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ÁGUA: CONTRIBUIÇÕES PARA A CIVILIZAÇÃO GREGA.

THIAGO SILVA DO ROSÁRIO¹

RESUMO

Este trabalho tem por finalidade apresentar como se deu a contribuição


da água na formação e estabelecimento da civilização grega de forma geral,
trabalhando nos aspectos cultural, social, religioso e econômico do cotidiano.
Possibilitando uma visão mais ampla dos diversos aspectos da água para os
gregos na antiguidade.

PALAVRAS-CHAVE: Água, Grécia Antiga, Formação.

INTRODUÇÃO

A água exerce grande importância na vida do ser humano, não apenas


em caráter biológico, tendo em vista que mais de 65% do nosso corpo é
constituído por água, mas também em caráter social. Este trabalho aborda a
importância social da água para a construção da civilização grega.
O texto trabalha o assunto tendo vista os aspectos culturais e sociais da
Grécia antiga, tomando um caráter geral. Dividido em sub capítulos onde cada
qual aborda, com caráter descritivo, a utilização, importância e significado que
a água possuía, em diversos aspectos, para os gregos na antiguidade. Tendo
como fontes a pesquisa bibliográfica.

1.1. GRÉCIA ANTIGA: CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS

A Grécia antiga ocupou a área situada no sul da península Balcânica,


uma área montanhosa – 80% do território composto por montanhas – que
delimitam pequenas áreas de planície fechada onde cada qual se estabeleceu
uma Cidade Estado Grega. Na flora, florestas densas e arbustos nas
montanhas e cereais, árvores frutíferas, palmeiras e oliveiras nas planícies.

¹- Thiago Silva do Rosário: Graduando em História na Universidade Federal do Maranhão. E-


mail: thiago_rosario.94@hotmail.com
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Poucos e rasos rios e costa recortada aberta para os mares Jônico,


Egeu e Mediterrâneo. O mar Mediterrâneo banha diversas ilhas próxima à
Grécia como Creta, Sardenha, Malta, Sicília e outras; o mar Egeu dá acesso a
Ásia Menor e o Jônio à península italiana, facilitando, assim, a colonizações,
trocas comerciais e culturais entre essas terras.
Tal região tem clima temperado quente, variando aproximadamente, no
inverno 8ºC e verões 27ºC, com chuvas raras.

1.2. COMÉRCIO

A Água no comércio foi essencial para a economia, tendo em vista que o


território que se estabeleceu a Grécia Antiga era montanhoso, portanto de
difícil acesso por vias de estradas e trilhas, então tendo como principal meio de
transporte os mares. “As estradas carroçáveis eram raríssimas; os caminhos
nada mais eram do que trilhas por onde era possível andar a cavalo ou a pé. O
comércio era feito quase inteiramente por via marítima e centralizava-se nos
portos” (JARDÉ, 1977, p. 225.)
O desenvolvimento das embarcações e o conhecimento marítimo
fizeram que o comércio se desenvolvesse fortalecendo a economia de algumas
cidades estados, como a Antenas, e desencadeando “consequências sociais
(novas classes, êxito rural) política (Democracia e tirania) e culturais (com as
mercadores é introduzida a civilização grega).” (GIORDANI, 1972, p.228.)
A pesca foi também uma atividade significativa na economia mesmo
que, como Vieira (2011) resalta, antes do século V a. C. era discriminada por
não ser considerado um alimento nobre.

1.3. MARINHA DE GUERRA

A Grécia tendo, a costa exposta, fez-se necessário o desenvolvimento


de uma marinha de guerra suficientemente boa para sua defesa. Antenas se
destaca como potência marítima pelas suas estratégias que era caracterizado,
segundo Giordani (1972), por uma abordagem que permitia sobre as próprias
embarcações o combate corpo a corpo e a utilização do próprio navio como
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arma de ataque, por suas embarcações, geralmente Trirremes, serem


adaptadas com esporões.
Segundo Jardé (1977), em Atenas a equipagem era feita pelos cidadãos
de quarta classe e os remeiros recrutados de cidades estrangeiras e em casos
especiais eram recrutados também os escravos para a equipagem. Já em
Esparta, com o desenvolvimento marítimo tardio, a equipagem e os remaria
ficavam entre os periecos e hilotas.

1.4. FILOSOFIA

José Carlos Bruni, na obra A água e a vida (1994), diz que filósofos na
Grécia antiga já pensavam sobre a água, principalmente Tales de Mileto
(Século VI a. C.) que afirmava que tudo era água. Tales buscava a essência
das coisas, o physis, e a água seria essa essência, para ele, tudo era produto
da transformação da água ou a água transformada.

1.5. MITOLOGIA

A Água na mitologia grega é muito ligada à figura de Poseidon, o deus


do mar. “Sua arma era o tridente dos pescadores; percorria os mares, junto
com a esposa Anfitrite, num carro puxado pelos Trintões, seres metades
homens, metade delfins, e acompanhados pelas Nereides.” (JARDÉ, 1977, p.
133) Haviam, como pra qualquer deus grego, sacrifícios, porém, de peixes e
crustáceos para Poseidon e Ártemis – protetora dos animais –, afirma Bodson.
Para a proteção e fartura nas pescas e viagens.
Nos rituais de purificação estava presente a água. Segundo Maria
Beatriz Florenzano (1996) o casamento era marcado pelo ritual do banho,
dividida em três momentos: no primeiro a noiva recebia presente e entre eles
havia um vaso especifico para comportar a água do banho (lutróforo); o
segundo diz respeito à água que era trazida de um local especifico (fonte
Calírroe) em um cortejo feito por parentes dos noivos; o terceiro era o banho
em si, que tinha o sentido de purificar e proteger os noivos, nesse sentindo a
água estava ligada a vida e exercendo uma função propiciadora de fertilidade.
Jardé (1977) também trata da purificação pela água em outra perspectiva
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“Antes de rezar, o fiel purificava-se, derramando água sobre as mãos, de


preferência água do mar ou água salgada.” (JARDÉ, 1977, p.148).

1.6. ALIMENTAÇÃO

Os cereais constituíam a base da alimentação grega, a farinha era


diluída na água – ou leite – para fazer o mázar que era um tipo de pão
consumido pelos pobres. “os gregos distinguiam os povos civilizados dos povos
selvagens pelo uso do pão” (JARDÉ, 1977, p. 218).
A pesca fornecia parte dos alimentos, porém o peixe não era valorizado.
Homéro apresentava os produtos do mar como gênero a serem consumido em
caso de necessidade. “Sobre tudo na mesa dos setores mais abastados da
sociedade ateniense, o peixe não parece ter tido, pelo menos até o século VI a.
C., um lugar de destaque.” (VIEIRA, 2011, p 42). Segundo a mesma autora,
após o século V a. C. o peixe foi adotado como alimento, de forma geral, na
mesa dos atenienses.
A água está presente também no beber do vinho, havia todo um ritual
nos banquetes para o consumo do vinho. “Bebe-se muito vinho, mas o vinho é
geralmente misturado com água (duas partes de água, uma de vinho; às vezes,
três partes de água, duas de vinho)” (GIORDANI, 1972, p. 254). O mesmo
autor descreve o sorteio do “Rei do banquete”, o simposiarca, que tinha a
função de determinar a proporção da mistura, feita antes de servir no cratera,
além de decidir a quantidade que cada convidado deverá beber.

1.7. BANHO

Sobre o Banho, Giordani (1972) discorre sobre o assunto, o mar e os


rios eram áreas muito comuns OS adultos e crianças se banharem. Em Atenas
no século V a. C. o banho foi institucionalizado com criações de fontes, pias e
até mesmo piscinas construídos em palestras e ginásios. Começou também
surgir estabelecimentos públicos de banho e nesses haviam, até mesmo, salas
reservadas para as mulheres. Esses lugares acabaram tornando-se preferência
para encontros e distrações. Nas residências de pessoas de maior escala
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social possuíam pias e banheiras, as pessoas das classes sociais mais


inferiores utilizavam somente os estabelecimentos públicos.

CONCLUSÃO

A água se estava presente em todo cenário da Grécia Antiga, sua


geografia permitiu que se desenvolvesse uma navegação forte e permanente, o
que foi essencial para a ampliação do comercio. As expedições pelo mar
Mediterrâneo, Egeu e Jônio contribuiu para com que houvesse não só o
aperfeiçoamento do comercio, mas da cultura através de assimilações.
O desenvolvimento das embarcações e o conhecimento marítimo além
de fortalecer o comercio, criou potencias militares pela marinha, como a
Atenas. Cujas estratégias de posicionamento, técnicas de abordagem e
adaptações nas embarcações faziam-se de fortaleza contra qualquer ameaça
inimiga.
A busca pela essência das coisas trouxe, com Tales de Mileto, a água
como o physis (essência de todas as coisas). O caráter de purificação da água
estava presente em diversos rituais, sobre tudo no casamento, cuja uma das
funções era proporcionar a fertilidade, importante para o cidadão grego. No
campo mítico existia a figura do Poseidon, um dos deuses mais fortes e
popular, como patrono dos mares. Na mesa a água estava no processo da
confecção do pão, que tal era a base alimentar grega, e na bebida encontrava-
se na mistura com o vinho. O Higiene, divertimento e sociabilidade, a água
proporcionava através dos banhos públicos.
A importância da água, na Grécia antiga, perpassa a vitalidade biológica,
ela está presente, nas relações entre os homens e na construção de uma
identidade, na construção de valores e crenças, no estabelecimento da
civilização.

REFERÊNCIAS:
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BODSON, L. IERA ZWIA. Contribution à l’étude de la place de l’animal dans la


religion grecque ancienne. 1975, p.48. In: VIEIRA, Ana Livia Bomfim. O mar, os
pescadores e seus deuses. São Luis: Café & Lápis; Editora UEMA, 2011, p. 18.

BRUNI, José Carlos. A água e a vida. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S.
Paulo, 5(1-2): 53-65, 1993 (editado em nov. 1994).

FLORENZANO, Maria Beatriz. Nascer, viver e morrer na Grécia antiga. São


Paulo: Atual, 1996.

GIORDANI, Mário Curtis. História da Grécia. Petrópolis: Editora Vozes, 1972.

JARDÉ, Auguste. A Grécia antiga e a vida grega. São Paulo: EPU, EDUSP,
1977.

VIEIRA, Ana Livia Bomfim. O mar, os pescadores e seus deuses. São Luis:
Café & Lápis; Editora UEMA, 2011.

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