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AVALIAÇÃO DE CALOR PARA FINS DE INSALUBRIDADE

1.0- Introdução

Este trabalho tem por meta realizar uma Avaliação de calor para caracterização de
insalubridade existente na Casa de caldeira da empresa xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. Os
dados levantados e a análise efetuada referem-se a situação encontrada por ocasião do
levantamento.

A avaliação seguiu a Lei 6.514, de 22 de Dezembro de 1977, enquadrando-se nas


Normas Regulamentadoras aprovadas pela Portaria 3.214, de 08 de Junho de 1978, e
modificações posteriores, contidas no Capítulo V, Título II da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT).
1.1- Efeitos do Calor

O trabalho efetuado com exposição a altas temperaturas provoca fadiga intensa e,


consequentemente, a diminuição do rendimento normal do trabalhador, em razão do maior
desgaste físico e de perda de água e sais.

Na medida em que há um aumento de calor no ambiente, ocorre uma reação no


organismo humano, no sentido de promover um aumento de perda de calor. Inicialmente,
ocorrem reações fisiológicas para promover a perda de calor, mas estas reações, por sua
vez, provocam outras alterações que, somadas, resultam num distúrbio fisiológico.

Os principais mecanismos de defesa do organismo, quando submetido a calor


intenso, são a vaso dilatação e a sudorese. Se o aumento do fluxo de sangue na pele e a
produção de suor forem insuficientes para promover a perda adequada de calor, uma fadiga
fisiológica pode ocorrer.

Os principais quadros clínicos causados por calor são: a exaustão do calor, a


desidratação, as câimbras de calor, o choque térmico e os problemas de pele. Geralmente
após três semanas de trabalho sob o calor, é que o trabalhador consegue a aclimatação,
tornando-se mais fácil e menos perigoso o trabalho em ambientes sob altas temperaturas.

O controle médico do trabalhador deve ser rigoroso, principalmente, na fase de


aclimatação (ou adaptação) inicial, e também, após o retorno de férias ou após qualquer
afastamento por mais de duas semanas, depois do que o indivíduo perde totalmente a
adaptação ao calor.
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1.2- Período de Levantamento das condições de trabalho

Os trabalhos de análise e levantamento das condições de trabalho da casa de


caldeira foram realizados no dia 20 de Abril de 2022, com duração de 60 minutos e
realizado no período das 14h 25min às 15h 25min.

2.0- Atividades da empresa/setor de trabalho

A caldeira da empresa XXXXXXXXXXX fica localizada no endereço


XXXXXXXX, sendo responsável por processos de geração de vapor para diversos fins.

3.0- Condições Ambientais do local de trabalho

3.1- Casa de Caldeira

Na casa de caldeira atualmente há 01 (um) operador de caldeira, o Sr. Fulano de Tal


que trabalha 8h por dia (08h-18h) de 2º a 6º feira.
O ambiente de trabalho (ver layout no Anexo II) é constituído por uma área em
alvenaria, piso de cimento alisado, com portão de enrolar de ferro frontal e nos fundos que
vão do piso até o teto, possibilitando a ventilação local e cobertura de telhas metálicas.

4.0- Atividades desenvolvidas (Postos de Trabalho)


O ciclo das atividades tem duração de 30 minutos e o período de amostragem foi de
60 minutos.
Foram realizadas três leituras e posteriormente obtida a média aritmética para cada
valor de TG, TBS e TBN presente na Tabela 01, respeitando a estabilidade do aparelho de
medição.
O valor de IBUTG para cada atividade foi obtida de acordo com a memória de
cálculo presente neste laudo (itens 6.1, 6.2, 6.3 e 6.4).
O tempo de exposição em cada atividade foi mensurado através de cronometro
digital.
A determinação do tipo de atividade e da taxa de metabolismo foi feita
consultando-se o Quadro nº 2 – NR 15/Anexo 3, o qual encontra-se no Anexo III deste
laudo.
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Tabela 01- Dados obtidos na avaliação

Posto de Posto de Posto de Posto de


Trabalho 1 Trabalho 2 Trabalho 3 Trabalho 4
(Com carga solar) (Sem carga solar) (Sem carga solar) (Sem carga solar)

Carregamento: Pesagem: Neste Abastecimento da Descanso: Neste


Neste posto de posto de trabalho o Caldeira: Neste posto de trabalho o
trabalho o operador operador de caldeira posto de trabalho o operador de
de caldeira realiza o realiza a pesagem da operador de caldeira caldeira permanece
carregamento de biomassa em balança realiza o descansando
biomassa (pedaços de de precisão modelo abastecimento da (sentado em
madeira) através de 3104 B (Alfa caldeira com repouso),
um carrinho de mão. Instrumentos). Neste biomassa. O operador observando o nível
Atividade Neste posto o posto o trabalhador realiza movimentos de água da caldeira,
trabalhador faz permanece com o de abaixar e levantar sua pressão e atento
movimentos com o corpo flexionado para para poder retirar a a eventuais
corpo de abaixar e frente e realiza biomassa da balança anormalidades.
levantar para movimentos e levá-la até a
transferir a biomassa constantes com os caldeira, o que exige
até o carrinho de mão. braços e empurra o um grande esforço do
carrinho de mão com trabalhador.
a carga.

TG (ºC) 38,1 32,23 50,37 31,9

TBS (ºC) 35,0 __ __ __

TBN (ºC) 26,23 26,37 30,47 27,23

IBUTG (ºC) 29,48 28,13 36,44 28,63

Tempo de
Exposição 02 01 03 24
(min.)

Trabalho de carregar
Trabalho de empurrar
pesos ou com
Tipo de Trabalho moderado carrinhos de mão, no
movimentos Sentado em repouso
atividade com os dois braços mesmo plano, com
vigorosos com os
carga
braços

Taxa de
Metabolismo 279 391 495 100
(W)

Tempo total
da atividade 04 02 06 48
(min.)
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5.0- Agente Agressivo

5.1- Calor

As exposições ao calor foram avaliadas através do "Índice de Bulbo Úmido e


Termômetro de Globo”, para o cálculo do "IBUTG", definidos pelas equações que se
seguem:

a- Ambientes internos ou externos sem carga solar direta:

IBUTG = 0,7 x TBN + 0,3 x TG

b- Ambientes externos com carga solar direta:

IBTUG = 0,7 x TBN + 0,1 x TBS + 0,2 x TG

Onde:

TBN= Temperatura de Bulbo Úmido Natural em ºC

TG= Temperatura de Globo em ºC

TBS= Temperatura de Bulbo Seco (temperatura do ar) em ºC

Os aparelhos que foram utilizados nesta avaliação foram: termômetro de bulbo


úmido natural, termômetro de globo e termômetro de bulbo seco devidamente calibrado e
cronometro digital.
As medições foram efetuadas no local onde permanece o trabalhador, à altura da
região do corpo mais atingida (tórax).
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6.0- Memória de Cálculo


6.1- Cálculo do IBUTG para a atividade de carregamento de biomassa
A atividade se processa com carga solar direta, logo:

IBTUG = 0,7 x TBN + 0,1 x TBS + 0,2 x TG

IBTUG = 0,7 x 26,23 + 0,1 x 35 + 0,2 x 38,10

IBTUG = 29,48 ºC

6.2- Cálculo do IBUTG para a atividade de pesagem de biomassa.


A atividade se processa sem carga solar direta, logo:

IBUTG = 0,7 x TBN + 0,3 x TG

IBUTG = 0,7 x 26,37 + 0,3 x 32,23

IBTUG = 28,13 ºC

6.3- Cálculo do IBUTG para a atividade de abastecimento da caldeira


A atividade se processa sem carga solar direta, logo:

IBUTG = 0,7 x TBN + 0,3 x TG

IBUTG = 0,7 x 30,47 + 0,3 x 50,37

IBTUG = 36,44 ºC

6.4- Cálculo do IBUTG para a atividade de descanso do operador

Os períodos de descanso serão considerados tempo de serviço para todos os efeitos


legais.

A atividade se processa sem carga solar direta, logo:

IBUTG = 0,7 x TBN + 0,3 x TG

IBUTG = 0,7 x 27,23 + 0,3 x 31,90

IBTUG = 28,63 ºC
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6.5- Cálculo do IBUTG Médio (de acordo com a NR 15/Anexo 3 e NHO 06)

O valor de IBUTG médio ponderado para uma hora, é determinado pela seguinte
fórmula:

IBUTGMédio = IBUTG1 x T1 + IBUTG2 x T2 +... + IBUTGn x Tn


60

IBUTGMédio = 29,48 x 4 + 28,13 x 2 +36,44 x 6 + 28,63 x 48


60

IBUTGMédio = 29,45 ºC

6.6- Cálculo da Taxa Metabólica Média Ponderada (de acordo NR 15/Anexo 3 e


com NHO 06)

A taxa de metabolismo média (MMédio) ponderada para uma hora, é determinada


pela seguinte fórmula:

MMédio = M1 x T’1 + M2 x T’2 + ... Mt x T’t + ... Mm x T’m , ou seja,


60

sendo:
MMédio = taxa metabólica média ponderada no tempo em W
Mi = taxa metabólica da atividade “i” em W
t’i = tempo total de exercício da atividade “i”, em minutos, no período de 60 minutos corridos mais
desfavorável
i = i-ésima atividade
m = número de atividades identificadas na composição do ciclo de exposição
t’1 + t’2 + ... + t’i + ... + t’m = 60 minutos

MMédio = M1 x T1 + M2 x T2 + M3 x T3 + M4 x T4
60

MMédio = 279 x 4 + 391 x 2 + 495 x 6 + 100 x 48


60

MMédio = 1146 + 782 + 2970 + 4800 = 9698/60  MMédio = 161,63 W


60
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Consultando o Quadro nº 01 da NR 15/anexo 3 (Limite de exposição ocupacional


ao calor), observamos que para uma taxa de metabolismo médio de 161,63 W (~ 165) o
máximo IBUTG permitido é 31,2 ºC.

9.0- Conclusão

A atividade de operador de caldeira executada na Caldeira da empresa XXXXXXXXXX


caracterizou-se como sendo uma atividade salubre, pois a taxa de metabolismo calculada foi de
161,63 (~165) W e ao examinar o Quadro nº 1 do Anexo 3 da NR-15 (Atividades e operações
insalubres), o valor máximo de IBUTG permitido é de 31,2°C e o valor calculado para esta
atividade foi de 29,45°C, portanto abaixo do limite máximo permitido. Desta forma, não é
necessária a concessão de adicional de insalubridade por calor ao operador desta caldeira.
ANEXO I – FOTOS ILUSTRATIVAS

Foto 01- Caldeira do EBMA Foto 02- Carregamento de Biomassa

Foto 03- Pesagem de Biomassa Foto 04- Balança


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Foto 05 – Abastecimento da Caldeira Foto 06 – Descanso do operador


ANEXO II – DADOS DA CALDEIRA E LAY OUT DA CASA DE CALDEIRA

DADOS DA CALDEIRA
Placa da Caldeira

Nº de Ordem - 0001

PMTA (Pressão Máxima de Trabalho Admissível) – 12 kg/cm2

Superfície de Aquecimento – 16 m2

Ano de Edição - 2002

Categoria do Gerador (NR3) - B

Ano de Fabricação - 2002

Pressão de Teste – 18kgf/cm2

Capacidade – 350 kg/h ou 223,300 kcal/h

Código do Projeto: ASME -I- Power Boiler

LAY-OUT DA CASA DE CALDEIRA


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ANEXO III

QUADRO N° 1 DO ANEXO 3 - NR-15

(Limite de exposição ocupacional ao calor)


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QUADRO N° 2 DO ANEXO 3 - NR-15

(Taxa metabólica por atividade)


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