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GRUPO DE TRABALHO 6 - TRAJETÓRIAS ESCOLARES E NÃO

ESCOLARES

SOBRE O LAUDO DIAGNÓSTICO DE DISLEXIA DE JOVENS ESTUDANTES:


SEU USO E EFEITOS NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO

Ms. Sabrina Gasparetti Braga – Universidade de São Paulo


sabrinagasparetti@hotmail.com
Profª Drª Marilene Proença Rebello de Souza – Universidade de São Paulo
marileneproenca@hotmail.com

O presente trabalho, por meio de uma abordagem qualitativa de estudo de caso,


investigou a história do processo de escolarização, a produção do diagnóstico de
dislexia e seus efeitos nas relações escolares de um estudante ao final do ensino
fundamental I. Foram realizadas entrevistas com a mãe, coordenadora pedagógica,
professoras e o jovem diagnosticado, além da análise do laudo realizado por equipe
multidisciplinar. Faremos um recorte falando sobre o uso que se faz do diagnóstico de
dislexia na escola. Pelos relatos das entrevistas realizadas com professores e
coordenadora pedagógica, percebe-se que o laudo não serviu como auxílio aos
profissionais de educação, pois estes dizem não receber orientações. O diagnóstico
parece retirar das mãos dos professores sua capacidade de reflexão pedagógica, sendo
que estes ficam à espera da orientação de um profissional de saúde para saber sobre os
limites e possibilidades de aprendizagem dos jovens que são diagnosticados. A questão
do “quadro” médico é também recorrente na linguagem dos professores, os quais
acreditam que a criança percorrerá os anos escolares com limitações, evoluindo apenas
dentro de um “quadro clínico” o que nos remete a imagem de uma contenção, como na
moldura de um quadro: fechada, unidimensional, linear. A criança estaria presa e
limitada por todos os lados. O diagnóstico recebido pela escola tinha como conclusão
também outro quadro, o “quadro de risco para dislexia” o que determinaria a
necessidade de reavaliação. Mas, de acordo com o médico da família o laudo estava
selado, registrado, carimbado, avaliado e rotulado. Pronto para voar. A partir das
entrevistas, percebeu-se ainda o uso do diagnóstico para justificar uma dificuldade que
não se compreende a origem, então a causa é depositada no estudante, e o laudo
utilizado como tentativa para obtenção de uma atenção diferenciada por parte da escola,
sendo esta inclusive uma orientação médica. Produzimos subjetividades com as nossas
práticas e a prática do diagnóstico fez com que o sujeito desta pesquisa quando
perguntado sobre o que é a dislexia, respondesse como se sente sendo considerado
disléxico. O laudo responsabiliza o jovem pela dificuldade, é o estudante que não
aprende independente das relações que vive ou viveu na escola, as relações marcadas
pelo laudo contribuíram na constituição de sua subjetividade pautada na doença e nas
limitações impostas por um rótulo diagnóstico. Palavras-Chave: Medicalização,
Processo de Escolarização, Dislexia.

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