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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

PROJETO DE PESQUISA DE DISSERTAÇÃO

OS MÓVEIS, A ARTE E O ESPAÇO:


OS INTERIORES PALACIANOS DO CONGRESSO
NACIONAL (1957-1977)

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: TEORIA, HISTÓRIA E CRÍTICA


LINHA DE PESQUISA: PATRIMÔNIO E PRESERVAÇÃO

FÁBIO CHAMON MELO


ORIENTADORA DRA. SYLVIA FICHER

BRASÍLIA, JANEIRO DE 2023

1
RESUMO

Este projeto de pesquisa de dissertação tem como objeto os interiores


palacianos do Congresso Nacional, cujo percurso construtivo se inicia
em 1960, à luz do modernismo do arquiteto Oscar Niemeyer,
percorrendo seu histórico transformador durante a década de 70 e
vislumbrando, por fim, suas perspectivas de preservação enquanto bem
de caráter patrimonial a ser salvaguardado.

O Congresso Nacional protagonizou, protagoniza e assim permanecerá


sendo substância rica de pesquisas acadêmicas. Muito embora haja
interessante repertório já consolidado, significativamente elaborado por
seu próprio corpo técnico, nota se que ainda há lacunas a serem
vencidas no estudo de seus interiores. Por interiores entenda-se a
articulação da espacialidade interna do Palácio, sua materialidade, seu
mobiliário e obras de arte que, ao fim do processo projetivo, conformam
um todo único, indissociável.

Entre os palácios de Brasília, que possuem coleções de grande valia


para a historiografia moderna brasileira, a escolha pelo Congresso se
justifica por ser a obra institucional de maior acesso público de
Niemeyer em Brasília, inclusive sua predileta, conforme afirmou; pela
complexidade na justaposição de duas casas legislativas em um único
edifício e por conter mobiliários e obras de arte especialmente criadas
para a composição espacial por grandes mestres, consubstanciando
uma síntese única de saberes e, por que não, experimentações.

Figura 1 - Anjo. Alfredo Cechiatti,1977


Fonte: Arquivo do autor.

2
A produção deste conhecimento de modo metodologicamente
estruturado, enriquecida pelo acesso a fontes primarias
documentais dos arquivos do próprio Congresso, bem como de
outros notórios acervos, objetiva traçar sua história construtiva pela
articulação do trinômio: arquitetura, arte e mobiliário visando
qualificar a tutela destes bens interiores de modo a garantir sua
salvaguarda. Examinar os interiores do Congresso Nacional, no
percurso das duas décadas iniciais, é determinante para
compreender a transformação de um interior solene administrativo
em 1960 face ao interior palaciano que surgirá na década seguinte.
Nos anos 70, a partir da reinauguração interna, se alcança o
desejável requinte até então não empreendido nas feições internas.

Figuram como necessário objeto complementar de estudo os dois


principais anteprojetos não executados de Niemeyer, os interiores
pretéritos, de modo a cotejá-los com a solução que se
consubstanciaria ao longo dos anos seguintes. Interessam nesta
oportunidade os grandes salões nobres, os plenários, e espaços
políticos-representativos focando em recortes específicos de
grandes transformações, cuja resultante geral das duas décadas
inaugurais perdura até o momento. Perfilar em linha de pesquisa o
espaço arquitetônico, sua materialidade, móveis e arte fomentará
subsídios para o desenvolvimento de políticas de acautelamento de
modo a assegurar a preservação destes bens que nos foram
legados.

Palavras-chave: Congresso Nacional. Modernismo. Arquitetura.


Mobiliário. Arte

Figura 2 - Croqui do Salão Nobre na Câmara dos Deputados e obra de arte de Marianne Peretti.
Autor: Oscar Niemeyer. Década 70. Fonte: Acervo Câmara dos Deputados

3
ABSTRACT

This dissertation research project has as its object the palatial


interiors of the National Congress, whose constructive path
begins in 1960, in the light of the modernism of the architect Oscar
Niemeyer, traversing its transformative history during the 70s and
glimpsing, finally, its perspectives of preservation as a heritage
asset to be safeguarded.

The National Congress was, is, and will continue to be a rich


source of academic research. Although there is already an
interesting consolidated repertoire, significantly elaborated by its
own technical staff, it is noted that there are still gaps to be
overcome in the study of its interiors. By interiors, we mean the
articulation of the Palace's internal spatiality, its materiality, its
furniture and works of art that, at the end of the design process,
form a single, inseparable whole.

Among the palaces in Brasília, which have collections of great


value for modern Brazilian historiography, the choice by the
Congress is justified by being Niemeyer's most publicly
accessible institutional work in Brasília, including his favorite, as
he stated; for the complexity of the juxtaposition of two legislative
houses in a single building and for containing furniture and works
of art specially created for the spatial composition by great
masters, consubstantiating a unique synthesis of knowledge and,
why not, experiments.

Figure 3 - Anjo. Alfredo Cechiatti,1977


Source: Author file.

4
The production of this knowledge in a methodologically structured
way, enriched by access to primary documentary sources from the
archives of the Congress itself, as well as from other notorious
collections, aims to trace its constructive history through the
articulation of the trinomial: architecture, art and furniture, aiming to
qualify the protection of these assets interiors in order to guarantee
their safeguard. Examining the interiors of the National Congress,
over the course of the first two decades, is crucial to understanding
the transformation from a solemn administrative interior in 1960 to
the palatial interior that will emerge in the following decade. In the
1970s, after the internal re-inauguration, the desirable sophistication
not achieved in the internal features was achieved until then.

Niemeyer's two main unexecuted preliminary projects, the past


interiors, appear as a necessary complementary object of study, in
order to compare them with the solution that would materialize over
the following years. Of interest in this opportunity were the great
noble halls, the plenary sessions, and political-representative spaces
focusing on specific clippings of great transformations, whose
general result of the two inaugural decades lasts until the moment.
Profiling the architectural space, its materiality, furniture and art in a
line of research will encourage subsidies for the development of
precautionary policies in order to ensure the preservation of these
assets that were bequeathed to us.

Keywords: National Congress. Modernism. Architecture.


Furniture. Art

Figure 4 - Sketch of the Salão Nobre in the Chamber of Deputies and artwork by Marianne Peretti.
Autor: Oscar Niemeyer. Década 70. Source: Author file.

5
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA............................................................................................. 7

O CONGRESSO NACIONAL MODERNISTA ............................................................................... 8


O MOBILIÁRIO PALACIANO ...................................................................................................... 10
TRANSFORMAÇÕES ................................................................................................................. 13

JUSTIFICATIVA .......................................................................................................................... 13

INTERIOR MODERNISTA:
COEXISTENCIA DE INTERVENÇÃO E PRESERVAÇÃO ........................................................ 13
MOBILIÁRIO PALACIANO:
O DESAFIO DO USO DO MOBILIÁRIO DESIGN E DE COMPOSIÇAO ................................... 16
OBRAS DE ARTE INTEGRADAS ............................................................................................... 17

VINCULAÇÂO A LINHA DE PESQUISA ................................................................................... 18

REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................................... 18

OBJETIVOS ................................................................................................................................ 19

OBJETIVOS GERAIS .................................................................................................................. 19


OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................................... 19

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................................... 19

ETAPAS ......................................................................................................................................20

CRONOGRAMA .......................................................................................................................... 20

BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................... 21

6
INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA

O modernismo brasileiro encontra em sua nova capital Brasília na década de 60 terreno


adequado para criar a síntese de várias disciplinas determinantes para a construção de uma
nova nação e, paralelamente, de uma nova linguagem.

O Congresso Nacional projetado por Oscar Niemeyer em 1957 é obra chave para entender esse
novo projeto modelado pelo risco modernista, mas, antes dele, o legislativo nacional encontra
lugar em contexto particular, em um Rio de Janeiro capital e em dois edifícios neoclássicos
(Câmara dos Deputados e Senado Federal) povoados por interiores em estilo correspondente.

Com a abertura dos portos, em 1808, a vinda da Corte e da Missão


Francesa para o país…. O Brasil começou a receber móveis ingleses,
franceses e austríacos. (SANTOS, 2015, p. 31)

Figura 5 - Plenário Câmara dos Deputados, Palácio Tiradentes, Rio de Janeiro. Fonte: SILVA, 2012.

Câmara e Senado ocupavam na então capital carioca edificações próprias e independentes,


respectivamente Palácios Tiradentes e Monroe, este último lamentavelmente demolido em 1976.
Embora independentes fisicamente o estilo neoclássico caracterizava ambas externa e
internamente: grandes lustres, cortinados em veludo e mobiliário de raiz europeia.

7
INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA
O CONGRESSO NACIONAL MODERNISTA

A nova capital, imaginada por Lúcio Costa no Planalto Central, conciliaria desde sua gênese
Câmara dos Deputados e Senado Federal em um único edifício, é o que revela o projeto
urbanístico vencedor do concurso de 1956 e respectivos croquis. Coube ao arquiteto carioca
Oscar Niemeyer a tarefa projetiva de atender ao programa legislativo.

Dezenas de estudos foram elaborados por Niemeyer para o inédito Palácio legislativo ao longo
de 1957 e, mesmo em fase construtiva, os ajustes necessários se sucederam, sobretudo pela
premente necessidade de áreas demandada pela comissão parlamentar que assistiu o arquiteto
neste percurso ensejando sua conclusão em 1960.

Destas dezenas de estudos dois particularmente mais significativos assumirão destaque na


pesquisa uma vez que, possivelmente, revelam interseção do vocabulário de Niemeyer com os
demais Palácios. Tais soluções pretéritas, ou preteridas, são enriquecidas por croquis que
evidenciam, desde então, a importância do espaço interior, de seus móveis e obras de arte.

A monumentalidade requerida pelo projeto, e potencializada pelo urbanismo de Costa, traduziu-


se na solução final volumétrica, nos materiais de acabamento 1 e, na espacialidade interna dos
grandes salões solenes, cuja feição moderna evidencia-se nos amplos vãos, caixa externa
transparente em vidro e obras de arte integradas.

Figura 6- Croqui 1º anteprojeto para o Congresso Nacional. Fonte: SILVA, 2012.

1 O Palácio do Congresso foi inaugurado em 21 abril de 1960 sem que a construção estivesse totalmente acabada e
os materiais não fossem os nobres definitivos que viram a caracterizar a edificação nas décadas seguintes.

8
Figura 7 - Plenário Câmara dos Deputados década 60, Palácio Congresso Nacional, Brasília.
Fonte: Acervo Câmara dos Deputados.

“Internamente, o projeto procurava criar os grandes espaços livres que


devem caracterizar um palácio, para isso utilizando elementos
transparentes que evitem transformá-los em pequenas áreas. ” Oscar
Niemeyer, 1993 in SILVA, 2012

Num primeiro momento de inauguração e ocupação, a considerar o cronograma, vários aspectos


denotavam o ritmo expedito na construção pela incompletude das tarefas construtivas, sobretudo
nos interiores.
No plenário da Câmara, onde seria realizado o discurso de Juscelino
Kubitscheck, não havia sistema de som – a solução encontrada foi retirar
o sistema existente no Palácio Tiradentes e instalá-lo provisoriamente em
Brasília. (SILVA, 2021, p. 105)

Muito embora a área total do novo Palácio fosse, aproximadamente, três vezes a área original
somada de ambos os edifícios cariocas várias foram as intervenções no curso da década de 60
em diante, as quais resultaram no comprometimento do espaço interno descaracterizando,
sobremaneira, os grandes salões originais.

O mobiliário sempre povoou os croquis de Niemeyer no sentido de humanizar, criar escala e


caracterizar a espacialidade interna desde as versões de projeto não executadas. Entretanto,
somente com a grande reforma interna de 1970, motivada justamente pela descaracterização do
Salão Verde, é que o binômio mobiliário-arte encontrará lugar definitivo no Congresso Nacional.

9
INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA
O MOBILIÁRIO PALACIANO

Sem dúvidas, o MES foi o canteiro experimental da linguagem “ambiental”


inerente ao sistema administrativo do Estado brasileiro, que culminou na
reiterada aplicação do desenho moderno no conjunto ministerial de
Brasília. (SEGRE, 2013, p. 102.)

Figura 8 - Hall do pavimento do Ministro com poltrona LC1 de Le Corbusier e demais peças
desenvolvidas por Oscar Niemeyer, inclusive a tapeçaria inspirada em Burle Marx. Fonte: Segre (2013)

10
A primeira grande associação da arquitetura modernista e Estado encontra no Ministério da
Educação e Saúde2 (MES) da então capital carioca o território fértil para experimentações
diversas. O mobiliário, bem como as obras de artes, são disciplinas tratadas alinhadas ao
conjunto da obra. Pode-se supor que esse momento pregresso, e seus naturais desafios, tenham
lançado a necessidade de diretrizes compositivas, ou um olhar mais dedicado, para o trinômio
mobiliário - arte - espaço.

Coube à Niemeyer, membro mais jovem da equipe, desenvolver junto à uma comissão os
estudos para os móveis especiais do Ministério. Possivelmente, esta atividade de projeto de
mobiliário encontrará no Congresso Nacional3 condições ideais para a consolidação do arquiteto,
também, como designer, cuja parceria de sua filha Anna Maria será determinante no resultado
mobiliário como arte.

Em termos metodológicos é oportuno qualificar duas tipologias de móveis: os complementares


dedicados às funções legislativo administrativa, que servem sobretudo os espaços menores de
trabalho e o mobiliário design que, além de sua natureza utilitária, cumprem funções simbólicas
nos espaços de poder, mais especificamente nos grandes salões e plenários.

O mobiliário complementar caracterizou-se pelas maiores: variedade, volume e simplicidade de


desenho visando sua reprodução em maior escala, sendo os desenhos elaborados pela Diretoria
de Arquitetura e Urbanismo (DUA/NOVACAP), sempre, com a direção de Niemeyer. 4 Mesmo
em se tratando de mobiliário de vocação administrativa, portanto menos nobre, podendo via de
regra ser encomendado da indústria nacional, assumiu-se a tarefa de projeto dos mesmos o que
torna evidente o rigor e a reafirmação da linguagem moderna própria e palaciana. Segundo
SILVA (2012) a tarefa de fabricação coube aos fornecedores Móveis Pastore S.A. e Móveis
Teperman S.A..

Representantes desta tipologia de design original, ainda no momento contemporâneo, podem


ser encontradas nos espaços do Congresso sob várias condições de uso e manutenção, sejam
em espaços mais visibilidade, sejam em ambientes que cumprem funções meramente
administrativas.

2
O Ministério da Educação e Saúde Pública foi projetado por Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, Jorge Moreira, Carlos
Leão e Ernani Vasconcelos, sob coordenação de Lucio Costa e é conhecido, também por Palácio Capanema,
sobrenome de seu primeiro ministro e patrocinador.
3
Os tapetes amebóides foram desenvolvidos por Oscar Niemeyer em uma associação direta com os jardins tropicais
que Burle Marx projetara para o MES, segundo SEGRE (2013). Esta, talvez, possa ser sua peça inaugural de
mobiliário de vocação pública.

4 Nas pranchas históricas tuteladas pela Coordenação de Arquitetura da Câmara dos Deputados nota-se no
carimbo técnico de várias das pranchas a sigla DUA.

11
Figura 9 - Poltrona Paris. Autores: Oscar e Anna Maria Niemeyer. Década de 70. Fonte: Arquivo do Autor

Se desenho do mobiliário foi finamente desenhado, o mesmo podemos afirmar sobre sua
materialidade. O jacarandá, madeira nova brasileira que à época não possuía limitações no
Código Florestal, se apresentava como a escolha para revestimento das peças (cadeiras,
escrivaninhas, mesas, bares, sofás entre outros) e acabamentos internos do Congresso.
Interessante notar que a mesma tipologia foi adotada no revestimento das forrações de lambri
do Palácio moderno e, também, já haviam sido adotadas nos Palácios neoclássicos cariocas.

O mobiliário design, por seu turno, não foi o foco das preocupações na primeira década de
ocupação do Congresso, uma vez que o mobiliário complementar havia cumprido a função de
tornar a edificação operacional às tarefas legislativas nesta década de 60 e parte deste, como
poltronas e sofás, também contanto com desenho sob medida, ambientaram as áreas nobres. 5

5 Fato confirmado em processo de compras originais que serão apresentados na pesquisa e fotos do Acervo
Histórico da Câmara dos Deputados.

12
INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA
TRANSFORMAÇÕES

Na década de 70, dada a urgência por mais área, o Palácio do Congresso sofre sua 1º grande
reforma com o acréscimo de mais um módulo estrutural em sua face voltada para a Praça dos
Três Poderes. Este acréscimo, dedicado às lideranças partidárias e conduzido por Niemeyer,
permitirá a requalificação do Salão Verde que, até então, encontrava-se fragmentado por várias
pequenas salas e, nesta oportunidade, o mobiliário design ocupará função protagonista na
dinâmica dos grandes Salões da década de 70 até os dias contemporâneos.
Criador fundamental da arquitetura moderna, e uma das obras de maior
visibilidade do mundo, Niemeyer teve papel determinante na trajetória do
móvel moderno brasileiro. (SANTOS, 2017. p. 102)

Figura 10 - Croqui Oscar Niemeyer, Reforma Salão Verde, década 70.


Fonte: Acervo Câmara dos Deputados

O então novo Salão Verde recupera a amplitude original e, em que pese a perda da vista da
Praça dos Três Poderes, convoca os maiores artistas e designers nacionais e internacionais para
a ambientação, entre eles: Athos Bulcão, Marianne Peretti, Di Cavalcanti, Alfredo Ceschiatti,

13
Sérgio Rodrigues, bem como Le Corbusier e Mies van der Hohe estes últimos arquitetos
internacionais.

Se a Câmara dos Deputados permitia-se aventurar pelo frescor das novas criações do design
nacional, e os irradiava pelos Salões de uso compartilhado, como o Negro e Branco, o Senado
Federal apresenta postura própria, em grande medida derivada de seu espólio carioca.
Objetivando salvaguardar ao menos parte do acervo neoclássico, o Palácio modernista passaria
a acolher o acervo, como lustres, bustos, tapeçaria, mobiliário geral, parte do mobiliário do
Plenário (conhecido como Plenarinho) e obras de arte. 6

Trazendo ao momento contemporâneo, passadas cinco décadas desta intervenção


determinante, esse espaço interior continua a figurar como protagonista na cena palaciana sem
grandes intervenções significativas a despeito de todas as transformações legislativas,
comportamentais e tecnológicas.

Se por um lado essa permanência no tempo é meritória cabe-nos examinar o estado de


conservação deste singular acervo de design e artístico enquanto bens de edificação tombada,
haja vista as permanentes necessidades de transformações e a insuficiência de dados
estruturados, na arquitetura interior, que as oriente.

6 A maior parte deste acervo encontra-se no “Museu Histórico do Senado”, espaço contíguo ao Salão Negro na
fachada frontal oeste do Palácio.

14
JUSTIFICATIVA
INTERIOR MODERNISTA: COEXISTENCIA DE INTERVENÇÃO E
PRESERVAÇÃO
Desde a fundação do Congresso modernista em Brasília na década de 60 notou-se a premência
pelo atendimento ao programa legislativo no que diz respeito ao espaço construído. Conforme
citado anteriormente Niemeyer adota, enquanto partido preliminar de projeto, área triplicada em
relação às sedes legislativas cariocas e, ainda assim, verificou-se sua insuficiência logo no início
de sua ocupação por parlamentares e corpo técnico.

Os espaços interiores do Congresso Nacional, tanto os nobres quanto os de vocação político –


administrativa, traduziram e responderam questões transformadoras as quais precisam ser
interpretadas à luz de novas legislações versando sobre sustentabilidade, acessibilidade,
ergonomia e aspectos patrimoniais.
Nestes órgãos, a requalificação de espaços nobres e o resgate das
funções originalmente previstas têm sido obtidos a partir da liberação
de áreas anteriormente ocupadas, possibilitada pela construção dos
edifícios anexos.” (SILVA, SANCHES, 2012, p. 9)

Figura 11 - Planta de arquitetura com projeto de ambientação de mobiliário e obras de arte.


Projeto Oscar Niemeyer, Década 70. Fonte: Acervo Câmara dos Deputados

Interessa nesta oportunidade, em maior grau, a ampliação do Congresso Nacional na década de


70 uma vez que a mesma foi amplamente estudada por seu autor até a solução final que, tendo
em vista suas diretrizes e a força da solução, perdurará por cinco décadas sem alterações que
possam ser consideradas significativas no que diz respeito aos interiores dos grandes Salões e
Plenários, seja da Câmara, seja o do Senado.

15
Cabe destacar que, ainda durante a década de 70, os Plenários sofreram a intervenção mais
significativa em relação aos aspectos materiais ao longo de cinco décadas. Nessa passagem
Oscar tem a oportunidade de dedica-los a atenção necessária que outrora, quando da saga
construtiva do edifício, não fora possível. Os materiais e soluções até então básicos dão lugar a
outros mais nobres como o aço, vidro e forrações em carpete de melhor qualidade, assim como
o luminotécnico. Destaque para a incorporação do painel em aço escovado de Alhos Bulcão em
ambos os Plenários.

JUSTIFICATIVA
O DESAFIO DO USO DO MOBILIÁRIO DESIGN E DE COMPOSIÇÃO

Figura 12 - Projeto de mobiliário. Poltrona Alta e Série Paris. Autores: Oscar e Anna Maria Niemeyer.
Fonte: Acervo Câmara dos Deputados

A linguagem modernista palaciana contou com a espacialidade interna na reafirmação de


intenções de projeto e, neste sentido, verificamos que as cadeiras, poltronas, mesas, muitas
delas produzidas especialmente para o Congresso cumprem essa função de diálogo.
Metodologicamente as caracterizamos como mobiliário design, produzidos pelos grandes
mestres para os espaços de caráter mais simbólico e aquele complementar de usos ordinários,
mas igualmente produzido sob medida gerando linguagem funcional e coleções próprias.

Aos aspectos espaciais soma-se o caráter utilitário e compositivo que o mobiliário palaciano está,
inafastavelmente, associado. Se os mobiliários complementares vocacionados ao uso comum
pereceram, e ou foram sucumbidos pela revolução tecnológica, as peças de mobiliário – design,
tais quais as obras de arte, as quais de fato nos parecem ser também, permanecem vívidas e
cada vez mais relevantes na historiografia do modernismo.

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JUSTIFICATIVA
OBRAS DE ARTE INTEGRADAS

Analisar o interior modernista do Congresso em sua


completude e complexidade envolve compreender o
rico acervo de obras de arte, sobretudo aquelas
integradas à arquitetura. Painéis e murais formam uma
síntese do período modernista associando-se ao
espaço e, com este, confundindo-se.

Marianne Peretti e Athos Bulção são os expoentes


máximos desta disciplina e povoam, sem risco de erro,
todos os espaços nobres desta Casa. Nota-se,
portanto, que há uma estratégia projetiva delineada
para a aplicação da arte, que contou com o olhar e
supervisão do arquiteto autor atento ao resultado
integral do espaço interior.

Niemeyer que dominava seu fazer arquitetônico, seja o


objeto arquitetônico em si, sejam seus interiores,
reconhecia a importância de suas parcerias: “(...)
depois veio Brasília para lá seguimos. (...) E durante
muitos anos ali ficamos, e o Athos a colaborar e
enriquecer meus projetos” conforme aponta CABRAL
(2009).

Figura 13 - Projeto Muro Escultórico, Salão Verde, década 70. Fonte: Acervo Câmara dos Deputados.

17
VINCULAÇÃO À LINHA DE PESQUISA

Pretende-se que este projeto seja alinhado à linha de pesquisa Patrimônio e Preservação uma
vez que tem como objeto de estudo dos interiores e os processos de transformação histórico-
espacial do Congresso Nacional.

O arcabouço bibliográfico reforçará a estrutura analítica e crítica da dinâmica do objeto de


pesquisa, cujo espaço interior (grandes Salões, Plenários e locais representativos) carece de
abordagem metodológica própria e enfoque interdisciplinar, transitando entre perspectivas de
preservação, arquitetônicas e artísticas.

Esta proposta vislumbra contribuir com as diversas iniciativas de pesquisa existentes sobre o
Congresso Modernista agora sob o prisma da espacialidade interna.

REFERENCIAL TEÓRICO

Considerada a linha de pesquisa Patrimônio e Preservação temos como referencial teórico


material bibliográfico referente à historiografia da arquitetura moderna no Brasil, cujo
personagem central, também vinculado ao escopo, é a produção do arquiteto Oscar Niemeyer,
em cujo vocabulário associam-se obras de arte e mobiliário perfomando um todo único.

A historiografia modernista brasileira apresenta edifícios marco através dos quais novos
momentos são inaugurados ou então torna-se paradigmas de fases projetivas. Segundo Ficher
e Schlee (2021. p. 326) a primeira fase de Niemeyer (1934 a 1940) é marcada pelo exemplar
MES – Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro.

O Palácio Capanema figura nesta pesquisa com peça referencial para a experiência palaciana
do Congresso Nacional duas décadas a frente, seja por seu resultado arquitetônico per se, seja
pelo processo de criação considerando arte, mobiliário e paisagismo elementos compositivos
basilares. Aqui verifica-se a primeira experiência de Niemeyer no desenho de mobiliário, fato que
será revisitado, refinado e potencializado nos interiores do palácio legislativo de Brasília.

No campo do design de mobiliário a recente produção dedicada aos mestres nacionais, contando
com o mítico Sérgio Rodrigues entre seus principais expoentes, subsidiará este tópico. Athos
Bulcão, parceiro longevo e notório da geração modernista, será estudado juntamente com
Marianne Perreti na produção de obras de arte integradas à arquitetura.

18
OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Este projeto de pesquisa objetiva qualificar e orientar os usos do mobiliário, da arte e dos espaços
nobres do Congresso Nacional através da análise dos interiores palacianos em seu percurso
historiográfico, percorrendo seus antecedentes e gênese na década de 60 até as grandes
transformações de 70 no recorte temporal.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Elaborar cronologia das transformações ocorridas nos espaços interiores (grandes salões,
plenários e espaços simbólicos) e diagramar em pranchas técnicas (plantas, cortes, vistas)
visando aspectos analítico – interpretativos.

- Localizar, catalogar e quantificar o mobiliário de design da Câmara dos Deputados;

- Sistematizar conceitos e valores para permitir a elaboração de um plano de conservação e


manutenção do mobiliário de design do Congresso Nacional;

- Sistematizar conceitos e valores para permitir a elaboração de um plano de reuso do mobiliário


complementar dos espaços legislativo administrativo do Congresso Nacional, visando
proposição de diretrizes gerais;

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este plano de pesquisa delineia-se, metologicamente, como estudo de caso do Congresso


Nacional, cujo foco é singularidade dos espaços nobres interiores, em seu percurso histórico
desde sua gênese à fins da década de 70.

A ferramenta “linha cronológica”, que será adotada na pesquisa, configura-se como recurso de
método para encadear fatos históricos, esclarecendo-os no percurso construtivo, bem como
correlaciona este objeto de estudo frente aos acontecimentos biográficos dos atores envolvidos
e momentos históricos, sobretudo os políticos, da história nacional, cujos reflexos são impressos
de forma inconteste no espaço palaciano.

19
ETAPA 1: PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Consiste na revisão bibliográfica específica e geral sobre o objeto, assim como validar o
planejamento geral da pesquisa, estabelecer contato com interlocutores e instituições que
possam colaborar com o desenvolvimento da pesquisa.

ETAPA 2: PESQUISA DOCUMENTAL

Realizar levantamento de dados, projetos de arquitetura e mobiliários referentes ao percurso


histórico proposto e suas transformações. Estes dados fundamentais serão consultados, em sua
maior parte, em fontes primárias nos arquivos do Congresso Nacional e Arquivo Público de
Brasília.

ETAPA 3: PESQUISA DE CAMPO

Mapeamento do mobiliário design e obras de arte integradas do Congresso, nos aspectos


localização e estado de conservação. Realização de entrevistas com os agentes partícipes dos
processos de transformação do Palácio do Congresso.

ETAPA 4: SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS


Etapa dedicada à sistematização dos dados compilados e respectivo início de interpretação de
recortes específicos.

ETAPA 5: CONSOLIDAÇÃO DISSERTAÇÃO


Etapa discursiva da pesquisa objetivando interpretação - associação global e elaboração da
dissertação

ETAPA 6: REVISÕES GERAIS E PREPARAÇÃO DEFESA


Etapa de revisões gerais do conteúdo elaborado e preparação para defesa e diagramações
correlatas.

CRONOGRAMA

20
BIBLIOGRAFIA

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