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EXPEDIENTE

Coordenação:
Janine Giuberti e Marília Albiero

Organização:
Alan Azevedo, Camilla Rigi e Emily Almeida Azarias

Pesquisa:
Camila Maranha Paes de Carvalho, Haydée Borges,
Laís Amaral e Thamillys Souza

Redação:
Haydée Borges e Thamillys Souza

Supervisão:
Camila Maranha Paes de Carvalho e Laís Amaral

Projeto gráfico:
Coletivo PIU

Apoio:

Ano: 2022
AGRADECIMENTOS
Ana Paula Bortoletto - Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (Idec)

André Luzzi - Fórum Paulista por Soberania e Segurança Alimentar


e Nutricional

Bruna Hassan - ACT Promoção da Saúde

Elisabetta Recine - Observatório de Políticas de Segurança


Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (OPSAN/UnB)

Inês Rugani - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Kelly Alves - ACT Promoção da Saúde

Luisete Bandeira - Universidade de Brasília (UnB)

Marcello Baird - ACT Promoção da Saúde

Maria Cecília Cury - Movimento Põe no Rótulo

Marina Rea - Rede Internacional em Defesa do Direito de


Amamentar (IBFAN)

Moriti Neto - O Joio e o Trigo

Patrícia Gentil - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)

Patrícia Jaime - Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição


e Saúde da Universidade de São Paulo (NUPENS/USP)

Paula Johns - ACT Promoção da Saúde

Pedro Hartung - Instituto Alana

Viviane Cardillo - Fórum Paulista por Soberania e Segurança


Alimentar e Nutricional
SUMÁRIO
Glossário de conceitos, siglas e abreviações 06

1. Prefácio 09

2. Apresentação 11

3. Introdução 14

4. Métodos 19

5. Casos 22

5.1 Guia Alimentar para a População Brasileira 23

5.2 Rotulagem nutricional de alimentos embalados 34

5.3 Publicidade infantil e o Marco Legal da Primeira


Infância 49

5.4 Tributação de bebidas açucaradas 60

5.5 Programa Nacional de Alimentação Escolar


(PNAE) 75

5.6 Doações na pandemia de COVID-19 86

5.7 Conselho Estadual de Segurança Alimentar e


Nutricional Sustentável do Estado de São Paulo
(Consea-SP) 96

5.8 Cúpula de Sistemas Alimentares da


Organização das Nações Unidas (ONU) 107

6. Reflexões e análises 116

6.1 Como agiram a Big Food, a Big Soda e o Big


Agro? 117

6.2 Advocacy e regulação: Uma luz no fim do túnel 124

7. Passos para o futuro 133

8. Referências 134
GLOSSÁRIO DE CONCEITOS,
SIGLAS E ABREVIAÇÕES
ABCS: Associação Brasileira dos Criadores de Suínos
ABERT: Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão
ABIA: Associação Brasileira da Indústria de Alimentos
Abiad: Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres
ABIMA: Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias e Pão & Bolo
Industrializados
ABIR: Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas
ABPA: Associação Brasileira de Proteína Animal
Abra: Associação Brasileira de Radiodifusores
Abraleite: Associação Brasileira dos Produtores de Leite
ABRAS: Associação Brasileira de Supermercados
Abrasco: Associação Brasileira de Saúde Coletiva
ADI: Ação Direta de Inconstitucionalidade
AFREBRAS: Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil
AGRA: Aliança para a Revolução Verde na África (do inglês Alliance for a Green Revolution in
Africa)
AGU: Advocacia-Geral da União
AIR: Análise de Impacto Regulatório
ANR: Associação Nacional dos Restaurantes
Anvisa: Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APA: Associação Paulista de Avicultura
APAS: Associação Paulista de Supermercados
APC: as Ações Políticas Corporativas são tentativas de empresas de moldar políticas de
governo de maneira favorável aos interesses privados.
ASBRAN: Associação Brasileira de Nutrição
Big Agro: Refere-se às grandes corporações transnacionais do agronegócio.
Big Food e Big Soda: São as indústrias transnacionais de alimentos e bebidas com enorme e
concentrado poder de mercado.
CAISAN-SP: Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional de São Paulo
CDC: Código de Defesa do Consumidor
CEAS: Conselho Estadual de Assistência Social
CELAFISCS: Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul
CES: Conselho Estadual de Saúde
CF: Constituição Federal
CNI: Confederação Nacional da Indústria
CONANDA: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CONAR: Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária

6 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


Conflito de interesses institucional: Situação em que o interesse primário do governo
(proteger e promover a saúde pública) pode ser indevidamente influenciado pelo interesse de
uma instituição não estatal, afetando, ou podendo afetar, a independência e objetividade do
trabalho do governo.
Conflito de interesses individual: É o conjunto de condições em que o julgamento profissional
a respeito de um interesse primário, como o bem-estar do paciente ou a validade da pesquisa,
tende a ser indevidamente influenciado por um interesse secundário, como um ganho
financeiro.
Consea Nacional: Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
Consea-SP: Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Estado de
São Paulo
CONTAG: Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
CP: consulta pública
CRSANS: Comissões Regionais de Segurança Alimentar e Nutricional
CSA: Comitê de Segurança Alimentar Mundial
DCNT: doenças crônicas não transmissíveis
DHAA: Direito Humano à Alimentação Adequada
Dicol: Diretoria Colegiada
ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente
EPI: equipamento de proteção individual
ETCO: Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial
EUA: Estados Unidos da América
FAO: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (do inglês Food and
Agriculture Organization of the United Nations)
FEA/Unicamp: Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas
FEM: Fórum Econômico Mundial
Fieam: Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
FIPE/USP: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo
FMCSV: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
FNDE: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
FNN: Federação Nacional dos Nutricionistas
FPPL: Frente Parlamentar em Apoio ao Produtor de Leite
FSP/USP: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
GDA: Guideline Daily Amounts (Valores Diários de Referência, em português)
GHAI: Global Health Advocacy Incubator (Incubadora Global de Defesa da Saúde, em
português)
GT: grupo de trabalho
ICMS: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
Idec: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
IECS: Instituto de Efectividad Clínica y Sanitaria (Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária, em
português)
ILSI: International Life Sciences Institute (Instituto Internacional de Ciências da Vida, em
português)
IPI: Imposto sobre Produtos Industrializados
ITAL: Instituto Tecnológico de Alimentos
LabDSI/UFPR: Laboratório de Design de Sistemas de Informação da Universidade Federal do
Paraná

7
LOSAN: Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional
MAPA: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MERCOSUL: Mercado Comum do Sul
MS: Ministério da Saúde
MLPI: Marco Legal da Primeira Infância
MPSP: Ministério Público do Estado de São Paulo
MSC: Mecanismo da Sociedade Civil e Povos Indígenas
NBCAL: Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de
Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras
NCPI: Núcleo Ciência Pela Infância
Nupens/USP: Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de
São Paulo
ÓAÊ: Observatório da Alimentação Escolar
ODS: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
OMC: Organização Mundial do Comércio
OMS: Organização Mundial da Saúde
ONG: organização não governamental
ONU: Organização das Nações Unidas
OPAS: Organização Pan-Americana da Saúde
PCFM: Plano de Combate à Fome e à Miséria
PDC: Projeto de Decreto Legislativo da Câmara
PIB: produto interno bruto
PL: projeto de lei
PLANSAN/SP: Plano Paulista de Segurança Alimentar e Nutricional
PMAC: Conferência do Prêmio Príncipe Mahidol (do inglês Prince Mahidol Award Conference)
PNAE: Programa Nacional de Alimentação do Escolar
PNSAN: Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
RDC: Resolução da Diretoria Colegiada
RNPI: Rede Nacional Primeira Infância
SAN: segurança alimentar e nutricional
SBAN: Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição
Sisan: Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
SUS: Sistema Único de Saúde
SRB: Sociedade Rural Brasileira
STF: Supremo Tribunal Federal
STJ: Superior Tribunal de Justiça
Tipi: Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados
TPS: Tomada Pública de Subsídios
ÚNICA: União da Indústria de Cana-de-Açúcar
UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância (do inglês United Nations International
Children’s Emergency Fund)
UNIFESP: Universidade Federal de São Paulo
WPHNA: Associação Mundial de Nutrição e Saúde Pública (do inglês World Public Health
Nutrition Association)
ZFM: Zona Franca de Manaus

8 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


1. PREFÁCIO
E
m convergência com a tendência mundial de reconhecimento e
problematização das ações políticas corporativas e dos confli-
tos entre interesses públicos e privados (corporativos) na área de
alimentação e nutrição, essa temática tem ganhado visibilidade no Brasil
nos últimos dez anos. Um importante marco para a ampliação desse de-
bate em nosso país foi a realização do World Nutrition 2012, congresso
mundial de nutrição em saúde pública ocorrido na cidade do Rio de Ja-
neiro, organizado pela World Public Health Nutrition Association (WPHNA)
em parceria com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Além
de ser o primeiro evento internacional de nutrição completamente indepen-
dente do financiamento de indústrias de alimentos, ele teve, em sua pro-
gramação, diferentes oportunidades para a discussão do tema conflito de
interesses. Desde então, pesquisadores, gestores públicos, ativistas e pro-
fissionais da área de alimentação e nutrição vêm se debruçando sobre este
tema e produzindo publicações, oportunidades de formação, ações de ad-
vocacy e mecanismos de prevenção e mitigação de conflito de interesses.

Neste percurso, um importante aprendizado tem sido o de reconhecer e


problematizar as estratégias de ação política corporativa e as situações
de conflito de interesses em diferentes processos de formulação de políti-
cas públicas, produção e difusão de conhecimento, formação profissional,
entre outros. Esse exercício de reconhecimento e problematização vem
evidenciando um amplo leque de estratégias instrumentais e discursivas
praticado pelas indústrias de alimentos e por entidades da sociedade civil
que representam seus interesses com o objetivo de evitar, distorcer, atra-
sar, enfraquecer, derrotar ou eliminar políticas públicas que, de alguma
forma, ameacem seus lucros.

Outro aprendizado tem sido o de compreender as corporações como um


ator social com avassalador poder econômico e, por consequência, poder
político, configurando uma importante assimetria de poder nas relações
entre Estado, mercado e sociedade, assimetria esta que ameaça a demo-
cracia. Esse aprendizado tem permitido compreender, também, que esse
fenômeno se dá não somente na área de alimentação e nutrição, mas
em diversas outras áreas, conformando o que hoje se denomina captura
corporativa da democracia. Neste contexto, mais que nunca, fica clara a

9
centralidade da ação regulatória do Estado, desde que alinhada ao inte-
resse público, para frear a ação corporativa. Também são fundamentais a
organização, o fortalecimento e a atuação contundente da sociedade civil
comprometida com o interesse público.

O enfrentamento do atual cenário pressupõe ações coletivas, convergentes e


sinérgicas. Uma das ações que podem ser desenvolvidas pela sociedade civil
é incidir sobre o debate por meio de diferentes mecanismos: desnaturalizan-
do as estratégias de ação política corporativa e as situações de conflitos de
interesse; construindo narrativas e disputando conceitos elaborados no con-
texto do interesse público que são capturados pelas corporações; denuncian-
do más práticas das indústrias, entre outros. A produção de conhecimento
sobre a temática e a prática de advocacy pró agenda regulatória e em defesa
da democracia também são importantes ações a serem desenvolvidas.

Diante desse cenário, é muito bem-vinda e oportuna a publicação do docu-


mento “Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimen-
tação”, de autoria do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e
da ACT Promoção da Saúde. Esta importante publicação documenta casos
emblemáticos recentemente ocorridos em nosso país, dando-lhes visibilida-
de, sistematizando elementos não conhecidos pelo público em geral, reunin-
do documentos a eles relacionados, e oferecendo reflexões preciosas sobre
eles. Ela também traz conteúdo importante sobre mecanismos para prevenir
e lidar com conflitos de interesses na área de alimentação e nutrição.

O documento se baseia em uma análise fundamentada em referenciais teóri-


cos que muito contribuem para a compreensão da complexidade desta temá-
tica e está escrito em linguagem acessível para leitores menos familiarizados
com o assunto. Ele oferece uma contribuição preciosa para o debate sobre o
tema, para a formação de pessoas nele interessadas e para a incidência políti-
ca de atores individuais e coletivos comprometidos com a defesa do interesse
público e com o avanço das políticas públicas de alimentação e nutrição vol-
tadas à garantia do direito humano à alimentação adequada (DHAA).

Recomendo fortemente sua leitura!

Inês Rugani Ribeiro de Castro


Professora Associada do Instituto de Nutrição da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

10 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


2. APRESENTAÇÃO
P
recisamos falar de sistemas alimentares para ajudar a enten-
der um dos grandes dilemas do Brasil. Enquanto é o celeiro do
mundo, um décimo da população passa fome, mais da metade
sofre de algum grau de insegurança alimentar, uma em cada cinco pes-
soas é obesa e outra grande parcela padece de doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT) causadas pela má alimentação ou pela falta de
acesso à alimentação saudável.

O relatório do periódico The Lancet “A sindemia global da obesidade,


da desnutrição e das mudanças climáticas”1,2, apresentado durante a
Conferência do Prêmio Príncipe Mahidol (Prince Mahidol Award Con-
ference - PMAC) de 2019, na Tailândia, deixou ainda mais evidente o
papel decisivo das grandes corporações no sistema agroalimentar que,
ao lado do sistema de transporte, o desenho urbano e o uso do solo,
é pivô para a combinação dessas três pandemias. Elaborado por mais
de trinta cientistas de quatorze países diferentes e liderado pelo pes-
quisador neozelandês Boyd Swinburn, o documento deixou evidente a
relação entre os produtos ultraprocessados, a alimentação, os sistemas
alimentares e as mudanças climáticas.

A sobreposição de fenômenos é ainda mais devastadora do que quan-


do isolados, o que vulnerabiliza desproporcionalmente minorias étni-
cas e a população de baixa renda. E ainda alerta que os ganhos de
saúde alcançados nos últimos 50 anos podem ser anulados.

Com aprovação do Banco Mundial, o evento de 2019 sinalizou uma mu-


dança de paradigma ao reconhecer os determinantes comerciais na
economia política DCNT. Meses mais tarde, a pandemia de COVID-19
agravou ainda mais a urgência do enfrentamento dos dilemas que jun-
tos representam a maior ameaça global à saúde humana e do planeta a
ser enfrentada ainda neste século.

O caso do Brasil por si só exemplifica o dilema: o quinto maior país produ-


tor de alimentos do mundo tem milhões de brasileiros afetados pela fome
ao mesmo tempo em que cerca de uma a cada cinco pessoas é acometi-
da pela obesidade. A expansão da agropecuária brasileira vem de mãos

11
dadas com a concentração de renda, o desmatamento, a alta emissão de
gases de efeito estufa, o uso extensivo de agrotóxicos e, em certos casos,
com práticas ilegais como grilagem de terras.

Enquanto isso, os governos continuam a favorecer a lógica que produz


fome, obesidade e destruição ambiental ao, por exemplo: fornecer sub-
sídios agrícolas de apoio a monoculturas e à pecuária de corte e de leite;
financiar a infraestrutura de transporte que prioriza estradas em detri-
mento do transporte coletivo e ativo; promover políticas econômicas de
crescimento impulsionadas pelo consumo; e não implementar medidas
regulatórias que protejam as crianças da publicidade e comercialização
de produtos alimentícios não saudáveis. Assim, a sociedade civil tem de-
batido sobre a construção de uma Convenção-Quadro, aos moldes da
política internacional de controle de tabaco, atenta e capaz de proteger
as políticas públicas do conflito fundamental e irreconciliável entre os in-
teresses da indústria de alimentos ultraprocessados e de setores do agro-
negócio com as políticas de alimentação, saúde e meio ambiente.

Evidências científicas e experiências internacionais pautadas pelas reco-


mendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) têm apontado para
ajustes de governança no sentido de estimular dietas mais saudáveis, re-
duzir o consumo de produtos ultraprocessados, priorizar o uso da terra
para uma agricultura mais justa, limpa e sustentável, além de reduzir os
gases de efeito estufa.

Portanto, sabemos quais são os problemas e temos caminhos possíveis


para resolvê-los. Mas por que não avançamos? Na experiência de ad-
vocacy da ACT Promoção da Saúde, do Idec e dos muitos parceiros da
sociedade civil organizada em prol da saúde e da alimentação adequada
e saudável, frequentemente esbarramos com as eficientes estratégias
do setor regulado em pressionar os governos, as quais incluem minar,
bloquear ou retardar os esforços para desenvolver, implementar e aper-
feiçoar políticas públicas.

Essa variedade de táticas utilizadas pelas corporações – constantes, siste-


máticas e sofisticadas — mantém o domínio, não apenas dos governos, mas
da academia, da mídia, da opinião pública e, por fim, da população em geral,
para moldar políticas em seu favor e em detrimento da saúde das pessoas,
do meio ambiente e da democracia. Assim, precisamos de um olhar mais cui-
dadoso para expô-las e denunciá-las à sociedade e, sobretudo, enfrentá-las.

12 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


Por isso, esse relatório, elaborado por pesquisadoras e consultoras espe-
cialistas, traz uma visão panorâmica e sistematizada das ações políticas
corporativas (APC) e das situações de conflitos de interesse que blindam
o avanço de agendas públicas promotoras da alimentação adequada e
saudável. Foram extraídas categorias de oito casos concretos de interfe-
rência da indústria nas políticas de alimentação e nutrição. A nossa ex-
pectativa, assim, é que tomadores de decisão, jornalistas, pesquisadores
e cidadãos finalizem a leitura deste documento com uma compreensão
mais clara sobre os obstáculos que impedem a população de se alimentar
de maneira saudável e sustentável e instigados a exigir que tomadores de
decisão façam escolhas com base nas melhores evidências, livres de con-
flitos de interesse e com mais transparência. São aspectos fundamentais
de uma democracia sólida e sem os quais não podemos promover mudan-
ças significativas. Os direitos à saúde e à alimentação adequada devem
estar à frente dos interesses econômicos e comerciais.

Janine Giuberti Coutinho,


Coordenadora do Programa de
Alimentação Saudável e Sustentável
do Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (Idec)

Paula Johns,
Diretora geral da ACT Promoção
da Saúde

13
3. INTRODUÇÃO
A
s grandes corporações de A grande interferência da Big Food
alimentos e bebidas (Big e da Big Soda no desenvolvimento,
Food e Big Soda) são as implementação e manutenção de
principais responsáveis pela produ- programas e políticas de alimenta-
ção e comercialização de alimentos ção e nutrição é um importante en-
não saudáveis, especialmente de trave para a criação de ambientes
produtos ultraprocessados. Seu con- alimentares saudáveis. Em meio aos
sumo está cada vez mais relaciona- diferentes fatores que formam o am-
do ao desenvolvimento de doenças biente alimentar, estão o ambiente
crônicas não transmis- físico (como qualidade
síveis (DCNT), que re- e disponibilidade de
presentam sete das dez alimentos), econômico
principais causas de DCNT (custos), político (polí-
morte no mundo . Entre
1 relacionadas ticas governamentais)
os efeitos negativos da ao consumo e sociocultural (normas
de alimentos
globalização está a ex- e comportamento)3. No
não saudáveis
pansão do alcance da entanto, a Big Food e
representam
Big Food e da Big Soda sete das dez a Big Soda interferem,
na configuração de oli- principais causas de diferentes maneiras,
gopólios que dominam de morte no em todos eles. Os cha-
o mercado mundial e mundo mados determinantes
provocam aumento comerciais da saúde4,
exacerbado e incontro- por exemplo, englo-
lável na demanda de produtos, afe- bam não apenas o tipo de produtos
tando sobremaneira a saúde das pes- que essas corporações oferecem,
soas e do meio ambiente. As formas mas também as estratégias utiliza-
de produção, distribuição e consumo das para promovê-los e influenciar
de alimentos são causas comuns de escolhas que prejudicam a saúde
três grandes pandemias que coexis- dos consumidores. Já no ambien-
tem sinergicamente: obesidade, des- te político, a Big Food e a Big Soda
nutrição e mudanças climáticas, que utilizam APC, que são tentativas de
pioram o cenário local e global umas moldar a política governamental de
das outras, sendo por isso reconheci- maneira favorável ​​aos interesses da
das como uma sindemia global . 2
empresa5 e que acontecem de for-

14 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


ma direta e indireta, incluindo ações
junto à comunidade e em pesquisas.

Para evidenciar os diferentes tipos


de APC, este dossiê reúne casos
emblemáticos em que diferentes es-
tratégias influenciaram a tomada de
decisão em políticas públicas na área
de alimentação e nutrição, como por
exemplo, a regulação da publicida-
de de alimentos para crianças, a ga-
rantia da alimentação saudável no
ambiente escolar, a tributação das dessas estratégias, ou seja, o con-
bebidas adoçadas e a rotulagem nu- fronto dos interesses públicos com
tricional frontal no formato de adver- os interesses privados, o que pode
tências. Este documento é, portanto, comprometer o interesse coletivo ou
uma forma de sistematizar informa- influenciar de maneira imprópria o
ções sobre a interferência da indús- desempenho da função pública6. Isso
tria de alimentos e bebidas e, a partir acontece quando interesses corpora-
de exemplos, expor as dificuldades tivos influenciam atores políticos na
encontradas no desenvolvimento, tomada de decisão e prejudicam a
implementação e manutenção de população em prol do atendimento
políticas públicas de alimentação e de interesses econômicos.
nutrição, além de sugerir alternati-
Um exemplo da tentativa dos setores
vas para superar esse desafio.
econômicos de enfraquecer evidên-
Entre as táticas utilizadas pelas cor- cias científicas e, consequentemen-
porações estão algumas instrumen- te, a formulação de políticas públi-
tais, com ações que vão desde a in- cas, pode ser observado no caso
fluência política até o uso de ações dos ataques que ocorreram desde a
judiciais, e também discursivas, que concepção do Guia Alimentar para a
envolvem estratégias argumentativas População Brasileira, publicado em
como a criação de narrativas para 2014 pelo Ministério da Saúde. Ao
defender interesses econômicos e trazer a classificação NOVA – que
enfraquecer as evidências científicas classifica os alimentos de acordo
que possam prejudicá-los. Os casos com a extensão e o propósito do
evidenciados neste dossiê envolvem processamento industrial a que são
o conflito de interesses em torno submetidos antes de serem consu-

15
midos – e a orientação para que os A regulação da publicidade de ali-
alimentos ultraprocessados sejam mentos para crianças é fundamental
evitados, bem como sugerir uma re- para proteger a formação de hábitos
dução do consumo de produtos de alimentares desde a infância. Mas, no
origem animal, o documento e os Brasil, esta discussão tem dificulda-
pesquisadores envolvidos em sua de de avançar por envolver setores
elaboração foram alvo de uma série com significativa influência política e
de interferências políticas corporati- econômica: a Big Food, a Big Soda e
vas. As corporações do agronegócio a indústria da publicidade. O dossiê
(Big Agro), a Big Food e a Big Soda apresenta o caso da regulamenta-
tentaram colocar em xeque a valida- ção da publicidade infantil e o Marco
de da classificação NOVA, e até mes- Legal da Primeira Infância (MLPI), a
mo recorreram a ações legais, pas- Lei no 13.257 de 2016, que estabelece
sando pela influência política, com princípios e diretrizes para a formu-
o intuito de enfraquecer ou mesmo lação e a implementação de políti-
reformular a publicação oficial para cas públicas para a primeira infância
contornar o possível prejuízo econô- (crianças até os seis anos de idade).
mico da recomendação, desconside- Apesar de sua consolidação, o MLPI
rando os benefícios à saúde pública. deixou de fora a regulamentação da
publicidade infantil graças ao lobby
A questão da rotulagem nutricional,
da indústria. Este caso também traz
aqui apresentada, é emblemática
à tona outros exemplos marcantes
por evidenciar as diversas estraté-
de tentativa de regulamentação do
gias usadas pela indústria de ali-
setor que foram frustrados por con-
mentos para interferir nas políticas
ta da influência econômica e política
públicas a favor de seus interesses.
das corporações.
As APC foram capazes de prolon-
gar o processo regulatório por seis Já o entrave na discussão sobre a
anos e resultaram na aprovação de tributação de bebidas adoçadas no
um modelo de rotulagem sem ava- Brasil, medida que vem sendo ado-
liação científica de eficácia. Ao fim, tada em mais de 60 localidades ao
uma regulamentação que poderia redor do mundo, mostra como cer-
garantir o direito de acesso à infor- tas pautas são boicotadas antes
mação clara e adequada e, assim, mesmo de serem implementadas.
facilitar escolhas alimentares mais Mesmo com o aumento das evidên-
saudáveis, acabou enfraquecida por cias científicas que apontam para a
afetar os interesses econômicos das importância da implementação des-
grandes corporações. sa medida, com campanhas educati-
vas sobre o tema e com o apoio de

16 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


alguns setores do governo, a discus-
são ainda é tímida no país, em gran-
de parte, devido ao forte lobby dos
fabricantes de bebidas e daqueles
que representam seus interesses nos
diferentes poderes (Legislativo, Exe-
cutivo e Judiciário).

As APC também podem ser usadas


com o objetivo de converter políti-
cas públicas para atender a interes-
ses econômicos de um setor produ-
tivo específico. É o que ocorre com
o Programa Nacional de Alimenta-
ção Escolar (PNAE), a política pú-
blica de segurança alimentar e nu-
tricional (SAN) mais antiga do Brasil
e que é considerada um exemplo de
sucesso na área de alimentação e
nutrição. O PNAE tem uma enorme
capacidade de absorver a produção
brasileira de alimentos e ainda de
criar demanda futura, ao promover
hábitos alimentares em crianças e
adolescentes em todo o país. Por
isso, sofre investidas constantes
do setor produtivo para abocanhar
seus recursos e funcionar como ins-
trumento de garantia de escoamen-
to da sua produção.

O caso das doações feitas pela Big


Food e pela Big Soda durante a pan-
demia da COVID-19 mostra como
tais empresas usam causas sociais,
como a espetacularização da situa-
ção de vulnerabilidade econômica e
social de parte da população com
o intuito de promover ações refina-

17
das de autopromoção. Ao anunciar o fortalecimento da Big Food, da Big
doações de seus produtos, equi- Soda e do Big Agro.
pamentos ou verbas para algumas
Por fim, numa ação de alcance glo-
iniciativas sociais, normalmente em
bal, é apresentado o caso da cap-
valores irrisórios quando compara-
tura corporativa da Cúpula de Sis-
dos às previsões de lucro e fatura-
temas Alimentares da Organização
mento, as empresas ganham mais
das Nações Unidas (ONU) de 2021.
menções à marca e melhoraram sua
O encontro foi encabeçado por em-
imagem junto à sociedade em geral,
presas e organizações que defendem
além de apresentarem seus produ-
o modelo hegemônico atual de pro-
tos a um público vulnerável de po-
dução, distribuição e consumo, o que
tenciais novos consumidores.
fez com que fosse
O documento traz deixada de lado a
também um epi- discussão impres-
sódio evidente de cindível de temas
interferência da e medidas cruciais
indústria a partir para a constru-
da apropriação de ção de sistemas
mecanismos da so- alimentares mais
ciedade civil. Após justos, saudáveis e
mais de um ano sustentáveis.
sem funcionar, o re-
Todos os casos
torno do Conselho
mostram como atores corporativos
Estadual de Segurança Alimentar e
utilizam uma gama de argumentos
Nutricional Sustentável do Estado de
e ações semelhantes, visando de-
São Paulo (Consea-SP), no início de
2021, foi marcado pela eleição para fender seus interesses econômicos
presidência e vice-presidência de re- e políticos em detrimento da saú-
presentantes da Associação Brasileira de pública e do bem estar social.
da Indústria de Alimentos (ABIA) e da Trazem também exemplos que nos
Sociedade Rural Brasileira (SRB), res- permitem identificar cada tipo de
pectivamente. Essas entidades repre- APC de forma clara e como a so-
sentam interesses econômicos e não ciedade civil se organiza para com-
interesses públicos, e, portanto, há um bater as investidas da Big Food, da
claro conflito de interesses que pos- Big Soda e do Big Agro, na tentativa
sibilita que o Consea-SP seja usado de promover uma alimentação ade-
como instrumento estratégico para quada e saudável para a população.

18 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


4. MÉTODOS
A
seleção dos oito casos se artigos científicos, matérias jornalís-
deu a partir da atuação ticas, bem como a consulta a dois
diária das organizações ou três especialistas por meio de
responsáveis por esta análise, além entrevistas semiestruturadas para
de fazerem parte da agenda de atu- cada caso. Os especialistas da so-
ação da Aliança pela Alimentação ciedade civil e/ou da academia fo-
Adequada e Saudável7, da qual o ram selecionados por terem viven-
Idec e a ACT Promoção da Saúde fa- ciado os casos e/ou estudado os
zem parte. Em todos os casos houve temas em questão.
a identificação de APC e situações
de interferência da indústria e con- Para a classificação das ações po-
flitos de interesses comprovados a líticas corporativas identificadas,
partir de documentos públicos. As- utilizou-se uma adaptação da cate-
sim, os oito casos de APC selecio- gorização proposta por Mialon e co-
nados envolveram diversas políticas laboradores (2018), de acordo com
públicas em alimentação e nutrição, seu foco de atuação em estratégias
a saber: a regulação da publicida- instrumentais e estratégias discursi-
de de alimentos para crianças, com vas8,9. As estratégias instrumentais
foco no caso da Publicidade infantil são classificadas em cinco subtipos
e o MLPI; a nova legislação de rotula- e as estratégias discursivas em qua-
gem nutricional de alimentos emba- tro domínios, como apresentado no
lados; os ataques ao PNAE; a inter- infográfico abaixo.
ferência da indústria no Consea-SP;
É importante frisar que nem todos
os ataques ao Guia Alimentar para a
os tipos de APC aqui descritos fo-
População Brasileira; a tributação de
ram, necessariamente, observados
bebidas adoçadas; as doações feitas
em cada um dos casos. Ao final de
pela indústria de alimentos e bebidas
cada texto, uma tabela sistematiza as
durante a pandemia da COVID-19 e
APC identificadas, classificando-as e
a captura corporativa da Cúpula de
apresentando os exemplos de cada
Sistemas Alimentares da ONU.
tipo. Como muitas das ações desen-
Para isso, utilizou-se uma aborda- volvidas se dão nos bastidores e, por-
gem multimétodo, com a consulta a tanto, não deixam registros, optou-se
dados secundários, dados públicos por apresentar apenas exemplos do-
de documentos oficiais do governo, cumentados, bem como suas fontes.

19
Taxonomia das estratégias instrumentais e discursivas
utilizadas pela indústria de alimentos e bebidas

ATUAÇÃO EM COALIZÃO Estratégia Instrumental

Estabelecimento de Envolvi- Relação com a mí- Fragmenta-


relação com terceiros mento na dia; construção de ção e deses-
(formadores de opinião comunidade ‘eleitorado’ tabilização
e instituições de saúde) da oposição

Patrocínio de eventos, parcerias público-privadas, relação com organizações e profissionais de


saúde, jornalistas e influenciadores, ações junto à sociedade, filantropia corporativa, entre outros.

GERENCIAMENTO DE
Estratégia Instrumental
INFORMAÇÃO

Supressão de evidências de
Produção e amplifi- apoio à saúde pública ou Utilização de cientistas
cação (divulgação) que sejam contrárias aos como consultores ou
de informações fa- seus interesses porta-vozes para pas-
voráveis ao setor sar credibilidade

Financiamento de pesquisa, eventos científicos e acadêmicos, supressão de evidências


desfavoráveis ou seleção de evidências incompletas, incluindo aquelas não revisadas por pares ou
não publicadas (cherry picking), ênfase na dúvida da ciência e sua complexidade, ocultação de
ligações da indústria a informações e evidências, usando cientistas como porta-vozes, entre outros.

ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

Acesso indireto a Incentivos e/ou Atuação em processos


agentes públicos ameaças decisórios de governo

Lobby direto ou indireto, “porta-giratória”, financiamento de políticos e partidos, ameaça de


retirar
20incentivos, participação
A Interferência em grupos
das Indústrias de trabalhos,
em Políticas técnicos
de Alimentação ou consultivos, entre outros.
e Nutrição
AÇÕES JUDICIAIS Estratégia Instrumental

Uso de ações judiciais (ou Influência no desenvol-


ameaça de uso) contra políti- vimento de acordos de
cas públicas ou oponentes comércio e investimento

Litigância ou ameaça de litigância contra governos, organizações e/


ou indivíduos, influência no desenvolvimento de acordos de comércio e
investimento buscando incluir cláusulas favoráveis à indústria, entre outros.

INCENTIVOS Estratégia Instrumental

Financiar e fornecer in- Realizar doações, presentear,


centivos financeiros para
financiar campanha política ou
partidos políticos e formu-
ladores de políticas outros incentivos financeiros.

ARGUMENTOS Estratégia Discursiva

Custos esperados Moldar o debate sobre


Econômicos Governança para a indústria questões de alimenta-
de alimentos ção, nutrição e saúde

Ênfase no Demonização Argumentação Ênfase nas boas


número de do “Estado de que características da
empregos babá” determinada indústria alimentícia,
sustentados ou ações política levará foco na responsa-
e o dinheiro regulatórias. à redução de bilidade individual
gerado para vendas e/ou de e inatividade física,
a economia. empregos entre outros.

21
5. CASOS

22 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


5.1 GUIA
ALIMENTAR
PARA A
POPULAÇÃO
BRASILEIRA

23
GUIA ALIMENTAR PARA A
POPULAÇÃO BRASILEIRA (2ª EDIÇÃO - 2014)

Lançado pelo Ministério da


Saúde, este é o guia oficial,
baseado em
evidência cientí-
fica, sobre como
comer melhor e
MiniStério da SaÚde
viver com saúde.
ISBN 978-85-334-2176-9
Ministério da Saúde

9 788533 421769
Guia aliMentar para a população BraSileira

Guia alimentar
para a população
Brasileira
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde
www.saude.gov.br/bvs

2ª edição
2ª Edição

1ª reimpressão

Brasília — dF
2014

Para isso, a publicação


prioriza alimentos in
natura e minimamente O Guia brasileiro é referência
processados, evitando internacional e influenciou
produtos ultraprocessados. publicações semelhantes em
outros países como Uruguai,
Canadá, Peru, Equador e Israel.

24
CLASSIFICAÇÃO NOVA
Com base na classificação NOVA, o Guia avalia os alimen-
tos de acordo com seu processamento industrial e não
mais por nutrientes.

NUTRIENTES IRA
PREF Milho Goiaba

IN NATURA OU
MINIMAMENTE PROCESSADO

Obtidos diretamente de plantas ou ani-


mais, não sofrem qualquer alteração
após deixar a natureza, a não ser pro-
cessos como limpeza, fracionamento,
refrigeração e processos similares que
Peixe
não envolvam agregação de sal, açúcar,
óleos, gorduras ou outras substâncias.

E
LIMIT
NUTRIENTES Milho em conserva

PROCESSADO Peixe em
conserva Goiabada

São fabricados com a adi-


ção de sal, açúcar ou outra
substância de uso culiná-
rio a um alimento in natura.

EVITE
NUTRIENTES

ULTRAPROCESSADO Salgadinho
de milho
Suco em pó
de goiaba
Feito, em geral, por indústrias de
grande porte, envolvendo diversas
Nuggets
etapas, técnicas de processamen- de peixe
to e muitos ingredientes, como
açúcares, gorduras, sódio, aditivos
alimentares e ingredientes de uso
exclusivamente industrial.

As recomendações do Guia deixam claro que a alimentação promovida por


interesses corporativos é inadequada e adoece as pessoas. 25
5.1 Guia Alimentar para a
População Brasileira

A
segunda edição do Guia Guia Alimentar tiveram como focos
Alimentar para a Popula- principais a classificação NOVA e a
ção Brasileira (aqui cha- recomendação de redução de con-
mado de Guia Alimentar), lançada sumo de produtos animais.
em 2014, vem sofrendo ataques por
Em setembro de 2020, um novo
parte da Big Food e da Big Soda
capítulo foi escrito nessa história
desde antes do seu lançamento11,12.
já tão conturbada: a Nota Técnica
Mesmo representando uma refe-
nº 42/2020 do Ministério da Agri-
rência nacional e internacional para
cultura, Pecuária e Abastecimento
a promoção da saúde e inspiração
(MAPA) afirmava, entre outras coi-
para a elaboração das diretrizes de
sas, que apesar da relevância do
vários outros países, o documento
documento, a classificação NOVA
desagrada o setor privado comer-
é “confusa, incoerente e prejudica
cial principalmente por apresentar
a implementação de diretrizes ade-
a classificação NOVA de alimentos,
quadas para promover a alimen-
proposta pelo Núcleo de Pesqui-
tação adequada e saudável para a
sas Epidemiológicas em Nutrição e
população brasileira”. Indicava tam-
Saúde da Universidade de São Pau-
bém que a declaração de que “ali-
lo (Nupens/USP). Essa abordagem
mentos ultraprocessados são ‘nutri-
classifica os alimentos a partir do
cionalmente desbalanceados’ é uma
propósito e extensão do seu proces-
incoerência nesta classificação”. E
samento e o documento traz como
concluía que havia uma “necessi-
uma das principais mensagens a
dade urgente de sua revisão”, visto
importância de se “evitar alimentos
que o Guia Alimentar brasileiro atu-
ultraprocessados”12,13. Além disso, o
almente seria considerado “um dos
documento tem como um dos seus
piores do planeta”14.
princípios a sustentabilidade social
e ambiental, de modo que recomen- Representantes do setor, como a
da uma alimentação baseada em ABIA, a Associação Brasileira da In-
alimentos in natura e minimamente dústria de Alimentos para Fins Es-
processados e de origem predomi- peciais e Congêneres (Abiad), além
nantemente vegetal, bem como um da Sociedade Brasileira de Alimen-
consumo limitado de alimentos de tação e Nutrição (SBAN), publica-
origem animal. Assim, os ataques ao ram notas a favor da revisão15,16,17.

26 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


O Instituto Tecnológico de Alimentos muitos representantes dos seus in-
(ITAL), vinculado ao governo do Es- teresses no Congresso Nacional por
tado de São Paulo, que tem um his- meio da bancada ruralista, foi um
tórico de ações pela revogação do dos mais vocais nas críticas ao Guia
Guia Alimentar11, foi uma das fontes Alimentar27.
de informações da nota, juntamen-
À época da publicação do docu-
te com outras referências bibliográ-
mento, na 40ª Reunião Ordinária da
ficas onde o conflito de interesses
Câmara Setorial da Cadeia Produtiva
é latente: um dos artigos, além de
do Leite e Derivados do MAPA, repre-
sequer mencionar os ultraprocessa-
sentantes do setor lácteo afirmaram
dos em sua avaliação, foi financiado
que o fato de que bebidas lácteas
por organizações patrocinadas pela
e iogurtes adoçados e adicionados
indústria de alimentos e o outro foi
de corantes e aromatizantes sejam
publicado na Brasil Food Trends, pu-
classificados como ultraprocessa-
blicação que tem Coca-Cola®, Nes-
dos era “extremamente prejudicial
tlé®, Danone®, Monsanto® e JBS®
ao setor” e que era “preciso unir es-
entre seus patrocinadores18,19,20,21,22,23.
forços para reverter o quadro”. Na
O episódio de 2020 não foi o primei- mesma reunião, um representante
ro em que o Guia Alimentar brasilei- da Associação Brasileira de Peque-
ro teve o seu conteúdo contestado nas e Médias Cooperativas e Empre-
pela indústria. Desde o período da sas de Laticínios (G100) afirmou que
elaboração do documento, o setor sua entidade já havia contratado um
vem tentando desacreditar a classi- escritório de advocacia para “impe-
ficação NOVA e seus criadores, bem trar ação judicial em defesa do setor
como algumas outras propostas tra- lácteo, contra esta proposta do Guia
zidas no Guia, como a importância Alimentar”28,29. No relatório “Princi-
da diminuição do consumo de ali- pais questões regulatórias”, enco-
mentos de origem animal - princi- mendado pela Coca-Cola® dos Es-
palmente a carne bovina, devido ao tados Unidos da América (EUA) em
grande impacto ambiental causado abril de 2016 à consultoria Sancroft,
pelo consumo em alta escala24,25,26. o Guia Alimentar brasileiro é classifi-
Por conta dessa recomendação, o cado como “punitivo” aos produtos
setor agropecuário, que conta com da empresa30.

27
5.1 Guia Alimentar para a
População Brasileira

A classificação NOVA também foi e de espaços de defesa dos produtos


continua sendo muito atacada tan- ultraprocessados e da tecnologia de
to por representantes diretos da alimentos31; o patrocínio de pesqui-
indústria de alimentos quanto por sas científicas que respaldam os inte-
pesquisadores e instituições que resses da indústria ou as isentam de
têm relações próximas a ela, como suas responsabilidades34; e o ataque
o ITAL e o International Life Scien- direto aos cientistas envolvidos na
ces Institute (ILSI - Instituto Interna- criação da classificação NOVA24,36.
cional de Ciências da Vida, em por-
tuguês)31,32,33,34,35. Um levantamento As investidas contra o Guia Ali-
realizado em 2018 para o World Nu- mentar em setembro de 2020 ga-
trition Journal consta- nharam destaque nos
tou que a maioria dos principais veículos de
materiais que critica imprensa e nas redes
a classificação NOVA sociais. Rapidamente,
não foi revisada por se formou um movi-
pares e que 33 dos 38 mento da sociedade
autores identificados civil de defesa do do-
nesses documentos Rapidamente, cumento. Ainda que,
tinham relação com a se formou um inicialmente, algumas
das notícias veicula-
indústria de ultrapro- movimento da
cessados36. das tivessem um teor
sociedade civil
neutro37,38, apenas
Outros tipos de ações de defesa do
mencionando o fato
políticas corporativas documento e “apresentando” o
utilizados nos ataques Guia Alimentar, a rá-
ao Guia Alimentar fo- pida mobilização de
ram a atuação em órgãos governa- pesquisadores, organizações de
mentais, principalmente no Ministério classe e movimentos sociais fez
da Saúde (MS) e na Agência Nacional com que a defesa do documento
de Vigilância Sanitária (Anvisa), com fosse amplamente veiculada, al-
lobby para evitar a aprovação do tex- cançando outros públicos pelo en-
to do Guia que trazia a classificação volvimento de chefs de cozinha e
NOVA e a recomendação de se evitar apresentadoras de programas de
os ultraprocessados12; a construção televisão39,40,41,42.

28 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


Tal mobilização se deu principal-
mente nas redes sociais, com a di-
vulgação de informações a respeito
do Guia Alimentar, o uso de ima-
gens com mensagens de defesa ao
documento, a elaboração de car-
tas e notas de repúdio ao conteúdo
da nota técnica, o uso da hashtag
#EuApoioOGuiaAlimentar e um ma-
nifesto elaborado pela Aliança pela
Alimentação Adequada e Saudável
endossando o documento43, que al-
cançou mais de 40 mil assinaturas.
O Idec enviou notificação ao MAPA
solicitando informações sobre a Nota
Técnica em questão44 e o Nupens/ A resposta rápida e cientificamen-
USP teve um papel crucial na defesa te embasada de diversos setores
científica do Guia Alimentar. O grupo da sociedade foi decisiva para im-
compartilhou uma série de evidên- pedir o processo de revisão do Guia
cias que corroboram a relevância da Alimentar pelo MAPA. Ainda que o
classificação NOVA e os impactos cenário nacional permaneça pre-
dos ultraprocessados na saúde hu- ocupante, considerando a relação
mana e no meio ambiente, entre os próxima do governo federal com a
quais uma carta assinada por mais indústria de alimentos e bebidas ul-
de 30 cientistas do mundo todo em traprocessados e com o setor agro-
defesa do Guia Alimentar e uma nota pecuário, o episódio aqui discutido
onde os autores do artigo citado pela serviu para que mais pessoas tives-
ABIA, que classificou o documento sem acesso ao documento e a gran-
brasileiro como “um dos piores do de mobilização social mostrou que,
mundo”, apontam “uma má interpre- mais do que um documento do MS,
tação grosseira e uso indevido da pu- o Guia Alimentar é, de fato, da po-
blicação científica”45,46,47. pulação brasileira.

29
5.1 Guia Alimentar para a
População Brasileira

O GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO


BRASILEIRA ESTÁ SOB ATAQUE
Para as grandes empresas de produtos ultraprocessados, o Guia Alimentar para
a População Brasileira representa uma ameaça aos seus negócios. As recomen-
dações da publicação deixam claro que a alimentação promovida por interesses
corporativos é inadequada e adoce as pessoas.

Para evitar maiores perdas, empresas privadas e setores do governo promovem


uma série de ataques ao Guia.

ATUAÇÃO EM COALIZÃO Estratégia Instrumental

Parceria com universidades e institutos de pesquisa, como na produção


da plataforma Alimentos Processados, encabeçada pelo ITAL, que tem
como objetivo “permitir à sociedade brasileira uma visão mais abran-
gente do setor industrial de alimentos e bebidas, em contraponto a uma
vasta quantidade de mitos e preconceitos que têm sido propagados”31;

A palestra “Você sabe o que você come?”, durante participação no Pint of Science, evento
aberto ao público e realizado ao redor do mundo em bares e restaurantes com o intuito
de debater ciência, ministrada pela Fernanda Martins, Gerente Sênior de Saúde e Nutri-
ção para a América Latina na Unilever, que atacou a classificação NOVA afirmando que
“a classificação de alimentos ultraprocessados não diz nada” e que o termo não teria uma
definição ‘constante’; além de distorcer evidências ao dizer, por exemplo, que uma lasanha
ultraprocessada tem um melhor perfil nutricional que a sua versão caseira com base no
teor de gorduras e proteínas, mas ignorando o excesso de sódio e presença dos aditivos
químicos na versão industrializada; bem como apontou uma suposta ‘quimiofobia’ quanto
à orientação de evitar alimentos com composições cujos ingredientes o consumidor não
reconhece [normalmente os aditivos químicos de uso industrial], e depois tentou fazer um
paralelo entre a lista de componentes químicos de alimentos in natura com a lista de ingre-
dientes de produtos ultraprocessados48.

30 A Interferência das Indústrias em Políticas de Alimentação e Nutrição


ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

“Ele me trouxe um caderninho. Uma publicação muito bonita. Era


algo que, se eu abrisse a gaveta, não teria como confundir. Algo que
realmente se destacava”. “Havia três pontos-chave, três questões das
quais a indústria não abria mão. Uma delas era que não se publicasse
em hipótese alguma o Guia Alimentar.”

– Arthur Chioro, então ministro da Saúde, sobre encontro sobre o


encontro com o então presidente da ABIA, Edmundo Klotz11;

Cinquenta e sete por cento dos deputados e


48% dos senadores eleitos em 2014 receberam
recursos da indústria de alimentos e bebidas
ultraprocessados em suas campanhas eleitorais.
Além disso, 36% da bancada do Congresso Na-
cional recebeu financiamento da JBS®23;

As políticas públicas que a Frente Parlamentar irá fo-


mentar serão novas maneiras de buscar, junto ao Gover-
no Federal, formas de fazer com que novos alimentos
atendam estas demandas, focando em seus principais
benefícios para contribuir com estilos de vida saudáveis
e não sua ‘vilania’”. - Trecho de matéria da Associação
Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e
Congêneres (Abiad) sobre a criação da Frente Parlamen-
tar Mista de Alimentação e Saúde, lançada no Congresso
Nacional em maio de 2019. O texto afirma ainda que “a
nova Frente Parlamentar estará sempre em alinhamen-
to com o setor regulatório, discutindo novos produtos
e suas principais funções na alimentação de qualidade,
inclusive em discussões que incluem a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa)”49.

31
5.1 Guia Alimentar para a
População Brasileira

GERENCIAMENTO DE
Estratégia Instrumental
INFORMAÇÃO

Artigo científico mostra que, de Em vídeo-aula intitulada


38 artigos selecionados que fa- “Alimentos ultraprocessados:
zem críticas à classificação NOVA, preocupação real ou medo
32 têm autores e/ou coautores infundado?”, disponibilizada
ligados à cadeia produtiva de pro- pelo ILSI, Fernanda Mar-
dutos ultraprocessados50; tins, da Unilever, questiona
a classificação NOVA, como
na comparação da composi-
ção nutricional entre versões

O documento “Alimentos e caseiras e industrializadas de

Ciência”, da ABIA, deturpa alguns alimentos, afirmando

informações sobre aditivos e o que a segunda é mais ba-

processamento de alimentos, lanceada nutricionalmente a

dando a impressão de que pre- partir dos valores de sódio e

parações caseiras e alimentos macronutrientes, mas igno-

ultraprocessados seriam equipa- rando a presença de aditivos

ráveis em termos nutricionais e químicos e seus impactos na

de processamento52. saúde51;

AÇÕES JUDICIAIS Estratégia Instrumental

“O representante da G100, Wilson Massote, informou que sua entida-


de já contratou escritório de advocacia para impetrar ação judicial em
defesa do setor lácteo, contra esta proposta do Guia Alimentar.”

- Trecho disponível na ata da 40ª reunião da Câmara Setorial da Ca-


deia Produtiva de Leite e Derivados, do MAPA, sobre ameaça de ação
judicial que não foi adiante25.

32 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


MOLDAR O DEBATE SOBRE
QUESTÕES DE ALIMENTAÇÃO, Estratégia Discursiva
NUTRIÇÃO E SAÚDE

“A classificação NOVA utilizada é confusa, incoerente


e prejudica a implementação de diretrizes adequadas
para promover a alimentação adequada e saudável
para a população brasileira.”

- Trecho da Nota Técnica nº 42/2020, do MAPA14;. “As receitas domésticas que


utilizam vários ingredientes
não podem em hipótese
alguma serem rotuladas
dessa forma [ultraprocessados], o que demonstra um
evidente ataque sem justificativa à industrialização.”

- Trecho da Nota Técnica nº 42/2020, do MAPA14;

“O Brasil deveria ter sido mais


cuidadoso quando o MS lançou
esse guia porque criou uma con-
fusão muito, mas muito forte no
consumidor.”

- Luis Madi, diretor de Assuntos “Ser ou não ser industrializado não


Institucionais do ITAL, durante garante que um alimento seja saudá-
um evento do setor11; vel. Todos devem ser avaliados pelos
órgãos responsáveis. O problema, de
fato, está na generalização de um tipo
de produto específico.”

- Fernanda Martins, Gerente Sênior


de Saúde e Nutrição para a América
Latina na Unilever®, na vídeo aula “Ali-
mentos ultraprocessados: preocupação
real ou medo infundado?”, disponibili-
zada pelo ILSI53.

33
5.2 Rotulagem nutricional
de alimentos embalados

5.2 ROTULAGEM
NUTRICIONAL
DE ALIMENTOS
EMBALADOS

34 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


LINHA DO TEMPO DA ROTULAGEM
NUTRICIONAL DE ALIMENTOS

A
rotulagem ajuda o consumidor a norma que, apesar de não atender a todas as
conhecer a composição nutricio- necessidades dos consumidores, é um avanço
nal e os ingredientes que com- para melhorar a qualidade da informação nutri-
põem os produtos alimentícios e bebidas. cional dos alimentos e bebidas.

A partir de outubro de 2022, os rótulos co- Entenda como o novo modelo de rotulagem foi
meçam a mudar. A Agência Nacional de Vi- desenvolvido:
gilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma nova

2014-2016
Formação do Grupo de
Trabalho da Anvisa 2017
Apresentação de
Formado por representantes do governo,
propostas à Anvisa
da academia, da sociedade civil e do setor
produtivo, o grupo foi criado com o obje- Entidades do governo,
tivo de discutir o aprimoramento das in- do setor produtivo, da
formações nutricionais nos rótulos dos ali- sociedade civil e da
mentos e facilitar as escolhas alimentares academia apresenta-
para os consumidores. ram à Anvisa propos-
tas de aprimoramento
da rotulagem nutricio-
nal, incluindo mode-
los de rótulos frontais.
A indústria propôs o
semáforo nutricional
enquanto as demais
entidades propuseram
advertências.

2018
Indicação da Anvisa Em comparação com outras propostas apresentadas, o modelo
sobre modelo fron- de advertências foi considerado o mais adequado para a popu-
tal de advertências lação brasileira, como consta no Relatório Preliminar de Análise
de Impacto Regulatório sobre Rotulagem Nutricional de 2018. O
e tomada pública
documento apresentou o diagnóstico inicial do problema regu-
de subsídios (TPS)
latório, os objetivos da intervenção e a comparação das opções
de atuação e seus impactos. Entre maio e julho, a Anvisa reali-
zou consulta pública técnica online, para coletar dados, informa-
ções e bases científicas sobre os rótulos alimentícios.

35 35
Proposta em consulta pública

Anvisa apresentou à consulta pública


uma nova proposta de rotulagem nutri-
cional, com o rótulo frontal no formato
2019 de lupa. A consulta bateu recorde, com

Promoção de diálogos mais de e


setoriais e consulta pública 23 mil 82 mil
participações contribuições
Anvisa divulgou análise das con-
tribuições recebidas na TPS e
informou que até setembro do
mesmo ano divulgaria o relató-
rio final, bem como a abertura da
consulta pública.

2020
Anvisa aprova nova norma de rotulagem nutricional

O modelo aprovado traz a obrigatoriedade da informação nutricional por 100g ou


100ml do produto, além das quantidades de açúcares totais e adicionados. Também
inclui um rótulo frontal no formato de lupa para identificar produtos com altos teores
de açúcar adicionado, gordura saturada e sódio. No entanto, o perfil de nutrientes da
rotulagem frontal não rotula todos os produtos ultraprocessados e com composição
nutricional inadequada.

OUTUBRO DE 2022
Novas regras de rotulagem
nutricional de alimentos entram
em vigor
A partir desta data, as empresas preci-
sam adequar os rótulos de seus produ-
tos alimentícios e bebidas.

36 Dossiê Big Food:


A Interferência dasComo
Indústrias
a indústria
em Políticas
interfere
deem
Alimentação
políticas dee alimentação
Nutrição
O
Brasil poderia estar entre Para compreender de que forma as
os primeiros países do APC interferiram nesse processo re-
mundo a adotar um sis- gulatório, é importante conhecer a
tema de rotulagem nutricional frontal história desde o início. Em dezem-
com advertências para o excesso de bro de 2014, foi identificada a ne-
nutrientes prejudiciais à saúde como cessidade de aprimorar a rotulagem
sódio, açúcares e gorduras. Porém, nutricional de alimentos embalados
as diversas ações da Big Food (que no Brasil. Para discutir sobre este
inclui a Big Soda) durante o proces- assunto, a Anvisa criou um grupo de
so regulatório no âmbito da Anvisa, trabalho (GT) formado por repre-
contribuíram para prolongar a dis- sentantes do governo, da academia,
cussão por seis anos e resultaram na da sociedade civil e do setor produ-
aprovação de um modelo de rotula- tivo. O objetivo era melhorar a clare-
gem nutricional frontal sem evidên- za e a legibilidade das informações
cia científica quanto a sua eficácia. nutricionais dos rótulos dos alimen-
tos e facilitar as escolhas alimenta-
A nova rotulagem nutricional deve-
res para consumidores. O processo
ria ser uma ferramenta importante
regulatório foi iniciado oficialmente
para facilitar escolhas alimentares
em 27 de dezembro de 2017 e foi
mais saudáveis e contribuir para
marcado por uma série de ações de
a redução do excesso de peso e
interferência da Big Food, da Big
prevenção das DCNT. Essa propos-
Soda e do Big Agro, que utilizaram
ta está alinhada com o Código de
diversas estratégias para atrasar e
Defesa do Consumidor (CDC), que
enfraquecer a discussão e adequar
determina aos fabricantes informar
o modelo de rotulagem aos seus in-
adequadamente seus consumido-
teresses econômicos, minimizando
res sobre seus produtos, para que
as preocupações com a saúde da
eles possam fazer escolhas cons-
população, o que de fato verificou-
cientes. Diferente disso, o modelo
-se na conclusão do processo, em
aprovado no Brasil em 2020 apre-
outubro de 2020.
senta um perfil de nutrientes frágil,
que deixa sem o rótulo frontal mui- Para fundamentar as discussões so-
tos produtos ultraprocessados, a bre o melhor modelo de rotulagem
maioria dos quais com composição aplicado à realidade brasileira, o
nutricional inadequada54,55. Idec, junto a especialistas de design

37
5.2 Rotulagem nutricional
de alimentos embalados

da informação do Laboratório de como consta no Relatório Preliminar


Design de Sistemas de Informação de Análise de Impacto Regulatório
da Universidade Federal do Paraná (AIR) sobre Rotulagem Nutricional57
(LabDSI/UFPR) e pesquisadores do de 2018, documento que apresentou
Nupens/USP, conduziram estudos o diagnóstico inicial do problema re-
em 2016 para desenvolver e validar gulatório, os objetivos da interven-
uma proposta de rotulagem nutri- ção e a comparação das opções de
cional frontal inspirada no rótulo do atuação e seus impactos.
Chile, o primeiro país a implementar
O posicionamento da agência cons-
o modelo de advertências, em 2016.
tante no Relatório Preliminar de AIR,
A proposta era seguir as recomen-
baseado em evidên-
dações do Modelo de
cias científicas, con-
Perfil Nutricional da
trariava os interesses
Organização Pan-A-
da Big Food e da Big
mericana da Saúde
Soda que, para de-
(OPAS)56 para a iden-
fender seu posiciona-
tificação e sinalização
mento, formou a Rede
de nutrientes em ex-
Rotulagem, composta
cesso como sódio, açú-
por 21 entidades do se-
car, gorduras totais e
tor de alimentos e be-
saturadas e a presença
bidas. Apoiando-se na
de adoçante e gordura
narrativa de defesa da
trans na parte frontal
liberdade de escolha
das embalagens com
do consumidor, a Rede
triângulos pretos em
Rotulagem defendeu
fundo branco, a partir
o modelo de semáforo
de uma das pesquisas
nutricional, composto
de adaptação do for-
pela sinalização com as cores verde,
mato de modelo para o cenário na-
amarelo e vermelho para as quanti-
cional. Em comparação com outras
dades baixa, média e alta de sódio,
propostas apresentadas e analisa-
açúcar e gorduras saturadas na em-
das pela Anvisa, o modelo de adver-
balagem, respectivamente, com a
tências foi considerado o mais ade-
justificativa de ser claro, simples e
quado para a população brasileira,
capaz de promover a educação nu-

38 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


tricional dos consumidores. Assim, a cionava como base para a defesa do
indústria isenta-se de sua responsa- modelo de semáforo nutricional, alia-
bilidade sobre os produtos não sau- do a ameaças sobre possíveis pre-
dáveis que ela oferta no mercado e juízos econômicos e perda de em-
a transfere para
​​ os comportamen- pregos que a escolha pelo modelo
tos individuais dos consumidores. de advertências nutricionais poderia
Entretanto, o modelo de semáforo causar, muito embora esses prejuízos
não apresenta evidências científicas não tenham sido verificados em re-
quanto à superioridade em relação cente estudo chileno61.
ao modelo de advertências defendi-
do por organizações da sociedade Nesse contexto, a Anvisa conduziu
civil. Já havia sido criticado inclusive o processo regulatório em meio a
por um de seus criadores, o pesqui- diferentes tipos de reivindicações:
sador Michael Rayner, da Universi- de um lado, a saúde pública era a
dade de Oxford, que declarou que principal preocupação das organi-
o semáforo não funcionaria58 de ma- zações da sociedade civil e da aca-
neira adequada. Um estudo condu- demia, e, de outro, questões eco-
zido pelo Nupens/USP, pelo LabDSI/ nômicas e comerciais eram o foco
UFPR e pelo Idec59 apontou que os central dos interesses do setor pro-
rótulos frontais de advertência têm dutivo. Para minimizar os conflitos,
maior impacto sobre a compreensão a agência utilizou ferramentas para
do consumidor, a percepção sobre permitir ampla participação social,
produtos saudáveis e a decisão de como GT, painel técnico, reuniões
compra quando comparado ao se- por meio dos canais institucionais,
máforo nutricional. tomada pública de subsídios (TPS),
diálogos setoriais e consulta públi-
A importância da contribuição eco- ca (CP), além da participação em
nômica da Big Food para o desen- fóruns internacionais como o Codex
volvimento do país foi um argumento Alimentarius e o Mercado Comum
muito utilizado para garantir a par- do Sul (MERCOSUL). Para se ter
ticipação do setor produtivo na dis- uma ideia da mobilização social em
cussão sobre rotulagem, assim como torno do tema, a CP de 2019 rece-
ocorreu em outros países, como o beu cerca de 23 mil participações e
Chile60. Esse argumento ainda fun- mais de 82 mil contribuições.

39
5.2 Rotulagem nutricional
de alimentos embalados

Porém, todo o embasamento técnico- mente, em 7 de outubro de 2020,


-científico e a enorme participação e mesmo sob ameaça de não haver
pressão sociais não foram suficientes reunião da Diretoria Colegiada (Di-
para derrotar o poder do lobby da in- col) pela falta de quórum, foi apro-
dústria de alimentos e bebidas reali- vada uma nova regulamentação de
zado tanto junto ao ministro da Saú- rotulagem nutricional de alimentos
de e diretores da Anvisa, quanto ao embalados pela Anvisa54,55, com um
próprio presidente da República62,63,64. modelo diferente daquele apresen-
Além disso, o final do processo foi tado na CP.
bastante tumultuado e
Em setembro de 2019,
ocorreu já em meio à
a Anvisa apresentou
pandemia de COVID-19,
Em documento um modelo de rotula-
que afetou duramente o
interno da gem nutricional frontal
Brasil a partir de março
ABIA é possível de lupa para indicar o
de 2020. Contou com
observar que excesso de açúcares
trocas de diretores e da
o modelo final adicionados, gorduras
presidência da Agên-
de rotulagem saturadas e sódio nos
cia65,66,67,68,69,70,71, além
é muito produtos. Este mode-
dos diversos adiamen-
semelhante ao lo de rotulagem, leva-
tos sem justificativas do
que a indústria do para a CP, não foi
encerramento do pro-
defendia junto a apoiado pela socieda-
cesso (inicialmente pre-
Anvisa em 2020, de civil e pela acade-
visto para acontecer em
o que sugere mia, e mesmo após o
dezembro de 2019, pas-
interferências no longo processo de dis-
sou para abril de 2020
processo cussão com diversos
e depois para setembro
setores da sociedade
do mesmo ano)72.
no âmbito da CP, além
Aproveitando-se desse contexto e de não corresponder
da instabilidade política e econômi- àquele apresentado na CP. Em do-
ca no país, o setor produtivo conse- cumento interno da ABIA, vazado
guiu reverter o que parecia um dire- no início de 2021, é possível observar
cionamento da agência em aprovar que o modelo final de rotulagem é
uma proposta de rotulagem frontal muito semelhante ao que a indústria
com modelo de advertências e perfil defendia junto a Anvisa em 2020, o
de nutrientes mais rigoroso. Final- que sugere ter havido interferências

40 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


no processo de escolha e adequa- COVID-19 proporcionou o cenário
ção por interesses econômicos. Em ideal para o setor requisitar e con-
uma das páginas do documento, é seguir um alargamento dos prazos,
evidenciado o pior cenário para a que varia entre dois e cinco anos (no
indústria e que deve ser evitado: o caso de refrigerantes com embala-
modelo de triângulos73. gens retornáveis) para que a norma
seja implementada no Brasil, a con-
Além da possível interferência da Big
tar de outubro de 2022. A lacuna
Food e da Big Soda na versão final
de tempo entre a aprovação e a im-
do modelo de rotulagem, as altera-
plementação da norma abre espaço
ções comprometem a legibilidade, a
para novas ações de interferência da
clareza e a simplicidade gráficas, im-
Big Food, da Big Soda e do Big Agro,
prescindíveis para informar adequa-
além de prejudicar a saúde dos bra-
damente o consumidor. Além disso,
sileiros e o direito de acesso à infor-
ele não foi testado no Brasil e não
mação do consumidor.
apresenta evidências científicas de
sua eficácia comunicativa74. Aliado
O caso da rotulagem nutricional é
às alterações gráficas, o perfil de nu-
marcante por evidenciar as diversas
trientes aprovado para a rotulagem
estratégias usadas pela Big Food,
nutricional frontal é menos rigoroso
pela Big Soda e pelo Big Agro para
do que as propostas discutidas du-
interferir nas políticas públicas a fa-
rante o processo, e, assim, permite
vor de seus interesses econômicos.
que vários alimentos e bebidas clas-
Estratégias semelhantes foram usa-
sificados como ultraprocessados não
das na América Latina e na Europa
recebam o selo de “alto em” açúcar
para também atrasar e interferir no
adicionado, sódio e gordura satura-
processo de regulamentação da ro-
da, além de não incluir a sinalização
tulagem nutricional frontal75,76. Es-
de uso de adoçante nos produtos.
sas evidências fornecem subsídios
Outra situação que sugere a interfe- para evitar que outras iniciativas
rência da indústria no processo de de saúde pública sejam cooptadas
CP refere-se ao prazo para a imple- e influenciadas negativamente por
mentação da norma. A pandemia de esses atores econômicos.

41
5.2 Rotulagem nutricional
de alimentos embalados

A INDÚSTRIA CONTRA A
ROTULAGEM DE ALIMENTOS
A rotulagem nutricional de alimentos é marcada por diversas es-
tratégias usadas pela Big Food e pelo Big Agro para interferir nas
políticas públicas para favorecer seus interesses econômicos.

ATUAÇÃO EM COALIZÃO Estratégia Instrumental

Criação da Rede Rotulagem, organização de 21 associações da indústria de ali-


mentos e bebidas para atuação em coalizão. Alguns exemplos de atividades:

Participação no Seminário “Direi- Evento de lançamento da campanha


to à Informação na Rotulagem de “Sua Liberdade de Escolha”78, com a
Alimentos”77, promovido pelo jor- participação de João Dornellas, presi-
nal Valor Econômico, que contou dente executivo da ABIA, do prepara-
com a participação do então dire- dor físico Marcio Atalla, da nutricionista
tor-presidente da Anvisa, William Vanderli Marchiori e da bióloga e divul-
Dib, na abertura. gadora científica Natalia Pasternak.

A relação entre a Anvisa e o ILSI, uma das maiores organizações de lobby


científico do mundo, fundada pela Coca-Cola:

“Entendo que há uma relação simbiótica entre a Agência e o ILSI Brasil, em que ambas
as instituições se beneficiam do trabalho conjunto. A Anvisa, com sua agenda de prio-
ridades, sinaliza para a sociedade os temas que precisam ser objeto de pesquisas e
estudos. De outro lado, organismos como o ILSI ajudam a preencher essa lacuna, pro-
vendo a Agência com subsídios científicos importantes para a tomada de decisão”79.

– Thalita Antony de Souza Lima, gerente-geral de alimentos da Anvisa,


dois meses após a definição do novo modelo de rotulagem nutricional,
em dezembro de 2020, em entrevista para a newsletter do ILSI.

42 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

A ABIA pressionou o ex-Presidente Michel


Temer64 sobre a necessidade de se contrapor
a uma rotulagem nutricional frontal de adver-
tências, apoiando a indicação de William Dib
como diretor-presidente da Anvisa. Dib, assim
que assumiu o cargo, fez declarações na im-
prensa favoráveis à rotulagem de semáforo80,
que era a proposta da Big Food, e se posicio-
nou contra as advertências.

Reuniões a portas fechadas81. Em 2019, 90% das reuniões


dos diretores da Anvisa foram com empresas e associações
do setor privado (como fabricantes de alimentos, em segun-
do lugar na lista). A agenda da gerente-geral de alimentos,
Thalita Antony de Souza Lima, mostra que 86% dos seus
compromissos foram com essas corporações.

A embaixada da Itália enviou uma carta para a


Anvisa avisando sobre o dano econômico que a
adoção de uma rotulagem nutricional frontal de
advertência causaria à indústria italiana e os pre-
juízos aos negócios no Brasil, com tom ameaça-
dor82. Além disso, representantes dessas indústrias
fizeram reuniões com o ex-Ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta.

43
5.2 Rotulagem nutricional
de alimentos embalados

ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

Após esses acontecimentos, o então Ministro passou a


recomendar publicamente o modelo de rotulagem italia-
no83 (o Guideline Daily Amounts (GDA), Valores Diários
de Referência, em português, em que as informações da
tabela nutricional são copiadas na frente da embalagem
do alimento, sem sinalização ou interpretação quanto
aos nutrientes indicados)84 como melhor opção para o
Brasil, ignorando o processo regulatório conduzido pela
Anvisa no qual tal modelo não estava sendo discutido.

Estratégias de lobby da ABIA73 sobre a Anvisa


para neutralizar modelos de rotulagem mais efi-
cazes e garantir que o modelo de lupa com perfil
de nutrientes menos rigoroso fosse mantido.

Ofícios da Associação Brasileira de Proteína Animal


(ABPA) para William Dib, Presidente da Anvisa, solici-
tando a prorrogação do prazo de 45 dias para o envio
de comentários e sugestões à TPS, com a alegação de
que “o prazo mínimo não permite a adequada participa-
ção do setor produtivo”85,86.

44 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


GERENCIAMENTO DE
Estratégia Instrumental
INFORMAÇÃO

A Rede Rotulagem financiou uma pesquisa de opinião em


relação aos modelos de rotulagem nutricional, realizada pelo
Ibope87, na qual os resultados apontam que 67% dos brasileiros
tinham preferência pelo modelo do semáforo nutricional nos
rótulos. Mas este estudo foi realizado com uma amostra não
representativa da população brasileira, o que pode implicar em
estimativas viesadas para a escolha dos consumidores88.

A Rede Rotulagem financiou estudo de impacto econômico


pela GO Associados89, a partir da extrapolação da pesquisa do
Ibope e mostra como consequências da adoção de um mode-
lo de advertências frontais um impacto econômico superior
a R$100 bilhões e quase dois milhões de empregos perdidos.
Essas informações, entretanto, são extrapolações de dados que
não se baseiam em métodos científicos88.

AÇÕES JUDICIAIS Estratégia Instrumental

A ABIA entrou com ação na Justiça Federal e conseguiu uma liminar


para estender em 15 dias80 o prazo da TPS, sob alegação de que a coleta
de dados havia sido atrapalhada pela Copa do Mundo e a greve dos
caminhoneiros, e que o setor privado precisava do prazo adicional para
concluir seus estudos. A TPS teve início em 25 de maio de 2018 e estava
prevista para terminar em 9 de julho de 2018, num total de 45 dias. Com
a prorrogação, o prazo final passou para 25 de julho de 2018.

45
5.2 Rotulagem nutricional
de alimentos embalados

ECONOMIA Estratégia Discursiva

A Big Food evidencia no discurso o número de empregos sustentados por ela


e o dinheiro gerado para a economia:

“Com um faturamento de R$642,6 bilhões em 2017 e 1,6 milhão de empregos


diretos gerados ano passado, a indústria da alimentação é representada por 35,6
mil empresas no Brasil e é a maior empregadora da indústria da transformação.”

- ABIA completa 55 anos90.

Estudo financiado pela Rede Rotulagem sobre o impacto econômico da


adoção do modelo de rotulagem nutricional frontal de advertências apontou
como resultado danos catastróficos à economia, causando perdas de 100
bilhões de reais e 1,9 milhão de empregos.

“(...) análise dos economistas da GO apontou potencial de perda de 1,9 milhão de


empregos em vários setores da economia, por causa da retração da produção, o
equivalente a R$14,4 bilhões em massa salarial. Tal cenário, consequentemente,
traria perdas consideráveis para o varejo.”

- Informativo “Rotulagem de alimentos e bebidas vai mudar”,


disponível no website da ABIA91.

GOVERNANÇA Estratégia Discursiva

Argumentos contra o ‘Estado babá’ e contra ações regulatórias, que retiram a


liberdade de escolha do consumidor e não contribuem para a educação nutri-
cional dos consumidores:

“(...) consideramos equivocados os modelos de alerta que substituem a


informação pelo alarmismo e a educação pela tutela do consumidor.”

- Website Rede Rotulagem - O que defendemos92.

46 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


MOLDAR O DEBATE SOBRE
QUESTÕES DE ALIMENTAÇÃO, Estratégia Discursiva
NUTRIÇÃO E SAÚDE

Alegação de que a mudança no modelo de rotulagem não


seria uma solução para a epidemia de DCNT:

“O rótulo é uma ferramenta de informa- Promoção de educação nutricional


ção, mas sozinho não soluciona o proble- a partir do modelo de semáforo
ma da obesidade e das doenças crônicas. nutricional, auxiliando os consu-
Há causas multifatoriais: Alimentação não midores a fazer melhores escolhas
balanceada; Sedentarismo; Fatores gené- para sua saúde, com foco na res-
ticos e Distúrbios emocionais; Ansiedade ponsabilidade individual:
e depressão.”

- Informação retirada de infográfico dis-


ponível no website da ABIA93.
“O mais importante é a oferta de
informações ao consumidor, para que
ele possa adotar uma alimentação mais
saudável. O foco da Rede Rotulagem está em dis-
Promoveram outras ponibilizar informações claras e objetivas e apre-
soluções para tirar o sentá-las de forma que qualquer pessoa consiga
foco da discussão so- entender os rótulos dos alimentos.”
bre rotulagem: dietas - Presidente executivo da ABIA, João Dornellas91.
equilibradas, atividade
física, reformulação de
alimentos, redução dos
tamanhos das porções.

“Não existe produto bom ou ruim. Existe uma alimentação regrada e


não regrada. A pessoa poderá ter uma melhor decisão baseada no seu
estilo de vida e da família.”

- João Dornellas, presidente da ABIA, no jornal Folha de Londrina94.

47
5.2 Rotulagem nutricional
de alimentos embalados

MOLDAR O DEBATE SOBRE


QUESTÕES DE ALIMENTAÇÃO, Estratégia Discursiva
NUTRIÇÃO E SAÚDE

“O que determina nossa saúde é o estilo de


vida. Não podemos encarar a alimentação nem
como vilã e nem como remédio. A saúde é o
resultado de uma série de fatores, que inclui
sempre a realização de uma atividade física.”

- Marcio Atalla, professor de educação física,


“Os esforços do setor produtivo
que tem histórico de parceria com a Big Food e
em melhorar o perfil nutricional
a Big Soda, no evento de lançamento da cam-
dos seus produtos, seja diminuin-
panha “Sua Liberdade de Escolha”95.
do os níveis de sódio, saturada,
trans e açúcares adicionados, seja
aumentando a oferta de nutrientes
positivos, como grãos integrais, leite, fibras, vitami-
nas e minerais, passam a perder a relevância para o
consumidor. Como interpretar um produto que co-
munica uma redução voluntária nos níveis de açú-
car, ou sódio e que apresenta na embalagem um
sinal de alerta para o excesso destes nutrientes?”

- ABIA, contribuição na TPS96.

“A indústria vem constantemente


oferecendo tamanhos de porções
menores (com base em porções re-
ais e adequadas) que têm um papel
fundamental na construção de uma
alimentação mais saudável ”

- ABIA, contribuição na TPS96.

48 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


5.3 PUBLICIDADE
INFANTIL E O
MARCO LEGAL
DA PRIMEIRA
INFÂNCIA

49
A DISPUTA PELO MARCO LEGAL DA
PRIMEIRA INFÂNCIA (MLPI)

O MLPI é Lei (nº 13.257) e existe desde 2016. Ele estabelece princípios para a criação
e a implementação de políticas públicas para a primeira infância.

No entanto, a maneira como as grandes corporações influenciaram o processo de criação da


Lei resultou em um MLPl muito aquém do seu potencial de garantir a proteção dos direitos
durante a primeira infância.

Em um dos ataques, as empresas forçaram a retirada do artigo 2º, que proibia “a publicidade
voltada ao público infantil nos meios de comunicação, em especial televisão e radiodifusão,
nos horários entre 8 horas e 18 horas”100.

A primeira infância representa os pri- A publicidade infantil de


meiros seis anos de vida de uma crian- alimentos é prejudicial
ça. É durante este período que o ser porque as crianças têm
humano desenvolve sua capacidade deficiência de julgamen-
cognitiva e a maioria de seus hábitos to e experiência para se-
alimentares - e também é quando ele parar estratégias publici-
está mais vulnerável a influências exter- tárias da realidade. Por
nas. Esta é a principal janela de oportu- isso, é importante que as
nidade do ciclo de vida para que cada empresas respeitem a in-
criança se desenvolva com saúde e fância ao não promover o
consiga atingir seu consumismo de alimen-
pleno potencial tos processados e ultra-
ao chegar à idade processados às crianças.
adulta.

50 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


COMO ISSO FOI POSSÍVEL? No entanto, os legisladores
não se mostraram abertos para
O MLPI nasceu como o Projeto de Lei pontos considerados ‘polê-
(PL) nº 6.998, em 2013. micos’ e que acabaram sendo
suprimidos. Entre eles, estão:
Sua tramitação foi considerada rápi-
da graças a um cenário favorável para O aumento da
a discussão do tema com a criação da licença-maternidade
Frente Parlamentar da Primeira Infância
na Câmara dos Deputados, composta
por mais de 200 parlamentares114 A criação de salas de ama-
mentação nas empresas

A proibição da
publicidade infantil

Há indícios de fatores externos que contribuíram para este cenário, incluindo


o lobby e os conflitos de interesses envolvidos114.

Organizações da sociedade civil acompanharam a 15ª reunião da Comissão


Especial da Primeira Infância, em 10 de dezembro de 2014, quando o MLPI
foi aprovado.

As negociações sobre pontos de desacordo e que acabaram suprimidos


aconteceram nos bastidores, não havendo transparência. A ausência de re-
gistros oficiais da participação do setor comercial dificulta a identificação
desses representantes no processo.

Outras questões influenciaram os votos dos deputados:

Relações criadas Ex-funcionários da indústria de


entre parlamentares e alimentos e bebidas trabalhando
representantes das empresas em organizações governamentais
que financiam mandatos ou diretamente com deputados

Influência da Big
Food também em
organizações da
sociedade civil

As estratégias identificadas no caso do MLPI para a retirada


das restrições de publicidade da pauta são múltiplas.

51
5.3 Publicidade infantil e o Marco
Legal da Primeira Infância

A
regulação da publicidade pletos ou 72 meses de vida da crian-
de alimentos classifica- ça), fase de maior desenvolvimento
dos como ultraprocessa- e vulnerabilidade do ser humano e
dos é de extrema importância para determinante para a formação do in-
a proteção dos direitos da criança, divíduo. Apesar de a lei trazer avan-
especialmente no que se refere a ços, como a instituição de direitos e
sua influência na formação de há- responsabilidades iguais entre mães,
bitos alimentares e no consumo de pais e responsáveis e a ampliação
alimentos e bebidas não saudáveis. da licença paternidade de cinco
Apesar de a publicidade infantil já para 20 dias (para organizações que
estar prevista no ordenamento jurídi- aderirem ao programa Empresa Ci-
co brasileiro, na prática, as empresas dadã)99, o artigo 2º - que restringia
seguem violando a legislação que a publicidade infantil e constava no
protege a infância da comunicação Projeto de Lei (PL) - foi retirado du-
mercadológica. A discussão do tema rante as discussões para sua apro-
entre agentes públicos, sociedade vação. Ele proibia terminantemente
civil e setor produtivo tem dificulda- “a publicidade voltada ao público
de de avançar. É uma disputa desi- infantil nos meios de comunicação,
gual, pois a influência econômica e em especial televisão e radiodifusão,
política da Big Food e da Big Soda é nos horários compreendidos entre
forte o suficiente para desequilibrar 8 horas e 18 horas”100. O que restou
as discussões a seu favor. E este as- no documento sobre o tema foi uma
sunto ainda envolve outro setor eco- menção genérica no artigo 5º, que
nomicamente poderoso: a indústria apresenta as áreas prioritárias para
da publicidade, com faturamento de as políticas públicas para a primeira
R$49 bilhões só em 202097 (mesmo infância à saúde: “a proteção contra
em meio à crise econômica durante toda forma de violência e de pressão
a pandemia de COVID-19). consumista (...) e a adoção de medi-
das que evitem a exposição preco-
Assim, muitas vezes o assunto é ape-
ce à comunicação mercadológica”101.
nas retirado de pauta e sua discus-
Ou seja, foi mais uma vez perdida a
são postergada, como ocorreu com
chance de se garantir uma legislação
o MLPI, Lei nº 13.25798 de 2016. Ele es-
que proteja expressamente esse pú-
tabelece princípios e diretrizes para
blico-alvo, a primeira infância.
a formulação e a implementação de
políticas públicas para a primeira in- Para entender melhor o que aconte-
fância (os primeiros seis anos com- ceu, vale resgatar importantes ele-

52 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


mentos do cenário e o contexto em infantis, leites, papinhas, mamadei-
questão. Em primeiro lugar, já exis- ras, chupetas, entre outros. Já a Re-
tem no ordenamento jurídico brasi- solução nº 163 do Conselho Nacional
leiro previsões que asseguram os di- dos Direitos da Criança e do Adoles-
reitos de crianças e adolescentes: a cente (CONANDA)105 dispõe que o
Constituição Federal (CF) de 1988102 direcionamento de publicidade e de
(artigo 227) e o Estatuto da Criança comunicação mercadológica (como
e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069 comerciais televisivos, spots de rá-
de 1990 . O ECA reconhece crian-
103
dio e páginas na internet) de pro-
ças (menores de 12 anos) e adoles- dutos à criança e ao adolescente é
centes (de 12 a 18 anos) considerado abusivo. O
como sujeitos de direi- próprio CDC106 prevê no
tos e estabelece que artigo 37 como publici-
é dever da família, da dade abusiva, e, portan-
sociedade e do poder Mesmo com to, ilegal, aquela que se
público assegurar sua avanços da aproveita da deficiência
proteção, pois encon- legislação, há de julgamento e experi-
tram-se em um período ainda desafios ência da criança. É ain-
de intenso desenvolvi- em relação à da importante ressaltar
mento físico, cognitivo, interpretação e que o Superior Tribunal
emocional e social. As- aplicação da lei de Justiça (STJ) já pos-
sim, a partir do entendi- da publicidade sui dois importantes e
mento da vulnerabilida- infantil históricos precedentes
de desse público, foram relativos à ilegalidade
criadas normas e leis da publicidade dirigida
para regular a publicida- à criança107,108, em que
de de alimentos e produ- foi reconhecida a abusivi-
tos que possam impactar seu desen- dade de publicidade direcionada, de
volvimento. A Norma Brasileira de forma explícita ou implícita, a crian-
Comercialização de Alimentos para ças, com relevante repercussão para
Lactentes e Crianças de Primeira In- a proteção da infância.
fância, Bicos, Chupetas e Mamadei- Mesmo com avanços da legislação
ras (NBCAL)104 regulamenta a pro- com a finalidade de proteger os di-
moção comercial e a rotulagem de reitos das crianças e dos adolescen-
alimentos e produtos para crianças tes, há ainda desafios em relação à
na primeira infância como fórmulas interpretação e aplicação da lei da

53
5.3 Publicidade infantil e o Marco
Legal da Primeira Infância

publicidade voltada a esse público mas ela acabou sendo suspensa em


e uma enorme dificuldade de avan- 2013 por decisão judicial proferida
çar nas discussões sobre o tema, es- em ação judicial pela ABIA, ainda em
pecialmente quando envolve a Big andamento110. A ABIA alegou que a
Food e o Big Agro. Um caso emble- agência não tinha competência para
mático é o da RDC nº 24 de 2010, regular a publicidade de alimentos e
da Anvisa. O objetivo era regular a bebidas não alcoólicas, baseando-se
oferta, propaganda, publicidade, em interpretações da CF. “A Anvisa
informação e outras práticas de di- tem poderes para aplicar a legisla-
vulgação e promoção comercial de ção vigente, mas não possui compe-
alimentos que apresentassem quan- tência para inovar no ordenamento
tidades elevadas de açúcar, gordura jurídico criando novas normas”111,
saturada, gordura trans e/ou sódio, e alegou a ABIA à época. Após a deci-
de bebidas não-alcoólicas com bai- são, houve ampla movimentação do
xo teor nutricional. A RDC obrigava empresariado e um total de 11 asso-
as indústrias fabricantes a veicular, ciações que representam interesses
junto à publicidade, informação as- do setor entraram com ações se-
sociando o consumo desses produ- melhantes (entre elas a Associação
tos à incidência de DCNT, como do- Brasileira das Indústrias de Massas
enças cardiovasculares, hipertensão, Alimentícias e Pão & Bolo Industria-
diabetes, obesidade e também de lizados (ABIMA), a Associação Na-
cárie dentária. Essa Resolução levou cional dos Restaurantes (ANR) e a
o Brasil a ser considerado pela OPAS Associação Brasileira das Indústrias
o país mais avançado da América de Refrigerantes e de Bebidas Não
Latina em relação à regulamentação Alcoólicas (ABIR))112. É importante
governamental sobre publicidade109, destacar que, antes da judicialização,
a Advocacia-Geral da União (AGU),
respondendo a uma manifestação
do Conselho Nacional de Autorre-
gulamentação Publicitária (Conar),
recomendou a suspensão da RDC
nº 24 até decisão final da Consulto-
ria-Geral da União. Porém, a Anvisa
não acatou a orientação e manteve a
resolução em vigor112. Dessa maneira,
o despacho da AGU forneceu subsí-
dios para a judicialização por parte
do setor produtivo.

54 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


Mesmo antes da tentativa de regu-
lação da publicidade pela Anvisa,
outras iniciativas já enfrentavam di-
ficuldades em avançar devido ao lo-
bby das empresas. Como por exem-
plo os diversos PLs em tramitação
no Congresso Nacional, como o PL
nº 5.921 de 2001113, que proíbe a pu-
blicidade destinada à promoção de
vendas de produtos infantis, um dos
primeiros projetos a tratar do tema,
mas que até a última consulta deste
documento não havia sido aprovado. ra Infância115, em Harvard, nos EUA,
oferecido pelo NCPI e pela FMCSV.
Nesse contexto, surge o PL nº 6.998,
A Frente participou da elaboração,
de dezembro de 2013, que deu ori-
tramitação e promulgação do MLPI99
gem ao MLPI, publicado em março
a partir do PL apresentado pelo en-
de 2016. Sua tramitação, que pode
tão deputado federal Osmar Terra
ser considerada rápida diante da
(MDB/RS), com participação do de-
densidade e importância do assunto,
putado Darcísio Perondi (MDB/RS),
só foi possível graças a um cenário
ambos colegas da turma de 2012 do
favorável para a discussão do tema
Programa de Liderança Executiva99.
‘primeira infância’ e que se deve a
uma conjunção de fatores. Entre eles Existia, assim, um contexto favorável
estão ações de advocacy protagoni- à aprovação do MLPI, mas que não
zadas por atores como a Fundação estava aberto para pontos conside-
Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), rados ‘polêmicos’ e que acabaram
a Rede Nacional Primeira Infância sendo suprimidos. Entre eles, estão
(RNPI) e o Núcleo Ciência Pela Infân- o aumento da licença-maternidade,
cia (NCPI). Em maio de 2011, foi cria- a criação de salas de amamentação
da a Frente Parlamentar da Primeira nas empresas e a proibição da publi-
Infância (aqui referida como Frente) cidade infantil. Foi usada como justi-
na Câmara dos Deputados, compos- ficativa a dificuldade de fiscalização
ta por mais de 200 parlamentares114. e de implementação dessas medidas
A partir do trabalho deste grupo, no contexto em que se encontrava o
dezenas de deputados participaram país à época, mas há indícios de ou-
do Programa de Liderança Executi- tros fatores que contribuíram mais
va em Desenvolvimento da Primei- para essa retirada, incluindo o lobby

55
5.3 Publicidade infantil e o Marco
Legal da Primeira Infância

e os conflitos de interesses envolvi- mentais ou diretamente com deputa-


dos114. Já o aumento da licença pa- dos. Até mesmo, uma instituição que
ternidade, que havia sido proposto representava interesses da sociedade
por mais 30 dias, foi aprovado por civil (a FMCSV) apresentou questões
mais 15 dias apenas. de conflitos de interesses devido a
parcerias com empresas do setor de
Representantes da sociedade civil
bebidas. Esse tipo de relacionamento
(FMCSV, NCPI, RNPI, Instituto Alana,
ajudou a garantir o acesso aos princi-
ACT Promoção da Saúde e Idec) e
pais tomadores de decisão e exercer
do setor privado-comercial (Coca-
influência política109.
-Cola®, Nestlé®, Mondelez®, Am-
bev®, Confederação Nacional da In- Percebe-se, assim, que as estratégias
dústria (CNI) e Associação Brasileira identificadas no caso do MLPI para a
de Emissoras de Rádio e Televisão retirada das restrições de publicida-
(ABERT)) acompanharam a 15ª reu- de da pauta são múltiplas e difíceis
nião da Comissão Especial da Pri- de serem mensuradas. Mesmo em
meira Infância, em 10 de dezembro um contexto extremamente favorá-
de 2014, quando o PL foi aprovado. vel para a discussão e a criação de
As negociações sobre pontos de de- legislação que protegesse a primeira
sacordo e que acabaram suprimidos infância, nem todo o trabalho de ad-
aconteceram nos bastidores, não vocacy realizado foi suficiente para
havendo transparência no proces- superar o lobby corporativo e criar
so. A ausência de registros oficiais mais restrições para a publicidade
da participação do setor comercial infantil. Isso aponta para a impor-
dificulta a identificação da atuação tância da discussão sobre o tema
desses representantes no processo. com a sociedade civil e a identifica-
Mas um estudo que investigou ativi- ção das ações políticas corporativas
dades políticas corporativas, a partir em detrimento do interesse público
de entrevistas com atores envolvidos, e da proteção da infância, de modo
mostrou que outras questões sub- a evidenciá-las. Somente a partir
jetivas influenciaram os deputados do reconhecimento dos interesses
durante a votação, como as próprias e forças envolvidas é possível criar
relações sociais criadas entre eles e estratégias para superá-las e, enfim,
os representantes das empresas que possibilitar a criação de políticas pú-
financiaram alguns mandatos, por blicas que, de fato, possam proteger
exemplo. Há ainda ex-funcionários da direitos e interesses sociais ao invés
indústria de alimentos e bebidas tra- de atender exclusivamente a interes-
balhando em organizações governa- ses econômicos.

56 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


OS ATAQUES DA INDÚSTRIA
PARA ENFRAQUECER O MARCO
LEGAL DA PRIMEIRA INFÂNCIA
Desde a criação de organizações filantrópicas e doações para campa-
nhas até posicionamentos públicos e argumentos falsos, as empresas de
alimentos e bebidas despenderam um amplo arsenal de recursos para
retirar a proibição da publicidade infantil da Lei.

ATUAÇÃO EM COALIZÃO Estratégia Instrumental

Entre seus parceiros estão or-


A FMCSV é uma organização privada de ganizações não governamentais
filantropia mantida pelos herdeiros do (ONGs) de interesse empresarial e
banqueiro Gastão Vidigal, filho do funda- fundações, incluindo Danone Early
dor do antigo banco Mercantil, e que tem Life Nutrition, Fundação FEMSA
a primeira infância como causa principal. (franquia do grupo Coca-Cola®) e
A Fundação teve papel de protagonismo Fundação Lemann (fundada pelo
no processo do MLPI, apesar de receber proprietário da Ambev®)109.
financiamento do setor comercial .
116

ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

“Porta giratória”: ex-funcionários da Big Food trabalhando em organiza-


ções governamentais e vice-versa.

Frederico Borges, chefe de gabinete do deputado Dar-


císio Perondi (MDB/RS), um dos autores do MLPI e que
atuou contra a regulação da publicidade infantil, traba-
lhou na indústria e posteriormente voltou para o setor
privado (abrindo uma empresa privada de lobby)117.
57
5.3 Publicidade infantil e o Marco
Legal da Primeira Infância

INCENTIVOS Estratégia Instrumental

Deputado Darcísio Perondi (MDB/RS), que foi contra o


item que proibia a publicidade para crianças, recebeu
financiamento da Big Soda (Ambev®)118.

GOVERNANÇA E MOLDAR O DE-


BATE SOBRE QUESTÕES DE ALI- Estratégia Discursiva
MENTAÇÃO, NUTRIÇÃO E SAÚDE

“Dentre as proposições apresentadas, foram re-


jeitados os itens que previam aumento da licença
maternidade, salas de amamentação nas empre-
sas e proibição da publicidade infantil, embora o “A preocupação do relator com as
mérito dessas propostas não tenha sido questio- crianças é extremamente louvável,
nado e sim sua possibilidade de implementação entretanto, tal tema da publicida-
no atual contexto do país.” 114 de e propaganda é extremamente
polêmico. A Câmara dos Deputa-
- Deputado Federal Osmar Terra, autor do MLPI.
dos vem discutindo desde 2001
diversos projetos de lei sobre o
tema e que até a presente data não
alcançou um acordo que pudesse permitir a transformação em lei. O tema
é importante e merece ser discutido com sua máxima responsabilidade, en-
tretanto, a discussão desta matéria no conjunto deste projeto que trata do
primeiro marco legal que o Brasil produzirá no âmbito da primeira infância,
pode prejudicar este importante avanço. Neste sentido, esta emenda visa
suprimir a proibição da publicidade infantil, contida no artigo 27 do substi-
tutivo do relator. É importante lembrar que o alcance seria muito mais am-
plo que somente a primeira infância, assim, considero que o mais correto é
que este tema seja discutido de maneira separada, até por ser estranho ao
contexto geral que estamos discutindo nesta proposta de marco legal.”119
- Deputado Darcísio Perondi,
em justificativa de emenda supressiva para o artigo 27 do MLPI.

58 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


GOVERNANÇA E MOLDAR O DE-
BATE SOBRE QUESTÕES DE ALI- Estratégia Discursiva
MENTAÇÃO, NUTRIÇÃO E SAÚDE

Como argumento para evitar a criação de regulação da publicida-


de voltada para o público infantil, a Big Food aponta a existência
da resolução no 163 de 2014 do CONANDA105, que dispõe sobre o
direcionamento de publicidade e de comunicação mercadológica
para crianças. Ao mesmo tempo em que é usada estrategicamen-
te para evitar novas regulações, desde sua origem, a validade da
resolução tem sido questionada tanto pela indústria de alimentos
quanto por representantes do mercado publicitário para evitar
o seu cumprimento. Em nota, representantes da mídia comer-
cial, como a ABERT e a Associação Brasileira de Radiodifusores
(Abra), afirmam que “reconhecem o Poder Legislativo, exercido
pelo Congresso Nacional, como o único foro com legitimidade
constitucional para legislar sobre publicidade comercial”120.

ECONOMIA Estratégia Discursiva

Aumento da licença paternidade


Licença maternidade de um ano: de cinco para 20 dias:

Aumentaria os custos do governo e Com o argumento de que um impor-


das empresas. Seria necessário rea- tante setor econômico solicitou que
lizar pesquisa sobre essa demanda o projeto fosse mais discutido no
e sobre o impacto da medida na plenário, o então deputado federal
empregabilidade da mulher121. Guilherme Campos (PSD/SP) fez um
requerimento (assinado por outros
66 deputados) para que o PL voltas-
se ao plenário da Câmara dos Depu-
“A manobra é perfeitamente regi-
tados e não seguisse para o Senado.
mental e por isso me sinto confor-
tável em pedir que o projeto seja
discutido em plenário.”122

- Deputado Guilherme Campos.


59
5.4 Tributação de
bebidas adoçadas

5.4 TRIBUTAÇÃO
DE BEBIDAS
ADOÇADAS

60 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


COMO IMPOSTOS PODEM
PROMOVER SAÚDE E SALVAR VIDAS

M
esmo diante da recomendação pela OMS, a tributação de bebidas adoçadas é um
dos temas da agenda regulatória que mais sofre interferência da indústria. O principal
argumento das corporações é que a medida teria um im-
pacto econômico negativo. Mas a experiência em mais de 60
territórios – entre países, estados e cidades – mostra ga-
nhos tanto para a saúde, quanto para a economia.

QUANTO MENOR QUANTO MAIOR


O IMPOSTO... A ALÍQUOTA...
aplicando a taxa de 20,7% proposta pela OMS

Mais baratos e acessíveis são Menor o


os produtos que fazem mal à consumo de
saúde da população bebidas não
Maior a preferência
saudáveis:
da população por
-19,59%
outras bebidas,
como água, leite e
suco natural: +15%
Mais as pessoas
gastam com a
compra destes
produtos e os
consomem

Mais pessoas
Menor a incidência
podem desenvolver
de DCNT e menos
doenças crônicas,
mortes prematuras
ficar improdutivas
e até morrer

61
QUANTO MENOR QUANTO MAIOR
O IMPOSTO... A ALÍQUOTA...
aplicando a taxa de 20,7% proposta pela OMS

Menos qualidade de vida Quanto menor é o consumo de


para a população e mais alimentos não saudáveis, maior é
gastos com tratamentos e a renda familiar disponível para a
previdência para o Estado compra de alimentos saudáveis

Maior a arrecadação:
estimativa de arrecadar
R$ 4,71 bilhões frente
aos R$ 294 mil atuais

O Estado concede
incentivos às empresas,
perdendo arrecadação… BRA
SIL
Maior a participação no
Produto Interno Bruto
brasileiro: R$ 2,59 bilhões

MPRESAS
E
Mais recursos disponíveis para
investimentos, por exemplo, no
…enquanto o lucro Sistema Único de Saúde (SUS)
das empresas cresce e geração de empregos

62 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


A
tributação de bebidas bilhões com pacientes das demais
adoçadas – como refri- doenças associadas (diabetes tipo
gerantes, refrescos, néc- 2, doenças cardíacas, cerebrovascu-
tares, energéticos, achocolatados, lares, doenças renais, asma, doenças
isotônicos, entre outros – é o tema osteomusculares e câncer).
da agenda regulatória que mais so-
Entretanto, a indústria promove
fre interferência da indústria e, por
forte e intenso lobby no Brasil e no
isso, não consegue avançar na pro-
mundo para que a tributação destas
porção da sua importância para a
bebidas não avance. No caso que fi-
saúde pública. A OMS recomenda
cou conhecido como Coca-Cola Le-
uma tributação de bebidas açuca-
aks, de 2016, em que vários e-mails
radas que aumente em pelo menos
de executivos da multinacional fo-
20% o preço final destes produtos
ram vazados, um gráfico apresenta
com a finalidade de reduzir o seu
as prioridades do lobby e as princi-
consumo e, consequentemente, pre-
pais políticas públicas para as quais
venir e controlar as DCNT123,124. Essa
a empresa deve se preparar, monito-
recomendação se dá por conta de
rar ou lutar contra, com base na pro-
o consumo de bebidas açucaradas
babilidade de materialização da me-
comprovadamente fazer mal à saú-
dida e do seu impacto nas vendas.
de e onerar o sistema de saúde com
Nele, a tributação aparece como a
o tratamento de doenças relaciona-
política pública mais danosa aos in-
das125.
teresses da companhia127.

Estudo coordenado pelo Instituto de Considerando que um grande nú-


Efectividad Clínica y Sanitaria (IECS mero de políticos brasileiros rece-
- Instituto de Efetividade Clínica e beu doações eleitorais128 do setor de
Sanitária, em português)126 revela bebidas129,130, que é também um im-
que o consumo de bebidas açucara- portante anunciante nos principais
das onera os cofres públicos: o siste- meios de comunicação, não é difícil
ma de saúde brasileiro gasta quase entender o motivo para que o debate
R$3 bilhões por ano na atenção a sobre a medida encontre tantos em-
pacientes com doenças provocadas pecilhos para avançar no país. Ainda
pelo consumo dessas bebidas. Des- assim, o tema vem ganhando fôle-
se total, quase R$140 milhões são go nos últimos anos, principalmente
usados na atenção a pessoas com devido à atuação da Receita Federal
obesidade e sobrepeso, e R$2,86 do Brasil, da Procuradoria da Fazen-

63
5.4 Tributação de
bebidas adoçadas

da Nacional e de organizações da ria a substituição por opções mais


sociedade civil sobre a relevância da saudáveis, como água, leite e suco
medida, já sendo aprovada por dois natural. Foi apurado que a arreca-
terços da população brasileira131. dação oriunda do tributo é crescen-
te com a alíquota e tem um nível
Nos debates sobre o tema, um dos
ótimo de arrecadação de R$7,10 bi-
principais argumentos utilizados
lhões por ano quando se estabelece
pela indústria são os potenciais im-
uma alíquota de 47,6%132.
pactos econômicos negativos. No
entanto, a medida já vem sendo O estudo da FIPE/USP simulou es-
adotada em mais de 60 pecificamente os im-
territórios ao redor do pactos no produto in-
globo, entre países, ci- terno bruto (PIB) e na
dades e estados, como geração de emprego
no México, Reino Unido O sistema de considerando o cenário
e cidades norte-ameri- saúde brasileiro onde o governo faria
canas como Berkeley e gasta quase alocação deste tribu-
Filadélfia. Com isso, já R$3 bilhões por to. O resultado foi que
há um conjunto robusto ano na atenção o incremento no PIB e
de evidências que mos- a pacientes de empregos são sig-
tram que os impactos com doenças nificativos, sendo que,
são positivos tanto para provocadas com a destinação dos
a saúde pública quanto pelo consumo recursos da tributação
para a economia .125
dessas bebidas para a saúde pública,
os incrementos seriam
No Brasil, recente pes-
ainda maiores. As simu-
quisa desenvolvida
lações verificaram tam-
pela Fundação Instituto
bém que, pelo aumento
de Pesquisas Econômicas da USP
do consumo de leite, o setor pecua-
(FIPE/USP), com o objetivo de ava-
rista e a região Nordeste seriam uns
liar os impactos da tributação de
dos que mais se beneficiariam com
bebidas adoçadas na economia e
a adoção do tributo majorado para
no seu padrão de consumo, mostra
as bebidas adoçadas132.
que o aumento de um tributo na-
cional sobre essas bebidas geraria No entanto, no Brasil, além de não
aumento do preço final, e, assim, haver uma tributação onerosa sobre
reduziria seu consumo e promove- as bebidas adoçadas não alcoólicas,

64 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


os fabricantes recebem uma série ção de IPI quando da compra dos
de incentivos fiscais que beneficiam xaropes concentrados de fabrican-
toda a cadeia produtiva, fazendo tes localizados na ZFM.
com que que o preço final para o
consumidor seja artificialmente bai- Isso se dá pois o IPI é um imposto
xo, e, assim, incentive o consumo132. não cumulativo, e, por isso, quando
Isso advém, principalmente, dos sig- incidente em diferentes etapas da ca-
nificativos benefícios fiscais conce- deia produtiva, pode ser compensado
didos a produtores de xaropes con- com os valores anteriormente recolhi-
centrados instalados na dos. Entretanto, na ZFM,
Zona Franca de Manaus em que há isenção do
(ZFM) e na Amazônia IPI no momento da ven-
Ocidental, também a da dos xaropes, ocorre
empresas comprado- algo permitido exclusi-
ras, em decorrência da vamente naquela região.
aplicação de alíquotas As empresas adquiren-
reduzidas ou zeradas tes podem promover o
de vários tributos133. aproveitamento do cré-
dito tributário presumido
Merece destaque a tri- (como se tivesse sido re-
butação do Imposto colhido o IPI). Em suma,
sobre Produtos Indus- não se recolhe o IPI no
trializados (IPI), que momento da compra dos
deve ser baseada no insumos, mas pode-se re-
nível da essencialidade alizar a compensação do
do produto, conforme IPI nas etapas posteriores
previsto no §3º, inciso da cadeia produtiva como
I do artigo 153 da Constituição Fe- se o imposto tivesse sido pago.
deral de 1988. Assim, no caso das
bebidas adoçadas e dos cigarros, Com isso, a Receita Federal do Brasil,
que são produtos comprovadamen- em documento intitulado “Análise
te nocivos à saúde, o IPI deve ter da tributação do setor de refrigeran-
alíquota majorada para redução do tes e outras bebidas açucaradas”134,
consumo. No entanto, toda a cadeia de 2018, apurou que a renúncia fiscal
produtiva das bebidas adoçadas seria de quase R$4 bilhões de reais
não alcoólicas se beneficia da isen- anuais e que os benefícios sociais

65
5.4 Tributação de
bebidas adoçadas

gerados na região amazônica pela será ainda mais efetiva se as dis-


produção dos insumos são muito torções advindas dos benefícios
reduzidos quando comparados ao fiscais da ZFM forem corrigidas. A
montante da renúncia fiscal. Também indústria, contudo, realiza forte lo-
foi apurado que as empresas deso- bby para impedir qualquer redução
bedecem a legislação que regula os nos bilionários benefícios fiscais
incentivos concedidos, elevando o que recebe, que podem ser ainda
valor da renúncia fiscal ao superfa- maiores devido a ilegalidades pra-
turar as notas fiscais. O documento ticadas pelas empresas134,136.
indica que, mesmo com ajuste na tri-
butação, não haveria esvaziamento A partir de 2018, o governo federal al-
da ZFM e que a redução nos valores terou a alíquota do IPI para reduzir o
dos incentivos fiscais traria impacto tamanho da renúncia fiscal até então
positivo nas contas públicas. Além existente e o que se viu foi uma forte
disso, a análise apontou que a me- mobilização do setor econômico, de
dida não geraria prejuízos para o parlamentares e políticos do estado
consumidor nem perda de postos do Amazonas para impedir essa me-
de trabalho, pois “as empresas do dida, com um consequente “sobe e
setor, que no Brasil são as maiores desce” de alíquotas de IPI para xaro-
remetentes de lucros e dividendos pes concentrados. Até 2022, os be-
para o exterior, têm todas as condi- nefícios fiscais seguem mantidos, ga-
ções de absorver um aumento em rantidos pela CF, pela legislação e por
sua carga tributária”, e que há uma decisão do Supremo Tribunal Federal
concorrência desleal no mercado (STF), sendo apenas reduzidos para
de refrigerantes e bebidas não al- a proteção do interesse público por
coólicas135. No acumulado de 2020 ato do Presidente da República136,137,
e 2021, a estimativa é que os incen- que tem a prerrogativa de alterar a
tivos fiscais via crédito presumido alíquota do IPI.
de IPI e crédito estímulo de Impos- A fim de garantir a manutenção des-
to sobre Circulação de Mercadorias se benefício, o então presidente da
e Serviços (ICMS) supere R$5 bi- ABIR, Alexandre Kruel Jobim - que
lhões de reais136,137. representa a Coca-Cola® e a Am-
Assim, a tributação majorada sobre bev®138 - esteve no Palácio do Pla-
bebidas adoçadas é comprovada- nalto, fazendo lobby para a altera-
mente uma medida eficaz para a ção da alíquota do IPI junto ao Poder
melhoria da saúde da população, Executivo, fora da agenda oficial139.
para o aumento da arrecadação Paralelamente, parlamentares e po-
fiscal e, assim, para a economia, e líticos do estado do Amazonas se

66 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


mobilizaram para apresentar vários atividades como a Tenda da Felici-
Projetos de Decreto Legislativo da dade146, a veiculação de campanhas
Câmara (PDCs) no Congresso Nacio- informativas em comerciais de te-
nal para anular o ato do Presidente levisão, jornais impressos, pontos
que alterou a alíquota do IPI140,141,142, e de ônibus e estações de metrô,
o governador do Amazonas ajuizou chamadas para a assinatura de pe-
uma Ação Direta de Inconstituciona- tições, participação em audiências
lidade (ADI) no STF para invalidar o públicas e em outros eventos apre-
ato presidencial (ADI nº 5.987)143. sentando o tema e disponibilizando
uma série de evidências científicas
Não bastasse essa atuação voltada
que corroboram a eficácia da me-
para os poderes Executivo, Legisla-
dida. Dos bastidores da campanha,
tivo e Judiciário, os fabricantes de
merece destaque o fato de que a
bebidas e seus aliados continuaram
ACT foi impedida pela MetroRio de
a estimular o consumo de seus pro-
divulgar a campanha Tributo Sau-
dutos por meio de publicidade mas- dável na estação de metrô Bota-
siva e com apelo a pautas sociais, fogo, na cidade do Rio de Janeiro,
além de financiamento de estudos, meses antes da Coca-Cola® com-
pesquisadores e eventos científicos prar o direito de inserir sua marca
na tentativa de dissociar esses pro- no nome da estação, que passou a
dutos dos malefícios que eles cau- se chamar Botafogo/Coca-Cola a
sam à saúde e ao planeta144. Por essa partir de janeiro de 2021147,148.
razão, a sociedade civil tem se orga-
Como mencionado anteriormen-
nizado para informar e sensibilizar a
te, a tributação das bebidas ado-
população, formadores de opinião e
çadas é parte de um conjunto de
autoridades públicas sobre os preju-
medidas voltadas para a criação de
ízos destas bebidas à saúde pública,
ambientes alimentares que priori-
sobre os benefícios fiscais bilioná-
zem escolhas saudáveis, e sua im-
rios que geram distorções tributá-
plementação é urgente. No cenário
rias e para apresentar uma proposta
atual de crise econômica, desmonte
nacional de tributação majorada das
de políticas públicas e redução no
bebidas adoçadas.
investimento na saúde pública, é
Encabeçada pela ACT Promoção imperativo promover medidas que
da Saúde e apoiada pela Aliança resultem em maior arrecadação, di-
pela Alimentação Adequada e Sau- minuição de mortes e de casos de
dável, há a campanha hashtag #Tri- DCNT, além do fim de subsídios a
butoSaudável145, a promoção de empresas multinacionais bilionárias.

67
5.4 Tributação de
bebidas adoçadas

A INTERFERÊNCIA DA INDÚSTRIA
EM POLÍTICAS TRIBUTÁRIAS
Grandes corporações internacionais de ultraprocessados promovem forte lobby
no Brasil e em outros países contra a tributação de seus produtos. O setor de be-
bidas adoçadas, como refrigerantes, é um exemplo claro desta agenda, inclusive
oferecendo elevadas doações eleitorais para políticos.

Veja a seguir como a indústria influencia as regras de impostos no país, criando


condições desfavoráveis para a alimentação adequada e saudável da população.

ATUAÇÃO EM COALIZÃO Estratégia Instrumental

A ABIR funciona como Márcia Terra, representante da SBAN,


uma importante porta-voz que tem a Coca-Cola® entre seus
do setor de bebidas não associados149, apresentou-se contrá-
alcoólicas, defendendo ria à tributação de bebidas adoçadas
os interesses de gran- durante audiência pública na Câmara
des corporações como a dos Deputados, em 31 de outubro de
Coca-Cola® e a Ambev®, 2017150,151. Em dezembro do mesmo ano,
principalmente na prote- o Instituto Brasileiro de Ética Concor-
ção dos subsídios da ZFM. rencial (ETCO), que na época contava
com a Coca-Cola® e a Ambev® entre
seus associados152, também se manifes-
tou contrário à iniciativa153. Já em janei-
ro de 2020, foi a vez de Evandro Gussi,
diretor-presidente da União da Indústria
Depois que a sociedade
de Cana-de-Açúcar (UNICA), publicar
civil passou a utilizar o ter-
uma nota no jornal Folha de S. Paulo
mo “tributação” no lugar
questionando a eficácia da medida154.
de “taxação”, a indústria
fez o mesmo, apropriando-
-se da narrativa da socie-
dade civil, o que pode indi-
car um monitoramento das
operações e estratégias de
advocacy desses grupos.
68 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação
GERENCIAMENTO DE
Estratégia Instrumental
INFORMAÇÃO

Publicação Brasil Beverage Trends 2020, do ITAL, do Estado de São


Paulo, com apoio da ABIR, que traz as tendências para o setor e as im-
plicações para as empresas nos próximos anos e que considera como
“uma postura bastante radical” as ações que visam à diminuição do
consumo de produtos ultraprocessados e que indicam os seus malefí-
cios, além de condenar a classificação NOVA de alimentos e a tributa-
ção de bebidas por meio de estudos enviesados155.

“Pesquisa do Ministério da Saúde (Vigitel) apontou aumento de 72% no


índice de obesidade entre 2006 e 2019. Na contramão desses dados, a
frequência do consumo regular de refrigerantes e bebidas açucaradas caiu
51,5% de 2007 a 2019. Ou seja, não existe correlação direta entre consu-
mo de refrigerantes e obesidade, uma doença multifatorial.” - Trecho de
nota da ABIR publicada no jornal Valor Econômico em 29 de setembro de
2020156. A nota, no entanto, desconsidera que mesmo com essa redução, os
refrigerantes ainda são o quinto produto mais consumido diariamente pe-
los brasileiros, atrás apenas do café, arroz, feijão e sucos, bem como ignora
que tal dado não deve ser considerado isoladamente157.

Além disso, a nota ignora que o aumento da tributação


visa também a melhoria na arrecadação, nos indicadores
de saúde e a correção de distorções fiscais e não faz men-
ção às pesquisas da OMS, do Banco Mundial e, mais recen-
temente, da FIPE/USP que apontam os benefícios à saúde
pública advindos da tributação de bebidas adoçadas.

69
5.4 Tributação de
bebidas adoçadas

GERENCIAMENTO DE
Estratégia Instrumental
INFORMAÇÃO

Em conteúdo patrocinado pela ABIR, o website Poder 360 divul-


gou uma pesquisa onde 69% dos brasileiros “se dizem contra o
aumento de imposto para reduzir o consumo de refrigerantes e
sucos industrializados”158. Diferentemente da pesquisa que aponta
o apoio da população à medida, esta não aborda o aspecto da
baixa saudabilidade de bebidas açucaradas, nem a possibilidade
de usar o dinheiro dos impostos para aumentar os recursos para
financiar a saúde, direcionando o entrevistado apenas para a
questão da criação de mais um tributo131.

Vários cientistas e pesquisadores brasileiros patrocinados direta


ou indiretamente pela Coca-Cola® atuam como defensores da
atividade física como a principal medida contra a obesidade -
em consonância com o pregado pela marca em campanhas de
seus produtos - e, assim, acabam por invisibilizar o impacto do
consumo das bebidas adoçadas no ganho de peso e em outras
doenças. Uma investigação jornalística já apontou exemplos de
pesquisadores do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão
Física de São Caetano do Sul (Celafiscs), casos da Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP), um dos quais era ex-coorde-
nador da Força-Tarefa Estilos de Vida Saudáveis do ILSI, e uma
aposentada da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Univer-
sidade Estadual de Campinas (FEA/Unicamp), entre outros159.

70 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

Em 1995, o então ministro do Documentos obtidos pelo website


STF Nelson Jobim liderou na- O Joio e o Trigo mostram como o
quele tribunal uma decisão judi- senador Tasso Jereissati (PSDB/
cial que garantiu às empresas de CE), proprietário de uma das
bebidas adoçadas créditos sobre maiores engarrafadoras de Coca-
impostos que não são pagos. Em -Cola® do Brasil, interveio junto ao
2017, o filho dele, Alexandre Jo- então ministro da Fazenda, Guido
bim, então presidente da ABIR, Mantega, e conseguiu a edição de
encabeçou o movimento para um novo decreto em 2008, quan-
manter o benefício160. do a Receita sugeriu o fim dos
créditos tributários161.

Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP/USP) identificou que 48


dos 81 senadores e 237 dos 513 deputados federais que exerceram mandato en-
tre 2015 e 2019 contaram com recursos de campanha da Big Soda. “De acordo
com o trabalho, essa influência também foi atestada em votações no Congresso
e pode ser vista principalmente nas dificuldades de tramitação de projetos que
modificam a regulação e a tributação da indústria de bebidas”162.

Coca-Cola® e Ambev® ameaçaram encerrar as


atividades no Brasil após a redução alíquota de IPI
de 20% para 4% para o setor de bebidas na ZFM, em
2018163, uma vez que essa redução da alíquota resul-
taria, como consequência, em menos créditos tribu-
tários presumidos a serem aproveitados.

71
5.4 Tributação de
bebidas adoçadas

ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

Foram apresentados ao menos três PDCs


com o intuito de sustar os efeitos do De-
creto nº 9.394/2018, que alterou a Tabela
de Incidência do Imposto sobre Produ-
tos Industrializados (Tipi), reduzindo o
crédito tributário de 20% para 4% para
o setor de bebidas da ZFM164. São eles:
PDC nº 1011/18, da então senadora Vanes-
Ainda com vistas a sustar o De-
sa Grazziotin (PCdoB-AM) e o senador
creto nº 9.394/2018, o senador
Omar Aziz (PSD-AM)18, PDC nº 966/18,
Eduardo Braga (MDB/AM) falou
do deputado federal Pauderney Avelino
em ‘intocabilidade’ dos benefícios
(DEM/AM)138 e PDC nº 969/18, do depu-
da ZFM e disse que o ministro da
tado federal Silas Câmara (ex-PRB, atual
Fazenda iria consultar a Procura-
Republicanos/AM)139.
doria da Fazenda Nacional sobre
a constitucionalidade do decreto.
“Caso seja positiva, avançamos.
Caso negativo, vamos tentar via
Supremo Tribunal Federal ou
por meio de decreto legislativo
para resgatar o direito da ZFM e
Além dos PDCs, parlamentares do a segurança jurídica dos investi-
Amazonas, juntamente ao governador mentos do setor”. Em 2010, ele
do Estado, se reuniram na residência recebeu R$140 mil da Arosuco e
oficial do então presidente da Câmara, R$75 mil da Schincariol, enquan-
Rodrigo Maia (à época DEM-RJ), para to o diretório estadual angariou
discutir uma alternativa [ao Decreto nº outros R$50 mil da Recofarma143.
9.394/2018]. O ministro da Fazenda,
Eduardo Guardia, e o secretário da Re-
ceita Federal, Jorge Rachid, participaram
do encontro164.

72 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


ECONOMIA Estratégia Discursiva

“O fim dos incentivos dificultaria a manutenção dos investimentos na região


e colocaria em risco não apenas os milhares de empregos gerados pelas
indústrias de bebidas não alcoólicas, como também a conservação da maior
floresta tropical do planeta: a Amazônia.”

- Fala do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas


(Fieam), Antônio Silva165, em resposta ao manifesto da Associação dos Fa-
bricantes de Refrigerantes do Brasil (AFREBRAS) que questiona o modelo
de créditos de IPI na ZFM166.

MOLDAR O DEBATE SOBRE


QUESTÕES DE ALIMENTAÇÃO, Estratégia Discursiva
NUTRIÇÃO E SAÚDE

“Querer atribuir a responsabilidade a um


único produto é uma simplificação peri-
gosa que nos afasta da real solução do
problema. Imposto não fabrica saúde.”

- Trecho de nota da ABIR publicada no


jornal Valor Econômico em 29 de se-
tembro de 2020156.

73
5.4 Tributação de
bebidas adoçadas

MOLDAR O DEBATE SOBRE


QUESTÕES DE ALIMENTAÇÃO, Estratégia Discursiva
NUTRIÇÃO E SAÚDE

Os mesmos argumentos da Big Soda foram usados em um texto de opinião intitulado


“Tributar mais bebidas açucaradas pode não reduzir a obesidade”, assinado pelo ex-
-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Maílson da Nóbrega,
publicado no jornal Folha de S. Paulo em agosto de 2021167. Abaixo, alguns trechos:

“Tendo em vista que a obesidade está


associada a múltiplas causas, a adoção
de um tributo extraordinário sobre um
grupo específico de alimentos, com
participação relativamente baixa na dieta
do brasileiro, não parece ser uma medida
efetiva para combater o problema”167.
“Um caminho mais efetivo
estaria na combinação de me-
didas de promoção da saúde,
como campanhas de conscientização, incenti-
vos à prática de atividades físicas e à alimen-
tação saudável”167.

“Outro caminho, já em curso, são acor-


dos voluntários entre a indústria e o
Ministério da Saúde para a redução gra- Aqui, cabe lembrar que experiên-
dual da quantidade de açúcar, sódio e cias brasileiras e internacionais,
gordura trans nos alimentos e bebidas bem como evidências científicas
industrializados. A promoção de um já comprovaram que os acordos
ambiente informacional mais rico, com voluntários são pouco efetivos na
rótulos nutricionais claros e objetivos, a redução do uso de ingredientes
redução das porções e a oferta de uma críticos, como os citados no texto,
gama maior de produtos são outras ini- e que políticas públicas são as me-
ciativas que contribuem para escolhas didas mais adequadas168,169.
conscientes de alimentação”167.

74 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


5.5 PROGRAMA
NACIONAL DE
ALIMENTAÇÃO
ESCOLAR (PNAE)

75
PNAE: A POLÍTICA DE ALIMENTAÇÃO
MAIS ANTIGA DO BRASIL

PROGRAMA NACIONAL
DE ALIMENTAÇÃO
Está presente nos
27 estados ESCOLAR
e em todos os
5.570
municípios
do Brasil Atende cerca de 40 milhões
de estudantes da Educação Básica
da rede pública.

Tem mais de 60
anos de existência

Foi estabelecido por Lei, De-


creto e orçamento tripartite,
assegurando aos estudantes
a promoção, a proteção e
a garantia do DHAA, e da
segurança alimentar e nu-
tricional (SAN), que deve
ser universal e gratuito.

Tem como objetivo contribuir para a É reconhecido nacional e internacionalmente


formação de hábitos alimentares sau- como responsável por garantir o acesso à ali-
dáveis dos estudantes, por meio de mentação para estudantes, sendo responsável
ações de educação alimentar e nutricio- por tirar o Brasil do Mapa da Fome em 2016 e
nal e da oferta de refeições saudáveis. diminuir a prevalência da desnutrição no país.

76 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


O programa integra a
O PNAE estabelece a obrigatorie- agricultura familiar e a
dade de que no mínimo 30% alimentação escolar,
dos recursos financeiros repassa- incorporando os princípios de
dos pela União sejam utilizados na equidade, participação social,
aquisição de produtos diretamen- sustentabilidade e respeito aos
te da agricultura familiar. hábitos e tradições regionais.

Com mais de 50 milhões


de refeições distribuídas
por dia, os repasses financei-
ros giram em torno de R$4,1
bilhões por ano171.

77
O
distanciamento social A alimentação do estudante é um di-
imposto pela pandemia reito garantido pela Constituição Fe-
de COVID-19, no início deral de 1988, mas foi a Lei nº 11.947
de 2020, afetou milhões de estu- de 2009172 que estabeleceu as dire-
dantes brasileiros que tiveram que trizes atuais do programa. Seu obje-
se ausentar das escolas. Conse- tivo é atender às necessidades nutri-
quentemente, crianças e adolescen- cionais dos alunos e contribuir para
tes ficaram sem acesso àquela que, a formação de hábitos alimentares
em muitos casos, seria a única ou a saudáveis durante a permanência em
principal refeição do dia: a alimen- sala de aula, assim como para o cres-
tação escolar. Num cenário de crise cimento, desenvolvimento, aprendi-
política, econômica e social, houve zagem e rendimento escolar. Devido
espaço para discussões oportunis- a sua dimensão tanto de popula-
tas com o objetivo de alterar a lei ção atendida quanto de recursos, o
no 11.947/2009, que regulamenta o PNAE sempre foi objeto de disputa
PNAE, para que ele sirva como ga- e conflitos de interesses171. Represen-
rantia de escoamento da produção ta enorme capacidade de absorver a
de gêneros alimentícios específicos. produção de alimentos e ainda de
criar demanda futura, promovendo
O PNAE é a política pública de SAN
hábitos de consumo em crianças e
mais antiga do Brasil e um caso de
adolescentes de todo o país.
sucesso na área. É reconhecido pela
Organização das Nações Unidas para Uma das investidas mais recentes do
a Alimentação e a Agricultura (Food setor produtivo173 de carnes e de lác-
and Agriculture Organization of the teos para se beneficiar dos recursos
United Nations - FAO, em inglês) e do PNAE é o PL nº 3.292/2020174, de
serviu como modelo para a imple- autoria do Deputado Federal Vitor
mentação de programas similares em Hugo (PL/GO, ex-PSL). Ele estabele-
países da África, da América Latina e ce que um percentual mínimo de 40%
do Caribe170. Está presente nos 27 es- dos recursos financeiros repassados
tados do Brasil, em 5.570 municípios pelo Fundo Nacional de Desenvolvi-
e atende cerca de 40 milhões de es- mento da Educação (FNDE) para o
tudantes da Educação Básica da rede Programa seja usado para a aquisição
pública. Com mais de 50 milhões de de leite fluido. O PL foi apresentado
refeições distribuídas por dia, os re- no mês seguinte da campanha “De-
passes financeiros giram em torno de safio do Leite”, promovida em maio
R$4,1 bilhões por ano171. de 2020 pela Associação Brasileira

78 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


dos Produtores de Leite (Abraleite) apontaram os riscos que a propos-
com o objetivo de valorizar o setor e ta representa ao PNAE e os conflitos
incentivar o consumo de leite e deri- de interesses envolvidos178. Entre os
vados, e teve a participação do Pre- principais problemas evidenciados,
sidente da República, Jair Bolsonaro estão a retirada da autonomia de es-
(PL/RJ), e da ministra da Agricultura, tados e municípios na definição do
Tereza Cristina175. cardápio escolar, que devem ser ba-
seados pela oferta local e sazonali-
Aprovado em caráter de urgência na
dade, entre outros fatores, e cria um
Câmara dos Deputados, o PL ainda
precedente de reserva
modifica um outro pon-
de mercado que pode
to importante: retira a
tornar o PNAE suscetível
prioridade de compra
a interesses e lobby da
concedida à agricultu-
indústria de alimentos e
ra familiar, aos assen-
bebidas.
tamentos da reforma
agrária, a comunidades Desde o surgimento das
indígenas, quilombolas e políticas voltadas à ali-
povos tradicionais. O PL mentação escolar, na dé-
ainda aguarda a apre- cada de 1950, o lobby da
No final da
ciação do Senado, mas Big Food e do Big Agro
década de
despertou preocupação esteve muito presente,
1970, apenas
e gerou mobilização de especialmente porque,
12 empresas
organizações da socie- no começo, as compras
forneciam
dade civil em todo o Bra- eram centralizadas no
insumos para
sil, como o Observatório governo federal, que
a alimentação
da Alimentação Escolar também planejava o
escolar
(ÓAÊ) , a Aliança pela
176
cardápio e distribuía os
Alimentação Adequada alimentos para todo o
e Saudável , a Associação Brasileira
177
território brasileiro. No final da déca-
de Nutrição (ASBRAN), a ACT Pro- da de 1970, por exemplo, apenas 12
moção da Saúde, o Conselho Fede- empresas forneciam insumos para a
ral de Nutricionistas (CFN), a Confe- alimentação escolar171, e dessas, ape-
deração Nacional dos Trabalhadores nas quatro eram responsáveis por
na Agricultura (CONTAG), a Fede- mais de 70% das aquisições de ali-
ração Nacional dos Nutricionistas mentos. Mas a descentralização das
(FNN), a FIAN Brasil e o Idec, que aquisições de alimentos, a partir da

79
5.5 Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE)

PNAE, que prevêem a garantia da


SAN dos estudantes, mas, por citar
um alimento específico, visa aten-
der aos interesses econômicos dos
produtores de suínos, aumentando
seu consumo per capita e reduzindo
prejuízos financeiros do setor.

Além desses, há diversos PLs na


Câmara com a intenção de alterar a
normativa do PNAE, tentando criar
reserva de mercado para os mais
diferentes tipos de alimentos. Mas
propostas como essas ferem as di-
lei nº 8.913 de 1994 (que municipali- retrizes do Programa, em especial
zou a merenda escolar) e a mudança a que estabelece que os cardápios
no marco normativo do PNAE, ofe- da alimentação escolar devem ser
receram dificuldades às interferên- elaborados pelo nutricionista res-
cias corporativas na compra da ali- ponsável, com o objetivo de pro-
mentação escolar e fortaleceram a mover uma alimentação adequada
participação e o controle social. e saudável. Para tal, o profissional
deve se basear na utilização de ali-
Assim, a Big Food e o Big Agro volta- mentos in natura ou minimamente
ram suas atenções para o Poder Le- processados (de acordo a Resolu-
gislativo, como ocorreu no caso do ção do Conselho Deliberativo do
PL nº 4195/12179, que trata da inclu- FNDE nº 06/2020181, que segue as
são da carne suína como item obri- recomendações do Guia Alimen-
gatório na alimentação escolar em tar para a População Brasileira182),
todo o país e que estrategicamente respeitando necessidades nutricio-
voltou a ser discutido na Câmara dos nais, cultura e hábitos alimentares
Deputados recentemente, graças ao locais. Outras questões que tam-
contexto favorável após aprovação bém devem ser consideradas são
do PL do leite fluido. O PL foi origi- as logísticas de transporte e de ar-
nado a partir de uma proposta apre- mazenamento dos alimentos, pon-
sentada pela Associação Brasileira tos completamente ignorados nos
dos Criadores de Suínos (ABCS)180 PLs anteriormente citados.
ao deputado federal Afonso Hamm
(PP-RS). A proposta não tem ne- Com a suspensão das aulas presen-
nhuma relação com as diretrizes do ciais durante a pandemia, o PNAE

80 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


precisou ser temporariamente adap- gestão do Programa184,185,186. A trans-
tado para responder aos desafios ferência de recursos é uma possibi-
emergentes. Uma lei do Governo Fe- lidade diante de cenários de exce-
deral183 autorizou, em caráter excep- ção, mas contraria os princípios e
cional, que os alimentos adquiridos objetivos do PNAE, além de colocar
com recursos do FNDE destinados em risco o acesso à alimentação
ao Programa fossem repassados adequada e saudável, pois os valo-
para as famílias dos estudantes. Já res repassados não são suficientes
os estados e municípios ficaram li- para a aquisição de uma refeição
vres para escolher como usar os re- completa por uma família, já que o
cursos próprios. Como a logística volume de compras é muito menor
de compra, armazenamento e distri- quando comparado ao realizado
buição de alimentos frescos, como por estados e municípios187.
frutas e hortaliças, é complexa, agri-
Outra discussão que ronda o Pro-
cultores familiares enfrentaram a re-
grama frequentemente é em rela-
dução ou o cancelamento de vendas
ção a sua terceirização. Sob argu-
para o Programa, e, consequente-
mentos de melhorar a qualidade
mente, tiveram impactada sua SAN.
do serviço e reduzir os custos, esta
Diferentes modalidades foram esco-
prática gera questionamentos so-
lhidas para a substituição da alimen-
bre diferentes aspectos, entre eles a
tação escolar no período de afasta-
preocupação com a queda na qua-
mento dos alunos das escolas, como
lidade das refeições e a dificuldade
distribuição de cestas básicas e kits
de fiscalização das compras feitas
de alimentos, de refeições prontas e
por empresas terceirizadas.
até a transferência de valores em di-
nheiro para as famílias.

Nesse sentido, a iniciativa privada


também se aproveitou do momen-
to para demonstrar interesse nos
recursos do Programa: operadoras
financeiras não apenas disputaram
o acesso a esse importante merca-
do (que inclui os dados de milhões
de consumidores, além de informa-
ções privilegiadas de consumo a
partir das compras realizadas pelos
cartões e aplicativos) como se co-
locaram como opção futura para a

81
5.5 Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE)

Enquanto no Poder Le- crianças e adolescentes


gislativo são abertos diariamente.
caminhos para os inte-
Questões
resses privados captu- O PNAE atende a um di-
urgentes seguem
rarem recursos e mo- reito constitucional e às
dificarem diretrizes do
ignoradas, como necessidades da popu-
PNAE, questões urgen- o baixíssimo lação. Graças aos seus
tes para a população valor do repasse mecanismos de partici-
atendida pelo Progra- federal, cerca pação e controle social,
ma seguem ignoradas, de R$7 por mês tem acompanhamento
como o baixíssimo valor por aluno e fiscalização da socie-
do repasse federal, cer- dade civil para evitar
ca de R$7 por mês por conflitos de interesses
aluno , o que obriga es-
188
nos processos decisó-
tados e municípios a arcarem com a rios. Essas ferramentas mostram-se
maior parte dos custos . Além dis-
189
ainda mais importantes num contex-
so, falta estrutura física adequada to de desmonte de programas e po-
para preparo e armazenamento das líticas públicas de abastecimento e
refeições em muitas escolas, desde de apoio à produção de alimentos189,
saneamento básico e água encana- para impedir que o Programa seja
da até espaço e equipamentos apro- usado como estratégia para favore-
priados para atender às refeições de cer o setor produtivo.

PNAE e o incentivo aos pequenos produtores


Além de garantir a nutrição de estudantes, o PNAE também apoia o desen-
volvimento sustentável, incentivando a aquisição de gêneros alimentícios di-
versificados, sazonais e de produção local. Com o objetivo de diminuir as dis-
tâncias entre a produção e o consumo da refeição e fortalecer ações de SAN
tanto para a comunidade escolar quanto para os agricultores da região, pelo
menos 30% dos recursos federais do FNDE (o mesmo que está sendo dispu-
tado pelo PL do leite fluido) devem ser destinados à aquisição de alimentos
da agricultura familiar. Mas este ponto sempre foi alvo de críticas pelo setor
produtivo, exatamente por garantir mercado aos pequenos produtores - e
não aos grandes que, historicamente, dominaram as vendas.

82 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


A DISPUTA DE INTERESSES
SOBRE O PNAE
O PNAE dá vazão para uma enorme quantidade de alimentos e movimenta
um enorme volume de recursos, uma vez que a política atende a todos os
municípios do Brasil.

A indústria enxerga no PNAE uma oportunidade para o escoamento


de produtos específicos, como leite e carne de porco, sem considerar a
produção e o consumo local.

Além de tentarem diminuir a quantidade obrigatória de alimentos provenientes


da agricultura familiar, as corporações sugerem terceirizar o PNAE.

Confira abaixo a lista de recursos da indústria para atacar o PNAE.

ATUAÇÃO EM COALIZÃO Estratégia Instrumental

Desafio do Leite, promovido pela Abraleite, lançado


no mês anterior à proposição do PL nº 3.292/2020:

• Matérias em websites e posts


nas redes sociais incentivando o
consumo de leite e enfatizando Buscando envolvimento
características nutricionais e seus da sociedade, produtores
benefícios à saúde190,191,. de leite convocaram seus
• Participação de produtores de pares a gravar vídeos nas
leite, figuras públicas e políticos redes sociais em apoio ao
no Desafio do Leite192. PL nº 3292/2020193,194,195.
• O Portal “Canal Rural” participou
do Desafio do Leite e convidou os
leitores a postarem fotos nas re-
des sociais e compartilharem com
a hashtag do portal175.

83
5.5 Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE)

ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

Aproximação do setor produtivo com os Poderes Legis-


lativo e Executivo. O presidente da República e a minis-
tra da Agricultura participaram do “Desafio do Leite”175.

Incidência em deputados federais para elaboração de PL


e sua aprovação. Exemplos:

PL nº 4195/12 - elaborado a partir de PL nº 3.292/2020 - Mobilização


uma proposta entregue pela ABCS 180
de produtores de todo o país,
ao deputado Afonso Hamm (PP/RS) que fizeram campanha nas redes
em abril de 2012, que protocolou o sociais para apoio ao PL193,194,195.
PL em julho do mesmo ano. Aguar- Aprovado na Câmara, aguarda
da votação na Câmara. apreciação do Senado.

Câmara dos Deputados cria a Frente Parlamentar em


Apoio ao Produtor de Leite (FPPL)196,197, liderada pelo
deputado federal Vitor Hugo (PL/GO) e apoiada por
movimentos como Construindo Leite Brasil, Inconfidên-
cia Leiteira, Aliança e Ação, União e Ação e Aproleite
Goiás. A Frente pretende pressionar a aprovação do PL
nº 3.292/2020.

84 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


ECONOMIA Estratégia Discursiva

Os PLs nº 4195/12 e nº PL nº 4195/12 - Objetivo de “ofe-


3.292/2020 têm como objeti- recer aos produtores garantia de
vo a garantia de um mercado escoamento da produção”179.
consumidor futuro com a cria-
ção do hábito de consumo de
carne suína e leite em crianças e
adolescentes. “As crianças têm a PL nº 3.292/2020 - Visa a “dina-
aceitação muito maior e curiosi- mização da produção regional
dade de experimentar o novo”198. de leite e promove a geração de
renda nas localidades em que se
encontram os estudantes que
consomem o produto”199 (Deputa-
do Federal Vitor Hugo).
Gestão terceirizada do PNAE -
melhorar a qualidade do serviço
prestado e reduzir os custos200.

MOLDAR O DEBATE SOBRE


QUESTÕES DE ALIMENTAÇÃO, Estratégia Discursiva
NUTRIÇÃO E SAÚDE

PL nº 4195/12

Proporcionar aos estudantes uma “fonte protéica de qualidade”201


(no caso, a carne suína) - Deputado Federal Afonso Hamm.

85
5.5 Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE)

5.6 DOAÇÕES
NA PANDEMIA
DE COVID-19

86 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


A
estratégia de realizar ações de auto- Agravamento dos casos, mortes
CONTRADITÓRIA promoção disfarçadas de filantropia e
responsabilidade social não é novidade
e demais consequências da
pandemia de COVID-19
BENEFICÊNCIA entre as corporações. Além de melhorar a ima-
gem entre os consumidores e os tomadores de
decisão, abrindo caminho para a interferência nas
E quando parte do problema políticas públicas, as empresas ainda levam os
se vende como solução? produtos a um público vulnerável, que são poten-
ciais novos e fiéis consumidores.

Construção de um discurso Uso do contexto de


publicitário enquanto pandemia, às vezes com
fazem alianças com o poder discursos pejorativos sobre
público e barram políticas de a realidade, para reforçar as
promoção à saúde vendas dos produtos

NOTÍCIA

Mondelez Brasil doou mais de 3


220 toneladas de produtos, entre
chocolates, biscoitos e produtos NOTÍCIA
não perecíveis, para 14 estados
McDonald’s destina R$ 4,6
milhões para o combate aos
2 efeitos da pandemia no Brasil e
100 mil lanches fast food para
trabalhadores do setor essencial
NOTÍCIA
Promoção e produção
Ferrero do Brasil doa mais de 4
de alimentos com altos
3,5 milhões de chocolates para
quantidades de açúcares, instituições filantrópicas NOTÍCIA
sódio e gorduras
Danone doa alimentos
parapopulação vulnerável
e profissionais da saúde
Entre as doações, suplementos
para idosos, cereais infantis,
iogurtes, bebidas e outros
alimentos ultraprocessados

1. https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/05/25/ 3. https://globoplay.globo.com/v/8725560/
solidariedade-sa-doacao-de-alimentos-testes-covid-e-equipamentos-de- 4. https://g1.globo.com/jornal-nacional/
protecao.ghtml noticia/2020/05/11/solidariedade-sa-doacao-de-alimentos-
2. https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/10/06/ para-populacao-vulneravel-e-profissionais-de-saude.ghtml
solidariedade-sa-doacao-de-chocolates-a-instituicoes-filantropicas.ghtml
5.6 Doações na pandemia
de COVID-19

E
ntre as estratégias de atu- Nos primeiros meses da pandemia
ação da indústria de ali- de COVID-19, esse tipo de prática
mentos junto à sociedade, pôde ser acompanhado quase que
as ações de filantropia e responsa- diariamente pelas redes sociais e no
bilidade social são as mais conhe- principal telejornal do país - o Jor-
cidas. Seja a partir da criação de nal Nacional, da Rede Globo - que
instituições voltadas para essa fina- alterou a linha editorial e passou a
lidade, seja por meio de doações, veicular ações filantrópicas de gran-
esse tipo de ação é intensificada des empresas por meio do quadro
em momentos de crise sanitária e Solidariedade S/A203. Considerando
calamidade pública, como foi ob- o alcance do programa, fica clara
servado no período da pandemia a importância de ter as ações em-
de COVID-19, a partir de 2020. Isso presariais veiculadas no quadro,
acontece, pois tais ações funcionam especialmente porque elas foram
como uma forma de autopromoção: retratadas sem nenhum questiona-
além de melhorar a imagem da em- mento ou crítica quanto à veracida-
presa junto aos consumidores, à so- de de valores, produtos doados ou
ciedade em geral, aos tomadores de mesmo sobre como as empresas li-
decisão e às autoridades públicas – daram com as restrições impostas
e assim possibilitar sua interferência pela pandemia, ignorando questões
nas políticas públicas, também leva como violações de direitos trabalhis-
os produtos a um público vulnerá- tas e descumprimento de normas de
vel, que são potenciais novos e fiéis saúde e segurança1.
consumidores. Além disso, desen-
cadeia um aumento de menções à Assim, ao longo de seis meses, mais
marca, funcionando como publici- de 140 empresas tiveram as doações
dade espontânea. Ao mesmo tem- exaltadas no Jornal Nacional, das
po, as doações implicam em uma quais 26 (cerca de 18%) eram do se-
série de benefícios fiscais202, na re- tor de alimentação e bebidas204. As
dução de custos com descartes e doações exibidas dividiam-se em
em deduções do ICMS. Ou seja, em quatro grandes tipos: doação de
muitos casos, o valor doado torna- verba; de alimentos; de produtos e
-se irrisório a essas empresas fren- de equipamentos e insumos de uso
te ao lucro e aos demais benefícios hospitalar. Enquanto a maior parte
advindos da ação. das empresas optou pela doação

88 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


de verbas, que foram destinadas a tos dos quais alimentos e bebidas ul-
ONGs ou à compra de aparelhos ou traprocessados.
criação de leitos hospitalares, mui-
Destacam-se nessa modalidade a
tas também fizeram a doação dire-
doação de combos de fast-food
ta desses equipamentos e insumos,
para trabalhadores essenciais no
como álcool em gel, respiradores,
enfrentamento da pandemia, a ins-
máscaras e outros equipamentos de
talação de geladeiras com bebidas
proteção individual (EPIs). A doa-
lácteas para profissionais de saú-
ção de alimentos, especialmente na
de, a doação de chocolates para
forma de refeições prontas e ces-
instituições filantrópicas e de re-
tas básicas, foi outra forma bastan-
frigerantes para comunidades, ins-
te adotada, tendo sido identificado
tituições e profissionais de saúde
que algumas empresas optaram por
(Quadro 1), entre outros.
doar itens do próprio portfólio, mui-

Quadro 1. Doações de produtos alimentícios apresentadas no quadro Solida-


riedade S.A., de abril a outubro de 2020, no Jornal Nacional.

Empresa Doação Destino das doações

800 toneladas de alimentos, Lares de idosos, abrigos, co-


bebidas e complemento nu- munidades pobres e coopera-
Nestlé® 205,206
tricional; 1,5 milhões de ovos tivas de catadores; hospitais
de páscoa e populações vulneráveis

Um milhão de litros de bebi- Comunidades, instituições e


Coca-Cola Brasil®207
das e alimentos. profissionais de saúde

230 toneladas de alimentos,


entre suplementos para ido-
Governos dos estados de São
Danone® 208
sos, cereais infantis, iogurtes
Paulo e de Minas Gerais
e bebidas e outros 15 mil pro-
dutos não especificados

89
5.6 Doações na pandemia
de COVID-19

105 toneladas de produtos,


que equivalem a mais de um
PepsiCo®209 Oito estados
milhão de unidades, entre
alimentos e bebidas

ONG Banco de Alimentos, em


Kraft-Heinz® 210
30 toneladas de produtos São Paulo e Central Única de
Favelas do Goiás

120 toneladas de proteína


(não especificadas, mas além Casas de idosos, instituições
dos cortes bovinos, a empre- assistenciais e para secreta-
Minerva Foods®211 sa também comercializa miú- rias de saúde de oito cidades
dos, hambúrgueres, nuggets onde a empresa tem unida-
e salsichas), carne bovina e des industriais
enlatados (não especificados)

220 toneladas de produtos,


14 estados; funcionários de
Mondelez Brasil® 212
entre chocolates, biscoitos e
dois hospitais
outros produtos alimentícios

195 toneladas de produtos de Mesa Brasil Sesc e ONG


suas marcas (iogurtes, quei- Banco de Alimentos; 4.500
Vigor Alimentos®213
jos, leite etc.); instalação de profissionais de saúde de três
geladeiras com iogurtes. hospitais de São Paulo

Trabalhadores do setor es-


sencial, como caminhoneiros,
McDonald’s®214 100 mil refeições
profissionais de reciclagem e
de saúde

Hospitais do Rio de Janeiro,


de São Paulo e de Fortale-
Burger King® 215
575 mil sanduíches za; ONGs e projetos sociais
como Mesa Brasil, Banco de
Alimentos e Rio da Paz

Vinte instituições filantrópi-


Ferrero do Brasil®216 3,5 milhões de chocolates
cas

90 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


As ações desenvolvidas por essas Além de buscarem passar uma ima-
empresas são vistas de maneira po- gem positiva para os consumidores
sitiva pela população, apesar de for- e tomadores de decisão, recorrendo
necerem alimentos e bebidas cujo às doações, as grandes empresas de
consumo está associado ao aumen- alimentos e bebidas têm uma atu-
to da obesidade e de DCNT para ação muito forte e direta no Poder
um público socialmente vulnerável Executivo, por meio de parcerias pú-
e mais afetado justa- blico-privadas, especial-
mente por tais proble- mente nos momentos
mas de saúde. Não se de crise. Uma campanha
Não se pode
pode ignorar a incoe- do governo do Estado
ignorar a
rência entre essas ações de São Paulo em 2020,
incoerência entre
e os impactos negativos por exemplo, arreca-
essas ações e
na saúde pública e no dou mais de R$1 bilhão
os impactos
meio ambiente que as em produtos, serviços
negativos na
mesmas empresas pro- e valores para o estado
saúde pública
movem, além da pre- e contou com a partici-
e no meio
carização das relações pação de 251 empresas
ambiente que
de trabalho e os lucros e entidades. A parceria
as mesmas
exorbitantes às custas foi celebrada pela Se-
empresas
de tudo isso, destacan- cretária de Desenvolvi-
promovem
do-se apenas uma ação mento Econômico, Ci-
de marketing disfarçada ência e Tecnologia de
de filantropia 217,218,219
. São Paulo, Patrícia Ellen, como um
exemplo “de como os setores pú-
Outra ação desse tipo foi feita pela
blico e privado podem amenizar os
Associação Brasileira de Supermer-
efeitos da crise trabalhando em par-
cados (ABRAS), que, além de ter
ceria”222. Assim, devido à inabilidade
montado postos de coleta de do-
do governo de prover o básico para
ações em lojas, também disponi-
bilizou a doação de um cartão no a população - nesse caso, uma ali-
valor de R$100,00 que deveria ser mentação adequada e saudável, as
utilizado em suas unidades. Ou seja, empresas passam a ser vistas como
garante o próprio faturamento en- grandes parceiras do interesse pú-
quanto melhora a imagem perante blico e como a única solução para a
a sociedade. Não à toa, as grandes situação de precariedade, especial-
empresas alimentícias e redes de su- mente em locais onde esse tipo de
permercados registraram recordes parceria é historicamente comum e
de vendas no período 220,221
. cada vez mais incentivado223.

91
5.6 Doações na pandemia
de COVID-19

Outro foco de incidência é o Poder


Legislativo. Com a insegurança ali-
mentar e a fome sendo utilizadas
como justificativa, leis que favore-
cem os setores produtivos e vare-
jistas vêm sendo discutidas e apro-
vadas. Em junho de 2020, a lei nº
14.016/2020224, que trata do com-
bate ao desperdício de alimentos,
foi sancionada e entrou em vigor
84 dias após a apresentação do seu
PL225. O grande diferencial é desfa-
zer a relação de consumo entre doa-
dor e receptor, prevista pela legisla-
ção cível. Com isso, quem recebe a
doação deixa de ser protegido pelo considera-se que o produto pode
CDC e os doadores ficam isentos de ter perdas nutricionais ou de fres-
responsabilização no caso de um cor, mas que continua seguro para o
eventual dano à saúde226. Um ano consumo e, consequentemente, para
depois, em um evento promovido a doação227. Assim, sob o discurso de
pela ABRAS, os ministros da Econo- combate à fome e ao desperdício, fa-
mia, Paulo Guedes, e da Agricultura, vorecem, mais uma vez, o setor pri-
Tereza Cristina, aventaram a possi- vado, que tem mais possibilidades
bilidade de flexibilizar a legislação de venda e uma redução dos custos
que trata da validade de alimentos de descarte, em detrimento da ga-
no país, permitindo que alimen- rantia de uma alimentação adequa-
tos próximos ao vencimento sejam da e saudável à população.
vendidos por preços mais baixos e
a adoção do modelo “best before” Ao focar nas parcerias público-pri-
(“consumir preferencialmente antes vadas e nas ações desenvolvidas
de”, em português) em detrimento pelas grandes empresas, duas gran-
da data de validade utilizada atual- des discussões são perdidas: o pa-
mente nos rótulos dos produtos. No pel do Estado na garantia de direitos
modelo atual, o alimento é conside- básicos, como o DHAA, e as ações
rado impróprio para o consumo após de grande impacto social desempe-
o vencimento e deve ser descartado nhadas, normalmente, por ONGs e
de maneira adequada pelos pontos outras entidades da sociedade civil
de vendas. Com a nova proposta, em defesa do interesse público. Foi

92 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


principalmente por meio dessas or- alguns países. O UNICEF rechaça a
ganizações que vimos a doação de doação de alimentos ricos em gor-
alimentos in natura e minimamente duras saturadas, açúcar e/ou sódio,
processados, em um movimento que por não atenderem aos critérios da
beneficiava não apenas aqueles que OMS para uma alimentação sau-
recebiam as doações, mas, também, dável, além de comprometerem o
pequenos produtores e comerciantes consumo de alimentos locais e con-
que tiveram as atividades tribuírem para o con-
impactadas pela pan- sumo de alimentos não
demia. Dessa maneira, saudáveis, bem como a
circuitos curtos de con- parceria com as indús-
sumo, a produção local, Doações trias que produzem tais
bem como a promoção podem ser produtos229. Já o gover-
de uma alimentação ade- no uruguaio prevê uma
importantes,
quada e saudável foram análise por parte de um
especialmente
fortalecidos com essas comitê técnico para a
iniciativas, muitas das em momentos doações de alimentos
quais independentes e de crise, mas ultraprocessados, visto
periféricas, e sem publi- elas devem que estes usualmente
cidade. Com isso, o risco seguir critérios contêm excesso de sal,
que se corre é a popula- gorduras e/ou açúcares,
ção ter uma visão distor- prejudiciais à saúde230.
cida da realidade, já que Por fim, essas doações
a mídia tradicional comer- devem ser vistas critica-
cial normalmente divulga apenas as mente e apenas como um adendo a
iniciativas das grandes empresas que políticas públicas efetivas, uma vez
são suas parceiras de negócios .
228
que a alimentação é um direito hu-
mano garantido pela CF e deve ser
Doações podem ser importantes,
tratada como tal.
especialmente em momentos de
crise, mas elas devem seguir crité- Abaixo, estão descritas as princi-
rios, como os apontados pelo Fundo pais estratégias e argumentos utili-
das Nações Unidas para a Infância zados pela indústria e associações
(United Nations International Chil- do setor de alimentos e bebidas no
dren’s Emergency Fund - UNICEF, caso das doações durante a pande-
em inglês) ou aqueles adotados por mia de COVID-19.

93
5.6 Doações na pandemia
de COVID-19

ATUAÇÃO EM COALIZÃO Estratégia Instrumental

Parcerias público-privadas, como Filantropia corporativa


aquelas encabeçadas pela Secretária exibida no quadro
de Desenvolvimento Econômico, Solidariedade S.A. do Jornal
Ciência e Tecnologia, Patrícia Ellen, Nacional, da Rede Globo204.
em São Paulo, por meio do Grupo
Empresarial Solidário de São Paulo222.

Campanha “Doação Superessencial”, organizada pelo setor supermercadista


para doações entregues a pessoas em vulnerabilidade social na forma de
cartões no valor de R$100,00, a serem utilizados nos supermercados220.

ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

Lobby a favor da flexibilização da validade de alimentos, com integrantes


do governo federal se manifestando a favor da iniciativa durante o 1o Fórum
da Cadeia Nacional de Abastecimento, evento promovido pela ABRAS que
contou com a participação dos ministros da Economia, da Cidadania e da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, bem como das principais empresas
e associações de alimentos e bebidas227.

94 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


MOLDAR O DEBATE SOBRE
QUESTÕES DE ALIMENTAÇÃO, Estratégia Discursiva
NUTRIÇÃO E SAÚDE

Documento do 1º Fórum da Cadeia


Nacional de Abastecimento, “Alcançar esse número de arreca-
iniciativa da ABRAS, traz como dações é um marco na história. É
desafios mapeados o desperdício um exemplo de solidariedade e de
de alimentos (“conectar o mapa da como os setores público e privado
fome com o mapa do desperdício”) podem amenizar os efeitos da crise
e a fome (“todos consideram que um trabalhando em parceria”
dos maiores países produtores de
– Patrícia Ellen, Secretária de De-
alimentos não pode ter fome: criação
senvolvimento Econômico, Ciência
de bancos de alimentos e a prática
e Tecnologia, sobre a marca de R$1
best before, revendo a legislação da
bilhão em doações na campanha do
validade de alimentos”)231.
governo do Estado de São Paulo222.

‘Social washing’ e outras práticas de ‘corporate washing’

Chamamos de ‘social washing’ ações de empresas relativas a temas


sociais que estão em alta no debate público com o objetivo de passar
uma boa imagem para o público consumidor, gastando mais recursos
para divulgar seus esforços em direção a uma causa específica do que
minimizando seu impacto negativo na sociedade, no meio ambiente
e na saúde humana. Durante a pandemia de COVID-19, as doações
destacaram-se como ações de social washing, mas outras pautas
também usualmente exploradas são os direitos LGBTQIA+ (‘pink
washing’), questões de empoderamento e igualdade de gênero, racismo
(‘black washing’), sustentabilidade ambiental (‘green washing’), sendo o
conjunto dessas práticas chamados de ‘corporate washing’232.

95
5.6 Doações na pandemia
de COVID-19

5.7 CONSELHO
ESTADUAL DE
SEGURANÇA
ALIMENTAR E
NUTRICIONAL
SUSTENTÁVEL
DO ESTADO
DE SÃO PAULO
(CONSEA-SP)

96 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


ESTÁ DOMINADO: CONSEA
DE SÃO PAULO NAS MÃOS
DA BIG FOOD E DO BIG AGRO

O Consea-SP está capturado pela indústria.


Durante seu governo, João Dória (PSDB) escolheu representan-
tes importantes da indústria de alimentos e do agronegócio para
presidir o Conselho.

Presidente do Consea-SP Vice-Presidente do Consea-SP


JOÃO DORNELLAS AMANDA ARAUJO
Presidente executivo da
PINTO
Associação Brasileira da Diretora executiva da Sociedade
Indústria de Alimentos (ABIA) Rural Brasileira (SRB)

A ABIA é a maior representan-


te da Big Food no Brasil237. Ela é A SRB defende os interes-
composta por cerca de 80% das ses do Big Agro, ou seja, do
indústrias de alimentos, bebidas, agronegócio e dos grandes
tecnologias e ingredientes. proprietários de terras238,

97
INTERESSES SETOR
PÚBLICOS PRIVADO

A participação do setor privado demonstra


O Consea-SP foi criado em 2013 um claro conflito de interesses.
para a promoção e a garantia do
DHAA para os habitantes do estado São Paulo é um grande mercado consumi-
de São Paulo e, portanto, deve re- dor, o que faz do Consea-SP um instrumen-
presentar interesses públicos239. to estratégico para o controle social e forta-
lecimento da Big Food e do Big Agro240.

A RESISTÊNCIA DE OUTROS CONSEAS


Além de São Paulo, outros estados brasileiros têm seus próprios conselhos
de segurança alimentar.

Os demais Conseas estaduais estão alertas.

Antes mesmo da confirmação da nova presidência e vice-presidência do


Consea-SP, representantes de outros estados se posicionaram contrários pu-
blicamente246,247.

Movimentos e associações da sociedade civil também se manifestaram248,249,250


e mostraram que seguem atentos aos ataques aos direitos fundamentais.

98 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


N
um cenário político em mento ocorreu graças à pressão da
que há priorização de in- sociedade233, que contou inclusive
teresses econômicos e com a abertura de um inquérito ci-
restrição de direitos sociais, a apro- vil no Ministério Público do Estado
ximação de governos com o setor de São Paulo (MPSP)234 para apu-
produtivo abre espaço para interfe- rar irregularidades. Neste contexto,
rência em políticas públicas. O caso foram viabilizadas eleições para a
das eleições do Consea-SP, no co- ocupação das Comissões Regionais
meço de 2021, é um exemplo claro de Segurança Alimentar e Nutricio-
de interferência da Big Food e do nal (CRSANS) e escolha de conse-
Big Agro a partir da apropriação de lheiros. O governador do estado,
mecanismos da sociedade civil. Sem João Doria (PSDB/SP), indicou235, a
funcionamento por mais de um ano, partir de lista tríplice formada na 2ª
o retorno do Conselho foi marcado Reunião Extraordinária do Consea-
pela eleição para presidência e vice- -SP236, indicou os candidatos João
-presidência de representantes de Dornellas, presidente executivo da
entidades que representam o poder ABIA, e Amanda Araujo Pinto, dire-
econômico, e não os interesses pú- tora executiva da SRB, como presi-
blicos: a ABIA e a SRB. dente e vice-presidente do colegia-
do, respectivamente.
O Consea-SP é um órgão consultivo
e contribui com a articulação entre A ABIA representa a Big Food e é
o governo do estado e a sociedade composta por cerca de 80% das
civil sobre as questões relacionadas indústrias de alimentos, bebidas,
à SAN. Apesar da sua importância, tecnologias e ingredientes, sendo
o Consea-SP enfrenta dificuldades a maior representante do setor no
de atuação, pois a agenda política Brasil237, enquanto a SRB defende
de SAN não tem sido prioridade dos os interesses do agronegócio e dos
governos estaduais. Com quase 20 grandes proprietários de terras238,
anos de funcionamento, o Conse- ou seja, do Big Agro. Já o Consea-
lho ficou em vacância entre outu- -SP, apresenta entre seus objetivos a
bro de 2019 e outubro de 2020. A defesa, a promoção e a garantia do
inatividade impediu, por exemplo, DHAA para os habitantes do esta-
sua participação na elaboração de do de São Paulo e, portanto, deveria
ações relacionadas ao combate à representar interesses públicos239. A
fome no início da pandemia de CO- participação de representantes de
VID-19. A retomada do funciona- setores privados no Consea do es-

99
5.7 Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional
Sustentável do Estado de São Paulo (Consea-SP)

tado com o maior PIB do país não de agrotóxicos e alimentos transgê-


é mera coincidência e demonstra nicos, por exemplo. A presença de
um claro conflito de interesses. São representantes da Big Food e do Big
Paulo é um grande mercado consu- Agro nesses ambientes possibilita
midor e influencia a economia e a uma interferência direta nas discus-
política nacional, o que faz do Con- sões contrárias às suas agendas.
sea-SP um instrumento estratégico
Por não ter legislação específica de
para o controle social e fortaleci-
SAN, programas e ações da área
mento da indústria de alimentos e
no estado de São Paulo são base-
do agronegócio240.
adas nas diretrizes da Política Na-
A alimentação é um di- cional de Segurança
reito constitucional e Alimentar e Nutricional
um dever do Estado e a (PNSAN)242. O Plano
SAN é a realização des- Paulista de Segurança
se direito. Ela é definida Alimentar e Nutricional
por uma lei orgânica241 Espaços como 2021-2023 (PLANSAN/
como o acesso regular e SP)243 foi elaborado sob
os Conseas são
permanente a alimentos a responsabilidade da
importantes para
de qualidade, em quan- Câmara Interministerial
a articulação da
tidade suficiente, sem de Segurança Alimen-
que o acesso a outras sociedade civil tar e Nutricional de São
necessidades essenciais na cobrança de Paulo (CAISAN-SP) com
esteja comprometido. direitos sociais a participação do Con-
Para a SAN, ainda são sea-SP, com o objetivo
consideradas práticas de preencher essa lacu-
que respeitem a diver- na. As propostas estão
sidade cultural e sejam agrupadas por temas,
ambiental, cultural, eco- chamados de ‘desafios’, e
nômica e socialmente sustentáveis. entre eles estão o acesso à comida
Espaços como os Conseas são im- de qualidade para moradores de rua
portantes para a articulação da so- e para trabalhadores; a preocupação
ciedade civil na cobrança de direitos com o preço dos alimentos; a neces-
sociais, inclusive pautando temas sidade de equipamentos sociais que
como a tributação de alimentos e be- garantam o DHAA; o acesso à terra e
bidas não saudáveis, a reforma agrá- a condições necessárias para a pro-
ria, a regularização fundiária e o uso dução de alimentos por indígenas,

100 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


quilombolas e outros de Combate à Fome e
agricultores tradicio- à Miséria (PCFM), mas
nais; e a assistência foi desativado um ano
técnica à agricultura depois. Só foi recria-
familiar. Com esses do em 2003, graças à
exemplos é possível agenda governamental
perceber a diferença sobre políticas de SAN,
entre os objetivos de de proteção social e
SAN e os objetivos de incentivo à produção
associações privadas agrícola familiar245.
com foco no lucro que,
Já os demais Conseas
ao participarem do
estaduais seguem resis-
Consea, podem des-
tindo às investidas con-
virtuar seus princípios.
trárias a sua atuação.
A própria existência Antes mesmo da confir-
dos Conseas depende do compro- mação dos candidatos da Big Food e
metimento dos governos com po- do Big Agro para a presidência e a vi-
líticas de SAN e com mecanismos ce-presidência do Consea-SP, respec-
de participação social. O Conselho tivamente, representantes de outros
Nacional de Segurança Alimentar estados se posicionaram contrários
e Nutricional (Consea Nacional) foi publicamente246,247. Movimentos e as-
extinto no primeiro dia de mandato sociações da sociedade civil também
da gestão do governo federal de Jair se manifestaram248,249,250 e mostraram
Bolsonaro. Como instância de parti- que seguem atentos aos ataques aos
cipação social e órgão consultivo, o direitos sociais, cada vez mais frequen-
Consea Nacional fazia parte do Sis- tes. Esses grupos reconhecem a im-
tema Nacional de Segurança Alimen- portância da atuação do Consea como
tar e Nutricional (Sisan)244, uma es- resistência a medidas que comprome-
trutura intersetorial responsável por tem a SAN e o DHAA da população.
implementar e gerir a PNSAN. Entre
Aproveitando-se do espaço para a
os temas tratados pelo Consea Na-
participação social, representantes de
cional, estavam o combate à fome, a
corporações e do agronegócio aces-
agricultura familiar, os agrotóxicos e
sam o Consea. Primeiro, é possível se
a alimentação escolar. Ele foi institu-
candidatar para conselheiros do CR-
ído em 1993 com o objetivo de con-
SANS e, uma vez eleitos, passam a
tribuir para a elaboração do Plano
fazer parte do Consea. Ainda, as en-

101
5.7 Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional
Sustentável do Estado de São Paulo (Consea-SP)

tidades com contribuição na área de


SAN são escolhidas pelo governador
do estado em listas tríplices apresen-
tadas pelo Consea para cada uma das Quem participa
vagas. Assim, a falta de critérios para do Consea
a participação dos diferentes segmen-
tos da sociedade civil é o que possibili- No total, 36 conselheiros
ta a captura corporativa ao equiparar a formam o Consea-SP:
representação do setor privado com a
de movimentos e organizações sociais
autônomas. Isso acaba permitindo a 12 24
participação de entidades com confli- membros do
membros da
poder público
tos de interesses como ABIA, SRB, As- sociedade civil
estadual
sociação Paulista de Avicultura (APA)
e Associação Paulista de Supermer-
cados (APAS). Enquanto isso, apenas
duas vagas são asseguradas para po-
16 8
vos e comunidades tradicionais. membros de
representantes
das CRSANS entidades com
A escolha para os cargos de presi- contribuição na
dência e vice-presidência do cole- área de SAN
giado também é realizada pelo go-
vernador, a partir de indicação em
lista tríplice. Portanto, numerica- Na sua estrutura também
mente, governo e empresas acabam existem convidados perma-
compondo a maioria nas tomadas nentes, que são os represen-
de decisões e a sociedade civil, que tantes de órgãos públicos e
deveria ser o setor com maior repre- de entidades da sociedade
sentação, vê sua autonomia e sobe- civil, como o Conselho Es-
rania prejudicadas. tadual de Saúde (CES) e o
Conselho Estadual de Assis-
O Consea-SP foi fundado em abril de tência Social (CEAS).
2003, junto à reabertura do Consea
Nacional. Está vinculado à Secreta-
ria de Agricultura e Abastecimento
do Estado de São Paulo e não há re-
muneração para os conselheiros.

102 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


AS ESTRATÉGIAS DA BIG
FOOD E DO BIG AGRO PARA
DOMINAR O CONSEA-SP
Ao influenciar os bastidores políticos do governo do estado de São
Paulo, as indústrias de alimentos e do agronegócio agora comandam
o Consea do estado mais rico do país.

A escolha para os cargos de presidência e vice-presidência do cole-


giado foi realizada pelo então governador João Dória (PSDB).

Empossados e atuantes, os novos representantes do Consea-SP mis-


turam os interesses da indústria com os da sociedade, enfraquecen-
do o direito fundamental à alimentação adequada.

ATUAÇÃO EM COALIZÃO Estratégia Instrumental

O Governo do Estado de São Paulo designou representantes da ABIA e


da SRB para presidência e vice-presidência do Consea-SP235, respectiva-
mente, favorecendo a participação desses grupos em espaços de repre-
sentação da sociedade civil.

A formação da lista tríplice em reunião extraordinária do Consea-


-SP251 mostra que a incidência junto aos conselheiros reflete-se nos
resultados da votação. Entre os cinco candidatos à presidência, João
Dornellas, da ABIA, teve o maior número de votos (14). Junto com ele
entraram para a lista tríplice Rita de Cássia Garcia Pereira, da CRSANS
Central, com 10 votos, e Neusa Paviato Botelho Lima, da CRSANS
Ribeirão Preto, com 5 votos. Para a vice-presidência, Amanda Araújo
Pinto, da SRB, também foi a mais votada, com 15 votos. Os outros can-
didatos, Gabriel Okubo Awazu Palma, da CRSANS Franca e Iara Milreu
Lavratti, da CRSANS Marília, tiveram 12 e 5 votos, respectivamente.

103
ATUAÇÃO EM COALIZÃO Estratégia Instrumental

Instituições com objetivos tão


distintos como a ABIA e o Con-
O Prêmio Josué de Castro,
sea-SP, ao serem presididas pela
promovido pelo Consea-SP252,
mesma pessoa, acabam tendo suas
foi divulgado no website da
fronteiras apagadas. Há o uso de
ABIA253,254. João Dornellas,
ferramentas institucionais para
como presidente das duas insti-
buscar envolvimento na comunida-
tuições, pode influenciar direta-
de, gerenciamento de informação e
mente as decisões da comissão
fragmentação e desestabilização:
organizadora e misturar inte-
resses públicos e privados.

GERENCIAMENTO DE
Estratégia Instrumental
INFORMAÇÃO

Aproximação de entidades que representam o interesse privado da socieda-


de civil para criar laços, conhecer suas demandas e flexibilizar as ações para
atender aos seus próprios interesses comerciais.

O evento sobre SAN realizado pelo Consea-SP e transmitido


pelo canal do YouTube da Secretaria de Agricultura e Abaste-
cimento do Estado de São Paulo255 mostrou claramente como
isso acontece. Nele, João Dornellas, Presidente do Conselho, A aproximação desses
apresenta-se também como presidente da ABIA, misturando grupos da administra-
os papéis e deixando claro que sua participação no Consea-SP ção pública permite
é norteada pelos interesses da ABIA. Dornellas usou mais tem- conhecer seus me-
po do que os convidados e, fugindo do tema, aproveitou o es- canismos e agir de
paço para marcar o posicionamento da indústria de alimentos maneira a obter bene-
a respeito de políticas públicas de SAN e seu desagrado com fícios econômicos.
a classificação NOVA de alimentos adotada no Guia Alimentar
para a População Brasileira182. “Esse conceito de ultraprocessa-
dos nasceu aqui no Brasil, cresceu, mas não é aceito em todos
os lugares do planeta. Existe muita controvérsia, existe real-
mente muita discussão sobre esse conceito. Alguns países do
104 já deixaram bem claro que não é realmente algo que
mundo
devesse ser base para políticas públicas”255.
A Interferência das Indústrias em Políticas de Alimentação e Nutrição
GERENCIAMENTO DE
Estratégia Instrumental
INFORMAÇÃO

“Evidentemente que a gente tem que se pautar como Consea fa-


lando sobre segurança alimentar, agricultura familiar, o pequeno
agricultor, a gente tem que apoiar, mas a própria lei que eu citei no
início da minha apresentação [Lei Orgânica de Segurança Alimen-
tar e Nutricional (LOSAN)] fala de diversidade, inclusive de multise-
torialidade. Não adianta a gente pensar que vai fazer só através da
agricultura familiar. Ela é importantíssima, a gente tem que apoiar,
mas a indústria se coloca, sim, como uma das possibilidades, inclu-
sive legais, para ajudar no combate à fome.”255

- João Dornellas, Presidente da ABIA e Presidente do Consea-SP.

ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

A presença de representantes da indústria de alimentos e do agronegócio em


associações de participação social permite que esses atores pautem seus inte-
resses e diminui o papel de controle social desses mecanismos.

“Esse é um debate (sobre o conceito de processamento de alimen-


tos do Guia Alimentar) que a gente poderia fazer em várias outras
oficinas, só sobre esse tema, porque a gente precisa levar mais
informação sobre alimentação para a nossa população.”255

- João Dornellas, em evento online do Consea-SP,


mostrando que pretende usar o espaço do Conselho para tratar de
interesses da ABIA.

105
ECONOMIA Estratégia Discursiva

Importância econômica da indústria de alimentos e do agronegócio


como justificativa para sua participação no Consea-SP.

“É importante dizer o seguinte: 89% dos alimentos que a indústria


produz é o que usamos em casa todo dia. É o arroz, o feijão. Ima-
gina que 28% do feijão que passa pela indústria é proveniente da
agricultura familiar. O feijão que a gente compra, que foi industria-
lizado, que foi beneficiado. Antigamente, a indústria de alimentos
chamava-se indústria de beneficiamento. Porque ela faz um be-
neficiamento naquele produto que foi comprado lá no campo. (...)
Precisamos considerar essa multisetorialidade em qualquer plano
sério que vise a combater a insegurança alimentar.”255

- João Dornellas, Presidente da ABIA e Presidente do Consea-SP.

MOLDAR O DEBATE SOBRE


QUESTÕES DE ALIMENTAÇÃO, Estratégia Discursiva
NUTRIÇÃO E SAÚDE

Em evento para debater SAN, o Presidente do Consea-SP retoma a defesa


dos alimentos ultraprocessados e, ao invés de discutir sobre possibilidades
de políticas públicas para garantir o DHAA direciona a discussão para a res-
ponsabilidade individual do consumidor

“O segredo é variedade e equilíbrio. Sem equilíbrio, tudo é ruim. Até água é


ruim. A água é um exemplo muito bom pra gente aprofundar nesse debate.
Por exemplo, água é algo que todo mundo sabe que é bom e faz bem. Qual
a quantidade de água recomendada? Dois litros, dois litros e meio, três
litros de água. Mas se eu pensar: bem, já que a água é tão boa eu vou tomar
8 litros, 10 litros por dia. Isso vai me levar a um problema de saúde que é
conhecido como intoxicação por água. (...) Vai me gerar uma doença que é
potencialmente fatal, pode matar. Então tudo sem equilíbrio é ruim.”255
- João Dornellas, Presidente da ABIA e Presidente do Consea-SP.

106 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


5.8 CÚPULA
DE SISTEMAS
ALIMENTARES DA
ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES
UNIDAS (ONU)

107
D
iante da captura corporativa sob a
qual a Cúpula de Sistemas Alimenta-
CÚPULA res das Nações Unidas foi submeti-

PARA QUEM?
da, a sociedade civil organizou a 1ª Contra
Mobilização dos Povos para Transformar os
Sistemas Alimentares Corporativos.

1ª CONTRA MOBILIZAÇÃO DOS POVOS PARA TRANSFORMAR


OS SISTEMAS ALIMENTARES CORPORATIVOS

O movimento foi resultado


da união de mais de 300
organizações da socieda-
de civil de todo o mundo
para enfrentar os modelos
de produção e consumo de
alimentos dominados pela
Big Food e pelo Big Agro.

108 Dossiê
A Big Food:
Interferência dasComo
Indústrias
a indústria
em Políticas
interfere
deem
Alimentação
políticas dee alimentação
Nutrição 108
C
onsiderando a sindemia mental. Tradicionalmente, as cúpulas
global com a qual convi- anteriores tinham como destaque a
vemos, onde desnutrição, participação ativa da sociedade civil
obesidade e mudanças climáticas e dos movimentos sociais organiza-
andam de mãos dadas, e seu agrava- dos, com destaque para o Comitê de
mento em decorrência da pandemia Segurança Alimentar Mundial (CSA),
de COVID-19 que assolou o mundo espaço multilateral sediado na FAO,
a partir de 2020, fica evidente a ur- e seu Mecanismo da Sociedade Civil
gência de se discutir os sistemas ali- e Povos Indígenas (MSC), inicialmen-
mentares globalmente. A Cúpula de te excluído do processo de organi-
Sistemas Alimentares da ONU, reali- zação desta edição256. Assim, neste
zada em setembro de 2021 em Nova encontro, destacou-se a atuação
York, EUA, por estes motivos já seria de corporações do agronegócio e
um evento muito importante, mas das grandes empresas de produtos
ganhou os holofotes internacionais processados - também conhecidas
por outra razão. Em vez de propor como Big Agro e Big Food257. Nes-
alternativas aos sistemas alimenta- se contexto, é importante destacar a
res atuais, responsáveis por uma re- indicação de Agnes Kalibata, presi-
levante parcela do desmatamento dente da Aliança para a Revolução
de vegetações nativas, aquecimento Verde na África (Alliance for a Green
global, poluição plástica, contamina- Revolution in Africa - AGRA) como
ção de solo e água por agrotóxicos, enviada especial, assumindo a coor-
conflitos agrários e violência contra denação geral do evento258.
povos nativos, entre tantos outros
A AGRA, criada em 2006 pela Fun-
problemas, o encontro ganhou des-
dação Bill e Melinda Gates junto com
taque por estar sendo encabeçado
a Fundação Rockefeller, é uma das
por representantes dos setores que
principais organizações financiadas
favorecem esse cenário.
pela fundação do bilionário da tec-
Originada de uma parceria entre o nologia, e foi lançada como uma ins-
Fórum Econômico Mundial (FEM) tituição “centrada no agricultor” e
de Davos e o Secretariado-Geral da “liderada por africanos”. Na prática,
ONU, num processo pouco transpa- porém, a maior parte do seu finan-
rente, esta edição do evento rompeu ciamento é destinada a organiza-
com o histórico das cúpulas de 1996 ções situadas na América do Norte e
e 2002, convocadas pela FAO, por na Europa, e sua atuação tem como
meio de um processo intergoverna- foco principal a promoção de novas

109
5.8 Cúpula de Sistemas Alimentares da
Organização das Nações Unidas (ONU)

sementes, agrotóxi- que foram considera-


cos e insumos agríco- dos pouco transparen-
las desenvolvidos por tes pelo MSC, quanto
A escolha
centros de pesquisa pela definição dos re-
de Agnes
e outras corporações presentantes da so-
financiadas por Gates Kalibata como ciedade civil, feita de
para agricultores de coordenadora maneira unilateral e
toda a África. Além do evento já ignorando o princípio
disso, a aliança pra- demonstrava uma da autodeterminação,
tica lobby ativo para convergência da assim como pela expli-
que os governos do Cúpula com o citação na programa-
continente africano ção da Cúpula e dos
sistema alimentar
implementem políti- eventos pré-cúpula
hegemônico
cas que favoreçam a (realizados em julho
agricultura industrial, de 2021), onde diver-
promovendo o neo- sos painéis contaram
colonialismo, a per- com a participação de
da dos saberes ancestrais e formas representantes do Big Agro e da Big
populares de manejo agrário e tor- Food, como Nestlé, Pepsico, Unile-
nando os pequenos produtores do ver e Bayer261.
continente reféns de novas tecno-
Ainda que as grandes corporações
logias estrangeiras259. Não bastasse
sejam uma importante peça na en-
isso, apesar de todas as promessas,
grenagem dos sistemas alimentares
as práticas defendidas e implemen-
globais, podendo se envolver em
tadas pela AGRA têm falhado no al-
discussões sobre os mesmos, é pre-
cance aos Objetivos de Desenvolvi-
ciso considerar que muitas são gera-
mento Sustentável (ODS)260.
doras de iniquidades e desigualda-
Nesse contexto, a parceria com o des no mundo e têm como objetivo
FEM e a escolha de Kalibata como central a geração de lucro e de retor-
coordenadora do evento já demons- no para seus acionistas, e não a pro-
travam uma convergência da Cúpula teção da alimentação e saúde das
com o sistema alimentar hegemô- populações. Assim, é essencial dis-
nico (que, em tese, a Cúpula deve- cutir o domínio do sistema alimentar
ria tentar transformar). Mas a apro- industrial global, bem como o pa-
ximação ficou ainda mais evidente pel das corporações transnacionais
tanto com os processos de forma- dentro dele, considerando, inclusive,
ção dos GTs e do comitê científico, a dinâmica de poder entre e dentro

110 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


dos diferentes tipos de sistemas ali- Um exemplo claro dessa captura cor-
mentares. Desse modo, visto que vá- porativa é que o termo ‘ultraprocessa-
rios dos problemas enfrentados hoje dos’, vital para caracterizar boa parte
no âmbito dos sistemas alimentares do que é produzido pela Big Food,
são fruto da atuação direta e indire- que conta com os insumos da Big
ta dessas corporações nas políticas Agro e cujo consumo está associado
de regulação do mercado, tais cor- à obesidade e outras DCNT, não foi
porações não devem ser colocadas identificado em nenhum documento
em pé de igualdade com outros ato- formal da cúpula265. Além disso, falas
res dos sistemas alimentares, como sobre ‘inclusão’ e ‘empoderamento’
agricultores e consumidores, como de pequenos agricultores, mulheres e
ocorreu em muitos momentos ao povos indígenas são frequentes, mas
longo da Cúpula, uma vez que o seu poucas ações que visem à mudança
poder - e o impacto de suas deci- estrutural das dinâmicas de poder
sões - é consideravelmente maior262. são propostas266,267.

Neste contexto, vemos crescer o mul- Tal captura, no entanto, não é exclu-
tissetorialismo – prática de governan- siva do evento em questão. O pro-
ça que evoca a ilusão de que todas tagonismo das grandes corporações
as partes interessadas são iguais em nos organismos multilaterais vem fi-
direitos, capacidades e responsabili- cando cada vez mais evidente com o
dades, em detrimento do multilatera- passar dos anos, como no caso das
lismo, onde as decisões são tomadas Diretrizes Voluntárias de Sistemas
pelos governos263. Além da ilusão de Alimentares e Nutrição, no âmbito
igualdade, essa prática também cos- do CSA, de 2017. Essas orientações
tuma normalizar o envolvimento cor- tiveram por objetivo definir um con-
porativo em diversos setores da vida junto de propostas para países, or-
cotidiana, além de distorcer as dife- ganismos multilaterais, sociedade
renças entre detentores de direitos civil, comunidade científica e setor
(população), portadores de deveres privado, para que sistemas alimenta-
(estados) e interesses corporativos257. res mais saudáveis fossem constru-
Assim, a captura corporativa obser- ídos. Mesmo se tratando de diretri-
vada reforça o sistema alimentar he- zes voluntárias, foram alvo de forte
gemônico, em que o meio ambiente lobby e os interesses do Big Agro e
é degradado, o alimento é tratado da Big Food prevaleceram256.
como commodity e o lucro se con-
centra nas mãos de poucos, contri- Já na Cúpula de 2021, o poder des-
buindo para a sindemia global256,264. proporcional que essas corporações

111
5.8 Cúpula de Sistemas Alimentares da
Organização das Nações Unidas (ONU)

têm nos sistemas alimentares - e, preocupação quanto aos rumos da


consequentemente, suas respon- Cúpula. Em março de 2020, foi en-
sabilidades - foi ignorado, e o foco viada uma carta, assinada por mais
das propostas recaiu em soluções de 550 organizações, ao Secretário-
baseadas em inovação e avanços -Geral da ONU, António Guterres268.
tecnológicos que as beneficiam265.
Entre outubro e novembro de 2020,
Em suma, discussões sobre as
foi realizada uma chamada pública
mudanças estruturais necessárias
para resposta à Cúpula269 e divul-
para um sistema alimentar pautado
gada uma declaração à reunião do
na sustentabilidade, na defesa dos
grupo consultivo do CSA270, ambas
direitos humanos e
por parte do MSC.
de modelos alterna-
Posteriormente, em
tivos de agricultura,
fevereiro de 2021, uma
que priorizam o pe-
carta endereçada ao
queno agricultor fo-
presidente do CSA271,
ram relegadas a um A Cúpula
contando com a assi-
segundo plano. se torna natura de mais de 150
Com os Estados cada emblemática organizações, refor-
vez mais endividados por evidenciar çou as preocupações
e/ou adotando medi- a captura da anteriores e determi-
das de austeridade, o governança nou as condições para
discurso de que cabe global a participação do me-
à iniciativa privada canismo na Cúpula.
dar conta, sobretudo Em paralelo, organi-
financeiramente, de zações da sociedade
demandas que até civil de todo o mundo,
então eram papel do Estado, encon- incluindo o Idec272, organizaram pro-
tra espaço para se difundir. A fim de testos contra a Cúpula262 e encontros
dar maior “legitimidade” ao proces- autônomos273 para discutir a captura
so, são utilizadas estratégias cada corporativa e seus impactos nos sis-
vez mais sofisticadas, menos claras temas alimentares.
ou pontuais, dificultando respostas
Ainda assim, o evento ocorreu num
da sociedade civil.
espaço de multissetorialismo nota-
Como resposta à captura corpora- damente desequilibrado, com a Big
tiva do evento, desde o momento Food e o Big Agro atuando como
da convocação, o MSC e ONGs de protagonistas, sem apresentar so-
diversos setores manifestaram sua luções que promovessem uma ali-

112 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


mentação adequada e saudável. estratégicos, enfraquecendo o po-
Dessa maneira, esse caso se torna der e o papel dos Estados e sem
emblemático por evidenciar a cap- dar voz àqueles que realmente tra-
tura da governança global, com as balham em prol de sistemas ali-
grandes corporações atuando em mentares mais justos, saudáveis e
um dos espaços multilaterais mais sustentáveis.

CÚPULA CAPTURADA
Influenciada pela indústria e o agronegócio, a Cúpula de Sistemas Alimenta-
res das Nações Unidas abriu pouco espaço para propor e viabilizar um mode-
lo alimentar saudável e sustentável, como defendido pela sociedade civil.

Entenda quais são as estratégias da indústria e como elas atingem até os


mais altos fóruns intergovernamentais da ONU.

GERENCIAMENTO DE
Estratégia Instrumental
INFORMAÇÃO

A Fundação Bill e Melinda Gates é a principal financiadora da AGRA,


cuja presidente Agnes Kalibata é a coordenadora da Cúpula na con-
dição de enviada especial, além de promover agendas de pesquisa
da agricultura corporativa, alimentos sintéticos e outros257.

“O artigo do grupo científico sobre sistemas alimentares menciona


as desigualdades ‘entre classes, regiões, contextos rural-urbano e
grupos sociais’, mas não menciona as desigualdades entre os ato-
res corporativos e agrícolas, produtores e consumidores. (...) Essas
mesmas tendências de mencionar vagamente os desequilíbrios de
poder sem identificar os atores corporativos é evidente nas várias
Trilhas de Ação (Action Tracks), e tanto os Dias da Ciência quanto
a Pré-Cúpula evitaram cuidadosamente a inclusão de painéis espe-
cificamente focados no poder corporativo”267.

113
ENVOLVIMENTO E
Estratégia Instrumental
INFLUÊNCIA NA POLÍTICA

A coordenadora geral da Cúpula, Agnes Kalibata,


é presidente da AGRA, num caso de conflito de
interesses, visto que a AGRA é uma instituição
fundada pela Fundação Bill e Melinda Gates e
pela Fundação Rockefeller, tem como foco princi-
pal a promoção de novas sementes, agrotóxicos e
atua promovendo lobby ativo para que os gover-
nos do continente africano implementem políticas
que favoreçam a agricultura industrial259,260.

Durante a Cúpula de 2021, a Fundação Bill e Melinda Ga-


tes anunciou a doação de US$ 922 milhões nos cinco anos
seguintes para “avançar com a nutrição global para ajudar
mulheres e crianças”. Dois dos quatro focos de ação são
“pesquisa e inovação para identificar novas abordagens e
intervenções” e “fortificação com vitaminas e minerais dos
alimentos mais consumidos”274.

Também durante o evento, a coalizão de organizações e


parceiros internacionais mobilizou 42 empresas, formando
o “Zero Hunger Private Sector Pledge” (“Compromisso
Fome Zero do Setor Privado”, em português), que prome-
teu o investimento de US$ 345 milhões em 34 países para
“acabar com a fome e nutrir o futuro até 2030”275.

114 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


GOVERNANÇA Estratégia Discursiva

“Embora o envolvimento do setor privado seja importante para criar um ímpeto


de mudança, não há agronegócio liderando qualquer trabalho ou individualmen-
te responsável pela definição dos resultados da Cúpula. Todas as portas estão
abertas para qualquer pessoa contribuir por meio de fóruns públicos Trilhas de
Ação (Action Tracks), diálogos de cúpula de sistemas alimentares e plataforma
da comunidade.”

“Todo o propósito da Cúpula é abraçar não apenas os interesses compartilhados


de todas as partes interessadas, mas também - o que é importante - as áreas
de divergência sobre como abordaremos a dura realidade que a humanidade
enfrenta. Se quisermos construir sistemas alimentares mais inclusivos, devemos
estar preparados para um debate inclusivo. Todos se sentam à mesa.”

- Trechos de carta de Agnes Kalibata publicada no jornal The Guardian em 9


de março de 2021276, em resposta ao artigo de John Vidal, no mesmo periódico,
que tratava do boicote à Cúpula organizado por agricultores e outros grupos da
sociedade civil em resposta à captura corporativa do evento277.

Sobre o “Zero Hunger Private Sector Pledge”


(“Compromisso Fome Zero do Setor Privado”,
em português), um dos argumentos utilizados
“O multissetorialismo represen- é que “os governos precisam fazer malabaris-
ta um valor central do Comitê mos com várias prioridades devido à pande-
Mundial de Segurança Alimentar mia e à desaceleração econômica associada.
(CFS - do inglês Committee on É por isso que as grandes empresas podem e
World Food Security) que espe- devem aumentar os esforços para alcançar a
ramos que seja incorporado ao fome zero até 2030”268.
sistema alimentar globalmente
daqui para frente. Trabalhar em
conjunto é essencial para os
esforços em Merenda Escolar; o “Zero Hunger
Pledge” (mais de 40 empresas já se comprome-
teram); como também no trabalho para melho-
rar a saúde do solo”278.

115
6.
REFLEXÕES
E ANÁLISES

116 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


6.1 COMO
AGIRAM A
BIG FOOD, A
BIG SODA E
O BIG AGRO?

117
O
s casos emblemáticos articulação social para a defesa de
reunidos neste docu- seus interesses e direitos. Dessa ma-
mento evidenciam os neira, passam a conhecer as reivindi-
diversos tipos de APC e estratégias cações, as preocupações e as solu-
de ação da Big Food, da Big Soda ções propostas pela sociedade civil.
e do Big Agro para exercer influ- Além disso, interferem diretamente
ência direta (por meio do lobby) nas discussões contrárias às suas
e indireta (com a formação de co- agendas e podem, a partir da cap-
alizão e a construção da imagem tura dessas informações, desenvol-
institucional perante a população, ver estratégias utilizando conceitos
por exemplo). A atuação ultrapas- e informações aprendidas para res-
sa fronteiras regionais e nacionais, guardar seus interesses econômicos,
alcançando o âmbito internacional, além de se apropriarem da narrativa
além de envolver todas as esferas da sociedade civil organizada.
de poder como Executivo, Legisla-
A partir dos casos apresentados nes-
tivo e Judiciário. Dessa maneira, as
te documento, é possível observar a
ações abarcam desde a discussão
presença de atores agindo em con-
da agenda, passando pela formu-
junto com seus pares ou separados.
lação até a implementação de po-
Entre os representantes da Big Food
líticas públicas de alimentação e
e da Big Soda está a ABIA, a maior
nutrição, podendo ainda interferir
associação das indústrias de alimen-
e alterar normas já implementadas,
tos e bebidas do Brasil – que reúne
tendo como objetivos menor inter-
gigantes como Danone®, Unilever®,
ferência e regulação em suas ativi-
Seara®, Pepsico®, Coca-Cola Bra-
dades e o maior lucro possível.
sil®, entre outras, e exerce grande in-
Os casos aqui apresentados ainda fluência em representantes públicos
destacam a participação de atores e na própria formulação de políticas
importantes que agem não apenas no país. A atuação em conjunto con-
junto aos representantes públicos, fere certa legitimidade aos assuntos
mas que podem também ocupar abordados, visto que representa os
e se apropriar de espaços e meca- interesses das grandes corporações
nismos da sociedade civil. Com re- do setor, além de assegurar isenção
cursos financeiros e humanos à sua a elas, que não precisam se envol-
disposição, esses setores conse- ver individualmente, preservando
guem implantar representantes em sua imagem institucional diante do
espaços destinados à discussão e público. Exemplos de atuação em

118 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


conjunto podem ser observados nos decisões políticas que privilegiem a
casos da rotulagem nutricional (com saúde pública.
a criação de uma grande coalizão, a
Rede Rotulagem, como a cara públi- Porém, quando se trata de auto-
ca das associações da Big Food e da promoção, este documento conclui
Big Soda) e do Guia Alimentar (em que parece ser mais vantajoso atuar
que as associações protagonizam a separadamente, como demonstra-
discussão, resguardando a imagem do no caso das doações durante a
das grandes corporações). pandemia de COVID-19. As ações de
filantropia e de responsabilidade so-
Outra forma de atuação, ainda con- cial em momentos de crise sanitária
siderando a preser- e calamidade públi-
vação da imagem ca podem contribuir
das representantes com a melhoria da
da Big Food e da Big imagem das corpora-
Soda, é a personifi- ções envolvidas jun-
cação dos interesses to aos consumidores
do setor por meio e à sociedade em ge-
de seus representan- A Big Food, a
ral, além de resultar
tes, como ocorre no Big Soda e o Big em benefícios fiscais.
caso do Consea-SP. Agro utilizam Assim, apesar de al-
A ABIA, na figura do estratégias muito gumas ações serem
seu presidente, visa semelhantes em organizadas em con-
legitimar sua partici- diversos países junto entre as empre-
pação e apropriação sas, cada uma delas
do Conselho, no qual valoriza seus esfor-
divide o protagonis- ços de contribuição
mo com o Big Agro para a sociedade,
na vice-presidência. evidenciando seus
Essa união entre os produtos e sua mar-
setores também pode ser eviden- ca a partir de ações de solidariedade
ciada em outras situações como na como estratégia de publicidade.
participação da ABPA durante o
processo de rotulagem nutricional e A coordenação e a colaboração
do MAPA no caso do Guia Alimentar. entre as grandes indústrias de ali-
Tal colaboração ocorre em momen- mentos e bebidas ultrapassam fron-
tos sensíveis do processo político teiras. A Big Food, a Big Soda e o
para fortalecer o posicionamento do Big Agro, compostos predominan-
setor produtivo em detrimento de temente por corporações transna-

119
cionais, utilizam estratégias muito des corporações, como no caso
semelhantes em diversos países da publicidade infantil. Quando se
nos quais atua, organizando-se em trata de políticas já estabelecidas,
uma grande rede. Isso fica claro ao a Big Food, a Big Soda e o Big Agro
analisarmos os casos da rotulagem podem usar sua influência para en-
nutricional, da publicidade infantil e fraquecê-las, modificá-las (como
da tributação de bebidas adoçadas, exemplificado pelo caso do PNAE),
nos quais observa-se o uso de ar- ou até mesmo derrubá-las (como
gumentos e táticas semelhantes em no caso do Guia Alimentar).
diversos países que ousam levantar
discussões sobre esses temas, con- O Big Agro também se utiliza da
siderados estratégicos para a saúde influência política para a defesa de
pública, mas extremamente delica- suas pautas (como na articulação
dos para as corporações, já que po- para a criação de PLs, visto no caso
dem impactar negativamente seus do PNAE, por exemplo), mas de ma-
ganhos financeiros. neira mais discreta, muitas vezes
com atuação reservada aos bastido-
Mas, para que essas táticas sejam res ou a partir de ONGs e associa-
bem-sucedidas, também é neces- ções que representam os interesses
sário que exista um tipo de relação do setor, mas se apresentam como
subjetiva entre as corporações e sociedade civil.
os atores políticos, de forma a im-
pactar a tomada de decisão. Isso é Além das táticas semelhantes, os
possível graças à construção de um argumentos utilizados pelo setor
relacionamento ao longo do tempo, produtivo para enfraquecer as ten-
com o financiamento de mandatos tativas de políticas públicas em ali-
de alguns representantes políticos mentação e nutrição tendem a se re-
e o trabalho de ex-funcionários da petir. De maneira geral, para fugir da
Big Food, da Big Soda e do Big Agro regulação, é comum colocar a culpa
em organizações governamentais no indivíduo e em suas escolhas in-
ou no governo109. Essas relações se dividuais; dizer que a obesidade é
tornam pessoais e impactam políti- multifatorial e não apenas consequ-
cas públicas desde a sua discussão ência da má alimentação; e utilizar o
para elaboração, podendo resultar argumento de que o equilíbrio nas
na alteração ou encerramento de dietas é fundamental e que nenhum
leis e programas já consolidados. alimento isolado é bom ou ruim, ne-
A interferência pode começar ex- gando o conceito dos ultraprocessa-
cluindo da pauta, por exemplo, te- dos. Pelo contrário: são enfatizados
mas que podem desagradar gran- os benefícios do processamento de

120 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


alimentos para a con- Os impactos dessas
servação, distribui- ações ultrapassam
ção e segurança sa- fronteiras e ganham
nitária dos alimentos, A captura perspectiva global,
entre outros. corporativa atinge uma vez que a cap-
todos os espaços, tura corporativa atin-
Na tentativa de fun-
ge todos os espaços,
damentar opiniões inclusive aqueles
inclusive aqueles que
que subsidiam seus que objetivam
objetivam discutir
interesses, a Big Food discutir e propor e propor soluções,
e a Big Soda utiliza soluções, como a Cúpula dos
estudos nos quais o
como a Cúpula Sistemas Alimentares
conflito de interesse
de Sistemas da ONU. Com a Big
é oculto, envolvendo
Alimentares da Food, a Big Soda e o
pesquisadores e ins-
ONU Big Agro nas mesas
tituições com histó-
de negociação e pau-
rico de recebimento
tando o debate, pou-
de verbas de organi-
co ou nada é proposto
zações patrocinadas
para solucionar problemas ocasio-
pela indústria, como observado
nados por esses grandes atores,
nos casos do Guia Alimentar e da
que concentram os lucros obtidos
rotulagem nutricional. Outra tática
com o sistema alimentar hegemôni-
muito utilizada é o financiamento
co e não têm interesse em colaborar
de instituições que representam in-
com mudanças estruturais necessá-
teresses da sociedade civil e par-
rias para reduzir impactos ambien-
ticipam de discussões públicas, e,
tais e na saúde das populações.
assim, defendem argumentos da
indústria de maneira dissimulada, Ao analisarmos os casos aqui apre-
como no caso da publicidade in- sentados, fica evidente como as in-
fantil. Podem ainda mobilizar re- dústrias lançam mão de diversas es-
presentantes do setor produtivo a tratégias, tanto instrumentais quanto
fim de pressionar pelos seus inte- discursivas, para atingir seus objeti-
resses (seja pelas redes sociais e vos políticos e comerciais. Dentre
portais de notícias ou até mesmo as estratégias instrumentais, aquela
exercendo influência direta em re- que foi utilizada em todos os casos
presentantes do poder público), foi o ‘envolvimento e influência polí-
como no caso do PNAE. tica’, o que mostra o quão constan-

121
te - além de efetivo - é o lobby e a
atuação em processos decisórios de
diferentes naturezas e, apesar de se-
rem atividades não reguladas, são,
em boa parte, permitidas e estimula-
das no país. A ‘atuação em coalizão’
e o ‘gerenciamento de informação’
apareceram em sete dos oito casos
analisados, o que revela a importân-
cia da construção da opinião públi-
ca favorável a partir de mensagens
transmitidas por personalidades que
têm credibilidade com a sociedade.
é identificado que uma política não
A utilização de ‘ações judiciais’ se
pode mais ser impedida de avan-
deu em dois casos, sendo uma estra-
çar, são adotadas estratégias para
tégia para momentos mais sensíveis
atrasar o processo de tramitação, e,
e urgentes. Já ‘incentivos’ foi a estra-
uma vez que a regulamentação ne-
tégia instrumental que menos apa-
gativa para o setor esteja em vigor,
receu nos casos analisados, estando
a indústria geralmente tenta derru-
presente em apenas um deles. No
bá-la279. É notável, nesse sentido, os
que diz respeito às estratégias dis-
poucos exemplos de ações judiciais
cursivas, a mais utilizada foi ‘moldar
encontradas no presente levanta-
o debate sobre questões de alimen-
mento, que aconteceram quando,
tação, nutrição e saúde’ (sete casos),
no caso da rotulagem, o relatório
seguida de ‘economia’ (cinco casos)
da Anvisa submetido à TPS estava
e de ‘governança’ (três casos).
desfavorável para a indústria, e no
De acordo com a literatura, diferen- caso do Guia Alimentar, o setor lác-
tes APC são usadas pelo setor pro- teo tentou embarreirar o lançamen-
dutivo, levando-se em conta o está- to do documento. Isso demonstra
gio em que se encontra o processo um cenário político favorável para
político, ou seja, quando um novo o setor privado comercial, que tem
tema é considerado para entrar na conseguido atravancar a agenda re-
agenda regulatória, esforços são gulatória relacionada ao incentivo,
empenhados para evitar que isso apoio e à proteção da alimentação
aconteça. Por outro lado, quando adequada e saudável.

122 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


Indústria Indústria Institutos de Pesquisa
Indústria e Indústria e
Agronegócio Agronegócio

PNAE CONSEA-SP
Indústria e Agronegócio Filantropia Indústria

Doações Tributação
QUEM ESTÁ
INTERFERINDO Filantropia

NAS POLÍTICAS DE
ALIMENTAÇÃO E
Marco Legal da
Primeira Infância
NUTRIÇÃO NO BRASIL Cúpula
Sociedade Civil e
Associações Profissionais

Indústria e Agronegócio

Guia Alimentar Rotulagem

Sociedade Civil
e Instituto de
Associações Profissionais Pesquisa
Indústria e Agronegócio
e Institutos de Pesquisa

ESSAS EMPRESAS, ENTRE OUTRAS, FAZEM PARTE DA


6.2.
ADVOCACY E
REGULAÇÃO:
UMA LUZ NO
FIM DO TÚNEL

124
O
relatório do The Lancet adoçadas, de adoção da rotulagem
sobre a sindemia global frontal de advertência e de defesa
afirma que a inércia po- do PNAE e do Consea-SP. A mobi-
lítica representa a combinação de lização de apoio ao Guia Alimentar
três fatores: a forte oposição de ato- se destacou pelo alcance do mani-
res econômicos às políticas, a inade- festo elaborado pela Aliança pela
quada liderança do poder público e Alimentação Adequada e Saudável
a falta ou insuficiência de demanda endossando o documento, com mais
da população280. Estudo recente que de 40 mil assinaturas, e pelo o uso
investigou fatores relacionados ao da #EuApoiooGuiaAlimentar nas re-
desenvolvimento e a implementação des sociais. Essa resistência e a força
de medidas de proteção da alimen- dos movimentos da sociedade civil
tação adequada e saudável no Brasil organizada e sem conflitos de inte-
nos últimos 20 anos identificou que resses têm contribuído para o cená-
a forte interferência de transnacio- rio não ser ainda mais desfavorável
nais junto com casos de inadequada para a promoção da alimentação
liderança política contribuíram para adequada e saudável e da saúde.
que medidas não avançassem, em-
bora tenham sido mapeados diver- Outro ponto favorável ao avanço
sos exemplos de demandas pela so- da agenda são as evidências cientí-
ciedade, assim como no caso deste ficas, que cada vez mais se acumu-
dossiê281. Há que se considerar ainda lam e demonstram a importância de
o cenário vivido nos últimos anos no se promover ambientes alimentares
Brasil, de debilidade da articulação saudáveis e sustentáveis a partir da
intersetorial e de atuação da socie- restrição da oferta, da publicidade
dade civil, decorrentes da extinção e do acesso aos produtos ultrapro-
do Consea Nacional e da desestru- cessados para se alcançar a preven-
turação da Caisan em 2019, promo- ção de DCNT e a promoção da saú-
vidos pelo Governo Federal, entre de282,283,284,285,286. Os malefícios deste
outras razões. tipo de produto para a saúde huma-
na e planetária também têm sido ou-
Ainda assim, foram identificadas tro ponto cada vez mais reconheci-
aqui, para cada caso relatado, ini- do internacionalmente287,288,289,290.
ciativas da sociedade civil orga-
nizada e altamente qualificada de São diversos os exemplos de experi-
proteção das políticas públicas e ências internacionais que se valeram
medidas regulatórias em questão, da utilização de evidências científi-
como nos exemplos de campanhas cas para avançar com políticas pú-
em defesa da tributação de bebidas blicas e medidas regulatórias em

125 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


prol da alimentação os principais argumen-
adequada e saudável. tos usados para inter-
Até a implementação ferir no processo. A
da lei de rotulagem, maioria dos comentá-
Como as decisões
publicidade e acesso rios foi feita por asso-
são tomadas na
a alimentos291,292 em ciações internacionais
esfera política,
2016, no Chile, diversas da indústria (52%), en-
pesquisas foram rea- nem sempre quanto menos de um
lizadas para a seleção a atuação da terço por indústrias do
do melhor modelo de academia e da país (29%). Cerca de
rotulagem nutricional sociedade civil 81% deles discordaram
frontal. Após sua im- são suficientes da proposta de rotu-
plementação, outros lagem e apresentaram
para barrar a
estudos vêm sendo críticas gerais sobre
interferência da
realizados a fim de se sua relevância e justifi-
indústria
monitorar e avaliar a cativa. A análise desses
efetividade da norma. comentários permitiu
identificar uma forte
No Uruguai293 e no oposição à política e,
México294 não foi diferente. Durante em particular, ao sistema de rotula-
todo o processo de discussão da lei gem frontal de advertência, sendo a
uruguaia de rotulagem de alimentos maioria dos argumentos contrários à
e da lei mexicana de rotulagem e pu- política bem semelhantes aos regis-
blicidade de alimentos, e mesmo após trados em outros processos regula-
suas publicações em 2021 e 2020, tórios, inclusive no Brasil, e durante
respectivamente, foram apresenta- discussões na Organização Mundial
das evidências científicas, com a pro- do Comércio (OMC).
moção de discussões técnicas com a
participação de pesquisadores locais Já no México, apesar de o país ter
e internacionais. conseguido implementar regulamen-
tações importantes como a taxação
Apesar das discussões técnicas e em- de bebidas açucaradas e de alimen-
basamento científico, a lei uruguaia tos com alta densidade energética,
sofreu modificações graças à interfe- nos casos da restrição da venda e da
rência da indústria. Um estudo que
295 distribuição desses alimentos e bebi-
analisou os comentários da Big Food das nas escolas, da implementação
e da Big Soda durante a consulta pú- da rotulagem nutricional frontal de
blica no marco da elaboração da re- advertência e da regulamentação da
gulamentação no Uruguai evidenciou publicidade de alimentos e bebidas

126
dirigida ao público infantil, cada um português) divulgou um relatório
deles foi combatido e sofreu influên- com um monitoramento de estra-
cia da Big Food e da Big Soda. Graças tégias da Big Food e da Big Soda
ao seu poder econômico e suas alian- para enfraquecer as regulamen-
ças com instituições e funcionários do tações sobre rotulagem nutricio-
governo, as indústrias participaram nal frontal de advertência em 20
diretamente da elaboração dessas regiões. Nele, há o destaque para
normas e ainda excluíram do proces- diferentes ações e narrativas ado-
so os institutos nacionais de saúde296. tadas pela Big Food para proteger
seus negócios, composta por cin-
Na Argentina297, cuja aprovação da
co estratégias principais: proteger
lei de alimentação saudável se deu
a reputação e as marcas do setor
em outubro de 2021, todo o pro-
de ultraprocessados por meio de
cesso teve grande participação da
corporate washing298; influenciar
academia, que contribuiu para gerar
políticas por meio de organismos
evidências científicas, e da socieda-
multilaterais para atrasar sua im-
de civil organizada, que incidiu po-
plementação e ameaçar os países
liticamente com base nelas, o que
com leis e preocupações econômi-
resultou na lei mais abrangente e
cas; desviar a atenção de sua res-
promissora da América Latina até
ponsabilidade corporativa em rela-
o momento, incluindo rótulos fron-
ção aos danos ao meio ambiente e
tais de advertência e a proibição de
à saúde humana para culpar indi-
publicidade infantil, de venda em
víduos por seus comportamentos;
escolas e de compras públicas dos
insinuar que seus produtos contri-
alimentos rotulados.
buem para a saúde, o meio ambien-
Entretanto, é preciso reconhecer te e a sociedade, ao mesmo tempo
que, embora as discussões técnicas em que atrapalha o desenvolvi-
tenham avançado, como as decisões mento e a implementação de po-
são tomadas na esfera política, nem líticas de alimentação saudável; e
sempre a atuação da academia e da buscar brechas na regulamentação
sociedade civil organizada com base para continuar promovendo seus
em evidências científicas e experi- produtos ultraprocessados232.
ências internacionais seja suficiente
Um dos aspectos que mais vem con-
para barrar a interferência da indús-
tribuindo negativamente para esse
tria nos processos decisórios.
cenário, permitindo a forte atuação
Em 2021, a Global Health Advo- da Big Food, da Big Soda e do Big
cacy Incubator (GHAI - Incubado- Agro na agenda de alimentação e
ra Global de Defesa da Saúde, em nutrição, é a falta de normativas que

127 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


regulem essa interferência e que pre- nacional” de 2021300, que apresenta
vina de fato conflitos de interesses, um passo a passo de como gestores
assim como foi feito para a agenda da saúde devem proceder antes de
de controle do tabagismo, com a estabelecer relação com atores não
Convenção-Quadro para o Controle estatais, investigando o alinhamen-
do Tabaco299. Enquanto comissões to do ator (e suas práticas, políticas
de especialistas, como a da sindemia e produtos), o perfil da interação
global, defendem a criação de uma (quem irá liderar, se a proposta se
Convenção-Quadro para Sistemas encaixa na agenda política e nas
Alimentares, para melhorar e moni- prioridades da instituição, se prevê
torar a implementação de políticas mecanismos de transparência e mo-
nacionais e se proteger da influência nitoramento independente), e ainda
de empresas transnacionais, outros a avaliação de riscos e benefícios
vêm enxergando como promissora a da interação. A implementação des-
recente ferramenta da OPAS de pre- se tipo de processo permitiria uma
venção de conflitos de interesses. maior proteção do processo polí-
Trata-se do documento “Prevenção tico, de modo que o interesse pri-
e gestão de conflitos de interesse mário das políticas, de garantia do
em programas de nutrição em nível DHAA, prevaleça.

128
ORIENTAÇÕES PARA AVALIAÇÃO DE POTENCIAL

INTERAÇÃO COM ATOR EXTERNO:

1. Alinhamento do ator
• Atividades e os valores fundamentais do ator
• Fabrica produto/presta serviço que se opõe a recomenda-
ções de saúde pública?
• As políticas e/ou práticas do ator impedem, retardam ou
dificultam o alcance de metas e recomendações de saúde
pública? (e metas mais amplas de saúde e desenvolvimen-
to sustentável?)
• O ator apoia/financia/mantém vínculos estreitos com ou-
tras organizações cujas atividades são incompatíveis com
a agenda política e as prioridades da instituição?

2. Perfil da interação
• Quem irá liderar a interação/projeto?
• A proposta se encaixa na agenda política e nas priorida-
des da instituição?
• A proposta é consistente com a autoridade e liderança de
tomada de decisão da instituição?
• A prevê mecanismos de transparência, monitoramento in-
dependente, prestação de contas.

3. Avaliação de riscos e benefícios da interação


• Quais os reais riscos e benefícios da interação?

Elaborado a partir do documento “Prevenção e gestão de conflitos de interesse em programas


de nutrição em nível nacional”300.

129 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


Ainda a nível regional, em 2017 a So- Um exemplo importante de estratégia
ciedad Latinoamericana de Nutrición local para mitigar os conflitos de inte-
(SLAN - Sociedade Latinoamericana resse –, neste caso, entre profissionais
de Nutrição, em português), entidade de saúde e nutrição – é o Código Nu-
sem fins lucrativos formada por pes- trícia, que foi desenvolvido pelo Insti-
quisadores e profissionais de nutri- tuto Nacional de Salud Pública (INSP
ção, estabeleceu um Comitê de Con- - Instituto Nacional de Saúde Pública,
flito de Interesses para propor uma em português) do México. A partir da
postura sobre o manejo destas situ- assinatura deste Código, os profissio-
ações na SLAN. De acordo com seu nais se comprometem a adotar uma
posicionamento, a Sociedade pro- conduta ética e transparente que fa-
move uma cultura de conhecimento voreça o avanço de ações e políticas
e sensibilização a respeito de confli- de alimentação e nutrição livres de
tos de interesses; não aceita patrocí- conflitos de interesse para combater
nios, doações ou apoio financeiro de a má nutrição. Tal postura envolve a
instituições ou pessoas com interes- participação em comitês técnicos,
ses comerciais; exige que todos os posicionamentos e consensos rela-
palestrantes e apresentadores parti- cionados com o processo de políticas
cipantes do congresso internacional públicas de alimentação e nutrição,
da SLAN declarem seus conflitos de assim como em simpósios, conferên-
interesses; entre outros301. cias, aulas, assessorias e outras ativi-
dades profissionais303.
A recém-lançada Comunidad de
Práctica Latinoamérica y Caribe Nu- No Brasil, a Associação Brasileira de
trición y Salud (Colansa - Comunida- Alimentação e Nutrição (ASBRAN)
de de Prática América Latina e Cari- publicou a Portaria nº 01/2015, que
be Nutrição e Saúde, em português), institui critérios para o estabeleci-
grupo de profissionais, organizações mento de parcerias, apoios e patrocí-
da sociedade civil e universidades nios realizados com a entidade. Des-
que trabalham em prol de sistemas ta forma, a ASBRAN não estabelece
alimentares saudáveis, sustentáveis, parcerias com “indústrias, empresas
equitativos e inclusivos, já iniciou e ou instituições que comercializem,
suas atividades em 2021 com a exi- promovam, ofertem, doem, incenti-
gência de que seus membros não vem ou usem bebidas de baixo teor
tenham nenhuma relação com a in- nutricional; bebidas alcoólicas; ali-
dústria de alimentos e bebidas ultra- mentos com elevada quantidade de
processadas, tabaco e álcool, confi- açúcar e/ou gordura saturada e/ou
gurando conflito de interesse302. gordura trans e/ou sódio; alimentos

130
transgênicos; produtos para ema- vidades e/ou parcerias, financiadas
grecimento e “nutrição estética” ou não, com indústrias, empresas
para os quais não haja evidências ou organizações relacionadas que
científicas de seus efeitos; produtos possuem produtos, práticas ou po-
que prometem “milagres”, efeitos ou líticas que ferem a alimentação ade-
impactos para os quais não haja evi- quada e saudável defendida pela
dências científicas de seus efeitos; Aliança, bem como participar de
produtos ultraprocessados; redes suas decisões estratégicas. Estão
de fast-food; políticas e práticas de incluídas nesse escopo as de: ali-
conflito com a saúde”304. mentos infantis, substitutos do leite
materno e produtos
Na mesma linha da
correlatos dirigidos a
Colansa, a Alian-
crianças menores de
ça pela Alimentação
3 anos, conforme le-
Adequada e Saudável
gislação vigente; ali-
também tem uma po- A Lei de mentos ultraproces-
lítica de ausência de
Acesso à sados; armamento;
conflitos de interesse
Informação tabaco; álcool; farma-
entre seus membros.
(LAI) garante cêutica; agroquímicos
Para fazer parte da
a qualquer sintéticos; manipula-
coalizão, todos devem
ção genética ou que
assinar o Termo de indivíduo o
detenham a patente
Adesão, sendo pessoa pedido de acesso
de sementes; aquelas
física ou organização- a quaisquer que violem direitos
-membro, o que está informações humanos, trabalhistas
previsto em seu docu-
públicas e/ou fundamentais;
mento de governança.
utilizem mão de obra
Entende-se por con- infantil, pratiquem
flitos de interesse trabalho escravo em
“a situação em que alguma das etapas
ações de pessoas ou coletivos são de produção de seus produtos;
influenciadas direta ou indireta- exerçam violência contra homens e
mente por considerações e motiva- mulheres ou qualquer outra forma
ções que podem levá-los a tomar de discriminação e racismo contra
decisões contrárias aos interesses, qualquer pessoa; e que provoquem
princípios e objetivos da Aliança”. desastres ou poluição ambiental; e
As situações que caracterizam con- ainda conglomerados de abasteci-
flitos de interesses são: “realizar ati- mento alimentar”305.

131 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


Já em relação ao governo brasi- ao exercício do cargo ou emprego.
leiro, desde 2011, a Lei de Acesso A mesma traz como exemplos de si-
à Informação (LAI), no 12.527/2011, tuações que configuram conflito de
garante a qualquer indivíduo o pe- interesses no exercício do cargo ou
dido de acesso a quaisquer informa- emprego: divulgar ou fazer uso de
ções públicas, como ata de reuniões, informação privilegiada, em provei-
documentos judiciais, documen- to próprio ou de terceiro, obtida em
tos técnicos etc306. Outro mecanis- razão das atividades exercidas; pra-
mo importante de transparência é ticar ato em benefício de interesse
a obrigatoriedade de se divulgar de pessoa jurídica de que participe o
as agendas de compromissos dos agente público, seu cônjuge, compa-
agentes públicos do Poder Executi- nheiro ou parentes, e que possa ser
vo, com informações como assunto, por ele beneficiada ou influir em seus
local, data, horário e lista de parti- atos de gestão; receber presente de
cipantes307. Temos ainda a Lei nº quem tenha interesse em decisão do
12.813/2013, que dispõe sobre o con- agente público ou de colegiado do
flito de interesses no exercício de car- qual este participe fora dos limites e
go ou emprego do Poder Executivo condições estabelecidos em regula-
Federal e impedimentos posteriores mento; entre outras308.

132
7. PASSOS PARA
O FUTURO

O
crescimento dos casos na tentativa de evitar o avanço da
de obesidade e de DCNT regulação; enfraquecer os argumen-
é resultado não só do au- tos e a própria discussão a favor de
mento do consumo de alimentos e determinada regulação contrária
bebidas ultraprocessados em detri- aos interesses corporativos279; entre
mento do consumo de alimentos in outras.
natura e preparações culinárias, mas A regulação do ambiente e do siste-
também de práticas e políticas ado- ma alimentar é ainda mais necessá-
tadas pela Big Food, pela Big Soda ria neste cenário onde o poder eco-
e pelo Big Agro em prol de seus in- nômico se traduz em poder político.
teresses comerciais. O uso de APC e Apesar de já existirem ferramentas e
a interferência indevida nas discus- mecanismos de mitigação da inter-
sões no desenvolvimento e na im- ferência da indústria, ainda é preciso
plementação de políticas públicas avançar nas políticas de prevenção
de saúde pública gera uma inércia de conflitos de interesses e na aná-
política e atravanca o avanço da re- lise crítica das empresas no âmbito
gulação do ambiente e do sistema das suas práticas, políticas e produ-
alimentar hegemônico. tos. Estratégias de proteção, promo-
A partir do atual levantamento, as es- ção e apoio a ambientes e sistemas
tratégias mais usadas nos diferentes alimentares adequados e saudáveis
casos analisados envolveram: derro- devem ser a prioridade de governos
tar argumentos utilizados para justi- e precisam considerar a sociedade
ficar a necessidade de determinada civil, que é quem é principalmente
política pública; atrasar a discussão, impactada pelas políticas públicas.

133 Dossiê Big Food: Como a indústria interfere em políticas de alimentação


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