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20.5.2022
O AMOR
VENCEU O
ÓDIO
7
“UM CÉU
ESTRELADO DO
NORDESTE, COM
LUA, COM DIREITO
A TUDO QUE
ELA DESEJOU. A
GENTE FICA FELIZ
EM RECEBER
UM TRABALHO.
É MUITO
GRATIFICANTE
FAZER PARTE
DESSE MOMENTO
TÃO ESPECIAL
DESSE SONHO
DE JANJA E O
PRESIDENTE
LULA”
VALDINEIDE,
BORDADEIRA DE
TIMBAÚBA DOS
BATISTAS, CIDADE
DA REGIÃO DE
SERIDÓ, NO
RIO GRANDE DO
NORTE
/ Editorial
4 | O que Musk veio fazer no Brasil?,
por Renato Rovai
/ Capa
O AMOR VENCEU O ÓDIO
6 | por Dri Delorenzo
edição #7
/ Política
14 | Colunista superfatura bebidas
para tachar casamento de Lula de
conteúdo |
/ Eleições 2022
25 | Entrevista Edinho Silva, por Mauro Lopes
33 | A treta entre Ciro e Duvivier
/ Educação
37 | Homeschooling, por Diego Moreira
/ Literatura
46 | O chão de Guimarães Rosa, por Tanael
Cesar Cotrim
/ Global
55 | A “teoria da grande substituição”
/ Meio ambiente
59 | O mundo só tem chance com outro
paradigma civilizatório, por Leonardo Boff
67 / Expediente
EDITORIAL
Renato Rovai
Lula e Janja
O amor
venceu o
ódio
por Dri Delorenzo
fotos Ricardo Stuckert
“
V
ou casar agora no mês de maio para
dizer ao povo brasileiro: eu confio tanto
no Brasil, que aos 76 anos de idade eu
vou casar. Porque eu amo a pessoa que eu vou
casar e porque eu amo meu país. E sobretudo
porque eu amo esse povo, porque esse povo é
responsável por tudo o que aconteceu na minha
vida.” Assim o ex-presidente Lula confirmou
que casaria com a socióloga Rosângela Silva,
a Janja, em 7 de abril deste ano em entrevista
à rádio Jangadeiro BandNews, de Fortaleza
(CE). Nesta mesma data, há quatro anos Lula
era preso em São Bernardo do Campo (SP).
Após se entregar, foi levado a Curitiba, onde
permaneceu por 580 dias preso. Depois de
tanto sofrimento, com uma prisão injusta,
perdas de seu neto Arthur, aos 7 anos, e de
seu irmão Vavá, Lula, favorito para ganhar
as eleições, chega a 2022 exalando amor,
enquanto seus adversários políticos destilam
ódio e preconceito.
Católico, Lula escolheu o padre dom
Angélico Sândalo Bernardino, bispo-emérito de
Blumenau (SC), amigo há quase cinco décadas,
para abençoar a união numa cerimônia para
cerca de 150 convidados na quarta-feira (18),
numa noite fria em São Paulo. Na lista seleta,
políticos como Geraldo Alckmin, Fernando
“Ninguém mais
feliz que eu e
você. Hoje é dia
de celebrar o
nosso amor. Que
o vento venha
nos abençoar
e carregar todo
mal para longe
de nós!” - Janja
Opinião
Colunista superfatura
bebidas para tachar
casamento de Lula
de “ostentação”
por Cynara Menezes
O
preconceito de classe da mídia
comercial contra Lula é algo que
acompanha sua trajetória desde
que surgiu no sindicalismo, na década de
1970. A língua presa, o português simples
do metalúrgico, migrante nordestino, sempre
foram usados para tentar atingi-lo, assim
como a apreciação de uma boa cachaça.
Eleito duas vezes presidente, ainda hoje o
petista é alvo de classismo – e sua festa de
casamento com Janja, programada para
quarta-feira, 18 de maio, está servindo de
pretexto para destilarem mais preconceito.
No sábado (14), o colunista especializado
em fofocas de celebridades Leo Dias, do portal
Metrópoles, soltou o título em letras garrafais:
“Ostentação! Saiba quanto Lula investiu em
bebidas para seu casamento”. O texto, copiado
e colado por outros veículos, como a IstoÉ
Dinheiro, diz ter “descoberto” todas as bebidas
que serão servidas na celebração, que acontece
no “sofisticado espaço Grupo Bisutti” (adjetivo do
colunista). Só que os preços das bebidas citadas
estão superfaturados em até o dobro do valor da
garrafa, e a matéria ainda omite as promoções
de quando se compra em caixas de 6 ou 12
unidades, como acontece em eventos assim.
Leo Dias nem sequer especifica que o
champanhe brut Cave Geisse, que segundo ele
será servido no casório, é nacional, produzido
pela família homônima em Pinto Bandeira, no
Rio Grande do Sul. A garrafa custa 135 reais na
própria loja da fábrica, mas o colunista preferiu
citar que pode custar “entre 135 e 800 reais”,
sendo que o preço mais alto equivale a uma
garrafa de uma safra especial, de 2012. A caixa
com 6 garrafas sai ainda mais barata, por 112
reais a garrafa em sites especializados.
O mesmo acontece com o vinho branco
Foto Reprodução
Leo Dias, colunista especializado em fofocas de celebridades
A
juíza Patricia de Almeida Gomes
Bergonse, da 5ª Vara de Fazenda Pública
de Curitiba, suspendeu, na quinta-feira
(19), o processo de cassação do mandato do
vereador Renato Freitas (PT). A decisão da
magistrada acata o pedido do vereador, que
tem sido vítima de uma escalada de ofensas
racistas e perseguições por outros vereadores.
Bergonse também determinou à Câmara
que faça sindicância para apurar a origem do
e-mail disparado pelo endereço do também
vereador Sidnei Toaldo (Patriota) com o seguinte
recado: “A Câmara de vereadores de Curitiba
não é seu lugar, Renato. Volta para a senzala”
e “Vamos branquear Curitiba e a região Sul,
queira você ou não, seu negrinho”.
“Verifico a existência de indícios da
probabilidade do direito postulado, no que diz
respeito ao e-mail recebido pelo autor, em data
de 9 de maio próximo passado, em tese enviado
do e-mail funcional do Relator do procedimento,
Vereador Sidnei Toaldo (objeto de abertura de
Sindicância pela Casa de Leis. Referido e-mail...
[sic] apontaria parcialidade e interesse do Relator,
além de conter injúrias raciais, circunstâncias que
se vieram a ser apuradas verdadeiras, poderão
levar ao afastamento do Relator e nulidade
procedimental”, escreveu a magistrada. “Isso
porque, a Comissão Parlamentar Processante
que tem por objetivo o julgamento de um
de seus pares, deve ser órgão imparcial”,
complementou.
Para Renato Freitas (PT), a liminar foi um
recado de que há limites legais, constitucionais
e também democráticos aos procedimentos da
Câmara Municipal de Curitiba.
Foto Reprodução
“Volta para a senzala”: e-mail foi disparado pelo endereço do vereador Sidnei
Toaldo (Patriota), relator do processo de cassação de Freitas
“A MOVIMENTAÇÃO CONTRA O
RACISMO É LEGITIMA, FUNDAMENTA-SE
NO EVANGELHO E SEMPRE ENCONTRARÁ
O RESPALDO DA IGREJA. PERCEBE-SE
NA MILITÂNCIA DO VEREADOR O ANSEIO
POR JUSTIÇA EM FAVOR DAQUELES QUE
HISTORICAMENTE SOFREM DISCRIMINAÇÃO
EM NOSSO PAÍS. A CAUSA É NOBRE E
MERECE RESPEITO”
Eleições 2022
Foto Reprodução
Edinho Silva
“Alckmin terá
destaque na
comunicação da
campanha de
Lula”
Em entrevista ao jornalista Mauro Lopes no
Fórum Café na sexta-feira (20), Edinho também
afirmou que “Lula não irá bater boca com
Bolsonaro e não iremos dar prioridade às fake
news do bolsonarismo”
por Mauro Lopes
O
prefeito de Araraquara, Edinho Silva,
foi “disputado” pelo ex-presidente Lula
e seu ex-ministro Fernando Haddad.
Lula ganhou a disputa e Edinho é agora o
coordenador de comunicação da campanha
presidencial. Para substituir Edinho como
coordenador-geral de sua campanha ao
governo de São Paulo, Haddad convidou o
deputado estadual Emídio de Souza.
Edinho Silva concedeu entrevista ao
jornalista Mauro Lopes no Fórum Café
na sexta-feira (20), pouco antes de reunir-
se, virtualmente, com os responsáveis pela
comunicação dos principais movimentos sociais
do país. Ele participou do encontro estando
em Araraquara, pois não deixará a prefeitura
da cidade para cuidar da comunicação da
campanha, tendo como parceiro o deputado
federal Rui Falcão (PT-SP).
O prefeito apresentou pela primeira vez os
quatro pontos centrais da comunicação da
campanha. Duas novidades: o candidato a vice,
Geraldo Alckmin, terá enorme destaque nas
peças e comunicação da campanha; e as fake
news bolsonaristas não serão prioridade para a
comunicação - será um tema para os advogados.
Além disso, ele revelou o cronograma de
encontros que a nova coordenação da campanha
Foto Reprodução
Lula toma posse em 2003. Uma das estratégias de comunicação da
campanha é apelar à memória das pessoas sobre o tempo dos governos
do PT, especialmente os de Lula
A TRETA ENTRE
CIRO E DUVIVIER
Ciro parte para ataques pessoais contra
Duvivier após o comediante dedicar uma
edição do Greg News ao presidenciável
por Plinio Teodoro
E
m live na noite de terça-feira (17),
chamada “React do Cirão”, Ciro Gomes
(PDT) partiu para ataques pessoais
contra o ator Gregório Duvivier, que virou alvo
após dedicar uma edição de seu programa,
o Greg News, ao presidenciável pedetista,
que classificou o perfil como “depreciativo e
completamente distorcido”.
Buscando um tom de humor, Ciro disse que
Duvivier sofre de “síndrome de Zelensky”, em
relação ao humorista Vlodymyr Zelenski, que
tornou-se presidente da Ucrânia e se envolveu
“Tem gente
que pensa que
ser baixinho e
comediante como
Zelensky basta para
ser estadista”
Ciro Gomes
Foto FG Trade
Homeschooling e a
desvalorização da
educação pública
brasileira
E
m acordo político com o centrão, o
presidente pressionou para acelerar a
pauta e submeter a votação do Projeto
de Lei 3179/2012. Como de costume, o
presidente da Câmara dos Deputados, mais
uma vez, obedeceu às ordens do Planalto.
Por que esse projeto de lei é tão prejudicial à
educação brasileira? O que há por trás dos
movimentos que pressionam pela aprovação
do PL e por que é uma pauta que ataca
diretamente a sociedade?
A educação familiar não é um projeto
inédito da atual gestão federal, uma vez que
pequenos grupos organizados em associações
de baixa densidade popular reivindicam a
regulamentação da atividade das famílias na
educação dos filhos. Segundo o site da ANED
(Associação Nacional de Educação Familiar),
a busca por regulamentação iniciou-se em
2010 com um grupo de pais insatisfeitos com
a escola, que decidiu retirar os filhos e os
manterem fora da instituição escolar, ao arrepio
das leis. Atualmente são 7.500 famílias que
defendem essa pauta.
O Projeto de Lei é uma verdadeira
desconexão com a realidade educacional
brasileira e vai na contramão das principais
pesquisas sobre os problemas ou propostas
de melhorias da educação pública conduzidas
por órgãos governamentais ou mesmo por
instituições do terceiro setor.
O Brasil possui aproximadamente 46,7
milhões de estudantes matriculados na
Educação Básica, entre redes públicas e
privadas. Segundo informações do IBGE, o
Brasil tem 11 milhões de analfabetos, o que
Foto Reprodução
É preciso defender que a escola é lugar de vivenciar experiências, é lugar para
socialização e para o convívio de diferentes opiniões e perspectivas de mundo
O CHÃO DE
GUIMARÃES
ROSA
por Tanael Cesar Cotrim
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Global
Supremacista branco
em ato nos EUA
Foto Vox/Reprodução
A “teoria
da grande
substituição”
Tese racista motivou atirador dos EUA e
é um amontoado de bobagens e teorias
conspiratórias que vem fazendo a cabeça de
grupos reacionários em vários países, sob a
alegação de que os brancos serão extintos
por Henrique Rodrigues
P
ayton S. Gendron, de 18 anos, se
armou com dois fuzis automáticos e
uma espingarda, saiu de sua casa, na
pequena cidade de Conklin, no Estado de
Nova York, no último sábado (14), e dirigiu
até Buffalo, onde disparou a esmo num
Foto AP/Reprodução
Payton S. Gendron, de 18 anos, matou dez pessoas e feriu três em um
supermercado de Bufallo, EUA, motivado pela “teoria da grande substituição”
O mundo só tem
chance se houver
outro paradigma
civilizatório
V
ou direto ao ponto: dentro do atual
paradigma civilizatório, da modernidade,
é possível outra Agenda ou tocamos nos
seus limites intransponíveis e temos que buscar
um outro paradigma civilizatório se quisermos
continuar ainda viver sobre este planeta?
Minha resposta se inspira em três afirmações
de grande autoridade.
A primeira é da Carta da Terra, assumida
pela Unesco em 2003. Sua frase de abertura
assume tons apocalípticos: ”Estamos diante de
um momento crítico da história da Terra, numa
época em que a humanidade deve escolher
o seu futuro... A nossa escolha é: ou formar
uma aliança global para cuidar da Terra e uns
dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a
destruição da diversidade da vida” [Preâmbulo].
A segunda afirmação severa é do Papa
Francisco na encíclica Fratelli tutti (2020):
“Estamos no mesmo barco, ninguém se salva
por si mesmo, ou nos salvamos todos ou
ninguém se salva” [n.32].
A terceira afirmação é do grande historiador
Eric Hobsbawn em sua conhecida obra A era
dos extremos (1994) em sua frase final: “Não
sabemos para onde estamos indo. Contudo,
uma coisa é certa. Se a humanidade quer
ter um futuro aceitável, não pode ser pelo
prolongamento do passado ou do presente.
Se tentarmos construir o terceiro milênio nessa
base, vamos fracassar. E o preço do fracasso,
ou seja, a alternativa para a mudança da
sociedade é a escuridão” [p.562].
Em outras palavras: o nosso modo de
habitar a Terra, que inegáveis vantagens
nos trouxe, chegou ao seu esgotamento.
Todos os semáforos entraram no vermelho.
Construímos o princípio da autodestruição,
podendo exterminar toda a vida com armas
químicas, biológicas e nucleares por múltiplas
formas diferentes. A tecnociência que nos fez
chegar aos limites extremos de suportabilidade
do planeta Terra (The Earth Overshoot) não
tem condições, por si só, como o mostrou o
Covid-19, de nos salvar. Podemos limar os
dentes do lobo pensando que lhe tiramos,
ilusoriamente, sua voracidade. Mas esta não
reside nos dentes mas em sua natureza.
expediente | edição #7
Diretor de Redação
_ Renato Rovai
Editora executiva
_ Dri Delorenzo
Designer
_ Marcos Guinoza
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