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Thalita Duarte

Opção 1
Tema: Tecnologia, celular e redes sociais: Qual o impacto na vida social do ser humano e como
isso implica na falta de formação de senso crítico?

Com um novo início de era — Nomeada atualmente de ‘Era da Informação’ ou Era


Tecnológica — o século XXI foi pioneiro no impulsionamento de criações de novas tecnologias
para além dos computadores realizadores de cálculos que já existiam nos anos 90. Assim, a
praticidade foi tomando conta do dia a dia das pessoas e as funções que antes poderiam
somente ser encontradas em computadores, GPS, dispositivos de música como: MP3 player,
discman e etc, puderam ser compactados e reorganizados dentro de um dispositivo móvel. Os
famosos widgets puderam otimizar esses aparelhos através dos recursos de horas,
geolocalização, câmeras, envio de mensagens, entre outros apps de comunicação à distância,
deixando na “palma da mão” tudo aquilo que antes precisávamos comprar separadamente.
No Brasil, os primeiros celulares foram introduzidos no início dos anos 90, onde as
primeiras redes de telefonia celular apareceram somente ao meio da década, quando em 1994
já eram mais de 350.000 terminais distribuídos pelo país. Com os chips criados por essas
operadoras, aumentou-se a capacidade da comunicação e também possibilitou o início da
navegação na internet através do sistema 3G (3º Geração) trazido ao fim de 2000 pela antiga
Telesp Celular — atualmente integrada a operadora Vivo — a qual possibilitou ampliar cada
vez mais o alcance das redes, facilitando a comunicação ágil e o fácil acesso à navegação em
todo lugar alcançando em 2011 a marca de 240 milhões de assinaturas em telefonia celular
(IBGE, 2011).
Contudo, com essa nova amplitude, os dispositivos móveis precisaram se adequar,
sendo criados os primeiros Smartphones1. Com sistemas operacionais estruturados que dão
suporte e abrem portas para os aplicativos e ferramentas citados anteriormente, fazem cada vez
mais parte do uso diário do ser humano. As primeiras redes sociais criadas e utilizadas nos PC’s
(Orkut e MSN (Windows Live Messenger)), passaram a declinar, com a alta capacidade e
evolução de recursos através do alcance pelas redes móveis e os tão mais modernos celulares
deram espaço então as mais famosas redes sociais que conhecemos nos dias atuais. Criador
do Facebook e comprado por ele os direitos do Instagram e do Whatsapp, Mark Zuckerberg foi
capaz de reunir as ferramentas de comunicação mais poderosas do século XXI. Chegando a
uma marca de 2 bilhões de usuários cadastrados, o instagram só fica atrás da marca de 2,96
bilhões de utilizadores do Facebook. Enquanto que o whatsapp conta com um público de 2
bilhões de pessoas que usam o app todos os dias (O Globo, 2022).
Assim, o ser humano sendo um ser civil e arraigado de suas culturas, questionador por
natureza pensante, parte a expor seus discursos de opiniões referentes aos fatos que se
apresentam diante da sua existência. Escolhem então, nos dias atuais, as redes sociais para
expressarem significativamente suas ideias. O novo palco público da era, permite e também
promete um espetáculo entre relevantes debates que se formulam por recortes dos fatos,
dispostos a atenção do público na internet. A banalização da informação é cada vez mais nítida
com os discursos não fundamentados que se espalham e permeiam a realidade vivida pelos
usuários.
De acordo com Byung-Chul Han(2021), na internet é onde a democracia começa a se
perder, faz alusão a um escrito "Divertindo-se até morrer", de Neil Postman, um teórico cujo
objetivo é estudar as mídias estadunidenses, ele cita que a forte influência midiática e o
infoentretenimento coloca a democracia em risco pelo simples fato de distribuir informações com

1
Smartphones geralmente possuem telas grandes, teclados QWERTY e têm um alto valor de mercado.
(SENA,2012)
viés de humor, fatos que são expostos através de uma "memerização"2 constante, divertindo e
desestabilizando o senso julgativo das pessoas, prejudicando o discernimento entre ficção e
realidade. Byung-Chul Han (2021)3, comenta: “O novo meio de submissão é o smartphone. No
regime de informação, as pessoas não são mais telespectadoras passivas, que se rendem ao
entretenimento, são emissores ativos. [...] A embriaguez de comunicação que assume, pois,
formas viciadas, compulsivas, retém as pessoas numa nova menoridade”.
Em vista disso, a grande gama de informações disparadas pelas redes se apresentam
através de lapsos nas linhas de rolagem dos aplicativos, o usuário sequer tem tempo para
processar informações que lhe são dadas de primeira mão diante de seus olhos, o cérebro
recebe de uma vez diversos estímulos que o impedem de raciocinar e racionalizar aquilo que se
lê, que se escuta e observa. “A racionalidade também requer tempo. Decisões racionais são
construídas a longo prazo. [...] Na sociedade da informação, simplesmente não temos tempo
para a ação racional. A coação da comunicação acelerada nos priva da racionalidade.”, para
Byung-Chul Han(2021) a racionalidade discursiva e a capacidade de se desenvolver o senso
crítico e opinião fundamentada em veracidade é ameaçada pela comunicação afetiva, tal qual
nos afetamos constantemente por informações que nos estimulam principalmente, as sensações
e sentimentos no momento da visualização, sendo até esse o motivo explicável das famosas
fake news se espalharem tão rapidamente.
Ademais, Byung-Chul Han, caracteriza as sociedades nas redes como ‘tribos digitais’
dessas considera a progressão, uma ameaça direta a democracia e a racionalidade
comunicativa, isto é, a comunicação se torna cada vez menos discursiva à medida que se
ausenta do outro em sociedade, onde as opiniões não possuem mais relação direta com os
fatos, dando-lhes a sensação de pertencimento a quem se compromete com esses discursos de
forma identitária e se fortificando dentro desse território tribal. Num cenário de quem não
concorda, é visto apenas como inimigo, como alguém que não deve ser passível de escuta, mas
de combate. Completa o autor: “A sociedade perde com isso, o comum [Gemeinsame], o espírito
público [Gemeinsinn]. Não ouvimos mais o outro de maneira atenta. Ouvir atentamente é um ato
político, à medida que só com ele as pessoas formam uma comunidade capaz de discursar. [..]
A democracia é uma comunidade de escuta atenta. A comunicação digital como comunicação
sem comunidade destrói a política da escuta atenta. Só ouvimos ainda, então, a nós mesmos
falar. Isso seria o fim da ação comunicativa.”
Por fim, ao se compreender toda essa estrutura que se converte em um novo espaço
social mas também virtual, implica de fato na defasagem da construção de senso crítico, como
também na socialização de uma forma política. Antes, havia uma pausa de tempo no uso diário
da internet e isso acontecia fora de casa, fora do trabalho, agora não se limita com smartphones,
com os olhos vidrados nas telas e a internet móvel nas mãos, acessamos os espaços virtuais de
todos os lugares. Podemos então, segmentar a era tecnológica em antes dos smartphones e
pós, consumidos pelas informações excessivas e disparadas nos feeds de notícias das redes;
antes a sensação de estar sendo observado, julgado ou avaliado, se inverte onde o usuário
busca vigiar, avaliar e participar de todos os conteúdos e discussões expostos em rede. Com a
tecnologia, enfim, conseguimos finalmente acessar o mundo todo, poder estar mais próximo de
tudo que acontece instantaneamente no globo, no entanto, é em nosso espaço individual, que
nos levou aos arredores do mundo, ao mesmo tempo que nos tirou fora de órbita dessa
realidade onde a habitamos fisicamente e deixamos de compartilhar e compreender até onde vai
nossas vontades e verdades e até onde vai a do outro.

2
Memerização, referente à cultura de memes que nada mais são do que imagens possuindo legendas com
viés de humor que circulam rapidamente nas redes entre os usuários.
3
HAN, BYUNG-CHUL, “Infocracia: Digitalização e a crise da democracia”/ Byung-Chul Han; tradução de
Gabriel S. Philipson. - Petrópolis, RJ; Vozes, 2022

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