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Escrito por
Pedro A. Almeida
Primeiro Tratamento
Data de Início: 11/07/2020
Data de Finalização: 13/07/2020
CRÉDITOS INICIAIS:
Vemos uma goteira no teto. Começa pequena e vai se
estendendo. Os créditos, em letras bem pequenas, se
posicionam no canto inferior da tela, como se estivessem
recebendo as gotas de água na cabeça.
A música é o Prelúdio em Dó Menor no.2 Do Cravo bem Temperado
de J.S Bach.
HEITOR
(se levantando e
caminhando até a porta,
com a camisa desabotoada,
e resmungando)
Dr. Pedro meu ovo.
LÍGIA
Heitor, onde você tá indo? Heitor.
HEITOR
Eu vou encontrar a minha - a minha
mãe.
MÃE (CONT'D)
Vou meter um processo no rabo desse
senhor. Ah, se vou! Minha cozinha
não pode ficar assim.
MÃE (CONT'D)
(gritando, da cozinha)
Quem é?
Sem resposta.
MÃE (CONT'D)
Quem é?
HEITOR
(sem energia)
É o Heitor!
MÃE
Heitor? O que está fazendo aqui à
essa hora, querido?
HEITOR
Minha mão.
MÃE
Estou aqui. Você está bem, querido?
HEITOR
Minha mão.
HEITOR
O trabalho, o documento. Eu não
conseguia mais escrever.
MÃE
Ah, esse cara. Heitor, ele vai
acabar sendo preso. Pula fora desse
barco que ele tá afundando!
(MORE)
5.
MÃE (CONT'D)
Porque eles vão levar todo mundo
junto, inclusive você e a Lígia. Eu
te avisei pra não se meter com
isso. Se você ouvisse o que eu e
seu pai - que deus o guarde -
tínhamos te falado e continuasse
com a farmácia lá em Cachoeiro,
isso não aconteceria.
HEITOR
(com a cara no sofá,
resmungando, quase
ininteligível)
Mãe, minha mão!
MÃE
Quer um chá? Vou te trazer um
chazinho, filhinho! Depois, vai
dormir e amanhã a gente conversa.
A Mãe de Heitor vai para a cozinha.
Heitor começa a sentir algo em sua nuca, vira-se para cima, e
vê uma goteira no teto.
Fica observando a goteira por um tempo, e logo depois se
levanta e vai cambaleando até o banheiro.
MÃE (CONT'D)
Amanhã vê se sai do cargo. Sai
desse esquema enquanto ainda dá
tempo.
Heitor já está de volta no sofá, e fica passivamente
recebendo água na cabeça, da goteira em cima do sofá.
HEITOR
Eu não quero chá. Não posso tomar
chá! Eu tô doente, mãe.
(mostra as mãos
desaparecidas)
Agora é tarde demais para sair do
emprego. O documento já tá quase
pronto, mas eu ainda preciso
terminar. Preciso terminar a tempo.
MÃE
Sai da goteira, filho. Tá chovendo
na sua cabeça. É culpa desse seu
Jardim, com essa obra que ele tá
fazendo no apartamento aí de cima.
De dia, é um barulho infernal,
quebra tudo. De noite, fica
pingando água na minha cozinha, e
agora no meu sofá. Eu vou meter um
processo nele! Só espera, seu
Jardim! E o pior, filho, é que ele
nunca tá aí. Sempre viajando com a
família dele. Eu nunca consigo
encontrar com ele, pra falar umas
verdades na cara do pilantra! Bem,
ninguém consegue se esconder pra
sempre.
Heitor não está prestando atenção na narrativa da mãe, e a
cadência de gotas em sua cabeça já está se intensificando.
Ele está ficando todo molhado.
HEITOR
Eu preciso terminar o documento,
mas a minha mão.
MÃE
Vamos dormir, filho! Amanhã a gente
conversa.
JOANA
Não é! É do papai!
LÍGIA
Filha. Por favor, eu só te peço
isso. Depois eu te levo - eu te
levo pra patinar, que tal?
Joana fica pensativa.
LÍGIA
Ele não atende minhas ligações, e
não apareceu no aniversário da
própria filha.
9.
ZÉ PEREIRA
Não se preocupa, vai dar tudo
certo. Temos bons advogados. Os
melhores. Vão apagar vocês do
processo, não se preocupe. Mas eu
recomendaria uma viagem em família
prum sítio que um amigo tem, lá em
Guarapari. Só até a poeira baixar.
Te passo mais informações depois.
Joana finaliza a peça de J.S Bach, e recebe aplausos.
TODOS
Bis! Bis! BIS!
A garota, triste, olha para as suas mãos, e tenta posicioná-
las novamente ao piano, mas não consegue pressionar as
teclas.
Sai correndo para seu quarto.