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© 2023 ILSI Brasil International Life Sciences Institute do Brasil

ILSI BRASIL

INTERNATIONAL LIFE SCIENCES INSTITUTE DO BRASIL

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Screening nutricional pediátrico [livro


eletrônico] : uma ferramenta prática para o
consultório / Tulio Konstantyner...[et al.].
-- São Paulo : International Life Sciences
Institute do Brasil - ILSI Brasil, 2023. --
(Série de publicações ILSI Brasil :
força-tarefa de nutrição da criança)
PDF

Outros autores: Luitgard Clayre Gabriel


Carvalho de Lima, Virgínia Resende Silva Weffort,
Juliana Maldonado.
Bibliografia.
ISBN 978-65-86937-17-6

1. Alimentação infantil 2. Alimentação


saudável 3. Nutrição - Aspectos da saúde
4. Pediatria I. Konstantyner, Tulio. II. Lima,
Luitgard Clayre Gabriel Carvalho de. III. Weffort,
Virgínia Resende Silva. IV. Maldonado, Juliana.
V. Série.

23-173364 CDD-613.2
Índices para catálogo sistemático:

1. Alimentação infantil : Nutrição : Promoção


da saúde 613.2

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129


Esta publicação foi possível graças ao apoio da Força-Tare-
fa de Nutrição da Criança.

Na página 44, encontra-se a lista dos membros do Conselho


Científico e de Administração do ILSI Brasil e na página 45 as empre-
sas mantenedoras da Força-Tarefa de Nutrição da Criança em 2022.

As afirmações e opiniões expressas nesta publicação são


de responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamen-
te, as do ILSI Brasil. Além disso, a eventual menção de determi-
nadas sociedades comerciais, marcas ou nomes comerciais de
produtos não implica endosso pelo ILSI Brasil.

O ILSI Brasil – International Life Sciences Institute do Brasil – é uma


organização mundial sem fins lucrativos e de integração entre aca-
demia, indústria e governo. Sua missão e estimular a discussão e
aplicação da ciência em temas que visam a melhora da saúde e do
bem estar público e preservação do meio ambiente.
Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

AUTORES:

Tulio Konstantyner

Médico, Pediatra, Área de Atuação em Nutrologia. Mestre e Doutor em Ciên-


cias Aplicadas à Pediatria pela EPM/UNIFESP. Pós-Doutorado em Epidemiologia e
Saúde Pública pela London School of Hygiene & Tropical Medicine e em Medicina
pela EPM/UNIFESP. Prof. Adjunto e Chefe da Disciplina de Nutrologia e Orientador
do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu do Departamento de Pediatria da
EPM/UNIFESP. Membro da equipe de Neonatologia do Hospital Geral de Itapecerica
da Serra. Editor Executivo da Revista Paulista de Pediatria. Membro Titular do Depar-
tamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Vice-presiden-
te do Departamento Científico de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Coordenador Científico da Força-Tarefa Nutrição da Criança do ILSI Brasil.

Luitgard Clayre Gabriel Carvalho de Lima

Farmacêutico e Nutricionista. Pós-graduado em Nutrição Clínica Funcional (VP-


-Centro de Nutrição Funcional/SP) Pós-graduado em Obstetrícia, Pediatria e Adoles-
cência (UniRedentor-NutMed/RJ) Pós-graduado em Nutrigenômica e Nutrigenética
na Prática Clínica (UNYLEYA). Pós-graduado em Fitoterapia Aplicada a Prática Clínica
(IPGS/RS). Especialista em Saúde, Alimentação e Nutrição Infantil pela Escola Paulista
de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP). Mestrando em
Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria (EPM/UNIFESP)

Virgínia Resende Silva Weffort

Medica, Pediatra, Área de atuação em Nutrologia Pediátrica. Mestre e Doutora


em Pediatria pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP. Prof. Associada em
Pediatria na Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Membro participante do De-
partamento Cientifico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Presidente
do Departamento Cientifico de Nutrologia da Sociedade Mineira de Pediatria. Co-
ordenadora do Curso de Aprimoramento em Nutrologia Pediatrica - CANP - da SBP.
Coordenadora do Curso de Nutrologia em EAD da SBP. Membro da Academia Mineira

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de Pediatria e da Academia Brasileira de Pediatria.

Juliana Maldonado

Nutricionista. Especialização em Nutrição Materno-Infantil pelo Departamento


de Nutrologia Pediátrica da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de
São Paulo (UNIFESP-EPM). Pós-graduação em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas
– FGV. Membro afiliado da British Dietetic Association (BDA)

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SUMÁRIO

1. A AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR 8

2. A AVALIAÇÃO CLÍNICA 14

3. A AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA 18

4. AVALIAÇÃO LABORATORIAL E DE EXAMES SUBSIDIÁRIOS 31

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40

6. DIRETORIA E CCA 2023 43

7. FORÇA-TAREFA DE NUTRIÇÃO DA CRIANÇA 44

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

INTRODUÇÃO

A infância e adolescência caracterizam-se pelo crescimento físico progressivo e


acelerado. Este tema pediátrico tem recebido constante atenção de pediatras e profis-
sionais de saúde infantil. Além dos desvios antropométricos, os erros alimentares e as
deficiências de micronutrientes, principalmente nos primeiros anos de vida, podem ser
os primeiros sinais de algum problema de saúde e podem resultar em doenças em cur-
to, médio e longo prazos. Desta forma, o monitoramento nutricional torna-se uma va-
liosa ação de acompanhamento do crescimento e identificação oportuna de possíveis
distúrbios nutricionais e doenças associadas. De forma geral, a avaliação nutricional de
crianças e adolescentes é composta por quatro áreas de atenção:

1. Avaliação do consumo e do comportamento alimentar: realização de inquéri-


tos alimentares;
2. Avaliação clínica: investigação de sinais e sintomas, e realização de exame físico.
3. Avaliação antropométrica: aferição das dimensões corporais e comparação
dos valores dos índices antropométricos com os da população de referência;
4. Avaliação laboratorial e de exames subsidiários: uso de métodos bioquímicos
e de imagem para estimativa do estado metabólico e nutricional relativo aos nutrientes.

O objetivo deste documento científico foi descrever as características de uma boa


avaliação nutricional de crianças e adolescentes em acompanhamento ambulatorial
de forma prática para uso de profissionais de saúde. Fornecemos um guia prático
dividido nestas quatro áreas com informações para nortear a investigação dos distúr-
bios nutricionais, o raciocínio diagnóstico e a tomada de decisão clínica.

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

1. A AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR

A avaliação do consumo e do comportamento alimentar é fundamental para a


identificar o nível de risco de possíveis deficiências nutricionais e propor medidas de
intervenção. O consumo alimentar saudável é um dos determinantes do estado nutri-
cional e relaciona-se à saúde em todas as fases do curso da vida.
Muitos fatores são de extrema importância e devem ser avaliados durante a
anamnese alimentar/nutricional, como:

• Aleitamento materno: número de vezes que a criança é amamentada, tempo das


mamadas, tempo entre as mamadas e se há o esvaziamento e revezamento das mamas;
• Uso de fórmulas infantis: volume, diluição, número de vezes que a criança re-
cebe, quantidade e tempo de consumo, tempo entre as ofertas, modo de armazena-
mento da lata e a possível adição de outros preparados;
• Introdução da alimentação complementar: forma de preparo, consistência e
alimentos introduzidos;
• Desenvolvimento motor oral da criança;
• Quantificação do consumo alimentar;
• Local de realização das refeições, assim como a pessoa responsável por ofere-
cê-las às crianças;
• Identificação de alergias, intolerâncias e dificuldades alimentares;
• Comportamento dos pais e/ou cuidadores durante as refeições;
• Local mais comum de aquisição dos alimentos (mercados, feiras ou outros);
• Influências étnicas, culturais ou religiosas na alimentação.

A investigação do consumo alimentar pode ser feita com o suporte de algumas


ferramentas abrangentes, como a avaliação da diversidade alimentar por meio da iden-
tificação do consumo dos grupos da pirâmide alimentar, ou de forma mais detalhada
(e mais recomendada), por meio de questionários, como o recordatório de 24 horas, o
registro alimentar habitual, o inquérito de frequência e o questionário de introdução
alimentar, que devem ser aplicados e interpretados por um nutricionista (Quadro 1).

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

Quadro 1. Métodos para avaliação do consumo alimentar.

Ferramenta Detalhes

Avaliação bastante útil na prática pediátrica. Consiste em uma entrevista rápida na qual a criança
Recordatório de 24 horas e/ou seu responsável (pai, mãe ou cuidador) recordam todos os alimentos e bebidas ingeridas nas
24 horas precedentes

Consiste no preenchimento de uma planilha estruturada, na qual deverão ser anotados todos os
Registro alimentar habitual ou
alimentos e suas quantidades, ingeridos durante três ou quatro dias alternados (dois dias de
diário alimentar
semana e um de final de semana)

Estima o número de vezes que determinado alimento ou grupo alimentar foi ingerido durante um
Frequência alimentar
determinado período

Introdução alimentar Identifica a idade em meses que os alimentos foram introduzidos na alimentação complementar

Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia (2021).

A avaliação da diversidade do consumo conforme os grupos de alimentos pode


ser útil na prática pediátrica ambulatorial, pois permite avaliar de forma rápida a fre-
quência e consumo de alimentos dentro dos grupos da pirâmide alimentar proposta
pela Sociedade Brasileira de Pediatria, que apresenta a distribuição das porções diá-
rias conforme a idade (Figura 1).
Para uma avaliação mais fidedigna, deve-se utilizar exemplos de medidas ca-
seiras das porções (Figura 2) e realizar o preenchimento do recordatório de 24 horas e
registro alimentar (Quadro 2).

Quadro 2. Exemplo de preenchimento do recordatório de 24 horas e registro alimentar.

Horário Alimentos e forma de preparo Quantidade

9h00 Leite integral puro 1 copo de 200ml

Pão francês 1 unidade média

12h00 Arroz branco 2 colheres de sopa

Feijão carioca 1 concha pequena

Abobrinha refogada com azeite 2 colheres de sopa

Bife de alcatra grelhado 1 unidade média

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Figura 1: Pirâmide alimentar e distribuição das porções diárias conforme idade.

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria (2018).

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Figura 2: Exemplo das medidas caseiras.

Fonte: Ministério da Saúde (1996).

Neste sentido, o conhecimento da quantidade dos alimentos consumidos per-


mite quantificar a ingestão diária de macro e micronutrientes e, consequentemente,
avaliar se esta ingestão atende às recomendações de cada nutriente para garantir as
necessidades orgânicas. A ausência de alimentos fontes de nutrientes específicos po-
dem levar a deficiências nutricionais específicas. Por isso, todos os grupos alimentares
devem estar presentes na alimentação da criança e do adolescente.
No entanto, cabe salientar que consumir um alimento com determinado nutrien-
te não é garantia de aproveitamento metabólico pelo organismo humano. Os nutrien-
tes, principalmente as vitaminas e minerais, apresentam biodisponibilidade variada de
acordo com a sua forma química, preparo dos alimentos e composição da dieta. Isso
deve ser lembrado, principalmente nos períodos de maior demanda metabólica, como
acontece com o ferro para os lactentes e com o cálcio para os adolescentes.
Especificamente, a identificação de possíveis dificuldades alimentares também é
importante, mesmo que possa ser resultado de um processo fisiológico do amadureci-
mento infantil. Quando elas não são identificadas precocemente e mal acompanhadas,
podem levar a consequências clínicas. Segundo o Guia de Orientações de Dificuldades
Alimentares da Sociedade Brasileira de Pediatria (2022), quando for observado que a
ingestão alimentar for inferior a 80% das necessidades nutricionais por mais de 10 dias,
é necessária a realização de intervenção nutricional.

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As recomendações das necessidades nutricionais ou de Ingestão Dietética de


Referência (DRI) de nutrientes para cada faixa etária e sexo, que incluem a Ingestão
Dietética Recomendada (RDA), a Ingestão Adequada (IA), o Requerimento Médio Es-
timado (EAR) e o Nível Superior Tolerável de Ingestão (UL), podem ser consultadas no
site do National Institutes of Health (NIH) (https://ods.od.nih.gov/HealthInformation/
nutrientrecommendations.aspx).
Com o objetivo de identificar e classificar as dificuldades alimentares de forma
prática, Kezner et al. (2015) dividem as crianças em 3 grupos: crianças com apetite limi-
tado, com ingestão seletiva ou com fobia alimentar (Quadro 3).

Quadro 3: Classificação das dificuldades alimentares.

Grupos de dificuldades Tipos de dificuldades

Interpretação equivocada dos pais


Criança enérgica e ativa com apetite limitado
Crianças com apetite limitado
Criança apática e retraída
Criança com doença orgânica
Criança com seletividade leve
Crianças com ingestão seletiva Criança altamente seletiva
Criança com doença orgânica
Eventos traumáticos agudos ou crônicos
Crianças com fobia alimentar Alterações comportamentais
Criança com doença orgânica

Fonte: Adaptado de Kerzner et al. (2015).

A prioridade é identificar as condições que podem representar ameaças às crian-


ças ou “sinais de alerta”, em cada domínio (clínico, nutricional, de desenvolvimento e
psicossocial).
Os sinais de alerta mais urgentes incluem aspiração, disfagia, dor aparente com
a alimentação, vômitos e diarreia, falha grave de crescimento, atraso no desenvolvi-
mento, sintomas cardiorrespiratórios crônicos ou deficiências nutricionais francas. São
situações que requerem atenção imediata, que pode incluir testes adicionais e inter-
venção interdisciplinar. Além de disfagia e aspiração, os sinais relacionados ao atraso
motor oral devem ser discutidos e/ou encaminhados para uma avaliação motora oral.
A avaliação da consistência dos alimentos aceitos, apropriados para cada idade, e a
alimentação forçada também são preocupações particulares.

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As práticas aversivas de alimentação incluem pressionar ou forçar uma criança


a comer e são identificadas perguntando aos pais como eles respondem à recusa ali-
mentar de seus filhos ou observando as interações alimentares.
Não há um padrão ouro para a avaliação do consumo alimentar. Mas, quanto
mais detalhada for a avaliação, combinada com a anamnese clínica, exame físico e
antropometria, teremos um cenário mais criterioso e real e, assim, serão prevenidas
repercussões no crescimento e desenvolvimento global da criança.
O pediatra geral é o primeiro a ser consultado quanto a alimentação na maior
parte dos casos. Desde o início da vida, ele participa das orientações da amamenta-
ção e introdução da alimentação complementar, período essencial para a aquisição de
hábitos alimentares saudáveis. Apesar de ser apto para tal e poder trabalhar sozinho,
é recomendável que lactentes e crianças com erros e dificuldades alimentares sejam
acompanhados conjuntamente com outros especialistas para auxiliar na avaliação mais
detalhada da dieta e a identificação de possíveis déficits e excessos de macro e micro-
nutrientes. O grupo multidisciplinar de profissionais da saúde composto por pediatras
nutrólogos, nutricionistas e psicólogos tem conhecimentos especializados para avaliar
o consumo alimentar, gerenciar os diversos aspectos que envolvem a alimentação e a
prescrição dietética mais criteriosa e individualizada.

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2. A AVALIAÇÃO CLÍNICA

Neste item, apresentamos os sinais e sintomas associados aos distúrbios antro-


pométricos, à deficiência e ao excesso de ingestão de vitaminas e minerais em crianças
e adolescentes. Os quadros 4, 5 e 6 potencialmente funcionam como norteadores para
suspeita clínica destes distúrbios nutricionais. Eles devem ser usados em conjunto com
a avaliação antropométrica e do consumo alimentar para tomada de decisão clínica e,
eventualmente, para solicitação de exames laboratoriais e/ou complementares.

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Quadro 4: Sinais e sintomas associados à deficiência e ao excesso de ingestão de


vitaminas em crianças e adolescentes.

Sinais e sintomas
Vitamina
Carência Excesso

Alterações visuais (cegueira noturna, ressecamento da conjuntiva e da córnea, lesão da córnea e cegueira Descamação, escamação e rachaduras
irreversível) de pele, xerose cutânea e alopecia

Dor articular, alterações ósseas,


A > risco de infecções respiratórias e gastrintestinais
hepatomegalia

Hipertensão intracraniana (cefaleia,


Hiperqueratose folicular, anorexia e de peso vômito, náusea, ataxia, anorexia e
abaulamento da fontanela)

Choro agudo, cólicas, anorexia, constipação, vômito, irritabilidade e agitação

Beribéri (fraqueza e perda de massa muscular, neuropatia periférica, coração aumentado ou taquicardia, falta
B1 (Tiamina)
de ar, inchaço nas extremidades, perda de sensibilidade ou sensação de formigamento nos membros).

Encefalopatia de Wernicke (redução do nível de consciência, paralisia ocular, nistagmo e ataxia) NA

Glossite, estomatites, edema de mucosas, dermatite seborreica, sintomas respiratórios e anemia


B2 (Riboflavina)

Atraso de crescimento e do desenvolvimento cognitivo NA

Pelagra (dermatite na face, pescoço, mãos e pés)

B3 (Niacina) Vômitos e diarreia (potencialmente com sangue) Rubor e desconforto gastrointestinal

Astenia, insônia, instabilidade emocional, manias e depressão

B5 Parestesia das mãos e pés, reflexos exacerbados de tendões profundos, depressão mental

(Ácido pantotênico) > risco de IVAS, vômitos e dor abdominal NA

Anemia, dermatite seborreica e glossite


Ataxia, fraqueza muscular, redução de
B6 (Piridoxina)
reflexos límbicos e dores ósseas
Convulsões, depressão e confusão mental

Dermatite, conjuntivite, anorexia, náusea, alopecia, erupções cutâneas


B7 (Biotina) NA
Diminuição do tônus muscular, ataxia, hipotonia, apatia, letargia, déficit auditivo, depressão, alucinações e
atraso do desenvolvimento

Odor corporal de peixe, sudorese,


B8 (Colina) Cansaço, anorexia, cefaleia, hepatomegalia e desconforto abdominal associado a fígado gorduroso
salivação, hipotensão

Sinais de anemia (palidez cutânea, fraqueza, anorexia, taquicardia), lesões de mucosa, insônia, déficit de
B9 (Ácido fólico) NA
memória e irritabilidade

Hiperpigmentação da pele, vitiligo, icterícia, glossite


B12 (Cobalamina) NA

Neurológicas: arreflexia, irritabilidade, distúrbio da marcha, anosmia, déficit cognitivo e de propriocepção

Escorbuto (petéquias, equimoses, hiperqueratose e hemorragia perifolicular, cansaço, fadiga, ausência de Diarreia, cálculos renais, cansaço e
C
ganho de peso, anorexia e irritabilidade, gengivas edemaciadas, alteração na formação dos dentes) apatia

Raquitismo (atraso do desenvolvimento e do crescimento ósseo, irritabilidade, sudorese, dor óssea, hipotonia Fraqueza, náuseas, anorexia, cefaleia,
D muscular, fronte olímpica, crânio tabes, deformidades de membros inferiores, sulco de Harrison [atrofia dor abdominal, cãibra, diarreia,
diafragmática] e alargamento das junções costocondrais [rosário raquítico] e de punhos e tornozelos) constipação, vômitos, poliúria

Diminuição dos reflexos tendíneos, ataxia espinocelular, disartria, miopatia esquelética e retinopatia Cefaleia, fadiga, náusea, fraqueza
E
pigmentada muscular

K Sangramento das mucosas, hematêmese, melena, hematúria, hematomas NA

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NA: Não se Aplica (não há evidências de efeitos adversos relatados associados ao excesso de inges-
tão, o que não significa que não ocorram em potencial); IVAS: infecções das vias aéreas superiores.

Quadro 5. Sinais e sintomas associados à deficiência e ao excesso de ingestão de mi-


nerais em crianças e adolescentes.
Sinais e sintomas
Mineral
Carência Excesso

Raquitismo (atraso do desenvolvimento e do crescimento ósseo, irritabilidade, sudorese,


dor óssea, hipotonia muscular, fronte olímpica, crânio tabes, deformidades de membros
Cálcio Cálculo renal, constipação, calcificação de tecidos moles
inferiores, sulco de Harrison [atrofia diafragmática] e alargamento das junções
costocondrais [rosário raquítico] e de punhos e tornozelos)

Cobre Neuropatia axonal periférica, fratura óssea, palidez cutâneo-mucosa Dor epigástrica, vômito, diarreia e icterícia

Sintomas gastrointestinais e sinais de choque


Cromo Diminuição da massa magra
cardiocirculatório e disfunção renal

Alterações de pele e mucosa (palidez, glossite, atrofia de papilas linguais e unhas


Sintomas gastrintestinais
quebradiças e rugosas)

Hemossiderose (letargia, artralgia, hiperpigmentação da pele,


perda da libido, hepatoesplenomegalia, angiomas
Fadiga, anorexia, fraqueza, astenia, geofagia, disfagia, estomatite angular, dores em
Ferro aracneiformes, artropatia, ascite, arritmias cardíacas,
membros inferiores, cefaleia, tontura, falta de ar,
insuficiência cardíaca congestiva, perda de pelos corporais,
atrofia testicular e icterícia)

Disfunção cognitiva, dificuldade de atenção e aprendizado, distúrbios do sono e déficit de


crescimento físico

Tremor, parestesia, ataxia, confusão mental, convulsão, coma, fraqueza, rigidez articular,
Fósforo Tetania, hipotonia e taquicardia
dores ósseas, osteomalácea, palidez cutâneo-mucosa, hemorragia, anorexia,

Cretinismo (atraso de crescimento e do desenvolvimento mental, distúrbio da marcha,


Iodo Dor abdominal, náusea, vômito e diarreia
surdez, mudez, estrabismo) e imunodeficiência

Anorexia, náusea, vômitos, letargia, fraqueza, espasmo carpopedal, parestesia,


Náuseas, vômitos, hipotensão, sonolência, bradicardia, visão
Magnésio irritabilidade, déficit de atenção, confusão mental, convulsões, apatia e cãibras,
dupla e fraqueza
fasciculação e fraqueza muscular

Movimentos lentos e desajeitados, espasmos nos músculos


Manganês Déficit de crescimento faciais, tremores e dificuldades de locomoção, irritabilidade,
agressividade e alucinações

Selenose (unhas quebradiças e com pontos brancos, cabelos


opacos e quebradiços)
Doença de Keshan (miocardiopatia) e doença de Kashin-Beck (retardo do crescimento
Selênio
e osteoartrose)
Sintomas gastrointestinais, erupções cutâneas, odor de alho
na respiração, fadiga e irritabilidade

Diarreia, anorexia, hipogeusia, dor abdominal, glossite

Cicatrização lenta, dermatite em couro cabeludo, alopecia, xerodermia, redução do


crescimento ungueal, estomatite, paroníquia, blefarite, queilite

Dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, febre, cefaleia,


Zinco
letargia e fadiga
Alterações neurossensoriais, comprometimento psicológico, tremor intencional, dificuldade
de concentração, nistagmo, depressão, cegueira noturna, anosmia, demência, disartria

Retardo do crescimento, diminuição da massa magra e fraturas ósseas

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

Quadro 6. Sinais e sintomas associados aos distúrbios antropométricos de crianças e


adolescentes.

Sinais e sintomas

Fenótipos clínicos de síndrome genéticas: sinais como hipertelorismo ocular, fácies atípica, implantação
Baixa estatura
baixa do pavilhão ocular, pescoço curto e alado, hipotonia muscular, encurtamento de membros etc.

Marasmo (magreza extrema e atrofia muscular, lesões hipocrômicas ao lado de hipercrômicas, com
descamação, perda intensa de tecido subcutâneo, abdômen proeminente, aspecto simiesco, costelas
visíveis, desaparecimento da bola de Bichat, pele frouxa sobretudo nas nádegas, irritabilidade)

Desnutrição
Kwashiorkor (edema generalizado, perda moderada do tecido subcutâneo, dor a palpação do fígado,
hepatomegalia, cabelo fraco, seco e descolorido, alterações cutâneas, apatia, anorexia)

Mista (sinais de marasmo com edema ou sinais de kwashiorkor em crianças com perda intensa de tecido
subcutâneo)

Constipação, náusea e desconforto em região de hipocôndrio direito

Obesidade Acantose nigricans , estrias, acne, hirsutismo, celulite, furunculose

Pubarca precoce, incontinência urinária, joelho valgo, pé plano, acúmulo de gordura abdominal e problemas
psicossociais

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3. A AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA

O crescimento infantil é um processo dinâmico com alterações ao longo do tem-


po e deve ser observado e quantificado mediante múltiplas medidas das dimensões
corporais, em várias ocasiões, seguindo orientação conforme a idade, o gênero e a
fase do crescimento. Na avaliação dinâmica do crescimento, são comparados os dados
extraídos em um determinado momento (avaliação transversal) com os das curvas de
crescimento das populações de referência, analisando o canal ou a zona de crescimen-
to e a velocidade de crescimento baseada em dados obtidos em vários momentos
(avaliação longitudinal).

Para a avaliação do crescimento físico utiliza-se as seguintes medidas:


• Peso e Estatura (comprimento ou altura);
• Perímetros cefálico (PC), torácico (PT) e abdominal (PA);
• Dobras cutâneas (tricipital, subescapular, suprailíaca e abdominal);
• Circunferências (braço, perna, pescoço);
• Comprimento superior do braço (CSB), da tíbia (CT) e do joelho (CJ);
• Segmentos superior (SS) e inferior (SI);
• Fontanelas;
• Diâmetros (bicristailíaco e biacromial); e
• Envergadura.

As medidas antropométricas mais utilizadas na faixa etária pediátrica são peso,


estatura, perímetro cefálico e circunferência abdominal. Mensurar as dimensões cor-
porais permite comparar os pacientes com os padrões de referência por meio dos
índices antropométricos, como o peso-para-idade (P/I), o peso-para-estatura (P/E), a
estatura-para-idade (E/I), o índice de massa corporal-para-idade (IMC/I) e o perímetro
cefálico-para-idade (PC/I), seja por meio de valores de percentil ou escore-z. Todo os
indicadores que avaliam o ganho de medidas das dimensões corporais de crianças e
adolescentes podem ser acessados no site da Organização Mundial de Saúde (OMS):
https://www.who.int/toolkits/child-growth-standards/standards.
Para tanto, podem ser utilizados os programas Anthro e Anthro Plus desenvolvi-
dos pela OMS para facilitar a aplicação das curvas de referência de crescimento para
crianças de 0 a 5 anos (Anthro) e de 5 a 19 anos (Anthro Plus). Estes dois programas

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

estão disponíveis gratuitamente no site da OMS e podem ser instalados em compu-


tadores pessoais, respectivamente em https://www.who.int/tools/child-growth-stan-
dards/software e https://www.who.int/tools/growth-reference-data-for-5to19-years/
application-tools. O Departamento de nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP) elaborou um tutorial para entendimento destes softwares (https://www.sbp.com.
br/fileadmin/user_upload/22066E-GPA_-_Avaliacao_Crescimento_Infantil.pdf).

Os pontos de corte de percentis e/ou escores-z dos índices P/I, P/E, E/I e IMC/I
e a nomenclatura adotada em cada faixa para a classificação do estado nutricional de
crianças e adolescentes, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, estão apre-
sentados no quadro 7.

Quadro 7. Classificação do estado nutricional de crianças e adolescentes de acordo


com os índices antropométricos.
Pontos de corte Índices antropométricos

Crianças de 0 a 5 anos incompletos Crianças de 5 a 10 anos incompletos Adolescentes

Percentil Escore-Z P/I P/E IMC/I E/I P/I IMC/I E/I IMC/I E/I

Muito baixo Muito baixa Muito baixo Muito baixa Muito baixa
Magreza Magreza Magreza Magreza
< 0,1 < -3 peso para estatura para peso para estatura para estatura para
acentuada acentuada acentuada acentuada
idade idade idade idade idade

Baixa Baixa Baixa


Baixo peso Baixo peso
0,1 a < 3 -3 a < -2 Magreza Magreza estatura para Magreza estatura para Magreza estatura para
para idade para idade
idade idade idade

Estatura Estatura Estatura


3 a < 15 -2 a < -1
Eutrofia Eutrofia adequada Eutrofia adequada Eutrofia adequada
Peso Peso
para idade para idade para idade
15 a 85 -1 a 1 adequado adequado
para idade para idade
Risco de Risco de
> 85 a 97 >1a2 - Sobrepeso - Sobrepeso -
sobrepeso sobrepeso
> 97 a
>2a3 Sobrepeso Sobrepeso - Obesidade - Obesidade -
99,9 Peso elevado Peso elevado
para idade para idade Obesidade Obesidade
> 99,9 >3 Obesidade Obesidade - - -
grave grave

P/I: peso-para-idade; P/E: peso-para-estatura; IMC/I: índice de massa corporal-para-idade; E/I: esta-
tura-para-idade (E/I).

Peso
A pesagem deve ser feita com a criança despida, até 24 meses, e com roupas
leves, nas crianças maiores, sendo posicionadas de modo que o peso seja igualmente
distribuído pela superfície da balança, que deve estar calibrada. Deve-se utilizar um
pano ou papel sobre a balança, que deve ser colocado antes da calibração e ajustado

19
Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

antes de se proceder a medida. Para crianças até 24 meses, utiliza-se a balança “pesa-
-bebê”, mecânica ou digital, graduada até 15 a 16 Kg, com divisões de 5 a 10 g (Figura 3).

As crianças maiores e os adolescentes devem ser pesados em pé e descalços,


com os braços estendidos ao longo do corpo, em balanças mecânicas ou digitais, tipo
adulto (plataforma), com divisões de no máximo 100 g. Antes de cada medida, e se
removida do lugar, a balança deve ser regulada, voltando-se ao zero (Figura 4).

20
Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

A calibração periódica da balança, por assistência técnica credenciada pelo Ins-


tituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), é de
extrema importância para a confiabilidade dos dados coletados.
Nos primeiros meses de vida, a avaliação do incremento de peso (gramas/dia) é
importante, não apenas para a avaliação nutricional, como para o estabelecimento de
condutas em relação à alimentação. Na tabela 1, estão apresentados os valores médios
de ganho de peso diário estimados para o primeiro ano de vida.

Tabela 1. Ganho de peso diário estimados para o primeiro ano de vida.


Ganho de Peso
g/mês g/dia
1.° trimestre 700 25 a 30
2.° trimestre 600 20
3.° trimestre 500 15
4.° trimestre 300 10
Fonte: SBP (2021).

Estatura
O termo estatura compreende o comprimento (medido com o indivíduo deitado)
e a altura (medida com o indivíduo em pé). Nos primeiros 24 meses de vida, a aferição
do comprimento deve ser realizada com o auxílio de régua antropométrica sobre uma
superfície plana. Para efetuar a leitura da medida, a criança deve estar em decúbito dor-
sal horizontal, descalça, com as pernas estendidas e com a cabeça livre de adereços. O
procedimento deve contar com a participação de dois examinadores (mãe e profissio-
nal). Posicionar a cabeça apoiada firmemente contra a parte fixa do equipamento, levar a
parte móvel do equipamento até a planta dos pés e fazer a leitura (Figura 5).

21
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Figura 5. Esquema para aferição do comprimento.

Segurar a cabeça no
Plano de Frankfurt
Pressionar os joelhos
(estender as pernas)

Parte mais alta


da cabeça
Encostar o cursor
na planta dos pés,
com calcanhar e
pés em 90º

Parte de trás Ombros Nádegas Panturrilhas Calcanhares


da cabeça

Para medir a altura da criança com mais de 2 anos de idade, deve-se mantê-la
em pé e fazer a aferição preferencialmente com estadiômetro de parede (antropô-
metro vertical), que esteja fixado em parede lisa e sem rodapé, e posicionado a uma
distância correta do chão, de modo a garantir a leitura fidedigna da estatura.
Em pé, a criança deve estar descalça e ser colocada no centro do equipamento,
com a cabeça livre de adereços, ereta, com os braços estendidos ao longo do corpo, a
cabeça erguida, olhando para um ponto fixo na altura dos olhos, formando uma linha
estabelecida do ponto mais baixo da margem orbitária ao ponto mais alto da margem
do meato acústico externo (plano de Frankfurt).
Além disso, os calcanhares, as nádegas, os ombros e a parte posterior da cabeça
devem estar em contato com o antropômetro, as porções internas dos ossos dos calca-
nhares devem se tocar, bem como a parte interna dos joelhos. Os pés unidos formam
um ângulo reto com as pernas (Figura 6).
Para a correta interpretação da estatura, é importante a observação seriada da
criança para verificação do canal de crescimento e para o cálculo da velocidade de ga-
nho de medidas. Uma mensuração única dificilmente permitirá o diagnóstico correto.

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Figura 6. Esquema para aferição da altura

Especificamente, para crianças na faixa etária de 2 a 12 anos com limitações físi-


cas e naquelas com impossibilidade posicionamento (pacientes críticos, acamados, em
pós-operatório imediato ou com doenças cônicas), as medidas segmentares dos mem-
bros superiores e inferiores permitem estimar a estatura com a utilização de equações
propostas por Stevenson (1995). As medidas de segmento utilizadas estão apresenta-
das na figura 7 e as fórmulas empregadas para estimativa da estatura estão na tabela 2.

• Comprimento superior do braço (CSB): distância do acrômio até a cabeça do


rádio, medida com o membro superior fletido a 90 graus;
• Comprimento tibial (CT): distância da borda superomedial da tíbia até a borda
do maléolo medial inferior, feita com fita inextensível;
• Comprimento do membro inferior a partir do joelho (CJ): distância do joelho
a base do calcanhar.

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Figura 7. Esquema para aferição das medidas de segmento para estimativa da esta-
tura (comprimento superior do braço, tibial e do membro inferior a partir do joelho).

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Tabela 2. Fórmulas para estimativa de estatura em crianças de 2 a 12 anos de acordo


com as medidas de segmento em cm.

Segmento Estatura estimada (cm) Desvio-padrão (cm)

Comprimento superior do braço (CSB) E = (4,35 x CSB) + 21,8 1,7

Comprimento tibial (CT) E = (3,26 x CT) + 30,8 1,4

Comprimento do membro inferior a partir do joelho (CJ) E = (2,69 x CJ) + 24,2 1,1

Fonte: Stevenson (1995).

Perímetro cefálico
A medida do perímetro cefálico deve ser realizada prioritariamente durante os
três primeiros anos de vida. A medida deve ser realizada por meio de fita métrica fle-
xível, porém inelástica e inextensível, que deve passar pela glabela e pelo ponto mais
saliente do osso occipital (Figura 8).

Figura 8. Esquema para medir circunferência craniana.

Circunferência abdominal
A circunferência abdominal está proporcionalmente associada à presença de
gordura visceral e, portanto, relacionada ao maior risco metabólico e cardiovascular.
Existem várias formas de aferição. A mais empregada é a que utiliza o ponto médio
entre a última costela fixa e a borda superior da crista ilíaca (cintura natural), aproxi-
madamente 2 dedos acima da cicatriz umbilical (Figura 9). Especificamente, o valor da
relação circunferência abdominal dividido pela estatura (CA/E) maior que 0,5 é consi-
derado indicador de risco metabólico.

25
Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

Figura 9. Esquema para medir a circunferência abdominal.

Circunferência do pescoço
Para a avaliação do risco cardiovascular, também é possível realizar a circunfe-
rência do pescoço a partir dos 10 anos de idade (Tabela 3).

Tabela 3. Valores de referência para circunferência do pescoço.


Sexo Idade (anos) Sobrepeso (cm) Obesidade (cm)
10 a 12 ≥ 29,35 ≥ 30,95
Feminino 13 a 15 ≥ 31,25 ≥ 32,60
16 a 17 ≥ 31,65 ≥ 32,45
10 a 12 ≥ 29,65 ≥ 30,20
Masculino 13 a 15 ≥ 33,90 ≥ 33,55
16 a 17 ≥ 36,45 ≥ 38,45

Fonte: adaptado de Ferretti et al. (2015).

Circunferência do braço
Em 2009, a OMS e UNICEF recomendaram como critérios diagnósticos para des-
nutrição aguda grave (SAM – Severe Acute Malnutrition), em crianças de 6 a 60 meses
de idade, o uso dos seguintes parâmetros: P/E < -3 desvios-padrão, circunferência do
braço (MUAC – Mid-Upper Arm Circumference) < 115 mm e/ou a presença de edema
bilateral como sinal clínico. Os dois últimos critérios são bastante úteis em situações
ambientais adversas, que dificultam a verificação adequada do peso e da estatura.
Para a medida da circunferência do braço a criança ou adolescente deve per-
manecer em pé com o braço direito estendido paralelamente ao lado do corpo, fle-
xionar até formar ângulo reto com o antebraço. Medir a distância entre o acrômio e

26
Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

o olecrano (extremidade do cotovelo) e determinar o ponto médio. Posicionar a fita


métrica inextensível sobre esse ponto (Figura 10). A leitura é feita em milímetros.

Figura 10. Esquema para medir a circunferência do braço.

Dobras cutâneas
A medida das dobras ou pregas cutâneas possibilita estimar a quantidade de gor-
dura corporal. Para isso, utiliza-se o compasso de dobras cutâneas (plicômetro ou adi-
pômetro), que contém duas hastes que exercem pressão sobre duas camadas de pele e
gordura subcutânea, destacadas do tecido muscular adjacente. As dobras cutâneas mais
utilizadas para uma avaliação inicial são a tricipital (DCT) e subescapular (DCSE).
A DCT é medida na face posterior do braço, paralelamente ao eixo longitudi-
nal, no ponto que compreende a metade da distância entre a borda superolateral do
acrômio e o olecrano. A medida da DCSE é realizada obliquamente a 45.º em relação
ao eixo longitudinal, localizada 1 cm abaixo do ângulo inferior da escápula (Figura 11).

27
Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

Figura 11. Esquema para medir as pregas cutâneas.

A OMS fornece os percentis da DCT e DCSE para crianças de três meses a cinco
anos de idade estratificadas por sexo. Eles são apresentados em tabelas e gráficos
(who.int/childgrowth/standards/en/). Percentis < 5 e > 95 são considerados déficit e
excesso de gordura corporal, respectivamente. Valores entre 5 e 15 e entre 85 e 95 são
considerados nas faixas de risco.
O quadro 8 apresenta as equações que utilizam a soma das dobras cutâneas
tricipital e subescapular para estimar a porcentagem de gordura corporal. Elas consi-
deram o estado de maturação sexual (estágios de Tanner), a etnia e o próprio valor da
soma para determinar as constantes que devem ser utilizadas.

28
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Quadro 8. Equações de predição de gordura corporal para crianças e adolescentes de


8 a 19 anos de idade.

Sexo feminino
Brancas ou negras com somatório das dobras menor ou igual a 35 mm
%G = 1,33 (DCT + DCSE) – 0,013 (DCT + DCSE) – 2,5
Brancas ou negras com somatório das dobras maior que 35 mm
%G = 0,546 (DCT + DCSE) + 9,7
Sexo masculino*
Brancos com somatório das dobras menor ou igual a 35 mm
Pré-púberes: %G = 1,21 (DCT + DCSE) – 0,008 (DCT + DCSE) – 1,7
Púberes: %G = 1,21 (DCT + DCSE) – 0,008 (DCT + DCSE) – 3,4
Pós-púberes: %G = 1,21 (DCT + DCSE) – 0,008 (DCT + DCSE) – 5,5
Negros com somatório das dobras menor ou igual a 35 mm
Pré-púberes: %G = 1,21 (DCT + DCSE) – 0,008 (DCT + DCSE) – 3,5
Púberes: %G = 1,21 (DCT + DCSE) – 0,008 (DCT + DCSE) – 5,2
Pós-púberes: %G = 1,21 (DCT + DCSE) – 0,008 (DCT + DCSE) – 6,8
Brancos ou negros com somatório das dobras maior que 35 mm
%G = 0,783 (DCT + DCSE) + 1,6

*Pré-púberes: estágio 1; púberes: estágios 2 e 3; pós-púberes: estágios 4 e 5 de Tanner.


DCT: dobra cutânea tricipital; DCSE: dobra cutânea subescapular.
Fonte: Slaughter et al. (1988) e Wang et al. (2005).

Para classificar a porcentagem de gordura pela medida da espessura das dobras


cutâneas, na faixa de 7 a 17 anos de idade, pode-se utilizar os valores apresentados no
quadro 9.

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

Quadro 9. Pontos de corte para a porcentagem de gordura de crianças e adolescentes


de sete a 17 anos de idade.

Sexo
Classificação
Masculino (%) Feminino (%)
Extremamente baixa <6 < 12
Baixa 6 a 10 12 a 15
Adequada > 10 a 20 > 15 a 25
Alta > 20 a 25 > 25 a 30
Muito alta > 25 a 31 > 30 a 36
Extremamente alta > 31 > 36

Fonte: Deurenberg et al. (1990).

30
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4. AVALIAÇÃO LABORATORIAL E DE EXAMES SUBSIDIÁRIOS

A avaliação nutricional laboratorial é recomendada para crianças e adolescentes


com crescimento físico anormal (desvios antropométricos), suspeita clínica de defici-
ência de micronutrientes e de alterações do estado metabólico glicídico e lipídico. Os
exames laboratoriais fortalecem a investigação diagnóstica em situações específicas
de acordo com o nutriente, o biomarcador nutricional envolvido e a presença de fato-
res de risco ou doenças predisponentes.
No entanto, a interpretação dos resultados deve ser realizada com cautela e é
importante considerar a idade cronológica, sexo, tempo de jejum, horário da coleta,
método laboratorial, estado nutricional antropométrico, estadiamento puberal, estado
inflamatório, distribuição hídrica e hidratação. Além disso, é essencial conhecer que as
concentrações séricas de alguns nutrientes podem não refletir o estado nutricional rela-
tivo a eles. Existem particularidades a serem consideradas frente aos valores estimados
para evitar erros de avaliação, que podem levar a erros de conduta. Doenças, drogas e
condições ambientais não relacionadas à nutrição podem interferir nos resultados.
Assim, os exames laboratoriais não são definitivos, mas devem se juntar a anam-
nese, antropometria, exame clínico e inquérito alimentar qualitativo, quantitativo e
comportamental. Por sua vez, exames subsidiários podem ser úteis na investigação
diagnóstica, como a radiografia de punho para avaliar a idade óssea e a absortometria
de raio X de dupla energia (DEXA, dual energy X-ray absorptiometry) para avaliação
da composição corporal. No quadro 10, apresentamos recomendações de realização
de exames laboratoriais e subsidiários na presença ou suspeita de condições clínicas
e nutricionais.

31
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Quadro 10. Recomendações de realização de exames laboratoriais e subsidiários em


crianças e adolescentes de acordo com a presença ou suspeita de distúrbios nutricionais.

Condição clínica e nutricional Exames recomendados Úteis para avaliação de...


Cálcio, fósforo e fosfatase alcalina Mineralização óssea
25-OH-vitamina D e retinol sérico Deficiência de vitaminas A e D
Baixa estatura e redução da
TSHa, T4 (total ou livre) e tireoglobulina Hipotireoidismo
velocidade de crescimento
IGF-1, IGFBP-3 e GH basal e após estímulo Deficiência de GH
Raio X de punho e densitometria óssea Idade e densidade mineral óssea
RN prematuro Cálcio, fósforo e fosfatase alcalina Doença metabólica óssea
Perfil lipídicob: CT e frações (HDL-C, LDL-C e VLDL-C), TG
Dislipidemia
e APO (A1 e B)
Perfil glicídico: glicemia de jejum, insulina sérica basal e
Hiperinsulinismo, resistência insulínica e diabete melito
Sobrepeso/obesidade o TTOG
25-OH-vitamina D e perfil de ferro Deficiência de ferro e vitamina D
Bioimpedanciometria e DEXA Composição corporal
Conteúdo mineral ósseo
Pré-albuminac, albumina, proteínas totais e proteína Déficit nutricional, resposta à terapia nutricional em
Desnutrição proteica
ligada ao retinol doenças aguda e funções renal e hepática
Ferro: eritrograma, receptor de TRF e ferritina
Anemia nutricional Vitamina B12 plasmática e homocisteína Origem da deficiência
Vitamina B9 (ácido fólico): folato sérico e eritrocitário

Incluído no teste do pezinho (amostra de sangue coletada em papel-filtro). bApenas em crianças a


a

partir de 2 anos. cDiminui em situações de estresse, inflamação e trauma, motivo pelo qual é conside-
rada uma proteína negativa da fase aguda. dVitaminas e minerais.
RN: Recém-nascido; TSH: Hormônio estimulador da tireoide; IGF-1: fator de crescimento insulina-sí-
mile; IGFBP-3: proteína carreadora do IGF-1; GH: hormônio de crescimento; DEXA: absortometria
de raio X de dupla energia; CT: colesterol total; HDL-C: lipoproteína de alta densidade; LDL-C: lipo-
proteína de baixa densidade; VLDL-C: lipoproteína de muita baixa densidade; TG: triglicérides; APO:
apoproteína; TTOG: teste de tolerância oral à glicose; TRF: transferrina.

Bioimpedanciometria
A impedância bioelétrica é o instrumento mais utilizado para a avaliação da
composição corporal, em condições clínicas e de campo, pois é uma técnica não in-
vasiva e de custo relativamente baixo, que estima a porcentagem corporal de massa
magra e massa gorda.
Ela baseia-se no pressuposto de que o tecido magro, que contém uma grande
quantidade de água e eletrólitos, é um bom condutor de corrente elétrica, e que a
gordura, que possui pequena quantidade de água, é um mau condutor. No entanto, os
resultados também dependem da idade, etnia, sexo, condição física e várias proprie-
dades elétricas do corpo indivíduo, como composição, hidratação e densidade. Por
isso, é muito importante aderir aos procedimentos padronizados de medida e utilizar

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

equipamentos de qualidade, adequadamente calibrados e cujas equações preditivas


dos componentes corporais apresentem validação científica e sejam apropriadas para
o sujeito avaliado.

Absortometria de raio X de dupla energia (DEXA)


O DEXA é considerado a técnica padrão ouro de avaliação dos compartimen-
tos corporais, por realizar a medida direta da massa muscular, do tecido adiposo e da
densidade óssea com precisão e acurácia. Consequentemente, permite quantificar a
porcentagem de massa gorda nos indivíduos.
Este exame se baseia na atenuação exponencial dos raios X por meio de duas
energias, quando passam pelos tecidos corporais. As atenuações são diferentes no osso,
tecido magro e gordura, em razão das diferenças de densidade e composição química.
Para a análise da avaliação utiliza-se um software apropriado para a faixa etária
pediátrica (crianças acima de 7 anos de idade).

Avaliação laboratorial específica de micronutrientes (vitaminas e minerais)


Os micronutrientes devem ser dosados na maioria dos casos de consumo ali-
mentar insuficiente, que leve a ingestão abaixo das recomendações diárias ou na sus-
peita clínica de deficiência ou intoxicação específicas.
Em geral, a concentração sérica ou plasmática contribui com o raciocínio diag-
nóstico, porém deve-se considerar a concentração eritrocitária, que reflete mais acu-
radamente o estado nutricional relativo aos micronutrientes, como é possível para o
folato, zinco, cobre e selênio. Além disso, é possível solicitar exames auxiliares que
incluem: (1) indicadores de depósito, como a ferritina para a deficiência de ferro; (2)
indicadores metabólicos, como a homocisteína para a deficiência de vitamina B12; e
(3) indicadores de transporte, como a proteína ligada ao retinol (RBP) para a deficiência
de vitamina A.

Recomendação de triagem laboratorial universal


A Academia Americana de Pediatria recomenda uma triagem de deficiência de
ferro com dosagem da Hb entre 9 e 12 meses de idade. Já a Sociedade Brasileira de
Pediatria recomenda a realização rotineira de hemograma, para avaliação da Hb cir-
culante e dos índices hematimétricos (VCM, HCM, RDW), ferritina sérica e proteína C
reativa, aos 12 meses de idade.

33
Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

A triagem para dislipidemia não deve ser realizada em recém-nascidos e lacten-


tes, mas é universalmente indicada entre 9 e 11 anos de idade.
Não há recomendação de triagem laboratorial universal de outros marcadores
nutricionais, mesmo a dosagem de 25-OH-vitamina D. A solicitação de exames com-
plementares deve ser feita na presença de fatores de risco, situações clínicas específi-
cas e/ou suspeita diagnóstica.

Ferramentas adicionais e valores de referência


A insulinemia e a glicemia, ambas em jejum, compõem a fórmula do índice HO-
MA-IR (homeostasis model assessment-insulin resistance), cujos valores maiores que
3,43 indicam resistência insulínica.

HOMA-IR =glicemia de jejum (mmol/L)* X insulinemia de jejum (μUI/mL)


22,5
*Para converter a glicemia de mg/dL em mmol/L, multiplique o valor por 0,05.

As tabelas 4 a 11 apresentam valores de referência de exames laboratoriais de indica-


dores nutricionais, de acordo com autores e sociedades médicas da área.

34
Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

Tabela 4. Valores de referência de cálcio, fósforo, fosfatase alcalina, magnésio e prote-


ínas séricas, segundo a faixa etária.

Mineral/Proteína Valores de referência


RNPT: 1,6-2,8;
RNT até 10 dias: 1,9-2,6;
Cálcio ionizável (mmol/L)*
10 dias até 2 anos: 2,3-2,8;
2 a 12 anos: 2,2-2,7.
Cálcio total (mg/dL)* 8,0-10,5
RN: 1,45-2,91;
10 dias até 2 anos: 1,29-2,1;
Fósforo (mmol/L) 3 a 9 anos: 1,03-1,87
10 a 15 anos: 1,07-1,74;
> 15 anos: 0,78-1,42.
Lactente: 150-420;
2 a 10 anos: 100-320;
Fosfatase alcalina (UI/L)

Adolescente : 100-390;

Adolescente : 100-320.
< 4 meses: 1,5 a 2,2
5 meses a 6 anos: 1,7 a 2,3
Magnésio (mg/dL)**
7 a 12 anos: 1,7 a 2,1
13 a 20 anos: 1,7 a 2,2
RN: 6-21;
1 a 5 anos: 14-30;
Pré-albumina (mg/dL) 6 a 9 anos: 15-33;
10 a 13 anos: 20-36;
14 a 17 anos: 22-45.
Pré-termo: 2,5-4,5;
Termo: 2,5-5,0;
Albumina (g/dL) 1-3 meses: 3,0-4,2;
3-12 meses: 2,7-5,0;
>1 ano: 3,2-5,0.
Transferrina (mg/dL) 180-260
Proteína transportadora de retinol (ug/mL) 30-40

RNPT: recém-nascido prematuro; RNT: recém-nascido a termo.


*Para converter Ca de mmol/L em mg/dL, deve-se multiplicar o valor por 4,006.
**Hemólise provoca elevação significativa de magnésio, uma vez que as hemácias contêm cerca de 2
a 3 vezes mais este mineral que o soro
Fonte: Koletzko et al. (2015) e Clifford et al. (2011).

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Tabela 5. Valores séricos do perfil lipídico para faixa etária entre 2 e 19 anos.

Valores (mg/dL)
Lipídeo
Desejáveis Limítrofes Alterados
CT < 150 150 a 169 ≥ 170
LDL-C < 100 100 a 129 ≥ 130
HDL-C ≥ 45 — —
TG < 100 100 a 129 ≥ 130
APO B < 90 90 a 109 > 110
APO A1 > 120 110 a 120 < 110

CT: colesterol total; HDL-C: lipoproteína de alta densidade; LDL-C: lipoproteína de baixa densidade;
VLDL-C: lipoproteína de muita baixa densidade; TG: triglicérides; APO: apoproteína.
Fonte: Giuliano et al. (2005) e Kwiterovich (2008).

Tabela 6. Valores de referência para o perfil lipídico em indivíduos entre 2 e 19 anos,


“em jejum” e “sem jejum”

Nível aceitável (mg/dL)


Lipídeo
Em jejum Sem jejum
CT* < 170 < 170
LDL-C < 110 < 110
HDL-C > 45 > 45
TG – 0 a 9 anos < 75 < 85
– 10 a 19 anos < 90 < 100
Não HDL-C < 120 —
APO B < 90 —

CT: colesterol total; HDL-C: lipoproteína de alta densidade; LDL-C: lipoproteína de baixa densidade;
TG: triglicérides; APO: apoproteína. A fração não-HDL-C = Colesterol total – HDL-C.
*Valores de colesterol total ≥ 230 mg/dL podem indicar hipercolesterolemia familiar.
Quando os valores de triglicérides forem superiores a 440 mg/dL, solicitar dosagem de triglicérides
após um jejum de 12 horas.
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria (2020).

36
Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

Tabela 7. Valores de lipídios e lipoproteínas (percentis 50, 90 e 95 da população de


referência) em indivíduos de 5 a 19 anos, conforme o sexo e a faixa etária.

Sexo
Idade (anos) Masculino Feminino
5a9 10 a 14 15 a 19 5a9 10 a 14 15 a 19
Percentil Colesterol total (mg/dL)
50 153 161 152 164 159 157
90 183 191 183 189 191 198
95 186 201 191 197 205 208
Triglicerídeos (mg/dL)
50 48 58 68 57 68 64
90 70 94 125 103 104 112
95 85 111 143 120 120 126
LDL-C (mg/dL)
50 90 94 93 98 94 93
90 117 123 123 125 126 129
95 129 133 130 140 136 137
HDL-C (mg/dL)
5 38 37 30 36 37 35
10 43 40 34 38 40 38
50 55 55 46 52 52 51

CT: colesterol total; HDL-C: lipoproteína de alta densidade; LDL-C: lipoproteína de baixa densidade;
TG: triglicérides.
Fonte: Daniels & Greer (2008).

37
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Tabela 8. Diagnóstico de deficiência de ferro: valores de referência de ferritina em


crianças.
Ferritina sérica (µg/L) Deficiência de ferro
< 10 a 12 Confirmada

> 15 a 30, mas < 100 Possível: não está excluída na presença de inflamação, doença crônica ou PCR elevado

> 100 Improvável

PCR: proteína-c-reativa.
Fonte: Pasricha et al. (2010).

Tabela 9. Valores de referência de 25-OH-vitamina D (método imunoensaio competiti-


vo quimioluminescente), de acordo com a característica populacional

População Valor de referência (ng/mL)*


Saudável (até 60 anos) > 20
Grupos de risco de deficiência 30 a 60
Risco de toxicidade e hipercalcemia > 100

*Conversão de unidades da 25-OH-vitamina D: 1 ng/mL = 2,5 nmol/L.


Fonte: Misra et al. (2008).

Tabela 10. Valores de referência de vitaminas em exames laboratoriais.


Vitamina Valor de referência
Normal ≥ 1,05
Aceitável 0,7 a 1,04
Retinol plasmático (umol/L)
Baixo 0,35 a 0,69
Deficiente < 0,35
< 11 anos: 7-35
Vitamina E (umol/L)
> 11 anos: 14-42
Vitamina C (mg/dL) 0,2 a 2,0
Vitamina B6 (ng/mL) 8,7 a 27,2
Vitamina B9 (ng/mL) > 3,9
Normal > 300
Vitamina B12 (ng/L) Limítrofe 190 a 300
Deficiente < 190
Fonte: Pee e Dary (2002), Ahmad et al. (2013);

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

Tabela 11. Valores de referência de oligoelementos em exames laboratoriais

Mineral Valores de referência


Zinco plasmático (ug/dL) 50 a 110
Meninas: 80 a 155
Cobre (µg/dL)
Meninos: 70 a 140
Selênio (µg/L) 46 a 143

Para converter ug/dL por ug/mL dividir o valor por 100.

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

6. DIRETORIA E CCA 2023


Diretoria e Conselho Científico e de Administração do ILSI Brasil

Board of Directors and Board of Trustees - ILSI Brasil

Presidente do Conselho Científico e de Diretoria Executiva


Administração Executive Director
Chair Flavia Franciscato Cozzolino Goldfinger
Franco Lajolo (Fac. de Ciências Farma-
cêuticas/USP) Conselho Científico e de Administração
Board of Trustees
Vice-Presidente do Conselho Científico
e de Administração Adriana Bragotto (UNICAMP)
Vice-Chair Amanda Poldi (Cargill)
Paulo Stringheta (Univ. Fed. de Viçosa) Bárbara Emo Peters (IFF)
Carlos Nogueira-de-Almeida (Univ. Federal
Presidente Executivo de São Carlos)
Executive President Claudia Mizushima (Reckitt Benckiser)
Bárbara Emo Peters (IFF) Deise M. F. Capalbo (EMBRAPA)
Fernanda de Oliveira Martins (Unilever)
Vice-Presidente Executivo Franco Lajolo (Univ. de São Paulo)
Executive Vice-President Helio Vannucchi (Univ. de São Paulo)
Amanda Poldi (Cargill) João Paulo Fabi (Univ. de São Paulo)
Juliana Modesto dos Santos (UPL)
Diretoria Financeira Luiz Henrique Fernandes (Viatris)
Executive Finance Marcelo Cristianini (UNICAMP)
Bárbara Emo Peters (IFF) Maria Cecília Toledo (CCFA Brazilian dele-
gation / UNICAMP)
Diretoria Neuza Hassimotto (Univ. de São Paulo)
Board of Directors Patricia Fernandes (UFES)
Paulo Stringheta (Univ. Federal de Viçosa)
Adriana Bragotto (UNICAMP) Renata Azevedo – DSM)
Deise Capalbo (Embrapa) Taiana Trovão (Mondelez)
Fernanda Martins (Unilever) Thaise Mendes (Herbalife)
João Paulo Fabi (Univ. de São Paulo) Tulio Konstantiner (UNIFESP)
Neuza Hassimoto (Univ. de São Paulo)
Taiana Trovão (Mondelez)
Luiz Henrique Fernandes (Viatris)

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Screening nutricional pediátrico: uma ferramenta prática para o consultório / ILSI Brasil

7. FORÇA-TAREFA DE NUTRIÇÃO DA CRIANÇA

Histórico e Justificativa
Com atividades iniciadas, em 2011, como um Grupo de Trabalho ligado à For-
ça-Tarefa Nutrição Clínica, a equipe consolidou seus objetivos e metas até se tornar
uma Força-Tarefa independente, em 2016. Atualmente, sua atuação é direcionada à
nutrição da gestante e lactente, prosseguindo na Primeira Infância expandida (até os 5
anos de vida) e, posteriormente, na faixa etária escolar até o início da adolescência (10
anos), considerando as peculiaridades destes grupos na promoção da saúde.
A proposta é estimular a discussão multidisciplinar neste universo, que envolve
profissionais de diversas especialidades, e contribuir para que a informação isenta e de
qualidade seja ferramenta importante na atualização científica do profissional atuante na
saúde, que envolve o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança,
contribuindo, assim, para a saúde e qualidade do capital humano na vida adulta.

Objetivos
• Estimular a discussão de assuntos ligados às necessidades nutricionais de
crianças de 0 a 10 anos, levando conhecimento científico sobre o tema.
• Atuar como facilitador nas trocas de informações entre profissionais da área
de saúde, empresas, academia, órgãos científicos e governamentais.
• Melhoria da qualidade de vida destes grupos populacionais.

Empresas mantenedoras 2022


ABBOTT
Piracanjuba
Reckitt Benckiser

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