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Cálculo I
Paulo Saraiva
16 de Outubro de 2020
2
Conteúdo
3
4 CONTEÚDO
i
ii CONTEÚDO
inúmeros recursos bibliográficos onde todo o estudante que revele tais lacunas pode pro-
curar exemplos em dose q.b. que lhe permitam recuperar os conhecimentos em assuntos
básicos do Cálculo (e também da Álgebra). Por outro lado, a internet possui hoje em dia
imensos recursos que lhe permitirão aceder a conhecimentos básicos do Cálculo (e não
só), como por exemplo o WolframAlpha e o Symbolab. Para uma primeira análise das pos-
sibilidades destes portais, consulte http://www.wolframalpha.com/examples/Math.html e
https://www.symbolab.com/.
No decorrer das aulas, o estudante deverá tomar os apontamentos que julgue ne-
cessários para a compreensão do texto, acrescentando-lhe notas pessoais que melhor o
ajudem nessa tarefa. O estudante não deve esperar que numa aula sejam abordados todos
os aspectos e com o mesmo detalhe que estes apontamentos ou as referências o fazem. En-
quanto estudante a tempo inteiro, cabe-lhe a tarefa de completar ou redigir os raciocı́nios
do modo que mais se adeque à sua maneira de assimilar as matérias. Por seu turno, tendo
por base os planos semanais de trabalho, a parte prática de cada aula deve ser entendida
como um perı́odo de discussão dos exercı́cios propostos (ou até mesmo sugeridos pelos
próprios estudantes). Por forma a tornar mais dinâmicas as aulas, é essencial que o estu-
dante tenha tentado, aplicando uma considerável dose de trabalho individual, resolver
as listas de exercı́cios indicadas.
Com doze anos de frequência do ensino, o estudante-leitor terá já notado que não se
estuda Matemática do mesmo modo como se apreendem outras matérias. A leitura, a
tentativa de resolução, a perseverança, o esforço individual de compreensão são factores
que intervêm de maneira preponderante no sucesso das aprendizagens nesta disciplina.
Por outro lado, um trabalho responsável e assı́duo evitará uma acumulação de questões
por esclarecer.
1
2 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
D ⊂ C.
Simbolicamente:
D ⊂ C se e só se ∀x , x ∈ D =⇒ x ∈ C.
O conjunto vazio, usualmente denotado por ∅ ou por {}, é aquele que não possui nenhum
elemento. Qualquer conjunto C não vazio possui sempre pelo menos dois subconjuntos:
C e ∅.
Dados dois conjuntos, A e B, o conjunto
A\B = {x ∈ A : x ∈
/ B} .
A ∩ B = {x ∈ U : x ∈ A ∧ x ∈ B} e A ∪ B = {x ∈ U : x ∈ A ∨ x ∈ B}
Alguns dos seguintes conjuntos de números são por certo do seu conhecimento:
N = {1, 2, 3, ...} conjunto dos números naturais,
Z = {..., −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, ...} conjunto dos números inteiros relativos,
Q= m
n
: m, n ∈ Z e n 6
= 0 conjunto dos números racionais,
R conjunto dos números reais.
O conjunto R terá a maior importância no presente capı́tulo e pode ser descrito como a
reunião (disjunta) de Q com o conjunto do números irracionais (i.e., com QC , o comple-
mentar de Q). Alternativamente, podemos afirmar que um número real é todo aquele que
é representável em dı́zima finita, ou dı́zima infinita periódica ou dı́zima infinita não
periódica. Como sabemos, existe uma correspondência biunı́voca entre R e os pontos de
uma recta orientada, dita recta real.
Nota 1. (i) Um conjunto pode não ser nem aberto nem fechado. Os dois únicos subcon-
juntos de R simultaneamente abertos e fechados são ∅ e R.
(ii) Certas propriedades das funções apenas se verificam em conjuntos fechados e daı́ a
importância desta noção.
A = {x ∈ R : −2 < x ≤ 4} e B = {x ∈ R : x ≤ 3} ,
A ∩ B = ]−2, 3] e A ∪ B = ]−∞, 4] ,
tendo-se ainda
A\B = ]3, 4] .
Nota 2. Nesta fase, será conveniente que o estudante reveja outras técnicas algébricas,
como sejam a resolução de equações e inequações polinomiais, com ou sem módulos,
pois estas poderão ser requisitadas nas secções e subsecções seguintes.
1.1. DEFINIÇÕES INICIAIS 5
Recordamos que o próprio plano pode ser visto como um conjunto, denotado por
2
R , dada a correspondência biunı́voca entre pares ordenados (x, y) de números reais e
pontos P assinalados num referencial (usualmente) ortonormado (o.n., doravante), ou
seja, aquele cujos eixos são perpendiculares (referencial ortogonal) e em que as unidades
de comprimento em cada um dos eixos são iguais (referencial monométrico) e coincidem
com a unidade de comprimento prefixada no plano. Tem-se:
R2 = R × R}
| {z = {(x, y) : x ∈ R ∧ y ∈ R} .
produto cartesiano
A respeito de rectas no plano, é importante recordar algumas das suas equações car-
tesianas. Assim, sendo A, B e C constantes reais (A e B não simultaneamente nulas),
r: Ax + By + C = 0
6 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
é a equação geral de uma recta, r, no plano. Quando dada nessa forma, prova-se que
y = mx + b,
y − y0 = m (x − x0 ) .
Exercı́cio 1. Considere a recta r no plano definida pelos pontos (3, 0) e (1, 2). Relativa-
mente a r, determine
No que diz respeito a funções quadráticas, é por vezes útil recorrer à chamada técnica
do completamento do quadrado, a qual permite transformar equações da forma
y = ax2 + bx + c
na forma
y = a(x + h)2 + k.
Veja-se o seguinte exemplo.
É justamente esta técnica que permite obter a usual fórmula resolvente para equações
polinomiais quadráticas (cf. Apêndice 1.1).
y − β = a (x − α)2 ,
onde:
(α, β) designa o vértice da parábola; x = α é a equação do eixo de
simetria;
para cima, se a > 0;
a 6= 0 é um parâmetro cujo sinal indica o sentido da concavidade:
para baixo, se a < 0.
Trata-se da equação reduzida de uma parábola cujo vértice é (4, 8), cujo eixo de simetria
é a recta x = 4 e que é côncava, pois a = −2 < 0. Deixamos como exercı́cio o traçado
da parábola num referencial ortonormado XOY .
Exercı́cio 3. Uma parábola pode ter eixo de simetria horizontal. A equação reduzida da
parábola será, nesse caso, dada por
x − α = a (y − β)2 .
(x − α)2 + (y − β)2 = r2 ,
x2 − 4x + y 2 + 2y = 4
é a equação de uma circunferência centrada no ponto (2, −1) e de raio 3. Esboce-a num
referencial ortonormado XOY .
Esta subtil diferença tem a sua razão de ser. De facto, enquanto o gráfico de uma função
é um conceito analı́tico bem preciso (2 ), qualquer representação geométrica adequada dos
1
Um conjunto A diz-se numerável se for finito ou se existir alguma bijecção de N em A,
2
O conceito de gráfico de f é mais geral do que o aqui apresentado. De facto, para f : A → B, tem-se:
Gf = {(x, y) ∈ A × B : y = f (x)} ,
onde A × B = {(x, y) : x ∈ A e y ∈ B} designa o produto cartesiano de A por B.
1.1. DEFINIÇÕES INICIAIS 9
f (x) = x2 , x ∈ R.
Dito isto, iremos frequentemente cometer o abuso de linguagem, chamando gráfico a algo
que na realidade é uma representação gráfica.
As intersecções de Gf com o eixo dos xx, caso existam, são os pontos (x, 0) tais que
f (x) = 0, x ∈ Df .
b = f (0) ,
dar-nos-á a intersecção com o eixo dos yy, ou seja, o ponto (0, b).
Embora não essencial para definir uma função, reveste-se de alguma importância o
conjunto das imagens ou transformados, mais usualmente conhecido por contra-domı́nio
de f , denotado por Df0 , CDf ou f (Df ). Simbolicamente, tem-se:
Df0 = {y ∈ R : y = f (x), x ∈ Df } .
A observação de uma representação gráfica pode dar-nos a entender qual o domı́nio e qual
o contra-domı́nio de uma dada função, mas não qual o conjunto de chegada, o qual deverá
ser especificado.
Recordemos que uma f.r.v.r. f se diz sobrejectiva se
Df0 = R.
Por outro lado, uma f.r.v.r. diz-se injectiva se a objectos diferentes faz corresponder
imagens diferentes. Simbolicamente (abreviando ”se e só se”através de ”sse”):
g (x) = x
Graficamente, o ”teste das rectas horizontais” permite decidir quando é que uma
função é ou não injectiva. Se o traçado de rectas horizontais intersectar o gráfico em
dois ou mais pontos, então a função não será injectiva. Procure explicar analiticamente
este teste.
O conceito de injectividade está associado ao de inversa de uma função. Recordemos
que se f : Df −→ B é injectiva no seu domı́nio, então é possı́vel definir uma função
g : Df0 → Df tal que
(b) A função f tal que f (x) = x2 não é invertı́vel uma vez que não é injectiva no seu
domı́nio. Contudo, é possı́vel considerar uma restrição de f ao conjunto R+ 0 = [0, +∞[,
que denotaremos por g. Tal restrição é já injectiva e a sua inversa é
g −1 : [0, +∞[ → R
√
x 7−→ g −1 (x) = x
Eis a ilustração destas situações, dada a função f tal que f (x) = x3 − x2 − 2x.
Exemplo 5. Seja f tal que f (x) = sin x, e construam-se os gráficos de g1 e g2 tais que
1
g1 (x) = sin x e g2 (x) = 3 sin x.
2
0 0
= − 21 , 12 e Dg2 = [−3, 3].
Pode-se observar que Dg1
Exemplo 6. Seja f tal que f (x) = sin x, e construam-se os gráficos de h1 e h2 tais que
1
h1 (x) = sin x e h2 (x) = sin (3x) .
2
Temo-los esboçados na figura seguinte.
f (x) = g (x) .
Caracterize f ◦ g.
Ainda a respeito de funções invertı́veis, note que se considerarmos a composta de f
com a sua inversa, temos:
f −1 ◦ f (x) = x, ∀x ∈ Df
(1.2)
16 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
ou seja,
f −1 ◦ f = id,
a função identidade, cujo gráfico é a bissectriz dos quadrantes ı́mpares (ver Figura 1.5)(3 ).
Em termos gráficos, (1.2) reafirma o que havı́amos concluı́do acerca da simetria entre os
gráficos de f e de f −1 em relação à recta y = x.
Qualquer valor m (resp., M ) que satisfaça (1.3) diz-se minorante (resp., majorante) de
Df0 . É uma tarefa simples mostrar que f é limitada se e só se existe L ≥ 0 tal que:
|f (x)| ≤ L, ∀x∈Df .
Seja agora f uma f.r.v.r definida em ]a, b[ e considere x0 ∈ ]a, b[. Diremos que f
atinge um máximo relativo (ou local) em x0 ou que f (x0 ) é um máximo relativo de f
se
∃δ>0 : f (x) ≤ f (x0 ) , ∀x∈Bδ (x0 ) . (1.4)
Mutatis mutandis, diremos que f atinge um mı́nimo relativo (ou local) em x0 ou que
f (x0 ) é um mı́nimo relativo de f se
Contudo, pode acontecer que f ◦ f −1 6= f −1 ◦ f , pois Id e id podem diferir nos respectivos domı́nios.
1.1. DEFINIÇÕES INICIAIS 17
Isto significa que o gráfico de uma função par é simétrico relativamente ao eixo OY . São
exemplos de gráficos de funções pares as parábolas de equação
y = x2 + C, C ∈ R,
y = xn + C, C ∈ R,
com n par. Também são pares a função módulo e as funções cos e sec (ver na próxima
secção). Por outro lado, uma função f diz-se ı́mpar se
Uma função ı́mpar tem gráfico simétrico relativamente à origem. Para este tipo de funções,
a parte do gráfico correspondente a x < 0 obtém-se por rotação de um ângulo π em torno
da origem da parte relativa a x > 0 (e vice-versa). São exemplos de funções ı́mpares as
funções definidas através de
1
y = xn , y = n ,
x
com n ı́mpar, assim como as funções sin, tg , cotg e cossec.
Cabe aqui dizer que a análise da paridade apenas faz sentido num conjunto simétrico
relativamente à origem da recta real, isto é, em todo o A tal que
∀x , x ∈ A ⇒ −x ∈ A.
Problema 1. Admita que o gráfico de uma função é simétrico relativamente a uma recta
vertical, x = a. Como definir analiticamente este facto?
Sendo f uma função periódica, T diz-se perı́odo de f . Torna-se fácil perceber que
f (x + kT ) = f (x), k ∈ Z.
Ao menor T > 0 que satisfaz (1.6) chamamos perı́odo fundamental ou perı́odo positivo
mı́nimo. São exemplos de funções periódicas as funções trigonométricas directas: sin e
cos, de perı́odo 2π, e tg e cotg, de perı́odo π.
18 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
q = p + 3,
cujo gráfico é a recta definida pelos pontos (0, 3) e (−3, 0). O declive positivo traduz
agora a lei da oferta. O gráfico das duas funções está representado num referencial Opq,
na figura abaixo, onde a parte relevante em termos económicos diz respeito ao primeiro
quadrante, uma vez que nem p nem q podem assumir valores negativos.
D (p) = S (p) ⇔ 8 − 4p = p + 3 ⇔ p = 1.
D (1) = S (1) = 4.
q = 8 − 4p
q
⇔ p=2− função procura-inversa (i.e., D−1 )
4
e
q = p+3
⇔ p = −3 + q função oferta-inversa (i.e., S −1 ).
A primeira relação reflecte agora o maior preço a que uma quantidade q do bem em causa
encontrará compradores, ao passo que a segunda traduz o menor preço que os produtores
estão dispostos a vender uma determinada quantidade q do bem produzido. Obtemos
assim o gráfico seguinte:
ao qual também se podia chegar através da simetria descrita na anterior subsecção. Note
que, como é evidente, o ponto de equilı́brio é agora (4, 1).
20 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
Funções polinomiais
Chamamos função polinomial ou polinómio a toda a f.r.v.r. p, de domı́nio R, da forma
p (x) = an xn + an−1 xn−1 + ... + a1 x + a0 ,
onde n ∈ N e os ai ∈ R são ditos coeficientes do polinómio. Diremos que o grau do
polinómio é n, escrevendo então gr (p) = n, se an 6= 0. São exemplos de polinómios as
seguintes funções p:
• as funções constantes:
p (x) = C, com C ∈ R,
representadas graficamente pelas rectas horizontais y = C;
• as funções afins:
p (x) = m x + b, com m 6= 0,
representadas graficamente pelas rectas não verticais com declive m e ordenada na
origem b;
1.2. GRÁFICOS E PROPRIEDADES DAS FUNÇÕES ELEMENTARES 21
• as funções quadráticas:
Figura 1.15: Gráficos dos polinómios p tais que p(x) = xn , com n = 2, 3, 4, ....
p (x) = m x,
onde α é uma constante real. A explicação para esta designação errónea – que evitaremos
– residirá no facto de as funções afins serem representadas por linhas rectas.
A respeito da representação de rectas, recorde que, conforme os dados, há vantagem
na utilização de uma ou de outra equação cartesiana da recta (consulte a subsecção 1.1.1).
Assim, por exemplo, conhecidos o declive, m, e um ponto (x0 , y0 ) da recta, é manifesta-
mente mais cómodo recorrer à equação ponto-declive:
y − y0 = m (x − x0 ) ,
y = ax2 + bx + c,
22 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
b
− .
2a
Assim, o máximo ou mı́nimo da função quadrática p definida por (1.7) será atingido em
b b
− ,p − .
2a 2a
Vimos já de que forma a técnica do completamento do quadrado nos permite escrever
a equação da parábola na forma reduzida:
y − y0 = k (x − x0 )2 ,
a qual, como já se sublinhou, evidencia o seu vértice, (x0 , y0 ), o seu eixo de simetria – a
recta x = x0 – e a sua concavidade, consoante o sinal de k. Eis outro exemplo.
f (x) = 2x2 + 8x + 9.
Podemos escrever:
y = 2 (x + 2)2 + 1,
ou seja
y − 1 = 2 (x + 2)2 ,
patenteando que o vértice é o ponto
(−2, 1)
Funções racionais
Chamamos função racional a toda aquela que se exprime como quociente de dois po-
linómios. Assim, será toda a função do tipo
p (x)
R(x) = , ∀x∈R:q(x)6=0 .
q (x)
Uma função racional diz-se própria se gr p (x) < gr q (x). Caso não seja própria, pode-
se efectuar a divisão de modo a exprimir R(x) na forma:
r (x)
R(x) = s(x) + ,
q (x)
r (x)
em que é já função racional própria.
q (x)
Exemplo 9. (a) São exemplos de funções racionais próprias as funções f tais que
1
f (x) = x−n = , com n ∈ N.
xn
Repare que ambas as famı́lias de funções têm domı́nio R\{0}, sendo os eixos coordena-
3x + 1
Figura 1.17: Gráfico de g tal que g(x) = .
x−2
Funções irracionais
Uma função diz-se irracional se a variável independente está sob o sı́mbolo de radical
(e não pode escrever-se na forma de função racional). Assim, funções f , g e h tais que
√ p √
f (x) = x, g (x) = |x + 3| e h (x) = 3 x + 2
Estas têm por domı́nio R+ 0 , se n for par, e R, se n for ı́mpar. A tı́tulo de exemplo, tomemos
as funções f e g tais que
√ √
f (x) = x, x ∈ R+ 0 e g (x) = 3 x, x ∈ R.
√ √
Figura 1.18: Gráficos de f e de g tais que f (x) = x e g (x) = 3
x.
1.2. GRÁFICOS E PROPRIEDADES DAS FUNÇÕES ELEMENTARES 25
Chamamos exponencial de base a > 1 à f.r.v.r. tal que f (x) = ax . Trata-se de uma
função tal que Df = R, estritamente crescente no seu domı́nio e cujo contra-domı́nio é
R+ . O seu gráfico é o seguinte:
lim ax = 0 e lim ax = +∞ .
x→−∞ x→+∞
Sendo uma função injectiva, faz sentido definir a sua função inversa, à qual se dá o
nome de função logaritmo de base a, denotada por loga x. Por definição de inversa,
temos:
y = loga x ⇐⇒ x = ay .
Nota 6. Esta relação reflecte a habitual definição de logaritmo. Como deve recordar,
logaritmo de x na base a é o número y a que se tem de elevar a base de modo a obter x.
Recordemos por fim que quando a base é o número de Neper, e = 2.718..., em vez de
escrevermos loge x utilizamos as seguintes notações para o logaritmo dito neperiano ou
natural:
log x = ln x.
lim ax = +∞ e lim ax = 0 .
x→−∞ x→+∞
Dada a injetividade desta função, podemos definir agora a sua inversa, a função loga-
ritmo de base a, com a ∈ ]0, 1[. O seu gráfico é:
Tem-se assim:
loga ax = x, ∀x ∈ R e aloga x = x, ∀x ∈ R+ .
1) ax ay = ax+y , ∀x, y ∈ R
ax
2) = ax−y , ∀x, y ∈ R
ay
logc a
6) logb a = logc b
, ∀a, b, c ∈ R+ \ {1}
m V (m)
1
1 V (1) = 1 + 100% × 1 = 1 (1 + 100%) = 1 1 + 11
2
2 V (2) = 1 + 50% × 1 + (1 + 50% × 1)50% = (1 + 50% × 1)(1 + 50% × 1) = 1 1 + 12
4
4 V (4) = (1 + 25% × 1)(1 + 25% × 1)(1 + 25% × 1)(1 + 25% × 1) = 1 1 + 14
.. ..
. . m
m V (m) = 1 1 + m1
28 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
A situação em que o juro é composto continuamente durante o ano significa que m tende
para infinito. Assim o activo inicial valerá ao fim de um ano:
m
1
lim 1 1 + = e ( e ).
m→+∞ m
Assim, o número e ≈ 2.71828 pode ser interpretado como o valor que um principal de
1 e atinge ao final de um ano se o juro à taxa (nominal) de 100% ao ano for composto
continuamente (4 ).
O processo de juros compostos continuamente pode ser generalizado em três direcções:
1. uma taxa de juro nominal de r% (em vez de 100%);
2. um principal qualquer A (em vez de 1 e);
3. um número t de anos de composição (em vez de apenas 1 ano).
Não é difı́cil perceber que a fórmula de juro composto assumirá então a forma:
r mt
V (m) = A 1 + (1.8)
m
Nesta, A traduz o capital inicialmente investido (o principal), mt o número de composições
em t anos e mr significa que em cada um dos perı́odos de composição em cada ano apenas
1
m
da taxa nominal r será realmente aplicável (i.e., recapitalizada).
Note que neste processo generalizado de composição tem-se:
r mt
V = lim A 1 + = Aert .
m→+∞ m
Razões teóricas e conceptuais permitem-nos tomar t como variável contı́nua e definir
a função V tal que
V (t) = Aert . (1.9)
Nota 7. Note que o juro composto surgiu aqui como mero exemplo para uma interpretação
ilustrativa de e e, generalizando, do crescimento exponencial. Poderı́amos ter optado pelo
crescimento populacional, da riqueza ou do capital real.
Função exponencial-potência
Chamamos função exponencial-potência a toda a função de base e expoente variáveis.
Sendo h uma f.r.v.r deste tipo, temos:
g(x)
h(x) = [f (x)]g(x) = eln [f (x)] = eg(x) ln f (x)
.
Recorde que lim h(x) = e. Havemos de voltar a estas funções aquando da abordagem
x→+∞
de certo tipo de indeterminações.
Funções trigonométricas
As funções seno e cosseno estão definidas e são contı́nuas no seu domı́nio, R. São
periódicas de perı́odo 2π e assumem valores em [−1, 1] . A primeira é ı́mpar e a segunda
é par. Eis o gráfico de cada uma delas:
Para além destas, são conhecidas as funções trigonométricas tangente, cotangente, se-
cante e cossecante, definidas como se segue:
sin x nπ o 1 nπ o
tg x = , x ∈ R\ + kπ : k ∈ Z sec x = , x ∈ R\ + kπ : k ∈ Z
cos x 2 cos x 2
cos x 1
cotg x = , x ∈ R\ {kπ : k ∈ Z} cossec x = , x ∈ R\ {kπ : k ∈ Z}
sin x sin x
Seguem-se os gráficos das funções tangente e cotangente.
30 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
As funções tangente e cotangente são contı́nuas nos respectivos domı́nios, têm infini-
tas assı́ntotas verticais, são ı́mpares, sobrejectivas e periódicas de perı́odo π.
Nas figuras seguintes encontramos os gráficos de pares de funções: tangente/cotangente,
seno/cossecante e cosseno/secante. Em cada figura, procure perceber as relações existen-
tes entre as funções aı́ representadas.
Figura 1.21: Gráficos das funções tangente e cotangente num mesmo referencial.
Figura 1.22: Gráficos das funções seno e cossecante num mesmo referencial.
Exercı́cio 6. À semelhança do que foi feito para as funções tangente e cotangente, des-
creva as propriedades gráficas das funções secante e cossecante.
1.2. GRÁFICOS E PROPRIEDADES DAS FUNÇÕES ELEMENTARES 31
Figura 1.23: Gráficos das funções cosseno e secante num mesmo referencial.
Recorde ainda a tabela das razões trigonométricas de alguns ângulos notáveis no pri-
meiro quadrante.
π π π
6 4
√ 3
√
1 2 3
sin 2
√ √2 2
3 2 1
cos √2
3
2 √
2
tg 1 3
√3 √
3
cotg 3 1 3
sin2 x + cos2 x = 1,
sin (x ± y) = sin x cos y ± sin y cos x cos (x ± y) = cos x cos y ∓ sin x sin y
tg x ± tg y 2tg x
tg (x ± y) = tg (2x) =
1 ∓ tg x tg y 1 − tg2 x
Função Arco-Seno
h π πi
Dada a f.r.v.r. sin : R −→ [−1, 1], consideremos a sua restrição ao conjunto − , ,
2 2
definida por: h π πi
f = sin |" π π # : − , −→ [−1, 1]
− , 2 2
2 2
x 7−→ sin x
Esta função é injectiva e a sua inversa define-se do seguinte modo:
h π πi
−1
f : [−1, 1] −→ − ,
2 2
x 7−→ f −1 (x)
Temos então:
y = arcsin x
leremos ”y é o arco cujo seno é x” ou ”y é o ângulo cujo seno vale x”. Temos então:
h π πi
arcsin : [−1, 1] −→ − ,
2 2
x 7−→ y = arcsin x
1.2. GRÁFICOS E PROPRIEDADES DAS FUNÇÕES ELEMENTARES 33
onde
y = arcsin x ⇐⇒ x = sin y.
Por abuso de linguagem, será frequente dizermos que o arco-seno é a função in-
versa do seno, quando na realidade nos estamos a referir à inversa de uma das possı́veis
restrições da função seno.
h π π igráfica de f pode obter-se a partir da representação da restrição da
Uma representação
função seno a − , , por simetria desta relativamente à recta y = x. Seguem-se duas
2 2
versões: uma obtida manualmente e outra recorrendo a uma ferramenta gráfica.
Função Arco-Cosseno
Seja
cos |[0,π] : [0, π] −→ [−1, 1]
x 7−→ cos x
a restrição da função cos ao conjunto [0, π] Estamos na presença de uma função injectiva
cuja inversa se designa por função arco-cosseno e se define do seguinte modo:
arccos : [−1, 1] −→ [0, π]
x 7−→ y = arccos x
34 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
Temos então:
Ao escrevermos y = arccos x leremos ”y é o arco (ou ângulo) cujo cosseno vale x”.
Exercı́cio 7. Mostre que uma representação gráfica da função arccos obtida a partir da
representação da restrição da função cosseno a [0, π], por simetria desta relativamente à
recta y = x é semelhante à que surge na seguinte figura:
Função Arco-Tangente
Seja i π πh
tg|# π π : − ,
" −→ R
− , 2 2
2 2
x 7−→ tg x
i π πh
a restrição da função tg ao conjunto − , . Esta é já uma função injectiva cuja inversa
2 2
se designa por função arco-tangente e se define do seguinte modo:
i π πh
arctg : R −→ − ,
2 2
x 7−→ y = arctg x
Temos então:
y = arctg x ⇐⇒ x = tg y , ∀x∈R .
Ao escrevermos y = arctg x leremos ”y é o arco (ou ângulo) cuja tangente vale x”.
Exercı́cio 8. Mostre que uma representação gráficai da função arc tg obtida a partir da
π πh
representação da restrição da função tangente a − , , por simetria desta relativa-
2 2
mente à recta y = x é semelhante à que surge na seguinte figura:
1.2. GRÁFICOS E PROPRIEDADES DAS FUNÇÕES ELEMENTARES 35
Função Arco-Cotangente
Por último, considere
cotg|]0,π[ : ]0, π[ −→ R
x 7−→ cotg x
a restrição da função cotg ao conjunto ]0, π[. Trata-se de função injectiva cuja inversa se
designa por função arco-cotangente e se define do seguinte modo:
arccotg : R −→ ]0, π[
x 7−→ y = arccotg x
Temos então:
y = arccotg x ⇐⇒ x = cotg y , ∀x∈R .
Ao escrevermos y = arccotg x leremos ”y é o arco (ou ângulo) cuja cotangente vale x”.
Exercı́cio 9. Mostre que uma representação gráfica da função arc cotg obtida a partir da
representação da restrição da função cotangente a ]0, π[, por simetria desta relativamente
à recta y = x é semelhante à que surge na seguinte figura:
(b) A = {x ∈ R : |x − 1| ≥ 5} e B = {x ∈ R : 4 − x2 < 0}
(c) A = x ∈ R : x1 + 3 > 1 e B = {x ∈ R : x3 − x2 − 2x < 0}
1 |x|
x
(k) y = 21
(j) y = log 1 |x − 1| (l) y = 2
2
1.2. GRÁFICOS E PROPRIEDADES DAS FUNÇÕES ELEMENTARES 37
7. Seja f uma f.r.v.r. tal que f (x) = cos x. Obtenha o gráfico de cada uma das funções
definidas, descrevendo a transformação subjacente a cada alı́nea.
(a) f1 (x) = 3f (x); (b) f2 (x) = 13 f (x); (c) f3 (x) = f (3x); (d) f4 (x) = f 13 x .
8. Em cada alı́nea, determine o valor dos números dados sem recorrer à calculadora.
1
(a) log5 125 (b) log5 125 (c) log8 64 (d) log8 4 (e) log8 256
1
(f) log 1 125 (g) log 1 125 (h) log 1 64 (i) log 1 4 (j) log 1 256
5 5 8 8 8
12. Recorrendo às propriedades que relacionam as funções trigonométricas com as suas
inversas e a identidades trigonométricas, calcule:
(a) f (x) = (1 + x)x (b) g (t) = (ln t)t−1 (c) h (s) = (tg s)s
2 −y
1 −1+e
(d) i (x) = (arcsin x)x (e) j (x) = (arctg x)x (f) k (y) = −
y
14. Admita que a procura (D) e a oferta (S) de um determinado bem são dadas por
q = 11 − 3p e q = 1 + 2p,
5
Os exercı́cios marcados com (*) são considerados de dificuldade acima da média.
1.3. LIMITE E CONTINUIDADE 39
x2 − 3x + 2
f (x) = , para x ∈ R\ {2} .
x−2
Pretendendo estudar o comportamento do gráfico de f na vizinhança de 2, poderá cons-
truir a seguinte tabela para valores cada vez mais próximos de 2, quer à direita quer à
esquerda (na tabela, ”N.D”abrevia ”não definida”):
lim f (x) = 1.
x→2
Mais: esta tendência faz-se quer x se aproxime por valores menores quer o faça por
valores maiores que 2, ou seja:
A estimativa fornecida pela tabela parece ser corroborada através de uma ferramenta
gráfica.
40 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
x2 −3x+2
Figura 1.26: Gráfico de f tal que f (x) = x−2
e recta y = 1.
é tal que lim sgn(x) não existe. Com efeito, esboçando o gráfico de sgn é fácil perceber
x→0
que:
lim− sgn(x) = −1 6= 1 = lim+ sgn(x).
x→0 x→0
1
(b) A função f tal que f (x) = , x 6= 0, cresce ilimitadamente quando x se aproxima
x2
1
de zero, quer à esquerda quer à direita. Assim, não existe lim 2 , embora seja lı́cito
x→0 x
1 6
escrever lim 2 = +∞. ( ) Esboce o gráfico de f .
x→0 x
6
Não existe aqui contradição. Dizemos que não existe limite uma vez que +∞ (e também −∞) não
constituem números reais.
1.3. LIMITE E CONTINUIDADE 41
1
(c) Para a função g tal que g(x) = sin , x 6= 0, não existe lim g(x) uma vez que g(x)
x x→0
não se aproxima de nenhum valor real quando x tende para 0. Eis uma representação
gráfica desta função numa vizinhança de 0.
1
Figura 1.27: Gráfico de g tal que g(x) = sin .
x
Feita esta introdução, apresenta-se agora a definição formal de limite segundo Cauchy.
Definição 1 (Limite). Seja f uma f.r.v.r. definida num intervalo aberto contendo c, ex-
cepto eventualmente em c, e seja L um número real. Dizemos que f (x) tende para L
quando x tende para c, se para todo o ε > 0 existe algum δ > 0 tal que f (x) está a uma
distância de L inferior a ε sempre que x esteja a uma distância de c inferior a δ (x 6= c).
Simbolicamente, escreveremos:
Graficamente, o que se passa é que apenas existe limite (igual a L) quando, uma vez
fixado arbitrariamente o intervalo ]L − ε, L + ε[ , é possı́vel encontrar alguma vizinhança
]c − δ, c + δ[ \ {c}, tal que a imagem de qualquer ponto nesta vizinhança é um valor em
]L − ε, L + ε[.
Nota 10. 1. Decorre da presente definição e do exemplo dado que uma função pode ter
limite num ponto c sem que esteja definida nesse ponto.
2.Esta definição terá de ser adaptada para os casos em que f apenas está definida em
]c, d[ (ou ]d, c[), e ainda para aqueles em que L = +∞ (ou L = −∞). Assim, se f
apenas estiver definida num intervalo ]c, d[, c, d ∈ R , define-se o chamado limite lateral
à direita em c, como se segue: lim+ f (x) = L se
x→c
Exemplo 11. Para mostrar que lim (3x + 1) = 7 recorrendo à definição basta que, fixado
x→2
arbitrariamente ε > 0, encontremos algum δ > 0 que verifique a implicação em (1.10).
Ora, para qualquer ε > 0 tem-se:
|3x + 1 − 7| = |3x − 6| = 3 |x − 2| < ε
ε ε
desde que |x − 2| < . Logo, para qualquer ε > 0 existe δ = > 0 tal que
3 3
0 < |x − 2| < δ =⇒ |(3x + 1) − 7| < ε,
o que mostra o pretendido.
A definição de limite é utilizada essencialmente em resultados teóricos, para estabe-
lecer a existência ou inexistência de limites. Para o cálculo corrente de limites vamos
recorrer a métodos analı́ticos mais expeditos do que a definição (mas que, em última
análise, dela resultam).
Em muitos casos, lim f (x) calcula-se simplesmente por substituição directa, i.e.,
x→c
calculando f (c). Assim procedendo, estamos a subentender que a função é contı́nua
(como iremos recordar, mais adiante).
O seguinte resultado garante a unicidade do limite, caso exista. Nele introduzimos a
seguinte notação:
R = ]−∞, +∞[ ∪ {−∞, +∞} ,
que não deve ser entendido como conjunto, mas como a recta real à qual, por comodidade,
juntámos os sı́mbolos −∞ e +∞.
Teorema 2. Seja f uma f.r.v.r. e a = −∞, c− , c, c+ ou +∞ (c ∈ R). Se lim f (x) existir,
x→a
então é único. Além disso, sendo L ∈ R, tem-se:
lim f (x) = L ⇐⇒ lim f (x) = L = lim− f (x) .
x→c x→c+ x→c
1.3. LIMITE E CONTINUIDADE 43
com L, K ∈ R. Então:
p (c)
lim p (x) = p(c) e lim r (x) = , desde que q (c) 6= 0.
x→c x→c q (c)
[Limite da função composta] Sejam f e g duas funções tais que lim g (x) = L e
x→c
lim f (x) = f (L). Então:
x→L
Vimos já uma técnica algébrica que permite determinar o cálculo de um limite sem
recorrer à definição. A segunda que iremos apresentar consiste na racionalização de ex-
pressões envolvendo radicais, através da multiplicação e divisão pelo conjugado.
44 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
√
x+1−1
Exemplo 12. Pretende-se calcular lim . Temos:
x→0 x
√ √ √
x+1−1 x+1−1 x+1+1 x+1−1
lim = lim √ = lim √
x→0 x x→0 x x+1+1 x→0 x x+1+1
1 1
= lim √ = .
x→0 x + 1 + 1 2
Nota 12. É importante desde já reter que o sinal de igualdade quando, por exemplo, se
escreve
lim f (x) = +∞
x→c
não significa que o limite existe, mas tão-só que, apesar de o limite não existir, é possı́vel
explicitar o comportamento ilimitado (positivo) de f quando x tende para c.
1
Exemplo 13. (a) O gráfico da função f tal que f (x) = tem uma assı́ntota
2 (x + 1)
vertical de equação x = −1, uma vez que
x2 + 1
(b) O gráfico da função f tal que f (x) = 2 tem duas assı́ntotas verticais: as rectas
x −1
x = −1 e x = 1.
(c) O gráfico da função f tal que f (x) = cotg x tem infinitas assı́ntotas verticais: as
rectas x = kπ, com k ∈ Z.
Estes exemplos permitem extrapolar uma regra prática para cálculo de limites no infi-
nito de funções racionais.
[Limites no infinito de funções racionais] Sejam A(x) e B(x) polinómios de graus k e
p, respectivamente (k , p ∈ N0 ), isto é:
A(x) = ak xk + ak−1 xk−1 + ... + a1 x + a0
e
B(x) = bp xp + bp−1 xp−1 + ... + b1 x + b0 .
Então:
A(x) ak x k
lim = lim
x→+∞ B(x) x→+∞ bp xp
e
A(x) ak x k
lim = lim .
x→−∞ B(x) x→−∞ bp xp
diremos que a função f tem uma assı́ntota horizontal de equação y = L na parte es-
querda (resp., na parte direita) do gráfico.
2x − 1
Exemplo 15. (a) O gráfico da função f tal que f (x) = tem uma assı́ntota hori-
x+1
zontal de equação y = 2, tanto na parte direita como na parte esquerda do gráfico. De
facto:
2x − 1 2x − 1
lim = 2 e lim = 2.
x→−∞ x + 1 x→+∞ x + 1
3x − 2
(b) O gráfico da função g tal que g(x) = √ tem duas assı́ntotas horizontais: as
2
√ √ 2x + 1
rectas y = 3 2 2 na parte direita e y = − 3 2 2 na parte esquerda do gráfico.
(c) O eixo dos XX é uma assı́ntota horizontal, tanto na parte direita como na parte
2
esquerda do gráfico da função h tal que h(x) = e−x .
Como é evidente, haverá casos em que uma função não tem assı́ntotas horizontais.
Por último, pode suceder que o gráfico de f no infinito se aproxime não de uma recta
horizontal mas de uma recta oblı́qua, r, de equação
y = m x + b, com m ∈ R\ {0} e b ∈ R.
Sejam C e C 0 , respectivamente, as partes direita e esquerda do gráfico de f . Assim, dire-
mos que:
r é assı́ntota oblı́qua de C ⇐⇒ lim [f (x) − (m x + b)] = 0
(
x→+∞
r é assı́ntota oblı́qua de C 0 ⇐⇒ lim [f (x) − (m x + b)] = 0
x→−∞
Uma vez que m e b não são conhecidos a priori, temos de arranjar maneira de os deter-
minar. Prova-se que os valores de m e b são dados, respectivamente por:
f (x)
m = lim e b = lim [f (x) − m x] (assı́ntota oblı́qua de C)
x
x→+∞ x→+∞
f (x)
m = lim e b = lim [f (x) − m x] (assı́ntota oblı́qua de C 0 )
x→−∞ x x→−∞
lim f (x) = −∞ L +∞
x→a
−∞ −∞ −∞ ind.
lim g(x) = K −∞ L + K +∞
x→a
+∞ ind. +∞ +∞
O sı́mbolo ind. traduz uma indeterminação. No caso da soma poderemos ter in-
determinações do tipo (∞ − ∞) ou (−∞ + ∞); no caso do produto, podemos obter
indeterminações do tipo (∞ × 0)ou(0 × ∞); no caso do quociente, podemos obter
∞ 0
indeterminações do tipo ou .
∞ 0
Mais adiante, trataremos dos limites possı́veis para as exponenciais-potência e das
indeterminações que eventualmente daı́ resultem.
48 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
Nota 13. O teorema é também válido, mutatis mutandis, para os casos em que c =
a+ , a− , +∞ ou −∞.
sin x
lim = 0,
x→+∞ x
sin x 1 1
uma vez que x
= x
sin x, sendo que lim = 0 e sin é limitada.
x→+∞ x
1.3. LIMITE E CONTINUIDADE 49
Nota 14. Note que ambas as hipóteses do ponto 2. do resultado anterior são necessárias.
Assim, deve notar, por exemplo, que
lim ex sin x
x→+∞
não existe. De facto, apesar de sin ser limitada, tem-se lim ex = +∞ 6= 0. O que
x→+∞
sucederá é que os valores de ex sin x oscilarão ilimitadamente quando x assume valores
infinitamente grandes positivos. Será que o mesmo sucede quando x → −∞?
lim u(x) = 0,
x→a
então também
sin [u(x)]
lim =1
x→a u(x)
(o que pode ser demonstrado recorrendo a uma simples mudança de variável).
Exercı́cio 10. Procure obter generalizações análogas para os restantes limites notáveis.
Deste modo, são necessárias três condições para que uma função seja contı́nua em c:
Exemplo 17.
1 1
sin , se x 6= 0 x sin , se x 6= 0
x x
1) f : f (x) = 2) g : g(x) =
0, se x = 0 0, se x = 0
é contı́nua em R\ {0} . é contı́nua em R.
Teorema 6. Se f é contı́nua em c ∈ Df e f (c) > 0 (resp., f (c) < 0), então f é positiva
(resp., negativa) numa bola aberta centrada em c. .
respectivamente.
Facilmente se observa que I[0,1] é contı́nua em R\{0, 1}. Deixa-se como desafio o esboço
e estudo da continuidade de f tal que
Este resultado diz-nos que uma função contı́nua não pode passar de um valor a outro
sem tomar todos os valores intermédios. Dito de outro modo: o gráfico de uma função
contı́nua é uma curva contı́nua.
Corolário 1. Se f uma função contı́nua em [a, b] e f (a) × f (b) < 0, então existe pelo
menos um c ∈ ]a, b[ tal que f (c) = 0.
O corolário anterior é também muitas vezes utilizado para determinar o sinal de uma
função num dado intervalo I. Com efeito, se uma dada função contı́nua não se anula num
intervalo I, então basta determinar o sinal de f (c), c ∈ I, para saber qual o sinal de f em
I. Temos: (
f (c) > 0 =⇒ f (x) > 0 , ∀x ∈ I
.
f (c) < 0 =⇒ f (x) < 0 , ∀x ∈ I
contı́nua em R+ , ou seja, em ]0, +∞[ (e, portanto, em qualquer intervalo fechado contido
em R+ ). Note que
√
f (x) = 0 ⇐⇒ x + 1 = x2 + x + 1 ⇐⇒ (x + 1)2 = x2 + x + 1 ⇐⇒ x = 0.
√
Ora, 0 ∈ / R+ . Como f (1) = 2 − 3 > 0, podemos concluir que f é positiva em R+ , ou
seja, (1.11) verifica-se.
Teorema 8 (T. de Weierstrass). Se f é uma função contı́nua em [a, b], então é limitada
em [a, b] e atinge nesse intervalo um máximo e um mı́nimo.
tg (2x)
9. Considere a f.r.v.r. f tal que f (x) = .
x
(a) Determine o domı́nio de continuidade de f .
(b) Verifique se existe lim f (x).
x→0
(a) Qual o declive (ou coeficiente angular) da recta definida pela origem e por P ?
(b) Determine uma equação da recta tangente à circunferência em P .
(c) Seja Q (x, y) outro ponto de C situado no primeiro quadrante. Determine o
declive mx da recta definida pelos pontos P e Q, em função de x.
(d) Calcule lim mx . De que forma este limite está relacionado com a resposta
x→3
dada em (b)?
11. (*) No contexto de certas equações, as soluções são famı́lias de funções da forma
f (x) = xk eαx ,
onde α ∈ R e k ∈ N0 são parâmetros. Discuta a existência de
lim f (x)
x→+∞
4. Problema da área.
Contudo, esta noção complica-se ao falarmos de curvas genéricas, como se pode ob-
servar nos seguintes três exemplos.
que corresponde a uma taxa de variação da função no intervalo [c, c + ∆x] ([c + ∆x, c],
se ∆x < 0). Como se pode observar na figura seguinte, fixando (c, f (c)) e fazendo
∆x −→ 0, vemos que as rectas secantes estão a tender para a recta tangente ao gráfico de
f em (c, f (c)) e que, por conseguinte, o declive da recta tangente será
f (c + ∆x) − f (c)
m = lim , (1.12)
∆x→0 ∆x
caso este limite exista.
Assim, é natural a seguinte definição.
Definição 3 (reta tangente com declive m). Dada uma função f definida num intervalo
aberto contendo x0 , chamamos recta tangente ao gráfico de f no ponto de abcissa x0 à
recta passando em (x0 , f (x0 )) cujo declive é (1.12) (com x0 no lugar de c). Assim sendo,
uma equação desta recta é
y − f (x0 ) = m(x − x0 ).
Nota 15. 1. Ao declive é também usual chamar coeficiente angular ou inclinação. Por
seu turno, é ainda possı́vel dizer que o gráfico de f em x = x0 tem inclinação m.
2.A recta normal ao gráfico de f no ponto de abcissa x0 passa em (x0 , f (x0 )) e é per-
pendicular à recta tangente no referido ponto. Da Geometria Analı́tica, sabe-se que se m
é o declive da recta tangente, então
1
m0 = −
m
será o declive da recta normal (desde que m 6= 0). Uma equação desta será:
y − f (x0 ) = m0 (x − x0 ).
3. Caso se tenha
f (x0 + ∆x) − f (x0 ) f (x0 + ∆x) − f (x0 )
lim = +∞ ou lim = −∞,
∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x
60 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
2. Sempre que nos queiramos referir à derivada num ponto genérico, podemos omitir
”(x0 ) ”.
3. Uma vez que ∆x = x − x0 , é também recorrente exprimir a derivada em x0 por meio
do seguinte limite:
f (x) − f (x0 )
lim .
x→x0 x − x0
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 61
Uma função diz-se derivável num ponto x se f 0 (x) ∈ R ou se f 0 (x) for infinita; dir-
se-á derivável num intervalo ]a, b[ se for derivável em todos os pontos deste intervalo.
Dir-se-á diferenciável em x se tiver derivada finita nesse ponto.
Se f estiver definida em [a, b], apenas podemos definir as derivadas laterais à direita
em a e à esquerda em b:
f (a + ∆x) − f (a) f (x) − f (a)
fd 0 (a) = lim + = lim+
∆x→0 ∆x x→a x−a
e
f (b + ∆x) − f (b) f (x) − f (b)
fe 0 (b) = lim − = lim− .
∆x→0 ∆x x→b x−b
No caso de f 0 (x) = +∞ (ou −∞) diremos que a derivada é infinita.
Ainda a respeito das derivadas laterais, temos:
Teorema 9. A derivada f 0 (x0 ) existe se e só se fd 0 (x0 ) e fe 0 (x0 ) existem e são iguais.
Dada uma f.r.v.r. f , podemos definir uma nova função, f 0 , para todos os pontos onde
f seja diferenciável. Esta função diz-se função primeira derivada. Para todos os pontos
onde f 0 seja diferenciável, podemos definir a função segunda derivada, cuja notação é
d2 f
f 00 ou 2 . Tem-se portanto
dx
d2
:D → R
dx2
d2 f
d df
x 7−→ 2
(x) = (x) = (f 0 )0 (x) = f 00 (x)
dx dx dx
onde D é o conjunto dos pontos de Df onde f 0 é diferenciável. De uma maneira geral,
define-se a derivada de ordem n por recorrência, à custa da derivada de ordem (n − 1):
dn f d dn−1 f
(n)
f (x) = n (x) = (x) .
dx dx dxn−1
Exemplo 22. Recorrendo à definição, é possı́vel mostrar que:
x3 + 2x, temos: f 0 (x) = 3x2 + 2, para todo o x ∈ R.
(a). Dada f tal que f (x) =√
(b) Sendo g tal que g(x) = x, x ∈ R+ 0 , temos:
1
g 0 (x) = √ , ∀x ∈ R+ .
2 x
√
Assim, para qualquer ponto x0 , x0 ) tal que x0 > 0,
√ 1
y− x0 = √ (x − x0 )
2 x0
é uma equação da recta tangente ao gráfico no ponto dado. No ponto x = 0, o gráfico
tem uma semirrecta tangente vertical, x = 0, uma vez que gd 0 (0) = +∞.
62 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
Ora, temos:
f (x) − f (c) f (x) − f (c)
lim [f (x) − f (c)] = lim (x − c) = lim × lim (x − c)
x→c x→c x−c x→c x−c x→c
= f 0 (c) × 0 = 0.
∆y df
y = f (x)
∆x dx
deslocamento velocidade média velocidade (instantânea)
velocidade aceleração média aceleração (instantânea)
custo custo médio custo marginal
lucro lucro médio lucro marginal
d d df
(C) = 0 [Cf ] = C
dx dx dx
d df dg d df dg
[f ± g] = ± [f × g] = g+f
dx dx dx dx dx dx
df dg
d f g−f d n df
= dx dx [f ] = nf n−1
dx g g2 dx dx
d d
[sin x] = cos x [cos x] = − sin x
dx dx
d 1 d −1
[tg x] = = sec2 x [cotg x] = = −cossec2 x
dx cos2 x dx sin2 x
d x d x
[a ] = ax ln a [e ] = ex
dx dx
d 1 d 1
[loga x] = [ln x] =
dx x ln a dx x
A tı́tulo de exemplo, mostraremos que
d
[sin x] = cos x ,
dx
recorrendo à definição. Temos:
d sin(x + ∆x) − sin x sin x cos (∆x) + cos x sin (∆x) − sin x
[sin x] = lim = lim
dx ∆x→0
∆x ∆x→0
∆x
cos (∆x) − 1 sin (∆x)
= lim sin x + cos x
∆x→0 ∆x ∆x
= sin x × 0 + cos x × 1 = cos x .
Na tabela anterior, algumas das fórmulas podem ser generalizadas para o caso da
composta de funções. Para tal, necessitamos da chamada regra da cadeia, ou seja, a
derivada da função composta.
Teorema 11 (regra da cadeia ou da derivada da composta). Sejam f : ]a, b[ −→ R
e g : ]c, d[ −→ R duas f.r.v.r. tais que f (]a, b[) ⊂ ]c, d[. Seja ainda x0 ∈ ]a, b[ tal que
y0 = f (x0 ). Se f 0 (x0 ) existe e g 0 (y0 ) existe, então (g ◦ f )0 (x0 ) existe e tem-se:
(g ◦ f )0 (x0 ) = g 0 (y0 ) f 0 (x0 ) .
(ou seja, (g ◦ f )0 (x0 ) = g 0 (f (x0 )) f 0 (x0 )). Na notação de Leibniz, se y = f (x) e
u = g(y), então
du du dy
(x0 ) = (y0 ) (x0 ) .
dx dy dx
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 65
du
d du d (x) du
[sin u (x)] = (x) cos (u (x)) [tg u (x)] = dx2 = (x) sec2 u (x)
dx dx dx cos u (x) dx
du
d du d − (x) du
[cos u (x)] = − (x) sin (u (x)) [cotg u (x)] = dx2 = − (x) cossec2 u (x)
dx dx dx sin u (x) dx
du
d u(x) du d (x)
a = (x) au(x) ln a [loga u (x)] = dx
dx dx dx u (x) ln a
du
d u(x) du d (x)
e = (x) eu(x) [ln u (x)] = dx
dx dx dx u (x)
Nota 17. Na notação de Leibniz, se y = f (x) (e, portanto, x = f −1 (y)), nas condições
enunciadas, temos:
dx 1
(y0 ) = .
dy dy
(x0 )
dx
Logo,
1
(arcsin y)0 = p , y ∈ ]−1, 1[ .
1 − y2
Na variável x, temos:
1
(arcsin x)0 = √ , x ∈ ]−1, 1[ .
1 − x2
Para uma função u(x) no argumento, temos:
u0 (x)
(arcsin u)0 (x) = q , x : u(x) ∈ ]−1, 1[ .
1 − [u(x)]2
−u0 (x)
(arccos u)0 (x) = q ,
2
1 − [u(x)]
e também que
x2 + y 2 = 25 (1.13)
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 67
Se substituirmos em (1.13) y por qualquer uma destas expressões obtemos uma identi-
dade. Por este motivo, diremos que a equação (1.13) define implicitamente as funções
f e g, contı́nuas em [−5, 5] (7 ). O problema colocado tem agora fácil resolução. Como o
ponto está no 1.o quadrante, para x = 3 vem y = 4 e uma equação da recta tangente à
circunferência é:
t: y − 4 = g 0 (3)(x − 3).
Como
0 −x 3
g (3) = √ =− ,
25 − x2 x=3 4
temos
t: 3x + 4y = 25.
Sucede que nem sempre é possı́vel explicitar uma função y = f (x) a partir de uma
equação do tipo F (x, y) = 0. Como poderı́amos resolver nesse caso o problema da recta
tangente? A técnica da derivação implı́cita é a solução adequada. Sob certas condições
que serão apresentadas aquando do estudo do Cálculo Diferencial em Rn , uma equação
do tipo F (x, y) = 0 define implicitamente uma função y = f (x) numa vizinhança de um
ponto. Admitamos que estas condições são verificadas para a equação (1.13). Então
d 2 d
x + y2 =
[25]
dx dx
7
É possı́vel admitir que a mesma equação define implicitamente inúmeras outras funções descontı́nuas
em um ou mais pontos de [−5, 5] .
68 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
ou seja:
dy
2x + 2y = 0. (1.14)
dx
dy
Note que surge uma vez que, sendo y função de x, a equação inicial tem a forma
dx
x2 + [y (x)]2 = 25.
De (1.14) resulta
dy x
=− ,
dx y
desde que y 6= 0. Assim, para o ponto (3, 4) temos:
3
y 0 (3) = − ,
4
e a equação obtida é a mesma.
dy
Exemplo 24. 1. Obtenha sabendo que y é uma função definida implicitamente pela
dx
equação:
y 3 + y 2 − 5y − x2 = −4.
Resolução: Derivando implicitamente ambos os membros da equação, obtemos:
dy dy dy
3y 2 + 2y − 5 − 2x = 0.
dx dx dx
dy
Resolvendo esta equação em ordem a , vem:
dx
dy 2x
= 2 .
dx 3y + 2y − 5
Observe que a expressão deduzida para a derivada da função definida implicitamente
pela equação dada é apenas válida para pontos que pertencem a tal curva e tais que
3y 2 + 2y − 5 6= 0.
2. Obtenha o declive da recta tangente à elipse de equação
x2 + 4y 2 = 4
√
no ponto P 2, √12 .
Resolução: Derivando implicitamente ambos os membros da equação e resolvendo em
dy
ordem a , resulta:
dx
dy x
=− ,
dx 4y
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 69
√
2 2 1
Figura 1.31: Elipse x + 4y = 4 e recta tangente no ponto 2, 2 .
√
expressão válida para pontos da elipse tais que y 6= 0. No ponto dado, temos:
dy 1
(P ) = − .
dx 2
d2 y
3. Sendo x2 + y 2 = 25, obtenha 2 por derivação implı́cita.
dx
Resolução: Vimos já que, por derivação implı́cita, temos:
dy x
=− .
dx y
Derivando novamente, vem:
dy x2
y−x y +
d2 y dx = − y x2 + y 2 25
2
= − 2 2
= − 3
=− 3 .
dx y y y y
Mais uma vez, recordamos que as expressões deduzidas para a primeira e segunda deri-
vadas da função definida implicitamente são apenas válida para pontos que pertencem à
circunferência cuja equação é dada e tais que y 6= 0.
ou ainda:
Isto traduz que, para c + ∆x suficientemente próximo de c, f (c) + f 0 (c)∆x é uma boa
aproximação de f (c + ∆x), ou seja:
Exercı́cio 14. Determine a aproximação linear da função f tal que f (x) = 1 + sin x no
ponto (0, 1).
8
Prova-se também que se
então m = f 0 (x0 ).
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 71
Figura 1.32: Aproximação pela recta tangente de f no ponto (0, 1) (Exercı́cio 14.)
dy = dx = 1 × ∆x,
dy = f 0 (x)dx.
72 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
Definição 5 (diferencial de uma função). Seja f tal que y = f (x) uma função dife-
renciável num intervalo aberto contendo x. A diferencial de y é o seguinte valor real:
dy = f 0 (x)dx ,
∆y ≈ dy .
O conceito de diferencial pode ser utilizado para obter valores aproximados. De facto,
recordando a fórmula da aproximação incremental, tem-se
Análise de Erros
Sempre que se fala de valores aproximados de um número é importante avaliarmos o erro
cometido nessa aproximação, pois aquele fornece-nos um grau de fiabilidade desta.
Doravante, designaremos por x um valor aproximado (v.a.) de um número real x, e
escreveremos
x≈x
para denotar tal facto. Se x > x, x dir-se-á um v.a. de x por excesso; se x < x, x dir-se-á
um v.a. de x por defeito. Assim, podemos dizer que 2.8 e 2.7 são v.a. de e (número de
Neper) por excesso e por defeito, respectivamente.
O erro do v.a. x para um valor x é dado por
∆x = x − x.
ε ≤ L. (1.17)
x − L ≤ x ≤ x + L.
|π − π| < 0, 01,
|∆x|
rx = .
|x|
Assim,
ε = rx |x|
Mais uma vez, dado que desconhecemos x com exactidão, o que nos surge na prática é
um majorante do erro relativo. Pelos mesmo motivo, nas definições acima, tomaremos |x|
no lugar de |x|. Assim, se L ∈ R+ for tal majorante,
|∆x|
rx ≤ L ⇐⇒ ≤ L ⇐⇒ |∆x| ≤ L |x|
|x|
1 1 sin θ
(a) f (s) = 4s4 − 5s2 (b) g(x) = x 2 − x− 2 (c) h(θ) = 3 cos θ −
4
√ 2
x +x−1
(d) f (x) = (3x2 + 7) (x2 − 2x + 3) (e) f (x) = x sin x (f) f (x) =
x2 − 1
1 x2
(g) f (x) = (h) y = (i) y = 3x2 sec x
4 − 3x2 cos x
sin x
(j) y = x cos x − sin x (k) y = (l) y = 2x − x2 tg x
x
5
θ 1
(m) y = 1 − cos 2x + 2 cos2 x (n) h(θ) = 2
(o) f (x) = x +
(1 − θ)3 x
sec7 x sec5 x 3x cos (x − 1)
(p) y = − (q) f (x) = √ (r) y =
7 5 x2 + 1 x−1
7. Mostre que, em cada um dos casos, a função definida por y = f (x) satisfaz a
equação diferencial dada.
(a) y = 2 sin x + 3 cos x, equação: y 00 + y = 0
(b) y = ex (a cos 3x + b sin 3x), equação: y 00 − 2y 0 + 10y = 0
8. Defina em cada um dos casos a função derivada da função cuja expresssão é dada.
√ √
(a) f (x) = ln x (b) g(x) = x ln x (c) f (t) = t2 et
1 √ x2
(d) y = [a + bx − a ln (a + bx)] (e) y = e2x + e−2x (f) g(x) =
b2 ex
1
(g) f (x) = e−|x| (h) f (x) = arctg (x2 − 1) (i) y = x2x+1
2
√
(j) g(x) = log3 1 − x (k) y = tg (arcsin x) (l) y = 3x−1
√
(m) y = x arcsin2 x − 2x + 2 1 − x2 arcsin x (n) y = (ln x)x (o) y = xln x
0
12. Em cada uma das alı́neas, determine (f −1 ) (a) para a função f e a ∈ R, dados.
√
π π 3
(a) f (x) = x3 + 2, a = −1 (b) f (x) = tg x, − ≤ x ≤ , a =
4 4 3
3 x
(c) f (x) = 1 − x , a = 9 (d) f (x) = e + x, a = 1
dy
13. Para cada uma das seguintes alı́neas, determine por meio de derivação implı́cita.
dx
√ 1
(a) x3 y 3 − y = x (b) xy = x − 2y (c) x = sec
y
dy
14. Para cada uma das seguintes alı́neas, determine por meio de derivação implı́cita
dx
e o valor da derivada no ponto indicado.
x2 y 2
(a) determine uma equação da recta tangente à elipse + = 1 no ponto (1, 2).
2 8
x2 y2
(b) mostre que uma equação da recta tangente à elipse 2 + 2 = 1 no ponto
a b
x0 x y 0 y
(x0 , y0 ) é 2 + 2 = 1.
a b
d2 y
16. Dada a curva de equação x2 y 2 − 2x = 3, determine como função de x e de y.
dx2
17. Admita que a função f definida por y = f (x) é solução da seguinte equação
dy y
=ky 1− , k, L : constantes positivas,
dx L
dita equação logı́stica. Sabendo que tal função é limitada (os seus valores estão em
]0, L[), mostre que o gráfico de f possui um ponto de inflexão. Determine-o.
18. Para cada uma das alı́neas seguintes, calcule a diferencial, dy.
x+1 √
(a) y = 3x2 − 4 (b) y = (c) y = 36 − x2
2x − 1
√
(d) y = x sin x (e) y = x (1 − cos x) (f) y = 1 − x2 arcsin x
78 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
19. Uma companhia descobre que a procura para o produto que vende é p = 75 − 14 x.
Se x muda de 7 para 8, compare os valores de ∆p e de dp. Proceda do mesmo
modo, agora para uma função procura dada por p = 75 − 41 x − x2 e explique as
diferenças obtidas.
21. Considere uma empresa com a seguinte função de produção F , tal que F (x) =
1√
2
x, onde x designa o número de unidades de trabalho. Suponha que a empresa
está a usar 100 unidades do factor trabalho.
23. Determine uma equação da parábola y = ax2 + bx + c que passa pelo ponto (0, 1)
e que é tangente à recta y = x − 1 no ponto (1, 0).
24. (*) Determine as equações das rectas tangentes à curva y = x3 − 9x e que passam
pelo ponto (1, −9).
25. (*) Para a função h definida em 9. (d), discuta a forma da sua representação gráfica
em função dos valores admissı́veis para o parâmetro α.
Sugestão: Comece por concretizar α para alguns valores admissı́veis.
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 79
f (x) = 0 ⇐⇒ x = 1 ∨ x = 2.
Assim, como f é regular em [1, 2] (pois é polinomial) e f (1) = f (2), podemos concluir
0
que existe algum c em ]1, 2[ tal que f (c) = 0. Determine o ponto (c, f (c)) e indique o
que representa no Gf .
Duas consequências importantes deste resultado estão relacionadas com a restrição do
número de zeros de uma função regular. De facto, temos:
Corolário 2. Entre dois zeros de uma função f regular em [a, b] existe pelo menos um
zero da função f 0 .
Demonstração. Sejam c1 , c2 tais que f (c1 ) = f (c2 ) = 0, com c1 < c2 . Aplique-se o T.
de Rolle a f no intervalo [c1 , c2 ].
80 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
Corolário 3. Seja f uma função regular em [a, b]. Entre dois zeros consecutivos de f 0
existe, no máximo, um zero da função f .
Demonstração. Sejam c1 , c2 tais que f 0 (c1 ) = f 0 (c2 ) = 0, com c1 < c2 . Admita que
existiam α, β ∈ [c1 , c2 ], α < β tais que f (α) = f (β) = 0. Por aplicação do T. de Rolle
a f no intervalo [α, β] chegar-se-ia à conclusão que existiria d ∈]α, β[⊂]c1 , c2 [ tal que
f 0 (d) = 0. Tal é absurdo, porque se supôs que os zeros de f 0 são consecutivos. Deste
modo, f apenas admitirá, no máximo, um zero em [c1 , c2 ].
Teorema 14 (T. do Valor Médio ou de Lagrange). Seja f uma f.r.v.r. regular em [a, b].
Então existe algum c ∈ ]a, b[ tal que
0 f (b) − f (a)
f (c) = .
b−a
Geometricamente, o teorema afirma a existência de uma recta tangente ao gráfico de f
paralela à recta que lhe é secante pelos pontos (a, f (a)) e (b, f (b)). Em termos de taxas
de variação, o Teorema do Valor Médio de Lagrange afirma que deve existir algum ponto
c em ]a, b[ para o qual a taxa de variação nesse ponto é igual à taxa de variação média no
intervalo [a, b].
Exemplo 30. Seja f uma f.r.v.r. definida por
4
f (x) = 5 − , x ∈ R\ {0} .
x
Encontremos todos os valores de c ∈ ]1, 4[ para os quais
0 f (4) − f (1)
f (c) = .
4−1
Note que a função dada é contı́nua e diferenciável no intervalo [1, 4], pois é contı́nua em
R\ {0} e
4
f 0 (x) = 2 , x ∈ R\ {0} .
x
Pelo Teorema de Lagrange, existe c ∈ ]1, 4[ tal que
0 f (4) − f (1)
f (c) = .
4−1
Ora, f (1) = 1 e f (4) = 4. Resolvendo a equação:
4 4−1
2
= ,
c 4−1
vem:
c = −2 ∨ c = 2.
Como −2 ∈
/ ]1, 4[, só pode ser c = 2.
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 81
Nota 18. Nas condições do Teorema de Lagrange, podemos dizer que existe algum c ∈
]a, b[ tal que
0
f (b) = f (a) + f (c) (b − a) ,
o que constitui uma forma alternativa para a conclusão do referido teorema.
Vamos agora apresentar algumas aplicações do T. de Lagrange. Na primeira referimos
uma maneira de calcular derivadas nos casos em que as fórmulas de derivação não se
podem aplicar.
Teorema 15. Seja f uma f.r.v.r. contı́nua em [a, b] e c ∈ ]a, b[ .
1. Se f é diferenciável em ]a, c[ e lim+ f 0 (x) existe, então f é derivável à direita em a e
x→a
tem-se:
fd0 (a) = lim+ f 0 (x) .
x→a
0
2. Se f é diferenciável em ]c, b[ e lim− f (x) existe, então f é derivável à esquerda em b
x→b
e tem-se:
fe0 (b) = lim− f 0 (x) .
x→b
√
Exercı́cio 16. 1. Mostre que para f (x) = 3
x se tem:
f 0 (0) = +∞.
Nota 19. 1. As afirmações feitas em 1. e 3. do teorema anterior são válidas ainda que f 0
se anule num número finito de pontos em ]a, b[. Pense por exemplo no que acontece com
f (x) = x3 .
2. Este teorema fornece-nos ainda o seguinte critério de injetividade de uma função:
f é injectiva em [a, b]
ou
f 0 (x) < 0, ∀x ∈ ]a, b[ .
Este critério também se mantém ainda que f 0 se anule num número finito de pontos em
]a, b[.
3. As conclusões mantêm-se se as condições de continuidade e de diferenciabilidade
se verificarem em ]−∞, b] ou [a, +∞[ (diferenciabilidade no interior). Por outro lado,
também se mantêm se tivermos f 0 (x) = +∞ nos dois primeiros casos ou f 0 (x) = −∞
nos restantes dois casos.
√
Exemplo 31. 1. A função f tal que f (x) = 3 x é estritamente crescente em R. De facto,
f é contı́nua em R. Por outro lado,
1
f 0 (x) = √
3
> 0, ∀x ∈ R\ {0} .
3 x2
Como f 0 (0) = +∞, o teorema anterior permite-nos concluir o que se pretende.
2. A função g tal que g (x) = x − arctg x é estritamente crescente em [0, +∞[. Além
disso, como g (0) = 0, conclui-se que
x > arctg x, ∀x ∈ R+ .
Indeterminações
0 ∞
Vimos que as formas indeterminadas como , , (∞ × 0) e (∞ − ∞) surgem
0 ∞
no cálculo de limites e têm esse nome uma vez que não garantem a existência ou não de
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 83
limite, nem qual o seu valor. Analisámos também técnicas algébricas muito simples que
permitem levantar tais indeterminações (i.e., que permitem chegar à conclusão acerca da
existência de limite e do seu valor, no caso afirmativo). Contudo, nem sempre tais técnicas
são
viáveis. Vamos apresentar um resultado que permite levantar indeterminações do tipo
0 ∞
e . Comecemos com um resultado auxiliar.
0 ∞
Teorema 18 (T. do valor médio alargado). Se f e g são duas funções regulares num
intervalo [a, b] então existe algum c ∈ ]a, b[ tal que
Observe que o Teorema de Lagrange é consequência deste, tomando g tal que g (x) =
x.
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0
x→c g (x) x→c g (x)
d 2x
[e − 1] 2e2x
lim dx = lim = 2,
x→0 d x→0 1
[x]
dx
a regra de L’Hôpital permite concluir que
e2x − 1 2e2x
lim = lim = 2.
x→0 x x→0 1
84 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
Nota 21. 1. Note que a sequência de igualdades em que se aplica a referida regra só é
válida se o último dos limites existir ou for infinito.
2. É muito simples converter
indeterminações do tipo (∞ × 0) e (∞ − ∞) em indetermi-
0 ∞
nações de um dos tipos ou . No primeiro caso trata-se de exprimir um produto
0 ∞
na forma de quociente. No segundo caso, a técnica da multiplicação e divisão pelo conju-
gado ou a redução ao mesmo denominador permitem, em geral, obter um quociente que
é de um dos tipos requeridos para aplicarmos a regra de L’Hôpital.
Exemplo 33. Mostre que
ln x x2
(a) lim =0 (b) lim
=0
x→+∞ x x→−∞ e−x
√
1 1 1
(c) lim e−x x = 0 (d) lim+ − =
x→+∞ x→1 ln x x − 1 2
ln x ∞
Resolução: (a) lim é uma indeterminação do tipo . Como
x→+∞ x ∞
d 1
dx
[ln x] x
lim d
= lim = 0,
x→+∞ [x] x→+∞ 1
dx
temos:
ln x
lim = 0.
x→+∞ x
x 1
1
(a) lim 1+ =e (b) lim (ln x) x = 1 (c) lim+ (sin x)x = 1.
x→+∞ x x→+∞ x→0
1
Resolução: (b) lim (ln x) x é uma indeterminação do tipo (∞0 ). Como
x→+∞
1
ln (ln x)
1 ln (ln x) x
(ln x) = e
x =e x ,
e dado que
Gráficos
Analisados já alguns aspectos como o domı́nio, a continuidade, a paridade, as assı́ntotas
e a monotonia do gráfico de uma função, vamos agora abordar os restantes aspectos ne-
cessários para efectuar um adequado esboço gráfico de uma função: as concavidades e
os extremos locais de uma função. Em qualquer destes aspectos, o conceito de derivada
ocupa um papel decisivo.
Teorema 20 (teste para a concavidade). Seja f 0 uma f.r.v.r. regular em [a, b].
1. Se f 00 (x) > 0 em ]a, b[, então o Gf é estritamente convexo em [a, b].
2. Se f 00 (x) ≥ 0 em ]a, b[, então o Gf é convexo em [a, b].
3. Se f 00 (x) < 0 em ]a, b[, então o Gf é estritamente côncavo em [a, b].
4. Se f 00 (x) ≤ 0 em ]a, b[, então o Gf é côncavo em [a, b].
Tal como acontecia a respeito da monotonia, podemos ter funções estritamente conve-
xas ou côncavas num intervalo e haver pontos em número finito para os quais a segunda
derivada se anule. Pense no exemplo da função f (x) = x4 , cuja primeira derivada,
f 0 (x) = 4x3 é regular. Note que, apesar de f 00 (0) = 0, a função é estritamente convexa
em ]−∞, 0] e em [0, +∞[, pois f 00 (x) = 12x2 > 0 em R\ {0}. Assim, f é estritamente
convexa em R.
Dada uma f.r.v.r. f definida num conjunto da forma D1 ∪ D2 onde D1 e D2 são dois
intervalos tais que
D1 ∩ D2 = {c} .
Dizemos que f tem um ponto de inflexão f (c) em c se e só se f é convexa (resp., côncava)
em D1 e côncava (resp., convexa) em D2 . Evidentemente, se (c, f (c)) é ponto de inflexão
e f 00 (c) existir então terá de ser
f 00 (c) = 0.
Contudo, f pode ter pontos de inflexão em pontos x onde f 00 (x) não exista ou seja infinita.
Extremos de f.r.v.r. Vimos já (na secção 1) os conceitos de extremos locais (máximos
e mı́nimos) e de extremos absolutos de uma f.r.v.r. num conjunto. Se em casos simples,
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 87
como as funções quadráticas, temos ferramentas algébricas que nos permitem determi-
nar tais extremos, vamos agora aplicar o conceito de derivada não só a esses casos mas
também na determinação dos extremos locais de quaisquer f.r.v.r.
Uma f.r.v.r. atinge uma máximo (resp., mı́nimo) local em c ∈ Df se
∃δ>0 : f (x) ≤ f (c) , ∀x∈]c−δ,c+δ[
(resp., se ∃δ>0 : f (x) ≥ f (c) , ∀x∈]c−δ,c+δ[ ).
Como deve recordar, uma função pode ter extremos locais sem ter extremos absolutos.
Contudo, prova-se que se o máximo (resp., mı́nimo) absoluto de uma função existir, então
é o máximo (resp., mı́nimo) local de maior (resp., menor) valor. Assim, se uma f.r.v.r.
possui um máximo (resp., mı́nimo) um processo para o determinar consiste em obter
todos os máximos (resp., mı́nimos) locais e escolher aquele que tem maior (resp., menor)
valor. No caso de estarmos na presença de uma função côncava ou convexa este processo
é bastante simples.
Observe que esta é uma condição necessária, mas não suficiente, para a existência
de extremos em pontos onde f é diferenciável. Quer isto dizer que, quando andamos à
procura de extremantes (i.e., maximizantes e minimizantes) de uma função em pontos
onde f é diferenciável devemos fazê-lo no conjunto dos valores que anulam f 0 . Contudo,
o facto de f 0 (c) = 0 não é suficiente para garantir que f (c) é extremo. Basta pensar no
seguinte contraexemplo.
Outro facto que importa destacar é que, para além dos pontos estacionários, f pode
atingir um extremo local em pontos onde a derivada não existe ou é infinita.
Exemplo 37. A f.r.v.r. f tal que f (x) = |x|, x ∈ R, diferenciável em R\ {0}, tem um
mı́nimo local (e absoluto) na origem.
Uma estratégia para determinar os extremos de uma função num intervalo fechado
[a, b] consiste em determinar os pontos crı́ticos de f no seu interior e os pontos onde
f 0 não está definida. Calculando depois f (a), f (b) e f (c) para cada ponto crı́tico ou
onde f não é diferenciável, a comparação desses valores dir-nos-á quais os casos em que
resultam extremos de f . Eventualmente, pode acontecer que alguns pontos crı́ticos não
sejam extremantes de f .
O seguinte resultado, dito teste da segunda derivada, apresenta uma condição su-
ficiente que permite decidir se um dado ponto crı́tico é ou não um extremante de uma
função.
Teorema 23 (Teste da 2.a derivada). Seja f uma f.r.v.r. diferenciável em [a, b] e admita
que c ∈ ]a, b[ é tal que f 0 (c) = 0. Admitamos que f é duplamente diferenciável em c.
(a) Se f 00 (c) > 0, então f (c) é um mı́nimo local.
(b) Se f 00 (c) < 0, então f (c) é um máximo local.
(c) Se f 00 (c) = 0, então o teste é inconclusivo.
Por último, deixamos aqui alguns problemas de optimização, i.e., de determinação de
máximos e mı́nimos.
√
3
Exemplo 38. Determinemos os extremos da f.r.v.r. f tal que f (x) = 2x + 3 x2 , x ∈ R.
Para tal, calculemos a primeira derivada de f :
2
f 0 (x) = 2 + √ , x ∈ R\ {0} .
3
x
Como
f 0 (x) = 0 ⇐⇒ x = −1,
apenas temos um ponto estacionário de f . Deste modo, f apenas poderá atingir extremos
neste ponto ou em x = 0, onde a derivada não existe. Façamos o quadro de monotonia
de f . Note que √
0
3
x+1
f (x) = 2 √ .
3
x
√
0
3
x+1
Assim, o sinal de f (x) é o do quociente √ . Temos pois o seguinte quadro:
3
x
x −∞ −1 0 +∞
√3
x+1 − 0 + + +
√3
x − − − 0 +
0
f (x) + 0 − N.D. +
Máx. local Mı́n. local
f (x) % & %
f (−1) = 1 f (0) = 0
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 89
Exemplo 39. O custo total, CT , de uma viagem (em euros) está repartido entre o custo do
combustı́vel e o pagamento do serviço do motorista. Sabe-se que o custo do combustı́vel
por hora, denotado por C, está relacionado com a velocidade do veı́culo (em Km/h)
através da seguinte função:
v2
C=
600
e que o motorista cobra
W = 5 (euros/h).
Qual a velocidade que minimiza o custo total num percurso de 110 Km ? Para responder
a este problema, observemos qua CT é função de v do seguinte modo:
CT (v) = C t + W t (1.19)
v 2 110
110 1 5
CT (v) = +5 = 110 v+ , v > 0.
600 v v 600 v
Ora,
d CT (v) 1 5
= 110 − 2
dv 600 v
e
d CT (v) 1 5 √
= 0 ⇐⇒ = 2 ⇐⇒ v = ± 3000.
dv 600 v
Como v representa uma velocidade e admitimos que o movimento se faz no sentido con-
siderado positivo, vem: √
v = + 3000 ≈ 54.78 Km/h.
Um quadro de monotonia facilmente permitiria concluir que este ponto estacionário de
CT é minimizante. O mı́nimo valerá:
√ √
CT ( 3000) = CT ( 30 × 10) ≈ 20.083 (em euros).
90 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
Esboço do gráfico de uma f.r.v.r. Para obter uma adequada representação gráfica de
uma f.r.v.r. há que ter em conta os diversos aspectos abordados até aqui, que resumiremos
de seguida.
(i) Domı́nio
(ii) Simetrias e periodicidade
(iii) Intervalos de continuidade e limites nos respectivos extremos
(iv) Assı́ntotas
(v) Primeira derivada, monotonia e quadro de variação
(vi) Indicação dos extremos e das intersecções com os eixos
(vii) Segunda derivada, concavidades e pontos de inflexão
Assim, f é ı́mpar e o seu gráfico é simétrico relativamente à origem. Quanto aos limites
nos extremos do domı́nio, temos:
r
3 x3
lim f (x) = lim = +∞
x→+∞ x→+∞ x2 − 1
e
lim f (x) = −∞ e lim f (x) = +∞.
x→1− x→1+
Desde já se conclui que o gráfico de f não tem assı́ntotas horizontais na parte direita e
que x = 1 constitui assı́ntota vertical do gráfico de f . Dado que
f (x) 1
lim = lim √
3
= 0,
x→+∞ x x→+∞ x2 − 1
também não existem assı́ntotas oblı́quas na parte direita. Atendendo à simetria acima re-
ferida, podemos afirmar o mesmo quanto à parte esquerda do gráfico no que concerne às
assı́ntotas não verticais, acrescentando que x = −1 constitui também assı́ntota vertical
do gráfico de f . Calculemos agora a primeira derivada. Temos:
df x2 − 3
(x) = (...) = q .
dx 3 2 4
3 (x − 1)
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 91
Em R+
0 temos:
df √
(x) = 0 ⇐⇒ x= 3.
dx
df
A partir do sinal de (x) - o qual depende apenas do sinal de (x2 − 3), nos pontos onde
dx
a derivada está definida - temos o seguinte quadro de monotonia estendido a Df :
√ √
x −∞ − 3 −1 1 3 +∞
df
(x) + 0 − N.D. − N.D. − 0 +
dx
f (x) % M & N.D. & N.D. & m %
onde: √
√ − 3
M é máximo local valendo f − 3 = √ 3
;
√ 2
√ 3
m é mı́nimo local valendo f 3 = √ 3
.
2
√ √
Assim, f é decrescente em − 3, −1 , em ]−1, 1[ e em 1, 3 , sendo crescente nos
restantes subdomı́nios, atingindo extremos locais nos pontos acima indicados. Estudemos
agora as concavidades mediante o cálculo da segunda derivada:
d2 f 2x (9 − x2 )
(x) = (...) = q .
dx2 3 2 7
9 (x − 1)
Em R+
0 temos:
d2 f
(x) = 0 ⇐⇒ x = 0 ∨ x = 3.
dx2
Note que para x ∈ R+
0 \ {1}, temos:
d2 f
2
(x) ≥ 0 ⇐⇒ (2x (9 − x2 ) ≥ 0 ∧ (x2 − 1) > 0) ∨ (2x (9 − x2 ) ≤ 0 ∧ (x2 − 1) < 0)
dx
⇐⇒ x ∈ ]1, 3] .
A variação de sinal da segunda derivada é dada através do seguinte quadro, contendo
também a parte relativa a R−0.
x −∞ −3 −1 0 1 3 +∞
2
df
(x) + 0 − ND + 0 − ND + 0 −
dx2
f (x) ∪ P I1 ∩ ∪ P I2 ∩ ∪ P I3 ∩
Neste quadro ficam patentes três pontos de inflexão do gráfico de f :
x = −3
( (
x=0 x=3
P I1 : 3 P I2 : P I3 : 3 .
y = f (−3) = − y = f (0) = 0 y = f (3) =
2 2
92 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
x
Figura 1.33: Gráfico de f tal que f (x) = √
3
.
x2 − 1
ln x
Exemplo 41. Faça o estudo completo e um esboço do gráfico de g tal que g (x) = .
+
x
Resolução: Comecemos por notar que Dg = R e que g é contı́nua nesse conjunto (por
ser o quociente entre uma função contı́nua em R+ por uma função polinomial que apenas
se anula em x = 0). Além disso:
1
ln x (ln x)0
lim g(x) = lim = lim = lim x = 0
x→+∞ x→+∞ x ∞ ! x→+∞ (x)0 x→+∞ 1
∞
e
ln x
lim+ g(x) = lim+ = −∞.
x→0 x→0 x
Assim, y = 0 e x = 0 são assı́ntotas horizontal e vertical, respectivamente, do gráfico de
g. A primeira derivada é dada por:
dg 1 − ln x
(x) = (...) = .
dx x2
Como
dg
(x) = 0 ⇐⇒ x = e,
dx
temos o seguinte quadro de monotonia:
x 0 e +∞
dg
(x) N.D. + 0 −
dx
Máx. local
g (x) % 1 &
g (e) =
e
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 93
Observe que, atendendo aos limites nos extremos de Dg , o máximo local é também abso-
luto. Quanto à segunda derivada, temos:
d2 g 2 ln x − 3
2
(x) = (...) = ,
dx x3
pelo que:
d2 g 3
2
(x) = 0 ⇐⇒ x = e2 .
dx
Eis a variação de sinal da segunda derivada, com as consequentes conclusões em termos
de concavidades:
3
x 0 e2 +∞
2
dg
(x) N.D. − 0 +
dx2
Pto. de infl.
g(x) ∩ 3 3 3 ∪
g e 2 = e− 2
2
ln x
Figura 1.34: Gráfico de g tal que g (x) = .
x
Exercı́cio 19. Aquando do estudo breve das funções trigonométricas inversas, pôde cons-
truir o gráfico de cada uma delas através da relação que se estabelece entra o gráfico
de uma função directa e o da respectiva inversa. Faça o estudo completo de cada uma
daquelas funções e confirme a forma dos respectivos gráficos.
Polinómios de Taylor/MacLaurin
Prometemos antes que, sob certas condições, é possı́vel aproximar funções mediante
polinómios de grau n, n > 1. Vamos agora definir tais polinómios e verificar que a
aproximação linear de uma função não é mais do que um caso particular, com n = 1.
1
Comecemos por observar o seguinte exemplo. Dada a f.r.v.r. f tal que f (x) = ,
1−x
pretende-se obter um polinómio, Pn (x), de grau n, tal que f (x) ≈ Pn (x). Recorde que,
94 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
dada uma progressão geométrica de razão x e 1.o termo 1, a soma dos seus (n + 1)
primeiros termos é dada por um polinómio Pn (x) tal que:
1 − xn+1 1 xn+1
Pn (x) = 1 + x + x2 + ... + xn = = − .
1−x 1−x 1−x
Daqui resulta que
1 xn+1 xn+1
= 1 + x + x2 + ... + xn + = Pn (x) + .
1−x 1−x 1−x
Esta igualdade permite-nos dizer que
1
f (x) = ≈ Pn (x) .
1−x
xn+1
desde que seja ”pequeno”. Mais: a aproximação será tanto melhor quanto mais
1−x
xn+1
pequeno for em valor absoluto. Coloca-se a questão de saber se esta é uma boa
1−x
xn+1
aproximação e se o termo suplementar é controlável.
1−x
Se a aproximação for boa, não restam dúvidas acerca da sua comodidade: trabalhar
com polinómios facilita as coisas em termos de continuidade, derivabilidade e (havemos
de o ver) integrabilidade. Além disso, a ser válido o desenvolvimento acima, podem-
se obter dele outros. De facto, a substituição de x por (−x2 ) naquele desenvolvimento
permite obter:
2n+2
1 2 4 n 2n n+1 x
= 1 − x + x + ... + (−1) x + (−1) .
1 + x2 1 + x2
1
Regressemos ao desenvolvimento de . Calculando Pn (x) para n = 0, 1, 2, 3, 4, 5,
1−x
1
vamos sobrepor em cada uma das seis figuras seguintes os gráficos de e de Pn (x).
1−x
Pode verificar pela observação das figuras que os sucessivos polinómios Pn (x) vão
sendo cada vez melhores aproximações de f (x) mas apenas no intervalo ]−1, 1[. A res-
xn+1
posta para esta discrepância reside no termo suplementar . Note que
1−x
1 xn+1
− Pn (x) =
1−x 1−x
O limite desta diferença quando n −→ +∞ é nulo quando |x| < 1, e não existe quando
|x| > 1 nem quando x = −1 (para x = 1 a função nem sequer está definida). Assim, é
natural que as aproximações sejam cada vez melhores à medida que o grau do polinómio
aumenta, mas apenas em ]−1, 1[.
Que tipo de polinómios é possı́vel utilizar para aproximar uma dada função? A res-
posta a esta questão reside nos chamados polinómios de Taylor.
Observe que este polinómio tem as mesmas derivadas que f no ponto até à ordem
n (facto que deixaremos como exercı́cio). Quando se subentender qual o ponto x0 em
torno do qual se efectua o desenvolvimento, podemos omiti-lo na notação do polinómio,
escrevendo apenas Pn (x).
Exercı́cio 20. Mostre que o polinómio de MacLaurin de grau n da função f tal que
1
f (x) = é:
1−x
Pn (x; 0) = 1 + x + x2 + . . . + xn .
Exemplo 42. Para f (x) = ex , uma vez que f (k) (0) = 1, k = 0, 1, 2, ..., temos:
n
1 2 1 X 1
Pn (x; 0) = 1 + x + x + ... + xn = xk .
2! n! k=0
k!
1
Por outro lado, como também f (k) (−1) = , k = 0, 1, 2, ..., temos:
e
n
1 1 1 (x + 1)2 1 (x + 1)n 1 X (x + 1)k
Pn (x; −1) = + (x + 1) + + ... + = .
e e e 2! e n! e k=0 k!
96 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
e
000 (v)
g 0 (0) = 1, g (0) = −1, g (0) = 1, ...
Deste modo, escreveremos:
1 3 1 g (n) (0) n
Pn (x; 0) = 0 + x + 0 − x + 0 + x5 + ... + x .
3! 5! n!
Daqui resulta que um polinómio de MacLaurin para esta função terá forçosamente grau
ı́mpar. De facto, suprimindo no desenvolvimento acima os termos de ordem par, escreve-
remos: n
X (−1)k 2k+1
P2n+1 (x; 0) = x .
k=0
(2k + 1)!
pelo que uma majoração de |Rn (x; x0 )| nos dá uma majoração do erro absoluto cometido
quando tomamos o polinómio de Taylor como aproximação de f (x).
Como encontrar uma majorante para o erro cometido nesta aproximação? Note que o
que está subjacente a esta aproximação é a fórmula de Taylor para ex em torno de x0 = 0
e para x = 1. De facto, pelo Exemplo 42. temos:
1 2 1 3 1 4
ex = P4 (x; 0) + R4 (x; x0 ) = 1 + x + x + x + x + R4 (x; 0),
2! 3! 3!
eξ 5
onde R4 (x; 0) = x , tal que ξ = θx, com 0 < θ < 1. Para x = 1, vem:
5!
1 1 1 eθ
e=1+1+ + + + .
2! 3! 4! 5!
Ora,
eθ e 3 1
|R4 (1, 0)| = < < = .
5! 5! 5! 40
1
Assim, a aproximação considerada para e é feita com erro inferior a.
40
Exemplo 45. A questão colocada no exemplo anterior pode ainda ser posta inversa-
mente: quantos termos deveremos considerar no polinómio de Taylor de modo que o erro
seja inferior a um dado L ? Trata-se de resolver a inequação
eθ
< L.
(n + 1)!
Para tal, e visto que 0 < θ < 1, é mais prático resolver
3
< L.
(n + 1)!
Admitamos, por exemplo, que se pretende aproximar e com erro inferior a 0.00001 (=
10−5 ). Quantos termos deveremos tomar no desenvolvimento do polinómio de MacLaurin
de ex com x = 1? Note que:
3
|Rn (1)| < 0.00001 ⇐⇒ < 10−5 .
(n + 1)!
Podemos resolver esta inequação através da construção de uma tabela:
3
n (n+1)!
1 1.5
2 0.5
3 0.125
4 0.025
5 0.004166667
6 0.000595238
7 7.44048E − 05
8 8.2672E − 06
98 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
O menor valor de n para o qual |Rn (1)| < 0.00001 é n = 8. Isto significa que
1 1 1 1
e≈1+ + + + ... + = 2.71827877,
1! 2! 3! 8!
com erro inferior a 10−5 .
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 99
A = V e−rt (1.23)
Deste modo, trata-se de, para um determinado número de anos, t, calcular A a partir
do valor futuro dado, V (sendo A e V funções de t). A expressão e−rt recebe o nome
de factor de desconto. Note que a taxa instantânea de crescimento de A é −r, que,
sendo negativa, recebe o nome de taxa de depreciação. Assim como o juro composto
é um exemplo de processo de crescimento, o processo de desconto ilustra o crescimento
negativo.
100 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
Nota 23. A exposição acima feita baseia-se em processos de juros compostos e de des-
conto contı́nuos, por oposição a discretos (i.e., aqueles em que t assume valores em N
ou fracções destes). Para uma discussão sobre as abordagens discreta e contı́nua e suas
peculiaridades, consulte Chiang e Wainwright [4].
Exemplo 46. Admita que um dado comerciante de vinhos possui uma quantidade es-
pecı́fica de vinho que pretende vender no tempo presente (i.e., quando t = 0) por um
montante K (em e) ou, em alternativa, armazenar e depois vender por um preço mais
elevado. Estima-se que o valor crescente do vinho é dado por V tal que:
√
V (t) = Ke t , t ≥ 0.
d2 A
1 1 dA
2
(t) = − √ A(t) + √ −r (t).
dt 4 t 3 2 t dt
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 101
dC
(Y ) = 0, 7 − 0, 004Y.
dY
p dq
.
q dp
Esta quantidade é conhecida por elasticidade da função procura no ponto (p, q). Para
dq
uma função procura usual, < 0, pelo que a elasticidade da procura é uma função
dp
negativa (11 ). Representada usualmente pela letra grega η (eta), temos então
p ∆q p dq pD0 (p)
η = lim = = .
∆p→0 q ∆p q dp D(p)
q = 27 − 3p.
11
Alguns autores apontam apenas o valor absoluto da elasticidade.
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 103
dq
Então = −3 e a elasticidade da procura é dada por
dp
p dq 3p p
η= =− = .
q dp 27 − 3p p−9
Os valores admissı́veis de p estão em ]0, 9[, atendendo à função procura e à elasticidade.
A elasticidade da função procura é então negativa e depende do preço unitário, p. Por
outro lado,
p
|η| = = p , p ∈ ]0, 9[ .
p − 9 9 − p
Assim,
lim |η| = 0 e lim− |η| = +∞.
p→0+ p→9
q = f (p)
é uma função procura ou oferta num dado mercado de um bem. Reparemos que, pela
regra da cadeia,
dq
d dp 1 dq
[ln q] = = .
dp q q dp
104 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
p dq
Deste modo, a elasticidade que se define como pode ser expressa como
q dp
d
p [ln q] .
dp
Assim, ao calcularmos elasticidades é frequente tomarmos logaritmos antes de derivar-
mos. Eis um par de exemplos.
Exemplo 49. Suponhamos que a função procura de um determinado bem é dada por
q = ap−b , (1.25)
onde a e b são constantes reais positivas. Então
ln q = ln a − b ln p.
Derivando, ambos os membros em ordem a p, vem:
d b
[ln q] = − ,
dp p
e, por conseguinte,
d
η = p [ln q] = −b,
dp
ou seja, constante. De facto, as funções procura do tipo (1.25) são as únicas que condu-
zem a uma elasticidade constante. De modo semelhante, a única elasticidade da oferta
constante resultará de funções oferta da forma
q = apb .
Exemplo 50. Suponhamos que a função oferta numa indústria competitiva é dada por
q = 5 (p − 4)3 .
Então
ln q = ln 5 + 3 ln (p − 4)
e a elasticidade da função oferta é dada por
d 3p
p [ln q] = .
dp p−4
Esta função define-se apenas para p > 4, uma vez que se assume que a empresa apenas
entrará no mercado se o preço unitário for maior que 4. A elasticidade da procura tende
para +∞ à medida que p → 4+ , ao passo que decrescerá assintoticamente para 3 à
medida que p cresce, isto é, q = 3 é uma assı́ntota horizontal da parte direita do gráfico
da função elasticidade.
Exercı́cio 22. Suponha que a função oferta, S, numa indústria competitiva é dada por
q = S(p) tal que
q = Apa + Bpb ,
onde A, B, a e b são constantes reais positivas, com a > b. Determine a função elastici-
dade da oferta. Explique ainda o que acontece à elasticidade quando p → 0+ e quando
p → +∞.
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 105
1. Para cada uma das funções definidas nas seguintes alı́neas, explique porque o Teo-
rema do Valor Médio (T. de Lagrange) não se aplica à função f em [0, 6].
√
x ∈ R+
1 1 + x, 0 \ {1}
(a) f (x) = (b) f (x) = |x − 3| (c) f (x) =
x−3
3, x=1
3. Para cada uma das funções seguintes, determine se o Teorema do Valor Médio pode
ser aplicado no intervalo dado e, em caso afirmativo, determine todos os valores
f (b) − f (a)
c ∈]a, b[ tais que f 0 (c) = .
b−a
2
(a) f (x) = x 3 , x ∈ [0, 1] (b) f (x) = 2 sin x + sin 2x, x ∈ [0, π]
5. Seja p(x) = Ax2 + Bx + C. Mostre que para todo o intervalo [a, b], o valor c
garantido pelo Teorema do Valor Médio está no ponto médio do referido intervalo.
106 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
6. Para cada uma das seguintes funções, determine os respectivos intervalos de mono-
tonia.
x3
(a) f (x) = x2 − 6x + 8 (b) y = − 3x (c) f (x) = sin x + 2, 0 < x < 2π
4
1 √
(d) f (x) = (e) y = x 16 − x2 (f) f (x) = x − 2 cos x, 0 < x < 2π
x2
7. Para cada uma das seguintes funções, determine os respectivos intervalos de mono-
tonia e os eventuais extremos locais.
(a) f (x) = x2 − 6x (b) g(x) = −2x2 + 4x + 3 (c) h (x) = 2x3 + 3x2 − 12x
2 t5 − 5t 1
(d) f (t) = t (3 − t) (e) g(t) = (f) h(t) = t 3 + 1
5
2 1
(g) f (s) = (s − 1) 3 (h) g(s) = 5 − |s − 5| (i) h(s) = s +
s
u2 u2 − 2u + 1 θ
(j) f (u) = (k) g(u) = (l) h (θ) = + cos θ
u2 − 9 u+1 2
(m) f (θ) = sin θ + cos θ 2
(n) g (θ) = cos (2θ) (o) h (θ) = sin2 θ + sin θ
Nota: de (l) a (o), admita que θ ∈ ]0, 2π[ .
8. Identifique e levante as indeterminações no cálculo de cada um dos seguintes limi-
tes.
π
arctg x − cos x e2
x
√
10 3
(g) lim+ (ln t)t−1
(h) lim+ − 2 (i) lim t2 + 5t + 2 − t
t→1 t→0 t t t→+∞
10. Mostre que as formas indeterminadas (00 ), (∞0 ) e (1∞ ) nem sempre têm valor 1
pelo cálculo de cada um dos seguintes limites.
ln 2 ln 2 ln 2
(a) lim+ x 1+ln x (b) lim x 1+ln x (c) lim (x + 1) x
.
x→0 x→+∞ x→0
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 107
11. Admita que é feito um depósito inicial de P (euros) numa conta a prazo cuja taxa
de juro anual é r, e suponha que os juros são compostos n vezes ao ano. A fórmula
para a quantia A (t) existente decorridos t anos após o depósito inicial é:
r nt
A (t) = P 1 + .
n
Mostre que quando o número de composições por ano se torna tão grande quanto
se queira A (t) tende para P ert .
12. Suponha que o valor de determinada habitação será V (t) daqui a t anos. Se a taxa
de juro permanecer constante durante este perı́odo (i.e., de hoje a t anos), então o
valor presente da casa é dado por
P V (t) = V (t) e−rt .
√
t
Considerando V (t) = 10000e e r = 6%, determine o momento óptimo para a
venda da habitação.
13. Mostre que de todos os rectângulos de perı́metro fixo, P , o que tem área máxima é
um quadrado.
14. Faça o estudo completo e esboce o gráfico de cada uma das funções seguintes:
1 x 2 2
(a) f (x) = (e − e−x ) (b) g (x) = 1 − (c) h (x) = 1 +
2 e2x + 1 e2x − 1
1
−e x , x<0
(d) f (x) = 1 (e) h(x) = |x3 − x2 − 2x|
ln 1+x 2 , x≥0
19. Recorra à Fórmula de Taylor para obter um majorante para o erro na aproximação
feita.
12 13 14 15 (0,4)3
(a) e ≈ 1 + 1 + 2!
+ 3!
+ 4!
+ 5!
(b) arctg (0, 4) ≈ 0, 4 − 3
21. Determine o grau do polinómio de MacLaurin necessário para que o erro na aproximação
da função no valor indicado seja inferior a 0.0001.
Assim,
2
b2
2 b c
ax + bx + c = 0 ⇐⇒ x + − 2 + =0
2a 4a a
√ √
b b2 − 4ac −b ± b2 − 4ac
⇐⇒ x + =± ⇐⇒ x = .
2a 2a 2a
Apêndice 1.2 [Funções algébricas e funções transcendentes]
Uma função algébrica (sobre os racionais) é toda aquela que satisfaz uma equação
polinomial cujos coeficientes são, eles próprios, polinómios com coeficientes racionais.
Assim, uma função algébrica na variável x é toda a solução y da equação
an (x) y n + an−1 (x) y n−1 + . . . + a1 (x) y + a0 (x) = 0, (1.27)
onde os ai (x) são polinómios com coeficientes racionais e an (x) é não identicamente
nulo. Caso não seja algébrica, uma função diz-se transcendente. (12 )
A tı́tulo de exemplo, é simples verificar que todo o polinómio p(x) com coeficientes
racionais é uma função algébrica. De facto, a equação
y − p (x) = 0
p (x)
tem por solução o referido polinómio. Por outro lado, toda a fração racional , onde
q (x)
os polinómios têm coeficientes racionais, é uma função algébrica, uma vez que é solução
de
q (x) y − p (x) = 0.
12
É também possı́vel uma classificação análoga para os númros reais, dividindo-os em algébricos e trans-
cendentes. De acordo com esta partição, π e e (por exemplo) serão transcendentes.
110 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
como último exemplo, toda a raiz de ı́ndice n de um polinómio p (x) com coeficientes
racionais é uma função algébrica. De facto,
p p
y n − p(x) = 0 =⇒ y = n p (x) (y = ± n p (x), se n é par).
Como exemplos de funções transcendentes e que, por conseguinte, não surgem como
soluções de equações do tipo (1.27), temos as exponenciais, as logarı́tmicas e as trigo-
nométricas.
1.4. DERIVADAS E DIFERENCIAIS 111
3. Se limf (x) não existe então ou os limites laterais são diferentes ou pelo menos um
x→c
deles não existe.
(a) Se os limites laterais existem, sendo portanto números reais, então c é uma
descontinuidade de 1.a espécie.
(b) Se algum dos limites laterais não existe ou for infinito, então c é uma descon-
tinuidade de 2.a espécie.
112 CAPÍTULO 1. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM R
Capı́tulo 2
A definição inicial de função dada na secção 1 do Capı́tulo 1 tem a versão seguinte para
o caso de funções reais de n variáveis reais.
Definição 8. Seja D ⊂ Rn um conjunto de n-uplos ordenados de números reais. Se para
cada (x1 , x2 , ..., xn ) ∈ D corresponder um único número real w por meio de alguma
relação f tal que
w = f (x1 , x2 , ..., xn ) ,
diremos que f é uma função real de n variáveis reais. D diz-se domı́nio da função
e w diz-se imagem ou transformado de (x1 , x2 , ..., xn ) por meio de f . As variáveis
x1 , x2 , ..., xn dizem-se independentes e w diz-se variável dependente.
No caso de funções de duas ou de três variáveis reais, temos as seguintes notações:
z = f (x, y) e w = f (x, y, z) ,
113
114 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
x
2. Dada a função g tal que g (x, y, z) = p , temos:
9 − x − y2 − z2
2
Dg = (x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 < 9 .
O gráfico de uma função real de n variáveis reais, f , é o seguinte conjunto:
Trata-se pois dum conjunto de pontos no hiper-plano Rn+1 . No que concerne às funções
de duas variáveis reais, o gráfico de uma função é uma superfı́ce no espaço R3 , dada por:
Df = (x, y) ∈ R2 : 4x2 + y 2 ≤ 16
Como n p o
Gf = (x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ Df ∧ z = 16 − 4x2 − y 2 ,
f (x, y) = k, (x, y) ∈ Df
Exemplo 53. Esboce as curvas de nı́vel da função f tal que f (x, y) = 3x2 . Complete a
análise, obtendo as interseções do Gf com planos verticais.
Resolução: Note que a superfı́cie correspondente ao gráfico de f tem equação
z = 3x2 .
116 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
f (x, y) = k, k ≥ 0.
Ora, r
k
f (x, y) = k ⇔ 3x2 = k ⇔ x = ± .
3
q
k
Tomando C = ± 3
, trata-se pois de rectas do tipo
x = C, com C ∈ R,
as quais vemos representadas em (a) na figura seguinte. A interseção com planos verti-
cais paralelos a XOZ, i.e., planos de equação y = c, dá como resultado parábolas de
equação z = 3x2 . Por seu turno, as interseções com planos verticais paralelos a XOY ,
os quais têm equação x = c, dará como resultado rectas de equação z = 3c2 , ou seja,
z = c1 , com c1 ≥ 0. Em (b) ilustra-se tais intersecções. Finalmente, podemos obervar
em (c) o esboço da superfı́cie, através de uma ferramenta gráfica.
No caso de uma função real de três variáveis reais, w = f (x, y, z), as equações da
forma
f (x, y, z) = k, (constante)
definem as chamadas superfı́cies de nı́vel da função f .
2.1. DOMÍNIOS E REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS 117
L (x, y) = lx + my,
onde l e m são constantes reais arbitrárias. Em notação matricial, se M = l m ∈
R1×2 , vem:
x
L (x, y) = l m = lx + my.
y
Nota 25. Uma função linear é também chamada uma transformação linear, uma vez que
satisfaz as propriedades
e
L (α (x, y)) = αL (x, y) ,
para todos os (x1 , y1 ) , (x2 , y2 ) , (x, y) ∈ R2 , α ∈ R.
Recorde que a equação geral do plano que contém o ponto (x0 , y0 , z0 ) e tem vector
normal ~n = (a, b, c) pode ser escrita na sua forma canónica do seguinte modo:
a (x − x0 ) + b (y − y0 ) + c (z − z0 ) = 0. (2.1)
Tal equação pode ainda ser escrita em duas outras notações: na forma de produto interno
e na forma matricial. Denotando h., .i o produto interno de vectores em R3 , (2.1) assume
a forma
h(x − x0 , y − y0 , z − z0 ), (a, b, c)i = 0, (2.2)
o que pode também ser expresso em termos matriciais na forma:
[x − x0 y − y0 z − z0 ] [a b c]T = 0. (2.3)
z = L(x, y) = lx + my ⇔ lx + my − z = 0,
2.1. DOMÍNIOS E REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS 119
ou seja, o plano que passa na origem e tem (l, m, −1) como um vector normal. Nas suas
formas de produto interno e matricial, tem-se:
Por outro lado, uma função A : R2 −→ R diz-se afim nas variáveis x e y se for da
forma:
A (x, y) = lx + my + d,
sendo d, l e m constantes reais arbitrárias. Matricialmente, uma tal função pode exprimir-
se na forma
x
A (x, y) = l m + d = lx + my + d.
y
Também as funções afins são representadas graficamente por um plano:
z = A(x, y) = lx + my + d ⇔ lx + my − (z − d) = 0,
ou seja, o plano que contém o ponto (0, 0, d) e tem um vector normal (l, m, −1).
Na figura que se segue podemos observar representações gráficas de exemplos de cada
uma das funções, verificando-se que constituem planos não verticais. Nela se exibe ainda
um vector normal ao plano.
f (x, y) = 2 − 2x − y.
z = 2 − 2x − y ⇔ −2x − y − (z − 2) = 0.
Quaisquer três pontos não colineares (e.g., (0, 0, 2), (0, 2, 0) e (1, 0, 0)) permitem esboçar
o plano. Por outro lado, atribuindo valores a k em
f (x, y) = k
120 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
podemos traçar várias curvas de nı́vel. Na figura acima podemos ver a representação do
plano num referencial tridimensional e o gráfico de curvas de nı́vel para f .
A equação do plano assume ainda as formas
h(x, y, z − 2) , (−2, −1, −1)i = 0,
ou ainda
[x y z − 2] [−2 − 1 − 1]T = 0.
• Se a11 , a22 e k têm o mesmo sinal, (2.5) representa uma elipse (uma circunferência,
se além disso,a11 = a22 ).
• Se a11 e a22 têm o mesmo sinal, mas simétrico do sinal de k, então (2.5) não tem
solução;
• Se algum dos coeficientes for nulo e o outro tiver o mesmo sinal de k, temos duas
rectas concorrentes.
Exemplo 55. Seja f tal que f (x, y) = x2 + 4y 2 . O traçado das curvas de nı́vel desta
função obtém-se mediante atribuição de diversos valores a k na equação
x2 + 4y 2 = k, k ∈ R.
Note-se que, atendendo ao primeiro membro, os valores negativos de k não são ad-
missı́veis. Por outro lado, quando k = 0 a curva de nı́vel reduz-se à origem. Finalmente,
para cada k > 0 as curvas de nı́vel que se obtêm são elipses, como a seguir se ilustra.
x2 y 2
z= + 2 , com a, b ∈ R+ .
a2 b
Exemplo 56. Esboce as curvas de nı́vel da função f tal que f (x, y) = x2 − y 2 . Complete
a análise, obtendo as interseções do Gf com planos verticais.
Resolução: Tomando k = 0 em f (x, y) = k, temos:
f (x, y) = 0 ⇐⇒ x2 − y 2 = 0 ⇐⇒ y = x ∨ y = −x,
x2 y 2
− = 1,
2 2
√ √
de vértices − 2, 0 e 2, 0 . Quando k < 0, temos igualmente hipérboles mas com
vértices em x = 0:
y2 x2
x2 − y 2 = k ⇐⇒ y 2 − x2 = c (com c = −k > 0) ⇐⇒ √ 2 − √ 2 = 1.
( c) ( c)
2.1. DOMÍNIOS E REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS 123
Dadas as curvas que se obtêm através das secções, esta superfı́cie recebe o nome de
paraboloide hiperbólico. A equação geral de um paraboloide hiperbólico na posição
canónica é dada por
x2 y 2
z = 2 − 2 , com a, b ∈ R+ .
a b
124 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
Funções polinomiais
As funções lineares, as funções afins e as formas quadráticas são casos particulares de
funções polinomiais nas variáveis x e y.
Um monómio nas variáveis x e y é toda a função f : R2 −→ R tal que
f (x, y) = cxα1 y α2 , com c ∈ R, α1 , α2 ∈ N0 .
O monómio terá grau α1 + α2 , desde que c 6= 0.
Por sua vez, uma função polinomial nas variáveis x e y é toda aquela que se exprime
através de uma soma finita de monómios nessas variáveis, i.e., a função f : R2 −→ R tal
que X
f (x, y) = ck x α k y β k ,
k∈I
• A função g tal que g(x, y) = x2 + y é um polinómio de grau 2 que não é uma forma
quadrática.
L (x1 , . . . , xn ) = α1 x1 + . . . + αn xn ,
A (x1 , . . . , xn ) = α1 x1 + . . . + αn xn + d.
Q (x1 , ..., xn ) = a11 x21 + a22 x22 + ... + ann x2n + 2a12 x1 x2 + 2a13 x1 x3 + ... + 2an−1 n xn−1 xn
a11 a12 · · · a1n x1
a12 a22 · · · a2n x2
T
= x1 x2 · · · xn .. .. .. .. .. = X AX.
. . . . .
a1n a2n · · · ann xn
126 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
• A função Q tal que Q (x1 , x2 , x3 ) = x21 + 2x22 + 3x23 + 4x1 x2 − 6x1 x3 + 8x2 x3 é
uma forma quadrática nas variáveis x1 , x2 , x3 . A sua escrita na forma matricial é:
1 2 −3 x 1
x1 x2 x3 2 2 4 x2 = X T AX.
Q (x1 , x2 , x3 ) =
−3 4 3 x3
2.2. LIMITE E CONTINUIDADE 127
o que corresponde a um cı́rculo aberto (i.e., sem a circunferência que o delimita) de raio
r e centrado em A. O leitor saberá certamente definir e representar Br (A) para o caso
tridimensional.
Sendo S ⊂ Rn :
1. diz-se que A ∈ S é um ponto interior de S se ∃Br (A) : Br (A) ⊂ S;
Note que int (S) ⊂ S, mas f r (S) pode conter pontos que não estão em S.
Seja S ⊂ Rn . S diz-se aberto se int (S) = S; S diz-se fechado se Sb = S, onde
Sb = S ∪ f r (S)
é dito o fecho de S. Observe que pode haver conjuntos que não são abertos nem fechados.
Com exceção de Rn e de ∅, que são simultaneamente abertos e fechados, se um conjunto
é aberto não pode ser fechado (e vice-versa).
Nota 26. 1. Dizer que lim f (X) = L significa que, à medida que X se aproxima de
X→A
A, o valor f (X) pode aproximar-se de L tanto quanto se deseje. Além disso, isto
acontece independentemente do caminho que se considere.
lim f (x, y) = L ⇔
(x,y)→(a,b)
p
⇔ ∀ε>0 , ∃δ>0 : 0 < (x − a)2 + (y − b)2 < δ ⇒ |f (x, y) − L| < ε .
3. Para que lim f (X) = L exista, não é necessário que A ∈ D. No entanto, é forçoso
X→A
que se verifique A ∈ D,
b não sendo portanto um ponto isolado.
4. Em
lim f (X) = lim f (x1 , x2 , . . . , xn )
X→A (x1 ,x2 ,...,xn )→(a1 ,a2 ,...,an )
x4 − y 4
Exemplo 60. Mostre que lim = 0, através da definição.
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
Resolução: Pretende-se provar que
4
x − y4
q
2 2
∀ε>0 , ∃δ>0 : 0 < (x − 0) + (y − 0) < δ =⇒ 2 − 0 < ε .
x + y2
Nota 27. 1. Quando existe lim f (X) = L, todos os limites iterados que existam têm
X→A
o mesmo valor L; no entanto, o facto de todos os limites iterados terem o mesmo
valor L não garante, de modo algum, a existência de limite. Contudo, nesses casos,
caso exista o limite o seu valor será forçosamente L.
2. Existindo dois limites iterados mas com valores diferentes, imediatamente se con-
clui a não existência de lim f (X).
X→A
x2
Exemplo 61. 1. Mostre que lim não existe.
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
xy
2. Calcule os limites iterados de f (x, y) = na origem.
x2 + y2
2.2. LIMITE E CONTINUIDADE 131
xy
3. Que pode afirmar acerca de lim ?
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
Resolução:
1. Note que:
x2 x2
lim lim = lim = lim 1 = 1
x→0 y→0 x2 + y 2 x→0 x2 x→0
e
x2 0
lim lim 2 2
= lim 2 = lim 0 = 0.
y→0 x→0 x + y y→0 y y→0
x2
Como os limites iterados deram valores distintos, não existe lim .
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
xy
3. Assim sendo, não podemos concluir nada acerca da existência de lim .
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
No entanto, caso exista, tal limite terá de valer 0.
Para verificarmos se lim f (X) existe ou não, podemos ainda considerar o cálculo de
X→A
limites segundo trajetórias passando pelo ponto A. A existência de lim f (X) implica
X→A
que o limite segundo qualquer destas trajetórias, caso exista, tenha esse mesmo valor.
Assim, se houver duas trajetórias, r e s, tais que
lim f (X) 6= lim f (X)
X→A X→A
X∈r X∈s
podemos concluir que lim f (X) não existe. No caso n = 2, as trajetórias mais comuns
X→A
são rectas passando pelo ponto A (a1 , a2 ), cujas equações são da forma
y = a2 + m (x − a1 ) .
Contudo, é possı́vel utilizar trajetórias não rectilı́neas (e.g. parábolas).
xy
Exemplo 62. Regressemos ao cálculo de lim . Consideremos a seguinte tra-
(x,y)→(0,0) x + y 2
2
jetória que passa na origem:
r = (x, y) ∈ R2 : y = x .
Então:
xy xx 1
lim = lim = .
(x,y)→(0,0) x2 + y 2 x→0 x2 + x2 2
(x,y)∈r
Como este valor é diferente de zero, a conclusão que havı́amos tirado do cálculo dos
xy
limites iterados permite deduzir que lim não existe.
(x,y)→(0,0) x + y 2
2
132 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
xy 2
Exercı́cio 24. Seja h tal que h (x, y) = 2 4
, (x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)}.
x +y
4. Atendendo aos cálculos efetuados, que pode concluir acerca de lim h (x, y) ?
(x,y)→(0,0)
A prova de que um limite existe ou não através da definição é, como já se viu no
caso das f.r.v.r., trabalhosa e pressupõe a intuição de qual deve ser o limite (no caso de
existência). Por outro lado, os limites iterados e os trajetoriais apenas servem para mostrar
que um dado limite não existe ou que, existindo, terá de ter certo valor. Assim, vamos
referir algumas propriedades que permitem o cálculo de limites sem recorrer à definição,
generalizações de resultados já conhecidos para f.r.v.r.. Enunciá-las-emos para o caso
n = 2 e deixaremos como exercı́cio a escrita das versões para o caso geral.
Então:
1. lim α = α.
(x,y)→(a1 ,a2 )
2. lim [α f (x, y)] = α L.
(x,y)→(a1 ,a2 )
3. lim [f (x, y) ± g (x, y)] = L ± K.
(x,y)→(a1 ,a2 )
4. lim [f (x, y) g (x, y)] = L K.
(x,y)→(a1 ,a2 )
f (x, y) L
5. lim = , desde que K 6= 0.
(x,y)→(a1 ,a2 ) g (x, y) K
n
6. lim [f (x, y)] = Ln , desde que n ∈ R+ .
(x,y)→(a1 ,a2 )
p √
lim
(x,y)→(a
n
f (x, y) = n L ⇐= n ı́mpar
1 ,a2 )
7. p √
lim n
f (x, y) = n L ⇐= n par e f (x, y) ≥ 0
(x,y)→(a1 ,a2 )
2.2. LIMITE E CONTINUIDADE 133
Então:
lim (h ◦ f ) (x, y) = lim h [f (x, y)] = h(L).
(x,y)→(a1 ,a2 ) (x,y)→(a1 ,a2 )
x4 − y 4
Exercı́cio 25. 1. Mostre que lim = 0, recorrendo às propriedades acima
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
enunciadas.
2. Generalize os limites notáveis enunciados aquando do estudo das f.r.v.r. agora para
o caso de funções de duas variáveis.
Como é evidente,
∞ astécnicas algébricas utilizadas quando surgem indeterminações
do tipo (∞ − ∞) e são ainda válidas no caso de limites de funções de n variáveis
∞
reais. Contudo, a Regra de L’Hôpital não é generalizável. Por último, se a função for ”bem
comportada”, podemos calcular o limite num ponto substituindo cada uma das variáveis
de X pela respectiva coordenada de A: estamos a subentender que uma tal função é
contı́nua no ponto A, assunto que iremos tratar de seguida.
Definição 11 (Função contı́nua num ponto). Seja f : D ⊂ IRn −→ IR uma função
real de n variáveis reais e seja A ∈ D. Dizemos que f é contı́nua no ponto A se se ve-
rificarem as seguintes duas condições:
Simbolicamente, f é contı́nua em A, se
se X ∈ Df \ {A}
(
f (X),
g (X) =
lim f (X), se X = A
X→A
ex + ey x+y sin x2
(a) lim (b) lim 2 (c) lim
(x,y)→(0,0) sin y + cos x (x,y)→(1,1) (x − y) (x,y)→(0,0) x2 − y 2
x2 y
2
2xy , se (x, y) 6= (0, 0)
6 −x2
, se y =
x 2 + y2 (y + x 2 )2
(a) f (x, y) = (b) g(x, y) =
se y = −x2
0, se (x, y) = (0, 0) 0,
xz + xy + yz
, se (x, y, z) 6= (0, 0, 0)
(c) h(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2
0, se (x, y, z) = (0, 0, 0)
136 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
x2 y
4. Considere a função f : D ⊂ IR2 → IR definida por f (x, y) = . Indique a
1−x
2.2. LIMITE E CONTINUIDADE 137
5. Descreva as curvas de nı́vel de cada uma das funções e esboce-as para os valores de
k dados.
p
(a) z = x + y, k = −1, 0, 2, 4 (b) z = 25 − x2 − y 2 , k = 0, 1, 2, 3, 4, 5
x 1 3
(c) f (x, y) = xy, k = 0, ±1, ±2 (d) f (x, y) = , k = ± , ±1, ± , ±2
x2 + y2 2 2
6. Faça corresponder cada uma das funções definidas pelas expressões de (i) a (vi) a
cada um dos gráficos de curvas de nı́vel de (a) a (f) e a cada um dos traçados de
superfı́cie de (g) a (l).
∂z ∂z
(x, y) = 2xy + y 3 e (x, y) = x2 + 3y 2 x ,
∂x ∂y
ambas definidas em R2 .
∂f ∂f
(x, y) = y cos xy + y 2 (x, y) = (x + 2y) cos xy + y 2
e ,
∂x ∂y
3. Considere 2xy
, se (x, y) 6= (0, 0)
g (x, y) = x2 + y2 .
0 , se (x, y) = (0, 0)
Para pontos (x, y) 6= (0, 0) temos:
z = f (x, y) ∧ y = y0
z − f (x0 , y0 ) = m (x − x0 ) ∧ y = y0 (2.6)
2.3. DERIVADAS PARCIAIS E DIFERENCIAIS 141
onde
f (x0 + h, y0 ) − f (x0 , y0 )
m = lim = fx (x0 , y0 ) .
h→0 h
Como recordará, este declive representa também a inclinação da curva de equação z =
f (x, y0 ) no ponto (x0 , y0 , z0 ) . Analogamente, considerando a intersecção da superfı́cie de
equação z = f (x, y) com o plano x = x0 , obtemos uma curva de equação z = f (x0 , y) .
O declive da recta tangente ao gráfico desta função no ponto dado é igual a fy (x0 , y0 ) .
Uma equação da referida recta será
presentam as inclinações da superfı́cie nas direcções do eixo dos xx e dos yy, respectiva-
mente, no ponto (x0 , y0 , z0 ).
Exemplo 64. A superfı́cie de equação z = f (x, y) onde
x2 25
f (x, y) = − − y 2 +
2 8
1
contém o ponto 12 , 1, 2 , uma vez que f
, 1 = 2. A inclinação da superfı́cie dada
2
1
neste ponto e na direcção do eixo dos xx é fx , 1 e na direcção do eixo dos yy é
2
1
fy , 1 . Ora,
2
fx (x, y) = −x e fy (x, y) = −2y.
Assim,
1 1 1
fx ,1 = − e fy , 1 = −2.
2 2 2
Dada uma função f : D ⊂ IRn −→ IR, fixemos uma ordem i ∈ {1, ..., n}. Conside-
remos o conjunto
∂f
Di = A ∈ D : (A) ∈ IR .
∂xi
Cada função
∂f
: Di ⊂ IRn −→ IR (i = 1, ..., n)
∂xi
tal que
Dada uma função real de n variáveis reais f : D ⊂ IRn −→ IR, consideremos as suas
∂f ∂f
n funções derivadas parciais, . Se admite derivada parcial em ordem a x1 no
∂xi ∂x1
144 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
ponto A, esta denomina-se 2.a derivada parcial (ou derivada parcial de 2.a ordem) de f
em ordem a x1 , no ponto A e escrevemos:
∂ 2f
(A) ou fx001 (A) ou fx21 (A) .
∂x21
Assim,
∂f ∂f
2
(a1 + h, a2 , ..., , ..., an ) − (a1 , a2 , ..., , ..., an )
∂ f ∂ ∂f ∂x1 ∂x1
2
(A) = (A) = lim .
∂x1 ∂x1 ∂x1 h→0 h
Analogamente, poderı́amos definir
∂ 2f ∂ 2f
∂ ∂f ∂ ∂f
(A) = (A) , ..., (A) = (A) .
∂x1 ∂x2 ∂x2 ∂x1 ∂x1 ∂xn ∂xn ∂x1
∂f
De um modo geral, para cada derivada parcial , podemos definir as seguintes derivadas
∂xi
parciais de 2a ordem:
∂ 2f
, derivadas quadradas
∂x2i
e
∂ 2f
(i 6= j) derivadas rectangulares ou mistas de 2.a ordem
∂xi ∂xj
Nota 30. 1. Este processo é generalizável de modo a obter-se as derivadas parciais
de 3.a ordem à custa das de 2.a ordem e, mais geralmente, de modo a obter-se as
derivadas parciais de ordem m a partir das de ordem (m − 1).
2. Podemos definir analogamente as funções 2.a derivada parcial, ..., k-ésima deri-
vada parcial.
Exemplo 65. Seja f tal que f (x, y) = 3xy 2 − 2y + 5x2 y 2 . Determine as derivadas
parciais de segunda ordem desta função e ainda fxy (−1, 2).
Resolução: Note que
Deste modo:
fxx (x, y) = 10y 2 , fxy (x, y) = 6y+20xy, fyx (x, y) = 6y+20xy e fyy (x, y) = 6x+10x2 .
Nota 31. 1. Este resultado também se generaliza, mutatis mutandis, para funções de
três ou mais variáveis. Mais: também pode aplicar-se a ordens de derivação supe-
rior (concluindo-se, por exemplo, que fxy2 = fy2 x , sob as hipóteses corresponden-
tes).
Exercı́cio 29. Calcule as derivadas parciais de terceira ordem da função f tal que:
f (x, y, z) = y ex + x ln z.
∂ 2R
<0
∂x2
146 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
∂ 2R
∂ ∂R
= >0
∂y∂x ∂x ∂y
∂ 2R ∂ 2R
= > 0.
∂x∂y ∂y∂x
u (x − x0 ) + v (y − y0 ) + w (z − z0 ) = 0.
2.3. DERIVADAS PARCIAIS E DIFERENCIAIS 147
A hipótese de um plano tangente não vertical implica que w 6= 0- isto é, (u, v, w) é não
ortogonal ao eixo OZ. Assim, a equação do plano Π pode ser reescrita na forma:
u v
z − z0 = − (x − x0 ) − (y − y0 ) . (2.8)
w w
Determinemos as intersecções entre Π e cada uma das rectas que serviram para a
interpretação das derivadas parciais fx (P0 ) e fy (P0 ) (recorde (2.6) e (2.7)). No primeiro
caso, temos: (
z − z0 = − wu (x − x0 ) − wv (y − y0 )
.
z − z0 = fx (P0 ) (x − x0 ) ∧ y = y0
de onde resulta
u
− = fx (P0 ) .
w
No segundo caso, temos:
(
z − z0 = − wu (x − x0 ) − v
w
(y − y0 )
.
z − z0 = fy (P0 ) (y − y0 ) ∧ x = x0
de onde resulta
v
− = fy (P0 ) .
w
Assim sendo, de (2.8) resulta
Nota 32. Embora (fx (P0 ) , fy (P0 ) , −1) e (−fx (P0 ) , −fy (P0 ) , 1) sejam ambos nor-
mais à superfı́cie, é conveniente utilizar o primeiro deles por razões que mais adiante se
tornarão óbvias.
148 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
z = x2 y + xy 3
no ponto (1, 2, z(1, 2)) e indique um vector normal a tal superfı́cie nesse ponto.
Resolução: Considere a função f tal que f (x, y) = x2 y + xy 3 . No ponto (1, 2) temos
z = f (1, 2) = 10.
Uma equação do plano tangente à superfı́cie dada no ponto (1, 2, 10) é:
Π: z − 10 = fx (1, 2) (x − 1) + fy (1, 2) (y − 2) .
Como
fx (1, 2) = 2xy + y 3 (1,2) = 12
e
fy (1, 2) = x2 + 3xy 2 (1,2) = 13,
temos:
Π: z − 10 = 12 (x − 1) + 13 (y − 2) .
Um vector normal à superfı́cie no ponto dado é (12, 13, −1) .
2.3. DERIVADAS PARCIAIS E DIFERENCIAIS 149
w − W0 = fx1 (P0 ) (x1 − X1 ) + fx2 (P0 ) (x2 − X2 ) + ... + fxn (P0 ) (xn − Xn ) (2.10)
w = f (x1 , x2 , . . . , xn )
h(fx1 (P0 ) , fx2 (P0 ) , ..., fxn (P0 ) , −1) , ((x1 − X1 ) , (x2 − X2 ) , ..., (xn − Xn ) , w − W )i = 0,
ou ainda
[fx1 (P0 ) fx2 (P0 ) ... fxn (P0 ) − 1] [x1 − X1 (x2 − X2 ) ... (xn − Xn ) w − W ]T = 0,
∇f ,
de f em cada ponto onde estas existam, dispostas por uma certa ordem. A notação usual
é Hf , embora também surja por vezes a notação D2 f , tendo-se:
fx2 (x, y) fxy (x, y)
Hf (x, y) =
fyx (x, y) fy2 (x, y)
Caso se verifiquem as condições do T. de Schwarz, teremos a igualdade das derivadas
mistas e a matriz hessiana será simétrica.
Exemplo 67. Seja f tal que f (x, y) = xy 4 + x3 y 2 . Determine o vector gradiente e a
matriz hessiana de f num ponto genérico e no ponto (1, −1).
Resolução: Observe que:
pelo que:
y 4 + 3x2 y 2
∇f (x, y) = .
4xy 3 + 2x3 y
Por outro lado,
fxx (x, y) = 6xy 2 , fxy (x, y) = 4y 3 + 6x2 y = fyx (x, y) e fyy (x, y) = 12xy 2 + 2x3 ,
e assim
6xy 2 4y 3 + 6x2 y
Hf (x, y) = .
4y 3 + 6x2 y 12xy 2 + 2x3
4 6 −10
No ponto (1, −1), temos: ∇f (1, −1) = e Hf (1, −1) = .
−6 −10 14
Vamos de seguida apresentar uma propriedade gráfica do vector gradiente. Para tal,
regressemos ao plano tangente, cuja equação é (2.9). Intersectemos a superfı́cie z =
f (x, y) e o seu plano tangente Π pelo plano horizontal z = z0 . Temos:
(
z − z0 = fx (x0 , y0 ) (x − x0 ) + fy (x0 , y0 ) (y − y0 )
z = z0
m
fx (x0 , y0 ) (x − x0 ) + fy (x0 , y0 ) (y − y0 ) = 0.
Esta é a equação de uma recta tangente à curva de nı́vel
f (x, y) = z0
no ponto (x0 , y0 ). A equação de tal recta pode ainda ser escrita na forma
ou ainda: T
x − x0 y − y0 fx (x0 , y0 ) fy (x0 , y0 ) = 0.
2.3. DERIVADAS PARCIAIS E DIFERENCIAIS 151
onde →
−
e1 = (1, 0) e →
−
e2 = (0, 1), é perpendicular à curva
f (x, y) = z0
Nota 33. Observe que as componentes do vector gradiente são os declives das rectas
tangentes em (x0 , y0 ) nas direcções dos eixos dos xx e dos yy, respectivamente. Por outro
lado, o vector (fx (x0 , y0 ) , fy (x0 , y0 ) , −1) , normal à superfı́cie, está no plano vertical
passando por (x0 , y0 ) e com a direcção do vector gradiente.
Exemplo 68. Retomando o exemplo (66), determine o vector gradiente da função
z = x2 y + xy 3
no ponto (1, 2), e esboce-o geometricamente num plano contendo a curva de nı́vel z = 10
e a recta que lhe é tangente nesse ponto.
Resolução: Sendo f tal que f (x, y) = x2 y + xy 3 , temos:
= 12 →
−
e1 + 13 →
−
T T
∇f (1, 2) = fx (1, 2) fy (1, 2) = 12 13 e2 .
x2 y + xy 3 = 10
no ponto (1, 2). Na figura seguinte encontra-se a curva de nı́vel f (x, y) = 10, a recta
tangente a essa curva (recta que resulta da intersecção de z = 10 com o plano tangente),
bem como o vector gradiente no ponto (1, 2).
152 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
Não devemos surpreender-nos com o facto de a direcção de 5f (3, −1, 1) ser a mesma
de (3, −1, 1), uma vez que a normal a uma esfera num ponto P tem a mesma direcção do
−−→
raio vector OP .
Gradiente e matriz hessiana serão fundamentais na classificação de extremos de funções
de duas ou mais variáveis reais, como a seu tempo se verá.
154 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
No caso das funções reais de uma variável real, uma função dizia-se diferenciável
num ponto se tivesse derivada finita nesse ponto. Isto significava que podı́amos utilizar
dy = f 0 (x)dx como aproximação de ∆y para valores de dx suficientemente pequenos. O
conceito de diferenciabilidade para funções de duas variáveis reais é o que se segue.
2.3. DERIVADAS PARCIAIS E DIFERENCIAIS 155
Por este teorema podemos garantir que, por exemplo, as funções polinomiais nas
variáveis x e y são diferenciáveis em R2 . Por outro lado, se f for diferenciável num ponto
(x0 , y0 ), podemos escolher (x0 + ∆x, y0 + ∆y) suficientemente próximos de (x0 , y0 ) de
modo a tornar ε1 ∆x e ε2 ∆y desprezáveis.
156 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
∆z ≈ dz. (2.12)
A figura anterior pretende ilustrar esta situação. Além disso, ela evidencia que dz repre-
senta a variação na altura do plano tangente à superfı́cie no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).
Observe que a fórmula de aproximação incremental (2.12) é apenas outra forma de
exprimir a aproximação linear de f junto do ponto (x0 , y0 ), isto é, a aproximação através
de um polinómio de grau 1 em x e y. De facto, dela resulta:
∂f ∂f
f (x0 + ∆x, y0 + ∆y) ≈ f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 ) ∆x + (x0 , y0 ) ∆y.
∂x ∂y
Colocando x = x0 + ∆x e y = y0 + ∆y, tem-se:
∂f ∂f
f (x, y) ≈ f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 ) (x − x0 ) + (x0 , y0 ) (y − y0 ) . (2.13)
∂x ∂y
O polinómio à direita de (2.13) representa a aproximação linear de f numa vizinhança
de (x0 , y0 ). Não é difı́cil perceber que o gráfico de tal polinómio é justamente o plano
tangente à superfı́cie z = f (x, y) no ponto (x0 , y0 , z0 ).
Deixamos como exercı́cio a extensão destes conceitos para funções de três ou mais
variáveis.
No exemplo seguinte, majoramos o erro cometido quando utilizamos o conceito de
diferencial de uma função de três variáveis.
Exemplo 72. Admita que na medição das dimensões de uma caixa são cometidos erros
absolutos inferiores a 0, 1 mm. Suponha que as estimativas das dimensões são x =
50 cm, y = 20 cm e z = 15 cm. Determine um majorante do erro relativo cometido na
2.3. DERIVADAS PARCIAIS E DIFERENCIAIS 157
∂ 2f 2 ∂ 2f ∂ 2f 2
d2 z = dx + 2 dxdy + dy .
∂x2 ∂x∂y ∂y 2
Esta, pode ainda escrever-se na chamada forma de quadrado simbólico:
(2)
2 ∂f ∂f
dz= dx + dy , (2.14)
∂x ∂y
onde o desenvolvimento deve ser entendido do seguinte modo: produtos entre quantidades
dx e dy são produtos normais; produtos de derivadas devem ser entendidos como ordens
de derivação.
Exercı́cio 31. A fórmula (2.14) pode ser generalizada para funções de três ou mais
variáveis. Obtenha tal generalização. Existe também uma fórmula para uma ordem de
diferenciação n, n ≥ 2 (sendo neste caso uma potência simbólica de grau n). Obtenha tal
fórmula para uma função de duas variáveis e expanda-a, recorrendo ao desenvolvimento
binomial de Newton n
n
X n k n−k
(a + b) = a b ,
k=0
k
n
onde = Ckn .
k
2.3. DERIVADAS PARCIAIS E DIFERENCIAIS 159
f (λx, λy) = a (λx)2 + b (λx) (λy) + c (λy)2 = λ2 ax2 + bxy + cy 2 = λ2 f (x, y),
Note-se que, se estivermos no conjunto das funções cujas variáveis são positivas, a
verificação da identidade de Euler é equivalente à verificação da homogeneidade positiva
da função.
Vamos agora ver de que modo este resultado se relaciona com as chamadas funções
de produção, um dos exemplos clássicos de funções de duas variáveis utilizadas em Eco-
nomia.
Admita que a quantidade Q de um bem produzido por uma fábrica é função do capital,
K, e do trabalho, L, utilizados, de acordo com a relação
Q = F (K, L) .
Q F (K, L)
= .
L L
∂F
Por seu turno, a produtividade marginal do capital é definida por e a produti-
∂K
∂F
vidade marginal do trabalho por meio de . Por vezes, estas produtividades são
∂L
∂Q ∂Q
também denotadas por e , respectivamente.
∂K ∂L
Tal como sucedia com as f.r.v.r., é frequentemente útil trabalhar com funções-elasticidade,
em vez de funções marginais. Assim, neste contexto,
K ∂Q L ∂Q
ηK = e ηL =
Q ∂K Q ∂L
dizem-se elasticidades da produção relativamente ao capital e ao trabalho, respectiva-
mente. Também à semelhança do que sucedia com as f.r.v.r., aproveitando a regra da
derivada da função logarı́tmica, temos:
∂ ∂
ηK = K [ln F (K, L)] e ηL = L [ln F (K, L)] .
∂K ∂L
Um caso particular das funções de produção diz respeito às chamadas funções de
produção de Cobb-Douglas, cuja forma geral é dada por
Estas funções são homogéneas de grau α + β. De facto, se designarmos por F tal função,
temos:
F (λK, λL) = A (λK)α (λL)β = (. . .) = λα+β F (K, L) .
Isto significa que, multiplicando os factores de produção por λ, o nı́vel de produção é
mutliplicado por um factor λα+β .
Para as funções de Cobb-Douglas, as produtividades médias do capital e do trabalho
são dadas, respectivamente, por
Q Q
= AK α−1 Lβ e = AK α Lβ−1 .
K L
Por seu turno, as produtividades marginais do capital e do trabalho são dadas por
∂Q Q
= A αK α−1 Lβ = α
∂K K
e
∂Q Q
= A (βK α ) Lβ−1 = β
∂L L
162 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
∂ 2F
< 0, ∀(K,L) .
∂K 2
∂F
De modo análogo, F apresentará rendimentos decrescentes para o trabalho se for
∂L
uma função decrescente de L, para qualquer K dado.
2
Exemplo 75. Dada a função F tal que Q = F (K, L) = 6 (KL) 3 , esta função apresenta
rendimentos decrescentes para cada um dos factores de produção. De facto,
∂F 1 2
= 4K − 3 L 3 ,
∂K
que é função decrescente em K para cada L dado. Deixamos ao leitor a parte dos
rendimentos relativos ao trabalho.
Suponha agora que é dada uma função de produção, F , de uma dada empresa ou
economia tal que Q = F (K, L). Dizemos que F apresenta rendimentos crescentes à
escala se
F (λK, λL) > λF (K, L)
para λ constante > 1.
Admita que F é homogénea de grau r. Então para quaisquer K, L, λ,
F (λK, λL)
= λr .
F (K, L)
Dado λ > 1, temos:
λr > λ ⇐⇒ r > 1.
Deste modo, uma função de produção que seja homogénea de grau r proporcionará ren-
dimentos crescentes à escala se e só se r > 1.
De modo semelhante, diremos que uma função de produção F apresenta rendimentos
decrescentes à escala se
F (λK, λL) < λF (K, L)
para λ > 1 e constante.
Em particular, uma função de produção F que seja homogénea de grau r apresentará
rendimentos decrescentes à escala se e só se r < 1. Um tal grau de homogeneidade
implica, por exemplo, que duplicando os factores de produção obteremos um nı́vel de
produção multiplicado por um factor 2r < 2.
2.3. DERIVADAS PARCIAIS E DIFERENCIAIS 163
Isto sucede para todo o λ > 0 e todos os os nı́veis dos factores de produção se e só se a
função de produção for homogénea de grau 1.
Então →
−
v = ξ1 →
−e1 +ξ2 →
−
e2 ≡ (ξ1 , ξ2 ) é um vector unitário com a mesma direcção e o mesmo
→
−
sentido de u . Tem-se aliás:
→
−v =u b = vers (→ −u)
pelo que →
−u = k→ −u k→
−
v.
Nota 36. 1. Dados P (a1 , a2 ) e Q (b1 , b2 ) temos:
−→ −→ −→
a) P + P Q = Q e P Q = Q − P b)P Q = (b1 − a1 , b2 − a2 )
∂f ∂f
4. (P0 ) e (P0 ) são casos particulares de f−
u (P0 ) (respectivamente, para
→
∂x ∂y
(ξ1 , ξ2 ) = (1, 0) e (ξ1 , ξ2 ) = (0, 1)).
→
−
v ⊥ (fx (P0 ) , fy (P0 ) , −1) ,
uma vez que este é o vector normal à superfı́cie no ponto (x0 , y0 , z0 ). Daqui resulta:
h(u1 , u2 , f−
u (P0 )) , (fx (P0 ) , fy (P0 ) , −1)i = 0,
→
ou seja:
u1 fx (P0 ) + u2 fy (P0 ) = f−
u (P0 ) ,
→
ou ainda:
→
−
u (P0 ) = h(u1 , u2 ) , (fx (P0 ) , fy (P0 ))i = h u , 5f (P0 )i .
f−
→
→
−
u = h u , 5f i .
f−
→
Uma questão natural que se pode colocar é a de saber qual a direcção e sentido que
se deve tomar de modo a que a taxa de crescimento da função num dado ponto seja
máxima. Isto é, para um dado ponto P0 qual o vector → −u que determina um máximo de
f−
→u (P 0 ) ?
Seja θ o ângulo entre os vectores →
−
u e 5f (P0 ). Então, admitindo que f é diferenciável
em P0 , temos:
→
− →
−
u (P0 ) = h u , 5f (P0 )i = k u k k5f (P0 )k cos θ = k5f (P0 )k cos θ.
f−
→
O valor máximo, k5f (P0 )k , ocorre quando cos θ = 1, ou seja, quando θ = 0, isto é,
quando →
−u tem a direcção e o sentido do gradiente de f nesse ponto. Por seu turno, o valor
mı́nimo é simétrico do valor máximo, sendo atingido quando → −
u tem a mesma direcção
de 5f (P0 ) mas sentido contrário (uma vez que cos θ = −1 ⇔ θ = π).
f (x, y) = x2 y + xy 3
Exemplo 78. Considere uma função de produção de Cobb-Douglas genérica P , tal que
5P (x, y) ,
ou seja, ao longo da direcção (αy, βx) . Deste modo, no ponto (30, 24) tal razão é:
αy 2
= (...) = .
βx 1
Por conseguinte, por forma a maximizar a taxa de produção, por cada 2000 euros de
investimento adicional ele deverá aumentar em 10h o total de horas de trabalho.
É ainda possı́vel definir derivadas direccionais de ordem superior à primeira. De-
a derivada direccional de ordem k na direção de →
−
(k)
notando por f−→u
u , temos o seguinte
resultado:
Teorema 35. 1. Seja f : D ⊂ R2 −→ R, uma função duas vezes diferenciável em
int(D). Então, para cada ponto P0 ∈ int(D), a função f possui derivada di-
reccional de ordem 2 segundo qualquer direção →
−
u de cossenos directores ξ1 e ξ2 ,
tendo-se:
(2)
f−
→
u
(P0 ) = [fx (P0 ) ξ1 + fy (P0 ) ξ2 ](2) = fx2 (P0 ) (ξ1 )2 +2fxy (P0 ) ξ1 ξ2 +fy2 (P0 ) (ξ2 )2 .
f (P0 + t →
−
u ) − f (P0 )
f−
u (P0 ) = lim
→ .
t→0 t
No caso de f ser diferenciável em P0 , temos igualmente:
→
−
u (P0 ) = h5f (P0 ) , u i .
f−
→
w = f (x1 , x2 , . . . , xn )
De
h→
−
v ,→
−
ni = 0
resulta agora a identidade pretendida.
Em particular, a taxa máxima de crescimento de f no ponto P0 dado é atingida na
direção (e sentido) de 5f (P0 ), valendo k5f (P0 )k, enquanto que a taxa máxima de des-
crescimento de f em P0 se atinge na mesma direcção mas em sentido contrário, valendo
− k5f (P0 )k.
Exemplo 79. Para a função f tal que
f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 ,
→
−
determine f− u (3, −1, 1) na direcção de w = (1, 1, 1) . Determine ainda a direcção que
→
origina uma taxa máxima de crescimento
√ de f no ponto (3, −1, 1) e o valor de tal taxa.
→
−
Resolução: Note que k w k = 3, pelo que
→
− →
− 1 1 1
u = vers ( w ) = w b= √ ,√ ,√ .
3 3 3
2.4. DERIVADA DIRECCIONAL 171
Exercı́cio 33. Generalize o teorema da subsecção anterior para o caso de uma função de
três variáveis.
172 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
2. Para cada uma das funções definidas pelas seguintes expressões, calcule nos pontos onde
existem as derivadas parciais de segunda ordem.
x 1
(a) f (x, y) = x ln y (b) f (x, y) = arctg (c) f (x, y, z) = xy sin .
y z
4. Prove que:
∂2z ∂2z
(a) se z (x, y) = ln x2 + y 2 , então
+ = 0.
∂x2 ∂y 2
∂2u ∂2u
(b) se u (x, t) = arctg (2x − t), então + 2 = 0.
∂x2 ∂x∂t
1 ∂2w ∂2w ∂2w
(c) se w (x, y, z) = p , então + + = 0.
x2 + y 2 + z 2 ∂x2 ∂y 2 ∂z 2
5. Uma companhia fabrica dois tipos de fogões a lenha: um modelo independente e outro para
encaixar na lareira. A função de custo para produzir x independentes e y para encaixar na
lareira é:
√
C (x, y) = 32 xy + 175x + 205y + 1050.
∂C ∂C
(a) Calcule os custos marginais e quando x = 80 e y = 20.
∂x ∂y
(b) Quando é necessária uma produção adicional, que modelo de fogão resulta num cres-
cimento dos custos com taxa mais elevada? Como pode isto ser determinado a partir
do modelo?
2.4. DERIVADA DIRECCIONAL 173
(a) Prove que tal função é homogénea e indique o seu grau de homogeneidade. Interprete
esta propriedade.
∂f
(b) Calcule a produção marginal do trabalho, , quando L = 1000 e K = 500.
∂L
∂f
(c) Calcule a produção marginal do capital, , quando L = 1000 e K = 500.
∂K
8. Uma função de utilidade U = f (x, y) é a medida da utilidade (ou satisfação) obtida por
uma pessoa a partir do consumo de dois produtos, X e Y , sendo x e y as quantidades
consumidas de um e do outro produto. Admita que
U (x, y) = 2 ln x + 3 ln y.
px = 25 − 2x + y e py = 20 + x − y,
2 +y 2
11. Verifique em que conjunto é diferenciável a função f tal que f (x, y) = ex .
12. (*) Mostre que g tal que g(x, y) = e−|x+y| é apenas diferenciável em R2 \r, onde
r = (x, y) ∈ R2 : x + y = 0 .
16. A respeito da função indicada em 9., admita que o monopolista está a operar aos nı́veis de
venda de x = 5 e y = 6. Recorra aos diferenciais para obter uma aproximação da variação
do rendimento total nas seguintes situações:
(a) x aumenta 0.01 e y mantém-se constante; (b) x mantém-se constante e y aumenta 0.02;
(c) x aumenta 0.01 e y aumenta 0.02; (d) x aumenta 0.03 e y aumenta 0.01.
Q = AK α Lβ , A, α, β > 0,
onde A, γ e δ são constantes tais que A > 0, γ < 1, γ 6= 0 e 0 < δ < 1, tem o nome de
função CES (função de produção com elasticidade de substituição constante).
2.4. DERIVADA DIRECCIONAL 175
1−γ
Q
(a) Mostre que a produtividade marginal do capital é δAγ K e determine uma
expressão semelhante para a produtividade do trabalho.
(b) Mostre que esta função de produção apresenta rendimentos decrescentes à escala em
relação a cada factor de produção.
(c) Mostre que esta função de produção se reduz à do exercı́cio 17. quando se toma
A = 21 , γ = −1 e δ = 12 .
20. Seja F uma função de produção homogénea de grau 1, dada por Q = F (K, L).
Q K
(a) Mostre que L se pode escrever como função da razão L.
(b) Mostre que as produtividades marginais do capital e do trabalho podem ser expressas
com função K
L.
(c) O que acontece às produtividades marginais se passarmos do ponto (10, 10) para o
ponto (20, 20)?
176 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
→
− 1 →− √ −
(a) f (x, y) = 3x − 4xy + 5y, P (1, 2) , v = e1 + 3 → e2 ;
2
π π
(b) f (x, y) = y 2 − 4x; P (2, −2) , → −v = cos →
−e1 + sin →
−
e2 ;
6 6
(c) f (x, y) = x2 + y 2 , P (3, 4) , → −
v =3→ −
e1 − 4 →
−
p
e2 ;
−→
(d) f (x, y) = 1 + x2 y − 2xy 2 + y 3 , P (2, 1) , →−v = P Q com Q (6, 4) ;
(e) f (x, y, z) = x arctg(yz), P (2, 1, 1) , → −v =→ −
e +2→1
−
e −→ −
e ; 2 3
2 2
(f) f (x, y, z) = y z − xz − xyz; P (0, 1, −1) ; →
−
v = 2→
−
e1 − 2→
−
e2 − →
−
e3 .
indique:
(1) uma equação do plano tangente à superfı́cie z = f (x, y) no ponto (1, 1, f (1, 1)) ;
(2) um vector normal à curva de nı́vel f (x, y) = f (1, 1) no ponto (1, 1);
(3) a taxa de crescimento de f em (1, 1) na direcção e sentido de →−v = 3→−e1 + 4→−
e2 ;
(4) a direcção (e sentido) segundo a qual é máxima a taxa de crescimento de f em (1,1);
(5) o valor máximo da taxa de crescimento a que se refere (4)
4. Seja f (x, y, z) = x2 y 2 z 3 .
(1, 1) (sendo →
−
v = 3→
−
e 1 + 4→
−
(2)
6. Para cada uma das funções de 2., determine f−
→
v
e2 ).
→
−
7. Seja f (x, y) = ln (1 + x2 + y 2 ) e d um vector paralelo à recta y = x. Determine
os pontos desta recta para os quais se verifica, respectivamente:
(2)
(a) f−
→ (P ) = 0;
d
(b) f−
→ (P ) = 0 .
d
178 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
dw ∂w dx ∂w dy
= 2xy cos t + x2 − 2y et
= +
dt ∂x dt ∂y dt
= 2e sin t cos t + sin2 t − 2et et = 2et sin t cos t + et sin2 t − 2e2t .
t
Note que este exercı́cio poderia ter sido resolvido sem recorrer à Regra da Cadeia. De
facto, conhecendo as expressões de w = f (x, y), x = g(t) e y = h(t), temos:
Sejam w = f (x, y), x = g(s, t) e y = h(s, t), tais que f é função diferenciável de x
e y, e g e h são funções diferenciáveis de s e t. Então w é função diferenciável de s e t,
tendo-se:
∂w ∂w ∂x ∂w ∂y ∂w ∂w ∂x ∂w ∂y
= + e = + .
∂s ∂x ∂s ∂y ∂s ∂t ∂x ∂t ∂y ∂t
s
Exemplo 81. Suponha que w = 2xy, x = s2 + t2 e y = . Então w é função de s e de t
t
por intermédio de x e de y. Tem-se assim:
Mais uma vez, conhecendo todas as expressões (de f (x, y), g(s, t) e h(s, t)) seria possı́vel
explicitar w como função das variáveis finais, s e t. A partir daı́ poderı́amos derivar em
ordem a s e em ordem a t para obtermos as mesmas expressões.
∂w ∂w
+ = 0.
∂x ∂y
Resolução: Considere u = x−y e v = y−x. Então w = f (u, v) = f (u(x, y), v(x, y))
e temos:
∂w ∂f ∂u ∂f ∂v ∂f ∂f
= + = −
∂x ∂u ∂x ∂v ∂x ∂u ∂v
e também:
∂w ∂f ∂u ∂f ∂v ∂f ∂f
= + =− + .
∂y ∂u ∂y ∂v ∂y ∂u ∂v
Destes dois desenvolvimentos resulta de imediato a identidade pretendida.
A extensão da Regra da Cadeia neste caso II para qualquer número de variáveis inde-
pendentes e intermédias é também possı́vel. Assim, para
w = f (x1 , x2 , ..., xn )
e
xi = gi (t1 , t2 , ..., tm ), i = 1, ..., n,
180 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
temos:
∂w ∂w ∂x1 ∂w ∂x2 ∂w ∂xn
= + + ... +
∂t1 ∂x1 ∂t1 ∂x2 ∂t1 ∂xn ∂t1
∂w ∂w ∂x1 ∂w ∂x2 ∂w ∂xn
= + + ... +
∂t2 ∂x1 ∂t2 ∂x2 ∂t2 ∂xn ∂t2 ,
.. .. ..
. . .
∂w ∂w ∂x1 ∂w ∂x2 ∂w ∂xn
= + + ... +
∂tn ∂x1 ∂tn ∂x2 ∂tn ∂xn ∂tn
onde se supõe que as funções f e gi , i = 1, ..., n são diferenciáveis.
dF ∂F dA ∂F dK ∂F dL
= + +
dt ∂A dt ∂K dt ∂L dt
α β dA α−1 β dK dL
= K L + αAK L + βAK α Lβ−1 .
dt dt dt
Dividindo ambos os membros por Q = F (t), vem
1 dF 1 dA 1 dK 1 dL
= +α +β .
F (t) dt A dt K dt L dt
Tendo em cnta a noção taxa (proporcional) de crescimento, esta igualdade tem a seguinte
interpretação:
y0 = f (x0 ) .
Além disso,
∂F
dy (x0 , y0 )
f 0 (x0 ) = (x0 ) = − ∂x . (2.17)
dx ∂F
(x0 , y0 )
∂y
Nota 37. A expressão da derivada de f , resulta da aplicação da regra da cadeia a ambos
os membros de F (x, y) = 0. De facto, de
vem
∂F ∂F dy
+ = 0,
∂x ∂y dx
ou seja:
∂F
dy
= − ∂x ,
dx ∂F
∂y
∂F
desde que 6= 0. Para um ponto (x0 , y0 ) pertencente à curva de equação (2.18) obtém-
∂y
se (2.17).
Exercı́cio 34. Adapte o teorema anterior ao caso em que a equação F (x, y) = 0 define
implicitamente x como função de y numa vizinhança do ponto (x0 , y0 ).
dy
Exemplo 84. Obtenha através da regra da cadeia, sabendo que y é uma função
dx
definida implicitamente pela equação:
y 3 + y 2 − 5y − x2 = −4 .
182 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
d2 y 3
Obtenha de seguida 2 . ( )
dx
Resolução: A equação dada pode escrever-se na forma
F (x, y) = 0,
desde que 3y 2 + 2y − 5 6= 0 e (x, y) satisfaça a equação dada. Uma vez que y = f (x)
está definida implicitamente, temos ainda:
2 dy dy
2 (3y + 2y − 5) − 2x 6y +2
d2 y
d 2x dx dx
2
= 2
= 2
dx dx 3y + 2y − 5 (3y 2 + 2y − 5)
2 2x
2 (3y + 2y − 5) − 2x (6y + 2) 2
3y + 2y − 5
= 2 =
2
(3y + 2y − 5)
2
2 (3y 2 + 2y − 5) − 8x2 (3y + 1)
= (...) = ,
(3y 2 + 2y − 5)3
o que finaliza a resolução.
Nota 38. Como pôde observar no exemplo anterior, a obtenção da segunda derivada
de f foi feita por derivação implı́cita. Existe uma expressão para a segunda derivada
envolvendo as derivadas parciais de segunda ordem de F que não apresentaremos (ver
[9]), por ser de difı́cil dedução (além de pouco valor prático).
F (x1 , ..., xn , w) = 0.
F (x, y, z) = 0
define implicitamente uma função de duas variáveis f tal que z = f (x, y). Então a
equação dada escreve-se na forma
∂F ∂F
(x, y, z) (x, y, z)
∂z ∂z ∂y
(x, y) = − ∂x e (x, y) = − ,
∂x ∂F ∂y ∂F
(x, y, z) (x, y, z)
∂z ∂z
∂F
assumindo que (x, y, z) 6= 0 e (x, y, z) é um ponto da superfı́cie F (x, y, z) = 0.
∂z
À semelhança do que foi dito na nota anterior, se forem satisfeitas as condições cor-
respondentes a (i), (ii) e (iii) numa vizinhança de P0 (x0 , y0 , z0 ), então dizer que
F (x0 , y0 , z0 ) = 0
z0 = f (x0 , y0 ).
3x2 z − x2 y 2 + 2z 3 + 3yz − 5 = 0
∂z
define z = f (x, y) numa vizinhança do ponto P (0, 1, 1) . Obtenha os valores de (0, 1)
∂x
∂z
e de (0, 1) através da regra da cadeia.
∂y
Resolução: Começando por escrever a equação dada na forma
F (x, y, z) = 0,
e
∂F
(x, y, z)
∂z ∂y 2x2 y − 3z
(x, y) = − = 2 .
∂y ∂F 3x + 6z 2 + 3y
(x, y, z)
∂z
É tarefa simples verificar que o ponto dado satisfaz a equação dada. Assim:
Nota 39. O anterior exemplo poderia ter sido resolvido também pela técnica de derivação
implı́cita de funções de duas variáveis reais. De facto, sendo z = z (x, y), a derivação
implı́cita de
em ordem a x conduz a:
∂z ∂z ∂z
6xz + 3x2 (x, y) − 2xy 2 + 6 [z (x, y)]2 (x, y) + 3y (x, y) = 0.
∂x ∂x ∂x
∂z
Resolvendo esta equação em ordem a (x, y) e escrevendo apenas z em vez de z (x, y) ,
∂x
vem:
∂z 2xy 2 − 6xz
(x, y) = 2 ,
∂x 3x + 6z 2 + 3y
o que coincide com a expressão já antes obtida. Um processo de derivação implı́cita em
∂z
relação a y iria permitir obter a mesma expressão para (x, y).
∂y
Exercı́cio 36. Relativamente à função definida implicitamente pela equação do Exemplo
85, obtenha a matriz Hz (0, 1) (ou seja, Hf (0, 1), onde z = f (x, y)).
2.5. REGRAS DA CADEIA E FUNÇÕES IMPLÍCITAS 185
∂ 2F ∂ 2F d2 f 1 df
2
+ 2
= 2
+ .
∂x ∂y dr r dr
∂ 2F ∂ 2F
5. Sabendo que F é tal que = = 0 e sendo dada z (x, y) = F (x2 − y 2 , y 2 ),
∂u∂v ∂v∂u
mostre que
x ∂ 2z ∂ 2z 1 ∂z
+ 2− = 0.
y ∂x∂y ∂x x ∂x
186 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
∂f ∂f
7. (*) Admita que z = f (x, y) é uma função tal que = . Suponha que
∂x ∂y
(
x=u+v
y =u−v
∂z
(a) Mostre que (u, v) = 0.
∂v
(b) A partir de (a), mostre que f (x, y) = g (x + y), para alguma função g.
8. Mostre que cada uma das equações seguintes define y como função implı́cita de
dy d2 y
x numa vizinhança do ponto indicado. Determine ainda e na abcissa do
dx dx2
referido ponto.
(a) y = x + ey ; (1 − e, 1) (b) (xy)2 + xy = 2; (1, 1)
p
(c) ey − ex + xy = 0; (0, 0) (d) ln y + 1 + y 2 + x2 = 1; (1, 0)
se tem √ p
dy 1 − x2 + dx 1 − y 2 = 0.
x2 + y 2 + z 2 = g(ax + by + cz),
Recordemos que uma equação do plano tangente à superfı́cie z = f (x, y) num ponto
P (x0 , y0 , z0 ) (com z0 = f (x0 , y0 )) é dada por:
z − z0 = fx (P0 ) (x − x0 ) + fy (P0 ) (y − y0 ) .
Ora, para que tal plano seja horizontal, é necessário que tenha por equação
z = z0 ,
Nota 41. As condições (2.19), ditas de estacionaridade ou de 1.a ordem, são ne-
cessárias, mas não suficientes. Quer isto dizer que não basta ser ponto estacionário
para que haja extremo num ponto. Contudo, para pontos onde f é diferenciável, apenas
devemos procurar extremantes em pontos estacionários.
f (x, y) = x2 y + xy 3 − xy,
(
fx (x, y) = 0
fy (x, y) = 0
( (
2xy + y 3 − y = 0 y (2x + y 2 − 1) = 0
⇐⇒
x2 + 3xy 2 − x = 0 x (x + 3y 2 − 1) = 0
( ( ( (
y=0 y=0 2x + y 2 − 1 = 0 2x + y 2 − 1 = 0
⇐⇒ ∨ ∨ ∨
x=0 x + 3y 2 − 1 = 0 x=0 x + 3y 2 − 1 = 0
2 2
( ( ( ( ( (
x=0 x=1 x=0 x=0 x= 5
x= 5
⇔ (· · · ) ⇔ ∨ ∨ ∨ ∨ √ ∨ √ .
x=0 y=0 y = −1 y=1 5 5
y= 5
y=− 5
√ ! √ !
2 5 2 5
(0, 0) , (1, 0) , (0, −1) , (0, 1) , , e ,− .
5 5 5 5
A segunda representação é tridimensional e permite intuir facilmente que (0, 0) não é ex-
tremante: repare que f (0, 0) = 0 e que em qualquer Bδ ((0, 0)) existem pontos que têm
imagem positiva e outros com imagem negativa.
Um ponto estacionário que não seja extremante diz-se ponto-sela. Assim, os pontos
estacionários das funções diferenciáveis classificam-se em três tipos:
(i) maximizantes; (ii) minimizantes; (iii) pontos-sela.
As figuras seguintes esquematizam o aspecto do gráfico e das curvas de nı́vel de uma
função em cada um deste tipo de pontos.
As curvas de nı́vel apenas podem fornecer indı́cios de que algo está a suceder na vizinhança
de um ponto (4 ). Nos casos em que existe um número infinito de pontos estacionários (e.g.,
4
Em última análise, o mesmo acontece com os gráficos obtidos por via computacional, dado que os
programas gráficos utilizam aritmética discreta e não contı́nua.
192 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
quando temos uma curva de pontos estacionários) dificilmente colheremos tais indı́cios.
É o que acontece com a função z = 3x2 , que tem uma infinidade de pontos estacionários
(a recta x = 0).
Uma consequência imediata da caracterização dos pontos estacionários dada por (2.19)
é que
→
−
5f (P0 ) = 0 = (0, 0)
para todo o ponto estacionário P0 . Além disso, para qualquer ponto estacionário P0
tem-se:
→
−
f−u (P0 ) = h5f (P0 ) , u i = 0,
→
o que traduz que a taxa de variação de f num ponto estacionário é nula em todas as
direções.
w = W0
f (x, y, z) = x2 + yz + 3z 3 + y 4 .
ou seja:
x=0
25
2x = 0 x=0
1
y=−
z + 4y 3 = 0 ⇐⇒ (· · · ) ⇐⇒ y=0 ∨ 12 .
2 1
y + 9z = 0 z=0
1 5
z = − 13
12
1
52
1 1 5
, − 31 12
Logo, (0, 0, 0) e 0, − são os únicos pontos candidatos a extre-
12
mantes.
tal que
p1 + ... + pn = r.
194 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
Caso n = 2: Sejam
f 2 fxy
∆ = ∆2 = x
∆1 = fx2 (P0 ) ; .
fxy fy2
(P0 )
Nota 42. Quando do sistema relativo às condições de estacionaridade resulta uma linha
de pontos estacionários, então estamos na presença do caso duvidoso.
fx2 fx1 x2 · · · f x1 xn
1
1 2 fx22 · · ·
f x2 f x1 x2
fx x f x2 xn
∆1 = fx21 (P0 ) ; ∆2 = 1
;··· ∆n = ∆ = .
fx1 x2 fx22
.. .. .. ..
(P0 ) . . .
f x xn f x xn · · · fx2n
1 2 (P0 )
(2)
4. Nos restantes casos, f−
→
u
(P0 ) é forma quadrática não definida e, portanto, P0 é
ponto-sela.
196 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
f (x, y) = x2 y + xy 3 − xy,
√ √
são P1 (0, 0) , P2 (1, 0) , P3 (0, −1) , P4 (0, 1) , P5 5 , 5 e P6 5 , − 55 . Quais deles
2 5 2
Vamos determinar as derivadas de segunda ordem para cada um dos casos e determinar
o hessiano, determinante da matriz hessiana:
2
fx2 fxy 2y 2x + 3y − 1
∆ = ∆2 = = 2
.
fxy fy2 2x + 3y − 1 6xy
f (x, y, z) = x2 + yz + 3z 3 + y 4 ,
25 15 !
1 1
cujos pontos estacionários são P1 (0, 0, 0) e P2 0, − , − 31 . Quais de-
12 12
les são extremantes?
Resolução: Recorde que
fx (x, y, z) = 2x
fy (x, y, z) = z + 4y 3 ,
fz (x, y, z) = y + 9z 2
fx2 (x, y, z) = 2, fxy (x, y, z) = 0 = fxz (x, y, z) , fyz (x, y, z) = 1, fy2 (x, y, z) = 12y 2
2.6. EXTREMOS LIVRES DE FUNÇÕES REAIS DE N VARIÁVEIS REAIS 197
e
fz2 (x, y, z) = 18z.
Assim, a matriz hessiana é:
2 0 0
0 12y 2 1 .
0 1 18z
Temos então o seguinte quadro:
25 15 !
1 1
P1 (0, 0, 0) P2 0, − , − 31
12 12
f x2 = 2 2 2
fxy = 0 = fxz 0 0
fyz = 1 1 1
3
fy2 = 12y 2 0 12 5
15
1
fz2 = 18z 0 −6
12
∆1 = 2 > 0
∆1 = 2 > 0 2 0
= 2 × 12 35 > 0
2 0
∆2 = 3
0 12
5
∆2 = =0
0 0
2
0 0
3
Menores principais 2 0 0 0 12 5 1
∆3 = ∆ =
∆3 = ∆ = 0 0 1 15
1
0 1 0 0 1 −6
12
= −2 < 0 h 2
i
= 2 −6 × 12 5 −1 <0
P1 é P2 é
Conclusão:
ponto-sela ponto-sela
fy (x, y) = 0
198 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
(x − 1)2 + (y − 1)2 = 2,
√
que constitui uma circunferência de centro em (1, 1) e raio 2. De acordo com o que dis-
semos, nestes pontos verifica-se o caso duvidoso. Uma análise local permite concluir que
se trata de uma linha de minimizantes. De facto, para pontos (x0 , y0 ) da circunferência
temos: 2
f (x0 , y0 ) = x20 − 2x0 + y02 − 2y0 = 02 = 0.
Como
f (x, y) ≥ 0, ∀ (x, y) ∈ R2 ,
obtemos a conclusão pretendida. Além disso, podemos afirmar que os mı́nimos são glo-
bais.
(a, b) ∈ r = (x, y) ∈ R2 : x + y = 1 .
Então f (a, b) = 0. Observe agora que o sinal de f é determinado pelo produto xy. Assim
sendo, é claro que o ponto (1, 0) pertencente a r é um ponto-sela. De facto, qualquer
Bε ((1, 0)) contém pontos do primeiro e quarto quadrantes não pertencentes a r. No
primeiro caso, tais pontos têm imagem positiva e no segundo caso têm imagem negativa.
Assim, a diferença [f (x, y) − f (1, 0)] não tem sinal constante e (1, 0) não é extremante.
Uma análise semelhante permite concluir que também (0, 1) é ponto-sela. Para pontos
2.6. EXTREMOS LIVRES DE FUNÇÕES REAIS DE N VARIÁVEIS REAIS 199
(a, b) ∈ r com 0 < a < 1 existe sempre alguma Bε ((a, b)) totalmente contida no 1.o
quadrante. Assim, nessa vizinhança todos os pontos têm imagem não-negativa e
será linha de minimizantes locais. Uma análise semelhante irá permitir concluir que
é linha de maximizantes locais. De facto, para estes pontos é sempre possı́vel encontrar
Bε ((a, b)) totalmente contida no 2.o ou 4.o quadrantes, nos quais f é não-positiva.
No seguinte exemplo, analisaremos um caso duvidoso que ocorre num único ponto (e
não num conjunto infinito de pontos). Adoptaremos a mesma estratégia de análise local.
Temos pois:
∆ = ∆2 = 0,
o que constitui um caso duvidoso. Note que f (0, 0) = 0. Vejamos se em qualquer Bε (P )
f tem sinal constante. Considerando um ponto (δ, 0) distinto da origem, temos:
f (δ, 0) = δ 3 .
Ora, (
f (δ, 0) > 0, se δ > 0
,
f (δ, 0) < 0, se δ < 0
pelo que podemos concluir que em qualquer vizinhança de (0, 0), a diferença
[f (x, y) − f (0, 0)] não tem sinal constante. Logo, (0, 0) é ponto-sela.
Para terminar esta secção, eis um exemplo em que os extremos da função existem sem
ser em pontos estacionários.
200 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
Exemplo 93. Mostre que a função f tal que f (x, y) = e−|x+y| tem uma linha de maximi-
zantes em x + y = 0 .
Resolução: Note que a função f é contı́nua, tendo-se:
−(x+y)
e , se x + y ≥ 0
f (x, y) = e−|x+y| = .
(x+y)
e , se x + y < 0
r = (x, y) ∈ R2 : x + y = 0 .
f (a, −a) = 1
e que
− |x + y| ≤ 0 =⇒ f (x, y) = e−|x+y| ≤ e0 = 1,
relação válida em todo o domı́nio, R2 . Assim, r é uma linha de maximizantes globais,
valendo 1 tal máximo.
2.7. EXTREMOS CONDICIONADOS DE FUNÇÕES REAIS DE N VARIÁVEIS REAIS201
y = h(x)
definir esta função, então os pontos da curva g(x, y) = 0 são da forma (x, h (x)).
Exemplo 94. Mostre que o retângulo com área máxima, de dimensões x e y, e com
perı́metro fixo,
2x + 2y = L,
é um quadrado cujo comprimento do lado vale L4 .
Resolução: Pretende-se obter
máx A (x, y) ,
onde A (x, y) = xy (x, y > 0), sujeita a
2x + 2y = L.
z = h(x, y).
Além disso, o mesmo método pode ser generalizado para os casos em que surgem
mais do que uma restrição. Por exemplo, suponhamos que são dadas f : R3 −→ R,
g1 : R3 −→ R e g2 : R3 −→ R e pretendemos
max f (x, y, z)
sujeita a (
g1 (x, y, z) = 0
.
g2 (x, y, z) = 0
Trata-se de começar por explicitar
y = h1 (x) e z = h2 (x),
Como é natural, tudo o que tem sido dito até agora tem a sua versão correspondente
no caso de problemas de minimização.
sujeita a (
x+y ≤2
. (2.21)
x−y ≤0
Resolução: Consideremos a função f (x, y) = 3x2 −2y 2 restringida aos pontos da região
D = (x, y) ∈ R2 : x + y ≤ 2 ∧ x − y ≤ 0 .
fy (x, y) = 0
dão como resultado um único ponto estacionário, (0, 0), que teremos de rejeitar
por não pertencer a int (D) (apesar de estar na região admissı́vel).
x + y = 2.
y = 2 − (−4) = 6.
Assim, (−4, 6) é um ponto estacionário com restrição de f . Note que apenas será
minimizante para a única restrição utilizada, sendo no entanto um candidato a
minimizante do problema dado.
206 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
Pretende-se pois otimizar (maximizar e minimizar) z = f (x, y) para pontos que satisfa-
zem φ(x, y) = 0, onde
φ(x, y) = x2 + y 2 − 5.
Note agora que
x2 + y 2 = 5, z ∈ IR
é a equação de um cilindro de revolução no espaço tridimensional. Como o plano
z = x + 2y não é vertical, há-de intersectar o cilindro em algum ponto de cota máxima
e noutro de cota mı́nima. Por conseguinte, o problema tem solução, quer no caso da
maximização quer no da minimização. A técnica de substituição
√ ainda seria viável neste
2 2
caso (repare que de x + y = 5 podemos explicitar y :y = ± 5 − x2 ). Não o faremos,
mas voltaremos a este problema mais adiante.
2.7. EXTREMOS CONDICIONADOS DE FUNÇÕES REAIS DE N VARIÁVEIS REAIS207
Temos pois uma função-objetivo, f , com n variáveis, e m equações de ligação (m < n).
Consideraremos agora uma função auxiliar, dita função lagrangeana, definida como se
segue:
m
X
L (x1 , x2 , ..., xn ) = f (x1 , x2 , ..., xn ) + λj φj (x1 , x2 , ..., xn ) (função lagrangeana)
j=1
∂L
= 0
1 + 2λx = 0
∂x
∂L
= 0 ⇐⇒ 2 + 2λy = 0 .
2 ∂y2 x2 + y 2 = 5
x +y = 5
P (−1, −2)
( (
Q (1, 2)
1 ∨ 1 .
λ= λ=−
2 2
Mais uma vez, uma perspectiva geométrica facilmente nos confirma que P é minimizante
do problema e Q maximizante, sendo
Para muitos autores, a análise acaba na determinação dos pontos estacionários. Estes
conduzirão a máximos ou mı́nimos, de acordo com a natureza do problema. Outros,
tomam tal decisão após cálculo das imagens nos pontos estacionários: o que tiver maior
imagem será um maximizante e o que tiver menor imagem será um minimizante. Há aqui
alguma falta de rigor matemático, pois, como sabe, nem sempre um ponto estacionário é
um extremante.
As ferramentas que até agora apresentámos permitem obter condições conclusivas
para classificação dos pontos estacionários com restrições. Como as noções de diferen-
cial e de derivada direccional de ordem superior não foram suficientemente exploradas
neste texto, optaremos por uma técnica - dita da matriz hessiana orlada - que tem o
inconveniente de nem sempre ser conclusiva para as condições de segunda ordem.
Regressemos de novo ao problema geral e adoptemos a seguinte notação:
∂φj
φji = , i = 1, ..., n; j = 1, ..., m
∂xi
.
2
∂ L
Lij = , i, j = 1, ..., n
∂xi ∂xj
2.7. EXTREMOS CONDICIONADOS DE FUNÇÕES REAIS DE N VARIÁVEIS REAIS209
H m+2 , ..., H n = H
(ordem: m+(m+2)) (ordem: m+n))
Nota 44. Sendo uma condição suficiente, este resultado pode ser inconclusivo. De facto,
pode acontecer que não se verifique nenhum dos pressupostos do teorema e exista extremo
no ponto estacionário em causa.
Ora,
φx (x, y) = 2x, φy (x, y) = 2y, Lx2 (x, y) = 2λ = Ly2 (x, y) e Lxy (x, y) = 0 = Lyx .
Assim,
0 −2 −4 0 2 4
H
(P )
= −2 1 0 = −20 < 0 e H
(Q)
= 2 −1 0 = 20 > 0.
−4 0 1 4 0 −1
Exercı́cio 37. Para cada um dos seguintes casos, construa a cadeia de menores e indique
as condições suficientes para a existência de extremo.
1 1
P (−2, −1, 2) , λ = ∨ Q (2, 1, −2) , λ = − .
2 2
Como
Lx2 = Ly2 = Lz2 = 2λ, Lxy = Lxz = Lyz = 0, φx = 2x, φy = 2y, φz = 2z,
f (P ) = −9 e f (Q) = 9,
2. Determine os extremos relativos das funções reais de três variáveis reais definidas
pelas seguintes expressões.
Atendendo a que
R1 = 63Q1 − 4Q21 , R2 = 105Q2 − 5Q22 e R3 = 75Q3 − 6Q23 ,
verifique em que condições a empresa maximiza o seu lucro.
EXTREMOS CONDICIONADOS
1. Suponha que a utilidade total, U , de um consumidor obtida a partir dos bens X e Y
é dada pela função a seguir definida:
U (x, y) = (x + 2) (y + 1) ,
onde x e y designam, respectivamente, as quantidades x e y dos produtos X e Y .
Calcule o equilı́brio para o consumidor, atendendo a que este pretende maximizar a
sua utilidade sujeita à sua restrição de rendimento, dada por
2x + 5y = 51.
Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0, A, B, C, D, E, F ∈ R
representa uma secção cónica (ou, simplesmente, cónica), que é a intersecção entre um
duplo cone e um plano, como se ilustra nas figuras seguintes. As cónicas desempenham
um papel fundamental no estudo do comportamento de funções de uma e de duas variáveis
na vizinhança de um ponto genérico.
As figuras mostram que quando o plano não passa pelo vértice do cone há três cónicas
não degeneradas básicas: a parábola, a elipse e a hipérbole - e ainda a circunferência, a
qual pode ser vista como um caso particular da elipse.
Quando o plano passa no vértice do cone, a cónica assume uma das três formas de-
generadas seguintes: um ponto, um recta ou um par de rectas concorrentes.
216 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
A equação da cónica pode sempre ser transformada numa das três formas canónicas
(ou reduzidas), fazendo desaparecer o termo em xy mediante uma rotação do sistema de
eixos coordenados. Este processo é descrito por uma técnica da Álgebra Linear.
Quando nenhum dos coeficientes de x2 ou de y 2 se anula, uma translação dos eixos
pode eliminar então os termos de grau um em x e em y, originando uma das seguintes
formas
x2 y 2 x2 y 2
+ = 1 ou − 2 = 1,
a2 b2 a2 b
onde a e b são constantes reais positivas. Se algum dos coeficientes de x2 ou de y 2 se tiver
anulado, e digamos que tal sucedeu com o de y 2 , o termo de grau um na outra variável
pode ser eliminado através de uma translação, dando origem a uma equação da forma:
x2 = 4ay.
x2 = 4ay.
2.7. EXTREMOS CONDICIONADOS DE FUNÇÕES REAIS DE N VARIÁVEIS REAIS217
a
Caso (ii): 0 < ε < 1. Escolha-se para d a recta de equação x = e F o ponto
ε
(aε, 0). Note que
a
q
d(P, d) = − x e P F = (x − aε)2 + y 2
ε
De (2.22) vem:
2 2
P F = ε2 [d(P,
2 d)]
2 2 2 a a 2
⇔ (x − aε) + y = ε −2 x+x
ε2 ε
⇔ x2 − 2aεx + a2 ε2 + y 2 = a2 − 2aεx + ε2 x2
⇔ x2 (1 − ε2 ) + y 2 = a2 (1 − ε2 )
x2 y2
⇔ + =1
a2 a2 (1 − ε2 )
x2 y 2
+ 2 = 1,
a2 b
que é a equação reduzida de uma elipse centrada na origem. Note que, como a figura
ilustra, por simetria existe uma par foco-directriz alternativo, dado por F 0 e d0 .
Por último, quando ε → 0, a elipse tende para a circunferência, pelo que esta pode ser
vista como uma cónica de excentricidade nula.
218 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
a
Caso (iii): ε > 1. Como no caso anterior, escolha-se para d a recta de equação x =
ε
e F o ponto (aε, 0). Note que a equação obtida será a mesma, i.e.,
x2 y2
+ = 1.
a2 a2 (1 − ε2 )
b2 = a2 ε2 − 1 = −a2 1 − ε2 .
x2 y 2
− 2 = 1,
a2 b
que consiste na equação reduzida da hipérbole. Rearranjando a equação, vem:
y2 b2 b2 b2
y b y b
− = − ⇔ − + = − .
x 2 a2 x2 x a x a x2
b b
y = − x ∨ y = x,
a a
assı́ntotas oblı́quas da hipérbole.
2.7. EXTREMOS CONDICIONADOS DE FUNÇÕES REAIS DE N VARIÁVEIS REAIS219
Deixamos por fim um quadro que resume as equações reduzidas das cónicas não de-
generadas e suas caracterı́sticas principais.
Cónica Equação reduzida Caracterı́sticas principais
vértice da parábola: (α, β)
eixo de simetria: x
= α
parábola y − β = k (x − α)2 , k 6= 0
para cima, se k > 0;
sentido da concavidade:
para baixo, se k < 0.
vértice da parábola: (α, β)
eixo de simetria: y=β
parábola x − α = k (y − β)2 , k 6= 0
para a direita, se k > 0;
sentido da concavidade:
para a esquerda, se k < 0.
centro: (α, β)
(x − α)2 (y − β)2
elipse 2
+ = 1, a, b ∈ R+ vértices: (α − a, β) , (α + a, β) , (α, β − b) e (α, β + b)
a b2 eixos de simetria: x = α e y = β
centro: (α, β)
circunferência (x − α)2 + (y − β)2 = r2 , r ∈ R+
raio: r
centro: (α, β) vértices: (α − a, β) e (α + a, β)
(x − α)2 (y − β)2 eixos de simetria: x=αey =β
hipérbole − = 1, a, b ∈ R+
a2 b2 b
assı́ntotas oblı́quas: y − β = ± (x − α)
a
centro: (α, β) vértices: (α, β − b) e (α, β + b)
(y − β)2 (x − α)2 eixos de simetria: x=αey =β
hipérbole − = 1, a, b ∈ R+
b 2 a2 b
assı́ntotas oblı́quas: y − β = ± (x − α)
a
Figura 2.2: Parábolas com eixo de simetria vertical num plano XOY .
Figura 2.3: Parábolas com eixo de simetria horizontal num plano XOY .
220 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
tal que
p1 + ... + pn = r.
As formas algébricas com r = 1, r = 2, r = 3, r = 4, etc, dizem-se, respectivamente,
lineares, quadráticas, cúbicas, de grau 4, etc. Podem ainda designar-se por unárias,
binárias, ternárias, etc, quanto ao número de variáveis.
A classificação de uma forma quadrática diz respeito ao sinal que Q (x, y) pode to-
mar consoante os valores de x e de y, e depende do determinante da matriz simétrica
A: ∆ = det A.
∆ = 0 e a11 > 0.
∆ = 0 e a11 < 0.
222 CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM RN
∆<0.
Caso n qualquer: Admitamos agora que estamos na presença de uma forma quadrática
Q, nas variáveis x1 , ..., xn . Então:
Q (x1 , ..., xn ) = a11 x21 + a22 x22 + ... + ann x2n + 2a12 x1 x2 + ... + 2an−1 n xn−1 xn
a11 a12 · · · a1n x1
a12 a22 · · · a2n x2
= X T AX
= x1 x2 · · · xn .. .. ... . .
.. ..
. .
a1n a2n · · · ann xn
∆p > 0, p = 1, 2, ..., n.
∆ = 0 e ∆p ≥ 0, p = 1, 2, ..., n − 1.
2.7. EXTREMOS CONDICIONADOS DE FUNÇÕES REAIS DE N VARIÁVEIS REAIS223
∆ = 0 e (−1)p ∆p ≥ 0, p = 1, 2, ..., n − 1.
[2] BINMORE, K.; DAVIES, J., Cambridge University Press, UK, 2005. [BP 517 BIN]
[3] BREDA, Ana d’Azevedo, Joana Nunes da Costa, Cálculo com funções de várias
variáveis, Lisboa, McGraw-Hill, 1996. [BP 517 BRE]
[4] CHIANG, Alpha C., Kevin Wainwright Matemática para Economistas, 4.a ed., Rio
de Janeiro, Editora Campus, Elsevier, 2006. [BP 51-7 CHI]
[5] LARSON, HOSTETLER and EDWARDS, Cálculo, Vol. 1, São Paulo, Editora
McGraw-Hill do Brasil, 2006. [BP 517 LAR]
[6] LARSON, HOSTETLER and EDWARDS, Cálculo, Vol. 2, São Paulo, Editora
McGraw-Hill do Brasil, 2006. [BP 517 LAR]
[7] PIRES, Cesaltina, Cálculo para economistas, Lisboa, Editora McGraw-Hill de Portu-
gal, 2001. [BP 51-7 PIR]
[8] SILVA, Jaime Carvalho, Princı́pios de análise matemática aplicada, Lisboa, Editora
McGraw-Hill de Portugal, 1994 [BP 517 SIL]
[9] SARAIVA, Maria dos Anjos Fonseca; SILVA, Maria Aldina Carvalho, Cálculo dife-
rencial em Rn : resumo da teoria, exercı́cios resolvidos, exercı́cios para resolver, 2a
ed., Coimbra, Livraria Almedina, 1997. [BP 517 SAR]
225