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A morte no

Brasil Império
Universidade Federal da Paraíba

Abel Calisto Bendito da Silva


Nah Costa Caju
Simbologia da passagem
nos ritos fúnebres.
A morte como fim da vida terrena e passagem
para a vida eterna. A morte definitiva só
existiria no inferno, nesse aspecto, a crença
no purgatório (um "inferno temporário", para
Le Goff) tinha um papel importante na
negociação feita entre os vivos pelo lugar dos
defuntos no céu.
Como seria uma boa
morte?
Morte agendada, avisada por doença ou sinal
divino;
Na velhice, que deveria ser acompanhada com
rezas diárias;
Funeral com ajuntamento de conhecidos,
fiéis, pobres, parentes e estranhos;
Dividas econômicas quitadas, e dividas de
promessas com os santos cumpridas.

MAURIN, Nicolas-Eustache. Morte de D. Pedro IV. 1836. Gravura,


litografia colorida, 31,5 x 36,5 cm.
Mortalhas e vestimentas
dos mortos.
Os mortos eram normalmente vestidos de santos,
como Santo Antônio e Nossa Senhora da
Conceição no Rio de Janeiro, mortalhas de São
Francisco e Nossa Senhora do Carmo em São
Paulo, São Miguel Arcanjo e São João Batista
para crianças em Salvador. Mortalhas ou lençois
brancos eram usados para escravizados falecidos
no interior fluminense, Mortalhas brancas e
pretas também eram comuns em períodos mais
contemporâneos (1997, p. 110).

FRÈRES, Thierry. Divers cercueils. 1839. Gravura, litografia colorida,


52,6 x 34,6 cm. Biblioteca Nacional.
Convivência de vivos entre
mortos.
Em contraste com outras culturas, como a da Grécia
Antiga, o convívio entre vivos e mortos no mundo
ibérico era benéfico, até certo ponto. As almas não
poderiam ficar "presas" no mundo terreno, por
apego ou assuntos inacabados, já que isso geraria
sofrimento. Mas as sepulturas eram feitas no mundo
urbano, nos templos católicos, em locais sagrados
perto de suas antigas casas. Os mortos, presentes
dessa forma, lembravam os vivos de sua mortalidade
e da necessidade de oferecer rezas aos falecidos.

CHODOWIECKI, Daniel. Alegoria da Morte: a Morte iguala os homens. 1726-


1801. Gravura, água-forte, p&b, 16,4 x 21,4 cm.. Biblioteca Nacional
Cruzes nas beiras de
estradas.
De acordo com Reis, as cruzes à beira de
estradas eram erguidas para marcar locais de
mortes trágicas, prematuras, acidentais, e
"lembravam a quem passasse a obrigação de
rezar pela alma do infeliz" (1997, p. 98).

Essas cruzes podem ser vistas até os dias de


hoje, principalmente em locais no interior do
Brasil.

CRIVELLARI, Bartolomeo. ZOMPINI, Gaetano. Triunfo da Morte de


Petrarca. 1756. Gravura.
Os Anjinhos.
De acordo com Reis, existia a crença geral
de que, ao morrer uma criança,
principalmente um menino, ele entraria
como anjinho nos exércitos de São Miguel
Arcanjo. A morte dessas crianças não
deveria ser chorada, pois ter um anjinho
olhando por seus pais era um benefício
para a família.
Costumes fúnebres dos
africanos no Brasil.
Procissões em clima de festa, celebrações com
danças, gritarias, palmas, batuques e acrobatas.
Alguns velórios duravam até sete dias. Era
comum os fogos de artíficio para acompanhar a
celebração da morte de líderes políticos e
religiosos.
Os africanos pobres frequentemente se
associavam às irmandades negras católicas, para
que assegurassem seus velórios.

HUNT, G. Funeral of a negro. 1822. Gravura. Biblioteca Nacional


Geografia da morte.
A hierarquia entre os vivos ainda era
demarcada na hora da morte e do enterro.
De acordo com Reis, as sepulturas nas
igrejas católicas eram feitas de acordo
com uma hierarquia: os mais abastados se
encontravam mais perto do altar,
enquanto os mortos mais comuns se
encontravam espalhados na parte comum
da igreja.
Escravizados, pobres
e protestantes.
Os protestantes estrangeiros possuíam
cemitérios únicos, à moda das necropóles
estadunidenses. Reis relata que os menos
afortunados, como mestiços, indigentes,
escravizados e pobres que não eram
associados à irmandades eram enterrados sem
muitas cerimônias, em cemitérios de Santas
Casas, ou em covas rasas em fazendas.
Rupturas na tradição
fúnebre.
Durante o século XVIII, lugares específicos para
os mortos ricos foram conetruídos nos subsolos
das igrejas, chamados de "carneiros", isolando os
mortos da rotina sacra dos vivos. Inicia-se um
rompimento com as tradições fúnebres
comunitárias, rumo a uma morte mais
individualista.

FRÈRES, Thierry. Enterrement d'une femme nègre. 1839. Gravura, litografia


colorida, 52,6 x 34,6 cm. Biblioteca Nacional.
Rupturas na tradição
fúnebre.
Já no século XIX, reformas funerárias surgem no
Brasil, encabeçadas por médicos inspirados por
ideias iluministas. Com a teoria das miasmas, se
espalha a ideia de que os mortos emitiam gases
nocivos à saúde dos vivos, e um movimento de
separar os cemitérios das cidades é iniciado. Com
a epidemia da cólera, esse movimento decreta o
estabelecimento do novo regime funerário.

FRÈRES, Thierry. Enterrement d'une femme nègre. 1839. Gravura, litografia


colorida, 52,6 x 34,6 cm. Biblioteca Nacional.
Referências
REIS, João José. O Cotidiano da Morte do Brasil Oitocentista.
In: ALENCASTRO, Luís Felipe (org.). História da Vida Privada
no Brasil - Vol.2: Império: a corte e a modernidade nacional.
São Paulo - Companhia das Letras, 1997.

REIS, João José. A hora da morte: formas de bem morrer. In: A


morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do
século XIX. Companhia das Letras, 1991.

RODRIGUES, Cláudia. Cidadania e morte no Oitocentos: as


disputas pelo direito de sepultura aos não-católicos na crise do
Império (1869-1891). Anais do XXIV Simpósio Nacional de
História. Rio Grande do Sul, 2007.

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