hipótese da convergência ideológica en
tre certos movimentos dos anos 30 e o Integralismo: “Se os pa-
trionovistas não conseguiram grandes resultados na difusão de
seu programa, com mais de uma idéia viável e digría de estudo,
logo apareceu quem levasse avante os ideais de corporativismo
e representação de classes: o Integralismo. Mais objetivo e poli-
camente mais de acordo com as modas do tempo ( ), o movi
mento do Sr. Plínio Salgado esteve a pique de empolgar o poder
e passar para o papel das leis um esquema corporativista, mais
ou menos dentro das sugestões dos patrionovistas” (80).
116
O testemunho de Cândido Motta Filho, um dos líderes in
telectuais do grupo paulista, permite reconstruir o clima intelec
tual que precede à criação da S.E.P.: “Em São Paulo, os jovens
procuravam concentrar-se em torno de uma idéia superior, que
pudesse guiar a vida política diante do impasse em que se encon
trava a Revolução de 30 naquele jogo entre tenentes e o Pre
sidente da República. E a revolução parecia que ia se esvaziar
nisto tudo. A nossa preocupação era fundarmos um centro de
estudo que pudesse investigar e extrair desta investigação, um
sistema qualquer que nos orientasse na vida política (...)• A
finalidade da sociedade era apenas estudar, investigar e ver qual
era o caminho que se podia traçar para o Brasil novo que ia sur
gindo da Revolução de 30. Nós faríamos a propaganda destas
idéias, nós seríamos os veículos destas idéias que talvez con
tribuíssem para a formação de partidos, de correntes de opi
niões” (82).
A assembléia de fundação da S.E.P. teve lugar em 12 de
março, sob a presidência de Salgado. Em seu discurso ele define
o papel da associação: “Senhores, por toda a parte ouço a pala
vra revolução; de todos os lados nos chegam os ecos de ingentes
reclamos que, em meio à confusão dominante no país desde outu
bro de 1930, apelam para o “espírito revolucionário”. Na ver
dade, tudo indica que o Brasil quer renovar-se, quer tomar pos
se de si mesmo, quer marchar resolutamente na História. Cla
ma-se pela justiça social e por mais humana distribuição dos
bens; exige-se do Estado que intervenha, com poderes mais am
plos, tendentes a moderar os excessos do individualismo e a aten
der os interesses da coletividade. Neste momento, congrego-vos
para estudarmos os problemas nacionais e traçarmos em conse-
qüência destes estudos os rumos definitivos de uma política sal
vadora” (83).
Completando sua alocução, Salgado apresenta os princípios
fundamentais da S.E.P. que serão aprovados pelos participantes
da sessão. Estes princípios, que devem servir de contexto ideoló
gico aos debates políticos (cujo conteúdo é aliás muito próximo
do Manifesto Integralista de 1932), são os seguintes: “a — So
mos pela unidade da Nação; b — Somos pela expressão de todas
as suas forças produtoras no Estado; c — Somos pela implanta
ção do princípio de autoridade, desde que ele traduza forças reais
(82) Entrevista com Cândido Motta Filho. São Paulo, junho de 1970.
(83) SALGADO (Plínio). O Integralismo na Vida Brasileira, op.
cit., p. 144.
117
e diretas dos agentes da produção material, intelectual c da ex
pressão moral do nosso povo; d — Somos pela consulta das
tradições históricas e das circunstâncias geográficas, climatéricas
e econômicas que distinguem nosso país: e — Somos por um
programa de coordenação de todas as classes produtoras; f —
Somos por um ideal de justiça humana, que realize o máximo
de aproveitamento dos meios de produção, em benefício de to
dos, sem atentar contra o princípio da propriedade, ameaçado
tanto pelo socialismo, como pelo democratismo, nas expansões
que aquele dá à coletividade e este ao indivíduo; g — Somos
contrários a toda a tirania exercida pelo Estado contra o indiví
duo e as suas projeções morais; somos contra a tirania dos in
divíduos contra a ação do Estado e os superiores interesses da
Nação; h — Somos contrários a todas as doutrinas que preten
dem criar privilégios de raças, de classes, de indivíduos, grupos
financeiros ou partidários, mantenendores de oligarquias econô
micas ou políticas; i — Somos pela afirmação do pensamento po
lítico brasileiro baseado nas realidades da terra, nas circunstân
cias do mundo contemporâneo, nas superiores finalidades do ho
mem e no aproveitamento das conquistas científicas e técnicas do
nosso século” (84).
A partir desse momento, iniciam-se as atividades da S.E.P.
sob a coordenação de um órgão coletivo (Grupo de Centraliza
ção) do qual fazem parte Ataliba Nogueira, Mário Graciotti, Al-
pinolo Lopes Casali e José de Almeida Camargo. A S.E.P. or-
ganiza-se internamente em várias comissões de estudos: econo
mia pedagógica, constitucional e jurídica, higiene e medicina so
cial, geografia e comunicações, história e sociologia, religião, po
lítica internacional, educação física, arte e literatura e agricul-
tura (S5).
As reuniões gerais de discussão são feitas periodicamente,
na sala de Armas do Clube Português de São Paulo. Por sob
118
um fundo ideológico antiliberal e nacionalista definem-se cliva-
gens políticas e doutrinárias entre os membros da S.E.P. Duas
tendências principais se esboçam em seu seio. A tendência ma
joritária aglutina-se em torno de Salgado reunindo um grupo de
estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo do qual fazem
parte Alfredo Buzaid, Rui Arruda, Roland Corbisier, Almeida
Sales e Ângelo Simões Arruda. Este grupo tende a considerar os
estudos e os debates na S.E.P. como uma atividade instrumental
a serviço da ação: e manifesta uma grande angústia política, con
forme testemunha Motta Filho, identifica-se com uma tendência
mais diletante: “A do Plínio, que era a maioria, constituía-se de
um grupo que diante dos movimentos que se processavam na
Europa (Salgado havia pessoalmente falado com Mussolini),
olham com entusiasmo a juventude italiana” (R0). A segunda
tendência, representada pelos monarquistas do movimento “Pa-
trionovista”, embora possuam idéias comuns com o primeiro gru
po, são partidários de um regime fundado sobre a realeza e o
catolicismo. A ausência de uma definição clara da S.E.P. sobre
estes dois elementos fundamentais da concepção monárquica tra
dicional afastará os “patrionovistas” da S.E.P. e, mais tarde, da
A.B.I. (87).
Cabe mencionar, finalmente, o caso quase isolado de Cân
dido Motta Filho, que goza de muito prestígio na S.E.P. e recu-
119
sa-se a aderir ao integralismo (88). Ele permanecerá, apesar do
seu antiliberalismo, no Partido Republicano Paulista, no qual
havia representado com Salgado e outros uma corrente renova
dora.
Após a fundação da S.E.P., Salgado começa a articular os
intelectuais e os movimentos dispersos da extrema-direita. Con
sidera que o papel pioneiro de São Paulo no passado devia re
nascer nesta obra de salvação nacional. Retoma contatos com o
grupo de intelectuais do Rio, por intermédio de Augusto Frede
rico Schmidt, e de Santiago Dantas, ao qual pertencem os aca
dêmicos em Direito da Revista de Estudos Jurídicos e Sociais,
o diretor de Hierarchia, Lourival Fontes, e dois futuros dirigen
tes integralistas, Raimundo Padilha e Madeira de Freitas (80).
Sua ação ideológica se estende ao Norte do país, atingindo
os Estados de Minas Gerais e do Ceará. Alguns dias após a
primeira reunião da S.E.P., Salgado envia uma carta a Olbiano
de Mello, que pretendia lançar o “Partido Nacional Sindicalista '.
Agradecendo o ensaio sobre A República Sindicalista dos Esta
dos Unidos do Brasil, Plínio o coloca a par de sua atividade no
jornal A Razão. Seu comentário revela uma convergência de
pontos de vista: “Eu já havia organizado um esquema muito
parecido com o seu. Eu tinha chegado às mesmas conclusões."
Ele lastima que Olbiano de Mello não venha acompanhando a
série de “Notas Políticas" que tem escrito em A Razão sobre
este mesmo tema e acrescenta: “não faz mal: o essencial é por-
mo-nos em contato. Falemos, pois, de coisas práticas". Ele re
lata então a fundação da S.E.P., cujo “fim é o de criar uma
nova mentalidade". Descreve a seguir o sistema que concebeu,
em articular com editores, após haver tentando difundir “a obra
de Alberto Torres, de Oliveira Vianna, de Tristão de Athayde,
de Octávio de Faria, de Alberto Faria, de Euclides da Cunha, de
Oliveira Lima, de Nabuco, a literatura fascista de Rocco, o que
Portugal nos oferece de mais interessante e, com o tempo, os
trabalhos de escritores franceses, ingleses, americanos e alemães".
Termina convidando a Olbiano a aderir à iniciativa de São Paulo:
“Esse movimento deve ser efetuado em todos os Estados do Bra
sil, a fim de criarmos os capitães da futura campanha de reno-
120
vação (. . .). Sobre três bases deve assentar a obra de construção
nacional: base geográfica (Município); base econômico-social
(classe) e moral (Tradição religiosa e patriarcal”) (°°).
As circunstâncias do contato entre Salgado e Sombra no
Ceará são mais difíceis de serem estabelecidas. A Legião Cea
rense do Trabalho se organiza desde julho de 1931, isto é, um
mês após a fundação de A Razão e quase um ano antes da or
ganização da S.E.P. Salgado, contudo, conhece a Legião a partir
de outubro de 1931, quando Amoroso Lima escreve um artigo
sobre o movimento em A Razão. O sucesso da Legião era tão
grande no Ceará que Severino Sombra decide estender o movi
mento a outras regiões do país. Em inícios de 32, ele funda a
Legião Brasileira do Trabalho e vai a São Paulo para estabelecer
contato político com Salgado que lhe afirma que “para lançar o
movimento era preciso ter uma infra-estrutura doutrinária (...)
para o movimento não se dividir em tendências ideológicas. En
tão ele ia promover este movimento” (01).
Entretanto tudo leva a crer que nesta época Salgado já tem
em mente a idéia de criar a S.E.P. e que seus projetos políticos
pessoais foram percebidos por Sombra como ligados ao seu pla
no de expansão da Legião. Em realidade, alguns meses após,
Salgado adverte Sombra que fundou a S.E.P. sem precisar as
relações entre esta última e a Legião Brasileira do Trabalho. A
evolução dos fatos até a criação da A.J.B. prova que Salgado
121
soube manipular com habilidade os grupos ideológicos conver
gentes em favor de seus planos políticos (°2).
Olbiano de Mello também faz referência a uma nova carta
que lhe foi enviada por Salgado, na qual este último descrevia
seus contatos com o grupo do Rio e com Severino Sombra. Ele
sugere, então, a realização de uma reunião dos três, no Rio, em
10 de julho de 1932. Ele justificará depois a importância do
encontro: “todos nós tínhamos o mesmo rumo e estávamos dis
postos a criar a “grande pátria”, fundirmos nossas atividades
e organizarmos um mesmo e único partido” (93).
Em maio de 1932 a S.E.P. organiza em São Paulo sua
terceira sessão, ocasião em que Salgado propõe, com apoio da
tendência majoritária, a criação de uma “nova comissão técnica,
denominada Ação Integralista Brasileira” cujo objetivo é de
“transmitir ao povo, em uma linguagem simples, os resultados
dos estudos e as bases doutrinárias da S.E.P.”. O relatório desta
reunião mencipna as condições da organização deste novo setor:
“Expondo em rápidas palavras a grave situação que o país atra
vessa, o Sr. Presidente (Salgado) propôs que se organizasse,
subordinada e paralela à S.E.P., uma campanha de ação prática,
no sentido de se infiltrar em todas as classes sociais o programa
político da S.E.P. decorrente de seus princípios fundamentais.
Essa campanha seria denominada Ação Integralista Brasileira”
(94). A proposição não é bem acolhida por todos os membros,
gerando algumas dissenções internas, mas a maioria virá a en
dossá-la. Motta Filho, um dos dissidentes, justifica sua atitude:
“Houve conflitos. Eu achava que nós não podíamos tirar da
S.E.P. sua feição cultural (95). E eu disse a ele (Plínio) com toda
franqueza que achava que não, que ele não deveria transformar
122
aquele movimento nos arrastando a uma responsabilidade que
não era nossa" (90).
A última etapa do processo de formação do integralismo é
a redação de um manifesto para divulgar publicamente a A.I.B.
A decisão de organizar o movimento é tomada no mês de maio,
mas este só começará a existir realmente cinco meses mais tarde,
com a publicação do Manifesto de Outubro de 1932.
A S.E.P. promove ainda duas reuniões, nos mês de junho,
para discutir o esquema do Manifesto, relatado por Salgado. Na
primeira reunião, ele expõe sua proposição à assembléia geral e
cópias são distribuídas aos membros da S.E.P. para que tragam
sugestões. Na reunião seguinte, o projeto do Manifesto é apro
vado quase sem modificações. Entretanto, a eminência do de-
sencadeamento da Revolução Constitucionalista em São Paulo,
obriga Salgado, por prudência ou cálculo político, a retardar a
publicação do documento para uma época mais oportuna (®7).
A rebelião de São Paulo que eclode no início de julho vai
também frustrar o encontro previsto no Rio entre Salgado, Som
bra e Mello. Sombra encontrava-se no Rio e Mello chega em 6
de julho, quando é informado do movimento paulista. Na vés
pera da data da reunião, em 9 de julho, eclode a revolução e
Salgado não pode mais deixar São Paulo (®8).
O Manifesto é publicado, finalmente, em 7 de outubro de
1932, marcando o lançamento oficial da Ação Integralista Bra
sileira como movimento político independente. Salgado descreve
123
o ambiente político da fundação: “Subjugada a revolução paulis
ta em 3 de outubro de 1932, o estado de espírito de depressão e
de íntima revolta dos combatentes vencidos logo aflorou num
reduzido grupo de brilhantes intelectuais que propunham, não
propriamente o separatismo, porém o Confederacionismo ( .).
Por outro lado, o comunismo, aproveitando-se da situação, de
senvolveu intensamente a sua propaganda e rearticulou os seus
quadros, estimulando a massa proletária no sentido da luta de
classes (...). O movimento era dos mais tristes e incertos para
a nacionalidade. Tudo era confusão, incerteza, ausência de ru
mos definidos. Para onde iria a Nação Brasileira? O Manifesto
Integralista já impresso, foi nesta data distribuído em São Paulo
e remetido para todos os Estados” (").
Salgado envia, na mesma data, um telegrama a Olbiano de
Mello, em que exprime, de uma maneira sintética, o espírito do
movimento nascente: “Dada precipitação dos acontecimentos
fundamos Ação Integralista Brasileira. Assembléia criação mo
vimento formada estudantes, operários, elementos classe média.
Tudo dentro princípios já acertados nossa correspondência an
terior: sindicalização, representação exclusivamente profissional.
Base Estado na família, município, sindicato. Avise nossos ami
gos Bahia e Belo Horizonte restabelecer articulação, fomentar
propaganda. Espero sua vinda aqui urgente. Viva Brasil diri
gido mocidade” (10°).
Salgado retoma imediatamente seus contatos com os grupos
intelectuais e os movimentos dos Estados do Ceará e de Minas
Gerais. Face ao exílio de Sombra, os dirigentes da Legião, Jeo-
vah Motta e Helder Câmara incorporam-se à A.I.B. (101)- Um
mês mais tarde, um grupo de jovens da Faculdade de Direito
de Recife lançam o Manifesto do Recife em apoio ao Manifesto
de São Paulo: “A mocidade nordestina de modo algum poderia
(99) SALGADO (Plínio), O Integralismo na Vida Brasileira, op. cit.,
p. 19.
(100) MELLO (Olbiano de), A Marcha da Revolução Social no
Brasil, op. cit., p. 66.
(101) Estes dois dirigentes estavam a par de contatos entre Sombra
e Salgado. Sem consultar o chefe exilado, eles julgam legítima a adesão
da Legião à A.I.B. e acreditam que Sombra estaria de acordo com esta
decisão. Este último, cortado de sua relações políticas com o Brasil, nada
pode fazer para impedir este engajamento. Mais tarde, ele voltará ao
Brasil, tentando disputar com Salgado a direção da A. I. B. no Congresso
de Vitória (Estado do Espírito Santo), cm fevereiro de 1934. Em face
do seu fracasso e de discórdias ideológicas, ele deixará o integralismo.
124
ficar indiferente. E muito menos alunos da Faculdade de Direito
de Recife. Esta escola, que certa vez ouviu proclamar a morte
da metafísica, precisa tornar-se uma célula vivíssima desse gran
de movimento de renovação política, social e espiritual” (102).
Estas são as circunstâncias da fundação do movimento in
tegralista, do qual Plínio Salgado torna-se o líder: a a
partir de outubro de 1932, transforma-se no principal partido da
extrema-direita fascistizante dos anos 30 em busca do poder
político.
125
I
NATUREZA DO MOVIMENTO
127
I
CAPÍTULO I
OS MILITANTES
1 — ORIGEM SOCIAL
a — Os dirigentes nacionais/regionais
Os dirigentes nacionais e regionais podem ser separados em
quatro categorias. A primeira correspondente aos dirigentes exe
cutivos nacionais: o Chefe, os membros do Conselho Nacional
(mais tarde, o Conselho Supremo) e os Secretários responsáveis
pelos departamentos executivos nacionais: a segunda reúne a
direção executiva ao nível regional: os chefes arquiprovinciais(-)
e os chefes provinciais; a terceira e quarta englobam os órgãos
consultivos, ou seja, a Câmara dos Quarenta no âmbito nacional
(1) Este conjunto de dados sobre os dirigentes e militantes de base
da A.I.B., se não é representativo da totalidade do movimento, é ao
menos expressivo das “províncias integralistas onde o movimento era mais
forte: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Guanabara,
Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Ceará. São infor
mações obtidas através de uma pesquisa por questionário junto a uma cen
tena de antigos integralistas originários de zonas urbanas ou rurais. A
determinação de uma amostra representativa era impossível devido à ausên
cia de arquivos disponíveis sobre os efetivos do movimento; nestas circuns
tâncias, a escolha das pessoas foi feita segundo um duplo critério: determi
nação das regiões geográficas onde a A.I.B. era mais forte e escolha mani
pulada de ex-integralistas que permaneceram fiéis à ideologia, a fim de que
o testemunho não fosse deformado e as atitudes ideológicas pudessem ser
avaliadas. As informações sobre antigos militantes de zonas urbanas ou
rurais, obtidas junto a integralistas e não integralistas, permitiram ao autor
entrevistar, durante dois anos de pesquisa, uma centena de dirigentes locais
e militantes de base. Esta pesquisa por questionário foi precedida de trinta
entrevistas semidiretivas com antigos dirigentes nacionais e regionais do
movimento c de uma série de entrevistas de controle com personalidades
não integralistas que acompanharam as atividades da A.I.B. A outra fonte
de informação para a análise da estrutura social da A.I.B., especialmcntc
ao nível das direções nacionais ou regionais, foi o jornal oficial da A.I.B.:
O Monitor Integralista.
(2) São os chefes que têm jurisdição sobre várias “províncias" inte
gralistas (Ver sobre estrutura e o funcionamento da A.I.B. o cápitulo
II, “A Organização’’).
130
e a Câmara dos Quatrocentos, composta de personalidades inte
gralistas de todas as regiões do país. Este conjunto de órgãos
executivos e consultivos, que formam a Corte do Sigma, consti
tui a camada dirigente no sentido amplo da Ação Integralista.
As informações sobre os dirigentes dos órgãos de direção
executiva nacional e regional da A.I.B. confirmam a hipótese
de que seu recrutamento se faz predominantemente entre as ca
tegorias sócio-profissionais representativas das classes médias
urbanas em ascensão nesta época (3). Em primeiro lugar, por
que na década de 30 o grupo preponderante é formado pela mé
dia burguesia dos profissionais liberais, em grande parte radica
lizada ideologicamente para a direita. Além disto, constata-se a
participação de uma pequena proporção de jovens oficiais das
forças armadas (*) geralmente motivada para a ação política
pelo movimento “tenentista” e por este polarizada numa tendên
cia de direita e noutra de esquerda (5).
(3) A expressão “classes médias” é muito geral para ser operacional
em uma análise sociológica sobre a composição social da A.I.B. As classes
médias comprendem todas as categorias sócio-profissionais que não per
tencem nem à burguesia, nem à classe operária (cf. GUÉRIN, (Daniel) Le
Fascisme et les Ouvriers, les Classes Moynnes, les Paysans, les Jeunes, les
Trusts. Paris, Libr. Populaire, 1937, 32 p.). Neste sentido, parece válido
estabelecer uma distinção no interior das classes médias para melhor pre
cisar o conteúdo desta expressão no presente estudo. Define-se como
“classes médias” no Brasil dos anos 30, duas categorias sociais: a média
burguesia dos profissionais liberais c oficiais das Forças Armadas (classe
média superior) e a pequena burguesia dos pequenos proprietários urbanos
rurais c os burocratas do setor público/privado (classe média inferior).
(4) “Apesar da raridade dos trabalhos empíricos, pode-se admitir
que, desde o fim do século XIX, a maioria dos oficiais latino-americanos,
como observa NUN, se recruta na classe média (. . .). J. Johnson chega
a uma constatação da mesma ordem quanto à origem dos oficiais brasilei
ros, com a diferença que, no Brasil, a maior parte são originários das
pequenas cidades do interior.” NUN (José), “Amérique-Latine: la crise
hégémonique et le coup d’état Militaire”, Revue de Sociologie du Travail,
juil-sept., 1967, p. 290.
(5) O fato de que a proporção de militares em órgãos dirigentes
nacionais/rcgionais seja menor do que a dos profissionais liberais, não
significa que a sua participação na A.I.B. tenha sido secundária; havia
núcleos integralistas compostos exclusivamente de militares no Exército c,
sobretudo, na Marinha, onde a maioria, senão integralista, era ao menos,
“simpatizante do integralismo”. (Entrevista com o Almirante Harold Has-
sclman, Rio, Junho de 1970.} Os capitães Scverino Sombra, fundador da
Legião Cearense do Trabalho, Olympio Mourão Filho, Chefe do Estado-
-Maior da Milícia Integralista e Jeovah Motta, dirigente nacional da
A.I.B., são bons exemplos de militares que optaram pelo integralismo, c
o capitão Prestes, futuro secretário do P.C.B., exemplo de um líder de
extrema-esquerda oriundo da corporação militar.
131
QUADRO 1
Direção Direção
Nacional Regional
1. Burguesia (♦) 0 0
1. Média burguesia intelelectual (•*) 21 41
3. Média burguesia militar (•**) 2 9
4. Sem especificação 1 11
TOTAL 24 61
132
QUADRO 2
1. Burguesia 7
2. Média burguesia intelectual 24
3. Média burguesia militar 9
TOTAL 40
QUADRO 3
ESTRUTURA SOCIAL DA CÂMARA DOS QUATROCENTOS
(Em números absolutos)
TOTAL 400
133
sia (comerciantes, industriais e proprietários rurais). O caráter
elitista do recrutamento da Câmara dos Quarenta sobressai quan
do comparada com a dos Quatrocentos, na qual cerca de um
quarto dos membros origina-se da pequena burguesia (peque
nos proprietários urbanos e rurais, funcionários e empregados)
e, inclusive, alguns elementos provêm das camadas populares.
Não obstante esta diferenciações entre as categorias dirigentes
dos órgãos consultivos da A.I.B., a grande maioria dos seus mem
bros é oriunda das camadas médias urbanas.
A aglutinação dos dados sobre a origem social do conjunto
dos dirigentes no plano nacional e regional confirma a hegemonia
da média burguesia intelectual urbana: a maioria absoluta dos
dirigentes faz parte das profissões liberais (57,1%). No entanto,
tomando-se em consideração a totalidade dos dirigentes, a bur
guesia comercial e industrial (13,3%) ocupa uma posição mais
importante do que o grupo dos oficiais (8,7%). Dois terços,
portanto, dos dirigentes integralistas, se recrutam no seio da bur
guesia e da média burguesia. Resta à pequena burguesia não in
telectual e às camadas populares uma participação bastante mar
ginal: 15,2% do total dos dirigentes.
QUADRO 4
ORIGEM SOCIAL DO CONJUNTO DE DIRIGENTES
NACIONAIS E REGIONAIS (♦)
(Em números absolutos)
Direção Direção
Nacional Regional Total
1. Burguesia 7 63 70
2. Média burguesia intelectual 45 259 304
3. Média burguesia militar 11 35 46
4. Média burguesia de pequenos
proprietários 0 23 23
5. Pequena burguesia dos empre
gados e funcionários 0 44 44
6. Camadas populares 0 14 14
7. Sem especificação 1 23 24
134
Todavia esta diversificação relativa das categorias dirigentes,
sob a hegemonia das elites intelectuais, se explica exclusivamente
pelo recrutamento mais aberto da Câmara dos Quatrocentos que
tem, aliás, um papel bastante secundário. Nas funções do poder
executivo regional, a preponderância dos intelectuais é quase to
tal. Em conseqüência, a comparação entre a totalidade dos di
rigentes nacionais e regionais permite concluir que os primeiros
se recrutam entre as elites, sobretudo culturais, e que dois terços
dos segundos originam-se das camadas urbanas médias e popu
lares.
b — Dirigentes ê militantes locais
Os dados sobre a análise da estrutura social dos dirigentes e
militantes locais apresenta uma composição mais diversificada
do que entre os dirigentes nacionais e regionais. As categorias
sociais preponderantes no seio dos dirigentes hierarquicamente
superiores se tornam minoritárias e a média burguesia transfor-
ma-se no núcleo mais amplo dos militantes locais: os profissio
nais liberais se limitam a menos de um quarto do total, o número
de oficiais das forças armadas é reduzido e os representantes da
burguesia desaparecem. Neste nível, o grupo majoritário é a pe
quena burguesia formada pelos burocratas dos setores públicos e
privado, que representa cerca de 40% do conjunto dos dirigentes
e militantes locais, ainda que as camadas populares (operários de
indústrias, trabalhadores agrícolas e independentes) constituam
quase um quarto da base do movimento. Esta estrutura social
inverte totalmente a composição sócio-profissional verificada ao
QUADRO 5
ORIGEM SOCIAL DOS DIRIGENTES E
MILITANTES DAS ORGANIZAÇÕES
LOCAIS
(Em números absolutos)
1. Burguesia 0
2. Média burguesia intelectual 20
3. Média burguesia militar 4
4. Pequena burguesia dos pequenos
proprietários 16
5. Pequena burguesia dos burocratas 38
6. Camadas populares 22
TOTAL 100
135
nível da direção nacional e regional: três quartos dos aderentes
locais são provenientes da pequena burguesia ou das camadas
populares, ao passo que a média burguesia intelectual ou militar
não ultrapassa a um quarto do total.
Estes dados sobre a origem social dos dirigentes e militantes
locais podem ser comparados também com as informações de
natureza subjetiva, ou seja, com percepções de antigos integra
listas sobre as categorias sócio-profissionais que mais aderiam à
A.I.B. (8). Mesmo que se trate de um julgamento individual
sobre um fenômeno coletivo, seria interessante confrontar estas
informações com o perfil da estrutura social efetiva.
O que surpreende é a forte concordância entre os dois tipos
de informação: um consenso se estabelece entre os integralistas
no que concerne à presença dominante ao nível local da pequena
burguesia dos empregados e funcionários; as outras categorias
mais citadas por ordem de importância são a dos. pequenos
proprietários urbanos/rurais e camadas populares. A maioria,
pois, dos integralistas locais é composta da pequena burguesia
urbana e rural com um terço de integralistas oriundos das ca
madas populares.
A conjugação destas informações de natureza objetiva e
subjetiva sobre a base social da Ação Integralista permite con
cluir que, ao nível da direção nacional e regional, é a classe mé
dia superior (profissões liberais e oficiais) que controla o apa-
rellho do partido (B). Quanto aos dirigentes e militantes locais,
(8) Trata-se de uma pergunta do questionário formulado nos se
guintes termos aos dirigentes e militantes locais: “Na sua região quais
sãof segundo sua opinião, as categorias sociais que predominavam na
adesão à A.I.B.?” A questão é seguida de uma lista de alternativas onde
se pode escolher 3 por ordem de importância (1. Profissões liberais; 2.
Oficiais; 3. Comerciantes e industriais; 4. Pequenos proprietários rurais;
5. Funcionários públicos; 6. Padres; 7. Operários industriais c trabalhado
res agrícolas; 9. Estudantes; 10. Classe’ média em geral).
(9) Apesar da presença da classe média superior também na direção
dos partidos republicanos regionais da Primeira República, o controle do
aparelho pertencia à oligarquia rural ou a membros das famílias domi
nantes no plano nacional e regional e aos coronéis no plano local. Ainda
que o P. C. B., nesta época, disponha de uma base operária limitada, é
preciso ressaltar também a presença das classes médias nos postos de di
reção (secretário-geral, por exemplo) ao lado dos elementos das camadas
populares. Paradoxalmente, com a radicalização das classes médias na
década de 30 constata-se o surgimento de um movimento de esquerda
com uma estrutura social semelhante a do integralismo: Aliança Nacional
Libertadora. A ausência de dados sociológicos sobre a composição social
dos aderentes da A. N. L. não permite maior aprofundamento da com
paração.
136
QUADRO 6
IMAGEM DA COMPOSIÇÃO DA A. I. B.
(Segundo Dirigentes e Militantes Locais)
(Em números absolutos)
137
QUADRO 7
/ Burguesia \
/ 11,0% \ DIRIGENTES
/Média burguesiaX
/ 88,0% \ NACIONAIS
/ Burguesia \
14%
Média burguesia
64,0% DIRIGENTES
Pequena burguesia dos
pequenos proprietários REGIONAIS
14,2%
Camadas populares
3,0%
Média burguesia intelectual
24,0%
Pequena burguesia dos DIRIGENTES
pequenos proprietários E MILITANTES
54,0% LOCAIS
Camadas populares
22,0%
138
que a análise do conjunto dos movimentos europeus ou extra-eu-
ropeus apresenta alguns exemplos desviantes, em que a base so
cial é de outro tipo. Os casos mais paradoxais são o Peronismo
na Argentina e o Getulismo no Brasil, que o autor chama de
“fascismo de esquerda”, porque se apóiam nas camadas popula
res. É preciso não esquecer igualmente a participação relativa
mente importante de operários no fascismo italiano e alemão.
Na Itália, a forte concentração industrial no Norte e o passado
socialista de Mussolini explicam a presença operária, desde a
primeira hora, nas fileiras do fascio, enquanto, na Alemanha,
muito mais industrializada que a Itália e sob o impacto da crise
QUADRO 8
Conjunto
da Sociedade
Grupos Profissionais NSDAP
Sociedade = 100
100,0 100,0
139
de 1929, a adesão dos operários é crescente entre 1930 e 1933,
como demonstra o quadro apresentado por Hofer.
A partir da constatação de que na base social da A.I.B.,
como na dos movimentos fascistas europeus, as classes médias
predominam com uma participação popular não desprezível, ca
bería perguntar se a dinâmica dos estratos sociais no Brasil da
década de 30 é a mesma que na Europa? A resposta a esta
questão ultrapassa o objetivo de nosso estudo, embora pareça
útil formular uma hipótese a respeito. Ao contrário da Europa,
onde as classes médias se sentiam ameaçadas seja pela crise eco
nômica seja pela perda de status ou pela agressividade da luta
operária, as classes médias no Brasil desta época, encontravam-se
geralmente em rápida ascensão social e à procura de uma posi
ção de poder na sociedade. Entretanto, sua vontade de ascender
socialmente era bloqueada pela ausência de um projeto político
capaz de as libertar do controle das classes dominantes tradicio
nais. Essa situação objetiva se conjuga com o clima ideológico
europeu, colocando-as diante do dilema: fascismo ou comunis
mo? Neste contexto, as classes médias tendem a se engajar nos
movimentos de direita ou de esquerda que parecem representar
instrumentos políticos válidos e independentes do sistema estabe
lecido: a fração que era sensível à ameaça comunista, à reação fas
cista, aos sistemas nacionalistas, opta pelo integralismo; a outra,
atraída pelo socialismo e pela luta antifascista, incorpora-se à
Aliança Nacional Libertadora (A.N.L.).
Dentro desta interpretação, as observações de Lambert so
bre o comportamento das classes médias são pertinentes: “É
sobretudo pela ascensão das classes médias que este novo Brasil
difere profundamente do antigo que não deixava a essas classes
nenhum lugar. Descendentes de imigrantes ambiciosos, filhos nu
merosos de uma aristocracia que não limitara sua reprodução, to
dos vêm se incorporar às profissões liberais, à função pública, ao
comércio e aos quadros da indústria para formar uma sociedade
individualista, que não concede nem aceita patronagem”. E con
clui: “nada detém a classe média urbana; ela acolhe os modos
de vida, as idéias e as novas ideologias, sem oferecer resistên
cia” (12). Mas é a análise de José Nun que se aproxima mais
de nossa hipótese avançada sobre o comportamento das classes
médias nos anos 30: sua instabilidade decorre do fato de que se
140
trata de uma “classe média frustrada, enquanto que burguesia*’.
E ele justifica esta assertiva, observando que “o sistema de repre
sentação política de novos setores da classe média, articula-se no
quadro da hegemonia oligárquica e as condições objetivas de seu
desenvolvimento não o conduzem a entrar em conflito radical
com esse quadro. Daí o caráter fundamentalmente conservador
de sua consciência política” (13).
QUADRO 9
Urbana Rural
1. Burguesia 0 0
2. Média burguesia intelectual 12 8
3. Média burguesia militar 3 1
4. Pequena burguesia dos peque
nos proprietários 7 9
5. Pequena burguesia dos buro
cratas 20 18
6. Camadas populares 7 15
TOTAL 49 51
141
a — Mobilidade social
QUADRO 10
142
QUADRO 11
1 . Nível primário 6 1 77 39
2. Nível secundário 12 6 22 37
3. Nível superior 7 18 1 24
QUADRO 12
Mobil./Nível de
Mobil./Profission. Instrução
1. Mobilidade ascendente 14 14
2. Ausência de mobilidade 11 11
3. Mobilidade descendente 0 0
TOTAL 25 25
143
QUADRO 13
Mobil./Nível de
Mobil./Profission. Instrução
1. Mobilidade ascendente 48 51
2. Ausência de mobilidade 51 49
3. Mobilidade descendente 1 0
b — Faixa etária
144
QUADRO 14
1. Menos de 21 anos 1 20
2. De 21 a 25 anos 9 36
3. De 26 a 30 anos 10 26
5. Mais de 35 anos 2 8
6. Sem informação 3 . 5
0 5
TOTAL 25 100
QUADRO 15
1. Católicos 23 61
2. Protestantes 1 35
3. Espíritas 1 1
4. Israelitas 0 0
5. Outras religiões 0 2
6. Sem religião 0 1
TOTAL 25 100
145
c — Religiosidade
A identificação confessional dos integralistas permite deter
minar a existência de uma relação entre filiação religiosa e ade
são política. A quase totalidade dos militantes integralistas se
proclama cristã; embora o grupo majoritário seja de confissão
católica, não se pode esquecer a presença de um grupo conside
rável de protestantes dentre os integralistas de base, em geral
descendentes de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul e em
Santa Catarina.
Contudo, ao nível dos dirigentes nacionais e regionais, os
católicos são a imensa maioria. Cabe também mencionar que
nenhum integralista pertence à religião judaica.
A prática religiosa é mais intensa ao nível dos dirigentes
nacionais/regionais do que dos militantes de base: são pratican-
QUADRO 16
TOTAL 25
QUADRO 17
1. Muita importância 22
2. Pouca importância 2
3. Nenhuma importância 1
TOTAL 25
146
QUADRO 18
OTAL 49 51 100
tes três quartos dos dirigentes contra menos da metade dos inte
gralistas locais. Constata-se também que os militantes de origem
rural são mais praticantes que os de origem urbana. O fato re
levante, porém, é que, não obstante estas diferenças de intensi
dade da prática religiosa, a religião, e tudo que se vincula à fi
liação e à crença religiosa, é muito valorizada pelos integralistas
de todos os níveis(J6).
147
QUADRO 19
1. Muita importância 37 39 76
2. Pouca importância 8 12 20
3. Nenhuma importância 4 0 4
TOTAL 49 51 100
d — Origem étnica:
QUADRO 20
1. Luso-brasileira 16
2. Italiana 3
3. Alemã 2
4. Outras 4
TOTAL 25
148
QUADRO 21
1. Luso-brasileira 13
2. Italiana 3
3. Alemã 5
4. Outras 4
TOTAL 25
149
QUADRO 22
1. Luso-brasileira 18 9 27
2. Italiana 8 9 17
3. Alemã 15 31 46
4. Outras 8 2 10
TOTAL 49 51 100
QUADRO 23
1. Luso-brasileira 15 11 26
2. Italiana 8 8 16
3. Alemã 20 31 52
4. Outras 6 1 7
I
TOTAL 49 51 100
3 — MOTIVAÇÕES DE ADESÃO
150
tituir as principais razões que condicionaram os militantes a ins
creverem-se na A.I.B. (20).
A análise será conduzida com o objetivo de determinar a
freqüência relativa de cada motivo indicado, sem considerar a
ordem em que as respostas foram dadas, porque nem sempre o
primeiro motivo referido revela necessariamente a razão princi
pal de sua adesão ao movimento (21). Nesta perspectiva, o estu
do desenvolver-se-á em dois níveis: no primeiro, considerar-se-á
a freqüência relativa de cada motivo tomado isoladamente den
tro do complexo de motivos mencionados; no segundo, determi-
nar-se-á a relação entre o motivo considerado pelo entrevistado
como principal e os outros indicados na resposta (22).
151
a — Motivos individuais dominantes
A “motivação” principal que ocasionou a adesão de cerca
de dois terços dos integralistas é o anticomunismo. Consideran
do que a força política do P.C.B. foi muito secundária até o sur
gimento, em 1935, da Aliança Nacional Libertadora, grande par
te da importância atribuída a este motivo provém provavelmente
da inspiração anticomunista dos movimentos fascistas europeus.
O segundo motivo é a simpatia pelo fascismo europeu: a
maioria absoluta das respostas confirma a influência sobre os
aderentes integralistas da ascensão dos movimentos fascistas.
Quando não havia uma atração pelos regimes fascistas, mostra
vam-se ao menos sensíveis à luta desencadeada pelos movimen
tos fascistas contra o liberalismo e o comunismo. A proporção
de respostas concentradas neste motivo é superior a qualquer
previsão a priori, reforçando a hipótese do parentesco ideológico
entre o integralismo e o fascismo (23).
O nacionalismo, que por hipótese poderia ser considerado
como o motivo provavelmente o mais freqüente, é mencionado
por menos da metade da amostra. O tema do nacionalismo está
sempre presente na ideologia, tanto no plano afetivo como no
intelectual, tendo um papel central na radicalização nacionalista
dos anos 30. O nacionalismo literário, provocado pelo moder
nismo da década de 20, politiza repidamente e o integralismo
tornar-se-á a sua encarnação na extrema direita após a década
de 30. Neste sentido, não existe contradição com a importância
prioritária atribuída aos dois motivos anteriores, porque o na
cionalismo é mais um estado de espírito e uma atitude afetiva do
que uma dimensão ideológica.
Enfim, o quarto tipo de “motivação” é a oposição ao sistema
político. Após a tentativa de Salgado, através das notas políticas
publicadas em A Razão, de influenciar o governo provisório.
Uma das preocupações principais do integralismo, que era com-
(23) A imprensa e as revistas integralistas apresentavam sistematica
mente notícias sobre a expansão fascista na Europa, evitando contudo uma
linguagem muito favorável. No jornal A Ofensiva existia uma seção espe
cial intitulada “O fascismo no mundo”. O estilo dos jornais era em geral
menos neutro do que o das revistas apesar das preocupações dos dirigen
tes em não assimilar integralismo com fascismo. Não obstante, a revista
dos intelectuais integralistas Panorama, reproduziu, em julho de 1936, um
desenho bastante significativo, onde se via um fascista cm camisa negra,
lançando flechas da “revolução fascista” sobre o mundo, com a seguinte
legenda: “Todos os anos se atira uma flecha nova até o mundo ficar sob
o signo fascista”, Panorama, 6/juL/l 936, p. 62.
152
bater o retorno ao sistema liberal, é simbolizado pela constitui
ção de J 934. Neste sentido, a importância relativa da oposição
ao governo, indicada pelos respondentes, explica-se, embora fre
quentemente essa crítica se manifeste sob a forma de uma hosti
lidade generalizada com relação a todos os regimes políticos re
publicanos.
Os outros motivos indicados são representativos do universo
ideológico integralista, mas influenciam pouco significativamente
nas adesões: um quarto dos integralistas aderiram por identifica
ção a valores autoritários (disciplina, ordem, antiliberalismo) ou
a valores espirituais. Outras motivações tiveram um papel bas
tante marginal, como demonstram os dados a seguir.
QUADRO 24
1. Anticomunismo 65
2. Simpatia pelos fascismos europeus 56
3. Nacionalismo 50
4. Oposição ao sistema político da época 39
5. Valores autoritários 24
6. Valores espirituais 23
7. Corporativismo 18
8. Desenvolvimento do país 13
9. Anti-semitismo 5
153
QUADRO 25
b — Constelações de "motivações"
O segundo aspecto da análise pretende ultrapassar a mera
descrição das “motivações” individualmente consideradas e estu
dar sua articulação com o conjunto completo de cada resposta.
O que se observa nas constelações de motivações é que elas se
organizam em torno de três núcleos principais constituídos pelos
motivos mais freqüentes tomados isoladamente (o anticomunis
mo, a simpatia pelo fascismo e o nacionalismo). Os três temas,
como mostra o quadro, associam-se sistematicamente à quase
totalidade de respostas.
A partir desta primeira observação, pode-se comparar a im
portância relativa de cada “motivação” com relação às três do-
QUADRO 26
Total 100
154
minantes. Os dados revelam que as motivações mais fortemente
associadas são o anticomunismo e a simpatia com os fascismos: '
dois terços dos que fizeram referência ao anticomunismo mostra
ram-se também favoráveis ao fascismo e a recíproca também é
verdadeira para os três quartos de pró-fascistas. A ligação entre
essas duas variáveis é um bom indicador da natureza do integra-
lismo: o anticomunismo tornando-se o elemento ideológico de
maior amplitude ao nível das “motivações” de adesão, sua asso
ciação mais forte não se estabelece com o nacionalismo mas com
uma atitude fascistizante. Os dados mostram que apenas menos
da metade dos motivados pelo anticomunismo foi igualmente
pelo nacionalismo e um pouco mais da metade desses últimos
sentiu-se atraída pelo combate ao comunismo. Isso confirma a
hipótese sobre as origens e a orientação européia do anticomu
nismo na época: tratava-se mais de uma atitude anticomunista
reflexa, orientada em função dos confrontos ideológicos na Eu
ropa, que da percepção de uma ameaça comunista interna.
QUADRO 27
155
tese de Adorno sobre relação entre a personalidade autoritária
e o fascismo potencial (25).
O terceiro aspecto é a relação clássica entre motivos de tipo
espiritualista ou religioso e o anticomunismo, mas também entre
aqueles e a simpatia pelo fascismo, o que revela a receptividade
de certos setores confessionais pelo fascismo.
A atração pelas idéias corporativas, como se poderia prever,
associa-se ao anticomunismo e à solidariedade fascista, enquanto
a relação entre fascismo e desenvolvimento revela mais uma va
lorização das performances dos regimes fascistas do que de uma
atração pelos componentes propriamente ideológicos desses re
gimes; enfim, resta mencionar, apesar da pouca importância do
anti-semitismo como motivação, sua associação freqüente com
o nacionalismo.
QUADRO 28
(Em percentagem)
156
Um exemplo típico da marca ideológica que permaneceu em
grande parte dos antigos integralistas é o de um tipógrafo de uma
cidade de tamanho médio, cuja atitude revela, simultaneamente,
fidelidade ao movimento e uma combinação de insatisfação com
o sistema político, anticomunismo e identificação com os movi
mentos fascistas europeus: “Tornei-me urn apaixonado das idéias
integralistas ao ponto de ser fanático. Se a A.I.B. ressurgisse,
eu me inscrevería novamente. Eu estava revoltado com a política
miserável e a corrupção da Velha República. A política era do
minada pelos coronéis locais. A influência comunista, nesta épo
ca, já era profunda e parecia que os movimentos nacionalistas e
fascistas europeus lutavam também contra os mesmos inimigos”.
Esse mesmo gênero de “motivação” foi indicado por um chefe
integralista de uma cidade industrial de tamanho médio, coloni
zada por imigrantes italianos. Explicando sua adesão, ele decla
ra: “Os partidos políticos da época não atraíam. Os judeus e o
comunismo se espalhavam pelo país. Era preciso fazer alguma
coisa que não fosse contrária a nossa tradição cristã e naciona
lista. Eu acreditava que os movimentos fascistas na Europa re
presentavam uma barreira contra o comunismo, e neste sentido
havia uma certa identificação entre o integralismo e o fascismo
italiano. Contudo eu me opunha ao nacional-socialismo alemão.”
Muitos militantes de origem rural nas zonas de colonização
revelam informação e posicionamento com relação ao que se pas
sava na Europa nessa época. Esse tipo de atitude aparece nitida
mente na resposta de um militante de tendência autoritária e
pró-fascista: “Eu aderi ao integralismo devido a seu programa
de defesa do nacionalismo e do Estado forte. Eu acreditava que
a política da época estava inspirada por um liberalismo anárquico
e que era preciso um governo mais forte. Eu tinha, também,
uma grande admiração pelo fascismo italiano, mas com o início
da Segunda Guerra Mundial desiludi-me. Eu não gostava de
Hitler, porque era fanático e orgulhoso e porque conduziría o
mundo para um conflito. Contudo era favorável a uma guerra
contra a Rússia, porque se tratava de uma empressa anticomunis
ta. Assim, quando Stalin se uniu a Hitler, fui hostil a este fato,
porque este pacto dava mais força à Rússia”.
Alguns explicitam mais as opiniões e consideram que Hitler
e Mussolini formavam uma barreira frente ao comunismo, ao
afirmar que: “se a guerra tivesse tido um resultado diferente,
o mundo seria melhor, porque aí haveria menos comunismo”.
Outros mostram-se influenciados pelo movimento português (“eu
157
era muito influenciado pelo salazarismo") ou espanhol (“eu
admirava Franco, porque havia organizado uma luta contra o
comunismo’').
Ainda que, nas zonas de imigração alemã ou italiana, tenha
havido algumas vezes tensão entre os militantes integralistas de
origem européia e os imigrantes não naturalizados que aderiam
aos movimentos fascistas ou nazistas, havia casos em que o indi
víduo inscrevia-se no integralismo pensando que ele era vincula
do aos fascisjnos europeus. A maior parte, entretanto, estava
consciente das afinidades da A.I.B. com os fascismos, mas sabia
que era um movimento autônomo. Um exemplo concreto é o
de um filho de imigrante, vivendo na zona rural, que até a ado
lescência vive dentro de um ambiente familiar e escolar de tal
forma italiano, que não tinha consciência do país em que morava.
Somente mais tarde, quando começa a frequentar uma escola
fora de sua pequena comunidade rural, é que descobre que vivia
num país chamado Brasil (“onde canta o sabiá”)! O testemunho
de sua participação na A.I.B. e a recordação de canções integra
listas aos 84 anos são extraordinários. Ele aderira ao integralis
mo pela “admiração por Mussolini, quando fui camisa preta.
Depois eu me apercebí que a A.I.B. era um movimento do mes
mo gênero. Abandonei a camisa preta e vesti a camisa verde,
porque era preciso lutar pelas mesmas idéias num movimento
brasileiro”.
A atitude anticomunista associa-se, algumas vezes, a uma
experiência concreta e mais próxima do que a luta contra o co
munismo na Europa. Vários integralistas referem-se à “moti
vação” anticomunista de maneira menos abstrata. Por exemplo,
havia um núcleo integralista no Rio Grande do Sul, dirigido por
um oficial, cujo objetivo principal era o de “combater o comu
nismo e se opor à ação nefasta do capitão Prestes”. Um dos
membros do núcleo dizia que “este tenente nos convidou a orga
nizar uma força para fazer frente ao comunismo”. Noutros ca
sos, porém, descobriam a presença comunista ao fazerem o serviço
militar: “Eu era analfabeto e ouvi falar no integralismo. Mais
tarde, quando estive na caserna, aprendi a ler e a escrever, esti
mulado por oficiais amigos. Então, dei-me conta da ameaça
comunista que me será confirmada mais tarde, sobretudo em uma
cidade portuária onde fui ferroviário”. Finalmente, alguns não
aderiram ao integralismo para lutar contra o comunismo, mas
afirmam terem descoberto a “ameaça comunista” dentro da
A.I.B.: “Quando acabei meus estudos em 1931, declara o pro-
158
prietário de uma pequena livraria, eu procurava um novo tipo
de organização social e, no integralismo, encontrei estas idéias:
de um lado, pela organização corporativa e de outro, por uma
política sem compromisso. O integralismo me abriu os olhos
sobre o comunismo que antes eu não conhecia.”
Certos militantes inscreveram-se no integralismo motivados
pela insatisfação e oposição ao sistema político. Várias são as
respostas do gênero: ‘‘desiludido pelas revoluções sem resultado,
pela dominação política dos caudilhos e pelo sistema eleitoral que
obrigava a votar com o patrão, eu abracei o integralismo que
tinha uma doutrina e ganhava aderentes pela convicção.” Ou
então: “Eu era radicalmente contra o sistema representativo e
corrompido da época. Constatei que as velhas organizações po
líticas não tinham nem doutrina nem programa. Nós estávamos,
enquanto jovens, à procura de novas idéias capazes de transfor
mar a Nação.” Outros, enfim, aderiram porque as instituições
vigentes pareciam impotentes para resistir ao comunismo: “Exis
tia sobre o Brasil um perigo comunista e os partidos liberais-de-
mocráticos não tinham a capacidade de fazer face à ameaça e
marchavam para o suicídio. Eu aderi à A.I.B. porque ela tinha
uma organização e um programa fundado sobre a democracia
orgânica e a organização corporativa.”
Havia um grupo mais sensível ao apelo espiritualista da
ideologia: “Eu não me tornei integralista por anticomunismo,
porque o comunismo não era tão forte nessa época, nem por
oposição à situação política vigente, mas porque a divisa integra
lista era Deus, Pátria e Família. O integralismo defendia a re
ligião.”
Cabe mencionar, igualmente, o forte sentimento nacionalista
que aparece nas “motivações” de um grupo de descendentes de
imigrantes alemães ou italianos. “O que mais me impressionava
no integralismo, afirma um deles, era o sentimento nacionalista.
Os descendentes dos imigrantes germânicos eram chamados pejo
rativamente de “alemães”. A A.I.B. foi o primeiro movimento
a nos integrar e a cessar as distinções.” Uma militante de origem
alemã atribui sua adesão ao integralismo à “influência de sua
mãe, que era professora e que, no contexto alemão, devia desen
volver em seus alunos o sentimento nacional; mais tarde, quan
do apareceu a A.I.B., que exaltava estes mesmos valores, eu me
entusiasmei pouco a pouco por este movimento. Após a adesão
de meus irmãos, eu me engajei e, mais tarde, me tornei respon
sável pela organização feminina local”.
159
Fora dos motivos político-ideológicos havia certos militan
tes que aderiam por uma espécie de espírito comunitário que sen
tiam no movimento. Este sentimento aparece difuso em várias
entrevistas onde, em meio a outras “motivações” encontram-se
frases do tipo: “Eu gostava sobretudo da união que existia no
movimento, quando todos se encontravam com suas camisas
verdes.” “O que mais me atraía era o clima de união que existia
entre os integralistas e a doutrina que era ensinada para a reali
zação da revolução interior do homem.” Outros, enfim, enga
javam-se condicionados por amigos sem nenhuma predisposição
de fazer uma opção política: “Eu era jovem em disponibilidade,
e aos outros partidos pertencia a gente idosa; eu aderi sem ter
consciência da situação política, por influência de amigos. Eu
morava em uma pensão e meus amigos eram integralistas.”
160
CAPÍTULO II
A ORGANIZAÇÃO
(1) Neste sentido, parece sem nexo distinguir, como o sugerem certos
dirigentes integralistas, o “totalitarismo” da organização da “democracia
orgânica” da ideologia.
161
de enquadramento disciplinado dos militantes (a partir das or
ganizações da juventude até a milícia) e da submissão autoritária
e fidelidade aos superiores hierárquicos. Neste sentido, o totali
tarismo e a burocracia são elementos indissociáveis na organiza
ção do integralismo.
A organização integralista desempenha, pois, uma tríplice
função: fornecer ao chefe meios poderosos para dirigir o movi
mento; realizar uma experiência pré-estatal ao nível da organi
zação, inspirada no modelo teórico do Estado Integral; constituir-
-se num instrumento de socialização político-ideológica dos ade
rentes. Por isso, torna-se necessário distinguir no conjunto da
organização três aspectos que definem sua natureza burocrático-
totalitária: o Chefe, fonte da legitimidade do sistema; a estrutura
pré-estatal e os meios de socialização ideológicos.
Após um período transitório entre fins de 1932 e 1934, no
qual Salgado amplia sua liderança sobre o movimento e as di
reções dos primeiros grupos integralistas locais e regionais são
confiadas a triunviratos, implanta-se a organização da A.I.B.
A primeira estrutura se estabelece no I Congresso Integralista
de Vitória (Espírito Santo) em fevereiro de 1934 e, mais tarde,
se aperfeiçoa com resoluções do Chefe Nacional após o Congres
so Integralista de Petrópolis (Rio de Janeiro) em março de 193ó.
A natureza burocrática-totalitária da organização configura-se
entre 1932 e 1936, ao passo que seu caráter pré-estatal se conso
lida com as modificações introduzidas após 1936.
O Congresso de Vitória define, através da elaboração dos
estatutos, os órgãos de base da organização política e estabelece
os objetivos do movimento. Os estatutos apresentam a A.I.B.
como uma “associação nacional de direito privado, com sede ci
vil na cidade de São Paulo e sede política no lugar onde se en
contrar o Chefe Nacional”. O movimento atribui-se como obje
tivo inicial ser um “centro de estudos de cultura sociológica e po
lítica”, com a finalidade de promover o desenvolvimento “moral
e cívico do povo brasileiro” e de “implantar no Brasil o Estado
Integral”. Os estatutos conceituam este como o regime fundado,
na ordem política, sobre a “doutrina integralista ou nacional cor
porativa”; na ordem econômica, sobre uma economia “dirigida”,
onde o interesse social predomina sobre o individual; na ordem
moral, sobre a “cooperação espiritual” de todas as forças que
querem defender Deus, a Pátria e a Família; e, finalmente, na
162
ordem intelectual, sobre a participação do conjunto das forças
culturais e artísticas na vida do Estado (2).
Embora a A.I.B. pretenda ser um instrumento para a ins
tauração do Estado Integral, recusa-se a ser assimilado, numa
primeira fase, a um partido político e define-se apenas como
um movimento cultural e cívico. Esse fato se explica mais por
razões de estratégia política e coerência ideológica do que por
apoliticismo. Mais tarde, em 1935, quando o integralismo apre
senta Salgado como candidato à Presidência da República e, mes
mo antes, por ocasião das eleições legislativas e municipais, a
A.I.B. transforma-se em partido competindo com outras organi
zações políticas. Os Protocolos e Rituais da A.I.B., publicados
em abril de 1937, reformulando a redação dos estatutos de 1934,
definem a Ação Integralista não somente como uma associação
civil (“centro de estudos e de educação moral, física e cívica”)
mas também como partido político visando realizar “a reforma
do Estado”. Inclusive a linguagem se altera, pois não se trata
mais de “implantar” o Estado Integral ou nacional-corporativo,
mas de “reformar” o Estado brasileiro pela tomada legal do po
der político. Os objetivos explícitos são criar “uma nova cultura
filosófica e jurídica”, a fim de assegurar o “culto de Deus, da
Pátria e da Família”, a “unidade nacional”; o “princípio da Or
dem e da Autoridade”; “o prestígio do Brasil no exterior”, “jus
tiça social, garantindo-se aos trabalhadores a remuneração cor
respondente às suas necessidades e a contribuição que cada um
deve dar à economia nacional”; a “paz entre as famílias brasilei
ras e entre as forças vivas da Nação, mediante o sistema orgâni
co e cristão das corporações”; “a liberdade da pessoa humana
dentro da ordem e da harmonia social”; “a grandeza e o prestí
gio das classes armadas”; “a união de todos os brasileiros” (3).
A transformação do movimento em partido político coinci
de com a passagem da fase “revolucionária” do integralismo à
sua fase “eleitoral”. A partir deste momento, a mensagem ideo
lógica não se dirige somente a militantes consagrados à “revolu
ção integral”, mas a eleitores potenciais (*)•
(2) Estatutos da Ação Integralista Brasileira, Monitor Integralista,
2(6), maio de 1934.
(3) “Protocolos c Rituais da A.I.B.”, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937.
(4) Uma das exteriorizações dessa evolução é a transformação, a
partir de 1936, do antigo “Departamento de Organização Política” em
“Secretaria de Corporações c de Serviços Eleitorais”.
163
1 o CHEFE
164
nio de suas atribuições exclusivas (°). Em 1936, quando os
Protocolos e Rituais da A.I.B. “redefinem os poderes do Chefe,
não muda a amplitude de seu poder, mas há uma tentativa de
despersonalizar as bases deste poder ilimitado. Sua legitimidade
decorre do fato de que ele é a síntese dos anseios de todos os
integralistas, o intérprete e o defensor supremo da doutrina. Por
tanto, mais do que uma pessoa, ele é a encarnação da “idéia”
integralista (10).
Não obstante essa mudança de linguagem, o caráter perso
nalizado da submissão ao Chefe persiste através do juramento de
obediência incondicional a Plínio Salgado. A fidelidade ao Che
fe é o corolário de seu poder ilimitado. Todo novo militante inte
gralista deve proclamar solenemente, diante do retrato do Chefe
Nacional, a promessa seguinte: “Juro por Deus e pela minha
honra trabalhar pela Ação Integralista Brasileira, executando,
sem discutir, as ordens do Chefe Nacional e dos meus supe
riores” (n).
A valorização da fidelidade ao Chefe teve como conseqüên-
cia o culto da sua personalidade. Além de dispor de um poder
legal vinculando seus adeptos por um juramento de fidelidade,
Salgado possuía, com suas qualidades de orador, o carisma pes-
165
soai do chefe fascista (12). Os testemunhos dos antigos militantes
e dirigentes locais integralistas, cerca de quarenta anos após, con
firmam a extensão deste culto da personalidade do Chefe. As
respostas de uma centena de militantes e dirigentes de bases in
tegralistas confirmam a amplitude da fascinação exercida peia
sua imagem. Os três quartos dos antigos integralistas ainda in
telectual e afetivamente ligados à ideologia, conservam uma
grande admiração pela pessoa do Chefe. Dois terços das mani
festações de simpatia fundamentam-se em suas qualidades retóri
cas; a metade indica sua admiração pelas qualidades de escritor,
de cultura e de inteligência de Salgado; um grupo menor evoca
suas qualidades de líder, embora uma minoria faça restrições à
sua capacidade política, sobretudo após o fracasso da A.I.B. (13).
A imagem que se forma a partir deste conjunto de teste
munhos é a de um personagem a meio caminho entre o chefe
político e o chefe religioso. Neste sentido, a melhor caracteri
zação de Salgado foi feita ironicamente por um dos antigos inte
lectuais integralistas, Roland Corbisier, que o chama “mistago-
go” já que combina qualidades místicas e demagógicas (14).
166
QUADRO 29 (*)
167
Esta interpretação é confirmada, aliás, pela análise do que
Plínio Salgado considera ser o fundamento de sua autoridade de
Chefe. Ele pensa que quatro são os elementos que se encontram
na base de seu poder. O primeiro é que ninguém tem o direito
de colocar em questão a autoridade do chefe. O líder que tolera
a dúvida ou a contestação de sua autoridade, provoca a crise de
seu poder e enfraquece. O segundo princípio liga-se estreitamen
te ao primeiro: não pode haver contradição entre o Chefe e a
doutrina. Esta regra é absoluta no integralismo, pois o Chefe é
simultaneamente criador e intérprete destes princípios. Em conse-
qüência, a lógica entre a concepção do Chefe e os dois corolários
do fundamento de sua autoridade é perfeita. O Chefe mantém
a intangibilidade de seu poder, porque sua fidelidade à doutrina
é imanente pelo fato de que é ele o seu criador. Quanto à pos
sibilidade de erro nas decisões de ação, ele tem sempre o recurso
de imputar a responsabilidade aos órgãos auxiliares de consulta.
Salgado acrescenta ainda dois outros elementos às bases de
seu poder: o segredo e o carisma. Um dos componentes essen
ciais, na sua opinião, da autoridade de um Chefe, reside em sua
capacidade de esconder sua própria opinião: “Jamais, em tempo
algum, eu revelei o meu verdadeiro pensamento!” Ele se envol
via, conscientemente, numa atmosfera de mistério que lhe possibi
litava colocar-se acima das controvérsias: “Um chefe não pode
entrar em debate” (15).
Por fim ele crê que possuía uma capacidade inata de co
municação com as massas. Embora não saiba explicar se se trata
de um fenômeno psicológico ou de outra natureza, tem a certeza
de possuir esse dom pessoal. O carisma que ele possuía, vincu
lado a sua capacidade retórica, necessitava, na sua concepção, de
uma “liturgia” para exteriorizar-se e comunicar-se melhor com as
massas. Mesmo que a mise en scène não substituísse a eloquên
cia, ela desenvolvia um ambiente propício à transmissão da men
sagem fazendo brotar uma ligação simbólica e afetiva com o
Chefe. Por isto Salgado valoriza as manifestações exteriores e
os rituais, que foram reunidos num manual de cerimônias in
tegralistas intitulado “Protocolos e Rituais da A.I.B.”.
Neste contexto, não parece fácil encontrar os limites que
separam o mito do Chefe e sua realidade. Qual foi seu compor
tamento enquanto Chefe? Até que ponto sua ação concreta cor
respondeu à realidade de seu poder legal e à imagem transmitida
168
por seus adeptos e pela propaganda? A interpretação que se de
preende dos testemunhos e documentos integralistas é que. apesar
de todo poder formal, Salgado era, na realidade, um chefe pusi
lânime. Uma distância enorme se estabelece entre a imagem
oriunda dos militantes situados numa relação “orador-massa" e
os julgamentos de dirigentes e colaboradores próximos sobre seu
comportamento como dirigente da A.I.B. (10).
O primeiro elemento desta pusilanimidade é, paradoxal
mente, a concentração do poder legal que lhe foi atribuída pelos
estatutos de acordo com sua vontade. Obviamente um chefe que
se imponha aos seus liderados não tem necessidade de definir,
em todos os detalhes, o domínio de sua competência e, sobretudo,
de criar mecanismos que impeçam que sua autoridade seja posta
em causa. Tal precaução decorre em parte da necessidade de
compensar psicologicamente a impressão de fragilidade de sua
estatura, pequena e franzina, mas também da vontade de afirmar
uma posição de força diante das pretensões de liderança de certos
dirigentes integralistas mais capazes para a ação política. Só um
chefe fraco tem necessidade de impedir toda forma de interpe
lação de seus subordinados e de se proclamar “perpétuo” e “in
tangível”. O verdadeiro líder tem em si mesmo, por suas quali
dades e coragem na ação, a energia suficiente para impor sua
vontade e não tem necessidade de fundar seu poder sobre um
texto legal.
Outros dados, entretanto, são mais reveladores desta fra
queza. Eles são o resultado de certas atitudes de Salgado. O
primeiro episódio é relatado por diversos dirigentes integralistas
como exemplo de sua fraqueza ou como prova de seu exclusi-
vismo. Consta que Barroso, no fim de uma de suas conferências,
insinua, sob a forma de uma legenda histórica, que um chefe
que não é fiel à doutrina corre o risco de perder sua autoridade.
Este episódio é interpretado pelos colaboradores próximos de
Salgado como uma crítica velada à sua chefia e como uma amea
ça à liderança. Alguns dias mais tarde, por ocasião de uma reu
nião de prefeitos integralistas, Salgado deveria pronunciar um dis
curso de encerramento. Seu discurso, para espanto geral, versa
169
sobre sua concepção do Chefe e o corolário da obediência e fide
lidade absolutas. No fim do discurso, num gesto teatral, ele se
demite de sua função como chefe e abandona o palco. Todos os
dirigentes presentes, entre eles Barroso, ficam estarrecidos ante
este gesto inesperado e permanecem imóveis, sem saber o que
fazer. Após alguns minutos de hesitação, tomam a iniciativa de
buscar Salgado nos bastidores e presenciam a seguinte cena: Bar
roso, com lágrimas nos olhos, dá explicações a Salgado que, con
siderando haver obtido reparação, revisa sua decisão e retoma
suas funções sob a “pressão” de seus companheiros.
Este pequeno fato significativo revela que Salgado tinha
necessidade de reafirmar sua autoridade constantemente e de
afastar toda ameaça contra seu poder exclusivo. Esta atitude é
certamente um indicador de insegurança em relação a si próprio
e de fraqueza face aos outros.
Outro acontecimento da história do integralismo, que reforça
esta interpretação, é a “Carta de Natal” (1935), na qual o pró
prio Salgado reconhece sua incapacidade de dominar seus parti
dários: “Na madrugada de ontem, meditando sobre o movimento
político-social que criei no Brasil, senti-me apreensivo. Examinei
a minha criação e inquietei-me. Não temo os inimigos nem as
adversidades, porém temo os meus próprios adeptos. Porque
eles, na exaltação revolucionária, poderão perder aquilo que é
fundamento do nosso ideal: a consciência de nós mesmos. E,
perdendo a consciência de si mesmos, perderão o conceito da
autoridade, como eu a quero, e a concepção do Chefe, como é
necessária a uma Nação Cristã” (17). A mesma confissão de
impotência em controlar os acontecimentos será demonstrada por
Plínio por ocasião do putsch integralista de 1938. Ele evocará,
para justificar a ação terrorista dos integralistas mais exaltados,
sua incapacidade de dominar uma parte de seus adeptos.
Portanto, se um Chefe que dispõe de um poder legal bas
tante extenso, de um código disciplinar rigoroso, de um tribunal
interno para julgar as ações de indisciplina, de um serviço de
inteligência, reconhece não poder ter o controle sobre o aparelho
do partido evidencia ser um chefe pusilânime.
A única explicação possível, pois, para este descompasso
entre a imagem e a realidade do personagem, é que a idealização
da primeira fundamenta-se em sua eloqüência pessoal, enquanto
a segunda exprime a realidade de um chefe hesitante diante de
(17) SALGADO (Plínio), “Carta de Natal’’, in Madrugada do Espí
rito, op. cit., p. 429.
170
decisões práticas, mostrando-se incapaz de controlar suas tropas.
Ele era capaz de um discurso incendiário mas impotente diante
de uma decisão firme e rápida. Na realidade, Salgado não era
um condutor de homens, mas um chefe conciliador mais por
medo de decisões internas do que por temor do impasse, onde ele
deveria ter a última palavra. Neste sentido, não há contradição
entre o chefe que tolera uma democracia limitada em questões
práticas e, ao mesmo tempo, reivindica a exclusividade de seu
poder. Entretanto, este mesmo chefe tímido transformava-se em
líder de massa, dirigindo-se ao público numa tribuna. Seus dis
cursos são inflamados, vigorosos e freqüentemente apocalípticos.
Trata-se, em conseqüência, da ambigüidade fundamental de uma
personalidade autoritária por timidez (18).
2 — UM MODELO PRÉ-ESTATAL
171
congresso integralista de 1934, através de uma rede de órgãos
relacionados burocraticamente, desde o nível nacional até os
bairros urbanos. Nos estatutos de 1934 está previsto que o Chefe
Nacional não se comunicará “diretamente com os integralistas,
mas por intermédio dos Departamentos Nacionais” (10), salvo
em circunstâncias excepcionais. Cada Departamento Nacional
que se relacione com seu homólogo ao nível regional ou local
deve fazê-lo por intermédio do chefe provincial. Sistema similar
é adotado nas relações entre o Chefe Provincial e os chefes lo
cais. Além disto, está previsto que as relações que se estabele
cem entre subordinado e superior devem ser feitas por escrito.
Mesmo em se tratando de um chefe provincial, não pode haver
contato direto com o Chefe Nacional senão através do Departa
mento ao qual se liga o objeto de sua demanda, excetuando o
caso de um “problema relevante de caráter particular” (20).
O Congresso Integralista de Vitória, pois, estabelece a estru
tura organizacional da A.I.B. que permanecerá em vigor até sua
alteração em 1936. No ápice da pirâmide encontra-se o Chefe
Nacional, depois o Conselho Nacional como órgão consultivo do
Chefe e, ao nível executivo, os Departamentos Nacionais.
O Chefe Nacional dispõe, como numa estrutura governa
mental, de um Gabinete Civil e Militar. O Gabinete subdivide-se
em vários serviços: a Casa Militar e o Comando da Tropa de
Serviços Especiais — responsável pela proteção de Salgado, for
mada por quatro ajudantes de campo ligados ao Chefe e de dois
outros ligados ao chefe da casa militar e ao comandante da tropa
de serviços especiais. Os outros serviços do Gabinete são o Secre
tariado, o Jornal Oficial (Monitor Integralista), os serviços de
imprensa e os serviços de relações exteriores. Estes últimos esta
belecem a ligação com autoridades e movimentos políticos estran
geiros, ou, mais precisamente, com “as organizações que no mun
do possuem afinidades com a integralismo e com as autoridades
consulares e diplomáticas entre os brasileiros morando no estran
geiro” (21). Outra atribuição do Chefe, de natureza governamen-
172
tal, é o poder de atribuir “ordens honoríficas”, concedidas a per
sonalidades integralistas de alta expressão “moral, intelectual c
cívica” (22).
O Conselho Nacional tem funções consultivas, sem nenhum
poder de decisão autônomo. É um órgão de assessoria ao Chefe
Nacional, integrado por secretários dos Departamentos Nacio
nais, por Chefes Provinciais e por outros elementos designados
pelo Chefe Nacional.
Os órgãos de execução dirigidos por um secretário nacional,
sob a dependência e o controle direto do Chefe Nacional, são os
Departamentos Nacionais. A primeira estrutura da A.I.B. cons
titui-se de seis Departamentos: Organização Política, Doutrina,
Propaganda, Cultura Artística, Milícia e Finanças. Além destes,
o Chefe cria o Departamento de Justiça.
Em 1936, no Congresso de Petrópolis, a estrutura é rema-
nejada e novos órgãos são incorporados. A resolução n.° 165
(janeiro de 1936) cria dois novos órgãos de representação: a
Câmara dos Quarenta e o Conselho Supremo e, simultaneamente,
institui o órgão máximo de representação na A.I.B.: as Cortes
do Sigma.
A Câmara dos Quarenta é um organismo consultivo formado
por “personalidades de alto valor moral e intelectual” (23). Ele
se estrutura internamente em comissões especializadas para opi
nar sob problemas suscitados pelo Chefe Nacional. Seu papel,
na realidade, é mais decorativo que consultivo. Segundo o teste
munho de certos membros da Câmara, Salgado, para evitar di
vergências entre o Chefe e a Câmara, se entrevistava previamente
com os relatores das comissões. Com isto, a submissão do Chefe
às decisões dos órgãos consultivos do movimento significava uma
forma de distribuir responsabilidade nas decisões importantes e
uma maneira de produzr solidariedade e legitimidade nas deci
sões do Chefe Nacional.
O Conselho Supremo define-se como um “órgão auxiliar”
do Chefe Nacional que extingue as antigas funções do Conselho
Nacional. Este último era mais consultivo que executivo, por
que, sendo composto de Secretários Nacionais e Chefes Pro-
173
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vinciais, tornava-se difícil*sua convocação em razão da distância
geográfica entre os Estados. Salgado, em conseqüência, sente
necessidade de um órgão de consulta mais próximo e formado
pelos principais dirigentes integralistas. O novo conselho será
integrado de dez membros, dentre os quais secretários dos De
partamentos Nacionais, possibilitando também a ascensão polí
tica interna de alguns dirigentes do movimento (24).
O organismo mais importante de representação da A.I.B.
é a Corte do Sigma, integrada por dirigentes dos principais ór
gãos de cúpula na hierarquia do poder: os membros do Conse
lho Supremo, os Secretários Nacionais, os membros da Câmara
dos Quarenta, os Chefes Provinciais (mais tarde Câmara dos
Quatrocentos) e outros membros especialmente designados pela
Corte do Sigma. A Corte reúne-se pela primeira vez em 15 de
outubro de 1936.
A Corte do Sigma é convocada exclusivamente pelo Chefe
Nacional e presidida por ele mesmo, salvo a hipótese em que
ele esteja preso ou exilado. Neste caso sua convocação é feita
pela Câmara dos Quarenta. Entretanto, o autoritarismo da or
ganização é tal que, mesmo nesta situação extrema, a Corte se
reúne “para tomar conhecimento do nome do integralista desig
nado pelo Chefe Nacional para o substituir temporariamente” (25).
Este conjunto de novos órgãos de cooperação com a chefia
nacional permite caracterizar a evolução do integralismo para
uma forma de organização pré-estatal. As funções do antigo Con
selho Nacional se decompõem em três novos organismos colegia-
dos com atribuições previstas para o futuro Estado Integral. O
Conselho Supremo, sob a direção do Chefe Nacional, tem o pa
pel de um gabinete restrito cujo ministério seria composto pelos
secretários nacionais; a Câmara dos Quarenta seria o núcleo do
futuro Senado integralista; a Câmara dos Quatrocentos, formada
em julho de 1937 (2a) e composta de militantes das diversas “pro
víncias integralistas”, poderia transformar-se na Câmara Corpo-
175
rativa do período transitório, antes da implantação do sistema
de corporações; e, enfim, a Corte do Sigma seria o órgão supre
mo do Estado Integral. É importante salientar que todos estes
órgãos que prefiguram o Estado Integral seriam colocados sob o
controle do Partido único e dispõem de um jornal oficial para
promulgar exclusivamente os “decretos” do Chefe Nacional
(Monitor Integralista).
Portanto, o Estado Integralista em potencial, implantado no
seio do Estado brasileiro, é muito mais do que um “contrago-
verno” ou gabinete da oposição. Ele funciona como um verda
deiro Estado totalitário que possui não somente uma ideologia
de Estado e uma estrutura autoritária, mas utiliza-se de meios
estatais como de um aparelho burocrático interno, de Forças Ar
madas paralelas (a Milícia), de uma política de socialização e
de reeducação dos militantes e de uma legislação própria (reso
luções, regulamentos, medidas de censura, etc.), assim como de
um tribunal e de um corpo de “magistrados” para julgar as
ações de seus membros.
A reorganização de 1936 aumentou o número de órgãos
executivos e ampliou suas funções. Os antigos Departamentos
tornam-se novas e poderosas secretarias. Em junho de 1936 (27)
o Chefe institui outras secretarias: Organização Feminina e da
Juventude (Plinianos), Imprensa, Relações Exteriores e Assis
tência Social. Em setembro de 1936, a organização disporá tam
bém de um Conselho Jurídico Nacional para orientar e defender
a A.I.B. junto à justiça brasileira.
A reorganização da A.I.B., em 1936, é bastante significativa
para a análise do sentido da evolução do movimento. O Depar
tamento de Organização Política transforma-se, com múltiplas
atribuições, em Secretaria Nacional das Corporações e dos Ser-
viços Eleitorais. Esta mudança tem duplo objetivo: um ideoló-
gico e outro eleitoral. O primeiro visa desenvolver a atividade
sindical do movimento, difundindo entre os integralistas o espí
rito corporativo e expandindo as organizações sindicais-corpora-
tivas; o segundo volta-se para um objetivo mais imediato, prepa
rando a organização das eleições através da inscrição eleitoral de
militantes e simpatizantes com vistas à candidatura de Plínio Sal
gado à Presidência da República em 1937.
Esta mudança marca o início de uma mutação estratégica
do integralismo e o desencadamento do processo de negociação
(27) Resolução n.° 168, Monitor Integralista, 5(15), outubro de 1936.
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177
com o poder estabelecido. O movimento abandona suas preten
sões “revolucionárias” e torna-se um partido político. O Depar
tamento da Milícia transforma-se em Secretaria de Educação
(moral, cívica e física); a Câmara dos Quarenta, pela natureza
de sua composição interna, revela uma disposição de obter pres
tígio e respeitabilidade junto às elites econômicas e políticas.
Esta passagem de uma posição de antagonismo em relação
ao poder estabelecido para a de negociação será fatal ao movi
mento. Vargas utiliza-se maquiavelicamente da mudança de com
portamento da A.I.B., obtendo, senão a colaboração do Inte-
gralismo, ao menos sua cumplicidade, na instauração do Estado
Novo, em 1937 (28).
Os novos órgãos executivos da A.I.B., decorrentes da reor
ganização do Congresso de 1936, possuem as características que
seguem. O Departamento da Milícia, ou mais tarde, a Secretaria
de Educação (moral, cívica e física), “dirige todas as Forças
Integralistas (F.I.)” e impõe a estrutura paramilitar da A.I.B.,
enquadrando todas as “Forças Integralistas (F.I.)”. Inspira-se
nos moldes do Exército, conforme a orientação do seu organiza
dor, o Capitão Mourão Filho (20), que acabara de concluir o
Curso do Estado-Maior do Exército. A Milícia se organiza sub
dividida em “comando” e “tropa”: o primeiro como órgão de
direção e o segundo de execução. A direção suprema da Milícia
pertence ao Chefe Nacional enquanto Chefe das “forças integra
listas da Terra, Mar e Ar”, contando com a colaboração do Se-
cretário Nacional responsável pela Milícia Integralista e pela
178
Tropa de Proteção, bem como do Chefe do Estado, com a res
ponsabilidade pela “preparação e execução das decisões do Alto
Comando” (30). Esta mesma estrutura se reproduz ao nível re
gional com suas ramificações locais.
A Milícia se organiza em quatro seções: a primeira seção
ocupa-se da correspondência, controle da organização (estatística,
efetivo, disciplina e justiça (inquéritos e promoções); a segunda
seção, do serviço de informações; a terceira seção, da instrução
militar e elaboração dos planos de operações militares; e a quarta
seção, do setor de material e serviços. Portanto, a função da
Milícia não é apenas de preparar os integralistas para os desfi
les e a cultura física, mas desenvolver um verdadeiro treinamen
to militar, desde a instrução de “técnica, tática e moral” até a
elaboração de planos de combate. Aliás, a instrução militar é
compatível com as cinco armas militares que constituem a “tropa”
integralista: infantaria, cavalaria, engenharia, artilharia e aviação.
A tropa organiza-se em três categorias: o militante de pri
meira linha, o militante de segunda linha e a juventude. A hie
rarquia da milícia distingue três escalões: os graduados (subde-
curião, decurião e submonitor), os oficiais (monitor, bandeiran
te e mestre de campo) e os oficiais-generais (brigadeiro-tenente
e chefe nacional). A estrutura da Milícia implantada em 1934
previa as seguintes unidades: decúria (formada por 10 militan
tes sob o comando de um decurião), o terço (três decúrias sob
o comando de um monitor), a bandeira (quatro terços coman
dados por um bandeirante) e, finalmente, a unidade mais impor
tante da milícia, a legião, constituída por quatro bandeiras, sob
o comando de um mestre de campo.
Esta estrutura será transplantada, em 1936, para a organi
zação da juventude (os “Plinianos”), quando o Departamento
da Milícia transforma-se em Secretaria da Educação. Nesta oca
sião, ao lado das atividades paramilitares, desenvolvem-se ativi
dades esportivas, cívicas e de mobilização eleitoral. A linguagem
militar é substituída por uma nova terminologia, mas o essencial
dos objetivos permanece o mesmo. As unidades denominam-se
então “turma, escola, bandeira, academia” e duas novas unida
des são criadas: os “grupos de academias”, sob o comando de
um Governador de Região e a “Província”, sob a direção do Se
cretário Provincial da Educação. O Conselho Técnico Nacional
179
substitui o antigo Estado-Maior, mas as atribuições dos quatro
“setores” permanecem as mesmas das “seções": o primeiro setor
se ocupa do pessoal, arquivos, disciplina e justiça; o segundo, da
proteção ao Chefe e das reuniões integralistas, bem como des
“serviços de investigação, vigilância e informação"; o terceiro,
da instrução, planos de operação e desfiles; e o quarto dos ser
viços de saúde, material, comunicação e transportes.
Todo integralista, com a idade de 16 a 42 anos, é obrigado
a inscrever-se nas Forças Integralistas, optando pela categoria em
que deseja engajar-se (3l). Se pretende inscrever-se como “mili
tante de primeira linha”, deve fazer instrução de miliciano du
rante 60 dias e depois integrar-se numa “decúria". Após ter pre
enchido uma ficha, onde ficam registradas todas as aptidões do
militante, o candidato presta o seguinte juramento diante do Co
mandante da Milícia e de algumas testemunhas: “Assentando
praça na Milícia Integralista, em nome de Deus e pela minha
honra eu juro: primeiro, absoluta disciplina aos meus chefes e
perfeita solidariedade aos meus camaradas; segundo, dar a mi
nha vida, se necessário, pela causa da revolução Integralista; ter
ceiro, amar, respeitar e fazer respeitar o Chefe Nacional” (32).
Terminada a sua instrução, o militante participa de uma ce
rimônia pública e solene diante do núcleo da A.I.B., onde uma
nova promessa de fidelidade ao Chefe é feita coletivamente. Em
bora se denomine “juramento às bandeiras”, trata-se de uma
declaração coletiva de submissão absoluta à disciplina e ao Che
fe. Após um ritual de tipo militar, todos os futuros milicianos
proclamam: “Em nome de Deus, pela nossa Pátria, pela nossa
Família e pela nossa Honra, nós juramos dar a nossa vida, se
necessário, pela Revolução Integralista Brasileira, amar e res-
180
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182
peitar e defender as Bandeiras Nacional e Integralista, símbolos
da Pátria gloriosa e da idéia, juramos fidelidade à Doutrina In
tegralista e disciplina absoluta, sem discussão, aos Chefes” (33).
A organização integralista dispõe ainda de um Departamen
to de Justiça que tem por objetivo “abrir inquérito e pronunciar
julgamentos” sobre “denúncias ou queixas recebidas sobre faltas
atribuídas a integralistas”. O Departamento é constituído por um
Tribunal Nacional com sete membros e por Tribunais Regionais
e locais responsáveis por julgamento em instância superior. O
comportamento dos integralistas é regulado pelo “Regulamento
de Conduta do Camisa Verde”, onde estão definidos os deveres
e obrigações dos militantes (34) bem como por um código penal
e um código de processo. Deve-se ressaltar que a milícia dispõe
de um regulamento disciplinar especial e de um processo de jul
gamento fora da competência do Departamento de Justiça.
Sob o controle de diveros serviços de informação interna,
o Departamento de Justiça estimula a delação entre os militan
tes. Está previsto que os queixosos devem formular suas denún
cias contra os companheiros faltosos num livro especial (“Livro
dos Queixosos e Denunciantes”). O integralista que, após uma
advertência e uma admoestação, for registrado cinco vezes no
livro durante um ano, será excluído automaticamente da A.I.B.
183
A disciplina interna é bastante rigorosa e minuciosamente
regulamentada. O Regulamento de Conduta da “Província” de
São Paulo, por exemplo, define todos os deveres dos integralis
tas, recomendando que evitem “demonstrações de familiaridade
que são prejudiciais ao respeito hierárquico” (35). Estão previs
tas mais de sessenta transgressões disciplinares: desde faltas do
gênero “penetrar nos locais reservados ou em que esteja um supe
rior sem a devida permissão” (artigo 22); “fumar em presença de
superior” (artigo 50) até “introduzir sem licença nas sedes ou
estabelecimentos materiais inflamáveis, armas, munições de guer
ra” (artigo-37) e “deixar imediatamente de reprimir atos dos
seus subordinados que possam afetar a disciplina” (artigo
65) (3G). Inclusive o comportamento moral dos integralistas é
objeto de controle: o militante está proibido de “tomar bebidas
alcoólicas em lugares públicos, dançar, a não ser em casas parti
culares ou em festa constituída exclusivamente de integralistas
(...), jogar jogos de azar ou assistir a esses jogos, freqüentar
cassinos” (37).
A Secretaria Nacional de Corporações e Serviços Eleitorais
ampliou o campo de ação do antigo Departamento de Organiza
ção Política, que se ocupava exclusivamente da orientação c
controle político do movimento (a “polícia” fazia “investigações
sobre as atividades políticas de todos os membros da A.I.B.” e
de “outras correntes ideológicas”), bem como da coordenação
dos setores universitários e femininos. A nova secretaria redefi
niu suas funções, dirigindo-se especialmente para o campo sin
dical e corporativo através da ação no meio sindical (“seção de
vanguarda”), formação de líderes e serviço de informações so
bre as atividades do sindicalismo em geral (3S). Além do setor
sindical, a secretaria tem como função orientar politicamente os
dirigentes e candidatos, controlar o funcionamento dos serviços
do governo e alistar eleitoralmente os integralistas. Seu papel,
entretanto, é mais o de obter informações sobre a vida política
do país (“situação político-social” e “político-militar” (30) do que
(35) Op. cit., p. 3.
(36) Op. cit., pp. 5-10.
(37) Protocolos e Rituais, artigo 33, Monitor Integralista, 15 de
outubro de 1936.
(38) Regulamento da S.N.C. c S.E., art. 11, Monitor Integralista,
15 de outubro de 1936.
(39) Regulamento do S.N.C. c S.E., artigo 19, Monitor Integralista,
15, outubro de 1936.
184
orientar a ação. Nesta secretaria encontra-se também o Depar
tamento Nacional de Estudantes que organiza os integralistas per
tencentes a estabelecimentos de ensino em todos os níveis, o
Departamento Feminino e os “Plinianos”, órgãos paramilitar da
juventude integralista.
O Departamento de Doutrina amplia suas funções em 1936,
transformando-se em órgão central de orientação doutrinária e
de pesquisas do movimento. Dispõe de um setor responsável pela
orientação ideológica, encarregado de zelar pela ortodoxia da
doutrina, exercendo censura sobre todas as publicações integra
listas. Dentre os novos setores, o mais importante e que con
firma a hipótese do caráter pré-estatal da estrutura da A.I.B.
é o departamento criado com a finalidade explícita de fazer estu
dos “para a organização do futuro Estado Integral” (*°). O novo
Departamento divide-se em vários grupos de trabalho: desde o
responsável por estudos de “economia política”, “corporações”
e “relações exteriores” até os que se ocupam com “segurança pú
blica”, “defesa nacional”, “comunicações e transportes”. Por
tanto não é somente um núcleo de reflexão teórica, mas um se
tor voltado diretamente para a preparação de quadros políticos
e projetos integralistas destinados à implantação do Estado In-
gral (41).
O Departamento de Propaganda executa os planos de di
vulgação do movimento concebidos pelos órgãos superiores. O
Departamento organizou, como instrumento de propaganda, “um
corpo de oradores autorizados” para serem enviados às confe
rências e reuniões públicas” (’2). Um serviço de censura do pró
prio Departamento responsabiliza-se pelo controle das informa-
185
ções e propaganda no âmbito da A.I.B. e pode retirar a autori
zação de qualquer orador acusado de desvio ideológico (*3).
O objetivo do Departamento da Cultura Artística é mais am
bicioso, já que tem a incumbência de criar, difundir e controlar
as atividades artísticas e culturais do integralismo. Na primeira
estrutura, de 1934, foram organizadas as divisões de música, de
belas-artes e de arquitetura. Estes órgãos eram responsáveis pela
criação de uma arte nacional inspirada em motivos brasileiros
e — no domínio da escultura e das artes decorativas — pela de
finição de um “estilo brasileiro” para os monumentos, estátuas,
móveis e decorações interiores. O objetivo mais ambicioso, po
rém, foi atribuído à divisão de arquitetura que devia conceber o
“estilo arquitetônico integralista” (...). Quando, em 1936, o
Departamento foi transformado em Secretaria, as quatro divisões
desdobram-se em sete departamentos (Música, Belas-Artes, Artes
Cênicas, Artes Plásticas, Artes Decorativas, Artes Arquitetônicas,
Urbanismo e Rádio). O controle sobre as atividades deste con
junto de órgãos é assegurado por uma “comissão de censura” (“).
Enfim, o Departamento de Finanças gera os recursos finan
ceiros da A.I.B., oriundos oficialmente da “Taxa do Sigma”,
instituída em janeiro de 1935, que obriga todos os militantes a
pagar uma quota mensal, com exceção dos membros de organi
zações da juventude. Como o sistema de imposto interno não
se revela sempre muito eficaz, a A.I.B. utilizou-se de outras
fontes de financiamento: campanhas financeiras internas (“cam
panha do ouro”), contribuições de industriais e comerciantes, in
tegralistas ou simpatizantes, que queriam colaborar com um mo
vimento anticomunista (45).
186
A reorganização de 1936 implantou novas secretarias, tais
como Secretaria de Imprensa, de Assistência Social, de Relações
Exteriores, de Arregimentação Feminina e dos Plinianos. O órgão
responsável pela imprensa tem como função orientar e coordenar
as atividades jornalísticas da A.I.B., através de diversos setores
especializados (político, econômico, financeiro, sindical, militar e
administrativo), ao passo que a Secretaria de Assistência Social
destina-se a prestar ajuda e socorrer os integralistas e, se possí
vel, a população cm geral, graças aos serviços de saúde e da
“Cruz Verde’’. A Secretaria de Arregimentação Feminina e dos
Plinianos é responsável pela orientação e desenvolvimento dos
setores feminino e da juventude. A divisão feminina encarrega-
-se de ensinar um trabalho às mulheres integralistas, bem como
desenvolver seu nível de instrução através de cursos de alfabeti
zação, puericultura, datilografia, economia doméstica, boas ma
neiras. A divisão da juventude atribui-se como missão “reunir,
disciplinar e educar, através da escola ativa, todos os brasileiros,
de ambos os sexos, até 15 anos de idade, de modo a realizar o
seu aperfeiçoamento moral, cívico, intelectual e físico’’ (46). As
relações com o exterior, que eram estabelecidas pelo Gabinete do
Chefe Nacional, transferem-se para um novo órgão: a Secretaria
das Relações Exteriores. Além de dedicar-se ao estudo da histó
ria diplomática e da política internacional e da reformulação do
sistema de formação do pessoal diplomático, a nova secretaria
destina-se principalmente à criação de núcleos de divulgação dos
métodos de ação dos partidos de esquerda na América Latina (’7).
O resultado das atividades do setor de relações internacionais é
a fundação de um pequeno número de grupos integralistas, for-
3 — A SOCIALIZAÇÃO IDEOLÓGICA
188
vocam outras singificações ao símbolo: “é a letra com„a qual os
primeiros cristãos da Grécia indicaram a palavra Deus , ou tam
bém a “estrela Polar do hemisfério sul”. Este símbolo principal
do integralismo encontra-se gravado na bandeira e em todos os
emblemas integralistas (,9). A divisa da que evidencia
a ênfase dada a certos valores, é “Deus, Pátria e Família”.
A saudação entre os militantes integralista é feita com o
braço direito levantado, como nos fascismos europeus, movimen
to este que é acompanhado por uma palavra de origem indígena,
“Anauêl”, significando na linguagem tupi, um grito de guerra e
um gesto de saudação (“você é meu parente”). O gesto é reser
vado às manifestações de alegria ou respeito. Os Protocolos re
gulam minuciosamente os tipos de saudação conforme as cir
cunstâncias e a posição na hierarquia do movimento. O gesto
de saudação consiste normalmente em “levantar bruscamente o
braço direito, distendido para a frente, até a posição vertical,
servindo a cabeça de ponto de referência. A palma da mão vol
tada para a frente, com os dedos unidos” (50). Os Protocolos
prevêem detalhadamente todas as formas possíveis de saudação:
o militante saúda de pé, parado ou em movimento; de maneira
individual ou coletiva, — salvo se o integralista estiver doente, a
cavalo, em carro, bonde ou bicicleta, isto quando não se tratar
de uma saudação à bandeira nacional, à bandeira integralista ou
ao Chefe da A.I.B. A exclamação “Anauêl” pode ser também
pronunciada “nas marchas para maior vibração dos Camisas-
- Verdes, nos comboios em marcha e nos momentos graves de
luta, como clarim de rebate e de vitória” (51). Nas saudações
coletivas o Chefe Nacional tem direito a três “anauês”, os mem
bros do Conselho Supremo, da Câmara dos Quarenta, os Secre
tários Nacionais, os dirigentes arquiprovinciais e os chefes pro
vinciais, a dois “anauês” e , finalmente, as autoridades regionais
e locais a um só “anauê”. Também está previsto que nas sole-
(49) Protocolos e Rituais, artigo 12, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937. A bandeira azul tem ao centro uma esfera branca na qual
se inscreve um sigma maiúsculo em preto, ao passo que o emblema que
devem ostentar na manga da camisa todos os integralistas consiste de um
sigma preto colocado sobre o mapa do Brasil azul, envolvido por um
círculo prateado.
(50) Protocolos e Rituais, artigo 52, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937.
(51) Protocolos e Rituais, artigo 56, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937.
189
nidades de grande importância, “Deus — o Criador do Universo
— será saudado com quatro “Anauês”, somente pelo Chefe na
cional” (52).
O capítulo consagrado à organização das sedes da A.l.B.
é um bom indicador da rigidez da estrutura integralista. Em
todos os núcleos integralistas está previsto um tipo padrão de
sede onde tudo está regulamentado: na sala principal é obrigató
ria a presença de um retrato do Chefe nacional, colocado entre
a bandeira integralista e a bandeira nacional, cruzada; um mapa
do Brasil sobre o qual é desenhado um sigma em preto; uma
mesa longa, para que os dirigentes possam assistir às sessões, e
disposta de tal forma que o retrato do Chefe lance seu olhar
sobre a reunião. Os slogans nas paredes são sempre os mesmos:
“O integralista é o soldado de Deus e da Pátria, homem novo do
Brasil que vai construir uma grande Nação.” Deve existir em
cada sala um relógio de parede, sobre o qual será fixada a se
guinte frase: “A nossa hora chegará.” Além disto, é sugerida a
formação de uma pequena biblioteca à disposição dos militantes,
com os principais documentos da A.l.B. (Manifesto de Outubro,
os Estatutos da A.l.B., Diretrizes Integralistas, Manifesto-progra-
ma do Chefe Nacional, regulamentos das Secretarias Nacionais
e Conselho Técnico Nacional, Protocolos e Rituais, Constituição
e o Código Eleitoral, a partitura musical do Hino Integralista e
a coleção do Monitor Integralista) e a criação de uma galeria
de retratos dos mártires integralistas. Se as sedes dispõem apenas
de uma peça, outros retratos são admitidos com a condição de
que sejam menores que o do Chefe, e quando a sede for um na
vio cujo comandante é integralista, deve haver em sua cabina um
retrato do Chefe. Os Protocolos admitem que seja colocada na
sede a imagem de Cristo crucificado, “como símbolo do sacrifício
por um ideal devendo essa colocação ser feita sem nenhum ce
rimonial” (53).
Os rituais ocupam um papel central na socialização ideoló
gica dos militantes e têm início já no batismo cristão. A ênfase
espiritualista de ideologia explica a existência de um rito espe
cial para batizados realizados “nos templos e lugares cristãos”.
O integralista que deseja batizar seu filho conforme o ritual inte
gralista, deve pedir a colaboração do Chefe local. Os parentes e
(52) Protocolos c Rituais, artigo 76, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937.
(53) Protocolos c Rituais, artigo 88, Monitor Integralista, 5(18),
abril de 1937.
190
padrinhos da criança bem como os membros locais da juventude
integralista são obrigados a assistir a cerimônia, ostentando o
uniforme integralista. Dois “plinianos”, de pé, manterão a ban
deira integralista desfraldada durante o batismo e no fim da ce
rimônia religiosa, a criança deve ser envolta na bandeira integra
lista e o pai ou o padrinho pronunciam as seguintes palavras
perante os assistentes: “Companheiros! Ele recebeu o primeiro
sacramento da Fé Cristã sob a égide do Sigma. Ao futuro
pliniano o seu primeiro “Anauê”. Os presentes responderão:
“Anauê!” (51).
Os ritos de iniciação à militância do movimento desenvol
vem-se na organização da juventude (“plinianos”). O processo
de iniciação começa aos quatro anos de idade e continua até aos
15 anos, época de ingresso definitivo na milícia. Durante este
período, os “plianianos” passam por quatro grupos diferentes,
conforme sua idade: “de 4 a 6 anos inscrevem-se na categoria
dos “infantes”; de 6 a 9 anos nos “currupiras”; de 10 e 12 anos,
no grupo dos “vanguardeiros” e de 13 a 15 anos, tornam-se
“pioneiros” (55).
O método “integral” de socialização ideológica das crianças
abrange a totalidade de suas atividades graças a uma formação
dirigida e autoritária. A instrução dada aos “plinianos” visa a
desenvolver a personalidade e o sentimento cívico, estimular a
educação física (práticas de esportes, excursões, posseios) e in
telectual (instrução primária, educação moral e profissional) (5fi).
A organização dos “plinianos” comporta várias divisões: a divi
são de estudos (jardim de infância, alfabetização, escolas profis
sionais); a divisão educação, (educação integralista de acordo
com o “Abecedário do Pliniano”, educação moral e cívica, no-
(54) Protocolos c Rituais, artigo 155, Monitor Integralista, 5(18),
abril dc 1937.
(55) Esta organização dos “Plinianos” é semelhante à do fascismo
italiano: “De 4 a 8 anos, os jovens italianos fazem parte do grupo “Filhos
da Loba” (criado em 1931). Aos 8 anos, começam as coisas sérias. Os
meninos ingressam nos “Balilla” c recebem uniforme, armas fictícias, par
ticipam em desfiles e paradas, para dar-lhes o gosto pela vida cm comum
e pela atividade militar. Durante este tempo as meninas recebem uma
formação física c cívica no grupo das “Pequenas Italianas”. A partir dos
14 anos, os meninos tornam-se “Avanguardisti”, as meninas “Jovens Ita
lianas”, isto até a idade dc 18 anos, quando todos são integrados nas
juventudes fascistas”, in BERSTEIN (S.) et MILZA (P.), L’Italie fasciste,
Paris, Colin, 1970, pp. 213-214.
(56) Regulamento da S.N.A.F. e P., artigo 38, Monitor Integralista,
n.' 15, outubro dc 1936.
191
ções de direito integralista, educação sanitária e esportes); a di
visão férias e a divisão escotismo (instrução “paramilitar”, com
uma seção técnica para elaboração de planos de “operações" e
um “acampamento-escola" com o objetivo de ensinar como se
tornar “chefe" (57). A submissão autoritária é transmitida atra
vés da rigidez da hierarquia baseada na obediência absoluta aos
chefes. As unidades de enquadramento são inspiradas na orga
nização da milícia: “decúria, terço, bandeira e legião". Cada uni
dade divide-se em comando (os graduados: “subdecurião, de-
curião e submonitor" e os oficiais: “monitor" e “guia") e tropa.
Os meninos e as meninas devem usar uniforme (camisa verde,
calça branca ou azul, sapatos pretos, casquete negro ou chapéu
de escoteiro) e um equipamento para acampamento da tropa.
Mais significativo porém é o aprendizado do culto ao Chefe
Nacional, que começa por uma série de juramentos de fidelidade
feitos à idade dos 6 anos. Se os “infantes" são recebidos segundo
o ritual dos escoteiros, os “currupiras" devem prestar o primeiro
juramento: “Prometo ser um soldadinho de Deus, da Pátria e
da Família; prometo ser obediente a meus pais, ser amigo de
meus irmãos, colegas e companheiros; prometo ser aplicado nos
estudos para tornar-me útil a Deus, à Pátria e à Família" (58).
O segundo juramento é prestado quando o pliniano se torna
“vanguardeiro". Trata-se de um juramento à bandeira nacional
que obriga a criança, aos 10 anos de idade, prometer sacrifício
pela Pátria: “Bandeira da minha Pátria! Prometo servir ao Bra
sil — na hora da alegria e na hora do sofrimento — no dia da
glória e no dia do sacrifício ." (50). Após a passagem pelos
“vanguardeiros" durante dois meses, o pliniano deverá fazer ao
Chefe Nacional e à bandeira integralista o mesmo juramento dos
milicianos.
O ingresso dos adultos na Ação Integralista segue também
certos ritos. Todo candidato deve ser apresentado por um inte
gralista regularmente inscrito e preencher os formulários avaliza
dos pelo proponente. Cumpridas as formalidades de inscrição,
a autoridade integralista lhe faz a seguinte pergunta: “Já pensou
maduramente na responsabilidade que vai assumir?" Se a res
posta for positiva, acrescenta: “Considero-o inscrito; deverá, po-
(57) Ibid.
(58) Regulamento S.N.A.F. e O., art. 43, Monitor Integralista, n.°
15, outubro de 1936.
(59) Regulamento S.N.A.F. c P., art. 33, Monitor Integralista, n.°
15, outubro de 1936.
192
rém, esperar noventa dias para prestar juramento, em homena
gem ao Chefe Nacional que o esperou desde 7 de outubro de
1932”. Na hipótese de o integralista ser dispensado do estágio
de três meses, a autoridade dirá então: “dispensei-o do estágio;
deverá, porém, esperar cinco minutos para prestar o juramento”.
Posteriormente, o juramento é prestado solenemente na sala das
reuniões diante do retrato do Chefe Nacional, testemunhado no
mínimo por 10 integralistas, devendo o neófito proclamar: “Juro
por Deus e pela minha honra trabalhar pela Ação Integralista
Brasileira, executando, sem discutir, as ordens do Chefe Nacio
nal e dos meus superiores”. A autoridade responderá: “Integra
listas! Mais um brasileiro entrou para as fileiras dos Camisas-
-Verdes. Em nome do Chefe Nacional o recebo e convido os
presentes a saudá-lo segundo o nosso rito: Ao nosso novo com
panheiro — Anauê!”.
Outro ritual, previsto para certas reuniões, é o diálogo que
o Chefe Nacional estabelece com os miltiantes:
— Brasileiros! De quem é o Brasil?
— É nosso!
— Integralistas!
— Pronto!
— Quem poderá deter a marcha do exército verde?
— Ninguém.
— Camisas-Verdes!
— Pronto!
— Pelo Brasil! Futura Potência entre as Pçtências, que nós
construiremos com a energia do nosso espírito, com a força
de nosso coração e com a audácia do nosso braço, três
Anauês!
— Anauê! Anauê! Anauê! (co).
Os Protocolos integralistas não esquecem nenhuma cerimô
nia importante. Nos casamentos de integralistas, a noiva precisa
estar vestida, na cerimônia civil, com uma blusa verde, embora
no casamento religioso admite-se um vestido clássico com um
emblema integralista do “lado do coração”. O noivo, porém,
deve casar com uniforme do movimento. Também existe um
ritual para as cerimônias fúnebres de integralistas. Um miliciano
é designado para fazer guarda de honra ao integralista morto.
(60) Protocolos c Rituais, artigos 123, 145, 146, Monitor Integralista,
5(18), abril dc 1937.
193
cujo esquife deve estar envolto na bandeira integralista. O ritual
do sepultamento é o seguinte: diante dos militantes uniformiza
dos que compareceram à cerimônia, o integralista mais gradua
do proclama: “Integralistas! Vai baixar à sepultura o corpo do
nosso companheiro, transferido para a Milícia do Além." Após
um minuto de silêncio ele faz a chamada do morto: “Compa
nheiro (fulano de tal)!” Todos os integralistas respondem: “Pre
sente!” E ele acrescenta: “No Integralismo ninguém morre! Quem
entrou neste movimento imortalizou-se no coração dos Camisas-
-Verdes! Ao companheiro fulano de tal três Anauês!” E todos
respondem: Anauê! Anauê! Anauê!” (CI).
Os Protocolos integralistas instituem também rituais espe
ciais para certas datas históricas do movimento. As três celebra
ções mais importantes são: A Vigília da Nação, A Noite dos
Tambores Silenciosos e As Matinas de Abril. A primeira come
mora o Primeiro Congresso Integralista de Vitória, em 28 de
fevereiro; a segunda, a data da proclamação do Manifesto Inte
gralista em 7 de outubro de 1932, e a terceira, a lembrança do
primeiro desfile integralista, em São Paulo, em 23 de abril de
1933 (62).
Quando é celebrado, em fevereiro, o aniversário do Con
gresso de Vitória, a autoridade integralista que preside a sessão
deve interrompê-la precisamente às 21 horas e convidar os pre
sentes a se levantarem. Após haver pedido um minuto de silêncio,
“concentrando o pensamento em Deus e na Pátria, pedindo a Deus
que inspire o Chefe, proteja os Integralistas, abençoe a bandeira
azul e branca do sigma e conduza os Camisas-Verdes ao triun
fo. . pronuncia as seguintes palavras: “O Integralismo está
vivo em todo o território da Nação Brasileira. A Pátria despertou.
Pelo Brasil grande e forte, ergamos três Anauês!” Todos os assis
tentes respondem: “Anauê! Anauê! Anauê!” A cerimônia ter
mina com o juramento de fidelidade ao Chefe Nacional.
A Noite dos Tambores Silenciosos é um ritual comemora
tivo ao lançamento do Manifesto de Outubro e, ao mesmo tempo,
uma forma simbólica dos integralistas manifestarem seu desa
cordo pela extinção da Milícia pelo governo (°3). É uma
194
longa cerimônia que se inicià as 21 horas e deve durar até a
meia-noite, sendo celebrada simultaneamente em todas as sedes
integralistas do País, sob a presidência do “Integralista mais
pobre, mais humilde, que representará o Chefe Nacional”. Após
a execução do hino, é feita a “chamada dos mártires do Integra-
lismo e dos mortos do Núcleo, respondendo todos: Presente!”.
Em seguida são lidos alguns capítulos do Manifesto de Outubro
para os assistentes. Finalmente, um discurso alusivo à data é
pronunciado por um militante, devendo terminar à meia-noite,
quando a cerimônia atingirá o clímax. Neste momento, a autori
dade local pronuncia as frases seguintes: “É meia-noite. Em
todas as cidades da imensa Pátria, nos navios em alto mar, nos
lares, nos quartéis, nas fazendas e estâncias, nas choupanas do
sertão, nos hospitais e nos cárceres, os Integralistas do Brasil vão
se concentrar três minutos em profundo silêncio. É a noite dos
Tambores Silenciosos! Atenção!” (G‘). Durante estes três mi
nutos de meditação, o rufar surdo de um tambor lembra a proi
bição da milícia e os integralistas lêem, em silêncio, uma oração
que lhes foi distribuída. “A mística do ato é deveras impressio
nante”, observa um ex-chefe provincial do Rio Grande do Sul,
“atingindo ao paradoxismo”, após a caixa surda rufar durante
três minutos — o presidente da sessão explica: É a voz da Pátria,
que ninguém pode abafar. É o culto dos nossos mortos. É o
culto de Deus, da Pátria e da Família, da Grandeza Nacional, o
anseio pela ressurreição da Raça e pela alvorada de um Povo.
Esta voz é um pranto e um apelo! . .” (65). Em seguida, com
o objetivo de provocar um sentimento de solidariedade entre os
membros do movimento, o presidente da sessão declara que a
mesma cerimônia acaba de ser celebrada em todas as cidades do
país e que o Chefe Nacional está discursando na Capital Federal:
“a sua voz exprime o Pensamento e o Sentimento de um milhão
de camisas-verdes vigilantes” nos três mil núcleos integralistas
“cujos corações batem, como um milhão de tambores que
nenhuma força poderá fazer calar”. A cerimônia termina com
a declamação da poesia de Jaime de Castro, “A Noite dos
Tambores Silenciosos” pelo melhor declamador do núcleo:
(64) Os Protocolos c Rituais mencionam quatorze nomes de “márti
res integralistas” mortos na defesa do sigma, Monitor Integralista, art. 86,
parágrafo IX.
(65) BITTENCOURT (Dario), O Integralismo e seus Poetas. Porto
Alegre, datilog., 1936, Tese apresentada no Congresso da Academia de
Letras do Brasil, Rio, maio de 1936, p. 11.
195
“Zero hora no cronômetro integral
De toda a imensa vastidão da Pátria.
Nas cidades, nos mares, nos sertões.
Um trágico bater de caixas surdas
É a noite dos tambores silenciosos. . .
Três minutos, o rufo, no silêncio,
traduz um grande apelo e um grande choro
e simboliza os nossos corações.
A alma da Pátria, inteira, está em nós,
segredando que estamos vitoriosos.
Somos neste momento a própria Pátria,
e distinguimos, no rumor da voz
que vem do íntimo da alma dos tambores,
um soluço de angústia, nacional.
196
meça a surgir, a autoridade que dirige a cerimônia pronuncia as
seguintes palavras aos presentes: “Camisas-Verdes! Em saudação
ao Brasil, levantar o braço!” Trata-se de um rito de adoração
silenciosa ao sol que nasce. Os militantes, adorando silenciosa
mente o sol, permanecem nesta posição durante alguns minutos.
Embora a origem desta liturgia talvez remonte ao culto pagão dos
indígenas pelas forças das naturezas, ela pretende simbolizar a es
pera do grande dia. O mestre de cerimônia pronuncia a seguir a
fórmula: “Camisas-Verdes! Este sol iluminou quatro séculos da
História Brasileira, iluminou a primeira marcha dos integralistas
e iluminará a vitória do sigma! Assim como esperamos hoje esta
alvorada, aguardamos confiantes o Dia do Triunfo! Pelo Brasil!
Pelo Estado Integral, três Anauês! (. . .). Finda esta declaração,
um clarim ou uma banda de clarins executará lentamente uma
alvorada” (66).
Resta ainda mencionar a última forma de socialização po-
lítico-ideológica dos militantes: as canções e as marchas para os
desfiles e reuniões integralistas, cujo conteúdo procura transmitir
certos temas e valores ideológicos. As principais são o hino oficial
da A. I. B., intitulado “Avante!”, de autoria do Chefe Nacional;
as marchas da milícia (“Anauê! Anauê!”) e da juventude inte
gralista (“A Marcha dos Plinianos”).
O hino oficial, impregnado de otimismo patriótico, proclama
a crença no futuro da Pátria, e lança um apelo à juventude:
“Avante! Avante!
Pelo Brasil toca a marchar
Avante! Avante!
Nosso Brasil vai despertar
Avante! Avante!
197
No fim, na última estrofe, a juventude é convidada a se
engajar:
“Olha a Pátria que desperta,
Mocidade varonil,
Marcha, marcha e brada alerta,
Anauê pelo Brasil.”
A mesma exaltação patriótica está presente na marcha da
juventude:
“O Brasil acordou para a glória
Nós já somos a Pátria que vem
Eia! Avante para a História
Os Plinianos já marcham também.”
198
CAPÍTULO III
A IDEOLOGIA
1 — FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS DO
INTEGRALISMO
199
se apóia em dois postulados doutrinários: o do humanismo
espiritualista e o da harmonia da vida em sociedade.
A primeira frase do Manifesto proclama que “Deus dirige
os destinos dos povos” (x). Esta concepção providencial da
história relaciona-se com a crença no progresso moral do ser
humano: “o homem deve praticar sobre a terra as virtudes que
o elevam e o aperfeiçoam” (2). Por conseguinte, dentro da ética
integralista de inspiração cristã, o valor do homem deve ser
avaliado “por seu trabalho e seu sacrifício em favor da Família,
da Pátria e da Sociedade” (3).
A partir deste humanismo espiritualista se elabora a con
cepção da vida social que aspira a um retorno do ideal medieval
de uma sociedade harmoniosa: “Os homens e as classes podem e
devem viver em harmonia (. . .). Todos os homens são susce
tíveis de harmonização social e a superioridade que existe acima
dos homens é a sua comum e suprema finalidade” (4). A har
monia social resulta da organização hierárquica da sociedade, em
função das diferenças naturais que existem entre os homens. Na
sociedade integralista, harmonia e hierarquia são indissociáveis.
Em -consequência, o fundamento espiritualista da ideologia inte
gralista inspira-se na concepção tradicional da doutrina social
católica. Neste aspecto doutrinário o integralismo aproxima-se
muito mais dos fascismos conservadores — o português (Sala-
zarismo), o espanhol (Falange Espanhola) e o belga (Rexismo)
— que do espiritualismo vago do fascismo italiano ou ido
agnosticismo nacional-socialista alemão (5).
A filosofia integralista considera “o universo, o homem, a
sociedade e as nações de um ponto de vista totalitário” (6). A
(D SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit., p. 1.
(2) Ibid.
(3) Ibid.
(4) Ibid.
(5) Ver sobre este tópico SALAZAR (Antonio Oliveira), Une Révo-
lulion dans la Paix, Paris, Flamarion, 1937; PRIMO DE RIVERA (José
Antonio), Obras Completas, Diana Ed., 1942; ETIENNE (Jean Michel), Le
Mouvement Rexiste Jusqu’en 1940, Paris, Colin, 1968 (Sobretudo cap. III,
“L’Idéologie Rexiste”); MUSSOLINI (Benito), La Doctrine du Fascisme,
Florence, Vallechi Edit., 1938 (sobretudo cap. I, “Idées Fondamcntales");
HOFER (Walther), Le National-socialisme par les textes, Paris, Plon, 1963
(Sobretudo o cap. IV, “Nacional-Socialisme et Christianisme”).
(6) SALGADO (Plínio), O que é o Integralismo, Rio, Editora Star,
1933, pp. 23-24. É bom salientar que todos os teóricos integralistas aceitam
esta concepção “totalitária”. Olbiano de Mello considera que a natureza
humana é composta de três dimensões: “a unidade biológica, a unidade
afetiva e a unidade espiritual”, in MELLO (Olbiano de), Concepção do
200
organização social integralista estrutura-se integrando três tipos
de grupos naturais: o grupo familiar, o grupo profissional e a
unidade política local. As relações que se estabelecem entre eles
constituem a tessitura orgânica da sociedade: “O homem, se
gundo Salgado, tem deveres biológicos ligados à sua própria
manutenção e à propagação da espécie. Nasce, então, a socie
dade familiar”. Nenhum Estado pode intervir nesta sociedade
“que é autônoma e autodeterminativa. Mas o homem necessita
de trabalhar. O trabalho para o integralismo é sagrado. É
uma cooperação do homem com Deus. O homem para exercê-lo
encontra dificuldades devido à organização econômica do mundo
liberal. A fim de defender o seu direito ao trabalho e para
escapar às exigências patronais, às explorações de trustes e
monopólios, o trabalhador se organiza em um outro grupo
natural, o sindicato. Contudo estes grupos naturais têm neces
sidade de uma base física e esta é a unidade política local, o
“município” (7).
A concepção do homem e da sociedade integra-se através
da definição da finalidade histórica do integralismo, que quer
modelar o homem, a sociedade, a nação e a humanidade de uma
maneira integral. Numa passagem de seu livro O que é o Inte-
gralismo Plínio sintetiza sua doutrina: “O homem deve realizar
suas aspirações materiais, intelectuais e morais; a sociedade deve
funcionar harmoniosamente: a Nação, como autoridade efetiva,
manter o equilíbrio entre o Homem e a Sociedade; e, finalmente,
a Humanidade, objetivar o seu superior destino de aperfeiçoa
mento” (s).
Contudo, o ideal da harmonia social não é um fato perma
nente na evolução da história da humanidade. A filosofia da
história integralista apóia-se, ao contrário, numa interpretação
maniqueísta da evolução da humanidade onde se defrontam con
tinuamente o homem contra o homem, o bem contra o mal, o
materialismo contra o espiritualismo. Salgado descreve dramati
camente a luta dos primeiros tempos da humanidade: “No co
meço a batalha foi desordenada e cruel. Inspirada nos instintos,
deflagrou em pilhagem e homicídio. Depois, tornou-se astúcia
e violência” (°).
Estado Integralista, Rio, Schmidt, 1935, p. 17. Barroso refere-se ao “homem
integral, corpo, razão e espírito”, in BARROSO (Gustavo), O Integralismo
em Marcha, Rio, Schmidt, 1933, p. 21.
(7) Entrevista com Plínio Salgado, Brasília, dezembro de 1969.
(8) SALGADO (Plínio), O que é o Integralismo, op. cit., pp. 26-27.
(9) Ibid., p. 15.
201
O confronto permanente entre bem e mal explica-se, segundo
Salgado, pela oposição entre duas concepções de vida e de fina
lidade: o materialismo e o espiritualismo. Quando o espiritua-
lismo predomina, a luta se atenua, porque fatores de apazigua
mento (a bondade, a solidariedade humana, o senso estético e
religioso) entram em sua composição; quando, porém, reina o
materialismo, prevalecem os fatores de desagregação humana
(o orgulho, a vaidade, a rebelião, a indisciplina) que são as
causas do desaparecimento das nações e das civilizações.
Uma interpretação integralista global da história da humani
dade foi desenvolvida especialmente por Salgado e Barroso. Eles
tentam estabelecer grandes períodos da história com a finalidade
de situar a vocação histórica da A. I. B. Salgado, em seu livro
A Quarta Humanidade, publicado em 1934, estabelece as linhas
fundamentais da evolução da humanidade através dos tempos, e o
historiador Gustavo Barroso, em seu ensaio de 1935. O Quarto
Império, define o contexto histórico dessa evolução. Os dois
teóricos, seguindo caminhos diferentes, fixam os princípios gerais
da nova era integralista que encaminhará a humanidade à sua
realização total.
A idéia central de Salgado é que a humanidade produziu
três tipos básicos de sociedade que, embora não sejam sempre
cronologicamente sucessivos no tempo, caracterizam três fases da
evolução humana. A primeira, da “humanidade politeísta”, que
existiu até o surgimento do cristianismo: seu princípio básico era
o da fusão dos clãs, crenças e causas. A segunda, da “humani
dade monoteísta”, baseada no princípio da integração que se
desenvolve historicamente na Idade Média: na “segunda huma
nidade” todos os elementos fusionado.s da primeira se combinam
numa “idéia totalitária que abarca toda a compreensão do
Universo e de todos cs movimentos humanos” (10). Finalmente,
a “terceira humanidade”, cujo advento coincide com o Renas
cimento, é a “humanidade ateísta”, .fundada no princípio da
“desagregação” e que explica o caos do mundo moderno. O
autor descreve dialeticamente como a primeira fase da huma
nidade (politeísta) produz as duas outras antinômicas (mono
teísta e ateísta), que darão origem ao advento da “Quarta
Humanidade”. A nova era humana será a síntese, onde “se
realize o Homem Integral penetrado do sentido profundo do
Cosmo, como a Primeira Humanidade; iluminado pelo Verbo
(10) SALGADO (Plínio), A Quarta Humanidade, in Obras Comple
tas, vol. V, São Paulo, Ed. das Américas, 1955, p. 33.
202
Divino, como a Segunda; senhor dos elementos, como a Ter
ceira" (n).
Barroso retoma em seu ensaio as três fases descritas por
Salgado e atribui nomes simbólicos a cada uma delas: a primeira
seria o "Império do Carneiro"; a segunda é o "Império da
Loba"; a terceira, o “Império do Capricórnio", e a quarta, o
"Império do Cordeiro". Embora o objetivo do integralismo
fosse a realização do "Quarto Império", que representa a síntese
econômica, política e espiritual da humanidade, a preocupação
central de Barroso é descrever o papel nefasto dos judeus nos
diversos períodos históricos e, ao mesmo tempo, demonstrar a
solidariedade entre os movimentos nacionalistas e fascistas em
todas as partes do mundo (12).
Portanto, essa concepção integralista da evolução humana
inspira-se numa filosofia da história que crê no aperfeiçoamento
progressivo da humanidade: "a história, segundo Salgado, é a
crônica do desenvolvimento e da transformação do Espírito dos
Povos numa aspiração de perfectibilidade” (13). O integralismo
rejeita, pois, a concepção evolucionista que reduz a história a
uma seleção natural da espécie, assim como considera as
concepções hegeliana (14) e individualista como fragmentárias, na
medida em que não captam "a marcha contínua do espírito" (15).
(11) Ibid., p. 11. Plínio profetiza que a “Quarta Humanidade” terá
sua base física na América Latina c que a “raça cósmica" que fecundará
esta nova civilização terá como traços fundamentais: agudeza dos instintos
graças à sua origem étnica indígena; bondade extrema que caracteriza os
povos infantis; profunda espiritualidade e tenacidade na luta, nascidas da
conquista da terra e da luta contra a exploração econômica.
(12) Barroso tem sobre estes dois temas uma posição diferente da
de Salgado, que não concorda com o radicalismo anti-semita de Barroso,
nem procura enfatizar as semelhanças entre o integralismo e o fascismo.
A preocupação de originalidade do chefe integralista leva-o a enfatizar
mais as bases nacionais do integralismo do que seu mimetismo com relação
aos movimentos fascistas europeus.
(13) SALGADO (Plínio), Psicologia da Revolução, Rio, Livraria
Clássica Brasileira, 1953, p. 14.
(14) Apesar desta crítica, Salgado utiliza frequentemente a demarche
hegeliana em suas análises: “As sociedades espiritualistas acusam índices
de materialismo; das sociedades materialistas despontam traços de espiri-
tualismo. É esse o aspecto geral dos séculos e nenhum pode fugir dessa
fatalidade. É que não se compreende a tese sem antítese.” Em outra pas
sagem, classifica a filosofia de Hcgcl entre as correntes espiritualistas: “A
corrente dos neo-hegelianos, idealistas c dialéticos, prossegue aproximando-
-se das correntes espiritualistas, cuja expressão dominante é a neo-cscolás-
tica.” SALGADO (Plínio), A Quarta Humanidade, op. cit., pp. 36 e 91.
(15) SALGADO (Plínio), A Psicologia da Revolução, op. cit., p. 14.
203
O desenvolvimento histórico deve, na interpretação de Sal
gado, conciliar a idéia e o fato; a autonomia do espírito não pode
estar em contradição com os fatos. A filosofia da história inte
gralista pretende harmonizar o determinismo histórico e o livre-
-arbítrio. Se ela proclama que “o indivíduo é autônomo porque a
idéia é autônoma”, ela afirma contudo que “o primado da idéia
não exclui seu ajustamento ao ritmo objetivo dos fatos” (,0)- Em
suma, Salgado tenta, a partir de fundamentos espiritualistas,
reconciliar o papel da personalidade excepcional com a dinâmica
da evolução histórica: seu sistema eclético integra o voluntarismc,
a providência e a dialética.
O processo histórico desenvolve-se em dois planos: o pri
meiro, “coletivo, global, movimento de massa”, é a “marcha
inconsciente dos povos”; o segundo, “individual, singular”, é “a
ação individual do homem, provocando as impulsões renovado
ras” (17). Estes dois planos são autônomos, mas não separados.
A faculdade criadora do homem resulta de sua relação com a
evolução coletiva. Em conseqüência, a história é, para o inte-
gralismo, uma sucessão de fatos sob a influência da “Idéia
Criadora” que provoca o progresso histórico. Esta autonomia
da idéia no plano individual não exclui, dentro da visão inte-
gralista, o naturalismo histórico ao nível coletivo e a ação
providencial na evolução da humanidade.
b — A “Revolução Integral”
A ligação entre a filosofia da história e a concepção do
homem e da sociedade se estabelece através da idéia da Revo
lução. Salgado expõe no ensaio Psicologia da Revolução a
posição integralista face ao fato revolucionário na história e
define sua concepção de revolução integral.
Parte da premissa que “o progresso do Espírito Humano
realiza-se ao ritmo das revoluções” (1S). Considerando esses
acontecimentos como um dado da evolução histórica, inter
preta-os sem nenhum juízo de valor, como “fatos naturais” ou
como “necessidades históricas”.
O fundamento dessa interpretação do fato revolucionário em
geral está na noção de equilíbrio social, provavelmente buscada
(16) SALGADO (Plínio), A Psicologia da Revolução, op. cit., p. 15.
(17) SALGADO (Plínio), A Psicologia da Revolução, op. cit., p. 16.
(18) SALGADO (Plínio), Psicologia da Revolução, op. cit., p. 13.
204
em Pareto. Todos os teóricos integralistas estão de acordo com
a idéia de que a evolução social se faz por rupturas e pelo con-
seqüente restabelecimento do equilíbrio. A revolução, neste sen
tido, seria um instrumento para destruir o equilíbrio da socie
dade em crise e, ao mesmo tempo, fonte de um novo equilíbrio.
Reale não interpreta a história como uma seqüência har
moniosa de acontecimentos, mas como “equilíbrios provisórios
que se formam e desaparecem para se recomporem os fatos em
novos equilíbrios" (10). Mello chega à mesma conclusão através
de uma interpretação que faz derivar do mundo físico. O fenô
meno revolucionário aparece quando deixa de existir a ordem
natural na sociedade: “A revolução é a passagem definitiva de
um certo equilíbrio social, que não mais poderá ser mantido,
para um novo equilíbrio" (20). Salgado, na mesma linha de
pensamento, considera que as sociedades, como tudo que obedece
às leis do movimento, tendem ao equilíbrio: a revolução é, pois,
um fenômeno cíclico e permanente, regulador da vida em
sociedade (21).
A doutrina integralista da revolução, desenvolvida mais sis
tematicamente por Salgado, repousa sobre a idéia de que há
na história dois tipos de fenômenos: de um lado, as “realidades
objetivas" da sociedade, determinadas pelos “fatos históricos"
(“idéia-matéria"), e do outro, elementos “subjetivos", criados
pela “imposição das ideologias e das doutrinas (idéias-força")”.
A revolução é a conjunção entre a “idéia-força" e os “fatos his
tóricos" na perspectiva de seu desenvolvimento. Pressupondo-se
que a “idéia-força" não pode contrariar o conteúdo substancial
205
do “fato histórico” (22), a eclosão da Revolução depende da
“oportunidade histórica”, cuja decisão cabe ao “herói", ao
“super-homem” (23). Na sua opinião, torna-se obrigatório que
uma atmosfera de luta envolva a idéia: a hora da ação soa para
o homem quando a idéia aceita toda sua força “irradiando o
magnetismo de sua energia”. Neste momento é que o homem
de ação, portador da idéia revolucionária, “necessita ser agredido
violentamente, porque a luta é a atmosfera das idéias” (2I) e
por esta razão, “é preciso transformar o adversário passivo no
inimigo ativo” (25).
Finalmente, Salgado tenta compartilhar sua interpretação do
processo revolucionário com sua concepção espiritualista da his
tória. Recusa-se a integrar ecleticamente o “mundo da idéia" e
o “mundo do fato” na sua visão da história. O sistema busca
sua coerência no fato de que ambos os mundos procedem do
Espírito Absoluto e que é necessário inseri-los dentro de um t
206
I
“concepção integral da idéia”, do fato e do movimento, dando
a este uma importância fundamental” (2G).
As fases da “revolução integralista” são definidas por Ol
biano de Mello, que as distingue em três fases principais: a
pré-insurreição, a insurreição e a reconstrução. Uma revolução
começa a formar-se lentamente no seio da sociedade e a fase da
pré-insurreição coincide com a passagem da idéia revolucionária
do subconsciente da massa ao nível da “luta entre as forças polí
ticas, as econômicas e as morais: neste momento surgem os
opressores e os oprimidos. Explode a luta de classe. Inicia-se
a revolução” (27). O equilíbrio social rompido, os antagonismo
ideológicos transformam-se em conflitos sociais e, conseqüente-
mente, o conflito subjetivo torna-se objetivo. A fase da insur
reição corresponde ao espaço de tempo “entre o término do
período da pré-insurreição e a conquista do novo equilíbrio
social” (28). Finalmente, a fase da reconstrução ocorre quando
estabelecendo-se o equilíbrio, a nova ordem social cria então
suas instituições. A revolução social, portanto, distingue-se da
revolução política; só a revolução social (como a soviética ou
a do fascismo italiano), passa pelas três fases e seu objetivo
fundamental é a transformação do Estado.
Caberia analisar, enfim, a posição do integralismo face à
violência. Os primeiros documentos da A. I. B. não excluem a
possibilidade do recurso a meios violentos de luta. O “Abecedá-
rio do Integralismo Brasileiro”, divulgado em 1933, proclama
que a A. I. B. “prega a ação dentro da lei se for possível, mas não
hesita ante a ação violenta quando preciso” (20). Em 1929,
o integralista Câmara Cascudo escrevia na mesma linha, no
jornal oficial A Offensiva: “o que importa é a vitória. Ela virá
matematicamente certa, pacífica se for possível, violenta, com o
sacrifício do nosso sangue, se a tanto formos levados” (30). En
tretanto, parece que a hipótese da utilização da violência era
mais uma forma de chantagem contra os adversários e o governo
do que uma disposição imediata e real. Ainda que se tenha cons-
207
tituído, no Rio, uma tendência radical em torno de Belmiro Val-
verde em favor da tomada violenta do poder, por ocasião do
putsch malogrado de 1938, a maioria dos integralistas acreditava
na tomada pacífica do poder, na medida em que o mundo, a seus
olhos, tornava-se fascista. Isto explica a ausência de qualquer
estratégia sistemática de tomada do poder pela força antes do
putsch de 1938. Além disto, os dirigentes integralistas tinham
consciência de que uma defesa aberta do emprego da força era
taticamente negativa, porque contrariava a tendência pacífica tra
dicional do povo e, em consequência, seria um obstáculo à expan
são do movimento. Apesar de tudo, a preparação militar da milí
cia, a exaltação dos valores de luta e os conflitos de rua, provam
também que a violência não era um simples argumento (31).
Mais tarde, por volta de 1935, sob a influência de Salgado,
a posição oficial começa a se modificar (32). O chefe integra
lista, diante da perspectiva de uma tomada de poder por via elei
toral, começa a frear o radicalismo do movimento. Os dois textos
que marcam a passagem da fase revolucionária à fase eleitoral
são “A Carta de Natal” (193 5 (33) e o artigo “Técnica de Sorel,
e Técnica de Cristo”. Na primeira, endereçada aos integralistas
pelo jornal A Offensiva, confessa não mais poder controlar seus
aderentes que seriam capazes na “exaltação revolucionária” de
perder o sentido de seu ideal. No segundo, revela o abandono
da técnica de ação soreliana, pela técnica cristã da persuasão e
do exemplo. A partir deste momento, a linguagem de Salgado
identifica-se mais com a de um místico do que com a de um agi
tador político. Ele considera que o mundo agoniza pela “ausência
(31) A posição do integralismo sobre a violência incorpora, de uma
maneira eclética, elementos do rexismo belga (“A revolução deve ter re
curso à violência ou meios ilegais”, cf. ETIENNE (Jean Michel), op. cit.,
p. 95); do fascismo italiano (“Vós sabeis qual é minha opinião sobre a vio
lência. Para mim, ela é perfeitamente moral, mais moral que o compro
misso e a transição”, MLJSSOLINI (Bonito), discurso de 22 de julho de
1925, op. cit., p. 97); e do nacional-socialismo” (isto que importa, é a
vontade revolucionária que não tem necessidade de muletas ideológicas
(...). O fim? Não tem fim preciso (Hitler)”, citado por MARTIN (Ray-
mond), Le national-socialisme hitlérien, une dictadurc populaire, Paris,
Nouvclles Editions Latines, 1953, p. 34.
(32) Salgado leu Sorel numa tradução espanhola de 1915, c os tre
chos marcados por ele mesmo em seu exemplar das Réfléxions sur la
Violence revelam seu maior interesse nos capítulos “La Luttc de Classes et
la Violence” e “La Décadcnce Bourgcoisc et la Violence” do que nos
referentes às técnicas da violência propriamente ditas.
(33) SALGADO (Plínio), “Carta de Natal” (1935), in Madrugada do
Espírito, p. 429.
208
do espírito” c sua atitude face à violência se transforma: “para
um povo como o brasileiro, que ama a sua liberdade até ao
delírio, a técnica não pode ser a de Sorel, mas a de Cristo” (3‘).
Procurando reduzir a concepção integralista da revolução a
seus aspectos fundamentais, constata-se que a revolução integra
lista é simultaneamente ética, elitista e heróica. Ética, porque
um ato moral é subjacente ao processo revolucionário: a busca
humana do absoluto. Todas as revoluções têm “um caráter
ético, uma finalidade moral” (38). Elitista, porque não procede
das “massas” sempre inconscientes, mas do homem excepcional
que encarna a nova idéia engendrada pela elite. O integralismo
apela às “forças intelectuais e morais da sociedade com o obje
tivo de restaurar o prestígio da inteligência e a primazia do
espírito” (30). Heróica, enfim, porque simboliza “a força, a
juventude e o heroísmo”: “A Revolução é um ato de força, pois,
de juventude. O movimento revolucionário é um movimento
de juventude, de eterna juventude de heróis” (37).
c — O nacionalismo
O manifesto integralista de outubro de 32 atribui uma po
sição central à idéia nacionalista, procurando “afirmar o valor
do Brasil” e unindo todos os brasileiros num só espírito para
209
construir uma Nação “organizada, una, indivisível, forte, pode
rosa, rica e feliz” (38). Este ato de fé nos destinos do Brasil
traduz-se num projeto ambicioso, na medida em que o integra-
lismo se propõe a criar “uma cultura, uma civilização, um modo
de vida genuinamente brasileiro” (30).
Inicialmente, o manifesto de Plínio Salgado apresenta os
fatores que se opõem à realização do seu sonho nacionalista,
situados nos planos político-social e econômico-cultural. O pri
meiro conjunto de fatores resulta da própria organização jurí
dica do Estado Liberal: “O Brasil não pode realizar a união
íntima e perfeita de seus filhos, enquanto existirem Estados
dentro do Estado; partidos políticos fracionando a nação; classes
lutando contra classes, indivíduos isolados exercendo ação pes
soal nas decisões do governo” (i0).
Os fatores de ordem econômico-cultural estão ligados à in
fluência estrangeira. O Manifesto denuncia o cosmopolitismo que
penetra, sobretudo, na burguesia “fascinada pela civilização que
está periclitando na Europa e nos Estados Unidos” (41). A
influência cosmopolita é o principal inimigo do nacionalismo e
torna-se necessário combatê-la por todos os meios. A descrição
de Salgado sobre infiltração de hábitos importados é trágica:
“Os nossos lares estão impregnados de estrangeirismos: as suas
palestras, o seu modo de encarar a vida, não são mais brasileiros.
Os brasileiros das cidades não conhecem os pensadores, os escri
tores, os poetas nacionais. Eles se envergonham do caboclo e
do negro da nossa terra. Eles adquiriram hábitos cosmopolitas
(...). Vivem a engendrar tudo o que é de fora, desprezando
todas as iniciativas nacionais (...), céticos, desiludidos, esgo
tados de prazeres, tudo o que falam esses poderosos ou esses
grandes e pequenos burgueses destila um veneno que corrói a
alma da mocidade. Eles criaram preconceitos ridículos, originá
rios de países capitalistas, que nos querem dominar, desprezaram
todas as nossas tradições. E procuram implantar a imoralidade
210
de costumes. Nós somos contra a influência perniciosa dessa
pseudocivilização, que nos quer estandardizar” (42).
Portanto, a idéia-força principal da ideologia que se impõe
pela leitura do Manifesto é, sem dúvida, o nacionalismo, cujo
conteúdo é mais cultural do que econômico. A idéia nacionalista
aparece neste documento essencialmente como um apelo à toma
da de consciência nacional, que é simbolizada pelo slogan se
guinte: “Despertemos a Nação” (*3). Esta palavra de ordem in
tegralista, inspirada na descoberta das necessidades nacionais e
na valorização de todos os elementos nacionais, estabelece a
transição entre o nacionalismo lírico de Salgado e outras formas
mais agressivas de nacionalismo que irão desenvolver-se.
Seria interessante comparar o nacionalismo definido por
Salgado no Manifesto, como “a profunda consciência das nos
sas necessidades, do caráter, das tendências, das aspirações da
Pátria e do valor da raça” (“), com expressões de nacionalismo
econômico e anti-semita desenvolvidas por outros teóricos inte
gralistas. O nacionalismo do Manifesto é o mais ligado ao contex
to nacionalista dos anos 20 e, apesar de uma politização cres
cente de seu conteúdo, permanecerá fiel aos mesmos temas: a
exaltação do homem e da terra, da nova raça em formação, da
busca no passado dos fundamentos da civilização brasileira.
Todavia o nacionalismo Pliniano incorpora mais tarde ou
tras dimensões que não são contraditórias com o nacionalis
mo do Manifesto mas, revelam sua evolução ideológica e alguns
traços de sua personalidade. Já nacionalismo anticosmopolita,
preponderantemente cultural, contém uma dimensão econômica
ao denunciar a influência nefasta do capitalismo financeiro inter
nacional: “o controle da nossa vida financeira, sempre exercido
pelos bancos estrangeiros, criou, por sua vez, as mais graves di
ficuldades internas” (’5). Entretanto, apesar da presença do
elemento econômico, o nacionalismo de Salgado permanece
sobretudo sentimental e literário. Em alguns textos transfor
ma-se numa espécie de nacionalismo sensual e lírico. O Bra
sil, segundo Salgado, encontra-se diante do seguinte dilema:
“Ou coordenamos as linhas mestras da nossa nacionalidade, ou
(42) SALGADO (Plínio), Ibid.
(43) “Despertemos a Nação!” é o título de um conjunto de artigos
publicados por Plínio nesta fase marcada por um nacionalismo mais
defensivo do que agressivo.
(44) Ibid.
(45) SALGADO (Plínio), Despertemos a Nação, op. cit., p. 124.
211
falhamos como povo masculino. Porque há povos masculinos
que fecudam, e povos femininos que se deixam fecundar. Am
bos podem ser belos, como expressão humana, mas o fato é que
um fecunda e outro é fecundado” (lfi). Nas páginas da Geogra
fia Sentimental, publicada em 1937, uma relação de natureza afe
tiva estabelece-se entre ele e um Brasil personificado (,7). Em
bora Reale procure analisar os aspectos sociológicos da Geogra
fia Sentimental (IS), seus argumentos convencem no perfil que
traça do “gênio intuitivo” do Chefe integralista. Sua “intuição
genial” (49) o conduz, em certas passagens, a um lirismo ingênuo,
sobretudo quando exalta os fundamentos de seu “orgulho nacio
nal”: “Só mesmo no mapa, Brasil, posso apanhar-te inteiro.
Quando menino impressionavam-me teus rios e montanhas (. . .)•
E gostava de dizer que o maior rio do mundo era teu, o nosso
Amazonas; que a maior cachoeira era a de Paulo Afonso (. .);
ficava triste porque não poderia espichar o Itatiaia até a altura
do Everest. . . (50).
Um dos textos mais expressivos deste nacionalismo român
tico, contudo, é o de sua viagem através do Rio São Francisco,
onde sua relação com “o rio sagrado” não somente é poética,
mas se torna quase sensual: “São cinco horas da manhã. Meus
companheiros de viagem ainda dormem. Ergo-me para conversar
com o mais brasileiro dos rios. Quero contemplá-lo, longamente,
em silêncio. Quero meditar sobre o seu destino histórico. Cresci,
ouvindo de meu pai três biografias: Osório, Floriano e o rio S.
Francisco.” Depois Salgado identifica-se com o destino do rio:
“sempre pensei em vir ver o São Francisco. Este rio é, para mim,
de uma singificação profunda. Porque tem um destino igual ao
212
meu. Eis o dia do nosso encontro. Esta cena tem para mim uma
grandeza épica". O contato com o rio transforma-se pouco a
pouco num amor quase físico. “Tomei banho na água do S.
Francisco. Andei de canoa no S. Francisco. Bebi água do S.
Francisco. Agora me sinto mais brasileiro." E conclui: “Quero
sentir, no escuro da noite, quando tudo for negro na terra, o
S. Francisco mais perto de mim, para que a minha alma se con
sole na unidade nacional, que canta no meu sangue. . (51).
Ao lado de seu nacionalismo romântico se desenvolve mais
tarde uma dimensão nova: é o sonho do Império, baseado no
mito da civilização desaparecida de Atlântida. Se no contexto
brasileiro o tema de expansão imperialista não tem sentido em
função das dimensões continentais do território, é curioso ana
lisar como se transfigura em Salgado a idéia de Império, consi
derada (®2) traço essencial da ideologia fascista. Este tema apa
rece (53) sob a forma de expansão da doutrina integralista sobre
o continente latino-americano. “Não me contento com a implan
tação do Estado Integral no Brasil. Quero que esta idéia se irra
die por toda a América do Sul (. . .). Quando todos os países
da América do Sul entrarem neste mesmo ritmo, terá chegado
(51) SALGADO (Plínio), Geografia Sentimental, op. cit., pp. 117, 124
e 130. Na ocasião do II Congresso Integralista de Petrópolis, em 1935,
cada delegado leva de sua região um punhado de terra. Na sessão inau
gural, o Chefe reúne simbolicamente a terra sobre a mesa e com ela faz um
monte que revolve voluptuosamente com seus dedos; é a grande-messe que
celebra perante os representantes regionais do país, cf. HUNSCHE (Karl-
-Heinrich), Der Brasilianische Integralismus, op. cit., pp. 106-114.
(52) Mussolini afirmou num dos seus discursos de junho de 1925
que “a concepção do império é a base de nossa doutrina”, in MUSSOLINI,
op. cit., p. 98. Este aspecto é considerado como inerente aos movimentos
fascistas, segundo a análise de H. R. SOUTHWORTH: . . O movimento
fascista espanhol, a falange, se propunha na Espanha três fins sucessivos:
primeiro, a organização de um movimento fascista; após, a conquista do
Estado pelo movimento; e o terceiro, o objetivo final, a conquista do
Império” (...). ‘‘O elemento determinante no diagrama que propusemos
acima é o objetivo final: a conquista do Império. Os meios para executar:
violência, juventude e nacionalismo”, e conclui ”... só os fascistas, utili
zando estas armas c perseguindo aqueles objetivos, tinham a intenção de
continuar, após a conquista do Estado, até a conquista do Império”, in
SOUTHWORTH (Herbert Rutledge), ‘‘Qu’est-cc que le fascisme?”, Esprit,
mars, 1969, pp. 423-426.
(53) Barroso também refere-se à idéia de Império: “O Integralismo
brasileiro construirá um grande Império, uma grande República Imperial,
um Grande Império Cristão c sua doutrina integral influenciará os des
tinos da humanidade”, in BARROSO (Gustavo), O Quarto Império, Rio,
José Olympio, 1935, p. 175.
213
a hora da grande atitude. Esta Revolução Integralista é a Revo
lução do Continente” (54). Ainda que Salgado não explicite no
que consistirá “a hora da grande atitude”, o integralismo ao me
nos proclama o imperialismo ideológico.
A idéia de império integralista busca suas raizes em dois
elementos míticos. Salgado pretende tornar-se o novo libertador
da América Latina, inspirando-se no papel de Simon Bolivai,
com o objetivo de proteger o “último Ocidente e construir a
“quarta humanidade”. Estimulado pelo mito de Atlântida, Sal
gado proclama com eloqüência: “Nós somos o Último Ocidente.
E porque somos o Último Ocidente, somos o Primeiro Oriente.
Somos um Mundo Novo. Somos a Quarta Humanidade. Somos
a Aurora dos Tempos Futuros. Somos a força da Terra (. .).
Aristóteles pensou para nós; Cristo deu-nos a alma: César e Na-
poleão foram nossos precursores; Simon Bolivar o nosso anun-
ciador; a América é o nosso Império; e nós aquele povo longa
mente esperado. . ” (55). O povo brasileiro, em sua opinião,
veio para realizar uma nova civilização que substituirá a do Oci
dente moribundo: “Como um sol que vai nascer, ela projeta seus
primeiros clarões. Uma nova luz se anuncia no mundo. É a
Atlântida que ressurge. A nova civilização realizará a grande
síntese. Síntese filosófica, síntese política. Mas, principalmente,
síntese das Idades Humanas” (5C).
O nacionalismo integralista contém também uma dimensão
econômica e antiimperialista. Se esta dimensão não predomina
nos escritos de Salgado, aparece explicitamente nos livros de
Miguel Reale e Gustavo Barroso. Com Barroso o nacionalismo
econômico adquire um conteúdo anti-semita, enquanto Reale,
que vinha do marxismo, situa-se numa posição essencialmente
econômica.
A atitude de Reale com relação ao imperialismo econômico
é clara e violenta: “O imperialismo, na sua opinião, não é a últi
ma fase do capitalismo, como pensou Lenine. No mundo oci
dental ele ainda existe, mas há outra força, bem mais poderosa,
a qual não pertence à Nação alguma e está acima das Nações:
o supercapitalismo financeiro” (57). Sua posição significa uma
(54) SALGADO (Plínio), “Palavra Nova dos Tempos Novos", in
Obras Completas, vol. VII, Editora das Américas, 1935, p. 246.
(55) Ibid., p. 288.
(56) SALGADO (Plínio), A Quarta Humanidade, op. cit., p. 77.
(57) REALE (Miguel), O Estado Moderno. Rio, José Olympio, 1934,
p. 119.
214
luta aberta contra o capitalismo porque “defender a Nação sig
nifica combater violentamente o capitalismo. Nacionalismo sem
anticapitalismo é expressão vazia. Esta luta deve se travar nos
quadros das Nações segundo as experiências do nacionalismo in
tegral” (58). O tom da linguagem de Reale revela que ele não
pretende ficar somente no plano teórico, mas definir princípios
para a ação, como, aliás, já havia manifestado no prefácio de
O Estado Moderno ao se propor “viver a teoria na unidade in
dissolúvel do pensamento e da ação” (50).
O nacionalismo de Barroso, todavia, se insere numa atitude
anti-semita radical. Com exceção do conjunto de conferências
publicadas em 1933, sob o título O integralismo em Marcha,
todos os livros posteriores de Barroso estão impregnados de anti-
-semitismo (60). As obras mais significativas na pregação contra
o judaísmo são as seguintes: Brasil, Colônia de Banqueiros e His
tória Secreta do Brasil, que tem por objetivo demonstrar os efei
tos nefastos da conspiração judaica em nossa economia. Ele pro
põe-se a analisar todos os empréstimos contraídos pelo Brasil
junto a bancos estrangeiros sob controle judaico, que tiveram
por resultado aumentar a dependência do Brasil face ao “capi
talismo judaico internacional”. Segundo Barroso, o judaísmo
apátrida “é um conquistador e um colonizador dos povos (. . .).
Não dá batalhas; realiza empréstimos” (61).
Outro teórico integralista de menor expressão que Barroso,
Butler Maciel, tenta dissociar o nacionalismo do anti-semitismo.
Procura desenvolver a tese, em seu ensaio, que se pode ser nacio
nalista sem ser necessariamente anti-semita. Evoca dois argu
mentos para justificar sua posição: primeiro, que a Itália fascista,
embora extremamente nacionalista, não se tornou anti-semita
como a Alemanha; segundo, que não é essencial a uma Nação
constituir-se num “bloco homogêneo do ponto de vista racial”
(82). Neste particular, ele apóia a doutrina integralista do cal-
deamento étnico, presente já no romance O Estrangeiro, pois que
o fundamento de nossa etnia é o cruzamento entre o português,
215
o índio e o negro. Sua concepção de nacionalismo postula que
uma nação é constituída por um povo fixado sobre uma base
territorial mas que, ao lado do território, deve estar presente uma
dimensão espiritual: uma coletividade em marcha à busca de um
ideal (63). O autor condena, porém, a formação dos guetos es
trangeiros que recusam ser assimilados pela Nação e cita como
exemplo o problema dos imigrantes alemães que, em função da
legislação nacional-socialista, poderiam beneficiar-se de uma du
pla nacionalidade (6‘). Butler Maciel, no entanto, ao final de
seu livro, define uma atitude nacionalista agressiva, como a
“energia na defesa do Brasil brasileiro, contra a formação de gru
pos étnicos diferentes em seu meio” e termina pela proclamação:
“Vamos reagir” (65).
216
2 — A ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
a — A concepção de Estado
A comparação da idéia de Estado nos dois primeiros do
cumentos integralistas coloca o analista diante de duas concep
ções diferentes. A idéia de Estado inserida no Manifesto é a de
uma superestrutura autoritária, coroando a concepção espiritual-
-nacionalista contida no discurso ideológico. O Estado seria so
mente o regulador do equilíbrio social indispensável à vida do
homem em sociedade. O Abecedário, no entanto, considera que
o princípio fundamental do integralismo “é o de cooperação das
forças produtoras nacionais para a realização progressiva do Es
tado Integral” (ü7). O Estado, portanto, torna-se o princípio e
(66) A idéia de Estado é o núcleo principal da concepção fascista
definida por Mussolini: “A força do fascismo, afirma o Duce, consiste
no seguinte: ele toma a parte vital de todos os programas e tem a força
de realizá-la. A idéia central de nosso movimento é o Estado: o Estado
é a organização política e jurídica das sociedades nacionais e se manifesta
por uma série de instituições de natureza diferente. Nossa fórmula é a
seguinte: tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado."
(MUSSOLINI, Discours du Théâtre de la Scala à Milan, cm 28 de outubro
de 1925, pp. 129-130). Entretanto, o Estado Integralista se é “forte” no
sentido italiano, quer ser um Estado espiritualista no sentido espanhol:
“Um Estado, como afirmava um texto da Falange, totalitário e missionário:
totalitário na estrutura e missionário em sua inspiração católica e em sua
obra de educação e orientação”, in PRE DE SAINT-MAUR (Jean de),
La Phalange Espagnole, Paris, Thèse, I.E.P., 1951, p. 55.
(67) SALGADO (Plínio); REALE (Miguel), Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cit., p. 8.
217
o fim do universo ideológico integralista, cuja estrutura é descri
ta genericamente no documento.
A formação católica de Salgado leva-o a valorizar mais a
reforma do homem do que a do Estado; Reale, ao contrário,
vindo do marxismo, coloca o Estado no centro de suas preocupa
ções. O Manifesto de Salgado atribui a Deus a condução do des
tino dos povos, enquanto que a idéia subjacente no Abecedário
de Reale é que ao Estado cabe esta função. Na realidade, os
modelos do Estado propostos pelos dois teóricos do integralismo
fundamentam-se sobre bases diferentes. Para Salgado, ele resulta
da organização dos grupos naturais dentre os quais o mais im
portante é a família, enquanto que para Reale, a base da cons
trução estatal é a organização sindical. Poder-se-ia qualificar o
primeiro modelo de Estado familial-corporativo e o segundo de
Estado sindical-corporativo (°8).
A concepção de Estado no Manifesto supõe a anterioridade
dos direitos do homem e da família com relação aos do Estado:
“O homem não pode transformar-se em uma abelha ou em ere
mita. Ele é centro de uma gravidade sentimental. O Homem e
a sua família precederam o Estado. O Estado deve ser forte para
manter o homem íntegro e a sua família. Pois a família é que
cria as virtudes que consolidam o Estado. A liberdade moral da
família é o sustentáculo da liberdade e da força do Estado. O
Estado mesmo é uma grande família, um conjunto de famílias”.
Para o chefe nacional, a legitimidade do Estado provém de sua
natureza familiar: “Com este caráter é que ele tem autoridade
para traçar rumos à Nação. Baseado no direito da família é que
o Estado tem o dever de realizar a justiça social, representando
as classes produtoras” (60).
218
Na concepção de Salgado, a família também garante a auto
nomia da organização política de base: o município. Na lingua
gem do Manifesto, o município define-se como uma reunião de
famílias. “O município é sede das famílias e das classes” (70).
Neste nível da organização política é que o voto se torna livre e
consciente. Por esta razão, os municípios devem ser autônomos
em tudo que concerne a seus interesses e seu destino (71). Na
cúpula deste conjunto hierarquizado os grupos naturais, consti
tuídos por famílias, sindicatos e municípios, situa-se o Estado
Integral.
A concepção estatal de Salgado busca suas raízes na reali
dade nacional adaptada, na sua opinião, às necessidades do ho
mem brasileiro. Ele procura compatibilizar seu modelo familiar-
-corporativo com o nacionalismo: “Pretendemos tomar como
base o homem de nossa terra, na sua realidade histórica, geográ
fica e econômica”. A partir deste dado de base, ele infere seu
sonho nacionalista: “Desse elemento biológico e psicológico, de
duziremos as relações sociais, com normas seguras de direito, de
pedagogia, de política econômica, de fundamentos jurídicos. Co
mo cúpula desse edifício, realizaremos a idéia absoluta, a síntese
da nossa civilização: na filosofia, na metafísica, na literatura, na
pintura, na escultura, na arquitetura, na música, como conclusão
suprema do sentido do espírito nacional e humano” (72).
Finalmente, a estrutura e o funcionamento do Estado inte
gral estão descritos de maneira vaga no Manifesto: “A Nação
tem necessidade de se organizar em classes profissionais” (73).
“Cada brasileiro se inscreverá na sua classe. Estas classes ele
gem, cada um por si, seus representantes nas Câmaras Munici
pais, nos Congressos Provinciais e nos Congressos Gerais (. . ).
Esses representantes todos devem ser de absoluta confiança de
cada classe, vindo seus nomes indicados pelos Conselhos Muni
cipais, Provinciais e Nacionais, saídos também do Partido Único
(70) SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit., p. 6.
(71) A valorização da autonomia municipal inspira-se na tradição
portuguesa, sobretudo nas idéias de Sardinha e do “Integralismo Lusitano”.
Ver sobre este ponto SARDINHA (Antônio), A Sombra dos Pórticos
(novos ensaios). Lisboa, Ed. Restauração, 1927. (“Teoria do Município”,
pp. 123-188).
(72) SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit.,
p. 6.
(73) A expressão “classes” deve ser entendida como termo equiva
lente a “ordens” medievais.
219
que é a concretização de todas as classes profissionais” (7‘)- O
papel principal do Estado, segundo o Manifesto, é o de realizar
a unidade nacional: “Pretendemos realizar o Estado Integralista,
livre de todo e qualquer princípio de divisão: partidos políticos;
estadualismo em luta pela hegemonia; luta de classes ( ). Pre
tendemos criar a Suprema autoridade da Nação” (75).
Em revanche, a caracterização do Estado Integral feita por
Miguel Reale no Abecedário Integralista, define de maneira mais
precisa, em linguagem jurídica, os princípios de sua organização.
Primeiramente, distingue os conceitos de Nação e Estado, defi
nindo o último como “a organização hierárquica dos indivíduos
e dos grupos que aumentam dia a dia a grandeza da Nação. O
Estado não é, pois, uma classe ou um grupo de indivíduos, mas,
é toda a Nação” (7C). Se para Salgado o Estado confunde-se
com a Nação, Reale considera o Estado como a Nação organiza
da, colocando-se “acima das classes”, sendo superior a todas elas
“pelas forças de que deve dispor e pelos fins que deve reali
zar” (77). O Abecedário descreve, em segundo lugar, o sistema
de representação no Estado. Proclama que o Estado não é a
soma dos indivíduos isolados, mas a unidade das classes produ
tivas organizadas: “só quem produz tem direito de votar e de
ser votado” (78). A lógica desta concepção impõe que as forças
políticas organizadas da Nação não sejam mais os partidos vin
culados à democracia-liberal, mas os “trabalhadores intelectuais
e manuais. Só a representação dos trabalhadores é representação
popular” (70).
Aliás, é interessante ressaltar também as diferenças de voca
bulário entre os dois teóricos na descrição da relação que existe
entre o Estado e seus órgãos internos. O Manifesto evita o termo
“sindicato” e prefere a expressão “se inscrever na sua classe” (80).
O Abecedário, ao contrário, não se limita apenas a apresentar o
sindicato como uma das células do organismo nacional, mas afir-
220
ma que “o Estado é, do ponto de vista econômico, uma federa
ção de sindicatos” (8I). Dentro dq modelo sindical-corporativo
de Reale, o sindicato é um órgão com “as mesmas características
da Nação: é um órgão de finalidades éticas, políticas, econômicas
e culturais (...). É um órgão de direito público, sob imediata
fiscalização e proteção do Estado” (82). Portanto, na con
cepção de Estado, com partido único, de Reale (apesar da
ausência de referência explícita no Abecedárió), a representação
econômica realiza-se através da organização sindical, devendo
esta desempenhar quatro funções: função política designando re
presentantes junto aos órgãos do Estado (83); função econômi
ca, participando na solução dos problemas da economia nacional
e elaborando contratos coletivos do trabalho; função cultural,
enfim, elevando o nível intelectual de seus membros, e função
moral, arbitrando as questões decorrentes das relações entre os
empregadores e empregados entre todas as classes.
Os dois modelos de Estado integralista desenvolvidos no
Manifesto e no Abecedárió deram origem a estudos mais elabo
rados. Estes ensaios, mesmo quando aprofundam a análise sobre
a natureza e o conteúdo do Estado Integral, não superam a di
vagem fundamental dos dois primeiros textos integralistas. O
principal teórico do Estado torna-se Miguel Reale, tendo-se sua
posição reforçada por sua formação jurídica e seu papel de Se
cretário Nacional da Doutrina. Salgado manteve sempre, no que
concerne ao Estado, uma linguagem ao mesmo tempo grandilo-
qüente e imprecisa. A posição de Reale, no entanto, é bastante
(81) Ibid., p. 9.
(82) SALGADO (Plínio), REALE (Miguel), Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cií., pp. 8-9.
(83) A sindicalização é livre, mas um só sindicato por categoria
profissional será reconhecido pelo Estado. A reunião dos sindicatos forma
as Federações e Confederações sindicais, ao passo que a corporação é um
órgão misto de empregadores e empregados, cuja função é de resolver os
problemas gerais de uma área de produção e executar os contratos cole
tivos de trabalho (...). Os sindicatos se organizam vcrticalmcnte, de baixo
para cima (do nível local às confederações nacionais), enquanto que a
corporação integra horizontalmente uma série de setores da produção (a
corporação da indústria, dos transportes, etc.). Aliás, existe bastante ana
logia entre a organização do trabalho e corporativa do integralismo c a dos
fascismos europeus, inspirados no modelo italiano. É bastante elucidativa
a comparação entre a “Carta dcl Lavoro” (italiana) de 21 de abril de
1927, “O Estatuto do Trabalho Nacional” (portuguesa) de 23 de setembro
de 1933, “El fuero dei trabajo” (espanhol) c, enfim, a “Charte du Travail”
(francesa) do governo de Vichy, de outubro de 1940.
221
próxima à de Olbiano de Mello, cuja produção ideológica pre
cedeu à da Ação Integralista. Conforme esta concepção, “quem
diz Integralismo, diz sindicalismo corporativo-nacionalista” (8‘)-
Restaria acrescentar que o ensaio de Butler Maciel sobre o Es
tado Integralista, partindo da idéia de que “o Estado é a Nação”,
aproxima-se mais da tendência ideológica de Salgado ao analisar
historicamente a importância deste postulado integralista (85).
Contudo, a contribuição de Reale sobre a organização do Estado
Integralista, sua natureza e suas funções, parece ser a única a
merecer uma análise mais detalhada.
b — O Estado integralista
O primeiro estudo de Reale foi publicado em 1933 (8tí).
Ele define a posição do integralismo com relação ao Estado,
estimulado pela afirmação de Salgado, segundo a qual “onde o
Estado não se transformou, não houve revolução” (87). Em se
guida, ele se consagra ao seu primeiro ensaio, intitulado O Estado
Moderno, onde analisa os fundamentos teóricos e históricos do
222
Estado liberal e o fenômeno fascista, a fim de chegar, no final,
à concepção do Estado Integral.
A análise histórica e ideológica de Reale conduz à idéia de
que a sociedade moderna produzirá uma nova síntese política
tendente ao reforçamento do papel do Estado: “A Grande Guer
ra teve a função de revelar as contradições do mundo moderno.
(...). A impressão que se tem, a princípio, é a de uma estru-
tura-tradicional que se esboroa (...). A Grande Guerra, lan
çando povos contra povos, fez com que as nações voltassem a
sentir, de um modo palpitante, a realidade do Estado. A alma
nacional foi então acordada dos sonhos cosmopolitas do capita
lismo e do socialismo” (88). Na sua opinião, a principal lição a
tirar do conflito mundial é a necessidade de uma restauração da
autoridade do Estado. Os problemas de natureza política, eco
nômica e moral criados pela guerra restituíram a plena soberania
do Estado que o liberalismo havia destruído. No após-Primeira
Guerra, pois, é que nasce o Estado Moderno, sob a forma do
Estado fascista, ou do Estado bolchevista: “O primeiro marca
a reação do Estado contra as organizações que o queriam absor
ver; o segundo, a absorção da máquina do Estado por uma das
organizações: a do proletariado” (89).
Reale, diante do dilema do após-guerra, opta pelo Estado
fascista. O bolchevismo, para ele, é a conseqüência final e indi
reta do liberalismo. O fascismo, no entanto, substitui a concep
ção do Estado jurídico e do cidadão pela concepção do Estado
econômico e do produtor. Ele justifica sua opção porque o Estado
fascista é “uma das tendências naturais do Estado Moderno” e,
no fascismo, “o Estado restabelece sua plena soberania se iden
tificando com a Nação” (90).
O autor distingue duas tendências no movimento fascista:
uma fascista “radical”, defensora do Estado “totalitário”, e outra
fascista “moderada”, à qual Reale se filia, que prefere o modelo
do “Estado Integral” (91).
(88) SALGADO (Plínio), “Em Marcha”, in Estudos Integralistas,
op. cit., p. 3.
(89) REALE (Miguel), “Bases da Revolução Integralista”, in Actua-
lidades Brasileiras, Rio, Schmidt, 1937, pp. 52-53 e 70.
(90) REALE (Miguel), “A Posição do Integralismo”, in Estudos
Integralistas, op. cit., p. 13.
(91) REALE (Miguel), “O Estado não se confunde com nenhum dos
grupos em luta, mas resulta de todos eles, sem predomínio de uns sobre
os outros, através da representação econômica, e torna-se um realizador de
fins morais”. Ibid., p. 14.
223
A tendência “totalitária”, desenvolvida pelo jurista italiano
Alfredo Rocco, considera o indivíduo como um instrumento:
“Toda a vida da Sociedade consiste em fazer do indivíduo o ins
trumento dos seus fins sociais” (92). Reale entende que esta ten
dência, cujos precursores são são Comte, De Maistre e Maurras,
surge historicamente como uma reação violenta do Estado, quan
do os grupos se rebelam contra o todo social. O Estado restaura
plenamente seus poderes com o objetivo de reconquistar sua so
berania comprometida pelo liberalismo.
A tendência “integral” de Reale, entretanto, admitiría uma
maior autonomia para o indivíduo. Segundo esta concepção, se
o indivíduo subordina-se ao interesse do Estado, é porque “entre
o Estado e o indivíduo se verifica uma cessão recíproca de fa
culdades para a realização dos fins éticos comuns” (93).
Apesar da sutileza jurídica introduzida por Reale para dis-
tingüir a expressão estatal vinculada às duas tendências, o Estado
Integral não se opõe ao fascista, no plano de sua estrutura con
creta, mas constitui uma modalidade deste último, diminuindo
apenas o impacto da violência totalitária. Sua distinção repousa
na crença de que uma das características da unidade orgânica é
integrar discriminando: “o todo não deve absorver as partes (to
talitarismo), mas integrar os valores comuns, respeitando os va
lores específicos e exclusivos (integralismo).
O Estado integralista é, ao mesmo tempo, fim e meio. “Fim,
porque age como agiria a sociedade toda se tivesse consciência
própria (. .); meio, porque é através dele que o homem con
segue atuar as forças que tem em potencialidade”. A Nação é a
própria condição do Estado moderno. Ela é a síntese das aspi
rações coletivas. “O Estado é fim enquanto representa o ideal
comum, o que equivale a dizer que é fim enquanto se identifica
com a Nação” (94).
A singularidade do Estado integral baseia-se, em última aná
lise, sobre sua vontade ética. Nenhuma originalidade existe no
princípio da organização corporativa ou no controle exercido
pelo Estado sobre a economia: sua especificidade é tomar em
(92) Observe-se que a expressão “Estado Integral”, para Reale, não
se aplica somente a novo modelo de Estado brasileiro defendido pelo inte
gralismo, mas à concepção de um novo Estado fascista não totalitário,
conforme as concepções de Antonio NAVARRA e Ugo REDANO (cf.
Reale, Miguel, O Estado Moderno, op. cit., p. 1936).
(93) Ibid., p. 184.
(94) Ibid., p. 186.
224
consideração o homem total e suas projeções morais. No Estado
fascista “totalitário”, a moral está subordinada ao Estado, ao
passo que no Estado fascista “integral” é o Estado que se sub
mete ao imperativo moral. Em conseqüência, o Estado Integral
deve aceitar o “conceito dinâmico dos direitos fundamentais do
homem” que não são jurídicos, mas éticos.
O autor pretende, enfim, que o Estado integral construa uma
nova forma de “democracia”. A fim de evitar ambigüidades com
a democracia liberal, Reale define o tipo de “democracia” que
o integralismo pretende realizar. Seria uma “democracia” elitista
e orgânica, sem partidos políticos e nem sufrágio universal. É o
regime em que o Estado, nas mãos das elites culturais, cria as
condições necessárias ao livre desenvolvimento das capacidades
individuais, ampliando, cada vez mais, o círculo da classe diri
gente (95). A “democracia” integralista, porém, seria frustrada
pela separação institucional entre elite e massa, uma vez que “o
critério numérico deve ir cedendo lugar ao critério da competên
cia. O Estado é uma pirâmide do ponto de vista do exercício da
autoridade; democrático na base, nele deve ir diminuindo a par
ticipação direta do povo, à medida que se elevem os problemas
a planos mais altos e mais complexos” (oc). A nova síntese in
tegral proposta por Reale incorpora a idéia de “superamento”
de Alfredo Rocco: ela deve conter todas as concepções anterio
res e as ultrapassar para realizar a síntese entre o espírito medie
val e o espírito moderno. “A Idade Média conheceu as Corpo
rações, mas não conheceu o Estado; a Era Moderna, que se pro
cessou do Renascimento e da Reforma até a Grande Guerra
( .) criou o Estado, mas depois de deturpar as Corporações
declarou-as fora da lei” (®7).
Estabelecidas as bases teóricas do Estado Integral, restaria
descrever como se organiza o Estado integral. Os órgãos de re
presentação do Estado são o Presidente da União, a Câmara
Corporativa Nacional e o Conselho Nacional ou o Senado. O
princípio geral do sistema é o sufrágio restrito e hierárquico a
todos os escalões, salvo ao nível local onde a escolha dos mem
bros do Conselho Municipal é feito diretamente pelos membros
do sindicato.
Partindo do nível municipal, cada classe profissional forma
um sindicato, que será reconhecido oficialmente pelo governo.
(95) Ibid., pp. 187-189.
(96) REALE (Miguel), op. cit., p. 60.
(97) REALE (Miguel), op. cit., p. 222.
225
As eleições se fazem no interior do sindicato, para escolher os
representantes sindicais ao nível do município. Os representan
tes dos diversos sindicatos formarão o Conselho Municipal que
elegerá o prefeito.
No plano regional, as federações sindicais serão constituídas
pela reunião de todos os representantes sindicais de uma mesma
profissão e elegerão seus representantes provinciais. A totalida
de dos representantes de todas as federações formará o Conse
lho Provincial, que deve escolher o governador da Província.
A reunião das federações de uma mesma classe profissio
nal dará origem às confederações sindicais. Neste mesmo nível,
serão organizadas as corporações que integrarão representantes
de diversas profissões, em torno de uma área de produção (°®)«
As corporações serão as estruturas mais importantes do Estado
Corporativo Integral, cada uma delas elegendo seus representan
tes na Câmara Corporativa Nacional. Está previsto, também, na
estrutura do Estado Integral, um Conselho Nacional ou Senado,
formado por representantes das corporações não econômicas
(sociais e culturais), que exercerá um papel de controle sobre
o estudo de qualquer problema que considere relevante, a fim
de que a Câmara Corporativa Nacional defenda os interesses da
Nação (").
A reunião da Câmara Corporativa Nacional e do Senado
formarão o Congresso Nacional, que elegerá o Chefe da Nação.
No Estado Integral, os partidos políticos serão abolidos, porque
eles não têm sentido numa Nação em que todas as forças econô
micas e culturais estão organizadas e integradas no Estado” (10°).
3 — OS INIMIGOS
226
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227
ram que o socialismo não seria a antítese do capitalismo, mas
o resultado natural de sua evolução, porque ambos se apoiam
nas mesmas bases materialistas (101). Uma parte significativa
dos integralistas considera que todos os adversários do movi
mento formam um bloco sob a dominação judaica. Esta ten
dência, anti-semita, embora não seja dominante entre os teóricos
integralistas por razões de princípio ou tática política, era, no
entanto, muito difundida entre os militantes de base em função
da simplicidade de seu esquema explicativo: desde as revoluções
francesa e soviética, até o controle das finanças internacionais,
tudo seria dirigido pela ação judaica.
a — O liberalismo
A posição do integralismo face ao liberalismo está contida
na palavra de ordem de seu chefe nacional num de seus primeiros
livros doutrinários: “Guerra de morte à liberal-democracia!”(102).
A hostilidade do integralismo na primeira fase do movimento é
mais dirigida contra o liberalismo do que contra o socialismo.
Este paradoxo se explica não somente porque a ideologia liberal
é o adversário mais imediato a combater, mas porque, na lógica
interna da ideologia, o liberalismo é a causa do socialismo (,103).
O Manifesto de 1932 rejeita, em nome da “defesa da pessoa
humana”, a liberal-democracia que “oprime” o homem. O Abe-
cedário integralista enfatiza a análise das contradições entre os
princípios liberais e a experiência histórica: o liberalismo “pro
mete a liberdade e só a garante aos mais fortes, aos que possuem
bens econômicos suficientes para defender os próprios direitos,
pois de nada vale a liberdade sem um mínimo de autonomia
econômica, — porque promete a justiça e cruza os braços ante
(101) A identificação entre o liberalismo e socialismo, segundo R.
MARTIN, é uma idéia de origem spengleriana: “Liberalisme et bolche-
visme ne sont pas des antipodes de la penséc ct du vouloir; c’est la forme
primitive et la forme avancée, le debut et la fin d’un mêmc mouvement”.
Citado por MARTIN (Raymond), Le national-socialisme Hitlérien: Une
Dictature Populaire, op. cit., p. 34.
(102) SALGADO (Plínio), O Que é o Integralismo, op. cit., p. 29.
(103) Nesta época, a ameaça comunista interna parece distante aos
integralistas devido a pequena expressão política do Partido Comunista
Brasileiro. O anticomunismo que se desenvolve então é muito mais a
expressão de uma atitude reflexa diante da importância crescente dos
movimentos socialistas europeus. Entretanto, o combate ideológico contra
o socialismo torna-se importante após a Aliança Nacional Libertadora
(A.N.L.) c a rebelião comunista de 1935.
228
os conflitos do Capital c do Trabalho ( ). A liberdade polí
tica foi uma conquista burguesa para a burguesia, apesar das
promessas universais da Revolução Francesa" (,0‘).
Além da ideologia, o integralismo rejeita as instituições li
berais. Salgado incorpora ao discurso ideológico sua antiga hos
tilidade à democracia liberal. Indigna-se diante da neutralidade
do Estado liberal, reduzindo o homem à sua dimensão física;
denuncia a hipocrisia do voto e o mito da soberania popular:
“A liberal-democracia, programando a liberdade humana de um
modo quase absoluto, criou um Estado fora e acima das lutas
de indivíduos e grupos ( ). O voto é a grande mentira que
serve de instrumento à opressão das massas trabalhadoras iludi
das na sua boa fé (...)• O sufrágio universal subordina todo
um sistema de realidades sociais a uma pura abstração, isto é,
ao conceito da soberania oriunda das fontes primárias da vonta
de geral" (,05).
O antiliberalismo se manifesta ao nível da organização da
nova sociedade integralista pela negação do pluralismo. O Esta
do integral não admite nem o pluralismo sindical, nem o plura
lismo partidário, na medida em que se organiza conforme o prin
cípio do partido único e do sindicato único (10°).
(104) SALGADO (Plínio), REALE (Miguel), Cartilha do Integralis-
mo Brasileiro, op. cit., p. 13.
(105) SALGADO (Plínio), O Que é o Integralismo, op. cit., pp. 33-37.
(106) A referência ao “partido único” encontra-se no Manifesto de
Outubro, ainda que os documentos posteriores tenham evitado a expressão:
“Esses representantes todos devem ser de absoluta confiança de cada classe,
vindos os seus nomes indicados pelos Conselhos Municipais, Provinciais e
Nacionais, saídos, também, do Partido único que é a concretização de todas
as classes profissionais”, in SALGADO (Plínio), Manifesto de Outubro, op.
cit., p. 2. Observe-se que nas reproduções dos textos integralistas feitas
por Salgado após 1945, os aspectos antipluralistas da ideologia foram supri
midos. O artigo XX das “Diretrizes Integralistas” declara que “o inte
gralismo favorece a pluralidade sindical dentro do regime liberal vigente,
mas mantém o princípio de rigorosa unidade sindical num regime político
integral...” Na reprodução deste texto, no livro onde Salgado procura
defender-se das acusações feitas contra o integralismo, foi eliminada qual
quer referência à unidade sindical: “O integralismo mantém o princípio
da organização sindical num regime político orientado por princípios cris
tãos...” O artigo XXIV foi também modificado: “No Estado Integral,
tornam-se desnecessários os partidos políticos. Todos os brasileiros cola
borarão (...) para a formação do poder público. O integralismo não
fere a democracia, extinguindo os partidos. . ." Este texto original, publi
cado em anexo à Cartilha do Integralista Brasileiro (1937), de Miguc
Reale, secretário nacional da Doutrina, foi modificado por Salgado. . .
no Estado Integral, todos os brasileiros colaborarão, no grupo a que perten-
229
Dois ensaios de Miguel Reale, Formação da Política Bur
guesa e o Estado Moderno, analisam respectivamente as origens
da sociedade burguesa e sua organização política (107). O autor,
após haver exaltado a consciência imperial romana (108), sem
pre na memória do homem ocidental e que reviverá na realeza
de Carlos Magno, Frederico II, na espada de Carlos V, de Na-
poleão, e no “fascio” de Mussolini, afirma que a “política bur
guesa” surge com o desvio da consciência jurídica romana, pri
meiro em direção do rei e depois do indivíduo" (109). Sua análise
histórica leva-o a considerar a invasão dos bárbaros germânicos
como o primeiro sinal, no centro do Império, da “rebelião indi
vidualista”. São as tribos germânicas que criam o primeiro es
boço de regime representativo compreendendo o rei. um conselho
e uma assembléia popular (110).
Em vez de uma postura cristã tradicional, nostálgica da
Idade Média, Reale adota uma atitude crítica com relação a este
período por duas razões principais. Primeiro, porque nesse pe
ríodo o poder enfraquece (“um produto da desagregação”) (’”).
Segundo, porque no seio da sociedade medieval é que começa
a ação do capitalismo financeiro (1I2). Reale pensa também que
cerem, para a formação do poder público.” Ele não somente suprimiu as
passagens referidas, mas acrescentou uma frase que não existe no original:
“O integralismo é pela organização corporativa não meramente econômica,
à maneira do fascismo, porém econômico-política exprimindo assim a de
mocracia orgânica”, in REALE (Miguel), Cartilha do Integralismo Brasi
leiro (1937), op. cit., pp. 143-155 e SALGADO (Plínio), O Integralismo
Perante a Nação, Rio, Livraria Clássica Brasileira, 1950, pp. 33-40.
(107) O antiliberalismo é um tema constante nas obras e documentos
doutrinários do integralismo. Além das contribuições de Salgado, Reale
e Mello, outros integralistas escreveram livros sobre o assunto: MOLJRÃO
FILHO (Olympio), O Liberalismo e o Integralismo, Rio, Schmidt, 1936.
PEREIRA (Jayme R.), Democracia Integralista, Rio, José Olympio, 1936;
PUJOL (Comandante Vitor), Rumo ao Sigma, Rio, Livraria H. P. Antu
nes, 1936.
(108) A admiração pela “consciência imperial” em Reale não é parti
lhada por todos os teóricos integralistas. O historiador Gustavo Barroso,
por exemplo, afirma que é o Império Romano “que conduz as Nações
da Europa cristã ao abismo dos tempos modernos”, in BARROSO (Gus
tavo), O Quarto Império, op. cit., p. 91.
(109) REALE (Miguel), Formação Política Burguesa, Rio, José
Olympio, 1934, pp. 18 e 20.
(110) Ibid., pp. 31 e 33.
(111) Ibid., p. 42.
(112) “O governo de algumas comunas está concentrado nas ' mãos
de banqueiros c dos mais fortes comerciantes”, in REALE (Miguel), For
mação Política Burguesa, op. cit., p. 61.
230
a sociedade medieval, sendo apolítica e desconhecendo a polari
zação Estado-indivíduo da sociedade liberal, não pode se con
fundir com a ordem corporativa fascista do século XX. “Em
nossos dias, as corporações são órgãos institucionais do Estado:
não cuidam somente dos próprios interesses de classe porque se
subordinam ao interesse geral da nação” (113). Ele faz, em suma,
a mesma crítica à sociedade feudal que fará à sociedade burgue
sa, em função de sua natureza de sociedade de classes, na qual não
existe um papel ativo do aparelho estatal: “A Idade Média possui
as corporações — os corpos das classes — mas não possui o
centro consciente do Estado para coordená-las e dirigi-las” (nl).
Reale rejeita a idéia de uma descontinuidade entre a socie
dade medieval e a sociedade burguesa. O homem burguês não
é um homem “novo”, mas é produto da própria Idade Média:
“Filho da Idade Média, ele se apoderou de toda a herança ma
terna, após três séculos de lutas sinuosas e de contrastes san
grentos, arrancando à Igreja o livre exame, ao Império a sobe
rania efetiva, às Corporações a direção do mundo econômico,
levantando, com essas conquistas preciosas, o edifício da civili
zação capitalista...” (115). Por isso, não pretende, como Ber-
diaeff, realizar uma nova síntese sócio-política. Os fundamentos
ideológicos da sociedade liberal encontram-se numa série de teo
rias sociais inspiradas no modelo das ciências naturais que ele
estigmatiza com o termo genérico de “naturalismo liberal” ou
“otimismo naturalista”. A idéia das teorias econômicas liberais,
de que o homem está submetido às leis da natureza, tem suas
raízes nas “ciências do mundo físico” que invadiram “o setor das
ciências morais, impondo-lhes os seus quadros e o seu espíri
to” (11G). Todas as teorias liberais estão impregnadas com esta
concepção física da sociedade. O desvio naturalista deforma a
explicação da vida social na medida em que o homem torna-se
um reflexo da natureza. Também as concepções de Marx e
Engels, enfatizando o papel decisivo das forças produtivas no
desenvolvimento das consciências individuais, propõem um so
cialismo naturalista”.
Reale denuncia a decadência do espírito humanista: o ho
mem que se submete à natureza aliena sua própria imagem. A
conseqüência política do desvio naturalista é, segundo Reale, a
(113) Ibid., p. 56.
(H4) Ibid., pp. 61 c 62.
(115) REALE (Miguel), Formação Política Burguesa, op. cit., p. 65.
(116) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 11.
231
redução da pessoa humana à sua dimensão cívica. Os filósofos da
época definiram um homem ideal, sem considerar que o homem
real pertence a grupos biológicos, profissionais e políticos e está
condicionado à influência de todos esses grupos do próprio pro
cesso histórico (117). A ideologia liberal, portanto, é uma das ra
mificações da doutrina do direito natural.
Além disto, os fundamentos econômicos do liberalismo fo
ram estabelecidos pelos fisiocratas e os manchesterianos. A bur
guesia tinha necessidade de expandir-se além das fronteiras na
cionais, escapando da influência das corporações e da proteção
monárquica. Em consequência, progressivamente “a economia
domina a política, no sentido de reduzir cada vez mais a função
ética do Estado” e “o indivíduo criador da sociedade é também
o único criador da riqueza econômica” (n8).
A partir deste momento, todos os elementos essenciais à
formação da sociedade liberal, cuja ideologia resulta de uma
combinação eclética, estão presentes: “À sombra do utilitarismo
obedecendo aos influxos da burguesia industrial e tirando algu
mas lições da evolução constitucional britânica, combinaram-se e
confundiram-se, em uma forma híbrida, as correntes do libera
lismo político (de Locke e Humboldt), do democratismo (de
Rousseau a Babeuf e aos primeiros socialistas) e do liberalismo
econômico (de Smith e toda a escola clássica). Surgiu, assim o
Estado democrático-liberal, relativista por definição, flexível,
adaptável a todas as circunstâncias” (no).
A principal crítica de Reale ao Estado liberal refere-se à
apatia do Estado diante da evolução econômica e social. O li
beralismo é a doutrina que sistematiza o que “o Estado deve se
abster de fazer”. Neste sentido, é uma concepção negativa do
Estado: “O Liberalismo é a consagração sistemática da indife
rença do Estado para com a vida social e econômica, a limita
ção da ação governamental às funções de ordem jurídica. Diante
do Estado só há o cidadão (.. .): o Direito é monopólio do Es
tado, enquanto a Economia é monopólio do Indivíduo” (12°).
Os dois princípios essenciais da sociedade liberal-democráti-
ca são, segundo o autor: a liberdade contratual e a liberdade de
comércio. Estes princípios terão efeitos negativos sobre o fun-
(H7) REALE (Miguel), Formação Política Burguesa, op. cit., p. 27.
(118) Ibid., p. 77.
(119) Ibid., p. 91.
(120) REALE (Miguel), “A Posição do Intcgralismo”, in Estudos
Integralistas, op. cit., p. 11.
232
cionamento do sistema. Diante da indiferença do Estado, os in
divíduos e os grupos organizam-se fora de seu domínio. Se a
norma geral c de que cada indivíduo deva defender sozinho seus
direitos, isto provoca historicamente dois fenômenos contraditó
rios: o socialismo sindicalista e o capitalismo financeiro.
Inicialmente, os trabalhadores, organizados em sindicatos
para defenderem seus direitos, não ultrapassam o individualismo
liberal: “O sindicalismo não é, portanto, mais que a transposi
ção para a esfera grupalista do que o liberalismo prega na esfera
individualista (. ). O sindicalismo é individualismo de segun
do grau e não se distancia muito do liberalismo: ambos desejam
o Estado mínimo” (121). Mais tarde, esta evolução provoca a
emergência, no seio do Estado, de partidos de classe ou do sin
dicalismo revolucionário, que colocarão em questão a unidade
do Estado liberal. Os partidos tornam-se “um meio de ligação
artificial entre o governo e o povo (...) e a vontade geral se
transforma em vontade dos dirigentes partidários” (122).
Por outro lado, a organização do capital tem conseqüências
imprevistas. O capital primeiro se organiza no interior de cada
país e depois, na fase imperialista, sob a forma de trustes, tor-
nando-se uma força capaz de plasmar a vida social segundo os
seus desejos, aproveitando-se da indiferença, quando não da
aquiescência do Estado” (123).
Olbiano de Mello acrescenta à análise que a liberal demo
cracia cria três novas categorias “de exploradores do povo”: “os
detentores do capital, os profissionais da política e os advogados
administrativos dos grandes partidos políticos mantidos e contro
lados pela alta burguesia” (12‘). Este teórico integralista, cuja
orientação ideológica é bastante próxima à de Reale (ambos
procuram teorizar sobre o Estado Integralista e foram influen
ciados pelo fascismo italiano) não dissocia a sociedade liberal
da exploração capitalista: “os princípios que nortearam o apare
cimento da liberal-democracia haveríam de, dentro em pouco,
preparar o advento de uma nova exploração da massa popular,
mil vezes mais danosa que todas as que marchetavam a história
até então” (125)«
(121) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 138.
(122) Ibid., p. 110.
(123) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 100.
(124) MELLO (Olbiano de), Concepção do Estado Integralista, op.
cit., p. 36.
(125) Ibid., p. 35.
I
233
I
b — O capitalismo internacional
A posição do integralismo diante do sistema capitalista apre
senta uma ambigüidade fundamental. Os textos dos principais
teóricos utilizam uma linguagem, muitas vezes, fortemente anti-
capitalista, ao mesmo tempo que a organização econômica pro
posta pela ideologia não põe em questão os princípios básicos do
sistema. A única dimensão do capitalismo condenada por todos
é o capitalismo financeiro internacional.
Os primeiros documentos oficiais preocupam-se, sobretudo,
em achar uma solução à “questão social”. Proclamam a neces
sidade de implantar uma organização corporativa, integrando to
das as classes profissionais e capaz de superar os conflitos da
sociedade democrática-liberal. O sistema corporativo teria o mé
rito de ultrapassar a fase de luta de classes pela mobilidade so
cial que ela introduziría no sistema: “pretendemos dar meios a
todos, para que possam galgar, pelas suas qualidades, pelo seu
trabalho e pela sua constância, uma posição cada vez melhor,
tanto na sua classe, como fora dela e até no governo da Na
ção’^126). .
Este princípio de mobilidade social estará submetido, em
realidade, a todas as limitações da estrutura corporativa hierar-
quizada. A norma principal é que a “questão social deve ser re
solvida pela cooperação de todos, conforme a justiça e o desejo
que cada um nutre de progredir e melhorar” (127). O integra
lismo, portanto, rejeita a luta de classes como “um fenômeno
mórbido” que se explica apenas pela neutralidade do “Estado
liberal, indiferente às questões sociais” (128).
O programa social do Manifesto substitui a competição in
dividualista da sociedade liberal pela competição igualmente in
dividual, mas regulamentada no seio das organizações sindicais
e corporativas. Este sonho de uma nova ordem social torna-se
uma utopia social, quando pretende “transformar o trabalhador
no herói da nova Pátria, no homem superior, iluminado pelos
nobres ideais de elevação moral, intelectual e material” (12°).
(126) SALGADO (Pl.), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit., p. 4.
(127) Ibid., p. 4.
(128) SALGADO (Pl.); REALE (M.), A Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cit., p. 9. O Manifesto preconiza como solução à “questão
social” a instituição de contratos coletivos c a criação de uma magistra
tura especial para resolver conflitos trabalhistas, bem como a proibição
do direito de greve e de “lock-out”, conforme o modelo da “Carta dei
Lavoro” italiana.
(129) SALGADO (Pl.), Manifesto de Outubro de 1932, op. cit., p. 5.
234
O Manifesto, no entanto, não coloca em causa o regime
capitalista propriamente dito. Sua crítica concentra-se, sobretudo,
em certos aspectos liberais do sistema econômico capitalista sem
querer ultrapassá-lo. O Manifesto considera que o princípio da
propriedade privada em seu “caráter natural e pessoal é funda
mental’’ e o Ahecedário acrescenta que o integralismo se opõe a
utilização anti-social da propriedade, a ideologia integralista pre
coniza a disseminação do direito da propriedade, acusando, neste
particular, o capitalismo de atentar contra este direito, porque
se baseia no “individualismo desenfreado”, que caracteriza o
“sistema econômico liberal-democrático” (130).
O integralismo propõe-se a reformar o capitalismo em três
níveis: primeiro, subordinando a produção aos “interesses na
cionais”, a fim de romper seus vínculos com o capitalismo inter
nacional; segundo, estabelecendo o controle do Estado sobre a
economia liberal; terceiro, introduzindo uma finalidade ética no
desenvolvimento da economia. Entretanto, o essencial do siste
ma capitalista permanece na medida em que o integralismo não
põe em questão a iniciativa individual (“o Integralismo é contra
o controle dos capitães da indústria”) (131), a propriedade priva
da dos meios de produção e o princípio do lucro. O objetivo do
integralismo, neste plano, é que a “técnica capitalista” assuma
uma “função eminentemente social” (132). O integralismo pre
tende, portanto, transformar o capitalismo liberal clássico num
capitalismo nacional e social controlado pelo Estado Integral (133).
Os teóricos integralistas, na realidade, concentram seu com
bate contra o capitalismo financeiro, ainda quando estabelecem
uma ligação estreita entre o capitalismo interno e sua expansão
(130) Ibid., p. 4.
(131) SALGADO (PI.); REALE (M.), Cartilha do Integralismo
Brasileiro, op. cit., p. 11.
(132) Ibid., p. 11.
(133) Embora a idéia dc difusão da propriedade esteja também vin
culada à doutrina social católica, a posição do fascismo italiano com rela
ção a capitalismo não põe em causa o sistema. Mussolini, num artigo pu
blicado no revista Gerarchia sob o título “Fascismo e Sindicalismo”, afir
ma quê: “...o sindicalismo fascista considera o elemento “capital” não
como um elemento que deve ser suprimido — o quo é também um absur
do no sentido prático, assim como no sentido histórico, mas como um
elemento que deve ser liberado e de que se deve reforçar a potência (...).
As corporações podem melhorar a sorte de seus sindicatos desde que o
capitalismo seja poderoso; mas se o capitalismo for fraco, estático c hesi
tante, elas nada podem fazer”, in MUSSOLINI (Bcnito), Oeuvrcs Com
pletes, op. cit., Vol. VI, p. 80.
235
externa (134). Miguel Reale e Olbiano de Mello, por exemplo,
analisam o sistema capitalista e suas contradições, utilizando,
muitas vezes, uma linguagem marxista. A posição de Salgado,
ao contrário, é mais ética do que econômica: ele indignava-se,
sobretudo, com os efeitos negativos do maquinismo. Na crítica ao
capitalismo internacional é que se estabelece um consenso entre os
teóricos integralista: Gustavo Barroso é o mais radical, porque
associa a esse estágio da evolução do capitalismo a ação judaica.
Mello descreve o modo pelo qual o capitalismo dominou o
mundo através da “posse de todos os meios de produção, o
controle dos grandes bancos, elegendo e influindo na escolha
dos dirigentes dos diversos governos, apoiando multidões, graças
às suas rotativas, com um falso jornalismo, com falsos precon
ceitos sociais...”. Inspira-se também na linguagem marxista
para caracterizar a evolução do sistema capitalista até atingir a
fase do imperialismo financeiro. Embora rejeite o Estado socia
lista, aceita alguns elementos importantes do anticapitalismo mar
xista, utiliza-se de expressões como “proletarização das massas”,
“crise do capitalismo”, “princípio da mais-valia” (135).
O secretário de doutrina, por sua vez, em seu livro o Capi
talismo Internacional, procura refutar, com argumentos e estatís
ticas, as teses marxistas da concentração capitalista e da paupe-
rização(13C). Entretanto, Reale encontra-se mais próximo de Le-
nine do que de Marx ao denunciar o “supercapitalismo finan
ceiro”: “Essa degradação do Estado até ao ponto de sacrificar
a sua soberania nas mãos dos ases das finanças produziu um fe
nômeno mórbido: o Imperialismo” (137).
A atitude de Salgado, enfim, diante do capitalismo, enqua
dra-se no humanismo pré-industrial que denuncia a civilização
técnica: “O útero metálico” da Revolução industrial engendrou
“a humanidade mecânica”: “o instinto da máquina devora tudo”.
Neste sentido, o responsável pelo drama do mundo atual é o
(134) Sobre este ponto de vista, a posição do integralismo aproxi
ma-se à do rexismo belga: ‘il s’agit d’unc critique de Thypcr-capitalisme
plutôt que du capitalisme proprement dit”. (...) “Les rexistes distinguent
le bon et le mauvais capitalisme; le capitalisme réel et le capitalisme
impersonnel et deshumanisant”, in ÉTIENNE (Jean Michel), op. cit., p. 92.
(135) MELLO (Olbiano de), Concepção do Estado ..., op. cit.,
pp. 36-41.
(136) REALE (Miguel), O Capitalismo Internacional, Rio, José
Olympio, 1935, pp. 67-73.
(137) Inclusive Reale cita Lenine: “O soberano atual, diz Lenine,
é já o capital financeiro”. Ibid., pp. 80-81.
236
capital que impõe “sua tirania na forma dos grandes trustes, dos
monopólios, dos grupos financeiros, das organizações bancárias,
c se dirige para o capitalismo do Estado. É a besta apocalípti
ca” (138).
Portanto, todas as análises críticas dos teóricos da A.I.B.
orientam-se contra o capitalismo internacional que se torna o
núcleo principal do anticapitalismo integralista. Gustavo Barroso
é mais globalizante em sua análise porque, em sua concepção, o
capitalismo financeiro e o socialismo são indissociáveis do judaís
mo. Embora seu anti-semitismo não seja partilhado por todos
os teóricos integralistas, seu estudo histórico sobre os emprésti
mos brasileiros, de 1824 a 1934, junto a banqueiros judeus, é
amplamente aceito. No seu ensaio Brasil, Colônia de Banquei
ros, ele desenvolve a tese de que o Brasil, após tornar-se indepen
dente de Portugal, em 1822, e sofrer a dominação comercial in
glesa até 1934, “se transforma em colônia da casa bancária ju-
dáica Rothschild, em colônia do supercapitalismo internacional,
que não tem pátria e como que obedece a leis secretas de ani
quilamento de todos os povos” (130).
A posição de Reale sobre as relações entre os judeus e o
capitalismo internacional é mais matizada. Ele não acredita in
teiramente na conspiração judaica internacional, embora reco
nheça a influência dos judeus nas finanças internacionais: “a lu
ta contra o capitalismo envolve um combate formidável contra
certos setores de Israel. Daí não se pode concluir pela tese ra
cista” (14°). Sua preocupação principal, inspirando-se nas teses
do fascismo italiano, é de estabelecer as bases teóricas de uma
“economia corporativa”.
A nova economia deve reformular os princípios da econo
mia clássica, rejeitando o equilíbrio natural do sistema, pela
livre competição dos indivíduos na busca do lucro; da fatalidade
das lutas de classes; do lucro como objetivo único da ação eco
nômica; a valorização da livre iniciativa. A economia corporati
va, ao contrário, afirma que o interesse individual não coincide
sempre com o interesse social; que os mecanismos da economia
(preços, salários, produção) não se articulam automaticamente;
que a liberdade do indivíduo está mais presente nos “grupos na-
237
turais” da sociedade do que na ação individual; que na organi
zação corporativa se estabelece a colaboração entre as classes
sociais; que a iniciativa privada pode ser preservada se o produ
tor for responsável perante o Estado; enfim, que o objetivo últi
mo da economia não é a satisfação individual, mas a utilidade
do grupo e da Nação (141).
A tentativa de Reale de ultrapassar a economia liberal sem
aceitar a solução socialista baseia-se em três princípios: a inicia
tiva privada; a responsabilidade do produtor perante o Estado
e a representação dos produtores nas Corporações (,l2). Se o
capitalismo é o sistema econômico em que o centro da economia
é o capital 0 o seu objetivo principal o aumento indefinido da
produção e do lucro, a economia corporativa defende a posição
que o sujeito da economia é a nação e que seu objetivo é atin
gir fins éticos. Segundo Reale, o erro do capitalismo não reside
na propriedade ou iniciativa privadas, mas na ausência de uma
finalidade ética na vida econômica e de um controle da economia
pelo Estado. Paradoxalmente, neste sentido, a economia medie
val está mais próxima da economia capitalista corporativa, as
corporações não produzem, mas orientam a produção. Nada tem
que ver, portanto, o corporativismo moderno com o corporati
vismo medieval. Este era particularista; aquele é unitário. O
corporativismo medieval parece-se mais com o regime capitalis
ta dos trustes e monopólios, onde cada categoria vive isolada,
cuidando egoisticamente de si; onde a produção é controlada
não pela totalidade dos produtores, mas por uma categoria par
ticular, sem atenção pelos interesses coletivos" (’*3).
c — O socialismo
A importância atribuída ao anti-socialismo no conjunto de
textos ideológicos integralistas é paradoxalmente pequena com
parada àquela do antiliberalismo. O Manifesto e o Abecedário
referem-se sumariamente ao socialismo e ao comunismo. Salga
do, que declara “guerra de morte ao liberalismo", contenta-se em
anunciar uma atitude de “alerta contra o socialismo" (in). Rea-
le também escreveu diversos ensaios sobre o liberalismo e suas
238
origens históricas e sobre o capitalismo internacional, mas não
consagrou nenhum livro ao estudo do socialismo. Inclusive, no
seu livro O Estado Moderno, a análise histórica salta do Estado
democrático-liberal ao Estado Integral fascista sem deter-se no
estudo do Estado socialista. Somente num trabalho de divulga
ção ideológica para militantes de base é que ele dedica um ca
pítulo ao “drama comunista” (145). Mello redigiu igualmente
apenas algumas páginas para refutar as bases do Estado socialista
em seu ensaio sobre o Estado integralista. Finalmente, Barroso
concentra sua energia no combate anti-semita e considera o so
cialismo como um epifenômeno da conspiração judaica.
O anti-socialismo manifesta-se de três maneiras na ideologia
integralista. Na primeira, mais comum entre os teóricos integra
listas, socialismo e liberalismo são considerados expressões de
uma mesma concepção filosófica: o materialismo. Na segunda,
o socialismo e sua estrutura sócio-econômica são considerados
concepções ligadas às doutrinas “fragmentárias” do século pas
sado e superadas pela experiência fascista “integral”. A terceira,
enfim, pretende, através de um anticomunismo primário, provo
car o medo ao comunismo entre os militantes integralistas.
A primeira forma de anti-socialismo aparece, por exemplo,
num artigo de Salgado, “Capitalismo e Comunismo”, onde ele
desenvolve a tese de que o capitalismo e o comunismo têm um
fundamento teórico comum. Ele considera que as origens filo
sóficas, econômicas e os objetivos de ambos são “duas faces de
uma só cabeça” que personifica o materialismo; “O que não se
pode negar é a identidade absoluta do marxismo com a filosofia
burguesa, criada para oprimir os humildes e justificar a explo
ração do homem pelo homem” (146).
Miguel Reale, cuja posição mais se aproxima da segunda
forma de anti-socialismo, considera socialismo e capitalismo co
mo duas expressões do “naturalismo” filosófico: “O socialismo,
que nos primeiros anos do século representara um coeficiente no
tável de ideal ético, corrompeu-se como decalque servil da so
ciologia burguesa. A civilização burguesa bifurca-se em duas
direções antagônicas. Na realidade, eram (socialismo e libera
lismo) dois irmãos gêmeos disputando a herança do século
239
XVIII e as promessas da Revolução Francesa ” (II7). Entre
tanto, quando o Secretário de Doutrina descreve o “drama co
munista”, caracteriza o socialismo marxista como uma ideologia
em estado avançado de decomposição. Considera que o apogeu
da corrente socialista teve lugar em fins do século XIX, quando
o movimento incorpora em seu seio intelectuais excepcionais.
Após analisar as causas da decadência do socialismo (148), de
fende a tese de que entre as duas guerras mundiais, o fascismo,
por suas origens socialistas, seria a nova ideologia capaz de su
plantar o socialismo marxista: “surgiu o fascismo, não como uma
simples reação ao comunismo, mas como uma nova concepção
de vida, espiritualista, voluntarista, profundamente moral e herói
ca” C‘°). No processo de passagem do “socialismo naturalista”
ao fascismo, ele ressalta o papel teórico dos revisionistas socia
listas (Bernstein, Cario Rosseli e Henri de Man), bem como a
decisão de Mussolini e “de outros marxistas sinceros, que tinham
sido marxistas por verdadeiro amor à classe operária” e vieram
a engrossar “as fileiras da Idéia Nova” (,so) na luta contra o
capitalismo e no esforço de ampliação do âmbito da Revolução
a toda a nação.
A terceira forma de anti-socialismo aparece sobretudo após
a ascensão da esquerda no Brasil, seguindo a palavra de ordem
tática de “frente popular” do Komintern, originando a Aliança
Nacional Libertadora (ANL), em 1935. O livro mais característico
do anticomunismo primário difundido na época pelo integralis
mo, foi escrito, como obra de propaganda, pelo médico Wences-
lau Júnior, chefe do integralismo numa pequena cidade do inte
rior de Minas Gerais. Este livro foi também vertido para o ale
mão com o objetivo de divulgar a ideologia integralista nas re
giões de colonização alemã do Sul do Brasil (’51).
(147) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 23.
(148) Rcale cita os seguintes fatores de decadência do socialismo até
a Primeira Guerra: “a participação à vida parlamentar, a colocação em
questão do intcrnacionalismo proletário pela guerra c a Revolução So
viética na Rússia, refutando a tese do determinismo econômico”, in
REALE (Miguel), ABC do Integralismo, op. cit., pp. 108-112.
(149) REALE (Miguel), Ibid., p. 112.
(150) REALE (Miguel), ABC do Integralismo, op. cit., p. 113.
(151) Este livro, publicado em 1936, intitula-se cm alemão Der
Integralismus leicht ver stàndlich fiir Alie. Embora os integralistas afir
mem que ele se destinasse a fazer frente à propaganda nazista, a pesquisa
por questionário feita pelo autor a militantes, nas regiões de colonização
dos Estados do Sul, mostra que a distinção entre integralismo e nazismo
não era, aos olhos de muitos colonos, sempre nítida, sobretudo nas zonas
240
A primeira parte do livro contém mensagens endereçadas a
determinadas categorias da população e na segunda, o conteúdo
da doutrina é traduzido em linguagem popular. Nas mensagens
dirigidas às mães, aos pais, aos agricultores, aos trabalhadores,
às crianças e à juventude, o autor, após tentar despertar a sim
patia do leitor pela A.I.B., opõe, geralmente, integralismo e co
munismo. O exemplo mais típico de mensagens anticomunistas
no gênero, dirige-se “às crianças do Brasil”. O autor começa
comparando a época em que ele era criança com a nova situa
ção brasileira provocada pela ação do integralismo. No seu tem
po de infância, “nossa vida era só brincar e fazer arte. Só isso.
Hoje, como tudo está diferente! Até você, tão criança, já quer
vestir uma camisa verde, levantar o bracinho direito e dizer com
entusiasmo: “Anauê!”. Depois, procura incutir nas crianças a
idéia de que “os homens que acham feia a camisa verde não que
rem bem ao Brasil”! E conclui afirmando que o integralismo vai
transformar o Brasil e suprimir o comunismo. E pergunta às
crianças: “Você sabe o que é o comunismo”? A resposta dada
pelo autor da obra, considerada no prefácio por Salgado e Reale
como um modelo de divulgação ideológica é a seguinte: “O Co
munismo é uma porção de homens que também querem tomar
conta do governo do Brasil, para judiar com os seus pais e des
respeitar a sua mãe e as suas irmãs. Se o comunismo vencer, você
não será mais de seu pai. Pertencerá ao governo. Não morará
mais em sua casa; não viverá com seus irmãos; não poderá to
mar a bênção de seu Pai e de sua Mãe. O comunismo acabará
com a tua Família” (152).
241
d — O judaísmo
O anti-semitismo não é um tema ideológico que estabeleça
consenso entre os ideólogos integralistas. Gustavo Barroso é pra
ticamente o único teórico de uma corrente anti-semita radical, ao
passo que os outros doutrinadores, sem contestar aspectos noci
vos da ação judaica, especialmente ao nível das finanças inter
nacionais, parecem mais reticentes em aceitar a tese de que se
pode reduzir o conjunto dos adversários do movimento ao ju
daísmo (153). Embora se possa estabelecer uma gradação nas
formas de anti-semitismo integralista, o tema, na realidade, incor-
porou-se à ideologia integralista em razão da grande receptivida
de do combate ao judaísmo entre os militantes de base. Em conse-
qüência, quando teóricos e dirigentes integralistas criticam a ten
dência de Barroso, suas atitudes não singificam uma posição
neutra diante do problema judaico, mas uma rejeição de seu radi
calismo. Comprova-se empiricamente esta interpretação através da
análise das atitudes ideológicas dos militantes de base onde se
constata que a dimensão anti-semita está quase sempre presente
no universo ideológico' integralista (15‘).
Barroso poclama em seus livros panfletários que o integra-
lismo deve afirmar-se anti-semita (l55). A amplitude de seu pre
conceito pode-se medir pela epígrafe que ele escolheu para seu
ensaio histórico Brasil, Colônia de Banqueiros: “Trotski e Roths-
242
child marcam a amplitude das oscilações do espírito judaico; es
tes dois extremos abrangem toda a sociedade, toda a civilização
do século XX (Léon de Poncins)”(15G).
A obra de Barroso foi muito influenciada pelo livro de
Léon de Poncins, Les Forces Sécrètes de la Révolution, traduzido
para o português cm 1931; pelo clássico do anti-semitismo cató
lico na França, La France Juive, de Drummond, e provavelmente
pela propaganda anti-semita da Alemanha de Hitler, à qual sen-
tia-se afetivamente ligado por sua ascendência maternal germâ
nica. Ele se torna, por sua obra c traduções de textos anti-semitas
que realizou, o centro de irradiação da propaganda contra os ju
deus no Brasil dos anos 30. Seus principais livros sobre o tema
são: O Quarto- Império, onde descreve a influência judaica em
períodos decisivos da evolução da humanidade; Brasil, Colônia
de Banqueiros e História Secreta do Brasil, que pretendem de
monstrar a ação nefasta dos judeus contra os interesses do Bra
sil, especialmente através do controle das finanças internacionais;
A Sinagoga Paulista e Judaísmo, Maçonaria e Comunismo, o
primeiro denunciando a conspiração judaica em São Paulo e o
segundo difundindo os fundamentos doutrinários do anti-semi
tismo (157).
Barroso crê que a “questão judaica” não é religiosa ou racial,
mas essencialmente política: “Ninguém combate o judeu porque
ele seja de raça semita nem porque siga a religião de Moisés.
Mas sim porque ele age politicamente dentro das nações, no sen
tido de um plano pré-concebido e levado por diante através dos
243
tempos” C58). Ele considera que a crise, que se desenvolve há
muito tempo e que conduz à Primeira Guerra Mundial e às
conseqüências morais e econômicas — não resultou de uma con
juntura, mas foi provocada “de maneira intencional pelos ju
deus”. A conspiração judaica utiliza-se de todos os meios pos
síveis e aparentemente contraditórios para conquistar o mundo
e implantar a “República Universal” sob sua dominação (15°). O
autor justifica, pois, a vaga de anti-semitismo que se espalhava
pelo mundo e a necessidade de uma ação contra os judeus no
Brasil como uma “reação instintiva contra a ação nefasta de
Israel, o parasita que se quer tornar, através do capitalismo e do
comunismo, dono dos destinos humanos” (16°).
Portanto, o vínculo que Barroso estabelece entre o integra-
lismo e o nacionalismo anti-semita é lógico. Ele apregoa que só
um poder forte pode libertar o Brasil das forças dominadas pelos
judeus, que mantêm o país sob sua dominação há muito tempo.
Ele cita os inimigos como sendo as “forças ocultas” da maçona-
ria, a “Burschenchaft” (1G1) do judaísmo; “as forças aparentes”
da imprensa e da política manipuladas pelos primeiros e, enfim,
as “forças econômicas e financeiras” internas e externas, contro
ladas pelo judaísmo (162).
244 ■
mento explícito por parte dos teóricos integralistas, de uma in
fluência fascista européia. Um bom indicador seria analisar a
posição oficial do movimento sobre este ponto através dos escri
tos do Secretário Nacional da Doutrina, Miguel Reale.
Reale, analisando as origens da sociedade liberal, define
três grandes fases: a primeira, que termina com a Revolução
Francesa, é a fase do “naturalismo estático”, que se inspira nas
ciências astronômicas e matemáticas; a segunda, que perdura até
a Primeira Guerra Mundial, é a fase do “naturalismo dinâmico
evolucionista”, repousando sobre a ilusão de um progresso con
tínuo; enfim, a terceira, é a fase do “naturalismo dinâmico revo
lucionário”, resultante das noções de descontinuidade histórica
através da ação dos grandes homens (103).
O ponto comum entre as três fases é uma explicação da
vida social baseada sobre as ciências naturais, uma visão meca-
nicista e não mais finalista da história. A rejeição destes dois
postulados permitiu a passagem ao novo ciclo da “política huma
nista”, através da revalorização do princípio da finalidade, onde
o fascismo busca suas raízes, superando-o rapidamente (1G4).
O interesse desta fase vem de que ela está elaborando uma
“nova humanidade” cujo etos característico é o “humanismo in
tegral”. Se o século XIX foi um “século de análise”, o nosso
tem a vocação de ser um “século de síntese” (1C5). O autor jus
tifica sua afirmação com o desenvolvimento do próprio fenôme
no fascista. “As várias teorias anteriores refletiam fragmentos da
realidade. Por isso erraram. O fascismo as integrou alcançando
a visão total (. . .). Toda ação política de hoje deve se inspirar
no conceito de “superamento” de Rccco” (1GG).
Reale, tentando determinar as fontes do fascismo, começa
por criticar a posição do jurista brasileiro Vicente Rao, que con
sidera o fascismo o resultado de três correntes: o socialismo sin
dicalista, a teoria do direito objetivo de Duguit, e a técnica da
violência.
(163) REALE (Miguel), Formação Política Burguesa, op. cit., p.
137-138.
(164) Nesta corrente, Reale coloca também Lenine, distinguindo a
dialética hegeliana-evolucionista de Marx da pragmática-revolucionária de
Lenine, Ibid., p. 138.
(165) Reale insiste sobre o fundamento socialista do fascismo e
rcfcre-sc frequentemente à contribuição teórica dos “neo-socialistas,
Bernstein, Cario Rossclli c Henri de Man”.
(166) REALE (Miguel), O Estado Moderno, op. cit., p. 174. Alfredo
Rocco, jurista, deputado c teórico fascista ultranacionalista.
245
Se ele não nega a inspiração sindicalista do fascismo, consi
dera o sindicalismo em si mesmo como um produto do sistema
liberal, ou seja, um individualismo em segundo grau. O fascis
mo, em sua interpretação, corresponde a um sindicalismo sem
espírito sindicalista, porque é preciso não esquecer que “o novo
e universal do Fascismo" é o seu “realismo orgânico e totalitá
rio” (1C7).
Na concepção fascista de Reale, há uma contradição entre
o sindicalismo de tipo soreliano, “essencialmente antiestatal" e o
Estado corporativo fascista. Sua posição é a de que “o fascismo
conserva só o que tem um valor de vida, isto é, os elementos que.
na expressão do Duce, podem ser considerados fatos adquiridos
da História (...). Sindicalismo, nacionalismo e estatismo, na
doutrina fascista, se fundem” (108).
Contesta também que se possa explicar o fascismo pela teo
ria de Duguit. O jurista francês nega a vontade geral de Rous-
seau e a substitui por uma pluralidade de vontades que se arti
culam entre si para criar uma situação de direito que se chama
Estado. Em realidade, Duguit continua, segundo ele, a encarar
o Estado como um contrato e um instrumento. “O Estado fas
cista, observa Reale, não é um simples “fato” à maneira de
Duguit. O Estado — e ele cita Mussolini — não é só presente,
mas também passado e sobretudo futuro. É o Estado que, trans
cendendo o limite breve das vidas individuais, representa a cons
ciência imanente da Nação. (16°).
Finalmente, com relação à técnica da violência como sobre
a contribuição do sindicalismo revolucionário, a posição de Rea
le introduz mais uma nuance do que uma discordância. Embora
rejeitando a idéia de que o fascismo aceita a violência pela vio
lência e considere que a violência fascista foi “a fase inicial da
reação nacional e ética”, não se pode comparar, na sua opinião,
a violência fascista com a violência bolchevista. Considera, con
tudo, que “o pacifismo então seria igual à cumplicidade e ao
suicídio” e conclui, ironicamente, que não se pode falar de vio
lência na ascenção de Hitler, porque “o chanceler do Reich su
biu ao poder com uma elegância única: serviu-se do voto sobe
rano. . . e secreto, revelando ao mundo a última utilidade de um
regime democrático formalista” (17°).
(167) Ibid., p. 139.
(168) Ibid., pp. 135 e 140.
(169) Ibid., p. 141.
(170) Ibid., p. 144.
246
Reale apresenta, em contraposição, o que julga serem as
verdadeiras fontes do fascismo. Sua análise não contradiz, mas,
de fato, completa a de Vicente Rao. Na sua opinião, as três
fontes do fascismo são o estatismo, o socialismô nacionalista e
o solidarismo (171).
O estatismo busca sua origem na reação contra o abuso do
direito natural da Revolução Francesa. “Na França, Bonald e
De Maistre desfraldaram a bandeira de reação em nome da tra
dição, que os enciclopedistas e os discípulos de Rousseau haviam
esquecido totalmente, fazendo tabula rasa da história ( .).
Continuando a obra de De Maistre, Augusto Comte fez uma
crítica cerrada às ideologias do século anterior.” Na Alemanha,
as correntes históricas de Savigny, orgânica de Gerber e jurídica
de Mayer, fundem-se no estatismo de Jellineck. A teoria do Es
tado alemã atinge então seu apogeu. O Estado aparece como
uma pessoa dotada de vontade própria. Enfim, na Itália, os teó
ricos tentam combinar a moderação francesa com o absolutismo
germânico. A concepção do Estado exposta por Gioberti corres
ponde à defendida pelo fascismo: “O Estado pertence ao povo,
mas não ao povo em massa e sim ao povo organizado em uma
unidade superior” (172).
O socialismo nacional, segunda fonte do fascismo, nasce de
uma dupla crise no seio do socialismo: a derrota histórica do
internacionalismo proletário durante a Primeira Guerra e o de
senvolvimento do revisionismo socialista: “o internacionalismo
classista (proletário) não passava de um sonho criado pelas men
tes exaltadas de Marx e de Sorel. É que a Nação é uma realida
de. Os socialistas que viveram profundamente o drama da guer
ra compreenderam logo que nacionalismo e socialismo se haviam
fundido em uma unidade nova e superior. É a crise interior de
um Mussolini e de um Hitler, a visão maravilhosa do Fascis
mo . .” (173).
247
O autor, que também vinha do socialismo, entende que não
há contradição entre socialismo e fascismo. Ao contrário, o fas
cismo tem a vantagem de haver ampliado o anticapitalismo so
cialista: “a causa do anticapitalismo era a mesma causa do nacio
nalismo; as exigências naturais e lógicas do ideal socialista de
viam se libertar do joio do materialismo histórico, do internacio-
nalismo econômico e do quadro estreito das lutas de ciasse ( ).
O anticapitalismo deixou de ser somente do proletariado para ser
de toda Nação” (17‘).
A terceira fonte do fascismo é o solidarismo. Neste plano
Reale destaca a contribuição de Durkheim, no seu livro Divisão
do Trabalho Social, ao desenvolvimento concreto da experiência
fascista, cujo mérito foi de “revelar a organicidade dos fenôme
nos sociais” (17S). O valor do fascismo foi o de ter realizado a
integração dos grupos no Estado, inspirando-se nos princípios de
Durkheim, sobre a solidariedade objetiva e subjetiva: a socieda
de moderna não se encontra mais na fase da unidade mecânica
da “justaposição de atividades”, mas na nova fase da “solidarie
dade orgânica”. O fascismo baseou-se em Durkheim, mas o su
perou: completou a lei geral da “discriminação individual e da
coesão social” pelo princípio segundo o qual “o fortalecimento
do poder central é diretamente proporcional à velocidade e in
tensidade da divisão do trabalho” (17G).
Todas estas bases históricas e sociais do fascismo não se
teriam transformado em realidade se um “arquiteto genial" (Mus-
solini) não tivesse surgido para integrá-las numa nova síntese:
“Ele nos deu um modelo em contínua perfectibilidade, em
perpétua revolução, refletindo todas as características essenciais
da Nação itálica E o que ele “fez de mais extraordi
nário foi reatar a linha humanista interrompida pelo naturalismo
social e conclamar a mocidade para viver intensa e heroicamente
a vida” (177).
O importante no pensamento de Reale sobre o fascismo não
é apenas sua admiração por Mussolini, mas, sobretudo, o julga
mento que ele estabelece sobre o papel do fascismo no mundo.
O valor do Duce, dentro de seu ponto de vista, deve-se ao fato
de que, por sua ação, ele criou uma nova forma de luta e pelo
248
Estado fascista, um novo modelo, ambos com uma vocação uni
versal: “a anarquia durou na Itália e na Alemanha até o dia em
que os ex-combatentes souberam afastar os estadistas do século
passado para governar o mundo com os estadistas do século
XX” (’78). O mesmo processo deverá produzir-se em outros
países, segundo ele, se não for rejeitada a mais importante lição
da Primeira Guerra Mundial. E Reale indica o remédio: “É ne
cessário um governo forte, um profundo senso de hierarquia
e disciplina, porque o equilíbrio não pode restabelecer-se espon
taneamente sem unidade de coordenação e direção. O novo
modelo político a ser adotado é o do Estado Integral.”
No artigo intitulado “Nós e os Fascistas”, publicado em
1936, na revista Panorama, Reale define as relações existentes
entre o integralismo brasileiro e o fascismo europeu: “Nada de
extraordinário, por conseguinte, que sejamos brasileiros, naciona-
listicamente brasileiros, e, ao mesmo tempo, apresentemos valores
que se encontram também em movimentos fascistas europeus,
como o de Mussolini, de Hitler e de Salazar” (17°). Ele não
dissimula a importância que atribui ao fascismo italiano face a
outros movimentos do gênero. Neste sentido, procura distinguir
o que é peculiar à situação italiana do que tem uma vocação
universal. Na sua opinião, “o Fascismo contém muitos valores
universais, aplicáveis a todos os povos ligados à cultura cristã
(.. .). Mas o fascismo foi se elaborando no terreno da praxis
(. . .) e tem a vantagem de ser uma "teoria vivida” e não so
mente um quadro mental sem a verificação decisiva da experiên
cia” (18ü). Todavia, a tomada de consciência do conteúdo uni
versal do fascismo não ocorreu imediatamente: “O cunho empí
rico, pragmático e relativista do Fascismo foi tão notável que os
italianos não perceberam desde logo o caráter universal de seus
princípios. É estranho, mas é verdade. Fomos nós estrangeiros
que mostramos aos peninsulares que a experiência do Fascismo
não tem só um valor restrito à Itália, mas constitui uma expe
riência universal. Inicialmente, Mussolini afirmava: o Fascismo
não é artigo de exportação; agora, ele mesmo reconhece que o
Fascismo é a doutrina universal do século” (181)-
249
Também no seu ensaio O Capitalismo Internacional, Reale,
após ter feito referência à obra jurídica realizada pelo fascismo,
proclama que o fascismo é “a ascensão magnífica, tendente a
identificar cada vez mais o Estado e o Povo, integrando progres
sivamente todos os produtores no sistema orgânico da vida na
cional” (182). Seu entusiasmo pelo fascismo é tão grande que
não hesita em afirmar que “a Carta dei Lavoro é para a história
contemporânea o que foi a Declaração dos Direitos do Homem
para a evolução liberal-democrática do último século” (183). Por
outro lado, ele crê no papel “revolucionário” do fascismo, consi
derando-o indissociável da corrente socialista: “Não há lugar para
o nacionalismo que não seja também socialismo, ou seja, que não
contenha os elementos de uma profunda revolução social, de uma
poderosa renovação nos costumes e hábitos da vida individual c
coletiva” (184). Portanto, mesmo que seja difícil avaliar a ampli
tude da “revolução” proposta por Reale, já que “socialismo” se
confunde com “revolução social” e esta com “renovação dos
hábitos e costumes”, em todo caso, na sua interpretação, o fas
cismo seria ao menos uma forma de reformismo social (185).
Portanto, o integralismo aceita do fascismo o conteúdo “re
volucionários, o nacionalismo, a orientação superior do Estado,
a base sindical-corporativa, o principia da solidariedade social”,
mas impõe-lhe uma restrição: não deve desrespeitar os “direitos”
fundamentais da pessoa humana (1Sfi). A originalidade reivindi-
250
cada pelo integralismo é de ser, enquanto movimento e doutrina,
mais “espiritualista” do que “vitalista”. É bem provável que
Salgado, em função de sua formação cristã, fosse mais sensível
aos princípios espiritualistas do que o foi Reale. Aliás este
último declarou recentemente que “a estrutura de meu pensa
mento é mais social, política e econômica do que a de Salgado,
que estava mais próxima de um cristianismo social” (187).
Entretanto, embora Reale analise os fundamentos fascistas
do integralismo, ele indica aspectos do fascismo que a Ação Inte
gralista deve rejeitar. A norma geral é que os princípios univer
sais do fascismo devem ser adaptados às condições do meio. O
integralismo não deve assimilar os aspectos locais do fascismo
ou as características italianas do nacionalismo fascista, nem as
dimensões ideológicas ligadas à tradição histórica romana ou as
formas de sua implantação na Itália. Na sua interpretação, por
exemplo, o racismo seria uma dimensão local do nacionalismo
alemão; a violência totalitária do fascismo italiano estaria vin
culada às condições político-sociais da Itália na década de 1920
e o cesarismo político teria suas raízes na história secular da Itália.
A posição de Reale com relação ao nacional-socialismo é
mais reservada. Neste particular, ele e Salgado separam-se de
Barroso, mais próximo afetivamente da Alemanha e,' sobretudo,
do anti-semitismo: “Do Hitlerismo podemos tirar algumas lições
em matéria da organização política e financeira, mas não sabe
mos em que nos poderia ser útil a tese da superioridade racial,
tese que consulta uma situação local” (18S).
Cabe ressaltar que o integralismo deve sua opção re
publicana a Reale, o que afastou do movimento a maior parte
do grupo monarquista. O republicanismo e um certo preconceito
antifrancês explica sua atitude com relação à Ação Francesa
e ao Integralismo lusitano (18°), ambos monarquistas: “Maurras
reconhece a rigorosa necessidade da monarquia no mundo con
temporâneo, enquanto nós integralistas já fixamos de maneira
claríssima a nossa orientação republicana.” Adiante acrescenta:
“Maurras é católico intransigentemente católico” e crê “no ca
tolicismo como um fator básico da grandeza nacional”. E
(187) Entrevista com Miguel Reale, São Paulo, junho de 1969.
(188) REALE (Miguel), “Nós e os Fascistas”, Panorama, op. cit.,
p. 16.
(189) A posição de Salgado, ao contrário, tem muitas afinidades com
o Integralismo lusitano. Os autores de Portugal que mais o influenciaram
foram Antonio SARDINHA, Rolâo PRETO: Oliveira SALAZAR, João
AMEAL, Hipólito RAPOSO.
251
conclui: “para Maurras, Barres, Bourget ou Léon Daudet, nada
deve existir acima da Pátria, nem Justiça, nem Verdade, nem
Razão (.. ): só o nacionalismo, para eles, tem existência real.
O universalismo é aceitável tão somente quando constitui ex
pressão do gênio francês. A pátria gaulesa é o valor supremo,
a realidade fundamental e eterna" (19°).
Comparando-se, finalmente, a atitude de Salgado face ao
fascismo com a de Reale, o primeiro fato que surpreende é a
ausência de qualquer referência explícita à influência fascista sobre
a ideologia. A suprema ambição do chefe integralista seria a
de construir uma doutrina política original. Além disto, seu na
cionalismo chauvinista exaltado seria contraditório com a impor
tação de qualquer dimensão da ideologia fascista. Embora ele
seja o. menos fascista dos teóricos integralistas, sua admiração
pelo fascismo italiano, revelada nas cartas enviadas a amigos,
por ocasião de sua viagem à Europa, bem como a confiança
depositada em Reale, enquanto secretário nacional de doutrina
e o estilo do personagem que sempre representou de acordo
com o figurino dos principais chefes fascistas (191), estão em
contradição com seu esforço em dissimular qualquer influência
fascista (192).
A posição de Olbiano de Mello, que pretendera fundar um
partido fascista antes da Ação Integralista nascer, é mais expli
cita. Nem ele nem Sombra podem negar a inspiração fascista de
seus movimentos, ainda que este tenha combinado o catoli
cismo social contra-revolucionário com o fascismo italiano. Bar
roso, porém, é, com certeza, o que levou mais longe a pregação da
solidariedade entre o integralismo e os movimentos fascistas
europeus: “No dia em que as doutrinas fascistas tiverem o mundo
inteiro nas mãos, numa aliança universal (.. ), um equilíbrio
social melhor permitirá aos povos a tranqüilidade necessária para
organizarem a paz social” (193). Mesmo que ele não pretenda
que o Integralismo imite o fascismo, considera que pertence à
(190) REALE (Miguel), “Nós c os Fascistas’’, Panorama, op. cit.,
p. 11.
(191) A análise de Salgado enquanto chefe foi desenvolvida no ca
pítulo sobre A Organização (cf. infra).
(192) A influência fascista sobre Salgado não foi exclusiva. Ele
sofreu ccrtamentc uma grande influência do Integralismo lusitano e da
doutrina social-católica, de onde se origina sua valorização da autonomia
municipal, do corporativismo tradicional e das bases espiritualistas da
ideologia.
(193) BARROSO (Gustavo), O Quarto Império, op. cit., p. 171.
252
mesma família ideológica (”“). Embora distinga algumas par
ticularidades dos fascismos europeus com relação ao integralismo,
sua atitude fundamental traduz-se na consciência da solidariedade
que se estabelece entre todos os movimentos fascistas da década
de 30. A melhor demonstração desta consciência fascista uni
versal é o livro de Barroso O Integralismo e o Mundo, no qual
exalta a expansão dos movimentos fascistas em trinta e oito
países. Barroso, ao descrever, numa passagem, os traços comuns
dos movimentos fascistas em expansão, está convencido de que
“o Integralismo Brasileiro é o que contém, de todos os movi
mentos de caráter fascista, maior dose de espiritualidade e um
corpo de doutrina mais perfeito, indo desde a concepção do mun
do e do homem à formação dos grupos naturais e à solução dos
grandes problemas materiais” (’05).
253
de comportamentos verbais. O instrumento de medida das ati
tudes foi estabelecido a partir do núcleo de proposições ideo
lógicas que tentava reduzir às suas dimensões básicas o modelo
fascista italiano, com algumas dimensões do nacional-socialismo.
A atitude fascista não seria caracterizada, em conseqüência, na
ótica das pesquisas dirigidas por Adorno, sobre a “personalidade
autoritária”, mas em termos de fascismo ideológico, quer dizer,
dos principais temas, valores e preconceitos associados à ideo
logia fascista (106).
a — Identificação fascista
A análise do grau de identificação entre as ideologias inte
gralista e fascista não implica em julgamento de valor sobre as
relações entre o integralismo e os fascismos europeus; pretende-se
apenas verificar a existência de um parentesco entre estes dois
universos ideológicos. A análise propõe-se a determinar o grau
de adesão dos integralistas às dimensões fundamentais da ideo
logia fascista expressa através de distribuições marginais das res
postas a cada questão.
A primeira dimensão ideológica considerada é o naciona
lismo, uma vez que todo movimento fascista se estrutura a partir
de uma atitude profundamente nacionalista. Mesmo quando este
nacionalismo não se explicita nos textos doutrinários, o fascismo
é essencialmente a mobilização de um sentimento nacional exa
cerbado. As perguntas do questionário que incluem esta dimen
são procuram captar o nacionalismo fascista em sua totalidade.
Elas se referem aos temas do desenvolvimento da consciência
nacional (01), da independência política nacional (19), da supre
macia da nação (44), da identificação com o passado e a tradi
ção (39), da defesa intransigente da soberania nacional (20),
254
do nacionalismo econômico (64) e da crença no destino histórico
da Pátria.
As respostas revelam um alto grau de identificação dos inte
gralistas ao nacionalismo. A idéia de que o Brasil deve cumprir
uma missão histórica é mais que uma crença, torna-se um mito
motor no sentido soreliano. O núcleo ideológico deste naciona
lismo se organiza em torno do culto ao passado, da afirmação da
independência e da fé no futuro da Nação. A origem deste sen
timento vem de uma atitude de retorno ao passado nacional
cujas raízes se encontram na exaltação do habitante primitivo
antes da colonização portuguesa: o índio.
A reticência porém de um pequeno número em colocar o
interesse da Nação acima de tudo, explica-se pelo conflito pessoal
dos militantes entre a submissão incondicional ao nacionalismo e
a vinculação a valores espirituais. Além disto, o desacordo de
uma minoria cm relação à necessidade de “despertar a Nação”
não implica necessariamente na rejeição da idéia, mas na crença
de que a ação desenvolvida pelo integralismo na década de 30 já
atingira este objetivo. Enfim, apesar da manifestação de uma
atitude de nacionalismo econômico, um certo número de integra
listas admite a exploração das riquezas nacionais por empresas
estrangeiras desde que elas sejam controladas pelo Estado.
QUADRO N.° 30
NACIONALISMO
(Em percentagem)
Concorda Pouco [
Concorda Sem
Muito Discorda Pouco Opinião
Discorda Muito
Consc./Nacional (01) 73,0 27,0 0,0
Indcp./Nacional (19) 94,0 5,0 1,0
Sober./Nacional (20) 94,0 6,0 0,0
Trad./Nacional (39) 99,0 1,0 0,0
Missão/Histórica (40) 98,0 2,0 0,0
Suprem./Nação (44) 89,0 11,0 0,0
255
Ainda que certos teóricos fascistas se proclamem socialistas
e que Mussolini fosse um antigo militante socialista, um dos tra
ços comuns da ideologia fascista é a recusa do socialismo sob
todas suas formas. Na Itália, onde a luta operária na época do
surgimento do fascismo era muito mais violenta, o anti-socialismo
torna-se um combate agressivo. Entretanto, para a segunda gera
ção dos movimentos fascistas, o anti-socialismo transforma-se
sobretudo num tema mobilizador de energias políticas ou inspi
rador de ações preventivas. A ação do movimento operário sob
o espectro da ameaça revolucionária soviética, engendra na Euro
pa um reflexo anticomunista generalizado. Quando os fatos não
são muitos convincentes, a denúncia da ameaça socialista aumenta
porque uma de suas funções é a de criar o inimigo externo a fim
de estimular a disposição de luta dos militantes.
As questões destinadas a medir o grau de anti-socialismo
dos integralistas se apoiam em vários temas: a rejeição da tese
marxista da socialização dos meios de produção (03); a assimila
ção do socialismo ao comunismo (42); a percepção de uma
ameaça comunista comprometendo o futuro da América Latina,
(23); a condenação da revolução cubana (27); a necessidade de
combater toda a forma de socialismo (71) e, enfim, a utilização
dos meios violentos na luta contra o comunismo (47).
QUADRO N.° 31
ANTI-SOCIALISMO
(Em percentagem)
256
As respostas confirmam a intensidade do anticomunismo
integralista. A recusa da revolução cubana e a defesa da proprie
dade privada contra a socialização, revelam, ao mesmo tempo no
plano histórico e teórico, uma atitude anti-socialista. Esta se
reforça quando três quartos das respostas são favoráveis à luta
contra os movimentos socialistas, seja para resistir, seja para
combatê-lo por meios violentos. A combinação de dois elemen
tos, o anti-socialismo ideológico e a mobilização anticomunista,
constitui o fundamento do anti-socialismo fascista. A primeira
atitude é comum à direita conservadora-liberal e ao fascismo,
enquanto que a segunda atitude supõe uma predisposição à ação
direta que, em geral, associa-se aos fascistas. Apesar da inten
sidade da ação anticomunista dos “camisas-negras” da Itália, que
serviu de exemplo a outros movimentos fascistas ou nacionalis
tas, não se pode considerar o fascismo italiano um movimento
exclusivamente anticomunista. Todavia, esta capacidade de mobi
lização violenta é uma das formas de distinguir a direita clássica
da extrema-direita nacionalista ou fascista.
Enfim, a pergunta, que afirma não haver diferença substan
cial entre o socialismo e o comunismo, quer medir a percepção
do grau de distinção entre as duas ideologias. Ainda que o socia
lismo, após a Segunda Guerra Mundial, tenha evoluído a uma
forma de reformismo social, mais de dois terços dos integralistas
afirmam que o socialismo e o comunismo são idênticos e que é
necessário combater por todos os meios, inclusive o “socialismo
democrático”.
A terceira dimensão comum a todos os movimentos fascis
tas é o antiliberalismo. A concepção autoritária do Estado fas
cista constitui a antítese do Estado liberal clássico não interven-
cionista. É necessário distinguir no antiliberalismo fascista dois
aspectos: o primeiro, que decorre de sua análise da evolução
histórica, combate os ideais da Revolução Francesa e a neutra
lidade do Estado liberal; o segundo recusa em nome da unidade
da Nação os mecanismos democráticos responsáveis pela sua
fragmentação.
As questões formuladas para avaliar a atitude dos integra
listas face ao liberalismo referem-se a estas duas dimensões:
quanto à primeira, os integralistas afirmam sua crítica radical ao
liberalismo, que “é um dos elementos mais nocivos de nossa civi
lização” (25) e responsabilizam o Estado liberal pela desordem
do mundo atual (07); quanto à segunda, a quase totalidade dos
257
integralistas considera que os partidos políticos e o sufrágio uni
versal dividem a Nação (43) e manifesta-se favoravelmente a
sacrificar o mecanismo liberal-democrático das eleições a fim
de realizar os objetivos da Nação (49).
QUADRO N.° 32
ANTILIBERALISMO
(Em percentagem)
258
Estado forte, corporativo, para salvar o capitalismo da crise eco
nômica e da revolução social.
As proposições que concernem a estes dois aspectos são
as seguintes: condenação do espírito burguês (16) e da domi
nação oligárquica (26); crença de que os privilégios da plutc-
cracia são maiores do que os da nobreza (68) e, enfim, oposição
ao capitalismo internacional (62).
As respostas são quase unânimes em condenar a dominação
oligárquica; e o espírito burguês das elites. Dois terços dos
respondentes consideram a plutocracia capitalista como a classe
mais privilegiada da história, e a quase totalidade manifesta, em
nome do nacionalismo, uma posição anticapitalista internacional.
A quinta dimensão ideológica integra o mito da transfor
mação social, simbolizado pela idéia da “revolução fascista'*. O
fascismo, apesar de postular um projeto globalmente conservador,
não defende o imobilismo, mas aceita o reformismo social. A
hipótese implícita é que o fascismo, embora sendo um movimento
QUADRO N.° 33
ANTIPLUTOCRATISMO
(Em percentagem)
QUADRO N.° 34
ANTICAPITALISMO INTERNACIONAL
(Em percentagem)
Concorda Pouco
Concorda Discorda Pouco
Muito Discorda Muito
259
de conservação social, não é necessariamente reacionário na me
dida em que admite certas mudanças. Se a solução corporativa
e a exaltação dos valores do passado representam a dimensão
tradicionalista da ideologia, este retorno às .raízes nacionais tem
também o sentido de busca de energias para construir um futuro
mítico. Mesmo que esta atitude não passe de um reformismo
social, o desejo de realizar a transformação do Estado é um dos
traços que distingue o fascismo dos nacionalismos de extrema-
-direita tradicionais.
Cinco questões procuram apreender a existência nos integra
listas de uma atitude reformista. As duas primeiras referem-se
à amplitude da transformação: “uma mudança global e unitária
das estruturas da Nação” (15) ou “uma profunda transformação
das estruturas ultrapassadas” (59). Em seguida, as três outras
medem a aceitação de alguns aspectos do reformismo social: a
planificação da economia pelo Estado (58), a socialização da in
dústria de base (24) e a necessidade de uma reforma agrária (66).
O sentido das respostas da quase totalidade dos integralistas
revela uma valorização da mudança social. No plano do refor
mismo social, constata-se que a grande maioria dos entrevistados
não se opõe nem à intervenção do Estado na economia em opo
sição aos interesses da iniciativa privada, nem à reforma agrária
com expropriação das terras. Uma certa resistência verificada à
idéia da “nacionalização” vem do fato de que esta medida é de
origem socialista. Contudo, o que é interessante ressaltar é a
defasagem entre as respostas quase unânimes favoráveis à trans
formação global da sociedade e um certo retraimento dos mili
tantes quando se trata de concordar com as medidas concretas de
QUADRO N.° 35
REFORMISMO SOCIAL
(Em percentagem)
260
QUADRO N.° 36
Concorda Pouco
Concorda Discorda Pouco Sem
Muito Discorda Muito Opinião
261
QUADRO N.° 37
ESPIRITUALISMO
(Em percentagem)
* Proposição Negativa.
262
é rejeitada, em parte, porque identifica a idéia da emergência do
chefe fascista com a espera passiva do homem providencial; a
segunda decorre de um dilema colocado em termos abstratos
sobre as relações entre o Estado e a Nação no fascismo. Se na
Itália, mais que na Alemanha, a organização da Nação foi obra
do Estado, no fascismo italiano é uma realidade anterior e su
perior à Nação, ao passo que o Estado nacional-socialista tem
uma função instrumental e a realidade fundamental é o volk.
QUADRO N.° 38
O ESTADO/NAÇÃO
(Em percentagem)
263
QUADRO N.° 39
SOCIALJSMO-NACIONAL
(Em percentagem)
264
QUADRO N.° 40
ANTI-SEMITISMO/ANTIMAÇONARIA
(Em percentagem)
QUADRO N.° 41
VISÃO HIERÁRQUICA
(Em percentagem)
265
Três questões procuram captar algumas dimensões desta
visão pessimista. A primeira diz respeito a uma atitude cética
diante do mito da felicidade e do progresso constante (17); a
segunda, da utopia liberal democrático-liberal ou marxista de um
regime capaz de realizar a igualdade entre os homens (35) e,
enfim, a última, do caráter permanente dos conflitos entre os
homens em decorrência da própria natureza humana (30).
Dois terços dos integralistas não acreditam no progresso
moral ou técnico permanente e a quase totalidade recusa aceitar
a idéia de um desenvolvimento social capaz de superar os con
flitos e as guerras.
QUADRO N.° 42
266
QUADRO N.° 43
VALORES AUTORITÁRIOS
(Em percentagem)
ÉTICA FASCISTA
(Em percentagem)
QUADRO N.° 45
VALORES TRADICIONALISTAS
(Em percentagem)
268
movimento possa ser considerado como fascista, que tenha simi
laridades formais com os fascismos europeus, mas é necessário que
seus próprios militantes tenham consciência desta relação de pa
rentesco. A análise dos textos revelou que os teóricos integra
listas e a imprensa partidária não dissimularam este sentimento
de simpatia para com o movimento fascista; contudo era preciso
elucidar a importância atribuída ao fascismo europeu com uma
questão que tentasse medir o grau de solidariedade moral dos
integralistas com os movimentos fascistas que lutavam contra ini
migos comuns na Europa. Não se tratava apenas de uma atitude
intelectual ou afetiva, mas era indispensável que se exprimisse o
sentimento de que, apesar das particularidades nacionais de cada
movimento, havia a consciência de objetivos comuns que os unia
numa espécie de família fascista internacional (63). A concen
tração das respostas parece confirmar amplamente esta hipótese.
QUADRO N.° 46
N.° Questões
1. Uniformidade Forte * 23
2. Uniformidade Média ♦♦ 25
3. Uniformidade Baixa 8
4. Total de Proposições (56)
♦ I. Homogeneidade 95 a 105.
♦♦ I. Homogeneidade 106 a 120 ou 96 a 80.
••• I. Homogeneidade de menos de 80 ou mais de 120.
270
gentes tendem mais a dissimular sua adesão a certas dimensões
fascistas ou que, tendo em geral um nível de instrução mais
elevado, introduzem mais nuances em suas respostas que os
militantes locais.
c — Radicalismo ideológico
O objetivo é verificar o grau de extremismo ideológico com
parando as atitudes dos militantes da A.I.B. com a dos grupos
de controle não integralistas (10°). Nossa hipótese postula que
os integralistas, com relação às dimensões do fascismo ideológico,
se encontram distribuídos entre as atitudes mais radicais.
O método utilizado foi o da construção de escalas de ati
tudes a partir de um conjunto de questões sobre o fascismo ideo
lógico (20°). Procurou-se, por essa técnica, integrar hierarquica
mente questões individuais constituindo núcleos ideológicos uni-
dimensionais (201). O teste da hipótese supõe, de início, que as
questões administradas se organizam em subconjuntos ideológicos
homogêneos; se esta condição prévia se realiza, o grau de radi
calismo ideológico será medido pela comparação entre os scores
dos três grupos entrevistados, onde se espera sempre uma mais
forte proporção de integralistas nos scores mais elevados.
Utilizando-se as técnicas da análise hierárquica (escalas de
Guttmann e Loevinger), nove escalas de atitude foram construí
das (202) com as principais dimensões do fascismo ideológico,
271
que, elaborados sobre o grupo de controle adulto sào bastante
satisfatórios (203). Enfim, as escalas onde a atitude dos integra
listas é menos homogênea são a de anticonservadorismo, de pre
conceitos e a de fatalismo/pessimismo. Isto parece lógico, ao
menos com relação ao anticonservadorismo numa ideologia onde
o elemento tradicional predomina sobre o reformismo social.
Esta diferença entre os integralistas e os grupos de controle
torna-se mais saliente se analisarmos o conjunto dos scorcs sob a
forma de histogramas de distribuições: os integralistas concentram-
-se sempre em mais forte proporção na coluna da extrema-direita.
Quando se compara o grupo dos integralistas com o grupo jovem
nas escalas de anti-socialismo, de antiliberalismo, de preconceitos
e de fatalismo-pessimismo, estes têm uma atitude que tende a ser
QUADRO N.° 48
Escalas Coeficiente
1. Anti-socialismo 0,70
2. Tradicionalismo 0,68
3. Religião-moral 0,66
4. Anticonservadorismo 0,63
5. Fatalismo-pessimismo 0,62
6. Autoritarismo 0,53
7. Preconceitos 0,49
8. Antiliberalismo 0,46
9. Nacionalismo 0,41
272
QUADRO N.° 49
273
escalas estão fortemente correlacionadas: num total de 36 corre
lações há 33 coeficientes acima de .50 (205). Os coeficientes
de correlação são muito elevados sobretudo em certas dimensões
essenciais ao fascismo ideológico: autoritarismo/anti-socialismo
(0,84); antiliberalismo/fatalismo-pessimismo (0,77). Há tam
bém coeficientes elevados nas correlações clássicas, tais como:
religião-moral/anti-socialismo (0,80); tradicionalismo/religião-
•moral (0,84); nacionalismo/tradicionalismo (0,69).
Na distribuição dos scores dos integralistas no conjunto das
escalas de atitudes sobressaem dois aspectos significativos: o
primeiro é a concentração sistemática da maioria dos integralistas
no score mais elevado; o segundo, o alto grau de adesão às di
versas dimensões ideológicas dos militantes quando se comparam
os scores entre si. Quanto ao primeiro aspecto, a proporção de
integralistas que se situa no score elevado encontra-se num inter
valo de 52% a 92%. Este dado torna-se mais significativo quan
do se compara com o grupo de controle adulto cujo intervalo é
de 50% a 37% e com o grupo jovem de 0% a 10%. Portanto,
o escalonamento dos scores dos adultos se aproxima mais de uma
distribuição “normal”, enquanto que os integralistas se encontram
em maioria num extremo da distribuição (curva em “j”) e os
jovens num extremo oposto (curva em “j inverso”).
O segundo aspecto concerne à adesão da quase totalidade
dos integralistas à escala religião/moral, o que confirma a impor
tância da dimensão espiritual. Se o espiritualismo no plano das
“motivações” de adesão não teve um papel importante, ele se
torna dominante nas atitudes ideológicas (206). Em seguida, por
ordem de importância, vem a atitude nacionalista, que é também
muito forte. Após, sobre o mesmo plano, reagrupando os dois
terços dos militantes, se encontram sucessivamente as escalas de
antiliberalismo, de tradicionalismo, de anti-socialismo e de auto
ritarismo.
274
CONCLUSÃO
275
CONCLUSÃO
277
A derrubada da República Velha, após o movimento re
volucionário de 30, abre novas perspectivas para a ação políti
ca. Salgado posiciona-se ao lado das correntes antiliberais, ten
tando através da Legião Revolucionária de São Paulo e do jor
nal A Razão influir nos acontecimentos. O fracasso destas ten
tativas e a proliferação de grupos intelectuais e movimentos an
tiliberais no país, convencem-no da viabilidade da implantação
nacional de um novo movimento ideológico capaz de beneficiar-
-se da conjuntura política favorável. A Sociedade de Estudos
Políticos (SEP), por ele criada, oferecerá o ambiente ideológico
propício à fermentação da idéia que dará origem à Ação Inte
gralista Brasileira.
O marco de referência interno que explica, pois, o surgi
mento da Ação Integralista Brasileira é a Revolução de 30. Des
de as origens do movimento até sua dissolução, persistiu uma
ambigüidade básica na relação entre o integralismo e a nova
elite política emergente no após 30. As posições do integralis
mo alternam-se entre o cortejo, a cumplicidade e o ódio, cujos
episódios simbólicos são: o desfile de apoio a Getúlio antes do
golpe de 37, o Plano Cohen forjado no interior da A.I.B. e o
atentado ao Presidente da República no Palácio da Guanabara
em 1938.
Se a situação política interna do país proporciona condi
ções ao surgimento de um movimento autoritário e antiliberal,
o conteúdo e o estilo da organização do integralismo, entretan
to, inspiram-se amplamente no fascismo europeu. Não preten
demos afirmar que o integralismo tenha sido exclusivamente
fruto dé um mimetismo ideológico (a tradição do pensamento
político autoritário brasileiro contribuiu também decisivamente
para a formação da doutrina), mas a influência do fascismo
europeu foi, sem dúvida, crucial na configuração da A.I.B. en
quanto movimento político. O fascismo brasileiro teria podido
se desenvolver, no Brasil da década de 30, com características
diferentes, tanto ao nível do discurso ideológico, como da or
ganização. A realidade, porém, foi outra. Sem excluir a exis
tência de outras formas possíveis do fascismo na América La
tina, o estudo da Ação Integralista nos leva a. concluir que os
aspectos centrais de sua ideologia, a forma de organização alta
mente hierarquizada, o estilo carismático e autocrático do poder
do Chefe e, inclusive, os rituais do movimento não se podem
explicar sem a influência do modelo europeu de referência ex
terno.
278
A diversidade de movimentos autoritários no Brasil e na
Europa, entre as duas guerras, faz do Integralismo uma ideolo
gia eclética que, enraizando-se num nacionalismo telúrico, no
messianimo místico da nova raça mestiça e incorporando os
grandes temas do pensamento autoritário brasileiro anterior fun
de-se, numa nova síntese, com o tradicionalismo social e reli
gioso do integralismo lusitano e do salazarismo, o estatismo ro
mano e o corporativismo do fascismo italiano e o anti-semitis
mo de inspiração nacional-socialista. A presença de tendências
ideológicas contraditórias no interior da A.I.B. poderia ter pro
vocado a cisão do integralismo. Todavia, o nacionalismo e o
espiritualismo, esse dois elementos doutrinários de convergên
cia no integralismo, associados à luta contra o liberalismo e o
socialismo, permitiram a coexistência num único movimento de
orientações ideológicas justapostas. O papel conciliador do che
fe integralista teve o mérito de salvaguardar a unidade do mo
vimento, apesar das clivagens permanentes. Tornando-se, por
tanto, o primeiro movimento de massa no Brasil, postulando in
clusive a Presidência da República nas eleições frustradas com
o advento do Estado Novo, o integralismo — que acreditava res
ponder às aspirações de um país jovem e aberto às influências
— foi rejeitado pela história brasileira, como um pesadelo dos
anos 30.
279
CRONOLOGIA
281
FONTES DA CRONOLOGIA
1 — Acontecimentos Brasileiros
SILVA (Hélio), O Ciclo de Vargas (período 1922-1938), X vols., Rio,
Civilização Brasileira, 1964-1971.
SKIDMORE (Thomas), Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-
-1964), Rio, Saga, 1969, 512 pg.
PINHEIRO (Paulo Sérgio), op cit.
CARONE (Edgard), A Primeira República, op. cit.
2 — Acontecimentos Integralistas
A Offensiva
Revista Anauê
3 — Acontecimentos Internacionais
CAVAIGNAC (E.), Chronologie de íhistoire mondiale, Paris, Payot, 1946,
238 p.
BACH-THAI (Jean), Chonologie des Relations Internationales de 1870 à
nos fours, Paris, Éditions des Relations Internationales, 1957, 257 pg.
MILZA (Pierre), Fascismes et idéologies réactionnaires en Europe (1915-
-1945), Paris, Armand Colin, 1969, 96 pg.
HOFER (Walther), Le national-socialisme par les textes. Paris. Plon,
1963, 459 pg.
PARIS (Robert), Les origines du fascisme, Paris, Flammarion, 1969,
140 pg.
283
BRASIL EXTERIOR
julho 1922 (05): Sublevação tencntista da Fortaleza de Co julho 1922: I Congresso do Partido Comunista da China
pacabana
out. 1922 (24): Congresso de Nápoles do Partido Nacional
Fascista
out. 1922 (27-29): Marcha sobre Roma: Mussolini forma o
governo
nov. 1922 (15): Arthur Bemardes assume a Presidência da nov. 1922 (24-29): Plenos poderes a Mussolini dado pela
República Câmara c pelo Senado
nov. 1922 (25): Designação pelo Partido Republicano de nov. 1922: IV Congresso da Internacional Comunista
Borges de Medeiros à Presidência do Estado do Rio
Grande do Sul
dez. 1922 (30): Fundação da U.R.S.S.
jan. 1923 (16): Eleição de Borges de Medeiros e sublevação jan. 1923 (13): Criação do Grande Conselho Fascista
da oposição
jan.-agosto 1923: Revolução da oposição no Rio Grande do
Sul
jan.-set. 1923: Ocupação franco-bclga do Ruhr
nov. 1923 (08): Putsch malogrado dc Hitler cm Munique
dez. 1923 (15): Pacificação do Rio Grande do Sul; assinatura 1923-1931: Ditadura de Primo de Rivera e Berenguer na
do Pacto de Pedras Altas entre o governo e a oposição Espanha
dez. 1923 (23): Fim do estado de sítio; retorno de uma calma
aparente; conspiração militar sob a direção do General
Isidoro Dias Lopes
1924: Revolução em São Paulo jan. 1924: Dissolução do partido nazi; Hitler começa a ditar
Mein Kampf a Rudolf Hess
abril 1924: Eleições gerais na Itália: 65% dos votos, 275
cadeiras à coligação dirigida pelos fascistas
BRASIL EXTERIOR
março 1930 (01): Vitória de Júlio Prestes sobre Vargas nas março 1930: Morto de Primo de Ulveia
eleições presidenciais
abril 1930 (16): Embarque de Salgado para a Europa
maio 1930 (07): Manifesto de Luiz Carlos Prestes propondo
a constituição da Liga de Ação Revolucionária
julho 1930: O Marechal llindenburg dissolve o Relchstag
julho 1930 (26): Assassinato de João Pessoa no Estado da
Paraíba
set. 1930 (14): Sucesso eleitoral de Adolph Hitler na Ale
manha
out. 1930 (03): Revolução nos Estados do Rio Grande do
Sul, Paraíba, Minas e Pernambuco
out. 1930 (10): Resistência à Revolução nos Estados de São
Paulo, Rio de Janeiro, Bahia c Pará
out. 1930: Retomo de Salgado da Europa
out. 1930 (23): As tropas revolucionárias ocupam a Capital
Federal
out. 1930 (24): Queda de Washington Luiz; Junta Militar
Provisória no poder
nov. 1930 (03): Vargas se torna chefe do Governo Provisório
dez. 1930: Os franco-bclgas deixam a Sarre
dez. 1930 (25): Criação do Ministério do Trabalho
jan. 1931: Salgado publica O Esperado
abril 1931: Proclamação da República espanhola
junho 1931 (05): 1." “Nota Política” de Salgado cm a A Razão
agosto 1931 (23): Criação da Legião Cearense do Trabalho agosto 1931 (24): Hitler dá ordem aos membros do Partido
Nacional Socialista de abater a República de Weimar
ui IIIIJ i nwiiiBHUuu.i
BRASIL EXTERIOR
abril 1933 (03): l.° desfile integralista em São Paulo abril 1933 (01): Boicote a magazines judeus
maio 1933 (02): Supressão dos sindicatos na Alemanha
maio 1933: Publicação de Psicologia da Revolução de Plínio
Salgado
julho 1933 (14): Lei contra a reconstituição dos partidos
(Estado e partido único) na Alemanha
julho 1933 (20): Assinatura dc concordata com o Vaticano
set. 1933 (23): Decreto do Estatuto do Trabalho Nacional
Português, inspirado na “Carta dei Lavoro”
out. 1933 (14): A Alemanha deixa a Conferência do Desar
mamento. ..
out. 1933 (19): ... e a Sociedade das Nações (S.D.N.
nov. 1933 (12): 1.' eleição ao Rcichstag desde a proclamação
do partido único (NSDAP: 92% dos votos)
nov. 1933 (14): Discurso dc Mussolini definindo o Estado
Corporativo
nov. 1933: A Constituição dc 1933 instaura em Portugal o
Estado Novo
jan. 1934 (13): Discurso dc Mussolini sobre as leis das Cor
porações
jan. 1934: Salgado publica A Voz do Oeste jan. 1934 (20): Publicação dc “A Ordenança do Trabalho
Nacional” na Alemanha
fcv. 1934: Congresso Integralista de Vitória (Estado do Es fev. 1934 (05): Sindicatos fascistas integrados cm 22 corpo
pírito Santo) rações
fcv. 1934 (06): Golpe de força das ligas dc direita contra
a Câmara dos Deputados cm Paris
março 1934 (03): Aprovação dos estatutos da A.I.B.
BRASIL EXTERIOR
to
«D
Oo BRASIL EXTERIOR
out. 1935 (07): Congresso Integralista de Blumenau (Estado out. 1935: Invasão da Etiópia pelos italianos
de Santa Catarina) com integralistas de seis Estados;
desfile de 42.000 militantes
out. 1935 (19): I Congresso da Província do Rio Grande
do Sul, com a participação de Gustavo Barroso
nov. 1935 (8-9): Congresso Integralista da Bahia
nov. 1935 (23-24): Insurreição comunista de 1935 eclode em
Natal (Estado do Rio Grande do Norte)
dez. 1935: “Carta de Natal” de Plínio aos integralistas
jan. 1936 (04): Salgado ordena a organização de uma con
venção sindical no Estado do Rio de Janeiro
jan. 1936 (11): Salgado fixa a data (7-8 de março) do I
Congresso Nacional Feminino cm São Paulo
jan. 1936 (12): Publicação da lei sobre a dissolução dos
grupos de combate e das milícias privadas (França)
jan. 1936 (13): Dissolução da “Ligue d’Action Française”
fev. 1936: Vitória da Frente Popular na Espanha
fev. 1936: O Chefe Nacional lê o Manifesto-programa da fev. 1936: l.ns manifestações dos “Croix flechées” na Hungria
A.I.B. para concorrer as eleições presidenciais março 1936 (17): Governo alemão aceita ter assento ao Con
março 1936: (07): II Congresso da A.I.B., cm Petrópolis selho da S.D.N.
(Estado do Rio): O integralismo torna-se partido político março 1936 (28): Mussolini presidente da Assembléia das
Corporações no Capitólio; plano de reforma constitucio
nal, econômica e política
março 1936 (29): Refcrcndum. Política hitleriana aprovada
por 90% dos votos
maio 1936 (03): Vitória da Frente Popular na França
maio 1936 (05): Tropas italianas cm Addis-Abcba
BRASIL EXTERIOR
BRASIL EXTERIOR
to
BRASIL EXTERIOR
to
05
BRASIL EXTERIOR
ANEXOS
307
!
310
Montcnegro de Mesquita, Alfredo Peres, Aloísio Meireles, Altevir
Soares, Álvaro Parente, Álvaro Sardinha, Amaurílio Resende, Amazo
nas Duarte, Américo de Araújo, Américo Gasparini, Américo Matran-
gula, Américo Padilha, Américo da Silva Oliveira, Angélico Loureiro,
Antônio de Almeida, Antônio Amélio, Antônio de Andrade Lima,
Antônio Cássia, Antônio Dib Mussi, Antônio Ferreira de Melo Couto,
Antônio Fróis Cruz, Antônio Garchet Santos Reis, Antônio Garcia,
Antônio Jaguaribe, Antônio Lima de Faria, Antônio Pagani, Antônio
Pereira Vieira, Antônio Pompeu de Camargo, Antônio Procópio Tei
xeira, Antônio Ribeiro Fonseca, Antônio de Lima e Silva, Antônio
Soares de Pinho, Antônio Vernhoest, Antônio Viçosa Cota, Archilau
Vivacqua, Aristides Milano, Aristóbulo Soriano de Melo, Armando
Bhering, Armando Paraíso Pereira, Arnaldo Magalhães, Amóbio de
Souza Graça, Arquimedes de Matos, Arsênio Alves de Souza, Artur
Antunes de Morais, Augusto Medeiros, Aurélio Bulhões Pedreira,
Aurélio Rocha, Balbino Moreno, Belísio Cordula, Benedito Antônio
Silvestre, Bento de Almeida Prado, Bcnevenuto José da Silva, Ber-
nardino Souza Ferreira, Bonifácio de Souza, Brasílio Otávio de Sá,
Carlos Machado Júnior, Caetano Spinelli, Caio Marques de Souza,
Cantídio Paes Leme, Carloman Carneiro, Carlos Astrogildo Correia,
Carlos Cavalcanti Fernandes, Carlos Crisci, Carlos Henrique Liberalli,
Carlos Machado, Carlos de Morais Pereira, Carlos Ramos de Azam-
buja, Carlos Seild, Caubi da Silva Rêgo, Ceei Filho, Celestino Cardoso,
Cherubim Chagas, Ciro Resende, Clito Lemos, Clóvis Martins de
Camargo, Colombo de Souza, Conrado Van Erven, Cosme Batista,
Cristóvão Devoto, Custódio Guerra de Carvalho, Dalton Penedo, Darci
Pereira, Dario Bittencourt, Décio Pagani, Deusdedith Cortes Vieira
da Silva, Dilcrmando Rocha, Dulce Thompson, Dantas Mota, Edmun
do Amaral, Edmundo Cavalcanti, Eduardo Gilson, Eduardo Graziano,
Efigênio Salgado, Elias Ferreira de Melo, Emanuel Bittencourt,
Emanuel Bianchi, Emílio Niemeyer, Epifânio Augusto de Oliveira,
Ernani Giudicc, Ernani da Silva Bruno, Etienne Dessaunne, Eugênio
La Maison, Eurico Hildebrando Aurélio Ruschi, Eurico Pontes Lira,
Ezequiel Borges, Fernando Cochrane, Fernando Posa Oiticica, Fer
nando Vieira de Melo, Filemon Barbosa Cordeiro, Filemon da Mata,
Floriano Correia, Floriano Nunes Pereira, Floriano Thompson Steve,
Francisco Aranha, Francisco Edgard de Macedo, Francisco Leite Vi
lela, Francisco de Paula Watson, Francisco Sabóia Barbosa, Francisco
Stella, Francisco Veras Bezerra, Franklin Chaves, Frederico Carlos
Ferreira, Frederico Carlos de Abreu e Souza, Frederico Ferreira Lages,
Frederico Sócrates, Fulvio Mandeta, Gaston Luiz do Rego, Gastão
Cavalcanti de Albuquerque, Gastão Roubach, Genelício Alves Porto,
Genésio Rosa, Georges Leonardos, Gil Guatimozim, Gil Vieira do
Nascimento, Gilberto de Assis Pacheco, Glauco Ribeiro, Guilherme
Rennaux, Hamilton Leite, Haroldo Bezerra Cavalcanti, Helvido Mar
tins, Henrique Bissini, Henrique Pinheiro de Vasconcelos, Hcráclito
Carneiro Ribeiro, Herbert Parentes Fortes, Hormando Fcitosa, Hugo
Berta, Humberto Haniquini de Carvalho, Inácio Prado, Israel Gal-
dino de Souza, Ivete Ribeiro, Ivan Bichara, J. C. Moreira Guimarães,
J. Francia Junior, Jacinto Figueiredo, Jacob Vitali, Jair Tavares,
Jefferson Carlos de Souza, João Alberto da Cunha, João Alfredo
Correia de Oliveira Neto, João Alves da Costa Ourto, João Bar
bosa de Saboia, João Batista Bernardes Lima, João Batista Cerrão,
311
João Cabral, João Cândido, João Carvalho Santos, João Ernesto
Lisboa, João J. Magalhães, João Leães Sobrinho, João Pinheiro
de Andrade Lira, João Queiroz, Joaquim Ccrqueira, Joaquim Fraga
Lima, Joaquim Mendes Contente, Joaquim Vaz da Costa, Jorge
Claudino de Oliveira, Jorge Coury, José Alves Pessoa, José Antônio
Vieira da Silva, José Nolasco, José Apóstolo de Oliveira Neto, José
Bernardo da Silva, José de Campos Sales, José Carlos Monteiro de
Souza, José Cola, José Esteves da Silva, José Ladim, José Fernandes
da Cunha, José Fleury, José Flores, José Francisco de Amorim, José
Guiomar dos Santos, José Muniz Nascimento, José Hcrcili Fleury,
José de Lima Verde, José Madeira de Freitas, José de Oliveira Rangel,
José Rodrigues Leite, José Sanches, José Soares Brandão, José Tcó-
filo Leão de Aquino, José Vieira Mendonça, José Xavier de Melo,
Josias Vaz de Oliveira, Júlio Antonio Martins Vieira, Júlio Oliveira,
Júlio Pinheiro, Júlio dos Santos, Jurandir Costa Campos, Juvcntino
Linhares, Lafayette Mendonça, Lastênio Calmon Júnior, Lauro Maciel,
Leônidas Santos Damásio, Leopoldo Aires, Levi Saldanha, Lincoln de
Carvalho, Luís Amaro Farol, Luís Arruda Campos, Luís da Câmara
Cascudo, Luís Gonzaga Palmeira, Luís Guimarães Araújo, Luís Leite
Oiticica, Luís Morgan Snell, Luís Passarelli, Luís Pujol, Luís de Souza,
Manuel Adolfo dos Santos, Manuel Cláudio da Mota Maya, Manuel
Duarte, Manuel Eloi Alvim Pessoa, Manuel Ferreira, Manuel Messias
de Gusmão, Manuel Neto, Manuel Oliveira, Manuel Pedro de Campos,
Manuel Sobrinho, Marcelo Torres, Maria Teles Ferreira, Marinha da
Rocha Vaz Bernardelli, Marinho de Souza Lobo, Mário Bulhões Ra
mos, Mário Dolores, Mário Giorgi, Mário Marroquim do Nascimento,
Mário Reis, Martinho Penteado da Silva Prado, Maurício de Andrade,
Maurício Lincoln de Abreu, Melchiades Rodrigues Monte, Miguel
Seabra, Milcíades Ponciano Jaqueira, Milton Albuquerque, Moacir
Aguiar, Moacir Barbosa, Mucio Murgel, Nelson de Castro Silva, Nel
son Dantas, Nelson de Oliveira, Nilo de Souza Pinto, Nilza Peres,
Oldemar Finkenauer, Olympio Mourão, Ornar de Freitas Almeida,
Onésimo Coelho, Orlando Ribeiro da Costa, Orlando Sampaio, Olde
mar Lacerda, Osmário do Prado Leite, Osni Campeio, Osolino Tava
res, Oswaldo Ferraz, Oswaldo Nicácio, Oswaldo Urioste, Otaviano
Santos, Oto Guerra, Ottocar Rodolfo Grubbe, Paulo Aguirre Neiva,
Paulo Figueira de Melo, Paulo Japiassu, Paulo Paulista de Ulhoa Cin
tra, Paulo Salvador, Paulo Vieira da Rosa, Pedro Amaral, Pedro
Bentes, Pedro Carneiro Leães Sobrinho, Pedro Ferreira, Pedro Ivo
Rostney, Pedro Morais, Peri da Silva Quintais, Pio Sampaio, Pompílio
Espinheira, Ponciano Stenzel dos Santos, Raimundo Alves da Rocha,
Raimundo Correia de Araújo, Raimundo Ribeiro Roland, Ramilson de
Sá Barreto, Ramiro Coutinho, Raul Dias Cardoso, Raul de Melo Sen-
ra, Renato Egídio de Souza Aranha, Renato Heinselmann, Renato Viei
ra da Silva, René Pena Forte Chaves, Ribas Farias, Ribeiro de Barros,
Ricardo Grewaldt, Roberto Duque Estrada, Rocha Loures, Rodolfo
Figueira de Melo, Rodolfo Weickert, Rodomarque Barros de Mendon
ça, Romano Toffoli Guião, Rômulo Mercuri, Rosalvo Wyne Queirós,
Rubens Marcondes, Rui Prcsscr Belo, Sálvio de Sá Gonzaga, Samuel
Teixeira Magalhães D. Santa Guerra, Sebastião do Banho, Sebastião
Cardoso d’Ávila, Serafim Lacerda, Sérgio Severo, Scverino Novais,
Severino de Resende, Silvério dcl Caro, Sílvio de Couto Prado, Sílvio
Freire, Sílvio Vieira da Silva, Sílvio Wright Neto Machado, Sinfrônio
312
Brochado Júnior, Sinval Carvalho, Teimo Amorim Pontual, Teófilo
Canduru, Teófilo Costa, Tomás dc Aquino, Tibiriçá de Oliveira,
Tito Carlos Pereira Filho, Ulisses da Rocha Pereira, Vai de Lírio
Pimentel, Valdcmar de Almeida, Valdemar Coutinho, Valdemar de
Sá Peixoto Detarto, Valdcmar Stelita Romeiro de Melo, Valdomiro
Vasconcelos Ferreira, Valter Brandão de Oliveira Aguiar, Vajter Ca
valcanti, Venceslau Dytz, Virgílio Guade Fleury, Virgílio Vieira Ro-
mão, Victor Romaigna, Volney Loureiro Tavares, Wilson Coutinho,
Wilson Ferreira, Wolfram Mctzler, Zcferino Contrucci, Zenóbio Ra
mos, Zigler dc Paula Bueno.
313
II — EXPANSÃO GEOGRÁFICA DA AÇÃO
INTEGRALISTA (♦)
(período de dezembro de 1934 a julho de 1937)
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista
193 4
dezembro São José dos Pinhais id. Paraná
id. Guaraqueçaba Campo Tenente id.
id. Guaratu id.
id. Rio de Janeiro
id. Perdição id.
id. Caeté id.
id. Dona Emília id.
id. São Sebastião da
Vista Alegre id.
id. São Lourenço id.
id. Varre Sae id.
id. Santa Clara id.
id. Jacutinga id.
id. Santana do Rosai id.
id. Itaperuna id.
id. Retiro id.
id. Carangola id.
id. Bom Jesus do Que
rendo id.
id. Bom Jesus do Ita-
peruna id.
193 5
janeiro Lambari Marcelino Ramos Rio Grande do
Sul
id. Anna Rech Caxias do Sul id.
fevereiro Flores Rio de Janeiro
id. Posto Novo Minas Gerais
id. Floriano Rio de Janeiro
id. Paulo Bento Erechim Rio Grande do
Sul
id. Alegrete Alegrete id.
id. Maceió Alagoas
São José da Laje id.
id.
id.
id. Rio Largo
id.
id. Penedo
315
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista
193 5
id. São Luís de Quin-
tunde Alagoas
id. Alagoas id.
id. Porto Real do Co
légio id.
id. Murici id.
id. Pilar id.
id. São Miguel de
Campos id.
id. Levada id.
id. Pontal da Barra id.
id. Serra Grande id.
id. Santa Luzia do
Norte id.
março São Gonçalo Paraíba
id. Penha Rio de Janeiro
junho Datas Diamantina Minas Gerais
julho Pedro do Rio Rio de Janeiro
id. Riachuelo id.
agosto id. Júlio de Castilhos Rio Grande do
Sul
id. Areado Minas Gerais
id. São Gonçalo Rio Grande do
Sul
id. Cardoso Moreira Rio de Janeiro
id. São Luís id.
id. Murundu id.
id. São João da Barra id.
id. Santa Maria id.
id. Santo Eduardo id.
setembro Bom Retiro Taquari Rio Grande do
Sul
id. Padilha Taquara id.
id. Rochedo id. id.
outubro Pinhal Júlio de Castilhos id.
193 6
janeiro SanfAna Taquari Rio Grande do
Sul
junho Salvador Montcnegro id.
julho Serro Preto Jacuí id.
id. Novo São Paulo Cachoeira do Sul id.
id. Arroio da Bica São Leopoldo id.
id. Arroio Canoas Montenegro id.
316
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista
193 6
julho Campo Vicente Taquara Rio G. do
Sul
id. São José da Glória Carazinho id.
id. Não-me-Toque id. id.
agosto Uruguaiana Uruguaiana id.
setembro Vacaria Vacaria id.
id. Pcssegueiro Missões id.
id. Quilombo Candelária id.
id. Rincão das Caras id. id.
id. Vila Zimmermann Estrela id.
id. Gctúlio Vargas Gctúlio Vargas id.
outubro Lavras do Sul Lavras do Sul id.
novembro Erebango Erechim id.
id. Ligeirinho id. id.
id. Santo Antônio id. id.
id. Desvio Giareta id. id.
id. Gramado id. id.
id. São Roque id. id.
id. José Velho Taquara id.
id. Serra Grande id. id.
dezembro Sampainho Lajeado id.
id. Buriti Santo Ângelo id.
id. Entre Injuins id. id.
id. Primeiro Distri. Jacuí id.
id. Colônia Buriti id. id.
id. Itaqui Itaqui id.
id. Linha Gal. Osório Santa Cruz do Sul id.
1937
janeiro Linha Ávila Taquara
317
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista
1937
janeiro Santo Cristo Santa Rosa Rio Grande do
id. Viadutos Erechim Sul
id. Lajeado Esperança id. id.
id. Sessscnta Flores da Cunha id.
fevereiro Rancho Grande Marcelino Ramos id.
id. Lajeado Paulino id. id.
id. Tamanduá id. id.
id. Vila Jacuí Jacuí id.
id. Pinhal Velho Santa Maria id.
id. Mata São Vicente id.
id. Lomba Grande São Leopoldo id.
id. Rio Ligeiro Getúlio Vargas id.
id. Campo Novo Palmeira das Mis
sões id.
id. Três Passos id.
id.
id. Sta. Teresinha id. id.
id. Armação Niterói Rio de Janeiro
id. Santiago do Bom
Sucesso id. Minas Gerais
id. Tabuleiro do Pom
bal id. id.
março Boca da Serra São Francisco de Rio Grande do
Paula Sul
id. São José Santa Maria id.
id. Parati id. Santa Catarina
id. Orleans id. id.
id. Bom Retiro id. id.
id. Laguna id. id.
id. Frederico Westpha- Rio Grande do
len Palmeira Sul
id. Taquaraçu da For
taleza id. id.
id. Jaguari Jaguari id.
id. Harmonia São Lourenço id.
id. Três Vendas Cachoeira do Sul id.
id. Passo do Inferno São Francisco de
Paula id.
id. Irai Irai id.
abril Flores da Cunha Flores da Cunha id.
id. Antônio Prado Antônio Prado id.
id. Bento Gonçalves Bento Gonçalves id.
id. Solitária Taquara id.
id. Nova Feltre São Sepé id.
id. Serro Branco São Pedro id.
id. Palmas Bagé id.
318
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista
1 93 7
abril Linha Dona Belinha Santa Rosa Rio Grande do
id. Pesscgueiro Camaquã Sul
id. Arroio Grande Santa Maria id.
id. Sertão Passo Fundo id.
P! Mesquita id. Rio de Janeiro
id. Igreja Nova id. Alagoas
id. Rio Doce id. Minas Gerais
id. Ubatuba id. São Paulo
id. Ituveraba id. id.
maio Cruz do Lajeado Maranguapc Ceará
id. Santa Lúcia São Luís Gonzaga Rio Grande do
Sul
id. Picada Vinagre Arroio do Meio id.
id. Conserva Lajeado id.
id. Paraíso Candelária id.
id. Ferraz Santa Cruz do iSulI id.
id. Formosa id. id.
id. Linha Bernardina id. id.
id. Rio Pequeno id. id.
id. São Martinho id. id.
junho Restinga Seca Santo Ângelo id.
id. Dois Córregos Jaú São Paulo
id. Brotos id. id.
julho Colônia São Brás Camaquã Rio Grande do
Sul
id. 15 de Novembro Cruz Alta id.
id. São Sebastião do São Sebastião do
Caí Caí id.
id. Linha 23 Ijuí id.
id. Cubango id. Rio de Janeiro
id. Pouso Alto Cidade Velha Minas Gerais
id. São Domingos Muqui Espírito Santo
id. Fazenda Harmonia João Pessoa id.
id. Vila de Lage id. Bahia
id. Itaparica id. id.
id. Granja id. Ceará
id. Santo Amaro Muniz Freire Espírito Santo
id. Amorim id. id.
id. Conceição id. id.
id. São Cristóvão id. id.
id. Alto Bérgamo Pau Gigante id.
id. Lajeado Cuiabá Mato Grosso
id. Rosário id. Maranhão
id. Rio Corrente Irati Paraná
id. Seminário Curitiba id.
id. Rio Branco id. id.
319
Lugar de
Data implantação do Cidade Estado
núcleo integralista
1937
julho Braço do Norte Tubarão Santa Catarina
id. São José id. id.
id. Barra Grande Cristina Minas Gerais
id. Dores de Santa Ju-
liana Uberaba id.
id. Laginha Cataguazcs id.
id. Desterro Barbacena id.
id. Jurumirim Rio Casca io.
id. Sto. Antônio Da-
lagda Curvclo id.
id. Pitangui id. id.
id. São Pedro da Glória Carangola id.
id. Areado Eng. Lopes id.
id. Bocaiuva id. id.
id. Patrimônio Tombos id.
id. Laginha id. id.
id. Córrego id. id.
id. Pereiras id. id.
id. Serra id. id.
id. Quintin id. id.
id. Fazenda São José id. id.
id. Toledo Filho Santa Rita
Jacutinga id.
d. Pains Formiga id.
d. Arcos id. id.
d. Serrado id. id.
d. Falhas id. id.
d. Padre Doutor id. id.
d. Loanda id. id.
d. Córrego do Fundo id. id.
d. Albertos id. id.
d. Córregos Fundo de
Cima id. id.
id. Padre Trindade id. id.
id. Pouso Alegre id. id.
id. Rio Piracicaba id. id.
id. Ferros id. id.
id. Ponte Nova id. id.
id. Barrinha id. id.
id. Campos Gerais id. id.
id. Campo do Meio id. id.
id. Acaiaca Mariana id.
id. Cachoeira Alegre São João da Barra Rio de Janeiro
id. Mossu Repe id. id.
id. Guissahy id. I id.
320
Lugar de T Cidade Estado
Data implantação do
núcleo integralista
1 9 37
julho Santa Rita do Rio
Negro Cantagalo id.
id. Santa Rita Cordeiro id.
id. Capivari Rio Claro id.
id. Cachoeira Alegre id. id.
id. Mutum id. id.
id. Santa Maria Mada
lena id. id.
id. Paracambi id. id.
id. Fazenda Sertão São Marcos id.
id. Caju São Cristóvão Guanabara
id. Benfica id. id.
id. Guara P. Ranca id. São Paulo
id. São José da Bela
Vista id. id.
id. Trcmcmbé id. id.
id. Serra Azul id. id.
id. Cristais id. id.
id. Capclinha São Joaquim id.
id. Cunha Guaratinguctá id.
id. Bocaiuva Jaú id.
id. Indianópolis id. id.
id. Ribeirão Vermelho id. Minas Gerais
id. União do Quatro id. São Paulo
id. Santa Bárbara id. id.
id. Santa Ernestina id. id.
id. Itobi Casa Branca id.
id. Itatinga Pcnápolis id.
id. Alto Alegre id. id.
321
QUESTIONÁRIOS
323
I — ENTREVISTA SEMIDIRETIVA
(DIRIGENTES NACIONAIS/REGIONAIS)
A — DISSERTAÇÃO
01 — O que significou para o senhor sua adesão ao Integralismo?
B — BIOGRAFIA POLÍTICO-IDEOLÓGICA
02 — Como conheceu o movimento integralista?
03 — Em que ano aderiu ao Integralismo?
04 — Como explicaria sua adesão?
05 — Que funções exerceu no movimento?
06 — Antes de sua adesão ao Integralismo, pertenceu a outras
organizações políticas, culturais ou religiosas?
07 — Seus melhores amigos também simpatizavam com o Integra-
lismo?
08 — Eles também entraram no movimento, ou sua adesão foi
individual?
09 — Seus pais interessavam-se por política?
10 — (Se sim) Com que movimentos ou partidos tinham mais afi
nidades?
11 — A adesão ao Integralismo dava-se predominantemente entre
que categorias sociais?
12 — Quais eram as condições para aderir-se ao movimento?
13 — Como se organizava intemamente a A.I.B.?
14 — Existe, na sua opinião, alguma diferença entre a Ação Inte
gralista e o PRP?
15 — Como explicaria a forte implantação do Integralismo no Rio
Grande do Sul?
C — IDEOLOGIA INTEGRALISTA
mais importantes
16 — Quais eram, na sua opinião, os problemas
do país na década de 30? movimento
17 — 0 que pretendia Ação Integralista enquanto
pretendia aa Ação
político? integralista
18 — Quais os aspectos da — doutrina ou do programa
com os quais concordava mais. programa ?
19 — Discordava de alguns aspectos da doutrina ou
325
20 — Na sua opinião, quais seriam algumas características da so
ciedade imaginada pelo Intcgralismo para o Brasil?
T
21 — Que ideologias considera incompatíveis com o> Intcgralismo?
22 — Que ideologias considera ter afinidades com o Intcgralismo?
23 — Que fatos políticos da época, ocorridos dentro ou fora do
Brasil, na sua opinião, tiveram alguma importância na for
mação ou evolução da ideologia integralista?
24 — Quais eram os pensadores brasileiros que mais influíram sobre
os teóricos do Intcgralismo?
25 — Freqücntemente os teóricos integralistas referem-se a uma
série de pensadores europeus (Sorel, Maurras, Pareto, Barrès,
Sardinha, Primo de Rivcra, Rocco, etc.): que contribuição
estes autores teriam dado à doutrina integralista?
26 — Houve alguma influência da doutrina social católica sobre a
ideologia integralista?
27 — Qual era a atitude da Igreja e dos católicos com relação ao
Integralismo?
28 — Na sua opinião, a ideologia integralista evoluiu ou sempre
permaneceu a mesma?
29 — (Se sim) Em que evoluiu?
A que se deve tal evolução?
Na sua opinião, ela foi positiva ou negativa para o movi
mento?
30 — Na sua opinião, sempre houve acordo ou haviam posições
divergentes entre os teóricos do integralismo?
31 — (Se sim) Com que teóricos estava mais de acordo?
32 — Qual o significado da revolução integralista quanto aos seus
objetivos e métodos?
33 — Como se organizaria o Estado Integral?
34 — Quais as vantagens da democracia orgânica sobre a demo
cracia liberal?
35 — O Integralismo era favorável à forma monárquica de go
verno?
36 — Como se organizaria o corporativismo integralista?
37 — Qual era o papel do Chefe Nacional?
38 — Qual era a função das Milícias?
39 — Qual o significado dos símbolos integralistas?
40 — Como se caracterizaria o nacionalismo integralista?
D — ATITUDES POLÍTICAS
41 — Qual foi o significado da Revolução de 30 para a sociedade
brasileira?
42 — E o período getulista?
43 — Como interpreta a evolução política do Brasil nas últimas
duas décadas?
44 — Algumas pessoas falam em ameaças que pesam sobre o Brasil:
por quem ou por que coisas o Brasil está ameaçado atual
mente?
45 — Na sua opinião, quais os problemas mais importantes que
enfrenta o Brasil atualmente?
46 — Quais as perspectivas da doutrina integralista em nossos dias
c no futuro?
326
II — QUESTIONÁRIO
(DIRIGENTES/MILITANTES LOCAIS)
327
5. profissionais liberais
6. comerciantes e industriais
7. padres
8. militares
9. classe média em geral
(07) COMO EXPLICARIA O DESENVOLVIMENTO DO INTE-
GRALISMO EM SUA REGIÃO?
328
(16) QUE ACONTECIMENTOS OU FATOS POLÍTICO-SOCIAIS
MAIS INFLUÍRAM EM SUA MANEIRA DE PENSAR, ANTES
DE SUA ADESÃO AO INTEGRALISMO? (Indicar até três, em
ordem)
b) no plano social:
c) no plano político:
329
III — CONTEXTO INDIVIDUAL
01 — Sexo: 02 — Cor:
03 — Estado Civil: 04 — Idade:
05 — Onde nasceu?
13 — Religião:
1. católica
2. protestante
3. espírita
4. israelita
5. outra (especificar) ............. _
6. sem religião
14 — Com que freqüência participa de atividades religiosas?
1. uma vez por semana ou mais
2. uma ou duas vezes por mês
3. umas poucas vezes por ano
4. nunca
14.a — Qual a importância da religião em sua vida?
1. muito importante
2. pouco importante
3. nenhuma importância
15 — Origem étnica:
paterna:
materna:
★
16 — Número do Questionário:
17 — Local da Entrevista: __
330
IV — ATITUDES IDEOLÓGICAS *
(DIRIGENTES REGIONAIS/MILITANTES LOCAIS)
GOSTARIA DE SABER SE
ESTÁ EM ACORDO OU EM CONCORDA DISCORDA
DESACORDO COM AS SE
GUINTES FRRASES: CM CP DP DMM
331
12 — Nem todos os povos tem o CONCORDA DISCORDA
mesmo grau de inteligência e
capacidade para o trabalho. CM CP DP DM
13 — Os militares são a mehlor ga
rantia da segurança nacional. CM CP DP DM
14 — O governo não deve limitar o
direito da greve. CM Cr DP DM
15 — Não há solução isolada para
os problemas nacionais; ne
cessitamos de uma reformula
ção global c unitária das es
truturas da nação. CM CP DP DM
16 — O espírito burguês dominante
em nossas elites tem retardado
o desenvolvimento do país. CM CP DP DM
17 — Embora a história esteja cm
constante movimento, não
creio no mito da felicidade e
do progresso indefinido. CM CP DP DM
18 — A juventude brasileira atual
precisa é de disciplina para o
corpo e para o espírito. CM CP DP DM
19 — O Brasil precisa de uma polí
tica externa independente, con
tra todas as formas de impe
rialismo. CM CP DP DM
20 — A integridade da soberania na
cional não pode jamais subor
dinar-se a nenhum interesse
ou valor internacional. CM CP DP DM
21 — A obediência e o respeito à
autoridade dos pais são as
principais virtudes que deve
mos ensinar a nossos filhos. CM CP DP DM
22 — É preciso estimular o desen
volvimento de uma nova elite
de homens íntegros, enérgicos
e capazes para restaurar a dig
nidade da nação e seu pro
gresso. CM CP DP DM
23 — O futuro da América Latina
depende de nossa capacidade
de resistir ao perigo comunista. CM Ci DP DM
24 — A socialização crescente dos se
tores básicos da indústria na
cional c estrangeira é necessá
ria ao desenvolvimento do país. CM CP DP DM
25 — O liberalismo, fruto da Revo
lução Francesa, é um dos males
da nossa civilização. CM CP DP DM
26 — A dominação oilgárquica da
política e da economia é um
dos nossos maiores males. CM CP DP DM
332
27 — A revolução cubana represen CONCORDA DISCORDA
tou um progresso social para
a América Latina. CM CP DP DM
28 — Um dos problemas mais gra
ves da civilização contempo
rânea é a decadência dos prin
cípios morais c religiosos. CM CP DP DM
29 — O sistema capitalista produzi
do pelo liberalismo econômico
implantou a grande indústria,
sufocando o artesanato, o que
foi uma coisa ruim. CM CP DP DM
30 — Tal como é a natureza huma
na sempre haverá guerras c
conflitos. CM CP DP DM
31 — Os judeus são associados ao
surgimento do comunismo c
capitalismo internacionais. CM CP DP DM
32 — As Forças Armadas represen
tam a elite mais preparada da
nação. CM CP DP DM
33 — A democracia liberal é o re
gime político adequado para
as nações em desenvolvimento. CM CP DP DM
34 — A fidelidada à doutrina e ao
Chefe deve ser o fundamento
ético de toda organização po
lítica. CM CP DP DM
35 — A democracia é um ideal igua
litário inatingível. CM CP DP DM
36 — A intervenção dos militares
contra o govemo Goulart foi
necessária para acabar com a
anarquia. CM CP DP DM
37 — O Brasil necessita continuar
ainda com um governo forte
apoiado nas Forças Armadas
para manter a ordem. CM CP DP DM
38 — A organização das classes em
corporações não é a solução
para a luta entre grupos sociais. CM CP DP DM
39 — Conservar a tradição nacional
é garantir a identidade da pá
tria c seu progresso. CM CP DP DM
40 — O Brasil tem uma missão his
tórica a cumprir na evolução
da humanidade. CM CP DP DM
41 — Precisamos de um Estado for
te, nascido das próprias raízes
da nação, que paire acima dos
partidos, grupos financeiros
ou classes. CM CP DP DM
333
42 — Não há diferença substancial CONCORDA DISCORDA
entre socialismo e comunismo. CM CP DP DM
43 — Os partidos políticos c o su
frágio universal dividem a na
ção. CM CP DP DM
44 — Não existe nenhum interesse
que supere os interesses da
nação. CM CP DP DM
45 — A perda do senso de hierar
quia está na raiz dos nossos
problemas. CM CP DP DM
46 — O Brasil sempre precisou de
um homem providencial, com
qualidades excepcionais, para
tirar o país da crise em que
vivemos há muito tempo. CM CP DP DM
47 — É preciso até mesmo usar da
violência para impedir a cx-
pansão do comunismo. CM CP DP DM
48 — A crise interna da Igreja pós-
-conciliar é um progresso in
discutível para a renovação
da religião tradicional. CM CP DP DM
49 — A realização dos objetivos da
nação é mais importante que
a existência de eleições com
sufrágio universal. CM CP DP DM
50 — Desde a Proclamação da Re
pública, instaurou-se no país a
instabilidade política, a cor
rupção c as crises periódicas. CM CP DP DM
51 — A milícia integralista, além da
formação moral e cívica, tinha
como função proteger o movi
mento contra os ataques de
seus inimigos. CM CP DP DM
52 — O Segundo Império foi o apo
geu de nossas instituições po
líticas, não por ser parlamen
tarista, mas porque o regime
monárquico era a base do seu
equilíbrio. CM CP DP DM
53 — Não existe problema racional
no Brasil porque os negros
aceitaram sua posição de infe
rioridade. CM CP DP DM
54 — A revolução de 64 está reali
zando verdadeiramente seus
objetivos. CM CP DP DM
334
55 — No mundo sempre haverá po CONCORDA DISCORDA
vos superiores c inferiores e,
para o bem de todos, é melhor
que os superiores governem o
mundo. CM CP DP DM
56 — A Igreja não está infiltrada de
esquerdistas. CM CP DP DM
57 — O que o país mais necessita,
cm vez de leis c programas po
líticos, é de chefes. CM CP DP DM
58 — O planejamento estatal da
economia, conforme os inte
resses da nação, tem primazia
sobre os interesses da inicia
tiva privada. CM CP DP DM
59 — Nosso país precisa de uma
profunda transformação das es
truturas sócio-econômicas su
peradas. CM CP DP DM
60 — O espírito judaico é uma
ameaça permanente para a
humanidade. CM CP DP DM
61 — O Congresso deve permanecer
fechado porque é inteiramen
te dispensável. CM CP DP DM
62 — O “nacionalismo realista” de
nuncia a espoliação do nosso
povo pelo capitalismo interna
cional. CM CP DP DM
63 — Embora o integralismo fosse
um movimento genuinamente
nacionalista, sentia-se moral
mente solidário com os movi
mentos políticos europeus que
exaltavam valores semelhan
tes, como reação ao materia-
lismo liberal e marxista. CM CP DP DM
64 — Devemos conceder a empresas
estrangeiras a exploração de
nossas riquezas minerais. CM CP DP DM
65 — Cultivamos como valor funda
mental o espírito da amizade,
que queremos elevar ao nível
da amizade nacional. CM CP DP DM
66 — O Brasil precisa de uma re
forma agrária profunda, inclu
sive com desapropriação de
terras da aristocracia latifun
diária. CM CP DP DM
67 — Falta às gerações atuais o gos
to pela aventura c pelo sacri
fício à pátria. CM CP DP DM
335
68 — A plutocracia capitalista goza CONCORDA DISCORDA
de privilégios mais amplos do
que os privilégios antigos da
nobreza e do clero. CM CP DP DM
69 — Todos devemos ter fé absolu
ta em um poder sobrenatural
cujas decisões temos que acei
tar. CM CP DP DM
70 — Toda organização secreta arti
culada internacionalmente, co
mo a maçonaria, deve ser
combatida. CM CP DP DM
71 — Mesmo o chamado socialismo
democrático deve ser combati
do por todos os meios. CM CP DP DM
336
HISTOGRAMAS E CORRELAÇÕES
337
H I S TOGRAMAS DE DlSTRIBUIÇOES
( EM PERCENTAG E M )
l | i L_
O I 2 3 4 0 12 3 4 5 6 7 0 12 3 4 5
0 1 2 3 4 0 12 3 4 5 6 7
□0 I 2 3 4 5
n
c-6/Jovem c • 6/Jovem
c • 6/ Jovem
0 | 2 3 4 0 1 2 3 4 5 6 7
ttb
0 I 2
~~~|
3 4 5
| l
339
RELIGIÃO/ MORAL FATALISMO/PESSIMISMO PRECONCEITOS
O 4 O I 2 3 O I 2 3 4
O I 2 3 4 O I 2 3 O I 2 3 4
ZZJ
O I 2 3 O I 2 3 O I 2 3
l
340
A/LIBERALI SMO A/CONSERVADORISMO TR A D I C I 0 NALISMC
i—
O I 2 3 4 O I 2 3 4
O I 2 3 O I 2 3 4 O I 2 3 4
O I 2 3 4 2 3 4 O I 2 3 4
341
QUADRO N.° 50
o
g O
o
S sW b
w
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OO o° •<
3 s
I w
O
5°
O
sl
o
zo
(j£
5? Po bw
<M
W
bS KS fu b Ê
I I í I
NACIONALIS I I + 0,58 | +0,62 |
MO | +0,61 | +0,59 + 0,62- + 0,54 | +0,69 + 0,54
_____ 1______ ' I I I
AUTORITA
RISMO + 0,61 1
I I
I +0,84 + 0,67
I
I
+ 0,58 | +0,61
|
+ 0,75 | + 0,72 | +0,60
____ L___ J _______ I I___________ I
+ 0,57 ! +0,68 I I
ANTI-
-SOCIALISMO + 0,59 | +0,84 + 0,66 + 0,80 | +0,65 | +0,57
]______ I I ______ I_______ L
I ’| 1 I I
ANTI- I I I + 0,72 | +0,77 |
LIBERALISMO + 0,62 í + 0,67 | +0,66 I +0,74 | +0,68 + 0,61
______ I _____ 1____ I I____ 1 I
1 | |
ANTI- | +0,38
CONSERVA- + 0,54 | +0,58 + 0,57 + 0,74 + 0,49 | +0,35 | +0,51
TISMO I _______ I______ I I
I
TRADICIONA- I
LISMO + 0,69 + 0,61 + 0,68 + 0,68 + 0,38 | + 0,86 | +0,50 I +0,59
______I ____ L___ I
i I
RELIGIAO- I I I +0,61
-MORAL + 0,58 + 0,75 + 0,80 + 0,72 + 0,49 | +0,86 | +0,66
_______ I I j______
FATALISMO-
-PESSIMISMO + 0,62 + 0,72 + 0,65 + 0,77
I
+ 0,35 |
+ 0,50 + 0,66 |
I
I +0,57
I I I I______
I
4-0.59 + 0,61 [ + 0,57 |
I
PRECONCEITOS + 0,54 + 0,60 | +0,57 + 0,61 + 0.51
I
I I ___ III
______ I
342
ESCALAS DE ATITUDES IDEOLÓGICAS
CÁLCULO DO COEFICIENTE DE LOEVINGER(*)
1) Escala de Nacionalismo
3 . CAPIT/INTERNAC (62)
4.SOBER/NAÇÃO (20) .6I5(442) .3 3 0 .399
.692(62^) .5 3 3 .4 2 9 .4 6 I
343
2) Escala de Autoritarismo
QU E STO E S
I FIDE L/CHEFE ( 34 )
2 HOMEM/PROVID (46 )
3 NECESS/CHEFES ( 57 )
4 ESTADO/FORTE (41)
5 OBDIEN /AUTOR (21)
6 NOVA/ ELITE ( 22 )
7 DISCIPLINA (18)
. 354(34,) . 437
1. A/SOCIAL (71)
2. VIOLEN/A-COMUN (47) .138(71!) ,655
3. AMEAÇA/COMUN (23)
4. PROPR/PRIV (03) .308(47!) .659 .757
5. REVOL/CUB (27)
462(23|) .58 I .813 .777
4) Escala de Antiliberalismo
As questões desta escala se agrupam em torno de quatro temas anti-
liberal
liberais: a recusa da doutrina liberal (25), a condenação do Estado libei
(07), a rejeição
. . dos mecanismos da democracia liberal (49) e, enfim,
ceticismo face ao ideal democrático (35).
QUESTÕES .908 .708 .508 .231
( 25 ( )( 07 | ) ( 35( )('492 )
I . A/LIBER (25)
2. ESTADO/LI BER (07) .092(25j) .469
3. DEMOC/IRREAL (35)
4. ELEIT/SUFRAG (49) .292(07! ) .455
.492(35j) .517
.769(49 ) .377
2
345
5) Escala de Anticonservadorismo
I . A/CAPIT (29)
2. A/BURGUES (16) . 154(29] ) .862
3. MUDANÇA/GLOBAL (15)
6) Escala de Tradicionalismo
I.ORGAN/CORPOR (38)
2. PRE/CAPIT (29) . 246(38^) .648
3. PODER/SO.BRENAT (69)
4. GRUPOS/NATURAIS (05) .400(292) .536
.662(69^) .796
.877(05^' •806
346
7) Escala de Religião-Moral
I . HOMEM/VIRTUOSO (02)
2. PODER/SOBRENAT (69) .400(02)) .779
3. DECAD/MORAL (28)
4. CONVERS/ESPIRIT (II) .662 (693) .770 .667
8) Escala de Eatalisrno-Pessimismo
1. POVO/SUPER (55)
2. QUERRAS/CONFLITOS (30) .292 (55) .672
347
9) Escala de Preconceitos
348
1) Escala dc Rcligiào-Moral
8) Escala dc Fatalismo-Pessimismo
349
9) Escala de Preconceitos
350
BIBLIOGRAFIA
351
BIBLIOGRAFIA
I _ OBRAS INTEGRALISTAS
a) Doutrina
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SALGADOPfpi.), “A Doutrina do Sigma", pp. 173-236, in:Obras Com
pletas, Vol. X, São Paulo, Edit. das Américas, 19.55-
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SALGADO (Pl.), Despertemos a Nação. Rio, José Olympio, 1935,199 PP-
SALGADO (Pl.), “Direitos c Deveres do Homem , pp. 165-421,m. uo
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Brasileira, 1950, 233 pp. . n. T ;vr clássica
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São Paulo, “■ **
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SALGADO (Pl.), “Páginas de Combate”, pp. 237-249, in: Obras Com
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SALGADO (Pl), Was ist der Integralismus? Blumenau, 1936, 106 pp.
b) Literatura
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II — DOCUMENTOS INTEGRALISTAS
356
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OS MILITARES E O DESFILE INTEGRALISTA DE 1937
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III — ARTIGOS
357
—“O Horror das Responsabilidades”, A Razão, 1 de julho de 1931.
— “Marcha-Ré”, A Razão, 14 de julho de 1931.
— “O cidadão e o Estado”, A Razão, 17 de julho de 1931.
— “Panorama III”, A Razão, 2 de agosto de 1931.
— “Movimento”, A Razão, 8 de agosto de 1931.
— “Força contra Força”, A Razão, 8 de agosto de 1931.
— “Rumo Provável dos Partidos”, A Razão, 12 de agosto de 1931.
— “A Hora dos Partidos”, A Razão, 13 de agosto de 1931.
— “Renovação”, A Razão, 14 de agosto de 1931.
— “Tipos de Ditadura”, A Razão, l.° de setembro de 1931.
— “A verdadeira concepção do Estado”, A Razão, 4 de setembro
de 1931.
— “O Município”, A Razão, 6 de setembro de 1931.
— “Os Rumos da Proccla”, A Razão, 18 de setembro de 1931.
— “O Passado e o Futuro”, A Razão, 20 de setembro de 1931.
— “Homens e Instituições”, A Razão, 30 de setembro de 1931.
— “O Sentido Imperialista das Democracias”, A Razão, 2 de ou
tubro de 1931.
— “O Primeiro Aniversário”, A Razão, 3 de outubro dc 1931.
— “Regimens Políticos”, A Razão, 21 de outubro dc 1931.
— “As Fontes do Espírito Nacional”, A Razão, 19 dc novembro
de 1931.
— “A Tragédia do Século”, A Razão, 22 dc setembro de 1931.
— “A Bandeira do Brasil”, A Razão, 21 de novembro de 1931.
— “O Baile de Máscaras”, A Razão, 25 de novembro dc 1931.
— “A Constituinte”, A Razão, 27 de novembro de 1931.
— “Preparação para a Constituinte”, A Razão, 1 de dez. dc 1931.
— “Do Liberalismo ao Comunismo”, A Razão, 2 de dez. dc 1931.
— “Evitemos o Desastre”, A Razão, 5 de dez. dc 1931.
— “Duas Épocas Históricas (II)”, A Razão, 6 de dez. de 1931.
— “Democracia c Nacionalismo”, A Razão, 12 de dez. de 1931.
— “A Marcha para os Extremos”, A Razão, 16 dc dez. dc 1931.
— “Federação e Sufrágio (XIX)”, A Razão, 24 de jan. de 1932.
— “Federação e Sufrágio (XXI)”, A Razão, 27 de jan. de 1932.
— “Federação e Sufrágio (XXVI)”, A Razão, 2 dc fcv. de 1932.
— “Federação e Sufrágio (XXXVII)”, A Razão, 3 dc fev. dc 1932.
— “A Aliança Liberal e a Revolução”, A Razão, 4 dc fev. de 1932.
— “Rumos à Ditadura (I)”, A Razão, 5 de fev. de 1932.
— “Rumos à Ditadura (V)”> Razão, 11 de fev. de 1932.
— “Rumos à Ditadura (VIII)”, A Razão, 14 de fev. de 1932.
— “Rumos à Ditadura (IX)”, A Razão, 16 de fev. de 1932.
— “Rumos àDitadura”(XI)”, A Razão, 18 de fev. de 1932.
— “Rumos à Ditadura (XII)”, A Razão, 19 de fev. de 1932.
— “O ParaísoVermelho”, A Razão, 28 de fev. de 1932.
— “Construção Nacional”, A Razão, 20 de abril de 1932.
— “A Marcha dos Icebergs”, A Razão, 21 dc abril dc 1932.
— “Construção Nacional”, A Razão, 24 dc abril dc 1932.
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IV — PERIÓDICOS
361
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362
1
Espumas Niterói
Estado do Rio
A Província
(“A Voz do Estu
dante”) Salvador Bahia
O Serrinhense Serrinha
O Popular Alagoinhas
A Fauna Marogogipe
O Imparcial S. Salvador
Alvorada Blumenau Sta. Catarina
Jaraguá Jaraguá do Sul
Flama Verde Florianópolis
O Pliniano, Anauc Joinville
O Integralista São Luís Maranhão
Ação
Província do Ama
zonas Manaus Amazonas
Idade Nova Vitória Espírito Santo
Sigma Goiás Goiás
A Razão Fortaleza Ceará
A Idéia Aracati
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367
ÍNDICE ONOMÁSTICO
370
Guérin (D.), 131 Maquiavel, 64, 99, 247
Guttmann (L.), 271, 272, 273 Marcondes (D.), 118
Maria (Júlio), 30
Hacckcl, 39 Marineti, 42, 45
Hassclman Fairbanks (H.), 131 Maritain (J.), 33, 34
Hegel, 203 Marques Saes (D.), 18
Hilton (S.), V Martin (R.), 208, 228
Martins (W.), 26, 27, 29, 30, 54
Hitlcr (A.), XVII, 112, 157, 185,
241, 246, 247, 249 Martins de Almeida, 98
Hoffcr (W.), 139, 140, 200 Martins Moreira, 101
Marx (Karl), 39, 43, 94, 231, 236,
Humboldt (K.H.), 232
Hunsche (K.H.), 1, 43, 213 245, 247
Maser (W.), 185
Igaira (I.), 118 Matalon (B.), 272
Maul (Carlos), 105
Jacob (Max), 43 Mauriac (François), 33
Jellineck (G.), 247 Maurras (Charles), 33, 34, 50,
Johnson (J.), 131 224, 251, 252
Josetti (R.), 175 Mayer, 247
Medeiros (J.), V
Kant, 31 Meireles (Cecília), 44
Klehne (J), 216 Mello 109,
Mello (Olbiano de), 101, 122,
Kropotkine, 47 110, 111, 112, 113, 120,
Kulmann (G.), 58 123, 124, 200, 205, 206, 222,
123,
232, 236, 239, 252
Lacombe (A.), 77, 101, 120 Mello’ (Plínio), 39
Lamarckc, 39 Mello Franco (A.A.),
Mello Franco (*_ 98, 99
Lambert (J.), 140 Memória (A.), 105
Lanari (A.), 104 Mcrkl (P.H.), IX
Lara Ribas (A. de), 216 Mesquita (Júlio), 23, 41
Leães Sobrinho (J.)» 116, 118, Mesquita Filho (J.), 26, 41
119 Míchelat (G.), 272
Le Bon (G.), 39 Milza (P.), 191
Lechlcr (P.), 43 Moisés, 243
Ledesma Ramos (R.) XII Monteiro (G.), 178
Leite (E.), 175 ’ ’ ‘^,20
Monteiro Lobato, 20
Leme (Sebastião), 32 Motta (Jeovah), 57, 62, 109, 124,
Lenine (W.), 39, 43, 206, 236,
245 131, 175
Motta Filho (Cândido), ai 41, qj?
98,
Levine (R.), V
Lichtenfeld (B.), 118 99, 100, 102, 116, 117, 118,
119, 120, 123, 144
Lima (B.), 105 Moraes (Vinícius de), 101
Linz (Juan), VI, VII, XIII
Morais (L.), 105
Lipset (S.), 3, 138, 139 Morais Carneiro (J. de), 30
Lockc (J.), 232 Mounier (E.), 34, 275
Loevinger (J.), 271, 272, 273 Moura (P.), 149
Luiz (Washington), 11, 41, 52, 58 Mourão Filho (Olímpio), 131,
Lutero (M.), 247
178, 230
Murilo de Araújo, 44
Machado (J.M.), 118, 119 Mussolini (Benito), XVII, 43, 75,
Maciel Ramos, 175 76, 99, 100, 110, 112, 157, 158,
Madeira de Freitas, 77, 101, 120, 186, 200, 206, 208, 210, 213,
175 216, 222, 235, 240, 246, 248,
Malfatti (Anita), 28 249, 256, 264, 277
Man (H. de), 240, 245
371
Nabuco (J.), 120 Rabelo (Sílvio), 31, 32
Nagy-Talavera (N.M.), VIII Rao (Vicente), 245
Napoleão Bonaparte, 214, 230 Raposo (H.), 251
Navarra (A.), 224 Realc (Miguel), 119, 124, 145, 175,
Neves da Fontoura (J.), 101 205, 206, 212, 214, 215, 216,
Nietzsche, 47 217, 220, 221, 222, 223, 224,
Nogueira (A.), 116, 118 225, 226, 229, 230, 231, 232,
Nogueira (H.), 33 233, 234, 235, 236, 237, 238,
Nogueira da Gama (A.D.), 21 239, 240, 245, 246, 247, 248,
Noite (E.), VII, Vin 249, 250, 251, 252
Nun (J.), 131, 141 Redano (U.), 224
Rémond (R.), XIX
Oiticica (J.), 14 Reuchlin (M.), 274
Oliveira Filho (J. de), 118 Riazanov, 43
Oliveira Lima, 120 Ribeiro (C.), 26
Oliveira Salazar (A. de), 200, Ribeiro (J.R.), 119
249, 251 Ricardo (Cassiano), vide Cassia-
Oliveira Torres, 33, 116 no Ricardo
Oliveira Viana, 21, 48, 53, 98, Rio (João do), 27
100, 120 Rocco (A.), 120, 224, 225, 245
Osório (General), 36, 212 Rocha (W.), 118
Rogers (H.), VIII
Padilha (R.), 77, 120, 175 Rosselli (C.), 240, 245
Pagano (Sebastião), 101, 102, Rossi (E.), 118
114, 115, 118, 119 Roquete Pinto, 53
Paim Vieira, 114, 115 Rothschild, 237, 242
Pareto (V.), 205 Rousseau (J.-J.), 47, 232, 246, 247
Pascale (H.), 118
Payne (S.), VIII Sá (A.), 109
Pedro I, 38
Salgado (F. das C.E.), 36
Peixoto (Floriano), 22, 212
Penino (J.), 118 Salgado (Plínio), XV, XVI, XVII,
Pereira (A.), 14, 37 1, 3, 4, 5, 19, 31, 35, 36, 37,
Pereira (J.C.R.), 37, 230 38, 39,40, 41, 42, 43, 44, 45,
Pereira Barreto (L.), 23 46, 47, 48, 49, 50, 52, 53, 54,
Pereira Lima, 26 56, 57, 58, 59, 60, 62, 63, 64,
Pinheiro (P.S. de M.), 10, 11, 12, 65, 66, 67, 68, 71, 73, 74, 75,
13, 14, 15, 17 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83,
Pinto da Silva, 119 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91,
Plekhanov, 43 93, 94, 95, 96, 98, 99, 100, 102,
Poncins (L. de), 243 110, 116,117, 119,120, 121,
122, 123, 124, 125, 126,
126, 145,
Pontes de Miranda, 53 152, 165, 168, 170,
166, 167, 168,
Prado (Paulo), 29, 98 171, 173, 178, 183, 200, 201,
Pre de Saint-Maur (J.), 216 202, 203, 204, 205, 206, 209,
Prestes (Júlio), 42, 76 210, 211, 212, 213, 214, 216,
Prestes (Luiz Carlos), 17, 18, 66, 217, 218, 219, 220, 221, 223,
67, 131, 158 226, 229, 230, 234, 235, 236,
Preto (Rolão), 251 237, 238, 239, 241, 242, 251,
Primo de Rivcra (J.A.), 200 252
Pujol (Alfredo), 23 Sales Júnior, 26
Pujol (V.), 230 SanfAnna (L.), 119
SanfAnna (N.), 119
Queiroz Filho, 119 Santa Rosa (V.), 98, 99
372
Santiago Dantas (F.), 77, 80, 101, Stalin (J.), 157
119, 120 Stpuffer (S.A.), 272
Santo Rosário (R.), 32 Strang (G.), 118
Sardinha (A.), 219, 251
Sarfatti (M.), 76 Tasca (A.), 138
Sarti Prado, 26 Tavares Bastos, 53
Savigny, 247 Tejada (F.E. de), 32
Schmidt (A.F.), 39, 76, 77, 78, Thomas (J.P.), 272
80, 120 Tledo (J.), 118
Sebastião (Dom), 64 Toledo Piza, 119
Serrano (J.), 31 Tolstoi (Leão), 47
Sicgel (S.), 270 Torres (Alberto), 19, 21, 24, 48,
Silva Brito (M.), 27, 28, 29, 44 53, 95, 99, 100, 120
Silva (H.), 1 Touchard (Jean), XIX
Silveira (A.), 45, 58 Trotski (L.), 43, 242
Silveira (Tasso), 23, 31, 44 Turgueniev, 47
Silveira Bueno, 119 Valverdc (Belmiro), 208
Silva Py (A.), 216 Vargas (Getúlio), XVII, 81, 83
Simão (A.), 12 Vasconcelos (J.), V
Simões Arruda (A.), 79, 119 Veiga dos Santos (Arlindo), 114,
Simonsen (R.), 24 118
Smith (A.), 232 Vianna (H.), 77, 98, 101
Sobral Pinto, 101 Victor (Nestor), 31
Soares Lima (M.R.), 100 Vieira (J.), 105
Sombra (Sevcrino), 105, 106, 108, Vilela Luz (N.), 15, 21, 24
109, 110, 121, 122, 123, 124, Villar (F.), 105
131 Voltaire, 47
Sodré (A.), 98 Wenceslau Júnior, 216, 240, 241
Soffici, 42 Wemeck Sodré (Nelson), 10, 20
Sorel (G.), 43, 208, 209, 247 Wippeman (W.), VII
Southworth (W.R.), 213 Wolf (D.), VIII
Souza Aranha (A.E.), 41, 48, 80
Xavier Marques, 31
Spencer (H.), 37, 39
Spinoza (B.), 31 Zanoni (M.), 118, 119
373
ÍNDICE DOS QUADROS
375
24. “Motivações” de adesão à A.I.B. dos dirigentes e militantes
de base ..................................................................................................... 153
25. Grau de anti-semitismo dos integralistas .................................... 154
26. Constelação de “motivações em torno de: anticomunismo,
simpatia fascista e nacionalismo ................................................... 154
27. Relação entre “motivações” dominantes ...................................... 155
28. Relação entre “motivações” individuais c as três motivações
dominantes ............................................................................................. 156
29. A imagem do Chefe Integralista ..................................................... 167
30. Nacionalismo ........................................................................................ 255
31. Anti-socialismo ...................................................................................... 256
32. Antiliberalismo ...................................................................................... 258
33. Antiplutocratismo ................................................................................ 259
34. Anticapitalismo internacional ........................................................... 259
35. Reformismo social .............................................................................. 260
36. Mito da transformação social ......................................................... 261
37. Espiritualismo ........................................................................................ 262
38. O Estado-Nação .................................................................................. 263
39. Socialismo-nacional .............................................................................. 264
40. Anti-semitismo e antimaçonaria ..................................................... 265
41. Visão hierárquica.................................................................................. 265
42. Visão pessimista da História............................................................. 266
43. Valores autoritários ............................................................................ 267
44. Ética fascista ........................................................................................ 268
45. Valores tradicionalistas ..................................................................... 268
46. Solidariedade ao fascismo europeu .............................................. 269
47. Grau de uniformidade ideológica dos integralistas ................... 270
48. Coeficiente de homogeneidade de Loevinger das escalas do
grupo de controle adulto 272
49. Proporção de integralistas e de grupos de controle na nota de
escala mais elevada........ 273
50.' Quadro de correlações entre os escores das escalas de atitude 342
376
ÍNDICE DOS ORGANOGRAMAS
377
ÍNDICE DOS ASSUNTOS
Nota do Autor V
Prefácio à segunda Edição VII
Présentation XIX
Prefácio da l.a edição .... XXI
Introdução 1
PRIMEIRA PARTE
EMERGÊNCIA DO CHEFE
Capítulo I — Uma sociedade em transição da década de 20 7
1. A origem republicana .. 35
2. O fermento nacionalista . 42
3. A metamorfose ideológica 48
SEGUNDA PARTE
GÊNESE DA IDEOLOGIA
A descoberta do fascismo 74
1.
O jornalismo político 77
2.
Uma ideologia em maturação .... 85
3.
Capítulo II — A ascensão das idéias autoritárias em 1930 e o nas-
cimento do integralismo .............. 97
98
1. A literatura antiliberal
379
2. Os movimentos políticos autoritários 103
3. A fundação da Ação Integralista .. 116
TERCEIRA PARTE
NATUREZA DO MOVIMENTO
1. O Chefe 164
2. Um modelo pré-estatal . 171
3. A socialização ideológica 188
Capítulo III — A ideologia 199
Conclusão 277
Cronologia................................. 281
Fontes da cronologia 283
A nexos ............................. ....... 307
Questionários 323
Histogramas e correlações 337
Escalas de atitudes ideológicas .. 343
Bibliografia 351
índice onomástico 369
índice dos quadros .... 375
índice dos organogramas 377
índice dos assuntos .... 379
*
Este livro /oi
impresso pela EDIPE Artes
Gráficas, Rua Domingos
Paiva, 60 — São Paulo.