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LISTA DE REPRODUÇÃO

I Would’ve – Jessie Murph

happier – Olivia Rodrigo

Fever Dream – Jillian Rossi

Falling – Harry Styles

Landslide – Fleetwood Mac

The Way I Loved You (Taylor’s version) – Taylor Swift

What A Time – Julia Michaels, Niall Horan

Lie To Me –5 Seconds of Summer, Julia Michaels

Night Changes – One Direction

Hurt Somebody – Noah Kahan, Julia Michaels

Peer Pressure – James Bay, Julia Michaels

supercuts – Jeremy Zucker

skinny dipping – Sabrina Carpenter

Lover of Mine – 5 Seconds of Summer

Take on the World – You Me At Six

this is how you fall in love – Jeremy Zucker, Chelsea Cutler

Always Been You – Jessie Murph

Queen Of The Night – Hey Violet

I GUESS I’M IN LOVE – Clinton Kane

18 – One Direction

Dandelions– Ruth B
Your Love Is My Home – The Light the Heat
Para o fundo do poço,

a jornada de volta ao topo,

e crescimento.
PRÓLOGO

Lennon

— Vamos. Vidas arruinadas? Derramamento de sangue? Você


realmente acha que um relacionamento deveria ser tão difícil?

— Ninguém escreve canções sobre aquelas que vêm facilmente.

- Veronica Mars , 2x19

4 ANOS ANTES

M
eus olhos se enchem de lágrimas, mas me recuso a deixá-las
cair.

Ele não quer falar comigo? Pegue a dica? Ótimo.

Foda-se ele. Foda-se todos eles. Cansei de ser o saco de pancadas deles.
Acabei com tudo isso. Eu não preciso deles. Tudo que eu preciso sou eu
mesma, e eu preciso de uma mudança.

Eu bloqueio o e-mail de Claire.

Então eu bloqueio o de Macon.

Começo a bloquear o contato de Andrea no aplicativo, mas paro. No


momento, ela é a conexão mais rápida que tenho com meu pai. Eu a deixo
desbloqueada por enquanto, mas a silencio e a coloco apenas para enviar
mensagens de texto. Em cinco meses, quando ele estiver em casa e
aposentado, vou bloqueá-la.

Então me levanto e vasculho as gavetas de tia Becca até encontrar uma


tesoura. Eu a levo para o banheiro e me olho no espelho. Pego minha trança,
seguro-a sobre a cabeça e a corto. Eu corro meus dedos pelas mechas. Tudo o
que resta é um bob irregular.

Eu me encaro no espelho.

Talvez eu pinte também. Talvez eu fique loira. Ou ruiva.

Eu sorrio, e não é falso.

Uma nova Lennon para uma nova vida. Eu superei a última.


CAPÍTULO UM

Lennon

DIAS DE HOJE

M
eu telefone está tocando. Não é o tom normal. Não o alarme.

Eu tateio ao redor da mesa de cabeceira para procurá-lo no


escuro, derrubando-o no chão com um baque. Eu saio, fecho os
olhos e volto a dormir.

Está tocando de novo. Eu gemo e chuto as cobertas. O ar ameno faz


cócegas na minha pele nua, endurecendo meus mamilos e chamando a
atenção para minhas coxas já pegajosas.

— Quem é, chérie? — Franco murmura ao meu lado, seu sotaque francês


mais forte durante o sono.

— Je ne sais pas1, — digo enquanto me ajoelho no chão e procuro meu


telefone. Ele para de tocar novamente. Eu bufo. Meus dedos finalmente se
fecham em torno dele, e eu sorrio em triunfo, me levantando e voltando para
a cama antes de verificar o identificador de chamadas.

1 Não sei (francês)


Meu coração para e minha testa franze quando vejo o nome. Faz muito
tempo que não vejo esse nome no meu celular.

— Qui est-ce2?— Franco pergunta novamente. Eu não respondo.

— Claire.

— Sua irmã?

— Meia, — corrijo, assim que o telefone começa a tocar novamente. Deixo


tocar seis vezes antes de atender.

— Olá?

— Lennon?

— Sim, sou eu.

— É Claire.

— Eu sei.

— Lennon. Você precisa voltar para casa.

****

São quase nove da noite quando saio da ponte de embarque, empurrando


minha bagagem de mão atrás de mim.

Eu não tinha capacidade mental para embalar mais. Eu não tinha


capacidade mental para fazer muita coisa além de tomar banho, jogar um
monte de coisas na minha bagagem de mão e tentar não entrar em pânico. Por
sorte, tive um voo internacional de nove horas, mais um com escala de noventa
minutos em Filadélfia e um voo de conexão de noventa minutos para colocar
minhas coisas sob controle.

Não importa. Eu provavelmente não estarei aqui por muito tempo de


qualquer maneira.

2 Quem é? (francês)
Meu estômago ronca enquanto ando em direção ao desembarque,
lembrando-me de que tudo o que consumi nas últimas vinte e quatro horas
foram alguns pacotes de biscoitos de avião e várias garrafinhas de vodca. Não
posso comer com o estômago ansioso.

Aparentemente, eu posso beber, no entanto.

Eu tiro meu telefone da minha bolsa e o ligo, então imediatamente o enfio


no bolso, para que eu possa ignorar qualquer mensagem por mais algum
tempo. Ao passar pela esteira de bagagens, uma cabeleira loira familiar chama
minha atenção e dou um suspiro de alívio.

Então vejo a placa que ela está segurando e sorrio.

— CASSATT, MARY— está escrito em negrito marcador preto em um


pedaço de cartolina branca. Balanço a cabeça lentamente enquanto passo na
frente dela e toco na placa.

— Mary Cassatt era mais conhecida pelos óleos. Ou impressão e pastéis.


Sem muita aquarela. E ela era principalmente impressionista direta, — eu digo
categoricamente, mas o humor em minha voz ainda é reconhecível para
qualquer um que me conhece. E Sam definitivamente me conhece.

Ela revira os olhos.

— Bem, foi isso ou aquilo.

Ela vira a cartolina para me mostrar o outro lado.

DESISTÊNCIA DA ESCOLA DE ARTE.

Eu solto uma risada e seus lábios se abrem em um sorriso. Seus olhos me


varrem, então examinam meu rosto. Seu sorriso desaparece e ela estende a
mão e pega a alça da minha bagagem de mão.

— Você parece uma merda, Len, — ela diz francamente.

Ela é a única pessoa próxima a mim que ainda me chama de Len. Ela
pararia se eu pedisse, tenho certeza. Mas eu não quero. Eu não questiono o
porquê.
— Você voa dez horas na classe econômica e depois veremos se você está
fresca como uma margarida.

Sam se vira e começa a andar, então eu a sigo.

— Você deveria ter me deixado pagar seu voo. Eu poderia ter colocado
você na primeira classe.

— Não, obrigada. Não quero voar com estilo com o dinheiro sujo do
senador. Eu sou boa com economia.

— Ah, sim, — ela resmunga, me dando um olhar de soslaio enquanto eu


a sigo para o estacionamento de curta duração. — Sua integridade.

— Olha, eu não estou dizendo nada sobre você. Se ele fosse meu pai, eu
gastaria meu fundo fiduciário para uma educação em Georgetown e uma vida
de luxo também. Mas ele não é meu pai, então...

Eu paro, e Sam suspira.

— Sim, eu entendo. — Ela usa seu chaveiro para destravar seu BMW com
um bipe, então abre o porta-malas e coloca minha bagagem de mão dentro
dele. — É apenas minha culpa internalizada. Mas você sabe que estou
simplesmente ganhando tempo. No momento em que ele desiste de sua
candidatura presidencial, estou explodindo sua merda.

Ela desliza para o banco do motorista e eu entro no lado do passageiro.

— E quando o fizer, estarei à margem com pipoca, pronta para levá-la


para algum lugar remoto, se as coisas ficarem muito sombrias.

— Ah, obrigada, querida, — ela canta com um sorriso enquanto liga o


carro.

— Quero dizer, para que servem as amigas, se não para protegê-la de


familiares psicopatas e corruptos?

Sam bufa uma risada concordando, e estou sorrindo pela primeira vez
em 24 horas, mas desaparece rapidamente quando ela sai do estacionamento
e aponta o carro na direção de nossa cidade natal. A realidade se instala, e eu
tenho que descansar minha cabeça no assento e controlar minha respiração.
— Você quer ir para casa primeiro ou para o hospital?— Ela pergunta
baixinho.

Ela não me pergunta como estou. Ela já sabe. Tenho certeza que é
bastante óbvio.

— Na verdade, você pode me levar para sua casa, em vez disso? — Não a
corrijo pelo uso da palavra casa. Aquele lugar não é um lar há anos. — Quero
tomar banho e consumir algo que não seja vodca antes de ter que lidar com
tudo.

Sam acena com a cabeça e liga o rádio. Não estou preocupada em


encontrar Chase ou o senador. Eles nunca estão em casa quando Sam está, e
ela me avisaria se estivessem. Ela deve ter combinado algo com eles no último
minuto, já que, caso contrário, passaria o verão em DC, fazendo um estágio.
Sam e sua família têm um acordo tácito, quando ela não está no apartamento
da faculdade, eles deixam a casa em Franklin para ela.

Ela abre a boca, depois a fecha novamente. Espero a pergunta, mas ela
não vem.

— Apenas diga, Sam, — eu digo, colocando minha cabeça para trás no


encosto de cabeça e fechando os olhos.

— Eu só estava me perguntando o que você vai fazer quando vir persona


non grata.

Seu tom é tão prático e de forma alguma um reflexo da turbulência que


sinto revirando minha barriga. Eu tento combinar meu tom com o dela.

— Não é grande coisa, — eu minto. — Não é diferente de quando vejo todo


mundo.

Sam zomba, assim como eu sabia que ela faria. A cadela sempre vê
através das minhas besteiras. Não importa, no entanto. A mentira era para
mim, não para ela.

— Ainda não consigo acreditar que você evitou contato por tanto tempo.

— Não é difícil quando há um oceano entre nós e ele está sempre


disposto.
— Sim, mas ele não está implantado agora, — Sam avisa, e eu libero uma
expiração lenta.

Não. Não, ele não está.

— QUER QUE eu entre com você? — Sam pergunta enquanto seu carro para
do lado de fora da entrada do hospital.

— Não. Obrigada mesmo assim.

Ela me levou para a casa dela, me deixou tomar banho e tirar uma soneca
de quinze minutos, depois me deu o resto da pizza antes de me trazer até aqui.
Depois de reorganizar sua agenda para que ela pudesse me pegar no
aeroporto. Ela já esgotou as boas ações de sua melhor amiga para o dia.

— Tem certeza? Eu não me importo. Posso esperar na sala de espera.

— Está tudo bem, — eu digo honestamente. — Acho que preciso fazer isso
sozinha, primeiro.

Ela acena com a cabeça. — Mande uma mensagem se precisar que eu te


pegue depois.

Saio do carro dela e fecho a porta. Ando até a porta giratória, então me
viro e aceno para ela. Ela não sai até que eu esteja no prédio.

Em vez de caminhar até o balcão de informações, sigo as placas até a UTI.


Há uma enfermeira na recepção e eu digo a ela meu nome. O horário de visitas
está tecnicamente encerrado, mas Andrea falou com eles e os convenceu a
abrir uma exceção para mim, já que eu estava vindo de Paris. Felizmente, eles
não afrouxaram a regra de um visitante por vez, então sei que estarei lá
sozinha.

Ando devagar, mantendo os olhos à frente, mas uso o periférico para


contar as portas. Eu controlo minha respiração, lutando contra as lágrimas
que já estão se formando.

Eu posso fazer isso.

Por ele, eu posso fazer isso.


O som de monitores apitando e zumbindo me envolve quando passo pela
porta, lembrando-me da última vez que estive neste hospital, e tenho que lutar
contra as memórias daquela noite terrível. Eu nunca quis estar de volta aqui.

A cortina em volta da cama está fechada, e sou muito grata por isso. Por
longos segundos, fico congelada, olhando para aquela cortina, guerreando
com minhas emoções.

— Você pode fazer isso, — eu sussurro para mim mesma, então forço um
pé na frente do outro.

Em vez de puxar a cortina, deslizo pela abertura na borda e a deixo


fechada, dando-nos um pouco de privacidade do lado de fora. Deixei meus
olhos caírem em seu peito, primeiro. Ainda parece forte. Parece saudável.
Observo enquanto ele sobe e desce constantemente. Tento ignorar o fato de
que é um ventilador, e não o corpo dele fazendo o movimento. Depois de outro
longo conjunto de inspirações e expirações, eu arrasto minha atenção para seu
rosto.

Seu rosto pálido e sem vida.

As lágrimas caem, então. Uma, depois duas, depois um soluço


entrecortado.

Eu fecho meus olhos contra eles e respiro no ritmo do bipe. Estendo a


mão e pego sua mão. Eu aperto, mas ele não aperta de volta. Outro ataque de
lágrimas. Eu envolvo minha outra mão em torno dele, então está aninhado
com segurança entre as palmas das minhas mãos. Então eu abro meus olhos.

— Ei, papai.
CAPÍTULO DOIS

Macon

O
choro me acorda.

Eu rolo rigidamente e pego meu telefone para verificar a hora.

Quase três da manhã.

Pelo menos ela é consistente. Eu nem preciso definir um alarme quando


ela está aqui.

Sento-me e solto minhas pernas para fora da cama com um gemido


quando a dor irradia pelo lado esquerdo do meu corpo. Acendo o abajur no
criado-mudo e pego o frasco de ibuprofeno que guardo ao lado da cama. Abro
o frasco, agito quatro dos comprimidos na palma da mão e os jogo de volta
para secar.

O choro continua.

— Shh, shh, shh, — digo baixinho enquanto me levanto da cama. — Eu te


escuto. Estou chegando.

Eu me atrapalho até o berço do cercadinho no canto do meu quarto e


encontro um pequeno humano muito faminto e zangado espiando por um lado
dele.

Quando ela me vê, ela estica uma de suas mãozinhas e usa a outra para
firmar seu corpo vacilante enquanto pula. Seu rosto, molhado e manchado de
vermelho por causa de seus lamentos, agora exibe o sorrisinho de quatro
dentes mais feliz.

Eu amo esse sorriso pra caralho.

— Venha cá, Squirt. — Eu a pego e a coloco no meu quadril. — Vamos


pegar alguns num-nums para você.

— Babababababa, — ela canta, aninhando seu rosto em meu peito e


ombro.

— Sim, sim, vamos pegar seu baba, — eu digo a ela com uma risada
cansada. Saio do meu pequeno quarto e entro na minha pequena cozinha,
acendendo a luz do corredor enquanto vou.

— Eu pensei que vocês deveriam estar dormindo a noite toda nessa idade.

Ela solta um gritinho feliz que só posso presumir que signifique, sim,
certo, otário, sem dormir para você.

Rapidamente, com os olhos sonolentos e um bebê se contorcendo em um


braço, preparo uma mamadeira e levo o monstrinho faminto para o sofá.

Eu a troco primeiro, depois a coloco no meu colo e rio de suas mãozinhas


pegajosas antes de enfiar a garrafa em sua boca. Ela já consegue segurar a
mamadeira sozinha, mas eu gosto de fazer isso. Gosto da maneira como seus
dedinhos agarram os meus enquanto ela come e gosto da maneira como ela
me observa.

Às vezes, canto para ela ou conto histórias, mas esta noite estou muito
cansado.

Hoje à noite, nós apenas olhamos um para o outro.

Ela tem cílios tão longos e esses olhos verde-acinzentados que eu juro
que podem ver através de mim. Ela é fascinante pra caralho, na verdade. Ela
é uma obra de arte.

Eu a observo até que ela termine, então coloco a mamadeira na mesinha


de centro, coloco-a no meu peito e fecho os olhos para ter mais algumas horas
de sono.
BANG BANG BANG.

— Uh-oh.

Bang bang bang.

— Uhh-oooh

Eu abro um olho e o foco no barulho. Ela está usando sua garrafa vazia
como um martelo e está indo para a cidade na minha mesa de centro. Levanto
os olhos para o relógio ao lado da televisão.

Seis da manhã

Jesus, de onde essa criança tira sua energia? Eu ainda estou exausto.

Bang bang bang. — Uh-oh! Uh-ohhhh!

— Ok, Squirt, estou de pé.

Sento-me e estico os braços, depois passo a mão pelo cabelo. Está ficando
um pouco longo. Já é hora de eu ver o barbeiro e apará-lo novamente.

Eu me esforço para ficar de pé lentamente, estremecendo com a rigidez,


então vou para a cozinha. Eu não tenho que pegar a criança. Ela rasteja
rapidamente atrás de mim.

— Você quer ovos ou ovos esta manhã?— Olho para ela por cima do
ombro. Ela ri e se move para uma posição sentada no meio do chão. — Ovos é
isso. Boa escolha.

Eu preparo alguns ovos mexidos para nós, mantendo um olho nela


enquanto faço isso. Ela encontrou a bola debaixo da mesa que perdemos
ontem, e ela está feliz pra caralho. É uma daquelas irritantes que faz barulho
quando você a bate no chão ou quica. Desta vez, vou mesmo mandar essa coisa
de volta com ela. Eu poderia matar a pessoa que deu a ela.

Preparo a bandeja com ovos e alguns pedaços de abacate, depois preparo


meu próprio prato. Quando volto para a mesa, descubro que ela usou uma das
cadeiras da cozinha para se levantar e está agindo como se estivesse prestes a
dar alguns passos.
— Não, não, — eu digo rapidamente, colocando meu pé para fora e
cutucando-a gentilmente, então ela cai de bunda. Ela ri, e eu balanço minha
cabeça. — Nada disso, Squirt. Nenhum primeiro passo é permitido a menos
que mamãe esteja aqui.

Ela grita e bate palmas.

— Mamamamama, — ela diz feliz enquanto eu coloco meu prato na mesa


e a pego, colocando-a em sua cadeira alta e amarrando-a.

— Veremos mamãe em breve. Coma seu café da manhã.

Comemos nossos ovos em relativo silêncio. Ela cantarola para si mesma,


e eu percorro alguns artigos de notícias no meu telefone, bufando toda vez que
leio algo que me irrita, o que é frequente.

Eu olho para cima do meu telefone para descobrir que ela pintou suas
bochechas, testa e mãos de verdes com abacate. Ela é a comedora mais
bagunceira. É nojento, mas de um jeito fofo.

— Você é uma desleixada. — Eu rio, e ela mostra aqueles dentinhos em


um sorriso, a boca cheia de ovo. — Não vou poder levar você a lugar nenhum
até que aprenda a comer. É embaraçoso.

— Mamãe, — ela diz novamente, rindo enquanto a comida cai de sua


boca. Tem abacate na sobrancelha dela. Como diabos isso aconteceu?

— Mamãe vai pensar que deixei você brincar em uma lixeira.

Eu me levanto e pego um pano, molho-o com água morna e, em seguida,


limpo seu rosto com cuidado. Mais risos, mais cânticos. Quando ela termina,
eu a enxugo novamente e a tiro da cadeira.

Troco a fralda, troco a roupa, coloco os sapatinhos de bebê que não fazem
sentido porque ela só vai chutá-los no carro. Pego sua bolsa de fraldas, enfio a
bola de ameaça nela, então saímos do apartamento e descemos as escadas para
o estacionamento.

Ainda estou com a calça de corrida e a camiseta do USMC que usei para
dormir, mas passei um pouco de desodorante e coloquei um boné de beisebol
ao sair pela porta. Eu a prendo em seu assento de carro, em seguida, deslizo
para o lado do motorista.

Ligo o motor e ligo o álbum Rumors, do Fleetwood Mac. A garota pode


não se parecer muito comigo, com seus cabelos castanhos lisos e olhos
esverdeados, mas que me dane se ela não tem bom gosto musical. Estou
iniciando-a bem.

Atravesso a cidade de carro, ouvindo Stevie Nicks com o bebê


acompanhando, seus pezinhos chutando os chocalhos pendurados na alça da
cadeirinha. Algumas vezes, ela está meio que no ritmo, mas na maioria das
vezes é só barulho.

Quando entro na garagem, meu estômago revira e levo alguns momentos


para respirar, depois de desligar o carro. Não por muito tempo, porque o canto
Mamamama começa no banco de trás, e é o tipo de canto que me diz que, se
eu não mexer minha bunda, vou ter que lidar com um bebê de dez meses muito
irritado.

— Tudo bem, Squirt, eu ouvi você. — Suspiro, pulo para fora e me movo
para trás para soltá-la e levantá-la de seu assento. Eu a apoio em um quadril,
coloco a bolsa de fraldas no meu ombro oposto, então caminho até a casa.

Ela pula em meus braços e dá tapinhas no meu rosto com as mãos,


inclinando-se para frente e me dando sua versão de beijos, que é
essencialmente vir até você de boca aberta e babar por todo o seu rosto.
Também nojento de uma forma fofa.

A porta está destrancada, então eu entro. Chuto meus sapatos no tapete,


em seguida, sigo em direção à sala de estar. Estou virando a esquina e indo em
direção ao centro de atividades para bebês quando meus olhos se deparam
com uma mala de mão encostada na parede.

Eu paro e olho para ela.

Então ouço passos suaves e sei. Antes de vê-la, eu a sinto. Então eu sinto
o cheiro dela, e isso me irrita. Baunilha. Meu cérebro grita impostor e todo o
meu corpo se contrai. Prendo a respiração quando ela aparece na minha
frente.

Lennon.

Não a vejo tão de perto há anos. Ela parece diferente, e não é apenas a
cor ruiva que ela tingiu o cabelo ou as curvas em seu corpo que são mais
pronunciadas. Ela parece incrível. Ela sempre pareceu incrível, mas é outra
coisa. Diferente da noite do baile e diferente ainda do pub londrino.

Apesar das diferenças, ela ainda é a mesma. Há apenas algo


decididamente Lennon sobre ela.

Ela está com um moletom e uma camisa enorme com o cabelo preso no
alto da cabeça em um coque. Sua mão segura uma caneca de café e a outra está
mexendo em um telefone, mas no minuto em que estamos no mesmo espaço,
sua atenção se volta para mim.

Ela para. Seus olhos brilham e a boca se abre, por apenas uma fração de
segundo, então sua testa franze e seus lábios se franzem.

Apesar de tudo, deixei meus olhos escaneá-la. Camisa da MARINHA dos


EUA. Calças da MARINHA dos EUA. E ela está descalça, as unhas dos pés
pintadas de verde esmeralda. Isso faz meu coração disparar e minha raiva
disparar. Fico feliz em ver que ela se sente em casa, porra.

Trago meus olhos de volta para ela para dizer isso, mas ela não está
olhando para mim.

Ela está olhando para o mini-monstro em meus braços.

Os dedinhos de Evelyn apertam minha camisa enquanto Lennon dá um


passo hesitante em nossa direção. Tento relaxar meu corpo, para que ela não
alimente minha tensão, mas é tarde demais.

— Ei, Evie, — Lennon diz suavemente, sua voz suave e doce e exatamente
como eu me lembro. Quero apressá-la e envolvê-la em meus braços, mas
Evelyn choraminga e enterra o rosto em meu pescoço. O choque no rosto de
Lennon me irrita, e eu zombo. Por que ela está tão surpresa? Evelyn não a
conhece, e isso é culpa dela própria.
— Ela não gosta de estranhos, — eu digo, minha voz crescendo através do
espaço silencioso.

Com essa palavra, estranho, os ombros de Lennon enrijecem. A faísca


em seus olhos acelera meu batimento cardíaco, de uma forma que não sentia
há anos, mas seus lábios permanecem retos, sem emoção.

— Não sou uma estranha, — ela diz, — sou a irmã dela.

— Você é uma estranha. Você a viu uma vez em dez meses. É isso. Então
você volta e espera que ela, o quê, apenas a abrace? Não, Len. Não é assim que
essa merda funciona.

Seus olhos se estreitam enquanto ela me estuda. Ela não gosta da verdade
que acabei de revelar, mas que pena. Isso é o que acontece quando você foge
para o outro lado do mundo e nunca mais volta. Você se torna estranha.

— É Capri, — ela diz finalmente, sua voz baixa e autoritária. Eu dou uma
risada.

— Claro que é. — Passo por ela e entro na cozinha, assim que minha mãe
desce as escadas.

— Ei, pessoal, — ela diz com um sorriso, mas sua voz está cansada e triste.

— Mamamãe! — Evie canta e pula, alcançando nossa mãe e fazendo


aquelas mãozinhas agarradas. Mamãe ri e me dá um abraço rápido, antes de
pegar Evie dos meus braços e cobri-la de beijos.

— Ei, minha doce menina. Muito obrigada por levá-la ontem à noite,
Macon. Como ela foi com você?

Eu sorrio e vou até a cafeteira para me servir de uma xícara.

— Ela é um pouco assustadora, mas é uma boa ala, — eu brinco, olhando


para a porta e notando a ausência de Lennon. Ela desapareceu novamente.
Olho para minha mãe e minha irmã. — Me deu uns cinco números no Outpost
antes das onze.

Minha mãe revira os olhos.

— Você estava dormindo no sofá às nove, — diz ela, e eu dou de ombros.


Oito e quarenta e cinco, mas não vou corrigi-la.

— Você descansou?

— Eu não fiquei na cama do hospital, se é isso que você está perguntando,


— ela diz com um suspiro. — Eu estava aqui na minha própria cama.

— Mas você dormiu?

Ela não responde, mas não precisa. As olheiras sob seus olhos vermelhos
dizem o suficiente. Ela morde o lábio e vejo seus olhos embaçarem. Encurto a
distância entre nós e puxo ela e Evie para um abraço.

— Ele vai ficar bem, — eu digo enquanto Evie ri e dá um tapinha no meu


rosto. — Trent é forte. Ele vai superar.

Mamãe funga em minha camisa.

— Faz dias. E se... e se...

Ela começa a chorar, e tudo que posso fazer é abraçá-la e tentar controlar
minha raiva.

Minha mãe não merece essa merda. Trent e Evelyn deveriam ser seu
felizes para sempre. Sua segunda chance. Ela já passou por dores de cabeça
suficientes, e tudo que eu quero fazer é ficar com raiva de qualquer filho da
puta que esteja puxando os cordões atrás da cortina. Eles nem chegaram ao
quinto aniversário de casamento. A filha deles ainda nem tem 1 ano.

Trent tendo um ataque cardíaco fulminante nunca deveria acontecer.

Ele é jovem e saudável. Pessoas jovens e saudáveis com bebês de dez


meses não deveriam ter ataques cardíacos e acabar em coma.

— Dadadada, — Evie começa a entoar, o que faz mamãe chorar ainda


mais, e dou um beijo na cabeça do mini monstro.

— Veremos seu Dada em breve, Squirt, — eu digo a ela, então me inclino


para trás e faço contato visual com minha mãe. — Vamos vê-lo em breve.

Ela força um sorriso e enxuga os olhos na manga, então se afasta e dá um


beijo na bochecha de Evie.
— Ela comeu?

— Dei a ela ovos e um pouco de Dr. Pepper no caminho para cá.

Mamãe ri como eu esperava e revira os olhos.

— Ela está com abacate na orelha, — diz ela, inexpressiva.

— Ela é nojenta, — eu digo com um encolher de ombros. — Enfrente os


pagãos que a criaram. Eu sou apenas a babá.

O clima melhorou, mas ainda estou em alerta máximo. Ouvindo o


movimento. Farejando sutilmente o ar como uma espécie de cão de caça
raivoso.

Eu não deveria me importar que ela esteja aqui. Eu sabia que ela estava
vindo. Eu tive quase quarenta e oito horas para me preparar, mas minha
compostura foi praticamente disparada quinze minutos depois de estar no
mesmo espaço que ela.

— Quando ela chegou? — Eu pergunto baixinho, tentando mascarar


minhas emoções. Eu mantenho meus olhos longe da minha mãe e vasculho a
geladeira em busca de um iogurte em vez de olhar para ela.

— Eu não tenho certeza. A amiga dela deixou a bagagem aqui ontem à


noite por volta das onze, mas Len, Capri, só voltou para casa por volta das
cinco da manhã. Acho que ela dormiu no hospital.

Tento ignorar a onda de raiva que sinto. Capri. Que piada.

— A amiga dela? — Eu pergunto, os músculos tensos. Se ela trouxesse


aquele francês de merda para casa...

— Oh sim. Sam. Samanta Harper. Ela pegou Capri no aeroporto também.

Eu inclino minha cabeça para o lado.

— Elas ainda estão conversando? — Eu sabia que Sam visitou Lennon por
um tempo na Inglaterra quando ela se mudou. Eu soube sobre isso depois do
fato. Mas pela última vez que ouvi, Sam estava em Georgetown e Lennon
estava transando em Paris com artistas hippies e aquele pau francês.
— Aparentemente. — Minha mãe dá de ombros. — Fico feliz que ela tenha
uma amiga.

Eu bufo, e mamãe me bate com um olhar.

— Não comece, — ela adverte, com a voz baixa.

Eu jogo minhas palmas para cima. Vou parar, digo com o gesto, e ela
suspira e muda de assunto.

— Você vai para o hospital hoje?

— Sim. Eu tirei o dia de folga, então vou sair agora e depois posso cuidar
de Squirt para você, se quiser ir esta tarde.

— Obrigada, Macon.— Sua voz está carregada de exaustão e gratidão. Eu


balanço minha cabeça.

— Você não precisa me agradecer, mãe, — eu digo a ela honestamente. —


Eu gosto de cuidar dela. Você não deveria ter que fazer isso sozinha.

Ela sorri suavemente e acena com a cabeça, então olha por cima do meu
ombro. Eu fico tenso.

— Você vai ficar bem? — Ela sussurra, passando os olhos da porta atrás
de mim para o meu rosto e vice-versa. — Com ela aqui. Você vai…

— Estou bem, mãe.

Não sei dizer se é a verdade. Não sei se o zumbido na cabeça e o aperto


no peito vão piorar ou melhorar com a presença de Lennon.

Apenas estar perto dela por quatro minutos me deixou sentindo mais
tudo do que senti nos últimos quatro anos. E eu senti muito nos últimos quatro
anos.

— Eu posso lidar com isso, — enfatizo. — Essa merda está no passado.

As palavras são pesadas e azedas na minha língua. No momento em que


as falo, me arrependo. Mas a testa de minha mãe se suaviza e seus lábios se
curvam, me dizendo que pelo menos aliviei sua preocupação no momento.
Bom. Ela tem merda suficiente para se preocupar agora. Minha sanidade
oscilando à beira de um precipício nem deveria estar em seu radar.
— Estarei de volta esta tarde, ok? — Ela balança a cabeça e me dá outro
abraço.

Sopro um beijo na bochecha de Evie e deixo tanto a criança quanto minha


mãe rindo. Meu passo fica mais leve até eu sair e dar de cara com um corpo
macio e familiar.

É aí que a familiaridade termina.

Baunilha.

Lennon bufa e revira os olhos, depois se afasta sem dizer uma palavra.
Ela olha para o telefone e faz o possível para me ignorar.

Eu deveria ir embora.

É melhor para todos se eu for embora.

Mas nunca fui bom em fazer o que devo quando se trata dela, e tudo nela
me irrita agora. O jeans skinny preto e a regata preta. A pequena tatuagem na
parte interna do braço. Os óculos escuros de grife pretos que ela colocou no
topo da cabeça, segurando o cabelo ruivo ondulado.

Capri. Que piada do caralho.

Eu me pergunto se o francês deu a ela a chamativa pulseira de ouro rosa


em seu pulso.

— Nem vai dizer oi, Len?— Eu falo lentamente. — Você foi para Paris e
agora é boa demais para o seu irmão mais velho?

Ela estava em branco antes, mas o olhar com que ela me atinge é todo
fogo. Toda paixão. Mas é ódio apaixonado ou outra coisa? Sempre andamos
nessa linha.

— Eu estive ocupada.

Seu tom é monótono, um contraste direto com a emoção em seus olhos


castanhos, e eu quero extrair isso dela. Meus lábios se curvam em um sorriso
cruel. Ocupada.

— É isso que você chama de pular no pau francês na Cidade da Luz?


Em vez de ficar chateada ou me dizer para me foder, ela combina meu
sorriso com o dela e inclina a cabeça para o lado. Minha pele formiga.

— Por que você está tão preocupado com o pau de quem estou pulando,
Macon?

A voz dela é doce como açúcar, do tipo que apodrece os dentes e revira o
estômago. Eu cerro minhas mãos, lutando contra o desejo de agarrá-la e beijar
a atitude de sua boca espertinha. Eu balanço minha cabeça lentamente.

— Não me importo com quem você fode, Lennon, — eu digo, mantendo


meu tom distante e uniforme.

Eu quase acredito nisso.

Pego no bolso o maço de cigarros e tiro um, colocando-o entre os lábios


e acendendo-o enquanto falo.

— Eu só acho interessante que a perfeita e saudável Lennon Washington


foi reprovada na escola de arte para se tornar uma prostituta francesa sem
rumo e aproveitadora.

Eu sinto o estalo de sua palma na minha bochecha antes mesmo de


perceber que ela se moveu. Minha cabeça vira para o lado e fica lá, olhando
para a calçada onde meu cigarro caiu com a força de seu tapa.

Eu respiro profundamente através do ataque de pensamentos e da


furiosa fervura de emoção em meu estômago.

Lennon acabou de me dar um tapa.

Difícil.

Culpa e excitação se misturam, mas antes que eu possa entendê-las, ela


fecha a distância entre nós, parando a apenas alguns centímetros do meu rosto
enquanto sua voz, baixa e autoritária, envolve meu corpo e faz os cabelos da
minha nuca se arrepiarem. Ficar na ponta.

— Cuidado com a porra da sua boca quando fala comigo. Você não sabe
mais nada sobre mim. Você não sabe nada sobre o que tenho feito em Paris.
Lentamente, viro minha cabeça e a encaro, mantendo minha expressão
em branco, para não reagir à nossa proximidade. O pequeno espaço de ar entre
nós está carregado, e eu juro que quando nossos olhos se encontram, sou
atingido por uma corrente.

— Acabei de vender uma pintura por doze mil, — afirma ela, a presunção
misturada com sua fúria. — Eu tenho trabalho comissionado alinhado para o
próximo ano. E o que você fez, hein?

Seus olhos examinam meu rosto, meu cabelo, antes de cair no meu braço
esquerdo e estudar as tatuagens ali. A cicatriz cirúrgica em meu pulso formiga
enquanto seus lábios se curvam em um humor desgostoso.

É a porra do sorriso mais cruel que eu já vi em seu rosto bonito.

— Você se juntou aos fuzileiros navais, — diz ela enjoativa.

Ela leva o dedo ao rosto e bate na bochecha em consideração fingida. A


pausa é para efeito dramático, e cerro os dentes, me preparando para o
machado que ela está prestes a derrubar no meu pescoço.

— Ah, isso mesmo. — Ela suspira dramaticamente. — E então você foi


expulso dos fuzileiros navais. — Ela inclina a cabeça para o lado. — O que
aconteceu, Macon? Foi pego com drogas em seu uniforme azul? Você ficou
chapado e transou com a filha de um general?

Ela fica como se esperasse uma resposta, e preciso de toda a força do meu
corpo para sorrir como se ela não tivesse me estripado com uma faca
enferrujada.

— Por que você está tão preocupada com onde estou enfiando meu pau,
Astraea?

Seus olhos brilham por meio segundo e seus lábios se abrem em um


suspiro quase imperceptível. A reação chuta meu coração. O apelido. Tento ler
as emoções que passam por seus olhos, mas minha atenção se concentra em
sua boca e na maneira como seus dentes afundam em seu lábio inferior macio.
Por instinto, estendo a mão e libero seu lábio da mordida com meu polegar.
Ela não se esquiva. Ela não recua. Ela nem sequer respira até que uma
buzina soar no meio-fio, nos puxando de volta à realidade e cortando a
conexão.

Nós nos separamos e olhamos na direção do som.

Eu ri. Eu não posso evitar.

O BMW que estaciona na frente da casa da minha mãe tem vidros


escuros, mas eu sei quem está ao volante. Passo por Lennon e caminho em
direção ao meu próprio carro.

— Estarei no hospital por volta do meio-dia, — digo por cima do ombro.


É um aviso, então ela tem bastante tempo para entrar e sair antes de eu chegar
lá. Abro a porta do carro e olho para ela. Ela está de pé no local onde a deixei,
com a cabeça inclinada para o lado enquanto ela me estuda com uma carranca
no rosto.

— O que aconteceu com a simpática e educada Lennon Washington? —


Examino meus olhos sobre seu corpo como se ela fosse uma estranha. Ela
levanta uma sobrancelha e apoia a mão no quadril.

— Ela está morta, — diz ela categoricamente.

Concordo com a cabeça, tentando o meu melhor para não mostrar a ela
o meu desapontamento. Minha culpa. Eu deixo meus olhos escaneá-la mais
uma vez, forço um sorriso malicioso em meus lábios, então entro no meu
carro.

— Diga à filha do senador Harper que eu disse oi, — eu grito antes de


bater a porta, ligar o motor e sair da garagem.

Minhas mãos estão apertadas no volante enquanto me afasto, meu


coração martelando no peito. Minha respiração sai ofegante e minha testa
pinica de suor.

Filha da puta.

Eu coloco meu telefone no Bluetooth e ligo para Casper.


— Como foi? — Ele diz quando atende. A preocupação em seu tom só
piora as coisas.

— Eu preciso me foder, — eu digo entre dentes.

Ele fica quieto por um minuto, depois ri nervosamente.

— Tão bom, hein?

— Foda-se. Você vai me ajudar ou não?

Eu o ouço suspirar.

— Nicolette não vai gostar disso, — diz ele, mas já posso dizer que ele
cedeu.

— Deixe-me lidar com Nic. — Meu corpo já está relaxando enquanto eu


viro o carro de volta para o meu apartamento.

— Só estou dizendo, você só tem cinco meses

— Estou ciente do meu status, Casper, — digo rapidamente,


interrompendo-o. — Você está dentro? Farei isso sem você de qualquer
maneira.

— Beleza. — Ele suspira. — Vejo você em vinte minutos.

— Obrigado.

Eu desligo e dirijo o resto do caminho em silêncio, contando minhas


respirações e trabalhando para afrouxar meu aperto no volante.

Maldita Lennon.

É melhor ela voltar logo para Paris. Eu não vou ser capaz de lidar com
isso por muito mais tempo.
CAPÍTULO TRÊS

Lennon

O bservo enquanto Macon vai embora no velho 4Runner do meu pai,


as familiares lanternas traseiras desaparecendo na esquina, muito
antes de meus pés saírem do lugar onde estou congelada.

Lembro-me vagamente de papai dizendo que eles haviam comprado um


carro novo — algo mais seguro para o bebê, — mas não sabia que ele havia
dado o antigo para Macon.

A percepção me faz sentir estranha.

Ciúme do vínculo que os dois devem ter, um que eu obviamente não


conhecia. Irritada sobre como não cinco minutos antes, Macon me acusou de
ser uma aproveitadora quando é ele quem está dirigindo com uma esmola do
meu pai.

E... quente.

Estranhamente quente, de uma forma que não consigo entender. Parece


conforto. Como se uma dor que nutri durante os últimos quatro anos tivesse
sido aliviada. Não quero que meu pai seja amigo de Macon.

Mas...

Fico feliz que alguém, finalmente, esteja do lado dele.


Eu franzo a testa. Algo sobre isso não faz sentido, mas não consigo
identificar o quê.

Raramente alguém fala comigo sobre Macon. Eu abati esse tópico de


conversa muito rapidamente no começo. Disseram-me que ele se alistou nos
fuzileiros navais, somente depois de partir em seu primeiro destacamento.

Cada menção depois disso foi dita como uma oferta de paz. Uma dica
sutil de que era segura voltar para casa e visitá-la se eu quisesse.

Eu nunca quis.

Não foi até Claire ligar alguns dias atrás que fui informada de que Macon
havia recebido dispensa.

Só para você saber, ela disse, ele estará aqui. Ele está em casa para
sempre agora. Eu não quero que você seja pega de surpresa.

Foi a primeira vez em muito tempo que fiquei grata pela interferência de
Claire.

— Que porra foi essa? — Sam pergunta baixinho, me fazendo pular. Não
a ouvi sair do carro.

Eu dou de ombros, em vez de responder. Como posso quando não sei?


Meu lábio ainda formigava no local onde ele pressionou o polegar.

Ele me provocou e eu deixei. Ele me queria com raiva, e eu caí nessa.


Macon sempre trouxe o pior de mim.

Astraea, ele me chamou. E aquele sorriso sempre presente, como se ele


estivesse em uma piada secreta com o universo, e eu fosse deixada do lado de
fora, curiosa e confusa.

Por um breve momento, fui puxada de volta à minha vida anterior. Mais
jovem, mais ingênua e estupidamente apaixonada por um garoto que me
quebrou várias vezes.

Ele foi o garoto que me quebrou e eu fui a garota que , porque pensei que
poderia consertá-lo.
Perdi um ano e meio da minha vida lamentando a perda dele, sofrendo
com sua perda. Passei o ano seguinte vasculhando os destroços, tentando
encontrar algo que valesse a pena salvar.

Mas eu me puxei para fora disso. Construí algo bonito com a dor. Estou
orgulhosa do que conquistei. Eu gosto de quem eu sou agora.

Cansei de me sacrificar por alguém que não faria o mesmo por mim. Eu
nunca mais vou cometer esse erro.

Ele também está diferente, no entanto.

Ele está maravilhoso. Ele sempre foi, mas agora está mais limpo. Mais
maduro. Seu cabelo está mais curto. Eu poderia dizer pelo jeito que não havia
nada enrolando nas laterais de seu boné virado para trás. Sua mandíbula mais
afiada e alinhada com a barba por fazer. O braço esquerdo cheio de tatuagens
não escondia o fato de que ele mudou de outras maneiras também. Ele está
maior. Mais duro. Mais esculpido. E mesmo além do físico, algo mais nele
parece diferente.

Meu coração e minha mente estão acelerados.

— Pronta para ir? — Sam cutuca meu ombro com o dela, e eu aceno.

— Definitivamente.

Eu a sigo até o carro e subo no banco do passageiro. Estou tão


fodidamente grata por ela estar aqui. Ela está sempre juntando meus pedaços,
me segurando quando ela nem percebe. Viro a cabeça para dizer isso a ela,
mas sua sobrancelha franzida impede que eu fale.

— O quê? — Eu pergunto, embora eu provavelmente já saiba.

Ela me dá um olhar de soslaio e suspira.

— Eu seria uma merda de amiga se não insistisse no assunto, — diz ela.


— Você sempre pode ficar na minha casa. Você nem precisa estar perto dele se
não quiser. Não faz sentido abrir velhas feridas ou o que quer que seja.

Eu solto uma risada oca. Como se eu estivesse preocupada com isso


acontecendo.
Macon Davis não tem mais importância para mim. Ele é apenas um cara
que eu conhecia. Meu meio-irmão distante. Um relacionamento antigo de uma
vida antiga.

— Está bem. Ele não mora com papai e Andrea, então duvido que o veja
muito, — eu a tranquilizo. — E de qualquer maneira, você não tem um estágio
chique para voltar?

Sam me dá um sorriso malicioso e balança as sobrancelhas.

— Sobre isso, — diz ela lentamente, mantendo os olhos na estrada


enquanto me leva ao hospital. — Eu não queria que você passasse seu
aniversário sozinha, então eu poderia ter jogado toda a cartada de nepotismo
da 'filha de um senador' e tirado todo o mês de julho de folga.

— O quê? Realmente? — Eu me viro para ela no meu assento, e ela ri.

— Surpresa, vadia! Eu tinha um lugar marcado em Paris e tudo. — Ela


para e franze os lábios. — Merda, eu provavelmente deveria cancelar a reserva
agora.

— Não, — eu digo rapidamente. — Não cancele ainda. Ainda não sei


quanto tempo ficarei aqui. Assim que papai acordar, voltarei para Paris. Eu
tenho muito trabalho alinhado. Não posso ficar longe por muito tempo.

E não posso estar aqui no meu aniversário. Minha mente não fica quieta.
Minha ansiedade aumenta.

Sam cantarola, mas não diz nada. Ela entende. Tenho certeza que ela
pode imaginar o quanto minha pele está arrepiada. A cada passo que sai de
junho, minha inquietação aumenta.

Só preciso voltar para Paris.

Felizmente, Sam lança um novo assunto para mim, e meu peito aperta
por um motivo diferente.

— Então, você viu Evelyn?

Franzo os lábios por um momento antes de responder.

— Sim. Ela tem medo de mim.


Eu suspiro. Macon estava certo sobre uma coisa: a culpa é minha. A
maneira como ela se agarrou a ele na minha presença me deu vontade de
chorar. Ela se sente segura perto dele, e eu sou apenas uma estranha.

— Bem, talvez ficar na casa de Andrea e Trent dê a você algum tempo


para conhecê-la, — Sam diz, me dando esperança. — Ela só precisa ficar perto
de você um pouco mais. Ela vai gostar de você. Bebês são fáceis. Jogue alguns
lanches para ela e agite alguns brinquedos, e você será a favorita em pouco
tempo.

— Sim, talvez.

Sam liga o rádio novamente e terminamos a viagem em silêncio. Estou


na minha cabeça e ela me deixa ficar lá, sabendo instintivamente do que
preciso.

Foi estranho no começo, meu relacionamento com Sam. Nunca tive uma
amizade que parecesse tão natural.

Eu nunca me senti igual com a Claire. Era uma relação unilateral. Eu


estava sempre me curvando e me comprometendo. Eu estava sujeita aos seus
caprichos, às suas emoções, e ela nunca me dava espaço.

Com Sam, é exatamente o oposto. Nós nos aceitamos. Não tentamos


fazer da outra algo que não somos e preenchemos nossas lacunas conforme
necessário.

Eu olho para o perfil dela.

Seu cabelo loiro é destacado e estilizado com perfeição. Ela usa óculos
escuros Gucci pretos e dourados protegendo os olhos e brincos de diamante
adornando as orelhas, e ela está murmurando a letra da música que toca nos
alto-falantes de seu cupê BMW personalizado.

Se você está saindo sozinha, nunca imaginaria que ela é uma das pessoas
mais altruístas e atenciosas que já conheci. Ela não se importa nem um pouco
com rótulos ou coisas materiais; ela está apenas desempenhando um papel até
que não precise mais.

E é por isso que juntamos.


Durante anos, eu fui a mesma. Desempenhando os papéis para os quais
fui escalada apenas para a conveniência de todos os outros.

A garota legal. A menina educada. Vá com o fluxo para evitar o


confronto garota. A filha obediente. A amiga solidária. A namorada capacho.

O dia em que decidi dizer foda-se e viver apenas a vida que escolhi, como
a pessoa que queria ser, foi libertador. Eu disse adeus a Lennon, e dei olá para
Capri, e ninguém na Europa me conhece como algo diferente. Consegui
cultivar uma versão totalmente nova de mim mesma sem problemas e era
exatamente o que eu precisava.

Eu quero tanto isso para Sam. Eu quero que ela abandone a


personalidade que foi forçada a ela e finalmente mostre a todos a pessoa que
ela é por dentro.

Logo, ela me diz.

E se eu a conheço, sei que ela vai dizer foda-se de uma forma épica.
CAPÍTULO QUATRO

Lennon

INGLATERRA, 4 ANOS ANTES

T
ia Becca e eu voltamos tarde para a casa dela.

Passamos o dia inteiro no Franco. Ele me deu uma aula de


soldagem, aí vieram uns amigos dele e da minha tia, e fizemos o
jantar. Foi um bom dia, aliviando um pouco a carga de tijolos que estão sobre
meu peito nas últimas três semanas.

Eu alcanço e passo minhas mãos pelo meu cabelo agora curto. Ainda é
chocante e, várias vezes hoje, quase me arrependi. Quase desbloqueei os
números de todos e enviei mais e-mails também. Eu ainda posso. Continuo
oscilando entre a força confiante e a fraqueza medrosa.

Eu amo minha tia Becca. Eu aprecio seus amigos. Mas em momentos


tranquilos como este, onde fico vulnerável aos meus próprios pensamentos,
minha solidão ameaça me engolir.

Estou com tanto medo.

Não tenho ideia do que vou fazer e me sinto traída por todos. Descartada.
Em um momento em que deveria ter o apoio da família, fui deixada de lado
como punição por algo que nem entendo completamente.
A raiva de meu pai, sua reação, era tão incomum para ele. Naqueles
momentos antes de me deixar no aeroporto, ele não era nada como o pai
amoroso e atencioso que me criou. Ele estava agitado. Culpado. Incerto e frio.

Eu me seco quando saio do chuveiro e enrolo a toalha em volta do meu


corpo.

É meu segundo banho hoje. Posso acordar no meio da noite e tomar um


terceiro. Qualquer coisa para acalmar o arrepio constante da minha pele e
saciar o desejo constante de me sentir limpa depois de semanas de sujeira.
Meu corpo não parece meu, o que torna mais difícil ficar bem.

Estou tirando a camisa do pijama pela cabeça quando meu telefone toca
no aplicativo que uso para ligações internacionais. Minha respiração fica presa
na garganta quando me jogo na cama.

Eu bloqueei todos. Por que alguém está me ligando?

É uma solicitação de vídeo chamada, mas não reconheço o identificador


de chamadas. Meus dedos tremem quando aceito a ligação.

Por favor, seja Macon. Por favor, seja Macon.

— Oh, graças a Deus, você está viva, — Sam grita do outro lado. — Eu
pensei que aquela cadela tinha trancado você no porão ou algo assim.

— O quê? — Eu respiro uma risada confusa. — Quem?

— Claire! — ela exclama. — Você e Macon simplesmente desapareceram,


e Claire não quis me contar merda nenhuma. Ela está sendo toda presunçosa
e mal-intencionada, então ameacei foder com ela, e então finalmente
encurralei sua madrasta no trabalho dela e a sacudi para me dizer como entrar
em contato com você.

— Espere, — eu digo rapidamente. — Macon também se foi?

— Perdido. Ele não está com você?

Eu balanço minha cabeça lentamente e forço a verdade.

— Eu não tenho notícias dele desde o baile de formatura... — eu sussurro


enquanto as lágrimas começam a brotar em meus olhos. — Não posso ligar
para ele. Ele não retorna meus e-mails. Claire disse que ele estava melhor sem
mim.

— Aquela boceta, — Sam diz em um suspiro, e eu rio enquanto choro. —


Então o que aconteceu? Você está na Inglaterra com sua tia? Pensei que você
não fosse embora até depois da formatura. Você vai voltar? Por que diabos
você não me contou? Eu estou enlouquecendo. E o que diabos aconteceu com
seu cabelo?

Eu rio de novo e enxugo minhas lágrimas, então apenas olho para a tela.
Eu nem sei por onde começar, e isso me faz chorar de novo.

— Lennon, Jesus, o que aconteceu?— Sam sussurra, e eu balanço minha


cabeça.

— Sam... eu estraguei tudo. É tudo tão fodido.

Cubro o rosto com a mão e me afogo no silêncio. Os segundos passam


onde ela não diz nada. O único ruído é o som fraco da digitação e minhas
fungadas e pequenos gemidos patéticos. Odeio não conseguir parar de chorar.

— Ok, — diz ela de repente. — Eu posso estar aí amanhã à noite. Deixe-


me falar com sua tia.

Eu solto minha mão e olho para ela, mas ela não está olhando para mim.
Seu rosto está iluminado pela tela de seu laptop.

— O quê?

Ela fecha o laptop e olha para mim.

— O voo está reservado, Len. Deixe-me falar com sua tia. Preciso saber
se posso dormir no sofá dela ou se preciso encontrar outro lugar para ficar.

— Espere... — Minha testa franze em confusão. — Você está vindo para


cá? E seu pai? E quanto a escola?

— Que se dane meu pai. E a escola basicamente acabou. Tenho os


créditos para me formar e só ia continuar porque é importante para a ótica. —
Ela dá de ombros. — Deixe o senador dar a impressão que quiser.
Abro a boca para dizer que ela não precisa vir. Mentir e dizer que não
precisa se preocupar comigo, que estou bem e vou ficar bem, mas não posso.
Quando falo, algo totalmente diferente sai de meus lábios.

— Obrigada, — eu sussurro, e ela sorri suavemente.

— Deixe-me falar com sua tia, Lennon. Eu estarei aí em breve.

****

A porta do banheiro se abre, deixando entrar um pequeno raio de luz do


outro cômodo, e Sam entra.

Tentei ficar quieta. Eu não queria acordá-la.

Ela está aqui há uma semana e acho que não conseguiu dormir por minha
causa.

Ela boceja e atravessa o quarto escuro, sentando-se ao meu lado no chão


e movendo o cobertor sobre os ombros, para que ele me cubra também.

— Ei, — ela sussurra, descansando a cabeça no meu ombro.

— Ei, — eu forço, minha voz embargada pelos soluços que eu estava


tentando e falhando em suprimir.

— Nós vamos superar isso, ok?

Suas palavras são tão seguras. Eu tento tirar força delas, mas tudo que
consigo é ar morto. Ela envolve o braço em volta do meu tronco e me puxa
para mais perto, me abraçando com força no chão do banheiro da minha tia.

— Eu prometo. Vai ficar tudo bem.

Em vez de responder, dobro os lábios entre os dentes e uma nova onda


de lágrimas começa.

— Estou aqui para você, — ela acalma. — Eu e Becca, nós apoiamos você,
ok? Nós te amamos. O que quer que você decida, sempre que decidir,
estaremos aqui para você cem por cento.
Concordo com a cabeça, e ela me abraça mais apertado.

— Diga que acredita, Len.

— Eu acredito nisso.

— Bom. — Ela se levanta lentamente, então estende a mão para mim. —


Agora vamos para a sua cama e dormir. O sofá da sua tia é como dormir em
uma maldita pedra.

Eu solto uma risada e coloco minha mão na dela, deixando-a me levantar.

— Obrigada, — eu digo, limpando meu nariz no lenço de papel que eu


estava segurando. Ela balança a cabeça e me dá um sorriso triste.

— Você não tem que me agradecer por aparecer, Lennon. Um amigo me


puxou do chão do banheiro quando precisei. Fico feliz em ser esse amiga para
você.
CAPÍTULO CINCO

Lennon

DIAS DE HOJE

—C hegamos, — diz Sam, despertando-me da minha soneca no


banco do passageiro.

Eu levanto minha cabeça do apoio de cabeça e olho pela janela. Ela está
parada em frente à entrada do hospital.

— Ok, — eu digo baixinho. Ela estende a mão e agarra minha mão,


apertando-a, e eu lhe envio um pequeno sorriso. — Obrigada por tudo, Sam.
Sinceramente.

— Psh. — Ela acena para mim com um sorriso. — Eu te pego mais tarde?
Apenas envie uma mensagem, ok?

Eu aceno e dou um abraço nela, então saio do carro, acenando adeus mais
uma vez antes de passar pelas portas giratórias e entrar no saguão do hospital.

Assim como na noite passada, sigo silenciosamente para a UTI. Cada


passo é outro elástico em volta do meu peito, causando respiração superficial
e uma dor surda. Canto uma música do Fleetwood Mac para mim mesma para
tentar não perder o controle.
Eu sou bem versada em ansiedade. Conheço todos os sinais, sei o que
fazer para tentar evitar que ela me engula inteira. Nem sempre tenho sucesso.
Às vezes, sou vítima de minhas preocupações e medos. Espero que este não
seja um desses momentos.

Eu entro em contato com a mesa da UTI. Mostro minha identidade,


assino a folha e lavo minhas mãos. Quando a enfermeira me chama pelas
portas, estou na terceira repetição de I Don't Want to Know, e me coloco do
lado de fora do quarto do meu pai até terminar a música.

Não quero saber os motivos.

Tome um pouco de tempo.

Eu não quero saber.

Então, coloco um sorriso que sei que ele não vai ver, e passo pela porta.
A cortina está fechada, como da última vez, e eu deslizo pela abertura e me
sento na cadeira ao lado da cama.

— Bom dia, papai. — Eu me forço a sorrir, pegando sua mão flácida na


minha. — Não sei se você pode me ouvir ou se sabe que estou aqui. — Minhas
palavras são murmuradas e inseguras. Estranho. — Não tenho muita certeza
do que devo fazer, — confesso, — mas quero estar perto de você. Espero que
esteja tudo bem.

Eu franzo a testa e tento superar a sensação de que estou falando comigo


mesma. Ou pior. Um cadáver. Eu realmente não falei com ele quando cheguei
aqui ontem. Eu apenas chorei, depois adormeci na cadeira ao lado dele. É
diferente agora à luz do dia. Tudo parece mais real, o que é muito pior do que
o pesadelo que tive ontem à noite.

O bipe dos monitores são tão constantes e que desaparece no fundo,


tornando minha voz o som mais alto da sala. Meu batimento cardíaco é o mais
alto na minha cabeça, meus pensamentos em segundo lugar.

Eu não tenho sido a melhor filha. Eu mal vi meu pai, um chat de vídeo
talvez uma vez por mês. Eu vi Andrea ainda menos. Eu pulei a maioria dos
feriados. Voltei para a Virgínia por cinco dias um mês após o nascimento de
Evelyn. Cinco dias. Não lhe dei nem uma semana.

Respiro fundo e me endireito, mantendo meus olhos em nossas mãos


unidas, em vez de em seu rosto ou corpo.

— Eu vi Evie esta manhã, — continuo, e não consigo disfarçar a tristeza


em meu tom. — Ela é linda. E está tão grande. — Faço uma pausa e franzo os
lábios antes de admitir, — e ela tem medo de mim.

Eu mastigo o interior da minha bochecha enquanto revivo o encontro


desta manhã. Vendo seus dedos minúsculos e gordinhos agarrando a camisa
de Macon. Observei-a choramingar e esconder o rosto em seu peito.

— É minha própria culpa, — eu sussurro. — Macon está certo. Eu só a vi


uma vez, e ela era apenas uma bebê. Claro, ela não me conhece. Mas...

Eu dou de ombros e esfrego meu polegar nas costas da mão de papai.


Está mais frio do que o normal.

— Acho que não pensei direito. Eu não estava pensando que iria doer.
Não sei. Eu odeio que ela não me conheça. Ela já está andando? Eu a ouvi dizer
mamãe.

Meus lábios se curvam em um leve sorriso. Sua vozinha era tão adorável.
Ela estava tão feliz. Foi um contraste tão necessário com a melancolia e a
desgraça que estão nublando todos nós agora. Eu queria voltar para a cozinha
só para ouvir um pouco mais, para absorver mais de sua magia de bebê, mas
precisava me afastar de Macon, então corri de volta para o meu antigo quarto.

— Andrea me instalou no quarto de hóspedes. Foi legal da parte dela. Eu


ia ficar na casa de Sam, mas estou feliz por estar perto de Evie e Andrea.

Eu respiro fundo.

Eu sinto falta deles.

Não quero admitir, e quando estou ocupada em Paris com arte, Franco e
minha nova vida, posso ignorá-los. Quase posso esquecer que existia outra
vida antes de Paris. Mas aqui e agora, não posso negar a saudade em meu
peito. Eu sinto falta deles.
Estar no meu antigo quarto só piora as coisas, que é uma das razões pelas
quais só fiquei cinco dias da última vez. O propósito dos quartos mudou, mas
os sentimentos ainda estão lá. As memórias são absorvidas pelas paredes.

Meu antigo quarto agora é o quarto de hóspedes, o antigo quarto de


Macon foi transformado no berçário de Evie, e o antigo quarto de Claire é o
escritório de papai, que eles instalaram depois que ele se aposentou do serviço
de campo na Marinha. Ele ainda faz alguma coisa, algum tipo de contrato com
o governo, mas nenhum de nós sabe realmente o quê.

— Trouxe um livro para lermos, — digo, mudando de assunto. Solto sua


mão para tirar o livro de bolso da minha bolsa. — Peguei na sua estante.

Eu estudo o livro. Está gasto, como se tivesse sido lido antes,


provavelmente mais de uma vez. Nunca ouvi falar dele, mas ler não tem sido
um dos meus hobbies ultimamente. Eu folheio as páginas, encontrando um
marcador na metade.

— Oh... você quer apenas continuar de onde parou? — Reviro os olhos


para mim mesma, fazendo uma pergunta a um homem em coma. — Deixa para
lá. Vamos começar do começo.

Eu coloco o livro ao lado da cama e abro na primeira página, certificando-


me de que posso virar as páginas antes de pegar sua mão de volta na minha.

— Ok. Acho que esse é o capítulo um. Esta pronto? — Faço uma pausa e
começo a ler. — 'O quê? Que tal uma chaleira?...'

ESTOU HÁ uma hora no livro quando ouço uma batida no batente da


porta.

Olho na direção do som, mas a cortina ainda está fechada, então não
consigo ver quem está na porta. Faço uma pausa na leitura e me levanto.

— Sim? — digo, e ouço passos suaves momentos antes de a cortina ser


lentamente aberta, revelando dois homens mais velhos. Pranchetas, jalecos
brancos, calças. Médicos? Dou-lhes um sorriso confuso. — Oi.
— Sra. Washington? — Um deles diz. Ele é mais baixo e mais pálido com
cabelos grisalhos. Eu concordo.

— Sim, oi. Capri. — Eu estremeço e balanço minha cabeça ligeiramente.


— Bem, Lennon, mas eu sou Capri.

— Prazer em conhecê-la. Sou o Dr. Hendrick, o cardiologista que trabalha


no caso do seu pai. E este é o Doutor Bashum. Ele é o neurologista do seu pai.

Eu inclino minha cabeça para o lado e volto minha atenção para o homem
mais alto e moreno.

— Neurologista? — Eu pergunto, e ele acena com a cabeça. — Por que ele


precisa de um neurologista?

— É uma prática padrão com pacientes como seu pai, — ele me assegura.
— Seu pai sofreu um trauma, e é meu trabalho monitorar seu progresso e
avaliar quando podemos pensar em retirá-lo do coma.

— Ok. — Eu chupo meu lábio em minha boca e corro meus dentes sobre
a pele macia.

— Podemos falar com você um momento? — Doutor Hendrick pergunta.


— Gostaríamos de informá-la.

— Sim, com certeza. — Estou ansiosa para saber mais e tenho certeza
que mostra. — Por favor.

— Quanto sua mãe lhe contou?

— Oh, hum, — eu abro minha boca para corrigi-lo, madrasta, mas eu me


detenho. Não é como se isso importasse agora. — Não muito. Só que há três
dias ele sofreu um ataque cardíaco grave. Ele está em coma induzido. —
Engulo em seco. — Temos que ver o que acontece.

Ambos acenam com a cabeça, depois se revezam para me explicar


exatamente o que aconteceu com o coração do meu pai. Palavras como grave,
parada cardíaca e dano cerebral em potencial se misturam, fazendo meu
próprio peito apertar e minha cabeça embaçar.
Eles não sabem o que causou isso. Eles descartaram uma hemorragia
cerebral. Não há sinal de trauma torácico. Ele é saudável e ativo, blá blá blá.

— Agora, geralmente depois de setenta e duas horas, podemos começar


a tirar o paciente do coma médico, mas já falamos com a Sra. Washington e
gostaríamos de esperar um pouco mais, — disse o Dr. diz Hendrick.

— Por quê?

— Alguns de nossos testes foram inconclusivos, — diz o Dr. Bashum


lentamente, e meus olhos se arregalam.

— O quê? O que isso significa? Ele não está progredindo? Há dano


cerebral? Ele irá morrer?

Minhas perguntas são rápidas, minha voz estrangulada, e eu olho para


os rostos dos médicos para tentar ler qualquer tipo de dica. Qualquer sinal.
Eles não me dão nada, e isso me deixa ainda mais ansiosa.

— Não estamos dizendo nada disso, — diz um deles. — É muito cedo para
dizer, e é por isso que gostaríamos de esperar até podermos fazer mais alguns
testes.

— Seu pai tem as chances a seu favor, — diz o outro. Estou olhando para
o peito do meu pai através das lágrimas de pânico que brotam em meus olhos.
— Ele é jovem e saudável, e seu irmão iniciou a RCP um minuto após o colapso
de seu pai.

Minha cabeça sacode para trás.

— O quê? — Eu sussurro, voltando minha atenção para o homem que


estava falando. Doutor Bashum. Ele está piscando para mim com expectativa.
— Meu irmão?

— Sim, seu irmão, — repete o Dr. Bashum. — Ele estava lá com seu pai
na hora do incidente. Ele iniciou a RCP e ligou para os serviços de emergência
imediatamente. O maior fator na determinação do prognóstico após uma
parada cardíaca é o tempo entre o ataque e quando o paciente recebe
atendimento médico. Seu irmão ressuscitou seu pai em minutos. Segundos,
possivelmente. Isso salvou a vida dele.
A informação bate forte. Minha boca se abre e eu finalmente me permito
olhar para o rosto do meu pai. Se eu focar apenas em seus olhos e testa, quase
posso acreditar que ele está simplesmente dormindo. Seria como se isso nunca
tivesse acontecido.

Macon salvou a vida do meu pai.

Eu limpo minha garganta e digo a primeira coisa que vem à mente.

— Meio-irmão.

— Perdão?

— Meio-irmão, — repito. — Macon Davis é meu meio-irmão.


CAPÍTULO SEIS

Macon

—T em certeza que quer fazer isso? — Casper chama do outro


lado do estacionamento enquanto eu saio do meu carro.

Concordo com a cabeça e deslizo um cigarro entre meus lábios. Casper


inclina a cabeça para o lado.

— Pensei que você estava desistindo? — Ele pergunta, assim que eu


acendo e dou uma tragada profunda.

Eu rio, soprando a fumaça pelo nariz.

— Vou tentar de novo depois que ela sair.

Só de pensar na expressão vazia de Lennon me irrita. Ela costumava ser


cheia de fogo, e agora ela é gelo.

Você não sabe mais nada sobre mim.

Gelo e crueldade. Mas há fogo lá dentro. Eu vi, e assim como antes, eu


desejo isso.

Casper não diz mais nada. Passo por ele e sigo em direção ao prédio, e o
ouço se virar para me seguir. Eu paro do lado de fora das portas duplas, para
que eu possa dar uma última tragada no meu cigarro antes de apagá-lo na
parede de tijolos e colocá-lo de volta na minha mochila, então eu empurro as
portas e passo direto pelo escritório.
Eu deveria verificar os e-mails ou o correio de voz enquanto estou aqui,
mas não o faço. Eu preciso entrar no ringue antes que eu exploda.

— Ei, pensei que você estava de folga hoje, — Payton, um dos voluntários,
diz enquanto eu passo.

— Eu estou. — Eu sorrio para ela. — Se você precisa de algo, descubra


você mesmo.

Ela ri e balança a cabeça.

— Como está o Trent? — Sua voz é mais suave desta vez, e eu dou de
ombros.

— Nenhuma mudança real, — eu digo a ela honestamente. Nenhuma


notícia é melhor do que uma má notícia. — Estou indo para lá daqui a pouco.
Voltarei a relatar quando souber mais.

Payton sorri e diz que vai me ver mais tarde, então desaparece em uma
esquina com um último olhar demorado. Casper assobia baixo enquanto olha
para o corredor, mas eu o ignoro. Payton é atraente. Linda, mesmo. E ela
tornou mais do que óbvio que está a fim de mim. Eu escolho não alimentar
isso.

Casper e eu vamos para o ginásio e para os vestiários.

O centro de recreação mudou um pouco ao longo dos anos. Um ringue


de boxe real foi instalado, novos equipamentos foram adquiridos e várias
outras aulas de arte foram adicionadas. A equipe de voluntários também
cresceu, e fala-se em construir uma nova unidade nos próximos um ou dois
anos.

Uma coisa permaneceu a mesma, no entanto. Ainda é meu refúgio, tem


sido ainda mais desde que mudei de casa há cinco meses.

Nos trocamos rapidamente e não seguro minha risada quando


caminhamos para o ringue. Casper está enfeitado, capacete, protetor bucal,
tudo. Se tivéssemos caneleiras do tamanho dele, ele provavelmente também
usaria, mas tudo o que temos são tamanhos juvenis. Estou apenas usando
shorts de ginástica e luvas, e as luvas são mais uma cortesia para ele do que
para meu conforto.

Eu preciso sentir isso. Tudo isso.

— Última chance de desistir, — diz Casper enquanto subimos no ringue.


— Você tem certeza que está pronto para isso?

Concordo com a cabeça enquanto me estico, grunhindo pela dor que


irradia pela minha perna.

— Não pegue leve comigo.

Casper suspira e murmura algo sobre como Nicolette vai assassiná-lo. Há


uma pequena possibilidade de Nic faça, mas se ele me deixar esperando, eu
definitivamente farei.

Eu bato minhas luvas juntas duas vezes e avanço sobre ele antes que
tenha a chance de mudar de ideia. Eu dou dois tiros no corpo antes que Casper
possa acertar, e quando ele o faz, é óbvio que ele está dando socos.

Eu resmungo em frustração, em seguida, sigo em direção a uma


estratégia diferente. Começo a bater nele, batendo nas laterais de sua cabeça
com golpes leves e rápidos apenas para irritá-lo. Funciona e, logo, ele se lança
contra mim de irritação.

— Idiota. — Ele rosna, me acertando com dois golpes e um chute no lado


direito.

É emocionante. Cada vez que um golpe é acertado, um pouco mais da


minha tensão se dissipa. Eu me perco na dança, no jogo de adivinhação e na
leitura de seu corpo para antecipar o próximo soco ou chute. Eu posso sentir
o gosto de sangue quando meu lábio se abre, e minha bochecha direita arde
com os sinais reveladores de uma contusão se formando, mas eu acolho tudo
isso. Isso é o que eu queria.

As artes marciais mistas foram algo que aprendi no meu primeiro ano no
Corpo de Fuzileiros Navais. Eu estava com raiva, ansioso e tentando
desesperadamente me agarrar à minha sobriedade recém-descoberta.

Tentando e quase falhando diariamente.


Então, o Programa de Artes Marciais do Corpo de Fuzileiros Navais me
deu outra coisa para focar. Uma saída adicional. Algo novo para ficar
obcecado. Fiquei bom rápido e até me tornei um instrutor antes que meus
planos fossem para o inferno. De novo.

Não tenho conseguido me esforçar nisso há meses.

Eu não conseguia, e depois não me permitiram. Tecnicamente, ainda não


posso.

Mas foda-se, é bom estar de volta aqui sem restrições.

Por um tempo, finjo que meu corpo está inteiro, que as dores agudas são
resultado do sparring e não algo totalmente diferente. Eu esqueço Lennon. Eu
esqueço meus fracassos. Esqueço as traições e decepções.

Tudo fica em branco. Sou só eu, meu oponente e o ringue.

Até que, no calor da luta, Casper acerta um golpe na minha coxa esquerda
e minha visão escurece. Eu grito em agonia e bato no tapete com um baque
surdo, segurando minha perna no meu peito.

— Merda. — Casper cai de joelhos ao meu lado. — Porra, merda, cara.


Desculpe. O que posso fazer? Merda.

Respiro pelo nariz e balanço a cabeça com os olhos bem fechados e os


dentes cerrados. A dor cria uma série de memórias que prefiro não ver, e o
suor que cobre minha pele do treino fica gelado.

Fumaça e calor. Areia e sangue. Fogo. Tiros.

Casper coloca a mão no meu ombro e eu pulo. Eu me lembro no último


segundo que é ele. Eu não estou em perigo. Eu sou apenas um idiota.

A dor muda de pontada para latejante. Dói pra caralho, mas é


administrável. Abro meus olhos lentamente e me coloco em uma posição
sentado. Estou prestes a me levantar quando as portas do ginásio se abrem
atrás de mim.

Os olhos de Casper saltam sobre meu ombro, então ele joga a cabeça para
trás e sussurra foda-se para o teto.
Eu deixo cair meu queixo no meu peito. Porra é certo.

— O que diabos vocês idiotas estão fazendo? — Nicolette grita ao lado do


ringue. Eu posso ouvir a raiva em sua voz. — Você perdeu sua mente sempre
amorosa?

Eu ouço as cordas balançarem e sinto sua aproximação, então ela cai do


meu outro lado. Ouço um tapa forte e grunhidos de Casper, então sinto as
mãos dela na minha perna.

Abro os olhos e observo enquanto ela gentilmente cutuca e massageia os


músculos da minha coxa, apalpando a cicatriz que sobe pela lateral. Eu respiro
pelo nariz, antecipando a dor.

— Você deixou ele fazer isso? — Ela repreende Casper. — Que porra é
essa, Chris?

— Desculpe. — Ele suspira e me lança um olhar furioso.

— Não é culpa dele, — digo a Nic, e ela me dá um soco no braço.

— Sem merda. — Ela estreita os olhos para mim, repreendendo. — Você


ainda não está pronto para isso, Macon. Você só está liberado para atividades
estacionárias. Exercícios controlados. Você sabe que o MMA é muito
imprevisível. Você tem sorte de não ter se machucado novamente.

Eu me jogo no colchonete e levo as mãos à cabeça, puxando um pouco o


cabelo. Eu preciso cortá-lo. Está ficando muito longo.

— Apenas me dê um pouco de ibuprofeno, — eu digo, derrotado. — Vou


colocar gelo e ficarei bem.

Nic manobra minha perna, deixando-a reta, então ela a levanta e dobra
na altura do joelho, empurrando-a delicadamente de um lado para o outro.
Dói, mas não de uma forma reincidente. Apenas de uma maneira que tomei
uma decisão idiota. Eu tirei algo disso, pelo menos. Dor.

— Levante-se, — Nic comanda, e eu rolo para o meu lado e lentamente


me esforço para ficar de pé. — Ande.
Eu faço o que ela diz, andando de uma ponta do ringue e voltando. Eu
cerro os dentes contra a dor, a dor mais pronunciada, mas não nova. Quando
ela fica satisfeita por eu não ter fodido meu fêmur, ela balança a cabeça e se
levanta.

— Você é um idiota. — Ela aponta para mim, então balança o dedo para
apontar para Casper. — Você é um facilitador. Vocês dois estão na minha lista
de merda.

Ela cruza os braços sobre o peito, olhando para nós com olhos castanhos
escuros e raivosos. Os olhos de Nic são tão castanhos que às vezes parecem
pretos, e agora, sob as lâmpadas fluorescentes do ginásio, com seu cabelo loiro
claro e carranca intimidadora, ela definitivamente poderia passar por algum
tipo de anjo caído vingativo.

Eu me inclino para trás nas cordas, cruzo os braços sobre o peito para
espelhar sua postura e abro um sorriso.

— Você ainda me ama, — eu digo presunçosamente, e ela revira os olhos,


completamente sem graça.

— Pare de fazer merda, Macon, — ela diz com um suspiro. — Vá fazer


uma tigela ou algo assim, e te vejo hoje à noite.

Sem dizer mais nada, Nic se vira e sai por onde veio. Não sei por que ela
está aqui, mas se me disse para trabalhar com a argila, provavelmente não irá
para o meu apartamento no andar de cima. Todo mundo sabe que gosto de
ficar sozinho quando crio. Só fui capaz de tolerar uma pessoa em meu espaço
enquanto crio ou desenho, e essa pessoa pode muito bem estar morta para
mim.

O pensamento me irrita de novo, e toda a tensão que eu sangrei enquanto


lutava volta dez vezes.

Capri.

Que piada de merda.

— Obrigado por sua ajuda, — digo a Casper enquanto saio do ringue. —


Até mais.
Saio da academia, atravesso o corredor e subo as escadas que levam ao
meu apartamento, tentando o meu melhor para manter meu andar estável.
Meu corpo quer mancar, mas me forço a dar passos equilibrados. Dói, mas é
uma dor da qual me orgulho.

Eu destranco minha porta e entro em meu apartamento, tirando meus


sapatos e chutando a porta atrás de mim. Eu vou para o meu quarto e tomo
mais quatro ibuprofeno, então tiro minha camisa e calças, então estou de pé
apenas com uma cueca boxer. Dobro as roupas e as coloco cuidadosamente na
minha cama feita.

Eu me viro e me olho no espelho de corpo inteiro na parede, passando a


mão pelo meu abdômen e torcendo para ver a definição que está voltando para
as minhas coxas. Finalmente estou começando a recuperar.

As tatuagens no meu peito e braços não parecem mais deslocadas, como


se alguém tivesse pegado minha arte e colocado na pele de outra pessoa. É
uma loucura a rapidez com que os músculos se deterioram quando você é
forçado a ficar inativo por um longo período de tempo.

Eu corro meus olhos para baixo, a cicatriz longa e furiosa na minha coxa
esquerda, e por instinto, a cicatriz no meu pulso esquerdo dói. Não sei o que
há com o meu lado esquerdo, mas parece que ele absorve a maior parte do
meu abuso. O pulso, a perna, as tatuagens.

O coração.

Examino meu rosto, observando o lábio inchado e rachado e a bochecha


machucada, depois passo os dedos pelo cabelo e me lembro novamente de
cortá-lo amanhã. Eu coloco meu traje de criação padrão - um par de jeans
esfarrapados e uma velha camiseta de banda com as mangas rasgadas - e sigo
para o meu estúdio.

Quando James e Hank decidiram reformar parte do andar superior do


centro de recreação e transformá-lo em um apartamento, eles optaram por
colocar o quarto principal em um canto do espaço com duas paredes de
grandes janelas.
Quando me mudei, fiz do quarto de hóspedes o quarto principal e
transformei o quarto principal em um estúdio. É um pouco grande para o que
preciso - algumas mesas de trabalho, minha roda de oleiro e uma única mesa
para desenhar - mas a luz natural é incomparável e o armário é o depósito
perfeito.

Quando entro, nem preciso acender a luz porque o sol de verão está
brilhando pelas janelas. Pego um bloco de argila do armário, olhando
brevemente para as peças em vários estágios de acabamento alinhadas nas
prateleiras ao longo da parede. Algumas estão prontas para serem
despachadas, outras ainda estão secando e outras precisam ser trazidas para
baixo para iniciar o processo de queima.

Seria conveniente ter um forno próprio no estúdio, mas, por enquanto,


não me importo de usar o forno do centro de recreação. Além disso, as escadas
são boas para minha reabilitação.

Eu escolho uma lista de reprodução do meu telefone, configurando-a


para transmitir pelo alto-falante Bluetooth. É uma compilação de canções
folk-pop indie, e escolho não reconhecer por que, de todas as listas de
reprodução que fiz, selecionei esta.

Eu vou montando minha roda, enchendo dois baldes com água do


banheiro anexo e colocando minhas ferramentas básicas, antes de finalmente
me sentar no meu banquinho atrás dela. Estico minha perna esquerda para
fora e para trás algumas vezes, acostumando-a à posição sentada, então bato
a argila na superfície da minha roda e começo a arremessar.
CAPÍTULO SETE

Macon

S
ão 12h30 quando estaciono meu carro na área de visitantes do
hospital.

Eu estava tão envolvido com a argila que não parei até quinze
para o meio-dia, então não tive tempo de tomar banho. Eu apenas lavei a argila
dos meus braços e me troquei antes de correr para cá.

Minha janela para ver Trent é pequena. Lennon esteve aqui esta manhã
e mamãe estará aqui esta tarde. Eu só quero ser capaz de aparecer e ver como
ele está. Tenho lido artigo após artigo sobre recuperação de ataque cardíaco,
mas nada disso realmente importa até sabermos mais sobre o caso dele.

Saio do carro, tranco a porta e caminho até a UTI no piloto automático.


Faz apenas alguns dias, mas sinto que estou fazendo essa viagem todos os dias
da minha vida.

Quando chego ao balcão onde devo assinar, a enfermeira diz-me que


tenho de esperar. Alguém está lá atrás. Quero perguntar quem, mas já sei.

Eu verifico o relógio. Quase uma. Eu esqueci de comer. Estou pensando


em correr para o refeitório do hospital para pegar um sanduíche quando a
fechadura da porta atrás de mim vibra, e me viro para ver quando ela se abre
e revela Lennon atrás dela. Ela se assusta quando me vê parado aqui, mas seus
pés a carregam em minha direção, e ela para a pouco mais de um braço de
distância na minha frente.

Seu rosto está vermelho, seus olhos inchados. Ela tem chorado. Meu
coração racha. Isso tem que ser tão fodidamente difícil para ela. Ela já perdeu
a mãe, e agora isso?

— Ei, — eu digo baixinho, então aceno para as portas atrás dela. — Eu


estava vindo vê-lo, mas posso voltar se você precisar de mais tempo.

Ela balança a cabeça, as sobrancelhas franzidas no meio.

— Não. Ele não está lá. Eles o levaram para alguns exames ou algo assim.

— Oh. — Eu enfio minhas mãos nos bolsos para mantê-las sob controle.
— Você sabe quanto tempo?

Ela balança a cabeça novamente. — Eles disseram que poderia demorar


um pouco.

— Ok, — eu digo lentamente, dando um passo para trás.

Eu deveria me virar e ir embora, mas algo na maneira como ela está me


observando me faz querer ficar. O comportamento gelado de antes se foi e é
viciante. Eu me demoro, mantendo meu olhar fixo no dela.

Eu abro minha boca, então a fecho, porque o que eu digo, porra? Não
quero arriscar interromper este momento. Eu ficaria aqui preso neste olhar
fixo para sempre, se isso significasse que eu tenho que mantê-la assim. Não
frio e desapegado. Não em branco. Real.

Aqui no hospital, a traição e a mágoa parecem empalidecer em


comparação com todas as outras merdas com as quais estamos lidando, e a
única maneira de Lennon e eu existirmos no mesmo espaço é se nosso passado
for minimizado a algo tolerável. Esquecível, mesmo.

Qualquer coisa mais, e nós somos gasolina acesa.

A energia entre nós é tão palpável. Nós vamos matar um ao outro ou


foder um ao outro sem sentido.

E então provavelmente matar uns aos outros.


— Obrigada, — ela diz, finalmente quebrando o silêncio.

É sussurrado e sua voz falha. Eu franzo minha testa, confuso, e ela sorri
o menor e mais triste sorriso.

— Obrigada por salvá-lo.

Faz sentido, então, então eu sorrio de volta.

— Tive que pagar adiantado.

Digo isso como uma piada, mas seu rosto cai imediatamente, e eu me
arrependo. Eu sei como fodidamente aterrorizante foi para mim quando Trent
desmaiou. Eu nunca deveria ter mencionado a noite da minha overdose.

Eu fecho meus olhos.

— Desculpe. Eu não deveria ter dito isso.

Minhas palavras são cortadas quando braços familiares envolvem minha


cintura.

Meus olhos se abrem e eu congelo, atordoado, por uma respiração,


depois duas, antes de abrir lentamente meus braços para poder retribuir o
abraço.

Não é estranho. Nem mesmo por um segundo. Ela se encaixa entre meus
braços, contra meu corpo, como se fosse para ela estar ali.

Eu inalo profundamente pelo nariz, respirando baunilha, e tento me


livrar do quão errado é o cheiro. O corpo parece certo, e eu me permito
descansar minha bochecha em sua cabeça. Levo todas as minhas forças para
não enterrar meu rosto em seu cabelo.

— Ele vai superar, — eu digo contra ela, repetindo as palavras que eu


disse para minha mãe mil vezes desde o colapso de Trent. Nem sei se acredito
nelas, mas continuo a dizê-las. — Ele vai ficar bem.

Quando ela abaixa os braços e dá um passo para trás, meu coração


afunda. Eu cerro minhas mãos para evitar puxá-la de volta contra mim.

— Se ele está bem, é por sua causa. — Ela passa os dedos sob os olhos
para enxugar as lágrimas. — Obrigada.
Concordo com a cabeça, mas mantenho minha boca fechada.

Sua atenção cai para o hematoma na minha bochecha, então meu lábio
cortado, mas ela não pergunta o que aconteceu. Apenas franze a testa.

Então ela fixa os olhos no meu queixo e seus lábios se curvam para o lado.

— Você, um... — Ela estende a mão como se fosse me tocar novamente


antes de deixar sua mão cair de volta para o lado. — Você tem algo em seu
rosto.

Passo os dedos pela barba por fazer e encontro um pedaço de argila seca
e emaranhada. Eu ri.

— Argila, — eu digo, e ela sorri.

— Você ainda faz isso?

Ela inclina a cabeça para o lado, e a maneira como seus olhos castanhos
brilharam aquece meu sangue. Não consigo formar palavras, então, em vez
disso, aceno de novo.

Seu telefone vibra e ela o tira do bolso de trás para verificar.

— Minha carona está aqui. Acho que te vejo...

— Vejo você mais tarde, Lennon, — eu digo com um sorriso, e seus lábios
se curvam.

— Agora é Capri, Macon, — afirma ela.

Eu levanto uma sobrancelha e inclino minha cabeça.

— Claro que é.

Suas narinas dilatam, e eu espero para ver se ela vai dizer mais alguma
coisa. Qualquer coisa. Ela não diz. Ela passa por mim sem dizer uma palavra,
mas não antes de eu perceber a maneira como sua mão se fecha em um punho
cerrado ao seu lado.

Aposto que os dentes dela também estão cerrados.

Aí está você, Lennon. Aí está você, porra.


CAPÍTULO OITO

Lennon

S am me deixa na casa do meu pai com a promessa de estar de volta


em algumas horas para me levar para a locadora de carros, já que ela
tem que voltar para DC amanhã. Eu disse a ela que poderia pedir uma carona
para Andrea, mas Sam insiste em me levar.

Ainda faltam duas semanas para Junho, o que significa mais duas
semanas de estágio até ela ter um mês inteiro de folga. Com alguma sorte, meu
pai vai acordar logo, e Sam e eu estaremos em um avião para Paris no final
dessas duas semanas.

Estarei de volta ao solo francês em Julho e passarei meu aniversário em


Paris, onde pertenço.

Minha testa franze, sentindo-me culpada por estar aqui, ao mesmo


tempo em que me sinto culpada por querer ir embora. Quando penso em todo
o trabalho que não consigo concluir enquanto estou aqui, minha ansiedade
aumenta. Quando penso em priorizar o trabalho sobre a saúde do meu pai,
isso aumenta ainda mais.

E quando penso no meu bem-estar emocional...

Entrando pela porta da frente, um bebê chorando e o cheiro de comida


queimada me puxam de minha turbulência interior.
— Andrea? — Eu chamo enquanto me apresso em direção à cozinha.

O choro fica mais alto, o cheiro se intensifica e o ar se mistura com uma


fumaça escura.

— Está tudo bem, — diz Andrea, e quando entro na cozinha, encontro-a


abanando o detector de fumaça com um pano de prato com uma mão e
agarrando-se a uma Evelyn gritando com a outra.

— Merda, deixe-me ajudar.

Corro até ela e pego o pano de prato.

— Obrigada, — ela diz, então se vira para abrir a janela acima da pia. Eu
a observo, notando uma panela de macarrão carbonizado e lágrimas no rosto
de Andrea.

— Desculpe, — ela sussurra para Evie, balançando-a de um lado para o


outro e segurando-a cuidadosamente contra o peito. — Sinto muito por
assustar você.

Eu desvio o olhar. Parece uma intrusão, então volto minha atenção para
atiçar o detector de fumaça silencioso. Faço uma anotação mental para
verificar a bateria mais tarde. Com essa quantidade de fumaça,
definitivamente deveria estar fazendo barulho.

— Você provavelmente pode parar com isso agora, — Andrea diz, então
eu dou a ela um sorriso de boca fechada e paro de abanar, abaixando meus
braços para dobrar a toalha e colocá-la de volta no balcão. — Eu, hum, só me
distraí.

— Sim. — Eu olho para a panela de macarrão queimado. — Você quer que


eu faça algo para que você possa... — Faço um gesto para Evie, que ainda está
chorando. Andrea assente com uma careta e um sorriso forçado.

— Você faria? Eu estava preparando um pouco de espaguete para ela,


mas esse é o último macarrão. Acabei de perceber que esqueci de fazer
compras.
Ela ri levemente de si mesma, mas é sem graça e cansada, como se ela
estivesse rindo para não chorar de novo. Ela balança e dá tapinhas nas costas
de Evie enquanto fala sobre os sons do choro do bebê.

— Se você pudesse esquentar alguns dos vegetais na geladeira, há


algumas refeições para crianças no micro-ondas que posso dar a ela para
ajudá-la até que eu possa chegar ao mercado.

— Claro, — eu digo, indo em direção à geladeira. Andrea leva Evelyn para


a outra sala enquanto eu pego os legumes e algo que parece um jantar de TV
para bebês.

— Se você me fizer uma lista, posso conseguir as compras para você, —


eu digo a ela enquanto sigo as instruções na embalagem, colocando a pequena
refeição de bebê no micro-ondas, batendo em trinta segundos e apertando
liga. — Não tem problema.

— Tem certeza? — Sua voz está mais suave agora que o choro parou, e
viro a esquina da sala para encontrá-la sentada no sofá amamentando Evelyn.
— Eu não quero incomodá-la.

A maneira como ela está andando na ponta dos pés ao meu redor revira
a culpa no meu estômago. Ela seria assim com Macon ou Claire, ou ela os
mandaria para ao mercado com uma lista de compras sem pensar duas vezes?

— Eu não me importo. Eu preciso pegar algumas coisas de qualquer


maneira, — eu digo honestamente. — Shampoo e sabonete líquido e outras
coisas. Não consegui trazer tudo o que precisava na minha bagagem de mão.
— Sento-me levemente no braço do sofá. — Vou ter que pegar seu carro, tudo
bem? Mas eu realmente não me importo de ir.

— Sim, claro que está tudo bem. — O alívio genuíno em sua voz faz meus
olhos arderem. — Traga-me a caneta e o bloco de papel do balcão da cozinha.
Eu tenho uma lista já iniciada. Vou acabar para você.

Espero enquanto Andrea rabisca mais algumas coisas na lista e me


entrega. Evelyn parece estar caindo no sono, o que significa que
provavelmente nem vai comer a comida que esquentei para ela.
— As chaves estão penduradas na porta e meu cartão de crédito está na
minha bolsa.

Concordo com a cabeça, aceno desajeitadamente e depois sigo em


direção à porta, pegando as chaves, mas deixando o cartão de Andrea intacto.
As chaves do papai estão penduradas no gancho ao lado das de Andrea, e vê-
las me dá vontade de chorar. Seu carro está parado na garagem, intocado,
esperando que ele volte para casa. Aposto que ainda cheira a ele. Faz apenas
alguns dias.

A vontade de perguntar se posso dirigir o carro do papai é forte, mas me


contenho. É apenas um carro. Não é ele, e não é como se ele estivesse morto.

Ainda não, sussurra uma vozinha.

Balanço a cabeça e fecho os olhos em um esforço para ignorar aquela voz.


Não sabemos de nada, ainda. Papai pode ficar bem. Ele pode ter danos
mínimos ou não a longo prazo.

Nós apenas temos que esperar e ver.

Entro no carro de Andrea, levo o banco para trás porque ela tem 1,75m e
eu 1,79m, e então ligo o carro e saio da garagem. A viagem até o mercado
parece demorar mais do que antes. Eu me pego passando a maior parte do
caminho examinando as casas, prédios e árvores para ver como tudo mudou.
Quando passo pelo Franklin Youth Recreational Center, um buraco profundo
se forma em meu estômago e minhas mãos coçam com o desejo de virar o
carro.

Eu não faço.

Passo pelo centro recreativo e dirijo direto para o supermercado. Só


depois de estacionar é que decido caminhar alguns quarteirões pela rua de
volta ao centro.

É um dia quente e pegajoso de Junho, então, quando chego ao conhecido


prédio de tijolos, meu rosto e meu corpo estão salpicados de suor. O ar
condicionado oferece um frio bem-vindo quando empurro as portas.
Enfio a cabeça dentro do escritório para ver se consigo encontrar James,
mas ele não está lá. O lugar parece mais arrumado do que eu me lembro no
colégio. A samambaia solitária também se foi. Saio do escritório e vagueio,
anotando todas as melhorias e acréscimos que foram feitos desde a última vez
que estive aqui.

Tudo parece mais brilhante, como se a pintura das paredes tivesse sido
renovada e houvesse quadros emoldurados por toda parte. Um em particular
chama minha atenção, e me pego olhando para uma fotografia de Macon
vestindo o vestido azul do Corpo de Fuzileiros Navais, parado entre James e
Hank.

Ele parece tão diferente.

Ele está maior nesta foto, quase maior que a vida. Resultado do uniforme,
talvez. Seu cabelo está curto sob o chapéu branco, seus sapatos engraxados e
suas roupas sem rugas. Ele até está em pé, com os ombros largos e o peito forte
estufado de orgulho. Nunca o vi tão ereto — Macon sempre foi um desleixado,
— mas o sorriso torto é dele. O brilho malicioso em seus olhos também está lá.
Quero estender a mão e tocar a fotografia. Quero ver se o rosto bem barbeado
dele é tão liso quanto parece. Se seus lábios ainda são tão macios quanto eu
me lembro.

A foto é mais antiga, provavelmente de dois ou três anos atrás, antes de


Macon receber dispensa. Eu me pergunto como seria o Macon na fotografia.
Eu me pergunto se eu teria sentido o mesmo por ele. Eu me pergunto, se eu
tivesse voltado mais cedo, se este Macon e eu poderíamos ter uma chance.

Eu zombo de mim mesma.

Não importaria.

Este Macon ainda é o mesmo Macon que me abandonou. Limpá-lo e


colocá-lo em um uniforme engomado não apaga o dano causado.

Afasto-me da fotografia e continuo a vagar pelos corredores.

Há um ringue de boxe no ginásio que não me lembro, e novas paredes


divisórias retráteis para separar as duas metades da quadra de basquete
também. Quando entro em outro corredor, meu coração começa a bater mais
rápido. Excitação, medo. Não posso deixar de sentir que estou fazendo algo
que não deveria.

Só estou procurando por James. Isso é tudo.

Repito essa mentira enquanto giro a maçaneta e entro em uma sala que
não vejo há anos. Cheira a barro, e a visão das rodas de oleiro me enche de
adrenalina. Costumava haver apenas um punhado de rodas para as aulas de
cerâmica, mas o número mais que dobrou agora. Não tenho certeza, mas a
roda da frente parece a mesma. Pode ser o que Macon usou quando ensinou
aqui.

Eu sigo em direção à roda, notando a velha caixa de som em uma mesa


ao lado dela, mas paro quando vejo várias peças de cerâmica em prateleiras
no fundo da sala perto de um forno. Eu ando em direção a eles rapidamente.
Eu posso até correr. Estou tão atordoada que não sei dizer.

Vasos, tigelas, canecas, uma garrafa de vinho, algo que parece uma
lanterna.

Algumas peças foram pintadas e aguardam esmalte, outras foram


queimadas apenas uma vez. Pego um dos vasos para admirá-lo. É
absolutamente lindo. Quero virá-lo de cabeça para baixo para procurar as
iniciais da pessoa que o fez, mas não consigo. Não posso ou não quero, não
tenho certeza.

Macon disse que ainda trabalhava com argila.

Isso pode ser dele.

Algo aqui poderia ter sido feito por ele.

Estou criando coragem para virar o vaso quando a porta atrás de mim se
abre, me assustando, e quase derrubo o vaso.

— Posso ajudar? — uma mulher diz enquanto eu me viro para encará-la.


Ela me olha com desconfiança. — Não há mais aulas de cerâmica hoje.

Eu coloco o vaso suavemente e me afasto. A mulher parece ter mais ou


menos a minha idade. Vinte e poucos anos, provavelmente. E ela é bonita.
Muito bonita. Mesmo em jeans desbotados e uma camisa azul com
VOLUNTÁRIO impresso na frente, ela parece estar em uma revista. Sua
maquiagem é aplicada com perfeição, seu cabelo caramelo enrolado em ondas
de praia perfeitas nas costas. Eu dou a ela um pequeno sorriso.

— Desculpe, — eu digo rapidamente. — Eu estava apenas olhando ao


redor. Eu estava procurando por James.

A mulher levanta uma sobrancelha.

— James?

— James Billings. O dono? Eu costumava ser voluntária aqui. Eu queria


dizer olá.

— Oh, — diz ela, inclinando a cabeça para o lado. — James e seu marido
estão em Massachusetts, agora. Ele não é mais dono do centro recreativo.

— Huh. — Espero que ela elabore, mas ela não o faz. Ela apenas desvia
os olhos de mim para os pedaços de cerâmica e vice-versa. — Estes são lindos,
— eu digo. — Quem você disse que dá aulas de cerâmica?

— Eu não disse. — Algo em seu tom me faz ficar mais alta. Eu estreito
meus olhos, dizendo a ela que eu não sou de sentar e tomar atitudes
injustificadas de estranhos. Não mais. Ela vai receber de volta exatamente o
que ela põe para fora. Eu seguro seu olhar e observo quando ela começa a
recuar.

— Temos três instrutores, — ela finalmente diz, e eu me orgulho da


maneira como a enervo. — Payton, sou eu, — ela aponta para si mesma —
depois Adam. Ele faz quase todas as aulas noturnas.

Prendo a respiração e espero que ela revele o terceiro instrutor, deixando


escapar lentamente quando o nome que ela diz não é o de Macon. Nem
registrei qual é o nome, só que não é Macon Davis.

— Ela faz as aulas da tarde e do fim de semana comigo.

Eu sorrio para esconder o quão cansada eu me sinto e mantenho minha


voz calma.
— Obrigada. Acho que devo ir, então.

Ela sai do caminho e me deixa passar, então me segue silenciosamente


por todo o caminho até a entrada da frente. Pouco antes de passar pelas portas
para ir para o estacionamento, sua voz me interrompe.

— Como você disse que era seu nome?

A pergunta me dá calafrios. Eu me viro e lanço outro sorriso para ela. Ela


está me estudando como alguém pode estudar bactérias carnívoras sob um
microscópio. Com interesse cauteloso, mas não afeição.

— Eu não disse, — eu digo docemente, então empurro as portas e


caminho de volta para o supermercado.
CAPÍTULO NOVE

Lennon

L evo uma hora para concluir as compras porque tudo na loja mudou
de lugar desde a última vez que estive aqui.

Já se passaram quatro anos, mas parece uma mercearia totalmente


diferente. Desisto de tentar pegar as coisas de memória e acabo subindo e
descendo os corredores um por um, até conseguir tudo o que Andrea anotou.

Carrego as bolsas no carro e volto rapidamente para casa. Quando entro


pela porta da frente com a primeira carga de bolsas, percebo o silêncio e decido
não anunciar minha chegada para o caso de Evie estar dormindo.

Faço mais duas viagens até o carro, depois guardo todos os itens da
geladeira e do freezer. Então eu trabalho para guardar o resto das coisas. A
maioria dos armários são os mesmos. Itens de despensa, alimentos enlatados,
produtos de papel.

Ando pela cozinha no piloto automático, lembrando-me de gavetas e


armários que não abro há anos. É a sensação mais estranha de nostalgia, saber
exatamente onde o macarrão espaguete é guardado.

Quando termino, sigo silenciosamente em direção à sala de estar.

— Andrea? — Eu sussurro, não querendo acordar o bebê, mas também


não querendo assustar ninguém. — Andrea, estou de volta.
Ouço uma respiração profunda, então ando na ponta dos pés em volta do
sofá, esperando descobrir que Andrea tinha adormecido com Evie, mas, em
vez disso, encontro Macon e fico momentaneamente paralisada no lugar.

Ele está dormindo, esparramado nas almofadas com a cabeça no braço


do sofá e uma perna no chão, e ele tem a bebê Evelyn enrolada em seu peito
como um gatinho. Uma de suas grandes mãos, a esquerda coberta de
tatuagens, está descansando protetoramente nas costas dela, enquanto a outra
está dobrada e apoiada sob a cabeça dele.

Esta cena. Esta visão.

Isso vai me assombrar.

Tudo nele me enche de culpa e saudade.

Até a tatuagem de rosa nas costas de sua mão, pintada com vermelho
escuro e verde profundo de uma forma que quase lembra uma pintura em
aquarela, deixa meus olhos marejados. A videira espinhosa que se estende da
rosa e envolve seu pulso é um contraste tão direto com a maneira como ele
está embalando aquele bebê. Evie dorme tão profundamente, sem um único
cuidado ou preocupação. Ela está segura, aquecida e amada.

E Macon é quem a mantém segura. Macon é quem a ama.

Levo a mão à boca, silenciando o gemido que quer escapar e, lentamente,


começo a dar passos para trás. Seu telefone começa a piscar na mesa de centro,
alertando-o silenciosamente sobre uma ligação que ele perderá, e meus olhos
caem na tela.

— Nicolette — está ligando e, de acordo com a foto do contato em


exibição, ela é uma loira no estilo Barbie de regata e calça jogger.

Morro de ciúmes. Eu não diria que ela é o tipo de Macon, mas — desvio
o olhar do telefone e volto para ele — acho que não o conheço mais.

O telefone para de piscar e recomeça segundos depois.

Ela é persistente. Eu me pergunto se ele está dispensando ela.

Reviro os olhos e me viro, voltando para a porta da frente.


Se Macon está dispensando Nicolette para se aconchegar com sua
sonolenta meia-irmã de 10 meses, ela deveria se considerar uma sortuda. Ele
podia estar chapado e se agarrando com outra pessoa no banco do passageiro
de um carro esporte.

Mas acho que sou a única que experimentou essa versão de Macon.

E para o bem ou para o mal, não consigo decidir como me sinto sobre
isso.

****

— Onde está a cadela malvada da costa leste? — Sam pergunta


aleatoriamente enquanto eu subo em seu carro.

Depois de sair furtivamente da casa de Andrea, caminhei até uma


cafeteria no centro da cidade e peguei um latte gelado. Eu estava com calor,
suada e emocionada. Nada disso faz de mim uma pessoa muito agradável de
se ter por perto.

Deixei-me me refrescar em um canto, bebendo minha cafeína, antes de


finalmente mandar uma mensagem de texto para Sam com um SOS. Preciso
ir buscar meu carro alugado logo, de qualquer maneira, e disse a ela que
iríamos jantar juntas.

Eu dou de ombros enquanto afivelo meu cinto de segurança.

— Não sei. Eu não perguntei. Meu palpite é em Richmond, no campus.

— É um domingo e é Junho, — diz ela, saindo do estacionamento. — O


que diabos é mais importante no campus em um domingo de Junho do que
seu padrasto em coma, que pagou sua mensalidade? Ela não acabou de se
formar?

Eu dou de ombros novamente e olho pela janela.

Sei que Claire estava aqui no dia em que papai foi internado no hospital.
Quando ela me ligou, pude ouvir Andrea chorando ao fundo. Eu não sei
quanto tempo ela ficou, ou por que ela não está aqui agora, mas eu não pensei
muito sobre isso, e com certeza não perguntei. Eu suspiro e rolo minha cabeça
em direção a Sam.

— Honestamente? Estou feliz por ela não estar aqui. Preciso de um pouco
mais de tempo para me ajustar.

— Entendi. Isso já é opressor o suficiente, e ela é uma nuvem negra


sinistra.

Acertou em cheio.

Sam e eu pegamos as chaves do meu carro alugado e depois dirigimos até


um restaurante próximo para jantar.

Mantemos a conversa leve. Ela me conta mais sobre seu estágio. Falo
sobre as peças encomendadas que preparei e no que estou trabalhando agora.
Ela pergunta sobre Franco, eu pergunto sobre seu atual interesse amoroso e
terminamos a noite com um longo abraço e a promessa de conversar em
alguns dias.

Ela estará dirigindo de volta para DC hoje à noite porque sua mãe decidiu
aleatoriamente voltar para a cidade. Seu voo pousa logo pela manhã e Sam não
quer encontrá-la. De todos os membros de sua família, a Sra. Harper é
facilmente a menos bajuladora, mas não culpo Sam por querer evitá-la.

A mãe dela pode não ter sido a causadora dos problemas, mas ela
também nunca fez nada para impedi-los de acontecer. Na minha opinião, isso
torna a esposa do senador tão ruim quanto o senador.

São apenas nove horas quando volto para a casa de Andrea, mas consigo
me esgueirar até o quarto de hóspedes sem ser vista.

Posso estar presa na Virgínia, mas minha vida não pode parar.

Tenho e-mails para enviar, perguntas de clientes para responder. Fechei


minhas comissões antes de entrar no avião, mas ainda recebo vários e-mails
por dia perguntando sobre elas.

Tenho pensado em contratar um assistente pessoal de meio período ou


em contratar um agente. Eu realmente não preciso de ajuda para vender meu
trabalho, mas ter alguém para ajudar a responder a esses e-mails e lidar com
os contratos e faturas seria bom.

Eu verifico o tráfego do meu site. Aumentou muito desde a minha última


exposição na galeria. Franco brinca que eu deveria pagar alguém para dar uma
repaginada agora que estou ganhando dinheiro, mas estou orgulhosa da
minha pequena galeria on-line DIY. Eu aprendi sozinha a codificação básica
para construí-la e, embora não seja chamativo ou complexo, faz o trabalho. É
simples e humilde e, pessoalmente, acho que coloca minhas peças no centro
do palco. Minhas pinturas não precisam de web design chamativo para
brilhar. Eles fazem isso por conta própria.

Comecei a fazer um blog semanal sobre técnica e meu processo criativo,


e terei que redigir alguns posts em breve, mas estou exausta demais para fazer
isso agora. Se eu olhar para a tela do computador por mais tempo, meus olhos
podem realmente murchar como passas e cair da minha cabeça.

Mando uma mensagem para Franco contando tudo para ele, depois tomo
banho e desmaio com o cabelo molhado antes das onze.

Meu primeiro dia completo de volta, e isso me deixou exausta de todas


as maneiras possíveis. Meus braços e pernas doem. Minha mente está em uma
névoa. Acordo chorando duas vezes suando frio, perseguida em pesadelos por
demônios que não consigo exorcizar. Faz muito tempo que não choro por
causa disso. Eu pensei que isso significava que estava curada

Mas tudo piora neste quarto.

Tudo piora nesta cidade, perto dessas pessoas.

Minha mão esfrega as pequenas cicatrizes na minha coxa, curadas agora,


mas sempre me lembrando de quão baixo eu posso cair.

Não sei como vou aguentar muito mais tempo.


CAPÍTULO DEZ

Macon

E
u trabalho de manhã no centro recreativo.

Ainda estou tecnicamente — desligado — para uma


emergência familiar, mas como moro no andar de cima, é fácil
cuidar da papelada e dos horários quando não estou no hospital ou cuidando
de Evelyn. Eu não durmo bem na maioria das noites, então trabalho e
cerâmica são boas distrações.

Estou terminando os horários de voluntariado para as duas primeiras


semanas de Julho quando ouço uma batida seguida pela lenta abertura da
porta do meu escritório.

— Ei, — Payton diz brilhantemente, entrando na sala com um sorriso. —


Você está ocupado?

— Acabei de terminar o cronograma, na verdade, — digo a ela, clicando


para sair do programa online que uso. — E aí? Eu já agendei para você o dia
todo no dia 4, então você não pode pedir folga agora.

Estou sorrindo, mas estou falando sério. Payton é uma das nossas
melhores voluntárias. As crianças e os pais a amam e ela ensina quase tudo.
De jeito nenhum podemos passar pelo dia divertido de 4 de Julho sem ela.
— Estou animada para o dia 4 , — ela diz com uma risada. — Sem
problemas.

— Bom, porque eu coloquei você no comando dos jogos aquáticos. Você


é a única que pode lidar com os alunos do ensino médio.

Payton revira os olhos de brincadeira, um tom de rosa aparecendo em


suas bochechas. Estamos nos aproximando perigosamente do território da
paquera.

— Então, o que houve, Payton?— Eu digo, mudando meu tom para algo
mais profissional.

— Bem, eu queria que você soubesse que alguém veio ontem, — diz ela
lentamente, e a maneira como ela está me estudando deixa meus dentes
tensos. Ela está tentando ler minha linguagem corporal? Ela quer ver como
vou reagir? — Estava procurando por James.

— Ok. — Levanto uma sobrancelha e cruzo os braços sobre o peito. — E


você disse a ela que James está em Massachusetts?

— Sim. — Ela balança a cabeça, então franze os lábios. — Mas ela disse
que costumava ser voluntária aqui.

Minhas costas ficam retas como uma vareta, mas eu luto para manter
meu rosto inexpressivo e minha voz calma.

— Ela? Ela deu o nome dela?

— Não, — diz Payton, balançando a cabeça. — Mas ela parecia ter a nossa
idade. Ela provavelmente teria se oferecido como voluntária com você, mas
não perguntou nada sobre você.— Ela dá de ombros, tentando disfarçar seu
interesse e falhando. — E ela meio que se parecia com a mulher que você...

— Ok, — eu digo, interrompendo-a, — obrigado por me avisar. Algo mais?

— Não, não realmente, — ela diz com um sorriso confuso. — Só que,


quando a encontrei, ela estava bisbilhotando na sala de cerâmica. Ela estava
tocando todos os vasos e outras coisas na parte de trás.
Minha compostura escorrega, então. Meus olhos se arregalam e meu
corpo fica rígido.

— Você sabe se ela foi a algum outro lugar? Talvez em alguma das outras
salas de arte?

— Eu não sei, — Payton diz lentamente. — Acho que não? — Ela saiu pela
porta da frente depois que eu a peguei com o vaso.

— Ok. — Eu concordo. — Ok, bom. — Já estou passando por Payton e em


direção à porta, com um pé no corredor, quando me viro e a encaro. — Payton,
por acaso você disse a esta mulher quem é o dono?

— Não... — Ela inclina a cabeça para o lado e me observa com cautela.

Abro para ela meu melhor e mais charmoso sorriso e seus ombros
relaxam imediatamente.

— Obrigado, P. Vejo você amanhã. E se precisar de alguma coisa


enquanto eu estiver fora...

— ...descubro sozinha, — ela termina com uma risada. — Ei, espere! Você
ainda vem para o meu aniversário?

Eu aceno por cima do meu ombro. — Eu não perderia isso!

Eu a ouço rir. Eu não me viro para dar adeus ou ver seu sorriso, no
entanto. Eu apenas ando o mais rápido que posso sem sair correndo para a
última sala no final do salão de artes. Aquele com todos os cavaletes e tintas.
A Sala Lennon.

Isso foi por pouco.

Ainda não estou pronto para revelar minhas cartas. Não sei se algum dia
serei.

****

Eu apareço na casa da mamãe à tarde.


Isso se tornou nossa rotina. Passo uma ou duas horas com Trent pela
manhã, depois passo em casa para cuidar de Evie, para que mamãe possa
passar o resto do dia no hospital. Não tenho certeza de quanto tempo mais ela
conseguirá ficar fora do trabalho, então, enquanto Trent ainda estiver
hospitalizado, quero que ela tenha o máximo de tempo possível com ele.

Toda essa situação é uma merda.

Quando parei para ver Trent esta manhã, havia flores e um livro sobre a
mesa que não estavam lá ontem. Lennon. Eu esperava que ela já tivesse
passado por aqui, e esses eram os meus sinais de que ela tinha passado.

Também reconheci o livro, porque é meu. Eu li provavelmente cinco


vezes, e acidentalmente deixei em casa na última vez que estava cuidando de
Evelyn.

Não sei o que levou Lennon a pegá-lo e levá-lo ao hospital, mas saber que
ela está lendo me deixa um pouco mais leve. Um pouco mais conectado a ela
do que ontem. Não deveria ser tão bom quanto parece.

Eu estaciono meu carro no meio-fio, notando um desconhecido CR-V


vermelho com placas da Louisiana na garagem. Deve ser o que Lennon alugou.
Eu pulo para fora e passo por ele lentamente, espiando pelas janelas. Sem
personalidade. Sem sinais de vida. Sim, é definitivamente um aluguel.

Vou até a casa e entro sem bater, chutando os sapatos no tapete.

— Mãe, — eu chamo para dentro de casa, indo em direção à cozinha. —


Estou aqui.

— Ela está no chuveiro, — diz uma voz da sala de estar.

Meus nervos disparam porque sou um idiota. Eu sabia que Lennon


estaria aqui. Eu sabia que provavelmente iria vê-la, embora ela tenha feito um
ótimo trabalho em me evadir ontem. Não sei por que a porra do meu corpo
ainda decide reagir dessa maneira.

Acalme-se, porra.
Eu levo um segundo para me recompor, então entro na sala de estar.
Lennon está sentada no chão com Evie, e elas se revezam empilhando blocos.
Pelo que parece, Evie não tem mais medo de Lennon, e Lennon está adorando.

— Ela está animada com você, — eu observo, inclinando-me na parede e


enfiando as mãos nos bolsos.

— Sim. — Lennon diz com uma pequena risada. — Não demorou muito,
na verdade. Eu só tinha que dar alguns salgadinhos para ela.

Sua risada faz meu sorriso crescer, e eu não consigo tirar meus olhos dela.

— Ela adora lanches.

Lennon sorri para Evie e faz cócegas em sua barriga.

— Uma garota como eu gosto, — diz ela, fazendo Evie rir. — Deve ser de
família.

A última declaração vira meus lábios para baixo, então eu mudo de


assunto.

— Ouvi dizer que você esteve no centro de recreação ontem. — Suas


costas se endireitam de uma forma que me diz que ela não achou que eu
descobriria. — Payton me disse quando eu fui esta manhã para fazer os
horários.

— Oh, — ela diz, concentrando muito mais atenção do que o necessário


nos blocos. — Você ainda trabalha lá?

— Eu faço os horários e cuido de alguns papéis. Coisas de escritório.

Lennon acena com a cabeça e desvia os olhos dos blocos para o meu rosto
e vice-versa.

— O lugar parece bom. Eu amei as fotos nas paredes. E vi que


acrescentaram um ringue de boxe e mais algumas rodas de cerâmica.

Espero para ver se ela vai dizer mais alguma coisa. Se ela vai admitir ter
visto mais alguma coisa, mas não.

— Sim, — eu digo depois de um momento, — acho que se fala em uma


expansão também. Talvez colocando uma piscina.
— Oh, uau. — Ela olha para mim com um sorriso que ameaça me
derrubar. — Isso é incrível. As crianças vão adorar.

Eu nem tento esconder meu orgulho.

— Eu penso que sim. Como a cidade está crescendo, faz sentido que o
centro também cresça. — Eu respiro profundamente sutilmente antes de fazer
a pergunta que está causando ansiedade em meu peito. — Por acaso você viu
mais alguma coisa? Conferiu alguma outra sala ou algo assim?

A espera entre o final da minha pergunta e a resposta dela parece horas,


quando na verdade são apenas alguns segundos. Tempo suficiente para
empilhar dois blocos.

— Oh, não, — diz ela com desdém. — Payton meio que invadiu minha
festa e senti que precisava ir embora. — Ela olha para mim. — Desculpe, você
sabe, se eu não deveria estar lá.

Eu balanço minha cabeça e sorrio.

— Está tudo bem, Len. Você é bem-vinda para passar a qualquer hora.
Não acho que nossas salas de arte vão corresponder aos seus padrões, mas
você pode usá-las enquanto estiver aqui também.

Ela abre a boca, depois a fecha. Eu a observo morder o lábio inferior e


espero que ela diga alguma coisa, qualquer coisa. Não sei nem o que quero
ouvir dela, só sei que gosto de falar com ela desse jeito. Onde nossas defesas
estão baixas e não estamos na garganta um do outro.

Nesta conversa, poderíamos facilmente passar por dois velhos amigos se


atualizando.

Então, eu espero por mais. Um inspira e expira, depois dois. Então três.
Evie se levanta ao lado do sofá enquanto Lennon finalmente fala.

— Macon, — ela diz com um suspiro, assim que Evie tira uma das mãos
do sofá e começa a mexer a perna, — eu vou…

— Não! — Interrompo Lennon quando passo por ela e cutuco Evelyn com
o pé, empurrando-a de volta para sua bunda de fralda. Evelyn ri e eu balanço
meu dedo para ela. — Nada disso.
Lennon suspira, os olhos arregalados de descrença.

— Você acabou de chutá-la?

— Não, eu não a chutei, — digo com uma risada, curvando-me e pegando


Evie. — Eu gentilmente a desencorajei de realizar grandes marcos hoje.

Evelyn dá um tapinha no meu rosto com as mãos e baba na minha


bochecha enquanto Lennon assiste, com a cabeça inclinada para o lado, a testa
franzida. Posso dizer pela expressão dela que ver Evie comigo a faz sentir algo.

Ciúmes, talvez.

Eu estaria mentindo se isso não me trouxesse um pouco de alegria. Isso


é o que ela ganha por ir para a França, em vez de voltar para casa como deveria.

— Por que você fez isso? — Ela pergunta finalmente, e eu me forço a


sorrir, fazendo pouco caso de um tópico difícil.

— Squirt está tentando andar, — eu explico, pressionando um beijo na


testa de Evie antes de jogá-la em seu pequeno centro de jogos de 360 graus.
Ela adora essa merda. Tem um monte de chocalhos e coisas de brinquedo de
atividade, e ela pode ficar de pé, girar e pular sem a ameaça de dar os primeiros
passos.

Pego um lenço de papel na caixa sobre a mesa de centro para enxugar a


baba do meu rosto, depois me viro para Lennon.

— Mas acho que é algo para o qual mamãe e Trent deveriam estar por
perto, sabe?

O rosto de Lennon se contorce quando ela percebe o que estou dizendo,


então dou de ombros e desvio o olhar.

— Só estou tentando encorajar Evie a esperar um pouco. Guardar seus


primeiros passos para quando Trent estiver acordado e puder vê-los.

— Oh, uau. Isso é, hum... — Ela engole e acena com a cabeça. — Isso é
muito atencioso.

A surpresa em seu tom me incomoda, e reviro os olhos.

— Sim, bem, acho que não sou um idiota sem coração, afinal.
Passo por ela e entro na cozinha, e posso ouvi-la se levantar e me seguir.

— Eu não disse que você era, Macon.

— Não, você só ficou surpresa, certo?— Fico de costas para ela e abro a
geladeira. — Macon Davis sem coração e egoísta. Ele não dá a mínima para
ninguém além de si mesmo, certo?

— Eu não disse isso, Macon. Não foi isso que eu quis dizer, — ela
argumenta enquanto eu coloco a tampa do meu refrigerante e tomo um gole.
Juro que ela rosna quando me recuso a olhar para ela. — Jesus, o que diabos
desencadeou isso?

Eu solto uma risada sem humor, finalmente fazendo contato visual, e sua
raiva me alimenta. Eu forço um sorriso e arrasto meu olhar sobre seu corpo,
propositalmente me demorando em lugares que fazem meu coração acelerar.

— Quando você ganhou uma boquinha tão imunda, Lennon?

Ela estreita os olhos para mim enquanto tomo outro gole do meu
refrigerante.

— O francês também tem boca suja? O que mais você aprendeu na


França, hein?

— Não faça isso, Macon, — ela diz lentamente, balançando a cabeça. —


Não comece. Estávamos sendo civilizados.

— Civilizados. — Meus lábios se curvam cruelmente, a palavra com gosto


de ácido. — É isso que os franceses chamam de falso pra caralho?

— Ah, foda-se, Macon.

— Não, vai se foder, Capri, — respondo, enfatizando o nome dela com


sarcasmo.

Eu jogo a lata cheia na pia, então me viro e caminho em direção à porta.


Eu preciso sair daqui. Estou ansioso por um cigarro, minha argila ou uma
surra, mas Lennon segue, jogando palavras nas minhas costas.
— Faz quatro malditos anos. Não somos mais crianças, ok? Somos
pessoas diferentes agora. O que você esperava? Nós simplesmente
continuaríamos de onde paramos?

Eu giro para ela, parando-a em seu caminho.

— Oh não. Eu definitivamente não quero continuar de onde paramos.

Sua cabeça se inclina para trás como se eu fosse cuspir nela, e sua
carranca fica ainda mais cruel.

— E de quem é a culpa?— Ela ferve com os dentes cerrados.

— Do jeito que eu me lembro, com certeza não era minha.

— Então sua memória é tão distorcida quanto sua memória.

— Minha memória está perfeitamente bem, — eu digo, interrompendo-a


e fechando a distância.

Examino seu rosto, procurando a raiva que sei que encontrarei naqueles
olhos cor de avelã. Sua boca está ligeiramente entreaberta, seu peito está
subindo rapidamente, no mesmo ritmo do meu. Minha atenção se concentra
em seus lábios antes de finalmente arrastar meus olhos de volta para
encontrar os dela.

— Eu me lembro de tudo, Lennon. Eu gostaria de não ter feito isso, porra.

— O quê?— Suas sobrancelhas franzem em confusão. — Afinal, o que isso


quer dizer?

— Esqueça.

Eu a olho, fixando meus olhos em seu cabelo ruivo.

— Suas raízes estão aparecendo, Capri. Engraçado como isso funciona,


certo? Nem mesmo uma reforma francesa sofisticada pode apagar o que está
no seu âmago.

Eu me afasto sem outra palavra, pegando meu telefone e enviando uma


mensagem enquanto caminho para fora. Desta vez, Lennon não segue.
Pego o maço de cigarros no bolso, tiro um e coloco entre os lábios. Eu
verifico meu telefone novamente, enviando outro texto, antes de acender e dar
uma tragada profunda.

Foda-se, e eu estava indo tão bem com a coisa toda de desistir.

Eu sei que Jessica está de folga hoje. Eu não quero ligar e incomodá-la,
mas isso está coçando como se pudesse se transformar em uma emergência.
Estou agitado pra caralho, estou chateado e estou pensando demais em tudo.

Quem é aquela mulher ali? Em um momento, ela é Lennon - minha


Lennon - e no próximo, ela é alguém que não reconheço.

Estou dividido entre querer beijá-la e mandá-la embora, e não ajuda que
eu esteja tão tenso que não estou pensando direito.

Eu termino meu cigarro assim que o alarme do meu telefone toca, me


dizendo que é hora da mamadeira para Squirt. Apago o cigarro e o jogo no
vaso de flores que mamãe deixa na varanda. Vou pegá-lo mais tarde e jogá-lo
fora corretamente na saída. Eu viro minha cabeça lentamente de um lado para
o outro, tentando tirar um pouco da tensão do meu pescoço, então volto para
casa.

Com certeza, Evelyn está começando a se agitar.

Lennon a tem em seus braços e está balançando para frente e para trás.
Está fazendo um trabalho decente em mantê-la calma, mas não vai durar
muito. Esse bebê está com fome.

— É hora de alimentar o monstro, — digo a Lennon.

— Oh. Mas Andrea acabou de lhe dar o café da manhã não faz muito
tempo.

Vou até a geladeira e pego uma das mamadeiras que mamãe preparou
para o dia. Ela as arruma para mim quando estou cuidando de Evelyn, já que
não posso amamentar. Eu levo a garrafa para a pia e coloco-a sob um pouco
de água quente, aquecendo-a.
— Sim, ela come três refeições sólidas, — eu digo a ela, mantendo meus
olhos na garrafa, girando-a sob a torneira, — mas ela ainda bebe quatro
garrafas. Ela vai tirar uma soneca depois disso.

Pego a mamadeira e testo o leite em meu pulso, depois fecho a torneira e


olho para cima. Lennon está olhando para mim como se eu fosse um
alienígena, e Evie está chupando o próprio punho.

— O quê? — Eu pergunto, contornando o balcão e caminhando em


direção a eles. Evie começa a pular nos braços de Lennon quando vê a
mamadeira, e as mãos agarradas e o canto babababa começam
imediatamente.

— Nada. — Lennon balança a cabeça, então entrega o monstro se


contorcendo para mim. — Você apenas, não sei, sabe muito sobre como cuidar
desse bebê.

Eu bufo, manobrando Evie para um braço e dando-lhe a garrafa.

— Ela não é esse bebê, — eu digo, enquanto Evie envolve as mãos em volta
do meu pulso e deita a cabeça no meu peito. — Ela é minha irmã, e é isso que
a família faz.

Não quero que a última parte soe tão mordaz quanto soa. Não quero
ofender Lennon, mas faço mesmo assim e me sinto um idiota. Eu olho para
ela e considero me desculpar, mas o jeito que ela está olhando para Evelyn
com saudade me faz morder minha língua. Em vez disso, ofereço um ramo de
oliveira.

— Você quer alimentá-la? — Eu pergunto, e Lennon atira seus olhos para


mim.

— Sério? — Suas costas ficam retas, então ela franze os lábios. — E se eu


estragar tudo?

Eu rio e faço um gesto para ela se sentar no sofá.

— Você não vai estragar tudo. Ela pode fazer isso sozinha, de qualquer
maneira. Eu só gosto de abraçá-la.

Lennon senta-se rígido no sofá, e eu entrego Evelyn e a garrafa para ela.


— Relaxe, Len, Jesus, — eu digo com uma risada. — Você estava apenas
segurando ela e estava bem.

— Isso foi antes de ela estar comendo. E se ela engasgar?

Eu sorrio. — Confie em mim, ela vai ficar bem. Apenas respire fundo,
sente-se nas almofadas e relaxe. Ela vai sentir o seu estresse.

Observo Lennon acenar com a cabeça e fazer exatamente o que eu instruí.


Respira fundo, depois expira, então ela afunda de volta nas almofadas do sofá
e faz um esforço consciente para relaxar os ombros. É hilário, e eu tento ao
máximo não rir. Eu não posso esconder o sorriso divertido, porém, e quando
ela o vê, ela revira os olhos e pisca um dos seus.

— Bom.

A visão de Lennon e Evelyn deixa meu peito apertado e minha garganta


seca. Abro a boca para dizer mais, mas meu telefone vibra no meu bolso. Eu o
puxo para fora e verifico a identidade.

Jéssica.

— Tenho que atender, — digo a Lennon. Ela move os olhos para o meu
telefone, depois para o meu rosto e acena com a cabeça. Coloco o telefone no
ouvido e atendo enquanto ando pelas portas de correr para o deck traseiro.

— Ei, — eu digo para Jessica. — Desculpe incomodá-la.

— Não é um problema, — diz ela calorosamente. Apenas ouvir o sorriso


em sua voz alivia um pouco da minha tensão crescente. — O que posso fazer
por você neste belo dia?
CAPÍTULO ONZE

Lennon

D ou uma espiada na tela do telefone pouco antes de Macon atender


— Jessica, — então o observo através das portas de correr de vidro
enquanto ele fala com a pessoa do outro lado da linha.

Primeira Nicoleta. Agora Jéssica. Ele sempre foi popular entre as


mulheres.

Eu o observo enquanto ele anda de um lado para o outro, agitado e tenso,


mas logo seu corpo se solta. Observo enquanto a tensão em seus ombros
desaparece e as rugas de irritação em sua testa dão lugar a risos e sorrisos
despreocupados.

Quem quer que seja essa Jessica, ela certamente tem um efeito estranho
e calmante em Macon.

Eu tenho que lutar ativamente para evitar que meu corpo endureça. Eu
tenho que trabalhar para abrir minha mandíbula. O ciúme e a preocupação
que sinto me surpreendem. Ciúme, porque a ideia de Macon ter uma Jessica
me irrita de uma forma que não quero admitir. E preocupação porque...

Bem.
Reconheci sua linguagem corporal quando ele atendeu a ligação pela
primeira vez. Ansioso. Fechando e abrindo os punhos. Respiração rápida.
Instável, impaciente, irritável.

Lembro-me do que Macon fazia quando ficava assim no ensino médio.


Aprendi um pouco mais sobre seus hábitos com Sam, como eles usavam um
ao outro. Se Jessica está preenchendo esse papel agora...

Não sei o que me incomoda mais — se ela é uma namorada de verdade


ou se é uma traficante — e isso me faz sentir uma pessoa terrível.

Eu não quero que ele esteja usando. Claro que não. Mas eu o quero
apaixonado?

Ele não parece nem um pouco chapado desde que voltei, mas teve anos
para melhorar em esconder isso. Ele também não cheirou a maconha, mas há
muitas coisas que ele poderia estar fazendo que não têm cheiro.

E ele foi dispensado dos fuzileiros navais por um motivo.

Eu ainda estou olhando para ele quando Andrea aparece na minha


frente, vestida com jeans e uma camiseta com o cabelo molhado ainda preso
em uma toalha.

— Obrigada, — ela sussurra com um sorriso, apontando para Evelyn, que


agora está dormindo no meu peito. — Desculpe, você teve que fazer isso. Fui
pega no telefone.

Balanço a cabeça e sorrio de volta.

— Tudo bem. Macon fez isso. Eu sou apenas a reserva.

— Ele está aqui? — Ela olha ao redor da sala, então olha para o relógio na
parede. — Desculpa. Eu realmente perdi a noção do tempo.

— Ele está lá fora, — eu digo, então a observo de perto quando adiciono,


— conversando com Jessica.

A maneira como a testa de Andrea franze quando ela se vira para olhar
para fora me preocupa, mas quando sigo seu olhar, encontro Macon sorrindo
e conversando como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo.
Hum.

Macon vê sua mãe pela janela e encerra a ligação segundos depois, antes
de voltar para casa.

— Bom dia, — diz ele com um sorriso. — Eu fico com ela o resto do dia,
se você quiser ir para o hospital.

— Bem, — Andrea diz lentamente, — tenho algumas novidades.

Suas mãos estão entrelaçadas na frente dela, e concentro minha atenção


nisso, em vez de em seu rosto.

— O médico ligou. Eles querem acordar Trent. Pode levar horas ou dias
até que ele realmente saia do coma, mas eles querem começar o processo
amanhã.

Estou sem palavras. Estou animada, sim, mas estou com medo. E se ele
acordar e não for o mesmo? E se houver dano cerebral que eles não
esperavam? Eu posso sentir olhos em mim, mas eu não olho para cima para
encontrá-los. Eu deixo minha atenção cair no chão e olho para o tapete da
área, enquanto esfrego meus dedos suavemente sobre o bebê adormecido no
meu peito, tentando me aterrar.

— Isso é ótimo, — diz Macon. — Isso significa que os testes estão


melhores?

— Isso é o que eles me disseram, — diz Andrea, e libero a respiração que


estava segurando.

Ok. Isso é bom. Exames e testes e tudo o mais parecem bons. Pode levar
horas ou uma semana até que ele acorde. Talvez eu fique aqui por mais tempo
do que eu esperava..

— ..e então haverá reabilitação, — diz Andrea.

Eu finalmente olho para ela. Ela parece esperançosa.

— Reabilitação? — Eu pergunto, e ela acena com a cabeça.

— Fisioterapia. Seu corpo precisará recuperar força e coordenação.


Apenas por alguns meses, provavelmente.
— Ok, — eu sussurro. — Ok. Isso é bom.

— Sim. É muito bom. — Andrea está sorrindo enquanto olha entre Macon
e eu, seu sorriso vacilando um pouquinho quando ela diz: — Vou ligar para
Claire e deixá-la saber.

Ela se vira para sair da sala, mas eu a chamo e a interrompo quando um


pensamento surge em meu cérebro nebuloso.

— Andrea, tudo bem se eu usar o escritório do papai enquanto estiver


aqui? Tenho algumas peças menores que preciso trabalhar, e se vou ficar aqui
mais um pouco...

— Sim, — ela diz, balançando a cabeça animadamente. — Você pode usar


o que precisar. Você pode ficar o tempo que quiser. — Seus olhos embaçam e
sua bondade faz meu peito doer. — Existe alguma coisa que você precisa que
eu pegue para você? Suprimentos ou algo assim?

Balanço a cabeça lentamente e forço um sorriso.

— Não. Obrigada, mas posso conseguir sozinha.

— Ok, — ela suspira, a cabeça ainda balançando, o sorriso crescendo. —


Ok, maravilhoso. — Ela pisca algumas vezes, então gesticula para o corredor.
— Eu voltarei.

— Você pode usar o centro, — diz Macon assim que sua mãe sai da sala.
— Para pintar, quero dizer.

— Obrigada, mas prefiro pintar sozinha.

Eu olho para longe dele quando digo isso. As palavras são verdadeiras.
Eu prefiro pintar sozinha. Até Franco sabe que não deve me incomodar
quando trabalho, e ele é um dos meus amigos mais próximos. Mas alguns anos
atrás, com Macon, senti o oposto.

Uma vida atrás.

Agora a ideia de tê-lo perto de mim enquanto pinto me enche de


ansiedade. É uma intimidade que não compartilhei com ninguém desde ele. É
uma que agora prefiro guardar para mim.
Estar perto dele agora é difícil o suficiente.

— E prefiro manter meu trabalho em algum lugar menos público, —


continuo. — Você sabe, já que são comissões.

Ele balança a cabeça lentamente, me observando como se estivesse


pensando em dizer algo mais. Eu espero que ele saia, mas ele deve decidir
contra o que quer que esteja pensando, porque ele se vira e entra na cozinha.

Prendo a respiração e olho para suas costas se afastando.

Tantas emoções surgem em mim que minha cabeça gira e me sinto tonta.
Eu quero ir atrás dele e fazê-lo dizer o que ele ia dizer. Eu quero ficar com raiva
dele e exigir respostas.

Onde você foi? Por que eu não era o suficiente? Como você pôde desistir
de nós?

Mas tenho medo do que ele vai dizer.

Eu dei tudo a ele uma vez, ofereci meu coração em uma bandeja de prata,
e o que isso me trouxe?

Um ingresso rápido para o fundo do poço.

Um vazio que não consigo preencher.

Uma data bloqueada no calendário e um coração partido.

****

Depois que Andrea sai para o hospital e Macon assume as funções de


Evelyn, levo meu carro alugado para a loja de materiais de arte em Norfolk.

Eu senti falta de dirigir. Em Paris, ando de bicicleta ou de metrô. Nada


se compara a dirigir seu próprio carro em estradas americanas abertas.

Estou digitando uma lista em meu aplicativo de anotações no


estacionamento quando uma chamada de vídeo toca. É tarde na França, então
estou surpresa que Franco esteja ligando, quanto mais coerente o suficiente
para uma conversa. Atendo com um sorriso, meio que esperando encontrá-lo
muito bêbado do outro lado da linha.

— Ei, — eu digo brilhantemente, e ele zomba.

— Ei? Com quem você está atendendo o telefone, ei? Você está nos
Estados Unidos há menos de uma semana e já está falando como uma
americana.

Franco está deitado em sua cama, seu cabelo loiro sujo, parecendo mais
escuro contra o branco puro de sua fronha. Ele tem aquela aparência sexy de
quarto, olhos sensuais e lábios carnudos, e ele segura o telefone longe o
suficiente de seu corpo, para que eu tenha uma visão decente de seu peito nu.

Eu rio e balanço a cabeça.

— Sou americana, — digo, e ele revira os olhos.

— Por favor, não me lembre. — Juro que ele está deixando seu sotaque
francês ainda mais forte de propósito.

— Este é o melhor momento de socialização para você, — eu digo,


mudando de assunto. — Você não deveria estar bebendo ou dançando?

Franco costuma dormir tarde porque gosta de sair tarde. Eu sou o oposto.
Adoro acordar cedo. Mesmo nas noites sem dormir, acordo com o amanhecer.
Trabalho melhor quando o dia parece novo e fresco. Minha criatividade
floresce porque o nascer do sol mantém meus pesadelos afastados.

— Ah, mas eu sinto sua falta. Eu queria ouvir sua voz. A cama está fria
sem você.

Eu estalo minha língua e balanço minha cabeça, divertida. Eu nem


mesmo agracio o comentário com uma resposta. Ele é tão cheio de merda. Não
é possível que a cama esteja vazia desde que saí. Eu não ficaria surpresa se
houvesse alguém nela agora, afastada da câmera do telefone, apenas fora de
vista.

— Como está o seu pai? — Ele pergunta, e meu sorriso cai um pouco.
— Tão bom quanto se pode esperar, — digo a ele. — Eles vão tirá-lo do
coma amanhã, mas pode levar alguns dias até que ele acorde.

— Essa é uma boa notícia, sim?

— Sim, acho que sim. — Franzo os lábios e inclino a cabeça para o lado.
— Na verdade, acho que posso ficar aqui um pouco mais do que planejei. Mais
uma ou duas semanas.

— Não, baby, — ele choraminga dramaticamente, me fazendo rir. Ele faz


um beicinho, cutucando o lábio inferior carnudo e me dando olhos de
cachorrinho. — Não fique mais longe de mim.

— Só até meu pai acordar e eu saber que ele vai ficar bem. Eu queria saber
se você poderia me fazer um favor?

— Qualquer coisa, chérie.

— Você se importaria de ir ao meu apartamento…

Franco geme, como se eu o tivesse machucado fisicamente, e eu rio de


novo.

— Meu apartamento, — corrijo, e ele suspira aliviado. Ridículo. — ...e me


enviar a peça que acabei de começar? Já foi esboçado, mas ainda não pintei.

— Esse prazo não é daqui a dois meses. Você acha que vai demorar tanto?

— Não, mas você sabe como eu gosto de terminar essas coisas antes do
prazo. Saber que estou passando um tempo longe disso está me deixando
ansiosa.

Franco assente e diz algo em italiano que não entendo. Eu me recuso a


reconhecer ou pedir a tradução, como ele provavelmente quer que eu faça.
Meu francês melhorou no ano passado, então às vezes ele muda para o italiano
só para me despistar. Ele sabe que isso me irrita.

— Provavelmente posso despachá-lo neste fim de semana, — diz ele


finalmente. — Tudo bem?

— Sim, — eu digo ansiosamente. — Por favor, não se esqueça.


Eu amo Franco. Ele é um grande amigo, mas não é a pessoa mais
confiável. Se eu não pressionar ele, este fim de semana pode facilmente se
transformar em duas semanas a partir de agora.

— Eu não vou esquecer, chérie. — Ele passa a mão livre sobre a


mandíbula e seus lábios se curvam em um sorriso sedutor. — Embora, eu seria
capaz de chegar lá mais cedo se suas coisas estivessem aqui...

Ele para e levanta uma sobrancelha, mas eu afasto o comentário com um


sorriso. Ele está brincando sobre eu morar com ele há meses. Eu tento dizer a
ele que minha presença vai acabar com sua vida noturna, mas ele gosta de
provocar de qualquer maneira.

Sinceramente, Franco gosta da minha conveniência, mas não gosta de


compromissos. Isso não me incomoda. Atende bem as minhas necessidades.

— Apenas prometa que não vai se distrair. É importante para mim.

— Je promets, — ele diz sério, colocando a mão sobre o coração.

— Merci, mon amour, — eu digo com um sorriso. — Falarei com você em


breve, ok?

— Bisou. Ciao.

— Tchau, — eu digo com orgulho, acrescentando um pouco de sotaque


sulista ao meu tom, e ele mostra a língua para mim antes de encerrar a ligação.

Pego minha bolsa e saio do carro, trancando as portas com o chaveiro


enquanto entro na loja. Só preciso de algumas coisas por enquanto.
Felizmente, por hábito, arrumei minha manga de pincéis, então pego um
carrinho e abro caminho pelos corredores. Passo mais tempo navegando do
que o necessário. Estar cercada de materiais de arte sempre me deixa calma.
Em casa.

Depois que abandonei a escola de arte, trabalhei em uma pequena loja


de materiais de arte em Paris por um tempo. Un Tableau. Eu amo isso lá. Se
eu não tivesse começado a vender minhas pinturas, ainda estaria trabalhando
na loja de arte. Como esta agora, apenas pego um turno ocasional quando
posso. A dona do Un Tableau é brilhante e gentil, e ela me disse que sempre
tenho um emprego lá se precisar.

Un Tableau é onde encontrei Franco novamente, na verdade.

Eu não o via há cerca de um ano e nem sabia que ele morava em Paris,
mas um dia ele entrou na minha loja e me convidou para jantar. Eu o vi quase
todos os dias, desde então. Ele me apresentou a algumas pessoas influentes na
cena artística de Paris, o que me ajudou a conseguir minha primeira exposição
em uma galeria. Conquistei meu lugar à mesa, por assim dizer, mas
definitivamente devo a ele por abrir a porta da sala.

Eu faço check-out e carrego minhas coisas no carro depois de cerca de


uma hora vagando pela loja. Estou com um estoque de arte em alta, então
estou de bom humor no caminho de volta para casa. Subo direto para o andar
de cima, evitando de propósito a sala de estar, para não esbarrar em Macon.

Descarrego e arrumo as coisas no escritório de papai, movendo-me pela


sala para encontrar o melhor espaço com a iluminação ideal. Ligo para tia
Becca e converso um pouco com ela, deixando-a a par de papai e informando
sobre meus planos de viagem. Quando desligo, ouço sons abafados de vozes
vindo do andar de baixo. Andrea deve estar em casa. Eu verifico meu telefone.
Sete da noite. Não é de admirar que eu esteja com fome.

Quando chego à cozinha, Andrea e Macon estão conversando em voz


baixa. Quando eles me veem, eles se separam e agem como se não estivessem
falando sobre mim. Eu os ignoro e vou direto para Evie em sua cadeira alta.

— Ei, macaquinha, — eu digo, dando um tapa no nariz dela. A maneira


como ela ri dissolve a tensão imediatamente. — Você tem uma coisinha no
rosto.

Eu bato nos pedaços de comida que ela tem pendurados no queixo e ela
grita mais alto.

— Sim, ela é nojenta, — Macon fala lentamente atrás de mim, e Andrea


ri.
— Pare com isso, — diz ela, batendo em seu ombro. — Você era muito
pior nessa idade.

— Ele era pior aos dezenove anos, — brinco sem pensar.

Eu bato minha boca fechada assim que Macon solta uma risada surpresa.
A memória que me invade é aquela que deixa minhas bochechas vermelhas e
minha garganta seca.

Comedor bagunçado.

Eu fecho meus olhos contra as emoções, a súbita explosão de luxúria e


desejo, e mantenho minha atenção longe de Macon.

A cozinha inteira está em silêncio, até mesmo Evelyn, e a estranha tensão


é palpável.

Isso é o que há de tão foda em nossa dinâmica familiar. Qualquer outra


pessoa veria isso claramente como uma brincadeira entre meio-irmãos. Mas
conosco? Há tanta água barrenta que tudo fica turvo.

O silêncio na sala se estende e não tiro os olhos de Evie. Em seguida, um


telefone toca e vejo Macon se mover em meu periférico.

— Merda, — ele diz, — eu tenho que ir. Esqueci que deveria encontrar
Nicolette.

Sinto minha cabeça sacudir em atenção e meus olhos disparam para


Macon involuntariamente. Andrea se despede dele com um abraço e diz para
ele — dizer olá, — então ele caminha ao meu lado e se inclina para beijar Evie
na cabeça.

— Vejo você amanhã, Squirt, — ele diz a ela com um sorriso, esquivando-
se de suas mãos sujas antes que ela possa dar um tapinha em suas bochechas.
Ele olha para mim e o sorriso desaparece.

— Tchau, — diz ele. Concordo com a cabeça e desvio os olhos.

— Adeus.
CAPÍTULO DOZE

Lennon

P
asso o dia no hospital na sala de espera da UTI.

Esperando.

Macon fica em casa com Evie o dia todo, então Andrea pode ficar no
quarto com papai. Isso me incomoda um pouco, mas quando papai acordar,
Andrea deve ser a primeira pessoa que ele verá.

Eu me mantenho ocupada lendo e esboçando ideias para minha próxima


pintura. Sei que é improvável que papai acorde hoje. O médico disse que pode
levar dias. Mas passei tanto tempo com oceanos inteiros entre mim e meu pai
que apenas algumas paredes de hospital parecem uma grande melhoria. E
assim, quando ele acordar, estarei a segundos de distância, em vez de dias.

Sam me ligou quando ela saiu do trabalho por volta das oito.
Conversamos um pouco e ela me repreendeu por não ter comido hoje, depois
ameaçou pedir comida para mim e mandar entregar na sala de espera da UTI.
Quando desligo com Sam, o som das portas duplas zumbindo me faz levantar
de um salto.

Andrea vem andando, seu sorriso forçado e seus olhos cansados.

— Ei, — diz ela suavemente.


— Ei, — eu digo de volta, empurrando meu telefone na minha bolsa. —
Alguma notícia?

Ela balança a cabeça lentamente e ajusta a alça da bolsa em seu ombro.

— Na verdade, vou voltar. Aliviar Macon dos cuidados com a bebê e


dormir na minha própria cama. As enfermeiras vão me ligar se Trent acordar.

— Ok. — Eu cubro minha boca para abafar um bocejo. — Eu irei também,


então. Estou com fome, de qualquer maneira.

Eu sigo Andrea para fora do hospital e para o estacionamento, então a


sigo em meu carro alugado. Quando chegamos em casa, tudo em que consigo
pensar é em comer alguma coisa e desmaiar. Estou alguns metros atrás de
Andrea quando ela entra em casa, deixando a porta da frente aberta para mim.

Estou meio atordoada, então não percebo imediatamente a conversa


estranha e abafada enquanto tiro os sapatos e caminho em direção à cozinha.
Fica mais alto, porém, e reconheço as vozes segundos antes de a situação se
desenrolar na minha frente.

Macon está com raiva e discutindo com alguém. Seus ombros estão
tensos e ele está apontando enquanto sussurra acaloradamente com...

Claire.

Eu reconheço seu perfil imediatamente, e meus pelos se levantam. Não


vejo Claire há mais de quatro anos. Eu a evitei tanto quanto evitei Macon. Eu
fui e voltei durante esse tempo sobre qual irmão de Davis eu odeio mais.

Ela parece a mesma, mas mais crescida. Ela sempre esteve na moda, mas
até eu fico impressionada com o quão 'perfeita' ela parece. Ela domou seus
cachos com qualidade de capa de revista. Sua pele parece impecável, quase
retocada. Suas calças sociais e blusa azul suave são sexy e chiques. Ela está até
usando um par de sapatos nude.

Ela parece bem, e isso me irrita.

Eu sabia que Claire voltaria em algum momento nos próximos dias.


Estou surpresa por não ter visto ela antes, mas foda-se se não sinto que estou
entrando em uma maldita emboscada.
Estou com fome. Estou cansada. Eu não me preparei para essa merda.

Macon sussurra outra coisa, e meus olhos caem sobre os ombros tensos
dele antes de ouvir a voz de Claire.

— Eu também pertenço a este lugar, — ela responde, muito menos


preocupada em manter o volume baixo. — Eu não deveria ter que esconder
nada.

Ela coloca as mãos nos quadris, e uma imagem dela em seu quarto de
infância, me intimidando para fazer algo que eu não queria fazer, vem à minha
mente. É a mesma postura, apenas uma Claire mais jovem. Naquela época,
porém, eu não via o movimento pelo que era. Manipulação egoísta.

Eu era tão ingênua sobre tantas coisas. Estou quase envergonhada por
isso agora.

— Você está começando a falar merda, — Macon diz com um grunhido, e


meus olhos se voltam para ele.

Um músculo em sua mandíbula se contrai e suas sobrancelhas estão


fortemente inclinadas. Já o vi com raiva muitas vezes, mas nunca vi esse nível
de contenção da parte dele. No colégio, ele teria surtado. Ele jogava alguma
coisa e saía furioso. Ele gritava insultos cruéis. Ele provavelmente estaria
chapado.

Agora? Agora ele é uma força.

O poder controlado que irradia dele me dá um arrepio na espinha. Sua


convicção me excita, e eu tenho que respirar através da atração.

— Agora não é hora de você jogar jogos imaturos.

— Eu não estou brincando! — Claire diz em voz alta, e Andrea me


surpreende quando ela entra e fica do lado de Macon.

— Macon está certo, Claire. Agora não é a hora.

Eu inclino minha cabeça para o lado e observo como o queixo de Claire


cai e sua testa franze.
Eu me movo para dar mais um passo à frente, então congelo, decidindo
entre interromper ou escutar um pouco mais. Permaneço um voyeur ou torno
minha presença conhecida?

Estou avaliando as opções quando meus olhos encontram os de outra


pessoa na sala. Minha cabeça se inclina para trás em confusão e, em seguida,
inclina para o lado.

— Ei, Lennon, — diz Eric sem jeito, interrompendo a conversa acalorada


entre Claire, Macon e Andrea. — Bom te ver.

— Sim...?

Eu arrasto meus olhos dele para os outros. Todo mundo está olhando
para mim com expressões diferentes. Andrea parece preocupada. Macon
parece irritado. E Claire parece... assustada? Olho para Eric e vou direto ao
ponto.

— O que diabos estou perdendo?

— Oh, — Claire interrompe com uma pequena risada falsa, — desculpe,


Capri. Decidimos vir hoje à noite em vez de amanhã.

Ela cruza a distância e fica ao lado de Eric, como se estivesse fazendo uma
reivindicação, e em meu estado confuso, ainda não tenho certeza do que ela
está insinuando.

— Espero que não haja problema em ficarmos no quarto de hóspedes, já


que somos dois? — Claire pisca, então desliza uma mão em volta da cintura de
Eric e olha para ele com um sorriso cafona apaixonado. — A viagem foi difícil
e estamos derrotados.

— Está tudo bem, — diz Eric se desculpando. — Eu disse a Claire que não
precisamos ficar aqui...

— Pare com isso, querido, — Claire o interrompe com outra risada falsa.
— Capri não se importa de dormir no sofá, não é, Capri?

Claire sorri de volta para mim enquanto ela arrasta a mão até o peito de
Eric e a espalha sobre seu peitoral coberto pela camiseta. Eu fico olhando para
ele, meus olhos finalmente registrando o diamante em seu dedo anelar
esquerdo, e então eu rio.

Eu desvio meus olhos do anel de noivado de Claire para o rosto dela, que
está confuso com a minha reação.

Ela não esperava que eu achasse graça? O que ela queria? Raiva?
Lágrimas? Isso me irrita mais do que qualquer outra coisa.

Por que diabos ela quer me machucar mais do que já fez?

Pegue a dica.

Você está sendo patética e é embaraçoso.

Eu balanço minha cabeça contra o ataque de pensamentos, lutando


contra a espiral de memórias que geralmente se segue.

Eu não vou deixar ela me ver quebrar.

Eu olho para Eric, e o pobre rapaz parece que se sente péssimo. Como se
ele se arrependesse de qualquer papel que desempenhou nessa reunião de
família fodida. Reviro os olhos e tiro-o de seu sofrimento.

— Não se preocupem, Masters, — digo categoricamente, — acho que


todos nós sabemos que vocês não tiveram nada a ver com isso.

Claire bufa, então eu olho para ela.

— Eu não me importo onde você dorme, Claire. Apenas chute minha


merda para fora do seu caminho, certo? Você sempre foi tão boa nisso no
passado.

Com isso, eu me viro e saio de casa.

Vou pegar a porra de um hotel, ou vou ligar para Sam e ver se a


McMansão do senador é segura para dormir, ou vou dormir na porra do meu
carro. Eu nem me importo. Eu vou descobrir isso mais tarde.

Eu só preciso dar o fora daqui.

Meus dedos apertam em torno do volante do meu carro enquanto eu vou


para a estrada. Minha pele coça e meu estômago revira.
Eu preciso de uma porra de uma bebida.
CAPÍTULO TREZE

Macon

—R
olhar para trás.
ealmente legal, Claire, — eu digo com um suspiro
enquanto observo Lennon sair pela porta da frente sem

— O que diabos eu fiz? — Ela diz, fingindo inocência pela qual o maldito
Masters se apaixona. Ele esfrega o ombro dela gentilmente, e ela se inclina
para ele. — Não sei por que ela está chateada. Eu não sabia que ela ainda nutria
sentimentos por ele.

— Claire, — minha mãe diz, balançando a cabeça, — duvido que tenha


algo a ver com isso.

Claire bufa e dá de ombros para Eric antes de caminhar até a ilha da


cozinha e se jogar em um banquinho.

— Bem, eu não sei o que mais poderia ser. Eu não fiz nada de errado.

Ela é tão fodidamente inacreditável.

— Claire, você aparece às nove da noite depois que ela está no hospital o
dia todo porque o pai dela está em coma, — eu digo, marcando pontos em
meus dedos e tentando como o inferno manter minha voz calma, — e você a
chuta para fora do quarto em que ela está hospedada para que você possa
dormir nele com a porra do seu noivo, que por acaso também é o ex do Lennon.
E você fez tudo isso depois de anos de sangue ruim. Nenhum aviso. Sem
gentilezas. Porra de nada.

— Bem, de quem é a culpa? — Ela responde de volta.

Eu corro minha mão pelo meu cabelo, mais uma vez notando que eu
preciso cortá-lo, e fecho meus olhos contra a minha frustração.

Estou exausto e ainda tenho algumas horas antes de dormir. Eu não


tenho energia para lidar com as besteiras de Claire, mas se eu não fizer isso,
mamãe vai, e ela precisa disso como precisa de um chute no estômago.

— Você poderia ter lidado melhor com isso, — eu digo lentamente. —


Você a encurralou, quando ela já estava desconfortável, e a desafiou a reagir.
Agora você está chocada que ela mordeu de volta?

— Eu não vou andar na ponta dos pés perto dela, — Claire quase grita.

— Fale baixo ou você vai acordar Evie, — eu repreendo. Ela franze a testa
para mim, mas suas próximas palavras são sussurradas.

— Tenho todo o direito de estar aqui, Macon. Mais direito do que ela, até,
porque já estive aqui. Eu não abandonei minha família.

Olho para minha mãe.

Sua testa está franzida, e ela está franzindo a testa para Claire, mas ela
não diz nada. Não há sentido. Claire não vai ouvir isso, de qualquer maneira.
Eu olho para Eric e quero rir porque ele parece tão fodidamente
desconfortável.

Se esse cara quiser salvar seu futuro, ele abandonará o barco e encontrará
alguém menos vingativo e hipócrita para se amarrar.

— Diga a si mesma tudo o que precisa para se sentir melhor, Claire, — eu


digo antes de dar um abraço na minha mãe. — Vejo você amanhã. — Eu me
viro para Eric com um sorriso. — Bem-vindo de volta, Masters.

Masters murmura um agradecimento e Claire diz algo arrogante quando


passo, mas não reconheço nenhum deles. Eu verifico meu relógio e vou para o
meu carro. Eu tenho que fazer uma aparição no bar para a festa de aniversário
de Payton, e eu gostaria de entrar e sair antes que todos fiquem loucos.

****

O bar está lotado, ombro a ombro, quando entro.

Não é surpreendente, mesmo para uma noite de semana. O Outpost faz


um ótimo trabalho com promoções e entretenimento, então nunca está vazio.
A música é alta, todas as mesas de bilhar estão em uso e a banda tocando no
palco parece ótima.

Antes de fazer uma varredura, vou direto para a barra. Mackie me vê


depois de um minuto ou dois e caminha em minha direção, preparando minha
bebida no caminho.

— Davis, — ele cumprimenta em voz alta com um sorriso. — Se você está


aqui por P, o grupo dela está lá atrás.

— Obrigado, — eu digo, pegando o copo que ele me entrega. — Sim, estou


aqui por Payton, — confirmo, inclinando-me sobre o bar para que ele possa
me ouvir. — Quem está aí atrás?

— Todo mundo, — diz Mackie. Seu sorriso cresce e ele ri. — Sua garota
tem a cidade na palma da mão. Você nunca saberia que ela não cresceu aqui.

Mackie se formou um ano antes de mim. Eu estaria em sua classe se não


tivesse sido retido na escola primária. Ele fez alguns anos na faculdade
comunitária, mas não tenho certeza do que estudou. Tudo o que sei é que ele
é o rosto do The Outpost agora, e ele é um barman muito talentoso.

Eu sorrio de volta para ele e aceno com a cabeça, então levanto meu copo
para agradecer mais uma vez antes de abrir caminho para a sala dos fundos
do bar.

— Macon, — eu ouço uma voz gritar, e me viro para o lado para ver um
Payton sorridente se aproximando de mim. — Você conseguiu!
Ela envolve seus braços em volta de mim em um abraço, e mesmo que
ela seja pequena, eu tenho que endireitar meus pés para não tombar.

— Payt, — eu digo com uma risada, — seu peso leve. Como você já está
bêbada?

— Silêncio, — diz ela brincando, levantando-se e apontando um dedo


delicado para mim. — É meu aniversário. Eu posso fazer o que eu quiser.
Vamos lá!

Ela agarra minha mão e me puxa no meio da multidão até que estejamos
entre um grande grupo de amigos de Payton, a maioria dos quais são
voluntários do centro recreativo ou pessoas que conheço desde o colégio.

Até Nicolette está aqui, segurando uma garrafa de cerveja e rindo.


Quando ela me vê, ela acena e levanta a bebida no ar, então eu faço o mesmo.
Acabei de vê-la ontem à noite, então meus sentimentos não foram feridos
quando ela não tropeçou em si mesma para vir falar comigo.

Eu faço minhas rondas, certificando-me de dizer olá a todos antes de sair


mais cedo. É um monte de high fives e conversa fiada. Algumas piadas e
abraços laterais. Interações de pessoas bêbadas. Eu não me importo de estar
perto de beber. Não me incomoda como provavelmente poderia, mas tenho
que estar no clima para isso, e agora, porra, não estou.

Eu disse a mim mesmo que ficaria por duas horas.

Eu faço um bom show disso. Até volto ao bar para pedir a Mackie que me
prepare outra bebida, mas, à medida que meu ponteiro do relógio se aproxima
do meu prazo final, é preciso contenção física para não apenas dizer foda-se e
ir embora agora. Não é até Payton mencionar Casper que percebo que ainda
não o vi.

— Casper está aqui? — Eu pergunto a ela, e ela sorri com os olhos


vidrados para mim sobre seu coquetel.

Vou ter que verificar qual amigo está de olho nela esta noite.
— Ele está, — diz ela brilhantemente, então aparece de onde ela estava
encostada na parede e pega minha mão novamente. — Venha, vou levá-lo até
ele.

Eu rio. Sou perfeitamente capaz de encontrá-lo sozinho, mas deixo que


ela me puxe de qualquer maneira. A Senhorita Borboleta Social precisa liberar
todas as suas vibrações, ou o que quer que seja.

Ela me leva de volta através das pessoas para o outro lado do bar perto
das cabines, então me puxa para a frente de uma mesa antes de deslizar os
braços em volta da minha cintura. Normalmente, eu gentilmente removeria
seus braços e me afastaria, mas sou momentaneamente pego de surpresa
quando vejo com quem Casper está conversando.

— Christopher, — Payton gorjeia, — seu chefe estava procurando por


você.

Ela ri de sua própria piada enquanto Casper sorri e levanta a


sobrancelha.

— Estou bem aqui, senhor chefe, — ele diz, então desliza o braço por trás
da mesa atrás de Lennon, que está sentado ao lado dele.

— Acabei de conversar com uma velha amiga. Payton, você conhece


Capri? Ela está visitando da França.

Observo a atenção de Lennon saltar entre mim e Payton, notando a forma


como Payt está agarrado a mim, e juro que vejo os olhos de Lennon se
contorcerem de irritação.

Eu sorrio, então faço questão de envolver meu braço em volta do corpo


de P, descansando minha mão em seu braço. A atenção de Lennon cai no
contato e gruda. Eu posso praticamente sentir meus dedos queimando sob seu
olhar.

Estou prestes a esfregar o braço de Payton, só para ver até onde posso
empurrar Lennon, quando P relaxa em mim e percebo o que estou fazendo.

Eu solto meu braço e dou um passo para trás. Payton não parece notar.
— Oh! Você estava no centro recreativo, — ela exclama, então desliza para
a cabine ao lado de Lennon. — Eu sou Payton! É meu aniversário.

— Prazer em conhecê-la, Payton, — Lennon diz secamente, nem mesmo


tentando fingir interesse. Eu tenho que morder minha bochecha para evitar
que meu sorriso se transforme em um sorriso divertido. — Feliz aniversário.

— Vocês se conhecem? — Payton pergunta, e Casper concorda.

— Fizemos o ensino médio juntos, — ele diz, me dando um sorriso. — Nós


voltamos muito.

Payton vira a cabeça para mim como se tivesse acabado de fazer uma
descoberta brilhante. Eu mantenho meus olhos em Lennon.

— Macon! — Payton grita, golpeando-me de brincadeira. — Você também


conhece Capri, então?

Eu inclino minha cabeça para o lado e examino o rosto de Lennon antes


de responder. Sua expressão está vazia, mas seus olhos estão cheios de fogo e,
de repente, quero encontrar um pouco de gasolina.

— Não, — eu digo, abrindo o p. — Não conheço ninguém chamado Capri.

Casper ri e Lennon lança um escárnio irritado. Ela revira os olhos e


desvia o olhar, mas trago sua atenção de volta para mim, inclinando-me para
a mesa e agarrando sua mão que estava sobre a mesa.

Eu quero jogá-la desprevenida. Quero fazê-la se sentir tão inquieta


quanto ela me deixa.

Seus olhos se arregalam, mas ela não se afasta quando eu levo sua mão
aos meus lábios.

— Eu sou Macon, — eu digo, nunca quebrando o contato visual enquanto


pressiono um beijo nas costas de sua mão. — Prazer em conhecê-la, Capri.

Sua boca se abre ligeiramente, mas ela não diz nada. Eu esfrego meu
polegar sobre a palma da mão antes de liberá-la lentamente. Ela coloca a mão
no colo e engole antes de dizer: — você também.
Eu fecho minha mão que estava apenas tocando sua pele, flexionando
meus dedos como se eu pudesse prender a sensação dela na palma da minha
mão. Eu levanto minha bebida e tomo um gole, esperando que o líquido frio
domine o calor crescente da temperatura do meu corpo. Não.

— Capri estava me contando como ela precisa de um lugar para ficar, —


diz Casper. — Aparentemente, o lugar onde ela estava agora está infestado de
vermes.

Eu engasgo com a minha bebida enquanto Lennon ri, então ela me


observa com os olhos arregalados enquanto eu recupero o fôlego através do
meu sorriso.

— Vermes? — Eu engasgo e ela dá de ombros.

— Foi a melhor maneira de colocar isso, — ela diz, lábios carnudos


curvados em um sorriso sedutor que eu tenho certeza que os meus estão
espelhando. — Estou esperando a resposta de uma amiga.

Ela leva a bebida à boca e pressiona o copo contra o lábio inferior. Eu


observo enquanto ela bebe, seus olhos nunca me deixando.

— Quem é sua amiga? — Payton pergunta, alheia, e meus ombros caem


ligeiramente quando Lennon desvia o olhar de mim para responder à
pergunta.

— O nome dela é Sam. Estou esperando para ver se posso ficar na casa
dela.

Minhas costas enrijecem e olho para Casper. Ele está olhando para mim,
me enviando sinais de alerta. Lennon não mencionou o sobrenome, e tenho
certeza de que foi intencional, mas Casper e eu sabemos de quem ela está
falando.

De jeito nenhum vou deixá-la ficar na casa do senador Harper.

Ouço Payton fazer uma pergunta e, quando sintonizo de novo, Lennon


está explicando que sua 'amiga' deveria enviar uma mensagem de texto para
ela em breve, quando ela souber se a casa de seus pais está livre.
— Perguntei se ela queria ficar comigo, — diz Casper, — mas meu
pequeno apartamento é muito pequeno para suas pinturas e ela é alérgica a
gatos.

— Você pinta? — Payton se anima e Lennon acena com um sorriso.

— Sim, — diz ela com orgulho. — Aquarelas, principalmente.


Impressionismo abstrato.

— Ela é meio famosa, — diz Casper, e Lennon ri, batendo seu braço com
o dela.

— Dificilmente, — diz ela, revirando os olhos.

— Veja isso. — Casper digita algo em seu telefone e vira a tela para
Payton. — Essa é a galeria online dela.

Payton percorre algumas das imagens, com os olhos arregalados de


admiração. Eu não me incomodo em olhar. Eu já vi todos eles.

— Oh meu Deus, isso é incrível, — diz Payton. Lennon dá de ombros.

— O design do meu site é simples, mas as pinturas são boas, — diz ela
rindo. — Eles não me pagam para criar sites.

Eu me animei com esse comentário.

— Você projetou o site?

Os olhos de Lennon disparam para mim, e ela acena com a cabeça.

— Construí a partir do zero. Levei quase três semanas e alguns litros de


café, mas consegui.

Não tiro os olhos dela, mas mordo a língua na vontade de elogiar seu
trabalho. Eu sei sobre o site. Conheço todas as guias, imagens e postagens de
blog. Mas não sabia que ela mesma o construíra e estou surpreso. Eu não
deveria estar. Lennon nunca soube falhar em nada.

Casper interrompe meu contato visual quando ele se inclina para a mesa
de forma conspiratória e coloca uma mão sobre o lado da boca como se
estivesse prestes a contar um segredo.
— Ela tem uma pintura encomendada para uma popstar britânica
popular, — Casper sussurra zombeteiramente, e Payton engasga.

— Quem? — Payton grita, e Lennon encolhe os ombros timidamente


antes de tomar um gole de sua bebida.

— Ela jurou segredo, — explica Casper. — Viu? Ela é famosa.

— Isto é tão legal! — Payton olha para mim com os olhos arregalados de
excitação, depois de volta para Lennon. — Por quanto você vende isso?

— Depende de algumas coisas. Se for comissão, eu costumo conversar


com o cliente para ter uma ideia do que ele quer, aí eu faço o preço pelo
tamanho, quanto tempo eu acho que vai demorar, o nível de dificuldade.
Coisas assim.

Lennon parece tão profissional, tão focada, mas há um elemento de


emoção por trás de suas palavras que me diz que ela ama o que faz. A pintura
é algo pelo qual ela sempre foi apaixonada, mas nunca conseguiu.

Se ela tivesse voltado da Europa e feito faculdade aqui como


originalmente planejado, ela teria se formado em finanças. A pintura teria
continuado sendo um hobby que ela fazia em segredo.

Em momentos como esse, é difícil para mim ficar com raiva por ela nunca
ter voltado. Passei quatro anos chateado por ela ter ficado na Europa. Com
raiva por ela ter desistido de sua aceitação na VCU e começado a escola de arte
em Londres. Fiquei ainda mais chateado quando soube que ela largou a escola
de arte e se mudou para Paris.

Mas foda-se, agora, não posso negar que ela está fazendo exatamente o
que deveria fazer.

Como posso culpá-la por finalmente ser egoísta? Eu deveria estar feliz
por ela, mas também não posso fazer isso.

— Quanto foi o máximo que você já vendeu um? — Casper se intromete


e eu o encaro. Ele apenas sorri como um idiota.

— Doze mil, — diz Lennon com orgulho. Payton assobia.


— Uau. Bom trabalho.

Lennon e Casper riem do comportamento pasmo de Payton, então


Payton se senta mais alta em seu assento e sorri para mim.

— Você sabia que Macon se...

— Fique comigo, — eu digo rapidamente, cortando Payton.

Casper engasga com a bebida e Lennon parece chocada.

— Com licença? — Ela diz, então balança a cabeça. — De jeito nenhum.

— Por que não? — Casper intervém. — Macon tem muito espaço. Sem
gatos. E ele está a apenas alguns quarteirões daqui.

— Não, — Lennon diz novamente. — Se não posso ficar na casa da minha


amiga, vou para um hotel.

— O hotel mais próximo é, tipo, quarenta e cinco minutos, — Payton diz


docemente, e eu aceno.

— E você provavelmente não pode pintar em um hotel velho e abafado,


— acrescenta Casper.

— Você pode usar o estúdio dele! — Payton grita, batendo palmas. — Ele
também é um artista. Ele tem um estúdio de arte em seu apartamento e tudo.

Ela chicoteia os olhos animadamente entre mim e Lennon.

— Ela poderia usar seu estúdio, certo, Macon?

— Um estúdio? — Lennon diz curiosamente, inclinando a cabeça para o


lado. Concordo com a cabeça lentamente, mordendo meu lábio para esconder
meu sorriso. Peguei ela. Era quase fácil demais.

— Excelente iluminação natural, — eu digo a ela. — Frente a sul. Janelas


enormes.

Eu digo as palavras lentamente, arrastando-as, como preliminares.


Estou seduzindo sua mente criativa com os elementos arquitetônicos do meu
estúdio de arte em casa. Eu sei que ela está morrendo de vontade de ver por si
mesma.
Eu observo seu rosto enquanto ela considera isso, e eu sei que ela está
indo e voltando em sua cabeça, tentando se convencer do contrário.

Ela abre a boca, para aceitar ou recusar não sei, quando seu telefone vibra
na frente dela. Ela o pega e digita sua senha. Casper lê a mensagem por cima
do ombro dela, e posso dizer pela maneira como os ombros dela caem e o
sorriso dele cresce que meu lugar agora é a melhor opção dela.

— A casa de Sam não vai funcionar, — diz ela, e torce os lábios para o
lado.

— Fique comigo, Capri, — eu digo, enfatizando o nome com apenas uma


pitada de sarcasmo, para que a frase antes não me estrague.

Está muito perto de antes. Palavras escritas. Palavras ignoradas.

Lennon estreita os olhos para mim, seja pelo jeito que digo o nome dela
ou pelo meu aceno para o nosso passado. Não importa qual. Estamos aqui
agora.

— Eu não quero atrapalhar seu estilo, — ela diz, baixando os olhos para
a minha bebida. — Eu não gosto muito de festas.

Casper bufa outra risada, cobrindo o rosto com a mão.

— O que é tão engraçado? — Ela pergunta, olhando de Casper para mim.


Eu sorrio e levanto meu copo.

— Este é Dr. Pepper e suco de limão, — digo a ela. — Eu não bebo.

— De forma alguma? — Ela pergunta, e eu balanço minha cabeça.

— Três anos e meio limpo e sóbrio, — digo a ela com orgulho.

Quero enfiar a mão no bolso e mostrar a ela o medalhão de recuperação


que meu padrinho me deu quando completei três anos, mas não me mexo. Eu
não quero assustá-la. Eu apenas a deixei absorver a informação que eu dei a
ela.

— Eu não quero chatear sua namorada, — ela diz depois de um momento,


e eu dou de ombros.

— Sem namorada.
Lennon vira os olhos para Payton, como se esperasse que ela contestasse
minha reclamação, mas Payton permanece quieta. Payton pode não querer
que seja verdade, mas ela sabe que sou solteiro.

— Sem namorada. Sem festas. Sem gatos, — eu digo, colocando meu copo
sobre a mesa e fazendo uma demonstração de olhar para o meu relógio.

— Mas eu tenho que acordar cedo para tomar conta da minha adorável
irmãzinha, então se você vai dormir na minha casa, você tem que tomar uma
decisão rápida.

Ela está quieta, e eu tento como o inferno não parecer ansioso. Meu
coração está batendo forte no meu peito. Esta pode ser a coisa mais idiota que
já fiz em muito tempo, mas tenho que seguir em frente agora.

Casper dá uma cutucada em Lennon com o cotovelo.

— Vá em frente, — ele brinca. — Você estava bocejando há cinco minutos.


Vá dormir na casa de Macon. Ele é sua melhor opção.

Eu sei o minuto em que ela cede. Ela olha para mim com os mesmos olhos
castanhos que vejo em meus sonhos e faz caretas.

— Tem certeza que não vai se importar? Será apenas por alguns dias.

— Eu não me importo, — eu digo honestamente.

Eu me despeço e Lennon me segue para fora do bar vinte minutos depois.


O silêncio é constrangedor enquanto caminhamos para o estacionamento. Eu
a sigo até o carro, e ela para quando me vê passar para o lado do passageiro.

— Você precisa de uma carona? — Ela pergunta, e eu sorrio.

— Eu andei. Mas acho que devo ir com você, para que saiba aonde está
indo.

Ela não responde, apenas abre a porta e entra, então eu faço o mesmo.
Ela liga o carro e segue silenciosamente as poucas instruções que dou a ela. Eu
observo, divertido, enquanto sua testa franze cada vez mais conforme nos
aproximamos do centro recreativo, até que estamos entrando no
estacionamento e ela está estacionando ao lado do meu carro.
Ela se contorce na cadeira e me encara.

— Explique.

— Eu moro no apartamento de cima, — digo a ela, desafivelando meu


cinto de segurança e saindo do carro. — Vamos, vou te mostrar.

Ela pula para fora e caminha rapidamente para me alcançar.

— Eu não sabia que havia um apartamento no andar de cima, — ela diz,


e eu dou de ombros.

— Antes não era muito. James o renovou há alguns anos e me mudei


quando voltei. — Abro a porta lateral, deixo Lennon entrar e tranco
novamente. — Por aqui, — eu digo, então sigo em direção à minha escada.

Estamos em silêncio enquanto subimos as escadas, e ela espera


pacientemente atrás de mim enquanto eu destranco a porta do meu
apartamento.

— Aqui estamos.

Eu a conduzo para dentro e, em seguida, tiro meus sapatos na porta. Ela


faz o mesmo, depois me segue pelo apartamento até a cozinha. Ela para e olha
em volta, e eu espero que ela diga alguma coisa.

— É bom, — diz ela depois de um momento. — Muito bom. — Ela se vira


para mim e levanta uma sobrancelha. — E limpo. Achei que você tinha dito
que não tinha namorada?

Eu zombo de brincadeira e passo por ela.

— Eu mantenho tudo limpo, — digo a ela. — Sem namorada, sem


empregada. Nem mesmo minha mãe. Eu faço. — Faço um gesto para que ela
me siga e a levo para a sala de estar. — Eu funciono melhor quando meu espaço
está arrumado.

— Eu também, — ela diz baixinho, e eu tenho que morder minha língua


contra a vontade de dizer que eu sei.
— Sala, cozinha, banheiro, — eu digo, apontando em várias direções para
que ela saiba onde estão as coisas, então sigo para o corredor. — Quarto, — eu
digo, batendo levemente na porta, — e estúdio.

Eu me viro para encarar Lennon e empurro a porta do estúdio


lentamente. Juro que ela está prendendo a respiração e fazendo o possível
para não parecer animada. Concentro-me em suas expressões faciais, no
brilho de seus olhos e nos cantos de sua boca contorcendo-se. Quando acendo
a luz, a reação dela é gratificante pra caralho.

Lennon engole em seco e seus olhos se arregalam enquanto ela absorve


o espaço. Mesmo no meio da noite, meu estúdio é impressionante.

Observo enquanto ela caminha em direção ao meu maquinário e examina


o espaço de trabalho. Ela caminha até minha escrivaninha de desenho, as
mãos pairando sobre a superfície, como se quisesse tocar em tudo, mas não se
permite. Quando ela chega perto do armário, eu falo, trazendo sua atenção de
volta para mim.

— Você pode arrumar suas coisas aqui amanhã, quando chegar em casa,
— eu digo a ela.

Ela balança a cabeça, fecha os olhos e suspira.

— Droga, — ela murmura, jogando a cabeça para trás. — Eu não tenho


nada. Deixei todas as minhas coisas lá. — Ela levanta a cabeça e olha para mim.
— Acho que voltarei em breve.

Ela se vira para a porta, mas eu a impeço.

— Por quê? Apenas pegue suas coisas amanhã.

— Eu não tenho nada para dormir, — diz ela, e a maneira como ela me
encara parece que ela está me desafiando a sorrir. Para fazer um comentário
espertinho. Algo sexual e sugestivo. Está na ponta da língua, mas gosto de
desequilibrá-la.

— Eu vou te dar uma camisa, — eu digo com um encolher de ombros.

Sem sorriso. Sem duplo sentido. Ela quase parece desapontada.


— Eu tenho um par de moletons que você pode pegar emprestado
também. — Eu dou de ombros novamente. — Não é grande.

Ela torce os lábios e me estuda, minha pele esquentando sob seu olhar.
Eu não falo. Eu a espero, deixando-a pensar sobre isso. Deveria ser uma coisa
tão simples, mas não é. Nada é simples conosco.

— Ok, — ela finalmente diz. — Obrigada.

Eu dou de ombros pela terceira vez, a imagem da porra de indiferença.

— Você pode ficar com o meu quarto também. Eu fico com o sofá. —
Passo por ela para o corredor, entrando no meu quarto. — Vou trocar os
lençóis rapidinho para você.

— Não, Macon, — ela chama, me seguindo até meu quarto.

No momento em que ela cruza a porta, posso senti-la. É como se o ar


mudasse. Tudo cheira a rosas, agora. Será permanente.

Filha da mãe.

Quando diabos ela mudou de volta? Baunilha era mais fácil. Rosas?

Porra.

— Você não tem que fazer isso. Posso dormir no sofá.

Já estou tirando a cama, porém, e ela bufa quando percebe que não vou
parar.

— É mais fácil para mim assim, — digo a ela, e não é mentira.

Jogo os lençóis no chão como uma bola e vou até minha cômoda,
pegando uma calça de moletom do USMC e uma camiseta combinando na
gaveta. Eu os jogo em Lennon, e ela os pega desajeitadamente, abraçando a
bagunça de tecido contra o peito.

— Vá se trocar. Tome um banho se quiser. Farei isso em um segundo.

Viro as costas para ela, arrumando a cama sem olhar para ela. Eu sinto
seus olhos em mim, no entanto. Posso praticamente ouvir seus pensamentos,
mas não dou muita atenção a isso. Em vez disso, coloco o lençol com elástico
no colchão e me concentro em controlar minhas próprias merdas.

Tê-la no meu quarto vai me foder, mas deixá-la dormir no sofá vai ser
pior.

Se ela está no sofá, não há nada que a impeça de fugir de mim. Pelo
menos se eu estiver na sala, saberei se ela sair. Desta vez, não serei pego
desprevenido.

Posso sentir a mudança de energia quando ela sai do quarto e vai para o
banheiro. É como se todo o ar a seguisse, e quando o chuveiro começa, minhas
pernas desmoronam. Sento-me no colchão e coloco a cabeça entre os joelhos.

Foda-se, foda-se, foda-se.

Por que diabos isso é tão difícil?

Meu telefone toca, eu o tiro do bolso e coloco no ouvido sem me sentar.

— Olá?

— Macon, estou preocupada com Lennon, — minha mãe diz


rapidamente. — Ela não voltou para casa e não está atendendo o telefone. Eu
sei que o que Claire fez foi desnecessário, mas você acha que ela iria embora?
Você acha que ela voltaria para Paris?

Sento-me ereto e escolho não apontar o jeito que mamãe escorregou e


disse Lennon. Parece muito mais autêntico do que Capri.

Capri é uma mentira. Lennon é a coisa real.

— Ela está comigo, mãe, — eu digo, e o silêncio da minha mãe me deixa


nervoso. — Ela está no chuveiro.

— Macon, — diz ela, com a voz cheia de preocupação. — Você acha que
isso é inteligente?

— Ela só vai ficar aqui um pouco. — Minha exaustão é evidente em meu


tom. — Provavelmente só até que a merda esfrie com Claire. Lennon vai usar
meu estúdio e ficar aqui. É isso. Nada mais.

Segue-se uma longa pausa. Eu posso ouvir a respiração da mamãe.


— Tem certeza de que vai ficar bem? — Ela pergunta finalmente. — E a
última vez?

— Isso foi anos atrás, — digo a ela. — Estou em um lugar melhor agora.
Eu vou ficar bem.

As palavras são verdadeiras. Estou em um lugar melhor agora.

Não acabei de sair da reabilitação e estou tendo minha última gota de


esperança destruída.

Este é o meu apartamento, não um beco sujo fora de um pub em Londres.

Estou sóbrio e estável. Não estou mais com o coração partido.

E, mais importante, por mais errado que pareça, digo a mim mesmo que
é Capri no meu chuveiro. Não Lennon.

— Eu vou ficar bem, mãe, — digo novamente, repetindo as palavras e


enfatizando-as.

Esperando como o inferno que minha mãe acredite neles mais do que eu.
CAPÍTULO QUATORZE

Lennon

Q uando saio do banho, já passa da meia-noite.

Seco o cabelo com a toalha e visto as roupas de Macon antes


de sair do banheiro e ir na ponta dos pés para o quarto dele.

Está vazio. Não o vejo nem o ouço, e não gosto da decepção que sinto. Eu
tento ignorá-la.

A camisa e o moletom do USMC de Macon são muito grandes em alguns


lugares e confortáveis em outros. Ele é construído como um triângulo
enquanto eu sou mais como uma pêra. Além disso, ele tem mais de um metro
e oitenta e eu tenho 1,70. Ainda assim, apesar do fato de que as roupas
obviamente não são do meu tamanho, elas ainda são dolorosamente
confortáveis.

Não quero gostar da sensação das roupas de Macon no meu corpo. Não
quero gostar de nada nele.

Dobro minhas roupas sujas e as coloco em cima da cômoda, antes de ficar


no meio do quarto e examiná-lo.

É diferente nas maneiras que você esperaria.

Ele não tem mais dezenove anos. Claro, seu quarto reflete isso, mas ainda
é muito Macon. Acentos negros. Uma pilha de cadernos de desenho e um pote
de lápis. Há uma grande TV de tela plana montada na parede e um toca-discos
com uma estante de discos de vinil no canto. Não há roupas espalhadas pelo
chão nem louça suja no criado-mudo, mas o quarto ainda tem o cheiro dele.
Picante e mentolado. Mas sem maconha.

Três anos e meio sóbrio.

O pensamento me faz sorrir segundos antes de meus lábios se


transformarem em uma carranca.

Três anos e meio sóbrio, mas ainda quatro anos de silêncio.

Achei que poderia consertá-lo, mas acontece que ele só precisava de mim
fora do caminho. Ele cresceu, ficou limpo e construiu uma vida, tudo sem
mim.

Você poderia argumentar que fiz o mesmo, mas seria mentira dizer que
fiz voluntariamente. Fui forçada a reconstruir. Tomei minhas decisões sem ele
porque precisava. Ele fez suas escolhas sem se preocupar comigo, e minha vida
é resultado disso.

Não me interpretem mal. Eu tenho uma vida boa. Minha carreira


artística está florescendo e eu amo Paris. Eu tenho amigos, tenho felicidade.

Mas é o que eu pensei que queria?

Quatro anos atrás, se eu pudesse tomar minhas próprias decisões, minha


vida seria muito diferente.

Solto uma risada oca. Talvez eu devesse agradecer a Macon por isso.

Sento-me delicadamente na cama, dou-me um pequeno salto, depois


caio e fico deitada de costas. O colchão é como ser abraçado por uma nuvem,
e eu gemo.

Maldição.

Não quero ficar confortável aqui.

Sento-me quando meu telefone toca e fico surpresa ao ver o nome de


Franco na tela.

— Bom dia, — eu digo com um sorriso. — O que você está fazendo


acordado?
— Bonjour, mon chérie, — Ele cumprimenta sonolento. — Eu só estava
sentindo falta da sua voz.

Reviro os olhos. Ele é um mentiroso.

— Você saiu ontem a noite?

— Sim, mas todas essas pessoas são chatas, — diz ele, acenando com a
mão no ar. — Cheguei cedo em casa. Quando você voltará? Sinto sua falta.

Eu rio, e isso é bom. Franco sempre sabe como me fazer sentir especial.
Mesmo sabendo que ele provavelmente está entretendo outra pessoa em sua
cama, isso não me incomoda. Meus sentimentos por ele não são assim.

Fizemos sexo, sim. Mais de uma vez, e às vezes regularmente, mas não
há conexão romântica nisso. Nós nos consolamos de uma maneira diferente.

— Você não sente minha falta, Franco, — eu provoco. — Você tem muitas
pessoas para lhe fazer companhia.

— Ah, mas é você que eu quero, — diz ele. — Venha para casa, mon bijou.
Volte para mim.

Abro a boca para responder, mas uma garganta limpa atrás de mim, e me
viro para ver Macon encostado no batente da porta com os braços cruzados
sobre o peito nu.

Minha boca fica seca imediatamente.

Ele tem um par de calças de corrida penduradas nos quadris, e todo o


braço esquerdo, ombro e parte do peito estão cobertos de tatuagens coloridas.

Eu encaro. Eu não posso evitar.

Ele deixa cair os braços e espreita em minha direção lentamente. Seu


corpo está solto, mas seu rosto está tenso.

— Desculpe interromper, — diz ele secamente, passando os olhos de mim


para a tela do meu telefone e vice-versa. — Eu queria ver se você precisava de
alguma coisa antes de eu dormir.

Pisco algumas vezes e balanço a cabeça negativamente.


— Estou bem, obrigada, — eu forço, e seus lábios se contraem
ligeiramente.

Isso me deixa com raiva.

Ele sabe exatamente o que está fazendo vindo aqui assim, exibindo seu
corpo. Ele queria me pegar desprevenida e conseguiu.

— Boa noite, — eu digo, mais severamente desta vez, e ele sorri.

Malditos lábios carnudos.

Ele arrasta os olhos do meu rosto de volta para a tela do meu telefone e o
sorriso desaparece.

— Olá, — diz ele a Franco, — sou Macon. E você é?

Juro que a voz de Macon cai uma oitava e, quando olho para Franco,
percebo que ele também está surpreso.

— Eu sou Franco, — diz ele lentamente, então ele olha para mim. — Capri,
pensei que você estivesse na casa de seu pai.

— Não mais, — Macon responde por mim. — Lennon está ficando


comigo, tivemos um dia muito longo e provavelmente deveríamos dormir um
pouco.

Macon passa a mão rudemente sobre o peito nu e agarra a nuca. Não sei
se ele está flexionando o peito e os bíceps de propósito, ou se eles apenas
parecem assim naturalmente, mas estou um pouco idiota. Pelo silêncio do
telefone, acho que Franco também.

Reúno meu juízo e abro a boca para dizer a Macon para dar o fora, mas
então meus olhos caem sobre a tatuagem do relógio em seu peitoral e meu
queixo cai.

Franco começa a falar, mas digo a ele rapidamente que ligo mais tarde,
depois desligo antes de me levantar.

Macon dá um passo para trás rapidamente, então não bato nele, mas não
tiro os olhos da tatuagem.
— O que é isso? — Eu sussurro, estreitando meus olhos e tentando
entender as mudanças que foram feitas na tatuagem.

Elas parecem importantes, eles têm que ser, e isso está deixando meu
cérebro confuso.

— O que é isso? — Eu digo novamente.

— Uma tatuagem, Lennon, — afirma Macon, seu tom seco enquanto


caminha de costas em direção à porta. — O tatuador pintou para que se
encaixasse na manga.

— Não. — Eu balanço minha cabeça. — Sem chance.

— O que quer que você pense que é, — ele diz, parando no batente da
porta, — não é. Durma um pouco.

Com isso, ele se vira e sai, fechando a porta atrás de si.

Eu fico congelada no lugar e olho para a porta, passando aquela tatuagem


pela minha mente.

O relógio ainda está lá. O roteiro também.

Sentimos mais saudades de lugares que nunca conhecemos.

É uma citação de Carson McCullers, de um pequeno ensaio que ela


escreveu em 1940. Aprendi isso anos atrás, em uma noite de bebedeira,
quando sentia um céu noturno com uma constelação aleatória, pairando logo
acima e parcialmente atrás dela, estendendo-se até o ombro e ao redor do lado
esquerdo da parte superior do peito.

É um retângulo aproximado com uma linha de estrelas conectadas a cada


um dos quatro cantos.

Virgem, provavelmente.

Não achei que Macon fosse gostar de astrologia, mas ele nasceu em
setembro, então faria mais sentido.

A constelação e o céu noturno são lindos, mas não foram eles que me
chamaram a atenção. É a tatuagem real do relógio que me fez parar.
O relógio costumava ser quebrado. Lembro-me vividamente. Pintei-o um
número obsessivo de vezes. Não tinha mãos com uma rachadura gigante no
meio.

Mas agora, onde estava quebrado, foi consertado, retocado, então a


rachadura se assemelha a um reflexo no vidro de um mostrador de relógio.

E onde antes não havia mãos, agora há mãos. Um longo e outro mais
curto, exatamente como você esperaria de um relógio tradicional.

Mas, em vez de serem apenas linhas regulares, são pincéis. Dois deles.

Macon é um artista, sim, mas seu meio sempre foi o lápis no papel. Ou
argila. Às vezes carvão, às vezes pastéis. Ele desenha, esboça ou modela.

Macon não pinta. Eu faço.

O que quer que você pense que é, não é, disse ele. Durma um pouco.

Fico acordada o resto da noite. Ele está mentindo. Eu sei que está. Esses
pincéis significam alguma coisa. Eu só não sei o quê.

Não sei se conseguiria lidar com isso se o fizesse.


CAPÍTULO QUINZE

Lennon

C
omo de costume, acordei com o amanhecer.

Saio do quarto na ponta dos pés, não querendo acordar


Macon, mas ele não está em lugar nenhum. O cobertor e o
travesseiro que ele usou ontem à noite estão dobrados e cuidadosamente
empilhados no sofá, e o apartamento está silencioso.

Quase.

O leve zumbido da música vem do estúdio pelo corredor, e eu luto contra


todas as forças que sinto tentando me puxar nessa direção.

Ele está lá.

Não sei se ele está desenhando ou trabalhando na roda, mas sei que ele
está fazendo arte de alguma forma, e a necessidade de criar ao lado dele é forte.
Apesar de tudo, apesar da noite passada e dos meus sentimentos fodidos e
cada pingo de sangue ruim entre nós, a artista em mim anseia por estar dentro
daquele estúdio.

A essência de mim quer estar ao lado dele, independentemente da lógica


e das lições aprendidas.

Lennon sempre vai querer Macon.

É por isso que não posso mais ser ela.


Corro para a porta, calço os sapatos e saio silenciosamente. Chego ao meu
carro e dou um suspiro de alívio. Deixo-me relaxar por algumas inspirações e
expirações, então viro o carro na direção de Andrea e me preparo para a
próxima situação desconfortável.

Nem mesmo Stevie Nicks consegue acalmar meus nervos conforme


chego mais perto de casa, mas preciso tirar minhas coisas do quarto de
hóspedes e do escritório. E por mais que eu queira fingir que Claire não existe,
também tenho que enfrentá-la.

Os últimos dias me fizeram perceber o quanto eu quero fazer parte da


vida de Evelyn. Não quero correr o risco de ela me esquecer de novo quando
eu for embora, e isso significa que preciso me acostumar com Claire.

Chega de evitar as férias em família. Chega de silenciar chamadas.

Ainda posso ser uma irmã presente enquanto estiver na França. Eu só


tenho que me esforçar mais.

Eu posso fazer isso.

Para Evelyn. Para Papai. Para mim.

Eu estaciono no meio-fio do lado de fora da casa de Andrea e tento o meu


melhor para não fazer cara feia para o carro na garagem. Claire está andando
por aí em um Audi SUV novinho em folha. De jeito nenhum é dela, mas aposto
que ela dirige assim. Tenho certeza de que ela vê o noivado como outra posse
que ela pode manipular.

Saio do carro e caminho lentamente em direção à porta da frente, grata


por ter tirado o moletom de Macon e colocado minhas próprias roupas esta
manhã, porque isso faz com que isso pareça menos uma vergonha. Respiro
duas vezes na varanda da frente antes de bater e, felizmente, é Andrea quem
atende.

— Oh, querida, você não precisa bater, — diz ela rapidamente, movendo-
se para que eu possa entrar. — Você pode entrar e sair quando quiser.

— Obrigada, — murmuro, forçando um pequeno sorriso. Andrea se vira


e entra em casa, e eu faço o mesmo.
Posso ouvir Claire e Eric conversando na cozinha, então, quando entro
na sala, não fico surpresa ao vê-los sentados no balcão tomando café com
Evelyn apoiada em uma cadeira alta coberta por algo laranja. Meu rosto deve
revelar meu desgosto porque Andrea ri.

— É abóbora, — diz ela, movendo-se para limpar as bochechas de Evelyn


com um pano.

— Oh, — eu digo com um sorriso falso. Não era Evie me enojando, mas
vou deixar Andrea presumir. É mais seguro assim, de qualquer maneira.

— Eu já volto, — diz Andrea, levantando Evie da cadeira alta. — Ela


precisa de uma troca.

Então ela se vira e sai da cozinha, deixando-me sozinha com meu ex-
tanto faz e a vadia que ajudou a orquestrar um dos piores momentos da minha
vida.

— Bom dia, Capri, — Claire diz docemente, e eu não sinto falta de como
ela move a mão esquerda, então a pedra está à vista.

Deus, ela sempre foi tão insuportável?

— Bom dia, Claire, — eu digo, imitando seu tom, então olho para Eric. —
Bom dia Eric. Acredito que vocês dois dormiram bem na cama de onde me
expulsaram?

A maneira como esse homem adulto parece um cachorrinho repreendido


me dá vontade de rir e chorar, mas não é culpa dele que esta família esteja
fodida, então eu sorrio.

— Estou brincando, — eu digo.

Ele não acredita em mim. Eu me viro para Claire.

— Preciso pegar minhas coisas no escritório do papai e minha mala no


quarto de hóspedes, — digo a ela, então paro para respirar. — A menos que
você já tenha empacotado minhas coisas e colocado na calçada?

— Não seja tão dramática, Capri, — Claire diz bufando e revirando os


olhos.
Algo sobre ela usar tão confortavelmente meu nome do meio me deixa
nervosa. É como se ela estivesse feliz por Lennon ter ido embora, e isso me faz
querer voltar só para irritá-la. Pena que a velha Lennon está morta.

Eu sorrio, infundindo minha expressão com toda graça que posso reunir,
e inclino minha cabeça para o lado para observá-la. Eu examino seu rosto e
seu cabelo lentamente, o tempo todo exibindo um sorriso feliz, e faço isso
silenciosamente. Apenas o tempo suficiente para deixá-la nervosa. Quando
sua coluna está rígida e suas narinas dilatadas, eu falo.

— Je suis désolé, ma soeur, — eu digo. — Faisons comme si tu n'étais pas


une salope. Si cela vous aide à mieux dormir.3

Eric engasga com o café, os olhos arregalados no meu rosto, e não consigo
conter minha risada.

— Ah, esqueci que você estudou francês, — digo honestamente. — Você


vai ter que me dizer como eu fui. Sei que meu francês ainda é muito difícil.

Ele limpa a garganta e olha rapidamente para Claire e para trás.

— Foi bom, — diz ele, e eu sorrio.

— O que você disse? — Claire me pergunta, então se vira para Eric. — O


que ela disse?

Eric balança a cabeça.

— Ela, hum, disse que sentia muito.

Claire levanta uma sobrancelha.

— Eu posso dizer que você está mentindo, — ela sussurra.

Eu assisto a troca com alegria. Oh, pobre Eric. Ele sempre foi bom demais
para o seu próprio bem. Então eu franzo a testa.

Jesus. Era assim que eu era com ela?

3 “Sinto muito, irmã", eu digo. "Vamos fingir que você não é uma vadia. Se isso ajudar você
a dormir melhor."
— Vou pegar minhas coisas, — digo alegremente enquanto saio da
cozinha.

Não me viro para cumprimentá-los e entro e saio dos quartos em


minutos. Posso colocar todos os meus pertences em meus braços. É precário,
mas prefiro fazer uma única viagem até o carro.

Desço as escadas devagar, depois luto um pouco para abrir a porta da


frente, mas quando consigo sem deixar cair nada, tenho que reprimir a
vontade de dançar um pouco para comemorar.

Quando saio pela porta, porém, vejo Macon pisando forte no quintal com
uma carranca no rosto. Ele para quando me vê e examina toda a merda em
meus braços. Sua carranca desaparece como se ele tivesse acabado de perceber
algo, e então ele fecha a distância.

— Aqui, — ele diz, pegando minha bagagem de mão e uma das minhas
sacolas de materiais de arte.

Eu não digo nada. Eu apenas deixei que ele me ajude a carregá-lo para o
meu carro e colocá-lo no porta-malas.

— Você está indo para o hospital? — Ele pergunta depois que eu fecho o
porta-malas, e eu aceno.

— Eu ia tentar ver o papai por mais ou menos meia hora até que Andrea
aparecesse. Não queria incomodá-lo esta manhã, então saí sozinha.

Ele enfia a mão no bolso e tira um chaveiro, tirando uma chave e


entregando para mim.

— Passe no meu apartamento primeiro e deixe suas coisas, — ele me diz.


— Eu vou estar aqui com Evie. Provavelmente o dia todo.

— Obrigada.

Pego a chave devagar. Lento o suficiente para que meus dedos rocem os
dele e arrepios que me ressentem formigam meus braços. Eu sei que ele
percebe. O calor em seus olhos quando eu olho para cima é a confirmação
disso.
O movimento na casa chama nossa atenção ao mesmo tempo, e nós
quebramos nosso olhar para olhar para a varanda da frente. Claire está parada
ali, de braços cruzados, e ela parece preocupada. Eu zombo, me afasto de
Macon e abro a porta do meu carro.

— Vejo você mais tarde, — eu digo a ele, e subo no banco do motorista.


Mas como estou me sentindo uma cadela vingativa, chamo Claire antes de
fechar a porta atrás de mim.

— Peço desculpas, sim. Eu também disse que podemos fingir que você
não é uma vadia má se isso te ajudar a dormir melhor à noite. — Ela engasga
com raiva e deixa cair os braços. — Ou algo nesse sentido, — eu digo com um
encolher de ombros. — Algumas coisas se perdem na tradução.

Então bato a porta, ligo o motor e saio dirigindo com um sorriso.

Claire pode engasgar com um pau por tudo que me importa.

NÃO HOUVE mudança com o papai.

Eu esperava falar com um médico enquanto estava lá, mas não tive a
chance de ver um. Acabei de ler para ele alguns capítulos do livro e depois o
deixei com um aperto de mão e um beijo na testa.

Depois da minha visita, volto ao apartamento de Macon para fazer


algumas pinturas. Eu quero bisbilhotar seu estúdio. Eu quero bisbilhotar, mas
não o faço.

Em vez disso, fico surpresa quando percebo que a mesa de desenho de


Macon foi limpa. Os cadernos de desenho e os lápis foram movidos para uma
prateleira e, em seu lugar, há dois potes de conserva vazios.

Ele deve ter feito isso ontem à noite, arrumado uma estação de trabalho
para mim, e isso me catapulta de volta para nossas tardes na sala de arte do
colégio. Ele espalhava minhas tintas e enchia meus potes, sem nunca levar o
crédito por isso.

Eu meio que espero ver um post-it na mesa, mas não há nenhum.


Eu sinto meu coração esquentando, e então eu o empurro de volta.

Eu me lembro que é quase Julho. Fecho os olhos e me permito uma única


lembrança. Uma de mim cortando minha trança depois de saber a verdade.
Então eu abro meus olhos e vou cuidar dos meus negócios.

Eu descubro como transmitir a lista de reprodução do meu telefone pelos


alto-falantes, organizar minhas tintas e pincéis do jeito que gosto e me perco
no processo.

A iluminação neste estúdio é insana, e eu não paro de pintar até que o sol
comece a mergulhar no céu e eu percebo que preciso comer alguma coisa.

Depois de me limpar, saio para o apartamento e quase grito quando


encontro Macon.

— Eu pensei que estava aqui sozinha, — eu digo rapidamente. Eu espalho


uma mão sobre meu peito e tento recuperar o fôlego. — Você me assustou pra
caralho.

— Desculpe, — diz Macon maliciosamente. — Eu e Evie trouxemos um


jantar para você, mas sua música estava tocando e eu não queria incomodá-la.
Mamãe ligou cerca de uma hora atrás. Não há nenhuma mudança com Trent,
mas ela vai dormir no hospital, então temos Squirt para a noite.

— Oh.

Concordo com a cabeça e olho para Evelyn, que está brincando no chão
da pequena sala de jantar de Macon, entre a sala de estar e a cozinha.

— Onde ela dorme quando fica aqui?

— Tenho um pequeno berço portátil, — ele me diz. — Eu montei no meu


quarto, mas vou mantê-la aqui comigo esta noite.

Ele tem um berço para ela.

A informação me afeta de uma forma que eu gostaria que não afetasse.

O silêncio é estranho, e quando Macon percebe que não vou dizer nada,
ele vai até a geladeira e pega alguns recipientes para viagem.
— Pedi um pouco de comida no The Outpost antes de voltar para casa, —
ele me diz, esvaziando os recipientes para viagem nos pratos. — É noite de
taco, e eles têm opções incríveis, então trouxe um monte para você
experimentar.

Ele desempacota uma variedade de tacos de carne, camarão, frango e


feijão preto e coloca cada prato no micro-ondas. Em seguida, abre um saco de
batatas fritas e outro recipiente cheio de guacamole. Ele coloca tudo na ilha da
cozinha na minha frente antes de pegar Evie e colocá-la em uma pequena
cadeira de viagem que eu não havia notado antes.

É tão doméstico. Tão estável e maduro.

Tão diferente, mas tão perfeitamente alinhado com o Macon que conheci.

Eu vi o lado bom de Macon naquela época, posso ter sido uma das poucas
que o fez, mas o lado bom sempre foi enterrado sob a atitude, as drogas e a
auto-aversão. Nunca pensei que veria isso exposto de forma tão descarada em
sua superfície.

Isso me surpreende e me deixa sem palavras. Arrepios aumentam em


meus antebraços, e eu tenho o desejo mais estranho de chorar.

— O quê? — Macon diz, tirando-me dos meus pensamentos.

Eu não tinha percebido quanto tempo eu estava quieta. Eu olho do jantar


para ele.

— O quê? — Eu repito.

Sua testa franze enquanto seus olhos saltam entre os meus.

— Não me diga que você se tornou vegana ou algo assim também? — Ele
acena com a mão sobre os pratos de tacos. — Eu acho que você poderia raspar
o queijo ou algo assim.

— Não, — eu digo, rindo levemente para tentar esconder o quão instável


eu me sinto. — Eu não sou vegana. Obrigada por se preocupar.

Ele acena com a cabeça, então arruma a bandeja de Evie com um


pequeno taco desconstruído. Ela não perde tempo em pegar um punhado de
comida e enfiar na boca. Eu não posso deixar de rir. Ela definitivamente
difunde a tensão sem nem tentar.

— Ok, bem..., — diz Macon, sentando-se em um banquinho do outro lado


da ilha da cozinha. — Coma. Conte-me sobre Paris.

Sento-me e lanço-lhe um olhar como se ele fosse louco.

— O que você quer dizer?

— O que você faz? O que há de tão bom nisso que você nunca mais voltou
para casa?

Eu me irrito com seu tom.

— Paris é minha casa, — eu digo, e ele bufa.

— Paris pode ser a casa de Capri, mas Lennon sempre pertencerá aqui, e
acho que nós dois sabemos quem você é.

— Não faça isso, Macon, — digo com um suspiro. — Você não sabe mais
nada sobre mim. Pare de especular como se você soubesse.

Assim como eu não sei nada sobre ele.

Ele mantém os olhos em sua comida por algumas mordidas. Ele se


levanta e enche dois copos com água gelada, colocando um na minha frente
antes de tomar um gole do outro. Ele dá a Evie um copo com canudinho cheio
de algo da geladeira.

O silêncio se estende e eu começo a me mexer.

O prazer de agradar as pessoas dentro de mim, aquele que enfiei lá no


fundo anos atrás, anseia por pedir desculpas, mas mantenho minha boca
fechada. A parte de mim que sempre terá sentimentos por Macon quer
estender a mão e tocá-lo, para confortá-lo. Eu também não faço isso.

Chegar perto dele só vai me machucar. Especialmente agora. Eu perdi


muito. Não posso me dar ao luxo de retroceder.

Eu usei todas as minhas vidas de Macon Davis. Eu não poderia


sobreviver a ele novamente.
Assim que eu decido ir embora, ele fala.

— Você está certa, — diz ele. — Não nos conhecemos mais. É estúpido
sugerir que sim.

Seus olhos azuis se fixam nos meus e a vulnerabilidade aberta neles me


atinge bem no peito.

— Vamos consertar isso. Conte-me sobre Paris. — Ele sorri lentamente


antes de acrescentar: — Eu prometo não ser um idiota.

Eu inclino minha cabeça para o lado enquanto o examino. O que ele está
jogando?

— Por quê?— Eu pergunto. — Você quer saber por que larguei a faculdade
para me tornar uma prostituta francesa sem rumo e aproveitadora?

Macon nem se mexe quando jogo suas palavras de volta para ele. Nem
um pingo de remorso ou vergonha, e isso alimenta minha raiva crescente. Seus
lábios se contorcem nos cantos quando ele se recosta na cadeira e cruza os
braços sobre o peito, seu relógio de pulso prateado brilhando à luz da cozinha.
Eu mantenho meus olhos nos dele, mas a protuberância de seus bíceps e peito
ainda estão visíveis, me provocando do limite da minha visão.

Isso seria muito mais fácil se eu não estivesse atraída por ele.

— Eu já sei por que você abandonou a faculdade, — ele diz depois de um


minuto, e eu pisco.

Não reviro os olhos como gostaria. Eu não deixo minha boca cair em seu
tom confiante. Eu apenas pisco. Uma vez. Duas vezes. Então eu levanto uma
sobrancelha e aceno minha mão entre nós, gesticulando para ele me
esclarecer.

— Você nunca gostou da faculdade. Você fez isso porque se encaixava na


sua imagem.

Ele se inclina para frente, cruzando os braços sobre a mesa, os olhos


nunca deixando os meus.
— A Goody Two-Shoes4 Lennon Washington não poderia falhar em nada,
e é por isso que você fez todas as aulas de AP possíveis. Mas... — Ele dá de
ombros. — Você odiou. Só faz sentido que você abandone a educação formal
no momento em que tiver um pingo de liberdade.

Ele me encara, me desafiando a contradizê-lo. Ele quer que eu discuta.


Ele quer dobrar por que ele sabe que está certo.

E ele está. Até certo ponto.

Assim que percebi que era uma opção para mim, fugi o máximo que pude
da educação formal. Mas foi preciso bater e queimar para que eu aceitasse.

Eu não digo isso a ele.

Eu nunca vou dizer isso a ele.

Eu não posso deixá-lo saber o poder que ele teve sobre mim uma vez.

Quando ele percebe que não vou confirmar ou negar sua teoria, ele se
recosta na cadeira mais uma vez e me dá um sorriso encantador.

— Fale-me sobre Paris, — ele diz novamente, e porque eu preciso mudar


de assunto, longe de quão bem ele me conhece, mas quão drasticamente ele
não me conhece, eu começo a falar.

Eu me inclino para tudo que combina com Capri. Eu deixo de fora tudo
relacionado a Lennon.

Macon está genuinamente interessado em ouvir o que tenho a dizer, o


que me enerva a princípio. Ele mantém contato visual. Ele interage. Ele é um
ouvinte ativo. E funciona.

Quanto mais eu falo, mais confortável me sinto, até que estamos rindo e
sorrindo, e nos inclinando tão perto da ilha da cozinha que não demoraria
muito para beijá-lo se eu quisesse.

Digo a mim mesma que não quero.

Falo com ele sobre Paris e sobre Un Tableau.

4 Boazinha
Sobre meu pequeno apartamento de um quarto no 20º distrito de Paris.
É um sexto andar sem elevador com ar-condicionado inexistente e papel de
parede mais antigo que eu, mas a iluminação é maravilhosa e o prédio tem o
pátio mais charmoso. Só consegui pegá-lo porque um dos primos de um antigo
colega de trabalho se mudou para a Alemanha. Antes disso, eu estava em um
apartamento de três quartos com quatro pessoas fora da cidade.

Conto a ele sobre minhas brasseries e cafés favoritos, o bar que costumo
frequentar com os amigos. Eu me perco em uma história sobre minha
primeira exposição na galeria e como eu estava tão nervosa que derrubei uma
mesa inteira de bebidas.

Não digo a ele como é solitário, ou como, na maioria dos fins de semana,
escolho ficar em casa pintando e me embebedando sozinha. Não conto a ele
sobre a longa lista de amantes com quem não consigo me comprometer. Não
falo sobre Franco, que é indiscutivelmente meu amigo mais próximo na
cidade, mas, apesar de suas constantes tentativas, mantenho meu coração
guardado dele.

Também não digo a ele que o motivo pelo qual tive que comprar meu
próprio apartamento foi porque estava cansada de explicar meus pesadelos.

Eu costumava acordar suando frio, soluçando e pedindo ajuda. Eles


pioravam no verão, perto do meu aniversário, e a única maneira de mantê-los
sob controle era ter outra pessoa na minha cama. Melhor ainda se eu não
conhecesse aquela pessoa, porque assim não cairia em um sono profundo.

Os pesadelos pararam há cerca de um ano, mas agora que estou de volta


aqui, eles começaram de novo.

Não digo a ele que é tudo culpa dele.

Eu me pinto como uma americana feliz e bem-sucedida morando em


Paris. Faço parecer um programa alegre da Netflix e, por mais ou menos uma
hora, também me permito acreditar. E me permito acreditar que a razão pela
qual estou rindo e feliz agora é porque gosto do assunto da conversa, não
porque gosto com quem estou conversando.
Macon faz a rotina da hora de dormir com Evie, colocando-a no pequeno
berço no canto da sala. Eu me ofereço para limpar a cozinha do jantar, e depois
ele pergunta se eu quero assistir a um filme, eu digo com certeza. Ele está
apenas percorrendo as opções de transmissão em sua TV quando há uma
batida suave na porta.

Ele faz uma pausa e observo enquanto a confusão em seu rosto se


transforma em pavor. Ele puxa o telefone do bolso e o verifica.

— Foda-se, — ele diz para si mesmo, então ele olha para mim. — Aguarde.

Ele pula e caminha até a porta, então a abre.

— Que diabos, Macon! — A voz de uma mulher grita, e ela passa por ele
para dentro do apartamento.

Macon imediatamente a silencia e para na frente dela, bloqueando minha


visão, mas eu vi o suficiente do meu lugar no sofá.

Nicolette. A garota da tela do telefone.

— Sinto muito, — diz ele em voz baixa, — eu trouxe Evie esta noite e
esqueci de ligar para você.

— Eu estive lá embaixo esperando por trinta minutos, — ela ferve. — Tive


que ligar para Payton para me trazer a chave dela porque fiquei preocupada
quando você não atendeu a porra do telefone.

— Estava no silencioso, — diz ele, sua voz ainda abafada. — Vamos nos
encontrar amanhã.

Minha boca cai aberta.

Não, ele não está tentando reagendar a porra de um encontro. E ele acha
que está sendo sorrateiro? Estou literalmente aqui. Eu posso ouvir e ver tudo.

— Macon, eu tenho uma merda para fazer, — ela repreende. — Você não
está fugindo de mim novamente. Eu ainda tenho algum tempo, vamos fazer
isso agora. Se Evelyn estiver no seu quarto, podemos fazer isso na sala de estar.

— Nic, cale a boca, — ele diz, então ele murmura algo e Nicolette engasga.
— Ela está aqui agora? — Eu a ouço dizer. É para ser um sussurro, mas
eu posso ouvi-la muito bem. — Macon, você é um filho da puta.

Ela praticamente rosna, então tenta passar por ele. Ele a interrompe,
murmura outra coisa e a empurra porta afora.

Ele se vira e caminha de volta para mim, e eu deixo bem claro que estava
observando. Posso dizer por seu rosto que não vou gostar do que ele está
prestes a dizer, e faço uma careta para ele.

— Apenas vá, — eu digo. Ele estremece.

— Vou levar apenas uma hora, — diz ele. — Evie deveria dormir, mas...

— Apenas vá, — repito. — Nós ficaremos bem.

Ele concorda.

— Obrigado, — ele diz, então ele se vira e sai pela porta.

Eu o encaro por um tempo, minha raiva se transformando em algo pior.


Algo que eu jurei que nunca iria deixá-lo me fazer sentir novamente.

Ciúmes. Dor. Inadequação.

Eu sou mais uma vez a garota ingênua e estúpida que não foi o suficiente
para o garoto que ela amava. Eu sou a pessoa que tentou de tudo para ser o
que queria e falhou. Eu sou deixada para trás. Sou descartada.

Eu me sinto recuando para memórias de antes. Antes de me levantar do


chão e mudar de direção. Antes de finalmente tomar conta da minha vida e
me tornar quem eu precisava ser.

Sento-me no sofá, coloco a cabeça entre os joelhos e respiro através das


memórias.

Eu me recuso a chorar. Eu me recuso a cair.

Em vez disso, escolho a raiva.


CAPÍTULO DEZESSEIS

Lennon

LONDRES, 4 ANOS ANTES

—T
em certeza de que vai ficar bem, Len?

— Já disse, vou passar por Capri agora.

Termino de delinear os lábios com o delineador vermelho e adiciono um


pouco de batom. Eu bato meus lábios no espelho, e Sam ri.

— Sim, eu não estou chamando você de Capri, — diz Sam com firmeza. —
Eu apoio totalmente essa coisa toda de reinvenção. O cabelo. A atitude. Escola
de arte em Londres. Você faz o que tem que fazer, e eu estou torcendo por você.
Mas de jeito nenhum vou te chamar de Capri. É muito chique e estou
reivindicando meus privilégios de melhor amiga.

Ela se joga na minha cama e joga os pés na cabeceira.

— Além disso, você pode se livrar de tudo de sua antiga vida, mas não
está se livrando de mim. Você está presa a mim, Lennon.

Reviro os olhos, mas não me preocupo em esconder meu sorriso. Algo


sobre isso me faz sentir melhor, mas não sei por quê. Eu não vou brigar com
ela sobre isso. Vou dar a ela os privilégios de melhor amiga. Deus sabe que ela
os mereceu.
— Quando você tem que voltar? — Eu pergunto, mudando de assunto.

Sam fica comigo o máximo que pode. Ela ajudou a me mudar para meu
novo apartamento em Londres e a me acomodar, mas agora é Agosto e ela não
pode mais adiar a faculdade.

Ela tem que voltar para os Estados Unidos, e eu tenho que deixá-la ir.

Eu não digo a ela que está me estripando. Não digo a ela que posso me
sentir à beira de algo assustador. Ela já se sacrificou o suficiente por mim. Eu
tenho que descobrir como fazer isso sozinha.

Sam verifica a hora em seu telefone e franze a testa.

— Meu carro estará aqui em, tipo, quinze minutos.

O buraco no meu estômago cresce, mas eu lanço um sorriso para ela,


então pego minha taça de vinho da mesa de cabeceira e termino. Ela observa
com uma expressão preocupada.

— Não faça isso, — eu a repreendo, e ela levanta as mãos.

— Eu não estou fazendo nada.

— Você está. Você está olhando para mim como se pensasse que eu sou
uma bomba-relógio.

Ela fica em silêncio por um minuto, depois respira fundo.

— Eu acho que você pode está, Len. — Meus ombros caem, e sua carranca
se aprofunda. — É só... você realmente não lidou com nada, sabe? É como se
você tivesse acabado de desligar e estou preocupada.

Solto um suspiro áspero e tiro o delineador da bolsa de maquiagem.

— Eu não quero mais falar sobre isso, Sam.

Eu me inclino para o espelho na minha mesa e contornei meus olhos com


preto em vez de olhar para ela.

Estou cansada dessa conversa. Só porque não estou chorando em seu


ombro todas as noites. Só porque decidi que ficar triste não vai mudar nada.
Eu não quero lamentar. Eu não quero lamentar. Eu não quero me machucar
mais. Eu quero viver a porra da minha vida.

Sam me encara por mais um momento, então pega o telefone.

— É isso. Vou ficar.

— Não, — eu digo com firmeza. — Você não pode mais dispensar a


faculdade. Eu ficarei bem. Não posso mais usar você como muleta. — Eu largo
meu delineador na mesa e me viro para encará-la. — Você fez mais por mim
do que imagina, mas é hora de eu ganhar coragem e lidar com isso sozinha.

— Mas é isso, Len, você não está lidando com nada. Você nem falou
sobre...

— Pare, — eu deixo escapar, cortando-a. — Apenas pare, ok? Não quero


brigar antes de você partir.

Ela suspira, mas então, felizmente, ela concorda.

— Eu vou sentir sua falta, — diz ela com um sorriso triste.

— Também vou sentir sua falta.

— Eu irei visitar em breve, ok? — Seu telefone vibra em sua mão e ela
olha para a tela. — Essa é a minha carona.

Ficamos paradas ao mesmo tempo, e eu a agarro em um abraço apertado.


Deus, eu vou sentir falta dela. Ela manteve minha cabeça acima da água neste
verão. Sem ela, tenho medo de me afogar.

— Vejo você em breve, sim?

Nós nos separamos e ela pega sua mala, levando-a para fora do meu
quarto. Eu a sigo até a porta do meu apartamento. Não sei onde estão meus
novos colegas de quarto, mas estou feliz por eles não estarem aqui para o meu
colapso inevitável quando Sam for embora.

— Mande uma mensagem quando você pousar, — eu digo a ela, e ela


sorri.

— Dã. — Ela me abraça mais uma vez antes de entrar no corredor. —


Tchau, vadia.
Eu ri. — Adeus, Samantha.

No momento em que Sam está fora de vista, volto para o meu quarto,
tranco a porta e tiro a garrafa de vodca debaixo da cama. Abro a tampa e tomo
um gole, estremecendo enquanto desce.

Não importa o quanto eu beba, não tem um gosto melhor.

Eu tomo algumas respirações, então engulo um pouco mais, desta vez


deixando meus olhos e garganta queimarem. Bebo até ficar tonta, depois
guardo a garrafa e tiro a roupa.

Eu estou nua na frente do meu espelho, estudando meu corpo. Eu corro


minhas mãos pelos meus lados, achatando-as sobre minha barriga.

Eu odeio este corpo.

Não parece mais meu.

Parece um traidor. Ele me traiu junto com todos os outros.

Apenas uma vez na porra da minha vida, eu gostaria de ter controle sobre
alguma coisa. Eu gostaria de ter uma palavra a dizer sobre o que acontece
comigo. A boa e educada Lennon Washington. Vá com o fluxo Lennon
Washington.

Eu segui todas as regras. Eu fiz exatamente o que deveria. E o que isso


me trouxe?

Eu belisco a pele do meu estômago novamente, cravando minhas unhas


até que elas deixem cortes vermelhos em forma de meia-lua. Eu arrasto
minhas unhas de volta para o meu torso e seguro meus seios. Eu torço meus
mamilos recém perfurados até que eles comecem a sangrar, lágrimas brotando
em meus olhos. Cruzo os braços sobre o peito e agarro a parte carnuda do
bíceps, cravando as unhas na pele até doer, deixando meias-luas para
combinar com as da barriga.

Eu sei que o jeito que estou me sentindo não é normal.


Eu posso estar deprimida. De acordo com a internet, estou. Tia Becca me
deu o cartão de visita de um terapeuta, mas joguei fora. Sam pescou no lixo,
então eu queimei.

Não preciso de outra pessoa me dizendo o que fazer e como me sentir.

Eu posso estar doente. Algo pode estar errado dentro de mim, mas
também posso estar farta de tudo. Talvez eu tenha parado de dar a mínima.
Talvez eu tivesse que fazer isso para poder me salvar.

Talvez eu não esteja me salvando.

Parte de mim se pergunta se estou começando a me tornar minha mãe,


mas na verdade não me importo com nada disso. Eu não quero me importar
com nada.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto, e elas me irritam. Eu as afasto com


raiva.

Eu quero sentir algo diferente de tristeza. Quero sentir algo diferente


dessa dor oca e paralisante. Eu quero sentir nada.

Não consigo me livrar da voz de Macon. Não consigo parar de sentir suas
mãos em mim. À noite, quando estou pairando logo acima do sono, tenho
visões do que foi, do que poderia ter sido.

Astraea. Doce, doce Lennon Capri.

Você é minha. Você sempre foi minha.

Meu coração dispara e meu pânico aumenta quando os flashbacks me


atacam.

Fecho os olhos e me vejo no chão do banheiro. Sinto uma dor, aguda e


profunda, atravessando meu corpo. Vejo Sam me segurando no banco de trás
do carro, tia Becca xingando os outros motoristas atrás do volante.

Eu ouço as pessoas falando comigo, com pena de mim. Panfletos e


conselhos e palavras de merda para me consolar. Destinava-se a me acalmar.

E então, me sinto vazia.


Tento me apegar a esse sentimento de nada, vazio, esquecimento, mas
ele é arrancado e substituído por cachos rebeldes e olhos azuis penetrantes.

Eu o odeio. Eu o odeio.

Eu amo ele.

Eu balanço minha cabeça. Eu tento me livrar dele, mas ele simplesmente


não vai embora. Nada disso vai.

Vou até minha mesa e abro a gaveta, enfiando a mão no fundo e tateando
em busca da tesoura de cabelo que comprei no mês passado para poder fazer
uma franja. Sam brincou que franja significava que eu batia no fundo do poço.
Eu ri disso. Ela não tinha ideia.

Eu fico na frente do espelho, desta vez ignorando meu corpo nu e focando


nas minhas coxas e na variedade de cortes lá. Alguns estão começando a
cicatrizar. Alguns são frescos. Uso a tesoura para raspar as crostas de alguns
dos cortes, fazendo-os sangrar novamente, e então encontro um ponto
intocado em minha pele.

Eu escovo meu polegar sobre ele suavemente. Pego minha garrafa de


vodca e tomo um gole, depois fecho os olhos e chamo Macon.

Assim que ele se forma em minha mente, substituo meu polegar pela
tesoura e arrasto a ponta afiada lentamente até romper a pele. Eu sei a
quantidade certa de pressão para aplicar agora. Chega de doer. O suficiente
para sangrar.

Abro os olhos e encaro o corte fresco enquanto o sangue jorra. Eu uso


meu polegar para esfregá-lo, então empurro com força, aguçando a picada.
Quando isso não dói o suficiente, pego a garrafa de vodca e despejo um pouco
sobre o corte. Estremeço com a queimadura e respiro pelo nariz.

Eu sinto isso, e lentamente, as lágrimas param.

Pego um lenço de maquiagem da minha gaveta e esfrego suavemente


sobre o corte, depois visto um jeans. Eles vão se esfregar nele. Provavelmente
vai começar a sangrar de novo. Eu não ligo.

Eu não me importo com nada. Prefiro-o dessa maneira.


CAPÍTULO DEZESSETE

Macon

quase meia-noite quando volto para o meu apartamento, mas algo


É dentro de mim sabe que Lennon não está dormindo.

Eu disse a ela que levaria uma hora, mas já se passaram quase duas. Fugi
de Nic duas vezes antes desta noite, então ela insistiu que compensássemos. E
acho que ela estava me punindo também. Minha perna lateja.

Abro a porta devagar e entro, tirando os sapatos. Meus ombros estão


tensos. A energia do apartamento está carregada, e não no bom sentido. Estou
a dois passos da cozinha quando Lennon me cumprimenta com uma expressão
entediada, sua bagagem de mão sentada a seus pés. Eu arrasto meus olhos de
sua mala para seu rosto.

— Você está indo a algum lugar?

— Para um hotel. — Ela se levanta da banqueta e agarra a alça de sua


mala. — Eu disse a você que não queria atrapalhar seu estilo.

Seu tom é indiferente e seus movimentos são fluidos, mas posso dizer
que ela está chateada. Ela dá um passo em direção ao corredor, mas eu
bloqueio seu caminho.

— Você não está atrapalhando meu estilo, o que quer que isso signifique,
e você não está indo para um hotel agora. — Estendo a mão para pegar a alça
da mala, mas ela a puxa de volta. — Não seja teimosa, Lennon. É a porra da
meia-noite.

Ela me atinge com um olhar gelado que queima minha pele.

— Eu não estou sendo teimosa, — diz ela friamente. — Estou me


retirando de uma situação que não combina comigo.

Eu solto uma risada, meus olhos arregalados. Algumas horas atrás,


estávamos tendo uma boa conversa, e agora isso?

— Não combina com você? — Repito incrédulo. — O que diabos isso


significa? Não tenho o tipo certo de café francês para o seu cappuccino
matinal? A iluminação do meu estúdio não está à altura?

Ela tenta passar por mim, mas eu passo na frente dela novamente.

— O que não combina com você, Capri, hein? É sobre a sua transa
francesa? Qual o nome dele? Franklin?

Eu cuspo as palavras sabendo muito bem que elas vão irritá-la, e ela
empurra com força no meu peito.

— Aquela porra francesa é meu amigo — diz ela. — E ele nunca me


colocaria em uma situação que me fizesse sentir tão mal.

— O que diabos eu fiz com você agora?— Eu assobio, e ela se encolhe.

A vacilada me acerta no estômago. É como se minha pergunta fosse um


soco em seu queixo, e imediatamente me sinto culpado.

Lennon pisca algumas vezes, então encontra meus olhos. Os dela são sem
emoção.

— Você disse uma hora, — diz ela lentamente. — Você se foi há duas.

Meu queixo cai e eu bato minhas mãos em meus lados.

— É disso que se trata? Porra, me desculpe. Não sabia que levaria tanto
tempo.
Eu sou honesto, mas minhas palavras não a consolam como eu pretendia.
Em vez disso, sua mandíbula aperta daquela forma familiar e meu sangue
esquenta.

— É, bem, não sou a porra da sua babá, Macon.

Ela coloca as mãos nos quadris e me encara, a raiva evidente em cada


centímetro de seu corpo. Raiva e algo mais.

— Eu não sei nada sobre cuidar de um bebê e você simplesmente me


abandonou com um.

— Ela está bem? — Eu pergunto, olhando para a sala de estar. — Ela


acordou?

— Não, — retruca Lennon, — mas esse não é o problema.

Eu olho para trás e a estudo. A agitação não faz sentido. Ela está
chateada. Porra, estou chateado, até, e não sei por quê. Eu posso dizer que ela
queria que eu apenas a deixasse sair. Ela não queria falar sobre isso, mas não
vou deixar isso de lado. Não posso.

Tem algo aqui...

— Então qual é o problema? — Eu finalmente pergunto, colocando


apenas irritação suficiente em minhas palavras para empurrá-la para o limite.

— O problema é que não estou aqui para cobrir você, então possa ficar
com uma garota por duas horas, — ela sussurra, e finalmente faz sentido.

Eu sou um idiota. Mas foda-se se isso não me excita.

— O quê?— Eu digo, inclinando minha cabeça para o lado, incitando


Lennon. Eu dou um passo mais perto. — Por que você está tão chateada? Eu
pensei que você não se importasse com quem eu estava fodendo?

— Não gosto, mas não gosto de me sentir usada, — diz ela, com a voz um
pouco trêmula. — Se você precisa molhar seu pau, faça isso no seu próprio
tempo.
Eu ri. Eu não posso evitar, e suas narinas dilatam. Ela fica tão gostosa
quando está com raiva, especialmente agora. Eu não me sentia tão alto há
anos. Ela está com ciúmes e estou me alimentando disso.

— Fico feliz que você ache isso engraçado, — ela diz, então passa por mim
para sair da cozinha.

Eu agarro seu bíceps e a giro de costas para mim, e ela puxa o braço para
longe, mas não tenta sair novamente. Seus olhos são todo fogo, mordazes de
paixão. Meu sorriso cresce. Esta é a minha Lennon. Eu sabia que ela ainda
estava lá.

— Você está com ciúmes, — eu digo claramente, e ela cerra os dentes.

— Eu não estou.

— Bom, — eu estalo. — Você não tem o direito de estar. Não vou arrancar
sua cabeça por ter transado com o francês.

Sua cabeça se inclina ligeiramente para trás, quase confirmando minha


afirmação. Amigo minha bunda. Amigos com benefícios, talvez. Ela nem está
tentando negar que eles estão dormindo juntos, e a raiva toma conta do meu
corpo.

— Ser ciumenta faria de você uma hipócrita, — eu digo, dando mais um


passo em direção a ela. — Você pensou que seria a última pessoa que eu fodi?
Acha que esperaria por você enquanto está transando com metade da Europa?
Você se acha tão especial?

— Cale a boca, Macon, — ela ferve entre os dentes, e eu sorrio.

— Admita que está com ciúmes.

— Eu não estou.

— Parece que você está, — eu digo, e seu nariz se enruga daquele jeito
bonitinho de birra. — Parece que você se importa mais que eu estava
molhando meu pau do que eu deixei você com Evelyn.

— Besteira. Você está errado. Eu não me importo com quem você


namora.
— Não estou namorando Nicolette, Lennon.

Digo devagar e observo o menor lampejo de alívio passar por seu rosto.
Eu não imaginava isso, e isso me estimula.

— Acho que você está com ciúmes, — repito. — Eu acho que você se
importa.

Ela balança a cabeça e força uma risada rouca. Ela tenta ser sardônica,
mas soa falsa.

— Não, — ela enfatiza. — Nunca. Esse navio partiu. Supere a si mesmo.

Encurto a distância entre nós em dois passos. Ela inala profundamente e


seus olhos brilham, mas ela não se afasta. Quanto mais eu mantenho contato
visual, mais o rosto dela muda.

A raiva se transforma em angústia e depois em saudade. A proximidade


é suficiente para me deixar louco, e sei que ela sente isso também.

Ela puxa o lábio inferior entre os dentes e, por instinto, estendo a mão e
o solto. A sensação da minha pele na dela, mesmo que seja um pouco, deixa
meu corpo em chamas.

— Você está dizendo, se eu te beijar agora, — eu digo, acariciando seu


lábio inferior suavemente com meu polegar, — você não me beijaria de volta?

Ela balança a cabeça, o mais ínfimo pequeno empurrão de movimento.


Não o suficiente para sacudir meu polegar.

— Não, — ela sussurra.

Eu arrasto meu polegar de seu lábio para sua mandíbula lentamente, e


seus olhos se fecham enquanto eu coloco minha mão em volta do pescoço dela,
colocando meu polegar em seu ponto de pulsação. Seu coração está batendo
tão rápido. Igual ao meu.

Eu me inclino mais perto e abaixo minha cabeça, então meus lábios estão
pairando fora de alcance. Nossas respirações se misturam, e eu juro que posso
sentir seu corpo vibrando, um elástico tenso ameaçando se romper.

— Tem certeza? — Eu sussurro, e ela balança a cabeça novamente.


— Não, — ela diz, sua voz não mais do que uma respiração abafada, e meu
controle se rompe.

Nós colidimos.

Lábios e dentes e línguas.

No momento em que nossas bocas se conectam, eu gemo. Arrepios


irrompem em meu corpo. Eu trago minha outra mão para seu pescoço,
deslizando meus dedos em seu cabelo e segurando-a para mim.

Seu gemido me encoraja, nossas línguas se entrelaçando e massageando.


A respiração dela é a minha respiração. Eu não posso chegar perto o suficiente.
Eu não posso tocar o suficiente dela.

Porra, ela se encaixa tão bem. Pecaminosamente bom. Viciantemente


bom.

Ela suga meu lábio inferior em sua boca e morde, me fazendo gemer
novamente. Aperto seu pescoço, agarro seu cabelo e puxo sua cabeça para trás,
para poder beijar a pele sensível logo abaixo de sua mandíbula.

Meu pau está latejando, e eu sei que ela pode sentir como estamos
pressionados juntos. Não há espaço para respirar entre nós, não há espaço
para pensar, e é exatamente assim que eu gosto.

Seus gemidos. A maneira como ela pressiona a parte inferior do corpo


em mim. A maneira como ela está me beijando em tal frenesi.

É tudo que eu sonhei nos últimos quatro anos. Eu senti falta do gosto
dela. Eu perdi o jeito que ela se sente sob minhas mãos. Macia e quente e
totalmente minha.

Eu reconheço esse sentimento.

É como se uma parte adormecida de mim tivesse despertado. Meu desejo


insaciável. Minha necessidade por ela mais forte do que nunca. Quero minha
boca, mãos e língua em cada centímetro de seu corpo. Quero mantê-la aqui,
contra mim, para sempre.
A maneira como ela fecha as mãos na minha camiseta acelera meu
batimento cardíaco, até que está batendo tão rápido que parece que vai sair do
meu peito. Então ela leva os dedos ao meu cabelo e suas unhas arranham meu
couro cabeludo. Eu gemo de prazer, mas ela rosna, frustrada, e eu sorrio
contra seus lábios.

Talvez eu não devesse cortá-lo.

— Foda-se, Lennon, — eu digo contra ela, arrastando minhas mãos por


suas costas e segurando sua bunda. Suas mãos vão para a cintura do meu
moletom, e ela os empurra para dentro, envolvendo os dedos em volta do meu
pau duro e apertando.

— Foda-se, — resmungo, em seguida, ando para trás até que suas costas
batam na ilha da cozinha.

Eu a giro e caio de joelhos, puxando seu short para baixo e esfregando


sua boceta com meus dedos.

— Lennon, você está tão molhada. Você está tão fodidamente molhada
para mim.

Ela geme e eu fico de pé. Eu preciso dela. É meu único pensamento


enquanto agarro seu cabelo, puxo suas costas contra meu peito e empurro meu
moletom para baixo. Eu apalpo meu pau com a outra mão e passo a cabeça do
meu pau entre os lábios de sua boceta. Ela solta o mais doce gemido.

— Você quer isso? — Eu moo para fora, pulsando minha ponta em sua
abertura. — Se você não quer que eu foda você aqui mesmo, me pare agora.
Caso contrário, vou enfiar meu pau nessa maldita boceta molhada e te foder
até que seu esperma escorra por suas coxas.

Ela choraminga de novo, um grito de necessidade, e empurra seu corpo


de volta para mim, então a cabeça do meu pau desliza em sua boceta.

— Merda, Lennon, — eu aviso, mal segurando meu controle. — Use suas


palavras, baby. Diga-me que você quer isso. Deixe-me ouvir essa voz sexy.

— Sim, Macon, — diz ela, finalmente. Sem fôlego. — Foda-me com força.

Eu bato nela.
Nós dois gememos quando chego ao fundo, e ela cai sobre os antebraços.
Ela é a visão mais erótica. Inclinada para trás, bunda para fora com meu pau
deslizando para dentro e para fora dela. Quero me abaixar e morder sua bunda
roliça, mas me contento em dar um tapa nela com a palma da mão aberta.

— Você é tão boa pra caralho, — eu digo a ela. — Tão sexy. Tão
fodidamente boa.

Eu sonhei em estar dentro dela novamente. Quatro anos batendo no meu


pau com visões dela. Ela flexiona a boceta e vejo estrelas.

— Foda-se, sim, baby. Aperte-me assim, — eu resmungo, e ela faz isso de


novo.

Eu puxo para fora lentamente, em seguida, bato de volta. Seus quadris


batem na ilha, então eu os agarro com minhas mãos, colocando meus dedos
como uma barreira antes de acelerar.

— Mais forte, — diz ela, e eu escuto. Eu estabeleci um ritmo punitivo. —


Deus, sim, Macon.

Suor pontilha minha testa, os sons de nossos corpos batendo juntos, de


meu pau entrando e saindo de sua umidade, tornam difícil não gozar
imediatamente. Eu cerro os dentes contra o formigamento e cavo meus dedos
em sua carne.

— Mais forte, — ela engasga. — Faça doer.

As palavras me atingem no peito, e eu quase paro, mas então Lennon


bate de volta em mim, encontrando meus impulsos e serpenteando a mão
entre as pernas. Ela começa a esfregar seu clitóris, sua boceta pulsando ao meu
redor, e eu sei que ela vai gozar em breve. Eu faço o que ela quer. Eu a fodo
forte e rápido.

Eu solto seu quadril, então posso enrolar seu longo cabelo em minha mão
e puxá-lo com força. Sua cabeça está apontada para o teto e ela usa a mão livre
para empurrar o corpo para trás, apoiando-se no balcão enquanto eu bato nela
por trás.

— Continue esfregando seu clitóris, baby.


Eu movo minha mão de seu cabelo para seu pescoço e a puxo para cima,
então suas costas estão pressionadas contra meu peito. Deslizo minha outra
mão por seu corpo e a coloco por baixo de sua camisa para poder beliscar seu
mamilo através do sutiã, mas paro quando sinto uma barra de metal.

Eu escovo meus dedos sobre ele e gemo. Tão gostoso.

— Você tem a porra dos seus mamilos perfurados? — Eu digo, e ela ri. Eu
belisco e ela geme. — Tão fodidamente sexy. Deixe-me sentir você ensopar
meu pau.

Lennon abre a boca em um suspiro, os olhos bem fechados, e ela vira a


cabeça para mim, então eu pego seus lábios e engulo seus gemidos quando ela
goza. Sua boceta aperta em torno de mim, e meus pensamentos se
transformam em estática.

Nada nunca foi tão bom.

Nenhuma droga. Porra nenhuma. Nenhuma emoção barata. Nada se


compara a Lennon, e é aterrorizante.

Ela é o paraíso e ela é o inferno. Ela é minha recompensa e meu castigo.


Ela vai me arruinar de novo. Eu sei isso.

Eu bato nela até que seu clímax termine, então eu a pressiono de volta na
ilha, puxo para fora e atiro cordas grossas de branco brilhante em todas as
bochechas de sua bunda.

A visão será gravada em meu cérebro.

Sua bunda redonda, manchada de vermelho pelo nosso sexo violento e


pintada de branco com meu esperma. Acabei de tê-la, mas já estou duro de
novo.

— Merda, você deveria se ver, — eu sussurro, esfregando meu pau através


de seus lábios inchados. — Você é tão fodidamente sexy coberta com meu
esperma.

Ela ri, pequena e ofegante, por entre as calças. Sua bochecha está
pressionada contra o balcão, os braços caídos frouxamente ao lado do corpo.
Eu a cansei.
— Fique aqui, — eu digo, dando um tapinha na lateral de sua coxa.

Puxo o moletom para cima e vou até a gaveta dos panos de prato. Pego
uma, molho com água morna e uso para limpar Lennon.

— Obrigada, — ela sussurra, então se levanta.

Ela se abaixa e pega seu short, me fazendo perceber que ainda estou
totalmente vestido. Sua camisa e sutiã ainda estão.

— Eu volto já.

Sem fazer contato visual, Lennon mantém a cabeça baixa e caminha em


direção ao banheiro. Quando ela fecha a porta sem olhar para mim, meu
coração para.

Ela está desconectando. Ela está desligando.

Eu era impulsivo. Eu era imprudente. Eu não tomei meu tempo com ela.

Eu disse a mim mesmo que se eu a tivesse de volta em minhas mãos, eu


faria isso durar. Eu compensaria o tempo perdido. Em vez disso, nem demorei
para tirar suas roupas.

Eu a fodi por trás, totalmente vestido, curvado sobre a ilha da cozinha.

Foi quente pra caralho, mas pelo jeito que ela está agindo, estava tudo
errado.

Faça doer, disse ela. Eu?

Depois de um momento, o chuveiro começa. Verifico Evie na sala de estar


e ela ainda está inconsciente. Então eu me sento na ilha e espero. O chuveiro
fica ligado por trinta minutos. Eu passo o tempo todo me preocupando com
todas as maneiras que eu estraguei tudo.

Quando o chuveiro é desligado e a porta se abre, o vapor sai de trás de


Lennon. Ela está de volta com as roupas que usava antes. Seu cabelo está
molhado na altura dos ombros. Seus olhos estão inchados.

— Sinto muito, — eu digo honestamente. Eu me levanto e caminho em


direção a ela, mas ela dá um passo para trás, então eu paro. — Lennon?
— Não usamos camisinha.

Sua voz é oca, e eu não sei como responder. Acho que nem tenho
preservativos no apartamento. Eu nem pensei nisso. Eu não pensei em nada.

Foda-se.

— Merda, — eu digo. — Ok. Desculpe. Eu... eu não gozei dentro de você,


— digo tentando confortá-la, mas pareço uma idiota e seu rosto se contorce.
Eu me sinto um idiota. — Você está tomando contraceptivo?

Ela balança a cabeça, e seus olhos começam a brilhar.

— Mas essa coisa não é cem por cento, Macon, — ela diz com raiva. —
Fomos irresponsáveis.

— Ok, — eu digo calmamente. — Posso levá-la de manhã e tomar a pílula


do dia seguinte se estiver preocupada.

Ela zomba e leva as mãos à cabeça.

— Jesus, por que eu sempre tomo essas malditas decisões idiotas com
você? — Ela diz. — Eu deveria ser mais esperta do que isso. Eu não posso fazer
isso com você de novo. Não posso.

— Lennon. — Eu diminuo a distância e coloco minha mão em seu ombro.


— Calma. Tudo ficará bem.

— Não me diga para me acalmar, — diz ela, afastando minha mão.

Ela está chorando, mas parece furiosa. Eu não tenho ideia do que está
acontecendo.

— E as DSTs? Você está limpo?

Meus olhos se arregalam e minha boca se abre em choque.

— Você está falando sério agora?

— Sim, estou a falar a sério. Não sei com quem você esteve ou o que tem
feito.

— Não, — eu digo, tentando não soar ofendida. — Eu não tenho nenhuma


DST. Jesus, Lennon.
Ela revira os olhos como se não acreditasse em mim, e minha raiva
aumenta.

— Quando foi a última vez que você foi testado? — Ela coloca as mãos nos
quadris enquanto me interroga, me encarando com raiva e olhos cheios de
lágrimas. — Quando, Macon?

— Quando foi a última vez que você foi testada? — Eu cuspo de volta por
despeito.

— A cada três malditos meses nos últimos quatro anos, — ela diz, e é
como um soco no estômago.

Ela tem estado muito ocupada em Paris, eu acho.

— Bem, — eu sussurro, — estou tão feliz que você está sendo responsável.

— A menos que você esteja envolvido. — A voz de Lennon está abafada


porque suas mãos estão cobrindo o rosto. — Por que eu sou tão estúpida?
Como pude deixar isso acontecer?

— Lennon... — digo, abrindo a boca, depois a fechando.

O que posso dizer? Dizer a ela para confiar em mim? Dizer a ela que não
vou machucá-la? Diga a ela que é diferente? Ela não vai ouvir nada disso agora.

— Eu não posso fazer isso com você, — diz ela novamente. — Prometi a
mim mesma que não faria isso de novo, mas só estou aqui há uma semana e
já estraguei tudo.

— Tudo bem eu já entendi. — Meu coração e meu orgulho estão se


partindo em pedaços. — Vamos agir como se nada tivesse acontecido. Você se
arrepende. Acabou.

— Eu me arrependo de você, — Lennon sussurra, e foda-se se não é um


chute no peito. — Eu não posso me sentir assim de novo. Eu nunca deveria ter
voltado aqui.

— Certo, — eu estalo, minha voz tremendo com minhas próprias


emoções. — Vá embora, então. Fugindo novamente. Volte para Capri e seu
namorado francês.
— Pare de agir como se fosse inocente. Pare de agir como se isso não fosse
sua culpa também, Macon — diz ela, aumentando o volume da voz.

— Você é egoísta. Você pega e pega e pega, e não se importa com o que
isso faz com ninguém. Você não se importa com as consequências ou com o
quanto magoa as pessoas. Não tenho espaço para suas besteiras na minha
vida.

Ela é como um vulcão em erupção.

Uma garrafa de champanhe que foi agitada antes de ser aberta.

Ela explode, e eu balanço meus pés com a força de suas palavras, com o
ódio e a dor por trás delas.

Ela costumava ser a única pessoa que via algo de bom em mim, mas acho
que ela quis dizer isso quando disse que essa pessoa está morta.

Não sei se algo já doeu tanto.

Lennon olha para o chão enquanto as lágrimas caem por seu rosto, seus
braços protetoramente em volta de seu torso. Do que ela está se protegendo?

De mim.

Há tanto que eu poderia dizer a ela.

Há tantas maneiras de tentar me defender agora, mas não posso. Eu não


vou. Não é a hora certa. Pode ser que nunca seja. Ela não quis ouvir de
qualquer maneira, então eu mantenho as coisas breves.

— Você precisa me demonizar para caber em sua narrativa, tudo bem, —


eu digo, minha voz baixa e trêmula.

Eu avanço sobre ela.

— Você quer fazer de mim o vilão da sua história, para se sentir melhor?
Para justificar a fuga para Paris e dizer foda-se para sua família? Ok. Mas
nunca diga que não me importo com você. Você é a única coisa com a qual já
me importei.

Estendo a mão para tocá-la, mas solto minha mão antes que eu possa
fazer contato.
— Cada decisão que tomei nos últimos quatro anos foi para você.

Um soluço escapa de seus lábios e ela fecha os olhos com força, mas as
lágrimas continuam caindo.

— Meu Deus, Macon, gostaria que você tivesse me dado uma opinião
sobre algumas delas, então.

A frase me incomoda. Parece ameaçador, mas não sei por quê. Eu


coloquei minha palma suavemente em sua bochecha, esfregando meu polegar
sobre a umidade de suas lágrimas.

Eu quero beijá-la. Mesmo agora, especialmente agora, eu a quero.

— Nicolette é minha fisioterapeuta, — digo a ela, esclarecendo as coisas.


Uma coisa a menos para ela se sentir culpada. Uma coisa a menos para ela
usar contra mim.

— Fisioterapeuta? O quê? Por que?

Seus olhos se estreitam em confusão e eu solto minha mão, fechando-a


em um punho ao meu lado.

— Quebrei meu fêmur cerca de seis meses atrás, quando meu helicóptero
caiu, — eu digo, tentando como o inferno soar casual. Se eu pensar muito sobre
isso, os flashbacks vêm. Eu não preciso disso agora. — Nic veio esta noite
porque perdi minhas duas últimas sessões de PT e é importante que eu não
perca a terceira. Ela está me fazendo um favor e me deixando fazer à noite
desde que Trent está no hospital.

Lennon não diz nada. Ela apenas pisca para mim lentamente com as
sobrancelhas franzidas, tentando entender tudo em sua cabeça.

— Eu não estou dormindo com ela, — eu digo claramente. — Eu nunca


dormi com ela.

Eu a deixei processar minhas palavras. Espero para ver como ela vai
reagir. Se ela fizer perguntas. Ela não faz. Seus olhos disparam para os pés e
ela morde o lábio, mas não diz uma palavra.
Evelyn começa a se agitar na sala de estar e nós duas olhamos na direção
do barulho.

— Eu já volto, — digo calmamente a Lennon. Ela acena com a cabeça.

Eu ando para o berço lentamente. Cada passo me levando cada vez mais
longe de Lennon. Minha sensação de pavor aumenta, depois tristeza. Porque
eu já sei o que está para acontecer. Eu a conheço melhor do que ela me
conhece.

Eu esfrego as costas de Evie, dou-lhe uma chupeta e caminho lentamente


de volta para o corredor.

Lennon já se foi.

Mais uma vez, ela escolheu me deixar. Ela correu. As coisas ficam muito
difíceis e ela foge.

Mas eu fodi com tudo desta vez. Eu a provoquei. Eu fui francamente mau
com algumas das coisas que eu disse, e então eu não conseguia manter minhas
mãos longe dela.

Fale sobre chicotada emocional.

Eu acelerei quando deveria ter ido devagar. Devorei quando deveria ter
saboreado.

Volto para o berço de Evie e me certifico de que o monitor de vídeo está


ligado, depois pego o receptor do balcão. Comprei isso há cerca de um mês
para poder trabalhar no escritório do andar de baixo enquanto Evie cochilava
em meu apartamento. Estou fodidamente grato por isso agora.

Pego meu maço de cigarros na gaveta da cozinha e os levo junto com a


babá eletrônica para o estacionamento. Acendo um cigarro, dou uma tragada
e digo a mim mesmo que já chega.

Não.

Eu sei que modelar e desenhar também não vai funcionar, então eu pego
meu telefone e ligo para Casper.

— Porra, — ele murmura, — você ao menos sabe que horas são?


— Desculpe. Quer lutar?

— Não. — Ele geme e eu sorrio quando ouço o farfalhar dos lençóis. — Eu


não quero a porra do boxe.

Ouço a voz abafada de alguém dizer algo ao fundo, mas não consigo
entender o quê.

— Desculpe, — Casper sussurra do outro lado da linha. — Voltarei mais


tarde.

— Você tem companhia? — Eu pergunto, e Casper bufa.

— Como se você se importasse. — Estou sorrindo como um idiota. Eu


posso ouvir suas chaves chacoalhando e uma porta se abrindo. — Você pode
ter uma hora. É isso. E eu juro por Deus, se você contar a Nic...

— Eu não vou dizer a ela, — eu digo rapidamente. — Obrigado, Casper.

— Foda-se, Davis.

Ele desliga na minha cara, mas eu ouvi o sorriso em sua voz. Eu não teria
ligado para ele se não tivesse certeza de que estava tudo bem. Na verdade, eu
sei que ele ficaria chateado se eu não o fizesse. Sempre que começo a me sentir
culpado, repasso a conversa que tivemos alguns anos atrás.

Eu estava lutando. Emocionalmente, eu estava em toda a porra do lugar.


Mentalmente, eu não estava muito melhor. Uma vez, cheguei a comprar um
saco de besteira de algum traficante de drogados em um beco em Virginia
Beach, mas então eu quebrei e liguei para Casper.

A qualquer maldita hora do dia. Qualquer dia da semana. Eu não me


importo se é a porra da manhã de Natal, e nós temos oitenta anos em uma
casa de repouso cercada por netos. Você me liga. Eu estarei lá.

Espero no estacionamento, fumando um cigarro atrás do outro e


observando Evie dormir no monitor, até que Casper chega, então caminhamos
silenciosamente para o centro recreativo e para a academia.
Uma vez que estamos no ringue e o monitor do bebê está apoiado em
uma mesa ao lado dele, ele faz contato visual e eu me preparo para qualquer
dura realidade que ele vai jogar em mim.

— Você tem que falar com ela logo.

Desvio o olhar e ele me acerta na cabeça com a mão enluvada. Eu bato


nele, mas não revido. Eu apenas trago meus olhos para os dele como ele
queria.

— Estou falando sério, Macon. Você não pode fazer essa merda consigo
mesmo novamente e não pode perder esta oportunidade. Se ela voltar para
Paris antes de você falar com ela, você vai se arrepender.

Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás.

Ele tem razão. Eu sei que ele está certo. Mas foda-se, não sei se consigo.
Não sei se isso importa.

Lennon fez sua escolha uma vez. Quem pode dizer que qualquer coisa
que eu fiz fará diferença? Quem pode dizer que ela realmente se importará
agora? E se eu simplesmente me preparar para o fracasso de novo?

— Talvez eu não queira saber por que ela fez o que fez, — eu digo
honestamente.

— Então não pergunte, — diz ele. — Basta informá-la sobre tudo o que
aconteceu desde então. Mostre a ela o que mudou. Mostre a ela o que não
mudou. — Ele dá de ombros. — Dê a ela uma nova escolha.

Eu deixei suas palavras assentarem. Eu os reviro na minha cabeça, mas


um pensamento continua circulando.

Eu realmente estaria dando a ela uma nova escolha?

Ainda sou a mesma pessoa, no fundo. Só limpei um pouco por fora. Não
tenho certeza se isso será suficiente.

— Uma hora, — diz Casper, interrompendo minha espiral. — Você tem


uma hora.
Ele coloca o protetor bucal, calça a outra luva e depois bate os punhos.
Quando ele fala, é murmurado em volta do plástico.

— Me bata, filho da puta.


CAPÍTULO DEZOITO

Macon

—E
la está aqui? — Pergunto a minha mãe enquanto entrego
Evelyn a ela.

— Eu pensei que ela estava ficando com você, —


mamãe diz, com os olhos arregalados. — O que aconteceu? — Ela olha para o
relógio na parede. São 6 da manhã e Lennon está desaparecida.

— Ela saiu tarde ontem à noite, — eu digo honestamente. — Nós meio


que entramos nisso.

— Macon, — minha mãe suspira, me levando para a cozinha, — você acha


que ela voltou para Paris?

— Não, — eu minto. Não posso ter certeza de nada agora. — Ela não iria
embora enquanto Trent ainda estivesse no hospital.

Minha mãe pega o telefone no balcão da cozinha e disca. Evelyn estende


a mão para o telefone com um sorriso, então faço cócegas em sua perna para
distraí-la. A gargalhada que ela solta me faz sorrir, apesar da situação de
merda.

Eu preciso de uma porra de uma bebida.

O telefone toca várias vezes antes de ir para uma mensagem automática.


Mamãe desliga e franze a testa.
— Talvez ela tenha ido para um hotel, — ela diz para si mesma.

— Capri fugiu de novo? — Claire pergunta da porta atrás de mim.

Eu nem mesmo me viro para olhar para ela.

— Bem, isso não é nenhuma surpresa, — ela continua, então passa por
mim e pega uma xícara de café do armário. — Ela decidiu há muito tempo que
é boa demais para nós.

— Cale a boca, Claire, — eu digo, revirando os olhos. — Só por uma vez,


você poderia manter seus pensamentos maldosos para si mesma?

— Oh, engraçado, — ela sussurra para mim. — A justiça própria sempre


vem com a sobriedade? O que você fez para ela fugir?

— Não comece comigo, — eu digo. — Não aja como se você desse a


mínima se ela se foi. Você não a quer aqui. Você não a quer aqui há anos.

Claire abre a boca para argumentar, mas mamãe levanta a mão,


interrompendo-a.

— Vocês dois parem, — diz ela, com a voz embargada. — Meu marido está
deitado em uma cama de hospital em coma. Não sabemos se ele vai acordar.
Tenho uma filha de dez meses para cuidar. Eu não deveria precisar ser pai de
meus filhos adultos também.

As lágrimas da mamãe sempre me esmagaram. Eu odeio vê-la chorar.


Melhorei nos últimos anos, mas agora me sinto como aquele adolescente
fodido que sempre a decepciona.

— Sinto muito, mãe, — eu digo, puxando ela e Evie para um abraço. Evie
dá um tapinha na minha bochecha e me baba com um beijo de bebê. —
Faremos melhor, ok?

Eu olho para Claire e levanto uma sobrancelha.

— Sim, mãe, nós vamos, — Claire diz suavemente. — Desculpe.

Masters se junta a nós na cozinha, passando o braço em volta de Claire e


beijando sua têmpora. Ela sorri para ele, e eu tenho que me forçar a não fazer
cara feia.
Há uma batida na porta que nos faz sentar eretos. Há apenas uma pessoa
que estaria batendo na porta agora.

— Vou ver, — diz Masters, antes de sair da cozinha.

Eu me esforço para ouvir o que está acontecendo quando ele abre a porta.
Conversa abafada que não consigo entender, mas já sei quem está prestes a
dobrar a esquina com Eric. Eu nem mesmo olho para cima da minha caneca
de café quando ele volta para a cozinha com nosso convidado a reboque.

— Capri, — minha mãe suspira.

Ela corre para ela, e eu olho para cima bem a tempo de vê-la puxar
Lennon para um abraço.

— Querida, onde você esteve? Onde você ficou ontem à noite?

Os olhos de Lennon disparam para os meus, e eu balanço minha cabeça


uma vez, deixando-a saber que eu não contei tudo para minha mãe.

— Eu consegui um quarto em um motel fora da cidade, — ela diz, olhando


para minha mãe com um sorriso forçado e cansado.

— Como você vai pintar? — Eu pergunto, e ela se assusta.

Todas as coisas dela ainda estão no meu estúdio. De jeito nenhum ela
pode pintar em um motel atarracado. Ela não responde. Apenas dá de ombros.

— Por que ela não pode pintar no centro de recreação? — Masters fala.
Escoteiro prestativo como sempre. — Duvido que o dono se importe, — ele
brinca, olhando para mim com um sorriso amigável.

Eu abro meus olhos para ele, tentando dizer-lhe para calar a boca, mas
ele inclina a cabeça como se estivesse confuso.

— Ah, quem é o dono?— Lennon pergunta.

Eu encaro Masters. Ele abre a boca, depois a fecha. Ele olha de mim para
Lennon, mas antes que ele possa tentar consertar sua merda, Claire ri.

— Você está brincando comigo, — diz ela, olhando entre mim e Lennon.
— Ele não te contou?
— Não me disse o quê? — Lennon diz lentamente, olhando para mim.

— Macon é dono do centro de recreação agora, — diz Claire. — Ele


comprou do Billings porque eles tiveram que voltar para Massachusetts
quando o pai de James ficou doente.

O rosto de Lennon é de completa surpresa, e eu quase quero rir. A ideia


de eu ser outra coisa senão um completo desastre é um choque para ela, e eu
odeio isso.

Ela sempre vai pensar que sou um perdedor. Ela nunca vai confiar em
mim.

— Viu, Len? — Eu digo. — Não é uma merda o tempo todo, certo?

Por um minuto, toda a casa fica em um silêncio constrangedor, e então o


telefone da mamãe toca. Ela o pega do balcão e engasga quando vê o
identificador de chamadas na tela.

— É o hospital, — diz ela rapidamente, colocando o telefone no ouvido.

A tensão na sala muda para algo totalmente diferente enquanto vemos


minha mãe falar.

— Olá? Sim, é ela. Sim. Realmente? Ok, obrigada. Estarei aí


imediatamente.

Ela olha para nós com lágrimas nos olhos.

— Ele está acordado, — diz ela. — Trent está acordado.

****

— Eles disseram que a confusão é normal. Espere que ele pareça meio
desorientado e nebuloso, — minha mãe nos explica na sala de espera. — O
médico disse que ele pode soar engraçado também. Voz áspera ou fala
arrastada. Apenas aja normalmente, ok? Não queremos incomodá-lo.
— Ok, — diz Lennon, acenando com a cabeça. — Ok. Podemos vê-lo
agora?

— Eles disseram dois de cada vez, — mamãe diz, então inquieta com as
mãos olhando entre nós.

Eles não vão deixar Eric entrar porque ele não é da família, então ele vai
ficar no saguão com Evie, o que deixa eu, Claire, Lennon e mamãe formando
duplas.

— Lennon pode ir primeiro com você, mãe, — digo baixinho, e não perco
o olhar agradecido de Lennon. Claire não discute, graças a Deus, e Lennon e
mamãe desaparecem atrás das portas da UTI.

— Estou com medo, — Claire sussurra. Masters põe a mão no ombro dela,
mas ela olha para mim. — Não sei por que, mas estou.

Momentos como este, onde Claire se deixa vulnerável e não sente


necessidade de se esconder atrás de seus espinhos, eu me lembro de como ela
costumava ser antes de tudo acontecer com nosso pai.

Ela é a pequena Claire Bear novamente. Minha irmã mais nova. Ela está
escondida no armário do meu quarto para se certificar de que estou bem
depois de uma briga com nosso pai. Ela está me dando pacotes de água e
salgadinhos de frutas quando o querido e velho pai me mandou para a cama
sem jantar. Ela está me implorando para contar à mamãe a verdade sobre meu
pulso quebrado.

Ela costumava me amar. Nós costumávamos nos dar bem. É uma merda
que seja preciso uma tragédia para sermos gentis um com o outro.

Eu a puxo para um abraço, e ela me abraça de volta.

— Ele está bem, Claire, — digo a ela. — Ele está acordado. Aquilo é
enorme. Ele estará de volta em casa antes que você perceba.

— Eu não quero que Evie cresça sem um pai como nós crescemos, — ela
sussurra contra mim. — Trent é bom.

— Eu sei, — digo a ela. — Ela não vai.


Passamos o resto da espera passando Evie entre nós, brincando com ela
para evitar falar um com o outro. Eu me sinto mais leve, no entanto. Pela
primeira vez desde o colapso de Trent, sinto que posso pensar positivamente.
Como se talvez minhas ações fizessem algum bem. Talvez eu tenha salvado a
vida dele.

Quando as portas da UTI se abrem, fico de pé. Mamãe sai primeiro, mas
meus olhos estão em Lennon. Ela parece terrível. Triste. Ela está olhando para
os pés enquanto caminha. Eu corro para eles.

— Ei. E aí? Como ele está?

— Ele está bem, — mamãe diz suavemente. — Um pouco desorientado,


mas o médico disse que é normal.

Lennon finalmente olha para mim e minha garganta aperta. Não é nada
além de desespero, culpa e perda naqueles olhos castanhos.

— Ele não me conhece, — ela sussurra, sua voz oca. — Ele não sabia quem
eu era. Ele perguntou sobre Evie e você. Ele perguntou sobre Claire. Até Eric.
Mas foi preciso uma inspiração para que ele me conhecesse e, mesmo assim,
não sou...

Ela dá de ombros.

— Acho que ele pode estar mentindo, sabe, porque não queria me
chatear.

— Ele conhece você, querida, — minha mãe diz, puxando Lennon para
um abraço lateral. — Ele só está confuso. Mas ele conhece você.

Lennon assente.

— Ok, — ela sussurra, e eu quero puxá-la para mim.

Eu quero envolvê-la em meus braços e prometer a ela que vou fazer tudo
melhor. Mas depois da noite passada, tocá-la está fora dos limites. Então, eu
faço a próxima melhor coisa.

— Vá pintar, — digo a ela.


Eu puxo minha chave extra do bolso, aquela que ela deixou na minha
mesa de cabeceira, e a estendo para ela.

— Meu estúdio é seu, ok? Eu não estarei de volta até esta tarde.

— Realmente? — ela pergunta rapidamente, então suas sobrancelhas se


erguem. Ela balança a cabeça. — Não. Está bem.

— Lennon, — digo com firmeza, — vá pintar. Não seja teimosa.

— Eu não estou sendo teimosa, — ela bufa, sua boca se contorcendo


levemente com o sorriso que ela está lutando. — Eu não quero incomodá-lo.

— Não é mais problema do que você já me deu, — eu digo com um sorriso,


mantendo minha voz baixa.

Lennon arde os olhos e os aponta para minha mãe, mas eu mantenho os


meus nela. Ela morde o lábio inferior com os dentes, e enfio as mãos nos bolsos
para evitar alcançá-la.

— Tem certeza? — Ela pergunta, e eu sorrio suavemente.

— Sim, Len.

Estendo a mão e pego a mão dela para colocar minha chave reserva em
sua palma. Eu não deixo ir imediatamente. Sinto os olhos de todos em nós,
mas seguro a mão dela. Eu acaricio seu pulso com meu polegar. Eu a sinto.

— Vá pintar, — insisto novamente. — Esvazie a cabeça.

— Obrigada, — diz ela em uma expiração. Solto a mão dela e ela dá um


passo para trás. — Obrigada.

Eu a observo sair.

Não reconheço os olhos que sei que estão em mim. Não tenho vontade
de me explicar ou dar desculpas. Tente o máximo que puder, nunca serei capaz
de agir como se ela não significasse nada para mim. Nunca poderei tratá-la
como uma meia-irmã. Não quero lidar com a inevitável decepção e repulsa.

— Eu vou entrar, — eu digo para o quarto, então me viro e ando pelas


portas da UTI.
Fico surpreso quando Claire não me segue, mas fico mais aliviado.
Respiro fundo quando chego ao quarto de Trent, então bato três vezes antes
de passar pela porta.

Ele olha para mim, e vê-lo acordado é o suficiente para me fazer chorar
de alegria. Ele franze a testa por um momento, provavelmente procurando em
sua memória para me localizar, então seus lábios se abrem em um sorriso.

— Macon, — ele diz, e eu sorrio de volta.

Eu ignoro a forma como sua voz rouca, rouca como se ele tivesse passado
dias sem água. Ou dias com um tubo enfiado na garganta.

— Sou eu, — eu brinco, atravessando o quarto para ficar ao lado de sua


cama. Estendo a mão e dou um tapinha em seu ombro. Parece menor. — Já
era hora de você acordar, velho.

Ele bufa uma risada.

— Eu estava apenas recuperando o sono, — diz ele ironicamente. — Como


está meu munchkin? Ouvi dizer que você está cuidando dela.

— Ela está bem, — digo a ele. — Ela ficará feliz em ver você.

— Obrigado, — diz ele. — Obrigado pelo que você fez. Os médicos


disseram que eu estaria morto se não fosse por você.

Meu pescoço e minhas bochechas esquentam, e eu tenho que limpar


minha garganta antes de responder. Eu aceno com a mão para ele, ignorando
o elogio.

— Não foi nada, — eu digo. — Nem mesmo mencione isso.

— Foi alguma coisa, Macon.

Sua voz falha e seus olhos se enchem de lágrimas. Os meus fazem o


mesmo.

Eu vi Trent chorar três vezes em todos os anos que o conheço.

Uma vez quando ele se casou com minha mãe, uma vez no hospital
quando Evelyn nasceu, e uma vez no dia em que ele levou Lennon ao aeroporto
para mandá-la para a Inglaterra.
Agora, neste quarto de hospital, são quatro.

— Não consigo imaginar o que faria se não pudesse ver Evie crescer, —
diz ele. Uma lágrima escorre por sua bochecha. — Se eu não pudesse segurar
sua mãe novamente. O que você fez... Obrigado.

Eu fungo e enxugo os olhos com as palmas das mãos. Tudo o que posso
fazer é acenar com a cabeça. Se eu tentar falar, vou perdê-lo. Trent fica quieto
por um minuto, seus olhos distantes enquanto ele repassa algo em sua cabeça.

— No início, eu não sabia quem era Lennon, — diz ele, quebrando o


silêncio. — Ela parece tão diferente. Eu a vi e simplesmente... nada. Eu
realmente a chateei.

Sua expressão é de culpa. Ele se sente péssimo. Eu agarro seu ombro


novamente, desta vez dando-lhe um aperto reconfortante.

— Ela vai ficar bem. Ela entende.

Trent olha para mim. Estuda meu rosto por um momento, procurando.
Minhas defesas começam a subir e meus ombros se contraem. Eu sei o que
está por vir.

— Você falou com ela? — Ele pergunta. Eu balanço minha cabeça. — Você
deve.

— Não é o momento certo, — eu digo rapidamente.

— O momento nunca será perfeito, — diz ele, — mas a vida é muito curta.
Se o seu acidente não lhe ensinou isso, então o meu deveria. Você deveria estar
orgulhoso. Você é um bom homem, Macon.

Ignoro o comentário e dou um passo para trás.

Claro, estou em um lugar melhor. Mas bom? Não.

Eu sempre serei o viciado. Eu sempre serei o fodido. Não importa o


quanto eu faça; isso não muda quem eu sou no meu âmago.

Eu fodi tantas vezes com ela já. Ela não confia em mim. Ela não acredita
que eu possa merecer elogios ou afeto. E se ela estiver certa? E se, mesmo
depois de tudo que conquistei, eu ainda conseguir decepcioná-la?
A noite passada prova que não cresci tanto quanto pensei. Provocando-
a.

Quero fechar os olhos com desgosto pela maneira como me permito


tratá-la. Eu joguei em cada uma de suas opiniões negativas sobre mim.

— Vou pensar sobre isso, — digo a Trent, mas posso dizer pela maneira
como seus lábios franzem que ele não acredita em mim.

Ele abre a boca para falar, mas somos interrompidos por outra batida na
porta.

— Olá, senhor, — Claire chama de brincadeira. — Você já é almirante?

Ele dá uma risada rouca e dolorosa, e ela estremece com o som.

— Não é bem assim, — diz Trent, e Claire atravessa a sala e lhe dá um


abraço.

Eu a ouço começar a chorar em seu ombro.

— Shh, shh, — ele sussurra. — Estamos todos bem agora. Vai ficar tudo
bem.
CAPÍTULO DEZENOVE

Macon

S
aio do hospital logo após a chegada de Claire.

Os médicos nos disseram para não sobrecarregar Trent e não


ficar muito tempo. Ele precisa descansar e eles ainda precisam
monitorá-lo.

Eu volto para o centro recreativo e faço algum trabalho. 4 de julho é na


próxima semana e temos um dia inteiro de atividades planejadas para as
crianças. Meu coração pode estar em outro lugar, mas minha mente precisa
garantir que essa merda corra bem.

Às cinco, checo as aulas noturnas e, em seguida, subo lentamente as


escadas. Não sei ao certo se ela ainda estará aqui, mas estou no limite de
qualquer maneira.

Giro a maçaneta para encontrar a porta trancada, então pego minha


chave e entro silenciosamente. Fico parado na porta, prendendo a respiração,
até ouvir a música que vem do estúdio.

Ela está aqui.

Eu tiro meus sapatos, entro no meu quarto e coloco minhas roupas de


esculpir, então dou um salto de fé. Ando devagar até a porta do estúdio e bato
duas vezes.
— Entre, — Lennon chama, então eu abro a porta e entro.

Ela está sentada na minha mesa de desenho, e a visão faz minha garganta
secar.

Há um grande pedaço de papel de aquarela cobrindo a mesa, suas tintas


e pincéis estão dispostos exatamente da maneira que me lembro deles há
tantos anos, e Fleetwood Mac está tocando nos alto-falantes. Ela parece
perfeita aqui. Ela parece pertencer a este lugar.

Mas o que realmente me impressiona, o que me deixa completamente


idiota, é que o cabelo dela está preso em uma trança.

Ela me pega olhando para ele e estremece. Ela estende a mão e toca a
ponta dele.

— É a melhor maneira de usá-lo quando estou pintando, — diz ela. —


Espero que esteja tudo bem por ainda estar aqui. Perdi a noção do tempo.

— Você está se sentindo melhor? — Eu pergunto, e ela me dá um pequeno


sorriso.

— Estou. Obrigada por me deixar usar seu estúdio.

Deus, esta conversa é tão formal e estranha. É uma tortura. Ela mal
consegue olhar para mim.

— Comissão? — Eu aceno para a pintura em que ela está trabalhando.

— Não, — ela diz com uma risada vazia. — Terapia.

Eu aceno porque eu entendo. E por uma fração de segundo, ela move os


olhos para mim, e nós dois somos pegos pelo feixe de atenção do outro.

Um quadro congelado desse momento sugeriria que tudo estava perfeito.


Nada de ruim jamais aconteceu na realidade de que esses sorrisos existem.

Depois de algumas respirações, pouco antes de ficar muito íntimo, ela


desvia o olhar, quebrando o contato visual e sentando-se ereta na cadeira.

— Eu provavelmente deveria ir, — diz ela, pegando algo no chão.


— Você não precisa, — eu digo rapidamente. — Eu ia esculpir. Você pode
ficar se não se importar.

A pausa é tensa, carregada, enquanto ela pensa sobre isso. Ela quase
recusa duas vezes, antes de abrir a boca e dizer: — Tudo bem.

Eu me movo para o meu volante e começo a minha configuração. Eu


tento não olhar para ela. Eu tento dar a ela um pouco de privacidade, mas
meus olhos sempre foram atraídos para ela. Quando olho para ela, encontro-
a olhando de volta e levanto uma sobrancelha.

— O quê? — Eu pergunto, e ela inclina a cabeça para o lado.

— Por que você não me contou sobre o centro recreativo?

Eu suspiro.

— Eu não pensei que você se importaria. — É uma meia-verdade. — Você


já se decidiu sobre mim, e o que eu faço da minha vida não lhe interessa. Achei
que não importaria.

Suas sobrancelhas franzem e seus lábios se curvam para baixo.

— As coisas que eu disse a você naquele primeiro dia... Você apenas me


deixou dizê-las? Você nem tentou me corrigir.

Meus lábios se curvam em um pequeno sorriso e eu dou de ombros.

— Não está muito longe de acreditar que eu seria dispensado de forma


desonrosa por causa das drogas, — eu digo.

Ela não sorri de volta, e eu suspiro.

— Teria importado, Lennon? Capri teria se importado?

— Macon, — diz ela, implorando, e fecha os olhos. — São apenas... três


anos e meio sóbrio? Possuir o centro de recreação? Você sofreu um maldito
acidente de helicóptero e ninguém me contou.

Ela abre os olhos e os prende nos meus.

— Por que ninguém me contou nada disso?


— Também vendo minha cerâmica online, — acrescento levemente, e seu
queixo cai de surpresa. Solto uma risada áspera antes de acertá-la com
honestidade.

— Por que eles contariam a você, Lennon? A última vez que soube, você
se recusou veementemente a ouvir meu nome e teve que ser três vezes
assegurada de que eu estava fora do país antes mesmo de pensar em colocar
os pés em solo americano. Você não teria se importado em saber que seu meio-
irmão estava virando merda. Ele já estava morto para você.

As palavras queimam saindo da minha língua.

Meus sentimentos estão feridos, sim. Mas dói ainda mais porque eu fiz
isso comigo mesmo. Seus olhos caem no chão, olhando fixamente para o nada.
As linhas de preocupação entre suas sobrancelhas são proeminentes, e eu
quero alisá-las.

— Sinto muito, — ela sussurra finalmente. — Por assumir. Sinto muito,


Macon.

Concordo com a cabeça, mas não falo.

Termino com minha roda, pego minha argila e sento para esculpir. Em
segundos, uma sensação de facilidade e retidão toma conta de mim. Algo que
só senti quando trabalhei ao lado de Lennon.

Ela é a centelha que incendeia minha criatividade. Ela é minha outra


metade artística. Nunca me senti mais completo do que quando estou com ela.

De vez em quando, deixo meus olhos vagarem para onde ela está sentada,
empoleirada na minha cadeira com o pincel na mão. Ela morde o lábio
enquanto trabalha. Às vezes ela murmura junto com a música tocando nos
alto-falantes.

Ela sempre fez isso, sentar-se para examinar seu trabalho e segurar o
pincel levemente enquanto rola a ponta de madeira sobre o lábio inferior. Eu
costumava esperar por esse movimento no ensino médio e, quando ela o fazia,
ficava sem fôlego.

Porra, como eu queria ser aquele pincel.


Quando ela faz isso agora, tem exatamente o mesmo efeito. Eu poderia
muito bem ter dezenove anos novamente. Meu pau endurece, meu coração
dispara e não consigo tirar os olhos daquela porra de pincel e seu lábio inferior
macio.

Ela se levanta lentamente e se espreguiça, sua camisa levantando apenas


o suficiente para que eu possa ver um pedaço de pele pálida. Pele que eu tinha
em minhas mãos ontem à noite. Que eu senti e apertei. Visões dela curvada
sobre o balcão da minha cozinha invadem minha mente, e tenho que parar a
roda antes que estrague meu vaso.

Ela olha para mim por cima do ombro e sua respiração falha quando ela
me pega olhando. O mesmo velho zap de energia. A mesma necessidade.
Quando ela afunda os dentes em seu lábio inferior, tenho que cerrar minhas
mãos cobertas de argila em punhos.

— O quê, — ela sussurra. Seus olhos saltam entre os meus, me aquecendo,


então caem para minha boca antes de se arrastarem de volta. — O quê?

— Você tem um pouco, — eu digo, passando meus olhos para sua


mandíbula, — pintura.

— Oh.

Sua testa franze e ela esfrega a bochecha oposta. Lentamente, eu me


levanto. Seus olhos nunca deixam os meus, me chamando para ela.

— Não, — eu digo, caminhando em direção a ela, até que estou bem na


frente dela. — Você perdeu.

Eu aponto para o lado direito de sua mandíbula. Uma mancha verde


brilhante bem em seu maxilar delicado. Reflete o verde em seus olhos.

Quero limpá-lo sozinho, mas minhas mãos estão cobertas de argila


molhada. Eu observo sua garganta se contrair com um engolir forte, seus
dedos tremendo levemente quando ela os levanta e enxuga a mandíbula,
espalhando a tinta em seu rosto.
Minha boca se contrai em um pequeno sorriso, e seus olhos caem no
movimento. Suas pupilas dilatam e seus lábios se abrem em uma inspiração
trêmula.

Meu corpo toma a decisão antes da minha mente, e eu a alcanço. Ela


fecha os olhos no momento em que seguro seu queixo, espalhando argila fria
sobre a marca de tinta antes de deslizar para seu pescoço e puxá-la para mim.

Seus lábios são carentes e macios, abrindo para mim imediatamente, e


eu quero consumir tudo dela.

Ela geme em minha boca e seus dedos se fecham em minha camisa,


cravando as unhas em meu abdômen. Estendo a mão por trás dela e pego a
fita do final de sua trança, em seguida, enrolo a trança em volta do meu punho,
puxando apenas o suficiente para inclinar sua cabeça para trás, para colocá-la
à minha mercê.

Eu uso minha outra mão para agarrar sua cintura, deixando-me


finalmente tocar aquela extensão de pele que estava me tentando minutos
antes e marcá-la com argila lisa.

Nossas línguas se entrelaçam, apressadas, mas não tão apressadas


quanto da última vez. Não há barulho de dentes, nem colisão animalesca de
corpos. Sem auto-aversão. Apenas luxúria e desejo e Macon e Lennon.

Só ela e eu.

Lennon me puxa com ela enquanto ela caminha para trás até que ela está
correndo para a mesa de desenho. A água espirra e uma jarra faz barulho. Algo
cai no chão.

Ela joga a mão para trás para se segurar no momento em que a levanto e
a sento na mesa. Deslizo minhas mãos por seu torso, gemendo quando
percebo que ela não está usando sutiã por baixo da blusa. Ela suspira e eu
apalpo seus seios, meu pau latejando com o desejo de ver seu corpo nu coberto
com a argila das minhas mãos.

Ela arranha minhas costas e meu cabelo, gemendo baixinho enquanto


beijo seu rosto e pescoço. Ela leva a mão à minha cabeça, deslizando os dedos
frios e escorregadios do meu rosto para o meu cabelo, trazendo o cheiro
distinto de tintas frescas de aquarela.

Ela empurra minha camisa para cima e eu me inclino para trás, apenas o
suficiente para puxá-la pelo resto da minha cabeça. Ela desliza as mãos pelo
meu torso e até meu bíceps, deixando rastros frios em seu rastro.

Eu puxo sua camisa sobre sua cabeça e beijo sua clavícula. Ela arqueia as
costas, pressionando seu peito em mim, e eu fecho meus lábios em torno de
um de seus mamilos tensos, rolando minha língua ao redor do piercing de
metal.

Foda-se, essa porra de piercing. Tão malditamente sexy.

Ela choraminga e joga a cabeça para trás, e o som me deixa louco.

Eu quero comer sua boceta enquanto ela está deitada na minha mesa de
desenho.

Estendo a mão para o cós de seu short, e ela abre as pernas, mas quando
ela faz isso, seu joelho bate em um de seus potes de água e cai no chão.

A água espirra em nossos pés, e Lennon e eu nos separamos.

Estamos ambos ofegantes e sem camisa, com os olhos arregalados de


surpresa, quando percebemos a bagunça que criamos e ambos começamos a
rir ao mesmo tempo.

A tinta está manchada por toda a mesa de onde as mãos de Lennon


devem ter pousado para se apoiar. As escovas estão espalhadas pelo chão. E
nossos corpos...

— Você está coberta de barro, — eu digo com um sorriso, minha voz


áspera. Meus olhos querem ficar grudados em seus fodidos seios perfeitos,
mas eu os mantenho em seu rosto. Ela ri de mim, nem mesmo se preocupando
em tentar esconder sua nudez.

— Você está coberto de tinta, — ela contesta.

Estendo a mão e limpo meu rosto e, com certeza, minha mão está coberta
de tinta verde e azul quando a puxo para trás.
Eu olho para o meu peito para ver marcas de mãos espalhadas por toda
a minha pele. Eu posso ver exatamente onde os dedos de Lennon estavam,
onde ela agarrou e arranhou em sua necessidade por mim.

Eu olho para o corpo dela para encontrar o mesmo, mas com argila, onde
eu a toquei com minhas mãos, e tinta, onde nossos corpos se conectaram.

Arte sensual, sexy e erótica.

Meu pau dói, e eu tenho que espalhá-lo sobre meus corredores. Sua
respiração falha, e eu olho para cima para encontrar seus olhos fixos na minha
mão. Eu aperto e ela sussurra que sim.

— Eu quero assistir você, — diz ela, e meu coração para. — Eu quero ver
você se tocar.

— Sim? — Eu digo, engolindo em seco antes de dar uma bombada no meu


pau sobre minha calça de corrida. — Assim?

— Não, — diz ela, balançando a cabeça. — Tira.

Eu faço o que ela quer, então corro meu punho sobre meu pau duro,
acariciando-o algumas vezes antes de apertar a cabeça. Eu assobio com a
sensação, com o jeito que ela está olhando, as pupilas enormes e a boca aberta,
observando-me tocar-me para pensar nela.

— Você quer me ver bater no meu pau, Lennon?

— Sim, — diz ela, os olhos nunca deixando minha mão. — O que você
pensa sobre?

Ela está sem fôlego com sua excitação intensificada, e a pergunta é


misturada com esperança e nervosismo.

— Você. Estou pensando em você, — eu digo a ela honestamente,


passando minha mão para cima e para baixo em meu eixo.

— Estou pensando em foder com a língua sua doce boceta enquanto você
está deitada na minha mesa, coberta com minhas marcas de mãos de barro.

— Sim? — Ela move seus olhos para os meus rapidamente antes de deixá-
los cair de volta para o meu pau.
— Sim, — eu digo com um gemido. — Estou pensando em ter meu
esperma escorrendo pelo seu queixo.

Eu fico tenso com o visual, bombeando mais rápido, perseguindo a


sensação de formigamento. Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás.

— Estou pensando em seus lábios envolvendo meu pau duro, para que eu
possa foder sua garganta bem e profundamente. Até você se engasgar comigo.
Até que eu possa gozar em sua língua.

Eu sou empurrado para trás um passo e meus olhos se abrem para


encontrar Lennon se movendo de joelhos na minha frente. Eu congelo,
atordoado, quando ela olha para mim através daqueles longos cílios e envolve
suas mãos em volta das minhas, guiando meu pau para sua boca.

— Oh foda-se, Lennon, — eu expiro.

Ela gira a língua ao redor da ponta do meu pau, então fecha os lábios em
torno dele. Eu gemo e solto minhas mãos, deixando-a assumir.

Ela lambe meu eixo, me bombeia algumas vezes com a mão e me leva
para a boca sozinha, esvaziando as bochechas e depois engolindo em volta de
mim.

— Foda-se, essa boca talentosa.

Ela se afasta de mim por um momento e olha para mim.

— Foda minha garganta, — ela comanda. — Eu quero provar você.

— Cristo, — eu digo, sem perder tempo.

Agarro seu queixo com uma das mãos e o esfrego, a argila começando a
secar e descamar. Então eu uso minha outra mão para deslizar a cabeça do
meu pau para frente e para trás sobre sua língua.

— Você quer isso?

Ela acena com a cabeça ansiosamente, então eu empurro lentamente,


dando a ela uma chance de se ajustar. No momento em que bato no fundo de
sua garganta, ela geme e não consigo mais me conter.
— Sim, essa porra de boca imunda, — eu rosno enquanto empurro para
dentro e para fora, atingindo o fundo de sua garganta e fazendo-a engasgar.

Eu não vou durar. Porra, eu quero que isso dure.

— Você quer provar meu esperma? Quer que eu suje sua boquinha
imunda?

Ela geme em resposta, e as vibrações me levam ao limite. Eu gozo com


um longo gemido, derramando profundamente em sua garganta enquanto ela
engole ao meu redor.

Quando a última sacudida do meu clímax desaparece, eu saio e dou um


passo para trás, olhando para Lennon como a porra da deusa que ela é.

— Lembre-me de agradecer aos franceses, — eu resmungo, oferecendo-


lhe minha mão para ajudá-la a se levantar.

Ela late uma risada enquanto me deixa puxá-la para seus pés.

Ela estende a mão e puxa minha calça de volta, enfiando meu pau dentro
dela. Eu respiro fundo quando seus dedos acariciam a parte sensível de sua
cabeça, e ela sorri. Coisinha do mal.

Eu observo enquanto ela se abaixa e pega sua camisa, puxando-a para


trás sobre sua cabeça. Eu tento manter meu rosto neutro, mas a percepção dói.

Ela está indo embora.

Ela acabou de se engasgar com meu pau e agora ela está indo embora.

Ela olha novamente para a bagunça que fizemos, mas eu aceno para ela.

— Vou limpar, — digo a ela. — Desculpe, — eu digo, gesticulando para


sua pintura de terapia agora arruinada.

Ela encolhe os ombros, e eu posso dizer que ela está voltando para sua
cabeça.

— Vou sair, — diz ela, caminhando rapidamente em direção à porta. —


Quero chegar cedo ao hospital amanhã.
Eu tento como o inferno ignorar a sensação de ser descartado, mas ela se
aproxima de qualquer maneira, e minha raiva aumenta.

Eu zombo assim que sua mão bate na maçaneta.

— Tenha uma ótima noite, Astraea, — eu digo lentamente, provocando-


a.

Ela se vira e me atinge com um olhar feroz.

— Sabe, Macon, era inteligente no ensino médio, — diz ela. — Inocência


e pureza, ha ha, vamos todos tirar sarro de Goody Two-shoes Lennon
Washington. Mas talvez, devido aos acontecimentos recentes, seja hora de
encontrar uma maneira diferente de tentar me insultar.

Ela se vira e sai, e eu lhe dou três segundos antes de segui-la. Eu a pego
pouco antes de ela sair do corredor.

— Eu acho que você está esquecendo alguma coisa, — eu grito, parando


seus passos. Ela se vira e olha para mim com expectativa. — Inocência e
pureza, sim. Mas sabe o que está perdendo?

Ela inclina a cabeça para o lado e levanta uma sobrancelha em


expectativa.

— Astraea também é a constelação de Virgem, — digo a ela. Faço uma


pausa, apenas o suficiente para que afunde, então toco a tatuagem da
constelação no meu peito. — Virgem.

Eu quebro o contato visual e caminho para o meu quarto, abrindo a porta


e olhando para Lennon uma última vez antes de entrar.

— Tranque a porta ao sair, Capri.

Então entro no meu quarto e fecho a porta atrás de mim.

Eu ando silenciosamente para minha cama, sento e pego meu telefone.


Rolo até o contato de Jessica e clico em ligar.

Eu estou rachando. Eu posso sentir as fissuras se formando. Minha pele


está começando a apertar, a coçar.

Lennon Capri Washington vai ser minha ruína novamente.


CAPÍTULO VINTE

Macon

—E
i, mãe, — digo ao telefone. — E aí?

Estou um pouco nervoso por ela estar me ligando tão


cedo. Eu não deveria estar na casa dela por mais
algumas horas. Ainda estou enrolado na toalha do meu banho.

— Mudança de planos, — minha mãe diz alegremente. — Temos que ir


vê-lo hoje. Eles o tiraram da UTI, então estou levando Evie.

— Isso é ótimo, — eu digo com um sorriso. Pela primeira vez desde a saída
de Lennon ontem à noite, me sinto um pouco mais relaxado. Esta é uma boa
notícia. — Isso significa que ele deve estar um passo mais perto de casa, certo?

— Esperançosamente, — mamãe diz. — Eu estou indo para o hospital em


uma hora. Você pode fazer isso?

— Vejo você lá, — eu digo a ela, então paro. — Hum, você vai ter que ligar
para Lennon. Ela está de volta ao motel.

Dizer isso me irrita. Um flash de suas costas quando ela saiu ontem à
noite passa pela minha cabeça. Encontre uma nova maneira de me insultar,
ela disse. Como se fosse eu que estivesse insultando.
— Vou ligar para ela agora, — mamãe diz. Sua voz é tensa, mas nenhum
de nós reconhece isso. Em vez disso, digo a ela que a amo e que a verei em
breve, depois desligo como se não fosse uma bagunça total.

Eu continuo repassando minha conversa com Trent. Ele diz para falar
com Lennon. Ele diz que o tempo nunca será perfeito. A vida é muito curta.

E ele está certo.

Mas não é o momento certo que estou esperando. É o eu certo.

O mais forte eu. A versão mais digna de mim. E agora que Lennon está
de volta, não tenho certeza se essa versão de mim existirá. Conversei mais com
minha terapeuta nos últimos dias do que desde que comecei o programa, três
anos atrás.

Para ser justo, Jessica sabia que isso poderia acontecer. Eu realmente
esperava que não.

O problema é que meu desejo por Lennon sempre foi mais poderoso do
que qualquer um dos outros.

Drogas, bebidas, sexo, dor.

Eles sempre foram soluções temporárias para conter minha necessidade


por ela. Eles são muletas para recorrer quando não posso ter a única coisa que
meu corpo deseja.

E com ela tão perto? Perto o suficiente para tocar, beijar, foder, mas
nunca realmente ter?

Está me atrapalhando.

Eu sempre fui fodido, mas tê-la aqui está tornando tudo pior.

Mas não posso ficar longe.

Eu me seco e me visto, tomo um café da manhã rápido e vou para o


hospital para encontrar minha mãe. Ela me mandou uma mensagem com o
número do novo quarto de Trent, então navego pelo hospital até sair do
elevador para encontrar minha mãe e Lennon sentadas em uma sala de espera
com Evelyn.
— Macon, — mamãe chama, acenando para mim.

Eu sorrio rapidamente para Lennon, em seguida, dou minha atenção à


mamãe.

— Pronta?— Eu pergunto. — O que estamos esperando?

O elevador apita atrás de mim e eu me viro para ver Claire sair dele,
respondendo à minha pergunta.

— Desculpe, estou atrasada, — Claire diz com uma careta, e eu resisto à


vontade de revirar os olhos.

— Está tudo bem, — minha mãe diz suavemente. — Estamos todos


prontos?

Ela está praticamente quicando com energia nervosa. Já fomos


informados sobre a situação de Trent. Seu coração está enfraquecido. Ele vai
se cansar facilmente. Não queremos sobrecarregá-lo.

Mamãe pesou os prós e os contras dessa visita em grupo, mas decidimos


que seria uma boa maneira de animá-lo. Trent não está aceitando muito bem
ficar confinado a uma cama de hospital.

Eu posso relacionar. Depois do meu acidente e cirurgia do fêmur, eu


estava ficando louco. Eu sei exatamente como Trent deve se sentir preso aqui
com metade do nível de habilidade de alguns dias atrás.

— Pronta, — eu digo para mamãe, então eu bato no nariz de Evie. —


Pronto para ver Dada?

Evie grita e bate palmas.

— Dadadadada, — ela canta, e isso ilumina o clima imediatamente.

Lennon ri levemente, e quando eu olho para ela, ela murmura obrigada.


Eu não tenho certeza porque ela está me agradecendo, mas eu aceno de
qualquer maneira.

Todos nós seguimos mamãe enquanto ela caminha pelo corredor até o
quarto de Trent. Ela verifica com uma enfermeira no caminho, e então ela está
batendo na porta dele e entrando.
— Bom dia, — mamãe diz levemente, e ouço a risada de Trent antes de
entrar em seu quarto.

— Que colírio para os olhos doloridos, — diz Trent, e Evie imediatamente


perde a cabeça.

Ela começa a cantar Dada e pular nos braços da mamãe, se contorcendo


como o diabo para chegar até o pai. Evie diz algo que soa como abraço e para
baixo e todos nós rimos.

— Olá, meu munchkin. — Trent ri e estende os braços para ela para que
minha mãe possa entregar Evie para ele.

Suas mãozinhas se fecham em suas bochechas e ela baba em seu rosto


com um beijo antes de se aconchegar em seu peito da maneira mais fofa. Ele
fecha os olhos e a abraça com força.

— Oh, eu também senti sua falta, menina.

Meu sorriso machuca minhas bochechas enquanto eu os vejo se


abraçarem, meus olhos ardem levemente. Quando olho para Lennon, meu
coração afunda. Lágrimas estão caindo constantemente em seu rosto, e ela
parece tão dividida.

Não consigo nem imaginar como ela deve estar se sentindo. Fora de
lugar? Como se ela não pertencesse? Ela está feliz ou triste agora? Ciúmes?
Culpada?

Eu dou um passo para o lado dela sem pensar e deslizo meu braço sobre
seus ombros. Ela não vacila ou se afasta. Para minha surpresa, ela realmente
se derrete ao meu lado, e eu me permito puxá-la para mais perto de mim. Eu
a sinto tensa brevemente quando Trent olha para nós, mas seu sorriso
imediato a relaxa.

— Abóbora, — ele diz suavemente, então estica o braço sem segurar Evie.
— Venha aqui.

Ela funga e corre para ele, sentando-se levemente ao lado da cama do


hospital e desabando em seu braço estendido.
A sala inteira está silenciosa, apenas os sons de choro suave vindo de
Lennon e minha mãe, e então Evie quebra a tensão subindo e dando um beijo
babado na bochecha de Lennon.

— Aí estão minhas garotas, — Trent diz com uma risada, sorrindo para
Lennon e Evie, e por alguma razão, meus olhos se voltam para Claire.

Ela tem estado quase toda em silêncio, parada no canto da sala, e agora
eu sei por quê.

Ela está observando toda a interação com uma sobrancelha franzida. Não
raiva. Talvez um pouco de ciúme, mas principalmente apenas... mágoa. Perda.
Anseio.

Eu olho de volta para a cama do hospital.

Trent sorri e ri com suas duas filhas de sangue. Ambos se parecem com
ele de uma forma que Claire nunca será. Elas pertencem a ele de uma forma
que ela e eu não podemos, e sei que isso a incomoda.

Desde o dia em que Trent se casou com minha mãe, ele sempre chamou
Claire e eu de filhos. Nenhuma etapa envolvida.

É sempre, você conheceu minha filha, Claire?

Ou , Este é meu filho, Macon.

Nunca foi, esses são meus enteados, ou conhecer os filhos da minha


esposa.

Mas todo o carinho de Trent não muda o fato de que não éramos bons o
suficiente para nosso pai biológico. Eu cheguei a um acordo com isso nos
últimos anos, mas parece que é algo com o qual Claire ainda está lutando.

Minha terapeuta resumiu para mim um tempo atrás.

Claire tem problemas de abandono. Ela quer ser a primeira escolha de


alguém, e suas inseguranças complicam tudo. Ela morde primeiro, para não
ser mordida.

Antes da terapia, eu achava que Claire era uma vadia.


Depois da terapia, ainda acho ela uma vadia, mas agora a entendo
melhor.

Minha mãe diz alguma coisa, afastando meus pensamentos de Claire, e


Trent ri. Quando olho para ele, sua atenção já está em mim.

— Minha garota tem lhe causado problemas? — Ele pergunta com um


sorriso, e meus olhos imediatamente se voltam para Lennon. — Desde que
você está de babá, — Trent esclarece, e meus ombros relaxam.

— Ela é um terror absoluto, — digo brincando, e Evelyn dá um gritinho


como se soubesse que estou falando dela.

— Na verdade, — eu digo, lançando meus olhos para Lennon antes de


subir e estender minhas mãos para Evie, — Squirt tem algo que ela gostaria de
mostrar a você.

Lennon se senta ereta e um sorriso se estende em seu rosto. Eu aceno


para o espaço no chão a poucos metros de mim, e Lennon se move para aquele
local sem discutir, imediatamente agachando-se de joelhos.

— Tudo bem, Squirt, — eu digo para Evie, — vamos mostrar a papai a


surpresa que você está guardando para ele.

Eu me inclino e coloco Evie de pé, e ela imediatamente se senta com uma


risadinha. Todos riem, e eu a pego, tentando novamente colocá-la de pé
enquanto seguro uma de suas mãos.

Ela pula um pouco, balbucia e acena para Lennon, e Lennon ri.

— Venha aqui, Evie, — diz Lennon com um sorriso, estendendo as mãos.


— Venha aqui, doce menina. Vamos lá.

Evie dá um gritinho feliz, bate palmas e depois cai de bunda no chão.

Passei a última semana derrubando-a, para que ela pudesse salvar seus
primeiros passos para Trent, e agora aqui estamos nós e tudo o que ela quer
fazer é sentar. Eu me agacho atrás dela e a pego de volta em meus braços.

— Você é muito teimosa, — digo a Evie, e minha mãe e Trent riem.


— Ela não é um pônei com truques, Macon, — Lennon diz ironicamente,
enquanto ela se levanta. — Ela fará isso em seus termos.

— Você também era assim, — minha mãe diz com um sorriso, então ela
olha para Claire. — Vocês dois foram. Muito obstinado.

— Essa é uma boa maneira de dizer dor na bunda? — Claire pergunta com
uma risada, e minha mãe dá de ombros, o que é basicamente uma
confirmação.

A minha mãe merece a santidade por tudo o que passou comigo e com a
Claire.

— Lennon era o oposto, — diz Trent calorosamente. — Para o bem ou


para o mal, ela sempre foi muito simpática. Um prazer para as pessoas.

Observo a mandíbula de Lennon se contorcer e sua testa franzir


ligeiramente antes de Trent continuar.

— Fico feliz em ver que ela ficou mais obstinada com a idade.

Ele está sorrindo para Lennon, quando ela revira os olhos e acena para
ele se afastar, mas não sinto falta do tom de rosa em suas bochechas ou do
jeito que ela tem que lutar para impedir que seu pequeno sorriso se transforme
em um muito maior.

Também tenho que domar meu sorriso, porque sei a verdade.

Lennon não ficou mais obstinada com a idade. Ela ficou mais honesta.
Porque, mesmo aos nove anos, com um vestido de bolinhas azul e branco e
uma trança francesa amarrada com uma fita branca, ela era tão obstinada
quanto eles.

Ela só não sabia disso ainda.

****
Nós só ficamos no hospital por mais trinta minutos antes que uma
enfermeira vem e nos enxote, mas Trent pede a Lennon para voltar no final da
tarde.

Ela concorda, e todos nós saímos pela porta como uma família grande e
feliz.

— Quais são seus planos para o resto do dia? — Mamãe pergunta


enquanto caminhamos em grupo até o estacionamento.

— Vou me encontrar com Eric para o almoço, e então vou tentar fazer
algum trabalho, — Claire diz enquanto digita algo em seu telefone.

— E o que você faz no trabalho? — Lennon pergunta, deslizando um par


de óculos de sol sobre os olhos.

Claire levanta os olhos de seu telefone rapidamente, e eu tenho que


segurar uma risada ao ver o olhar de choque em seu rosto. Lennon não se
incomoda, no entanto. Ela quase gargalha.

— Você não precisa responder se não quiser, — diz Lennon, divertido. —


Eu só estava conversando.

Claire bufa uma pequena risada e dá de ombros.

— Trabalho para uma pequena empresa de marketing, — diz Claire. — Eu


faço pesquisas de mídia social, acompanhando tendências e coisas assim. Em
seguida, desenvolvo estratégias de marketing individualizadas para os
clientes. Sou o membro mais novo da equipe e acabei de sair da faculdade,
então fico com todos os pequenos trabalhos.

Claire dá de ombros novamente.

— Não é um artista famoso em Paris, mas eu gosto.

— Eu acho que soa muito legal, na verdade, — Lennon diz casualmente,


e eu não sinto falta do jeito que a boca de Claire se abre antes que ela a feche
novamente.

— Você sempre teve um talento especial para coisas de mídia social. Um


olho para o que é tendência. Aposto que você é boa no que faz.
— Ela é muito boa nisso, — mamãe entra na conversa. — Conte a ela sobre
a livraria, — ela pede a Claire.

— Mãe, ela não se importa com isso, — Claire murmura.

— Fale-me sobre a livraria, Claire, — Lennon insiste, e meu sorriso


cresce.

Ela está genuinamente interessada, mas também está sentindo um pouco


de prazer com o desconforto de Claire. Eu absolutamente amo isso.

— Bem, — Claire diz, tentando e não conseguindo parecer indiferente, —


um dos meus clientes era uma livraria independente em Richmond, certo? E
eu os ajudei a aumentar suas vendas online em setenta por cento e seu tráfego
na loja mais que dobrou.

— Uau, — Lennon diz quando chegamos ao estacionamento. — Isso é


incrível, Claire. Você estará ganhando uma promoção em algum momento.

Lennon pega seu chaveiro e abre o carro alugado, então se vira para mim.

— Tudo bem se eu pintar um pouco? — Ela pergunta, e eu estou


concordando antes que ela termine sua pergunta.

— Estarei trabalhando no centro de recreação, então é só mandar uma


mensagem ou descer se precisar de alguma coisa.

— Eu não tenho o seu número de telefone, — ela diz rapidamente, e eu


sorrio.

— É o mesmo que sempre foi, — eu digo a ela, e suas sobrancelhas


franzem.

— O meu é diferente, — ela diz, quase distraidamente.

Ela usa óculos escuros protegendo os olhos, mas aposto que eles estão
sem foco e olhando para o nada enquanto ela está perdida em pensamentos.

— Tenho o aplicativo internacional, — confesso. — Me mande uma


mensagem lá. Vou salvá-lo.

Não digo a ela que já sei de cor seu número de telefone francês.
— Ok.

Ela vira a cabeça para mamãe e Claire, que estão nos observando com
interesse. Mamãe parece divertida e Claire parece preocupada.

— Vejo vocês mais tarde, — Lennon grita, então sobe no carro dela e vai
embora.

Dez minutos depois, recebo uma mensagem no aplicativo.

Meu número é tudo o que diz, e não posso deixar de sorrir para o meu
telefone.

Salvei sob Lennon Astraea Washington, eu envio de volta.

Ela não responde, mas não precisa. Eu já sei que estou sob sua pele.

****

Eu faço as rondas no centro recreativo, respondendo e-mails, pagando


contas e verificando os voluntários e funcionários.

O lugar funciona como uma máquina bem lubrificada. Devo isso a James.
Quando comprei o centro há um ano e meio, o negócio era tão bem organizado
que pude contar com Trent para ajudar a administrar as coisas enquanto
estava alistado. Então, depois do acidente, assim que consegui andar bem o
suficiente, retomei o controle.

Comprar o centro recreativo foi uma aposta. Quando James e Hank me


disseram que precisavam se mudar, falava-se em vender o centro para algum
grupo comercial para uma venda rápida, o que significava que provavelmente
seria demolido para algum shopping aleatório.

Eu não podia deixar o centro recreativo se transformar em um TJ Maxx,


Staples e um salão de cabeleireiro.

Conversei sobre isso com Trent e mamãe, então decidi fazer uma oferta
a James. Ele aceitou, embora não fosse tão bom quanto a oferta do grupo
comercial, e agora faço pagamentos diretamente a ele uma vez por mês.
É um pouco cedo para dizer, mas acho que a aposta valeu a pena.

Eu tenho uma pausa na hora do almoço, então escolho passá-la batendo


em um saco na academia. Meu favorito teve que ser aposentado porque era
mais fita adesiva do que qualquer outra coisa, então tenho que bater em um
dos novos, mas ainda amo.

Coloco um short e uma regata, coloco alguns fones de ouvido e coloco a


caixa. Movimentos estacionários, para que Nicolette não me mate, mas faço
um bom treino, mesmo com os pés plantados.

Na metade do meu treino, minha pele começa a formigar. Eu me viro


para o lado e, com certeza, Lennon está encostada na parede me observando.

Seu rosto está inexpressivo, mas sei que seus olhos estiveram por todo o
meu corpo. Eu posso senti-los, e no minuto em que nossos olhares se
conectam, eu a vejo de joelhos para mim, assim como na noite passada.

Eu me viro para encará-la, mas resisto à vontade de me aproximar. Em


vez disso, tiro meus fones de ouvido e espero que ela fale.

— Estou saindo. Eu só queria que você soubesse, — ela diz lentamente


depois de algumas respirações, — e perguntar se está tudo bem se eu voltar
hoje à noite.

Ela não diz para voltar a pintar, mas eu não pergunto. Eu sinto que há
mais.

Tudo o que eu quero fazer é abraçá-la, beijá-la, mas nas duas vezes que
ficamos, ela foi embora logo depois.

Ela se enterra em meu cérebro, e eu o repasso várias vezes, ela indo


embora. Ela reacende toda insegurança e medo. Isso ameaça me levar ao
limite.

Eu preciso ficar longe dela. É melhor para nós dois. Eu não posso tê-la
do jeito que eu quero, do jeito que eu preciso dela, então eu deveria deixá-la
ir.

Mas foda-se, acho que não consigo.


Então, apesar do meu melhor interesse, eu aceno.

— Está bem. Fique com a chave.

Não digo que ela poderia ter apenas me mandado uma mensagem. Seus
olhos caem para minha coxa, então, e minha cicatriz queima.

— Isso dói? — Ela pergunta baixinho, e eu digo a ela a verdade.

— Sim. Às vezes mais do que outras, mas não é tão ruim quanto antes,
então não reclamo.

— Como isso funciona? — Ela pergunta, sobrancelha levantada. Levanto


uma sobrancelha para trás e ela morde o lábio. — Já que você está sóbrio,
como você lida com a dor?

Ah sim. Comprimidos para dor. Porque eu sempre serei um drogado.

— Ibuprofeno extra forte e muita distração, — eu digo a ela com um


sorriso irônico. Ela move os olhos de mim para o saco e de volta.

— E se a sua distração causar dor?

Eu dou de ombros e caminho em direção a ela, pegando minha garrafa


de água no banco ao lado dela e tomando um gole antes de responder.

— É um problema, mas pelo menos é uma dor que escolho de bom grado.

Minha resposta não a surpreende. Não deveria. É sempre assim que me


sinto em relação à dor. Acabei de me tornar menos autodestrutivo sobre isso.

— Você se importa de me contar como isso aconteceu?

Seus olhos se fixam nos meus, e eu sei que vou contar qualquer coisa a
ela quando ela olha para mim daquele jeito.

— Eu era chefe de equipe em um Huey, — digo a ela. — Esse é o cara que


supervisiona as operações em um helicóptero.

— A segunda pessoa mais importante da aeronave, — ela interrompe com


um sorriso malicioso. — Você esqueceu quem é meu pai?

Eu sorrio de volta e balanço a cabeça.


— E eu era o artilheiro da porta, — eu digo com um meneio de minhas
sobrancelhas.

— Que sexy. — Não há como negar o tom sedutor em sua voz.

Os pelos dos meus braços se arrepiam e meu coração dispara, mas dou
um sorrisinho. Mantenho seu olhar por algumas respirações a mais do que
faria quatro anos atrás. Ela retribui tão bem quanto está recebendo. Nós dois
estamos um pouco inquietos quando começo a falar novamente.

— Estávamos fazendo um voo noturno. Suporte de reabastecimento, —


eu digo, evitando entrar em detalhes. — Foi uma ação inimiga. O piloto
conseguiu nos levar longe o suficiente antes de descermos, mas havia uma
carga que se soltou. Eu empurrei um dos nossos caras para fora do caminho,
mas isso me pegou bem. Prendeu-me, e a força da queda quebrou meu fêmur.

Respiro fundo pelo nariz enquanto a dor sobe e desce pela minha perna.

— Tive sorte, no entanto. Foi principalmente uma ruptura limpa e não


perfurou a pele.

Lennon não diz nada por um tempo. Ela apenas prende os olhos nos
meus enquanto espero que ela fale. Estou sempre esperando por Lennon, mas
não me importo. Eu estive esperando por ela desde que éramos adolescentes.
O que é um pouco mais longo?

— Você salvou a vida daquele cara? — Ela pergunta finalmente, e eu dou


de ombros.

— Salvei de uma perna quebrada, uma alta e mais de seis meses de


reabilitação, — eu digo depois de pensar um pouco. — Se isso se qualifica como
a vida dele, acho que é uma questão de percepção.

Ela está quieta de novo, os olhos examinando meu rosto, os lábios


franzidos. Ela inclina a cabeça para o lado e puxa o lábio inferior entre os
dentes.

Por algumas respirações, ela apenas me estuda. Tempo suficiente para


que meu coração esteja batendo forte na minha cabeça e arrepios irrompam
na minha nuca.
— É estranho, — ela diz lentamente, — se eu disser que não estou
surpresa? Que você se machucou protegendo outra pessoa?

Eu inclino minha cabeça para combinar com a dela, sustento seu olhar,
então digo honestamente, — isso nos torna um de nós.
CAPÍTULO VINTE E UM

Lennon

A única coisa em que consigo pensar enquanto dirijo para o hospital


é como Macon foi toda aquela história.

Ele sempre colocou os outros antes de seu próprio bem-estar. É o que


alimentou seus demônios no ensino médio. Ele sempre sentiu a dor dos outros
com mais força do que a sua.

E, egoisticamente, eu me pergunto, por que ele não poderia ter feito isso
por mim? Eu teria feito isso por ele. Eu tentei. Inferno, uma vez, eu fiz.

Eu o teria amado com tudo em mim.

Por que ele não poderia ter me amado da mesma forma?

Teria sido bom não suportar toda a dor sozinha.

Sam tentou. Ela foi maravilhosa.

Mas, no fundo de tudo, eu precisava de Macon.

Já escorreguei duas vezes desde que voltei e me odeio por isso. Posso me
sentir caindo de volta em padrões antigos e prejudiciais.

Estar aqui está me enfraquecendo.

Estar perto dele está me forçando a ter uma mentalidade que pensei ter
superado. Eu pensei que era mais inteligente, mais forte, mas não sou. Deixei
meu corpo se sobrepor ao meu bom senso, e então fui tomada pela vergonha.
Vergonha e medo.

Eu posso dizer que vai doer mais desta vez. Preciso voltar para Paris. Eu
preciso sair desta cidade. Preciso me afastar de Macon e Claire.

Não posso ficar inundada de nostalgia por muito mais tempo.

Eu vou me afogar desta vez. Eu sei isso.

****

— Ei, abóbora, — papai diz quando passo pela porta.

Eu ando até sua cabeceira e lhe dou um longo abraço.

— Você descansou um pouco? — Eu pergunto.

— O máximo que pude ligado a tudo isso, — diz ele, apontando para os
monitores. Dou-lhe um sorriso simpático.

— Você vai sair daqui em breve. Eles já lhe deram uma data?

— Ainda não. Eles ainda querem me monitorar. Meu coração não está tão
forte quanto eles gostariam.

— Isso não faz sentido, — eu digo, balançando a cabeça. — Você é, tipo, a


pessoa mais saudável que eu conheço. É quase irritante.

Ele dá uma risada rouca e depois sorri.

— Eu senti sua falta, Lennon, — ele diz, então estremece. — Desculpe.


Capri.

Meu coração se parte um pouco, e estou surpresa com o quão


desapontada me sinto ao ouvir meu nome do meio dele. Isso nunca me
incomodou antes. Desde que decidi largar Lennon, me sinto fortalecida
quando alguém diz isso. Encorajada. Mais forte.

Mas agora, neste quarto de hospital, ouvindo isso da voz rouca do meu
pai?

Eu só me sinto triste.
— Você pode me chamar de Lennon, pai, — eu digo suavemente. — Sam
também.

Ele ri.

— Isso não me surpreende, — diz ele, e eu rio.

Papai gosta de Sam desde que soube que ela voou para a Inglaterra e
passou o verão comigo na casa da tia Becca. Acho que aliviou um pouco de sua
culpa.

— Sinto muito por não ter vindo visitá-lo mais, — digo a ele
honestamente. Ele suspira.

— Eu poderia ter ido ver você também, Len, — diz ele. — Funciona nos
dois sentidos.

Eu balanço minha cabeça lentamente. Isso é uma mentira.

— Não, pai, — eu digo. — Você e eu sabemos que eu não deixaria você ir.
Você tentou e eu neguei. — Eu suspiro e dou de ombros. — Tenho certeza de
que nunca lhe dei meu endereço.

Ele não responde por um instante e, quando fala, sua voz está mais forte
do que antes.

— Você está aqui agora. Isso é o que mais importa.

Fico com papai por uma hora, contando a ele todas as coisas que ele
perdeu. Rimos e choramos, e quando finalmente me levanto para sair, sinto
que parte do meu coração está curado.

Espero que o dele também, mesmo que só um pouco. Mesmo que apenas
no sentido emocional.

— Lennon, — diz ele, parando-me na porta. Eu me viro para ele e me


preparo para algo sério. — Eu sei que isso vai ser uma grande pergunta. Eu sei
que pode até parecer injusto. Mas... acho que você deveria falar com Macon.

Meus lábios franzem e minha cabeça se inclina para trás.

— O quê?
— Eu acho que há muita coisa que você não entende. Talvez você não
estivesse pronta. Não sei. Mas agora que você está em casa e vocês dois estão
no mesmo espaço, acho que você deveria falar com ele.

Nem me preocupo em apontar que Virginia não é mais estar em casa.


Paris é estar em casa. Paris é onde eu pertenço.

Mas o que ele está dizendo...

Ele me mandou embora para me manter longe de Macon e agora quer


que eu fale com ele?

— Isso não faz sentido, pai, — eu digo. — Eu sei que você quer uma família
feliz com irmãos felizes, mas isso é apenas

— Não é sobre vocês serem irmãos, Lennon, — ele diz claramente. —


Nunca foi.

Minha confusão faz minhas defesas aumentarem e minha raiva


aumentar.

Isso não faz sentido.

Como ele pode dizer isso quando me mandou embora porque Macon era
meu meio-irmão? Como ele pode dizer isso agora, depois de quatro anos?
Depois de tudo com o que tive que lidar, depois de toda a dor e perda e auto
dúvida e automutilação?

É uma tentativa de amenizar sua culpa? Para expiar as coisas porque ele
quase morreu?

Meu coração foi despedaçado…

Por ele, por Macon, até por Claire. Minha confiança, meu valor próprio,
tudo isso foi prejudicado pelo que eles fizeram comigo.

Eu tive que me apagar apenas para sobreviver.

E agora, ele acha que pode simplesmente passar por cima de tudo? Ele
acha que pode ser perdoado e esquecido com uma simples conversa, me
culpando e dizendo que eu não estava pronta antes?

Em vez de quebrar de novo, isso só me deixa com raiva.


— Talvez seja tarde demais para isso, pai, — eu digo com firmeza. —
Talvez aquela ponte tenha sido queimada há quatro anos. Talvez Claire tenha
derramado gasolina, você jogou o fósforo e Macon dançou nas cinzas. Não
serei forçada a voltar para uma caixa que superei. Não vou perdoá-lo só para
tornar as coisas mais fáceis para você.

Ele fica quieto por um minuto, a angústia clara em seu rosto. Culpa. Dor.
É mais emoção do que estou acostumada a ver nele. Ele geralmente é pedra.
Talvez sua saúde o tenha amolecido.

— Não estou pedindo para você fazer isso, Lennon. Apenas... fale com
ele. Por favor. E por favor, saiba que eu te amo. Com tudo em mim. Eu te amo.

Meus olhos começam a arder, e eu respiro pelo nariz lentamente,


tentando impedir que as lágrimas caiam. Sei que isso é importante para ele,
mas não vou me colocar em uma situação que me faça retroceder.

Cada interação com Macon, cada conversa, cada toque, cada beijo,
ameaça me puxar de volta.

Mesmo seu sorriso me faz sentir coisas que não sentia desde os dezessete
anos, e eu odeio isso.

Eu odeio como ele é o único que pode acender esse fogo dentro de mim.
Eu odeio isso ainda mais, porque ele é o único que pode me arruinar tão
completamente.

Eu sempre tive uma queda pelo garoto que pode me quebrar. Achei que
tinha reforçado. Achei que tinha sumido. Mas quanto mais perto eu chego
dele, eu posso sentir isso enfraquecendo, e é aterrorizante.

Amar Macon Davis me destruiu uma vez. Eu não vou deixar isso
acontecer novamente.

— Eu também te amo, papai, — digo a ele honestamente. — Eu nunca


parei. Mas consertar as coisas com Macon não é algo que estou disposta a
fazer. Serei cordial enquanto estiver aqui, mas é o melhor que posso lhe dar.
Quando eu voltar para casa, para Paris, as coisas vão voltar a ser como eram.
Eu espero que você possa entender.
Eu inalo lentamente enquanto observo seu rosto para confirmação.
Deixei que ele visse que estou falando sério. Estou determinada. Seus lábios
se contraem e linhas de preocupação aparecem em sua testa, mas eu não
vacilo.

— Ok, Lennon, — ele diz finalmente, e eu dou a ele um pequeno aceno de


cabeça.

— Obrigada. Vejo você mais tarde, ok?

****

Saio do hospital e vou para a casa de Andrea.

Se Franco enviasse minha pintura pelo correio como disse que faria, ela
chegaria a qualquer momento. Pode até já estar aqui se ele enviar expresso
como eu pedi. Enviei a ele o dinheiro para o frete, embora ele tenha dito que
cobriria. Ele me conhece melhor do que isso. Eu não aceito esmolas.

Eu estaciono no meio-fio e olho com desdém para o carro parado na


garagem.

Claire está aqui.

Está bem. Eu posso entrar e sair. Tentei ser civilizada com ela no hospital,
mas isso não significa que quero fazer amizade. Claire e eu nunca seremos
amigas.

Eu bato na porta da frente e espero, movendo-me para frente e para trás


até que ela se abra e revele Claire.

— Oh, — diz ela, olhando rapidamente por cima do ombro e de volta para
mim. — E aí?

É preciso cada grama de contenção do meu corpo para não revirar os


olhos.

— Só voltando para ver se um pacote foi entregue para mim.


Quando ela não se mexe, faço um gesto atrás dela e ela sai do caminho,
deixando-me entrar em casa.

— Eu não vi nada, — ela diz enquanto me segue até a cozinha. Eu não


reconheço o comentário dela.

— Onde está Andrea? — Eu olho para a pilha de correspondência no


balcão, mas não há nada que pareça ser meu. — Talvez ela tenha colocado em
algum lugar.

— Ela teve que aparecer no trabalho, — Eric diz, chamando minha


atenção para onde ele está parado entre a cozinha e a sala de estar. Eu nem
percebi que ele estava aqui, embora eu devesse. É o carro dele na garagem. —
Ela tinha que fazer algo sobre a folha de pagamento. Ela levou Evelyn com ela.

Eu aceno um agradecimento, em seguida, pego meu telefone e mando


uma mensagem para Andrea. Eu deveria ter feito isso para começar. Eu nem
sei porque eu não fiz. Mas estou aqui agora, então me viro para subir as
escadas.

— Onde você está indo? — Claire chama, me seguindo mais uma vez.

Eu me viro para ela, parando-a no meio da escada.

— Estou checando o escritório do meu pai. Talvez Andrea tenha colocado


lá. — Eu me viro e caminho em direção ao escritório. Claire segue, mas eu a
ignoro. Examino algumas coisas sobre a mesa e verifico a estante. Nada. Então
meu telefone vibra com uma mensagem de Andrea.

Desculpe! Eu tive que correr para o trabalho. Eu não vi nada


para você, mas eu avisarei se aparecer. Você é sempre bem-vinda
para voltar e ficar em a casa. Então você saberá imediatamente.

Apesar da minha irritação imediata com Franco, não posso deixar de


sorrir. Andrea está tentando me fazer sentir bem-vinda, mas de jeito nenhum
vou ficar aqui. Mando de volta um simples agradecimento, depois me viro
para Claire.

— Não está, — eu digo simplesmente, então passo por ela.

— Eu disse a você que não.


Sua voz é afiada, como se ela quisesse me provocar, então eu a ignoro.
Contorno a cozinha e vou direto para a porta da frente.

— Onde você está indo agora?

Eu suspiro e me viro, mantendo minha mão na maçaneta.

— Vou pintar.

— Na casa de Macon?

— Sim, — eu digo categoricamente, então levanto uma sobrancelha.


Estamos realmente fazendo isso de novo? Não passamos disso? Eu juro que
seus olhos se contraem enquanto ela me observa. — O que, Claire?

— Você só está passando muito tempo com ele, só isso.

— Realmente não é da sua conta com quem eu estou passando meu


tempo.

Eu me viro novamente para sair, e sua voz me interrompe no meio do


caminho.

— Você está dormindo com ele de novo?

A agitação e a raiva mal contida em sua voz deixaram meus dentes tensos.
Quando me viro para encará-la novamente, ela percebe. Seus olhos brilham e
sua mandíbula aperta. Eu dou um passo à frente.

— Também não é da sua conta com quem estou dormindo.

Seu queixo cai, suas sobrancelhas se inclinam e ela sacode a cabeça.

— Ele é seu irmão, — ela sussurra.

Eu não posso evitar. Eu zombo e reviro os olhos. Ela é fodidamente


inacreditável.

— Vamos esclarecer uma coisa, Claire. — Falo devagar e anuncio minhas


palavras. — Macon não é mais meu irmão do que você é minha irmã. E você
nunca será minha irmã. — Eu arrasto meus olhos para baixo em seu corpo e
zombo. — Agora foda-se.
Ela cuspiu mais alguma coisa para mim, mas eu não me virei. Ando
calmamente para o meu carro e fecho a porta com menos força do que sinto
vibrar através de mim.

Como estou chateada, mando uma mensagem raivosa para Franco,


dizendo-lhe para enviar a porra da minha pintura, e então ligo para Sam.

No momento em que ela responde, meu peito relaxa. Ela é meu lembrete
de que nem todas as pessoas na Terra não são confiáveis ou são um monte de
lixo.

— Querida, — diz ela alegremente, — como está seu pai?

O próprio assunto do meu pai tira o encontro com Claire da minha


cabeça. Se eu contasse a Sam sobre isso, ela provavelmente pediria uma
batida, e ainda não cheguei lá. É melhor que eu guarde para mim por
enquanto.

— Melhor. Ele me conhece, pelo menos.

— Eu disse que ele faria isso, — diz ela com um sorriso. — Ele nunca
esqueceria sua abóbora.

Sam foi informada sobre todos os aspectos da recuperação de meu pai


por meio de mensagens de texto diárias e ligações noturnas. Contei a ela sobre
Evie, Claire e Eric, mas só um pouco sobre Macon.

A briga. A pintura. A estranha revelação sobre o centro recreativo e a


cirurgia.

Mas não a intimidade.

Não a centelha de eletricidade que me ressente. Não a atração que eu não


consigo negar. Não o quanto eu me odeio por ainda amá-lo, não importa o
quanto eu tente não amar.

Não contei a ela porque nada disso importa.

Apesar do meu amor por ele, nunca poderei perdoá-lo e não posso ter
amor verdadeiro sem perdão. Não importa o quanto eu gostaria de poder.

Ou talvez eu não tenha contado a ela porque é muito importante.


— Bem, estarei aí em alguns dias e posso lhe fazer companhia, — diz ela
alegremente. — Esses políticos me deixam maluca. É difícil fingir que não
odeio tudo o que eles representam.

Eu solto uma risada. Eu não acho que ela percebe o quanto ela finge.
Provavelmente todos sabem o quanto ela os odeia. Eles apenas optam por
ignorá-la porque o pai dela é o senador Thom Harper.

Seu nome é tão pretensioso quanto sua alma é negra.

— Mas eu tenho más notícias, — ela diz lentamente, e meu estômago


revira. — É por isso que eu liguei. Acabei de saber que meu querido pai
também está voltando para casa, então ele estará em casa.

— Tudo bem. Posso ficar no motel.

— Eu odeio que você esteja naquele lugar velho e decadente. — Ela faz
uma careta. — Pelo menos deixe-me colocá-la em algum lugar melhor. Vou
usar o cartão de crédito da campanha — diz ela, erguendo as sobrancelhas, e
eu rio de novo.

— O hotel fica muito longe. Já que papai está acordado, quero estar perto.

— Eu sei, — diz ela com um suspiro. — Não consigo nem ficar brava com
isso.

— Quando você voltar, porém, vamos nos encontrar. — Alívio dispara


através de mim. — Presente de aniversário antecipado para mim.

— Fechado, vadia, — ela diz. — Merda de negócio.


CAPÍTULO VINTE E DOIS

Lennon

D
esligo com Sam e volto para o centro recreativo.

Ainda tenho algumas horas de luz do dia e estou quase


terminando uma das minhas encomendas, o que significa que
poderei pintar gratuitamente até que a peça que Franco me enviou chegue
aqui.

Essa é a única queda de comissões.

Meu tempo livre para pintar não é tão frequente, e meu Deus, que
saudade.

Entro no apartamento de Macon, aliviada por encontrá-lo vazio, e pego


um refrigerante na geladeira antes de ir para o estúdio.

Isso tudo é tão fodido.

Estar perto de Macon está mexendo comigo, mas a única maneira de


clarear minha cabeça é pintar e, para pintar, tenho que estar perto de Macon.
Eu tenho que estar em seu espaço, cercada por sua energia e seu cheiro.

É inebriante da maneira mais debilitante.

É como se eu precisasse dele para não precisar dele, mas vai explodir na
minha cara.
Eu forço os pensamentos para fora da minha cabeça enquanto coloco
meus pincéis e encho meus potes com água. Começo a misturar minhas tintas,
mas lembro que estou sem branco. Eu ia correr para a loja de arte para
comprar mais, mas esqueci depois da conversa com meu pai.

Uma conversa que ainda estou tentando processar.

Não tenho tempo de dirigir até Norfolk agora, então decido ir até a sala
de arte para ver se há tintas lá. De volta ao colégio, eu o tinha em estoque com
meus favoritos. Provavelmente não tem mais, mas vale a pena tentar.

Eu saio pela porta, trancando-a atrás de mim, e caminho até a sala de


arte. É estranho como me sinto confortável aqui. Mesmo no apartamento de
Macon, me adaptei rapidamente.

Eu escolho não analisá-lo.

Na sala de arte, vasculho as caixas no armário de armazenamento dos


fundos. Eles não estão mais rotulados, o que me irrita, mas encontro a sacola
com tintas e quase grito de alegria quando vejo exatamente o que preciso.

— Bingo, — eu digo, separando as tintas. Eu pego um branco e um azul,


então decido pegar um preto também. Vou substituí-los amanhã.

Uma grande tela de papelão no canto chama minha atenção. Está


encostado na parede, mas posso ver manchas de cor ao longo das bordas
externas. Parece que pode ser a pintura finalizada de alguém, e eu ando em
direção a ela por instinto, curiosa.

Algo dentro de mim está emocionado e com medo de virar isso. Eu nem
sei porque. Gosto de examinar o trabalho de outras pessoas, mas este,
escondido e ao contrário no armário de armazenamento, me faz sentir como
se tivesse tropeçado em um segredo.

Respiro fundo duas vezes quando o alcanço e então o viro.

Leva um minuto para processar o que vejo e, quando o faço, meu coração
bate tão rápido no peito que sinto que vou desmaiar. A luz é fraca, apenas
filtrada da sala de aula do lado de fora, mas mesmo na semi-escuridão, posso
ver perfeitamente.
Sou eu.

Sou eu na noite do baile, rindo no meu vestido. É uma pintura em


aquarela, e é grosseira, mas sou eu até as sardas. Até o vestido azul-marinho
está exatamente como eu me lembro.

O fundo da pintura parece ainda estar em andamento, o que me faz


pensar que esse projeto está inacabado. Então por que estava escondido aqui?
De quem está sendo escondido?

Mim.

Examino a pintura em busca do nome do artista. Não encontro um, mas


não preciso de um.

Já vi esses olhos desenhados repetidas vezes nos cadernos de desenho de


Macon. É o estilo dele. Eu vi meus lábios e meu nariz. As minhas orelhas.
Minhas mãos.

Mas nunca os vi juntos.

Então noto outro quadro, este em moldura, encostado atrás de uma


estante com a frente coberta por um lençol.

Minha mão está tremendo enquanto a deslizo para fora de seu


esconderijo. Prendo a respiração enquanto o viro.

Eu sei o que vai ser antes mesmo de deixar o lençol cair no chão, mas eu
ainda começo a chorar no momento em que o vejo, minha mão disparando
para minha boca para abafar meu suspiro.

A pintura é minha.

Aquele que vendi por doze mil dólares.

Aquela que pintei durante o ponto mais sombrio da minha vida.

Aquela que me tirou do fundo e reavivou meu amor pela pintura.

E dentro da pintura, quase camuflada no fundo, está a citação de Carson


McCullers. Aquele por quem me apaixonei depois de ler tudo o que pude
colocar em minhas mãos por ela.
— O coração é um caçador solitário com apenas um desejo! Para
encontrar algum conforto duradouro nos braços do fogo de outra pessoa.

Estou olhando para a pintura quando alguém entra pela porta do


depósito atrás de mim. Eu me viro lentamente.

— O que é isso? — Sussurro para Macon. Seu rosto está cheio de tristeza.

— Lennon, — ele diz, então ele fecha os olhos.

— O que é isso, Macon? — Eu pergunto novamente.

— Você não deveria ter visto isso, — diz ele, com a voz tensa. — Ainda
não.

— Por que você teria isso? — Eu empurro minhas mãos pelo meu cabelo
e puxo. — Isso não faz sentido, Macon. — Eu levanto minha voz porque eu
preciso me ouvir sobre o martelar na minha cabeça. — Você me abandonou.
Você não se importou. Você me deixou em paz porque não se importou.

Ele balança a cabeça e minhas lágrimas caem mais rápido.

— Isso não faz sentido, — eu grito novamente, e jogo minha mão para
trás, apontando para as pinturas. — O que é isso?

— Eu nunca te abandonei. Eu não podia. Você tem que saber disso,


Lennon.

Ele caminha em minha direção e eu recuo, esbarrando nas pinturas. Ele


para.

— Você é minha, — diz ele, com a voz cheia de convicção. — Você sempre
foi minha, e eu sempre fui seu. Isso não mudou. Você pertence a mim.

— Não. Não! Você e eu não somos nada. Eu pertenço a Paris.

— Isso é besteira, — ele cospe, e eu o interrompo.

— Por que você está fazendo isso? — Eu grito. — Por que você está
mexendo com a minha cabeça de novo?

Começo a andar, meus dedos pressionados nas têmporas. Tudo é tão


confuso, tão confuso. Nada disso está certo.
Eu pertenço a Paris.

Sou uma pintora de sucesso.

Eu não pertenço aqui. Eu não pertenço a Macon. Ele não deveria ter
minha pintura. Ele não deveria ter me pintado.

Macon não se importa comigo. Ele nunca se importou.

— Eu não estou brincando com sua cabeça, Lennon, — ele rosna. — Foi
você quem se recusou a voltar. Foi você quem decidiu ficar na Inglaterra e ir
para a escola de arte sem contar a ninguém.

— Eu fiz o que eu tinha que fazer!

— Isso é besteira! Você ficou teimosa. Você teve um acesso de raiva por
ter sido enviada para a Inglaterra mais cedo e cortou todo mundo. Você
deveria ter voltado e não voltou.

— Não se atreva a colocar isso em mim, — eu zombo. — Você não sabe de


nada.

— Sim, bem, de quem é a culpa? — Ele responde de volta, e minha boca


se abre em estado de choque.

Ele está realmente tentando dizer que isso é minha culpa? Que eu escolhi
isso?

— Você me abandonou, — eu digo. — Você me ignorou. Você me ignorou


quando eu precisei de você. Você não pode me envergonhar por finalmente
tomar minhas próprias decisões.

— Eu fui para a reabilitação, Lennon! — Ele grita, zangado e


desesperado. — Em que porra de universo você está vivendo? Eu estava na
reabilitação. Eu estava ficando limpo para poder ser bom o suficiente para
você. Mas eu saí e você não tinha voltado. Você me deixou.

— Não, — eu digo, balançando a cabeça. — Não. Isto é errado. Você está


mentindo.

— Por que diabos eu mentiria sobre isso?


Ele para e fecha os olhos com força, o único som na pequena sala é a
nossa respiração rápida.

— Fui para a reabilitação por nós, — diz ele, com a voz trêmula. — Para
que eu pudesse te amar direito.

Amor.

Então eu poderia te amar.

As palavras ecoam dentro da minha cabeça, batendo de um lado para o


outro até meus ouvidos zumbirem.

Não. Não. Isso está errado.

Ninguém me disse. Ninguém. Ele não pode dizer que fez isso por mim.
Ele não pode comprar meu quadro e achar que um ato perdoa tudo. Ele não
cuida há quatro anos. Talvez ele nunca tenha feito. Eu não posso adivinhar
isso de novo. Não posso deixar que ele me puxe assim de novo. Não posso fazer
isso com ele de novo.

Meu coração dói.

Tantas lembranças passam pela minha cabeça, boas e ruins. Sua


overdose. Seu estranho relacionamento com Sam. O centro recreativo. Os
fuzileiros navais. O jeito que ele é com Evie. O que meu pai disse.

Mas quatro malditos anos.

Aguentei tanta besteira, e pra quê? Quatro malditos anos de silêncio, só


para ele insinuar que foi minha culpa? Dizer que fui eu quem o deixou?

— Ora, — eu digo, e a dor na minha voz me deixa com raiva.

Por que isso dói tanto? Eu cansei de sofrer por ele. Eu deveria ser mais
forte do que isso agora.

— Por que agora, depois de quatro anos? Eu estava indo bem! Eu estava
indo bem, e você tem que vir e me atrapalhar de novo? Eu estava bem sem
você!
— Sério? — Ele cospe, com o rosto contorcido e os olhos em chamas. —
Você não quer sério, Lennon. Você quer loucura. Você quer fogo. Menos do
que isso é perda de tempo.

— Você não sabe o que eu quero!

— Sim eu sei!

Ele dá um passo mais perto e aponta o dedo para as pinturas atrás de


mim.

— Imperdoável. Difícil de dominar. Você não quer fácil. Você não quer
apagar seus erros. Você quer construir sobre eles e transformá-los em algo
bonito. Você nunca quis boa, Lennon. Você quer aquarelas.

Suas palavras me atingiram bem no peito, lágrimas que não consigo


conter inundam meu rosto. Eu posso prová-los. A gola da minha camisa está
molhada delas.

Aquela noite na sala de arte do centro recreativo inunda minha mente e


quase posso vê-la passando na minha frente. Ele está encostado no batente da
porta, olhando para mim com seus olhos de chamas azuis. Estou limpando as
mesas e já me apaixonando desesperadamente por ele.

Então, você gosta de aquarelas porque são lindas, difíceis de dominar e


implacáveis?

Sim. É o meu meio de amor.

Reabilitação. Minhas pinturas. Quatro malditos anos.

— Eu expliquei, — diz ele, balançando a cabeça.

Sua voz está cheia de confusão e desespero. Ele está me implorando para
entender, e eu simplesmente não consigo.

— Eu pedi para você esperar por mim. Eu pedi para você não desistir.

Meus olhos se abrem e eu balanço minha cabeça em descrença. Ele não


pode querer dizer...

— A anotação? — Eu digo em um suspiro.


Um post-it amassado? Ele acha que isso vai compensar tudo?

A lembrança de jogar uma caneca de cerâmica em suas costas, com um


bilhete enfiado lá dentro, se desenrola diante de mim. Em seguida, encontrá-
lo na fronha depois do baile.

Então tudo o que veio depois.

— Como diabos você espera que eu espere por você com base em algo que
não significou nada para você no passado? — Eu pergunto. Minha voz é um
rosnado baixo. — Silêncio de rádio, Macon. O pior momento de toda a minha
vida e você não me deu nada...

— Eu vim por você! — Ele grita, suas mãos segurando sua cabeça. — Eu
voltei por você, Lennon. Quando saí da reabilitação, voltei, — repete. Ele fecha
os olhos. — E sabe onde te encontrei? Em um beco atrás de um pub com a boca
em algum inglês fodido e a mão dele enfiada na porra da sua calça.

Minha boca se abre e meus olhos se arregalam. Procuro na memória e


encontro imediatamente.

Eu sei exatamente de que noite ele está falando. O início da minha


espiral. O começo da minha autodestruição. Meu estômago gira com a
necessidade de vomitar.

Eu sei, mas ainda pergunto, porque estou oscilando e mereço cair.

— Quando? — Eu forço.

— Logo depois que você não voltou para a faculdade. Você praticamente
desapareceu e ninguém conseguiu falar com você.

Engasgo com um soluço. Eu cerro minhas mãos para acalmar o tremor e


respiro através da dor intensa que assola meu corpo.

Meu peito dói. Minha cabeça dói. Meu coração...

— Mas você não respondeu meus e-mails, — eu sussurro, procurando por


algo, qualquer coisa, para fazer isso fazer sentido.
— Eu não tive exatamente acesso ao meu e-mail enquanto estava sendo
tratado por vício em drogas, Lennon, — ele diz suavemente. — E quando saí,
meu e-mail da escola estava bloqueado. Nunca pensei em tentar voltar a isso.

Quando eu finalmente olho para ele, seus olhos estão implorando e


vidrados com lágrimas não derramadas.

— Voltei para buscar você, — ele engasga, — e encontrei você naquele


beco e tive uma recaída. Eu fui para a farra e, quando finalmente me recuperei,
pedi a seu pai que mexesse uns pauzinhos para que eu pudesse me alistar nos
fuzileiros navais.

Ele caminha em minha direção e, desta vez, não recuo. Deixei que ele
segurasse meu rosto gentilmente, seus olhos de chama azul perfurando os
meus.

— Eu me alistei porque, depois da minha recaída, eu sabia que ainda não


era bom o suficiente para você. Eu me alistei porque era meu último esforço
para fazer algo de mim mesmo.

Ele se inclina para frente e pressiona sua testa na minha.

— Eu nunca desisti de nós, — ele respira. — Mesmo depois que você fez,
eu não fiz. Porque você pertence a mim, Lennon Capri. Você sempre o fez e
sempre o fará.

Eu fecho meus olhos, deixo suas palavras me lavarem, e quando ele me


beija, eu deixo. Sinto meu coração se despedaçar, meus olhos arderem.

E então me sinto com dezessete anos e não posso ser aquela garota. Jurei
a mim mesma que nunca mais seria aquela garota.

Macon sempre foi tão bom em me enganar no passado. Subindo pela


minha janela e sussurrando promessas apenas para quebrá-las mais tarde. Me
chamando de patética depois de salvar sua vida. Me beijando e me segurando
apenas depois de me derrubar tão gloriosamente.

Ele mente e eu escuto porque quero desesperadamente acreditar nele.


Não consigo pensar direito perto dele. Eu nunca poderia. Eu me agarro a
ele quando deveria afastá-lo. Digo sim quando deveria dizer não. Eu o perdoo,
perdoo e perdoo, quando na verdade tudo o que eu deveria fazer é esquecê-lo.

— Eu não posso fazer isso com você agora, — eu engasgo, virando minha
cabeça e deixando cair minhas mãos ao meu lado. — Eu preciso pensar.

Passo por ele e saio do depósito. Ouço seus passos atrás de mim.

— Não, — eu imploro. — Você só vai piorar as coisas.

Eu dou mais dois passos, então contra meu melhor interesse eu me viro
para ele.

— Eu estarei de volta, ok? Eu só preciso pensar sobre isso primeiro.

Ele acena com a cabeça lentamente e, quando me afasto novamente, ele


não tenta me seguir.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Macon

LONDRES, 4 ANOS ANTES

M
inhas pernas balançam enquanto espero para sair do avião.

Meu pescoço dói, e eu tenho que mijar. Eu coloco outro


chiclete na boca e mastigo furiosamente. Pela centésima vez,
pego o endereço no meu telefone.

Encontrei o endereço de Lennon ligando para a nova escola de arte dela


e fingindo ser Trent. Foi fácil rastreá-la, considerando a facilidade com que ela
nos interrompeu.

Mamãe e Trent acham que Lennon precisa de espaço.

Acho que os dois são idiotas.

Eu não passei meses naquela porra de reabilitação ficando limpo para


voltar para casa e descobrir que Lennon acabou de ir para Londres sem ao
menos uma explicação. Eu não saí apenas para descobrir que todos os meus
planos foram para o inferno. Ela deveria voltar para casa, então vou trazê-la
de volta.
Quando finalmente saio da ponte de embarque, praticamente corro por
Heathrow. Paro para mijar e tomar um café, depois entro num táxi.

Cinquenta libras para ir do aeroporto até o apartamento de Lennon. Não


trabalho há meses, mas também não gasto dinheiro. Não há muito para
comprar em uma instalação de tratamento de drogas.

São quase 22h quando o táxi me deixa. Verifico o endereço mais uma vez,
respiro fundo algumas vezes e subo os degraus de dois em dois.

Encontro a porta com facilidade e bato duas vezes. Espero trinta


segundos e bato novamente.

Silêncio.

Bato pela terceira vez, mais alto e mais rápido, e ninguém atende, então
me viro e me sento perto da porta. Vou esperar aqui a noite toda se for preciso.

Uma hora se passa e meu estômago começa a doer. Eu não comi o dia
todo. Estou agitado pra caralho, cansado demais e agora estou com fome.
Nenhuma dessas coisas é boa para a sobriedade.

Porra do inferno.

Pego outro chiclete e coloco na boca, mas não faz merda nenhuma, então
faço a próxima melhor coisa. Eu me levanto e saio pela porta para encontrar
alguns cigarros. Eu fui um idiota por pensar que desistir agora, depois de
desistir de todo o resto, era uma boa ideia.

Se não posso confiar em pílulas e bebidas, preciso de algo. Este chiclete


de nicotina não está resolvendo.

Deixo o complexo de apartamentos e escolho uma direção aleatória com


base nas luzes e no ruído. Onde há pessoas, há cigarros. Especialmente na
Europa.

Alguns quarteirões adiante, encontro um pequeno pub e uma multidão


de pessoas se espalhando pela rua. Paro na primeira pessoa fumante que vejo.

— Ei, — eu digo, forçando um sorriso encantador, — posso queimar um?


A mulher me olha da cabeça aos pés, soltando uma nuvem de fumaça
antes de tirar um maço de cigarros da bolsa e estendê-lo para mim.

— Obrigado.

Pego o maço, pego um cigarro e, antes mesmo de colocá-lo entre os


lábios, ela está segurando um isqueiro para mim. Eu me inclino para ela e
acendo meu cigarro, inalando profundamente enquanto a ponta fica
vermelha. Deixo a fumaça entrar em meus pulmões, meu corpo já se soltando,
então sopro no ar da noite.

— Eu tenho algo um pouco mais forte se você quiser, — ela diz para mim.
Sua voz é rouca, até sexy, e a promessa de algo mais forte me dá arrepios na
pele.

— Não. Estou bem, mas obrigado.

Ela dá de ombros e dá outra tragada, soprando a fumaça pelo nariz.

— Tenha uma boa noite, — eu digo a ela e me viro para sair, quando o
riso me faz parar.

Eu congelo e inclino minha cabeça para o lado. Eu nem mesmo respiro


enquanto ouço. A multidão está barulhenta, a música do pub está se
espalhando pela rua, mas eu sei o que ouvi.

Alguns segundos depois, ouço de novo.

É Lennon. Eu sei que é.

Sigo na direção em que a ouvi rir, um beco entre o pub e o prédio ao lado.
Enquanto atravesso a multidão, ela ri de novo, e se não houvesse tanta gente
aqui, eu estaria correndo.

Passo por mais algumas pessoas e então a vejo encostada na parede do


pub. Seu cabelo está mais curto e ela está usando mais maquiagem do que o
normal, mas é ela.

Eu ando em direção a ela, mas paro novamente quando seu rosto


desaparece. Alguém se interpôs no caminho.

Não.
Alguém a está cobrindo.

Balanço a cabeça e olho novamente. Não.

Alguém a está beijando.

E ela está beijando-o de volta.

Meu estômago revira e minha visão fica vermelha. Minhas mãos se


fecham e minhas narinas dilatam. Eu empurro em direção a eles. Vou dar uma
surra nesse cara.

Que porra ela está fazendo?

Estou a alguns passos de distância quando ouço Lennon ofegar, e o cara


se afasta o suficiente para eu ver seu rosto, inclinado para o céu com os olhos
fechados.

Não.

Eu já vi esse rosto antes. Eu ouvi aquele suspiro.

Eu os examino e, de repente, quero vomitar.

Ele a está tocando. A mão dele está dentro da calça dela. Ele a está
tocando, e ela vai...

Fico parado, congelado no lugar, e observo. Eu observo seu braço se


movendo, seus quadris empurrando, a maneira como suas calças se moldam
em torno de sua mão. Então eu a ouço ofegar novamente, e eu bato meus olhos
em seu rosto.

Eu sei o minuto em que ela vem.

Conheço esse som de cor. Eu conheço a expressão dela. Está guardado na


minha memória.

Achei que era só meu.

Corro para o outro lado do beco, me apoio contra a parede e vomito. Não
é nada além de água e bile, mas meu corpo tenta de novo, até que estou suando
e tonto.
Eu me viro de novo, porque sou um idiota de merda, e meus olhos caem
de volta para ela e aquele idiota. Ele ainda está grudado nela. Eu posso ver as
mãos dela segurando seus lados.

Eu quero matar ele.

Eu o mataria. Eu sei que sim. Tenho presença de espírito suficiente para


me conter antes de cometer um assassinato, então me viro e dou um soco na
parede de tijolos.

Um. Dois. Três. Minha pele racha e meus dedos estalam, e eu imagino
bater na cara daquele caralho até que alguém me arranque da parede.

— Você tem que parar, cara, — alguns sotaques ingleses. — Você vai se
foder bem.

Eu olho para ele, de volta para Lennon, então abaixo para meus dedos
dizimados e ensanguentados.

Tiro meu casaco e o envolvo em minha mão.

— Você vai ficar bem, cara?

Eu olho para o rosto e é Burry. Eu pisco, e fica mais claro. Minhas


bochechas estão molhadas. Estou chorando.

— Não, — eu digo a ele claramente, então passo por ele e entro no bar.

Eu bato meu cartão no bar quando o barman olha para mim.

— Dose de uísque. Merda barata. E continuem vindo.

Eu lanço cinco doses antes de minha cabeça girar, então eu volto para a
rua, meus olhos se concentrando na mulher de antes.

— Você ainda tem algo mais forte?— Eu balbucio, e seus lábios se curvam
em um sorriso.

— Sim.

— Quer ir embora?

— Sim. — Ela arranha meu peito com as unhas, mas eu a interrompo


antes que chegue ao meu cós. — Para uma correção, não uma foda.
Ela me olha de novo, uma sobrancelha levantada, e eu não tenho tempo
para essa besteira.

— Vou parar em um caixa eletrônico, — eu digo, e ela sorri.

— Me siga.

ACORDO na calçada ao lado do Tâmisa.

Minha cabeça lateja e minhas mãos doem. Meus dedos estão cobertos de
sangue seco e inchados com o dobro do tamanho. Eu gemo e rolo de costas.

Tudo sobre a noite anterior volta para mim, me atingindo de uma vez, e
eu rolo para trás e vomito na calçada.

Eu me levanto, fugindo da bagunça que acabei de fazer, e me apoio ao


lado de um banco. Eu faço um inventário dos meus bolsos. Minha jaqueta se
foi. Minha carteira sumiu. Meu passaporte sumiu. Meu telefone,
milagrosamente, está no bolso da frente, mas a tela está rachada pra caralho.

Eu tive uma recaída. Não aguentei nem um mês fora da reabilitação.

Fumei, bebi e tomei uma porcaria que alguém me passou. Eu posso ter
cheirado alguma coisa. Depois de um tempo tudo se mistura.

Mas porra, o que diabos eu fiz?

Eu aperto meus olhos fechados, mas a decepção me atinge com força, e


as lágrimas escorrem pelos meus cílios. Todos aqueles meses. Toda aquela
terapia. E eu fodi tudo.

E Lennon...

Lennon e aquele cara.

Achei que ela era minha. Achei que ela sentia o que eu sentia.

Achei que ela esperaria por mim.

Eu deixo cair minha cabeça em minha mão direita, minha esquerda


embalada em meu colo enquanto tento respirar por toda a dor. Porra.
Depois de um momento, enfio a mão no bolso e pego meu telefone.
Prendo a respiração enquanto tento ligá-lo e dou um suspiro de alívio quando
ele pisca para a vida.

Pela segunda vez, ligo para Trent.

— Macon, — ele responde. — Você a encontrou?

— Sim, — eu resmungo.

— Ela esta bem? Ela está voltando?

Engulo em seco. Eu tento como o inferno não chorar de novo. Eu devo


parecer ridículo preso na merda e berrando na calçada.

— Macon? Voce ainda esta aí?

Eu limpo minha garganta.

— Você estava certo. Ela precisa de espaço. — Eu respiro fundo. — E eu


preciso da sua ajuda.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Macon

E
u a observo sair.

Meu corpo grita para segui-la. Para fazê-la ver a verdade. Mas
eu não.

Você só vai piorar as coisas, disse ela. Não sei como poderia ser pior do
que isso. Já dói mais do que qualquer coisa.

Eu cubro a pintura dela de volta, viro a outra de volta e deslizo as duas


de volta para o esconderijo.

A pintura de Lennon geralmente fica pendurada na parede da sala de arte


do centro recreativo.

Minha pintura dela geralmente fica no meu estúdio, para que eu possa
trabalhar nela.

Eu escondi os dois dela.

Eu sabia que seria demais no começo, mas não esperava por isso. Achei
que seria embaraçoso explicar. Pensei em assustá-la.

Mas essa raiva? A dor?

Porra. O que eu fiz? Achei que estava fazendo a escolha certa. Achei que
estava fazendo a coisa certa.
Não registro a caminhada de volta ao meu apartamento.

Estou atordoado quando me sento ao volante, nem mesmo me


incomodando em me trocar.

Eu nem ligo a música. Eu apenas jogo.

Eu trabalho a argila em nada, esmagando-a e formando vasos apenas


para derrubá-los de propósito. Faço isso até o sol se pôr. Eu faço isso até o sol
nascer novamente. Se for preciso, vou fazê-lo até que minha pele não coce e
meus nervos não estejam em frangalhos.

Jogar argila, desenhar e lutar boxe. Essas são minhas saídas agora.

Eles têm que ser suficientes.

Faço uma pausa para verificar a mamãe, para fazer os movimentos no


centro. Não negligencio minhas responsabilidades. Se eu fizer isso, tudo vai
cair como dominó. Muitas pessoas confiam em mim. Eu não posso
decepcioná-las. Eu não posso me decepcionar.

No momento em que termino, volto para a roda e faço tudo de novo.


Jogando em silêncio. Formando e colapsando argila em nada até que a luz
desapareça do meu estúdio.

Não paro até meu telefone tocar. Sinto falta da ligação quando me levanto
para lavar o barro das mãos. Estou secando-os quando meu telefone começa
a tocar novamente.

— Olá.

— Macon, — minha mãe diz, com a voz estrangulada, — você tem que vir
para o hospital.

Ouço um choro abafado do outro lado da linha, e meu primeiro


pensamento é Lennon. Ela fez alguma coisa. Algo aconteceu e eu a perdi, e
tenho que me segurar na pia para me equilibrar.

— O que é? — Eu forço.
— É Trent, — ela soluça, e meus ombros se soltam apenas para disparar
de volta para os meus ouvidos. — Eles tiveram que levá-lo às pressas para a
cirurgia.

Já estou calçando os sapatos e trancando meu apartamento.

— Lennon sabe? — Eu pergunto enquanto corro para o meu carro.

— Ela está aqui, — diz ela, com a voz embargada novamente. — Ela estava
com ele...

Não.

Eu ligo o motor e saio do estacionamento, virando em direção ao


hospital.

Essa merda não pode acontecer com ela novamente. Ela já passou por
muito. Mãe dela. Eu. Ela não pode fazer isso com o pai também.

— Estou a caminho.

Eu dirijo o mais rápido que posso. Felizmente, as estradas estão livres.


Não sei o que faria se fosse parado. Eu estaciono no estacionamento de
emergência e corro para o hospital. Não paro de correr até empurrar a porta
da sala de espera da sala de cirurgia e parar na frente da minha mãe.

Eu caio de joelhos e a puxo para um abraço, então meus olhos examinam


a sala. Claire está sentada ao lado da mamãe, com a mão em seu ombro, e
Lennon está sozinha no canto. Seu rosto está pálido como um fantasma, seus
olhos estão vermelhos. Seu lábio está machucado e inchado, como se ela o
estivesse mordendo.

Não há Evie, e me pergunto se ela está na casa com Masters.

— O que aconteceu?— Pergunto a minha mãe, segurando-a com força


enquanto ela chora em meu ombro.

— Aneurisma ventricular, — responde Claire. Sua voz é um arranhão


silencioso e seu rosto está manchado e vermelho de tanto chorar. Ela funga
enquanto as lágrimas começam a cair novamente. — Eles o levaram para uma
cirurgia de coração aberto.
Ela mantém meu olhar, então move seus olhos para Lennon e volta.

— Ela estava lá com ele quando aconteceu, — Claire sussurra. Suas


lágrimas começam a cair novamente. — Nunca a vi assim, Macon. Ela estava
tão... — Ela balança a cabeça e fecha os olhos com força. — Estou muito
preocupada com ela.

Eu olho para Lennon. Ela está encostada na parede e olhando para o


chão, com os punhos cerrados à sua frente. Deus, ela parece tão pequena.
Como uma criança de nove anos que acabou de encontrar o corpo sem vida de
sua mãe.

Como uma garota de dezessete anos que teve que fazer uma RCP para
salvar o namorado de uma overdose.

Eu beijo a bochecha da mamãe e me esforço para ficar de pé. Os olhos de


Lennon se arrastam lentamente para os meus. Eu dou passos lentos e medidos
em direção a ela. Ela não desvia o olhar. Não sei o que farei quando chegar até
ela, mas preciso estar ao lado dela.

A porta da sala de espera se abre e quebramos o contato visual, olhando


na direção do barulho.

— Len, — Sam suspira, então corre para o lado dela. Elas imediatamente
se abraçam, um tipo de abraço apertado e pegajoso, e Lennon começa a chorar.

— Eu sei, — Sam sussurra no cabelo de Lennon. — Eu sei. Estou aqui.

Sam vira a cabeça e me reconhece com um pequeno aceno de cabeça. Eu


devolvo, então me afasto. Não sei o que aconteceu quando Sam foi para a
Inglaterra para ficar com Lennon, mas não percebi o quão próximas elas se
tornaram. Esse abraço é praticado. O gesto de conforto de Sam, a maneira
como Lennon se agarra como se ela fosse uma tábua de salvação, não é
novidade.

Elas já estiveram aqui antes, e algo me diz que foi minha culpa.

****
Durante seis horas, esperamos.

Sam intimida a enfermeira para que nos deixe comer na sala de espera e
depois ordena que a comida seja entregue. Ela joga conversa fiada comigo e
com minha mãe e ignora claramente Claire. Lennon mal fala, mas ela e Sam
não saem uma do lado da outra.

Isso me faz querer abraçar Sam. Quero agradecê-la, apesar do meu ciúme
e culpa. Se não posso ser o único a confortar Lennon, fico feliz que ela tenha
Sam.

Quando o médico sai, todos nos levantamos. Foi uma cirurgia bem-
sucedida, ele nos conta, mas haverá um longo caminho até a recuperação.
Trent ainda está sob anestesia e provavelmente não acordará por mais
algumas horas. Depois disso, ele precisa descansar. Podemos vê-lo pela
manhã.

A enfermeira diz a mamãe que ela pode ficar no quarto, então digo a ela
que levarei Evie para passar a noite. Claire sai para voltar para casa. Eu vou
atrás em breve para arrumar as coisas de Evelyn.

Eu tento ficar para trás para falar com Lennon. Eu preciso checá-la, mas
ela está presa no quadril de Sam, e Sam continua me olhando de soslaio.

Pouco antes de irmos para o estacionamento, Lennon sai do grupo para


usar o banheiro, e eu encurralo Sam.

— Como ela está? — Eu pergunto, e ela me dá um olhar de advertência.

— Ela definitivamente está melhor, — diz Sam, e acrescenta


enigmaticamente, — mas ela está pior.

Eu sei que é uma piada para mim.

— O que você quer dizer? — Eu empurro, e ela balança a cabeça.

— Não, — ela diz rapidamente. — Nem tente me arrancar informações.

A irritação aumenta com a minha necessidade de saber mais sobre


Lennon, para ter certeza de que ela ficará bem. Eu sei que isso é difícil para
ela. Estar na sala com seu pai quando isso aconteceu, monitores disparando e
Trent ficando inconsciente, deve tê-la aterrorizado.

Tudo em que consigo pensar é na história sobre a mãe dela, e meu peito
dói por Lennon.

— Vamos, Sam, — eu digo. — Dê-me algo, aqui. Só quero ter certeza de


que ela está bem. Costumávamos ser amigos, certo?

Sam solta uma risada e levanta a sobrancelha.

— A lealdade tem prazo de validade, Macon. Minha lealdade é para com


ela agora, e você não vai arrancar merda nenhuma de mim.

Ela desvia o olhar de mim para tirar um pouco de batom da bolsa e aplica.
Ela estala os lábios, então olha para mim.

— Você se importa tanto, — ela diz, — você vai perguntar a ela por conta
própria. — Os olhos de Sam piscam atrás do meu ombro, então ela me dá um
meio sorriso. — Te vejo mais tarde, Davis.

Ela passa por mim e diz algo para Lennon. Lennon acena com a cabeça e
sai com Sam. Ela não olha para mim, e meu estômago cai para os meus pés.

Pergunte a ela por conta própria, disse Sam.

Mas como? E mais importante, eu mereço saber?


CAPÍTULO VINTE E CINCO

Macon

N o caminho para a casa da mamãe, começa a chover, a água caindo


em lençóis duros e cobrindo meu para-brisa. Meus limpadores mal
conseguem acompanhar.

Eu corro para dentro de casa, ficando encharcado no processo, e tiro


meus sapatos na porta.

— Ela está dormindo, — diz Claire quando entro na cozinha. Ela está
sentada ao lado de Masters bebendo uma xícara de chá quente.

— Está tudo bem, — eu digo. — Eu sei como movê-la sem acordá-la.

Claire morde o lábio por um momento, vira os olhos para Eric, depois de
volta para mim.

— Você pode deixá-la, você sabe, — diz Claire. — Eu posso vigiá-la. Eu


não me importo.

Eu tento não parecer chocado. Claire nunca demonstrou muito interesse


em cuidar de Evie. Eu me ofereci uma vez há alguns meses para que mamãe e
Trent pudessem sair, e então meio que se tornou meu trabalho. Eu gosto de
fazer isso, no entanto. Eu gosto de ter Squirt por perto.

— Tudo bem, Claire, — eu digo. — Eu vou levá-la.


Começo a caminhar em direção às escadas, mas Claire me impede.
Quando me viro, sua testa está franzida e seus olhos estão tristes.

— Por favor, deixe-a, Macon, — Claire diz suavemente. — Eu quero


observá-la. Eu quero ajudar. — Ela torce as mãos na frente dela e muda de pé
para pé. — Sei que não tenho estado exatamente... presente... mas gostaria de
mudar isso. Eu só... acho que não senti que era necessário?

Ela dá de ombros e respira fundo antes de me atingir com um olhar


sincero e determinado.

— Eu realmente gostaria que você me deixasse cuidar de Evelyn esta


noite, Macon, — ela diz claramente, como se tivesse ensaiado. — Prometo que
ligo se precisar de alguma coisa.

Eu olho por cima do ombro de Claire para Masters. Ele está nos
observando atentamente, mas quando me pega olhando, ele desvia o olhar. Eu
tenho que abafar uma risada.

Eu considero Claire. Ela parece sincera enquanto espera pela minha


decisão. É estranho ter tanto poder sobre ela agora. Eu poderia dizer não. Isso
a machucaria, porque esta oportunidade de assistir Evie parece importante
para ela.

Eu poderia dar a ela um gostinho de tudo que ela me deu - deu a Lennon
- no passado.

Mas eu não sou essa pessoa, nunca fui.

— Ok, — eu digo com um aceno de cabeça. — Deixe-me orientá-la sobre


as mamadeiras e a rotina matinal. Posso anotar para você, e então você pode
ligar se precisar de ajuda com alguma coisa.

O sorriso de Claire é enorme enquanto ela olha entre mim e Masters.

— Ok, sim, — diz ela, balançando a cabeça ansiosamente. — Claro. E eu


prometo que vou ligar. Obrigada.

Consigo não demonstrar minha diversão.


Escrevo um curso intensivo sobre cuidar de Evelyn, da mesma forma que
mamãe fez comigo na primeira vez que fui babá. Mostro a Claire como aquecer
as mamadeiras e depois me despeço.

Enquanto calço meus sapatos na porta da frente, posso ouvir Claire e Eric
conversando. Suas vozes são abafadas, mas a conversa continua.

— Estou tão orgulhoso de você, — Eric diz a ela. Sua voz é encorajadora
e calmante. — Você fez tão bem.

— Estou tão feliz que ele está me deixando fazer isso, — diz Claire. — Isso
é um bom sinal, certo?

— Eu acho que é.

Estou sorrindo quando corro de volta para o meu carro. Talvez Masters
seja bom para Claire. Talvez o relacionamento deles seja mais do que apenas
Claire sendo uma vadia amarga. Acho que vou ter que esperar para ver.

Tenho que dirigir devagar por causa da chuva, e estou encharcado


quando entro em meu apartamento. A tempestade de verão provavelmente
durará a noite toda.

Eu tiro minhas roupas e coloco um short de ginástica, então vou para a


cozinha para aquecer algo para comer. Estou tirando as sobras de pizza do
micro-ondas quando ouço uma batida na minha porta.

Um arrepio percorre meu corpo e meu batimento cardíaco acelera.

Antes mesmo de abrir a porta, eu sei.

Do outro lado está Lennon. Ela está encharcada da cabeça aos pés,
parada em uma pequena poça de água da chuva. Suas roupas grudavam em
seu corpo e seu cabelo grudado nas laterais do rosto. Sua pele é pálida, seus
olhos vermelhos.

Eu não digo nada. Eu apenas seguro seus olhos enquanto ela olha nos
meus. Ela abre a boca duas vezes antes de finalmente falar, e sua voz é um
sussurro entrecortado.

— Faça-me sentir outra coisa, — ela diz, e eu não hesito.


Eu sei exatamente o que ela quer, o que ela precisa.

Eu deslizo minha mão para seu pescoço, roçando meu polegar em seu
ponto de pulsação, e a puxo para mim, cobrindo sua boca com a minha. Ela
choraminga, então apalpa meu peito nu enquanto eu ando de volta para o meu
apartamento, chutando a porta antes de empurrá-la contra ela.

Este beijo parece diferente.

É carente. Vulnerável e honesto. É a minha Lennon. Minha Astrea.

Lennon desliza as mãos pelo meu peito rudemente, arrastando as unhas


para os meus ombros e depois de volta para o meu abdômen. Sua língua se
enrosca na minha e ela desliza as mãos para baixo, agarrando o cós do meu
short. Meu pau endurece, e ela não perde tempo mergulhando em meu short
e envolvendo sua mão em torno dele. Eu gemo com o contato, empurrando
uma vez. Eu puxo sua camisa sobre sua cabeça e a deixo cair. Ele cai no chão
com um baque e arrepios irrompem em sua pele molhada.

— Deus, você é linda, — eu sussurro. Eu apalpo seu seio coberto de renda,


em seguida, puxo o bojo de seu sutiã para baixo para que eu possa abaixar
minha cabeça e chupar seu mamilo em minha boca, puxando o piercing de
metal pelos meus dentes e mordendo por trás dele. Ela engasga e eu massageio
com a língua, fazendo-a gemer.

Faça-me sentir outra coisa.

— Sim, mais, — ela murmura, e eu solto seu sutiã e o arrasto pelos braços,
deixando-o cair ao lado de sua camisa. Eu me movo para o outro seio e lambo
ao redor do mamilo e mordo. Seu aperto no meu pau aumenta e ela começa a
bombear.

— Foda-se, Lennon, — eu gemo. Estou tão duro que estou doendo por
ela.

— Macon, — ela suspira, e um arrepio percorre minha espinha.

— Diga de novo, — eu ordeno. Eu preciso ouvir meu nome em seus lábios,


sua voz sexy e excitada.

— Macon, — ela repete. — Macon. Sim.


Eu desço pelo seu corpo, arrastando meus lábios e dentes sobre seu torso
nu, deixando marcas vermelhas para trás.

Não estou cometendo o mesmo erro que cometi na minha cozinha e no


meu estúdio, transando com ela em um frenesi totalmente vestido, ou
deixando que ela me faça gozar sem dar a ela o que ela merece.

Estou adorando ela.

Estou fazendo tudo o que deveria ter feito todos os dias nos últimos
quatro anos. Estou fazendo ela sentir outra coisa.

Eu caio de joelhos e puxo seu short sobre sua bunda e suas coxas, levando
sua calcinha com eles, até que ela esteja completamente nua em cima de mim.

Ela estremece, e eu me pergunto se é do ar condicionado batendo em sua


pele úmida ou do meu toque.

Eu esfrego minhas mãos sobre sua pele sedosa, cavando meus dedos na
carne de suas coxas e bunda, antes de me deixar olhar para sua boceta nua,
brilhando com excitação sob uma palha de cachos escuros.

— Fodidamente linda, — eu digo. — Você já está tão molhada para mim,


Len.

Eu olho para ela e a encontro me observando, suas pupilas dilatadas e


seu peito subindo e descendo rapidamente.

— Você sabe quanto tempo eu esperei para provar você de novo?— Eu


deixo cair minha testa em sua pélvis e inalo, respirando-a. — Eu vou chupar e
lamber seu clitóris até você gritar.

— Por favor, — ela diz, e eu arrasto minha língua sobre sua boceta,
gemendo quando finalmente a provo.

Ela choraminga, pressionando seus quadris mais perto do meu rosto. Eu


rio contra ela.

— Tão carente, — eu digo. Eu giro minha língua em torno de seu clitóris,


então me afasto. — Tão ansiosa para eu te foder com a língua.

Eu mordo sua parte interna da coxa e ela rosna.


— Pare de provocar, — ela ofega, e o forte desejo em sua voz me leva ao
limite.

Eu fecho minha boca sobre ela, chupando e lambendo a sério. Quando


ela começa a tremer, paro apenas o tempo suficiente para pressionar meu
antebraço contra sua pélvis e levantar sua perna sobre meu ombro. Então eu
enterro meu rosto de volta entre suas pernas. Eu chupo seu clitóris e deslizo
dois dedos dentro dela, sua boceta molhada os sugando e pulsando ao redor
deles.

— Puta merda, — eu digo. — Eu quero que você goze em todo o meu rosto.

Eu mordo sua coxa novamente e chupo forte antes de voltar para seu
núcleo

— Molhe meus lábios com seu gozo. E então eu vou enfiar meu pau nessa
doce boceta e te foder, — eu digo em um rosnado. — Você quer isto?

— Por favor, — ela geme, e isso é tudo que eu preciso.

Eu a fodo com os dedos enquanto a lambo, chupando-a. Eu dobro meus


dedos do jeito que eu sei que ela gosta, massageando suas paredes internas
enquanto passo minha língua sobre seu feixe de nervos inchados.

Ela empurra seus quadris, esfregando-se para frente e para trás sobre
minha boca, e eu gemo contra ela. Meu pau está vazando pré-sêmen,
encharcando meu short, e estou tão duro que dói.

— Ah, sim, Macon, — diz Lennon. — Assim, assim.

Mantenho o ritmo até que ela se aperta em torno de mim, até que ela
explode com um grito ofegante, e então me levanto.

Ela empurra meu short para baixo e me agarra, apertando novamente, e


meu gemido é estrangulado, gutural. Ela enlaça a perna em volta do meu
quadril, eu agarro sua coxa e ela me guia até sua boceta, esfregando-me de
cima a baixo sobre sua maciez.

Porra, eu poderia gozar agora, mas não vou transar com ela contra esta
porta.
Eu dou um passo para trás e tiro meu short, então a levanto. Ela envolve
suas pernas em volta da minha cintura, e eu capturo seus lábios novamente
enquanto nos conduzo para o meu quarto. Quando chego à cama, deito-a
suavemente antes de subir nela. Eu beijo seus lábios, sua mandíbula, seu
pescoço. Cada parte dela com que sonhei, eu saboreio e provo.

Quando ela chega entre nós e me agarra novamente, eu gemo. Eu nunca


vou me cansar de suas mãos em mim. Ela empurra meu pau contra sua boceta
e se move em mim. Nós dois estamos ofegantes. Nós dois estamos
desesperados por isso.

Mas então eu paro e fecho meus olhos.

— O que, — diz ela contra a minha boca. — O que está errado?

— Eu não tenho camisinha, — eu digo, lembrando como ela estava


chateada da última vez, e o silêncio se estende.

— Não está na sua mesa de cabeceira?— ela sai ofegante. — Na sua


carteira?

Solto uma risada tensa.

— Nenhuma lá também, — eu digo a ela, e ela endurece.

Eu sei o que ela está pensando, que tenho transado com mulheres sem
proteção, e a beijo rapidamente antes de aliviar suas preocupações.

— Eu não estive com ninguém desde o baile, — confesso. — Só você.

Sua boca cai aberta, e ela puxa a cabeça para trás. Ela olha para mim,
salta seus olhos castanhos entre os meus, e eu posso dizer que ela está em
guerra consigo mesma.

Eu fico quieto. Eu a deixei pensar sobre isso. Eu espero por suas palavras.

— Estou tomando anticoncepcional, — ela sussurra finalmente, sua voz


tremendo com algo que eu não entendo muito bem.

Há tanto dano entre nós. Tantos segredos e promessas quebradas. Eu


deveria dizer a ela que podemos esperar. Eu deveria tranquilizá-la e provar a
ela que sou um homem melhor agora.
Mas em momentos como este, não tenho certeza se sou.

Sempre serei um viciado e ela sempre será minha maior tentação. O


único vício pelo qual vale a pena me arruinar.

— Tem certeza? — Eu pergunto, tentando como o inferno mascarar o


desejo em minha voz.

Ela acena com a cabeça e lentamente guia meu pau duro de volta para
seu centro.

— Tenho tanta certeza, — diz ela com sinceridade, esfregando-me sobre


ela mais uma vez antes de me posicionar em sua entrada.

Ela mantém contato visual enquanto move os quadris para cima.

— Tenho mais certeza de qualquer coisa em anos.

O fio segurando minha restrição se rompe e eu desisto. Eu me inclino e a


beijo, longa e profundamente, e empurro para dentro dela lentamente,
saboreando cada centímetro que nos conectamos. Nós suspiramos juntos, e eu
seguro por um momento, respirando-a. Dizendo a mim mesmo que isso é real.
Que podemos fazer isso.

E eu caio mais forte.

Eu me movo lentamente no início, deixando-nos ajustar um ao outro.


Para respirar a euforia. Meus lábios nunca deixam seu corpo. Suas mãos
nunca deixam as minhas. Com cada choramingo e gemido que ela solta, fica
mais difícil me conter.

Ela começa a se mover comigo, encontrando meus impulsos, e nós


aceleramos. Sua respiração colide e se emaranha com a minha, nosso suor se
mistura, deixando nossa pele lisa onde nossos corpos se conectam.

Seus seios pressionam contra o meu peito. Suas mãos no meu cabelo.
Suas pernas em volta da minha cintura.

— Você é perfeita, — eu murmuro contra seus lábios. — Você é perfeita


pra caralho.

Eu te amo, eu quero dizer.


Eu te amo. Eu te amo.

Mas eu não digo.

Eu me afasto dela e fico de joelhos, levantando sua bunda da cama e


enfiando minhas mãos em seus quadris.

— Sim, — ela grita, e eu bato mais rápido. — Macon, por favor.

Eu uso meu polegar para esfregar seu clitóris enquanto a fodo, até que
ela esteja tremendo e tremendo no limite.

— Venha para mim, — eu digo, minha voz tensa. — Venha no meu pau.
Me dê o que é meu.

Ela geme e suas coxas apertam em torno de mim. Ela desliza as mãos
para o peito e torce os mamilos, as barras prateadas refletindo a luz com um
brilho. Eu esfrego seu clitóris em círculos, e ela começa a ter espasmos, vindo
ao meu redor com um zumbido ofegante, então sigo atrás dela, puxando bem
a tempo de gozar em seu estômago.

Suas pernas caem na cama e seus olhos estão fechados enquanto ela se
esforça para recuperar o fôlego. Tudo o que você pode ouvir é nossa respiração
pesada e a chuva batendo nas janelas do lado de fora.

Eu a olho, memorizando cada detalhe até as mechas molhadas de cabelo


em seus ombros e espalhadas no meu travesseiro. Nunca poderei esboçar mais
nada. Já sei que terei livros inteiros dedicados a esse Lennon. Minha Lennon.

— Obrigada, — diz ela em voz baixa depois de um momento. Meu


estômago revira. Meu peito aperta.

Obrigada, como se isso estivesse fazendo um favor a ela.

Eu não respondo. Eu me levanto e pego um pano, então limpo o


estômago de Lennon antes de ir para a cozinha pegar um pouco de água. Meus
nervos estão à flor da pele quando volto para o quarto, meio esperando vê-la
pronta para sair, mas dou um suspiro de alívio quando a encontro dormindo
profundamente. Sua respiração é profunda e uniforme, seu rosto é suave sem
nenhum traço de preocupação.
Ela passou por muita coisa hoje.

Eu deveria deixá-la aqui. Eu deveria dormir no sofá. Eu deveria dar


espaço a ela.

Em vez disso, coloco os copos de água no criado-mudo e subo na cama


ao lado dela. Assim que começo a adormecer, ela rola e coloca a cabeça no meu
peito, seu braço envolvendo minha cintura.

Pela primeira vez em anos, me sinto completo.

E de manhã, acordo com uma cama vazia.


CAPÍTULO VINTE E SEIS

Lennon

P
apai está de volta à UTI e só permite um visitante por vez.

Ele está pálido, cansado e com dor, e eu odeio isso.

Mas ele está vivo.

Não me permito pensar nos monitores enlouquecendo depois que papai


começou a ofegar, ou em como a cor foi sugada de seu rosto quando ele perdeu
a consciência. As enfermeiras entraram correndo e me empurraram para fora
do caminho, transportando-me para aquele quarto no porão com Macon.

Eu poderia muito bem estar usando um vestido de dama de honra


arruinado pelo quão perdida e apavorada eu me sentia.

Parece que estou assombrada pela morte. Está sempre pairando ao virar
da esquina, e estou tão cansada disso.

Os médicos dizem que papai pode ir para casa em cinco dias, o que me
parece ridículo. Ele apenas teve o peito aberto. Como ele pode ir para casa em
cinco dias? Não parece certo, mas ficarei feliz em vê-lo eventualmente se
parecer mais com ele mesmo.

Suas bochechas estão ficando magras e pálidas, e olheiras estão sempre


sombreando seus olhos. Até sorrir parece cansá-lo, então tento sorrir o
suficiente para nós dois.
Passo cerca de uma hora com ele antes que ele comece a cair no sono,
então o beijo na testa e digo que o amo, depois caminho lentamente até o meu
carro.

Achei que já estaria de volta a Paris. Alguns dias atrás, eu estava ansiosa
para voltar, mas agora? Agora, não tenho tanta certeza.

Estar aqui dói, e eu sinto isso em meus ossos. Eles doem com todo o peso
que este mês traz, e isso simplesmente não acaba. Agora, além de tudo, meu
pai está doente, e sei que devo ficar mais tempo enquanto papai se recupera.
Pelo menos até ele sair do hospital e melhorar. Posso passar mais tempo com
Andrea e Evie. Sam e eu podemos sofrer durante meu aniversário aqui.

E Macon.

Digo a mim mesma que ele não tem influência sobre minha decisão, e
então digo a mim mesma que não é mentira.

Mas ontem à noite...

Quando penso nisso, meu corpo inteiro arde. Quando penso em suas
mãos, sua boca. A maneira como ele me fez sentir. Aperto o volante e tento
tirar os flashbacks da minha cabeça, mas não consigo. Eles estão em um loop
constante.

Faça-me sentir outra coisa.

Ele me prendendo na porta me levando para sua cama. O sexo lento e


sensual. Eu não sabia que sexo podia ser assim.

Eu dou uma sacudida na minha cabeça. Não consigo pensar nisso agora.

Eu vou lidar com isso mais tarde, ou não.

Eu cometi o erro de baixar minha guarda com ele muitas vezes no


passado. Pelo que sei, este é apenas mais um jogo para ele. Usando-me para
se sentir melhor consigo mesmo.

No ensino médio, eu era a única que tentava ver além de seu exterior
problemático. Eu sempre tentei encontrar o lado bom dele, e sempre saiu pela
culatra.
Mas... não sei.

Parece diferente desta vez. Ele diz que não esteve com mais ninguém.
Isso pode ser verdade? Ou ele poderia estar tentando me manipular? Ele me
disse que eu não era especial naquela noite em sua cozinha. Qual é a mentira?

Acho que, no fundo, sei a verdade. Não sei o que isso diz sobre mim que
eu gostaria de não saber. Seria mais fácil se ele fosse um monstro.

Eu ligo meu rádio mais alto para abafar o resto dos meus pensamentos
enquanto dirijo.

Estou indo para a loja de materiais de arte em Norfolk para comprar


tintas de reposição quando meu rádio desliga com uma chamada recebida de
Franco no Bluetooth. Eu o tenho evitado e nem mesmo entendo
completamente o porquê.

Eu clico em aceitar e respondo.

— Cou cou, mon cher, — eu canto, forçando o brilho em meu tom. —


Estou dirigindo, então não posso bater papo por vídeo. O que você está
fazendo?

— Cou cou, — ele diz de volta. — Eu só queria conversar. Não tive notícias
suas e gostaria de verificar. Você ainda precisa de sua pintura ou estará em
casa em breve?

Lar. Paris. Certo.

— Na verdade, Franco...

— Nããão, — ele choraminga. — Você deve voltar. Estou passando por


uma abstinência.

— Sinto muito, — eu digo, rindo de seu tom dramático. — É só que meu


pai piorou. Ele teve que fazer uma cirurgia cardíaca de emergência e agora está
de volta à UTI.

— Ah não, — ele suspira. — O que aconteceu?

— Ele teve um aneurisma ventricular, — digo a ele. — Então ele vai ficar
no hospital por mais cinco dias... e depois vai fazer terapia intensiva...
— Je suis vraiment désolé5, — ele diz suavemente. — Sei que deve ser
difícil. Então, você vai ficar lá mais cinco dias?

Engulo em seco e aceno com a cabeça, mesmo que ele não possa me ver.

— Sim, pelo menos, — eu digo. Então penso em Evie e Andrea. E Macon.


— Talvez mais.

Franco me garante que enviará a pintura esta semana, e faço questão de


que ele saiba que estou aborrecida por ainda não estar a caminho. Ele se
desculpa em seu francês c'est la vie way, depois expressa sua solidariedade
mais vinte vezes e desliga com, à bientôt.

Quando chego à loja de arte, está praticamente vazia. Vou até as tintas e
pego as de que preciso, depois vou até o caixa.

— A loja está morta hoje, — digo ao caixa, um adolescente com cabelos


loiros desgrenhados e uma expressão entediada no rosto.

— Sim, ainda bem que estamos fechando mais cedo, — ele murmura, sem
olhar para mim.

— Sim, — eu digo, e ele me entrega minha bolsa. — Tenha um bom dia.

— Sim, você também, — diz ele, mas já voltou ao telefone.

Quando chego ao meu carro, fecho os olhos e respiro fundo algumas


vezes. Preciso ir ao centro recreativo e deixar essas tintas, mas não sei se quero
encontrar Macon ou não.

Eu escapei dele esta manhã. Nenhuma nota. Nenhum aviso. Ele estava
dormindo profundamente, parecendo absolutamente lindo, e eu o deixei. Eu
estava sentindo demais. Eu estava pensando demais.

Eu só precisava de espaço.

Ninguém nunca me fez sentir do jeito que ele faz, de todas as maneiras
possíveis. É como se ele acendesse um fogo dentro de mim. Ele me enrola até
que eu esteja tão cheio de energia que poderia explodir. E ainda... eu nunca

5 Eu realmente sinto muito


senti contentamento com mais ninguém. Nunca me senti segura com ninguém
além dele, e é isso que é tão confuso.

Porque ninguém nunca me quebrou como ele.

Ele é a estrela em algumas das minhas melhores lembranças, mas


também causou algumas das minhas piores.

Não gosto de me sentir vulnerável com ele novamente. Eu odeio isso.


Sinto-me exposta, e ainda há tanto que não foi dito.

Eu quero ele. Sempre vou desejá-lo, mas não sei se algum dia haverá um
momento certo para nós.

Eu rolo esse pensamento repetidamente em minha mente enquanto


dirijo para o centro recreativo.

Talvez Macon e Lennon só possam existir em memórias e fantasias.

****

Entro no estacionamento do centro recreativo e fico surpresa ao ver que


está cheio de carros. Bem mais do que o normal. Estou curiosa, então, em vez
de deslizar pela porta lateral, ando pela da frente.

É uma agitação de energia. Todos estão correndo como loucos,


carregando caixas e cadeiras e algo que parece uma barraca. Um voluntário
tem uma banheira de plástico cheia de balões de água.

— Lennon, — uma voz canta, e eu me viro para encontrar Payton sorrindo


para mim com os braços cheios de sacolas reutilizáveis. — Bonjour, — ela diz,
e seu sotaque não é tão ruim. Eu sorrio de volta.

— Bonjour , Payton.

— Você está aqui para ajudar? — Ela pergunta, e eu inclino minha cabeça
para o lado.

— Ajuda com o que?


— O evento de 4 de julho. — Payton ri levemente. — É amanhã.

Meu queixo cai. Já é o quatro? Como isso aconteceu? Antes que eu possa
responder, outra voz interrompe, e Payton e eu nos viramos para o alto-
falante.

— Ela está aqui para ajudar, P, — diz Casper com um sorriso travesso. —
Ela está comigo.

Ele se vira para mim e levanta uma sobrancelha em desafio. Ele examina
minha roupa, é chique e está na moda. Muito francês.

— Pronta, Capri? Ou você está em Paris há tanto tempo que esqueceu de


onde você vem?

Eu olho para ele em descrença e franzo meus lábios, mas não posso lutar
contra o pequeno sorriso que aparece.

— Faça o seu pior, Christopher, — eu digo com meu melhor sotaque


francês, e seu sorriso é tão grande que eu rio e reviro os olhos.

Casper me conduz pelo centro e me coloca para trabalhar. Eu penduro as


decorações e organizo as peças de três dosséis pop-up diferentes.

O evento amanhã será meio dentro e meio fora. O estacionamento será


isolado e Macon solicitou ao supermercado a permitir que todos estacionem
lá.

Do lado de fora, eles terão jogos de água, uma barraca de raspadinha e


um churrasco. Lá dentro, eles estarão jogando basquete, uma corrida de
revezamento, algumas estações de artesanato e algumas outras coisas. Então,
ao entardecer, todos caminharão juntos até o parque para assistir aos fogos de
artifício.

É tudo tão pequeno na América. Diversão em família charmosa e


saudável, e nenhum lugar para comprar vinho ou queijo.

— Macon planejou tudo isso? — Pergunto a Casper enquanto


trabalhamos juntos para distribuir os materiais de artesanato em uma das
salas de arte. Ele olha para mim rapidamente, em seguida, de volta para a
mesa.
— Sim, — diz ele com um sorriso. — Ele fez muita merda legal com o
lugar, Len. Ele se tornou o elemento básico da comunidade.

Concordo com a cabeça, mas não digo mais nada. É muito para
processar. É difícil conciliar este Macon com o Macon que conheci. Sempre
soube o homem que ele poderia ser, mas nunca pensei que veria isso
acontecer.

Fiz exatamente o que ele me pediu para não fazer. Eu desisti dele.

Perco-me em meus pensamentos, movendo-me no piloto automático


para configurar as estações de artesanato. Eles devem ser atividades que
requerem pouca ou nenhuma orientação, e Macon fez um bom trabalho ao
selecioná-los. Um dos voluntários estará aqui amanhã para supervisionar,
mas é principalmente um trabalho manual.

Alguém passa pela porta e meus olhos disparam para a pessoa. Sua
atenção está em uma prancheta e ele tem um lápis na mão, marcando algo. Ele
está vestindo um par de shorts esportivos e uma camiseta esfarrapada do
Franklin Youth Rec Center que eu reconheço do colégio.

Percebo que seu cabelo está levemente encaracolado nas laterais de seu
boné preto virado para trás, e meu coração acelera. Eu tinha minhas mãos em
seu cabelo na noite passada. Está ficando mais longo, e eu odeio o quanto isso
me excita.

— Ei, Casper, — Macon chama depois de entrar na sala. — Pensei que


você...

Sua frase é interrompida quando ele ergue os olhos da prancheta e me


vê. Seus olhos saltam de mim para Casper e vice-versa.

— Oi, — é tudo que posso dizer.

A última vez que o vi foi esta manhã enquanto ele dormia profundamente
em sua cama. Pouco antes de eu escapar dele sem sequer me despedir.

— Oi, — ele diz lentamente, então balança a cabeça. — O que você está
fazendo aqui?
— Ela está ajudando, — Casper responde por mim, e eu mostro a ele o
novelo de lã do qual estou cortando longas tiras. — Eu acho que ela seria boa
em pintura facial amanhã.

Eu atiro meus olhos para Casper e o encontro me dando um sorriso


perturbador.

— Vamos lá, Len, — ele incita. — Você seria muito melhor nisso do que
Jaxon. Ele preferiria estar cuidando da churrasqueira.

Casper olha de mim para Macon.

— Você sabe que Jaxon vai ser péssimo em pintura de rosto. Sorrisos
emoji e flores hippies.

Eu rio e olho para Macon. Seus olhos já estão em mim.

— Posso pintar o rosto, — digo antes de pensar demais. — Vai ser


divertido.

— Tem certeza?

Sua voz ecoando as mesmas palavras para mim ontem à noite se repete
em meus ouvidos. A maneira como seu olhar aquece, acho que ele está
pensando nisso também. Eu aceno lentamente.

— Tenho certeza.

Macon me conta o plano para amanhã e me deixa para continuar


combinando com Casper. Quando terminamos, Casper nos leva para a cozinha
e me instrui a fazer o inventário final de todos os picolés e caixas de suco que
temos.

Quando Casper sai, pego meu telefone e ligo para Sam.

— Ei, — diz ela quando ela atende. — Onde você esteve? Achei que íamos
almoçar.

— Oh merda, desculpe. — Esqueci-me totalmente dos meus planos com


ela. — Eu meio que me distraí no centro de recreação...

— Distraída fazendo o quê? — Ela pergunta, então acrescenta, — ou


fazendo com quem?
— Preparando para o evento de quatro de julho de amanhã, — eu digo a
ela, optando por ignorar seu último comentário. — E eu meio que me ofereci
para ser voluntária amanhã.

— Hmmm.

— O quê?

Eu posso praticamente ouvir seu encolher de ombros.

— Você é adulta e eu confio em você para tomar suas próprias decisões,


— ela diz lentamente, e eu reviro os olhos.

— Mas...?

— Maass, — ela respira fundo e desfere o golpe, — você é burra pra


caralho se pensa que você e Macon podem ser apenas amigos. Vocês sabem
que vocês são como sódio e potássio apenas esperando por uma tempestade.

Eu solto uma risada de seu trocadilho de química.

— Você é tão nerd. — Eu ouço sua risada seguida por um suspiro áspero.

— Você sabe o que quero dizer, porém, Len, — diz ela suavemente. — Eu
vi vocês juntos desde que vocês voltaram, eu posso dizer. Tanta tensão sexual
vai atirar qualquer tiro de amizade platônica direto para o inferno.

Eu mordo minha língua, algo como vergonha ou embaraço tomando


conta de mim. Eu ouço Sam suspirar no silêncio.

— Oh meu Deus, você já ficou, — diz ela, e eu não respondo. — Oh meu


Deus, quando? Por que você não me contou? Quando isso aconteceu?

Eu aperto meus olhos fechados. — Quantas horas?

— OH MEU DEUS, — Sam grita do outro lado, e eu tenho que puxar o


telefone para longe do meu ouvido. — Não acredito que você não me contou.

— Desculpe. Ainda estou processando.

— Bem, pelo menos foi bom? — Ela pergunta, e eu não posso deixar de
sorrir. Meu rosto esquenta e uma centelha de desejo dispara através de mim.
— Sim, — eu sussurro, e Sam fica quieta. Eu espero algumas respirações
antes de cutucar. — O quê?

Ela suspira, e eu me preparo.

— É só... tome cuidado, ok? Você pode estar tentando esquecer tudo, e eu
respeito isso. Mas eu me lembro. Eu estava lá. Eu vi o que o descuido dele fez
com você. Algo assim... não deveria ser apenas perdoado. Deus, alguém que
faz você se sentir assim? Isso merece derramamento de sangue.

Eu mordo meu lábio e aperto meus olhos fechados.

Ela está certa.

Eu sei que ela é. Não posso simplesmente empurrar tudo o que aconteceu
para o fundo da minha mente e fingir que não aconteceu.

Mas Sam sempre foi um fogo em primeiro lugar, guarde rancor após o
tipo de pessoa. É preciso um ato vingativo tão duro quanto aquele que a feriu
para fazê-la seguir em frente. Eu não a culpo por isso. A merda que ela passou
endureceria o coração de qualquer um.

Mas...

Não tenho certeza se posso fazer isso com Macon.

Talvez eu não seja tão forte quanto pensei. Eu sempre fui puxada para
ele. Provavelmente sempre estarei. Especialmente agora, quando meu corpo
está buscando conforto.

Preciso voltar para Paris.

— Eu não estou dizendo a você o que fazer, — ela continua quando eu não
falo.

Sua voz é mais suave desta vez, e isso me lembra de England Sam. A Sam
que passou um verão inteiro comigo só para me abraçar às três da manhã,
quando pensei que meu mundo estava acabando.

Eu confio nela. Eu confio nela mais do que em qualquer outra pessoa no


mundo inteiro.
— Eu respeito qualquer decisão que você tomar, — ela diz claramente, —
e se você decidir que pode perdoar e esquecer, eu vou apoiá-la. Não vou
perdoar e esquecer, mas vou jogar bem. Mas, por favor, pense bem, ok? Não
deixe sua boceta brincar com sua cabeça.

Eu solto uma risada e a ouço suspirar. Posso imaginá-la sorrindo do


outro lado, mas ela não é burra. Ela sabe que é o meu coração que está
causando problemas. Sempre tem quando se trata de Macon.

— Ok, — eu digo baixinho. — Eu prometo que vou pensar em tudo.

— Bom. — Ela hesita apenas o tempo suficiente para levantar minhas


defesas novamente, então ela joga uma bomba. — Você contou a ele?

Meu estômago revira com a pergunta dela, e tenho que respirar fundo
duas vezes antes de responder.

— Não.

— Você vai?

Eu dou de ombros, mesmo que ela não possa me ver. Repasso


mentalmente minhas opções e me sinto mal.

Engulo em seco e minha cabeça está girando quando finalmente digo: —


Não sei.
CAPÍTULO VINTE E SETE

Lennon

S am aparece no meu quarto de motel cedo na manhã seguinte com


cafés para viagem e croissants.

— Eles não são franceses, mas não são ruins, — ela diz enquanto me
entrega um.

Dou uma mordida e mastigo.

— Os parisienses definitivamente sabem fazer doces, — eu digo depois de


engolir, e ela cantarola em concordância.

— Vou comer meu peso em pain au chocolat na próxima vez que for
visitá-la, — diz ela. Eu não respondo e nem sei por quê. Posso senti-la me
olhando de soslaio enquanto caminhava para o carro.

— Embora, suponho que poderia tentar fazê-los. Então eu poderia tê-los


sempre que eu quisesse.

Meus lábios se contorcem com a necessidade de sorrir. Sam sempre sabe


o que dizer.

Ela nos leva até o centro recreativo e estaciona na mercearia, então


caminhamos lentamente até as conhecidas portas duplas. O estacionamento
está isolado, exatamente como Casper disse que estaria, e a música está
tocando em um pequeno estande de DJ montado na outra extremidade.
Quando entramos no prédio, nos deparamos com Macon.

— Ei, — ele diz para mim com um sorriso. — Estou feliz que você
conseguiu.

— Claro. Ansiosa para pintar alguns rostos.

Ele segura meu olhar por um breve momento, apenas o suficiente para
me dar arrepios, então move seus olhos para Sam. Ele levanta uma
sobrancelha.

— Harper.

— Davis.

— Você está aqui para trabalhar? — Ele pergunta, e ela lhe dá um sorriso
atrevido. Eu tenho que morder meu lábio para não rir.

— Você não sabe? — Ela diz docemente. — Nasci para trabalhar.

Eu perco meu controle depois disso e solto uma risada. Macon revira os
olhos com um sorriso, depois gesticula por cima do ombro.

— Vamos, — diz ele. — Você pode pintar o rosto com Lennon.

Estamos montadas em uma tenda do lado de fora com uma folha de flash
de opções de pintura facial. Eles são bem básicos e sem graça. Sorrisos emoji
e flores hippies, como disse Casper.

Eu entrego a folha de flash para Sam e pego algumas fotos no meu


telefone. Ontem à noite pesquisei sobre pintura facial e encontrei algumas
coisas muito legais que gostaria de experimentar. Salvei as imagens no meu
telefone para referência.

De jeito nenhum vou pintar algo de uma folha de flash nessas crianças.
Não sou pretensiosa, mas sou um artista e meu trabalho deve refletir minhas
habilidades.

****
Algumas horas depois, estou surpresa com o quanto estou me divertindo.

Essas crianças são uma explosão. Até agora, eu as transformei em todos


os super-heróis que você pode imaginar, algumas borboletas absolutamente
lindas, alguns tigres e uma interpretação muito interessante de 'um prato de
espaguete'. Porque sim, eu aceito todos os pedidos.

A certa altura, minha fila tinha vinte filhos e pais, e meu sorriso era tão
grande que minhas bochechas doíam.

Sam acabou desistindo de tentar pintar rostos e começou a trabalhar


como minha assistente, enchendo minhas tintas e trocando meus pincéis
conforme eu precisava. Ela também começou a tirar fotos dos meus designs e
mal posso esperar para vê-los mais tarde.

Quando há uma quebra na fila, sinto olhos em mim e olho para cima para
encontrar Macon caminhando em minha direção. Seu sorriso aquece meu
sangue, e eu não consigo desviar o olhar dele até que esteja bem na minha
frente e coloque dois copos de limonada na mesa.

— Trouxe algo para você beber, — diz ele, lançando os olhos para Sam
brevemente e depois de volta para mim. — Como tá indo? As crianças estão
ótimas.

— Obrigada, — eu digo, sorrindo. — Estamos nos divertindo muito.

Pego um dos copos de limonada e levo aos lábios, tomando um gole


devagar. Não quero que seja sensual, mas a maneira como Macon observa, os
olhos fixos em minha garganta enquanto engulo, me excita de uma forma que
eu não esperava.

— Ok, bem, eu preciso fazer xixi, — diz Sam rapidamente, levantando-se


e saindo sem esperar por uma resposta.

Macon e eu assentimos, mas não quebramos o contato visual. Faíscas


voam entre nós, e tudo que consigo pensar é sódio e potássio.

Sempre adorei uma tempestade.

— Obrigado por fazer isso, — diz Macon, e meus lábios se curvam nos
cantos.
— Estou me divertindo muito, — digo a ele honestamente. — É incrível
que você tenha juntado tudo isso.

— Eu tive ajuda, — diz ele, encolhendo os ombros, jogando como eu sabia


que ele faria. — Mas parece estar indo bem, certo?

— Definitivamente sim.

— Bem, — diz ele lentamente, — preciso fazer um treino e uma corrida


de revezamento antes que essas crianças se tornem selvagens.

— Ok, — eu sussurro.

Ele acena com a cabeça em direção à churrasqueira.

— Certifique-se de comer alguma coisa, ok? — Ele sorri de brincadeira.


— Não queremos sobras.

Eu o observo ir embora até que ele desapareça no prédio, e eu juro, todas


as mães aqui também estavam de olho nele. Todas veem que ele é lindo.

Um grampo da comunidade, disse Casper.

Caramba. Por que ele não pode ser um pouco menos atraente?

Um pouco depois, Andrea aparece com Evie, Claire e Eric. Claire e Eric
param antes de chegarem à minha mesa, e sou grata por isso. Sorrio para
Andrea quando ela se joga na minha cadeira com Evie no colo.

— Acho que gostaríamos que nossos rostos fossem pintados, — diz


Andrea, depois olha para Evelyn. — O que você acha, Evie?

Evelyn bate palmas e ri, estendendo seus dedinhos gordinhos de bebê


para mim. Eu bato no nariz dela e ela grita, fazendo eu e Andrea rirmos.

— Ok, Drea, o que você gostaria? — Eu pergunto, então olho para cima
para encontrar seus olhos arregalados de surpresa. — O quê? Está tudo bem?

Ela acena com a cabeça rapidamente e sorri.

— Sim, claro, — ela força com uma risada. — Desculpe. É só... você não
me chama assim há muito tempo.
Minha testa franze enquanto penso nisso. Eu a chamei de Drea. E ela está
certa. Eu não disse isso desde... antes de eu sair. Não sei como me sinto sobre
isso, então simplesmente aceno com a cabeça e mudo de assunto.

— Estou pensando em combinar corações, — eu digo, — para o papai.

— Isso soa maravilhoso.

Pinto corações vermelhos nas bochechas de Andrea e Evie.

O de Andrea é um pouco mais detalhado, com dimensão e brilho. Evie


não conseguia ficar parada, então o dela é pequeno, sem brilho e meio
borrado. Ela ri o tempo todo que pinto, e tenho que me esquivar de suas mãos
agarradas mais de uma vez.

Quando elas saem da minha barraca para explorar o resto do evento, meu
sorriso é enorme e meu peito está cheio.

— Bem, isso foi adorável, — diz Sam, e eu olho para cima para encontrá-
la comendo um picolé vermelho, branco e azul em forma de foguete. — Olhe
para você sendo toda Lennon Washington Golden Girl.

Ela mexe as sobrancelhas para mim, e eu reviro os olhos.

— Onde você esteve? — Eu pergunto, e ela balança seu picolé no ar.

— Fui desviada. Você sabia que Macon tem um freezer cheio dessas
coisas? Eu já peguei três.

Eu sei, porque tive que contá-los ontem.

— Você foi bisbilhotar na cozinha?

Ela pisca. — Eu estava procurando por um pouco de álcool. — Ela revira


os olhos e dá de ombros. — Sem sorte.

Eu rio alto, e seu sorriso volta, quase mascarando a preocupação em seu


rosto. Ela não vai tocar no assunto de novo, mas sei que está preocupada
comigo.

— Acho que você pintou o rosto de cada criança aqui, — diz ela,
apontando para nossa linha inexistente. — Vamos pegar um pouco de comida.
Sam e eu andamos por aí, examinando todas as atividades e batendo
papo com pessoas que conhecíamos. Eu mantenho meus olhos em uma dança
constante, pulando de pessoa para pessoa, procurando por um boné virado
para trás e uma regata azul, shorts cáqui e um braço coberto de tatuagens.

Vejo Macon três vezes.

Cada vez, nossos olhos se encontram se fixam. A cada vez, minha


garganta fica apertada e meus dedos coçam para alcançá-lo. Cada vez, alguém
o puxa para longe, e eu fico olhando para suas costas recuando.

Ao anoitecer, iniciamos a caminhada até o parque para a queima de


fogos. O vislumbre que tenho de Macon me enche de algo que não quero
reconhecer.

Ele tem uma garotinha nos ombros, talvez de seis ou sete anos, e as
mãozinhas dela estão apoiadas em seu boné de beisebol. Ela tem uma
borboleta roxa pintada no rosto e seu sorriso é enorme. Eles estão caminhando
com um casal mais velho, possivelmente os avós da menina, e ele está
conversando com eles sobre algo.

O grupo é só sorrisos e gargalhadas e, apesar de tentar não fazer isso, me


sinto excluída. Sam instintivamente joga o braço em volta da minha cintura, e
eu me inclino para ela o resto da caminhada.

Chegamos ao parque e encontramos um lugar para estender o cobertor


que trouxemos. Então, Casper se senta ao lado de Sam e eles começam a
conversar. Eu escuto até meu pescoço esquentar e minha pele formigar.

Sei quem é sem precisar olhar e, quando Macon se senta ao meu lado,
preciso contar até dez antes de olhar para ele.

— Ei, — diz ele com um pequeno sorriso. — Tudo bem se eu sentar aqui?

Eu dou de ombros e dou a ele um meio sorriso, então aponto para as


bandeiras americanas postadas em todo o parque.

— É um país livre, — eu brinco, e seu sorriso cresce.


Não sei o que dizer a ele, então não digo nada. Eu apenas olho para ele, e
ele faz o mesmo comigo. Seus olhos azuis são fogo na minha pele, e eu tenho
que enfiar meus dedos no cobertor debaixo de mim para não tremer.

Macon é lindo.

Sempre foi, mas agora, com os traços esculpidos e amadurecidos, a barba


por fazer no maxilar forte e a profundidade dos olhos? Ele é quase de tirar o
fôlego. É difícil não tocá-lo. Deus, eu quero.

Eu quero senti-lo acima de mim novamente. Eu quero minhas mãos em


seu peito e em seu cabelo.

— Lennon, — ele sussurra, inclinando-se para perto.

— Hmmm?

Eu me inclino para mais perto, até sentir sua respiração fazendo cócegas
em meu rosto. Ficamos nessa posição, a poucos centímetros um do outro, pelo
que parece uma vida inteira. Até que eu possa prová-lo e senti-lo de memória.
Então, assim que ele começa a diminuir a distância, uma explosão alta soa ao
nosso redor e nos separamos.

Todos comemoram e batem palmas, e demoro alguns momentos antes


de registrar o que aconteceu. Eu olho para cima para ver explosões de cores
brilhantes. Não comemoro o 4 de Julho há anos. Isso quase torna possível
ignorar a sensação permanente de afundamento em meu estômago.

— Fogos de artifício, — sussurra Macon.

Eu rio, olhando para ele, seu corpo inundado pelas luzes vermelhas e
azuis do céu. Seu sorriso é tão grande, mostrando dentes brancos e retos
emoldurados por lábios carnudos e macios. Não consigo parar de rir enquanto
observo seu rosto, as luzes brilhantes tornando-o ainda mais bonito.

— Fogos de artifício, — repito, e mesmo no meio da multidão, minha voz


ofegante soa alta.

****
Sam nos leva de volta ao meu motel depois da queima de fogos. Ouvimos
música e conversamos sobre o dia, mas felizmente ela não menciona Macon.

— Tem certeza de que não quer que eu entre? — Sam pergunta enquanto
ela para no estacionamento. — Podemos beber vinho e assistir TV de merda.

— Tentador, — digo a ela, — mas estou exausta. Vejo você amanhã, no


entanto?

— Claro, — ela diz, então seu rosto fica sério. — Você sabe que eu estou
aqui, certo? Não importa o que.

Eu sorrio. — Eu sei. E eu estou aqui para você também.

— Eu sei. — Ela se inclina e me puxa para um abraço apertado. — Amo


você, Len.

— Também te amo.

Ela espera no estacionamento até que eu esteja segura dentro do meu


quarto, então eu tiro a roupa e entro no chuveiro. Estava quente hoje, então
meu corpo está coberto de suor seco e fumaça de fogos de artifício.

Depois do banho, visto o pijama e ando de um lado para o outro.

Para cima e para baixo, para frente e para trás, deixando uma trilha no
tapete do meu quarto de motel barato.

Eu tento me convencer disso centenas de vezes. Listo mentalmente todos


os motivos pelos quais é uma má ideia. Mas então minha mente se rebela e
começo a considerar todos os aspectos positivos.

Talvez possamos lidar com isso agora. Talvez sermos diferentes seja uma
coisa boa. Talvez isso signifique que não cometeremos os mesmos erros
novamente.

Talvez isso seja algo que pode durar.

Eu me decido e pego minhas chaves. Eu nem me incomodo em tirar meu


pijama. Eu apenas tranco a porta do meu quarto e corro para o meu carro. Não
ouço música durante todo o trajeto. Eu não tento mais me convencer disso
também. Eu apenas cantarolei uma música do Fleetwood Mac e tento manter
a calma.

Quando entro no estacionamento, é quase meia-noite. As luzes do centro


estão apagadas, mas sei que ele está acordado. Eu uso a chave que ele me deu
para entrar no prédio, então subo as escadas com passos lentos e medidos.
Quando chego à porta, fecho os olhos e conto até dez antes de bater.

Macon abre a porta momentos depois. Sem camisa e de shorts de


ginástica, como na outra noite. Mas desta vez, não estou tentando apagar algo.
Desta vez, não estou perto de me afogar e preciso desesperadamente de um
colete salva-vidas.

Ele não diz nada quando me aproximo dele; ele apenas me observa com
os olhos arregalados.

Quando coloco minhas mãos em seu peito, ele suga uma respiração
áspera, mas não faz nenhum movimento para removê-las. Eu deslizo minhas
mãos até seus ombros, passo meus dedos sobre sua mandíbula, então me
levanto na ponta dos pés, até que meus lábios estejam a centímetros dos dele.

Eu fico lá, esperando, tentando domar a batida selvagem do meu coração.

— Eu estava esperando que você viesse, — ele sussurra contra mim, seus
lábios pairando sobre os meus.

Eu fecho meus olhos e lambo meus lábios.

— Estou aqui.

Então eu o beijo e, desta vez, me permito senti-lo.


CAPÍTULO VINTE E OITO

Macon

L ennon está deitada com a cabeça no meu bíceps, passando os dedos


sonolenta pelas tatuagens no meu peito. Minha pele está coberta de
arrepios de seu toque suave.

— Fale-me sobre os pincéis. — Sua voz é abafada enquanto ela circula o


dedo em volta do relógio no meu peitoral, e prendo a respiração por um
momento.

Eu tenho contado todos os meus segredos para ela ultimamente.

O que é mais um?

Coloco minha mão sobre a dela e aperto levemente antes de correr meu
polegar para frente e para trás sobre sua pele macia.

— É para você, — confesso, e ela se acalma. — Porque eu estava com


saudades de você. Porque a única decisão que já tomei nesta vida e da qual
tenho certeza foi ser egoísta por você.

Ela está quieta, imóvel, enquanto minha confissão se estabelece em torno


de nós. Então ela se levanta para se sentar, segurando o lençol sobre o peito.
Eu procuro seus olhos. Ela está em conflito com alguma coisa.

Eu sei que isso é muito. Porra, eu sou muito. Mas cansei de tentar
esconder as coisas dela. Estou me desnudando.
— Macon, — ela diz finalmente, com a voz embargada, — Eu não acho
que eu... Você não sabe que valho tudo isso. Tanta coisa aconteceu. Tanta coisa
mudou.

Ela para e fecha os olhos, respirando fundo.

Ciclo de memórias, emoções agarram minha garganta.

Eu sei o que ela está pensando. Não somos mais aquelas crianças. Não
podemos ser ingênuos o suficiente para pensar que podemos trabalhar. Mas...
Por que não podemos?

Sento-me e pego a mão dela. Eu só quero tocá-la, manter essa conexão,


mas dou a ela tempo para organizar seus pensamentos. Eu espero que ela fale.

— Você me construiu tanto em sua cabeça, — diz ela depois de um


momento. Quando ela olha para mim, seus olhos brilham com lágrimas não
derramadas. — Eu só... não vou viver de acordo com isso.

Eu dou a ela um pequeno sorriso. Ela não entende.

— Lennon, não há nada que você possa fazer para ficar aquém de como
eu te vejo, porque eu te vejo exatamente como você é.

— Mas as tatuagens... as pinturas... tudo isso, — ela engasga. — É só... é


muito, Macon. É intenso.

Eu sorrio, então, e levanto uma sobrancelha.

— Eu sou um viciado, Astraea. Não sei fazer nada pequeno. Eu sinto


intensamente. Eu quero intensamente. Eu desejo intensamente. Para mim, se
não é uma obsessão saudável, não é amor.

Aí está aquela palavra de novo. Amor.

Aquece meu sangue e provoca redemoinhos ansiosos em meu estômago.


Espero que ela reconheça, mas ela não o faz, e sinto a necessidade de quebrar
a tensão.

— Ou, pelo menos, é o que minha terapeuta me diz.

Ela pisca para mim, sem fala, então franze a testa enquanto seus olhos
examinam meu rosto. Se eu fosse uma pintura, ela estaria passando o pincel
sobre o lábio agora. Ela está me estudando. Tentando me entender. Ela está
inquieta, e eu também.

Estendo a mão e coloco uma mecha de cabelo atrás de sua orelha, em


seguida, arrasto meus dedos sobre sua mandíbula.

— Minha vez, — eu digo, e ela levanta a sobrancelha em questão. — Você


conseguiu muito de mim. Eu quero saber uma coisa, agora.

Ela engole em seco e pisca algumas vezes.

— Ok.

Sua resposta é tensa e forçada, mas sigo em frente. Isso é importante


demais para ser ignorado.

Lentamente, pego o lençol que cobre suas pernas e o arrasto, expondo


suas coxas nuas. Ela para de respirar e puxa o lábio inferior entre os dentes,
mordendo com força.

Com uma mão, estendo a mão e libero seu lábio, esfregando suavemente
sobre a marca de mordida que ela deixou. Com a outra, descanso a palma da
mão em sua coxa, bem sobre as pequenas cicatrizes salientes. Ela fecha os
olhos e suga uma respiração áspera. Meu coração dói por ela.

Eu as notei brevemente no meu quarto na outra noite, mas não registrei


imediatamente. Não até esta noite, com uma iluminação um pouco melhor,
quando ela me deixar tê-la novamente.

— O que são estes, Astraea?

Ela balança a cabeça ligeiramente, mas abre a boca para falar. Então ela
fecha novamente.

Eu deslizo minha mão para seu pescoço, correndo meu polegar sobre seu
ponto de pulsação, e ela se inclina para mim. Eu espero. Uma vida inteira se
estende no silêncio.

Finalmente, ela abre os olhos e trava seu olhar com o meu. Ela encolhe
os ombros, dando-me um pequeno sorriso triste.
— Eles foram uma libertação quando eu pensei que não tinha mais nada,
— ela sussurra, e meu peito se abre.

Eu quero raiva. Eu quero quebrar as coisas. Eu quero puxá-la em meus


braços e nunca deixá-la ir. Para consertar tudo que quebrei. Para desfazer
todos os erros que cometi.

Ela experimentou tanta dor, e eu me preocupo por ter apenas arranhado


a superfície do dano. Eu me preocupo que eu seja a causa disso.

Eu a puxo para mim e pressiono nossas testas juntas.

— Nunca mais, — eu forço em uma respiração áspera. — Eu prometo. Eu


juro. Nunca mais.

****

Quando acordo, já é tarde da manhã.

Eu posso dizer pela forma como o sol está brilhando através da janela,
mesmo antes de abrir meus olhos. Cegamente, alcanço Lennon, precisando
puxá-la de volta para mim.

Eu estico meu braço e agarro apenas o ar.

Meu coração para, e eu agarro o lençol. Mantenho os olhos fechados e


ouço qualquer sinal de movimento no apartamento. Música do estúdio ou
pratos na cozinha.

Silêncio.

Abro os olhos e encaro o teto.

Respiro uma vez, cerro os dentes e me viro para o lado vazio da cama.
Sento-me lentamente e trabalho com meus pensamentos, e antes de perder
completamente a cabeça, imaginando o pior, um pedaço de papel na mesa de
cabeceira chama minha atenção.
Eu praticamente me jogo nele, pegando-o da mesa e lendo-o em uma
única respiração. Então meus ombros relaxam.

“Fui até a Papai e Drea buscar um pacote. Volto em breve. Beijos”

Jesus, a ansiedade que acabei de sentir era irreal, e tudo que consigo
pensar é como Lennon deve ter se sentido uma merda ao acordar depois do
baile. Pressiono as mãos nos olhos e esfrego, depois me levanto e me visto. Eu
pulo um banho. Eu não quero lavá-la de mim ainda.

Vou até a cozinha e faço um café, depois pego uma barra de proteína no
meu armário. Tenho algumas coisas para fazer no centro recreativo hoje e
depois vou colocar todas as minhas cartas na mesa.

Lennon pertence a mim. Estamos destinados a ficar juntos e já


esperamos o suficiente.

Estou entrando no escritório do centro recreativo quando meu telefone


vibra no meu bolso. Eu o pego e verifico a tela. Uma mensagem da mamãe.
Abro e leio, e levo um momento para processar o que ela está dizendo.

Tentei ligar para Capri, mas ela não atendeu. Se você a vir,
pode dizer a ela que seu amigo francês está em casa com Claire?
Não estarei em casa por um tempo. Obrigada! Amo você.

Eu quero rir primeiro. Minha mãe envia mensagens de texto como se


estivesse enviando um e-mail ou deixando uma mensagem de voz.
Então eu fico com raiva.

Seu amigo francês.

Isso só pode significar uma pessoa, e vejo vermelho.

Isso não está acontecendo novamente. Eu me viro e vou direto para o


meu carro. O trabalho pode esperar.
CAPÍTULO VINTE E NOVE

Lennon

M eu cérebro está correndo a mil por segundo enquanto dirijo até a


casa de Andrea.

Acordei às 10h15 com uma mensagem de Franco, dizendo que meu mais
novo quadro deveria chegar às dez da manhã. É uma distração bem-vinda.

Tudo de ontem é um borrão. Está me fazendo questionar tudo o que eu


achava que sabia. Tudo em que acreditei nos últimos quatro anos está
desmoronando.

E nós agora?

Macon e eu mudamos, sim. Mas talvez ainda possamos trabalhar. Estar


com ele... ainda parece certo. Melhor do que antes, até.

Mais uma vez, repito o que ele me disse no depósito.

Ele diz que não me abandonou de propósito. Ele diz que esperava que eu
voltasse. Ele diz que nunca desistiu de nós.

Mas algo simplesmente não está fazendo sentido e não consigo


identificar o quê.

O que tudo isso significa? Eu construí uma vida baseada em equívocos?


Eu sou a culpada por tudo?

Não.
Alguém poderia ter me dito onde Macon estava. Alguém poderia ter me
contado a verdade.

Andrea poderia ter me contado a qualquer momento durante nossas


rápidas ligações de checagem nas primeiras semanas em que estive na casa de
tia Becca. Claire poderia ter me dito quando ela me respondeu por e-mail, em
vez de me dizer que Macon estava — melhor sem mim.

Inferno, até mesmo Macon poderia ter me dito em vez de me deixar nua
e sozinha naquela cama de hotel com nada além de um post-it amassado e um
coração partido.

Por que ele me deixou lá? Onde ele foi? O que aconteceu naquela noite
que o fez desaparecer antes de eu acordar?

Ele surtou? Ele se arrependeu do que fizemos? Ele correu assustado?

Deus, temos muito o que conversar. É assustador. E se não pudermos


lidar com tudo o que aconteceu entre agora e depois?

Mas Macon voltou para me buscar. Eu sei que ele está dizendo a verdade.
Ele estava lá na noite em que me autodestruí. Três dias depois, Sam teve que
me deixar e ir para Georgetown. Uma semana depois me mudei para Londres
para estudar arte e comecei a frequentar Capri. Um ano antes de desistir e me
mudar para Paris.

Ele veio atrás de mim e então simplesmente... me deixou lá.

Luto contra a vontade de fechar os olhos.

Eu quero ficar com raiva por ele não ter se mostrado, mas a essa altura,
teria mudado alguma coisa? O estrago provavelmente já estava feito.

Você não quer apagar seus erros.

Você quer transformá-los em algo bonito.

Talvez Sam esteja certa. Não posso perdoar Macon pelo que ele fez. Eu
não deveria. Mas talvez aquele Macon seja diferente deste Macon. Eu me sinto
diferente daquela garota de quatro anos atrás. Por que não pode ser o mesmo
para ele?
Tudo o que sei é que, pela primeira vez em muito tempo, estou ansiosa
para voltar para a cama com alguém. Aguardando outra conversa. Outro beijo.
Quero alguém ao meu lado quando pinto. Eu quero alguém ao meu lado
sempre.

E esse alguém é Macon.

Não Macon do ensino médio. Macon a partir de hoje. Macon que foi para
Marinha. O da Comunidade Staple. Incrível irmão mais velho e filho Macon.

Talvez, finalmente, ele possa ser meu Macon também.

Eu paro no meio-fio da casa de Drea, notando que não há carros na


garagem. Drea deve estar no hospital, mas onde estão Claire e Eric? Quando
giro a maçaneta, descubro que está destrancada, o que é estranho, e quando
entro, ouço risadas.

Claire... e...

— Franco? — Eu digo enquanto entro na cozinha, chocada ao encontrá-


lo sentado na ilha da cozinha com Claire.

Eu olho entre seus rostos sorridentes.

— O que você está fazendo aqui?

— Mon bijou, — Franco canta, levantando-se de seu assento e


envolvendo-me em seus braços.

Eu retribuo o abraço, descansando minha cabeça em seu peito familiar.


Ele cheira a Cuiron de Helmut Lang, e eu o inspiro.

— Eu estava preocupado com você, — ele sussurra em meu cabelo


enquanto esfrega a mão para cima e para baixo nas minhas costas. — Como
está o seu pai? Sua meia-irmã diz que ele está melhor.

Eu me afasto e o olho nos olhos.

— Ele está indo tão bem quanto se pode esperar agora. Ainda não o vi
hoje, mas quando o vi ontem, ele estava de bom humor.

— Isso é bom, oui?


— Oui, — eu digo com uma risada, então o puxo de volta para outro
abraço. — É tão bom ver você. Eu gostaria que você tivesse me dito que estava
vindo, no entanto.

— Eu queria te surpreender.

Seu sorriso é reconfortante, mas algo em sua presença me deixa um


pouco desconfortável. Isso é algo que normalmente faríamos? É este o tipo de
relação que temos?

— Bem, é bom ter um amigo.

Enfatizo a palavra amigo e observo seu rosto. Ele não estremece ou


recua. Ele não parece desapontado.

Talvez eu esteja exagerando. Eu não pensaria duas vezes se Sam


simplesmente aparecesse em algum lugar para me surpreender. Por que a
aparência de Franco deveria me preocupar?

Não. Não vale a pena se preocupar.

— Você deveria ter ligado quando pousou, no entanto. Eu estaria aqui


antes.

Eu me afasto de Franco e olho para Claire.

— Sua irmã tem me feito companhia.

Ele sorri e gesticula para Claire, e eu levanto uma sobrancelha.

— Meia.

Claire revira os olhos, mas mantém a boca fechada, e minha raiva


aumenta.

Enviei a ela dezenas de e-mails frenéticos depois de ser enviado para a


Inglaterra. Dezenas.

Pedindo desculpas. Implorando. Implorando por sua ajuda para me


colocar em contato com Macon. Claro, nós brigamos, mas também fomos
melhores amigas durante a maior parte de nossas vidas. Achei que talvez isso
me desse um pouco de simpatia.
Ou, pelo menos, honestidade.

Mas o que ela fez?

Ele não quer falar com você. Pegue a dica.

Ele está melhor agora que você se foi.

Ela poderia ter me dito que ele estava em reabilitação, mas em vez disso,
ela disse o que sabia que me machucaria.

Você está sendo patética. É embaraçoso.

A série de eventos que o e-mail desencadeou passou rapidamente pela


minha cabeça, cada um me deixando mais emocionado do que o anterior.
Bloqueando todos. Mudar de universidade. Mudança para Londres. A espiral
da depressão. Os cortes nas minhas coxas. A incapacidade de pintar. O medo
e a dor. As drogas, o álcool e o sexo.

A ironia é quase demais.

Macon estava na reabilitação recebendo ajuda, enquanto eu estava me


autodestruindo.

Enquanto eu era reprovada na faculdade porque estava ficando bêbada,


chapada e dormindo por aí, ele estava ficando limpo.

E tudo poderia ter sido evitado se ela tivesse me contado a porra da


verdade.

Eu me viro lentamente e encaro Claire.

Eu a encaro até que ela olhe para mim. Quando ela finalmente o faz, suas
narinas se abrem e suas sobrancelhas se juntam.

— O quê? — Ela pergunta, e o tom de sua voz é suficiente para me fazer


estremecer.

Não desvio o olhar dela, mas falo com Franco.

— Estou surpresa que ela não tentou falar merda sobre mim enquanto
estava fazendo companhia a você. — Eu inclino minha cabeça para o lado e
descanso minha mão no meu queixo enquanto observo o rosto de Claire ficar
vermelho. — Ou ela disse?

— Jesus Cristo, Capri, — Claire cospe. — Claro, eu não falei merda sobre
você.

— Não? — Eu mantenho minha voz calma, quase doce. — Mas arruinar


as coisas que amo traz muita alegria.

O queixo de Claire cai e ela coloca as mãos nos quadris.

— Se isso é sobre Eric...

Eu rio alto, calando-a. Ela sabe muito bem que não me importo com Eric.
Eu não fiz no ensino médio. Eu não sei.

— Capri. — Franco coloca a mão no meu braço. — Talvez devêssemos ir


tomar um café?

Não reconheço o comentário dele.

— Lennon, — digo claramente, recitando de memória, — por favor, pare


de enviar e-mails para Macon. Ele não quer falar com você.

Os olhos de Claire se arregalam e a cor desaparece de seu rosto enquanto


eu falo. Posso sentir a atenção de Franco em mim, mas continuo focada em
Claire.

— Pegue a dica. Você está sendo patética e embaraçosa.

Eu dou três passos, então estou bem na frente dela do outro lado da ilha
da cozinha. Ela se encolhe, mas não se afasta.

— Ele está melhor agora que você se foi.

Minha voz cresce na última palavra.

— Lembra disso, Claire? Lembra? Lembra como Macon estava na porra


da reabilitação, mas você escolheu me fazer pensar que ele não se importava
mais comigo?
Sua boca se abre, seus lábios tremem. Tantas emoções inexplicáveis
dançam em seu rosto antes de se colocar na defensiva. Ela se prepara para
uma luta, e eu estou pronta para dar uma a ela.

— Você deveria ter voltado, — diz Claire. — Você não deveria ter ficado
na Inglaterra. Você deveria estar de volta quando ele saísse.

Besteira.

— Então você, o que, só queria me machucar um pouco mais? Só queria


me causar dor durante o verão?

— Não! Não. Eu só estava... eu estava brava, — ela diz. — Você não deveria
ter ido embora.

— Eu nunca deveria ter saído, — eu grito. — Você estava com tanto ciúme
que teve que orquestrar a coisa toda?

— O quê? Não!

— Você é uma cadela miserável, Claire. Não suportava que você não fosse
o centro das minhas atenções? Você era tão mesquinha que teve que nos
separar?

— Não, Lennon, Jesus, — Claire grita. — Eu não sabia que você iria
aceitar depois daquele e-mail, ok? Achei que você voltaria para casa no final
do verão e então...

— E depois? E então, porra, o quê, Claire?

— E então você saberia! E então estaria tudo bem e consertado, e


voltaríamos ao normal! Achei que você só precisava se acalmar. Para tirar
Macon do seu sistema. Isso não deveria acontecer!

Isso é inacreditável.

Todo mundo estava puxando as cordas da minha vida, e eu fiquei sem


nada. Eu era um peão.

— Então, você me mandou embora? Você sabe o quão fodido isso foi,
Claire? Você ao menos sabe a bagunça que causou?
— Eu não mandei você embora! — Ela cerra os punhos ao lado do corpo
e estreita os olhos. — Eu não deveria ter dito essas coisas naquele e-mail, mas
não mandei você embora.

Eu rio ironicamente, alto e ameaçador.

— Você também pode ter. Você disse ao meu pai...

— Eu não contei merda nenhuma pro seu pai, Lennon. Foi Macon.

Minha cabeça se inclina para trás e minha boca se fecha enquanto olho
para Claire.

— Macon disse ao seu pai que vocês dormiram juntos na noite do baile.
Ele pediu ao seu pai para enviar você. Macon é a razão pela qual você foi
mandada embora mais cedo. Pare de me culpar por tudo.

O quê? Não. Macon não faria isso.

— Você está mentindo, — eu cuspo. — Isso é o que você faz. Você está
mentindo, porra.

— Eu não estou! Juro por Deus que não.

Lágrimas estão começando a escorrer por seu rosto, e ela as enxuga


apressadamente.

— E sabe o que mais? Macon esteve aqui. Naquele dia você estava
chorando e implorando para se despedir? Ele estava aqui, lá em cima,
espancado e ensanguentado, e se escondeu de você.

Dou um passo para trás, tropeço no pé e caio para trás nos braços de
Franco. Eu procuro o rosto de Claire freneticamente, procurando por malícia
ou mentiras, mas tudo que encontro é tristeza e vergonha.

— Eu não sou a razão pela qual você foi mandada embora mais cedo, —
diz ela novamente. — Eu fiz um monte de merdas mesquinhas das quais não
me orgulho, mas essa não é uma delas.

Não consigo falar enquanto repasso o que ela disse em minha mente.

Macon nos delatou? Macon se escondeu de mim enquanto eu o chamava


freneticamente lá embaixo? Ele foi espancado até a merda e ensanguentado ?
— Chérie, — diz Franco, esfregando a mão para cima e para baixo no meu
braço.

Ele fala, mas eu não o ouço. Eu me viro em direção à porta da frente e


caminho.

— Lennon, espere, — Claire chama, mas eu a ignoro.

Eu ando até a porta da frente e saio para o sol. Dou três passos em direção
ao meu carro quando uma mão envolve meu pulso, me parando e me girando,
então me puxando para um abraço.

— Fale comigo, chérie. Diga-me o que posso fazer.

Eu começo a chorar em sua camisa. Ele pega meu queixo entre o polegar
e o indicador e inclina minha cabeça para cima, então ele está olhando nos
meus olhos.

— Diga-me o que posso fazer, Capri. Deixa-me ajudar.

Franco esfrega o polegar no meu queixo e eu fecho os olhos, tentando


acalmar a respiração. Então, de repente, sou puxada para frente e Franco é
arrancado de meus braços.

Meus olhos se abrem bem a tempo de ver Macon jogar Franco no chão.
Franco grunhe de dor e eu coloco minhas mãos no rosto.

De novo não.

Visões de Macon atacando Eric, atacando seu pai, inundam minha


cabeça, e meu coração começa a disparar de medo.

— Pare com isso, Macon, — eu grito.

Franco tenta se levantar, mas Macon o empurra de volta, dessa vez com
mais força, e Franco grita algo em italiano.

— Fique abaixado, — adverte Macon, com a voz trêmula. — Fique


abaixado ou juro por Deus que vou explodir.

— Macon, não — digo novamente, esperando que Macon se lance sobre


Franco e comece a dar socos, mas, em vez disso, ele se vira para mim.
— Você está brincando comigo com isso? — Macon grita, apontando o
dedo para Franco. — Depois de tudo, depois de ontem à noite, você vai fazer
isso?

Eu empurro minha cabeça para trás em estado de choque antes que


minha raiva aumente.

— Você não sabe do que está falando!

— Esse é o seu maldito francês? Ele acabou de vir para a América por sua
causa? Você vai simplesmente vai voltar para a porra do seu francês?

— Ele não é meu francês, Macon, — eu grito. — Eu estava voltando para


você!

Macon dá uma risada sem graça e puxa o cabelo.

— Foda-se, é como a porra do Masters de novo, — ele grita para o céu,


antes de apontar um dedo para mim. — Você nunca vai me escolher, vai? Não
importa o que eu faça ou mude, nunca serei bom o suficiente para você.

Eu engasgo com a minha raiva, minha visão embaçada com as lágrimas.

— Eu escolhi você! Eu escolhi você. Eu fiz tudo para você e explodiu na


porra da minha cara!

Eu enxugo minhas lágrimas, minhas mãos tremendo, as palavras


explodindo de mim em um soluço.

— Acabei de descobrir que você é a razão pela qual fui enviada para a
Inglaterra mais cedo.

Macon congela.

Seus olhos saltam entre os meus enquanto ele tenta juntar as peças do
que estou dizendo. Ele está surpreso que eu saiba? Ele está se perguntando
como eu descobri? Ele nunca iria me contar?

Deus, eu esperava que fosse mais uma das mentiras de Claire.

— É verdade?

Ele não responde, apenas me encara.


— É verdade? — Eu grito. — Você disse a ele? Você pediu a ele para me
enviar mais cedo?

Macon fecha os olhos brevemente, mas não nega.

— Não foi assim, — diz ele. — Lennon, eu...

— Não, — eu o cortei, — naquele dia, quando eu estava chorando e


chamando por você, implorando para me despedir, você estava lá em cima o
tempo todo.

Eu dou um passo para trás.

— Eu pensei que estava sendo punida por meu pai por meu
relacionamento com você, mas o tempo todo foi sua culpa. Fui mandada
embora por sua causa? Você tem alguma ideia do que você fez? O que eu passei
por sua causa?

— Lennon, eu te disse, — Macon engasga, e eu rio. — Desculpe. Sinto


muito, mas eu te disse. Eu expliquei…

— Eu estava grávida, Macon.

A declaração é silenciosa, falada claramente, mas sai da minha boca


como uma bala de uma arma, e a cor desaparece do rosto de Macon como se
ele tivesse levado um tiro.

— O quê?

— Você me mandou embora, me cortou por meses e eu estava grávida.

Eu fecho meus olhos. Não digo essas palavras em voz alta há anos. Não
desde que confessei a Sam. Não para mais ninguém desde então.

Eu posso sentir a atenção de todos em mim.

Macon. Franco. Provavelmente Claire. Inferno, talvez até os vizinhos.

Por quatro anos, apenas duas outras pessoas sabiam do meu segredo, e
eu apenas gritei para qualquer um que estivesse próximo o suficiente para
ouvir. A realização me faz balançar em meus pés.
Abro os olhos quando Macon fala, a dor em sua voz entrecortada me
atravessa e consigo simpatizar. Eu já senti isso antes.

— Lennon, nós... nós temos um bebê?

Seus olhos azuis flamejantes me queimam viva enquanto eu balanço


minha cabeça lentamente, e minhas lágrimas caem mais rápido pelo meu
rosto.

— Não, — eu sussurro. — Essa decisão também foi tirada de mim.

A memória se desenrola na minha frente como um filme, brilhante e alto


em tecnicolor.

A dor dispara pelo meu corpo novamente. Posso ouvir Sam tentando me
acalmar no caminho para o hospital. Posso sentir a mão de tia Becca
apertando a minha. O medo e a devastação sufocam minha traqueia. Meu
coração se despedaça. Tudo o que posso sentir é dor. Tudo o que posso ver é a
escuridão.

Está tudo bem, Lennon. Vai ficar tudo bem. Nós vamos superar isso.

Isso dói. Isso machuca muito.

Eu sei. Eu sei. Estou aqui. Apenas segure-se em mim, ok? Vai ficar tudo
bem.

Eu estava indo e voltando sobre o que fazer sobre a gravidez.

Eu tinha desistido de Macon. Eu cortaria os laços com minha família.


Sam e tia Becca disseram que me apoiariam de qualquer maneira.

Achei que tinha me decidido. Eu estava quase saindo do primeiro


trimestre.

Mas, no final, a escolha foi feita por mim.

E no fundo, ainda não sei como me sinto sobre isso.

— Quando? — Macon pergunta, e eu rio. É doloroso e assombrado. No


momento em que nossos olhos se conectam, seu rosto reflete como me sinto.

— No meu aniversário.
Deus, eu odeio este mês.

Quatro anos atrás, passei a primeira parte de Julho ansiosa e apavorada.

Passei a última metade me afogando em uma dor tão densa que só a


reconheci anos depois. Passei todo mês de Julho desde então tentando o meu
melhor para ignorá-lo e chegar a Agosto.

Quando Macon me encontrou naquele beco atrás do pub em Londres, eu


finalmente decidi dizer foda-se tudo. Sam tinha acabado de sair para a
faculdade e eu garanti a ela que estava bem, mas menti.

Eu queria esquecer tudo. Apagar tudo.

As coisas pioraram antes de melhorar, mas sempre vou odiar Julho.

Observo enquanto Macon repassa tudo em sua cabeça, enquanto ele luta
consigo mesmo. Então eu observo enquanto ele desliga. Ele dá um passo lento
em minha direção, depois outro.

— Lennon, — ele sussurra, mas eu levanto a palma da mão, parando-o.

— Não. Acabou.

— Sinto muito que você teve que passar por isso sozinha.

Sua voz é suave e trêmula, e me atinge no peito. Fecho os olhos e respiro


pelo nariz.

— Eu não estava sozinha, — eu forço. — Eu tinha Sam. Eu tinha Tia Becca.

— Você deveria ter me ter, — ele diz, e eu abro meus olhos e os travo com
os dele.

— Sim, eu deveria ter. Mas não tive. E nada vai mudar isso agora.

Seus olhos se fecham; seu rosto cheio de angústia.

— Lennon, — ele diz novamente, e sua voz é um sussurro trêmulo.

Espero para ver se ele vai dizer mais alguma coisa. Eu dou a ele uma
respiração, então duas, então três, antes que meu coração caia aos meus pés.

— Apenas vá, Macon. Apenas vá.


Ele fica quieto, e eu mantenho meus olhos fechados até ouvir seu carro
sair pela rua. Depois que ele se foi, eu desabo no chão em lágrimas.

Os braços de Franco me envolvem, seu cheiro familiar acalmando meus


nervos, e ele balança para frente e para trás, sussurrando palavras calmantes
em italiano e francês.

Não era assim que eu queria contar a Macon.

Não sei se alguma vez quis contar a ele, mas definitivamente não queria
que ele soubesse dessa forma.

Duas horas atrás, eu estava pensando em todas as maneiras pelas quais


poderíamos fazer funcionar entre nós. Mas agora? Agora sei que é impossível.

Há muito dano. Nunca poderei perdoá-lo por me mandar embora, por


me deixar sem nada, e pela expressão em seu rosto quando ele partiu, ele
também sabe disso.

— Lennon.

Eu olho para cima do meu lugar no chão, aninhada nos braços de Franco,
para o rosto encharcado de lágrimas de Claire. Ela parece absolutamente
abalada, e não consigo me importar.

— Agora não, Claire.

— Eu acabei de...

Ela aperta os olhos e solta outro pequeno soluço.

— Deus, eu sinto muito, Lennon. Eu não sabia. Eu não sabia. Eu estava


com raiva e com ciúmes... Eu ia devolver no outono, mas você não voltou.
Jesus, sinto muito.

Estou confusa, observando-a ficar acima de mim vomitando desculpas


cheias de lágrimas. Não entendo o que ela está dizendo — me da o quê?
Desculpe pelo quê? — até que noto um envelope em suas mãos e um arrepio
estranho percorre minha espinha.

Eu expliquei.

Eu te disse.
Eu pedi para você esperar por mim.

— Claire, — eu digo trêmula. — O que é aquilo?

Ela choraminga e estende o envelope para mim com as mãos trêmulas. A


caligrafia nele me tira o fôlego.

Astraea.

— Claire, — eu digo novamente, olhando para o envelope como se fosse


uma bomba. — O que é isso?

— Ele colocou na sua mala, — diz Claire. — Eu... eu tirei. Eu ia devolver


quando você voltasse depois do verão. Eu nunca o li. Eu acabei de...

Eu me levanto rapidamente e pego o envelope, em seguida, caminho para


o outro lado do quintal. Minha respiração está ficando difícil, meu coração
batendo descontroladamente no meu peito. Minhas mãos estão tremendo
tanto que estou com medo de rasgar algo importante enquanto rasgo o selo do
envelope.

Eu seguro um pedaço de papel enquanto um segundo cai no chão.


Quando me agacho para pegá-lo, começo a chorar de novo.

É um esboço meu.

Das minhas costas nuas, sentada na cama na noite do baile. As iniciais


de Macon não estão no canto, mas sei que é obra dele. Eu arrasto meus dedos
levemente sobre o papel, traçando suas linhas de lápis e sombreamento.

Nunca tive tanto medo quanto agora. Sei que o rancor que guardo, a
maneira como venho punindo Macon mentalmente há quatro anos, está
prestes a explodir.

E o que vou fazer depois?

Lentamente, desdobro o segundo pedaço de papel do envelope. Também


foi arrancado de um caderno de esboços, mas não há desenhos ou rabiscos
neste. Apenas palavras.

Eu corro meus olhos sobre a caligrafia familiar, frases rabiscadas em uma


caligrafia confusa e apressada, e minha mão dispara para a minha boca
enquanto leio. Minha cabeça começa a girar e meu coração se abre enquanto
minhas lágrimas caem em gotas grossas no papel.

Sua caligrafia é confusa e caótica. As palavras são apressadas, mas o


sentimento é claro.

Este bilhete, aquele que ele colocou na minha mala há quatro anos, muda
tudo.

Minha Astraea,

Desculpe. Se você está lendo isso, significa que sua bagagem chegou à
casa de sua tia e você está a um oceano de distância de mim. Porra, eu já
sinto sua falta. O baile foi a melhor noite da minha vida. Essa memória vai
alimentar minha recuperação, Astraea, eu prometo. Eu tenho que ir para a
reabilitação. Vou embora hoje depois que Trent deixar você no aeroporto.
Lamento não poder contar antes. Por favor, não fique com raiva do seu pai.
Eu pedi a ele para enviar você mais cedo. Prometo explicar em detalhes
quando eu sair e você voltar para casa no outono. Aproveite a Inglaterra.
Eu sei que é seu sonho desde pequena. Tire muitas fotos porque eu quero
ouvir tudo sobre isso. Não desista de mim, Astraea. Apenas espere por mim
mais um pouco. Então, quando eu sair, é você e eu. Sério. Alto. Para
sempre. Eu te amo, Lennon Capri Washington.

Vejo você em breve,

-M

Dobro os papéis com cuidado e os coloco de volta no envelope, então me


levanto devagar e me viro.

Claire e Franco estão me observando. Claire está chorando.

Dou passos regulares até ficar a apenas alguns metros à frente deles.
Meus olhos permanecem em Claire.

— Você tem alguma ideia do que você fez?

— Sinto muito, Lennon, — ela engasga. — Me desculpe.

Não sinto nada por ela além de nojo.


— Sabe, Claire... No ensino médio, eu nunca teria acreditado que você
seria a vilã da minha história. Mas agora? Agora estou desapontada por não
ter descoberto isso antes.

Estendo a mão e aperto a mão de Franco.

— Eu volto mais tarde, ok?

Ele balança a cabeça e aperta minha mão de volta, mas não fala. Dou uma
última olhada em Claire, então me viro e caminho até meu carro.

Só uma coisa importa agora.

Eu tenho que encontrar Macon.

Eu me evito de acelerar pela cidade. Um medo familiar percorre meu


corpo a cada volta, e tenho que me lembrar de que não é a mesma coisa.

Eu não sou aquela garota ingênua de dezessete anos em um vestido de


dama de honra surrado, e Macon não é o mesmo garoto perdido e quebrado
com demônios para manter sob controle.

Tanta coisa aconteceu. Tanta coisa mudou.

Digo isso a mim mesma várias vezes enquanto dirijo pela cidade, mas
ainda quase desmaio de alívio quando encontro o carro de Macon no
estacionamento do centro recreativo.

Desligo o carro e ando calmamente pela porta lateral, depois subo as


escadas que levam ao apartamento de Macon. Ele pode estar no escritório ou
na academia, mas algo me diz que ele está aqui.

Chego à sua porta e contemplo minhas opções, então decido bater.

Quando ninguém vem à porta depois de um minuto, eu bato novamente.

Está bem.

Ele provavelmente está apenas ouvindo música em seu estúdio. Repito


isso várias vezes enquanto espero.

Está bem. Ele está bem. Estamos bem.

Eu bato novamente e espero.


Quando outro minuto se passa, pego a chave e entro. No momento em
que entro no apartamento, sou atingida por um cheiro forte de álcool e meu
medo aumenta.

— Macon?

Eu tento lutar contra a oscilação em meus membros enquanto ando pelo


corredor, mas quando entro na cozinha, minhas pernas quase cedem debaixo
de mim.

Há cacos de vidro e bebida espalhada pelo chão, como se uma garrafa


tivesse sido jogada. Pela maneira como os cacos de vidro estão espalhados por
toda a sala e o líquido espirra em todas as paredes, não há como isso ter
acontecido por uma queda acidental.

A percepção me faz respirar mais fácil.

A ironia.

Uma garrafa cheia de licor arremessada contra a parede, quebrada no


chão, é muito melhor do que uma garrafa vazia completamente intacta.

Se a bebida estiver no chão e nas paredes, não poderá ser consumida.

Mas Deus, as emoções que devem ter causado isso...

Lentamente, volto para o corredor. Espio dentro do quarto, mas sei que
não vou encontrá-lo lá dentro. Está vazio, então continuo em direção ao
estúdio.

Começo a me preocupar quando percebo que não há música tocando. Eu


nunca soube que Macon criava sem música. Quando chego à porta, meus
dedos estão tremendo enquanto os envolvo na maçaneta e a abro.

Minha respiração sai em uma lufada quando vejo Macon atrás de sua
roda de oleiro, sem camisa e coberto de argila com a frente de seu cabelo
puxado para trás por um prendedor de borboleta rosa.

Seus olhos disparam para os meus antes que eu possa falar, e ele desliga
a máquina imediatamente.
Por alguns momentos, apenas olhamos um para o outro. Eu o olho, seus
olhos, rosto e corpo. Ele está sóbrio, tenho certeza. Não sei o que aconteceu na
cozinha, mas sei que ele não teve uma recaída. Ele não cedeu ao vício, mas
definitivamente passou por algo aqui na última hora, e acho que posso
adivinhar o que foi.

Tiro o envelope do bolso de trás e o seguro.

Ele olha para ele, então de volta para mim.

— Meu bilhete?

— Claire acabou de me dar.

Dou passos lentos em direção a ele e para quando estou fora do alcance
do braço.

— Ela acabou de dar a você?

Os olhos de Macon procuram os meus enquanto ele tenta juntar as peças,


e isso me faz querer ficar furiosa com Claire de novo.

Ele passou os últimos quatro anos pensando que eu tinha esse bilhete.

Pensando que eu tinha e escolhi ficar na Inglaterra de qualquer maneira.

Ele passou os últimos quatro anos pensando que eu desisti dele de bom
grado, e ainda assim ele me segurou.

— Ela tirou da minha bagagem, — digo a ele claramente, e seu rosto fica
chocado. — Hoje foi a primeira vez que vi. Antes de hoje, eu nem sabia que
existia.

Ele não diz nada por um longo tempo. Ele olha para o envelope na minha
mão com uma sobrancelha franzida e olhos tristes. É preciso toda a minha
força para não correr para ele, mas espero que ele fale. Finalmente, ele traz
seus olhos do envelope de volta para o meu rosto.

— Você leu?

Eu concordo.
— Você disse que explicaria em detalhes, — digo a ele. — Se você não se
importa, eu gostaria de ouvir isso agora.
CAPÍTULO TRINTA

Macon

NOITE DE FORMATURA

G entilmente, passo a mecha do cabelo de Lennon entre meus dedos,


girando-a e deixando-a cair antes de fazer tudo de novo.

Ela está dormindo há uma hora, mas não consigo parar de olhar para ela.

Porra, ela é linda.

Quando comecei a noite, não pensei que acabaria aqui. Ainda não
consigo acreditar. Tenho medo de que, se eu dormir, ela desapareça. Vai ser
tudo um maldito sonho.

Isso é tudo para mim, no entanto. Vamos limpar pela manhã. Nossos pais
vão ter que ficar bem com isso porque isso está acontecendo.

Eu e Lennon, de verdade e em voz alta.

Não vou mais amá-la em segredo. Não estou escondendo isso de


ninguém. Não mais.

Lennon se mexe quando meus dedos roçam seu ombro nu, e ela
cantarola, um som que ressoa no fundo do meu estômago. Arrepios aumentam
em sua pele, e eu puxo o edredom um pouco mais alto sobre seu corpo. Não
quero que ela sinta frio e não quero acordá-la.

Meu telefone vibra na mesa ao lado da cama e reviro os olhos quando


vejo o identificador de chamadas antes de clicar em ignorar.

Como se eu fosse responder por Chase Harper.

Da última vez que ele esteve na cidade, eu disse àquele idiota para se
foder de vez. Não estou mais vendendo drogas para ele. Não estou bancando
o doceiro em festas. Não depois da última vez. Ele pode encontrar outra
pessoa. Estou fora.

Ele liga de novo, e eu o ignoro de novo.

Em seguida, ele envia um texto. É uma foto de Claire, Josh e Eric. Eles
estão com as roupas que usaram no baile, mas estão em alguma festa perto de
uma fogueira. Examino os rostos ao redor deles. Deve ser uma festa do colegial
na casa do Josh. Que porra Chase está fazendo aí?

Em seguida, outro texto chega.

Aposto que posso encontrar sua cadela antes de você.

Ele está falando sobre Lennon. Uma ameaça não tão velada. Foda-se,
Chase é um saco de lixo. Ele não deve saber que estou com ela. Eu me movo
para desligar meu telefone quando outro texto vibra.

Esta é uma foto de Claire. Apenas Claire. Nada de Eric ou Josh. Apenas
Claire parada ao lado de uma caminhonete, segurando uma lata de cerveja e
navegando em seu telefone.

Esta vai funcionar.

Um arrepio percorre minha espinha e eu aperto meus olhos fechados,


então eu viro minha cabeça e olho para Lennon.

Posso estar de volta antes que ela acorde.

Eu rolo e pressiono um beijo em sua testa.

— Macon, — ela murmura, e eu a beijo novamente.


— Shhh, baby. Durma. Eu volto em breve.

Eu me levanto e mando uma mensagem para Chase, dizendo que estou a


caminho, e então coloco minhas roupas de volta. Não tenho medo desse idiota.
É hora de eu mostrar isso a ele.

Vou colocar meu telefone no bolso quando meus dedos tocam em algo.
Pego o post-it amassado e sorrio, depois o coloco no travesseiro. Apenas no
caso de ela acordar antes de eu voltar.

Estaciono no final da estrada de cascalho, a cerca de um quilômetro e


meio da casa de Josh. Chase já está encostado no capô do carro quando desligo
o motor. Eu deixo minhas luzes brilhando sobre ele, porém, porque eu não
confio em sua bunda pretensiosa.

— Harper, — eu digo enquanto me sento no meu próprio capuz. — Eu


disse que não estou mais correndo por você.

Chase sorri, parecendo-se com o pai, depois dá de ombros.

— Eu sei. Não é por isso que eu liguei.

Inclino a cabeça para o lado e cruzo os braços sobre o peito. Vou dar a ele
um minuto. Ele acha que está comandando o show, mas eu tenho uma cama
quente para voltar, então minha paciência está se esgotando.

A porta traseira de seu carro se abre e mais dois caras saem. Eu fico tenso.
Pela primeira vez, me sinto um pouco desconfortável. Eu não esperava mais
dois idiotas, mas acho que foi um erro de novato.

Casualmente, coloco meu telefone no bolso e coloco minha mão em volta


dele, só por precaução.

— Você se lembra dos meus amigos, certo, Davis?

Os dois caras se inclinam ao lado de Chase, e eu quase rio de como isso


parece um mafioso de beco. Chase Harper é um menino rico, mimado e
pretensioso, não um subchefe da máfia. Ele provavelmente ainda tem uma
babá para fazer as unhas.
— Não posso dizer que sim, — eu digo lentamente. Eu não pergunto. Ele
vai me dizer de qualquer maneira.

— Você os conheceu na festa em Birchwood em dezembro.

Os cabelos da minha nuca se arrepiam com a menção dessa festa. Foi


aquele em que tive uma overdose enquanto brincava de doceiro. Um favor,
disse Chase. Ele não mencionou que eu também teria que provar o produto.
Eu fico quieto. Sei que Chase quer falar, então vou deixar.

— Bem, você pode não se lembrar deles, mas definitivamente deveria se


lembrar da namorada de Fuller.

Chase acena para o grandalhão à sua esquerda. Eu olho para ele, mas ele
não refresca minha memória.

— Eu não fiquei com ninguém naquela festa, Chase, — eu falo


lentamente, entediada. — Onde você quer chegar?

— Você deu aquela merda para ela, — o cara, Fuller, fala, e eu me sento
mais ereto. — Você deu a ela aquela merda fodida que a matou.

Meu estômago começa a girar, e eu balanço minha cabeça.

— Eu estava distribuindo as drogas de Chase e, até onde eu sei, fui o único


que tomou uma dose ruim.

Eu tento manter a amargura fora da minha voz, mas eu falho. Eu estava


lá para vender as pílulas, não estourá-las. Perseguição de merda.

— Você estava muito ocupado morrendo, — diz Chase, e eu zombo dele.


— Mas a namorada de Fuller estava lá com você. Ela pegou o que você deu a
ela e, embora você tenha ido embora, ela entrou em coma e morreu um mês
depois.

Cada grama de calafrio que tive momentos antes desaparece.

Isso não é um favor. Chase não está procurando alguém para vender sua
merda.

Ele está procurando por sangue.


— Aquelas eram suas drogas, Chase, — eu digo claramente. — Eu não as
dosei.

Chase não reconhece minhas palavras enquanto se levanta do carro, e os


outros dois paus o seguem. Então me ocorre.

Ele está me passando isso.

Ele trouxe esses filhos da puta aqui, para mim, para tirá-los de suas
costas.

— Essas eram as drogas de Chase, Fuller. Mas você tem muito medo de
foder com o filho de um senador? Você prefere vir atrás do corredor? Você
quer justiça para sua namorada, então vá atrás da fonte. Eu estava apenas
fazendo o que ele me disse para fazer e quase morri no processo.

Eu tento girá-lo a meu favor. Por um minuto, acho que funcionou. Eu


vejo os ombros de Chase apertar. Assista Fuller e o outro cara dar a Chase um
olhar de soslaio. Então Chase sorri.

— Eu sou um Haper, Davis. Eu nunca seria responsável por algo assim.


Meu pai não permitiria.

Foda-se.

A porra da ameaça em suas palavras é óbvia, e os capangas com quem ele


está ouvem alto e claro. Se eles querem sangue, eu sou o melhor que eles vão
conseguir.

— Onde está aquela sua meia-irmã, Davis? — Chase diz casualmente. —


Acho que Fuller gostaria de conhecê-la.

Eu fico de pé e cerro minhas mãos em punhos. Respiro pelo nariz. Não


faça nada impulsivo. Isso pode dar errado rápido.

Porra, já está ruim.

— Não vá lá, Chase, — eu digo calmamente.

— Você acha que é uma troca justa se apenas transarmos com ela, ou
devemos matá-la também?

— Você fica bem longe dela.


Eu forço as palavras através dos meus dentes enquanto o visual do que
Chase é capaz de invadir meu cérebro. Se ele a tocar, eu o matarei.

— Aposto que poderíamos fazê-la gritar, — o outro cara começa a dizer,


e eu estalo.

Vejo vermelho e me lanço sobre ele. É o caminho que estava indo de


qualquer maneira. Eu poderia muito bem dar o salto. Um soco no nariz, uma
joelhada no estômago. Eu bato duas vezes na mandíbula de um e acerto as
duas antes de ser puxado para longe dele.

Em seguida, percebo totalmente como estou fodido. Três contra mim, e


estou de terno e sapatos sociais.

Eu tento. Eu balanço e balanço e chuto, mas estou em desvantagem, e


eles têm tamanho para mim também.

Eu faço o máximo de dano que posso, e depois é só muita dor.

Sinto meus lábios se abrirem. Ganchos afiados e golpes nas minhas


maçãs do rosto e nariz. Sinto os nós dos dedos de alguém cortarem meus
dentes, e o sabor metálico do sangue em minha boca pode ser meu ou deles.
Eu cuspo entre os golpes.

Eu mordo minha própria língua para não gritar quando um chute no


estômago quase me divide ao meio. Vou tossir sangue se eu sobreviver a isso.

Deus, eu tenho que sobreviver a isso.

Eu não posso morrer aqui nesta estrada secundária em uma poça do meu
próprio sangue.

Estou em posição fetal no chão em frente ao meu carro. Há sangue


pegajoso em meus olhos e boca. Eu poderia ter quebrado um dente. Algo
provavelmente está rompido dentro de mim. A dor envolve meu corpo. É
difícil respirar.

Eles não param.

Eles não vão parar até que eu morra, e a única coisa que consigo pensar
é em Lennon.
Eu a deixei lá sem uma explicação. Eu nem disse a ela que a amo. Dou
outro soco, acerto um chute em alguém, mas não consigo me levantar.

Eu tento, mas caio de volta na terra, e um dos idiotas ri. Alguém paira
sobre mim, mas meus olhos estão inchados e sangrando. Eu não posso dizer
quem é.

— Diga a ela que eu disse olá, — diz o cara com um rosnado, e então algo
é enfiado na minha boca.

Não consigo sentir o gosto de nada com tanto sangue, mas sei o que era.
Ele acabou de me passar a mesma merda que estava naquelas cápsulas na
noite em que tive uma overdose.

Eles estão tentando me matar.

— Porque agora?

Eu nem sei como eu digo isso. Não sei de onde veio a pergunta, só que
preciso saber.

As férias de inverno foram há meses. Porque agora? Por que agora,


depois que finalmente me decidi com Lennon e vejo uma luz no fim da porra
do túnel?

Eu ouço um dos caras rir, mas é uma risada triste. Uma risada dolorosa,
e eu sinto uma pontada de simpatia pelo idiota que acabou de me bater quase
até a morte.

— Tive que sofrer, — diz o cara. — Sua namorada vai entender logo.

Porra. Lennon. Isso vai esmagá-la.

Eu ouço as portas do carro baterem e então a voz de Chase.

— Você pode me ver foder sua meia-irmã do inferno.

O carro arranca e me deixa deitado no cascalho à luz dos faróis altos.

Tudo machuca. Tudo o que quero fazer é fechar os olhos, mas a ameaça
de Chase me dá adrenalina suficiente. Eu puxo meu telefone do bolso, tento o
meu melhor para encontrar o contato através do meu olho menos inchado e
ensanguentado, e aperto a discagem.
Só toca três vezes antes de atender a chamada.

— Macon? Tudo certo?

— Trent, — tusso, — preciso da sua ajuda.

****

Acordo com o som de uma discussão.

As vozes de Trent e mamãe.

Minha cabeça lateja. Meu corpo dói. Tudo está girando.

— Você não pode simplesmente despachá-la amanhã, Trent, — minha


mãe grita. — Ela merece saber o que está acontecendo e tomar suas próprias
decisões. Ela não é uma criança.

— Ela é minha filha, Andrea, — Trent grita de volta. — Você ouviu o que
Macon disse. Você viu o que essas pessoas podem fazer. Foi um erro meu que
matou a mãe dela. Minha inação. Minha indecisão. Isso não vai acontecer de
novo. Ela está indo. Isso é definitivo.

Eu ouço algo batendo e viro minha cabeça a tempo de ver minha mãe
pegar uma pequena mala rosa de Trent.

— Deixe-me fazer isso, — minha mãe estala. — Você não teria ideia do
que levar para ela.

Minha mãe desaparece escada acima com a mala, e vejo Trent abaixar a
cabeça. Eu acho que ele pode realmente chorar, e isso é tudo culpa minha.

— Trent, — resmungo, e ele se levanta e caminha até onde estou deitada


no sofá.

— Macon.

Ele cai de joelhos ao meu lado e me olha.

— Não alto, — brinco, — mas com muita dor.

Bem, estou um pouco alto.


Mas seja lá o que aquele pau me deu não foi forte o suficiente para me
derrubar desta vez. Apenas o suficiente para aliviar um pouco a dor.

— Você está mandando ela? — Eu pergunto, e Trent acena com a cabeça.

— Estou implantando por seis meses. E até que eu consiga informações


sobre essa família, é mais seguro para ela ficar na Inglaterra.

Eu dou a minha cabeça o menor aceno possível. Concordo.

— Ela não pode me ver assim. Ela ainda não pode saber. Ela não irá se o
fizer. Você sabe disso.

Trent fica quieto por um minuto, me olhando com olhos estoicos.

— Eu não posso esconder isso dela, — diz ele finalmente. — Eu já estou


tirando a escolha dela ao mandá-la mais cedo. Não posso mandá-la e esconder
a verdade dela também.

Fecho os olhos e respiro superficialmente. Respirações profundas


machucam.

— Se ela me vir espancado assim, ela não vai entrar no avião. Você sabe
que ela não vai, não posso ser o motivo dela não ir para a Inglaterra.

Ela queria isso há tanto tempo. Desde que a conheço. Recuso-me a ser a
razão pela qual ela perde esta oportunidade. E então tem...

— E eu... eu não sei se sou forte o suficiente para ficar na instalação se eu


souber que ela está aqui desprotegida, enquanto você está caçando terroristas
ou qualquer merda que você faça.

Trent solta uma risada e eu dou um pequeno sorriso antes de meu lábio
se abrir novamente e sentir o gosto de sangue.

— Não sei, Macon.— Trent hesita, então eu giro.

— Coloque-a naquele avião amanhã, mas não conte a ela sobre mim.
Ainda não. Eu direi a ela assim que ela pousar.

Trent levanta uma sobrancelha em questão.

— Vou escrever um bilhete para ela.


— Você mal consegue respirar. Como você vai escrever?

Eu levanto minha mão e mexo meus dedos, e ele me dá um pequeno


sorriso. Eu coloco meu braço para baixo e abro minha boca para agradecê-lo
quando a campainha toca.

Todo o meu corpo fica tenso, mas Trent coloca uma mão calmante na
minha coxa.

— Esse é o meu amigo, — diz ele suavemente. — Aquele que vai checar
você.

OS SONS de Lennon chorando e chamando por mim tocam na minha


cabeça repetidamente.

Tudo o que pude fazer foi sentar na cama com a cabeça enfaixada nas
mãos enfaixadas. Precisei de cada grama de contenção para não ir atrás dela,
e a única razão pela qual me contive foi porque sabia que seria ruim para ela
se eu o fizesse.

Digo a mim mesmo que ela estará bem amanhã.

Assim que ela abrir a bagagem e ver meu bilhete, ficaremos bem.

— Você está bem aí? — Trent pergunta do banco do motorista.

— Sim. Só pensando.

— Ela vai ficar bem, — ele me diz. — Ela não vai ficar brava por muito
tempo.

Ele é tão cheio de merda com sua indiferença otimista. Eu o vi chorando


esta manhã. Ele está tão preocupado com isso quanto eu. Eu abro minha boca
para chamá-lo, mas depois a fecho novamente.

Qual é o ponto? Temos apenas duas horas até chegarmos ao centro de


tratamento de drogas. Não vou perder esse tempo criticando-o. Em vez disso,
eu cortei para merdas importantes.

— Estou apaixonado por sua filha, Trent.


Eu congelo e o observo. Seu corpo fica solto, as mãos apoiadas no volante.
Ele nem mesmo franze a testa. Mas ele é um SEAL da Marinha. Ele
provavelmente vai quebrar meu pescoço já enfraquecido.

— Eu sei, — ele diz finalmente, e meu queixo cai. Ele olha para mim e
então me dá uma daquelas risadas de pai. — Vocês, crianças, não são muito
sutis.

Reviro os olhos.

— Bem, eu apenas pensei que você deveria saber, você sabe, já que
tecnicamente somos meio-irmãos ou algo assim. Não quero que você seja pego
de surpresa quando eu começar a sair com ela.

— O que te faz pensar que vou te dar permissão para namorar minha
filha, Macon Davis?

— Porque eu sou um bom garoto que vai ser um bom homem, — eu digo,
jogando suas palavras da noite de sua despedida de solteiro de volta para ele.
Seus lábios se contraem nos cantos. — E porque ninguém jamais amará
Lennon do jeito que eu amo. Eu amo tudo dela. Mesmo as partes que ela não
mostra ao mundo.

— Mas ela te mostra?

— Sim, Senhor, ela mostra.

Eu digo isso sem sarcasmo, e sai da minha língua facilmente. Porque é


verdade. Trent não responde de imediato, então espero ele sair. Dou-lhe
espaço, como sempre faço com Lennon.

Ele precisa de tempo para pensar sobre isso. Isso é bom. Eu não estou
indo a lugar nenhum. Pelo menos não pelos próximos noventa dias, ou por
quanto tempo eles me mantiverem nesta unidade de tratamento. Mas também
não depois disso. Lennon Capri Washington pertence a mim. Ela sabe disso.
Eu sei. Todo mundo vai descobrir isso em breve.

Eu não me importo de esperar.

****
DIAS DE HOJE

— Todo mundo pensou que eu sabia, — Lennon diz baixinho, olhando


para o envelope em sua mão.

Ela olha para mim.

— Você, papai e Drea... Todos vocês pensaram que eu sabia que você
tinha ido para a reabilitação e eu só... O quê?... Odiava você mesmo assim?

Eu dou de ombros.

— Todos nós pensamos que você sabia, sim, mas acho que todo mundo
apenas percebeu que você tinha seus motivos, e seus motivos não eram
necessariamente nossos para saber.

Eu fecho meus olhos contra a memória dela gritando meu nome.

— Acho que todos ainda se sentiam culpados por aquele dia também.

— Sam sabia? — Ela pergunta, e eu posso ouvir o medo em sua voz, e eu


respondo rapidamente.

— Eu não acho. Eu duvido. Trent lidou com o senador quando voltou da


missão. Não tenho certeza do que aconteceu, mas Chase desapareceu por um
tempo. Nunca mais vi os outros dois caras.

Eu balanço minha cabeça e mantenho contato visual.

— Você sabe como é essa família, Lennon. Não há como eles terem
contado a Sam, e não há como ela ter escondido isso de você.

Ela solta um suspiro áspero, aliviada.

Ainda não entendo a amizade que Sam e Lennon têm. Aconteceu algum
tempo depois da minha overdose, mas eu estava tão perdido na cabeça que
não perguntei.

Talvez elas tenham se unido ao trauma.


Talvez ambos sentissem que não tinham mais ninguém, então elas
gravitaram um em direção a outra.

O que quer que tenha causado isso, eu sou tão fodidamente grato por
isso.

Acho que Sam e Lennon precisavam uma da outra. Dói dizer, mas
nenhuma delas tinha amigos de verdade antes disso. Claire era terrível pra
caralho com Lennon, e eu não era muito melhor com Sam.

Tentei. Deus, eu tentei, mas falhei com ela. Eu era egoísta demais para
ser um bom amigo de alguém. Acho que Claire e eu tínhamos isso em comum.
Me dá náuseas pensar nisso.

— Deus, Lennon, — eu expiro, apoiando minha cabeça em minhas mãos.


— Você merecia muito mais do que demos a você.

— Não, — ela diz rapidamente. — Não, você fez o que achou que tinha
que fazer. Você não sabia que Claire levaria a carta, ou que eu acabaria grávida.

Ela sussurra a última parte, e a dor dispara dentro do meu peito. Minha
garganta está tão apertada, meu estômago tão inquieto. Eu quero vomitar.

Ela estava grávida.

Com nosso bebê.

— Eu sinto muito, Lennon. Você não tem ideia de como estou


arrependido.

Seus olhos se fecham e ela inala profundamente, depois exala. Ela fala
sem abrir os olhos.

— Talvez eu devesse ter contado a Drea... Mas eu não queria contar a ela
antes de você. E nada teria mudado o resultado, de qualquer maneira. Você
ainda estaria na reabilitação. Eu ainda teria perdido a gravidez.

— Mas você saberia que eu não te abandonei. Você teria voltado para
casa.
Se Claire não tivesse escondido aquela carta, tantas emoções e
ressentimentos poderiam ter sido evitados. E por que ela fez isso? Algum
truque mesquinho e imaturo?

Uma pequena decisão que teve um impacto gigante na minha vida. Sobre
a vida de Lennon.

— Ela respondeu ao meu e-mail, — diz Lennon, com a cabeça inclinada


para o teto.

Ela parece derrotada. Completamente esgotada emocionalmente.

— Depois que você não estava respondendo, enviei um e-mail para


Claire. Eu perguntei a ela onde você estava. Eu disse a ela que precisava falar
com você. Deus, Macon, implorei a ela por respostas. Eu estava tão
desesperada.

Meu estômago afunda. Meu coração desmoronando ainda mais no meu


peito. Tentei inventar desculpas para minha irmã. Eu tentei tanto entendê-la.
E agora isso?

— O que ela disse? — Eu pergunto.

Eu sei que isso vai mudar tudo.

Lennon respira fundo antes de falar.

— Ela me disse para parar de enviar e-mails para você. Que eu estava
sendo patética. Que você não queria falar comigo e estava melhor sem mim.

Ela balança a cabeça. Ela parece exausta, suas palavras cheias de tristeza.

— Passei tanto tempo com raiva de você, — Lennon respira. — Não me


arrependo de Paris. Eu gosto do que fiz da minha vida. Eu gosto de quem eu
me tornei. Mas tudo o que fiz, tudo o que conquistei, foi contaminado por essa
necessidade profunda de me recuperar de ter sido traída por você e descobrir
que era tudo mentira.

Ela me acerta com os olhos mais tristes que já vi dela em muito tempo.
Com o coração partido e implorando. Perdida.

Estamos longe demais para consertar?


Eu deveria ter tirado aquele cara de cima dela naquele beco. Eu deveria
ter me mostrado a ela, em vez de fugir e me afogar em bebidas baratas e pílulas
de rua.

Eu nunca deveria tê-la deixado ir uma segunda vez.

Esse tempo todo, eu pensei que ela sabia.

Meu peito estala quando a primeira lágrima escorre pelo rosto dela, e os
sons na minha cabeça começam a ecoar. É tarde demais. Perdemos nossa
chance. Muita coisa aconteceu. Muita coisa mudou.

Quando ela fala novamente, sua voz é uma confissão abafada, tremendo
de necessidade e medo. As últimas palavras nos lábios de seu amante. Uma
declaração no leito de morte.

— Estou tão cansada, Macon. Estou cansada de me esconder. Estou


cansada de lutar contra isso. Estou cansada de fingir que nem sempre foi você.

Nós nos movemos ao mesmo tempo, minhas mãos deslizando para a


parte de trás do pescoço dela e as dela segurando meu bíceps. Eu a beijo forte,
insistente. O primeiro beijo sincero entre nós em quatro anos.

Um beijo de desculpa. Um beijo de saudades.

A você sempre foi meu beijo.

Então eu a pego em meus braços e a carrego para o meu quarto, onde


pretendo recuperar o tempo perdido.
CAPÍTULO TRINTA E UM

Lennon

S ua língua serpenteia em minha boca, brincando com a minha. Ele


mordisca meus lábios, então puxa sua boca da minha para beijar
minha mandíbula e pescoço.

— Eu poderia provar você para sempre, — ele ronca sobre minha pele
antes de me colocar suavemente em meus pés. Quando ele dá um passo para
trás, eu alcanço a bainha da minha camisa e a puxo sobre a minha cabeça, em
seguida, solto meu sutiã, deixando cair as duas peças de roupa no chão.

Seus olhos me examinam da cabeça aos pés, incendiando cada


centímetro da minha pele. Estamos queimando. Apenas tê-lo olhando para
mim está me deixando derretida.

Seus olhos, seu toque.

Ele é a única pessoa que pode me incendiar e me persuadir a dançar


enquanto eu queimo.

Ele estende a mão e segura meu seio com sua mão grande e tatuada e
passa o polegar sobre meu mamilo, me fazendo sibilar. Então ele levanta a
outra mão e faz o mesmo.

— Lindo.

Ele desliza as palmas das mãos pelos meus lados, engancha os dedos no
cós da minha calça e os arrasta pelas minhas pernas.
Então ele cai de joelhos e beija minha barriga com uma reverência e
suavidade que fazem minha garganta apertar.

O que era. O que poderia ter sido.

Ele nunca vai se perdoar por não estar lá. Tive anos para lamentar aquela
gravidez. Ele apenas começou.

Coloco minhas mãos em concha ao lado de seu rosto, inclinando-o para


olhar para mim.

— Não é sua culpa, — eu sussurro.

Os olhos de Macon se fecham, mas ele não fala, então me curvo e me


ajoelho na frente dele.

— Não é culpa de ninguém, — eu digo a ele.

É algo com o qual lutei por muito tempo, mas agora tenho certeza.

— Teria acontecido de qualquer maneira.

Ele sonda meus olhos, buscando a verdade. Buscando sinceridade.


Quando ele encontra, ele me beija. É gentil. Uma promessa, que eu sei que no
fundo ele nunca vai quebrar. Eu sei agora que ele nunca o fez.

Eu envolvo meus braços em torno dele, puxando-o para mais perto,


beijando-o mais profundamente. Quatro anos sem ele e agora não me canso.
Eu não entendo isso. Estou vibrando com a necessidade dele, um desejo
profundo da alma, mas ele está aqui em meus braços.

— O que é isso?— Eu sussurro. — O que é esse sentimento? Eu sinto que


estou me afogando. Como se eu estivesse sufocando e você fosse meu oxigênio.

Ele pressiona sua testa na minha, lábios fantasmagóricos sobre meus


lábios enquanto ele fala.

— Acho que é amor. — Eu o sinto sorrir. — Você se acostuma com isso.

Amor.

Acho que é amor.


— Eu te amo, Macon Davis. — Eu pressiono um único beijo em seus
lábios. — Eu te amo desde que eu tinha dezessete anos. Eu nunca parei.

Ele ri levemente.

— Eu sei.

Sorrio e reviro os olhos. Este homem. Ele me beija de novo, e é o tipo de


beijo que aquece meu sangue já fervendo e deixa meus mamilos duros. Eu
arrasto minhas mãos para cima de seus braços e para baixo em seu peito. Eu
traço meus dedos sobre o cós de seu short, e ele move sua boca de meus lábios
para minha orelha.

— Ei, Len, — ele sussurra.

Sua respiração faz cócegas e eu inclino minha cabeça para o lado para
expor meu pescoço a ele.

— Hum?

Ele beija meu pescoço, então morde com força suficiente para me fazer
ofegar.

— Eu também te amo, — ele rosna contra a minha pele macia.

Eu sorrio, meus olhos ardendo e meu coração disparado.

— Eu sei.

Macon se levanta e pega minha mão, me puxando para os meus pés,


então me leva para trás até minhas coxas baterem em seu colchão. Ele sorri,
então me dá um leve empurrão, então eu caio de volta em sua cama.

Ele é lindo pra caralho, parado acima de mim.

Seu peito esculpido, subindo e descendo rapidamente com sua


respiração acelerada, é decorado com as tatuagens mais complexas. A
constelação de Virgem e o relógio com as mãos do pincel sobre o coração.

Examino meus olhos por cima de seu ombro forte, descendo por seu
bíceps definido e antebraço até a rosa aquarela nas costas de sua mão. Cada
centímetro de pele é coberto com uma bela arte, imagens de sua própria
criação, e algum dia em breve, vou memorizar cada uma delas.
Mas não hoje.

Eu arrasto meus olhos de seu braço para seu abdômen, seguindo as


linhas profundas de sua pélvis até o cós baixo de seu short. Sua ereção está
perfeitamente delineada em sua coxa esquerda, e isso me deixa com água na
boca e minhas coxas pegajosas de excitação.

— Tire o seu short, — eu digo asperamente.

Ele faz isso lentamente, um sorriso irritante em seus lábios carnudos,


revelando-se para mim, centímetro por centímetro, antes de sua ereção saltar
livre de seu short e cair em seus pés.

Suas coxas são músculos sólidos. Mesmo o esquerdo, que agora ostenta
uma cicatriz cirúrgica vermelha, parece esculpida em pedra.

É quase demais.

— Você terminou? — Macon ronca, sua mão serpenteando em minha


visão e segurando sua ereção.

Eu mordo meu lábio enquanto ele se aperta, então bombeia uma vez
lentamente.

— Se você acabou de me foder com os olhos, eu realmente gostaria de te


foder de verdade.

Minha boca se abre com uma risada surpresa enquanto minha atenção
se volta para o rosto. Ele está sorrindo, seus olhos azuis dançando de alegria,
e acho isso tão excitante quanto seu corpo nu.

O espírito do garoto por quem me apaixonei no corpo do homem que


amo.

— Eu terminei.

Eu corro mais para trás na cama e abro minhas pernas, expondo-me a


ele completamente. Ele geme, os olhos grudados no ápice das minhas coxas
enquanto ele se acaricia.

— Olhe para você, Astraea, — ele murmura, dando dois passos à frente e
subindo na cama. — Apenas fodidamente olhe para você.
Ele se abaixa entre as minhas pernas e pressiona beijos na parte interna
da minha coxa. Ele morde a área macia logo acima do meu clitóris,
provocando-me, antes de passar para a minha outra coxa e cobri-la com
beijos.

Sinto-me cada vez mais molhada, posso senti-la escorrendo pela parte
interna das minhas coxas e, quando estou prestes a me abaixar e esfregar meu
clitóris, Macon se move para minha boceta e a lambe com a parte plana da
língua antes de circular em volta do meu clitóris e sucção.

— Sim, — eu choramingo, levantando meus quadris da cama. — Sim.

Ele cantarola contra mim, girando em torno do meu clitóris antes de


voltar para a minha abertura e enfiar a língua dentro de mim. Ele esfrega meu
clitóris com o polegar enquanto sua língua entra e sai da minha boceta.

Porra, é tão bom, e eu pulso meus quadris para cima e para baixo na
cama. Agarro meus seios e aperto, antes de beliscar meus próprios mamilos,
brincando com os piercings de metal.

— Mais, Macon — digo, e ele enfia dois dedos em mim, me fazendo gritar.
— Macon. Macon, sim.

Ele brinca com meu corpo como se fosse dono dele, e suponho que sim,
enrolando seus dedos dentro de mim e chupando meu clitóris até que eu veja
estrelas. Quando gozo, prendo minhas coxas em volta de sua cabeça, mas ele
as força a abrir e mantém seu antebraço na minha pélvis.

— Ainda não terminei, — diz ele, rosnando contra mim.

Sua língua move-se mais rápido, seus dedos empurram com mais força.

— Oh Deus, oh Deus, — eu grito. — Macon, eu não posso... eu vou...

Minhas pernas estão tremendo com a necessidade de fechar em torno


dele. Meus quadris estão contra seu braço forte. Lágrimas estão vazando dos
meus olhos pelas sensações avassaladoras, a sensibilidade aumentada do meu
clitóris e sua boca implacável e perversa.

Ele roça os dentes em mim, e eu gemo e tremo.


— Venha para mim novamente, Astraea. — Ele morde e eu empurro para
cima com um suspiro. — Goze na minha cara, para que eu possa provar você
por semanas.

Ele estala a língua rapidamente, e eu gozo uma segunda vez com um grito
estrangulado.

— Boa menina, — diz ele, suas palavras vibrando sobre minha boceta
inchada, e estou dolorida por ele novamente.

Boa menina. Boa menina. Boa menina.

Aquele elogio na língua de Macon, caindo de seus lábios.

Achei que tinha acabado de ser a boa menina, mas deitada nua debaixo
de Macon, cambaleando e formigando com meu orgasmo, estou morrendo de
vontade de ser ela de novo.

Ele pressiona um último beijo no meu clitóris antes de arrastar os lábios


pelo meu tronco, mordendo meu mamilo uma vez, antes de tomar minha boca.

Ele está molhado comigo, seus lábios e língua provando meu orgasmo.
Eu arranho suas costas, raspando minhas unhas até sua cintura, então agarro
os globos firmes de sua bunda. Foda-se, cada parte dele é sexy.

Empurro meus quadris, esfregando meu núcleo inchado e úmido sobre


sua dureza, e ele geme.

— Puta merda, Lennon.

Ele se apoia em um braço e se estende entre nós, pressionando seu pau


contra minha boceta, então empurra, passando sua ereção pelos lábios da
minha boceta e sobre meu clitóris.

Eu posso sentir a rigidez de seu pênis enquanto ele se move para frente e
para trás sobre mim. É erótico, e eu preciso de mais. Eu choramingo e torço
meus mamilos novamente antes de empurrar com ele.

— Lá vamos nós, baby, — diz Macon enquanto eu me movo para ele. Ele
interrompe seus movimentos, então estou arrastando minha boceta sobre sua
ereção. — Sim, mova-se assim.
Ele está observando nossos corpos se moverem com olhos quase pretos.
Ele lambe os lábios cheios, em seguida, morde os dentes inferiores, suas
narinas queimando com suas respirações rápidas.

— Diga de novo, — eu pergunto, e ele move seus olhos para os meus.

Ele procura uma resposta em meus olhos, então seus lábios se curvam
em um sorriso pecaminoso.

— Seja uma boa menina para mim, Lennon Capri, — diz ele lentamente,
e minha boceta pulsa com a necessidade.

Eu gemo, empurrando mais forte, esfregando a cabeça de seu pênis sobre


meu clitóris.

— Foda meu pau até você gozar de novo.

Quando ele termina sua frase, meu corpo fica tenso com outro orgasmo,
e ele enfia seu pau dentro de mim antes que acabe. Ele bate rápido, cavalgando
o tremor da minha liberação com um gemido gutural.

— Foda-se, você me aperta tão forte, baby, — diz ele.

Ele empurra novamente, esfregando sua pélvis contra mim, então puxa
totalmente para fora, batendo a cabeça de seu pau no meu clitóris inchado. Eu
suspiro, e ele faz tudo de novo.

— Macon, isso é tão bom. Nos encaixamos tão bem.

Ele faz isso mais duas vezes antes de sair e cair ao meu lado de costas,
então me manobrando para que eu fique escarranchada em sua cintura. Nós
agarramos seu pênis juntos enquanto eu fico de joelhos, posicionando-o na
minha entrada antes de deslizar sobre ele com um gemido profundo.

Eu me inclino para trás e coloco minhas mãos atrás de mim nas coxas de
Macon, então pulso nele, levantando-me e caindo de volta. Lentamente no
início, depois mais rápido.

— Foda-se, você me fode tão bem, — diz ele, com a voz estrangulada e
sem fôlego. Ele olha como se estivesse me admirando, e eu aprecio o poder
que tenho sobre ele.
Ele agarra meus quadris enquanto eu monto nele, e o observo me
observando. Seus olhos acariciam cada centímetro da minha carne exposta,
mas eles continuam voltando para a nossa conexão, onde ele está deslizando
para dentro e para fora de mim, enquanto eu me movo para cima e para baixo
em cima dele.

Eu trago minhas mãos para cima e as coloco atrás da minha cabeça, e ele
geme, apalpando um dos meus seios enquanto eu giro meus quadris em sua
pélvis. Ele belisca um dos meus mamilos, e eu suspiro, montando-o mais forte.

— Aí está minha boa menina, — diz ele.

Ele leva o polegar ao meu clitóris e pressiona com força antes de me


esfregar em círculos. Minha boceta aperta e ele geme.

— Foda-se, minha boa menina é uma vagabunda para mim.

— Sim, — eu digo, tremendo ao redor dele, — para você.

— Só para mim, — diz ele com um grunhido e, de repente, estou sendo


virado de costas, minhas pernas estão juntas e jogadas sobre um dos ombros
de Macon.

Quando ele bate de volta em mim, é tão profundo que eu suspiro.

— Você é uma vagabunda para mim, Lennon Capri. Você é minha boa
menina. Você é minha vagabunda.

— Sua.

Minhas palavras são um sussurro ofegante. Macon está bombeando em


mim tão rápido que estou disparando para o meu orgasmo. Eu cavo meus
dedos em seu bíceps, segurando firme enquanto ele me traz para a borda, cada
vez mais perto até...

— Venha, — ele rosna, e eu explodo em torno dele com um gemido


gutural.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto pela força do meu orgasmo enquanto
eu monto. Ele não para de me foder. Não para de me atingir tão fundo.
— Isso garota, isso garota, — diz ele sem fôlego, perseguindo sua própria
liberação.

— Dentro de mim, — eu imploro.

Seus olhos se abrem, seus impulsos vacilam por um segundo, mas não
param.

— Venha para dentro de mim, — repito. — Eu quero sentir isso.

— Sim?

Ele mal está aguentando. Eu posso dizer, e pulso ao redor dele, só para
fazê-lo gemer. Eu quero que ele perca. Quero que ele se sinta tão eufórico
quanto eu.

— Me encha com seu esperma.

— Ah, porra. — Ele geme. Ele acelera, empurrando-se contra mim, e


então seu corpo estremece com outro gemido. — Oh, foda-se, Lennon.

Suas estocadas diminuem e eu posso sentir sua liberação escorrendo de


mim, misturando-se com a minha excitação e deslizando pela minha pele,
acumulando-se na cama debaixo de mim.

Macon se inclina para trás, pegando minhas pernas pelos joelhos e


empurrando-as mais perto do meu peito. Seus olhos ficam na minha boceta, e
ele puxa para fora lentamente, observando com olhos arregalados e lábios
entreabertos.

— Porra do inferno, — diz ele enquanto sua cabeça desliza para fora de
mim.

Eu aperto minhas paredes internas e posso sentir mais dele escorrendo


de mim, e ele geme novamente.

O que quer que ele veja, é quase demais para ele. Ele está tão excitado
que está me excitando novamente.

Ele agarra seu pau e o esfrega sobre minha boceta mais uma vez,
escorregadio com nosso esperma, então o arrasta para cima e circula meu
clitóris antes de empurrar de volta para dentro de mim uma última vez.
Ele move minhas pernas, então elas estão de volta em torno de sua
cintura, então se abaixa sobre mim.

— Lennon, — ele sussurra, beijando meus lábios enquanto ele empurra


lentamente.

Eu o sinto começar a amolecer, mas ele emaranha sua língua na minha e


continua empurrando lentamente. Eu cavo meus dedos nas laterais de seu
cabelo, com cuidado para não derrubar o clipe de borboleta, e eu gemo em sua
boca.

Eu pulso meus quadris no mesmo ritmo dos dele, e logo, seu pau começa
a ficar mais grosso, endurecendo mais uma vez.

Ele começa a empurrar mais rápido, e eu acompanho sua velocidade.

— De novo? — Eu pergunto, esperançosa, mas surpresa.

Ele se afasta apenas o suficiente para que eu possa vê-lo sorrir.

— Para sempre.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS

Lennon

S eguro a mão de Macon com força enquanto atravessamos o corredor


do hospital em direção ao elevador.

Fiz questão de tomar banho e depois secar meu cabelo antes de virmos
para cá. Eu nem tenho certeza por que eu precisava fazer isso, mas eu fiz.
Macon achou divertido.

Mesmo agora, enquanto estrangulo sua mão com a minha e mexo na


bainha da minha camisa com a outra, ele me observa de brincadeira com o
canto do olho. Sem nervos. Sem ansiedade. Nem um pingo de mal-estar em
todo o seu corpo.

— Por que você não está nem um pouco nervoso? — Eu pergunto, minha
voz um sussurro. — Eles vão saber que estamos transando agora.

Ele bufa uma risada e aperta o botão do elevador.

— Estamos transando? É isso?

Reviro os olhos quando ele levanta minha mão e dá um beijo em meus


dedos.

— Olha... eu tenho certeza que todos eles sabem, nos últimos quatro anos,
que eu transaria com você de bom grado em um piscar de olhos. Porra, eu
provavelmente teria transado com você na mesa da cozinha na frente de todos
se você me deixasse. Eu estava tão duro por você.

Eu suspiro, em seguida, golpeio seu peito com minha mão livre e atiro
meus olhos ao redor do hospital.

— As pessoas vão ouvir você!


— Não me importo.

Ele dá de ombros e me puxa para seu peito, pressionando um beijo em


meus lábios antes de me levar de volta para o elevador. As portas se fecham e
ele me empurra contra a parede, levantando minhas mãos e prendendo-as nos
pulsos acima da minha cabeça.

Ele se inclina para trás e me examina.

— Acho que preciso desenhar você assim. Presa para mim, incapaz de
correr.

— Eu não estou fugindo, — digo a ele, e ele se inclina para trás, beijando
meu queixo.

— Não?

— Não.

A boca de Macon cobre a minha, e meus lábios se abrem imediatamente,


acolhendo sua língua. Ele solta meus pulsos e move suas mãos para meus
quadris, assim como as minhas passam por seu cabelo. Eu murmuro,
pressionando meu corpo o mais próximo possível do dele, beijando-o
profundamente.

Uma garganta limpa e nós nos separamos, olhando rapidamente para as


portas abertas do elevador. Eu não percebi que tínhamos parado. Eu nem ouvi
a porta abrir. Um homem mais velho está parado na porta com a sobrancelha
levantada. Ele não parece ofendido, apenas irritado.

— Desculpe, — digo ao homem, agarro a mão de Macon e o puxo atrás de


mim para fora do elevador.

— Não sinto muito, — diz Macon ao passar pelo homem, e tenho de


conter uma risadinha.

— Você é terrível.

— Você me ama de qualquer maneira.

Eu não respondo, mas é verdade.


Quando nos aproximamos do quarto de papai no hospital, ouço
conversas saindo pela porta e entrando no corredor. Meus passos diminuem
até parar. Claire está lá.

— Podemos ir embora, — sussurra Macon, olhando da porta para mim.


— Eu realmente não quero vê-la também.

Na verdade, quero ver Claire, mas não quero aborrecer meu pai. Eu tenho
algumas palavras para dizer a ela e meu pai deve estar em um ambiente de
baixo estresse agora. Eu penso sobre isso, então decido. Eu posso manter isso
sob controle enquanto estivermos aqui.

— Não. Vamos entrar.

Macon não discute e me segue pela sala.

No momento em que passamos pela porta, posso sentir os olhos de todos


em nós. Claire, Drea, pai. Até Eric está aqui, e Evie está dormindo nos braços
de Drea. Aperto a mão de Macon e não a solto.

— Ei, pessoal, — eu digo brilhantemente.

A atenção do meu pai se arrasta de nossas mãos para o meu rosto. Ele é
estoico no início, e então seus lábios se curvam em um sorriso triste.

— Você falou?

— Sim, — responde Macon. — Acho que cobrimos tudo.

Meu pai acena com a cabeça, então olha para onde Claire está sentada.
Eu mantenho minha atenção em papai.

— Claire nos contou o que ela fez, — papai diz, e meu queixo cai. — Tudo.

Eu viro meus olhos para Claire e a encontro olhando para seus pés com
as mãos fechadas na frente dela. Ela parece estar chorando, mas não consigo
me importar.

— Você nunca deveria ter passado pelo que passou, Lennon, — diz meu
pai. — Eu deveria ter forçado a questão quando soube que você não tinha
voltado para casa. Eu sabia que algo não estava certo, mas eu...
— Não. — Cortei meu pai. — Você acreditou que eu sabia toda a história
e confiou em mim para tomar minhas próprias decisões. Você me deu o espaço
que eu pensei que precisava. Não é sua culpa que Claire fez o que fez.

Eu mordo minha língua, impedindo que mais palavras saiam. Respiro


fundo e me viro para Claire.

— Eu realmente apreciaria se você saísse agora, — eu digo calmamente.


— Eu gostaria de falar com meu pai e Drea a sós.

— Ok, — Claire diz timidamente. Ela se levanta e pega sua bolsa, olha por
cima do ombro e caminha em direção à porta com Eric a seguindo. Pouco
antes de sair para o corredor, ela se vira para me encarar.

— Lennon, eu...

— Eu não quero ouvir isso agora, Claire, — eu digo, interrompendo-a. Eu


nem mesmo me viro para olhar para ela. — Vá para casa. Estarei lá daqui a
pouco.

Eu a ouço sussurrar tudo bem, então ela e Eric desaparecem no corredor.

A sala está silenciosa e eu espero, temendo o momento em que alguém


menciona Claire. Mas, em vez disso, Andrea traz um tópico diferente.

— Então, vocês são um casal?

Quando eu olho para ela, ela está sorrindo suavemente. Quando olho
para o meu pai, ele está fazendo o mesmo. Eu olho para Macon para descobrir
que ele já está olhando para mim, e eu sorrio também.

— Sim. Nós somos.

— Qual é o plano, então? — Meu pai pergunta. — Pela distância. Você está
voltando para casa ou Macon está se mudando para Paris?

Minha garganta fica apertada.

Nós não conversamos sobre isso. Eu nem sei o que dizer. Eu sei o que
quero, mas ainda não toquei no assunto com Macon.

— Não conversamos sobre isso, — diz Macon, expressando meus


pensamentos em voz alta. — Mas imagino que Lennon tenha que voltar a Paris
para algumas coisas. Arrumar as coisas dela, cuidar dos negócios, dizer adeus
aos amigos dela. E então ela vai morar comigo.

Eu não posso parar o meu sorriso. Ele se estende tanto que minhas
bochechas doem.

— Realmente?

Ele revira os olhos e balança a cabeça, então me bate com aquele sorriso
estupidamente sexy.

— Sim, Len, realmente. Temos quatro anos para compensar. Não dá para
viver separado.

A risada vertiginosa que escapa dos meus lábios faz o sorriso dele crescer,
e então ouço a risada de Andrea. Eu olho para encontrar ela e papai nos
observando com sorrisos iguais aos de Macon e, pela primeira vez em muito
tempo, quase tudo parece certo.

****

Macon e eu voltamos para a casa de papai e Drea no carro de Macon.

Ele não para de me tocar. Uma mão no volante, outra na minha coxa. Ou
entremeado pelos meus dedos. Ou segurando a parte de trás do meu pescoço.
Eu nunca quero que suas mãos deixem meu corpo.

— O que você vai dizer ao francês? — Macon pergunta aleatoriamente, e


eu suspiro.

— Merda. Esqueci de Franco. — Eu olho para o relógio. — Você acha que


ele ainda está aqui?

— Aquele homem não está deixando você de bom grado, — diz Macon,
suas palavras misturadas com ciúme, e eu balanço minha cabeça.

Não vou discutir com ele. Ele verá em breve.


No momento em que paramos em casa, minha pele formigou com a
adrenalina. Preciso de todas as minhas forças para não pular do carro, correr
para dentro de casa e acertar um soco bem no nariz de Claire. Em vez disso,
respiro fundo e caminho calmamente até a casa segurando a mão de Macon.

Franco é a primeira pessoa que vejo quando entramos pela porta da


frente. Ele se levanta do banquinho da cozinha onde estava sentado e seus
olhos procuram os meus. Ele sem dúvida percebeu que eu estava chorando, e
seu rosto se contraiu.

— Eu te disse. — Macon solta minha mão e dá um beijo na minha cabeça.


— Pega leve com ele. — Ele passa por Franco. — Desculpe, Frankie, mas você
nunca teve chance.

Eu encaro, queixo caído nas costas de Macon enquanto ele se retira para
a sala de estar.

— Do que ele está falando?

Reviro os olhos.

— Ele acha que você está apaixonado por mim.

Franco ergue uma sobrancelha. — Será que eu teria uma chance?

Eu zombo de brincadeira, então olho para ele incrédula.

— Só por amizade, — eu digo, embora ele já saiba. — Meu coração sempre


pertenceu a Macon.

A testa de Franco franze, então seus lábios se curvam para um lado.

— Isso foi o que eu pensei. — Ele estende a mão e pega minha mão. —
Sempre seremos sex...

— Não! — Macon grita da sala de estar, interrompendo a frase de Franco.


Eu faço uma careta em sua direção, então olho para Franco.

— Vou voltar para cá, mas adoraria manter contato. Vou voltar para
arrumar meu apartamento e vender as coisas que não quero trazer de volta.
Tenho algumas pessoas com quem conversar e uma exposição em uma galeria
para resolver, mas depois venho para cá.
Franco assente.

— Sua amizade significa muito para mim, — eu digo a ele honestamente.


— Você me ajudou de mais maneiras do que imagina, e sou grata por isso. Mas
preciso me concentrar em Macon e em mim agora. Temos um monte de merda
para descobrir.

— Eu entendo, — diz ele. — Foi impulsivo da minha parte vir aqui sem
avisar antes, mas estava preocupado. Eu queria ter certeza de que você estava
bem. Achei que você precisaria de um amigo. — Ele ri e levanta uma
sobrancelha. — E eu estava entediado.

Eu ri.

— Achei que os franceses não ficavam entediados. Eu pensei que não


fazer nada era meio que seu truque?

— Talvez a americana estivesse me influenciando. — Ele estremece. —


Que bom que você está indo embora agora.

Reviro os olhos, mas a brincadeira é boa. Parece que vamos ficar bem. Eu
sabia que não havia nada profundo entre nós. Fizemos companhia um ao
outro. Nós mascaramos a dor um do outro por um tempo, mas eu tenho que
confessar minha merda agora.

Chega de correr. Chega de se esconder da verdade.

Não sei do que ele está fugindo, nunca conversamos sobre nada tão
pessoal, mas espero que ele resolva isso logo. Ele não me terá mais para
distraí-lo.

Franco e eu conversamos por mais alguns minutos. Ele me diz que vai
voltar para o hotel. Ele me dá um longo abraço e me diz para mandar uma
mensagem para ele quando voltar a Paris, depois me deixa em pé na cozinha.

— Quantos anos tem esse idiota, afinal?— Macon pergunta da porta.

— Ele não é um idiota, seu idiota. — Reviro os olhos para o rosto


sorridente de Macon. — Ele tem trinta e cinco anos.
— Jesus Cristo, — Macon engasga. — Eu ia adivinhar uns vinte e cinco no
máximo. Ele não parece ter trinta e cinco anos.

Eu concordo. Entendo. Não faz sentido. Franco fuma e bebe desde a


adolescência. Como a pele dele é tão jovem?

— Estranho, né? Provavelmente são os doces. Eu juro, eles são mágicos.


— Suspiro e olho para as escadas. — Bem, eu provavelmente deveria acabar
com isso. Tudo bem ficar aqui?

— Se é aqui que você me quer, é aqui que eu vou ficar.

— Hm. Bom menino, — eu digo com um sorriso, e ele pisca.

Subo as escadas lentamente e sigo em direção ao quarto de hóspedes.


Respiro fundo duas vezes e bato na porta.

— Entre, — Claire chama baixinho do outro lado.

Giro a maçaneta e empurro a porta para encontrá-la sentada com as


pernas cruzadas no meio da cama. Ela está curvada e seu rosto está vermelho
de tanto chorar. Eu não sinto nada.

— Onde está Eric?

Claire choraminga, e percebo que ela está esfregando o dedo anelar vazio.

— Ele saiu. Ele, hum, ele disse que precisa pensar sobre as coisas. — Ela
fecha os olhos e seu rosto se contorce de dor. — Ele disse que não tem certeza
se eu realmente o amo ou se apenas odeio você.

Meus olhos se arregalam.

Uau.

Mandou bem, Eric. Estou surpresa e estranhamente orgulhosa dele por


se defender. Isso foi uma coisa que Eric e eu sempre tivemos em comum. Nós
éramos bons demais para o nosso próprio bem. Contentes demais para serem
capachos.

— Bem... — eu digo, parando.


— Sinto muito, — Claire deixa escapar, com os olhos suplicantes. — Sinto
muito, Lennon. Eu não fazia ideia... Não havia como eu saber... Sinto muito.

Eu inclino minha cabeça e a examino.

Procuro em meu coração qualquer tipo de simpatia, mas não encontro


nenhuma.

Tudo o que posso pensar são as vezes que ela não era uma amiga para
mim enquanto crescia, apesar de afirmar ser minha melhor amiga. Todas as
maneiras que ela tirou de mim, me esgotando, nunca dando nada a menos que
a beneficiasse. Todas as coisas horríveis que ela disse sobre Macon. Mesmo a
maneira de merda com que ela me tratou apenas algumas semanas atrás,
quando a vi pela primeira vez em quatro anos, passa pela minha cabeça.

Pelo bem do meu pai, pelo bem da Drea, tento encontrar perdão, mas não
consigo.

— Ok, — eu digo, e Claire se senta mais ereta.

— Realmente?

— Posso aceitar que você não poderia saber o dano que causaria ao
receber aquela carta. Posso até aceitar que causar tanta dor não era sua
intenção...

— Não foi. Juro.

— Mas você ainda fez isso para me machucar, Claire. Isso não muda o
fato de que você queria me causar dor. E, acima de tudo, mesmo depois de
receber aquela carta, você poderia ter me dito a verdade quando respondeu ao
meu e-mail. Você nem precisava me contar sobre a carta, mas poderia pelo
menos ter sido honesta sobre Macon estar em reabilitação. Mandei um e-mail
para você implorando para falar com ele. Era óbvio que eu não tinha ideia do
que estava acontecendo, e o que você fez?

Ela estremece e seus olhos se fecham, lágrimas escorrendo por seus cílios
e encharcando seu rosto.
— Você me disse que ele estava melhor sem mim. Que ele não queria falar
comigo. Você mentiu, Claire. Você mentiu porque queria me machucar. Você
queria me causar dor e nunca poderei esquecer isso.

— Eu sei, — Claire choraminga.

— Talvez um dia eu consiga te perdoar, mas esse dia não é hoje. Vou
tolerar você por nossos pais, por Evie, mas nunca mais seremos amigas. Você
é filha da minha madrasta e não vou fingir que gosto de você. E quando Macon
e eu nos casarmos, porque vamos, você será convidada apenas para poder se
sentar na plateia e assistir um amor que você tentou tanto matar prosperar, e
espero que você se sinta insignificante. Espero que você se sinta um fracasso.
Você tentou me machucar, Claire, mas no final, tudo que você fez foi se
machucar.

Claire chora mais forte e ela balança a cabeça com os olhos fechados, mas
ela não diz mais nada. Não há mais desculpas. Pela primeira vez, Claire não
tem nada a dizer, e isso é bom.

Eu me viro e saio, fechando a porta atrás de mim, e desço as escadas para


encontrar Macon.

— Como foi?

Ele está encostado no balcão, bebendo um copo de suco de laranja, mas


quando eu passo na frente dele, ele abaixa o copo e me puxa para um abraço.
Eu envolvo meus braços em torno dele e o seguro para mim. Eu o respiro,
hortelã e especiarias, e pressiono um beijo em seu peito.

— Tão bom quanto se pode esperar. Mas me sinto melhor.

— Bom. — Ele se afasta e me bate com um balançar travesso de suas


sobrancelhas. — Agora devemos contar a Harper que ela foi rebaixada para o
número dois em sua lista de pessoas favoritas?

Eu rio e balanço a cabeça. Eu dou um passo para trás, então seus braços
caem para os lados, e combino seu sorriso com o meu.

— Vai ser preciso muito mais do que um bom pau para rebaixar Sam,
Macon, — eu digo claramente, e seu sorriso cresce.
— Apenas bom?

Eu rio mais alto e reviro os olhos.

— Talvez mais do que bom.

— Mais do que bom? — Ele agarra meus quadris e me puxa de volta


contra seu peito, pressionando um beijo em meus lábios antes de sussurrar
contra eles. — Vamos para casa e eu vou te mostrar mais do que bom. Talvez
até ótimo.

— Oh, ótimo, hein?

— Talvez até fodidamente fenomenal.

— Hmmm. — Dou um passo para trás, então me viro e vou até a porta. —
Não vamos perder mais tempo, então, — digo por cima do ombro. — Você me
mostra o seu e eu mostro o meu.
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

Macon

3 SEMANAS DEPOIS

—A corde, Sra. Jet Lag, — eu sussurro no ouvido de Lennon. —


Temos que estar na casa de mamãe e Trent em uma hora.

— Mais quinze minutos, — ela murmura, e eu rio em seu pescoço.

— Você disse isso quinze minutos atrás.

Ela choraminga e rola, então ela está de costas embaixo de mim, que é
um dos meus lugares favoritos para tê-la.

— Eu estou tão cansada. — Ela cobre a boca com a mão e boceja. — Por
que eu concordei com isso?

— Eu disse para você dizer não. — Eu me inclino e beijo sua testa. —


Poderíamos ter feito isso no próximo fim de semana.

Eu sabia que ela estaria com jet lag demais para o jantar de aniversário
atrasado. Ela acabou de voltar de sua viagem de despedida de sete dias por
Paris, que consistiu principalmente em limpar seu apartamento, dizer au
revoir para amigos e enviar uma tonelada de caixas de roupas de volta para
minha casa. Lennon poderia facilmente dormir por três dias seguidos.
— Ugh, eu sei. — Ela dá um leve empurrão no meu peito para que eu role
de cima dela, então ela se senta. — Eu acabei de...

Ela dá de ombros.

Ela não precisa explicar mais nada. É o primeiro aniversário dela em


casa, com todos nós, desde que ela fez dezessete anos. Ela passou seu décimo
oitavo aniversário na Inglaterra com Sam e sua tia Becca em um hospital, e ela
passou todos os aniversários desde então tentando fugir dessa memória.

Só espero que este seja diferente. Talvez este aniversário possa ser o
primeiro bom. O aniversário curador.

Lentamente, ela se levanta da cama e vai até o armário. Deito-me nos


travesseiros e observo enquanto ela tira minha camiseta, mostrando-me suas
costas nuas, e meu pau endurece.

Ela nem precisa se virar para me excitar. Apenas saber que ela está nua
faz isso por mim. Porra, só saber que ela existe já é o suficiente.

Ela puxa um vestido de um cabide e o enfia pela cabeça, escondendo seu


corpo de mim. Meu pau continua duro, no entanto.

Ela se vira para mim e me dá um sorriso.

— Como estou?

— Maravilhosa.

— Obrigada, — ela diz suavemente, e eu me empurro para fora da cama


e diminuo a distância entre nós.

— De nada. — Eu a beijo, então puxo sua mão. — Agora, vamos.

Lennon dirige meu carro até a casa. Ela sente falta de dirigir desde que
morou em Paris, então eu disse a ela que ela poderia ter rédea solta no meu
carro até conseguir um para ela. Você pensaria que eu disse a ela que estava
sendo apresentada no MoMA pelo quão animada ela ficou.

Enquanto ela dirige, ouvimos Fleetwood Mac, e eu desenho pequenos


corações estúpidos em sua coxa com meu dedo indicador. Eu sei o momento
em que ela percebe o que estou desenhando, porque seus lábios se curvam
suavemente nos cantos, e quando ela move seus olhos para os meus
brevemente, eles estão cheios de tudo que eu tenho esperado por anos.

— Eu te amo, — diz ela, e eu sorrio.

— Eu sei.

Ela revira os olhos e aumenta o volume do rádio, e eu encosto a cabeça


no banco e fico olhando para ela pelo resto do caminho.

— Ei, é a aniversariante, — Trent chama de seu lugar no sofá, quando


entramos na sala.

— Ei, papai, — diz Lennon, curvando-se para lhe dar um abraço.

Ele já parece dez vezes melhor do que na semana passada. Cem vezes
melhor do que na semana anterior. Nic está no comando de seu PT e sei que
ela está cuidando bem dele.

— Macon. — Trent estende a mão para que eu possa cumprimentá-la.

— Senhor.

Lennon bufa uma risada de nossas formalidades, e eu aceno para ela,


assim que minha mãe entra com Evie em seu quadril.

— Nona, nona, nona, — Evie começa a entoar, estendendo suas mãos


agarradas para Lennon e saltando nos braços da minha mãe.

— Oh, meu Deus, — mamãe diz com uma risada. — Aqui está sua Nona.

— Diga Macon, — digo a Evie enquanto mamãe a entrega a Lennon. —


Macon. Maaaaaa-conn. Você consegue.

Evie ri, mas nem tenta dizer meu nome. Em vez disso, ela apenas baba
na bochecha de Lennon com um de seus beijos de bebê, e eu faço uma careta.

— Estou com ela quase todos os dias há meses e nada. Então você entra
e ela diz seu nome depois de apenas algumas semanas.

— Ah, você está com ciúmes? — Lennon dá um tapinha na minha


bochecha e eu estreito meus olhos para ela.

— Nona nem parece Lennon.


— Pare de fazer beicinho. — Ela estende a mão e puxa meu lábio inferior.
— Você fica mais bonito quando é arrogante.

Com isso, eu sorrio e ela ri. Ela abre a boca para dizer algo, mas outra voz
chama pela casa pela porta da frente. Todos nos viramos para encontrar Sam
e Casper, os braços cheios de balões e sacolas de presentes.

— Eu disse que não queria presentes, — diz Lennon, e Sam revira os


olhos.

— Abra-os, e se você não os quiser, eu os guardarei para mim.

— Você não vai ficar com o meu, — diz Casper, e Sam dá a ele um olhar
de soslaio que diz olhe para mim.

Não tenho certeza do que está acontecendo com esses dois ultimamente,
mas eles têm aparecido juntos em todos os lugares. Casper tem estado de boca
fechada, mas nunca tivemos o tipo de relacionamento em que falamos sobre
garotas ou encontros ou o que quer que eles possam estar fazendo. Se Sam
disse alguma coisa para Lennon, Lennon manteve seu segredo.

Eu dirijo minha atenção entre os dois.

Eles certamente seriam um par estranho. Pobre menino do lado errado


dos trilhos. Filha rica de um senador. Inferno, eles até parecem errados um
para o outro, com os jeans esfarrapados de Casper e a camiseta preta lisa ao
lado do designer de tudo de Sam. O único designer que Casper já teve são os
tapetes WeatherTech que ele comprou para seu caminhão.

— Você pode colocar isso aqui, — mamãe diz a Casper, e eu observo


enquanto ele pega os presentes que está carregando e o pacote dos braços de
Sam e os coloca sobre a mesa.

Sam dá um abraço em Lennon e dá um tapa no nariz de Evie.

— Diga Sam, — Sam diz, anunciando o nome dela. — Ssssaaaam.

— Sssssssss, — Evie diz, sibilando como uma cobra e depois rindo,


fazendo todo mundo rir também.

— Vou levar isso, — diz Sam, enviando-me um sorriso presunçoso.


Eu desligo e ouço Trent soltar uma risada. Eu não olho para ele para
confirmar que ele me pegou, no entanto. Eu apenas pego a mão de Lennon e
a levo para o sofá, então eu sento nele e puxo ela e Evie para o meu colo.

— Oh, isso é muito fofo, — mamãe diz quando nos vê, pegando seu
telefone e tirando uma foto. — Vou emoldurar este aqui.

Dou um aperto no quadril de Lennon, e ela pisca para mim, e observo


enquanto ela fala com todos. Seus amigos, sua família. Ela tingiu o cabelo de
volta à sua cor natural algumas semanas atrás, quando não podia mais ignorar
suas raízes e, desde então, tive que me beliscar algumas vezes.

Ela é minha Lennon, de novo. Minha Astrea.

Nós dois mudamos bastante nos últimos quatro anos, mas, no fundo,
ainda somos nós. Ela ainda é minha Lennon. Ainda sou o Macon dela. Somos
mais verdadeiros quando estamos juntos.

Minha mãe diz algo sobre o jantar estar pronto, e ela levanta Evie dos
braços de Lennon e se dirige para a cozinha. Eu mantenho minha mão na coxa
de Lennon, segurando-a no meu colo enquanto todos saem da sala.

Quando estamos sozinhos, ela olha para mim.

— E aí?

Estendo a mão e coloco uma mecha de cabelo atrás de sua orelha, em


seguida, traço meu polegar sobre sua mandíbula. Isso parece uma cura. Parece
que vamos ficar bem. Melhor do que bem.

— Eu te amo.

Ela sorri e pressiona um beijo suave em meus lábios.

— Eu sei.

É QUASE meia-noite quando voltamos para o nosso apartamento.

O jantar foi ótimo. O bolo era melhor. Evie ainda não diz Macon ou anda.
Conversamos e rimos e tivemos uma ótima noite. Não me lembro da última
vez que fiquei tão feliz, mas tenho certeza de que foi uma época que envolveu
Lennon.

Lennon está em todas as minhas memórias felizes.

Deixamos as sacolas de presente perto da porta, enfiamos as sobras que


mamãe mandou para casa conosco na geladeira e nos despimos antes de
rastejar para a cama.

Lennon se enrola ao meu lado, com a cabeça no meu peito e meu braço
em volta de seu corpo.

Eu costumava brincar que meu lado esquerdo não dava sorte. Pulso
quebrado, fêmur quebrado, coração partido. Mas acontece que Lennon gosta
do lado esquerdo da cama e a cabeça dela se encaixa perfeitamente no lado
esquerdo do meu peito.

Meu lado esquerdo não teve azar. Estava apenas esperando por Lennon.
Ela cura minhas feridas. Ela me fortalece. Estou tão estupidamente
apaixonado por ela.

— Você teve um bom jantar de aniversário?

Eu escovo meus dedos para frente e para trás sobre a carne macia na
curva de seu quadril, e ela ronrona. Eu amo essa porra de som.

— Foi maravilhoso. — Sua respiração dança em meu peito enquanto ela


fala. — Fiquei um pouco preocupada, para ser sincera, mas foi ótimo estar em
casa.

Eu sorrio. Ainda não a ouvi chamá-lo assim. Pouco antes de sair para
arrumar o apartamento, ela ainda se referia a Paris como sua casa. Mas agora,
veio livremente.

— Lar?

— Sim, em casa. Aqui com você. Com papai, Drea e Evie. Lar.

Ela não tem ideia de quão forte eu sinto essas palavras. A alegria absoluta
que eles me dão. Levo minha mão livre ao seu queixo e inclino sua cabeça para
cima, então beijo seus lábios suavemente.
— Você é minha casa, Astrea.

Ela sorri e me beija novamente antes de colocar a cabeça no meu peito.

— Você quer saber um segredo? — Ela sussurra, e eu aceno.

— Sim, — eu sussurro de volta. — Quero saber todos os seus segredos.

Ela faz uma pausa por um momento, apenas os sons de nossa respiração
no quarto escuro, e ela desenha delicadamente corações no meu peito com o
dedo indicador. Tenho certeza que ela pode ouvir meu coração acelerado.

— Eu estava com medo de termos perdido nossa chance.

Sua voz falha, e eu espero enquanto ela respira fundo algumas vezes.

— Eu estava preocupada que tivéssemos mudado muito. Que não


daríamos mais. Que não havia lugar para nós nesta vida. Eu nunca desisti,
Macon. Na verdade. Eu só estava com medo de ter que esperar até a próxima
vida para encontrá-lo novamente.

Gentilmente, deslizo meu braço e rolo para o lado, então Lennon e eu


ficamos cara a cara. Eu beijo seus lábios uma vez, então traço meus dedos
sobre sua mandíbula. Eu olho em seus olhos e os seguro.

— Essa vida. A próxima vida. Cada vida depois disso. Eu vou te amar em
todas elas, Lennon Capri. Não importa quem você se torna ou como você
muda. Minha alma sempre pertencerá à sua.

Eu limpo uma lágrima de sua bochecha com meu polegar. Ela se vira e
beija minha palma, então beija meu pulso, depois meus lábios.

— Eu te amo, Macon Andrew Davis, nesta vida e em todas as outras. Eu


te amo.
EPÍLOGO

Macon

1 ANO DEPOIS

P
orra.

Vou me atrasar. Eu me olho no espelho uma última vez, deslizando


minha mão pelas lapelas do meu paletó. O nó da minha gravata
está liso, minhas calças estão amassadas, meus sapatos não estão arranhados.

Vou me atrasar, mas pelo menos estou bem.

A última vez que usei algo remotamente parecido com um terno como
esse foi no baile de formatura. Este custou um pouco mais do que aquele, no
entanto.

Pego meu cartão-chave na mesa ao lado do elaborado arranjo de flores


que Franco enviou. Ele queria vir hoje à noite, mas estou feliz que ele não
conseguiu. Estou chegando perto dele, mas ainda guardo um pouco de ciúme.
Ele sempre será o idiota francês para mim.

Eu enfio o cartão-chave em minha carteira, em seguida, coloco a carteira


no pequeno bolso escondido no interior do paletó no caminho para fora da
porta. Envio uma mensagem de texto para Trent enquanto aperto o botão do
elevador, dizendo a ele para dizer a Lennon que estarei lá em dez minutos,
então ando de um lado para o outro.

Ando de um lado para o outro enquanto espero pelo elevador, e ando de


um lado para o outro durante todo o tempo em que estou no elevador.

No momento em que as portas se abrem no térreo, corro pelo saguão,


saio para a rua e desço o quarteirão. Pelo menos esta galeria não fica longe do
hotel.

Paro de correr assim que chego à rua, então me observo na janela de um


prédio de esquina. Nó, lapelas, vincos, sapatos. Todos ainda em boa forma.
Então respiro fundo e caminho rapidamente até a Galerie D'atelier, uma
galeria de arte de propriedade de um artista em Washington, DC. E apesar do
nome, não tem vínculo com a França.

Quando chego ao prédio, meu coração se enche de orgulho quando vejo


o nome de Lennon na placa, significando que ela é a artista de destaque da
galeria. No mês passado, a Galerie D'atelier ofereceu a Lennon a adesão à sua
prestigiosa galeria. A honra é enorme. Os artistas aceitos nesta galeria
passaram a ter exposições em museus e aclamação global. Claro, ela aceitou o
convite, então esta noite é a noite de abertura de sua exposição de novos
membros de uma semana.

Meus olhos se fixam nela no momento em que passo pela porta. Eu fico
para trás e a observo. Ela está linda, vestida com um vestido preto com o
cabelo em ondas suaves nas costas, e sua beleza é amplificada quando ela está
em seu elemento. Eu a vejo conversar com os clientes. As pessoas param e
fazem perguntas. Ela sorri e responde. Eu sempre posso dizer quando ela está
falando sobre seu trabalho porque seu rosto fica sério, mas seus olhos dançam.

Eu avisto Trent, mamãe e Sam conversando em um canto, mas em vez de


ir até eles para dizer oi, sigo Lennon enquanto ela se move no meio da
multidão. Ela para, para discutir suas pinturas e sorri sempre que recebe
elogios, que são constantes.
Esse é o maior motivo que tenho para agradecer a Paris. Lennon conhece
seu talento agora. Ela aceita elogios porque acredita que é digna de elogios.
Ela não era assim antes.

Tenho uma lista de coisas que me deixam grato por Paris, mesmo que
isso signifique perder Lennon por um tempo. Em Paris, ela floresceu. Ela
cresceu em sua independência. Ela dominou o uso de sua voz.

Ela poderia ter feito essas coisas aqui na Virgínia comigo?

Eu não acho.

Eu era uma bagunça demais para ajudá-la a crescer. Eu tive que fazer o
meu próprio crescimento. Tínhamos que nos separar antes que pudéssemos
ser mais fortes juntos.

Lennon se separa de um grupo de pessoas e se dirige para os fundos do


prédio, então eu o sigo. Ela acena e sorri, mas não para, para falar, e então
dobra uma esquina e desaparece de vista. Eu diminuo meus passos e caminho
em direção ao corredor, então não parece que estou perseguindo a artista em
destaque, mas quando viro a esquina que Lennon virou, sou agarrado por
minhas lapelas e preso na parede.

— Você está atrasado, — Lennon sussurra em meu ouvido, seu corpo


inteiro colado ao meu. Porque sou um glutão por punição, empurro contra ela
apenas ligeiramente, e tenho que abafar um gemido.

Porra, ela é sexy neste vestido.

— Eu estou aqui, — eu digo a ela, e ela sorri.

— Eu sei.

Ela se move para dar um passo para trás, mas eu a seguro pelo ombro e
a giro, invertendo nossas posições, então sou eu quem a prende contra a
parede. O olhar em seus olhos acende fogo em minhas veias. Eu beijo sua
mandíbula, então o ponto macio atrás de sua orelha, então seu pescoço e
clavícula. Ela é flexível para mim, sua respiração vem quente e rápida.
— Você está nervosa? — Eu arrasto minhas mãos para a bainha de seu
vestido e subo, até que esteja logo abaixo da curva de sua bunda. — Precisa de
mim para aliviar a tensão?

— Não estou nervosa, — ela sussurra enquanto alcança meu zíper, — mas
você ainda pode aliviar o estresse.

Não perco tempo deslizando sua calcinha para o lado e deslizando meus
dedos dentro dela enquanto ela aperta e bombeia meu pau. Eu esfrego seu
clitóris e a fodo com os dedos até que ela esteja pronta para mim, então eu
engato sua perna no meu quadril e deslizo meu pau duro profundamente em
sua boceta.

— Sim, — ela suspira quando estou totalmente dentro.

— Fique quieta agora.

Eu pulso profundamente dentro dela, cobrindo sua boca com a minha


toda vez que ela choraminga ou engasga. Eu seguro seu seio e torço seu
mamilo através do tecido do vestido. Quando ela se aperta em torno de mim,
tenho que morder o lábio para não gemer.

Ela é tão fodidamente sexy.

— Esfregue seu clitóris para mim, — eu digo a ela, e ela serpenteia sua
mão entre nós. — Isso mesmo, garota. Esfregue bem e rápido para gozar no
meu pau, ok?

Ela balança a cabeça e choraminga, e eu acelero minha pulsação,


transando com ela até que ela esteja apertada em torno de mim e tremendo de
seu orgasmo.

— Como está essa vantagem? — Eu pergunto enquanto saio dela e puxo


seu vestido de volta para baixo sobre sua bunda.

Ela sorri. — Foi-se. Tirei completamente.

— Bom.
— Você quer que eu... — Ela baixa os olhos para o meu pau duro e lambe
os lábios, e eu gemo enquanto fecho minhas calças de volta, enfiando meu pau
dentro.

— Não. — Pego a mão dela e a pressiono sobre a protuberância em minha


calça. — Mas mais tarde esta noite? Estou fodendo você no chuveiro no quarto
do hotel, depois de novo na cama e de novo no terraço à meia-noite.

— Promete?

Ela dá um aperto brincalhão no meu pau e eu solto um suspiro áspero.

— Prometo, — eu digo a ela. — Agora vá convencer aquelas pessoas


artísticas a comprar uma de suas pinturas para que você possa pagar o aluguel.

Ela revira os olhos e pressiona um beijo em meus lábios. Ambos sabemos


que ela não precisa vender nenhum quadro aqui. Ela faz uma matança em
comissões.

— Eu te amo.

— Eu sei.

Ela ri e vira a esquina, e eu levo alguns minutos para controlar minha


merda. Eu faço o método Friends e penso nas várias partes do corpo de
Casper. Seu cabelo, suas orelhas, seus dedos dos pés. Em um minuto, minha
ereção se foi e estou pronto para me misturar.

No caminho para fora do corredor escuro aleatório, encontro um homem


vestido todo de branco segurando uma bandeja coberta com uma série de
taças de champanhe.

— Você tem água com gás? — Eu pergunto, e ele puxa uma taça cheia de
um líquido claro e borbulhante e uma única framboesa, e a entrega para mim.
Eu cheiro e, com certeza, é água com gás. — Obrigado, cara.

Volto pela galeria, piscando para Lennon quando a vejo, e encontro meu
caminho de volta para Trent, mamãe e Sam.
Claire está em casa cuidando de Evie. Ela sabia que não foi convidada,
mas acho que queria ser útil mesmo assim. Ela está tentando. Não é o
suficiente, mas é alguma coisa.

— Você conseguiu, — mamãe diz, me dando um abraço.

— Sim, eu já estive aqui um pouco. Estive explorando.

— Ela não é brilhante?

Eu aceno, porque sim, ela é. Nenhuma palavra pode realmente capturar


o quão talentosa ela é, embora eu saiba que alguns críticos de arte tentarão
amanhã.

— Como você acha que este vai ficar na sala de estar? — Trent diz,
apontando para uma grande pintura exibida em uma parede lateral.

É uma peça colorida, o contorno da figura de uma mulher entre rajadas


de roxo, azul, vermelho e rosa. Lembro-me de quando ela pintou este. Chama-
se La Petite Mort, que é o que os franceses chamam de orgasmo. Eu olho para
Sam, e seus olhos estão arregalados tentando não rir.

— É uma ótima peça, — digo lentamente, — mas não acho que você a
queira em sua sala de estar.

— Não? — Trent olha para ele novamente. — Muito brilhante?

— Claro, — eu respondo, o que faz a compostura de Sam escorregar, e ela


solta uma gargalhada.

Minha mãe está com a mão sob o queixo, e ela está olhando Trent e eu
com diversão. Ela faz isso o tempo todo quando estamos juntos. Eu ainda não
entendo o porquê.

— Vamos, velho. — Eu coloco minha mão no ombro de Trent. — Eu sei


exatamente a pintura para sua sala de estar. — Então eu o levo para algo
menos... orgasmo.

Estamos parados diante de uma peça mais segura, chamada


simplesmente de Homesick, quando pego Trent observando Lennon.
— Olhe para a nossa garota, Macon, — diz ele suavemente. — Você
pensou que ela estaria fazendo algo assim quando você a conheceu?

Meus lábios se curvam e eu respondo imediatamente.

— Eu pensei.

Trent ri e me dá um tapinha nas costas.

— Eu também.
CONTEÚDO DE BÔNUS

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