ARA-PUCA
 
 
 
escrito por
 
 
Rennan Andrade
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INT. CAMINHÃO VERMELHO - MANHÃ
Na boleia de um caminhão vermelho há um colchão de solteiro,
garrafa térmica e um travesseiro. No painel há um carteira,
março de cigarro, isqueiro e rebite. Já dentro do porta-luvas
há cds de música brega e uma peruca loira.
TUCA, 39 anos, barbudo, preto, cabelo curto, alto e parrudo
está dirigindo seu caminhão, fuma um cigarro, emita o agudo
que a voz da rádio faz, tosse, sorri levemente, olha para o
retrovisor, traga o cigarro e continua a cantar.

2. EXT. POSTO DE GASOLINA - NOITE

Posto de gasolina com um loja de conveniência, restaurante,
banheiros, caminhões, carros, borracharia e pousada.
Caminhão vermelho estaciona perto de outros caminhões.
Tuca suado, olheiras profundas, desce do automóvel com uma
garrafa térmica vermelha, mas enquanto caminha em direção ao
restaurante, um HOMEM QUALQUER de 30 anos, branco, baixo e
barba feita está sentando em um pequeno banco de madeira
falando ao telefone.
HOMEM QUALQUER
Tá de pijama, é? AHHH. Você fez um
desenho. (Ele espera alguns
segundos e responde a filha
animado) Tá com sono, né? Vai
dormir quando o papai tiver aí
nesse final de semana ele vai levar
seu bebezinho para tomar sorvete.
Agora vai dormir. (Ele espera
novamente alguns segundos e com uma
voz meiga responde) Papai também te
ama, beijos.

3. INT. RESTAURANTE - NOITE

Restaura te com mesas espalhadas pelo salão, uma cozinha, um
balcão perto da porta, uma tv pendurada no teto e uma mesa de
self serve.
Tuca está sozinho comendo sua refeição enquanto na tv passa
um jogo de futebol.
HOMENS, de 40 a 50 anos, estão gritando, xingando, batendo na
mesa e comendo sua refeição durante a partida de futebol.
No comercial da tv aparece um propaganda de homens de cueca
fazendo poses sensuais.
 2.

4. INT. BANHEIRO - NOITE

Banheiro com vaso sanitário, mictórios e chuveiro.
Tuca dentro do box do chuveiro passa sabão no seu peito,
braços, bunda e virilha. Ele desliza sua mão para seu pênis,
o segura, morde o canto da boca enquanto fecha seus olhos e
masturba-se.

5. INT. CAMINHÃO VERMELHO - NOITE

Porta do caminhão abre.
Tuca com os olhos vermelhos, cara fechada, olhos caídos e
cabelo molhado entra no caminhão, senta-se na poltrona do
motorista, pega o rebite em cima do painel, coloca na boca,
pega uma garrafa térmica vermelha, bebe água, engole o
remédio, coloca a garrafa vermelha perto da sua perna, liga o
caminhão e dirigi em direção a estrada.

6. EXT. PORTÃO DE CARGA DE SUPERMERCADO - DIA

Um enorme portão azul aberto com um monte de caixas no chão.
Tuca conversa com JÚLIO, branco, de crachá, prancheta, caneta
azul em sua mão, camisa social branca e calça preta em frente
a um portal azul.
JÚLIO
Tá tudo certo (ele olha para a
prancheta anotando algo), mas quase
que você não chega no prazo.
TUCA
Houve imprevistos.
JÚLIO
Sei.(Júlio olha para Tuca serrando
os olhos e fazendo um sorriso sutil
com o canto da boca) Vejo Cassandra
hoje a noite?
TUCA
Talvez. Não sei se vou passar a
noite aqui ou se pego estrada.
JÚLIO
Hoje é dia de "karaodivas" (Tuca
levanta a sobrancelha e coça a
cabeça). OK, ok não vou mais
insistir. Tchau!
 3.

TUCA
Tchau!

7. INT. CASA DE SHOW - NOITE

Na casa de show há um palco com um microfone no meio, bar,
luzes, maquina de fumaça, camarim e banheiro.
Várias pessoas dançam, bebem e beijam-se ao som da música.
Júlio com um vestido curto, peitos falsos, peruca, olhos com
sombra, lápis de olho e batom está em cima do palco usando
fones de ouvido em frente a uma mesa de dj e um computador.
Júlio para a música, vai para o meio do palco, pega microfone
do suporte e faz um anuncio.
JÚLIO
Para iniciar nossas apresentações
hoje a noite, com vocês, Cassandra
Caminhão!
Júlio devolve o microfone ao suporte e sai do palco.
Gritos tímidos e poucos aplausos.
Tuca está vestindo um vestido vermelho, peruca loira, rosto
maquiado e salto alto. Ele sobe ao palco, caminha em direção
ao microfone no meio do palco, delicadamente segura o
microfone, faz um sinal com a cabeça para Júlio que retribui
o sinal apertando uma tecla do computador.
Melodia de uma música começa espalhasse pelo ambiente
sutilmente.
Tuca olha para a multidão a sua frente, começa a cantar uma
música brega e lenta.
No meio de uma nota alta Tuca perde o folego, sua voz falha,
começa a suar, sua respiração está ofegante, encara um homem
idoso no meio da multidão, novamente sua voz falha, ele
continuar cantando, olha para outra direção, mas novamente
volta seu olhar para o idoso que o encara continuamente, ele
desvia olhar, olha para o local que o idoso estava e não o
encontra.
Voz de uma pessoa qualquer grita: "Uuuu, vai para casa
maricona"
Tuca fecha os olhos e termina a última frase da sua canção.
Som de palmas tímidas.
 4.

TUCA
Obrigada.

8. EXT. FRENTE DA CASA DE SHOW - NOITE

Tuca sem peruca, maquiagem, salto alto e de roupas casuais
está fumando um cigarro encostado na parede observando a
movimentação de pessoas que saem e entram da casa de show.
Ele pega seu celular, abre um aplicativo de relacionamento
gay, fuma seu cigarro, desliza seu dedo rapidamente na tela
do celular, desliga o celular o colocando no bolso, fuma a
bituca do seu cigarro e a joga no chão.

11. EXT. RUA DESERTA - MADRUGADA

Caminhão vermelho estacionado em uma rua escura.

10. INT. CAMINHÃO VERMELHO - MADRUGADA

Roupas masculinas jogadas em banco do passageiro e motorista,
boné preto, camisa social branca, colete preto, calça branca
e uma bota preta de couro no tapete. Há um celular em cima do
painel e uma embalagem aberta de camisinha do lado cama.
Tuca está deitado no colchão de bruços enquanto JOSÉ, 45 anos
e branco faz movimentos, lentos, forte de vai e vem com a
lombar.
JOSÉ
Vou gozar! Vou gozar!
Tuca com o rosto lateralmente encostado no travesseiro encara
a janela do seu caminhão, aperta o lençol da cama com as mãos
e fecha os olhos.
JOSÉ (CONT'D)
AAAAAAAAAAAA.
José cai com seu corpo em cima de Tuca, vira-se para o lado e
pega seu celular em cima do painel.
Tela do celular com a foto uma mulher e um menino escrito na
tela: "7:43".
JOSÉ (CONT'D)
Caralho, tenho que volta logo para
casa!
José levanta rapidamente, senta-se no assento de passageiro,
veste suas roupas e calça sua bota enquanto Tuca o observa.
 5.

TUCA
Você soca tão mau (José vira-se seu
rosto para Tuca). Coitada da sua
esposa tenho pena dela?

JOSÉ
Vai se fode, viadinho!
Jose pega seu boné, abre a porta do caminhão, desce e a bate
com força.
JOSÉ (CONT'D)
Viadinho arrombado!
Tuca sorrir, suspira, veste sua cueca, senta-se na poltrona
de motorista e pega o março de cigarro em cima do painel.
Março de cigarro está vazio.
TUCA
Merda! Merda! Merda! (Tuca soca
violentamente o volante)
Tuca com a respiração ofegante, brilho nos olhos,
sobrancelhas juntas e lábios estreitos liga o caminhão.

12. INT. MERCADINHO - DIA

Mercadinho com 4 corredores cheios de produtos e balcão.
Som de caminhão estacionando.
Tuca esbaforido entra no mercadinho, cabeça baixa, caminha em
direção ao caixa e encontra o atendente PEDRO, 22 anos,
preto, alto e magro.
TUCA
Quero 5 cigarros. Não! (Tuca
balança a cabeça passando a mão
nela) Me de 5 marços.
Pedro com olhos levemente arregalados, lábios caídos e
sobrancelha direita um pouco arqueada passa os marços no
caixa e os coloca em uma sacola.
PEDRO
R$45,90 (Pedro encara Tuca com os
olhos meios lacrimejados e mão
suando)
Tuca, levanta seu rosto, o encara Pedro, assusta-se, dá uma
nota de R$50,00 para Pedro e sai apressadamente do
mercadinho.
 6.

Pedro com os olhos brilhando olha para a saída sem esboçar

expressão, pega seu celular, abre um aplicativo de conversas
e manda mensagem para sua mãe dizendo: "Acho que acabei de
encontra meu pai".
Tuca com os olhos vermelhos, respiração ofegante e voz pesada
entra no mercadinho.
TUCA
Você já é um homem.
Tuca encara Pedro, fuma seu cigarro, sorrir e lágrimas
escorrem do seu rosto enquanto seu corpo todo treme.

13. INT. QUARTO INFANTIL - MADRUGADA

Quarto com uma cama de solteiro, bola de futebol, guarda-
roupa, baú de brinquedos e uma mochila.
Pedro com 7 anos está de pijama dormido em sua cama, acorda
com barulho, olha em direção a porta do seu quarto, puxa a
coberta para o lado, levanta da cama e caminha nas pontas do
pés em direção a porta.
Porta de madeira abre, luz da lua ilumina a cara de Pedro
como os olhos arregalados, ombros juntos e lábios pálidos.
Pedro observa Tuca com 24 anos saindo pela porta da sala com
uma mochila e chaves.
A porta abre, Tuca de costa entra em casa, fica parado em
frente a porta com uma mão na maçaneta e a outra com a chave
na fechadura fazendo o movimento anti-horário.
Tuca olha para trás.
Tuca olha para Pedro, coloca o dedo indicador na boca e pisca
para Pedro.
Pedro sorrir, Tuca coloca o dedo indicador na boca e pisca
para Pedro.
Pedro sorrir, Tuca coloca o dedo indicador na boca e pisca
para Pedro.
Porta da sala aberta e barulho do motor de um caminhão.
O rosto de Pedro com um sorriso enorme e olhos arregalados
vai se aproximando do quadro.
OUTRO DIA.
 7.