Você está na página 1de 32

Didática das Ciências Físicas e Naturais

Mestrado em Ensino do 1.º e do 2.º Ciclo do Ensino Básico

Ideias científicas erradas


e
conceções alternativas

1
Definição de conceções
alternativas

• Ideia ou conceção científica errada: É um conceito ou


fenómeno científico que o aluno não consegue definir ou
explicar corretamente, devido a ainda não o ter aprendido ou a
uma aprendizagem inadequada do mesmo.

• Conceções alternativas: São conceções perfilhadas pelos


indivíduos que, não consistindo em erros fortuitos, não
coincidem com as aceites pela comunidade científica, mas
fazem sentido e são úteis para aqueles que as possuem, na
medida em que são adequadas à realização/resolução das
suas tarefas de cidadão comum.

2
Ideias científicas erradas –
Sistema digestivo

Pretende-se analisar as possíveis Pretende-se analisar uma eventual Pretende-se analisar as possíveis
representações do tubo digestivo, distinção entre a absorção dos concepções sobre a absorção bem
desde a boca até ao ânus. constituintes absorvíveis da excreção como a relação entre os sistemas
dos não absorvíveis, assim como, a digestivo, circulatório e urinário.
relação entre os sistemas digestivo,
circulatório e urinário.

Dantas, C. (2006). Concepções sobre a digestão/excreção em alunos, professores e futuros professores do Ensino Básico.
Dissertação de Mestrado, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, p. 31. 3
Ideias científicas erradas –
Sistema digestivo

Dantas, C. (2006). Concepções sobre a digestão/excreção em alunos, professores e futuros


professores do Ensino Básico. Dissertação de Mestrado, Instituto de Educação, Universidade do
Minho, Braga, p. 42. 4
Representações do sistema digestivo por
alunos do 1.º CEB
“Simples” – Esquema do sistema digestivo que
inclui diversos desenhos mais simples que
evidenciam: a existência de uma entrada e de uma
saída, sem a presença de qualquer órgão, ou a
ideia de que os alimentos entram e permanecem no
organismo, ou seja, existe um “estômago”
representado como uma espécie de saco.
Resumidamente, todas as categorias agrupadas
caracterizam-se pela inexistência de órgãos
específicos (fig. 3.0.1).

Dantas, C. (2006). Concepções sobre a digestão/excreção em alunos,


professores e futuros professores do Ensino Básico. Dissertação de
Mestrado, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, pp. 42-
43.

Indique as incorreções científicas do desenho:

5
Representações do sistema digestivo
por alunos do 1.º CEB
Sem confusão” - Esquema do sistema digestivo
com continuidade entre os diferentes órgãos do
sistema digestivo. Esta categoria sugere a
existência de uma sequencialidade clara entre os
diferentes órgãos que constituem o sistema
digestivo, isto é, evidencia um correcto
conhecimento anatómico do mesmo (fig. 3.0.2).

Dantas, C. (2006). Concepções sobre a digestão/excreção em alunos,


professores e futuros professores do Ensino Básico. Dissertação de
Mestrado inédita, Instituto de Educação, Universidade do Minho,
Braga, pp. 42-43.

Indique as incorreções científicas do desenho:

6
Biologia Humana e Saúde Representações do sistema digestivo
Licenciatura em Educação Básica

Inter-relação entre o sistema digestivo e os sistemas urinário e circulatório:

Dantas, C. (2006). Concepções sobre a digestão/excreção em alunos, professores e futuros professores do Ensino Básico. Dissertação de Mestrado
inédita, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, p. 48. 7
Representações da relação entre os sistemas
digestivo e urinário por alunos do 1.º CEB
“A”, continuidade entre os sistemas
digestivo e urinário (fig. 3.0.14);
Dantas, C. (2006). Concepções sobre a digestão/excreção em alunos,
professores e futuros professores do Ensino Básico. Dissertação de Mestrado
inédita, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, p. 48.

Indique as incorreções científicas do desenho:

8
Representações da relação entre os sistemas
digestivo e urinário por alunos do 1.º CEB

“B”, bifurcação do tubo digestivo (fig.


3.0.15);
Dantas, C. (2006). Concepções sobre a digestão/excreção em alunos,
professores e futuros professores do Ensino Básico. Dissertação de Mestrado
inédita, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, p. 48.

Indique as incorreções científicas do desenho:

9
Representações da relação entre os sistemas
digestivo e urinário por alunos do 1.º CEB
“DU”, sistema digestivo e urinário
representados, sem qualquer ligação entre
eles (fig. 3.0.18);
Dantas, C. (2006). Concepções sobre a digestão/excreção em alunos, professores e
futuros professores do Ensino Básico. Dissertação de Mestrado, Universidade do
Minho, Braga, pp. 47-49.

Indique as incorreções científicas do desenho:

Ver:
Moreira, D., Almeida, L., Lopes, M., Veiga, V., & Cavadas, B. (2012). Conceções
dos alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico sobre o sistema digestivo. Poster
apresentado no Seminário O corpo. Memória e identidade. Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologias, Lisboa.

http://repositorio.ipsantarem.pt/bitstream/10400.15/680/1/P%C3%B3ster%20-
%20Conce%C3%A7%C3%B5es%20dos%20alunos%20do%201.%C2%BA%20CEB
%20sobre%20o%20sistema%20digestivo.pdf
10
Representações da relação entre os sistemas
digestivo e urinário por professores do 2.º CEB

“DCU”, sistemas digestivo, circulatório e


excretor representados (fig. 3.0.20).
Dantas, C. (2006). Concepções sobre a digestão/excreção em alunos,
professores e futuros professores do Ensino Básico. Dissertação de Mestrado
inédita, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, p. 50.

Indique as incorreções científicas do desenho:

11
De que modo os
alunos do ensino
básico representam o
sistema respiratório?

Luís, N. M. L. (2004). Conceções dos alunos


sobre respiração e o sistema respiratório. Um
estudo sobre a sua evolução em alunos do
ensino básico. Dissertação de Mestrado em
Educação, Instituto de Educação e Psicologia,
Universidade do Minho, Braga, pp. 84-86.

Participantes no estudo:

72 crianças :
a) 24 do 4.º ano;
b) 24 do 6.º ano;
c) 24 do 8.º ano;

9 a 13 anos;

12
Representações do sistema respiratório
por alunos do 1.º CEB
Indique os órgãos que não foram representados
no desenho:

(Representação de alguns órgãos do sistema respiratório.) 13


Representações do sistema respiratório
por alunos do 1.º CEB
Indique os órgãos que não foram representados
no desenho:

(Representação de alguns órgãos do sistema respiratório.) 14


Representações dos sistema respiratório e
digestivo por alunos do 1.º CEB
Indique os órgãos que não foram representados
no desenho:

(Representação de alguns órgãos do sistema respiratório e


do sistema digestivo.) 15
Representações dos sistema respiratório e
digestivo por alunos do 1.º CEB
Indique os órgãos que não foram representados
no desenho:

(Representação de alguns órgãos do sistema respiratório e


do sistema digestivo.) 16
O que sabem os alunos
sobre o sistema
respiratório?

Luís, N. M. L. (2004). Conceções dos


alunos sobre respiração e o sistema
respiratório. Um estudo sobre a sua
evolução em alunos do ensino básico.
Dissertação de Mestrado em Educação,
Instituto de Educação e Psicologia,
Universidade do Minho, Braga, p. 76.

17
O que sabem os alunos sobre o sistema respiratório?

Luís, N. M. L. (2004). Conceções dos


alunos sobre respiração e o sistema
respiratório. Um estudo sobre a sua
evolução em alunos do ensino básico.
Dissertação de Mestrado em
Educação, Instituto de Educação e
Psicologia, Universidade do Minho,
Braga, pp. 95-96.

18
Exemplos de conceções
alternativas

Física/Química
Esquema concetual aceite pela
Conceção alternativa comunidade científica
No interior dos átomos há ar. No interior dos átomos não
há ar, porque o próprio ar é
constituído por átomos.

Todos os objetos de metal Os objetos de metal só


afundam na água. afundam se a sua densidade
for superior à da água.

19
Exemplos de conceções
alternativas

Biologia/Geologia
Esquema conceptual aceite pela
Conceção alternativa comunidade científica
O solo é o alimento das As plantas produzem o seu
plantas. próprio alimento.
As plantas transformam a A água intervém, juntamente
água em alimento. com o CO2, na formação de
compostos orgânicos.

A evolução terminou com o O ser humano não é o


homem. organismo terminal da evolução.

O espermatozóide dá a vida à A união entre um


criança que existe na mãe, espermatozóide e um óvulo dá
mas não está viva. origem a um novo ser.
20
Exemplos de conceções
alternativas

Algumas conceções alternativas têm um paralelismo com


modelos históricos da ciência.

Ex: A criança encontra-se pré-formada nas células sexuais.

Representações de alunos do
1.º CEB sobre a
origem dos bebés
http://repositorio.ipsantarem.pt/handle/10400.15/555

21
Conceções alternativas sobre a
natureza da ciência

A literacia científica é essencial


para a democracia e o exercício
da cidadania.

Contudo, tanto a escola como


os meios de comunicação
veiculam ideias deturpadas e
estereotipadas sobre a
ciência.

22
Ideias sobre a ciência

A Escola

Ciência como um conjunto de factos, de verdades absolutas,


definitivas, objectivas, obtidas através de um método científico
universal faseado.

Transmissão Ciência que Método


factual vem nos livros científico

23
Ideias sobre a ciência

Os Contextos Informais

Desenhos animados Filmes Banda-desenhada

24
Ideias sobre a ciência

Atividade esotérica: as “poções” e os


“fumos”

O cientista louco, mau e rico 25


Ideias sobre a ciência

Outras
conceções
sobre os
cientistas

Os “monstros” e os “extraterrestres” O estereótipo “Einstein” 26


Ideias sobre a ciência

“Era uma vez um cientista louco que “Era uma vez um grupo de
queria dominar o mundo e esse cientista cientistas amigos que tinham um
fazia muitas experiências e essas grande laboratório e poções
experiências eram alianes que destroem malucas e máquinas esquisitas,
tudo o que está à sua frente. Mas esses com experiências doidas e outros
alianes podem-se transformar em bons. objectos.”
(...) Havia uma menina que (...) ficou
(Filipe, 2º ano)
consultora de experiências genéticas e
conseguiu apanhar e transformar todas
as experiências em boas até que o “E ganharam outro concurso de
cientista ficou bom. E viveram felizes cientistas e foram os maiores
para sempre.” cientistas do mundo.”

(António, 2º ano) (Ana, 4º ano)

27
Ideias sobre a ciência

Desafio para os profissionais de educação

Discutir aspectos da natureza da ciência

• Ciência como um processo de explicação dos fenómenos naturais:


• Produz conhecimento durável, mas provisório;
• Baseia-se na observação, em evidência experimental, argumentos
racionais, discussão e cepticismo;
• Envolve diversas metodologias e criatividade;
• Envolve pessoas de todos os géneros e culturas.
Ver também: Afonso, M. (2008). A Educação científica no 1.º ciclo do Ensino Básico. Das
teorias às práticas. Porto: Porto Editora, pp. 34-63.

Como concretizar este desafio?


28
Como detetar as conceções alternativas?

1. Colocar questões.
Solicitar aos alunos que:
• sugiram explicações e/ou causas e/ou justificações para a ocorrência de certos factos ou
fenómenos por eles observados na vida quotidiana ou de que já ouviram falar;
• definam certos termos;
• comentem frases;
• tomem posição face a diálogos ou descrições, etc.
As perguntas podem ser orais ou escritas, abertas ou fechadas, individuais, a grupos ou à turma.

2. Explorar metáforas e analogias.

Solicitar aos alunos que inventem metáforas e analogias a propósito de certas estruturas ou
fenómenos.
Ex: “Se quisesses comparar o coração a algo, a que é que o compararias? Justifica.”

3. Explorar iconografia.
Solicitar aos alunos que:
• elaborem desenhos/esquemas;
• completem/legendem esquemas (mapas conceptuais) ou desenhos;
• preencham vinhetas vazias numa sequência;
Ex: “Elabora um desenho do aspeto que julgas que o coração humano possui”. 29
Como detetar as conceções alternativas?

30
Como detetar as conceções alternativas?

4. Fazer teatralizações e dramatizações

Organizar teatralizações ou dramatizações fazendo com que cada aluno represente uma
determinada estrutura ou função.

Ex: “Tu és o coração”, “tu és os pulmões”, “tu és o sangue”. Representem o que o coração e os
pulmões fazem ao sangue.

5. Aplicar atividades experimentais.

Solicitar aos alunos que prevejam o resultado de uma atividade experimental, justificando as
previsões.

Ex: “O que julgas que acontece a um clip quando colocado na água?”

31
Como modificar as conceções alternativas?

As conceções alternativas devem ser modificadas


recorrendo a estratégias de mudança concetual.

O objetivo da mudança concetual é proporcionar uma


situação ao aluno para que comprove que a sua explicação
alternativa para um determinado fenómeno não funciona.
Dessa forma, será conduzido a substituí-la por uma
conceção científica.

Como provocar a mudança concetual?

Recorrendo a várias estratégias para confrontar o aluno


com a ausência de validade das suas conceções
alternativas, sendo uma das mais eficazes o trabalho
experimental.

Atividade experimental – O clip mágico. 32

Você também pode gostar