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Inteligência Artificial, novas tecnologias e novas profissões

Prof. Renato Cividini Matthiesen

Introdução

“O maior perigo da inteligência artificial é, de longe, as pessoas concluírem


demasiado cedo que a compreendem”. Leonhard (2018, p. 17)

Ao iniciar nossos estudos sobre o desenvolvimento tecnológico e


questões de direitos humanos e privacidade, deixo aqui um breve relato de
Candeas (2018, p. 41-42) sobre a ideia de construção de robôs desde tempos
remotos:

“A ideia de construção e robôs já existia desde a


Antiguidade. Hefesto, deus grego da tecnologia, que
fabricava todos os aparatos dos deuses – o capacete e as
sandálias de Hermes, a carruagem de Hélio, o arco e flecha
de Eros, a armadura de Aquiles e a égide, escuto de Zeus
– também fez os primeiros robôs. Eram servos mecânicos,
humanoides de bronze”. Leibniz, filósofo alemão, já
imaginava no final do século XVII uma máquina de pensar
a partir de uma supermáquina de calcular. Nos séculos
seguintes, surgiram autômatos de madeira, cerâmica e
bronze que se moviam com perfeição de relógios para
diversão em parques e museus – muitas vezes,
sincronizado com músicas. Na primeira metade do século
XIX, o matemático inglês Charles Babbage fabricou a
máquina analítica. Sua intenção era construir um aparelho
inteligente capaz de simular o raciocínio humano.

Os robôs ingressaram no mundo produtivo e na arte da


guerra. As máquinas incorporaram os avanços da
eletrônica e da mecânica, sempre com respostas
rigidamente pré-programadas. Então veio a inteligência
artificial.”

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Inteligência humana e Inteligência Artificial

O termo “Inteligência Artificial” (IA) foi usado pela primeira vez como título
de um evento que ocorreu em 1956 nos Estados Unidos, o Dartmouth Summer
Research Project, sobre inteligência artificial, que contou com o apoio da
Fundação Rockefeller onde um grupo de 10 cientistas trabalhou junto por quase
dois meses e obteve resultados de investidores. Segundo Silva et al (2001), a
proposta era encontrar meios para fazer com que as máquinas usassem a
linguagem e abstrações de forma e de conceito e resolvessem alguns problemas
comuns aos humanos.

Importante neste contexto também definir o que se chama de algoritmo.


De acordo com Machado Segundo (2023), algoritmos são instruções em
linguagem que podem ser compiladas ou interpretadas, e que têm rotinas para
executar uma determinada tarefa. Os algoritmos partem de um modelo, ou de
uma imagem do mundo ao seu redor, onde interpretam dados de entrada (inputs)
em dados de saída (outputs).

A Inteligência Artificial vem sendo objeto de desenvolvimento de novos


sistemas de informação nos últimos anos de forma mais acelerada. Atores como
Isaac Asimov e Arthur Clarck dentre outros inspiraram obras literárias e
cinematográficas de ficção científica, que parcialmente vem se tornando
tecnologias utilizadas na sociedade em geral. Esta tecnologia é considerada
como uma das mais audaciosas e inspiradoras junto ao ser humano, demostrada
pelo seu fascínio desde a época em que pode começar a se expressar através
da ficção científica nos anos 1920. Diversos filmes como: Metrópolis (1927),
2001: umas odisseias no espaço (1968), O homem bicentenário (1999)
Inteligência Artificial (2001), Eu robô (2004), já havia diversas abordagens do
tema, levando a reflexão de sua potencialidade e também dos seus perigos. Mais
recentemente outros filmes vêm tratando o tema de forma mais específica,
dentro do contexto de análise de dados como: Moneyball (2011), Her (2013) O
círculo (2017), Privacidade Haqueada (2019) e O dilema das redes (2020).
De forma mais específica, Invasão de Privacidade (1993), A firma (1993), O

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Juiz (1995), Minority Report – a nova lei (2002) consideram a tecnologia
futurista (ou futurista na época em que fora gravado) e liberam a imaginação
para conceber novos formatos de gestão da área do direito, dos direitos
humanos e da privacidade das pessoas. Em todos eles a análise de dados e a
informatização dos sistemas são considerados como novos modelos de
operações de negócios e disrupção tecnológica.

Figura 1 – Filmes que exploram a análise de dados e a inteligência artificial

Fonte: adaptado de Wikimedia Commons e Google Imagens

No passado, o processamento de dados, a análise de dados e os


sistemas de suporte a decisões gerenciais eram baseados apenas nas análises
de dados descritivas. Esses sistemas faziam a análise de dados utilizando-se de
extração de dados de bases de dados locais, sua apresentação em tabelas e
gráficos após tratamento estatístico, considerando apenas o passado, ou seja,
ações já realizadas e descritas em sistemas de informação. No presente e futuro,
aplicativos e sistemas de software fazem a chamada análise de dados preditiva
através de algoritmos e sistemas de mineração de dados, mineração de texto e
mineração na Web para compor análise e projeções precisas de eventos futuros
e resultados finais, conforme sustentam Sharda, Delen e Turban (2019).
Perceba, caro leitor, que em processos mais complexos e evolutivos, a análise

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de dados prescritiva nos sistemas de Business Intelligence busca as melhores
decisões e ações empresariais possíveis, baseado em otimização, simulação,
modelos de decisão e sistemas especialistas, que farão uso ainda mais intenso
de tecnologias de Inteligência Artificial e também de Machine Learning.

Luger (2013, p. 1) define a Inteligência Artificial (IA) como “o ramo da


ciência da computação que se ocupa da automação do comportamento
inteligente”. Esta definição busca enfatizar que a IA faz parte da ciência da
computação e deve ser baseada em princípios teóricos desta área que incluem
as estruturas de dados usadas na representação do conhecimento, os
algoritmos para aplicar esse conhecimento e as linguagens e técnicas de
programação usadas em sua implementação.

Conforme define Lee e Qiufan (2022, p. 9):

“Inteligência Artificial (IA) é uma combinação de software


e hardware capaz de executar tarefas que normalmente
exigiram a inteligência humana. A IA é o esclarecimento
do processo de aprendizado humano, a qualificação do
processo de pensamento humano, a explicação do
comportamento humano e a compreensão do que torna a
inteligência possível. É o passo final da humanidade na
jornada para entendermos a nós mesmos.”

Leonhard (2019) nos chama a atenção para um novo momento da


humanidade, em que uma nova revolução industrial, se é que ainda podemos
usar este termo, está rapidamente se constituindo, e deverá ter a Inteligência
Artificial como sua principal tecnologia expoente. Kurzweil (2018) traz o relato do
Dr Ray Kurzweil, diretor de engenharia do Google e cofundadores da Singularity
University nos EUA, que prevê que os computadores deverão ultrapassar a
capacidade computacional de um cérebro humano no ano de 2025 e, mais
interessante ainda, reflete que, observando a evolução da capacidade
computacional exponencial, por volta de 2045 à 2050, um único computador

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deverá ainda ter a capacidade computacional superior a todos os cérebros
da humanidade juntos. Intrigante isso não?

Russel e Norvig (2021) concluem que parece provável que um sucesso


em grande escala da IA com a criação de inteligência, em nível humano e em
nível superior, poderia mudar a vida de grande parte da espécie humana. Os
sistemas de IA poderiam então representar uma ameaça mais dieta à autonomia,
a liberdade e até mesmo a sobrevivência humana, o que não nos permite apenas
nos distanciar da IA e suas consequências éticas. Lembremo-nos que Cruz
(2019) também relaciona a Inteligência Artificial como um importante e
promissora tecnologia emergente para novas aplicações tanto
operacionais como gerenciais em sistemas de informação.

Por fim, Leonhard (2018, p. 33) nos lembra que “a tecnologia, por mais
máquina que seja, é simplesmente uma ferramenta que usamos para atingir
um fim: a tecnologia não é o que procuramos, mas como procuramos! ”

Referências Bibliográficas

CANDEAS, Alessandro. (2018). Hybris: inteligência artificial e a revanche do


inconsciente. Barueri, SP: Novo século Editora.

CASTELLS, Manuel (2003). A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet,


os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar.

CRUZ, Tadeu. (2019). Sistemas de Informações Gerenciais & Operacionais:


tecnologias da informação e as organizações do século XXI. 5. ed. São Paulo:
Atlas.

KURZWEIL, Ray. (2018). A singularidade está próxima: quando os humanos


transcendem a biologia. São Paulo: Itaú Cultural – Iluminuras.

LEE, Kai-Fu; QIUFAN, Chen (2022). 2041: como a inteligência artificial vai mudar
sua vida nas próximas décadas. 1. ed. Rio de Janeiro: Globo Livros.

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LEONHARD, Gerd. (2018). Tecnologia versus Humanidade: o confronto entre
a máquina e o homem. Lisboa: Gradiva Publicações.

LUGER, George, F. (2013). Inteligência Artificial, 6. ed. São Paulo: Pearson


Educacional do Brasil.

MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. (2023). Direito e inteligência artificial:


o que os algoritmos têm a ensinar sobre interpretação, valores e justiça.
Indaiatuba, SP: Editora Foco.

RUSSEL, S.; NORVIG, P. (2021). Inteligência Artificial. Rio de Janeiro: LTC.

SHARDA, R.; DELEN, D.; TURBAN, E. (2019). Business Intelligence e análise


de dados para gestão do negócio. 4. ed. Porto Alegre: Bookman.

SILVA, L. S. H. T. et al (2021). Direito digital. Porto Alegre: SAGAH.

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