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INTRODUÇÃO
Neste artigo Renato Dagnino, Flávio Brandão e Henrique Novaes abordam a tecnologia
social a partir da perspectiva consolidada pela Rede de Tecnologia Social (RTS), que se
constituiu em uma das iniciativas existentes no país orientadas à dimensão científico-
tecnológica. A RTS visa contribuir para políticas públicas que abordem a relação
ciência-tecnologia-sociedade (CTS) Em um “num sentido mais coerente com a nossa
realidade e com o futuro que a sociedade deseja construir”.
Quadro 1 – Charkha
A TA seria mais capaz de evitar prejuízos sociais que a TC por possuir maior
intensidade de mão de obra, uso intensivo de insumos naturais, simplicidade de
implantação e manutenção, respeito à cultura e à capacitação local. TA foi uma
importante inovação em termos da teoria de desenvolvimento econômico.
A questão do desemprego estimulou ações por parte de governos dos países avançados e
OIT que financiaram projetos de TA na Ásia e na África. Os resultados alcançados
demonstraram que as tecnologias mais intensivas em mão-de-obra há um melhor
desempenho em termos do impacto social e econômico.
Críticas ao movimento da TA
Os autores citam David Dickenson como um dos principais críticos à TA. Dickenson
também era crítico da tecnologia convencional, caracterizando-a como depositária de
dois problemas. No nível material, a TC mantém e promove os interesses dos grupos
dominantes. No nível simbólico propaga a ideologia legitimadora desta sociedade.
Critica a ideia de linearidade que interpreta a mudança social como derivada da
mudança técnica (determinismo tecnológico). Neste sentido, David Dickenson é um
crítico a TA por observar nela a incapacidade de alterar significativamente os problemas
gerados pela TC. Destaca que a TA consistiu em uma iniciativa de pesquisa dos países
do primeiro mundo com pouco ou nenhuma contribuição efetiva dos países do terceiro
mundo. E critica ao pressuposto da TA de que o simples alargamento do leque de
alternativas tecnológicas à disposição dos países periféricos poderia alterar a natureza
do processo capitalista que preside à adoção de tecnologia.
Os autores destacaram ainda que a TA teve alguma influência nas políticas de ciência e
tecnologia (PCT) dos países latino-americanos, sobretudo na elaboração de uma retórica
demagógica relativa à geração de empregos em setores econômicos. Efetivamente
pouco foi realizado.
Nos próximos tópicos são apresentadas as interpretações dos autores sobre o processo
de constituição do marco analítico-conceitual da TS. Para os autores, existe uma
preocupação em oferecer uma adequada contextualização teórico-social e reflexão
teórica sobre este processo de modo a ampliar as possibilidades de sucesso no uso deste
marco por movimentos que optem utilizá-lo como base.
Inovação:
Conjunto de atividades que pode englobar desde a pesquisa e o desenvolvimento
tecnológico até a introdução de novos métodos de gestão da força de trabalho, que tem
como objetivo a disponibilização de uma unidade produtiva de um novo bem ou serviço
para a sociedade.
Inovação social:
A luz da teoria da inovação a ideia de Tecnologia Alternativa não foi realista ao supor
que sua produção ocorreria fora dos procedimentos técnicos convencionais que dão
origem às TCs. Tampouco foi verificado que tenha ocorrido uma transferência da
tecnologia de cientistas e tecnólogos bem-intencionados para os usuários que a
demandasse.
A abordagem sociotécnica
De acordo com esta abordagem, a tecnologia é construída socialmente, pois sua forma e
seu conteúdo são influenciados pelos grupos de consumidores, interesses políticos e
outros similares. Bijker e Pinch ilustram esta abordagem com a bicicleta, cujo formato e
conteúdo foram sendo ajustados considerando necessidades diferentes relativas ao uso
vislumbrado para este artefato, por esportistas, mulheres, transportadores. Durante
algum tempo, projetos diferentes da bicicleta conviveram lado a lado, sendo um
exemplo de flexibilidade interpretativa do artefato.
Conjunto sociotécnico (ensemble): arranjos entre elementos sociais e técnicos que dão
como resultado uma outra entidade, algo mais que a simples soma desses elementos.
Relação CTS: interlocução nem sempre explícita com a visão da construção social da
tecnologia.
A TC tende a dificultar a construção da TS, pois esta buscaria uma ruptura com o estilo
capitalista de desenvolvimento.
Modalidades de AST
1) Uso: é suficiente a forma como se reparte o excedente gerado, pelo simples uso
da tecnologia.
2) Apropriação: meios de produção são propriedade coletiva e os trabalhadores
possuem um conhecimento mais ampliado sobre os aspectos produtivos. Não há
modificação no uso concreto dos produtos e processos.
3) Revitalização: aumento da vida útil dos equipamentos e máquinas. Fertilização
das tecnologias antigas com componentes novos.
4) Ajuste no processo de trabalho: adoção progressiva da autogestão e
questionamento da divisão técnica do trabalho. Implica na adaptação da
organização o processo de trabalho à forma coletiva de propriedade dos meios
de produção.
5) Alternativas tecnológicas: Percepção de que as modalidades anteriores
dependem do emprego de tecnologias alternativas, sendo a busca por elas
realizada entre as tecnologias existentes.
6) Incorporação do conhecimento científico-tecnológico existente: processos de
inovação do tipo incremental no qual busca-se a incorporação do conhecimento
científico-tecnológico existente ou o desenvolvimento de novos processos
produtivos ou meios de produção.
7) Incorporação do conhecimento científico-tecnológico novo: processos de
inovação do tipo radical que tendem a demanda o concurso de P&D ou
universidades e que implicam na exploração da fronteira do conhecimento.
Considerações finais
TA: as expressões que cunharam denotam um produto (e não um processo) e possuem
uma clara visão normativa. A intenção do movimento de TA não pode ser
materializada. Dentre os fatores destacam-se a necessidade de construir um artefato
pouco conectado ao contexto socioeconômico e político inicial e a ingênua expectativa
que o emprego de tecnologias alternativas pudesse operar por si só as mudanças do
contexto na forma como era esperado.
RTS mais do que uma issue network terá que atuar como uma policy network onde são
incorporados aos modos de governar a relação CTS os valores e os marcos de referência
analítico-conceituais. Articulando atores e movimentos sociais que se situam em uma
ponta socioeconômica e cultural e atores que detêm recursos cognitivos, políticos e
econômicos imprescindíveis para implementar aqueles marcos de referência,
materializar a TS e tornar realidade o cenário que a sociedade deseja.
Como é a TC?
Ela poupa mão de obra mais do que seria conveniente, pois o lucro das empresas
depende de uma constante redução da mão-de-obra incorporada ao produto.
A tecnologia que satisfaz as demandas das classes ricas, dos países ricos, é a mais
moderna, sendo, portanto, as características da TC determinadas pelos mercados de alta
renda dos países avançados.
As 20 empresas que mais gastam em pesquisa no mundo gastam mais do que França e
Grã-Bretanha juntos. Isto mostra como está monopolizada a C&T.
Como é, ou como deveria ser, a TS?
Em geral percebe a ciência como isenta de valores. Visão dominante de que o homem e
a natureza são os mesmos em todo o planeta e que a ciência é o resultado da curiosidade
inerente do primeiro. A ciência avança sempre, linear e inexoravelmente seguindo um
caminho próprio.
Se a sociedade não utiliza o conhecimento gerado pela pesquisa de base não é problema
da universidade. Não é um problema de como a agenda de pesquisa é formulada.
A universidade tenta emular um padrão de conhecimento que pouco tem a ver com
nossa realidade. Ao contrário, busca legitimar-se com seus pares exteriores.
Universidade disfuncional. Não serve para a classe dominante e nem para a dominada.
A esquerda universitária continua sem buscar alianças, no interior da sociedade, que
possam defender a universidade.