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CURSO BÁSICO DE FABRICAÇÃO DE PAPEL

PALESTRANTE: Edison da Silva Campos

15 e 16 de setembro de 2009

Apostila revisão 07

Local: ABTCP

Endereço:
Rua Zequinha de Abreu, 27
Pacaembú – São Paulo - SP
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Índice
1 Introdução à fabricação de papel ........................................................................... 3

2 Principais tipos de papéis ...................................................................................... 10

3 Matérias primas fibrosas ........................................................................................ 26

4 Processos de obtenção de fibras ............................................................................ 34

5 Matérias primas não fibrosas ................................................................................. 51

6 Desagregação da massa e seus periféricos ............................................................ 81

7 Depuração de fibras virgens e recicladas .............................................................. 87

8 Refinação ............................................................................................................... 108

9 Circuito de aproximação (“approach flow”) ......................................................... 156

10 Máquina de papel (geral) ....................................................................................... 165

11 Caixa de entrada .................................................................................................... 173

12 Formação da folha de papel ................................................................................... 187

13 Transferência da folha da etapa de formação para a prensagem ........................... 222

14 Prensagem .............................................................................................................. 225

15 Secagem ................................................................................................................. 223

16 Colagem superficial e noções de revestimento ...................................................... 281

17 Calandragem .......................................................................................................... 286

18 Parte final da máquina de papel ............................................................................. 292

19 Propriedades específicas para os vários tipos de papéis ........................................ 294

Bibliografia ........................................................................................................... 342

Curso Básico de Fabricação de Papel


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1 TRODUÇÃO À FABRICAÇÃO DE PAPEL


1.1. DEFINIÇÃO DE PAPEL
Segundo o dicionário ‘Novo Aurélio’ (1999), o papel é uma pasta de matéria fibrosa de
origem vegetal, refinada e quando necessário, branqueada, contendo cola, carga e, às vezes,
corantes, a qual se reduz, manual ou mecanicamente, a folhas secas finas e flexíveis,
bobinadas ou resmadas, usadas para escrever, imprimir, desenhar, embrulhar, limpar e
construir. Já para a Wikipédia, a enciclopédia livre (http://pt.wikipedia.org/wiki/Papel,
consultada em setembro/2009), o papel é um afeltrado de fibras unidas tanto fisicamente (por
estarem entrelaçadas a modo de malha) como quimicamente (por pontes de hidrogênio).
Com base nestas definições e mais algumas considerações técnicas predominantes na
linguagem papeleira atual, neste curso, o papel é definido como uma pasta branqueada ou
não, de origem vegetal (e/ou de trapos, nos processos mais antigos), podendo conter outros
componentes não fibrosos específicos para cada tipo de papel (colas, cargas, corantes,
agentes de resistência a seco e a úmido etc), a qual se reduz, manual ou mecanicamente, a
folhas secas e flexíveis (com fibras unidas tanto fisicamente por estarem entrelaçadas a
modo de malha como químicamente por pontes de hidrogênio, por ligações covalentes e por
forças de Van Der Waals), bobinadas ou resmadas, usadas para escrever, imprimir,
desenhar, embrulhar, limpar, construir etc.
A figura 1.01 apresenta amostras de papel ampliadas onde se pode constatar a
disposição das fibras nos três planos: direção MD (“Machine Direction”), direção CD (“Cross
Direction Machine”) e direção Z ou Zeta (espessura da folha).

Figura 1.01 (FONTE: Tecnologia e propriedades do papel” – ABTCP/UFV)

A composição do papel apresenta características estruturais não homogêneas e que são


dependentem, tanto de aspectos químicos quanto físicos que se formam durante a fabricação
do papel. Com relação aos apsectos químicos deste material, as ligações existentes entre os

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constituintes da fibra são normalmente covalentes, por pontes de hidrogênio e forças de Van
Der Waals. As ligações mais fortes são as covalentes, cuja importância é bastante relevante
para as propriedades do papel, com ênfase nas de resistência. Por outro lado, as forças de Van
Der Waals são fracas e pouca influência exerce sobre as propriedades do papel. Já, as ligações
por pontes de hidrogênio, mesmo sendo de energia inferior às covalentes (C-O-C), são
passíveis de se formarem e serem incrementadas em grande número durante a formação de
papel, enquanto as ligações covalentes podem ser prejudicadas com o processo.
As interações químicas a serem estabelecidas entra as fibras, dependem da suficiente
aproximação destas para ocorrer atrações eletrostáticas. Portanto, o contato é necessário para
a formação de um bom grau de ligações interfibras.
Em geral, os seguintes fatores influenciam a formação de ligações covalentes: o refino,
a presença de finos, hemicelulose, cargas minerais, lignina, a origem das fibras, as dimensões
fundamentais da fibra, a espécie de madiera utilizada como matéria-prima e ainda a formação
da folha, prensagem e a tensão de secagem.
A capacidade conformacional e de coesão das fibras, que estão associadas ao
comprimento da fibra, espessura da parede, diâmetro do lúmen e largura das fibras, podem
muitas vezes determinar o sucesso da produção de papel. Em fibras que apresentam
dimensões que prejudiquem a coesão das mesmas, devem haver um tratamento tal como o da
refinação para possibilitar esta coesão, ou até mesmo serem mescladas em composições de
suspensão que possibilite amenizar esta dificuldade tais como finos, misturas de fibras ou
adição de químicos.
As detrminações do número de ligações interfibrilares que as fibras do papel são
capazes de formar é diretamente relacionada ao contato estabelecido entre as fibras, a uma
distância tal que possibilite o enlace químico entre estas. As determinações normalemnte são
realizadas através de princípios de dispersão de luz, contato óptico e expresso em RBA
(“Relative Bonded Area” - área relativa de ligação).
Quanto às propriedades do papel, as variações são observadas em decorrência do maior
ou menor número de ligações interfibrilares; no caso de redução desse número, significará
para o papel maior distância entre as fibras e, é óbvio, menor interação físico-química entre as
fibras. Sob tal condição, o papel apresentará maiores valores, por exemplo, para dispersão da
luz, opacidade, “bulk” e porosidade, porém, menores valores para propriedades de resistência

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mecânica, “scott bond” e densidade, por exemplo. Esta alterações poderão ser percebidas nas
diferentes direções do papel, inclusive na direção “Z”

1.2. RESUMO HISTÓRICO DO PAPEL


Já há milhares de anos antes da aparição do papel, o homem já fazia os seus registros,
através da gravação em pedras ou em metais como o bronze. Além da palavra, este sempre
procurou se comunicar através de desenhos ou de símbolos. A comunicação gráfica tornara-se
importante para os homens, uma vez que deixava o registro, fixava a mensagem e não se
extinguia com o tempo.
É atribuída aos egípcios a 1ª fabricação de um material que, por extensão, poderia
chamar-se de papel: o papiro (origem da palavra papel). Esta planta nativa dos pântanos
egípcios (figura 1.02) começou a ser usado como material para desenho ou escrita de
símbolos, por volta do ano 3.000 A.C., porém os verdadeiros manuscritos egípcios mais
antigos parecem datar de alguns séculos mais adiante, talvez em torno do ano 2.200 A.C.
Embora ambos sejam compostos de materiais de origem vegetal, não há mais nenhuma
relação entre o papiro (figura 1.03) e o papel moderno. Nem mesmo a história do papel
mostra de forma contínua o desenvolvimento do papel desde o papiro.

Figura 1.02 Figura 1.03 (FONTE: indeterminada)


(FONTE: http://pt.wikipedia.org)
A história do papel é longa, reportando-se aos chineses no Século II, aos quais é
atribuída a fabricação da primeira polpa utilizada na fabricação de papel. No ano 105 D.C.,
um funcionário da corte do imperador chinês Chien Chú, anunciou a invenção de um sistema
de fabricação de papel. Este funcionário chamava-se Ts’ai Lun e muito provavelmente não
sabia que, com sua invenção, estaria influenciando profundamente a vida de bilhões de seres

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humanos a tartir de então. Uma das versões diz que Ts’ai Lun utilizou como matéria prima as
fibras de árvores e fibras têxteis misturadas com trapos; outra versão diz que ele utilizou
somente fibras de bambú. Independente disto, estas fontes de fibras eram cozidas (figura
1.04A), batidas e depois esmagadas, para em seguida espalhar-se a massa sobre uma peneira
com moldura de bambu e um pano esticado (figura 1.04B), deixando-se ao sol para um
processo natural de secagem (figura 1.04C). A invenção do papel, porém, permaneceu
confinada e mantida como um segredo pelos chineses durante mais de 600 anos.

C
A B
Figura 7.04 (FONTE: http://pt.wikipedia.org)

No ano de 761 D.C. um exército árabe atacou a cidade de Samarcanda, integrada ao


império chinês daquela época. E lá os árabes conheceram uma fábrica de papel, fato
fundamental para a história posterior da humanidade. Os técnicos chineses foram presos e
transportados alguns anos mais tarde para Bagdá, cidade mulçumana recém fundada, dando
início naquela região à primeira fabricação de papel, a oeste das fronteiras do grande e
desenvolvido império chinês.
Tal fabricação permaneceu em segredo
durante muitos séculos, até que no século XI
foi introduzido pelos árabes na Espanha, dando
início ao caminho da “arte de fazer papel”
percorrido pelo ocidente (figura 1.05). Daí se
espalhou à Itália, França, Alemanha e,
Figura 1.05
finalmente através dos países baixos,
(FONTE: http://pt.wikipedia.org)
alcançando a Inglaterra em 1.494.

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O papel, durante a maior para de sua história, era fabricado à mão; esse processo de
fabricação em descontinuidade persistiu até o aparecimento da 1ª máquina de papel, na
França, inventada por Luis Robert em 1.799 (figura 1.06). No ano de 1.804, os irmãos
Fourdrinier apresentaram o método de fabricação do papel de comprimento infinito e
instalação por etapas separadas (figura 1.07).

Figura 1.06 (FONTE: 200th Anniversary of the Paper Machine – Tappi Journal)

Pouco depois, em l.803, a máquina era introduzida e aperfeiçoada na Inglaterra, pelos


irmãos Fourdrinier, nome pelo qual ficou conhecida essa máquina pioneira no processo
contínuo de fabricação de papel. Em 1.808, a máquina inventada por Robert, desenvolvida
por Didot, desenhada por Donkin e financiada pelos irmãos Fourdrinier ficou conhecida
mundialmente como máquina “Fourdrinier”.

Figura 1.07 (FONTE: indeterminada)

Tais máquinas, produzidas a partir da 1ª metade do Século XIX, foram sendo


aperfeiçoadas até que, na 2ª metade deste século, introduziram-se as pastas feitas de madeira e

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de outras plantas diferentes da madeira. Decresceu, então, a importância das pastas de trapos,
matérias-primas inicialmente utilizadas na fabricação do papel.
Hoje a máquina “Fourdrinier”, contém basicamente as mesmas etapas do primeiro
modelo, só que dado os avanços tecnológicos atingidos com o passar dos anos, houve
mudanças radicais nos elementos envolvidos em cada uma delas. Estas mudanças estão
relacionadas com as caixas de entrada, formadores, constituição e material das telas
formadoras, elementos desaguadores, velocidades de máquina e a sua largura, entre outras. A
figura 1.08 mostra o fluxograma simplificado de uma fábrica de papel para impressão e
escrita, por exemplo.

Figura 1.08 (FONTE: Montagem elaborada por E.S.Campos)

As pastas de alto rendimento e as de baixo rendimento (ou químicas) tornaram-se


largamente usadas. O aprimoramento no campo da química do papel transformou a sua
fabricação, de simples arte, num complexo industrial. Chega ao nosso tempo constituindo
uma indústria cientificamente operada. A figura 1.09 mostra um processo integrado de
fabricação de celulose e papel, respectivamente.

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Figura 1.09 (FONTE: Fabr. de celulose kraft ... – Alfredo Mokfienski)

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2. PRINCIPAIS TIPOS DE PAPÉIS


Os papéis são classificados em função de sua aplicação final, tais como: impressão,
escrita, embalagens leves e pesadas, sanitários etc. Há uma variedade enorme de aplicações
que, pela sua extensão, são consideradas como especiais.

2.1. PARA IMPRESSÃO E ESCRITA


São os papéis a serem escritos, ou impressos por qualquer um dos processos existentes.
Está também incluído neste grupo o papel imprensa e revista. O papel para impressão e escrita
foi o primeiro tipo de papel que surgiu. Talvez por isto haja tanta referência bibliográfica
falando sobre este tipo de papel. Podemos dividir os papéis de impressão e escrita e três tipos
principais: papel imprensa, papéis para edição revestidos e não-revestidos (livros, revistas
etc.), e papéis para escrita e reprodução. Na sequência abaixo, porém, seguiremos a ordem
alfabética de alguns destas papéis.

PAPEL BÍBLIA - Papel muito fino, de baixa gramatura, branco, opaco e resistente,
permanente e durável, fabricado com pasta química branqueada e cerca de 20% de carga
(dióxido de titânio, preferencialmente), com boa colagem interna e superficial, podendo
conter ou não linhas d'água, produzido nas gramaturas de 35 a 50 g/m2 e utilizado para
imprimir bíblias, missais, dicionários, enciclopédias e obras volumosas em geral.

PAPEL CUCHÊ (“COUCHÉ”) - Papel convertido a partir de papel-base, revestido de um ou


de ambos os lados com cargas minerais aglutinadas com ligantes (uma tinta à base de látex e
pigmentos), na máquina de revestir ou na própria máquina que faz o papel-base, podendo
receber acabamento brilhante em supercalandra, texturizado (gofrado) ou mate. Por apresentar
ótimas características de nivelamento superficial, é empregado na reprodução de trabalhos de
elevada qualidade (rótulos, revistas, impressos comerciais, encartes etc.) por processos de
impressão ofsete plana ou rotativa. Produzido nas gramaturas de 70 g/m2 a 270 g/m2.

PAPEL IMPRENSA - Papel de impressão de jornais e periódicos, fabricado principalmente


com pasta mecânica ou quimimecânica, nas gramaturas de 45 g/m2 a 56 g/m2, com ou sem
linhas d'água no padrão fiscal, com ou sem colagem superficial. Termo alternativo: papel de
imprensa.
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PAPEL LWC (“LIGHT WEIGHT COATED PAPER”) - Papel fabricado com pasta
mecânica com certo percentual de pasta química branqueada, revestido fora de máquina com
8 g/m2 a 19 g/m2 de tinta cuchê em cada face, supercalandrado, utilizado na impressão de
catálogos, revistas etc.

PAPEL MONOLÚCIDO - Papel fabricado com pasta química branqueada (monolúcido de


1ª), podendo conter pasta mecânica e aparas de 1ª (monolúcido de 2ª), cerca de 10% de carga,
com boa colagem interna e brilho num dos lados produzido por cilindro monolúcido na
própria máquina de papel, produzido nas gramaturas de 60 g/m2 a 90 g/m2 para impressão de
sacolas, papéis fantasia, rótulos, etiquetas e laminados; não é recomendado para impressão
ofsete por não apresentar colagem superficial.

PAPEL MWC (“MEDIUM WEIGHT COATED PAPER”) - {a} Papel similar ao LWC,
revestido com duas ou três camadas, usado para imprimir revistas, catálogos e impressos
comerciais de alta qualidade. {b} Papel cuchê fabricado com celulose química branqueada,
revestido com 15 a 20 g/m2/face, com ou sem calandragem, nas gramaturas entre 80 e 240
g/m2, utilizado na impressão de revistas, livros de arte e material de propaganda.

PAPEL OFSETE (“OFFSET”) - Papel de impressão, com ou sem revestimento, fabricado


com pasta química branqueada, conteúdo de carga mineral entre 10% e 15%, boa colagem
interna e superficial, produzido nas gramaturas de 60 g/m2 a 150 g/m2 com requisitos
específicos para o processo ofsete. Os principais atributos exigidos pelo processo ofsete são:
elevada resistência superficial (para suportar a pegajosidade (“tack”) das tintas), força de
ligação interna (para resistir à delaminação), resistência ao arrancamento, resistência à água,
estabilidade dimensional, planicidade, umidade relativa controlada, boa rigidez e tendência ao
encanoamento reduzida. No caso de impressoras rotativas, além destas, o papel deve ter
elevada resistência à dobra, à tração e ao calor, seu conteúdo de umidade deve ser menor (no
máximo 5%) e as bobinas devem ter poucas emendas e ausência de ovalizações e defeitos
(furos, rasgos, corrugações etc). O papel XEROGRÁFICO pode ser produzido com as
mesmas características básicas do OFSETE, porém deve-se observar o conteúdo de umidade
(que deve ser mais baixo) e outras propriedades pertinentes a uma boa “runnability” no
processo xerográfico, tais como ser estável ao calor e ao encanoamento, por exemplo.
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PAPEL APERGAMINHADO - Papel de escrever, opaco, alisado por igual em ambas as faces
na própria máquina fabricadora, fabricado com pasta química branqueada, com ou sem
aparas, com conteúdo de carga mineral em torno de 16%, colado internamente e sem colagem
superficial, alisado e com boa opacidade. Produzido nas gramaturas de 50 g/m2 a 90 g/m2,
normalmente, é utilizado para imprimir cadernos, envelopes e almaços. Pode ter ou não marca
d’água. Usado para correspondência em geral, formulários, impressos, cadernos escolares e
envelopes. Quando o papel apergaminhado é colorido, costuma-se chamá-lo de “SUPER
BOND”.

PAPEL DE SEGUNDAS-VIAS (“FLORPOST”) - Papel fino, fabricado com celulose


química branqueada, com boa colagem interna e sem colagem superficial, acabamento alisado
ou monolúcido, branco ou em diversas cores, produzido nas gramaturas até 32 g/m2. É
utilizado, sobretudo, para correspondência e segundas-vias de notas fiscais.

2.2. EMBALAGENS
Papéis utilizados para proteger, acomodar um produto. Como material de embalagem, o
papel distingue-se pela grande diversidade de tipos, formas de transformação e combinação
com outros materiais.
É grande a diversidade de tipos de papel de embalagem. Os papéis tipo glassine
apresentam gramaturas na ordem das 20 a 40 g/m² e são normalmente usados para envolver
bolachas, biscoitos, chocolates ou produtos alimentares do gênero “fast food”. Para
embalagem de gorduras existem papéis tipo “greaseproof”, com gramaturas superiores (40 a
75 g/m²) e diferentes versões de tratamento no processo de fabricação, de forma a garantir a
compatibilidade para contacto direto com alimentos, resistência à umidade, etc.
Um dos papéis de embalagem de uso mais extensivo é o papel “kraft”, com gramatura
predominantemente entre as 70 e as 180 g/m², e que se apresenta na sua cor natural
(castanha), branqueada ou mesmo impressa. Além da utilização como matéria-prima para
fabricação de cartão ondulado e para sacos de papel, o papel “kraft” pode ser utilizado para
envolvimento direto de produtos ou combinado com outros materiais, designadamente filmes
plásticos (para ganhar resistência mecânica e à umidade), tratamentos químicos (para proteção
contra umidade e corrosão), etc.

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Podem ter vários graus de opacidade, é particularmente eficaz na fabricação de


embalagens rígidas, e mantém as suas características num largo intervalo de variação de
temperatura, o que explica o seu sucesso como material predominante na fabricação de
embalagens de transporte, designadamente de papelão ondulado. Estes papéis compreendem,
principalmente:
 embalagens leves e embrulhos;
 embalagens pesadas.

2.2.1. Papéis para embalagens leves e embrulhos


PAPÉIS ESTIVA E MACULATURA - Papel fabricado essencialmente com aparas, em cor
natural, acinzentada, geralmente nas gramaturas de 70 a 120 g/m2. Usado para embrulhos que
não requerem melhor apresentação, tubetes e conicais.

PAPEL GLASSINE, CRISTAL OU PERGAMINHO - Papel fabricado com pasta química


branqueada, trabalhada com elevado grau de refinação, para que em conjunto com a
supercalandragem obtenha sua característica típica, que é a transparência. Quando tornado
opaco, com cargas minerais, adquire aspecto leitoso translúcido. Fabricado geralmente a partir
de 30 g/m2 e com impermeabilidade elevada. Usado essencialmente para embalagens de
alimentos, base de papel auto-adesivo, proteção de frutas nas árvores etc.

PAPEL “GREASEPROOF” - Papel de elevadíssima impermeabilidade às gorduras, fabricado


com pasta química branqueada, geralmente nas gramaturas de 30 a 80 g/m2. Translúcido, sem
supercalandragem e de coloração branca ou ligeiramente amarelada. Usado essencialmente
para embalagens de substâncias gordurosas.

PAPEL MANILHA - Papel colorido ou não, resistente, monolúcido ou não, produzido com
pasta mecânica e/ou semiquímica, e aparas de papel, com inclusão de pasta de resíduos
agrícolas. Em geral, fabricado nas gramaturas de 40 a 100 g/m2, é usado para embrulhos nas
lojas, indústrias e congêneres. A denominação se deve ao fato da cor e acabamento do papel
ser similar ao papel fabricado com cânhamo-de-manilha.

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PAPEL MANILHINHA - Papel fabricado com aparas, pasta mecânica ou semiquímica, em


geral nas gramaturas de 40 a 45 g/m2, monolúcido ou não, geralmente na cor natural e em
folhas dobradas. Usado essencialmente nas padarias.

PAPEL SEDA - Papel de embalagem, fabricado com pasta química branqueada ou não, com
20 a 27 g/m2, branco ou em cores. Usado para embalagens leves, embrulhos de objetos
artísticos, intercalação, enfeites, proteção de frutas, etc.

2.2.2. Papéis para embalagens pesadas


CARTÃO - Papel encorpado, rígido, geralmente com espessura superior a 0,15 mm e
gramatura superior a 200 g/m2, com ou sem revestimento superficial, muito utilizado na
impressão de embalagens. Folha composta de camadas de papel coladas entre si (cartão de
colagem) ou fabricada diretamente na máquina cilíndrica (cartão de moldagem) classificada,
segundo a gramatura, em cartolina ou papelão ou em máquinas de papel de multicamadas. Os
cartões utilizados para embalagem e acondicionamento são constituídos de uma ou várias
camadas; os cartões para uso industrial são geralmente fabricados em enroladeira; os cartões
ondulados são constituídos de papel “kraft” ondulado contracolado em uma ou nas duas faces
com um papel de cobertura. As matérias-primas mais utilizadas na fabricação do cartão são as
pastas de papel recuperado, mas pode ser utilizada celulose virgem. As máquinas de cartão
funcionam por projeção de jato (máquina de mesa plana, máquina de dupla tela) ou por
deposição da suspensão fibrosa sobre um cilindro, imerso ou não, assegurando o esgotamento
(máquina de fôrma redonda); o cartão de enroladeira é fabricado sobre uma mesa plana ao fim
da qual a folha úmida é enrolada sobre um cilindro; em seguida as folhas são prensadas e
secas. Os cartões são classificados de acordo com o número de camadas que compõem a
estrutura (monoplex, dúplex, triplex, etc) e com o tipo de polpa de cada camada (polpa
química ou mecânica, virgem ou reciclada, branqueada ou não).

Observação: a distinção entre papel, cartolina e cartão nem sempre é muito clara, o cartão é
mais pesado e mais rígido que a cartolina, com a diferença de que o cartão, normalmente é
feito de várias camadas com matérias primas dirferentes, enquanto a cartolina é feita de um só
tipo de matéria prima.

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CARTÃO DUPLEX - Termo genérico que designa os cartões compostos de duas camadas
diferentes em cor ou composição. Papel-cartão fabricado a partir de celulose química,
formado e compactado em máquina, com duas ou mais camadas, sendo a camada superior,
chamada forro, composta de celulose branqueada, com ou sem adição de caulim, e a camada
inferior, chamada suporte, composta de celulose não-branqueada, com adição de pasta
mecânica ou aparas, apresentando boa colagem interna e superficial, com ou sem
revestimento “cuchê” no forro, acabamento monolúcido ou escovado e, entre as principais
características destacam-se: elevada resistência superficial, espessura uniforme, absorção de
água e tinta compatíveis com o processo ofsete, compressibilidade adequada e rigidez
adequada à produção de embalagens, caixas e similares. Produzido nas gramaturas de 200
g/m2 a 600 g/m2, é utilizado geralmente em embalagens de sabão em pó, medicamentos,
cereais, gelatinas, mistura para bolos, caldos, biscoitos e brinquedos.

CARTÃO TRIPLEX - Cartão fabricado a partir de celulose química, formado e compactado


em máquina, em três ou mais camadas, sendo a camada superior, denominada forro, composta
de celulose branqueada, com ou sem adição de caulim; a camada intermediária, denominada
miolo, composta de celulose não-branqueada, com adição de aparas recicladas; e a camada
inferior, denominada suporte, composta de celulose branqueada, com adição de aparas de
primeira, apresentando as mesmas características do cartão dúplex, produzido nas gramaturas
de 250 g/m2 a 500 g/m2, é normalmente utilizado em embalagens de chocolates, cosméticos,
medicamentos, “fast food”, caixas bombons e bebidas.

CARTOLINA - Produzida por massa única (mono camada) com ou sem tratamento
superficial, alisado ou super calandrado, com gramaturas de 120 a 290 g/m2, usada para
impressos, pastas para arquivos, cartões de visita e comerciais, confecção de fichas e
similares, pode apresentar-se em várias cores. Possui gramatura elevada, rígido, usualmente
com espessura igual ou superior a 0,15 mm.
PAPEL “KRAFT” - {a} Papel de embalagem, muito resistente, fabricado com pasta kraft
não-branqueada ou branqueada. {b} Papel resistente, de cor parda, fabricado com pasta
química sulfato de fibra longa, não-branqueada, com elevada resistência ao rasgo, à tração e
ao estouro, alisado em máquina, produzido nas gramaturas de 30 g/m2 a 90 g/m2, usado para
produzir sacos, papel de parede, papel de embrulho, envelopes e outros produtos que
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requerem resistência mecânica. Há ainda uma classificação que identifica KRAFT DE 1ª e de


2ª.

PAPEL “KRAFT” BRANCO OU EM CORES - Fabricado com pasta “kraft” branqueada de


fibra longa, nas gramaturas entre 30 g/m2 e 150 g/m2, monolúcido, usado como folha externa
em sacos multifoliados, sacos de açúcar e de farinha, sacolas e, nas gramaturas mais baixas,
para embalagens individuais de balas, etc.

PAPEL “KRAFT” EXTENSÍVEL - Fabricado com pasta química sulfato ou soda não
branqueada, essencialmente de fibra longa, geralmente nas gramaturas de 80 a 100 g/m2.
Altamente resistente ao rasgo e a energia absorvida na tração (T.E.A.). Possui alongamento no
sentido longitudinal maior ou igual a 8%. Usado para embalagem de sacos de papel (cimento,
cal, etc.).

PAPELÃO - Cartão de elevada gramatura e rigidez. Fabricado essencialmente de pasta


mecânica e/ou aparas, geralmente em várias camadas da mesma massa. Sua cor, em geral, é
conseqüência dos materiais empregados na sua fabricação. Usado na encadernação de livros,
suporte para comprovantes contábeis, caixas e cartazes para serem recobertos.
Comercializado em formatos e identificados por números que indicam a espessura das folhas
contidas num amarrado de 25 kg. O PAPELÃO CINZA é o cartão obtido a partir de aparas
recicladas e o PAPELÃO LAMINADO é o papelão fabricado essencialmente de aparas,
obtido por colagem de folhas sobrepostas que não são revestidos na superfície, gramaturas de
349 a 1749 g/m2, em folhas.

PAPELÃO ONDULADO OU CORRUGADO - Papel grosso, constituído de diversas folhas


alternadas de papel plano e papel corrugado, utilizado para embalagem.

MIOLO PARA PAPELÃO ONDULADO (“fluting”) - Papel fabricado com pasta


semiquímica e/ou mecânica e/ou aparas, geralmente com 120 a 150 g/m2. Usado para ser
ondulado na fabricação de papelão ondulado.

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CAPA DE 1ª PARA PAPELÃO ONDULADO (“kraftliner”) - Papel fabricado com grande


participação de fibras virgens, geralmente com 120 g/m2 ou mais, atendendo as especificações
de resistência mecânica requeridas para constituir a capa ou forro das caixas de papelão
ondulado.

CAPA DE 2ª PARA PAPELÃO ONDULADO (“testliner”) - Papel semelhante ao anterior,


porém, com propriedades mecânicas inferiores, resultado da utilização de matérias-primas
recicladas em alta proporção.

POLPA MOLDADA - Produto obtido a partir da desagregação ou separação das fibras de


aparas de jornal e outras em geral, que misturadas a água e produtos químicos, formam uma
massa natural ou em cores, que dará origem a produtos como: bandejas para
acondicionamento, transporte e proteção de hortifrutigranjeiros, ovos, calços para lâmpadas,
celulares, geladeiras e fogões.

“WHITE TOP LINER” - Papel fabricado com grande participação de fibras virgens,
geralmente com 150 a 385 g/m2, atendendo as especificações de resistência mecânica
requeridas para constituir parte das caixas de papelão ondulado.

2.3. PAPÉIS PARA FINS SANITÁRIOS


Os papéis para fins sanitários também são chamados de papéis “tissue”. Constituem-se
de folhas ou rolos de baixa gramatura e são empregados em domicílios, instituições e
empresas, para a absorção e remoção de umidade, matérias graxas e sujeira. A nomenclatura
usual classifica os papéis sanitários em: papéis higiênicos (rolos usados nos toaletes, em
folhas simples ou múltiplas), toalhas (em folhas única ou dupla e rolos); guardanapos (em
folhas simples ou múltiplas) e lenços (em caixas ou pacotes). A área de papéis “tissue” que
estaremos abordando resume-se através dos seguintes produtos encontrados pelo consumidor:
higiênicos, guardanapos, toalhas e facial:
PAPEL HIGIÊNICO - Papel para fim específico (utilização em toaletes), nas gramaturas entre
25 e 35 g/m2.

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GUARDANAPOS - Papel crepado ou não, fabricado com pasta química branqueada,


incluindo ou não aparas de boa qualidade tratadas quimicamente, para fim específico, nas
gramaturas de 18 a 25 g/m2, para uso em folha única ou dupla, branco ou em cores.

TOALHAS DE MÃO - Papel fabricado normalmente para uso comercial, natural, colorido ou
branco, nas gramaturas entre 25 e 50 g/m2. Usado em rolos ou folhas intercaladas.

TOALHAS DE COZINHA - Papel fabricado normalmente para uso residencial, branco, nas
gramaturas entre 44 e 50 g/m2, em rolos, de folha simples ou dupla.

LENÇOS - Papel fabricado com pasta química branqueada, incluindo ou não aparas de boa
qualidade tratadas quimicamente, nas gramaturas de 15 a 18 g/m2, para uso em folhas
múltiplas na confecção de lenços faciais e de bolso, branco ou em cores.

LENÇOS HOSPITALARES - Papel fabricado com pasta química branqueada, incluindo ou


não aparas de boa qualidade tratadas quimicamente, nas gramaturas de 15 a 30 g/m2, para uso
específico.

2.4. PAPÉIS ESPECIAIS


Além dos anteriores, consideramos ainda um terceiro grupo de papéis, onde se inserem
os papéis especiais com grande variedade de produtos, como papel carbono, papel vegetal,
papel moeda, cigarro, autocopiativos, heliográfico, desenho, mata-borrão, filtrante, base para
laminados, base para carbonos, “kraft” absorvente para impregnação, ponteira de cigarros,
fórmica, “kraft” especiais para: condensadores, cabos elétricos, fios telefônicos, papel vegetal
etc.

PAPÉIS AUTO-ADESIVOS - São recobertos de um lado com um adesivo à base de resinas


gomas sintéticas, capazes de aderir imediatamente às superfícies com as quais entram em
contato. Utilizados como etiquetas individuais ou na forma de fitas auto adesivas de papel
“kraft” de alta resistência, empregadas principalmente no campo da embalagem.

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PAPÉIS DECORATIVOS - Papéis produzidos a partir de pasta química de madeira de fibra


curta branqueada, misturada com pasta química de fibra longa, geralmente nas gramaturas
entre 30 e 150 g/m2. Usado para revestimento de chapas de madeira ou compensados,
utilizados em móveis e pisos.

PAPÉIS METALIZADOS - São papéis que recebem um revestimento de natureza metálica.


Em muitos casos, o pó metálico é distribuído sobre a superfície na forma de pátina, que
contém como ligante amido, caseína outro adesivo.

PAPEL ABSORVENTE BASE PARA LAMINADOS - Papel fabricado com pasta química
sem colagem, com formação e espessura uniformes, de alta absorção, geralmente com 150 a
270 g/m2, utilizado para impregnação com resinas sintéticas na fabricação de laminados
plásticos.

PAPEL AUTOCOPIATIVO - Produzem cópias duplicadas sem necessidade de intercalar


papel-carbono Em inglês, esse papel é chamado NCR (“No Carbon Required” = sem
necessidade de carbono). A primeira via do papel autocopiativo, denominada CB (“coating
back”), é revestida no verso com microcápsulas contendo corantes; a via intermediária,
denominada CBF (“coating front and back”), é revestida nas duas faces, com revelador na
frente e com microcápsulas no verso, registrando os caracteres na frente e transmitindo-os
para a próxima folha; dependendo do número de vias do formulário, pode existir duas ou mais
folhas CBF; a última via, denominada CF (“coating front”), é revestida na frente com um
produto químico revelador do corante; portanto, o revestimento CB deve estar voltado para
baixo e o CF para cima, os dois em contato. Ao receber impacto, numa máquina de escrever
ou numa impressora matricial, as microcápsulas se rompem e reagem com o revelador,
originando a imagem. A intensidade de cópia dos papéis autocopiativos depende da pressão,
portanto, as primeiras vias têm melhor qualidade; por isso, existe limitação no número total de
cópias. Visto serem reativos, esses papéis não admitem rasuras e devem ser armazenados em
temperatura abaixo de 38°C e umidade relativa entre 45 e 65%, assim como não devem sofrer
impacto ou exposição à luz solar ou fluorescente, ou à ação de produtos químicos.

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PAPEL BASE PARA CARBONO - Papel para fim específico, fabricado com pasta química,
geralmente com gramaturas até 24 g/m2, branco ou em cores. Usado como base para
fabricação de papel carbono.

PAPEL BASTÃO - Papel fabricado com pasta química branqueada, nas gramaturas de 25 a
30 g/m2, para envoltório interno de filtro de cigarros, ou seja, diretamente em contato com o
filtro.

PAPEL CREPADOS - Papel para fins específicos, com crepagem obtida durante a fabricação
para aumentar sua elasticidade e maciez, fabricado essencialmente com pasta química. Usado
para reforço de costura em sacos multifoliados, base para fitas adesivas, germinação de
sementes, base para lençóis plásticos, etc.

PAPEL DE SEGURANÇA - [1] (“internal revenue stamp paper”): tipo de papel


especialmente fabricado para impressão de selos da receita do governo dos EUA. [2]
(“planchette paper”): tipo de papel fino, vermelho ou azul, a partir do qual se perfura
pequenos discos que são utilizados na produção de papel-moeda, para evitar falsificações.[3]
(“safety paper”) {a} Papel fabricado com pasta química ou mecânica, tratado com produtos
químicos especiais que facilitam a identificação de falsificações ou de qualquer adulteração
em cheques e em outros documentos legais, tais como: cupons, letras, tíquetes, selos, passes
etc. {b} Suporte de impressão fabricado com 100% de fibras de algodão, resistente, isento de
fluorescência, contendo elementos de segurança fluorescentes (UV) incluídos durante a
fabricação, com filigrana, fios de segurança, proteção química, apresentando elevada
permanência (não amarela e não envelhece). [4] (“safety-paper base stock”): tipo de papel
bonde ou de escrever, resistente ao rasgo, caracterizado por apresentar lisura e formação
uniformes, tratado com produtos químicos reagentes, utilizado na impressão de impressos de
segurança. [5] (“safety-ticket paper”): tipo de papel ou de cartão cuja superfície apresenta
marcas especiais ou foi tratada com produtos químicos reagentes que dificultam as fraudes,
utilizado na impressão de tíquetes e passes. Os principais recursos de segurança incluem:
ausência de fluorescência (não se utilizam branqueadores ópticos na composição),
microcápsulas fluorescentes (“hi-lites”) coloridas visíveis sob a ação de luz UV, fios de
segurança (coloridos, metalizados, holográficos, magnetizados, microimpressos), filigranas
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(“stamp pad/instant verification”) que reagem com tinta de carimbo ou de caneta e mudam de
cor, fibras e confetes de segurança (visíveis a olho nu ou sob luz UV), proteção química
(produtos adicionados à massa do papel que sofrem reação com diversas substâncias), fios de
costura (mono, bi ou tricromáticos, visíveis a olho nu, que mudam de cor sob luz UV), banda
holográfica (elemento óptico variável bi ou tridimensional), pigmentos iridescentes
(“couchage”) que não podem ser reproduzidos por escaneamento, em copiadoras ou
impressoras coloridas, imagens latentes, além dos recursos tradicionais como marcas d'água.

PAPEL FILTRANTE - Papel fabricado geralmente com pasta química, nas gramaturas de 80
a 400 g/m2, com características definidas quanto ao uso.

PAPEL GOFRADO - Papel com superfície texturada (em relevo), imitando madeira, tecido,
couro ou outros padrões, obtida por passagem da bobina entre dois cilindros: um metálico
gravado (macho) e outro macio, de contrapressão (fêmea).

PAPEL HELIOGRÁFICO - Papel para fim específico, fabricado com pasta química
branqueada, com baixo teor de ferro, com absorção uniforme, nas gramaturas de 40 a 120
g/m2, bem colado, alisado, branco ou levemente colorido.

PAPEL “KRAFT” ESPECIAL PARA CABOS ELÉTRICOS - Papel “kraft" neutro fabricado
com celulose kraft natural isenta de metais e outros materiais condutores de eletricidade, com
elevada resistência mecânica e elétrica, com gramaturas de 30 a 150 g/m2, sem furos ou
grumos, usado para fabricação de cabos elétricos.

PAPEL “KRAFT” ESPECIAL PARA CONDENSADORES - Papel fabricado com pasta


química sulfato e/ou pastas de fibras de algodão ou outras fibras anuais. Com porosidade,
absorção de líquidos e eletrolíticos e pureza química específicos, isento de cloretos solúveis.

PAPEL “KRAFT” ESPECIAL PARA FIOS TELEFÔNICOS - Papel kraft natural ou cores
(verde, azul e vermelho), com elevada resistência mecânica, fabricado nas gramaturas de 30 a
60 g/m2, sem furos ou grumos, e usado no espiralamento individual de cada fio condutor de
cabos telefônicos.
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PAPÉIS METALIZADOS - Depois de secar a cobertura, passa-se o papel na calandra para.


polir sua superfície. Os papéis metalizados são utilizados tanto para decoração quanto para
embrulhar mercadorias, especialmente gêneros alimentícios nela sua opacidade e
impermeabilidade ao vapor dágua.

PAPEL PARA CIGARRO - Papel para fim específico, fabricado com pasta química
branqueada, de fibras têxteis e/ou madeira, geralmente contendo carga mineral até 26%, nas
gramaturas de 13 a 25 g/m2, não colado, de alta opacidade, com marca d'água, "velin" ou
marca filigrana, com combustibilidade controlada, com ou sem impregnantes. Usado em
bobinas para confecção mecânica de cigarros ou em resmas e mortalhas, quando para
confecção manual.

PAPEL PARA DECALCOMANIA - (“decalcomania paper”): tipo de papel absorvente,


fabricado com fibras de algodão combinadas com pasta química, caracterizado por apresentar
lisura, acabamento e formação uniformes, boa resistência, sem colagem, revestido com uma
solução de goma-arábica, utilizado na decoração de cerâmica e em outros processos de
transferência. Também pode ser fabricado com pasta química de madeira e fibras de algodão,
com superfície lisa, uniforme e resistente à umidade, revestida com uma solução de decalque
sobre a qual é impressa a imagem por serigrafia.

PAPEL PARA DESENHO - Papel para fim específico, fabricado com pasta química,
geralmente nas gramaturas de 100 a 280 g/m2, com acabamento de máquina e tratado na
massa ou na superfície, de modo a resistir a ação da borracha.

PAPEL PARA PONTEIRAS DE CIGARROS - Papel fabricado com pasta química


branqueada, nas gramaturas de 30 a 40 g/m2, com alta opacidade, branco ou em cores, usado
como envoltório externo de filtro de cigarros.
PAPEL PERGAMINHO - [1] (“document parchment”): tipo de papel durável e permanente,
cuja superfície foi tratada com cola animal, lembrando o pergaminho animal, usado na
impressão de diplomas. [2] (“greeting card parchment”): tipo de papel translúcido, à prova de
gorduras, lembrando o pergaminho animal, utilizado na impressão de cartões. [3] (“parchment
writing”): tipo de papel vegetal fabricado com fibras de algodão e/ou pasta química,
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caracterizado por apresentar elevada permanência, durabilidade e resistência, usado na


impressão de documentos.

PAPEL SUPERCALANDRADO - [1] (“plate paper”): tipo de papel espesso, macio,


ligeiramente colado, liso e com pouco brilho, utilizado na impressão de trabalhos de alta
qualidade a partir de chapas gravadas de cobre ou de aço, ou por processos xilográfico e
litográfico. [2] (“supercalendered paper”): papel que recebeu acabamento acetinado em
supercalandra. [3] Tipo de papel não-revestido, supercalandrado, fabricado com pasta de alto
rendimento, utilizado na rotogravura para impressão de encartes de jornal, catálogos, revistas
etc.

PAPEL TÉRMICO - tipo de papel reativo, sensível ao calor, que recebe um tratamento
superficial com corantes e reagentes químicos, utilizado para fax, etiquetas e impressão
térmica. Dependendo da aplicação, o papel térmico (também chamado de papel químico) é
constituído de diversas camadas: a camada superficial (“over-coating”) protege o
revestimento térmico contra água, óleo, solvente ou plastificante; a segunda camada é
responsável pela reação térmica, onde se origina a imagem a partir do calor emitido pela
cabeça térmica da impressora; a terceira camada (“undercoating”) funciona como um isolante
térmico impede a dissipação da energia liberada durante a reação térmica e serve de barreira,
evitando que o revestimento térmico penetre no papel-base; a quarta camada (“back barrier”)
serve de barreira, evitando que adesivos hot-melt prejudiquem o revestimento térmico devido
à migração do plastificante ou do solvente através do papel-base, o que poderia destruir a
imagem.

PAPEL VERGÊ - [1] (“laid paper”): suporte que exibe marcas de tela (“laid”) ou de corrente
(“chain”) quando observado através da luz. Termos alternativos: papel avergoado; papel
estriado. [2] (“laid writing”): tipo de papel de escrever fabricado com pasta química ou fibras
de algodão, caracterizado por apresentar marcas d'água vergê, utilizado para correspondência.
[3] (“verge paper”): suporte de impressão dotado de linhas horizontais ou verticais produzidas
por fios metálicos ou rolos filigranadores.

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2.5. OUTRAS DENOMINAÇÕES CONSAGRADAS PELO USO


PAPEL BASE - Papel utilizado para suportar materiais auto-adesivos, ou também, diz-se de
qualquer suporte destinado a processo de laminação, estampagem etc. ou, ainda, suporte
especialmente produzido para receber o revestimento cuchê, fabricado com pasta química
branqueada e inclusão de aparas limpas ou pasta de fibra longa, com colagem interna e
superficial, 15% de carga e acabamento alisado em máquina, produzido nas gramaturas de 60
g/m2 a 160 g/m2.

PAPEL BONDE (“BOND”) - [1] (“bond circular paper”): papel de imprimir ou de escrever,
fabricado com pasta química branqueada, apresentando acabamento aveludado, brancura
elevada, boa resistência à dobra e rápida secagem das tintas, utilizado na impressão de
material de propaganda. [2] (“bond paper”): {a} Papel de imprimir ou de escrever,
originalmente designado para impressão de títulos e documentos legais, fabricado com fibras
de algodão ou pasta química branqueada, durável e resistente, apergaminhado, com
acabamento colado, liso e uniforme, apresentando boa apagabilidade, boa printabilidade,
brancura elevada, ausência de pó ou de impurezas, acabamento uniforme e boa formação,
cortado em formatos padronizados, utilizado na impressão de formulários comerciais, malas-
diretas, correspondências sociais e em processos de copiagem. {b} Variedade superior de
papel branco usado em papelaria. [3] (“flat Bond”): tipo de papel produzido apenas com fibra
de madeira, sem nenhum conteúdo de algodão. [4] (“parchment Bond”): tipo de papel de
escrever, semelhante ao pergaminho, fabricado com fibras de algodão e pasta química
branqueada, com elevada qualidade, durável, rígido e acabado com superfície aveludada,
usado na encadernação como substituto da pele animal. [5] (“register Bond”): tipo de papel de
escrever de baixa gramatura, fabricado com pasta química, apresentando boa printabilidade,
resistência à tração, à perfuração e à dobra, utilizado na impressão de formulários contínuos
multivias.

PAPEL MATE - [1] (“mat stock”): tipo de papel de capa, com acabamento sem brilho, usado
para montar fotografias, imprimir capas de panfletos etc. [2] (“matte paper”): papel
fotográfico ou papel de impressão revestido e sem brilho, geralmente utilizado em trabalhos
de elevado padrão de qualidade onde se deseja realçar as imagens impressas.

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2.6. SIGLAS QUE IDENTIFICAM ALGUNS PRODUTOS DIFERENCIADOS (PAPEL)


A tabela 1.02 relaciona as principais siglas utilizadas internacionalmente para o papel.
CWC Coated woodcontaining printing paper
(Papel com pasta mecânica, revestido, para impressão)
CWF Coated woodfree printing and writing paper
(Papel isento de pasta mecânica, revestido, para impressão e escrita)
FBB Folding boxboard, manilla back board, mechanical pulp based
(Papelão para caixa dobráveis, cartão manilha, feito com pasta mecânica)
OCC Old corrugated containers, waste paper
(Aparas de papelão corrugado, papel usado)
RCP Recovered paper, waste paper
(Papel reciclado, papel usado)
SBS Solid bleached board, chemical pulp based board
(Cartão compacto – simples -, cartão feito com pasta química)
UCW Uncoated woodcontaining printing paper
(Papel com pasta mecânica, não revestido, para impressão)
UWF Uncoated woodfree printing and writing paper
(Papel isento de pasta mecânica, não revestido, para impressão e escrita)
WC Woodcontaining printing paper, mechanical printing paper
(Papel com pasta mecânica para impressão)
WF Woodfree printing and writing papers
(Papel isento de pasta mecânica para impressão e escrita)
WFC Woodfree coated paper
(Papel isento de pasta mecânica, revestido)
WFU Woodfree uncoated paper
(Papel isento de pasta mecânica, não revestido)
WLC White lined chipboard, duplex board, recycled fibre based
(Cartão brando forrado – laminado-, tipo duplex, feito com fibra recicladas)
Tabela 2.01
A figura
2.01 mostra um
estudo feito pela
Pöyry prevendo o
crescimento da
demanda mundial
de papel de 2003
a 2020.

Figura 2.01 (FONTE: Pöyry)

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3. MATÉRIAS PRIMAS FIBROSAS


3.1. DEFINIÇÕES
A seguir serão dadas algumas definições importantes relacionas às fibras. Embora o que
realmente importe ao papeleiro são as características fibrosas, muitas destas características
dependem das condições da fibra no seu estado natural e os fatores interligados a ela.
Celulose: é um polissacarídeo linear, com um único tipo de unidade de açúcar (D-glucose ou
anidrido-glucopiranose) (figura 3.01 e 3.02).

Figura 3.01 (Indeterminada)

Figura 3.02 (FONTE: Química da madeira - Umberto Klock et alli)

Hemiceluloses (polioses): também são polissacarídeos diferindo, no entanto, da celulose por


conterem vários tipos de unidades de açúcar (D-xilose, D-manose, D-glicose, L-arabinose,
etc.) (figura 3.03). São polímeros ramificados (amorfos) e de cadeias mais curtas. Na figura
3.04 aparece um exemplo de um tipo de hemicelulose.

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Figura 3.03 (FONTE: CELULOSE E PAPEL - SENAI “Theobaldo de Nigris” / IPT)

Figura 3.04 (FONTE: indeterminada)

Lignina: é constituída de polímeros amorfos, de composição complexa não totalmente


caracterizada. Sua finalidade é conferir firmeza à estrutura. É o ligante que mantém as fibras
unidas na estrutura da madeira. É resistente à hidrólise ácida e possui alta reatividade com
agentes oxidantes. A figura 3.05 procura mostrar de uma forma simplificada as interações da
celulose, hemicelulose e lignina.

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Figura 3.05 (FONTE: http://www.porquebiotecnologia.com.ar)

Extrativos: representam ácidos livres: ácido acético, ácido fórmico; ácidos voláteis; ésteres;
óleos voláteis (essenciais): hidrocarbonetos, álcoois, cetonas, lactonas, terpenos, terebintina e
óleo de pinho (em coníferas); ácidos resinosos: ácidos abiético e pimáricos; ácidos graxos:
ácidos oleico, linoleico, palmítico, esteárico, etc; esteróides e taninos

Compostos inorgânicos: são constituídos principalmente de sulfatos, fosfatos, oxalatos,


carbonatos e silicatos de Ca, K e Mg.

3.2. TIPOS DE FIBRAS


3.2.1. Características fibrosas mais importantes para os vários tipos de papéis

O papel é produzido a partir de uma grande variedade de componentes que dependem


do tipo de produto a ser obtido. Estes componentes são constituídos de materiais fibrosos e
não-fibrosos. As matérias-primas fibrosas que têm sido utilizadas para a fabricação de papel
são principalmente fibras obtidas a partir da madeira, outros vegetais que não são madeira
(“non-wood vegetable fibers”) tais como bambu e bagaço de cana, trapos (“rags”), “linters”
de algodão (“cotton linters”), papel refugo (“wastepaper”) ou aparas, fibras sintéticas
(“synthetic fibers”) tais como polietileno, polipropileno, etc; fibras minerais (“mineral fibers”)
tais como asbesto, fibra de vidro, etc., e fibras animais (lã e seda). Neste curso focalizaremos
principalmente as fibras virgens originadas da madeira e as fibras recicladas.
Um grande número de diferentes espécies de madeira é utilizado para a produção de
celulose. Estas espécies podem ser classificadas em dois tipos:
 “softwoods” (ou coníferas) tais como araucária, pinho (“pine”: Pinus elliotti, Pinus
taeda), abeto vermelho (“spruce”), cicuta (“hemlock”), etc.

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 “hardwoods” (ou folhosas) tais como eucalipto (“eucalyptus”: E. grandis, E. saligna,


E. urophylla, E. globulus), bétula (“birch”), bordo (“maple”), álamo ou faia (“aspen”),
carvalho (“oak”), “gmelina”, acácia, etc.
A denominação pasta celulósica, ou celulose, se refere à pasta seca ou em suspensão
constituída de fibras oriundas da madeira ou de vegetais que não são madeira. A madeira é
constituída basicamente de fibras (celulose e hemicelulose), lignina e extrativos. Na figura
3.06 aparece o que mais interessa para o papeleiro com relação à constituição química das
fibras.

Figura 3.06 (FONTE: montagem elaborada por E.S.Campos)

A denominação fibras virgens é dada às fibras que são utilizadas pela primeira vez para
a fabricação de papel, a partir de sua obtenção como fibra. No caso das fibras branqueadas de
madeira, seria após a etapa de branqueamento (fábricas integradas) ou após a máquina de
secagem e enfardamento (fábricas não integradas). Algumas fábricas utilizam máquinas
desaguadoras para posterior utilização no processo ou para fábricas de papel próximas a de
celulose.
As fibras são estruturas compostas de fibrilas de celulose com orientação particular para
cada classe de fibra. As moléculas de celulose (figura 3.07) tendem a formar pontes de
hidrogênio intramoleculares (entre as unidades de glucose da mesma molécula) e
intermoleculares (entre unidades de glucose de moléculas adjacentes).

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Figura 3.07 (FONTE: http://www.monografias.com)

O primeiro tipo de interação é


responsável por uma certa rigidez das
cadeias unitárias e o segundo pela
formação de fibra vegetal. O composto
predominante na parede da célula
vegetal é a celulose, formada por
cadeias de moléculas de glicose
(C6H10O6) unidas entre si por átomos
de hidrogênio. Estas cadeias são
agrupadas em feixes chamados
micelas que, agrupadas em unidades
maiores, formam as microfibrilas as
quais por sua vez agregam-se em
fibrilas mais grossas chamadas
macrofibrilas, formando finalmente as
Figura 3.08 (FONTE: CELULOSE E PAPEL -
paredes das fibras (figura 3.08).
SENAI “Theobaldo de Nigris” / IPT)
Quando imersas em água ou em uma atmosfera saturada de vapor de água, uma
quantidade de água é absorvida por toda a superfície cristalina exposta, acontecendo assim a
hidratação. Isto diminui a atração de uma fibra por outra e permite que uma quantidade
adicional de água entre na estrutura pelos espaços existentes através dos cristalitos e as
fibrilas produzindo então o inchamento. Com o refino e o inchamento, as superfícies que
anteriormente estavam dentro da celulose ficam expostas onde será formada a resistência,
dependente em grande parte das ligações formadas entre as fibras. Por causa do aumento da

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superfície produzida pela refinação o número de contato e conseqüentemente as ligações


aumentam o que resulta de uma folha mais resistente.
A figura 3.09 mostra o modelo de uma fibra de conífera, evidenciando a organização
estrutural das microfibrilas nas paredes. Mostra também a parede primária, e a secundária
dividida em 3 camadas (S1, S2 e S3). A camada mais próxima da parede primária é a
denominada S1 (espessura: 0,2 microns). A camada seguinte é S2, bem mais espessa (2 a 5
microns), representando cerca de 70 a 75% do total da parede celular. A camada S3 é
semelhante à S1 e, às vezes, pode apresentar-se revestida por outra, a camada verrugosa (W).
A figura 3.10 mostra cadeias de celulose, microfibrilas e macrofibrilas.

Figura 3.09 (FONTE: montagem elaborada por E.S.Campos)

Figura 3.10 (FONTE: Química da madeira - Umberto Klock et alli)

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As fibras das madeiras do tipo “softwood” (coníferas) possuem tamanhos típicos que
variam de 3 a 5 mm e são denominadas fibras longas. Estas fibras são utilizadas
principalmente para papéis que necessitam ser bastante resistentes fisicamente, tais como
papéis para embalagem, por exemplo.
Por outro lado, as fibras provenientes das madeiras do tipo “hardwood” (latifólias ou
folhosas) possuem tamanhos típicos que variam de 1 a 2 mm e são denominadas fibras curtas.
Sua utilização é requerida para papéis que não exijam altos valores de resistência físico-
mecânica, mas que possam ter boa formação, superfície bastante homogênea, boa opacidade,
como é o caso dos papéis para impressão e escrita. A figura 3.11 mostra as principais
diferenças entre fibras de madeira de folhosas e coníferas.

Figura 3.11 (FONTE: http://www.cismadeira.com)

As características das fibras utilizadas para a fabricação de papel assumem importância


que depende do tipo de papel a ser produzido. Entretanto como os vários tipos de papéis são
constituídos em sua essência por ligações espontâneas das fibras, formadas por pontes de
hidrogênio, podemos reunir algumas características que são importantes para a fabricação da
maioria dos papéis, com diferenciações de valores que dependem obviamente da aplicação
final. Estas características podem ser classificadas em: morfológicas, físicas, mecânicas,
químicas e topoquímicas. Como algumas destas características serão mencionadas durante o
curso, no momento presente serão apresentadas apenas as características morfológicas:
 comprimento médio da fibra (C), largura da fibra (D), espessura da parede (E) e
largura do lúmen (L);
 índice de feltragem (C/D);
 coeficiente de flexibilidade [(L/D)x100];

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 fração parede [(2E/D)x100];


 índice de Runkel (2E/L);
 “coarseness”: definido como a massa correspondente a uma unidade de comprimento
de fibra expressa em miligramas por 100 m (decigrex).

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4. PROCESSOS DE FABRICAÇÃO DE OBTENÇÃO DE FIBRAS


Como foi dito, anteriormente, a madeira é uma matéria prima formada de fibras em
múltiplas camadas, ligadas entre si por forças interfibrilares e pela lignina que age como
ligante. Para separação dessas fibras, unidas por forças coesivas intermoleculares, é
necessário despender uma certa quantidade de energia. A qualidade, as características e as
utilizações da pasta produzida serão funções da quantidade de energia aplicada. Deste modo,
pode-se definir o processo de polpação como sendo o processo de separação das fibras da
madeira mediante a utilização de energia química e/ou mecânica. Os diversos processos de
polpação podem ser classificados de acordo com seus rendimentos em polpa ou de acordo
com o pH utilizado. São vários os processos utilizados para produção de polpas de celulose
(tabela 4.01).
Processos de alto rendimento Mecânico
Termomecânico
Quimitermomecânico
Semiquímico Sulfito neutro
Soda a frio
Soda a quente
Processos químicos Alcalinos Soda
“Kraft”
Sulfito alcalino
Sulfito neutro
Ácidos Sultito ácido
Tabela 4.01 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” – ABTCP)

4.1. PASTAS DE ALTO RENDIMENTO


As pastas de alto rendimento (P.A.R.) são aquelas cujo rendimento final da madeira
transformada em pasta, acima de 80%, chegando até 97%, obtendo nestes processos um
melhor aproveitamento da matéria-prima quando comparados ao processo “kraft”
branqueado, por exemplo, cujo rendimento está em torno de 50%.
Em meados do século XIX, as invenções sobre desfibramento da madeira, tanto
mecânico como químico, possibilitaram a sua utilização para a produção de papel e cartão, a
qual aumento, vertiginosamente, com o desenvolvimento industrial. A madeira, até então
considerada como uma matéria prima inexaurível, mostra hoje uma escassez universal,
fazendo renascer, rapidamente, o interesse pelos processos que apresentam rendimentos
superiores aos processos químicos na transformação da matéria prima ligninocelulósica em
pasta.

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35

No Brasil, até pouco tempo, os processos de alto rendimento restringiam-se ao


mecânico e quimitermomecânico de pedra, cujas pastas destinam-se quase que
exclusivamente à confecção de papel imprensa.
Face à demanda crescente de celulose, à estratificação da maioria das reservas florestais
no mundo e o aumento gradual do custo da energia, foi despertado um interesse acentuado
nos países produtores de celulose por processos de polpeamento de alto rendimento.
Estas pastas, que apresentam constituintes não celulósicos da madeira (com teores
variáveis) são aplicadas na produção de determinados papéis, cartões ou papelões, cuja
resistência às condições ambientais e demais propriedades físicas e mecânicas não sejam
muito exigentes, comparativamente aos produtos feitos com pastas químicas. Isto vem ao
encontro a uma relação custo/benefício bastante favorável, uma vez que as pastas de alto
rendimento têm um custo produtivo bem inferior às pastas químicas.
Exemplificando, podemos considerar papéis absorventes, do tipo higiênico (“tissues”).
Estes papéis, desde que tenham cumprido sua finalidade de uso, são jogados fora ou
destruídos. Portanto tem vida curta e não são recicláveis e, além disso, um número reduzido
de especificações. Isso justifica sua produção com pastas de menor custo.
As pastas de alto rendimento podem ser divididas em: pastas mecânicas, pastas
termomecânicas e pastas quimitermomecânicas. As pastas mecânicas são processadas através
do processo de desfibramento mecânico que pode ser em pedra mó quando toras, ou
desfibradas em desfibrador a disco quando cavacos ou serragem. No caso das pastas
termomecânicas, também são usados cavacos ou serragem passando pelo desfibrador a disco,
mas aquecidos previamente com vapor saturado. Já as pastas quimitermomecânicas passam
por um processo semelhante ao das pastas termomecânicas sendo, porém, tratados levemente
com reagentes químicos.
A tabela 4.02 é uma mescla das tabelas obtidas do livro CELULOSE E PAPEL
(Tecnologia de fabricação da pasta celulósica) do IPT e Escola “Theobaldo De Nigris” e do
curso OBTENÇÃO DE PASTAS DE ALTO RENDIMENTO realizado pela ABTCP em
Curitiba, 2003. O objetivo desta mistura é focalizar o que de fato nos interessa neste curso,
contemplando o que é mais comumente usado.

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Tipo de pasta Designação consagrada Características do processo Rendimento


Pasta mecânica de (Stone) groundwood Desfibramento de madeira roliça em mó à pressão 95 a 97 %
pedra (PM) pulp (SGW ou GW) atmosférica
Pasta mecânica de Pressurized (stone) Desfibramento de madeira roliça em mó sob pressão. 93 a 95%
pedra pressurizada groundwood pulp
(PMP) (PGW)
Pasta mecânica de Refiner mechanical pulp Desfibramento de madeira sob a forma de cavacos ou 94 a 95%
desfibrador (RMP) serragem, em desfibrador de disco, à pressão
despressurizado atmosférica.
(PMR)
Pasta termomecânica Thermomechanical pulp Desfibramento em desfibrador a disco, sob pressão, 92 a 95%
(PTM) (TMP) de cavacos ou serragem de madeira previamente
aquecidos com vapor saturado.
Pasta Chemithermomechanical Desfibramento em desfibrador a disco, sob pressão, 80 a 93%
quimitermomecânica pulp (CTMP) de cavacos ou serragem de madeira prévia e
(PQTM) levemente tratados com reagentes químicos.

Tabela 4.02 (FONTE: CELULOSE E PAPEL - SENAI “Theobaldo de Nigris” / IPT)/ABTCP


As pastas de alto rendimento se caracterizam por serem produtos com menor alvura,
menor resistência mecânica e maior teor de astilhas (“shives”) do que as pastas químicas, mas
que por outro lado têm uma maior opacidade, maior “bulk” e um maior rendimento como sua
própria denominação já especifica. Mas, cada um dos processos para obtenção destas pastas
possui suas próprias particularidades. É importante dizer que não há uma melhor ou pior
pasta, pois cada uma delas tem uma aplicação específica.

4.1.1. Produção de pasta mecânica de mó


Existem alguns tipos de pasta mecânica obtida por pedra de mó (SGW), de pedra
pressurizada (PGW) e por desfibrador despressurizado (RMP); o rendimento nesses processos
chega até 97%. Os dois primeiros processos resltam na pasta mecânica dita convencional.
A figura 4.03 apresenta um desfibrador de mó do tipo SGW. O funcionamento deste
método é muito simples, pois trata-se simplesmente de obter partículas de madeira de
pequeníssimo tamanho, as quais podem ser aplicadas diretamente na fabricação de papel, quer
dizer, o tamanho final de partícula será da ordem de unidades de milímitros, o que possibilita
a confecção do papel.

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O processo consiste na ação mecânica


de fricção de um disco giratório (pedra de
mó), originalemente de pedra sobre os
troncos de madeira.
Os troncos são introduzidos
longitudinalmente, de forma perpendicular
ao disco giratório, e são pressionadas contra
ele para promover a ação abrasiva.
O disco está parcialmente submerso
em água e é, também, molhado
constantemente na parte superior por
chuveiros (figura 4.04), para dissipar o
calor gerado pelo friccionamento entre a Figura 4.03 (FONTE: Papiermacher
madeira e a pedra. Taschenbuch)
Devido a este calor gerado, alcançam-se
temperaturas na zona da pedra de mó de até
150 ºC, temperatura suficiente para fluidizar a
lignina e permitir a separação das fibras, as
quais na sequência passam por umas ranhuras,
indo até um tanque que contém água,
Figura 4.04 formando-se a suspensão de fibras em água
(FONTE: CELULOSE E PAPEL - SENAI
“Theobaldo de Nigris” / IPT)
Existem vários modelos comerciais de desfibradores de mó do tipo PGW, sendo que a
madeira a ser desfibrada na mó também pode ser alimentada por 2 ou 3 pontos, conhecidos
como bolsas ou magazines, conforme pode ser visto nas Figuras 4.05.

Figura 4.05 (FONTE: CELULOSE E PAPEL - SENAI “Theobaldo de Nigris” / IPT)

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A figura 4.06 apresenta um fluxograma típico de um processo do tipo PGW. O processo


inicia com o recebimento da madeira, a qual será descascada e cortada em pequenas toras de
dimensões apropriadas que seguem para o desfibramento de mó. Durante a operação,
chuveiros aspergem água quente sobre a superfície da mó, estando sua parte inferior
parcialmente submersa na suspensão de fibras.

Figura 4.06 (FONTE: não identificada)

A suspensão de fibras (com consistência entre 1 e 3%) é depurada em peneiras


vibratórias, primeiro em uma peneira para remoção de material grosseiro e após, em outra
peneira, para a remoção dos finos. O rejeito destas peneiras é constituído de lascas de
madeiras (final das toras), feixes de fibras e palitos e normalmente é jogado fora ou queimado,
podendo, todavia, serem desfibrados em desfibradores de disco e reincorporados à massa da
pasta depurada. Esta pasta passa ainda por depuradores centrífugos (hidrociclones) afim de
eliminar sujeiras e rejeitos residuais. A seguir a pasta passa por equipamentos engrossadores,
com a finalidade de aumentar sua consistência e, depois, segue para os diferentes pontos do
processo (prensa desaguadora, secagem, enfardamento, etc.).
A pasta mecânica de mó é utilizada em inúmeros tipos de papéis e papelões, tanto
isolada como combinada com outros tipos de pastas. O maior consumidor de pasta mecânica
é o papel de imprensa, cuja composição média é:
 pasta mecânica de mó: 71 a 82%
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 pasta química: 18 a 25%


 cargas e aditivos: 0 a 4%
Outros usos para pasta mecânica:
 papéis higiênicos (“toilet”), toalhas e lenços (“tissues”) e embrulho;
 papéis e papelões para a construção civil: construção, isolamento de fios, papel de
parede e papelão prensado para isolamento acústico e térmico;
 papéis para embalagens: sacos, papelão ondulado e cartões flexíveis;
 papéis de impressão (revestidos): livros e revistas.

4.1.2. Pasta termomecânica (TMP)


O processo termomecânico é resultado de uma melhoria introduzida sobre o processo
de refinador mecânico, o qual consiste na instalação de uma linha de entrada de uma unidade
de vaporização (figura 4.07). Nesta unidade, os cavacos de madeira submetem-se ao vapor de
água com pressões entre 6 e 10 kgf/cm2, o que corresponde a uma temperatura entre 165 e
185ºC. Se for possível acoplar perfeitamente a seção de vaporização com um refinador
mecânico, o processo de refinação ocorrerá com estas mesmas condições de pressão e
temperatura. Nestas condições, a lignina abranda-se, fazendo com que a estrutura da madeira
fique debilitada enormemente e que as fibras fiquem quase totalmente separadas.
As fibras separadas nestas
temperaturas não só não sofrem dano
algum, como ficam recobertas com uma
delgada capa de lignina, depositada após o
resfriamento, que as endurece. Este
recobrimento cria uma duperfície suave na
fibra, resultando que qualquer intenção de
fibrilação seja muito difícil, o que torna
este processo não adequado para a
fabricação de papel, pois a coesividade
entre fibras é baixa. Entretanto, este
processo é ótimo para a fabricação de
Figura 4.07 (FONTE:
chapas de compensado graças à resistência
http://www.textoscientificos.com)

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transferida pela capa de lignina.


Para a produção de papel a partir deste processo, não pode ultrapassar-se a temperatura
vítrea da lignina.

4.1.3. Pastas quimitermomecânica (CTMP)


Estas pastas são produzidas amolecendo-se primeiro a estrutura lenhosa da madeira por
um ligeiro pré-tratamento químico (lixívia a base de soda ou de sulfito sódico), além do
vapor, seguido da separação das fibras, sob pressão, em um desfibrador a disco. O
amolecimento químico é menor do que o verificado nas pastas semiquímicas, razão pela qual
é necessário um tratamento mecânico mais intenso durante o desfibramento. Em
conseqüência, a pasta apresenta um teor relativamente elevado de finos, o que a faz, em
muitos aspectos, similar à pasta mecânica de pedra.
Utiliza-se esta pasta como substituta da pasta química em produtos que são usados e
descartados, tais como papéis higiênicos, revistas etc. A figura 4.08 apresenta um fluxograma
de um processo do tipo CTMP.

Figura 4.08 (FONTE: não identificada)

4.1.4. Pastas semiquímicas


A obtenção de pasta semiquímica iniciou-se para utilizar como subproduto certos
cavacos de madeiras duras. O processo tem sido obtido por três eventos que coincidiram.
Estes foram: o convencimento de que a demanda de materias primas fibrosas por parte da
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crescente indústria papeleira necessitava das madeiras duras que estavam disponíveis em
grandes quantidades e representavam um problemas florestal pela sua não utilização, para
satisfazer seus requerimentos; o reconhecimento do começo de uma inflação nos custos da
madeira para polpa havendo necessidade de um aproveitamento mais eficiente da madeira; e a
tremenda expansão da indústria de cartões, incluindo o papelão corrugado. O papelão
corrugado de polpas semiquímicas de madeiras duras adaptou-se perfeitamente bem a essas
necessidades.
A fabricação de pastas pelos processos semiquímicos se dá em dois estágios. No
primeiro estágio, os cavacos são tratados quimicamente de modo a remover parcialmente as
hemiceluloses e lignina. No segundo estágio, os cavacos ligeiramente amolecidos são
submetidos a um tratamento mecânico para separação das fibras.
Os processos semiquímicos são intermediários entre os processos químicos e os
quimimecânicos, de onde resulta a sua denominação. Em termos de processos, essa
denominação não é muito apropriada, pois, são mais mecânicos do que químicos. Entretanto,
sob o microscópio, as pastas produzidas apresentam-se com a aparência mais próxima à das
pastas químicas do que a das pastas mecânicas.
O rendimento pode variar de 60 a 85%, dependendo do processo utilizado: soda a
quente, soda a frio, sulfito neutro, etc. A tabela 4.03 mostra mais detalhes destes processos.
Tipo de pasta Designação consagrada Características do processo Rendimento
Pasta semiquímica Cold soda Desfibramento sob pressão atmosférica de cavacos 60 a 85%
soda a frio tratados com licor de hidróxido de sódio.
Pasta semiquímica Neutral sulfite Cavacos são aquecidos com vapor à pressão 65 a 85%
sulfito neutro semimechanical pulp atmosférica, sulfito e carbonato de sódio a um pH
(NSSC) entre 8 e 9, e cozidos em fase vapor a temperatura
entre 160 e 180˚C por 15 a 60 min.
Pasta semiquímica Soda pulp Resíduos agrícolas são aquecidos com vapor à pressão 54 a 60%
soda a quente atmosférica, impregnados com solução de hidróxido
de sódio de 8 a 10% e cozidos em fase vapor a
temperatura entre 160 e 180˚C por 15 min ou mais.

Tabela 4.03 (FONTE: CELULOSE E PAPEL - SENAI “Theobaldo de Nigris” / IPT)/ABTCP

4.1.4.1. Pastas semiquímicas a soda a frio


O cozimento da madeira com hidróxido de sódio tem sido investigado a várias
temperaturas. Quando a temperatura e a pressão utilizadas no processo são altas, ocorre
realmente uma deslignificação da madeira.
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Sob temperaturas relativamente baixas (abaixo de 100 oC), tanto a deslignificação como
a dissolução de carboidratos tem menos importância do que o inchamento da madeira, o qual
contribui, diretamente para o enfraquecimento das ligações entre as fibras.
Serve-se deste fenômeno, o processo semi-químico a soda a frio, o qual consiste,
basicamente, na impregnação de cavacos de madeira de folhosas com solução de hidróxido de
sódio a 2,5% por 20 minutos, temperatura de 25 oC, pressão de 10,5 kgf/cm2, seguida da
separação mecânica das fibras em desfibrador de disco. O processo é, na realidade, um caso
particular do processo quimimecânico de desfibrador.
As pastas produzidas são utilizadas tanto para a fabricação de miolo e capa para
papelão ondulado como em mistura para a fabricação de papéis para impressão e higiênicos.

4.1.4.2. Pastas semiquímicas ao sulfito neutro


Este processo, dentre os semiquímicos, é o mais difundido. Nele os cavacos de madeira
são tratados com um licor a base de sulfito de sódio (Na2SO3) ou de amônio.
Este licor é tamponado com carbonato de sódio (Na2CO3), bicarbonato de sódio
(NaHCO3) ou licor vede do processo “kraft” (Na2CO3 + Na2S).
Essa composição do licor, contendo uma solução de sulfito mais um agente tampão, é
utilizada a fim de que seu pH durante o cozimento se mantenha entre 7 e 8, razão pela qual
resultou o nome sulfito neutro. O agente tampão controla o pH neutralizando os ácidos que se
formam quando a madeira é aquecida a mais de 120 oC. Esse efeito se reflete sobre o processo
controlando a corrosão dos equipamentos e aumentando seu rendimento em termos de
transformação madeira-pasta.
Quanto às hemiceluloses, com o sulfito neutro, somente aquelas de baixa massa
molecular é que são dissolvidas. A pasta resultante apresenta-se com um alto teor destes
componentes da madeira, contribuindo para aumentar o rendimento em pasta.
Isto faz com que os produtos manufaturados com esse tipo de pasta apresentem
características de rigidez altamente desenvolvidas, as quais são desejáveis em miolo para
papelão ondulado, sua principal demanda de utilização.

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4.2. POLPAÇÃO QUÍMICA


Como foi visto anteriormente, a polpação química envolve os processos ácidos e
alcalinos. Destes processos, será apresentado inicialmente o processo sulfito, mas dar-se-á
ênfase aos processos alcalinos, especialmente o processo “kraft” ou sulfato.

4.2.1. Processo sulfito


Este método, desenvolvido em 1867 pelo químico americano Benjamim Tilghmann,
dominou absoluto por cerca de 100 anos o processo produtivo de pastas químicas de celulose
de madeiras. O processo sulfito base cálcio foi o método dominante e, devido aos preços
extremamente baixos do calcário e do enxofre (muito abundantes) não havia motivos
econômicos para recuperação destes reagentes químicos do licor residual do cozimento.
Conseqüentemente, isto vinha ocasionando um enorme impacto ambiental.
Em 1955 começaram a aparecer alguns resultados de pesquisas (notadamente nos
países escandinavos) visando substituir o cálcio por outras bases (Na, NH4 e Mg), de modo a
possibilitar a recuperação simultânea de energia e reagentes químicos dos processos. Isto
porque o produto resultante da queima do licor residual, base cálcio, é o CaSO4, que é
impróprio para conversão em sulfito de cálcio.
Por volta de 1960, iniciou-se a imposição de proteção do meio ambiente, obrigando as
industrias a queimarem ou então tratarem seus efluentes, sob pena de terem de parar sua
produção. Isto ocasionou o fechamento de muitas unidades pequenas, face ao alto
investimento necessário para resolver o problema. Desde então, toda a expansão da
capacidade de produção de pastas químicas voltou-se ao processo “kraft”, apesar deste
necessitar de um sistema complexo de recuperação dos produtos químicos envolvidos no
processo.
Todavia, modernamente, estão se desenvolvendo processos semiquímicos de
polpeamento (pastas de alto rendimento) que envolvem o uso de sulfito, tais como:
quimomecânico e quimotermomecânico. Isto se deve ao fato de que, sendo o processo sulfito
bastante versátil, pode propiciar rendimentos de polpeamento que variam de 35 a 90%,
dependendo da concentração do licor de cozimento e das condições operacionais. As pastas
de alto rendimento, como foi visto anteriormente, substituem as pastas químicas com
vantagens econômicas em inúmeras aplicações.

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A maior vantagem dos processos sulfito ácido e neutro, está no fato de que a pasta que
sai do digestor tem alvura entre 50 e 60%, podendo ser utilizada na fabricação de vários tipos
de papéis, mesmo na forma não branqueada. No entanto, as desvantagens em relação ao
processo kraft são várias, dentre elas:
 Sistema de recuperação dos reagentes (ou tratamento dos efluentes) bastante onerosa
e complexa;
 Alto custo dos equipamentos envolvidos e de manutenção (corrosão).
O processo de produção de polpa sulfito (figura 4.09) começa com a preparação do licor
de cozimento, denominado de “ácido”. Inicialmente é feita a queima de enxofre (ou pirita) em
queimadores e fornos apropriados, em condições tais que se obtém o SO2 da forma mais
econômica possível.
S + O2  SO2
A quantidade de ar utilizada, bem como o rápido resfriamento do SO2 gerado deve ser
bem controlada a fim de evitar a formação de SO3, o que provocaria maior corrosão do
equipamento, além de comprometer a qualidade do ácido (licor) devido à formação de sulfato.
SO2 + 1/2 O2  SO3.
A preparação do licor de
cozimento consiste em fazer
reagir o SO2 (resfriado à cerca de
o
40 C) em contracorrente com
soluções ou suspensões de NaOH,
Ca(OH)2, Mg(OH)2 ou NH4OH,
em uma torre de absorção. A
solução aquosa contém de 4 a 8%
de SO2 livre e de 2 a 3% de SO2
combinado. A quantidade de SO2
livre na solução final estabelece o
seu pH, pois um excesso de SO2
conduz a um licor neutro ou
ácido, com formação de bissulfito
[ex. NaHSO3 ou Ca(HSO3)2 ]. Figura 4.09 (FONTE: http://www.textoscientificos.com)

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4.2.2. Processo sulfato ou “kraft”


Historicamente, o cozimento alcalino iniciou em 1854, através do processo soda. Em
1884, foi patenteado o processo “kraft” que, nada mais é do que uma modificação no processo
soda, utilizado comercialmente pela primeira vez em 1885 na Suécia, tomando impulso a
partir de 1930 e predominando no mercado até os dias atuais. Os dois processos são similares,
diferindo na aplicação do sulfato de sódio no processo “kraft” ou sulfato, ao invés de
carbonato de sódio no processo soda, para cobrir as perdas do ciclo de recuperação dos
reagentes do cozimento. A palavra “kraft” é de origem sueca e alemã que significa “força”
(resistência).
O processo “kraft” consiste, então, em atuar sobre a madeira na forma de cavacos com
uma combinação de dois reagentes químicos hidróxido de sódio (NaOH) e sulfeto de sódio
(Na2S), obtendo-se como resultado a dissolução da lignina e a liberação das fibras. As fibras
liberadas constituem a “celulose” (ou massa; ou pasta; ou polpa) marrom.
O processo pode ser exemplificado de maneira simplificada através da equação:
Madeira (fibras + lignina) + reagentes químicos = “celulose” + lignina solúvel
Utilizando-se a terminologia de uso corrente na indústria, a equação acima fica:
Madeira + licor branco (NaOH + Na2S) = “celulose” + licor negro
No processo “kraft” a presença de sulfetos no álcali acelera a deslignificação,
produzindo uma pasta de melhor qualidade e com menor teor de lignina para um determinado
rendimento. Em meio alcalino e temperaturas altas, as ligações carbono-oxigênio na lignina
podem ser rompidas, formando fragmentos menores, mais solúveis e mais estáveis à
recombinação (condensação).
Já ficou provada a combinação do enxofre com a lignina, porém a exata natureza desta
reação e a causa do aumento da velocidade de deslignificação ainda não foram completamente
esclarecidas. É atribuído aos íons HS- (formados pela reação do Na2S com H2O) no licor kraft
uma espécie de ação catalisadora. Em uma seqüência cíclica, que começa com sua adição à
molécula de lignina, é seguida pelo rompimento destas ligações pelo álcali, regenerando desta
forma os íons HS-, deixando-os novamente disponíveis para novas reações e, produzindo
lignina “kraft” contendo pequenas quantidades de enxofre.
O processo de obtenção de celulose apresenta um sub-produto, denominado “licor
negro”, o mesmo contém a parte da madeira dissolvida (lignina), combinada com reagentes
químicos utilizados no início do processo. Por razões econômicas e ambientais, é
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absolutamente necessário o reaproveitamento do licor preto num processo denominado


“recuperação de produtos químicos”. A Figura 4.10 mostra em resumo o ciclo de produção do
processo “kraft”, com enfoque na recuperação de produtos químicos.

Figura 4.10 (FONTE: http://www.textoscientificos.com)

Durante o ciclo de recuperação do processo “kraft”, o sulfato de sódio é reduzido a


sulfeto de sódio, o qual, juntamente com hidróxido de sódio, constituem os reagentes
utilizados no processo “kraft”. Portanto é errado denominar-se de processo sulfato, pois o
mesmo não atua como reagente de polpeamento, sendo o hidróxido de sódio e o sulfeto de
sódio os responsáveis. Como resultado da queima obtém-se o calor, que gera os vapores e
reagentes químicos fundidos. Os fundidos, após a dissolução e um tratamento adequado,

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transformam-se em licor branco, contendo reagentes químicos idênticos aos utilizados no


início do processo.
A recuperação consiste em queimar o licor preto previamente concentrado de 65% a
80% de sólidos e enriquecido em sulfato de sódio Na2SO4. Atualmente, na maioria das
empresas não há a adição de Na2SO4, mas a adição de uma diluição de enxofre no licor
branco após a caustificação.
As vantagens do processo “kraft” sobre os demais são: flexibilidade a todas as espécies
de madeiras, tempos mais curtos de cozimento, a pasta pode ser branqueada a altos níveis de
alvura (maior custo em relação às pastas sulfito), não há problemas com resinas (coníferas),
produção de pastas de alta resistência, produção de subprodutos valiosos (“tall-oil” e
terebintina) e recuperação relativamente fácil dos reagentes utilizados.
Todavia, o processo “kraft” também apresenta certas desvantagens, tais como: alto
custo de investimento na montagem da fábrica, problema de mau cheiro dos gases produzidos
(H2S e mercaptanos), baixa alvura após cozimento em relação a outros processos como o
sulfito, por exemplo, baixo rendimento (40 a 50%) e alto custo de branqueamento.
Após a lavagem da massa marrom, ocorrem as etapas de pré-branqueamento e
branqueamento, onde se faz uso de insumos como oxigênio, ozônio, peróxido de hidrogênio e
dióxido de cloro para que possa obter, finalmente, a celulose branqueada (figura 4.11 e 4.12).

Figura 4.11 (FONTE: montagem elaborada por E.S.Campos – ABTCP)

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Figura 4.12 (FONTE: Fabr. de celulose kraft ... – Alfredo Mokfienski)

4.3. COMPARAÇÃO ENTRE POLPAS


Com relação às resistência
mecânicas dos tipos de polpas obtidas
pelos processos vistos acima, pode-se
destacar que as pastas químicas e
semiquímicas produzem papéis de maior
resistência, sendo os processos mecânicos
claramente inferiores. No gráfico da
figura 4.13 se mostra a resistência do
papel em função da densidade da própria
folha, e pode-se apreciar claramente a
Figura 4.13 (FONTE:
vantagem das polpas químicas e
http://www.textoscientificos.com)
semiquímicas.

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Notação das pastas: CTMP – quimitermomecânica; GW – mecânica com pedra; RMP –


refinador mecânico; TMP – termomecânica; UBS – sulfito sem branquear (semiquímica) e
SBK – “kraft” semibranqueada.

4.4. FIBRAS RECICLADAS


Fibras recicladas ou fibras secundárias podem ser definidas como qualquer fibra para
papel que foram reutilizadas na sua produção. A maior diferença observada entre as fibras
virgens e as recicladas é representada pelas baixas propriedades mecânicas obtidas, causadas
pela ação mecânica de equipamento, principalmente máquinas refinadoras, e pela ação de
químicos. O comprimento das fibras é um fator de muita importância na resistência mecânica.
Os tratamentos a que são submetidas durante o processo de fabricação causam o seu
encurtamento. O encurtamento, aliado à perda das paredes externas, além de diminuir a
resistência à tração diminui também sua plasticidade.

4.4.1. Classificação das aparas


A última classificação de aparas (2007) foi elaborada pela Comissão de Estudos de
Aparas de Papel (53 empresas inscritas; 92 profissionais; fabricantes de papel; aparistas,
associações, institutos de pesquisas e fabricantes de equipamentos), instalada em 2.005, do
CB29 (Comitê Brasileiro de Celulose e Papel), que é responsabilidade da ABTCP e que conta
com apoio financeiro da Bracelpa. Como exemplo desta classificação, a tabela 4.04 mostra
alguns tipos de aparas. Para obtenção da norma na sua totalidade, esta deve ser adquirida
junto a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

4.4.2. Características mais importantes em cada tipo de aparas


A definição das matérias-primas fibrosas recicláveis utilizadas para a fabricação de
papel compreende dois grandes grupos: aparas e papéis usados:
 As aparas (em inglês, “trimmings”), juntamente com materiais refugados e não
utilizados, resultam de operação industrial que transforma os papéis e cartões em
uma variada gama de artefatos. O grupo é caracterizado como de pré-consumo.
 Já os papéis usados (em inglês, “waste paper”), também designados de papéis velhos,
são os diferentes tipos de papéis e artefatos de papel descartados pelos usuários
finais, após utilização. O grupo é caracterizado como de pós-consumo.
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Material Descrição Especificação


Aparas de refile de Aparas de produtos de papelão ondulado de fibra Teor máximo de umidade: 13%
papelão ondulado virgem ou reciclada, resultantes dos processos de Teor máximo de impurezas: 0%
produção do papelão ondulado e caixas não Teor máximo de materiais proibitivos: 0%
utilizadas no mercado, sem cola insolúvel em água e
sem grampo, podendo apresentar refile de capa
branca.
Aparas de papelão Aparas de produtos de papelão ondulado de fibra Teor máximo de umidade: 15%
ondulado I virgem ou reciclada marrom e sem outros papéis Teor máximo de impurezas: 3%
que não sejam papelão ondulado.É permitida a Teor máximo de materiais proibitivos: 0%
presença de fita adesiva, hot melt, grampo e
etiquetas provenientes da própria embalagem.
Aparas de papelão Aparas de produtos de papelão ondulado de fibra Teor máximo de umidade: 15%
ondulado II virgem ou reciclada, com até 5% (em massa) de Teor máximo de impurezas: 3%
outros papéis que não sejam papelão ondulado. É Teor máximo de materiais proibitivos: 1%
permitida a presença de fita adesiva, hot melt,
grampo e etiquetas provenientes da própria
embalagem, capa branca.
Aparas de papel Aparas de papel kraft natural de sacos multifoliados, Teor máximo de umidade: 15%
kraft I envelopes, discos e capas de bobinas, sem Teor máximo de impurezas: 3%
plastificação, com ou sem costura, com ou sem Teor máximo de materiais proibitivos: 1%
impressão, limpos.
Aparas de papel Aparas de sacos de papel kraft multifoliados, Teor máximo de umidade: 15%
kraft II envelopes, discos e capa de bobinas, com ou sem Teor máximo de impurezas: 5%
plastificação e costura, com impressão, não limpos Teor máximo de materiais proibitivos: 3%
ou selecionados.
Aparas de papel Aparas de sacos de papel kraft multifoliados, usados Teor máximo de umidade: 20%
kraft III na embalagem de cimento, cal, gesso, argamassa, Teor máximo de impurezas: 7%
com ou sem plastificação e costura, não limpos ou Teor máximo de materiais proibitivos: 5%
selecionados.

Tabela 4.04 (FONTE: ABNT NBR 15483:2007)

4.4.3. Vantagens e desvantagens do uso de fibras recicladas


Como vantagens, podemos citar: economia de fibras virgens, preservação de recursos
naturais, proteção ao meio ambiente, evita o desperdício, geração de empregos, economia de
energia, maior facilidade para o fechamento de circuito de água (efluente zero) e despoluição.
As desvantagens no uso das aparas são: alto teor de cinzas, “stickies”, contaminantes,
vida das vestimentas, consumo de energia, consumo de água, controle de efluentes e
fornecimento.

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5. MATÉRIAS PRIMAS NÃO FIBROSAS


5.1. CARGAS MINERAIS
A incorporação de materiais minerais de baixa granulometria à massa fibrosa, antes da
formação da folha, é extremamente antigo, tendo sido praticado desde os primórdios da
fabricação do papel. No princípio não se via a adição de cargas à massa como benéfica e
alguns papéis, que tinham quantidade apreciável de carga, eram considerados adulterados.
Mais tarde, com a expansão do uso do papel e o conseqüente aparecimento de vários novos
requisitos, as cargas passaram a ser consideradas como parte integrante e, em alguns casos,
imprescindíveis ao processo. Dentre as mais usadas podemos destacar: caulim, dióxido de
titânio, carbonato de cálcio, talco etc.
O termo carga é utilizado devido ao peso das fibras que formam o papel, modificado
pela adição de 5 a 40% de material inorgânico de maior peso específico e como redução desse
mesmo percentual de fibras. O termo enchimento é usado quando o material preenche os
espaços vazios do material fibroso.
A adição de cargas é necessária em papéis de impressão, onde têm como finalidade
básica proporcionar maior uniformidade à superfície do papel e melhorar as características
tais como alvura, opacidade e lisura e, ainda, melhorar a imprimibilidade do papel formado,
pois, em um papel com carga inorgânica, a calandragem produz melhores resultados,
aprimorando as condições de uma boa impressão.
Para que um material seja usado como carga, alguns requisitos devem ser obedecidos:
deve ter alvura e opacidade compatível com o tipo de papel a ser fabricado, alto índice de
refração, ser livre de impurezas, além de ser quimicamente inerte para que não promova
reações desfavoráveis com outros materiais usados na fabricação do papel ou nas operações
posteriores de conversão e impressão. Além destes requisitos, outros também são
normalmente avaliados: composição e propriedades químicas, geometria da partícula,
densidade, caráter abrasivo e reologia de dispersões.
De maneira geral as cargas tendem a aumentar a gramatura do papel em proporção
maior que o aumento da densidade. Problemas como formação de poeira pelo excesso de
pigmento e, ainda, perda da resistência mecânica pela substituição das fibras por pigmento,
merecem maior atenção. Desta forma, a escolha do pigmento a ser utilizado depende de suas
características e da viabilidade de produção do papel desejado.

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5.1.1. Caulim
O caulim é composto principalmente pelo mineral “caulinita”, um tipo de silicato de
alumínio, ocorrendo em diversos depósitos naturais do nosso planeta, que teoricamente
contém 39,5% de Al2O3, 46,5% de SiO2 e 14% de H2O. Os caulins podem, dependendo de sua
origem, variar quanto a sua composição, teor de impurezas coloridas, quartzo, mica ou outros
minerais que alteram a brancura e a viscosidade do produto final, além de aumentar a
abrasividade do produto.
O caulim a carga bastante empregada na indústria papeleira, tendo como principais
efeitos: aumento de lisura, do lustro, da printabilidade, da opacidade e redução das
resistências. Os papéis que utilizam caulim como carga são os de impressão e escrita de forma
geral. Alguns tipos de caulim são utilizados em receitas de revestimento (“coating”) de
papéis.
O caulim bruto pode ser purificado por meio de flotação a ar seco, resultando em
material com alvura de 79 a 81°GE e com 50 a 68% de partículas. O tamanho médio das
partículas de revestimento é geralmente de 0,5 a 1 micra, sendo que 70 a 95% é inferior a 2
micras. Os caulins calcinados alcançam alvura elevada, obtidos pela calcinação a 980°C, após
o que se desprendem da água químicamente combinada. As limitações de uso dos caulins
estão associadas à sua excessiva abrasividade. O peso específico do caulim é 2,65 e o índice
de refração é 1,56. A energia superficial é elevada, portanto, fortemente hidrofílico. A
superfície específica encontra-se entre 8 a 15 m2/g nos caulins muito finos, quando as
propriedades ópticas melhoram, no entanto, exigem maior quantidade de ligante.
Ainda assim o caulim é um dos pigmentos mais utilizados na indústria papeleira, pois,
possui boas características, além de baixo custo de aquisição.

5.1.2. Carbonato de Cálcio


O carbonato de cálcio é um produto de alta alvura e de custo elevado, sendo usado em
papéis fabricados em meio alcalino, pois em meio ácido o carbonato se decompõe, formando
gás carbônico.
Como o caulim, o carbonato de cácio é a partícula mineral bastante utilizada como
carga na fabricação de papel, pois aprimora as características finais de alvura, opacidade e
receptividade à tinta, sendo um pigmento bastante reativo, deve ser usado com algum
cuidado. O carbonato de cálcio pode ser obtido diretamente do calcário (GCC), através de
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processos mecânicos, ou por precipitação (PCC), mediante reações químicas a partir de


diversas matérias primas.
Este pigmento é pouco solúvel em água e caracteriza-se por tamponar o meio em pH
alcalino. É prontamente solúvel em solução de sulfato de alumínio, não devendo, portanto, em
sistemas de colagem com breu/sulfato de alumínio, ser adicionado, a menos que seja feito um
pré-tratamento, a fim de proteger o carbonato do ataque pelo sulfato.
O carbonato de origem natural (GCC) é mais barato, é utilizado para baixar custos, mas
apresenta partículas grandes e é extremamente abrasivo. O carbonato de cálcio produzido
químicamente (PCC), na forma precipitada, já não apresenta problemas de abrasividade,
porém, o alto custo impede seu uso em larga escala.
As características influenciadas pelo carbonato são: redução de brilho, aumento de
porosidade, maior absorção de óleos e tintas. O uso desse mineral na fabricação de papel,
além de proporcionar uma excelente alvura, também confere boas características de
impressão.
Como o pH do sedimento apresenta-se na faixa alcalina, a reciclagem desse tipo de
papel é problemática nos sistemas ácidos comumente encontrados nas máquinas de papel. O
desenvolvimento da colagem neutra e/ou alcalina está eliminando este problema.

5.1.3. Dióxido de Titânio


O dióxido de titânio apresenta partículas pequenas e fornece o maior índice de refração,
conferindo alta opacidade ao papel. O custo elevado faz com que o dióxido de titânio tenha
uso limitado, sendo empregado em papéis de alta qualidade, onde se requer pequena
quantidade de carga para se obter a opacidade necessária, com pouca redução de resistência
da folha.
O dióxido de titânio é um produto obtido pela purificação química a partir dos seu
minerais, na forma de rutílio (apenas no Brasil se admite rutílio) e anatásio. É insolúvel em
água e inerte em produtos químicos comumente usados na fabricação de papel. Possui a
desvantagem de apresentar alto custo. Pode ser encontrado em abundância na natureza e em
qualquer parte do mundo. É um mineral negro de ilmenita (titanato de ferro) que reage com
ácido sulfúrico e cloração em fase gasosa, seguido da separação do ferro. A solução
clarificada se concentra até formar um núcleo.

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Esse tratamento mais a temperatura de calcinação determinam que se forme o rutílio.


Pela difícil dispersão desse pigmento, que causa perdas no processo com prejuízos
econômicos, o mineral passa por várias etapas de dispersão em diversos tipos de moinho até
apresentar forma ideal.
O alto índice de refração e o minúsculo tamanho da partícula, contemplam a opacidade
como a propriedade mais alterada no papel por esse pigmento. A alvura também é melhorada,
dispensando-se o uso de alvejantes ópticos. O poder de cobertura é o mais elevado dentre
todos os pigmentos usados para “coating”, e sua grande desvantagem, concentra-se no custo
elevado. Há desenvolvimento recentes na procura de uma alternativa mais viável para o
dióxido de alumínio hidratado, hidróxido de alumínio e o silicato de alumínio sinteticamente
preparado.

5.2. AGENTES DE COLAGEM INTERNA


A colagem, na indústria de papel é o procedimento que, com o auxílio de aditivos
químicos, fornece-se às fibras e/ou ao papel formado, a resistência necessária para evitar ou
reduzir a umectação ou a penetração de líquidos (água, tinta, etc.) e seus vapores.
A colagem poder ser efetuada por:
 colagem interna ou na massa, quando o agente colante é adicionado antes da
formação da folha;
 colagem superficial, quando o produto é aplicado na superfície da folha já
praticamente pronta (ver capítulo 12).
A colagem interna controla a penetração do líquido em toda a espessura, enquanto a
colagem superficial tem objetivos mais específicos, e sua ação se limita às camadas mais ou
menos superficiais. Quase sempre os papéis tratados em sua superfície já receberam colagem
parcial na massa. A colagem na massa, por sua vez, pode ser ácida ou alcalina.
A colagem interna é também conhecida como colagem úmida por ser processada
durante a preparação de massa. Ao se incorporarem agentes de colagem, tais como resinatos
de breu, emulsões de ceras e caseína, dímeros de alquilceteno etc., a colagem será mais
profunda, pois desenvolve a resistência à penetração de líquidos em toda a estrutura fibrosa do
papel; enquanto que com a colagem superficial, esse efeito fica restrito à camada externa da
folha.

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A colagem interna, além de promover a impermeabilidade em toda a estrutura fibrosa,


proporciona melhor retenção das cargas, fibras e outros materiais adicionados durante a
preparação da massa, bem como, daí maior solidez e estabilidade à folha formada.
Existem basicamente dois tipos de colagem interna: a colagem ácida (atração
eletrostática) e a colagem alcalina (reação química).

5.2.1. Colagem interna ácida


O produto a ser utilizado na colagem ácida tem que atender, previamente, certos
requisitos, tais como:
 ser altamente repelente à água;
 ser disperso em pequenas partículas, de forma a fixarem-se nas paredes das fibras;
 ser altamente atraído à superfície fibrosa, de forma a não desprender-se com a água;
 não dissolver ou atacar a fibra de celulose.
O produto mais empregado, devido ao
fato de apresentar todas as carcterísticas
acima, é o breu. O breu, cuja fórmula
estrutural está na figura 5.01, é um material
amorfo e de aspecto vítreo obtido da extração
da goma resina da casca de Pinnus elliotti ou
Pinus taeda (este menos resinoso), que
Figura 5.01 (FONTE: Apostila Curso Básico
contém aproximadamente 85% a 90% de
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ácidos resinosos, sendo os mais importantes,
o ácido abiética e o ácido pimárico.
O breu natural é insolúvel em água, no entanto, os ácidos resinosos que o compõem,
possuem moléculas de estrutura cíclica, com dois centros quimicamente reativos, seria dizer
duas ligações duplas e o grupo carboxílico (COOH) que possibilita a reação com sais de
metais alcalinos, como a soda, o hidróxido de potássio e o carbonato de cácio, resultando,
então, em sabão resinoso (resinato); este, por sua vez, é solúvel em água, o que possibilita a
sua adição ao sistema de massa.
A celulose em suspensão aquosa e o breu possuem cargas negativas, então, quando
misturados, eles se repelem, não havendo colagem. Com base nisso é necessário adicionar um
produto químico que mude a carga elétrica do breu para possibilitar que seja atraído pela fibra
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e, ao mesmo tempo, forme um precipitado sobre a fibra. O precipitante universal usado para
esse fim é o sulfato de alumínio.
O processo inicia com a formação do precipitado de cola com a adição de sulfato de
alumínio [Al2(SO4)3] em solução aquosa. Há primeiramente uma dissociação em sulfato e
íons alumínio, os quais reagem com a alcalinidade da água ou com a própia água produzindo
hidrato de alumínio e íons hidrogênio (responsável pela mudança de pH do sistema). Logo
após, há a reação dos hidratos de alumínio com os resinatos de sódio (cola), produzindo o
resinato de alumínio (precipitado). A precipitação do breu com sulfato de alumínio, formando
o resinato de alumínio, reduz a energia livre superficial e aumenta a resistência à penetração
de água. A precipitação da cola de breu (em meio ácido – H+ liberado na dissociação do
sulfato de alumínio em água) torna o resinato de alumínio positivo. As fibras em meio aquoso
têm carga negativa (grupos hidroxilas), ocorrendo uma atração eletrostática entre elas e o
resinato de alumínio.
A química dos íons de alumínio, dependendo do pH do ambiente, é bastante complexa.
No caso do ciclo papeleiro, o intervalo de pH do ambiente situa-se normalmente entre 4,0 e
5,5, onde acontece a sua dissociação em íons de sulfato e de alumínio, com formação de
precipitado coloidal de hidrato de alumínio de polaridade positiva.
Numa última etapa do processo, é preciso ainda estabilizar o resinato sobre as fibras por
olação durante a secagem (ligação das partículas de resinato pelos seus grupos hidroxilas
formando grandes cadeias ou aglomerados que garantem a resistência à passagem de líquidos)
formação de dímeros que se unem às moléculas vizinhas.
Ao passar a folha de papel pelos secadores, o precipitado funde-se e reveste
parcialmente as fibras com o material hidrófobo. A figura 5.02 mostra a reação simplificada
da colagem com breu e sulfato de alumínio.

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Figura 5.02 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

A química dos íons de alumínio, dependendo do pH do ambiente, é bastante complexa.


No caso do ciclo papeleiro, o intervalo de pH do ambiente situa-se normalmente entre 4,0 e
5,5, onde acontece a sua dissociação em íons de sulfato e de alumínio, com formação de
precipitado coloidal de hidrato de alumínio de polaridade positiva.
A cola de breu, para uso como agente de colagem, é normalmente saponificada e
convertida em resinato (uma saponificação geralmente realizada com hidróxido de sódio -
NaOH) para aumentar a eficiência da colagem pelo aumento da força de atração com a
celulose, permitindo a cobertura de maior área fibrosa, pela produção de colas fortificadas
mesmo processando-se as mesmas reações já anteriormente expostas com o sulfato de
alumínio (íon alumínio). Como vimos um dos fatores importantes e determinantes para o
emprego do breu como agente de colagem é o grupo carboxila saponificável.
Muito se pesquisou nos últimos anos e desenvolveram-se processos que permitem
adicionar mais dois grupos carboxílicos ao ácido abiético, através da reação deste com ácidos
diênicos.
Observe na figura 5.03 uma molécula
de abietato de sódio com três grupos COONa,
caracterizando-se a cola reforçada. A
molécula com três grupos carboxílicos
(COONa) por dissolução em água, gera três
grupos ácidos livres conferindo maior caráter
eletronegativo e uma maior eficiência de Figura 5.03 (FONTE: (FONTE: Apostila
colagem. Curso Básico de Fabricação de Papel)
No processo com cola saponificada, o colante é adicionado antes do sulfato de alumínio.
Os fatores que afetam o processo de colagem ácida são: pH da massa, relação cola/alimínio,
dosagem de cola, influência da consistência da massa, ponto de adição, ordem de adição,
tempo de contato e temperatura cola/sulfato com a massa, temperatura dos secadores e
consições de secagem, influência da refinação, influência do nível de acidez do sistema e
dureza da água.

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5.2.2. Colagem interna alcalina


A colagem alcalina teve seu desenvolvimento no início dos anos 1960 na Europa e sua
aplicação incial foi para cartões de embalagens de alimentos líquidos que têm padrões de
qualidade bastante exigentes. O papel alcalino é mais branco, mais macio, tem maior
resistência mecânica, a colagem é mais estável, sofrendo poucas alterações pela ação do
tempo.
A adoção do processo neutro-alcalino, ou colagem sintética, tem-se generalizado
rapidamente, ganhando grande impulso nestes últimos anos no Brasil, especialmente nas
classes de papéis de imprimir e escrever, pois que este tipo de colagem lhes consentem reter,
mesmo depois de ensaios de envelhecimento, praticamente toda a alvura e resistência
originais, em contraste com o que acontece com a cola de breu. Além disto, há a vantagem de
se poder usar o carbonato de cálcio (CaCO3) como carga mineral, reciclagem mais fáceis de
papéis revestidos (“couché”), favorecimento da resistência física e economias operacionais.
Por outro lado existe também a possibilidade de utilizar caulim no sistema de colagem
alcalina, mas este não é um procedimento usual.
Naturalmente que o colagem alcalina tem também suas dificuldades de implantação e
condução, pois, a química da parte úmida neste sistema sofre alterações significativas quando
comparada aos sistemas ácidos, devendo alguns novos conceitos serem assimilados.
Enquanto a colagem ácida ou com cola de breu é baseada na precipitação do resinato de
alumínio sobre as fibras, a colagem alcalina baseia-se na reação entre as cadeias graxas do
agente de colagem e a celulose através de ligações covalentes. Por esse motivo que os agentes
de colagem alcalina também são conhecidos como ‘agentes de colagem celulose reativos’.
As colas sintéticas reagem com os grupos hidroxilas da celulose a qual aderem
mediante efetiva ligação molecular covalente. Este tipo de colantes possui moléculas dotadas
de um grupo reativo que se une a celulose e de um grupo hidrófobo que se volta para fora.
Fica, então, criada uma camada monomolecular firmemente ancorada à fibra, com capacidade
de grande repelência à água. Atualmente existem dois agentes de colagem: Dímero Alquil
Queteno (AKD) e Anidrido Alquenil Succínico (ASA).

5.2.2.1. Cola AKD


O AKD é preparado a partir da dimerização de cloretos de ácidos alifáticos, que ´por
sua vez são obtidos a partir de ácidos graxos. O tipo de ácido graxo usado no preparo do AKD
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interfere no seu estado físico final, sendo que o uso de ácidos graxos insaturados leva a uma
cola líquida, enquanto os ácidos graxos de cdeia saturada proporcionam produtos sólidos.
Quanto maior for a cadeia do AKD, maior será sua eficiência de colagem, sendo que
estudos comprovaram que 16 carbonos oferecem os melhores rsultados. A reação básica entre
a cola AKD, a celulose e a água é mostrada na figura 5.04 e 5.05.

Figura 5.04 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

Figura 5.05 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

A eficiência da colagem com o AKD está também diretamente relacionada com a


necessidade de se reter a cola na folha, uma vez que a reação acima ocorre lentamente, após o
papel pronto. A cola retida na folha é liquefeita na secaria da máquina, se espalhando
uniformemente sobre a superfície das fibras, originando a camada protetora definitiva.
Somente então se inicia a reação de ligação AKD – fibra (celulose).
O AKD é adicionado à massa juntamente com um agente catiônico, amido ou resina,
para auxiliar a sua fixação às fibras. A sua formulação, contudo, pode incluir esta classe de
agentes auxiliares. É comum, porém, A cola AKD ser encontrada no mercado já na forma de
emulsão aquosa. Sua estabilidade não é longa, sendo que após 30 dias sua hidrólise se

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intensifica e o AKD é transformado em cetona + CO2 (conforme figura 14). É uma cola que
deve ser conservada em baixa temperatura ainda que, em ambiente de temperatura moderada
possa conservar suas características por cerca de um mês.
A cola hidrolisada na máquina tende a formar depósitos juntamente com amido e
carbonato e, além de refuzir a eficiência de colagem, causa problemas de sujeira no sistema.
A alcalinidade da água também é um fator extremamente importante para uma boa reação do
AKD com a celulose. A faixa ideal de alcalinidade é de 150 a 250 ppm (como CaCO3), que
pode ser obtida através da adição de barrilha ou bicarbonato. Também o pH é um fator
importante para o desempenho da colagem, sendo que a faixa de trabalho ideal é de 7,5 a 8,5.
Neste ponto também o uso de carbonato de cálcio como carga contribui para o bom
desmpenho, uma vez que mantém o sistema tamponado nesta faixa de pH.

5.2.2.2. Cola ASA


O ASA é um químico algo parecido com o AKD, que pode ser usado numa faixa mais
larga de pH, reage muito rapidamente com os grupos hidroxilas da celulose e desenvolve
efeito de colagem muito rápido durante a secagem. Apresenta, contudo, algumas dificuldades
de conservação pois que, por reagir rapidamente com a água, deve ter seu preparo feito no
local e usado rapidamente. Esta cola é composta de uma cadeia insaturada de hidrocarboneto,
contendo um radical Anidrido Succinico. É obtida usualmente em duas etapas, a partir de uma
‘alfa Oleofina’, que é inicialmente isomerizada e posteriormente reagida com o anidrido
maleico (conforme figura 16).

Figura 5.06 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

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A eficiência da colagem pode ser afetada pelo tipo de Oleofina utilizada; em geral uma
cadeia mais longa ou mais linear proporciona melhor rendimento da cola. As figuras 5.07 e
5.08 mostram a reação da cola ASA com a celulose e com a água.

Figura 5.07 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

Figura 5.08 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

A cola ASA precisa ser retida na folha e sua reação com a celulose é rápida, ocorrendo
na secaria da máquina.
A ASA em sua forma natural é insolúvel em água, portanto, ela necessita ser
emulsionada. Esta operação é feita na própria máquina de papel através de equipamentos
apropriados, usando-se amido e um surfactante (em alguns casos) para sua emulsificação.
Esta operação é necessária, pois a reação de hidrolisação é rápida, inviabilizando o
fornecimento da emulsão pronta. Da mesma forma que a AKD, a cola ASA hidrolisada na
máquina tende a formar depósitos juntamente com o amido e o carbonato e, além de reduzir a
eficiência de colagem, causa problemas de sujeira no sistema.
A adição de sulfato de alumínio (de 4 a 5 kg/t) também se faz necessária para um bom
desempenho da cola, uma vez que o hidróxido de alumínio reagem com a ASA, melhorando

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sua eficiência e reduzindo o consumo de cola em alguns casos. A alumina também diminui a
‘pegajosidade’ da cola hidrolisada, minimizando os problemas de depósitos.

5.3. AGENTES DE RESISTÊNCIA A SECO


Os amidos e gomas são os aditivos mais utilizados para proporcionar maior resistência
ao papel formado, melhorando sua resistência à penetração de líquidos, arrepelamento, e
outras propriedades mais. A tabela 5.01 mostra alguns aditivos adicinados à massa para
conferir resistência interna ao papel.
ADITIVO DESCRIÇÃO
Amidos Natural ou não modificado quimicamente.
Gomas Dextrinas naturais ou modificadas quimicamente.
Derivados da celulose Carboximetilcelulose; metil celulose; hemicelulose.
Polímeros sintéticos Fenólicos; poliamidas; policrilamidas; uréia-formaldeido; melalina-formaldeido; poliamidas;
látex.
Tabela 5.01 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

5.3.1. Amido
O amido é um produto bastante utilizado na fabricação de papel, além de sua aplicação
na massa como adesivo para colagem de sacos, tubos, papéis laminados, papelão corrugado,
antre outros, também é usado para melhorar propriedades mecânicas e superficiais do papel.
Na indústria de papel, o amido é utilizado com as seguintes finalidades:
 melhorar propriedades mecânicas tais como resistência à tração e ao arrebentamento;
 auxiliar na refinação;
 melhorar resistência à abrasão superficial;
 melhorar lisura e rigidez;
 melhorar resistência à penetração de líquidos;
 evitar formação de pó.
O amido é o mais comum agente de resistência a seco utilizado e corresponde a quase
95% dos produtos e aditivos destinados à esta finalidade. Normalmente, tem de ser
“modificado” devido à retenção natural de um amido “in natura” ser ao redor de somente
40% (geralmente, para indústria de papel é necessário criar “sites” catiônicos). Sua utilização
na indústria papeleira é ampla: emulsões (colas alcalinas), “coatings”, agentes de colagem
superficial. É constituído por 2 tipos de estruturas: linear (amilose) e ramificada
(amilopectina) (figura 5.09).

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A estrutura linear da amilose tem uma grande tendência a formar cristais agregados
(retrogradação do amido). O que normalmente interessa à fabricação de papel é a quantidade
de amilopectina (alto peso molecular). O amido, em geral, é composto de pequenos grânulos
(5 a 100 micra) e suas fontes principais estão descritas na tabela 5.02.

Batata Milho Mandioca Trigo


Amilose, % 20 24 16 25
Amilopectina, % 80 76 84 75
Peso molecular Médio-alto Médio Médio-alto Médio
Tabela 5.02

Figura 5.09 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

O amido pode ser “desenhado” devido a vários processos físico-químicos para adaptá-
lo melhor à parte úmida ou para “coatings”, emulsões, etc. Isto o torna um aditivo importante,
pois pode ser trabalho de acordo com as nossas necessidades. Os métodos de modificações de
amidos são: modificações físicas, fracionamento em amilose e amilopectina, hidrólise ácida,
modificações químicas, oxidação (amido superficial), conversão enzimática, etc. Os principais
tipos de amidos são os catiônicos e os anfóteros.

5.3.1.1. Amidos catiônicos e anfóteros


Os amidos catiônicos e/ou anfóteros são importantes no processo de fabricação de
papel, por influenciar diretamente a qualidade final de quase todos os tipos de papéis,
proporcionando benefícios relacionados com a resistência física do papel tais como rigidez,
lisura, resistências interna e superficial, dentre outras. Em função de sua carga elétrica
positiva, interagem com a carga negativa das fibras e cargas minerais, ajudando a equilibrar o
complexo balanço de cargas elétricas na parte úmida da fabricação de papel, o “wet end”. Este
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balanço entre “coagulação” e “dispersão” influencia a formação, retenção, drenagem e


produtividade da máquina de papel.
Geralmente, os amidos modificados são utilizados para melhoria das resistências
físicas, retenção ou ambos. Em alguns casos podem ser utilizados para aumento da
velocidade, por intermédio da melhoria da drenagem e secagem.
Podemos enumerar vários benefícios que podem ser obtidos com a utilização dos
amidos catiônicos e/ou anfóteros, destacando-se:
 aumento da retenção total (carga mineral, finos e do amido);
 melhora das resistências interna e superficial (tração, mullen, CMT, Denninson e
IGT);
 melhora da resistência à dobras;
 melhora da colagem interna;
 auxilio na drenagem da máquina;
 melhora da formação da folha;
 aumento da resistência ao úmido;
 redução do D.B.O.;
 redução da porosidade;
 auxílio no equilíbrio de carga do sistema

5.3.2. Policrilamidas
Podem ser utilizadas tanto catiônicas quanto aniônicas. No caso de policrilamidas
aniônicas é necessário prestar atenção ao pH. Normalmente requer alguma fonte catiônica
(Al³+ em fabricação ácida para sua adsorção). As policrilamidas catiônicas são as mais
comumente aplicadas: DADMAC, AMBTAC, METAMS, VBTAC.

5.4. AGENTES DE RESISTÊNCIA A ÚMIDO


O reumidecimento de papel resulta em uma reidratação de fibras (quase que completa)
e em uma perda de 95% (aprox.) em resistência. Agentes típicos de resistência a úmido são:
Polímeros solúveis em água, iônicos (catiônico ou aniônico). Os grupos ativos mais
comumente utilizados: uréia formaldeído (“coatings”), melamina formaldeído (“coatings”),
epicloridrinamida (fabricação de papel especial, “tissue”, rótulo, embalagem), “glyoxal”
(fabricação de papel especial, tissue, rótulo, embalagem).
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5.5. PIGMENTOS, CORANTES E ALVEJANTES ÓTICOS


5.5.1. Pigmentos
Os pigmentos coloridos foram os primeiros produtos tilizados para colorir papel e ainda
hoje apresentam algumas vantagens sobre os corantes, como a boa estabilidade sob a ação da
luz e certos agentes destrutivos. Contudo, seu poder tintorial mais fraco que dos corantes
necessita de maior porcentagem.
Pigmentos coloridos são insolúveis em água. São inertes durante a fabricação de papel,
reagindo como carga. Não têm afinidade por fibra, e por este motivo requerem alumínio ou
fixador. Tendem a se concentrar na parte superior da folha (poderá ser diferente se utilizar
alguma micropartícula) devido às suas propriedade de retenção. Carbono preto é um dos
exemplos de pigmentos corantes.
Os pigmentos são encontrados no mercado na forma sólida ou em forma de dispersões.
Os pigmentos não dispersos apresentam maior tamanho de partícula e, geralmente, requerem
uma moagem capaz de reduzí-los a dimensões adequadas. Os tipos de pigmentos encontrados
normalmente são: pigmentos naturais, pigmentos coloridos sintéticos inorgânicos e pigmentos
coloridos sintéticos orgânicos.
O tamanho da partícula afeta de maneira significativa o grau de coloração fornecido ao
papel e a resistência da folha, uma vez que as partículas mais grosseiras tendem a enfraquecer
a formação da folha. A presença de arenitos com características abrasivas no pigmento pode
causar problemas de desgaste de tela, feltros e cilindros.
Os pigmentos podem ser dispersos em água, o que permitirá adicioná-los diretamente
aos refinadores na forma sólida. Essa adição pode ser feita antes ou depois da colagem
interna, porém deve-se ter o cuidado para que o sulfato de alumínio não seja introduzido até
que o pigmento seja todo misturado às fibras.

5.5.2. Corantes
Corantes e alvejantes óticos são substâncias que “dão” cor ao papel. Na indústria de
papel, os corantes são mais utilizados para colorir papel que os pigmentos, pois são mais
solúveis, possuem maior poder tintorial, maior gama de tonalidades, além de não alterarem as
propriedades mecânicas da folha de papel.
A grande maioria dos corantes é obtida em quantidades industriais, mediante processos
de síntese orgânica, a partir de produtos , como: benzeno, naftaleno, antraceno, entre outros.
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Os grupos funcionais que determinam o maior ou menor grau de solublidade do material em


meio aquoso, conferem as características fundamentais pelas quais os corantes são conhecidos
no mercado. Os corantes divedem-se basicamente em ácidos, básicos, diretos e a base de
enxofre.

5.5.2.1. Corantes ácidos


Os corantes ácidos são aqueles que produzem ou contêm ácidos; Formados por sais
alcalinos de ácido sulfônico (corantes).
Este tipo de corante é obtido com a introdução de grupos fenólicos ou sulfônicos na
molécula, e geralmente são encontrados na forma de sais de sódio, de potássio ou de amônio.
São compostos levemente aniônicos e, devido a este fato, possuem pouca afinidade com a
celulose. Necessitam, portanto, serem “fixados” à fibra através de alumínio ou a adição de
algum agente catiônico. Primariamente destina-se a polpas branqueadas. Sua solubilidade em
água é elevada, o que pode causar problemas quanto a efluentes. Devido à sua boa
solubilidade e baixa afinidade às fibras, normalmente poderemos ter problemas quanto à
dupla face (diferenças de tonalidades nas faces tela/feltro). Problemas de retenção com
corantes ácidos são perceptíveis pelo incremento da formação de espuma. Normalmente,
podem ser combinados ou substituídos por corantes diretos. Entre outras características dos
corantes ácidos, pode-se ainda destacar:
 fraca resistência à luz;
 tendência de manchar o papel úmido;
 baixa resistência à temperatura, alterando a cor na secagem quando esta for
conduzida de forma incorreta;
 boa compatibilidade com amidos, emulsões de parafinas e resinas.

5.5.2.2. Corantes básicos


Os corantes básicos são obtidos de grupos amino (-NH), substituindo um ou mais
hidrogênios ligados a anéis aromáticos, o que confere o caráter básico a este tipo de corante.
Esses produtos são comercializados na forma de cloretos, sulfatos ou oxalatos.
Os corantes básicos são catiônicos, constituídos por sais de cloretos ou sais “duplos” de
cloreto de zinco de diferentes “bases de corantes”. Têm baixa afinidade por celulose ou polpas
branqueadas, mas grande afinidade com materiais de natureza ácida, tais como os grupos da
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lignina e outras parte “não celulósicas” da fibra. Portanto, aplicáveis em polpas com alto
conteúdo de lignina (pastas mecânicas e pastas química e semiquímicas não branqueadas,
utilizadas para papéis de embalagens, listas, jornal e polpas moldadas). Proporcionam cores
fortes, “puras” e tonalidade distinta (porém, sua fixação é normalmente fraca). Alumínios ou
outros “mordentes” não são necessários, porém, incrementam a eficiência.
Os corantes básicos são catiônicos apresentando presentes nas pastas não branqueadas e
pastas de alto rendimento. As principais características dos corantes básicos são:
 poder tintorial maior entre os corantes de cor mais definida e clara;
 pouca resistência à luz;
 solubilidade moderada em meio aquoso;
 solubilidade em meio ácido ou em água quente (80°C);
 baixa afinidade as pastas branqueadas;
 exige colas de breu e sulfato de alumínio ou mordente como agente fixador;
 baixo custo por tonelada de papel (uso em papel mais barato);
 poblemático quando se utiliza água de elevada dureza;
 problemas de dupla face;
 alto brilho.
Os principais corantes básicos existentes no mercado são: violeta básico 10, vermelho
básico 2, laranja básico 2, marrom básico 4, violeta básico 1, azul básico 19 e 26 e verde
básico 4. Não existe corante básico preto.
Normalmente, este tipo de corante é utilizado em pastas mecânicas, TMP, CTMP,
celulose não branqueada com dispersante aniônico, misturas de fibras (com lignina). O
tingimento pode ser feito diretamente na massa ou via imersão.

5.5.2.3. Corantes diretos


Os corantes diretos estão relacionados com os corantes ácidos, porém são mais
complexos e menos solúveis e, principalmente, possuem maior afinidade com a celulose (por
isto que são chamados de diretos). O maior grau de retenção desses corantes pelas fibras se
explica em parte pela sua menor solubilidade, pois grande número deles formam suspensões
coloidais em meio aquoso.
Para conferir solubilidade em meio aquoso, introduz-se um grupo sulfônico e é neste
ponto que os corantes diretos assemelham-se aos corantes ácidos. São obtidos a partir de
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corantes que possuam radicais amina e, durante o tratamento, formam grupos diazo,
combinando-se com outras aminas aromáticas e fenóis para produzir moléculas maiores,
conhecidas como corantes diretos.
O mais antigo deste grupo de corantes é o Vermelho do Congo, produzido pela primeira
vez em 1884. O íon “corante” é ainda aniônico e, portanto, alumínio. Algum fixador catiônico
pode auxiliar no processo de fixação. Constituem o mais importante grupo de corantes para a
fabricação de papéis. Utilizados em papéis de alta qualidade e aplicáveis em papéis colados e
não colados. A solubilidade em água é baixa. A fixação é boa ou muito boa. A maior
desvantagem é que as cores não são sempre puras e límpidas como as obtidas pelos corantes
básicos e ácidos.
Entre outras características destes corantes podemos citar:
 maior afinidade com a celulose;
 ótima resistência à luz;
 cor mais embaraçada;
 menor solubilidade em meio aquoso;
 alto poder tintorial;
 menor tolerância a formar dupla face;
 aplicado em celulose branqueada e reciclado de primeira. O tingimento pode ser feito
diretamente na massa ou na superfície.
Os corantes diretos mais utilizados na indústria papeleira são: vermelho d.8, laranja
d.29, amarelo 4 e 6, marrom d.154, azul d.1, preto d.38 e aente branqueador fluorescente.

5.5.2.4. Os corantes a base de enxofre


Os corantes a base de enxofre são de pouco uso na indústria papeleira. Os corantes de
enxofre são insolúveis em meio aquoso, e por isso exigem um tratamento com agentes
redutores em meio alcalino. Nesta forma, o corante se dispersa facilmente em meio aquoso e
ainda possui boa afinidade com as fibras celulósicas. Esse papel colorido, quando exposto ao
ar, sofre oxidação e o corante volta a ser insolúvel em água.
A principal característica dos papéis coloridos com este tipo de corante é a firmeza da
fixação; não sendo diluído por líquidos, não mancha e não altera a cor de outros componentes
quando misturado com outros tipos de pasta.

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5.5.3. Alvejantes óticos


A necessidade atual para papel de impressão e escrita é de que ocorra uma
compensação significativa do amarelo que é a cor natural dos substratos envolvidos levando-o
para uma coloração azul avermelhada, que corresponde à sensação subjetiva de ‘branco’ para
o olho humano.
Para tanto, são utilizados alvejantes ópticos, substâncias químicas complexas que
possuem a propriedade de absorver radiação eletromagnética invisível na região do
ultravioleta (200 a 400 nm), reemitindo-a na faixa visível do azul-violeta (420 a 480 nm); esta
propriedade é denominada ‘fluorecência’. A capacidade de fluorescer dos alvejantes é
proceniente, por um lado, da planicidade de sua estrutura, onde a excitação eletrônica de
ligações ð decorrente da absorção de energia 3,4 na região do UV, provoca a delocalização
eletrônica e consequente estabilização via ressonância, sendo que o retorno dos elétrons
promovidos pela absorção de energia produz a emissão de luz com outro nível energético,
caracterizando assim a fluorescência. Por outro lado, a possibilidade de ressonar de grupos
substituintes que contenham pares eletrônicos livres também deve contribuir de forma
significativa na resposta da fluorescência. Concomitantemente ao uso dos alvejantes, são
também utilizados corantes ou pigmentos que, devido à tonalidade de sua emissão, também
possuem a propriedade de compensar a tonalidade amarelada dos substratos, porém, com
decréscimo da luminosidade final do papel.
Na figura 5.10, a reflexão espectral de um papel base (curva 1) apresenta uma
deficiência da tonalidade azulada. Parte desta deficiência foi compensada pela adição de
corantes/pigmentos (curva 2), onde ocorre uma alteração significativa na relação
azul/amarelo, ocasionando porém uma redução na luminosidade do papel. Por outro lado, a
adição de alvejante óptico confere ao papel uma tonalidade azul/avermelhada sem perda de
luminosidade (curva 3). Na prática. É utilizada a combinação alvejante óptico/corantes,
buscando um equilíbrio entre a razão custo benefício, a saturação do alvejante óptico, a
tonalidade final do papel e a perda de luminosidade.

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Figura 5.10 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

A razão pela qual os alvejantes ópticos conseguem absorver luz UV e emitir luz visível
deve-se ao fato da estrutura molecular dos mesmos possuir elétrons no estado fudamental (So)
que, após a absorção da energia de um fóton, passam a um estado excitado (S1). O retorno
desta eléctron ao estado fundamental é acompanhado da emissão de um fóton de menor
energia que o absorvido, sendo que a diferença é transformada, normalmente em energia
térmica.
Devido à complexidade da molécula, a solubilidade em água dos alvejantes ópticos só é
obtida através da introdução de greupos dulfônicos (1 e 2 na figura 5.11). O número de grupos
sulfônicos introduzidos na molécula também é utilizado para caracterizar os alvejantes em
três grandes grupos, como di-, tetra- ou hexa-sulfônicos.
A inserção de mais dois radicais sulfônicos nas posições 3 e 4 caracteriza os alvejantes
tetrasulfonados e outros dois nas posições 5 e 6 (figura 5.11) definem os agentes
hexassulfonados. A inserção dos radicais que carregam os grupos sulfônicos (figura 5.12)
altera também propriedades intrínsecas dos alvejantes tais como a substantiviadade (afinidade
do alvejante pela celulose). Além de elevar a solubilidade do alvejante, a introdução dos
grupos sulfônicos confere à molécula a carga aniônica que caracteriza o produto.

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Figura 5.11

Figura 5.12 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

A carga aniônica que confere solubilidade ao alvejante óptico também o torna


susceptível a agentes catiônicos e incompatível eletricamente com outros materiais aniônicos,
como a própria celulose. A compatibilização entre o alvejante e a celulose acaba sendo
realizada por forças de curto alcance (Van der Waals: figura 5.13) que, por agirem somente a
curta distância, tornam necessária uma grande aproximação entre o alvejante e a celulose.

Figura 5.13 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)


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A diferença de afinidade entre os diferentes tipos de alvejantes ópticos (di, tetra e hexa-
sulfonados) com a celulose pode, então, ser explicada através da diferenças entre as cargas
líquidas presentes em cada molécula. Quanto maior a carga negativa, maior a repulsão
eletrostática e menor a afinidade (substantividade) entre o mesmo, os tetra-sulfonados,
dificilmente conseguem aproximação apreciável com a celulose para que ocorra efetivamente
o efeito de branqueamento. A utilização de íons metálicos (dureza) na água pode facilitar a
aproximação entre as espécies e a consequente interação.
A eficiência do alvejante óptico é proporcional ao grau de brancura da polpa. Pasta
mecânica e CTMP normalmente apresentam lignina que anula o alvejante ótico (absorção de
UV). Podem contribuir para a perda de eficiência do alvejante ótico, os corantes amarelos,
componentes do “furnish”, agentes de resistência e alguns agentes de retenção que possuem
visível absorção na região azul do espectro. Dióxido de titânio e breu diminuem também o
efeito da aplicação de alvejante ótico.
Ainda interferem na eficiência do alvejante ótico os agentes catiônicos fortes: agentes
de resistência, colas alcalinas (reativas), polímeros catiônicos, amidos catiônicos, agentes de
coagulação (pontos de aplicação). Não devem ser misturados / aplicados dietamente com
alumínio. “Slimicidas” e biocidas catiônicos devem ser cuidadosamente estudados ou
evitados. Cloro (hipoclorito).

5.6. ADITIVOS AUXILIARES DA FABRICAÇÃO (ANTIESPUMANTES, AGENTES


DE RETENÇÃO, ETC.)
5.6.1. Antiespumantes e desaerantes
Os antiespumantes previnem formação de espuma e sedimentações associadas.
Normalmente, os antiespumantes são utilizados quanto temos agentes de resistência a úmido,
onde os problemas de espuma são mais graves. O uso destes produtos deve ser controlado,
pois normalmente produzem ação “release” ou afetam a capacidade de absorção de água.
Desaerante ou desaerificante é um produto químico cuja finalidade é remover o ar da
massa na fabricação de papel.

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5.6.2. Aditivos de retenção


5.6.2.1. Retenção
A retenção pode ser definida como a proporção de um componente da massa de papel
que é encontrada em um estágio mais adiante do processo. É um dos processos mais
importantes na química da parte úmida da máquina de papel devido a sua influência nos
custos de produção e qualidade do papel. Como a retenção das fibras ocorre praticamente por
filtração e numa grandeza de algo como 95% ou mais, o grande empenho da química da parte
úmida é a máxima retenção das partículas coloidais (finos, cargas, etc.) durante a formação da
folha de papel.
Consideram-se finos a fração do material que passa por uma peneira de 200 mesh. Os
finos podem evidenciar natureza orgânica ou inorgânica. Entre os finos orgânicos encontram-
se as células existentes no tecido vegetal (células radiais, medula, etc.), fragmentos de
material provenientes do processo (picador, refino, etc.) e materiais reciclados incorporados à
massa. Os finos inorgânicos constituem-se nos sólidos adicionados à massa para modificação
de algumas propriedades. O teor de finos na folha afeta consideravelmente as propriedades
óticas, superficiais e de resistência do papel. Além disso, as partículas finas passam para o
sistema de água branca, provocando problemas de recuperação, manuseio e perdas no efluente
da fábrica.
Sem um programa de retenção efetiva, grandes quantidades de finos e cargas podem
passar pela tela durante a formação da folha, visto que estas partículas têm dimensões muito
menores do que as das fibras (figura 5.14).

Figura 5.14 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)


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Na interface “sólido/água” de um sólido em suspensão desenvolve-se uma carga


elétrica que, no caso da fabricação de papel, é devida à dissociação de componentes da
superfície das fibras ou da adsorção de algum químico eletricamente carregado. Esta primeira
camada de íons é envolvida por outra, mais difusa que a primeira, com sua própria carga
elétrica e há, por fim, a suspensão fibrosa como um todo, ou a massa para papel, que também
tem seu potencial.

5.6.2.2. Considerações sobre o ‘Zeta Potencial’


Sabe-se que quase todos os
constituintes do papel, e em particular
as fibras de celulose e as cargas
possuem uma carga negativa quando
dispersas ou dissolvidas na água,
causando uma fraca ionização na
superfície das moléculas e sendo
Figura 5.15 (FONTE: Apostila Curso Básico de
comum a adsorção de íons da mesma.
Fabricação de Papel)
As consequência elétricas de uma superfície carregada na água são vistas na figura
5.15, que mostra uma partícula eletronegativa como o caulim, por exemplo, em suspensão na
água.
A carga negativa do caulim, por exemplo, é devida à adsorção de íons OH- em certos
pontos da superfície. Uma partícula de caulim em suspensão na água é envolvida por um
filme de HOH chamado camada de água difusa que é, todavia, menos ligada do que a camada
de íons OH- adsorvidos. Esta teoria de dupla camada foi devida a Von Helmholtz e depois
confirmada por vários cientistas.
A diferença de potencial na camada difusa é chamada potencial eletrocinético ou ‘Zeta
Potencial’, representando a carga eletronegativa adsorvida pelas partículas em suspensão na
água. O ‘Zeta Potencial’ que é indicado em mV (‘milivolts’) pode ser usado pelo papeleiro
como importante indicador na definição das condições mais adequadas para a fixação de
finos e cargas às fibras. Em outras palavras, do grau de retenção de seu processo de formação
da folha.

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Um ‘Zeta Potencial’ nulo quer dizer uma ausância completa de forças repulsivas entre
as partículas, isto é, uma aptidão para estas aderirem umas às outras e assim flocularem
formando aglomerados. Portanto, uma boa retenção na máquina de papel pressupõe a
necessidade de haver um ‘Zeta Potencial’ próximo de zero.

5.6.2.3. Agentes de retenção


Tradicionalmente, a indústria química vem oferecendo três principais grupos de agentes
de retenção:
1) produtos inorgânicos (sulfato de alumínio, aluminato de sódio, substâncias minerais
etc.;
2) produtos orgânicos naturais e seus derivados (amidos, CMC, cola animal etc.);
3) produtos orgânicos sintéticos: polietilenoiminas e suas modificações, poliamida-
aminas e suas modificações, e poliacrilamidas e seus dericados.
Por muito tempo a indústria papeleira utilizou apenas o sulfato de alumínio,
polieletrólito inorgânico, como agente de retenção. Atualmente, o uso de polietetrólitos
orgânicos sintéticos tornou-se uma prática bastante comum, com melhoras consideráveis na
retenção de finos.
O polieletrólito é basicamente um polímero orgânico que apresenta grupos funcionais;
carregado eletricamente, ou neutro, torna-se carregado em solução aquosa, o que permite sua
solubilidade em água e sua atuação como eletrólito.
Os polieletrólitos podem ser classificados de acordo com a funcionalidade dos grupos
iônicos (carga) em: não iônicos, aniônicos, catiônicos e anfóteros. Os polieletrólitos não
iônicos não possuem cargas em solução. São capazes de desenvolver uma carga transiente em
solução aquosa, via protonação. Como resultado, são solúveis em água e se comportam como
polieletrólitos fracos. Nesta categoria podemos citar: poliálcoois, os poliéteres e as
poliamidas.
Os produtos aniônicos possuem grupos funcionais ácidos sulfônicos, fosfônicos ou
carboxílicos, portanto, com carga negativa. Esses polímeros são normalmente utilizados em
sistemas ácidos que contenham slfato de alumínio.
Os polímeros catiônicos contêm grupo funcional com carga positiva que reside em um
enxofre trissubstituído (sulfônico), em fósforo tetrassubstituído (fosfônio) ou em um
nitrogênio tetrassubstituído (amônio).
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Os polieletrólitos anfóteros possuem ambos os grupos funcionais, na mesma cadeia


polimérica. Sua vantagem está na capacidade de funcionar sob condições mais diversas,
incluindo uma ampla faixa de pH.
Os polieletrólitos podem ser obtidos na forma sólida (mais fácil transporte), solução
aquosa (fácil manuseio) e ainda na forma de emulsão (alto peso molecular de fácil manuseio).
Vários estudos mostram que pastas em dispersão aquosa apresentam uma carga
superficial negativa. Observa-se também que, ao aumentar essa concentração de sais, esse
potencial negativo é reduzido, sendo esse efeito acentuado na presença de sais portadores de
catións multivalentes ou polímeros catiônicos. Há, portanto, uma estreita correlação entre a
reduão do potencial negativo e os fenômenos de floculação e retenção.
Polímeros de cadeia muito longa, embora não provoquem alteração da carga superficial,
são capazes de formar pontes entre as superfícies altamente resistentes à turbulência,
desencadeando a floculação e a retenção.

5.6.2.4. Coagulantes
Uma característica comum dos coagulantes é a alta densidade de carga e baixo peso
molecular. O mais comum é o sulfato de alumínio, porém, existem coagulantes sintéticos
como as poliaminas, onde a maioria é solúvel em água e podem ser dosados diretamente na
massa.
Os coagulantes poliméricos são 100% catiônicos e variam entre si em relação ao peso
molecular e intensidade de carga. Pode-se afirmar que o amido quando adicionado na massa
(alta consistência) funciona também como um coagulante no sistema.
A coagulação não é instantânea. Um pouco de tempo é necessário para que o
coagulante faça o contato inicial como as partículas e seja adsorvido pela sua superfície.
Entretanto, se houver muito tempo de contato o coagulante pode entrar na esfera das
partículas perdendo parte de sua força de neutralização.
Os pequenos flóculos formados ou agregados que podem ser formados durante a
coagulação, podem ser quebrados em áreas de tensão como no sistema de “approach flow”,
por exemplo: cleaners, depurador vertical, refinadores bomba de mistura. Os flóculos
formados durante a coagulação podem ser formados novamente após passarem pelos pontos
de alta tensão de cisalhamento.

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5.6.2.5. Floculantes
Os floculantes são polímeros de alto peso molecular, com função de criar pontes entre
fibras, finos, cargas e mantê-los presos na folha de papel. Poliacrilamidas são os floculantes
mais utilizados. Produzidos pela polimerização do monômero da acrilamida, dominam o
mercado devido à química da amida que forma pontes de hidrogênio com a celulose e outros
aditivos.
Também apresentam um bom custo/benefício, podendo ser manufaturado ate um peso
molecular elevado, e podendo ser modificado entre catiônico e aniônico. A principal função
da carga iônica e estender a cadeia o mais longe possível.
Um polímero não modificado fica enrolado como uma mola em soluções aquosas, pois
não existem forças que mantenham a cadeia estendida em seu completo comprimento.
A figura 5.16 mostra as ações de coagulação e floculação combinadas:

Figura 5.16 (FONTE: Apostila Curso Básico de Fabricação de Papel)

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5.6.2.6. Sílica coloidal


A dispersão de sílica coloidal é utilizada em conjunto com o agente de retenção para
maximização da retenção, drenagem, resistência e formação da folha. A utilização da sílica
proporciona algumas vantagens no processo, como:
 maximizar a retenção;
 aumenta a qualidade da folha formada, reduzindo a dupla face;
 reduz o consumo de agentes de resistência, carga, cola, amido e corante;
 reduz perdas e custos de tratamento de efluentes, devido incremento de retenção.

5.6.3. Cal hidratada


Usado para acerto de pH (aumenta), tem a propriedade ideal para subir a dureza da água
do sistema. É usado também para a formação de “coating” no secador com a aplicação
conjunta de uma resina.

5.6.4. Sabão para limpeza de feltros


São sabões utilizados para limpeza de feltros, que normalmente são empregados após a
lavagem com solução de soda, usados sob a forma de solução.

5.6.5. Querosene e xileno


São solventes derivados do petróleo, comumente utilizados para a remoção de “pitch” e
outros contaminantes da celulose e sistemas com graxas que aderem aos feltros e tela.

5.6.6. Talco
Trata-se de uma rocha pulverizada cujas partículas possuem características de absorção.
Tal produto é utilizados para a redução dos efeitos nocivos do “pitch” residual da celulose e
outros contaminantes que se depositam sobre as vestimentas da máquinas de papel.

5.6.7. Cloreto de cálcio


Trata-se de um produto inorgânico que quando em solução, líbera o íon cálcio que
confere a dureza necessária à água do sistema para a formação do “coating” no secador
“Yankee”. Além disso, os íons cloreto (Cl-) funcionam como fixador de corantes. Sua
fórmula estrutural é CaCl2.
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5.6.8. Fosfato de amônio monobásico (MAP)


Trata-se de um produto inorgânico que é dosado sob a forma de solução em “spray”,
diretamente no feltro, ou no cilindro “Yankee”, de forma a proteger a sua superfície do
desgaste mecânico. Sua fórmula estrutural é NH4H2PO4.

5.6.9. Agentes condicionadores de feltro e tela


Composto orgânico à base de resina amina-formaldeído que age formando uma película
sobre as vestimentas a fim de que não haja aderência de “pitch” e “stickies” nas mesmas.

5.6.10. Agentes para controle de depósitos


Evita a formação de depósitos de modo a eliminar pintas e manchas no papel,
decorrentes de material orgânico.

5.6.11. Microbiocida
Controla os microorganismos presentes no processo, tornando a máquina com baixo
nível de contagem de fungos e bactérias, e aumentando o intervalo entre as lavagens químicas
(“boil out”).

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5.7. ALOCAÇÃO DAS MATÉRIAS PRIMAS NÃO FIBROSAS EM FUNÇÃO DO TIPO


DE PAPEL

Tabela 5.03

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6. DESAGREGAÇÃO DA MASSA E SEUS PERIFÉRICOS


6.1. DESAGREGAÇÃO DE FIBRAS VIRGENS
A chegada das fibras na preparação de massa pode ser realizada de várias formas: por
tubulações como suspensão cuja consistência pode variar de 3 a 6%, quando a fábrica é
integrada com o processo de fabricação de celulose; em folhas ou rolos oriundos de uma
secadora de celulose, com umidade em torno de 10%, ou oriundos de uma desaguadora, com
umidade em torno de 60%. Para o caso de celulose que é secada pelo sistema “flash drier”, a
celulose vem em blocos compactos de fibras; em refiles úmidos ou secos, e como aparas.
Exceto no caso das fábricas integradas, existe a necessidade de formar uma suspensão
de fibras em água com a consistência adequada para poder utilizá-la nas etapas posteriores do
processo. Isto é obtido através da etapa de desagregação. O desagregador, também chamado
de “Hydrapulper” ou simplesmente “Pulper”, é um equipamento semelhante a um
liquidificador gigante, cuja estrutura corresponde a um tanque de aço, de ferro fundido, de
concreto, ou mesmo, com azulejos. O formato do tanque e seu tamanho são determinados pela
capacidade de produção de papel requerida e da consistência de operação.
A figura 6.01 mostra um típico desagregador vertical, onde se pode ver na sua parte
inferior, um rotor provido de hélices, que é a peça do equipamento que gera a turbulência
necessária para fazer com que as fibras fiquem em suspensão de forma homogênea dentro do
tanque. A instalação de aletas ou chicanas na parte inferior do tanque melhora as condições de
agitação. Abaixo do rotor, encontra-se a câmara de extração que é coberta por uma placa
perfurada, também chamada de placa extratora, que impede a passagem através da qual a
pasta desagregada é retirada do tanque. Os orifícios da placa perfurada possuem diâmetro que
varia entre 6 e 30 mm em função do tipo de matéria prima a ser desagregada.

Figura 6.01 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” – ABTCP)

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O desagregador vertical pode ser de processamento por bateladas (periódico) ou


contínuo. Como exemplo, no caso do processamento por bateladas a placa extratora estende-
se 152 mm em torno da periferia do rotor cujas perfurações apresentam, nessa faixa, diâmetro
de 25 mm. O segmento da placa que trabalha sob o rotor, por sua vez, apresenta perfurações
de 9,5 mm de diâmetro. A ação de bombeamento do rotor impele a massa para baixo, através
dos furos de 9,5 mm, e devolve-a a bacia pela periferia, através dos furos de 25 mm,
mantendo sempre limpa a câmara de extração. Toda a massa ao ser descarregada é forçada
pelo rotor a passar através da placa extratora.
No caso do desagregador vertical contínuo, a placa extratora é perfurada no segmento
sob o rotor. As palhetas do rotor impelem a massa através das perfurações de forma que a
massa, já suficientemente desfibrada, é facilmente bombeada para fora da bacia, enquanto que
a massa ainda insuficientemente desfibrada, é fracionada pela passagem das palhetas do rotor
rente às bordas dos orifícios, assim desfibrando-se também.

6.2. DESAGREGAÇÃO DE FIBRAS RECICLADAS


Para o caso das aparas, o processo de reciclagem começa nos desagregadores, onde são
retiradas as impurezas pesadas, tais como arames, pregos, pedras, madeira, barbantes, etc. Os
desagregadores podem funcionar com e sem atrito. O segundo efetua a desagregação somente
através de forças de cisalhamento e impacto, enquanto que no caso do desagregador com
atrito, além das forças do cisalhamento e impacto, há também forças de fricção, pois o rotor
do desagregador gira próximo ao um disco ou a uma placa estacionária, desfazendo assim, os
aglomerados de fibras. Os dois tipos de desagregadores funcionam em sistemas de batelada
ou contínuo. No sistema continuo a velocidade de alimentação de fardos de polpa deve
controlada proporcionalmente com a entrada de água de diluição e a descarga deve ser feita
em tanques com capacidades de pelos menos uma hora.
Para um mesmo tamanho, os desagregadores contínuos têm capacidade maior que os de
batelada, pois não há perda de tempo no carregamento; a retirada contínua de fibras serve para
classificar a massa, removendo o material desagregado e alguns pequenos aglomerados de
fibras, enquanto que a parte não desagregada de massa permanece no equipamento.
Os desagregadores de batelada são usados, geralmente, quando se requer elevada
limpeza e isenção de impurezas, como adesivo “hot melt”, látex e plásticos. Com

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desagregadores de batelada é possível selecionar o material desagregado antes de lançá-lo no


sistema e, se necessário, desprezar uma batelada fortemente contaminada.
Os papéis que sofrerão destintamento requerem desagregadores do tipo sem atrito,
porque têm menor tendência a moer as partículas de tinta e reduzir o tamanho das impurezas
plásticas. Desagregadores de papelão ondulado, jornais e papéis velhos operam com grande
quantidade de impurezas, por isso geralmente são contínuos, e funcionam em baixa
consistência. Outros tipos de aparas permitem usar qualquer tipo de desagregador,
dependendo do material a ser desagregado. Se este for de fácil desagregação, recomenda-se
um desagregador sem atrito; caso contrário, o desagregador com atrito. Na figura 6.02
aparecem alguns desagregadores Kandant CBTI.

Figura 6.02 (FONTE: Apresentação Figura 6.03 (FONTE: Apostila “Curso básico
ABTCP/CBTI) de fabricação de papel” – ABTCP)

O desagregador conhecido como “Sydrapulper”, que aparece na figura 6.03, também


pode ser de processamento periódico ou contínuo, e seu sistema de trabalho é idêntico ao do
Hidrapulper. Este equipamento desfibra de maneira eficiente papéis que são resultantes de
quebras ou aparas, possibilitando seu posterior bombeamento. O diâmetro do rotor varia de
acordo com a produção especificada em projeto, podendo ser de 24¨, 33¨, ou 42¨.
Normalmente, esse tipo de desagregador é utilizado no porão da máquina de papel ou em
locais onde o espaço não permita o uso de repolpeadores convencionais.
A retirada da massa desagregada é realizada através de um tubo de saída, processada
através da válvula de descarga pneumática. O desagregador é alimentado através de uma
esteira transportadora. A água fresca é introduzida por uma válvula de alimentação e a água
clarificada é alimentada por outra válvula.
O funcionamento do desagregador se processa com a adição de água até mais ou menos
50% de sua capacidade, seguida de seu movimento. A seqüência de adição das matérias
primas é normalmente feita de acordo com a receita de fabricação. Em geral, para quem
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trabalha principalmente com reciclados, aconselha-se a adição de álcali. Os fardos são


colocados no interior do desagregador e são rompidos sob os efeitos dos golpes das pás do
rotor, iniciando o processo de trituração. O rotor produz efeitos mecânicos que dissolvem a
matéria prima, umedecendo-a, cortando-a e afrouxando suas ligações fibrosas, resultando em
uma suspensão fibrosa fluida que pode ser bombeada para as etapas posteriores.
Após a colocação das matérias primas, deve-se acertar a consistência final e o pH,
conforme as recomendações do controle de processos. Qualquer anormalidade que ocorra no
setor de desagregação irá influenciar diretamente na eficiência dos equipamentos posteriores,
na máquina de papel e no produto final.
Ao desagregador não cabe homogeneizar a massa. Seu funcionamento econômico vai
até quando se obtém uma massa com, aproximadamente, 30% de pastilhas ou pequenos
aglomerados, que seguirão no processo e serão tratados imediatamente.
Os desagregadores com rotor helicoidal
(figura 6.04) que operam de forma
descontínua com alta consistência (12 a 18%)
foram desenvolvidos no fim dos anos 1970 e
desde então, têm cumprido um papel
importante na desagregação eficiente sem a
necessidade de se reduzir o tamanho das
impurezas. Estes desagregadores são
empregados especialmente no processamento
de aparas de papéis revestidos e com Figura 6.04 (FONTE: Preparação de Massa –
resistência a úmido. SENAI CETCEP)
Um rotor helicoidal é feito de maneira a gerar um fluxo vertical descendente até o
fundo do tanque e, secundariamente, uma movimentação no sentido horizontal. O tempo de
desagregação é aproximadamente o mesmo comparado com desagregadores verticais
convencionais.
Este tipo de desagregador possui algumas vantagens quando comparados com
desagregadores convencionais:
 economia de até 20% de energia, para qualquer tipo de aparas.
 desagrega de forma mais suave, pois promove o atrito fibra-fibra, que possibilita uma
melhor separação de tintas das fibras.
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 desagrega materiais de difícil desagregação como materiais revestidos por plásticos e


papéis resistentes a úmido (Exemplo: embalagens cartonadas).
 economiza produtos químicos e vapor no caso da desagregação de aparas resistentes
a úmido ou em instalações de destintamento, corte reduzido de materiais estranhos.
A desagregação em altas consistências proporciona um baixo consumo de energia,
principalmente para elevados níveis de desagregação de matéria prima de difícil desagregação
O uso dos desagregadores de alta consistência integrados a um contaminex CMS pode
ser utilizado no caso do processamento de aparas com um grau de contaminantes não muito
elevado.
O contaminex CMS consiste de um rotor montado a frente de uma placa perfurada com
furos de 8 a 10 mm com a finalidade de provocar um intenso turbilhonamento da polpa. Os
desagregadores são instalados sem placa perfurada sob o rotor de maneira a se evitar o corte
dos contaminantes durante a desagregação. A massa após ser desagregada em alta
consistência, no início da descarga, é diluída para 8 a 10%. Entre o desagregador e o
contaminex, a massa recebe uma nova diluição reduzindo sua consistência para 4 a 4,5%. Os
contaminantes são retidos pela placa perfurada e se acumulam dentro da máquina que, após a
descarga total do desagregador, uma válvula de rejeitos é aberta e o mesmo é removido para
um container.
A desagregação em altas consistências proporciona um baixo consumo de energia
específica, principalmente para altos níveis de desagregação de matéria-prima de difícil
desagregação. Além disso, a quantidade de massa tratada por volume é alta, ou seja, pouco
espaço específico. O método permite um alto grau de remoção de impurezas, devido ao baixo
nível de redução das impurezas durante a desagregação.
O consumo de vapor com altas temperaturas durante a desagregação em altas
consistências também é menor e a ação de químicos, tanto para auxiliar no destintamento
como para diminuir resistência a úmido de papéis, é mais eficiente.

6.3. DESPASTILHADORES
A existência de pastilhas ou aglomerados de fibras representa um problema para a pasta
semi-preparada, levando em conta sua posterior utilização na máquina de papel. Para que
estas pastilhas sejam desagregadas com reduzido corte de fibras e sob condições energéticas

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de ótima rentabilidade utiliza-se o despastilhador ou “deflaker”. Também chamado de pré-


refinador.
No despastilhador, o efeito de separação das fibras se faz pelas forças mecânicas de
choque e pelas altas forças de fricção ou atrito que são produzidas pela grande diferença de
velocidade entre o rotor e o estator, as quais causam uma redução das uniões entre fibras e,
conseqüentemente, sua separação. A figura 6.05 mostra um despastilhador aberto. As
guarnições do despastilhador são mostradas na figura 6.06.

Figura 6.05 (FONTE: Apostila SENAI- Figura 6.06 (FONTE: Apostila SENAI-
CETCEP Preparação de massa) CETCEP Preparação de massa)

A aplicação do despastilhador na fabricação de papel e celulose é indicada para:


despastilhar pastas fibrosas; separar partículas entranhas às fibras, especialmente no
tratamento de aparas; desintegrar recortes; tratar refugos de depuradores na preparação de
aparas e triturar plantas anuais depois do cozimento.
O funcionamento do despastilhador ocorre da seguinte forma: a corrente de suspensão
que penetra centralmente, ao passar pelas coroas ranhuradas do rotor e estator, é dividida em
correntes parciais, que são aceleradas e drenadas repetidas vezes. As forças mecânicas de
choque que se formam afrouxam e rompem a união entre fibras. Nos espaços estreitos entre
rotor e estator se geram também, devido aos altos gradientes de velocidade, forças de corte
hidrodinâmicos as quais aumentam também a eficácia do processo de despastilhamento. A
largura mais adequada de intervalo entre rotor e estator é definida de tal forma que se podem
produzir suficientes forças de fricção e corte, diminuindo o risco de que a fibra seja cortada.
Normalmente, o despastilhador não produz um aumento do grau de refino e,
conseqüentemente, não influi na capacidade de deságüe da massa.
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7. DEPURAÇÃO DE FIBRAS VIRGENS E RECICLADAS


7.1. INTRODUÇÃO
A qualidade do papel a ser produzido depende fortemente do grau de limpeza da massa.
Estilhas, nós, areia, partículas metálicas, etc., causam danos à máquina de papel, desgaste de
equipamentos, problemas na secagem e consumo adicional de vapor. Depuração é o nome que
se dá a operação de limpeza da mistura de celulose com os demais componentes da receita.
Deve-se ter sempre em mente que o maior desafio da depuração é fazer com que o “aceito”
tenha menos “rejeito” e o “rejeito” tenha menos “aceito” (figura 7.01)

Figura 7.01 (FONTE: montagem Edison da Silva Campos)

A depuração destina-se a retirar sujeiras e outros corpos estranhos, que são indesejáveis
para a aparência e finalidade da folha de papel. A qualidade do papel depende fortemente do
grau de limpeza de massa. As impurezas podem vir de várias fontes: da matéria prima fibrosa,
papéis reciclados, impurezas introduzidas durante o transporte, produtos químicos,
proveniente de equipamentos, água, processo de fabricação, etc. Podemos classificar em
quatro tipos de contaminações:
 contaminações da massa (exemplos: fibras não branqueadas, fibras sem
beneficiamento, fibras entrelaçadas);
 outras contaminações da massa (exemplos: pó das pedras do desfibramento no caso
de pasta mecânica);
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 contaminações externas na fábrica de papel (exemplos: sujeiras das embalagens,


arame das embalagens);
 contaminações internas à fábrica (exemplos: ferrugem dos canos, cavacos de
madeira, pedaços de concreto, etc.).
A eliminação das impurezas é necessária tanto do ponto de vista do papel acabado
como do próprio funcionamento do processo. Com relação ao papel, a presença de impurezas
afeta as características mecânicas (a impureza é um ponto débil) e ao aspecto exterior (alvura,
presença de pastilhas). Com relação à fabricação, a presença de impurezas volumosas ou
gelatinosas pode causar perfurações e quebras no papel na saída da máquina, na seção de
prensas e na seção de secagem. Os motivos pelo quais as impurezas são removidas nos
processos de fabricação de papel, bem como a eficiência de depuração, dependem de cada
processo. No caso de papéis “kraft”, por exemplo, a necessidade de depuração é mínima,
enquanto que para a fabricação de papéis finos, tem uma importância vital.
As impurezas podem ser classificadas em três categorias: sujeiras pesadas e volumosas,
sujeiras pesadas e finas, e sujeiras leves. Os sistemas de depuração mais conhecidos são:
peneiramento ou “screen” (plana, rotativa e pressurizada – depurador vertical), centrifugação
(“cleaner”) – depurador centrífugo.
No caso do peneiramento, é estabelecida a relação dos componentes da massa,
essencialmente, em função do tamanho e formato. A classificação é feita por: diafragma ou
tela plana, cilindro com alimentação externa, cilindro com alimentação interna, cilindros
pressurizados.
No caso dos depuradores centrífugos a separação é feita em função da densidade. A
classificação é feita por: separadores de areia, cestas rotativas, cilindros e ciclones. O custo de
acionamento, capital disponível, facilidade de operação e manutenção entre outros fatores
determinam, para cada situação em particular, a escolha do equipamento a ser utilizado, uma
vez que há uma quantidade e variedade de diferentes princípios de funcionamento.

7.2. DEPURADORES PROBABILÍSTICOS


Estes equipamentos separam as impurezas tanto pelo tamanho como pelas formas das
partículas, a este tipo pertencem as partículas de rejeito sem forma definida e de tamanho
grande, que podem ser removidas da polpa pelo efeito de peneiramento ao passar o líquido

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com suspensão de fibras através de uma chapa perfurada com furos arredondados ou ranhuras
(figura 7.02).
O depurador probabilístico típico é
uma máquina de funcionamento
relativamente simples. Os problemas de
funcionamento são normalmente devidos à
carga de alimentação estar acima ou abaixo
das especificações do equipamento.
Figura 7.02 (FONTE: ?)

7.2.1. Mecanismo da depuração probabilística


Pode-se dizer que entender os mecanismos de separação durante a depuração, são
ferramentas muito úteis no entendimento das operações dos depuradores. Há três velocidades
principais dentro do cesto, excluindo as velocidades associadas com a turbulência local. Estes
componentes são as velocidades: radial, axial e tangencial, as quais em relação ao cesto
produzem forças que vão determinar o grau de separação de rejeitos.
A velocidade axial é aquela que está na direção do eixo de rotação do cesto e paralela
ao cesto perfurado. Nota-se que a velocidade axial depende do espaço entre o cesto e o corpo
do rotor e também do volume de fluxo.
A velocidade radial depende da área total aberta das ranhuras ou furos e do fluxo de
aceite. A velocidade tangencial é aquela devido a rotação da polpa em torno do eixo do cesto,
ela é paralela à superfície perfurada e perpendicular às velocidades radial e axial. Diz-se que
a velocidade relacionada à passagem de polpa através das aberturas é denominada velocidade
transversal. Observa-se que o mecanismo de depuração é influenciado diretamente pela
velocidade transversal da polpa mais próxima ao cesto.

7.2.2. Depuração por peneiramento


O tamanho dos orifícios das peneiras representa o fator fundamental do peneiramento.
A situação ideal será a escolha de orifícios que selecionem impurezas de tamanhos inferiores
aos aceitos pela máquina de papel e produto acabado. Mesmo mantendo constante a área
aberta da peneira, uma redução no diâmetro dos orifícios produz rápida queda de vazão da
peneira, devido à tendência de entupimento dos orifícios pela retenção de impurezas e fibras

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entrelaçadas. A vibração reduz esta tendência, o que justifica a utilização de peneiras


vibratórias.
A redução dos orifícios resulta em aumento da quantidade de rejeitos. Para que haja
equilíbrio deste efeito é necessário aumentar a vibração ou, em sistemas pressurizados, a
pressão de recalque. O diâmetro dos orifícios deverá ser definido de maneira a atender aos
seguintes requisitos:
 minimizar a rejeição de fibras boas;
 impedir a passagem de uma grande quantidade de impurezas;
 evitar perda de carga exagerada;
 dispensar forte vibração da tela, para não haver aumento do consumo de energia.
As peneiras podem ser: planas (ou de diafragma), rotativas e pressurizadas.

7.2.2.1. Peneiras planas ou vibratórias


As peneiras planas ou vibratórias são utilizadas para a classificação de toda classe de
massa fibrosa e podem ser utilizadas para classificação em baixa e alta consistência de massa.
Quando operam em alta consistência, eliminam grandes impurezas tais como: partículas de
madeiras, material sintético e metal; em baixa consistência localiza-se próxima ao depurador
vertical, e normalmente recebe seu rejeito.
Este tipo de peneira assemelha-se a uma caixa que contém uma placa ranhurada ou
perfurada, colocada na posição horizontal ou levemente inclinada. Abaixo da placa existe
dispositivo que transmite movimento vibratório à placa, que geralmente é em diafragma
acionado por um mecanismo excêntrico. A vibração desfaz o colchão de massa e evita o
entupimento das aberturas.
O funcionamento deste tipo de peneira pode ser visto na figura 7.03, abaixo: pelo
movimento vibratório a massa é conduzida através de um funil de entrada até a superfície da
chapa de peneiramento. A massa, então, passa pela furação da peneira, e o rejeito sai pela
parte posterior, onde se encontra um chuveiro de dispersão, para evitar que fibras sejam
levadas juntamente com os rejeitos.
Observações:
 operacionais: quando não apresentar nenhum rejeito, deve-se observar se o sentido
de giro do motor está correto;

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 peneira entupida: verificar se a perfuração da chapa não é pequena demais ou se a


consistência da massa está muito alta.

Figura 7.03 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” – ABTCP)

7.2.2.2. Peneiras rotativas


As peneiras rotativas são
usadas nas fases primária e
secundária e consistem de
cilindro de paredes perfuradas
(figura 7.04), contra as quais a
suspensão de fibras é impelida
pela ação centrífuga, gerada
Figura 7.04 (FONTE: Apostila “Curso básico de
pelo movimento de rotação do
fabricação de papel” – ABTCP)
próprio cilindro ou de um rotor.
De acordo com o escoamento da suspensão fibrosa em relação ao cilindro perfurado
pode ser de fluxo para fora do cilindro (“outward flow screen”) ou de fluxo para dentro do
cilindro (“inward flow screen”).
Em peneiras rotativas centrífugas geralmente placas de furos redondos são mais
eficientes para reter estilhas longas e delgadas e partículas delgadas e planas. As placas
ranhuradas separam materiais esféricos ou cúbicos. Havendo duas peneiras do mesmo
tamanho, aquela, com furos redondos, possui maior capacidade que placas ranhuradas porque
na primeira a área aberta é muito maior e pode processar massas de consistência mais elevada,
com menor possibilidade de entupimento.

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7.2.2.3. Depuradores de baixa pressão (peneiras pressurizadas)


Estes depuradores probabilísticos têm a superfície da peneira situada no interior de uma
carcaça, trabalhando completamente cheios de suspensão fibrosa para evitar o contato desta
com o ar. A circulação da pasta a depurar se realiza à diferença de pressão existente entre a
alimentação e a saída do aceite, de onde vem sua denominação.
Existem diversas configurações, porém o princípio de funcionamento é o seguinte: a
suspensão fibrosa a depurar chega a uma câmara, uma de cujas paredes está constituída pela
peneira; a fração fina atravessa as aberturas da peneira, enquanto que o rejeito se acumula na
zona inferior da câmera de entrada de onde é “evacuado” de uma forma contínua ou
intermitente. A figura 7.05 mostra as peneiras com furos e ranhuradas, respectivamente.

Figura 7.05 (FONTE: apostilas ABTCP)

No interior do equipamento existem, existem hastes móveis que se deslocam


paralelamente à peneira e muito proximamente à mesma com o objetivo de produzir pequenas
pulsações de pressão que evitem o comprometimento das performances e a floculação da
pasta. Outro efeito produzido por estes partes internas é de melhorar a depuração; com efeito,
devido a que a velocidade das pás (10 a 15 m/s) é da ordem de dez vezes superior à
velocidade da pasta, esta chega à superfície da peneira com uma trajetória fortemente
inclinada (7.06), pelo que as dimensões aparentes das perfurações ficam reduzidas.

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Figura 7.06 (FONTE: apostilas ABTCP)

Existem diferentes configurações deste tipo de depuradores, podendo citar-se cinco


variantes (figura 7.07):
 tipo centrífugo com aletas interiores;
 tipo centrípeto com aletas interiores;
 tipo centrífugo com aletas exteriores;
 tipo centrípeto com duas peneiras em série;
 depurador com duas peneiras em série, uma centrífuga e outra centrípeta.
As peneiras destes depuradores podem ser de aço inoxidável com perfurações circulares
ou retangulares. O rejeito originado nestes depuradores representa da ordem de 2 a 10 % da
vazão de aceito, ainda que em alguns casos de utilização em preparação de pastas pode ser
consideravelmente maior (até 30%). Este rejeito pode conter uma alta percentagem de fibra
boa, devido ao sistema de rejeito que utilizam estes depuradores, pelo que se pode tratar em
um depurador secundário (peneira vibratória plana ou depurador de baixa pressão).
Na atualidade, a depuração probabilística na cabeça de máquina se realiza com este tipo
de depuradores, devido a que apresentam uma série de vantagens frente aos depuradores
abertos: ocupam menos espaço (aparatos compactos com grandes vazões), se adaptam melhor
às pressões necessárias nas máquinas mais rápidas, não existe contato da suspensão fibrosa
com o ar (não incorporam ar à suspensão e não criam espuma), eficaz efeito de desfloculação
da pasta (esforços de cisalhamento ao passar pelas perfurações) e menor manutenção (não
existem partes internas submetidas a vibrações).

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Figura 7.07 (FONTE: Apostila “Depuração em baixa consistência” – VCP)

As configurações mais clássicas dos depuradores de baixa pressão não permitiam


superar valores de concentrações superiores a 2% de consistência, ainda que na atualidade
existem configurações específicas para trabalhar a consistência até 4%, o que permite sua
utilização em preparação de pastas sem a necessidade de incorporar uma diluição prévia e
uma etapa de engrossamento posterior.
Possuem várias configurações. Essencialmente, todas possuem uma placa ranhurada ou
perfurada na forma cilíndrica. O material é alimentado na face interna ou externa do cilindro.
Sob pressão a massa é forçada contra a placa, e é considerado como aceite, aquele que
consegue passar através da placa. A diferença entre os vários tipos é o dispositivo que evita o
entupimento das ranhuras ou furos da placa. As vantagens das peneiras pressurizadas são: alta
capacidade, redução da quantidade de lodo formado dentro do equipamento, pequeno espaço
ocupado, redução do número necessário de tubulações e bombas, flexibilidade de localização
dentro das instalações e trabalham com queda de pressão.
São os seguintes fatores que afetam a depuração por peneiras pressurizadas:
 características da massa: tipos de fibra (fibra curta, fibra longa, finos, rigidez das
fibras);
 característica do rejeito (“shives”, limalha, areia);
 nível do rejeito (quantidade);

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 característica da peneira: configuração do mecanismo de limpeza (sistema de “foil”


simples ou duplo, rotação do “foil”), tipo e tamanho das perfurações, velocidade do rotor
(influência do tempo de retenção);
 variáveis de Operação: fluxo de massa (entrada/saída), consistência (consistência
mais alta representa maior tempo de retenção. Se for muito diluído, haverá maior risco dos
rejeitos passarem para aceite), temperatura (maior temperatura diminui viscosidade. Não pode
passar de 55ºC: perde água da fibra).

7.2.2.4. Problemas operacionais com depuradores probabilísticos


O tamponamento (“blinding”) do cesto ocorre quando a camada de fibras da polpa
próxima à superfície do cesto colapsa devido à pressão, formando um lençol de fibras sobre a
superfície, diminuindo ou impedindo o fluxo de aceite. O fluxo de rejeito aumenta e o
controlador de fluxo reage para diminuí-lo. A carga no motor pode ficar constante ou até
diminuir. A pressão diferencial tomará valor máximo. O efeito de tamponamento pode ser
causado pelo excesso de aceite para certas condições operacionais.
O entupimento (“plugging”) de um cesto ocorre quando a consistência no lado de
alimentação sobe até ao ponto de causar problemas no acionamento ou na capacidade. Se o
problema não for resolvido rapidamente o motor pode até frear. Os sintomas de entupimento
são semelhantes aos de tamponamento, sendo que o fluxo de rejeito pode cair, a carga do
motor normalmente sobe.
A limpeza do cesto se faz, em ambos os casos, fechando a válvula de aceite e esperar
que os pulsos negativos do rotor provoquem o desentupimento dos furos através do rejeito.
Fechar a válvula de alimentação também resolve, mas poderá levar mais tempo. Uma forma
de prevenir é instalar um alarme e promover uma seqüência de automatização de limpeza.

7.3. DEPURAÇÃO POR CENTRIFUGAÇÃO


Os depuradores centrífugos são cones, nos quais a suspensão de fibras entra
tangencialmente e por diferença de pressão de entrada e saída, provoca um movimento de
rotação interno (vórtice), gerando uma força centrífuga que separa por diferença de densidade
todas as impurezas ou contaminantes mais pesados que as fibras.

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A alta eficiência do equipamento é conseguida quando a operação é realizada


corretamente, ou seja, para cada tipo de material (fibroso), da natureza e do tratamento das
sujeiras, será ajustada a consistência ideal e o diferencial de pressão correto.
O funcionamento dos depuradores centrífugos é baseado na diferença de massa
específica das fibras e impurezas que serão separadas pela ação da força centrifuga. A
suspensão fibrosa contendo sujeiras é introduzida tangencialmente na parte superior do
aparelho, o qual tem uma forma de um longo cone invertido. Imediatamente, a massa
desenvolve um movimento de rotação e assim, penetrando na parte cônica, as partículas
descem com uma trajetória espiralada em direção ao vértice e rapidamente adquirem
aceleração uniforme. Em seu desenvolvimento, um desenho de separador centrífugo é
determinado considerando o fluxo com o respectivo diferencial de pressão em relação à
eficiência de separação, ou seja, por razões óbvias procura-se a melhor eficiência com o
menor diferencial de pressão.
A força centrífuga, sob a qual as partículas mais pesadas mantêm-se junto à parede do
aparelho, aumenta muito na zona próxima do vértice do cone.
À medida que o fluído se aproxima do
vértice, o espaço torna-se grandemente menor e a
parte da suspensão mais afastada da parede
reverte à direção do fluxo.
O material em suspensão ascende em uma
espiral em torno do eixo vertical do cone e é
retirado como aceite na parte superior.
O material pesado, que se concentra junto à Figura 7.08 (FONTE: Apostila “Curso
parede, acompanha uma trajetória espiralada básico de fabricação de papel” –
descendente até atingir o vértice do cone, de onde ABTCP)
é recolhido como rejeito (figura 7.08).
Outra particularidade da centrifugação é que estão disponíveis em vários tamanhos. O
tamanho do equipamento está muito mais relacionado à sensibilidade do princípio desejado da
centrifugação do que a capacidade de produção da planta. É importante ressaltar que o fluxo é
razão direta do tamanho do equipamento e o comprimento do cone é razão direta de seu
diâmetro maior.

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7.3.1. Separadores de massa grossa


Os separadores de massa grossa (“coarse cleaner”) são usados para separar grande
quantidade de impurezas e materiais abrasivos presentes na massa, tais como parafusos,
grampos, pedras, pregos, etc. Essas impurezas devem ser removidas, sempre que possível,
para prevenir danos ou desgaste prematuro nos equipamentos posteriores ao processo tais
como peneiras, despastilhadores, refinadores, etc. Esse equipamento não remove impurezas
muito finas, havendo, portanto, a necessidade de outros equipamentos depuradores após estes
separadores. Normalmente trabalham com consistência entre 3 e 6 %, mas pode haver casos
em que a consistência varia de 1 a 2 %.
O princípio de funcionamento é
semelhante ao de um “cleaner”
convencional, pois para remover a maior
parte de impurezas como pedras e
metais, forças centrífugas devem
predominar. As impurezas de alto peso
específico descem pelo cone para o
depósito de rejeitos. O depósito de
rejeitos recebe água de lavagem pela
válvula que regula o fluxo, evitando Figura 7.09 (FONTE: Apostila “Curso
assim sedimentação de fibras no depósito básico de fabricação de papel” – ABTCP)
(figura 7.09).
O depósito de rejeitos consiste de
uma câmara entre duas válvulas (figura
7.10). Normalmente a válvula superior é
aberta e a inferior, fechada, para que os
rejeitos possam entrar no reservatório.
Periodicamente é feita a retirada de
rejeitos da câmara fechando-se a válvula
superior e abrindo a inferior. A câmara é
cheia novamente com água branca e as
Figura 7.10 (FONTE: PREPARAÇÃO DE
MASSA – Senai CETCEP) válvulas retornam às posições originais.

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A iluminação do cone de vidro facilita a inspeção, possibilitando o controle da


separação, sendo eliminados os rejeitos através da alavanca.
Cuidados na operação:
 a pressão de água fresca da tubulação de lavagem de retorno deve ter no mínimo 10
m.c.a. (~1 kgf/cm2) a mais do que a pressão da massa na entrada do separador;
 a vazão, a consistência, a diferença de pressão de entrada e saída da massa não
devem sofrer variações significativas;
 a diferença de pressão entre a entrada e a saída do separador deve ser de 10 a 16
m.c.a. (1 a 1,6 kgf/cm2) e deve ser constante o serviço;

7.3.2. “Centercleaners” ou “hidrociclones”


São utilizados principalmente para retirar pequenas partículas de sujeira de elevada
massa específica da massa, cuja remoção seria muito difícil ou impossível, somente com o
emprego de peneira. Os fatores que afetam a depuração centrífuga são:
 característica da massa: tipo de fibra;
 impurezas: forma, tamanho, densidade, nível de sujeira;
 característica do “hidrociclone”: diâmetro e altura da seção cilíndrica (partículas
menores que 0,25 mm: ciclones de 3” de diâmetro; partículas maiores e planas: ciclones de 6”
de diâmetro), configuração de abertura de alimentação e diâmetro de abertura do aceite
(balanço de massa entrada/saída define o tempo de retenção que deve ser o mínimo possível),
ângulo da seção cônica, diâmetro e características do duto de entrada e saída da massa, altura
da seção cilíndrica, e sistema de remoção dos rejeitos;
 fluxo de alimentação;
 consistência: apesar de não afetar consideravelmente a pressão no ciclone, influi
fortemente na eficiência da remoção das sujeiras. Menor consistência representa maior
separação. Consistência até 0,5%, o desempenho não muda. Acima disso, há decréscimo na
eficiência, dependendo da natureza e tamanho das sujeiras. Materiais densos e grandes,
pedras, pregos: recomenda-se consistência de 5% e queda de pressão de 1 kg/cm2. Casca e
cinzas: consistência menor que 0,5% é melhor;
 taxa de rejeito da massa;
 temperatura: maior temperatura, menor viscosidade, maior separação;

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 ar na massa: bolhas;
 pressão de descarga: diferença de entrada e saída (em geral de 0,8 a 1 kg/cm2);
 arranjo do sistema: com “hidrociclones” pode-se conseguir uma separação adequada
de sujeiras, mas a quantidade de fibras arrastada juntamente com os rejeitos é da ordem de 5 a
10% da massa alimentada, o que representa perda excessiva. Por esta razão eles são utilizados
em baterias de 2 a 4 estágios, com muitas variações na reciclagem das massas rejeitadas, afim
de minimizar a perda de fibras. Geralmente o arranjo dos fluxos é feito em seqüência, e de tal
maneira que o aceite de um ciclone alimenta o ciclone anterior, isto é, fluxo em
contracorrente. O rejeito é diluído e encaminhado para o ciclone subseqüente.
Devido sua pequena capacidade individual, os ciclones são montados em grupos e
alimentados por uma linha comum, e os aceites coletados em uma mesma tubulação. Assim
cada estágio é constituído por uma bateria de ciclones ligados em paralelo (figura 7.11).

Figura 7.11 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” – ABTCP)

7.3.3. Problemas operacionais com depuradores centrífugos


Nos hidrociclones, da mesma forma que nos depuradores probabilísticos, o principal
problema de funcionamento é o entupimento do orifício de saída de rejeitos, com material
estranho, acúmulos de fibras ou mesmo polpa de alta consistência. Normalmente, dimensiona-
se o orifício para se ter um nível de rejeito razoável, porém às vezes seu tamanho deve ser
incrementado para evitar tamponamento, todavia recomenda-se trabalhar com baixa
consistência ou proteger o hidrociclone através da instalação de outros hidrociclones de
grande diâmetro com objetivo de eliminar os materiais grosseiros suscetíveis de causar

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tamponamento em unidades de pequeno diâmetro, há outra forma de minimizar estes efeitos,


através da colocação de uma peneira desfloculadora antes dos hidrociclones, com a meta de
eliminar os agregados de fibras.
Outro problema comum nos hidrociclones é a possibilidade de introduzir ar junto à
polpa, o que pode ser um problema em algumas aplicações, principalmente antes da máquina
de papel. Como existe um núcleo vazio que se estende desde o extremo do orifício de saída
até ao tubo de aceitos, há uma forte tendência a recolher ar quando se utiliza uma descarga
livre. A entrada de ar pode ser impedida mediante uma descarga submersa ou com uma
descarga de rejeitos descentralizada para romper o núcleo vazio na câmara de rejeitos. Deve-
se ater em relação ao método utilizado para impedir a entrada de ar, afim de que não afete a
eficiência do hidrociclone.

7.4. ALGUNS EQUIPAMENTOS E PROCESSO DE DEPURAÇÃO ESPECÍFICOS


PARA APARAS
Ao longo do tempo e principalmente após os anos 1.970, a utilização de papel reciclado
tem sido incrementada. Este aumento no consumo requer seu uso em papéis que
historicamente somente utilizavam fibras virgens. Isto provocou mudanças fundamentais, seja
pela maior contaminação no sistema ou pelas diferentes características da matéria rima
reciclada. As alterações nas fibras causam impactos no processo de produção e requerem
modificações e adaptações no tratamento e utilização desta matéria prima em comparação
com a utilização de fibras virgens. O grande problema está na anexação de elementos
estranhos à fibra (materiais impróprios: impurezas e proibitivos).
Equipamentos de depuração exigem condições adequadas para o seu funcionamento.
Representam investimentos relativamente altos, tanto na implantação como no
funcionamento. Pelo tipo de trabalho a que são submetidos, devem ser minuciosamente
analisados, a fim de reduzir ao mínimo possível a eliminação de matéria prima, pois além das
perdas econômicas, carregariam sobremaneira o tratamento de efluentes, podendo trazer
danos ao meio ambiente. Para serem eliminados, as impurezas devem ser identificadas,
conhecidas e analisadas.

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7.4.1. Turboseparadores ou “fiberizer”


Os turboseparadores, também chamados de trituradores ou “pulpers” secundários, são
normalmente instalados em sistemas que trabalham com materiais reciclados de elevado grau
de contaminação. Este equipamento retira impurezas leves e pesadas como mostra a figura
7.12. Possuindo uma entrada de massa na tangencial, o turbo separador trabalha pressurizado,
em seu interior existe um rotor que auxilia a ação da força centrífuga, onde o material leve
dirige-se para o centro, enquanto o material pesado dirige-se para a lateral do equipamento. O
fluxo de aceito passa através de uma placa perfurada com furos de 2,4 a 3,0 mm (depuração
probabilística), localizada atrás do rotor. Um conjunto de válvulas atua por temporizador
regulado de acordo com a quantidade de impurezas e as descargas de rejeito.

Figura 7.12 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” – ABTCP)

Observação: alguns tipos de rejeitos fiáveis podem obstruir a passagem de


peneiramento, aumentando assim a pressão interna e comprometendo as gaxetas de vedação.
Quando isto ocorrer pare o equipamento e proceda a limpeza da peneira.

7.4.2. Peneiras inclinadas ou “side hill”


Em peneiras inclinadas a massa é alimentada em uma caixa de entrada que se localiza
na parte superior e projetada de forma a derramar um fluxo laminar de massa nas telas,
evitando turbulência (figura 7.13). As fibras descem rolando sobre a tela, o que permite que
sejam drenadas através da tela, a água junto com fibrilas (fragmentos de fibras), a carga
mineral, os produtos solúveis, os produtos coloidais e os produtos químicos. Nesses casos, a

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consistência inicial encontra-se na faixa de 0,8 a 1,5%. A consistência de descarga varia em


torno de 3 a 8%, dependendo de vários fatores.
A peneira inclinada é o único
equipamento em que não há formação de
camada de fibra sobre a tela, como ocorre nos
outros lavadores. Quando a massa desliza e
rola para baixo sobre a tela, ela constantemente
oferece novas oportunidades para a remoção de
sólidos suspensos que poderiam ser retidos na
Figura 7.13 (FONTE: Apostila “Curso
manta de fibras. Este é um dos mais
básico de fabricação de papel” – ABTCP)
importantes objetivos da lavagem de massa.

A capacidade de uma unidade não é tão afetada pela massa altamente refinada. A
capacidade de uma peneira é de 10 a 15 t/dia por metro de largura de peneira. Nos processos
de produção de papel é comum se utilizar uma secção mais longa no primeiro lavador,
especialmente quando uma fina tela é usada. No primeiro estágio é comum o uso de malha de
tela entre 32 e 40; nos estágios subseqüentes usa-se malha de tela entre 24 e 32.
O ângulo da tela é muito crítico. Se a caída for plana, a massa não se moverá para baixo
na medida então ela engrossa. Se o ângulo for muito grande, a tendência é que a massa se
mova para baixo muito rapidamente, não havendo tempo suficiente para a drenagem. Para a
maioria das massas, um ângulo de 38 a 45° da horizontal é considerado satisfatório. Quanto às
telas, estas podem ser de plástico, inox ou bronze.

7.4.3. Fracionadores
O fracionamento permite separar frações de fibras longas e de fibras curtas, tornando
possível seu uso mais racional, como também separar as fibras da pasta mecânica. A
aplicação do fracionamento iniciou-se na separação de fibras longas e curtas, sendo que as
primeiras destinavam-se à fabricação de papel capa, e as últimas, à de papel miolo. Este
procedimento valoriza as aparas para a fábrica. O fracionamento é geralmente realizado por
peneiras pressurizadas ou ciclones separadores.
O fracionamento permite separar a massa em duas ou mais frações, que podem ser
refinadas separadamente, até atingir os índices ótimos para cada fração, sendo depois
recombinadas ou enviadas a diferentes setores de fabricação. Desta maneira, as características
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de cada fração são melhoradas, sem danificar as outras frações, pelo excesso de refino, além
de reduzir apreciavelmente o consumo de energia.
Este tipo de processamento também está sendo aplicado para a eliminação de finos e de
cargas, cuja única contribuição positiva se restringe a um aumento relativo de opacidade da
folha, enquanto a drenabilidade da massa e a resistência mecânica do papel são diminuídas.
Na figura 7.14 aparece um exemplo de fracionador OptiScreen PS (Metso Paper).

Figura 7.14 (FONTE: Apresentação METSO / ABTCP)

7.4.4. Flotação
O destintamento por flotação é feito em um reservatório que faz a dosagem correta do
fluxo de massa e o controle das bolhas de ar na quantidade quanto no tamanho para permitir a
retirada de partículas de tinta do sistema através da geração controlada de espuma.
Para permitir que estas partículas de tintas sejam agregadas e arrastadas pelas bolhas de
ar é necessário que sua composição química final seja hidrófoba (repelente à água) em pelo
menos uma parte de sua estrutura química, pois as fibras de celulose são hidrófilas e estão
junto com as tintas de forma homogênea. Neste caso todo o fluxo de massa deve sofrer as
seguintes etapas:
 os ligantes, quaisquer que sejam, já devem ter sido neutralizados;
 as partículas de tintas devem estar separadas das fibras;
 reagentes químicos, á tornaram as partículas de tinta hidrófobas.
A partir das condições acima o fluxo de massa está apto a ser destintado pelo método de
flotação, e pode ser trabalhado nas chamadas células de flotação. É lógico que, ao misturar ar
ao fluxo de massa, a criação de espuma é inevitável e desejável, porém esta deve ser bem

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controlada e minimizada, trabalhando com a característica da água a ser utilizada ou no dito


popular, endurecendo a água através de minerais.
Como todo o sistema preparado e controlado em condições ideais, teremos toda a tinta
sendo eliminada pela célula de flotação em sua parte superior com a eliminação de espuma e
as fibras seguem o sistema em condições de serem reaproveitadas.
Estas impurezas são eliminadas com a espuma a uma consistência de aproximadamente
2 a 3%, devendo ser engrossados e concentrados para serem retiradas do processo.
Após um tratamento eficiente, a água recuperada deve retornar sempre para o
tratamento de aparas e nunca deve ser enviada à máquina de papel para não influir na
produção da máquina e por já ter características convenientes ao tratamento de aparas. A
figura 7.15 apresenta um diagrama esquemático do flotador Thermo Black Clawson.

Figura 7.15 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” – ABTCP)

7.4.5. Lavagem
O destintamento por lavagem é feito através de máquinas ou equipamentos, onde se
tenta a troca total da água que vem da planta de aparas com diferentes reagentes e tintas. Para
permitir que estas partículas de tintas sejam conduzidas pela água de lavagem é necessário
principalmente que as mesmas estejam na forma de partículas, em tamanhos bem menores aos
da própria fibra e estejam distribuídas no fluxo de forma homogênea. Neste caso todo o fluxo
de água, massa e impurezas, devem sofrer as seguintes etapas:
 os ligantes, sejam de que tipo for, devem ser neutralizados;
 as partículas de tintas devem ser separadas das fibras;
 as partículas de tinta devem ser minimizadas em seu tamanho.
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105

A partir das condições acima o fluxo de massa está apto a ser destintado pelo método de
lavagem e pode ser trabalhado em qualquer lavador. Com todo o sistema preparado e
controlado, em condições ideais, teremos toda a tinta sendo eliminada pela água de lavagem
que atravessam os lavadores num sistema de conceito simples de filtragem das fibras com
respectivo engrossamento.
As fibras que permanecerem sobre as telas dos lavadores estão aptas a serem enviadas a
fabricação, e para seu bombeamento pode ser utilizada água de retorno da máquina de papel,
quando não se tem branqueamento posterior.
A água de lavagem conduz estas impurezas numa concentração bastante baixa, gerando
uma circulação bem alta de água. Estas devem ser recuperadas e num tratamento primário de
rejeitos são extraídos com uma consistência aproximada de 2 a 3%, devendo ser engrossados
e concentrados para serem levados a aterros sanitários e sua composição é principalmente de
cargas, componentes das fibras e um pequeno percentual de tintas.
Idêntico ao sistema de flotação, a água recuperada deve retornar sempre para o
tratamento de aparas e nunca deve ser enviada à máquina de papel, para que não possa influir
na produção da máquina e por já ter características convenientes ao tratamento de aparas.
Os lavadores, diferentemente das células de flotação, são de diferentes conceitos de
operação: lavador com tela sem fim, engrossador a tambor, “side hill”, prensa desaguadora,
rosca inclinada, etc. Na figura 7.16, aparece um diagrama esquemático do lavador Thermo
Black Clawson DNT.

Figura 7.16 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” – ABTCP)

7.4.6. Branqueamento
Após terem sido retiradas as tintas das aparas ou em combinação com esta ação, as
fibras recuperadas podem sofrer uma ação de branqueamento. Este branqueamento só é
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justificável caso as aparas que estejam sendo tratadas já não possuam tintas impressas,
sobretudo tintas a base de negro de fumo, responsáveis por mais de 90% dos processos de
impressão.
A justificativa desta afirmação é que estas tintas destacam-se com maior intensidade,
quanto mais claro ou mais branco estiver este produto e, sendo assim, todo o objetivo deste
tratamento será anulado.
Para se branquear uma pasta de aparas é importante ter conhecimento da matéria prima
original, pois esta é a condição que determina o tipo de agente de branqueamento que iremos
utilizar. É importante ressaltar que o branqueamento só age em corantes solúveis e não em
corantes a base de pigmentos.
No branqueamento de aparas à base de celulose, são usados hipocloritos ou
hidrossulfitos. Estes químicos são agentes branqueadores versáteis e eficientes, além de serem
agentes anti-bactericidas e de baixo custo.
Caso se tenha pasta mecânica, é necessária a utilização de peróxido de hidrogênio, pois
agentes branqueadores como hidrossulfito ou hipoclorito causam o amarelecimento do
produto final.
No caso de aparas com e sem pasta mecânica, o ideal é adaptar ou dimensionar um
sistema novo, com as ações combinadas de dois estágios, sendo o primeiro com peróxido e o
segundo com hipoclorito ou hidrossulfito. Ao se combinar uma ação de destintado com
branqueamento é importante verificar a maneira mais econômica de projetar a instalação,
considerando que é um investimento de custo alto devido as varias exigências dos reagentes
químicos.
Pode-se também combinar a ação dos dois tipos de branqueamento e, nesse caso, é
importante levar em consideração que os reagentes têm exigências diferentes de pH, ou seja,
enquanto o peróxido trabalha em meio alcalino similar ao utilizado na planta de destintado, o
hidrossulfito reage melhor em meio ácido similar ao da máquina de papel. O sistema
combinado deve ser o preferido, pois além de se atingir ganhos de até 15 pontos no grau de
alvura, estará preparado para as diferentes condições de matéria prima.

7.4.7. Cálculo da eficiência dos processos de depuração


A eficiência dos processo de depuração é dado pela seguinte equação:

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Onde:
ER: eficiência da depuração, %
S1: massa de rejeitos no fluxo da alimentação, kg
S2: massa de rejeitos no fluxo de aceite, kg

Exemplo de aplicação:
Supondo-se que em um sistema de estágio unitário de depuração existam 100 kg de
polpa no sistema e 1 kg de sujeira, e que a taxa de rejeito de fibra é igua a 15% e a eficiência
de depuração seja de 90%. O cálculo de perdas deste sistema será dado pelo desenvolvimento
abaixo:
Taxa de rejeito (%) = massa total de rejeitos*100 / massa de polpa na alimentação
15/100 = massa total de rejeitos /100
Massa total de rejeitos = 15 kg
Massa de aceite (kg) = massa total de rejeitos (kg) - massa de polpa alimentada (kg)
Aceite = 100 – 15 = 85 kg de fibras boas
Com eficiência de 90%, temos:

90/100 = (1,0 – SR) /SA


SA = 1,0 – 0,9 = 0,1 kg
SR = SA – SR = 1,0 – 0,1 = 0,9 kg de impurezas no rejeito.
A figura 7.17 apresenta um sistema de depuração em cascata:

Figura 7.17 (FONTE: LÓPEZ, A.L.T., Tecnología del Papel - apuntes de curso).

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8. REFINAÇÃO
8.1. OBJETIVOS DA REFINAÇÃO
A palavra refinação é sinônimo de refino, refinagem e moagem (termo mais antigo) e é
considerado como uma das etapas mais importantes na fabricação de papel. Na literatura
técnica em inglês podemos encontrar a expressão “beating”, uma expressão bem antiga,
utilizada quando as fibras de celulose eram batidas com um malho de madeira ou dentro de
um pilão. Normalmente, em inglês utiliza-se o termo “refining” quando se quer enfatizar que
o tratamento é feito tão somente em equipamentos denominados refinadores.
A refinação das pastas celulósicas é geralmente o tratamento mecânico das fibras cujo
principal objetivo consiste em melhorar a capacidade das fibras unirem-se umas às outras, a
fim de que seja possível a obtenção de uma folha de papel homogênea e resistente aos
esforços mecânicos a que estiver sujeita, seja durante o processo de consolidação na máquina
de papel, ou durante sua etapa de acabamento e conversão, ou ainda, durante sua aplicação
final. A figura 8.01 mostra folhas feitas em laboratório, onde à esquerda não há refino e à
direita as fibras foram refinadas com moinho PFI até 45ºSR. (FONTE: Yasumura – 2004).

Figura 8.01 (Apostila “Curso básico de fabricação de papel” – ABTCP)

Outros objetivos da refinação inclui a modificação das características das fibras para a
obtenção de determinadas propriedades do papel. Para poder chegar a esses objetivos, as
fibras podem chegar a serem encurtadas, hidratadas, fibriladas, operações essas que ajudarão a
desenvolver as propriedades como resistência física, absorvência, porosidade e várias
propriedades ópticas. As propriedades desejadas para os papéis dependem também de sua
aplicação final ou de processamento, mas poderíamos dizer que se caracterizam por
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109

propriedades de resistência, propriedades ópticas, propriedades superficiais, propriedades de


interação com substâncias químicas, entre outras.
A refinação modifica simultaneamente várias propriedades da pasta; alguns efeitos são
desejáveis, porém, outros não. Como norma, tração, arrebentamento, dobras, união interna,
densidade e tempo de drenagem aumentam com a refinação, enquanto que a opacidade,
permeabilidade, poder absorvente, estabilidade dimensional e compressibilidade diminuem. O
rasgo, às vezes, aumenta no início, porém, diminui posteriormente.
O desenvolvimento das propriedades anteriormente indicadas depende de diversos
fatores tais como: a quantidade de refinação, a forma de refinação, geometria das guarnições e
considerações do processo. Estes fatores – as condições de refinação (figura 8.02) – devem
determinar de acordo com a composição da fibra, o produto final e as condições da fábrica.

Figura 8.02 (Apostila “Curso básico de fabricação de papel” – ABTCP)

A ação mecânica imposta pelos elementos refinadores à polpa em suspensão, seja fibra
contra metal ou fibra contra fibra, introduz modificações irreversíveis na estrutura das fibras e
demanda um elevado consumo de energia. Devido a estes fatores, é de fundamental
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importância a compreensão dos mecanismos de transferência de energia para as fibras e como


ela é utilizada no desenvolvimento das propriedades da polpa refinada.

8.2. TEORIAS QUALITATIVAS DA REFINAÇÃO


8.2.1. Teoria tradicionalmente aceita
A teoria tradicionalmente aceita sobre refinação da massa a fim de transformá-la em
pasta foi proposta por Campbell, que estendeu e desenvolveu uma teoria mais antiga proposta
por Strachan. Segundo esta teoria, quando fibras ligno-celulósicas são imersas em água, a
superfície e os poros das fibras absorvem água, causando um inchamento interno que é
mantido pela estrutura da fibra (figura 8.03).

Figura 8.03 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” – ABTCP)

Ao entrarem no refinador, estas fibras estarão sujeitas a um tratamento mecânico


bastante severo. Fox lembra que, em escala industrial, a distância entre os discos é mantida
em torno de 100 µm e que há evidências, obtidas através de fotografias ultra-rápidas tiradas
com um disco translúcido, de que os flocos de fibras são da ordem de 1 mm de diâmetro, o
que vem reforçar a teoria de que a ação de refino será muito drástica sobre as de fibras.
Assim, as fibras, que podem ser visualizadas como tubos, são constantemente
pressionadas pelas facas das guarnições do disco. Como resultado, as ligações que mantêm
firme a estrutura da fibra vão se quebrando, permitindo a separação de suas paredes. Fibrilas
são destacadas do corpo principal da fibra, expondo novas superfícies que absorvem mais
água e, como conseqüência, fibrilam mais facilmente. Durante este processo de inchamento,
impactos e fibrilação, as fibras tornam-se mais flexíveis e mais hábeis em receber impactos

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sem se quebrarem. Um dos resultados importantes deste processo é o colapsamento da fibras


(figura 8.04) que contribui para a RBA do papel formado.

Figura 8.04 (FONTE: www.celso-foelkel.com.br)

Sumarizando, durante a refinação ocorrem basicamente três modificações da fibra:


corte-ruptura da fibra do plano perpendicular ao seu eixo longitudinal; machucadura
(“bruzing”) – esmagamento e diminuição da rigidez interna da fibra, e fendilhamento e
ruptura da fibra em planos.

8.2.2. Teoria dos flocos


As fibras, presentes na massa, fazem parte dos flocos, ou seja, não existem
individualmente e não podem mover-se independentemente. Isso ocorre na massa de
consistência compreendida entre 2 à 6%. Com a manipulação da massa, como agitação,
bombeamento, depuração, os flocos se deformam e formam continuamente. Esse fenômeno
ocorre também durante o refino, quando a massa passa por refinador, atravessando os sulcos e
lâminas (barras). O diâmetro de um floco, dependendo do tipo de fibras e da consistência,
pode variar de 1 à 6 mm, valor este bastante alto, quando comparado com a folga entre os
discos, comumente na faixa de 50 à 150 µm (figura 8.05).

Figura 8.05 (FONTE: PAULAPURO, H., et alli, Papermaking Part 1, Stock Preparation and
Wet End)

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112

Por isso a probabilidade de um floco destes na entrada (boca) de alimentação é bastante


pequena. Por outro lado, o fluxo da massa através dos sulcos é bem maior do que pela folga
entre os discos. Este fato normalmente causa um refino desigual e leva às significativas perdas
de energia com o bombeamento de massa, em vez de refiná-la. A formação de vórtice, para
facilitar a alimentação, também fica prejudicada.
Por isso, a seleção de segmentos (largura de lâminas, largura e profundidade dos
sulcos), bem como manutenção de condições constantes durante o processo de refinação é de
grande importância.
Page e seus colaboradores foram os primeiros a afirmar em 1962 que a refinação
envolva a ruptura de flocos e o tratamento de resíduos desses flocos (Ebeling, 1980).
Chegaram a estas conclusões através da análise de fotografias de alta velocidade. Banks em
1967 sumarizou a mecânica da refiação da seguinte forma:
 consolidação de flocos quando estes são presos entre barras que se aproximam;
 pressão mecânica induzida pelas barras torna-se suficientemente elevada para
provocar deformação plástica;
 tensão de corte é exercida nosflocos comprimidos, provocando a ruptura de flocos e
fibras;
 redução da pressão mecânica permite absorção de água pelas fubras e fibrilas
rompidas;
 agitação turbulenta dispersa os flocos ou seus resíduos.

8.2.3. Outras teorias qualitativas


Entre outras teorias qualitativas da refinação pode-se ainda acrescentar, como exemplo,
a refinação como um processo de lubrificação, em que todos os refinadores podem ser
considerados como um ‘rolamento’, em que as camadas de fibras atuam como um lubrificante
entre o rotor e o estator. Desta forma, a refinação pode ser observada como um processo de
lubrificação.

8.3. TEORIAS QUANTITATIVAS DA REFINAÇÃO


8.3.1. ‘Carga Específica de Borda’ ou intensidade de refino
Dentre os diversos modelos já propostos para o equacionamento da ação de refino, a
teoria da ‘Carga Específica de Borda’ - CEB (“Specific Edge Load” – SEL) é dos mais

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113

simples e já vem sendo bastante utilizado. De acordo com este modelo, a intensidade de
refino, definida como CEB, e a quantidade de refino, representada pela ‘Energia Específica de
Refino’, são os parâmetros que melhor descrevem a ação do refino sobre a polpa.
Observação: nesta apostila será adotada a denominação ‘Carga Específica de Borda’
(CEB) ao invés de ‘Carga Específica de Lâminas’(CEL), como é usual nas literaturas
brasileiras sobre o assunto, para não confundir com a demoninação “Cutting Edge
Length”(CEL), que é o ‘Comprimento Específico de Corte’(CEC), em português. A
denominação ‘Carga Específica de Borda’ aproxima-se também da denominação em
espanhol “Carga Específica de Borde”.
Esta teoria constitui uma importante ferramenta para o controle da operação de refino e,
teoricamente, permite a comparação entre resultados de refinos de uma mesma polpa, mesmo
que realizados em refinadores diferentes. A CEB é calculada pela equação abaixo:
CEB = Pu/ L (w.s/m)
Onde:
Pu: potência líquida aplicada, kW
L: comprimento de lâminas que se entrecruzam por segundo, km/s
Na figura 8.06 é mostrado um gráfico onde refinações de uma determinada polpa
“hardwood” são levadas a cabo tratando-a em dois valores de CEB, usualmente 1,0 e 3,0
Ws/m, usando refinadores de plantas piloto. A energia específica de refino foi considerada de
0 a 250 kWh/t líquidos e a propriedade medida foi “comprimento de ruptura”, que possui uma
boa relação com tração. Neste caso, observa-se que com uma menor CEB obtém-se melhores
resultados em termos de resistência.

Figura 8.06 (FONTE: Refining Technology)

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114

Ebeling em extensa revisão de literatura sobre refino, relata as principais críticas feitas
por diversos autores à teoria. De um modo geral, estes autores mencionam que o modelo não
é um sistema perfeitamente compreensivo para a caracterização do refino ou para a estimativa
de seus resultados, pois não considera os efeitos devidos ao material dos discos, consistência
de refino, desgaste das barras, velocidade de rotação dos discos e profundidade dos canais.

8.3.2. Fator “C”


Em 1990, Kerekes introduziu o conceito de fator “C”. Este conceito permite calcular o
número e a intensidade dos impactos , introduzindo fatores relativos à geometria do refinador
e ao comprimento médio ponderado em peso da fibra. A fórmula do fator “C” foi derivada
para diferentes tipos de refinadores (Kerekes, 1996).
O fator “C” representa a capacidade de um refinador impor impactos sobre fibras. As
equações são derivadas para computar o fator de variáveis de refino, comprimento de fibra e
“coarseness”, e consistência. Refinadores cônicos e de discos têm diferentes fatores “C”. O
fator “C” liga a potência de entrada e o fluxo de massa através de um refinador ao número
médio e à intensidade de impactos impostos sobre as fibras.
Para um refinador de discos o fator “C” é dado pela seguinte equação:
C = 8 ² G D  CF L n³  (1 + 2 tan ) (R2³ - R1³) / 3 w (1+ D)
Onde:
n = número de barras por unidade de comprimento de arco (m-¹)
D = profundidade das fendas
G = largura das fendas
L = comprimento das fibras
CF = consistência das fibras (fração)
 = velocidade rotacional do refinador (rev/s)
R1 = raio interno da zona de refinação (m)
R2 = raio externo da zona de refinação (m)
W = largura da barra (m)
 = ângulo da barra
 = densidade da suspensão de polpa (aprox. 1000 kg/m³)

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8.3.3. Outra teorias quantitativas


Outras teorias quantitativas da refinação incluem ainda: refinador como uma máquina
hidráulica, teoria da película fibrosa e análise mecanicista da refinação.

8.4. OS EFEITOS DA REFINAÇÃO NA MORFOLOGIA DA FIBRA

8.4.1. Efeitos primários da refinação


Pode-se definir como efeito primário da refinação toda aquela modificação na estrutura
da fibra que possibilite – pelo menos em teoria – diferenciar as fibras refinadas e não
refinadas. Outro requisito é que não se possa dividir em componentes. Deve ainda ser uma
modificação estrutural irreversível. As evoluções ao longo do tempo nos conceitos envolvidos
estão sintetizados na Tabela 8.01.
Histórico Efeitos primários da refinação
Higgins and Young Corte das fibras.
(1962) Fibrilação externa.
Ruptura da pontes de hidrogênio intrafibra.
Produção de finos.
Giertz (1964) Corte e esmagamento.
Ruptura sucessiva de camadas externas da parede celular e sua subsequente perda.
Ruptura da pontes de hidrogênio intrafibra.
Formação de deslocamentos.
Ebeling (1969) Corte de fibras.
Ruptura sucessiva de camadas externas da parede celular e sua subsequente perda.
Delaminação das camadas da parede celular interna.
Deslocações locais da estrutura da parede celular.
Dissolução dos componentes químicos da parede celular e formação simultânea de
carbohidratos coloidais.
Fahey (1970) Ruptura de ligações covalentes.
Ruptura da pontes de hidrogênio intrafibra.
Clark (1977) Corte de fibras.
Delaminação externa.
Delaminação interna.
Produção de fragmentos.
Compressão longitudinal.
Efeitos secundários.

Tabela 8.01 (FONTE: Tese de doutorado – Alvaro Vaz)

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A distribuição e a intensidade dos efeitos primários da refinação sobre as fibras são


muito heterogêneos. As causas que podem ser apontadas são:
 as fibras têm uma ampla distribuição de dimensões, ou seja, no comprimento,
diâmetro, espessura da parede celular, ângulo fibrilar e em propriedades físicas tais como a
flexibilidade e a resistência mecânica;
 a composição química da parede celular e a distribuição dos constituintes principais
na parede celular variam muito;
 o mecanismo de transferência de energia mecânica para as fibras e a criação de
efeitos primários obedece a uma função de probabilidade;
 o padrão de fluxo através do refinador é heterogêneo;
 o tipo e a intensidade do tratamento no interior da fibra são localizados.
Analisa-se nos parágrafos subsequentes a evolução dos conceitos relativos aos
seguintes efeitos primários: a fibrilação (interna, externa e molecular) e os destrutivos (corte e
geração de finos). Faz-se ainda uma referência aos efeitos secundários.

8.4.1.1. Fibrilação interna


A fibrilação interna (figura 8.07)
consiste na delaminação interna
essencialmente tangencial da estrutura coaxial
da parede celular com embebição de água.
Emerton, em 1957, teve uma contribuição
notável ao utilizar as técnicas de microscopia
na avaliação das modificações ultraestruturais
que ocorrem nas fibras durante a refinação,
(Atack, 1977). Ele reiteirou e estendeu o Figura 8.07 (FONTE: Apostila “Curso

conceito postulado na década de 1930 por básico de fabricação de papel” – ABTCP)

Campbell de fibrilação interna.


A fibrilação interna seria a delaminação da parede média secundária da fibra ocorrida
durante a refinação. Evidências experimentais eram então escassas e circunstanciais.
Page e De Grâce (1967) observaram a delaminação em fibras de pasta ao sulfito e ao
sulfato de baixo rendimento, ao longo da refinação de baixa consistência. McIntosh (1967)
observou igualmente delaminação e intumescimento nas seções transversais de fibras de
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Pinus taeda refinadas. Stone e Scaltan propuseram um modelo estrutural da parede celular
semelhante ao observado microscopicamente nas fibras refinadas e intumescidas com água
(Scallan, 1978). O seu modelo foi baseado numa técnica de medida de abasorção da água
chamada de ‘exclusão do soluto’, que permitiu a avaliação quantitativa rigorosa da
distribuição de tamanho dos poros da parede da fibra intumescida com água.

8.4.1.2. Fibrilação externa


A fibrilação externa (figura 8.08) envolve a desagregação, separação e perda parcial de
material lamelar e macrofibrilar (visível ao microscópio óptico) das camadas externas da
parede celular. As paredes externas das fibras das resinosas permanecem essencialmente
intactas ao longo dos processos de cozimento convencionais. A refinação subsequente rompe
e progressivamente remove estas camadas. A natureza da composição químicas e da
superfície exposta é importante a dois níveis. Primeiro, a amplitude da ruptura da parede
externa pode controlar a quantidade de fibrilação interna e externa.

Figura 8.08 (FONTE: www.celso-foelkel.com.br)

Depois, a resistência das ligações desenvolvidas entre as fibras é finalmente


determinada pela natureza química das superfícies expostas durante as últimas fases de
remoção da água. É atualmente reconhecido que partes consideráveis da parede externa (S1) e
da parede secundária média (S2) são removidas durante a refinação. Os efeitos principais da
fibrilação interna e externa sobre as propriedades da fibra são o aumento de sua capacidade de
absorção de água (com o consequente intumescimento) e a plastificação e flexibilização da
fibra. Na fibrilação externa criam-se igualmente novas áreas de ligação. De importância
crucial é o aumento da superfície específica das partículas na suspensão fibrosa, que vai

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diminuir a aptidão para a drenagem da água sobre a tela da máquina de papel, trata-se de um
parâmetro de sustentáculo para a produtividade global do processo de produção do papel.

8.4.1.3. Fibrilação molecular


A fibrilação molecular é definida como a solubilização parcial de estruturas poliméricas
da matriz de componentes da parede celular. Não existe evidência direta, mas existem
resultados que indicam que uma pequena parte dos materiais da parede celular é dissolvida
durante a refinação (Levlin e Nordman, 1977). As quantidades relatadas de material
dissolvido variam entre 0,5% e 4% para pastas de resisnosas. Este fato afeta assim o
rendimento em massa da produção de papel.

8.4.1.4. O corte das fibras e a geração de finos


O corte das fibras e o desprendimento de partes da lamela (“geração de finos”) constitui
um efeito primário da refinação, fato acerca do qual existe abundante evidência experimental
(Ebeling, 1980). O desprendimento de material lamelar e macrofibrilar da parede celular é
frequentemente apelidado de “geração de crill”, existindo também significativa evidência
experimental. A figura 8.09 mostra finos e fragmentos de fibras em uma suspensão de fibras
de baixa consistência.

Figura 8.09 (FONTE: www.celso-foelkel.com.br)

8.4.2. Efeitos secundários da refinação


Alguns efeitos secundários catalogados são a compressão longitudinal (da qual existem
boas evidências experimentais), o enrolamento ou endireitamento da fibra e o colapso da

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parede celular. Silvy (1975;1999) refere um efeito fundamental que é o da compressão radial
das fibras. Esta compressão provoca uma extensão radial das fibras que provoca finalmente
um efeito de corte e encurtamento. Abaixo, serão descritos alguns destes efeitos.

8.4.2.1. Delaminação da fibra


Forças atuando sobre a fibra durante a refinação faz com que as fibrilas movam-se
relativamente umas em relação às outras, quebrando ligações internas e, então, causando
delaminação das fibras. Isto tem sido claramente observado com o microscópio eletrônico
(“Scanning Electron Microscope”). A delaminação das fibras contribuem para outras
mudanças tais como a inchação e aumento da flexibilidade.

8.4.2.2. Inchação da fibra


A delaminação das fibras permite a entrada de água no interior das paredes da fibras,
fazendo-as inchar. Esta água quebra ligações adicionais por pontes de hidrogênio criando
ulteriores inchações. O índice de retenção de água (“Water Retention Value”) aumenta com a
refinação, como tem sido mostrado, provando que há um aumento da quantidade de água
ligada à fibra a medida que o nível de refino aumenta.

8.4.2.3. Aumento da flexibilidade da fibra


A quebras das ligações internas permite que as fibrilas movam-se relativamente umas
em relação às outras, fazendo com que as fibras percam a resistência à deformação, isto é,
tornem-se mais flexíveis. Este aumento de flexibilidade permite as forças de tensão da
superfície trazer mais fibras em uma proximidade íntima durante a consolidação da folha de
papel. Isto, por sua vez, aumenta o nível de ligações fibra a fibra e, assim, influencia as
resistências do papel, propriedades óticas e outras características do papel.

8.4.2.4. Remoção das paredes externas


A fina camada primária (ou o que restou dela após a polpação e o branqueamento) e
parte da camada secundária podem ser removidas por refinação, expondo uma nova superfície
e permitindo um aumento na inchação da fibra. As camadas removidas aumentam o nível de
finos na polpa e então afetam as propriedades do papel.

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8.4.2.5. “Microcreping” das fibras e introdução de outros defeitos


Estes ambos efeitos afetam as
propriedades mecânicas das fibras. O
“microcreping” produz uma fibras mais
extensível e defeitos tais como dobras e
‘balões’ (“balloning”) locais (figura 8.10)
que podem causar uma redução na resistência Figura 8.10 (FONTE: Tese de doutorado –
local da fibra. Alvaro Vaz)

8.4.2.6. Encanoamento e torcedura de fibras


O encanoamento e torcedura das fibras influenciam a estrutura de malha do papel e
assim afeta suas propriedades.

8.4.2.7. Aumento da superfície específica


A produção de materiais finos com a remoção da camada externa aumenta a superfície
específica. Isto é mais adiante aumendado pelo afrouxamento das fibrilas da superfície.

8.4.3. Compilação dos efeitos da refinação sobre as fibras


Page catalogou em 1989 os efeitos da refinação nas características da fibras nos
seguintes pontos (Waterhouse, 1997):
 corte e incurtamento das fibras;
 produção de finos;
 modificações externas da estrutura da fibra (fibrilação externa, remoção parcial da
parede da fibra);
 modificação interna da parede celular (delaminação, fibrilação interna,
intumescimento);
 enrolamento ou indireitamento da fibra;
 indução de compressões ou sua remoção (criação de nódulos, dobras, planos de
deslizamento, microcompressões na parede celular ou sua remoção da parede);
 dissolução ou lixiviação de matéria coloidal para o meio aquoso;
 redistribuição das hemiceluloses do interior para o exterior da parede celular;

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 abrasão da superfície a um nível molecular para produzir uma superfície mais


gelatinosa.
A tabela 8.02 uma correlação qualitativa entre os efeitos primários e secundários. Como
exemplo, a união por pontes de hidrogênio possui uma forte correlação com a fibrilação
interna, devido ao fato de que este efeito primário é responsável pelo colapsamento da fibra,
aumentando a área de contato entre as fibras; uma fraca correlação com a fibrilação externa e
produção de finos porque estes dois efeitos primários favorecem a ligação entre as fibras, mas
não tão fortemente como no caso da fibrilação interna. Finalmente, o corte das fibras possui
uma fraquíssima correlação com a união por pontes de hidrogênio porque não interfere como
nos outros casos tão significativamente neste tipo de união. Este assunto, porém, apresenta
constante desenvolvimento e, como tal, poderá trazer futuramente modificações do que hoje é
aceito como hipótese.

Tabela 8.02 (FONTE: Refinação de celulose de eucalipto – ABTCP)

8.5. TIPOS DE REFINADORES E HISTÓRICO


8.5.1. Moinhos e Holandesas
Tem-se conhecimento de que no ano 750 d.C. os árabes já produziam papel de linho,
batendo e macerando suas fibras úmidas com martelos de madeira. Os espanhóis
desenvolveram, por volta do ano 1150, um moinho onde as fibras de trapos eram maceradas e
batidas em água por toretes de madeira. Um cilindro dentado de madeira, movido por força
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122

hidráulica, fazia com que os toretes caíssem repetidas vezes sobre o material fibrosos,
transformando-o em pasta.
Os holandeses, motivados pela escassez de recursos hidráulicos desenvolveram no
século XVII o moinho hoje denominado de ‘Holandesa’ (figura 8.11). Tratava-se de um
tanque oblongo, dividido por uma parede central, tendo ainda em um de seus lados um
mecanismo de moagem. Esse mecanismo consistia de um clindro móvel de madeira, tendo
assentado sobre a sua superfície barras de ferro. A massa era colocada no tanque e a moagem
se dava pela sua passagem entre as extremidades das barras do cilindro e o fundo do tanque.
Na história da fabricação de papel, o desenvolvimento das holandesas foi talvez um dos
maiores progressos observados.

Figura 8.11 (FONTE: PAULAPURO, H., et alli, Papermaking Part 1, Stock Preparation and
Wet End / Refining Technology)

Embora tenha incorporado uma série de desenvolvimentos, a holandesa ainda hoje tem
o formato original e é utilizada atualmente na preparação de massa de fibras que requerem
longos tempos de moagem, por exemplo, na moagem de trapos, fibras de linho e de manilha.
Devido ao seu alto consumo de energia por tonelada de massa preparada, resultados
diferentes em cada carga, necessidade de grande espaço e falta de controle da ação de refino,
as holandesas foram substituídas por equipamentos contínuos de refinação. O estudo das
holandesas possibilitou o desenvolvimento dos refinadores, já que existe certa afinidade entre
eles, inclusive quanto ao controle da ação de refino.

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8.5.2. Refinadores cônicos ou Jordans


No início do século XX a refinação de
pastas mecânicas evoluiu a partir das
“holandesas” (batedeiras) usada para
fibrilação das fibras para os refinadores
cônicos. O refinador cônico (figura 8.12)
consiste em um cone girando dentro de uma
carcaça cônica. Ambos, o cone e a carcaça,
possuem lâminas na direção axial.
Normalmente, a extremidade de maior
diâmetro possui também também maior
número de lâminas. Isso produz um maior
número de arestas de trabalho e assegura, Figura 8.12 (FONTE: PAULAPURO, H., et
possivelmente, constante distância entre as alli, Papermaking Part 1, Stock Preparation
lâminas. and Wet End / Refining Technology)
A massa, sob pressão de 2,1 a 3,5 kPa, é alimentada com uma consistência de 2 a 5%
pela extremidade menor do equipamento e passa entre o rotor (cone e a carcaça), saindo pela
extremidade maior. A fibras da massa fluem paralelamente à direção das facas, tanto do cone
como da carcaça; fluxo que é diferente do que ocorre nas Holandesas, onde a direção da
massa é perpendicular a direção das facas. Este detalhe provoca menos corte nas fibras.
Em uma das extremidades do refinador está colocado um volante cuja finalidade é
povocar um movimento longitudinal no rotor (figura 8.13). Esse movimento regula a distância
entre as lâminas do rotor e do estator, o que permite aumentar ou diminuir a pressão sobre as
fibras, culminando em maior ou menor consumo de energia para alcançar o grau de refinação
desejado.
Para a maioria dos refinadores cônicos, o ângulo do cone é superior a 15º,
principalmente na faixa dos 16 a 17º, com alguns a cerca de 20º. A potência do motor varia de
11 kW (15 HP) a 600 kW (800 HP), com uma rotação por minuto de 250 a 1500 rpm. A
espessura das facas varia desde 3,17 mm (1/8”) até 12,7 mm (1/2”).

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Figura 8.13 (FONTE: Fabricação de Papel – Preparação de Massa (SENAI CETCEP)

O refinador cônico atendia as exigências da época muito bem, porque ele era bom para
cortar as fibras longas, então em uso no mercado. Os refinadores cônicos continuaram a ser
utilizados para a refinação de pastas mecânicas até os anos 1960, porque à medida que as
fibras de madeira começaram a substituir as fibras sem presença de madeira, as fibras de
madeira macia (“softwood”) eram utilizadas e ainda era desejável o corte das fibras.
Entretanto, o sistema de conjuntos cônicos dos velhos refinadores limitava a capacidade
de fibrilar sem cortar. Isto se tornou um prejuízo, à medida que as fibras curtas (“hardwood”)
participavam mais das misturas nas preparação de massas. As fibras curtas requerem
fibrilação com o mínimo de corte ou até para atingir seu melhor potencial na fabricação de
papel. As intensidades de refinação recomendadas devem ficar abaixo de 0,2 Ws/m e este
valor não se conseguia com os antigos refinadores cônicos.
Os refinadores cônicos também apresentavam diversos problemas operacionais. Eles
necessitavam de significativa quantidade de energia, tornando-se assim ineficientes quanto à
energia utilizada. As trocas dos conjuntos cônicos levavam de 8 até 24 horas, eram muito
caras e requeriam um longo tempo de espera entre a parada dorefinador devido a troca e a
volta do refinador ao trabalho. Para compensar este tempo de parada, para a troca dos
conjuntos cônicos, era muito comum instalar-se cerca de 30% a mais de capacidade de
refinação.

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8.5.3. Refinadores de alta velocidade ou de grande ângulo


Estes refinadores cônicos
(figura 8.14) apresentam as
facas com uma inclinação de
cerca de 60º com o eixo axial
do motor; são mais curtos e
trabalham a velocidades
superiores a estes: 800 a 1000
rpm. Por cortar menos e
hidratar mais as fibras, estes
equipamentos têm substituído
os refinadores Jordans.
Segundo Glasl, este tipo de
refinador apresenta as Figura 8.14 (FONTE: PAULAPURO, H., et alli,
seguintes vantagens em Papermaking Part 1, Stock Preparation and Wet End /
relação a um Jordan: Refining Technology)
 Para uma mesmo área refinadora, ocupa menos espaço;
 Permite a utilização de facas mais altas;
 As chances de atrito entre o rotor a a carcaça são menores;
 As características de fluxo são melhores;
 Para uma mesma rotação de cone (rpm) consegue-se as velocidades periféricas mais
altas.
A Jyhlavara e depois a Sunds,
quando adquiriu a Jyhlavara,
reintroduziram o refinador cônico
nos anos 1980 com seu novo
conceito “Conflo” (figura 8.15) – um
refinador com dois cones e com um
ângulo pequeno e com menor
intensidade do que os antigos Figura 8.15 (FONTE: PAULAPURO, H., et alli,
Jordans e Claflins. Papermaking Part 1, Stock Preparation and Wet End /

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Refining Technology)
Resultados de campo iniciais com o “Conflo” mostraram uma habilidade de conseguir
melhorias no desenvolvimento das fibras; tratamento melhor, mais completo e homogêneo
das fibras, e melhoria da eficiência de energia em desenvolvimento idêntico, ou seja, do
tratamento das fibras. Considerou-se, inclusive, o refinador cônico de pequeno ângulo como,
possivelmente, o mais eficiente refinador para o tratamento de “kraft” de madeira mole. A
figura 8.15 mostra um refinador “Conflo”.

8.5.4. Refinadores a discos (simples e duplos)


O refinador a discos evoluiu para substituir o refinador cônico. Em geral, os refinadores
a discos estão capacitados para trabalhar em rotações maiores e utilizar discos de refinação
com um comprimento de corte maior por área. Isto equivale a propiciar uma intensidade de
refino muito mais baixa, adequada para as fibras curtas. Os refinadores a discos utilizam
relativamente menos energia do que os refinadores cônicos, conseguindo um custo menor por
tonelada produzida. A figura 8.16 mostra as forças hidrodinâmicas em um refinador a discos
comparado com o refinador cônico.

Figura 8.16 (FONTE: Refining Technology)

De um modo geral, esses equipamentos possuem dois discos, um estator e um rotor. A


massa é alimentada sob pressão através de um orifício que está no centro do disco estator e,
em seguida, é obrigada a passar entre os discos, onde é refinada.
Entretanto, podem ainda ser enquadrados como refinadores de disco os seguintes tipos:
de disco simples (com um disco móvel e um estacionário); de contra-rotação (com os dois

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127

discos móveis, um girando contra o outro) e de disco duplo (com dois discos estacionários
fixados à carcaça, e dois móveis (de face dupla de refinação) fixados ao eixo central do
refinador.
Os refinadores de discos duplos (“Double-Disc Refiner” - DDR) oferecem alta
eficiência e bom potencial para tratamento por causa de duas zonas no refinador. O refinador
também oferece um considerável grau de flexibilidade em operação por causa da diversidade
de desenhos de discos rotativos. O arranjo padrão de barras e peças de um refinador oferece
(para um tamanho similar) uma faixa similar de comprimento de barra para um refinador
cônico de pequeno ângulo. A diferença é que o refinador a discos oferece um grande número
impactos curtos de barra, enquanto o refinador cônico de pequeno ângulo oferece um menor
número de impacto de barras longas. O refinado de duplos discos é mostrado nas figuras 8.17
e 8.18.

Figura 8.17 (FONTE: Treinamento operacional – VCP/LA)

Entretanto, os refinadores de discos também possuem seus problemas. Nos refinadores


de discos com diâmetros maiores utilizados nas máquinas de papel que operam em alta
velocidade e grandes produções, suas rotações de operação estão limitadas pelas velocidades
periféricas nos diâmetros externos. Esta característica limita a desejada habilidade da

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128

refinação em atingir a baixa intensidade, vantajosa para as fibras curtas (“hardwood”) e pasta
mecânica.

Figura 8.17 (FONTE: Treinamento operacional – VCP/LA)

Devido aos fluxos de vórtice e forças centrífugas, nem todas as fibras presentes são
refinadas, pois várias seguem as ranhuras dos discos. Nestas condições, a eficiência da
refinação e da energia é baixa. Mesmo assim, segundo RATNIEKS (1993), somente 40% das
fibras sofre algum impacto ao passar por um refinador.

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Figura 8.18 (FONTE: LÓPEZ, A.L.T., Tecnología del Papel - apuntes de curso)
Numa pesquisa realizada no Centro de Celulose e Papel, na Universidade de British
Columbia, em que foram utilizados traços de fibras plásticas no fluxo de pasta mecânica,
concluiu-se que muitas fibras não mostravam qualquer evidência de impacto; e que as fibras
que receberam impacto foram severamente deformadas, indicando um estado de hiper-
refinação. Em outro estudo, Martinez e Kerekes mostraram que num refinador de barras
simples de laboratório, somente 0,1% da energia de refinação utilizada resultou em esforço de
tração de uma fibra.
Consequentemente, num refinador de discos, é provável que as fibras que são
impactadas tenham a tendência de serem superrefinadas para compensar aquelas que não
foram impactadas a fim de atingir o desejado grau de refino. Este efeito leva a indesejável
geração de finos, enfraquecimento das fibras refinadas e ineficiente aplicação de energia à
fibra.
Os discos rotativos ficam centrados entre os discos estacionários devido ao fluxo de
massa e pressão equalizada em ambos os lados do rotor. Os discos são paralelos através de
sua face inteira e a pressão, igual em ambos os lados, evita a deflecção. Isto é crítico para uma
ação uniforme de refinação, mas ajuda a prevenir mais significativamente contatos metal com
metal. O movimento da placa no refinador a discos é sempre perpendicular às superfícies
refinadoras, assegurando uniforme ‘acasalamento’ dos pontos altos e baixos, os quais
fornecem um tratamento mais uniforme a fibra.
As duas zonas do DDR permite uma entrada de alta energia por refinador para um dada
intensidade de refinação. Os arranjos do refinador são feitos a partir de fundição ou barras
soldadas. Eles também pode ser ‘fabricadas’ o que possibilita a obtenção de barras e ranhuras
padrões. Dois padrões de discos são mostrados na figura 8.19.

Figura 8.19 (FONTE: www.hirafoundry.com)


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Possuindo duas zonas, um DDR pode ser internamente configurado para operação em
série ou paralelo, conhecido como “monoflo” ou “duoflo”. Na operação “monoflo” a massa
flui sequencialmente através de cada zona enquanto que no “duoflo” a massa flui através de
cada zona simultaneamente. Na operação “duoflo” o refinador tem duas vezes a sua
capacidade. Estas configurações internas são mostradas na figura 8.20.

Figura 8.20 (FONTE: Refining Technology)

Na figura 4.6 os arranjos são numerados como segue:


(1) É o estator mais próximo do motor;
(2) É o primeiro lado do rotor;
(3) É o lado reverso do rotor;
(4) É o estator no lado da porta.
Bloqueando ou desbloqueando as passagens através do rotor, uma configuração de DDR
pode ser alterada a partir do “duoflo” ou “monoflo” e vice versa. Isto pode ser necessário
onde se altera a utilização de fibras, por exemplo, quando aumenta o conteúdo de “hardwood”
ou reduz o conteúdo de “softwood”, para permitir modificação das características de fluxo de
cada refinador. Com operação “duoflo” é fácil manter iguais espaços (“gaps”) nas duas zonas.
Outro método de alteração a partir do “monoflo” para “duoflo” é o sistema “tri-disc” ao qual é
reinvidicado dar tratamento uniforme por causa da maior área aberta no rotor.

8.5.5. Refinadores de multidiscos


Um desenvolvimento Beloit Corporation provê uma solução no sentido de obter-se
refinação comercial a baixa consistência foi introduzido o conceito de refinador de múltiplos
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discos. Neste-se intensidades de refino de 0,3 Ws/m são perfeitamente obtidas. Esta máquina,
desenvovida para fibras curtas ou frágeis, evita as limitações de velocidades elevadas no
refinador ou barras muito frágeis. O conceito desenvolvido é o de instalar diversos discos
rotativos dentro do compartimento de um refinador convencional.
Um refinador convencional tem um elemento rotativo com discos em ambos os lados,
para prover duas superfícies de refinação. Os discos do refinador de múltiplos discos são
‘fresados’ de ambos lados, de modo a prover de 6 a 8 superfícies de refinação e um número
igual de superfícies estacionárias opostas (figura 8.21). Todos os discos são montados no
refinador, de modo que cada um tenha movimento axial independente.

Figura 8.21 (FONTE: Refining Technology)

O uso do refinador de múltiplos discos, aplicado para refinação em baixa intensidade


tem sido usado comercialmente desde 1986, tanto nos EUA, como na Europa. Até novembro
de 1989 existiam 22 unidades em operação com diâmetros entre 20” e 38”. Estes são
utilizados para refinar polpa “kraft” de eucalipto, pastas mecânica de mó, pasta
termomecânica e polpa “kraft” de coníferas, bem como polpa “kraft” de coníferas isoladas e
aparas destintadas.

8.5.6. Refinadores tri-cônicos


Em meados de 1990, a Pilão S/A do Brasil, fabricante de refinadores de discos,
começou um desenvolvimento para melhorar os projetos de refinadores cônicos então
existentes no mercado. Os objetivos eram desenvolver um refinador que combinasse o
desenvolvimento da fibra com as características de redução de energia de novos refinadores
cônicos com a maior capacidade e eficiência de energia. O resultado deste desenvolvimento
foi um refinador cônico com três cônicos de refinação (figura 8.22).

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Figura 8.22 (FONTE: www.redetec.org.br/inventabrasil/pilao)

O sistema de refinação compõem-se de um refinador cônico com ângulo de 20º, duplo


fluxo com um rotor cônico de dupla face e dois estatores cônicos. A exemplo dos refinadores
de discos, o rotor flutua e se posiciona pelo fluxo da pasta mecânica e pela pressão
hidrodinâmica em ambos os lados. Como conceito, este refinador pode ser imaginado como
um refinador de duplo disco, dobrado para trás de si próprio.
O projeto incorpora cônicos de pequenos diâmetros com uma área de refinação
comparativamente maior. Por exemplo, para conseguir a mesma área de refinação de um
refinador de discos de 34”, o novo projeto utiliza cônico como o maior diâmetro de somente
540 mm (21,25”).
Uma vez que o diâmetro do rotor é menor, a velocidade periférica no diâmetro extermo
do rotor para uma dada rotação é consideravelmente reduzida. Isto permite que a rotação
máxima aceitável do refinador seja aumentada, oferecendo assim intensidades de refinação
mais baixas. Em teoria, então, o novo refinador cônico deveria ser melhor para fibras de
madeira dura e papel reciclado por oferecer refinação de baixa intensidade, equivalente a
maior fibrilação e menor corte.
O total do consumo de energia, incluindo as necessidades de energia para “no-load”,
também mostra redução para a área de refinação equivalente. Usando os projetos existentes
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133

para a fabricação dos corpos e dos elementos rotativos dos refinadores de discos, a equipe de
engenharia dedicada ao novo projeto de refinador redesenhou a porta do refinador para
acomodar o conceito do conjunto de três elementos cônicos.
A relação geométrica entre as barras e as ranhuras também é mantida constante durante
toda a vida útil dos elementos cônicos (no caso dos elementos cônicos fundidos, a relação
geométrica barra/ranhura se modifica à medida que as barras sofrem desgaste).
Os elementos cônicos (rotor e estatores) são comparativamente pequenos e são
removidos pelo lado da porta do refinador. A troca dos elementos cônicos desde a parada do
refinador até a partida do mesmo pode ser conseguida em 1 h a 2 h. Quando torna-se
necessária a manutenção do refinador, todo o conjunto rotativo incluindo eixo, rolamentos e
retentores, pode ser removido pelo lado da porta do refinador.

8.5.7. Ultrassônicos
Quando ondas ultrassônicas são propagadas através de um meio líquido, regiões de
rarefação e compressão são formadas. Nas região de rarefação, bolhas de ar ou vapor podem
ser formadas, as quais na região de cavitação, pode ser severamente comprimida, criando
zonas de pressão. A pressão nas bolhas pode alcançar alguns milhares de atmosferas antes do
colapso final. Quando as bolhas desaparecem, ondas de choque são geradas, podendo levar ao
tratamento da fibra.
Trabalhos com destintamento ultrasônico mostraram que, como um efeito lateral, o
comprimento de ruptura, fator de arrebentamento e fator de alongamento foram
significativamente aumentados sem a perda de resistência ao rasgo. O consumo de potência é
algo maior do que no destintamento por “hidrapulper”, mas isto é compensado pela economia
de químicos, bombeamento e energia de refinação.
Devido a esta ação específica nas fibras celulósicas, o ultrassom melhora certas
propriedades do papel (por exemplo, dobras duplas), e aumenta a reatividade das fibras, então
tornado possível intensificar branqueamento e processamento químico das polpas. O primeiro
equipamento de laboratório para ultrassom de líquidos era baseado no princípio da sirene
ultrassônica e é conhecido como “Ultra-Turrax”.
Um gerador em escala industrial , chamado “Fibrotom”, foi desenvolvido na base de
experimentos em laboratório com “Ultra-Turrax”. Sua modificação é o “Entstipper” projetado
para desfibramento de papel usado. O “Superfiner”, desenvolvido na Tchecoslováquia,
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combina as características do “Fibrotom” e os refinadores convencionais. Duas outras


máquinas de projeto da Tchecoslováquia são o “Superfibrator” (um refinador bastante
eficiente de estágio final) e o “Supratonator” (projetado principalmente para desfibramento de
papel velho, e baseado no princípio da sirene ultrassônica).

8.5.8. Biotecnologia
O potencial por biotecnologia dentro da indústria de polpa e papel está crescendo,
especialmente onde o uso de enzimas é interessante. Com novas pesquisas encaminhadas e
assuntos ambientais causando crescente interesse, as enzimas irão representar um importante
papel em muitas aplicações no futuro. Por exemplo, a habilidade do sistema de enzimas em
remover a lignina, com somente a desejada proporção de hemicelulose, pode aumentar o
rendimento de polpas “kraft” em até 15%.
A aplicação de enzimas em linhas de branqueamento da polpa, na preparação de receitas
com papel usado e no tratamento de efluentes das fábricas, está tornando-se uma realidade.
Nos processos de bio-polpação, fungos brancos de putrefação degradam a madeira e
particularmente a lignina. Uma vez que a degradação não é suficientemente específica para a
lignina, a ênfase da pesquisa tem sido o pré-tratamento com fungos, seguido pela polpação
mecânica. Os fungos são frequentemente aplicados aos cavacos em um bioreator, na forma de
um tambor rotativo. Taxas de remoção da lignina, em torno de 30 a 37%, têm sido alcançadas
em quatro semanas – um prazo que torna a aplicação disponível para uma pilha controlada de
cavacos. A energia de refinação é então, aproximadamente, dividida à metade enquanto
alcança propriedades similares as da CTMP.
Em provas laboratoriais da madeira com fungo antes para polpação termomecânica têm
sido mostrados várias melhorias, tais como uma redução na energia requerida para refinação e
melhoria da resistência do papel comparado com a polpação termomecânica convencional.
Fungos são organismos naturais de deterioração da madeira que remove ou modifica a lignina
nas paredes das células da madeira e amolecem os cavacos antes da polpação mecânica.
Duas das mais utilizadas fontes de fibras recicladas, as quais frequentemente contêm
fibras recicladas de si mesmas são “Old Corrugated Container - OCC” e “Old Newspaper -
ONP”. Este adicional conteúdo de fibra reciclada reduz a velocidade das taxas de drenagem
nas máquinas de papel e cartão. Tem-se mostrado que a drenagem de fibras recicladas pode
ser melhorada usando ‘hemicelulases’ e ‘celulases’. Este estudo investigou a melhoria do
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“freeness” de OCC e ONP para uso na manufatura de material de cartão 100% reciclado.
Resultados revelaram que a melhoria do “freeness” pode ser alcançada enquanto as
propriedades de resistência são mantidas sobre certas condições.
Os testes laboratoriais e provas em fábricas foram levadas a cabo para determinar se o
pré-tratamento com enzima pode reduzir a energia de refinação (ou moagem). Sua aplicação
para papéis especiais tais como condensador, “glassine” e papéis finos foi investigada. A
melhor enzima foi selecionada ensaios laboratoriais e, então, aplicada em provas industriais,
resultando em uma economia de cerda de 20% na energia de refino, com a mesma opacidade.
Provas industriais em papéis finos mostraram que mesmo quando a polpa de alto “freeness”
era usado, a formação era melhorada, e uma economia de energia de 10% foi alcançada.

8.5.9. Refinadores de alta consistência


A refinação em alta consistência não é um processo para todas as fábricas e aplicações,
porém é interessante para aquelas fábricas buscando características específicas que podem
tornar seu produto mais econômico ou mais competitivo. Atualmente, as aplicações de
refinação em alta consistência têm cada vez mais ganhado espaço nas indústrias papeleiras e
subprodutos da madeira. As principais aplicações deste processo para fabricação de papel são:
 RMP (“Refined Mechanical Pulp”)
 PRMP (“Pressurised Refined Mechanical Pulp”)
 TMP (“Termo Mechanical Pulp”)
 CTMP (“Chemical Termo Mechanical Pulp”)
 Papéis reciclados (OCC)
 “Sack Kraft” (Papéis extensíveis)
A refinação em alta consistência (RAC) para fibras longas, requer consumos de energia
altos para decompor suas paredes espessas em relação às fibras curtas. Comparando com a
refinação em baixa consistência (RBC), o consumo de energia na RAC é significativamente
superior para um mesmo grau de refino, entretanto esta capacidade de absorção de energia
aplicada com baixa variação do grau de refino é interessante para aplicações onde se necessita
uma alta resistência da polpa com baixo grau de refino.
Esta característica se aplica às polpas para fabricação de papéis para sacos, onde se
necessita de alta resistência na folha e baixa permeância, para proporcionar a saída do ar
durante o envase do cimento através da folha. A RAC é um processo complexo e composto de
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três etapas: desaguamento da polpa a alta consistência, a refinação e a re-diluição da polpa


refinada (figura 8.23).

Figura 8.23 (FONTE: Influência da refinação em alta consistência em papéis “sack kraft”)

O desaguamento da polpa se dá através de uma prensa desaguadora. As prensas mais


comuns são as dupla-telas (TWP) ou de rosca. A consistência ideal para obtenção de
benefícios efetivos na RAC fica na faixa de 30 a 35%. A refinação das fibras é realizada
geralmente em refinadores atmosféricos de disco simples. A carga geralmente aplicada
(energia específica) à polpa para o fim proposto “sack paper” fica em torno de 200 a 350
kWh/t.
A refinação nestes equipamentos se processa com volume de água reduzida, com isto a
interação fibra-fibra é favorecida assim como o tempo de residência entre os discos no
colchão de fibras formado entre as superfícies de refinação. As fibras são submetidas à
compressão e ao enrolamento, como a fibrilação ocorre suavemente, não ocorrem danos
extensos as paredes das fibras, assim as fibras formadas apresentam grande capacidade de
hidratação e ligações.
Durante o processo de RAC praticamente 90% da energia aplicada é convertida em
calor e vapor, sendo apenas 10% absorvido pela fibra na forma de fibrilação.
Aproximadamente cada MWh aplicado gera 1 tonelada de vapor, por este fato é
extremamente importante o bom dimensionamento dos discos, pois deles vai depender o bom
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desempenho do sistema de RAC. A figura 8.24 mostra um refinador atmosférico Andritz


Series 2062 – 10.000 kW.

Figura 8.24 (FONTE: Influência da refinação em alta consistência em papéis “sack kraft”)

8.6. VARIÁVEIS IMPORTANTES NO CONTROLE DA REFINAÇÃO


Como foi mencionado anteriormente, durante a refinação, as fibras ficam submetidas à
corte, fibrilação e hidratação. Porém, considerando papéis de características diferentes, a
refinação de respectivas massas também deve ser conduzida de forma diferente. Além de
consumo específico de energia, existem outros fatores ou variáveis que interferem no
resultado final do refino.

8.6.1. Potência total


Cada refinador tem uma pontência nominal instalada. Entretanto, esta potência não é
totalmente utilizada; na prática, a potência total utilizada varia em função da corrente elétrica
utilizada. Esta corrente é função da pressão específica dos refinadores, que por sua vez é
função da aproximação do estator e rotor durante o processo de refinação. O cálculo desta
potência pode ser dada pela seguinte equação:

Onde:
Pt: potência total, kW
V: tensão, V
I: corrente, A
fp: fator de potência (para nossos cálculos, vamos utilizar 0,85)
Para os seguintes dados, por exemplo:
V: 4.116 V

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I: 90 A
fp: fator de potência (para nossos cálculos, vamos utilizar 0,85)
Resultado, após o cálculo, Pv 545 kW

8.6.2. Potência em vazio


Carga em vazio (Pv) é a carga do refinador gasta pelo mesmo para rodar sem a massa,
com água apenas e com discos afastados. Deve ser considerado de 10 a 20 % da potência total
ou maior dependendo da necessidade do processo quanto a aplicação da carga especifica.
Dados estimados do consumo em vazio: holandesas (mais que 65 %), refinadores cônicos (30
a 45 %), refinadores cônicos de alto ângulo (25 a 35 % ), refinadores a discos (10 a 30 %),
tricônicos (12 a 25 %). Se deseja-se evitar o teste do refinador com água, existe uma fórmula
para o cálculo teórico do valor Pv.

Onde:
Pv: potência em vazio, HP
ù: velocidade rotacional do motor, rpm
D: diâmetro do disco, in
Bw: largura da lâmina (ou barra), 1/16 in
Gw: largura da ranhura, 1/16 in
GD: profundidade da ranhura, 1/16 in
Para os seguintes dados, por exemplo:
ù: 600 rpm
D: 34 in
Bw: 2,0 (1/16 in)
Gw: 2,0 (1/16 in)
GD: 4,0 (1/16 in)
Resultado, após o cálculo, Pv= 213 HP = 213*0,476 101 kW
Nos refinadores a discos a potência em vazio diminui com o aumento no diâmetro dos
discos. A potência em vazio é medida com a máquina em funcionamento e com fluxo total,
porém sem aplicação de carga na massa.

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Isto pode ser verificado facilmente na fábrica durante o início do funcionamento.


Percebe-se que a amperagem se mantém praticamente constante durante boa parte da fase de
aperto dos discos e repentinamente começa um acréscimo de amperagem acentuado. o ponto
inferior deste gráfico mostra o consumo em vazio.

8.6.3. Potência líquida aplicada


A potência líquida aplicada ou potência útil de uma máquina, considera-se aquela que é
aplicada totalmente a fibra, deduzindo a potência em vazio e a potência de reserva para
cálculo da refinação.

Onde:
Pu: potência líquida aplicada, kW
Pt: potência total, kW
Pv: potência em vazio, kW
Usando os resultados dos itens anteriores, Pu = 545 – 101 = 444 kW

8.6.4. Quantidade de refino (Energia Específica de Refino: EER)


A quantidade de refino, mais conhecida como Energia Específica de Refino (EER), ou
em inglês “Specific Energy Input (SEI)” é a quantidade de energia que é transferida
efetivamente do motor do refinador para a fibra. A unidade de EER é kWh/t, e a fórmula para
cálculo é dada por:

Onde:
Pt: potência total aplicada (kW)
Pv: potência em vazio (kW)
T: tempo de referência (h)
M: produção de massa absolutamente seca (t = tonelada métrica)
De acordo com esta equação se a potência aplicada do motor é aumentado ou se o
material em processo é reduzido, então a EER irá aumentar.
Como exemplo de cálculo, vamos supor que pelo refinado passe um fluxo de 1893 l/min
com uma consistência de 4,5%:

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Supondo a potência líquida aplicada a mesma que foi calculada no item anterior (Pu)
O resultado da EER é, portanto:

A unidade comum de EER usada pelos americanos é hpd/st, onde “st” é a tonelada curta
(“short ton”). A equivalência para kWh/t é: 1 hpd/st = 19,7358 kWh/t.
A EER requerida para uma dada instalação é usualmente determinada com base na
experiência histórica de uma dada fábrica. Até mesmo para os mesmos ou tipos similares, e a
mesma fonte fibrosa e processo de polpação, duas fábricas de papel podem aplicar EER
significativamente diferentes no sistema de refinação da preparação de massa. A tabela 8.03
mostra algumas faixa típicas de EER para diferentes tipos de papel e cartão.
Tipo de papel Especificadamente Net hpd/t Net kWh/t
Papéis finos “Hardwood Kraft” 2a5 40 a 100
“Softwood kraft” 3a7 60 a 140
Lineboard Base 5a7 100 a 140
(cartão) Topo 10 a 12 200 a 240
Papel imprensa “Softwood kraft” 2a5 40 a 100
TMP/GWD 1a5 20 a 100
Papel para impressão “Softwood kraft” 3a7 60 a 140
(PAR) TMP/GWD 3a6 60 a 120
Tabela 8.03 (FONTE: Introduction to Stock Preparation Refiner – Finebar)

8.6.5. Energia efetiva requerida na refinação


O consumo específico representa, na realidade, a energia necessária para alterar a
estrutura de uma fibra. Os valores são dados em kWh/t/ºSR e são levantados empiricamente
em laboratório de pesquisas.
Para o dimensionamento de um refinador para a preparação de massa é preciso antes de
tudo calcular a energia efetiva requerida. Para o cálculo dessa energia efetiva requerida se faz
necessário a realização de um teste de laboratório com o fim de conseguir um valor de
kWh/tºSR. Este valor quer dizer quantos kW são necessários para elevar em 1 ºSR uma
produção de 1 t/d. Sabendo-se que o valor de kWh/tºSR da fibra em estudo para diferentes
graus de refinação, podemos analisar e dimensionar a energia efetiva requerida para a
refinação de acordo com a produção e diferencial de grau que se queira ter.
A equação para o cálculo da energia efetiva é muito simples como se pode verificar
pela equação abaixo:
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Onde:
EEfR: energia efetiva de refino
EER: energia específica de refino
Ri: grau de refino inicial, ºSR
Rf: grau de refino final, ºSR
Utilizando os dados calculados nos itens anteriores, determinar a EEfR necessária para
uma polpa com Ri em média de 18 ºSR, que se pretende chegar a 40 ºSR.

8.6.6. Intensidade de refino (Carga Específica de Borda: CEB)


Já foi visto, anteriormente, a definição de CEB. Neste item será utilizada a equação
abaixo para quantificá-la numericamente:

Onde:
CEB: Carga Específica de Borda, ws/m
Pu: potência líquida aplicada, kW
L: comprimento de lâminas que se entrecruzam por segundo, km/s
Para fixar-se melhor este
conceito, utilizar-se-á um exemplo
numérico bastante simples. Para o
cálculo de “L” será utilizada a
figura 8.25 que representa um
segmento, em um disco com 12
segmentos (360°/30° = 12). A
região das facas será dividida em

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zonas (Z1, Z2 e Z3). No caso, cada Figura 8.25 (FONTE: Refinação da celulose de
zona têm a largura de 100 mm (I1, eucalipto – ABTCP)
I2 e I3).
Obviamente, este não é o comprimento segmentado das facas, razão pela qual há a
necessidade de dividir-se o resultado final pelo cosseno do ângulo BA, que neste exemplo
vale 18º. Assim, (100/cos 18º)  105 mm, o que será o comprimento do que denominaremos
aqui de ‘camada’.
Como se pode ver pela figura, Z1 tem 8 camadas, Z2 tem 6 camadas e Z3 tem 4 camadas,
cada camada com 105 mm. Como são 12 segmentos, no disco inteiro teremos 96 camadas em
Z1, 72 camadas em Z2 e 48 camadas em Z3. Como há o estator e rotor, a cada volta
(revolução), teremos: 962+722+482 = 16.704 cruzamentos/rotação. Como cada camada tem
105 mm (0,105 m): 16.704*0,105 = 1.753,9 m/rot para um par de discos. No caso de discos
duplos, o valor seria: 2*1.753,9 = 3.505,8 m/rot  3,51 km/rot. Este resultado, como foi
mencionado anteriormente, é denominado de ‘Comprimento Específico de Corte’ (CEC), em
inglês “Cutting Edge Length” (“CEL”).
Vamos supor agora o exemplo de um refinador industrial de duplos discos que tenha um
CEC de 87 km/rot, com potência líquida (Pu) de 273 kWh e cuja velocidade de rotação (ù)
seja 514 rpm. O comprimento de lâminas (L) que se intercruzam por segundo será dado por:

Finalmente,

8.6.7. Tipos de fibra


Quanto ao tipo de fibra depende da origem, tipo de matéria-prima, grau de cozimento,
tipo de secagem, etc. Devem ser consideradas aqui diferentes espécies arbóreas e também o
processo pelo qual foram obtidas. Um outro resultado é possível obter se refinarmos dois tipos
de fibras distintas, por exemplo: “hardwood” e “softwood”.
Quando um refinador é usado em máxima eficiência então uma polpa “hardwood” irá
requerer mais energia para alcançar propriedades equivalentes (especialmente resistência)

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para polpas “softwood”. Esta diferença de resistência é significativa. Como mostrado na


figura 3.5, uma polpa “hardwood” de boa qualidade irá requerer acima de 100% mais de
energia para alcançar o mesmo nível de resistência como uma polpa “softwood” de boa
qualidade.

Figura 8.26 (FONTE: Refining Technology)

O tipo ou tipos de fibras de uma determinada massa para papel é a variável mais
importante do processo de refinação. A maioria das massas contém mistura de fibras longas e
curtas que em condições ideais deveriam ser refinadas separadamente. No entanto, através da
prática deve-se chegar a um ponto ótimo com massas misturadas.

8.6.8. Consistência
Embora grande maioria de fabricantes trabalhem na faixa de 3,5 a 4,5%, para cada tipo
de fibra, propriedades físicas do produto acabado e do sistema instalado na preparação de
massa deve ser selecionada uma consistência própria. A consistência abaixo de 3,5% favorece
corte de fibras e uma fibrilação externa, enquanto a consistência mais alta favorece uma
fibrilação interna e melhor qualidade do produto. Podemos dizer que cerca de 90% das
indústrias, trabalham com uma consistência neutra, 4,0 a 5,0%. Nesta faixa de consistência, o
trabalho na fibra não favorece este ou aquele tratamento. Teoricamente, enquanto mais alta
for a consistência, maior será o contato fibra x fibra e melhores seriam as características do
papel final (figura 8.27).

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Figura 8.27 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

8.6.9. Vazão ou velocidade de massa


A vazão de massa no refinador é proporcional ao tempo de permanência no refinador, o
que significa maior ou menor fração de tempo de refinação, a qual as fibras serão submetidas.
Vazão e velocidade da massa no refinador: é da vazão que a velocidade de passagem da
massa pelo refinador está diretamente ligada, pois com um mesmo aperto de disco, se for
aumentada a vazão, a velocidade aumentará diretamente, visto que: Q = V*A. O importante é
selecionar uma vazão, conforme o tipo e arranjo dos refinadores disponíveis, bem como
assegurar durante o processo um fluxo uniforme e sem turbulência. Na tabela 8.04 temos
recomendações para a consistência e às velocidades periféricas, que devem ser aplicadas em
cada um dos três casos.
REFINO BC REFINO MC REFINO AC
Consistência (%) 2-6 10 - 20 30 – 40
Velocidade periférica (m/s) 15 – 25 40 –50 90 – 110
Tabela 8.04 (FONTE: Treinamento operacional – VCP/LA)

8.6.10. Temperatura
É uma variável de importância, mas sem uma aplicação prática no processo de
refinação. De toda energia aplicada no refino, apenas 30% são revertidos para o trabalho
sobre as fibras. Entre 20 e 30% são gastos na recirculação de massa, 30% em acionamento e
20% na geração de calor. Por ser a refinação um processo mecânico, uma fração de energia
consumida pelo refinador se transforma em calor por atrito entre as fibras, fibras e lâminas,
água e lâminas, o que favorecerá um aumento de temperatura da massa. Entretanto, segundo
alguns autores, o aumento da temperatura provocará uma diminuição da eficiência de
refinação.

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145

Com um aumento da temperatura, as paredes externas das fibras vão se tornando cada
vez mais difíceis de serem destruídas, portanto, a dificuldade de hidratação e fibrilação das
pastas em altas temperaturas tornam-se um inconveniente pelo alto consumo de energia que se
requer. Podemos notar que este fato quando estão instalados mais de três refinadores em série,
pelo aumento de temperatura que a massa sofre ao passar por cada refinador, os últimos
refinadores da série recebem essa massa já com cerca, em alguns casos, 60 a 70 ºC, o que faz
com que estas máquinas trabalhem com baixo rendimento.

8.6.11. pH
Aumento de pH facilita a refinação, proporcionando uma pequena redução no consumo
de energia e um tratamento mais eficaz das fibras. Num pH = 4,5 as fibras tornam-se mais
rígidas e mais sujeitas aos cortes. Num pH em torno de 8,0 a 9,5 (por exemplo) as camadas
externas da parede celular podem ser abertas mais facilmente, o que proporcionará uma
hidratação mais rápida.

8.6.12. Carga específica


Cada fibra permite uma carga específica, que fará o trabalho desejado de adaptar, abrir
suas paredes ou até cortá-las, sem haver destruição com excessiva criação de finos ou
cisalhamento total. É importante ressaltar que fibras virgens possuem capacidade de absorver
cargas externas maiores que as que já sofreram algum trabalho e por este motivo geram
melhores resultados físicos.
Isto deve ser levado em consideração, quando se necessita produtos com altos graus de
drenabilidade, na utilização de fibras recicladas ou pastas de alto rendimento. Pode-se afirmar
que a capacidade de carga da fibra é diminuída quando aumenta sua drenabilidade e também
verifica que quanto maior é este aumento, maior é também o consumo de carga especifica.
Para se observar “in loco” quando a carga específica está se excedendo é só observar o
“canto” das guarnições.

8.6.13. Pressão específica


Na prática, a pressão específica esta diretamente relacionada com o aperto entre os
discos ou a carga aplicada. É uma variável de suma importância, pois, está relacionada com a
energia específica de refinação (kWh/t). Pressão específica ou potência aplicada por área de
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146

refinação podemos dizer que é a pressão com que são apertados os discos, e é dessa pressão
que temos uma maior severidade de refinação ou não.
As altas pressões específicas proporcionam um aumento de grau de refino rápido
sacrificando a qualidade da massa, isto porque as fibras são submetidas a um tratamento de
corte e uma fibrilação externa muito forte, produzindo uma grande quantidade de finos. A
razão entre a incidência de corte acontece com pressões específicas altas é a de não formar o
colchão de massa entre os discos e não haver contatos íntimos entre as fibras.
As baixas pressões específicas proporcionam uma refinação mais suave com um
aumento gradual do grau de refino mantendo os comprimentos originais das fibras, hidratando
e fibrilando sem prejudicar e sem criar finos.
Como a pressão específica está ligada com a potência aplicada por área de refinação,
quando um fabricante dimensiona a potência do motor ele está dimensionando indiretamente
a pressão específica máxima que se pode aplicar.

8.6.14. Velocidade periférica


É uma variável importante, mas sem uso prático, já que na maioria dos casos, os
motores de acionamento dos refinadores têm “rpm” preestabelecida, não variável. Se forem
observadas as rotações definidas para os refinadores em função do diâmetro dos discos (que
por sua vez determina a potência nominal dos refinadores, tabela 11), verificar-se-á que a
medida que o diâmetro aumenta, a rotação diminui, justamente para manter uma velocidade
periférica dentro de uma faixa ótima de trabalho.
DIÂMETRO DOS DISCOS (mm) 500 600 700 900 1000 1200
POTÊNCIA (HP) 300 400 500 600 1000 1500
ROTAÇÃO (RPM) 1200 750 600 500 400 300
Tabela 8.05 (FONTE: Treinamento operacional – VCP/LA)

Somente para informação, vamos analisar como essa variável se comporta para efeito
de refino. Com o aumento da velocidade periférica, aumenta a hidratação e diminui o corte
das fibras. Isso acontece pelo resultado do aumento do efeito batedor ou número de impactos
das lâminas sobre as fibras, ou seja, aumenta o comprimento de lâminas por segundo.
Sabe-se que velocidades baixas (abaixo de 20 m/s) tende a encurtar a fibra, enquanto
que acima de 25 m/s o efeito predominante será a fibrilação e, entre ambas, será produzido
um efeito misto. Entretanto, em velocidade muito alta (acima de 35 m/s) haverá um maior

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consumo de energia em vazio e se for exagerada, praticamente não se consegue o efeito de


refinação.
Porém, como as perdas por bombeio é proporcional ao quadrado de rotação do
refinador e a velocidade periférica é função da rotação, podemos perceber que as perdas
crescem com muita rapidez ao se aumentar a velocidade periférica, por esse motivo existe um
limite econômico que não permite velocidades excessivas. Como foi dito anteriormente, o
fabricante de máquinas sabe qual é a velocidade econômica e por isso se deve obedecer ao
dimensionamento do motor feito pelo fabricante do equipamento.
Para refinadores a discos esta velocidade periférica varia de 26 a 34 m/s. Esta
velocidade é calculada com a seguinte fórmula:
Vp =  * De * n
Onde:
Vp = velocidade periférica (m/s)
De = diâmetro externo dos discos
n = rotações por segundo

8.6.15. Número e largura das barras (e das ranhuras)


O número e a largura das barras ambos representam um importante papel para a
determinação da intensidade de refinação. Quanto maior for o número de barras, isto é, bordas
de barras, maior é a extensão da refinação e mais branda a ação de refinação.
Isto é porque a ação de um refinador é
acreditado ocorrer quando as fibras são
‘grampeadas’ sobre a borda da barra como
mostrado na figura 8.28. Também tem sido
postulado que a ação da superfície das bordas
das barra é mais de sete vezes maior que a
ação da superfície da borda para guarnições
normais (estes com iguais larguras de bar e Figura 8.28 (FONTE: Refining Technology)

ranhuras).
O uso de grande número de barras aumenta a taxa de desenvolvimento de resistência e,
onde a resistência é crítica, reduz o uso de energia. O número de barras e largura afetam as

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características de fluxo e tempo de residência na zona de refinação a qual, em troca, afetará


também requisitos de energia.
Quando classificando segundo o tamanho e escolhendo os refinadores, o tipo de
guarnição e número de barras dependerá do tipo de fibras a serem tratadas. Polpas “kraft
softwood” exigem menos barras para aumentar a intensidade de tratamento. Polpas “kraft
hardwood” exigem mais barras para reduzir o incidente de encurtamento das fibras. A
codificação dos discos, mais usada internacinalmente, aparece na figura x, abaixo:
Por exemplo, com a codificação:
2.2 - 2.3 - 3.9 , 10, teríamos:

Largura da barra: 2,2*25,4*1/16 = 3,49 mm


Largura do canal: 2,3*25,4*1/16 = 3,65 mm
Profundidade do canal: 3,9*25,4*1/16
= 6,19 mm
Figura 8.29 (FONTE: indeterminada) Ângulo da faca: 10º

8.6.16. Ângulo de corte e de cruzamento


A inclinação de lâminas em relação ao raio do disco forma o chamado ângulo de
inclinação.
Quando os segmentos do
disco móvel são opostos aos
segmentos do disco fixo, as suas
lâminas ou barras formam entre si
um ângulo, denominado de
intercessão ou ângulo de corte.
Na Figura 8.30 podemos observar
os dois ângulos: de inclinação á e Figura 8.30 (FONTE: Refining Technology)
de intercessão â.
A grandeza desse ângulo é uma variável importante, já que todo trabalho de refinação
está realizado nas arestas das lâminas que formam o dito ângulo. Enquanto maiores ângulos
favorecem a fibrilação e hidratação de fibras, os menores facilitam cortes.
Segundo PIRES (s/d), que fez experiências com ângulos de 5º e 7º30’ as lâminas com
maior ângulo de inclinação dispendem mais energia total para atingir um determinado grau de
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refinação. Utilizando-se a inclinação de 7º30’, o consumo de energia total foi cerca de 27%
maior para pastas de eucalipto e 14% maior para a basta de bétula quando comparada com a
inclinação de 5º. Isto concorda com experiências feitas por outros autores.
O maior consumo de energia total pelo disco com maior ângulo de inclinação pode ser
explicado pelo fato de que a pasta celulósica é forçada a permanecer um período maior na
zona de refinação, o que implica em maior dificuldade de escoamento, aumentando a perda de
carga e, conseqüentemente, requer uma maior energia de bombeamento, aumentando a
energia perdida.
Por outro lado, observou-se quea energia efetiva necessária para atingir um determinado
grau de refinação é menor para o disco de lâminas com maior ângulo de inclinação. Para a
inclinação de 7º30’, o consumo de energia efetiva foi cerca de 19% menor para as pastas de
eucalipto e 43% menor para a pasta de bétula.
A energia efetiva, que é aquela despendida para modificar a estrutura da fibra, sendo
menor para os discos com lâminas mais inclinadas deve prejudicar menos as fibras durante a
refinação, o que é confirmado pela classificação das fibras. A quantidade de finos produzido
com o disco de lâminas mais inclinado é menor, cerca de 25% para a pasta de eucalipto e 15%
para a de bétula.
Quando o ângulo de inclinação das lâminas é pequeno, as fibras fluem
perpendicularmente à aresta da lâmina, ficando sujeitas a uma grande ação de corte; mas
quando o ângulo é maior, o escoamento da pasta torna-se tangencial à aresta da lâmina,
diminuindo o efeito de corte. Pilling (10) acrescenta ainda que quanto maior o ângulo de
inclinação das lâminas maior será o efeito de fibrilação das fibras e menor o seu corte,
produzindo, conseqüentemente, um papel com melhores características físicas.
Há algumas discussões sobre a influência do ângulo de corte na CEB. Se considerar-se
uma guarnição com a mesma largura de barra e ranhura mas com diferentes ângulos, a
guarnição terá uma geometria diferente e as características operacionais irão modificar como
mostrado na tabela 8.06. Dado que um papeleiro tenha interesse para modificar ângulo por
razões de fluxo quando as proporções da massa (“furnish”) são modificadas, poderia parecer
que uma idêntica guarnição tem modificado o tratamento da fibra por causa do ângulo. A
modificação no tratamento é verdadeiramente devido a modificação na intensidade de
refinação por causa dos diferentes cargas específicas de borda (CEB). Portanto, uma mudança

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de discos de 5º para 15º irá criar um significativa diferença em CEB, enquanto parecendo dar
um efeito puramente devido a uma mudança em ângulo que não é levado em conta pela teoria.

Ângulo CEL (km/s) SEL (Ws/m)


5 102 2,9
10 125 2,4
15 165 1,8
Tabela 8.06 (FONTE: Refining Technology)

8.6.17. Material e fechamento entre lâminas


Os revestimentos para refinadores podem ser obtidos pelos seguintes processos mais
usuais:
 revestimentos usinados como é o caso de discos fresados;
 revestimentos fundidos;
 revestimentos com lâminas soldadas.
O processo mais econômico e versátil de fabricação de revestimento é o processo
especial de lâminas soldadas. As lâminas podem ser de aço inoxidável ou carbono.
Normalmente, a fabricação é feita com lâminas de aço inoxidável sustenítico, da série AISI-
300 ou similares de acordo com os casos. Porém em casos especiais, onde as características de
refinagem exigem, são utilizados discos de basalto.
As lâminas não são tratadas termicamente. A dureza nas lâminas se obtém por
compactação progressiva a frio, atingindo-se 400 a 500 pontos Brinell. Este sistema permite
fabricar revestimentos para qualquer tipo e tamanho de refinador com áreas refinadoras
formadas com lâminas a partir de 2 mm de espessura para qualquer resultado desejado na
refinação. Deve-se considerar também eu as arestas das lâminas são mais estáveis por se tratar
de aço relaminado, detalhe que não sucede nos discos fundidos, uma vez que nesse caso as
arestas são geralmente determinadas pelo desprendimento de cristais de carbono da fundição.
Portanto, para se conseguir sempre um bom rendimento de refinação, os materiais de
construção das lâminas têm que ter uma determinada dureza e se comportar com um desgaste
constante sem formação de rebarba e arredondamento das arestas de trabalho. Como já
mencionamos, os segmentos podem ter lâminas fundidas ou soldadas. Os segmentos com
lâminas fundidas são mais baratos. O material das lâminas é um aço inox austenítico, da série
AISI-300. A dureza desse material é feita pelas compactações progressivas a frio, atingindo

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400 a 500 pontos de dureza Brinell. O importante, no caso, é utilizar a qualidade de material
resistente, que desgasta uniformemente, sem fazer a rebarba como mostra figura 8.31.

Figura 8.31 (FONTE: Treinamento operacional – VCP/LA)

8.6.18. Arranjo dos refinadores


Os refinadores nos sistemas de preparação de massa podem ser instalados de várias
formas. Essas instalações poderão ser definidas com refinador recirculando a massa em um
tanque até ser atingido o grau necessário. Dessa maneira instalado, estaríamos trabalhando
intermitentemente por cargas a preparar. Quando o trabalho for contínuo com mais de um
refinador, estes podem trabalhar em série ou em paralelo. Neste trabalho vamos nos prender
apenas em dar as vantagens ou desvantagens de cada tipo de arranjo (tabela 8.07). A figura
8.32 mostra um sistema de três refinadores onde é possível fazer arranjos em série, em
paralelo e em série-paralelo.

Arranjo em série Arranjo em paralelo


Vantagens Pressão específica pode ser mais baixa, Aumento de temperatura gradual ao passar por
uma vez que as fibras passarão por mais de um cada refinador podendo alcançar temperatura
refinador. indesejável nos últimos refinadores.
O grau de refino poderá ser melhor Cuidados na operação para garantir que os
controlado, uma vez que se pode ajustar e refinadores estejam trabalhando em condições de
manter os refinadores trabalhando em condições aperto, pressões de entrada e saída iguais.
semelhantes. Não recomendado para baixos graus de refino e
Recomendado para quando se deseja obter grandes produções.
altos graus de refinação.
Desvantagens Maior facilidade para controlar pressões de A alimentação deve ser bem dimensionada,
entrada e saída. dividindo o fluxo pelas linhas.
Pela vazão ser menor, por estar dividida, Requer maior pressão específica.
há uma retenção maior da massa nos discos.
Recomendados para grandes produções e
baixo grau de hidratação.

Tabela 8.07 (FONTE: SENAI CETCEP)

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Figura 8.32 (FONTE: Treinamento operacional – VCP/LA)

8.6.19. Outras variáveis de refinação


Há ainda outras variáveis de refinação que não foram apresentadas neste curso devido a
sua complexidade e necessidade de serem tratadas em um curso específico de refinação. Mas,
as mais importantes foram aqui apresentadas como fundamento básico para o presente curso.

8.7. VARIAÇÕES NO PROCESSO DE REFINAÇÃO PARA DIFERENTES TIPOS DE


PAPÉIS
Já vimos alguns dos efeitos da refinação sobre as características das fibras. Associados
a alguns outros efeitos podemos compor a seguinte relação:
 corte e encurtamento de comprimento;
 geração de finos, remoção da parede primária, geração de “farinha”;
 fibrilação externa, soltura parcial dos elementos da parede;
 fibrilação interna, soltura interna de fibrilas, delaminação, inchamento;
 encurvamento, estreitamento;
 formação de bolotas;
 micro-compressão da parede celular;
 dissolução e evasão de substâncias solúveis;
 remoção de hemiceluloses de dentro da parede para fora;
 abrasão da superfície ao nível molecular, para criar a superfície mais gelatinosa.
Como resultado dos efeitos, citados acima, e terminada a refinação, as fibras colapsam,
ou seja, tornam se mais achatadas e bem mais flexíveis. A sua superfície de contato torna-se
maior. As modificações nas propriedades das fibras decorrentes da refinação são os seguintes:
 a resistência à drenagem aumenta;

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 a resistência à tração, rigidez, estouro, resistência interna (“Internal Bonding


Strength”) aumentam;
 resistência ao rasgo das fibras longas aumenta levemente no início, e diminui com
mais refinação; com fibras curtas aumenta significativamente no início e depois cai;
 permeabilidade, “bulk”, opacidade, coeficiente de refração da luz diminuem;
 alvura diminui levemente.
A figura 8.33 mostra o
comportamento de algumas destas
propriedades com o aumento de
refino. As propriedades de
resistência inclui resistência à
tração, ao rasgo, ao arrebentamento,
às dobras etc. A resistência à tração
é importante para papéis que são
fornecidos sob a forma de bobinas e
que são ‘tracionados’ durante sua
utilização, como é o caso dos papéis
ofsete e cuchê para impressão
Figura 8.33 (FONTE: Apostila “O processo de gráfica em geral, e o papel imprensa
produção de papéis” – ABTCP/UFV) para impressão de periódicos, por
exemplo.
As propriedades óticas do papel são também importantes para impressão gráfica,
principalmente pelo fato da qualidade da impressão depender significativamente de fatores
como tonalidade e opacidade, por exemplo, mas são importantes para outros tipos de papéis
tais como os sanitários (“tissue”), onde a aparência visual normalmente é atribuída às
questões higiênicas pelos clientes finais. As propriedades superfíciais, por sua vez, também
têm relação com sua utilização final. Uma folha bastante lisa reproduz melhor uma imagem
impressa, no caso dos papéis para impressão; uma folha de papel macia é mais desejada pelas
pessoas que utilizam lenços de papel, papel higiênico, papel toalha e outros cujas função está
relacionada a um contato direto com a pele.
Enfim, as especificações de cada tipo de papel relacionadas às suas propriedades, as
quais seguem a sua finalidade de aplicação ou processamento, dependem principalmente do
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material fibroso, mas podem ser melhoradas pela utilização das matérias primas não fibrosas
ou pela tecnologia de fabricação do papel que inclui a preparação de massa, máquina de papel
e conversão. No presente item, a ênfase será dada tão somente ao material de origem fibrosa e
o que pode ser feito numa etapa da preparação de massa, denominada refinação, para que
possa cumprir sua finalidade como produto papel.
Como foi dito anteriormente, existem outras propriedades do papel além daquelas
ligadas aos esforços físicos; sabe-se, por exemplo, que se desejarmos uma folha de papel mais
transparente, isto é, com baixa opacidade (propriedada óptica), poderemos refinar as fibras até
um alto nível de refino, onde pela pelo rompimento acentuado das paredes constintuintes da
fibra, haverá uma maior facilidade de passagem dos raios luminosos e, portanto, o
desenvolvimento da propriedade que desejávamos.
Estas propriedades são mais ou menos importantes para cada tipo de papel a ser
fabricado. Por exemplo:
 papéis para embalagem: resistência ao rasgo, resistência ao estouro, rigidez;
 papéis para imprimir e escrever: opacidade, “bulk”, alvura;
 papéis imprensa: resistência à tração, opacidade;
 papéis “tissue”: maciez.

8.8. AVALIAÇÃO DA REFINAÇÃO


A propensão de uma pasta à refinação pode caracterizar-se pela energia específica (ou o
tempo) necessária para alcançar um determinado grau de refinação, empregando um
determinado material.
O grau de refinação pode ser avaliado mediante medidas sobre a suspensão fibrosa (por
exemplo, ºSR, I.R.A., etc.), características físicas da pasta (por exemplo, superfície específica
da fibra), propriedades mecânicas do papel, etc. Os aparelhos “Schopper Riegler” e
“Freeness” (figura 8.34) são utilizados para medição do grau de refinação, indicado pelo grau
de drenabilidade de uma suspensão aquosa de fibras. O primeiro expressa seu resultado em
ºSR (graus Schopper Riegler), enquanto o segundo o expressa em CSF (“Canadian Standard
Freeness”).
O efeito da refinação pode ser avaliado, também, pelo I.R.A. (Índice de Retenção de
Água) ou, em inglês, W.R.V. (“Water Retention Value”, o qual prediz o comportamento do
desaguamento de uma suspensão de fibras).
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O método consiste na determinação da quantidade, expressa em percentagem, de água


retida em 1 g de pasta, absolutamente seca, suspensa em água (10% de consistência), após
centrifugação a 900 g, sendo “g” a aceleração da gravidade, por 30 min.
Neste ensaio, durante a centrifugação, somente a água retida nos capilares formados
entre as fibras é eliminada da pasta, ficando retida a água situada no lúmen e nas paredes das
fibras. O valor medido está relacionado com a plasticidade das fibras. A fórmula para
determinação do I.R.A. é a seguinte:
I.R.A. = (massa de pasta após centrifugação – massa de pasta seca)*100/massa de pasta seca.
Para uma determinada pasta celulósica tipo sulfato, por exemplo, 36 ºSR corresponde a 189%
I.R.A.

Figura 8.34 (FONTE: Tecnologia de Fabricação de Papel – SENAI/IPT)

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9. CIRCUITO DE APROXIMAÇÃO (“APPROACH FLOW”)


9.1. INTRODUÇÃO
O circuito de aproximação corresponde ao elo de ligação entre a área da preparação de
massa e a unidade de formação da máquina de papel. Sua função básica é o transporte da
suspensão até a máquina, proporcionando um fluxo estável, homogêneo e limpo. Dele, fazem
parte os sistemas de alimentação de massa grossa (caixa de nível, válvula de gramatura, etc.),
e de diluição, “centricleaners”, de peneiras pressuzadas e de controle de fluxo. Trata-se de um
conjunto essencial para a fabricação de um produto de boa qualidade. Este conglomerado de
equipamentos estáticos e dinâmicos de vários fornecedores deve funcionar junto em todas as
faixas de gramatura e velocidades da máquina de papel. Parâmetros como perfil longitudinal
de gramatura, formação da folha, ausência de contaminantes no papel podem ser
influenciados e controlados através do circuito de aproximação. Fenômenos como flutuações
de consistência e/ou de fluxo, pulsações hidráulicas, vibrações mecânicas, admissão de ar,
velocidades inadequadas no interior das tubulações e acabamento inapropriado das superfícies
internas das mesmas, influenciarão negativamente os parâmetros acima.
Portanto, um circuito de aproximação bem projetado deverá oferecer condições para que
tais fenômenos não ocorram ou sejam minimizados, a níveis não prejudiciais à qualidade
desejada. A figura 9.01 mostra um esquema típico de circuito de aproximação.
O sistema de aproximação pode ter um significativo impacto no desempenho da
máquina e na qualidade do papel, portanto deve ser considerado importante como qualquer
outra parte da máquina de papel.
Um sistema corretamente projetado deve ter:
 estabilidade de fluxo e controle satisfatório;
 boa mistura e dispersão de fibras;
 sistema de limpeza e facilidade para lavagem.
A folha de papel com maior qualidade e as melhorias havidas nas máquinas de papel,
resultaram em sistemas de aproximação cada vez mais complexos. Caixas de entrada
hidráulicas, alta velocidade nas máquinas e melhoria nas características da folha, formaram o
sistema de aproximação a incluir múltiplos estágios de separadores centrífugos, depuração e
melhor controle do ar contido no fluxo de massa. A figura 9.02 mostra uma parte do circuito
de aproximação com a inclusão de um “deculator” para retirada do ar da massa.

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Figura 9.01 (FONTE: Apostila “Approach flow” – Curso Técnico de Cel. Papel – Guaíba,
RS)

Figura 9.02 (FONTE: Apostila “Approach flow” – Curso Técnico de Cel. Papel –
Guaíba, RS)
Os sistemas de aproximação utilizados atualmente variam desde sistema com simples
diluição com apenas depurador até complexos arranjos com múltiplas camadas e sistemas
com dupla diluição com depurador e separadores ou sistema de dupla diluição com depurador,
separadores e desaerador. Alguns desses sistemas facilmente adaptados ao controle da caixa

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de entrada, usando bombas de mistura com velocidade variável e outros são mais adaptados
ao controle por “by pass”.
A melhor maneira de evitar-se problemas seria iniciar com um bom projeto. Como nem
sempre isso é possível, pois uma vez tendo o problema no sistema de aproximação, a fonte
precisa ser encontrada, o que nem sempre é muito fácil. Alguns dos mais freqüentes
problemas encontrados na máquina de papel serão tratados aqui.

9.2. COMPONENTES IMPORTANTES DO “APPROACH FLOW”


A seguir, serão apresentados alguns componentes importantes do circuito de
aproximação.

9.2.1. Tanque de mistura


O tanque de mistura é aquele que recebe a massa refinada e mais alguns aditivos que
serão usados na receita de fabricação de papel. É o tanque que normalmente inicia o circuito
de aproximação. Na maioria dos casos é um tanque bi-partido, onde um tanque transborda
para o outro. O tanque em que está posicionada a bomba que envia massa para a caixa de
nível mantém constante o nível com o objetivo de iniciar a minimização das variações de
fluxo.

9.2.2. Água branca


A água branca tomada pela bomba de mistura para a diluição da massa grossa da caixa
de nível é a água rica em fibras recolhidas no desaguamento inicial na seção de formação da
folha.
As máquinas “Fourdrinier” costumam ter o tanque de água branca diretamente sob a
mesa plana, enquanto para outras configurações, ou por adaptação ao tipo de “layout”, é
freqüente situar o silo na lateral traseira da máquina. Em qualquer dos casos, tanto o processo
de desaguamento da folha, como a geometria das calhas ou canais coletores e condutores da
água tendem a introduzir ar no sistema. A condução da água deve ser desenhada de modo a
evitar a mistura de ar, que poderá ser a causa de dificuldades nas fases da circulação curta e de
formação.

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Por outro lado, o depósito de água branca, silo ou tanque, deve estar livre de ondas e
turbulências, situação que produziria variações da coluna hidrostática e, portanto, da pressão
na entrada da bomba de mistura com conseqüentes variações de vazão.
Existem instalações especialmente projetadas para a eliminação do ar imediatamente
antes da área de formação da máquina, mas pouco usadas devido ao alto investimento e ao
consumo de energia. Há, por outro lado, “centercleaners” de desenho especial que permitem a
remoção de grande parte do ar.

9.2.3. Caixa de nível


Este acessório tem a função de garantir um fluxo de alimentação de massa grossa,
estável. A suspensão é injetada pela parte inferior de um extremo, de forma que a descarga do
fluxo para a máquina de papel ocorra pelo centro e um fluxo de transbordo é mantido no outro
extremo, retornando para o tanque da máquina. Qualquer alteração nesta ordem poderá ser
prejudicial. Uma caixa de nível (figura 9.03) deverá proporcionar, principalmente, uma coluna
hidráulica constante para a válvula de controle de gramatura (ou peso básico) e a eliminação
de boa parte do ar livre contido na massa, através do emprego de velocidades baixas e uma
área aberta adequada.
As consistências normalmente
encontradas na caixa de nível situam-se na
faixa de 2 a 4%. A consistência da caixa de
entrada de uma máquina de papel, e
consequentemente, a gramatura da folha, são
controladas pôr meio de uma válvula de massa
grossa. A operação desta válvula poderá ser
dirigida pôr computador, através de um sinal Figura 9.03 (FONTE: Apostila “Approach
de realimentação oriundo de uma sonda de flow” – Curso Técnico de Cel. Papel –
leitura de gramatura na folha de papel. Guaíba, RS)
A válvula de gramatura usada para controlar o volume de massa que entra no sistema de
aproximação deve ser localizada na tubulação de descida da caixa de nível e abaixo do nível
do silo de água branca. Essa localização (abaixo do nível do silo) reduz as chances de
cavitação. A cavitação pode ocorrer quando existe uma relativa baixa pressão da válvula.
Quanto mais baixa for a localização da válvula, tanto maior será a pressão sobre a válvula.
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A válvula submersa elimina também oscilações de pressões erráticas causadas pôr fluxo
em cascata e também mantém a válvula e a linha de massa constantemente limpa. Esse
princípio deve ser aplicado em qualquer válvula de controle.
A posição ideal para a entrada da linha de
massa é axial ao rotor da bomba de mistura, ou
seja, coincidência com o bocal do silo (entrada
da bomba de mistura). Se esta condição não for
possível, a linha de massa grossa poderá entrar
na parte superior do bocal do silo (na linha de
centro) e com um ângulo de 45º na direção do
Figura 9.04 (FONTE: Apostila “Approach
fluxo (figura 9.04).
flow” – Curso Técnico de Cel. Papel –
Guaíba, RS)
9.2.4. Piscina (poço da tela) / silo
Este sistema exerce grande influência na estabilidade do fluxo que alimenta a máquina
de papel. Além de desenvolver a função de coletor do fluxo drenado, durante a formação da
folha, deverá proporcionar uma coluna hidráulica constante para a sucção da bomba de
mistura (NPSH) e promover a desaeração da água branca que recebe.
Nas figuras 9.05 e 9.06, são mostradas vistas do tipo de silo onde o conjunto piscina/silo
está localizado diretamente sob o sistema de formação da máquina (entre as vigas da
máquina), como mostram as figuras.
Este tipo é normalmente empregado em máquinas que operam com alta vazão
(tipicamente, em máquinas de mesa plana), e gera uma economia de espaço. O fluxo drenado
sobre as bandejas coletoras é conduzido, através de calhas laterais, até a piscina. Os pontos de
descarga devem estar localizados próximos ao rolo cabeceira da máquina “Fourdrinier”, e
submersos, a fim de que seja evitada admissão de ar. Assim, a água branca flui em direção ao
rolo “couch”, retornando a seguir na direção do rolo cabeceira, através de canais abertos
(canais de desaeração), até encontrar o silo, cujo nível é mantido através de um transbordo
final, ou então por meio de uma malha de controle automático.

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161

Figura 9.05 (FONTE: Apostila “Approach flow” – Curso Técnico de Cel. Papel – Guaíba,
RS)

Figura 9.06 (FONTE: Apostila “Approach flow” – Curso Técnico de Cel. Papel – Guaíba,
RS)
9.2.5. Bomba de mistura
A bomba de mistura (figura 9.07) é o componente central do sistema e tem a função de
misturar e diluir a massa grossa recebida da caixa de nível, dando uniformidade à suspensão e
enviando-a para a caixa de entrada. Esta bomba é a maior da máquina e as exigências que lhe

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162

são colocadas são muito precisas. Tanto a vazão como a pressão, deve se manter estável, sem
flutuações e ao mesmo tempo passíveis de serem variadas para a alteração do caudal em
função da faixa de produção da máquina.
Para tanto, o tipo mais recomendado vem
a ser a bomba centrífuga com acionamento de
velocidade variável, pois a alternativa, bomba
de velocidade constante com controle do
caudal feito por automatismo de válvulas, tem
se mostrado mais sujeitos à flutuações. O
motor de velocidade variável também permite
“postas em marcha” sem sobrecargas. Figura 9.07 (FONTE: Apostila “Approach
flow” – Curso Técnico de Cel. Papel –
Guaíba, RS)
9.2.6. Atenuação da pulsação
A maioria dessas pulsações que ocorrem no circuito de aproximação pode ser atenuada
com a instalação de alguns equipamentos, antes da caixa de entrada. As caixas de entrada com
câmara de ar têm a vantagem de poder reduzir as pulsações, coisa que as caixas hidráulicas
não podem fazer.
Tanques com câmara de ar antes da caixa de entrada (figura 12.08) têm sido usados em
caixas de entrada hidráulicas, mas são eficientes apenas, como as câmaras de ar existentes
dentro da caixa de entrada. Tubulação com câmara de ar (controlado) (figura 12.09) tem sido
usada onde uma só freqüência é encontrada e pode ser ajustada para reduzir o pulso com
freqüência periódica.

Figura 9.08 (FONTE: Apostila “Approach Figura 9.09 (FONTE: Apostila “Approach
flow” – Curso Técnico de Cel. Papel – flow” – Curso Técnico de Cel. Papel –
Guaíba, RS) Guaíba, RS)
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163

Atenuadores com diafragma de


borracha (figura 9.10) estão sendo utilizados
cada vez mais, por atenuarem pulsações em
uma faixa de freqüência que varia de 0,5 a 40
Hz sem reduzir a velocidade do fluxo dentro
da tubulação ou introduzir ar à massa como Figura 9.10 (FONTE: Apostila “Approach
acontece com o tanque com câmara de ar. O flow” – Curso Técnico de Cel. Papel –
efeito do atenuador pode ser visto na figura Guaíba, RS)
5.27 que mostra a variação longitudinal de
gramatura por tempo e por freqüência.
É evidente a falta de atenuação de pulso na faixa de menor freqüência. Existe uma área
típica controlada, pela razão jato/tela, uma área sem atenuação e a área de atuação do
atenuador. Esta área sem atenuação (sem controle) pode resultar em variações de baixa
freqüência na máquina de papel. Estudos estão sendo feitos para que essa área (hoje) sem
atuação possa ser mais bem controlada, ou seja, a área controlada pela razão jato pela tela
deverá aumentar assim como a área controlada pelo atenuador também deverá ser mais
eficiente.

9.3. DEPURAÇÃO DE CABEÇA DE MÁQUINA


A depuração de cabeça de máquina (figura 9.11) tem por objetivo proporcionar ao
formador uma composição livre de impurezas que possam afetar a qualidade final do papel e a
produtividade da máquina (as impurezas podem ser as causas de quebras da folha de papel
durante a produção). Desde o ponto de vista da eliminação de impurezas nas matérias primas
pouco limpas, estas devem ser eliminadas eficientemente nos circuitos de preparação de
massa, restando, em todos os casos, a depuração de cabeça de máquina como um mero
“filtro” prévio ao formador.
Os depuradores pressurizados corretamente dimensionados têm sido geralmente
considerados como equipamentos necessários em todos os sistemas de aproximação à caixa
de entrada. Usando o método correto para o projeto da peça de transição entre o silo e a
bomba de mistura, poderemos assegurar uma boa mistura e fluxo estável até a bomba. Antes
da bomba de mistura sempre deverá existir uma pressão constante que normalmente é
determinada pelo tanque da tela ou silo.
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A depuração dinâmica é encarregada de eliminar partículas de maior densidade que as


fibras. A importância desta operação é função do tipo de papel a fabricar, correspondendo às
maiores exigências a papéis finos, e menores exigências a papéis de embalagem.

Figura 9.11 (FONTE: montagem de Edison da Silva Campos)

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10. MÁQUINA DE PAPEL (GERAL)


10.1. DESCRIÇÃO SUMÁRIA DA MÁQUINA DE PAPEL (MP) E COMENTÁRIOS
SOBRE OS DIFERENTES TIPOS DE MÁQUINAS.
Para iniciar o estudo das máquinas de papel , será uma máquina do tipo “Fourdrinier”
mostrada na figura 10.01. A função básica da máquina de papel, que é remover a água da
folha, é feita, fundamentalmente, em três setores que operam baseados em diferentes
princípios, como segue:
 Mesa de formação: desaguamento utilizando as características hidrodinâmicas do
líquido;
 Prensas úmidas: desaguamento por compressão mecânica;
 Seção de secagem: desaguamento por evaporação, por meio do fornecimento de
calor nos cilindros secadores.

Figura 10.01 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

A pesar da descrição dos setores da MP feita acima, neste curso consideraremos a caixa
de entrada como elemento inicial da máquina de papel, diferente de alguns autores que
preferem referir-se a ela como um elemento intermediário ao “approach flow” e a máquina de
papel, propriamente dita. A caixa de entrada é um elemento situado antes da unidade de
formação da folha de papel, e está encarregada de fornecê-la um jato de suspensão fibrosa de
geometria laminar. A operação que se realiza na caixa de entrada consiste em transformar o
fluxo circular da pasta procedente da bomba de diluição em um fluxo retangular, cuja largura
é definida em função da largura da máquina de papel, ao mesmo tempo que lhe imprime uma
velocidade uniforme. Esta operação é de fundamental importância, dado que a formação e
uniformidade do papel formado depende de uma dispersão uniforme das fibras e outros
constituintes do papel, pelo que os objetivos da caixa de entrada são de extender a pasta
uniformemente e igualar os fluxos e a consistência ao largo da máquina de papel, criar a
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166

turbulência adequada para evitar a floculação das fibras e descarregar um fluxo constante de
pasta com um ângulo correto sobre a máquina de papel.
As caixas de entrada são consituídas por diferentes elementos: tubo distribuidor,
dispositivos para igualar velocidades e para geração de turbulência, e dispositivos de
formação do jato. Pode-se distinguir entre caixas de antrada abertas e pressurizadas, podendo
ser estas com colchão de ar ou hidráulicas, totalmente cheias de líquido.
A formação da folha de papel consiste, basicamente, na operação de filtração. O jato de
suspensão fibrosa procedente da caixa de entrada, com uma consistência que depende do tipo
de papel (< 1,5%), deposita-se sobre o suporte de formação, constituido por uma tela sintética
que possui um tamanho de malha da mesma ordem de magnitude que as fibras utilizadas. A
partir deste momento, é exercido de uma maneira contínua ou descontínua uma diferença de
pressão no âmago da suspensão fibrosa, fazendo com que uma grande parte da água que
acompanha o jato de entrada seja eliminada por filtração, restando as fibras entrelaçadas entre
si, formando um manto ou colchão mais ou menos estratificado. Industrialmente utilizam-se,
atualmente, diferentes tipos de unidade de formação: mesas planas, formadores de tela dupla
(figura 10.02), formas redondas (figura 10.03), e híbridos (mesas planas com uma tela de
formação superior). A figura 10.04 mostra uma máquina de papel com um formador híbrido
em que aparece também a capota da seção de secagem, uma calandra com dois rolos e o
“scanner” que mede algumas propriedades da folha e as apresenta sob a forma de perfis.

Figura 10.02 (FONTE: www.ihobe.es)


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Figura 10.03 (FONTE: Pulp and paper manufacture)

Figura 10.04 (FONTE: www.celso-foelkel.com.br)

Os formadores de forma redonda são utilizados normalmente para a fabricação de


cartões com várias camadas (com matérias primas fibrasosas diferentes ou não) ou para
cartões de com gramatura elevada. Este efeito pode ser obtido também com a utilização de
várias mesas planas como mostra a figura 10.05 (que pode ser utilizado também para papelão
corrugado, com menos telas formadoras), ou uma mistura de forma redonda e mesa plana
como mostra a figura 10.06.

Figura 10.05 (FONTE: Papier Taschenbuch)

Figura 10.06 (FONTE: Papier Taschenbuch)

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A figura um mostra um sistema interessante onde é apresentad um formador de dupla


tela em um mesmo sistema onde há também uma mesa plana, também para a produção de
cartões. São casos curiosos como este que tormam difícil uma relação de todos os tipos
diferenciados de formadores que existem atualmente.
Há alguns tipos de formadores, por exemplo, que ao invés de duas telas, usam uma tela
e um feltro já na formação da folha como é o caso da máquinas “crescent former” para
“tissue” (figura 10.07).

Figura 10.07 (PAULAPURO, H., et alli, Papermaking Part 2, Drying)

Em mesas planas, o suporte de filtração constitui uma tela sem fim que se desloca por
cima de uma série de dispositivos que eliminam água da suspensão fibrosa até conseguir uma
estrutura formada por fibras entrelaças, compactas e com umgrau de umidade o
suficientemente pequeño, como para permitir o translado a operação posterior, que se produz
nas prensas, de onde se continua eliminando umidade.
Com efeito, a folha de papel que sai do formador com uma umidade aproximada de 75 a
80%, passa em seguida à seção de prensas, de onde é realizada a operação de prensagem. Os
objetivos primordiais desta operação são os de eliminar água e consolidar a folha, ainda que
também o prensado fornece lisura, reduz o “bulk” e proporciona maior resistência (tração e
rasgo) à folha úmida para um melhor translado desta folha para a seção de secagem ou
secaria. A prensagem influi em outras propriedades da folha tais como resistência ao
arrebentamento, comprimento de ruptura, alongamento, rigidez etc.
Nas prensas, a folha de papel é submetida a uma pressão entre prensas giratórias,
conjuntamente com um feltro existente entre elas. Nesta operação, parte da água do papel
passa ao feltro, sendo posteriormente retirada deste por vácuo, até alcançar uma umidade da
folha da ordem de 50 a 60%.
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A operação de prensagem é muito interessante do ponto de vista econômico, já que a


eliminação de água nesta parte da máquina de papel é muito mais barata do que quando se
realiza mediante secagem por evaporação.
A dificuldade de extração de água aumenta a cada seção e, por conseguinte, os custos
para extração. A tabela 10.01 e a figura 10.08 contêm alguns parâmetros médios das
máquinas, onde se pode comparar os custos e as participações de cada seção no desaguamento
da folha.
ZONAS Conteúdo de seco na Conteúdo de seco na Percentagem de água
entrada saída eliminada
Mesa Plana e Duoformer 1% 18% 95,4%
Seção de Prensagem 18% 42% 3,2%
Seção de Secagem 42% 94% 1,4%
Tabela 10.01 (FONTE: Apresentação ALBANY / ABTCP)

Figura 10.08 (FONTE: Apresentação ALBANY / ABTCP)

Como indicado na figura 10.08, se pode observar que a seção de secagem é a seção
onde se extrai a menor quantidade de água da folha e apresenta o maior custo operacional.
A eliminação da água remanescente somente se conseguirá mediante o aporte de calor
na secaria. Esta água é a mais difícil de remover, pois, a mesma se encontra entre as fibras da

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170

folha, e a força de coesão entre as moléculas de água dificulta extremamente sua retirada da
folha de papel.
Nesta operação de secagem, acaba-se de eliminar a água do papel até alcançar um
humidade definitiva situada entre 5 e 7%. Esta operação realiza-se normalmente pondo em
contato a folha de papel úmida com a superfície exterior de uns cilindros de fundição
(secadores) que estão aquecidos interiormente com vapor. Para melhorar o contato da folha de
papel com a superfície quente dos cilindros, usam-se telas secadoras em alguns casos. Outros
casos como quando há a presença do cilindro “Yankee” (figura 10.09) para papéis “tissue”,
por exemplo, não há a presença de telas secadoras. Nestas máquinas há uma raspa de
crepagem que confere ao papel as propriedades necessárias de maciez e absorvência.

Figura 10.09 (FONTE: Tissue World)

Falando ainda de máquinas que fabricam papel “tissue” há algumas máquinas atuais que
fogem da concepção consagrada de fabricação deste tipo de papel. É o caso das máquinas do
tipos TAD (“Through-air Drying”) (figura 10.10) e ADT (“Air Dried Tissue”) (figura 10.11).

Figura 10.10 (FONTE: Tissue World)

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Figura 10.11 (FONTE: Tissue World)

Há outras máquinas que possuem o cilindro “Yankee” e outros cilindros,


concomitantemente, como é o caso das máquinas de papel para papéis monolúcidos (figura
21) em que o lado do papel que entra em contato direto com a superfície do cilindro “Yankee”
desenvolve uma lisura e brilho bastante significativos. Como trata-se apenas de um lado com
estas características, este papel é chamado também de monolúcido.

Figura 10.12 (PAULAPURO, H., et alli, Papermaking Part 2, Drying)

Na fabricação de sacos para cimento, cal


etc. utiliza-se papel “sack kraft”
extensível, o que assegura uma maior
absorção de energia por parte da
embalagem e, em consequência, uma
maior resistência. Figura 10.13(FONTE: www.infomipyme.com)

Isto permite que os papéis de gramaturas relativamente baixa possam ser usados
satisfatoriamente com as exigentes condições de manipulação à que são submetidas
normalmente as embalagens deste tipo. Além de utilizar somente fibras virgens de Pinus spp
para obter um papel especializado com alta resistência é muito importante seu processo de
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fabricação, o que debe incluir uma refinação em alta consistência e uma prensa “Clupak” (que
se localiza normalmente entre a pré e a pós-secagem). Mediante o processo “Clupak” (figura
10.13) é possível obter papéis denominados extensíveis, com uma maior elasticidade, o que
permite que os sacos sejam capazes de absorver uma quantidade muito maior de energia sem
romper-se. Este processo consiste em gerar microdeformações no papel, invisíveis a olho nú,
que lhe forneça uma maior elongação ante forças externas.
Algumas máquinas apresentam o sistema “single tier” de secagem que consiste de
apenas uma fila de cilindros secadores na posição superior e uma fila de cilindros de sucção
na posição inferior, diferente do “doble tier” (mais tradicional), onde há duas filas de
cilindros. Na figura pode-se ver também algumas adaptações à secagem com conceitos
diferentes dos sistemas tradicionais de secagem e, adicionalmente, sistemas de acabamento
“on machine” (figura 10.14).

Figura 10.14 (PAULAPURO, H., et alli, Papermaking Part 2, Drying)

Uma vez passando pela secaria, as fibras estarão unidas, convertendo-se finalmente no
que consideramos papel. Em algumas ocasiões, quando requer-se um papel brilhante, ou com
uma lisura especial, isto se consegue prensando a folha entre dois rolos chamados de ‘lisas’,
fase final de obtenção da folha. Outra aplicação das ‘lisas’ é a de melhorar a espessura da
folha mediante pressão. Finalmente, o papel fabricado enrola-se na enroladeira “Pope” em
grandes bobinas para posterior utilização em bobinadeiras que definem o formato (largura e
diâmetro) final conveniente a cada tipo de cliente ou processo de conversão.

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11. CAIXA DE ENTRADA


11.1. CONCEITOS E APLICAÇÕES PRÁTICAS
A alimentação da suspensão fibrosa para a máquina de papel deve ser realizada de
maneira mais uniforme possível, com fluxo perfeitamente regular e homogêneo sobre toda a
largura, com as fibras dispersadas uniformemente, sem agrupamento em flocos, torvelinhos
ou correntezas; o fluxo da suspensão deverá terá ainda uma velocidade constante e compatível
com a velocidade da tela. Para a obtenção destes objetivos foi desenvolvida a caixa de entrada
com seus componentes e controles.
A caixa de entrada é alimentada por um conjunto de tubos múltiplos que recebem a
massa, sob pressão dos depuradores.
A utilização de baixas consistências nos permite obter esta homogeneização e
distribuição uniformemente dispersas na suspensão. Com altas consistências, existe a
tendência de formar flocos de fibras que afetam a formação da folha. A função da caixa de
entrada é distribuir a massa proveniente do “approach flow” de maneira uniforme na tela
formadora. Esta distribuição uniforme se alcança através de uma pressão interna uniforme e
constante.
Dentro do processo de fabricação de papel, a caixa de entrada ocupa uma posição de
extrema importância. Representa o elo de união entre a parte constante da instalação de
preparação de massa e a máquina de papel, cabendo-lhe a tarefa de:
 introduzir e distribuir a massa de fibras em suspensão;
 ao longo de toda a largura da máquina;
 a um fluxo com volume e pressão constantes;
 quanto ao tempo e a ponto de incidência na zona de formação da folha;
 com concentração uniforme de material fibroso e de enchimento.
A caixa de entrada tem participação efetiva para a qualidade do produto (folha de
papel), bem como para a produtividade da máquina de papel. Para cada tipo de formador
possui há uma caixa de entrada apropriada, mas o principio básico de funcionamento da caixa
de entrada e do sistema de aproximação (“approach flow”) não se altera. Todo este processo
define a formação da folha, ou seja, é o ponto mais importante no processo de fabricação de
papéis.
Os fatores mais importantes que afetam o processo de formação da folha são os
seguintes:
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 matérias primas e tipos de fibra;


 consistência da massa na caixa de entrada e grau de refinação: normalmente
trabalhamos com consistência na caixa de entrada na ordem de 2 a 5 g/l, e as fibras
devem estar uniformemente distribuídas e homogeneamente dispersas na suspensão;
 a geometria do jato da caixa de entrada;
 velocidade do jato em relação à tela;
 tipo de tela / feltro;
 retenção de fibras.
A distribuição transversal e uniforme de massa pode ser garantida atuando-se
principalmente nos seguintes pontos:
 “approach flow” (linhas de aproximação);
 “design” (projeto) da caixa de entrada;
 mistura da massa.
 uutras considerações:
 acabamento interno;
 estabilidade térmica;
 facilidade de limpeza.

11.2. TIPOS DE CAIXA DE ENTRADA


11.2.1. Caixa despressurizada aberta “multipass”
Nas caixas abertas, a mesma deve der uma altura geométrica que permita uma coluna
d’água de altura suficiente para que a massa entre na tela com velocidade adequada. Na caixa
“multipass” (figura 11.01) a massa entra pelo posterior, através de um tubo ou canal e possui
um fluxo de subida e descida em função das chicanas. As duas chicanas superiores permitem
uma regulagem, a fim de possibilitar a variação do fluxo de massa. Só encontrado em
máquinas pequenas de velocidade até 150 m/min.
Caixa aberta com rolos. Foi desenvolvida com o intuito de eliminar as deficiências da
caixa “multipass”, a instabilidade do fluxo e a falta de uniformidade da massa (11.02). Ela
possui 5 rolos perfurados que exercem de maneira mais eficaz, a função das chicanas da caixa
“multipass”. A passagem da massa pelo primeiro rolo faz com que parte do ar existente no

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sistema atinja a superfície. Em seguida passa pelos rolos chamados, rolos de caixa (2), sendo
posteriormente dirigida aos 2 rolos finais, chamados rolos de lábio.
Os rolos de caixa possuem uma área aberta menor que aquela dos demais, o que causa
um substancial aumento da velocidade do fluxo da massa e ajuda desfazer os agregados de
fibras. Todos os rolos possuem rotação lenta e devem ter uma forma que evite excessiva
turbulência e danos às fibras.

Figura 11.01 (FONTE: Apostila Figura 11.02 (FONTE: Apostila “Curso básico de
“Curso básico de fabricação de fabricação de papel” - ABTCP)
papel” - ABTCP)

11.2.2. Caixas pressurizadas


Como foi visto, as primeiras caixas de
entrada das máquinas de papel eram abertas.
Com o aumento da velocidade das máquinas de
papel, logo se percebeu que, para velocidades
acima de 300 m/minuto, a altura requerida para
a caixa de entrada provocava problemas como
a estagnação da pasta e formação de
aglomerados. A solução encontrada foi a
construção de uma caixa de entrada
Figura 11.03 (FONTE: Máquina de
pressurizada (figura 11.03), na qual o ar
papel – Caixa de entrada – Francisco Viana
comprimido desempenhava a função da altura
Barbosa)
geométrica.

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Este tipo de caixa é um desenvolvimento das caixas citadas antes. Se eles fossem
fechados e a eles fosse acoplado um sistema de ar comprimido, poderiam desempenhar as
mesmas funções das caixas pressurizadas. Nas caixas pressurizadas os fatores mais
importantes são:
 espaço útil no seu interior;
 desenho e arranjo dos rolos;
 eficiência dos chuveiros.
Desde que o volume de massa dentro da caixa seja independente da velocidade da
máquina e sendo sua vazão sobre a tela controlada por meio de ar comprimido, o desenho da
mesma pode ser bastante simplificado e seu controle feito com rigor e facilidade. O diâmetro
dos furos e o espaçamento entre os rolos variam de acordo com a velocidade com que se vai
trabalhar, porém, normalmente, a porcentagem de área aberta permanece constante. Os rolos
devem ser bem lisos e não possuir rebarbas em suas faces.
Atualmente alguns deles têm revestimento de borracha, “fiberglass” ou outro tipo de
revestimento visando evitar a retenção de fibras. Com a evolução natural das caixas de
entrada pressurizadas surgiu a caixa “nozzle” onde todo o sistema, desde a bomba do sistema
de circulação de massa até o lábio, é preenchido com massa. Os chuveiros são necessários
para evitar a formação de aglomerados de fibra e eliminar a espuma que se forma na
superfície da massa. Em caixas de entrada pressurizadas, utiliza-se em geral, chuveiros
rotativos.

11.2.3. Caixas de fluxo direto, ou hidráulicas


Caixa hidráulica (figura 11.04),
pressurizada hidraulicamente pela própria
suspensão fibrosa, e onde as forças de
cisalhamento (forças que interferem no
movimento natural das fibras) para a geração
da turbulência anti-floculação são geradas
Figura 11.04 (FONTE: Apostila “Curso
pelo atrito da massa contra as paredes de
básico de fabricação de papel” - ABTCP)
bancos de tubos de perfil especial e em canais
transversais que convergem para o lábio.

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11.2.4. Caixas de entrada para formação de papel multicapas ou multijato


Esta classe de caixas tem, nos desenvolvimentos recentes, equipamentos “multijato”
(figura 11.05), ou seja, caixas que podem depositar sobre a tela duas e três camadas
estratificadas e superpostas de massa de características diferentes. As caixas modernas podem
ser dotadas, ainda, de sistema que permite o controle transversal da gramatura mediante
injeções controladas de água branca que corrige pontualmente a consistência e, por extensão,
a gramatura.
Esta alternativa consiste na instalação
de caixas de entrada construídas para
fabricar papéis com duas ou três camadas.
Este tipo de caixa de entrada permite a
utilização de tipos de fibras diferenciadas
em cada camada, por exemplo, buscando
obter ao mesmo tempo a resistência
requerida e maior suavidade do papel ou
então buscando fabricar um produto de boa
Figura 11.05 (FONTE: OptiFlo II TIS headbox
qualidade com a utilização de fibras menos
– Metso Paper)
nobres (figura 11.06).

Figura 11.06 (FONTE: Artigo VOITH /ABTCP)

11.3. O QUE DEVE SER CONTROLADO NA CAIXA DE ENTRADA


A característica de performance da caixa de entrada está diretamente relacionada à
uniformidade do produto, uma vez que este determina as melhores propriedades físicas para a
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178

folha de papel. Está ligada a fatores como eficiência da caixa de entrada e projeto adequado.
A caixa de entrada deve proporcionar as melhores condições operacionais (operação contínua
e estável, flexibilidade para correções e regulagens), e de manutenção.
O ponto básico que define a eficiência da caixa de entrada é a qualidade do jato de
massa que a mesma proporciona. As principais características de qualidade do jato são as
seguintes:

11.3.1. Jato transversal uniforme de massa


A cada ponto analisado no sentido transversal da MP, o jato deverá ter as mesmas
características físicas.

11.3.2. Mistura homogênea


Assim como a uniformidade transversal do jato, a homogeneidade da mistura é
fundamental para se obter propriedades físicas homogêneas no produto final.

11.3.3. Fluxo livre de pulsações


Pulsações provocam alterações na uniformidade do Jato, prejudicando as propriedades
físicas da folha de papel.

11.3.4. Estabilidade
Estabilidades geométrica, hidráulica e térmica são fundamentais para garantir uma
operação contínua, livre de interferências, que se refletem diretamente na qualidade do
produto e na eficiência (produtividade) da máquina de papel.

11.3.5. Livre de fluxos transversais


Fluxos transversais provocam interferências na distribuição de fibras, provocando
alterações indesejáveis nas propriedades físicas do papel. Uma das causa dos fluxos
transversais é a distribuição irregular de pressão da caixa de entrada na direção transversal
(figura 11.07).
O “manifold” apresenta um sistema de recirculação que possibilita manter a mesma
pressão na sua entrada e na saída pelo controle de uma válvula presente na tubulação. Este
equilíbrio de pressão pode ser visualizado através de uma tubulação de material transparente
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que faz parte do sistema. A ausência de um fluxo de massa circulando dentro desta tubulação
nos indica pressões iguais na entrada e na saída. Quando existem diferenças de pressão, os
perfis de gramatura serão variáveis.

Figura 11.07 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

Os fatores que influenciam na qualidade do jato são os seguintes:

11.3.6. Distribuição transversal


O projeto da caixa de entrada deve prever uma configuração que garanta a melhor
distribuição transversal de massa fibrosa. Um exemplo disto é o tubo cônico.

11.3.7. Atenuação de pulsos


Um projeto adequado, bem como equipamentos auxiliares, são previstos para eliminar
ou amortecer pulsações no fluxo originadas pelo processo (bombas). Exemplos: atritos
internos e tanque atenuador de pulsações, colchão de ar na caixa de entrada.

11.3.8. Turbulência
O projeto da caixa de entrada deve prever os mecanismos internos requeridos para se
promover a turbulência necessária para proporcionar uma mistura homogênea e livre de
flocos.

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180

11.3.9. Geometria do lábio


A geometria do lábio é concebida de tal forma que o jato se oriente somente no sentido
longitudinal da máquina de papel, livre de fluxos transversais. Além disso, possui uma gama
de regulagens para se proporcionar os ajustes necessários no jato.
O jato é lançado sobre a mesa de fabricação por um orifício retangular de comprimento
igual a toda a largura da máquina, completamente ajustável para obter a vazão desejada. Este
retângulo é formado por lábios superiores e inferiores da caixa de entrada. A geometria e
abertura dos lábios determinam a espessura do jato e a pressão na caixa, determina a
velocidade do jato. A abertura é determinada por (figura 10.18):

Figura 11.08 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

Quando existem variações de gramatura em sentido transversal, significa que temos


velocidades de fluxo desiguais na caixa de entrada. Isto pode ser corrigido ajustando a
abertura através dos lábios. Devemos ter em conta que estes ajustes quando grandes podem
criar fluxos diagonais, redemoinhos que causam aglomerados de fibras no lábio.
Periodicamente deve-se verificar a abertura dos lábios com um micrômetro para
assegurar-se de que não existem variações na largura da máquina. A aceleração rápida da
massa nos lábios tem um efeito importante porque tende a promover o alinhamento das fibras
na direção da máquina. Existem três diferentes tipos de lábios (figura 11.09):
 Lábio tipo faca. Tem como desvantagem, a alta perda de carga gerada pela mudança
brusca na direção do fluxo de saída;
 Lábio convergente. Neste caso a perda de carga é menor;
 Lábio tipo combinado. A seção convergente acelera a massa e o dispositivo vertical
força as camadas de suspensão para baixo e para dentro do jato, criando
microturbulências.

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Figura 11.09 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)


O ângulo do jato é definido pela relação L/b, conforme figura 10.10 abaixo, onde: L =
extensão do lábio inferior; b = abertura dos lábios; B = espessura da suspensão fibrosa antes
do lábio.

Figura 11.10 (FONTE: Pulp and paper manufacture)

A espessura do jato é definida pela equação: e = Cc*b, onde o fator de contração Cc*b é
função da relação L/b e b/B, conforme figura 4.5.

Figura 11.11 (FONTE: Pulp and paper manufacture)

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11.3.10. Perfil transversal


Refere-se basicamente ao perfil transversal de gramatura e ao perfil transversal de
orientação de fibras (figura 11.12). O projeto da caixa de entrada engloba os recursos
necessários para se efetuar ambos os controles. Frequentemente, o grau de orientação das
fibras na folha de papel é estimado a partir da razão entre as resistências à tração no sentido
longitudinal e transversal. A orientação dominante ou resultante será tanto maior, quanto
maior for a relação numérica obtida. O processo de orientação de fibras na máquina de papel é
acompanhado pelo cisalhamento entre fibras e consequentemente desfloculação das mesmas.

Figura 11.12 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

A figura 11.13 mostra um controle de gramatura transversal feito mecanicamente por


um sistema de manípulos. Consiste em um conjunto de hastes, de comprimento variável,
fixadas sobre o lábio superior ao longo de toda sua largura, guardando um espaçamento
regular entre si. Estas hastes podem estar acopladas a atuadores, para o desenvolvimento do
controle automático. Alteração do fluxo de massa em uma pequena região do lábio através de
mudança na abertura do mesmo, conseguida com o auxílio do movimento das hastes. Esta
operação promove mudança no fluxo de massa e na vazão, naquela região do lábio.

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Figura 11.13 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

A redução local na abertura do lábio resulta em um decréscimo na saída de massa (e


gramatura) e também em um acréscimo na velocidade local do jato. Um aumento local na
abertura do lábio significa aumento da saída de massa (e gramatura) e ao mesmo tempo
também resulta em uma velocidade reduzida local do jato no local onde a velocidade do lábio
variou. Uma redução local na abertura do lábio (figura 4.8), por exemplo, também resulta em
uma mudança local na direção do jato:
 Fluxos transversais na suspensão são gerados, deixando-se levar do local da redução
do lábio. O maior efeito está na vizinhança do controle local do lábio;
 O plano vertical do ângulo do jato é também afetado.

Figura 11.14 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

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O controle do perfil transversal de


gramatura pode também ser feito por uma série
de válvulas misturadoras individuais, pelo
princípio do controle da consistência por meio
de diluição, de forma localizada e por zonas,
do jato lançado pela caixa de entrada.
O equipamento utilizado (figura 11.15) é
uma seqüência de válvulas misturadoras (de
diluição) distribuídas equidistantemente ao
longo de toda a largura da caixa de entrada.
Figura 11.15 (FONTE: Máquina de
Nas zonas onde o perfil apresenta distorções,
papel – Caixa de entrada – Francisco Viana
controla-se convenientemente a diluição das
Barbosa)
válvulas correspondentes.

11.3.11. Relação jato-tela


A relação de velocidades entre jato e tela (Vj/Vt) tem grande impacto na qualidade de
forma ao assim como na resistência do papel, ou seja, na relação de resistência longitudinal e
transversal. Normalmente, adota-se como valor de referência a relação de 0,95 a 0,99, ou seja,
quando temos a velocidade do jato próxima a velocidade da tela, teremos a relação de
resistência longitudinal e transversal próximo de 1,0 (um), e para se obter uma maior
resistência longitudinal, retardamos a velocidade do jato. Com este retardamento do jato da
caixa estaremos permitindo um melhor alinhamento de fibras e, portanto, um controle da rela
ao de resistência.
A velocidade do jato nas caixas de entrada define praticamente a velocidade da tela e,
portanto, a velocidade da máquina de papel. Isto porque a relação da velocidade do jato pela
velocidade da tela (relação jato-tela) deve ser próxima da unidade (1,0). Nas caixas abertas, a
velocidade do jato é dada pela fórmula: Vj = Cv*(2*g*H)1/2. Onde: Vj = velocidade do jato;
Cv = coeficiente do tipo de saída da caixa (0,8 a 1); g = aceleração da gravidade (9,81 m/s2);
H = altura da massa na caixa de entrada em “m” (figura 11.16).

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Figura 11.16 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

Se fizermos uma tabela da velocidade do jato em relação à altura de massa na caixa,


teríamos (tabela 11.01):
Vj (m/min) H (m)
60 0,051
120 0,204
180 0,459
240 0,815
300 1,274
360 1,835
... ...
900 11,468
Tabela 11.01

Isto é, a partir de determinada velocidade, a caixa de entrada aberto deixa de ser uma
opção prática. A velocidade do jato no caso da caixa pressurizada é dada por:
Vj = Cv* (2*g*H’)1/2, sendo: H’ = P + N, sendo “P” a pressão de ar em “metros de
coluna d’água” e “N” a altura de massa na caixa de entrada em “m” (figura 11.17).

Figura 11.17 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

Neste tipo de caixa de entrada, a velocidade do jato depende mais de algumas


dimensões da caixa de entrada e características da massa (figura 11.18):

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Figura 11.18 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

A maioria das máquinas trabalha na condição “drag”, isto é, com atraso do jato. Assim,
o movimento relativo entre a tela e a massa diminui o número de flocos pelo cizalhamento
mecânico, contribuindo para uma boa formação e alinhamento das fibras na direção de
máquina. Quando as velocidades do jato e da tela são iguais, dizemos que estamos
trabalhando no teórico.
A condição “rush” significa que a velocidade do jato é maior que a velocidade da tela.
A figura 11.19 mostra as duas situações. Nesta situação, uma fração da água contida no jato
volta para trás com grande probabilidade de formar flocos de fibras afetando diretamente na
formação da folha. Normalmente, com a relação jato-tela igual a 0,95, por exemplo, teremos
um valor maior de tração longitudinal e um valor menor de rasgo transversal; com a relação
jato-tela em 1,05, teremos um valor maior de rasgo transversal e a presença de dupla face.

Figura 11.19

11.3.12. Outras considerações


Acabamento Interno, Estabilidade Térmica e Facilidade de limpeza.

11.3.13. Distribuição transversal uniforme de massa


A distribuição transversal e uniforme de massa pode ser garantida atuando-se
principalmente nos seguintes pontos:

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 “Approach Flow” (Linhas de Aproximação);


 Design (projeto) da Caixa de Entrada;
 Mistura da Massa.

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12. FORMAÇÃO DA FOLHA DE PAPEL


12.1. A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DA FOLHA
A estrutura interna do papel definida como grau de dispersão com o qual as fibras e
demais constituintes são distribuídos no papel, também chamada de formação interna ou
simplesmente, formação, tem mais importância no comportamento do papel do que
normalmente lhe conferem, uma vez que influencia várias outras propriedades do papel como
permeância ao ar, opacidade, estabilidade dimensional, resistência à tração, ao rasgo, ao
arrebentamento, dupla face, etc.
O conceito de formação se refere à uniformidade, em quantidade e qualidade, em que as
fibras são distribuídas no papel. No nível físico, poderíamos comparar esta característica à
uniformidade com que o papel transmite a luz. Assim, pois, o melhor papel será aquele que
apresenta um aspecto uniforme contra a luz o mais próximo possível ao que observaríamos
através de uma lâmina de plástico matizada (figura 12.01).
Em papéis de impressão, uma formação pobre produz impressão não uniforme, e em
papéis para escrita diminui a aparência. A formação é influenciada pelas variações na
preparação de massa tal como grau de refino, por exemplo, pelas operações da máquina de
papel tais como relação jato-tela, freqüência do rolo sacudidor (“shaking”), etc. e pelas
variáveis referentes às matérias primas tais como comprimentos de fibras e a tendência das
fibras a floculação (agregado) na caixa de entrada.

Figura 12.01 (FONTE: montagem Edison da Silva Campos)

Para dispor de uma boa qualidade na impressão, principalmente quando se imprime


grandes áreas, a distribuição das fibras deve ser o mais uniforme possível. Se existe em
determinadas zonas agrupamentos de fibras de distinta espessura ou, simplesmente, uma
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maior presença destas fibras, a resposta de muitas outras características do papel opacidade,
estabilidade dimensional, resistência, etc, serão claramente distintas naquelas áreas. Devido a
maior acumulação de fibras, haverá uma pressão muito maior exercida pela calandra naquela
zona causando uma série de inconvenientes como níveis de aspereza diferenciados.
Não só a distribuição tem importância quanto a composição do papel, uma vez que sua
natureza também é um fator importante. Não é o mesmo dispor de fibras de madeira que
dispor de fibras de algodão ou linho. Os vários tipos de madeira que se emprega para a
fabricação do papel também determinam seu comportamento quanto a formação. A pasta
mecânica de madeira, por exemplo, dá uma boa opacidade, uma boa elasticidade na impressão
e uma alta absorvência a tinta, porém, apresenta uma brancura relativamente pobre e certa
fragilidade.
Porém, nem tudo são fibras na formação do papel. Os materiais de carga e os aditivos
também devem ser considerados e devem ser escolhidos adequadamente para aumentar a
opacidade, a brancura ou textura; para reduzir a absorvência da tinta, para melhorar as
qualidades mecânicas, etc. À medida que se aumenta a porcentagem destes materiais no papel
se vai reduzindo o tamanho dos espaços vazios e dos capilares em seu interior.
Existem vários instrumentos para medir a uniformidade da formação com base na
quantidade de luz transmitida através do papel. Este sistema trabalha pela varredura da
superfície fazendo atravessar um raio estreito de luz progressivamente por todos os pontos da
amostra a analisar. A luz transmitida se recolhe mediante célula fotoelétrica pelo lado
contrário do papel e se registram as flutuações bem seja em um indicador de agulha, em forma
de gráfico sobre o papel ou com ajuda de um dispositivo digital que nos pode dar valores
médios, mínimos e máximos.

12.2. O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA FOLHA


Como as teorias tradicionais sobre formação da folha tiveram como referência a
formação sobre uma mesa plana, neste curso o processo de formação da folha será tratado
com base neste tipo de formador.
A folha de papel é feita pela deposição de fibras de uma suspensão aquosa, com
consistência de 0,2 % a 1,5 %, sobre a tela da máquina. Mais de 98 % da água pode ser
removida por drenagem na tela.

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Para qualquer sistema de formação, o principal requisito é de produzir uma folha que
possua distribuição uniforme de fibras. Para alcançar isto, as fibras devem ser uniformemente
dispersas na suspensão e esta deve ser enviada à seção de formação já com um filme
uniforme.
As tarefas básicas a serem realizadas pela seção de formação da máquina de papel são
destacas a seguir:
 diluir a massa até uma consistência suficientemente baixa que permita um alto grau
de uniformidade na dispersão de fibras. A água de diluição pode ser fresca, porém é comum o
uso de água reciclada da própria seção de formação ou das águas brancas recuperadas ao
longo de toda a máquina de papel;
 distribuir uniformemente a suspensão diluída de fibras na seção de formação,
mantendo-as dispersas, homogeneamente;
 depositar, individualmente, as fibras uniformemente sobre a tela, ao mesmo tempo
em que se inicia a drenagem da água na tela;
 compactar o material fibroso enquanto ele está em estado plástico, a fim de obter um
contato íntimo entre as fibras;
 por meio de sucção, remover o máximo possível de água das fibras, antes que a folha
formada seja transferida para a seção de prensagem.
A formação da folha consiste, essencialmente, na deposição das fibras da suspensão
fibrosa fornecida pela caixa de entrada sobre uma tela fina onde ocorre o seu desaguamento.
Com o progredir da drenagem da água da massa as fibras se entrelaçam e se sobrepõem,
formando uma fina camada que vai aumentando na sua espessura. Com isso, a drenagem
natural da água se faz cada vez mais lenta, tornando necessários efeitos de aspiração cada vez
mais intensos.
Muitas características importantes do papel como a distribuição das fibras, a isotropia
de resistências mecânicas, a distribuição de finos e de cargas minerais na seção da folha,
marcas de telas e outras, são determinadas já no início da fase de drenagem.
Em sua clássica monografia, J.D. Parker demonstra como a formação da folha se
realiza através da combinação de três processos hidrodinâmicos básicos que acontecem
simultaneamente e que não são totalmente independentes uns dos outros. Estes processos são
mostrados na figura 12.02: drenagem, cisalhamento e turbulência.

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Figura 12.02 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

12.2.1. Drenagem
Tem como característica mais importante o desaguamento entendido como fluxo que
acontece, de modo predominante, em sentido perpendicular ao plano da tela, originando a
formação. Quando as fibras podem se movimentar com razoável liberdade, a drenagem
acontece pelo mecanismo de filtração e as fibras vão se depositando em camadas discretas,
isto é, ordenadas. A filtração é o mecanismo predominante na grande maioria das seções
formadoras, como demonstra a uniformidade da distribuição de fibras do papel que elas
produzem. A filtração é o comportamento que se quer induzir, pois que a formação será tanto
mais uniforme quanto mais predominante for o efeito filtração.
Acontece, porém, que quando as fibras em suspensão ficam com mobilidade baixa
devido a adensamento da suspensão, por exemplo, elas tendem a se aglomerar, a se
emaranhar, e a drenagem passa a acontecer por espessamento surgindo daí uma folha mais
feltrada e flocada. A figura 12.03 procura demonstrar este mecanismo de drenagem.
A movimentação mais ou menos livre das fibras é função da consistência da massa, ou
seja, quanto menor a consistência maior a liberdade de movimento das fibras e, teoricamente,
maior a possibilidade de boa formação.
Resulta, então, que a condição ideal de drenagem para a boa formação corresponde a
um ambiente de baixa consistência, como acontece no formador de folha de laboratório, por
exemplo. Como esta condição não é possível em termos práticos, a formação industrial é
realizada com a introdução de pulsos geradores de turbulência (ou micro dispersão), obtidos
mediante o uso de elementos desaguadores instalados na área de formação tais como os rolos
desaguadores, os foils, as telas auxiliares superiores, os rolos bailarinos em certos casos e
eventualmente algum artifício, como poderia ser um chuveiramento superficial
especificamente elaborado.
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A introdução desta microturbulência, ou micro dispersão, deve ser obtida ordenada e


gradualmente, pois que, qualquer elemento que venha a introduzir energia excessiva que
quebre o tecido já formado acaba sendo prejudicial à boa formação da folha.

Figura 12.03 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

12.2.2. Cisalhamento orientado


É definido como a introdução de pulsos que dão origem a diferenças de velocidade e ao
modo de orientação das fibras. Eles seriam, tipicamente:
 adiferença de velocidade entre o jato de saída da caixa de entrada e a velocidade da
tela;
 variações transversais de velocidade induzidas por eventual sacudidor da mesa plana;
 a ação do rolo bailarino ao reordenar a face da folha oposta à tela formadora.

12.2.3. Turbulência
Vem a ser, idealmente, a flutuação errática das velocidades existentes na fração de
fibras ainda em suspensão. Ela se caracteriza por duas grandezas:
 a escala, que corresponde à medida das distâncias médias nas quais as flutuações de
velocidade acontecem;
 a intensidade, que é a medida da grandeza das flutuações de velocidade.
A formação, enfim, pode ser definida como a uniformidade, ao exame visual, da
estrutura da folha. É normalmente avaliada por observação contra uma fonte de luz e há
instrumentos que medem também a regularidade da distribuição das fibras também em função
da reflexão da luz incidente.

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Todos os formadores de folha de mesa plana, de tela dupla ou híbridos, aplicam, ainda
que em diferentes graus, as três condições fundamentais de drenagem, turbulência e
cisalhamento orientado como mecanismos de definição da formação.
O processo de construção da folha sobre a mesa plana pode ser visto como seis fases
conforme mostra a figura 12.04:
 entrada: posição da mesa formadora (“forming board”) onde o desaguamento deve
ser praticamente nulo e dar-se apenas por gravidade, pois o “forming board” tem lâminas
planas e com pequeno espaçamento. A mesa formadora tem a finalidade básica de possibilitar
a dissipação de irregularidades no jato proveniente da caixa de entrada, além de evitar que o
rolo de cabeceira se transforme, ele próprio, em um forte agente desaguador em local
proibido. As fibras continuam, então, convenientemente em suspensão ao passar para o
próximo elemento efetivamente desaguador;
 atividade e desaguamento: a turbulência é importante para evitar a floculação e deve-
se maximizar o desaguamento;
 drenagem: onde se procura retirar o máximo de água com o mínimo de pulsos de
turbulência para resguardar a formação já construída;
 transição e consolidação: onde se procura retirar toda a água possível por meio de
vácuo mais intenso.

Figura 12.04 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

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12.3. TIPOS DE FORMADORES


Há basicamente três tipos de formadores: formador cilíndrico ou forma redonda, mesa
plana ou “Fourdrinier” e formador de tela dupla.

12.3.1. Formadores de forma redonda


O motivo principal para que se mantenha em funcionamento uma máquina de formas
redondas (figura 12.05) é a sua versatilidade, que consente fabricar um produto, quase sempre
um cartão multicamadas de alta gramatura, com boa qualidade e aparência a partir de uma
instalação relativamente simples e matérias primas de menor custo. Com este tipo de máquina
é possível sobrepor camadas compostas de materiais fibrosos diferentes adicionados a
produtos químicos específicos tais como colas, corantes, resinas e outros, dando
características bem definidas em cada camada.
A formação da folha na forma redonda acontece com o envio da massa diluída nos
padrões de consistência usuais, para uma tina dentro da qual gira, submerso na sua maior
parte, uma forma construída em armação metálica e revestido com tela.
A deposição das fibras sobre a tela da forma redonda ocorre por drenagem provocada
pela pressão estática decorrente da diferença de nível, ajustável entre a massa da tina e a água
no interior da forma. A água será descarregada pela lateral da forma para o sistema de
recirculação da água branca.

Figura 12.05

Alguns desenvolvimentos foram feitos para superar os problemas e limitações deste


tipo de formador. Como exemplos, se pode citar o formador Stevens e BRDA, mostrados na

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figura 12.06. Entretanto, com as várias opções de formadores com tela, capazes de produzir as
altas gramaturas solicitadas pelo mercado, os formadores forma redonda vem sendo
substituídos por aqueles equipamentos.

Figura 12.06

12.3.2. Mesa plana


A mesa plana tem a função de suportar a tela o receber o jato de massa vindo da caixa
de entrada. Consiste de uma tela sem fim que escorrega sobre uma série de elementos
desaguadores suportados numa estrutura física adequada, além destes elementos, a mesa plana
possui uma série de acessórios, tais como os rolos guias e os chuveiros limpadores da tela
formadora.
Instalada entre o rolo de cabeceira e os “hidrofoils”, a mesa plana tem a função de
suportar a tela o receber o jato de massa vindo da caixa de entrada. Ela deve ser colocada o
mais perto possível do rolo de cabeceira. Consiste de uma tela sem fim que escorrega sobre
uma série de elementos desaguadores suportados numa estrutura física adequada, além destes
elementos, a mesa plana possui uma série de acessórios, tais como os rolos guias e os
chuveiros usados para limpar as telas formadoras.
A mesa plana tem a função de suportar a tela o receber o jato de massa vindo da caixa
de entrada. Consiste de uma tela sem fim que escorrega sobre uma série de elementos
desaguadores suportados numa estrutura física adequada, além destes elementos, a mesa plana
possui uma série de acessórios, tais como os rolos guias e os chuveiros limpadores da tela
formadora.

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Na figura 12.07 aparece a mesa plana com seus principais componentes: 1- rolo
cabeceira; 2- “forming board”; 3- rolos desaguadores; 4- “foils”; 5- “Vacuum foils”; 6- caixas
de vácuo; 7- rolo “couch”; 8- rolos guias; 9- chuveiros; 10- tela formadora.

Figura 12.07 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

A figura 12.08 mostra as principais etapas de formação da folha na mesa plana com os
níveis de pressão e vácuo envolvidos.

Figura 12.08 (FONTE: Catálogo “Sistemas de formação e drenagem” – Albany)

Os principais componentes da mesa plana são:

12.3.2.1. Rolo cabeceira


O rolo cabeceira (figura 12.09)
localizado sob o lábio inferior da caixa de
entrada deve estabelecer um apoio plano e
retilíneo para a tela que estará recebendo o jato
de massa. O rolo cabeceira deve situar-se
sempre num patamar paralelo e nivelado em
relação ao lábio inferior para que a tela, ao Figura 12.09 (FONTE: Básico de
receber o jato esteja paralela e não cause um Fabricação de Papel)
desaguamento irregular no sentido transversal
da máquina.

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O rolo cabeceira pode ser do tipo sólido, telado ou de sucção. O tipo mais utilizado é o
sólido. Os outros dois tipos são mais utilizados para papéis “tissue”. Normalmente o rolo
cabeceira é montado sobre suportes rígidos com articulação (incluindo mesa formadora) para
facilitar a troca de tela sob o lábio inferior e também diminuir a laçada necessária para vestir a
tela. Este sistema é denominado “cantilever”.
Em alguns casos, o rolo cabeceira pode ter sacudimento, ou seja, apoiado sobre um
sistema de molas flexíveis que permitem a oscilação do rolo no sentido transversal da
máquina. As molas de sacudimento ligam o suporte do rolo aos braços articulados do rolo
cabeceira. As molas são colocadas nos sentidos verticais e horizontais para suportar o peso do
rolo, tensão da tela, e para manter o rolo alinhado.
O sacudidor consiste em uma peça ligada ao suporte do rolo no lado de acionamento da
máquina. A oscilação do rolo é no sentido transversal da máquina. O rolo também provocará a
oscilação da tela da mesa plana, pois a tela aderirá ao rolo, devido ao grande abraçamento. A
tela oscilará com o mesmo percurso e velocidade na extremidade do rolo cabeceira, mas isso
decairá ao longo da mesa plana e a tela estará correndo em linha reta.
O rolo cabeceira oscilante adicionará cisalhamento às fibras da folha durante a sua
formação. As fibras formadas perto da superfície da tela oscilarão e movimentar-se-ão á
mesma velocidade transversal da tela.
As fibras suspensas na água na superfície superior da massa ficarão praticamente
paradas. Isto gera um cisalhamento entre as fibras que se mantém em dispersão, melhorando a
formação da folha.
O cisalhamento é mais
predominante e útil quando há
maior teor de água na folha,
quando o jato da caixa de entrada
atinge a tela em cima do rolo
cabeceira. A figura 12.10 mostra
um exemplo de sacudidor. Figura 12.10 (FONTE: Básico de Fabricação de Papel)
Já que a oscilação da tela diminui no seu percurso em direção ao rolo couch haverá
também uma diminuição no cisalhamento conforme a folha deságue e se forme ao longo da
tela.

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12.3.2.2. Mesa formadora (“forming board”)


O “forming board” (figura 12.11) está entre o rolo cabeceira e o primeiro dos rolos
desaguadores. Este trecho é crítico na formação da folha e na prática, conhece-se este
elemento como: mesa de fabricação. O “forming board” não só suporta a tela de fabricação,
mas também evita a drenagem da massa de forma brusca. O desenho mais conveniente de
“forming board” é aquele que permite mover horizontalmente e verticalmente o papel em
relação ao rolo cabeceira modificando desta forma o ângulo do jato. Sem a existência do
“forming board”, a formação inicial seria impossível já que no momento em que a suspensão
tocasse a tela, seria drenada totalmente.
Hoje a sua estrutura é composta de uma lâmina de 150 a 200 mm de espessura (lâmina
líder) feita em “polipropileno” de alta densidade seguida de outras mais estreitas separadas
pelo mesmo espaço. A área aberta do “forming board” está entre 20 e 25% e a vazão de água
eliminada neste elemento pode atingir 30% da água que sai no jato, sendo que às vezes, esta
porcentagem não favorece uma boa formação.

Figura 12.11 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

A razão do nome mesa de formação (“forming board”) para este dispositivo pode ter
advindo da observação dos papeleiros da tremenda influência que tinha a localização deste
dispositivo, sobre a formação.
Para as máquinas mais estreitas pode-se usar uma lâmina larga em um suporte
individual, pois este suporte pode ser construído forte o suficiente para suportar a tela e o
grande volume de água e massa, sem vibrar e sem fletir. Nas máquinas muito largas de papel
marrom projeta-se uma mesa de formação (“forming board”) com cinco lâminas de forma a
obter-se a resistência necessária para suportar as enormes cargas hidráulicas. A segunda

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possibilidade deve ser evitada de todas as formas, pois o ar passando através do jato aparecerá
como pontos mais claros na folha (olho de peixe ou bolhas). Portanto, a saída para o ar
arrastado deverá ser pela tela. (figura 12.12).
Uma forma de se arrastar o ar através da tela é ajustar a posição da mesa formadora de
forma que o bico da lâmina líder drene uma pequena camada da superfície inferior do jato,
como é demonstrada na figura 14.11. Esta camada sendo drenada através da tela arrastará com
ela o filme de ar e preencherá toda a área da tela com água por igual.

Figura 12.12 (FONTE: Básico de Fabricação Figura 12.13 (FONTE: Básico de Fabricação
de Papel) de Papel)

12.3.2.3. Rolos desaguadores


Os rolos desaguadores são elementos desaguadores praticamente em desuso, mas é
necessário fazer um comentário sobre eles por sua contribuição histórica e por ainda estarem
sendo utilizados. A sua ação desaguadora é devido ao vácuo que se cria em função do
bombeamento da água que acontece em seu ângulo divergente entre tela e rolo, com efeito
tanto maior quanto maior for a velocidade periférica do rolo. A utilização de rolos
desaguadores a partir da velocidade de 800 m/min é teoricamente inviável.
Estes equipamentos (figura 12.14),
quando utilizados em máquina, normalmente
encontram-se após o “forming board” e
antes dos “foils”, mas podem haver outras
configurações. Os rolos são fabricados de
metais tais como: bronze, alumínio ou aço
Figura 12.14 (FONTE: Apostila “Curso básico
inoxidável com cobertura de borracha,
de fabricação de papel” - ABTCP)
ebonite ou “black diamond”.
O seu princípio de funcionamento é a eliminação da água através da geração de vácuo,
ocasionado pelo arraste de ar pela tela e pelo rolo. O arraste de ar pelos rolos desaguadores se

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produz porque ambos estão em movimento. A quantidade de ar arrastado não é compensada


da mesma forma pela atmosfera, cirando uma depressão intensa e instantânea na zona
posterior ao contato tela-rolo. Por esta razão, o funcionamento do rolo é dependente da
velocidade de máquina, onde uma velocidade maior ocasionará maior remoção de água na
seção dos rolos.

12.3.2.4. Defletores
Os defletores (figura 12.15) podem ser
considerados separadores entre rolos
desaguadores da mesa plana, com a tarefa de
dar apoio à tela reduzindo-lhe a flexão induzida
pelos rolos e com isso diminuir o “jumping”,
assim como aparar a água que um rolo, em sua Figura 12.15 (FONTE: Apostila “Curso
rotação, lançaria sobre o rolo seguinte, básico de fabricação de papel” - ABTCP)
aumentando o efeito de lavagem da face
inferior da folha.
Embora pouco efetivos, o grande mérito dos defletores acabou sendo a sua contribuição
ao desenvolvimento dos “foils”, por questão de afinidade de comportamento.

12.3.2.5. “Hidrofoils”
“Hidrofoils” ou “foils” são elementos
estáticos de desaguamento constituídos de uma
lâmina cuja inclinação varia de 0 a 5º. Os
“foils” apresentam na sua geometria algumas
variáveis importantes (figura 12.16).
Princípio de funcionamento do “foil”: a
tela (elemento móvel) ocasiona o arrasto de ar, Figura 12.16 (FONTE: Apostila “Curso
esta quantidade de ar não pode ser recuperada básico de fabricação de papel” - ABTCP)
pela atmosfera, e assim, após a zona de contato
(“foil”- tela) se produz o vácuo.
A água é eliminada entre um “foil” e outro, segundo o seguinte processo: quando a tela
sai de um “foil” a água não removida fica colada na parte inferior da mesma, no “foil”
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201

seguinte a tela em contato com o ângulo de ataque do “foil” faz com que a água retida na sua
parte inferior seja eliminada. Após a zona plana ou de “nip”, enquanto a tela mantém contato
com a superfície do “foil” gera-se um vácuo e forma-se uma ondulação no sistema tela-massa
provocando uma redispersão das fibras, porém em períodos de curta duração.
Esta redispersão acontece após a eliminação de água no ângulo de ataque do “foil”.
Quando a tela deixa de estar sob a ação do vácuo gerado, ela apresenta tendência a subir
criando uma ação no sentido vertical à direção máquina que ocasiona o fenômeno de
atividade (dada a inércia da massa na tela) (figura 12.17).

Figura 12.17 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

Um dos mais sérios problemas de uma mesa plana com elementos desaguadores
estacionários é o da selagem da folha. Nas lâminas de “foil”, a drenagem de água é
unidirecional, isto é, através da folha e da tela, comprimindo a manta de fibras contra a tela e
sem descompressão. Se a taxa de drenagem da água for muito rápida (foil com ângulo de 3°
ou 4º ou caixa de baixo vácuo no início da mesa, a manta de fibras da camada mais baixa será
compactada contra a tela formando um filtro que impedirá que a água acima dela seja
drenada. A esse fenômeno chamamos de selagem da folha.
Usam o mesmo princípio hidrodinâmico dos roletes de desaguamento para efetuar a
sucção, cuja intensidade é de 50 a 70 % menor, porém é possível aumentar a intensidade total
de drenagem instalando vários “foils” no lugar de um rolo desaguador. Os rolos desaguadores
são equipamentos que têm uma dependência relacionada com a velocidade da máquina.
Assim quando a velocidade da máquina aumenta, o arraste de ar produzido pela tela e pelo
rolo, faz com que se produza um pico de vácuo intenso após a zona de “nip” (tela – rolo).

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202

Nos “foils”, esta influência é menor uma vez


que existe só uma superfície móvel que é a
tela. Isto significa que o arraste de ar é
produzido somente pela tela, e ela é a razão do
baixo vácuo gerado nestes equipamentos
desaguadores (figura 12.18).
A intensidade da sucção também pode ser
regulada pela inclinação da lâmina, sendo que
quanto maior o ângulo maior a sucção. Os
“foils” levam vantagem sobre os roletes de
desaguamento porque apresentam maior
Figura 12.18 (FONTE: Apostila “Curso
capacidade de drenagem, melhor controle da
básico de fabricação de papel” - ABTCP)
curva de sucção e causam menor turbulência.
Os fatores que controlam o projeto de um “foil” são:
 material de construção;
 ângulo de divergência e tamanho da cunha;
 largura do “foil”;
 espaçamento entre “foils”;
 tipo da fibra;
 consistência da massa;
 velocidade da tela;
 tensão da tela formadora.
Serão vistos alguns destes fatores, em detalhes, nos itens abaixo:

Material de construção
A aceitação do “foil” realmente só aconteceu após o desenvolvimento do polietileno de
ultra-alto peso molecular e do suporte com régua "te", que facilitava sobremaneira a
manipulação dos “foils”, possibilitando ajustes de atividade e drenagem com a máquina em
movimento. Como resultado destes desenvolvimentos, as investigações mostraram que a
largura ótima da lâmina “foil” para a maioria dos tipos de papel estava entre 50,0 a 89,0 mm.
A procura por uma lâmina “foil” com maior durabilidade, e mantendo suas
características levou ao desenvolvimento das réguas de cerâmica (óxido de alumínio). Este
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203

tipo de réguas só pode ser fabricado com o perfil plano de 1a geração. A sua vantagem de
maior duração em máquina (6 a 8 anos), é contrabalançada pela maior dificuldade em sua
manipulação, sua sensibilidade a choques térmicos, sua fragilidade em termos de pancadas
mecânicas (suas bordas são facilmente lascadas, o que poderá comprometer a vida das telas).
A lâmina foil de polietileno de ultra alta densidade com um inserto de cerâmica na zona
de contato foi desenvolvida e patenteada pela Johnson Foils. Essa lâmina foi projetada em
razão de testes laboratoriais que demonstraram que o desgaste ocorre somente no ponto de
contato da tela com a lâmina, e que esse ponto situa-se entre 4 e 6 milímetros após a borda de
ataque da lâmina (o ponto de contato tela/lâmina pode ser vista em máquina na forma de uma
linha esbranquiçada e irregular logo após o bico do foil).
Outro modelo tem todo o bico em cerâmica, mas estendendo-se somente até a área de
contato da tela, os elementos cerâmicos são inseridos no polietileno por meio de encaixes
deslizantes e são substituíveis em caso de acidente; suas vantagens são: durabilidade da
cerâmica, facilidade de manuseio, maior flexibilidade, e seu corpo pode ser usinado com
padrão de 2ª geração com perfil côncavo.
A figura 12.19 mostra as diferenças entre as lâminas dos foils de 1a e 2a geração. Os
foils de 1a geração são usinados de forma plana na sua área angular à tela, enquanto que as de
2a geração são usinados com um perfil côncavo em relação à tela.

Figura 12.19 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

Ângulo de divergência, tamanho da cunha e largura do “foil”


A capacidade de drenagem de um “foil” é determinada pelo tamanho da cunha formada
pelo ângulo de divergência. Quanto maior for a cunha, maior será a capacidade de drenagem
do “foil” (figura 12.20). De forma geral, a capacidade de drenagem dos “foils” não ultrapassa
1/3 da capacidade de drenagem dos rolos desaguadores.

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Figura 12.20 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

O “foil” além de drenar, cria cizalhamento hidráulico entre as camadas fibrosas, o que
melhora a formação. Após a zona de “nip”, a tela é puxada para baixo. A superfície livre da
suspensão fibrosa não consegue acompanhar a tela, criando uma decomposição da massa.
Quando a tela deixa a zona de divergência, volta (como se fosse um rolo) para cima e, neste
retorno, com a massa que por inércia desce criando um pulso vertical, isto é, atividade.
A separação entre os bicos de “foils” deverá ser de forma a criar-se uma harmonia. A
atividade consiste numa harmonia com uma freqüência definida pela seguinte fórmula:
Freqüência = V / (60*Cc), onde: V = velocidade da máquina (m/min); Cc = longitude centro-
centro entre os bicos dos “foils” (m), a freqüência ideal para manter uma atividade
significativa encontra-se em 80 Hz e 100 Hz.
Normalmente ocorrem problema com “foils” largos e ângulo de 1º, ou menos. Se
multiplicarmos a tangente de 1° (0,1745) pelo comprimento em angulo do “foil” de 127 mm
(5"), encontraremos a altura entre a aresta de saída do “foil” e a tela formadora, a qual é de 2,2
mm. Ocorre também uma alta força cisalhante entre a superfície estacionaria do “foil” e a tela
em movimento. Uma lâmina “foil” de 152 milímetros de largura com um ângulo de 1,5° a 2°
aproxima-se em termos de atividade, da violência dos rolos desaguadores a 550 metros por
minuto.
Estudos mostram que a largura ideal da lâmina foil para a maioria dos tipos de papel
varia entre 50 e 89 milímetros. Quando estas lâminas largas foram substituídas por este novo
padrão de largura, houve um aumento na vida da tela, redução na carga de arrasto e um
melhor controle da potência consumida. A figura 12.21 avalia o comportamento da drenagem
de foils largos (150 mm, 6”) com ângulo de 1º e 1,5º.

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205

Substituindo-se caixas de “hidrofoils” após uma consistência de 1,4 %, e caixas de


sucção trabalhando com consistência abaixo de 4,5 %, por caixas de baixo vácuo, a potência
consumida se reduzirá ainda mais e proporcionalmente aumentará mais a vida da tela.

Figura 12.21 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

Espaçamento entre lâminas “foils”


O espaçamento é resultante do tipo de fibra e da consistência. Os projetistas
determinam o espaçamento através de princípios adquiridos de resultados práticos. Quanto
maior a velocidade maior o espaçamento; quanto maior for o grau de refino, maior será o
espaçamento; quanto menor for a consistência, maior será o espaçamento: estes são os fatores
governantes. Desde que os “foils” são considerados atualmente, além de elementos de
drenagem como elemento controlador de cisalhamento hidráulicos, é comum encontrarmos
instalados nas máquinas entre 15 a 21 lâminas “foils”. Com este numero de “foils”, a
consistência estará na faixa de 1,2 % a 1,4 %, após os mesmos.
Dependendo do tipo de fibra, dos aditivos, das cargas e das condições de operação,
geralmente o desaguamento por rolos desaguadores e “hidrofoils” é pouco eficiente para um
teor de sólidos entre 10 e 15 %. Neste caso, é recomendado o uso de caixas de sucção (úmidas
e secas), que são colocadas no fim da parte superior da mesa plana.

12.3.2.6. Caixas de baixo vácuo (“vacuum foils”) ou caixas de sucção úmidas


As caixas de baixo vácuo (“vacuum foils”) ou caixas de sucção úmida representam um
equipamento constituído de caixa com lâminas planas, com ângulo definido ou ângulo reto,
que veio suprir a necessidade de um elemento desaguador de transição entre a área de
formação e a parte seca da seção formadora, isto é, até o final da linha úmida (espelho). A
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206

régua com ângulo necessita de um menor nível de vácuo para obter a mesma taxa de
drenagem da régua plana, mas apresentará uma maior consistência da água drenada (cerca de
70% a mais), representando com isso uma menor retenção.
Estas caixas possuem alta capacidade de drenagem sem introdução de distúrbios na
folha formada, e de controle simples. O vácuo utilizado para a remoção de água através das
caixas se processa pela redução de pressão abaixo da pressão atmosférica dentro da caixa, o
que força a água e os finos a passagem através da tela para o seu lado inferior, na medida em
que a tela passa sobre o rasgo. A régua seguinte raspa esse material fora da tela para dentro da
caixa. Tal ação se repetirá de acordo com o número de rasgos e lâminas ou até que a selagem
da folha ocorra. Por esta razão o corpo da caixa é razoavelmente alto e fechado, atuando como
uma perna barométrica.
A água aspirada pela caixa passa entre as lâminas planas da cobertura e é descarregada
para a calha coletora através de uma fenda que percorre todo o comprimento na parte baixa da
caixa. O ar aspirado com a água é succionado pela fonte de vácuo ao longo de tubulação
ascendente própria. A sua construção é rígida, desenhada para suportar pressão negativa de
até 500 mm c.a., embora o vácuo efetivo de trabalho se situe muito abaixo deste valor,
permitindo a utilização satisfatória de tampas de polietileno, exceto em papel corrugado por
ser mais abrasivo.
As tampas das caixas de baixo vácuo, devem ser com rasgos contínuos cobrindo toda a
largura da tela e munidas de castelo ajustáveis, para ajuste do formato. As tampas podem ser
de “polietileno de ultra-alto peso molecular”, ou de cerâmica.
Contrariamente aos “foils”, a sua capacidade de drenagem independe da velocidade da
tela, pois suas lâminas são planas. Podemos definir a remoção de água com as caixas de baixo
vácuo (“vacuum foils”), como a que ocorre até a linha úmida (espelho), por meio de diferença
de pressão gerada mecanicamente. Ou em outras palavras, por intermédio da regulagem de
uma válvula, variamos o diferencial de pressão através da folha e variamos a taxa de
drenagem. Existem dois tipos distintos de utilização das caixas de baixo vácuo:
 aumentar a taxa de drenagem, acima da capacidade de “foils” e rolos esgotadores
mantendo a atividade;
 aumentar a taxa de drenagem acima da capacidade de “foils” e rolos esgotadores
eliminando a atividade.

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207

Em conjunto com as situações acima, reduzir ou manter o mesmo potencial de carga


para a remoção da água. As tampas das caixas de baixo vácuo, devem ser com rasgos
contínuos cobrindo toda a largura da tela e munidas de castelo ajustáveis, para ajuste do
formato. As tampas podem ser de “polietileno de ultra-alto peso molecular”, ou de cerâmica.
A figura 12.22 mostra uma caixa de baixo vácuo com projeto baseado nos novos
conceitos tecnológicos. Quando o vácuo de trabalho for menor que 0,5 m de coluna de água
(20” WG), as tampas de Polietileno são satisfatórias, exceto em papel corrugado que é mais
abrasivo. A figura também mostra a descarga no lado do acionamento adequada para
manipular grande volume de água. O princípio da utilização de rasgos é o de minimizar as
cargas friccionais da passagem da água por áreas tais como a de um furo.

Figura 12.22 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

Quando as lâminas “foils” entraram em cena para substituir os rolos desaguadores,


houve um aumento no consumo de energia devido ao arrasto da água removida sobre uma
superfície estacionária sob a tela. Houve a necessidade de se adequar a potência instalada na
mesa para a nova demanda. O desenvolvimento de caixas de baixo vácuo veio logo após,
numa tentativa de substituir os rolos desaguadores e os “foils”, o que adicionou uma carga
ainda maior para o acionamento da mesa. Toda essa problemática levou ao estudo criterioso
de cada um destes equipamentos em separado e em conjunto, levando ao surgimento de uma
nova forma de enfoque chamada de “gerenciamento de água da mesa plana”. Este novo
conceito mostrou que as caixas de baixo vácuo eram ideais para aumentar a consistência da
folha na faixa de 1,4 a 3,5 % para papel jornal, e de 1 a 9 % para os outros tipos de papéis. A

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selagem da folha era um dos problemas que tinha que ser contornada na faixa de baixa
consistência entre 0,8 a 1,4 %.

12.3.2.7. Caixas de alto vácuo


As caixas de alto vácuo, também conhecidas por caixas de sucção da tela, são
revestidas por material plástico ou cerâmico, com aberturas de sucção do tipo rasgo ou
orifício. Devido à sua dureza, o material cerâmico não se impregna com partículas duras (tais
como quartzo), evitando desgastes localizados na tela.
A inovação destas caixas está no rasgo com abertura graduada de acordo com o nível de
vácuo de trabalho, possibilitando maior drenagem na região onde é maior o volume de água e,
ao mesmo tempo minimizando a entrada da tela no rasgo e, desta forma reduzindo a carga de
acionamento.
A diferenciação entre as funções das caixas de baixo e alto vácuo poderá ser definida
pelo diferencial de pressão de trabalho de cada uma. É relativamente fácil hoje obtermos a
linha úmida e seca em caixas de baixo vácuo com 1.150 mm C.A. (46” WG), de forma que a
primeira caixa de alto vácuo trabalhará com vácuo acima de 100 mm Hg (4” Hg), o que
corresponde, aproximadamente, a 1.360 mm C.A. De uma maneira geral, as caixas são usadas
em grupos de 4 a 8, e o vácuo nelas aplicado cresce de caixa para caixa, no sentido da tela. As
primeiras caixas retiram maiores quantidades de água do que as últimas e, colocadas em
seqüência, recebem a folha com algo como e a 4% e a deixam com cerca de 12% a 15%,
mediante a aplicação crescente de níveis de vácuo, que vão de 1.000 mm C.A. até cerca de
2.500 mm C.A.
Com relação ao desempenho das caixas, a literatura diz que a partir da consistência
próxima aos 7%, começa a fluir ar através dos grandes poros da folha. É, então, admitido qua
a passagem deste apreciável volume de ar tem mínimo efeito de enxugamento. Ao ser
alcançado o limite de eficácia de um determinado nível de vácuo, a folha deverá passar para a
caixa seguinte, onde um vácuo mais alto a comprimirá mais e capilares antes pequenos
demais para serem esvaziados por aquela intensidade de sucção, o serão agora. Este conceito
de compactação explica porque várias caixas com vácuo crescente removerão mais água que
uma única caixa com largura correspondente ao total das caixas menores, e operando a um
determinado nível de sucção.

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209

Historicamente existem três tipos de equipamento de drenagem: rolos desaguadores,


caixas de vácuo e o rolo de sucção. Com o aumento de velocidade das máquinas, aumentou
também o comprimento da zona de formação. Verificou-se que a despeito do comprimento
desta área, a consistência da folha entrando na área de alto vácuo estava sempre perto de 2%.
Com o aumento de velocidade, o rolo de sucção passou a perder eficiência devido à
força centrífuga expelir a água contida nos furos da camisa ao sair da zona de vácuo, o que
exigiu a necessidade de drenarmos a folha para uma consistência de 14 a 16% antes do rolo de
sucção, para reduzirmos o volume de água. Passou a ser comum vermos de 6 a 10 caixas de
sucção instaladas nas máquinas. Em algumas máquinas de cartão o comprimento da zona de
alto vácuo incluindo a caixa secundária aproximava-se do comprimento da zona de formação
da caixa primária. Todas essas tendências acarretaram em um alto consumo de energia na
mesa plana, pois, tínhamos que arrastar todo esse volume de água através dos furos das
caixas. Nesta época não se usava tampas com rasgos. As tampas com rasgos somente
tornaram-se populares com o advento da tela de plástico, pois as telas de bronze tinham
emendas que batiam nas bordas dos rasgos e danificavam-se.
O trabalho de John Eames formalizava um enfoque, investigando o número de caixas
de sucção requeridas em uma máquina de papel, mas partindo do princípio de que a folha
sempre chegava às caixas entre 2 a 2,5% de consistência. O sistema de gerenciamento de água
mostrou que usando-se caixas de baixo vácuo de uma forma controlada poderíamos conseguir
3,5% de consistência para papel jornal, e de 9 a 10% para os outros tipos de papel, na entrada
da primeira caixa de sucção.
Uma caixa de sucção com furos tem uma área aberta de 20 a 22%. Além da perda de
carga imposta pela passagem de água ou ar pela superfície interna dos furos, o acabamento
destes furos, feitos com brocas, são irregulares e ásperos, facilitando incrustações e depósitos,
e ocasionando o entupimento dos furos. Lembre-se que, a cada parada da máquina, os
depósitos internos nos furos secam e irão crescendo até obstruírem parcialmente os furos;
como este entupimento não é uniforme, i.e., distribui-se por áreas, o ar procurará para sua
passagem as áreas mais livres provocando densidades de fluxo diferenciado ao longo da
largura da folha e criando variações no perfil de umidade transversal.
A drenagem da caixa de sucção é proporcional à área aberta da tampa, o que significa
que removeremos apenas de 20 a 22% de água da folha, na sua passagem pelos furos.
Olhando a folha sobre a caixa de sucção com a máquina em funcionamento vemos que certas
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áreas da folha em sua largura não passam sobre furos, significando que não estão sendo
drenadas. O fato de que estas áreas passarão sobre furos nas caixas seguintes não implicará
em nivelação de umidade, pois a água que deixou de ser removida a montante ficará sempre
atrasada a jusante, e atravessará toda a máquina chegando a enroladeira.
A figura 12.23 mostra um projeto
moderno de tampas com rasgos contínuos. A
inovação no caso são os rasgos com abertura
graduada de acordo com o nível de vácuo de
trabalho, possibilitando maior drenagem
onde é maior o volume de água e ao mesmo
tempo minimizando a entrada da tela no
Figura 12.23 (FONTE: Apostila “Curso
rasgo e desta forma reduzindo a carga de
básico de fabricação de papel” - ABTCP)
acionamento.

12.3.2.8. Rolos de sucção (“couch”)


O rolo de sucção (figura 12.24) desempenha duas tarefas essências, a de ser o principal
ou único acionador da tela e a de completar o desaguamento da folha na seção formadora da
máquina, antes das prensas úmidas. Este rolo não tem seu nível de vácuo limitado pelo atrito
como acontece com as caixas planas, pois sua camisa é rotativa.

Figura 12.24 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

Quanto maior o vácuo do “couch”, maior será a aderência da tela e a exclusão de


deslizamentos os quais são extremamente prejudiciais. Aqui são aplicados níveis de vácuo

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iguais ou maiores que 8 m.c.a., permitindo alcançar teor seco da folha superior a 20%, talvez
até 25%, dependendo do tipo de papel.
O rolo de sucção constitui-se de uma camisa (cilindro vazado) de metal anti-corrosivo,
quase sempre revestido com elastômero sintético, que favorece a aderência com a tela e
protege a própria camisa, que é perfurada em toda a sua superfície e de uma caixa aspirante
interna fixa, que se pode ter uma ou duas câmaras de sucção. A selagem dos contatos da caixa
de vácuo estacionária conta a camisa rotativa é feita pressionando-se levemente barras,
geralmente de grafite, e lubrificadas por chuveiro atomizador de água filtrada.
Há muitas controvérsias sobre a utilidade do rolo de sucção nas máquinas com
velocidade acima de 650 m/min, já que a eficiência do rolo diminui com o aumento da
velocidade. Um dos problemas se refere ao gasto com energia, pois se faz necessário uma
bomba de vácuo somente para retirar o ar entranhado na tela e nos furos da camisa, quando
entram na zona da câmara de vácuo do rolo.
Supondo uma máquina de papel a 750 m/min, possuindo um rolo “couch” uma câmara
de vácuo de 200 mm de largura, o tempo de permanência é de apenas 16 centésimos de
segundo. Dependendo da capacidade da bomba instalada e do nível de vácuo interno, a água
arrastada da folha pela velocidade do ar, não tendo tempo para percorrer o furo e entrar na
câmara de vácuo.
Deve-se instalar, na saída do rolo, uma calha com uma régua de feltro na borda
superior, ajustada o mais possível da tela para recolher a água expelida dos furos, fazendo
com que essa água não reumedeça a folha. Um outro problema do rolo é a água que a camisa
arrasta na sua superfície, proveniente da água expelida dos furos e que volta para o “nip” de
entrada do rolo. A instalação de uma régua com uma raspa de borracha ou feltro no retorno do
rolo pode-se evitar este problema.
Praticamente, todos os rolos de sucção configuram-se em uma carcaça cilíndrica,
perfurada de maneira adequada, com a finalidade específica de permitir a aplicação de vácuo
em seu interior, na faixa de 60 a 82 kPa. Construído de bronze-liga, possui internamente, em
toda a sua extensão, uma caixa ajustável, vedada sob pressão nas duas extremidades. A
fricção com a tela não traz inconvenientes, pois o movimento do rolo aciona a tela. Possui
ainda um dispositivo “cantilever”, que permite a suspensão da extremidade do lado da frente
da máquina, possibilitando a colocação de tela ou feltro. Os rolos de sucção podem ainda ser

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aplicados em lugares da parte úmida da máquina, como prensa de sucção, prensa lava feltro,
“pickup” e sucção do feltro.

12.3.2.9. Rolo “lump breaker”


Este rolo é definido originalmente como desmanchador ou “quebrador” de flocos de
massa. Atualmente, porém, atua como rolo que exerce uma prensagem sobre a folha com o
objetivo de elevar o seu teor seco. Maior teor seco significa maior resistência da folha e,
portanto, mais segurança para a operação. O rolo “lump breaker” é posicionado de modo a
exercer pressão sobre a câmara de vácuo do rolo “couch”, numa linha já próxima ao final da
área aspirada. Este tipo de equipamento é característico de máquinas para papéis mais pesados
como “kraftliner”, “testliner”, cartões e assemelhados, com aplicações mais raras em papéis
leves. É praticamente ausente para papéis de impressão e escrita, devido à possibilidade de
decalcar marcas de tela na folha.
A folha é prensada entre o “lump
breaker” e a área fechada da camisa do rolo de
sucção (figura 12.25). A água espremida da
folha pelo “lump breaker” flui para trás até que
surja um furo disponível, cujo vácuo fará que
com a água entre no furo. Sem o “lump
Figura 12.25 (FONTE: Básico de
breaker”, somente 28% da água seria
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removida.
O elastômero usado no revestimento do rolo “lump breaker” é, consideravelmente, mais
macio que aqueles das demais prensas. Também estão se tornando comuns rolos “lump
breaker” feltrados, ou seja, tendo feltro próprio ou compartilhando o feltro da primeira prensa
úmida, sempre com o objetivo de lhe aumentar a capacidade de extração de água e de expor a
folha a menores riscos. Para compreender sua operação é preciso considerar que,
revestimentos de borracha quanto mais moles forem, mais larga será sua área de
contato(“nip”). No caso do “lump breaker”, a largura do “nip” está em torno de 50
milímetros.
Enquanto haja espaço disponível nos furos para receber a água espremida pelo “lump
breaker”, ele será útil. Dessa forma, quanto mais seca a folha chegar ao rolo de sucção, mais

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213

eficiente será o equipamento. Uma observação interessante é que se a folha entrar no rolo de
sucção a 18% ou acima não será necessário o uso do chuveiro de limpeza.
A superfície porosa da borracha mole do revestimento é constituída de milhares de
ventosas; quando a borracha é comprimida, elas se fecham. Na saída do “nip” elas se abrem e
geram um pequeno vácuo para cima, tentando atrair fibras, se a folha estiver mole ou úmida.
Adicionando-se água mediante um chuveiro na superfície da borracha, será possível
preencher essas ventosas de forma que quando a borracha retornar ao seu estado natural, após
a compressão, as ventosas ainda terão água e o vácuo criado por elas será menor.
A área de saída do rolo “lump breaker” comporta-se como um rolo desaguador. Para a
velocidade em torno de 550 m/min, o vácuo criado é de 304 mm Hg (12 pol. Hg). A sucção
opera ao longo de toda a largura do rolo e da folha, enquanto que o vácuo da câmara do rolo
de sucção opera em somente 28% da folha. Se a superfície da folha for mole ou estiver úmida,
o “lump breaker” atrairá as fibras.
A superfície mole da folha é resultado da folha úmida, porque a água que flui através da
folha, se não encontrar por onde sair permanecerá nela através do “nip”.
A compressão da superfície da borracha serve para bloquear os furos em uma faixa de
50 mm de largura. Essa ação resulta em uma maior eficiência do rolo de sucção devido ao
aumento de velocidade do ar nos furos descobertos. Em rolos de sucção com uma câmara de
vácuo, o “lump breaker” é montado a 2/3 da câmara, que são deixados abertos no lado de
entrada da folha.
Devido à faixa de 50 milímetros do “nip”, na realidade obtém-se menos de 2/3. No lado
de saída do “lump breaker”, a folha está mais seca, de forma que a velocidade do ar aumenta.
Este aumento de velocidade ajuda a aumentar o seco na saída, que é a característica do “lump
breaker”. Ganhos de 5 a 8% em teor seco são típicas em papéis marrons, por exemplo.
Em rolos de sucção constituídos de duas câmaras de vácuo, a largura da câmara de alto
vácuo corresponde à metade da câmara do lado de baixo vácuo, dando a divisão de 2/3. O
“lump breaker” fica sobre essa divisão. A água espremida entra no lado de baixo vácuo.
O “nip” largo da borracha cobre uma parte do lado de alto vácuo, aumentando a
velocidade do ar através da folha. Não é incomum ver seco de até 29% para máquinas de
cartão com coifa de vapor, “lump breaker” e câmara dupla no rolo de sucção. Teores maiores
de seco são possíveis em papéis corrugados devido aos sólidos, não fibrosos, que são
removidos com a água extraída.
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214

12.3.2.10. Rolo bailarino


O rolo bailarino configura-se num importante dispositivo para a melhoria da qualidade
da folha, tanto na formação, como na uniformização do perfil de umidade e gramatura. A
melhoria da formação obtida com o bailarino é devida a uma melhor distribuição das fibras,
isto é, menor variação na densidade ótica da folha. Tal melhoria é limitada por uma faixa de
tamanho de flocos, que varia de 0,4 a 2,5 mm. O bailarino é instalado em uma posição antes
da linha seca, onde ainda exista um filme de água livre sob a superfície, em uma faixa de
consistência de 2,0 a 3,0%.
Ele somente poderá ser aplicado em zona de drenagem, onde a deposição das fibras na
manta esteja quase completa e onde somente haja um fino filme de água livre sem as fibras
em suspensão.
O efeito de alisamento do bailarino é conseqüência do cisalhamento que se desenvolve
na entrada do “nip” do rolo na fina camada sem material em suspensão, sobre a manta já
formada. A pressão hidráulica na camada de água, para parcialmente suportar a carga do rolo,
gera uma perda de velocidade da suspensão. O cisalhamento resultante é conseqüência desse
diferencial de velocidade. Este efeito é maior na superfície superior do papel onde a ação de
melhoria ocorre.
A Figura 12.26 mostra um bailarino com uma caixa de baixo-vácuo de cada lado e com
acionamento positivo, que pode ser feito por meio de correias ou juntas. As juntas podem
introduzir vibrações e oscilações indesejáveis, enquanto que o acionamento por correias exige
cuidados para se evitar escorregamentos.

Figura 12.26 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

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215

O diâmetro do bailarino tem relação direta com a velocidade da máquina, pois o


parâmetro de controle é o nível de atividade ou cisalhamento mecânico desejado no “nip” de
entrada do rolo, e segue a seguinte equação:

Onde:
D: diâmetro do bailarino (mm)
V: velocidade (m/min)
R: rotação (RPM)
A água espirrada pelo bailarino requer uma tensão especial, para evitar que os pingos de
água caiam sobre a folha seca, deixando marcas. Se for necessária uma consistência de 3%
para operar o bailarino, obviamente deverá haver número suficiente de caixas de baixo-vácuo
instaladas antes do bailarino para controlar e garantir esta consistência. Após o bailarino, e
fora da zona da queda de água espirrada, uma caixa dupla de baixo-vácuo levará a
consistência até 8 a 10%. A caixa dupla com controle de vácuo diferenciado para cada câmara
possibilita uma maior flexibilidade de operação.

12.3.2.11. Tela formadora


Uma tela formadora para a parte de formação de folha de uma máquina de papel,
composta de um tecido constituído de mais de uma camada de fios sintéticos, de textura
particularmente plana, com fios longitudinais que se estendem no sentido de operação da
máquina e fios transversais dispostos transversalmente àqueles, sendo que um grupo de fios
transversais situa-se no plano voltado para o papel, flutuando ali sobre fios longitudinais cujo
número é, pelo menos, tão grande quanto o número de fios sobre os quais os fios
longitudinanais flutuam do lado voltado para o papel, e em que o plano voltado para a
máquina é formado exclusivamente de um segundo grupo de fios transversais. A figura 12.27
mostra alguns tipos de telas formadoras fabricadas pela empresa Kufferath.

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216

TIPO DE TELA LADO PAPEL LADO FELTRO

MONOCAMADA

CAMADA E MEIA

DUPLA CAMADA

DUPLA CAMADA E MEIA

TRIPLA CAMADA
Figura 12.27 (FONTE: Kufferath)

12.3.3. Formadores de tela dupla


Ainda que o “Fourdrinier” continue sendo fabricado para algumas finalidades, como
papéis de gramatura mais alta ou multicamadas, por exemplo, são bastante familiares as
limitações inerentes à sua configuração. Trata-se principalmente de limitação na capacidade
de desaguamento e de deficiências quanto às características superficiais e de simetria da folha,
assim como ao controle de seu perfil transversal.
Para superar estas limitações foram desenvolvidos os formadores de tela dupla, assim
denominados porque a totalidade ou parte do processo de formação se realiza sobre duas telas
que aprisionam a suspensão fibrosa. Este formadores consentem grande capacidade de
desaguamento sem a aplicação de turbulências enérgicas feitas por muitos elementos de
drenagem, além de somar vantagens como economia de energia e de espaço.

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217

Ainda que possam ser ditadas ações precedentes, uma patente em 1.875 e uma prensa
de pastas da KMW de dupla tela nos anos 1.920, até a década de 1.950 não iniciaram as
investigações e desenvolvimentos que são a base das atuais instalações industriais deste tipo.
No ano de 1.933, Webster desenvolveu uma máquina experimental de dupla tela e no ano
1.958, Attwood e colaboradores construíram na St. Anne Board Mill, Inglaterra, uma
máquina com duplas telas (Inverform) para a fabricação de cartão multicapas. Nesta primeira
máquina, foram colocadas sobre uma larga estrutura de mesa plana, diversas caixas de entrada
convencionais seguidas de telas superiores através das quais se realizava a drenagem. Após
isto, muitos outros desenvolvimentos foram feitos ligados à formação com dupla tela. A
figura 12.28 mostra alguns destes desenvolvimentos.

Figura 12.28 (FONTE: Papiermacher Taschenbuch)

Nos formadores genuinamente de tela dupla, como mostra a figura 12.29, o


desempenho da caixa de entrada é crítico visto que a fixação das fibras, ou seja, a formação é
quase imediata e a sua qualidade dependerá quase que exclusivamente do grau de dispersão

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218

das fibras conseguido pela caixa de entrada, do ângulo correto de seu jato e da sua
uniformidade.
A massa é lançada entre duas telas que se apresentam com percurso convergente
(figura 12.20) e, dependendo do modelo do formador, o desaguamento poderá iniciar em um
dos lados ou acontecer simultaneamente em ambas as direções. Desta forma, as duas telas
exercem uma ação de espremedura sobre a massa, pois as telas são forçadas a convergir
percorrendo um trajeto em curva. Esta geometria elimina os três problemas de uma mesa
plana. O trajeto curvo introduz cisalhamento na massa, a ação de espremedura introduz uma
força que não é limitada pela atmosfera e a drenagem forçada não permite a selagem da folha.
De qualquer modo, a área de formação será sempre muito curta que a praticada nos
formadores híbridos ou “Fourdrinier”. Isto aumenta ainda mais a responsabilidade da caixa de
entrada. Esta área de formação muito curta dificulta também a produção de papéis de
gramatura alta.

Figura 12.29 (FONTE: ABTCP/Voith)

A intensidade da drenagem em tela dupla é função da mudança do sentido da marcha


das telas (momento) e do ajuste da sua tensão, além do desenho dos desaguadores instalados,
das características das telas e, obviamente, das propriedades da massa. Quando as telas se
movimentam ao longo de um percurso curvo, como é o caso dos formadores de dupla tela, a
força centrífuga age sobre a camada fibrosa com seu efeito orientado para o lado externo da
tela e a grandeza dessa força vem dada por:
P’ = ph (V2/r)
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219

Onde:
P’: pressão centrífuga;
p: massa volumétrica da suspenção fibrosa;
V: a velocidade periférica da suspensão fibrosa;
r: o raio de curvatura da tela.
Um tensão suplementar aplicada à tela externa criará uma pressão adicional que irá se
contrapor à força centrífuga e com isso será possível algum controle da drenagem em ambos
lados da folha. Ao efeito centrífugo pode também ser contraposto, além da tensão da tela
externa, algum vácuo como forma de equilibrar as condições de desaguamento. É necessário
lembrar que estes conceitos perdem a aparente simplicidade quando melhor analisados em
seus aspectos tecnológicos.
Como regra geral, os formadores híbridos de rolos tendem a favorecer a retenção dada a
ausência de pulsos turbulentos e a aplicação gradativa da pressão. Favorecem ainda o perfil
transversal de gramatura e a simetria, mas podem ter formação algo inferior e causar
marcação da tela.
Nos tipos de formadores onde a maior quantidade de água é removida por defletores
estacionários sobre os quais correm as telas (percurso curvo), a pressão exercida será dada
sempre por T/R (tensão/raio). Nos espaços entre defletores onde as telas correm retas não
haverá drenagem pelo fato de que as duas telas correndo paralelas não podem gerar ou manter
pressão em seu interior.

Figura 12.30 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

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220

Os elementos estacionários produzem forças cisalhantes bastante fortes que podem


acelerar a formação, mas à custa do nível de retenção. O perfil de gramatura pode também ser
inferior àquele conseguido com formadores de rolos.
O continuado desenvolvimento dos formadores em geral tende, contudo, a uniformizar
os desempenhos, com diferenças de desenho que produrar adequar cada sistema à classe de
produtos a fabricar.

12.3.4. Formadores híbridos


As vantagens oferecidas pelos formadores de dupla tela, propriamente ditos, levaram ao
desenvolvimento de configurações assemelhadas que permitissem dar às máquinas
“Fourdrinier” existentes regimes de produção e padrões de qualidade compatíveis com
aquelas de tela dupla. Assim surgiu o formador normalmente definido como híbrido (figuras
12.31 e 12.32), por ser combinação de “Fourdrinier” e tela dupla.
De fato, uma segunda tela instalada sobre aquela da mesa plana convencional
aumentava grandemente o desaguamento e a simetria do produto.

Figura 12.32 (FONTE: Apostila “Curso


Figura 12.31 (FONTE: ABTCP / Voith) básico de fabricação de papel” - ABTCP)

Nota-se neles uma zona de pré-desaguamento correspondente à zona inicial da mesa


plana, com rolo de cabeceira, “foils” e, normalmente, caixas de sucção úmida. Nesta parte, é
iniciada a formação da folha. É a fase da macro-formação, onde ainda é possível dissipar
alguma irregularidade do fluxo proveniente da caixa de entrada e se dar orientação das fibras
antes da formação ser consolidada entre as duas telas. O desaguamento prossegue agora em
ambos os lados da folha com sua intensidade governada pela geometria da tela superior e
pelos níveis de vácuo, aqui aplicados.
Ainda assim, também este modelo de formação apresenta certas carências tais como:
maior tendência de marcas na tela, a retenção mais baixa, a elevada perda de finos, a escassa
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melhoria na qualidade da formação quando operando com velocidades baixas e o risco de


maior incidência de macro-poros (“pin holes”).
Como regra geral, os formadores híbridos de rolos tendem a favorecer a retenção dada a
ausência de pulsos turbulentos e a aplicação gradativa de pressão. Favorecem ainda o perfil
transversal de gramatura e a simetria, mas podem ter formação algo inferior e causar
marcação da tela.

12.3.5. “Crescent former”


Este sistema, específico para a
fabricação de papéis “tissue”, é constituído
por um rolo formador sólido em que o fluxo
da caixa de entrada e direcionado entre a tela
formadora e o feltro, forçando o
desaguamento por centrifugação através da
tela (figura 12.33). Na separação da tela e
feltro, o papel acompanha naturalmente o
feltro. Este sistema possui a vantagem de não Figura 12.33 (FONTE: Fabricação de papel
necessitar do sistema “pick up” para com ênfase em papéis “tissue”)
transferência da folha ao feltro.
Outro ponto importante a se observar no sistema “crescent former” é a não existência
de elementos desaguadores na parte da tela que provocam atrito na mesma desgastando-a de
uma maneira prematura.

12.3.6. Tela inclinada com rolo formador de sucção


Este tipo de formado também é específico para máquinas de papel “tissue”. O lábio
superior da caixa de entrada possui sua parte frontal prolongada envolvendo o rolo formador
de sucção. O fluxo de água e massa é direcionado contra o rolo formador de sucção. Este rolo
é constituído de duas ou três zonas de sucção (esta variação depende do fabricante), recoberto
par uma camisa sintética que provoca a drenagem removendo a água por sucção e lançando-a
para a calha da mesa da tela (figura 12.34). Pode-se considerar que este rolo é responsável
pela formação e, aproximadamente, pela drenagem total da água da parte da tela formadora.

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222

Figura 12.34 (FONTE: Fabricação de papel com ênfase em papéis “tissue”)

12.3.7. Formadores para cartão


Há uma variedade
enorme de formadores
exclusivo para cartão. A figura
12.35 mostra um exemplo deste
tipo de formador. No caso,
tratam-se de mesas planas
“standart” para “White Lined
Chipboard”.
Figura 12.35 (FONTE: ABTCP / Voith)

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13. TRANSFERÊNCIA DA FOLHA DA ETAPA DE FORMAÇÃO PARA A


PRENSAGEM
13.1. Transferência da folha sem suporte
A primeira consideração numa
máquina com prensa de passagem aberta é a
transferência da folha na passagem aberta.
Estas transferências são feitas geralmente de
duas maneiras: diretamente do rolo de sucção
“couch” em mesa plana sem rolo de retorno
ou numa transferência de tela inclinada, em
mesas planas com rolo de retorno da tela Figura 13.01 (FONTE: Curso básico de
(algumas vezes chamado “poor pick-up” - fabricação de papel – ABTCP)
pick-up pobre).
A relação entre a área de vácuo do rolo “couch”, o “air roll” e o rolo guia feltro de
entrada é importante para estabelecer uma segura operação numa passagem aberta,
especialmente numa tela sem o rolo de retorno. O ponto apropriado de retirada da folha é na
extremidade da caixa de sucção do rolo “couch”.
O “air roll” é usado para estabilizar o ponto e o ângulo de saída da folha da tela. Se o
ângulo entre a folha e a tangente ao “couch” no ponto de saída é muito pequeno, ocorrerá o
reumedecimento da folha pela água jogada pelo “couch”. Isto enfraquecerá a folha e causará
quebras. O “air roll” é posicionada de maneira que a folha abrace o rolo guia feltro de entrada
impedindo a formação de bolhas de ar entre papel e feltro. Algumas fábricas tem usado um
rolo guia feltro de sucção para evitar o aparecimento de bolhas.
As limitações deste tipo de transferência são relacionadas a seguir:
 a diferença de velocidade entre o couch e o feltro que conduz a folha para a primeira
prensa é relativamente inflexível no que se refere à tensão da folha;
 ângulo de saída da folha do couch é crítico.
Ambas as condições levam a uma situação muito susceptível à quebras de folha. A
transferência do “couch” também não permite que se monte um rolo “lumpbreaker” como
numa transferência de tela inclinada.
A transferência numa tela inclinada é menos crítica em relação a sucção do “couch”,
mas são ainda críticas do ponto de vista de uma transferência segura. O rolo guia feltro de
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224

entrada deve ser posicionado próximo à tela para não prejudicar a estabilidade da folha e
evitar a formação de bolhas.
Normalmente o conjunto
“air roll”, rolo guia feltro é
colocado de tal forma que a
transferência da folha acontece
no meio da distância na tela,
entre o rolo “couch” e o rolo de
retorno (figura 13.02). Esta
distância deve ser grande o
bastante para evitar qualquer
Figura 13.02 (FONTE: Curso básico de fabricação de
reumedecimento causado pelo
papel – ABTCP)
rolo de retorno.
Uma das vantagens da transferência da tela inclinada sobre a da transferência direta do
rolo “couch” é que ela permite leves flutuações causadas por diferenças de velocidade ou de
refinação da massa. Desde que a retirada da folha é relativamente mais fácil, o ponto de saída
pode mudar com a mínima troca de tensão da folha. O ponto de saída também dá uma
indicação visual da relação da velocidade tela/feltro.
Tirando o ponto de saída do rolo couch, um rolo “lumpbreaker” maior poderá ser usado
instalando-o a um terço do fim da caixa de sucção do rolo “couch”. Isto também faz com que
haja uma melhora na operação do rolo “couch” permitindo que a caixa de sucção do “couch”
seja posicionada para um mínimo reumedecimento da folha.
Em situações onde o “lumpbreaker” é usado, a transferência da folha da tela inclinada
permite que o “air roll” e o rolo guia feltro de entrada possam ser colocados mais próximos
da tela. Isto propicia um melhor suporte da folha durante a sua passagem estabilizando as
extremidades e minimizando a tendência das bolhas.
Rolo guia feltro de entrada numa transferência de passagem aberta (sem suporte) ou
numa transferência de tela inclinada, pode ser tanto um rolo plano como um de sucção. As
vantagens de um rolo de sucção é que ele fixa o ponto de tração no rolo guia feltro de entrada
reduzindo consequentemente o comprimento do espaço sem suporte entre a tela e a primeira
prensa. Esta opção tem sido usada com muito sucesso em papéis e cartões de baixa gramatura.

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225

A transferência de folha sem suporte é limitada geralmente em máquinas com


velocidades até 600 m/min em papéis de maior gramatura e resistência, e 450 m/minm para
papéis de mais baixa gramatura.

13.2. Transferência com “pick-up”


O sistema de transferência tipo “pick-
up” é uma evolução de outro sistema
denominado transferência aberta (“open
draw”), com a introdução de um rolo-guia
para a tela, logo após o rolo de sucção (figura
13.03). A folha é transportada pela tela após
deixar o rolo de sucção, e a caixa de vácuo
desse rolo está colocada de tal maneira para
Figura 13.03 (FONTE: Apostila “Curso
que não haja respingos de água na tela.
básico de fabricação de papel” - ABTCP)
O sistema “pick-up” tradicional com altas velocidades, e o simples “pick-up” com
velocidades baixas foi substituído em muitos casos pelo sistema “pick-up” com tubo de
sucção garantindo uma condução da folha impecável com custos de investimentos
relativamente baixos. Há também o desenvolvimento de um sistema “pick-up” como um
simples “foil”. O pouco vácuo formado no “foil” é suficiente para separar a folha da tela e
deixá-la seguir com o feltro pegador.
Com o sistema “pick-up” surgem alguns problemas como o refilo jateado no momento
em que este é conduzido sobre o secador grande e precisa ser retirado à mão, ou por um
sistema de aspiração no raspador de crepagem. Foram alcançados bons resultados com curtos
tubos de sucção reagindo contra o tubo “pick-up” no lado da tela inferior e segurando os
refilos na tela. Estes são retirados com um esguicho por cima do tanque de uma cunha
(“couch pit”).
No caso das máquinas de papel tipo “crescent former” não há necessidade do sistema
de transferência por “pick up”, pois a transferência é feita por ocasião da formação da folha
(tela / feltro).

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14. PRENSAGEM
14.1. TEORIA DA PRENSAGEM
A prensagem úmida era originalmente baseada na compressão mecânica da folha de
papel entre dois rolos sólidos, Esta compressão, faz a água escoar a partir do nip, isto é, da
linha de menos distância entre os rolos, através do rolo inferior. Em máquinas de baixa
velocidade, o uso de rolos lisos e sólidos era um modo eficiente de remoção de água, mas não
adequado em máquinas com velocidades altas, devido a necessidade de se retirar maior
quantidade de água em menor tempo que a capacidade que os feltros possam comportar,
causando assim o esmagamento da folha.
Nas máquinas atuais, a prensagem é feita com rolos de sucção que possuem capacidade
de remoção de água muito maior que as prensas de rolos lisos. A remoção da água é efetuada
pela ação combinada da compressão mecânica e da sucção, aplicada através da estrutura
porosa do rolo inferior.
Fluxo longitudinal. O fluxo longitudinal ocorre no feltro quando a água flui na direção
oposta ao movimento do feltro, quando o mesmo está saturado antes ou após o centro do
“nip”. Este tipo de fluxo está normalmente associado a prensa plana.
Fluxo vertical. As prensas de sucção ranhuradas, de furos cegos ou de telas prensas,
camisas encolhíveis ou feltros combinados são classificados como prensas de fluxo vertical.
Isto se deve ao fato da água fluir perpendicularmente à superfície do feltro para espaços
vazios incompressíveis, tais como os furos e ranhuras em um rolo ou entre ou entre as malhas
de telas ou camisas, que se tornam receptáculos para a água. A pressão hidráulica é
dramaticamente reduzida por este tipo de prensa. A teoria das prensas de fluxo vertical tem
sido muito importante no desenvolvimento de novas prensas e construções de vestimentas, e
será, pois discutida detalhadamente. Na figura 14.01 aparece a remoção de água (redução do
volume) pela ação da secagem.

Figura 14.01(FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

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227

Diversos modelos foram estudados e discutidos para o conhecimento do que ocorria no


nip de uma prensa. Eles estão baseados em estudos e experiências de laboratório, os quais
foram extrapolados para uma condição real de prensagem.
O conceito básico de prensagem foi primeiramente formulado por B.Wahlstrom em
1960, e progressivamente refinado pelo próprio Wahlstrom e muitos outros, ocasionando no
rápido desenvolvimento do conceito de prensagem.
O modelo matemático de Wahlstrom apresentado no ‘Simpósio Internacional de
Prensagem e Secagem’ em 1968 é o mais difundido e foi de grande valia para o entendimento
da prensagem entre os “nips” de pressão controlada e fluxo controlado.
Na figura 14.02 temos representado um “nip” de fluxo transversal definido por dois
rolos sólidos, com a folha e feltro passando através do “nip”. Ambos estão insaturados na
entrada do “nip”, e contém quantidade de água suficiente para atingir a saturação no centro do
“nip” (“mid-nip”). A configuração geométrica, curvas de distribuição de pressão, mecanismos
de transferência de água, e curvas de espessura da folha e feltro são mostrados para o “nip” de
fluxo vertical.
A pressão aplicada na prensa é balanceada pelas forças opostas geradas pelo feltro e
folha, e pode ser dividida em duas partes:
 pressão do fluído (P1) gerada pelo movimento de água contido na folha e feltro.
 pressão da estrutura fibrosa (P2) aplicada para a compressão da folha (pressão
mecânica).
A pressão total em qualquer ponto do “nip” é igual a soma destes dois componentes: Pt
= P1 + P2

Figura 14.02 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

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228

Baseado na interação das pressões do fluído e da estrutura fibrosa, o “nip” pode ser
dividido em quatro fases:
 1ª Fase: começa com o início da compressão na entrada do nip, onde o ar escapa da
folha e feltro até a saturação da folha. Nesta fase não é gerada nenhuma pressão hidráulica e o
feltro está insaturado. Pode ocorrer uma pequena alteração no teor seco da folha por forças
capilares.
 2ª Fase: a folha está saturada, iniciando-se o desenvolvimento da pressão hidráulica,
causando o movimento da água da folha para dentro do feltro. Quando o feltro alcança a
saturação, o movimento da água resulta no crescimento da pressão do fluído. As forças de
compressão atuando sobre a folha e feltro aumentam durante toda esta fase. Na maioria dos
casos a pressão hidráulica atinge seu ponto máximo antes do centro do “nip”: R.A. = C (Mma.
– M*).
 3ª Fase: o “nip” se expande até a pressão do fluído na folha ser zerado.Após o centro
do “nip” a pressão da estrutura fibrosa e o teor seco atingem o ponto máximo. Nesta fase a
folha ainda está comprimida, e ocorre a expansão do feltro com este passando de saturado
para insaturado. Isto cria um vácuo no feltro, forçando ar e água entrarem por debaixo do
feltro e espaços de rolos ventilados.
 4ª Fase: ambos feltro e folha se expandem, e a folha se torna insaturada. Uma pressão
negativa é criada na estrutura de ambos. Nesta fase a folha está com o teor seco máximo e
absorve água do feltro, por uma ou pela combinação dos mecanismos de re-umedecimento.
Efeito das forças capilares na interface do feltro/folha e através do fluxo de duas fases criado
pela diferença de pressão entre eles na expansão. O vácuo gerado na folha é maior do que no
feltro, criando um fluxo de duas fases de ar e água para o feltro e do feltro para a folha.
Portanto para minimizar o efeito de re-umedecimento feltro e folha devem ser separados
imediatamente no final desta fase.
Resumindo a remoção de água da folha no nip de prensagem pode ser expressa de
forma simplificada pela fórmula abaixo:
R.A. = C (Mmax – M*)
Onde:
R.A.: remoção de água.
C: pressão constante
Mmax. :quantidade máxima de água removida no mid-nip (teórica)
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229

M*: quantidade de água devolvida à folha pelo re-umedecimento


É lógico que outras variáveis estão embutidas na fórmula acima, as quais foram
levantadas por Bliesner e Busker, e não serão discutidas neste trabalho. No entanto como
definição genérica à fórmula é válida.

14.2. TIPOS DE PRENSAS


14.2.1. Prensa plana
A prensa plana é normalmente aplicada em máquinas com velocidades abaixo de 300
m/min, e posições onde a feltragem simples ou dupla seja suficiente para absorção de toda a
água da folha (“nip” seco). No passado esta prensa estava associada ao fluxo horizontal e
“nip” saturado. Hoje ela pode ser uma prensa de fluxo vertical, pois com a evolução dos
feltros e condicionamento destes, a água removida da folha no “nip” é totalmente absorvida
pelo feltro e desaguada na caixa de sucção.
A folha e o feltro entram no “nip”, a compressão aumenta e a água da folha enche os
espaços vazios do feltro. Quando este atinge a saturação, a pressão hidráulica aumenta e a
água é forçada a sair do feltro no sentido longitudinal, oposto ao do movimento do feltro. A
resistência ao fluxo é alta devido ao longo trajeto e o efeito de bloqueio da estrutura dos fios
no plano horizontal do feltro convencional (figura 14.03).
Consequentemente as possibilidades de remoção de água em uma prensa plana vestida
com um feltro convencional são limitadas. Se a carga na prensa é aumentada acima de um
valor relativamente pequeno, a pressão hidráulica sobe mais rapidamente do que a saída de
água, terminando por esmagar a folha, as prensas se transformam em prensas de fluxo vertical
quando se usam telas fabric, camisas plásticas encolhíveis ou feltros combinados.

Figura 14.03 (FONTE: Básico de Fabricação de Papel – Apostila ABTCP)


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14.2.2. Prensa de sucção


Inicialmente desenvolvida para fugir do “nip” saturado comum nas prensas planas com
feltros convencionais. Não é uma prensa 100% vertical, visto que a água flui parte
verticalmente da folha para o feltro e parte da água no sentido horizontal na direção dos furos
(figura 14.04). Acima de 300m/min a água contida na furação do rolo é expulsa através da
força centrífuga.
A distribuição de pressão não é uniforme, pois entre as áreas sólidas e de furação da
camisa o desaguamento é desigual, resultando o sombreado da folha. Estas diferenças têm que
ser eliminadas pela aplicação de feltros adequados formando pontes para a melhor
distribuição de pressão e eliminação do sombreado em papéis mais leves.
A sua aplicação é dirigida em configurações de prensas fechadas “binip” ou “trinip” de
papéis finos, e prensas combinadas na secagem de celulose. É uma prensa que está limitada à
aplicação de maiores pressões, devido o núcleo do rolo não ser sólido. O custo de manutenção
e instalação é elevado, e necessita de energia fornecida pela bomba de vácuo.

Figura 14.04 (FONTE: Básico de Fabricação de Papel – Apostila ABTCP)

14.2.3. Prensas ventiladas


Podem ser de ranhuras ou furação cega. O fluxo é vertical e a água percorre menor
caminho no “nip” do que as prensas de sucção. A água é removida pelo feltro e pelo rolo
ventilado através da força centrífuga pelo efeito da velocidade. Para velocidades abaixo de
600m/min é necessário o uso de raspas. Quando aplicadas em últimas prensas e velocidades
acima de 1.000m/min para papéis finos, além da água da folha é desaguada parte da água
contida no feltro através da força centrífuga.
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A prensa ranhurada está mais relacionada às últimas prensas de máquinas de alta


velocidade, pois a dureza do revestimento é limitada entre 8 e 10 P&J. Isto evitaria o
colapsamento das ranhuras. Estas prensas também têm demonstrado maior eficiência de
desaguamento para papéis de imprimir e escrever para máquinas de alta velocidade.
Já a prensa de furação cego pode operar com durezas de revestimento de até 45 P&J, e
o percurso da água no “nip” é reduzido em relação a prensa ranhurada, devido a furação cega
permitir maior área para alojamento de água. Esta prensa tem sua aplicação direcionada para
todos os papéis de embalagem e folhas com elevada gramatura, além de ser utilizada na 1ª
Prensa do conceito “Trinip” de máquinas de alta velocidade.
Ambas as aplicações principalmente em folhas leves, necessita da correta aplicação de
feltros para evitar o aparecimento de marcas (sombreado) das ranhuras ou da furação cega. A
figura 14.05 apresenta detalhes destes dois tipos de prensas.

Figura 14.05 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

14.2.4. Prensa “Fabric” (figura 14.06)


Foi chamada nos anos 1.970 como a verdadeira prensa vertical, pois a água retirada da
folha é absorvida pelo feltro e pela tela prensa, principalmente quando a capacidade hidráulica
do feltro estava reduzida. Na época ela foi desenvolvida para a eliminação do sombreado
provocado pelas prensas de sucção e ventiladas. Também foi aplicada em folhas pesadas
(celulose), a fim de absorver o excedente de água no “nip”.

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Figura 14.06 (FONTE: Básico de Fabricação de Papel – Apostila ABTCP)

14.2.5. Prensa de alto impulso


Também chamadas de prensas de
alto impacto (figura 14.08), prensa com
rolos de grande diâmetro ou rolos
“jumbo”, elas se utilizam do conceito de
desaguamento de dupla face combinado
com rolos de grande diâmetro e cargas
acima de 250 kN/m. As prensas anteriores
estavam limitadas a pressão de 200kN/m
Figura 14.08 (FONTE: Apostila “Treinamento
com rolos de diâmetro aproximado de
interno de fabricação de papel”- VCP)
1.000mm.
O aumento do diâmetro dos rolos para no máximo 2.000 mm, permitiu o incremento da
carga da prensa para 500 kN/m e larguras de “nip” de 100 mm foram alcançadas com dureza
do revestimento de 15 a 20 P&J. Hoje elas são comercializadas com diâmetros de 1.200 a
1.500 mm e pressões de 250 a 350 kN/m, onde larguras de “nip” de 550 a 800 mm são
reportadas para a mesma dureza de revestimento citado anteriormente. A preferência é por
rolos de furação cega para garantir a máxima performance. As aplicações mais comuns estão
associadas a papéis de embalagem e máquinas de secagem de celulose.

14.2.6. Prensas de Sapata


As prensas de sapata foram desenvolvidas pela Beloit para superar os limites de
aplicação de carga das prensas “jumbo”, e desta maneira incrementar a intensidade de

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prensagem. Isto foi feito através do uso de uma sapata estacionária côncava de
aproximadamente 254 mm, rodando contra uma manta de poliuretano lubrificada e um rolo
ranhurado superior (Figura 14.09).
A primeira unidade comercializada foi em 1.980 com carga linear de 1.050 kN/m. Hoje
a carga máxima permitida é de 1.500 kN/m e a largura normal da sapata é 290 mm, devido
principalmente as limitações do tamanho do rolo superior e estrutura. Uma prensa de sapata
pode fornecer um aumento de teor seco de até 10%, quando comparado com uma prensa
convencional.

Figura 14.09 (FONTE: Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

Na Figura 14.10 temos uma


comparação do pico de pressão e
tempo de permanência para
prensas convencionais, rolos de
grande diâmetro e prensas de
sapata. As diferenças observadas
na redução do pico de pressão e
aumento do tempo de
permanência são significativas, e
representam muito em ganhos de
teor seco e eficiência operacional Figura 14.10 (FONTE: Apostila “Curso básico de

em papéis que requerem “nip” de fabricação de papel” - ABTCP)

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fluxo controlado.
As atuais prensas de sapata, independente do fornecedor, são de conceito fechado,
implementação esta efetuada visando a melhor eficiência de prensagem e de operação, além
das facilidades operacionais oferecidas pelo sistema mais compacto.
A Figura 14.11 ilustra uma prensa
de sapata fechada. A sapata é suportada
sobre uma viga rígida e pressurizada
contra uma camisa impermeável de
poliuretano. A camisa lubrificada gira ao
redor da sapata fixa pressionando o
conjunto feltro/folha contra um rolo
superior.
As prensas de sapata foram
inicialmente projetadas para papéis de
embalagem e máquinas de secagem de
celulose (nips de fluxo controlado). Mas,
Figura 14.11 (FONTE: Apostila “Curso básico
hoje, pode ser utilizada para papéis finos,
de fabricação de papel” - ABTCP)
incluido papéis do tipo “tissue”.

A maioria das prensas de sapata é instalada na última prensa, porém, em máquinas


novas e reformas do sistema de prensagem, o conceito recomendado é a combinação de duas
prensas de sapatas duplamente feltradas, operando no sistema “Tandem”.

14.3. VARIÁVEIS IMPORTANTES PARA A PENSAGEM


A experiência prática e as teorias de pressão apresentadas tornam possível especificar
um número de fatores que afetam a remoção da água na prensagem úmida. Esses fatores
podem ser divididos em dois grupos:
 aqueles ligados à geometria do “nip” de prensagem e o “lay-out” da prensa, inclusive
revestimento dos rolos e propriedades dos feltros;
 aqueles associados à composição e estado físico da folha úmida.
Outra classificação com 10 fatores que influenciam na remoção de água é dividida em 3
partes:

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 os fatores relacionados ao feltro são três: propriedades do feltro, resistência do feltro


à passagem do fluxo de água e umidade do feltro na entrada do “nip” (grau de saturação);
 os correspondentes três fatores ligados ao papel são: as propriedades do papel, a
resistência do papel à passagem do fluxo de água e teor seco na entrada do “nip”;
 os três fatores ligados à prensa são: tipos de rolos, dureza do revestimento e a pressão
linear da prensa.

O décimo fator representa as forças de drenagem que é o resultado da influência das


anteriores.
Existem outras listas mais elaboradas sobre fatores de influência da prensagem e suas
interações. Na figura 14.12 é apresentado um trabalho realizado por BLIESNER com a
apresentação de 20 fatores e suas interações.

Figura 14.12 (FONTE: Apostila “Curso: prensagem úmida: teoria, tendências e operação” –
ABTCP)

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14.3.1. Abaulamento (“bombé”) dos rolos das prensas


Quando a prensa é forçada contra o cilindro secador, devido a deflexão dos rolos,
ocasionada pelo próprio peso e pela pressão externa aplicada, a distribuição de carga não é
uniforme ao longo de todo o “nip”.
Para compensar esta variação e conseguir uma distribuição uniforme de carga no “nip”,
o perfil da prensa obedece a uma curva cossenoidal, curva esta que denominamos
abaulamento.
A maneira de checar que o abaulamento está correto e, conseqüentemente, a
distribuição de carga no “nip” está correta, é através do que chamamos de impressão de “nip”,
que nada mais é do que a impressão estática obtida quando colocamos no “nip” uma folha de
papel alumínio ou duas folhas carbonatadas e aplicamos a carga normal de operação da
prensa.
Na impressão obtida devemos observar a uniformidade em todo o comprimento da
folha e na largura do “nip”. Ela nos indicará: se está correto o abaulamento e a dureza do
revestimento da camisa da prensa; se existe variação de aplicação de carga pelos pistões da
prensa, etc.
A seguir (figura 14.13) estão relacionados alguns tipos de impressão de “nip” que
poderemos obter e suas possíveis causas:

Figura 14.13 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

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14.3.2. Feltros: características e condicionamento


14.3.2.1. Histórico dos feltros
Nas quatro últimas décadas houve desenvolvimentos notáveis nas vestimentas das
máquinas de papel. Os materiais sintéticos, desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial,
começaram a elevar a qualidade das vestimentas e diminuíram a confiabilidade nos feltros
convencionais de lã. Características como maior durabilidade e resistência tornaram as fibras
sintéticas mais desejáveis, principalmente pelo desenvolvimento de máquinas de papel mais
largas e velozes. Nesta época os feltros já tinham que ser feitos mais pesados, para resistirem
a maiores pressões e composições mais duras dos revestimentos dos rolos.
Inicialmente, o conteúdo sintético não ultrapassava 30%, porque as fibras não podiam
ser feltradas pelos processos conhecidos. Em torno de 1.960, o surgimento do feltro agulhado
tornou possível a feltragem mecânica e a proporção de material sintético pode, então, ser
aumentada. Os feltros agulhados haviam sido usados anteriormente em máquinas produzindo
artefatos de asbestos-cimento.
Em torno de 1.970, a porcentagem média de material sintético em feltros úmidos era de
50% e muitos feltros agulhados, totalmente sintéticos, já forneciam a tão necessária
resistência e durabilidade em suas propriedades, coisa até então desconhecida com a
utilização de materiais tais como lã e algodão.
Para satisfazer as exigências e novos desenvolvimentos nas máquinas de papel de alta
velocidade, “nips” intensamente carregados, novos tipos de papéis e as exigências de papéis
de mais alta qualidade, estudos científicos de tópicos, tais como mecanismos de remoção de
água na prensa e o papel do feltro na prensagem, conduziram a novos estilos para um
desaguamento mais eficiente da folha e forçaram evoluções paralelas nos conceitos de
projetos de feltros.

14.3.2.2. Estrutura de um feltro


O exame de um feltro úmido típico revela duas subestruturas: a base e a manta (figura
14.14). A manta é mecanicamente ligada à base através de agulhamento. A base serve de
fundamento para a estrutura do feltro. Geralmente, compõe-se de dois sistemas de fios, um no
sentido da máquina e outro no sentido transversal. Os tipos de fios a serem utilizados, bem
como a sua disposição (ligamentos) são inúmeros.

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Os ligamentos da base estabelecem a geometria pela qual os fios longitudinais (sentido


da máquina) e transversais são entrelaçados. As variações dos ligamentos podem ser infinitas,
mas normalmente são classificados de acordo com o número de lajes colocadas umas sobre as
outras (figura 14.15). As bases mais comuns compõem-se de uma, duas ou três lajes. Existem
dois métodos de se conseguir mais de uma laje que são: tecer a estrutura de base completa ou
colocar uma laje sobre a outra, ou outras, durante o agulhamento.

Figura x

Figura 172 (FONTE: Apostila do curso de prensagem úmida do papel – ABTCP/Albany)


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Com o aumento da velocidade das


máquinas e pressões de “nip”, as relações
percentuais entre base/manta vêm crescendo,
e por isto os ligamentos passam a ser vitais
nas vestimentas (figura 14.16). Os diferentes
ligamentos podem influenciar o volume
vazio, a permeabilidade, a resiliência, a Figura 14.16 (FONTE: Catálogo:
estabilidade, a resistência, o acabamento, “Informações sobre feltros de prensa” –
além de outros. Nordiskafilt)
Quanto mais manta é adicionada a uma base, mais importante ela se torna na
determinação das propriedades do feltro. Assim, enquanto as características dos ligamentos
têm grande influência na estabilidade e resistência das vestimentas agulhadas, estas mesmas
características não influenciam a permeabilidade, o acabamento superficial e a
compressibilidade, como acontecia nos feltros convencionais.
O incremento da eficiência do sistema de prensagem estaria relacionado a determinadas
leis interdependentes entre si, as quais são:
 redução da distância do fluxo de água no “nip”;
 maximização da distribuição de pressão no “nip”;
 otimização do fluxo de água no “nip”;
 redução da pressão hidráulica no “nip”;
 minimização do re-umedecimento das folhas;
 fornecimento de espaços vazios para a água no “nip”;
 desaguamento da água contida nos espaços vazios;
 manutenção dos espaços vazios limpos.
Portanto de acordo com estas leis, é essencial que os feltros sejam mantidos livres de
materiais de entupimento, conservando volume vazio adequado no “nip” por maior tempo de
operação possível. Isto é conseguido pela correta aplicação de estilos de feltros perfeitamente
condicionados. Os feltros atuais “multi-lajes” são normalmente retirados de máquina por
compactação. Existem determinadas posições onde o entupimento é fator determinante para a
substituição dos feltros, e poucas as quais são constatados desgastes mecânicos ou químicos.
Os materiais de entupimento comumente encontrados no corpo dos feltros são fibras e fibrilas

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240

em forma de finos, extratos resinosos provenientes do processo, “pitches”, aditivos químicos e


cargas utilizadas na fabricação de papel.
Pode-se dividir estes materiais em cinco categorias:
 solúveis em álcalis: são normalmente materiais orgânicos provenientes do próprio
processo, como a lignina da madeira, amido, cola de breu e outros incorporados como
aditivos. Estes materiais podem ser removidos do feltro com o uso de soda ou um produto
químico a base de álcalis;
 finos de papel: são pequenas partículas de fibras que penetram mais nas camadas da
manta em contato com a folha, e em menor proporção na estrutura da base e camada interna
da manta do feltro. A melhor maneira de removê-las é através da ação mecânica do chuveiro
de alta pressão e caixa de sucção;
 cinzas ou cargas: são materiais inorgânicos encontrados no feltro e determinados no
laboratório pela queima a alta temperatura. Os materiais inertes encontrados são: dióxido de
titânio, caulim, areia, solúveis em ácido de alumínio, carbonatos, talco e outros complexos
metálicos de água dura. São removíveis pelo uso de ácidos ou produtos químicos específicos
utilizados de preferência em limpezas contínuas;
 extraíveis: estes materiais de entupimento são resinas ou polímeros solúveis em
solventes. Os mais comuns são os “pitches” natural ou sintético, ceras, asfalto, látex, tintas,
etc. O “pitch” natural é proveniente do processo da digestão da madeira e polpas mecânicas,
sendo o restante das máquinas que utilizam aparas como matéria prima;
 resinas para resistência úmida: são polímeros sintéticos de caráter ácido (melamina e
uréia formaldeído) ou neutro (polímeros de diferentes formas), produtos estes utilizados para
fornecer resistência úmida em determinados tipos de papéis. A limpeza química com produtos
químicos específicos e controles adequados pode proporcionar uma ação de limpeza pela
quebra da estrutura química da resina. Em máquinas de secagem de celulose os materiais de
entupimento comumente encontrados nas análises de feltros retornados são: extraíveis, finos e
cinzas ou cargas, na seguinte proporção:
o extraíveis: variam de 60 a 80% e em situações críticas podem acusar valores
próximos de 90 a 95% do total de material de entupimento encontrado;
o finos: oscilam entre 15 a 20% e em determinadas situações chegam até 30% do
total de material;

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o cinzas: depende do uso ou não de talco para o controle do “pitch” natural,


portanto são comuns valores de 0 a 20%.
Nos anos 1.970 a maior proporção de material de entupimento encontrados nos feltros
de uma forma geral estava alojada na base do feltro principalmente no sentido transversal da
máquina (fios fiados). Hoje com as construções modernas de feltros e a eliminação dos fios
fiados, os materiais de entupimento estão alojados em maior proporção nas camadas da manta
em contato com a folha de papel (superfície externa do feltro). Este fato aliado à facilidade da
remoção das impurezas dos feltros e a melhoria do condicionamento destes, permitiu a
redução significativa dos materiais de entupimento analisados nas amostras de feltros
retornados.
Comparativamente aos anos 1.970 e utilizando a referência por tipo de papel, os valores
de material de entupimento encontrados hoje sofreram uma redução de 2 a 4 vezes.
Feltros entupidos contêm elevada relação de umidade antes do “nip”, redução da
capacidade hidráulica (volume vazio) e permeabilidade, e muitas vezes o “nip” que antes era
seco torna-se saturado. Principalmente em posições “pick-up” apresentam a tendência de
beliscamento da folha e em prensas duplamente feltradas acompanhamentos de folha. Isto
reduz a eficiência de prensagem com perdas de produção.
Os materiais de entupimento atuam como aglutinantes e adesivos e tendem a agrupar as
fibras da manta dos feltros, causando maior adensamento do feltro no “nip”. Portanto o efeito
de compactação determinado pela pressão total aplicada no “nip”, pode ser acelerada pelo
aumento da pressão hidráulica em feltros entupidos.
A perda de espessura do feltro é bastante acentuada na sua fase de assentamento,
reduzindo posteriormente com a compactação gradativa do feltro. Seria normal a
permeabilidade sofrer redução proporcional ao adensamento do feltro, porém dependendo do
estágio de entupimento o fechamento do feltro é acima do previsto.
A compactação de um feltro é determinada em função da soma das pressões mecânica e
hidráulica (pressão total) e o número de revoluções deste no “nip”.
O desgaste do feltro é constatado quando ocorre a perda progressiva de fibras, e ele
pode ser causado pela ação mecânica e ou química. Se a peça é mantida em máquina os fios
da base ficam expostos a uma ou a soma das ações de desgaste, destruindo a própria estrutura
do feltro.

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O desgaste pode ser observado em faixas ou homogêneo. Em faixas são causados pelos
chuveiros e cobertura das caixas de sucção operando inadequadamente, ou por abrasão,
provocados pelos revestimentos dos rolos do circuito do feltro ou próprios rolos das prensas.
O desgaste homogêneo é causado pela ação mecânica dos chuveiros de alta pressão (pressão
acima do especificado), rolos mal retificados ou aplicação incorreta dos feltros. A ação
química é mais comum em máquinas de celulose.
O desgaste químico é causado pela presença de íons de cloro ou peróxido provenientes
do processo de branqueamento da celulose, os quais reagem com os radicais amina da cadeia
molecular da poliamida do feltro, provocando o rompimento destas e conseqüente perda de
fibras/fibrilação dos fios da base. Portanto o feltro perde sua resistência física e o desgaste
prematuro é constatado, obrigando a sua substituição antes do previsto.
As condições para ocorrer o ataque químico do feltro são:
 concentração acima do normal de cloro residual (0,5 ppm) ou íons peróxido
(100ppm);
 pH da polpa e água dos chuveiros muito ácidos na presença de cloro residual (menor
que 4,5);
 pH maior que 7,5 na presença de íons peróxido;
 temperatura do meio acima de 50 C;
 geração do cloro nascente pelo ácido hipocloroso com pH entre 3,5 a 5,5;
 presença de metais como Cu, Co, Cr, Mn provenientes de água dura;
 tempo de exposição da poliamida citada nas condições anteriores.
Vale ainda salientar que o pH 3,5 é dez vezes mais ácido do que o pH 4,5 e cem vezes
mais ácido que o pH 5,5. Portanto o ataque químico pode ser significativamente acelerado à
medida que as condições do meio forem desfavoráveis, seja pelo aumento da temperatura, pH
mais ácido para os íons cloro ou mais básico para os íons peróxido.
O ataque químico é irreversível e as análises de feltros retornados demonstram
fibras/fios danificados com cadeia molecular rompida, bem como redução da viscosidade
comparativamente com o feltro novo.

4.4.5.1. Sistemas de Condicionamento


Os sistemas atuais de condicionamento resumem-se basicamente em chuveiros de baixa
e alta pressão, chuveiro químico e caixas de sucção. Vide ilustração na Figura 14.14.
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(1) Chuveiro químico;


(2) Chuveiro de alta pressão;
(3) Chuveiro de alta vazão;
(4) Chuveiro de lubrificação;
(5) Caixa de sucção.
O condicionamento pode ser
efetuado através de meios mecânicos e
químicos, ou a combinação de ambos.
Considerando a tendência cada vez
maior de utilização de fibras recicladas,
aumento de cargas e aditivos químicos e
o fechamento dos sistemas de água para
controle da poluição, é necessário
Figura 14.14 (FONTE: Apostila “Curso básico de
utilizar todos os recursos existentes para
fabricação de papel” - ABTCP)
a limpeza e desaguamento dos feltros.

Portanto o condicionamento tem a função de evitar o alojamento dos materiais de


entupimento no feltro, deixando os espaços vazios livres destinados à absorção de água no
“nip”, mantendo o feltro com relação de umidade antes do “nip”, volume vazio e
permeabilidade adequada para a eficiência de prensagem. Isto é conseguido pela limpeza
através das forças hidráulicas e químicas fornecida pelos chuveiros, e desaguamento eficaz da
água e impurezas contida nos feltros pelas caixas de sucção e sistema de vácuo.
Feltros bem condicionados proporcionam melhor desaguamento e remoção de água da
folha, aumentam a eficiência de prensagem, retardam a compactação e as paradas necessárias
para limpeza química. A limpeza mecânica é composta de chuveiros de alta e baixa pressão
(lubrificação/inundação) e caixas de sucção/sistema de vácuo.

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15. SECAGEM
15.1. NOÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO VAPOR
Depois da seção de prensas, o excesso de água ainda contido na folha terá que ser
removido por evaporação. Um processo que requer uma grande quantidade de energia
térmica, normalmente suprida na forma de vapor, e para que haja esta transferência de energia
do vapor para a folha de papel é também necessária uma grande superfície de transferência.
Esta condição faz da parte secadora, na grande maioria das vezes, a parte fisicamente maior
da máquina e também a maior consumidora de energia de todo o conjunto de produção. O
método mais comum de secagem usa uma série de cilindros aquecidos por vapor, sobre os
quais a folha úmida passa em estreito contato. Contato assegurado por uma vestimenta
altamente porosa, a tela secadora, que corre sobreposta à folha, pressionando-a contra o
cilindro.
O processo de secagem pode ser subdividido, na verdade, em dois componentes
básicos:
 transferência do calor do vapor para a folha de papel;
 evaporação da água do papel para o ar ambiente, durante as passagens da folha de
um cilindro para o seguinte.
A transferência de calor no primeiro caso se dá por condução e a transferência de massa
(vapor d’água da folha para o ar), ocorre por difusão, cujo potencial é definido pelo gradiente
de concentração de vapor, ou seja, pela diferença da tensão do vapor da folha e a tensão do
vapor da camada de ar adjacente à própria folha. Um sistema de ventilação renova o ar
ambiental, prevenindo a saturação do sistema.
É o calor latente (oculto), produto da condensação dos vapores nos cilindros secadores,
que realmente fornece o calor para a evaporação da água de uma folha. Observando-se uma
tabela das propriedades do vapor saturado (tabela 15.01) nota-se que o calor latente diminui
com o aumento da pressão do vapor. Uma vez que o calor latente é o calor útil cedido pelo
vapor quando este se condensa a uma determinada pressão, conclui-se que com altas pressões,
se obtém menos calor e, daí então, o vapor de alta pressão nos secadores significa um
aumento no consumo de vapor para a secagem.
Junto com a economia de vapor existem outras vantagens decorrentes da pressão baixa
nos secadores:
 menor perda por radiação nos secadores;
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 menor perigo de vazamento pelas juntas de vapor nos secadores;


 melhor qualidade do papel, decorrente da baixa temperatura da superfície do cilindro.
Há duas desvantagens da baixa pressão do vapor, que são:
 necessidade de maior número de secadores;
 dimensionamento maior nas linhas de vapor e condensado.
Entretanto, a tabela 15.1 também mostra que aumentando a pressão do vapor, a
temperatura do mesmo também aumenta. Em conseqüência disso, a diferença de temperatura
entre o vapor e a folha aumenta, acelerando o fluxo de calor para a folha e permitindo assim o
uso de velocidades mais altas para a máquina.
O aumento da pressão no secador, portanto, reduz a quantidade de calor disponível para
a secagem, mas aumenta a velocidade do fluxo de calor para a folha.
Para que possamos entender melhor o processo de secagem do papel, vamos introduzir
alguns conceitos sobre mudanças de fase da água:
Quando colocamos uma chaleira com água no fogo, inicialmente a água é aquecida até
aproximadamente 100 oC, quando então entra em processo de fervura (ponto de ebulição).
Enquanto existir água, se medirmos a temperatura, ela se manterá em 100 oC, mesmo que
aumentemos a altura da chama, ou seja, fornecendo mais calor, a temperatura da água não
aumenta.
Se utilizarmos, porém, uma panela de pressão, ou seja, um recipiente no qual o vapor
tenha alguma dificuldade para sair, o ponto de ebulição é alterado. Se medirmos a temperatura
da água dentro da panela de pressão, após o início da saída de vapor pela válvula, obteremos,
por exemplo, uma temperatura de, aproximadamente, 120 oC, e a pressão interna da mesma
em torno de 2 atm. Se pudéssemos olhar dentro dela, veríamos que existe ainda uma fase
líquida que permanecerá com temperatura constante (120 oC) até a sua completa evaporação.
A pressão interna é regulada pela força necessária para levantar a válvula e dar escape
para o vapor. Caso haja um entupimento desta válvula, a temperatura e a pressão poderão
subir até, por exemplo, estourar a tampa. Por isso, na panela de pressão existe um pequena
válvula de segurança, que se rompe quando se ultrapassa um valor pré-determinado de
pressão.
Sendo simplistas, podemos dizer que a caldeira nada mais é do que uma grande panela
de pressão, onde atingimos temperatura e pressões elevadíssimas.

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Tabela 15.01 (FONTE: VPH Sistemas de Fluxo)

O calor fornecido à água para que ela passe da temperatura ambiente para a temperatura
de ebulição, dá-se o nome de calor sensível e o calor fornecido para a água do início da
ebulição até a sua completa vaporização dá-se o nome de calor latente. Suas equações são as
seguintes:
Calor latente: QL = m * L
Calor sensível: QS = m * c * Ät
Onde:
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m: massa total de água (g)


L: calor latente de vaporização (cal/g)
c: calor específico da água (cal/goC)
Ät = variação de temperatura (oC)
Para exemplificarmos uma aplicação prática da utilização destas equações vamos
resolver a seguinte questão, utilizando como exemplo uma máquina com cilindro “Yankee”
para facilitar o entendimento:

Questão 1:
Uma máquina de papel com cilindro “Yankee” (figura 15.01) produz 3.600 kg de toalha
por hora. Sabendo-se que a consistência estimada após as prensas é de 40 % e a temperatura é
de 50 oC, e a umidade do papel na enroladeira é de 5 %, calcular a quantidade de energia
necessária na secagem.
Dados:
Calor latente de vaporização = 540 cal/g
Calor específico = 1 cal/g oC

Figura 15.01 (FONTE: Básico de Fabricação de Papel Tissue – Apostila ABTCP)

Resolução:
Primeiro devemos calculara a quantidade de água que foi evaporada:

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Na enroladeira temos 3.600 kg por hora com 5 % de umidade, ou seja, temos 3.420 kg
de fibra absolutamente seca e 180 kg de água. Após as prensas temos uma consistência de 40
%, ou seja, temos os mesmos 3.420 kg de fibra absolutamente seca e 5.130 kg de água.
Conseqüentemente, foram evaporados 4.950 kg de água. Agora vamos calcular a quantidade
de calor necessário para aumentar a temperatura dessa massa de água de 50 oC para 100 oC.
QS = m * c * Ät = 4.950 * 1 * (100 – 50) = 247.500 cal
Cálculo da quantidade de calor necessário para vaporizar os 4950 kg de água:
QL = m * L = 4.950 * 540 = 2.673.000 cal
Portanto, a quantidade de energia total necessária será:
QT = QS + QL = 247.000 + 2.673.000 = 2.920.500 cal
Ou, mais precisamente, relacionando à produção da MP:
QT = 2.920,5 kcal/h
Observação: Veja que a quantidade de calor necessária para aumentar a temperatura de
50 C para 100 oC foi muito menor que a necessária para evaporar totalmente a água.
o

Questão 2:
No caso anterior, se melhorássemos a seção de prensagem e conseguíssemos um
aumento da consistência para 41 %, qual seria o possível aumento de produção, mantendo-se
a mesma quantidade de calor fornecido pelo papel?
Resolução:
Como a quantidade de calor fornecida é a mesma, a massa de água evaporada é a
mesma também, ou seja, são os mesmos 4.950 kg. A água a ser evaporada é a diferença entre
a quantidade de água após a prensagem menos a quantidade de água contida no papel na
enroladeira:
mevaporada = mprensa - menroladeira = 4.950 kg
Sabemos que na enroladeira temos uma umidade de 5 %, ou seja, 95 % da produção (P)
é de fibra absolutamente seca e 5 % da produção (P) é água.
mfibra = 0,95 * P
mágua enroladeira = 0,05 * P
Após a prensagem temos uma consistência de 41 %, ou seja, temos 41 % de fibra
absolutamente seca e 59 % de água. A quantidade de massa que passa pela prensa é a mesma
que sai na enroladeira, ou seja, equivalem a 95 % da produção total:
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mfibra enroladeira = mfibra prensa


0,41 * mtotal prensa = mfibra enroladeira = 0,95 * P
E, conseqüentemente, a massa total na prensa (água + fibra) é igual:
mtotal prensa = 0,95 * P / 0,41 = 2,317 * P
A massa de água após a prensa é a diferença entre a massa total e a massa
absolutamente seca:
mágua prensa = mtotal prensa – mfibra prensa
Substituindo os valores, temos:
mágua prensa = 2,317 * P – 0,95 * P = 1,367 * P
Finalmente, substituindo na equação inicial, de água total evaporada, temos:
1,367 * P – 0,05 * P = 4.950
Isolando P, temos: P = 3.758, 5 kg
Comparando esta produção (3.758,5 kg/hora, a 41 % de umidade na saída da prensa)
com a do problema anterior (3.600 kg/h, a 40 %), temos um acréscimo de, aproximadamente,
4 % de produção.

Conclusão:
Este é um cálculo simplista, pois não consideramos fatores relativos a influência da
velocidade da máquina na secagem, e suas implicações nas trocas térmicas.
Como vimos nas explanações iniciais, quando atingimos o ponto de ebulição da água,
enquanto não evaporarmos toda a fase líquida não haverá alteração da temperatura. Se
impusermos uma restrição à saída livre do vapor, haverá um aumento da temperatura e da
pressão, sem que ocorra alteração de fase (a transformação total da fase líquida em fase
vapor).
Ao vapor gerado enquanto existe uma fase líquida, denominamos vapor saturado e a
esta fase líquida denominamos condensado. É bom observar que para cada pressão de
vaporização existe apenas uma temperatura de vaporização, ou seja, estes pares são únicos.
Caso forneçamos mais energia a este vapor saturado ou submetamos este vapor a uma queda
brusca de pressão (vapor a uma temperatura acima da temperatura de vaporização), dizemos
que este vapor é superaquecido.
Na caldeira, inicialmente, vai-se fornecendo calor para a água, sem que seja liberado vapor. A
temperatura e a pressão vão aumentando até que se atinja a temperatura e pressão nominal de
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250

trabalho, por exemplo, 18 kgf/cm2 (206 oC). A tingida esta condição temos três alternativas
normalmente: libera-se vapor para a máquina de papel, dá-se escape para a atmosfera do
vapor produzido (através de válvula específica ou da de segurança) ou desliga-se a caldeira,
pois se continuarmos a fornecer calor e não tivermos liberação de vapor, a pressão subirá
tanto que a estrutura da caldeira entrará em colapso.

15.2. TEORIA DA SECAGEM


15.2.1. Conteúdo de umidade da folha
O papel, no estado final e durante o processo de fabricação, contém água. A menos que
a folha esteja em equilíbrio de umidade com o ambiente, ela terá que perder ou ganhar
umidade; isto é, a folha de papel é higroscópica. Este equilíbrio, o qual é característica do tipo
de papel, ocorre sob condições normalmente encontradas a um conteúdo de umidade menor
que 0,1 kg de água/kg de papel (10%).
A água pode estar presente na folha de papel em diversas formas. Pode estar entre as
fibras, sobre a superfície das fibras ou nos vazios entre as malhas das fibras. O aumento do
grau de refinação das fibras aumenta a dificuldade de secagem da folha, devido ao fato de que
com a refinação rompem-se ligações entre as moléculas de celulose havendo novas ligações
destas com as moléculas de água.

15.2.2. Ciclo completo de secagem


Na secagem multicilindros a folha é exposta à aplicação intermitente de calor e taxas
variáveis de remoção de vapor. Vamos observar o efeito disto na figura 15.02, examinando
um ciclo completo desde a chegada da folha a um cilindro superior até o cilindro inferior
seguinte.
A secagem de folhas em cilindros aquecidos subdivide-se em quatro etapas. A primeira
tem duração curta e compreende o período quando a folha entra em contato com o cilindro
secador sem estar envolvido pelo feltro. Devido à duração curta deste período, quase não há
evaporação, ocorrendo apenas aquecimento. Na segunda etapa, a folha está entre a superfície
quente do secador e o feltro; nesta etapa há um rápido aquecimento e o processo de
vaporização se inicia. A folha se aquece, estabelecendo uma diferença de temperatura entre
seus dois lados.

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A transmissão de calor no início se faz por meio de condução. A água que está próxima
à região em contato com a superfície aquecida começa a se vaporizar, ocorrendo a migração
de vapor em direção ao outro lado da folha. Este vapor, quando alcança regiões mais frias,
tende a se condensar, aquecendo esta região com o calor liberado. O espaço próximo à
superfície do secador é ocupado pela água em fase líquida, que se desloca para lá por
capilaridade.
O fenômeno é contínuo, a folha como um todo se aquece e a pressão de vapor em sua
superfície aumenta. Como há um fluxo contínuo de calor, a zona de condensação vai-se
afastando em direção ao feltro e, em um determinado nível de temperatura na folha, o vapor
produzido se condensa no feltro ou, no caso de tecido de malha aberta, passa diretamente ao
ar. Dependendo da quantidade de umidade existente no papel, a água líquida pode não chegar
mais à superfície do secador, ocorrendo, então, elevação da temperatura nesta região e a zona
de vaporização começam, também, a se deslocar pra o outro lado. Esta é a etapa mais longa
do ciclo.

Figura 15.02 (FONTE: Apostila “Sistema de secagem do papel” – Riocell/Aracruz Guaíba)

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Na terceira etapa, o feltro deixa de envolver a folha e o vapor é liberado das superfícies
recém expostas. A temperatura sofre uma queda e a velocidade de evaporação diminui. Na
última etapa, a folha se destaca da superfície do secador e libera mais vapor da superfície
recém exposta. Isto causa um rápido resfriamento e decréscimo brusco da evaporação. A
quantidade de vapor produzido nesta região está em função das condições do ar em
movimento, especialmente nos bolsões formados entre os cilindros, a folha e o feltro.
A distância média entre as curvas superior e inferior da figura 15.03 é o que comumente
se chama de taxa constante de secagem. É óbvio que a taxa constante de secagem verdadeira
não existe em máquinas de papel multicilindros ou com cilindro “Yankee”, mas é sobre posta
uma condição cíclica na curva simples de secagem. Na parte superior desta variação cíclica
estão as variações locais nas condições do ar e nas diferenças associadas com os secadores
superiores versus inferiores. Deve ser observado também, que a qualquer instante dois lados
da folha são submetidos a condições muito diferentes e que estas condições mudam contínua
e rapidamente.

Figura 15.03 (FONTE: Apostila “Sistema de secagem do papel” – Riocell/Aracruz Guaíba)

15.2.3. Deslocamento da umidade dentro da folha


Muitos fatores afetam a taxa de deslocamento da umidade na folha. Os fatores que
fazem com que as forças motoras movam a umidade na folha são:
 Temperatura do secador, da folha, da tela e do ar;
 A taxa de evaporação; a pressão na folha devido à tensão da tela;

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 O gradiente de umidade na folha;


 O conteúdo de umidade da folha e do ar, etc.
As características tais como espessura da folha, estrutura, densidade, tipo e
características das fibras, colas, cargas e outros aditivos opõem resistência ao fluxo de
umidade da folha. Em adição a secagem multicilindros, por exemplo, impõe uma reversão
muito rápida no deslocamento de umidade, por exemplo, impõe uma reversão muito rápida no
deslocamento de umidade. A figura 15.04 mostra um deslocamento de umidade dentro da
folha de papel.

Figura 15.04 (FONTE: Apostila “Sistema de secagem do papel” – Riocell/Aracruz Guaíba)

Os fatores que afetam a secagem das folhas são as seguintes:


 gramatura da folha;
 velocidade da máquina;
 natureza da folha e sua umidade na entrada da secaria;
 conteúdo de carga: quanto mais alto, mais rapidamente seca a folha porque a carga
não absorve água;
 grau de refinação da polpa;
 tipo de polpa utilizada e tipo de papel a ser fabricado;
 umidade final prevista;
 projeto da máquina de papel;
 quantidade e dimensão dos secadores;
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 espaçamento entre os cilindros secadores;


 presença ou ausência de telas secadoras;
 grau e tensão das telas secadoras;
 pressão e temperatura do vapor usado nos secadores;
 utilização de ar aquecido, de alta velocidade nos espaços livres entre cilindros
secadores;
 controle de pressão diferencial;
 tensão na tela secadora;
 limpeza das telas secadoras.
 limpeza das superfícies internas e externas dos cilindros secadores;
 presença de um sistema de ventilação ou retirada de vapores liberados na secaria;
 retirada constante do condensado e dos gases inertes;
 presença de coifas (abertas ou fechadas);

15.3. PROCESSOS DE SECAGEM


15.3.1. Secagem multicilindros
O processo de remoção de água da folha na seção de secagem é feito segundo uma
função que depende da superfície efetiva de secagem e da massa de água evaporada. Neste
processo, se define perfeitamente o espaço da seção de secagem (figura 15.05) no qual ocorre
o aquecimento da folha úmida e onde começa a evaporação.

Figura 15.05 (FONTE: Apostila “Sistema de secagem do papel” – Riocell/Aracruz Guaíba)

A secagem por evaporação se constitui no mais caro processo de remoção de água com
a qual estamos envolvidos. A operação apropriada da seção de secagem é extremamente
importante e se reflete diretamente em termos de custo para cada tipo de papel. O objetivo dos
sistemas de controle de vapor e condensado é o de fornecer um controle efetivo e eficiente do
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255

vapor para os secadores e o de uma remoção positiva e controlada do condensado e do seu


retorno à caldeira.
Estes sistemas se tornarão fáceis de compreender se as várias partes que os constituem
forem consideradas separadamente. Nós analisaremos estes sistemas cada um a seu tempo.
Neste setor do processo a retirada da água torna-se mais difícil, pois a massa de água que se
encontrava na superfície da folha já fora retirada por processo mecânicos, drenagem e
prensagem, restando somente a massa de água por entre as fibras do papel.
Como vimos anteriormente, apenas 1,4% do desaguamento é extraído na secagem, o
que pode parecer incoerente quando comparamos as dimensões deste com os outros setores do
desaguamento, entretanto, a força de coesão entre as moléculas de água, e destas com as
fibras do papel, dificultam extremamente sua retirada, sendo necessário fornecer quantidade
de energia para que esta massa de água mude de estado líquido para o gasoso, e como esta
energia não pode ser fornecida em grande escala sem causar danos às fibras do papel,
necessitamos de uma área de contato entre a folha e a fonte de energia relativamente grande,
de modo a proporcionar um acréscimo gradual de temperatura de maneira que a evaporação
ocorra sem prejudicar a qualidade do produto.
O gráfico da figura 15.06 nos permite visualizar o comportamento da folha no setor de
secagem, onde temos as curvas de evaporação específica e teor seco ao longo da área de
secagem, considerada como sendo a área de contato entre a folha e os cilindros secadores.
Como podemos constatar no gráfico, os primeiros cilindros pouco evaporam, pois a
massa que hora entra nesta região consome grande parte da energia para elevar sua
temperatura, de maneira que apenas a massa de água superficial, que restou dos processos
anteriores, atinge a temperatura de mudança de fase. A folha entra na secção secadora a uma
temperatura mais baixa que aquela necessária para a evaporação e a fase inicial da secagem
será então para elevar a massa envolvida até uma temperatura de evaporação. Esta tarefa fica
normalmente a cargo dos primeiros cilindros (normalmente, de 1 a 4), cuja temperatura é
mantida razoavelmente baixa (em torno de 70 a 80 oC), inclusive para prevenir aderência e
destacamento de fibras. Esta primeira etapa é normalmente definida como de aquecimento.

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Figura 15.06 (Fonte: apostila Sistema de vapor e condensado – Voith)

A maior evaporação específica está situada no centro da área de secagem, como


podemos ver no gráfico entre 30 e 70% da área total de secagem, pois a massa de água atingiu
a temperatura de mudança de fase e toda a energia fornecida pelo sistema é utilizada para este
fim. Tão logo a folha de papel esteja aquecida, a temperatura dos cilindros é aumentada
rapidamente, podendo chegar ao redor dos 180 oC para alguns papéis menos sensíveis. Ainda
assim, a temperatura da folha não irá além da temperatura de evaporação, pois este efeito a
esfria, não permitindo que iguale a temperatura do secador. Esta área é definida como zona de
temperatura constante ou zona de evaporação constante, pois a água da folha para evaporação
se faz facilmente disponível.
A área seguinte é definida como zona de taxa de secagem decrescente. Nesta zona não
há mais água livre. Alguns dos grandes poros já estarão vazios e a área efetiva para a

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transferência de massa é reduzida e continuará reduzindo-se. Os 30% restantes da área de


secagem pouco evaporam, pois, nesta região estamos próximos ao limite do processo, onde
para pequenos acréscimos no teor seco necessitamos elevado dispêndio de energia, pois a
dificuldade de extrair a água fica ainda maior, uma vez que, o que resta de líquido está bem
no centro do aglomerado que compõe a folha.

15.3.1.1. Transferência de calor


A energia necessária para a evaporação da água contida na folha é fornecida pelo vapor
que se condensa no interior dos cilindros secadores, liberando-a para o sistema. A
condensação ocorre à temperatura de saturação do vapor, exceto em raros casos, onde a
condensação em gotas ocorre diretamente na superfície interna do cilindro, o vapor se
condensa em forma de película ou camada de condensado. Entretanto, nem toda a energia
liberada pelo vapor chega até a folha de papel, pois o fluxo de calor deve passar por camadas
de materiais de diferentes condutividades térmicas.
Vimos que a condutividade térmica é uma propriedade intrínseca de cada material e
quanto maior a condutividade térmica, maior o fluxo de calor pelo material, entretanto, quanto
maior a espessura do material, menor o fluxo de calor.
Na figura 15.07 é mostrado o fluxo de energia pelas diferentes camadas que compõem o
sistema. A camisa de ferro fundido do cilindro oferece resistência à transmissão de calor e sua
espessura está vinculada à resistência mecânica do equipamento, que é um vaso de pressão, e
como tal, submetido a rígidas normas de segurança. Entretanto, os metais apresentam boa
condutividade e, apesar de espesso, o rendimento da transmissão de calor não sofre grande
redução neste estágio.
O ponto mais crítico, portanto, no fluxo de energia é a película de condensado que se
forma no interior do cilindro pela condensação do vapor. Para melhor ilustrar este problema,
basta que comparemos os valores dos coeficientes de condutividade do condensado e do ferro
fundido, respectivamente, 0,67 W/mK e 59 W/mK, a grosso modo, podemos dizer que o
condensado apresenta uma resistência a condução cerca de noventa vezes maior que o ferro
fundido, ou seja, para cada milímetro de película de condensado que permitimos que se forma
no interior do cilindro, é como se a camisa do cilindro aumentasse em 90 mm sua espessura.
Por isso, o controle da espessura da lâmina de condensado se constitui num fator
importantíssimo de rendimento térmico do sistema. O controle da espessura da lâmina de

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condensado é feito pelo ajuste da distância da sapata do sifão à camisa do cilindro. Na tabela
15.02 aparecem as resistências individuais relacionadas a cada camada e as respectivas
considerações feitas.

Figura 15.07 (FONTE: Apostila “Sistema de secagem do papel” – Riocell/Aracruz Guaíba)

Com o filme de condensado bastante reduzido e com o crescente aumento da


velocidade das máquinas, nos deparamos com a influência do coeficiente de película que,
como já foi visto, elucida que a transmissão de calor é proporcional ao grau de agitação do
líquido de maneira que se a velocidade for muito alta há uma tendência das infinitas lâminas
de condensado apresentarem velocidades relativas entre si muito baixas, de modo que a
eficiência térmica diminui sensivelmente.
Para contornar-se este fenômeno podemos utilizar os termoanéis, que nada mais são do
que barras chatas metálicas, fixas a camisa do cilindro por intermédio de um anel e molas.
Estas barras criam uma turbulência no condensado aumentando o coeficiente de película e,
consequentemente, aumentando o coeficiente global de transmissão de calor, melhorando a
capacidade de secagem com a mesma pressão de vapor.
É importante acrescentar que o calor é transferido de alguma fonte, tal como vapor para
a folha, a fim de prover a energia necessária para evaporação. Como em outros fenômenos de
fluxo (eletricidade, por exemplo), uma força motora ou potencia aplicada através de uma

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resistência, causa um fluxo. Neste caso, o potencial é a diferença de temperatura e o fluxo é o


calor.
Resistências individuais Considerações
O filme de condensado dentro do cilindro A resistência é baixa quando o cilindro está
secador. empossado, e é alta quando forma filme contínuo.
Depósitos de incrustações e ferrugem na Pode ser significativa.
superfície interna do cilindro secador.
Parede metálica do cilindro secador. Geralmente é baixa, exceto no caso de parede
espessa.
Depósito de incrustações e sujeiras na superfície
externa do cilindro secador. Representam uma fração elevada da
A camada de ar existente entre a superfície resistência global.
externa do cilindro e a folha.
A folha de papel. Depende do tipo, gramatura e umidade da folha.
O filme de ar existente entre a folha e a tela É considerável, e depende da composição e
secadora. estrutura da folha e da tensão da tela secadora.
A tela secadora. É dependente da composição, estrutura, gramatura
e umidade da tela secadora.
Tabela 15.2 (FONTE: Apostila “Sistema de secagem do papel” – Riocell/Aracruz Guaíba)

No processo de transferência de calor para a água na folha para causar a evaporação, o


calor é também transferido ou perdido para a região circundante. A grandeza desta perda
determina a eficiência da utilização do vapor. Obviamente, é desejável manter esta perda em
um valor mínimo. Existem três meios básicos pelos quais podem ocorrer a transferência de
calor: condução, convecção e radiação. A condução, que é o meio primário na secagem com
cilindros, é a transferência de calor entre um corpo ou entre corpos em um contato direto
quando não ocorrem movimentos significativos entre qualquer dos corpos. Ele é caracterizado
por um gradiente de temperatura em cada corpo através do qual o calor flui.

15.3.1.2. Transferência de massa


Ventilação dos bolsões
A figura 15.08 mostra um bolsão formado entre os elementos de secagem. Todos os
elementos móveis carregam consigo uma camada de ar. As partículas de ar que estão em
contato com as superfícies móveis passam à mesma velocidade da superfície, e outras, na
medida em que dela se afastam, decrescem a sua velocidade.
Superfícies menos lisas, como a do feltro ou tela secadora, levam camadas mais
espessas de ar, enquanto a superfície do cilindro secador arrasta menor quantidade de ar. A
linha pontilhada indica as camadas de ar e as suas direções. Os pontos D e E assinalam fluxo

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divergente de ar com desenvolvimento de zonas de pressão negativa. Nos pontos F e C há


fluxo convergente e a formação de uma zona de pressão positiva.

Figura 15.08 (Fonte: Tecnologia de fabricação de papel – SENAI / IPT)

Quando a seção de secagem é “vestida” com o feltro convencional, pesado e


impermeável, as diferenças de pressão não são suficientemente grandes para induzir a
passagem de ar através do feltro. Portanto, o ar confinado dentro do bolsão, em contato com
superfícies úmidas, tende a atingir a saturação. Este ar saturado, conforme a figura 15.09, é
continuamente levado para o ponto C, que, comprovado experimentalmente, é a região mais
úmida do bolsão.
Se na região de secagem usam-se tecidos de permeabilidade elevada, as diferenças de
pressão, geradas pela movimentação dos componentes, são suficientemente grandes para fazer
o ar atravessar a folha de papel e o tecido. Portanto, há maior ventilação e menor
possibilidade de saturação do ar circundante.
A velocidade de remoção de água nas condições descritas é relativamente constante ao
longo da secagem. Pode-se notar a baixa taxa de remoção de água no início e no fim do
processo; o primeiro fenômeno explica-se com o período de aquecimento da folha, e o último,
com a dificuldade crescente da água em se deslocar dentro da folha.
Antes da introdução das telas secadoras, a ventilação nos bolsões existentes entre os
elementos de secagem era precária formando zonas de ar saturado de vapor de água, o que

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inibia a evaporação da umidade do papel. Para se conseguir a evaporação era necessário


substituir o ar estagnado por um outro mais quente e mais seco. Para isso, introduziram-se
sistemas de ventilação de bolsões como o sistema de tubos que insuflam ar quente dentro dos
bolsões, sistemas de rolos-guia de feltros que também insuflavam ar quente e o sistema
Grevin que consiste em insufladores de ar colocados alternativamente nas partes frontais e
traseiras da seção de secagem.
O sistema mais adequado no caso de telas secadoras é o sistema de barras de ventilação
colocadas no lado externo dos bolsões (figura 4.58). O dispositivo insufla ar seco através da
tela secadora, rompendo a cortina de ar úmido que acompanha os elementos móveis. O jato de
ar quente é dirigido contra as paredes daqueles rolos situados na entrada das zonas de pressão,
induzido pelo movimento dos elementos, retirando o ar saturado. A colocação das barras de
ventilação visa dois objetivos: manter a tela uniformemente seca e quente, e promover
ventilação nos bolsões, o que ajuda a controlar e corrigir o perfil transversal de umidade do
papel.

Figura 15.09 (FONTE: Apostila “Sistema de secagem do papel” – Riocell/Aracruz Guaíba)

As telas secadoras não são necessárias para as folhas suficientemente fortes para
manterem-se suficientemente presas aos cilindros. O ciclo de secagem para tais secadores sem
tela seria seriam uma só fase contínua, e a evaporação da superfície exposta não seria
restringida pela presença da tela. Em adição, é possível melhorar a evaporação utilizando
equipamentos auxiliares de aquecimento e/ou ventilação.

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Quando os cilindros não têm telas por algum outro motivo, mas a folha não é
suficientemente forte para envolver-se firmemente sobre o cilindro, tal como em alguns
cilindros inferiores na bateria da parte úmida de máquinas de papel jornal, o mesmo ciclo
pode ser constatado, mas em taxas grandemente reduzidas, devido à película muito grossa de
ar-vapor entre a folha e a superfície do cilindro.

Coifas
Quando o papel está úmido, grande parte dos capilares contém água em fase líquida, e
há pouca resistência para a sua migração às regiões próximas à superfície aquecida do
secador, onde deve-se ocupar o espaço deixado pelo líquido vaporizado. Se a região da
superfície do secador continuar saturada, a velocidade de evaporação será mantida constante.
Mas, quando a umidade atingir um determinado grau em que a água no estado líquido estiver
confinada apenas nos capilares mais finos; é necessária energia adicional para vencer a maior
tensão superficial.
Na secagem da folha, esta transferência é feita pela circulação de grandes volumes de
ar, tanto no conjunto da máquina, quanto no prédio. A importância da ventilação está
envolvida em primeiro lugar, a eficiência da operação de secagem, e em outros níveis de
importância, evitar a condensação do evaporado nas superfícies metálicas, que possam vir a
provocar corrosão, gotas d’água sobre a folha, além da evaporação de calor e a prevenção da
hidrólise dos polímeros que compõem os tecidos das telas secadoras.
A parte de secagem das máquinas modernas está envolvida por uma coifa que controla
o ar saturado de vapor de água. Conhecem-se dois sistemas de coifa: aberto e fechado. O
sistema aberto consiste numa capota que cobre a máquina até a altura do eixo dos cilindros
secadores superiores. Os painéis das capotas são feitos de alumínio apoiados numa estrutura
de aço. Há nessas coifas sistemas de dutos para exaustão e ventilação. O fluxo de ar pode ser
automaticamente regulado pela medição da umidade do ar exaurido.
No sistema fechado, a coifa cobre totalmente a máquina, inclusive o pavimento inferior,
onde se abrigam os equipamentos auxiliares, que acondicionam a tela secadora. O ar que
circula dentro da coifa pode ser controlado automaticamente, quanto à umidade, temperatura,
taxa de recirculação e renovação. Para a renovação retira-se uma pequena quantidade de ar do
ambiente, insuflando-a nos dispositivos de ventilação dos bolsões, para a secagem de telas e
para formar cortinas de ar na parte inferior da coifa. Algumas vantagens do sistema fechado
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263

são: redução do consumo de vapor, redução dos volumes de ar envolvidos nas operações de
alimentação e exaustão (pois, o confinamento de ar na capota o conserva mais quente e seco),
maior uniformidade do perfil transversal de umidade da folha, melhoria da eficiência da
máquina de papel e melhoria das condições de trabalho. Na figura 15.10 aparece uma coifa
fechada para o controle de ventilação na secagem.

Figura 15.10 (FONTE: Apostila “Sistema de secagem do papel” – Riocell/Aracruz Guaíba)

15.3.1.3. Telas secadoras: características e condicionamento


Histórico das telas secadoras
Desde a invenção dos cilindros secadores, a grande preocupação dos papeleiros tem
sido melhorar a eficiência de secagem. Primeiramente, foi testada a fibra de lã, mas por ser
uma fibra natural, seu custo era muito elevado. Daí pensou-se num substituto, aparecendo
assim o algodão, do qual foi feito um feltro secador de várias lajes, para aumentar sua
durabilidade.
Por outro lado, a técnica de secagem continuava melhorando, novas máquinas
apareceram, mais altas temperaturas de operação foram introduzidas e, portanto, o
desenvolvimento dos feltros devia acompanhar aquela evolução.

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264

Um novo conceito apareceu no ano de 1.920, com a aplicação de fibras de asbestos para
resistir às mais altas temperaturas. Algumas outras fibra foram testadas entre os anos 1.920 e
1.940, por exemplo: linho, mas sem resultados positivos, ficando no final o algodão, lã e
asbestos, como os melhores.
Mas, no ano de 1.949, apareceram algumas fibras sintéticas como o Dracon, atual
poliéster ou “teryline” e “nylon” (poliamida). Também a técnica de agulhamento no ano de
1.950 deu aos fabricantes de vestimentas de máquinas de papel uma nova possibilidade de
melhorar o desempenho dos feltros secadores.
O maior desenvolvimento foi nos anos 1.960 a 1.961, quando foram instaladas as
primeiras telas sintéticas na seção de secagem. O resultado foi a maior eficiência de secagem
e trouxe vários pontos favoráveis para a indústria papeleira, dentre as quais máquinas de
maior velocidade e novas técnicas de ventilação.

Função da tela secadora


As funções da tela secadora numa seção de secagem poderiam resumir-se nos seguintes
pontos:
Suportar e guiar a folha de papel através dos cilindros secadores;
Melhorar a secagem do papel através dos seguintes pontos: a maior tensão com que se
trabalha, melhorando a área de contato entre cilindro e papel, e maior e mais livre passagem
de vapor de água (evaporação);
Melhorar o acabamento do papel através de estilos mais sofisticados como a tela mais
plana que, além de melhorar a área de contato, tem uma superfície mais suave;
Melhorar o perfil de umidade da folha de papel, fato explicado acima e provado na
prática com alguns estilos;
Controlar ou diminuir o encolhimento para cerca de 1%, no caso das telas secadoras
que trabalham com altas temperaturas (9 kgf/cm2 de pressão de vapor), podendo ser ainda
menor com baixas temperaturas (4 kgf/cm2 de pressão de vapor).

Tipos de telas secadoras


A definição do estilo correto para cada aplicação depende das características de cada
máquina e tipo de papel a fabricar. Portanto, os engenheiros técnicos discutirão seus

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265

requerimentos e poderão indicar o estilo mais adequado para as necessidades técnicas de cada
caso em particular.
Com base na figura 15.11, alguns estilos são mais recomendados:
 estilos A e B: com 100% PE poderá ser usado em máquinas para papéis “kraft”, de
alta e baixa velocidade;
 estilos A, B e C: para máquinas de papéis “kraft”, “kraftliner”, de alta e baixa
velocidade;
 estilos B e C: para máquinas de papéis finos, de alta e baixa velocidade;
 estilos B e C: para máquinas de papéis finos, cartolinas, papel para cigarro, etc.

Figura 15.11 (FONTE: Apostila do curso “Feltros úmidos e telas secadoras – aplicações” –
ALBANY)

As telas secadoras com maior área de contato representam uma maior eficiência de
secagem. Define-se como a quantidade de pontos de contato que a tela faz com o papel,
quando este passa pelos cilindros secadores. Esta quantidade de pontos de contato mede-se
em “pontos de contato por polegada quadrada ou por centímetro quadrado”. A figura 15.12
mostra uma tela normal e uma tela com superfície mais plana.

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266

Figura 15.12 (FONTE: Apostila do curso “Feltros úmidos e telas secadoras – aplicações” –
ALBANY)

É evidente que, quanto maior é o número de pontos de contato por unidade de área,
maior é a transferência de calor do cilindro para a folha de papel e, portanto, a transferência
de massa será maior.
Atualmente, o desenho de telas secadoras tem como domínio as estruturas com 100%
de monofilamentos. As primeiras pesadas lonas secadoras feitas com algodão e telas
agulhadas com fibras de lã e poliéster fazem parte da história. Modernas estruturas de
monofilamento substituíram por completo as telas tecidas com multifilamentos.
As estruturas básicas de tecimento
para as telas atuais são de 1, 1 e ½ ou 2
lajes. 2 e ½ ou três lajes são estruturas
muito raramente utilizadas como mostrado
na figura 15.13. Diferentes valores de
permeabilidade são o resultado de
alterações na densidade dos fios
transversais. Os fios longitudinais
predominantes nos modernos desenho de
telas secadoras são fios de forma Figura 15.13 (FONTE: Artigo “Telas

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267

retangular. secadoras”/ABTCP)
Estes fios asseguram maior área de contato da folha de papel à tela e aumenta as
propriedades aerodinâmicas da sua superfície. Telas com 100% de monofilamento cobrem
uma faixa de permeabilidade que vai de 1.000 a 14.000 m3/m2h (60 a 800 CFM). Fios de
enchimento macios (multifilamentos ou fiados) algumas vezes têm sido usados no tecimento
de telas de baixa permeabilidade ou em telas que necessitam uma superfície mais macia.
A contrapartida ao desenho de telas tecidas tem sido as telas de construção a pertiur de
espirais. É essencialmente uma construção do tipo sem fim, obtida através da uniçao de vários
monofilamentos em forma de espiras helicoidais. O fio de união (similar ao fio de união de
uma tela tecida, também de monofilamento) passa através dos “olhos” formados quando duas
espiras helicoidais são colocadas uma dentro da outra. Desta forma, as espirais são orientadas
na direção transversal.
Telas espirais são disponíveis também em uma grande faixa de permeabilidade.
Redução na permeabilidade é obtida através da introdução de fios dentro do espaço aberto das
espiras, na direção transversal. O desenho das telas espirais tem sido extensivamente utilizado
na aplicação de telas para papel do tipo “kraft”, como também em algumas aplicações
específicas para papéis de impressão e escrita.

Limpeza de telas Secadoras


A limpeza das telas secadora é o segundo item mais importante no desempenho deste
tipo de vestimentas. A permeabilidade e a limpeza andam de mãos dadas, ou seja, se a tela
está suja, a permeabilidade é reduzida, o mesmo acontecendo com sua eficiência.
As telas podem estar parcial, irregular ou totalmente entupidas pela sujeira. O único
modo de corrigir é limpar a tela. Alguns problemas encontrados em telas sujas são:
 perda da produção de 5 a 10 % em máquinas limitadas pela secagem;
 um perfil com maior umidade no centro;
 aumento do consumo de vapor;
 faixas úmidas no papel;
 umidade desuniforme, causando problemas na calandra e enroladeira;
 formação de bolhas e fichas no papel em posição de monotela;
 papel desclassificado por soltura de impurezas que se encontravam aglomerados
sobre a tela.
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268

Sujeiras e “pitchs “ que aderem sobre os monofilamentos fazem com que a tela tenha
uma aparência desagradável. Em laboratório uma tela pode ser limpa, de modo a ter de volta
praticamente a sua permeabilidade original. Na máquina a limpeza não alcançará tal grau, mas
será bastante eficaz.
Existem vários métodos para se limpar telas:
 escova;
 chuveiro na largura total;
 chuveiro de alta pressão / leque na largura total;
 chuveiro de água / ar de bico único;
 chuveiro de vapor.
Atualmente, todos os métodos mencionados são utilizados em diversas partes do
mundo. Deve-se fazer a identificação dos materiais de entupimento da tela e formular um
procedimento de limpeza para desalojá-los. O sistema mais usado é o do chuveiro na largura
total.
Um dispositivo de alimentação muito simples pode ser empregado numa parada de
máquina. O tanque contém uma solução de soda cáustica e detergente para remover os
contaminantes. É importante que o chuveiro seja direcionado para o nip do rolo. O diâmetro
do tubo do chuveiro pode ser de 5 a 7,5 cm, com furos de 0,5 cm, distantes entre si, cerca de
10 cm.
A cada 100 a 150 dias a tela é removida da máquina e é passada através de uma solução
de soda mais detergente a uma velocidade muito baixa. Duas escovas limpam então a
superfície. Em seguida, é submetida a um chuveiro de alta pressão. Um chuveiro tipo leque
enxágua a tela e, em seguida, é seca por um chuveiro de ar. Uma vez enrolada, está pronta
para voltar à máquina com, praticamente, a permeabilidade original.
Quais são seus benefícios com a limpeza das telas secadoras? Primeiro, a qualidade de
sua folha de papel melhora, com menos listas, redução dos defeitos da folha, e melhora o
perfil da folha. Em seguida a própria tela secadora. Você terá menos desgaste para um maior
tempo de uso e menos entupimento mantendo assim a permeabilidade da tela.
O próximo é sua seção de secagem como um todo. Aqui, você verá uma performance
mais consistente da seção de secagem, melhorando a transferência de calor, melhorando os
bolsões de ventilação, e reduzindo o uso de vapor e custo de energia.

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269

Pode-se evitar paradas desnecessárias. E melhor de tudo, um sistema efetivo de limpeza


das telas secadoras rapidamente pagará pelo seu custo. A figura 15.14 ilustra possíveis
localizações para chuveiros de limpeza.

Figura 15.14 (FONTE: Apostila “Básico de fabricação de papel)

15.3.1.4. Sistemas de vapor e condensado


Introdução
A energia necessária para a evaporação da água contida na folha é fornecida pelo vapor,
que quando libera energia no interior do secador se condensa. Os sifões constituem um ponto
de extrema sensibilidade no sistema de vapor e condensado, e de grande importância na
eficiência do desaguamento dos cilindros secadores. A formação do lago de condensado
(configuração) depende da rotação (velocidade angular) do cilindro. Situações típicas do lago
de condensado, desde baixas velocidades até o extremo da película formada em alta
velocidade são demonstradas na figura 15.15.

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Figura 15.15 (FONTE: Apostila “O processo de produção de papéis” – ABTCP/UFV)

Existem basicamente dois tipos de sifões empregados atualmente, o rotativo e o


estacionário (Figura 15.16). Ambos os sifões operam pelo mesmo princípio físico, um
diferencial de pressão é estabelecido entre a entrada e a saída do cilindro, de modo a criar um
fluxo e arrastar o condensado pelo sifão. Para isto, é necessário um fluxo de vapor adicional
ao vapor que deverá condensar-se para fornecer a energia necessária. Esta quantidade de
vapor adicional, a denominamos “vapor de arraste” ou “vapor de passagem”.
Se não existisse o vapor de arraste, teríamos a formação de uma coluna de condensado
no interior do sifão, com o conseqüente aumento do diferencial de pressão requerido para
drenagem. Além das perdas impostas pelo sistema teríamos que vencer uma pressão
adicional da coluna de condensado. No caso dos sifões rotativos, a situação seria muito mais
crítica, pois a aceleração da gravidade deve ser considerada.

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Figura 15.16 (Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

Portanto, este vapor de arraste evita a formação da coluna de condensado, pois o fluxo
estabelecido no interior do sifão arrasta o condensado, originando uma mescla de baixo peso
específico, diminuindo a influência da aceleração da gravidade e da força centrífuga.
A diferença entre os dois tipos de sifões está na fixação dos mesmos nos cilindros
secadores. O sifão rotativo é fixado à camisa do cilindro por um sistema de pernas espaçadas
a 120 graus, que garante a estabilidade do conjunto e mantém constante a distância entre a
sapata e a camisa do cilindro. Observar que esta distância estabelece a espessura da película
de condensado que se formará no interior do cilindro.
O sifão estacionário é fixado à carcaça da união rotativa e fica em balanço na parte
interior do cilindro (figura 4.76). Este tipo de construção requer um sifão mais reforçado,
pois o mesmo está sujeito a dilatações e esforços da película de condensado que podem
desajustá-lo durante a operação.

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A definição do tipo de sifão envolve a análise de variáveis as quais indicamos na tabela


de comparações da tabela 15.03.

Quadro Comparativo Estacionário Rotativo

Diferencial de Pressão Menor Maior (depende da velocidade)


Ajuste da Sapata Pouco preciso Preciso
Pressão de Vapor da Linha Principal Menor Maior
Cuidados Operacionais Menor Maior
Dificuldade em Obter Cascata Menor Maior
Quantidade de Vapor de Arraste Menor Maior
Marcação da Posição do Sifão Sim Não
Controle da Película Instável Estável
Esvaziamento quando cheio Simples Difícil
Tabela 15.03 (Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

Barras de turbulência
São barras chatas colocadas contra a superfície interna dos cilindros secadores, a
distância reguladas, suportadas por anéis metálicos providos de molas que as mantêm
firmemente encostadas (figura 15.17). Estas barras são conhecidas também como “Spoiler
Bars” (Beloit/GL&V) ou “termoanéis” (Voith). O objetivo destas barras é quebras o filme de
condensado, possibilitando economia de vapor ou aumento de produção na faixa de 10 a 15%.

Figura 15.17 (FONTE: Básico de Fabricação de Papel – Apostila ABTCP)

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Basicamente existem dois tipos de sistemas de vapor, o sistema cascata e o


termocompressor.

Sistema cascata
O sistema cascata é composto por grupos de cilindros que operam a pressões diferentes,
sendo que o grupo de maior pressão deságua em um separador de condensado e o vapor de
arraste obtido no separador é reaproveitado no grupo imediatamente anterior, de pressão
inferior e assim sucessivamente, até o grupo que trabalha com a menor pressão do sistema.
Este tipo de sistema gera uma interdependência entre os grupos de vapor em função do
diferencial para drenagem, ou seja, a pressão máxima do grupo anterior é a pressão do grupo
posterior menos o diferencial para drenagem deste grupo. Para uma melhor ilustração, a
Figura 15.18 apresenta um esquema básico do sistema tipo cascata.

Figura 15.18 (Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

Sistema termocompressor
O condensado que é extraído do secador, normalmente, ainda contém muita energia.
Uma das maneiras de reaproveitá-la é captar este condensado em um separador (onde a
pressão é inferior ao do secador) e o vapor “flash” que é produzido, repressurizá-lo. O
termocompressor faz a combinação deste vapor “flash” com vapor de alta energia, e obtém
vapor na pressão de operação, gerando considerável economia de energia.
O sistema termocompressor é composto por subsistemas independentes, onde o vapor
de arraste obtido no separador é reaproveitado no próprio grupo por meio do
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274

termocompressor. A função do termocompressor é aumentar a pressão do vapor de arraste, já


utilizado no grupo de cilindros, por intermédio de vapor de alta pressão (vapor motriz). O
princípio de funcionamento do termocompressor se baseia no “Venturi”, onde o vapor de
arraste é succionado por uma zona de baixa pressão gerada pela injeção do vapor motriz no
termocompressor. No difusor do termocompressor, a energia cinética fornecida pelo vapor
motriz é convertida em pressão até alcançar o ponto necessário para entrar novamente ao
sistema (vapor de descarga). A Figura 15.19 apresenta um corte esquemático de um
termocompressor:

Figura 15.19 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

Com o sistema termocompressor, os grupos de cilindros podem operar com qualquer


pressão, dentro dos limites de projeto, sem que haja a interdependência do diferencial para
drenagem entre os mesmos. Para uma melhor ilustração, a figura 15.19 apresenta um esquema
básico do sistema tipo termocompressor.

Figura 15.20 (Apostila “Curso básico de fabricação de papel” - ABTCP)

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15.3.2. Sistema “Single Tier”


Este sistema é uma tendência para máquinas de alta velocidade. Ao invés de duas
fileiras de secadores (superior e inferior), é utilizado um rolo com vácuo na parte inferior. Na
figura 15.21 aparece os dois conceitos de secagem, um mais antigo (“double tier”) e um mais
moderno (“single tier”).

Figura 15.21

Além dos sistemas citados acima ainda existem outros tais como secagem por radio
freqüência e por micro ondas.

15.3.3. Secagem com cilindros “Yankee”


Nas máquinas “tissue” (figura 15.22) e para fabricação de papéis monolúcidos,
normalmente temos apenas um cilindro secador, o qual é denominado secador “Yankee”.
Estes secadores têm, normalmente, um diâmetro variando de 3,5 a 5,5 m, sendo responsável
por 45 % a 65 % da secagem. Trabalha com pressões de 6 kgf/cm2 (158 oC) a 8 kgf/cm2 (170
o
C) de vapor saturado, sendo considerados vasos de pressão. Em alguns casos se utilizam
pressões maiores ou iguais a 10 kgf/cm2.
Normalmente são fundidos, podendo ter ou não sua superfície metalizada com aço inox,
ligas de cromo-molibdênio e outras ligas de dureza elevada, visando minimizar o desgaste
superficial.

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276

Figura 15.22 (Apresentação Voith / ABTCP)

O processo de secagem normalmente e composta por duas partes: o cilindro crepador e


a capota de insuflamento de ar quente e exaustão de ar úmido. O cilindro crepador (figura
17.18) participa na secagem em porcentagem que podem variar de 40 a até 90 % dependendo
do tipo de capota utilizada assim como outros fatores como velocidade, gramatura etc.
Construtivamente, o cilindro crepador possui diâmetros de ate 6 m e opera a velocidades que
podem superar 2.200 m/min, atualmente.
O material da camisa do cilindro crepador, normalmente, é de ferro fundido, sendo que
alguns fabricantes desenvolveram uma liga apropriada que não afeta o coeficiente de
transmissão, possuindo uma maior resistência ao desgaste provocado pela ação do raspador.
Atualmente podemos contar com cilindros crepadores com a parte interna da camisa
diferenciada.
A camisa do secador pode possuir a parte
interna lisa ou ranhurada e a espessura da
camisa está entorno de 40 mm mais a ranhura,
quando existir. Recomenda-se utilizar a camisa
interna lisa para máquinas de baixas
velocidades (inferior a 60 rpm) e para
máquinas acima desta velocidade, camisas
ranhuradas (figura 15.23) com o sistema Figura 15.23 (FONTE: Fabricação de papel
apropriado de coleta de condensado. com ênfase em papéis “tissue”)
A principal função da capota sobre o cilindro “Yankee” é a evaporação da água da folha
e a exaustão do vapor d’água liberado no processo de secagem. Até poucos anos, as capotas
contribuíam com aproximadamente 45% da secagem e o “Yankee”com os outros 55%.
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277

Com o aumento das velocidades das


máquinas e devido às restrições mecânicas
no aumento dos diâmetros dos secadores,
a participação das capotas na secagem
pode atingir até 60%, podendo operar com
temperatura de ar insuflado de até 510 ºC
e velocidades de até 160 m/s.
Normalmente, devem ser construídos em
aços especiais para suportar a alta
Figura 15.24 (FONTE: Fabricação de papel com
temperatura. Segue abaixo (figura 15.24)
ênfase em papéis “tissue”)
um fluxograma como exemplo de um
sistema de secagem da capota.
A distância entre a capota e o secador “Yankee”, na qual observa-se uma maior
eficiência está na faixa de 18 e 20 mm. Esta distância deve ser calibrada em todos os
quadrantes da capota, principalmente, após retificar-se o “Yankee”. Outros fatores de
influência, além da velocidade, são a temperatura e a umidade do ar insuflado.
Com o aumento da temperatura, aumenta também a transferência de calor para a folha.
Devido ao aumento da temperatura da folha, a troca térmica com o cilindro fica mais difícil,
não sendo, portanto, linear o aumento de secagem como aumento da temperatura do ar
insuflado. Este efeito é pequeno, mas deve ser considerado quando do cálculo do incremento
da capacidade de secagem e aumento de velocidade de máquina. Atualmente está se
evoluindo muito o controle das capotas, sendo que as atuais possuem divisões e controles
transversais para poder corrigir erros no perfil de secagem.
A caldeira normalmente se encontra a alguma distância das máquinas de papel, sendo
necessárias, portanto, extensas tubulações, vários equipamentos, válvulas e instrumentos.
Saber a finalidade e os princípios básicos de funcionamento destes elementos das linhas de
vapor é obrigação de todos que trabalham nas proximidades dos mesmos, pois acidentes
nestas áreas podem causar sérios danos pessoais e materiais.
A título de ilustração segue abaixo (figura 15.25) um fluxograma típico do sistema de
vapor e extração de condensado utilizado em máquinas “tissue”.

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Figura 15.25 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

O vapor gerado pela caldeira, ao passar pela tubulação, pode se condensar ao entrar em
contato com as paredes mais frias dos tubos. Se a liberação na partida da máquina for feita de
maneira muito rápida, devido a pressão elevada, este condensado pode assumir velocidades
muito altas e provocar estragos de grande monta. A isso se dá o nome de golpe de aríete. Para
retirar o condensado da linha são utilizados os purgadores de vapor. Estes purgadores devem
ser limpos e revisados periodicamente, pois aumentam a vida útil de válvulas e tubulações.
Válvulas de segurança devem ser colocadas em posições estratégicas, com a finalidade
de se evitar sobrepressão nos equipamentos e sempre que possível devem ser testadas quanto
ao seu normal funcionamento.
A energia proveniente do cilindro crepador necessária para a evaporação da água
contida na folha é fornecida através do vapor e o papel em contato com a camisa consome
esta energia provocando a condensação interna ao cilindro. Para manter uma troca térmica
eficiente temos que retirar o condensado, pois um filme de condensado criado pela alta
rotação do cilindro oferece uma resistência à transmissão de calor muito intensa. Se
compararmos a resistência à transmissão da camisa do cilindro, verificaremos que o filme de
condensado chega a ter uma resistência à transmissão de calor de até 90 vezes maior que o da
camisa.
O sistema de extração de condensado funciona par diferencial de pressão aplicado entre
a entrada e saída do cilindro e provocando, através do sifão rotativo, a saída do condensado
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279

(figura 15.26). Temos abaixo exemplos de tipos de sifão rotativo para cilindros de camisa
ranhurada e camisa lisa. A distância dos tubos extratores de condensado ate a camisa é um
fator muito importante como referência podemos considerar para cilindro de camisa lisa a
distância de aproximadamente 2 mm e para cilindros ranhurados, aproximadamente, entre 6 e
8 mm.

Figura 15.26

15.3.4. Secagem com infravermelho (“infrared”)


A secagem por radiação infravermelha de alta freqüência (figura 15.27) tem sido
empregada até hoje mais como uma complementação da bateria secadora, como corretores
transversais de perfil de umidade e em máquinas de revestimento para pré-secagem da tinta
após a aplicação.

Figura 15.27 (FONTE: inderminada

15.3.5. Máquinas com secagem do tipo TAD (“Through Air Drying”)


Este tipo de máquina vem sendo utilizado principalmente em países de alto poder
aquisitivo como os EUA Canadá e países do Oeste Europeu para o atendimento de um
mercado exigente por produtos “tissue” de alta qualidade.

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280

Em máquinas tipo TAD são


fabricados os produtos considerados
como referência de alta qualidade no
mercado. A alta qualidade neste tipo
máquina é obtida através da secagem
quase que total do papel e em alguns
casos total através da passagem de um
fluxo de ar quente através da folha de
papel (figura 15.28) ao invés do
método convencional de secagem por
contato utilizado em uma máquina Figura 15.28 (FONTE: Fabricação de papel com
convencional. ênfase em papéis “tissue”)
A secagem por sopro de ar quente proporciona um maior volume livre entre fibras e
com isto o papel fabricado neste tipo de máquina tem a característica de um maior “bulk” e de
outras características como maior suavidade e melhor absorção e retenção de líquidos (figura
15.29).

Figura 15.29 (FONTE: Fabricação de papel com ênfase em papéis “tissue”)

15.3.6. Sistema Condebelt®


Tampella, atualmente uma parte da Metso Paper, desenvolveu um conceito de secagem
que se distância redicalmente da tecnologia convencional. O secador Condenbelt® foi
apresentado em 1975, sendo a única realização comercial de secagem por prensagem, objeto
de intensa atividade de pesquisa na década de 1970. No processo Condenbelt®, a folha é
transportada sobre duas telas, uma fina e uma grossa, entre duas cintas rotativas de aço (figura
15.30).

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281

A cinta superior é aquecida por meio de vapor e a inferior é resfriada mediante água. A
pressão do vapor e da água de resfriamento, agindo sobre as respectivas cintas de aço,
imprime sobre a folha uma elevada pressão na direção z. A água procedente do papel evapora
e passa através da tela fina, condensando-se na tela grossa ou sobre a cinta de aço fina. Os
objetivos iniciais no desenvolvimento desta tecnologia eram: consumo de energia e redução
de custos de capital, bem como uma operacionalidade aprimorada da máquina.
Contudo, as propriedades aprimoradas do papel emergiram como a característica
dominante da tecnologia. Os índices de secagem obtidos nas unidades comerciais eram de 5 a
10 vezes superiores aos obtidos em seções de secagem por cilindros convencionais.

Figura 15.30 (Artigo da revista “O Papel”: Novos desenvolvimentos no campo da secagem)

Além dos sistemas citados


acima ainda existem outros tais
como secagem por radio freqüência
e por micro ondas, por exemplo.
Atualmente, há uma tendência de
desenvolver sistemas como o
OptiDry Twin KUVA da Metso
(figura 15.31).
Figura 15.31 (FONTE: www.metso.com)

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282

16. COLAGEM SUPERFICIAL


Chama-se colagem superficial a aplicação de produtos químicos tais como amido, colas
de dextrina, parafina, álcool polivinílico etc., sobre a superfície do papel já formado e
parcialmente seco. Após esta aplicação, com a prensagem (“size press”) da folha a
temperaturas adequadas, obtém-se um revestimento que proporciona uma redução nos
diâmetros dos poros (espaço entre as fibras) preenchendo estes espaços na folha, dificultando
assim a penetração de líquidos, gases ou vapores por esses poros.
A colagem superficial, além de aumentar a resistência à umidade, confere maior lisura à
folha, diminui o desprendimento de pó e melhora o acabamento do papel, que não escurecerá
com o tempo.
A colagem superficial é aplicada à folha de papel ou papelão quando ela possui
umidade entre 4 e 12%, motivo peo qual o equipamento é colocado entre grupos de secadores.

16.1.1. “Size-press”
A “size press” (figura 16.01) é o
equipamento mais difundido para o
tratamento de superfícies. Os dois tipos
principais de equipamentos são: a prensa
vertical e a prensa horizontal. As principais
possibilidades de tratamentos superficiais em
Figura 16.01 (FONTE: http://www.ihobe.es)
“size press” são: colagem superficial,
impregnação, pré-revestimento, coloração e
revestimento.
Existem diversas possibilidade quanto à composição dos banhos da “size press”. As
formulações podem ser pigmentadas ou não pigmentadas.O aditivo mais utilizado
universalmente é o amido. Cerca de 85% do amido consumido na indústria papeleira é
utilizado em aplicações superficiais. Em combinação com o amido, pode-se utilizar um
número enorme de auxiliares tais como: alvejantes ópticos, agentes sintéticos de colagem,
dispersões parafínicas, corantes, pigmentos, agentes insolubilizantes etc.

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283

16.1.2. “Gate-roll Coater”


Os aplicadores tipo “gate roll” (figura
16.02) foram desenvolvidos com o objetivo
de produzir papel com maior valor agregado.
Normalmente utilizam-se nesses
aplicadores soluções de amido de 3 a 10% de
teor de sólidos, costumeiramente aplicando
de 0,25 a 1 g/m2 por lado de cola de amido
em máquinas com velocidade até 1500 Figura 16.02 (FONTE: http://www.ihobe.es)
m/min.
A espessura da película fica em torno de 2,5 a 5,0 micras; a fina espessura representa
uma vantagem deste tipo de aplicador; uma outra vantagem adicional é que ambos os lados do
papel podem ser tratados simultameamente.

16.1.3. “Speed-sizer”
O “speed sizer” (Voith) (figura 16.03) é um
equipamento de colagem que tem
conquistado uma firme posição na fabricação
de papel, sobretudo quando se deseja, além
das características de resistência,
características também de superfície e efetuar
o tratamento superficial sob altas
Figura 16.03 (FONTE: http://www.ihobe.es)
velocidades.

Observa-se que quanto ao “runnability” e às necessidades de secagem, o “speedsizer”


supera o “size press” convencional e ainda amplia de forma realmente decisiva o campo de
utilização de prensas de colagem convencionais. Suas principais vantagens são:
 colagem de até 1300 m/min e teor de sólidos de 12 a 16%, representando um
desempenho maior que o dobro do convencional;
 pigmentação na faixa de 300 a 1000 m/min.

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284

Esse equipamento baseia-se em dois sistemas de aplicação especiais que depositam a


cola, previamente dosada sobre rolos. Ela é transferida ao papel sem a formação de poça no
“nip” de prensagem entre os rolos.

16.1.4. “Film press”


A tecnologia “film press” foi desenvolvida pela Jagenberg e por outras empresas e,
nesses últimos anos, essa tecnologia vem adquirindo maior importância devido à sua
versatilidade.
O termo “film press” é usado para designar uma prensa de colagem com uma unidade
de pré-dosificação, sendo que esta unidade é acompanhada de uma lâmina ou vareta rotatória.
Com isso, há uma baixa pressão na linha de contato, diminuindo a tensão mecânica na folha e,
portanto, diminuindo a propensão à ruptura. A colagem ou o revestimento é uniforme,
gerando uma lisura intermediária entre a alcançada pela lâmina rígida (“blade coaf”) e a
lâmina de ar (“air knife coaf”).
Este sistema pode aplicar cola em superfícies pigmentadas ou não, com uma pré-
dosificação muito uniforme e em máquinas de altas velocidades. Além de requerer pouco
espaço físico, é bastante eficiente em sistemas onde há limites de secagem

16.1.5. Noções sobre revestimento de papéis


Reveste-se o papel e o cartão para melhorar a qualidade de impressão e o impacto
visual, assim como para melhorar as propriedades estéticas (brilho, alvura, lisura etc.). A
irregularidade em um papel sem revestimento são cerca de seis vezes maiores que em um
papel com revestimento. A aplicação de revestimento fornece um papel com menor
rugosidade, porosidade e menor variabilidade de região a região do papel. Por exemplo: o
tamanho de partícula do caulim é 1/10 do diâmetro de uma fibra, enquento as partículas de
látex e dióxido de titânio são 1/15 deste diâmetro.
O revestimento também fornece uma estrutura mais receptiva à tinta (pigmentos como
o CaCO3 são mais oleofílicos que as fibras de celulose). O papel revestido possui poros
menores, em torno de 1/10 do tamanho do poro do papel não revestido, e mais numerosos.
A estrutura de microporos permite ao papel receber a tinta rapidamente e uniformemete
e limita a migração de tinta lateralmente e verticalmente (evitando perda de detalhes de
impressão, perda de brilho, intensidade da imagem e aparência de marmorização). O papel
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revestido também necessita menos tinta para imprimir uma determinada imagem que o papel
não evestido.
A quantidade de revestimento aplicado depende principalmente da qulidade do papel
base, e das características requeridas (brilho, alvura etc). O range de aplicação é em torno de 6
a 13 g/m2. Uma boa cobertura é um pré-requisito para atingir uma boa aparência e boa
printabilidade em papéis revestidos.
A figura 16.04 mostra a superfície de um papel sem revestimento e um papel com
revestimento.

Figura 16.04 ((FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

Os principais materiais utilizados nas formulações base aquosa são: pigmentos (caulim,
carbonato de cálcio, dióxido de titânio, talco, sílica), ligantes (látex, amido, proteina), aditivos
e água. Após a separação da fase aquosa por drenagem através da folha e evaporação, uma
estrutura é formada. Chamamos a isto de estrutura de revestimento.
A função básica dos pigmentos é melhorar a superfície do papel ou cartão revestidos. Já
os ligantes são usado na formulação para compatibilidade, estabilidade do pigmento, controle
da reologia e retenção de água; no papel final os ligantes são importantes devido a
adesividade (pigmento com pigmento, pigmento com base, base), recepção da tinta, brilho,
facilidade de solubilização, pegabilidade e resistência à dobra (“fold cracking”). Finalmente,
os aditivos têm funções específicas:
 espessantes sintéticos – são modificadores de fluxo e retentores de água;

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286

 dispersantes – provêem forças repelentes às partículas e mantêm as partículas


separadas;
 biocidas – impedem a proliferação de microorganismos;
 insolubilizantes – reagem com os adesivos, aumentando a resistência a úmido do
revestimento;
 lubrificantes – melhoram o acabamento (processo posterior de calandragem) e
previnem a formação de pó, podendo afetar a viscosidade.
 branqueadores ópticos – absorvem radiação UV (invisível) e liberam radiação visível
(próxima do azul);
 controladores de espuma – os antiespumantes reduzem a tendência à geração de
espuma e os desespumantes reduzem a espuma já formada.

16.1.5.1. Equipamentos para revestimento (“off machine”)


No processo de revestimento aplica-se no papel base uma camada formada por
pigmentos, ligantes e substâncias auxiliares para o qual a cor, o processo, os parâmetros de
regulação da máquina de revestimento (figura 16.05 ) e o papel base têm que adaptar-se com
precisão. O número de grupos de alicação de uma máquina de revestimento com a secagem
correspondente varia segundo tratar-se de um revestimento simples, duplo ou triplo,
utilizando-se os distintos sistemas de aplicação de forma preogressiva, segundo suas
vantagens específicas correspondentes.

Figura 16.05 – FUENTE: (20)

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287

17. CALANDRAGEM
Trata-se de um equipamento da máquina de papel, que é constituído por um conjunto de
rolos metálicos, montados uns sobre os outros num cavalete que os sustenta. Consta também,
com um dispositivo que permite controlar a pressão de encosto entre os rolos, de forma
independente para o lado do acionamento (LA) e o lado do comando (LC), além do centro,
através do dispositivo de abaulamento.
Com relação a sua localização na máquina de papel, ela é dependente do tipo de
calandra com que determinada máquina de papel é equipada, já que existem vários tipos de
calandra. De modo geral, o rolo inferior é chamado “Rolo-Rei” (“King-Roll”), sendo o de
maior diâmetro e o elemento acionador do conjunto, além de contar com abaulamento fixo ou
ajustável. O rolo imediatamente acima do “Rolo-Rei”, é o “Rolo-Rainha” e, o superior é o
“Rolo-Copa”, os demais são rolos intermediários.
A função da calandra é basicamente intensificar as características de lisura e brilho do
papel que será fabricado. Estes efeitos são conseguidos reorientando-se as fibras superficiais,
ou o recobrimento aplicado à superfície do papel, por meio de pressão e fricção entre os rolos
de grande dureza e lisura superficial (polidez), com a intenção que a fibra adquira a aparência
de lisura dos rolos da calandra. A grosso modo pode-se dizer que a calandragem do papel tem
a mesma função que o ferro elétrico tem sobre as roupas (tecidos). A seguir, mostraremos
vários tipos de calandras.

17.1.1. Tipos de calandras


17.1.1.1. Calandra alisadora (prensa “offset”)
Localizada logo após as prensas úmidas e antes do 1º secador, agem sobre a folha
úmida (teor seco de 35 a 50%) não tendo a função de retirar água, e sim alisar a folha que
acabou de ter contato com telas e feltros, apresentando por isto, superfície áspera.
Esta calandra, normalmente, é constituída por dois rolos sobrepostos, que podem ser de
granito, aço ou borracha dura em seus revestimentos.
Este tipo de calandra visa a uniformização da espessura da folha, aumentando a
densidade, além de melhorar as ligações entre fibras.

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17.1.1.2. Calandra igualadora


Esta calandra situa-se dentro da seção de secagem, num ponto onde a folha se encontra
com um teor seco entre 60 a 70%, utilizando-se 2 ou 3 rolos metálicos bem polidos, tendo a
função semelhante à calandra alisadora (“prensa offset”).

17.1.1.3. Calandra da máquina


Localiza-se entre a última bateria de secagem e a enroladeira, quando a folha já atingiu
seu nível final de umidade, que seria a um teor seco por volta de 92 a 95%, sendo que quanto
maior for a umidade, melhor será a calandragem, pelo fato das fibras encontrarem-se num
estado mais plástico.
Normalmente, as calandras são constituídas por dois, quatro, seis ou mais rolos, de ferro
fundido coquilhado (endurecido), sendo a quantidade de rolos empregados, em função do
grau de lisura requerido ou, dificuldade de lisura do papel fabricado por determinado tipo de
máquina ou massa (celulose) utilizada.
A calandra normalmente é montada com rolos posicionados de forma sobreposta, sendo
que em calandras com mais de dois rolos, a pressão nos “nips” é aumentada
progressivamente. Com relação ao papel calandrado, ele expande nas direções longitudinal e
transversal, resultando em maior área, principalmente, na transversal. Com relação à calandra,
ela é o último meio mecânico da máquina de papel de corrigir-se uniformemente as
propriedades superficiais do papel e cartolina. A figura 17.01 mostra uma calandra com
apenas um “nip”, comumente usada.

Figura 17.01 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

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17.1.1.4. Soft Calandra “On Machine”


Soft calandra (figura 17.02) ao contrário da calandra de “nip”duro ou de uma calandra
de máquina, é projetada para o acabamento superficial, e não para corrígi-lo. Proporciona
bons valores de lisura, brilho, densidade etc. que são necessários para uma boa impressão e
imagem produzida por tinta gráfica.
Geralmente, numa calandra de máquina o “nip” é formado pelo rolo de ferro
coquilhado e com um rolo de ferro coquilhado de abaulamento variável. Com rolos numa
posição fechada e sob carga externa vinda de cilindros hidráulicos ou foles pneumáticos, o
comprimento do “nip” é pequeno devido ao efeito mecânico do contato de rolo de ferro sobre
o rolo de ferro. O resultado deste “nip” pequeno “estreito”é uma distribuição de pressão
localizada nos pontos altos da folha e conseqüente compressão da folha tornando-a com
espessura uniforme. O papel que passou pela calandra terá uma densidade maior e aumento de
lisura.
Numa calandra “soft”, o “nip” é formado, ao unir o rolo de ferro coquilhado aquecido
com temperatura de 60 à 200 oC, com o rolo de revestimento “soft”, tipo polímeros
(poliéster). O rolo soft é projetado com sistema hidráulico de precisão, que ajuda o
abaulamento (“swimming”), de acordo com a pressão de trabalho, mantendo o “nip”
uniforme. O revestimento “soft” combina boa estabilidade com materiais menos duros. O
material menos duro (80 a 96 Shore D), possibilita um efeito do “nip” menos agressivo,
devido à maior área de contato ativa criada sob carga ( aumenta o tempo de residência da
folha no “nip”). O revestimento “soft” deforma-se ligeiramente quando pressionado. Com
isto, o papel calandrado recebe uma pressão menos intensa e, conseqüentemente, produz papel
com mais “bulk” e acabamento superficial mais uniforme.
No caso de papéis especiais (“couché-L1”), devido ao tempo de residência da folha no
“nip” ser maior, também com pressão e temperatura, a calandra molda o revestimento
suprficial sobre o rolo de aço. Entra-se na calandra, com papel em alta temperatura
(aproximadamente, 70 oC), isto facilita o trabalho de calandragem. A unidade hidráulica
proporciona fluxo e pressão de óleo totalmente controlado, para os cilindros de carregamento
da calandra através da tubulação hidráulica.
Os cilindros de carregamento proporcionam a força mecânica requerida para elevar o
rolo de baixo até a posição fechada (formando o “nip”) e também para aplicar a força

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necessária à carga de “nip”. As pressões dos cilindros são ajustáveis (individualmente) em


caso de correções menores nas bordas da folha quando forem necessárias.

Figura 17.02 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

17.1.2. Variáveis importantes na calandragem


A maioria dos defeitos que surgem a partir da calandragem tem sua origem no perfil
irregular de umidade. A princípio, o perfil de espessura na saída da calandra é resultado da
interação entre o perfil no sentido transversal do “nip” da calandra e do perfil no sentido
transversal das características de compressão do papel ao entrar no “nip” da calandra.
Entende-se como características intrínsecas do papel e que são constituídas pelo volume
específico (espessura /gramatura), pela temperatura, pela espessura e pela preparação da folha
de papel, todos considerados anteriormente ao “nip” da calandra. Quanto ao perfil no “nip” da
calandra, este sofre forte influência do abaulamento, do desgaste e da retífica da superfície, da
carga aplicada e da temperatura local nos rolos da mesma.
Na figura 17.03, temos a representação dos desvios típicos CD sobre as variações
resultantes CD do perfil de espessura após calandra e os métodos para melhorar este perfil.
Como pode se constatar pela figura, a maioria dos métodos para melhoria do perfil está ligada
a operação, tanto da calandra (carga aplicada, abaulamento escolhido, manejo dos bicos de ar
frio ou quente) como ao controle de variáveis anteriores à calandra (volume específico,
espessura, contudo de umidade, temperatura e preparação da folha).

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Figura 16.03 (FONTE: Artigo “Análise das principais causas de um perfil irregular de
espessura e do conseqüente surgimento de defeitos em bobinas” – ABTCP)

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17.1.3. Noções sobre “supercalandras”


Trata-se de um equipamento fora da máquina de papel, podendo-se encontrar
supercalandras com três até vinte rolos, os quais são montados verticalmente e alternados
entre rolos de metal polido (aço) e rolos revestidos com fibras sintéticas (algodão, lã, etc.).
A função da supercalandra é a de conferir ao papel um grau e acabamento superficial
muito superior aos conseguidos com as calandras, sendo que a face do papel que necessita
melhor acabamento deve fazer contato com os rolos metálicos.
O uso da supercalandra se faz necessário, sobretudo para papéis revestidos com tinta
“couché”, sendo que com o intuito de melhorar o brilho do papel, algumas supercalandras são
dotadas de sistemas de vaporização úmida ao papel, antes da entrada no 1º “nip”. Com relação
à pressão linear entre os “nips”, ela não deverá ser excessiva, pois, pressões elevadas
acarretam perda de alvura e opacidade. A figura 4.85 mostra um exemplo de supercalandra.

Figura 17.04 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

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18. PARTE FINAL DA MÁQUINA DE PAPEL


18.1. ENROLADEIRA “POPE”
A seção de enrolamento ou de corte é a última seção da máquina de papel. Do rolo-
cabeceira até a entrada na seção de enrolamento ou corte, o processo de fabricação da folha é
contínuo. Neste ponto, torna-se necessário transformar a folha contínua em unidades finitas e
independentes, a fim de facilitar a sua manipulação e utilização posterior.
Basicamente, existem dois princípios usados para o enrolamento do papel: enrolamento
por acionamento na face e enrolamento por acionamento no eixo. Cada um deles originou
uma série de configurações de enroladeiras.
No enrolamento por movimento axial, a folha é enrolada em canudo fixo, e um eixo é
acionado mecânica ou eletricamente. No caso de movimento mecânico, o eixo recebe
movimento por meio de correias que utilizam embreagens para controlar a velocidade. Uma
regulagem automática varia a velocidade do motor, de acordo com o aumento do diâmetro da
bobina. Porém, como a velocidade de produção da máquina é praticamente constante e a
rotação do eixo variável, o controle e a operação deste tipo de enroladeira é complicado, além
de impossibilitar sua utilização em máquinas de alta velocidade. Isto faz sua utilização cada
vez menos freqüente, praticamente limitada a máquinas que produzam papéis em que não
possa haver atrito entre sua face e o cilindro de acionamento (como é o caso do acionamento
na face).
No enrolamento por acionamento na face, há necessidade de regulagem da velocidade
de enrolamento, à medida que aumenta o diâmetro da bobina, pois a velocidade periférica
continua constante. As enroladeiras que trabalham com este sistema são conhecidas como
“pope” ou de superfície. São compostas de um cilindro de ferro fundido, parecido com um
cilindro secador, cujo eixo é oco, podendo ser instalado em um sistema de refrigeração; e de
um para de braços móveis, nos quais se apóia o canudo principal onde será enrolado o papel.
Em cima do cilindro está colocado um canudo auxiliar, apoiado em braços móveis, e a
folha passa entre os dois antes de ser enrolada no canudo principal. O enrolamento se faz
forçando o canudo contra o cilindro acionador. Quando a bobina atinge seu diâmetro máximo,
rasga-se a folha por meio de ar comprimido, obrigando-a a enrolar-se sobre o canudo auxiliar,
sem que haja interferência com a bobina já pronta. Em seguida, é retirada com o auxílio de
ponte rolante e o canudo auxiliar é colocado em seu lugar.

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O tipo de enroladeira esta muito ligada ao produto final fabricado. Quanto maior a
qualidade final do papel, melhor tem que ser os controles da enroladeira. Na figura 18.01
vemos ema enroladeira do tipo “pope”. Atualmente as enroladeiras podem ter os seguintes
controles:
 controle de pressão linear de enrolamento;
 controle de tensão de enrolamento;
 sistema de alimentação automática de tambor;
 sistema completo de armazenamento de bobinas.

Figura 18.01 (FONTE: Curso básico de fabricação de papel – ABTCP)

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19. PROPRIEDADES ESPECÍFICAS PARA OS VÁRIOS TIPOS DE PAPÉIS


19.1. DESCRIÇÃO DE ALGUMAS PROPRIEDADES DE FORMA GERAL
Antes de discriminar as principais propriedades específicas para cada tipo de papel,
serão descritas estas propriedades de uma maneira geral, incluindo métodos de ensaio.

19.1.1. Gramatura
Gramatura é definida como a massa em gramas de um metro quadrado de papel (g/m2).
Possivelmente a gramatura seja um dos parâmetros mais conhecidos do papel posto que influi
bastante sobre as características do produto acabado e devido ao fato do papel ser
normalmente comprado a “peso” (na realidade o termo correto é “massa”).
Na América do Norte este parâmetro denominado gramatura se substitui pelo conceito
de “peso básico” o qual expressa o peso básico em libras de uma resma de papel (500 folhas)
cortada a sua medida “básica”. Esta medida básica varía segundo os tipos de papel. Para
papéis de imprimir e escrever o tamanho é de 17 x 22 polegadas e para papéis tissue o
tamanho é de 24 x 36 polegadas, por exemplo. Gramatura é o peso básico de papel expresso
em gramas por metro quadrado, e é independente do número de folhas.
O teste para determinação da gramatura poderá ser feito cortando-se um metro
quadrado de papel e depois pesando-se esta área. Mas, normalmente, não se procede assim
para a determinação da gramatura, principalmente devido a dois fatores:
 dificuldade em se ter um metro quadrado exato de papel;
 necessidade de rapidez e facilidade de manuseio no procedimento do teste.
Normalmente, a determinação da gramatura do papel é feita por uma das seguintes
maneiras:
 cortando-se uma área pequena do papel (10 cm x 10 cm), por exemplo, pesando-se
esta área e extrapolando-se o peso obtido para 1 m2 , por uma simples regra de três;
 cortando-se uma área previamente determinada (25 cm x 40 cm) e pesando-se em
uma balança apropriada onde se obterá diretamente o peso de 1 m2. A tolerância de
gramatura normalmente aceita para papéis finos é de ± 5 %.
Na figura 19.01 é mostrada a balança digital de gramatura modelo BG-2000 da
REGMED.

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Existe um interrelação muito forte


entre permeância ao ar, espessura,
umidade, aspereza e gramatura.
Praticamente, não se pode modificar
nenhuma destas características sem
afetar as demais. Se por exemplo, se
reduz a gramatura mantendo a espessura
Figura 19.01 (FONTE: www.regmed.com.br) e a umidade constante, a permeância ao
ar e aspereza aumentará de valor.
Também, se não for possível alterar a espessura de um papel e se deseja dispor de uma
menor aspereza, deverá se incrementar a gramatura para possibilitar uma maior calandragem
do papel, o qual aumentará sua densidade aparente.
No caso dos papéis para impressão e escrita, a especificação da gramatura de um papel
está na razão direta do uso a que se destina e daí sua importância. Como exemplos práticos:
emprega-se um papel de baixa gramatura para uma correspondência e ao contrário em se
tratando de uma capa de livro, um convite de casamento ou uma ficha de registros.
Economicamente, é o fator altamente considerável (dentro de certos limites), pois dois tipos
de papel com propriedades hipoteticamente iguais, porém de gramaturas diferentes, o de
menor gramatura seria o mais desejável já que permitiria fabricar mais exemplares por peso.
Evidentemente, trata-se apenas de um exemplo, pois a variação de gramatura poderia
acarretar modificações de outras características que veremos a seguir, como espessura,
resistência, opacidade, etc.
No caso do papelão corrugado, a gramatura poderá afetar a qualidade do
rebobinamento, ocasionando posteriores problemas na conversão. Pode afetar também o peso
final da caixa formada.
Para os papéis usados na sacaria, a escolha da gramatura está vinculada a capacidade
do papel atender as propriedades ligadas a resistência e a permeância ao ar. O ideal é que,
atendidas estas propriedades a gramatura seja a menor possível pois estará economizando
matérias primas, especialmente fibras.

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19.1.2. Espessura ou “caliper”


Espessura ou "caliper", é definida como a distância perpendicular entre as superfícies
principais do papel e papelão (cartão) sob condições específicas. O controle de espessura é
importante em todos os tipos de papel e papelão e, em particular, naqueles cujos
beneficiamentos e/ou utilização exigem rigor neste aspecto. Por exemplo, a espessura de um
livro está diretamente relacionada a espessura do papel usado.
A comprovação da espessura do papel como valor absoluto tem sentido quando se trata
de comprovar se esta medida corresponde a o que se havia solicitado. Devido ao fato do
conteúdo de umidade afetar a espessura e, muitos papéis e papelões mostrarem alguns graus
de compressibilidade, várias medidas são feitas em áreas específicas das amostras de teste sob
condições ambientais controladas, e sua medida média é então considerada como
representativa da espessura deste papel em particular.
Não obstante, resulta em geral muito mais interessante comprovar como característica
do papel a uniformidade desta espessura dentro da folha e de uma folha a outra de uma
mesma fabricação. Pela forma com que se constitue a folha de papel durante a fabricação
pode compreender-se que sua superfície não é perfeitamente plana e que pode apresentar
irregularidades em uma ou outra face que afetam diretamente a espessura nestes pontos.
A uniformidade da espessura também é um fator de extrema importância como é caso
de alguns tipos de papel em que se requer pouca variação transversal e longitudinal. Um perfil
transversal irregular de espessura produzirá defeitos conhecidos no mundo papeleiro como
“canais”, “pneus”, “beirada mole”, etc.
O teste para determinação da espessura
é feito em aparelho chamado micrômetro
(figura 19.02), cuja característica principal é
ter dois discos planos e paralelos entre os
quais se coloca a amostra do papel. O disco
inferior é fixo e o superior é móvel na
direção perpendicular ao outro.
Normalmente o resultado é expresso
Figura 19.02
em milímetros (mm) ou micrometro (um)
(FONTE: www.regmed.com.br)
que também é denominado micra (µm).

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A faixa de espessura vai de 0,0003 polegadas (0,008 mm) para papéis usados em
capacitores até 1 polegada (25,4 mm) ou maior para papelões usados para fins específicos.
A espessura do papel é influenciada pelo gramatura, pela prensagem e calandragem que
o papel sofre, pela refinação das fibras antes da folha ser formada, pelo materiais extras que
são adicionados à folha, pelo tipo de fibra usada e pela umidade da folha. A espessura
aumenta com o aumento do comprimento de fibra usada e da gramatura. Por outro lado, a
espessura diminui com o aumento da refinação, da prensagem e da calandragem. O Aumento
do conteúdo de umidade, propicia uma maior calandragem, diminuindo a espessura. Por outro
lado, existem propriedades que são dependentes da espessura, como a rigidez a flexão, por
exemplo.
Para os papéis de impressão e escrita, a espessura é importante, também, para obtenção
de bons resultados em impressoras tanto rotativas como de alimentação por folhas, onde
variações de espessura produzirão rugas (fichas ou enfichas) no momento da impressão.
As variações de espessura na folha de papel tem, também, como consequência
diferenças de intensidade na cor da tinta impressa devido a pressão irregular no momento da
transferência. Logicamente, se o ponto de impressão está regulado a uma pressão
determinada, as zonas de papel que apresentam maior espessura sofrerão maior pressão e as
zonas com menos espessura terão uma menor pressão. A espessura das películas de tinta
transmitidas variarão de acordo com a espessura do papel. Além disto, a maior pressão
existente nas zonas mais espessas do papel provocará uma maior penetração da tinta no corpo
do papel, com o que poderá diminuir a opacidade nestas áreas.
No caso dos papéis para impressão e escrita, o miolo de um livro deve se encaixar com
precisão na lombada da capa, cujo vinco é feito numa operação distinta, por exemplo. Na
impressão à cores, tanto num chapado como num reticulado, uma diferença de espessura
provocará diferentes tonalidades. As máquinas que montam os cadernos produzidos com
papéis apergaminhados possuem mecanismos precisos de contagem de folhas.
Segundo a classe e acabamento do papel a uniformidade é maior ou menor. Assim,
papéis offset ou apegaminhados têm uma uniformidade deficiente, enquanto que os papéis
revestidos (“couché”, por exemplo) apresentam uma maior uniformidade de espessura. A
tolerância que normalmente se aceita para a espessura é da ordem de ± 4%.
Uma espessura irregular, para o caso do papelão corrugado, pode causar problemas de
tensão durante o desbobinamento e contribuir para o empanamento das chapas.
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Todos os papéis “kraft” utilizados para embalgens são extremamente dependentes das
suas propriedades mecânicas, assim uma espessura maior pode (para a mesma gramatura)
diminuir o rasgo e a tração, enquanto uma espessura maior (menor?), diminuirá o estouro e as
dobras duplas.
Para os cartões duplex e triplex, a rigidez é a principal propriedade destes produtos,
sendo inversamente proporcional a espessura. Por outro lado, a operação de vincagem é muito
delicada, cobrando uniformidade na espessura do cartão.
Por sua sua vez os papéis “tissue” cujas propriedades tais como a maciez, a absorção e
o alongamento, além do próprio fator de crepe, são dependentes do volume que a folha possa
manter e, portanto, são dependentes da espessura.

19.1.3. Volume específico ou “bulk”


Volume específico ou “bulk” é outro parâmetro muito importante na fabricação de
papel; é um termo usado para indicar o volume de papel em relação a sua massa, e é o
recíproco de massa específica. O “bulk” é calculado a partir da divisão da espessura (em µm)
pela gramatura (g/m2). Esta propriedade está relacionada com muitas outras propriedades da
folha. Uma redução do “bulk” torna a folha mais lisa, mais brilhosas, menos opaca, menos
resistente etc.
Alto “bulk” é desejado em papéis “tissue”, enquanto que para alguns tipos de papéis
específicos para impressão como papel bíblia (“bible paper”) e papel para dicionários
(“dictionary paper”).

19.1.4. Umidade
Teor de umidade é o teor de água no papel em termos percentuais (%). A umidade afeta
várias das características do papel tais como gramatura, resistência, propriedades elétricas,
etc., e é muito importante na qualidade de vários processos de beneficiamento incluindo
revestimento, entintamento, impregnação, calandragem, impressão, etc.
Genericamente, a determinação do teor de umidade é feita da seguinte maneira: pesa-se
o papel, seca-se o mesmo em estufa, pesa-se o papel seco e calcula-se o valor percentual da
diferença de peso sobre o peso do papel antes de secar. Devido ao fato da umidade afetar
fortemente as propriedades do papel, a avaliação das propriedades em laboratório deve ser

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realizada sob uma temperatura e umidade relativa padrões, como foram vistas anteriormente.
Sob condições padrões o conteúdo de umidade de muitos papéis deverá estar entre 7% e 9%.
A umidade do papel é função da umidade relativa da atmosfera e por esta razão é
considerado um material higroscópico. O papel, tal como o cabelo humano e o algodão, é
higroscópico devido a forte atração por moléculas de água exibido no caso da celulose,
hemicelulose e outros componentes das fibras fabricadas a partir da madeira. O conteúdo de
umidade de uma folha de papel é dependente da umidade relativa de sua atmosfera ambiental.
Nos papéis usados para impressão e escrita, a folha cujo teor de umidade não está em
equilíbrio com as condições da sala de impressão está sujeito a perder a sua planicidade. Um
aumento na umidade relativa causa no papel um aumento do conteúdo de umidade e um
decréscimo na umidade relativa faz o papel perder umidade.
A umidade do papel deve ser correta para o processo “offset”, caso contrário resultará
em mau registro, encanoamento, rugas, eletricidade estática e distorção da imagem impressa,
dependendo da estabilidade dimensional do papel, obviamente.
A umidade baixa causa excesso de eletricidade estática. A umidade muito alta causa
dificuldade na secagem da tinta, diminuição da resistência superficial, impresso com baixo
brilho, baixo poder de cobertura e risco de quebras em máquinas rotativas. O papel deve ser
fornecido para impressão com um teor de umidade em torno de 7% e a sala deve estar a,
aproximadamente, 65% de umidade relativa, no caso de países tropicais. Caso não se
verifiquem estas condições, o papel deve permanecer na sala de impressão até que seu teor de
umidade esteja em equilíbrio com a umidade contida no ambiente. A variação do perfil de
umidade causa impressos com aspectos diferentes, perda de registro e irregularidade no
tensionamento da folha.
Para o papelão corrugado, a umidade pode causar encanoamento e ondulação da chapa,
e pode afetar também a colagem do miolo com a capa.

19.1.5. Resistência à tração


Resistência à tração é a força de tensão direta, necessária para arrebentar o papel,
quando aplicada longitudinal ou transversalmente. Nos papéis para impressão, fornecidos em
folhas, a resistência não é um fator muito importante. Contudo, no papel fornecido em bobina,
exige-se que tenha um mínimo de resistência ao rompimento da folha, quando sofre tensão.

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301

A resistência à tração pode ser expressa pela carga de ruptura em quilogramas (kgf), em
gramas por milímetro (gf/mm) ou quilonewtons por metro (kN/m). Estas duas últimas
unidades resultam da divisão da carga de ruptura pela largura do corpo-de-prova. A
resistência à tração pode ser também expressa pelo comprimento de auto-ruptura (km ou m)
que é o comprimento necessário para uma fita de papel romper-se devido ao seu próprio peso,
quando suspensa em uma de suas extremidades.
A resistência a tração aumenta com o aumento do grau de refino, da prensagem, da
colagem superficial, do comprimento da fibra usada e da gramatura diminui com o aumento
do conteúdo de umidade. A redução do conteúdo da carga mineral também aumenta a
resistência à tração, mas pode diminuir a estabilidade dimensional do papel. Uma boa
formação do papel favorece sobremaneira a resistência a tração.
O papel pode também estirar sob pressão sem romper. Esta propriedade de estiramento
ou deformação afeta a tendência do papel a resistir a súbitos impactos. Para um dado
comprimento de ruptura, aumentando a capacidade de estiramento do papel será aumentada a
sua capacidade para absorver energia acima de seu ponto de ruptura. Isto é conhecido como
absorção da energia de tensão. O estiramento aumenta com o aumento da refinação da massa
e influencia a resistência ao rasgo e ao arrebentamento.
A resistência à tração na direção “z” mede a resistência das ligações internas dentro dos
limites das folhas quando é submetido a tensão esticando perpendicularmente ao plano da
folha. Papéis gomados, fitas, e produtos colados, por exemplo, experimentam solicitações na
direção deste tipo e dependem das ligações internas para sua integridade. Cartões multicapas
devem ter boas ligações internas entre placas para desempenhar sua função satisfatoriamente.
Muitos diferentes instrumentos estão
disponíveis para a medição de tração, sendo os
mais apropriados os chamados dinamômetros, os
quais aplicam sobre o papel uma força
uniformemente crescente, até a ruptura, em
condições determinadas de largura e
comprimento. Os corpos-de-prova devem ser
cortados na direção longitudinal e transversal Figura 19.03
devido a diferenciação das características do (FONTE: www.regmed.com.br)
papel em diferentes direções (anisotropia).
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Na figura 19.03 é mostrado o dinamômetro DI-21 da REGMED.

19.1.6. Resistência a úmido


A resistência a tração adquire uma característica própria e distinta quando se considera
o papel em situação úmida. Na verdade, se trata exatamente da mesma propriedadeque se
mede, porém, quando o papel está completamente saturado com água e se costuma expressar
como uma relação percentual entre a resistência a tração a úmido e a resistência a tração a
seco tal como temos visto anteriormente.
Quando os papéis se umidificam, costumam apresentar uma resistência à tração que
oscila entre uns 5 a 50% da que possui no estado seco. Na fabricação de papel, se consegue
aumentar a resistência à tração a úmido adicionando-se algumas resinas na massa as quais
asseguram as ligações entre as fibras, apesar da presença de água.
A resistência a úmido tem especial importância em alguns tipos de papéis tais como
papel fotográfico, toalhas de papel, sacolas de papel, envólucros de alimentos úmidos,
etiquetas, mapas, papéis para filtro etc.
Para se medir a resistência a úmido, utiliza-se o mesmo equipamento usado para medir
resistência a tração, utilizando-se, porém, amostras saturadas com água (retirando-se o
excesso de umidade com a utilização de papéis secantes).

19.1.7. Alongamento
Esta característica do papel está muito relacionada com a resistência a tração que foi
vista anteriormente e também com a resistência ao arrebentamento que será visto no próximo
item. Na realidade, é uma característica que apresenta o papel antes que se inicie seu rasgo ou
seu arrebentamento quando submetido a um esforço. Nem sempre uma maior resistência ao
arrebentamento ou a tração supõe um maior alongamento.
O conceito prático de alongamento pode definir-se como a porcentagem de extensão
que sofre um determinado papel ao estar submetido a uma tensão gradualmente crescente, no
momento em que produz sua ruptura.
É evidente que o alongamento terá valores distintos na direção da fibra em relação aos
que se obtém na direção contra a fibra, sendo que estes últimos serão maiores que os
primeiros pela maior elasticidade da ligação entre fibras. Por outro lado, a umidade relativa
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favorece a flexibilidade do papel e, portanto, com seu aumento se obtém um crescimento do


alongamento antes da ruptura.
Para avaliar a resistência ao alongamento se realiza exatamente o mesmo ensaio que
descrevemos ao falar da resistência a tração. Trata-se, portanto, de medir o alongamento que
se produz na amostra de papel ensaiada no momento da ruptura.

19.1.8. T.E.A. (“Tensile Energy Absorption”)


O T.E.A (“Tensile Energy Absorption”), em português “absorção da energia de tensão”,
é o mais importante parâmetro para a sacaria, fornecendo uma boa imagem de resistência e
qualidade do saco de papel, e foi nele a concentração de esforços e investimentos para a
melhoria da qualidade e redução de custos. O principal foi a microcrepagem com o papel
extensível. Com o desenvolvimento desta tecnologia, já usada em praticamente todas as
produtoras de papel para a sacaria, foi desenvolvido o refino em alta consistência, novas
seções de prensagem e túneis de secagem. Com o papel extensível se buscou um papel de
maior resistência com valorização dos testes em sentido de máquina. No refino em alta
consistência se otimizou o tratamento da fibra preservando-a e obtendo altos valores nos
testes também em sentido transversal a máquina.
O T.E.A. pode ser definido como sendo o trabalho total dado por unidade de área do
papel quando forçado até a ruptura. É a combinação do total de rigidez conseguida através da
microcrepagem e da força de tensão a qual demonstra a máxima força que o papel suporta
sem quebra. O índice do T.E.A. é a absorção de tensão dividida pela gramatura.
Se em um
dinamômetro, acoplado a
um registrador, testamos
uma amostra de papel a
tração, nas duas direções
principais (MD e CD),
obteremos curvas
Figura 19.04
chamadas reogramas,
(FONTE: Artigo “Técnicas de fabricação de papel para
análogas à figura 19.04.
embalagem” – ABCTP)

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Desta figura podemos notar que o papel é mais resistente em direção máquina (MD) do
que na direção transversal (CD), enquanto a elongação em CD é bastante maior que em MD.
Definimos a área sob a curva tensão-deformação como T.E.A., ou seja, o trabalho de ruptura
(figura 19.05), que é proporcional à energia que um papel pode receber até a sua ruptura.
Também definimos a ruptura por
tração, à resistência limite de uma
amostra de papel, submetida a um
esforço crescente e, a elongação, como a
deformação máxima que suporta a
amostra até romper-se. Normalmente,
expressamos a carga de ruptura como
Figura 19.05
N/m e a elongação em %, então a área
(FONTE: Artigo “Técnicas de fabricação
sob a curva reograma será expressa
de papel para embalagem” – ABCTP)
como: N.m/(m.m) = J/m2.
Na figura 19.06 são apresentadas as curvas tensão-deformação para dois tipos de papel.
O papel A rompe a um valor de tensão maior que o papel B, enquanto que o papel B alonga
mais que A até romper-se. Como a área sob a curva tensão-deformação do papel B é maior do
que o papel A, dizemos que o papel B tem maior T.E.A. Para uma determinada carga de
ruptura, qualquer incremento na elasticidade do papel, incrementará o T.E.A. Por isto, é que a
refinação em alta consistência e a microcrepagem, por exemplo, são tão importantes.

Figura 19.06
(FONTE: Artigo “Técnicas de fabricação de papel para embalagem” – ABCTP)

Altos valores de T.E.A. possibilitam a redução do número de folhas e da gramatura da


folha no saco de papel. Este parâmetro se relaciona diretamente com os resultados de “Drop
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teste”. O T.E.A. balanceado é o critério básico par a construção de um bom saco. Com a
obtenção de altos T.E.A. temos uma sensível redução nos custos de papel na sacaria.
Sabe-se que a qualidade do saco depende da qualidade do papel. Tendo os papéis de
mercado um desenvolvimento quase uniforme nas propriedades do papel no sentido de
máquina, as propriedades transversais são as que podem ter maior desenvolvimento e
importância na busca de qualidade e competitividade. Os papéis extensíveis contribuíram de
forma acentuada na qualidade e custos para a confecção da sacaria. O projeto de uma sacaria
depende do conhecimento das qualidades de um papel “kraft”, em realidade das propriedades
físicas do papel. Isto é conhecido pelas médias dos valores de T.E.A. nos sentidos MD e CD.
E com pressão cada vez maior para reduzir o número de folhas de um saco, estes cálculos se
tornam essenciais.
Em 1965, McKee e Whitsitt apresentaram um trabalho mostrando a relação entre o
“Drop teste” de um saco multifolhas e os valores de T.E.A. do papel do saco. Esta relação
permanece válida até hoje, apesar da evolução que houve na tecnologia de fabricação de papel
para sacaria. Os esforços iniciais de desenvolvimento foram no sentido de melhorar as
propriedades MD, com o desenvolvimento do extensível. Posteriormente, vieram os
desenvolvimentos das propriedades CD com o refino em alta consistência e os secadores a ar
(“Fläkt Dryer”). Porém, as propriedades MD e CD continuaram a serem consideradas
individualmente, isto por terem processos diferentes no desenvolvimento e obtenção das
propriedades do T.E.A. em cada direção.
Entretanto, o fabricante de saco necessita conhecer a força total do saco independente
dos métodos de fabricação usados. Um só valor é dado pelo T.E.A. BALANCEADO que é
calculado a partir dos T.E.A.s MD e CD utilizando a seguinte fórmula:
T.E.A. BALANCEADO = (T.E.A. MD + C*T.E.A. CD)/(1 + C)
Onde C é uma constante que varia com as dimensões do saco, o tipo de “drop” e o
número de folhas. Para “drop teste” “flat” considera-se C igual a 1,3 para 4 folhas; 1,7 para 3
folhas; 2,2 para 2 folhas, e 2,7 para 1 folha. Pode-se calcular também o TEA balanceado pelas
fórmulas apresentadas na tabela 19.01:
Nº de folhas Fórmula
4 0,43*T.EA. MD + 0,57*T.E.A. CD
3 0,37*T.EA. MD + 0,63*T.E.A. CD
2 0,31*T.EA. MD + 0,69*T.E.A. CD
1 0,21*T.EA. MD + 0,73*T.E.A. CD
Tabela 19.01 (FONTE: Artigo “Técnicas de fabricação de papel para embalagem” – ABCTP)

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Os benefícios de altos T.E.A. podem ser separados para o conversor e o usuário. Para o
conversor de saco, permite menores gramaturas, a redução de número de folhas com o
conseqüente uso de menos papel para a mesma quantidade de sacos. Uma menor área de
estocagem, e um maior número de sacos por “pallet”, o que representará uma redução nos
custos de transporte. Para o usuário representará uma menor gramatura com a resistência do
saco mantida, menos quebras, uma área de estocagem menor para sacos vazios e custos
reduzidos com sobras.

19.1.9. Resistência ao rasgo interno e inicial


A resistência ao rasgo interno é a quantidade de trabalho necessário para rasgar uma
amostra de papel através de uma distância determinada, depois de ter sido iniciado o rasgo na
borda. Obviamente, esta propriedade é distinta se levarmos em consideração a direção da fibra
ou contra a fibra.
A resistência ao rasgo inicial, também conhecida como resistência ao rasgo nas bordas,
difere essencialmente da resistência ao rasgo interno. Neste caso, o esforço que pode produzir
a ruptura não é somente a torção, como também o de tração e corte. O agente principal que
provoca o rasgo inicial é a aplicação de uma força momentânea do tipo externo cujo efeito
depende das tensões de cisalhamento que se encontram presentes, da espessura e da
elasticidade do papel.
Mesmo sendo uma característica muito importante, especialmente no que se refere a
utilização de papéis em bobina, a resistência ao rasgo inicial na prática tem uma incidência
relativamente pequena, principalmente, pela dificuldade de sua medição.
Pode haver consideráveis diferenças entre a resistência ao rasgo interno e a resistência
ao rasgo inicial de um papel. O papel celofane, por exemplo, tem uma alta resistência ao rasgo
inicial e muito baixa resistência interna ao rasgo. A adição de polímeros elastoméricos
aumenta o rasgo inicial. Para facilitar o entendimento, na continuidade deste texto se fará
referência a resistência ao rasgo como representante do rasgo interno, por ser esta a
propriedade mais usada pelos papeleiros.
A resistência ao rasgo é uma boa medida das condições gerais das fibras em sua
utilização como matéria prima. Se algo tem dado errado na fábrica de polpa ou na planta de
branqueamento, e a resistência da polpa é reduzida como um resultado disto, o rasgo detectará
muitas vezes a mudança de processo.
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O controle da resistência ao rasgo é particularmente necessário nos papéis em bobinas


(que sofrem tensões diferentes), papéis tissue, papéis para embalagem, papel moeda e todos
aqueles que sofrem “manuseio” severo como livros e revistas. Convertedores de papéis para
obtenção destes produtos dependem, muitas vezes, mais da resistência ao rasgo do que
qualquer outra propriedade do papel.
Resistência ao rasgo é usualmente maior quando medida contra a fibra do que a favor
da fibra porque mais fibras são alinhadas na direção da máquina do que na direção
transversal. O aumento do conteúdo de umidade (até um determinado valor), do comprimento
de fibra usada e da gramatura, aumenta a resistência ao rasgo. Com o aumento do grau de
refino acima de um determinado valor, da prensagem, do conteúdo de carga mineral e da
colagem superficial haverá uma diminuição da resistência ao rasgo.
O principal método usado para avaliar a resistência ao rasgo mede a resistência interna
ao rasgo do papel, e é comumente conhecido como o teste de rasgo ou teste Elmendorf, o
nome do inventor deste instrumento padrão. Na figura 19.07 são mostrados, da esquerda para
a direita um Elmendorf analógico e um digital modelo, ambos do modelo ProTear®.

Figura 19.07

19.1.10. Resistência às dobras duplas


Resistência a duplas dobras é o número de duplas dobras (dobras de uma face para
outra face) que o papel resiste até sofrer uma quebra. Todos papéis têm comportamento
diferente quanto à resistência mecânica, se a força é aplicada longitudinal ou transversalmente
à sua formação. As resistências à tração e as duplas dobras são maiores no sentido

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longitudinal e menores no sentido transversal. No caso de resistência ao rasgo, como vimos, o


comportamento é inverso.
O aumento do conteúdo de umidade (até um certo valor), da refinação, da prensagem,
da colagem superficial, do comprimento de fibra usada e da gramatura, resultará em aumento
no valor de dobras duplas. O aumento do conteúdo de carga mineral, reduzirá este valor.
Muitos instrumentos estão disponíveis para medição de dobras duplas. Em cada teste,
se medirá como resultado do teste o número de duplas dobras que a amostra suportará antes
da ruptura.
Os exemplos típicos de papéis que devem ter alta resistência a duplas dobras são
aqueles usados para confecção de dinheiro, mapas e cartas náuticas.
Quando um papel devido ao seu uso final solicita repetidas dobras, como no caso de
papéis apergaminhados e papéis moeda, um teste de dobras duplas é aplicável. Este teste
mede uma combinação de resistência à tração, elongação, flexibilidade, resistência a
compressão e outros esforços e tensões de corte.

19.1.11. Resistência ao arrancamento superficial


É a capacidade do papel de se opor ao rompimento e à remoção de fragmentos na sua
superfície, quando em contato com algum material. As tintas têm certo grau de pegajosidade
(“tack”), logo, é de se esperar que elas exerçam uma força sobre a superfície do papel à
medida que a película da tinta se separa da placa.
Muitos processos de impressão e conversão requerem que a superfície do papel
apresente suficiente resistência superficial ao arrancamento, principalmente aqueles de
velocidade alta, de maior contato com o papel, e de tinta com alto pegajosidade. No processo
“offset”, a tinta é mais espessa e com mais pegajosidade do que no processo tipográfico. Por
isso, aparece mais frequentemente, em “offset”, o problema do arrancamento.
Comumente são usados dois tipos de testes para se medir a resistência ao arrancamento
superficial:
a) Aparelho IGT: Este é particularmente usado em papéis para impressão tipográfica ou
“offset”, e principalmente em papéis “couché”. O princípio de funcionamento do aparelho
IGT é imprimir o papel com tinta padrão e com velocidade uniformemente acelerada. Depois
se verifica em que ponto iniciará o arrancamento.

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b) Teste de “Dennison” (figura 19.08): Neste teste são usados vários bastões de cera
cujas forças adesivas são diferentes. Os bastões têm numeração crescente à medida que
aumenta o poder de adesão. Estes bastões são derretidos e colocados sobre a superfície do
papel. Na série de ceras, a de número mais alto que não alterar a superfície do papel,
corresponde ao resultado numérico do teste. O teste de “Dennison” não é aconselhado para
papéis revestidos porque a cera aquecida derrete os componentes do revestimento, fornecendo
uma falsa leitura.

Figura 19.08

19.1.12. Resistência às dobras duplas


Resistência a duplas dobras é o número de duplas dobras (dobras de uma face para
outra face) que o papel resiste até sofrer uma quebra. Os exemplos típicos de papéis que
devem ter alta resistência a duplas dobras são aqueles usados para confecção de dinheiro,
mapas e cartas náuticas.
Todos os papéis têm comportamento diferente quanto à resistência mecânica, se a força
é aplicada longitudinal ou transversalmente à sua formação. A resistência à tração e às duplas
dobras são maiores no sentido longitudinal e menores no sentido transversal. No caso de
resistência ao rasgo, como foi vistos, o comportamento é inverso.
Quando um papel devido ao seu uso final solicita repetidas dobras, como no caso de
papéis apergaminhados e papéis moeda, um teste de dobras duplas é aplicável. Este teste
mede uma combinação de resistência à tração, elongação, flexibilidade, resistência a
compressão e outros esforços e tensões de corte.
O aumento do conteúdo de umidade (até um determinado valor), da refinação, da
prensagem, da colagem superficial, do comprimento de fibra usada e da gramatura, resultará

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em aumento no valor de dobras duplas. O aumento do conteúdo de carga mineral reduzirá este
valor.
Muitos instrumentos estão disponíveis para medição de dobras duplas. Em cada teste,
se medirá como resultado do teste o número de duplas dobras que a amostra suportará antes
da ruptura.

19.1.13. Resistência ao arrebentamento


A resistência ao arrebentamento é definida como a pressão necessária para produzir o
arrebentamento do material, ao se aplicar uma pressão uniformemente crescente, transmitida
por um diafragma elástico, de área circular. Esta propriedade é geralmente um bom indicador
da resistência ou da tenacidade do papel, sendo comumente chamado de “Mullen” ou estouro.
Apesar de sua popularidade, não parece haver uma forte correlação entre resistência ao
arrebentamento e as exigências de uso final do papel, exceto no caso dos “linerboard” usados
por recipientes de embarcação. Para este produto, resistência ao arrebamento é crítico como
um teste de controle na fábrica de papel. Também, no caso de sacos usados para embalagens
se considera a resistência ao arrebentamento como uma propriedade importante.
A resistência ao arrebentamento aumenta com a crescente refinação, para decrescer
com o excesso desta, por causa do maior número de fibras cortadas neste último caso. As
variações na gramatura e espessura causam geralmente variação na resistência ao
arrebentamento, assim como o uso de aditivos e colas afeta consideravelmente o
comportamento do papel e o resultado do ensaio. A resistência ao arrebentamento aumenta
com o aumento da compactação da folha (calandragem), da prensagem, da colagem
superficial, do comprimento de fibra usado. Já, o aumento do conteúdo de umidade e de carga
mineral, reduzirá a resistência ao arrebentamento.
O teste mais comumente empregado é feito no equipamento “Mullen Tester” (figura
19.09, apresentando um desenho explicativo e o equipamento da REGMED modelo MTA-
2000P) que aplica ao papel uma pressão hidráulica uniformemente crescente, mediante um
diafragma elástico de área padronizada. A resistência ao arrebentamento é medida pela
fixação da amostra, submetendo-a a uma pressão de um dos lados. Isto causa a amostra uma
deformação em um hemisfério até a falha ocorrer por ruptura. Usualmente, o resultado é
expresso em “lb/pol²” ou “kg/cm²”.

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Figura 19.09 (FONTES:Características de los papeles – Casals www.regmed.com.br)

Para o papelão ondulado, um valor abaixo da especificação mínima pode resultar na


formação de uma chapa que não atinja as especificações do cliente.

19.1.14. Resistência à flexão


A rigidez à flexão, ou simplesmente rigidez, é a capacidade que tem o papel de se opor
ao arqueamento ou curvatura. Em outras palavras, é a habilidade que tem o papel ou cartão de
resistir a deformação sob tensões de flexão. Um papel não rígido é aquele que se curva
facilmente. A rigidez é muito importante em cartões e cartolinas, especialmente aquelas para
fichários. No caso de impressão “offset”, o papel muito flexível dificulta a alimentação,
diminuindo a produtividade.
Cartões de jogos, “posters”, copos e chapas fotográficas são exemplos de papel que
deve ter boa rigidez em uso. Com tissue, toalhas, e guardanapos é a falta de rigidez que é uma
importante propriedade. Os principais fatores que afetam a rigidez do papel são a espessura, o
módulo de Young da polpa, as contrações da folha durante a secagem, a umidade, o
tratamento superficial sobre a folha, densidade, gramatura e espessura, sendo esta última a
mais importante propriedade no controle da rigidez.
O aumento da refinação (até determinado valor), da prensagem (até determinado valor),
da colagem superficial, do comprimento de fibra usado e da gramatura, aumenta a rigidez do
papel. Por outro lado, o aumento do conteúdo de umidade, da calandragem e do conteúdo de
carga mineral diminuirá a rigidez do papel.
Uma maneira muito prática e barata de aumentar a rigidez no sentido máquina é
aumentar a tensão da folha durante a secagem, desta forma impedindo-a de encolher. O maior
problema ainda a ser resolvido é manter alta a rigidez do papel na presença de alta umidade
relativa do papel.
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A rigidez é maior na direção da máquina, daí cartões de indexação e pastas de arquivos


são fabricados assim que sua direção de fibra sejam verticais durante o uso. Folhas para serem
usadas em máquinas copiadoras são cortadas ao longo da fibra de forma que terão suficiente
rigidez para alimentar satisfatoriamente as máquinas.
Muitos instrumentos estão disponíveis
para medir a rigidez. Entre eles estão os
testes de “Gurley”, “Taber”, e “Clark”. O
método mais conhecido é o da rigidez
“Taber” que consiste em medir a resistência
que o papel oferece ao seu encurvamento. As
amostras para o teste são cortadas em
tamanhos padronizados, no sentido
longitudinal e transversal, sendo o resultado
expresso, geralmente, com a média destas
duas medições. A figura 19.10 mostra o Figura 19.10 (FONTE: www.regmed.com.br)
medidor de rigidez RI-5000.

19.1.15. Resistência a úmido


A resistência à tração adquire uma característica própria e distinta quando se considera
o papel em situação úmida. Na verdade, se trata exatamente da mesma propriedade que se
mede, porém, quando o papel está completamente saturado com água e se costuma expressar
como uma relação percentual entre a resistência à tração a úmido e a resistência a tração a
seco tal como temos visto anteriormente.
Quando os papéis se umidificam, costumam apresentar uma resistência à tração que
oscila entre uns 5 a 50% da que possui no estado seco. Na fabricação de papel, se consegue
aumentar a resistência à tração a úmido adicionando-se algumas resinas na massa as quais
asseguram as ligações entre as fibras, apesar da presença de água.
A resistência a úmido tem especial importância em alguns tipos de papéis tais como
papel fotográfico, toalhas de papel, sacolas de papel, invólucros de alimentos úmidos,
etiquetas, mapas, papéis para filtro, etc.

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Para se medir a resistência a úmido, utiliza-se o mesmo equipamento usado para medir
resistência à tração, utilizando-se, porém, amostras saturadas com água (retirando-se o
excesso de umidade com a utilização de papéis secantes).

19.1.16. Porosidade
Muito do ar no papel reside nos poros na estrutura da folha enquanto o restante está
presente no interior das fibras. A relação percentual entre o somatório dos volumes dos poros
em relação ao volume total de uma folha é chamada de porosidade da folha. A porosidade é
ocasionalmente utilizada em estudos de laboratórios ao passo que uma propriedade relativa,
permeância ao ar, é que é frequentemente utilizada em ambientes industriais.
A permeância ao ar é definida como a propriedade do papel que permite fluir através da
folha um fluxo de ar sob uma diferença de pressão conhecida. Não se deve confundir os
termos porosidade (fração de espaços vazios) com permeância ao ar (capacidade de ser
atravessada pelo ar), ainda que, geralmente, um papel muito poroso será também bastante
permeável.
Não se deve também confundir porosidade com absorvência. A porosidade se refere a
todo o corpo do papel enquanto que absorvência depende fundamentalmente de sua estrutura
superficial.
Outro termo normalmente usado é resistência ao ar, que é o inverso da permeância ao
ar. A porosidade é dada em percentual (%) e a permeância ao ar é dada em mililitros por
segundo (ml/s) ou micrometros por Pascal.segundo {um/(Pa.s)} e a resistência ao ar é medida
em segundos por 100 mililitros (s/100 ml).
Os aparelhos que medem a permeância ao ar são chamados porosímetros (prova de que
os dois termos porosidade e permeância ao ar, são usados ás vezes com o mesmo significado).
Existem vários tipos de porosímetros como, por exemplo, os equipamentos denominados por
“Schopper”, “Bendtsen”, “Sheffield”, “Gurley”, “Bekk”, “Vaso de Mariotte”, etc., mas, todos
eles funcionam baseados no mesmo princípio: induzir a passagem de ar através do papel e
medir esta passagem.
A diferença básica é que, os três primeiros equipamentos, por exemplo, permitem
determinar o volume de ar que atravessa a superfície do papel, enquanto que o “Gurley” mede
o tempo (em segundos) necessário para que um volume de ar passe através de uma

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determinada superfície do papel. Devido a isto, todas as vezes que falamos de um valor de
permeância ao ar, devemos mencionar o tipo de aparelho usado para a medição.
No “Gurley” (figura 19.11) a passagem de ar através do papel é provocada pelo
deslizamento livre de um cilindro interno, graduado em cm2, em um cilindro externo contendo
óleo mineral. O resultado é dado por um cronômetro com a finalidade de medir o tempo em
segundos gastos para um determinado volume de ar. Normalmente o volume fixado é de 100
cm3 (100 ml), mas se o papel oferece grande resistência à passagem do ar, pode-se fixar um
volume menor (50 cm3, por exemplo) e se a resistência for pequena fixa-se um volume maior
(300 cm3, por exemplo).

Figura 19.11(FONTES:Características de los papeles – Casals)

O aumento do comprimento de fibra usada aumenta a permeância ao ar, enquanto que


o aumento do conteúdo de umidade, da refinação, da prensagem, da colagem superficial, da
calandragem, da gramatura e do conteúdo de carga mineral, diminuem a permeância ao ar. A
permeância ao ar é uma conseqüência, principalmente do grau de refinação e das fibras que
compõem o papel, mas vários outros fatores também podem influenciar os seus resultados,
tais como: distribuição de fibras, densidade, teor de carga, prensagem, calandragem, etc.
O controle da permeância ao ar pode ser usado como um meio de indicação de
resistência mecânica, grau de absorção e também como um fim em função da utilização do
papel, como os destinados a filtro, onde ela indica o poder de filtração.
Os papéis para impressão e escrita com alta permeância ao ar são normalmente
chamados de macroporosos ou “abertos” e se caracterizam pelo alto consumo de tinta durante
a impressão, enquanto que no caso inverso são chamados de microporosos ou “fechados” e
podem causar repinte após terem sido impressos, pois influem também no tempo de secagem

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das tintas pastosas. Por outro lado, porém, papéis com alta permeância ao ar podem resultar
em problemas na alimentação da folha de papel em máquinas com respeito as chamadas
ventosas de sucção (chupetas). Esta sucção em algumas máquinas pode ser regulada, mas
quando a permeância ao ar varia de folha para folha, ou numa mesma folha, as conseqüências
podem ser desastrosas.
As operações de revestimento (“coating”) e impregnação (“saturating”) reduzem a
permeância ao ar do papel. Os papéis “couché” por ter baixa permeância ao ar podem
apresentar problemas se se imprime em bobina com secagem por calor, pois o vapor d´água
gerado pela umidade interior não podendo atravessar a camada de revestimento, produzirá
bolhas superficiais.
Para o papelão corrugado, um valor de “Gurley” baixo afeta o funcionamento dos
equipamentos que utilizam vácuo para segurar a chapa; um valor “Gurley” alto retarda a
absorção da tinta, diminuindo a velocidade de impressão das caixas.
A permeância ao ar é importante para a performance de uso final de muitos papéis. Por
exemplo, papéis para sacos, papéis absorventes, papéis filtro, e papéis toalhas requerem alta
permeância ao ar, enquanto que papéis a prova de gorduras (“grease-proof”) devem ter baixa
permeância ao ar.

19.1.17. Absorção de água


É a resistência à penetração de água. A colagem é importante nos papéis para impressão
“offset”, flexografia ou outros novos processos produtivos, onde a água se faz presente. Em
outras palavras, a colagem é muito importante para papéis que terão de entrar em contato com
algum líquido.
Há várias maneiras de se medir a colagem, como por exemplo: teste de “Cobb”, ensaio
de “Carson”, “Klemm”, Hércules, ensaio da pena (colagem à tinta ou processo de riscos),
ângulo de contato e imersão em água.
No teste de “Cobb”, que é o ensaio mais popular no meio papeleiro, corta-se e pesa-se
uma folha de papel. Coloca-se a folha em contato com um líquido (água, por exemplo),
usando-se o aparelho “Cobb”, por um tempo determinado (1 minuto). Eliminando-se o
excesso do líquido sobre a folha, e pesa-se a folha outra vez. A diferença de peso é a
quantidade do líquido que foi absorvido pelo papel. Os resultados são extrapolados para 1
(um) m2 e dados em g/m2, o que significa a quantidade em gramas do líquido que foi
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absorvido por um metro quadrado do papel. A figura 19.12 apresenta o equipamento de


medição de “Cobb” da REGMED.
Para cada uso final, o papel deve ter
uma faixa de colagem. Para exemplificar,
vamos citar os papéis para impressão e
escrita, que não podem ser pouco colados,
pois os caracteres impressos sairiam borrados
(excesso de ganho de ponto), e também não
podem ser demasiadamente colados pois
dificultaria a secagem da tinta, provocando Figura 19.12 (FONTE: www.regmed.com.br)
sujeira e borrões.
Para o papelão ondulado, o cartão com pouca colagem pode absorver a água da cola
utilizada para unir o miolo ao cartão, acusando uma fraca colagem; o cartão com alta colagem
pode inibir a penetração da cola, resultando em uma fraca colagem; a absorção rápida da água
da tinta resulta na variação da tonalidade.

19.1.18. Formação
A estrutura interna do papel definida como grau de dispersão com o qual as fibras e
demais constituintes são distribuídos no papel, também chamada de formação interna ou
simplesmente, formação, tem mais importância no comportamento do papel do que
normalmente lhe conferem, uma vez que influencia várias outras propriedades do papel como
permeância ao ar, opacidade, estabilidade dimensional, resistência à tração, ao rasgo, ao
arrebentamento, dupla face, etc.
O conceito de formação se refere à uniformidade, em quantidade e qualidade, em que as
fibras são distribuídas no papel. No nível físico, poderíamos comparar esta característica à
uniformidade com que o papel transmite a luz. A expressão “look trough” dá uma idéia do
que se procura na visualização contra a luz, isto é, uma nebulosidade maior ou menor que ,
embora dependa da experiência do observador, sempre poderá ser comparada entre duas
folhas. Assim, pois, o melhor papel será aquele que apresenta um aspecto uniforme contra a
luz o mais próximo possível ao que observaríamos através de uma lâmina de plástico
matizada (figura 19.13) ou, conforme alguns autores, seria de uma aparência igual a de uma
lâmpada fluorescente.
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Em papéis de impressão, uma formação pobre produz impressão não uniforme, e em


papéis para escrita diminui a aparência. A formação é influenciada pelas variações na
preparação de massa tal como grau de refino, por exemplo, pelas operações da máquina de
papel tais como relação jato-tela, freqüência do rolo sacudidor (“shaking”), etc. e pelas
variáveis referentes às matérias primas tais como comprimentos de fibras e a tendência das
fibras a floculação (agregado) na caixa de entrada.

Figura 19.13

Para dispor de uma boa qualidade na impressão, principalmente quando se imprime


grandes áreas, a distribuição das fibras deve ser o mais uniforme possível. Se existe em
determinadas zonas agrupamentos de fibras de distinta espessura ou, simplesmente, uma
maior presença destas fibras, a resposta de muitas outras características do papel opacidade,
estabilidade dimensional, resistência, etc., serão claramente distintas naquelas áreas. Devido a
maior acumulação de fibras, haverá uma pressão muito maior exercida pela calandra naquela
zona causando uma série de inconvenientes como níveis de aspereza diferenciados.
Não só a distribuição tem importância quanto a composição do papel, uma vez que sua
natureza também é um fator importante. Não é o mesmo dispor de fibras de madeira que
dispor de fibras de algodão ou linho. Os vários tipos de madeira que se emprega para a
fabricação do papel também determinam seu comportamento quanto a formação. A pasta
mecânica de madeira, por exemplo, dá uma boa opacidade, uma boa elasticidade na impressão
e uma alta absorvência a tinta, porém, apresenta uma brancura relativamente pobre e uma
certa fragilidade.
Porém, nem tudo são fibras na formação do papel. Os materiais de carga e os aditivos
também devem ser considerados e devem ser escolhidos adequadamente para aumentar a
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opacidade, a brancura ou textura; para reduzir a absorvência da tinta, para melhorar as


qualidades mecânicas, etc. A medida que se aumenta a porcentagem destes materiais no papel
se vai reduzindo o tamanho dos espaços vazios e dos capilares em seu interior.
Existem vários instrumentos para medir a uniformidade da formação com base na
quantidade de luz transmitida através do papel. Este sistema trabalha pela varredura da
superfície fazendo atravessar um raio estreito de luz progressivamente por todos os pontos da
amostra a analisar. A luz transmitida se recolhe mediante célula fotoelétrica pelo lado
contrário do papel e se registram as flutuações bem seja em um indicador de agulha, em forma
de gráfico sobre o papel ou com ajuda de um dispositivo digital que nos pode dar valores
médios, mínimos e máximos.

19.1.19. Direcionalidade
Os termos direção de máquina (em inglês: “Machine Direction” - MD) e direção da
fibra são definidos como a direção do papel paralela a direção de movimento da tela na
máquina de papel, enquanto que a direção perpendicular a direção da fibra é denominada
direção transversal ou direção transversal da fibra (em inglês: “Cross Direction” - CD).
O sentido das fibras é importante para impressão a várias cores. Geralmente o sentido
longitudinal das fibras é paralelo à dimensão maior da folha. O alinhamento preferencial das
fibras na direção da máquina dá ascensão a direcionalidade. Isto significa que uma dada
propriedade pode ter diferentes valores quando medidos em duas direções a ângulos retos em
relação a cada outro na folha (anisotropia).
Ocorrem alguns efeitos do alinhamento das fibras sobre as propriedades do papel como,
por exemplo, na direção longitudinal as dobras duplas, a rigidez, a estabilidade dimensional e
a resistência à tração são maiores do que na direção transversal, enquanto que a resistência ao
rasgo é menor. O papel também se expande e se contrai mais no sentido transversal que no
sentido longitudinal quando sofre o efeito da variação da umidade e, em função disto, o
encanoamento apresenta seu eixo paralelo à direção longitudinal, assim como, no caso das
ondulações, o eixo maior das elipses é paralelo à direção longitudinal.
Os testes práticos (figura 5.14) para identificação dos sentidos longitudinal e transversal
são baseados no fato de que as fibras do papel estão mais dirigidas no sentido longitudinal do
que no sentido transversal e podem ser descritos das seguintes formas:

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 passar a unha do dedo polegar nas bordas da folha de papel, pressionando-a contra o
dedo indicador. O lado paralelo ao sentido transversal apresentará ondulações mais nítidas e
abundantes;
 dobrar a folha de papel de maneira paralela a uma das beiradas e fazer um vinco
pressionando levemente os dedos indicador e polegar. Repetir a operação, fazendo um vinco
perpendicular ao primeiro. O vinco feito no sentido transversal apresentará estrias e quebrados
mais nítidos e abundantes;
 cortar uma folha quadrada de papel e fazê-la flutuar na água. Esta folha se curvará e
o eixo da curvatura será paralelo ao sentido longitudinal do papel.

Figura 19.14 (FONTE: Características de los papeles – Casals)

A direcionalidade influencia muitas propriedades mecânicas do papel, e esta influência


pode ser usada para produzir produtos específicos. Por exemplo, a alta rigidez na direção da
máquina é usada no projeto de pastas suspensas para arquivos e algumas embalagens. Muitas
propriedades do papel podem ser usadas para distinguir direção da máquina da direção
transversal.
Todo o uso final de papéis, cartões e papéis especiais foi desenvolvido com base no
conhecimento desta característica, assim os livros devem ter a lombada paralela à direção
longitudinal ou rótulos devem ter a direção longitudinal paralela à altura do vazilhame.
Estes exemplos são bastante óbvios, entretanto o aspecto comercial do ‘fechamento’ da
máquina obriga, algumas vezes, o usuário a inverter a orientação. Ao indicar o formato do
papel, tem-se como norma indicar em primeiro lugar a largura de fabricação (T) e sempre a
menor para melhor aproveitamento de máquina. Para evitar lapsos coloca-se um traço ou uma

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letra (L) para indicar o sentido longitudinal de fabricação, por exemplo: 66 x 96 ou 66 x 96


(T). Alguns fabricantes consideram que a primeira dimensão é a transversal e a segunda a
longitudinal (96 x 66).
Os papéis para impressão e escrita e os cartões duplex e triplex fornecem dois
exemplos bastante ilustrativos sobre a importência do conhecimento da orientação de fibras.
No primeiro caso, para limitar as deformações da folha, os impressores introduzem as mesmas
nas máquinas de modo que as fibras fiquem em paralelo ao eixo dos cilindros, o que equivale
a dispor a direção das fibras paralela ao lado maior da folha. Deste modo, as maiores
alterações de dimensão ocorrerão no sentido de passagem da folha pela zona de pressão,
sendo então possível compensá-las variando-se a relação dos diâmetros dos cilindros na
máquina “offset”. Esta correção não pode ser feita na direção perpendicular ao eixo do
cilindro. Outra consideração que se deve levar em conta é a possibilidade de se formarem
ondulações na folha de papel, ou seja, se a mesma entra corretamente na impressora, as
ondulações causarão menores incovenientes já que a folha ao passar entre os cilindros pode
anular as ditas ondulações se não forem muito pronunciadas (figura 19.15).

Figura 19.15

No caso dos cartões, como o seu destino sempre será a operação de corte e vinco, o
projeto da embalagem deverá levar em conta qual a direção em que o corte deverá ter
resistência a sua continuidade (ou seja, a própria definição de resistência ao rasgo) e em qual
dimensão deverá o cartão sofrer uma vincagem estável (o contrário seria o efeito mola, o qual
tenta desfazer a dobra produzida pelo vinco (figura 19.16). Normalmente, obtém-se maior
eficiência com o corte e vinco que são realizados n sentido longitudinal.

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Figura 19.16 (FONTE: Caracterização dos produtos – ABTCP)

19.1.20. Dupla face


Durante a fabricação do papel em máquinas de papel “fourdrinier”, a suspensão de
fibras desagua sobre a tela formadora que está em movimento. A folha do papel, já
praticamente formada passa pelos setores de prensagem e secagem, onde entra em contato
com os feltros. Este contato produz marcas distintas, principalmente em máquinas mais
antigas, levando comumente ao fenômeno da dupla face. O lado da tela é a face do papel que
esteve em contato com a tela da máquina de papel e o lado do feltro é o lado do papel oposto à
tela.
A dupla face, portanto, é causada pela não uniformidade da distribuição de
componentes através da espessura da folha quando o papel é formado na máquina de papel e
se refere a diferenças na textura da superfície entre os dois lados da folha de papel, com o lado
tela usualmente sendo mais áspero que o lado feltro. Na maioria dos papéis, a identificação
entre os dois lados é relativamente fácil no caso de máquinas fourdrinier (já no caso de telas
duplas não há diferenças significativas entre um lado e outro), e esta facilidade é crescente em
papéis de gramatura maior, e muito mais difícil, ou quase impossível, em papéis calandrados e
revestidos.
Em virtude da diferença da composição e textura fibrosa dos dois lados e da diferença
das marcas deixadas pela tela e pelo feltro, o papel é, geralmente, mais aberto ou poroso do
lado tela e de textura mais fechada do lado do feltro; além disso, o lado da tela apresenta
marcas finas e regulares, enquanto o lado feltro apresenta marcas maiores e menos regulares.
O lado da tela apresenta menor concentração de carga mineral e fibras de mais baixo

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comprimento (finos) e, também, apresenta maior resistência superficial. A lisura e o brilho


dos dois lados também deverão ser diferentes.
Como os dois lados do papel diferem em algumas características físicas, especialmente
ópticas e por terem comportamentos diferenciados na impressão, é importante saber distinguí-
los um do outro antes da impressão. Baseado nisto pode-se fazer os seguintes testes práticos
 observação direta: Dobrar o papel de modo a que ambos os lados sejam opostos ao
mesmo tempo. Verificar comparativamente os dois lados e observar as marcas regulares e
finas da tela. Usar lente de aumento se for necessário.
 observação com auxílio de carbono: Dobrar uma folha de papel carbono; colocar o
papel entre as faces do mesmo; deslocar o carbono pressionando-o entre o polegar e o
indicador, de modo a deixar marca no papel; verificar, como acima, a marca característica da
tela. Efetuar este procedimento nas duas direções do papel.
 rasgamento: Colocar o papel sobre uma mesa com a direção longitudinal paralelas à
linha de visão, segurar o papel com uma das mãos, puxar o papel para cima efetuando um
rasgo, no princípio, na direção longitudinal e depois, orientando-o gradualmente para a
direção transversal, virar o papel e repetir a operação. Um desses cortes mostrará um
serrilhado mais acentuado do que o outro, principalmente na curva do rasgo. O corte mais
serrilhado é produzido quando o lado da tela estiver para cima.
 diferença de cor: Nos papéis brancos que usam branqueamento ótico, o lado da tela é
o mais branco. A diferença é maior quanto maior for a incidência de luz ultravioleta, ou seja,
observa-se melhor com luz do sol do que com iluminação de lâmpada comum. Nos papéis de
cores que usam pigmento como agente de tingi mento, o lado mais tingido é o lado oposto à
tela.
A formação em telas duplas, por drenar quase por igual em ambas as faces, faz com que
a densidade de finos e cargas seja mais homogeneamente distribuida na direção ‘zeta’ (Z).
Evidentemente os recursos devem ser usados nas condições de plasticidade da folha, uma vez
que a partir da seção de secagem os tratamentos são comuns às duas faces. Entretanto, em
alguns tipos de papéis procura-se exatamente o oposto, ou seja, destacar para o uso final um
dos lados. Este é o caso dos papéis monolúcidos, por exemplo, onde uma das faces do papel
possui uma lisura e brilho diferenciados da outra face, características estas obtidas pela
prensagem da folha, com uma umidade adequada (25 a 30%), contra uma grande e polida
superfície de secagem.
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19.1.21. Cor, brancura e alvura


Pode-se dizer que a cor é tão somente uma qualificação objetiva como parte da
percepção visual do ser humano. Uma das características importantes do olho humano é a sua
capacidade de distinguir radiações eletromagnéticas de diferentes comprimentos de onda, ou
seja, distinguir cromacidade. Além disso, o olho humano distingue, até certo ponto, a
intensidade relativa dessas radiações. A luz incidente nos objetos é refletida até nós em forma
mais ou menos parcial, não somente de maneira quantitativa como também qualitativa.
A cor dos papéis depende do observador e de diversos fatores, tais como distribuição da
energia espectral de iluminação, ângulo de iluminação e observação, e características ópticas
do papel. A medição da cor pode ser realizada espectrofotometricamente ou
colorimetricamente.
No método espectrofotométrico as leituras das amostras são feitas em cada um dos
comprimentos de onda ao longo de todo o espectro visível. Com os dados obtidos, constrói-se
um gráfico que indica em porcentagem para os diversos comprimentos de onda, a intensidade
da luz refletida pela amostra. Já o método colorimétrico baseia-se no princípio de que por
meio de três cores primárias é possível formar as demais cores. O sistema CIE (“Commission
Internationale de L’Eclairage”) fixa três cores fundamentais, fictícias, que permite compor
todas as outras cores.
A cor desejada do papel se obtém mediante a ação de pigmentos ou corantes que
absorvem os comprimentos complementares de onda. Todos eles tendo em conta a cor natural
da pasta de papel. A própria brancura do papel constitui uma qualidade concreta de cor, isto é
pode ser determinada pelo método colorimétrico, por exemplo.
Sabemos que a luz branca é composta por todos os comprimentos de onda do espectro
visível; em outras palavras, entre 400 e 700 nanômetros (nm = 10-9m). Uma superfície de cor
branca perfeita não absorveria luz de nenhum comprimento de onda e refletiria totalmente
todas as cores, em outras palavras, a curva de reflectância espectral devera coincidir com a da
emitância.
Desta forma, se as características de uma superfície são tais que absorve parte do
espectro da luz incidente, a luz refletida não será totalmente branca, mas sim composta por
cores correspondentes aos comprimentos de onda não absovidas. A superfície atua, portanto,
como um uma espécie de filtro e a cor que aparenta ter é precisamente a complementar do que

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absorve. A brancura do papel deriva da total reflectância da luz branca e, mais importante, na
uniformidade da reflectância a todos comprimentos de onda (reflectância espectral).
Em geral, há a tendência de se associar a brancura com uma ausência de amarelo ou
uma presença de azul, uma vez que o olho humano a identifica desta forma. Por esta razão, ao
fabricar papel, normalmente se adiciona corantes e tinta fluorescente, também conhecida
como alvejante ótico. Tintas fluorescentes absorvem luz na faixa ultravioleta do espectro e a
reimite na região azul do espectro, dando um efeito fluorescente que neutraliza o amarelo
inerente da fibra e apresenta um resultado mais branco para o observador humano.
Os pigmentos de carga mineral usada no papel também têm uma influência sobre a
brancura do papel, assim como matizantes e pigmentos coloridos, brancura da polpa e
impurezas da água. Papel com colagem ácida utiliza caulim como pigmento de carga,
reduzindo a brancura, pois a celulose normalmente tem uma brancura insatisfatória. A
utilização de carbonato de cálcio como pigmento de carga na colagem alcalina favorece a
melhoria da brancura.
Confunde-se muito a brancura com alvura que é o fator de refletância difusa intrínseca
medida a um comprimento de onda de 457 nm (figura 19.17). Na verdade, não existe uma
definição satisfatória de brancura. Alguns autores a descrevem como uma alta e uniforme
reflectância do papel a todos os comprimentos de onda do espectro visível, como havíamos
visto antes. Outros, simplesmente, como um equilíbrio de cor com alta reflectância. Um papel
de tonalidade cinza, por exemplo, apresenta um equilíbrio de cor, porém não apresenta uma
alta reflectância.

Figura 19.17 (FONTE: montagem de E.S.Campos)

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Existe, porém uma definição para nível de branco, que pode ser medido em CIE ou
“Stensby”, por exemplo, resultando da função de três coordenadas: L, a e b, onde “L” é a
luminosidade, “a” á tonalidade no eixo vermelho-verde e “b” é a tonalidade no eixo amarelo-
azul. Utiliza-se para estas medições o aparelho denominado espectrofotômetro. Já a unidade
de alvura é dada por % ISO e os aparelhos utilizados para seu ensaio podem ser o
“Photovolt”, “Elrepho” (nomes comerciais) ou o próprio espectrofotômetro (o mais conhecido
é o da “Datacolor”). Nas figuras abaixo (19.18 e 19.19), é mostrado este sistema de
coordenadas e exemplos de curvas fotométricas de distintos papéis coloridos.

Figura 19.18 (FONTE: National / ABTCP)

Figura 19.19 (FONTE: National / ABTCP)

No caso do papelão ondulado, as variações da alvura compremetem a impressão nas


caixas, através da variação da tonalicade da tinta.
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19.1.22. Opacidade
Opacidade é a propriedade relacionada com a quantidade de luz transmitida através do
papel, em outras palavras, é a capacidade do papel de dificultar a passagem de luz através de
si mesmo. Assim, um papel perfeitamente opaco é aquele que não permite a passagem de luz
visível. A reflexão da luz determina as características do papel descritas até agora, como a
cor, brancura e alvura. Porém nem toda a luz se reflete na superfície uma vez que parte dela
penetra no papel.
Como sabemos, o papel é constituído por vários elementos, porém na maioria são fibras
de celulose e ar. Sabemos que um raio de luz, ao passar de um meio a outro se desvia, quer
dizer se refrata. A luz incidente, que em lugar de refletir-se penetra no papel, vai se refratando
em cada passo da celulose ao ar e do ar a celulose ser absorvida totalmente no interior da
folha (luz absorvida convertendo-se em energia térmica) ou sair por um lado oposto da
mesma (luz transmitida). A proporção de luz que atravessa toda a espessura do papel constitui
o grau de transparência que é a propriedade totalmente inversa da opacidade (figura 19.20).

Figura 19.20 (FONTE: Características de los papeles – Casals)

A presença de outros elementos além das fibras, tais como cargas, pigmentos, etc.,
constitui uma série de dificuldades suplementares a passagem da luz e, portanto, incrementa a
opacidade. As próprias fibras se apresentam maior coloração, absorvem uma maior
quantidade de luz e aumentam a opacidade. O dióxido de titânio, por exemplo, se emprega
como aditivo para elevar o grau de opacidade nos papéis tipo Bíblia, por exemplo, por suas
especiais características.

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Opticamente, se obtém a máxima opacidade quando a luz que não é refletida na


superfície se reflete e refrata no interior do papel sem chegar a sair pelo lado oposto. Parece
que a melhor proporção entre fibras de celulose e ar para uma boa opacidade é a de volumes
iguais em ambos os meios. Se o percentual de participação de celulose é aumentado, perde-se
heterogeneidade óptica e volta a decrescer a opacidade.
Ao nível prático, podemos também definir a opacidade de um papel como a
possibilidade de ocultar a impressão existente no lado posterior ou na folha seguinte com a
que está em contato. Não obstante, no primeiro caso deve ter-se em conta a possível
penetração da tinta no papel que também possibilita à visão de imagem a partir do lado
oposto.
Em função disto, a opacidade é uma importante propriedade em papéis de escrever,
impressão, cigarro, etc. Os papéis do tipo Bíblia são um exemplo típico de papéis que
requerem boa opacidade, mesmo sendo de baixa gramatura, porque o leitor não deseja, ao
estar lendo uma página, ter dificuldade de leitura pelo que está impresso no outro lado da
folha. Livros de exercícios com figuras, palavras cruzadas, etc, para crianças também devem
ter boa opacidade, porque estas encontram dificuldade de distinguir qual é o assunto que tem
de ser trabalhado. No caso dos papéis finos pode-se também sacrificar um pouco a alvura com
intuito de ganhar opacidade.
Uma opacidade menor reduz o contraste de impressão, que resultará pouco uniforme.
Em geral os papéis coloridos são mais opacos que os brancos. Inclusive dentro da gama de
papéis brancos, os de tendência azul, verde ou cinza têm mais opacidade que os de tonalidade
amarela ou rosada. Os primeiros possuem uma maior absorção de luz que os últimos.
O aumento da gramatura e do conteúdo de carga mineral aumenta a opacidade,
enquanto que o aumento da refinação, da calandragem, da prensagem, da colagem superficial,
do comprimento de fibra usada, diminuirá a opacidade. Os papéis porosos e pouco densos são
mais opacos que os papéis muito calandrados, já que neste último caso as fibras se encontram
muito próximas umas a outras e a luz se transmite melhor. Posto que as fibras de celulose
totalmente puras são transparentes, a refinação durante a fabricação do papel tende a reduzir a
opacidade do mesmo. Em igualdade de condições, os papéis “couché” apresentam mais
opacidade pela barreira constituída pelo revestimento superficial que reduz muito a luz
transmitida.

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Os papéis menos opacos são, portanto, aqueles cuja pasta se tem refinado muito, não
contém cargas, não levam produtos que favoreçam a opacidade, não são couché e se tem
calandrado muito. Se ainda se quer reduzir mais a opacidade, pode-se adicionar ceras ou
óleos, com o que se suprimem os interstícios entre fibras e se incrementa a proporção de luz
transmitida em forma retilínea.
O aparelho que mede opacidade é o opacímetro, o qual indica a relação percentual da
opacidade do papel comparada a um padrão. Em poucas palavras, o aparelho é constituído de
uma fonte de luz que incide sobre o papel e de uma célula fotoelétrica que mede a luz
refletida. A medição da opacidade é dada em percentual (%). Existem vários tipos de
opacímetros como o “Elrepho” e o “Datacolor”, por exemplo.

19.1.23. Maciez
A maciez possui definições que depende da aplicação final do papel. No caso de papéis
para impressão e escrita, a maciez está relacionada com a compressibilidade que é a redução
de espessura que o papel apresenta quando submetido a uma força de compressão interna.
No caso dos papéis “tissue” há duas formas de maciez: de superfície e de corpo. A
maciez de superfície pode ser conseguida pela calandragem. A maciez de corpo pode ser
obtida através de uma adesão uniforme ao “Yankee”, o que produz uma crepagem apertada e
ainda uma boa separação das ligações da fibra.

19.1.24. Aspereza
Aspereza é o grau de desuniformidade da superfície do papel. Na indústria papeleira,
porém, utiliza-se de modo geral esta característica com a denominação de lisura. A lisura é
uma importante propriedade para papéis de impressão enquanto que aspereza da superfície é
usada em materiais para embalagens que serão usadas manualmente. Como os próprios nomes
o dizem, um é oposto do outro. A textura superficial como lisura e aspereza é uma medida da
variação dos desvios observados a partir de um plano perfeito. Neste texto, seguindo uma
tendência atual, se usará apenas o termo ‘aspereza’, identificando-se uma maior ou menor
aspereza em função da maior ou menor variação destes desvios, respectivamente.
Dos métodos de medição de aspereza quais sejam métodos óticos, métodos de fricção,
medição de perfil, área de contato ótica, área de contato com a tinta e medidas do fluxo de ar,
o método do fluxo de ar é o mais largamente usado tal qual no caso da permeância ao ar. O
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método mede o volume de ar fluindo em um dado tempo entre uma superfície oticamente
plana e a superfície de teste.
Vários aparelhos podem ser usados para a determinação de aspereza, com a finalidade
de exprimir, numericamente, a existência de irregularidades na superfície do papel, que possa
afetar o seu desempenho e uso final. Cada um deles fornece o resultado diferente entre sí,
fazendo-se necessário indicar o nome do equipamento utilizado no teste. Um dos mais usados
é o Aparelho “Bendtsen”. Este aparelho mede o volume de ar em mililitros, que por minuto
escapa entre a superfície do papel e o cabeçote de medição, cujo extremo inferior tem a forma
de um anel.
A aspereza é afetada por um número de matérias primas e variáveis de processo. O uso
de fibras mais curtas e mais finas reduz a aspereza como faz a adição de pigmentos para carga
(enchimento). Parâmetros de fabricação tais como o tipo de tela “Fourdrinier” e feltros de
prensas usados, graus de prensagem e calandragem, e o tipo de superfícies dos cilindros
secadores, todos afetam a aspereza da folha. Revestimento e impregnação também
influenciam a aspereza. O aumento da refinação, da prensagem, da colagem superficial, do
conteúdo de carga mineral e da calandragem diminui a aspereza. O aumento do conteúdo de
umidade e do comprimento de fibra aumentam a aspereza.
O papel a ser medido é colocado sobre uma placa de vidro e sobre ele é disposto o
cabeçote de medição, que é ligado por meio de uma mangueira a um rotâmetro no qual se faz
a leitura imediata do fluxo de ar. Esta leitura é dada em centímetros cúbicos por minuto
(cm3/min). Quanto maior for a desuniformidade da superfície, maior será o volume de ar que
passa entre a superfície do papel e o anel, em um determinado período de tempo. Na figura
19.21 aparece um aparelho medidor de lisura do tipo “Beck”.

Figura 19.21 (FONTE: Características de los papeles – Casals)

A aspereza influi na aparência e nas qualidades de impressão, no caso dos papéis para
impressão e escrita. Os papéis “offset” e apergaminhados são aqueles cujo acabamento é

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feito em máquina, através de uma calandra e possuem superfície regular, porém, visíveis sob
uma lente. A superfície menos áspera é uma qualidade que assegura ótimos resultados de
impressão. Já os papéis revestidos possuem um acabamento (ou conversão) onde as fibras não
são mais visíveis, mas sim uma película de dispensão de pigmento ou de resina. A medição de
aspereza para estes papéis é feita com tintas especiais (K&N, microcontorno etc).
Um perfil regular de aspereza é também importante para uma boa qualidade de
impressão. Na impressão “offset”, devido a flexibilidade da blanqueta de borracha que
transfere a tinta da chapa impressora para o papel, é possível imprimir em papéis com a
superfície rugosa ou mais áspera.
O papel “offset” não necessita ter uma superfície com tão menos aspereza quanto a
requerida para a tipografia. No processo de rotogravura, se a superfície do papel é irregular e
tem pontos altos e baixos, com substâncias microscópicas, algumas células (alvéolos) não
imprimirão uniformemente e a impressão não será de boa qualidade. Para uma tonalidade
contínua de reprodução, todas as células devem imprimir. Isso pode ser conseguido pelo uso
de compressão. A aspereza do papel é geralmente diferente nas duas faces. Quanto menos
áspero for o papel, melhor e mais homogênea será a impressão.
Também para o caso do papelão corrugado, uma baixa aspereza (ou alta lisura) pode
causar problemas de impressão e de cobertura de tinta, na chapa formadora. O papel miolo,
assim como o papel imprensa, não possui alisamento e apresenta-se rugoso com forte
granulação na superfície.
Com respeito ainda aos papéis com superfície com baixa aspereza estão incluidos os
papéis acetinados em única face ou monolúcidos, que são aqueles em que uma das faces
émais brilhante que a outra, por causa da passagem da folha, sob pressão e umidade
controlada, contra um cilindro de grande área superficial e polimento superior.

19.1.25. Resistência ao arrancamento superficial


É a capacidade do papel de se opor ao rompimento e à remoção de fragmentos na sua
superfície, quando em contato com algum material. Comumente são usados dois tipos de
testes para se medir a resistência ao arrancamento superficial:
 aparelho IGT: este é usado, principalmente, em papéis revestidos (“couché”). O
princípio de funcionamento do aparelho IGT é imprimir o papel com tinta padrão e com

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velocidade uniformemente acelerada. Depois se verifica em que ponto iniciará o


arrancamento.
 teste de Dennison: Neste teste são usados vários bastões de cera cujas forças adesivas
são diferentes. Os bastões têm numeração crescente à medida que aumenta o poder de adesão.
Estes bastões são derretidos e colocados sobre a superfície do papel. Na série de ceras, a de
número mais alto que não alterar a superfície da papel, corresponde ao resultado numérico do
teste. O teste de Dennison é utilizados para papéis não revestidos pois, no caso dos
revestidos, a cera aquecida derrete os componentes do revestimento, fornecendo uma falsa
leitura.
No caso dos papéis para impressão e escrita, muitos processos de impressão e
conversão requerem que a superfície do papel apresente suficiente resistência superficial ao
arrancamento, principalmente aqueles de velocidade alta, de maior contato com o papel, e de
tinta com alto pegajosidade. No processo “offset”, a tinta é mais espessa e com mais
pegajosidade do que no processo tipográfico. Por isso, aparece mais frequentemente, em
“offset”, o problema do arrancamento.
As tintas têm certo grau de pegajosidade (“tack”), logo, é de se esperar que elas
exerçam uma força sobre a superfície do papel à medida que a película da tinta se separa da
placa.

19.1.26. Densidade aparente


A densidade aparente é a massa em gramas de um centímetro cúbico (g/cm3) de papel.
O valor da densidade é obtido, dividindo-se a gramatura (em g/m2) pela espessura (em micra).
Duas folhas com a mesma gramatura, mas de espessuras diferentes e aparentemente iguais,
apresentam “performance” diferente. Isso porque o conceito de densidade aparente tem um
caráter bastante amplo, pois está relacionada com diversas outras características como
permeância ao ar, rigidez a flexão, opacidade, dureza, resistência, etc.
A densidade aparente é uma medida do grau de compactação do papel. O papel com
densidade baixa é mais fofo e com densidade alta é mais compacto. O parâmetro conhecido
como volume específico, inverso da densidade aparente e expresso em cm3/g, é denominado,
muitas vezes, de corpo (“bulk”) e reflete bem o que os profissionais do ramo gráfico chamam
de papel mais encorpado (menor densidade aparente e maior volume específico) ou menos
encorpado (maior densidade aparente ou menor volume específico).
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Os diversos tipos de papel diferem na densidade aparente devido às cargas, agentes


químicos, tipos de fibras, calandragem, etc. Deve-se mencionar que, em geral, ela é
diretamente proporcional à resistência e inversamente à permeância ao ar do papel. É evidente
ainda que um aumento na espessura do papel não acarretará, necessariamente, um aumento na
gramatura.

19.1.27. Estabilidade dimensional


A estabilidade dimensional também chamada higroestabilidade dimensional, consiste
na faculdade que apresentam os papéis no que diz respeito a manter suas dimensões originais
ao alterar suas condições ambientais (temperatura e teor de umidade, principalmente) e os
esforços a que são submetidos durante a impressão e manuseio. A análise desta propriedade
do papel resulta relativamente complicado, posto que não existe nenhum papel
completamente estável.
O termo higroexpansividade (ou instabilidade dimensional) se refere à propriedade
contrária a estabilidade dimensional. Define-se como a porcentagem de dilatação que se
produz ao variar o conteúdo de umidade, indicando uma séria tendência a problemas de
impressão como: perda de registro, corte e vinco, relevo, ondulamento, encanoamento,
deformações, etc. A causa mais importante das mudanças dimensionais é a variação do
conteúdo de umidade frente a umidade relativa do ambiente pelo fato do papel ser
higroscópico (ávido por água). Uma vez que esta varia por muitos motivos, as precauções a
tomar deverão contemplar também muitos aspectos.
A base da instabilidade dimensional se encontra nas próprias fibras do papel. Ao nível
individual, as fibras se incham ao absorver umidade e o fazem em maior grau no sentido
transversal do que no sentido máquina. Disto se deduz que o papel apresentará maior
mudança dimensional na direção contra a fibra do que na direção da fibra. Ao mesmo tempo,
se pode deduzir facilmente que segundo a constituição das fibras (e, portanto, a classe de
papel), as mudanças dimensionais serão maiores ou menores.
Além destes fatores citados, a falta de estabilidade dimensional pode também acarretar
problemas de deformação na folha. Com efeito, se não existe um equilíbrio de umidade na
mesma folha de papel, algumas zonas da mesma tenderão a possuir uma longitude distinta à
de outras zonas com conteúdo de umidade diferente e isto dará lugar aos conhecidos

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problemas de beiradas frouxas (ou moles) e parte central apertada, ou parte central frouxa e
beirada apertada. A maioria dos problemas de rugas do papel procede desta causa.
Os fabricantes de papel têm, nele, um problema difícil de resolver que tão só podem
compensar mediante a utilização de matérias primas adequadas e produtos adicionais que
podem compensar, ao menos em parte, este aspecto negativo. As pastas de papel a base de
bissulfito produzem folhas muito sensíveis às trocas de umidade, enquanto que as pastas de
algodão e álamo conferem uma melhor estabilidade. As fibras sintéticas e as fibras de celulose
quimicamente modificadas melhoram sensivelmente a estabilidade dimensional.
Essas variações são dependentes de uma série enorme de variáveis, tais como refinação,
qualidade de fibras, tratamento a que o papel é submetido na máquina de papel, secagem,
tracionamento, etc. Estas mudanças são menores no sentido da fibra (direção de fabricação)
do que contra a fibra. Com efeito, quanto menos refinado seja o papel e mais alta sua
permeância ao ar menos mudanças dimensionais apresentará frente as variações em seu
conteúdo de umidade.
Não obstante, se tenta conseguir a estabilidade dimensional incorporando materiais de
carga mineral (praticamente insensíveis as alterações de umidade), melhorando a formação,
aumentando a umidade do papel na enroladeira, aumentando o corpo do papel (menor
calandragem) e melhorando a colagem interna, já que se precisa refinar as fibras para
melhorar outras propriedades do papel tais como resistência a tração, ao arrancamento
superficial ou a formação de bolhas. Desta forma se tenta melhorar, de forma paralela, o
maior número possível de propriedades do papel.
Uma das causa da variação dimensional é o esforço de tensão que pode ocorrer
principalmente durante a secagem do papel ou durante o processo de impressão. Todos os
papéis são, em mais ou menos grau, viscoelásticos. Isto quer dizer que, todos se dilatam até
um determinado ponto quando são submetidos a uma tensão e depois voltam a seu tamanho
original. Se o esforço é superior ao limite, parte da deformação adquirida se converte em
permanente apesar de cessar a causa.
Na impressão “offset” a folhas se produz este tipo de esforço de tensão em dois casos
concretos. Ao separar a folha da blanqueta, dividindo a película de tinta (especialmente
quando se imprimem grandes áreas de impressão e por efeito da pressão no ponto de
impressão). E, portanto, o papel deverá apresentar boa resistência à tensão para evitar as

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alterações dimensionais, especialmente no sentido de contra-fibra, isto é, de forma que a


direção da fibra fique no sentido transversal a máquina.
Quanto a redução dos problemas ocasionados pela deformação do papel submetido a
tensões superiores a seu limite de elasticidade, deve se tomar as seguintes precauções:
 procurar trabalhar com tintas com pouco pegajosidade (“tack”), para evitar o efeito
de tensão ao separar-se a folha da blanqueta em zonas de grandes massas;
 tratar de imprimir com o mínimo possível de pressão de impressão;
 manter em bom estado a superfície da blanqueta para evitar maior pegajosidade;
 no caso de poder escolher, evita-se a colocação de zonas com muita tinta próximas
aos extremos laterais ou da parte traseira da folha que se imprime.
No caso de impressão em bobinas, o problema praticamente não aparece porque o papel
é suficientemente resistente na direção em que se avança a folha e, portanto, não se produzem
dilatações do tipo permanente. Não obstante, podem ser produzidas tensões no sentido
transversal que, ao superar o nível de elasticidade do papel, o deformem de forma
permanente. A utilização de muita tinta em grandes áreas de impressão pode acentuar o efeito
de compressão entre cilindros e deformar o papel, principalmente quando este é de baixa
gramatura.
É evidente que as mudanças nas dimensões do papel podem acarretar problemas ao
imprimir várias cores sobre o mesmo suporte ou nas operações de encadernação. Se o papel se
dilata ou se encolhe entre uma impressão e outra será praticamente impossível obter um bom
registro. Este problema, denominado perda de registro, se reduz quando em uma mesma
passada pela máquina se imprimem todas as cores sem dar tempo para que as alterações
dimensionais tenham lugar.
Além de trabalhos em cor, podemos citar também os formulários contínuos como
exemplo de impressos que apresentam problemas quanto sofrem alterações dimensionais,
principalmente, com respeito às furações laterais (remalina). Igualmente, quando se trata de
formas múltiplas, a coincidência da imagem nas diversas cópias deve ser perfeita para evitar
problemas posteriores.
Em todo o caso, para minimizar estes problemas ao máximo, convém ter em conta os
seguintes aspectos:
 trata-se de ter o papel a uma umidade ligeiramente superior a ambiental;

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 procurar trabalhar na máquina “offset” com o mínimo de água possível para evitar
uma umidificação excessiva do papel;
 caso o ambiente tenha uma umidade relativa inferior ao conteúdo de umidade do
papel, procurar cobrir as pilhas com umas capas de plástico impermeável;
 quando os trabalhos a realizar são delicados quanto ao registro, procura-se utilizar
papéis cuja estabilidade dimensional seja boa.
Quando estabilidade e planura são exigidas, normalmente o papel é aclimatizado na
fábrica e posteriormente nas gráficas, muitas das quais, inclusive possuem equipamentos
específicos, que proporcionam o equilíbrio entre o teor de umidade do papel e do ambiente.
As dimensões de um papel, pouco variam quando o mesmo está num ambiente de 40 a 60%
de umidade relativa, com temperatura em torno de 20 °C correspondendo a um teor de
umidade no papel de 5 a 7%.
A parede da fibra é organizada de forma tal que o inchamento lateral é cerca de 15 à 20
vezes maior que o inchamento longitudinal, o qual causa variações dimensionais no papel (em
torno de 1 a 4% no sentido contra a fibra. O inchamento aumenta a flexibilidade da fibra e
enfraquece as ligações fibra a fibra. O relaxamento das tensões internas no papel com o
aumento do conteúdo de umidade, junto com o inchamento das fibras produzem mudanças na
dimensões do papel resultando em alargamento da folha no sentido contra a fibra,
encanoamento, pés de galinha e ondulamento.
Existem basicamente dois métodos para a determinação da estabilidade dimensional.
Um deles, de resposta mais rápida e em aplicação em artes gráficas, se conhece com o nome
de “sistema de imersão em água”. O outro, mais lento e científico, e, portanto, mais apto a
laboratórios especializados, se conhece sob a denominação de “sistema de diversos estados
higrométricos”, o qual é realizado prendendo-se uma fita de papel no interior de uma câmara,
onde se provoca uma variação no teor de umidade relativa do ar ambiente, a uma temperatura
constante, retirando-se depois a fita, para constatar as expansão ou contração verificada.
A fibra tem um tubo central oco chamado lúmen, e as paredes da fibra têm espaços
disponíveis para moléculas de água. A absorção de moléculas de água pela fibra faz com que
a fibra sofra um processo de inchamento.

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19.1.28. Capacidade de empilhamento


O ensaio de compressão mais difundido é o de RCT (“Ring Crush Test”) feito tanto
para o miolo quanto para a ou as capas; é definido como sendo a força necessária para que a
amostra seja esmagada, através do deslocamento vertical da parte móvel da prensa sobre a
parte estacionária. O resultado é expresso em “kN/m”. Outro teste utilizado é o SCT (“Short
Span Compression Test” que é definido como a força necessária para que a amostra seja
comprimida através do deslocamento horizontal das barras. Estes dois ensaios guardam
estreita relação com a quantidade máxima permitida de empilhamento das caixas.
A resistência à compressão (RCT) é hoje a mais importante para avaliação da qualidade
de um papel para a confecção de chapas de papelão ondulado, pois, está diretamente
relacionada com a resistência à compressão de canto da chapa de papel ondulado, avaliada
através do “Edge Crush Test” (ECT) que, por sua vez, definirá a resistência ao empilhamento
das caixas de papel ondulado, avaliada pelo “Box Compresion Test” (BCT).
Para os papéis de embalagem que normalmente apresentam espessura entre 0,2 e 0,5
mm, a altura dos corpos de prova deveria ser de 1,7 a 4,3 mm para trabalhar na faixa de
máxima resistência de compressão.
Devido a isto na maioria dos ensaios de compressão dota se o corpo de prova de uma
forma ondulada ou circular para reduzir os efeitos de f1exão ou arqueamento associados à
compressão, conforme mostra a figura 19.22 abaixo.

Figura 19.22 (FONTE: Caracterização dos produtos)

O inconveniente deste teste está no fato do papel estar em forma de anel que é uma
condição diferente de sua função estrutural no papelão ondulado Também em gramaturas
maiores que 300 g/m2 ao curvarmos o papel podemos enrugá-lo falseando o resultado. Este
ensaio correlaciona-se com o ECT.
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Para o papelão corrugado, um valor baixo de compressão no cartão pode comprometer


as recomensações de empilhamento das caixas.

19.1.29. Resistência à delaminação


É a medida da adesividade entre as fibras de uma camada com as fibras da camada mais
próxima. Testes que determinam a coesão interna da folha de papel (“Ply Bond)”. Se
observarmos ao microscópio uma seção transversal de um papel poderemos constatar que sua
estrutura é multiplana. Isto é, praticamente não encontramos nenhuma fibra disposta na
direção da espessura ou direção Z. Do ponto de vista prático, a resistência na direção “z”
permite avaliar em que medida o papel ou cartão pode suportar tensðes perpendiculares ao
plano e, portanto, em quanto poderá suportar as tensões que aparecem durante a impressão e
na manipulação da folha.
Existem basicamente dois
métodos de medir a coesão interna:
esforços de tração e impacto.O
método de esforços de tração se
baseia em um dispositivo
constituído por dois blocos
metálicos de superfície polida nos
quais se fixa o papel através de
filas adesivas de dupla face
(resultados em kPa) como na figura
5.24 ao lado. Figura 19.23 (FONTE: Caracterização dos produtos)
No método de impacto um
pêndulo (figura 19.24) mede a energia
absorvida para delaminar a folha. O
dispositivo consiste em um pêndulo
que arranca uma cantoneira metálica
Figura 19.24
previamente aderida ao papel por fita
(FONTE: Caracterização dos produtos)
de dupla face.
Este método é utilizado pelo aparelho “Scott Intemal Bond Tester”. Os resultados são
expressos em unidades de energia por unidade de área, que no SI são J/m2.
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No caso do papelão corrugado, uma determinação baixa pode ocasionar o


deslocamento das abas das caixas ou em qualquer outro ponto de colagem das chapas, através
do arrancamento das fibras.

19.1.30. Coeficiente de fricção


É a resistência ao movimento de uma folha quando colocada contra a outra. Esta
propriedade é importante, principalmente, quando da alimentação das chapas de papelão
ondulado às máquinas de conversão e no usuário final, quando da alimentação das
embaladeiras.
É importante que a fricção entre as chapas seja baixa o bastante para que os
mecanismos de alimentação das máquinas acima citadas possam pegar chapa por chapa. Se a
superfície for muito rugosa (alto coeficiente de fricção) corremos o risco de alimentar duas
chapas ao mesmo tempo. Se, entretanto, o coeficiente de fricção for muito baixo, existe o
risco de deslizamento da pilha de chapas ou caixas prontas. Em geral mede-se esta
propriedade através do ângulo em que uma amostra previamente unida a um peso padrão
desliza sobre outra amostra do mesmo papel. Pode-se testar a direção máquina contra direção
máquina ou direção transversal contra direção transversal.
No caso do papelão corrugado, um coeficiente alto de fricção ocasiona o fenômeno de
frenagem, isto é, a redução da velocidade na onduladeira; enquanto que, um coeficiente baixo
de fricção causa problema no empilhamento das caixas (escorregadias) e podem levar à
ocorrência de telescopamento das bobinas, quando carregadas pelo tubete.

19.1.31. “Scuff (ciclos)”


É a resistência do cartão à abrasão de uma folha contra outra. Este tipo de ensaio é
importante para o papelão corrugado porque pode prever o eventual aparecimento de
‘pirulitos’, que são constituidos por pequenas quantidades de fibras soltas durante o processo
de conversão na onduladeira ou através do atrito entre as caixas durante o transporte.

19.1.32. Resistência à compressão ou esmagamento


A mais importante propriedade do papel miolo é a resistência à compressão ou
esmagamento que este pode conferir às ondas. No cartão ondulado esta propriedade é medida

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pelo “Flat Crush Test” (FCT) que é o teste de compressão de um disco de papel ondulado
conforme figura 19.25 abaixo.
O FCT dependerá da gramatura e da
qualidade do miolo e do número de ondas
por metro linear. No papel miolo, medimos
sua capacidade de resistir ao esmagamento
através do “Concora Medium Test” (CMT).
O ensaio consiste em ondular uma tira de
papel de 6”x1/2” em uma onduladeira de
laboratório, de forma que obteremos dez Figura 19.25

canais de uma onda especial (concora). (FONTE: Caracterização dos produtos)

As amostras são cortadas em direção máquina: ondas em direção transversal iguais ao


processo real. Uma vez ondulado o papel é fixado em uma das faces por uma fita adesiva
como se fosse uma face simples cartão simplex sendo na seqüência submetido a um ensaio de
compressão. Medimos então o esforço necessário (N) para comprimir até o colapso das dez
ondas. A resistência à compressão das ondas varia ainda em função de tempo transcorrido
entre a realização do ondulado e o ensaio de compressão. Por isto deve-se especificar
claramente os tempos de ensaio.

19.1.33. Acidez ou alcalinidade


Os conceitos de acidez ou alcalinidade são normalmente expressos mediante o que se
denomina de pH, correspondendo a um símbolo matemático que expressa a acidez ou a
alcalinidade de uma solução. A faixa usual de pH varia de 1 a 14. O valor 7 indica
neutralidade, tornando-se a solução mais alcalina quando tende para 14 e mais ácida quando
tende para 1. A acidez ou alcalinidade têm influência em várias características dos papéis, tais
como colagem, cor, alvura, tempo de vida (permanência), estabilidade química, etc. e também
pode ter grande influência na sua utilização (qualidade de impressão, por exemplo).
A acidez ou alcalinidade do papel se deve aos produtos químicos que se adicionam
durante o processo e que formam parte da massa fibrosa. Lógicamente, se trata de sais
facilmente hidrolizáveis que, em presença de água, desenvolvem seu caráter ácido ou alcalino.
Portanto, é a umidade contida no papel (ou a que se adiciona durante o processo offset) que
torna possível a exteriorização dessa acidez ou alcalinidade contida no papel.
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Desta forma, não se pode falar na verdade de acidez ou alcalinidade do papel se não tão
somente de sua capacidade para acidificar ou alcalinizar a água com que entra em contato.
Um papel “offset” de colagem ácida sem revestimento tem um pH em torno de 5, enquanto
que no papel “offset” de colagem alcalina e no papel revestido o pH situa-se na faixa de 7,5 a
9. Um valor de pH elevado favorece a secagem da tinta, especialmente em condições de alta
umidade.
Um pH inadequado no processo de impressão “offset” pode provocar sérios problemas.
Um pH demasiado ácido pode facilitar a emulsão da água na tinta e influir
extraordinariamente na secagem da tinta impressa, retardando-a. Um pH demasiadamente
alcalino pode ser responsável pelo “engorduramento” da chapa e de outros defeitos
indesejáveis. Deve existir, portanto, um equilíbrio conhecido e adequado entre o pH do papel,
da solução de molha e as características da tinta.
Quanto a influência do pH no próprio papel, um dos aspectos mais importantes é sua
permanência e sua estabilidade química. Um pH ácido reduz a vida útil do papel e a solidez
de sua cor com o tempo. Se se deseja obter as melhores qualidades permanentes, o pH do
papel deve encontrar-se entre 7 e 7,5. Esta ligeira alcalinidade permite fazer frente ao
ambiente mais ácido que o papel costuma enfrentar.
Basicamente existem dois tipos de determinação de pH em papéis
 pH superficial: Consiste em se pingue uma solução indicadora na superfície do papel
e se compara a cor obtida com a respectiva escala de padrão de cores. Solução indicadora é
uma solução contendo substância que adquire cor característica para cada valor de pH. Este
teste só é válido em papéis brancos;
 pH do estrato: consiste em se obter um extrato aquosos de papel e se medir o pH num
aparelho para este fim. O estrato pode ser obtido a quente ou a frio, porém os resultados são
diferentes e por isto deve-se indicar a técnica usada.
Além destes tipos básicos existem também tiras de papel medidores de pH que usadas
de forma apropriada permitem indicar o pH do papel.

19.2. PROPRIEDADES ESPECÍFICAS PARA OS DIFERENTES TIPOS DE PAPÉIS


A tabela 19.02 abaixo mostra as principais propriedades dos papéis em geral e a
importância de cada propriedade para o tipo de papel considerado. Estes níveis de importância
estão identificados como:
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Grande importância (Propriedades que caracteriza o papel: especificações)


Média importância (É importante como propriedade adicional)
Pequena importância (Pode ser dispensada como análise)

para embalagens
Papel imprensa

Papéis “kraft”
impressão e

Papéis para
(sanitários)
Papel para

corrugado
“Tissue”

Papelão

Cartões
sacaria
escrita
Propriedades / Tipos de papéis

Gramatura
Espessura
Volume específico (“bulk”)
Umidade
Formação
Orientação de fibras
Dupla face
Porosidade
Lisura
Arrancamento superficial
Resistência à tração
Alongamento
Resistência ao rasgo
T.E.A.
Resistência às dobras
Resistência ao estouro
Rigidez
Teor de cinzas
pH e acidez
Permanência
Cor
Alvura
Brilho
Estabilidade dimensional
Maciez
Resistência a úmido
RCT
Cancora (CMT)
Resistência à água
Resistência à delaminação
Coeficiente de fricção
Resistência a compr. de canto
Resistência à vincagem
Tabela 19.02

19.3. ALGUMAS NORMAS PARA ANÁLISES LABORATORIAIS – PAPEL KRAFT


Segue uma relação de algumas normas ABNT para as análises de processo e produto
dos papéis “kraft”:

PROCESSO:
ABNT NBR 14031:2004 – Pastas celulósicas – Determinação da resistência à drenagem pelo
aparelho Schopper-Riegler.
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ABNT NBR 14003:1997 – Pastas celulósicas – Determinação da consistência.

PRODUTO:
ABNT NBR NM-ISO 536:2000 – Papel e cartão – Determinação da gramatura.
ABNT NBR 6738:2001 – Papelão ondulado – Determinação da espessura.
ABNT NBR NM-ISO 535:1999 – Papel e cartão – Determinação da capacidade de absorção
de água (Método Cobb).
ABNT NBR NM-ISO 1924-2:2001 – Papel e cartão – Determinação das propriedades de
tração – Parte 2: Método da velocidade constante de alongamento.
ABNT NBR NM-ISO 1974:2001 – Papel – Determinação da resistência ao rasgo – Método
Elmendorf.
ABNT NBR NM 105:1999 – Papel e cartão – Determinação da umidade – Método por
secagem em estufa.
ABNT NBR 11940:2002 – Papel e cartão – Determinação da higroexpansividade até umidade
relativa máxima de 68%.
ABNT NBR 14260:2005 – Papel e cartão – Determinação da resistência ao esmagamento do
anel (RCT).
ABNT NBR NM-ISO 5636-5:2006 – Papel e cartão – Determinação da permeância e
resistência ao ar (faixa média) – Parte 5: Método Gurley.
ABNT NBR NM-ISO 02759:2007 – Cartão – Determinação da resistência ao arrebentamento.

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