UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - DCOS

CINEMA E AUDIOVISUAL

FREDERICO DE JESUS DE MORAIS

Análise Crítica de Direção de Arte - Estética e Linguagem

São Cristóvão
2023
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1 ANÁLISE DE DIREÇÃO DE ARTE DO FILME "AS DUAS IRENES"

"As duas irenes" é um filme de 2017, dirigido por Fabio Meira, mas que conta
com uma equipe técnica composta em sua maioria por mulheres e este é um dos
motivos pelo qual o filme consegue abordar determinados temas, de uma maneira
sensível e atenciosa. 

A direção de arte é realizada pela designer de produção Fernanda Carlucci e

é através de figurinos e ambientações que a narrativa das duas protagonistas é
construída. 

O roteiro acompanha duas pré-adolescentes de treze anos, que são irmãs,

filhas de um mesmo pai, que possui duas famílias ao mesmo tempo, sem que ambas
tenham conhecimento disso, porém, as duas pré-adolescentes, além de possuírem a
mesma idade, também possuem o mesmo nome. Por essa razão, a direção de arte
do filme desenvolve um perfil para cada personagem, que durante a trama se
mesclam através de descobertas que envolvem a adolescência, o crescimento e o
desenvolvimento de cada uma. 

As duas famílias possuem uma composição diferente. Enquanto uma é

composta por três filhas (uma delas sendo irene), uma mãe e uma empregada, a
outra é composta apenas por uma filha e sua mãe. Além das diferenças que
envolvem a composição familiar, o filme retrata que mesmo que a história se passe
em uma cidade pequena, uma das famílias reside mais no centro, enquanto a outra
localiza-se mais no interior e a direção de arte atua de maneiras distintas em cada
ocasião. 

Figura 1 — Irene na cozinha de casa

Fonte: As duas irenes (2017).

Irene por ser a irmã do meio, sente como se fosse invisível e durante a maior
parte do filme veste-se com tons que remetem aos tons da casa, justamente por
sentir que se camufla naquele ambiente, visto que não possui a atenção que as suas
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outras duas irmãs possuem. Quando não está vestida com tons que remetem ao
branco e ao cinza, veste-se com tons terrosos que referem-se aos ambientes de
natureza em que está, novamente evidenciando como se sente camuflada nos
ambientes que frequenta. A largura de suas roupas também evidenciam o quanto
ela ainda está em descoberta consigo mesma e o quanto precisa transparecer e
obedecer os bons costumes que instauram-se na família tradicional. 

Fotografia 1 — Pai de irene ao centro da mesa

Fonte: As duas irenes (2017).

Ainda que o filme não localize-se em uma época ou data específica, a direção
de arte e fotografia trabalham constantemente juntas para evidenciar o quanto a
figura patriarcal ainda está no centro, visto que além da figura do pai sempre sentar-
se na ponta da mesa, as refeições apenas acontecem com a presença deste e toda
a narrativa gira em torno das consequências de suas próprias ações. 

Figura 2 — As duas irenes

Fonte: As duas irenes (2017).

Enquanto uma Irene é mais neutra justamente por se sentir excluída, a outra
é cheia de vida e extrovertida e por ter uma relação mais leve com a mãe, utiliza
roupas mais curtas e coloridas, evidenciando o contraste que existe entre as duas e
as suas vivências cotidianas. 

Figura 3 — Duas irenes em uma

Fonte: As duas irenes (2017).

A cena em que Irene cria a coragem de utilizar um cropped colorido evidencia

o quanto a convivência entre as duas influencia na construção de personalidade de
cada uma e no desenvolvimento da criação da coragem de começar a falar por si
próprias e atenderem seus próprios desejos. 

Figura 4

Fonte: As duas irenes (2017).

Os signos que vão sendo construídos pela direção de arte transmitem

mensagens que transparecem o descobrimento que as protagonistas realizam com
o passar do tempo e com o envolvimento que acabam criando, como nessa cena em
que estão experimentando o álcool pela primeira vez e se comparam
constantemente com as figuras das mulheres desenhadas nesse muro, em um dos
momentos em que ambas estão descontraídas e sem pensar no verdadeiro motivo
que as levou a desenvolver essa relação de proximidade. Aqui, o trabalho da direção
de arte constrói-se através de contar uma história através da locação e
ambientação, que se relaciona ativamente com a história que as protagonistas estão
desenvolvendo em cena. 

Figura 5 — Troca de lugar entre as Irenes

Fonte: As duas irenes (2017).

Uma das cenas finais do filme revela uma das maiores importâncias da
criação do perfil de cada personagem através do figurino e visual, porque é quando
as duas irenes trocam de lugar e passam a atribuir a si mesmas as características
uma da outra, como por exemplo, o cabelo curto no ombro que aparece em uma das
protagonistas na última cena, desvinculando-a da imagem dos cabelos longos e com
formas que foram vistos durante todo o filme e evidenciando mais uma vez, o quanto
as duas irenes misturaram-se com o tempo, amadurecendo e entendendo juntas
quem realmente queriam ser.