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RESUMO
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A produção deste conhecimento de modo metodologicamente
estruturado, enriquecida pelo acesso a fontes primarias
documentais dos arquivos do próprio Congresso, bem como de
outros notórios acervos, objetiva traçar sua história construtiva pela
articulação do trinômio: arquitetura, arte e mobiliário visando
qualificar a tutela destes bens interiores de modo a garantir sua
salvaguarda. Examinar os interiores do Congresso Nacional, no
percurso das duas décadas iniciais, é determinante para
compreender a transformação de um interior solene administrativo
em 1960 face ao interior palaciano que surgirá na década seguinte.
Nos anos 70, a partir da reinauguração interna, se alcança o
desejável requinte até então não empreendido nas feições internas.
Figura 2 - Croqui do Salão Nobre na Câmara dos Deputados e obra de arte de Marianne Peretti.
Autor: Oscar Niemeyer. Década 70. Fonte: Acervo Câmara dos Deputados
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ABSTRACT
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The production of this knowledge in a methodologically structured
way, enriched by access to primary documentary sources from the
archives of the Congress itself, as well as from other notorious
collections, aims to trace its constructive history through the
articulation of the trinomial: architecture, art and furniture, aiming to
qualify the protection of these assets interiors in order to guarantee
their safeguard. Examining the interiors of the National Congress,
over the course of the first two decades, is crucial to understanding
the transformation from a solemn administrative interior in 1960 to
the palatial interior that will emerge in the following decade. In the
1970s, after the internal re-inauguration, the desirable sophistication
not achieved in the internal features was achieved until then.
Figure 4 - Sketch of the Salão Nobre in the Chamber of Deputies and artwork by Marianne Peretti.
Autor: Oscar Niemeyer. Década 70. Source: Author file.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA............................................................................................. 7
JUSTIFICATIVA .......................................................................................................................... 13
INTERIOR MODERNISTA:
COEXISTENCIA DE INTERVENÇÃO E PRESERVAÇÃO ........................................................ 13
MOBILIÁRIO PALACIANO:
O DESAFIO DO USO DO MOBILIÁRIO DESIGN E DE COMPOSIÇAO ................................... 16
OBRAS DE ARTE INTEGRADAS ............................................................................................... 17
OBJETIVOS ................................................................................................................................ 19
ETAPAS ......................................................................................................................................20
CRONOGRAMA .......................................................................................................................... 20
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................... 21
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INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA
O Congresso Nacional projetado por Oscar Niemeyer em 1957 é obra chave para entender esse
novo projeto modelado pelo risco modernista, mas, antes dele, o legislativo nacional encontra
lugar em contexto particular, em um Rio de Janeiro capital e em dois edifícios neoclássicos
(Câmara dos Deputados e Senado Federal) povoados por interiores em estilo correspondente.
Figura 5 - Plenário Câmara dos Deputados, Palácio Tiradentes, Rio de Janeiro. Fonte: SILVA, 2012.
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INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA
O CONGRESSO NACIONAL MODERNISTA
A nova capital, imaginada por Lúcio Costa no Planalto Central, conciliaria desde sua gênese
Câmara dos Deputados e Senado Federal em um único edifício, é o que revela o projeto
urbanístico vencedor do concurso de 1956 e respectivos croquis. Coube ao arquiteto carioca
Oscar Niemeyer a tarefa projetiva de atender ao programa legislativo.
Dezenas de estudos foram elaborados por Niemeyer para o inédito Palácio legislativo ao longo
de 1957 e, mesmo em fase construtiva, os ajustes necessários se sucederam, sobretudo pela
premente necessidade de áreas demandada pela comissão parlamentar que assistiu o arquiteto
neste percurso ensejando sua conclusão em 1960.
1 O Palácio do Congresso foi inaugurado em 21 abril de 1960 sem que a construção estivesse totalmente acabada e
os materiais não fossem os nobres definitivos que viram a caracterizar a edificação nas décadas seguintes.
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Figura 7 - Plenário Câmara dos Deputados década 60, Palácio Congresso Nacional, Brasília.
Fonte: Acervo Câmara dos Deputados.
Muito embora a área total do novo Palácio fosse, aproximadamente, três vezes a área original
somada de ambos os edifícios cariocas várias foram as intervenções no curso da década de 60
em diante, as quais resultaram no comprometimento do espaço interno descaracterizando,
sobremaneira, os grandes salões originais.
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INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA
O MOBILIÁRIO PALACIANO
Figura 8 - Hall do pavimento do Ministro com poltrona LC1 de Le Corbusier e demais peças
desenvolvidas por Oscar Niemeyer, inclusive a tapeçaria inspirada em Burle Marx. Fonte: Segre (2013)
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A primeira grande associação da arquitetura modernista e Estado encontra no Ministério da
Educação e Saúde2 (MES) da então capital carioca o território fértil para experimentações
diversas. O mobiliário, bem como as obras de artes, são disciplinas tratadas alinhadas ao
conjunto da obra. Pode-se supor que esse momento pregresso, e seus naturais desafios, tenham
lançado a necessidade de diretrizes compositivas, ou um olhar mais dedicado, para o trinômio
mobiliário - arte - espaço.
Coube à Niemeyer, membro mais jovem da equipe, desenvolver junto à uma comissão os
estudos para os móveis especiais do Ministério. Possivelmente, esta atividade de projeto de
mobiliário encontrará no Congresso Nacional3 condições ideais para a consolidação do arquiteto,
também, como designer, cuja parceria de sua filha Anna Maria será determinante no resultado
mobiliário como arte.
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O Ministério da Educação e Saúde Pública foi projetado por Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, Jorge Moreira, Carlos
Leão e Ernani Vasconcelos, sob coordenação de Lucio Costa e é conhecido, também por Palácio Capanema,
sobrenome de seu primeiro ministro e patrocinador.
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Os tapetes amebóides foram desenvolvidos por Oscar Niemeyer em uma associação direta com os jardins tropicais
que Burle Marx projetara para o MES, segundo SEGRE (2013). Esta, talvez, possa ser sua peça inaugural de
mobiliário de vocação pública.
4 Nas pranchas históricas tuteladas pela Coordenação de Arquitetura da Câmara dos Deputados nota-se no
carimbo técnico de várias das pranchas a sigla DUA.
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Figura 9 - Poltrona Paris. Autores: Oscar e Anna Maria Niemeyer. Década de 70. Fonte: Arquivo do Autor
Se desenho do mobiliário foi finamente desenhado, o mesmo podemos afirmar sobre sua
materialidade. O jacarandá, madeira nova brasileira que à época não possuía limitações no
Código Florestal, se apresentava como a escolha para revestimento das peças (cadeiras,
escrivaninhas, mesas, bares, sofás entre outros) e acabamentos internos do Congresso.
Interessante notar que a mesma tipologia foi adotada no revestimento das forrações de lambri
do Palácio moderno e, também, já haviam sido adotadas nos Palácios neoclássicos cariocas.
O mobiliário design, por seu turno, não foi o foco das preocupações na primeira década de
ocupação do Congresso, uma vez que o mobiliário complementar havia cumprido a função de
tornar a edificação operacional às tarefas legislativas nesta década de 60 e parte deste, como
poltronas e sofás, também contanto com desenho sob medida, ambientaram as áreas nobres. 5
5 Fato confirmado em processo de compras originais que serão apresentados na pesquisa e fotos do Acervo
Histórico da Câmara dos Deputados.
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INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA
TRANSFORMAÇÕES
Na década de 70, dada a urgência por mais área, o Palácio do Congresso sofre sua 1º grande
reforma com o acréscimo de mais um módulo estrutural em sua face voltada para a Praça dos
Três Poderes. Este acréscimo, dedicado às lideranças partidárias e conduzido por Niemeyer,
permitirá a requalificação do Salão Verde que, até então, encontrava-se fragmentado por várias
pequenas salas e, nesta oportunidade, o mobiliário design ocupará função protagonista na
dinâmica dos grandes Salões da década de 70 até os dias contemporâneos.
Criador fundamental da arquitetura moderna, e uma das obras de maior
visibilidade do mundo, Niemeyer teve papel determinante na trajetória do
móvel moderno brasileiro. (SANTOS, 2017. p. 102)
O então novo Salão Verde recupera a amplitude original e, em que pese a perda da vista da
Praça dos Três Poderes, convoca os maiores artistas e designers nacionais e internacionais para
a ambientação, entre eles: Athos Bulcão, Marianne Peretti, Di Cavalcanti, Alfredo Ceschiatti,
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Sérgio Rodrigues, bem como Le Corbusier e Mies van der Hohe estes últimos arquitetos
internacionais.
Se a Câmara dos Deputados permitia-se aventurar pelo frescor das novas criações do design
nacional, e os irradiava pelos Salões de uso compartilhado, como o Negro e Branco, o Senado
Federal apresenta postura própria, em grande medida derivada de seu espólio carioca.
Objetivando salvaguardar ao menos parte do acervo neoclássico, o Palácio modernista passaria
a acolher o acervo, como lustres, bustos, tapeçaria, mobiliário geral, parte do mobiliário do
Plenário (conhecido como Plenarinho) e obras de arte. 6
6 A maior parte deste acervo encontra-se no “Museu Histórico do Senado”, espaço contíguo ao Salão Negro na
fachada frontal oeste do Palácio.
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JUSTIFICATIVA
INTERIOR MODERNISTA: COEXISTENCIA DE INTERVENÇÃO E
PRESERVAÇÃO
Desde a fundação do Congresso modernista em Brasília na década de 60 notou-se a premência
pelo atendimento ao programa legislativo no que diz respeito ao espaço construído. Conforme
citado anteriormente Niemeyer adota, enquanto partido preliminar de projeto, área triplicada em
relação às sedes legislativas cariocas e, ainda assim, verificou-se sua insuficiência logo no início
de sua ocupação por parlamentares e corpo técnico.
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Cabe destacar que, ainda durante a década de 70, os Plenários sofreram a intervenção mais
significativa em relação aos aspectos materiais ao longo de cinco décadas. Nessa passagem
Oscar tem a oportunidade de dedica-los a atenção necessária que outrora, quando da saga
construtiva do edifício, não fora possível. Os materiais e soluções até então básicos dão lugar a
outros mais nobres como o aço, vidro e forrações em carpete de melhor qualidade, assim como
o luminotécnico. Destaque para a incorporação do painel em aço escovado de Alhos Bulcão em
ambos os Plenários.
JUSTIFICATIVA
O DESAFIO DO USO DO MOBILIÁRIO DESIGN E DE COMPOSIÇÃO
Figura 12 - Projeto de mobiliário. Poltrona Alta e Série Paris. Autores: Oscar e Anna Maria Niemeyer.
Fonte: Acervo Câmara dos Deputados
Aos aspectos espaciais soma-se o caráter utilitário e compositivo que o mobiliário palaciano está,
inafastavelmente, associado. Se os mobiliários complementares vocacionados ao uso comum
pereceram, e ou foram sucumbidos pela revolução tecnológica, as peças de mobiliário – design,
tais quais as obras de arte, as quais de fato nos parecem ser também, permanecem vívidas e
cada vez mais relevantes na historiografia do modernismo.
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JUSTIFICATIVA
OBRAS DE ARTE INTEGRADAS
Figura 13 - Projeto Muro Escultórico, Salão Verde, década 70. Fonte: Acervo Câmara dos Deputados.
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VINCULAÇÃO À LINHA DE PESQUISA
Pretende-se que este projeto seja alinhado à linha de pesquisa Patrimônio e Preservação uma
vez que tem como objeto de estudo dos interiores e os processos de transformação histórico-
espacial do Congresso Nacional.
Esta proposta vislumbra contribuir com as diversas iniciativas de pesquisa existentes sobre o
Congresso Modernista agora sob o prisma da espacialidade interna.
REFERENCIAL TEÓRICO
A historiografia modernista brasileira apresenta edifícios marco através dos quais novos
momentos são inaugurados ou então torna-se paradigmas de fases projetivas. Segundo Ficher
e Schlee (2021. p. 326) a primeira fase de Niemeyer (1934 a 1940) é marcada pelo exemplar
MES – Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro.
O Palácio Capanema figura nesta pesquisa com peça referencial para a experiência palaciana
do Congresso Nacional duas décadas a frente, seja por seu resultado arquitetônico per se, seja
pelo processo de criação considerando arte, mobiliário e paisagismo elementos compositivos
basilares. Aqui verifica-se a primeira experiência de Niemeyer no desenho de mobiliário, fato que
será revisitado, refinado e potencializado nos interiores do palácio legislativo de Brasília.
No campo do design de mobiliário a recente produção dedicada aos mestres nacionais, contando
com o mítico Sérgio Rodrigues entre seus principais expoentes, subsidiará este tópico. Athos
Bulcão, parceiro longevo e notório da geração modernista, será estudado juntamente com
Marianne Perreti na produção de obras de arte integradas à arquitetura.
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OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Este projeto de pesquisa objetiva qualificar e orientar os usos do mobiliário, da arte e dos espaços
nobres do Congresso Nacional através da análise dos interiores palacianos em seu percurso
historiográfico, percorrendo seus antecedentes e gênese na década de 60 até as grandes
transformações de 70 no recorte temporal.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Elaborar cronologia das transformações ocorridas nos espaços interiores (grandes salões,
plenários e espaços simbólicos) e diagramar em pranchas técnicas (plantas, cortes, vistas)
visando aspectos analítico – interpretativos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A ferramenta “linha cronológica”, que será adotada na pesquisa, configura-se como recurso de
método para encadear fatos históricos, esclarecendo-os no percurso construtivo, bem como
correlaciona este objeto de estudo frente aos acontecimentos biográficos dos atores envolvidos
e momentos históricos, sobretudo os políticos, da história nacional, cujos reflexos são impressos
de forma inconteste no espaço palaciano.
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ETAPA 1: PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Consiste na revisão bibliográfica específica e geral sobre o objeto, assim como validar o
planejamento geral da pesquisa, estabelecer contato com interlocutores e instituições que
possam colaborar com o desenvolvimento da pesquisa.
CRONOGRAMA
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BIBLIOGRAFIA
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Figura 14 - Poltrona Alta. Design: Oscar e Anna Maria Niemeyer. Década 70. Fonte: Arquivo do autor.
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