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“RECORTE DE UM CINEASTA QUANDO JOVEM”

Um roteiro
de
Norman Jr.

Copyright 2023 by Norman Jr. Av. Aeroporto Viracopos, 429 –


Casa B
Todos os direitos reservados
(84) 99649-7563
RECOTE DE UM CINEASTA QUANDO JOVEM

FADE IN:

INT. CADA DO JÚNIOR – SALA – DIA - MANHÃ


Imagens com efeito televisivo das torres gêmeas sofrendo o
atentado de 11 de Setembro de 2001. Em seguida, vemos
Júnior, uma criança branca de aproximadamente 9 anos,
assistindo com sua MÃE TEREZA, uma mulher de pele parda com
aproximadamente 33 anos. Ambos estão olhando fixamente para
a tela, mas a mãe chora. Os dois estão na sala da CASA, uma
residência de baixa renda típica da Zona Norte de Natal/RN.
JÚNIOR vira para a mãe.

JÚNIOR
O que foi mãe? Tá chorando?
MÃE
(COM A VOZ BAIXA, QUASE SEM SOM)
Meu Deus...
JÚNIOR
O avião é de verdade?
MÃE
Claro que é, menino. Tá no jornal!
JÚNIOR retorna sua visão para a TV.
JÚNIOR
Se tá no jornal é de verdade?
MÃE
(LIMPANDO AS LAGRIMAS E RESPIRANDO FUNDO)
O jornal não é filme. Se tá mostrando é porque aconteceu.
Não é faz de conta.
JÚNIOR inclina a cabeça para o lado como se estivesse
confuso.
JÚNIOR
Parece os filmes que painho assiste. Acho que é de mentira.
Será que vai ter mais avião?
MÃE
(COM A VOZ FIRME)
Júnior, Não diga isso. Pessoas morreram e isso é um assunto
muito sério. Agora, vá se arrumar pra ir pra escola, já
passou da hora.
JÚNIOR dá de ombros e SAI.
A MÃE continua assistindo do sofá.
CORTA PARA:
EXT. RUA – EM FRENTE A CASA DE JÚNIOR – DIA - TARDE
JÚNIOR está de uniforme com seu colega LUCAS, um menino de
pele parda que possui por volta de 8 anos de idade. Os dois
estão caminhando em direção da casa de JÚNIOR, que segura
um saco com pães.
JÚNIOR
Minha mãe me disse que tem coisa que é faz de conta e coisa
que é real. Eu prefiro faz de conta.
LUCAS
Por quê?
JÚNIOR
Posso ver mais de uma vez. É só colocar a fita de novo
pronto.

LUCAS começa a rir.


LUCAS
Nada a ver isso.
JÚNIOR
Tchau.
LUCAS
Espera, vem cá! Já que você gosta de ver filme, Augusto tá
com uma fita que pegou escondido com o primo dele. Tá
juntando todo mundo da rua pra ver na casa dele. Bora?
JÚNIOR
Eu nem conheço o Augusto.
LUCAS
Tá com medo, é? Pensei que você era corajoso.
JÚNIOR
(IRRITADO)
Nem sei que filme é. Como vou ter medo?
LUCAS
Alguma coisa do inferno. Bora?
JÚNIOR balança a cabeça confirmando e se despede.
LUCAS lhe pega pelo braço e o traz para mais perto.
LUCAS
Não pode dizer para ninguém, viu? Principalmente pra sua
mãe. Se você falar, Augusto tá ferrado e a gente te mete a
porrada.
JÚNIOR
É segredo, eu sei.
A MÃE de Júnior aparece no portão.
MÃE
JÚNIOR, venha logo tirar essa roupa.
Os dois amigos se despedem.
CORTA PARA:
INT. CADA DO JÚNIOR – SALA – DIA – TARDE
JÚNIOR está deitado no sofá sem camisa, utiliza apenas um
short. A MÃE para do seu lado segurando bolsa e utensílios
de manicure.
MÃE
Vou ali na casa da Ivone, que mora aqui do lado. Vou só
fazer a unha dela e já volto. Se comporte e fique de olho
pra quando eu chamar você abrir o portão, entendeu?
JÚNIOR
Entendi.
A MÃE lhe beija a tesa e SAI.
JÚNIOR se senta e olha confirmando a saída da MÃE.
Ele sorri e corre para a...
COZINHA, onde ele pega a cadeira que está junto à mesa e
lhe arrasta até chegar no...
QUARTO, onde leva a cadeira até próximo ao guarda-roupa.
Ele abre a porta do móvel, coloca a cadeira ainda mais
perto e sobe nela.
Começa a vasculhar até que encontra uma câmera fotográfica.
CLOSE UP – JÚNIOR
que está sorrindo mostrando os dentes.
VOLTA À CENA
JÚNIOR se joga na cama e abre cuidadosa a câmera.
INSERT – CAMÊRA FOTOGRAFICA ABERTA
a máquina está sem filme.
VOLTA À CENA
JÚNIOR se levanta e sobe novamente na cadeira.
Ele pega um pote contendo filme fotográfico e desce da
cadeira.
O garoto corre até a janela do quarto e a fecha. Em
seguida, vai até a porta e deixa ela quase fechada e
observa o quarto.
JÚNIOR se deita na cama e começa a colocar o filme na
câmera.
INSERT – CAMÊRA FOTOGRAFICA ABERTA
o filme é colocado na câmera que é fechada em seguida.

VOLTA À CENA
JÚNIOR fotografa e ilumina o quarto inteiro com o flash.
JÚNIOR sorri e anda para a...
SALA, onde ainda sorrindo tira sua primeira foto.
CLOSE UP – JÚNIOR
sorrindo, ele coloca a câmera na altura do olho e faz seu
click.
MONTAGEM
As seguintes fotos tremidas e sem foco intercaladas de uma
luz branca que toma conta da tela, como um FADE OUT,
simulando o flash da câmera.
A)Foto do sofá;
B)Foto da do teto;
C)Foto da mesa da cozinha;
D)Foto da porta do quarto;
E)Foto da entrada do banheiro;
F)Foto de plantas da casa;
G)Foto dele no espelho sorrindo;

VOLTA À CENA
EXT. CADA DO JÚNIOR – QUINTAL – DIA – FINAL DA TARDE
JÚNIOR verifica a quantidade de fotos que ainda pode tirar.
Ele mira a câmera para o céu e faz seu click.
JÚNIOR corre para...
QUARTO, onde retira com cuidado o filme, o coloca dentro do
seu pote e guarda no guarda-roupa.
Ele faz o mesmo com a câmera e fecha a porta do guarda-
roupa.
JÚNIOR SAI e ENTRA segurando folhas de papel e caneta.
Ele se senta no chão e faz cadeira de mesa.
CLOSE UP – PAPEL E MÃOS DE JÚNIOR
escrevendo o título AS TRÊS ESPADAS MÁGICAS PERDIDAS HÁ
MUITO TEMPO.
Dois dedos de JÚNIOR medem um paragrafo e a caneta começa a
escrever abaixo.
VOLTA À CENA
JÚNIOR continua sentado e escrevendo.
Ele para, meche no pulso como se sentisse dor.
JÚNIOR se levanta e anda até a...
COZINHA, onde pega uma garrafa de água e coloca no pulso.
MÃE (V.O)
Tchau, Ivone! Tô indo que JÚNIOR tá só!
JÚNIOR dá um gole na garrafa, a guarda na geladeira e corre
até o...
QUARTO, onde pega e leva correndo até a...
COZINHA, onde larga a cadeira perto da mesa e corre mais
uma vez até o...
QUARTO, pega os papeis e começa a olhar ao redor.
MÃE V.O)
Júnior! Abre aqui!
JÚNIOR coloca os papeis por debaixo do travesseiro e corre
até...
TERRAÇO, ele abre o portão para mãe que está na sua frente.
A MÃE entra e levanta o queixo do menino olhando seu rosto.
MÃE
Tava correndo? Tá todo esbaforido e suado. Vá logo tomar
banho que vou fazer a janta.
CORTA PARA
INT. CADA DO JÚNIOR – SALA – NOITE – INICIO DA NOITE
A MÃE está sentada no sofá lendo os papeis que JÚNIOR havia
deixado por baixo do travesseiro.
JÚNIOR, que está só de toalha, se aproxima da mãe.
JÚNIOR
(VOZ CAUTELOSA)
Tomei meu banho.
MÃE
Por que você colocou isso debaixo do travesseiro?
JÚNIOR não responde.
A MÃE puxa carinhosamente pelo braço e o faz sentar do seu
lado.
MÃE
Você tava tentando esconder?
JÚNIOR balança a cabeça confirmando.
MÃE
Mas por quê?
JÚNIOR respira fundo.
JÚNIOR
Porque meu pai disse que é errado. Que isso é coisa de
veado e vagabundo.
A MÃE lhe dá um beijo lhe abraçando.
MÃE
Você sabe o que significa ser veado e vagabundo?
JÚNIOR
Não sei, não.
Os dois se olham em silêncio.
JÚNIOR (cont’d)
Mas não gosto quando ele fala isso, quando ele briga
comigo.
A MÃE organiza as folhas e as coloca no colo do garoto e
lhe abraça novamente.
MÃE
Olha, não tem nada de feio em escrever e nem ser veado, se
for o caso. Mas uma coisa não tem nada a ver com outra,
entendeu? Se você gosta, vai lá e escreva. Eu adoraria ler,
tô curiosa pra saber o final. Tem tanta gente que queria
ter um filho escritor e não tem. Eu tenho é sorte!
JÚNIOR sai do abraço limpando as lagrimas dos olhos.
MÃE (cont’d)
Promete que vai me mostrar quando tiver pronto?

JÚNIOR balança a cabeça novamente e ganha outro beijo.


CORTA PARA:
INT. CASA DO JÚNIOR – COZINHA – NOITE
Estão sentados a mesa e comendo JÚNIOR, a MÃE e sua IRMÃ
CINTHIA, uma adolescente de 15 anos branca e loira.
CINTHIA
E ai? Já sabe o que vai pedir de aniversário?
JÚNIOR
Sei, sim.
CINTHIA
É boneco ou carrinho? Você só gosta disso.

JÚNIOR
Não, nem gosto de carro.

CINTHIA
Oxe! É o que, então?
JÚNIOR
Quero uma máquina de escrever.
CINTHIA começa a rir.
CINTHIA
E pra que tu quer isso?
JÚNIOR
Escrever com a mão cansa muito.

CINTHIA
Como tu sabe? Quase não escreve nada na escola.
MÃE
Deixe ele. Júnior vai ser escritor.
A MÃE pisca o olho para o filho e os dois sorriem.
CINTHIA
Nunca que painho vai te dar um negócio desse.
CORTA PARA:
INT. CASA DO JÚNIOR – QUARTO – MANHÃ
JÚNIOR está dormindo, deitado em sua cama. Seu PAI DANIEL,
homem de estatura baixa, pele parda, barba e com
aproximadamente 40 anos, vai até ele e lhe acorda.
PAI
Júnior, Júnior. Acorde!
JÚNIOR
O que foi?
PAI
Você vai comigo pro trabalho hoje.
JÚNIOR
Tá muito cedo.
PAI
Sua mãe vai passar o dia fazendo unha e sua irmã na igreja.
Levante, bora.
JÚNIOR se senta, coça o olho e se levanta calmamente
caminhando para fora do quarto.
CORTA PARA:
INT. ESCRITÓRIO – SALA DO PAI – MANHÃ
Os dois entram na sala e JÚNIOR percebe a presença da
MÁQUINA DE ESCREVER sobre a mesa. Ele se senta em frente à
mesa e fica olhando. Seu pai se senta do outro lado.

PAI
Seu aniversário tá perto, hein? Já sabe o que quer?
JÚNIOR
Ainda não.
PAI
Sua mãe me disse que você já sabe, mas não me falou o que
é.
Alguém bate na porta chamando o PAI, que se levanta e SAI.
JÚNIOR se levanta e vai até a máquina.
CLOSE UP – MÃOS DO JÚNIOR
alisando a máquina de escrever em todas as suas partes.
As mãos começam a apertar as teclas.
CLOSE SHOT – JÚNIOR
está sorrindo em um fundo totalmente preto.
SOM DE FUNCIONAMENTO DA MÁQUINA.
VOLTA À CENA
O PAI ENTRA e interrompe o digitar do filho.
PAI
Não é assim que se usa.
O PAI pega uma folha, coloca na máquina e mostra como
funciona.
JÚNIOR fica apenas olhando sério.
PAI(cont’d)
É isso que você quer de presente?
JÚNIOR balança a cabeça.
PAI
Pois teste aí que eu já volto.
O PAI SAI e JÚNIOR começa a apertar aleatoriamente as
teclas da máquina.
O PAI ENTRA.
PAI
Deixa eu ver aqui.
O PAI retira o papel e começa a ler.
PAI (cont’d)
Ta vendo? É por isso que não vou lhe dar uma máquina. Você
só quer para brincar. Não escreve nada com nada.
JÚNIOR
Eu tava só testando, nunca usei antes!
PAI
Isso é muito caro para você ficar brincando em casa. É pra
trabalho.
O PAI se levanta, pega água para os dois que bebem em
silêncio.
O PAI coloca JÙNIOR no colo.
PAI (cont’d)
Já vi gente que sabe escrever e não é seu caso, filho. Além
disso, eu lembro bem quando eu era mais novo. Meu filho não
era nem nascido, lá pro final de 70 pra 80. Quem era
envolvido com essas coisas de escrever e coisa do tipo
apanhava da polícia, sabia? O exército prendeu muita gente
desse meio aí. E a maioria nem gostava de mulher, mesmo
sendo homem. Você tem que querer é estudar e continuar
tirando notas boas pra ser alguém na vida. Deixa essas
coisas pra lá que é melhor.
JÚNIOR não responde e o pai lhe dá um beijo na testa.
Ambos se levantam e caminham até a porta.
PAI (cont’d)
Escolha um carro ou uma bola. Você gosta dessas coisas, não
gosta?
OS dois SAEM e a porta se fecha.
CORTA PARA
INT.CASA DO JÚNIOR – TERRAÇO – TARDE
JÚNIOR está sentado lendo uma história em quadrinhos no
terraço na parte de frente de sua casa. Chega seu amigo
LUCAS com AUGUSTO, pré-adolescente de 13 anos, branco e
alto.
LUCAS
E ai? Bora assistir?
JÚNIOR fecha o gibi e olha para os garotos, surpreso.
AUGUSTO
Vai ser legal, pô. Bora lá. Filme é bom pra ver em grupo,
por isso fizeram o cinema.
LUCAS
E você já foi pro cinema?
AUGUSTO
Não, mas meu irmão foi. Ele disse que é um monte de gente
junta assistindo e se divertindo. Eu ia, mas fechou.
JÚNIOR
Agora, só tem o do Natal Shopping. Foi lá que minha mãe me
levou.
LUCAS
Você já foi pro cinema também?
INTERCUT AUGUSTO
Que massa!
JÚNIOR se levanta e guarda o gibi na cadeira.
JÚNIOR
Vou pegar a chave pra ir com vocês.
JÚNIOR abre o portão e SAI.
CORTA PARA
INT.CASA DO AUGUSTO – SALA – TARDE
Os garotos entram e encontram outros vários jovens da mesma
faixa etária.
AUGUSTO
Você contou para sua mãe?
JÚNIOR
Não, ninguém sabe que vim pra cá.
AUGUSTO
Massa! Senta aqui do meu lado então, dá pra ver melhor.
Os dois se sentam nas cadeiras centralizadas em frente a
TV.
LUCAS senta a frente.
A luz é apagada, o filme começa e ilumina o rosto de todos.
JÚNIOR olha ao redor maravilhado
JÚNIOR
Por que o Paulo tá abraçando a Rosana?
AUGUSTO
(SORRINDO)
Não te disse que era melhor assistir todo mundo junto?
Quando vier a parte do susto, é melhor ainda.
CLOSE SHOT – JÚNIOR
com a luz na face e com de medo.
VOLTA À CENA
TODOS os jovens estão tensos e com as luzes iluminando a
face.
LUCAS começa a correr e SAI.
JÚNIOR
Ele fugiu?
AUGUSTO
Ele sempre vai embora. Não consegue ver essa cena.
JÚNIOR
Qual o nome desse filme?
AUGUSTO
Um drink no inferno.
JÚNIOR volta demonstrar medo.
AUGUSTO
Sabe o que é um drink?
JÚNIOR
Sim, uma bebida.
AUGUSTO
Massa.
LUCAS(V.O)
JÚNIOR, vem cá!
AUGUSTO
Ele tá assistindo. Não é medroso como você!
AUGUSTO E JÚNIOR sorriem um para o outro.
LUCAS(V.O)
A mãe dele tá procurando e disse que vinha aqui!
JÚNIOR larga o sorriso e se levanta tenso.
JÚNIOR
Preciso ir, então.
Augusto balança a cabeça sério confirmando.
CORTA PARA:
EXT. RUA – EM FRENTE A CASA DE AUGUSTO – TARDE
LUCAS
Falaram para tua mãe que você tava assistindo o filme, ela
tá brava.
JÚNIOR
Foi você?
LUCAS
Claro que não! Vamo por ali pra ela não vê que você tava
aqui.
CORTA PARA:
EXT. RUA – QUASE EM FRENTE A CASA DO JÚNIOR – TARDE
Chegando perto de casa LUCAS para e se senta na calçada
LUCAS
Não fala nada pra sua mãe. Minha mãe não pode saber, certo?
JÚNIOR concorda balançando a cabeça.
LUCAS (cont’d)
Você viu a mulher suja de sangue?
JÚNIOR
Vi.
LUCAS
E ai?
JÚNIOR
Ela tava toda aberta, foi muito rápido, mas parecia que
tinham cortado ela toda. Sei lá, muito feio.
LUCAS
É porque ele é um vampiro.
JÚNIOR
Vampiro?
LUCAS
É. Ele queria o sangue dela que nem os vampiros.
JÚNIOR
Não percebi que era vampiro.
LUCAS
É que são vampiros diferente. Augusto me disse.
LUCAS abaixa a cabeça apoiando nos ombros que estão nos
joelhos.
JÚNIOR
O que foi?
LUCAS levanta a cabeça.
LUCAS
Tô ferrado. Não vou dormir essa noite e minha mãe vai
descobrir. Ela sabe quando tô com medo.
JÚNIOR
Não é de verdade, não é jornal. É tipo faz de conta de
criança.
LUCAS
É de verdade, você não viu?
JÚNIOR coloca a mão no queixo.
JÚNIOR
Não sei, mas dá muito medo. Tem muita coisa estranha
naquele filme.
LUCAS balança a cabeça fazendo sinal que sim.
JÚNIOR (cont’d)
Preciso terminar de ver. Tenho que saber como acaba.
LUCAS
Você tá doido?
A MÃE ENTRA
MÃE
Aonde você tava, Júnior?
LUCAS
A gente foi brincar ali perto da quadra.
MÃE
Quadra é? Pois entre e vá tomar banho pra jantar.
JÚNIOR
Tchau, Lucas.
LUCAS abraça JÚNIOR.
LUCAS
Tchau, Júnior.
CORTA PARA:
INT. CASA DO JÚNIOR – QUARTO DO JÚNIOR – NOITE
JÚNIOR está acordado e deitado na cama. Há um pouco de luz
iluminando o quarto, vindo de outro cômodo, o suficiente
para enxergar a MÃE aparecendo.
JÚNIOR se assusta com a entrada da MÃE.
MÃE
Tá vendo? É por isso que não deixo você assistir esses
filmes. Depois você fica com medo e não consegue dormir.
Nem idade você tem para isso.
A MÃE se senta na cama e JÚNIOR coloca a cabeça no seu
colo.
JÚNIOR
Mãe, já que não posso ter uma máquina de escrever, posso ir
pro cinema no meu aniversário?
MÃE
Não dá, meu filho. A festa vai ser cara e nem daria tempo
de você ir pro cinema e chegar a tempo.
JÚNIOR
Não precisa de festa, não. Prefiro o cinema.
MÃE
E os presentes? Sem festa ninguém vai lhe dar.
JÚNIOR
Só ganho o que não gosto. Bola e carro.
MÃE
A gente pode fazer assim. Fazemos sua festa na sexta e
pegamos um filme na locadora pra você assistir no final de
semana. Você vai poder assistir no final de semana todinho,
quantas vezes quiser. O que acha?
JÚNIOR
Quero não. Prefiro cinema. Filme é pra assistir em grupo,
por isso fizeram o cinema.
MÃE
(sorrindo)
Tudo bem, mas só se você me prometer que não vai assistir
mais nada escondido. Promete?
JÚNIOR
Prometo.
JÚNIOR se senta na cama e olha para a MÃE.
JÚNIOR
Se é um filme, é faz de conta, né? Jornal que é de verdade.
MÃE
É, jornal que precisa se preocupar em falar a verdade.
Filme é pra se divertir que nem quando você lê um
quadrinho, escreve ou brinca com seus bonecos.
JÚNIOR
Entendi. Se fosse de verdade, seria pior, né? Gente
morrendo de verdade é sempre ruim.
MÃE
Morte é coisa séria, não é bom. Mas depois conversamos mais
sobre isso. Tá tarde e você tem que dormir.
JÚNIOR
Desculpa ter falado aquilo do avião batendo na torre.
Os dois se abraçam.
A MÃE ajusta o filho na cama e SAI.
A luz que que ilumina o outro cômodo é desligada.

FADE OUT

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