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30 Dias com meu Marido Milionário


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Primeiro Volume da Série Meu Marido Milionário

DIA 1
Ah, a primavera.
Quando os canteiros estão repletos das flores mais coloridas. Quando o vento
sopra e todo meu corpo se arrepia. Mas basta o sol tocar em minha pele que
estou em chamas novamente.
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É uma mistura de frio e calor que me deixa bêbada. Só por estar viva.
Balançando alto nessa rede.

Ele está sem camisa, seus ombros largos e sorriso irresistível logo chamam
minha atenção. Só de shorts ele carrega consigo uma tigela com grandes
fatias de carne. Desce as escadas que o leva num extenso gramado. Daqui de
cima, vejo sua silhueta branca em meio à todo esse verde esmeralda.

Há cerca de vinte metros diante dos meus olhos, vejo o grupo de pessoas
conversando animadas ao redor de uma churrasqueira. Grandes e frondosas
árvores cercam à todos.

Enzo acaba de chegar com a picanha, todos celebram com salvas de palmas,
outros dão mais um gole na cerveja. E eu estou aqui observando tudo isso
como uma mera espectadora.
Então ele acena para mim. Faço sinal com a mão que já estou indo.

Ultimamente estive pensando muito se pertenço à esse mundo.

Desço da rede, e saio da varanda onde às minhas costas fica esse casarão no
meio do nada.

Passo ao lado dos três carros estacionados sob uma alta mangueira, enquanto
aquelas mais maduras já estão no chão.

Sinto o vento úmido vindo do enorme rio à nossa frente, olho mais além e
vejo os ranchos se espalhando nas encostas do Refúgio das Aves.
É o nome desse lugar onde se alugam casarões por temporada.

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Enzo me abraça forte quando chego ao seu lado.


“Essa é a mulher que mudou a minha vida.”
Todos batem palmas, dando altas gargalhadas.
“Vocês dois são o casal mais lindo que eu já vi,” diz uma amiga de Enzo.
Sorrio em retribuição pelo elogio, e logo noto o relógio de ouro em seu braço.

Cinco lanchas nos esperam além do píer. Cada casal com a sua própria.
De mãos dadas vou com Enzo para mais um fim de semana perfeito.

DIA 5
Os lustres de cristal, o carpete vermelho que se estende por entre as mesas, e
as paredes de madeira brilhante.
“Esse cordeiro tá uma delícia!”
“Esse é o melhor restaurante dos Três Lagos.”
E estou novamente com eles. Conversam sobre investimentos, viagens
européias, enquanto fico encarando a taça de vinho como um patinho feio.
Vez ou outra, os encaro e dou sorrisinhos.
É hora do almoço, e o local está cheio de burburinho e risadas. Numa mesa
próxima de nós, noto duas mulheres negras vestindo terninhos. Observo que
elas estão com seus cabelos presos num coque alto, e sapatos fechados de
salto alto.
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Por um minuto, me vejo ali dentro daquele traje. Encaro o senhor grisalho
que aperta minha mão. De seus lábios leio as palavras: Negócio Fechado.
Como seria ser dona de sua própria empresa?
Dona de seu próprio destino?

Enzo aperta minha mão, e a beija.


“Gostou da comida?”
“Deliciosa.”
Ele estende seu braço e me abraça de lado.
Ficamos assim até à uma da tarde, quando o motorista chega para nos levar
embora.

DIA 9
Três copos de açaí, três mulheres dando risadas e relembrando o passado.
“Você deixou a gente de lado naquela época.”
“Foi só uma fase, agora estamos juntas de novo,” repito pela décima vez.
“Assim espero.”
São duas amigas que sempre que posso estou me encontrando com elas.
O calor que vem da praça entra dentro da Açaí & Cia.
“Daqui a pouco tenho que voltar.”
“Mas você não tinha duas horas de almoço?” pergunto intrigada.
“Tinha,” ela vira os olhos ao falar. “Meu patrão quer que eu volte mais cedo
hoje.”

Suspiramos decepcionadas.
“E você, Mari, já decidiu seu futuro?” pergunta Michelle, a ruiva.
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Penso bem, e então respondo:


“Queria ser dona de algum negócio, empreender talvez.”
“Ah, fala sério, Michelle,” sinto um ar de ironia na voz de Luana, loira de
olhos verdes. “Você acha que ela vai mesmo trabalhar?”
As duas se entreolham e balançam a cabeça em confirmação.

“Ué, por que não?” pergunto incomodada.


“Sua vida já tá garantida, você tem um noivo podre de rico.”
“Isso não quer dizer nada,” retruco, sentindo minhas mãos suarem.
“Tem tudo a ver, só você não vê,” Luana termina a conversa.

E por alguma razão, aquilo me dá uma sensação estranha. Meu estômago fica
gelado. Assim como meus dentes, quando sinto o açaí descer por minha
garganta.

Meia hora depois, um carro preto e luxuoso para a poucos metros de nós.
Abraço minhas amigas, e simplesmente parto. Escuto elas cochichando às
minhas costas. Aceno um adeus, mas obviamente elas não me vêem através
desse vidro escuro.

O que eu queria na verdade era partir a cara daquela safada.

DIA 10
É uma cozinha espaçosa, e seus móveis são todos planejados.
Ele me abraça, e sinto que seus braços se tornaram algemas.
Enzo está enchendo a tigela de cereais, enquanto brinca com a caixa de leite.
Lavo a louça em silêncio, enquanto ele beija meu pescoço.
“Estava pensando em voltar a trabalhar,” murmuro.
Escuto a risada sarcástica.
“Para quê?” ele pergunta. “Você tem tudo aqui. Tá louca?”
É como se fosse mais forte do que eu:
“Estou farta disso, Enzo.”
Grito com ferocidade, o prato bate no fundo da pia, e ele me olha confuso.
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“Tá com algum problema que eu não sei?”


Continuo lavando a louça em silêncio. Ligeiramente, balanço a cabeça em
negação. Metade de mim me aplaude, a outra se entristece.

DIA 11
Dentro do Uber, atravesso as ruas do centro da cidade. Com uma camisa
social, calças jeans, e um saltinho básico, mexo na papelada em meu colo.
É uma pasta amarela repleta de currículos e portfólios.
Meu celular continua vibrando ao meu lado jogado no banco.
E o nome dele continua brilhando na tela.
Fecho meus olhos, e de uma vez aperto o botão vermelho.

Desligo o celular, e olho através da janela. Algumas lágrimas escorrem como


se fosse só outra chuva.
Por que estou chorando se estou fazendo aquilo que realmente quero?

DIA 13
O sol escaldante está me deixando ensopada aqui embaixo. Quando vejo
minha sorveteria favorita, logo adentro por suas portas. Suspiro aliviada
quando sinto o ar condicionado.
Para o meu desprazer, Luana acabou de sair do caixa com uma casquinha em
punhos.
“Você por aqui?” ela pergunta quando vêm na minha direção.
“Sim,” respondo com um sorriso amarelo. “Estava na minha terceira
entrevista.”
O semblante da garota logo se fecha.
“Nem vou te falar mais sobre essa tolice.”
“Eu preciso trabalhar,” afirmo com a voz alta. “O que você esperava?”
“Que você fizesse o papel que você escolheu.”
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Franzo a testa e encaro os olhos de Luana, que estão sérios e sem expressão
alguma.
“Você escolheu um namorado rico, não foi à toa, mas para ser bancada.”
Mordo meu lábio e fecho meus punhos com força. Sinto minhas unhas
prestes a cortar a palma da minha mão. Luana sorri enquanto experimenta sua
casquinha.
“Preciso ir, querida,” e assim, ela se despede e sai porta afora.
Enquanto eu continuo parada como uma estátua, sem saber o que me trouxe
aqui de fato.

DIA 14
Como mais um dia qualquer, eu estive implorando para donas de lojas,
cafeterias, e escritórios de contabilidade, em busca de uma vaga.
Passei a manhã e tarde toda enviando currículos, e imprimindo mais uma
dezena deles.
Sentada no sofá com o notebook no colo, me perco nos diversos sites de
empregos. Não sou boa com crianças, e parece que babás são as profissionais
mais procuradas.
“Por que você ainda tá acordada?”
Um Enzo sonolento aparece pela sala.
“Preciso trabalhar, sabia?”
Ele respira fundo e dá de ombros. De esguelha, noto sua silhueta sumir dentro
do corredor escuro. O que eu mais queria era descansar naqueles braços, e
esquecer de tudo, mas não posso.
Não sou fraca e não vou me render. Nunca.

DIA 28
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Eu e Enzo estamos assistindo um programa de platéia na TV. Entediada,


mexo no celular, a cada cinco minutos procuro algo novo em meu email.
“Você não vai querer mesmo sair?”
Nego com a cabeça.
Ele simplesmente está mudando de canal incessantemente. Há qualquer
momento vai abrir um buraco no controle remoto.
Cansado, ele deixa o controle e vai até a geladeira às nossas costas. Aqui da
sala, escuto ele pegando um copo no armário.
O relógio na parede da cozinha continua correndo, e seu tic tac, está me
deixando louca. Como se o mundo estivesse acontecendo lá fora, e aqui
dentro, tudo estava congelado.
Abro minha caixa de email pela milésima vez, só para notar que não há nada
ali. Somente as mesmas propagandas de sempre. Repentinamente, jogo meu
celular no chão.
Ele acerta com tudo o rodapé da parede.
“Por que fez isso?” a voz de Enzo vêm até mim.
“Estou cansada de ficar aqui dentro sem fazer nada.”
Ele larga o copo na pia e às pressas se põe à minha frente.
“Mas que droga é essa?” ele está arfando e seus olhos encaram os meus.
“Eu passei a noite toda te chamando para sair, mas você não quis.”
Me levanto do sofá, e jogo na sua cara:
“Quero sair desse apartamento para trabalhar, ser alguém na vida, e não viver
na sombra dos outros.”
Começo a caminhar quando sinto meus pés queimando, enraivecida parto até
a cozinha. Mas ele logo está em meu encalço.
“Você sempre gostou tanto da nossa vida, Mariana.”
“Mentira, nunca fiz parte do seu mundo, Enzo,” cuspo essas palavras. “Suas
viagens para a Europa, comidas exóticas, investimentos não sei aonde.”
Meus olhos estão marejados, e tudo que posso fazer é deixar com que tudo
saia.
“Ser bancada por um homem não dá mais.”
“E daí?” ele berra. “Isso nunca fui um problema para você.”
“Eu queria me virar sozinha,” explico ao avançar nele. “Ver que eu também
posso ter algum valor.”
“É por isso que estava tão obcecada por um emprego?” seus olhos também
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estão cheios de lágrimas, e sua boca trêmula. “Parecia que até estava
passando fome.”
Noto a correntinha de ouro pendurada no pescoço de Enzo. Me aproximo
dele, que tem os olhos confusos, e toco no dourado que reluz.
“Luana tinha razão, para quê arrumar um emprego quando já se tem tudo?”
“Foi ela quem fez sua cabeça, então?”
“Não, ela só me mostrou a verdade. Que toda escolha tem sua consequência.”
Naquela noite eu dormi na mesma cama que Enzo. Foi uma das piores
sensações que já senti. Era como se sua presença me fizesse sentir doente.

DIA 29
Estou sentada em frente a bancada da cozinha. Bebo o café forte numa xícara
branca de bolinhas pretas. São 7 horas da manhã.
Escuto o barulho dos seus passos às minhas costas.

“Todo esse tempo era isso?”


Escuto sua pergunta, mas não ouso responder:
“Que eu fui influenciada pela opinião alheia?” respondo sua pergunta com
outra pergunta. “Sim.”
Ele puxa um banquinho ao meu lado.
“Você se perguntou se você realmente queria trabalhar?”
Olho para ele, de calça moletom e blusa de frio, parece tão sereno.
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“Elas me fizeram sentir mal, como se eu fosse uma imprestável.”


Enzo toca em meu ombro e encara meus olhos.
“Há quanto tempo isso vem acontecendo?”
“Já faz algumas semanas,” fecho os olhos, balanço a cabeça indignada.
Ficamos vários minutos em silêncio, até que ele fala:
“Você precisa tomar uma decisão, não por mim, mas por você.”
Vejo seus olhos verdes se aproximando dos meus. Sinto seu hálito quente
perto dos meus lábios.
“Decida sua vida por quem você é, não pelo que os outros esperam de você.”
E quando abro meus olhos, ele simplesmente sumiu, como se nunca houvesse
existido.
O café esfriou. Mas aqui dentro não. Algo realmente se acendeu.

DIA 30
É domingo, e estou acordada desde as 5 da manhã.
O sol acaba de nascer, e estou digitando furiosamente no computador.
Como um fantasma, ele chega de mansinho como de costume.
“Então você decidiu abrir uma loja de xícaras personalizadas?”
Olho todo o layout rosa e verde claro, e o nome Mari Criativa.
Sinto um orgulho tão grande em me dedicar à algo que realmente gosto.
É como se o universo todo conspirasse ao meu favor.

“Mas ainda falta o mais importante,” digo desiludida.


“E o que é?”
Ele pergunta, enquanto mexe no celular, hipnotizado pela tela.
“Precisava de mais dinheiro, sabe?”

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Rolo o mouse e vejo as dezenas de xícaras e suas estampas de cachorros,


frases, gatos, e balões de festa.
“Para impulsionar esse negócio, investir mais em marketing, publicidade…”
Encaro ele que não parou de mexer no celular um segundo sequer.
“Ei, você tá me ouvindo?”
O bip do meu celular chama minha atenção. E o que me deixa mais confusa é
a notificação da conta do meu banco.
120.000 reais foram depositados há 5 segundos.
“O que?”
Fico de pé, completamente atordoada, e olho Enzo que sorri de orelha à
orelha.
“Que foi?” ele pergunta achando graça do feito. “Sou seu primeiro
investidor.”

“Por quê?” pergunto pausadamente.


“Quero que você se torne a próxima milionária.”
Então me lanço nos braços dele, e me dou conta, de como esse orgulho bobo
me deixou cega. E principalmente, como eu fui uma adolescente me deixando
ser levada pela opinião dos outros.

E ele estava aqui esse tempo todo, pronto para me lembrar de que sou eu a
dona do meu destino. Em todas as situações. Todas.

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Viktor Bellafont é escritor em tempo integral, autor da Série Meu Marido


Milionário, e empreendedor.

Ele vive em Sertãozinho, São Paulo, onde escreve desde criança, e possui um
vício particular por açaí.

Vou amar ouvir de você: viktorbellafont@gmail.com

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