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LÍNGUA

PORTUGUESA
(Parte 2)
Autora - Deliamaris Fraga Acunha
SUMÁRIO

UNIDADE 5 - SINTAXE INTERNA II.......................................................................... 5


1 PREDICADO.....................................................................................6
1.1 Predicado verbal....................................................................6
1.2 Predicado nominal.................................................................6
1.3 Verbos de ligação...................................................................7
2 TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO...............................................7
2.1 Complemento Verbal.............................................................7
2.2 Complemento nominal........................................................10
2.3 Predicado verbo-nominal.....................................................12
3 Vozes verbais...............................................................................13
3.1 Voz ativa...............................................................................14
3.2 Voz passiva...........................................................................14
3.3 Voz reflexiva.........................................................................14
3.4 Voz passiva analítica............................................................15
3.5 Voz passiva pronominal.......................................................15
3.6 Transformação das vozes verbais........................................16
3.6.1 Transformação da voz ativa em voz passiva analítica.....16
3.6.2 Transformação da voz passiva pronominal em voz
passiva analítica.........................................................................17
4 TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO...............................................17
4.1 Adjunto adnominal...............................................................17
4.2 Adjunto adverbial.................................................................19
4.3 Aposto...................................................................................19
4.4 Vocativo................................................................................19
REFERÊNCIAS...................................................................................20
UNIDADE 6 - CONCORDÂNCIA, REGÊNCIA E CRASE.............................................23
1 CONCORDÂNCIA VERBAL..............................................................24
1.1 Regra geral...........................................................................24
1.2 Verbos impessoais................................................................24
1.3 Verbo “ser”..........................................................................25
1.4 Casos especiais de concordância.........................................26
1.5 Casos facultativos.................................................................27
1.6 Outros casos.........................................................................29
2 REGÊNCIA VERBAL........................................................................31
2.1 Regência de alguns verbos..................................................31
3 CRASE...........................................................................................32
3.1 Crase proibida.......................................................................33
3.2 Crase obrigatória..................................................................34
3.3 Crase facultativa...................................................................35
3.4 Casos especiais.....................................................................35
4 CONCORDÂNCIA NOMINAL...........................................................36
4.1 Concordância do adjetivo.....................................................36
4.2 Ser ou não ser?....................................................................36
4.3 Casos especiais.....................................................................37
REFERÊNCIAS...................................................................................39
UNIDADE 7 - NEXOS FRASAIS..............................................................................41
1 PERÍODO COMPOSTO....................................................................42
2 PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO.................................42
2.1 Orações subordinadas adjetivas..........................................43
2.2 Orações subordinadas substantivas.....................................46
2.3 Orações subordinadas adverbiais........................................48
3 PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO...................................50
3.1 Orações coordenadas...........................................................50
3.2 Conjunções coordenativas...................................................51
REFERÊNCIAS...................................................................................52
UNIDADE 8 - PONTUAÇÃO...................................................................................53
1 SINAIS DE PONTUAÇÃO E SEU USO..............................................53
2 EMPREGO DA VÍRGULA NO PERÍODO SIMPLES.............................56
3 EMPREGO DA VÍRGULA DENTRO DO PERÍODO COMPOSTO
(MAIS DE UMA ORAÇÃO/MAIS DE UM VERBO)...............................58
REFERÊNCIAS...................................................................................60
UNIDADE 5
Sintaxe Interna II

Caro aluno, nesta unidade, continuaremos o estudo da Análise Sintática Interna. Na aula anterior, vimos que
os termos essenciais de uma oração são o sujeito e o predicado, e que também há os termos integrantes e
os acessórios. Veremos todos esses detalhes a fim de, mais tarde, entender como funcionam as regras de
pontuação em nossa língua.
Tudo isso apenas para saber pontuar?
Sim, é na pontuação que muitos problemas de compreensão de textos surgem e, para que esses problemas
sejam evitados, precisamos entender as regras de pontuação. Essas regras existem com base na estrutura da
oração e dos períodos que formam os textos que produzimos.
Começaremos, então, com o estudo do predicado, pois, como já vimos na unidade anterior, uma oração é
formada por sujeito (o ser de quem falamos) e predicado (aquilo que falamos sobre esse ser).
O que não for sujeito, na oração, será predicado.
Depois deste estudo, veremos que há outros termos que compõem a oração. Compreenderemos que eles
normalmente se ordenam de determinada maneira e que, quando mudamos essa ordem, precisamos de
pontuação adequada na escrita.
Vamos, então, ao predicado!
LÍNGUA PORTUGUESA

1 PREDICADO
A seguir, apresentaremos uma explicação sobre a classificação do predicado. Na prática, essa
classificação não é tão útil quanto a classificação do sujeito; no entanto, sempre é bom perceber
como construímos nosso pensamento e, quanto mais analisamos, mais precisos poderemos ficar em
nossa produção verbal!

1.1 PREDICADO VERBAL


Dizemos que o predicado é verbal quando o verbo utilizado é um verbo significativo, ou seja, a ação
transmitida tem bastante valor, e o verbo é o NÚCLEO do predicado; por isso, predicado verbal. Veja:

O estudo faz bem.

Fazer é um verbo de ação (significativo).


O predicado declara uma ação do sujeito. O VERBO é o núcleo do predicado, a palavra mais importante,
e o predicado é VERBAL.
Quando o verbo representa um fenômeno da natureza, o predicado também é verbal.

1.2 PREDICADO NOMINAL


Dizemos que o predicado é nominal quando o verbo utilizado declara um estado, um modo de ser do
sujeito. O núcleo não é o verbo, mas um nome, por isso o predicado é NOMINAL. Veja:

O estudo estava bom.

Estar não é um verbo de ação. Nessa oração, o verbo serve para ligar o sujeito à palavra que o
caracteriza.
É por essa razão que chamamos esses verbos de VERBOS DE LIGAÇÃO, pois servem para ligar sujeito
e PREDICATIVO DO SUJEITO, termo que caracteriza o sujeito, mas não está ligado diretamente a ele.

Você já aprendeu alguns termos novos até aqui, veja:


• predicado verbal: tem o verbo como núcleo;
• predicado nominal: tem o NOME como núcleo;
• verbo de ligação: verbo que liga o PREDICATIVO ao sujeito;
• predicativo do sujeito: termo que caracteriza o sujeito sem estar
diretamente ligado a ele.

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UNIDADE 5 - SINTAXE INTERNA II

Mas como saber se o verbo é “significativo” ou “de ligação”?


Você verá que há determinados verbos que têm essa função de “ligar”. São os verbos “de estado”,
que não exprimem ação, mas estado.

1.3 VERBOS DE LIGAÇÃO


São verbos que descrevem uma qualidade ou um estado do sujeito. Quando há verbo de ligação, o
predicado é nominal, pois o que tem valor é o NOME. Os verbos servem apenas para ligar o sujeito e
o termo que o qualifica. Veja:

Ele é.
É o quê?

O verbo “ser” não diz nada sozinho; ele precisa de um elemento, o PREDICATIVO DO SUJEITO, para
revelar algo sobre o sujeito.
Os principais verbos de ligação são: ser, estar, andar, ficar, parecer, permanecer, continuar, virar.
Mas para que o verbo seja “de ligação”, deverá haver um PREDICATIVO DO SUJEITO depois dele. Caso
contrário, o verbo terá outro valor, e o predicado não será mais nominal.
Veja, na sequência, alguns exemplos.

VERBOS DE LIGAÇÃO, POIS APENAS LIGAM O VERBOS SIGNIFICATIVOS, POIS NÃO LIGAM O
SUJEITO À SUA CARACTERÍSTICA. SUJEITO À SUA CARACTERÍSTICA.
A menina anda triste. A menina anda sobre os trilhos do trem.
A menina virou mulher. A menina virou a mesa.
A menina está feliz. A menina está em casa.

Veja que as expressões “sobre os trilhos do trem”, “a mesa” e “em casa” não qualificam o sujeito,
não são, portanto, predicativos do sujeito.

2 TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO


Assim como há termos essenciais, sem os quais não haveria oração, há aqueles integrantes, que
fazem parte da oração e se ligam aos termos essenciais. Vamos ver isso agora!

2.1 COMPLEMENTO VERBAL


É interessante observar que, para que haja oração, é preciso haver VERBO, e o verbo sempre é regido
por um sujeito (que manda nele) e rege outros elementos aos quais chamamos de COMPLEMENTO
VERBAL, termo que completa o sentido do verbo.
Veja as orações a seguir. Em qual delas seria possível colocar um ponto-final?

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a) Ela saiu b) Ela quer c) Ela gosta d) Ela oferece

Você deve ter percebido que a única oração que pode ser finalizada com um ponto é a da alternativa
A, pois o verbo sair tem sentido completo mesmo sozinho. Até poderíamos acrescentar informações
como “saiu ontem”, “saiu rapidamente”, “saiu com os amigos”, mas essas informações são
acessórias, e não obrigatórias.
Esse tipo de verbo é chamado de INTRANSITIVO, ou seja, não aceita transações, não se relaciona.
Verbo intransitivo é aquele que não exige complemento algum.
São também verbos intransitivos: partir, nascer, morrer, desaparecer etc.
E as outras orações de nosso exemplo? Veja:

a) Ela saiu. b) Ela quer algo. c) Ela gosta de algo. d) Ela oferece algo a alguém.

Os verbos das alternativas B, C e D exigem complemento, aceitam transações, são chamados


TRANSITIVOS.
Verbo transitivo é o verbo que exige complemento, ou seja, para que ele expresse algum sentido,
necessita de um complemento.

Eu comprei flores (algo).


Eu gosto de você (de algo).

Mas qual é a diferença entre os modelos B, C e D? Não são todos transitivos? O que os diferencia é o
tipo de complemento que esses verbos exigem!
Verbo transitivo direto é o verbo que exige complemento e a ele se liga diretamente, sem necessidade
de preposição.
Temos o VERBO e ALGO, veja:

Eu comprei flores.

Quem compra, compra algo. A esse algo chamamos de OBJETO DIRETO.

Verbo transitivo indireto é um tipo de verbo que exige complemento que a ele se liga por meio de
PREPOSIÇÃO. Por isso é indireto, pois, entre ele e o complemento, há uma preposição, o caminho é
indireto.

Eu gosto de você. (DE, como já vimos, é uma preposição).

Quem gosta, gosta DE algo ou DE alguém.

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UNIDADE 5 - SINTAXE INTERNA II

A esse complemento, chamamos de OBJETO INDIRETO.


Já que o objeto indireto se liga ao verbo por meio de preposições, vamos relembrá-las: a, ante, até,
com, contra, de, desde, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás.

Lembre que as preposições se ligam a outros tipos de palavras, conforme


você estudou na unidade 2. Então, podem ocorrer combinações e
contrações também nos complementos verbais (objeto direto e objeto
indireto). Veja:
Ela precisa da carteira agora. (Da = de: preposição + a: artigo).
“Da carteira” é objeto indireto, pois completa o sentido do verbo precisar.

O verbo transitivo direto e indireto é um tipo de verbo “faminto”, pois exige dois tipos de
complementos. Observe:

Você oferece flores ao diretor.


Oferece o quê? Flores: objeto direto.
Oferece a quem? Ao diretor: objeto indireto.

Perceba que um complemento se liga diretamente ao verbo e o outro se liga por meio de preposição.
Seus complementos também são nomeados e são chamados de objeto direto e objeto indireto.
Observe:

Nós oferecemos lanche aos alunos.

Oferecemos: VERBO TRANSITIVO DIRETO E INDIRETO (VTDI).


Lanche: objeto direto.
Aos alunos: objeto indireto.

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O verbo é transitivo direto ou indireto.


Complemento é o que completa o sentido desse verbo, e será objeto
direto ou indireto.
Também é bom salientar que em uma oração não haverá mais de um
objeto direto nem mais de um objeto indireto.

2.2 COMPLEMENTO NOMINAL


Agora vamos observar outros “fenômenos” da nossa língua. Veja que assim como alguns verbos
exigem complemento, os nomes também podem exigi-lo.
Já vamos explicar isso!
Podemos, também, derivar verbos de substantivos:
zelo zelar
trabalho trabalhar
emprego empregar
lembrança lembrar
violação violar
Observe:

É necessário zelar pelas crianças.

Zelar: verbo.
Pelas crianças: complemento verbal (objeto indireto).
Agora veja:

É necessário o zelo pelas crianças.

Zelo é um substantivo, uma palavra que nomeia, um nome.


“Pelas crianças” é um elemento com preposição que completa o sentido desse nome, portanto é um
complemento nominal.
Então, COMPLEMENTO NOMINAL é o termo que completa o sentido de um NOME. Esse nome pode ser
um SUBSTANTIVO, um ADJETIVO ou um ADVÉRBIO.

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UNIDADE 5 - SINTAXE INTERNA II

a)  Tenho confiança na sensibilidade dos homens.


Confiança: substantivo.
Na: preposição EM mais artigo A.
b)  Sou favorável ao trabalho honesto.
Favorável: adjetivo.
Ao: preposição A mais artigo O.
c)  Aludiu favoravelmente à atitude honesta.
Favoravelmente: advérbio.
À: preposição A mais artigo A (esse é um caso de CRASE, que veremos na próxima unidade).

COMPLEMENTO NOMINAL é o termo que completa o sentido de um nome


com auxílio de uma preposição.
Ele é indispensável na oração.
Esse nome pode ser:
a) um substantivo;
b) um adjetivo;
c) um advérbio.

Mas COMPLEMENTO NOMINAL e OBJETO INDIRETO são a mesma coisa?


Se ambos são complementos com preposição, o que há de diferente entre esses termos? Veja a dica
a seguir.

Diferença entre complemento nominal e objeto indireto

COMPLEMENTO NOMINAL OBJETO INDIRETO


Pede preposição. Pede preposição.
Completa o sentido de um nome. Completa o sentido de um verbo (VTI).
Ex.: O menino tem necessidade Ex.: O menino necessita
de ajuda. de ajuda.

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Existem nomes (substantivos, adjetivos ou advérbios) cujo sentido transita


para um complemento. O complemento desses nomes transitivos é
chamado de COMPLEMENTO NOMINAL.
Há sempre uma preposição que liga o complemento nominal ao nome
transitivo. Veja:
Não há dúvida sobre a minha paixão.
Tenho paixão por ela.

2.3 PREDICADO VERBO-NOMINAL


Você já viu que predicado nominal é aquele composto por um verbo de ligação e por um predicativo
do sujeito. Se não lembra, volte algumas páginas, certo? Você já viu também que o predicado verbal
é formado por verbos transitivos e por verbos intransitivos. Agora vamos “juntar” essas duas formas,
pois isso ocorre muito na fala. Observe:

O homem chorou. (Predicado verbal).


O homem estava assustado. (Predicado nominal).

Fazem-se duas referências ao sujeito:


1ª: Ele chorou.
2ª: Ele estava assustado.
Se unirmos as duas orações, teremos um predicado verbo-nominal:
O homem chorou assustado.
Outro exemplo:
As mulheres consentiam. (Predicado verbal).
As mulheres estavam caladas. (Predicado nominal).
As mulheres consentiam caladas. (Predicado verbo-nominal)
O PREDICADO VERBO-NOMINAL pode ser construído de dois tipos de verbos.
Com VERBO INTRANSITIVO e com PREDICATIVO DO SUJEITO:

SUJEITO VERBO INTRANSITIVO PREDICATIVO DO SUJEITO


A mulher chegou cansada.
Ela saiu feliz.
O homem entrou sério.

Com VERBO TRANSITIVO e com PREDICATIVO DO SUJEITO:

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VERBO TRANSITIVO DIRETO OU OBJETO DIRETO OU


SUJEITO PREDICATIVO DO SUJEITO
INDIRETO INDIRETO
Maria abandonou o trabalho (OD) irritada.

O patrão olhou a empregada (OD) desconfiado.


As mulheres assistiam à palestra (OI) motivadas.

Com VERBO TRANSITIVO e com PREDICATIVO DO OBJETO:

SUJEITO VERBO TRANSITIVO DIRETO OBJETO DIRETO PREDICATIVO DO OBJETO


O juiz declarou a acusada culpada.
A esposa encontrou o esposo abatido.
As mulheres tinham a vitória como certa.

FIQUE ATENTO!
Todas essas informações são necessárias para que saibamos pontuar adequadamente os textos, pois
você deve ter percebido que o predicativo fica sempre no final da oração e, caso queiramos colocá-lo
em outra posição, deveremos isolá-lo entre vírgulas. Veja:
O menino olhou para a mãe desconfiado.
ou
Desconfiado, o menino olhou para a mãe.
ou
O menino olhou, desconfiado, para a mãe.

3 VOZES VERBAIS
Ainda nesta unidade, é importante tratar de algo que não tratamos anteriormente, uma das variações
do verbo: a VOZ.
Não explicamos antes porque, para entendermos esse conteúdo, precisávamos saber o que é sujeito
e o que são verbos transitivos ou intransitivos. E agora você já sabe!
Então, vamos lá!
Chamamos de VOZ VERBAL a flexão do verbo que indica se o sujeito pratica ou sofre a ação verbal.
Observe:
a)  A professora lê uma redação.
b)  A redação foi escrita por um de seus alunos.
c)  O menino machucou-se.
Na 1ª oração, o sujeito é “A professora”.
Esse sujeito pratica a ação expressada pelo verbo.
Na 2ª oração, o sujeito é “A redação”.

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Esse sujeito não pratica a ação expressada pelo verbo, ele sofre a ação.
Na 3ª oração, o sujeito é “O menino”.
Esse sujeito pratica e recebe a ação expressada pelo verbo.
Dizemos que há voz ativa quando o sujeito pratica a ação expressada pelo verbo, e assim dizemos
que a oração está na VOZ ATIVA.
Exemplo: Cada aluno disse o seu nome.
Quando o sujeito sofre ou recebe a ação expressada pelo verbo, dizemos que a oração está na VOZ
PASSIVA.
Exemplo: A tarefa foi passada pela professora.
Quando o sujeito pratica e recebe a ação expressada pelo verbo, dizemos que a oração está na VOZ
REFLEXIVA.
Exemplo: Lúcia penteou-se antes do passeio.
Então, o verbo pode ser ATIVO, PASSIVO ou REFLEXIVO.

3.1 VOZ ATIVA


O verbo de uma oração está na voz ativa quando a ação é evidentemente praticada pelo sujeito.

Os estudantes compraram os livros.


SUJEITO VERBO TRANSITIVO DIRETO OBJETO DIRETO

3.2 VOZ PASSIVA


Diz-se que o verbo está na voz passiva quando o sujeito sofre a ação. O sujeito, nesse caso, é paciente,
e quem age nessa oração é o AGENTE DA PASSIVA (termo integrante).

Os livros foram comprados pelos estudantes.


SUJEITO PACIENTE LOCUÇÃO VERBAL AGENTE DA PASSIVA

A voz passiva ocorre somente com verbos transitivos diretos!

3.3 VOZ REFLEXIVA


Há casos em que o sujeito pratica e sofre a ação verbal. Vejamos alguns exemplos:
O menino feriu-se.
A mulher olhou-se no espelho.

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3.4 VOZ PASSIVA ANALÍTICA


A voz passiva pode ter duas formas diferentes, uma mais sintética, com menos palavras, e outra mais
explicada, a qual chamamos de analítica.
A voz passiva analítica apresenta a seguinte estrutura:
Sujeito + verbo ser + particípio de um verbo + agente da passiva.
Exemplo:
O bilhete foi escrito por Maria Clara.
Sujeito: O bilhete.
Verbo ser: foi.
Particípio: escrito.
Agente da passiva: por Maria Clara.
Quando a oração está na voz passiva, o agente da passiva é o ser que pratica a ação expressada pelo
verbo.

3.5 VOZ PASSIVA PRONOMINAL


A voz passiva pronominal, também chamada de sintética, assim é nomeada porque é formada com
um pronome: o pronome SE, que você já conhece. Ela apresenta a seguinte estrutura:
Verbo transitivo direto + pronome apassivador SE + sujeito
Não se assuste! Veja o exemplo:
Consertam-se bicicletas. (Tem o mesmo valor de “Bicicletas são consertadas”).
Verbo: consertam.
Partícula apassivadora: se.
Sujeito: bicicletas.

Na voz passiva pronominal, é preciso fazer o verbo concordar com seu


sujeito em pessoa e número.
Exemplos:
Aluga-se uma casa na praia.
Que é que se aluga?
Casa, no singular, portanto o verbo fica no singular: aluga-se.
Alugam-se casas na praia.
Que é que se aluga?
Casas, no plural, portanto o verbo fica no plural: alugam-se.

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3.6 TRANSFORMAÇÃO DAS VOZES VERBAIS


Você já deve ter ouvido alguma vez que “há muitas maneiras de se dizer algo”, não é?
Sim, essa é uma afirmação verdadeira, tanto para a forma quanto para o conteúdo, pois, conforme as
palavras utilizadas, uma ideia ruim pode ser suavizada ou não.
Com o uso das vozes verbais ocorre isso.
Quando queremos tirar o foco de alguém, usamos a voz passiva. Veja:
O menino leu um livro maravilhoso.
O menino: sujeito.
Leu: verbo transitivo direto.
Um livro maravilhoso: objeto direto.
Nessa oração, o sujeito age, e o foco da ação está sobre ele. Se usarmos a voz passiva, a atenção será
direcionada para o livro e não para a ação do menino:
Um livro maravilhoso foi lido pelo menino.
Um livro maravilhoso: sujeito paciente.
Foi lido: locução verbal.
Pelo menino: agente da passiva, ou seja, aquele que age na voz passiva.
Vamos ajudá-lo, então, a fazer essas mudanças de vozes verbais para que você decida qual vai ser o
foco do seu discurso e o faça com sucesso, sem confusões.

3.6.1 Transformação da voz ativa em voz passiva analítica


Vejamos o exemplo utilizado no início deste item:
Voz ativa:
O menino leu um livro maravilhoso.
Voz passiva:
Um livro maravilhoso foi lido pelo menino.

O menino leu um livro maravilhoso.


Sujeito Objeto Direto

Um livro maravilhoso foi lido pelo menino.


Sujeito Paciente Agente da Passiva
Locução Verbal
Verbo ser flexionado + verbo no particípio

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Você percebeu que o sujeito da voz ativa se torna o agente da voz passiva analítica?
E o objeto direto da voz ativa torna-se o sujeito da voz passiva?
Também é importante perceber que o verbo SER da voz passiva deve ficar no mesmo tempo e modo
do verbo da voz ativa.

3.6.2 Transformação da voz passiva pronominal em voz passiva analítica


Geralmente, a voz passiva pronominal não apresenta agente da passiva e o “se” da voz passiva
pronominal será substituído pelo verbo SER sempre no mesmo tempo e modo do verbo da voz passiva
pronominal.
Aceitam-se encomendas para festas.
Encomendas para festas são aceitas.

4 TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO


Assim como em uma loja temos os “acessórios”, parte do vestuário que não é essencial, mas que lhe
acrescenta informações, os TERMOS ACESSÓRIOS são aqueles que acrescentam informações à oração,
mas não são essenciais ou obrigatórios. Por isso são chamados de acessórios, pois exercem uma
função secundária na oração.

4.1 ADJUNTO ADNOMINAL


ADJUNTO ADNOMINAL é o termo que está junto do nome (do substantivo) e que modifica sua
significação. Observe:

Minha vida está repleta de momentos agradáveis.

Veja que “minha” e “agradáveis” são termos que estão determinando e caracterizando os substantivos
vida e momentos. São adjuntos, portanto, adnominais.
Os adjuntos adnominais podem ser representados por adjetivos ou locuções adjetivas, artigos,
pronomes adjetivos ou numerais.
Adjetivos ou locuções adjetivas:

Estas são terras férteis. (Adjetivo).


Este é um presente de rei. (Locução adjetiva).

Já dissemos anteriormente que locução é um conjunto de palavras que formam uma unidade. Então,
LOCUÇÃO ADJETIVA é o grupo de palavras que tem valor de adjetivo (de rei = real). Veja outras
locuções: fio de aço, homem sem escrúpulos, amor de mãe, livro do mestre etc.
Artigos:

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As ruas estão vazias.


Pronomes adjetivos – são pronomes que acompanham substantivos e que não têm valor isoladamente:
Nosso tio está em casa.
Este lugar é bonito.
Numerais:
Dois homens saíram daquela sala.
Diferença entre completo nominal e adjunto adnominal
Perceba que ADJUNTO ADNOMINAL é um termo acessório, portanto dispensável. É muito comum
confundi-lo com o COMPLEMENTO NOMINAL, que é uma exigência do nome, portanto, essencial. Veja
a diferença.
Complemento nominal:
Sou favorável ao trabalho.

Favorável é uma palavra que exige complemento, representado aqui por ao trabalho.

Adjunto adnominal:
O amor de mãe é sublime.

A palavra amor não exige complemento, mas nós acrescentamos a ela uma característica, “de mãe”,
que é um termo acessório apenas.

Diferença entre adjunto adnominal e complemento nominal


As paredes da casa estavam manchadas. (Da casa: adjunto adnominal).
A venda da casa foi concretizada ontem. (Da casa: complemento nominal).
Embora o termo “da casa” tenha, nas duas frases, a mesma estrutura
(preposição + substantivo) e a mesma referência (um substantivo), ele
exerce funções diferentes. Por quê?
1º) Porque o substantivo paredes possui sentido completo, não
necessitando de complemento nominal, mas admitindo os adjuntos
adnominais que quisermos dar a ele.
2º) O substantivo venda, ao contrário, por derivar de um verbo transitivo,
possui um significado incompleto (venda de quê?). Necessita, assim, de
complemento nominal.

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4.2 ADJUNTO ADVERBIAL


ADJUNTO ADVERBIAL é o termo que modifica um verbo, adjetivo ou outro advérbio. Ele pode ser
representado por um advérbio ou por locuções adverbiais para acrescentar circunstâncias à oração. Na
unidade 2, você já pôde conhecer os advérbios e as locuções adverbiais, não é? Observe:
É muito útil falar pausadamente sempre. (Pausadamente é ADVÉRBIO, assim, o advérbio “sempre”
está modificado pelo outro advérbio).
Às vezes, você precisa ouvir o que eu falo. (O termo sublinhado é uma LOCUÇÃO ADVERBIAL).
Nas duas orações supracitadas, as expressões sublinhadas são adjuntos adverbiais, pois modificam o
verbo “falar” e o verbo “ouvir”.
Ela é muito inteligente. (Inteligente é um adjetivo, portanto o ADVÉRBIO “muito” está modificando
o adjetivo).

O ADJUNTO ADVERBIAL pode ser representado por advérbios ou locuções


adverbiais. Como as expressões adverbiais indicam circunstâncias variadas,
o adjunto também expressará circunstância (de tempo, lugar, intensidade
etc.).
Lembre que adjunto adverbial é a função que o advérbio exerce na frase.

4.3 APOSTO
Chamamos de aposto o termo da oração que se liga a um nome com a função de explicar, esclarecer,
identificar, discriminar esse nome. Veja:
Lúcia, aluna do terceiro ano, foi bem na prova.
Desejo-lhe uma coisa: felicidade.
Roubaram tudo: discos, joias, dinheiro, documentos.
O aposto vem sempre separado por sinais de pontuação: vírgulas, travessões, parênteses.

4.4 VOCATIVO
É um termo isolado dentro da oração que tem a função de indicar o elemento a quem nos dirigimos.
Exemplos:
Ronaldo, não provoque o juiz.
Alunos, dirijam-se à secretaria.
É muito fácil reconhecer o vocativo, pois ele vem separado por vírgula e admite a anteposição da
interjeição “ó”. O vocativo pode estar no início, no meio ou no fim da frase.
Dirijam-se à secretaria, alunos.

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Observe o resumo que mostramos a seguir. Ele pode ajudá-lo a revisar todas as informações desta
unidade, para que você saiba utilizá-las, mais tarde, na hora de pontuar!

Tabela 1 - Termos da Oração

ESSENCIAIS INTEGRANTES ACESSÓRIOS


Simples
Composto Adjunto adnominal
Sujeito Complemento nominal
Indeterminado
Inexistente Adjunto adverbial
Nominal Complemento verbal:
Predicado Verbal Objeto direto Aposto
Verbo-nominal Objeto indireto
Verbo transitivo Vocativo
Predicação verbal Agente da passiva
intransitivo

Sempre é bom consultar uma gramática quando surgirem dúvidas. Então,


veja nossa indicação, especialmente para questões de sintaxe.
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa.
São Paulo: Saraiva, 2009.
Também há alguns sites que você poderá consultar:
https://www.youtube.com/watch?v=5JvqGvPs9_g
https://www.youtube.com/watch?v=Cdyh1_rbM5g
https://www.youtube.com/watch?v=6-iyeanMLno

Lembre que receitas não curam! Também na escrita é assim: para escrever bem, é preciso usar o que
lemos, exercitar, praticar.
Faça os exercícios indicados no anexo!

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa. 46. ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. O que muda com o novo acordo ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática reflexiva: texto, semântica e
interação. São Paulo: Atual, 1999.

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UNIDADE 5 - SINTAXE INTERNA II

CUNHA, Celso; CINTRA, Luis F. Lindley. Nova Gramática do português contemporâneo: nova ortografia.
Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
GOMES, Francisco Álvaro. O acordo ortográfico. Porto: Porto Editora, 2009.
LEDUR, Paulo Flávio. Português prático. 10. ed. Porto Alegre: AGE, 2009.
LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. 8. ed. São Paulo: Ática, 2003.
MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da língua portuguesa. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
ZANOTTO, Normelio. A nova ortografia explicada. Caxias do Sul: EDUCS, 2009.

21
UNIDADE 6
Concordância, Regência e Crase

“As mina pira!”


Você concorda com essa expressão? Sim? Talvez? Depende do que estamos falando? Concorda, desde que seja
em uma conversa sem compromisso?
É muito comum vermos essa frase circulando nas redes sociais, assim como víamos há algum tempo “é nóis
na fita”, não é?
Se podemos brincar com as palavras em nosso dia a dia, como é que ouvimos por aí muita gente falando: “eu
não sei Português!”? Mas como não sabe? Em que idioma você falou isso?
Sim, nós conhecemos tanto que brincamos com essas falas “informais”, com isso que está na voz do povo, no
dia a dia. E todo mundo que estuda sabe que isso é apenas uma brincadeira com as palavras.
Nesta unidade, vamos ver os aspectos que tratam dessa diferença entre fala e escrita, diferenças que se
manifestam naquilo que chamamos de “concordância”.
A concordância trata dessas combinações entre as palavras, os verbos e os nomes, por isso ela poderá ser
concordância verbal ou concordância nominal.
LÍNGUA PORTUGUESA

Para entender essas diferenças entre a escrita e a fala, vamos lembrar aquilo que já estudamos até
aqui, pois, ao conhecer a sintaxe interna, observamos que as palavras se relacionam no interior da
oração, e essa relação deve ser feita com cuidado para que nossa mensagem tenha coerência – pelo
menos na escrita, já que, na fala, a coerência se dá naturalmente, pois está contextualizada!
Estudaremos, então, a maneira como se dão essas relações, ao analisar a concordância verbal, assim
como as preposições que os verbos exigem, a regência verbal e a consequente crase, quando for o
caso.
Também nesta unidade, que trata das relações entre as palavras, veremos a relação entre os nomes
na concordância nominal.

1 CONCORDÂNCIA VERBAL
CONCORDÂNCIA VERBAL é o estudo das relações entre o sujeito das orações e o verbo, pois a regra
diz que o verbo concordará em número e pessoa com o sujeito a que se refere, como já vimos na
unidade 4.
É por isso que “as mina pira” deve ser apenas uma brincadeira, pois, se falamos das minas (e deveria
ser mina), então o verbo pirar deve ficar no plural, não é mesmo?
E há regras específicas para a flexão de alguns verbos. Essa forma (as mina pira) fere a primeira regra
de concordância verbal. Vamos ver?

1.1 REGRA GERAL


A regra geral é aquela que você já conhece, pois já estudou verbos.
Em uma oração, temos sujeito e predicado. E, se o sujeito está aparecendo, o verbo deverá concordar
com ele, ou seja, sujeito plural, verbo no plural!
Exemplo:
As minas piram.
Somos nós na fita.
Fácil, não? Essa é a regra geral, mas há casos especiais, pois, se você lembrar bem, há orações sem
sujeito. Então, quando não há sujeito, com quem o verbo vai concordar? Já vamos mostrar.

1.2 VERBOS IMPESSOAIS


Chamamos de impessoais os verbos que não possuem sujeito. São os verbos que exprimem fenômenos
da natureza, clima, tempo, temperatura. Veja:
Choveu muito ontem.
Quem é que choveu?
Não há sujeito e, dessa forma, o verbo ficará na 3ª pessoa do singular.
Está frio.
É tarde.

24
UNIDADE 6 - CONCORDÂNCIA, REGÊNCIA E CRASE

Ventava muito na praia.


Também chamaremos de verbos impessoais os verbos “haver” e “fazer” quando indicarem tempo
decorrido (que passou). Veja:
Há anos não falo com ele.
Fazia quinze anos que eles não se viam.
O verbo “haver”, quando tem valor de “existir”, também ficará no singular:
Havia sérios problemas na cidade.
Houve poucos acidentes no feriado.
Veja que esse “haver” tem valor de existir. Seria como dizer “existiam” sérios problemas; “existiram”
poucos acidentes. Mas o verbo existir não é impessoal, por isso, quando fazemos a troca, ele fica no
plural.

É muito comum as pessoas colocarem esses dois verbos (haver e fazer) no


plural, pois percebem que há mais palavras no plural na frase, mas você
ficará atento e saberá que esses verbos, se não têm sujeito, deverão ficar
no singular!

ATENÇÃO! DOENÇA CONTAGIOSA!


Os verbos impessoais passam sua impessoalidade para os verbos auxiliares (deve, vai e outros) que
os acompanham em locuções verbais. Veja:
Deve haver sérios problemas na cidade. (Deve: no singular).
Vai fazer 15 anos que ele parou de estudar. (Vai: no singular).

1.3 VERBO “SER”


O verbo “ser” merece nossa atenção, pois ele tem particularidades. É muito simples memorizá-las,
pois você deve lembrar apenas que: “o que importa é a pessoa”! Claro, se não houver números.
Como assim?
Veja que, quando aparecer o verbo “ser” na sua frase, ele deverá concordar preferencialmente com
pessoas, palavras que representem pessoas ou pronomes pessoais.
» » O verbo “ser” deve concordar, em primeiro lugar, com um PRONOME PESSOAL:
O culpado és tu. (Eu sou, tu és, ele é).
Somos nós na fita. (Conhece essa frase? Então, não é “é nós” – esse uso você “deleta”).
» » Em segundo lugar, com uma “palavra personativa” (que indica pessoa):
As alegrias da casa é a menina.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Sim, fica estranho, mas “a menina” está no singular e é palavra que se refere a pessoa, então, o
verbo ficará no singular para concordar com ela. Você pode melhorar essa construção invertendo a
ordem das palavras na frase: “A menina é as alegrias da casa”. Pronto! Melhorou, não?
Vejamos outro exemplo:
O menino era as esperanças da família.
» » Em terceiro lugar, vêm os números:
São 12 horas.
É uma hora.
Hoje são 20 de março.
Veja que, nesses casos, a concordância se dará com o numeral.
» » Enfim, se não há “pessoas” nem “números”, a concordância será facultativa:
Na vida, nem tudo são flores.
ou
Na vida, nem tudo é flores.

Nas expressões “é pouco”, “é muito”, “é mais de”, “é menos de”, o


verbo “ser” fica sempre no singular.
Exemplos:
Cento e cinquenta é pouco.
Cem metros é muito.

1.4 CASOS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA


a) Pronome de tratamento
Quando houver esse tipo de pronome, o verbo ficará sempre na 3a pessoa (do singular ou do plural),
nunca na segunda pessoa (vós), como é do gosto de muitos falantes de nossa língua, que pensam
em concordar com o “vossa”.
Vossa Alteza pediu calma.
Vossas Altezas pediram calma.

Observe que o verbo fica sempre como se o sujeito fosse você ou vocês.
Então, se aparecer um pronome de tratamento na sua frase, troque-o por
“você” e conjugue o verbo adequadamente.
Vossa Excelência saiu cedo.
Você saiu cedo.

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UNIDADE 6 - CONCORDÂNCIA, REGÊNCIA E CRASE

b) Nomes que só aparecem no plural


Esse é o caso de nomes como Estados Unidos ou Minas Gerais, por exemplo. Trata-se de nomes que
não têm singular; então, se o sujeito não vier precedido de artigo, o verbo ficará no singular.
Estados Unidos ainda é uma nação poderosa.
Mas se vier antecedido por um artigo, o verbo concordará com o artigo.
Os Estados Unidos ainda são uma nação poderosa.

c) “Mais de um”, “menos de dois”, “cerca de” etc.


Lembre: quando há números, o verbo concorda com eles. Veja:
Mais de um aluno não compareceu à aula.
Mais de cinco alunos não compareceram à aula.

d) Sujeito composto
É normal que, quando o sujeito for composto, o verbo fique no plural, não é mesmo? Sim, essa é a
regra geral que você vai seguir na maioria dos casos. Veja:
Paula e Bebeto se amavam.
Mas como somos falantes em eterna criação, aparecem sempre casos especiais com o sujeito composto:

Os núcleos do sujeito são constituídos Se o sujeito for resu-


de pessoas gramaticais diferentes: mido por um pronome Quando os núcleos do sujeito
CASO
a) Eu e tu = nós indefinido (nada, tudo, estiverem ligados por “ou”.
b) Tu e ele = vós ninguém).
a) O verbo fica na 1ª pessoa (nós).
b) O verbo fica na 2ª pessoa (vós). No O verbo concordará O verbo irá para o singular quan-
REGRA entanto, também é comum e mais com o termo resu- do a ideia for de exclusão; caso
usual a concordância do verbo com a midor. contrário, ficará no plural.
3ª pessoa (vocês).
Dilma ou Eduardo ganhará a
a) E u (1ª pessoa) e ele (3ª pessoa)
eleição.
somos (1ª pessoa plural) amigos.
*Exclusão, pois só um poderá
b) T u (2ª pessoa) e ele (3ª pessoa) sois Alunos, mestres,
ganhar a eleição.
EXEMPLO (2ª pessoa do plural) amigos. diretores, ninguém
Paula ou Bebeto poderão fazer
ou faltou.
o trabalho.
Tu e ele são (3ª pessoa do plural)
*Adição, inclusão, pois os dois
amigos.
podem fazer o trabalho.

1.5 CASOS FACULTATIVOS


a) Sujeito coletivo especificado

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LÍNGUA PORTUGUESA

Se o sujeito é um coletivo, o verbo deve ficar no singular, pois a palavra está no singular.
O grupo saiu.
A multidão aplaudia entusiasmada.
A turma cantava alto.

Se o coletivo está especificado, o plural é facultativo.


A turma de amigos saiu.
ou
A turma de amigos saíram.

b) Expressões partitivas ou fracionárias


“A maioria”, “grande parte”, “a maior parte” são expressões que revelam uma parte, por isso
são chamadas de partitivas. Nesses casos, o verbo poderá ficar no singular, concordando com as
expressões, ou ir para o plural, concordando com a palavra que as segue.
A maioria dos alunos saiu mais cedo.
ou
A maioria dos alunos saíram mais cedo.
c) Pronome relativo quem
Com o pronome “quem” também a concordância é facultativa.
Fui eu quem fez a prova de vocês.
ou
Fui eu quem fiz a prova de vocês.

Com o pronome relativo “que” pode haver apenas uma concordância:


com o termo que antecede esse pronome.
Fui eu que fiz a prova. (Eu fiz).

d) “Alguns de nós”, “poucos de vós”, “quais de”, “quantos de” etc.


Quando há essas expressões, o verbo pode concordar com o pronome interrogativo ou indefinido
(alguns, poucos) ou com o pronome pessoal (nós ou vós).
Alguns de nós sairemos mais cedo. (Nós sairemos).
ou

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UNIDADE 6 - CONCORDÂNCIA, REGÊNCIA E CRASE

Alguns de nós sairão mais cedo. (Alguns sairão).

Com os pronomes interrogativos ou indefinidos no singular, o verbo


concorda com eles em pessoa e número.
Qual de vós sairá mais cedo hoje?

1.6 OUTROS CASOS


Ainda há alguns casos que merecem nossa atenção. Veremos alguns deles a seguir.
Fora eles, como a língua é uma criação constante, há detalhes que você pode verificar nas diversas
gramáticas que já indicamos aqui e que indicaremos no final da unidade.
a) Partícula “se”
A partícula “se” pode ser:
» » Partícula apassivadora, ou seja, parte da voz passiva pronominal (que você já estudou, não
é mesmo?). Nesse caso, o verbo (transitivo direto) concordará com o sujeito passivo.
Vende-se carro./Vendem-se carros.
» » Índice de indeterminação do sujeito, ou seja, mostra que o sujeito é indeterminado. Nesse
caso, o verbo (transitivo indireto) ficará, obrigatoriamente, no singular.
Precisa-se de secretárias.
Confia-se em pessoas honestas.

29
LÍNGUA PORTUGUESA

Como diferenciamos casos com a partícula “se”?


Veja que o verbo será flexionado apenas se ele for TRANSITIVO DIRETO,
pois concordará com o sujeito ao qual se refere (termo sublinhado):
Aluga-se casa./Alugam-se casas.
Vendem-se móveis.
Compram-se roupas usadas.
Agora veja com verbos TRANSITIVOS INDIRETOS, ou seja, que exigem
preposição:
Precisa-se de funcionários.
Confia-se em pessoas sérias.
Ou com VERBOS INTRANSITIVOS:
Vive-se bem aqui.
Treme-se de nervosismo durante as provas.
Você viu? Nesses últimos exemplos, os verbos ficam no singular, pois não
são transitivos diretos.

b) Verbo no infinitivo pessoal


É muito comum ouvirmos as pessoas flexionarem os dois verbos de uma locução verbal. Certamente
o fazem pensando em “falar corretamente”, mas não se deve flexionar o infinitivo, se ele for o
verbo principal da locução verbal.
Exemplo:
Acabamos de fazer os exercícios.
Veja que o verbo principal é “fazer”, pois a locução equivale a “fizemos”; o outro verbo só o
auxilia, e é ele, o auxiliar, que será flexionado.

Há muitos casos de concordância verbal, sim! E colocamos neste livro


apenas os casos mais comuns, mas o que fazer então?
Lembre-se sempre da coerência, de que há um sujeito, mesmo que
inexistente, querendo “mandar” num verbo. E lembre-se, principalmente,
de que há gramáticas e livros que podem sanar suas dúvidas.
Quando for um caso de verbo, vá ao índice de uma boa gramática e
procure por CONCORDÂNCIA VERBAL. Certamente alguém já teve dúvida
semelhante à sua.

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UNIDADE 6 - CONCORDÂNCIA, REGÊNCIA E CRASE

2 REGÊNCIA VERBAL
Já vimos, em outra unidade, que quem “manda” no verbo é o sujeito, não é? Mas o verbo também
dá ordens!
E é dessas ordens que trata a REGÊNCIA VERBAL, mecanismo que regula as ligações entre o verbo e
seus complementos.
Na unidade 5, você viu os verbos que exigem complementos, que chamamos de OBJETO DIRETO ou
OBJETO INDIRETO, conforme a exigência ou não de preposição, lembra?
Também vimos que há verbos intransitivos, ou seja, que não exigem complemento algum.
Normalmente sabemos qual é a exigência de cada verbo, mas sempre há casos especiais, e é o que
estudaremos agora.

2.1 REGÊNCIA DE ALGUNS VERBOS


Alguns verbos podem ter mais de uma regência, de acordo com o sentido que transmitem. Também
há aqueles que, na linguagem informal, são usados sem preposição, mas deveriam vir seguidos desta.
Você verá, no quadro a seguir, que o fato de colocarmos ou não preposição muda o sentido daquilo
que queremos dizer. Portanto, fique atento ao uso dessas palavrinhas nas orações!

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LÍNGUA PORTUGUESA

TRANSITIVO DIRETO TRANSITIVO INDIRETO


VERBO (SEM PREPOSIÇÃO) – (COM PREPOSIÇÃO) –
SENTIDO DE: SENTIDO DE:
SORVER (o ar): ALMEJAR, DESEJAR:
Aspirar
Aspirou o ar da serra. Aspirava ao cargo de chefe.
DAR ASSISTÊNCIA, AJUDAR: PRESENCIAR, VER:
Assistir
O médico assistia os enfermos. Assistimos ao jogo em pé.
MIRAR, APONTAR ARMA:
OBJETIVAR, TER EM VISTA:
Sua arma visava o assaltante.
Visar Não visamos a resultados
PASSAR VISTO:
imediatos.
O gerente visou o cheque.
SEMPRE TRANSITIVOS INDIRETOS:
Obedecer e Desobedecer -----------
Não desobedeça ao professor.
REFERE-SE A COISAS: REFERE-SE A PESSOAS:
Pagar
Pagamos os salários ontem. Pagamos aos funcionários ontem.
COM PRONOME, COM PREPOSIÇÃO:
SEM PRONOME, SEM PREPOSIÇÃO:
Esqueci-me dos documentos em
Esquecer e Lembrar Esqueci os documentos em casa.
casa.
Lembrei os fatos.
Lembrei-me dos fatos.
ACARRETAR:
Implicar INDISPOR-SE:
A falta de estudos implica notas
Ela sempre implica com o amigo.
ruins.
Exige sempre a preposição “a”:
Ir e Chegar ----------- Chegou ao Brasil.
Vou a sua casa hoje.
É transitivo direto e indireto e exige unicamente a preposição “a”:
Todos preferem o elogio à crítica.
Preferir Veja que, quando há o encontro de um “a” preposição com um “a”
artigo, marcamos esse encontro com o ACENTO GRAVE, indicando CRASE –
nosso próximo item de estudo.

3 CRASE
A palavra “crase” vem do grego “Krasis”, que quer dizer fusão, contração. Surgiu da necessidade de
evitar-se um hiato (encontro das vogais “aa”). Na escrita, a crase é sempre assinalada pelo acento
grave (  `  ).
Veja que o primeiro “a” é sempre PREPOSIÇÃO e pode fundir-se com:
a) o artigo definido feminino “a” (a + a = à);
Exemplo: Escrevi a (preposição) a (artigo) professora. (aa = à professora).
b) o “a” inicial dos pronomes demonstrativos “aquele”, “aquela” e “aquilo”:

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UNIDADE 6 - CONCORDÂNCIA, REGÊNCIA E CRASE

a + aquele = àquele; a + aquela = àquela; a + aquilo = àquilo;


Exemplo: Ele viajou àquela cidade. (a + aquela).
Nesse caso, se substituirmos os pronomes “aquele”, “aquela” e “aquilo” por “a este”, “a esta”,
“a isto”, observaremos que haverá crase se essa substituição funcionar bem;
Ele viajou àquela cidade. = a esta cidade.
Aquela cidade é pequena. = *“a esta” cidade é pequena (formação que não funciona, portanto
não há crase).
c) o “a” anterior ao pronome relativo “qual” e seu plural, “quais”;
Exemplos: A menina à qual me refiro saiu agora da sala.
As meninas às quais me refiro saíram agora da sala.

Se você trocar a palavra que antecede o pronome por uma masculina e


acontecer “ao”, haverá crase com a palavra feminina.
O menino ao qual me refiro saiu agora da sala.
Então:
A menina à qual me refiro saiu agora da sala.

Na verdade, não seriam necessárias regras para o uso da crase, pois é possível perceber claramente
quando há o encontro de dois “as”. No entanto, nem todos percebem esse encontro, por isso foram
criadas algumas maneiras facilitadoras de identificar e marcar a crase.
Veja essas regras a seguir.

3.1 CRASE PROIBIDA


Há casos de uso proibido, pois não poderia haver dois “as”. Assim, É proibida a crase nos casos a
seguir.
a) Diante de palavra masculina.
Exemplo: Voltaremos para casa a pé.
b) Diante de verbo.
Exemplo: Começaram a falar e a cantar.
c) Diante de pronome pessoal ou de tratamento.
Exemplo: Dissemos a ela o que havia acontecido. Dissemos a Vossa Alteza o que aconteceu.
d) Diante da palavra terra quando se opõe a bordo.
Exemplo: Os marinheiros voltaram a terra rapidamente.
e) Diante de pronome indefinido (exceção: “outra”).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Exemplos: Não contaremos isso a ninguém.


f) Diante dos pronomes demonstrativos “este” e “esta”.
Exemplo: Entregou o pacote a esta menina.
g) Diante do artigo indefinido “uma”.
Exemplo: Falarei a uma plateia alegre.
h) Quando o “a” estiver no singular e a palavra seguinte no plural.
Exemplo: Falarei a pessoas alegres.
i) Entre palavras repetidas.
Exemplo: Tomou o remédio gota a gota.
j) Depois de preposição (com exceção de “até”, que, se vier seguida de palavra que aceite o
artigo, poderá receber acento grave).
Exemplos: Contou o que aconteceu para as amigas.
Cheguei até a capital.
ou
Cheguei até à capital.

3.2 CRASE OBRIGATÓRIA


A crase é obrigatória nos casos a seguir.
a) Diante de locuções formadas de palavras femininas.
Exemplos: Vou ao cinema às vezes. Saiu de casa às escondidas e voltou à noite. Fez compras à
vista.
*As locuções formadas com palavras masculinas não aceitam crase!
As gramáticas apresentam listagens com essas locuções. Também em sites, na internet, é possível
encontrá-las. Pesquise para saber mais!
b) Nas locuções que indicam hora determinada.
Exemplo: Sairei às 22 horas.
c) Quando estiverem subentendidas as palavras “moda”, “editora”, “sociedade” ou termo
feminino anteriormente citado.
Exemplo: Usava bigodes à Salvador Dali. (à moda Salvador Dali).
d) Diante de pronome possessivo plural.
Exemplo: Falaremos às nossas alunas sobre a formatura.
e) Diante das palavras “casa” e “distância” quando determinadas (seguidas de palavras que as
explicam).
Exemplos: Estava à distância de 100 metros da praia. Mas: O navio estava a distância.
Voltou à casa de seus pais. Mas: Voltou a casa, pois queria trocar de roupa.

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UNIDADE 6 - CONCORDÂNCIA, REGÊNCIA E CRASE

3.3 CRASE FACULTATIVA


Acompanhe os casos em que a crase é facultativa.
a) Diante de nome próprio feminino.
Exemplo: Dissemos a (à) Maria que queríamos vê-la.
b) Diante de pronomes possessivos que estiverem no singular.
Exemplo: Falaremos a(à) nossa aluna sobre a formatura.

3.4 CASOS ESPECIAIS


Há casos especiais quanto ao uso crase. Veja na sequência.
1) Diante de nome de lugar, trocar o verbo da frase por “vir”: “se ocorrer da, crase há”.
Exemplos: Fomos à Bahia Voltamos da Bahia.
Fomos a Santa Catarina Voltamos de Santa Catarina.
2) Diante da palavra “Terra” quando não designa “terra firme”, ou seja, não se opõe a “bordo”,
“mar” (que é um dos casos proibidos):
Exemplos: Voltou à terra onde nascera. (Não se opõe a bordo).
Os marinheiros estavam ansiosos por chegar a terra firme.
3) Antes do pronome “que”, quando seu antecedente for feminino e se, ao substituirmos esse
nome feminino por um masculino, ocorrer “ao”, então haverá crase:
Exemplos: Esta caneta é igual à que me deste.
Este lápis é igual ao que me deste.
Mas
Não gostei do filme a que assistimos ontem.
Não gostei da peça a que assistimos ontem.

Para saber se há crase ou não, é preciso ver se o VERBO exige preposição


e se o nome que a segue, é feminino. Só assim haverá crase.
Uma boa técnica é substituir a palavra feminina por uma masculina. Se na
troca ocorrer “ao”, então haverá crase:
Escrevemos uma carta ao menino.
Então:
Escrevemos uma carta à menina.

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LÍNGUA PORTUGUESA

4 CONCORDÂNCIA NOMINAL
Chamamos de CONCORDÂNCIA NOMINAL a relação entre as palavras que pertencem à classe dos
nomes (substantivo, pronome, numeral) e as palavras que se ligam a esses nomes.
Veremos, a seguir, esses casos.

4.1 CONCORDÂNCIA DO ADJETIVO


Regra geral
a) O adjetivo concorda em gênero e número quando se refere a um único substantivo.
Exemplo: As árvores velhas pareciam cansadas.
b) Quando o adjetivo se refere a vários substantivos, a concordância pode variar.
Se o adjetivo estiver antes dos substantivos, concordará em gênero e número com o substantivo
mais próximo.
Exemplos: Admirávamos antigas casas e edifícios de Paris.
Admirávamos antigos edifícios e casas de Paris.
Atenção: Se os substantivos forem nomes próprios ou de parentesco, o adjetivo deve sempre
concordar no plural.
Exemplos: As inseparáveis Sílvia e Cláudia vieram me visitar. (Nomes próprios).
Falei com os meus queridos primos e primas no Natal. (Parentesco).
c) Se estiver posposto aos substantivos, ou seja, vier depois dos substantivos, o adjetivo concorda
com o substantivo mais próximo ou vai para o masculino plural, se houver substantivo de dois
gêneros: feminino e masculino.
Exemplo: Comprei vestido e bolsa preta (ou pretos).
Aqui, a concordância dependerá da intenção do falante, pois, se quiser informar que os dois
objetos são pretos, será interessante colocar no plural.
d) O adjetivo fica no singular ou plural quando os substantivos possuírem o mesmo gênero
(feminino ou masculino).
Exemplo: Comprei casaco e cinto preto(s).
Comprei blusa e bolsa preta(s).

4.2 SER OU NÃO SER?


Expressões formadas pelo verbo “ser” e um adjetivo: o adjetivo fica no masculino singular, se o
substantivo não for acompanhado de nenhuma palavra que o determine.
Exemplos: É proibido entrada de estranhos.
Água é bom para a saúde.
Mas
É proibida a entrada de estranhos no setor.

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UNIDADE 6 - CONCORDÂNCIA, REGÊNCIA E CRASE

Esta água é boa para a saúde.

4.3 CASOS ESPECIAIS


Veja, na sequência, palavras que merecem nossa atenção.
a) “Anexo”, “incluso”, “quite”, “mesmo”, “próprio”, “obrigado” concordam com os termos a
que se referem.
Exemplos: Anexos vão os documentos solicitados.
A cópia do documento segue inclusa ao contrato.
Muito obrigada, disse a menina.
Ela mesma resolverá o problema.
Ele mesmo fez o trabalho.
Elas mesmas resolveram o problema.
Nós próprios faremos o trabalho.
Atenção: A expressão “em anexo” é invariável.
Exemplo: Em anexo, enviamos o documento.
b) Meio: se ADJETIVO, concorda com a palavra a que se refere; se ADVÉRBIO, ou seja, com valor de
“um pouco”, ficará invariável.
Exemplos: Bebi meio litro de água. (Metade de).
Não gostamos de ouvir meias verdades. (Metade de).
Mas
A menina estava meio triste. (Um pouco).
c) “Só” ou “sós”: a palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem função adjetiva e concorda
normalmente com o nome a que se refere.
Exemplos: Ela estava só.
Elas saíram sós.
Mas
Elas só desejam ganhar bem.
Função adverbial; equivale a apenas: desejam apenas.
d) “Todo”, “toda”, “todo o”, “toda a”, “todos os”, “todas as”. Como fazer essas concordâncias?
» » “Todo” e “toda” sem artigo significa “qualquer”.
Exemplo: Toda criança é inocente.
» » “Todo o” e “toda a” significam ”inteiro” e “inteira”.
Exemplo: Toda a turma aplaudiu.
» » No plural, deve sempre ser acompanhado de artigo.
Exemplos: Todas as crianças são inocentes.

37
LÍNGUA PORTUGUESA

Todas as turmas aplaudiram.


e) “Bastante” ou “bastantes”?
» » Se for advérbio, será invariável.
Exemplo: Estamos bastante cansados.
» » Se for adjetivo, concordará com a palavra a que se refere.
Exemplos:
Recebemos bastantes livros da editora.
Bastantes pessoas vieram procurá-lo.

Em caso de dúvida, você pode substituir a palavra “bastante” por “muito”.


Se a palavra “muito” variar, a palavra “bastante” também deverá variar.
Veja:
Recebeu ........... ofertas. Bastante ou bastantes? Trocamos por “muito”:
Recebeu muitas ofertas.
Então:
Recebeu bastantes ofertas.
Elas estavam ........... cansadas. Bastante ou bastantes? Trocamos por
“muito”:
Elas estavam muito cansadas.
Então:
Elas estavam bastante cansadas.

ATENÇÃO! FIQUE ESPERTO!


A palavra “menos” é invariável, portanto não existe “menas”. Veja:
Hoje há menos pessoas aqui.
Estou com menos fome hoje.

Há alguns sites que podem ajudá-lo a entender os conteúdos trabalhados


nesta unidade:
<http://www.youtube.com/watch?v=7qs0PfQlys>,
<http://www.youtube.com/watch?v=CG60r4ROKyY> e
<http://www.youtube.com/watch?v=_RxnuM8R3jk>.

38
UNIDADE 6 - CONCORDÂNCIA, REGÊNCIA E CRASE

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa. 46. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. O que muda com o novo acordo ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2008.
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática reflexiva: texto, semântica e
interação. São Paulo: Atual, 1999.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luis F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo: nova
ortografia. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
GOMES, Francisco Álvaro. O acordo ortográfico. Porto: Porto Editora, 2009.
LEDUR, Paulo Flávio. Português prático. 10. ed. Porto Alegre: AGE, 2009.
LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. 8. ed. São Paulo: Ática, 2003.
MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da língua portuguesa. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
ZANOTTO, Normelio. A nova ortografia explicada. Caxias do Sul: EDUCS, 2009.

Lembre que regras são a consequência da análise do funcionamento da língua. Para lembrar essas
regras, é preciso escrever, praticar! Faça “bastantes” exercícios!

39
UNIDADE 7
Nexos Frasais

“Será que isso tem nexo?”


Você já deve ter ouvido essa pergunta, não é? Mas o que é nexo? E que relação tem isso com nosso estudo?
Saiba que tem muita relação com aquilo que queremos aprimorar na escrita! Nexo é vínculo, relação, conexão
entre situações ou ideias. E é disso que o nosso texto necessita!
Quando escrevemos, precisamos estabelecer relações entre as palavras e as orações para que nosso discurso
tenha sentido.
Então, caro aluno, agora já podemos ir adiante para entender a estrutura do parágrafo e a maneira como
vamos estabelecer essas ligações, essas conexões entre as ideias.
Já vimos como funciona o interior da oração, seus termos essenciais, integrantes, acessórios etc. Vimos também
que precisamos conhecer as palavras para que possamos relacioná-las, não é? Assim também ocorre com as
orações no interior do PERÍODO.
Vamos, então, conhecer esses “nexos frasais”?
LÍNGUA PORTUGUESA

1 PERÍODO COMPOSTO
Na unidade 4, vimos o que é oração e o que é período. Agora veremos como se constituem esses
PERÍODOS, que podem ser SIMPLES ou COMPOSTOS.

PERÍODO ORAÇÃO
Simples Uma oração, chamada “absoluta”.
Composto Mais de uma oração.

O período composto pode ser formado por orações coordenadas, que simplesmente se ordenam na
frase, sem desempenhar nenhuma função sintática umas em relação às outras.
Já as orações subordinadas têm uma relação de dependência em relação à oração principal, pois as
orações desempenham alguma função sintática em relação à oração principal, e por isso se subordinam
– são as ORAÇÕES SUBORDINADAS.
Função sintática é aquela função que as palavras exercem dentro da frase ou do período, fruto da
relação entre as palavras, lembra? Também na unidade 4, você encontra essa explicação sobre AS
CLASSES DE PALAVRAS E FUNÇÃO DAS PALAVRAS.
Veja o quadro a seguir. Nele colocamos um esquema das duas formas de relação que existem entre
as orações.

COORDENAÇÃO SUBORDINAÇÃO
Orações Assindéticas* Oração Principal
Orações Sindéticas:
Oração Subordinada (de acordo com a função
• Aditivas
sintática que exerce):
• Adversativas
• Adjetiva
• Alternativas
• Substantiva
• Conclusivas
• Adverbial
• Explicativas

*Observação: Na seção sobre coordenação, veremos que sindéticas e assindéticas são orações com ou
sem conjunção no início.

2 PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO


O período composto por subordinação pode ocorrer por orações subordinadas adjetivas, que podem
ser restritivas ou explicativas, ou por orações subordinadas substantivas. Veja as explicações a seguir.

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UNIDADE 7 - NEXOS FRASAIS

2.1 ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS


Começaremos analisando a relação que existe entre os ADJETIVOS e as ORAÇÕES ADJETIVAS.
Leia as frases a seguir e responda qual é a classe gramatical das palavras sublinhadas.
a) O médico estudioso obtém bons resultados.
b) Hahnemann, alemão, lançou as bases da homeopatia.
“Estudioso” e “alemão” são adjetivos, palavras que qualificam os seres.
Então, o nome dessas palavras, a classe a que pertencem é de ADJETIVOS. Mas naquelas orações esses
adjetivos exercem uma função:
Frase A: adjunto adnominal, pois fica junto do nome e liga-se diretamente a ele.
Frase B: aposto, porque qualifica o termo anterior a ele, mas dele é separado por pontuação – nesse
caso, vírgulas.
Para ver bem essa diferença entre aposto e adjunto adnominal, basta retirá-los das frases.
a) O médico obtém bons resultados.
b) Hahnemann lançou as bases da homeopatia.
Qual a frase cujo sentido se modificou com a ausência do adjetivo? Sim, a frase A.
Por quê? Porque o adjunto adnominal determina, caracteriza o substantivo, enquanto que o aposto
apenas esclarece, acrescenta uma informação.
Agora vejamos! Como se classificam aqueles períodos? São PERÍODOS SIMPLES.
Mas vamos fazer mais algumas modificações. Observe:
a) O médico que estuda obtém bons resultados.
b) Hahnemann, que era alemão, lançou as bases da homeopatia.
O que mudou? Não são mais períodos simples, pois há duas orações em cada período. Logo são
PERÍODOS COMPOSTOS por duas orações.
Qual é a relação entre essas orações? Há aqui uma relação de subordinação, pois há pelo menos uma
oração cujo sentido não é completo se vista isoladamente.
No exemplo A, “O médico obtém bons resultados” é a ORAÇÃO PRINCIPAL e “que estuda” é uma
ORAÇÃO SUBORDINADA com função de adjunto adnominal, representado pelo adjetivo “estudioso”.
O mesmo ocorre com o exemplo B, mas com uma pequena diferença. Veja:
“Hahnemann lançou as bases da homeopatia” é a ORAÇÃO PRINCIPAL e “que era alemão” é uma
ORAÇÃO SUBORDINADA com função de aposto, pois representa um adjetivo (alemão) com função de
aposto.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Então, as orações subordinadas mostradas têm a função de qualificar


e caracterizar o substantivo das orações principais. Elas têm valor de
ADJETIVOS, por isso as chamamos de “orações subordinadas adjetivas”.

a) Adjetiva restritiva
A oração adjetiva do grupo A é indispensável ao sentido da frase, pois, como o adjunto adnominal,
determina, restringe o termo antecedente. Vamos chamá-la de “oração subordinada adjetiva
restritiva”.
b) Adjetiva explicativa
A oração do grupo B, que tem função de aposto, apenas explica, esclarece o termo antecedente.
Logo, vamos chamá-la de “oração subordinada adjetiva explicativa”.

Qual é a função das orações subordinadas sublinhadas? A que equivalem?


Elas equivalem a adjetivos e têm função de adjunto adnominal (grupo A)
e de aposto (grupo B).

Quais são os dois tipos de orações subordinadas adjetivas? Elas podem ser RESTRITIVAS ou EXPLICATIVAS.
ATENÇÃO!
As orações restritivas, assim como os adjuntos adnominais, não são separadas por pontuação.
As orações adjetivas explicativas, assim como o aposto, devem ser isoladas por vírgulas.
a) Elementos de coesão das orações adjetivas
Agora que você já sabe o que é uma oração adjetiva, veremos os elementos de coesão que servem
para unir, conectar, as orações subordinadas à principal.
Na unidade 3, vimos as diferentes classes de palavras. Também vimos que existem vários tipos de
pronomes, mas não fizemos um detalhamento dos pronomes relativos. Agora faremos isso, pois são
eles os responsáveis pela conexão entre essas orações.

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UNIDADE 7 - NEXOS FRASAIS

São pronomes relativos


MASCULINO FEMININO INVARIÁVEIS
o qual, os quais a qual, as quais que
cujo, cujos cuja, cujas quem
quanto, quantos quanta, quantas onde
b) Principais empregos dos pronomes relativos
1) Os pronomes relativos sempre iniciam uma ORAÇÃO ADJETIVA.
Exemplos:
Nós compramos o carro que seu pai está vendendo.
A rua virava um campo onde jogávamos futebol.
2) “Que” é o pronome mais usado, e devemos cuidar para não repeti-lo inúmeras vezes nos
textos que construímos.
3) “Onde” refere-se sempre a lugar.
Exemplos:
A casa onde moro é grande.
O país onde nasci é o Brasil.
4) “Cujo” e “cuja”, “cujos” e “cujas” estabelecem uma relação de posse entre os termos.
Exemplos:
O escritor cujos livros eu recomendo já morreu.
Por que posse? Porque são os livros do escritor.
5) Os pronomes relativos podem ser precedidos de preposição.
Muitas vezes é necessário usar uma preposição antes do pronome relativo. Quem determina
qual é a preposição a ser usada é, normalmente, o verbo da oração iniciada com o pronome
relativo. Essa é uma questão de REGÊNCIA VERBAL.
Veja que muitas pessoas usam simplesmente o pronome “que” sem preposição em todos os casos. A
consequência é um texto desinteressante e com excesso de “quês”.
Exemplos:
» » Pretendo conhecer as pessoas nas quais você confia.
(Quem confia, confia em [em+as = nas] alguém).
» » Não é este o lugar a que eles se referem.
(Quem se refere, se refere a alguma coisa).
» » Este é o autor de cuja obra gosto.
(Quem gosta, gosta de alguma coisa).
» » Não conheço a menina em quem você pensa.
(Quem pensa, pensa em alguém).

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LÍNGUA PORTUGUESA

» » Esta é a pessoa sobre a qual lhe falei.


(Quem fala, fala de, em ou sobre alguém).

Usamos a preposição conforme a regência do verbo. Veja como foi


importante reconhecer os verbos nas orações e perceber que eles exigem
complemento, com ou sem preposição, pois agora, na hora de compor
frases mais elaboradas, precisamos dominar a regência verbal.

2.2 ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS


Chamamos de ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS aquelas que se encaixam dentro da oração
principal com a mesma função que os substantivos exercem nas frases. Observe:
Duvidamos de sua ausência.
A palavra sublinhada é um substantivo. Nessa oração, esse substantivo tem função de OBJETO
INDIRETO, visto que completa o sentido de um verbo transitivo indireto.
Agora veja:
Duvidamos de que você se ausentaria.
As palavras sublinhadas compõem uma ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA OBJETIVA INDIRETA, pois
tem valor de substantivo com função de objeto indireto.

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UNIDADE 7 - NEXOS FRASAIS

Assim ocorre com várias funções sintáticas. São elas:

CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES SUBORDINADAS


FUNÇÃO PRÓPRIA DOS SUBSTANTIVOS
SUBSTANTIVAS
• Oração Subordinada Substantiva Subjetiva
• Sujeito
Exemplo: Convém que tu saias.
Exemplo: Convém a tua saída.
Que é que convém? Que tu saias.
Que é que convém? A tua saída convém.
A oração toda é o sujeito do verbo convir.
• Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta
• Objeto Direto
Exemplo: Quero que saias agora.
Exemplo: Quero tua saída agora.
Quero o quê? Que saias agora.
Quero o quê? Tua saída.
A oração completa o verbo e a ele se liga diretamente.
• Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta
• Objeto Indireto
Exemplo: Desconfio de que venhas.
Exemplo: Desconfio de tua vinda.
Desconfio de quê? De que venhas.
Desconfio de quê?
A oração completa o verbo e a ele se liga indiretamen-
De tua vinda.
te, por meio de preposição.
• Oração Subordinada Substantiva Predicativa
Exemplo: O problema foi que tu saíste na hora da
• Predicativo
festa.
Exemplo: O problema foi (verbo de ligação) a tua
Veja que esta oração parece uma objetiva direta, só
saída na hora da festa.
não é porque o verbo que a antecede é um VERBO DE
LIGAÇÃO (ser), e não um verbo transitivo direto.
• Complemento Nominal
• Oração Subordinada Substantiva Completiva
Exemplo: Eu tenho medo de tua vinda aqui.
Nominal
Medo é um nome (substantivo) que exige preposição.
Exemplo: Eu tenho medo de que tu venhas aqui.
De tua vinda é o termo com preposição que comple-
A oração completa o sentido de um nome que exige
ta o sentido do nome, por isso é um complemento
preposição.
nominal.
• Aposto • Oração Subordinada Substantiva Apositiva
Exemplo: O problema é este: tua vinda aqui. Exemplo: O problema é este: que tu venhas aqui.
Tua vinda aqui é o aposto de “este”. “Que tu venhas aqui” é o aposto de “este”.

Perceba que a diferença entre os SUBSTANTIVOS e as ORAÇÕES


SUBSTANTIVAS é o fato de elas (as orações) serem formadas com VERBO.
Então, o substantivo com função de sujeito, ao ganhar um verbo, ou
transformar-se em verbo, passa a ser uma oração.

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LÍNGUA PORTUGUESA

As orações subordinadas substantivas são introduzidas por conjunções chamadas de integrantes. Logo,
o “quê” dessas orações não é pronome relativo, mas CONJUNÇÃO INTEGRANTE.
Trabalhamos até aqui a relação entre os termos das orações, representados por adjetivos ou
substantivos, e sua “transformação” em orações adjetivas e substantivas.

2.3 ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS


Agora, veremos outro tipo de orações subordinadas: aquelas que têm valor de ADJUNTOS ADVERBIAIS,
representados pelos ADVÉRBIOS ou LOCUÇÕES adverbiais na oração. São as ORAÇÕES SUBORDINADAS
ADVERBIAIS.
Os advérbios, você deve lembrar, são palavras invariáveis que exprimem a circunstância em que se
dá a ação verbal. Assim, as CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS também expressam circunstâncias e são
classificadas conforme estas, da mesma forma como ocorre com os advérbios.
Estudamos as orações subordinadas adjetivas, que são introduzidas por PRONOMES RELATIVOS, e as
orações substantivas, que são introduzidas pelas CONJUNÇÕES INTEGRANTES QUE e SE.
As orações subordinadas adverbiais são introduzidas por CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS, as quais
vamos conhecer agora.
As conjunções subordinativas podem ser:
1) causais: expressam circunstância de causa em relação ao que foi dito na oração principal.
São elas: porque, como, uma vez que, já que.
Veja que grifamos uma conjunção apenas do conjunto para que você tenha uma de referência. A
conjunção grifada deve ser a “coringa”, a referência para você se lembrar da circunstância que
ela deve exprimir.
Exemplos:
Estudamos bastante porque sabemos da importância do estudo.
Como teremos prova, estudamos bastante.

Veja que a oração subordinada pode estar no final do período ou no início.

2) concessivas: dão ideia de concessão, e concessão exprime uma contrariedade, ou seja, apesar
de se agir de determinada maneira, não se obtém o que se quer ou deseja.
São elas: embora, ainda que, mesmo que, apesar de que.

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UNIDADE 7 - NEXOS FRASAIS

Exemplos:
Obtivemos resultados regulares embora tivéssemos estudado bastante.
Mesmo que tenhamos estudado muito, não obtivemos excelentes resultados.
3) condicionais: indicam condição.
São elas: se, desde que, contanto que, caso.
Exemplos:
Sairei contigo desde que não me incomodes.
Se me incomodares, não sairei contigo.
4) conformativas: exprimem ideia de semelhança, paralelismo, conformidade de ideia.
São elas: conforme, segundo, como, consoante.
Exemplos:
Faremos o passeio conforme havíamos combinado.
De acordo com o que combinamos, faremos o passeio.
5) comparativas: estabelecem uma comparação entre aspectos expressos na oração principal e na
oração subordinada.
São elas: como, mais... do que, menos... do que.
Exemplos:
Talvez ninguém pense como nós (pensamos).
Ele estuda menos do que eu (estudo).
Normalmente omitimos o verbo das orações comparativas para evitar a repetição.
6) consecutivas: exprimem ideia de consequência.
São elas: que (precedida de tal, tão, tanto, tamanho), de sorte que, de modo que.
Exemplos:
Havia tantos problemas que desistiu dos projetos.
Observe que a palavra “tantos” fica na oração principal.
Tal era sua preocupação que não conseguia dormir.
Sua preocupação era tanta, que a consequência foi não conseguir dormir, por isso é uma conjunção
consecutiva.
7) finais: exprimem finalidade, objetivo.
São elas: a fim de que, para que.
Exemplos:
Estudaremos a fim de sermos aprovados.
Para que obtenhamos sucesso, estudaremos.
8) proporcionais: indicam paridade, aumento ou diminuição em proporção da ideia que é comparada
com aquela expressada na oração principal.

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LÍNGUA PORTUGUESA

São elas: à medida que, à proporção que, ao passo que, quanto mais.
Exemplos:
Certamente envelhecemos à medida que o tempo passa.
Quanto mais estudo, mais percebo minha ignorância.
Assim como o adjunto adverbial no final de frase não necessita de separação por vírgula, uma
oração adverbial no final do período não exige vírgula. No segundo exemplo, como a oração
adverbial está deslocada do final, deverá ser separada por vírgula.
9) temporais: indicam ideia de tempo, em que momento se dá a ação da oração principal.
São elas: quando, depois que, desde que, logo que, assim que, enquanto, mal.
Exemplos:
Houve a votação depois que acabou o debate.
Quando acabou o debate, houve a votação.

Lembre que não basta colocar a conjunção para que haja relação de
finalidade, tempo, conformidade etc. Toda a estrutura do período deve
mostrar essa relação.
Isso é bem fácil de entender quando analisamos a conjunção “como”,
pois, dependendo da maneira como construímos o período, a circunstância
será de causa, comparação ou conformidade.
Veja:
- Como estava cansada, não quis ir à festa.
como = porque: CAUSA
- Ela gosta de festas como o irmão (gosta).
como = da mesma forma que: COMPARAÇÃO
- Como havíamos combinado, nos encontraremos na festa da turma.
como = conforme: CONFORMIDADE

3 PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO


No período composto por coordenação, as orações são independentes e equivalentes sintaticamente.
As orações coordenadas podem ser assindéticas ou sindéticas, e as conexões entre as orações são as
chamadas conjunções coordenativas.

3.1 ORAÇÕES COORDENADAS


Orações coordenadas são aquelas que se ordenam no período sem exercerem função sintática. Elas
formam um PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO e podem ser:

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UNIDADE 7 - NEXOS FRASAIS

» » assindéticas: aquelas que não são introduzidas por conjunção;


» » sindéticas: aquelas que são introduzidas por conjunções coordenativas.

3.2 CONJUNÇÕES COORDENATIVAS


Aditivas: são aquelas que indicam adição, soma.
São elas: e, nem (= e não)
Exemplos:
João saiu e não voltou.
Não vi nem ouvi nada.

Adversativas: são aquelas que dão ideia de oposição, contrariedade, adversidade.


São elas: mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto.
Exemplos:
João saiu, mas avisou com antecedência.
Vi João entrar, porém não o vi sair.

Alternativas: indicam alternância, opção.


São elas: ou, ou…ou, ora…ora, quer…quer, seja…seja
Exemplos:
João saiu ou está escondido.
Seja pobre, seja rico, o velhinho sempre vem.

Conclusivas: expressam uma conclusão em relação ao que foi dito na oração que as antecedem.
São elas: logo, portanto, por conseguinte, por isso.
Exemplos:
João saiu, logo não está em casa.
Não o vi chegar, portanto não sei se está em casa.

Explicativas: explicam uma ordem ou pedido.


São elas: porque, que, pois, já que, visto que, uma vez que.
Exemplos:
João, venha agora, pois precisamos fechar a casa.
Não queremos encerrar o concurso, já que ainda não há um ganhador.

51
LÍNGUA PORTUGUESA

Veja que, antes de uma coordenada explicativa, temos uma ordem ou um desejo. Essa é a diferença
entre esse tipo de oração e a oração subordinada adverbial causal.

Você pode encontrar mais exemplos deste conteúdo nas gramáticas que
já indicamos neste livro e nos seguintes endereços:
<http://www.brasilescola.com/gramatica/periodo-composto-
coordenacao.htm> e
<http://www.brasilescola.com/gramatica/oracoes-coordenadas-
oracoes-subordinadas.htm>.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa. 46. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. O que muda com o novo acordo ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2008.
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática reflexiva: texto, semântica e
interação. São Paulo: Atual, 1999.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luis F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo: nova
ortografia. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
GOMES, Francisco Álvaro. O acordo ortográfico. Porto: Porto Editora, 2009.
LEDUR, Paulo Flávio. Português prático. 10. ed. Porto Alegre: AGE, 2009.
LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. 8. ed. São Paulo: Ática, 2003.
MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da língua portuguesa. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
ZANOTTO, Normelio. A nova ortografia explicada. Caxias do Sul: EDUCS, 2009.

Lembre que a análise do funcionamento da língua é importante para que possamos transpor para a
produção escrita aquilo que na oralidade é facilmente compreendido por meio de pausas, expressões
visuais e entonações. Saber as funções sintáticas pode nos ajudar a pontuar corretamente os textos
que produzirmos, pois as regras de pontuação se baseiam na análise sintática. Então, faça exercícios
para memorizá-las!

52
UNIDADE 8
Pontuação

Ao chegar à última unidade, você já é capaz de identificar as orações que organizam os períodos e parágrafos
dos textos. Ao perceber a diferença entre orações coordenadas e subordinadas, ao reconhecer termos como
aposto, vocativo, adjunto adverbial, você já pode também pontuar corretamente e adequadamente os textos
que produzir.
Este é um dos objetivos deste estudo: usar os sinais de pontuação adequados para a compreensão e clareza
nas suas produções textuais.
Você verá que, para dominar as regras de pontuação, é preciso conhecer a função sintática dos termos, assim
como a sintaxe externa e suas orações. Em função dessas relações entre os termos da oração e entre as
orações, criaram-se algumas regras para orientar o uso dos sinais de pontuação.
Vamos a elas!

1 SINAIS DE PONTUAÇÃO E SEU USO


Vamos elencar os principais sinais de pontuação e alguns detalhes do seu uso.
LÍNGUA PORTUGUESA

a) Vírgula (  ,  )
Apesar de sua frequência, faremos a explicação do seu uso com detalhes após a explanação dos
outros sinais, pois é o uso da vírgula que mais apresenta problemas entre os sinais de pontuação.
b) Ponto e vírgula (  ;  )
Tem mais força que a vírgula e menos que o ponto-final. São poucos os casos em que se usa ponto
e vírgula. Veja para que serve esse sinal.
» » Separar orações independentes que são muito extensas, principalmente se elas já possuem
partes separadas por vírgulas.
Exemplo:
Eu, apressadamente, achei que deveríamos chamar as crianças para o jantar; mamãe, porém,
mais experiente, entendeu que deveríamos aguardar a chegada da noite.
» » Para separar as partes de decreto, portaria, sentença, acórdão ou documento análogo
quando se fazem enumerações.
Exemplo:
Neste parque, não será permitido:
1) dar alimento aos animais;
2) correr;
3) circular em motocicletas;
4) banhar-se no lago.
» » Para separar orações coordenadas adversativas quando a conjunção aparecer no meio da
oração, colocada após o verbo.
Exemplo:
Queria encontrar todos os itens da lista no mercado; encontrei, porém, apenas um.
c) Dois-pontos (  :  )
O uso de dois-pontos marca a suspensão da voz numa frase não concluída.
Veja quando se emprega.
» » Para anunciar a fala de personagens em narrativas de ficção.
Exemplo:
A menina disse:
– Quero colo.
» » Para anunciar uma citação alheia.
Exemplo:
Lembrando um poema de Vinícius de Moraes: “Tristeza não tem fim, felicidade sim.”
» » Para anunciar uma enumeração.
Exemplo:
Os convidados da festa que já chegaram são: Júlia, Renata, Paulo e Marcos.

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UNIDADE 8 - PONTUAÇÃO

» » Antes de orações apositivas.


Exemplo:
O problema é este: que ninguém acreditava mais nele.
» » Para indicar um esclarecimento, resultado ou resumo do que se disse.
Exemplo:
Marcelo era assim mesmo: não tolerava ofensas.
» » Para introduzir exemplos, notas ou observações, conforme o que fizemos até aqui, isto é,
em “Exemplo:”.
d) Ponto-final (  .  )
O ponto-final, como já foi dito, encerra uma ideia, concluindo um período gramatical. É o ponto-
final que demarca os períodos de um parágrafo.
e) Ponto de interrogação (  ?  )
É o sinal que marca uma pergunta direta.
Exemplo:
Quanto tempo ainda temos?
f) Ponto de exclamação (  !  )
Usa-se esse sinal depois de interjeições ou para finalizar orações que designam espanto, admiração
e surpresa.
Exemplo:
Quem diria!
g) Reticências (  ...  )
Este sinal indica interrupção de um pensamento com certa hesitação ou, também, falta de
necessidade de concluí-lo.
Exemplo:
“Quem conta um ponto...”.
Nesse caso, o fato de as pessoas conhecerem o ditado popular cria essa possibilidade de uso das
reticências.
h) Parênteses ( )
Servem para separar palavras ou frases acessórias, intercaladas no período, pois têm o mesmo
valor de vírgulas e de travessões que isolam expressões e apostos. Usam-se, então, para isolar
uma reflexão, um comentário, uma explicação paralela.
Exemplo:
Em fevereiro (mês do carnaval no Brasil) muitos estrangeiros nos visitam.
Nesse caso, os parênteses poderiam ser substituídos por vírgulas ou travessões.
i) Aspas (  “ ”  )
Usam-se aspas para:

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LÍNGUA PORTUGUESA

» » indicar citações textuais de outra autoria, isto é, trechos do que outros autores disseram ou
escreveram;
» » indicar palavras ou expressões estrangeiras, gírias ou arcaísmos;
» » enfatizar palavras ou expressões.
Exemplo:
Convidaram todo o grupo para um “brunch” no novo hotel.
j) Travessão (  —  )
Possui duas funções básicas:
» » marcar a mudança de interlocutor nos diálogos;
» » dar destaque a palavras ou expressões no interior das frases, da mesma maneira que se
usam parênteses ou vírgulas.
Exemplo:
Já em fevereiro — mês do carnaval no Brasil — recebemos muitos turistas estrangeiros.
Agora, com mais detalhes, veremos o emprego da vírgula.

2 EMPREGO DA VÍRGULA NO PERÍODO SIMPLES


A vírgula, como muitos creem, não é apenas a marcação de uma pausa. Sim, ela pode marcar pequenas
pausas, mas essa crença pode acarretar erros no emprego desse sinal de pontuação, pois há termos
que não se podem separar.
Vamos ver quais são?
Primeiramente, precisamos lembrar que não se separam sujeito de verbo nem verbo de seus
complementos, pois, se esses termos são complementares, não é possível separá-los!
Exemplo:
Todos os componentes do grupo organizaram a mesa de trabalho.
SUJEITO COMPLEMENTO VERBAL (OBJETO DIRETO)

Observe que, se mudarmos a colocação desses termos, também não


haverá necessidade de vírgulas.
Exemplo:
Organizaram a mesa de trabalho todos os componentes do grupo.

Usa-se vírgula:
a) para separar termos enumerados;

56
UNIDADE 8 - PONTUAÇÃO

O livro estava sujo, rasgado, amarelado.


b) para isolar o vocativo;
Minha filha, deves estudar mais um pouco!
c) para marcar termos intercalados. Nesse caso, usa-se vírgula antes e depois do termo:
» » APOSTO;
O tempo, nosso inimigo, foge rápido.
» » ADJUNTO ADVERBIAL DESLOCADO, pois seu lugar é no final da oração. Se não estiver lá,
separa-se com vírgula;
Nesta noite, faremos um jantar especial.
» » CONJUNÇÃO;
Trabalhamos muito, estamos, portanto, cansados.
» » EXPRESSÕES EXPLICATIVAS* OU CORRETIVAS;
Todos se omitiram, isto é, colaboraram com os adversários.
*Outras expressões explicativas: ou seja, por exemplo, em síntese, em suma, dessa forma,
digo, além disso.
d) para marcar a supressão de um verbo;
Tu preferes cinema; eu, teatro.
Veja que a vírgula substitui o verbo “preferir” na segunda oração.
e) para isolar o nome do lugar nas datas;
Porto Alegre, 3 de janeiro de 2013.
f) para isolar o predicativo deslocado. O lugar do predicativo é no final da oração; quando o
colocamos no início ou no meio da oração, ele deve ser isolado por vírgulas.
João fazia o trabalho irritado. (sem vírgulas).
Mas
João, irritado, fazia o trabalho.

Se não colocarmos vírgulas, parecerá que “irritado” é uma característica


de João, não que ele “estava” irritado enquanto realizava o trabalho.

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LÍNGUA PORTUGUESA

3 EMPREGO DA VÍRGULA DENTRO DO PERÍODO COMPOSTO (MAIS DE UMA


ORAÇÃO/MAIS DE UM VERBO)
Usa-se vírgula:
1) isolando Orações Subordinadas Adjetivas Explicativas:
O leão, que é feroz, não caça mais que a leoa.
2) isolando Orações Intercaladas.
Oração Intercalada é aquela que não estabelece nenhuma dependência sintática entre os demais
termos que compõem a oração. Elas existem para fazer uma advertência, inserir uma opinião,
observação ou ressalva.
Eu, disse o mestre, não concordo.
Isto, gritei, é mentira!
3) separando as Orações Subordinadas Adverbiais deslocadas, ou seja, quando não estiverem no
final do período;
Se aceitarem nosso pedido de desculpas, sairemos daqui.
Como não queria falar, trancou-se no quarto.
4) separando Orações Coordenadas Sindéticas;
Quero tua companhia, mas não preciso dela.

Uso da vírgula e a conjunção “e”:


Só haverá vírgula quando o sujeito da oração sindética for diferente do
sujeito da assindética. Veja:
Ele vestiu-se, saiu, encontrou os amigos e comemorou seu aniversário.
sem vírgula/mesmo sujeito = ele
O menino caiu, e os amigos vieram ajudá-lo.
com vírgula/sujeitos diferentes = o menino/os amigos

5) separando as Orações Coordenadas Assindéticas.


Cheguei, entrei, olhei, sentei.

Então, ao encerrar esta unidade referente ao emprego dos sinais de pontuação, leia o texto a seguir
e observe a pontuação que ele apresenta.
Logo em seguida, colocamos o mesmo texto com termos sublinhados, a fim de marcar e justificar
a pontuação que há nele. Assim, você perceberá o uso dessas regras na composição do texto que,
apesar de ter sido publicado em 1998 na revista Caros Amigos (<www.carosamigos.com.br>), ainda
é atual.
Boa leitura!

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UNIDADE 8 - PONTUAÇÃO

O DIA DA CRIAÇÃO (narrado em ano de eleição)


No dia da criação da América Latina, os anjos, intrigados, protestaram junto ao Senhor. Foi o
primeiro gesto de pressão sindical:
– Javé, não é uma injustiça dotar o Brasil de uma extensão tão grande? Veja, a Venezuela é
proporcional à Argentina; o Paraguai, ao Uruguai; a Nicarágua, à Bolívia. Por que não dividir
o Brasil em dois ou três países?
Diante do soberano silêncio do Criador, os querubins apresentaram outra queixa:
– Colocamos tantos vulcões na América Central, e o Brasil não terá nenhum? Distribuímos
terremotos pelo Caribe e México, desertos no sul do Peru e norte do Chile, neves nos Andes.
E nada disso nas terras de Santa Cruz?
Os serafins, filiados à CUT, já pensavam em denunciar Javé como injusto:
– Senhor, por que tantos privilégios ao Brasil? Nada de tufão, furacão, maremoto ou
montanhas inabitáveis? Não estaria o Criador transferindo de lugar o Jardim do Éden?
Os benjamins, pragmáticos, já tinham feito os cálculos das vantagens do Brasil:
– Se o Todo-Poderoso não modificar Seus planos, o Brasil terá 600 milhões de terras
agricultáveis, rios imensos e piscosos, costa de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, a
mais rica floresta tropical da Terra, potencial para quatro safras por ano e capacidade de
produzir tudo que o ser humano necessitar para sobreviver e ser feliz.
Um vento forte soprou a assembleia de anjos. Afinal, Javé rompeu o silêncio:
– Se dependesse de mim, o Brasil seria o Paraíso na Terra. Mas esperem só pra ver que tipo
de políticos os eleitores vão escolher para governá-lo.
Frei Betto
E, agora, justificando a pontuação:

O DIA DA CRIAÇÃO (narrado em ano de eleição)


No dia da criação da América Latina, os anjos, intrigados, protestaram
[adjunto adverbial deslocado/predicativo do sujeito deslocado]
junto ao Senhor. Foi o primeiro gesto de pressão sindical:
[dois pontos precedendo a fala de um diálogo]
– Javé, não é uma injustiça dotar o Brasil de uma extensão tão
[vírgula isolando vocativo]
grande? Veja, a Venezuela é proporcional à Argentina; o Paraguai, ao Uruguai; a Nicarágua,
à Bolívia. Por que não dividir o Brasil em dois ou três países?
[vírgulas indicando a supressão de um verbo]
Diante do soberano silêncio do Criador, os querubins apresentaram outra queixa:
– Colocamos tantos vulcões na América Central, e o Brasil não terá nenhum? Distribuímos
terremotos pelo Caribe e México, desertos no sul do Peru e norte do Chile, neves nos Andes.
E nada disso nas terras de Santa Cruz?

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LÍNGUA PORTUGUESA

[vírgula antes da conjunção “e”, pois as orações têm sujeitos diferentes]


[vírgulas separando termos enumerados]
Os serafins, filiados à CUT, já pensavam em denunciar Javé como injusto:
[aposto]
– Senhor, por que tantos privilégios ao Brasil? Nada de tufão, furacão, maremoto ou
montanhas inabitáveis? Não estaria o Criador transferindo de lugar o Jardim do Éden?
[vocativo]
Os benjamins, pragmáticos, já tinham feito os cálculos das vantagens do Brasil:
[predicativo deslocado]
– Se o Todo-Poderoso não modificar Seus planos, o Brasil terá 600 milhões de terras
agricultáveis, rios imensos e piscosos, costa de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, a
mais rica floresta tropical da Terra, potencial para quatro safras por ano e capacidade de
produzir tudo que o ser humano necessitar para sobreviver e ser feliz.
[oração adverbial deslocada]
[termos enumerados]
Um vento forte soprou a assembleia de anjos. Afinal, Javé rompeu o silêncio:
[expressão explicativa ou corretiva]
– Se dependesse de mim, o Brasil seria o Paraíso na Terra. Mas esperem só pra ver que tipo
de políticos os eleitores vão escolher para governá-lo.
[oração subordinada adverbial deslocada]
Frei Betto

Há muitos sites e vídeos na internet que podem acrescentar e reforçar


alguns aspectos sobre a pontuação. Indicamos o professor Sérgio Nogueira,
a quem você pode assistir no endereço:
<www.youtube.com/watch?v=88RahapC9lY>.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa. 46. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. O que muda com o novo acordo ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2008.

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UNIDADE 8 - PONTUAÇÃO

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática reflexiva: texto, semântica e
interação. São Paulo: Atual, 1999.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luis F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo: nova
ortografia. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
GOMES, Francisco Álvaro. O acordo ortográfico. Porto: Porto Editora, 2009.
LEDUR, Paulo Flávio. Português prático. 10. ed. Porto Alegre: AGE, 2009.
LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. 8. ed. São Paulo: Ática, 2003.
MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da língua portuguesa. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
ZANOTTO, Normelio. A nova ortografia explicada. Caxias do Sul: EDUCS, 2009.

Caro aluno, chegando ao final deste livro, espero que você tenha percebido como são importantes
o conhecimento e a análise do funcionamento da língua para que possamos transpor à produção
escrita aquilo que, na oralidade, é facilmente compreendido por meio de pausas, expressões visuais e
entonações. A pontuação correta, como você viu, exige o conhecimento das funções sintáticas. Então,
faça exercícios para memorizar e reforçar esses conhecimentos!
Para escrever com arte e precisão, é necessário o exercício diário e a vontade de cativar o leitor.
Desejo a você uma produção escrita cativante!

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