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Luana Henrichsen1
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí, RS, Brasil
https://orcid.org/0000-0003-0522-5666, http://lattes.cnpq.br/2945562218270302
Viviane Roncaglio2
Rede Básica de Ensino do Município de Três de Maio, Três de Maio, RS, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-1202-0987, http://lattes.cnpq.br/2792715517763185
Analice Marchezan3
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha, Santa Rosa, RS, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-9967-0201, http://lattes.cnpq.br/2921731859638943
Resumo: Esta escrita tem por objetivo analisar as apreensões de licenciandos em Matemática ao serem
desafiados a planejar atividades na disciplina de Geometria Analítica, com vistas às especificidades de
alunos PcD (Cegos ou surdos) incluídos em sala de aula regular. O estudo está ancorado em um referencial
teórico sobre as leis de inclusão, os desafios dos professores com a inclusão de alunos PcD em sala de
aula regular e o olhar sensível destes professores com o processo de inclusão. A análise dos dados foi
realizada de forma qualitativa, dados estes produzidos a partir da apresentação das atividades propostas
pelos futuros professores, em que foi realizada a transcrições dos relatos dos licenciandos que se
colocaram no lugar destes alunos incluídos, e dos grupos que propuseram estas atividades. Foi possível
verificar através dos feedbacks dos futuros professores, indícios de insegurança e medo em virtude da falta
de preparação durante a trajetória acadêmica, ou seja, dos poucos componentes curriculares voltados à
área inclusiva. Ademais, pode-se perceber que esses profissionais em formação buscam pela empatia ao
se colocarem no lugar dos alunos incluídos e se mostram dispostos a encarar este grande desafio que é a
inclusão no ensino regular. Os licenciandos sentiram-se instigados a desenvolverem o pensamento crítico e
isso fez com que os mesmos se integrassem mais às práticas inclusivas, fazendo com que nosso objetivo
fosse além do que almejávamos.
Palavras-chave: Formação de Professores; Matemática; Inclusão; Aluno Surdo; Aluno Cego.
1
Currículo sucinto: Licenciada em Matemática pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
(IFRS), Especialista em Ensino, Linguagens e suas Tecnologias pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Sul (IFRS), Mestre em Modelagem Matemática pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
(UNIJUÍ), Doutoranda do Programa de Educação nas Ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul (UNIJUÍ). Docente da Rede Básica de Ensino do Município de Ibirubá, RS. Contribuição de autoria: Administração do Projeto,
Análise Formal, Conceituação, Curadoria de Dados, Escrita – Primeira Redação, Escrita – Revisão e Edição, Investigação,
Metodologia, Obtenção de Financiamento, Recursos, Software, Supervisão, Validação e Visualização. Contato:
luanabehnenh@gmail.com.
2
Currículo sucinto: Licenciada em Matemática pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ),
Especialista em Matemática, Mídias Digitais e Didática pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mestre em
Educação nas Ciências (área de concentração: Matemática) pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
(UNIJUÍ), Doutora em Educação nas Ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).
Docente da Rede Básica de Ensino do Município de Três de Maio, RS Contribuição de autoria: Escrita – Revisão e Edição. Contato:
roncaglioviviane@gmail.com.
3
Currículo sucinto: Licenciada em Matemática pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Especialista em Estatística e
Modelagem Quantitativa pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM). Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha. Contribuição de
autoria: Escrita – Revisão e Edição. Contato: analice.marchezan@iffarroupilha.edu.br.
Abstract: This writing aims to analyze the apprehensions of undergraduates in Mathematics when they are
challenged to plan activities in the discipline of Analytical Geometry with a view to the specificities of PwD
students (blind or deaf) included in regular classrooms. The study is anchored in a theoretical framework
about the laws of inclusion, the challenges of teachers with the inclusion of PwD students in regular
classrooms and the sensitive look of these teachers with the inclusion process. Data analysis was performed
qualitatively, data produced from the presentation of activities proposed by future teachers, in which
transcripts of the reports of undergraduates who put themselves in the place of these included students and
the groups that proposed these activities were carried out. It was possible to verify, through the feedbacks of
future teachers, signs of insecurity and fear due to the lack of preparation during the academic trajectory,
that is, the few curricular components aimed at the inclusive area. In addition, it can be seen that they seek
empathy by putting themselves in the place of the included students and are willing to face this great
challenge that is inclusion in regular education. The undergraduates felt encouraged to develop critical
thinking and this made them more integrated with inclusive practices, making our goal go beyond what we
wanted.
Keywords: Teacher Training; Math; Inclusion; Deaf Student; Blind Student.
Resumen: Este escrito tiene como objetivo analizar las aprensiones de los estudiantes de licenciatura en
Matemáticas cuando son desafiados a planificar actividades en la disciplina de Geometría Analítica con
vistas a las especificidades de los estudiantes com discapacidades (ciegos o sordos) incluidos en las aulas
regulares. El estudio se ancla en un marco teórico sobre las leyes de la inclusión, los desafíos de los
docentes con la inclusión de los alunos discapacitados en las aulas regulares y la mirada sensible de estos
docentes hacia el proceso de inclusión. El análisis de datos se realizó de forma cualitativa, com los datos
producidos a partir de la presentación de actividades planteadas por los futuros professores. A partir de
essas actividades se realizaron transcripciones, de los relatos de los estudiantes de grado que se pusieron
en el lugar de los estudiantes descapacitados e incluidos y, además,se pusieron en el lugar de los grupos
que plantearon las actividades. Se pudo verificar, por medio de las retroalimentaciones de los futuros
docentes, signos de inseguridad y miedo por la falta de preparación durante la trayectoria académica, o sea,
por haber pocos componentes curriculares dirigidos al área inclusiva. Además, se puede apreciar que
buscan la empatía poniéndose en el lugar de los alumnos incluidos y están dispuestos a afrontar este gran
reto que es la inclusión en la educación regular. Los estudiantes se sintieron motivados a desarrollar el
pensamiento crítico y eso los hizo sentirse más integrados com las prácticas inclusivas, haciendo que
nuestra meta fuera más allá de lo que queríamos.
Palabras clave: Formación de Profesores; Matemáticas; Inclusión; Estudiante Sordo; Estudiante Ciego.
Data de submissão: 29 de março de 2022.
Data de aprovação: 24 de outubro de 2022.
1. Introdução
professores na área da inclusão, e de futuros professores que não estão sendo preparados
suficientemente para essa nova realidade.
Ao compartilhar suas experiências e anseios, professores de Matemática já atuantes na
educação básica, apresentam dificuldades e sentem-se pouco preparados em oferecer métodos e
estratégias de ensino eficazes para as turmas, ou seja, em propor atividades que permitam que
todos os estudantes tenham as mesmas condições de aprender e participar de todas as
atividades sugeridas (ANTUNES; GLAT, 2011; TEIXEIRA; VIANNA, 2020).
Essas turmas devem ser caracterizadas em diferentes níveis de conhecimento e ritmo de
aprendizagem, o que vai desencadear na identificação de potencialidades e fragilidades. Mas
essa caracterização não é encarada como uma prática fácil pelos professores, principalmente
quando se trata de alunos com deficiência.
Observa-se, portanto, desequilíbrios na esfera escolar. Há a tentativa da inclusão dos
alunos com deficiência e uma comunidade escolar pouco preparada para receber esses alunos,
para que de fato ocorra a inclusão (SOUZA; CUNHA, 2019). Estudos apontam que um dos meios
de equilibrar esta situação é preparando futuros professores para essa nova realidade que
encontrarão em sala de aula.
A formação de professores de Matemática, seja na educação básica ou no ensino superior,
é um campo que ainda merece atenção por parte dos gestores da educação. Várias pesquisas
recentes têm mostrado suas fragilidades e indicado possíveis caminhos para o enfrentamento
deste problema, como um redimensionamento da prática pedagógica, aderindo a uma
metodologia interdisciplinar, flexível e lúdica, isto é, práticas inclusivas (SANTOS et al., 2020, p.
67).
Em meio a este cenário, definimos como objetivo deste trabalho analisar as apreensões de
licenciandos em Matemática ao serem desafiados a planejar atividades na disciplina de Geometria
Analítica, com vistas às especificidades de alunos PcD (cegos ou surdos) incluídos em sala de
aula regular.
Apesar da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que ampara os alunos
com deficiência, a terem acesso à escola regular, percebe-se que esses direitos nem sempre
estão sendo exercidos da forma como previsto em lei. Um dos fatores, como citado anteriormente,
é a falta de profissionais capacitados/qualificados e, dentre os mais importantes, está o papel do
professor que deveria também receber uma formação adequada e contínua na área.
A Libras, na maioria dos cursos, tem por objetivo a familiarização com a língua e não
engloba questões relacionadas à educação de pessoas com outras deficiências, o que acaba
defasando o conhecimento destes futuros professores que por vezes, por opções diversas,
acabam não fazendo as disciplinas não obrigatórias na área da inclusão.
Neste referencial, detemo-nos apenas a duas deficiências, as quais foram o foco do estudo
em questão: alunos surdos e alunos cegos inseridos em sala de aula regular.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017) propõe que os alunos sejam
capazes de resolver problemas em diferentes cenários, utilizando instrumentos da Matemática
para aplicar conceitos e procedimentos para obter soluções e saber interpretá-las. Ao analisar
esse trecho, questiona-se: como ensinar Matemática ao aluno surdo, considerando estas
competências e habilidades?
Ao saber que em sua sala de aula o professor terá um aluno surdo, o primeiro passo é o
conhecimento de metodologias e materiais que possam ser úteis na explicação e concretização
do conteúdo. Lobato (2013, p. 7), em seu artigo “O aluno surdo e o ensino de matemática:
desafios e perspectivas na escola regular de ensino em Natal, RN”, destaca que para iniciar o
trabalho de ensinar o aluno surdo, é necessário também fazer uma avaliação diagnóstica e, com
isso, buscar autores que possam auxiliar, entre eles, matemáticos e educadores.
Além disso, Constance Kamii, psicóloga e doutora em educação e psicologia, em seu livro
“A criança e o número”, explica que o conhecimento que toda criança adquire está totalmente
voltado ao ato de construir relações entre o meio em que ela vive:
Uma vez que o conhecimento lógico-matemático é construído pelo fato das
crianças colocarem as coisas em relação, não é surpreendente que aquelas que
põem objetos numa espécie de relação também o façam em muitos outros tipos
de relações (2012, p. 39).
Com o aluno surdo, o único fator que o difere das demais crianças é a comunicação, pois
passa pelos mesmos processos de construção de conhecimentos. Oliveira (2005, p. 62) explica:
“O surdo desenvolve potencialidades psicoculturais próprias. A limitação auditiva acarreta a
necessidade de aquisição de um sistema linguístico próprio”. Logo, o surdo se difere apenas na
forma com a qual se comunica.
Cukierkorn (1996), em seu livro, cita que a aprendizagem matemática é aprendida com
maior facilidade devido à linguagem matemática ser estruturalmente mais semelhante à Libras do
que ao português.
Isto é pelo fato do ensino da matemática, tanto para ouvintes quanto para surdos,
ter como um dos objetivos a apreensão de uma forma de linguagem (a linguagem
matemática formalizada), e pelo fato desta ter em confronto com a linguagem oral
(ou mesmo gestual), uma maior precisão na sua ‘gramática’, permite que esta
área obtenha resultados mais satisfatórios (CUKIERKORN, 1996, p. 109).
Portanto, é possível verificar que para se trabalhar com um aluno surdo inserido em sala
de aula é necessário criar metodologias adequadas às suas condições, trabalhar com cores,
texturas e objetos que chamem sua atenção. Conhecer o espaço que se tem para uma aula e
trabalhar em conjunto com o intérprete, o qual pode ser um grande aliado na construção da
aprendizagem do aluno. Além disso, promover atividades em que o aluno surdo possa interagir e
participar de atividades práticas sem que precise ser feita uma adaptação, ajuda no processo da
verdadeira inclusão.
A inclusão do aluno cego também é garantida por lei, assim como as demais deficiências.
O grande contraponto é que quando se trata do processo de formação de futuros professores, não
há uma disciplina obrigatória assim como a Libras, que permite um maior conhecimento para com
a realidade de um aluno surdo. Logo, o fato de se ter um aluno cego em sala de aula pode ser um
desafio ainda maior.
Ressalta-se que estratégias de ensino, aprendizagem e atendimento pedagógico
adequados são essenciais para a educação inclusiva de um aluno com deficiência (SOUZA;
CUNHA, 2019). Com alunos cegos, não é diferente. Precisam ser estimulados desde cedo no que
diz respeito à exploração do sistema háptico, que nada mais é do que o tato ativo ou em
movimento, através de atividades lúdicas, brinquedos e brincadeiras. Necessitam desenvolver um
conjunto de habilidades táteis e de conceitos básicos.
Assim como o aluno surdo tem a Libras para lhe auxiliar, o aluno cego tem ao seu alcance
o sistema de escrita ou leitura em Braille. Mas, para que este sistema seja eficaz, é necessário
que o tato, a destreza tátil e a coordenação bi manual sejam bem desenvolvidos. Logo, a
estimulação multissensorial desperta na criança a presença de sensações, o que promove a
informação por partes do seu corpo.
Quando se pensa em estratégias pedagógicas para o ensino e aprendizagem de um aluno
cego na disciplina de Matemática, é importante que o professor tenha conhecimento de materiais
que possam auxiliar nesse processo. Abreu (2013), em sua dissertação de mestrado intitulada “O
ensino de matemática para alunos com deficiência visual”, explica que:
Os alunos cegos devem ser estimulados desde cedo no que diz respeito à
exploração do sistema háptico (o tato ativo ou em movimento) através de
atividades lúdicas, do brinquedo e de brincadeiras. Eles devem desenvolver um
conjunto de habilidades táteis e de conceitos básicos que tem a ver com o corpo
em movimento, com orientação espacial, coordenação motora, sentido de direção
etc. Tudo isto é importante para qualquer criança (ABREU, 2013, p. 39).
Ainda, segundo a autora, o uso do Braille, reglete, sorobã, material dourado, geoplano e o
multiplano são excelentes recursos para a finalidade de ensinar a Matemática. Nesse sentido,
ressalta-se o quanto é importante os futuros professores e/ou já atuantes, terem o mínimo de
conhecimento sobre as deficiências e os recursos disponíveis para ensinar. É importante destacar
o que trazem os autores Healy, Ferronato e Souza:
[...] não há informações suficientes sobre o processo cognitivo dos alunos com
deficiências e nem a metodologia, ou intervenção adequada para conduzir esse
processo, sendo necessário selecionar, adaptar e utilizar recursos para
“desenvolver suas habilidades perceptivas” e para “construir estratégias de
conhecimento a fim de desenvolver o processo cognitivo desses sujeitos” (HEALY;
FERRONATO; SOUZA, 2007, p. 2).
Portanto, a disciplina de Matemática, assim como as demais, precisa buscar estratégias e
recursos para contribuir com a inclusão dos alunos com deficiência, e o uso de estratégias de
ensino que trabalhem os conceitos de forma lúdica e com material concreto, quando possível, são
fundamentais para que os alunos possam desenvolver suas habilidades e capacidade de
abstração de conceitos matemáticos e, ao mesmo tempo, se sintam incluídos e sujeitos ativos
participantes das aulas.
Esse é um compromisso que deve ser assumido por todas as instituições formadoras, por
todos os docentes que estão formando outros docentes e por todo o sistema educacional, através
das políticas públicas, como afirma Freitas (2006):
Uma boa formação teórico prática, básica e comum a todos, independentemente
da clientela para a qual ensinarão no futuro, lhes garantirá uma leitura crítica não
só da educação e das propostas de mudanças neste campo, mas também uma
consciência clara das determinações sociais, políticas e econômicas nelas
presentes. Isso significa, por exemplo, saber analisar e criticar propostas oficiais
ou institucionais da educação – a fim de reconhecer sua pertinência, ou não, às
condições históricas existentes (FREITAS, 2006, p. 171).
Com base nestes anseios e observações é que esse trabalho é construído com o objetivo
de apresentar as apreensões de licenciandos em Matemática ao serem desafiados a planejar
atividades na disciplina de Geometria Analítica, com vistas às especificidades de alunos PcD
(cegos ou surdos) incluídos em sala de aula, e de promover a reflexão e o pensamento crítico em
relação à inclusão.
3. Procedimentos metodológicos
4. Resultados e discussão
4.1. Atividades elaboradas para trabalhar com aluno cego incluído em sala de aula
4.1.1. Cochichódromo
O grupo I apresentou a atividade “cochichódromo”, onde justificaram ser uma boa atividade
para poder incluir o aluno cego por se tratar de usar a audição, um dos sentidos mais aguçados,
depois do tátil, para conseguir fazer a atividade. Para entender melhor, trazemos o funcionamento
do cochichódromo no Quadro 1:
venda e fazer toda a atividade vendados. Ao final, seriam convidados para dar sua opinião sobre o
funcionamento da atividade e se de fato conseguiriam ter subsídios para realizar a mesma.
Os participantes da atividade deveriam “cochichar” algum conceito de Geometria Analítica
em um dos refletores e quem estava no outro deveria reproduzir em voz alta, e assim
sucessivamente, até que todos participassem.
Após a atividade houve o momento de reflexão sobre a prática, e os alunos que usaram a
venda, os quais chamaremos de alunos A e B, fizeram as seguintes considerações:
Aluno A: Em um primeiro momento eu fiquei assustada e com a sensação de
estar perdida, claro que o aluno cego já está acostumado com o “não enxergar”.
Me senti perdida tendo que ser conduzida pelos colegas, mas, quando chegou a
hora da atividade, mesmo “sem enxergar”, eu consegui participar e fazer o que foi
proposto. Podia interagir com os colegas e assim percebi que a inclusão é
possível, mas precisa ser muito bem pensada. Como futura professora, isso me
remeteu à palavra empatia, a qual será necessário ter, não só com o aluno
incluído, mas com todos.
Aluno B: Eu concordo com o que a colega disse, e para a complementar, acho
que é um grande desafio a questão da inclusão, porque nem sempre o professor
vai conseguir concretizar tudo. Fiquei bem pensativo sobre isso e ao mesmo
tempo com medo de não dar conta se chegar a minha vez. Outra coisa que me
preocupa é: quantas disciplinas vamos ter na licenciatura voltados para a inclusão?
(Feedbacks dos dois alunos que usaram a venda durante a atividade do
cochichódromo, 2019).
Um dos integrantes ficou responsável em fazer a fala final do grupo e expor o feedback em
relação ao planejamento, à preparação e aplicação da atividade:
Aluno C: Um dos integrantes do nosso grupo já tinha trabalhado com o
cochichódromo em um determinado momento, então ele logo sugeriu a ideia.
Mesmo tendo um norte para a atividade, nos sentimos com receio que não fosse
dar certo. Acho que esse trabalho nos fez refletir muito sobre o que nos espera
pela frente. No final, nossa atividade deu certo, mas e se não desse? (Feedback
do grupo da atividade do cochichódromo representado pelo aluno C, 2019).
Realizada a primeira etapa, agora caberia ao aluno que tinha a venda nos olhos, ou seja, o
aluno “cego” passar a mesma para seu colega de dupla e inverter os papéis. Após a troca, foi
realizada mais uma rodada de marcação de pontos e conferência da mesma forma.
O grupo justificou a escolha da atividade como um ponto inicial para o estudo de
metodologias e materiais concretos a serem utilizados na Geometria Analítica, e um passo para
aperfeiçoar o trabalho quando fosse estudado, por exemplo, o plano 3D.
Como realizado no trabalho anterior, houve o momento de reflexão sobre a prática e
aleatoriamente os alunos poderiam falar sobre suas experiências. Foram selecionadas duas falas,
dos alunos D e E:
Aluno D: Eu nunca me imaginei na situação de ser um aluno cego, quando
coloquei a venda tive um pânico de pensar como as coisas se tornam difíceis
quando não enxergamos.
Aluno E: E eu completo o que o colega disse; nunca imaginei que a minha futura
profissão de professor, ia muito além de preparar a aula, de dar aula. Depois
dessa experiência eu percebi o quanto pode ser desafiador ser professor.
(Feedbacks de dois alunos que expuseram suas experiências na atividade Plano
Cartesiano, 2019).
4.2. Atividades elaboradas para trabalhar com aluno surdo incluído em sala de aula
regular
O grupo III apresentou uma dinâmica de revisão de ponto, reta e cônicas, partindo do
pressuposto que a turma que aplicaria já tivesse estudado o conteúdo em si, e a atividade seria
uma revisão para a prova. Outro ponto importante, ressaltado pelo grupo, é que o aluno surdo
teria domínio da sua L1, ou seja, sua língua materna, Libras, e sua L2, o Português. Houve a
distribuição de protetores de ouvido para um integrante de cada grupo, e solicitado que os demais
falassem mais baixo que o habitual para conseguir atingir o objetivo dos alunos, de se colocarem
no lugar de alunos surdos.
Como realizado nos trabalhos com alunos cegos, os alunos que participaram da atividade
compartilharam suas reflexões a partir da vivência. Destaca-se a fala do aluno G:
Aluno G: Eu sempre me perguntei como seria esse incluir. Quem é o responsável,
quem ia organizar, quem poderia ensinar para os professores o que fazer em cada
caso. Mas tô percebendo que tem muitas coisas que vamos ter que aprender por
conta, por mais que a vontade de incluir seja interessante, vivemos em um país
que tem pouca estrutura para manter uma escola dita tradicional, como vão querer
incluir alunos que precisam de profissionais capacitados, escolas bem
estruturadas [...] confesso que me sinto meio incapaz, mesmo estando no começo
do curso de matemática, sei que são poucos os componentes para mim sanar
minhas preocupações. (Feedback do aluno G que participou da atividade Revisão
de ponto, reta e cônicas com boliche, 2019).
O grupo 3, aproveitando a fala do colega acima, expôs sua opinião enquanto grupo,
representado pelo aluno H:
Aluno H: Pensar na atividade foi um quebra cabeça. Ideias não faltavam no grupo,
mas no momento que íamos pra parte da inclusão, tínhamos que voltar e pensar
“Opa, aqui o aluno surdo não vai conseguir interagir”, aí voltamos para a estaca
zero. Até que entendemos como adaptar. Tinha a colega I, que tinha uma prima
surda, aí ela nos ensinou alguns sinais para a gente saber o mínimo de Libras. E
como grupo, a gente acha que a inclusão, que já está acontecendo, foi legal mas
ao mesmo tempo precipitado, porque concordamos com os outros grupos que não
estamos preparados para isso. (Feedback do grupo 3: Revisão de ponto, reta e
cônicas com boliche representado pelo aluno H, 2019).
disso, trabalhamos conceitos da função quadrática, sendo eles: as raízes da função (x’ e x”),
concavidade (+a ou -a) e o y do vértice (-Δ /4a).
Os alunos J e L foram convidados aleatoriamente para falar sobre a atividade dos colegas:
Aluno J: Eu acho que a música atrapalhou um pouco minha concentração, porque
quando pensamos no aluno surdo propriamente dito, ele está concentrado naquilo
que está fazendo.
Aluno L: Gostei da atividade porque a partir do que já tinha sido falado em outras
oportunidades, o aluno surdo precisa visualizar o que tem que ser feito, e entender
a trajetória do foguete como uma aplicação da parábola foi muito legal. Eu adorei
essa atividade.
(Feedbacks dos alunos J e L que participaram da atividade Lançamento do
Foguete, 2019).
Destaca-se a fala do aluno G, o qual foi mais a fundo em sua reflexão trazendo um
pensamento crítico em relação a todo sistema de ensino, e não apenas a sua responsabilidade
como futuro professor. Silva e Moreira discorrem sobre a enfraquecida escola brasileira:
[...] em nosso país, a inclusão que se almeja ocorrerá em um contexto de uma
escola deficitária e em muitos casos “falida”, porque a escola brasileira, seja ela
pública ou privada, não está preparada para lidar com professores que não foram
formados para lidar com a diversidade, seja a de alunos com grandes dificuldades
de aprendizagem devido a deficiências sensoriais, intelectuais, psicológicas e/ou
motoras, sem contar as socioeconômicas e culturais (SILVA; MOREIRA, 2008, p.
2655).
5. Considerações finais
Referências
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