PRONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

FACULDADE DE LETRAS

Disciplina: Letramento Acadêmico em Língua Portuguesa C

Professor: Dr. João Paulo Lopes de Meira Hergesel

ATIVIDADE AVALIATIVA 02:

PRODUÇÃO DE ENSAIO ACADÊMICO

Sofia Moreira Fortti

RA: 19242601

Campinas, SP
2021
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Título do ensaio acadêmico

Sofia Moreira Fortti1

RESUMO: Este estudo, escrito na forma de ensaio, apresenta aspectos da poesia de

Cecília Meireles para o público infantil em seu livro de poemas Ou isto ou aquilo — o único
de seus livros destinado à crianças e originalmente publicado em 1964 — através da análise
do poema “As Meninas”, presente na obra. Para realizar o estudo, adotou-se autores como
Ligia Cademartori (2010) e Eliana Lucia M. Yunes (1976), entre outros. Através da análise
das escolhas lexicais feitas pela autora e pelo uso da análise estilística idealista, foi
identificados jogos de palavras e ideias inseridas no poema.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura infantil. Estilística idealista. Cecília Meireles. As Meninas.

Introdução

A poesia é uma linguagem universal. Fala conosco não através das palavras,
mas através dos sentidos, do coração. É difícil dizer o que existe entre as palavras
de um poema, uma vez que para cada um, com suas vivências e olhares diferentes,
o significado de um verso pode ser diferente. A poesia é lúdica e ensina a enxergar
pelos olhos de um artista. Por isso é tão importante apresentar a poesia para uma
criança, uma vez que a literatura infantil possui o grande papel de formação de
leitores (Cademartori, 2010). “Cecília Meireles se dedicou intensamente à poesia e
construiu uma das mais importantes obras poéticas de nossa literatura” (KIKUTI,
2009) e por isso, esse ensaio objetiva analisar, através da perspectiva da análise
estilística idealista, uma vez que “A Estilística idealista parte da reflexão, de cunho
psicológico, a respeito dos desvios da linguagem em relação ao uso comum e
considera que qualquer afastamento do uso linguístico normal decorre de alguma
alteração do estado psíquico normal do escritor. Nesse sentido, a maneira pessoal
de alguém se expressar é seu estilo, que reflete o mundo interior e a experiência
devida de quem escreve” (HENRIQUES,2017,p.14), a poesia “As Meninas” de seu
livro de poesias destinado ao público infantil: Ou isto ou Aquilo. Uma vez que este
livro, de acordo com referência aqui, é “modelo de um bom livro destinado e
recomendado à criança”.
Os poemas organizados no livro foram escritos com o cuidado e precisão que
pede uma obra de literatura infantil e também são dotados de impressionante beleza

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Graduanda em Letras: Português/Inglês pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas). Contato: sofiafortti@gmail.com.
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estética, “servem para a criança, mas trazem também uma mensagem para o adulto,
pois são escritos numa linguagem plurilinear e comportam várias interpretações.”
(KIKUTI, 2009). Por essa delicadeza ao escrever que Meireles é conhecida como
uma das mais importantes figuras da literatura infantil brasileira e por essa razão, foi
escolhida como objeto de estudo deste trabalho.
Desenvolvimento

1. Vida e obra

Cecília Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901 e foi criada pela avó. Aos
nova anos de idade, em 1910, completou o primário e recebeu uma medalha de
ouro de Olavo Bilac. Em 1917 terminou o curso normal no Instituto de Educação do
Rio de Janeiro e, em 1919, publicou seu primeiro livro de poesias Espectro. Aos 21
anos se casou com o pintor português Fernando Correia Dias com quem teve três
filhas. Cinco anos após o suicídio do marido, em 1940, casou-se novamente com
Heitor Vinícius da Silveira Grilo.
De 1930 a 1931, escreveu diariamente textos sobre
problemas de educação no Diário de Notícias. Organizou a
primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro em 1934.
Aposentou-se em 1951 como diretora de escola, porém
continuou a trabalhar no Rádio Ministério da Educação, no
Rio de Janeiro, como produtora e redatora de programas
culturais. (BACCEGA, 2006, pg. 113)

Em 9 de novembro de 1964, Cecília Meireles faleceu e, no ano seguinte,

recebeu postumamente o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de
Letras. Também foi homenageada publicamente pelo país, com ruas e escolas
batizadas com seu nome. Sua poesia alcançou o mundo, sendo traduzida para
cerca de oito idiomas e musicada por diversos artistas, segundo Baccega.
2. As Meninas

Publicado pela primeira vez em 1964, ano da morte da autora, o livro Ou isto
ou aquilo foi, de acordo com Kikuti (2009) o único livro de poesia dedicado ao
público infantil que Cecília Meireles escreveu, tendo como característica temas que
“... consideram a idade pré-lógica, o mundo de fabulação, o realismo intelectual, a
visão impressionista da criança e, por isso, a poetisa conseguiu uma excelente
realização estética nos poemas dessa obra.” (KIKUTI, 2009).
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Kikuti (Apud Amaral, 1971) afirma que é preciso conhecer e amar a criança
par assim dar-lhe o melhor no ato de escrever para ela. É preciso saber sentir a
poesia para captar o mágico e lúdico, captar o olhar que a criança tem sobre o
mundo. A poesia, portanto, é o gênero ideal para valorizar e estimular esse modo
mágico, lúdico de ver as coisas. Não seria ideal, ao se escrever poesia pensada no
público infantil, é justamente pensar que se escreve para crianças e focar numa lição
de moral ou numa didática forçada. Uma vez que “o manto do pedagogismo faz
desapacer acorporeidade das palavras para se referir a valores morais.” (KIKUTI,
2009) o que impede a criança leitora, de acordo com a autora, de ensaiar o lúdico e
experienciar as vivências emocionais ou cognitivas inseridas nos versos. Através da
leitura do poema “As Meninas” — uma das obras presentes no livro Ou isto ou
aquilo — o leitor tem a chance de experimentar uma vivência emocional.

As Meninas
Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina,
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”

Pensaremos em cada menina

que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.
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Mas a nossa profunda saudade

é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
“Bom dia!”
(P. 22)

Pode-se observar que o vocabulário do poema “é simples, de uso cor-lente,

de palavras curtas com expressões familiares à infância” (YUNES, 1976), como em:
“Arabela / abria a janela.” Versos simples que simplesmente delimitam uma ação,
mas compõem o cenário do poema e apresenta a primeira personagem, a primeira
menina.
Neste poema é importante notar a presença de uma marca comum entre as
poesias destinadas ao público infantil, a repetição de sons, de palavras: “Mas a
nossa profunda saudade / é Maria, Maria, Maria,”. Essa repetição vocabular, de
acordo com M. Yunes, funciona como um eco e cria um ritmo semelhante ao de
quem aprende a falar.
Há também a oposição dos conceitos passado vs presente através do uso de
verbos no passado ao descrever o que fazia cada uma das meninas e, ao final, usar
o verbo ser no presente para se falar da saudade que Maria deixou. Essa oposição
de conceitos se caracteriza como um jogo verbal, de cunho linguístico, no qual “a
criança desloca as unidades linguísticas, da relativa transparência de seu uso na
comunicação interpessoal, para a opacidade que ganha o material linguístico,
quando é tratado como brinquedo” (Cademartori, 2010, p. 58).
É na menção à saudade, previamente observada neste trabalho, que se
encontra mais um tema do poema. Cecília Meireles fala à criança sobre o que deixa
saudades, o que faz alguém sentir falta de outro alguém, de modo que “as relações
pessoais se configuram num quadro amplo, em que a imagem cálida e terna, o
tratamento carinhoso aparecem sem estarem apoiados em estereótipos de
comportamentos ou expectativas de sucesso, tais como a beleza e a sabedoria.”
(KIKUTI, 2009 APUD ABRAMOVICH, 1983). É um poema que fala diretamente do
psicológico da autora para o psicológico do leitor, em especial, o psicológico da
criança leitora. Através da breve história contada a respeito das três meninas do
poema, a criança pode se identificar com o sentimento de saudade, ao passo que “a
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narrativa ficcional possibilita que tendências afetivas sejam generalizadas por meio
da simbolização” (Cadermatori, 2010, p. 63).

Considerações finais

Ao longo deste ensaio, foi observado e discutido a importância da poesia

dentro do campo da literatura infantil, em especial, a poesia de Cecilia Meireles e
sua maestria, como pedagoga e estudiosa da literatura infantil, de se comunicar com
a criança. Como resultado, esse estudo aponta como a poesia pode estimular o
crescimento emocional da criança, além de estimular o aprendizado de diversos
aspectos linguísticos do português sem pesar num tipo de didática de cunho escolar,
sendo um tipo de texto para ser lido pelo prazer de ler.
Especialmente foi analisado esses aspectos no poema As Meninas, no qual
se explora o sentimento de saudade, estabelecendo que esta não depende de
qualquer expectativa comportamental ou emocional; e trabalha a antítese entre o
passado e o presente, apresentando de forma suave esses conceitos para a criança
leitora, com versos ritmados e de fácil entendimento.

Referências
BACCEGA, Maria Aparecida. Cecília Meireles. Comunicação & Educação, [s. l.], ano XI, ed. 1,
p. 113-118, 2006.
CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura infantil. 2. ed. São Paulo: Editora
Brasiliense, 2010. 78 p.
HENRIQUES, Claudio Cezar. Semântica e estilística. Curitiba, PR: IESDE Brasil,
2017.
KIKUTI, Sheila da Guia Schneider. Um estudo da obra poética de Cecília Meireles
dedicada à infância. Olho D’água, São José do Rio Preto, 2009. Disponível em:
http://www.olhodagua.ibilce.unesp.br/index.php/Olhodagua/article/viewFile/3/2.
Acesso em: 15 abr. 2021.
MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. 7. ed. São Paulo: Global Editora, 2012.
YUNES, Eliana Lucia M. A infância na poesia de Cecília Meireles. Revista Letras,
Curitiba, PR, v. 25, p. 103-120, 1976. Disponível em:
https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/19543. Acesso em: 16 abr. 2021.