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Perícia contábil

PERÍCIA CONTÁBIL PERÍCIA CONTÁBIL


ORGANIZADORES FABIANE ZANETTE ; THAIS DE FREITAS DANEBERG

(Auditoria, Perícia,
Essencial para aqueles que desejam ingressar no estudo da perícia
contábil, este livro vai apresentar tudo o que é necessário para entender os
Avaliação e Arbitragem)
propósitos dessa área tão importante para apurar os objetos estudados e ORGANIZADORES FABIANE ZANETTE;
nortear a tomada de decisão. Você aprenderá aqui os conceitos, as normas,
o perfil do profissional perito e seu perfil, entre outros temas impre-
THAIS DE FREITAS DANEBERG
scindíveis para ter um entendimento amplo sobre o tema.
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Em quatro unidades e com uma linguagem didática, as autoras abordam o
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conceito de laudo pericial, os procedimentos necessários para sua funda-
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mentação e como deve ser sua estrutura, além de tratar sobre os honorári-
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os periciais. Você aprenderá também sobre a mediação e arbitragem
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dentro do ambiente contábil e tudo que precisa saber para o exercício da
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profissão.
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Esta é uma obra bem estruturada que trará bons e sólidos conhecimentos
sobre a perícia contábil. Bons estudos!

GRUPO SER EDUCACIONAL

ISBN 9786555581126

9 786555 581126 > gente criando futuro


PERÍCIA CONTÁBIL
(Auditoria, Perícia,
Avaliação e Arbitragem)
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fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de
informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional.

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Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha

Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi

Zanette, Fabiane.

Perícia contábil / Fabiane Zanette ; Thais de Freitas Daneberg. – São Paulo: Cengage,
2020.

Bibliografia.

ISBN 9786555581126

1. Contabilidade. 2. Perícia contábil. 3. Daneberg, Thais de Freitas.

Grupo Ser Educacional

Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro

CEP: 50100-160, Recife - PE

PABX: (81) 3413-4611

E-mail: sereducacional@sereducacional.com
PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL

“É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com


isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns
anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também
passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o
aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino
Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil.

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec,


tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar
seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento
da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da
democracia com a ampliação da escolaridade.

Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar


as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer-
lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no
contexto da sociedade.”

Janguiê Diniz
Autoria
Fabiane Zanette
Perita Judicial Contábil desde 2009 das Varas Federais e Estaduais de Campo Grande MS, bem como
Tribunais do Trabalho. Empresária. Formada em Ciências Contábeis pela Universidade Católica Dom
Bosco em 2005, Pós Graduada em Controladoria, Contabilidade Gerencial e Financeira em 2007 pelo
Instituto Catarinense de Pós-Graduação. Foi docente na Uniderp no curso de Ciências Contábeis.
Discente do curso de graduação de Direito na Universidade Católica Dom Bosco. Discente do curso
Latu Sensu MBA Executivo em Gestão Tributária pela Universidade Candido Mendes.

Thaís de Freitas Daneberg


Graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade Camaquense de Ciências Contábeis e Administrativas,
Especialista em Controladoria e Finanças pela Universidade Católica de Pelotas e Mestre em
Ciências Contábeis pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Atualmente é Professora Convidada
da Faculdade de Tecnologia SENAC Pelotas - Especialização em Controladoria, Perícia e Auditoria
Econômico-financeira e Universidade Católica de Pelotas UCPEL - MBE em Controladoria e Finanças.
Também é Coordenadora de Planejamento, Controle e Qualidade na Universidade Católica de Pelotas.

Thauane Lima de Souza


Mestre em Ensino de Astronomia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), especialista
em Controladoria  Empresarial pela Universidade Candido Mendes (AVM Educacional) e bacharel em
Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
SUMÁRIO

Prefácio..................................................................................................................................................8

UNIDADE 1 - Noções introdutórias da perícia..................................................................................9


Introdução.............................................................................................................................................10
1 Perícia.................................................................................................................................................11
2 Estrutura do Poder Judiciário no Brasil............................................................................................... 15
3 Provas admitidas no ordenamento jurídico brasileiro........................................................................ 18
PARA RESUMIR...............................................................................................................................22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................23

UNIDADE 2 - Trabalho do perito contábil........................................................................................25


Introdução.............................................................................................................................................26
1 Perfil profissional do perito................................................................................................................. 27
2 Laudo pericial...................................................................................................................................... 36
3 Planejamento do laudo pericial.......................................................................................................... 39
4 Termo de diligência............................................................................................................................. 42
5 Laudo..................................................................................................................................................43
6 Honorários periciais............................................................................................................................ 45
PARA RESUMIR...............................................................................................................................46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................47

UNIDADE 3 - Normas periciais e ramo de atuação..........................................................................49


Introdução.............................................................................................................................................50
1 Código de ética do contabilista........................................................................................................... 51
2 Código de Processo Civil..................................................................................................................... 56
3 Perícia contábil nas causas judiciais.................................................................................................... 59
4 A perícia contábil em processos do sistema financeiro de habitação................................................. 60
5 Perícia contábil em processos trabalhistas e tributários..................................................................... 62
PARA RESUMIR...............................................................................................................................64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................65
UNIDADE 4 - Mediação e arbitragem..............................................................................................67
Introdução.............................................................................................................................................68
1 Mediação e arbitragem....................................................................................................................... 69
2 Fundamentação para mediação e arbitragem.................................................................................... 72
3 Câmaras brasileiras de mediação e arbitragem.................................................................................. 77
4 Arbitragem internacional.................................................................................................................... 79
PARA RESUMIR...............................................................................................................................82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................83
PREFÁCIO

Neste livro, apresentaremos os conceitos de perícia de forma geral e introduziremos


a perícia contábil com todos os aspectos que você precisa conhecer para o estudo
desse tema. Você vai conhecer como é o trabalho do perito, as normas que regem essa
área e de que maneira deve ser a atuação desse profissional. O conteúdo é disposto em
quatro unidades, conforme mostrado a seguir.

A primeira unidade discorre sobre as noções introdutórias da perícia. Vamos apresentar


os principais conceitos que norteiam a área para que o profissional atue com ética, moral
e profissionalismo. Os ramos de atuação do profissional da área também serão conhecidos
nesta unidade, assim como a estrutura do Poder Judiciário brasileiro. É nesta unidade também
que você entenderá quais provas o Direito brasileiro admite, em âmbito jurídico, para a
emissão de laudo pericial, já que essas provas são fundamentais como objetos de estudo.

Na unidade 2, abordaremos o trabalho do perito contábil, o perfil desejável para


exercer a função, sua responsabilidade e zelo na vida pessoal a fim de não suscitar
impedimento ou suspeição. Por falar nisso, vamos discutir o que as Normas Brasileiras
de Contabilidade preveem quanto à responsabilidade e atuação dos peritos. O conceito
de laudo pericial, os procedimentos necessários para fundamentação e sua estrutura
também serão apresentados aqui. Além disso, você aprenderá a diferenciar os tipos
de honorários periciais, reconhecer critérios para elaboração de uma proposta, assim
como identificar os responsáveis pelo pagamento dos honorários periciais.

Normas periciais e ramo de atuação são os assuntos da unidade 3. Aqui serão apresentadas
as bases pelas quais o perito deve nortear seu trabalho, ou seja, as normas e os regulamentos
técnicos e legais. Serão apresentadas tanto a norma relacionada ao objeto de trabalho do
perito, ou seja, a perícia como a norma de conduta do perito, ambas embasadas com normas
legais de afetação ampla para qualquer profissional perito, que é Código de Processo Civil.
Aqui são estudadas ainda as melhores e mais rentáveis áreas de atuação.

A última unidade trata da mediação e arbitragem. Aqui será conhecido um


importante assunto relacionado à Perícia Contábil, que é o processo de fiscalização da
auditoria dentro das organizações. Apresentaremos o conceito de mediador e árbitro
dentro do ambiente contábil e as bases legais que servem como fundamento para o
exercício da profissão, além de indicar alguns procedimentos técnicos da mediação
e arbitragem, o funcionamento das câmaras, e a forma como é realizado o processo
de arbitragem das contas públicas no âmbito internacional, acompanhando todo o
procedimento utilizado em outros países.

Venha estudar os principais temas que envolvem a perícia contábil neste livro bem
estruturado e apresentado de forma didática! Bons estudos!
UNIDADE 1
Noções introdutórias da perícia
Introdução
Olá,

Você está na unidade Noções Introdutórias da Perícia. Conheça aqui o conceito de


perícias e de peritos, seus ramos de atuação, suas classificações. Saber seus conceitos é
imprescindível para uma atuação ética, moral e profissional do perito. Entenda ainda a
estrutura do Poder Judiciário brasileiro. Conheça também quais as provas que o Direito
brasileiro admite em âmbito jurídico, uma vez que são objetos de estudos para emissão
de laudo pericial.

Bons estudos!
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1 PERÍCIA
A literatura especializada não possui um conceito definindo para perícia. Sempre se tenta
conceituar mais pelos seus efeitos e sua utilização. A origem do termo perito vem da palavra
peritus, que é “experimentar, saber por meio de experiência própria”.

Conforme D’Auria apud Albertp (2009, p.1): “pericia é conhecimento e experiência das coisas.
A função pericial é, portanto, aquela pela qual uma pessoa conhecedora e experimentada em
certas matérias e assuntos examina as coisas e os fatos, reportando sua autenticidade e opinando
sobre as causas, essência e efeitos da matéria examinada”.

No ramo jurídico, do ponto de vista do Direito, também não temos um conceito sobre o
perito, mas apenas sobre a prova pericial, focando-se apenas em conceituar quem utiliza ela, ou
seja, o usuário que se valerá de uma perícia.

Apesar da falta de uma definição sobre a perícia, podemos nos valer do conceito de
Alberto (2009), segundo o qual a perícia é um instrumento especial de constatação, prova ou
demonstração, científica ou técnica, da veracidade de situações, coisas ou fatos. Ela se materializa
num relatório, que contém o resultado apurado com fundamentos científicos ou técnicos, de
acordo com o procedimento utilizado, de forma conclusiva sobre o objeto analisado. Assim,
perícia é o trabalho de notório conhecimento técnico especializado que irá nortear e orientar
uma autoridade judicial para dirimir conflitos.

De acordo com o Código de Processo Civil (CPC) (BRASIL, 2015), a relação entre a perícia e a
Justiça se dá da seguinte forma:

Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento
técnico ou científico.

§ 1º Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos


ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado.

No ramo da Contabilidade, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), nas Normas Brasileira


de Contabilidade (NBC PP 01), de 2015, nos traz conceitos separados por forma de atuação, uma
vez que essa norma trata dos procedimentos da pessoa do contador como perito (CFC, 2015):

2. Perito é o contador, regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade, que


exerce a atividade pericial de forma pessoal, devendo ser profundo conhecedor, por suas qualidades e
experiências, da matéria periciada.

3. Perito oficial é o investido na função por lei e pertencente a órgão especial do Estado
destinado, exclusivamente, a produzir perícias e que exerce a atividade por profissão.
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4. Perito do juízo é nomeado pelo juiz, árbitro, autoridade pública ou privada para exercício
da perícia contábil.

5. Perito-assistente é o contratado e indicado pela parte em perícias contábeis.

O Decreto-Lei n° 9.295 que instituiu o Conselho Federal de Contabilidade, expressa que a


perícia contábil é privativa de contadores habilitados, em seu art.25, alínea c, junto ao art.26
(BRASIL, 1946).

A NBC TP 01 nos traz o conceito do trabalho pericial contábil, em seu tópico 2 (CFC, 2015):

A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a levar à


instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio ou constatação
de fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer técnico-contábil, em conformidade com as
normas jurídicas e profissionais e com a legislação específica no que for pertinente.

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1.1 Objetivos da perícia


Inicialmente, temos que diferenciar objetos de objetivos da perícia. Objeto é o material, fato
ou ato que será analisado pelo perito para apurar o objetivo da perícia. O objetivo é resultado
final da análise de objetos; o parecer técnico da verdade contábil que os objetos apontam após
criteriosa e profissional analise. Assim, o objetivo da perícia contábil é a materialização, em forma
de laudo, das verdades apuradas sobre os objetos estudados.

Os objetivos da perícia contábil podem assumir variadas formas. Dentre esses objetivos,
podemos citar:
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Demonstrar o que está oculto, com erros, má-fé em documentos ou lançamentos, fraudes;

Esclarecer e eliminar as dúvidas sobre o objeto analisado;

Fundamentos científicos da decisão;

Formular opinião técnica.

1.2 Atuação da perícia


A perícia tem três campos principais de atuação: judicial, arbitral e extrajudicial.

A perícia judicial é aquela que se apresenta dentro de um processo judicial, ou seja, dentro
de discussões que tramitam no Poder Judiciário ao comando de uma autoridade judicial (juízes,
colegiados, entre outros). Durante o processo de conhecimento, que é a primeira fase de um
processo judicial, onde as partes apresentam suas alegações, objetos, problemas, requerimentos,
acaba fazendo parte de um dos pedidos pelas partes do processo, podendo ser pelo autor, pelo
réu, ou até mesmo ambos, a nomeação de um perito judicial para que se apure, opine, verifique o
real valor do que está sendo discutido como devido no processo, ou o real valor que foi fraudado,
que foi sonegado, entre outros motivos que cabe ao perito contador analisar.

Assim, se o juiz do processo entender que não tem conhecimento técnico para analisar os
documentos apresentados, se os valores informados estão corretos ou não, nomeia um perito
da área que está sendo discutida em processo para auxiliá-lo nessa decisão. Portanto, o perito
judicial é auxiliar da justiça, representado pelo juiz, e não das partes, cujo trabalho é orientar
o juiz na decisão que irá apresentar em sua sentença. Qualquer irregularidade que o perito
possa incorrer, será tratada como atentado ao poder público, podendo sofrer, além das sanções
administrativas do órgão de classe, também sanções jurídicas civis e penais na esfera pública,
como se fosse um funcionário público. Dessa forma, quando o juiz nomear o perito judicial, é
necessário que ele zele pelo caráter legal em todos os atos que irá praticar.

No campo da perícia judicial, há dois tipos, como poderemos ver a seguir:

Perícia da prova

Aquela que tem o escopo da perícia para trazer a verdade real dos fatos em processo.

Perícia arbitrária

Aquela em que o técnico perito, em seu nível profissional quantifica o valor com base em
dados do processo e conhecimentos técnicos, em outras palavras, usa o próprio conhecimento
técnico e normas, para apurar o valor correto, sem que haja predefinições no processo para o
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seu cálculo.

A perícia extrajudicial é o trabalho técnico fora do âmbito jurídico, ou seja, é aquele que versará
o objeto que ainda não está em tramite judicial, podendo ou não ser discutido posteriormente na
justiça. Um exemplo é quando um cliente solicita os cálculos da evolução de um financiamento
para discutir com a empresa financeira os valores incoerentes. Após isso, pode ou não a parte
ingressar no Poder Judiciário se valendo dessa pericia extrajudicial como meios de provas contra
a financeira.

A perícia arbitral se presta no juízo arbitral. O juízo arbitral é uma forma “privada” de se
resolver conflitos sobre direito patrimonial de litígios. Aqui, as partes procuram um juízo arbitro,
que é uma pessoa formada para tal, e que será contratada pelas partes para que esse possa
solucionar o caso. Nessa situação, o arbitro pode tomar depoimentos das partes, testemunhos, e
até realizar pericias como meio de provas. Diferentemente da perícia judicial, na qual o juiz que
nomeia seu assistente, o perito será escolhido em comum acordo entre as partes, bem como
podem realizar cotações de honorários de até três peritos. As partes também podem nomear
assistentes técnicos para lhe auxiliarem no laudo pericial arbitral.

Sua forma de atuação é idêntica à perícia judicial. A única diferença relevante de conduta
do perito nesse caso é o caráter sigiloso de cem por cento na atuação, uma vez que aqui temos
prestações de litigio privados, que não são abertos ao público e, sim apenas aos interessados. Já
os processos judiciais, são de interesse público.

Figura 1 - Atuação de um perito


Fonte: Song_about_summer, Shutterstock, 2020

#ParaCegoVer: A imagem ilustra o trabalho de dois peritos. Vemos um deles conferindo


informações em um documento e em gráficos e tabelas; enquanto o outro está trabalhando em
um notebook.
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2 ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL


O Poder Judiciário Brasileiro tem como função principal aplicar a lei criada pelo Poder Legislativo,
nos casos em concreto. Não agem de oficio, ou seja, é necessário que o cidadão ou empresa “peça
sua ajuda” para resolver um conflito. Ele está dividido em instâncias, competências e foros.

2.1 Instâncias judiciais


As instâncias judiciais tratam Do direito Constitucional do duplo grau de jurisdição, ou seja,
poder leva a uma instância superior uma decisão proferida por uma inferior, abrindo a possibilidade
de haver duas decisões sobre a mesma matéria. Assim, ela é composta pela primeira instância,
que é o órgão que irá inicialmente receber os casos em conflitos, via processo judicial, e decidi-
lo, por um juiz da vara de competência. Se a decisão (sentença) do juiz de primeira instância
não for aceita ou não satisfizer uma das partes, ela poderá solicitar o recurso, que transferirá o
processo para a segunda instância, instância superior, composta por um colegiado de juízes. Esse
colegiado poderá analisar se no conteúdo da sentença há erros, excesso, falta de julgamento, etc.
O colegiado pode manter a sentença de primeiro grau, reformar total ou parcialmente.

FIQUE DE OLHO
A reforma de sentenças em segunda instância tem prioridade sobre a sentença de primeiro
grau, especialmente para o perito nomeado, se contiver informações que afetam seu
trabalho. Uma vez que algo não foi apreciado ou reconhecido em primeiro grau, ou o oposto,
poderá ser em instância superior ser reconhecida, alterada ou extinta o direito, podendo vir
a ser objeto ou considerações de cálculo no laudo pericial.
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2.2 Competências
A competência se trata tanto de esferas como de ramos de direito. A Justiça Comum é dividida
em: Justiça Federal, Justiça Estadual e Justiça Distrital. A instância especial para a Justiça Comum
é o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Veja a seguir o conceito das esferas da Justiça brasileira:

Justiça Federal

Processa e julga crimes e conflitos federais, onde a União, Autarquias ou Empresas Públicas
Federais forem parte, ou seja, tanto do polo passivo, como do polo ativo. É competente também
para causas relacionadas a tratados internacionais e direito humanos. São compostas por
Tribunais Regionais Federais (julgamento de segunda instância para as varas de primeira instância
de sua região) e composta por Juízes Federais, que são os responsáveis pelas varas federais de
primeira instância.

Justiça Estadual

Conhecida como competência residual, pois julga os processos que não cabem à esfera
federal. Composta por juízes de primeira instância, cada um responsável por uma vara (civil,
criminal, execução fiscal, família, entre outros), podendo também ser responsável por mais de
uma vara, e composta pelo Tribunal de Justiça que é a segunda instância.

Justiça Distrital

É a justiça do Distrito Federal e Territórios, com mesmas competências e composição ao da


Justiça Estadual.

Cada esfera da Justiça Comum (Federal ou Estadual), possui juizados especiais para processar
e julgar crimes e conflitos de pequenos portes e valores; e infrações penais leves ou causas civis
de pequeno valor, como de consumidor, no qual não é necessária uma tramitação muito longa na
justiça, por serem de menor complexidade.

FIQUE DE OLHO
O juizado especial foi criado com a intenção de soluções rápidas, sem complexidade,
mesmo com valores e cálculos que não são fáceis de se conhecer, como cálculo de cartões
de créditos com atrasos, juros, etc. Assim, não cabe a este juizado a utilização de peritos
técnicos, exatamente por ir contra o objetivo de sua criação. Havendo fundamental
importância de prova pericial, o processo precisa ser levado a Justiça Comum (ordinária).
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A justiça especializada é a justiça que trata apenas de alguns ramos do Direito. Dentre as
esferas da justiça especializada estão:

Justiça do Trabalho

Julga as relações de trabalho. Compostos por Juízes do Trabalho (nas Varas do Trabalho)
sendo primeira instância. Segunda instância são os Tribunais Regionais do Trabalho, e a especial
Tribunal Superior do Trabalho.

Justiça Eleitoral

Julga casos de direitos políticos, crimes políticos e partidos políticos. Sendo divido em
primeira instância por Juízes Eleitorais, segunda instância Tribunal Regional Eleitoral, e especial
Tribunal Superior Eleitoral.

Justiça Militar da União

Julga crimes militares definidos em lei. Composta por primeira instância Superior Tribunal
Militar e Conselhos da Justiça, Permanente e Especial e sedes de Auditoria Militar.

Justiça Militar Estadual e Distrital

Processa e julga militares dos Estados, em crimes militares e disciplinas militares. Composta
por primeira instância por juízes de direito togados (juiz-auditor) e pelos Conselhos de Justiça,
segundo grau sendo o Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça Militar (esse último quando
houver mais de 20.000 no efetivo militar), e instância especial o Superior Tribunal de Justiça.

Cada uma dessas esferas possui sua instância especial, enquanto a Justiça comum possui o STJ.
Estas instâncias não são instâncias de terceiro grau (terceira instância). Esses Tribunais Superiores
não julgam os méritos (objetos, deveres ou direitos) sentenciados em primeira instância, não
modificam, são mais de méritos de Constitucionalidades, ações de inconstitucionalidade, por
exemplo, e outras competências específicas que são elencadas na Magna Carta, mas, se for aceito
o recurso dessa instância, ou se comprove a inconstitucionalidade, uma sentença de primeiro
grau pode ser extinta.

O órgão máximo judicial é o Supremo Tribunal Federal (STF), que está acima de todas as
instâncias especiais, ou seja, acima de todos os Tribunais Superiores, O aprofundamento da
competência dessas instâncias se faz necessário no estudo do Direito, assim não iremos nos ater
em maiores detalhes. Dessa forma, resta, a saber, que o Perito irá primeiramente trabalhar em
primeira instância; e, em alguns casos, será decidida em segunda instância a necessidade do juiz
ser assistido por profissional técnico.
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2.3 Foro
O Foro é o segmento do Direito que a vara irá processar, podendo ser: Cível, Criminal, Trabalhista
e Eleitoral. Estes são subdivididos em questões estratégicas nas varas, como por exemplo: a Vara
de Família, que é Cível Familiar e julga só casos referentes à família; Varas Criminais Especiais que
são de pequenos delitos, a federal Criminal que trata de crimes federais; Vara do Júri, que são
crimes contra a vida; trabalhista para questões entre empregadores e empregados; Vara Criminal
eletrônica, para crimes cibernéticos. OS peritos contábeis geralmente são solicitados nas varar
Cível e Trabalhista.

2.4 Juízes e seus auxiliares


Caberá ao juiz conduzir todo o processo judicial do início ao fim do litigio, proferindo decisões,
despachos, recebendo provas, etc. Também é de responsabilidade dele presidir audiências,
determinar cumprimento de citações e intimações, assinar a liberação de pagamento dos
honorários periciais, dentre outras. O Foro possui um juiz ou mais.

Cada Vara possui uma recepção/setor administrativo, chamada de cartório, que recebem
as petições de aberturas de processos, laudos pericias, petições de processos em andamentos,
liberam cargas de processos físicos, etc. É a porta de entrada de documentos dos processos, bem
como de toda administração processual da Vara.

O juiz trabalha com diversos auxiliares, como o Escrivão, interpretes, auxiliares técnicos,
Oficiais de Justiça, todos eles servidores públicos do órgão público. Caso durante a evolução
processual se faça necessário um conhecimento técnico, para auxiliar temporariamente, em um
processo, o Juiz que não tem conhecimento para tanto, há a possibilidade da chamada extensão
de um braço do juiz, com a convocação do perito judicial.

3 PROVAS ADMITIDAS NO ORDENAMENTO


JURÍDICO BRASILEIRO
As provas atualmente admitidas no ordenamento jurídico brasileiro são os depoimentos
pessoais, confissão, exibição (de coisa ou documento), documento, testemunho, perícia e
inspeção judicial. É necessário que os peritos conheçam as provas admitidas em um processo,
pois pode ocorrer a utilização de algumas delas ou mais, no trabalho pericial, como também o
oposto: dentro de alguma delas, pode haver a necessidade de um perito.

Todas as provas abaixo admitidas no direito se encontram no Código de Processo Civil, Lei
13.105 de 2015, nos artigos 385 até 484 (BRASIL, 2015). Essas provas não possuem classificação
de veracidade ou força probante. Porém, em alguns Foros, como o criminal, algumas acabam
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tendo força maior que as outras. Por exemplo, testemunho em processo criminal não terá
tanta força probatória sobre documentos ou perícia técnica, se entre eles houver divergência
de alegações. De forma oposta, testemunhos em processos trabalhistas comprovam mais as
alegações do empregado do que os documentos.

Por esse motivo, cada processo terá sua própria ordem de força probante das provas. O
mesmo ocorre com a perícia, que pode ser considerada pelo juiz como imprestável depois de
realizada, caso o próprio laudo não demonstre a divergência que o juiz esperava ver para lhe
ajudar na sua decisão.

3.1 Depoimento Pessoal


O depoimento pessoal é o depoimento de uma das partes do processo, feito via interrogatório
pelo condutor do processo, o juiz, no qual o depoente transmite a visão que ele teve dos fatos. O juiz
poderá determinar a prova por depoimento pessoal, como também a parte contrária poderá solicitar.
Ao ocorrer a intimação do depoente, existem algumas exceções que ele poderá se valer para não
depor, com, por exemplo não produzir prova contra si mesmo, obrigação do sigilo profissional, etc.

3.2 Confissão
A confissão ocorre quando o autor do ato ilegal admite o erro, dolo ou culpa, podendo ser
espontânea (de forma isolada) ou provocada (quando se liga diretamente ao depoimento pessoal).
A confissão elimina a necessidade de perícia. A exceção ocorre no caso financeiro: se for para
apuração de montante complexo para o confesso pagar, precisa ser assistido por profissional técnico,
nomeando-se um perito para apurar o valor correto, atual e real. Se os documentos ou coisa forem
apresentados, teremos aqui, em futura prova pericial, uma prova para ser usada no laudo.

3.3 Exibição de documentos ou coisa


A exibição de documentos ou coisa ocorre quando as partes apresentam documentos ou
coisas que estejam em sua posse ou com terceiros, podendo ser por pedido do juiz ou de uma
das partes.

3.4 Documentos
Os documentos é um dos elementos que mais tem força probante, Documentos públicos,
como escrituras, possuem fé pública. Logo, se sobressaem sobre documentos particulares, uma
vez que esses particulares, não possuem a rigidez na formalização do documento. A fé pública
pode ser contestada caso haja suspeitas sobre a veracidade de alguma das suas informações. A
perícia contábil utiliza muito essas provas, pois entende-se que qualquer documento anexo aos
autos processuais é verídico e possui valor legal, principalmente quando emitido e avalizado por
repartições públicas.
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O meio de prova documental deve ser bem analisado pelo profissional que pretende ser
perito, para saber qual documento é valido ou não como prova para apuração de parecer técnico.
Se o perito extrajudicial por exemplo, apresentar um laudo com base em documentos que não
são aceitos, emitirá pareceres irreais.

3.5 Inspeção judicial


A inspeção judicial é uma prova produzida pelo próprio juiz que busca através de um contato
direto averiguar o fato julgado. Nesses casos, se ele achar necessário, poderá ser assistido por
peritos. Após feita a diligência, lavrará o auto circunstanciado da inspeção. Ao contrário das
outras provas acima, o perito irá ajudar o juiz a concluir uma prova, a criar um meio de prova.

3.6 Prova pericial


Todos fatos que produzem convicção, apurados no processo são provas. Em um processo judicial,
cabem às partes tentar sair vitoriosas do litigio, provar ao juiz por meio de provas. A prova pericial
orienta e ajuda ao juiz decidir, tanto a que foi produzida de forma extrajudicial, como a perícia judicial.

Qualquer perícia, deve se valer de provas legais, ou seja, quando foram produzidas de forma
legal. O perito deve ficar atento a isso ao utilizar documentos para embasar seu parecer técnico.

O art.333 do CPC nos traz que o ônus da prova cabe ao autor quando procura constituir um
direito, e ao réu, quando pretende extinguir, modificar e impedir o direito do autor. O uso de
perícia técnica, dessa forma, não pode ter seu valor questionado, se for feito com documentos
e provas legítimas. A escrita contábil e fiscal são provas admitidas tanto no CPC como quanto
no Código Comercial, que pode se tornar contra ou a favor do comerciante. Porém, essa prova
sempre será a favor se ela preencher os requisitos da lei, tanto intrínsecos como extrínsecos da
escrituração contábil.

Dessa forma, não é moral que um perito contábil, principalmente o extrajudicial, separe
informações desses livros com apenas partes que lhe interessam, porém não estamos falando
aqui que se utilize de informações que estão no livro fiscal de assuntos que não interessam as
partes, pois o juiz pode determinar as partes que apresentem os livros total ou parcialmente, uma
vez que é necessário apurar somente sobre o objeto em questão na lide.

Documentos contábeis e fiscais podem possuir caráter sigiloso pelo Código Comercial. Caso
seja necessária a analise deles, o perito pode solicitar que o juiz de oficio solicite os documentos,
pois o perito não tem acesso amplo e irrestrito a todos documentos fiscais, exceto se ele for
judicial e apenas sobre a matéria objeto deu parecer. Devido a esse caráter de sigilo, caso haja
exame nos documentos de outra forma, será considerada ilegal pela própria Constituição Federal
de 1988 como violação do direito de sigilo.
21

A prova pericial é bem oportuna ao autor no início do processo. Ela deverá ser entregue junto
à petição inicial que irá dar abertura ao litigio. Já o réu, deverá entrega-la quando da contestação
da petição inicial pelo autor. Porém, como o andamento de processo é comandado por juiz e duas
partes (autor/réu, requerido/requerente, etc.), a prova pode ser anexada a qualquer momento
que for oportuna. Havendo divergências entres as provas pericias apresentada pelas partes, o
juiz, achando necessário, nomeará um perito judicial, imparcial que será seu “assessor” para
dirimir os conflitos dos valores apresentados pelas partes.

Durante um processo judicial, as partes podem requerer o pedido de prova pericial para o
juiz, sobre pena do juiz cercear a defesa de seus direitos. Dessa forma, a probidade, caráter moral
e técnico do perito deve ser inquestionável, bem como seguir os ritos do Direito em um processo,
como cumprir prazos, recusar o trabalho por desconhecer o assunto, ter afinidade pessoal com
uma das partes, ou qualquer coisa que possa evitar o perito na criação da prova pericial, a
cometer erros que prejudicará alguma das partes ou que estejam eivadas de vícios que coloque
dúvidas ao parecer técnico profissional.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:


22

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer dos conceitos de perito e perícia;

• verificar as formas de atuação do perito;

• aprender qual a estrutura do poder jurídico do Estado;

• saber quais são as provas validas no direito brasileiro;

• reconhecer a importância e valor da prova pericial


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERTO, V. et al. Perícia Contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BRASIL. DECRETO-LEI Nº 9.295, DE 27 DE MAIO DE 1946. Cria o Conselho Federal de


Contabilidade, define as atribuições do Contador e do Guarda-livros, e dá outras provi-
dências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del9295.htm.
Acesso em 10 mar.2020

BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Código de Processo Civil. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1045.
Acesso em 10 mar.2020

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC TP


01, de 27 de fevereiro de 2015. Dá nova redação à NBC TP 01 – Perícia Contábil. Dispo-
nível em: http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2015/NBC-
TP01&arquivo=NBCTP01.doc . Acesso em 19 mar. 2020.

JULIANO, R. Manual de Perícias. 3. ed. Rio Grande: 2007.

MASSON, N. Manual de Direito Constitucional. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2020.

SÁ, A. L. de. Perícia Contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011
UNIDADE 2
Trabalho do perito contábil
Introdução
Você está na unidade Trabalho do Perito Contábil. Conheça aqui o perfil profissional do
perito, desde sua pessoalidade da função, responsabilidade e zelo profissional aos motivos
para o seu impedimento e suspeição. Entenda também o conceito de laudo pericial, os
procedimentos necessários para fundamentação e sua estrutura. Vamos explorar o que
as Normas Brasileiras de Contabilidade preveem quanto à responsabilidade e atuação dos
peritos. Aprenda a diferenciar os tipos de honorários periciais, reconhecer critérios para
elaboração de uma proposta, assim como identificar os responsáveis pelo pagamento dos
honorários periciais.

Bons estudos!
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1 PERFIL PROFISSIONAL DO PERITO


O contador, quando atua como perito, necessita manter-se atualizado. Isso significa manter
um nível de competência profissional, através do acompanhamento do conhecimento contábil,
das Normas Brasileiras de Contabilidade, das técnicas contábeis, da Legislação relativa à profissão
contábil, principalmente, aquelas aplicáveis à Perícia.

1.1 Pessoalidade da função


O Perito é um técnico especialista em determinada matéria, o qual subsidia o Juiz por meio
do exame, vistoria, avaliação e arbitragem. Ele pode exercer duas funções: a de Perito Contábil
Oficial ou de Perito Contábil Assistente.

Hoog (2011) resume assim a diferença entre o Perito Contador Oficial e o Perito Contador
Assistente:

Oficial: nomeado pelo Juiz/ Assistente: indicado pelo litigante;

Oficial: sujeito a impedimento ou suspeição (previstas no Código de Processo Civil)/ Assistente


não esta sujeito;

Oficial: recebe honorários mediante Alvará da Justiça/ Assistente: diretamente da parte que
o indicou;

Oficial: prazo de entrega do trabalho é determinado pelo Juiz/ Assistente: tem dez dias para
manifestar-se quanto ao laudo emitido pelo Perito;

Oficial: profissional da confiança do Juiz/ Assistente: profissional de confiança da parte.

O Perito precisa, obrigatoriamente, ser Bacharel em Ciências Contábeis, ou ser equiparado


por meio da Legislação. Além disso, também deve possuir registro e regularidade no Conselho
Regional de Contabilidade. As condições relatadas aplicam-se tanto ao Perito Contábil quanto ao
Perito Contábil Assistente, este, da mesma forma, é contratado e recomendado pelas partes em
periciais contábeis, nos processos judiciais e extrajudiciais, inclusive os arbitrais.

A indicação do Perito Contábil ou Perito Contador e do Assistente é de extrema relevância:


são eles que asseguram a produção e efeito da prova pericial. Cabe ainda ao Perito Contador
Assistente a incumbência de favorecer o diálogo com o Perito Contador do juízo.

O Assistente deve ainda manter comunicação direta com as partes envolvidas ou com seus
procuradores. Ele também deve demonstrar sugestões, criticar o Laudo do Perito indicado
e demonstrar as situações possíveis, isso tudo com embasamento técnico e jurídico. O Perito
28

Assistente não precisará apresentar um parecer técnico quando existirem solicitações fora da sua
área de especialização. Nesse caso, ele deverá restringir-se apenas ao tema de seu conhecimento.
No documento, ele deve explicitar que a situação em questão necessitará ser certificada e
decidida pelo Juiz da causa. Segundo o art. 465 da Lei n º 13.105, o Juiz nomeará Perito que tenha
experiência na matéria periciada, e fixará prazos para a entrega do laudo (BRASIL, 2015):

Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo
para a entrega do laudo.

§ 1º Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do despacho de


nomeação do perito:

I - arguir o impedimento ou a suspeição do perito, se for o caso;

II - indicar assistente técnico;

III - apresentar quesitos.

§ 2º Ciente da nomeação, o perito apresentará em 5 (cinco) dias:

I - proposta de honorários;

II - currículo, com comprovação de especialização;

III - contatos profissionais, em especial o endereço eletrônico, para onde serão dirigidas as
intimações pessoais.

§ 3º As partes serão intimadas da proposta de honorários para, querendo, manifestar-se no prazo


comum de 5 (cinco) dias, após o que o juiz arbitrará o valor, intimando-se as partes para os fins do art. 95 .

§ 4º O juiz poderá autorizar o pagamento de até cinquenta por cento dos honorários arbitrados a
favor do perito no início dos trabalhos, devendo o remanescente ser pago apenas ao final, depois de
entregue o laudo e prestados todos os esclarecimentos necessários.

§ 5º Quando a perícia for inconclusiva ou deficiente, o juiz poderá reduzir a remuneração


inicialmente arbitrada para o trabalho.

§ 6º Quando tiver de realizar-se por carta, poder-se-á proceder à nomeação de perito e à indicação
de assistentes técnicos no juízo ao qual se requisitar a perícia.

Cada uma das partes envolvidas tem o direito de indicar um Assistente para que seja efetuada
a Perícia Judicial. Considere a ocorrência de uma situação em que a matéria ou objeto da Perícia
aborda mais de um conhecimento distinto. Nesse caso, as partes envolvidas poderão indicar ou
contratar um Perito Contador Assistente específico para cada assunto abordado. As provas da
Perícia serão o Laudo do Perito e o Parecer do Assistente, por este motivo é de suma relevância o
cuidado com a correta nomeação e indicação.
29

Quanto ao processo de Arbitragem, a Lei possibilita que o Contador possa atuar na área
pericial, executando a função de Árbitro. Isso ocorre porque a atividade desenvolvida pelo Perito
Contador é similar à atividade desenvolvida pelo Árbitro.

A figura do Árbitro Perito surge quando o juízo arbitral oferece à sociedade a oportunidade de
explorar conteúdos específicos. A tradição profissional, habilidade nas relações e conhecimento
legal favorecem a escolha de um ou mais árbitros. Dessa forma, um técnico que tenha experiência
na área objeto poderá atuar como Árbitro, não sendo necessária a admissão de um Perito. A
decisão do processo é tomada através de um conhecedor do conteúdo relativo ao conflito.

Isso é diferente do que ocorre no Poder Judiciário, em que o Juiz precisa da assistência de Peritos,
que possuam experiência no conteúdo, a fim de orientar sua afirmação referente à decisão final. Na
Perícia, a finalidade é trazer a realidade do fato aos autos ou às partes envolvidas. Na Arbitragem, o
intuito é julgar de modo correto o conflito ou situação que lhe foi conferida, onde o contador atuará
como Árbitro. É bastante comum a existência de contadores, nos tribunais arbitrais, que pertencem
ao quadro de árbitros, assim as atividades do contador, tanto como árbitro ou técnico, se misturam
e promovem a solução do conflito, sem que seja preciso fazer uso da Perícia.

Durante as etapas da Perícia, cada Assistente técnico poderá elaborar um parecer, igual ou
equivalente. Da mesma forma, um perito prepara um laudo relativo ao mesmo assunto. Não
existe impedimento para que os peritos assistentes técnicos assinem juntos o laudo do perito,
se os mesmos concordarem com ele. Eles apresentam a conformidade com o laudo do perito
mediante petições ou pareceres de modo isolado

Existe ainda atenção especial no que tange o prazo para manifestação, é de direito a
solicitação de prazo adicional a fim de finalizar seus trabalhos periciais, o Perito está garantido
pela Legislação (BRASIL, 2015): “Se o perito, por motivo justificado, não puder apresentar o laudo
dentro do prazo, o juiz poderá conceder-lhe, por uma vez, prorrogação pela metade do prazo
originalmente fixado. ”

O laudo que será emitido necessita atender o objeto de perícia de forma completa, conforme
exposto no artigo 473 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2002):

Art. 473. O laudo pericial deverá conter:

§ 3º Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos podem valer-se de


todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que
estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com
planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento
do objeto da perícia.
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Figura 1 - Perícia Contábil


Fonte: create jobs 51, Shuttetstock, 2020

#ParaCegoVer: A imagem ilustra um contador checando a precisão das demonstrações


financeiras de um documento, um dos trabalhos próprios da perícia contábil.

1.2 Responsabilidade e zelo profissional


A Perícia Contábil é um conjunto de procedimentos destinados à evidenciação de elementos
de prova, necessários para subsidiar a tomada de decisão. Normalmente, o perito contábil é
contratado pelas partes ou indicado pelo juiz, para análise, verificação e posterior emissão de
laudo pericial contábil, fundamentado na legislação vigente, subsidiando assim a ação da Justiça.

O termo Responsabilidade tem importante significado na prática da perícia, uma vez que se
refere à obrigação do perito em respeitar os princípios de moral, da ética e do direito, primando
sempre pela honestidade e idoneidade, sob a pena de responder civil e criminal seus atos.

Abaixo são apresentadas as conceituações das Responsabilidades de acordo com a NBC PP


01 – Perito Contábil:

O perito deve conhecer as responsabilidades sociais, éticas, profissionais e legais às quais está
sujeito no momento em que aceita o encargo para a execução de perícias contábeis judiciais e
extrajudiciais, inclusive arbitral.

A responsabilidade do perito decorre da relevância que o resultado de sua atuação pode


produzir para a solução da lide.

Ciente do livre exercício profissional, deve o perito do juízo, sempre que possível e não
houver prejuízo aos seus compromissos profissionais e as suas finanças pessoais, em colaboração
com o Poder Judiciário, aceitar o encargo confiado ou escusar-se do encargo, no prazo legal,
apresentando suas razões.
31

• O perito do juízo, no desempenho de suas funções, deve propugnar pela imparcialidade,


dispensando igualdade de tratamento às partes e, especialmente, aos peritos-assis-
tentes. Não se considera parcialidade, entre outros, os seguintes: atender às partes ou
assistentes técnicos, desde que se assegure igualdade de oportunidades; ou fazer uso de
trabalho técnico-científico anteriormente publicado pelo perito do juízo.

• A legislação cívil determina responsabilidades e penalidades para o profissional que exer-


ce a função de perito, as quais consistem em multa, indenização e inabilitação.

• A legislação penal estabelece penas de multa e reclusão para os profissionais que exer-
cem a atividade pericial que vierem a descumprir as normas legais.

Segundo o Código de Ética Profissional do Contador, o perito contábil poderá:

• Publicar trabalho (científico ou técnico, assinado e sob sua responsabilidade);

• transferir contrato de serviços seus a outro profissional (com a anuência do cliente, sem-
pre por escrito);

• transferir, parcialmente, a execução dos serviços a seu cargo a outro profissional (man-
tendo sempre como sua a

• responsabilidade técnica);

• indicar, em qualquer modalidade ou veículo de comunicação, títulos, especializações,


serviços oferecidos,

• trabalhos realizados e a relação de clientes (esta quando autorizada por estes).

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

A NBC PP 01 do Perito Contábil aponta ainda a importância de zelar pelo processo. O termo
“zelo” refere-se ao cuidado que deve ser dispensado na execução das tarefas, em relação a conduta,
documentos, prazos, tratamento, de forma que o Perito seja respeitado, e seu trabalho seja digno
de fé pública. O zelo profissional do perito na realização dos trabalhos periciais compreende:
32

Elementos necessários para o zelo profissional do perito contábil

Cumprir os prazos fixados pelo juiz em perícia judicial e nos termos contratados em perícia
extrajudicial, inclusive arbitral;

Assumir a responsabilidade pessoal por todas as informações prestadas, quesitos respondidos,


procedimentos adotados, diligências realizadas, valores apurados e conclusões apresentadas no
laudo pericial contábil e no parecer técnico-contábil;

Prestar os esclarecimentos determinados pela autoridade competente, respeitados os prazos


legais ou contratuais;

Propugnar pela celeridade processual, valendo-se dos meios que garantam eficiência,
segurança, publicidade dos atos periciais, economicidade, o contraditório e a ampla defesa;

Ser prudente, no limite dos aspectos técnico-científicos, e atento às consequências advindas


dos seus atos;

Ser receptivo aos argumentos e críticas, podendo ratificar ou retificar o posicionamento


anterior;

A transparência e o respeito recíprocos entre o perito do juízo e o perito-assistente pressupõem


tratamento impessoal, restringindo os trabalhos, exclusivamente, ao conteúdo técnico-científico;

O perito é responsável pelo trabalho de sua equipe técnica, a qual compreende os auxiliares
para execução do trabalho complementar do laudo pericial contábil e/ou parecer técnico-contábil;

Sempre que não for possível concluir o laudo pericial contábil no prazo fixado pelo juiz, deve
o perito do juízo requerer a sua dilação antes de vencido aquele, apresentando os motivos que
ensejaram a solicitação;

Na perícia extrajudicial, o perito deve estipular os prazos necessários para a execução dos
trabalhos junto com a proposta de honorários e com a descrição dos serviços a executar;

A realização de diligências, durante a elaboração do laudo pericial, para busca de provas,


quando necessária, deve ser comunicada às partes para ciência de seus assistentes.

É importante que se saiba também, que o sigilo anteriormente referido como dever, continua
mesmo depois de entregue o laudo ou parecer pericial contábil. O profissional que apresentar
informações incorretas ou infundadas, por dolo ou culpa, será responsabilizado pelos prejuízos
decorrentes. Este poderá ficar inabilitado para atuar em perícias, em um período de dois a cinco
anos. Caberá ao Juiz comunicar problemas ao órgão competente de classe, para que o mesmo
33

providencie medidas corretivas. O profissional está suscetível às penalidades a partir do momento


em que aceita a função do perito, tanto judicial, extrajudicial quanto arbitral.

1.3 Impedimentos e suspeição


A NBC PP 01 – Perito Contábil esclarece por meio de itens o processo de Impedimento e
Suspeição:

Impedimento e suspeição são situações fáticas ou circunstanciais que impossibilitam o


perito de exercer, regularmente, suas funções ou realizar atividade pericial em processo judicial
ou extrajudicial, inclusive arbitral. Os itens previstos nesta Norma explicitam os conflitos de
interesse motivadores dos impedimentos e das suspeições a que está sujeito o perito nos termos
da legislação vigente e do Código de Ética Profissional do Contador.

Para que o perito possa exercer suas atividades com isenção, é fator determinante que ele
se declare impedido, após nomeado ou indicado, quando ocorrerem as situações previstas nesta
Norma, nos itens abaixo.

Quando nomeado, o perito do juízo deve dirigir petição, no prazo legal, justificando a escusa
ou o motivo do impedimento ou da suspeição.

Quando indicado pela parte e não aceitando o encargo, o perito-assistente deve comunicar a
ela sua recusa, devidamente justificada por escrito, com cópia ao juízo.

O perito do juízo deve se declarar impedido quando não puder exercer suas atividades,
observados os termos do Código de Processo Civil.

O perito-assistente deve declarar-se suspeito quando, após contratado, verificar a ocorrência


de situações que venham suscitar suspeição em função da sua imparcialidade ou independência
e, dessa maneira, comprometer o resultado do seu trabalho.

O perito do juízo ou assistente deve declarar-se suspeito quando, após nomeado ou


contratado, verificar a ocorrência de situações que venham suscitar suspeição em função da sua
imparcialidade ou independência e, dessa maneira, comprometer o resultado do seu trabalho
em relação à decisão.

• Os casos de suspeição a que está sujeito o perito do juízo são os seguintes:

• ser amigo íntimo de qualquer das partes;

• ser inimigo capital de qualquer das partes;

• ser devedor ou credor em mora de qualquer das partes, dos seus cônjuges, de parentes
destes em linha reta ou em linha colateral até o terceiro grau ou entidades das quais
34

esses façam parte de seu quadro societário ou de direção;

• ser herdeiro presuntivo ou donatário de alguma das partes ou dos seus cônjuges;

• ser parceiro, empregador ou empregado de alguma das partes;

• aconselhar, de alguma forma, parte envolvida no litígio acerca do objeto da discussão; e

• houver qualquer interesse no julgamento da causa em favor de alguma das partes.

O perito pode ainda declarar-se suspeito por motivo íntimo.

FIQUE DE OLHO
Nada justifica a participação ou a cumplicidade com desvios ou atitudes invasivas às
normas profissionais, técnicas e éticas que direcionam o exercício da profissão. Cabe ao
Perito explicar a finalidade da perícia de modo técnico-científico, e o Assistente deve auxiliar
na defesa da parte que o indicou. A Legislação, também esclarece que, mesmo se o Perito
já estiver contratado, surgindo alguma situação de impedimento, ele deve se declarar
impossibilitado para o trabalho, ou seja, estará impedido de atuar.

O Código de Processo Civil define referente à substituição (BRASIL, 2015):

Art. 468. O perito pode ser substituído quando:

I - faltar-lhe conhecimento técnico ou científico;

II - sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado.

§ 1º No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocorrência à corporação profissional


respectiva, podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da causa e o possível
prejuízo decorrente do atraso no processo.

§ 2º O perito substituído restituirá, no prazo de 15 (quinze) dias, os valores recebidos pelo trabalho
não realizado, sob pena de ficar impedido de atuar como perito judicial pelo prazo de 5 (cinco) anos.

§ 3º Não ocorrendo a restituição voluntária de que trata o § 2º, a parte que tiver realizado o
adiantamento dos honorários poderá promover execução contra o perito, na forma dos arts. 513 e
seguintes deste Código, com fundamento na decisão que determinar a devolução do numerário.

Já o Perito Contador Assistente, de acordo com a Legislação, necessita somente cumprir os


requisitos morais e éticos, e ser criterioso. Assim, deve comunicar se estiver impedido, bem como
recusar o encargo quando:
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Situações em que o Perito Assistente deve comunicar o seu impedimento ou recusar o encargo

Tiver executado função como Perito Contábil Assistente de uma das partes dentro do mesmo
ou outro processo, englobando a outra parte;

Receber, mediante qualquer justificativa, aviltamento de honorários;

Possuir qualquer tipo de parentesco com outra pessoa que seja participante ou envolvida
com as partes interessadas;

Possuir interesse, direto ou não, para ele mesmo ou qualquer um dos seus parentes, no
resultado final da perícia da outra parte;

Executar atividade ou cargo que não forem compatíveis com a função de perito-contador
assistente;

Não possuir conhecimento ou experiência no assunto abordado ou em discussão;

Houver motivo de força maior.

Se ocorrer a indicação pela parte e o Perito Contábil Assistente não assumir o trabalho, ele
precisa comunicar o quanto antes a sua recusa, formalmente por escrito, com cópia ao juízo. O
Perito Contábil precisa praticar sua função com fidelidade e ética, rejeitando quando os trabalhos
falseiem a verdade.

Ainda o Código Penal Brasileiro apresenta as penalidades para o Perito que testemunhar ou
fazer acusação falsa (BRASIL, 2011):

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de
2013) (Vigência)

§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou


se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo
civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.

§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o
agente se retrata ou declara a verdade.

Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento,
perícia, cálculos, tradução ou interpretação:
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Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim
de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta.

Tendo conhecimento sobre o exercício profissional, o Perito Contador precisa assumir a função
que lhe foi confiada, na circunstância de Perito Contador do juízo. Isso sempre que possível e não
havendo prejuízo aos seus compromissos profissionais e suas finanças pessoais, em cooperação
com o Poder Judiciário. Ou ele deve recusar a função, dentro do prazo estipulado legalmente,
demonstrando suas justificativas.

Além do que prevê o Código Penal Brasileiro, existem as seguintes penalidades previstas na
NBC PG 01 – Código de Ética Profissional do Contador:

• A transgressão de preceito desta Norma constitui infração ética, sancionada, segundo a


gravidade, com a aplicação de uma das seguintes penalidades: advertência reservada;
censura reservada; ou censura pública;

• na aplicação das sanções éticas, podem ser consideradas como atenuantes: ação desen-
volvida em defesa de

• prerrogativa profissional; ausência de punição ética anterior; prestação de serviços rele-


vantes à Contabilidade; e

• aplicação de salvaguardas;

• na aplicação das sanções éticas, podem ser consideradas como agravantes: ação ou omis-
são que macule publicamente a imagem do contador; punição ética anterior transitada
em julgado; e gravidade da infração;

• o contador pode requerer desagravo público ao Conselho Regional de Contabilidade,


quando atingido, pública e injustamente, no exercício de sua profissão.

2 LAUDO PERICIAL
O laudo pericial é o relato do profissional designado para avaliar determinada situação, por meio
de seus conhecimentos técnicos. Este deverá ser de fácil interpretação por seus receptores, nesse
caso, os juízes e as partes envolvidas. Alguns dos elementos que a estrutura deve apresentar são:

• Identificação do processo e das partes;

• sinopse do objeto periciado;

• metodologia escolhida para ser usada nos trabalhos periciais


37

O laudo pericial contábil é a peça técnica de autoria do Perito nomeado. Pode ser desenvolvido
para atender à determinação judicial, arbitral ou mediante contratação.

O perito deverá registrar, de modo abrangente, a matéria da Perícia. Também deve especificar
os elementos e as particularidades que englobam a demanda e o litígio. O laudo deve ser
desenvolvido de modo contínuo e lógico. Assim, o trabalho do perito é reconhecido por meio do
padrão da estrutura desse documento.

A finalidade da elaboração do laudo pericial pelo profissional habilitado referente à matéria


fática é possibilitar a redução de discussões judiciais e extrajudiciais, o mesmo pode ser
considerado a partir de duas perspectivas:

• Materialização do serviço pericial exercido pelo perito;

• representa a própria prova pericial.

O laudo conterá as sínteses do objeto da perícia, a investigação e as observações que o


perito realizou, se houverem, as diligências executadas, os métodos escolhidos, os resultados
sustentados e as conclusões transparentes e objetivas. O laudo pericial conhecido também como
julgamento ou pronunciamento. Ele é fundamentado nos conhecimentos que o profissional de
contabilidade possui diante os fatos que estão sujeitos à sua apreciação. Sobre o laudo pericial,
a NBC TP 01 aponta:

A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a


levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio
ou constatação de fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer técnico-contábil, em
conformidade com as normas jurídicas e profissionais e com a legislação específica no que for
pertinente;

O laudo pericial contábil e o parecer técnico-contábil têm por limite o próprio objeto da
perícia deferida ou contratada;

A perícia contábil é de competência exclusiva de contador em situação regular perante o


Conselho Regional de Contabilidade de sua jurisdição;

A perícia judicial é exercida sob a tutela do Poder Judiciário. A perícia extrajudicial é exercida
no âmbito arbitral, estatal ou voluntária. A perícia arbitral é exercida sob o controle da lei de
arbitragem. Perícias oficial e estatal são executadas sob o controle de órgãos de Estado. Perícia
voluntária é contratada, espontaneamente, pelo interessado ou de comum acordo entre as partes.

2.1 Execução e procedimento


Após concluídas as operações de investigação e coleta de informações referentes aos
38

documentos precisos, é necessário elaborar o laudo pericial contábil. O laudo é desenvolvido de


forma individual pelo perito. Os assistentes técnicos concederão o parecer relativo ao trabalho
pericial realizado. O laudo deve embasar a documentação de perícia. Nesta, estão documentados
os acontecimentos ocorridos, as operações efetuadas e as conclusões adequadas com a base que
levou o perito a tais respostas.

A apresentação do laudo pericial representa um fator importante e também o reflexo do


trabalho desenvolvido pelo perito. É necessário que o laudo seja demonstrado sem erros ou
rasuras, pois isso refletirá o zelo com que o trabalho foi realizado

É sugerido, na ocorrência de existir mais de um quesito, que a continuidade deles seja analisada
no desenvolvimento do laudo pericial. Nesse sentido, é primordial que todos os quesitos sejam
respondidos. Ou seja, todas as questões levantadas pelo juiz ou pelas partes envolvidas devem
ser explicadas pelo perito.

FIQUE DE OLHO
O processo é constituído de petições (requerimentos), provas, fundamentações, intimações,
recibos de pagamentos de despesas judiciais, contas judiciais, citação do réu ou réus, cópias
de despachos em imprensa oficial, etc. A este conjunto denomina-se de autos do processo.

A preparação e redação do laudo pericial são de responsabilidade do perito que estiver


atuando no caso. Esse perito apresentará, mediante um padrão próprio, pelo menos os seguintes
elementos:

• Reconhecimento do processo e das partes envolvidas: o número do processo, a vara em


que o mesmo tramita, o nome das duas partes, sendo uma a autora e a outra a ré, e o
tipo de ação; e apresentação do objeto da perícia;

• Investigação e análise técnica ou científica que foi aplicada pelo perito; Designação do
critério escolhido, explicando e mostrando ser preponderantemente aceito por especia-
listas da área de conhecimento da qual teve origem; retorno decisivo, ou seja, demons-
tração das respostas de maneira clara e objetiva;

• Conclusão, mediante o laudo pericial contábil ou ainda com documentações auxiliares.


O profissional de nenhum modo deve demonstrar sua opinião pessoal. Fica vedado ao
perito se estender, ou seja, passar os limites do que lhe foi requisitado. Ele também não
deve emitir opiniões próprias que ultrapassem o exame técnico ou científico da matéria
da perícia

Os requisitos para elaboração do laudo pericial são:


39

• Objetividade;

• técnica e criteriosidade;

• exatidão e brevidade;

• argumentação;

• transparência

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3 PLANEJAMENTO DO LAUDO PERICIAL


O planejamento do laudo pericial é essencial para coordenação dos trabalhos do Perito.
Segundo Alberto (2002), o planejamento é a organização do trabalho, destacando cada etapa
a ser seguida, considerando os prazos para a entrega do laudo e parecer, e o entendimento do
objeto. Ornelas (2013) define que, para a elaboração de uma perícia contábil, é necessário então
que o profissional faça um planejamento que compreenda os seguintes elementos:

• Cumprir os prazos estabelecidos;

• reunir provas;

• realizar cálculos;

• analisar os autos;

• elaborar o laudo de acordo com as informações encontradas.

Desta forma, o sucesso da perícia contábil está diretamente relacionado ao prévio, e correto
planejamento.
40

Os objetivos do planejamento da perícia, de acordo com a NBC TP 01, são:

• conhecer o objeto e a finalidade da perícia, a fim de permitir a adoção de procedimentos


que conduzam à revelação da verdade, a qual subsidiará o juízo, o árbitro ou o interessa-
do a tomar a decisão a respeito da lide;

• definir a natureza, a oportunidade e a extensão dos procedimentos a serem aplicados,


em consonância com o objeto da perícia;

• estabelecer condições para que o trabalho seja cumprido no prazo estabelecido;

• identificar potenciais problemas e riscos que possam vir a ocorrer no andamento da


perícia;

• identificar fatos importantes para a solução da demanda, de forma que não passem des-
percebidos ou não recebam a atenção necessária;

• identificar a legislação aplicável ao objeto da perícia;

• estabelecer como ocorrerá a divisão das tarefas entre os membros da equipe de traba-
lho, sempre que o perito necessitar de auxiliares;

• facilitar a execução e a revisão dos trabalhos.

No que tange o desenvolvimento, os documentos dos autos são considerados se suma


importância, uma vez que servem como suporte na obtenção das informações necessárias
à elaboração do planejamento. No caso da necessidade de realização de diligências, na etapa
de elaboração do planejamento, devem ser consideradas a legislação aplicável, documentos,
registros, livros contábeis, entre outros, pertinentes para determinar a natureza do trabalho a ser
executado. Por fim, quando necessário, o planejamento deve ser revisado e atualizado sempre
que fatos novos surjam no decorrer da perícia.

Também existem riscos e custos que precisam ser planejados. Logo, a proposta de honorários,
deverá avaliar dos riscos decorrentes das suas responsabilidades e todas as despesas e custos
inerentes; e ressaltar que, na hipótese de apresentação de quesitos suplementares, poderá
estabelecer honorários complementares.

Caso seja necessário o trabalho de terceiros (equipe de apoio, trabalho de especialistas


ou profissionais de outras áreas de conhecimento), o planejamento deve prever a orientação
e a supervisão do perito, que responderá pelos trabalhos executados, exclusivamente, por sua
equipe de apoio.

No cronograma de trabalho, devem ficar evidenciados, quando aplicáveis, todos os itens


necessários à execução da perícia, como: diligências a serem realizadas, deslocamentos, necessidade
de trabalho de terceiros, pesquisas que serão feitas, elaboração de cálculos e planilhas, respostas
41

aos quesitos, prazo para apresentação do laudo e/ou oferecimento do parecer, de forma a assegurar
que todas as etapas necessárias à realização da perícia sejam cumpridas.

O planejamento deve ser organizado em fase pré-operacional e execução da perícia, por


meio de uma planilha separada por item, atividade, ações, tempo e prazo (estimado e real). São
exemplos de atividades na fase pré-operacional:

• Carga ou recebimento do processo;

• leitura do processo;

• aceitação, ou não, da perícia;

• proposta de honorários.

São exemplos de etapas na fase pré-operacional:

Após receber a intimação do juiz, quando for o caso, retirar o processo da Secretaria;

Conhecer os detalhes acerca do objeto da perícia, realizando a leitura e o estudo dos autos;

Após estudo e análise dos autos, constatando-se que há impedimento ou suspeição, não
havendo interesse do perito ou não estando habilitado para fazer a perícia, devolver o processo
justificando o motivo da escusa;

Aceitando o encargo da perícia, proceder ao planejamento;

Com base na relevância, no vulto, no risco e na complexidade dos serviços, entre outros,
estimar as horas para cada fase do trabalho, considerando ainda a qualificação do pessoal
que participará dos serviços, o prazo para a entrega dos trabalhos e a confecção de laudos
interdisciplinares.

Já na fase de execução, veja a seguir algumas das ações esperadas:

Sumário: Com base na documentação existente nos autos, elaborar o sumário dos autos,
indicando o tipo do documento e a folha dos autos onde pode ser encontrado;

Assistentes técnicos: Uma vez aceita a participação do perito-assistente, ajustar a forma de


acesso dele aos trabalhos;

Diligências Com fundamento no conteúdo do processo e nos quesitos, preparar o(s) termo(s)
de diligência(s) necessário(s), onde será relacionada a documentação ausente nos autos;

Viagens programar viagens quando necessárias;


42

Pesquisa documental com fundamento no conteúdo do processo, definir as pesquisas, os


estudos e o catálogo da legislação pertinente;

Programa de trabalho Exame de documentos pertinentes à perícia, exames de livros


contábeis, fiscais, societários e outros; análises contábeis a serem realizadas; entrevistas, vistorias,
indagações, investigações e informações necessárias; laudos interdisciplinares e pareceres
técnicos; cálculos, arbitramentos, mensurações e avaliações a serem elaborados; preparação e
redação do laudo pericial;

Revisões técnicas: proceder à revisão final do laudo para verificar eventuais correções,
bem como verificar se todos os apêndices e anexos citados no laudo estão na ordem lógica e
corretamente enumerados;

Prazo suplementar: Diante da expectativa de não concluir o laudo no prazo determinado


pelo juiz, requerer, antes do vencimento do prazo determinado, por petição, prazo suplementar,
reprogramando o planejamento;

Entrega do laudo pericial contábil: Devolver os autos do processo e peticionar, requerendo a


juntada do laudo e levantamento ou arbitramento dos honorários.

4 TERMO DE DILIGÊNCIA
Termo de diligência é o instrumento mediante o qual o perito solicita os elementos necessários
à elaboração do seu trabalho. Serve também para determinar o local, a data e a hora do início
da perícia, e ainda para a execução de outros trabalhos que tenham sido a ele determinados ou
solicitados por quem de direito, desde que tenham a finalidade de orientar ou colaborar nas
decisões, judiciais ou extrajudiciais

Cabe ao Perito redigi-lo e anexá-lo ao laudo. Ele também deverá observar os prazos a que
está obrigado por força de determinação legal e, dessa forma, definir o prazo para o cumprimento
da solicitação pelo diligenciado. Caso ocorra a negativa da entrega dos elementos de prova
formalmente requeridos, o perito deve se reportar diretamente a quem o nomeou, contratou ou
indicou, narrando os fatos e solicitando as providências cabíveis.

Segundo a NBC TP 01, a estrutura do termo de diligência deve conter os seguintes itens:

• identificação do diligenciado;

• identificação das partes ou dos interessados e, em se tratando de perícia judicial ou arbi-


tral, o número do processo ou procedimento, o tipo e o juízo em que tramita;

• identificação do perito com indicação do número do registro profissional no Conselho


43

Regional de Contabilidade;

• indicação de que está sendo elaborado nos termos desta Norma;

• indicação detalhada dos documentos, coisas, dados e informações, consignando as datas


e/ou períodos abrangidos, podendo identificar o quesito a que se refere;

• indicação do prazo e do local para a exibição dos documentos, coisas, dados e informa-
ções necessários à elaboração do laudo pericial contábil ou parecer técnico-contábil,
devendo o prazo ser compatível com aquele concedido pelo juízo, contratante ou con-
vencionado pelas partes, considerada a quantidade de documentos, as informações ne-
cessárias, a estrutura organizacional do diligenciado e o local de guarda dos documentos;

• a indicação da data e hora para sua efetivação, após atendidos os requisitos da alínea (e),
quando o exame dos livros, documentos, coisas e elementos tiver de ser realizado peran-
te a parte ou ao terceiro que detém em seu poder tais provas;

• local, data e assinatura.

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5 LAUDO
O laudo pericial contábil é um elemento de fundamental importância para que o Juiz conduza
o processo, pois fornece um entendimento referente ao assunto em litígio. Existem algumas
classificações para os laudos:

Laudos insuficientes

O laudo será insuficiente quando suas opiniões não forem satisfatoriamente esclarecedoras
para quem o requereu ou dele vai necessitar como prova. É aconselhável que se faça outra perícia
quando detectado um laudo insuficiente.
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Laudos separados

O laudo separado pode ser definido como aquele em que possui divergências referentes ao
conteúdo, justifica-se quando muitas são as discordâncias ou quando a relevância delas sugere
detalhamentos”. Quando os peritos possuem opiniões divergentes, é necessário fundamentar
suas afirmações por escrito, fazendo isso separadamente.

Laudos consensos

O laudo consenso ocorre quando existe a concordância dos peritos consensualmente.


Conforme Sá (2011, p. 76), “laudo de consenso é aquele em que todos os peritos estão de acordo
com todas as respostas, assinando junto o mesmo”.

A NBC TP 01 também apresenta a estrutura mínima para emissão de um laudo. O laudo deve
conter, no mínimo, os seguintes itens:

(a) identificação do processo e das partes;

(b) síntese do objeto da perícia;

(c) resumo dos autos;

(d) metodologia adotada para os trabalhos periciais e esclarecimentos;

(e) relato das diligências realizadas;

(f) transcrição dos quesitos e suas respectivas respostas para o laudo pericial contábil;

(g) transcrição dos quesitos e suas respectivas respostas para o parecer técnico-contábil,
onde houver divergência das respostas formuladas pelo perito do juízo;

(h) conclusão;

(i) termo de encerramento, constando a relação de anexos e apêndices;

(j) assinatura do perito: deve constar sua categoria profissional de contador, seu número de
registro em Conselho Regional de Contabilidade, comprovado mediante Certidão de Regularidade
Profissional e sua função: se laudo, perito do juízo e se parecer, perito-assistente da parte. É
permitida a utilização da certificação digital, em consonância com a legislação vigente e as normas
estabelecidas pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras - ICP-Brasil;

(k) para elaboração de parecer, aplicam-se o disposto nas alíneas acima, no que couber.
45

Quanto à assinatura, se a mesma ocorrer de forma conjunta pelos peritos, haverá


responsabilidade solidária sobre o referido documento. Se houver necessidade de esclarecimentos
sobre laudo e parecer técnico-contábil em audiência, eles deverão ser apresentados de forma
oral, ou escrita dentro do prazo legal definido.

6 HONORÁRIOS PERICIAIS
Os honorários periciais são a remuneração paga ao perito para que ele realize a perícia judicial.
Os critérios para a elaboração de uma proposta de pretensão honorária serão vistos a seguir.
Também vamos aprender sobre os tipos de depósitos de honorários periciais, perpassando pelos
responsáveis pelo pagamento desses honorários.
46

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer o perfil profissional do perito, desde sua pessoalidade da função, respon-


sabilidade e zelo profissional até os motivos para impedimento e suspeição;

• entender o laudo pericial, desde o conceito até procedimentos necessários para


fundamentação e estrutura;

• aprender as Normas Brasileiras de Contabilidade do que compete a Perícia;

• diferenciar os tipos de honorários periciais, reconhecer critérios para elaboração de


uma proposta, identificando os responsáveis pelo pagamento dos honorários peri-
ciais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERTO, V. L. P. Perícia contábil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

Brasil. Código de Processo Civil.Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 . Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm Acesso
em: 28 de mar. de 2020.

BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/


decreto-lei/Del3689Compilado.htm Acesso em 28 mar. 2020

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. NBC PG 01: Código de Ética Profissional


do Contador. Disponível em: http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.
aspx?Codigo=2019/NBCPG01&arquivo=NBCPG01.doc Acess em: 28 mar. 2020

BRASIL.Conselho Federal de Contabilidade. NBC TP 01: Norma Técnica de Perícia


Contábil. Disponível em: https://cfc.org.br/wp-content/uploads/2016/02/NBC_TP_01.
pdf Acesso em 28 mar. 2020

BRASIL.Conselho Federal de Contabilidade. NBC PP 01: Norma Profissional do Perito.


Disponível em: https://cfc.org.br/wp-content/uploads/2016/02/NBC_PP_01.pdf Acesso
em 28 mar. 2020

HOOG, W. A. Z. et al. Prova pericial contábil: aspectos práticos e fundamentais. Curitiba:


Juruá, 2011.

ORNELAS, M. M. G. de. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

SÁ, A. L. de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
UNIDADE 3
Normas periciais e ramo de atuação
Introdução
Você está na unidade Normas periciais e ramo de atuação. Conheça aqui as normas
e regulamentos técnicos e os legais, que são bases de qualidade profissional mínimas
de quem quer ser um perito. Dentre elas, estudaremos a norma relacionada ao objeto
de trabalho do perito, ou seja, a perícia; e a norma de conduta do perito. Ambas são
embasadas com normas legais de afetação ampla para qualquer profissional perito, que é
Código de Processo Civil. Conheça as áreas que são mais proveitosas à peritos contábeis,
vez que a maioria de descontentamentos ou desacordos entre partes estão sempre
relacionadas a valores.

Bons estudos!
51

1 CÓDIGO DE ÉTICA DO CONTABILISTA


Na ciência contábil, a ética profissional tem muita importância. Trata-se de área que trata
da situação econômica particular e pública, tendo muita extensão de danos, caso o profissional
não seja ético, probo, moral, legal e digno. Na existência de tantos problemas no dia a dia, esse
profissional precisa evitar erros, agindo com cautela. Moral e ética podem ser sinônimas, já que,
pela Filosofia, significam o que é moralmente bom ou mau, certo ou errado. Apesar da forma
simplicista desse conceito, ele pode se tornar um pouco complexo, já que envolve juízo de valores.

A ética também se torna um pouco complexa, pois não se trata apenas de comportamento
respeitoso e aceito, mas também um julgamento do que seria adequado, que se torna dificultoso
quando se precisam medir interesses pessoais com a responsabilidade social.

Assim, o objetivo do Código profissional de ética, Resolução CFC n°803/96, que foi revogada
em 27 de fevereiro de 2019 pela norma NBC PG 01, é direcionar a conduta do contador perante as
atividades de sua profissão. O profissional contador não deve se conter apenas de conhecimento
técnico, mas também se valer de princípios e valores éticos da profissão. Dessa forma, o código
define deveres, obrigações, proibições, bem como sanções cabíveis ao profissional da área contábil.

O profissional contador precisa refletir seu papel na sociedade, pois representa um grupo
especifico de interesse social, uma vez que tem papeis essenciais de responsabilidade econômica
e social, bem como controlando e gerindo patrimônio de pessoas e entidades.

Figura 1 - Papel social do contador


Fonte: LUMPANG MOONMUANG, Shutterstock, 2020

#ParaCegoVer: A imagem ilustra algumas das responsabilidades sociais do contador, por


lidar com bens privados. Vemos uma calculadora, ao lado dela algumas moedas representando o
dinheiro, e um casa e um chave que representam os bens de imóveis.

A referida norma traz os deveres aplicáveis ao contador, ao auditor e ao perito. Dentre os


deveremos podemos citar:
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• ter zelo, honestidade, capacidade técnica e ser diligente e sigiloso em trabalho que assim o exija;

• recusar trabalho que reconheça não ter capacidade técnica, bem como se considerar
impedido imediatamente quando observar isso;

• não expressar opiniões pessoais sobre direitos de partes interessadas, mas apenas a
técnico profissional, bem como sobre outro contador, sem que tenha sido contratado
para isso;

• não medir esforços para apurar os fatos, com documentos e informações antes de emitir
a opinião sobre o caso;

• ajudar na defesa da dignidade profissional;

• informar registro, nome e categoria em documentos que assine e divulgue;

• atender à fiscalização do exercício profissional e sempre manter os dados profissionais


atualizados ou de fatos necessários para o controle e fiscalização profissional;

• estar sempre atualizado comprovando pelos Programas de Educação Continuada.

• Dentre as obrigações, podemos citar:

• serviços que prejudiquem moralmente ou desprestigie a classe contábil;

• receber proventos como profissional que não seja de caráter licito;

• assinar documentos elaborados por outros que não estejam sobre seu comando;

• exercer profissão quando impedido;

• facilitar que impedidos ou não habilitados, exerçam a profissão, bem como exercer a
profissão sem a devida habilitação profissional;

• ajudar em fraudes ou não prestar contas de valores que foram comprovadamente lhe
confiadas, bem como ligar o seu nome a empreendimentos ilícitos;

• reter de forma abusiva documentos, livros, etc., para obrigar o contratante a cumpri contra-
to, bem como se apropriar de valores indevidamente que estão sob sua responsabilidade.

• não atender as notificações dos conselhos no prazo;

• deturpar dados, documentos e outros que iludam clientes ou empregadores;

• publicar ou distribuir, usando seu nome, trabalhos científicos que não são seus;

• não atender às normas técnicas quando realizar trabalhos técnicos;

• revelar informações/dados confidenciais, exceto os previstos em lei, bem como violar direi-
to ou causar prejuízos por negligencia, imperícia ou imprudência, no exercício da função.
53

São elencados como direitos do contador:

• publicar trabalhos sobre sua responsabilidade;

• transferir seus serviços, total ou parcial, a outro profissional com anuência do cliente no
caso de transferia total;

• divulgar seus conhecimentos técnicos, títulos, trabalhos prestados, clientes que obteve
entre outros;

• requerer desagravo público ao conselho quando injustamente foi atingido por causa de
sua profissão.

Em relação às penalidades, o descumprimento das normas constitui infração ética, que, de


acordo com a gravidade, pode resultar em sanção com advertência reservada, censura reservada
ou pública. Tais sanções podem ser atenuadas se o profissional não teve alguma punição ética
anterior, prestou serviço relevante a Contabilidade, agiu em defesa de prerrogativa profissional
e aplicação de salvaguardas. Porém, podem se agravar em caso de ações e omissões prévias que
maculem publicamente a imagem do contador, em caso de trânsito e punição ética anterior e da
gravidade da infração.

1.1 NBC TP 01
Peritos e auditores possuem normas técnicas que são voltadas especificamente para a sua
área de atuação. Em relação à perícia contábil, esta norma é a NBC TP 01. Essa norma trata de
abranger a operacionalidade da perícia contábil, sem abordar questões doutrinarias ou cientificas,
mas procedimento das ações práticas. Essa norma traz o objetivo e conceito da perícia, que é o
trabalho executado pelo perito.

A NBC TP 01 estabelece regras e procedimentos técnico-científicos a serem observados pelo


perito, quando da realização de perícia contábil, no âmbito judicial, extrajudicial, mediante o
esclarecimento dos aspectos e dos fatos do litígio por meio de exame, vistoria, indagação,
investigação, arbitramento, mensuração, avaliação e certificação.

A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a


levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio
ou constatação de fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer técnico-contábil, em
conformidade com as normas jurídicas e profissionais e com a legislação específica no que for
pertinente. O laudo pericial contábil e o parecer técnico-contábil têm por limite o próprio objeto
da perícia deferida ou contratada. A perícia contábil é de competência exclusiva de contador em
situação regular perante o Conselho Regional de Contabilidade de sua jurisdição.

A perícia judicial é exercida sob a tutela do Poder Judiciário. A perícia extrajudicial é exercida
54

no âmbito arbitral, estatal ou voluntária. A perícia arbitral é exercida sob o controle da lei de
arbitragem. Perícias oficial e estatal são executadas sob o controle de órgãos de Estado. Perícia
voluntária é contratada, espontaneamente, pelo interessado ou de comum acordo entre as partes.

Observarmos nas normas a igualdade de tratamento, como prerrogativas, poderes, direitos


e deveres das diversas áreas da perícia, tanto judicial, arbitral, como extrajudicial. Aqui, o nome
“perito” buscou unir a função perito com a especialização contábil.

Os itens que se referem como Planejamento e Execução tratam da área judicial, estabelecendo
cuidados mínimos necessários, que se não observados, poderão comprometer e dificultar a
atuação de peritos judiciais e assistentes técnicos.

Os itens relacionados em Procedimentos tratam do comportamento do perito após efetuada


as diligencias e coletas de elementos que serão analisados, ou seja, trata quais e o que são os
procedimentos, definindo cada uma delas para fundamentar o laudo profissional. Podemos
observar que os procedimentos ali trazidos não são só inerentes ao perito, mas sim à classe
contábil como um todo.

Os itens relacionados aos Termos de Diligencia, ao Laudo Pericial Contábil e ao Parecer Técnico-
Contábil tratam de forma clara dos documentos através dos quais o perito irá se comunicar com
as partes ou julgadores. Termo de diligência é o instrumento por meio do qual o perito solicita
documentos, coisas, dados e informações necessárias à elaboração do laudo pericial contábil e do
parecer técnico-contábil. O laudo pericial contábil e o parecer técnico-contábil são documentos
escritos, nos quais os peritos devem registrar, de forma abrangente, o conteúdo da perícia e
particularizar os aspectos e as minudências que envolvam o seu objeto e as buscas de elementos
de prova necessários para a conclusão do seu trabalho.

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55

1.2 NBC PP 01
A NBC PP 01 trata do profissional perito, não dos objetos de trabalho, tratados na norma
anterior. Essa norma traz em si a preocupação com os interesses maiores da sociedade. Logo,
trata do dever do perito em treinamentos, de se capacitar para que esteja sempre atualizado.
Além disso, ela conceitua quem são os peritos que necessitam dessa atualização, como podemos
ver a seguir:

Perito é o contador, regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade,


que exerce a atividade pericial de forma pessoal, devendo ser profundo conhecedor, por suas
qualidades e experiências, da matéria periciada;

Perito oficial é o investido na função por lei e pertencente a órgão especial do Estado
destinado, exclusivamente, a produzir perícias e que exerce a atividade por profissão;

Perito do juízo é nomeado pelo juiz, árbitro, autoridade pública ou privada para exercício da
perícia contábil;

Perito-assistente é o contratado e indicado pela parte em perícias contábeis.

Quando esse profissional é convidado a atuar em algum processo, pode se deparar com
conhecidos íntimos ou familiares fazendo parte de um dos polos do processo, tanto ativo (autor)
como o passivo (réu). No momento da sua nomeação para um trabalho judicial como assistente
do julgador, não considerar essa situação antes de aceitar o trabalho, pode comprometer
a capacidade a sua atuação de forma imparcial, pois atinge também a capacidade volitiva do
profissional, uma vez que pode implicar em questões emocionais ou psicossociais.

Assim, se declarar impedido nessas ocasiões, não é apenas por caráter moral e ético, mas sim
também social, uma vez que essa conduta poderá prejudicar uma das partes, que será mais lesada
pela parcialidade que o profissional irá atuar, caindo por terra o direito constituição de “paridade
de armas”, que quer dizer os direitos das partes serão totalmente iguais, como assistências iguais,
prazos iguais, juízo imparcial e seus assistentes.

Além da responsabilidade social pela sua prestação de serviço, o perito também tem
responsabilidade de zelar pelos documentos e pelo seu sigilo. Outro ponto é o seu diálogo
necessário com outras áreas do conhecimento como, por exemplo, o Direito, resultando no
Direito do Profissional Contábil. Cabe ao perito nomear o profissional ao seu critério, fincando
assim sob sua responsabilidade.

Em relação ao seu salário, o perito contábil recebe os chamados honorários, fruto da sua
classificação como ocupação autônoma. Para elaborar a petição de honorários, ele deve
56

descrever o que está compondo o valor total do seu trabalho, de modo a evitar atos que se
configurem como corrupção. Alguns Conselhos Regionais, como o de Mato Grasso do Sul, por
exemplo, ainda não disponibilizam uma tabela padrão base de valores a ser cobrado por serviço
pelos contadores e seus segmentos, podendo assim, o perito se embasar na tabela de outra
Regional, quanto da apuração de seus valores de honorários. Isso traz mais transparência ao valor
estipulado, demonstrando as partes e ao juízo que não se trata de valor pessoal.

FIQUE DE OLHO
A norma não obriga o profissional a trabalhar sem cobrar. Porém, para ter o respaldo dessa
norma sem sofrer sanção de abandono de trabalho ou prejuízo as partes, é necessário que
o perito na elaboração de proposta, deixe claro que os valores não comportam quesitos
suplementares, e que na existência deles, apresentará uma nova proposta de honorários.

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2 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL


O Código de Processo Civil é uma lei que trata do andamento das discussões em litigio em
uma esfera judicial. Ele trata das obrigações de todos que fazem parte do processo, como seus
direitos, os papeis de um processo, o que é aceitável, quem são as partes, os prazos e inúmeros
outros. O profissional que irá atuar com a Justiça precisará conhecer do rito processual.

O CPC apresenta dois ritos: o sumário e o ordinário. O sumário abrange processos que
possuem valor de causa de até 60 vezes o salário mínimo vigente, mesmo que não seja o valor
real ou final da causa, e, sim, o valor aproximado. Esses são os que correm em juizados especiais, e
57

que não admitem provas periciais. São mais rápidos, por serem menos complexos, pois atendem
a critérios de simplicidade e celeridade por exemplo. O ordinário abrange processos que possuem
valor acima 60 vezes o salário mínimo vigente, mesmo que não seja o valor real ou final da causa,
mas sim o valor aproximado. Por ser de mais complexidade, correm em Juizados Comuns, com a
necessidades e se admite provas periciais. São mais demorados, são mais complexos, com mais
quantidade de provas, discussão sobre elas, entre outros.

Assim, um processo começa com a petição inicial no distribuidor de processos. A outra parte
apresenta a contestação e, antes de dar a sentença, o juiz pode nomear o perito judicial, se achar
necessário, ou se as partes pedirem e o juiz concordar. Vejamos alguns artigos do CPC (BRASIL, 2015):

Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas
normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o Perito, o
depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o
distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias

Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias
ao julgamento do mérito.

Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente


protelatórias.

Art. 472. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e na contestação,
apresentarem, sobre as questões de fato, pareceres técnicos ou documentos elucidativos que
considerar suficientes.

Podemos destacar o parecer técnico citado no art 472 anterior, no qual o juiz pode suspender
o perito judicial, quando já constar na inicial um parecer que seja considerado suficiente, cabendo
apenas ao juiz decidir por aceita-las ou recusa-las.

Quando o juiz nomeia um perito, as partes devem tomar ciência de sua nomeação, data e
documentos que o perito irá começar a trabalhar ou precisar, conforme o CPC (BRASIL, 2015):
“Art.474. As partes terão ciência da data e do local designados pelo juiz ou indicados pelo Perito
para ter início a produção da prova”. É dever ainda do perito nomeado dar acesso aos assistentes
técnicos das partes para acompanhar suas diligencias e exames conforme art.466 da mesma
norma já aqui citada.

O perito se manifesta por uma petição em relação aos honorários. Trata-se do começo da
participação do perito, que pode terminar durante a manifestação de honorários, ou quando
presta os devidos esclarecimentos sobre o laudo entregue. Os processos se apresentam ainda no
Brasil, de duas formas, os físicos (já em desuso) e os eletrônicos (virtual).
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FIQUE DE OLHO
O perito deverá apresentar sua manifestação de aceite ou recusa dentro do prazo
estabelecido pelo juiz ou CPC, depende do rito do processo, sob pena de restar como
“aceite” a sua impronuncia nos autos, não podendo assim, depois excursar-se do dever.

Conforme o art. 374 do CPC (BRASIL, 2015), não dependem de prova os seguintes fatos:

Notórios;

Afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;

Admitidos no processo como incontroversos;

Em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.

2.1 Diligências
As diligências são um dos trabalhos mais comuns dos peritos quando do seu trabalho pericial.
Trata-se da solicitação de documentos quando julga necessário para análise e conclusão de
um laudo, podendo sancionar a parte que não atender o seu requerimento. Quando o perito
se depara com essa recusa, ele pode se reportar ao juiz, solicitando que o juiz requeira esses
documentos em nome dele.

2.2 Responsabilidade civil e criminal


O perito, como qualquer outra pessoa, tem o dever reparar os danos que causar aos outros,
resultando em responsabilidades, multas e sanções. De acordo com o CPC (BRASIL, 2015):

Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos
prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a
5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o
fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis.

Art. 468. O perito pode ser substituído quando:

I - faltar-lhe conhecimento técnico ou científico;

II - sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado.

§ 1º No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocorrência à corporação profissional


respectiva, podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da causa e o possível
prejuízo decorrente do atraso no processo.

§ 2º O perito substituído restituirá, no prazo de 15 (quinze) dias, os valores recebidos pelo trabalho
59

não realizado, sob pena de ficar impedido de atuar como perito judicial pelo prazo de 5 (cinco) anos.

§ 3º Não ocorrendo a restituição voluntária de que trata o § 2º, a parte que tiver realizado o
adiantamento dos honorários poderá promover execução contra o perito, na forma dos art. 513 e
seguintes deste Código , com fundamento na decisão que determinar a devolução do numerário.

Dessa forma, podemos ter sanções nos seguintes casos:

• Prestar informações inverídicas de forma dolosa ou culposa;

• carência de conhecimento técnico ou científico;

• não cumprir o encargo no prazo sem motivo legítimo;

• deixar de restituir honorário por trabalho não realizado.

FIQUE DE OLHO
As sanções aplicáveis ao perito contábil podem tanto ser civil, administrativa (pelo próprio
Conselho Federal) e, dependendo da gravidade, até a criminal, como base no Direito Penal.
Uma não exclui a outra, podendo ser aplicadas juntas.

Também podemos citar do CPC, os art.144 a 147 que tratam de impedimentos e suspeição do
juiz, que concomitante ao art.148, podemos ver que é extensível à redação dos referidos artigos
aos peritos.

Podemos verificar o quão importante é o perito, que pretende atuar dentro do judiciário,
conhecer e ter afinidade com o Código de Processo Civil, pois, quando se trata de prestação de
serviço público e, principalmente judiciário, o maior exemplo que o profissional pode demonstrar
é atender à Legislação brasileira, não apenas como profissional, e usando somente artigos
direcionado ao seu trabalho, mas também como cidadão.

3 PERÍCIA CONTÁBIL NAS CAUSAS JUDICIAIS


Existe uma gama de causas judiciais nas quais um perito contábil pode atuar. Quando ocorre
uma dissolução de sociedade, tanto parcial como total, que pode também ser tanto de forma
judicial como de acordo sem a necessidade de assistência jurídica, se faz necessário apurar os
valores dos sócios, ou de apenas um sócio que esteja se retirando da sociedade, para que de
fato se obtenha a devida parte que lhe pertence. É de caráter pericial essa apuração de haveres
e direitos.
60

Quando se requer falência, concordata ou autofalência, o requerimento deve vir acompanhado


de documentos, livros e demonstrações especiais que deem base ao pedido. Quando se trata de
situação que degrade a situação econômico-financeira de uma entidade, é capaz que estejam
presentes vícios, erros deliberados, adulterações, fraudes, uma vez que a situação pode ter sido
consequência da ganancia pessoal de administradores em obter vantagem pessoal. A perícia atua
aqui para determinar a situação, apurar os erros, e até atribuir a responsabilidade de quem deu
causa à situação, uma vez que uma falência atinge credores, administração pública em caráter
fiscal e trabalhadores. Logo, o trabalho pericial nesse caso visa à proteção desses interessados.

Em relação à apuração de haveres, trata-se de uma apuração de direitos perante a uma


massa patrimonial. Pode acontecer por causa da retirada ou morte de sócio, da dissolução de
uma sociedade, etc. Nessa perícia, é importante se conhecer:

Créditos e débitos do sócio, em conta, atualizados;

Valor do patrimônio líquido real;

Se a sociedade continuar em atividade, a expectativa de lucros;

Quando a sociedade irá se liquidar, qual a expectativa de realização dos ativos.

Quando se tratam de falecimentos, o inventário torna necessário verificar se era empresa


individual, de sociedades de pessoas, bem como anônimas ou de capital. No caso de sociedades,
a análise deve ser rigorosa: o perito não deve se ater apenas a dados contábeis de balanços. O
juiz então determina “Apuração de Haveres”, e outros elementos devem ser analisados, como,
por exemplo: expectativa de lucros; se o sócio recebeu empréstimos da sociedade ou se ele
emprestou dinheiro a sociedade; se estoques estão subavaliados; entre diversos outros que
podem não estar registrados em Balanços.

Em casos de falecimentos, torna-se necessária a ação de inventário, ou seja, mesurar e


inventariar o patrimônio e o cujus, e apurar se o de cujus possui haveres em pessoa jurídica,
que devem ser mensurados para que cada herdeiro receba a sua devida parte. A perícia se faz
necessária, sobretudo, caso haja algum herdeiro menor de idade, para preservar o seu interesse
e os seus direitos.

4 A PERÍCIA CONTÁBIL EM PROCESSOS DO SISTEMA


FINANCEIRO DE HABITAÇÃO
A perícia contábil em processos do sistema financeiro de habitação é um tema controverso,
principalmente em relação à escolha do juiz do profissional correto. Os financiamentos de casas e
61

apartamentos, no Sistema Financeiro de Habitação atende à necessidade Constitucional de moradia


para o cidadão brasileiro, ou seja, procura-se facilitar que o cidadão compre sua própria casa.

Esses contratos de financiamento, que serão analisados e aprovados pelo banco escolhido,
exigem algumas condições, bem como alguns parâmetros para fechar o contrato. O futuro
dono da casa própria precisa apresentar holerite, na qual o valor do imóvel sonhado deve ser
compatível com sua renda, ou, podendo somar a renda do cônjuge.

Esses contratos, por ter como finalidade a ajuda governamental para o cidadão possuir sua
casa própria, possuem alguns parâmetros que devem ser atendidos por eles. Consequentemente,
é um dos motivos de maiores litígios em justiça, principalmente devido aos juros contratados.
Esses financiamentos são feitos apenas com base em tabelas matemáticas, como, por exemplo,
a Price e a Sac. Essas tabelas são usualmente do ramo matemático, o que leva a uma dúvida por
parte do juiz se, para refazer essa tabela, deve operar um perito contábil ou um matemático.

A maior discussão voltada à utilização da tabela Price é os juros compostos, que são rechaçados
pela Legislação nesse tipo de contrato. O simples fato de possuir formula de juros compostos para
se descobrir a primeira parcela, não configura os juros compostos na evolução do financiamento.
Muito se discute que isso é o anatocismo (juros sobre juros), coisa que não acontece numa
evolução simples da tabela Price. Porém, para adaptar a tabela à situação econômica brasileira,
foi adicionada mais uma coluna na evolução desse financiamento que é a atualização monetária.

A tabela Price não foi criada para comportar a adição dessa atualização, que muitas vezes
passa 1% a.m. de correção monetária do saldo devedor. Portanto, ao se apurar mensalmente
a parte que equivale aos juros, acaba sendo maior que a própria prestação mensal calculada,
tornando a amortização daquela parcela negativa. Dessa forma, o mutuário paga no mês só juros,
sem amortizar, e ainda fica “devendo” juros maior, que é incorporado ao saldo devedor.

O saldo devedor nesse momento passa a ser o “valor financiado restante + juros não pagos”,
aumentando o montante devido. É nesse momento em que a próxima parcela (amortização +
juros) passa a ter o anatocismo, já que agora, ao apurar o valor que cabe de juros, será feito sobre
o saldo devedor anterior, que tem juros não pagos compostos nele. Por conta dessa situação,
os reajustes das parcelas não sobem proporcionalmente ao percentual que o saldo devedor
aumenta com as correções, e isso gera um financiamento sem fim, duplicando ou triplicando o
valor contratado.

Outro motivo de muita discussão judicial é os reajustes das parcelas mensais de acordo com
o contrato firmado. Esses sempre apresentam erros por parte do banco, uma vez que essa opção
de contrato, além de usar a tabela Price, tem os reajustes das prestações feitas pelo mesmo
percentual de aumento salarial da categoria profissional, e muitas vezes esses percentuais são
muito diferentes. Quando a diferença lesa ou cria prestações impagáveis, recorre-se à Justiça,
62

pedindo para se refazer o cálculo.

Nesse tipo de trabalho, apesar do perito só utilizar os dados do contrato e os índices de


reajuste da categoria, é necessário conhecer bem o conteúdo da matemática financeira, que são
as tabelas, inclusive dominar a forma de interpretá-las.

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5 PERÍCIA CONTÁBIL EM PROCESSOS TRABALHISTAS


E TRIBUTÁRIOS
As ações trabalhistas são maneiras de trabalhadores exigirem seus direitos, perante o
estipulado em lei especial, a Consolidação das Leis do Trabalho, ou de estatutos e estatutários.
Ao se apresentar a petição inicial com seus pedidos, os juízes marcam incialmente uma audiência
de conciliação, podendo a reclamada (empresa) apresentar as contestações posteriormente. O
juiz pode já determinar na própria audiência a necessidade de ser assistido por perito judicial.

Nesse ramo de perícia se faz necessário um amplo conhecimento de recursos humanos e


de apuração de folhas de pagamentos, para a apuração de horas extras, reflexos, férias, 13°,
férias indenizadas, descansos semanais remunerados e outros. Vejamos que estamos tratando de
trabalhador, ou seja, alguns possuem adicionais de insalubridade ou periculosidade. Caso esses
elementos sejam objetos do processo, não cabe ao perito contábil apurar se existe ou não esse
direito. Se não haver no processo a conclusão dessa solução, o perito deve abster-se de calcular,
se for ponto controverso, até que em processo, se apure o direito ou não desse adicional.

Assim, além de conhecimento de folhas de pagamento e seus cálculos, a tributação sobre


essa folha, do que é indenizável ou não, também deve fazer parte do conhecimento do perito
contábil. Para o cálculo trabalhista, sempre será necessária apuração de FGTS, INSS, Imposto de
63

Renda, sobre as quais o perito precisa saber suas incidências, conforme as leis específicas.

Em relação às ações tributárias, elas se originam de diversas formas: repetição de indébito;


créditos ou débitos não considerados no recolhimento; multas e sanções exorbitantes, não
necessárias, não canceladas, ou indevidas; falta de documentos fiscais; etc.

Nesses tipos de ações, dependendo da matéria discutida, o próprio contador pode ajudar ao
empresário extinguir o processo com sentença de resolução de mérito, se toda a movimentação
contábil estiver legal, apurada de forma correta, bem como seus lançamentos. Assim, se no
processo está sendo discutida multa indevida pelo órgão fiscalizador, e esse ignorou algo de
direito do empresário, poderá o contador apresentar os documentos e leis que se baseou para
fazer os lançamentos.

Por outro lado, poderá atuar um perito extrajudicial, quando se tratar de cálculos dos
impostos. Havendo cálculos muitos complexos, onde a parte contrária não concorda com a forma
de apuração do valor, o juiz pode nomear um perito judicial para elaborar um laudo da matéria
discutida. Isso acontece quando a empresa utiliza créditos para abater nos impostos que os fiscais
desconhecem ou ignoram durante a fiscalização
64

PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• conhecer a ética esperada pelo contabilista;

• aprender sobre as normas aplicáveis diretamente ao perito contábil;

• verificar a importância de conhecer o Código de Processo Civil;

• saber das varas que necessitam o perito contábil;

• identificar outras áreas com mais demandas de perícia contábil.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERTO, V. et al. Perícia Contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1045.
Acesso em 10 mar.2020

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Norma Brasileira de Contabilidade – NBC


PP 01, de 27 de fevereiro de 2015. Dá nova redação à NBC PP 01 – Perito Contábil.
Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2015/
NBCPP01&arquivo=NBCPP01.doc . Acesso em 19 mar. 2020.

CUNHA, M. F. et al. Novo Código de Processo Civil para Concursos. 7ª Ed. Salvador:
Juspodivm, 2017

MOUZALAS, R. et al. Processo Civil Volume Único. 10ª Ed. Salvador: Juspodivm, 2018

MULLER, A. N. Perícia Contábil. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2017

SÁ, A. L. de. Perícia Contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011
UNIDADE 4
Mediação e arbitragem
Introdução
Você está na unidade Mediação e Arbitragem. Conheça aqui um importante assunto
relacionado à Perícia Contábil, que é o processo de fiscalização da auditoria dentro das
organizações. Vamos conhecer o conceito de mediador e árbitro dentro do ambiente
contábil e aprender sobre as bases legais que servem como fundamento para o exercício
da profissão. Além disso, vamos entender sobre alguns procedimentos técnicos da
mediação e arbitragem, o funcionamento das câmaras, e como é realizado o processo
de arbitragem das contas públicas no âmbito internacional, acompanhando todo o
procedimento utilizado em outros países.

Bons estudos!
69

1 MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM
No nosso cotidiano, nos deparamos com esses termos em alguns momentos, como por
exemplo, o mediador em processos da justiça, ou a arbitragem em jogos de futebol. No entanto,
no contexto da Contabilidade, esses termos estão relacionados com o processo da perícia e
auditoria contábil. Dessa forma, as técnicas de mediação e arbitragem estão relacionadas com a
forma de realização da perícia das contas contábeis.

Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:

1.1 Conceito de mediação


A mediação é uma forma de resolução de conflitos entre pessoas que, diferente da ação
judiciária, visa garantir uma forma de acordo pacífico entre as partes envolvidas no processo,
seja ele um processo administrativo ou jurídico. Existe uma diferença básica entre mediação
e conciliação. De acordo com o o Conselho Regional de Contabilidade (2005, p. 13-14), essa
diferença pode ser descrita assim:

Na conciliação, um terceiro se envolve no litígio, sugerindo propostas, apresentando alternativas,


agindo de forma que as partes consigam compor a sua discussão.

A tentativa de conciliar o processo é, no procedimento judicial, uma fase do encaminhamento


processual. Vale dizer que a própria lei judicial prevê a possibilidade de uma audiência específica com
a finalidade de conciliação.

A mediação é um procedimento no qual um terceiro intermedeia a aproximação das partes,


buscando, de forma conjunta, a solução para o conflito.

Ao mediador, que tem um tratamento muito mais vinculado com a parte do que com o conflito em
si, age no sentido de apresentar às partes as alternativas de solução do impasse. Importa dizer que o
mediador não decidirá a controvérsia. Ou seja, esgotada a tentativa de se estabelecer uma composição
70

do impasse, o mediador não promoverá uma decisão acerca do conflito, seu papel é restrito à busca
da aproximação das partes.

Como podemos observar, a conciliação está prevista em Lei, por meio de uma ação judiciária
na qual uma terceira pessoa se envolve no conflito com o objetivo de buscar uma solução entre
as partes. Esta terceira pessoa deve ser alheia ao processo, não estar envolvida com as partes que
compõe o processo judicial e, sim, com a situação do conflito.

Já na mediação, o objetivo principal é a aproximação entre as partes, na qual o mediador


apresenta alternativas de solução para o impasse. Caso as partes não entrem em um acordo, o
mediador não tem o poder de resolver as questões. Dessa forma, o conflito ficará sem solução,
pois ele objetiva apenas a aproximação das partes envolvidas no processo.

FIQUE DE OLHO
O Conselho Regional de Contabilidade do estado de São Paulo escreveu em seu site algumas
perguntas e respostas sobre a Mediação e Arbitragem, denominado “Outras Possibilidades
aos Profissionais Contábeis”, com curiosidades e informações muito importantes que valem
a pena serem lidas e estudadas.

Um mediador tem que ser dotado de algumas características específicas para alcançar
os seus objetivos durante a resolução dos conflitos. Uma dessas características diz respeito à
imparcialidade que ele deve ter, ou seja, o mediador não pode emitir nenhum tipo de juízo de
valor sobre o assunto, devendo sempre agir de forma isenta no processo.

De acordo com o Conselho Regional de Contabilidade (2005, p. 14) outras características que
o mediador deve ter diz respeito a perspicácia e criatividade, pois:

O profissional contábil deve ter habilidades de mediador, pois dessa forma garante uma maior
eficiência do seu trabalho, além de auxiliar em momentos de conflitos, e principalmente em
momentos de realização de perícia contábil onde por ventura possa encontrar irregularidades.
71

Figura 1 - Mediação
Fonte: ASDF_MEDIA, Shuttetstock, 2020

#ParaCegoVer: A imagem ilustra a conclusão de uma mediação. Vemos dois executivos apertando
as mãos numa mesa de reunião e, no centro deles, uma mulher responsável pela mediação.

1.2 Conceito de arbitragem


O processo de arbitragem é um procedimento adotado em busca de resolução de conflitos.
Tal como a mediação, a arbitragem garante a solução de conflitos e garante a pacificação das
partes envolvidas no processo. Na Contabilidade, a arbitragem é uma forma particular de resolver
os conflitos, na qual as partes indicam um ou mais árbitros. De acordo com o Conselho Regional
de Contabilidade (2005, p.18):

A arbitragem é uma forma de solução de conflitos por meio de árbitros privados e substitui a
jurisdição estatal. A inserção de cláusulas nos contratos, objetivando ampliar o espaço de manobra que
as partes poderão ter em caso de conflito, é condição inerente à preservação dos pactos.

Como podemos observar, a arbitragem é uma forma de substituir o processo judicial, e é


sempre realizada por meio de contrato. Esse contrato possui cláusulas que definem a forma de
acordo entre as partes. De acordo com o Conselho Regional de Contabilidade (2005, p. 18):

A arbitragem é convencionada mediante a Convenção de Arbitragem, que compreende a


“Cláusula Compromissória”, em que as partes contratantes deliberam submeter os eventuais conflitos
originados do contrato à solução arbitral, podendo, também, iniciar-se originalmente mediante um
ajuste celebrado entre os contratantes para a submissão de uma questão já identificada à decisão
arbitral, o que se convencionou chamar de “compromisso arbitral”.

Embora esse procedimento seja autorizado pela Legislação, ele não vinha sendo muito
utilizado no Brasil tendo em vista que os conflitos, em sua maioria das vezes, eram resolvidos
por meio da Justiça em procedimentos formais de conciliação, diante do Direito Civil. No entanto,
após a promulgação da Lei Nº 9.307, de 1996, a arbitragem passou a ser mais adotada. De acordo
com o Conselho Regional de Contabilidade (CRC, 2005), essa lei trouxe algumas vantagens como:
72

Vantagens da Lei Nº 9.307

A rapidez com que os litigantes escolhem os árbitros e fixam o prazo para que a sentença
arbitral seja proferida;

a economia com que as partes negociam os honorários dos juízes e o tempo fixado para
resolução do litígio;

o sigilo – principal característica na arbitragem –, pois somente às partes interessa o processo;

os juízes especialistas possuem competência e conhecimento específico na matéria objeto


do litígio;

a democracia, pois as partes convencionam com liberdade se o juízo arbitral será de direito
ou equidade;

a informalidade e flexibilidade que, sem autuações, vista, carimbos, prazos e recursos


desnecessários, utilizando conhecimento e bom senso, solucionam o litígio;

a tolerância que preserva as relações entre as partes em conflito;

a confiança, que é o maior compromisso e, por consequência, cria maior segurança entre as
partes em conflito.

Vale destacar que os árbitros devem ser imparciais, e se algum contador for indicado entre
as partes para ser árbitro e tiver algum tipo de relação com ela, a outra parte poderá impugnar a
indicação, uma vez que ele não vai agir sem expressar juízo de valor.

Algumas situações comerciais irão exigir a presença de um árbitro para solucionar os conflitos,
e é nesse momento que o contador deve estar capacitado para realizar a arbitragem entre as
partes visando sempre a solução dos conflitos baseados nos princípios contábeis.

Por fim, podemos definir a arbitragem como um procedimento mais simplificado que garante
a solução das questões conflituosas entre as partes, levando sempre em consideração os aspectos
éticos para que as partes possam buscar soluções mais vantajosas para ambas.

2 FUNDAMENTAÇÃO PARA MEDIAÇÃO E


ARBITRAGEM
Todo o procedimento técnico, para ser aceito e aprovado, é necessária uma fundamentação
legal que vai garantir a eficácia da técnica. Logo, conhecer sobre a Legislação que trata sobre as
73

práticas técnicas é fundamental para o bom desempenho dos processos.

2.1 Legislação da mediação


A mediação é designada para a resolução de conflitos e a Legislação que trata sobre esse
tema foi promulgada em 2015, com o objetivo de orientar e definir os procedimentos técnicos da
prática da mediação. De acordo com a Lei 13.140 (BRASIL, 2015), a mediação deve ser baseada
em alguns princípios que são:

I - imparcialidade do mediador;

II - isonomia entre as partes;

III - oralidade;

IV - informalidade;

V - autonomia da vontade das partes;

VI - busca do consenso;

VII - confidencialidade;

VIII - boa-fé.

§ 1º Na hipótese de existir previsão contratual de cláusula de mediação, as partes deverão


comparecer à primeira reunião de mediação.

§ 2º Ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de mediação.

Art. 3º Pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre
direitos indisponíveis que admitam transação.

§ 1º A mediação pode versar sobre todo o conflito ou parte dele.

§ 2º O consenso das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas transigíveis, deve ser
homologado em juízo, exigida a oitiva do Ministério Público.

Como podemos observar os princípios da mediação devem estar baseados sempre na isenção
do mediador quanto ao conflito e as partes, e a busca de um consenso feito em benefício de
ambas as partes do processo.

Os conflitos que podem ser solucionados por meio de mediação são de dois tipos: os direitos
disponíveis ou indisponíveis. Veja a seguir suas definições:
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Direitos disponíveis

Os direitos disponíveis são aqueles que o agente pode abrir mão sem prejuízo, como por
exemplo, a escolha por uma previdência privada, ou até mesmo a tomar posse em algum cargo
público.

Direitos indisponíveis

Os direitos indisponíveis são aqueles que a pessoa não pode abrir mão, como por exemplo,
o direito que o cidadão tem à vida, a não vender órgãos, entre outros direitos estabelecidos na
Constituição Federal.

O mediador, de acordo com a legislação, pode ser escolhido pelas partes, ou definido por
parte do tribunal. Os mediadores que são escolhidos pelas partes são denominados como
mediadores extrajudiciais, e de acordo com a Lei Nº 13.140 (BRASIL, 2015):

Art. 9º Poderá funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a
confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de integrar qualquer
tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se.

Art. 10. As partes poderão ser assistidas por advogados ou defensores públicos.

Parágrafo único. Comparecendo uma das partes acompanhada de advogado ou defensor público,
o mediador suspenderá o procedimento, até que todas estejam devidamente assistidas.

Desse modo, o mediador extrajudicial pode ser qualquer pessoa escolhida pelas partes. Ele
não precisa de uma especialidade ou formação. Se no dia da audiência uma das partes estiver
com um advogado, e a outra parte não, a audiência será suspensa até que ambas as partes
estejam em condições em comum, ou seja, que ambas estejam com advogado. Já com relação
aos mediadores judiciais, a Legislação diz que (BRASIL, 2015):

Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há pelo menos dois anos
em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério da Educação e que tenha obtido
capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola Nacional
de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM ou pelos tribunais, observados os requisitos
mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça.

Art. 12. Os tribunais criarão e manterão cadastros atualizados dos mediadores habilitados e
autorizados a atuar em mediação judicial.

§ 1º A inscrição no cadastro de mediadores judiciais será requerida pelo interessado ao tribunal


com jurisdição na área em que pretenda exercer a mediação.

§ 2º Os tribunais regulamentarão o processo de inscrição e desligamento de seus mediadores.


75

Diferentemente do mediador extrajudicial, o mediador judicial deve ter Graduação e no


mínimo dois anos de formação. Além disso, deve possuir capacitação na escola específica de
mediadores, denominada Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados.

Desse modo, a mediação é uma forma importante que a jurisdição instituiu com o propósito
de auxiliar na resolução de conflitos. Sempre que for acionada, deve atender ao que está
estabelecido na lei para buscar a melhor solução das partes conflitantes, seja por meio de
mediadores judiciais ou extrajudiciais.

FIQUE DE OLHO
A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados possui um site,
gerenciado pelo Conselho de Justiça Federal, o qual possui uma parte específica sobre a
Mediação, com informação sobre como ser um mediador, as características que o agente
deve ter, e outras informações importantes sobre o tema, no seguinte link: https://www.
enfam.jus.br/mediacao/

2.2 Legislação da arbitragem


Assim como a mediação, a arbitragem possui uma Legislação específica que trata sobre o tema,
e que deve ser seguida no momento dos procedimentos técnicos. A Lei nº 9.307 foi promulgada em
1996, e trata sobre os principais aspectos da arbitragem. De acordo com a lei (BRASIL, 1996):

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios
relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

§ 1° A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos
relativos a direitos patrimoniais disponíveis

§ 2° A autoridade ou o órgão competente da administração pública direta para a celebração de


convenção de arbitragem é a mesma para a realização de acordos ou transações

Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes.

§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem,
desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.

§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios
gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.

§ 3° A arbitragem que envolva a administração pública será sempre de direito e respeitará o


princípio da publicidade.
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Conforme exposto, a arbitragem pode ser contratada por qualquer uma das partes, além
de ser acionada pela administração pública, em relação a direitos patrimoniais. Com relação
às regras que irão reger o momento da resolução do conflito, elas podem ser escolhidas pelas
partes, desde que não firam aos princípios éticos e morais.

Além disso, para ser legalmente considerado um árbitro a pessoa deve cumprir alguns
requisitos, como (BRASIL, 1996):

Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes.

§ 1º As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear,


também, os respectivos suplentes.

§ 2º Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes estão autorizados, desde logo,
a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as partes ao órgão do Poder Judiciário a
que tocaria, originariamente, o julgamento da causa a nomeação do árbitro, aplicável, no que couber,
o procedimento previsto no art. 7º desta Lei.

§ 3º As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos árbitros, ou


adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada.

§ 4º Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegerão o presidente do tribunal
arbitral. Não havendo consenso, será designado presidente o mais idoso.

§ 4° As partes, de comum acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo do regulamento do


órgão arbitral institucional ou entidade especializada que limite a escolha do árbitro único, coárbitro
ou presidente do tribunal à respectiva lista de árbitros, autorizado o controle da escolha pelos órgãos
competentes da instituição, sendo que, nos casos de impasse e arbitragem multiparte, deverá ser
observado o que dispuser o regulamento aplicável.

§ 5º O árbitro ou o presidente do tribunal designará, se julgar conveniente, um secretário, que


poderá ser um dos árbitros.

§ 6º No desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência,


competência, diligência e discrição.

§ 7º Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar às partes o adiantamento de verbas para


despesas e diligências que julgar necessárias.

Como podemos observar, os árbitros podem ser escolhidos pelas partes. No entanto, a
quantidade deve sempre ser em número ímpar, para que não haja empate no momento de
possível votação. Se porventura a escolha dos números for par, os árbitros poderão livremente
nomear mais um para compor o quadro.
77

Ainda de acordo com a Legislação, no momento em que se inicia o processo de arbitragem,


a prescrição já fica interrompida, ou seja, o prazo para que a ação passe a não ter efeitos é
cancelado, uma vez que o processo já está formalmente definido por lei.

Além disso, na arbitragem os princípios constitucionais continuam em vigor, como os de


ampla defesa e contraditório, para ambas as partes, além de antes do início da sessão o árbitro
buscar uma conciliação entre as partes, propondo uma solução que seja boa para ambas.

Por fim, ao final da sessão, será emitida uma sentença arbitral, a qual será emitida em
documento oficial constando o relatório da sessão, os fundamentos que definiram a decisão, o
método que foi utilizado para a resolução, além da data e local que foram proferidas.

3 CÂMARAS BRASILEIRAS DE MEDIAÇÃO E


ARBITRAGEM
Os processos de conciliação podem ser de várias formas e uma delas é a mediação e a
arbitragem. As câmaras funcionam como centros especializados na resolução desses conflitos.

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3.1 Câmara de mediação


As Câmaras denominadas como câmaras de prevenção são destinadas à resolução de conflitos
entre as partes; estão previstas na Legislação com competências jurídicas predefinidas; e podem
ser criadas pelos órgãos da Administração pública. De acordo com a Lei Nº 13.140 (BRASIL, 2015):

Art. 32. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão criar câmaras de prevenção
e resolução administrativa de conflitos, no âmbito dos respectivos órgãos da Advocacia Pública, onde
houver, com competência para:
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I - dirimir conflitos entre órgãos e entidades da administração pública;

II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de composição, no


caso de controvérsia entre particular e pessoa jurídica de direito público;

III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta.

Como podemos observar, a Legislação autoriza a criação de câmaras com competência de


resolver os conflitos entre a administração, ou entre particular e pessoas do direito público, além
de competência para realizar ajustamento de conduta.

Ainda de acordo com a Legislação, as câmaras podem ser criadas para solucionar conflitos
entre pessoas físicas, conforme descrito a seguir (BRASIL, 2015):

Art. 43. Os órgãos e entidades da administração pública poderão criar câmaras para a resolução
de conflitos entre particulares, que versem sobre atividades por eles reguladas ou supervisionadas.

§ 1º Poderão ser criadas câmaras especializadas, compostas por servidores públicos ou empregados
públicos efetivos, com o objetivo de analisar e formular propostas de acordos ou transações.

§ 3º Regulamento disporá sobre a forma de composição das câmaras de que trata o § 1º, que
deverão ter como integrante pelo menos um membro efetivo da Advocacia-Geral da União ou, no caso
das empresas públicas, um assistente jurídico ou ocupante de função equivalente.

Por fim, podemos concluir que as câmaras de mediação são entidades privadas que buscam
solucionar os conflitos entre as partes, sendo acionadas pelos interessados, com o objetivo de
resolver os problemas de forma mais célere.

3.2 Câmaras de arbitragem


As câmaras de arbitragem também possuem característica privadas e são acionadas pelos
interessados de forma independente para acordos entre as partes. De acordo com o Decreto Nº
10.025 (BRASIL, 2019):

Art. 10. O credenciamento da câmara arbitral será realizado pela Advocacia-Geral da União e
dependerá do atendimento aos seguintes requisitos mínimos:

I - estar em funcionamento regular como câmara arbitral há, no mínimo, três anos;

II - ter reconhecidas idoneidade, competência e experiência na condução de procedimentos


arbitrais; e

III - possuir regulamento próprio, disponível em língua portuguesa.

§ 1º O credenciamento de que trata o caput consiste em cadastro das câmaras arbitrais para
eventual indicação futura em convenções de arbitragem e não caracteriza vínculo contratual entre o
79

Poder Público e as câmaras arbitrais credenciadas.

De acordo com o Conselho Regional de Contabilidade, a perícia contábil é uma das formas de
solução desses conflitos, que é realizado por meio de uma auditoria contábil.

As câmaras arbitrais que existem no Brasil são (CRC, 2016):

Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá – CAM/CCBC;

Câmara de Comércio International – Corte Internacional de Arbitragem;

Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem Ciesp/Fiesp;

Câmara de Arbitragem do Mercado BM&FBovespa;

Centro de Mediação e Arbitragem da Amcham - American Chamber of Commerce for Brazil;

Câmara da FGV de Conciliação e Arbitragem;

Tribunal de Mediação, Conciliação e Arbitragem da Comissão das Sociedades de Advogados


da OAB/SP.

Cada câmara que existe no Brasil possui uma especialidade diferente, e deve ser acionada
de acordo com a sua especificação, como, por exemplo, a Câmara de Arbitragem do Mercado
BM&FBovespa, que busca solucionar problemas relacionados ao mercado de capitais

Cada câmara que existe no Brasil possui uma especialidade diferente, e deve ser acionada
de acordo com a sua especificação, como, por exemplo, a Câmara de Arbitragem do Mercado
BM&FBovespa, que busca solucionar problemas relacionados ao mercado de capitais.

4 ARBITRAGEM INTERNACIONAL
O processo de arbitragem já era realizado em outros países, antes de começar a ser efetivado
no Brasil. Segundo Alves (2004, p.2):

Nos últimos anos, a arbitragem adquiriu inigualável prestígio fora do Continente Europeu e da
América do Norte, onde já estava consolidada desde o início do Século XX. A mais antiga e famosa
Corte de Arbitragem, com uma formidável competência geográfica e material, está em Paris. Trata-
se da Corte Internacional de Arbitragem, datada de 1923, um dos braços da Câmara de Comércio
Internacional – CCI, esta de 1919.

Não se pode ainda deixar de falar da American Arbitration Association – AAA. Para se ter idéia da
grandeza desta Corte, conta ela com cerca de 57.000 (cinqüenta e sete mil) árbitros, espalhados por 35
(trinta e cinco) sedes nos diversos Estados da América.
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No Brasil, a arbitragem estava prevista desde a Constituição Federal de 1824, mas não tínhamos
tradição na utilização da Justiça Arbitral, ficando a previsão constitucional, que se repetiu em outras
Cartas, como letra morta.

Como podemos observar, existem várias cortes de arbitragem espalhadas pelo mundo. Uma
das mais notórias é a American Arbitration Association, que está espalhada por várias cidades dos
Estados Unidos, somando um total de 35 sedes.

No Brasil, entretanto, a prática de recorrência as câmaras de arbitragem começaram a se fazer


mais presentes após a promulgação da Lei 9307, de 1996, a qual regulamenta e autoriza o acesso
a procedimentos de arbitragem. De acordo com Alves (2004, p. 3):

Definida a arbitragem como a técnica que visa solucionar controvérsias ou interesses, por uma ou
mais pessoas que têm poderes oriundos de acordo de vontade, fica claro tratar-se de uma forma de
pacificação social, sem a intermediação do Estado-Juiz.

A definição serve para a arbitragem interna e internacional, porquanto a diferença entre uma
e outra reside no fato de buscar-se a solução de interesses inseridos em contratos nacionais ou
internacionais.

Desse modo, como podemos observar na descrição, a arbitragem internacional se difere da


interna por busca de solução de conflitos entre contratos internacionais. De acordo com Cabral (2014):

Assim, no âmbito internacional, as partes escolhem o árbitro ou o critério para sua designação, as
regras de direito a serem aplicadas, o idioma a ser utilizado, além do local em que o julgamento será
proferido.

No que se refere ao local em que o julgamento é proferido, insta ressaltar ser comum aos
contratantes estrangeiros a busca de um foro neutro em razão do receio de litigar no Estado da parte
contrária.

Diante disto, é possível concluir que a arbitragem internacional possui assento na autonomia
da vontade das partes, uma vez que estas possuem ampla liberdade para traças as regras para que
eventual conflito futuro seja dirimido.

Por fim, no procedimento da arbitragem internacional, as partes envolvidas no processo


definirão algumas informações que farão parte do julgamento, como por exemplo, o idioma
que será utilizado no momento da audiência e o local que irá realizar a sessão. Além disso, é
importante destacar que o local que será realizada a audiência deverá ser neutro, ou seja, onde
nenhuma das partes reside para manter a equidade e isonomia do processo.

De acordo com Alves (2004), as seguintes câmaras de arbitragem internacional atuam no Brasil:

• a Corte Internacional de Arbitragem que data de 1923, com sede em Paris, mas funcio-
nando em trinta países diferentes e abrigada na Câmara de Comércio Internacional, a
famosa CCI;
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• a American Arbitration Association – AAA, o gigante americano que congrega 57.000 ár-
bitros espalhados por todos os Estados Unidos. Esta entidade é de natureza privada, sem
fins lucrativos, e especializou-se em arbitragens laborais e no campo da responsabilidade
civil. Na área internacional dedica-se às lides comerciais;

• a London Court of Arbitration;

• a Câmara de Comércio de Estocolmo;

• a Câmara de Comércio de Tóquio; e

• o Tribunal Arbitral da Bolsa de Comércio de Buenos Aires.

Por fim, temos ainda algumas informações relacionadas à Legislação aplicada para as
arbitragens internacionais, descritas por Alves (2004, p. 06):

Em matéria de arbitragem internacional é importante saber qual a legislação a ser aplicada, cujas
opções estão bem-postas na Lei Modelo da Uncitral de 1985 na seguinte gradação:

- seguem-se as regras indicadas pelas partes;

- na falta de indicação o Tribunal aplicará a lei designada pela regra de conflito indicada à espécie;
e, ainda,

- o Tribunal decidirá livremente se assim estiver previsto pelas partes.

Desse modo, podemos concluir que a arbitragem internacional tem suas exigências e
particularidades, e que é sempre importante, antes de iniciar qualquer procedimento de
resolução de conflitos, analisar a Legislação que está sendo aplicada no caso particular, para ter
êxito na conclusão dos procedimentos formais e conseguir solucionar os conflitos da melhor
forma para ambas as partes.

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PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• entender sobre o conceito de mediação;

• conhecer sobre os procedimentos técnicos para ser um mediador;

• estudar sobre o conceito da arbitragem e conhecer os aspectos para se tornar um


árbitro;

• compreender sobre a definição das câmaras de prevenção de mediação e de


arbitragem;

• aprender sobre os procedimentos da arbitragem internacional.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, E. C. A Arbitragem internacional. 2004. disponível em https://core.ac.uk/


download/pdf/79058057.pdf, acesso em: 30 mar. 2020

BRASIL, Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, disponível em: http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm, acesso em: 30 de mar. 2020

BRASIL, Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015, disponível em: http://www.planalto.gov.


br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm, acesso em: 30 de mar. 2020

BRASIL, Decreto nº 10.025, de 20 de setembro de 2019, disponível em: http://www.


in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.025-de-20-de-setembro-de-2019-217537111,
acesso em: 30 de mar. 2020

CABRAL, M. K. Arbitragem internacional. 2014. disponível em https://www.migalhas.


com.br/depeso/194367/arbitragem-internacional, acesso em: 30/03/2020.

CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE, Mediação E Arbitragem: A Decisão Por


Especialistas Da Contabilidade, Porto Alegre: 2005, disponível em http://www.crcrs.org.
br/arquivos/livros/livro_arbitragem.PDF, acesso em: 30 de mar. 2020
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