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Aprendizagem da Matemática
#CURRÍCULO LATTES#
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0213-8276
CV: http://lattes.cnpq.br/9100194702432442
#CURRÍCULO LATTES#
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4807-3642
CV: http://lattes.cnpq.br/2991516738579826
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA
Plano de Estudo:
• O surgimento da linguagem matemática como produção humana
• A formação do pensamento matemático no processo de ensino e aprendizagem
escolar
• Aprender matemática não é um bicho de sete cabeças
Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar as necessidades históricas que motivaram a produção
da matemática pela humanidade e sua função social.
• Compreender como ocorre o processo de apropriação dos conceitos matemáticos
e suas implicações na formação da consciência humana.
• Estabelecer a importância da matemática no processo de ensino e aprendizagem
escolar como uma ferramenta do pensamento.
INTRODUÇÃO
Disponível em:
http://www.matematica.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/5/407homemdascavernas.jpg.
Acesso em: 22 mar.2021.
O que vem à sua mente quando pensa na palavra matemática? Para a maioria
das pessoas a matemática está relacionada a números ou registros de cálculos e
fórmulas complexas que podem preencher páginas escritas para alcançar o resultado
que, muitas vezes, não é exato, mas relativo ou proporcional.
No Dicionário Etimológico (2021), a palavra matemática deriva do grego
“matemathike”, que significa a arte ou técnica de explicar os números e as formas
geométricas. Já em Houaiss e Villar (2009, p. 492), os autores afirmam que
matemática é a “ciência que estuda objetos abstratos (números, figuras e funções) e
as relações existentes entre eles”.
A partir desses conceitos gerais, percebemos que os números fazem parte da
matemática, sendo esta compreendida como ciência ou como instrumento utilizado
para quantificar algo ou medir as diferentes situações do nosso dia a dia.
Você sabia que foram séculos de descobertas para a construção desses
conceitos? Tais conceitos foram sendo constituídos por homens que passaram a sua
vida
[...] criando meios para suprir suas necessidades básicas, que vão
desde a sua sobrevivência aos modos mais avançados de
organização laboral. Isso significa que foram muitos anos de
transformação social para que a ideia de matemática, compreendida
hoje cientificamente, superasse o plano empírico para o abstrato, isto
é, nos primórdios, a matemática se assentava nas experiências do
cotidiano das civilizações, as quais motivaram os povos a produzir
uma linguagem que pudesse comunicar sobre a quantificação das
coisas, do espaço e das formas (FERRO, 2016, p. 19).
Ifrah (1981) postula que as ideias matemáticas não nascem com os homens,
mas neles são constituídas no decorrer da história do desenvolvimento das
sociedades, ou seja, a linguagem matemática que hoje conhecemos, percorreu
diferentes caminhos até alcançar os avanços mais complexos do pensamento
matemático nos homens.
De acordo com o autor, em relação ao conhecimento dos números, existe um
marco “zero”, pois, no passado, a relação do ser humano com os números era direta,
ou seja, os números eram apenas sentido e levou séculos na história dos homens
vivendo em sociedade para se tornarem uma faculdade abstrata de contar como parte
da inteligência humana.
Nessa direção, Leontiev (1972, p. 284) explica:
Isso nos mostra que a produção dos conhecimentos matemáticos não segue
uma ordem cronológica de acontecimentos dos fatos e descobertas, mas se faz no
decorrer do desenvolvimento histórico e social dos homens. Assim como outros
conhecimentos implícitos nas mais diversas ciências, os conceitos matemáticos se
constituem por avanços e recuos em diferentes condições de vida dos homens. E
quais foram estas condições que resultou no aparecimento dos primeiros vestígios da
matemática?
Não pretendemos aqui discorrer, na íntegra, todos os fatos ou conceitos
matemáticos produzidos, mas aqueles que revelam as necessidades que motivaram
os homens a criarem formas cada vez mais elaboradas para entenderem os mistérios
da natureza e fazer dela sua aliada para resolver os problemas da vida cotidiana.
Sautoy (2013) relata que a matemática surgiu a partir das necessidades de os
homens controlarem os fenômenos da natureza, compreendendo as sequências e os
padrões que formam o mundo natural, como, por exemplo: por que o dia vira noite?
Por que uns dias são quentes e outros frios? Por que os animais migram de uma
região a outra? Foram essas e tantas outras constantes transformações (visíveis ou
não aos olhos), das paisagens e de outros fenômenos da natureza, que fez a
humanidade buscar meios de compreender o mundo à sua volta.
No ano 6.000 a.C., quando o homem deixa de ser nômade e passa a fixar-se
em uma região, precisa produzir parte do seu próprio alimento, então, surge a
necessidade do grupo desenvolver técnicas de agricultura, obrigando-o a entender os
padrões da natureza e criar meios de organizar a vida coletiva. Para isso, tiveram que
encontrar formas de medir os espaços (moradia e plantação), controlar os estoques
da colheita, fazer trocas etc. (SAUTOY, 2013).
Foi a partir desses conceitos básicos de espaço e quantidade que os homens
primitivos começaram a desenvolver as noções de distância entre ele e sua presa ou
predador; ao perceber as vantagens e desvantagens numérica do seu bando em
relação a outros para lutar ou não por território; decidir se deveria correr ou parar para
abater a refeição e matar a fome; reconhecer se tinha pouco, muito ou nada de alguma
coisa. Assim, a humanidade buscou formas de compreender os padrões circundantes
e começou a organizar a vida diária, contando e ordenando o mundo a partir de um
novo universo matemático, até então desconhecido (SAUTOY, 2013).
Vejam que contar não era mais suficiente, era preciso criar padrões de medidas
e, por isso, inicialmente o corpo foi o principal instrumento de medidas, como exemplo,
um palmo (largura da mão) e um cúbito (comprimento do cotovelo até as pontas dos
dedos).
Essa relação direta e sensitiva da humanidade com a matemática, teria
permanecido assim se o ser humano não tivesse recorrido às abstrações dos
fenômenos naturais ao comparar, decompor, agrupar objetos como pedras, gravetos,
conchas, nós em cordas, bastões e os dedos das mãos (IFRAH, 1981).
Com isso, os homens foram percebendo o mundo e desenvolvendo formas de
controlar a natureza. Agrupar coisas utilizando as mãos pode ter sido a primeira
estratégia que encontraram para o controle de quantidades. Ao usar os dedos das
mãos, o homem primitivo representava coleções que continham até dez elementos.
[...] combinando dedos das mãos e dos pés pode-se ir até vinte.
Quando os dedos humanos eram inadequados, podiam ser usados
montes de pedras para representar uma correspondência com
elementos de outro conjunto. Quando o homem primitivo usava tal
método de representação, ele frequentemente amontoava as pedras
em grupos de cinco, pois os quíntuplos lhe eram familiares por
observação da mão e pé humanos (BOYER; MERZBACH, 2012, p.
24).
Podemos dizer que, até hoje, fazemos uso desse modelo de contagem que
herdamos culturalmente de nossos antepassados. Nas mais diferentes ações do
nosso dia a dia, utilizamos os dedos para realizarmos cálculos simples ou agruparmos
coisas, como, por exemplo, os ovos em dúzias no supermercado ou geladeira; as
pilhas em duplas, trios ou quartetos para o uso de controles remotos; par de brincos
para ordenar as orelhas; sete dias para marcar a semana; e tantas outras
possibilidades de contagem nos dedos e agrupamentos de objetos, pessoas, animais
ou situações.
Percebam que, no passado, os diversos recursos materiais utilizados pelos
homens se tornaram representações numéricas, mas eles ainda tinham o desafio de
criar uma forma de escrever as quantidades, pois agrupar coisas por meio desses
instrumentos de contagem não garantia o arquivo das informações e a precisão dos
cálculos. Dessa forma, o controle de quantidades se transformou em símbolos
numéricos e conquistaram notoriedade nas sociedades modernas.
Foi nesse percurso que os números passaram a ser representados como hoje
conhecemos, e avançaram “[...] para a criação das palavras numéricas, termos,
conceitos e ideias matemáticas que estão presentes no cotidiano dos indivíduos,
muitas vezes sem que eles próprios percebam a linguagem matemática em seu
vocabulário” (FERRO, 2016, p. 30).
A Figura 1 representa a evolução dos registros numéricos na história humana,
signos que herdamos de nossos antepassados e utilizamos para materializar a forma
como controlamos as diferentes grandezas.
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As grandezas podem ser de naturezas discretas e contínuas. As grandezas de natureza discretas são
aquelas em que a medida obtida é sempre um número natural como, por exemplo, em uma fila há 5
alunos ou um casal tem 3 filhos. As medidas de natureza contínuas, são aquelas em que os elementos
a serem mensurados requerem instrumentos de medidas como colheres, baldes, copos, termômetro
etc.; são aquelas em que a medida obtida é um número que pode não ser natural, como, por exemplo,
a temperatura registrada num termômetro ser de 36,5°C.
instrumentos como régua, balança e fita métrica, possibilitando-lhes conferir graus de
intensidade de uma determinada grandeza àquilo que está sendo medido.
Somente o uso dessas ferramentas dispensa a criança “[...] da necessidade da
comparação direta entre objetos e isso pode causar a impressão falsa de que a
qualidade (grandeza) está no objeto em si, quando na verdade ela só existe na relação
com outros objetos ou fenômenos” (MOURA et al., 2017, p. 5).
A literatura infantil O frio pode ser quente? (MASUR, 2009) contempla essa
natureza relativa que há no movimento de medição das diferentes grandezas, ao
contemplar as ações dos personagens e as possíveis grandezas envolvidas. Nessa
história, as situações de tempo e espaço apresentadas trazem a necessidade de
atribuir àquilo que está sendo mensurado graus de intensidade de uma determinada
grandeza.
A seguir, vamos analisar uma das situações que consta na história, que foi
extraída dos arquivos pessoais de uma das autoras:
Quando você olha para esta imagem, o que primeiro chama a sua atenção? As
ilustrações ou a escrita? Geralmente, as ilustrações são os primeiros elementos que
nos saltam aos olhos e, depois, a escrita. Nesta situação, ambas são importantes para
compreendermos por que o comprido pode ser curto e o pouco pode ser muito”
(MASUR, 2009, p. 2), e em qual situação isso pode acontecer.
Nesse caso, a situação é um jogo de futebol e a primeira relação de grandeza
a ser analisada é o tamanho do goleiro: ele é uma pessoa curta ou comprida, alta ou
baixa? Para você definir se o goleiro é uma pessoa comprida ou curta, alta ou baixa,
precisará identificar: em relação a que está estabelecendo essa comparação?
No exemplo do livro, podemos dizer que o goleiro é curto em relação à distância
da bola, o que dificultou impedi-la de entrar no gol e o time adversário marcar um
ponto no placar. Para determinar se a quantidade um é pouco ou muito, depende do
que estamos estabelecendo como objeto de comparação, em uma partida de futebol
o placar 1 X 0 é o suficiente para a vitória.
Exemplos como esses, revelam que no movimento de formação do
pensamento matemático, a criança irá identificar semelhanças e diferenças,
estabelecer comparações e relações com outras vivências, ou seja, as evocações
daquilo que ela perceber e se atentar, caminhará para ações integradas do
pensamento e abstrações cada vez mais elaboradas.
Para a criança prestar atenção e se manter atenta, é necessário que o seu
campo perceptual esteja operando intensamente para ativar as suas funções
mnêmicas, importante condição para aprender os conteúdos de matemática e de
outras ciências. Quando o professor insere a criança em uma situação de jogo da
memória, por exemplo, é preciso que ele chame a sua atenção para alguns pontos
importantes, desde a organização das peças do jogo.
Se a criança colocar as peças do jogo da memória de forma aleatória na mesa
ou no chão, ficará mais difícil encontrar os pares, considerando que as peças estarão
espalhadas sem lugares definidos e marcados. Mas, se diferente disso, a criança
organizá-las em linhas e colunas, terá maior chance de memorizar onde estão as
peças que são iguais, pois poderá marcar visualmente e memorizar em qual linha e
coluna tal peça se encontra.
Essas estratégias não surgem na criança, tampouco as relações de grandezas
serão estabelecidas por ela própria. Para isso, a criança precisa ser colocada em
situação de ensino no jogo, na brincadeira ou diferentes situações de ensino, que exija
dela o planejamento de suas ações e de diferentes estratégias para alcançar os
objetivos propostos. Ao reproduzir os movimentos de produção da matemática de
nossos antepassados, a criança internalizará os meios que a ela possibilitam pensar
matematicamente o mundo.
Em outra situação de aprendizagem desenvolvida para crianças do primeiro
ano do ensino fundamental, também podemos perceber as relações de grandezas.
Esta ação didática foi produzida por professores e graduandos do curso de pedagogia,
que realizam estudos no grupo de pesquisa “Oficina Pedagógica de Matemática” (do
qual uma das autoras faz parte), em uma universidade pública localizada no interior
do Estado do Paraná.
As ações didáticas desenvolvidas na OPM2 demandam muito estudo e horas
de planejamento, produção e experimentos com as crianças na escola de educação
infantil e ensino fundamental. Alguns professores e gestores da rede básica de ensino
também participam do grupo e desse movimento, trazendo para o grupo as suas
inquietações e desenvolvendo, na sala de aula, as tarefas propostas e
sistematicamente organizadas no coletivo.
No exemplo a seguir, denominou-se o jogo criado de “Jogo das bolinhas”. Para
este jogo foram utilizados os recursos: bolinhas de diferentes tamanhos, cores, pesos
e texturas; uma caixa de sapato com furos na tampa de tamanhos grande, pequeno e
médio; varetas de hashi.
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Oficina Pedagógica de Matemática (OPM) da Universidade Estadual de Maringá formada por
professores universitários e da rede básica de ensino, alunos graduandos, mestrandos e doutorandos.
O grupo realiza estudos, pesquisas e processos formativos (ensino) sobre temas relacionados à
análise, à organização do trabalho educativo e aos processos de estudos e aprendizagens na escola,
em especial o ensino de matemática.. Fundamenta-se na Teoria Histórico-Cultural, bem como em sua
matriz teórica - o Materialismo Histórico Dialético, por compreender, especialmente, pelos estudos de
Vigotski (e seus seguidores), que uma correta organização da aprendizagem matemática na escola,
implica em um processo de desenvolvimento necessário à formação cultural e humana dos sujeitos. A
articulação teórico-prática se consolida com a atuação conjunta do Grupo de Pesquisa e Ensino em
exercício em salas de aula, efetivando atividades pedagógicas com os escolares em um processo
contínuo de pesquisa, ensino e avaliação.
Após a definição das regras, estabeleceu-se como objetivo geral do jogo: retirar
o maior número de bolinhas da caixa com as varetas. Para esta tarefa, as crianças
deveriam utilizar as varetas de hashi (com ou sem apoio do elástico). A seguir o
quadro de regras do jogo em detalhes, organizado pelos pesquisadores.
Ao final de três rodadas, o vencedor será aquele que retirar da caixa a maior
quantidade de bolinhas. Porém, coloca-se um problema: como descobrir quem
capturou mais bolinhas sem contá-las?
Nesse momento do jogo, a atenção das crianças está voltada mais para ação
do controle de quantidades que a grandeza massa, sendo que o seu objetivo é
capturar a maior quantidade possível de bolinhas para vencer. Mas isso não a isenta,
por exemplo, da preocupação de escolher por qual furo deve passar a bolinha ao
retirá-la da caixa, pois o tamanho desta deve ser proporcional ao diâmetro do furo,
para que consiga retirar mais bolinhas que o(s) outro(s) jogador(es). Com isso, as
problematizações devem criar as necessidades que motivam os professores a ensinar
e os alunos a aprender, ou seja, para os sujeitos estarem em atividade necessidades
e motivos devem coincidir (LEONTIEV, 1972).
Figura 4 - Crianças em situação aprendizagem no jogo
SAIBA MAIS
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REFLITA
#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS
KLEIN, L. R. Alfabetização: quem tem medo de ensinar? São Paulo: Cortez; Campo
Grande: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 2008.
Plano de Estudo:
• Dificuldades de aprendizagem e suas concepções
• As dificuldades de aprendizagem e o ensino de matemática
• A organização do ensino de matemática: variáveis que afetam a aprendizagem
Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar as dificuldades de aprendizagem e suas concepções no decorrer da
história humana.
• Compreender o percurso de aprendizagem da linguagem matemática pelas
crianças e o seu processo de apropriação.
• Estabelecer a importância de identificar as causas e trabalhar com as
consequências das dificuldades de aprendizagem na vida das crianças.
• Compreender a linguagem matemática como uma ferramenta do pensamento.
INTRODUÇÃO
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cute-toddler-boy-having-difficulties-using-
774741679.
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Alfred Binet foi um psicólogo francês que contribuiu com suas pesquisas no campo da psicometria ao
criar o primeiro teste bem-sucedido de inteligência, a Escala Binet-Simon, que serviu de base para
vários dos atuais testes de QI que hoje conhecemos.
Para Cordié (1996), os problemas de aprendizagem surgiram com a
instauração da escolaridade obrigatória no fim do século XIX. Assim como as
exigências da sociedade moderna causam os distúrbios, a expressão do mal-estar
das pessoas visivelmente impressa na linguagem de uma época em que o poder do
dinheiro e o sucesso social são valores predominantes, também contribui para as
diferentes dificuldades no processo de ensino e aprendizagem escolar.
Nesse contexto, a escola surgiu com a proposta de disciplinar e melhorar as
condições de vida na sociedade moderna e acabou, na contemporaneidade, por
ocupar o papel de repetição da marginalização ao reputar o insucesso acadêmico a
milhares de crianças e jovens.
Com isso, a escola fortalece a divisão de classes e dissemina os sentimentos
de não pertencimento e merecimento disseminados pela classe dominante. De acordo
com Cordie (1996), Jules Ferry (1832 - 1893), então ministro da educação na França,
estabeleceu a instrução laica e obrigatória em 1880, a qual tinha como objetivo
superar a divisão de classes sociais e permitir que as crianças pobres tivessem acesso
à educação formal.
Entretanto, esse acesso ficou restrito ao que se convencionou chamar de
primário, pois este era o suficiente para que os menos abastados conseguissem
manusear as máquinas cada vez mais frequentes nas fábricas.
No Brasil, o conhecimento é tido como fonte de poder social, logo, a educação
é realizada de modo a privilegiar alguns e discriminar muitos, gerando o fracasso
escolar. A condição de não alfabetizado ou não letrado nem sempre foi vista como um
problema social ou clínico, pois as pessoas que não tivessem instrução formal
poderiam exercer diversos ofícios que precediam desse atributo.
Com o ritmo acelerado das mudanças do modo de produção, essa concepção
mudou de forma drástica a partir do final do século XIX e continua em ritmo acelerado.
A escolarização passou a ser entendida como fundamental para a execução de
atividades, inclusive artesanais, pois os artesãos precisavam aprender como
gerenciar uma loja antes de abrir seu negócio, por exemplo.
Assim, o desemprego passou a ser justificado pela dificuldade de se empregar
pessoas que não fossem escolarizadas, pois os valores essenciais de vida são
considerados todos aqueles relacionados ao sucesso financeiro: dinheiro, posses de
bens materiais e o poder que representam socialmente esses bens.
Dessa forma, o fracasso escolar se tornou sinônimo de fracasso na vida
(CORDIE, 1996). No âmbito escolar e de investigação das dificuldades de
aprendizagem, o conceito e definições sofreram a influência do grande
desenvolvimento das ciências médicas e biológicas, principalmente da psiquiatria,
ocorrido entre os séculos XVIII e XIX.
Estudos de neurologia, neurofisiologia e neuropsiquiatria, realizados em
laboratórios anexos às instituições asilares, como os hospícios, passam a se
referenciar aos internos como anormais. Essa ideia adentrou as instituições escolares:
os alunos que não acompanhavam a turma eram vistos como anormais e a justificativa
de seu fracasso era reputada a alguma causa orgânica (SCOZ, 2013). Mas afinal, o
que é ser normal?
Segundo o dicionário Houaiss (2009), normal significa aquilo que é usual,
natural; o que não é diferente, ou seja, aquilo que é igual à maioria que está ao seu
redor, não se destaca; algo comum. Para discutirmos o conceito de normalidade,
requer refletirmos aos preceitos cotidianos sobre o que é ou não esperado da criança
em desenvolvimento.
De acordo com Drouet (1997), a normalidade está relacionada ao padrão de
comportamento esperado para uma determinada população, baseado na maior
incidência deste padrão, ou seja, varia de acordo com a história do grupo, pois, o que
hoje é considerado normal pode não ter sido no passado e vice-versa.
Dentro de uma mesma sociedade esse comportamento ainda sofre variações,
quando se considera grupos diferentes: de idade, sexo, status social, família, cultura,
raça e religião. Para a psicopatologia, ser “normal” remete à saúde integralmente
orgânica, física, psíquica e social.
Como podemos perceber, ao conceituarmos a palavra “normal”, precisamos
considerar as questões éticas, sociais, culturais, econômicas e políticas, pois somos
seres sociais, formados social, cultural e historicamente. Nesse contexto,
consideramos, em Saviani (1995), que não nascemos humanos, mas nos tornamos
humanos por meio das relações sociais, logo, a potencialidade do outro é trabalhada
e valorizada pelo seu igual, por aquele que é mais experiente.
Nessa perspectiva de normalidade, pautada no aprender para se desenvolver,
é perigoso pontuar que uma criança não está dentro do padrão de normalidade, pois
se não a considerarmos em suas múltiplas determinações, podemos reforçar a
concepção patologizante, impedindo o outro – no caso a criança – de ter acesso pleno
ao seu processo de humanização.
Se não tivermos clara compreensão do processo de desenvolvimento e
aprendizagem humana, corremos o risco de “rotular” a criança, de julgar sua
dificuldade em aprender de forma descontextualizada, ou seja, perderemos a
compreensão global para além da responsabilidade individual da criança. Quando
olhamos para a criança em sua totalidade, compreendemos que os indivíduos
aprendem de forma singular e não homogênea.
É nesse contexto que surgiram disciplinas específicas para o cuidado com a
criança, como a Psicologia da Aprendizagem e, nesta área, subáreas de estudos
como a Psicopedagogia, que tem como um dos pilares o trato direto de crianças e
adolescentes que apresentam dificuldades significativas em seu processo de
aprendizagem. Dessa subárea, temos os estudos acerca das dificuldades de
aprendizagem, dos transtornos de aprendizagem; sintomas e intervenções escolares
rumo ao desenvolvimento.
Ciasca (2003) pontua que os primeiros relatos médicos acerca da questão das
dificuldades datam de 1917 na literatura inglesa, sendo formulada por Glasgow como
cegueira congênita das palavras. Em 1925, Samuel Orton descreveu um quadro que
identificava problemas de leitura e escrita, principalmente na caligrafia, o qual nomeou
como estrefossimbolia (transtorno para a leitura a escrita) para distorções,
substituições e escrita especular.
Strauss e Lehtinen (1947) são os autores que introduziram o termo Lesão
Cerebral Mínima ou Síndrome de Strauss para qualificar crianças que apresentassem
quaisquer alterações relacionadas ao ato de aprender. Entretanto, o termo lesão
passou a ser questionado, pois muitas crianças não apresentavam lesão aparente no
Sistema Nervoso Central.
Por esse motivo, Denhoff passou a defender que, não havendo evidência de
lesão orgânica, o nome correto seria Disfunção Cerebral Mínima, caracterizada por
“distúrbio hipercinético do impulso”, abarcando os seguintes sintomas: “agitação,
hiperatividade, diminuição progressiva da atenção, concentração escassa, distração,
irritabilidade” (CIASCA, 2003, p. 23).
Esse conceito das dificuldades de aprendizagem das crianças chegou ao Brasil
em 1960 com maior aceitação pelos professores e pelos pais, uma vez que esta era
tida como neurológica. Esse entendimento, por um lado, serviu para melhorar o
acolhimento da criança, mas, por outro, favoreceu o desinvestimento educacional por
parte dos educadores e reforçou o tratamento medicamentoso.
Em 1988, a Organização Americana National Joint Committee of Learning
Disabilities (Comitê Conjunto Nacional de Deficiências de Aprendizagem) definiu as
dificuldades de aprendizagem como um termo geral que se direciona a um grupo de
diferentes desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e
utilização da compreensão da audição, da fala, da leitura, da escrita e também do
raciocínio matemático (FONSECA, 1995).
As definições apresentadas até aqui consideram as dificuldades de
aprendizagem como tendo causas intrínsecas às crianças e de ordem neurológica.
Na atualidade, os avanços nos estudos chegaram à compreensão que as dificuldades
de aprendizagem podem ter causas diversas de ordem extrínseca (causas
ambientais), intrínseca (causas neuropsicológicas) e interativa (causas relacionadas
às extrínsecas e intrínsecas).
Quando as causas das dificuldades são extrínsecas, advêm do contexto social,
cultural, familiar ou pedagógico ao qual a criança está inserida. Os sintomas mais
frequentes nestes casos são fracasso na aprendizagem, inadaptação escolar,
desinteresse, comportamento hiperativo ou hipoativo.
Dificuldades de aprendizagem na perspectiva intrínseca, podem decorrer de
dano cerebral, alterações nos processos maturativos, inabilidade psicolinguística,
inabilidade no processo de informação. Atraso percepto-motor (motor e cognitivo),
dificuldades globais na aprendizagem, alterações nos processos de codificação e
decodificação linguística (disfasia) e demais dificuldades seletivas, como a dislexia,
disgrafia, disortografia, discalculia e acalculia, são os sintomas que mais acometem
as crianças que apresentam essas dificuldades.
Na perspectiva interativa, as causas podem estar, em boa parte, relacionadas
tanto às questões intrínsecas quanto às extrínsecas. Quando essas características do
desenvolvimento são pontuais, ficam inseridas no padrão de normalidade e
dificuldades que, aos poucos, se resolvem. Todavia, quando a situação é constante,
certamente algo errado está ocorrendo.
As desordens no ato de aprender específicas do indivíduo são determinadas
por problemas no funcionamento do Sistema Nervoso Central. Essas desordens são
de origem neurológica denominadas de Transtornos de Aprendizagem e
compreendem uma inabilidade específica em leitura, escrita ou matemática, em
crianças que, geralmente, apresentam inteligência média ou acima da média;
adequado aparato sensorial e condições sociais, mas têm um desempenho
significativamente abaixo do esperado para seu nível de desenvolvimento,
escolaridade e capacidade intelectual (MORI, 2016).
A autora revela que além das dificuldades específicas na aprendizagem, os
transtornos ou distúrbios de aprendizagem são acompanhados de manifestações
comportamentais, ressaltando que a expressão transtorno da aprendizagem deve ser
restrita às perturbações específicas resultantes de alterações no sistema nervoso
central.
De acordo com Mori (2016), os alunos com Transtorno de Aprendizagem não
são considerados parte do público-alvo da política nacional de educação inclusiva.
Dificilmente eles têm acesso a salas de recursos e/ou atendimentos educacionais
especializados dentro das escolas regulares.
Entretanto, no Paraná, o atendimento educacional especializado inclui quadros
de origem neurológica, os quais são denominados Transtornos Funcionais
Específicos e abrangem: Distúrbios de aprendizagem (Dislexia, Disortografia,
Disgrafia e Discalculia) e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
O DSM-5-Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014) e o CID-10 (Classificação de Transtornos
Mentais e de Comportamento), são as duas classificações mais utilizadas na saúde e
educação (OMS, 1997).
No DSM-5 consta como Transtorno de Aprendizagem Específico aquele que
apresenta prejuízo na leitura, em matemática e escrita. Os casos podem ser
classificados em leve, moderado ou grave (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION, 2014).
No CID-10 denomina-se Transtornos Específicos do Desenvolvimento das
Habilidades Escolares aqueles que apresentam transtorno específico da leitura, da
soletração, da habilidade em aritmética e misto de habilidades escolares e transtornos
não especificados do desenvolvimento das habilidades escolares (OMS, 1997).
Segundo Fonseca (1995), a discussão sobre a etiologia das dificuldades de
aprendizagem norteia a prática educativa, bem como o atendimento dirigido à criança
que não aprende como as demais. Psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos tendem
a analisar os casos pela perspectiva interativa, ou seja, dirigem o olhar para diferentes
fatores de ordem psicológica, pedagógica, sociológica e linguística. Já os pediatras e
neurologistas tendem a analisar principalmente pelos aspectos orgânicos. Por isso, a
avaliação e o trabalho devem ser multidisciplinares.
Mori (2016) ressalta que a investigação de um quadro de transtorno é uma
tarefa complexa e, por isso, exige equipe multidisciplinar e compreensão do processo
de alfabetização da pessoa avaliada. A análise cuidadosa do desenvolvimento, do
processo de aprendizagem e das produções escolares fornecerão os indicadores para
diferenciação entre problemas/dificuldades de aprendizagem e transtornos de
aprendizagem e encaminhamentos necessários.
A identificação precoce e as devidas intervenções amenizam o impacto da
disfunção na funcionalidade do indivíduo. Todavia, o fechamento do diagnóstico só é
possível após os primeiros anos escolares e de o indivíduo ter passado pelo processo
de alfabetização. Se o indivíduo não passou pelo processo, como afirmar que ele tem
transtornos? A pergunta parece óbvia, mas não é incomum crianças com 6, 7 ou 8
anos assim diagnosticadas. Por outro lado, diagnósticos tardios podem ser muito
prejudiciais, causando problemas comportamentais, baixa autoestima e evasão
escolar (MORI, 2016).
Nessa direção, devemos pensar que o termo desenvolvimento é muito mais
amplo que saúde física, pois define o processo organizado e contínuo que promove o
desenvolvimento da própria vida, no ato da concepção, e abrange todas as
transformações que ocorrem no organismo e na personalidade das pessoas.
Isso significa considerarmos os aspectos biológicos e os comportamentos mais
sofisticados, decorrentes do crescimento e amadurecimento físico e dos estímulos
ambientais. Porém, como vimos anteriormente, os primeiros estudos acerca da
infância foram concebidos a partir de um olhar evolucionista na lógica de periodização
do ciclo da vida e de se ater ao que é esperado de cada faixa etária. Essa concepção
ofereceu base para a construção das teorias inatistas-maturacionistas (FONTANA;
CRUZ, 1997).
A abordagem inatista-maturacionista de desenvolvimento parte do pressuposto
que os fatores hereditários ou de maturação são mais significativos para o
desenvolvimento da criança, para determinar suas capacidades, do que os aspectos
relacionados à aprendizagem e experiência. O que podemos entender por
hereditariedade e maturação?
Na perspectiva inatista-maturacionista, Fontana e Cruz (1997) explicam
hereditariedade como sendo o conjunto de qualidades ou características que são
determinadas na criança desde o nascimento, como: cor dos olhos, cor da pele,
formato da orelha, tipo sanguíneo etc. Já maturação, são os padrões de mudanças
que todos os sujeitos de uma espécie vivenciam em idades aproximadas, como a
transformação do corpo, o crescimento de órgãos e o domínio do corpo.
De acordo com a abordagem inatista-maturacionista, todo comportamento e
desenvolvimento é considerado normal ou não quando apresentado pela maioria das
crianças. Esse desenvolvimento e comportamento, determinados biologicamente,
foram considerados para todas as crianças independente da sua cultura e da sua
classe social.
Sob essa perspectiva teórica (inatista-maturacionista), tanto a cor dos olhos
quanto as características individuais e inteligência seriam herdadas biologicamente
dos pais. Então, desde o nascimento a criança já estaria determinada a ser ou não
apta a executar determinadas atividades, não sendo influenciadas pela aprendizagem
ou pelas experiências vividas socialmente.
Compreender o desenvolvimento pelas vias biológicas influenciou o processo
de ensino e aprendizagem escolar pautado na ideia de que a aprendizagem
dependeria do desenvolvimento da criança, ou seja, não se deveria adiantar
determinados conhecimentos para ela, pois não estaria apta a aprender em razão de
sua imaturidade biológica para assimilar.
Por isso, na escola e em outras situações sociais, é comum ouvirmos “Filho de
peixe, peixinho é”; “Ele(a) é tão inteligente como o pai/a mãe”; “Fulano(a) ainda não
tem maturidade para aprender”; ou ainda “Ele(a) herdou o dom da mãe/do pai para
cozinhar”.
Dessa forma, a aprendizagem é que depende do desenvolvimento. O que a
criança é capaz de aprender ou não depende do seu nível de maturação, de sua
inteligência. Essa visão inatista-maturacionista permeou os primeiros
questionamentos sobre os problemas de aprendizagem, explicados apenas por meios
dos testes psicométricos.
Como já apresentado, Alfred Binet (1857-1911) foi o primeiro profissional a
sistematizar um modo de avaliar o Coeficiente Intelectual das crianças (QI), em
especial da criança deficiente, com o objetivo de averiguar o nível de inteligência e,
assim, auxiliar os profissionais da educação a elaborarem um plano de escolarização
adequado ao perfil da criança.
Para Binet as capacidades que compõem a inteligência, ou seja, atenção,
julgamento, compreensão e raciocínio, não eram aprendidas e, sim, determinadas
pela herança genética da criança. A escala de inteligência elaborada por Binet foi
amplamente utilizada como respaldo para determinar os aptos e os não aptos à
aprendizagem. Todavia, surgiram outras correntes que ampliaram o conhecimento e
os critérios de análise sobre o processo de desenvolvimento e aprendizagem.
As novas correntes filosóficas destacam que o processo de desenvolvimento
humano necessita ser observado a partir de algumas vertentes, sendo elas: a
biológica, psicológica, histórica, social e a cultural. Dentre as teorias psicológicas que
problematizam esses aspectos, ressaltamos o posicionamento da teoria histórico-
cultural, ao afirmar que a criança nasce em um mundo humano e não em um mundo
natural. Corroborando Vigotski (2000), Fontana e Cruz (1997, p. 57) explicam:
Podemos afirmar, então, que a criança não se adapta ao meio, ela o internaliza,
o modifica e o estrutura; transformando-se de ser biológico em social. Ao falar em
processo de aprendizagem e desenvolvimento, Vigotski (2000) destaca a importância
do processo de escolarização na vida da criança, pois o contato sistematizado e
intenso delas com sistemas organizados de conhecimentos, fornecem instrumentos
para elaborar e mediatizar seu processo de desenvolvimento.
Sob o olhar da abordagem histórico-cultural, a concepção de maturidade é
ampliada, transpondo as bases biológicas ao compreendê-la como o esforço para se
conseguir atingir algo, impulsionado pelo processo de mudança pelo qual passa o
indivíduo.
Nesse sentido, maturação não significa “estar pronto para”, mas sim uma
condição pela qual passamos durante nosso desenvolvimento na busca para se tornar
verdadeiramente parte do gênero humano. Mas se maturidade não tem a ver com
processos puramente biológicos, poderíamos ensinar uma criança de quatro anos de
idade a ler sem problema algum? Por que existem crianças que apresentam
dificuldades de se apropriarem dos conhecimentos matemáticos?
Tais questões são pertinentes e serão respondidas no decorrer dos estudos de
diversas formas. Neste momento buscamos refletir a afirmação amplamente difundida
no âmbito escolar de que a não aprendizagem esperada da criança é decorrente de
sua imaturidade biológica, pois ainda não estaria preparada para aprender os
conteúdos escolares.
Contrário a essa ideia, Vigotski (2000) defende que uma criança imatura
corresponde àquela que precisa do auxílio de um par educativo mais desenvolvido
que ela, para que consiga na relação de superação e incorporação, internalizar a
lógica intrínseca ao processo em questão, de tal modo que consiga realizar a atividade
sem auxílio posterior.
Em termos conceituais, estamos falando da zona de desenvolvimento próximo.
O que significa isso? Vigotski (2000) ao trabalhar com a área de desenvolvimento
humano, denomina duas grandes áreas de desenvolvimento: zona de
desenvolvimento próximo (tudo aquilo que a criança não consegue realizar sem as
intervenções de um par mais experiente ou de um adulto) e zona de desenvolvimento
atual (todas coisas que a criança consegue realizar sozinha, sem a intervenção de um
par mais desenvolvido que ela (uma criança mais velha ou um adulto).
SAIBA MAIS
REFLITA
“A escola [...] deve tratar o ser humano em toda sua dimensão, tendo como
foco o indivíduo, rompendo com uma visão reducionista de aprendizagem, DA
[dificuldade de aprendizagem] e inteligência. Além disso, não se pode ter uma visão
que enfatiza a responsabilidade do sucesso da aprendizagem sobre a criança, ou
sobre o professor. Pode ser que a responsabilidade do insucesso da aprendizagem
seja de todo um sistema educacional e nessa dura realidade o professor torna-se o
grande vilão da aprendizagem” (BARBOSA, 2015, p. 29).
#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Plano de Estudo:
• Acalculia e discalculia: algumas considerações
• Discalculia: concepção; sintomas e possíveis causas
• Acalculia: concepção, sintomas e causas
Objetivos de Aprendizagem:
• Definir acalculia e discalculia diferenciando suas especificidades.
• Identificar os sinais e sintomas que acometem as pessoas com acalculia ou
discalculia.
• Compreender o que causa a discalculia e a acalculia para a organização de
intervenções psicopedagógicas e desenvolvimento dos discalcúlicos e acalcúlicos.
INTRODUÇÃO
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/small-girl-feeling-desperate-holding-help-1798161100
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/portrait-african-girl-wearing-face-mask-1820340308
Bridi Filho et al. (2016, p. 258) contribui ao ressaltar que para executar cálculos
e resolver situações problemas, é indispensável os mecanismos mentais como o
“processamento verbal ou gráfico de informação; percepção, reconhecimento e
produção de números; representação número símbolo; discriminação viso espacial;
memória de curto prazo; raciocínio sintático e atenção.”
Com isso, podemos afirmar, em Bridi Filho (et al., 2016), que a ação de calcular
é uma atividade mental complexa que, a partir das áreas corticais pré-frontais, ocorre
nas áreas parietais inferiores, conforme mostra a Figura 2.
Figura 2 - Áreas cerebrais
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/brain-boy-affected-by-dyscalculia-confused-415886749
Essa questão, levantada por Ferrari (2013), também nos inquieta, pois as
concepções que explicam as causas da discalculia, com base no biológico, traz o
funcionamento do sistema nervoso central como responsável pelas condições da
aprendizagem ou não das crianças.
Esse fenômeno, compreendido como causa biologizante, concentra as
dificuldades com a matemática como sendo da própria criança, ou seja, nela estão
“[...] as razões orgânicas para o fenômeno do não aprender” (FERRARI, 2013, p.
24174). Dessa forma, percebemos a naturalização das manifestações
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/little-boy-learning-maths-kis-mon-1917419144
Segundo Bastos (2008, p. 67), o termo acalculia “foi introduzido por Henschen
em 1925, significando a perda da capacidade de executar cálculos e desenvolver o
raciocínio aritmético”. Para Bernardi (2006, p. 18), as acalculias “[...] são alterações
intrínsecas ao ser humano, causadas por disfunção no sistema nervoso central”.
Portanto, as acalculias se manifestam após lesão cerebral; ocorrem depois que as
cognitivas já estão consolidadas.
Fonte: as autoras.
#SAIBA MAIS#
REFLITA
#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS
DEHAENE, S. The number sense. Oxford, UK: Oxford University Press, 1997.
Plano de Estudo:
• Intervenções no Processo de Aprendizagem da Matemática no Espaço Escolar
• O Uso de Jogos nas Ações Interventivas Escolares
• Recurso Tecnológico a favor da Aprendizagem: Jogos Virtuais
• A Escolha do Jogo como Recurso Pedagógico
Objetivos de Aprendizagem:
• Identificar, compreender e organizar possibilidades de investigação da discalculia
e/ou da acalculia no ambiente escolar.
• Reconhecer as possibilidades de organização de estratégias didáticas para o ensino
dos conhecimentos matemáticos na escola, bem como para as intervenções
psicopedagógicas.
• Compreender o jogo e as ferramentas tecnológicas como recursos didáticos que
contribuem no processo de ensino e aprendizagem dos alunos com dificuldades para
aprender matemática.
INTRODUÇÃO
Estamos chegando ao final dos nossos estudos! Porém, esperamos que você
continue trilhando os caminhos da pesquisa para ampliar e aprofundar os
conhecimentos adquiridos acerca das dificuldades de aprendizagem em matemática
e os processos interventivos no trabalho escolar.
Sabemos que os desafios continuarão diante das diferentes dificuldades que
se apresentam nas salas de aula e, nesse caso especificamente, àqueles
relacionados aos conteúdos de matemática como, por exemplo, interpretar os
enunciados envolvendo as situações problemas e resolvê-las de forma consciente.
Nas Unidades anteriores, estudamos sobre o processo histórico de produção
da matemática como ferramenta do pensamento (Unidade I); os obstáculos que a
criança poderá encontrar para se apropriar dos conceitos matemáticos na escola
(Unidade II); os transtornos ou distúrbios da discalculia ou acalculia como um desses
entraves que pode dificultar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos nas
diferentes etapas do desenvolvimento escolar (Unidade III).
Dessa forma, constatamos que a discalculia ou acalculia, assim como outros
transtornos e distúrbios, não tem como causa somente um fator, mas são
multideterminados pelas condições de vida dos sujeitos na relação com o mundo.
Seguindo esse percurso, nessa unidade primeiro discutiremos sobre os
processos interventivos, bem como algumas propostas e encaminhamentos de
intervenções que podem ser realizados com a criança ou adolescente discalcúlico ou
acalcúlico. Assim, pretendemos desvelar possibilidades de organização da prática
pedagógica que instrumentalize o professor em seu trabalho, de modo a garantir a
todos os alunos, a aprendizagem e o desenvolvimento em suas máximas
potencialidades.
Para isso, primeiro discutimos no campo psicopedagógico os processos
interventivos no espaço escolar; depois apresentamos sugestões de jogos como
recursos de trabalho pedagógico no ensino de matemática e, por fim, outras
possibilidades tecnológicas que poderão ser utilizadas nas ações de ensino a serem
sistematizadas pelo professor.
1 INTERVENÇÕES NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NO
ESPAÇO ESCOLAR
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hand-child-student-holding-pencil-study-1444086338
1. Dizer sempre ao aluno que está ali 1. Ignorar o aluno com dificuldades.
para ajudá-lo em que precisar.
2. Permitir o uso de calculadora e tabela 2. Demonstrar impaciência com
tabuada. dificuldade expressa pelo aluno.
3. Adotar o uso de caderno quadriculado. 3. Interromper o aluno várias vezes ou
mesmo tentar adivinhar o que ele quer
dizer completando a sua fala.
4. Usar situações da vida cotidiana nas 4. Corrigir o aluno frequentemente diante
situações problema. da turma, expondo as dificuldades.
5. Iniciar cada período da aula com o 5. Forçar o aluno a fazer as tarefas
resumo da sessão anterior e uma visão quando estiver nervoso por não ter
geral dos novos temas. conseguido.
6. Escrever no quadro o tema a 6. Fazer correções no caderno com
aprender, os passos ou procedimentos a cores chamativas e mais de uma cor.
serem seguidos e que o aluno deverá
tomar nota.
7. Sugerir guias de tarefas ou de 7. Passar exercícios repetitivos e
conceitos matemáticos para que o aluno cumulativos.
saiba encarar e monitorizar
adequadamente os erros.
8. Usar códigos visuais, diagramas, 8. Propor somente registros escritos nas
cones, sublinhados, esquemas, o que tarefas em matemática.
ajuda na concentração e manutenção da
atenção nos expoentes, variáveis,
símbolos de operações etc.; auxiliando
ainda na compreensão, aprendizagem e
generalização dos conceitos.
9. Elaborar a avaliação (prova): a) com 9. Planejar avaliações com muitas
questões claras e diretas; b) com o tarefas para cumprir.
número mínimo de questões; c) sem
limite de tempo para realizá-la; d)
permitir que um tutor acompanhe o aluno
na realização da prova, para certificar se
ele entendeu o enunciado das questões.
10. Estabelecer critérios em que o aluno 10. Organizar somente avaliações
poderá realizar a prova oral, escritas.
desenvolvendo as expressões
mentalmente e ditando para que as
transcreva.
11. Incentivar a visualização do 11. Impedir que os registros dos cálculos
problema, com desenhos e depois sejam representados por meio de
internamente. desenhos e imagens.
12. Organizar jogos na sala, pois estes 12. Fazer uso de jogos sem selecionar
consistem numa boa opção para ajudar com antecedência e planejar de
na visualização de seriação e antemão as ações a serem
classificação; nas habilidades desenvolvidas.
psicomotoras, espaciais e na contagem.
13. Permitir o uso do computador, 13. Impedir o uso de materiais variáveis
especialmente porque existem muitos nas resoluções das situações problema.
sites com jogos educativos que
propiciam a noção de espaço e forma,
como o Tangam e outros que reforçam a
compreensão dos conceitos
matemáticos.
14. Prestar a atenção no processo 14. Deixar de acompanhar atentamente
utilizado pelo aluno, verificando o os avanços do aluno ou ressaltar apenas
percurso do pensamento desenvolvido as dificuldades.
na resolução do problema e valorizar as
aprendizagens alcançadas.
15. Moderar a quantidade das tarefas 15. Enviar muitas tarefas para casa ou
enviadas para casa. tarefas que impossibilitam ou dificultam a
resolução destas sem acompanhamento
do professor.
18. Trabalhar jogos que explorem as 18. Trabalhar jogos apenas como
relações numéricas e geométricas distração e não ferramenta que
(grande/pequeno; grosso/fino; movimenta o pensamento.
largo/estreito; alto/baixo etc.
19. Saber que para o discalcúlico ou 19. Utilizar a mesma estratégia ou
acalcúlico, nada é óbvio, como pode ser encaminhamentos que para os outros
para alguns outros alunos que não têm alunos que não têm dificuldades com os
discalculia ou acalculia. conteúdos de matemática.
2.1. Jogo dos palitos: composto por um tabuleiro e dezesseis palitos, esse jogo foi
pensado para um jogador. O objetivo desse jogo é formar 3 quadrados, movimentando
apenas 4 palitos. Inicialmente, o jogador forma 5 quadrados utilizando os 16 palitos,
conforme mostra a imagem. Depois, poderá movimentar somente quatro palitos para
atingir o objetivo. Os movimentos a serem realizados estão representados na imagem.
Figura 4 - Jogo de palitos
2.2. Tangram: esse jogo possui sete peças, entre elas um quadrado, um
paralelogramo e cinco triângulos; e ainda uma cartela com diferentes figuras. Apesar
de ser indicado para um jogador, também pode ser desenvolvido por dois
participantes, de modo que ambos pensem em estratégias para alcançar o objetivo
que consiste em formar um quadrado com todas as peças.
Outro objetivo do jogo é utilizar as peças para formar as diferentes figuras
propostas nas cartelas (ou outras milhares que podem ser criadas), mas sem sobrepô-
las, ou seja, o(s) o aluno(s) poderão criar figuras inéditas, estimulando o
desenvolvimento da imaginação, do pensamento, da linguagem, da percepção, da
atenção e outras funções psíquicas superiores importantes nas aprendizagens
matemáticas.
Figura 5 - Tangram
2.3. Jogo de portas: esse jogo inclui um tabuleiro, no qual tem o desenho da planta
de uma casa com várias portas e também foi desenvolvido para jogar individualmente.
O objetivo do jogo consiste em passar por todas as portas da casa, mas atravessando-
as apenas uma vez. Não é permitido atravessar as paredes e o percurso pode ser
feito utilizando um lápis. A dica é planejar o percurso a partir de um cômodo que tenha
o número ímpar de portas.
2.4. Botões matemáticos: Barreto (2012, p. 47) explica que esse jogo promove o
desenvolvimento da “[...] habilidade de compreensão de sistema de numeração, a
coordenação motora e orientação espacial”. O professor solicita determinada
quantidade e cores de botões aos alunos, como, por exemplo, 15 botões verdes, uma
dezena de botões amarelos, meia dúzia de botões azuis, duas dúzias de botões
divididas em 4 partes de cores diferentes ou determinada quantidade dividida em 50%
de uma cor e 50% de outra. Aqui, além de trabalhar as quantidades e suas diferentes
possibilidades de formação, o professor também utiliza importantes termos
matemáticos para orientar as ações.
Figura 8 - Botões coloridos
2.5. Matix: jogo composto por um tabuleiro quadriculado e 36 peças, conforme mostra
a Figura 9.
Fonte: as autoras.
Fonte: Pixabay
2.7. Jogo das sete cobras: nesse jogo utilizamos dois lápis, papel e dois dados. Na
folha de papel o aluno registra os numerais de 2 a 12. Cada jogador, na sua vez de
jogar, soma as quantidades sorteadas nos dados e marca um X no numeral que
representa o resultado. Se a soma das quantidades sorteadas tiver como resultado 7,
o jogador desenha uma cobra. Ganha quem marcar todos os números primeiro com
o menor número de cobras desenhadas.
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Fonte: as autoras.
2.8. Jogo do detetive: esse jogo pode ser realizado em dois grupos e os materiais
utilizados são: dois jogos completos de blocos lógicos e um anteparo para esconder
uma das peças do grupo oponente. Cada equipe fica com um jogo de blocos lógicos
e o jogo poderá ser desenvolvido em quatro níveis:
a) nível 1: a equipe 1 escolhe uma peça e a esconde atrás do anteparo, enquanto a
equipe 2 organiza as peças dos blocos a sua frente e discute as estratégias que
utilizarão, por meio de perguntas, para descobrir qual peça a equipe oponente está
escondendo. As respostas da equipe 1 devem se limitar a SIM ou NÃO. Pode-se fazer
quantas perguntas necessárias, exemplo: é azul? Se a equipe 1 responder SIM, a
equipe 2 mantém a peça, mas, se a resposta for NÃO, a peça deve ser descartada. E
assim segue até que a equipe dois descubra a peça, invertendo as posições das
equipes. Uma variante do jogo é marcar o número de perguntas que cada equipe faz
e ganha jogo quem fizer o menor número de perguntas, mas, se chutar e errar, perde
o jogo ou passa vez (SMOLE, 2000).
b) nível 2: os alunos podem olhar as peças do conjunto, mas não podem manipulá-las
para descobrir qual é a peça escondida.
c) nível 3: os alunos devem descobrir qual é a peça escondida sem olhar para o
conjunto de blocos que dispõe na equipe.
d) nível 4: uma equipe esconde simultaneamente duas ou três peças, enquanto a
outra equipe deve descobrir quais são as peças ao mesmo tempo.
2.9. Jogo nunca dez com material dourado: os materiais utilizados são dois dados
e um kit do material dourado. Para jogar é necessário de dois a quatro jogadores.
O professor pode pedir aos alunos para registrarem os pontos obtidos em cada
rodada. Para isso, os alunos podem utilizar o Quadro Valor de Lugar (QVL) como
apoio, pois o material dourado contempla o agrupamento e a troca, mas não o valor
posicional dos números.
Fonte: Slideplayer.
2.10. Fecha caixa com cartas: Nesse jogo, Moretti e Souza (2015) explicam que os
jogadores (de dois a cinco participantes) precisam de cartas numeradas de 1 a 9 e
dois dados. O objetivo consiste em desenvolver o cálculo mental e as primeiras ideias
de adição. Para jogar, as cartas devem ser colocadas sobre a mesa com os números
à mostra. O primeiro jogador lança os dados e soma os resultados das quantidades
que aparecerem.
Depois, o jogador deve virar as cartas cuja soma seja igual ao valor da soma
dos resultados. Exemplo: se a soma das quantidades tiradas nos dados for 6, o
jogador pode virar as cartas: 4 e 2; 3 e 3; 5 e 1 etc. Assim,
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-completing-iq-test-quiz-on-1840991470
1
Disponível em: http://www.escolagames.com.br/jogos/. Acesso em: 11 abr. 2021.
2
Disponível em: https://zuzubalandia.com.br/jogos.html. Acesso em: 11 abr. 2021.
3
Disponível em: https://rachacuca.com.br/jogos/. Acesso em: 11 abr. 2021.
Fonte: Escola games.
Fonte: Zuzubalândia
Nesse jogo o aluno deve comparar duas imagens, aparentemente iguais, e
encontrar sete diferenças entre elas. Essa situação de jogo desenvolve as ações de
comparação, percepção de semelhanças e diferenças; de análise das relações
espaciais entre os objetos; da memória de curto prazo e do pensamento abstrato.
Fonte: Zuzubalândia
3.9 Dominó
Esse jogo de dominó traz para o aluno escolher os níveis de dificuldade fácil,
médio ou difícil e as variações para jogar:
a) clássico: nesta variação, caso o jogador não tenha uma peça para jogar, deve-se
comprar peças até conseguir jogar ou até terminar as peças disponíveis para compra;
b) bloqueio: não há compra de peças nesta variação, mas o jogador passa a vez
quando não tiver peça para jogar. Ganha o jogador que terminar as suas peças
primeiro ou que tiver menos pontos, caso todos os jogadores fiquem bloqueados;
c) ponta de 5: o jogador marca pontos caso a soma do valor das peças das pontas
seja um múltiplo de cinco.
3.10 Tangram
Figura 27 - Jogo do Tangram
Esse jogo traz a opção de jogar com um colega ou com o próprio computador.
O objetivo é afundar as embarcações do adversário. Para isso, primeiro o aluno deve
planejar as estratégias que utilizará para posicionar os seus navios em diferentes
direções e dificultar ser encontrado pelo adversário. Essas ações são importantes
para a formação do pensamento lógico matemático.
3.14 2048
Figura 31 - Jogo 2048
Nesse jogo o aluno precisa movimentar um robô para cima, para baixo, para
esquerda ou direita e empurrar as caixas até os lugares marcados por um círculo
amarelo. A partir desse jogo, o professor trabalha com o aluno a atenção,
concentração, noções espaciais, organização do pensamento e os termos
matemáticos que expressam as ações do pensamento.
4 A ESCOLHA DO JOGO COMO RECURSO PEDAGÓGICO
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/math-education-children-logic-puzzle-game-
1929432662
Vimos anteriormente que são muitas as possibilidades de jogos que podem ser
desenvolvidos em sala de aula, bem como uma ampla variedade de jogos virtuais que
podem ser utilizados como ferramenta pedagógica no ensino da matemática.
Ressaltamos que, antes de apresentar qualquer jogo e jogar com o aluno, em
especial aqueles que têm discalculia ou acalculia, precisamos saber se, além de o
jogo escolhido criar um ambiente de socialização, divertimento e interação com os
pares mais desenvolvidos, também promove a aprendizagem dos conceitos
matemáticos e outros conhecimentos que mobilizam a linguagem e o pensamento
matemático.
Por isso, ao planejarmos a prática pedagógica por meio de jogo devemos:
a) fazer um levantamento dos jogos existentes;
b) analisar todas as possibilidades e recursos dos quais o jogo dispõe;
c) jogar antecipadamente (sem os alunos) para entender a dinâmica do
jogo, sua finalidade e dificuldades;
d) identificar quais conceitos matemáticos estão presentes no jogo;
e) identificar quais ações operacionais (comparação, classificação, análise,
generalização etc.) são propostas no jogo;
f) reconhecer quais funções mentais (sensação, percepção, atenção,
memória, linguagem, pensamento, emoção e sentimento) o jogo
desenvolve.
#SAIBA MAIS#
REFLITA
#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim de nossas discussões, mas não dos estudos em busca de
ampliação e aprofundamentos das aprendizagens adquiridas até aqui.
Ao estudarmos sobre a importância do processo investigativo na escola dos
alunos que apresentam dificuldades para aprender os conceitos matemáticos,
presentes nos mais variados conteúdos dessa área do conhecimento, vimos que é
preciso ter ética, responsabilidade, compromisso e comprometimento com o percurso
de estudos dos alunos enquanto um sujeito integral.
Nesse percurso, aprendemos que nem todo aluno que tem dificuldade para
aprender matemática é discalcúlico ou acalcúlico, assim como nem todo discalcúlico
ou acalcúlico tem dificuldade de lidar com as tarefas cotidianas que envolvem a
linguagem matemática.
Diante disso, refletimos sobre as possibilidades de orientações para o
professor, o qual assume o papel de mediador consciente das aprendizagens que
promovem o desenvolvimento de todos os alunos, inclusive àqueles que têm
discalculia ou acalculia.
Também discutimos sobre algumas ações interventivas que podem contribuir
para a participação dos responsáveis no processo de desenvolvimento dos alunos no
convívio familiar e situações do cotidiano, em que a linguagem está presente para
resolver as mais variadas situações problema da vida diária.
São nessas situações escolares e cotidianas que podemos potencializar a
formação e o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, desde que as ações
interventivas nesses espaços façam sentido para o aluno, professores e seus
familiares.
Assim, apresentamos os jogos e as ferramentas tecnológicas como importantes
recursos pedagógicos que contribuem no processo de ensino e aprendizagem dos
alunos com dificuldades para aprender matemática.
Para finalizar, esperamos que as discussões, encaminhamentos e sugestões
possam, de fato, contribuir com uma prática pedagógica significativa para o professor
e enriquecedora de aprendizagem e desenvolvimento para os alunos.
LEITURA COMPLEMENTAR
BOROWSKY, H. G. A Atividade Orientadora de Ensino como princípio do Clube de
Matemática: caminhos para a formação docente. Obutchénie: Revista de Didática e
Psicologia Pedagógica, Uberlândia, MG, v.4, n. 2, p. 509-533, maio/ago, 2020.
Disponível em: http://200.19.146.79/index.php/Obutchenie/article/view/57503/30024.
Acesso em: 9 abr. 2021.
LIVRO
•Título: Educação matemática nos anos iniciais do Ensino
Fundamental: princípios e práticas pedagógicas
• Autoras: Vanessa Dias Moretti e Neusa Maria Marques de
Souza
• Editora: Cortez
• Sinopse: Com base nessa realidade, as autoras elaboram a
presente obra, cujo objetivo principal é oferecer a professores
e educadores dos três primeiros anos do Ensino Fundamental
respaldo teórico e metodológico para um ensino da
Matemática que seja incentivador de aprendizagem e possibilite às crianças o
desenvolvimento do pensamento teórico sobre os conceitos e as noções referentes a
essa disciplina.
FILME/VÍDEO
• Título: O homem que viu o infinito
• Ano: 2016
• Sinopse: Esse filme conta a história real de Srinivasa Aiyangar
Ramanujan (1887-1920), um dos maiores gênios e mais
influentes matemáticos do século XX. De origem humilde e sem
formação acadêmica, ele contribuiu para a matemática com
diversos trabalhos. Entre eles, estão a teoria dos números e
séries infinitas.
REFERÊNCIAS
EMEBE José “Bepe” Módolo. O Jogo Nunca Dez. Disponível em: http://emebe-
bepe.blogspot.com/2016/04/o-jogo-nunca-dez.html. Acesso em: 09 abr. 2021.
Abraço fraterno!
Profa. Me. Luciana e
Profa. Dra. Nelma