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MICROPALEONTOLOGIA E ESTRATIGRAFIA DE SEQUENCIAS

Uma particularidade da estratigrafia de seqüências é que as superfícies de discordância e/ou


conformidades relativas correspondem a verdadeiras superfícies cronoestratigráficas
(superfícies síncronas) umas vez que foram delineadas quase que instantaneamente. Logo
seqüências deposicionais, alem de serem classificadas como seqüências aloestratigráficas,
podem ser também ser consideradas como unidades cronoestratigráficas.

A amplitude cronoestratigráfica total de uma seqüência, contudo, pode ser estimada apenas
nos locais onde as concordâncias relativas são observadas, pois a deposição tende a ser mais
contínua e não há hiatos causados por erosão. É claro que a base e o topo temporal de uma
seqüência podem se encontrar em locais distintos da bacia.

A Paleontologia também se preocupa em responder questões geológicas que se relacionam ao


tempo e ambiente de deposição dos sedimentos.

Protozoários, metazoários e algas – unicelulares, habitantes de ambientes aquosos.


Pólens e esporos – células reprodutoras dos vegetais superiores.
Incertae sedis – microfósseis de origem incerta.

Em face da abundância e da ampla ocorrência nas áreas sedimentares, principalmente nos


locais onde se encontram rochas de granulometria fina, os microfósseis podem auxiliar
bastante nas correlações de longa distancia, a melhor caracterização dos ambientes
deposicionais e as datações relativas.

BIOESTRATIGRAFIA

Na Bioestratigrafia os critérios de classificação dos estratos são paleotológicos uma vez que a
variação do conteúdo fossilífero deve refletir a evolução das espécies. As subdivisões
fundamentais são as biozonas (ou zonas) que podem ser subdivididas em subzonas ou
agrupadas em superzonas. São designados de acordo com um ou dois fósseis característicos.

Os limites da biozona podem ser definidos por distintos critérios paleontológicos, geralmente
pelo aparecimento de alguns ou desaparecimento de outros e também por vários tipos de
associação entre taxa.

Zona de Amplitude: entre aparecimento e desaparecimento de uma espécie A.


Zonas de Associação ou Cenozona: Em que se associam a ocorrência de várias espécies.
Zona de Apogeu ou Epíbole: Abundância de uma determinada espécie.
Zona de Intervalo: Aparecimento de A e desaparecimento de B ou vice e versa.
Zona de Ampitude Diferencial Superior: Desaparecimento de A e desaparecimento de B.
(Ver figuras na pagina 54 do livro Paleontologia ou melhor, página 160 do Estratigrafia de
Seqüências)
A uma sucessão de zonas definidas em um ou mais pacotes rochosos dá-se o nome de
zoneamento ou biozoneamento.

Buscam-se utilizar principalmente microfósseis que apresentem grande distribuição geográfica


e que sejam cosmopolitas (distribuição global). Os fósseis usados na definição de uma biozona
devem ser contemporâneos a deposição dos estratos que o contêm.

Acme: Abundância de um determinado taxon.

Zonas de abundância podem estar relacionadas a zonas de ressurgência e podem ser


estabelecidas mais de uma vez.

Surgimento e extinção de entidades taxonômicas podem ser considerados eventos únicos na


história da Terra. Por isso são empregados na datação relativa de depósitos sedimentares.

BIOCRONOESTRATIGRAFIA

Uma unidade cronoestratigráfica é um conjunto de estratos formados durante um


determinado intervalo de tempo geológico. Deste modo, de acordo com a definição, os limites
de tais unidades devem ser considerados superfícies síncronas. Há unidades
cronoestratigráficas de várias hierarquias, sendo a Cronozona aquela que ocupa a base do
ranking hierárquico. Acima da cronozona tem-se, respectivamente, o Andar, o Sistema, o
Eratema, e o eonotema.

Na ausência de registros fossilíferos de ampla abrangência, podem se buscar outros de menor


extensão geográfica para definir unidades cronoestratigráficas. É o caso dos andares
brasileiros da Série Recôncavo (Dom João, Rio da Serra, Aratu, Buracica e Jiquiá), cujos limites
encontram-se apoiados em bioventos de ostracodes não-marinhos.

Para situações como a acima citadas a palinologia passa a ter uma importância capital, já que
os polens e esporos ocorrem nos dois ambientes podendo assim correlacionar os andares
locais com os internacionais.

O surgimento e extinção de unidades taxonômicas caracterizam limites de muitas unidades


cronoestratigráficas fanerozóicas. Todavia há uma diferença sutil e fundamental entre
biozonas e cronozonas: a primeira só pode ser reconhecida nos pacotes que contenham os
seus fósseis característicos enquanto a segunda, possui uma abrangência maior e seus limites
podem ser estendidos para fora da área de sua definição, tanto quanto os critérios de
cronocorrelação permitem.

BIOCRONOLOGIA

Arcabouços bioestratigráficos, por si só, permitem a obtenção de datações relativas. A


Biocronologia consiste em inferir valores absolutos para os eventos biológicos.
PRINCIPAIS GRUPOS DE MICROFÓSSEIS

Em ambientes aquáticos os microorganismos vivem de acordo com o seu hábito, que pode ser
principalmente planctônico ou bentônico. O hábito nectônico, que é caracterizado por
movimentos próprios e menos dependentes da ação das correntes, é geralmente observado
em organismos maiores.

Os organismos planctônicos são aqueles que flutuam passivamente na massa d’água. Sendo
desprovidos de movimentos vigorosos próprios, capazes de impor uma direção, esses
organismos encontram-se dispersos nos corpos aquosos graças a ação de correntes. Em
função disso, muitas espécies planctônicas marinhas possuem dispersão tão acentuada que
são encontradas em várias regiões do planeta. Não há um controle latitudinal e as mesmas são
registradas tanto em mares polares/subpolares quanto em mares tropicais/equatoriais. Por
isso são denominados cosmopolitas. Encontram-se em geral na parte superior dos corpos
aquosos até onde a luz solar consegue penetrar. Essa camada, que tem espessura variável, não
ultrapassando geralmente os 200 m, é reconhecida como zona fótica.

Os organismos de hábito bentônicos são aqueles que vivem juntos ao substrato, na interface
água-sedimento, ou ligeiramente enterrados nas camadas mais superficiais do substrato. Por
serem praticamente fixos, com movimentos próprios inexpressivos, a sua presença é ditada
pelos condicionantes ecológicos do meio ambiente. Por isso, vários organismos bentônicos
possuem forte caráter endêmico, ou seja, caracterizam-se por habitar em determinada região
ou ambiente.

Com isso pode-se observar que as espécies presentes caracterizam as condições


ambientais/ecológicas onde a sedimentação se processou.

Princípio da Sucessão Biológica: A vida evoluiu unidirecionalmente ao longo do tempo


geológico. As datações relativas a partir dos fósseis baseiam-se neste princípio.

Os microfósseis bentônicos devido ao seu caráter endêmico tem mais utilidade em


interpretações paleoecológicas/paleoambientais e em correlações locais/regionais. Os
microfósseis planctônicos devido ao seu caráter cosmopolita são utéis nas datações e
correlações a longa distância.

É importante ressaltar que para que a análise fossilífera de estratos e uso para datações
relativas é necessário que:
1) As espécies observadas sejam contemporâneas a deposição dos sedimentos;
2) Sejam conhecidas as preferências ecológicas das espécies registradas.

A interpretação do significado geológico da associação microfossilífera terá maior segurança


quanto melhor for a preservação da mesma.

Lisoclima do carbonato de cálcio refere-se à profundidade a qual as águas marinhas tornam-se


mais frias e mais pobres em carbonatos de cálcio. Microfósseis carbonáticos abaixo dessas
profundidades poderão ser parcial ou totalmente dissolvidos. Mais abaixo, em geral a grandes
profundidades , está a CCCD (Calcium Carbonate Compesation Depth), superfície da qual
abaixo as águas são totalmente deficientes nesse constituinte químico. Abaixo da CCCD
nenhum componente carbonático é preservado. Da mesma forma, carapaças ou esqueletos de
composição silicosa serão dissolvidos em águas subsaturadas em sílica.

MICROFÓSSEIS CARBONÁTICOS

Geralmente a calcita é o constituinte mineral mais comum. O estado de preservação das


associações desses fósseis pode propiciar uma idéia sobre a profundidade relativa em que a
sedimentação se processou. Rochas carbonáticas é claro só se formam acima do lisoclina.

Foraminíferos: há espécies de hábito bentônico e espécies de hábito planctônico. Sua


carapaça é secretada pelo próprio organismo. Os de hábito planctônico por terem ampla
distribuição geográfica, são empregados em datações e correlações biocronoestratigráficas de
depósitos sedimentares. Já os bentônicos, por necessitarem de nichos ecológicos bem
definidos, têm ampla aplicação em interpretação de paleoambientes.

Ostracodes: têm ampla aplicação nos estudos de depósitos sedimentares lacustres,


transicionais e marinhos proximais. Em face de seu hábito, predominantemente bentônicos,
propiciam principalmente correlações geológicas locais/regionais. Do ponto de vista
paleoecológico, os ostracodes propiciam algumas evidências do ambiente deposicional, uma
vez que a construção de suas carapaças são sensíveis a salinidade, disponibilidade de
nutrientes, natureza do substrato e temperatura.

Nas bacias brasileiras, os ostracodes são principalmente empregados nas investigações


bioestratigráficas dos depósitos face a evolução tectônica pré-rifte e rifte. Tais depósitos
formados em condições lacustres são relacionados aos estágios iniciais da separação Brasil-
África.

Nanofósseis calcários: registro exclusivamente marinho, dividido em duas grandes categorias:


os cocólitos e as formas associadas. Os cocólitos são geralmente discoidais eprovem da
desagregação do envoltório carbonático de certas algas unicelulares planctônicas
predominantemente marinhas, conhecidas como cocolitoforídeos. De modo geral as
associações mais ricas e diversificadas encontram-se no cinturão tropical, nas regiões offshore,
onde as águas encerram baixos teores de nutrientes. São excelentes fósseis-guia para
sedimentos mesocenozóicos de sedimentos marinhos distais. Tem rápida evolução e
produzem zoneamentos estratigráficos bastante elaborados para correlação a longas
distancias.

MICROFÓSSEIS FOSFÁTICOS

Com composição fosfática por vezes são fragmentos de vertebrados, ictiodontes e


conodontes. Tem intolerância a baixas temperaturas e por isso são raros em sedimentos
siliciclásticos de bacias marinhas de altas paleolatitude, como no Siluro-Devoniano brasileiro.
MICROFÓSSEIS SILICOSOS

São constituídos geralmente de opalas, não são tão abundantes quando aqueles de natureza
carbonática. Podem ser totalmente dissolvidos antes mesmo de atingirem o substrato.
Encontram-se associados a fenômenos de ressurgência. Tem maior freqüência também em
depósitos de altas latitudes ou associados a emanações vulcânicas.

Radiolários: não constroem a carapaça. Desenvolve uma estrutura endocitoplasmática que é


denominada esqueleto. Posicionado no interior da célula, o esqueleto não tem contato direto
com a água do mar logo, enquanto o organismo está vivo, não está sujeito a processos de
dissolução. Os registros de radiolários em bacias sedimentares brasileiras encontram-se
supostamente relacionados a eventos vulcânicos submarinos.

Diatomáceas: são algas fotossintetizantes que se encontram recobertas por uma carapaça
composta por duas valvas parcialmente encaixadas (frústula). Tem hábito bentônico e
planctônico. Usadas na caracterização e datação de paleoambientes. Tem aplicação
relativamente boa em altas latitudes, onde outros grupos fósseis encontram-se escassamente
representados.

Silicoflagelados: é o esqueleto de organismos unicelulares marinhos que toleram ampla


variação de temperatura e salinidade. Habitam preferencialmente na zona fótica dos mares
relativamente enriquecidos em sílica, onde realizam a fotossíntese. São melhores plicados em
regiões de altas latitudes.

MICROFÓSSEIS DE PAREDE ORGÂNICA

Na natureza são observadas também partículas compostas de exclusivamente matéria


orgânica não mineralizada (esporopolenina e substâncias quitinosas, principalmente).
Genericamente, tais partículas são conhecidas como palinomorfos.

Palinomorfos alóctones, principalmente aqueles de origem vegetal, são muito úteis para
correlação cronoestratigráfica entre depósitos de ambientes terrestres e aqueles formados em
ambientes transicionais e marinhos.

Em face a sua composição química, são extremamente resistentes aos vários processos
destrutivos que se observam nos meios sedimentares porem por serem orgânicos são muito
vulneráveis a oxidação.

Grãos de pólen e esporos: trata-se de células reprodutoras vegetais. Os esporos relacionam-se


a grupos de plantas mais primitivas, conhecidamente os criptógamas (briófitas – fungos e
musgos – e pteridófitas – avencas, samambaias e etc.) que habitem em zonas mais úmidas. Os
grãos de pólen, por seu turno, vinculam-se a plantas mais complexas conhecidas como
fanerógamas (as gimnospermas – coníferas e outras que não possuem flor – e as angiospermas
– vegetais que produzem flor).
Com relação aos esporos, algumas vezes é possível inferir se sua origem está ligada a uma
briófita ou pteridófita. Para os grãos de pólen, também se consegue saber amiúde se o mesmo
é proveniente de uma gimnosperma ou angiosperma.

Nos depósitos subaquosos de uma bacia, polens e esporos são elementos alóctones por
natureza. Em função dessa característica e da acentuada dispersão, esses grãos são os únicos
elementos microflorísticos que permitem correlações cronoestratigráficas entre depósitos em
diferentes contextos ambientais, por isso são intensamente utilizados em estudos
bioestratigráficos em bacias brasileiras.

Quitinozoários: são microfósseis-guia de parte da Era Paleozóica, são vesículas com formato
de garrafa ou urna que apresenta composição pseudoquitinosa. São considerados incertae
sedis. NoBrasil, os quitinozoários são bastante empregados nos estudos da bioestratigrafia dos
depósitos ordovício-devonianos das bacias intracratônicas do Amazonas, Solimões, Parnaíba e
Paraná.

Cistos de dinoflagelados ou dinocistos: atualmente são encontrados nos mais diversos


ambientes, desde marinhos a continentais aquáticos. Tem preferência por águas ricas em
nutrientes (águas eutróficas), onde se proliferam abundantemente. Em zonas de ressurgência,
podem se reproduzir de forma anômala gerando o fenômeno conhecido como maré
vermelha.

Em condições normais a reprodução é axessuada onde a célula mãe se divide gerando duas
células filhas e a população expande-se naturalmente. No entanto em condições adversas
(águas mais frias, baixa disponibilidade de oxigênio e etc.) a reprodução é sexuada e duas
células fundem-se em uma só, formando um zigoto. Esse cisto tem um caráter passivo e
afunda na coluna d’água e vai constituir a fração dos bentos. Com a retomada das condições
favoráveis as espécies germinam e readquirem o hábito planctônico voltando a se reproduzir
assexuadamente.

Acritarcos: corpúsculos orgânicos semelhantes aos dinoflagelados, mas taxonomicamente


distintos. Tem afinidade biológica desconhecida (incertae sedis). Tem boa aplicação
bioestratigráfica em depósitos do Pré-Cambriano e do Eopaleozóico.

Matéria orgânica: Pode ser dividida em dois grupos: matéria orgânica estruturada e a matéria
orgânica não-estruturada ou amorfa. Alem dos palinomorfos, os fitoclatos também
constituem o grupo de matéria orgânica estruturada. Os fitoclastos são em geral, partículas
provenientes de vegetais terrestres, sendo por isso, considerados elementos alóctones. A
matéria orgânica amorfa origina-se principalmente no fitoplâncton que habitava o corpo
aquoso. São considerados elementos autóctones.
MICROFÓSSEIS E INTERPRETAÇÕES PALEOAMBIENTAIS

Nas investigações paleoecológicas/paleoambientais deve-se levar em contaapenas a presença


de espécies sinsedimentares.

A Paleoecologia tem por objetivo estudar as relações existentes entre os organismos fósseis e
os ambientes em que viveram.

Em períodos regressivos, a circulação oceânica é mais efetiva, o q ocasiona menos


estratificação e maior renovação das águas, aumentando a disponibilidade de nutrientes. Este
aumento de fertilidade favorece a proliferação de poucas espécies oportunistas, resultando
assim em extinções e concomitante diminuição da diversidade. Portanto um mínimo na curva
de diversidade, registrado em depósitos de um mesmo contexto ambiental, pode sugerir uma
posição relativa do nível do mar baixo. Já os períodos de transgressão são propícios a
especiação (diversificação da comunidade).

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