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Apontamentos Teóricos
e
Folhas Práticas
Paulo Saraiva
1 de fevereiro de 2022
2
Conteúdo
2 Séries 73
2.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
2.2 Séries Geométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
2.3 Séries e Integrais Impróprios. Critérios de convergência . . . . . . . . . . 81
2.4 Convergência absoluta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
2.5 Séries de Potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
2.6 Séries de Taylor/MacLaurin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
3
4 CONTEÚDO
i
ii CONTEÚDO
são ainda propostos diversos exercı́cios, alguns com dificuldade acima da média, como
motivação para os alunos que anseiam por desafios mais elaborados. Esta vertente virá
a ser enriquecida em futuras edições com a inclusão de outras aplicações dos temas aqui
desenvolvidos.
Finalmente, o autor deseja aos leitores-alunos um bom trabalho ao longo do semestre
e uma adequada utilização do presente manual. Esta passa, necessariamente, por uma
leitura crı́tica e assı́dua das notas teóricas, por um confronto com a visão de outros autores
(nomeadamente, os referidos na bibliografia) e por uma realização dos exercı́cios (os das
folhas práticas, os que são propostos no meio das notas e outros que o aluno entenda
serem necessários para uma melhor compreensão dos assuntos). O autor ficará deveras
satisfeito se, findo o semestre, estes apontamentos ficarem enriquecidos com oportunas
notas acrescentadas pelo aluno durante as aulas ou durante o seu esforço de trabalho
individual!
O presente capı́tulo aborda o essencial do Cálculo Integral para funções reais de uma
variável real e uma breve passagem pelo cálculo de integrais dulpos. Começamos por
apresentar as principais técnicas de primitivação (ou anti-derivação), operação inversa
da derivação. De seguida, introduzimos o conceito de integral definido, motivando-o a
partir do problema que está na sua génese: o cálculo de áreas de regiões planas. Após
a apresentação do Teorema Fundamental do Cálculo Integral (o qual relaciona o cálculo
de integrais com o cálculo de primitivas), abordaremos algumas aplicações. Veremos
como alargar o conceito de integral ao caso de funções contı́nuas num intervalo aberto ou
semi-aberto, de extremos finitos ou infinitos. Por último, ocupar-nos-emos da definição e
cálculo de integrais duplos.
1.1 Primitivas
As subsecções que compõem esta secção dedicam-se à introdução do conceito de primi-
tiva de uma f.r.v.r. e ao estudo e exemplificação dos métodos que permitem calcular tais
primitivas.
1.1.1 Definição
Admita que é dada a taxa de variação de uma função F que pretende conhecer. Dito
de outro modo, sabendo que F 0 (x) = f (x), como determinar F ? A tı́tulo de exemplo,
suponha que
F 0 (x) = |{z}
5x4 . (1.1)
=f (x)
1
2CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
inverso ao da derivação). A função F tal que F (x) = x5 é dita uma primitiva de 5x4 . Já
deve ter notado que tal solução não é única, porquanto também
G(x) = x5 + 3
é uma primitiva de 5x4 (repare que continuamos a ter G0 (x) = 5x4 ). Daı́ que tenhamos
escrito uma e não a primitiva. Na realidade, qualquer função da forma
x5 + C, C∈R
Definição 1. [primitiva de uma f.r.v.r.] Uma função F é dita uma primitiva de uma
função f dada num intervalo I se
2. Atendendo ao que se disse em 1., às primitivas também é costume chamar integrais
indefinidos.
Tendo observado que a primitiva não está univocamente determinada (ao contrário
da derivada), o seguinte resultado clarificará qual o conjunto de primitivas de uma dada
função.
G(x) = F (x) + C, C ∈ R.
para algum C a determinar. Eis uma representação gráfica de alguns membros desta
famı́lia de curvas.
Primitivação imediata
Conhecendo as regras de derivação, é bastante simples estabelecer regras de primitivação,
bastando para tal inverter uma tabela de derivação. As primitivas que se obtêm por este
processo dizem-se imediatas.
Eis uma tabela de primitivas imediatas, na qual u = f (x) e C representa uma cons-
tante real arbitrária.
Função Primitiva Restrição
1. 0 C
2. a ax + C
um+1
3. um u0 +C m 6= −1
m+1
u 6= 0, se m ∈ Z− \ {−1}
u > 0, se m ∈ R\Q
u0
4. ln |u| + C u 6= 0
u 0
u
5. loga |u| + C u 6= 0, a ∈ R+ \ {1}
u ln a
6. eu u0 eu + C
7. au u0 ln a au + C a ∈ R+ \ {1}
8. u0 cos u sin u + C
9. u0 sin u − cos u + C
10. u0 sec2 u tg u + C
11. u0 cossec2 u −cotg u + C
u0
12. √ arcsin u + C |u| < 1
1 − u2
(ou − arccos u + C) |u| < 1
u0
13. arctg u + C
1 + u2
(ou −arccotg u + C)
TABELA I
Esta tabela pode se considerada, por assim dizer, a ”tabuada” da primitivação. Qual-
quer das regras pode ser confirmada derivando a função que surge na coluna do meio e
verificando que se obtém a que lhe corresponde na coluna da esquerda. Refira-se ainda
que a regra 4. resulta de as funções ln u e ln(−u) terem a mesma expressão para a deri-
vada. De facto,
d −u0 u0
[ln (−u))] = = , se u < 0
dx −u u
e
d u0
[ln u] = , se u > 0.
dx u
Como (
ln u, se u > 0
ln |u| = ,
ln(−u), se u < 0
1.1. PRIMITIVAS 5
Nota 2. Deve ter constatado que não considerámos duas constantes provenientes da
primitivação da cada uma das parcelas. Ora, isto sucede porque
C1 + C2 = C (constante real).
arctg (3x)
Exemplo 2. Primitivemos a função g tal que g(x) = . Note que
1 + 9x2
d 3 3
[arctg (3x)] = 2 = .
dx 1 + (3x) 1 + 9x2
Assim,
1 R 3
arctg (3x) dx = 13
R R
g(x)dx = 2 2
arctg (3x) dx
1 + 9x 1 + 9x | {z }
| {z } =u(x)
=u0 (x)
2
arctg 2 (3x)
= 1 [arctg(3x)] +C = + C, C ∈ R,
(regra 3.) 3 2 6
concluindo o exemplo.
6CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
sin x
Exemplo 3. Pretende-se primitivar a função h tal que h(x) = . Procuremos
5 + cos2 x
relacionar esta função com a que surge como função primitivanda na regra 13. da Tabela
I. Ora,
!
sin x 1 sin x 1 sin x
h(x) = = = 2 .
2 cos2x
5 + cos x 5 1+ 5 5
cos x
1+ √
5
Como
d cos x sin x
√ =− √ ,
dx 5 5
vem:
√1
1 √ − 5 sin x
Z Z Z
1 sin x
h(x)dx = 2 dx = − 5 2 dx
5 5
cos x cos x
1+ √ 1+ √
5 5
√
5 cos x
= − arctg √ + C,
5 5
com C ∈ R.
Exercı́cio 1. (*) (1 ) Verifique que
d d 1
[arcsin x] = [− arccos x] = √ , x ∈ ]−1, 1[ .
dx dx 1 − x2
Por que razão não é legı́timo deduzir que que arcsin x = − arccos x a partir destas
igualdades? Indique uma identidade válida envolvendo arcsin x e arccos x.
De seguida apresentamos outra tabela de primitivação, complementar à Tabela I., que
inclui casos não directamente obtidos por inversão da tabela de derivadas das funções
elementares, mas após utilização de manipulações algébricas mais ou menos simples.
Função Primitiva Restrição
1. u0 tg u − ln |cos u| + C cos u 6= 0
2. u0 cotg u ln |sin u| + C sin u 6= 0
3. u0 sec u tg u sec u + C cos u 6= 0
4. u0 cossec u cotg u −cossec u + C sin u 6= 0
u0 u
5. √ arcsin +C −a < u < a, a 6= 0
a2 − u 2 a
u0 1 u
6. arctg +C a 6= 0
a2 + u2 a a
7. u0 sec u ln |sec u + tg u| + C cos u 6= 0, sec u + tg u 6= 0
8. u0 cossec u ln |cossec u − cotg u| + C sin u 6= 0, cossec u − cotg u 6= 0
TABELA II
1
Neste exercı́cio e nos que se seguirem, o sı́mbolo (*) indica que possui dificuldade acima da média.
1.1. PRIMITIVAS 7
Não sendo a derivada do produto igual ao produto das derivadas, o mesmo é expectável
que aconteça quanto à primitivação. Temos a seguinte regra:
Teorema 3. [regra de primitivação por partes] Sejam f e g duas funções tais que F é
uma primitiva de f . Então:
Z Z
(f × g) (x) dx = F (x) g(x) − F (x) × g 0 (x) dx
Tendo então o produto de duas funções, para que esta regra seja aplicável é forçoso
conhecer uma primitiva de uma delas. Salientamos porém que nem sempre o facto
de a função primitivanda ser produto de duas funções implica a aplicação da regra de
primitivação por partes.
Por vezes, a técnica aplica-se quando temos apenas uma função: consideramos que
esta é produto de 1 pela própria função.
finalizando o exemplo.
Quando se pretende primitivar o produto de duas funções das quais apenas conhece-
mos a primitiva de uma delas, devemos começar por essa. Por outro lado, deve-se começar
a primitivar pelo factor que menos se simplifica por derivação.
8CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
e2x 1 e2x
Z
1 2x
= sin x − cos x + e sin x dx
2 2 2 2
e2x e2x
Z
1
= sin x − cos x − e2x sin x dx.
2 4 4
R
Tomando Y = e2x sin x dx, vem:
e2x e2x 1
Y = sin x − cos x − Y.
2 4 4
Resolvendo esta equação em ordem a Y , resulta
2e2x e2x
Y = sin x − cos x.
5 5
Assim:
2e2x e2x
Z
e2x sin x dx = sin x − cos x + C, C ∈ R,
5 5
concluindo o exemplo.
Exercı́cio 3. (*) Obtenha a seguinte fórmula de recorrência:
2n − 3
Z Z
1 1 1 x 1
dx = 2 + dx , n ∈ N.
(x2 + a2 )n a 2n − 2 (x2 + a2 )n−1 2n − 2 (x2 + a2 )n−1
R 1
(Sugestão: Aplique o método de primitivação por partes a dx e tente obter
(x2 + a2 )n−1
1
R
uma expressão onde surja (x2 +a 2 )n dx.)
1.1. PRIMITIVAS 9
onde α1 , ..., αk são zeros reais de Q(x) com multiplicidades p1 , ...pk , respectivamente, e
β1 ± γ1 i, ..., βr ± γr i (3 ) são zeros complexos de Q(x) com multiplicidades q1 , ...qr , res-
pectivamente. Deveremos certificar-nos se, eventualmente, R (x) e Q(x) possuem alguns
zeros em comum, caso em que haverá simplificação de factores.
R(x)
A fase seguinte consiste em decompor na soma dos chamados elementos sim-
Q(x)
ples, do modo que se segue.
Raı́zes reais: A cada factor do tipo (x − α)p faremos corresponder a seguinte soma de
fracções:
A1 A2 Ap
p + p−1 + ... + .
(x − α) (x − α) x−α
q
Raı́zes complexas: A cada factor do tipo (x − β)2 + γ 2 faremos corresponder a se-
guinte soma de fracções:
A1 x + B1 A2 x + B2 Aq x + Bq
q + q−1 + ... + .
2
(x − β)2 + γ 2
2
(x − β) + γ2 (x − β) + γ 2
Cada uma das parcelas nas somas acima referidas diz-se elemento simples. A de-
R(x)
composição de só estará concluı́da quando determinarmos o valor das constantes.
Q(x)
O processo mais geral para o fazer é o método dos coeficientes indeterminados. Os
elementos simples são facilmente primitiváveis (através das Tabelas I e II).
2
Poderá ser-lhe útil neste ponto realizar uma breve revisão do cálculo de números complexos (raı́zes de
polinómios, cálculo algébrico de números complexos, etc.)
3
Note que se a + b i é raiz de um polinómio, também o seu conjugado, a − b i, o será.
10CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
R x2 + 3x + 1
Exemplo 7. Calculemos dx. Note que a função primitivanda é uma
(x + 2)2 (x2 + 1)
função racional própria (pois temos 2 < 4). Factorizemos o denominador. Temos:
(x + 2)2 x2 + 1 = 0 ⇔ x = −2 (raiz real dupla) ∨ x2 + 1 = 0
o que equivale a:
x2 +3x+1 = (A2 +B)x3 +(A1 + 2A2 + 4B + C) x2 +(A2 + 4B + 4C) x+(A1 + 2A2 + 4C) .
Igualando os coeficientes dos termos do mesmo grau de ambos os membros, obtemos o
seguinte sistema de equações lineares nas incógnitas A1 , A2 , B e C :
A2 + B =0
A1 + 2A2 + 4B + C = 1
A2 + 4B + 4C =3
A1 + 2A2 + 4C =1
em que β ± γi não são raı́zes de Q1 (x). Procedendo como no caso anterior, temos:
R(x) R(x) Ax + B
= 2 = + E(x).
(x − β)2 + γ 2
Q (x) (x − β) + γ 2 Q1 (x)
Multiplicando ambos os membros por Q (x), obtemos:
Ax + B
R(x) = + E(x) Q (x)
(x − β)2 + γ 2
= (Ax + B) Q1 (x) + E(x) (x − β)2 + γ 2 Q1 (x) .
R 3x + 1
Exemplo 8. Calculemos dx. Note que
x4 − 1
x4 − 1 = x2 − 1 x2 + 1 = (x − 1) (x + 1) x2 + 1 ,
pelo que x4 − 1 tem apenas raı́zes reais simples (−1 e 1) e raı́zes complexas simples (±i).
Temos então:
3x + 1 3x + 1 A B Cx + D
4
= 2
= + + 2 .
x −1 (x − 1) (x + 1) (x + 1) x−1 x+1 x +1
Determinemos as constantes através das regras práticas acima enunciadas.
3x + 1 3x + 1 1
A= 2
=1 e B= 2
= .
(x + 1) (x + 1) x=1 (x − 1) (x + 1) x=−1 2
De
3x + 1
= Cx + D
(x − 1) (x + 1) x=i
resulta:
3i + 1
= Ci + D
−2
o que equivale a
3 1
C =− eD=− .
2 2
Assim,
3x + 1 1 1 1 1 3x + 1
4
= + − .
x −1 x − 1 2 x + 1 2 x2 + 1
Notando que
3x + 1 3x 1 3 2x 1
= + = + ,
x2 + 1 x2 + 1 x2 + 1 2 x2 + 1 x2 + 1
deixamos ao leitor a terefa de concluir o exemplo.
Regra dos ”agás”: Para o caso das raı́zes reais múltiplas há também um método parti-
cular de cálculo das constantes, dito regra dos ”agás” ou da divisão ascendente.
Admitamos que Q(x) = (x − α)k Q1 (x), onde α não é raiz de Q1 (x). Então
R(x) R(x) A1 A2 Ak
= k
= k
+ k−1
+ ... + + E (x) .
Q (x) (x − α) Q1 (x) (x − α) (x − α) x−α
Multiplicando ambos os membros por Q (x) vem:
" #
A1 A2 Ak
R(x) = k
+ k−1
+ ... + + E (x) (x − α)k Q1 (x)
(x − α) (x − α) x − α
ou seja:
h i
R(x) = A1 + A2 (x − α) + A3 (x − α)2 + ... + Ak (x − α)k−1 Q1 (x)
+E (x) (x − α)k Q1 (x) .
1.1. PRIMITIVAS 13
Deste modo:
2 k−1 R(x)
A1 + A2 h + A3 h + ... + Ak h + ... = .
Q1 (x) x=α+h
Quer isto dizer que as constantes A1 , A2 , A3 , ..., Ak são, por esta ordem, iguais
aos coeficientes do polinómio na variável h resultante da divisão ascendente de
R(α + h) por Q1 (α + h) . Em resumo, para determinar A1 , A2 , A3 , ..., Ak efectua-
se a seguinte divisão ascendente
R(x)
.
Q1 (x) x=α+h
Devemos efectuar esta divisão de maneira ascendente (i.e., dispondo os polinómios por
ordem crescente do grau dos termos que os compõem) até obtermos no quociente um
polinómio do segundo grau (uma vez que necessitamos de três coeficientes para as três
constantes). Vem:
−2 + 3h
5 h + (−5)h2 + ...
= (−2) + |{z}
1+h | {z } | {z }
A1 A2 A3
Assim,
3x + 1 −2 5 5 5
3 = 3 + 2 − + .
(x + 2) (x + 1) (x + 1) (x + 1) x+1 x+2
A conclusão do exemplo ficará a cargo do leitor.
14CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
Um último exemplo serve para ilustrar que a aplicação deste procedimentos deve ser
precedida de alguma análise da função racional em causa.
R 1
Exemplo 10. Calculemos 2
dx. Note que a função primitivanda já é função
x +x+1
racional própria. Além disso, as raı́zes do polinómio em denominador são
√
1 3
− ± i (raı́zes complexas simples).
2 2
Assim,
2 √ !2
1 3
x2 + x + 1 = x + + .
2 2
(facto que também seria confirmável pelo método de completamento do quadrado (4 )).
Ax + B
Note que a fracção dada já é da forma , com A = 0 e B = 1. Logo, não
(x − β)2 + γ 2
adianta aplicar a regra do ”tapa” para raı́zes complexas simples. Finalmente, temos:
!
x + 12
Z Z
1 1 1
dx = √ 2 dx = √3 arctg √ +C
x2 + x + 1 3 1 2 3
2
+ x + 2 2 2
√ " √ #
2 3 2 3 1
= arctg x+ + C, C ∈ R,
3 3 2
onde aplicámos a sexta regra da Tabela II.
finalizando o exemplo.
ex = t, (1.4)
ex
t
2x x
= 2
e − 2e + 1 ex =t t − 2t + 1
ex dx = dt.
ex
Z Z
1 1 1
2x x
dx = 2
dt = − +C =− x + C, C ∈ R.
e − 2e + 1 (t − 1) t−1 e −1
Nota
p 3. Quando se efectua uma substituição, é frequente surgir uma expressão do tipo
f 2 (t), cuja simplificação é, como sabemos:
p
f 2 (t) = |f (t)| .
Para aliviarmos os cálculos, convenciona-se que, caso Df não seja indicado, f é sempre
positiva (a única alteração que se poderia produzir ocorreria no sinal).
18CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
x = sin t,
h π πi
com t ∈ − , (5 ). Então
2 2
dx = (sin t)0 dt = cos t dt
e √ p √ h π πi
1 − x2 = 1 − sin2 t = cos2 t = cos t (pois t ∈ − , )
2 2
Logo,
Z √ Z Z Z
2 1
1− x2 dx = cos t cos t dt = cos t dt = (1 + cos (2t)) dt
2
1 1
= t + sin (2t) + C, C ∈ R.
2 2
Devemos agora regressar à variável inicial. Temos:
x = sin t ⇐⇒ t = arcsin x
e √
sin (2t) = 2 sin t cos t = 2x 1 − x2 .
Logo,
Z √
√
√
2
1 1 2
1 2
1 − x dx = arcsin x + × 2x 1 − x +C = arcsin x + x 1 − x +C,
2 2 2
com C ∈ R, o que conclui o exemplo.
Notas Finais
Até agora, não nos referimos ainda às circunstâncias em que existe uma primitiva de uma
função num dado intervalo. O resultado seguinte diz-nos um dos casos em que tal se pode
garantir.
Teorema 4. Se f é contı́nua em [a, b], então f tem primitiva nesse intervalo.
Apesar da sua importância, o problema deste teorema é que ele não afirma de que
maneira chegar a tal primitiva. De facto, sabe-se que funções como
±x
2 e sin x cos x 1
e−x , n (n ∈ N), sin (x2 ) , , , ,
x px x ln x
p 1 1
(1 − x2 ) (1 − k 2 x2 ), p , 1 − k 2 sin2 x, p ,
(1 + x ) (1 + k 2 x2 )
2
1 − k 2 sin2 x
5
Serviria qualquer outro intervalo onde a função sin fosse invertı́vel.
20CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
C ÁLCULO II
A NO LECTIVO DE 2014/15 FOLHA N.º 1
PRIMITIVAÇÃO
6. Utilizando as fórmulas
1 1
sin2 [f (x)] = [1 − cos (2f (x))] e cos2 [f (x)] = [1 + cos (2f (x))] ,
2 2
calcule:
sin2 (2x) dx
R R
(a) (b) cos2 (5x) dx
R R
(c) (sin x + cos x)2 dx (d) (sin x cos x)2 dx
7. Calcule:
R 2 R R R
(a) tg x dx (b) cotg3 x dx (c) tg4 x dx (d) sin 3
(2x) dx
10. Calcule:
R √x R √ R 1 + x3
(a) e dx (b) x x − 1 dx (c) √ dx
4 − x2
R x − arcsin (2x)
sec3 x dx ln2 x dx
R R
(d) (e) (f ) √ dx
1 − 4x2
R ln (x2 − 1) R arctg x R √
(g) dx (h) dx (i) x2 − 1 dx
x3 x2
11. A função custo marginal de uma empresa, Cmg , é conhecida em cada uma das
alı́neas seguintes. São também conhecidos os custos fixos diários de produção da
referida empresa. Determine a função custo total de produção de x unidades diárias.
(a) Cmg (x) = x2 − 4x + 110, custos fixos: 340 (u.m./dia)
x
(b) Cmg (x) = 1 + 2e 3 , custos fixos: 12 (u.m./dia)
24CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
1.2 Integrais
Vamos nesta secção introduzir o conceito de integral enquanto soma generalizada, fa-
zendo apelo à sua conexão com o problema do cálculo de áreas. De seguida, enuncia-
remos algumas propriedades dos integrais definidos. O principal teorema desta secção
será objecto de análise na subsecção seguinte, e fará a ligação entre o conceito de inte-
gral e o de primitiva. De seguida, daremos alguns exemplos de cálculo e de aplicações
dos integrais. Por último, abordaremos os chamados integrais impróprios, i.e., integrais
que surgem quando a função integranda é contı́nua num intervalo aberto (com extremos
finitos ou infinitos).
1.2.1 Somatórios
Como sabe, dada uma sucessão (uk )k∈N , a notação de somatório
n
X
uk
k=1
(deve ler-se ”metade da soma do 1º com o último termo, multiplicada pelo número de
parcelas”). Em particular, se uk = k, k = 1, 2, 3, ... vem:
n
X 1+n
1 + 2 + ... + n = k= × n.
k=1
2
Diz-se que os termos de uma sucessão (uk )k∈N0 (6 ) estão em progressão geométrica
de razão r ∈ R se se verificar:
uk+1
= r, k = 0, 1, 2, 3, ...
uk
Mostra-se facilmente que o termo geral de uma progressão geométrica de razão r ∈ R e
primeiro termo u0 = a é:
uk = a rk , k = 0, 1, 2, 3, ...
Existe também um fórmula que nos dá a soma dos n primeiros termos de uma progressão
geométrica de razão r ∈ R e primeiro termo u0 = a que passaremos a deduzir. Pretende-
se então obter uma fórmula para:
a + a r + a r2 + ... + a rn−1 .
Note que
(1 − r) (a + a r + a r2 + ... + a rn−1 ) =
= a + a r + a r2 + ... + a rn−1 − r (a + a r + a r2 + ... + a rn−1 )
= a + a r + a r2 + ... + a rn−1 − a r − a r2 − ... − a rn−1 − a rn
= a − a rn = a (1 − rn ) .
Deste modo, desde que r 6= 1, temos:
n−1
X 1 − rn
a + a r + a r2 + ... + a rn−1 = a rk = a ×
k=0
1−r
1 − rn
(deve ler-se ”produto do 1.º termo pelo quociente , onde n é o número parcelas”).
1−r
Em particular, se u0 = 1, temos:
n−1
X 1 − rn
1 + r + r2 + ... + rn−1 = rk = .
k=0
1−r
6
Em muitos contextos onde surgem as progressões geométricas, é usual o primeiro termo ser u0 (e não
u1 ), motivo pelo qual optámos por tomar k ∈ N0 .
26CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
A propriedade básica deste triângulo é que, com excepção dos 1’s no princı́pio e fim de
cada linha, cada elemento é a soma dos dois elementos que estão na linha anterior nas
posições k − 1 e k, i.e.,
n n−1 n−1
= + .
k k−1 k
Exercı́cio 4. Recorra ao método de indução matemática para demonstrar as seguintes
propriedades:
n n (n + 1) (2n + 1) n n2 (n + 1)2
k2 = k3 =
P P
(a) (b) .
k=1 6 k=1 4
ou polı́gonos regulares) que correspondam a figuras cuja área seja conhecida. Quando
passamos ao cálculo de áreas de regiões não poligonais (por exemplo, delimitadas por
secções cónicas) os processos tornam-se mais complexos. Os gregos legaram-nos um
método, dito de exaustão, o qual corresponde ao cálculo do limite da soma das áreas
de duas sequências de polı́gonos - uma de polı́gonos inscritos e outra de polı́gonos cir-
cunscritos à região cuja área se pretende determinar - com um número cada vez maior
de lados. Tal método foi utilizado nomeadamente no cálculo de um valor aproximado da
área da região circular, inscrevendo-a e circunscrevendo-a através de polı́gonos regulares
com n lados. À medida que n cresce, é intuitivo que as áreas dos polı́gonos das duas
sequências se tornam cada vez melhores aproximações da área do cı́rculo, como se pode
observar na figura seguinte.
Séculos mais tarde, uma versão deste método viria a estar na origem do Cálculo Integral
aplicado ao cálculo de áreas de regiões quaisquer (delimitadas por gráficos de funções).
Seja f uma f.r.v.r. contı́nua e não negativa definida num intervalo [a, b]. Pretende-se
determinar a (medida da) área da seguinte região plana:
Para tal, vamos considerar uma partição de [a, b] em n subintervalos de pontos igual-
b−a
mente espaçados, sendo ∆x = a largura de cada subintervalo. Quer isto dizer que
n
vamos considerar os pontos:
tais que
xi − xi−1 = ∆x, i = 1, 2, ..., n
ou seja,
xi = a + i∆x, i = 0, 1, 2, ..., n.
Uma vez que f é contı́nua num intervalo fechado, podemos garantir que em cada subin-
tervalo [xi−1 , xi ] , i = 1, 2, ..., n existem mi e Mi tais que
Considerando a soma s(n) das áreas dos rectângulos inscritos e a soma S(n) correspon-
dente aos rectângulos circunscritos, temos:
n
X n
X
s(n) = f (mi ) ∆x ≤ A (R) ≤ f (Mi ) ∆x = S(n).
i=1 i=1
As somas s(n) e S(n) dizem-se soma inferior e superior, respectivamente, e são apro-
1.2. INTEGRAIS 29
ximações da área A (R) que pretendemos determinar. Mais, parece intuitivo que quantos
mais forem os subintervalos considerados na partição, mais próximos de A (R) estarão
s(n) e S(n). Dito de outro modo, parece que
Repare que, dada a igualdade entre os limites, o teorema das sucessões enquadradas
permite-nos escolher qualquer elemento ci ∈ [xi−1 , xi ] , i = 1, 2, ..., n (e não forçosamente
mi e Mi ). Tendo isto em conta, vamos definir A (R).
Definição 2 (Área de uma região plana). Seja R a região plana descrita por (1.5).
Então n
X
A (R) = lim f (ci ) ∆x, ci ∈ [xi−1 , xi ] ,
n→+∞
i=1
b−a
onde ∆x = .
n
30CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
1
Prove que A (R) = .
4
Resolução: Note que a função dada é contı́nua e não negativa em [0, 1]. Façamos a
1−0 1
partição deste intervalo em n subintervalos de largura ∆x = = . Pela definição
n n
teremos então n
X
A (R) = lim f (ci ) ∆y, ci ∈ [yi−1 , yi ] ,
n→+∞
i=1
d−c
onde ∆y = (quer isto dizer que devemos considerar uma partição do intervalo
n
[c, d], no eixo dos yy).
1.2. INTEGRAIS 31
R = (x, y) ∈ R2 : y ∈ [0, 1] ∧ 0 ≤ x ≤ y 2 .
1
Prove que A (R) = .
3
Resolução: Trata-se de considerar a função f tal que f (y) = y 2 , contı́nua e não negativa
em [0, 1]. O procedimento de partição do intervalo [0, 1] em n subintervalos de largura
1 i
∆y = e a consideração dos pontos ci = facilmente levam a
n n
n n 2 n
X X i 1 1 X 2
A (R) = lim f (ci ) ∆y = lim = lim i
n→+∞
i=1
n→+∞
i=1
n n n→+∞ n3 i=1
n
1 X 2 1 n (n + 1) (2n + 1)
= lim 3 i = lim
n→+∞ n (exerc. 4) n→+∞ n3 6
i=1
1
= (...) = ,
3
o que finaliza a resolução.
O matemático alemão Riemann viria a generalizar as somas acima consideradas para
partições em subintervalos de qualquer largura e para funções não necessariamente contı́nuas.
Definição 3 (Soma de Riemann). Seja f uma f.r.v.r. definida em [a, b] e seja ∆ uma
partição de [a, b] tal que
A norma de uma partição ∆ denota-se por k∆k e define-se como a largura do maior
subintervalo da partição. A noção de integral definido de uma função num intervalo [a, b]
está ligada à existência do limite das somas de Riemann quando a norma da partição tende
para zero.
Definição 4 (Integral Definido). Seja f uma f.r.v.r. definida em [a, b]. Diremos que f é
integrável em [a, b] se existir
Xn
lim f (ci ) ∆xi .
k∆k→0
i=1
Rb
Nesse caso, denotaremos por a
f (x)dx tal limite, i.e.,
n
X Z b
lim f (ci ) ∆xi = f (x)dx.
k∆k→0 a
i=1
Nota 5. Integrabilidade não implica continuidade. Com efeito, há funções descontı́nuas
em [a, b] (com um número finito ou infinito numerável de descontinuidades) que também
são integráveis.
Teorema 7 (integrais definidos e áreas). Seja f uma f.r.v.r. contı́nua e não negativa num
intervalo [a, b] e R a região definida por (1.5). Então
Z b
A (R) = f (x)dx.
a
Nota 6. No que se segue, sempre que falarmos de áreas de regiões planas, admitir-se-
á que f não é identicamente nula no intevalo de integração (pois não se definem áreas
nulas).
Voltaremos a esta questão mais adiante para abordarmos o caso em que as funções são
não positivas. Para já, enunciaremos sem demonstrar algumas propriedades dos integrais
definidos.
1.2. INTEGRAIS 33
Admitamos agora que f (x) ≤ 0, ∀x∈[a,b] . Note que uma consequência da propriedade
Rb
6. é que a f (x)dx ≤ 0, pelo que o valor deste integral não é a medida de uma área.
Assim, suponha que pretendemos determinar a área, A (R), para
Então Z b Z b
A (R) = −f (x)dx = − f (x)dx.
a a
34CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
Exemplo 17. Considere a função f tal que f (x) = −x3 e a seguinte região plana:
R = (x, y) ∈ R2 : x ∈ [0, 1] ∧ f (x) ≤ y ≤ 0 .
Teremos então:
Z b
[Região do tipo I] A (R1 ) = [g (x) − f (x)] dx
a
e Z d
[Região do tipo II] A (R2 ) = [g (y) − f (y)] dy,
c
Mais geralmente, as regiões podem decompor-se numa reunião finita de regiões dis-
juntas ou que partilham apenas a sua fronteira, do tipo I ou do tipo II (ou de ambos os
tipos), bastando utilizar estas fórmulas e as propriedades acima enunciadas para o cálculo
das áreas.
Por último, sublinhe-se que o cálculo de integrais é possı́vel para funções integrandas
negativas. No entanto, para que um dado integral definido num intervalo [a, b] represente
uma área é necessário que a função integranda seja não negativa nesse intervalo.
Vamos de seguida enunciar um importantı́ssimo resultado que nos fornece um método
de cálculo de integrais sem recurso aos limites de somatórios.
1.2. INTEGRAIS 35
onde se admite que f é contı́nua em [a, b]. Para cada x ∈ [a, b], a área da sub-região
é dada por Z x
I (x) = f (t) dt.
a
Logo, a área da sub-região definida entre as rectas verticais de abcissa x e x + h é
I (x + h) − I (x).
8
Em rigor, o que se afirma no TFCI é válido também para funções que possuam descontinuidades num
conjunto finito ou infinito numerável de pontos em [a, b] .
36CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
I (x + h) − I (x) ≈ f (x) h
o que equivale a:
I (x + h) − I (x)
≈ f (x) .
h
Prova-se que esta aproximação é tanto melhor quanto mais pequeno for h. No limite,
temos:
I (x + h) − I (x)
lim = f (x) ,
h→0 h
ou seja:
I 0 (x) = f (x).
Relembramos que I não é a única primitiva de f . De facto, sendo ξ uma qualquer
constante real, a função J tal que
Z x
J (x) = f (t) dt
ξ
Ra
também satisfaz J 0 (x) = f (x). Assim, como ξ
f (t) dt é uma constante, temos:
Z x Z a
J (x) = f (t) dt + f (t) dt = I(x) + C,
a ξ
onde C é uma constante real arbitrária. Recuperámos assim o facto segundo o qual duas
primitivas de uma mesma função diferem de uma constante.
Na sequência do anterior raciocı́nio, sejam F e I duas primitivas de f , sendo a segunda
expressa como em (1.6). Então
F (x) − I (x) = C
o que demonstra a segunda parte do TFCI: se F é uma primitiva de f em [a, b], então
Z b
f (x) dx = [F (x)]ba = F (b) − F (a) .
a
1.2. INTEGRAIS 37
Resolução: Comecemos por sublinhar que, em cada um dos casos, a função integranda é
contı́nua no respectivo intervalo de integração, pelo que se garante a sua integrabilidade.
x4
(a) Como F (x) = é uma primitiva de f (x) = x3 , temos:
4
Z 1 4 1
3 x 1 0 1
x dx = = − = .
0 4 0 4 4 4
1 √ h √ i
2 3 2 3 1
R
(c) Recorde que 2
dx = 3
arctg 3
x+ 2
+C, C ∈ R, (ver exemplo
x +x+1
10). Assim:
" √ " √ ##1
Z 1
1 2 3 2 3 1
dx = arctg x+
0 x2 + x + 1 3 3 2
0
√ " √ !# √ √
2 3 √ 3 2 3 π π π 3
= arctg 3 − arctg = − = ,
3 3 3 3 6 9
Tendo isto em conta, a 1.ª parte do TFCI pode ser reescrita como se segue:
Z x Z
d d
f (t) dt = f (x) dx = f (x).
dx ξ dx
Integração por substituição: Seja f uma função integrável em [a, b] e admitamos que
φ : t → x = φ (t) é uma função injectiva e continuamente derivável em [c, d] , onde
φ (c) = a e φ (d) = b.
Então: Z b Z d
f (x) dx = f [φ (t)] φ0 (t) dt.
a c
Observe que,
R d uma vez que o resultado de um integral é um número real, calculado
0
o valor de c f [φ (t)] φ (t) dt não há que voltar à variável inicial.
R1√
Exemplo 21. Calcule 0 1 − x2 dx e descreva, caso possı́vel, a região plana cuja área
é determinada por este integral.
Resolução: Recorde que (ver exemplo 14) a substituição indicada é
h π πi
x = sin t, t∈ − , ,
2 2
√
de onde resultam dx = cos t dt e 1 − x2 = cos t. Os novos limites de integração são:
( (
x = sin t x = sin t π
⇐⇒ t = 0 e ⇐⇒ t = .
x=0 x=1 2
Logo,
π π π2
1 √
Z Z Z
2
2 1 2 1 1 π
1 − x2 dx = cos t dt = (1 + cos (2t)) dt = t + sin (2t) = (...) = .
0 0 2 0 2 2 0 4
Note que a função integranda é contı́nua e não negativa em [0, 1] . Logo, podemos confir-
mar que o integral dado representa a área de uma região, a qual é descrita por:
n √ o
R = (x, y) ∈ R2 : x ∈ [0, 1] ∧ 0 ≤ y ≤ 1 − x2 .
√
De y = 1 − x2 vem y 2 = 1 − x2 ∧ y ≥ 0 ou seja x2 + y 2 = 1 ∧ y ≥ 0.
Como x ∈ [0, 1], R é o quarto de cı́rculo de raio 1 centrado na origem, acima traçado.
40CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
1.2.4 Aplicações
Vamos agora deter-nos sobre algumas das aplicações do Cálculo Integral.
Cálculo de Áreas
O cálculo de áreas de regiões planas, aplicação que está na génese dos integrais, foi já
abordado com algum detalhe na secção anterior. Acrescentamos apenas que, no caso em
que temos uma região do tipo I mas f e g podem não manter a mesma posição relativa no
intervalo [a, b] é costume sintetizar o cálculo da área no integral
Z b
|f (x) − g(x)| dx
a
Teorema 10. (1) Seja f uma função contı́nua em [a, b] e em [−b, −a].
R −a Rb
(a) se f é par, então −b
f (x) dx = f (x) dx
a
R −a Rb
(b) se f é ı́mpar, então −b
f (x) dx = − a f (x) dx
2x
Exemplo 23. Como a função f tal que f (x) = é contı́nua e ı́mpar em [−1, 1], a
1 + x2
propriedade (2) (b) garante-nos que:
Z 1
f (x) dx = 0.
−1
benefı́cio que o consumidor tem ao comprar x0 unidades de um bem ao preço fixo unitário
p0 , em vez de pagar o montante que até estaria disposto a pagar por quantidades menores
ou iguais que x0 , caso o vendedor conseguisse extrair-lho (9 ). Tal benefı́cio é a área da
região a sombreado em (a) e é calculado simbolicamente por:
Z x0
Excedente do consumidor = f (x)dx − p0 x0
0
Por outro lado, ainda na mesma situação de equilı́brio no mercado em (x0 , p0 ), os pro-
dutores que estariam dispostos a fornecer o bem a preços inferiores a p0 , acabam por
ter um benefı́cio. Este, dito excedente do produtor, é traduzido pela área da região a
sombreado na figura (b). Simbolicamente, temos:
Z x0
Excedente do produtor = p0 x0 − g(x)dx.
0
fd (x) = fs (x),
ou seja, quando
120 − x2 = x2 + 2x + 8,
equação cujas soluções são
x = −8 ∨ x = 7.
Atendendo ao contexto do problema, rejeitaremos a primeira solução. Dado que
R5
Como se pretende determinar a variação de capital em 5 anos, devemos calcular 0
I (t) dt.
Temos: Z 5 h 5 5
i √
K(5) − K(0) = I (t) dt = 400t 2 = 104 5,
0 0
onde f é contı́nua e não negativa em [a, b], está compreendida entre a área do rectângulo
inscrito e o rectângulo circunscrito, i.e.,
Z b
f (m) (b − a) ≤ f (x) dx ≤ f (M ) (b − a) .
a
O seguinte resultado afirma que existe algum rectângulo de largura (b − a) cuja área é
exactamente igual à área A (R).
Teorema 11 (T. do valor médio para integrais). Se f é uma função contı́nua em [a, b] ,
então existe algum c ∈ [a, b] tal que
Z b
f (x) dx = f (c) (b − a) .
a
44CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
Demonstração. Se a função for constante em [a, b], o resultado é óbvio, pois podemos
tomar para c qualquer valor no intervalo dado.
Se f não for constante, o Teorema de Weierstrass permite concluir que existem f (m) e
f (M ) valores mı́nimo e máximo, respectivamente, da função em [a, b]. Assim,
de onde resulta: Z b Z b Z b
f (m) dx ≤ f (x) dx ≤ f (M ) dx
a a a
ou ainda a: Z b
1
f (m) ≤ f (x) dx ≤ f (M ) .
b−a a
Pelo Teorema do Valor Intermédio para funções contı́nuas aplicado a f , sabemos que
existe c ∈ [a, b] tal que
Z b
1
f (c) = f (x) dx,
b−a a
de onde resulta a igualdade enunciada.
Nota 8. Observe que o teorema não requer que f seja não negativa. Contudo, a sua
interpretação geométrica em termos de áreas de regiões planas exige-o.
Ao valor Z b
1
f (x) dx
b−a a
que resulta da demonstração do teorema anterior chamamos Valor Médio da função f
no intervalo [a, b].
1.2. INTEGRAIS 45
O nome atribuı́do a este valor pode ser justificado pelo seguinte facto. Supondo que
b−a
efectua a partição de [a, b] em subintervalos igualmente espaçados de largura ∆x =
n
e que escolhemos ci ∈ [xi−1 , xi ] para cada i = 1, ..., n, a média aritmética dos valores de
f nestes pontos é:
n n
1 1X 1X b−a
an = [f (c1 ) + ... + f (cn )] = f (ci ) = f (ci )
n n i=1 n i=1 b−a
n n
1 X b−a 1 X
= f (ci ) = f (ci ) ∆x.
b − a i=1 n b − a i=1
Exemplo 26. A função f tal que f (x) = 3x2 − 2x é integrável em [1, 4], uma vez que é
contı́nua nesse intervalo. O valor médio de f em [1, 4] é dado por:
Z 4
1
f (x) dx = (· · · ) = 16.
4−1 1
Como a função é não negativa em [1, 4] (prove-o), podemos interpretar este valor dizendo
que existe um rectângulo de largura 3 (= 4 − 1) e altura 16 cuja área mede 48 e coincide
com A (R), ou seja:
A (R) = 48,
onde R = {(x, y) ∈ R2 : x ∈ [1, 4] ∧ 0 ≤ y ≤ 3x2 − 2x} .
Concretizemos. Suponhamos que f é uma função contı́nua e não negativa num inter-
valo [a, +∞[, a ∈ R e consideremos a seguinte região:
R = (x, y) ∈ R2 : x ≥ a ∧ 0 ≤ y ≤ f (x) .
Fará sentido calcular A (R) ? A resposta é afirmativa, desde que para tal generalizemos
o conceito de área. Mais, tal medida da área será calculável mediante um integral ge-
neralizado, no qual o limite superior de integração será +∞, i.e., afirmaremos que, em
determinadas circunstâncias, é legı́timo escrever
Z +∞
A (R) = f (x) dx,
a
com um sentido que adiante definiremos com rigor. Um tal integral é um exemplo dos
chamados integrais impróprios.
Definição 5 (Integrais Impróprios). Seja f uma função contı́nua e não limitada num
intervalo I do tipo [a, +∞[, ]−∞, a], [a, b[, ]a, b], a, b ∈ R ou ]a, b[, com a, b ∈ R (R é a
notação para R reunido com os sı́mbolos +∞ e −∞). Chamamos integral impróprio de
1.ª espécie de f no intervalo referido ao integral (generalizado)
Z +∞ Z a Z b
f (x) dx ( f (x) dx ou f (x) dx, nos restantes casos).
a −∞ a
O integral diz-se impróprio de 2.ª espécie se f possui pelo menos um ponto de desconti-
nuidade em ]a, b[ .
Para generalizarmos o conceito de integral para o caso dos integrais impróprios, seja
X > a. A área de
é dada por Z X
A (RX ) = f (x) dx.
a
Ora, quando X −→ +∞, temos RX a tender para R, de modo que parece natural dizemos
que Z X
A (R) = lim f (x) dx,
X→+∞ a
desde que este limite exista, ou seja,
Z +∞ Z X
f (x) dx = lim f (x) dx.
a X→+∞ a
R +∞
(a) convergente, se L ∈ R; neste caso, pode-se escrever: a
f (x) dx = L.
R = (x, y) ∈ R2 : x ≥ 1 ∧ 0 ≤ y ≤ e−x .
48CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
temos: Z X X
e−x dx = −e−x 1 = −e−X + e−1 .
1
Ora, Z X
e−x dx = lim −e−X + e−1 = e−1 ∈ R+ .
lim
X→+∞ 1 X→+∞
R +∞ −x
Assim, o integral impróprio 1 e dx é convergente e
Z +∞
A (R) = e−x dx = e−1 ,
1
então Z +∞ Z β
f (x) dx = f [g (t)] g 0 (t)dt.
a α
x = −1 =⇒ t = 1, x −→ −∞ =⇒ t −→ +∞ e dx = −dt
Logo,
Z −1 1 +∞ +∞ +∞
−1
Z Z Z Z
1 1 1 1 1 1
dx = dt = α α dt = dt = dx.
−∞ xα +∞ (−t)α 1 (−1) t (−1)α 1 tα (−1)α 1 xα
Esta igualdade apenas é válida para α ∈ N, uma vez que xα não tem significado quando
x < 0, nem para alguns α racionais, nem para nenhum α irracional. Por último, cabe
R −1 1 R +∞ 1
aqui referir que a natureza de −∞ α dx resulta da estabelecida para 1 dx.
x xα
50CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
Nota 9. Em certos casos, pode acontecer que uma mudança de variável converta um inte-
gral impróprio num integral definido. Se tal acontecer, o integral inicial é, evidentemente,
convergente.
1
Exercı́cio 9. Mostre que a mudança de variável x = converte o integral impróprio
t
Z +∞
15
dx
1 x2 +3
O caso em que os dois extremos de integração são infinitos merece especial atenção .
R +∞
então dizemos que o integral impróprio −∞
f (x) dx é convergente e que
Z +∞
f (x) dx = A + B.
−∞
R +∞
É frequente vermos na literatura sobre este tema que, para estudar −∞
f (x) dx, va-
mos calcular Z Y
lim f (x) dx.
Y →+∞X→+∞ −X
Deve entender que esta é apenas uma forma simbólica de indicar a soma dos dois limites
indicados na definição acima, uma vez que
Z Y Z a Z Y
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
−X −X a
Como deve então ser interpretado o limite da definição acima? Vejamos este exemplo.
chamamos a este limite o valor principal de Cauchy do integral impróprio dado. Escreve-
se então: Z +∞ Z Z
v.p. f (x) dx = lim f (x) dx.
−∞ Z→+∞ −Z
52CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
Nota 10. É possı́vel alargar estes conceitos para integrais impróprios de 2ª espécie onde
a função integranda é contı́nua em [a, c[ ∪ ]c, b] (com a < c < b) e lim |f (x)| = +∞. Tal
x→c
R1 1
generalização permite demonstrar, por exemplo, que −1 dx é divergente e que o seu
x
valor principal de Cauchy é nulo (consulte os pormenores em [12]).
Que sucede quando estamos na presença de um integral impróprio cuja função in-
tegranda é tal que a sua primitiva não se pode exprimir como soma finita de funções
elementares? Existem ferramentas que, em certos casos, nos permitem determinar a natu-
reza de um integral impróprio sem haver necessidade de calcular tal integral. Falamos dos
diversos critérios de convergência para integrais impróprios. Não é objecto do presente
texto o estudo exaustivo destes métodos. Contudo, a tı́tulo de exemplo, enunciaremos o
chamado 1.º critério de comparação.
Teorema 12 (1º critério de comparação). Sejam f e g duas funções contı́nuas e não
negativas num intervalo [a, +∞[ e suponhamos que existe algum valor M > 0 tal que
f (x) ≤ M g(x), ∀x ∈ [a, +∞[ .
Então:
R +∞ R +∞
(i) se a
g (x) dx é convergente, então a f (x) dx é convergente
R +∞ R +∞
e a f (x) dx ≤ M a g (x) dx
R +∞ R +∞
(ii) se a
f (x) dx é divergente, então a g (x) dx é divergente
Este resultado pode generalizar-se para o caso de integrais impróprios sobre regiões
do tipo ]−∞, a], [a, b[, ]a, b], a, b ∈ R . Eis uma aplicação do referido critério.
R +∞
Exemplo 31. Mostrámos num exemplo anterior que 1 e−x dx = e−1 (convergente,
portanto). Que sucede com o integral impróprio
Z +∞
2
e−x dx ?
1
Note que
x2 ≥ x, ∀x ≥ 1
pelo que
−x2 ≤ −x
e
2
e−x ≤ e−x , ∀x ≥ 1.
Como ambas as funções são contı́nuas e não negativas em [1, +∞[ aRconvergência de
R +∞ −x +∞ 2
1
e dx permite concluir, segundo o teorema anterior, que também 1 e−x dx será
convergente.
Exercı́cio 10. (*) Utilize
R −1 uma versão análoga à do 1º critério de comparação para estu-
2
dar a natureza de −∞ e−x dx. Deduza ainda a natureza do integral
Z +∞
2
e−x dx.
−∞
1.2. INTEGRAIS 53
C ÁLCULO II
INTEGRAÇÃO
√ R5 √
R1 3x 2 R6 x+1 3
(d) 0 e + x − ex dx (e) 5
√ dx (f ) 1
2x − 1 dx
e x
R e ln | x | Rπ Rπ sin x
(g) dx (h) 2
sin x cos x dx (i) 4
dx
1
x 0 0
1 − sin2 x
R 1 e2x R1 1 R1 1
(j) 0 dx (k) 0
dx (l) 0
2
dx
1 + e2x 2
x −4 x3 −1
R 1 3ex R5 R −1
(m) 0 dx (n) −1
|x − 4| dx (o) −3
3
|3x + 1| dx
1 + e2x
R 1 arcsin (2x) R 21 x R1 x
(p) 04 √ dx (q) − 12
√ dx (r) 0
2
√ dx
1 − 4x2 1 − x4 1 − x2
4. Calcule:
Rx 2 Rx 2 R2 2
(a) d
dx 0
e−t dt (b) d
dx 1
e−t dt (c) d
dx x
e−t dt
1.2. INTEGRAIS 55
6. Calcule a área de cada uma das regiões planas delimitadas pelas seguintes funções:
7. Calcule a área das regiões planas definidas por cada um dos seguintes conjuntos:
(a) R = {(x, y) ∈ R2 : y ≥ x − 2 ∧ y ≤ −x2 + 4}
(b) R = {(x, y) ∈ R2 : y ≥ x2 − 5x + 6 ∧ y ≤ 2}
(c) R = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 4}
8. Calcule a área da região plana delimitada pela parábola de equação y = −x2 +4x−3
e pelas suas rectas tangentes nos pontos (0, −3) e (3, 0) .
9. Dadas as seguintes funções procura e oferta:
p = fd (x) = 116 − 4x − x2 e p = fs (x) = x2 + 2x + 8,
determine os excedentes do consumidor e do produtor no ponto de equilı́brio.
10. Um oleoduto de uma plataforma de perfuração está avariado. Como consequência
desta situação, o petróleo está a ser derramado a uma taxa que, no instante t, é de
(35t + 80) barris por hora, (onde t é o tempo decorrido desde o inı́cio do derrame).
Quantos barris serão derramados durante o primeiro dia?
11. Os custos de manutenção de uma fábrica são dados por M (t) e verificou-se que
aumentam com o envelhecimento daquela bem como do equipamento. Se os custos
de manutenção aumentarem a uma taxa anual de M 0 (t) = 75t2 + 9000 (u.m.), onde
t representa o número de anos desde o inı́cio de funcionamento da fábrica, calcule
os custos totais de manutenção da mesma do quarto ao sexto ano.
12. Calcule o valor médio de cada uma das seguintes funções no intervalo dado:
R5
13. Seja A = 2 f (x) dx. Sabendo que o valor médio de f no intervalo [2, 5] é 20,
calcule o valor de A.
14. Foram depositados num banco 103 u.m. a uma taxa de juro nominal/ano de 8% com-
posta continuamente. Calcule o valor médio do referido montante nos próximos 5
anos. (Nota: O valor actual de um montante A0 depositado à taxa de juro nomi-
nal/ano de r% ao ano, composta continuamente, é dado por:
r
A (t) = A0 e 100 t ,
t: n.º de anos decorridos após o depósito).
1.2. INTEGRAIS 57
16. Verifique se é possı́vel calcular a área de cada uma das seguintes regiões ilimitadas.
n o
2 1
(a) R = (x, y) ∈ R : x ∈ [0, 2] ∧ 0 ≤ y ≤ 4−x2 √
Antes de definirmos com com rigor tal integral, sublinha-se que este pode ser interpretado
como o volume do sólido abaixo da superfı́cie de equação z = f (x, y) e acima da região
D, como representado na figura. Analiticamente, o sólido S é definido por
tendo-se portanto ZZ
V (S) = f (x, y) dxdy.
D
No diagrama que se segue, a região D foi particionada num largo número de sub-
regiões rectangulares elementares Di . A cada uma destas, está associado o sólido
P = {Di } .
Cada sub-região Di tem área Ai e nela vamos considerar um ponto genérico (xi , yi ). O
volume do paralelepı́pedo de base Di e altura f (xi , yi ) é dado por
f (xi , yi ) Ai .
À medida que consideramos partições de D com um número cada vez maior de pe-
quenas sub-regiões Di , a área de cada uma destas tenderá para zero, ou seja, kPk → 0.
Acontecendo isto, os rectângulos tenderão para D e, por conseguinte, a soma tenderá para
ZZ
f (x, y) dxdy.
D
Neste caso, o integral duplo calcula-se como o cálculo de dois integrais, primeiramente
na variável y, e depois na variável x.
D = [0, 1] × [0, 2] .
RR
Calcule D
f (x, y) dxdy por dois métodos.
62CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
ou seja, D considerada uma região do tipo II (i.e., horizontalmente simples). Por outro
lado,
ZZ Z b Z d(x) Z b
f (x, y) dxdy = f (x, y) dy dx = J(x)dx
D a c(x) a
| {z }
J(x)
Exemplo 33. Seja f tal que f (x, y)RR= 1 e admita que D é o triângulo definido pelos
pontos (0, 0), (3, 0) e (1, 3). Calcule D f (x, y) dxdy por dois métodos.
Resolução: A região triangular é delimitada pelas rectas x = 0, y = 3x e
1.3. INTEGRAL DUPLO 63
(5) Se D = D1 ∪ D2 , onde são regiões disjuntas (ou que se intersectam quando muito na
sua fronteira) e cada uma delas é uma reunião finita de reigiões regiões dos tipos I ou II,
então ZZ ZZ ZZ
f (x, y) dxdy = f (x, y) dxdy + f (x, y) dxdy.
D D1 D2
1.3. INTEGRAL DUPLO 65
onde a > 0.
Resolução: Note que a primitiva da função integranda em ordem a y, pela qual de-
verı́amos começar, não parece de fácil obtenção. Para inverter a ordem de integração, é
preciso esboçar a região D associada ao integral.
Note que esta está definida como uma região verticalmente simples, como se segue:
n √ o
D = (x, y) ∈ R2 : x ∈ [0, a] ∧ 0 ≤ y ≤ a − a2 − x2 .
√ √
De y = a − a2 − x2 resulta y − a = − a2 − x2 . Elevando ao quadrado, vem
(y − a)2 = a2 − x2
ou seja
x2 + (y − a)2 = a2 .
√
Então, uma vez que y ≤ a − a2 − x2 , trata-se de uma semi-circunferência de centro
em (0, a) e raio a. Apenas traçaremos a parte desta circunferência que interessa para o
esboço de D.
66CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
Para inverter a ordem de integração, descrevamos a região como uma região hori-
zontalmente simples. Resolvendo em ordem a x (note que, como x ∈ [0, a], apenas nos
interessa resolver para x ≥ 0), vem
q p
x = a2 − (y − a)2 = 2ay − y 2 .
Assim, n p o
D = (x, y) ∈ R2 : y ∈ [0, a] ∧ 2ay − y 2 ≤ x ≤ a .
Logo,
a a Z a Z a
xey ey
Z Z
J = √ 2 dxdy y
= 2 √ xdxdy
0 2ay−y 2 (y − a) (pois e 2 não depende de x) 0 (y − a)
(y−a)
2ay−y 2
a 2 x=a Z a Z a
ey ey
Z
x 1 2 1 y
= 2 √ dy = 2 (y − a) dy = e dy
0 (y − a) 2 x= 2ay−y2 0 (y − a) 2 0 2
1 a
= (...) = (e − 1)
2
concluindo o exemplo.
1.3. INTEGRAL DUPLO 67
C ÁLCULO II
A NO LECTIVO 2014/15 FOLHA N.º 3
INTEGRAL DUPLO
RπRπ R1 R2
(e) 0
6
0
2
(x sin y) dydx; (f ) −2 0
(3xy 2 + 5x2 ) dxdy.
Teorema 15. Seja f uma função não nula e com um número finito de pontos de desconti-
nuidade num intervalo [a, b], a, b ∈ R. Se f é não negativa (resp., não positiva) em [a, b],
então Z b
f (x) dx ∈ ]0, +∞] (resp., [−∞, 0[ ).
a
então:
Rb Rb
(i) se a
g (x) dx é convergente, então a f (x) dx é convergente
Rb Rb
e a f (x) dx ≤ M a g (x) dx
Rb Rb
(ii) se a
f (x) dx é divergente, então a g (x) dx é divergente
R +∞ ln(e+x)
Exemplo 35. Pretende-se determinar a natureza de 0 x
dx. Para tal, note que
1 ln (e + x)
≤ , ∀x∈]0,+∞[ .
x x
R +∞ 1
R +∞ ln(e+x)
Como 0 x
dx = +∞, podemos concluir que também 0 x
dx = +∞.
e L = lim fg(x)
(x)
. Então:
x→d
Rb Rb
(i) a f (x) dx é convergente ⇐⇒ a g (x) dx é convergente
(1) se L ∈ R+ , então
Rb Rb
f (x) dx = +∞ ⇐⇒
(ii) a a
g (x) dx = +∞
Rb Rb
(i) a g (x) dx é convergente =⇒ a f (x) dx é convergente
(2) se L = 0, então
Rb Rb
(ii) a
f (x) dx = +∞ =⇒ a
g (x) dx = +∞
Rb Rb
(i) a f (x) dx é convergente =⇒ a g (x) dx é convergente
(3) se L = +∞, então
Rb Rb
a
g (x)
(ii) dx = +∞ =⇒ a
f (x) dx = +∞
R π cos x Rπ 1
Exemplo 36. Para determinar a natureza de 02 x dx vamos comparar com π 0 x dx.
2
Dado que ambas as funções integrandas são contı́nuas e não negativas em 0, 2 e como
cos x
x
lim+ 1 = 1,
x→0
x
Rπ 1
Rπ cos x
estamos no caso (i). Como 0
2
x
dx = +∞ o mesmo sucede com 0
2
x
dx.
Acrescentamos que se f for contı́nua e não positiva num intervalo I, então g = −f
é função contı́nua e não negativa em tal intervalo. A g são aplicáveis os critérios acima
descritos e têm-se as seguintes conclusões:
Rb Rb Rb Rb
(i) a g (x) dx é convergente =⇒ a f (x) dx é convergente e a f (x) dx = − a [−f (x)] dx
Rb Rb
(ii) a g (x) dx = +∞ =⇒ a f (x) dx = −∞
Por último, admitamos que f não mantém sinal constanteR bnum intervalo I nas condições
acima descritas e pretendemos determinar a natureza de a f (x) dx. Dizemos que tal
Rb
integral é absolutamente convergente se a |f (x)| dx for convergente. A relação entre
convergência e convergência absoluta é estabelecida no resultado que se segue.
Teorema 18. Se f é contı́nua com um número finito de pontos de descontinuidade em I,
então
Z b Z b
f (x) dx é absolutamente convergente =⇒ f (x) dx convergente.
a a
R +∞ sin x
R +∞ sin x
Exemplo 37. O integral 1 2 dx é absolutamente convergente uma vez que x2
dx
R x+∞ 1 1
é convergente (compare com 1 x2
dx através do 1º critério de comparação).
Note que um integral pode ser convergente sem ser absolutamente convergente. Nesse
caso falamos de convergência simples. Temos:
Z b Z b Z b
f (x) dx é simplesmente convergente ⇐⇒ |f (x)| dx = +∞ e f (x) dx é convergente.
a a a
72CAPÍTULO 1. CÁLCULO INTEGRAL DE FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
Capı́tulo 2
Séries
Vamos dedicar o presente capı́tulo a um breve estudo das séries numéricas e de potências,
assim como aos desenvolvimentos de funções em série de Taylor/MacLaurin. Focaremos
também a relação entre as séries e os integrais impróprios definidos em [a, +∞[, com
a ∈ N0 . Como as séries estão relacionadas com as sucessões de números reais, sugere-se
ao leitor que recorde as principais definições e propriedades relativas às sucessões.
2.1 Definições
Suponha que é dada uma sucessão de números reais, (un )n∈N e que nos propomos calcular
a soma S dos seus k primeiros termos. Como k é finito, sabemos que tal soma é finita,
sendo dada por:
Xk
S= un .
n=1
Questão diferente é a de saber se faz sentido atribuir um valor à soma de todos os termos
da sucessão, i.e., se é possı́vel dizer que
+∞
X
un (2.1)
n=1
é igual a algum número real S. O facto de o número de parcelas ser infinito levar-nos-ia a
dizer que a soma é também infinita. Vamos ver que isso nem sempre é verdade, precisando
para tal de clarificar o conceito de soma com um número infinito de parcelas. O somatório
introduzido em (2.1) diz-se série de números reais (ou série numérica) de termo geral
un e a clarificação relativa à questão proposta far-se-á, como em muitos outros conceitos
do Cálculo, à custa de limites.
73
74 CAPÍTULO 2. SÉRIES
Comecemos por notar que todos os números racionais podem ser considerados somas
de séries de números reais. A tı́tulo de exemplo, observe que:
+∞ +∞
1 X X 3
= 0, (3) = 0, 333... = 3 × 10−1 + 3 × 10−2 + 3 × 10−3 + ... = 3 × 10−n = .
3 n=1 n=1
10n
Ou seja, é mesmo possı́vel afirmar que certas séries têm soma S ∈ R (num sentido que
adiante definiremos com precisão).
O seguinte exemplo adicional apela de uma forma premente para a necessidade de
clarificar o que se entende por soma de uma série.
Exemplo 1. Que significado atribuir à ”soma” dos termos de un = (−1)n+1 , n ∈ N ?
Isto é, será que
1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + ...
é igual a algum número real? Se tentarmos aplicar propriedades usuais da adição (asso-
ciatividade, nomeadamente), temos:
(1 − 1) + (1 − 1) + (1 − 1) + ...
e, portanto, tudo leva a crer que tal ”soma” valerá zero. Mas o agrupamento dos termos
pode ser feito de modo diferente:
1 + (−1 + 1) + (−1 + 1) + (−1 + 1) + ...
o que nos induziria a afirmar que a ”soma” valerá 1. Aumentando a confusão, também
podemos afirmar que 21 é um valor plausı́vel para tal ”soma”. De facto, se S = 1 − 1 +
1 − 1 + 1 − 1 + ... temos:
S = 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + ... = 1 − (1 − 1 + 1 − 1 + ...) = 1 − S,
de onde resultaria S = 12 . Este tipo de quebra-cabeças, análogo a outros que já vêm da
Grécia Antiga (como o Paradoxo de Aquiles e da tartaruga, atribuı́do a Zenão de Eleia,
que viveu no séc. V a.C.) levou muitos séculos a ser clarificado. O próprio Euler (visto
por muitos como o maior matemático de todos os tempos) propôs que se considerasse
para soma a média aritmética dos valores 0 e 1.
O problema do Exemplo 1 reside no facto de estarmos a pressupor que as regras
válidas para séries hão-de ser as mesmas que as utilizadas para somatórios (i.e., somas
com parcelas em número finito).
Formalizemos o conceito de série, desta forma clarificando a questão da sua soma.
Definição 1. [série numérica] Chamamos série numérica ou série de números reais a
qualquer sı́mbolo do tipo
X+∞
un (2.2)
n=1
+∞
P
(ou, mais geralmente, a todo o sı́mbolo do tipo un , com p ∈ Z). A un chamamos
n=p
termo geral da série.
2.1. DEFINIÇÕES 75
A resposta ao problema da soma de uma série está relacionada com a sucessão (Sn )n∈N ,
dita sucessão associada à série (2.2), definida por:
n
X
Sn = u1 + u2 + ... + un = uk , n = 1, 2, 3, ...
k=1
Esta é também chamada sucessão das somas parciais da série (2.2) e parece claro que
+∞
X
un = lim Sn ,
n→+∞
n=1
lim Sn
n→+∞
não existe.
1
Nos dois primeiros casos, diremos que a série diverge para +∞ (−∞) e é legı́timo escrever
+∞
X
un = +∞(−∞).
n=1
76 CAPÍTULO 2. SÉRIES
lim Sn = S,
n→+∞
Sn+1 = Sn + un+1 .
vem:
S = S + lim un+1 ,
n→+∞
de onde resulta
lim un+1 = 0,
n→+∞
ou, equivalentemente,
lim un = 0,
n→+∞
Deste modo,
+∞ n−3
X n+5
n=1
n+8
é divergente.
Note que o teorema acima demonstrado apenas afirma que é necessário (mas não
+∞
P
suficiente) que lim un = 0 para que a série un seja convergente. Assim, existem
n→+∞ n=1
séries divergentes cujo termo geral é uma sucessão convergindo para zero. De facto,
considere as chamadas séries de Dirichlet:
+∞
X 1
, α > 0.
n=1
nα
mais conhecida por série harmónica, diverge (pois α = 1). A divergência desta série é
muito lenta, o que pode ser visualizado através de uma tabela de cálculo (e.g., recorrendo
ao Excel).
Eis agora duas propriedades operatórias das séries.
+∞
P +∞
P
Teorema 2. Admitamos que un e vn são duas séries convergentes, tendo-se
n=1 n=1
+∞
X +∞
X
un = A e vn = B,
n=1 n=1
Convém neste momento referir que a natureza de uma série (i.e., a sua convergência
ou divergência) não depende da inclusão ou supressão de termos em número finito. Quer
isto dizer que, dado k ∈ Z,
+∞
X +∞
X
un converge se e só se un converge.
n=1 n=k
Como é evidente, o mesmo não se pode dizer acerca da soma da série. De facto, se
+∞
X
un = S,
n=1
então
+∞
X k−1
X
un = S − un .
n=k n=1
Por último, a soma de uma série convergente pode sempre ser aproximada pela soma
parcial, SN , a qual consiste na soma dos N primeiros termos da série. Simbolicamente:
+∞
X N
X
S= un ≈ SN = un (2.3)
n=1 n=1
Definição 3. [série geométrica] Chamamos série geométrica a toda aquela cujo termo
geral é uma progressão geométrica, i.e., a toda a série da forma
+∞
X
a rn ,
n=0
Note que, seguindo a indicação dada acerca das progressões geométricas, optaremos
por começar este tipo de séries no termo de ordem zero.
Sendo un = a rn , n = 0, 1, 2, ..., vamos estabelecer em que condições temos séries
geométricas convergentes.
S1 = a, S2 = a + a = 2a, S3 = a + a + a = 3a
..
.
Sn = na, n ∈ N.
Logo,
+∞, se a > 0
lim Sn = lim n a = .
n→+∞ n→+∞
−∞, se a < 0
S1 = a
S2 = a + ar = a (1 + r)
S3 = a + ar + ar2 = a (1 + r + r2 )
..
.
2 n−1 2 n−1 1 − rn
Sn = a + ar + ar + . . . + ar = a (1 + r + r + . . . + r )=a , n ∈ N.
1−r
Recorde agora que
lim rn = 0 ⇐⇒ |r| < 1
n→+∞
e
lim rn = +∞,
(
se r > 1
n→+∞
.
lim rn não existe, se r ≤ −1
n→+∞
80 CAPÍTULO 2. SÉRIES
1 − rn
a
lim Sn = lim a =
n→+∞ n→+∞ 1−r 1−r
e
+∞
X a
a rn = .
n=0
1−r
+∞
(−1)n diverge, uma
P
Baseando-nos neste teorema, podemos concluir de novo que
n=0
vez que esta é uma série geométrica de razão r = −1 ∈
/ ]−1, 1[.
É também este tipo de séries que está na base da expressão de dı́zimas infinitas
periódicas na forma de fracção, exemplo que serviu de motivação na introdução ao pre-
sente capı́tulo.
Esta é uma série geométrica convergente, uma vez que a sua razão é
1
r= ∈ ]−1, 1[ .
102
8
Logo, como a =
102
8
102 8
0, (08) = 1 = ,
1− 102
99
o que conclui o exemplo.
A soma das áreas destes rectângulos constitui uma visualização da soma da série (2.4).
+∞
P 1
Ela torna intuitiva a seguinte conclusão: a série α
é convergente/divergente se e só
n=1 n
se o integral impróprio Z +∞
1
dx
1 xα
é convergente/divergente.
82 CAPÍTULO 2. SÉRIES
Atendendo ao estudo já feito a respeito desta famı́lia de integrais impróprios (ver a
figura anterior e a secção 2.5 do Capı́tulo 1), podemos concluir que
+∞
X 1
α
converge se α > 1 e diverge se 0 < α ≤ 1.
n=1
n
+∞
X Z +∞
an e f (x) dx são ambas convergentes ou ambas divergentes.
n=1 1
1
f (x) = , α>0
xα
1
f 0 (x) = (−α) < 0, ∀x ∈ [1, +∞[ ,
xα+1
as mesmas funções são decrescentes em [1, +∞[. Estando nas condições do critério do
integral, podemos dizer que
+∞ Z +∞
X 1 1
α
converge sse α
dx converge.
n=1
n 1 x
enquanto que
Z +∞
1
dx = 1.
1 x2
2.3. SÉRIES E INTEGRAIS IMPRÓPRIOS. CRITÉRIOS DE CONVERGÊNCIA 83
π π π
= lim [arctg (X) − arctg (1)] = − = .
X→+∞ 2 4 4
Assim, a série dada é também convergente.
Nota 1. À semelhança do que antes foi dito, não podemos afirmar que
+∞
X 1 π
= .
n=1
n2 +1 4
Por outro lado, quanto maior for o valor de N , melhor a aproximação. Assim, por exem-
plo para N = 200, temos:
+∞
X 1
1, 072 ≤ ≤ 1, 077.
n=1
n2 + 1
84 CAPÍTULO 2. SÉRIES
an ≤ M b n , ∀n∈N ,
então:
+∞
P +∞
P +∞
P +∞
P
(i) se bn é convergente, então an é convergente e an ≤ M bn
n=1 n=1 n=1 n=1
+∞
P +∞
P
(ii) se an é divergente, então bn é divergente
n=1 n=1
Exemplo 6. A série
+∞
X 1
n=1
2 + 3n
é uma série de termos não negativos. Por outro lado,
n
1 1 1
n
≤ n = .
2+3 3 3
Como
+∞ n
X 1
n=1
3
1
é uma série geométrica convergente (pois r = 3
∈ ]−1, 1[), podemos concluir, pela parte
(i) do 1º critério de comparação, que
+∞
X 1
n=1
2 + 3n
é convergente.
Recorra à parte (ii) do 1.º critério de comparação para deduzir a natureza da série
+∞
X 1
√
n=4
2+ n
+∞
P 1
e, a partir desta, indique a natureza de √ .
n=1 2 + n
Por vezes, não é evidente a relação de majoração/minoração entre os termos gerais
das séries a que devemos aplicar o teorema anterior. Em tais casos devemos recorrer ao
seguinte resultado.
Teorema 6 (2.º Critério de Comparação). Sejam an uma sucessão de termos não nega-
an
tivos e bn uma sucessão de termos positivos. Admita que L = lim . Então:
n→+∞ bn
+∞
P +∞
P
(i) a é convergente ⇐⇒ bn é convergente
n
+ n=1 n=1
(1) se L ∈ R , então
+∞
P +∞
P
(ii) an = +∞ ⇐⇒ bn = +∞
n=1 n=1
+∞ +∞
(i) P bn é convergente =⇒ P an é convergente
n=1 n=1
(2) se L = 0, então
+∞
P +∞
P
(ii) an = +∞ =⇒ bn = +∞
n=1 n=1
+∞
P +∞
P
(i) a é convergente =⇒ bn é convergente
n
n=1 n=1
(3) se L = +∞, então
+∞
P +∞
P
(ii) bn = +∞ =⇒ an = +∞
n=1 n=1
então temos:
+∞
P
(i) se L < 1, então a série an é convergente.
n=1
+∞
(ii) se L > 1 ou L = 1+ , então a série
P
an é divergente.
n=1
então temos:
+∞
P
(i) se L < 1, então a série an é convergente.
n=1
+∞
(ii) se L > 1 ou L = 1+ , então a série
P
an é divergente.
n=1
Nota 2. Observe que a parte (ii) de cada um dos critérios anteriores inclui o caso L =
+∞.
O seguinte resultado aplica-se nos casos em que o critério da razão se revela incon-
clusivo.
então temos:
+∞
P
(i) se L > 1, então a série an é convergente.
n=1
+∞
(ii) se L < 1 ou L = 1− ,
P
então a série an é divergente.
n=1
é absolutamente convergente se
+∞
X
|an |
n=1
for convergente.
+∞
P cos n
Deste modo, como é convergente (recorra ao 1.º critério de comparação
n=1 5n
para chegar a esta conclusão), podemos afirmar que a série (2.5) é absolutamente conver-
gente.
Uma questão natural é a de saber que relação se estabelece entre a convergência e a
convergência absoluta.
+∞
P
Teorema 10. Se an é absolutamente convergente, então é convergente. Além disso,
n=1
+∞
X +∞
X
an ≤ |an | .
n=1 n=1
Note que o recı́proco deste teorema não é verdadeiro. De facto, podem existir séries
convergentes que não são absolutamente convergentes. Temos a seguinte definição:
Definição 5. [série simplesmente convergente] Dizemos que uma série
+∞
X
an
n=1
2.4. CONVERGÊNCIA ABSOLUTA 89
é simplesmente convergente se
+∞
X
|an | = +∞
n=1
+∞
P
mas an é convergente.
n=1
Note que, para que uma série alternada convirja, é forçoso que
lim un = 0,
n→+∞
+∞
P
Nota 3. A convergência a que se refere o resultado anterior só será simples se un =
n=1
+∞.
Outro facto relativo às séries alternadas nas condições do teorema anterior é o se-
guinte:
+∞
X
0≤ (−1)n+1 un ≤ u1
n=1
e
+∞
X
−u1 ≤ (−1)n un ≤ 0.
n=1
é simplesmente convergente.
Resolução: De facto, a sua série dos módulos é a série harmónica, que é divergente.
Sendoassim,
a série harmónica alternada não pode ser absolutamente convergente. Con-
1
tudo, é decrescente e converge para zero. Pelo critério de Leibniz, a série (2.6)
n n∈N
é (simplesmente) convergente.
O resultado seguinte permite-nos obter aproximações para a soma de séries alternadas
convergentes com tanta precisão quanto se queira.
+∞ +∞
(−1)n un (ou (−1)n+1 un ) com un ≥
P P
Teorema 12. [resto da série alternada] Seja
n=1 n=1
0, uma série alternada convergente cuja soma é S e tal que (un )n∈N é decrescente. Se
aproximarmos a soma S pelo valor SN de uma soma parcial, então o valor absoluto do
resto envolvido nesta aproximação não excede o módulo do primeiro termo desprezado,
i.e.,
|S − SN | = |RN | ≤ uN +1 .
+∞
(−1)n+1 un , deixando ao lei-
P
Demonstração. Utilizaremos a série alternada na forma
n=1
tor a tarefa de provar para a que se escreve na outra forma. Note que:
+∞
X N
X
RN = S − SN = (−1)n+1 un − (−1)n+1 un
n=1 n=1
+∞
X
= (−1)n+1 un = (−1)N +2 uN +1 + (−1)N +3 uN +2 + (−1)N +4 uN +3 ...
n=N +1
N
= (−1) (uN +1 − uN +2 + uN +3 − ...) .
|RN | = uN +1 − uN +2 + uN +3 − uN +4 + uN +5 ...
1
é convergente. De facto, se un = , n ∈ N, temos:
n!
un+1
lim = (...) = 0.
n→+∞ un
O critério da razão (ver secção anterior) permite extrair a conclusão apresentada. As-
sim, a série dada é absolutamente convergente. Observe agora que a série dada está
nas condições do Teorema do Resto para séries alternadas, pois (un )n∈N é decrescente.
Assim, quando se escreve:
+∞ 6
X n+1 1 X 1 91
(−1) = S ≈ S6 = (−1)n+1 = (. . .) = ≈ 0, 63194,
n=1
n! n=1
n! 144
S ∈ [S6 − u7 , S6 + u7 ]
Exemplo 11. Determine o intervalo de convergência de cada uma das seguintes séries:
+∞ +∞ xn +∞
xn n n xn .
P P P
(i) (ii) (iii)
n=0 n=0 n! n=0
|x| < 1,
sendo divergente para |x| ≥ 1. Além disso, para os valores de x ∈ ]−1, 1[ temos:
+∞
X 1
xn = .
n=0
1−x
Como é de esperar, a aplicação de uma das fórmulas (2.8) permitiria chegar à mesma
conclusão quanto ao raio e ao intervalo de convergência. De facto, temos:
an = 1
e
an+1
lim = 1,
n→+∞ an
pelo que
1
= 1 ⇐⇒ R = 1.
R
Assim, o intervalo de convergência I (R) contém ]−1, 1[. As séries
+∞
X +∞
X
n
(−1) e 1
n=0 n=0
Resolução: Como
an = 2−n ,
vem:
1 p √
n 1
= lim n |an | = lim 2−n = ,
R n→+∞ n→+∞ 2
pelo que
R = 2.
Como a série é centrada em c = −3, o intervalo de convergência conterá pelo menos
]−3 − 2, −3 + 2[ = ]−5, −1[ .
Uma análise às séries resultantes da substituição de x pelos valores extremos permite
concluir que nenhum deles pertencerá a I (R). Logo, I (R) = ]−5, −1[.
Para concluirmos esta secção, vamos enunciar duas propriedades que nos permitirão
obter séries de potências por derivação ou integração termo a termo de séries de potências
dadas.
+∞
an (x − c)n uma série de potências cujo intervalo de convergência
P
Teorema 13. Seja
n=0
é I.
1. Se a, b ∈ I, então
Z b "X
+∞
# +∞
X Z b
n
an (x − c) dx = an (x − c)n dx.
a n=0 n=0 a
Mas como
+∞
X 1
xn = ,
n=0
1−x
vem: " +∞ #
Z y Z y
X 1
x n
dx = dx = [− ln |1 − x|]y0 = − ln (1 − y) .
0 n=0 0 1−x
Logo,
+∞
X y n+1 y2 y3
ln (1 − y) = − = −y − − − . . . , com y ∈ ]−1, 1[ .
n=0
n + 1 2 3
Como " +∞ #
d X n d 1 1
x = = ,
dx n=0 dx 1 − x (1 − x)2
vem:
+∞ +∞
1 X X
2 = nxn−1 = nxn−1 ,
(1 − x) n=0 n=1
de onde resulta:
+∞
x X
2 = nxn = x + 2x2 + 3x3 + . . . , com x ∈ ]−1, 1[ .
(1 − x) n=1
Então:
+∞
an k n xn , ∀x : kx ∈ int (I1 )
P
(i) f (k x) =
n=0
+∞
(ii) f (xp ) = an xpn , ∀x : xp ∈ int (I1 )
P
n=0
+∞
(iii) xk f (x) = an xk+n , ∀x ∈ int (I1 )
P
n=0
+∞
(an ± bn ) xn , ∀x ∈ int (I1 ∩ I2 ) .
P
(iv) f (x) ± g (x) =
n=0
Resolução: A decomposição
3x − 1 3x − 1 A B
= = +
x2 − 1 (x − 1) (x + 1) x−1 x+1
sendo que o intervalo de convergência desta série é a intersecção dos intervalos de con-
vergência das duas séries parcelares, ou seja, ]−1, 1[.
2.6. SÉRIES DE TAYLOR/MACLAURIN 97
Definição 6. Seja f uma função com derivadas de todas as ordens em c. Então a série
+∞ (n) 00 (n)
X f (c) f (c) f (c)
(x − c)n = f (c)+f 0 (c) (x − c)+ (x − c)2 +. . .+ (x − c)n +. . .
n=0
n! 2! n!
Esta série é pois uma generalização do polinómio de Taylor. Temos ainda o seguinte
importante resultado.
Teorema 15. Se f é uma função representada por uma série de potências centrada em c,
+∞
X
f (x) = an (x − c)n ,
n=0
f (n) (c)
an =
n!
e temos:
+∞ f (n) (c)
(x − c)n
P
f (x) =
n=0 n! (2.9)
00 (n)
f (c) 2 f (c) n
= f (c) + f 0 (c) (x − c) + 2!
(x − c) + . . . + n!
(x − c) + . . .
Observação: O teorema afirma que se uma série de potências converge para alguma
função f , então a série terá de ser uma série de Taylor. Contudo, não se afirma
f (n) (c)
que toda a série cujos coeficientes são an = convergirá para f (x). Pode
n!
acontecer que a série convirja mas não para f (x). Neste caso, o intervalo de vali-
dade da igualdade restringe-se ao ponto c (e a fórmula revela-se inútil). Em casos
excepcionais, é até possı́vel que a série convirja para uma função distinta de f . Nou-
tras ocasiões, a fórmula é válida para qualquer x. Usualmente, a igualdade (2.9) é
válida para valores de x próximos de c e inválida para pontos que não estejam nessa
vizinhança.
98 CAPÍTULO 2. SÉRIES
Exemplo 15. Determine a série de MacLaurin para cada uma das seguintes funções:
1
(i) g (x) = (ii) h (x) = sin x.
1−x
Esta série converge para x ∈ ]−1, 1[ e sabemos que a sua soma é a própria função
1
g (x) = , isto é:
1−x
+∞
1 X
= xn , x ∈ ]−1, 1[ .
1 − x n=0
Para o segundo caso, temos:
h (x) = sin x h (0) = 0
h0 (x) = cos x h0 (0) = 1
00
h (x) = − sin x h00 (0) = 0
h000 (x) = − cos x h000 (0) = −1
h(4) (x) = sin x h(4) (0) = 0
.. ..
. .
Logo,
+∞ (n) X (−1)n +∞
X h (0) n 1 3 1 5
(x − 0) = 0 + x + 0 − x + 0 + x + ... = x2n+1 .
n=0
n! 3! 5! n=0
(2n + 1)!
Pode-se provar que esta série converge para qualquer valor x ∈ R e, mais adiante,
provar-se-á que a sua soma é a própria função h (x).
2.6. SÉRIES DE TAYLOR/MACLAURIN 99
Vamos agora perceber em que circunstâncias podemos, por exemplo, igualar as séries
do exemplo anterior a g(x) e a h(x), respectivamente. Recordando o que dissemos
aquando dos polinómios de Taylor, para uma função genérica f temos:
n
X f (k) (c)
f (x) = (x − c)k + Rn (x) ,
k=0
k!
onde
f (n+1) (z)
Rn (x) = (x − c)n+1 ,
(n + 1)!
para algum z entre c e x. Se Rn (x) −→ 0, o resultado seguinte diz-nos que a série de
Taylor de f converge mesmo para f (x), para todo o x ∈ I.
Sn (x) = Pn (x) .
Deste modo, e tendo em conta a definição de soma de uma série convergente, para uma
dado x a série de Taylor converge para f (x) se e só se Rn (x) convergir para 0.
Vamos regressar aos exemplos que abordámos anteriormente.
h(x) = sin x
Então
f (n+1) (z) ≤ 1,
para todo o z ∈ R. Assim
|x|n+1
lim = 0.
n−→+∞ (n + 1)!
lim Rn (x) = 0
n−→+∞
para todo o x ∈ R.
1. Por derivação sucessiva, encontre uma expressão geral para f (n) (x) e para f (n) (c) .
f (n) (c) P f (n) (c)
+∞
2. Forme os an = e construa a série de Taylor f (x) = (x − c)n .
n! n=0 n!
3. Determine o intervalo de convergência da série resultante.
4. Dentro do intervalo de convergência, verifique se a série converge ou não para f (x).
Repare que o primeiro passo conduz a cálculos não só fastidiosos como difı́ceis. Con-
tudo, há maneiras de abreviar os procedimentos acima descritos, baseando-nos em de-
senvolvimentos conhecidos para certas funções (como as dos exemplos anteriores) e apli-
cando as propriedades do desenvolvimento em série de potências: adição, subtracção,
derivação, integração, etc.
2.6. SÉRIES DE TAYLOR/MACLAURIN 101
Exemplo 17. Obtenha o desenvolvimento em série de MacLaurin de cada uma das se-
guintes funções:
x
(i) (ii) sin (x2 ).
1 + 3x
+∞
1 X
= xn , x ∈ ]−1, 1[ .
1 − x n=0
Repare que
+∞ +∞ +∞
x 1 X X X
=x =x (−3x)n = x (−3)n xn = (−3)n xn+1 ,
1 + 3x 1 − (−3x) n=0 n=0 n=0
|−3x| < 1
+∞ +∞
2
X (−1)n 2 2n+1
X (−1)n 4n+2 x6 x10 x14
= x2 −
sin x = x = x + − + ...
n=0
(2n + 1)! n=0
(2n + 1)! 3! 5! 7!
Logo,
" +∞ # +∞
Z 1 X 1 Z 1 Z 1
−x2 n 2n
X 1 n
e dx = (−1) x dx = (−1) x2n dx
0 0 n=0
n! n=0
n! 0
+∞ 1 +∞
x2n+1
X 1 X 1
= (−1)n = (−1)n
n=0
n! 2n + 1 0 n=0 n! (2n + 1)
1 1 1 1
= 1− + − + − ...
3 10 42 216
Se tomarmos os quatro primeiros termos, vem:
Z 1
2 1 1 1
e−x dx ≈ 1 − + − = 0, 74.
0 3 10 42
104 CAPÍTULO 2. SÉRIES
Sendo esta uma série alternada, o erro será inferior ao módulo do quinto termo:
1
≈ 0, 005 < 0, 01,
216
o que conclui o exercı́cio.
2.6. SÉRIES DE TAYLOR/MACLAURIN 105
C ÁLCULO II
A NO LECTIVO 2014/15 FOLHA N.º 4
SÉRIES
1. Uma companhia comprou uma máquina pelo preço de 225 000 euros, tendo esti-
mado que o seu valor se irá depreciar à taxa de 30% ao ano. Encontre uma fórmula
que lhe permita saber qual o valor da máquina em função de t, que representa o n.º
de anos decorridos desde a compra do referido equipamento (t = 0, 1, 2, 3, ...).
3. A despesa anual dos turistas numa estância balnear é estimada em 100 milhões de
euros. Em cada ano, aproximadamente 75% deste rendimento é gasto na própria
cidade, e desta quantia aproximadamente 75% são gastos novamente na mesma
cidade, e assim por diante. Escreva a série geométrica que dá a despesa total gerada
pelos 100 milhões de euros e calcule a soma da série.
p
6. Exprima os seguintes números decimais de dı́zima infinita periódica na forma ,
q
com p e q inteiros.
8. Aplique algum dos critérios de comparação para estudar a natureza de cada uma
das seguintes séries:
+∞
P 2 + (−1)n +∞
P ln (n + e) +∞
P 1 +∞
P 5n2 + 2n + 3
(a) (b) (c) (d)
n=1 n3 n=1 n n=2 ln n n=1 n3 + 4n
9. Aplique o critério da razão ou o critério da raiz para estudar a natureza de cada uma
das seguintes séries:
+∞ n3 32n +∞ nn +∞ +∞ e3n
(5n)n
P P P P
(a) n
(b) (c) (d) n
n=0 5 n=1 n! n=2 n=1 n
11. Para cada uma das séries convergentes do exercı́cio anterior, determine uma apro-
ximação para a respectiva soma quando toma o somatório dos seus cinco primeiros
termos. Indique ainda um majorante do erro absoluto cometido em tal aproximação.
12. Determine, se possı́vel, o intervalo de convergência das seguintes séries de funções:
+∞
P n
+∞
P n
+∞
P xn +∞
P xn +∞
P (2x)n
(a) n!x (b) (nx) (c) (d) (e)
n=1 n=1 n=1 n n=1 n! n=2 (n − 1)!
+∞
P (−1)n xn +∞
P nxn +∞
P (x − 2)n P (−1)n xn+1
+∞
(f) √ (g) 3
(h) 2
(i)
n=1 n n=2 n − 1 n=1 n + n n=1 n+1
+∞
P (x − 1)n +∞
P n (x + 1)n−1
(j) (k)
n=1 3n+1 n=1 52n
an+1 n
13. Determine o parâmetro real a por forma a que a série de termo geral x seja
n+1
convergente no intervalo [−3, 3[ .
14. Recorra à tabela dos desenvolvimentos conhecidos para determinar os desenvolvi-
mentos em série de Taylor/MacLaurin de :
5x 3 1+x
(a) e (b) (c) sin(3x) + x cos(3x) (d) ln
(1 − x) (1 + 2x) 1−x
√
(e) (1 + x) ln (1 + x) (f) 1 + x3
Em cada um dos casos, indique ainda o conjunto de valores para os quais a série
converge para a função dada.
1
15. Recorrendo ao desenvolvimento de 1−x e às propriedades do desenvolvimento em
série de potências, deduza a série de MacLaurin de f (x) = arctg x que surge na
tabela dos desenvolvimentos.
16. Utilize séries para obter uma aproximação de π com erro inferior a 0, 01.
2.6. SÉRIES DE TAYLOR/MACLAURIN 107
r r 2 r 12×2−1
A2 = P + P 1 + 12
+P 1+ 12
+ ··· + P 1 + 12
..
.
r r 2 r 12×t−1
At = P + P 1 + 12
+P 1+ 12
+ ··· + P 1 + 12
r
Como os termos desta soma estão em progressão geométrica de razão 1 + 12 , vem:
r 12×t
1 − 1 + 12
12 r 12t
At = P × r
=P 1+ −1 .
1 − 1 + 12 r 12
(b) No caso contı́nuo, temos:
" #
r m r 2m r (12t−1)m
At = lim P + P 1 + 12 + P 1 + 12 + · · · + P 1 + 12
m→+∞ m m m
r r r
= P + P e 12 + P e2 12 + ... + P e(12t−1) 12
r (12t)
1 − e 12 P [ert − 1]
= P r = r .
1 − e 12 e 12 − 1
Por último, gostarı́amos de referir que as sucessões At são, em cada caso, as somas
parciais de séries geométricas de razão superior a 1. Logo, serão divergentes (para +∞).
Capı́tulo 3
3.1 Generalidades
Uma equação diferencial é toda aquela que relaciona uma ou mais variáveis dependen-
tes com uma ou mais variáveis independentes e com as derivadas (de qualquer ordem)
daquelas em relação a estas. Eis alguns exemplos de equações diferenciais:
du dv
+ = uv (3.1)
dt dt
dy
= sin x (3.2)
dx
d2 y
2
+ p2 y = 0 (3.3)
dx
3 5
du du
3
−x +u=0 (3.4)
dx dx
3
d4 v
dv
− 5 + 7v = 0 (3.5)
dt4 dt
dy
y +x=0 (3.6)
dx
109
110 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
∂ 2V ∂ 2V
+ =0 (3.7)
∂x2 ∂y 2
∂f ∂f
x +y = nf. (3.8)
∂x ∂y
As equações (3.1)-(3.6), como envolvem apenas uma variável independente, dizem-
se equações diferenciais ordinárias. As duas últimas constituem exemplos de equações
diferenciais parciais, uma vez que as derivadas nelas presentes envolvem as derivadas
parciais de uma variável dependente relativamente a mais do que uma variável indepen-
dente.
A ordem de uma equação diferencial é a ordem da derivada de maior ordem que
nela aparece. Assim, as equações (3.1), (3.2), (3.6) e (3.8) são exemplos de equações
diferenciais de primeira ordem, sendo as restantes equações de ordem superior (de ordens
2, 3, 4 e 2, respectivamente).
O grau de uma equação é o expoente da derivada de maior ordem que surge na
equação. Assim, com excepção da equação (3.4), que é de grau 5, todas as outras são
de grau 1.
Tal como se disse na introdução, ocupar-nos-emos apenas do estudo de equações di-
ferenciais ordinárias, de primeira ordem e de grau 1.
Uma solução de uma equação diferencial é qualquer relação funcional, explı́cita ou
implı́cita, entre as variáveis presentes na equação que não envolva derivadas (nem dife-
renciais) e que seja compatı́vel com a equação dada. Assim, não é difı́cil mostrar que
y = − cos x
e
f (x, y) = xn + y n
são soluções de (3.2) e de (3.8), respectivamente, expressas na forma explı́cita em ambos
os casos. Para tal, basta calcular as derivadas envolvidas nas equações e verificar que tais
funções as satisfazem. Por outro lado, todas as circunferências da forma
x2 + y 2 = K, K ∈ R+
0
dy
Se admitirmos que 6= 0 (1 ), daqui resulta
dx
x
y − C = − dy
dx
e também
dy
x + y dx
C= dy
.
dx
dy
2
x2 x + y dx
x2 + = ,
dy 2 dy 2
dx dx
o que equivale a
dy
x2 − y 2
− 2xy = 0. (3.11)
dx
Esta é pois uma equação diferencial ordinária de ordem 1 que tem (3.9) por solução.
Por analogia, uma equação diferencial de ordem n terá como solução geral uma
equação (ou relação funcional) envolvendo n constantes reais arbitrárias. A importância
deste facto está patente no seguinte exercı́cio.
1 dy
O que é verdade, pois de = 0 resulta y = K (constante), que não equivale a (3.9).
dx
112 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
22 + (2 − C)2 = C 2
x2 + (y − 2)2 = 4
(ver figura na página seguinte). Note que pode haver condições iniciais que conduzam a
indeterminações. Pense no que sucederia se procurássemos ”a” circunferência solução de
(3.11) que passa no ponto (0, 0).
3.1. GENERALIDADES 113
Exemplo 2. De entre as circunferências que são solução de (3.13), indique aquela que
passa pelos pontos (0, 0) e (0, 1).
Resolução: Recorde que (3.12) é a solução geral da referida equação diferencial. Subs-
tituindo x e y por cada um dos pares de valores dados, vem:
c2 = r2 e (1 − c)2 = r2 .
Daqui resulta:
1
c=r= ,
2
pelo que a circunferência procurada é
2
2 1 1
x + y− = ,
2 4
o que conclui o exemplo.
A representação gráfica mais usual da solução geral de uma equação diferencial de
primeira ordem é feita por um processo semelhante ao da obtenção das curvas de nı́vel
de uma função de duas variáveis. Tendo a solução geral, são atribuı́dos alguns valores às
constantes de modo a obter soluções particulares mas que sejam representativas de todas
as possı́veis curvas-solução. Estas serão depois representadas simultaneamente no mesmo
referencial cartesiano ortonormado.
114 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
dy
4y = −x
dx
é
x2 + 4y 2 = C, C ∈ R+
0.
Representando alguns integrais particulares, eis um esboço das curvas relativas a estas
soluções:
dy
= f (x, y), (3.14)
dx
dy
= x, x ∈ R.
dx
Traçando alguns pedaços das rectas tangentes em diversos pontos, podemos esboçar a
solução y = y(x) que passa num ponto genérico (x0 , y0 ), como se visualiza nas figuras
seguintes.
3.1. GENERALIDADES 115
x −2 −2 −1 −1 0 0 1 1 2 2
y −1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 1
dy
dx
= 2x + y −5 −3 −3 −1 −1 1 1 3 3 5
Eis um esboço dos pontos e os correspondentes declives das curvas nesses pontos.
116 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
ou
M (x, y) dx = N (x, y) dy. (3.16)
3.2. EQUAÇÕES DE VARIÁVEIS SEPARADAS/SEPARÁVEIS 117
Por vezes, e por questões práticas, é mais conveniente escrever a constante de outro modo,
como se verá no exemplo que se segue.
dy
= αy, α ∈ R.
dx
1
dy = αdx
y
y = Ceαx ,
y − 3 ln |y + 3| = 2 ln |x| + ln |C|
ou seja:
y = ln Cx2 (y + 3)3
ou ainda
ey = Kx2 (y + 3)3 , com K = ±C ∈ R\ {0} .
Como pretendemos a solução particular que obedece a y(1) = 0, a substituição nesta
equação de x e y por 1 e 0, respectivamente, conduz a
1
1 = 27K ⇐⇒ K = .
27
Logo,
27ey = x2 (y + 3)3
é a solução particular para o problema com condições iniciais dado.
120 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
3.3 Aplicações
A tı́tulo ilustrativo, abordaremos três aplicações das equações diferenciais de variáveis
separáveis.
dS
= rS.
dt
A solução geral desta equação diferencial de variáveis separáveis é:
S = Cert .
S (0) = P,
Para esta taxa de juro, pode-se colocar a questão de saber ao fim de quantos anos o inves-
timento inicial é, e.g., quadruplicado. Tal questão consiste em determinar o menor valor
de t para o qual
4P ≤ P e0,07t .
Uma vez que P > 0, isto equivale a
4 ≤ e0,07t
ou seja,
1
t≥ ln 4 ≈ 19, 8 anos.
0, 07
Assim, o montante acumulado é multiplicado por um factor ligeiramente superior a 4 em
20 anos (como se pode apreciar na figura acima).
dN
(t) = kN (t), (3.19)
dt
onde N (t) é a população no instante t e k é uma constante de proporcionalidade. A
solução de (3.19) para uma população inicial
N (0) = N0
é dada por:
N (t) = N0 ekt .
de onde resulta
1
ln (kN + C) = t + D, D ∈ R.
k
Logo,
kN + C = ekt ekD .
Fazendo E = ekD ∈ R+ , temos:
C E kt
N =− + e , E ∈ R+ .
k k
Para um valor inicial de N (0) camelos, temos:
−C + E
N (0) = ,
k
ou seja,
E = C + kN (0) .
Deste modo,
C C + kN (0) kt
N (t) = − + e .
k k
Tome-se k = 0, 3, C = 0, 1 e N (0) = 300, vem:
1 901 0,3t
N (t) = − + e .
3 3
Questão: haverá alguns valores para k, C e N (0) que levem a um decréscimo da
população de camelos?
Exercı́cio 12. Admita que um dado paı́s muito procurado como destino de trabalho de-
cidia impor um tecto para a taxa de imigração. Suponha que os governantes desse paı́s
adoptaram para modelo de crescimento a seguinte lei de Malthus modificada
dN
(t) = kN (t) + C
dt
onde C representa uma taxa constante de imigração. Critique a equação escolhida para
modelar o crescimento descrito.
Como temos vindo a observar, o crescimento exponencial das populações (sejam elas
humanas ou outras) previsto pela lei de Malthus (também conhecida por Lei do cres-
cimento das populações) não parece modelar com muita fidelidade os fenómenos cuja
própria natureza leva a uma limitação desse crescimento.
As populações cujo crescimento está sujeito a limitações, devido a factores como
a escassez de alimento ou de água, têm o seu efectivo populacional em cada instante
modelado por uma equação de crescimento limitado, que assume a forma:
dx
= k(M − x), (3.20)
dt
3.3. APLICAÇÕES 123
Exemplo 8. Se uma reserva de elefantes africanos pode manter uma manada de 600
elefantes e tem actualmente uma manada de 250, a qual cresce anualmente a uma taxa
exponencial de 12% (em relação a (M − x)), qual será a dimensão da manada daqui a
10 anos? Para responder a esta questão, é necessário resolver a equação (3.20). Note
que se trata de uma equação com variáveis separáveis. Temos:
1
dx = kdt,
M −x
de onde resulta
− ln (M − x) = kt + ln C, C ∈ R+ ,
ou seja
(M − x)−1 = Cekt
ou ainda:
1
x = M − De−kt , D= .
C
Com os dados fornecidos, temos:
D = 350.
Logo,
x (t) = 600 − 350e−0,12t .
Ao fim de 10 anos, temos:
Finalmente, Verhulst (1840) viria a propor um modelo mais completo que tivesse
em conta o tecto populacional e, em certa medida, uma taxa (relativa) de crescimento
proporcional ao efectivo populacional. Referimo-nos à chamada equação diferencial
logı́stica:
dy y
= ky 1 − , k, L > 0, (3.21)
dt L
onde k representa uma constante de proporcionalidade e L uma constante dita capaci-
dade de carga do meio ambiente ou capacidade sustentável, a qual traduz o número
124 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
máximo de indivı́duos dessa população em virtude dos recursos disponı́veis. Uma po-
pulação que satisfaz (3.21) tem um crescimento limitado, aproximando-se da capacidade
sustentável à medida que t cresce. Da equação deduz-se que se y (t) está entre 0 e L,
dy dy
então > 0 e a população cresce. Se y (t) > L, então < 0 e a população tenderá a
dt dt
descrescer (isto é, o crescimento é inibido perante uma sobredensidade populacional). O
gráfico de y é dito curva logı́stica e está representado na figura que se segue.
1
y dy = kdt
y 1−
L
de onde resulta Z Z
L
dy = kdt + ln C.
y (L − y)
Como
Z Z
L 1 1 y
dy = + dy = ln y − ln (L − y) = ln ,
y (L − y) y L−y L−y
temos:
y
ln = kt + ln C,
L−y
ou seja:
y
= Cekt .
L−y
Esta equação permite explicitar y como função de t. De facto, temos:
y 1 + Cekt = LCekt
ou ainda
LCekt Cekt L L
y= = 1
= , com b ∈ R.
1 + Cekt kt
Ce 1 + C e −kt 1 + be−kt
3.3. APLICAÇÕES 125
L
y (t) = , com b ∈ R.
1 + be−kt
Note que, sendo k > 0, confirma-se que:
lim y (t) = L,
t→+∞
dp p
= kp 1 − , k > 0, 20 ≤ p ≤ 10000,
dt 10 000
onde t é medido em anos. A solução da equação diferencial que modela o fenómeno é:
10 000
p (t) = .
1 + be−kt
Uma vez que p(0) = 20, temos
10 000
20 = ,
1+b
pelo que
b = 499.
Logo,
10 000
p (t) = .
1 + 499e−kt
Por outro lado, de p(5) = 200 vem:
10 000
200 =
1 + 499e−5k
126 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
que equivale a:
1 499
k = ln ≈ 0, 464.
5 49
Deste modo,
10 000
p (t) = .
1 + 499e−0,464t
Após 15 anos a população de coelhos será de
10 000
p (15) = ≈ 6786.
1 + 499e−0,464×15
Como se pode observar,
lim p (t) = 10 000,
t→+∞
confirmando o que havı́amos visto acima. Deixamos como exercı́cio o esboço da curva
logı́stica correspondente a este problema.
p = 2.
Perante oscilações do preço, o mercado tende a efectuar ajustamentos que corrijam o valor
momentâneo de p, processo que é conhecido por tâtonnement. Os economistas têm em
vista uma situação em que um leiloeiro anuncia um determinado preço (unitário) para
uma mercadoria, ouve as quantidades que os transaccionistas estão dispostos a vender ou
comprar àquele preço, e depois faz elevar ou descer o valor de p consoante o excesso de
procura, xd − xs , é positivo ou negativo, respectivamente (3 ).
Admita que o preço p num tâtonnement é ajustado de acordo com a regra:
dp 1
= (xd − xs )5 .
dt 108
Substituindo pelas funções dadas e simplificando, isto significa que
dp 9
= (2 − p)5 .
dt 4
3
A tradicional fixação diária dos preços do ouro feita no Rotschild’s Bank de Londres é operada nestes
termos.
3.3. APLICAÇÕES 127
Repare que esta solução satisfaz a noção de convergência para o preço de equilı́brio, pois:
1
lim p(t) = lim 2− √ 4
= 2.
t−→+∞ t−→+∞ 9t + 1
Note que quando p(t) = 2 a taxa de variação do preço é nula:
dp 9
= (2 − p (t))5 = 0,
dt 4
128 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
o que significa que o preço se manterá a este nı́vel assim que seja atingido.
Quando p(0) = 2 isto traduz que o preço se manterá constante desde o inı́cio.
Admitindo que p (0) = 3, virá c = 91 , mas como p (0) > 2, teremos de escolher o
sinal positivo em (3.22). Logo,
1
p(t) = 2 + √
4
9t + 1
e verifica-se novamente que
lim p(t) = 2.
t−→+∞
O gráfico seguinte mostra-nos a tendência dos preços para diversos valores do preço
inicial. Em todos os casos o preço converge bastante lentamente para o preço de equilı́brio,
se não começar já nesse nı́vel.
3.4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS TOTAIS EXACTAS 129
possuir a propriedade
∂f ∂f
A= e B= (3.25)
∂x ∂y
para alguma função diferenciável f : D ⊂ R2 −→ R, a sua solução geral terá a forma
f (x, y) = c, c ∈ R.
Uma equação deste tipo diz-se total exacta (abreviando, escreveremos EDTE).
Note que se as equações em (3.25) forem satisfeitas, então
∂ 2f ∂ 2f
∂A ∂ ∂f ∂ ∂f ∂B
= = = = = .
∂y ∂y ∂x ∂x∂y ∂y∂x ∂x ∂y ∂x
Reciprocamente, a equação (3.24) será exacta sempre que se tenha:
∂A ∂B
= .
∂y ∂x
Exemplo 10. Considere as seguintes equações diferenciais:
dx xdy
(a) ydx + xdy = 0 (b) − 2 =0 (c) ex sin ydx + ex cos ydy = 0
y y
Mostre que cada uma destas equações diferenciais é total exacta. Resolva-a e esboce
algumas das curvas da respectiva solução geral.
Resolução:
onde φ (y) é uma função que apenas dependerá de y. Derivando f (x, y) em ordem
a y e tendo em conta (3.26) vem:
∂f
(x, y) = x + φ0 (y) = x.
∂y
Assim, φ0 (y) = 0 e φ (y) = k. O integral geral da EDTE será
f (x, y) = C,
onde
f (x, y) = xy.
A famı́lia de curvas
xy = C
é constituı́da por hipérboles equiláteras cujos eixos são as bissectrizes dos qua-
drantes pares e ı́mpares, reunida com os eixos coordenados. Deixamos ao leitor a
demonstração desta conclusão.
1 x
(b) Para a equação em (b) temos A (x, y) = e B (x, y) = − 2 , o que nos conduz a:
y y
∂A 1 ∂B
=− 2 = .
∂y y ∂x
A equação é EDTE, pelo que a equação é da forma
df (x, y) = 0
e o integral geral será da forma
f (x, y) = C, C∈R
para alguma função f tal que
∂f 1 ∂f x
(x, y) = A(x, y) = e (x, y) = B(x, y) = − 2 .
∂x y ∂y y
Procedendo como no exemplo anterior, mostra-se que
x
f (x, y) = ,
y
pelo que
x
= C, C∈R
y
é o integral geral. Trata-se de uma famı́lia de rectas passando na origem e com
declive C1 acrescida do eixo dos yy (note que o eixo dos xx não faz parte desta
famı́lia).
3.4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS TOTAIS EXACTAS 131
∂A ∂B
= ex cos y = .
∂y ∂x
Mais uma vez, estamos na presença de uma EDTE. Procuremos f tal que a equação
dada se escreve na forma
df (x, y) = 0,
isto é, tal que
∂f ∂f
(x, y) = A(x, y) = ex sin y e (x, y) = B(x, y) = ex cos y.
∂x ∂y
Vem: Z
f (x, y) = ex sin ydx + φ (y) = ex sin y + φ (y) .
ex sin y = C, C ∈ R.
com
∂A ∂B
6= ,
∂y ∂x
e a equação não será exacta. Contudo, pode suceder que exista alguma função µ (x, y) tal
que
[µ (x, y) A (x, y)] dx + [µ (x, y) B (x, y)] dy = 0
seja já uma EDTE. Diremos nesse caso que µ (x, y) é um factor integrante da equação
(3.27). A partir da multiplicação da equação pelo factor integrante, a resolução seguirá os
mesmos passos de uma EDTE.
Exemplo 11. Mostre que a ED
2xydx − 4x2 + 5y 3 dy = 0
não é exacta. Admitindo que tal equação possui um factor integrante da forma
µ (x, y) = y n , determine n e resolva a equação diferencial.
Resolução: Note que A (x, y) = 2xy e B (x, y) = − (4x2 + 5y 3 ), pelo que, em geral,
∂A ∂B
= 2x 6= −8x =
∂y ∂x
e a equação não é EDTE. Para que µ (x, y) = y n seja factor integrante, a equação
Ora
∂M ∂N
= 2 (n + 1) xy n = −8xy n = .
∂y ∂x
Daqui resulta
2 (n + 1) = −8
ou seja
n = −5.
O factor integrante será
µ (x, y) = y −5 ,
pelo que, multiplicando ambos os membros da equação dada por y −5 , vem:
2xy −4 dx − 4x2 y −5 + 5y −2 dy = 0.
Aplicando o processo descrito para EDTE, prova-se que o integral geral será
f (x, y) = C, C ∈ R,
onde
x2 5
f (x, y) = + ,
y4 y
o que conclui o exemplo.
Exercı́cio 13. (*) Não é fácil arranjar métodos que nos permitam construir factores in-
tegrantes dependentes de duas variáveis. Contudo, se uma equação admitir um factor
integrante µ (x, y) = µ (x) (isto é, dependendo apenas de x) é possı́vel deduzir a ex-
pressão para o factor µ (x). Realize tal dedução, bem como a que corresponde ao caso
µ (x, y) = µ (y).
134 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
[P (x)y − Q(x)] dx + dy = 0,
equação que não é EDTE (se P (x) 6= 0). Multiplicando por (3.30), vem:
R R
P (x)dx P (x)dx
e [P (x)y − Q(x)] dx + e dy = 0. (3.31)
Notando que
d h R P (x)dx i R
e = e P (x)dx P (x), (3.32)
dx
facilmente se observa que
∂ h R P (x)dx i R ∂ h R P (x)dx i
e [P (x)y − Q(x)] = e P (x)dx P (x) = e ,
∂y ∂x
pelo que (3.31) é EDTE.
O processo de resolução da EDTE que se obtém de (3.29) pode ser atalhado no pre-
sente caso. De facto, multiplicando ambos os membros de (3.29) pelo factor integrante,
temos:
R dy R R
e P (x)dx + e P (x)dx P (x)y = e P (x)dx Q(x).
dx
Tendo em conta (3.32), vem:
d h R P (x)dx i R dy R
e y = e P (x)dx + e P (x)dx P (x)y
dx dx
ou seja, a EDTE que se obtém após multiplicação pelo factor integrante equivale a:
d h R P (x)dx i R
e y = e P (x)dx Q(x).
dx
3.5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES DE ORDEM 1 135
Resolução: Trata-se de uma ED do tipo (3.28), pelo que é linear de 1.ª ordem na variável
dependente y. Começando por dividir ambos os membros por x (com x 6= 0), vem
dy 2
+ y = 8x. (3.33)
dx x
Um factor integrante é:
2 2
R
dx
µ (x) = e x = eln x = x2 .
Multiplicando ambos os membros de (3.33) por este factor, vem:
dy
x2 + 2xy = 8x3 ,
dx
ou seja
d 2
x y = 8x3 .
dx
Assim, Z
x y = 8x3 dx + C
2
ou seja,
x2 y = 2x4 + C, C ∈ R,
o que conclui o exemplo.
Nota 2. Note que a equação do exemplo anterior equivale a
dx
x + (2y − 8x2 ) = 0.
dy
Facilmente se observa que x = 0 é solução particular da mesma, a qual é coberta pela
constante C = 0 do integral geral.
Exercı́cio 14. Mostre que a seguinte equação diferencial
dy
x (x + 1) + y = (x + 1).
dx
é linear de 1.ª ordem na variável dependente y. Resolva-a pelo método acima exposto.
136 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
que é o preço de equilı́brio. Mais uma vez, assim que seja atingido tal preço este
manter-se-á estável.
Quando p (0) = 2 a solução é uma recta horizontal, correspondendo a uma função
constante.
Se p (0) > 2, o 2º termo de (3.35) é positivo e tende para zero. Logo, p (t) > 2
para todo o t e
lim p(t) = 2+ .
t−→+∞
dy
y ln y + (x − ln y) = 0, (3.36)
dx
recorrendo a uma inversão dos papéis de x e de y. Determine ainda a solução particular
que contém o ponto (0, 1).
Resolução: A equação dada não é de variáveis separáveis, não é exacta nem linear de
primeira ordem em y. Contudo, admitamos que x passa a ser a variável dependente,
sendo agora y a variável independente. Manipulações algébrica simples permitem escre-
ver (3.36) na forma:
dx 1 1
+ x= . (3.37)
dy y ln y y
Obtivemos assim uma equação diferencial linear de primeira ordem na variável depen-
dente x, com
1 1
P (y) = e Q(y) = .
y ln y y
Um factor integrante para (3.37) é:
R
P (y)dy
µ (y) = e = ln y.
4
Esta técnica corresponde, no caso da primitivação, ao método de primitivação por substituição.
138 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
dx 1
Logo, multiplicando ambos os membros de (3.37) por ln y, obtemos dy
+ y ln y
x = y1 .
dx 1 ln y
ln y + x= ,
dy y y
que terá de ser uma EDTE. Escrevendo-a na forma diferencial, vem:
x − ln y
ln y dx + dy = 0 (3.38)
y
e temos, de facto,
∂ 1 ∂ x − ln y
[ln y] = = .
∂y y ∂x y
A solução de (3.38) é da forma
f (x, y) = C, C ∈ R,
x − ln y
Derivando esta em ordem a y e igualando a , vem:
y
x x ln y
+ φ0 (y) = − ,
y y y
pelo que
ln y
φ0 (y) = −
y
e, portanto,
(ln y)2
φ (y) = − + c.
2
Assim, podemos tomar
(ln y)2
f (x, y) = x ln y −
2
e o integral geral da equação (3.38) é:
(ln y)2
x ln y = + C, C ∈ R. (3.39)
2
Obtenhamos a solução particular que passa por (0, 1) . De (3.39) vem:
C = 0.
3.6. MUDANÇA DE VARIÁVEL EM EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 139
A solução requerida é
1
(ln y)2 − x ln y = 0,
2
de onde resulta:
1
ln y = 0 ∨ ln y − x = 0,
2
ou, equivalentemente,
y=1 ∨ y = e2x .
Na seguinte figura podemos observar alguns integrais particulares de (3.36), destacando
os que obedecem à condição inicial imposta.
P (L, K) = A Lα K β , L, K ∈ R+ ,
140 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
x = vy.
x x
Esta torna-se mais vantajosa em funções do tipo f , como por exemplo e y , pois
y
1
v
permite-nos obter e em vez de e .
v
dz
+ P (x)z = Q(x),
dx
equação diferencial linear de 1.ª ordem na nova variável e cujo integral geral se obtém
pelo processo descrito na secção anterior.
3.6. MUDANÇA DE VARIÁVEL EM EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 143
z = y 1−n .
Nesse caso
dz dy
= (1 − n) y −n
dx dx
e a subsituição em (3.47) conduz-nos a
dz
+ (1 − n) P (x) z = (1 − n) Q (x) .
dx
Esta é claramente uma equação diferencial linear de 1.ª ordem na nova variável depen-
dente cuja resolução nos dará uma relação funcional entre z e x. A conclusão da resolução
de (3.46) far-se-á regressando à variável inicial.
dy 2
+ xy = xe−x y −3 .
dx
Resolução: Esta equação está claramente na forma (3.46) com n = −3. Multiplicando
ambos os membros por
[1 − (−3)] y 3 = 4y 3 ,
vem
dy 2
4y 3 + 4xy 4 = 4xe−x . (3.48)
dx
Fazendo
z = y 1−n = y 4 ,
temos
dz dy
= 4y 3 .
dx dx
Da substituição dos termos em (3.48) resulta
dz 2
+ 4xz = 4xe−x .
dx
Esta equação diferencial linear de 1.ª ordem tem por integral geral a função
2 2
z = 2e−x + Ce−2x
Nota 4. Como nota final desta secção, querı́amos referir que existem outros tipos de
equações diferenciais em que as mudanças de variáveis estão devidamente tipificadas
mas que aqui não abordaremos por limitações de tempo. Contudo, o leitor deverá estar
capacitado para, perante uma dada mudança de variável sugerida, efectuá-la e resolver
a equação diferencial obtida.
z = 9x + 4y + 1.
Nota 5. Não existe nenhuma razão para que uma equação diferencial não seja de diversos
tipos. Por exemplo, a equação diferencial
dy y
=−
dx x
é de variáveis separáveis, EDTE, homogénea, e linear de 1.ª ordem. É um bom exercı́cio
resolvê-la recorrendo a cada um dos quatro métodos e mostrar que as soluções obtidas
em cada um dos casos são equivalentes.
C ÁLCULO II
A NO LECTIVO 2014/15 FOLHA N.º 5
Resolução: Vamos resolver esta equação diferencial linear de 1.ª ordem em y recorrendo
ao método de variação da constante. A equação homogénea associada à equação dada
é:
dy 1
− y = 0,
dx x
a qual equivale a:
1 1
dy − dx = 0.
y x
A solução geral desta equação é:
y = Cx, C ∈ R.
y = C (x) x
Nota 6. 1. Este procedimento, também conhecido por Método de Lagrange, pode ser
generalizado para equações diferenciais lineares de ordem n, as quais se escrevem
na forma:
dn y dn−1 y dy
n
+ a 1 (x) n−1
+ ... + an−1 (x) + an (x)y = Q(x),
dx dx dx
passando a designar-se por método de variação das constantes.
150 CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
2. Na expressão (3.52) podemos distinguir uma parcela que é integral geral da equação
homogénea associada, sendo a restante um integral particular da equação com-
pleta: Z R R R
y= Q (x) e P (x)dx
dx e− P (x)dx + Ke
|
− P (x)dx
{z }.
| {z } I. G. eq. homogénea
I. P. eq. completa
dn y dn−1 y dy
an n
+ a n−1 n−1
+ ... + a1 + a0 y = q(x), (4.2)
dx dx dx
e será sobre estas que nos iremos debruçar.
À equação que se obtém de (4.1) ou de (4.2) tomando para segundo membro a função
identicamente nula chamamos equação homogénea associada.
Vamos recorrer à teoria dos operadores diferenciais lineares, primeiro para reescrever
esta equação, e depois para apresentar um método para a sua resolução.
151
152CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
Tomando
P (D) = D2 − D − 2,
polinómio simbólico em D, é conveniente factorizá-lo. Para tal, recorreremos à chamada
equação auxiliar ou caracterı́stica:
z2 − z − 2 = 0
a qual equivale a:
(z − 2) (z + 1) = 0.
Assim,
P (D) = D2 − D − 2 = (D − 2) (D + 1) .
4.1. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES. OS OPERADORES D E P(D). 153
(D − 2) (D + 1) y = (D + 1) (D − 2) y.
De facto,
dy dy
(D − 2) (D + 1) y = (D − 2) +y = (D − 2) + (D − 2) y
dx dx
d2 y dy dy d2 y dy 2
= − 2 + − 2y = − − 2y = D − D − 2 y
dx2 dx dx dx2 dx
e também
dy dy
(D + 1) (D − 2) y = (D + 1) − 2y = (D + 1) − 2 (D + 1) y
dx dx
d2 y dy dy 2
= + − 2 − 2y = D − D − 2 y.
dx2 dx dx
Mais adiante voltaremos aos operadores diferenciais e à questão da factorização de
P (D).
P (D) y = q(x),
d2 y
(a) − y = 2x (b) y 00 + y 0 − 6y = −5xex
dx2
d3 y d2 y dy
(c) − 3 + 3 −y =0 (d) 2y 00 − 4y = 3ex
dx3 dx2 dx
Exercı́cio 2. Mostre que as funções
y = e2x e y = e−x
são soluções da equação diferencial (4.4). Tendo em conta a escrita desta equação na
forma
P (D)y = 0
com P (D) factorizado, formule uma hipótese que relacione as raı́zes da equação auxiliar
e as soluções da equação diferencial.
154CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
2
(5) yt+4 + yt yt+1 + t = 3 (de ordem 4)
As soluções de uma equação às diferenças são funções de domı́nio discreto, isto é,
sucessões (de números reais). Tal como acontece para equações diferenciais de ordem n
(n ∈ N), também a solução geral de uma equação às diferenças de ordem n contém n
constantes reais arbitrárias. Por exemplo, se tomarmos a equação (4), podemos sempre
escolher y0 e y1 de modo arbitrário e obter
y2 , y3 , ...
a partir da equação dada. De facto, de (4) vem:
y2 = −2y1 − y0
onde
(n) (n−1) (1) (0)
at , at , ..., at , at , qt
são sucessões de números reais, diz-se equação às diferenças linear de ordem n. Deter-
nos-emos no caso das equações às diferenças lineares com coeficientes constantes, isto é,
naquelas que assumem a forma:
E:S→S
tal que
Eyt = yt+1 .
Mais geralmente, definiremos os operadores potências de E como se segue:
E 3 yt = E (E 2 yt ) = E (yt+2 ) = yt+3
..
.
E k yt = E E k−1 yt = yt+k , k = 1, 2, . . .
ou ainda a
P (E) yt = qt
onde
P (E) = an E n + an−1 E n−1 + ... + a1 E + a0 .
Este polinómio simbólico em E deve também ser factorizado, preparando o terreno para
a resolução da equação dada.
156CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
equivale a
E 2 − 5E + 6 yt = 0
(4.6)
ou ainda a
P (E) yt = 0,
com P (E) = E 2 − 5E + 6. Resolvendo a equação auxiliar
z 2 − 5z + 6 = 0
vem
(z − 3) (z − 2) = 0.
Logo,
P (E) = (E − 3) (E − 2) .
Exercı́cio 3. Reescreva cada uma das seguintes equações às diferenças na forma
P (E) y = qt , (t ∈ N0 ).
(E − 3) (E − 2) yt = (E − 2) (E − 3) yt .
Efectivamente, temos:
e também
yt = 2t , t ∈ N0 e yt = 3t , t ∈ N0
são soluções da equação às diferenças (4.6). Tendo em conta a escrita desta equação na
forma
P (E)yt = 0,
com P (E) factorizado, formule uma hipótese que relacione as raı́zes da equação auxiliar
com as soluções da referida equação às diferenças.
158CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
P (D)y = 0, (4.8)
{f1 , f2 , ..., fk }
1
Aliás, esta consequência resulta directamente do facto de Ker (A) ser um subespaço vectorial de Rn .
4.3. OPERADORES LINEARES 159
constituir uma base de Ker (P (D)) então qualquer solução de (4.8) será combinação
linear única dos elementos da base, i.e., existirão escalares c1 , c2 , ..., ck ∈ R tais que:
f = c1 f1 + c2 f2 + ... + ck fk ,
de maneira única.
De modo semelhante, a respeito de uma equação às diferenças lineares
P (E) yt = 0 (4.9)
estamos interessados em obter
Ker (P (E)) = {yt ∈ S : P (E) yt = 0} ,
ou, mais precisamente, numa base para este subespaço vectorial de S. De facto, sendo
n o
(1) (2) (k)
ft , ft , ..., ft
uma base de Ker (P (E)), cada solução de (4.9) pode escrever-se de modo único como
combinação linear das sucessões de tal base.
De seguida vamos justificar que se a equação (4.9) for de ordem n, então
k = dim [Ker (P (E))] = n (grau do polinómio).
De facto,
P (E) yt = 0 ⇐⇒ an yt+n + an−1 yt+n−1 + ... + a1 yt+1 + a0 yt = 0.
Uma vez que an 6= 0, temos:
yt+n = − (an )−1 (an−1 yt+n−1 + ... + a1 yt+1 + a0 yt ). (4.10)
Uma vez conhecidos os valores de y0 , y1 , ..., yn−1 , o uso repetido de (4.10) permite obter
os restantes termos da sequência (yt )t=0,1,2,... solução de (4.9). No entanto, y0 , y1 , ..., yn−1 ,
podem ser escolhidos de maneira arbitrária. Cada vector n-dimensional
(y0 , y1 , ..., yn−1 )T
determina uma solução de (4.9) e vice-versa. Isto traduz que existe uma correspondência
bijectiva entre o conjunto de soluções de (4.9) e o conjunto dos vectores de dimensão n.
Logo, dim [Ker (P (E))] = n.
Por outro lado, sabe-se que dado um ponto x = x0 , quaisquer números reais y0 , y1 , ..., yn−1 ,
determinam uma solução única f da equação (4.8) satisfazendo as condições iniciais:
f (x0 ) = y0 , Df (x0 ) = y1 , ..., Dn−1 f (x0 ) = yn−1 .
Por conseguinte, um argumento semelhante ao que acima utilizámos para sucessões (soluções
de equações às diferenças lineares de ordem n) permite estabelecer que também
k = dim [Ker (P (D))] = n.
Doravante, à base de Ker (P (D)) (respectivamente, de Ker (P (E))) chamaremos
sistema fundamental de soluções da equação homogénea P (D) y = 0 (respectivamente,
de P (E) yt = 0).
Os resultados aqui enunciados serão imediatamente requisitados nas próximas secções.
160CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
P (D) y = q(x).
P (D) y = 0 (4.11)
onde {α1 , α2 , ..., αk } são as raı́zes distintas, reais ou complexas, do polinómio auxiliar
P (z) (as raı́zes complexas, como sabemos, ocorrem aos pares). Recorde que nesta
factorização os factores comutam.
Desde o Capı́tulo 3 que se sabe que
É fácil verificar, por substituição directa, que eαx e xeαx são soluções de (4.14). Além
disso, tais soluções são linearmente independentes uma vez que nenhuma delas é múltiplo
escalar da outra.
A generalização dos argumentos acima expostos permite concluir que cada factor
(D − α)m contribui com m soluções linearmente independentes de
(D − α)m y = 0, (4.15)
m1 + m2 + ... + mk = n
soluções que constituam um S.F.S. da referida equação, as quais são construı́das para cada
um dos factores (D − αi )mi , i = 1, . . . , k, do mesmo modo que acima se fez.
para S.F.S. e
Exemplo 4. Determine o integral geral de cada uma das seguintes equações diferenciais:
d2 y dy
(a) 2
+ 2 − 3y = 0 (b) y 000 + y 00 − y 0 − y = 0
dx dx
162CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
P (D) y = D2 + 2D − 3 y = 0.
P (z) = z 2 + 2z − 3 = 0
são
z = −3 ∨ z = 1.
Logo, P (z) = (z + 3) (z − 1) e a equação diferencial equivale a:
(D + 3) (D − 1) y = 0.
e
y = Ae−3x + Bex , com A, B ∈ R
é o seu integral geral.
(b) A equação dada escreve-se na forma
P (D) y = D3 + D2 − D − 1 y = 0.
P (z) = z 3 + z 2 − z − 1 = (z − 1) (z + 1)2 ,
(D − 1) (D + 1)2 y = 0.
e
y = Aex + Be−x + Cxe−x = Aex + (B + Cx) e−x , com A, B, C ∈ R
é o seu integral geral.
4.5. RAÍZES COMPLEXAS DA EQUAÇÃO AUXILIAR 163
Devido a este facto, os termos do integral geral correspondentes a cada par de raı́zes
complexas conjugadas, α, α, simples, têm a seguinte forma:
e
eαx = e(β−γi)x = eβx e−iγx = eβx (cos (γx) − i sin (γx)) .
Substituindo em (4.16) vem:
Aeαx + Beαx = Aeβx (cos (γx) + i sin (γx)) + Beβx (cos (γx) − i sin (γx))
é um S.F.S. da equação
(D − α) (D − α) y = (D − β)2 + γ 2 y = 0.
{eβx cos (γx) , eβx sin (γx) , xeβx cos (γx) , xeβx sin (γx) , x2 eβx cos (γx) , x2 eβx sin (γx) ,
. . . , xm−1 eβx cos (γx) , xm−1 eβx sin (γx)}
para o integral geral de tal equação diferencial. Neste deverá constar a seguinte combinação
linear destas soluções:
eβx (C1 cos (γx) + C2 sin (γx)) + xeβx (C3 cos (γx) + C4 sin (γx))
+x2 eβx (C5 cos (γx) + C6 sin (γx)) + . . . + xm−1 eβx (C2m−1 cos (γx) + C2m sin (γx)) ,
P (D)y = D2 + 4 y = 0.
que é a que já tı́nhamos. De modo análogo, em vez de {e−2ix , e2ix } o S.F.S. terá a forma:
0x
e cos (2x) , e0x sin (2x) = {cos (2x) , sin (2x)}
P (D)y = D3 − 1 y = 0.
Como √
3 1 3
P (z) = z − 1 = 0 ⇐⇒ z = 1 ∨ z = − ± i.
2 2
√ 2 h i
1 2
2
Logo, P (z) = (z − 1) z + 2 + 23 = (z − 1) z + 21 + 34 e a equação tem
a forma " #
2
1 3
P (D)y = (D − 1) D+ + y = 0.
2 4
Um S.F.S. será: ( √ ! √ !)
− 12 x 3 1 3
x
e ,e cos x , e− 2 x sin x ,
2 2
pelo que o integral geral da equação dada será:
√ ! √ !
− 21 x 3 1 3
y = C1 ex + C2 e cos x + C3 e− 2 x sin x
2 2
√ ! √ !!
1 3 3
= C1 ex + e− 2 x C2 cos x + C3 sin x ,
2 2
P (E) yt = 0, t = 0, 1, 2, . . .
o problema da determinação da solução geral tem uma resolução semelhante ao caso das
equações diferenciais.
Admitamos que a forma factorizada da equação é:
onde os αi , i = 1, ..., k, são raı́zes não nulas e distintas (3 ). Cada factor (E − α)m contri-
bui para a solução geral com m soluções linearmente independentes - nomeadamente, as
sucessões t t 2 t
α , tα , t α , . . . , tm−1 αt
hão-de constar no S.F.S.. Assim:
m1 + m2 + . . . + mk = n
para S.F.S. e
yt = c0 αt + c1 β t + c2 tβ t + c3 t2 β t + c4 γ t + c5 tγ t
= c0 αt + c1 + c2 t + c3 t2 β t + (c4 + c5 t) γ t , com c0 , c1 , c2 , c3 , c4 , c5 ∈ R
P (E) yt = Q(E) (E − α) (E − α) yt
escreveremos
P (E) yt = Q(E) (E − β)2 + γ 2 yt = 0.
Tendo em conta que apenas estamos interessados em soluções que sejam sucessões de
números reais, em vez de termos
Aαt + Bαt , A, B ∈ C,
para a parte da solução geral correspondente às raı́zes complexas, vamos representá-la
de uma outra forma que torne tal facto imediatamente visı́vel. Entretanto, note que é
igualmente possı́vel provar que Aαt + Bαt ∈ R sempre que A e B sejam complexos
conjugados.
Dado α = β + γi ∈ C, sejam ρ ∈ R+ e θ ∈ [0, 2π[ tais que
p
ρ = |α| = β 2 + γ 2 (módulo de α)
e
ρ cos θ = β
. (4.18)
ρ sin θ = γ
O valor θ diz-se argumento positivo mı́nimo de α e será denotado por arg α (4 ). Deste
modo, temos as seguintes representações para o complexo α:
Neste caso,
α = β − γi = ρ cis (−θ) = ρ ei(−θ) .
Prova-se então o seguinte resultado:
4
Em rigor, qualquer valor de θ que satisfaça as relações (4.18) é dito argumento de α. Alguns autores
optam por escolher θ ∈ ]−π, π], dito argumento principal. Ao escolhermos θ ∈ [0, 2π[ escolhemos o
argumento positivo mı́nimo.
168CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
(E − α) (E − α) yt = (E − β)2 + γ 2 yt = 0,
t = 0, 1, 2, . . .
é dado por
ρt cos (θt) , ρt sin (θt)
com a, b ∈ R.
(b) Um S.F.S. da equação
m
[(E − α) (E − α)]m yt = (E − β)2 + γ 2 yt = 0,
t = 0, 1, 2, . . .
é dado por
{ρt cos (θt) , ρt sin (θt) , tρt cos (θt) , tρt sin (θt) , t2 ρt cos (θt) , t2 ρt sin (θt) , . . . ,
tm−1 ρt cos (θt) , tm−1 ρt sin (θt)}
yt = ρt a0 + a1 t + ... + am−1 tm−1 cos (θt) + b0 + b1 t + ... + bm−1 tm−1 sin (θt) ,
t = 0, 1, 2, . . . , com ai , bi ∈ R.
Exemplo 7. Determine a solução geral de cada uma das seguintes equações às diferenças
definidas para t = 0, 1, 2, . . . .
(a) yt+2 + 3yt+1 + 2yt = 0 (b) yt+3 + yt+1 + 10yt = 0 (c) yt+3 = 2yt+2
Assim,
(−1)t , (−2)t
yt = A (−1)t + B (−2)t , t = 0, 1, 2, . . .
z = −2 ∨ z = 1 + 2i ∨ z = 1 − 2i.
E 3 + E + 10 yt = (E + 2) (E − 1 − 2i) (E − 1 + 2i) yt
= (E + 2) (E − 1)2 + 4 yt = 0.
um S.F.S. será:
√ t √ t
t
(−2) , 5 cos (t arctg (2)) , 5 sin (t arctg (2))
com A, b, c ∈ R.
(c) Retrocedendo duas unidades em cada um dos ı́ndices da equação dada, esta equivale
a
yt+1 − 2yt = (E − 2) yt = 0, t = 2, . . .
cuja solução geral é
yt = C 2t , t = 2, 3, . . . (com C ∈ R).
Como a equação dada começa com t = 0, 1, 2, ... a solução geral implica que
y0 = A e y1 = B são valores arbitrários reais.
Resolvendo o sistema
y0 = 3 A=3 A=3
⇐⇒ ⇐⇒ .
y1 = 5 2A + 2B = 5 B= − 21
Logo,
yt = 3 2t − t2t−1 , t = 0, 1, 2, . . .
é a solução particular procurada.
4.7. EQUAÇÕES NÃO HOMOGÉNEAS 171
AX = b.
É sabido que qualquer outro vector-coluna u ∈ Rn×1 é solução deste sistema se, e só se,
u = X0 + p,
AX = 0
A questão que se coloca agora é a dos métodos para construir uma solução particular
de (4.19). Aquele que aqui apresentamos é por vezes conhecido por método do polinómio
anulador, e é válido apenas no caso em que a função q é ela própria solução de uma
equação homogénea.
Admitamos que
Q (D) q = 0,
para algum polinómio diferencial Q de grau m. Supondo que P tem grau n, procuramos
uma função particular p tal que
P (D)p = q.
172CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
eβx sin(γx), xeβx sin(γx), x2 eβx sin(γx), ..., xm−1 eβx sin(γx).
4.7. EQUAÇÕES NÃO HOMOGÉNEAS 173
Nota 2. Em cada um dos casos, o operador diferencial referido anula também qualquer
produto das funções referidas por uma constante.
Exemplo 9. Determine a solução geral de cada uma das seguintes equações diferenciais
lineares:
Q (D) = (D − 1)2 .
Q (D) D2 + 9 y = Q (D) q = 0.
Note que em parêntesis rectos está a solução geral da equação homogénea associ-
ada, pelo que a solução particular p da equação completa dada terá a forma
p = C3 ex + C4 xex = (C3 + C4 x) ex .
Dp (x) = (· · · ) = (C3 + C4 + C4 x) ex
e
D2 p (x) = (· · · ) = (C3 + 2C4 + C4 x) ex .
Substituindo na equação diferencial completa e simplificando, vem:
ou seja
[(10C3 + 2C4 ) + 10C4 x] ex = [0 + 1x] ex ,
(para todo o x real). Assim, terá de ser
de onde resulta
1 1
C3 = − e C4 = .
50 10
Logo, uma solução particular da equação dada é:
1 1
p(x) = − + x ex
50 10
e a sua solução geral será:
1 1
y = yGH + p = A cos (3x) + B sin (3x) + − + x ex , A, B ∈ R.
50 10
Q(D) = D − 1.
ou seja:
D2 − 1 (D − 1) y = 0
ou ainda
(D + 1) (D − 1)2 y = 0
Esta equação homogénea auxiliar tem por integral geral
yb = C0 e−x + C1 ex + C2 xex , C0 , C1 , C2 ∈ R.
p = C2 xex
Dp (x) = (· · · ) = C2 (x + 1) ex
e
D2 p (x) = (· · · ) = C2 (x + 2) ex .
Após substituição na equação completa e posterior simplificação, obtemos:
2C2 ex = ex
4.7. EQUAÇÕES NÃO HOMOGÉNEAS 175
Q(D) = (D − 0)2 + 22 = D2 + 4.
ou seja:
D2 + 4 (D − 1) (D + 1) y = 0.
e
D2 p (x) = −4a cos (2x) − 4b sin (2x) .
Substituindo na equação completa e simplificando, vem:
−5a = 0 e − 5b = 1
176CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
D2 − 1 y = ex + sin (2x) .
D2 − 1 y = q(x) + r(x),
onde q(x) = ex e r(x) = sin (2x) são os segundos membros de (b) e (c), respectivamente,
no exemplo 9. Assim sendo, sabemos que
D2 − 1 y = q(x)
será solução particular da equação completa dada. Uma vez que a equação homogénea
associada foi já resolvida e tem integral geral
(E − α)m , α ∈ R\ {0} ,
Verifica-se que
Q (E) = (E − 2)2
anula qt = t2t . Aplicando a ambos os membros da equação completa, temos:
(para todo o t = 0, 1, 2, ...). Assim, a solução geral desta equação homogénea auxiliar é:
pt = C1 2t + C2 t2t = (C1 + C2 t) 2t .
ou seja:
(2C2 − C2 ) t2t + (2C1 + 2C2 − C1 ) 2t = t2t
(para todo o t = 0, 1, 2, ...). Logo,
C2 = 1 e C1 + 2C2 = 0,
pt = (−2 + t) 2t
Teorema 11. (a) Se Q1 (E) anula qt e Q2 (E) anula rt , então Q1 (E)Q2 (E) anula (qt + rt ) ,
isto é,
[Q1 (E)Q2 (E)] (qt + rt ) = 0.
(b) Se P (E) pt = qt e P (E) p∗t = rt , então
(E − 1) yt = t2t + 5t + 4.
yt+1 − yt = qt + rt ,
onde
qt = t2t e rt = 5t + 4.
Vimos já no exemplo 11. que
(H)
yt = A, A∈R (4.22)
é a solução geral da equação homogénea associada. Por outro lado, do mesmo exemplo
sabemos que
pt = (−2 + t) 2t
é solução particular de
(E − 1) yt = t2t = qt .
Procuremos uma solução particular, p∗t , de.
(E − 1) yt = 5t + 4 = rt . (4.23)
Atendendo a que
rt = 5t + 4 = 4 × 1t + 5t × 1t ,
o teorema 10. permite dizer que
Q(E) = (E − 1)2
(E − 1)2 (E − 1) yt = (E − 1)2 rt = 0
ou seja,
(E − 1)3 yt = 0.
180CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
ybt = B0 + B1 t + B2 t2 ,
e como a solução geral da equação homogénea é (4.22), teremos de procurar uma solução
particular da equação completa (4.23) na forma:
p∗t = B1 t + B2 t2 .
Ora,
Ep∗t = p∗t+1 = (. . .) = B2 t2 + (2B2 + B1 ) t + (B1 + B2 )
pelo que
(E − 1) p∗t = rt
equivale a
B2 t2 + (2B2 + B1 ) t + (B1 + B2 ) − B1 t − B2 t2 = 5t + 4,
de onde resulta
3 5
B1 = e B2 = .
2 2
Logo,
3 5
p∗t = t + t2 .
2 2
Atendendo ao teorema anterior,
3 5
pt + p∗t = (−2 + t) 2t + t + t2
2 2
é solução particular da equação completa dada. A sua solução geral será:
3 5
yt = A + (−2 + t) 2t + t + t2 , A∈R
2 2
o que conclui o exemplo.
Nota 3. Por vezes é possı́vel converter equações não lineares em equações lineares me-
diante a técnica de mudança de variável. Sobre este assunto, veja o apêndice 4.4.
4.8. CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA 181
por maior que seja a constante positiva k e por menor que seja a constante positiva α.
Isto é um exemplo do facto segundo o qual as exponenciais dominam sobre as potências.
Tal fenómeno está bem patente no primeiro gráfico, onde se observa que a exponencial
y = eαx cresce mais rapidamente que a potência y = xk .
No caso das equações às diferenças, a situação é muito semelhante, sendo que agora
os termos eαx são substituı́dos pelas sucessões αt . Observe as principais situações nas
figuras da página seguinte.
4.8. CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA 183
y = Aex + Be−3x , A, B ∈ R.
Uma vez que lim e−3x = 0, se A for não nula o comportamento da solução é dominado
x→+∞
pelo termo Aex . Assim,
+∞, se A > 0
lim y(x) = lim Aex + Be−3x = −∞, se A < 0 .
x→+∞ x→+∞
0, se A = 0
y = 2ex − e−3x ,
184CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
(b) Idem (mutatis mutandis) para o caso de uma equação às diferenças linear, de ordem
2 e com coeficientes constantes.
(c) Para cada um dos tipos de equações, investigue a existência de condições suficientes
para que um dos termos da solução geral seja dominante.
186CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
..
.
Observe-se que
Logo,
E = ∆ + 1.
Generalizando, prova-se que
E k = (∆ + 1)k .
N
X −1
∆yt = (y1 − y0 ) + (y2 − y1 ) + . . . + (yN − yN −1 ) = yN − y0 .
t=0
∆yt = ft
onde C é uma constante arbitrária real. Para que se confirme este facto é apenas necessário
observar que
N
X −1 N
X −1 N
X −1
0 = ∆yt − ft = ∆yt − ∆ft = ∆ (yt − ft ) =
t=0 t=0 t=0
= (yN − FN ) − (y0 − F0 ) = yN − FN − C.
∆Ft = ft (4.24)
∆Ft = ft Ft
ft = 0 Ft =C
ft = b Ft = bt + C
ft = at Ft = 21 at(t − 1) + C
ft = r t Ft = (r − 1)−1 rt + C (r 6= 1)
∆yt = 3t + 1.
Exemplo 16. A equação às diferenças yt+2 −2yt+1 +yt = 0 pode reescrever-se na forma:
E 2 − 2E + 1 yt = (E − 1)2 yt = ∆2 yt = 0.
Daqui vem
∆yt = c,
de onde
yt = ct + d,
onde c e d são constantes reais arbitrárias.
188CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES E EQUAÇÕES ÀS DIFERENÇAS
4.10 Aplicações
4.10.1 Dois modelos de economia fechada
Primeiro modelo: Suponhamos que num modelo simples de uma economia fechada sem
despesas governamentais, o rendimento nacional no ano t é dado por Yt , composto
pelo consumo e pelo investimento no mesmo perı́odo, denotados por Ct e por It ,
respectivamente:
Yt = Ct + It . (4.25)
Admitamos que, em cada ano, o investimento é proporcional ao rendimento do ano
anterior:
It = αYt−1 , (α > 0). (4.26)
Por outro lado, o consumo em cada ano é proporcional ao rendimento nesse mesmo
ano:
Ct = βYt , (β > 0). (4.27)
As equações (4.25), (4.26) e (4.27) dão origem à seguinte equação às diferenças:
Yt = βYt + αYt−1 ,
a qual equivale a:
(1 − β) Yt = αYt−1
ou ainda t
α α
Yt = Yt−1 = Y0 , t = 1, 2, 3, ...
1−β 1−β
Se quisermos que o rendimento cresça anualmente, deveremos ter
α
> 1.
1−β
Das equações (4.25) e (4.27) resulta que 1 − β > 0, pelo que a condição acima
deduzida equivale a
α>1−β
ou seja,
α + β > 1.
Yt = Ct + It + G. (4.28)
Ct = αYt−1 (4.29)
4.10. APLICAÇÕES 189
que equivale a
Esta equação às diferenças completa de ordem 2 pode ser resolvida no caso geral
pelos processos que aprendemos. Deixamos ao leitor essa tarefa, bem como a dis-
cussão do tipo de solução da equação homogénea associada em função dos dois
parâmetros. Limitar-nos-emos a exemplificar com um caso particular. Admita que
G = 900, α = 0, 8 e β = 0, 375.
P (E) Yt = (E − 0, 6) (E − 0, 5) Yt = 900.
pt = C.
C = 4500.
lim Yt = 4500.
t→+∞
Isto significa que, a longo prazo, o rendimento nacional Yt se tornará estável, con-
vergindo para o nı́vel de equilı́brio, 4500.
∆yt + pt yt = qt .
yt+1 − ryt = qt .
i.e.,
∆ r−t yt = r−t−1 qt .
Se uma primitiva discreta do segundo membro for conhecida, então a equação pode
resolver-se.
Vejamos o caso especial da acumulação de capital sujeito a juro composto. Admita-
mos que 1000 euros são investidos à taxa de juro de 10% ao ano, composto anualmente.
4.10. APLICAÇÕES 191
Após 40 anos, qual será o capital acumulado? A equação às diferenças que modela este
fenómeno num contexto de variável discreta é:
yt+1 = yt + 0.1 yt , t = 0, 1, 2, . . .
o que equivale a:
yt+1 − ryt = 0,
com r = 1.01. Da análise feita acima, sabemos que a equação às diferenças pode exprimir-
se na forma:
∆ r−t yt = 0
C ÁLCULO II
A NO LECTIVO 2014/15 FOLHA N.º 6
E. D. LINEARES DE ORDEM n COM COEFICIENTES CONSTANTES
1. Resolva as seguintes equações diferenciais lineares homogéneas com coeficientes
constantes:
d2 y dy d2 y d3 y dy
(a) dx2
− 6 dx = −8y (b) dx2
− 25y = 0 (c) dx3
= 25 dx
d2 y dy d3 y d y 2 dy d2 y dy
(d) dx2
= 4 dx − 29y (e) dx3
− 5 dx2 + 33 − 29y = 0 (f) dx2
− 6 dx + 9y = 0
dx
d4 y d y 2 d4 y d y 2 d4 y 2
d y
(g) dx4
+ 8 dx 2 − 9y = 0 (h) dx4
+ 8 dx2 + 16y = 0 (i) dx4
− 18 dx 2 + 81y = 0
d4 y 3
d y dy d y3 d y2 dy
(j) dx4
+ 3 dx 3 − 4 dx = 0 (k) y (n+2) + 4y (n+1) + 4y (n) = 0 (l) 3 dx 3 + 5 dx2 − 2 dx = 0
d2 y dy d2 y dy
(e) dx2
− 4 dx + 4y = xe2x (f) dx2
− 4 dx + 4y = x (e2x + 1)
d2 y dy d2 y dy
(g) dx2
− dx
− 2y = ex cos (2x) (h) dx2
− dx
− 2y = ex cos (2x) + ex sin (2x)
d2 y dy d2 y dy
(i) − 4 + 5y = e2x (j) dx2
− 4 dx + 5y = e2x sin x
dx2 dx
d2 y dy d y3 d y 2
dy −2x
(k) dx2
− 2 dx = 3x2 (l) 3 dx3 + 5 dx2 − 2 dx = cos x + e
d2 y dy
4. Sabendo que 2 − 4 + 3y = q (x) tem uma solução particular dada por yP C =
dx dx
xex , determine:
(a) q (x) ; (b) a solução geral da equação completa em causa.
1. Considere uma equação às diferenças linear de ordem 1 com coeficientes constan-
tes, escrita na forma:
(e) yt+1 = 2yt − 3 (f) yt+1 = −3yt + 1 (g) yt+1 + 3yt = −1.
4. Calcule a solução geral das seguintes equações às diferenças e a solução particular
que verifica a condição inicial indicada em cada caso.
1 t 1 t
(g) 5yt+2 − 2yt+1 + yt = t 5
(h) 5yt+2 − 2yt+1 + yt = 5
√
(i) yt+2 − 8yt+1 + 16yt = cos t π2 (j) yt+2 − 4 2yt+1 + 16yt = cos t π2
√ √
(k) yt+2 − 2yt+1 + yt = 2 (l) yt+2 − 4 2yt+1 + 16yt = 2
9. Considere as equações em 8. (c), (f), (g), (h), (k), (l), (m) e (n). Para cada uma
delas, determine a sua solução particular para a qual y0 = y1 = 0 e analise o seu
comportamento.
10. Escreva a seguinte equação às diferenças em termos do operador E e resolva-a:
(a) ∆2 yt + 2∆yt − 3yt = 3t2 (b) ∆3 yt − 3∆yt − 2yt = 0.
4.10. APLICAÇÕES 195
v = α1 u1 ⊕ α2 u2 ⊕ . . . ⊕ αm um ,
com α1 , α2 , . . . , αm ∈ R.
Um conjunto {u1 , u2 , ..., un } ⊂ E diz-se linearmente independente se
α1 u1 ⊕ α2 u2 ⊕ . . . ⊕ αn un = 0E
B = {e1 , e2 , ..., en } ⊂ E,
que é linearmente independente e tal que todo o vector v ∈ E se escreve de modo único
como combinação linear dos elementos de B. Todo o espaço vectorial possui alguma base
e todas as bases de um espaço vectorial têm o mesmo número de elementos. Se n for tal
valor, este dir-se-á dimensão do espaço vectorial e escreveremos
dim E = n.
y1 y2 ... yn
y10 y20 ... yn0
W (y1 , y2 , . . . , yn ) (x) = .. .. .. ..
. . . .
(n−1) (n−1) (n−1)
y1 y2 . . . yn (x)
dn y dn−1 y dy
an (x) n
+ a n−1 (x) n−1
+ ... + a1 (x) + a0 (x)y = 0
dx dx dx
é um S.F.S. desta equação se e só se W (y1 , y2 , . . . , yn ) (x) não for a função identicamente
nula.
d2 y dy
2
− − 2y = 0.
dx dx
y1 = e−x e y = e2x .
y1 y2 e−x e2x
W (y1 , y2 ) (x) = = = 3ex 6= 0,
y10 y20 −e−x 2e2x
ez+w = ez ew , z, w ∈ C.
Demonstração. Tem-se:
+∞
iθ
X 1 n iθ (iθ)2 (iθ)3 (iθ)4
e = (iθ) = 1 + + + + + ...
n=0
n! 1! 2! 3! 4!
θ2 θ3 θ4 θ5
= 1 + iθ − −i + + i − ...
2! 3! 4! 5!
θ2 θ4 θ3 θ5
= 1− + − ... + i θ − + − ...
2! 4! 3! 5!
+∞ +∞
X (−1)n 2n X (−1)n 2n+1
= θ +i θ
n=0
(2n)! n=0
(2n + 1)!
= cos θ + i sin θ,
α = ρeiθ (4.31)
[2] BINMORE, K.; DAVIES, J., Calculus, Cambridge University Press, UK, 2005. [BP
517 BIN]
[3] BREDA, Ana d’Azevedo, Joana Nunes da Costa, Cálculo com funções de várias
variáveis, Lisboa, McGraw-Hill, 1996. [BP 517 BRE]
[4] CHIANG, Alpha C., Fundamental methods of mathematical economics, 3rd ed.,
Auckland, McGraw-Hill Book Company, 1984. [BP 51-7 CHI]
[5] LARSON, HOSTETLER and EDWARDS, Cálculo, Vols 1 e. 2., São Paulo, Editora
McGraw-Hill do Brasil, 2006. [BP 517 LAR]
[6] LIMA, T. P. e VITÓRIA, J., Álgebra Linear, Universidade Aberta, Lisboa, 1998.
[BP 512 LIM]
[8] PIRES, Cesaltina, Cálculo para economistas, Lisboa, Editora McGraw-Hill de Por-
tugal, 2001. [BP 51-7 PIR]
[11] SHULMAN, B., Using original sources to teach the logistic equations, UMAP Mo-
dule 766, Tools for teaching, 1997.[Dep. Mat. FCTUC]
[12] SILVA, Jaime Carvalho, Princı́pios de Análise Matemática Aplicada, Lisboa, Edi-
tora McGraw-Hill de Portugal, 1994 [BP 517 SIL]
[13] ZILL, Dennis G., A first course in differential equations with modelling applications,
7th ed., Pacific Growe, Brooks/Cole, 2001. [BP 517.9 ZIL]
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