Você está na página 1de 14

PORTUGUÊS

10.º ANO

CANTIGAS DE
ESCÁRNIO E
MALDIZER
CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER
SUJEITO POÉTICO:
- Voz masculina (trovador) que recorre ao humor e à ironia para fazer uma crítica, de forma direta (cantiga de
maldizer) ou velada (cantiga de escárnio);

OBJETO:
- pessoa identificada, ou não, ou grupo social e/ou profissional.

RELACIONAMENTO ENTRE SUJEITO POÉTICO E OBJETO: relacionamento crítico, tendo em


vista denunciar defeitos.

OBJETIVO:
- Sátira (feição crítica, com intuito cómico, moralizador ou irónico):
- pessoal
- social (moral e religiosa)
- política

TEMAS CENTRAIS:
- paródia do amor cortês (crítica das regras do amor cortês de matriz provençal):
- crítica à sobrevalorização da mulher amada / elogio cortês;
- crítica à artificialidade do amor cortês / código amoroso.
- crítica de costumes:
- deserção; cobardia de nobres em campo de batalha;
- falta de dotes poéticos dos jograis;
- miséria envergonhada dos “infanções”;
- conduta imprópria do clero;
- boémia jogralesca;
- adultério;
- (...)
CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER

INFLUÊNCIAS:

Natureza: autóctone e, portanto, essencialmente popular, com influência do sirventês provençal.

IMPORTÂNCIA:

Valor documental: constituem um precioso testemunho sobre a Idade Média portuguesa e peninsular, na
medida em que documentam os seus costumes e informam acerca de factos históricos e sociais relevantes
da época.

CARACTERIZAÇÃO FORMAL:

- cantigas de mestria: composição medieval sem refrão;

- cantigas de refrão: coblas com número variável de versos, seguidos de refrão.


CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER
Segundo a Arte de Trovar,

NA CANTIGA DE ESCÁRNIO:

- a crítica era feita “por palavras cobertas que hajam dous entendimentos”, num registo de dupla leitura, o
“equívoco”.

NA CANTIGA DE MALDIZER:

- a crítica, muitas vezes violenta, identifica quem é o objeto visado, de modo a que não haja “outro
entendimento senom aquel que querem dizer”.

CONTUDO:

“Ainda que estes dois modos sejam, de facto, detetáveis nas cantigas conservadas, a nível terminológico esta
distinção pode considerar-se, no entanto, mais teórica do que prática: com efeito, os trovadores utilizam
muitas vezes a designação genérica “cantigas de escárnio e maldizer” para designarem este género, que
claramente se distingue dos outros dois, e que poderemos classificar simplesmente como satírico. ”

In http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp#4
«Ai, dona fea, fostes-vos queixar»,
Joam Garcia Guilhade (p. 56)
Cantiga de escárnio e maldizer: poema satírico.

Alvo Velha dama feia e louca


da crítica

Sarcasmo Ironia
Queixas apresentadas pela «dona»: o trovador não a louvara nas cantigas
de amor que tinha produzido.

«nunca vos louv[o] Louvar: elogiar, enaltecer as qualidades,


em meu cantar» (v. 2 ) expressar o seu amor

Mas

O trovador nunca a louvara porque É feia — não é formosa


a «dona feia» não reúne os atributos É velha — não é donzela
essenciais de uma «senhor»:
É louca — não possui «sén» (bom senso)

Solução!

«e vedes como vos quero loar» (v. 5) TROÇA


Ironia «e vedes qual será a loaçom» (v. 11) Mas Expõe o ridículo
«e direi-vos como vos loaei» (v. 17) da situação
Jogo com o verbo «louvar»: consequência do lamento da dama.

• «fostes-vos queixar» (v. 1)

Passado Presente Futuro

«nunca louv[o]» «vos loarei»


«quero já loar»
«nunca vos eu loei»
«um bom cantar farei»
«vos loarei»
Crítica:

• explícita — ser feia, velha e sandia;

• implícita — ser presunçosa.

Paródia às regras do amor cortês:

• Elogio à dama Censura à dama

• Caracterização abstrata das qualidades da dama Exposição concreta dos defeitos da dama
«Quen a sesta quiser dormir»,
Pero da Ponte (p. 60)
Cantiga de escárnio e maldizer: poema satírico dedicado à classe da
nobreza.

Alvo Jovem nobre (“infançon”)


da crítica

Sarcasmo Ironia
CRÍTICA DE COSTUMES: reflete as transformações sociais da época,
nomeadamente a decadência da nobreza e a ascensão da burguesia.
Convite a quem quiser
dormir uma sesta:
Episódio inicial: o sujeito poético dormiu
“Quen a sesta quiser
na cozinha do “infançon” – “Ainda vos én
dormir” (v.1)
máis direi/eu, que uu dia i dormi” (vv.8-9)
IRONIA e COMPARAÇÃO

Nunca dormiu tão bem desde o dia em que


DESCRIÇÃO da cozinha:
nasceu:
fria e pobre
(“tan boa sesta non levei,/des aquel dia ‘n que
naci,/como dormir en tal logar”” (vv.10-12)

Reflexo da situação económica


desfavorecida do nobre: TROÇA
Ironia “E vedes que bem se guisou/de fria E vedes Expõe o ridículo
cozinha teer/o infançon” da situação
DESCRIÇÃO DA COZINHA: consequência da penúria em que vive o nobre.

• Acentuação da troça ao longo da cantiga, para expor o ridículo da situação:

1.ª cobla 2.ª cobla 3.ª cobla

“u nunca Deus quis mosca “ca non mandou/des ogan’ i fog’


“tan fria casa non á” dar” (v. 13) acender” (vv.17-18)
(v. 6) e
Superlativação da frieza Naquela cozinha, não há “se vinho gaar d’ alguen, ali lh’o
daquela casa moscas, pois não há comida. esfriarán ben” (vv.19-20)

Não há lareira para aquecer; o


“infançon” só terá vinho, se
alguém lho oferecer, pois não
tem meios para o adquirir.
BIBLIOGRAFIA
- Adaptação de documento disponibilizado pelo manual de
10.º ano, Entre Nós e as Palavras, Santillana

Você também pode gostar