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PERAÍ - Tempo de Escolha

AUTOR: Sergio Olliveira

PERSONAGENS:

MARQUINHO – Filho de D. Ana.

HOMEM DO COMPUTADOR – Pedófilo.

DONA ANA – Mãe ausente de Marquinho.

LOURDES – Aluna patricinha.

PROFESSOR – Meia idade.

MÁRCIA – Uma jovem de personalidade forte.

CARLOS – Rapaz tímido, filho de D. Tereza.

ANA – Jovem de classe média recalcada.

CARLA – Jovem de classe média, bela e simpática.

TEREZA – Alcoólatra mãe de Carlos.

ANÔNIMO – Paraplégico – vitima do alcoolismo.

SEGURANÇA – Homem sério e profissional.

EM OFF - AUSENTES

JÚLIA – Empregada da casa de marquinho.

PADRINHO – Membro da Instituição de Auto Ajuda.


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ATO I

CENA I

CENÁRIO – QUARTO DE MARQUINHO - LUZ – MENOR

MARQUINHO – (ENTRANDO AO QUARTO) Mãe vou tomar banho e fazer o


dever de casa.
(SENTA-SE A FRENTE DO COMPUTADOR E COMEÇA A USÁ-LO ATÉ
ADORMECER SOBRE O TECLADO)

CENA II

(ENTRA HOMEM (POLÍTICO) COM SORRISO ABERTO CAMINHANDO


ENTRE O PÚBLICO, CUMPRIMENTA PARTE DA PLATÉIA, FAZENDO
GENTILEZAS, SE DESDOBRA EM (PROF. DE LUTA), PARA OUTRA PARTE
DA PLATÉIA. A FRENTE DO PÚBLICO TORNA-SE UM (RELIGIOSO) - SOM
DE SIRENE DE POLÍCIA); (HOMEM SE ASSUSTA, CORRE SEM SENTIDO
ATÉ QUE VAI EM DIREÇÃO AO PALCO, MUDANDO FIGURINO, NO
MOVIMENTO DE ENTRAR NO PALCO COLOCA UMA MÁSCARA DE LOBO,
OLHA PARA O PÚBLICO E PROCURA SE ESCONDER. INVADI CASA E VAI
ATÉ O QUARTO ONDE MARQUINHO ESTÁ ADORMECIDO SOBRE O
TECLADO E SE ESCONDE DENTRO DO COMPUTADOR CÊNICO E TIRA A
MÁSCARA, MOSTRANDO O SEU ROSTO MASCARADO).

CENA III

DONA ANA – OFF - Marquinho (MARQUINHO SE DESPERTA), abra essa


porta, você está a horas nesse computador. Venha tomar banho para
almoçar.
MARQUINHO – Mãe, peraí. Já tô indo. Só mais um pouquinho.
DONA ANA – OFF - Tá bem. Não demora. Vou ter que sair. Daqui a pouco
a Júlia vai colocar o almoço na mesa. Tô indo. Tchau!
(MARQUINHO MEXE NO MOUSE – SE ASSUSTA AO VER O ESTRANHO NA
TELA DE SEU COMPUTADOR); (O ESTRANHO SE COMUNICA
VISUALMENTE COM MARQUINHO; SE APRESENTANDO COMO UM NOVO
AMIGUINHO; MARQUINHO VAI SE INTERAGINDO COM O ESTRANHO;
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ESSE QUE AOS POUCOS VAI SEDUZINDO MARQUINHO. APÓS SENTIR
QUE MARQUINHO O ACEITA PASSAR A LHE MOSTRAR IMAGNES
INCOMUNS AO MENINO QUE LOGO SE ESPANTA); (MARQUINHO
DEMOSTRA CURIOSIDADES); (O ESTRANHO INSTIGA O JOVEM A PONTO
DE EXCITÁ-LO PELAS IMAGENS DEMONSTRADAS); (HOMEM NO
COMPUTADOR VAI MANIPULANDO MARQUINHO COM AS IMAGENS
EXCITANTES); (MARQUINHO ENVOLVIDO COMEÇA A SE ESTIMULAR,
TOCANDO EM SUA GENITÁLIA, QUANDO EM ALTA EXCITAÇÃO SENSUAL
SE ASSUSTA PELO GRITO DE JÚLIA).
JÚLIA – OFF – Marquinho, sua comida tá esfriando. Saia desse quarto e
venha comer.
MARQUINHO – (EXCITADO) Peraí! ... Peraí... Peraíiiiiiiiiii!
JULIA – Marquinho, você não tá mole.
MARQUINHO – (OLHA ASSUSTADO PARA SEU GENITAL E PARA TODOS
OS LADOS) O que você disse Júlia? Onde você está?
JÚLIA - Vou aí..., pra você comer.
MARQUINHO – (ASSUSTADO) – O que? O que? (MANIPULADO
GESTUALMENTE PELO HOMEM DO COMPUTADOR) Não, não. Peraí, peraí
que já vou descer.
JÚLIA – OFF – D. Ana vai ralar comigo. (BATEM A PORTA DA SALA DA
CASA DE MARQUINHO); (MARQUINHO TENTA ESCUTAR ATRAVÉS DA
PORTA QUEM POSSA SER). Oi, Carlos!
CARLOS – Oi, Júlia!
JÚLIA – Quer falar com Marquinho?
CARLOS – Isso mesmo. Posso?
JÚLIA – Ele vai almoçar.
CARLOS – Eu queria chamá-lo para ir ao teatro, assistir uma peça.
JÚLIA - Marquinho, o Carlos está aqui, te chamando para ir ao teatro.
MARQUINHO – (ALIVIADO) Ufa! Diga para ele, que não estou a fim não.
(VOLTA-SE PARA O COMPUTADOR, CONGELA).
CARLOS – Que pena. Então tá, Júlia. Valeu!
(BO)
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CENA IV

CARLOS – OFF - Marquinho depois que ganhou o computador, passou a


ficar estranhão. Não brinca mais com a gente.
(CARLOS EM CENA)
– Marquinho não sabe o que perdeu. Maravilhoso! Fiquei encantado com
que assisti. Fantástico! Tantos atores e atrizes em cena, representando
tantos personagens. Eles mudam de posturas e vozes de maneira que
jamais achei que fosse possível. E, o amor que eles passam... Mesmo
representando “n” personagens, dá pra sentir o prazer das almas de cada
um que está sobre o palco encenando. Atentei-me ao mesmo que ri
muito... Quando entrei no camarim e vi aquelas transformações,
figurinos, maquiagens foi um esplendor. (PROCÊNICO) Sabem!? Não sei
se vou ser ator um dia, mas sei que foi indo ao teatro que aprendi muito,
muito mesmo. Vendas caíram. Entendi a importância de me conhecer e
conhecer tudo que há ao meu redor. Integridades. Mazelas. Leituras.
Ideais. Dramas. Comédias. Soros. Vidas. Hipocrisias. Artes. Bravo,
bravo... Na primeira vez que ouvi essa palavra, bravo, em um teatro,
corri pensando que era briga, mas não era nada disso... Bravo nas artes
de representar é algo como – muito bom. Lembrei-me de outro mico que
passei numa apresentação cênica que fui. Lá ouvi um ator falar para uma
atriz quando ela ia entrar em cena: - Boa merda pra você... A garota era
linda. Toda gatinha. Não entendi nada. Quase fui defender a atriz. Mas,
minha timidez fez de minhas pernas, raízes de jamelão... Ainda bem!
Porque comentei isso na escola e o professor me disse: (DESDOBRA) - O
que você ouviu nada mais era que uma linguagem do teatro... Desejar
boa sorte é dizer ao colega que vai encenar - Boa merda pra você.
(DESFAZ DESDOBRAMENTO) - Agora, já não sou tão ignorante, conheço
Shakespeare; Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Nietzsche, Otelo, são
tantas obras... Agradeço a minha prima produtora, porque se não fosse
ela, talvez eu conhecesse apenas (VOZ ABAFADA) o Pinga Fogo, lá da
comunidade.
Agora, tenho que ir as provas estão chegando.
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CENA V

(MARQUINHO E O HOMEM NO COMPUTADOR, ADORMECIDOS - SOM DE


GALO CANTANDO DESPERTA OS DOIS).
DONA ANA – OFF - Marquinho, vá se arrumar pra ir à escola.
MARQUINHO – (MENTINDO PRA MÃE – INDUZIDO PELO HOMEM NO
COMPUTADOR) – Mãe acabei de sair do banho. Estou me arrumando.
DONA ANA – OFF - Ainda bem. Se apresse está em cima da hora.
MARQUINHO – Tá bem, mãe, tô indo (HOMEM NO COMPUTADOR RIR).
DONA ANA - OFF - Seu pai também não vem pra casa hoje. Tchau! Tô
saindo.
MARQUINHO - (FAZENDO EXPRESSÃO COMO SE ISSO FOSSE NORMAL)
Novidade!
(MARQUINHO VAI SE ARRUMANDO AO MESMO QUE MEXENDO NO
COMPUTADOR – DISCUTINDO COM HOMEM NO COMPUTADOR QUE
TENTA DESESTIMULÁ-LO A IR PARA ESCOLA, MAS NÃO CONSEGUE.
MARQUINHO APESAR DE LAMENTANDO DESLIGA O COMPUTADOR E SAÍ).

CENA VI

(CENÁRIO DE ESCOLA - MÁRCIA COM REDFONE NO OUVIDO SE


GINGANDO - PROFESSOR ENTRA)

PROFESSOR – Bom dia! (FAZ CHAMADA) – Lourdes?


LOURDES – Presente.
PROFESSOR – Márcia?...Márcia?
(MÁRCIA NÃO OUVE – ESTÁ SE GINGANDO OUVINDO MÚSICA AO
REDFONE E AFIXIONADA E MANIPULANDO O CELULAR)
PROFESSOR – (AUMENTA O VOLUME DA VOZ) – Márcia?
(MÁRCIA CONTINUA DO MESMO JEITO. ATÉ QUE LOURDES A TOCA –
CHAMANDO-LHE ATENÇÃO PARA O PROFESSOR).
MÁRCIA – Bom dia, fêssor! Eu nem vi o senhor chegar. E aí tá tudo bem?
Dormiu bem? A família tá boa? O senhor vai fazer a chamada agora?
PROFESSOR – (COM SORRISO IRÔNICO) – Está tudo bem... Márcia. E
você está presente?
MÁRCIA – E, qual é fêssor, parece que o senhor não tá ligado. Não tá me
vendo aqui? Presente.
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PROFESSOR – Marcos? (OLHA PROCURANDO MARCOS NA SALA DE
AULA).
LOURDES – Professor, eu vi o Marquinho lá na “Lan House”, mas não diga
pra ele que eu contei (MÁRCIA FAZ CARA DE NÃO TER GOSTADO DA
DELATAÇÃO DE LOURDES).
PROFESSOR – Hoje nós vamos falar das novas mudanças na escrita de
nossa Língua Portuguesa.
MÁRCIA – Fêssor, já vou dizendo logo. Sabe qual é? - nunca entendi
muito essa parada de erros no que escrevemos. Pense comigo...
PROFESSOR - Como assim?
MÁRCIA – Pense comigo. O ser humano primeiro não gemeu? Daí
descobriu que podia falar?
PROFESSOR – Como assim?
MÁRCIA – A fêssor! Não se faça de desentendido. Pra ter esse monte,
não, montão de gente no mundo é porque lá trás, lá atrás, no tempo das
cavernas, alguém fez alguém gemer.
PROFESSOR – (SEM MUITO JEITO), Como assim?
MÁRCIA – (CORTA O PROFESSOR) Peraí fêssor, com os seus, - Como...
Assim? Então! Lá trás é bem provável que alguém gemeu e gostou de
gemer...
PROFESSOR – Márcia...
MÁRCIA - aí pode ter gritado – ai! ui! aiui! não! não! Sim, sim. aiai! vai,
não, vai!... Assim se descobriu a fala... Pois bem...
PROFESSOR – Que isso, Márcia?
MÁRCIA – O óbvio. Que primeiro aprendemos a falar. Por isso,
deveríamos escrever o que falamos e não ao contrário. Agora somos
obrigados a falar o que se escreve. Isso tá esquisito, porque me parece
ditadura, já que, o presidente fala um monte de besteiras, até insinua
palavrões que, certamente não estavam escritos nos discursos.
LOURDES – (INTERVÉM) Professor, posso perguntar?
PROFESSOR – (AFOBADO) Vai, vai Lourdes, pergunte logo.
LOURDES – Eu não entendo uma coisa, também.
PROFESSOR – Ai, ai, ai!
LOURDES – Nós falamos a língua portuguesa, não é?
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TODOS – Sim.
LOURDES – Essas mudanças não são para igualar a linguagem de outros
paises da mesma língua?
PROFESSOR – Sim.
LOURDES – Então vai ser uma zorra.
PROFESSOR – Como assim?
LOURDES – Vai ser um tal de bicha pra lá, cú pra cá.
PROFESSOR – (ESPANTADO COM AS ALEGAÇÕES DE LOURDES) Que isso
Lourdes?
LOURDES – E, o senhor não sabe que engarrafamento em Portugal é
“bicha” e, bunda, que os homens adoram olhar é “cú”?
VOZES (OFF) – Shiii igualar!
MÁRCIA – (SE ENTROMETE) Cara tem um monte de coisas esquisitas.
Veja! Dizem que cor po ra ti vis mo e fi nan ci a men to, não são
palavrões, mas, pu ta... é, inclusive, seu filho.
PROFESSOR – Não fale palavrão na sala, Márcia.
MÁRCIA – Qual deles? Essas palavras que não são palavrões é que fodem
meus pais e a nós também. (SE TRANSFORMA EM ORADORA PROFETA)
Em verdades lhes digo: - Se não fossem essas grandes palavras, que não
são palavrões, não haveria crises. Como entender um país onde o
analfabetismo é culminante... Homens! Homens Velhos, que não tem o
que fazer e outros velhos homens, que querem se enriquecer, cada vez
mais, sugerem mudanças sem lógicas, pois mudar o aprendizado é mudar
o quê, quando nada se sabe? (DESFAZ PERSONAGEM ORADORA)
Portanto, essas mudanças, indicadas por a ca dê mi cos, nada mais e
nada menos são do que i nó cu as. Peraí! (VAI ATÉ O QUADRO NEGRO
DIZENDO) - Acho tudo isso uma grande (ESCREVE) - ba ba qui ci e sa ka
na gem....a chega!
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CENA VII

(ENTRA MARQUINHO AFOBADO)


MARQUINHO – Desculpa professor me atrasei porque meu pai mais uma
vez não pôde me trazer e, tive que vir de ônibus comum. Sabe como é
né, peguei uma bichona pra chegar aqui.
OFF – Shiiii! Igualar.
PROFESSOR – Tá bom. Vá se sentar. (PROFESSOR APAGA O QUE MÁRCIA
HAVIA ESCRITO E FICA ESCREVENDO).
MARQUINHO – (CUTUCA MÁRCIA E COCHICHA) – Meus pais bloquearam
alguns sites no meu computador.
MÁRCIA – Ichi!
MARQUINHO – Mas estou indo a Lan House.
MÁRCIA – É mesmo?
MARQUINHO – Sabe Márcia! Conheci um garoto maneiro, na Internet.
Nem sei como ele entrou no meu orkut. (SATISFAÇÃO) Ele gosta das
mesmas coisas que eu. Falou que posso ir a casa dele quando eu bem
quiser.
MÁRCIA – Como ele é?
MARQUINHO – Ainda não sei.
MÁRCIA – Como assim? Ih! (OLHA PARA O PROFESSOR) isso pega!
MARQUINHO – Não sei. O que sei é que é um barato. Disse-me que os
pais dele são muito legais, deixam fazer o que quiser.
MÁRCIA – É mesmo?
MARQUINHO - Até me mostrou (FALA AO PÉ DO OUVIDO DE MÁRCIA);
(MÁRCIA E MARQUINHO RIEM ALTO – DESPERTANDO A CURIOSIDADE
DE LOURDINHA E DO PROFESSOR).
PROFESSOR – Vocês estão prestando atenção?
MÁRCIA E MARQUINHO - Claro professor.
LOURDES – (FICA DE “RABO DE OLHO” PARA OS DOIS. CURIOSA TENTA
OUVIR O QUE SEUS COLEGAS ESTÃO CONVERSANDO).
MÁRCIA – Marquinho me dá o e-mail dele, eu quero ver também.
MARQUINHO – Não, não. Ele falou que nossa (EXPRESSÃO DE
ORGULHO), amizade é de autoconfiança. Eu nem poderia está falando
dele pra você. Um dia nós vamos nos encontrar pra brincarmos.
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MÁRCIA – Ah! Não quero mais saber de nada. Você não quer me
apresentar a ele.
MARQUINHO – Não posso. Nem para meus pais meu amigo quer que eu
fale dele. Só depois que nos encontrarmos. Sabe o que fiz Márcia?
MÁRCIA – Hum!
MARQUINHO - Hoje eu dei... (MÁRCIA OLHA SUBITAMENTE PARA
MARQUINHO);
TODOS (MENOS MARQUINHO) – Ham! (TODOS OLHAM SUBITAMENTE
PARA MARQUINHO E CONGELAM POR TRÊS SEGUNDOS).
MARQUINHO - O meu endereço e o da escola para ele pelo computador
da lan house...
(TROVÕES); (EFEITOS DE LUZ).
BO

CENA VIII - CENÁRIO DO QUARTO SEM MARQUINHO

DONA ANA – (ENTRA NO QUARTO DE MARQUINHO MELANCÓLICA. PEGA


PORTA RETRADO ADMIRA-O PROMOVENDO UMA COREOGRAFAIA
MELANCÓLICA E NOSTÁGICA. CHORA); (DE REPENTE PÁRA E GRITA O
LUTO)
– Marquinhoooo (BO).

CENA IX

(HOMEM DO COMPUTADOR COMO POLÍTICO APARECE A FRENTE DA


PLATÉIA, SEDUZ UMA CRIANÇA E SORRINDO IRONICAMENTE PARA O
PÚBLICO, LEVA A CRIANÇA).

CENA X

VOZES – OFF - Passei! Que droga não passei. Passei! Passei. Merda, de
novo lei pau. Yes!

CENA XI

(CENÁRIO – GARRAFA DE CERVEJA E COPO SOBRE A MESA)

(MÃE TENTANDO FAZER SEU FILHO, BEBÊ, DORMIR AO MESMO QUE


BEBE CERVEJA – VAI FICANDO NERVOSA COM A DIFICULDADE DE FAZER
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A CRIANÇA DORMIR. MOLHA A CHUPETA COM CERVEJA PARA O BEBÊ
CHUPAR, QUANDO MÃE APROXIMA A CHUPETA DA BOCA DO NENÉM
ENTRA SEU FILHO CARLOS).

CENA XII

CARLOS – (SATISFEITO, EMPOLGADO – ESTENDE OS BRAÇOS PARA A


MÃE) – Passei mãe. Agora vou para a faculdade.
MÃE – (BÊBADA - VOZ VACILANTE - INDIFERENTE) – É mesmo meu filho.
Então, chegou à hora. A hora de comemorar. Mas comemorar como
homem. Um verdadeiro homem comemora bebendo todas. Tomar todas
(RI).
CARLOS – (DESILUDIDO – ABAIXA OS BRAÇOS) – Mas,...
MÃE – (BÊBADA) Mas nada! Vai logo comprar umas cervejas pra gente
beber. Vá à barraca do seu João e pede para ele meia duzia iguais a essa,
não trás logo uma dúzia, e deixa dependurado. Comemorar! ... vai logo
seu merda. Seu inútil. Vai, vai. Vou dar um jeito dessa porra de seu
irmão dormir (SAÍ LEVANDO O COPO DE CERVEJA) – merda, caralho!

CENA XIII - FUNDO MUSICAL MELANCÓLICO

CARLOS – (DEMONSTRA PARA A PLATÉIA LIVREMENTE SENTIMENTOS DE


DESGOSTO, DECEPÇÃO, FRUSTRAÇÃO).
MÃE – (EM OFF) - (VOZ BEBADA) – Então! Já voltou?
CARLOS – (PEGA GARRAFA DA MESA. SAI CABISBAIXO).
BO

CENA XIV - (SOM E CENÁRIO DE DANCETERIA)

(CARLOS TIMIDAMENTE ENTRA EM DANCETERIA, PASSA PELO


SEGURANÇA, VÊ DUAS JOVENS, CARLA E ANA DANÇANDO – OLHA PARA
AS DUAS, MAS SE ENCANTA POR CARLA. NÃO TOMA INICIATIVA DE IR
AZARÁ-LA. É OBSERVADO POR ANA).
ANA – (SE APROXIMA DE CARLOS DANÇANDO);
CARLOS – (TIMIDO - OLHA PARA ANA, PORÉM NÃO SE EMPOLGA COM
ELA, TEM UM OLHAR DE ADMIRAÇÃO POR CARLA);
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ANA – (FORÇA UMA APROXIMAÇÃO) E aí, sou Ana. Não vai dançar?
CARLOS – Não. (MANTEM-SE FRIO COM ANA)
ANA – (PERCEBE QUE CARLOS NÃO TIRA OS OLHOS DE CARLA) qual é
seu nome?
CARLOS – (FRIAMENTE) Carlos.
ANA – (LEVANTA A VOZ) Que merda! Pelo visto dancei na dança. Sempre
me dou mal.
CARLOS – O que você disse?
ANA - Gostou da mina, né? Até isso... Você é Carlos e ela é Carla. A foda
é que ela é gostosona, mermo.
CARLOS – Você disse que o nome dela é Carla?
ANA – Isso mesmo.
CARLOS – (TIMIDO) Se eu não fosse desse jeito...
ANA – Deixa de bobagens! Por uma mulher dessa qualquer um se
embebeda.
CARLOS – (DAR UM LEVE E ESCUSO SORRISO) Eu não bebo.
ANA – O quê? Deixa pra lá. Olha só já que perdi, vou te dar a maior
força. Chega junto. (MURMURA) Ela tá sozinha.
CARLOS (TIMIDO) – É! Mas, não dá.
ANA – Vai lá Carlos. Ela dá molhinho.
CARLOS – Ela é linda... Mas, não. Sou muito tímido. Não tenho jeito.
ANA – Aí faz o seguinte (TIRA COMPRIMIDO DA BOLSA), toma essa
paradinha aqui e sua timidez... óh! Sumiu!
CARLOS – Que isso?
ANA – Toma... Vai nessa. Tú vai se soltar. Vai se sentir uma fera... Cheio
de atitudes. Vai dançar gostoso e a mulherada vai chegar junto...
(CARLOS CORTA).
CARLOS – Só tenho olhos para a Carla.
ANA - Aí, vou te adiantar, ela adora homens com atitudes.
CARLOS – A é?
ANA – É.
CARLOS – Peraí... Atitude... Eu... É... (MEIO RESISTENTE PEGA O
COMPRIMIDO E TOMA... AOS POUCOS VAI SE TRANSFORMANDO,
FICANDO MAIS SOLTO, DANÇA DE PIANINHO PARA EMBALADO. ANA
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OFERECE UMA BEBIDA, ELE OLHA... (IMAGEM DA MÃE – OLHA PRA
CARLA) PEGA O COPO E NUMA TALAGADA BEBE. FICA MAIS AGITADO.
VAI SE INSINUANDO PARA CARLA, QUE ATÉ DANÇA JUNTO A ELE, MAS
SEM INTERESSE MAIOR. CARLOS VAI PERDENDO O CONTROLE E
AGARRA CARLA).
CARLA – (EMPURRA CARLOS) – Qual é? Ficou maluco? Sai fora seu doido.
CARLOS – Qual é gostosa? Sei que você gosta de caras com atitudes
(TENTA AGARRÁ-LA).
CARLA – (GRITA – APARECE SEGURANÇA) – Esse cara me agarrou a
força.
CARLOS – (SE FAZENDO DE FORTE - ENCARA O SEGURANÇA) - Qual é
meu irmão. Aí não é nada contigo, sai fora. (VOLTA-SE PARA CARLA) O
papo é com essa maluca. Tava me dando mole o tempo todo e agora
corre... Qual é a sua? Sua vadia (SEGURANÇA SE APROXIMA) não se
mete (SEGURANÇA OLHA PARA CARLOS IRADO)
CARLA – Seu bêbado, drogado. Não sabe beber – bebe mijo.
SEGURANÇA – (PEGA CARLOS PELO BRAÇO E O PUXA – CARLOS REAGE –
SAI A FORÇA – SOM DE TIRO – MÁRCIA E ANA SE ABAIXAM
ASSUSTADAS - SOM DE AMBULÂNCIA – ELAS OBSERVAM O AMBIENTE)
BO

FIM DO PRIMEIRO ATO

ATO II

CENA XV – QUARTO DE MARQUINHO

(FLASH DE MÁSCARA DO LOBO, MARQUINHO ADORMECIDO SOBRE O


TECLADO); (SOM DE SIRENE DE POLÍCIA – LUZ PLATÉIA);
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CENA XVI

(LUZ - MAIOR); (MÁSCARA DE LOBO SOBRE PALCO)


DONA ANA – (BATENDO A PORTA DO QUARTO DESPERTA MARQUINHO E
HOMEM MASCARADO) – Marquinho, abra essa porta. Você está a horas
nesse computador. Abra essa porta já. Quero entrar.
(HOMEM MASCARADO, EM PANTOMIMA, INSISTI PARA QUE MARQUINHO
NÃO ABRA A PORTA, MAS MESMO ASSUSTADO ABRE A PORTA PARA MÃE
ENTRAR)
MARQUINHO – Peraí mãe! (LEVANTA RELUTANTE E ABRE A PORTA).
DONA ANA – Enquanto toma banho vou ver os sites que você acessou e
vou dar uma olhada nos seus cadernos.
MARQUINHO – (MILINDROSO) Está bem mãe. Mas, não vou demorar
tanto assim no banho (SAI).
DONA ANA – Engraçadinho!

CENA XVII

(FUNDO MUSICAL) (MÃE EXAMINA COMPUTADOR) (HOMEM NO


COMPUTADOR VAI REAGINDO).
D. ANA – Marquinho vou fazer uma varredura e instalar o Programa de
Controle de Conteúdo (HOMEM DO COMPUTADOR SAI RASTEJANDO).
Assim eu ficarei sabendo sobre todos que tem acesso a você. Peço até
desculpas meu filho, mas é preciso. (PEDÓFILO EM PERFORMANCE
COREOGRÁFICA SAÍ DE CENA) Há muitas pessoas de maldades que se
disfarçam. Fazendo-se de amiguinhos e até amiguinhas, quando na
verdade, são lobos maus... (PARA PLATÉIA) No meu tempo me contavam
histórias de “Lobo Mal e Chapeuzinho Vermelho”, como eu era criança
não entendia a verdadeira mensagem. Só agora, adulta e,
principalmente, mãe, sei qual é o fundamento desse conto de fada, -
alerta contra os pedófilos – esses que sempre existiram e, que hoje,
possuem um veloz veículo para alcançar seus objetivos, ou seja, fazem
mal as crianças inocentes, imuladas, devido a vários fatores, inclusive
pela ausência dos pais. A propósito, isso não tem nada haver com o
incremento de separações de casais. Porque a falta de pai ou mãe é
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pessoal. O problema é que os filhos muitas vezes ficam vulneráveis,
tornando-se “comida de coiotes”. Mas, sei também que não é só pela
carência de pais, muitas são as brechas para as satisfações dos lobos.
São diversas identidades, máscaras, por isso, quanto mais alertas,
quanto mais atualizados, mais protegidos estarão as crianças, nossos
filhos e outros descendentes, mas, certamente, todas as atenções ainda
serão poucas. Portanto, devemos ter cuidado nas historinhas que
contamos aos nossos. Não há contos de fadas, não há ilusões. Afinal,
iludir é proporcionar condições de desiludir. (MARQUINHO ENTRA -
SORRATEIRO TENTANDO LOCALIZAR O HOMEM DO COMPUTADOR) (MÃE
PARA FILHO) Meu filho, me tenha como aquela em que pode contar para
qualquer circunstância. Confio em você, por isso, tenha a certeza que
pode confiar em mim.

CENA XVIII

MARQUINHO – (VESTI UNIFORME)


D. ANA – Vamos! Seu pai está esperando. Quando você chegar da escola,
faça as pesquisas que precisar no computador e depois pode brincar com
seus colegas.
MARQUINHO – Legal mãe. Valeu, mesmo. (BEIJA E ABRAÇA SUA MÃE)
D. ANA – Amo você, filho.
MARQUINHO – Idem! Também te amo.
MÁRCIA – (GRITA) Marquinhooooo?
MARQUINHO – Mãe, é a voz da Márcia no portão...
D. ANA – A mãe dela está doente, e pediu para que a Márcia fosse com
você de carona.
MARQUINHO – Legal!
(BLECAUTE); (SOM DE PORTAS DE CARRO)
MARQUINHO – OFF - Obrigado, pai. Até mais tarde.
MÁRCIA – OFF - Obrigado. Tchau! (LUZES)
(SOM DE CRIANÇAS EM ESCOLA)
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CENA XIX

(MÁRCIA E MARQUNHO ANDANDO COM CADERNOS)


MÁRCIA – Marquinho entrou algum estranho no seu computador?
MARQUINHO – Márcia apareceu sim. Uma pessoa que nem sei como ela
entrou no meu computador, cheio de conversa fiada, mas minha mãe
atualizou o antivírus e instalou um programa que denunciou e bloqueou o
carinha.
MÁRCIA – Eu não chamei minha mãe e nem meu pai, porque eles acham
que não tem nada haver entenderem de computadores e Internet, dizem
que essas coisas são só pra nós, jovens. Vê que besteira, eles
aprendendo além nos ajudar, nos protegeriam.
MARQUINHO – É mesmo! E o que fez?
MÁRCIA - As aulas no colégio de informática e Internet foram úteis, tanto
que fui logo deletando. (OUSADA) Se não conheço, se não convidei, - não
dou nem chance, deleto e bloqueio. Vai que é um desses maníacos.
MARQUINHO – Tem que ser assim mesmo; meu pai me contou que um
cara desses fez mal ao filho de um amigo dele. Inclusive, minha mãe, me
disse, ainda, que nós temos que ter cuidado porque há também mulheres
de maldades, não são apenas homens, não. Ela até falou que nem toda
bruxa é feia e nariguda e nem todo príncipe é bonitão e sarado.
MÁRCIA – (ALTIVA) Por isso, quando entra gente estranha no meu
computador corto logo. Não quero nem saber se é bonito, se escreve
bem, se faz elogios, se não conheço e se não convidei – mando vê...
(GESTICULA CORTE NO PESCOÇO).
MARQUINHO – Por isso, não devemos perder a palestra na escola sobre
Pedofilia na Internet.
MÁRCIA – É mesmo não podemos perder.
MARQUINHO – Vamos! (SAEM CORREM)
BO
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CENA XX - (CENÁRIO DE ESCOLA).

PROFESSOR – Galera, nós aqui do colégio, - diretores e professores,


resolvemos, abrir ciclos de debates sobre relação sexual na juventude, a
interação “filhos e pais” no contexto da modernidade e dependências
químicas, como: bebidas alcoólicas, drogas, e falaremos também, da
pedofilia via Internet e fora dela. Convidamos profissionais qualificados e
pessoas que experimentaram de uma forma ou outra tais eventos.
PROFESSOR – Oi! Quem me chamou? (VOLTANDO A ATENÇÃO) ...
Perderem aulas? - Claro que não. Onde entra sabedoria, jamais se têm
perdas... E isso é cultura, é conhecimento é atualização! Mas,
infelizmente, ainda há algumas escolas engessadas em grades (TELÃO),
não dando e nem tendo liberdades. Assim não permitindo as verdades do
aqui e do agora. A matemática jamais deixará de ser fundamental, mas o
saber didático de nada adiantará se cada um de vocês, cada um de nós,
não soubermos como viver a vida... não soubermos preservar a vida, a
integridade humana e nem (VÍDEO ECOLÓGICO), perante todos os
ecossistemas.

CENA XXI - (DANCETERIA)

ANA – E aí, sou Ana. Não vai dançar?


(OS PERSONAGENS GIRAM POR TRÊS VEZES EM SENTIDO HORÁRIO)
CARLOS – Você disse que o nome dela é Carla?
(PERSONAGENS GIRAM TRÊS VEZES EM SENTIDO HORÁRIO)
ANA – Toma. Vai nessa. Tú vai se soltar. Vai ficar uma fera e cheio de
atitudes. Vai dançar e a mulherada vai chegar junto.
CARLOS – Tô a fim não.
ANA – Aí tú vai ficar do jeito que ela gosta. Cheio de atitude.
CARLOS - Peraí garota! Por favor, pode me deixar aqui na minha.
CARLA – (OLHA CARLOS E SE APROXIMA DANÇANDO)
CARLOS – (RIR TIMIDAMENTE PRA CARLA E FICA PARADÃO).
CARLA – Oi! (ANA SE AFASTA)
CARLOS – (TIMIDAMENTE VERIFICA SE É COM ELE) - Oi!
CARLA – Oi!
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CARLOS – Oi...
CARLA - Daqui a pouco, vão achar que estamos fazendo propaganda da
OI.
CARLOS – (SORRISO TIMIDO) É mesmo. Você dança muito bem.
CARLA – Você me notou?
CARLOS - Você me lembra uma flor balançando ao vento da primavera.
CARLA – Nossa! Vi você quando chegou. Percebi que era tímido, mas não
sabia que era um galanteador... Um poeta.
CARLOS – (INQUIETO) - Nem eu.
CARLA – De que adianta um homem sarado, com atitude se não tem
alma?
CARLOS – É?!
CARLA – Eu vi aquela mina te oferecendo o que não presta. Foi muito
legal você recusar.
CARLOS – Sou tímido e não burro. Podemos escolher! Adoro o paladar
das frutas... Ver o sol e admirar as estrelas, a lua. Amo todas as coisas
boas e lindas sobre a terra, como, você.
CARLA – Uau!
CARLOS - Se eu aceitasse aquela porcaria, certamente perderia o bem
maior... - a liberdade, pois sem essa jamais serei feliz. Sou como um
pássaro, - que preso a uma gaiola, eu não seria eu, me deprimiria e a
angustia me mataria.
CARLA – Ora! Ora! ... Um tímido, poeta e filosofo. É muita sorte para uma
noite só... (CARLOS E CARLA SE ENTREOLHAM), não adiantará eu esperar
você me chamar pra sair, né?
CARLOS – Não. Que isso! (UM FICA OLHANDO PARA O OUTRO E
NINGUÉM CHEGA A NINGUÉM ATÉ QUE CARLA TOMA INICIATIVA)
CARLA – (FALA CORRIDA) - Tá a fim de sair daqui e dar uma volta
comigo?
CARLOS – (FALA CORRIDA) Claro. Claro! (SAEM)
ANA – (SAI CAMBALEANDO)
(LUZ E MÚSICA CAEM)
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CENA XXII

ANA – (COM O MESMO FIGURINO QUE NA DANCETERIA PERAMBULANDO


– SENTA E COMEÇA A FUMAR CRACK).
(MARQUINHO E D. ANA PASSANDO A FRENTE DE ANA)
MARQUINHO – Mãe, olha ali o crack.
D. ANA – Aquilo não é crack meu filho. Crack é outra coisa. Aquilo é o
bicho papão que lhe falo sempre.
ANA – (GRITA EM DESESPERO) Não! Eu não sou culpada. Me perdoem.
(LUZES – DESDOBRAMENTO DE ANA PARA THEREZA)

CENA XXIII

CENÁRIO – LETREIRO piscando a inscrição: “TUDO É POSSÍVEL”.

TEREZA – Boa noite, companheiros e companheiras! Sou Tereza, uma


alcoólica, cruzada, em recuperação. Cheguei aqui no fundo do poço, na
sarjeta. Perdi minha casa, meu trabalho, minha família... Cheguei a pedir
esmola. E, olha que eu era uma enfermeira formada, tinha um bom
emprego, um excelente casamento e bons amigos...
Quando entrei nessa sala de auto-ajuda, descobri que eu era uma
doente. Eu tenho a doença do ainda que quando não controlada progredi
assustadoramente, minguando tudo, seja material, espiritual, nos deixa
sem nada e ninguém. Mas, um companheiro me apadrinhou, mostrou-me
que eu não estava só, nas causas, nos efeitos e nem na recuperação. Vi
que alguns tinham um pouco mais privilégios que outros, mas todos
estavam igualmente nos resgates de valores morais, integridades,
dignidades e o amor próprio.
ANÔNIMO – (ENTRA ENCENANDO CADEIRA DE RODAS) Boa noite! Vim
falar um pouco da minha história. Como vocês estão vendo sou deficiente
físico, mas não nasci assim. Um certo dia saí com os amigos para
comemorar a vitória do meu time. Bebemos, bebemos, bebemos e
bebemos. Chegou um certo momento que todos queriam ir embora. Eu
não. Mas, fui voto vencido. No caminho de casa, resolvi dar uma
paradinha para tomar uma saideira, sozinho. Essa foi a minha escolha.
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Parei meu carro e entrei no bar, bebi, bebi e bebi. É disso que me
lembro. Acordei no hospital e como estão vendo sem minhas pernas...
Sinto-me um privilegiado, por ter tido a oportunidade de entrar nessa
sala e ter aceitado que o problema não foi a saideira... foi o primeiro
gole, graças a isso, conheci a felicidade que vivo hoje.
THEREZA – Hoje... Depois de algumas 24 horas tudo se comprova. O
meu fundo de poço é o meu fundo de poço. Cada um de nós tem o seu.
Mas, a recuperação também é individual. Sou muito grata por aqui estar,
pois resgatei minha família, minha economia e vivo limpa e
resplandecente. (PARA A PLATÉIA) Devo isso a vocês que me acolheram,
acreditaram que seria possível. Sem vocês e esse silêncio nós não
conseguiríamos. Companheiros e companheiras (PANORÂMICA EM
SILÊNCIO), nós desejamos a todos... Mais 24 horas de serenidade. Muito
obrigada! (DESCE O PANO).

FIM.

Sergio Olliveira

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