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PROPRIEDADES E SELEÇÃO DE MATERIAIS

Múltiplas restrições e objetivos conflitantes

Professora:
Dra. Leidy Johana Jaramillo Nieves

Semestre 02-2022

Universidade Federal de São Carlos


SP - Brasil
1
INTRODUÇÃO

Seleção de materiais e processos:

- Toma de decisões- Compensar uma


propriedade com outro – Equilíbrio

- Às vezes, a compensação é lidar com


restrições conflitantes: que devo
priorizar?? https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Etapes_du_decollage_d_un_avion_de_ligne.gif

- Outras vezes, a compensação é equilibrar


objetivos divergentes
A seleção deve satisfazer várias restrições muitas vezes conflitantes

2
INTRODUÇÃO

Seleção de materiais e processos: No projeto de um copo descartável para bebidas


quentes, o que importa é o custo.
Custo mínimo com restrições de:
- Rigidez
- Resistência mecânica
- Isolante térmico (condutividade térmica)

Como solucionar isso??

- aplicar as restrições em sequência, rejeitando em cada etapa os materiais que não as atendem.
- Os sobreviventes são candidatos viáveis.
- Classifique-os por sua capacidade de atingir o objetivo único e, em seguida, explore a
documentação dos candidatos mais bem classificados.
3
INTRODUÇÃO

Estratégias para lidar com a seleção com múltiplas restrições e objetivos conflitantes.
Situação Ações
-Etapa de pré-seleção, considerando as restrições
Muitas restrições, um - Identificar as propriedades ou índice de Mérito (M) que limita
objetivo o desempenho
-Ranquear, usando a propriedade ou o índice

-Etapa de pré-seleção, considerando as restrições


- Identificar as propriedades ou índice de Mérito (M) que
Muitas restrições, dois
Função objetivos
limita o desempenho
- Construir gráficos de compensação para os Ms
- Se necessário, crie e avalie a função de penalidade Z

-Etapa de pré-seleção, considerando as restrições


Muitas restrições, mais - Identificar as propriedades ou índice de Mérito (M) que
de dois objetivos limita o desempenho
- Criar e avaliar a função de penalidade Z
Michael F. Ashby - Materials Selection in Mechanical Design, Fourth Edition-Butterworth-Heinemann (2010)
4
SELEÇÃO COM MÚLTIPLAS RESTRIÇÕES

Identificamos as restrições e o objetivo impostos pelos requisitos do projeto e aplicamos as etapas a


seguir:
 Pré-selecione, usando cada restrição por vez.
 Classifique, usando a métrica de desempenho que descreve o objetivo (geralmente massa, volume ou
custo) ou simplesmente pelo valor do índice de material que aparece na equação da métrica.
 Busque a documentação dos candidatos mais bem classificados e use-a para fazer a escolha final.

Figura 1.Seleção com múltiplas restrições (a) e um único objetivo (b). Pré-seleção usando as restrições; classificação usando o objetivo.
Michael F. Ashby - Materials Selection in Mechanical Design, Fourth Edition-Butterworth-Heinemann (2010) 5
SELEÇÃO COM MÚLTIPLAS RESTRIÇÕES

Trata-se do caso especial de um único objetivo que pode ser limitado por mais de uma restrição. Como exemplo,
os requisitos para um tirante de união de massa mínima podem especificar ambas, rigidez e resistência, levando
a duas equações independentes para a massa.
Se a rigidez é a restrição dominante, a massa da haste é m1; se for a resistência, a massa é m2. Para que o tirante
atenda aos requisitos de ambos, sua massa deve ser a maior entre m1 e m2. Escrevendo
� = max(𝑚𝑚1 , 𝑚𝑚2 ) (1)
𝑚𝑚 procuramos o material que oferece o menor valor de 𝑚𝑚.

(2)

(3)

Figura 2. Um objetivo (aqui, minimizar a massa) com duas restrições leva a duas equações de desempenho, cada uma com seu próprio valor de M. 6
SELEÇÃO COM MÚLTIPLAS RESTRIÇÕES
O método analítico
Existem métodos poderosos para resolver problemas min-max quando a métrica (aqui, massa) é uma
função contínua das variáveis de controle (as coisas à direita das duas equações de desempenho mostradas
na Figura). Mas aqui uma das variáveis de controle é o material, e estamos lidando com uma população de
materiais, cada um com seus próprios valores únicos de propriedades do material. O problema é discreto,
não contínuo.

(2)

(3)

Uma maneira de resolver o problema é avaliar m1 e m2 para cada membro da população, atribuir o maior
dos dois a cada membro e, em seguida, classificar os membros pelo valor atribuído, procurando um mínimo.
7
SELEÇÃO COM MÚLTIPLAS RESTRIÇÕES

Exemplo Precisa-se de um tirante leve de comprimento L, rigidez S e carga de colapso Ff especificados com os
valores: 𝑁𝑁
∗ ∗
𝐿𝐿 = 1𝑚𝑚 𝑆𝑆 = 3 × 10 7
𝐹𝐹𝑡𝑡∗ = 105 𝑁𝑁
𝑚𝑚
Resposta
Substituindo esses valores e as propriedades do material mostradas na tabela nas Equações (2) e (3) na Figura
anterior, obtém-se os valores de m1 e m2 mostrados na tabela.
A última coluna mostra 𝑚𝑚� calculado a partir da Equação (1). Para esses requisitos de projeto, a liga Ti-6Al-4V é
enfaticamente a melhor escolha: Permite o tirante mais leve que satisfaça ambas as restrições.
Tabela. Seleção de um material para um tirante leve, rígido e forte
Material ρ kg/m3 E GPa σy MPa m1 kg m2 kg � kg
𝑚𝑚
Aço 1020 7850 200 320 1,12 2,45 2,45
Al 6061 2700 70 120 1,16 2,25 2,25
Ti-6Al-4V 4400 115 950 1,15 0,46 1,15

Se as restrições agora forem alteradas para 𝐿𝐿∗ = 3𝑚𝑚 𝑆𝑆 ∗ = 108 𝑁𝑁/𝑚𝑚 𝐹𝐹𝑡𝑡∗ = 3 × 104 𝑁𝑁
A seleção muda. Agora o aço é a melhor escolha: dá o tirante mais leve que satisfaz todas as restrições.
Experimente. 8
SELEÇÃO COM MÚLTIPLAS RESTRIÇÕES

O método gráfico
Suponha, para uma população de materiais, que plotamos m1 contra m2 como sugerido pela Figura 3(a). Cada
bolha representa um material. (Todas as variáveis em ambas as equações para m1 e m2 são especificadas,
exceto o material, então a única diferença entre uma bolha e outra é o material.) Desejamos minimizar a
massa, então as melhores escolhas estão em algum lugar próximo ao canto inferior esquerdo.

Figura 3. A abordagem gráfica para problemas min-max. (a) Seleção acoplada usando métricas de desempenho (aqui, massa m). (b) Uma
abordagem mais geral: seleção acoplada usando índices de material M e uma constante de acoplamento Cc. 9
SELEÇÃO COM MÚLTIPLAS RESTRIÇÕES
Isso explica a ideia, mas há uma maneira melhor de implementá-la. A Figura 3(a), com m1 e m2 como eixos,
é específica para valores únicos de L* , S* ; e Ff*; se isso mudar, precisamos de um novo gráfico.
Suponha, em vez disso, que plotamos os índices de material M1=ρ/E e M2 =ρ /σy que estão contidos nas
equações de desempenho, conforme mostrado na Figura 3(b).

Figura 3. A abordagem gráfica para problemas min-max. (a) Seleção acoplada usando métricas de desempenho (aqui, massa m). (b) Uma
abordagem mais geral: seleção acoplada usando índices de material M e uma constante de acoplamento Cc. 10
SELEÇÃO COM MÚLTIPLAS RESTRIÇÕES

Cada bolha ainda representa um material, mas agora sua posição depende apenas das propriedades do
material, não dos valores de L*, S*; e F*. A condição m1 = m2, substituindo as Equações (2) e (3) na Figura 2,
produz a relação 𝐿𝐿∗ 𝑆𝑆 ∗
𝑀𝑀2 = ∗ 𝑀𝑀1 (4)
𝐹𝐹𝑓𝑓
Ou, em escalas logarítmicas 𝐿𝐿∗ 𝑆𝑆 ∗
log 𝑀𝑀2 = log 𝑀𝑀1 + log ∗ (5)
𝐹𝐹𝑓𝑓

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OBJETIVOS CONFLITANTES

A seleção de materiais na vida real quase sempre exige que um compromisso seja alcançado entre objetivos
conflitantes. Três surgem o tempo todo:

 Minimizar a massa – uma meta comum no projeto de coisas que se movem ou que têm de ser movidas, que
oscilam ou que devem responder rapidamente a uma força limitada (pense nos sistemas de transportes
aeroespaciais e terrestres).
 Minimizar o volume - porque é usado menos material e porque o espaço está cada vez mais precioso
(pense no drive para telefones celulares cada vez mais finos, computadores portáteis, tocadores de MP3
etc. e na necessidade de acondicionar cada vez mais e mais funcionalidades em um volume fixo).
 Minimizar custos — a lucratividade depende da diferença entre custo e valor ; a maneira mais óbvia de
aumentar essa diferença é reduzir o custo.

A estes devemos acrescentar agora um quarto objetivo:

 Minimizar o impacto ambiental - os danos ao nosso entorno causados pela produção de materiais,
fabricação de produtos e uso do produto

12
OBJETIVOS CONFLITANTES

Portanto, temos quatro objetivos comuns, cada um caracterizado por uma métrica de desempenho Pi. Pelo
menos dois estão envolvidos no design de quase todos os produtos. O conflito surge porque a escolha que
otimiza um objetivo não fará, em geral, o mesmo para os outros; a melhor escolha é, portanto, um
compromisso, não otimizando nada, mas empurrando todos tão perto de seu ótimo quanto sua
interdependência permite.

Definições
Estratégias de Permuta: Considere a escolha do material
para minimizar tanto o custo (métrica de desempenho
P1) quanto a massa (métrica de desempenho P2), ao
mesmo tempo em que atende a um conjunto de
restrições, como uma temperatura máxima de serviço
exigida ou resistência à corrosão em um determinado
ambiente. Seguindo a terminologia padrão da teoria de
otimizações, definimos uma solução como uma escolha
viável de material, atendendo a todas as restrições, mas Figura 4. Vários objetivos: Procuramos o material que minimiza ao
não necessariamente ótima para nenhum dos objetivos. mesmo tempo massa e custo. Cada bolha é uma solução – uma escolha
de material que cumpre todas as restrições. A superfície de permuta
liga soluções não dominadas. 13
OBJETIVOS CONFLITANTES

Existem três estratégias para progredir ainda mais.


As soluções na superfície de troca ou perto dela
oferecem o melhor compromisso; o resto pode ser
rejeitado. Muitas vezes, isso é suficiente para
identificar uma lista restrita, usando a intuição para
classificá-los, para a qual a documentação agora
pode ser buscada (Estratégia 1). Alternativamente
(Estratégia 2), um objetivo pode ser reformulado
como uma restrição, conforme ilustrado na Figura 5.
Aqui, um limite superior é definido no custo; a
solução que minimiza a outra restrição pode então
ser lida. Mas isso é trapaça: não é uma otimização
verdadeira. Para conseguir isso, precisamos da
Figura 5. O gráfico de permuta com uma restrição simples
Estratégia 3: funções de penalidade. imposta ao custo. Agora podemos ler a solução
que tem a menor massa, porém essa não é uma
otimização verdadeira.

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OBJETIVOS CONFLITANTES

Funções de penalidade: A superfície de permuta identifica o subconjunto de soluções que oferecem os


melhores compromissos entre os objetivos. Em última análise, porém, queremos uma solução única. Uma
maneira de fazer isso é agregar os vários objetivos em uma única função objetivo, formulada de forma que seu
mínimo defina a solução mais preferível. Para fazer isso, definimos uma função de penalidade localmente
linear Z:
𝑍𝑍 = 𝛼𝛼1 𝑃𝑃1 + 𝛼𝛼2 𝑃𝑃2 + 𝛼𝛼3 𝑃𝑃3 … . (6)
A melhor escolha é o material com o menor valor de Z. As αs são chamadas de constantes de troca (ou,
equivalentemente, constantes de utilidade ou constantes de escala); eles convertem as unidades de
desempenho em unidades de Z, que normalmente são unidades monetárias (moeda – $). As constantes de
troca são definidas por.
𝜕𝜕𝑍𝑍
𝛼𝛼𝑖𝑖 = (7)
𝜕𝜕𝑃𝑃𝑖𝑖 𝑃𝑃𝑗𝑗, 𝑗𝑗≠𝑖𝑖

Elas medem o incremento na penalidade para um incremento unitário em uma determinada métrica de
desempenho, todas as outras sendo mantidas constantes. Se, por exemplo, a métrica P2 é a massa m, então
α2 é a mudança em Z associada a um aumento unitário em m.
15
OBJETIVOS CONFLITANTES

Frequentemente um dos objetivos a ser minimizado é o custo, C, de modo que P1=C. Então faz sentido medir
Z em unidades monetárias. Com esta escolha, uma mudança unitária em C dá uma mudança unitária em Z,
com o resultado que α1 = 1 e a Equação (6) se torna

𝑍𝑍 = 𝐶𝐶 + 𝛼𝛼2 𝑃𝑃2 + 𝛼𝛼3 𝑃𝑃3 … . (8)

Considere agora o exemplo anterior em que P1 = custo, C, e P2 = massa. m, de modo que:


1 1
𝑍𝑍 = 𝐶𝐶 + 𝛼𝛼𝛼𝛼 (9) ou 𝑚𝑚 = − 𝐶𝐶 + 𝑍𝑍 (10)
𝛼𝛼 𝛼𝛼

Então α é a mudança em Z associada a um aumento unitário em m. A Equação 10


define uma relação linear entre m e C.

16
OBJETIVOS CONFLITANTES
Isso representa uma família de linhas de penalidade paralelas, cada uma para um determinado valor de Z,
conforme mostrado na Figura 6(a). A inclinação das linhas é o recíproco da constante de troca, −1/α. O valor
de Z diminui em direção ao canto inferior esquerdo: As melhores escolhas estão lá.

A solução ótima é aquela mais


próxima do ponto em que uma
linha de penalidade é tangencial
à superfície de troca, pois é
aquela com o menor valor de Z.
Restringir a escolha a apenas um
candidato neste estágio não é
sensato - pois ainda não
sabemos o que a busca por
documentação irá revelar. Em
vez disso, escolhemos o
subconjunto de soluções mais
Figura 6. (a) A função de penalidade Z sobreposta ao gráfico de compensação. Os contornos de Z têm uma próximo do ponto tangente.
inclinação de −1/α. O contorno que é tangente à superfície de compensação identifica a solução ótima. (b)
O mesmo, plotado em escalas logarítmicas; a relação linear agora aparece como linhas curvas. 17
OBJETIVOS CONFLITANTES

Há uma pequena peculiaridade. Quase todos os gráficos de seleção de materiais usam escalas logarítmicas,
por muito boas razões. Uma relação linear, plotada em escalas logarítmicas, aparece como uma curva,
conforme mostrado na Figura 6(b). Mas o procedimento continua o mesmo: os melhores candidatos são
aqueles mais próximos do ponto em que uma dessas curvas apenas toca a superfície de troca.

Figura 6. (a) A função de penalidade Z sobreposta ao gráfico de compensação. Os contornos de Z têm uma inclinação de −1/α. O contorno que é
tangente à superfície de compensação identifica a solução ótima. (b) O mesmo, plotado em escalas logarítmicas; a relação linear agora aparece como 18
linhas curvas.
OBJETIVOS CONFLITANTES

Exemplo:
Funções de penalidade: A constante de troca para economia de peso em caminhões leves é α = $ 12/kg,
significando que o valor da redução de peso ao longo da vida útil do veículo é de $ 12 para cada quilo
economizado. Um fabricante de tais veículos oferece três modelos. A primeira utiliza painéis de aço para a
carroceria. O segundo usa alumínio, custa US$ 2.500 a mais, mas pesa 300 kg a menos. O terceiro oferece
painéis de fibra de carbono, custa US$ 8.000 a mais e pesa 500 kg a menos. Qual é a melhor compra?

Resposta
As funções de penalidade para os veículos de aço (1) e alumínio (2) são:

𝑍𝑍1 = 𝐶𝐶1 + 𝛼𝛼𝑚𝑚1 e 𝑍𝑍2 = 𝐶𝐶2 + 𝛼𝛼𝑚𝑚2

O veículo de alumínio é atraente apenas se seu Z for menor que o Z do de aço. Escrevendo:

∆𝑍𝑍 = 𝑍𝑍2 − 𝑍𝑍1 = 𝐶𝐶2 − 𝐶𝐶1 + 𝛼𝛼 𝑚𝑚2 − 𝑚𝑚1 = 2500 − 12𝑥𝑥𝑥𝑥𝑥 = −1100

O veículo com painéis de alumínio oferece uma economia de US$ 1.100 – é uma boa compra. Repetindo a
comparação para o veículo com painéis de compositos dá um valor de ΔZ = +$2.000. Não é uma boa compra. 19
OBJETIVOS CONFLITANTES

Funções de penalidade relativa: Quando, como é frequente, buscamos um material melhor para uma
aplicação existente, é mais útil comparar a nova escolha de material com a existente. Para fazer isso, definimos
uma função de penalidade relativa:
𝐶𝐶 𝑚𝑚
𝑍𝑍 ∗ = + 𝛼𝛼 ∗ (11)
𝐶𝐶0 𝑚𝑚0
em que o subscrito 0 significa propriedades do material existente e o asterisco * em Z* e α* é um lembrete
de que ambos agora são adimensionais. A constante de troca relativa α* mede o ganho fracionário em valor
para um dado ganho fracionário no desempenho. Assim, α* = 1 significa que, a Z constante,

∆𝐶𝐶 ∆𝑚𝑚
=−
𝐶𝐶0 𝑚𝑚0

e percebe-se que reduzir a massa à metade vale duas vezes o custo.

20
OBJETIVOS CONFLITANTES

A Figura 7 mostra o gráfico de permuta relativa, aqui em escalas lineares. Os eixos são C/Co e m/mo. O material
atualmente utilizado na aplicação aparece nas coordenadas (1,1). As soluções do setor A são mais leves e mais
baratas do que o material existente, as do setor B são mais baratas, mas mais pesadas, as do setor C são mais
leves, mas mais caras e as do setor D são desinteressantes. Os contornos de Z* podem ser plotados na figura. O
contorno que é tangente à superfície de troca relativa identifica novamente a área de busca ideal. Como antes,
quando escalas logarítmicas são usadas, os contornos de Z* tornam-se curvas.

Figura 7. Um gráfico de permuta relativa, útil para


explorar a substituição de um material existente com a
finalidade de reduzir massa ou custo ou ambos. O
material existente encontra-se nas coordenadas (1, 1).
Soluções no setor A são ao mesmo tempo mais leves e
mais baratas.

21
OBJETIVOS CONFLITANTES

Valores para as constantes de troca, α: Uma constante de troca é uma medida da penalidade de aumento de
unidade em uma métrica de desempenho, ou – mais facilmente entendido – é o valor ou “utilidade” de uma
diminuição de unidade na métrica. Sua magnitude e sinal dependem da aplicação.

Assim, a utilidade da economia de peso em um carro familiar é pequena, embora significativa; no aeroespacial é
muito maior. A utilidade da transferência de calor no isolamento da casa está diretamente relacionado ao custo da
energia usada para aquecer a casa; que em um trocador de calor para eletrônica de potência pode ser muito
maior porque aumenta o desempenho elétrico. A utilidade pode ser real, o que significa que mede uma
verdadeira economia de custo. Porém, às vezes, pode ser percebida, o que significa que o consumidor,
influenciado pela escassez, propaganda ou moda, pagará mais ou menos do que o verdadeiro valor dessas
métricas.
Tabela. Constantes de troca α para a permuta massa-custo em sistemas de transporte
Setor: Sistemas de transporte Base da estimativa Constante de troca, α (US$/kg)
Carro de família Economia de combustível 1-2
Caminhão Carga útil 5-20
Aeronave civil Carga útil 100-500
Aeronave militar Carga útil, desempenho 500-1000
Veículo espacial Carga útil 3000-10000 22
OBJETIVOS CONFLITANTES

Esses valores para a constante de troca são baseados em critérios de engenharia. Mais difíceis de avaliar são
os valores baseados no valor percebido. O valor da relação peso/custo de uma bicicleta é um exemplo.

A Figura 8 mostra o quanto os ciclistas


valorizam a redução de peso

Figura 8. Um gráfico da permuta custo-massa


para bicicletas que utiliza dados de uma
revista especializada. As soluções seguem um
código de cor conforme o material do qual o
quadro da bicicleta é feito. A tangente à
superfície de permuta em qualquer ponto dá
uma estimativa da constante de troca, que
depende da aplicação. Para um consumidor
que procura uma bicicleta barata para fazer
compras, o valor da economia de peso é baixo
($ 20/kg). Para um entusiasta que quer
desempenho, pode ser alto ($ 2.000/kg).
23
OBJETIVOS CONFLITANTES

Como as constantes de troca influenciam a escolha? O caráter discreto do espaço de busca para seleção de
material significa que uma determinada solução na superfície de permuta é ótima para certa faixa de valores
de α; fora dessa faixa, outra solução se torna a escolha ideal. A faixa pode ser grande, então qualquer valor da
constante de troca dentro da faixa leva à mesma escolha de material.

Isso é ilustrado na Figura 9. Para simplificar, as


soluções foram movidas para que, nesta figura,
apenas três sejam potencialmente ótimas. Para
α ≤ 0,1 (de modo que 1/α ≥ 10), a solução A é a
ótima; para 0,1 < α < 10, a solução B é a melhor
escolha; e para α ≥ 10, é a solução C.

FIGURA 9. Muitas vezes, um único material (ou subconjunto de materiais) é ótimo em uma ampla faixa de valores da
constante de troca. Então valores aproximados para constantes de troca são suficiente para chegar a conclusões
precisas sobre a escolha dos materiais. 24
Estudo de caso: Várias restrições

VASOS DE PRESSÃO LEVE


Qual é o melhor material para fazer um vaso de pressão leve? Seu raio R é prescrito. Deve conter uma
pressão p sem falhar por escoamento ou por fratura rápida e deve ser o mais leve quanto possível.

Tabela. Requisitos de projeto para vasos de pressão seguros

Função Recipiente de pressão leve (conter pressão p com segurança)


Restrições Raio R especificado
Não deve falhar por escoamento
Não deve falhar por fratura frágil
Objetivo Minimizar massa
Variáveis livres Espessura da parede t
Escolha do material

Este é um problema “min-máx”

25
Estudo de caso: Várias restrições

Definição do problema:
A massa de um vaso de pressão esférico de paredes finas é:

onde t é a espessura da parede e ρ a densidade do material de


𝑚𝑚 = 4𝜋𝜋𝑅𝑅2 𝑡𝑡𝑡𝑡 que é feito. Esta é a função objetivo, a quantidade que
desejamos minimizar.

𝑝𝑝𝑝𝑝
A tensão na parede do vaso é 𝜎𝜎 = (1)
2𝑡𝑡
Figura 10. Um vaso de pressão contendo
uma falha. A condição de que o vaso não deve sofrer escoamento exige que σ < σy, onde σy é o
limite de escoamento do material da parede. Isso requer uma espessura de parede de:

𝑝𝑝𝑝𝑝 𝜌𝜌
𝑡𝑡 ≥ resultando em uma massa de: 𝑚𝑚1 ≥ 2𝜋𝜋𝑅𝑅3 𝑝𝑝 (2)
2𝜎𝜎𝑦𝑦 𝜎𝜎𝑦𝑦

contendo o índice 𝜌𝜌
𝑀𝑀1 = (3)
𝜎𝜎𝑦𝑦
26
Estudo de caso: Várias restrições

A condição de nenhuma fratura frágil requer que σ <σf , onde :

𝐾𝐾𝐼𝐼𝐼𝐼
𝜎𝜎𝑓𝑓 =
𝐶𝐶 𝜋𝜋𝑎𝑎𝑐𝑐∗
Aqui 2𝑎𝑎𝑐𝑐∗ é o diâmetro da maior fissura ou falha contida na parede, C é uma
constante que tomamos como unidade e KIc é a tenacidade à fratura por
deformação plana. Isso requer uma espessura de parede de:
𝑝𝑝𝑝𝑝 𝜋𝜋𝑎𝑎𝑐𝑐∗
𝑡𝑡 ≥
2𝐾𝐾𝐼𝐼𝐼𝐼
𝜌𝜌 𝜌𝜌
resultando em uma massa de: 𝑚𝑚2 ≥ 2𝜋𝜋𝑅𝑅 𝑝𝑝 3
𝜋𝜋𝑎𝑎𝑐𝑐∗ (4) contendo o índice 𝑀𝑀2 = (5)
𝐾𝐾𝐼𝐼𝐼𝐼 𝐾𝐾𝐼𝐼𝐼𝐼
1
Igualando as duas massas dá a equação da linha de acoplamento que liga M1 e M2: 𝑀𝑀2 = 𝑀𝑀2 (6)
𝜋𝜋𝑎𝑎𝑐𝑐∗
1
com a constante de acoplamento 𝐶𝐶𝑐𝑐 =
𝜋𝜋𝑎𝑎𝑐𝑐∗
27
Estudo de caso: Várias restrições

A seleção: Os dois índices, M1 e M2, são os eixos das Figuras 8.1 e 8.2.

Figura 8.1 O design com restrições excessivas leva


a dois ou mais índices de desempenho vinculados
por equações de acoplamento. As linhas
tracejadas diagonais mostram a equação de
acoplamento para quatro valores de
comprimento de trinca 2𝑎𝑎𝑐𝑐∗ . As linhas de seleção
se cruzam na linha de acoplamento apropriada,
dadas as áreas de pesquisa em forma de caixa.

28
Estudo de caso: Várias restrições

Figura 8.2. O mesmo gráfico da


Figura 8.1, mas com maior
resolução. Os ovais coloridos
mostram dados para 960 aços,
ligas de alumínio e compósitos de
matriz polimérica.

29
Estudo de caso: Várias restrições

Os resultados estão resumidos na Tabela 8.2.

Tabela 8.2. Materiais para Vasos de Pressão Leve.

Tamanho da trinca 2𝑎𝑎𝑐𝑐∗ , mm Material selecionado


0,1 Aco de baixa liga AISI 4340 revenido 206°C
1 Liga de alumínio 7150, têmpera T6
10 Aço de baixa liga AISI 4135 Revenido
100 Aço inoxidável AISI 304, HT grau B

30
Estudo de caso, Objetivos Conflitantes:
Carcaças finíssimas para eletrônicos indispensáveis

A esbeltez em eletrônicos de consumo


(computadores portáteis, telefones celulares, leitores
de MP3, etc.) é um fator de design muito
importante. O ideal é um aparelho que você possa
colocar no bolso da camisa e nem lembrar que está
lá. A carcaça (caixa, ou capa) deve ser rígida e forte o
suficiente para proteger os componentes eletrônicos
(principalmente a tela) de danos. As carcaças
costumavam ser feitas de ABS (Acrilonitrila
butadieno estireno; copolímero resistente a
impactos) ou policarbonato moldado. Para ser rígida
o suficiente, uma carcaça de ABS deve ter pelo
menos 2 mm de espessura... O que é demais para os
designs atuais, nos quais a magreza e a leveza são
muito valorizadas.

31
Se a carcaça não for suficientemente rígida, ela flexiona e danifica a tela. O desafio: identificar
materiais para carcaças que sejam pelo menos tão rígidas quanto uma carcaça de ABS de 2 mm, mas
mais finas e leves.

Devemos reconhecer que, geralmente, o material com menor densidade (que permita fabricar uma
carcaça mais fina), pode não ser o mais rígido e vice-versa. Por isto é um projeto de seleção de
materiais com objetivos conflitantes. Será necessário um equilíbrio, uma permuta, entre estas dois
propriedades para chegar na solução.

32
Tradução: Podemos idealizar o carregamento em um painel da carcaça da forma mostrada na seguinte
Figura. Cargas externas fazem com que ele dobre. Para minimizar a deflexão, devemos aumentar a
rigidez do material; neste caso a resistência à deflexão.

Momento de inércia da
placa retangular:

𝑊𝑊 � 𝑡𝑡 3
𝐼𝐼 =
12
A carcaça pode ser idealizado como um painel de dimensões L × W
e espessura t, carregado em flexão.

Michael F. Ashby - Materials Selection in Mechanical Design, 4th Ed (2010)


33
Resistencia à Deflexão (Bending Stiffness)

Roy R. Craig -
Mechanics of
Materials 3rd
Ed (2011) 𝑃𝑃
𝐾𝐾 =
𝛿𝛿

A resistência à deflexão (bending stiffness), “ K” é a resistência de um membro contra a deformação


à flexão. A resistência à deflexão de uma viga pode ser derivada analiticamente da equação da
deflexão da viga quando nela é aplicada por uma força.

Ao comparar diferentes materiais, quanto menor for a deflexão (δ) para a mesma carga aplicada (P),
então maior será a resistência à deflexão. Para o caso de carga pontual no centro de uma placa
retangular, a resistência à deflexão será obtida como:

𝑃𝑃 � 𝐿𝐿3 𝑃𝑃 48𝐸𝐸𝐸𝐸
𝛿𝛿𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚 = → 𝐾𝐾 = 3 = 3
48 � 𝐸𝐸𝐸𝐸 𝑃𝑃 � 𝐿𝐿 𝐿𝐿
48 � 𝐸𝐸𝐸𝐸 34
Tabela: Os Requisitos de Projeto: Carcaça para Eletrônicos Portáteis

Função: Carcaça leve e fina (barata)


Restrições: Resistencia à deflexão K* especificada
Dimensões: L e W especificadas
Objetivos: Minimizar a espessura da carcaça
Minimize a massa do carcaça
(Minimizar o custo do material)
Variáveis livres: Espessura t da parede de revestimento
Escolha do material

Para atingir os objetivos, a rigidez “ K ” deve ser igual ou superior a um requisito de projeto K*
para que o painel desempenhe sua função adequadamente. Combinando as duas equações de
“ K “, e “ I ” e resolvendo para a espessura t; obtemos a Equação:

𝑊𝑊 � 𝑡𝑡 3
48𝐸𝐸 4𝐸𝐸𝐸𝐸𝑡𝑡 3 𝐾𝐾 � 𝐿𝐿3
1/3
12
𝐾𝐾 = 3
= → 𝑡𝑡 =
𝐿𝐿 𝐿𝐿3 4 � 𝐸𝐸 � 𝑊𝑊
35
3 1/3
𝐾𝐾 � 𝐿𝐿 1
𝑡𝑡 ≥
4 � 𝑊𝑊 𝐸𝐸1/3
Sabendo que a resistência à deflexão (K*) é uma das restrições do projeto, e que assumimos que as
dimensões “L” e “W’ são constantes, pois só podemos mudar a espessura “t”. O painel mais fino é
aquele feito do material com o menor valor do índice:

1
𝑀𝑀1 =
𝐸𝐸1/3
3 1/3
A massa do painel por unidade de área, ma , é apenas ρt, 𝐾𝐾 �
𝐿𝐿 𝜌𝜌
𝑚𝑚𝑎𝑎 = 𝜌𝜌 � 𝑡𝑡 =
onde ρ é sua densidade: 4 � 𝑊𝑊 𝐸𝐸1/3

O painel mais leve é aquele feito do material com o 𝜌𝜌


menor valor do índice: 𝑀𝑀2 =
𝐸𝐸1/3
36
Usamos o painel de polímero ABS existente, rigidez K*, como padrão para comparação. Se o ABS tem
um módulo E0 e uma densidade ρ0 , então um painel feito de qualquer outro material (módulo E,
densidade ρ) terá uma espessura t em relação à do painel ABS dado por:

3 1/3
𝐾𝐾 �𝐿𝐿 1
1/3
𝑡𝑡 4 � 𝑊𝑊 𝐸𝐸1/3 𝑡𝑡 𝐸𝐸0
= 1/3
→ =
𝑡𝑡0 𝐾𝐾 � 𝐿𝐿3 1 𝑡𝑡0 E
4 � 𝑊𝑊 1/3
𝐸𝐸0

Da mesma forma, a massa relativa por unidade de área: 1/3


𝑚𝑚𝑎𝑎 𝜌𝜌 𝐸𝐸0
= 1/3
𝑚𝑚𝑎𝑎,0 𝐸𝐸 𝜌𝜌0

37
Seleção do Material

A Figura 8.11 do livro


“Materials Selection in
Mechanical Design –
Michael Ashby” mostra o
gráfico necessário para a
seleção do material, que
foi limitado a algumas
classes de materiais para
simplicidade.

38
Seleção do Material

A Figura 8.11 está dividida em quatro


setores com o polímero ABS no
centro nas coordenadas (1,1). As
soluções do setor A são mais finas e
leves que o ABS. As do setor B e C
são melhores por uma métrica, mas
piores por outra. Os do setor D são
piores por ambos.

Para estreitar a escolha ideal, é


esboçada uma superfície de
permuta, mostrada como a linha
tracejada. As soluções mais próximas
a esta superfície são, em termos de
uma ou outra métrica, boas escolhas.
A intuição nos guia para aqueles
dentro ou perto do Setor A.

39
Analisando a figura, uma escolha logica seria o CFRP (Carbon fiber–reinforced polymer; polímero
reforçado com Fibra de Carbono); mas a fibra de carbono tem uma grande desvantagem quando
usada em smartphones – ela bloqueia as ondas de rádio, e é por isso que só a vemos usada com
certas restrições.

Mesmo assim, existe um celular construído com a


mistura de CFRP e outro material chamado de
Tecnologia HyRECM (Hybrid Radio Enabled Composite
Materials). As fibras de carbono são entrelaçadas com
compósitos de permitem o passo das ondas de rádio.

Obviamente, outra restrição que tem a fibra de carbono


em comparação com os outros materiais comumente
usados nos aparelhos eletrônicos é o custo $$$

https://pocketnow.com/worlds-first-phone-made-from-carbon-fiber-is-here
Carbon 1 Mark II
40
Função de Penalidade Relativa

Para ir mais longe no projeto de seleção de material para carcaças de eletrônicos, devemos formular
uma função de penalidade relativa. Definida como, Z* :

𝑡𝑡 𝑚𝑚𝑎𝑎

𝑍𝑍 = 𝛼𝛼𝑡𝑡∗ ∗
+ 𝛼𝛼𝑚𝑚
𝑡𝑡0 𝑚𝑚𝑎𝑎,0

A constante de troca (ou de compensação) αt* mede a diminuição da penalidade (ou ganho de valor)
para uma diminuição na espessura; ou seja mede a importância relativa atribuída a uma diminuição na
espessura.

A constante αm* , é usada para a importância relativa na diminuição da massa.

41
Por exemplo, se definimos αt* = 10 αm* , o
que significa que a espessura é muito mais
valorizada do que a leveza (a massa).

𝑍𝑍 ∗ 𝑡𝑡 𝑚𝑚𝑎𝑎
∗ = 10 +
𝛼𝛼𝑚𝑚 𝑡𝑡0 𝑚𝑚𝑎𝑎,0

Os contornos das funções de penalidade se


mostram como as linhas azules na Figura 8.11.
A linha da função de penalidade que definimos
anteriormente, e que da mais importância à
espessura, esta deslocada para a esquerda do
gráfico. Podemos ver que as soluções mais
próximas são as ligas de Alumínio e ligas de
Titânio.
42
Em 1997, quando extrema magreza (baixa espessura) e leveza (baixo peso) se tornaram os principais
impulsionadores do design, as conclusões alcançadas aqui eram novas. Naquela época, quase todas as
carcaças para eletrônicos portáteis eram feitos de ABS, policarbonato ou, ocasionalmente, aço.

Agora, 12 ou mais anos depois, exemplos de carcaças de alumínio, magnésio, titânio e até CFRP podem
ser encontrados em produtos atualmente comercializados.

https://studentwork.prattsi.org/infovis/visualization/evolution-of-mobile-phone/ https://www.amazon.com.br/ 43
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