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A produção de uma arquitetura símbolo, de uma estreita relação de poder tem origens
condição de racionalidade na obra, otimização de materiais, mão de
no high-tech: a
obra e, sobretudo tempo de produção passam a ter um peso único no processo de
geração da arquitetura. O estilo high-tech, no início, desumanizava a arquitetura,
aproximando-a das relações com a máquina, atualmente a questão ambiental começou a
ser encarada como um retorno às ligações humanas: a obra agora deveria se
relacionar com o contexto, com o entorno, com a cultura, tirando partido disso tudo
de forma consciente. A busca pelo elo fundamental nessa evolução arquitetônica
conduz a uma linguagem cada vez mais universal onde as obras se expõem no cenário
internacional cada qual com sua identidade.
A extração dos aspectos relativos a Nouméia principalmente no que diz respeito aos
povos kanaks se dão de forma clara quando analisamos a implantação da obra e a
comparamos com a configuração primitiva dos clãs onde esses se organizavam de
acordo com uma hierarquia funcional. O desenvolvimento da implantação do projeto
linearmente permitiu a organização das dez “casas” ao longo de uma alameda que
conecta todo o complexo. Com o objetivo de proporcionar um caminho coerente com a
tradição onde a atmosfera natural perfizesse uma réplica da original, foi
estabelecida a essas casas uma hierarquia funcional que se soma ao percurso
efetuado pelo visitante fora do edifício.
Esquema de Implantação
Caroline Sacchetto
Para o formato das “casas” apesar do discurso utilizado pela equipe de Renzo
referir-se a um estudo das choças tradicionais, pouco se percebe tal relação, além
de tudo, o apelo nessa parcela da obra pelos elementos estruturais pretendendo
explorar condições ambientais favoráveis no projeto, afasta ainda mais a idéia de
correlação cultural, se revelando apenas enquanto essência no emprego
reinterpretado da técnica de tramadas muito utilizada por essa cultura em suas
construções e seu artesanato. O emprego dessa tipologia desenvolve de forma sutil
por meio das estruturas das “casas”.
Nesse sentido, as relações culturais aqui expressas não anulam nem amortecem os
efeitos de soberania da arquitetura tecnológica de Renzo Piano, ao contrário, são
responsáveis justamente por um feedback negativo: a forma como se deu o concurso,
processo e construção do Centro Cultural, exprime a soberania não apenas da cultura
européia como berço da equipe técnica, mas particularmente do governo francês, onde
a construção do C.C.T. é vista como “uma obra de boas intenções do Estado francês”
(7). A obra, que faz alusão à cultura kanak, sob uma óptica ainda mais rígida da
arquitetura de alta tecnologia, quer instruí-la como formas de procedimentos
através da técnica, dos materiais, da pré-fabricação e do arrojo estrutural
empregado pela equipe de Renzo em Nouméia. A sensação de poder é transmitida ao
observador através da escala da obra, assim como pela forma resultante da aplicação
de uma tecnologia fruto do acúmulo de conhecimento.
notas
MONTANER, Josep Maria. As formas do século XX. Barcelona, Gustavo Gili, 2002.
OLIVEIRA, Ana Rosa de. “Centro Cultural Jean Marie Tjibaou em Nouméa. Renzo Piano e a
construção de um símbolo da civilização kanak”. Arquitextos, São Paulo, 06.063, Vitruvius,
set 2005 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/431>.
Idem.
Idem.
7
MORTAIGNE, Véronique. “O Centro Tjibaou e a Complexidade Caledoniana”.
<http://www.vivercidades.org.br/publique222/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from_info_index=25
&infoid=920&sid=5>
bibliografia complementar
BUCHANAN, Peter. Renzo Piano Building Workshop – complete works. Phaidon Press Limited,
1993, v. 1-4.
CEREBANO, Ron. Noumea Center Focuses on Kanak Cultura. Canberra Times, 1998
KASARHÉROU, Emmanuel; et al. Guide to the Plants of the Kanak Path. Noumea, Centre
Culturel Tjibaou/ Ngan Jila. Agence de Développement de la Culture Kanak, 1998.
MONTANER, Josep Maria. Después del Movimiento Moderno: Arquitectura en la segunda mitad
Barcelona, Gustavo Gili, 1993.
del siglo XX.
MURPHY, Berenice. Centre Cultural Tjibaou – A Museum and Arts Centre redefining New
Caledonia’s Cultural
Future, p. 85.
<www.anu.edu.au/hrc/publications/hr/issue1_2002/download/Murphy.pdf>
NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica 1965-95. São
Paulo, Cosac Naify, 2006.
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