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E-NOTARIADO

EM TÓPICOS

DAVI CAMBOIM
MARÇO|2022
DO
RIA
TA
O
E-N

Com quase dois anos do Provimento n.º 100, do CNJ, que


estabeleceu, definitivamente, a possibilidade de lavratura
dos Atos Notariais Eletrônicos, por meio do “e-notariado”,
muitas questões ainda precisam ser abordadas.

Com o objetivo de elencar os principais temas sobre o


assunto é que montamos o esboço a seguir, querido aluno.

Falaremos sobre “Importância do E-notariado”, “Questões


Introdutórias” e “Cinco Pontos de Atenção”.

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1 IMPORTÂNCIA
Vejamos os noticiários a seguir:

a) escritura eletrônica em alto mar:

Fonte (acesso em 23/03/2002): https://www.notariado.org.br/resgate-em-


alto-mar-e-notariado-e-utilizado-por-operario-em-navio-petroleiro/;

b) com um ano de publicação do Provimento n.º 100,


CNJ, foram levantados os seguintes dados:

Fonte (acesso em 23/03/2022): https://cnbmg.org.br/e-notariado-1-ano-de-


atos-notariais-online-e-suas-marcas-historicas/.
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2 QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
2.1) Definitividade do Provimento 100, do CNJ: apesar de
ter surgido em um contexto pandêmico, o provimento
“chegou” de forma definitiva, no sentido de normatizar os
atos notariais eletrônicos;

2.2) Conferir uniformidade na lavratura dos Atos Notariais


Eletrônicos;

2.3) Abrange e vincula notários de todo o país;

2.4) Instituição da Matrícula Notarial Eletrônica (MNE);

2.5) Artigo 41, da Lei 8935/94:


“Incumbe aos notários e aos oficiais de registro praticar,
independentemente de autorização, todos os atos
previstos em lei necessários à organização e execução dos
serviços, podendo, ainda, adotar sistemas de computação,
microfilmagem, disco ótico e outros meios de reprodução”
(dispositivo presente nos “CONSIDERANDOS” do
Provimento);

2.6) Lei 12.682/12, Art. 2º-A:


“Fica autorizado o armazenamento, em meio eletrônico,
óptico ou equivalente, de documentos públicos ou
privados, compostos por dados ou por imagens,
observado o disposto nesta Lei, nas legislações específicas
e no regulamento” (dispositivo presente nos
“CONSIDERANDOS” do Provimento); 4
2 QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

2.7) Possibilidade de correição on-line, por parte do poder


fiscalizador (Poder Judiciário);

2.8) O ato notarial conterá chave de acesso e QR Code;

2.9) Possibilidade de lavrar-se escritura híbrida (isto é,


com parte(s) comparecendo fisicamente e outra(s)
comparecendo remotamente);

2.10) Funcionalidades da Plataforma: CENAD, Certidão,


Autorização de Viagem, Reconhecimento de Firma por
Autenticidade, Apostilamento de Documentos, Busca de
Testamento, CCN, CENSEC (CEP, CESDI e CNSIP) e Atos
Notariais Protocolares (notadamente, as escrituras
públicas e atas notariais);

2.11) ATENÇÃO: os atos preparatórios à lavratura dão-se


da mesma forma do ato lavrado fisicamente;

2.12) Relação do Provimento n.º 88 x n.º 100, ambos do


CNJ:

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2 QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
2.12) Relação do Provimento n.º 88 x n.º 100, ambos do
CNJ:

Provimento n.º 100/2020:

“CONSIDERANDO o disposto no Provimento n. 88/2019, que


prevê a criação do Cadastro Único de Clientes do Notariado -
CCN, do Cadastro Único de Beneficiários Finais - CBF e do Índice
Único de Atos Notariais”.

Provimento n.º 88/2019:

a)

Art. 2º Este Provimento aplica-se a:


I - Tabeliães de notas;
II - Tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos;
III - Tabeliães de protesto de títulos;
IV - Oficiais de registro de imóveis;
V - Oficiais de registro de títulos e documentos e civis de
pessoas jurídicas;
§ 1º Ficam sujeitos a este Provimento os titulares, interventores
e interinos dos serviços notariais e registrais.
§ 2º Para os fins deste Provimento, qualquer referência aos
notários e registradores considera-se estendida às autoridades
consulares com atribuição notarial e registral.

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b)
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

Art. 9º As pessoas de que trata o art. 2º manterão cadastro dos


envolvidos, inclusive representantes e procuradores, nos atos
notariais protocolares e de registro com conteúdo econômico:
§ 1º No cadastro das pessoas físicas constarão os seguintes
dados:
I - nome completo;
II - número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF;
e III - sempre que possível, desde que compatível com o ato a
ser praticado pela serventia:
a) número do documento de identificação e nome do órgão
expedidor ou, se estrangeiro, dados do passaporte ou carteira
civil;
b) data de nascimento;
c) nacionalidade;
d) profissão;
e) estado civil e qualificação do cônjuge, em qualquer hipótese;
f) endereço residencial e profissional completo, inclusive
eletrônico;
g) telefones, inclusive celular;
h) dados biométricos, especialmente impressões digitais e
fotografia, em padrões a serem estabelecidos pelas instruções
complementares;

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c)
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

Art. 30 O CNB/CF criará e manterá o Cadastro Único de Clientes


do Notariado – CCN, que reunirá as informações previstas no
art. 9º, além de outros dados que entender necessários, de
todas as pessoas cadastradas e qualificadas pelos notários,
sejam ou não partes em ato notarial.

§ 1º Os dados para a formação e atualização da base nacional


do CCN serão fornecidos pelos próprios notários de forma
sincronizada ou com periodicidade, no máximo, quinzenal, e
contarão:
I - com dados relativos aos atos notariais protocolares
praticados;
e, II - com dados relacionados aos integrantes do seu cadastro
de firmas abertas, contendo, no mínimo, todos os elementos do
art. 9º, § 1º, inclusive imagens das documentações, dos cartões
de autógrafo e dados biométricos.
§ 2º Nos atos notariais que praticar, o notário deverá qualificar a
parte comparecente nos exatos termos do CCN ou, havendo
insuficiência ou divergência nos dados, segundo o verificado nos
documentos que lhe forem apresentados, encarregando-se de
providenciar a atualização da base nacional.

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2
c)
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

§ 3º Para a criação, manutenção ou validação dos dados do CCN,


e visando à correta individualização de que trata o art. 9º, os
notários e o CNB/CF poderão, mediante convênio, se servir
também dos dados do Sistema Nacional de Informações de
Segurança Pública – SINESP, INFOSEG, dos dados das secretarias
estaduais e do Distrito Federal de segurança pública, de outras
bases de dados confiáveis e de bases biométricas públicas,
inclusive as constituídas nos termos da Lei n. 13.444, de 11 de
maio de 2017, além de criar e manter uma base de dados
biométricos própria.

§ 4º O acesso aos bancos de dados referidos nos parágrafos


anteriores restringir-se-á à conferência dos documentos de
identificação apresentados.

§ 5º O CCN disponibilizará eletronicamente uma listagem de


fraudes efetivas e tentativas de fraude de identificação que
tenham sido comunicadas pelos notários.

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3.1)
CINCO PONTOS
DE ATENÇÃO
Competência do Tabelião
3.1.1) Escrituras Imobiliárias e equiparadas

Art. 19. Ao tabelião de notas da circunscrição do imóvel ou do


domicílio do adquirente compete, de forma remota e com
exclusividade, lavrar as escrituras eletronicamente, por meio do
e-Notariado, com a realização de videoconferência e assinaturas
digitais das partes.

§ 1º Quando houver um ou mais imóveis de diferentes


circunscrições no mesmo ato notarial, será competente para a
prática de atos remotos o tabelião de quaisquer delas.

§ 2º Estando o imóvel localizado no mesmo estado da federação


do domicílio do adquirente, este poderá escolher qualquer
tabelionato de notas da unidade federativa para a lavratura do
ato.

§ 3º Para os fins deste provimento, entende-se por adquirente,


nesta ordem, o comprador, a parte que está adquirindo direito
real ou a parte em relação à qual é reconhecido crédito.

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3.1)
CINCO PONTOS
DE ATENÇÃO

Competência do Tabelião
3.1.1) Escrituras Imobiliárias e equiparadas

O caput do artigo 19 traz os critérios, de forma alternativa, da


circunscrição do imóvel ou do domicílio do adquirente.

O Provimento segue pormenorizando. Pelo §1º desse artigo, se


mais de um imóvel for objeto da escritura eletrônica, será
competente o Tabelião da circunscrição de qualquer dos
imóveis.

O §2º tem gerado muitas discussões interpretativas. Entretanto,


entendimento mais “robusto” tem sido sedimentado no sentido
de que, quando adquirente e imóvel estiverem no mesmo
estado da federação, qualquer Tabelião desse estado seria
competente para lavrar a escritura pública eletrônica. Exemplo:
em escritura com imóvel em Jundiaí e adquirente em Campinas,
qualquer Tabelião do estado de São Paulo seria competente
para lavrar esse ato.

Para o §3º, seria equiparado como adquirente, por exemplo, o


Credor Hipotecário, o Credor Fiduciário, Credor na Confissão de
Dívida, o Cessionário de Direitos Aquisitivos sobre bem imóvel e
daí por diante.

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3 CINCO PONTOS
DE ATENÇÃO
3.1.2) Atas Notariais

Art. 20. Ao tabelião de notas da circunscrição do fato constatado


ou, quando inaplicável este critério, ao tabelião do domicílio do
requerente compete lavrar as atas notariais eletrônicas, de
forma remota e com exclusividade por meio do e-Notariado,
com a realização de videoconferência e assinaturas digitais das
partes.

Traz-se aqui dois níveis de competências. Em vez de tratar-se de


competências alternativas, aqui há competências sucessivas: se
não for possível ser utilizado o primeiro critério, o segundo
critério deverá ser utilizado.

3.1.3) Procurações Públicas

Parágrafo único. A lavratura de procuração pública eletrônica


caberá ao tabelião do domicílio do outorgante ou do local do
imóvel, se for o caso.

Agora, temos critérios concomitantes (alternativos): domicílio do


outorgante ou local do imóvel (para o caso de procurações que
versem sobre bens imóveis).

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3 CINCO PONTOS
DE ATENÇÃO

3.1.4) Transferência de veículo

Art. 23. Compete, exclusivamente, ao tabelião de notas:


§ 1º Tratando-se de documento atinente a veículo automotor,
será competente para o reconhecimento de firma, de forma
remota, o tabelião de notas do município de emplacamento do
veículo ou de domicílio do adquirente indicados no Certificado
de Registro de Veículo - CRV ou na Autorização para
Transferência de Propriedade de Veículo - ATPV.

3.1.5) Problemáticas acerca da Competência do Tabelião

No cotidiano do Tabelionato de Notas, algumas questões são


trazidas à discussão em relação à Competência do Tabelião para
determinados atos notariais eletrônicos.

Situação 1: nas escrituras declaratórias, que não são


mencionadas nos artigos 19 e 20, do Provimento 100, quem
será o Tabelião competente para lavratura?
Resposta 1: Pode-se entender que qualquer Tabelião do Brasil
será competente para lavratura.
Resposta 2: Pode-se entender que, extensivamente e
analogamente às atas e procurações, será competente o
Tabelião do domicílio de uma das partes, se alguma delas residir
no Brasil.

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3 CINCO PONTOS
DE ATENÇÃO

Posicionamento: Por ora, ao nosso ver, caso exista alguma das


partes com domicílio no Brasil, deverá ser aplicada a “Resposta
2”. Caso nenhuma das partes tenha domicílio no Brasil, deverá
ser aplicada a “Resposta 1”.

Situação 2: Na procuração de pessoa (física ou jurídica) com


domicílio no exterior, quem será o Tabelião competente para
lavratura?
Resposta 1: Pode-se entender que qualquer Tabelião do Brasil
será competente para lavratura.
Resposta 2: Pode-se entender que, extensivamente e
analogamente às atas e procurações, será competente o
Tabelião do último domicílio de uma das partes no Brasil, se
possível

Posicionamento: Por ora, ao nosso ver, se possível, deverá ser


aplicada a “Resposta 2”. Caso não seja possível, deverá ser
aplicada a “Resposta 1”.

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3 CINCO PONTOS
DE ATENÇÃO

Situação 3: A escritura lavrada de forma “convencional” (de


forma física) pode ser retificada, ou, até mesmo, aditada por
escritura lavrada pelo e-notariado, sem que esta cumpra os
requisitos de competência do e-notariado? Pouco se tem
discutido a respeito, mas, parece-nos que, se, eventualmente, o
ato originário mereça ajuste, em virtude (e inclusive), por
exemplo, de erro do Tabelião, qual a razão da negativa da
prestação do serviço notarial neste exemplo?

Posicionamento: entendemos pela possibilidade de lavratura de


escritura de retificação e ratificação nos termos
retromencionados. Em relação ao aditamento, ainda não temos
posicionamento definido.

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3.2)
CINCO PONTOS
DE ATENÇÃO

Domicílio das Partes

Art. 21. A comprovação do domicílio, em qualquer das hipóteses


deste provimento, será realizada:

I - em se tratando de pessoa jurídica ou ente equiparado: pela


verificação da sede da matriz, ou da filial em relação a negócios
praticados no local desta, conforme registrado nos órgãos de
registro competentes.

II - em se tratando de pessoa física: pela verificação do título de


eleitor, ou outro domicílio comprovado.

Parágrafo único. Na falta de comprovação do domicílio da


pessoa física, será observado apenas o local do imóvel, podendo
ser estabelecidos convênios com órgãos fiscais para que os
notários identifiquem, de forma mais célere e segura, o domicílio
das partes.

O Tabelião, com a sabedoria que lhe deve ser peculiar, deve


fazer bom uso da discricionariedade que é outorgada no artigo
21. A comprovação de domicílio deve ser idônea.

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3.3)
CINCO PONTOS
DE ATENÇÃO

Videoconferência

É necessária a celebração de videoconferência para os atos


notariais eletrônicos, que deve acontecer no próprio “ambiente”
da plataforma.

Após “upload” do arquivo do ato lavrado e cadastro do fluxo de


assinaturas dos participantes do ato, gera-se a possibilidade de
inicialização da videoconferência, que deve obedecer os critérios
do parágrafo único, do artigo 3º.

Além disso, deve-se consignar que os objetivos da


videoconferência são: coleta da concordância das partes e
aferição de suas capacidades para o ato.

Mesmo com a videoconferência, o notário não pode perder de


vista aquilo que chamamos de sensibilidade notarial, isto é, a
apuração que deve ser feita para que haja manifestação de
vontade e capacidade.

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3
3.4)
CINCO PONTOS
DE ATENÇÃO

Assinatura (certificado digital)

Para assinatura eletrônica do ato notarial, as parte precisam


possuir (i) ou um certificado ICP-Brasil (ii) ou um certificado “e-
notariado”.

Caso não possuam, pode-se fazer a emissão do certificado e-


notariado a distância, com validação dos dados enviados de
acordo com a base de dados da SERPRO.

Seguem abaixo os dados e documentos necessários:

a) e-mail do usuário;
b) telefone celular;
c) foto de frente do rosto (pode ser selfie);
d) endereço completo com CEP;
e) estado civil/profissão;
f) instalar no aparelho celular o aplicativo do e-notariado;

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3
3.5)
CINCO PONTOS
DE ATENÇÃO

Identificação das Partes

Art. 18. A identificação, o reconhecimento e a qualificação das


partes, de forma remota, será feita pela apresentação da via
original de identidade eletrônica e pelo conjunto de informações
a que o tabelião teve acesso, podendo utilizar-se, em especial,
do sistema de identificação do e-Notariado, de documentos
digitalizados, cartões de assinatura abertos por outros notários,
bases biométricas públicas ou próprias, bem como, a seu
critério, de outros instrumentos de segurança.
§ 1º O tabelião de notas poderá consultar o titular da serventia
onde a firma da parte interessada esteja depositada, devendo o
pedido ser atendido de pronto, por meio do envio de cópia
digitalizada do cartão de assinatura e dos documentos via
correio eletrônico.
§ 2º O Colégio Notarial do Brasil - Conselho Federal poderá
implantar funcionalidade eletrônica para o compartilhamento
obrigatório de cartões de firmas entre todos os usuários do e-
Notariado.

ATENÇÃO: não é pelo fato de se assinar o ato notarial


com certificado digital que não se analisará o
documento de identificação da parte. O Tabelião deverá
ser criterioso com essa aferição.

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DAVI CAMBOIM

TABELIÃO SUBSTITUTO EM SÃO PAULO - SP


PÓS-GRADUADO EM DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL
T. TRANSAÇÕES IMOBILIÁRIAS
MEMBRO DO IBRADIM - INSTITUTO BRASILEIRO DE
DIREITO IMOBILIÁRIO
PROFESSOR
COORDENADOR DO PROJETO "ESTUDOS NOTARIAIS"

CONTATO:
CONTATO@ESTUDOSNOTARIAIS.COM.BR

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