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Perfil de Personagem:

César Akin Reis Fançony (Escrito por Ricardo Antunes)

César é um rapaz de descendência africana, nos seus 23 anos, nascido em


Angola. Veio para Portugal quando ainda era um bebé e não tem memórias dessa
altura de quando ainda estava em Angola. Viveu a maior parte da sua vida com a
sua mãe Anabela, pai Hélder e 3 irmãos, Yanick, Miguel e Jefferson numa casa
em Coimbra. Sendo o irmão mais velho, teve sempre a responsabilidade de tomar
conta dos irmãos enquanto os pais trabalhavam, especialmente durante as férias
de verão. Um dos grandes truques que usava para acalmar os irmãos quando
havia desavenças era mostrar-lhes filmes. Todos os domingos, com o jornal que o
pai comprava, vinham uns DVDs com filmes e César, sempre fascinado por
histórias, colecionava-os. A primeira e única prenda que alguma vez pedira tinha
sido um leitor de DVDs quando o que tinham em casa se estragou com uso.
É uma pessoa muito bem-humorada e tenta fazer com que quem esteja à sua volta
se sinta à vontade as suas notas na nunca foram as melhores, mas também não as
piores. Entre tomar conta dos irmãos e tratar da casa, César tinha pouco tempo
para si. Quando fez 16 anos, começou também a trabalhar, por decisão própria,
em trabalhos que pagavam em mão e ao dia, para poder ajudar os pais. Trabalhou
em vários cafés, bares e até em construção civil. Nunca teve tempo para se
apaixonar, a família sempre em primeiro lugar. Apesar da sua simpatia, César
tinha poucos amigos, a única amiga que perdurou desde a sua infância fora
Beatriz. Moravam no mesmo prédio e os seus pais dava-se bem. Ela sempre teve
jeito para as desavenças do bairro onde viviam e César conseguia chamá-la à
terra. Após terminar o secundário César não tentou entrar em nenhuma
faculdade. Teria notas para algumas, mas não teria o dinheiro necessário para o
fazer.
Um dos bares que trabalhou após os 18 anos, foi convidado para fazer o catering
e serviço de uma gravação de uma novela. Era um evento simples em que tinham
de ter mesmo profissionais de serviço e bartenders para a cena. Foi aqui que
César descobriu a magia detrás das cenas. Após as gravações terminarem, ficou
para trás para observar como o realizador dava as indicações, mas eram os
cameramen que tinham de realizar e executar os movimentos. Após esta
descoberta, começou a angariar dinheiro durante os anos seguintes. Deu parte
aos seus pais e usou o resto para se inscrever num curso de Realização em
Lisboa.
Agora, num T0 em Santarém, a duas horas de distância a transportes de Lisboa,
César trabalha de noite para pagar as propinas e renda enquanto faz o curso que,
espera ele, o levará até Hollywood.
1. INT. GRUTA – NOITE [FLASHFORWARD]
Uma gruta escura, apenas com a fonte de luz do flash um
telemóvel. ANGÉLICA e CÉSAR estão a escavar em terra mole,
mas para cima, como que a tentar saírem de onde estão. Não
há indícios duma derrocada, mas estão ambos cobertos de pó
e pedras. César está a sangrar duma ferida que tem na
têmpora e Angélica a tentar aguentar as lágrimas enquanto
ambos continuam a escavar em pânico.

Angélica repara na ferida de César e aponta.

ANGÉLICA

(com a voz a tremer e por entre fungos) Estás bem?

CÉSAR

(a tentar manter-se calmo. Suspira)

Não. Quer dizer sim, não me dói. Nem tinha reparado.

Angélica dá-lhe o seu casado e dá-lhe.

ANGÉLICA

Faz pressão na ferida. Vamos parar um bocado.

César aceita.

CÉSAR

Obrigado…
Ambos param, olham um para o outro.

ANGÉLICA

Estamos lixados, não estamos?

César pausa, olha-a nos olhos e chega-se mais perto dela.

CÉSAR

Eu tenho a certeza de eles nos vão encontrar. A Beatriz é


demasiado teimosa para nos deixar aqui sozinhos.

Angélica dá-lhe um pequeno sorriso e inspira pela boca como


se fosse dizer algo, mas nesse momento há um estrondo e há
uma queda enorme de terra para cima deles. Corta para
negro.

2. INT. CASA DA ANGÉLICA - Quarto – DIA

Quarto com duas estantes a cobrir duas das paredes do


quarto cheios de livro. Está tudo muito organizado e as
paredes que não estão com estantes estão pintadas de
cinzento-escuro. Vários dossiers e papeis estão
meticulosamente empilhados em cima da secretária.

Sentada na cama, Angélica está ao telefone enquanto ata os


sapatos.
ANGÉLICA

Sim, mãe. Já está tudo dentro da mala e não me vou esquecer


de nada

(pausa, acaba de atar, levanta-se e sai do quarto em


direção à cozinha)

INT. CASA DA ANGÉLICA - Cozinha – DIA

Uma cozinha pequena, mas também extremamente organizada.


Angélica pega numa torrada que acaba de sair da torradeira
e não mete nada, come-a simples.

ANGÉLICA

(enquanto mastiga)

Estou a comer agora mesmo!

(pausa enquanto ouve a mãe)

Sim, muito entusiasmada para o primeiro dia de aulas.

(pausa)

Eu sei que não era o que tu querias, mas obrigado por


apoiares na mesma. Sei que o cinema é pequeno em Portugal,
por isso é que tenho de começar o mais cedo possível, para
a frente é que é o caminho.

(pausa)

Vai lá, tem um bom dia de trabalh-

(a mãe desliga)

Angélica suspira, pega no resto da torrada meia comida e


atira-a para o lixo, irritada.
3. EXT. CAMPUS DA FACULDADE – DIA

Um campus enorme com um grande relvado, nos portões de


entrada está escrito “Escola Superior de Teatro e Cinema”.
Três estátuas encontram-se no centro do relvado com as
palavras “criatividade, originalidade e nenhuma das
anteriores” escritas debaixo. Alguns alunos estão na relva
a aproveitar o sol, outros a fumarem, outros tantos
simplesmente a conversar. Existem dois grandes edifícios, o
bloco A e o bloco B.

Angélica está a apressar-se enquanto parece perdida e


verifica um papel na sua mão. O papel tem indicações de
onde é a sala, mas Angélica não parece conseguir localizá-
la facilmente. Nisto, sem se aperceber, Angélica mete-se no
meio da ciclovia, onde FREDERICO está a andar numa
trotinete elétrica enquanto olha para o seu telemóvel.
Ouve-se o CÉSAR:

CÉSAR

CUIDADO!

Frederico, olha em frente e vê Angélica que repara na


trotinete que está a ir a toda a velocidade na sua direção.
Enquanto Angélica tenta sair do caminho, Frederico dá uma
curva apertada para se desviar e acaba por se desequilibrar
e cair.

Angélica aproxima-se e vê que está bem

ANGÉLICA

Tem mais cuidado por onde andas! Há pessoas a circularem.

FREDERICO
Miúda, mas ‘tás-te a passar? Estavas no meio da ciclovia

ANGÉLICA

Eu estou é atrasada e sem paciência para aturar palhaços


logo de manhã. Vê se encontras outra maneira de te matar
que não envolva atropelares-me.

Angélica vai-se embora à procura da sala. César aproxima-se


a correr para o tentar ajudar.

CÉSAR

Oh, boy! Ganda queda. (ri-se)

Estás bem? (enquanto ajuda Frederico a levantar-se)

FREDERICO

Sim, obrigado pela ajuda.

CÉSAR

Sem problema, temos de ser uns para os outros.

FREDERICO

Bem, vou só estacionar o que resta desta trotinete e vou


para as aulas, obrigado pela ajuda.

CÉSAR

Sem stress, fica bem.


César vai-se embora, Frederico estaciona a trotinete e vai
em direção ao Bloco B.

4. INT. CAMPUS DA FACULDADE - DIA

Frederico percorre os corredores da faculdade até chegar à


aula, vê duas pessoas a entrar e o César com os olhos
fechados para a sala a dizer qualquer coisa por entre
suspiros. Frederico aproxima-se

FREDERICO

(enquanto dá um toque com o punho no César)

Então meu? Vais entrar ou continuar a rezar que a porta


abra?

CÉSAR

(surpreso)

Ah, também és desta aula?

Eu tava só…

FREDERICO

Ya… Se o que está no horário estiver correto. IRPC, ‘né?

CÉSAR

Ham?
FREDRICO

(ironicamente)

Introdução à Realização e Produção Cinematográfica? I. R. P


.C?

CÉSAR

Ah, sim… sim. (ri-se, embaraçado)

Frederico começa a andar, mas César para-o, impenddindo-o


de ir contra uma pessoa que estava a passar.

Já não chega de quase-atropelamentos por hoje?

Ambos os rapazes riem-se e entram na sala.

ALTERAÇÕES

3. EXT. CAMPUS DA FACULDADE – DIA

Frederico aparece de trotineta elétrica, igualmente


apressado e, distraído, não repara na Angélica e quase a
atropela. Angélica insulta-o, irritada. Este é ajudado por
César.

4. INT. CAMPUS DA FACULDADE - DIA

Ao entrar na faculdade, Frederico encontra César, que está


à porta da sala, e fala com ele. Os dois conversam antes de
entrarem na sala de aula.

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