Você está na página 1de 15

1

Atelier de Guionismo

A Máquina

André D´Errico - a22100302

Bruno Grácio - a22110423

Catarina Bogalho – a22202747

Daniela Correia - a22107357

Gonçalo Reis - a22106051

Gonçalo Violante - a22107659

Joana Garcia - a22104598

João Cordeiro – a22204441

Miguel Sequeira - a22104661

Pedro Menezes - a21804801

Rodrigo Gonçalves - a22104386

Tiago Russo - a22109575


2

Como pode uma família sustentar-se quando, inesperadamente,


José cai no desemprego, substituído por uma máquina?
3

Sinopse da Série

José, operário, é trocado por uma máquina no seu trabalho.


Laura, sua mulher, professora, é colocada longe de casa.
Como podem os dois realizar, sem mentiras, o sonho de adotar
uma criança?
Sem habilitações para fazer mais nada, José tenta recuperar
o seu emprego de volta, mas bate de frente com a máquina
novamente. Após percorrer as oficinas da cidade e de lhe
terem fechado as portas, consegue arranjar emprego numa
pastelaria, mas com data de validade curta.
Mais tarde, num dia em que chega tarde a casa, fica
surpreendido com Hugo, filho adotivo, por ter feito o jantar.
Hugo conta-lhe que passava os dias a ver a avó cozinhar e
aprendeu as receitas com ela. José vê potencial nele e começa
a vender bolos para fora.
Tudo parecia estar a correr bem até a assistente social bater
à porta de José devido a uma denúncia.
4
5

Personagens

JOSÉ
José, de 50 anos, é introvertido, uma pessoa atenta ao que
lhe rodeia. Gosta de lidar com os outros com sinceridade. É
justo e trabalhador. Casado com Laura há 26 anos, tem-na
como o seu grande pilar.
Viveu sempre no bairro de Benfica. Aos seus 18 anos deixa de
estudar e começa a trabalhar numa oficina a pintar carros.
Após mais de 30 anos de serviço, é despedido para dar lugar
a uma máquina. Não conformado com o sucedido, José faz de
tudo para arranjar um novo emprego e consegue-o da forma
mais inesperada.

Laura
Mulher responsável, com muito estimo pelo seu lar e pelo seu
trabalho. É colocada numa escola do outro lado do país. Com
o novo membro da família a entrar em casa delega as
responsabilidades para o marido que lhe omite sobre o
despedimento.

HUGO
Hugo é uma criança que perdeu os pais muito novo e ficou à
guarda da avó, onde aprendeu tudo sobre cozinha tradicional.
Mais tarde, foi entregue aos serviços sociais por falta de
condições. Durante alguns anos, Hugo andou de família de
acolhimento em família de acolhimento, acabando sempre por
ir parar aos serviços sociais. Tudo isto fez dele uma criança
problemática, rebelde, mas carente
emocionalmente e muito meiga.
6

Sinopse do episódio piloto

Após trinta anos a trabalhar numa oficina, José, operário,


perde o seu emprego, para dar lugar a uma máquina. Laura,
sua mulher, professora, é colocada numa escola longe de casa.
E, no mesmo dia, recebem a notícia de que o processo de
adoção foi concluído. Têm uma semana até receberem o rapaz.
José não consegue contar a Laura que foi despedido.
7

Episódio Piloto

1. EXT. OFICINA – DIA

Uma pequena oficina de bairro nas ruas de Benfica. Há um


portão na entrada, azul, muito alto. Na fachada está uma
placa torta que diz “Pintura e Tira Mossas”.

Uma JOVEM MULHER, com UMA CRIANÇA pela mão, passa e


cumprimenta com um gesto para dentro da oficina. A criança
faz o mesmo logo de seguida.

2. INT. OFICINA – DIA

Um elevador hidráulico com um Mercedes Benz 200 antigo sem


rodas. Perto, O DONO DO CARRO, a fumar, e UM OPERÁRIO,
saúdam para fora.

O chão da oficina está imundo: manchas de óleo,


desperdícios e algumas ferramentas espalhadas. As paredes,
sujas e com tinta seca de várias cores, têm calendários com
fotos de mulheres nuas.

Ouve-se o som metálico de uma ferramenta que cai no chão, e


do elevador hidráulico, e do aerógrafo, e de conversas que
se cruzam... E um rádio roufenho que debita em cima de um
balcão, tapado com um monte de papelada.

E, mesmo à entrada, está uma caixa de cartão enorme, e


outras mais pequenas, por abrir. Ao lado, uma estrutura de
metal que um pano preto cobre em parte.

JOSÉ (50) dedica-se à pintura de um Peugeot 106 de cor


amarela. Está vestido com um macacão azul com marcas de uso
visíveis.

O seu ajudante, ANDRÉ (20), está a falar com o PATRÃO (60).


Os dois olham para as caixas de cartão que estão à entrada.

José observa-os enquanto bebe água. Detém um instante o seu


olhar nas caixas de cartão. Não consegue ouvir a conversa.
André volta para junto dele. José pousa a garrafa.
8

JOSÉ
Então, ‘tá tudo bem? Passa-se alguma coisa ali?

ANDRÉ
Não, não, nada. ‘Tá tudo bem!

JOSÉ
(a gozar)
Então vá, volta mas é ao trabalho, palhaço.

Lá fora, passa UMA RAPARIGA com os seus vinte anos,


atraente, e André assobia-lhe. José ri-se.

JOSÉ
Tu não tens juízo nenhum… Quando é que cresces?

André ri-se. Muda de assunto.

ANDRÉ
Já sabes notícias do puto?

JOSÉ
Não, não disseram mais nada.

ANDRÉ
Essas merdas demoram sempre tempo. Vocês vão
conseguir. Desejo-vos boa sorte.

Retomam o trabalho. Enquanto pintam, o Patrão, no início


das escadas para o escritório, faz sinal a José para que o
acompanhe.

Os dois sobem as escadas de metal. O Patrão entra, José


fica um pouco para trás; e depois entra também.

André e OS COLEGAS ficam a olhar, de longe, apreensivos.

3. INT.ESCRITÓRIO – DIA

Há uma pequena secretária com um computador antigo; a


cadeira onde o PATRÃO se senta está partida. JOSÉ, a
transpirar, bebe água. Ficam sentados frente a frente.

JOSÉ
Então, chefe, o que se passa?
9

O patrão demora a responder. José continua.

JOSÉ
De manhã deixaram aquela caixa ali.

PATRÃO
Eu já queria ter falado contigo.

JOSÉ
Então?

PATRÃO
O negócio anda uma merda! Temos de nos
adaptar...

José fica confuso.

JOSÉ
Então, mas… Comprou uma máquina, foi?

4. INT. OFICINA - DIA

ANDRÉ está a falar com UM COLEGA e, de repente, ouvem-se


berros vindos do escritório.

JOSÉ
(off)
A mim? Eu? E o André? Ele sabe usar a máquina?

OS OPERÁRIOS interrompem o serviço e ficam curiosos com o


que se passa no escritório.

JOSÉ
(off)
Eu pinto os teus carros há 30 anos…

5.INT. OFICINA – DIA

JOSÉ desce as escadas, pontapeia um balde de tinta que está


no meio do caminho e esta espalha-se por todo o lado.
Dirige-se para a casa de banho.

ANDRÉ afasta-se.
10

Vemos que o PATRÃO observa a situação pela janela do


escritório, forçando as persianas. E as persianas voltam ao
normal, afasta-se.

6. INT. BALNEÁRIO - DIA

JOSÉ entra no pequeno balneário sujo de óleo. Despe o


macacão, tira a t-shirt e lava a cara no lavatório preto.
Esfrega o rosto com força. Fica a olhar-se no espelho
partido por momentos.

Ao pé dos cacifos, José veste o casaco. Pega na mochila e


sai.

7. INT. OFICINA - DIA

JOSÉ pousa a mochila no chão e recolhe algumas ferramentas


pela oficina. O silêncio invade o espaço. Os seus COLEGAS
limitam-se a observá-lo, sem reação.

José põe a mochila ao ombro e sai porta fora, de cabeça


levantada.

ANDRÉ, ao fundo da oficina, isolado dos colegas, olha para


José e depois baixa a cabeça.

8. INT.CASA DE JOSÉ E LAURA/SALA - FINAL DO DIA.

Uma casa simples, pequena e acolhedora. A cozinha e a sala


pertencem à mesma divisão. A mobília é em tons de castanho.
Há um pequeno sofá, castanho, e uma poltrona verde. A
televisão está num móvel alto, preenchido com livros. Duas
janelas ao fundo da sala fazem com que a luz do sol
declinante invada o espaço.

JOSÉ está tranquilamente sentado na poltrona, com roupas


novas, a ver na televisão um programa sobre animais
selvagens. Está muito interessado, tranquilo, sem vestígios
do choque dessa tarde.

LAURA (42) entra em casa e mostra-se um tanto surpreendida,


não estava à espera de encontrar o homem em casa já.
11

LAURA
Então amor, como é que estás? Trouxe frango
assado.

Vai colocar na bancada o frango assado e as batatas fritas


para o jantar. E vai de seguida ao encontro de José e dá-
lhe um beijo na boca.

JOSÉ
Foste ao Inácio? Como é que ele está?

LAURA
Nem reparei no Inácio, esqueci-me de lhe
perguntar como está a mulher! ...Deixa-me só
tirar os sapatos, vai pondo a mesa.

9. INT. SALA - NOITE.

JOSÉ e LAURA, já na mesa de jantar, frente a frente, comem


num clima tenso. Ouve-se em fundo a voz do locutor do
programa sobre animais selvagens, e a música de
acompanhamento. Laura, finalmente, fala.

LAURA
Como é que foi?…

JOSÉ
O costume. Carros, tinta, carros…

Laura ri-se e repete:

LAURA
Carros, tinta, carros…

JOSÉ
E a escola?

LAURA
(demora)
...A diretora chamou-me ao gabinete.

José olha para Laura, preocupado.

LAURA
(sem mostrar contentamento)
Conseguiu pôr-me a efetiva.
12

JOSÉ
A sério?! Parabéns, querida!
(pausa)
...Que cara é essa?

LAURA
Este frango está seco. Não está?
(muda de assunto)
Foste ver o correio?

JOSÉ
A mim sabe-me ao mesmo de sempre.

Está ao lado da fruteira. ...Não consegui


olhar...

10. INT.COZINHA - NOITE

Depois do jantar, LAURA mete a loiça na máquina. Lava as


mãos e, enquanto as seca num pano branco, olha para as
cartas que estão junto da fruteira.

Pega nas cartas e vê que há uma da Segurança Social, que


abre.

11. INT. QUARTO DA CRIANÇA - NOITE.

As paredes do quarto são azul-bebé. A cama ainda está por


fazer, mas o lençol e o édredon já estão ali ao lado,
prontos para serem colocados. JOSÉ está a montar com esmero
a mesa de cabeceira. É um quarto que espera uma criança,
talvez demasiado de bebé.

Na parede ao fundo há uma janela e uma secretária branca,


pequena, com uma cadeira. Em cima dela há um porta-lápis e
uma base de secretária que tem um computador. Em cima da
secretária há uma prateleira com livros de “Uma Aventura” e
alguns puzzles.

LAURA entra, eufórica.

LAURA
Amor, ele vem viver connosco!

JOSÉ
13

(contente)
O quê?!

LAURA
(mostra-lhe a carta)
Lê!

JOSÉ
(pausa, lê)
Já para a semana?

Mas Laura morde o lábio e o sorriso desaparece.

JOSÉ
Mas que cara é essa, Santo Deus? ...Não
percebo. ...Diz.

Laura senta-se na cama. José senta-se junto dela e põe a


mão sobre a sua perna.

JOSÉ
O que se passa?

LAURA
(olha-o nos olhos)
A diretora colocou-me numa escola…

JOSÉ
Sim, tu disseste-me.

LAURA
Mas é lá em cima, longe, em Viseu. Foi o melhor
que ela conseguiu.

José fica a olhar para ela com cara de surpresa.

LAURA
Novamente com a casa às costas. Não vamos
conseguir… O que é que vou dizer aos agentes da
Segurança Social?

JOSÉ
(de imediato)
Nada! Não podes! Vamos ter o nosso filho!
…Calma.

LAURA
(as lágrimas caem)
Tu tens tanto trabalho… Como é que podes
conciliar tudo?
14

Laura limpa as lágrimas e dá um abraço a José. E pergunta


de novo:

LAURA
Consegues ir tu à escola buscá-lo, depois da
oficina?

José conforta a mulher. Não tem coragem de contar que foi


despedido.

JOSÉ
Tenho tempo para isso, sim.
15

Você também pode gostar