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Capítulo 1 TENSÃO E CORRENTE ALTERNADAS

1.1 Introdução

1.2 Sinal Elétrico Alternado

1.3 Fonte de Tensão Senoidal


1.3.1 Princípio da Geração em Corrente Alternada
1.3.2 Polaridade de uma Fonte Senoidal

1.4 Parâmetros de uma Onda Senoidal


1.4.1 Período, Ciclo e Frequência
1.4.2 Valor de Pico
1.4.3 Velocidade ou Frequência Angular
1.4.4 Ângulo de Fase
1.4.5 Valor Médio
1.4.6 Valor Eficaz
1.4.7 Fator de Crista
1.4.8 Fator de Forma

1.5 Representação de Senoide nos Domínios do Tempo e


Frequência
1.7 Ondas Não Senoidais

Profa. Ruth P.S. Leão Email: rleao@dee.ufc.br


1.1 Introdução
Os circuitos elétricos são formados por uma associação de
componentes que podem ser classificados como ativos e passivos. Os
componentes ativos podem gerar ou amplificar sinais (p.ex. diodo,
transistores, circuitos integrados, dispositivos optoeletrônicos e fontes
de energia). Os componentes passivos não aumentam a intensidade
da corrente ou tensão, não amplificam nem geram sinais (p.ex.
resistores, capacitores, indutores, sensores e antenas). Os circuitos
elétricos objeto de estudo nesta disciplina são formados por fonte de
energia alternada e componentes passivos.

Na análise dinâmica de circuitos elétricos é necessário determinar a


resposta ou saída natural ou transitória e forçada ou permanente do
circuito a uma dada função de excitação. Estas respostas podem ser
combinadas usando-se o princípio da superposição.

𝑅𝑒𝑠𝑝𝑜𝑠𝑡𝑎 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑅𝑒𝑠𝑝𝑜𝑠𝑡𝑎 𝑛𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑙 + 𝑅𝑒𝑠𝑝𝑜𝑠𝑡𝑎 𝑓𝑜𝑟ç𝑎𝑑𝑎

A resposta natural ou não forçada é uma característica do circuito,


depende de componentes, topologias e condições iniciais (tensão
inicial nos capacitores ou corrente em indutores) e independe da função
de excitação (entrada suprimida). Uma outra característica da resposta
natural é que ela decai ou amortece ao longo do tempo.

A resposta forçada, entretanto, depende diretamente do tipo da função


de excitação que pode ser contínua e alternada. A resposta forçada é
calculada com as fontes ligadas, mas com as condições iniciais
(energia interna armazenada) definidas como zero.

Em circuitos elétricos, a função de entrada alternada senoidal é a mais


comum e mais importante fonte de excitação. Na indústria, comércio e
residências, os equipamentos elétricos são alimentados por fonte
senoidal. O sinal senoidal apresenta a característica de manter a forma
de onda quando integrado (𝑖 = 1𝐿 ∫ 𝑣𝑑𝑡), derivado (𝑖 = 𝐶 𝑑𝑣
𝑑𝑡
) ou multiplicado
𝑣
por uma constante (𝑖 = 𝑅).

A resposta forçada de um circuito elétrico com entrada senoidal é


denominada de resposta senoidal em regime permanente. O regime
permanente é entendido como a operação em condições estáveis por

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um tempo suficientemente longo quando comparado ao tempo dos


fenômenos dinâmicos ou transitórios.

No curso de Circuitos Elétricos II, será avaliada a resposta forçada de


circuitos com excitação senoidal. Restringir a análise à resposta de um
circuito com excitação forçada senoidal operando em estado
permanente permite uma considerável simplificação na análise do
circuito: é necessário obter solução de equações algébricas ao invés
de equações diferenciais. Na análise em regime, os efeitos das
condições iniciais tornam-se desprezíveis decorrente do decaimento no
tempo da resposta natural.

Figura 1.1 Sinal de entrada u(t) e de saída y(t) com amortecimento.

(a) Sinal de entrada (b) Sinal de saída

O curso de Circuitos Elétricos II se concentrará no estudo da resposta


em regime permanente (ou estado estacionário) de redes excitadas por
fontes senoidais. As condições iniciais e os transitórios serão
ignorados, pois tais fenômenos eventualmente desaparecerão por
completo nos circuitos considerados. Entretanto, antes de prosseguir
com essa análise de regime, a natureza da função senoidal deve ser
completamente entendida.

1.2 Sinal Elétrico Alternado


Em circuitos elétricos uma onda alternada é um sinal elétrico que varia
no tempo e assume uma série de valores positivos, zeros e negativos.
A Figura 1.2 mostra uma onda que alterna entre valores positivos e
negativos durante a passagem pelo zero. Se a onda alternada se repete
em iguais intervalos de tempo sendo, é dita periódica.

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Figura 1.2: Forma de onda alternada e periódica.

y
a

-a
T T

A onda senoidal é a mais comum e fundamental dentre as ondas


alternadas, porque todos os demais tipos de ondas alternadas
(quadrada, triangular, dente de serra etc.) podem ser decompostas em
ondas senoidais.

Figura 1.3: Forma de onda quadrada decomposta em senóides.

Fonte: http://electronics.stackexchange.com/questions/148288/help-me-understand-fft-and-
harmonic-distortions

Transformadores, máquinas e aparelhos elétricos são projetados com


base em um suprimento senoidal.

1.3 Fonte de Tensão Senoidal


As tensões senoidais são geradas por dois métodos: osciladores
eletrônicos e máquinas elétricas rotativas.

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Os geradores eletrônicos de sinal consistem basicamente em um


oscilador que é um circuito eletrônico que produz ondas de amplitude e
frequência controladas.

1.3.1 Princípio da Geração de Corrente Alternada


O princípio básico de geração de energia elétrica por máquinas
elétricas rotativas consiste no movimento relativo de bobinas elétricas
imersas em um campo magnético. Como resultado, tem-se a indução
de tensão alternada nos terminais da máquina. Ao ser colocada uma
carga para ser alimentada pelo gerador elétrico em 𝑐𝑎, estabelece-se a
circulação de corrente elétrica alternada.

A Figura 1.4 mostra um gerador elétrico 𝑐𝑎 simplificado, o qual consiste


em uma bobina de uma espira apenas em um campo magnético
permanente. Cada terminal da bobina é conectado a um anel coletor
condutor. À medida que a bobina gira no campo magnético entre os
polos norte e sul, o anel coletor também gira em contato com as
escovas que conectam a bobina a uma carga externa.

Figura 1.4: Gerador elétrico 𝑐𝑎 simplificado.

Fonte: Floyd (2000)

Segundo o princípio de indução do eletromagnetismo, quando um


condutor se move em um campo magnético, de modo a ‘cortar’ as
linhas do campo magnético, uma tensão é induzida nos terminais do
condutor.

A Figura 1.5 mostra uma bobina de uma espira girando em um campo


magnético. A Figura 1.5 (a) apresenta a varredura do primeiro quarto
de rotação da bobina, desde a posição horizontal, em que a tensão
induzida é zero, até a posição vertical da bobina, em que a tensão
induzida é máxima. As Figuras 1.5 (b), (c) e (d) apresentam,
respectivamente, o segundo, terceiro e quarto quadrante de um giro
completo. Portanto, quando o rotor do gerador completa uma rotação

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de 360º, um ciclo completo de tensão é induzido. O movimento


continuado do rotor faz gerar repetidos ciclos da onda senoidal.

Figura 1.5: Um ciclo de tensão senoidal gerada.

(a) ¼ do ciclo (b) ½ do ciclo

(c) ¾ do ciclo (d) 1 ciclo


Fonte: Floyd (2000); D. Rauteon. Excepcional https://www.hardwarecentral.net/single-
post/excepcional-o-alternador-gerador-el%C3%A9trico

Na Figura 1.5, observa-se um campo magnético 𝐵 [𝑇 – tesla] de Norte


a Sul, formando um ângulo 𝜃 com o plano da espira 𝐴 [𝑚2 ] à medida
que essa se movimenta. O fluxo magnético  [𝑊𝑏 - weber ou 𝑇. 𝑚2 ]
através da espira depende da área 𝐴, do campo magnético 𝐵 e do
ângulo 𝜃.
 = 𝐵 ∙ 𝐴 ∙ 𝑐𝑜𝑠𝜃 [𝑊𝑏 ] (1.1)

A espira na posição (a) apresenta um ângulo 𝜃 = 90°, sendo nulo o


fluxo,  = 0, ou seja, a quantidade de fluxo que concatena a espira é
nula, estando o vetor perpendicular ao campo; na posição (b) tem-se
𝜃 = 180° e  = −𝑚𝑎𝑥 , o vetor paralelo ao campo; se repetindo,
respectivamente, em (c) e (d). O fluxo é visto pela bobina como
variante, com amplitudes máxima e mínima.
A tensão induzida depende do número de espiras 𝑁 da bobina e da
taxa de variação do fluxo magnético  no tempo.

𝑑
𝑣𝑖𝑛𝑑 = 𝑁 𝑑𝑡 = −𝑁 ∙ 𝐵 ∙ 𝐴𝑠𝑒𝑛𝜃 [𝑉 ] (1.2)

Observa-se que a tensão induzida será máxima em 𝜃 = 90° (posição


(a)), mínima em 𝜃 = 270° (posição (c)) e nula em 𝜃 = 0° (posição (b)) e
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𝜃 = 180° (posição (d)). O sinal negativo em (1.2) diz respeito ao sentido


da corrente elétrica induzida na bobina, que induz uma 𝑓𝑒𝑚 que se
opõe à variação do fluxo.

O método de aumentar a tensão induzida é através do aumento do


número de espiras 𝑁 da bobina e da taxa de variação do fluxo, 𝑑⁄𝑑𝑡.
Normalmente a taxa de variação do fluxo é mantida constante
(frequência constante).

Representação mais realista de uma máquina 𝑐𝑎 é mostrada na Figura


1.6. A máquina tem enrolamentos de rotor e de armadura. Os
enrolamentos de rotor são alimentados por uma fonte cc. A rotação do
rotor contribui para indução de uma tensão alternada senoidal nos
terminais do estator1.

Figura 1.6: Geração de tensão monofásica em máquina síncrona.

Fonte: Notas de aula em Sistemas Trifásicos Equilibrados – UFPE.

A Figura 1.7 mostra o símbolo de uma fonte de tensão alternada.

Figura 1.7: Símbolo de uma fonte de tensão alternada.

Fonte: Floyd (2000)

Uma onda senoidal pode ser medida em uma base temporal ou angular.
Como o tempo para completar um ciclo depende da taxa de variação
da onda, ou seja, da velocidade angular, em geral é comum especificar
os valores em uma onda senoidal em termos de medida angular,
expresso em graus ou em radianos.

1
A indução eletromagnética pode se dar por duas maneiras: Espira (enrolamento) de condutor elétrico, se movendo no
interior de um campo magnético estacionário; Espira de condutor elétrico fixa, e imersas no interior de um campo
magnético variável.
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Figura 1.8: Relação entre uma onda senoidal e a rotação de um gerador ca.

Fonte: Floyd (2000)

Um ciclo completo equivale a 360º e corresponde a 2 [𝑟𝑎𝑑 ] (Fig.1.8).


Radiano (𝑟𝑎𝑑) é uma medida angular definida pela relação entre o
comprimento do arco e o raio da circunferência (𝜃 = 𝑠⁄𝑟). A unidade
radiano é adimensional já que é dada pela relação de dois
comprimentos, no entanto, é importante manter a unidade para não se
perder a sensibilidade física da definição de ângulo. A medida de arco
correspondentes a 57,3º equivale a um radiano [𝑟𝑎𝑑].

A letra grega  representa a relação da circunferência de qualquer


círculo por seu diâmetro (𝐶 = 2𝜋 ∙ 𝑟 ∴ 𝜋 = 𝐶 ⁄2𝑟) e tem um valor
constante de aproximadamente 3,1416. Assim,

2𝜋 𝑟𝑎𝑑 = 2 ∙ 3,1416 ∙ 57,3 = 360° (1.3)

A conversão de graus para radianos e vice-versa é obtida por (1.4) e


(1.5):
𝜋
𝑟𝑎𝑑 = (180°) . 𝑔𝑟𝑎𝑢𝑠 (1.4)

180°
𝑔𝑟𝑎𝑢𝑠 = ( 𝜋
) . 𝑟𝑎𝑑 (1.5)

1.3.2 Polaridade de uma Fonte Senoidal


Um sinal senoidal apresenta dois polos: positivo (+) e negativo (-). A
polaridade representa o potencial elétrico nos terminais de um circuito.
O terminal com polaridade (+) apresenta potencial elétrico maior do que
o terminal oposto.

Quando uma fonte de tensão senoidal é aplicada a um circuito resistivo,


como na Figura 1.9, a polaridade da tensão varia alternadamente, i.e.,
a cada meio ciclo, com mudança na direção do fluxo de corrente
senoidal como resultado.
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Figura 1.9: Circuito elétrico alimentado por fonte de tensão senoidal.

Quando a tensão muda de polaridade, a corrente muda de direção


durante a passagem por zero, como indicado na Figura 1.10. Durante
o semiciclo positivo da tensão, a corrente flui em uma direção e muda
de direção durante o semiciclo negativo da tensão.

Figura 1.10: Onda senoidal de tensão e corrente em circuito resistivo.

Tensão (+V)
Corrente (+I)

Tensão (-V)
Corrente (-I)

1.4 Parâmetros de uma Onda Senoidal


1.4.1. Período, Ciclo e Frequência
Em uma onda periódica tem-se que o menor espaço de tempo que
separa um conjunto completo de valores diferentes é denominado de
período, representado por 𝑇.

A Figura 1.11 ilustra dois períodos de uma onda senoidal. O período de


uma onda senoidal não necessariamente necessita ser medido entre
os zeros da forma de onda.

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1-10

Figura 1.11: Medição de um período de uma onda senoidal.

O ciclo é a menor parte que não se repete em uma onda periódica. Em


uma onda alternada, o ciclo corresponde à combinação do semiciclo
positivo e negativo. Se um ciclo corresponde a 𝑇 (s), o número de ciclos
correspondente a 1 s é definido como frequência.

1 (ciclo) → 𝑇 (s)
𝑓 (ciclos) → 1s (1.6)
1
𝑓=𝑇 (1.7)

A frequência 𝑓 de uma onda é o número de ciclos que a onda completa


em um segundo. No Sistema Internacional (SI) de unidades o hertz (Hz)
é a unidade da frequência. Um hertz é equivalente a um ciclo por
segundo.

1.4.2. Velocidade de Rotação, Frequência e Número de Polos


Num gerador de dois polos magnéticos como visto na Figura 1.13, uma
rotação completa da bobina no campo magnético de um gerador 𝑐𝑎
gera um ciclo da tensão induzida.

A velocidade com que a bobina gira define o tempo, ou período, para


completar um ciclo. Se uma bobina completa 60 ciclos em 1s, a
frequência é de 60 Hz e o período da onda senoidal é de 1/60 s ou
0,01666 𝑠. Quando a bobina faz 120 ciclos em 1s, o período é de 𝑇 =
1⁄120 = 0,00833 𝑠, metade do período correspondente a 60 Hz.
Portanto, aumentar a velocidade de rotação é aumentar a frequência e
diminuir o período. Assim, quanto mais rápido a bobina gira, maior é a
frequência da tensão induzida, como ilustra a Figura 1.12.
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1-11

Figura 1.12: A frequência é proporcional à velocidade de rotação da bobina.

Fonte: Floyd (2000)

Outra forma de aumentar a frequência do sinal elétrico é aumentar o


número de polos magnéticos. Quando 4 polos magnéticos são usados
ao invés de 2, como mostra a Figura 1.13, um ciclo é gerado durante
metade da rotação. Isto dobra a frequência do sinal elétrico para a
mesma velocidade de rotação.

Figura 1.13: Aumento da frequência com o aumento de polos.

Fonte: Floyd (2000)

A Figura 1.13 mostra que um ciclo completo do sinal elétrico ocorre em


metade de uma rotação mecânica. Assim, em uma máquina de 4 polos,
uma velocidade igual a 60 rotações mecânicas por segundo
corresponde a 120 ciclos elétricos por segundo, i.e., 120 Hz.

Na Figura 1.14 tem-se a representação de uma máquina em que a


armadura – enrolamento em que a tensão elétrica é induzida e a carga
é conectada – é estacionária e o campo rotativo. Observa-se que a
máquina com quatro pares de polos induz 4 ciclos de tensão.

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1-12

Figura 1.14: Gerador monofásico com diferentes números de polos.

Fonte: D. Rauteon. Excepcional https://www.hardwarecentral.net/single-post/excepcional-o-alternador-


gerador-el%C3%A9trico

Pode-se então relacionar a velocidade angular mecânica 𝜔𝑚 com a


velocidade angular elétrica 𝜔𝑒 e o número de pares de polos 𝑝.
2𝜋
𝜔𝑒 = 𝑝𝜔𝑚 = = 2𝜋𝑓 [𝑟𝑎𝑑 ⁄𝑠] (1.8)
𝑇

É comum expressar a velocidade da máquina na unidade ‘número de


rotações por min - rpm’ (𝑛). A conversão 𝑟𝑝𝑚 para 𝑟𝑎𝑑/𝑠 é obtida sob
a consideração de que um giro mecânico corresponde 2𝜋 𝑟𝑎𝑑 e 1 𝑚𝑖𝑛
equivale a 60 𝑠.
2𝜋
𝑛 [𝑟𝑝𝑚] → 𝑛 ∙ 60 [𝑟𝑎𝑑⁄𝑠] ∴

2𝜋
𝜔𝑚 = 𝑛. 60 (1.9)

Ou seja, 1 𝑟𝑝𝑚 corresponde a 0,10471976 𝑟𝑎𝑑/𝑠. A conversão inversa,


de 𝑟𝑎𝑑/𝑠 para 𝑟𝑝𝑚 implica na multiplicação de 𝜔 por 60/2𝜋.
60
𝑛 = 𝜔𝑚 . 2𝜋 (1.10)

De (1.10) tem-se a velocidade rpm da máquina em função da


frequência e número de polos.
𝜔𝑒 60 2𝜋𝑓 60 60𝑓 120𝑓
𝑛= ∙ 2𝜋 = ∙ 2𝜋 = = (1.11)
𝑝 𝑝 𝑝 𝑃

em que 𝑃 representa o número de polos, enquanto 𝑝, o número de


pares de polos.

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1-13

Nos sistemas de potência a frequência 𝑓 deve ser mantida constante.


Quando a máquina é projetada para operar em baixas velocidades,
para que f mantenha-se constante, aumenta-se o número de polos do
gerador. O contrário é feito quando a máquina é projetada para operar
em altas velocidades.

1.4.3. Definição Matemática da Forma de Onda Senoidal


As curvas ilustradas na Figura 1.15 representam valores instantâneos
de uma onda de tensão e de corrente que variam no tempo,
representadas pelas letras minúsculas 𝑣(𝑡 ) e 𝑖 (𝑡 ), respectivamente.

Figura 1.15: Valores instantâneos de onda senoidal.

As ondas senoidais de tensão e corrente são definidas


matematicamente por:

𝑣(𝑡 ) = 𝑉𝑝 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 + 𝜑𝑣 ) (1.12)

𝑖(𝑡 ) = 𝐼𝑝 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 + 𝜑𝑖 ) (1.13)

𝑣(𝑡 ), 𝑖 (𝑡 ) valores instantâneos das ondas de tensão e corrente


𝑉𝑝 , 𝐼𝑝 amplitudes das ondas de tensão e corrente
𝜔 velocidade angular ou frequência angular da onda
𝜔𝑡 ângulo instantâneo
𝜑𝑣 , 𝜑𝑖 ângulos de fase das ondas de tensão e corrente

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1.4.4. Valor de Pico


O valor de pico ou amplitude de uma onda senoidal de tensão e
corrente é o máximo valor positivo ou negativo em relação ao zero. O
valor de pico em uma onda senoidal é constante, e representado por 𝑉𝑝
ou 𝐼𝑝 .

O valor pico-a-pico de uma tensão ou corrente senoidal compreende o


valor desde o pico positivo ao pico negativo. Os valores pico a pico de
tensão ou corrente senoidais são representados por 𝑉𝑝𝑝 = 2𝑉𝑝 ou 𝐼𝑝𝑝 =
2𝐼𝑝 .

1.4.5. Velocidade ou Frequência Angular


A velocidade angular 𝜔 ou frequência angular de uma onda senoidal de
tensão ou corrente descreve a velocidade de rotação e é definida como
a relação entre um ciclo completo, expresso em radianos, e o tempo T
para percorrê-lo.
2𝜋
𝜔= = 2𝜋𝑓 𝑟𝑎𝑑 ⁄𝑠 (1.14)
𝑇

A velocidade angular  multiplicada pelo 𝑡 define o ângulo de tempo,


𝜔𝑡, que corresponde ao valor angular instantâneo de uma onda
senoidal. Como a onda senoidal é periódica, o ângulo de tempo será
sempre um múltiplo inteiro do conjunto de ângulos compreendidos no
intervalo de 0 a 2 rad.

1.4.6. Ângulo de Fase


O ângulo de fase é uma das três características importantes de um sinal
elétrico (as outras duas são frequência e amplitude) que representam o
sinal 𝑐𝑎 em um estado transitório. No contexto de fenômenos periódicos, o
ângulo de fase ou simplesmente fase é definido como o argumento da
função seno (ou cosseno), conforme ilustrado na onda senoidal geral 𝑦(𝑡).

𝑦(𝑡 ) = 𝐴𝑚 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 + ) (1.15)

O ângulo de fase é a menor medida angular tomada quando a inclinação


positiva da onda cruza o eixo horizontal até 𝑡 = 0 ou 𝜔𝑡 = 0, podendo ser
nulo, positivo e negativo. A fase de uma onda periódica especifica a sua
posição em relação a uma referência.

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1-15

Observe a Figura 1:16 que quando o ciclo da senoide inicia antes de 𝑡 = 0


ou a inclinação positiva da onda cruza o eixo horizontal antes de 𝑡 = 0, a
forma de onda está deslocada para a esquerda e o ângulo de fase inicial2
é positivo,  > 0. Alternativamente, quando o ciclo da senoide inicia
depois de 𝑡 = 0 ou a inclinação positiva cruza o eixo horizontal depois de
𝑡 = 0, então a senoide está deslocada para a direita e o ângulo de fase
inicial é negativo,  < 0. Por sua vez, se o ciclo da senoide inicia em 𝑡 =
0, então ângulo de fase é zero, 𝜑 = 0. A onda deslocada para esquerda
está adiantada em relação àquela deslocada para a direita. Observe que
na onda adiantada o valor de pico ocorre antes do valor de pico da onda
atrasada.

Figura 1.16: Ilustração das fases zero, positiva e negativa para sinal senoidal.

Fonte: Phase-Compensated, 8-Ch, Multiplexed Data Acquisition System for Power Automation
Reference Design. Texas Instruments Incorporated.

O ângulo de fase  de uma onda determina o valor da função seno /


cosseno em 𝑡 = 0; portanto o ângulo de fase fixa o ponto na onda
periódica em que o tempo começa a ser medido. A Figura 1.17 mostra
a onda de tensão em 𝑡 = 0 igual a 𝑣 = 155,56 𝑉, o que corresponde
para 𝑉𝑝 = 311,129 𝑉 a um ângulo de fase igual a +30º.

Figura 1.17: Onda de tensão com ângulo de fase igual a 30º.

2
O ângulo de fase inicial corresponde ao ângulo de fase da onda em 𝑡 = 0.
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1-16

A expressão matemática que define a onda da Figura 1:17 é

𝑣(𝑡 ) = 311,129 ∙ 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 + 30° ) (1.16)

Duas ondas de mesma frequência podem apresentar ou não diferença de


fase. As duas ondas quando apresentam o mesmo ângulo de fase, a
diferença de fase ou deslocamento angular é nulo. Neste caso, os valores
de pico e zero coincidem no tempo, como ilustra a Figura 1:18.

Figura 1.18: Duas formas de onda senoidais - "Em fase".

Fonte: Phase-Compensated, 8-Ch, Multiplexed Data Acquisition System for Power Automation
Reference Design. Texas Instruments Incorporated.

Agora considere que a tensão (𝑣) e a corrente (𝑖) têm uma diferença de
fase de 30° (então  = 30° ou π/6 radianos). Esta diferença de fase
(representada por ) permanece constante a cada instante de tempo
porque ambos os sinais têm a mesma frequência (ver Figura 1:19).

Figura 1.19: Diferença de fase de duas ondas senoidais.

Fonte: Phase-Compensated, 8-Ch, Multiplexed Data Acquisition System for Power Automation
Reference Design. Texas Instruments Incorporated.

A forma de onda de tensão na Figura 1:19 começa em zero ao longo do


eixo de referência horizontal. Nesse instante de tempo, a forma de onda
da corrente ainda tem valor negativo e não cruza esse eixo de referência
até 30° depois. A diferença de fase entre as duas formas de onda resulta
no sinal de corrente atingindo seus valores de pico e cruzando zero após
a forma de onda de tensão.
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1-17

Duas formas de onda com uma diferença de fase são consideradas "fora
de fase" por um valor determinado por . Neste exemplo,  = 30°, as duas
formas de onda estão 30° fora de fase. A forma de onda da corrente está
“atrasada” em relação à forma de onda de tensão pelo ângulo de fase, ,
conforme explicado em Equação 1.17:
𝑣(𝑡 ) = 𝑉𝑚 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 ),
𝑖(𝑡 ) = 𝐼𝑚 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 − ) (1.17)

Da mesma forma, se o ângulo de fase inicial da forma de onda da corrente


tiver um valor positivo  e cruzar o eixo de referência antes do sinal de
tensão, então a forma de onda da corrente estará “adiantada” por um
ângulo de fase , conforme explicado na Equação 1.18.

𝑣(𝑡 ) = 𝑉𝑚 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 ),
𝑖(𝑡 ) = 𝐼𝑚 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 + ) (1.18)

Isto significa que os valores de pico e zeros das ondas não ocorrem ao
mesmo tempo.

Em geral, medir a diferença de fase entre sinais elétricos em um


sistema de potência é uma tarefa comum e necessária. A diferença de
fase entre duas senoides (ou cossenoides) pode ser encontrada
subtraindo-se os ângulos de fase das ondas. Para tanto é necessário
que as condições abaixo sejam atendidas simultaneamente:
− Ambas as ondas tenham a mesma frequência.
− Ambas as ondas sejam do mesmo tipo (senoides ou cossenoides,
pois cosseno é adiantado de 90º em relação ao seno).
− As amplitudes das ondas (senoides ou cossenoides) tenham o

mesmo sinal.

As relações de transformação são:


𝐴 ⋅ 𝑠𝑒𝑛(𝑥 + 90∘ ) = 𝐴 ⋅ 𝑐𝑜𝑠(𝑥) 𝐴 ⋅ 𝑐𝑜𝑠(𝑥 − 90∘ ) = 𝐴 ⋅ 𝑠𝑒𝑛(𝑥)
𝐴 ⋅ 𝑐𝑜𝑠(𝑥 ± 180∘ ) = −𝐴 ⋅ 𝑐𝑜𝑠 (𝑥) 𝐴 ⋅ 𝑠𝑒𝑛(𝑥 ± 180∘ ) = −𝐴 ⋅ 𝑠𝑒𝑛(𝑥)
𝐴 ⋅ 𝑠𝑒𝑛(𝑥 − 90∘ ) = −𝐴 ⋅ 𝑐𝑜𝑠(𝑥) 𝐴 ⋅ 𝑐𝑜𝑠(𝑥 + 90∘ ) = −𝐴 ⋅ 𝑠𝑒𝑛(𝑥)

Quando a diferença de fase entre duas ondas senoidais é igual a zero,


diz-se que as ondas estão em fase (Figura 1.16).

Exemplo 1.1

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1-18

Para cada uma das seguintes funções especifique a amplitude,


velocidade angular, período, frequência e ângulo de fase.

a) 𝑣1 (𝑡 ) = 𝑐𝑜𝑠 (𝑡 )
b) 𝑣2 (𝑡 ) = 𝑠𝑒𝑛(𝑡 )
c) 𝑣3 (𝑡 ) = 2𝑐𝑜𝑠(2𝜋𝑡 )
d) 𝑣4 (𝑡 ) = 5𝑐𝑜𝑠(10𝑡 + 60° )

A tabela abaixo apresenta os valores das formas de onda.

𝑣1 (𝑡) 𝑣2 (𝑡) 𝑣3 (𝑡) 𝑣4 (𝑡)


= 𝑐𝑜𝑠(𝑡) = 𝑠𝑒𝑛(𝑡) = 2𝑐𝑜𝑠(2𝜋𝑡) = 5𝑐𝑜𝑠(10𝑡 + 60° )
Amplitude 1 1 2 5
Velocidade 1 1 2 10
angular (𝜔)
Período 2 2 1 2𝜋⁄10 = 0,63
(𝑇 = 2𝜋⁄𝜔)
Frequência 0,16 0,16 1 1,6
(𝑓 = 1⁄𝑇)
Ângulo de fase 0 0 0 60°

Qual a diferença de fase entre as ondas 𝑣1 (𝑡 ) e 𝑣2 (𝑡 )?

As funções 𝑣1 (𝑡 ) e 𝑣2 (𝑡 ) têm mesma amplitude, período e ângulo de


fase, no entanto diferem na forma de onda. Para calcular a diferença
de fase é preciso que as duas ondas tenham a mesma forma de onda,
senoidal ou cossenoidal. Se 𝑣1 (𝑡 ) for convertida em uma onda
senoidal, tem-se:

𝑣1 (𝑡 ) = 𝑠𝑒𝑛(𝑡 + 90° )

𝑣2 (𝑡 ) = 𝑠𝑒𝑛(𝑡 )

A diferença de fase é, pois, 90º. Em 𝑡 = 0, 𝑣1 = 1 e 𝑣2 = 0. 𝑣1 (𝑡 ) está


adiantada de 90º em relação a 𝑣2 (𝑡 ).

Porém, 𝑣2 (𝑡 ) pode ser convertida em uma onda cossenoidal.

𝑣1 (𝑡 ) = 𝑐𝑜𝑠 (𝑡 )

𝑣2 (𝑡 ) = 𝑐𝑜𝑠(𝑡 − 90°)

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1-19

A diferença de fase permanece 90º. Em 𝑡 = 0, 𝑣1 = 1 e 𝑣2 = 0. 𝑣1 (𝑡 )


está adiantada de 90º em relação a 𝑣2 (𝑡 ).

1.4.7. Valor Médio


O valor médio 𝐹̅ de uma função ou sinal representa o resultado líquido
(média) da variação de uma grandeza física. O cálculo do valor médio
da tensão, corrente e potência é igual à área sob a curva 𝑓(𝑡)
correspondente a um ciclo completo dividido pelo período.
1 𝑇
𝐹̅ = 𝑇 ∫0 𝑓(𝑡 )𝑑𝑡 (1.18)

Uma onda senoidal ou qualquer onda alternada simétrica apresenta


igual área no semiciclo positivo e no semiciclo negativo, sendo o valor
médio sempre nulo. No entanto, como medida prática de amplitude,
uma forma de onda pode ser caracterizada por seu valor absoluto
médio, calculado como a média aritmética dos valores absolutos da
forma de onda.

O valor absoluto médio de uma onda senoidal retificada é definido sobre


meio ciclo de uma senoide ao invés de um ciclo completo.

Figura 1.21: Onda senoidal retificada.

Para a tensão 𝑣(𝑡 ) = 𝑉𝑝 ⋅ sen(𝜔𝑡 ), a média do valor absoluto é dada por:

1 𝑇 ⁄2 𝑉𝑝 2𝜋 𝑇 ⁄2 2𝑉𝑝 2𝜋 𝑇 ⁄2
𝑉̅ = 𝑇⁄2 ∫0 𝑉𝑝 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 )𝑑𝑡 = − 𝑇 2𝜋 𝑐𝑜𝑠 ( 𝑇 ∙ 𝑡)| = − 2𝜋 𝑐𝑜𝑠 ( 𝑇 ∙ 𝑡)|
∙ 0 0
2 𝑇

2𝑉𝑝 2
=− (𝑐𝑜𝑠𝜋 − 1) = ( ) 𝑉𝑝 = 0,6366 ∙ 𝑉𝑝 (1.19)
2𝜋 𝜋

De modo semelhante tem-se para a corrente que:


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1-20

2
𝐼 ̅ = (𝜋) ∙ 𝐼𝑝 (1.20)

A média da onda senoidal retificada completa é 2/ ou 63,7% de seu


valor de pico. Em um sinal 𝑐𝑐, seu valor médio é o próprio valor do sinal
𝑐𝑐.

1.4.8. Valor Eficaz


O valor eficaz é uma medida da magnitude de um conjunto de valores.
Seja por exemplo o conjunto de valores {−2, 5, −8, 9, −4}.
Para calcular o valor eficaz do conjunto:
– cada número é elevado ao quadrado, tornando-o positivo;
– calcula-se a média da soma dos quadrados;
– calcula-se a raiz quadrada da média.

Para o exemplo dado, o valor eficaz é igual a:

(−2)2 + 52 + (−8)2 + 92 + (−4)2 190


𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑒𝑓𝑖𝑐𝑎𝑧 = √ =√ = 6,16
5 5

Observe que se os valores do conjunto fossem iguais, o valor médio


absoluto e o valor eficaz seriam iguais. Portanto, o valor eficaz
corresponde ao valor médio absoluto de um conjunto de números
constantes ou iguais. Assim, o valor de um sinal 𝑐𝑐 corresponde a seu
valor médio e valor eficaz.

A proposta do valor eficaz de uma senoide é ter um valor representativo


da senoide que corresponda ao valor de um sinal em corrente contínua.

Em um período de uma onda senoidal tem-se um conjunto de números


distintos. O valor eficaz de um sinal senoidal de tensão e corrente é
expresso como

1 𝑇
𝑉𝐸𝐹 = √𝑇 ∫0 𝑣 2 (𝑡 )𝑑𝑡 (1.21)

1 𝑇
𝐼𝐸𝐹 = √ ∫0 𝑖 2 (𝑡 )𝑑𝑡 (1.22)
𝑇

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1-21

Em um circuito elétrico 𝑐𝑐, como ilustrado na Figura 1.22, a potência


dissipada no resistor 𝑅 da lâmpada é calculada por:
2
𝑉𝑐𝑐 2
𝑃𝑐𝑐 = 𝑉𝑐𝑐 ∙ 𝐼𝑐𝑐 = = 𝑅 ∙ 𝐼𝑐𝑐 (1.23)
𝑅

Figura 1.22: Potência em circuito cc.

Quando o circuito é alimentado por uma onda senoidal cujo valores


instantâneos variam no tempo, que valor da onda de tensão e corrente
dissipará potência média igual ao circuito 𝑐𝑐?

Figura 1.23: Potência média em circuito 𝑐𝑎.

A potência média do circuito 𝑐𝑎 deve ser igual à potência do circuito 𝑐𝑐.

𝑃𝑐𝑎 = 𝑃𝑐𝑐 (1.24)

A potência média de uma onda senoidal de tensão e corrente é


calculada por:
1 𝑇
𝑃𝑐𝑎 = ∫0 𝑣(𝑡 ) ∙ 𝑖 (𝑡 )
𝑇
1 𝑇 1 𝑇
= ∫ 𝑉𝑝 𝑠𝑒𝑛 𝜔𝑡 ∙ 𝐼𝑝 𝑠𝑒𝑛 𝜔𝑡 = ∫ 𝑉𝑝 𝐼𝑝 𝑠𝑒𝑛2 (𝜔𝑡)
( ) ( )
𝑇 0 𝑇 0
𝑉𝑝 𝐼𝑝 𝑇
1
= ∫ [1 − 𝑐𝑜𝑠 (2𝜔𝑡)]𝑑𝑡
𝑇 0 2
𝑉𝑝 𝐼𝑝 1 2∙2𝜋 𝑇 𝑉𝑝 ∙𝐼𝑝
= [𝑡 |𝑇0 − (2∙2𝜋⁄𝑇 ) 𝑠𝑒𝑛 ( 𝑡)| ] = (1.25)
2𝑇 𝑇 0 2

Como a potência média do sinal 𝑐𝑎 é igual à potência do sinal 𝑐𝑐, tem-


se que:
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1-22

𝑉𝑝 ∙𝐼𝑝 𝑉𝑝 𝐼𝑝
𝑃𝑐𝑎 = = ∙ = 𝑃𝑐𝑐 = 𝑉𝑐𝑐 ∙ 𝐼𝑐𝑐 (1.26)
2 √ 2 √2

Tem-se que o valor eficaz do sinal 𝑐𝑎 de tensão e corrente senoidal


constante e igual a:
𝑉𝑝
𝑉𝐸𝐹 = ≡ 𝑉𝑐𝑐 (1.27)
√2

𝐼𝑝
𝐼𝐸𝐹 = ≡ 𝐼𝑐𝑐 (1.28)
√2

𝑉𝐸𝐹 e 𝐼𝐸𝐹 correspondem, respectivamente, aos valores de 𝑉𝑐𝑐 e 𝐼𝑐𝑐 do


circuito 𝑐𝑐 e apresentam a mesma capacidade de dissipação de
potência do circuito 𝑐𝑐.

A potência média em um circuito 𝑐𝑎 pode ser expressa como


2
2 𝑉𝐸𝐹
𝑃𝑐𝑎 = 𝑉𝐸𝐹 ∙ 𝐼𝐸𝐹 = 𝑅 ∙ 𝐼𝐸𝐹 = 𝑅
(1.29)

O exemplo da Figura 1.23 mostra que 10 volts eficaz e 5 ampères eficaz


são valores de tensão 𝑐𝑎 e corrente 𝑐𝑎 que produzem a mesma
potência média em um resistor 𝑅 que uma tensão de 10 V e corrente
de 5 A contínuos.

O valor eficaz de um sinal variante no tempo corresponde ao valor do


sinal 𝑐𝑎 capaz de dissipar em um resistor 𝑅 uma potência média
equivalente à potência dissipada por um sinal 𝑐𝑐 de valor igual ao eficaz
sobre o mesmo resistor.

A potência 𝑐𝑐 e o valor médio da potência instantânea 𝑐𝑎 podem


calculados em função da corrente:
2
𝑃𝑐𝑐 = 𝑅 ∙ 𝐼𝑐𝑐 (1.30)
1 𝑇
𝑃𝑐𝑎 = 𝑇 ∫0 𝑅 ∙ [𝑖(𝑡 )]2 ∙ 𝑑𝑡 (1.31)

𝐼𝑐𝑐 é o valor da corrente 𝑐𝑐, 𝑇 representa o período da onda senoidal de


corrente 𝑐𝑎, 𝑖 o valor instantâneo da corrente 𝑐𝑎.

Para 𝑃𝑐𝑎 = 𝑃𝑐𝑐 , tem-se que os valores correspondentes entre as


correntes 𝑐𝑐 e 𝑐𝑎, sob esta condição denominada de corrente eficaz 𝐼𝐸𝐹 .
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1-23

1 𝑇
∫ 𝑅 ∙ [𝑖(𝑡 )]2 ∙ 𝑑𝑡 = 𝑅 ∙ 𝐼𝑐𝑐
2
𝑇 0
𝑇
1
∫ [𝑖(𝑡 )]2 ∙ 𝑑𝑡 = 𝐼𝑐𝑐 2

0 𝑇
1 𝑇
𝐼𝑐𝑐 = √𝑇 ∫0 𝑖 2 𝑑𝑡 = 𝐼𝐸𝐹 𝑐. 𝑞. 𝑑. (1.32)

Note que o valor eficaz de uma onda senoidal independe do resistor.

Para uma corrente senoidal definida como:

𝑖 (𝑡 ) = 𝐼𝑝 ⋅ sen(𝜔𝑡 + 𝜑𝑖 ) (1.33)

tem-se que o valor eficaz é calculado como:

1 𝑇
𝐼𝐸𝐹 = √𝑇 ∫0 𝐼𝑝2 𝑠𝑒𝑛2 (𝜔𝑡 + 𝜑𝑖 )𝑑𝑡
𝐼𝑝2 𝑇
= √2𝑇 ∫0 [1 − 𝑐𝑜𝑠(2(𝜔𝑡 + 𝜑𝑖 ))]𝑑𝑡
𝑇
𝐼2
𝑝 𝑇 2𝜋
= √2𝑇 [𝑡 |𝑇0 − 4𝜋 𝑠𝑒𝑛 (2 ( 𝑇 𝑡 + 𝜑𝑖 ))| ] (1.34)
0

Assim
𝐼𝑝
𝐼𝐸𝐹 = = 0,707𝐼𝑝 𝑐. 𝑞. 𝑑. (1.35)
√2
ou
𝐼𝑝 = 1,414𝐼𝐸𝐹 (1.36)

De modo análogo é definido o valor eficaz de tensão. A potência média


e 𝑐𝑐 são dadas em (1.38) e (1.39).
1 𝑇1
𝑃𝑐𝑎 = 𝑇 ∫0 ∙ [𝑣(𝑡 )]2 ∙ 𝑑𝑡 (1.37)
𝑅

2
𝑉𝑐𝑐
𝑃𝑐𝑐 = (1.38)
𝑅

Finalmente, para 𝑃𝑐𝑎 = 𝑃𝑐𝑐 , tem-se:

1 𝑇
𝑉𝐸𝐹 = √𝑇 ∫0 𝑣 2 𝑑𝑡 𝑐. 𝑞. 𝑑. (1.39)
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1-24

Para uma tensão senoidal definida como:

𝑣(𝑡 ) = 𝑉𝑝 ∙ 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 ± 𝜑𝑣 ) (1.40)

O valor eficaz da tensão senoidal é dado por:


𝑉𝑝
𝑉𝐸𝐹 = = 0,707𝑉𝑝 (1.41)
√2

ou
𝑉𝑝 = 1,414𝑉𝐸𝐹 (1.42)

O valor eficaz ou valor efetivo de uma onda senoidal é também


denominado de valor 𝑟𝑚𝑠, termo derivado do inglês com o significado
da expressão matemática que o define – 𝑟𝑜𝑜𝑡 𝑚𝑒𝑎𝑛 𝑠𝑞𝑢𝑎𝑟𝑒.

Note que o valor eficaz de uma onda senoidal independe do tempo,


sendo assim um valor constante e positivo.

Exemplo 1.2

Determine os valores médio e eficaz de uma função periódica com


período 𝑇 = 3𝑇1 , definida como:

𝑉0 𝑝𝑎𝑟𝑎 0 < 𝑡 < 𝑇1


𝑣(𝑡 ) = { (1.43)
−𝑉0 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑇1 < 𝑡 < 3𝑇1

V0

T1 T3
-V0

a) Valor médio

1 𝑇 1 𝑇 3𝑇
𝑉̅ = 𝑇 ∫0 𝑣(𝑡 )𝑑𝑡 = 3𝑇 (𝑉0 ∫0 1 𝑑𝑡 − 𝑉0 ∫𝑇 1 𝑑𝑡 )
1 1
𝑉0 𝑉0
= 3𝑇 [𝑇1 − (3𝑇1 − 𝑇1 )] = − (1.44)
1 3

b) Valor eficaz

1 𝑇 𝑉2 𝑇 3𝑇1
𝑉𝐸𝐹 = √𝑇 ∫0 𝑣 2 (𝑡 )𝑑𝑡 = √3𝑇0 (∫0 1 𝑑𝑡 + ∫𝑇 𝑑𝑡 )
1 1

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1-25

𝑉2
= √3𝑇0 3𝑇1 = 𝑉0 (1.45)
1

Enquanto o valor médio da função em (1.43) é negativo, seu valor eficaz


é positivo e igual 𝑉0 .

1.4.9. Fator de Forma


É definido como a relação entre o valor eficaz e o valor médio de uma
onda de tensão ou corrente qualquer.
𝐹𝐸𝐹
𝐹𝐹 = (1.46)
𝐹̅

Em uma senoide, o valor eficaz e o valor médio podem ser expressos


em função do valor de pico ou amplitude da onda. Assim, 𝐹𝐹 torna-se
independente da amplitude do sinal.
𝐹𝑝
𝐹𝐸𝐹 √2 𝜋
𝐹𝐹 = = 2 =2 = 1,1107 (1.47)
𝐹̅ 𝐹 √2
𝜋 𝑝

Qualquer outra forma de onda não senoidal terá 𝐹𝐹 diferente de 1,11.

Muitos dos medidores analógicos eletromecânicos e digitais


respondem proporcionalmente ao valor absoluto médio de uma tensão
ou corrente alternada. O valor eficaz de uma onda senoidal é
usualmente medido multiplicando a constante 1,11 ao valor absoluto
médio (𝐹𝐸𝐹 = 1,11𝐹̅ ). Isso significa que a precisão do valor 𝑟𝑚𝑠 medido
depende da pureza da forma de onda.

Tabela 1: Ondas não senoidais


𝑉𝑟𝑚𝑠 = 0,258
𝑉̅ = 0,1
𝐹𝐹 = 2,582
𝐹𝐶 = 3,873
𝑉𝑟𝑚𝑠 = 0,894
𝑉̅ = 0,8
𝐹𝐹 = 1,118
𝐹𝐶 = 1,118

Para as formas de onda apresentadas na Tabela 1, a medição usando


medidores baseados em 𝐹𝐸𝐹 = 1,11𝐹̅ levaria a valores eficazes com
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1-26

erro. O medidor digital ‘𝑟𝑚𝑠 𝑣𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒𝑖𝑟𝑜’ indica o valor como calculado


pela expressão (1.21) e (1.22), sem uso de constantes.

1.4.10. Fator de Crista


O valor crista de uma onda de tensão ou corrente periódica é definido
como a relação entre o valor de pico e o valor eficaz.

Figura 1.24: Onda alternada.

𝐹𝑝
𝐹𝐶 = 𝐹 (1.48)
𝐸𝐹

𝐹𝐶 expressa a capacidade de um instrumento de medição em medir o


quão maior pode ser a amplitude do sinal de entrada em relação a seu
valor 𝑟𝑚𝑠. Se 𝐹𝐶 = 3, significa que é possível medir um sinal de entrada
cujo valor de pico é 3 vezes maior que seu valor rms.

O valor de crista é usado normalmente como medida de estresse que


um dielétrico é capaz de suportar. Quando o valor de pico de um sinal
ultrapassa ao 𝐹𝐶 do instrumento de medição, a onda terá seu pico
grampeado.

Para uma onda senoidal de tensão ou corrente, o fator de crista é igual


a:
𝐹𝑝
𝐹𝐶 = 𝐹 ⁄ 2 = √2 (1.49)
𝑝 √

Em circuitos com interruptores eletrônicos, em que a condução de


corrente ocorre apenas durante parte do ciclo completo, o valor de
crista não mais obedece à relação √2.

𝐹𝐶 também indica o grau de distorção da forma de onda. Para uma


senoide perfeita, o fator de crista será √2 =1,414, e quanto mais
distorcida, maior será o fator de crista devido à relação entre o valor de
pico e o valor eficaz. Veja os valores do fator de crista 𝐹𝐶 das ondas na
Tabela 1.

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1-27

1.7 Representação de Ondas nos Domínios do Tempo e Frequência


Existem situações em que se torna mais conveniente analisar um sinal
no domínio da frequência ao invés de no domínio do tempo.

A teoria de Fourier faz o mapeamento entre sinais no domínio do tempo


e no domínio da frequência. Para existir um mapeamento entre
fenômenos analisados nos domínios do tempo e da frequência, o
comportamento da grandeza no domínio do tempo deve ser periódico,
ou seja, repetir-se em intervalos iguais a 𝑇 que é o período que contém
um ciclo do sinal de frequência 𝑓. Portanto, a regra básica de
mapeamento entre os dois domínios é ditada por 𝑓 = 1⁄𝑇.

No domínio do tempo é preciso definir explicitamente a função e os


parâmetros que a caracterizam. Numa onda senoidal, por exemplo,
tem-se três parâmetros característicos: amplitude (𝐴), frequência (𝑓) e
ângulo de fase ().

𝑦(𝑡 ) = 𝐴 ∙ 𝑠𝑒𝑛[(2𝜋𝑓)𝑡 − 𝜑] (1.50)

𝑦(𝑡 ) → [𝐴, 𝑓, 𝜑] (1.51)

Figura 1.25: Representação de uma senoide no domínio do tempo.

Fonte: S.M. Deckmann e J.A.PomIlio. Avaliação da Qualidade da Energia Elétrica. Notas de aulas.
http://www.dsce.fee.unicamp.br/~antenor/pdffiles/qualidade/b3.pdf

No domínio da frequência esse mesmo sinal, para cada frequência


contida no sinal é necessário conhecer os parâmetros [𝐴, 𝜑]. Em uma
onda puramente senoidal, a frequência é única e, portanto, a
caracterização do sinal necessita apenas dos parâmetros amplitude e
ângulo de fase.

𝑌(𝑓) → [𝐴, 𝜑] (1.51)

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1-28

Figura 1.26: Representação de uma senoide no domínio da frequência.

Fonte: S.M. Deckmann e J.A.PomIlio. Avaliação da Qualidade da Energia Elétrica.


Notas de aulas. http://www.dsce.fee.unicamp.br/~antenor/pdffiles/qualidade/b3.pdf

As ondas senoidais (ou cossenoidais) podem ser representadas por


fasores (vetor orientado) que se assemelham à representação do sinal
no domínio da frequência.

Um fasor é uma grandeza usada para representar uma senoide (ou


cossenoide) cuja amplitude (𝐴), frequência angular (𝜔) e ângulo de
fase (𝜑) são invariantes no tempo.

Se o sinal tem múltiplas frequência, cada uma das frequências


corresponde a uma senoide de amplitude e ângulo de fase constantes,
portanto, há um fasor para cada componente de frequência.

Referências

[1] Floyd, T.L. Principles of Electric Circuits, 6th Ed. Prentice Hall,
2000. ISBN 0-13-095997-9.927p.

[2] Nilsson, James W., Reidel, Susan A., Circuitos Elétricos, LTC, 6a
Edição, 2003.

[3] Kerchner, R.M., Corcoran,G.F., Circuitos de Corrente Alternada,


Porto Alegre, Globo, 1973.

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