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ESTADO DA ARTE

PROJETO DE PESQUISA DO CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM GESTÃO


OPERACIONAL

Aluno PRF JULINO ANDRE CORREIA DA SILVA

1. Introdução
Neste estudo serão apresentadas as pesquisas e análises realizadas nos
repositórios disponíveis na web (google academics, scielo e artigos apresentados na
plataforma do curso de gestão policial do IFES). Com a finalidade de apresentar o
estado da arte com base no tema inicialmente definido pelo discente: “Modelos de
gestão policial e sua relação com o modelo de gestão da Polícia Rodoviária Federal
(PRF) no contexto das atividades operacionais”.

Durante a pesquisa, entendeu-se que o campo de pesquisa deveria ser


aprofundado em relação a dois temas específicos antes de realizar uma pesquisa
mais aprofundada e específica em relação ao tema inicial.

Estes temas são:


a. Os conceitos relativos a modelos, sistemas, gestão, estratégia e técnicas de
policiamento, que em muitos casos se intercruzam, se complementam ou são
sinônimos, quem em síntese chamaremos neste trabalho de modelos de
gestão;
b. Os modelos de gestão policial existentes e suas classificações.

Visto que deve-se mergulhar nestes problemas de pesquisa para ter uma
compreensão mais ampla dos modelos de gestão policial e sua relação com o
modelo de gestão da PRF.

2. Estudo dos Conceitos relativos aos Modelos de


Gestão Policial

Segundo Bressan (2019):


“O termo gestão pode ser definido como um conjunto de tarefas que
procuram garantir a utilização eficaz de todos os recursos
disponibilizados pela organização, a fim de serem atingidos os
objetivos pré-determinados. Cabe à gestão a otimização do
funcionamento das organizações através da tomada de decisões
racionais e fundamentadas na recolha e tratamento de dados e
informações relevantes”.

Ainda, Bressan (2019) aponta que a gestão pública pode ser vista como a utilização
das práticas de gestão voltadas à administração e emprego dos recursos
disponíveis no planejamento, execução e avaliação das funcionalidades dos
serviços públicos.

Um modelo de policiamento pode ser definido como “uma estratégia concebida que
visa alcançar os objetivos, obedecendo às ideias dos decisores. No caso de um
Modelo de Policiamento, a estratégia deverá ser corretamente adaptada à realidade
interna do Estado moderno” (COSTA, 2011, p. 21 apud PIRES PEREIRA, 2020)

Costa (2011) diferencia modelos de policiamento de técnicas policiais,


conceituando-as como “o conjunto de meios praticados com vista ao cumprimento
dos objectivos propostos”.

Importante destacar, considerando os vários termos relacionados a forma como as


organizações policiais são gerenciadas e organizadas, que ELIAS (2012) apresenta
como sinônimos os termos modelos e sistemas.

Noutra linha, mas não completamente divergente, Ferreira (2011) trata os modelos
como parte de um sistema de polícia, de forma que os modelos integram um
sistema de polícia complexo.

Pereira (2020) apresenta a diferença entre Sistemas e Modelos, tratando o conceito


de Sistemas de Policiamento como a forma que a polícia se estrutura e organiza e
explica o Modelo de Policiamento como uma estratégia a ser adotada pela polícia
para o alcance de seus objetivos.

Martins (2011) também diferenciou modelos de policiamento de técnicas de


policiamento, em que os modelos se referem a forma de policiar e as técnicas como
um meio que possibilita alcançar um fim, onde aborda os modelos de policiamento
tradicional, comunitário e de proximidade, e considera técnicas de policiamento, o
policiamento orientado para o problema (POP) e o policiamento orientado pelas
informações (POI).

Ferreira (2011) afirma também que muitos autores não consideram POP e POI
como modelos de policiamento, mas definem como técnicas. Justificando o
posicionamento por estes últimos modelos poderem ser utilizados de forma
simultânea e complementar.

Diante do conceito de sistemas adotado por Pereira (2020), e sua argumentação


para diferenciar de modelos de policiamento, Góis (2011) denominou modelos de
organização policial como sinônimo de sistemas de policiamento.

3. Os modelos de gestão policial existentes e suas


classificações
Uma forma de classificar os modelos de gestão policial pode ser pelos tipos de
estratégia que a Polícia pode adotar. Oliveira (2013), apresentou 4 grupos de
estratégia adotados pelas Polícias ao longo do tempo, quais são:

1. Combate profissional do crime ou Policiamento Tradicional;


2. Policiamento estratégico;
3. Policiamento orientado para o problema;
4. Policiamento comunitário.

Enquanto os modelos de policiamento tradicional e estratégico focam no combate


ao crime de forma reativa, os modelos de policiamento orientado para o problema e
comunitário primam pelas ações preventivas, através do estudo das causas dos
crimes.

Costa (2011) apresenta como modelo de policiamento: o modelo de Policiamento


Tradicional, o Modelo de Policiamento Comunitário e o Modelo de Policiamento de
Proximidade. Elenca duas técnicas policiais utilizadas no âmbito do Policiamento
Comunitário: o Policiamento Orientado pelo Problema (POP) e o Policiamento
Orientado pelas Informações (POI).

Fernandes (2014) faz menção a existência de vários modelos, designadamente o


Policiamento Tradicional, Policiamento Comunitário, Policiamento Orientado para os
Problemas (POP) e Policiamento Orientado pela Inteligência ou Policiamento
Orientado pelas Informações (POI).

Ferreira (2011) apresenta em sua concepção os modelos de policiamento mais


abordados, quais são: o modelo de Policiamento Professional-burocrático (PPB), o
modelo de Policiamento Comunitário (PC) ou de Proximidade, o modelo de
Policiamento Orientado pelo Problema (POP), o modelo de Policiamento Orientado
pelas Informações (POI) e o modelo de Predictive Policing (PP).
Já Elias (2012) faz um levantamento histórico dos Modelos de Polícia, elencando
várias classificações, como:
1) De Monjardet (1993, in Oliveira 2001), um modelo minimalista, um modelo
arbitral, um modelo comunitário e um modelo autoritário;
2) De Hunter (1990) em função do grau de centralização: um modelo de polícia
fragmentada, um modelo de polícia centralizada e um modelo de polícia
integrado;
3) De António (2003): centralizado, descentralizado e misto ou híbrido;
4) De Jean-Claude Monet (2006: 79 e ss.): os monistas e os pluralistas;
5) De Tupman (1999): o napoleónico, o nacional e o descentralizado;

Já em relação aos modelos de policiamento, Elias (2012) apresenta um


levantamento dos modelos surgidos entre o século XX e início do século XXI, os
quais são:

1) o modelo napoleónico ou modelo autoritário, ou profissional;


2) o policiamento em equipe;
3) o policiamento orientado para o problema ou de resolução de problemas -
problem solving (na vertente do modelo CAPRA ou do modelo SARA);
4) prevenção criminal através de design ambiental;
5) de análise criminal (sistema COMPSAT);
6) policiamento de hot spots;
7) modelo de tolerância zero;
8) broken windows;
9) policiamento comunitário;
10) policiamento de proximidade;
11) e Policiamento orientado pelas informações (POI).

Nunes (2022) classifica os modelos em dois tipos gerais, os reativos e os proativos,


semelhante à abordagem de Brandalize (2006), que estudou o modelo Tradicional
(reativo) e o modelo Comunitário (proativo).

Pereira (2020, apud Gomes, Dias, Leitão, Mendes e Oliveira, 2001), apresenta três
grandes sistemas de policiamento, quais sejam: o sistema napoleónico ou dualista,
o sistema nacional ou unitário e o sistema descentralizado.

Dentre estes modelos seguem abaixo algumas descrições sobre os principais


modelos pesquisados.

O primeiro a ser apresentado é um modelo de policiamento baseado em


informações, o modelo de gestão policial Compstat (acrônimo de estatísticas
computadorizadas, em inglês), o qual realiza um mapeamento das incidências
criminais, onde são comparadas as estatísticas criminais que poderão ser utilizadas
pelos gestores policiais a fim de auxiliarem na busca pela redução dos delitos
(FILHO, 2019).

O CompStat mapeia e impede os pequenos crimes para evitar os crimes maiores,


identificando pontos de maior probabilidade de ocorrências criminais, tendo como
meta a prevenção do crime (MCHUGH, 2016).

Temos o modelo de policiamento orientado pela inteligência, o qual baseia-se na


aplicação da análise criminal de modo a que se possa reduzir os índices criminais,
através de técnicas policiais efetivas, e também no compartilhamento de
informações entre os órgãos policiais. Esse modelo utiliza técnicas de análise como
forma de direcionar o policiamento, bem como busca prevenir e reduzir o crime e
identificar os autores (FILHO, 2019 apud RATCLIFFE, 2011).

Considerando que a base de qualquer sistema de gerenciamento considera uma


base de dados e sistema de geração de informações como elemento fundamental
para facilitar os gestores na tomada de decisão, a análise criminal surge como
alternativa pois ela é uma ferramenta que pretende orientar as agências policiais
para o alcance de seus objetivos (Da ROCHA, 2019).

Temos também o amplamente conhecido modelo de gestão de Polícia Comunitária,


que visa resgatar a legitimidade do Estado dentro das comunidades mais violentas,
com a presença policial, fato que gerou na população uma maior confiabilidade na
polícia e maior sensação de segurança se comparados os dados antes e depois da
aplicação dos modelos de gestão (FILHO, 2019).

Dentro das possibilidades de ferramentas utilizadas pela gestão temos o instituto


para melhoria das práticas policiais, o Policiamento Baseado em Evidências, que
tem como objetivo o uso da melhor pesquisa disponível sobre os resultados do
trabalho da polícia para implementar diretrizes e avaliar agências, unidades e
funcionários (SHERAN, 2019).

O Policiamento baseado em Evidências pode ser a base para a tomada de decisões


gerenciais de forças policiais, porém, não integra um modelo de gestão completo,
pois é composto de processos de pesquisa e estudos que não produzem
informações ou resultados imediatos, dependendo de tempo e recursos humanos
capacitados para elaborarem soluções ou propostas de melhoria para as
organizações.

Bressan (2019) discorre sobre o modelo de gestão policial denominado


Policiamento para a resolução de problemas, também conhecido como Policiamento
orientado para o problema (POP), que se trata de uma estratégia, cujo objetivo
principal é melhorar o policiamento profissional, adicionando reflexão e prevenção
criminal.
Deste modelo surgiu o método IARA, que significa identificar, analisar, responder e
avaliar.[4] Identifica-se o problema, analisa-se o ambiente criminal e seus atores,
implementa-se resposta adequada à eliminação ou diminuição do problema, e, por
fim, são avaliados os resultados, com base em estatísticas criminais e outros modos
de aferição (Bressan, 2019).

O mesmo autor cita o modelo de policiamento preditivo, termo que vem da tradução
da expressão em inglês predictive policing, e se refere a ações policiais preventivas
com base na capacidade de prever possíveis crimes, locais de ocorrência e,
algumas vezes, até seus autores.

Por fim, para Bressan (2019) o policiamento preditivo funciona através da análise de
dados, informações e estatísticas, de modo a projetar a ação criminosa em um
determinado local, permitindo, muitas vezes, que o crime seja antecipado e até
evitado. Tratando-se de importante método de prevenção ao crime.

Portanto, Bressan (2019) conclui que não há um só modelo de gestão policial que
pode ser aplicado à Polícia. E que para uma gestão eficiente e eficaz, a Polícia deve
lançar mão de um conjunto de modelos de policiamento de forma complementar em
função de suas características.

Conforme a International Association of Crime Analysts (IACA), a Análise Criminal


como modelo de gestão pode ser dividida em 4 tipos, a de inteligência, a tática, a
estratégica e a administrativa. De forma que estas atividades englobam todas as
atividades policiais desde a operacional até a de suporte (Wyckoff, 2014).

4. Conclusões e Sugestões
Diante da vasta gama de classificações e conceitos de modelos de gestão policial
implantadas ao longo do tempo, influenciadas pelas culturas dos países em que
foram implantadas e modelos preexistentes, concluímos que ainda
Há um vasto caminho a percorrer com fito em ampliar o entendimento dos conceitos
e modelos para poder relacionar como o modelo de Gestão da PRF, e poder
relacioná-las.
Como sugestão para continuidade dos trabalhos de pesquisa, pretende-se realizar
um levantamento em forma de tabela dos modelos de gestão, com as principais
características, e em seguida, realizar um estudo da Gestão PRF e suas
características, para poder comparar os modelos estudados na literatura.
Referências Bibliográfica

1. ANTÓNIO, Manuel Fernandes, Necessidade e Efeitos da Proximidade


Policial, trabalho final de licenciatura em Ciências Policiais (polic.), (Lisboa:
ISCPSI, 2003.
2. BRANDALIZE, Ivo Patrich. Policiamento tradicional e Policiamento
Comunitário, Características Conceituais e Operacionais. 2006.
3. Bressan, Adilson José. Modelos de Gestão Policial para a Polícia Judiciária.
2019. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/70701/modelos-de-gestao-policial-para-a-policia-judi
ciaria. Acesso em 28 dez. 2022.
4. COSTA, Daniel Filipe Nunes da. Policing diversity: a actuação policial
proactiva perante a diversidade de grupos minoritários. 2011. Tese de
Doutorado.
5. Da ROCHA, Alexandre Pereira; do Distrito Federal, Polícia Civil. Análises
criminal e de inteligência: definições teóricas e desafios práticos para as
polícias do Brasil. 2019.
6. ELIAS, Luís Manuel André. Segurança na Contemporaneidade -
Internacionalização e Comunitarização. 2012.
7. Fernandes, L. F. Intelligence e Segurança Interna. Lisboa, Edição: Instituto
Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna. 2014.
8. FERREIRA, Nuno Gomes. Predictive Policing: Uma técnica complementar ao
serviço do PIPP - Estudo Exploratório. 2011. 66 f. Dissertação (Mestrado em
Ciências Policiais) - Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança
Interna, Lisboa, 2011.
9. FILHO, Antonio Onofre Oliveira da Silva.Gestão policial, aplicabilidade e
adequação à Polícia Judiciária. Coluna do CT. 2019. Disponível em:
https://clebertoledo.com.br/tocantins/antonio-onofre-gestao-policial-aplicabilid
ade-e-adequacao-policia-judiciaria/. Acesso em 05 jan. 2023.
10. HUNTER, Ronald D., Three Models of Policing, in 13 Police Studies, The
International Review of Police Development, n.º 118, 1990.
11. MARTINS, Fábio Miguel Dionísio. Os Contratos Locais de Segurança: A
melhor solução para o modelo de policiamento português? Estudo
exploratório na Freguesia da Apelação. 2011.
12. MCHUGH, Rich; Stulberger, Evan; Dienst, Jonathan. An Inside Look at the
System That Cut Crime in New York By 75 Percent. NBCNews. 2016.
Disponível em:
https://www.nbcnews.com/news/us-news/inside-look-system-cut-crime-new-y
ork-75-percent-n557031. Acesso em 10 fev. 2023.
13. MONET, Jean-Claude, Polícias e sociedades na Europa, Série «Polícia e
Sociedade», nº 3, Editora da Universidade de São Paulo, 2006: 79 e ss.
14. NUNES, Marlus Machado. Modelos de policiamento: reativo x proativo -
definições e características. 2022.
15. OLIVEIRA, Alexandre Magno de. Os indicadores de qualidade para avaliação
do policiamento comunitário na Polícia Militar de Minas Gerais. Monografia
(especialização) – Academia de Polícia Militar, Polícia Militar de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2008;
16. OLIVEIRA, José Ferreira de, As Políticas de Segurança e os Modelos de
Policiamento. A Emergência do Policiamento de Proximidade (Coimbra:
Edições Almedina, 2006.
17. PEREIRA, Ana Rosa Pires. Do modelo de policiamento tradicional ao modelo
intelligence-led policing: estudo comparativo. 2020.
18. PIRES PEREIRA, ANA ROSA. Do Modelo de Policiamento Tradicional ao
Modelo Intelligence-Led Policing: Estudo Comparativo. 2020. Tese de
Doutorado.
19. RATCLIFFE, Jerry H. INTELLINGENCE LED-POLICING. Routdlege. New
York, 2011.
20. SHERMAN, Lawrence W. Policiamento baseado em evidências. Tradução
Instituto Cidade Segura. [Porto Alegre]: Instituto Cidade Segura, 2019.
dIsponível em:
https://institutocidadesegura.com.br/wp-content/uploads/2019/09/02-ISP-Polic
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21. TUPMAN, Bill & TUPMAN, Alison, Policing in Europe – Uniform in Diversity
(Exeter: Intellect, 1999.
22. WYCKOFF, Laura. Definition and Types of Crime Analysis - Standards,
Methods, & Technology (SMT) Committee White Paper 2014-02 October
2014. Disponível em:
https://silo.tips/download/definition-and-types-of-crime-analysis. Acesso em
27/dez/2022.

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